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5º MÓDULO – CUIDADOS COM A VOZ

Quem se utiliza da voz como principal ferramenta em sua profissão, precisa


aprender a utilizá-la de forma correta. Ledores, professores, locutores, cantores, etc.,
todos esses profissionais precisam saber cuidar bem de sua voz. O mau uso pode
causar lesões e calos nas cordas vocais, o que pode tirar a voz temporariamente ou
prejudicá-las para sempre.

Fonte da imagem: http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2012/06/agua-maca-mel-bebidas-quentes-


gargarejo-e-soro-ajudam-voz.html

Antes de uma longa sessão de leitura, faça um aquecimento da voz. Existem


diversos tipos de exercícios, e eles podem ser orientados por uma fonoaudióloga, que
irá adequá-los à sua idade, timbre e ao seu ritmo de vida. O ideal é que todo
profissional da voz tenha o acompanhamento deste profissional.

As cordas vocais ficam no topo da traqueia, e o correto é que esses tecidos


estejam flexíveis, suaves e macios. Alguns hábitos irão prejudicá-los e outros irão
contribuir para que permaneçam saudáveis e livres de inflamação. É o que veremos a
seguir.

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O QUE PODE PREJUDICAR SUAS CORDAS VOCAIS

- Uso abusivo da voz: falar acima do tom o tempo todo, fatigando-se, o que
inclusive pode afetar a saúde psicológica. Professores que necessitam constantemente
falar acima do burburinho de uma classe, por exemplo. Este é um dos motivos porque
orientamos ledores a executar suas leituras em ambientes calmos e silenciosos. Nunca
se deve abusar da voz, muito menos rotineiramente.

- Gritos: os gritos agridem a laringe, podendo causar edemas e irritação nas


cordas vocais. Evite sempre gritar!

- Uso excessivo: trabalhar em excesso nunca é bom. Falar e falar, por dias e
turnos seguidos, podem lesionar as cordas vocais. É necessário pausas e dias para
descansar. A voz precisa de tempo para se recompor. Reserve dias para silenciar ou
falar o minimamente possível, sem ler, sem sussurrar, sem cantar, ou seja, sem
nenhuma atividade.

Alerta! Esses modos errôneos de usar a voz continuamente podem causar


lesões nas cordas vocais, e isso pode evoluir para calos e até câncer de laringe!

- Poluição e cigarro: tudo que você respira passa pelas suas cordas vocais.
Poluentes e poeira do ar são prejudiciais, causando alergias e inflamações. Pior ainda
são as toxinas do cigarro, substâncias que vão deixar suas cordas vocais ressecadas e
irritadas. O fumante passivo também pode ser igualmente prejudicado.

- Álcool: o álcool é extremamente nocivo, apesar de não parecer por não


causar um dano imediato. Ele atua no organismo como um desidratante, baixando a
concentração de água e sais minerais no corpo. Exatamente o inverso daquilo que você
deve fazer, que é se hidratar bem.

- Ar-condicionado: ele diminui a umidade do ar, o que também vai ressecar e


irritar as pregas vocais. Use umidificador de ar e umedeça o nariz com soro fisiológico
em ambientes com ar condicionado! Evite produtos descongestionantes. E não se
esqueça de uma maior hidratação.

- Alimentos ácidos: esses alimentos (vinagre, limão, laranja, tomate, etc.)


agridem a mucosa do estômago e podem causar refluxo. Quando isso acontece as
cordas vocais produzem muco em excesso para se proteger, podendo inchar e
aumentar o pigarro. Os ácidos também são contra-indicados no gargarejo, quando se
está resfriado ou rouco, porque são agressivos para as cordas vocais. Faça gargarejos
apenas com água morna e ingredientes que não contenham acidez.

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- Produtos lácteos e chocolate: não consuma duas horas antes de suas
atividades. Eles também podem engrossar o muco e prejudicar sua leitura.

SINTOMAS DE CORDAS VOCAIS DANIFICADAS

- Rouquidão por vários dias seguidos.

- Coceira e pigarro constante.

- Cansaço para falar.

- Falhas na voz.

- Dor ou ardor na garganta.

- Sensação de pinçar no fundo da garganta.

Busque ajuda profissional se estes sintomas se estendem por muito tempo.


Duas semanas de rouquidão já exige uma consulta a um fonoaudiólogo. Problemas
simples podem ser tratados por esse profissional. No caso de nódulos, que necessitam
de remoção cirúrgica, a indicação será para um otorrinolaringologista.

A dor é o sinal claro do nosso corpo mostrando que algo não vai bem. Não a
ignore nem a mascare com própolis, gengibre e pastilhas! Podem melhorar
momentaneamente e a insistência em continuar suas atividades pode comprometer
suas cordas vocais ainda mais. Pare ao sentir dor. Se hidrate, descanse a voz e se a dor
persistir procure ajuda médica.

DICAS

- Faça uma refeição leve antes de sua atividade. O estômago muito cheio pode
pressionar seu diafragma e dificultar a respiração, atrapalhando sua performance.

- Não consuma pastilhas ou balas se estiver rouco. Não mascare a dor e a


rouquidão. Ao forçar as pregas vocais seu quadro poderá agravar, em vez de melhorar.

- Em dias quentes não use o ventilador direto em seu rosto. O melhor é que
esteja voltado para cima, fazendo o ar circular, e com as pás limpas, sem poeira, para
não espalhar pó e ácaros pelo ambiente, o que é ruim para o aparelho respiratório.

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- Beba água ao longo do dia e de suas atividades. Hidratação é essencial. As
cordas vocais precisam estar lubrificadas, e isso exige que todo o corpo esteja
hidratado.

- Umidifique o ar com umidificadores, que são aparelhos bastante acessíveis. É


um ótimo investimento colocar um umidificador em casa e no ambiente em que você
trabalha. O ar seco contribui para irritar as cordas vocais.

- Uma dieta equilibrada também contribuirá para a saúde da sua voz.

Fonte: Conteúdo elaborado por ABBA Cursos ©

MITOS E VERDADES SOBRE A VOZ

Mito: bebida gelada faz mal para as cordas vocais

Para explicar esse mito, será preciso entender um pouco de anatomia. A voz é
produzida pelas pregas vocais, as quais estão dentro da laringe. Para isso, é preciso
entender os trajetos que o ar e o alimento (incluindo, a água) fazem, que são
compartilhados em alguns momentos e diferentes em outros. É como se você e um
amigo estivessem voltando para a casa do trabalho, mas em, um momento, o caminho
diverge e cada um vai para o seu lado.

Na boca e na faringe — o tubo que fica logo atrás da boca —, o alimento e o ar


passam pelo mesmo lugar. No entanto, à medida que descem na garganta, eles
encontra uma “bifurcação” e mudam o caminho e cada um vai para o seu destino final.

O alimento sai da faringe para entrar no esôfago, que o conduz até o estômago
para digerir a comida. Já o ar desce pela laringe, segue pela traqueia e brônquios até
chegar no pulmão.

No meio deste último caminho, está a epiglote, uma espécie de válvula de abre
e fecha. Quando um sólido ou um líquido entra em contato com ela, o cérebro ativa o
reflexo que nos faz engasgar para expulsá-los das vias aéreas. Logo abaixo da epiglote,
estão tecidos e músculos capazes de fazer um movimento de abre e fecha, o chamado
aparelho fonador, do qual fazem parte as cordas vocais. Quando respiramos, elas

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estão completamente abertas. Quando falamos, elas se fecham um pouco para gerar
uma turbulência no ar, a qual gera o som que conhecemos como voz.

Portanto, a água gelada não entra em contato com as cordas vocais, não
podendo agir diretamente lá. Tem gente que deve estar pensando: “Nossa, mas
sempre quando eu bebo gelado, eu fico um pouco rouco”.

Então, a explicação não é de que o gelado está fazendo mal para as suas cordas
vocais. A verdade é a seguinte: na garganta, há vários receptores que identificam
sensações, como frio e calor.

Há pessoas mais sensíveis ao frio e esses receptores “falam”, enviando uma


mensagem para que as vias aéreas se preparem para o ressecamento gerado pelo frio.
Assim, elas produzem mais muco que o normal ao beber gelado. Esse muco em
excesso gera a rouquidão e muitas pessoas acabam associando à sensação com uma
possível lesão às pregas vocais. Mas não é esse o caso, felizmente.

Verdade: a água é essencial para a saúde das cordas vocais

Justamente por não saber os detalhes de anatomia, muita gente acredita que
está limpando as cordas vocais ao beber líquidos. No entanto, como vimos no item
anterior, esse pensamento está anatomicamente incorreto.

Quando há algum resíduo de alimento na epiglote, devido ao reflexo de tosse,


você pode realmente ter dificuldade para falar ou rouquidão. O líquido ajuda a
remover o que fica de fora da epiglote, mas não entra pela faringe.

A água é essencial por outro motivo: a hidratação. Quando você a bebe, ela
segue o mesmo trajeto de qualquer alimento: desce pela faringe, depois ao esôfago,
ao estômago e, por fim, ao intestino. Neste último lugar, ela é absorvida e cai na
corrente sanguínea, sendo distribuída a todo o corpo, incluindo as cordas vocais.

O atrito do ar tem o potencial de lesá-las. Para protegê-las, a sábia mãe


natureza criou uma camada de proteção: a mucosa, que produz um líquido mais
espesso chamado de muco — parecido com a saliva.

Quando o ar atrita com as cordas vocais para produzir o som, ele não entra em
contato direto com as células, mas com o muco.

Sem a água, a quantidade de muco produzida é insuficiente para o efeito de


proteção, então o ar acaba machucando as células das pregas. Isso pode gerar uma
inflamação, que leva a problemas vocais.

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Então, os profissionais da voz precisam ter um cuidado especial com a
hidratação. Como falam por muitos minutos seguidos, o ressecamento é mais intenso
e o corpo precisa de uma quantidade de água suficiente para produzir mais muco
protetivo.

Por esse motivo, a hidratação deve ser mais intensa antes de você iniciar um
trabalho de narração ou locução. Afinal, a água demora cerca de 30 minutos até ser
absorvida totalmente. Então, tome um ou dois copos de água nesse intervalo.

Também, não se descuide da hidratação durante todo o dia. O corpo necessita


de 2 litros ao dia para funcionar adequadamente. Se você tem dificuldade em lembrar,
há aplicativos de celular que o ajudam nessa tarefa.

Mas não é só esse o momento, uma dica de profissional para profissional: o ato
de beber água interrompe por alguns segundos o fluxo de ar, dando tempo para que a
mucosa se recupere.

Além disso, quando você fala por muito tempo, a musculatura da laringe pode
ficar tensa. O ato de engolir vai gerar um trabalho diferente na sua garganta, o qual
pode ajudar a “destravá-la”. Portanto, durante uma locução longa, não deixe de beber
a água que é oferecida, ninguém vai julgá-lo caso tome um golinho de vez em quando.

Mito: maçã e gengibre ajudam a curar as cordas vocais

Mais um mito gerado pelo desconhecimento da anatomia do aparelho fonador.


Como sentimos a voz na garganta,achamos que todas as sensações originadas de lá
vão ter algum impacto nas pregas. É assim que surgiu o mito de que alimentos, como
gengibre e menta fazem bem para voz, devido à sensação de refrescância.

Como já explicamos, os alimentos seguem um caminho diferente e não passam


perto das cordas vocais. Portanto, é impossível que eles tenham algum contato direto
com elas. Se há algum efeito, ele provavelmente é psicológico ou sistêmico; isto é,
passa pela corrente sanguínea antes de chegar nas cordas vocais.

Por exemplo, o própolis parece ajudar no combate a algumas infecções, pois


têm propriedades antibióticas. Desse modo, são úteis para prevenir as dores de
garganta e, consequentemente, proteger indiretamente a voz. Ao comer um pouco de
gengibre, uma pessoa pode ficar mais confiante e a qualidade da sua locução melhorar
por esse motivo.

O caso da maçã é um pouquinho diferente. Como explicamos, o trabalho da


musculatura da faringe e da laringe melhora a capacidade de controle da voz. Comer

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uma maçã é uma musculação para essa região: você precisa abrir a boca com toda
extensão e mastigar bastante para quebrar as fibras.

Portanto, a maçã não vai modificar uma voz rouca ou minimizar os efeitos do
tabaco. Porém, ela pode ajudar a trabalhar uma musculatura, permitindo que ela se
canse menos após um trabalho longo de locução. No entanto, o efeito é a longo prazo,
não adianta comer uma maçãzinha só a cada semana, é preciso fazer isso diariamente.

Verdade: o cigarro é o maior vilão da voz

Há trinta anos, praticamente todos os locutores fumavam, pois o cigarro


deixava a voz mais grave — que é o tom mais admirado na profissão. Todavia isso foi
muito antes de descobrirem todos os efeitos nocivos do cigarro. Sim, o cigarro deixa a
voz mais grossa.

A fumaça do cigarro, ao contrário dos alimentos, passa pelas cordas vocais, pois
é um gás. No entanto, ela carrega várias partículas nocivas para o corpo e tem uma
temperatura capaz de lesionar os tecidos.

O processo de agressão gerado pela fumaça do cigarro gera um edema nas


cordas vocais — um termo técnico para o inchaço. Dessa forma, esse órgão vibra
menos durante a produção da voz, o que gera um tom mais grave.

No entanto, a longo prazo, isso gera uma predisposição maior ao câncer de


faringe, laringe e esôfago, o que pode levar à incapacitação permanente ou, na pior
das hipóteses, à morte.

Além disso, haverá um maior risco de desenvolver outras patologias da voz. No


ramo da locução atual, isso pode causar efeitos negativos, pois hoje as pessoas já
conhecem a voz artificialmente rouca dos fumantes e não a valorizam mais.

Como você deve ter visto, para melhorar sua voz, é preciso tomar bastante
cuidado em relação aos mitos da voz. Todas as informações devem ter comprovação
científica, como em qualquer ramo da área de saúde.

O achismo pode fazer mais mal do que bem. Por isso, há várias pessoas
fumando maços de cigarro, mas que comem uma maçã achando que estão limpando
as cordas vocais dos malefícios da fumaça do tabaco.

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Fonte: Blog Regina Bittar - Locutora, MC & Speech Coach. Mitos e Verdades da Voz. São Paulo [2020?]
Disponível em: <https://www.reginabittar.com.br/post/mitos-e-verdades-da-voz>. Acesso em 05 Nov.
2021.

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