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MANUAL DE ORIENTAÇÃO VOCAL

Conheça as dicas para cuidar melhor de sua voz e

compreenda como ela é produzida

Disciplina de Otorrinolaringologia
Faculdade de Medicina
Unesp -Botucatu
A VOZ
A voz desempenha papel fundamental no nosso dia a dia; é através dela que
expressamos sentimentos, emoções e intenções. Ela é o principal instrumento de trabalho de muitos
profissionais, principalmente professores e cantores.

PRODUÇÃO VOCAL

A figura ao lado esquematiza o trajeto percorrido pelo ar dos


pulmões ao longo do trato respiratório superior. Quando o ar
expirado chega ao nível das pregas vocais, ocorre a vibração
das mesmas, originando um som muito fraco. Este é
amplificado (moldado) nas cavidades de ressonância, ao longo
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da faringe, cavidade nasal, boca, língua e lábios. Durante a
Figura 1. Esquema do trajeto1 do fluxo
aéreo que sai dos pulmões a fonação.
fonação as pregas vocais se aproximam (figura 2a) e colocam-
se em vibração; durante a respiração elas se afastam para que o ar inspirado possa entrar nos
pulmões (figura 2b). Quando todas as estruturas do aparelho fonador funcionam de forma
harmônica, a voz é produzida com boa qualidade e sem esforços. Qualquer alteração nas estruturas
do aparelho fonador pode resultar em mudanças na voz, tanto para melhor quanto para pior.

A B

Figura 2. A. Pregas vocais fechadas. durante a fonação; B. Pregas


vocais abertas durante a respiração.

A voz do professor e do cantor é considerada principal recurso de trabalho, porém as


diversas condições desfavoráveis no ambiente profissional podem repercutir negativamente sobre
ela. A sobrecarga vocal diária, aliada à falta de conhecimento sobre a produção da voz e os
cuidados necessários para mantê-la com boa qualidade são fatores que prejudicam ainda mais o
desempenho desses profissionais. Após alguns anos de trabalho, o desgaste da sua voz torna-se
evidente, culminando com o desenvolvimento das disfonias. Neste momento esses profissionais
percebem a necessidade de procurar um especialista para avaliar e tratar corretamente o problema
vocal. Cabe ao fonoaudiológico identificar padrões impróprios e hábitos vocais prejudiciais,
passíveis de serem corrigidos por meio de terapia vocal e adoção de medidas preventivas. O médico
otorrinolaringologista irá diagnosticar e diferenciar as lesões laríngeas, as quais poderão exigir
tratamento medicamentoso ou até mesmo cirúrgico.

QUEIXAS VOCAIS MAIS FREQUENTES RELATADAS PELOS


PROFISSIONAIS DA VOZ

Cansaço ao falar, ardor e dor de garganta, dores no pescoço, pigarro, rouquidão, diminuição do
volume da voz, falhas vocais e afonia são alguns dos principais sintomas vocais apresentados pelos
professores.

PARA MANTER UMA VOZ SAUDÁVEL E AGRADÁVEL É IMPORTANTE EVITAR


ALGUNS HÁBITOS, COMO:

◼ Gritar, falar alto ou falar muito, principalmente em ambientes ruidosos;

◼ Tossir ou pigarrear excessivamente;

◼ Ficar exposto por muito tempo em ambientes com ar condicionado, com muita poeira ou
fumaça de cigarro;

◼ Ingerir bebida gelada e/ou alcoólica;

◼ Praticar exercícios físicos e ao mesmo tempo falar;

◼ Alimentar-se inadequadamente;

◼ Fazer uso constante de balas, pastilhas e sprays;

◼ Fumar;

◼ Falar continuamente sem períodos de repouso vocal.


MITOS OU VERDADES VOCAIS

• Pastilhas, balas de hortelã e gengibre causam sensação de alívio momentâneo, mas a causa
do problema continua;

• O cigarro, assim como outras drogas, irrita as mucosas do trato vocal, além de ressecar as
pregas vocais, dificultando sua vibração. Ele também aumenta a sensação de pigarro e é
importante fator de risco para o desenvolvimento do câncer de laringe.

• Se estiver rouco, sem estar gripado, é necessário investigar a causa da rouquidão. A


manutenção da atividade profissional com sobrecarga vocal poderá prejudicar sua voz ainda
mais e desencadear lesões laríngeas.

• Cochichar, gritar ou falar alto demais resulta em esforço e tensão para as pregas vocais.

• Antes de se iniciar o uso da voz por períodos prolongados e em intensidade elevada deve-se
fazer um aquecimento vocal, que corresponde a uma forma de preparar todo o aparato vocal
antes da sobrecarga fonatória.

ALGUMAS RECOMENDAÇÕES PARA MANTER A SAÚDE VOCAL

ALIMENTAÇÃO

Durante o período que antecede o uso intenso da voz recomenda-se o


consumo de maçã e salsão, pois eles possuem ação adstringente, ou
seja, facilitam a limpeza do muco que se acumula no trato respiratório.
Além disso, a mastigação auxilia na melhora da dicção e da
ressonância vocal.

A ingestão de sucos cítricos, como laranja e limão, também auxilia


nessa função, além de hidratar as mucosas.
Por outro lado, chocolates, queijos amarelos e carnes gordurosas são
alimentos pesados e indigestos, devendo ser evitados antes do uso
intenso da voz. As mesmas recomendações devem ser feitas aos
alimentos apimentados e muito condimentados, como os enlatados e
embutidos. Esses alimentos provocam azia, refluxo ácido e irritação

da laringe, prejudicando a voz.

BEBIDAS

Bebidas gasosas prejudicam o controle da voz, pois o gás


interfere na digestão e no apoio diafragmático. Prefira ingerir água natural e na
temperatura ambiente, pois ela favorece a hidratação e a vibração das mucosas
da laringe, além de fluidificar o muco. Evite excesso de café, bebidas alcoólicas
e refrigerantes.

HIDRATAÇÃO

Beba água sempre, antes, durante e após o discurso, especialmente em


ambientes frios e secos. s A hidratação é indicada tanto para a prevenção
como para o tratamento dos distúrbios vocais, por permitir que a mucosas
laríngeas se mantenham úmidas, permitindo a vibração das pregas vocais
de modo livre e sem muito atrito. O ressecamento das mucosas pode
predispor ao desenvolvimento de lesões laríngeas. Recomenda-se a
ingestão de 2 litros de água por dia.

COMPETIÇÃO SONORA

O ambiente ruidoso exige elevação na intensidade da voz, resultando em desgaste da


mesma. Nestes casos é aconselhável articular os sons precisamente e elevar a freqüência da voz em
direção aos agudos.
GRITAR E PIGARREAR

O grito é um fator agravante na emissão oral, causando alterações vocais.


Evite-o quando não houver necessidade. Porém, quando não for possível ,
fique com o corpo ereto, inspire profundamente e fale em forte intensidade,
sincronizando o fechamento das pregas vocais com a contração da musculatura
abdominal. Dessa forma a tensão será transferida para a região abdominal,
evitando a sobrecarga vocal. O ato de pigarrear constitui outra forma de abuso vocal. Sua prática
constante produz atrito traumático entre as pregas vocais e aumento da produção de muco, gerando
um ciclo vicioso. A ingestão de bastante liquido favorece a hidratação das mucosas e fludifica o
muco.

GRIPES E ALERGIAS

Evite contato com substâncias alergênicas, a fim de reduzir os sintomas


de espirros, prurido nasal e coriza. Durante episódios de gripes e/ou
crises alérgicas, podem surgir quadros de rouquidão, pois nessas
condições as mucosas que revestem o trato respiratório, incluindo as
pregas vocais, encontram-se congestas e irritadas. Se possível evite
apresentações musicais ou abuso vocal quando estiver gripado. Algumas lesões laríngeas podem
surgir nessas condições e o repouso vocal poderá impedir esse curso, favorecendo a reabsorção
mais rápida do processo inflamatório.

AMBIENTES REFRIGERADOS

O resfriamento do ar por meio de aparelhos de ar condicionado provoca o


ressecamento da mucosa do trato vocal, o que prejudica a umidificação das pregas vocais,
dificultando a sua vibração.

POSTURA

O som produzido adequadamente, sempre será influenciado pela postura que se adota.
Por isso, ela deve ser aprendida e praticada até que se torne um bom hábito. A postura adequada
coloca o aparelho fonatório na melhor posição, tornando mais fácil a produção de uma sonoridade
com qualidade.

RECURSOS VOCAIS

Dê ênfase às palavras de valor, ou seja, reforce a intensidade,


articule precisamente as palavras e adote velocidade mais lenta. Faça
inflexões e pausas, enriqueça a fala com melodia, com interrogações e
exclamações. As pausas são importantes para adequar as pontuações e para
respirar.

DICAS

➢ Prefira falar baixo e devagar; quando estiver rouco, fale o mínimo possível;

➢ Durma bem e descanse o seu corpo;

➢ Use roupas que não apertem a região do pescoço e do diafragma. Roupas confortáveis
auxiliam a respiração;

➢ Quando estiver com pigarro, tome mais água do que o habitual e evite pigarrear;

➢ Articule os sons precisamente, isso é muito importante para uma voz boa e clara;

➢ Se possível, utilize um microfone com amplificador. Ele aumenta a intensidade vocal e


diminui o esforço para falar;

➢ Faça alguns exercícios de aquecimento vocal antes do inicio do trabalho, elevando


gradativamente a freqüência da voz em direção aos agudos;

AQUECIMENTO VOCAL

O objetivo do aquecimento vocal é preparar a musculatura para o uso intensivo,


permitindo ajustar e potencializar a atividade fonatória. O aquecimento evita esforço, sobrecarga
muscular, lesões e fadiga vocal. O tempo ideal para o aquecimento vocal é de 15 minutos, e
proporciona melhora na articulação dos sons e também na projeção e na intensidade vocal. O
professor pode iniciar o aquecimento vocal logo no caminho para a escola. Alguns exercícios
utilizados podem ser:

▪ Exercícios de respiração profunda (alternando nariz e boca);

▪ Alongamento da coluna, pescoço, ombros e músculos da face;

▪ Exercícios com som nasal (“M” mantendo os dentes separados e lábios unidos, em escalas
ascendentes de intensidade);

▪ Exercícios de vibração de lábios (brrrrrrrr....) e/ou de língua (trrrrrrrrr...) em tom médio;

▪ Exercícios de vibração de lábios (brrrrrrrr....) e/ou de língua (trrrrrrrrr...) em escala


ascendente de intensidade;

▪ Exercícios articulatórios como “vri” e “bri”;

▪ Exercícios com os sons “vvvvvzzzzzjjjjj” (esses sons devem ser emitidos de modo
prolongado);

▪ Exercício com som hiperagudo;

▪ Emissão em escalas de freqüência ascendentes, ou seja, do som mais grave para o mais
agudo.

DESAQUECIMENTO VOCAL

Favorece o retorno ao ajuste fonatório da voz coloquial, evitando que o profissional da


voz mantenha os ajustes compensatórios e, consequentemente o abuso vocal fora do seu ambiente
de trabalho. O desaquecimento vocal leva em média cinco minutos. Algumas sugestões de
exercícios são:

➢ Movimentos cervicais, podendo ser sonorizados ;


➢ Bocejar e suspirar;

➢ Massagear a região do pescoço;

➢ Alongar a musculatura cervical;

➢ Exercício de vibração de ponta de língua em escala descendente de intensidade;

Recomenda-se que após a realização dos exercícios de desaquecimento o profissional faça


repouso vocal, em torno de cinco minutos e ingira água.
Cuide bem de seu corpo como um todo; dê preferência aos exercícios de alongamento e
relaxamento muscular.

Literatura Recomendada

Behalu M, Dragone MLS, Nagano L. A voz que ensina: o professor e a comunicação oral em sala de aula. Rio de
Janeiro: Revinter. 2004.

Pinho SMR. Manual de higiene vocal para profissionais da voz. Barueri: Pró-fono. 2007.
Cartilha elaborada por:

Elaine Lara Mendes Tavares (Doutora, Fonoaudióloga)


Eny Regina Neves (Fonoaudióloga e Pós-graduanda, nível doutorado)
Marisa Portes Fioravanti (Mestre, Fonoaudióloga)
Regina Helena Garcia Martins (Professora Livre-Docente, Otorrinolaringologista)
Victor Nakajima (Professor Assistente Doutor, Otorrinolaringologista)

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