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ASPECTOS BÁSICOS DA FLOTAÇÃO

A flotação é um dos processos de concentração mineral mais utilizados nas indústrias de


mineração, possibilitando o aproveitamento de minérios complexos e/ou de baixo teor
(OLIVEIRA e AQUINO, 2005). Segundo Santana (2007), a importância da flotação
deve-se à sua grande versatilidade e seletividade, permitindo a obtenção de
concentrados com teores desejados e expressivas recuperações. Sua importância tem
motivado o desenvolvimento da tecnologia e também de novos equipamentos.

A flotação é um processo de concentração baseado no comportamento físico-químico


das superfícies das partículas minerais presentes em uma suspensão aquosa e tem como
objetivo separar a (s) espécie (s) de interesse dos componentes de ganga presentes em
um minério. Os agregados formados pelas partículas hidrofóbicas aderidas às bolhas de
ar, por terem menor densidade aparente que o fluido, são conduzidos à superfície
formando uma espuma onde são retidos e separados, enquanto as demais espécies
minerais, por serem hidrofílicas, são mantidas na fase aquosa sendo coletadas no fundo
do equipamento (SANTANA, 2007).

A seletividade do processo de flotação se baseia no fato de que a superfície de


diferentes espécies minerais pode apresentar diferentes graus de hidrofobicidade. O
conceito de hidrofobicidade de uma partícula está associado à “molhabilidade” da
partícula pela água. O conceito oposto a hidrofobicidade é designado como
hidrofilicidade. Em termos de polaridade, os compostos químicos dividem-se em
polares e não polares, em função de apresentarem ou não um dipolo permanente. A
importância da polaridade reflete-se no fato de que existe afinidade entre substâncias
ambas polares ou ambas não polares, não havendo afinidade entre uma substância polar
e outra não-polar. Nos sistemas de flotação a fase líquida é sempre a água, um líquido
polar. A fase gasosa é quase sempre o ar, que é não-polar (OLIVEIRA, 2006). A
maioria das espécies minerais imersas em água tendem a molhar sua superfície
(hidrofílica). No entanto, esta hidrofilicidade natural das espécies minerais pode ser
alterada através da adsorção de substâncias adequadas, em sua superfície, conhecidas
como coletores, conferindo-lhe caráter hidrofóbico. O contrário também é verdadeiro,
há reagentes (depressores) que adsorvem na superfície mineral, conferindo-lhes caráter
hidrofílico, impedindo a coleta de minerais indesejáveis.
Embora o princípio da flotação seja simples, os fenômenos que a governam são muito
complexos. Para que ocorra flotação o ambiente no interior do equipamento deve ser
propício à fixação seletiva das partículas hidrofobizadas à bolha de ar e subsequente
transporte do agregado partícula-bolha até a espuma. Segundo Schulze (1977), isto
reflete no desempenho do processo, tornando-o dependente da ocorrência sequencial,
com sucesso, de três eventos num determinado período:

 Evento 1 (colisão partícula-bolha): no equipamento de flotação, as partículas


suspensas são conduzidas a colidir com bolhas de ar, promovendo o contato com
as mesmas por frações de segundo. Tal evento é controlado pelas condições
hidrodinâmicas do meio;

 Evento 2 (adesão partícula-bolha): durante o contato, partículas com variado


grau de hidrofobicidade aderem às bolhas de ar, formando agregados estáveis.
Esse evento é controlado por parâmetros físico-químicos interfaciais;

 Evento 3 (estabilidade do agregado partícula-bolha): uma vez formado, o


agregado partícula-bolha flutuará através do meio até a camada de espuma. Para
sobreviver, a tenacidade de adesão do agregado deverá preponderar sobre outras
contribuições que lhe fazem oposição, podendo-se citar como exemplo o peso
das partículas.

Cinética de flotação

As velocidades com que as espécies minerais são removidas da célula obedecem a leis
semelhantes às da cinética química. Assim, pode-se falar em cinéticas de flotação de
ordem zero, de primeira ordem e de segunda ordem (CHAVES e LEAL FILHO, 2004).

De acordo com Ralston et al. (1999) a taxa de flotação de partículas minerais pode ser
descrita pela seguinte equação de primeira ordem:

(1)

Onde C é a concentração em massa por unidade de volume e k é a constante cinética.


Ao passo que a constante cinética de flotação por ser expressa pela equação 2:

onde:

 G é a taxa volumétrica do fluxo de gás;

 Vr é o volume de referência de altura (h), através do qual as bolhas de diâmetro


db sobem;

Usando, na equação 1, as condições limite:

 C = C0 em t = 0

 C = Ct em t = t e, integrando obtém-se:

𝐶𝑡 = 𝐶0 𝑒𝑥𝑝(−𝑘𝑡)

A interpretação matemática da equação 21 sugere que, quanto maior for a constante


cinética de flotação, menor será a taxa de flotação. No entanto, para que a aplicação do
modelo de primeira ordem retrate adequadamente a cinética de flotação é necessário que
os eventos básicos, para ocorrer flotação, ocorram com sucesso e na sequência
adequada. Caso contrário, segundo Crawford e Ralston (1988), modelos com ordens
superiores à unidade (n > 1) seriam mais apropriados para descrever a cinética do
processo. Além disso, partículas podem se reportar ao produto flutuado por arraste
hidrodinâmico, onde um modelo cinético de ordem zero seria o mais adequado para
explicar esta situação.

Já Jameson et al. (1977) correlaciona o derivado de primeira ordem constante de


velocidade de flotação (k) através da equação 3:

Onde:

 Ec é a eficiência de coleta;

 Jg é a taxa superficial de gás;


Segundo Oliveira e Aquino (2005), a velocidade superficial do ar (J g) é definida como
sendo a relação entre a vazão de ar (Q g) em CNTP e a área da seção transversal da
coluna (Ac) através da equação 4:

(4)

Segundo Chaves e Leal Filho (2004), ao se flotar um minério composto de dois


minerais, A e B, haverá remoção de ambos pela espuma, uma vez que a seletividade não
é perfeita. Isto por que a velocidade de flotação do mineral A (que se quer flotar) é
muito maior que a do mineral B. Entretanto, se a operação se estender por tempo
demasiadamente longo, a quantidade de B flotado pode vir a prejudicar o teor de A no
flotado. Desta maneira, definem um ensaio de laboratório para se medir a cinética de
flotação onde é possível representar os resultados num gráfico recuperação x tempo,
como mostra a figura 1.

Da figura 1, observa-se que A flota com uma cinética de primeira ordem e velocidade
maior, enquanto que B flota com uma cinética de segunda ordem e velocidade menor e
que, a massa removida de A cresce no início da flotação, diminuindo com o tempo, ao
passo que a remoção de B é constante.

Figura 1 - Gráfico de velocidade de flotação.

Fonte: Chaves e Leal Filho (2004)


Assim, ainda segundo Chaves e Leal Filho (2004) existe um tempo de residência ótimo
em que a recuperação é boa e a contaminação aceitável, sendo o tempo de residência
uma variável crítica para o dimensionamento e operação dos circuitos de flotação.

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