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Capítulo
ABORDAGEM FISIOTERAPÊUTICA
NO PACIENTE ONCOLÓGICO
Liana Barbaresco Gomide Matheus
Luciana Lima dos Santos da Silva
Luisa Costa Figueiredo
INTRODUÇÃO
A fisioterapia em oncologia é uma especialidade que atua de forma integral e inter-
disciplinar na promoção à saúde, detecção precoce, diagnóstico e tratamento dos distúr-
bios cinéticos funcionais provenientes do câncer e seu tratamento, em todos os níveis de
atenção, resgatando a funcionalidade do indivíduo por meio do diagnóstico fisioterapêu-
tico, prescrição e execução de métodos, técnicas e recursos fisioterapêuticos e educativos.1
O fisioterapeuta em oncologia atua na prevenção, no tratamento e na paliação das dis-
funções em qualquer momento do tratamento do câncer, seja no diagnóstico, pré, peri e
pós-cirúrgico, nos efeitos dos tratamentos como quimioterapia, radioterapia, hormonio-
terapia, imunoterapia ou mesmo no cuidado paliativo exclusivo. Neste capítulo será abor-
dado, exclusivamente, a atuação do fisioterapeuta em nível ambulatorial em frequentes
disfunções relacionadas ao tratamento do câncer.
DOR
A dor oncológica está relacionada a vários fatores, podendo estar ligada direta ou
indiretamente a tumor primário, metástases, procedimentos terapêuticos como cirur-
gia, quimioterapia, imunoterapia, hormonioterapia e/ou radioterapia ou, ainda, a con-
dições não relacionadas ao câncer. As dores não causadas pelo câncer incluem aquelas
decorrentes do imobilismo, da fraqueza muscular, de alterações musculoesqueléticas ou
metabólicas, lesão por pressão e/ou permanência em posturas antálgicas por longos
períodos.2 Mesmo que não haja intercorrências, a dor no pós-operatório é um sintoma
frequente e comum devido ao trauma da manipulação cirúrgica ou espasmo muscular
por proteção muscular reflexa. A avaliação fisioterapêutica deve ser criteriosa, pois a
identificação do tipo de dor é fundamental para o estabelecimento da melhor estratégia
de tratamento, em geral interdisciplinar. A classificação da dor é realizada de acor-
do com a distribuição dos sintomas: localizados, generalizados, referidos, superficiais
ou profundos; origem: visceral, somática, neuropática, muscular ou psicogênica; bem
como evolução: aguda ou crônica. O tratamento fisioterapêutico para a dor objetiva ali-
viar a dor, melhorar a funcionalidade e a qualidade de vida, devendo ser iniciado o mais
breve possível para evitar cronicidade e prejuízos adicionais. Os recursos mais utilizados
para o tratamento da dor são exercício físico (1ii)3, liberação miofascial (1i)4, inibição de
pontos gatilhos (1i)4, cinesioterapia (1ii)5, eletroestimulação (1ii)6, laserterapia de baixa
intensidade,7 termoterapia (por adição ou subtração), órteses de posicionamento, ban-
dagem elástica neuromuscular (1i)4, e drenagem linfática manual (1ii).5 A reeducação
postural2,8 também é utilizada para pacientes que desenvolvem dor por adotar postu-
ras de proteção que resultam em espasmo muscular e desequilíbrios musculares.9 Nos
últimos anos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem estimulado a utilização
de práticas integrativas e complementares às técnicas da medicina tradicional. Nesse
contexto, a utilização da acupuntura10, das práticas corporais (tai-chi)11, práticas mentais
(meditação)12, dentre outras, trazem equilíbrio entre corpo e mente, podendo gerar
benefícios no controle da dor.
ALTERAÇÃO DE SENSIBILIDADE
A alteração de sensibilidade pode ocorrer devido à radioterapia, quimioterapia e
no pós-operatório, em torno da cicatriz cirúrgica ou a distância, na ocorrência ou não
de uma lesão nervosa. É relatada em cerca de 55% de pacientes submetidas ao trata-
mento cirúrgico para o câncer de mama, envolvendo a linfonodectomia e consequente
manipulação e/ou lesão do nervo sensitivo intercostobraquial, podendo ocorrer pares-
tesia, sensação de queimação e/ou algia puntiforme localizados na axila, região interna
do braço e/ou parede torácica ipsilateral.33 A avaliação fisioterapêutica é realizada por
meio do estesiômetro de Semmes-Weinstein, que quantifica o limiar de pressão nos
respectivos dermátomos da pele, auxiliando na detecção e no monitoramento da evo-
lução das lesões nervosas.33 O fisioterapeuta registra a queixa de anestesia, hipoestesia,
hiperestesia ou dor na região cirúrgica e no trajeto inervado pelo nervo. O tratamento
fisioterapêutico é realizado utilizando materiais com texturas diferentes, tais como al-
godão, seda, veludo, bucha vegetal e bolas de borracha, além de diferentes pressões.
O objetivo é dessensibilizar regiões de hiperestesia e estimular regiões de anestesia e
hipoestesia, oferecendo estímulos aos receptores sensoriais, reduzindo ou aumentando
o limiar de sensibilidade.34
LINFEDEMA
O linfedema é uma manifestação da insuficiência do sistema linfático decorrente
da obstrução ao fluxo da linfa. Pode ser definido também como o acúmulo extracelular
de água, proteínas plasmáticas, células sanguíneas extravasculares e produtos celulares
decorrentes do transporte linfático deficiente.39 Possui prevalência de 6% a 43%, sen-
do mais frequente em pacientes cujo tratamento incluiu linfonodectomia, radioterapia
em cadeias de drenagem, infusão de quimioterápicos no membro superior homolateral
ao tumor, bem como história de seroma, sobrepeso, obesidade e edema precoce no
pós-operatório.40 A avaliação fisioterapêutica deve incluir anamnese com questiona-
mento acerca de sensação de peso e/ou cansaço no membro, histórico de infecções
no membro, exame físico com avaliação da perimetria comparativa entre membros
(positivo se diferença maior que 2 cm para membros superiores e de 3 cm para mem-
bros inferiores), avaliação do sinal de Stemmer (positivo se alterações na consistência e
textura da pele, sugerindo fibrose linfostática), bem como investigação da presença de
linfocistos e fístulas. O tratamento “padrão ouro” do linfedema é a fisioterapia comple-
xa descongestiva, uma tétrade composta de drenagem linfática manual, compressão,
cuidados com a pele e exercícios linfomiocinéticos (1ii).41 A fotobiomodulação também
tem sido utilizada em pacientes com linfedema com objetivo de reduzir a inflamação,
promover a regeneração dos vasos linfáticos, aumentar a motilidade linfática e preve-
nir fibroses, porém ainda são necessários estudos para determinar os melhores parâ-
metros para a aplicação clínica (1ii).42 Outros recursos também podem ser associados,
como compressão pneumática intermitente (1ii)43, linfotaping® em áreas de anastomose
e no membro (1ii)44, educação e conscientização do paciente2,45 e exercícios de fortale-
cimento, que são considerados seguros.2,46
TRISMO
O trismo é a limitação de abertura da boca, seja por alterações teciduais relaciona-
das ao tratamento cirúrgico e radioterápico (fibroses, lesão da musculatura mastigatória
ou cicatrizes), por espasmo da musculatura mastigatória ou mesmo compressão tumoral.
A limitação da abertura da boca, distância inter incisivos ou rebordos alveolares menor
ou igual a 35 mm,47 pode prejudicar a mastigação, deglutição, fala, higiene oral e inter-
ferir tanto na saúde como na qualidade de vida do paciente.48 O tratamento fisiotera-
pêutico consiste em técnicas de alongamento da musculatura mastigatória e do pescoço;
abertura passiva da boca com uso de abaixadores de língua, movimentação ativa da ar-
ticulação temporomandibular; distração articular e liberação miofascial da musculatura
envolvida.49,50 Para atingir bons resultados é importante o início precoce da terapia e a
adesão aos exercícios (1ii).50
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RESUMO ESQUEMÁTICO
CONCLUSÃO
Considerando as diversas alterações funcionais causadas pelo câncer e/ou pelas re-
percussões do tratamento, é imprescindível a atuação do fisioterapeuta como membro
da equipe multiprofissional. É importante que toda a equipe esteja atenta às novas tec-
nologias, mas, sobretudo, ao atendimento de forma integral e humanizada no sentido de
reintegrar o paciente à sociedade. Os estudos de exercício físico e fotobiomodulação no
controle dos sintomas do tratamento oncológico são destaque no cenário atual, sendo
ainda necessário estudos para determinar melhores parâmetros para a aplicação clínica.
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