Você está na página 1de 3

CONTO FANTÁSTICO

Conto fantástico é o nome que se dá a uma narrativa curta que apresenta personagens que
extrapolam os limites da realidade e/ou fatos igualmente estranhos e inexplicáveis. Esse tipo de
literatura está associado a autores estrangeiros, tais como:
 Franz Kafka  Gabriel García Márquez
 Edgar Allan Poe  Jorge Luis Borges
Já no Brasil, os autores que dialogaram com o fantástico em suas obras são:
 Machado de Assis  Mário de Andrade
 Erico Verissimo  Murilo Rubião

O QUE É CONTO?
Como vimos nas atividades sobre “Conto de Humor”, o conto é uma narrativa (tipo de texto em
que se conta uma história). Ele pode relatar um acontecimento verídico ou ficcional e ser contado
de forma oral ou escrita. As narrativas retratam ações de personagens que ocorrem em
determinado espaço e tempo, e são contadas por um narrador. Na literatura, existem outros
gêneros de narrativa além do conto, como a novela e o romance. Esses três gêneros possuem as
mesmas características apontadas. O que vai fazer a distinção entre eles é o tamanho, as
dimensões da obra. Nessa perspectiva, o conto é uma narrativa menos extensa; o romance,
uma narrativa mais extensa; já a novela ocupa lugar intermediário no que se refere às suas
dimensões.

LITERATURA FANTÁSTICA
A literatura fantástica traz elementos que contrariam a noção de realidade. Portanto, apresenta
personagens e/ou fatos impossíveis, isto é, em desacordo com as leis que comandam os
fenômenos naturais. Como exemplo, podemos citar o livro “A metamorfose” (1915), de Franz
Kafka, em que o protagonista Gregor Samsa transforma-se em um inseto, algo naturalmente
impossível.

Para o filósofo Tzvetan Todorov, na literatura fantástica, “é necessário que o texto obrigue o
leitor a considerar o mundo dos personagens como um mundo de pessoas reais, e a vacilar entre
uma explicação natural e uma explicação sobrenatural dos acontecimentos evocados”.
CARACTERÍSTICAS DO CONTO FANTÁSTICO
O conto fantástico é uma narrativa curta, cujos personagens ou fatos estão associados
a elementos sobrenaturais ou sem explicação, já que contrariam as leis naturais. Karin
Volobuef| “afirma que tal gênero abandonou a sucessão de acontecimentos surpreendentes,
assustadores e emocionantes para adentrar esferas temáticas mais complexas. Devido a isso, a
narrativa fantástica passou a tratar de assuntos inquietantes para o homem atual: os avanços
tecnológicos, as angústias existenciais, a opressão, a burocracia, a desigualdade social”.
Dessa forma, esse gênero de literatura, em primeiro lugar, provoca estranheza nos leitores. Em
seguida, pode despertar a emoção durante a leitura ou a reflexão, caso o texto, apesar de
extrapolar a realidade, trouxer alguma crítica a ela — o que podemos ver no conto fantástico, de
Machado de Assis: O País das Quimeras. Nessa obra, o narrador conta a história de Tito, um
poeta pobre e romântico que abre mão de seus versos por dinheiro. Eles são comprados por um
“sujeito rico, maníaco pela fama de poeta”. Além disso, Tito está apaixonado, mas não é
correspondido. O poeta vê-se entre dois caminhos possíveis — morrer ou partir —, quando surge
“uma criatura celestial, vaporosa, fantástica, trajando vestes alvas, nem bem de pano, nem bem
de névoas, uma coisa entre as duas espécies, pés alígeros, rosto sereno e insinuante, olhos
negros e cintilantes, cachos louros do mais leve e delicado cabelo, a caírem-lhe graciosos pelas
espáduas nuas, divinas”.

A fada tem asas, pega o poeta nos braços, o teto rasga-se, e eles iniciam o voo: “Tito, que se
havia distraído algum tempo da ocupação das musas no estudo das leis físicas, contava que,
naquele subir continuado, breve chegariam a sentir os efeitos da rarefação da atmosfera. Engano
dele! Subiam sempre, e muito, mas a atmosfera conservava-se sempre a mesma, e quanto mais
ele subia melhor respirava”. Por ser um conto fantástico, as leis da natureza não são respeitadas,
tudo é possível. Assim, chegam ao País das Quimeras: “País para onde viaja três quartas partes
do gênero humano, mas que não se acha consignado nas tábuas da ciência”. Nessa ironia,
percebemos que o narrador zomba do fato de que a maioria das pessoas não encara a realidade,
ou seja, vive no País das Quimeras, do sonho, da fantasia.
Dessa forma, o narrador, com o pretexto de relatar o que acontecia no País das Quimeras,
acaba fazendo uma crítica às futilidades do “nosso mundo”, como se pode ver neste trecho: “Mais
adiante era uma sala onde muitos quiméricos, à roda de mesas, discutiam os diferentes modos
de inspirar aos diplomatas e diretores deste nosso mundo os pretextos para encher o tempo e
apavorar os espíritos com futilidades e espantalhos. Esses homens tinham ares de finos e
espertos”. Por fim, ao terminar o conto, mais uma vez, o narrador critica aqueles que fogem da
realidade: “Desde então Tito possui um olhar de lince, e diz, à primeira vista, se um homem traz
na cabeça miolos ou massa quimérica. Devo declarar que poucos encontra que não façam
provisão desta última espécie [ou seja, que traz na cabeça massa quimérica, fantasia]. Diz ele, e
tenho razões para crer, que eu entro no número das pouquíssimas exceções”. Portanto, o
narrador declara-se exceção, pois é racional e não empreende a fuga da realidade, isto é, ele
é realista. Os contos fantásticos são excelentes textos para nos fazer refletir, imergir na leitura e
nos tornar bons leitores e escritores.

Você também pode gostar