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Sétimo Dia
CONTEÚDO
Prefácio à primeira edição ....... iii erre ne re ceeana nara ena na narra na ceere na nerees 5

Prefácio à edição revista ii iiiiieereeereere rena reneree rena nene rerercerearanaerereecereneaeanans 7

1.º PARTE

ORIGEM E FORMAÇÃO, 1839-1888

Capítulo 1 - O mundo em que se iniciou o adventismo ..........itete 13


Capítulo 2 - O grande despertamento adventista ........... 23
Capítulo 3 - O movimento milerita, 1839-1844 ..... erre DD
Capítulo 4 - Depois do Desapontamento ......... ie erecees aeee 51
Capítulo 5 - O uso da página impressa ........ irei rereee aee aaen arena nerraranareranes 69
Capítulo 6 - Dificuldades prenunciam o nascimento da organização ............ 83
Capítulo 77 - Tornando-se reformadores da saúde .............teeeereeerseeeees 100
Capítulo 8 - Iniciando um sistema educacional...............
ii ieeeeeeneeeaeeatenes 114
Capítulo 9 - Expansão mundial, 1868-1885... eeeeereeeenenecearenerereeaeos 130
Capítulo 10 - Crescimento organizacional, 1864-1887... 146
Capítulo 11 - Desenvolvimento doutrinário, 1849-1888... res 160
Capítulo 12 - Justificação pela fé: Minneápolis e seus resultados ...................... 175

22 PARTE

ANOS DE CRESCIMENTO E REORGANIZAÇÃO, 1888-1945

Capítulo 13 - A expansão das instituições, 1877-1900 ....... rei 191


Capítulo 14 - Avanço missionário, 1887-1900 ......... eee 207
Capítulo 15 - Entrando no sul dos Estados Unidos .............iiicerirrii 229
Capítulo 16 - Problemas levam à reorganização ..........iettereeeerereneeneeeenes 241
Capítulo 1'7 - Novos inícios em meio à CrISE .......cistestereereeereeneeneenereneeneeeeeeaceneens 259
Capítulo 18 - O início da globalização ............ ii ereeeeeeeereaeeneraceneeneranenaos 213
Capítulo 19 - Novos desafios, novas instituições .........iieteseeeeeereneeeeereneeeeeenes 293
Capítulo 20 - Refinamentos organizacionais ........eeeeeerreereraeeseereraeeaio DTD
Capítulo 21 - Dando à trombeta um som certo ........... eretas 332
Capítulo 22 - Os anos finais e o legado de Ellen G. White ........s items 348
Capítulo 23 - Duas guerras mundiais afetam uma igreja mundial ...................... 364
3.º PARTE

A GLOBALIZAÇÃO DA IGREJA, 1945-2000

Capítulo 24 - Desenvolvendo um ministério profisstonal ............. 387


Capítulo 25 - Enfrentando pressões financeiras ........reererrais 401
Capítulo 26 - A 1greja se defronta com um mundo secularizado .................... 420
Capítulo 27 - Relações com outros cristãos .........eeeeeereeeeeereeeeereeai 442
Capítulo 28 - A consciência social do adventismo ........ ienes 458
Capítulo 29 - O movimento da saúde ........ eres 478
Capítulo 30 - Unidade e diversidade .......... e reeereeeereereeraereeereeeaeenerarenenes 499
Capítulo 31 - Adaptando-se às adversidades internacionais ............. 518
Capítulo 32 - Crescimento de membros no mundo em desenvolvimento ....... 539
Capítulo 33 - Evangelismo e missão global ............ si eeseerereeeeaeaereeeeaeeneees 564
Capítulo 34 - Internacionalizando a forma de governo da igreja... 583

MANTENDO
UMA MENSAGEM BIBLICA

Capítulo 35 - Discussões doutrinárias e dissidência... 607


Capítulo 36 - O debate do século 20 sobre crenças fundamentais .................... 627
Capítulo 37 - Depois de um século e Meio ........ erre eeereereeerereranaas 648

Dados cronológicos .......... ie rereetaetaerareeararaeraararaae


erre ear en sera aaaeeaeeraeraraeis 656

Bibliografia ........ ii ererreeetrereeane aerea naaaenaaa aeee aaeanaaaaaaeeaaareenanaaenaaaaeenenanarananos 660

Index anna aaa aaa anna anna anna aaa aaa aaa BT
PREFÁCIO À PRIMEIRA EDIÇÃO

Quando Edward Gibbon iniciou sua “investigação franca, mas racional acer-
ca do progresso e estabelecimento do cristianismo”, ele indagou sobre como
poderia ser explicada sua “notável” vitória sobre os sistemas religiosos prevale-
centes na época. Com ar de zombaria, Gibbon fez irônica referência à “resposta
óbvia, mas satisfatória” de que 1sso era devido “a convincente evidência da pró-
pria doutrina e à providência dominante do seu grande Autor” (Deckne and Fall
of the Roman Empire [Decadência e Queda do Império Romano], vol. 1, p. 507,
508). Seguem-se, então, mais de 50 páginas dedicadas a explicar o surgimento da
Igreja Cristã exclusivamente à luz das correntes sociais, intelectuais e políticas
dos primeiros séculos depois de Cristo.
A despeito de sua orientação cética, Gibbon tinha razão. Para o historiador,
parece mais fácil explicar o passado com base em eventos tangíveis — a inte-
ração dos homens, instituições, forças econômicas, grupos sociais, até mesmo
o “clima”? intelectual — do que descobrir que “ao fundo, em cima, e em toda a
marcha e contramarcha dos interesses, poderio e paixões humanas, a força de
um ser todo misericordioso, [está] a executar, silenciosamente, pacientemente,
os conselhos de sua própria vontade” (Ellen. G. White, Educação, p. 173).
Treinado para ser crítico, para preferir várias testemunhas oculares e docu-
mentos produzidos por observadores competentes e imparciais em torno de
um evento, o historiador busca certeza quanto ao passado com base em coisas
que ele conhece, coisas que podem ser vistas, ouvidas e lidas. Ele pode estar
confiante, como estava o antigo profeta Daniel, de que o Deus do Céu “muda
o tempo e as estações, remove reis e estabelece reis” (Dn 2:21). Ele pode, como
Nabucodonosor, estar certo de que o Altísssmo “segundo a sua vontade, opera
com o exército do Céu e os moradores da terra” (Dn 4:35). Todavia, injetar esse
Deus todo-poderoso em sua interpretação dos eventos passados requer um ato
de fé no invisível e aparentemente intangível, que var contra o seu preparo como
historiador. É frequentemente mais confortável seguir as razões gibbonianas e
acondicionar uma explicação do passado com base na “vontade e façanhas do
homem... seu poder, ambição ou capricho” (ibidem).
Ao defrontar-se com esse dilema, o histortador adventista do sétimo dia deve
reconhecer francamente que ele não é apenas um historiador, é também um
cristão adventista. Ao abordar o passado, e particularmente o passado de sua
própria igreja, ele o faz nesta função dual — e descobre que nem sempre é fácil
manter as duas funções separadas. Muitas coisas ele achará fácil explicar com
base em paixões humanas, forças sociais e “discernimento” psicológico. Entre-
tanto, ele deve estar também consciente de que suas crenças teológicas deturpam
sua seleção e interpretação dos fatos. Essas crenças provêem, em essência, as
“lentes” por meio das quais ele enxerga o passado.
Embora este relato tente retratar o surgimento e desenvolvimento dos ad-
ventistas do sétimo dia o mais exatamente possível, também procura evitar uma
interpretação dogmática dos eventos como “porque Deus assim os ordenou”.
Isso não que dizer que estamos descartando o fato de que há muitos aspectos da
história adventista do sétimo dia que só podem ser compreendidos plenamente
à luz do grande conflito que continua sendo travado entre Cristo e Satanás. Para
o histortador adventista do sétimo dia, a existência de tal conflito provê a solu-
ção real para uma verdadeira compreensão de toda a história, inclusive a de sua
própria igreja. O estudante é desafiado a ter sempre em mente este prolongado
conflito, e assim desenvolver suas próprias idéias quanto às orientações divinas
em nossa história passada.

Richard W. Schwarz
PREFÁCIO À EDIÇÃO REVISTA

Entre o aparecimento de Lzght Bearers to the Remnant em 1979 e esta edição


revista, a denominação adventista do sétimo dia cresceu de aproximadamente 3
milhões para mais de 10 milhões de membros. Esse crescimento ocorreu prin-
cipalmente no que, de formas vartadas, chamamos de terceiro mundo, mundo
em desenvolvimento, ou seu termo mais recente, o mundo dos dois terços, des-
crições que não são precisamente equivalentes, mas que se aproximam uma da
outra. Durante os anos desse crescimento, ocorreram quatro Assembléias da
Associação Geral e três diferentes homens foram elestos para a presidência da
mesma. Os adventistas revolucionaram sua conceitualização de métodos missio-
nários e reorganizaram o sistema representativo de seu governo; os dirigentes
da Associação Geral mudaram-se para o edifício de escritórios de uma nova
sede mundial. A igreja também passou por alguns dos seus mais sérios desafios
quanto à doutrina e autoridade. Ao mesmo tempo, enfrentou problemas sociais
que pareciam tão remotos quanto improváveis em 1960.
Esta edição revista procura retratar a denominação como uma organização
verdadeiramente global, narrando seu crescimento e comentando as mudanças
fomentadas por esse crescimento. Visto que a igreja tornou-se uma entidade
mundial, não pode mais lidar com questões como se fossem primariamente pro-
blemas norte-americanos. Eles se tornaram problemas mundiais. Mais do que
nunca dantes, os adventistas conscientizaram-se de que embora sua igreja tenha
surgido dentro da América do Norte, seu crescimento produziu uma corporação
internacional — um processo que exigiu mudanças na forma de governo e uma
apreciação pelo impacto de seu caráter cosmopolita em termos de fé e prática.
Essas mudanças deram origem a um segundo tema subjacente, da natureza
dos desafios que o adventismo experimentou no que concerne à sua doutrina e
autoridade. Como a igreja aumentou, a maior parte de sua atividade e muitos dos
seus programas tornaram-se mais sofisticados. Em parte, 1sso refletiu tendências
globais não relacionadas com a religião, mas o crescimento da igreja, com o
profissionalismo crescendo na mesma proporção, não for uma mera coincidên-
cia no adventismo. As lutas sobre fé, prática e autoridade que afetaram a maior
parte do mundo adventista durante o último quarto do século 20 originaram-
se não apenas de questões oriundas de uma era anterior, mas também de uma
geração bem-educada e filosoficamente inquiridora que desejava compreender
a identidade da igreja no contexto de um ambiente muito afastado do século 19
e suas consequências.
Um terceiro tema também aparece nesta revisão. Não obstante as mudanças,
a Igreja Adventista do Sétimo Dia tem preservado uma notável continuidade
desde suas origens com movimento milerita. Os adventistas anda sustentam tão
vigorosamente como sempre a convicção de que sua mensagem está firmemente
estabelecida em fundamentos bíblicos e que estão cumprindo uma incumbência
divina de levar o evangelho a um mundo que perece. O adventismo do final do
século 20) retém a urgência apocalíptica de 1844 combinada com a sensibilidade
pastoral que um mundo torturado necessita.
Nesta revisão, permanecem muitas semelhanças com a primeira edição,
mas os leitores deste livro notarão rapidamente as diferenças. A mais óbvia
mudança é o seu formato. Esta edição revista consiste de quatro partes. Às
três primeiras são, ao mesmo tempo, locais e cronológicas, mas a quarta é
genuinamente local — uma visão abrangente da denominação. Esse formato
mudado representa vários aspectos da revisão — atualizando alguns capítulos,
adicionando novos capítulos e reorganizando parte do material para que reflita
melhor a denominação do final do século 20, conforme comparada com os
meados da década de 1970.
Reduzida mudança foi feita nos capítulos de 1 a 15 da primeira edição. Nesta
edição revista, esses capítulos constituem a 1º Parte, e os primeiros três capítulos,
a 2º Parte. Iniciando com o capítulo 16 da primeira edição, fiz a retificação com
o resumo dos capítulos a fim de prover espaço para novo material. Os capítulos
16 a 26 da primeira edição tornaram-se os capítulos 16 a 23 do livro revisto, com
o material do capítulo 24 transferido para a 4º Parte.
As mais importantes revisões começaram com o capítulo 24 da primeira edi-
ção e continuaram nos capítulos 27 a 36. Os capítulos 29 em diante, da primeira
edição, receberam minuciosa atenção porque discutiam questões que ainda são
relevantes para a igreja. Em sua forma atualizada, esses capítulos constituem a
substância da 3º Parte. Essa seção também incluí quatro novos capítulos: 28, 31,
32 e 34. Aproximadamente a metade do material dos capítulos revistos na 3º
Parte é nova; a outra metade é condensada de sua forma original.
Os capítulos 37 e 38 da primeira edição são uma declaração final que a 4ºpar-
te do livro revisado substitus. Essa última seção combina material dos capítulos
24, 27 e 28 da primeira edição, adicionando extensamente material novo para
produzir dois novos capítulos, 36 e 37 da edição revisada.
Uma das mais sérias dificuldades fo1 a de tratar dos eventos rapidamente mu-
táveis da igreja, especialmente quando descrevem o crescimento em número de
membros e instituições, e transmissão por satélite. Alguns dados foram atualiza-
dos mesmo antes da publicação. No que tange às discussões teológicas na igreja,
novos livros apareceram tarde demais para que eu os comentasse. Minhas revi-
sões diminuíram gradualmente em relação aos eventos posteriores a 1995, mas al-
gumas referências aos eventos, publicações e personalidades aparecem até 1999.
Muitas das fontes que consultei para minhas revisões não se ajustam à defi-
nição convencional de história, mas tornaram-se historiograficamente significa-
tivas porque contribuiram para a habitual maneira adventista de pensar que, em
certo sentido, esteve em julgamento público da década de 1970 em diante. O
espectro literário de material relevante ao qual me referi variava desde assuntos
que discutiam os argumentos perenes entre a ciência e as Escrituras, até as mi-
núcias teológicas, o debate acerca da natureza da inspiração, e as lerturas fáceis,
como, por exemplo, as histórias de missionários. A mente adventista alimentava-
se de todos esses temas, bem como de outros, e assim toda a literatura adven-
tista tornou-se o fórum em que ocorreram as discussões do século 20 acerca da
centralidade do adventismo. Acredito que ninguém pode compreender o adven-
tismo do limiar do século 21 sem primeiro compreender a mentalidade adven-
tista donde esta literatura se destaca em importância. Vale a pena repetir que a
globalização do adventismo por um lado e seus conflitos internos e triunfos por
outro estão de certo modo inextricavelmente combinados, talvez de maneiras
que estamos apenas começando a compreender.
Muitas pessoas merecem meus agradecimentos por causa de seu apoio e
de sua assistência de forma técnica. Minha primeira palavra de gratidão é para
Humberto Ras1, diretor de Educação da Associação Geral, que me abordou
sobre este projeto e gutou-me sabiamente durante sua realização, especialmente
em pontos decisivos. Sua secretária, Silvia Sícalo, esteve sempre disposta a au-
mentar minha sempre crescente lista de solicitações à sua já completa agenda.
John Fowler, também do Departamento de Educação da Associação Geral, e
Russel Holt, da Pacific Press, fizeram valiosos comentários e sugestões.
Durante uma longa sessão vespertina da Associação dos Historiadores Ad-
ventistas do Sétimo Dia em Portland, Oregon, em abril de 1998, meus colegas
historiadores expressaram confiança e encorajamento, e fizeram numerosas e
úteis sugestões. Dentre eles, devo especificamente registrar Ben McArthur, Eric
Anderson, Brian Strayer e Arthur Patrick, que foram especialmente generosos
com idéias. Gary Land, diretor do Departamento de História da Andrews Uni-
versity, e Richard Osborn, vice-diretor de Educação da Divisão Norte-Ameri-
cana, merecem agradecimentos especiais por sua cuidadosa atenção aos meus
manuscritos e suas críticas incistvas.
Muitas conversações foram a fonte de impressões e idéias que finalmen-
te se encontraram na revisão. Cherie Smith, na ocastão, membro da equipe
pastoral da igreja de Collegedale, deu valioso conselho concernente aos mi-
nistérios das mulheres. David Mansfield, amigo e vizinho, adquiriu para mim
um pacote de jornais da Divisão Irans-Furopéia que proviam informação
sobre as relações adventistas com os sindicatos trabalhistas da Grã-Bretanha;
e Sarah Holmes, estudante de História Denominacional na Andrews Univer-
sity, ofereceu-me idéias acerca do estilo de vida adventista. Bruce Norman,
ex-membro da faculdade do Instituto Adventista de Estudos Superiores das
Filipinas, partilhou comigo relevante informação sobre o adventismo na Ásia.
De Norman Gulley, cujas raizes estão na Inglaterra e que dirigiu o primeiro
programa de graduação em teologia nas Filipinas, colhi idéias acerca da reor-
ganização birracial da União Britânica, bem como informação sobre a educa-
ção adventista no Extremo Oriente.
Carl Currie, missionário de carreira na China, e ao mesmo tempo membro da
Associação do Leste Asiático, proveu claras descrições acerca da obra adventista
na China. A. C. McClure, presidente da Divisão Norte-Americana, deu-me um
relato de primeira mão da evolução daquela divisão desde sua “relação especial”
com a Associação Geral até a sua situação contemporânea. Joel Tompkins, ex-
presidente de União, discutiu comigo problemas de administração da igreja.
Tive praticamente livre acesso aos recursos da Biblioteca MckKee em College-
dale, lennessee, onde Peggy Bennett, diretora da biblioteca, e Shirley Bennett,
da seção de periódicos, fizeram de tudo para facilitar-me a aquisição de informa-
ções. Na Heritage Room da Biblioteca James White, Andrews University, James
Ford e Carlota Brown providenciaram toda a assistência de que eu necessitava
para pesquisas bem-sucedidas.
Richard Coffen e Gail Hanson, da Review and Herald Publishing Association,
generosamente acolheram minhas solicitações por material ilustrativo, como fez
Tim Porrier, do White Estate. Bert Haloviak e John Wychffe, dos Arquivos da
Associação Geral, foram incansáveis em seu apoio à minha busca de filmes e
outros materiais. Tanya Holland, da Adventist Review, prestou inestimável serviço
no preparo dos materiais ilustrativos para publicação.
Minha própria experiência também contribusu para esta revisão. Algumas das
minhas conversações acerca de assuntos denominacionais ocorreram durante
viagens antes que eu empreendesse este projeto. Conversei com vários membros
da família Kulakov e outros obreiros da igreja durante visitas à Rússia, e com
Robert Wong, Eugene Hsu, Robert Folkenberg Jr., e Daniel Peek, professor
ESL* da Universidade de Pequim, durante uma viagem à China. Conversações
com colegas adventistas e visitas a centros adventistas durante viagens ante-
riores à Europa e América Latina auxiliaram-me na compreensão dos assuntos
denominacionais daquelas regiões, e anotações que eu fiz como participante das
Conferências Gerais de 1990 e 1995 me foram úteis.
Embora a ajuda recebida me habilitasse a produzir extensas revisões, não
posso esquecer a elevada influência que o autor original, Richard Schwarz, ainda
exerce nesta nova edição. Ao reescrever e condensar capítulos da primeira edi-
ção, desenvolvi uma nova apreciação de sua capacidade de sintetizar e sequenciar
eficientemente seu material. Senti mais do que um pequeno temor ao adentrar
seus capítulos. Ao longo das minhas revisões procurer reter seus relevantes pen-
samentos e, conforme o espaço permitisse, sua fraseologia. Embora o título do
livro tenha mudado, e a despeito do meu trabalho, ele continua sendo o principal
autor deste livro.

Floyd Greenleaf

* ESL-— English as a Second Language (Inglês como Segunda Língua).


ORIGEM E FORMAÇÃO
1839-1888
Estes foram os anos de origem e formação: 1839 a 1888. Eles começaram com um sen-
so de ânimo, exaltação e esperança, seguido rapidamente por amargo desapontamento de-
pois que as reprimidas emoções dos adventistas se dissiparam em seguida a 22 de outubro
de 1844. Sua crença de que Jesus viria em uma data específica que eles equivocadamente
identificaram a partir de seus estudos bíblicos os forçou a retornar a Bíblia para descobrir
qual fora o seu erro. (Quarenta e quatro anos depois, eles empreenderam uma grande luta
em sua compreensão — e má compreensão — da relação da lei e obediência por um lado, e do
perdão e graça por outro, encerrada em uma frase: justiça pela fé. Era a primeira grande ba-
talha doutrinária para os adventistas depois de terem desenvolvido seu sistema de ensinos.
Durante os anos imediatamente posteriores ao Grande Desapontamento, os adventis-
tas abriram caminho para uma série de doutrinas que incluía, entre outras, a imortalidade
condicional, o sábado do sétimo dia, a presença do Espinto de Profecia na igreja, uma
compreensão mais ampla das três mensagens angélicas de Apocalipse 14, e a crença no
ministério sacerdotal de Cristo no santuário celestial.
Em 1860, os adventistas escolheram um nome que incluía suas duas crenças definidoras, e
nos três anos seguintes organizaram formalmente congregações, associações, e a Associação
Geral. Nos anos que se seguiram, eles fundaram instituições para apoiar sua missão. Escolas,
estabelecimentos de assistência sanitária e empresas de publicações tornaram-se pontos de re-
ferência do adventismo. Também começaram a sentir sua responsabilidade para com o mun-
do e formaram uma junta missionária para inspecionar o envio de obreiros a outros países.
Até depois da Guerra Civil Americana, a Igreja Adventista do Sétimo Dia era pri-
martamente uma igreja da região norte dos Estados Unidos. Os adventistas começaram
nos estados do nordeste e se espalharam na direção do oeste, estabelecendo-se em Battle
Creek, Michigan, como sua sede. Eles sobreviveram à Guerra Civil abrindo precedentes
para o relacionamento de sua igreja com o Estado. Depois desse conflito, os adventistas se
aventuraram na direção do sul, um tanto cautelosamente. Para eles, era quase uma missão
a um país estrangeiro.
Durante esses anos de formação, José Bates e Tiago White, dois dos fundadores da igre-
ja morreram. À voz restante dentre os fundadores era a de Ellen G. White, que continuou
guiando a jovem denominação. Na década de 1880, ela passou algum tempo na Europa,
ajudando a estabelecer o adventismo no exterior. Os ministros, ansiosos por perpetuar as
crenças da igreja, pregavam ousadamente, as vezes de forma ameaçadora, sobre profecia,
observância do sábado e o breve retorno de Jesus. Dois homens mais jovens, da mesma
forma veemente, pregavam novas idéias sobre a relação da lei com a obediência, perdão
e graça. Para alguns, era chocante pensar que, em sua ênfase sobre doutrinas baseadas na
Bíblia, poderiam haver negligenciado a mais básica de todas, a fé no sangue expiatório de
Jesus. Desenvolveu-se um confronto e, em Minneápolis, no ano de 1888, a igreja discutiu
o assunto deixando feridas cujas cicatrizes duraram um longo tempo.
Depois disso, a igreja não foi mais a mesma. Não era mais uma corporação ingênua.
Doutrinariamente, ela passou por agudo exame de consciência. Para os adventistas, foi um
tempo de novos inícios em busca de auto-compreensão.
CAPÍTULO 1

O mundo em que se iniciou o


adventismo

Os adventistas do sétimo dia créem tantes entre st como o antigo Oriente


que suas raízes na história remontam Médio e o hemisfério ocidental.
a tempos distantes. Retrocedem não Depois de uma década e meia de
apenas ao movimento milerita das guerra quase incessante, Bonaparte foi
décadas de 1830 e 1840, porém mais finalmente confinado a uma minúscu-
longe: a Wesley e aos reavivamentos la ilhota do Atlântico Sul, e a Europa
evangélicos do século 18, aos grandes tentou reconstruir uma sociedade or-
reformadores protestantes e a grupos ganizada, livre dos excessos pelos quais
dissidentes anteriores, como os lolar- a Revolução Francesa era considerada
dos e os valdenses. Remontam à primi- responsável. Extrando inspiração dos
tiva Igreja Celta da Irlanda e Escócia, escritos de Edmund Burke e sob a argu-
à igreja perseguida dos três primeiros ta liderança do principe austríaco Mat-
séculos depois de Cristo, a Cristo e ternich, os estadistas europeus puseram-
aos próprios apóstolos. Contudo, é se a encorajar as instituições que trariam
óbvio que o adventismo moderno se estabilidade à sociedade ordenada que
desenvolveu no grande despertamento eles desejavam. Entre essas estava a
adventista que ocorreu nos primeiros Igreja Católica Romana, cuja influên-
anos do século 19. cia e prestígio gradualmente voltavam a
crescer a partir do ponto mais baixo das
Eventos na Europa precedentes décadas revolucionárias.
Todavia, muitos tinham visto as
No início daquele século, a maior afrontas amontoadas sobre os sacerdo-
parte do mundo ocidental estava preo- tes de Roma; afrontas que chegaram ao
cupada com as atividades de Napoleão auge quando o coronel-general Louis
Bonaparte. Esse aventureiro corso, que Berthier fundou a República Romana
havia pouco fora impelido à liderança do em 1798 e destitusu o Papa Pio VI, exi-
Estado dominante da Europa, ocupava- lando-o na França, onde também mor-
se em refazer o mapa europeu. Mas 1sso reu. Despertou-se um novo interesse
não satisfez sua incansável busca pelo pelas profecias de Daniel e Apocalipse,
poder. Ele decidiu conquistar uma po- principalmente o período de 1.260 dias,
sção de influência em regiões tão dis- que muitos intérpretes então acredita-
vam ter chegado ao fim com os dramá- uma terra prometida para dissidentes
ticos eventos de 1798. Esse renascimen- religiosos. Embora os Pais Peregrinos
to do interesse profético logo avançarta sejam os mais conhecidos, certamente
para um estudo mais minucioso do mais um dos mais curiosos é a Comunidade
longo período da profecia bíblica — os Alemã da Mulher no Deserto, que foi
2.300 dias de Daniel 8:14. fundada perto da moderna Filadélfia,
em 1694. Foí também na Pensilvania,
Diversidade religiosa entre os dunkers [Irmandade Batista
Nesse tempo, o protestantismo Alemã], que Conrad Beissel tornou-se
também estava experimentando um convencido da ininterrupta santidade
renascimento, principalmente na do sábado do sétimo dia. Rejeitado
Grã-Bretanha e nos Estados Uni- em sua comunidade, Beíssel retirou-
dos, onde a obra dos Wesleys estava se para formar o Ephrata Cloister
frutificando no rápido crescimento [claustro de Efrata, ou Comunida-
do metodismo. Na região americana de de Efrata], cujos membros, além
pouco explorada, as reuniões campais de observarem o sábado, negavam a
assumtam um matiz interdenomina- doutrina da punição eterna, se opu-
cional, e logo os congregacionalistas nham a toda guerra e violência e se-
e presbiterianos formais sentiram o gutam uma dieta vegetariana de duas
chamado para uma experiência reli- refeições por dia. Outras sociedades
giosa mais emocional e pessoal. comunalistas alemãs transferidas, que
O final do século 18 e início do sé- tinham profundas motivações reli
culo 19 foram profusos em diversidade giosas, eram os Rappites [Sociedade
religiosa. Proliferavam novas seitas. Re- Harmonista], os Separatistas de Zoar
jeitando o dogma e as igrejas institu- e a Sociedade Amana.
cionalizadas, proclamando seu retorno No ano da declaração de indepen-
ao cristianismo primitivo de orientação dência dos Estados Unidos apareceu
bíblica, alguns desses grupos se desen- uma profetisa local, Jemima Wilkin-
volveram em comunidades religiosas son. Em seguida a um transe de 36
com crenças e práticas posteriormente horas, a senhorita Wilkinson esta-
partilhadas pelos adventistas do sétimo va convencida de que o Espírito de
dia. Provenientes dos grupos socioeco- Cristo agora ocupava seu corpo e o
nômicos iletrados e inferiores da Eu- faria por mil anos. Chamando-se a s1
ropa, tais comunidades estavam unidas mesma de a “Amiga Universal”, ela
principalmente por um líder entusiasta, eventualmente fundou uma comu-
por sua confiança na intervenção divi- nidade de seguidores perto do Lago
na nas ocupações humanas e por sua Sêneca no Condado de Genesee, na
crença na iminência do segundo ad- região inexplorada de Nova Iorque.
vento de Jesus. Buscavam uma vida re- Embora crente no sábado do sétimo
ligiosa pura nas comunidades rurais de dia, Jemima estava disposta a aceitar
baixa densidade populacional distante o domingo como um feriado e dia de
dos males do “mundo”. repouso a fim de satisfazer o precon-
Havia muito tempo que os Esta- ceito local. Sua insistência no celiba-
dos Unidos da América tinham sido to foi um importante fator no rápido
desaparecimento do grupo depois da Os Santos dos Últimos Dias
sua morte em 1819. Embora todas essas comunidades
Uma comunidade religiosa mais religiosas acreditassem que tinham sido
duradoura foi criada por “Mãe” Ann divinamente dirigidas para um redesco-
Lee Stanley, que fora da Inglaterra para brimento de antigas verdades e práticas
os Estados Unidos em 1774 com oito cristãs, nenhuma desenvolveu um bem-
seguidores. Oficialmente chamados de sucedido programa de proselitismo. A
“A Igreja do Milênio”, os conversos de história for diferente com a Igreja de
Mãe Ann eram popularmente rotula- Jesus Cristo dos Santos dos Ultimos
dos de “the shakers” [uma tradução Dias, organizada em 1830. Seu fun-
aproximada seria “dinâmicos”. En- dador, Joseph Smith Jr., fez mais para
fatizando o celibato e a igualdade dos chamar a atenção e suspeita para a idéia
sexos (acreditava-se que Mãe Ann era de um profeta moderno recebendo re-
uma encarnação da natureza feminina velações diretas, do que qualquer um
de Deus), os shakers eram também dos seus contemporâneos. Smith, filho
dados a comunicações espiritualistas, de pais itinerantes que finalmente se es-
principalmente durante o período de tabeleceram na parte ocidental de Nova
seu maior crescimento, 1837-1844. Iorque, possuía pouca educação for-
Do Maine para Kentucky, eles funda- mal, mas tinha uma ativa imaginação e
ram bem-sucedidas colônias comunais habilidade considerável para influenciar
conhecidas por sua indústria e viver os outros. Aos 14 anos de idade, Jose-
moderado, bem como suas estranhas ph afirmou ter recebido suas primeiras
danças religiosas. visões, nas quais ele a teve a instrução
Coube, porém, a John Humphrey de que nenhuma das denominações
Noyes desenvolver um credo que enfa- religiosas existentes era correta em sua
tizava o desenvolvimento de indivídu- teologia e práticas. Vários anos depois,
os perfeitos em uma comunidade per- um anjo chamado Moroni supostamen-
festa. Convertido durante uma reunião te o conduziu a um monte próximo. Al
de reavivamento de Charles G. Finney, em uma caixa de pedra, Smith afirmou
Noyes estudou para o ministério, mas ter encontrado placas de ouro gravadas,
lhe foi negada a ordenação por causa juntamente com um peitoral e o Urim
de sua crença de que na conversão a e Tumim, e duas galenas como lunetas
pessoa torna-se livre do pecado. Ele em um ato de prata.
desenvolveu uma sociedade verdadeira- Em 1830, Smith produziu o Lzpro
mente comunista em Putney, Vermont, de Mórmon, uma suposta tradução das
mas em 1848 for forçado a mudar seu placas de outro. Segundo Smith, Deus
grupo para Oneida, Nova lorque. Sua o havia chamado para pregar a restau-
idéia de “casamento complexo”, que ração do cristianismo original a fim de
ensinava que todas as mulheres do gru- preparar o mundo para o breve retor-
po deveriam ser casadas com todos os no de Jesus, que estabeleceria o seu rei-
homens, levou os seguidores de Noyes no em uma lerra restaurada à sua con-
a grande desprezo. Posteriormente, dição original. Entre as doutrinas que
sob pressão da comunidade, o grupo os novos santos ensinavam estavam o
de Oneida abandonou esse conceito. batismo por imersão, dízimo e tempe-

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rança. Eles afirmavam que uma recen- o caminho para o espiritualismo. Na
te revelação divina autorizava a guarda opinião de Swedenborg, o segundo ad-
do primeiro dia da semana em vez do vento previsto por João no Apocalipse
sábado do sétimo dia. Smith não foi ocorreu através da revelação de Deus a
bem-sucedido em conseguir seguido- ele do verdadeiro significado espiritual
res em seu distrito natal, mas suas pro- da Bíblia. Ele afirmava que recebia vi-
priedades cresceram em seguida a uma sões em que conversava com homens
série de mudanças para Ohio, Missouri famosos das eras passadas.
e Illinois. Vieram conversos na trilha Em 1844, um sapateiro de Nova lor-
dos reavivamentos pioneiros, e foi in1- que de 18 anos de idade, Andrew Jack-
ciado um ativo programa missionário son Davis, teve um transe em um cemt-
em sua pátria e na Grã-Bretanha. tério rural durante o qual ele acreditou
No espaço de vários anos, Smr- que teve um encontro com o antigo mé-
th construiu um estado virtual dentro dico grego, Galeno, e dele recebeu men-
de um estado em torno de Nauvoo, sagens, bem como de Swedenborg. Foi
Hlinois. Então, em 1844, a desavença Davis quem popularizou a clarividência
com sua igreja devido à prática do ca- e o transe espiritualista; ele foí, de fato, o
samento múltíplo por parte do profeta primeiro médium popular da América.
e de outros líderes da igreja, juntamente
Os eruditos geralmente atribuem a ele
com os temores de líderes não-mór-
o suprimento do vocabulário e a suges-
mons, levaram à destruição de Smith.
tão da teologia do espiritualismo mo-
Oficiais do Estado se afastaram devido
derno. (Quatro anos depois, as batidas
ao anúncio de Smith de sua candidatura
misteriosas interpretadas pelas irmãs
à presidência dos Estados Unidos. Por
Fox em Hydesville, Nova Iorque, deu
ordem do governador Thomas Ford,
Smith e seu irmão Hyram foram acu- ampla publicidade nos Estados Uni-
sados de traição e detidos na prisão de dos à comunicação com os espíritos. O
Carthage, Illinois. Em 27 de junho, os espiritualismo não se desenvolveu em
irmãos foram mortos durante o assalto uma forte e separada organização de-
a prisão por uma turba. Posteriormen- nominacional. Em vez disso, seus cren-
te, Brigham Young conduziu os crentes tes retinham sua ligação com as igrejas
mórmons na direção do oeste para fun- institucionalizadas, principalmente do
dar uma nova Sião no vale do Grande gênero universalista-unitariano. Cresceu
Lago Salgado. o número de médiuns. Durante o ano
de 1859, um erudito identificou 71 em
Espiritualismo Nova Iorque, 55 em Massachusetts e
Da mesma forma que o emocio- 27 em Ohio. Estima-se que nessa época
nalismo dos reavivamentos ajudou a uns 350 mil nova-torquinos acreditavam
preparar o terreno em que brotaram na comunicação com os mortos.
as sementes do mormonismo, assim os O protestantismo tradicional estava
ensinos filosóficos de Emanuel Swe- ostentando crescente vitalidade ao mes-
denborg, que experimentou uma con- mo tempo em que se tornava mais fra-
siderável popularidade na América no cionado. Na Grã-Bretanha, que emer-
início do século 19, ajudou a preparar gu das guerras napoleônicas como uma
potência mundial dominante, o reaviva-
mento wesleyano continuou despertan-
do milhares para um novo interesse nas
cruzadas humanitárias e esforço mis-
stonário. O Grande Despertamento da
década de 1740 e, um século depois, os
reavivamentos de Finney proveram um
estímulo semelhante nos Estados Uni-
dos. Essa nova energia resultou em um
interesse grandemente difundido de le-
var o evangelho ao mundo não-cristão.

O movimento missionário
Muitos datam o início do movimen-
to misstonário protestante moderno a
partir da chegada de Guilherme Carey
à Índia, em 1793. Dois anos depois,
foi fundada a Sociedade Missionária
Guilherme Carey (1761-1834), cuja carreira
de Londres, seguida no ano posterior missionária na Índia começou em 1793, foi
pela fundação de uma otganização se- uma parte importante do movimento missio-
melhante em Nova lorque. Durante os nário protestante antes da era milerita.
anos seguintes, Robert Morrison foi
para a China, Henry Martyn para o mu- do em lares onde o nome de Cristo era
culmano Oriente Médio, Adoniram Ju- usado somente em profanidade. A fim
dson para a Índia e a Birmânia, e Robert de alcançar esse grupo, Robert Raikes in1-
Moffat para a África do Sul. Sociedades ciou o Movimento da Escola Dominical,
bíblicas que proliferavam, as quais sur- na Inglaterra, no final do século 18. Esco-
giam na Europa, América e Ásia — 63 las semelhantes foram fundadas em Nova
delas, de 1804 a 1840, deram entustás- Iorque e Boston, em 1816.
tico apoio a esse esforço missionário. A Logo a União das Escolas Dominicais
Sociedade Bíblica Britânica e Estrangei- dos Adultos (Filadélfia) estava dirigindo
ra e a Sociedade Bíblica Americana fo- 723 escolas espalhadas entre as principais
ram ativas patrocinadoras da tradução denominações protestantes em quase 20
das Escrituras em novas línguas. loda a estados. Em 1826, as Igrejas Congrega-
Bíblia, ou partes dela, foi traduzida em cional, Presbiteriana e Reformada uniram
112 línguas e dialetos entre 1800 e 1844, esforços para fundar a Sociedade Mis-
mais do que tudo realizado nos 18 sécu- stonária Americana, que nos 25 anos se-
los precedentes. guintes promoveu ativamente as escolas
e igrejas cristãs nos estados e territórios
O Movimento da Escola Dominical pouco explorados.
As igrejas reconheceram que muito
precisava ser feito em suas redondezas, Condições econômicas
bem como em terras estrangeiras. Milha- As condições econômicas na Grã-
res de crianças e jovens estavam crescen- Bretanha e nos Estados Unidos contri-

Materta! com dirertos Autor ais


buíram para a capacidade das igrejas de logo estavam envolvidos na campa-
financiar empreendimentos missionários nha para melhorar diversos aspectos
na pátria e no exterior. O advento da da sociedade. O mais famoso evange-
aperfeiçoada tecnologia na indústria têxtil lista da América, Charles Grandison
e o desenvolvimento da máquina a vapor Finney, “pregava não apenas salvação,
impulsionatam a Inglaterra para a primei- mas reforma”. Muitos que se conver-
ra Revolução Industrial. Fortunas foram teram por sua pregação tornaram-se
adquiridas na manufatura e no comér- temperantes e antiescravagistas.
cio com um crescente império no exte- Talvez nenhum movimento de re-
nor. Muita dessa nova riqueza mercantil forma exibisse mais claramente o en-
foi doada para sustentar os missionários trelaçamento de motivações religiosas e
além-mar, talvez na esperança de que o seculares do que a cruzada para promo-
desejo de comprar os produtos usufru- ver a temperança. Centenas de clérigos
idos pelos cristãos seguiria a adoção de classificavam a intemperança e o tráfico
sua religão. Outros, cuja consciência es- de bebida alcoólica como pecaminosos.
tava perturbada ante a riqueza adquirida Guilherme Miller exortava seus seguido-
através de “asquerosas” iniciativas como res: “Por amor da sua alma não beba ne-
o tráfico de escravos, senttam-se melho- nhum outro gole, para que Ele [Cristo]
res ao doarem dinheiro para que a Bíblia não venha e o ache embriagado.” Outros
fosse traduzida para o hindustant. defensores da temperança eram estimu-
À população nas áreas urbanas cres- lados por interesses mais terrenos. Se nú-
cia tanto quanto as fábricas. Essa con- meros crescentes de cidadãos tivessem o
centração populacional tornou mais direito de votar, era essencial que eles o
fácil o contato com muita gente em fizessem com a mente não estonteada
um período curto. Todavia, a Revolu- pela bebida alcoólica.
ção Industrial demonstrou-se uma faca Diversas causas designadas para me-
de dois gumes para as igrejas cristãs. O lhorar a sorte dos grupos desfavorecidos
aumento na variedade e quantidade de atratam os promotores de reformas. Tho-
bens materiais tendia a estimular a na- mas Gallaudet e Samuel Gridley Howe
tureza ambiciosa dos ricos e a despertar faztam campanha em prol da educação e
a inveja dos pobres. Os trabalhadores percepção dos surdos e dos cegos. Louis
de fabricas e minas de carvão, cansados Dwight, de Boston, procurava despertar
de um dia de trabalho de 12 a 16 ho- os membros da igreja para as “misérias
ras, eram geralmente letárgicos ou indi- das prisões”. Certamente muitos aspec-
ferentes para com as coisas espirituais. tos dos métodos comuns de lidar com
Desiludidos com suas probabilidades delinquentes necessitavam de reforma.
de melhoria da situação soctoeconômi- O confinamento nos troncos, açoites e
ca na sociedade inglesa, milhares ansia- a estigmatização ou marcação com ferro
vam emigrar para a América, Austrália em brasa eram desumanos — tratamento
ou África do Sul. inadequado mesmo para escravos! Cer-
tamente o aconselhamento, a educação e
Movimentos de reforma as cerimônuas religiosas eram mais fortes
Tanto na Inglaterra quanto nos do que a punição corporal para encora-
Estados Unidos grupos religiosos jar a reforma.

Vararia
Reforma educacional por muitos, dos quais o mais conhe-
Foi durante esses anos que o sistema cido foi Sylvester Graham. À grande
gratuito de escola pública tomou forma epidemia de cólera de 1832 levou os
nos Estados Unidos. Começando em americanos a dar ouvidos ao chamado
1823, quando Samuel Hall exigiu melhor de Graham para uma dieta vegetariana
treinamento para professores primários, a que enfatizava o uso de trigo integral
iniciativa para aperfeiçoar as escolas finan- não refinado moído em pedra de moi-
ctadas publicamente ganhou impulso de- nho e grãos de centeio.
pois que Massachusetts nomeou Horace Edward Hitchcock, no Hamherst Col-
Mann, em 1837, como o primeiro inspe- lege, e Reuben Mussey, em Dartmouth,
tor estadual de educação. No ano seguinte, promoveram um regime de saúde mais
Nova Jersey tornou-se o primeiro estado completo que salientava uma dieta vege-
a prover educação primária gratuita para tartana moderada, asseio pessoal, repouso
todas as crianças à custa do poder público. e exercício adequados, e abstinência de
Logo sob a liderança de Mann e Henry bebidas alcoólicas, café, chá, fumo e alí-
Barnard, do vizinho estado de Connecti- mentos preparados com grandes quanti-
cut, os edifícios escolares foram melhora- dades de gordura. Na década de 1840, a
dos, o período letivo alongado, as escolas hidroterapia foi importada de Graefen-
normais desenvolvidas, e aumentado o
burg, Áustria, onde um camponês iletra-
do, Vincent Priessnitz, havia descoberto
salário dos professores.
acidentalmente a eficiência da água fria
Reformadoras feministas no alívio da dor e da inchação. A sim-
Muitos dos mais ativos reformadores
eram mulheres. Várias lutaram pela me-
lhoria de sua própria sorte. Embora ao sa EM E
longo da região pouco explorada fosse ve aÃ, 4
-

comum as mulheres serem acertas como


quase iguais, nas áreas mais antigas da
colonização esperava-se que elas fossem
boas governantas, fortes no apoio da
igreja, mas ignorantes de política, eco-
nomia e assuntos jurídicos. Esse ponto
de vista foi vigorosamente atacado por
Margaret Fuller, Lucy Stone e dezenas
de outras que lutavam por direitos iguais
para receber educação, ingressar em
qualquer profissão, controlar seus pró-
prios bens e fazer com que suas vozes
fossem ouvidas em assuntos públicos.
O ”

Hábitos salutares Entre os primeiros reformadores america-


nos do início do século 19 estava Sylvester
Um chamado para reformar os há- Graham (1794-1851) que estimulou a combi-
bitos pessoais de saúde foi encorajado nação de alimentos naturais na dieta para a
melhoria da saúde.

Materta! com diretos autarais


plicidade da água como agente curativo
chamou a atenção de muitos que esta-
vam céticos quanto aos médicos defi-
cientemente instruídos ou qualificados
da época.

Abolição da escravatura
Nos Estados Unidos, pouco a pou-
co, a preocupação com um mal espe-
cífico tornou-se tão global que con-
sumiu praticamente todas as energias
reformistas do país. Havia tempo que
a escravidão perturbava a muitos, mas
ao tornar-se mais lucrativa, em seguida
a invenção do descaroçador de algodão
por El Whitney, os lavradores do sul
abafaram a consciência pela devoção
aos seus bolsos. Durante os primeiros O abolicionista Willam Lloyd Garrison
anos do século 19, a defesa da abolição (1805-1879), editor da Nova Inglaterra, falou
abertamente contra a escravidão como um
foi deixada principalmente aos quakers. dano moral.
Na década de 1830 1sso começou a mu-
dar. Despertados pelos estridentes tons Esta atitude levou à formação do Par-
do Liberator de Willam Lloyd Garri- tido da Liberdade em 1840. O ex-pre-
son, encorajados e envergonhados pela sidente John Quincy Adams combatia
abolição da escravatura no Império vigorosamente a ler “mordaça” [ler de
Britânico e pela identificação da escra- restrição à liberdade de imprensa], pela
vidão com o pecado por evangelistas qual o Congresso havia tentado su-
como Finney e Theodore Weld, milha- primir as petições antiescravistas. Os
res de americanos de Massachusetts a ânimos foram acirrados. Não somente
Ohio mobilizaram uma cruzada a fim os abolicionistas do norte se opunham
de terminar para sempre a posse de um aos proprietários de escravos do sul,
homem por outro. mas vizinho discordava de vizinho no
O problema da escravidão am- norte. Os drreítos das mulheres, a tem-
pliou-se incluindo os direitos de li- perança, a reforma da saúde, tudo se
vre expressão e uma imprensa livre, desvaneceu no calor da controvérsia
ao mesmo tempo em que defensores que logo iria dilacerar a nação e quase
antiescravagistas eram untados com dividi-la em duas.
alcatrão quente e cobertos de penas
como punição no sul, e o diretor geral Viagem e comunicação
dos Correios Amos Kendall aprova- Em geral esses anos de reforma
va a recusa dos agentes do correio do foram, nos Estados Unidos, anos de
sul de entregar literatura abolicionista. prosperidade. Um aparentemente
Para alguns, a política parecia a única mesgotável abastecimento de boas
maneira de combater o mal crescente. glebas de terra cultivada prometia que,
exceto pelos desastres econômicos, mocrática de governo. Sempre houve
tais como o Pânico de 1837, ou severa uma afinidade entre o protestantismo
enfermidade física, quase toda família e a democracia. Aquele que exigia li-
disposta a trabalhar poderia ter a segu- berdade para interpretar as Escrituras
rança de tornar-se proprietária. Real- e ordenar suas práticas religiosas como
mente, essa terra deveria ser arrancada lhe aprazia geralmente não estava dis-
com esforço das pradarias virgens e posto a aceitar o domínio autocráti-
florestas. Exigia-se também a dispo- co de reis ou oligarcas. Em ambos os
ssção de mudar-se constantemente na países, o impulso democrático estava
direção do oeste onde os preços da se aprofundado durante as décadas
terra eram mais baixos. Então o algo- de 1820 e 1830. A Democracia Jack-
dão e o trigo produzidos deveriam ser sontana [referente a Andrew Jackson,
transportados para os mercados. Não sétimo presidente dos Estados Uni-
é de se surpreender que os america- dos] na América pressagiava a era do
nos durante esses anos firmassem sua homem comum, igualitarismo pionei-
fé em melhoramentos internos como ro, um ampliado direito de voto, par-
uma rede de canais e rodovias em con- ticipação do povo no governo e um
tinua expansão. Já em 1811, os navios compromisso com a educação para
a vapor estavam operando sobre o todos à custa do poder público.
Mississippi. Logo o vapor serta usado As idéias democráticas e liberais es-
para impulsionar carros sobre trilhos tavam também se expandindo por todo
de ferro ao que parecia uma extraor- o continente europeu. À despeito dos
dinária velocidade de 25 a 30 quilôme- diligentes esforços dos conservado-
tros pot hora. res, as esperanças populares de maior
O vapor e a eletricidade também participação no governo e numa par-
proporcionaram energia para a trans- te maior do bolo econômico ajudaram
missão mais rápida de conhecimento: a precipitar as Revoluções de 1830 e
em 18140 London Times mstalou a pri- 1848. Em vários lugares — Bélgica, Ale-
meira prensa cilíndrica a vapor; na dé- manha, Polônia — essas manifestações
cada de 1830, Samuel F. B. Morse apro- estavam unidas ao espírito de naciona-
veitou a corrente elétrica para desenvol- lismo. As agitações nacionalistas esta-
ver o primeiro telégrafo bem-sucedido. vam também sendo sentidas na Itália
Em maio de 1844, Morse enviou sua e na América espanhola. Nos Estados
primeira mensagem sobre o cabo tele- Unidos, elas irromperam na Guerra
gráfico recentemente estendido entre de 1812, no conflito posterior com o
Washington e Baltimore. México e nas disputas com a Inglaterra
sobre a fronteira canadense no Maine e
Democracia
Oregon. Aqui, também, o nacionalismo
Dificilmente parece coincidência se transformou em um detestável jin-
que a Inglaterra e os Estados Unidos, goismo antiestrangeiro na medida em
as duas colunas da crescente expansão que multidões cada vez maiores de ca-
evangélica protestante, fossem tam- tólicos 1rlandeses, impelidos pela fome,
bém os dois países mais firmemente começavam a chegar a Boston, Nova
comprometidos com uma forma de- Iorque e Filadélfia. Escolas e igrejas

Astra q qo “5; Foi pie


católicas foram queimadas, e propostas milhares. Havia um crescente inte-
para tornar a naturalização mais dificil resse tanto na aquisição dos confor-
chegavam a ser cada vez mais popula- tos deste mundo quanto no preparo
res entre os políticos. individual e de outros para o mundo
O quarto de século que se seguiu vindouro. Idéias e organizações reli-
ao final das guerras napoleônicas foi giosas estavam nascendo e morrendo
um período de agitação. Uma nova em um ritmo acelerado. O interesse
tecnologia baseada no vapor e na pela profecia bíblica e pelo estabele-
eletricidade estava em seu início. Um cimento do reino glorioso de Cristo
grande número de reformas, desde competia por atenção nesse ambiente
o vegetarianismo à abolição da es- turbulento. Seria esse interesse man-
cravatura, despertava as emoções de tido ou vacilaria e desapareceriar

Leitura temática sugerida

Movimento geral de reforma:


A. R. Tyler, Freedom's Ferment (1944), abrange a reforma religiosa e humanitária nos
Estados Unidos nas décadas de 1830 e 1840.
Jerome Clark, 7844 (1968), uma abordagem em três volumes do ambiente em que
surgiu o adventismo.
Edwin Gaustad, ed., The Rise of Adventism (1974), inclui ensaios acerca da reforma
social, comunitarismo e reforma da saúde.
Frederick Hoyt, “Ellen G. White's Hometown: Portland, Mame, 1827-1846”, em
The World of Ellen G. White (1987), Gary Land, ed., determina com precisão o estado de
ânimo da época a medida que afetava o ambiente em que Ellen G. White cresceu.

A atmosfera religiosa:
B. A. Weisberger, [hey Gathered at the River (1958), cap. 4, descreve o reavivamento de
Charles G. Finney nos Estados Unidos.
K. S. Latourette, The Great Century (1941), caps. 2 e 3, analisa a expansão das missões
cristas.
L. E. Froom, Movement of Destiny (1966), caps. 2 e 3, interpreta o movimento muissio-
nário cristão.
Jonathan Butler, “When América Was “Christian”, em Land, ibid., descreve a atmos-
fera cristã geral dos Estados Unidos no tempo do surgimento do adventismo.

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era! com oirenos au
CAPÍTULO 2

O grande despertamento
adventista

Como as palavras dos anjos mensa- a segunda vinda ocorre quando um 1n-
geiros devem ter ressoado aos ouvidos divíduo aceita a Cristo ou morre para
dos discípulos naquele dia do ano 31 o velho mundo do pecado. No quinto
d.C., enquanto caminhavam com difi- século, Agostinho de Hipona afirmava
culdade de volta para Jerusalém vindo que o reinado milenar de Cristo havia
do Monte das Olíveiras! “Esse Jesus se iniciado com a fundação da sua igreja
que dentre vós foi assunto ao Céu virá no primeiro advento.
do modo como o vistes subir.” Daquele
dia em diante, o retorno de seu Senhor Interesse na profecia
foi a “bem-aventurada esperança”, men- Nos séculos subsequentes, eruditos
cionada mais de 300 vezes pelos escrito- isolados, tais como Joachim de Fiore
res do Novo lestamento. Então, pouco (em seguida a 1180), viram nas pro-
antes da sua morte, o amado João obteve fecias bíblicas de Daniel e Apocalipse
um vislumbre de uma tercetra vinda, mil evidência da aproximação do segundo
anos depois da segunda, quando o juízo advento. lodavia, for somente a partir
final seria proferido contra o pecado e da Reforma Protestante que a crença
os pecadores. na iminência desse evento se desenvol-
Tão real era para a igreja cristã pri- veu em uma ampla escala. Mais décadas
mitíiva a esperança do iminente retorno se passaram, e a esperança continuou
de Cristo que Edward Gibbon, em sua não realizada. Pelo início do século 18,
tentativa racional de esclarecer o rápido muitos teólogos protestantes estavam
crescimento do cristianismo, identificou prontos para uma nova opinião do ad-
a crença na breve volta de Cristo como vento. Um clérigo inglês, Daniel Whr-
um dos principais fatores do sucesso do tby, logo os favoreceu. Ele postulou
cristianismo. Mas Cristo não voltou. À uma “segunda vinda” espiritual a ser
medida que os anos se expandiam em seguida por mil anos, durante os quais
décadas e então em séculos, cada vez em primeiro lugar os protestantes, em
mais os cristãos aceitavam o ponto de seguida, os católicos e, posteriormente,
vista espiritualizado de Orígenes de que os judeus e muçulmanos, renunciariam
ao pecado e à descrença e se conver- Wood, piedoso leigo irlandês. Wood,
teriam inteiramente a Cristo. No final porém, iniciava ambos os períodos em
desse milênio, Cristo realmente viria 420 a.C. e assim terminava os 2.300
literalmente. Protestantes em geral aco- anos em 1880.
lheram essa idéia com entusiasmo. Por Aproximadamente 50 anos antes
volta de 1750, o whitbyanismo, a crença de Petrt, Johann Bengel, outro clérigo
em um advento pós-milenial, dominava alemão, tinha exercido um grande im-
a escatologia protestante, principalmen- pacto sobre o protestantismo evangéli-
te na Inglaterra e nos Estados Unidos. co. Para Bengel, toda a Bíblia era uma
Quando Timothy Dwight, reitor da revelação progressiva do plano divino
Yale University, proclamou em 1798 para a salvação do homem, onde Cristo
que “o advento de Cristo está às nos- é a figura central. Todos os períodos de
sas portas”, ele tinha em mente, ao que tempo proféticos apontam ao futuro,
tudo indica, o conceito whitbyano de para a culminação do plano de Deus:
um advento espiritual. a segunda vinda de Cristo em glória.
A Revolução Francesa também rea- Bengel era fascinado pelo número
cendeu a especulação milenial e o inte- da besta mencionado em Apocalipse
resse em profecias de tempo como os 13:18 e concluiu que esse número, 666,
1.260 dias (Dn 7:25) e os 2.300 dias (Dn era igual aos 1.260 anos de supremacia
8:14). Nos círculos cristãos, a percepção da besta. Através de um complicado
de que um dia profético representava raciocinio matemático ele terminava
um ano remonta, no mínimo, a Joachim o período em 1836. Acreditava que
de Fiore. Por volta de 1800, muitos ex- Cristo voltaria nesse tempo e iniciaria
positores protestantes estavam conven- um reinado milenial sobre a Terra a ser
cidos de que o período de 1.260 anos seguido por um segundo milênio no
de supremacia papal havia terminado Céu. Bengel prestou pouca atenção aos
durante a década de 1790. A atenção 2.300 dias, além de identificá-los como
começou a ser transferida para os 2.300 2.300 anos literais.
dias, a profecia específica de tempo mais
longa da Bíblia. Manuel de Lacunza
Durante séculos, a Igreja Católica
Despertamento na Alemanha Romana ou tinha praticamente igno-
A solução para a datação dos 2.300 rado a volta de Cristo ou a havia pro-
dias foi provida em 1768 por Johann jetado para um futuro muito distante.
Petr, pastor calvinista alemão. Eviden- Então, na década de 1790, um ma-
temente, foi Petri o primeiro a cons- nuscrito intitulado The Coming of the
tatar a relação intima entre a profecia Messiah in Glory and Majesty |A Vinda
messiânica das 70 semanas de Daniel do Messias em Glória e Majestade],
9 e os 2.300 dias de Daniel 8. Ele ini- escrito por um exilado sacerdote jesu-
ctava ambos os períodos de tempo ita, começou a circular na Espanha e
em 453 a.€., concluindo assim, que os na América Espanhola. Manuel de La-
2.300 dias /anos terminariam em 1847. cunza tinha sido forçado a deixar seu
Conclusões semelhantes foram tira- país, Chile, em 1767, quando Carlos
das acerca do mesmo tempo por Hans HI expulsou todos os jesuítas de seu

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rara
- a -
Om
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Giranos
ns - -
atifarais
- a
reino. Lacunza finalmente reinstalou- Expositores ingleses
se em um mosteiro perto de Bolonha, O livro A Vinda do Messias em Glória
Itália. Ali ele achou tempo livre para e Majestade tornou-se um importante es-
completar seu estudo do segundo timulo para o despertamento adventista
advento, que lhe havia despertado a que floresceu brilhantemente duran-
curiosidade por mais de 20 anos. Per- te a década de 1820 na Grã-Bretanha.
cebendo a probabilidade de que suas No início da era napoleônica, cresceu
opiniões incorrertam na ira da Inqui- o interesse na interpretação profética
sição, Lacunza fez circular seu manus- entre os clérigos ingleses. Isso pode ser
crito sob o pseudônimo de Juan Josa- visto claramente nas colunas de cor-
fat Ben-Fzra. For somente em 1812, respondências do The Christian Observer
mais de uma década depois da morte [O Observador Cristão], jornal anglica-
do autor, que o manuscrito foi publi- no publicado em Londres em 1802. A
cado na Espanha, onde a autoridade princípio, os colunistas do Observer esta-
da Inquisição havia sido enfraquecida vam particularmente preocupados com
durante a ocupação francesa. o período de 1.260 anos, mas em 1810,
Mesmo antes da publicação, tra- John A. Brown introduziu os 2.300
duções manuscritas da obra de La- anos na discussão, datando-os de 457
cunza em latim e italiano estavam em aC. a 1843 dl.
circulação. Uma vez impressa, ela se Essas datas foram posteriormente
espalhou rapidamente, criando uma aceitas por um dos mais vigorosos colu-
considerável agitação por todo o sul nistas do Observer, William Cunmngham.
da Europa e América Latina. Crendo Esse leigo escocês tornou-se um escritor
que os dois adventos de Cristo eram prolífico, publicando 21 obras diferen-
os pontos focais de toda a história, tes sobre profecia bíblica e cronologia.
apelava para um exame completo da Cunningham acreditava estar vivendo
Bíblia em busca de luz sobre o bre- no tempo do primeiro anjo de Apocalp-
ve regresso de Jesus. Esse sacerdote se 14:6 e 7 e que as mensagens a serem
jesuíta aceitava o ponto de vista da soadas pelo segundo e terceiro anjos
Igreja Cristã primitiva de que deveria desse capítulo anda estavam no futuro.
haver duas ressurreições dos mortos, Ele interpretava a “purificação do san-
separadas por um milênio. Sua com- tuário” no final dos 2.300 anos como o
preensão de que o segundo advento início da purificação da Igreja de Deus
ocorreria antes do milênio colocava-o e a visitação do juízo sobre a apostasia
em direta oposição ao pós-milenialis- e o islamismo. Também esperava o inií-
mo whitbyano. cio do milênio no final do período de
Como Lacunza havia temido, seu 1.335 dias /anos mencionado em Daniel
livro for condenado pela Sagrada Con- 12:12. Pelo fato de considerar o ano de
gregação do Índice. Em 1824, o papa 533 como o início desse período, como
Leão XII proibiu oficialmente sua pu- fez com os 1.260 anos, Cunningham
blicação “em toda e qualquer lingua”. supôs que este terminaria em 1867.
Longe de exterminar sua influência, a Eram evidentes as várias diferenças
proibição papal era uma virtual reco- entre os participantes britânicos no des-
mendação aos eruditos protestantes. pertamento adventista e seus correlati-

EA=s- ; 1 firaHAa E E nt Te
Vieqi AT , | TIO 1 [es
vos do movimento milerita posterior na College of Missionary Propaganda.
América. Em geral, os pregadores britá- Logo porém, esse brilhante jovem ju-
nicos deixaram de proclamar uma data deu achou-se em intenso conflito com
específica com o mesmo fervor que os professores e colegas de estudo sobre o
americanos. À crença de que os judeus direito da igreja de queimar hereges, que
sertam convertidos e voltariam a esta- Wolff denunciou como uma violação do
belecer um estado na Palestina era uma mandamento “não matarás”.
importante doutrina britânica, mas não O espírito de independência de
milerita. Isso levou crentes ingleses no Wolff colocou-o sob a vigilância do
advento tais como Lewis Way e Henry Santo Ofício, e, finalmente, levou-o
Drummond a terem um interesse muito ao banimento de Roma. Logo depois
especial no trabalho missionário em prol disso, ele desligou-se do catolicismo e
dos judeus. Drummond, o anjo financei- migtou para a Inglaterra, onde tornou-
ro do adventismo britânico, era um prós- se anglicano. Wolff chegou a esperar o
pero banqueiro que decidiu em 18177 re- segundo advento de Cristo em 1847.
nunciar à política e dedicar-se ao serviço Nenhum outro crente no advento pro-
cristão. Por sugestão de Way, em 1826, clamou as boas novas desse antecipado
Drummond convidou vários ministros evento mais amplamente. Sendo perito
e leigos interessados para empenhar-se em seis línguas e capaz de convetsar
em um estudo intensivo das profecias com facilidade em outras oito, Wolff
durante uma semana em sua proprie- foi um missionário compulsivo para
dade de Albury Park. Essa conferência judeus, muçulmanos, hindus e parsis.
tornou-se um evento anual pelos próxi- Atravessou a maior parte do Oriente
mos quatro anos. Todos os participantes Médio, penetrou os misteriosos países
concotdavam que a vinda de Cristo es- da Ásia central e cruzou os Himalaias
tava “às portas”, e muitos o esperavam até a Índia. Em uma visita à América,
em 1847. Eles interpretavam a obra das no ano de 1837, for convidado a diri-
recentemente organizadas sociedades gr a palavra ao Congresso americano.
missionárias e das sociedades bíblicas Logo depois disso, foi-lhe pergunta-
como o cumprimento do alto clamor do do o que ele faria se, quando chegasse
primeiro anjo de Apocalipse 14. 1847, não se iniciasse o milênio. “Bem”,
Entre os participantes das conferên- respondeu imediatamente, “eu direi que
cias de Albury Park, destacam-se dois jo- Wolff estava equivocado”.
vens no início de seus 30 anos: José Wol- Edward Irving, a “figura mais pito-
ff e Edward Irving. Filho de um rabino resca do despertamento adventista bri-
judeu-alemão, Wolff senttu-se atraído tanico”, cresceu na Escócia e graduou-
pata o cristianismo na juventude. Repe- se na Universidade de Edimburgo com
hdo pelo racionalismo prevalecente no a idade de 17 anos. Depois de um minis-
protestantismo alemão do início do sé- tério aprendiz em Glasgow, ele aceitou
culo 19, ele voltou-se pata o catolicismo. o convite para pastorear uma pequena
Chegando a Roma, Wolff tornou-se um capela em Londres. Logo sua brilhante
favorito do papa e dos cardeais. Seu dom oratória, reputação de piedade e capa-
natural para as línguas e o fervor evan- cidade de identificar-se com seus paro-
gelistico deram-lhe acesso ao Church's quianos conduziram à sua capela a fina
flor da sociedade londrina. Ele achou mento por heresia. Com o espírito
necessário mudar-se para a maior igreja abatido, morreu em 1834.
presbiteriana de Regent Square a fim de
acomodar sua congregação. O precoce Expositores continentais
e um tanto casual interesse de Irving Nenhum outro país europeu tinha
nas profecias mudou dramaticamente tão brilhante aglomerado de arautos da
quando ele leu uma edição espanhola esperança do advento do que a Inglater-
da obra de Lacunza, em 1826. Naquele ra. Todavia, o continente não ficou sem
mesmo ano, ele uniu-se a James Frére e testemunhas. Em Genebra, François
Lewis Way na organização da Socieda- S. R. L. Gaussen, expulso do púlpito
de para a Investigação da Profecia, que pelo clero racionalista estatal, tornou-
se reunia para estudar “a iminente vinda se professor da Escola de Ieologia da
de nosso Senhor”. Sociedade Evangélica. Como “zeloso
Domingo após outro, Irving en- defensor” do segundo advento, em seu
snava o iminente retorno de Jesus ensino ele prestava especial atenção às
diante de congregações apinhadas de profecias. Gaussen deu origem a uma
mil pessoas em sua igreja de Londres. maneira singular de criar interesse nas
Em viagens à Escócia, ele falou ao ar profecias apresentando às crianças de
livre diante de multidões de até 12 mil Genebra uma série de lições da Esco-
pessoas. Uma grande congregação de la Dominical sobre Damel. Essa série
Edimburgo concentrava-se para ouvi- atrata muitos adultos, inclusive vários
lo às cinco horas da manhã. Duran- que visitavam a cidade provenientes de
te uma de suas viagens à Escócia, ele outras regiões da Europa.
converteu os três irmãos Bonar à es- Na Alemanha, a esperança do ad-
perança do advento. Horácio Bonar, vento fot promovida por homens
então com apenas 21 anos, posterior- como Johann Richter, pelo diretor de
mente serviria por 25 anos como edi- escola da Bavária, Leonard Kelber, e
tor do The Onarterly Journal of Prophecy por um desconhecido pároco católico
[O Trimensário da Profecia]. romano, Johann Lutz.
Mas a tragédia atingiu a igreja de
Irving. Num domingo em 1831, o Escandinávia
sermão fot interrompido por uma Uma disposição geral para o rea-
invasão súbita e impetuosa de falar vivamento na Escandinávia, incluindo
em línguas; experiências seguidas por visões, sonhos e declarações proféti-
cura pela fé. A congregação tornou- cas, concentrava a atenção de milhares
se profundamente dividida quanto na mensagem do advento. Na Suécia,
a genuinidade dessas manifestações o clero da igreja estatal mostrou-se de-
sobrenaturais. Embora não estivesse sinteressado em discutir a breve vinda
diretamente envolvido em nenhum de Cristo, ao passo que leigos come-
destes fenômenos, Irving recusou çaram a proclamar a iminente hora do
condenar o que ele imaginou que po- juízo divino em reuniões nos lares e
deria ser o prometido derramamento nas florestas. Sendo que tais reuniões
do Espírito Santo nos últimos dias. constituíam uma violação do decre-
Isso resultou em sua remoção e julga- to real, os jovens pregadores leigos

a A a - 144 =
foram detidos, espancados e apristo- discussão entre os estudantes da profe-
nados. Eles afirmavam que, quando o cia sobre se os 2.300 dias terminavam
Espírito de Deus vinha sobre eles, não em 1843, 1844 ou 1847. Não se chegou
podiam deixar de pregar e justificavam a nenhum consenso. Segunda, houve
suas ações citando Joel 2 e Apocalipse uma falha em concentrar-se sobre um
14:6-8. Particularmente, durante os anos único período de tempo. Considerável
de 1842 e 1843, muitas crianças e jo- interesse foi mostrado nos períodos
vens, meninas e meninos, alguns tendo de 1.290: 1,335 dias: (Da. 12:81, 12),
apenas seis anos de idade, discursavam além dos 1.260 e 2.300 dias, os quais
sobre a segunda vinda e convidavam o foram estendidos por muitos a 1866 ou
povo ao arrependimento. Isso exercia 1867. O que, então, estava para aconte-
um profundo impacto sobre muitos, cer? Os expositores do Velho Mundo
principalmente entre o povo comum. também se inclinavam a espetar a con-
Muitas dessas crianças eram analfabe- versão e restauração dos judeus e a ex-
tas. Algumas pareciam pregar enquanto pulsão dos muçulmanos de Jerusalém
se achavam como em transe; o tom e à antes do advento. Ao aproximar-se a
maneira de suas vozes mudavam com- década de 1840, não havendo nenhuma
pletamente quando eram “subjugadas” evidência de que essas coisas estavam
pelo Espírito. prestes a ocorrer, o interesse se trans-
fertu para os anos de 1860. Nem a In-
Austrália elaterra, nem o continente publicaram
Do outro lado do mundo, em Ade- quaisquer jornais populares para pro-
laide, Austrália, Ihomas Playford pre- mover as opiniões sobre a volta de Je-
gava poderosos sermões sobre o se- sus. (Os jornais que se interessavam nas
gundo advento. Sendo que as igrejas profecias e no advento eram em grande
locais não eram suficientemente gran- parte de natureza erudita, inclinados a
des para conter suas audiências, amigos tratar os eventos com indiferença em
construíram um grande edifício para vez de fervor evangelístico. Não de-
seu uso. Na Índia, Daniel Wilson, bis- senvolveram nenhum seguimento em
po episcopal de Calcutá e um dos par- massa. Talvez o Velho Mundo estrves-
ticipantes das conferências de Albury se demastado apegado aos velhos hábr-
Park, publicou em 1836 um livro sobre tos, demasiado conservador para olhar
as profecias de Daniel. Nesse volume, com entusiasmo em direção a algo tão
ele marcava o final dos 2.300 anos em revolucionário como a segunda vinda e
1847, em cujo tempo ele esperava o re- um novo céu e nova lerra.
torno de Cristo e uma ressurreição pré-
milental dos mortos. Estados Unidos
Entretanto, apesar de todo o inte- Embora nos Estados Unidos não
resse na segunda vinda, o Velho Mun- houvesse nenhum grande interesse em
do deixou de produzir um movimento um iminente segundo advento até uma
unificado que se dedicasse a promover década depois das conferências de Al-
o preparo para esse evento culminan- bury Park, houve muita especulação
te. Por quê? Várias razões podem ser sobre o período de 2.300 anos. Já em
sugeridas. Primeira, havia considerável 1811, o pastor presbiteriano William
C. Davis, da Carolina do Sul, calcu- Guilherme Miller
lou que o final das profecias dos 2.300 Todavia, esse não era um fazendeiro
e 1.260 anos ocorreria em 1847. Ele comum. Sendo o mais velho de 16 fi-
chegou a essa data pelo reconhecimen- lhos, Guilherme Miller logo se deu con-
to de que as 70 semanas de Daniel 9:24 ta de que não havia dinheiro para pro-
provtam a solução para o início dos ver a educação superior que desejava. A
2.300 dias. Davis interpretava a “pu- universidade precisaria ter alguns livros,
rificação do santuário” como o início como os que ele podia tomar empresta-
do milênio. Nesse tempo, ele acredita- do de vizinhos amigáveis na região se-
va que a “verdadeira adoração de Deus midesértica do sudoeste do Lago Cham-
seria restaurada na igreja”. Decidido a plain, onde ele cresceu. Lendo à luz de
integrar as profecias dos 1.290 e 1.335 nós de pinheiro, muito tempo depois
dias com os outros dois períodos de de o restante da família ter-se recolhido,
tempo, que ele já havia sincronizado, Miller desenvolveu um conhecimento
Davis previu o início da purificação básico da Bíblia e da história. Também
da igreja em 1847 com a subversão do desenvolveu alguma habilidade na escri-
papado. À conversão dos judeus se 1n1- ta, O suficiente para que, com frequên-
ctaria 30 anos depois, mas ele adiou a cia, fosse solicitado a escrever cartas ou
glória plena do milênio até 1922. Mais compor um verso para um amigo.
tarde, esse pastor adotou um ponto de Aos 21 anos, Miller casou com
vista pós-milenialista mais completo, uma jovem de Poultney, Vermont, do
colocando um segundo advento literal outro lado do limite estatal do lar de
e pessoal aproximadamente 365 mil sua família em Low Hampton, Nova
anos no futuro. Iorque. Após mudar-se para a comu-
Outros pregadores americanos, tais nidade de sua esposa, ele rapidamente
como Joshua L. Wilson, de Cincinnati, se aproveitou da biblioteca da vila. Seu
e Alexander Campbell, fundador dos interesse pelo saber o pôs em contato
Discípulos de Cristo, chegaram a en- com os intelectuais do povoado local,
sinat a purificação do santuário e os muitos dos quais eram deístas. Sob a
2.300 dias de forma muito semelhante influência de uma mãe religiosa e um
a do pastor Davis. Em 1830, um lei- avô e um tio que eram pregadores ba-
go campbelita, Samuel McCorckle, do tistas, o jovem Miller tinha aprendido
Tennessee, chegou até mesmo a proje- a reverenciar a Bíblia. Agora, seus no-
tar um segundo advento literal a ocor- vos amigos o encaminharam a céticos
rer em 1847. Na maior parte do tempo, como Voltasre, Pane e Hume. Em
contudo, o pós-milenialismo whitbya- pouco tempo, ele conclutu que uma fi-
no dominou o pensamento daqueles losofia deista era mais razoável do que
clérigos americanos que estudavam os a aceitação da Bíblia, que lhe parecia
períodos de tempo proféticos da Bi- cheta de enfadonhas incoerências.
blia. Restava a um fazendeiro de Nova Miller era bem aceito em sua co-
lorque desenvolver uma convincente munidade, servindo-a como oficial de
interpretação pré-milenial do segundo polícia, juiz de paz e subxerife. Pouco
advento vinculada aos 2.300 dias. antes do início da Guerra de 1812, ele
tornou-se tenente na milícia estadu-
al; durante a guerra foi promovido ao Miller não considerava isso edificante,
posto de capitão no exército ativo. As de sorte que deixou de frequentar em
experiências de Miller em tempo de ba- tais domingos, até que os diáconos o
talha abalaram sua fé no deismo. Ao ver convidaram pata ler os sermões. Gra-
companheiros morrendo, ele se preocu- dualmente, ele se tornou insatisfeito
pou com a questão de uma vida futura. com a falta de esperança para uma
Veio então a participação na Batalha de vida além da sepultura, idéia própria
Plattsburg, onde as forças americanas do deismo. Um domingo, enquanto lia
inexperientes eram superadas em nú- o sermão, ele foi vencido pela emoção
mero quase três a um pelos veteranos e teve de assentar-se. Subitamente, ha-
britânicos, muitos dos quais haviam lu- via começado a ver a beleza de Cristo
tado contra Napoleão. Todavia, os 1n- como um Salvador pessoal. Por que
gleses foram vencidos. “Poderia 1sso ser não se tornar um cristão completo e
uma intervenção divina?” ele indagava. fixar suas esperanças nas promessas
Ao terminar a guerra, Miller vol- de salvação da Bíblia?
tou para Low Hampton a fim de cur- Imediatamente, tornou-se objeto de
dar melhor de sua mãe recentemente ridicularização entre seus amigos deis-
enviuvada. Talvez para agradá-la, ele tas, que agora fomentavam os velhos
começou a frequentar a igreja batista argumentos que Miller tinha usado an-
local, onde seu tio Eliseu pregava te- teriormente contra a Bíblia. Para res-
gularmente. Ocasionalmente, quando ponder a esses desafios e construir um
nenhum ministro estava disponível, firme fundamento para sua fé, Miller
um diácono lia um sermão impresso. iniciou um programa de estudo bíblico
sistemático. Desde que descobriu que
os comentaristas com frequência dife-
riam acentuadamente entre st, decidiu
usar somente a Bíblia e uma Concordán-
cia de Cruden, e permitir que a Bíblia
servisse como sua própria intérprete.
Começando com Gênesis, ele prosse-
guita em seu estudo, procurando expli-
car cada passagem satisfatortamente.
Quando se deparava com um verso
obscuro ou difícil, Miller consultava
todos os outros versos que continham
as mesmas palavras-chave. Por meio
de cuidadosa comparação e raciocínio,
ele, então, formulava sua explicação
da passagem problemática. Cedo em
seu estudo, ele descobriu que a Bíblia
O movimento milerita derivou seu nome de deveria ser interpretada literalmente, a
Guilherme Miller (1782-1849), cuja pode- menos que o contexto indicasse com
rosa e convincente pregação fez dele a mais clareza que o escritor estava usando
importante personalidade do despertamen-
to adventista. linguagem figurativa.

2 paços ed
Afata a
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rt direi
E etç
De
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Enquanto Miller estudava, sua lei- as preocupações de nossa situação atual
tura anterior de história começou a estariam terminadas”.
influenciá-lo. Notou que, embora os
profetas frequentemente falassem em Miller propaga a Palavra
linguagem figurativa, suas predições Agora, Miller começou a falar mais
eram cumpridas por eventos literais. abertamente aos vizinhos e pregado-
Isso era perceptivelmente verdade com res visitantes acerca de suas conclusões
referência ao primeiro advento de Cris- concernentes à volta de Cristo. Para sua
to e as grandes profecias delineadas em decepção, poucos demonstraram algum
Daniel 2 e 7. Partindo dessa conclu- interesse. Embora desapontado, ele con-
são, era um passo lógico supor que o tinuou o seu estudo da Bíblia e, ao fazer
segundo advento também ocorreria lt- isso, veto-lhe à mente a convicção de
teralmente. Ao estudar Daniel 8:14, ele que possuía uma responsabilidade pes-
se convenceu de que o santuário a ser soal de partilhar essas “boas novas”. O
purificado no final dos 2.300 anos era próprio pensamento o encheu de terror.
a igreja, que seria purificada no retorno Ele raciocinou que sua falta de preparo e
de seu Senhor. Relacionando os 2.300 experiência como pregador público o es-
dias de Daniel 8 com as 70 semanas de cusava de qualquer encargo como esse.
Daniel 9, Miller deduziu que ambos os Contudo, a impressão não desapareceu.
períodos haviam começado aproxima- Finalmente, num sábado de manhã, em
damente em 457 a.C. Tendo chegado a agosto de 1831, sozinho em sua sala de
essa conclusão em 1818, depois de dois estudos, Miller prometeu a Deus: “Se eu
anos de estudo bíblico intensivo, ele fi- tiver um convite para falar em público
cou emocionado diante do pensamento em qualquer lugar, eu 1rer e lhes contarei
“de que em cerca de 25 anos ... todas o que descobri na Biblia acerca da vinda

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A casa de Guilherme Miller em Low Hampton, Nova Torque, por volta de 1895. Foi aqui que
Miller prometeu ao Senhor que pregaria sobre sua compreensão das profecias bíblicas se al-
guém o convidasse.

Materta! com direros autorais


do Senhor.” Instantaneamente, sua men- O fervor e sinceridade de Miller de-
te foi aliviada. Visto que ele jamais tinha viam dar-lhe altas distinções, mesmo
recebido tal convite, sentiu-se inteira- por aqueles que, como Willam Lloyd
mente seguro em fazer a promessa. Garrison, discordavam de suas interpre-
Dentro de uma hora, Miller teve seu tações da profecia. Ao viajar, centenas
convite. Veio de seu cunhado que mo- comentavam sobre sua “calma e firme-
rava perto de Dresden, Nova Iorque. za de opinião”, seu conhecimento bíbli-
Quando ele soube que não havia ne- co e histórico, e sua lógica de raciocínio.
nhum pregador disponível para o culto Esse fazendeiro-pregador não estava
de domingo, Silas Guilford enviou seu interessado em simplesmente assegurar
filho para que persuadisse o tio Guilher- assentimento intelectual para seus cál-
me a vir e falar com os vizinhos acerca culos matemáticos; seu maior desejo era
das coisas relativas à volta de Jesus que ver homens e mulheres, principalmen-
ele tinha estudado na Bíblia. A primeira te incrédulos e agnósticos, acertando
reação de Miller foi 1ra por ter feito tão a Jesus Cristo como Salvador e aguar-
estúpida promessa. Todavia, ele era um dando com alegria seu breve regresso.
homem que cumpria sua palavra. Na- Os sermões de Miller eram conhecidos
quela tarde, ele partiu para Dresden. A por sua cuidadosa organização e sólido
reunião do dia seguinte foi um sucesso apoio em numerosos textos bíblicos. Ele
completo. Tendo iniciado seu assunto, falava de maneira vigorosa, mas não ex-
Miller perdeu a timidez e apresentou travagante, e em linguagem que o povo
suas opiniões tão vigorosamente que foi comum compreendia.
convidado a ficar por uma semana e re- À primeira versão impressa das opt-
alizar cerimônias de reavivamento. niões de Miller apareceu em uma série
Voltando para casa, Miller encon- de cartas, que ele escreveu em 1832 para
trou uma carta contendo uma solicita- um periódico batista, The Vermont Tele-
ção do pastor batista das proximidades sraph. Estas foram seguidas dois anos
de Poultney para que fosse e falasse depois por um panfleto de 64 páginas
para os batistas de Poultney acerca preparado para responder a indagações.
do segundo advento. Daquela hora Em 1836, Miller publicou uma versão
em diante, Miller estava em constan- mais abrangente de 16 palestras reuni-
te demanda como orador nas igrejas das em forma de livro. Pouco a pouco,
metodista, batista e congregacional o conhecimento de suas opiniões se es-
na região e do outro lado da fronteira, palhou. No início de 1838, um exem-
no leste do Canadá. Em setembro de plar de suas Lectures [Conferências] for
1833, sua igreja batista local, sem o seu parar nas mãos do editor do Boston Dai-
conhecimento e com a simplicidade /y Times, que publicou muitas delas.
direta da América colonial, votou-lhe
uma licença para pregar. Parece que ele Os associados de Miller
jamais for formalmente ordenado. Por Por volta desse mesmo tempo, um
todo o restante de sua vida, recusou amigo pediu ao dr. Josias Litch, um dos
ser chamado de “reverendo”, afirman- mais talentosos pregadores metodis-
do que não eta bíblico aplicar tal título tas-episcopais da Nova Inglaterra, que
a qualquer ser humano. lesse o livro Conferências de Miller. Cer-
to de que ninguém podia marcar uma eles zombaram diante da idéia de um
data para o retorno de Cristo, Litch de advento iminente. Abalado, Fitch re-
má vontade concordou, confiante de cuou, e temporariamente abandonou
que podia facilmente provar o erro de qualquer pregação da data de 1843,
Miller. No entanto, quanto mais ele lia, submergindo-se, em vez disto, em um
mais fascinado ficava. Quando termi- estudo da santificação. Cerca de três
nou, estava convencido não somente anos mais tarde, depois o passado de
de que Miller tinha razão, mas também um trabalho pessoal de Litch, o prega-
de que ele devia ensinar “o iminente dor Fitch reafirmou sua fé adventista e
advento”. Naquele verão de 1838, ele se tornou um dos mais vigorosos evan-
preparou um livro de 200 páginas inti- gelistas do advento.
tulado The Probability of the Second Co- Embora a mensagem de Miller es-
ming of Christ About A. D. 1843 [A Pro- tivesse alcançando muitos por meio de
babilidade da Segunda Vinda de Cristo suas pregações nas vilas e cidades do
em Torno de 1843 d.C€.). Comentando nordeste de Nova Iorque e oeste de
sobre Apocalipse 9, o pregador ousa- Vermont, e outros por meio de seu livro
damente aplicou o princípio dia-ano impresso Conferências, ele não havia ainda
de interpretação profética à Turquia, alcançado notoriedade em uma grande
predizendo sua perda de poder em metrópole. Tudo isso mudou como te-
agosto de 1840. Isso causou conside- sultado de uma reunião em novembro
ravel discussão e aumentou o interesse de 1837 em Exeter, New Hampshire.
na profecia bíblica. Milhares, inclusive
centenas de ex-incrédulos, interpreta-
ram a aceitação da proteção das Gran-
des Potências pelo Império Otomano
em 11 de agosto de 1840 como uma
vindicação do ponto de vista de Litch.
Na primavera de 1838, outro pre-
eminente pregador da Nova Inglater-
ra, o congregacionalista Charles Fitch,
de Boston, leu as Conferências de Miller
e escreveu ao autor: “Não encontro
nada em que apoiar uma só dúvida
com respeito à exatidão de seus pontos
de vista” Durante a década de 1830,
Fitch esteve intimamente associado
com o evangelista Charles G. Finney,
que, como ele, era um sólido refor-
mador da temperança e antiescravatu-
ra. No ardor do seu entustasmo pelos Josias Litch (1809-1886), bem-conhecido
ensinos de Miller, Fitch se apressou a ministro metodista-episcopal da Nova In-
partilhá-los com um grupo de muinis- glaterra, deu impulso ao movimento mile-
rita aplicando com exatidão os princípios
tros congregacionalistas locais. Em vez de interpretação profética à predita per-
de corresponder ao seu entusiasmo, da de poder da Turquia em 1840.
Miller estava na cidade para apresentar roso promotor da reforma educacional,
uma série de conferências quando um tinha ouvido de Miller anteriormente.
grupo de ministros da Conexão Cris- De fato, várias semanas antes ele havia
tã decidiu visitá-lo em conjunto para escrito convidando o nova-iorquino a
aprender acerca de seus ensinos. Eles fi- vit e apresentar uma série de conferên-
catam surpresos e impressionados com citas em sua Chardon Street Chapel, em
a maneira fácil com que ele respondia Boston. Na ocasião, ele vigorosamen-
as suas perguntas, sobretudo Josué V. te renovou o seu convite. Miller acei-
Himes. Esse jovem enérgico, que havia tou. Assim, iniciou-se uma associação
ajudado Garrison a organizar a Socie- que transformaria o milerismo de uma
dade Antiescravista da Nova Inglaterra curiosidade local em uma causa que re-
em sua igreja, que também era um vigo- ceberia atenção nacional.

Leitura temática sugerida:

O Morimento Adventista:

M. E. Olsen, Origin and Progress of Seventh-day Adventists (1925), p. 73-119, é


uma abordagem concisa do despertamento do segundo advento.
L. E. Froom, Prophetic Faith of Our Fathers, vol. 3 (1950), trata dos arautos do
advento do Velho Mundo; o volume 4 descreve aqueles dos Estados Unidos.
Ernest Sandeen, The Rise of Adventism (1975), contém um valioso ensaio so-
bre milenialismo.
George Knight, Mz/lennial Fever and the End of the World (1993), associa eficien-
temente o movimento adventista com o milenialismo.

Guilherme Miller:

Sylvester Bliss, Meymozrs of Wilham Meller (1853), é uma biografia antiga, mas
básica de Miller.
Robert Gale, [he Urgent Voice (1975), é uma moderna biografia de Miller.
F. D. Nichol, The Midnight Cry (1944), p. 17-74, descreve o ambiente de Miller
e suas primeiras experiências.
E. N. Dick, Founders of the Message (1938), p. 13-66, é um relato popular de
Miller [Fundadores da Mensagem é o título em português].

tarial om Airapas avitarare


erial COM GIROS autorais
CAPÍTULO 3

O movimento milerita
(1839-1844)

O contato de Guilherme Miller com de Miller a Boston, mas também fez ar-
Josué V. Himes abriu uma era inteira- ranjos para que ele visitasse Nova Iorque,
mente nova no despertamento adven- Filadélfia e Washington. Em fevereiro de
tista dos Estados Unidos. Aceitando o 1840, durante a terceira série de confe-
convite de Himes, Miller fez preleções rências de Miller, em Boston, Hímes
para auditórios apinhados no Chardon deu início a outro método de difundir o
Street Chapel, de 8 a 16 de dezembro “advento iminente”. Em 28 de fevereiro,
de 1839. Durante essa visita, Miller se
hospedou com Himes, que ficou pro-
fundamente impressionado com o fato
de seu visitante estar correto acerca da
proximidade do advento, embora con-
tinuasse na incerteza quanto à exatidão
da datação de Miller. Himes acreditava
que o assunto merecia muito mais am-
pla publicidade e indagou por que Miller
não tinha feito soar sua mensagem nas
maiores cidades do país. Tendo o idoso
fazendeiro respondido que ele não fora
convidado para tal, Himes decidiu que
abriria as portas para Miller “em cada
cidade da União”.

Difundindo o advento
Dentro de semanas, Himes lançou-se Josué V. Himes (1805-1895) foi um as-
em uma nova ocupação, que fez dele o sociado de Guilherme Miller e o principal
principal organizador, promotor e agente promotor e organizador do movimento mi-
lerita. Depois de 1844, Himes não se uniu
publicitário do adventismo. Não somen- aos adventistas sabatistas que se tornaram
te ajudou a assegurar o repetido retorno os adventistas do sétimo dia.
ele lançou [he Szgns of the Times, o primei- portantes e duradouros estavam The Voice
ro jornal que se destinava a publicar as of Truth (A Voz da Verdade] de Roches-
opiniões de Miller e a estimular a dis- ter, The Western Midnight Cry (O Clamor da
cussão do segundo advento. A carência Mesa Noite do Ocidente] de Cincinnati, o
de fundos e a ausência de uma lista de Trumpet of Alarm (A Trombeta de Alerta]
assinaturas sugertam a probabilidade de de Filadélfia, eo Voe of Elijah [À Voz de
que o primeiro número seria também o Elias) de Montreal.
último. Mas Dow e Jackson, os editores As empreitadas publicitárias de Hi-
antiescravistas que imprimiram o jornal mes não estavam limitadas aos jornais;
para Himes, acreditavam que o interes- ele tornou-se a figura de destaque na pro-
se no segundo advento havia crescido dução da Bzblioteca do Segundo Advento, uma
tanto que um jornal regular dedicado ao continua série de panfletos e livros de
assunto poderia ser um sucesso finan- Miller e outros. Os que haviam aceito os
ceiro. Eles se ofereceram para assumir a pontos de vista de Miller foram encoraya-
responsabilidade pelo jornal e publicá-lo dos a comprar e emprestar exemplares da
quinzenalmente se Himes, como um edi- Bibhoteca do Segundo Advento para vizinhos
tor não remunerado, fornecesse cópias e e amigos. O talento de Himes providen-
ajudasse a criar uma lista de assinaturas. ciou também muitos outros meios de
No final do primeiro ano de publica- promover as crenças adventistas. Cópias
ção, The Szgns of the Times tinha 1.500 asst- em cotes do gráfico profético, desenvol-
nantes, e Himes persuadtu Dow e Jackson vido no início de 1842 por Charles Fitch
a vender o jornal para ele. Na primavera e Apollos Hale para o uso de conferen-
de 1842, havia interesse suficiente para cistas mileritas, foram impressas em mi-
garantir que o S7gns se tornasse uma pu- niatura sobre a metade de uma folha de
blicação semanal. Cerca de nove meses papelaria, com o restante deixado para a
antes, Jostas Litch tinha sido contratado redação de cartas. Folhas de pequenos
como editor-associado. O S7gns foi ape- “adesivos de advertência”, do tipo selos
nas o primeiro de um grande número de de Natal, foram também impressas com
jornais mileritas. Quando Miller e Himes apropriados textos bíblicos ou slogans
dirigiram uma importante série de confe- do advento; estes podiam ser utilizados
rências na Cidade de Nova Iorque, duran- em lugar da cera pata selar cartas.
te o outono de 1842, eles iniciaram The No início de sua carreira como prin-
Midnight Cry [O Clamor da Meta-Noite]. cipal propagandista do advento, Himes
Para dar publicidade às suas reuniões, 10 começou a publicar milhares de folhetos
mil exemplares foram vendidos ou distri- contendo uma sinopse das idéias de Mil-
buídos cada dia durante quatro semanas, ler. Eram vendidos por dois ou três cen-
depois das quais o Cry tornou-se semanal. tavos cada. Muitos eram empacotados e
Nos meses seguintes, crescendo o núme- enviados a jornais e agências do correio
ro de ministros e outros conferencistas de um lado a outro do país com a solicita-
que levavam a mensagem do advento a ção de que fossem distribuídos a qualquer
novas regiões, tornou-se habitual o lan- que pudesse estar interessado. Fardos
çamento de jornais para difundir a causa. também eram confiados a comandantes
Muitos deles duraram apenas algumas se- de navios com instruções de soltá-los em
manas ou meses, mas dentre os mais im- seus portos de escala. No início de 1843,
folhetos estavam disponíveis em francês e de de igrejas assistiram a esse primeiro
alemão. Em maio de 1844, Híimes anun- congresso geral dos crentes do advento.
ciou que mais de cinco milhões de cópias Por sugestão de Himes, um Relatório da
de jornais e folhetos do advento tinham conferência contendo os principais dis-
sido distribuídas. As muitas de suas iniícia- cutsos apresentados for impresso e duas
tivas publicitárias, que também incluíam a mil cópias circularam imediatamente.
impressão do hinário do advento, The Mil Outras milhares foram usadas posterior-
lennial Harp [Harpa do Milênio], atraíram mente na proclamação da segunda vin-
acusações infundadas de que ele estava da. Em contraste com o violento cho-
auferindo exorbitantes lucros financeiros. que de opiniões que caracterizava tantas
Himes, no entanto, reinvestia na causa ge- das convenções de reforma no Chardon
ral quaisquer lucros de suas iniciativas. Street Chapel, uma surpreendente una-
nimidade prevaleceu na conferência do
Conferências do advento segundo advento. Os participantes to-
À medida que mais e mais publicida- matam várias medidas oficiais, inclustve
de era dada às interpretações de Miller e a confirmação do [he S7gns of the Timese a
crescente número de clérigos as aceita- recomendação de que os crentes adven-
va, pareceu apropriado reunir os líderes tistas aumentassem sua circulação entre
do movimento para uma conferência. os amigos. Uma das mais interessantes
Consequentemente, The S7gns of the Times características dessa conferência de dois
transmitiu um convite para uma reumão dias for a introdução entre os adventis-
geral dos crentes do advento em Chardon tas do “encontro social”, ocasião em que
Street Chapel, Boston, em 14 de outubro aqueles que estivessem presentes pudes-
de 1840. Estava programado para que sem encorajar-se mutuamente por meio
Miller apresentasse o discurso de abertu- de breves expressões de sua fé pessoal
ta, mas ele adoeceu subitamente durante no advento iminente.
a viagem e não pôde estar presente. Em Tão bem-sucedido foi o primei-
seu lugar, um pastor episcopal, Henry ro congresso geral, que no mínimo 15
Dana Ward, o editor nova-sorquino da outros foram realizados durante os três
Anti-Masonic Magazine [Revista Anti anos seguintes. Esses se estenderam a
Maçônica], fo1 escolhido para presidir a locais do Mame à Pensilvânia. À con-
conferência. Ele também proferiu o dis- venção de Filadélfia, realizada no audr-
curso principal, uma história erudita da tório do “Museu Chinês” que acomoda-
esperança do segundo advento e uma só- va 5 mil pessoas, conforme relato, esta-
lida defesa de um advento pré-milenial. va “apinhado a ponto de sufoco”. Além
Ward e Henry Jones, ministro presbite- dessas reuniões gerais, aproximadamen-
rano de Nova Iorque, que se tornou o te 120 conferências locais de crentes do
secretário da conferência, discordavam advento ocorreram entre 1842 e 1844,
da convicção de Miller de 1843 como a vartas delas tão distantes na direção
data específica para o retorno de Cristo, oeste quanto Indiana e Michigan. Essas
mas ambos concordavam que o advento conferências locais tendiam a ser evan-
estava muito próximo. gelísticas e de reavivamento, em vez de
Aproximadamente 200 clérigos e lei- trocas de idéias eruditas tais como carac-
gos representando uma ampla varieda- terizaram o primeiro congresso geral.
Desde o início de suas conferên- Por ocasião do sexto congresso ge-
cias públicas, Miller sustentou que todo ral em maio de 1842 no Melodion Hall,
o seu propósito era chamar a atenção de Boston, os organizadores estavam se
para a breve volta de Cristo e encorajar tornando mais restritivos com respeito
seus ouvintes a se prepararem para esse aqueles crentes convidados a participar.
grande evento. Ele não tinha nenhuma Embora homens como Ward e Henry
intenção de iniciar uma nova denomr- Jones anda fossem bem-vindos, aqueles
nação. O propósito do primeiro con- que acreditavam no retorno dos judeus
gtesso geral fo1 focalizar a atenção no pata a Palestina, sua conversão ao cris-
advento e facilitar a troca de idéias. À tianismo e um milênio temporal prece-
medida, porém, que mais e mais con- dendo o advento não eram bem recebr-
ferências eram realizadas, e ao crescer dos. Esse sexto congresso, presidido por
a obra de publicações, desenvolveu-se José Bates, posteriormente um pioneiro
uma espécie de organização. Deu-se dos adventistas do sétimo dia, também
ímpeto à tendência em torno da separa- institutu uma comissão para planejar
ção através da distribuição de uma cir- três reuniões campais de verão a fim de
cular autorizada em 1841 pelo segundo promover o interesse no advento.
congresso geral. Embora Miller, Himes e seus assocta-
Embora essa circular especificamen- dos estivessem assumindo a posição de
te aconselhasse os crentes do advento que o movimento adventista tinha rompi-
a permanecer em suas igrejas, também do as barrerras sectárias e unido metodis-
aconselhava aqueles que se encontra- tas, batistas, congregacionalistas e outros
vam em uma determinada área geo- nos vínculos do amor cristão, igrejas locais
gráfica a formar classes de estudo da embrionárias estavam aparecendo na for-
Bíblia e reunir-se em encontros sociais ma de associações do segundo advento.
para encorajamento mútuo. Eles eram Uma das mais antigas, organizada na cida-
estimulados a interrogar os ministros de de Nova Iorque em 18 de maio de 1842,
no que concernia ao advento e assuntos elegeu oficiais e uma comissão executiva,
relacionados e a aumentar a circulação que logo alugou o Columbian Hall para
de livros e folhetos da segunda vinda. reuniões regulares de domingo à tarde. A
Nessa mesma época, os mileritas no- associação de Nova Iorque incluía muitos
mearam Josias Litch como seu primeiro ministros que presumivelmente continua-
agente geral, concordando em apotá-lo ram servindo suas congregações regulares.
financeiramente se ele deixasse o traba- Além de alugar locais de reuniões, as asso-
lho pastoral e se dedicasse inteiramente ctações do segundo advento recolhiam di-
a promover as idétas do advento. A As- nheiro para propagar a literatura adventista
soctação Metodista Episcopal de Litch e enviar conferencistas a outras cidades e
muito relutantemente o liberou de suas povoados. Alguns conferencistas, como
responsabilidades pastorais e efetiva- José Bates, usavam suas próprias econo-
mente ele se tornou o primeiro obrei- mias para alugar salões e pagar despesas de
ro adventista pago. Miller viajava quase viagem e manutenção. Desse modo, Bates
inteiramente à sua própria custa e não consumiu a maior parte de sua modesta
recebia nenhuma remuneração, além de fortuna que havia reunido durante anos
alojamento e comida. como capitão de navio.
Reuniões campais os serviços religiosos eram realizados
Apenas cerca de um mês depois do simultaneamente nessas tendas. Es-
sexto congresso geral, no final de junho tavam também disponíveis tendas de
de 1842, fo1 realizada a primeira reunião provisões e de refeições. Infelizmente,
campal adventista dos Estados Unidos, não eram apenas os crentes e os distrar-
em East Kingston, New Hampshire. Os damente curiosos que compareciam.
adventistas canadenses haviam esponta- Frequentemente, arruaceiros inclinados
neamente organizado uma alguns dias a injúrias ou brincadeiras de mau gos-
antes, enquanto Jostas ILitch estava no to e fortalecidos pela bebida alcoólica
leste de Quebec em um roteiro de dis- desciam sobre a área do acampamento
cursos. Em suas reuniões campais, os para criar uma pequena agitação inter-
mileritas seguram um modelo colonial rompendo as cerimônias religiosas e
previamente desenvolvido pelos meto- criando confusão geral.
distas. A localidade de East Kingston O emocionalismo associado às reuni-
estava em um aprazível bosque perto da des campais coloniais não estava interra-
Ferrovia Boston e Portland, que trans- mente ausente de suas correspondentes
portava crentes adventistas e os curiosos adventistas; orações fervorosas eram fre-
de toda a Nova Inglaterra para o acam- quentemente interrompidas pelos brados
pamento. É provável que o público te- de “Glória!” e “Alelusal”. Ao elevarem-se
nha chegado a 10 mil pessoas em alguns as emoções, alguns catam prostrados no
dias durante a série de reuniões que du- chão. Os principais lideres mileritas pro-
rou uma semana. cutavam impedir que essa excitação saís-
Tão bem-sucedido for o acampamen- se do controle, para que não degenerasse
to de East Kingston que, em vez das três em fanatismo e levasse todo o movimen-
reuniões campais planejadas para o verão to ao descrédito.
de 1842, 31 foram realizadas. No ano se- Na primavera de 1843, quando a ex-
guinte, o número aumentou para 40 e em pectativa dos crentes no advento havia
1844, o ano final do movimento, para 54. atingido um ponto elevado, algum fana-
É provável que cerca de meto milhão de tismo tinha se desenvolvido, promovido
pessoas assistiram às reuniões campais principalmente pelo pastor John Starkwe-
adventistas durante as três temporadas ather, ex-assistente de Himes, no Chardon
em que foram realizadas. Street Chapel. Starkweather tornou-se um
O plano costumeiro do acampa- expoente da extrema santificação. Ele e
mento era ter três reuniões gerais ao ar alguns seguidores frequentavam as reuni-
livre por dia. Elas eram entremeadas de des campais, principalmente em Connec-
reuniões sociais e de oração realizadas ticut. Pretendiam ser capazes de discernir
nas tendas armadas em um semicitcu- a condição do coração dos adoradores e,
lo irregular em torno da principal área no meio de muito murmúrio e gemido,
de reunião. Estas não eram pequenas convidavam homens e mulheres a renun-
tendas de família, mas em alguns casos ctat aos seus “ídolos”, que poderiam 1n-
eram tão grandes que mediam nove por clur broches, faixas, cabelo trançado, ou
15 metros. Cada uma servia como sede até mesmo dentadura postiça! Chegando
para todos os crentes de uma determi- ao acampamento, Josias Litch tomou uma
nada região. Em caso de mal tempo, medida enérgica contra esses fanáti-

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A Grande Tenda, às vezes chamada Tenda de Pai Miller, atraía milhares para os sermões
mileritas.

cos; sua posição, posteriormente, foi enormes multidões que essa novidade
apotada entustasticamente por Miller, podia acomodar.
40 Himes e outros líderes adventistas. A Grande Tenda for armada pela
Tão satisfeitos ficaram aqueles que primeira vez em julho de 1842, em um
assistiram à primeira reunião campal de pequeno monte atrás do Palácio do Go-
East Kingston que desejaram ver mais verno em Concord, New Hampshire.
reuniões gerais realizadas. Para facilitá- Naquele verão, ela mudou-se para ou-
las, alguém sugertu a idéia original de tras sete cidades, inclusive Albany, Nova
conseguir uma grande tenda, que pu- lorque e Newark, Nova Jersey. Quatro
desse ser armada nas cidades onde as pessoas cutdavam do transporte e su-
igrejas estavam fechadas para os con- pervisionavam a instalação. O próprio
ferencistas do advento, ou onde não tamanho da tenda atrata muita atenção e
houvesse salões de tamanho suficiente ajudava a trazer as multidões para ouvir
para acomodar as multidões esperadas. Himes, George Storrs, Charles Fitch ou
Antes de terminar a reunião campal, outro dos pregadores do advento. Em al-
Himes havia arrecadado dinheiro su- guns casos, as reuniões campais eram te-
ficiente para encarregar o fabricante alizadas em conexão com o erguimento
de tendas adventista Edward Williams, da Grande lenda.
de Rochester, Nova Iorque, a fazer a Em geral, a mensagem de Miller e de
maior tenda do país. Feita de lona re- seus principais associados permaneceu a
sistente, a “Grande Tenda” tinha 37 mesma ao longo de todo o período do
metros de diâmetro e um mastro cen- despertamento adventista. Eles acredita-
tral de 17 metros de altura. Pregado- vam que o segundo advento de Cristo era
res que proclamavam a mensagem do iminente. Também criam que esse seria
advento estavam exultantes com as um evento visível e literal, que precederia
o seu remado milenial. Eles compreen- cou imediatamente a declaração de Miller
diam que tão precisamente quanto o tem- na forma de panfleto. Dessa ocastão em
po do primeiro advento de Cristo tinha diante, os líderes milerítas falaram muito
sido predito na profecia das 70 semanas mais da lerra como o santuário a ser pu-
de Daniel 9, assim a sua segunda vinda es- rificado do que o faziam da igreja, uma
tava indicado na referência de Daniel 8:14 corporação de santos.
a purificação do santuário no final dos A emoção se elevava à medida que
2.300 dias. Deduzindo que as 70) semanas 1842 se aproximava do final. Muitos
formavam a primeira parte dos 2.300 dias, grupos de muileritas realizaram serviços
eles fixavam 457 aC. como o início do religiosos na véspera de ano novo, 31 de
período mais longo, a terminar em 1843. dezembro, para dar as boas-vindas ao
O retorno de Cristo para abolir o peca- que eles acreditavam que serta o último
do e purificar sua igreja era o evento mais ano da história terrestre. Naquela noite, o
jubiloso que esses adventistas podiam Chardon Street Chapel estava superlota-
imaginar; eles anstavam por sua vinda e do. No dia seguinte, Miller escreveu uma
estavam profundamente interessados em carta aberta aos crentes no advento. Ela
que outros participassem de sua alegria. estava repleta de alegria e de esperança
Isso podia ser possível, reconheciam eles, de que o tempo tão longamente anteci-
somente se os indivíduos primeiramente pado tivesse finalmente chegado. Contu-
aceitassem a Jesus como um Salvador pes- do, nem por um momento Miller sugeriu
soal, que perdoa o pecado. que os crentes devessem afrouxar seus
Pelo início de 1842, Miller havia am- esforços para a salvação dos amigos e vt-
pliado sua compreensão da palavra “san- zinhos. Em vez disto, ele encorajou cada
tuário” de Daniel 8:14. Originalmente, ele um a ganhar no mínimo uma alma para
acreditava que isto se referia à igreja cristã, Cristo durante o último ano da história
mas ao estudar os eventos que ocorrertam terrestre. O próprio Miller continuou
na segunda vinda, ele ficou cada vez mais com sua obra. No mês de fevereiro ele
interessado nas referências ao fogo em apresentou uma importante série de con-
conexão com o juízo. A Bíblia ensinava, ferências em Filadélfia.
acreditava ele, que o fogo era um agente
punificador. Assim, ele falava mais e mais Marcação de datas
acerca da purificação da lerra pelo fogo Por algum tempo, muitos dos segui-
na volta de Jesus. Em janeiro de 1842, Mil- dores de Miller o presstonaram a defimr
ler respondeu a uma indagação especifica mais exatamente o tempo em que ele es-
de Himes concernente ao santuário de perava o advento do que simplesmente
Daniel 8:14. Ele indicou que a Bíblia se re- “cerca do ano de 1843”. Pai Miller, como
feria a sete coisas diferentes como o santu- ele veio a ser chamado, tinha sempre
ário de Deus: (1) Jesus, (2) o Céu, (3) Judá, acreditado que, na aplicação das profe-
(4) o templo de Jerusalém, (5) o Santo dos cias de tempo de Daniel, se poderia usar
Santos, (6) a Terra, (7) os santos. Por meio o calendário religioso judaico em vez do
de um processo de eliminação, Miller des- calendário civil desenvolvido pelos roma-
qualificou as cinco primeiras como sendo nos. Ele sabia que o ano judaico se inicia-
o santuário de Daniel 8, e arrazoou que va na primavera, e não em janeiro. Sendo
deveria ser as duas últimas. Himes publi- que ele não sabta exatamente como os
rabinos ajustavam seu calendário, que era blicada no S29ns of the Times de 17 de maio
lunar, conclutu que o equinócio da ptr- de 1843. Nela, ele sugeria que uma vez
mavera era um ponto provável para co- que todas as cerimônias e tipos judaicos
meçar o ano. Assim, no início de 1843 ele observados no primeiro mês tinham se
estava disposto a admitir que Cristo vol- cumprido no primeiro advento de Cris-
tarta em algum momento durante aquele to, era razoável supor que as festividades
ano judaico, que ele calculou como 21 de e cerimônias do sétimo mês (que viria no
março de 1843 a 21 de março de 1844. outono) “só poderiam ter seu cumpri-
Alguns mileritas estavam ansiosos mento no segundo advento”. Miller, po-
para apontar um dia específico para o rém, deixou de promover essa idéia, que
advento. Eles procuravam datas histó- ficou em grande parte adormecida até o
ricas ou dias cerimoniais judaicos em início de 1844.
que fixar suas esperanças. O primeiro lão grande era o desejo do povo
dia a ser sugerido for 10) de fevereiro de das grandes cidades de ouvir os confe-
1843, o quadragésimo-quinto aniversário rencistas do advento, que auditórios de
da captura francesa de Roma em 17/98. tamanho suficiente para acomodar as
Outros acreditavam que 15 de fevereiro multidões não podiam ser encontrados.
era mais provável, sendo que este era O Os crentes de Boston remediaram essa
aniversário da abolição do governo papal situação construindo um grande, mas
e da proclamação da República Romana. barato, tabernáculo em uma localização
Tendo passado aqueles dias sem eventos central. Depois de alugar um local pelo
especiais, alguns concluíram que 14 de tempo mais curto possível, eles rapida-
abril, que serta o aniversário da crucifi- mente construíram um imenso auditório
xão, deveria ser a data. Muitos adventis- capaz de reunir 3.500 pessoas assentadas.
tas criam que as 70) semanas terminavam O fato de que um regulamento da cidade
na crucifixão; de sorte que os 2.300 dias exigia que um edifício de tal tamanho fos-
devertam ser o mesmo. Outra vez nada se construído de tolos, expunha os mile-
aconteceu, e as esperanças foram trans- ritas a considerável zombaria. Ah estavam
feridas para o dia da ascensão ou para eles, esperando o fim de todas as coisas a
o Pentecostes, ambos em maio. Com a qualquer momento, e ainda construindo
passagem de tantos dias definidos, alguns uma sólida estrutura de tolos que pode-
desistiram de sua esperança no advento. ria durar anos. Outras associações do se-
Mas não muitos. Os líderes adventistas gundo advento seguiram a orientação de
continuaram se apressando de uma reu- Boston e logo os tabernáculos mileritas
ntão campal para outra e de uma série de apareceram em várias cidades.
conferências para outra. Durante o verão de 1843, fo1 dada
Com Miller for diferente. A saúde atenção especial não somente às gran-
debilitada, que o tinha importunado por des cidades, mas também ao oeste tran-
varios anos, detinha-o em casa, em Low sapalachiano. J. B. Cook foi enviado a
Hampton. Em maio, ele escreveu a Hi- Cincinnati. Carlos Fitch, que tinha es-
mes que seus braços, ombros, costas e tado em Ohio desde o outono anterior,
lados estavam cobertos de aproximada- conferenciou em Cleveland, Detroit, e
mente 22 furúnculos. Outra carta de Mil- por todo o norte de Ohio e oeste de
ler, quase despercebida na ocasião, foi pu- Nova lorque. À Grande lenda foi mu-
dada para Rochester, e em seguida para Pregadores menos conhecidos
Buffalo e Cincinnati, onde Himes e Enquanto os principais ministros ad-
George Storrs faziam muitas das pre- ventistas levavam sua mensagem às gran-
gações diante de imensos auditórios. des cidades, dezenas de conferencistas
Posteriormente, Himes seguiu para menos conhecidos pregavam nos lares e
Louisville, Kentucky. Outros levaram escolas rurais. Tiago White for um deles.
a mensagem para Missouri, Illinois, In- A “clara e poderosa” pregação que o jo-
diana, Wisconsin e Iowa. vem White de 21 anos ouvira na reunião
Centenas de cópias do Voice of Eli- campal mulerita de Exeter, Mame, em
jah, publicado por Robert Hutchinson, 1842, o inspirou a deixar o ensino numa
milerita canadense, foram enviadas escola e tornar-se um conferencista do
através do Atlantico. Robert Winter, advento. Equipado de três palestras, um
visitante inglês que havia se tornado cavalo emprestado e uma sela remen-
adventista em 1842 na reunião campal dada, ele partiu. Quando, apesar de seu
de East Kingston, e posteriormen- pouco preparo, ele encontrou 60 pecado-
te voltara para o seu país, pregou nas res arrependidos solicitando o batismo e
ruas de Londres com o auxílio de um instruções depois de sua primeira série de
diagrama profético pendurado em um conferências, ele teve de enviar um pedi-
mastro. Pelo verão de 1843 Winter do de ajuda ao seu irmão ministro. White
havia impresso 15 mil exemplares de nem sempre foi bem-recebido. Às vezes,
livros mileritas. ele se achava em verdadeiro perigo físico
Nessa época, houve também interes- de turbas que lhe atiravam bolas de neve
se em tomar uma iniciativa especial para e outros objetos. Contudo, ele persistiu
advertir os negros americanos quanto e pôde relatar mil conversões depois de
ao vindouro advento. O ministro negro um período de seis semanas de confe-
milerita John W. Lewis estava ansioso rências. Sua consagração levou-o à orde-
para dedicar tempo integral a essa obra. nação como ministro da Conexão Cristã.
Houve, porém, um problema muito Como uma luz menor entre os milertas,
prático: a maiorta dos negros america- White se tornaria um dos pioneiros da
nos viviam como escravos nos estados Igreja Adventista do Sétimo Dia.
do sul e as convicções abolicionistas Durante 1843, o número de minis-
da marorta dos conferencistas mileritas tros que abraçavam os ensinos básicos
os tornavam personae non grata [pessoas de Miller cresceu acentuadamente. Pro-
não bem-vindas ou inaceitáveis] no sul. vavelmente, o novo recruta mais notável
Quando, em maio, Storrs tentou apre- fot Elon Galusha, filho do governador
sentar conferências em Norfolk, Virgí- de Vermont, que havia assinado a paten-
nta, ele fot agredido e forçado a deixar te de oficial de Miller durante a Guerra
o local. Posteriormente, naquele verão, de 1812. Galusha pastoreou a igreja ba-
os conferencistas mileritas alcançaram a tista de Lockport, Nova Iorque e foi pre-
Virgínia e as Carolinas. Em novembro, stdente da Sociedade Batista Americana
Litch realizou uma série em Baltimore. Antiescravista e da Associação Batista de
O interesse ali, pequeno a princípio, Nova Iorque. Sua atuação teve conside-
cresceu gradualmente, e o esforço “ter- ravel efeito e levou vários ministros mais
minou em triunfo”. timidos a segui-lo.

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O fervor das convicções mileritas é evidente neste exemplo de advertência ao público por uma
publicação milerita. Note o uso progressivo de pontos de exclamação para impressionar os leitores.

Pregadores muleritas, com seus grá- escrito: “O TEMPO CHEGOU?” Em-


ficos chamativos e milhões de páginas baixo estavam as palavras: “Quando a
de literatura adventista, certamente tuberculose pode ser classificada entre
chamavam a atenção popular sobre o as doenças curáveis. Bálsamo de Cereja
que poderia acontecer no decurso de Brava de Wistar”.
1843. “O milênio e o fim do mundo”, A imprensa também registrava a
diz um erudito, “eram assuntos de con- ampla variedade de fenômenos naturais
versação diária.” A imprensa nacional que pareciam especialmente prevalecen-
seguia com interesse os movimentos tes na época e que muitos adventistas ci-
de Miller, Himes e dos outros líderes. tavam como uma evidência adicional do
Às colunas dos jornais estavam repletas fim iminente de todas as coisas. Henry
de propagandas de hteratura milerita e Jones afirmava que a aurora boreal não
anti-milerita. Sempre prontos a lucrar tinha sido notada antes de 1716 e assim,
com o interesse público em qualquer constituía uma das maravilhas dos céus
causa, os vendedores de medicamento mencionadas em Joel 2:30 que apare-
patenteado distorciam os anúncios para certa “antes do grande e terrível dia do
chamar a atenção daqueles que estavam Senhor”. Nesse sentido, outros citavam
preocupados com o fim do mundo. o dia escuro de 19 de maio de 1780 e
Um desses retratava um anjo voando a espetacular chuva de meteoros de 13
e carregando um rolo em que estava de novembro de 1833. Durante o ano

Materia! com direros autarais


de 1843, uma ampla variedade de por- ckman recusou submeter-se e foi ex-
tentos celestiais foi relatada de todas as pulso do ministério poucas semanas
partes do país. Provavelmente, nenhum antes de morrer.
foi mais vastamente observado do que No verão de 1843, as relações en-
o cometa que súbita e inesperadamente tre aqueles que aguardavam o retorno
apareceu em fevereiro de 1843. Naque- de Cristo a qualquer momento e as
le ano, um terremoto catastrófico no igrejas protestantes organizadas das
Haiti e uma tempestade singularmente quais eles eram membros estavam se
violenta nas Ilhas da Madeira eram con- tornando tensas. Muitos adventistas
siderados como cumprimentos parciais indagavam se eles deviam se retirar de
de Lucas 21:25 e 26, enquanto que as suas igrejas. Não, dizia The Signs of the
repercussões do Pânico de 1837 eram Times. Continuem testemunhando de
consideradas por alguns como a confir- sua fé entre seus irmãos. Se eles não
mação de que, nos últimos dias, o cora- lhes derem ouvidos, que assumam a
ção dos homens desmataria de terror. responsabilidade por expulsá-los. Ain-
da em janeiro de 1844, Miller aconse-
Intolerância lhava contra a separação, proclamando
À medida que os mileritas se tor- que ele “nunca havia planejado formar
navam mais firmados e certos de sua uma nova seita”.
posição, eles tendiam a exibir menos
tolerância para com aqueles que deles “Sair de Babilônia”
discordavam. Por sua vez, as principais No entanto, uma voz diferente es-
seitas protestantes aumentavam suas tava sendo ouvida em Ohio naquele
críticas contra os adventistas. Cada vez verão de 1843. Em Cleveland, talvez o
mais igrejas, uma vez abertas aos con- mais amado dos pregadores muileritas,
ferencistas mileritas, fecharam as por- Charles Fitch, pregou um poderoso ser-
tas às suas apresentações. O passo se- mão baseado em Apocalipse 18: “Cau,
guinte foi disciplinar ministros e leigos caiu a grande Babilônia. [...] Retiras-vos
que promovessem as idéias adventistas. dela, povo meu!” Mileritas, juntamente
Um exemplo dramático de tal pres- com a maioria dos protestantes, cos-
são envolveu o pastor Levi Stockman tumeiramente haviam identificado o
da Associação Metodista do Maine. A papado com a Babilônia desse texto.
reunião da associação de julho de 1843 Fitch foi muito além disso, rotulando
condenou as “excentricidades” mileri- todo o mundo cristão como Babilônia
tas e exigiu que os pastores metodistas por causa da sua oposição à doutrina
se abstivessem de divulgá-las. Tendo o de que o tempo do regresso de Cristo
pastor Stockman recusado, ele foi jul- estava próximo. Ele apelou a todos os
gado por heresia. Naqueles dias, fatal- verdadeiros cristãos que saíssem pata
mente enfermo, sofrendo de tubercu- a luz do “advento iminente” ou se ar-
lose, Stockman não foi apenas ameaça- riscassem a perecer. Embora a maioria
do de expulsão da igreja a menos que dos líderes mileritas do leste fossem 1n1-
acedesse, mas também fo1 advertido de cialmente indiferentes ao chamado de
que sertam negados à sua viúva e filhos Fitch para separação, alguns como Ge-
quaisquer benefícios de pensão. Sto- orge Storrs e Joseph Marsh, editor da
Voice of Truth, aceitaram. Storrs advertiu instáveis poderiam sofrer um colapso
os adventistas que se separaram de suas e 1r a extremos. Contudo, embora 1sso
antigas igrejas a serem cuidadosos para seja admitido, um exame cuidadoso dos
não formar uma nova igreja. “Nenhuma registros contemporâneos indica que as
igreja pode ser organizada por invenção acusações de insanidade e suíscídio eram
humana, e se torna Babilônia no momento grosseiramente exageradas.
em que é organizada”, escreveu Stortrs em Talvez o mais espirituoso engano re-
The Midnight Cry. lattvo ao comportamento dos adventistas
À medida que as semanas e meses se fo1 o de que eles prepararam vestes espe-
passavam e 1843 se tornava 1844, a pena ciais de musselina branca para a ascensão,
de Joseph Marsh tornou-se a principal em a fim de usá-las no grande dia da volta
convidar os adventistas para se separarem de Cristo. Essa história, que remonta ao
das igrejas. Ele arrazoava que estava er- início de 1842, revelou ser, na realidade,
rado continuar dando dinheiro e apoio mnfundada, mas se tornou tão venerada
a Organizações que negavam o advento no folclore popular que tem continuado
iminente. Apenas “saindo”, afirmava a aparecer periodicamente, até o presen-
Marsh, “poderam os crentes do advento te. A história das vestes para a ascensão
mostrar sua plena devoção à verdade”. for classtficada como uma difamação
Todavia, não foi, senão no início do outo- pelo Midnight Cry de 17 de março de
no de 1844, que Josué V. Himes tornou- 1843 e por numerosos participantes do
se um franco, embora relutante, defensor movimento em dezenas de ocasiões des-
da separação. E o que dizer do chefe ge- de então. Repetidamente, são oferecidas
ral do movimento, o próprio Guilherme recompensas substanciais em dinheiro a
Miller” Ele mesmo não podia ser levado quem apresentar um exemplo fidedigno
a exigir defimtíiva separação. Tempos de- de vestes sendo confeccionadas ou usa-
pois, quando sua própria igreja batista de das. Tais recompensas jamais foram re-
Low Hampton o expulsou e a seus segui- clamadas. Contudo, o conto petsiste.
dores, ele aceitou o voto sem amargura, Embora os jornais mileritas ou refu-
mas com genuína tristeza. A deterioração tassem ou transferissem pata a sua “Se-
das relações entre os crentes do advento ção do Mentiroso” as grosseiras histó-
e as igrejas pode ajudar a explicar o cres- rias que circulavam sobre eles, os líderes
cimento da zombaria e a propagação de estavam demasiado ocupados em fazer
histórias depreciatívas projetadas para fa- soar a advertência para prestar muita
zer os mileritas parecerem ridículos. Des- atenção a tais matérias. Na passagem de
de ptadas zombeteiras até cruéis carica- 1843 para 1844, poucos “dias de mise-
turas apareciam na imprensa em grande ricórdia” restavam, segundo os cálculos
número, depois da passagem de cada data de Miller. A atividade aumentava. Em 20
que alguns adventistas marcavam pata o de fevereiro de 1844, Miller, Himes e Li-
advento. Já no final de 1842, alguns jor- tch chegaram à capital do país para uma
nais começaram a acusar que os ensinos importante campanha. Depois de menos
mileritas causavam crescente insanidade de uma semana de conferências em uma
e suicídio. Poucos eruditos negariam que igreja batista, as multidões que desejavam
em períodos de elevado entustasmo reli- ouvir esses conferencistas do advento se
gioso algumas pessoas emocionalmente tornaram tão grandes que as reuniões

Materta! SOTTI GI SOS a Iarais


foram transferidas para o Apollo Hall, arbitrariamente escolhido. Este sempre
não muito distante da Casa Branca. Dois tinha admutido sua dependência do sis-
dias depois, a estranha explosão de uma tema cronológico desenvolvido por ou-
arma de fogo sobre a U.$.5. Princeton re- tros. Ele reconheceu que isso poderia
sultou na morte do Secretário de Estado ser uma cópia imperfeita do método
Abel Upshur e do Ministro da Marinha, divino de calcular o tempo. Isso expli-
Thomas Gilmer. O choque resultante ca, em parte, sua relutância em escolher
desse episódio aumentou a assistência às uma data especifica. Não querta que
conferências adventistas, que continua- ninguém adiasse demasiado o seu pre-
ram até 2 de março. paro, ou ficasse desanimado se Cristo
O interesse despertado em Washing- não viesse no dia esperado.
ton se estendeu para os estados adjacen- O dia 21 de março e, depois, 18 de
tes da Virginia e Maryland. Pela primei- abril passaram sem nenhum sinal do re-
ta vez, importantes convites vieram aos torno do Rei. À primavera passou e o
conferencistas provenientes das grandes desapontamento penetrou nas fileiras
cidades do sul: Charleston, Savannah e dos crentes do advento. Esse não foi
Mobile. Mas compromissos anteriores um desapontamento dramático, sendo
impediram a aceitação; o trio voltou para que nenhum dia específico tinha sido
o norte, realizando quase uma semana de antecipado exclussvamente. Contudo,
conferências em Baltimore. Então Miller ele não for menos real. Alguns ficaram
seguiu para Low Hampton, onde che- destludidos e concluíram que Miller ha-
gou no dia 14 de março, depois de ter vita compreendido as coisas de forma
conferenciado em Filadélfia, Newark e a inteiramente errada. Esses adventistas,
caminho, na cidade de Nova Iorque. Seu ou voltaram para suas antigas igrejas ou
tempo predito havia quase se esgotado; deslizaram para o ceticismo.
ele considerava sua obra concluída. Nes- A maioria, porém, embora desani-
sa ocasião, ele fechou sua agenda com as mada e desapontada, ainda acreditava
palavras: “De 1832 até agora apresenter 3 que o advento devia ser esperado a qual-
mil e 200 conferências.” quer momento. Corajosamente, Miller
admitiu que havia errado, mas também
Revisando a cronologia chamou a atenção dos crentes para Ha-
Ao longo de 1843, a crítica de seus bacuque 2:3: “A visão ... se tardar, es-
opositores forçou os líderes adventistas pera-o, porque, certamente, vira.” Logo
a um estudo mais minucioso da crono- os jornais do advento estavam cheios
logia. Como resultado, Himes, Lutch, de referências ao “tempo de tardança”
Apollos Hale, Sylvester Bliss e outros mencionado por Cristo na parábola das
ficaram convencidos de que eles de- dez virgens.
viam usar um método mais exato de No início do verão, para espanto de
calcular o ano judaico conforme pre- seus críticos, as atividades adventistas se
servado pelos rigorosos judeus caraitas. renovaram com acrescido vigor. Confe-
Segundo esse método, o ano judaico de rências jorravam em todas as direções.
1843 terminaria no pôr-do-sol de 18 de Litch foi para o oeste, Fitch para o les-
abril de 1844, em vez de no equinócio te. Em julho, Miller e Himes iniciaram
de 21 de março, data que Miller havia uma extensa jornada de discursos no
oeste de Nova lorque e Ohio. Às reuni- cartas ao The Midnight Cry, mas ainda os
des campais foram mais uma vez reali- principais líderes adventistas grande-
zadas; a (Grande Tenda foi desenrolada mente ignoraram sua “nova luz”. Tudo
para uso em Ohio, Indiana e Kentucky. isso mudou como resultado dos even-
Os conferencistas mileritas subitamente tos surpreendentes que ocorreram na
descobriram que o sistema de cronolo- reunião campal de Exeter, New Hamp-
gia a.C.- d.C. não permitia nenhum ano shire, em meados de agosto de 1844.
“zero”. De sorte que ele tomaria todos Subitamente, enquanto José Bates es-
os 457 anos judaicos antes de Cristo e tava falando, um cavaleiro entrou no
todos os 1843 anos depois do seu nas- acampamento, apeou e assentou-se na
cimento para totalizar 2.300. Sendo que extremidade da congregação. O cava-
ninguém sabia exatamente o dia do ano leiro S. S. Snow logo iniciou uma con-
o decreto de Artaxerxes usado como versa com sua irmã, a sra. John Couch.
ponto de partida para os 2.300 dias, a Depois de alguns minutos, a sra. Cou-
data exata para terminar a profecia de ch se levantou e, interrompendo Bates,
tempo deveria ser um dia desconhecido proclamou: “E tarde demais para gastar
durante o ano de 1844. tempo com estas verdades, com as quais
estamos familiarizados |...) O tempo é
O movimento do sétimo mês curto. O Senhor tem aqui servos aos
Mesmo antes da passagem das datas quais conferiu o alimento em seu devi-
da primavera, estavam sendo plantadas do tempo pata que o entregassem à sua
as sementes de um novo movimento casa. Que eles falem.”
por Samuel Sheffield Snow. Recupe- Bates tinha vindo para a reunião
rado da descrença pela mensagem de de Exeter com a convicção de que ah
Miller, Snow havia começado a viajar obteria mais luz sobre as razões do
como um conferencista do advento em desapontamento da primavera. Agora,
1842. Um estudo intensivo do taberná- ele cortesmente ofereceu o púlpito ao
culo mosaico e das festividades típicas recém-chegado. Snow prosseguiu apre-
judaicas o convenceram de que Cristo sentando suas tazões para crer que Cris-
voltaria por ocasião do dia judaico da to voltaria no grande dia da expiação,
expiação, no sétimo mês do ano. Isso 22 de outubro de 1844. Tão convincen-
seria no outono em vez de na primave- temente eram expressas suas idéias, que
ra de 1844. Snow começou a promover uma onda de entustasmo se estendeu
esse ponto de vista na cidade de Nova pelo auditório. Em dois sermões sub-
Iorque durante o inverno de 1843-1844. sequentes ele desenvolveu mais plena-
A princípio, outros líderes do advento mente seus argumentos. O efeito foi
prestaram-lhe pouca atenção, embora espetacular. Ao se espalharem os acam-
Miller trvesse sugerido uma possibilida- pantes pela Nova Inglaterra, ressoou
de semelhante em maio de 1843. o clamor: “Eis que o Noivo vem ... no
Ao avançar o ano de 1844, Snow décimo dia do sétimo mês! O tempo é
tornou-se muito dinâmico em promo- curto, aprontai-vos! Aprontai-vos!”
ver o “décimo dia do sétimo mês”. Pelo Alguns dias depois, Snow publicou
cálculo caraíta, esse dia viria em 22 de um resumo dos seus argumentos em um
outubro. Snow expôs suas opiniões em jornal de quatro páginas intitulado The
Trne Midnight Cry [O Verdadeiro Clamor Nova Iorque e Filadélfia. Muitos dos
da Meia-Noite]. Embora os principais mileritas interpretavam essa crescente
líderes e jornais mileritas fossem contra perseguição como um indício de que a
fixar suas esperanças em um dia defini- porta da graça havia se fechado. Nada
do, a maior parte dos crentes adventistas restava a fazer senão aguardar o fim de
recebeu entustasticamente a nova men- todas as coisas.
sagem. “Ela percorreu o país com a velo- Na maior parte dos Estados Unidos
cidade de um ciclone”, relatou o Advent a manhã de 22 de outubro apareceu
Herald (Arauto do Advento] (o antigo brilhante e clara. Grupos adventistas
Szgn of the Times) de 30 de outubro de se reuniram calmamente em lares ou
1844. Na primeira semana de outubro, templos religiosos para aguardar as úl-
Miller, Himes, e os outros principais líde- timas horas da história terrestre. Talvez
res tinham começado a se render. Jostas nada menos do que 100 mil esperavam
Litch for quem hesitou por mais tempo. em calma expectativa de que Jesus logo
Não fo1 senão em 16 de outubro que ele apareceria em uma nuvem luminosa.
fixou suas esperanças em 22 de outubro. Havia uma exceção a essa regra geral.
Dois dias antes, Charles Fitch havia Pouco antes de 22 de outubro, um mr-
morrido. Ele contraiu uma grave febre lerita praticamente desconhecido, dr. €.
depois de expor-se a um vento frio a R. Gorgas afirmou que lhe tinha sido
fim de batizar três grupos separados mostrado em visão que Cristo aparece-
de crentes. “Creio nas promessas de ria às 3 horas da manhã de 22 de outu-
Deus”, disse ele enquanto jazia agont- bro. Antes disso, os justos deviam fugir
zante, esperando confiantemente reu- das grandes cidades como Ló fugiu de
nit-se à sua esposa e filhos em pouco Sodoma. Himes, Litch, e outros líderes
mais de uma semana. do advento fortemente se opuseram ao
As palavras não conseguem captar a que eles consideravam como fanatismo
urgência das atividades em que se empe- de Gorgas. Contudo, talvez 150 a 200
nharam os crentes do advento nas sema- dos aproximadamente 3 mil crentes ad-
nas que precederam 22 de outubro. Co- ventistas de Filadélfia caminharam mais
lheitas foram deixadas por recolher; bata- de seis quilômetros para o campo a fim
tas não escavadas; lojas foram fechadas; de esperar o advento.
operários demitiram-se de suas funções. Mas o grande dia passou. Muitos
Nada eta importante exceto o fato de que dos crentes continuaram aguardando
Cristo viria em alguns dias. Pessoas pre- esperançosamente até que os relógios
cisavam ser advertidas; pecados deviam soatam meia-noite. Então eles foram
ser confessados, dívidas compensadas, forçados a encarar o fato de que algo
ofensas reparadas. Os tabernáculos mi- estava errado. Cristo não veio. Eles
leritas e os locais de reunião abrigavam estavam devastados, inconsoláveis.
serviços religiosos quase contínuos. “Nossas mais acariciadas esperanças e
Enquanto cresciam as expectativas expectativas foram destruídas”, relem-
adventistas, assitm também crescia a brou Hiram Edson, “e tal espírito de
zombaria de seus opositores. Multidões lamento veio sobre nós como eu nunca
desordeiras forçaram o cancelamento experimentei antes. Parecia que a perda
das reuniões vespertinas em Boston, de todos os amigos terrestres não te-
ria tido nem comparação. Choramos, e Unimo-nos, como um só povo, em fer-
choramos, até que o dia ratou.” votosa oração para alcançar uma ver-
Apesar de tão traumático, o desa- dadeira experiência e inequívoca prova
pontamento não minou as recorda- de nossa aceitação da parte de Deus.”
ções de alguns do que Ellen Harmon Não admita que, em anos posteriores,
denominou “o ano mais feliz de minha ex-participantes do movimento milerita
vida”. Como poderia ser isso? A mesma se referissem às reuniões especialmente
participante lembrou: “Meu coração animadas e solenes como sendo seme-
transbordava de alegre expectativa. |...| lhantes aquelas realizadas em 1844.

Leitura temática sugerida:


Relatos de testemunhas oculares do movimento muilerita:

James White, Lzfe Incidents in Connection with the Great Advent Movement (1868),
p. 25-72, é uma visão compenetrada do período por um fundador da igreja.
Ellen G. White, Life Sketches of Ellen G. White (1915), p. 20-63, escrito pouco
antes de sua morte, mas baseia-se em seus escritos mais antigos.
Isaac Wellcome, History of the Second Advent Message and Mission, Doctrine and
People (1874), conta a história partindo do ponto de vista de alguém que não se
tornou adventista do sétimo dia.

Relatos do movimento milerita além daqueles listados no Capítulo 2:


E. N. Dick, “The Millerite Movement, 1830-1845”, em Adventism in America
(1986), Gary Land, ed., p. 1-35, sintetiza as várias tendências do movimento.
“Advent Camp Meetings of the 1840's”, em Adventist Heritage,
vol. 4, nº 2, (inverno de 1977), p. 3-10, descreve a cultura da reunião campal do
movimento milerita.
David Arthur, “Millerism?, em The Rise of Adventism, (1974) Edwin Gaustad,
ed., p. 154-172, resume o papel de Josué V. Himes no movimento.
Delbert Baker, [he Unknown Prophet: the Story of Willam Elhs Foy (1987), é
uma biografia da primeira das três pessoas que receberam visões no tempo do
Grande Desapontamento.
Ruth Alden Doan, The Miller Heresy, Millennialism, and American Culture (1987),
explica os vínculos do milerismo com o milenialismo e enfatiza o caráter disst-
dente dessa primeira fase do adventismo.
Ronald Numbers e Jonathan Butler, [he Disabpointed (1993), caps. 1-9, estuda
as principais personalidades do milerismo e vários assuntos do movimento tais
como o uso da profecia.
George Knight, Mz/lkennial Fever and the End of the World (1993), os caps. 4-11
apresentam um criterioso relato do movimento milerita.

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