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Comunismo

Empresarial de
Mercado
Comunismo Empresarial de
Mercado

Leandro Ribeiro Vasconcelos

4ª edição revista e ampliada

Independently published 2023


©2009 by Leandro Riberio Vasconcelos

NÚMERO DE REGISTRO: 312233163


Dados Internacionais de Catalogação na
Publicação (CIP)

P435
4.ed
Vasconcelos, Leandro Ribeiro
Comunismo Empresarial de Mercado
346p.:21 cm

Inclui bibliografia
ISBN 9781520224954

1. Político/Filosófico I. Título

2023

1ª 2009
2ª edição: 2016
3ª edição revista e ampliada: 2021
4º edição revista e ampliada: 2023

Direitos desta edição reservados ao autor

professorleandrocarlos@gmail.com
SUMÁRIO
Parte I .................................................................... 11
Principais sistemas político-econômicos: Origens e
evolução do liberalismo, comunismo e demais
sistemas político-econômicos derivados. .............. 11
Evolução dos sistemas político-econômicos ......... 12
Capitalismo, liberalismo e keynesianismo ............ 20
Comunismo – Evolução Conceitual...................... 28
Socialismo Científico ............................................ 32
Revoluções Comunistas ........................................ 36
Social-democracia ................................................. 46
Welfare State ......................................................... 50
Neoliberalismo ...................................................... 59
“Mainstream”, o capitalismo ortodoxo e a “Síntese
neoclássica”........................................................... 62
Parte II................................................................... 67
Pontos principais positivos e negativos dos sistemas
atuais ..................................................................... 67
1 A planificação do mercado e Capitalismo de
Estado.................................................................... 69
1.2 Incoerência e ética no capitalismo de Estado
........................................................................... 75
2 Tamanho do Estado e suas conseqüências ......... 77
3 Burocracia .......................................................... 84
4 Aparelhos ideológicos de Estado ....................... 87
5 Alguns problemas e benefícios das experiências
do comunismo ....................................................... 93
6 Outros problemas que prejudicaram os países
socialistas .............................................................. 97
7 Alguns problemas do capitalismo atual ............. 99
7.1 Abuso do poder econômico ........................ 99
7.2 Disparidade de renda e miséria ................. 106
7.3 Valores culturais ....................................... 111
7.4 Problemas ambientais. .............................. 113
7.5 Estratificação do sistema capitalista ......... 114
8 Algumas vantagens do capitalismo atual ......... 115
8.1 Crescimento econômico ............................ 116
8.2 Meritocracia, concorrência e incentivos no
capitalismo ...................................................... 121
8.3 Descentralização das decisões administrativas
e economia mercado ....................................... 126
9 Microeconomia ................................................ 126
9.1 Empresas pequenas e grandes, liberdade e
poder estratégico ............................................. 129
9.2 Diferenças entre os danos sociais e materiais
das empresas pequenas e das maiores ............. 132
9.3 Diferenças de funcionamento e
competitividade de empresas grandes e pequenas
......................................................................... 144
9.4 Dissociação entre controle e direção na
empresa grande ............................................... 151
9.5 O preço do sucesso.................................... 155
10 Outras questões de relevância que envolvem as
grandes empresas. ............................................... 157
10.1 Preços básicos da economia .................... 157
10.2 Concentração econômica ........................ 157
10.3 Educação e a grande empresa ................. 158
11 Alguns problemas da social-democracia ....... 159
12 Problemas de relevância na democracia ........ 160
12.1Aparelhamento político-partidário ........... 160
Parte III ............................................................... 162
Mudar ou não? .................................................... 162
Opções individuais e sociais ............................... 163
Uma alternativa ................................................... 166
Comunismo Empresarial de Mercado ................. 170
Viabilidade do CEM ........................................... 182
A. Diferença entre finalidade e encerramento de
operação na empresa capitalista e no CEM. ... 185
B. Hegemonia justa e produtiva da empresa
comunal no CEM ............................................ 187
Ingerência - O inimigo da empresa comunal
..................................................................... 187
Identidade jurídica ...................................... 190
Estrutura de empresa capitalista.................. 190
Cuidados especiais no CEM ........................... 192
Setor contábil desvinculado da estrutura
administrativa .............................................. 192
Fragilidade da empresa pública .................. 193
O mal da governança corporativa ............... 194
Critério objetivo para escolha dos quadros
administrativos ............................................ 195
Qualificação e experiência dos administradores
..................................................................... 196
Igualdade das leis trabalhistas ..................... 197
Circunstâncias favoráveis ............................... 198
Fundação e gestão da empresa comunal ......... 199
Estímulo à eficiência ....................................... 200
Uso das receitas e lucros no CEM .................. 201
Financiamento da empresa comunal no CEM 203
Obtendo hegemonia ............................................ 209
Funções, eficiência e controle eficiente do
governo ........................................................... 210
Controle e punição .......................................... 211
Auditoria ......................................................... 212
Consultoria ...................................................... 213
Garantia de eficiência ..................................... 213
C. Desenvolvimento econômico no CEM .......... 214
Desenvolvimento tecnológico ......................... 216
Maior oferta de empregos ............................... 217
Aumento da renda dos trabalhadores .............. 217
Crescimento das empresas .............................. 218
Crescimento econômico .................................. 218
Desenvolvimento de setores reprimidos ......... 219
Preços e poder aquisitivo ................................ 220
D. Outras vantagens no CEM ............................. 221
Equiparação econômica e justiça distributiva . 221
Equiparação de poder político ........................ 222
Alocação de recursos ...................................... 222
Escolha de objetivos ....................................... 223
Evita fuga de capital para o exterior ............... 223
E. Estabilidade econômica na transição para o CEM
............................................................................. 224
Investimento inicial em setores reprimidos .... 225
Investimento prioritário em setores monopolistas
e oligopolistas ................................................. 226
Avanço progressivo do CEM .......................... 226
Redução gradual do Estado ............................. 227
F. Financiamento do CEM .................................. 228
Impostos .......................................................... 228
Endividamento e garantias .............................. 230
Prover garantias .......................................... 230
Endividamento e multiplicação de recursos 231
Geração monetária e inflação.......................... 233
Expansão monetário-produtiva ................... 233
Outras questões importantes no CEM................. 238
Necessidade de empresas comunais
independentes.................................................. 238
Motivos pelos quais o CEM não gera males de
crescimento excessivo do Estado .................... 239
Motivos pelos quais os lucros não devem ser
distribuídos aleatoriamente ............................. 240
Importância de manutenção da iniciativa privada
......................................................................... 241
Incentivos econômicos .................................... 241
Investimento estratégico ................................. 242
Parte IV ............................................................... 244
Diferença entre o CEM e os ordenamentos
institucionais atuais. ............................................ 244
1. A Liberdade econômica ........................... 245
2. Propriedade dos meios de produção ........... 246
3. Sistema de incentivos.................................. 247
4. Coordenação e alocação dos recursos ......... 248
5. Locus do processo decisório ....................... 249
Conclusão........................................................ 249
Parte V ................................................................ 251
Abordagem pontual dos tópicos dos Pontos
principais positivos e negativos dos sistemas atuais
............................................................................. 251
Comparação do CEM com os tópicos do capitulo II
sobre “Pontos principais positivos e negativos dos
sistemas atuais” ................................................... 251
1 A planificação do mercado e Capitalismo de
Estado.................................................................. 251
1.2 Incoerência e ética no capitalismo de Estado 252
2 Tamanho do Estado e suas conseqüências ....... 253
3 Burocracia ........................................................ 255
4 Aparelhos ideológicos de Estado ..................... 255
5 Alguns problemas e benefícios das experiências
do comunismo ..................................................... 257
6 Outros problemas que prejudicaram os países
socialistas ............................................................ 260
7 Alguns problemas do capitalismo atual ........... 261
7.1 Abuso do poder econômico ...................... 261
7.2 Disparidade de renda e miséria ................. 263
7.3 Valores culturais ....................................... 265
7.4 Problemas ambientais. .............................. 266
7.5 Estratificação do sistema capitalista ......... 267
8 Algumas vantagens do capitalismo atual ......... 267
8.1 Crescimento econômico ............................ 268
8.2 Meritocracia, concorrência e incentivos no
capitalismo ...................................................... 270
9 Microeconomia ................................................ 274
9.1 Empresas pequenas e grandes, liberdade e
poder estratégico ............................................. 274
9.2 Diferenças entre os danos sociais e materiais
das empresas pequenas e das maiores ............. 275
9.3 Diferenças de funcionamento e
competitividade de empresas grandes e pequenas
......................................................................... 282
9.4 Dissociação entre controle e direção na
empresa grande ............................................... 284
9.5 O preço do sucesso.................................... 284
10 Outras questões de relevância que envolvem as
grandes empresas. ............................................... 285
10.1 Preços básicos da economia .................... 285
10.2 Concentração econômica ........................ 286
10.3 Educação e a grande empresa ................. 286
11 Alguns problemas da social-democracia ....... 287
12 Problemas de relevância na democracia ........ 288
12.1 Aparelhamento político-partidário .......... 288
Conclusão............................................................ 289
Parte VI ............................................................... 292
Fases do Comunismo Empresarial de Mercado .. 292
Parte VII .............................................................. 299
A legitimidade do estado e dos impostos: crítica à
ética da propriedade privada ............................... 299
Parte VIII ............................................................ 319
Motivos e métodos. ............................................. 319
Público alvo e finalidade deste trabalho ............. 319
Importância do estudo da economia e da política.
......................................................................... 320
Importância da interdisciplinaridade............... 321
Método e abordagem lógica ............................ 322
Estrutura lógica do CEM ................................ 322
Referências bibliográficas ................................... 330
Parte I

Principais sistemas político-


econômicos: Origens e evolução
do liberalismo, comunismo e
demais sistemas político-
econômicos derivados.
O Comunismo Empresarial de Mercado é
proveniente da evolução das teorias e sistemas
econômicos existentes. A síntese liberal-comunista
é a maneira de atingir alguns ideais comunistas sem
descartar os princípios da economia de mercado
liberal. Isso significa que a lógica intrínseca ao
CEM não contradiz a lógica da ortodoxia
econômica, o comunismo é atingido mantendo-se os
preceitos norteadores da economia liberal e da
síntese neoclássica.
Com a síntese liberal-comunista podemos unir
os pontos mais fortes da empresa privada e da
empresa pública, atuando de uma forma ainda mais
produtiva, em uma economia de mercado mais
eficiente e ética. O livro apresentará um cenário
onde empresas públicas autônomas podem ser mais

11
produtivas e superarem as empresas capitalistas.
Portanto, temos o ideal comunista unido a eficiência
prática da economia de mercado. Com essa nova
proposta temos uma economia descentralizada,
onde empresas públicas autônomas concorrem e
viabilizam empregos para que as pessoas possam
decidir sobre suas vidas de forma satisfatória, sem a
necessidade de assistencialismo nem dos
governantes. Essa é uma superação tanto do
capitalismo quanto do socialismo e da velha
esquerda. Ao longo do livro mostramos, por força
da lógica e de argumentos consistentes, que
podemos ter crescimento econômico ao mesmo
tempo que conquistamos a equanimidade de renda e
justiça social. É possível alcançar um país
basicamente de classe média, uma sociedade sem
extremos de pobreza ou riqueza e ao mesmo tempo
uma economia afluente.
Como veremos a seguir, essa nova esquerda
possui maneiras diferentes para atingir os mesmos
objetivos e ideais comunistas.
Neste capítulo faremos uma breve análise dos
principais sistemas econômicos para, então, extrair
os pontos fortes das diversas teorias.

Evolução dos sistemas político-


econômicos
Os sistemas econômicos são frutos de
evoluções sociais naturais. Algumas características
básicas dos sistemas econômicos atuais, tais como o
comércio e a propriedade podem ser analisados em
suas evoluções históricas. Ao analisarmos a história

12
podemos perceber que as sociedades à medida que
se tornam complexas costumam adotar sistemas de
trocas de mercadorias. Desde que o comércio
passou a ser traço cultural marcante em muitas
sociedades as instituições foram moldadas levando
em consideração tal traço cultural. Nos primórdios
das legislações já encontramos leis sobre comércio.
Temos o exemplo da lei hamurábica que enumerava
vários tipos de contrato, tais como empréstimos,
arrendamento, fretamento de barcos, o uso da
moeda etc. (CUQ, 1929)
Até mesmo as religiões passaram a tratar de
assuntos ligados ao comércio, juros e outras
atividades afins, o Talmud e a Torá tratam de
empréstimos e comércio, assim como outros textos
dos judeus; o Alcorão permite o comércio, mas
impede os juros. É certo que o comércio mudou as
sociedades. O direito grego, assim como o romano
em muito legislaram sobre o comércio. Os
primeiros filósofos dedicaram muitos textos a esta
atividade.
As relações de propriedade também mudaram
muito com o tempo. Para John Locke a propriedade
era uma instituição humana justificada pelo direito
natural. Michael Tigor e Madeleine Levy (1978) em
“O Direito e a Ascensão do Capitalismo” consta a
seguinte proposição:
No estado de natureza, o homem penetrava na
floresta e começava a plantar. Misturava seu
trabalho com a carne e o couro para fazer
alimentos e vestuário. Os dois, graças a seu
trabalho, criavam valores que não haviam
existido antes e, por conseguinte, tinham direito

13
natural a seu produto. O que poderia ser mais
naturalmente certo do que eles negociarem suas
propriedades como iguais? (TIGOR; LEVY,
1978)
Considerar que a noção de propriedade seja
natural do ser humano pode ser equivocado, por
exemplo, muitas tribos indígenas da América do Sul
viviam de forma comum até a invasão européia.
Talvez seja mais coerente pensar que a noção de
propriedade seja uma construção social. Fustel de
Coulanges em “A cidade antiga”, diz:
Quando se constrói o lar, é com o pensamento e
a esperança de que continue no mesmo lugar
sempre. Deus se instala ali, não por um dia, nem
pelo espaço de uma vida, mas por todo o tempo
em que dure essa família e enquanto restar
alguém que alimente a chama do sacrifício.
Assim o lar toma a posse da terra, essa parte da
terra torna-se sua, é sua propriedade.
(COULANGES, 2007)
De forma semelhante Rousseau no Discurso
sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade
entre os Homens, também trata do surgimento da
propriedade como resultado da evolução humana.
O primeiro que, cercando um terreno, se
lembrou de dizer: isto me pertence, e encontrou
criaturas suficientemente simples para acreditar,
foi o verdadeiro fundador da sociedade civil.
(ROUSSEAU, 1989)
Sobre a propriedade alguns estudiosos
acreditam que ela tenha começado de forma
coletiva e paulatinamente se tornado individual.
Nesse sentido a gens romana, assim como a fratria
grega e Sippe germânica possuiriam as terras em
que as tribos se fixavam e por ser comum eram

14
inalienáveis. Mais tarde as propriedades passariam a
ser individuais e inclusive podendo ser alienadas.
Aristóteles citou diversos casos em que o Estado
procurava reprimir a venda de terra, isso mostra
como a noção de propriedade mudou com o tempo.
Na Grécia antiga existiram muitas pressões sociais
por questões latifundiárias, por isso tivemos as
alterações legislativas de Sólon. Com a revolução
industrial e as ideias de autores como Proudhon e
Marx tivemos outra reviravolta na concepção de
propriedade. Proudhon em sua obra “O que é a
Propriedade?”, vê a grande propriedade dos
capitalistas como usurpação. Marx acredita que o
sistema capitalista leva inexoravelmente ao
acumulo material do grande capital nas mãos dos
detentores dos meios de produção e a conseqüente
alienação material do proletariado. Este último, por
não possuir os meios de produção, seria obrigado a
vender a sua força de trabalho a valores muito
abaixo da sua real produtividade. (Marx 2002,
2009; PROUDHON 2007)
A sociedade ocidental foi muito influenciada
pelo comércio durante muito tempo, mesmo durante
a Idade Média com o sistema econômico baseado
nos feudos ainda permaneceram muitas instituições,
noções e traços culturais das antigas sociedades
dependentes do comércio. Foi com a formação dos
primeiros burgos que a Europa viu o
reflorescimento do comércio. Neste período muitos
bancos surgiram, muitos artesãos, comerciantes e
demais burgueses melhoraram as suas condições
materiais. Werner Sombart considera que a essência

15
do capitalismo está no “espírito” que se
desenvolveu nesse período, final da Idade Média,
justamente entre os burgueses. (WERNER, 1946,
1982). É com esse sistema de produção e troca de
mercadorias que começa a se formar o que hoje
conhecemos como capitalismo. Max Weber em “A
ética protestante e o espírito do capitalismo”,
considera que o espírito capitalista moderno tenha
sido muito influenciado pelas reformas protestantes.
(WEBER,2004). Desta forma vemos que o modelo
econômico ajudou a moldar a sociedade ocidental e
de forma recíproca a sociedade transforma o seu
modelo econômico. O sistema econômico não
surgiu repentinamente e nem tampouco de forma
completa, ao contrário, ele é cheio de imperfeições
e contradições. Até mesmo o conceito de
capitalismo é debatido até hoje sem que possamos
definir com exatidão o que ele é. Apesar de tanta
controvérsia sobre a denominação de “capitalismo”,
podemos contudo associar o comércio, a
propriedade privada e algumas outras características
a este tipo de sistema econômico. A concorrência
também tem sido característica marcante no modelo
capitalista ocidental embora tal característica não
seja plena em muitos países.
É importante traçar uma diferença entre
sistema econômico e sistema político. Algumas
linhas de pensamento político possuem o modelo
capitalista de economia intrinsecamente em suas
fundamentações e ideias políticas, por exemplo, o
liberalismo é uma corrente de pensamento político
que engloba o modelo econômico capitalista. De

16
acordo com Stanley L. Brue (BRUE, 2006), os
primeiros pensadores do liberalismo, tais como
François Quesnay, John Stuart Mill, Adam Smith,
David Ricardo, Thomas Malthus, J.B. Say e F.
Bastiat, defenderam a livre iniciativa, a
concorrência, o direito inalienável a propriedade,
entre outros princípios. Estes autores contribuíram
com a ideia de que o Estado não deveria interferir
na economia nacional, defenderam o chamado
laissez-faire, mesmo diante do comércio
internacional. De maneira diferente o “Estado de
bem-estar social” ou Welfare State forma um
conjunto de ideias que em geral defendem uma
maior atuação do Estado na economia e na vida dos
cidadãos, como um todo, do que o liberalismo.
Embora alguns liberais também defendam o Estado
de bem-estar e até mesmo podem ser considerados
seus precursores. Mas isso apenas reforça a tese de
que o Estado de bem-estar é tão dependente dos
princípios econômicos capitalistas quanto às ideias
políticas de tendências mais liberais ou neoliberais.
De forma semelhante, os governos social-
democratas mesmo tendo orientações de esquerda
não desestimulam o modelo de economia
capitalista. Autores como A.C. Pigou, John
Strachey e o sueco Gunnar Myrdal defenderam este
modelo político-econômico.
Ainda assim não é necessário que o sistema
econômico, que com ressalvas denominamos
capitalismo, seja regido por uma mesma ideologia
política. Como veremos mais à frente, o capitalismo
pode ser adotado como sistema econômico básico

17
para diversos tipos de governo. Monarquias,
repúblicas democráticas e ditaduras podem ser
capitalistas, até mesmo Estados comunistas podem
adotar medidas características das economias
capitalistas.
Antes de o capitalismo chegar as suas
características atuais ele passou por outras fases,
tais como a comumente descrita como
mercantilismo. Durante esse período alguns países
atuaram amplamente na economia por acreditar que
interesses comerciais eram estratégicos e deveriam
ser defendidos pelo Estado. A Inglaterra de 1651
instituiu o Ato de Navegação com estes objetivos,
essa e outras medidas de Oliver Cromwell marcam
bem este período de valorização do ganho
comercial. Tantas medidas adotadas pelos
governantes dos países mercantilistas não foram
adotadas sem profunda reflexão, muitos autores
refletiram e deram os fundamentos para a doutrina
mercantilista, entre eles temos Barthélemy de
Laffemas, Antoine de Montchrestien, seguidores de
Colbert, Thomas Mun, Josiah Child e o italiano
Antonio Serra. De fato, o período do mercantilismo
serviu para enriquecer as nações que mais tarde
tomariam as rédeas da revolução industrial e criou o
mercado global que não mais se reduziria aos
patamares anteriores de comércio. Após a revolução
industrial o capitalismo começa a apresentar os
traços que diferenciariam os períodos subseqüentes.
Nos séculos XVIII e XIX a Europa começa a ver as
primeiras indústrias e transformações técnicas que
modificariam profundamente as economias

18
capitalistas. Maurice Dobb relata em seu livro
“Problemas de história do Capitalismo” (DOBB,
1958) que a revolução industrial foi um momento
de transição entre um capitalismo primitivo e a sua
nova fase mais moderna. Os processos de
racionalização e otimização das oportunidades
provenientes do mercado já estavam amplamente
sendo aplicados durante a revolução industrial,
inclusive a mais-valia. Nesse período observamos o
aumento populacional, a crescente urbanização, a
formação de uma nova classe, a do proletariado, e
uma burguesia ainda mais poderosa que a anterior.
Naturalmente o sistema capitalista continuou
mudando, inclusive por influência política da
esquerda e também por tantas mudanças técnicas. O
capitalismo hoje é muito diferente do capitalismo
arcaico, isso ao menos em alguns aspectos. Os
produtos são mais diversificados do que nunca,
muitos produtos possuem um grande valor
agregado, as mudanças tecnológicas se revertem
quase imediatamente em valores e produtos, o setor
de serviços torna-se mais importante que o
industrial e agrícola. Atualmente o Estado atua nos
diversos setores da economia muito mais do que em
outros momentos. Muitas dessas mudanças se
devem ao pensamento de John Maynard Keynes
que deu origem ao chamado Keynesianismo, sua
obra “A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da
Moeda” (KEYNES, 1992), entre outras obras,
influenciaram muitas políticas em diversos países.
Keynes pregava uma atuação mais contundente do
Estado na economia para reduzir o desemprego,

19
para reduzir as taxas de juros que estavam travando
o investimento produtivo, expandir os gastos
públicos para estimular a economia etc. Tais ideias
eram contrárias às ideias liberais, por isso foram tão
revolucionárias. Outros autores, como Gunnar
Myrdal e Michal Kalecki, também tratarem da
atuação do Estado na economia. Esta ruptura com o
modelo anterior ganhou força com a crise de 1929.
Nos Estados Unidos de Franklin D. Roosevelt as
ideias de Keynes influenciaram em alguns pontos
do New Deal, após a segunda guerra mundial
muitas ideias de Keynes se tornaram ortodoxas.
Muitos economistas seguiram a linha do
pensamento de Keynes, como influente economista
Alvin Hansen, professor em Harvard.
Atualmente os mais diversos regimes políticos
adotam o modelo econômico capitalista, cada um a
seu modo. A intervenção dos Estados nas
economias ocorre de várias formas, o percentual de
impostos geralmente sinaliza que países atuam mais
ou menos em seus mercados. Os países nórdicos
estão entre os que possuem maior carga tributária,
depois deles temos muitos países desenvolvidos.
Atualmente poucos Estados, como Hong Kong,
possuem baixos níveis de impostos. A intervenção
dos Estados na economia são fatos freqüentes desde
o início do século XX.

Capitalismo, liberalismo e
keynesianismo

20
O liberalismo surgiu como uma corrente de
pensamento que consolidava e fundamentava o
estilo de vida burguês. Por esse motivo ele é
historicamente colocado em contraste com o seu
opositor denominado socialismo ou comunismo.
Estes últimos pregam a ruptura com o estilo de vida
baseado na inalienabilidade da propriedade privada
que é característica do capitalismo. Como vimos, o
modelo econômico capitalista evoluiu gradualmente
nas sociedades baseadas no comércio e propriedade
privada. O advento da burguesia por sua vez alterou
as antigas relações de poder baseadas na nobreza e
servidão. A nova classe que prosperava queria o seu
espaço no campo dos direitos e da política. As
sociedades absolutistas não aceitaram essas
mudanças de forma passiva, com isso tivemos
diversos conflitos que se aprofundaram
significativamente a partir do século XVII. O antigo
regime estava sofrendo abalos com as constantes
revoltas. Já no século XVIII as lutas pela
independência dos Estados Unidos representam de
forma clara a defesa dos interesses dessa classe
emergente. A revolução francesa foi outro grande
conflito armado que opunha as ideias do antigo
regime aos novos ideais burgueses.
Diversos autores liberais buscaram
fundamentar as suas ideias de tal forma que
podemos observar alguns pontos semelhantes
defendidos por eles, tais como: as liberdades
individuais, a democracia e o direito a propriedade.
A separação dos poderes também foi defendida por
alguns liberais. A atuação do Estado na economia

21
era vista como perniciosa já que a livre iniciativa e a
concorrência seriam suficientes para corresponder
as necessidades e vontades de consumo da
sociedade como um todo.
Temos que ressaltar que o liberalismo não é
uma corrente puramente econômica, pois ela
também se volta para os princípios da liberdade
individual em termos político, religioso e em outros
aspectos da vida das pessoas. Limitar a atuação e
poder do Estado também foi uma característica
marcante das reivindicações liberais. A igualdade
perante a lei foi um princípio que os liberais
defenderam e que era bastante revolucionário para a
época, tendo em vista que a lei tratava
diferentemente os nobres do restante da população.
Algumas teorias contratualistas defendiam a
separação do Estado com a sociedade para permitir
que as relações civis fossem regidas pelo comum
acordo entre os membros da sociedade. A noção de
propriedade também era ampla para John Locke
(LOCKE, 2011), que considerava como propriedade
a própria vida com liberdade, além dos bens
adquiridos por meio do trabalho. Se o trabalho é
realizado pela pessoa, então o fruto do trabalho é
propriedade dela, isso pode causar estranheza para
alguém acostumado a pagar impostos por tudo o
que produz. Até mesmo temas como a saúde, que
hodiernamente são considerados por muitos como
direito de todos, era por Stuart Mill considerado
como setor exclusivo do indivíduo.
O pensamento liberal ganhou força com a
revolução industrial. As teses sobre a riqueza e

22
prosperidade das nações apresentadas pelos liberais
pareciam estar corretas, pois o progresso econômico
das nações industrializadas era notável. Nesta época
a doutrina liberal estava em alta, muitos governos
buscavam adotá-las. A burguesia pressionava os
governos a adotar as medidas liberais de forma
plena. Muitos traços derivados do mercantilismo
ainda estavam presentes em diversos países, o
protecionismo dos mercados internos com barreiras
alfandegárias eram condenados pelos liberais
favoráveis ao laissez-faire.
Tal como as leis da natureza que estavam
sendo propostas, alguns liberais defendiam que a
economia também era regida por leis imutáveis.
Para alguns fisiocratas a economia não precisava de
direcionamento, ela sozinha era capaz de resolver os
seus problemas. A tendência natural de buscar o
maior lucro com o menor esforço seria suficiente
para manter a prosperidade da nação. No entanto as
economias capitalistas começaram a ver o
surgimento de grandes monopólios e separação
extrema das classes pobres e ricas. A crise
econômica de 1929 somou-se a estes problemas,
com isso a crise se estendeu ao próprio liberalismo
que passou a ser criticado por diversos autores,
tanto comunistas quanto capitalistas. Keynes foi um
dos principais críticos do modelo econômico liberal.
Depois da primeira guerra mundial o Estado
norte-americano passou a atuar mais fortemente na
economia, essa tendência cresceu após a crise de
1929. A intervenção do Estado na economia passou
a receber grande apoio popular, acadêmico e da

23
própria burguesia que tanto sofreu com a quebra da
bolsa de valores e a crise econômica.
O objetivo das políticas econômicas
keynesianas fora alcançado em vários países, o seu
sucesso deu força a um movimento de
características diferentes da puramente econômica
que os Estados estavam adotando. Essas novas
ideias políticas se associaram ao conjunto de
conceitos que Stanley Brue denomina “economia do
bem-estar” (BRUE, 2006). Segundo Brue as ideias
que englobam o Estado de bem-estar (welfare state)
remontam às ideias dos economistas clássicos,
como Smith e Bentham, embora tenham recebido a
contribuições dos mais diversos autores, tais como
Pareto, Pigou, Von Mises, Lange, Arrow e
Buchanan.
Com o rumo do keynesianismo para um
Estado de bem-estar-social a intervenção do Estado
na sociedade civil se torna cada vez maior. Mais à
frente veremos o “welfare state” com um pouco
mais de profundidade. O Estado de bem-estar-social
absorvia várias tendências políticas democráticas
que priorizavam o bem estar do cidadão ao invés de
focar na intervenção Estatal com intuitos puramente
“economicistas”. O Estado de bem-estar-social
entrou em crise e foi muito criticado por seu
gigantismo, burocratização, impostos altos etc. Essa
crise foi exatamente o que os liberais precisavam
para voltar a cena político-econômica.
As antigas ideias liberais foram renovadas e
refinadas principalmente por uma nova corrente
liberal conhecida como escola austríaca, ou escola

24
de Viena. A nova escola do pensamento liberal tem
Ludwig von Mises, Friedrich Hayek e Milton
Friedman como alguns de seus principais
representantes. Além dessa escola de pensamento,
muitos políticos ficaram conhecidos como
neoliberais, conforme trataremos mais à frente. Esta
corrente valoriza muito a responsabilidade
individual na direção de todos os aspectos da vida
social e privada de cada cidadão. Princípios
individuais que consideram que o espírito de
liberdade deve estar acima da igualdade material,
são atrelados a princípios de funcionamento da
micro e macroeconomia.
Algumas novas escolas do pensamento liberal
observam a dificuldade de conciliar o Estado
intervencionista com os ideais liberais. O receio de
alguns é que o crescimento do Estado seja
irreversível, ou no mínimo torne o liberalismo
inviável na prática.
A crise econômica de 1929 foi um marco no
sistema capitalista, com a crise a revisão das teses
liberais passou a ser constante. A quebra da bolsa de
valores de Nova York e a grande depressão da
economia dos EUA levaram as antigas ideias
liberais a cair em descrédito por não terem previsto
nem evitado tal condição. A crise econômica
reforçou as teses que preconizavam uma maior
intervenção do Estado na economia, como a criação
de empresas estatais, o maior planejamento da
economia, a regulação do mercado, regulação das
relações de trabalho e de salário etc. A preocupação
com as grandes taxas de desemprego levou muitos

25
Estados a adotarem medidas de estímulo a
economia. O governo dos EUA adotou as políticas
intervencionistas do “New Deal” no intuito de
reverter o panorama catastrófico que,
contrariamente as teses liberais, não estava se
revertendo sozinha. Grandes obras públicas foram
realizadas para empregar a grande massa de
desempregados e estimular a economia. Outras
medidas buscaram maior controle sobre instituições
financeiras, o controle dos preços, principalmente
da produção agrícola, inclusive com a destruição de
estoques. A redução da jornada de trabalho também
foi imposta com o objetivo de gerar mais postos de
trabalho. O salário mínimo serviria para aumentar o
poder de compra dos consumidores. Alguns críticos
afirmam que as medidas do “New Deal” não
visavam somente à recuperação econômica, mas
também ao atendimento assistencialista da classe
trabalhadora para evitar o descontentamento com o
sistema capitalista e a consequente difusão e apoio
às ideias socialistas. Neste sentido são citadas
medidas como: criação do seguro-desemprego, do
sistema de previdência para idosos, alguns
incentivos aos sindicatos, o salário mínimo, redução
da jornada de trabalho etc.
A crise que começou nos EUA se espalhou
para o mundo e forçou outros países a adotarem
medidas intervencionistas, assim como o governo
americano estava fazendo. Na Alemanha os nazistas
com a ajuda de Hjalmar Schacht, promoveram
várias políticas de incentivo à economia, controle
dos preços, e geração de empregos. Assim como os

26
Estados Unidos, o governo da Alemanha
empreendeu grandes obras e outras políticas de
intervenção na economia. De fato, quando Keynes
publica a sua obra intitulada: “The General Theory
of Employment, Interest and Money”, várias das
políticas econômicas defendidas por ele já estavam
sendo aplicadas em diversos países. Essa política se
alastrou pelo mundo capitalista e não cessou, porém
se modificou de forma substancial com a
consolidação do chamado “welfare state” e com as
reformas provenientes do “neoliberalismo”.
As guerras também favoreceram a maior
presença da administração pública em praticamente
todos os setores da vida social. Internacionalmente a
Conferência de Bretton Woods também instituiu
mudanças em comparação com a política monetária
vigente anteriormente, os estados concordaram com
a necessidade de um controle maior e integrado do
câmbio.
Paul Samuelson foi um dos grandes
representantes do modelo de economia mista, por
vezes denominado “síntese neoclássica”. Outros
autores usam o termo “neocapitalismo” de forma
similar em alguns aspectos. Samuelson, junto de
Robert Solow, James Tobin e Alvin Hansen foram
os principais norte-americanos defensores da
política de intervenção do estado na economia
pregada pela escola keynesiana e neo-keynesiana.
Muitos alegam que tais medidas foram as grandes
responsáveis pelo período de grande prosperidade
econômica que o mundo capitalista viu no pós-
guerra. A China atualmente adota muitas das

27
medidas pregadas por estes pensadores e de fato é o
país que apresenta o melhor desempenho
econômico no mundo (BRANDT, 2008). O
progresso do Brasil durante o seu chamado “milagre
econômico” também pode ser em parte creditado a
este tipo de políticas econômicas, assim como fortes
períodos de crescimento econômico de muitos
outros países.
Outra corrente de pensamento chamada
“liberalismo social” teve grande influência de
pensadores como Thomas Green, Leonard
Hobhouse e John Hobson. A ideia central era que o
sistema capitalista por si só, tal como pregado pelo
liberalismo clássico, não poderia garantir alguns
direitos fundamentais para todos os cidadãos, isso
trazia a necessidade de reformas que só o Estado
poderia realizar. Ainda que pregassem a intervenção
do Estado na economia e na sociedade, este grupo
de pensadores e políticos não rompia com as
estruturas capitalistas. As teses do “liberalismo
social” foram em parte absorvidas no movimento do
Estado de bem-estar-social, no liberalismo de
esquerda, assim como nas políticas de orientação
keynesiana.

Comunismo – Evolução Conceitual


Schleiermacher usava o termo comunidade
para indicar a vida social com um vinculo orgânico
e intrínseco entre os seus membros. Ferdinand

28
Tönnies (TÖNNIES, 1947) diferencia comunidade
(Gemeinschaft) de sociedade (Gesellschaft), para ele
a comunidade baseava-se em pessoas caras entre si,
ligadas no bem e no mal. Essa ligação da
comunidade surgia do parentesco que ligava todos
da comunidade, das práticas herdadas dos
antepassados e dos fortes sentimentos religiosos
comuns a todos. Já as relações de sociedade são
típicas de grupos que vivem em vida urbana
complexa, com Estados organizados, divisão de
trabalho etc. Na sociedade até mesmo o estrangeiro
ou alguém sem nenhuma afinidade com os demais
poderia se estabelecer como um igual sem ser
notado. A distinção entre sociedade cosmopolita e
comunidades menos complexa permaneceu com
outros sociólogos, tais como Simmel, Cooley,
Weber e Durkheim. Desta forma podemos dizer que
a comunidade é um agrupamento humano em que
os integrantes se identificam entre si e possuem
interesses comuns. O comunismo primitivo, de
origem tribal, foi muito estudado, de fato muitas das
sociedades tribais do passado não distinguiam
propriedades privadas das coletivas.
As primeiras ideias comunistas que foram
estudadas e chegaram até nós, fora as noções de
comunidades religiosas, remontam à Grécia antiga.
Na República de Platão foi retratado um modelo de
sociedade que excluía a propriedade privada e de
outras instituições identificadas com o modelo
capitalista de política e economia (PLATÃO, 2000).
O pensamento de alguns religiosos e
comunidades religiosas também valorizou a vida

29
comum, assim foi Santo Ambrósio. Para ele a
natureza colocou tudo em comum para o uso de
todos, ela criou o direito comum e a usurpação criou
o direito privado (BROWN, 2012). Os Cátaros,
Valdenses, assim como frei Dolcino também
pregavam a importância da vida em comum.
Thomas Münzer e os anabatistas também pregaram
tais ideais tão contrários ao sistema vigente em suas
épocas. Já no século XVI Thomas More criticou o
sistema econômico de sua época. O famoso livro de
More, a Utopia (MORE, 1968), critica a sociedade
em que vivia.
Para o autor, em todo lugar em que vigora a
propriedade privada, onde o dinheiro seja a medida de
todas as coisas, acaba por ser bem difícil que se consiga
concretizar um regime político baseado na justiça e na
prosperidade.
Thomas More idealiza uma sociedade sem
propriedades privadas e dinheiro. A Cidade do Sol,
livro de autoria de Tommaso Campanella
(CAMPANELLA, 1990), também retrata uma
sociedade sem propriedade privada. É interessante
notar que ambos os autores defendem que as suas
respectivas sociedades comunistas sejam
democráticas.
A Inglaterra do século XVII foi conturbada
pelas ideias de um tipo de socialismo cristão. O
ativismo comunista de Gerrard Winstanley e dos
“verdadeiros niveladores” (True Levellers)
propunha a abolição da propriedade privada. Eles
consideravam que a terra era dada por Deus aos
homens e portanto não poderia ser usurpada por
outros homens.

30
Finalmente nos últimos séculos a noção de
comunismo, que desde a antiga Grécia eram
principalmente teóricos, começou a ocupar um
ponto de destaque nas discussões e revoluções. Com
todas as tensões sociais geradas durante a revolução
industrial, tais como pobreza dos trabalhadores,
desigualdade de renda extrema, exploração da mão
de obra, doenças entre os trabalhadores, ausência de
férias e de garantias perante a velhice, etc., as ideias
anticapitalistas estavam se alastrando rapidamente.
Vale notar que as ideias que a “Cooperative
Magazine” de Robert Owen chamaram socialistas
desde aquela época se confundiram com as
denominadas comunistas.
A revolução francesa colocou diversos ideais
e princípios políticos em primeiro plano, entre eles
estavam os ideais comunistas. As ideias do
iluminismo já estavam representando uma
revolução em si na Europa, tantas ideias inovadoras
foram levadas para o campo da disputa de poder
político. Assim ocorreu com a “conspiração dos
iguais”. François-Noêl Babeuf foi considerado por
muitos um dos primeiros militantes comunistas.
Babeuf, notadamente influenciado pelas ideias de
Morelly, foi um dos líderes do movimento
denominado babuvismo. Babeuf, An-tonelle,
Buonarroti, Darthé, entre outros defenderam a
distribuição igualitária das riquezas e muitas das
ideias que mais tarde seriam consideradas
comunistas, além disso, defendiam o direito ao voto
e controle do povo, apesar de Babeuf considerar que
muitas pessoas sejam obcecadas por interesses

31
individualistas. O pensamento de Rousseau,
Morelly, e dos socialistas utópicos muito
influenciaram esse período conturbado. Robert
Owen, Charles Fourier, Etienne Cabet, Saint-
Simon, que foram considerados por muitos,
inclusive por Karl Marx e Friedrich Engels
(MARX; ENGELS, 2009), como socialistas
utópicos, contribuíram com o pensamento
socialista. Muitos destes defendiam uma mudança
social por meio da emancipação econômica de
comunidades rurais constituída por membros
voluntários.

Socialismo Científico

Na metade do século XIX já parecia haver


uma cisão entre as classes dominantes e proletárias
das nações industrializadas. Os luditas ingleses
contrários a mecanização do trabalho quebravam as
máquinas das indústrias causando grande prejuízo
aos industriais, inclusive o historiador Eric
Hobsbawm em seu livro “Os Trabalhadores”
(HOBSBAWM, 1981) afirma que o movimento
“ludita” não pode ser classificado como ingênuo. É
certo que os operários não aceitavam passivamente
as condições impostas a eles pelos donos das
indústrias e grande beneficiados por toda aquela
situação precária dos trabalhadores. Posteriormente
ao movimento ludita surge o movimento “cartista”
também na Inglaterra, após a criação da
“Associação dos Operários”, que foi considerada

32
ilegal pelo governo, a associação tornou pública
uma carta intitulada “Carta do Povo” exigindo uma
série de direitos aos quais os proletários estavam
excluídos. Os operários realizaram comícios,
passeatas e greves e mais tarde começaram a formar
as “Trade Unions” foram modelo para os
posteriores sindicatos. Foi nesse contexto com a
Alemanha conturbada por guerras e pela unificação
nacional que surgiram dois pensadores que
mudariam o rumo do mundo. Karl Marx e Friedrich
Engels fundaram o que o próprio Engels denominou
socialismo científico (ENGELS, 1981).
Karl Marx estudou a fundo a história sob um
ponto de vista econômico e das relações entre as
classes sociais. Por tratar do tema de forma
sistemática Marx e Engels buscaram se distanciar
dos teóricos socialistas anteriores, por este motivo
denominaram socialistas utópicos aqueles que não
usavam de metodologia sistemática tal qual a do
materialismo histórico e dialético. Por este motivo
Engels (1981) definiu a sua nova modalidade de
socialismo baseado em seus novos métodos de
estudo de “socialismo científico”.
Karl Marx e Friedrich Engels publicaram o
“Manifesto Do Partido Comunista”, um panfleto
político que já anunciava muitas das ideias que
tanto Marx quanto Engels se aprofundariam mais
tarde. O Manifesto reconhece a relevância histórica
da ascensão da burguesia que mobilizou as pessoas
a enfrentarem a antiga hierarquia baseada nos
títulos de nobreza. O advento da burguesia também
seria responsável por um grande progresso

33
tecnológico. No entanto os dois defendem no
Manifesto que a revolução provocada pela
burguesia não seria suficiente para igualar os
cidadão, antes disso ela levaria inexoravelmente a
um distanciamento e desigualdade de classes nunca
antes visto. Os detentores do meio de produção se
enriqueceriam cada vez mais e em contrapartida a
grande massa da população que não possui as
máquinas nem o capital necessários para comprá-las
são praticamente forçados a venderem a sua mão-
de-obra a condições cada vez mais desfavoráveis.
Toda essa condição levaria a crises no sistema
capitalista que não veria o poder de compra dos
consumidores aumentar, mas continuaria a
desenvolver os métodos de produção, dessa forma a
superprodução das industrias não encontraria
consumidores para seus produtos, afinal os
detentores da riqueza seriam poucos. Para Marx as
revoltas dos trabalhadores explorados seriam outro
fardo que pesaria mais do que o sistema capitalista
poderia suportar e inevitavelmente levariam o
sistema ao seu fim.
Baseado no materialismo histórico Marx
defende que as pessoas e as relações sociais são
determinadas historicamente, as relações
econômicas de produção e de trabalho acabam por
consolidar ou alterar a religião, a moral e os
costumes da sociedade. Em “O Capital” Marx
(MARX, 2002) aprofunda as suas explicações sobre
o funcionamento do capitalismo. O conceito de
mais-valia procura mostrar de que modo os donos
dos meios de produção exploravam a mão-de-obra

34
dos indefesos trabalhadores. Marx considerava que
o trabalhador produzia muito mais do que recebia
pela sua produção, além disso o dono da empresa
aumentaria as horas de trabalho e a produtividade
do trabalho sem aumentar concomitantemente o
salário, isso aumentaria sempre a margem de lucro e
a exploração do empregado. Marx não foi o
primeiro a considerar que o valor dos produtos eram
determinados pelo trabalho aplicado na produção,
os representantes da escola clássica da economia
política inglesa, David Ricardo e Adam Smith, cada
um a seu modo, também tinham tal concepção que
mais tarde seria refutada por muitos autores. A ideia
de mais-valia podia ser usada para medir o grau de
exploração dos trabalhadores pelo patrão. A mais-
valia do período de industrialização dos países seria
apenas mais uma faceta da histórica luta de classes.
A luta de classes seria ponto central permanente na
história das sociedades capitalistas. Marx pensava
que o comunismo somente teria êxito no momento
certo, quando o capitalismo levar ao máximo
distanciamento entre os donos dos meios de
produção e os trabalhadores e as classes
intermediarias tiverem praticamente desaparecido,
só aí teríamos uma grande maioria de proletários
que poderiam tomar o poder. O momento ideal para
a instauração do governo comunista seria quando o
sistema de produção burguês tivesse alcançado
tamanha proficiência que os trabalhadores ao
tomarem o poder e controlarem a infra-estrutura
teriam condições de viverem dignamente. O
antagonismo histórico entre as classes sociais

35
naturalmente levaria à ruína o próprio sistema que
as criou.

Revoluções Comunistas
Já no século XIX as teorias socialistas
ganhavam força e apareciam cada vez mais na cena
política. A Associação Internacional dos
Trabalhadores se reuniu diversas vezes, mas ainda
não possuía ampla participação dos grupos
operários e também apresentava uma grande divisão
entre os anarquistas e comunistas. De um lado
Mikhail Bakunin defendia posições anarquistas,
pregava que o Estado era opressor, assim como
Proudhon acreditava que a justiça não pode ser
imposta aos indivíduos pelo Estado, para eles o
respeito à coletividade não deve impedir a
individualidade. Para Proudhon a propriedade
privada impedia esse ideal de liberdade.
Diferentemente dos anarquistas, os comunistas
seguiam as orientações marxistas e da “ditadura do
proletariado”.
A comuna de Paris dada após a revolução de
1870 foi um marco histórico no movimento
comunista, foi o primeiro governo controlado pela
classe dos operários. A comuna empreendeu
reformas democráticas e sociais embora tenha
durado poucos dias, os representantes da burguesia
francesa se aliaram aos estrangeiros para massacrar
a comuna. De fato o massacre que se deu causou a
morte e prisão de muitas pessoas, aproximadamente
vinte mil pessoas foram executadas.

36
A segunda Internacional também rendeu os
seus frutos na esfera política. Muitos partidos
socialistas surgiram e se fortaleceram até um novo
momento de divisão surgido no contexto da
primeira guerra mundial. A guerra trouxe à tona o
nacionalismo da população em detrimento dos
interesses sociais internacionais que estavam
começando a serem organizados pelo movimento
das “Internacionais”. É interessante notar que fora
denunciado pelos socialistas que o desejo da
burguesia em expandir os seus mercados
consumidores e a crescente necessidade das nações
industrializadas em consumir matérias-primas para
transformá-las em mercadorias levaria
incondicionalmente a mais uma guerra, isso não só
se deu na primeira grande guerra mundial como
também na segunda guerra de forma ainda mais
destrutiva.
A revolução russa de Outubro 1917 leva os
bolchevistas ao poder em um país que não havia
passado pelas etapas de desenvolvimento industrial
que o marxismo exigia como prerrogativa para a
revolução comunista definitiva e efetiva. A Rússia
do final do século XIX e início do século XX ainda
possuía muitos dos traços do sistema feudal que
assolou a Europa desde a Idade Média. O império
russo tinha o Czar como monarca autocrático, a
classe nobre dividia a posse quase absoluta da terra
com a Igreja Cristã Ortodoxa. A grande massa da
população dividida em diversas etnias que
formavam aquele país de proporções gigantescas
não possuíam a menor possibilidade de ascensão

37
social, a mobilidade social era praticamente nula.
Até mesmo as posições no exército russo eram
ocupadas segundo as origens familiares. A
burguesia naquela sociedade não tinha a mesma
representação que tinha nas grandes potências
industriais em parte porque a industrialização russa
começou mais tarde que a de países como a
Inglaterra. Algumas cidades russas possuíam
grandes indústrias, mas a grande maioria da
população se constituía de camponeses sem a
propriedade da terra em que trabalhavam. O fato é
que as condições de vida precárias de grande parte
da população deram força aos movimentos que
culminaram com a revolução comunista. Os países
europeus começavam a ver o reformismo social-
democrata, a Rússia viu a abertura de dois partidos
de extrema esquerda, o Operário Social Democrata
e o Socialista-Revolucionário. Com a divisão entre
“mencheviques” e bolcheviques”, uma liderança
pragmática surgiu defendendo a revolução com
características próprias. Lênin foi o grande teórico e
líder desse movimento que se fortalecia fora do
país. Após a derrota da Rússia perante as forças
japonesas em uma guerra deflagrada no oriente. O
que se deu após a derrota na guerra foi a primeira
grande contestação ao regime czarista, considerada
por Lênin o prólogo da revolução de 1917. Em 1914
a Rússia se envolve em mais uma guerra, esta
guerra foi considerada por Lênin o melhor presente
que o movimento revolucionário poderia receber do
czar. O historiador Marc Ferro (FERRO, 1967)
considerava que o povo queria derrubar o czar por

38
odiá-lo ao extremo. Greves e passeatas ocorriam nas
principais cidades. As massas aderiram ao
movimento de tal forma que com a adesão dos
militares as passeatas levaram a derrocada do
regime czarista. Com o fortalecimento dos
bolcheviques e a guerra civil que se deu foram
adotadas medidas extremas para resolver a situação
de transição. A intervenção das potências industriais
também ajudou os partidários da antiga aristocracia,
chamados “brancos” e em contraposição as forças
comandadas por Trotsky foram chamadas
“vermelhas”. Essa fase foi marcada pela
centralização, intervenção e grande controle do
Estado nos interesses nacionais. A economia estava
voltada para a guerra, mas já nesse momento se deu
a equiparação salarial, apesar de que após esse
período de guerras, com a nova política econômica,
alguns setores tiveram permissão de manter a livre
iniciativa e até mesmo uma nova moeda foi criada,
a tchervonetz.
O comunismo russo adotou a ideia de ditadura
do proletariado e logo a converteu em ditadura do
partido comunista com Lênin e Stálin. A
concentração e dominação do partido se tornaria
traço marcante do comunismo russo, chinês, bem
como de muitos outros países. A partidarização do
comunismo russo se transferiu para todos os
aspectos da sociedade surpreendentemente de forma
semelhante como a que Marx tratava ao falar da
superestrutura capitalista. O partido controlava da
arte à ciência e até mesmo as expressões culturais
mais simples. Nesse sentido o aparelho ideológico

39
do Estado comunista se tornou tão ou mais
poderoso do que o do Estado capitalista. É
interessante notar que Louis Althusser diferencia
aparelhos ideológicos de Estado de aparelhos
repressivos de Estado, este último é caracterizado
por sua ameaça e violência física, enquanto o
primeiro atua de forma moral ou não física. De certa
forma alguns Estados comunistas impuseram o
aparelho ideológico do partido por meio da força do
aparelho repressivo do Estado. Krupskaia relata os
esforços de Lênin ao buscar controlar o aparelho
ideológico escolar. Kautsky (KAUTSKY, 1919,
1920), um dos principais teóricos da social-
democracia, era contrário a este modelo de
revolução e foi um dos seus principais críticos. De
fato, as ideias de Kautsky são muito semelhantes às
principais correntes políticas de centro-esquerda
atuais. Mesmo com as críticas de muitos socialistas
a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
continuou a centralização dos poderes do Estado no
partido.
As crises econômicas e sociais que ocorreram
após a primeira grande guerra mundial mudaram
toda a cena política internacional. Com a ascensão
política dos grupos fascistas os princípios da
liberdade pregados pelos liberais começavam a ser
superados pelo ideal de submissão de todos diante
do Estado, representado pela imagem do líder do
Estado. Com as novas tecnologias dos meios de
comunicação de massa os líderes fascistas criavam
um verdadeiro culto a eles próprios, de fato em
alguns países eles eram idolatrados. O

40
nacionalismo, ufanismo e valorização das origens
históricas raciais eram reforçadas pelo
unipartidarismo que impedia oposição política. Os
ideais liberais não foram os únicos atingidos pelas
mudanças políticas advindas do fascismo, apesar de
ter forte apelo social o fascismo se posicionou
contra as ideias comunistas. Os fascistas deram
apoio à burguesia, os detentores do capital serviam
ao ideal expansionista, grandes grupos econômicos
foram fortalecidos e com isso crescia a necessidade
de “espaço vital”, ou seja, território necessário a
expansão, bem como mercado consumidor e
matérias primas. O expansionismo e militarismo
característico do conceito de “povos vigorosos”
presumia a intervenção colonialista, nestas
condições as guerras eram inevitáveis.
Os “povos viris”, tal como referido por
Mussolini, iniciam várias guerras que culminaram
em uma grande guerra de escalas nunca antes vistas.
O conflito foi terrível, a grande guerra deixou
milhões de civis e militares mortos,
aproximadamente setenta milhões segundo Donald
Sommerville (SOMMERVILLE, 2008), além de
ataques nucleares, cidades e economias foram
completamente destruídas. Além de tamanha
destruição com o fim da segunda grande guerra o
mundo se envolveu nas tensões ideológicas da
“Guerra Fria”. Comunismo e capitalismo passaram
a ser opostos não apenas em teoria, mas também nas
políticas dos Estados nacionais. O mundo capitalista
continuou a defesa das suas ideologias e estilo de
vida, porém em contrapartida, a ideologia

41
comunista também passou a ser defendido
abertamente por um Estado, a União Soviética, e
mais tarde por outros Estados comunistas. Com o
fim da segunda grande guerra mundial os territórios
dos países integrantes do “Eixo” foram divididos
em áreas de influência. Como a Europa estava
devastada, os EUA e a URSS se destacaram
politicamente, militarmente e economicamente, com
isso se popularizou o termo “superpotência” dado
principalmente a estes dois países ideologicamente
opostos. Essa nova ordem política mundial que se
estabelecia se desdobrava de várias formas. As
potências não se enfrentaram diretamente nesse
período, até mesmo porque com a posse de armas
atômicas seria provável a total destruição dos países
envolvidos. Ainda que não se enfrentassem
diretamente, as duas superpotências, e as demais
potências militares se envolviam de forma não
declarada em diversos conflitos e guerras civis que
ocorriam em diversos países periféricos.
Já em 1941 os Estados Unidos da América
assinaram com a Inglaterra a chamada “Carta do
Atlântico”, se comprometendo que não visavam a
expansão territorial e defenderiam o direito de
autodeterminação dos povos. Com o final da guerra
tal principio serviu para acelerar os movimentos de
independência das colônias da Ásia e África.
Embora a soberania dos países fosse parcialmente
respeitada, também se observava o claro apoio das
potências às causas das ideologias a elas afins. As
principais potências forneciam ajuda técnica,
militar, econômica etc. aos movimentos

42
revolucionários ou aos movimentos
antirrevolucionários. Os países capitalistas
defendiam seu estilo de vida e modelo econômico
nos demais países, como o nome “capitalismo” ou
similares não eram populares, a bandeira que era
defendida era normalmente denominada “mundo
livre”. Essa expressão quase eufemística era
contraposta pela noção de libertação da dominação
burguesa dos países capitalistas. Logo após o fim da
grande guerra, o ex-primeiro-ministro inglês
Winston Churchill foi aos Estados Unidos defender
o apoio econômico e militar à Turquia e à Grécia. O
presidente norte-americano Harry Truman acolheu
de imediato o pedido de Churchill e buscou o apoio
político para agir. Deste momento em diante a
oposição entre os sistemas de governo capitalista e
comunista se tornaram mais evidentes no mundo
inteiro. O governo norte-americano apoiou a
reconstrução dos países capitalistas europeus e do
Japão, a Organização do Tratado do Atlântico Norte
foi fundada com os principais países capitalistas
como uma aliança militar defensiva. Para se
contrapor a OTAN, os países socialistas se aliaram
com o “Pacto de Varsóvia”. Nos EUA perseguições
e prisões ocorreram em uma campanha contra o
comunismo. A China fez a sua revolução e se
tornou socialista. A guerra que ocorreu na Coréia
dividida entre o norte comunista e o sul capitalista
recebeu apoio dos dois grandes pólos mundiais, o
sul capitalista foi apoiado pelos EUA e o norte
comunista foi apoiado pela URSS e pela China. O
movimento revolucionário cubano liderado por

43
Fidel Castro levou o socialismo às portas da
superpotência capitalista. A guerra entre as
superpotências esteve próxima de ocorrer várias
vezes, um dos momentos de maior tensão da guerra
fria aconteceu justamente em Cuba por causa dos
mísseis soviéticos, por pouco a guerra não ocorreu.
Na África também eclodiram guerras, no Vietnã os
EUA se envolveram diretamente, mas não
conseguiram evitar a vitória e implantação do
governo socialista. Na América Latina ocorreram
diversos movimentos revolucionários, tais como as
FARC da Colômbia, Tupamaros uruguaios, Sendero
luminoso do Peru, além de inúmeros ativistas
políticos comunistas apoiados muitas vezes pela
URSS. Diversos países latino-americanos, como
Brasil, Chile, Argentina, Panamá, Uruguai e
Paraguai, tiveram ditaduras apoiadas por setores
burgueses e anticomunistas das suas sociedades.
Os Estados comunistas não mantiveram a
unidade política por muito tempo, China e URSS
passaram a cuidar dos seus interesses sem a
cooperação que seria natural por possuírem
governos de orientações político-econômicas
similares, opostas as dos países capitalistas.
Com as reformas implementadas por Mikhail
Gorbachev a guerra fria finalmente perde o sentido.
A Perestroika e a Glasnost agilizaram as mudanças
políticas que já estavam acontecendo em alguns
países comunistas. Duras críticas a Stalin eram
feitas por Nikita Krushcev e outros. A china
empreendia novas reformas econômicas, os países
do leste europeu faziam suas reformas

44
democráticas. Os antigos dogmas dos partidos
começavam a ser confrontados, na China algumas
manifestações de estudantes marcaram o período.
As ditaduras, tanto dos países capitalistas como
comunistas começaram a ruir. A redemocratização
de países capitalistas como o Brasil, Chile,
Argentina etc., assim como as mudanças na Europa
Oriental socialista onde a Tchecoslováquia,
Hungria, Romênia, Polônia, Bulgária levaram à
consolidação do fim da guerra fria. Após a queda do
muro de Berlim, a reunificação da Alemanha e
abertura da Albânia destacou-se também o fim da
URSS e formação da Comunidade dos Estados
Independentes. Como veremos mais à frente (no
capítulo sobre os problemas do comunismo) muitos
fatores foram reconhecidos como perniciosos e
refreadores do progresso econômico nos países
comunistas, por isso a abertura econômica vem
ocorrendo nos países que viveram regimes
comunistas. A China hoje possui regiões de
predomínio do modelo político-econômico
capitalista e regiões onde ainda prevalecem a
economia e organização política comunista. A
União Européia integrou economicamente alguns
dos antigos países comunistas. Neste novo cenário
político-econômico internacional quase não há
espaço para países puramente comunistas como a
Coréia do Norte, estes países estão sendo
marginalizados no que tange às novas tecnologias e
integração mundial, por este motivo até mesmo
estes países estão experimentando pequenas
aberturas ao capitalismo com as suas zonas

45
especiais. Isso vem ocorrendo com o Vietnã e Cuba,
por exemplo.

Social-democracia

A social-democracia surge como um tipo de


pensamento socialista que procura se alinhar aos
princípios democráticos. As novas correntes de
pensamento socialista que procuram resgatar os
ideais democráticos são divididas e confundidas
com diversas outras correntes semelhantes. O
primeiro partido social-democrata surgiu na
Alemanha no século XIX, após ele foram criados
outros partidos social-democratas em outros países
europeus, estes partidos integraram a
“Internacional” antes da revolução russa. O
“keynesianismo” deu força a este movimento por
criticar o liberalismo em sua forma clássica.
A social-democracia assume diferentes nomes
e alguns aspectos diferentes de país para país, mas
se assemelham mais entre si do que se diferenciam,
por isso podemos tratar delas em conjunto tendo em
vista as intenções deste trabalho. Desta forma temos
partidos trabalhistas, socialistas, democratas etc.
defendendo bandeiras políticas similares. Sindicatos
mais fortes e mais influentes na gestão da indústria
ou outros setores. Impostos proporcionais à riqueza
dos cidadãos e das empresas. Assistência médica

46
gratuita fornecida pelo Estado e educação pública
igualmente gratuita. Proteção e assistência aos
desempregados, bem como sistema de previdência
mais robusto capaz de atender a população pobre e
a classe-média.
Muitos socialistas discordaram dos métodos
adotados na revolução russa e de outros métodos
igualmente revolucionários, tais como o da comuna
de Paris. A vertente que passou a ser conhecida
como social-democrata procurou conciliar os ideais
socialistas com os princípios democráticos. Estes
grupos procuravam uma reforma gradual por meio
de aprovação de leis e mudanças constitucionais.
Alguns intelectuais aderiram ao movimento do
“socialismo fabiano” com a intenção de impor os
ideais socialistas da forma menos abrupta possível.
O Partido Social-Democrata Alemão surgiu com a
ajuda teórica de Eduard Bernstein e Karl Kautsky.
Esse movimento defendia a conquista do poder por
vias democráticas. Nem todos os social-democratas
concordavam entre si, mas de certa forma, mesmo
com as divergências, eles almejavam uma sociedade
socialista ou o mais próximo disso possível. Críticas
similares às feitas contra os defensores do Estado de
bem-estar foram dirigidas aos social-democratas.
Críticas sobre a burocratização excessiva dos
Estados, além das críticas de que a social-
democracia não rompia com o capitalismo nem
buscava de forma contundente superá-lo. Com
tantas críticas e com o apoio de alguns social-
democratas à participação da Alemanha na primeira
guerra mundial, a divisão foi inevitável. Rosa

47
Luxemburgo e Karl Liebknecht lideravam a
dissidência mais extremista e ajudaram a fundar a
Liga Espartaquista, de índole revolucionária e
precursora do Partido Comunista Alemão.

Arthur C. Pigou em seu livro “Economics of


Welfare” (1920) já introduzia várias noções que
influenciariam mais tarde a social-democracia.
Posteriormente O inglês John Strachey e o sueco
Gunnar Myrdal trataram do mesmo tema de forma
mais abrangente.
Alguns autores como Therborn, Stephens,
Myles, e Cameron vêem o Estado de bem-estar
como fruto do próprio meio de trabalho que leva a
organização dos trabalhadores e engajamento na
luta por melhores salários e melhora de vida, tudo
isso se reverte em políticas públicas. Para outros,
como Wilensky e Lerner, o Estado de bem-estar
surge nos países democráticos naturalmente com a
industrialização.
Para Peter Flora e Arnold J. Heidenheimer
(FLORA, 1986, 1986) as sociedades não precisam
ser capitalistas para terem programas de bem-estar
social e mesmo sociedades não-democráticas por
vezes adotam tais medidas. Nesse sentido os anseios
e instituições que florescem na social-democracia
não são monopólio político das democracias
capitalistas. Países socialistas, como Cuba, possuem
muitos dos benefícios previstos por Mydral, por
exemplo, enquanto alguns países democráticos não
adotaram muitas das medidas do “welfare”. No
entanto, temos que observar a crítica de alguns

48
social-democratas que afirmam que o “wefare state”
possui finalidades diferentes da social-democracia.
Tal diferenciação é derivada das origens diferentes
dos idealizadores de ambas, embora em alguns
momentos as duas correntes se confundam. Alguns
social-democratas defendem que a finalidade da
social-democracia é atingir o socialismo, enquanto
os teóricos do Estado de bem-estar-social nunca
tenham proposto isso. As intervenções do
“welfare”, do “new deal” americano e as ideias do
chamado “liberalismo social” almejavam o
crescimento econômico e manutenção do sistema
capitalista.
Jürgen Habermas (HABERMAS, 1975, 1985)
observa que o antigo Estado marcadamente distinto
da sociedade começa a se transformar aos poucos
em uma fusão entre Estado e sociedade. O direito
público e o direito privado já não são os mesmos
separados um do outro, as relações privadas se
tornam cada vez mais direitos ou deveres dirigidos
pelo Estado. O emprego, a educação, saúde, salário
etc. não são mais governados pelas “leis do
mercado” e sim por políticas sociais.
O Estado se diferencia do intervencionismo de
orientação keynesiana e passa a intervir na
sociedade sem a preocupação exclusiva de propiciar
a prosperidade econômica. As ideias de Keynes
sobre a intervenção do Estado na economia que
foram tão bem aceitas por grande parte da elite
econômica passaram a dar lugar a políticas sociais
de forte apelo das camadas mais pobres das
sociedades. Essa diferença entre o foco no

49
crescimento econômico de um lado e do outro lado
o foco na melhora das condições de vida dos setores
mais frágeis da sociedade, levará a uma forte
oposição ideológica que o mundo terá com os
conservadores e neoliberais defendendo o
desenvolvimento econômico, enquanto os social-
democratas defendem a equiparação social.
A democracia que levou a essa situação e que
foi, em parte, apoiada pelas classes dominantes que
viam nessas políticas a oportunidade de manter a
estabilidade, prevenir conflitos e evitar os
socialistas revolucionários, essa mesma democracia
ficou bastante engessada por causa das próprias
instituições que criou. Novas políticas se tornam
cada vez mais inviáveis porque o Estado já está
comprometido com estas instituições. A política se
reverte cada vez mais em administrar as
instituições. O Estado vira um gigante burocrático.
Se os liberais e conservadores criticam estas
instituições que não são voltadas para o crescimento
econômico, também os próprios socialistas não
podem defender mudanças sem desagradar quem se
favorece destas instituições. Por outro lado, a
população continua reivindicando maiores
benefícios, nos sistemas democráticos essas
pressões são quase sempre correspondidas, por isso
é natural que o processo de crescimento e
burocratização do Estado continue.

Welfare State

50
O Welfare State ou Estado de bem-estar, ou
ainda Estado de bem-estar-social, ganharam força
em muitos países, a Suécia, Dinamarca, Noruega,
Alemanha, França, Inglaterra etc. adotaram muitas
medidas que em alguns casos foram até mantidas
quando a oposição política “neoliberal” ganhou as
eleições, tamanha é a força e o apelo dessa política
perante as classes populares. As três correntes
principais discordam entre a origem do Estado de
bem-estar social, alguns autores defendem que
desde as primeiras leis do século XVI, como a
seqüência de Poor Law britânica, já se iniciava o
movimento que se tornaria o Estado de bem-estar-
social atual, Thomas Humprey Marshall
(MARSHALL, 1964) se refere a uma diferença
entre as políticas anteriores ao século XIX e as
“políticas sociais” posteriores como as securitárias
germânicas. Peter Flora e Arnold J. Heidenheimer
(FLORA; HEIDENHEIMER, 1981) associam as
“políticas sociais” com o surgimento da democracia
de massas. A terceira corrente considera que as
políticas anteriores à segunda guerra mundial não
podem ser classificadas como semelhantes às
posteriores, para eles o plano Beveridge, elaborado
por William Henry Beveridge, marca uma distinta
diferença entre as políticas adotadas anteriormente.
R. Mishra (MISHRA, 1980) se posiciona de acordo
com essa terceira corrente e de forma semelhante
Esping-Andersen (ESPING-ANDERSEN, 1991,
1993). Este último considera que o grande “salto”
do “welfare” foi a mudança dos regimes de políticas
sociais contratuais e privadas para o modelo

51
posterior ao plano Beveridge, este é o caso do
National Health Service Act britânico de 1946.
Portando Esping Andersen considera que o Estado
de bem-estar-social não pode ser descrito só em
termos de direitos e garantias, mas também de que
forma o mercado e a sociedade como um todo serão
envolvidas nas políticas do “welfare”. Outra
diferença que foi apontada por Mishra foi a de que
anteriormente a maioria das políticas somente se
referiam ao trabalhador e não aos direitos inerentes
a todo e qualquer cidadão. As medidas visando o
pleno emprego baseadas nas orientações
keynesianas que foram dominantes em boa parte do
século XX não seriam mais preponderantes quanto
a atuação do Estado na economia e na legislação.
H. L. Wilensky (WILENSKY, 1975) define
este tipo de Estado como o que procura garantir que
ao menos o mínimo seja alcançado em setores da
sociedade como: saúde, educação, habitação,
alimentação e renda. Não é apenas pensar estas
condições mínimas como por caridade, mas sim
como direito básico de todo cidadão. Weber
(WEBER, 2004) acreditava que este tipo de Estado
é herança do poder político patriarcal, mas que os
países que passavam pela revolução industrial viram
tais medidas como barreiras à livre empresa. A
oficialização da caridade e do assistencialismo era
visto pela ótica meritocrática protestante como
quase imoral.
A grande intervenção do Estado nas
economias dos países industrializados entre a
primeira guerra mundial e a segunda mudava

52
bastante a cultura liberal anterior que pregava a não
intervenção do Estado na economia. Essa nova
conjuntura permitiu as mudanças sociais por vias
democráticas em alguns países, enquanto nos países
fascistas ocorria uma imposição das medidas
sociais.
Juan J. Linz e Alfred Stepan (LINZ;STEPAN,
1996) afirmam que o próprio jogo democrático dará
origem ao Estado de bem-estar-social nas
democracias consolidadas. Desta forma, na
Inglaterra nos anos 40 do século passado os partidos
trabalhistas defendiam direitos de proteção contra as
situações inevitáveis, como a invalidez, a velhice, a
maternidade o desemprego etc. para todos os
cidadãos. Para atingir tais objetivos os trabalhistas
defendiam a participação universal nas
contribuições para os fundos assistenciais.
Alguns autores como G. V. Rimlinger
(RIMLINGER, 1971) e Tomasson (TOMASSON,
1984) defendem que muitas vezes o Estado
repressor promove o Estado de bem-estar-social no
intuito de realizar um controle social dos
trabalhadores. Autores como James O'Connor
(O'CONNOR, 1973) observam que o alívio das
tensões sociais é um dos motivos pelos quais alguns
países adotam medidas classificadas como
pertencentes ao Estado de bem-estar. Por este
motivo Quadagno (QUADAGNO, 1987, 2004)
relata e critica a adoção destas medidas por
governos de direita e por outros organismos como
mecanismo de controle. Desta forma as políticas
sociais podem ter sido adotadas em muitos países

53
com o consentimento de suas elites na intenção de
enfraquecer os movimentos socialistas e
comunistas. De qualquer forma, para Claus Offe
aparentemente não importa de onde vem o Estado
de bem-estar, se tanto os donos do capital quanto os
trabalhadores forem beneficiados, para ele o Estado
de bem-estar é uma forma de dissipar a luta de
classes (OFFE, 1984).
G. William Domhoff e Ralph Miliband
observam o poder do Estado atuante, para eles o
Estado não fica passivo diante dos acontecimentos
(MILIBAND, 1969; DOMHOFF, 1990). Por outro
lado Nicos Poulantzas acredita que o Estado é a
institucionalização das contradições e luta de
classes (POULANTZAS, 2000).
T. H Marshall (MARSHALL, 1964) analisa
três momentos diferentes que as sociedades
industriais passaram até atingir o Estado
providencial, os direitos civis, políticos e materiais
são conquistados em momentos diferentes e de
forma progressiva. Rimlinger (1971) comparou a
Rússia, Europa e América e concluiu que os fatores
econômicos foram os principais difusores das
políticas sociais do Estado de bem-estar-social, a
urbanização e industrialização das populações
oriundas das antigas regiões agrárias teve evolução
similar em todos os países analisados por Rimlinger
embora em alguns predominassem ideologias
diferentes. A cultura era diferente em cada uma
destas regiões, bem como as estruturas de poder,
por estes motivos Rimlinger destaca o
desenvolvimento econômico e industrial como

54
única semelhança capaz de trazer à tona as questões
sociais entre todas essas regiões distintas. O que
todas as teorias e as discussões que estavam
ocorrendo sobre a origem e a fundamentação do
Estado de bem-estar-social pareciam não prever era
a crise que estava se desenvolvendo nos países
ligados ao welfare state.
James O’Connor defendeu que desde o fim da
década de 60 do século passado as despesas dos
Estados cresciam mais rapidamente do que as
receitas, isto estava gerando uma crise fiscal nos
países com políticas do “welfare state”
(O'CONNOR, 1973). O déficit público provocava
inflação em alguns países, a instabilidade da
economia originaria tensões quanto às próprias
políticas sociais. A OECD publicou em 1981 um
trabalho denominado “The Welfare State in Crisis”.
Neste trabalho foi relatado que os programas sociais
passaram por momentos de dificuldades em sua
própria sustentação por causa do crescente nível de
desemprego. As economias da OECD tiveram
desempenho menor do que nas décadas anteriores.
Neste sentido o próprio desemprego seria causado
pelo pesado fardo das políticas do seguro-
desemprego e outras políticas sociais geradoras de
grande despesa. A expansão dos programas sociais
reduziu e a questão gerou várias discussões tanto
políticas como acadêmicas. O argumento de que
algumas políticas sociais têm efeito negativo sobre
a economia, podendo inibir o crescimento
econômico, era levantado constantemente.

55
Foi em grande parte por causa destas críticas
que a nova corrente “neoliberal” tomou força,
muitos políticos defendiam a retomada das antigas e
reprimidas medidas econômicas características das
ideias liberais. Frederick Hayek, Ludwig von Mises
e os demais integrantes da chamada “escola
austríaca” ficaram notórios pela defesa da retomada
das ideias liberais. O termo “neoliberal” que já era
existente passou a englobar também as medidas de
redução da carga tributária, redução de encargos
sociais, privatização das empresas estatais,
flexibilização da legislação trabalhista e outras
medidas contrárias às políticas sociais do “welfare
State”. Neste contexto Margaret Thatcher ganhou
força e se tornou primeira-ministra no Reino-Unido,
inclusive com o apoio popular, porém foi duramente
criticada pelos socialistas. Após o Reino Unido e os
EUA diversos países também adotaram muitas
medidas “neoliberais”. Os programas sociais foram
atingidos por essa “onda” conservadora, muitas
medidas sociais foram revistas, alteradas ou
simplesmente canceladas. Por mais de uma década,
com o apoio das elites econômicas, as reformas
neoliberais dominaram a cena política em diversos
países.
Algumas medidas ocorreram
concomitantemente em diversos países. A regulação
do trabalho que havia tido grande relevância
durante o período de crescimento do “Welfare
State” sofreu reformas de redução de direitos e
garantias em diversos países, com isso a
consideração do trabalho como uma mercadoria

56
como outra qualquer foi parcialmente retomada.
Para os “neoliberais” as leis de mercado deveriam
reger o “mercado de trabalho” como regem os
preços das mercadorias, ou seja, baseados no lucro
das empresas capitalistas. O desmantelamento dos
sindicatos foi outra medida apresentada por
políticos neoliberais, e de fato essas medidas foram
as mais eficientes no controle dos sindicados desde
os primeiros esforços de contenção dos mesmos. A
privatização das empresas públicas também
ocorreram em vários países e pode ser considerado
outro traço destas políticas de desarticulação do
Estado de bem-estar-social.
A esquerda no mundo todo estava passando
por um momento de fragilidade, pois além da crise
econômica associada ao “welfare state” também
ocorriam as medidas de abertura econômica dos
países comunistas motivada pelos fracassos em
manter a prosperidade econômica e em
corresponder aos anseios da população dos seus
países. A própria esquerda criticava as políticas
sociais adotas em alguns países, pois elas podiam
ser fruto da vontade das elites capitalistas em conter
os críticos do sistema. O fato de muitas ditaduras
anticomunistas terem implementado medidas
sociais podem ser a prova de tais argumentos. A
desarticulação da classe trabalhadora dando a ela
alguns benefícios enfraqueceria o apelo socialista.
Todo esse contexto permitiu o avanço político dos
conservadores e dos “neoliberais”.
A própria globalização das economias ajudou
o movimento de redução dos direitos dos

57
trabalhadores, pois muitas das legislações que
garantiam benefícios ao trabalhador passaram a ser
vistas como ruins para a economia, já que
reduziriam a competitividade das empresas diante
das empresas similares de países com menores
benefícios sociais e que onerem menos as suas
empresas. De fato muitas empresas se deslocaram
dos seus países de origem para outros países cujos
custos das empresas são menores, com isso alguns
países da Ásia como a China e outros como o
México receberam grandes quantidades de
empresas que objetivavam produzir com custos
mais baixos e até mesmo levar parte da produção de
volta para os seus países de origem. A sobrecarga
reduz a competitividade das empresas globalizadas.
As políticas dos Estados passaram a encarnar a
competição similar a concorrência capitalista,
quanto menos direitos sociais mais competitivo é o
país em termos de “mercado de trabalho”. Muitas
das grandes indústrias optaram por deixar os seus
países para produzir em países em que os salários
sejam mais baixos e os encargos sociais menos
dispendiosos. Com esse novo movimento global os
maiores beneficiados são, mais uma vez, os
detentores do capital e dos meios de produção. A
integração dos mercados mundiais está gerando um
novo estágio no capitalismo, diferente do momento
em que os “senhores” compravam escravos de
terras distantes, desta vez são os proprietários que
levam as suas empresas às terras distantes para lá
produzirem e reduzirem os seus custos e com isso
maximizarem os suas lucros. Os donos do capital

58
não precisam mais enfrentar os empregados, os
sindicatos e nem os socialistas para aumentarem a
mais-valia, agora eles só precisam mudar de país.
Por outro lado, os consumidores ganham com a
redução dos preços e países pobres recebem fluxo
de recursos e empregos
De certa forma a crise do welfare state e do
socialismo modificou o panorama político e
ideológico em vários países. O socialismo e
comunismo como ideologia perderam espaço. Os
sindicatos perderam força. Os interesses da classe
trabalhadora ficaram dispersos e desarticulados. Os
Estados com as economias globalizadas
dependentes do capital internacional se moldam
cada vez mais as correntes de pensamento
econômico ortodoxo e com isso as políticas
econômicas se tornam pouco diversificadas. Os
direitos universais do cidadão característicos da
social-democracia são reduzidos para dar lugar a
responsabilidade individual. A união monetária com
a adoção do Euro, além das demais políticas
comuns à comunidades como a União Européia
reduzem a liberdade de resolução sobre gastos
sociais dos seus países membros.

Neoliberalismo

Como vimos, a crise do Welfare state ajudou a


levar o mundo a uma ampla revisão das políticas
econômicas e sociais.

59
As ideias do liberalismo clássico não eram
viáveis ao mundo do Estado de bem-estar-social, o
orçamento público, as leis e as instituições dos
países estavam comprometidas demais para romper
abruptamente com o modelo político-econômico.
Os teóricos e políticos liberais sabedores destas
condições elaboraram propostas diferentes das do
liberalismo clássico, estas propostas estavam mais
adaptadas às novas circunstâncias do mundo
político e econômico.
Já no final da década de 30 do século passado
algumas propostas já surgiam com Jacques Rueff,
Maurice Allais, L. Baudin, Walter Lippmann,
Walter Eucken, W. Röpke, A. Rüstow, entre outros.
Estes autores já defendiam muitas das teses liberais
e alguns deles contrariavam as teses keynesianas
que começavam a se fortalecer. Para muitos autores
dessa época os mecanismos de preços não deviam
ter interferências do Estado, deviam ser baseados
tão somente nas relações e livre escolhas dos
indivíduos.
Com tantas correntes políticas e econômicas
se opondo ao liberalismo clássico, era natural que se
buscasse amenizar o discurso para encontrar espaço.
Os neoliberais adotaram uma posição intermediária
quanto a regulamentação da economia. A maioria
deles não considera que a economia possa se auto-
regular de forma satisfatória, mas criticam o
excesso de intervenção e planejamento da
economia. A estabilidade monetária e financeira
entraram no discurso neoliberal, controlar a inflação

60
era para eles dever do Estado. A liberdade de
mercado voltou a ser preconizada.
Friederich Hayek (HAYEK, 1960) criticava o
crescente intervencionismo que para ele guiava o
mundo para a servidão, o controle do Estado sobre
cada aspecto da vida individual só podia levar as
pessoas a perda da liberdade. Com isso vemos o
forte apelo político e ideológico das ideias de Hayek
e de outros defensores do retorno ao liberalismo, ou
melhor, da criação do Estado liberal. Por estes
motivos a defesa destes liberais não era puramente
de cunho econômico. A relevância dos trabalhos de
Hayek foi elevada ao receber o prêmio de ciências
econômicas em memória a Alfred Nobel durante o
período de crise do “welfare state”, ironicamente ele
dividiu o prêmio com o seu opositor ideológico,
Gunnar Myrdal. As mudanças nas políticas estavam
se caracterizando cada vez mais, Paul Samuelson
que tinha sido o ganhador daquele mesmo prêmio
no início da década de 70 era defensor do modelo
de Estado mais intervencionista, porém com muitos
dos ideais liberais preservados (SAMUELSON,
1970, 2004). Posteriormente Milton Friedman,
outro liberal, também recebeu o mesmo prêmio,
além de todo esse recente aumento da visibilidade
acadêmica dos liberais, vários governos subiram ao
poder e adotaram as medidas “neoliberais”. Com o
governo de Richard Nixon as coisas já começavam
a mudar nos EUA. Os governos democráticos de
Ronald Reagan e M. Thatcher adotaram as medidas
classificadas como “neoliberais”, tais como
privatização de empresas públicas, redução da carga

61
tributária e os governos ditatoriais como os do Chile
também adotaram medidas tidas como neoliberais.
Outras opiniões e criticas deste modelo
surgem a todo o momento nas discussões políticas
dos diversos países. Por exemplo, temos as Políticas
distributivas de renda que são defendidas de várias
formas e principalmente para os setores mais frágeis
da sociedade. Alguns autores defendem que uma
política de transferência de renda e outras medidas
assistencialistas devam ser realizada nos países mais
pobres com a intenção de resolver os problemas de
miséria. Muitos dos defensores desse tipo de
política acreditam que tais medidas seriam de curto
prazo, porém muitos críticos afirmam que a política
de transferência de renda tende a se institucionalizar
de forma permanente. Essas críticas afirmam que
qualquer medida assistencialista se torna
permanente devido ao próprio jogo democrático.
Retirar benefícios de milhões de pessoas significa
perder o voto de milhões de eleitores. Esse tipo de
crítica é similar às feitas ao modelo da social-
democracia.
Se por um lado o neoliberalismo é
extremamente impopular para grande parte dos
trabalhadores mais pobres, por outro o “Estado de
bem estar” e o socialismo sofrem grande aversão
pela elite econômica.

“Mainstream”, o capitalismo ortodoxo


e a “Síntese neoclássica”

62
Um movimento acadêmico que mescla a
teoria de Keynes e a liberal neoclássica começou a
tomar força no meio acadêmico na segunda metade
do século XX. A Síntese-neoclássica surge como
uma síntese das principais teorias econômicas que
dominaram a ortodoxia desde o século passado. O
keynesianismo e o liberalismo encontram respaldo
nessa abordagem. Por estar no “mainstream”
acadêmico a Síntese-neoclássica acabou por
influenciar a política econômica dos últimos anos.
A Síntese-neoclássica é uma abordagem
teórica hegemônica no meio acadêmico, porém
difícil de ser identificado na prática. Não temos
partidos políticos da Síntese-neoclássica, nem
políticos falando sobre essa linha de pensamento.
Atualmente Síntese-neoclássica acaba se
confundindo no discurso dos partidos de centro e
fica muito difícil definir as linhas que a separa da
chamada “centro-esquerda” ou da “centro-direita”.
Hayek e Gunnar Myrdal, dois opositores
ideológicos, dividirem o prêmio de ciências
econômicas em memória a Alfred Nobel foi uma
consolidação dos novos tempos. Assim como
quando Paul Samuelson, que defende princípios
liberais junto de uma economia intervencionista,
ganhou o mesmo prêmio.
A economia nos países capitalistas atualmente é
dominada principalmente por estes economistas
com esta visão que integra a microeconomia
neoclássica e a macroeconomia keynesiana. Porém
nem todos entre os autores mais influentes estão
totalmente de acordo com essa “síntese

63
neoclássica”. Como todo grupo ortodoxo em sua
época, existem divergências, entretanto as
semelhanças podem identificar tal grupo. Os
principais autores que defenderam essas ideias são
John Hicks e Paul Samuelson, laureados com o
Nobel.
O chamado “mainstream” da visão econômica
possui influência tão grande que pode ser chamado
de grupo ortodoxo atualmente.
Na síntese neoclássica tanto as ideias de Keynes
quanto as ideias neoclássicas do Liberalismo são
combinadas e implantadas nos modelos capitalistas
contemporâneos.
Os liberais mais radicais continuam rejeitando as
ideias keynesianas, assim como os socialistas mais
radicais continuam rejeitando a ajuda que o Estado
dá ao capital privado pelas medidas de origem
keynesianas. O problema é que até mesmo o maior
defensor da síntese neoclássica, Paul Samuelson,
(1970), percebe que o modelo capitalista
naturalmente leva a grande desigualdade entre os
participantes do modelo.
Dois grandes problemas existentes no capitalismo
de “mainstream” são citados por Brue:

Marcação de preços. Os preços são


definidos por corporações oligopólicas.
Essas empresas financiam investimentos a
partir dos lucros mantidos. Para obter os
níveis desejados de lucro e, assim, realizar
os planos de investimentos, os oligopólios
definem preços acima dos custos atuais.
Os preços, então, não refletem as
condições normais de demanda, mas as

64
exigências dos fundos para os gastos com
investimentos planejados que a empresa
considerar necessários, caso tenha de
ajustar sua capacidade a um nível
suficiente a fim de atender a demanda
futura esperada". (BRUE, 2006, p. 452)

E:

Necessidade de uma política de renda. A


"luta de classes" por participações na
renda e a marcação de preços pelos
oligopólios necessitam de uma política de
rendas permanente (BRUE, 2006, p. 453):

Se há talvez um ponto com o qual os


economistas pós-keynesianos
provavelmente concordem é que a
inflação não pode ser controlada por meio
de instrumentos convencionais de política
fiscal e monetária. Isso porque eles
consideram a inflação como resultado não
necessariamente de qualquer "demanda
em excesso" por bens, mas de um conflito
mais fundamental sobre a distribuição da
renda e da produção disponíveis. Os
instrumentos de política convencional,
restringindo o nível de atividade
econômica, simplesmente reduzem o total
de renda e de produção disponíveis para
distribuição, reforçando, assim, o conflito
social que é a base do processo
inflacionário. (...) É por esse motivo que
os economistas pós-keynesianos, em vez
de perguntar se uma política de renda é
necessária, preferiram questionar como
uma

65
política de renda pode ser feita de modo a
funcionar eficiente e equitativamente".
(BRUE, 2006, p. 453 Apud, EICHNER,
op. cit., p. 17-18.)

Mesmo no capitalismo ortodoxo mais


sofisticado temos os grandes problemas do
capitalismo arcaico, grande desigualdade de renda,
preços manipulados por oligopólios, manipulação
do sistema político etc.

66
Parte II

Pontos principais positivos e


negativos dos sistemas atuais
Podemos destacar duas correntes claramente
opostas, uma defende o sistema capitalista de forma
radical e a outra totalmente oposta defende a
abolição do sistema capitalista. O primeiro é
representado pelo liberalismo clássico e o
neoliberalismo; Do outro lado, a defesa da abolição
do capitalismo é defendida pelo comunismo e
socialismo. Essa dicotomia remete também a noção
de direita e esquerda. As vantagens e defeitos
teóricos estão presentes em ambas as ideologias, por
este motivo em diversos momentos um recorreu a
ideias do outro e vice-versa. Podemos observar que
ao longo do tempo o capitalismo adotou diversos
aspectos do socialismo, assim como o socialismo
adotou aspectos do liberalismo. Com isso surgiram
diversas correntes intermediárias, tais como:
Liberalismo social, Keynesianismo, Estado de bem-
estar-social, entre outros, todos defendendo
aspectos característicos do socialismo, mas sem
romper com o ideal capitalista da livre empresa. Se
por um lado os defensores de ideais sociais como os
das empresas estatais, equiparação social de direitos
e renda etc. aceitaram o capitalismo como base da

67
economia e principal promotor do desenvolvimento
econômico. Por outro lado, muitos defensores do
capitalismo consideram necessárias medidas de
cunho social, por acreditar que o capitalismo
sozinho não pode resolver os problemas sociais. As
posições antagônicas do Socialismo e do
capitalismo coexistem na maioria dos países.
Esquerda e direita alternam e dividem o poder em
meio a enormes contradições ideológicas.
Temos também os defensores de políticas
desvinculadas de qualquer orientação ideológica,
mas poucas alternativas fora das ideologias acima
tratadas existem efetivamente. Desta forma as
políticas são adotadas ou rejeitadas por suas
virtudes ou defeitos pontuais, e no caso dos países
democráticos pelo apelo popular natural do “jogo
democrático”.
De acordo com o que já vimos e com as
diversas correntes teóricas e políticas podemos
destacar alguns pontos favoráveis e os
desfavoráveis dos sistemas politico-economico-
sociais atuais para que possamos mais à frente
propor e avaliar modelos alternativos.
O consenso sobre alguns temas político-
econômicos, seja da esquerda ou da direita, podem
ser levantados para encontrar soluções e alternativas
para as novas políticas econômicas e sociais. Neste
capítulo destacaremos as principais correntes sobre
vantagens e desvantagens dos diversos sistemas
político-econômicos.
*

68
1 A planificação do mercado e
Capitalismo de Estado
Atualmente encontramos poucos autores que
defendem que a industrialização possa ocorrer sem
a intenção manifesta de setores ou representantes de
setores da sociedade, ou seja, a industrialização
depende de uma decisão consciente e racional. A
ortodoxia não considera que a “mão invisível” do
mercado possa levar sozinha qualquer sociedade a
passar pela revolução industrial. Existem etapas em
que qualquer país tem que passar se desejar se
industrializar. Também existem casos de
industrialização oriunda de capitais estrangeiros, a
chamada industrialização mimética, mas mesmo
neste caso está presente a intenção, ainda que seja
externa a sociedade a ser industrializada. Sendo
assim, o Estado que intenciona se industrializar
toma a dianteira de diversas medidas nesse sentido.
Nenhum país até hoje se industrializou sem a devida
regulamentação do que seja propriedade e das
relações de trabalho. As necessidades de uma
sociedade industrializada não passam despercebidas
pelo Estado, as alterações do ambiente, as vultosas
somas de capitais, a grande necessidade de matérias
primas e as necessidades de um mercado
consumidor, todas essas são condições necessárias
para a industrialização e que, naturalmente, são de
interesse público.
Ph. Deane cita as mudanças que levaram à
industrialização inglesa (DEANE, 1979). Diversos
países deram impulso aos seus processos de

69
industrialização com o direcionamento de governos
militares. Portugal de Salazar, a Turquia, a Grécia, o
Brasil durante a sua ditadura militar etc. são
exemplos de hegemonia militar no desenvolvimento
econômico.
O Brasil iniciou um processo de
desenvolvimento econômico orientado pelo Estado
durante o governo de Getúlio Vargas, assim como o
Iraque e a Espanha durante a segunda guerra
mundial. A Itália também passou por alguns
períodos de desenvolvimento econômico fortemente
orientado pelo Estado.
De fato a maioria dos países industrializados
passaram por momentos de estímulo e forte
presença estatal, ao menos no início de suas
respectivas industrializações. A Inglaterra de
Wellington, os EUA de Jackson e Grant, a França
de Mac-Mahon e Luís Napoleão, o Japão durante o
período Meiji , Itália, Argentina, Chile etc. até o
próprio governo dos EUA atuou de forma
contundente na economia durante o período do
“New Deal”.
De certa forma a economia nunca funcionou
com total autonomia, como talvez gostariam alguns
liberais. Com isso temos que saber distinguir as
diversas formas de atuação do Estado na economia,
assim como o grau dessa atuação. Nas economias
complexas atuais temos basicamente três graus de
atuação distintos, cada um deles com as suas
subdivisões. A planificação é o maior grau de
atuação do Estado sobre a economia que
conhecemos, nela o Estado controla, ou ao menos

70
tenta controlar toda a economia. O Estado pode
decidir a respeito dos investimentos, da distribuição
dos recursos para consumo e para produção etc.
Oskar R. Lange foi um dos principais teóricos da
planificação da economia (LANGE, 1960, 1964,
1981, 1987). Em diversos trabalhos Lange tenta
comprovar a viabilidade da planificação econômica,
em uma de suas propostas Lange trata do modelo de
tentativas e erros. A chamada econometria era uma
contraposição ao modelo capitalista do “laissez-
faire” que era oposto ao planejamento econômico.
Lange considera que o planejamento econômico é
mais efetivo em economias socialistas pela
capacidade de impor o plano, no entanto é possível
em outros modelos de economia. A econometria
permite a manutenção de algumas similaridades
com a economia capitalista. Na maioria dos
modelos de economia planejada a moeda foi
estabelecida como fator de livre escolha dos
consumidores. Vale ressaltar que muitos modelos
não defendem a atuação centralizada do Estado e
alguns defendem a necessidade do planejamento
central somente no início, ou melhor, nos primeiros
estágios da organização do Estado socialista. A
participação do poder central poderia reduzir para
que os interesses dos consumidores pudessem
orientar os próximos investimentos.
Com o declínio econômico dos países
socialistas e a conseqüente abertura dos mesmos a
credibilidade do planejamento econômico diminuiu
muito, a maioria dos países adotou o modelo
capitalista de uma ou outra forma, entretanto

71
devemos avaliar alguns pontos positivos das
experiências no planejamento econômico. Durante
um período relativamente curto alguns países
socialistas prosperaram. O próprio Oskar Lange
chegou a abordar em seu trabalho,“Essays on
Economic Planning” (LANGE, 1960), a
superioridade econômica dos países socialistas em
comparação com os países periféricos do mundo
capitalista. A economia da URSS se posicionou
entre as maiores do mundo antes de começar a
declinar. A planificação do mercado gerou alguns
benefícios tanto nas economias comunistas como
nas capitalistas. Países como a Rússia passaram de
um estágio onde a economia era pouco
industrializada para uma das mais importantes
economias do mundo nos anos áureos da URSS. A
pobreza das populações dos chamados países do
“segundo mundo” era menor do que dos países da
periferia do capitalismo.
Cuba, Coréia do Norte e Mianmar
permaneceram com o planejamento da economia
mesmo após a queda do regime soviético, mas
parece que este tipo de controle da economia está
fadado a desaparecer. Muitas críticas foram feitas a
planificação. As críticas mais importantes
concordam que não se pode planejar toda a
economia em uma sociedade complexa, por isso as
economias de mercado tendem a atender melhor aos
interesses da população geral. A planificação da
economia se demonstrou ineficiente em decidir
sobre os preços dos serviços e mercadoria. Ludwig
von Mises e Friedrich Hayek fizeram críticas

72
contundentes a tentativa de se estabelecer preços de
forma artificial por meio de uma economia
planificada. O funcionamento das economias de
mercado possui uma forma complexa de geração de
preços que impossibilita o cálculo para o
estabelecimento de preços coerentes com a oferta e
demanda do mercado (MISES, 1974; HAYEK,
1960).
O planejamento econômico nas economias
capitalistas possui um grau muito menor de
intervenção do Estado na economia, mas ainda
assim não podemos dizer que ele não exista, talvez
conceitualmente ele adquira outro nome, porém a
essência está lá. Deixar a economia seguir o seu
caminho sozinha, tal como o pregado pelo
liberalismo clássico, praticamente não encontra uso
prático no mundo contemporâneo. A planificação
atualmente praticamente só ocorre em setores
estratégicos para o Estado e para a defesa nacional.
Alguns Estados também atuam onde o mercado não
se desenvolve sozinho, neste caso o governo
normalmente dá incentivos e subsídios, desenvolve
programas de financiamento especiais ou atua
diretamente por meio de empresas públicas. A
maioria dos Estados capitalistas atuais possuem
empresas públicas em setores estratégicos. O
chamado “capitalismo de Estado” possui muita
força nos países em desenvolvimento, em alguns
países o setor público beira a taxa de 50% na
formação do capital fixo. Muitos Estados possuem
bancos para o desenvolvimento econômico,

73
empresas Estatais, agências reguladoras dos
diversos setores etc.
O chamado “esquema de Tinbergen”, baseado
no trabalho de Jan Tinbergen defende que as metas
de políticas públicas só podem ser alcançadas se
houverem instrumentos a elas relativos capazes de
atuarem no sentido proposto pelas políticas e metas
públicas. De certa forma o planejamento deu lugar
as metas, sejam elas de crescimento econômico
global, setorial, equilíbrio da balança comercial etc.
O Japão e a França são exemplos de países
capitalistas que após a segunda guerra tiveram
atuação forte do Estado. A política externa é outra
área em que os países atuam para favorecer as suas
economias. Atualmente temos países que defendem
que o mercado deva regular setores como os valores
das moedas, mas na prática a maioria dos países
atua buscando proteger as suas economias.
O chamado “dirigismo” muitas vezes se
apresenta com o Estado tabelando os preços,
controle quanto ao comércio exterior, atuação do
Estado em obras e outros setores da economia,
incentivos fiscais etc. O que podemos concluir é
que atualmente mesmo os países capitalistas tentam
controlar e proteger as suas economias, para tal
utilizam instituições públicas em maior ou menor
grau. Os ideais de liberdade econômica existem,
hoje, somente em teoria.

74
1.2 Incoerência e ética no capitalismo
de Estado
Geralmente o que se denomina “capitalismo de
Estado” significa um sistema que mantém a
propriedade privada e o lucro, mas que faz uso do
Estado para reforçar a economia. Ter um maior
controle e regulamentação sobre os setores
econômicos também são, muitas vezes, objetivos de
governos do chamado “capitalismo de Estado”. De
certa forma as medidas do capitalismo de Estado
atual continuam similares às ideias keynesianas, as
políticas econômicas que a China adota atualmente
não diferem muito das ideias que desde o início do
século XX impeliram diversos países a deixar de
lado o “laissez-faire” em prol de uma atuação
contundente do Estado na economia. Temos que
observar que a atuação econômica de Benito
Mussolini, da Alemanha Nazista e vários outros
países teve orientação de estímulo econômico por
meio do Estado, mas sem prejuízo das empresas
privadas, na verdade muitas grandes empresas
foram fortalecidas. O chamado “state monopoly
capitalism” fortalecia as grandes empresas pela
intervenção estatal na economia. Murray Rothbard
critica esta forma de atuação do Estado na economia
porque o governo faz um tipo de parceria que
beneficia principalmente as grandes empresas em
detrimento dos interesses dos consumidores. Os
ideais do liberalismo não reforçam essa atuação do
Estado que fortalece os grandes negócios. Harry
Elmer Barnes descrevia algumas destas formas de
atuação do Estado posterior ao “new Deal” como

75
capitalismo de Estado. Vivien Schmidt trata da
atuação forte do Estado francês, assim como do
italiano e observa essa tendência. Outro autor, Ian
Bremmer, considera que o capitalismo de Estado
está ganhando cada vez mais espaço no mundo, já
que economias dirigistas, como a chinesa, estão
crescendo mais do que as demais (ROTHBARD,
2000; SCHMIDT, 2003; BREMMER, 2010).
Um grande problema que não está tendo as devidas
atenções é que os países que estimulam a economia
com uma atuação contundente não estão
defendendo alguma ideologia com as devidas
fundamentações éticas. Esses não são os ideais
liberais do laissez-faire e nem são os ideais do
socialismo, a grande defesa deste sistema
econômico fortemente subsidiado pelo Estado é
basicamente a de promover o crescimento
econômico. O capitalismo de Estado não é uma
doutrina bem definida, quando os políticos
defendem este modelo com base no crescimento
econômico de alguns países que adotam medidas
similares, acaba que incorrer em políticas pontuais
incoerentes se torna muito fácil, já que as críticas
dificilmente poderão contestar com uma percepção
integrada dos inconvenientes daquelas políticas.
Desta forma, dificilmente teríamos partidos
defensores do capitalismo de Estado, pois se tratam
de políticas dispersas e sem intenções conhecidas
por todos ou pré-definidas. Seja lá a quem for que o
capitalismo de Estado interesse não se pode criticá-
lo como se critica o liberalismo ou o socialismo,
isso dificulta a percepção popular dos problemas e

76
contradições das políticas adotadas no capitalismo
de Estado. Os países pobres são os que possuem
maiores riscos de governantes adotarem uma forma
indefinida de capitalismo de Estado para promover
o crescimento das grandes empresas e
enriquecimento das elites. Isso porque o baixo nível
educacional que atinge mais fortemente os países
pobres dificulta a formação do senso-crítico das
camadas mais pobres da sociedade.
As contradições existentes em países capitalistas
estão aumentando com o capitalismo de Estado,
empresas grandes se tornam ainda maiores, grandes
proprietários se tornam ainda mais ricos. A maior
incoerência de todas é que quem está sustentando
esta grande mobilização é o Estado com recursos do
povo. Que concepção ética pode considerar correto
o Estado exigir impostos de toda a população e
aplicar estes recursos para fortalecer empresas
privadas que dão lucros a poucos proprietários? Até
mesmo defensores do liberalismo e neoliberalismo
compreendem que esse sistema é incoerente.
Alguém que questione pode pensar que esses
modelos são menos éticos do que o do laissez faire,
pois o governo no livre mercado não se retira do
povo para subsidiar as grandes empresas dos ricos
proprietários.

2 Tamanho do Estado e suas


conseqüências

77
O tamanho do Estado pode ser verificado de
várias maneiras, muitas vezes se observa a atuação
na regulação, “dirigismo” em que o Estado atua
tentando controlar diversos setores da economia,
mas o que nos interessa aqui é quanto ao tamanho
do Estado que implicam diretamente ou
indiretamente em custos para a economia. De
qualquer forma a maioria dos países atuais mantém
o sistema capitalista, mas apresentam forte
intervenção do Estado na economia, seja na
regulação ou em atuação direta com empresas
Estatais. O tamanho do Estado tem sido tratado
como um problema que limita o crescimento
econômico.
Em muitos países se observa a participação
direta do Estado em diversas atividades
econômicas. Muitos países possuem empresas
estatais controladas pelo governo ou empresas
parcialmente constituídas por capitais estatais. Este
fenômeno ocorre tanto em países de capitalismo
pós-industrial como nos países que ainda não
possuem a economia bem desenvolvida. Muitos
países tiveram aumento da presença do Estado na
economia porque alguns setores da economia
possuíam dificuldades em se desenvolver por si só.
Alguns países subdesenvolvidos possuem grande
parte dos investimentos dependentes do governo,
constroem indústrias de base, atuam em setores
dependentes de grandes investimentos, como
estradas e transporte de massa, telecomunicação etc.
Muitas vezes as chamadas “indústrias nascentes”
são referidas por governos protecionistas como

78
vulneráveis a concorrência das empresas
estrangeiras já estabelecidas, por isso os governos
atuam de várias formas para protegê-las. Frank
William Taussig já tratava da proteção das novas
indústrias no século XIX em seu livro “The
Protection to Young Industries” (TAUSSIG, 1883).
Outro autor que tratava do chamado protecionismo
antes mesmo do século XX foi Friedrich List. O
influente defensor da industrialização norte-
americana, Alexander Hamilton, foi um dos
primeiros estadunidenses a defenderem a forte
atuação do Estado na proteção da economia, depois
dele muitos pregaram essa maior atuação do Estado.
Durante as reformas do “new deal” os EUA não
pararam de ver crescer o tamanho do Estado até as
reformas “neoliberais” com a crise do welfare state
Os países com governo social-democrata e
alguns orientados para o Estado do bem-estar-
social, tiveram aumento do tamanho do Estado com
os aumentos nos impostos, no controle de diversas
instituições como as de previdência social e também
com a nacionalização ou criação de empresas. Nos
países capitalistas a influência dos keynesianos foi
profunda. Com a “sintese Hicks-Hansen”, como foi
designada por Stanley Brue, o pensamento de Alvin
Hansen e John Hicks e seus seguidores
denominados neokeynesianos estimularam os gastos
públicos como promotores do desenvolvimento
econômico e aumento da renda. Muitos destes
adeptos do intervencionismo até mesmo
concordavam com o uso progressivo do déficit, o
que mais tarde fora muito criticado (BRUE, 2006).

79
De fato a maioria dos países teve aumento da
presença do Estado, seja por causa da subida dos
social-democratas ao poder ou pela influência das
correntes de pensamento econômico que defendem
o Estado como promotor do desenvolvimento e
ainda por causa das correntes político-econômicas
representadas pelas ideias do Estado de bem-estar-
social. Alguns críticos acreditam que o próprio
regime democrático fortaleceu a tendência de
crescimento constante das políticas sociais. Sejam
por estes ou outros motivos o fato é que a presença
do Estado se tornou maior do que antes. Muitos
países passaram a ter taxa de impostos acima de 30
ou 40 %, a parcela do Estado e suas empresas
públicas ou mistas na composição da riqueza
nacional alcançou valores muito maiores do que os
anteriores.
Uma das mais fortes críticas ao crescimento
do Estado se refere ao “engessamento” das
instituições, o governo contrata funcionários e
emprega grande parte das receitas nacionais nos
programas sociais. Os novos governos não podem
implantar políticas diferentes porque parte do
orçamento já está obrigado a atender às instituições
criadas pelos governos anteriores. Essa crítica abala
os fundamentos da própria democracia ao notar que
o poder dos representantes políticos e seus eleitores
são menores do que, pelo próprio discurso
democrático, deveriam ser. A governabilidade e a
própria democracia ficam limitadas pelas
instituições do Estado. Os empregados funcionários
do governo dependentes do Estado são muitos, isso

80
impede grandes mudanças na política dos governos.
Os gastos públicos com o salário de funcionários
são constantes, não são como gastos desvinculados
de obrigações de longo prazo. Na Europa o tratado
de Maastricht também reduziu bastante as
possibilidades de mudanças nas políticas sócio-
econômicas, outros tratados internacionais, leis
internas, entre outros, também reduzem o poder de
mudanças da democracia.

O fraco desempenho das economias desde o


início dos anos 70 do século passado em
comparação com o rápido crescimento econômico
das décadas de 50 e 60, foi creditado por muitos
devido ao grande crescimento do Estado verificado
nos países capitalistas. O tamanho do Estado passou
a ser referido como “peso” para a economia, as
empresas teriam que reduzir os seus lucros para
sustentar todo o enorme setor público. Todo esse
cenário foi o que efetivamente deu força ao
movimento chamado “neoliberalismo”.
A OECD em um trabalho intitulado “The
Welfare State in Crisis” (OECD, 1981) tratou do
crescimento do Estado e crise econômica derivada
disso. As economias sofrem pressão para a
adequação das economias ao modelo de Estado
menor, pois os investimentos tendem a se direcionar
para as economias mais “dinâmicas” e com maiores
níveis de crescimento econômico. Com a cada vez
maior globalização da economia a competição entre
as empresas dos diversos países depende mais da
desoneração dos custos de produção que envolvem

81
redução da carga tributária, redução dos custos do
trabalho etc. Os sistemas de proteção aos
empregados aumentam muito os custos das
empresas, tanto quanto a tributação. Com isso,
quanto maior for a integração econômica entre os
países, os países que possuem maior e mais
ineficiente Estado tendem a perder competitividades
e sofrer pressões para adotarem políticas mais
favoráveis a economia. Isso significa que os gastos
públicos vão continuar a ser cortados e a redução
afetará principalmente as políticas sociais, o
“neoliberalismo” pode acentuar as desigualdades
entre as classes.
Embora a tendência de acentuar antigos
problemas intrínsecos ao capitalismo, as reformas
neoliberais geraram resultados positivos na
economia geral em alguns países. A estagnação
econômica foi revertida e muitos países viveram
outro período de crescimento econômico. As
privatizações capitalizaram diversos países, o fato
dos trabalhadores serem tratados em termos de
mercado e com menores proteções sociais levou ao
aumento das contratações em muitos setores que
estavam reprimidos pelos altos custos do trabalho.
Os países que mais cresceram nos últimos anos são
justamente os que possuem as menores proteções
sociais, tais como os “tigres asiáticos” e a China.
Coréia do Sul, Taiwan, Singapura, Hong Kong e
China com mão-de-obra barata, baixos impostos e
isenções, baixos custos para instalação de novas
empresas, pouca burocracia e outros estímulos
econômicos, estas economias cresceram

82
aceleradamente e pularam várias fazes da
industrialização tradicional. Atualmente muitos
países estão seguindo o exemplo destes países em
suas políticas econômicas.
O que a maioria das correntes políticas e
econômicas concordam é que o tamanho do Estado
possui dois lados, se ele for eficientemente gerido
pode estimular a economia e promover melhoras
nos aspectos sociais, mas se for mal gerido tende a
prejudicar a economia, reduz os lucros e com eles as
intenções de investimento nos diversos setores da
economia. Em países socialistas a centralização das
decisões inviabilizava a criatividade e crescimento
econômico. Em países capitalistas o Estado menor
geralmente representa menores custos de produção
e com isso maior competitividade das empresas no
mercado internacional e maiores lucros das
empresas no mercado interno. Desta forma o Estado
grande tende a reduzir as possibilidades de
crescimento econômico e o Estado “pequeno” tende
a tornar o mercado interno mais lucrativo e
estimular as exportações ao ganhar competitividade
no mercado internacional.
Paul Samuelson afirma que os EUA tiveram
um século de rápido progresso econômico e
ambiente de liberdade individual durante o século
XIX (SAMUELSON, 1970). Esse período foi o
mais próximo que os EUA chegaram de um “Estado
mínimo” liberal. O Estado de laissez-faire que
Carlyle chamou de “anarquia mais o delegado”
pode ser observado pelo tamanho do Estado. Antes
da Primeira Guerra Mundial os gastos totais do

83
Estado norte-americano, incluindo os do governo
federal, estadual e municipal eram de
aproximadamente um doze avos da renda nacional.

3 Burocracia
A burocratização do Estado, quando sem controle,
normalmente é referida como um dos grandes
problemas a serem superados. A ineficiência é um
problema constante nos modelos burocráticos. A
burocracia possui as mesmas deficiências que
qualquer monopólio, não possui concorrência, nem
precisa ser eficiente para continuar existindo, pois é
imposta autoritariamente. A concorrência garante a
diversidade de ideias, já a livre escolha garante a
eficiência do serviço prestado. Isso acontece porque
com liberdade de escolha optamos por um serviço
que nos agrade, no caso da imposição autoritária de
um serviço a decisão é exclusiva de quem oferece o
serviço. Na burocracia, como em qualquer
monopólio, mesmo que o serviço seja ruim, não
poderemos optar por outro. A burocracia não tem
concorrência, portanto não se beneficia da lógica
darwinista do mercado que exclui os mais
ineficientes e desenvolve os mais bem adaptados. O
mercado, por meio da concorrência, permite que a
lógica darwiniana ocorra. Sem concorrência, como
ocorre nos monopólios, os processos burocráticos
seguem independentemente de serem eficientes ou
ineficientes. Por mais que metas sejam estipuladas e
controladas, não há comparação, como ocorre no
mercado. A concorrência possui diversidade e

84
expõe os melhores e piores processos, os mais
eficientes e os menos eficientes.
A questão da burocracia já havia sido tratada por
Weber em seu trabalho intitulado “A política como
profissão”. A burocracia normalmente privilegia o
interesse político, neste caso a meritocracia atua
justamente de forma oposta. O uso da burocracia
por políticos em favor dos seus próprios interesses
de classe ocorre em desfavor do real finalidade que
justifica a burocracia. Assim surgem os chamados
“cabides de emprego”, reservas de vagas
desnecessárias para pessoas que possam votar ou
favorecer o político que a mantém em seu cargo.
Alguns estudos como o de H. L. Wilensky já
demonstravam a dificuldade de se obter eficiência
com os modelos de burocracia existentes. O
controle hierárquico centralizado da burocracia gera
inúmeras dificuldades na tomada de decisões.
Wilensky foi um crítico dessa centralização que
engessava o sistema burocrático (WILENSKY,
1967, 1975). Esta forma burocrática centralizadora
foi justamente a que se viu nos países socialistas, o
unipartidarismo limita ainda mais a livre ação dos
funcionários. A eficiência do Estado nos países
socialistas foi muito prejudicada pela grande e
ineficiente burocracia, e como nos países socialistas
a economia não pode ser dissociada do Estado,
então a ineficiência estatal se transfere para a
economia.
Temos que levar em consideração que a
burocratização do Estado não é exclusiva de países
socialistas, atualmente praticamente todos os

85
Estados possuem um grau no mínimo relativamente
elevado de burocracia. De certa forma os ideais de
Estado mínimo não se impuseram ao Estado
moderno. Com o Estado de bem-estar-social os
países capitalistas passaram a sofrer cada vez mais
com a ineficiência da burocracia. Desta forma os
problemas originários da burocracia afetaram de
forma muito similar os países capitalistas. Muitas
reformas foram realizadas desde a crise do “welfare
state”, a burocracia assim como o próprio tamanho
do dos Estados reduziram em diversos países.
Também devemos ressaltar que nos países
capitalistas os cargos mais importantes da
burocracia são preenchidos por cidadãos oriundos
das classes mais favorecidas. Este é um fato
observado em diversos trabalhos, como de J.
Kingsley (KINGSLEY, 1944). Com isso temos o
afastamento das classes mais baixas do poder,
mesmo em países em que a democracia leva
representantes das classes inferiores ao poder as
políticas públicas não prosseguem sem passar pela
burocracia de predominância elitista. A burocracia
cristaliza as contradições sociais e reforça a divisão
das classes altas e baixas. Em alguns casos esta
estrutura de Estado elitista pode interferir na
condução independente do país, se é que seja
possível a livre condução do país sem influência
hegemônica de alguma classe. Trataremos das
complicações deste tema a seguir.

86
4 Aparelhos ideológicos de Estado
Nos países socialistas unipartidaristas a ideologia
oficial do Estado é evidente. Quanto a isso existem
diversas críticas tanto de socialistas quanto de
liberais e outros democratas. Essas críticas são
quase unânimes quanto à coerção e limitação das
liberdades individuais e políticas das pessoas. De
fato estas críticas perduraram durante todo o
período da experiência russa de socialismo, assim
como se mantém até hoje quanto a alguns países.
Pelo fato de serem ideologias impostas oficialmente
pelo estado elas são alvos fáceis para as criticas, no
entanto também podemos observar a hegemonia
ideológica em diversos países democráticos
capitalistas. Se o modelo unipartidarista dos países
socialistas é claro quanto as suas ideologias, a
forma dos países capitalistas democráticos
exercerem a sua ideologia é mais complexa e
velada. É difícil estabelecer até que ponto as
instituições dos Estados capitalistas possuem
autonomia perante as classes e suas ideologias
predominantes. O controle da superestrutura nos
países capitalistas normalmente possui hegemonia
da burguesia e das classes a ela ligadas, por meio de
lobby, corrupção, ligação familiar. A simples
ascensão financeira ou política de pessoas oriundas
de outras classes implica em contato com a elite
burguesa tradicional. A homogeneidade da classe
alta na estrutura administrativa do Estado e do
elitismo das instituições que preparam esses
funcionários é retratada por E. Suleiman

87
(SULEIMAN, 1974). Em comparação com a
população mais pobre, os funcionários do alto
escalão do poder público possuem altos salários que
os colocam bem próximo do topo da pirâmide
social. Sendo assim, a elite política do Estado se
torna a elite econômica ou se associa a ela de
alguma maneira. Não é fácil caracterizar de que
forma a ideologia se manifesta em países
democráticos contemporâneos, mas historicamente
temos inúmeros exemplos do controle ideológico da
elite burguesa nos países capitalistas. O
imperialismo foi um traço marcante das potências
capitalistas nos últimos séculos, as grandes guerras
do século XX tiveram como protagonistas países
democráticos. Mesmo a Itália e Alemanha só viram
a tirania após eleger os líderes com forte apoio
popular. Temos que procurar entender como esse
apoio popular foi conquistado e qual a relação dele
com os interesses das elites econômicas destes
países.
Em um trabalho de J. D. Kingsley é verificado que
o alto escalão do governo britânico possuía
praticamente todos os funcionários originários da
mesma classe social alta, este seria o motivo das
políticas a serem adotadas pelo governo terem
quase sempre a concordância unânime dos altos
funcionários (KINGSLEY, 1944). A classe
burguesa possui um poder enorme sobre os
aparelhos ideológicos do Estado. A superestrutura
dos Estados capitalistas são claramente controladas
pelas classes economicamente mais abastadas,
diversos estudos já demonstraram isso. É deste

88
problema crônico que surgem as criticas de Gramsci
e Althusser a ideologia do Estado (ALTHUSSER,
1998). Até mesmo o sistema educacional que forma
o cidadão é afetado pela ideologia da classe
hegemônica. A educação se dirige a um tecnicismo
exacerbado e perde o caráter humano. Gilles
Lipovetsky possui diversos trabalhos que nos
esclarecem sobre as mudanças na moralidade social
e nas relações humanas provenientes destes novos
tempos e do consumismo. Jean Baudrillard é outro
autor que critica esse aspecto do mundo atual e suas
conseqüências. Com o direcionamento burguês da
educação e demais instituições a sociedade tende ao
consumismo em detrimento de outros valores. A
sociedade norte-americana tem um padrão de
consumo que é criticado por diversos autores. O
consumismo também é um dos fatores
determinantes dos problemas ambientais dos países
capitalistas, basta observar que os países mais
desenvolvidos economicamente são também os que
mais devastaram a natureza. (LIPOVETSKY,
2004,2005,2007,2008; BAUDRILLARD, 1986,
1990,1991)
Outro problema da predominância da elite burguesa
no poder dos países capitalistas é a velada perda da
liberdade na educação. Em muitos países
capitalistas a educação se dirige a um tecnicismo
exacerbado, com a consequente redução do caráter
humanístico e livre da educação. Ao mesmo
momento que isso ocorre, os Estados colocam a
importância da defesa nacional como motivo para
criar uma educação voltada para o enriquecimento

89
econômico. A tendência em muitos destes países é
apenas valorizar o aprendizado dirigido ao
desenvolvimento tecnológico e produção de
riquezas. Não que isso seja uma regra geral, e até
mesmo nos países em que tal tendência às vezes se
manifesta ela muitas vezes possui as suas exceções.
Muitas vezes o discurso de que a educação eleva os
padrões de vida não podem ser verificados em
termos de desaparecimento da classe inferior porque
o sistema econômico permanece inalterado, a
propriedade do meio de produção continua
dividindo as classes. Samuel Bowles e Herbert
Gintis em um trabalho sobre a educação e o
capitalismo americano, “Shooling in Capitalist
America” (Bowles; GINTIS, 1976), consideram que
mesmo com a maior escolarização da classe
trabalhadora, o conteúdo dos estudos não eram
orientados por eles. Neste referido trabalho os
autores consideram, por meio de dados empíricos,
que o sistema educacional americano possuía pouca
autonomia. As reformas do sistema educacional
americano, como tratadas por Bowles e Gintis, eram
realizadas em função do desenvolvimento da
economia e das instituições capitalistas. Esse foco
meramente economicista da educação não leva em
conta que o modelo de educação influencia na
consciência, na personalidade, no comportamento e
nas relações interpessoais, de certa forma a
educação ajuda a moldar o caráter dos estudantes.
Para Norberto Bobbio em toda sociedade
organizada as relações de poder são desiguais, o
poder quase sempre fica concentrado nas mãos de

90
pequenos grupos (BOBBIO, 1996). Desta forma
tanto o poder político quanto o econômico não são
distribuídos igualmente entre os membros da
sociedade, essa tendência ocorreu nos países
comunistas e nos capitalistas. Cada grupo investido
de poder o exerce de várias maneiras. Uma das
maneiras de exercer o poder é definir os conteúdos
da educação. Da mesma forma que é comum
afirmar que quem conta a história é o vencedor, isso
vale também para os grupos “vencedores” nas
relações sociais, ou seja, os grupos de poder. São
esses grupos que muitas vezes definem o conteúdo
da educação. As diversas instituições sejam elas
públicas ou privadas muitas vezes reproduzem os
interesses do modelo econômico vigente.
Além de Althusser, a relevância da religião
para o capitalismo também foi tratada por Weber
(WEBER,2004) e por muitos outros autores. De
fato se a religião pregar que os frutos da terra são de
todos ou que todos devam ser pobres ou iguais,
naturalmente as instituições baseadas na
propriedade não seriam aceitas pela sociedade. Não
são só os países ditatoriais que atuam de forma
contundente na formação ideológica do Estado,
países democráticos também tiveram medidas
autoritárias na história recente. O apoio dos países
capitalistas às ditaduras anticomunistas ao longo do
século XX, como as dos países latino-americanos,
demonstram a atuação racional orientada por
doutrinas ideológicas nos países capitalistas. O
“macartismo” que ocorreu nos EUA talvez tivesse
sido a forma de patrulhamento ideológico mais

91
gritante naquele país, mas sem dúvida não foi a
única.
A classe hegemônica utiliza o próprio Estado
para submeter a classe mais frágil. As constituições
e demais leis estabelecem em muitos países como
devem ser as relações entre os indivíduos, desta
forma o próprio Estado limita a vida dos cidadãos
para que eles reproduzam aquele estilo de vida
previsto em lei. Os aparelhos ideológicos que
servem aos interesses burgueses são muito
poderosos, a lei dos países capitalistas coloca a
força policial e até mesmo as forças armadas de
guerra em defesa daqueles interesses. As entrelinhas
das constituições e leis colocam todas as forças em
estado de prontidão contra qualquer possível lesão
ao estilo de vida que elas protegem.
Na teoria política atual existe o pensamento de
que o poder pertence sempre a uma minoria, mesmo
em países em que a esquerda domine politicamente.
A grande maioria da população não detém poder e
nem consegue se organizar. Muitos autores
defendem que mesmo na democracia só seria
possível que o poder público estivesse em
conformidade com os interesses da massa da
população se os meios de produção deixassem de
pertencer a uma elite econômica. Quando o Estado
atua na infra-estrutura, como trata Poulantzas
(POULANTZAS, 2000), ele fortalece a economia e
os detentores dos meios de produção. Por isso, a
filosofia de administração de Frederick Winslow
Taylor foi adotado tanto pelos socialistas quanto
pelos capitalistas e é uma das críticas de Noam

92
Chomsky no que se refere a forma em que os
soviéticos alienavam os operários tanto quanto os
capitalistas, já que o controle dos meios de
produção era dos representantes totalitários do
partido. O que podemos concluir é que a dominação
da ideologia do Estado é prejudicial à liberdade em
qualquer país, seja ele capitalista ou socialista.

5 Alguns problemas e benefícios


das experiências do comunismo
Temos que diferenciar o chamado “socialismo
real” do socialismo teórico, de fato a maioria das
experiências das revoluções socialistas que
ocorreram no século XX se distanciaram muito das
principais correntes teóricas socialistas. É
importante refletirmos sobre as experiências
práticas porque são elas que podem comprovar a
viabilidade das teorias, mas não podemos esquecer
de alguns pontos fundamentais da teoria que não
foram reproduzidos na experiência prática.
Na teoria marxista o comunismo seria viável
quando a sociedade tivesse alcançado um
desenvolvimento tecnológico enorme que desse
grande produtividade ao trabalho e permitisse a
geração de riquezas suficientes para toda a
população. Nenhum dos países que passaram pela
revolução socialista estava nesse estágio de
evolução técnica e nenhum desses países nem
mesmo estava entre os mais avançados de sua época
de revolução. Com um exercício de intelecto

93
podemos refletir se seria possível a um Estado
comunista ser bem sucedido em um futuro em que a
robótica e a inteligência artificial estivessem
bastante avançadas, pois nesse estágio da evolução
tecnológica certamente os países produziriam mais
do que o suficiente para todos os cidadãos. Com
uma singularidade tecnológica como esta, se os
países não adaptarem as suas legislações, o número
de desempregados poderia ser potencialmente
catastrófico. Uma crise como estas talvez levasse o
mundo no caminho proposto pelas teses marxistas
de uma revolução necessária. De qualquer forma
este não é o cenário das sociedades atuais, portanto
devemos nos concentrar nas possibilidades políticas
das sociedades contemporâneas.

*
As oportunidades, teoricamente, não
dependem do “berço”. Nos países capitalistas quem
nasce em família abastada possui oportunidade de
estudar sem a necessidade de trabalhar
concomitantemente, ao passo que muitos pobres
precisam trabalhar juntamente com os seus estudos,
seja para pagar os estudos ou caso seja gratuito seria
para pagar por outras necessidades.
*

Evitar a miséria também foi possível em


muitas experiências de socialismo. A grande
disparidade de renda observada em muitos países
capitalistas não era recorrente em muitos países
comunistas. Comparado com os países mais

94
miseráveis de hoje e de outras épocas os países
comunistas possuem vantagens quanto ao bem estar
social da população, mas quanto aos países
desenvolvidos muitos partidos social-democratas
atualmente negam a divisão da sociedade em
classes opostas e confirmam uma forte classe-
média. De fato, nos países capitalistas mais
desenvolvidos os níveis de miséria são baixos.
*

Os países comunistas que se identificaram


com o marxismo-leninismo abandonaram a
democracia e se tornaram Estados autoritários em
descompasso com os interesses da população.

*
Nas experiências do marxismo-leninismo as
desigualdades de classe se mantiveram, porém a
elite deixou de ser a burguesia e passou a ser os
próprios governantes e burocratas. A elite do
aparelho estatal podia desfrutar de bens e serviços
que o restante da população não podia.

*
Nos últimos momentos da maioria dos países
socialistas a economia e a população geral passava
por diversas dificuldades se comparadas com os
países desenvolvidos do mundo capitalista. No
entanto também puderam ser notados muitos
avanços da qualidade de vida dos cidadãos em
alguns períodos dos Estados comunistas. O Estado
socialista cubano possui alguns índices de qualidade

95
de vida melhor do que diversos países capitalistas
que possuem a economia mais desenvolvida do que
Cuba.

*
A experiência do comunismo na URSS parece
ter levado a sérios problemas de corrupção, alguns
autores afirmam que esse problema se deve a
excessiva burocracia Estatal. Não podemos pensar
que o problema da corrupção se deva somente por
causa da grande burocracia, outros fatores também
podem ter contribuído para um alto nível de
corrupção, como a falta de liberdade democrática e
unipartidarismo, pois esses fatores reduzem as
possibilidades de críticas ao sistema e aos
governantes. O jornalista francês Patrick Meney
relata o alcance quase global da corrupção em seu
livro: A Kleptocracia, a corrupção na União
Soviética (MENEY, 1982).
*

Não vamos tratar do tema das liberdades


democráticas, pois tanto em sociedades comunistas
quanto capitalistas podem existir maior ou menor
grau de autoritarismo. Muitos países capitalistas
passaram por ditaduras burguesas, assim como
outros países passaram pela ditadura do
proletariado. De modo que este tema pode ser mais
oportunamente tratado em outro trabalho, inclusive
existe uma longa e exaustiva literatura sobre o tema.
*

96
6 Outros problemas que
prejudicaram os países socialistas
Além dos problemas teóricos fundamentais do
socialismo também devemos citar alguns fatores de
fora dos fundamentos das ideias socialistas que
prejudicaram a evolução e sucesso da economia e
bem estar dos países socialistas.
*
As tensões naturais entre os países socialistas
e os capitalistas levaram a maioria dos países a um
constante estado de apreensão. A oposição
ideológica dividiu o mundo em dois blocos distintos
durante toda a chamada guerra-fria. As batalhas não
se davam apenas em níveis políticos, as guerras
entre o capitalismo e o socialismo foi levada para os
campos de batalha. A guerra da Coréia que
terminou por dividir a nação em dois países
diferentes e ideológicamente distintos, a guerra do
Vietnã que terminou com a vitória do comunismo
sobre o capitalismo, entre outras envolveram
diretamente os maiores representantes
internacionais das suas respectivas ideologias. Os
países mais emblemáticos das suas doutrinas
capitalista e comunista, tais como EUA, URSS e
China atuaram direta e indiretamente em diversas
questões internacionais que resultaram em guerras
civis, golpes ditatoriais e outras tensões políticas.
Toda essa conjuntura internacional forçou os países
socialistas a concentrarem a maior parte das suas
atenções para o militarismo. A URSS utilizava boa

97
parte dos seus recursos em um belicismo
desenfreado. Como todos sabem a indústria bélica
não possui fins de bem-estar nem de melhoramento
das condições de vida dos cidadãos. Se todos esses
esforços militaristas fossem canalizados para o real
interesse dos cidadãos talvez a história dos países
socialistas tivesse sido diferente.
*
Temos que ressaltar também que houveram
muitas divisões e falta de cooperação entre os países
comunistas. URSS e a China, por exemplo, tiveram
muitas divergências e desacordos que levaram a
acabarem com a cooperação mútua. Os países
capitalistas também pouco cooperaram com os
países socialistas, ao passo que criaram diversas
instituições internacionais de ajuda mutua com
outros países capitalistas. O comércio internacional
é algo crucial para economias complexas, pois elas
precisam de recursos e matérias primas oriundas de
locais distantes do mundo. Os embargos
econômicos afetaram muito os países socialistas,
como a Coreia do Norte, Vietnã, a China, entre
outros. Cuba é outro exemplo de país socialista
que sofreu com o embargo econômico motivado por
diferenças ideológicas com os países capitalistas,
principalmente os EUA.

98
7 Alguns problemas do
capitalismo atual

7.1 Abuso do poder econômico

Charles Wright Mills critica o modelo de


capitalismo norte-americano e o mesmo vale para
outros países (MILLS, 1981). As elites políticas,
econômicas e militares formam uma estrutura de
poder interligada formando um tipo de oligopólio
que é capaz de influenciar no destino do Estado e da
vida do restante da população. Embora as elites de
cada região não sejam necessariamente ligadas,
muitas vezes os interesses são semelhantes, portanto
as elites econômicas tendem sempre a defender
bandeiras comuns, como a redução de impostos e de
encargos sociais, por exemplo. Algumas empresas
capitalistas possuem receita maior do que a riqueza
da maioria dos países, tais empresas
inevitavelmente são influentes em diversos Estados.
O poder econômico era tão grande nos Estados
Unidos que no século XIX ocorreu uma grande
guerra civil, de um lado os abolicionistas e de outro
lado a elite econômica e latifundiária que queria
manter o sistema escravagista que tanto lhes
favorecia. Neste caso o poder econômico se
confundia plenamente com o poder militar e
político. A abolição da escravatura beneficiaria as
elites econômicas e industriais do norte, pois estas
precisavam de um maior mercado consumidor e

99
isso era impedido pelo sistema escravagista, assim
como as elites agrárias do sul se beneficiavam com
a exploração do trabalho escravo para maximizar os
seus lucros. Barrington Moore Jr. Em seu livro: “As
Origens Sociais da Ditadura e da Democracia:
Senhores e camponeses na construção do mundo
moderno” (MOORE, 1983), cita todo esse conflito
de interesses baseados na diferença entre a
economia do Norte e do Sul e conseqüentemente
entre as suas elites. Ralph Miliband em seu livro:
“The State in Capitalist Society”, também trata das
classes governantes e do Estado como um
instrumento destas classes dominantes (MILIBAND,
1969).
Ferdinand Lundberg escreveu alguns livros
que retratam o imenso poder político e econômico
concentrados nas mãos de poucas famílias devido
ao grande acúmulo de capitais próprios do sistema
capitalista norte-americano. Em seu livro,
“America's Sixty Families”, Lundberg cita sessenta
famílias mais poderosas da época que juntas
controlavam boa parte da economia norte-
americana. Posteriormente em “Who controls
industry?: And other questions raised by critics of
America's 60 families” o autor se aprofunda nas
consequências do grande poder econômico, e a
dominação da grande indústria. Outro livro de
Ferdinand Lundberg que contém dados sobre o
poder político do “lobby” das grandes empresas e
das grandes fortunas é o “The Rich and the Super-
Rich: A Study in the Power of Money Today”.
Como vimos, a história nos alude a diversas

100
passagens e fatos relacionados ao poder dos
burgueses em influenciar as políticas nacionais e
internacionais (LUNDBERG, 1937, 1938, 1972).
Lundberg afirmou que para participar da
política nos EUA era necessário ser rico ou, ao
menos, ter amigos ricos. Ainda afirma que desde
Lincoln apenas dois presidentes norte-americanos (e
com reservas) foram qualificados pelos especialistas
como orientados em prol dos interesses do povo.
Isso é muito pouco em um sistema democrático, a
causa disso certamente não são as intenções do
povo, essa questão tem mais a ver com o poder de
influência das classes superiores. Em países como
os EUA os meios de comunicação de massa
pertencem à classe rica, talvez essa seja uma das
respostas à questão. Noam Chomsky e Edward S.
Herman escreveram um livro detalhando de que
forma o público pode ser manipulado pelos meios
de comunicação que nem mesmo precisam
conspirar para conduzir a opinião pública de acordo
com os interesses das classes ricas. Os autores de
“A Manipulação do Público, Política e Poder Econômico
no uso da Mídia” observaram diversos casos de
distorção das informações por parte da mídia
capitalista. Os grupos de pressão formados pelas
classes superiores de países capitalistas, como os
EUA, possuem diversas formas de influenciar no
conteúdo da informação dos meios de comunicação
(CHOMSKY;HERMAN, 2003).
Tudo indica que se fosse possível a classe rica
exerceria o poder político por meio de seus
representantes diretos, mas como o regime

101
democrático tende a eleger mais representantes das
classes populares a classe rica somente obtém
acesso ao poder por vias diferentes da representação
eleitoral. Desde a teoria dos grupos de Arthur
Bentley os grupos de pressão foram estudados
sistematicamente por diversos autores. David
Truman tratou do tema em sua obra “The
Governmental process” (TRUMAN, 1951). Não
podemos simplificar a questão dos grupos de
interesse, nem mesmo os grupos possuem
integrantes homogêneos, mas de fato existem
processos diversos de influência de indivíduos ou
grupos na atividade política, tais como o conhecido
por lobby. Os grupos de lobby que levam as suas
reivindicações e interagem com os grupos
detentores do poder político legal são em alguns
países até mesmo aceitos como naturais, é o caso
dos EUA que até mesmo os autorizam. Existem
diversos grupos diferentes que influenciam as
decisões políticas, mas são normais e na maioria das
vezes toleráveis dentro do “jogo democrático”, estes
grupos muitas vezes representam uma grande
parcela da sociedade. O grande problema ocorre
quando um grupo com pouca representatividade
popular exerce mais influência e portanto possui
mais poder do que muitos outros setores da
sociedade sem uma causa justa para tal. Os grupos
de grande poder econômico exercem este tipo de
influência perniciosa e distorcida dentro das
sociedades capitalistas. As minorias tendem a ter
menos poder político em Estados democráticos, no
entanto a elite econômica é uma exceção que tende

102
a ser uma minoria com muito poder político. Sendo
assim, no sistema capitalista a elite econômica
muitas vezes possui condições de premiar de
diversas formas a quem queiram, incluindo os
burocratas e os políticos, e de forma semelhante
essa mesma elite pode punir estes ou outros grupos.
A premiação e punição, ou mesmo ameaça de
punição, podem ser recursos para campanhas
políticas, recursos materiais, ou outras espécies de
vantagens que em muitos casos se caracteriza como
suborno. Os grupos de pressão também podem agir
diretamente na opinião pública com a intenção de
influenciar os diversos setores da sociedade.
Alguns autores defendem que os países
bipartidários, como os EUA, costumam encorajar a
influência dos grupos de pressão em seus partidos
porque os partidos procuram envolver uma maior
pluralidade social, assim temos o pensamento de V.
O. Key, Ekstein e Apter (KEY, 1952; ECKSTEIN;
APTER, 1963), mas os países pluripartidários
também apresentam tais grupos de interesse e
muitas vezes com partidos próprios para defender
os interesses da classe rica. A influência também
pode se manifestar quando os interesses das classes
ricas são levados até as organizações políticas com
o discurso adaptado a estas organizações. Alguns
autores buscam medir a atuação dos grupos de
pressão pelo nível dos recursos aplicados por tais
grupos. De qualquer forma, mesmo quando o lobby
é proibido por lei, se houver interesse os
interessados sempre podem encontrar uma forma de
atuação, até mesmo pelo tamanho e complexidade

103
dos Estados nacionais. A força e riqueza dos grupos
de pressão permitem a eles pagarem pelas mentes
mais renomadas da sociedade para criarem
doutrinas bem fundamentadas que podem ser
facilmente confundidas com as políticas com
finalidades populares. A complexidade das leis e
das políticas públicas permitem atos de interesse
das elites difíceis de serem criticadas de forma
contundente pela população e até mesmo por grupos
mais intelectualizados possam criticar.
Os grupos de pressão ou interesse são tratados
por diversos autores. Alguns livros de J. Kenneth
Galbraith tratam de forma um pouco diferente,
chegam até a prever uma mudança gradual com os
grupos que contrabalanceariam o grande poder das
mega-corporações que surgiriam com o tempo. Para
Galbraith as grandes empresas possuem poder até
mesmo para impor preço ao mercado e para exercer
influente lobby (GALBRAITH, 1952, 1967, 1969,
1988, 2006).
As indústrias e comércio se organizam para
defender os seus interesses, muitas vezes o poder de
tais grupos podem ser usados como chantagem
contra a administração pública para que esta não
contrarie os interesses deles. Esses grupos de
pressão podem afirmar, por exemplo, que vão parar
o investimento ou que vão reajustar os preços das
mercadorias se tiverem que gastar mais por conta de
políticas sociais, encargos trabalhistas etc. Até
mesmo nos casos de tabelamento de preços que
houveram em alguns países os grupos de pressão
afirmavam que retirariam os produtos do mercado,

104
isso de fato ocorreu, alguns países como o Brasil e
Argentina a população sofreu com a falta de
produtos no mercado por causa do tabelamento de
preços que buscavam controlar a inflação. O que
aconteceu nestes países foi que os empresários não
aceitaram o tabelamento de preços e se recusaram a
vender os produtos.
J. Kenneth Galbraith em “A economia e o
interesse público” utiliza o termo “simbiose
democrática” para tratar da influência da estrutura
técnica das grandes empresas e sua capacidade de
interagir com os funcionários do governo e buscar o
favor dos interesses privados (GALBRAITH,
1988). Jagdish Bhagwati também relata o poder dos
grandes grupos financeiros e sua capacidade de
influenciar algumas entidades de grande
importância (BHAGWATI, 1975, 1998).
Esse poder de influência da elite econômica é
especialmente pernicioso quando é invisível ou
camuflada por outros interesses, as elites
econômicas quando possuem interesses que não são
populares o suficiente para exercer influência por
vias democráticas podem obter os resultados que
desejam por meio de processos similares ao lobby.
Nestes termos a democracia não representa a
vontade da maioria, mas sim a vontade dos que
possuem maior poder de influência, na plutocracia
capitalista esse poder tende a ser da classe rica. Essa
crítica tem grande relevância para o debate sobre
modelos de governo, pois muitas das criticas ao
comunismo e ao socialismo real é de que os
burocratas e a elite política seriam os verdadeiros

105
detentores do poder e desfrutariam das vantagens
desta posição, para muitos críticos isso
caracterizaria uma espécie de tirania, o que vemos
na democracia capitalista é algo muito semelhante,
ou seja, a classe rica desfruta dos privilégios da
riqueza e também é politicamente dominante por
seus meios escusos ou legais.
Grande parte da corrupção nas sociedades
democráticas também possui a sua origem no poder
econômico das elites, até mesmo porque as classes
inferiores da sociedade não possuem recursos
materiais para subornarem os políticos, os pobres,
diferentemente dos ricos, somente possuem o seu
voto e atividade política para influenciar as leis e
políticas públicas.
As próprias questões dos problemas dos
valores culturais do mundo capitalista permitem
melhor compreender a ligação promíscua entre
poder político e poder econômico. Na plutocracia, a
sociedade em que o dinheiro é o item cultural de
maior valor, as lutas pelo poder político são menos
originadas pelo desejo de mudança e sim pelo
desejo de pertencimento a elite político-econômica
do país.
*

7.2 Disparidade de renda e miséria

J. Kenneth Galbraith descreveu a América


como uma sociedade afluente. Os EUA ainda
possuem a maior riqueza absoluta no mundo

106
embora não possua a maior renda per capta. Mesmo
neste referido país extremamente rico para os
padrões atuais existe pobreza e riqueza, a distância
entre os mais ricos e os mais pobres são maiores do
que quaisquer do passado. Paul A. Samuelson
admitia que eram poucos os que compreendiam o
quanto era grande a distância entre as rendas mais
elevadas e as mais baixas naquele país
(SAMUELSON, 1970).
Robert Heilbroner em seu livro “The Limits of
American Capitalism” publicado em 1966 notava
que os EUA possuíam cerca de 11 milhões de
empresas, mas cerca de um milhão delas
controlavam 85 por cento dos negócios, meio
milhão de empresas dominavam 75 por cento de
todos os negócios (HEILBRONER, 1966). Menos
de um por cento das maiores indústrias dominavam
33 por cento de todos os negócios empresariais.
Entre as quinhentas maiores indústrias os lucros de
apenas dez delas sozinhas eram iguais a quase a
metade das quatrocentas e noventa restantes.
Lundberg cita que nos EUA em 1929 as 100
primeiras empresas industriais possuíam 25 por
cento de todos os ativos comerciais, em 1960
saltaram para 31 por cento e em 1963
representavam 53,8 por cento do total da renda
nacional. Esses dados mostram o aumento contínuo
da concentração da riqueza em poucas empresas.
Para contradizer o discurso sobre a disseminação da
propriedade das empresas, Lundberg cita nas cem
maiores empresas os diretores eram donos ou
controlavam pelo menos dez por cento das ações

107
com poder de voto. O autor de “America’s sixty
families” (LUNDBERG,1937) ainda cita que nas
cento e cinqüenta super-companhias somente entre
duzentas a trezentas famílias possuíam blocos de
ações que controlavam todas essas empresas.
Lungberg afirma que a inerente irracionalidade
social do sistema de produção, que só busca o lucro
privado, acabará garantindo o final do próprio
sistema capitalista com a ajuda da própria classe
desenvolvedora de ciência e tecnologia que tanto
ajudou a enriquecer os donos dos meios de
produção.
A questão da constante e enorme disparidade
de riquezas geradas pelo capitalismo não costuma
ser levantada como crítica aos fundamentos das
democracias capitalistas, ao menos não de forma
suficiente para conscientizar as classes inferiores
sobre os problemas políticos que ter uma classe
economicamente muito superior as demais acarreta.
Heilbroner afirma que “o privilégio dentro do
capitalismo é muito menos visível, especialmente
para os grupos favorecidos, do que o privilégio
dentro de outros sistemas”, assim o capitalismo de
alguns países se diferencia de outros sistemas, não
por possuir classes diferentes porque outros
sistemas também podem conter classes diferentes,
mas porque possui a legitimidade das leis ditas
democráticas que estratificam as elites econômicas
sem a truculência de sistemas, como o feudal por
exemplo. Os indivíduos ou grupos usam o mercado
nacional e internacional para o enriquecimento em
escalas colossais nunca antes vistas. Neste contexto

108
cada um dos dez homens mais ricos dos EUA
possui mais riqueza do que o PIB ou o orçamento
público de muitos países. Isso não é diferente
quanto às famílias mais ricas de outros países, até
mesmo em países em desenvolvimento as grandes
fortunas passam das dezenas de bilhões de dólares.
Um trabalho de F. W. Taussig e C. S. Joslyn
(TAUSSIG; JOSLYN, 1932) observa que a origem
social dos líderes das grandes empresas norte-
americanas não era das classes baixas, ainda que a
maior parte da população esteja na parte inferior da
pirâmide os executivos das empresas na maioria das
vezes provinham da parte superior. Essa situação
levou Paul Samuelson a se perguntar se a sociedade
norte-americana estava estratificada em castas
(SAMUELSON, 1970, p.177).
De qualquer forma o capitalismo provou ser
flexível e em constante transformação, tanto que a
crença marxista de que os ricos ficariam mais ricos
e os pobres mais pobres, não corresponderam de
forma coerente com a dialética materialista. Nos
países desenvolvidos as classes não se opõem como
Marx acreditava que se oporiam, uma grande classe
intermediária possui grande parte da renda destes
países. No entanto não podemos afirmar que tais
melhorias do padrão de vida de boa parte da
população seja decorrente do sistema capitalista,
boa parte das mudanças se originaram nos
movimentos da esquerda-democrática e das
políticas sociais que contrastam com as ideias do
capitalismo liberal.

109
Outra questão que não costuma atordoar a
classe rica e nem a classe média dos países ricos é
que a afluência de uns países muitas vezes se apóia
na pobreza e exploração dos países mais pobres.
Países ricos compram matéria prima dos países
pobres e vendem produtos e tecnologia avançada de
tal forma que este modelo de comércio e negócios
beneficia principalmente os países que já são ricos e
dificultam o desenvolvimento tecnológico dos
países pobres. O colonialismo que tanto enriqueceu
as nações imperialistas continua a existir, mas de
forma diferente, menos violenta em alguns países e
o eufemismo atual torna a imoralidade do processo
mais velada.
O neocolonialismo troca a desigualdade
interna por desigualdade internacional, faz com que
as desigualdades que aumentam os lucros sejam
extremamente drásticas se compararmos as nações.
O capitalismo e o colonialismo atual geram
desigualdade internacional de forma racionalizada,
vários dos países que ascenderam para o chamado
primeiro mundo receberam apoio das nações mais
ricas, o Japão e Europa ocidental receberam fortes
apoios, incentivos e planos econômicos dos EUA, o
mesmo não ocorre com outros países porque não
existe interesse das nações ricas para que outros
países entrem para este seleto grupo. Os tigres
asiáticos também receberam incentivos de países
ricos por questões estratégicas, esse mesmo
interesse não existe quanto à África e nem outros
países fornecedores de matérias primas de outros
continentes.

110
Em um trabalho de 1962 intitulado “Income
and Welfare in the United States” de J. N. Morgan,
M. H. David, W. J. Cohen e H. E. Brazer, possui a
seguinte citação:
Os Estados Unidos chegaram a um ponto em
que a pobreza poderia ser abolida fácil e
simplesmente por uma penada. Levantar todos
os indivíduos e todas as famílias do país que
agora se encontram abaixo da renda de
subsistência, para o nível de subsistência,
custaria cerca de 10 bilhões de dólares por ano.
Isto é menos de 2 por cento do produto nacional
bruto. É menos de 10 por cento da receita
tributária. É cerca de um quinto do custo com a
defesa nacional. (MORGAN; et al, 1962, p.3-4)
A riqueza é tanta nos países mais ricos que
seria possível retirar milhões da miséria extrema se
houvesse interesse, mas o mesmo sistema que gera
tanta riqueza se sustenta com a relação
neocolonialista imposta aos países mais pobres. O
sistema capitalista enriquece os países ricos e se
alimenta da fragilidade dos países pobres.
O que a maioria dos estudos indicam é que o
crescimento econômico reduz a pobreza, embora
não necessariamente reduza a desigualdade social,
muitas vezes até aumenta a disparidade de rendas. É
certo que quanto maior a riqueza da nação maiores
são as possibilidades de promover melhora na
qualidade de vida material dos habitantes.

7.3 Valores culturais

111
Alfred Vierkandt organizou um trabalho muito
interessante com a contribuição de diversos
cientistas sociais sobre as mudanças morais e de
estilo de vida acarretadas pelo advento do
capitalismo. No trabalho intitulado
“Handwõrterbuch der Soziologie” (VIERKANDT,
1931), estes estudiosos notaram a corrupção dos
valores que estavam entre os mais importantes
anteriormente ao capitalismo. A obsessão das
pessoas pelo consumo e a competitividade se
opunham aos valores antigos. A crítica à cultura
proveniente do capitalismo de Daniel Bell, em “The
Cultural Contradictions of Capitalism”
(BELL,1996), alude à redução dos valores éticos da
sociedade, ele trata das questões éticas do
protestantismo e como elas foram mudando e
continuam mudando e desfigurando a sociedade.
Um trabalho de Paul B. Horton e Gerald R.
Leslie, intitulado “The Sociology of Problems”
(HORTON; LESLIE, 1955), assim como diversos
outros trabalhos, revelam os inúmeros problemas
causados pelo estilo de vida capitalista, inclusive a
disseminação de doenças mentais, prostituição,
drogas e outros vícios como jogos etc. até mesmo as
guerras são muitas vezes associadas ao capitalismo.
Muitas mudanças culturais podem ser
consideradas positivas e outras negativas. Até que
ponto as mudanças culturais provenientes do
capitalismo são positivas ou negativas não podemos
dizer ao certo sem utilizar parâmetros subjetivos. A
questão de se é lícito ou não ao Estado interferir na
influência moral da sociedade também é complexa e

112
envolve imposições do poder instituído em relação
a individualidade dos cidadãos.

7.4 Problemas ambientais.

Não podemos culpar apenas o capitalismo


pelos danos ao meio ambiente e sim o modelo de
produção de riquezas, pouca proteção ao uso do
meio ambiente e a ineficiência dos governos em
controlarem a devastação da natureza. Tanto países
capitalistas quanto socialistas alteraram
drasticamente o meio ambiente.
Certamente podemos afirmar que o modelo de
produção capitalista como conhecemos hoje não
pode ser sustentado sem a alteração do meio
ambiente. Com a grande população atingida em
todo o mundo durante os últimos anos todos os
continentes estão passando por mudanças causadas
pelo homem. Se o modelo capitalista dos países de
grande consumo continuar se expandindo para os
países em desenvolvimento e a população mundial
continuar aumentando é possível que a alteração
ambiental torne o planeta muito diferente do que era
em um passado não muito distante. Muitas das
florestas deixaram de existir quase que por
completo, muitos cientistas acusam o modelo de
produção econômica como causador de mudanças
climáticas e das suas conseqüências ecológicas. Os
ecossistemas dificilmente conseguem se adaptar as
mudanças abruptas causadas pelo homem, com isso
a tendência de extinção de espécies se impõe com

113
resultados irreversíveis. A alteração do meio
ambiente que já se verificava desde os tempos pré-
históricos, com a revolução da agricultura
continuou aumentando sem parar, o colonialismo
também acarretou grandes mudanças ambientais,
mas as mudanças nunca foram tão grandes e rápidas
quanto as posteriores a revolução industrial. O
padrão de consumo dos países ricos e as suas
conseqüências ecológicas não serão resolvidos pelo
mercado, pois este visa apenas o lucro, a solução
depende do Estado e da organização da sociedade.

7.5 Estratificação do sistema capitalista

Paul A. Samuelson em uma critica ao conceito


de renda per capta diz o seguinte:
(...) Esse número médio é obtido fingindo-se
que toda a renda dos Estados Unidos é dividida
igualmente entre todos os homens, mulheres e
crianças. Naturalmente, a renda é distribuída de
um modo que fica longe da igualdade, e não há
garantia de que uma tentativa de dividi-la
igualmente deixaria inalterado o total.
(SAMUELSON, 1970, p.164).
Essa citação ilustra a dificuldade em mudar a
situação de injustiça e desigualdade natural do
sistema capitalista. As crises do “welfare state”
indicam que o crescimento econômico fica
prejudicado por tantas políticas sociais. Com isso
parece que o sistema capitalista fica limitado em
melhorar a vida das pessoas por meio das políticas
sociais tradicionais, já que qualquer país perde

114
competitividade internacional quando adota
políticas de inclusão e igualdade social.
Robert Heilbroner (HEILBRONER, 1966)
reconhece que o sistema é tão profundamente
enraizado e aceito pela sociedade que não poderia
ser alterado de forma abrupta sem que a nação
inteira mergulhasse em prolongado caos. Podemos
notar que grandes revoluções, como as mudanças
ocorridas com o socialismo e comunismo geraram
grande número de mortes e convulsões civis.
Outro problema é a dificuldade em taxar as
grandes fortunas. Cada vez mais os chamados
“paraísos fiscais” beneficiam os proprietários das
multinacionais. Os lucros do comércio internacional
muitas vezes não são nem mesmo remetidos para os
países de origem das grandes empresas, pois para
evitar os impostos muitos donos do grande capital
preferem enviar os seus fabulosos lucros para países
que não cobrem altos impostos sobre a renda e o
lucro. Muitos países que resolveram reduzir a
desigualdade por meio de impostos sobre a renda ou
a herança tiveram uma fuga de seus representantes
da alta burguesia para outros países. Quando o
burguês sai do seu país para evitar os impostos ele
também leva, sempre que possível, os seus recursos
tributáveis.

8 Algumas vantagens do
capitalismo atual

115
Podemos refletir e criticar o capitalismo de
outras formas também. O capitalismo permite que
cidadãos comuns contemporâneos tenham acesso a
muitos bens que cidadão de outras épocas não
tinham, até mesmo do que reis do passado. Isso
corresponde a um cidadão mediano do capitalismo
em economias desenvolvidas possuir mais bens de
consumo do que a antiga aristocracia. A este
argumento existem várias críticas possíveis,
podemos afirmar que não se deve comparar pessoas
de épocas diferentes se a desigualdade ocorre no
presente. Também podemos dizer que se o pobre
contemporâneo tem acesso a bens que antes não
existiam, da mesma forma o rico contemporâneo
possui mais acesso a bens que o pobre
contemporâneo não possui, por isso a disparidade
de classes permite a alienação tecnológica e cultural
do pobre.
As pessoas de classe-média podem ser
acionistas das empresas, porém este argumento é
muito criticado, pois poucos são os que detém a
maior parte das ações ao passo que o homem
comum detém um percentual ínfimo do total das
ações.

8.1 Crescimento econômico

Não existem dúvidas de que o sistema


capitalista permite crescimento econômico, a
história revela muitos períodos de desenvolvimento
econômico que podem ser associados ao modelo de

116
cultura capitalista. Naturalmente outras formas de
sistemas econômicos e relações sociais diferentes
das capitalistas também permitem desenvolvimento
econômico, a URSS mostrou como um país
praticamente pré-industrial pôde se tornar a segunda
maior potência econômica mundial com o sistema
socialista. A lição que a história nos dá é que o
modelo capitalista possui algumas características
que, quando as condições forem favoráveis, permite
a expansão da economia.
Os grandes períodos de crescimento
econômico dos países muitas vezes estão ligados a
políticas públicas similares. Os países
industrializados passaram por períodos de forte
crescimento econômico no período após a segunda
guerra mundial até o início dos anos 70, depois
disso o crescimento reduziu. Muitos autores
relacionam esse período de crescimento com o de
outros países como o dos “tigres asiáticos”, e de
alguns países da América Latina, bem como o
crescimento originado no neoliberalismo. O
crescimento econômico de tantos países
normalmente coincidiu com um Estado
relativamente reduzido e que não exigia impostos
muito pesados, além de outras medidas de incentivo
a indústria nacional. Por outro lado, as medidas
opostas a essas normalmente coincidem com os
períodos de recessão ou fraco crescimento
econômico dos países.
Podemos destacar alguns fatores importantes,
a economia capitalista, diferentemente da
comunista, se move pelo lucro. O investimento na

117
produção que é tão importante para o crescimento
em qualquer economia, seja capitalista ou socialista,
no caso da economia capitalista o investimento
depende das possibilidades de lucro. Esse ponto
revela a relação entre lucro e crescimento
econômico, conforme o Estado reduz as
possibilidades de lucros por meio de políticas
tributárias ou sociais os donos do capital reduzem
também os investimentos ou se transferem para
outros países. Com isso as menores taxas de
investimento se refletem em menores taxas de
crescimento econômico. Podemos concluir que o
crescimento nos países capitalistas possui grande
potencial, porém está limitado ao lucro, isso por si
limita bastante as políticas sociais, pois o lucro se
torna inviolável no sistema capitalista.
A necessidade do lucro é o principal fator
incentivador da atividade capitalista, embora
também existam outros fatores psicológicos, morais
etc. No capitalismo esses fatores ocorrem de forma
descentralizada. Podemos notar que a
descentralização permite que a busca pelo lucro
motive não só os proprietários das grandes
empresas como também os pequenos negócios.
Joseph Schumpeter (SCHUMPETER, 1984) tratou
desta importância da contribuição que indivíduos
que procuram alocar eficientemente os seus
recursos dão a economia toda quando são somados
um grande número de indivíduos com esta
iniciativa. Essa é uma diferença essencial entre o
capitalismo e a economia planejada do socialismo,
com as decisões de milhões de indivíduos buscando

118
o lucro o sistema capitalista nunca cessa de ter
produtos e serviços inovadores, por outro lado a
economia planejada não permite a mesma dinâmica
de inovações, pois as inovações ficam restritas as
decisões de poucas pessoas. Com a economia de
mercado atual até mesmo os funcionários podem
investir na carreira para buscar melhores salários,
com isso a produtividade da economia capitalista
cresce, já em países comunistas os cidadãos não
possuiriam incentivos materiais para se destacarem
em suas áreas, pois todos receberiam o mesmo
independentemente da produtividade individual.
É com base no lucro e na livre iniciativa que a
economia capitalista encontra o seu dinamismo,
sendo assim se o Estado promove políticas que
reduzam os lucros ou a possibilidade de iniciativa
dos cidadãos a economia tende a reduzir a sua
atividade. Gottfried von Haberler em seu trabalho
intitulado “Economic Growth and Stability”
(HABERLER, 1974), retrata esta condição em que
o governo pode incentivar o crescimento econômico
se adotar políticas que revigorem as empresas e
possibilitem o crescimento das empresas, ou o
Estado pode reprimir o crescimento econômico
colocando obstáculos ao lucro e a liberdade
empresarial. As políticas sociais são sempre trazidas
à tona quando se discute os obstáculos ao
crescimento econômico principalmente porque
muitas políticas sociais reduzem os lucros das
empresas. De fato em um sistema capitalista é
natural pensar que quanto maiores lucros mais
investimentos os proprietários do capital estariam

119
dispostos a investir, não é muito difícil refletir que
em um país capitalista sem lucros não haveria
interesse por investimentos da parte das pessoas e
empresas privadas. Muitos economistas acreditam
que quanto menor o tamanho do Estado mais as leis
do mercado levariam a um crescimento econômico
maior.
Muitos estudos evidenciam que o crescimento
econômico reduz a pobreza, alguns estudos como os
de David Dollar e Aart Kraay confirmam essa
relação (DOLLAR; KRAAY, 2001a, 2001b).
Mesmo países com políticas sociais limitadas
quando apresentam fortes períodos de crescimento
econômico conseguem reduzir a pobreza dentro de
suas fronteiras. Os tigres asiáticos são exemplos
disso e a própria China está conseguindo reduzir a
pobreza principalmente com o crescimento
econômico. Outros estudos que tratam do tema e
corroboram com essa relação entre crescimento
econômico e redução da pobreza são os de Michael
Lipton, e Martin Ravallion e o de Erik Thorbecke e
Hong-Sang Jung (LIPTON; RAVALLION,
1995;THORBECKE;JUNG, 1996). Os estudos de
Simon Kuznets (KUZNETS, 1995) também são
bastante influentes neste tema, já que em muitos
países se confirmou a tendência de aumento dos
salários nos diversos setores com o constante
crescimento econômico, embora isso não tenha
ocorrido em todos os países. Após o trabalho de
Kuznets denominado “Economic growth and
income inequality”, M. Ravallion e S. Chen
elaboraram um trabalho e chegaram a mesma

120
conclusão da relação entre crescimento e redução da
pobreza (RAVALLION; CHEN, 1997).
Podemos concluir que o crescimento
econômico é muito importante para a redução da
pobreza, embora muitos trabalhos indiquem que o
crescimento econômico não necessariamente reduza
a desigualdade. Klaus Deininger e Lyn Squire
(DEININGER; SQUIRE, 1996, 1998) criticam a linha
de análise de Kuznets sobre a relação entre
crescimento e redução da pobreza. Com a análise de
diversos países podemos perceber que nem sempre
o crescimento econômico é bom para todos, muitas
vezes o que o crescimento faz é aumentar a
distância entre uma classe social e a outra. Em
muitos países os ricos se distanciam mais dos
pobres com o crescimento econômico.

8.2 Meritocracia, concorrência e


incentivos no capitalismo

Uma das grandes vantagens do modelo


capitalista pode ser reputada a “meritocracia” que
existe dentro de um modelo concorrencial. O que
mantém as empresas capitalistas “vivas” ou ativas é
o lucro, o lucro impulsiona tanto o microempresário
quanto as grandes corporações. As empresas
encarnam o desejo dos seus proprietários, o lucro é
a finalidade pelas quais as empresas capitalistas são
criadas. Como muitos homens possuem o mesmo
desejo, ou seja, visam o lucro, a concorrência é o
caminho natural. É verdade que a concorrência não

121
é perfeita e em muitos setores ela passa longe da
perfeição, temos setores oligopolistas, monopolistas
etc.
A meritocracia foi pregada por muitos desde a
antiguidade, da China de Confúcio à Grécia de
Platão; de Gengis Khan à Napoleão. Apesar de
algumas preocupações como as de Michael Young
em seu livro “Rise of the Meritocracy” (YOUNG,
1959), a maioria das pessoas sensatas admite que
premiar as pessoas pelos seus méritos é mais
produtivo do que premiá-las por outros critérios
arbitrários, tais como hereditariedade, raça, força
física etc. Não restam dúvidas de que em modelos
de economia baseados em critérios diferentes o
desenvolvimento econômico não é o mesmo. Desta
forma temos o exemplo do modelo de economia
feudal que premiava os nobres de nascimento, com
isso séculos se passaram sem que as rendas e a
tecnologia evoluíssem.
A concorrência no capitalismo e a seleção natural
de Darwin ocorrem de forma similar ao permitir a
contínua existência das empresas bem-sucedidas e
extinguir as empresas que perdem a concorrência e
não conseguem dar lucros aos seus proprietários. De
fato, como lembra Stanley Brue, o próprio Charles
R. Darwin inspirou-se na visão econômica de
Thomas Malthus para elaborar suas teorias sobre a
“seleção natural” (BRUE, 2006, p. 174-175). As
empresas concorrem entre si por suas respectivas
parcelas no mercado, a livre concorrência gera uma
tendência de aperfeiçoamento dos produtos e
serviços para se alcançar a vontade dos

122
consumidores e com isso vencer a concorrência.
Pequenos empresários com boas ideias, disposição
para o trabalho e capital para investir podem
encontrar o seu lugar no mercado e auferir os seus
tão desejados lucros. As grandes empresas são
menos dependentes dos esforços dos seus
proprietários, pois possuem condições materiais
para pagar por profissionais voltados a terem ideias
e colocá-las em prática. Nas grandes empresas os
méritos dos proprietários são algo secundário, mas
ainda assim o mérito é valorizado, só que neste caso
é o mérito ou demérito dos funcionários que são
punidos ou premiados. Essa “seleção social”
diferencia os rendimentos dos cidadãos em cada
setor, de um lado os bem-sucedidos que pela força
das circunstâncias conseguem obter maiores ganhos
e do outro lado as pessoas que fizeram más escolhas
ou que simplesmente não foram agraciados pela
boa-sorte, como a da herança afortunada, beleza
física ou Q.I elevado.
A descentralização da economia provou ter
vantagens em relação a sua opositora, a teoria do
planejamento econômico. A economia planejada
dificilmente conseguiria incentivar o melhoramento
de produtos e serviços como a economia
descentralizada consegue. Nem mesmo a melhor
das mentes poderia sozinha ou com poucas aliadas
fazer o que milhões podem fazer ao se especializar
em seus setores de trabalho. No capitalismo a busca
pelos ganhos não se restringe aos proprietários, os
empregados possuem a sua própria forma de
aumentar os seus rendimentos. Assim a corrida pela

123
eficiência não se limita aos proprietários dos meios
de produção, até mesmo os empregados “lutam” por
melhores salários. O empregado pode se mover de
uma empresa para a concorrente que lhe ofereça
melhores condições, pode estudar para se qualificar
ou buscar salários mais favoráveis e mais
compatíveis com a sua experiência e produtividade.
Com todos os setores da sociedade na “guerra” pela
eficiência e produtividade a tendência é que os
padrões e técnica melhorem, essa é uma grande
vantagem do capitalismo.
O mesmo conceito darwinista que assegura
que só os mais aptos sobrevivem permite que a
economia capitalista seja a economia da excelência
por causa das próprias leis do mercado. São os
consumidores que elegem os melhores fornecedores
de bens e serviços, sejam preços, qualidade,
logística ou outro fator qualquer, no final quem
atender de forma mais apropriada ao consumidor
sairá vitorioso, excetuando-se os casos de
monopólio, oligopólio ou semelhantes. Essa
condição torna o capitalismo um sistema que
garante o constante aperfeiçoamento técnico e
qualitativo dos itens presentes no mercado, mas
também garante o diálogo com os consumidores,
desta forma os produtos tendem a corresponder aos
anseios e possibilidades dos consumidores.
Quanto a estas evidências não existem grandes
dúvidas nem críticas, a concorrência e os diferentes
ganhos de acordo com os méritos são o grande
trunfo do capitalismo. Entretanto os setores mais
frágeis da sociedade sempre querem mais

124
igualdade. O sistema capitalista realmente beneficia
muitos, porém os “renegados” também querem a
mesma qualidade de vida dos bem-sucedidos e
vencedores da “seleção social”.
Entramos em um dilema, pois a igualdade
representa o tipo de produção econômica que não
premia e nem pune a produtividade e a
improdutividade. Os defensores do “welfare state”,
bem como os defensores da social-democracia e
outros representantes da esquerda buscam a máxima
igualdade entre os cidadãos, mas se todos
receberem a mesma faixa de renda, como alguns
países nórdicos já estão se aproximando disso, a
desigualdade que é a grande vantagem do
capitalismo acabaria por desaparecer. Neste caso,
ainda não temos dados para saber se os incentivos
para a constante evolução técnica reduziria e levaria
a sociedade a um marasmo com grandes períodos de
crescimento econômico baixo e desenvolvimento
tecnológico reduzido. Muitas das criticas ao
comunismo e socialismo é que eles aparentemente
não dão incentivos para as inovações, sejam
técnicas ou de ideias, pois os esforços individuais
não são recompensados da mesma forma que no
Estado capitalista. É justamente a recompensa, ou o
lucro, que incentiva os grandes esforços dos
capitalistas e seleciona pela concorrência os mais
adaptados.

125
8.3 Descentralização das decisões
administrativas e economia mercado

A economia de mercado funciona com decisões


descentralizadas, cada empresa concorre com outras
do mesmo segmento de mercado. A concorrência
permite que as melhores decisões superem as más
decisões. Empresas bem administradas prosperam e
empresas mal administradas entram em decadência
e falência. No planejamento central as decisões são
limitadas aos burocratas e o livre mercado é
substituído por monopólios estatais. Em todo
monopólio as más decisões e as boas decisões não
concorrem entre si, por isso não existe garantia de
que a boa decisão supere a má. Portanto a
produtividade tende a ser maior no sistema de
mercado com concorrência e decisões
descentralizadas do que no sistema de planejamento
central.
Quando as decisões são centralizadas em um
pequeno grupo, apenas as ideias de acordo com o
pensamento hegemônico são aceitas. A
descentralização na economia de mercado permite a
diversidade de opiniões. Várias empresas
competindo entre si permitem ideias novas
florescerem. Empreendimentos inovadores precisam
desta heterogeneidade das ideias.

9 Microeconomia

126
Alguns fatores motivadores da microeconomia já
foram tratados nos tópicos anteriores, assim como
fatores que representam dificuldades para os setores
da microeconomia, mas ainda assim podemos
ressaltar alguns pontos que nos serão úteis para a
comparação dos sistemas políticos e econômicos.
As políticas macroeconômicas podem ser adotadas
para regular ou incentivar os grandes grupos sociais
que formam a grande economia. A macroeconomia
se diferencia bastante da microeconomia quanto a
racionalidade e o controle humano. Os setores da
macroeconomia costumam se caracterizar por
englobar diversas instituições e empresas distintas.
Os dados estatísticos são muito utilizados para se
identificar o comportamento destes grandes grupos
econômicos que embora constituído de inúmeros
atuantes individuais podem ser observados em
bloco. Todos os estudos afirmam que as políticas
adotadas pelos Estados, mesmo que
macroeconômicas, podem exercer influencias sobre
as empresas correspondentes a microeconomia. O
comportamento da economia capitalista não é
racionalizado como na economia socialista e nem
mesmo o número total de variáveis pode ser
observado por estudos, mas muitos fatores
fundamentais da economia são objetos de estudo.
Como na economia capitalista a finalidade das
empresas é a mesma, ou seja, o lucro, podemos
presumir certas similaridades no comportamento do
conjunto das empresas ainda que cada uma delas
individualmente seja controlada por pessoas
diferentes e de forma independente.

127
A racionalidade na busca do lucro por parte de cada
empresa garante a existência da economia
capitalista e possibilita alguns tipos de observação e
previsão macroeconômica. Com isso podemos
relacionar macroeconomia com microeconomia. Na
economia de mercado as preocupações dos
empresários vão desde as relações com os
consumidores, preços da matéria prima e serviços,
rendimentos e lucro até as exigências
governamentais de impostos e regulamentações.
Certamente encontramos mesmo na microeconomia
variáveis impossíveis de serem colocadas em
cálculos, tais como as variáveis psicológicas e
fisiológicas. A publicidade, por exemplo, pode levar
o consumidor a desejar um produto mais caro
similar a outro de menor custo. Mesmo com tantas
variáveis encontramos raciocínios comuns aos
diversos dirigentes de empresas, dessa forma o
“Homo Economicus” utiliza da razão para alcançar
os seus objetivos e observa condições favoráveis ou
desfavoráveis, são essas condições que nos
interessam. Muitos fatores que contribuem para o
sucesso ou o fracasso das empresas podem ser
destacados para encontrarmos soluções para os
defeitos do sistema político-econômico. Muitos
estudos em microeconomia indicam que os
principais fatores que permitem o sucesso das
empresas na economia de mercado são poucos, já
que a maioria dos fatores são relativamente menos
importantes, esse é o motivo de ser possível estudar
a microeconomia. Se os infinitos fatores que
determinam o sucesso dos empreendimentos fossem

128
todos da mesma importância seria até mesmo
impossível racionalizar a atividade empresarial,
empreendimentos aleatórios teriam o mesmo nível
de sucesso que os negócios cuidadosamente
liderado pelo “Homo Economicus”. Sabemos que
existem empresas eficientes e empresas ineficientes,
também não precisamos de grandes esforços para
saber que não é a aleatoriedade que determina quais
se enquadram no grupo mais efetivo e quais se
enquadram no grupo menos efetivo. Tais fatores
principais buscaremos observar neste tópico.

9.1 Empresas pequenas e grandes,


liberdade e poder estratégico
Na economia de mercado do sistema capitalista a
maior parte das empresas de livre iniciativa são
unidades pequenas, muitas vezes de um só
proprietário ou família. Muitas dessas empresas não
passam de dez anos de operação, naturalmente se
forem criadas mais empresas do que as que têm as
suas atividades encerradas teremos crescimento do
número total de empresas. Além do
empreendedorismo da sociedade podemos destacar
que as evidências históricas e estatísticas indicam
que o crescimento econômico é um dos principais
fatores que permitem o crescimento das empresas,
quando vistas de forma geral. Muitas empresas
podem crescer mesmo com a economia em
recessão, no entanto quando observamos o total das
empresas poderemos notar valores recessivos. Desta
forma Paul Samuelson afirma que “À medida que

129
economia se desenvolve, podemos esperar um
contínuo excesso de nascimentos comerciais em
relação às mortes.” (SAMUELSON, 1970,p.118).
Mesmo em tempos de desenvolvimento econômico
as taxas de “fracasso” ou insucesso das pequenas
empresas são altas, mas em época de depressão da
economia tais empresas são violentamente
atingidas.
As micro e pequenas empresas possuem um papel
importante na maioria das economias capitalistas,
por outro lado não possuem o mesmo poder político
e estratégico que as empresa grandes e gigantes. As
grandes empresas centralizam em poucas mãos
somas enormes de riqueza, no sistema capitalista
riqueza implica em poder e capacidade de
influência política. Ao passo que as pequenas
empresas são muitas, porém desconectadas umas
das outras. A tecnologia e a própria infra-estrutura
das empresas grandes são estratégicas para a defesa
nacional em qualquer país. Além da defesa nacional
as grandes empresas contribuem muito para o poder
internacional dos países já que dão origem a grande
número de patentes internacionais que garantem um
tipo de superioridade tecnológica e na produção de
tecnologia em muitas áreas.
Tanto pequenas empresas quanto as grandes são
importantes na geração de novas tecnologias, bem
como na produção de riquezas. Sendo que nas
economias mais maduras a maior parcela da riqueza
nacional é gerada por empresas menores. Isso se
difere bastante do período da revolução industrial,
quando as grandes indústrias possuíam grande

130
preponderância. Outro fato importante é que
pequenas empresas não geram tanta desigualdade de
renda quanto as grandes empresas. Para tanto basta
observar que os grandes bilionários são donos de
grandes empresas, esse fato já foi demonstrado por
Lundberg (1937). O mesmo continua valendo para o
ano de 2016. De acordo com a revista Forbes entre
os maiores bilionários em 2016 estão os
proprietários das grandes empresas, por exemplo,
Bill Gates da Microsoft; Mark Zuckerberg do
Facebook; Carlos Slim da Telmex. Outros
bilionários que despontam entre os super-ricos do
mundo estão proprietários majoritários de outras
grandes empresas, tais como: L'Oreal, Walmart,
Google, Oracle Corporation, Amazon.com, Koch
Industries, Bloomberg L.P., Nike, Dell, BMW,
Apple, Disney, Red Bull, InBev (FORBES, 2016).
No final das contas o que temos é uma situação em
que as pequenas empresas contribuem mais que as
grandes empresas para a prosperidade do país,
porém possuem menor poder de influência política
do que elas.

No que se refere às empresas pequenas, podemos


afirmar que os donos possuem maior atuação na
empresa do que os proprietários das grandes
empresas. Seja na direção ou em outras áreas, os
pequenos burgueses se impenham em suas
empresas, em contraposição os grandes
proprietários delegam aos trabalhadores
assalariados tais funções. Assim como os
profissionais liberais, muitos dos pequenos

131
empresários preferem trabalhar por conta própria
mesmo existindo indícios de que os assalariados
trabalhem menos horas por semana que eles.
Como os pequenos empresários não conseguem ser
donos de monopólios e nem influenciar governos
para legislar em sua causa, existe entre eles um
maior apelo pela liberdade, livre concorrência e
quanto à iniciativa privada sem influência estatal.
Por outro lado, grandes empresas costumam buscar
alianças políticas, também buscam monopólios
sempre que possível. Por isso, grandes empresários
que alcançam essas condições são menos propensos
defender o livre mercado, preferem os monopólios e
oligopólios.

9.2 Diferenças entre os danos sociais e


materiais das empresas pequenas e das
maiores
Nas sociedades capitalistas a livre iniciativa permite
a formação e atividade de empresas de propriedade
individual, propriedade de grupos de pessoas ou
mesmo de propriedade de instituições. Lucro e risco
de prejuízos respectivamente são o bônus e o ônus
básicos das empresas capitalistas, além das relações
psicológicas, como questões de status etc. As
questões psicológicas e outras similares são de
menor importância para os objetivos deste trabalho
até mesmo por causa da sua grande subjetividade.
Outros temas são mais fáceis de serem
objetivamente identificados e resolvidos, tais como
os problemas advindos da influência social e

132
material. As empresas maiores se distinguem
bastante das menores em relação à influência social
e material que cada grupo alcança.
Alguns pontos podem ser destacados para tratarmos
de forma mais específica posteriormente:
1. Os proprietários de grandes empresas
possuem rendas muito maiores que os
cidadãos pobres, já os proprietários de
microempresas não possuem esta mesma
característica social. As grandes fortunas
estão normalmente relacionadas as grandes
empresas.
2. Os proprietários de grandes empresas
possuem maior poder de influencia política
do que os proprietários de empresas
menores. Essa influência dos grandes
proprietários do capital envolve questões
que já tratamos, tais como o poder de lobby,
domínio dos meios de produção de
conhecimento e de produção e transmissão
de informações. As evidências históricas de
influência na política externa, inclusive em
guerras por parte de grandes setores
empresariais. O poder político das grandes
empresas aumenta ainda mais com a
facilidade de união das mesmas, já que são
poucas e geralmente compartilham dos
mesmos interesses. Também se pode notar
que o apoio a partidos políticos por parte das
grandes empresas é muitas vezes
indispensável para que a opinião pública ou
a própria economia não sofra as

133
conseqüência de tanto poder. Os grupos de
interesse podem influenciar de forma
subreptícia, muitos dos grandes proprietários
podem exercer este papel e ser influentes
nos grupos de pressão. Tudo isso
desequilibra o poder político dos cidadãos,
dando mais poder a uma minoria de
proprietários do grande capital do que aos
demais cidadãos.
3. Além da influência política as grandes
empresas podem influenciar na formação de
opinião da sociedade. Noam Chomsky e
Edward S. Herman estudaram de forma bem
detalhada o poder de influência das grandes
empresas na produção de informações e na
formação de opinião na sociedade
(CHOMSKY; HERMAN, 2003). Nem mesmo
são necessárias conspirações para que a
vontade de alguns setores da classe rica seja
levada aos meios de comunicação e com
isso exerça influência sobre a opinião
pública. Para distorcer as informações e
fazer com que elas tendam para o lado das
grandes empresas podemos destacar
algumas condições: A propriedade dos
meios de comunicação pertencem as grandes
empresas capitalistas em muitos países;
grande parte do meio de comunicação são
financiados pelas grandes empresas, já que
dependem da publicidade paga pelas
grandes empresas; os meios de comunicação
dependem bastante das fontes de informação

134
oriunda das grandes empresas; os grupos de
pressão podem influenciar as notícias, caso
sejam opostas aos seus interesses. Isso
permite às classes ricas e as grandes
empresas terem um canal constante entre os
fatos, a interpretação dos fatos e versões dos
mesmos. A escolha dos temas que são
discutidos com maior ou menor intensidade
não decorrem necessariamente do real
interesse público, muitas vezes decorrem
dos interesses de classe e das grandes
empresas. Ainda que o objetivo das
principais corporações dos meios de
comunicação não seja lesar a sociedade,
muitas vezes elas criam um consenso
ideológico que só interessa a classe rica e as
grandes empresas. A grande influência das
grandes empresas na ideologia da sociedade
não possui nenhum fundamento ético,
portanto não deve ser tratada como se fosse
insignificante ou mesmo positiva. Muitas
vezes pode ser negativa.
4. Empresas maiores podem ser detentoras de
tecnologia e infra-estrutura de grande valor
estratégico para a defesa nacional e para o
desenvolvimento nacional. Desta forma,
grandes empresas não engajadas nos
interesses econômicos, sociais ou da defesa
nacional são potencialmente mais nocivas
do que empresas com interesses diversos dos
sociais que sejam pequenas. Isto significa
que empresas menores com atuação antiética

135
são menos lesivas para a sociedade do que
empresas grandes com atuação antiética. Se
o interesse empresarial for apenas o lucro e a
empresa detiver tecnologia de valor
estratégico, pode ser coerente que o Estado
supervisione a atuação desta empresa, como
de fato ocorre em muitos países. O
desenvolvimento do país pode receber
grande contribuição de grandes empresas, o
contrário também é possível. Muitas
empresas multinacionais exploram o
mercado consumidor dos países pobres sem
que em muitas vezes deixe contribuições
positivas em contrapartida. Algumas
empresas podem inibir ou mesmo reduzir a
industrialização de alguns países, e com isso
reduzir as perspectivas de desenvolvimento
de alguns setores da economia. Atualmente
é comum a crítica de que a concorrência no
mercado internacional está
“desindustrializando” muitos países que não
possuem as mesmas vantagens competitivas
que outros.
5. Os monopólios e oligopólios que tanto
prejudicam os ideais de concorrência
perfeita somente ocorrem tendo grandes
empresas como precursoras. Ainda que a
concorrência perfeita possa parecer utópica
a maioria dos estudiosos concordam em
muitos males advindos do monopólio,
oligopólio, cartéis ou trustes. Tanto que
muitos países aprovaram leis para prevenir

136
os efeitos lesivos destas formas de atuação
na economia. Os monopólios, as fusões de
grandes empresas, bem como a simples
coligação com o intuito de adotar estratégias
comuns para dominar os preços de qualquer
setor da economia não são incomuns entre
as grandes empresas. O mesmo seria muito
difícil para as empresas pequenas já que as
mesmas são tão pulverizadas na economia
que exigiria uma organização e mobilização
de grandes proporções. Os efeitos deletérios
dos monopólios e oligopólios não se
restringem a manipulação dos preços,
também atuam como opositores dos
aspectos positivos do sistema capitalista, tais
como os que já tratamos no tópico:
“Algumas vantagens do capitalismo
atual”. Podemos destacar que tais domínios
antiéticos do mercado levam a redução do
desenvolvimento tecnológico dos setores em
questão, restrição na possibilidade de
entrada de novos grupos ou pessoas no
ramo, a própria evolução econômica
característica do capitalismo que se
beneficia das virtudes da seleção
meritocrática originada da concorrência
tende a ser inversa já que a concorrência é
abolida. Este problema causado pelo regime
de monopólio é de grande importância e
exige um grande exercício de abstração
devido ao fato de ser subjuntivo a diversos
fatores imprevisíveis, porém lógicos em suas

137
relações de causalidade. O monopólio
desestimula os esforços de melhoramento de
produto e serviço, a maioria dos esforços são
orientados para a redução de custos, isso
gera tendências de depreciação salarial. A
conseqüente ineficiência faz com que a
economia perca potencial de
desenvolvimento, com isso todos perdem.
A opinião de Paul Samuelson
(SAMUELSON, 1970, p. 141), é valida para
ilustrar a questão: “Em regime de
concorrência perfeita, os recursos
monetários são atraídos para a produção dos
artigos que o público mais deseja comprar.
O mais eficiente conhecimento técnico e a
combinação econômica da terra, do trabalho
e do capital são provocados pela implacável
concorrência darwiniana.” Em seguida
Samuelson enumera cinco grandes
malefícios causados pelos abusos
monopolísticos e similares. Um destes
problemas citados por ele é a possibilidade
de ganhos superiores aos correspondentes às
mesmas instalações se a concorrência fosse
perfeita; o segundo problema já tratamos
aqui, se refere a redução do estímulo para
aplicação de inovações e inovações técnicas,
além do monopolista estar protegido de
estratégias de mercado de rivais, o que não
ocorreria se houvessem concorrentes; o
terceiro inconveniente tratado por
Samuelson se refere a possibilidade dos

138
preços monopolistas serem mais elevados do
que os custos mínimos no mercado
competitivo e a tendência de produção
menor do que num sistema competitivo; o
quarto problema trata da distorção do
emprego dos recursos por conta da produção
demasiadamente baixa no regime
monopolista e suas conseqüências, como o
problema de que uma mesma quantidade de
horas de trabalho poderia comprar mais
produtos se o regime fosse de maior
concorrência do que pode comprar em
regimes de monopólio; O último problema
apontado por Samuelson é o fato de o
monopólio poder levar a uma situação em
que todos perdem até mesmo os
monopolistas já que a demanda pelos
produtos ou serviços dos monopolistas pode
reduzir ou migrar para outros fornecedores.
De fato o potencial lesivo dos monopólios
são muitos.
6. A estratificação das condições sociais que
garantem riqueza extrema para uns e
pobreza para outros é estimulada pelas
grandes propriedades empresariais, pois a
herança de milhões em ativos é garantida
pela propriedade das grandes corporações.
As opiniões sobre as virtudes do sistema
capitalista normalmente relacionam este
sistema econômico com a justiça de
rendimentos referentes às conquistas do
trabalho individual, por outro lado a herança

139
de imensas fortunas e de poderosos meios de
produção em nada se adequam a esse ideal
de justiça meritória. Com esse modelo o
sistema contradiz a si próprio porque
pessoas não produtivas podem herdar
riquezas e rendas imensamente superiores as
da maioria da população produtiva. Com
alguns cidadãos já iniciando a sua vida no
topo da pirâmide a igualdade de condições
para a obtenção e realização dos desígnios
individuais fica muito distante das condições
ideais e perspectivas de vida são muito
diferentes no seio da mesma sociedade.
7. Muitas grandes empresas possuem grande
potencial de destruição do meio ambiente. A
emissão de gases e substâncias danosas ao
meio ambiente foi comum no decorrer da
história desde o início da era industrial e o
papel dos grandes empreendimentos quanto
a estes danos ambientais foi enorme. O
conjunto das empresas pequenas possui
grande potencial quanto a alguns tipos de
alteração do meio ambiente porque o
número total das empresas menores é
gigantesco no mundo, entretanto podemos
destacar que muitos tipos de prejuízo ao
meio ambiente somente são possíveis por
meio de grandes corporações que
manipulam enormes quantidades de
substancias químicas. Muitos Estados
tentam responsabilizar estas empresas,
muitas leis existem nesse sentido, mas ainda

140
assim o objetivo final das empresas
capitalistas é o lucro, portanto as atitudes
somente são tomadas se houver interesse em
lucro (seja perda ou ganho) ou se as leis
forem capazes de comprometer outros
interesses individuais, tais como a perda de
liberdade na lei penal. Quando os dirigentes
das empresas não possuem engajamento nas
questões ambientais eles podem fazer tudo
possível para lucrar mesmo que causem
danos irreparáveis ao meio ambiente, se
puderem fazer isso sem sofrer
conseqüências legais ou outras eles farão
como sempre fizeram. Muitas vezes o
grande poder político ou econômico das
grandes empresas facilita a impunidade
quanto aos crimes e danos ambientais, neste
caso mais uma vez entramos na questão do
poder político-econômico natural das
grandes propriedades privadas capazes de
manter o lucro em lugar dos interesses
públicos.
8. O grande problema citado na última questão
revela que os grupos de interesse formados
pelas grandes empresas de propriedade
privada não podem corromper apenas a
orientação das políticas públicas e privadas,
mas também podem afetar a execução das
mesmas. O grande poder político e
econômico se reflete na força de coação para
que a legislação existente no país não possa
afetar ou ser aplicada da forma devida aos

141
detentores de tanto poder de influência. Nos
países normalmente as instituições policiais
são controladas e se remetem ao poder
público representado por políticos, estes
últimos sofrem a pressão dos grupos de
interesse do grande capital. Tanto nos países
democráticos quanto nos regimes
autoritários os detentores ou representantes
do grande capital possuem poder econômico
e político suficiente para influir também nos
órgãos burocráticos que sejam dirigidos por
políticos que estejam sob a área de
influência de tais grupos.
9. Grandes empresas possuem capacidade de
corrupção infinitamente maior que a das
empresas pequenas. Inúmeros casos de
corrupção envolvendo vultosas quantias em
dinheiro surgem constantemente e inúmeros
outros casos ficam velados pelo grande
poder destas empresas. A corrupção é
particularmente danosa à sociedade porque
desvirtua os setores da administração
pública. Este problema afeta as receitas do
Estado, além de privilegiar as empresas
envolvidas de várias formas. Os cofres
públicos são afetados por este problema e
pelo próximo que citaremos a seguir.
10. Grandes empresas possuem maior potencial
de ganhos irregulares do que empresas
pequenas, isso é devido principalmente a
diferença e a superioridade das quantias
movimentadas por umas e outras. Vale

142
ressaltar que não tratamos de valores
absolutos somando-se o total de grandes
empresas e pequenas e sim a capacidade de
empresas fazerem ganhos irregulares por
unidade empresarial. O recente caso da
Enron mostrou como as fraudes contábeis
permitem a sonegação de verdadeiras
fortunas por parte das grandes empresas. A
Enron foi uma das maiores empresas norte-
americanas e foi também um caso
emblemático que mostrou como estes
problemas são imperceptíveis ao longo de
muito tempo.
11. Grandes empresas podem causar danos à
sociedade superiores aos causados por
pequenas empresas nos casos de más
intenções ou ações simplesmente em
contraste com os interesses públicos. O
referido caso da Enron pode ilustrar mais
este problema, esta empresa foi acusada de
fazer uso de aquisições de outras empresas
para transferir os riscos e maximizar os
lucros de umas empresas, além de manter
alto os créditos e valores acionários para
manter a contínua aquisição de empresas
que realimentavam o sistema. Este tipo de
procedimento acaba destorcendo os
fundamentos do capitalismo, já que no
capitalismo os riscos são exatamente a
contrapartida das possibilidades de lucro.
Transferir o risco para outras empresas
equivaleria a somente receber o bônus sem

143
aceitar o ônus, isso configura grande
injustiça em relação aos demais cidadãos.
Uma ex-funcionária da Enron, Sherron
Watkins (SWARTZ; WATKINS, 2003), critica
alguns problemas da cultura corporativa
norte-americana. Em empresas como estas
com mais de vinte e um mil funcionários os
danos às famílias são enormes e pode
destruir todo o esforço pessoal da vida
inteira de muitas destas pessoas. Os casos de
fraude, conspiração e irregularidades
comerciais das grandes empresas podem
prejudicar muito mais pessoas do que das
pequenas empresas. Além dos funcionários
prejudicados nestes casos, também são
prejudicados os inúmeros clientes,
fornecedores, acionistas e toda a vida social
do entorno já que na economia as grandes
somas de recursos influenciam diversos
setores da sociedade direta ou indiretamente.
É difícil portanto dimensionar o problema
total gerado por fraudes como a da
gigantesca Worldcom. Todo o sistema
econômico pode se desestabilizar.

9.3 Diferenças de funcionamento e


competitividade de empresas grandes e
pequenas
A escola clássica de economia nos alude ao fato de
que o HomoEconomicus raciocina para alcançar o
maior benefício com o menor esforço. Na economia

144
capitalista isso significa que o HomoEconomicus
tende a buscar o máximo lucro com o mínimo
esforço. Quando não existe monopólio ou
oligopólio os esforços pessoais caminham no
sentido de vencer a concorrência, para isso pode ser
introduzida todo tipo de novos métodos, produtos,
serviços etc.
O funcionamento das empresas é diferente em cada
sistema político-econômico. No sistema capitalista
o lucro é a finalidade principal na ideologia das
empresas apesar de também existirem empresas sem
fins lucrativos. No capitalismo estratégias para se
alcançar o objetivo de lucro das empresas são tantas
quanto o número de empresas que existirem, pois
não há planejamento central, cada empresa adota a
sua estratégia. No socialismo o objetivo das
organizações produtoras de bens e serviços são os
predefinidos pelo governo e os procedimentos e
atuação são orientados ou dirigidos por instituições
públicas. As empresas grandes e pequenas
funcionam de maneira bastante diferente, algumas
dessas diferenças são importantes para os objetivos
deste trabalho.
Nos diversos países as leis são diferentes, mas
alguns tipos de empresas são comuns na maioria
dos países. Em muitos países as micro e pequenas
empresas constituem maioria na economia e mesmo
entre as empresas pequenas normalmente as que
possuem até três pessoas empregadas dominam essa
categoria em muitos países. A. Gonçalves e S.
Koprowski citavam que no Brasil em um total
próximo de um milhão de empresas que empregam

145
até vinte pessoas, mais de oitenta por cento destas
empresas empregavam até três pessoas apenas e as
que empregavam mais de dez pessoas passavam por
pouco de um por cento do total (GONÇALVES;
KOPROWSKI, 1995). Estas empresas menores não
possuem “vida” média muito grande e poucas vezes
produzem para seus donos rendimentos maiores do
que os empregos de nível de educação superior.
Muitas vezes o proprietário trabalha muitas horas e
os riscos do negócio não compensam os pequenos
lucros, por isso muitos proprietários largam estas
empresas assim que conseguem um emprego estável
melhor. O esforço pessoal e familiar é tão grande se
comparado aos melhores empregos oferecidos nas
mesmas sociedades que Samuelson chega a
perguntar se alguém em seu passeio dominical
nunca teve pena de um desses escravos do trabalho
(SAMUELSON, 1970) . Os pequenos proprietários
se distinguem tanto dos grandes proprietários que
de forma alguma podemos chamar a estes primeiros
de exploradores, ao passo que muitos dos grandes
proprietários podem ser enquadrados de diversas
formas na classe dos exploradores, classe essa tão
comum em nossa história. As menores empresas
costumam ser administradas pelos seus
proprietários, por isso o seu sucesso ou fracasso tem
uma ligação forte com a capacidade do proprietário.
Como veremos a seguir o mesmo não ocorre nas
empresas maiores.
Muitas empresas pequenas possuem
responsabilidade ilimitada quanto aos bens do
proprietário. O risco ilimitado é muito alto para

146
muitas pessoas que não querem comprometer os
seus bens familiares, por isto muitos Estados
permitem a responsabilidade limitada das empresas.
Paul Samuelson acreditava que a sociedade se
beneficia dos bens, riquezas, tecnologia etc. e por
isso permite a criação de empresas e pessoas
jurídicas que não ameacem os bens dos
proprietários (SAMUELSON, 1970). Temos
diversas formas de organização das empresas e
pessoas jurídicas empresariais, elas podem ser de
responsabilidade limitada, podem ser sociedades,
entre outras. Um tipo de empresa que ganhou muita
força no sistema capitalista foi a sociedade baseada
em ações, este tipo de empresa cresceu muito
porque adota uma forma de financiamento para os
seus investimentos sem que precise pagar altas
taxas de juros para as instituições financeiras. A
outra vantagem da sociedade baseada em ações é a
responsabilidade limitada dos inúmeros sócios.
Levantar capital é uma das questões mais
importantes na escolha do tipo de empresa que será
escolhida em um sistema capitalista. A emissão de
títulos e acordos privados de pagamento muitas
vezes não propiciam a mesma flexibilidade da
emissão de ações porque esta última está associada
aos lucros da empresa e assim só pagam aos
acionistas na medida em que obtiver lucros. Neste
sentido as notas promissórias e a hipoteca não dão
tanta liberdade e oferecem maiores riscos aos
investidores. A escolha do modelo empresarial
possui esta ligação estreita com a forma de
financiamento da estrutura e operação da empresa.

147
Nenhum capitalista optaria por dividir os seus
lucros se não estivesse também dividindo os riscos e
facilitando a obtenção de fontes de capital. Podemos
concluir que resolvendo a questão do financiamento
já temos a solução de um dos problemas mais
relevantes para a constituição e funcionamento da
grande empresa.
A outra grande questão ao lidarmos com empresas,
sejam grandes ou pequenas, é quanto a
administração. Toda empresa precisa de direção, a
orientação dos negócios e do funcionamento das
empresas dependem da liderança de uma ou mais
pessoas, ou mesmo da participação dos
funcionários, clientes e outros em uma espécie de
governança corporativa. Como vimos anteriormente
as pequenas empresas costumam ser administradas
pelos proprietários, o mesmo não é regra nas
empresas maiores, as empresas maiores costumam
ter direção dissociada do controle da propriedade da
empresa. Veremos esta condição mais
detalhadamente no próximo tópico.
Tendo capital para iniciar e para dar continuidade
nas atividades e tendo a direção da empresa definida
temos ainda outras diferenças entre as empresas
grandes e as menores. Os estudos estatísticos
indicam que os lucros aumentam com o tamanho
das empresas.
A grande ocorrência de fusões demonstram a
confiança das empresas de que ao se tornar maior a
empresa se consolida de diversas formas. Quando
duas ou mais empresas se fundem ou adquirem
outras e se tornam maiores que eram quando

148
isoladas elas podem obter diversas vantagens, tais
como:
1. Maior capacidade de barganha para negociar
com os fornecedores, isso decorre do
aumento da quantidade de compras que uma
empresa maior possui em relação as
menores e com isso podem exigir descontos
maiores nos negócios.
2. Junção de tecnologia e experiência das
empresas envolvidas na fusão.
3. Reagrupamento de funcionários, isso pode
significar a necessidade de menor número de
funcionários.
4. Redução dos custos de produção e operação
da empresa, a própria redução do quadro de
funcionários reduz outros custos como os
impostos e encargos sociais.
5. Possibilidade de elevar preços quando se
tornam detentoras de parte relevante em seus
nichos de mercado. Este caso pode se
relacionar com os problemas que já tratamos
sobre monopólio, oligopólio e semelhantes.
É claro que estes pontos acima citados não seguem
uma lei de necessidade, nem mesmo seguem a
ordem da numeração apresentada, mas são alguns
pontos presentes em muitos casos de fusão ou
aquisição de empresas. Muitas outras vantagens
podem ser obtidas com o processo de tornar a
empresa maior. Por tantos motivos podemos
concluir que empresas grandes possuem muitas
vantagens diante das pequenas. Existem críticos que
acreditam que empresas menores possuem maior

149
mobilidade por possuir menor estrutura e porque
muitas vezes a direção da empresa depende de
menos pessoas, mas esta não é exatamente uma
vantagem da empresa menor, é uma questão de
organização e administração. É certo que em muitas
condições as empresas maiores possuem mais
vantagens que as menores. Mesmo em setores em
que o capital inicial seja menos importante para o
sucesso da empresa do que a ideia e conhecimento
técnico, como o setor de internet e informática,
ainda nestes casos vemos que as grandes empresas e
o grande capital adquirem as novas empresas tão
logo elas se destaquem.
Outra diferença que dá maior competitividade para
as grandes empresas em relação às menores é a
capacidade de investimento. A capacidade
financeira das grandes empresas, com todo o seu
imenso potencial de crédito e de emissão de títulos,
garantem que qualquer oportunidade de negócio que
possa estar entre a grande empresa e a empresa
menor será abarcada pela empresa maior. Podemos
ilustrar esta disparidade de diversas formas, por
exemplo, se duas empresas, uma muito grande e
uma muito pequena, encontram um terreno com
potencial para a exploração petrolífera,
naturalmente a disputa tenderá para a empresa
grande que poderá pagar valores mais altos ao
proprietário do terreno para um possível
arrendamento. O proprietário do terreno quer a
maior soma de dinheiro possível e a empresa que
mais pode pagar é normalmente a grande empresa.
Esta situação, além de outros problemas oriundos da

150
grande empresa, levaram uma única empresa, a
Standard Oil, a dominar todo o setor de petróleo nos
EUA durante um bom tempo. A famosa história de
John D. Rockefeller e da Standard Oil foi
emblemática e inclusive influenciou a criação de
leis para evitar a repetição de casos grotescos como
estes.
Edith Penrose considera que empresas maiores
possuem certas vantagens quanto a empresas
menores em setores da economia em que sejam
necessários amplos investimentos iniciais de capital.
Grandes produtores já possuem escala suficiente de
produção para reduzir seus custos de modo a
inviabilizar a entrada de novos competidores e de
empresas menores. (PENROSE, 2006. P.347).
Podemos concluir que a grandeza da empresa altera
os padrões competitivos diante das menores.

9.4 Dissociação entre controle e direção


na empresa grande
Como já vimos anteriormente na empresa menor os
proprietários normalmente exercem as principais
funções administrativas, portanto o sucesso ou
fracasso das mesmas estão bastante ligados a
capacidade dos proprietários e tino dos mesmos
para os negócios. Por outro lado as grandes
empresas normalmente possuem administradores
pagos exclusivamente para tal tarefa, estes
funcionários executivos não são normalmente os
grandes proprietários das empresas. Paul Samuelson

151
afirma que os acionistas são em número demasiado
para que se reúnam para a tomada de todas as
decisões, para tal preferem eleger uma diretoria de
forma similar ao eleitorado democrático
(SAMUELSON, 1970). Se levarmos em
consideração que os grandes proprietários de ações
muitas vezes possuem ações em diversas empresas,
então concluiremos que a atuação e fiscalização das
empresas em que são proprietários nem mesmo
podem ser feitas pessoalmente ainda que assim
desejassem. Muitos investidores do chamado
mercado de ações possuem ações em diversos
países, isso dificulta ainda mais a atuação destes
investidores e proprietários de ações.
De fato se analisarmos as grandes empresas
veremos uma dissociação entre o controle e a
direção das mesmas. A. A. Berle e Gardner C.
Means (BERLE; MEANS, 1968) em um trabalho
chamado “The modern Corporation and Private
Property” notaram esta tendência que de lá para cá
só aumentou. Paul Samuelson coloca a seguinte
nota para correlacionar alguns estudos do tema
sobre a tese de Berle e Means:
“(...) R. J. Larner, num estudo publicado na
American Economic Review em 1966, mostrou
que a tese Berle-Means sobre a separação de
propriedade e controle é ainda mais verdadeira
na década de 1960 do que em 1929: enquanto 6
das 200 maiores empresas eram de propriedade
privada (80 por cento ou mais das ações) em
1929, em 1963 não havia nenhuma;”
(SAMUELSON, 1970, p. 141)
Com a devida atualização dos dados percebemos
que as grandes empresas continuam sendo

152
administradas efetivamente por profissionais pagos
e não pelos proprietários. Ainda que os proprietários
utilizem outras pessoas para adotarem as suas
vontades por procuração é válido notar que nas
assembléias anuais não são tomadas as decisões
diárias e sim algumas questões de orientação e
fiscalização mais gerais.
Os verdadeiros administradores das empresas
grandes são os chamados por Paul Samuelson de
“administradores profissionais” e que ele próprio
associa ao “burocrata” (SAMUELSON, 1970).
Mesmo nas empresas que começaram pequenas e
com líderes que foram importantes para o
crescimento da empresa a tendência é deste
proprietário administrador ser substituído pelo
executivo profissional que na maioria das vezes foi
treinado especialmente para este trabalho. Esse é
um dos motivos do crescimento das escolas de
administração em todo o mundo, estas instituições
capacitam milhares de pessoas todos os anos para
poderem administrar com as técnicas mais
modernas e eficientes presentes no estado da arte.
Temos que levar em consideração que esse é mais
um fruto da separação do trabalho que tanto
contribuiu para o desenvolvimento das economias
capitalistas. José Paschoal Rossetti relata como a
diversidade de necessidades que acompanha uma
organização social complexa exige uma cada vez
maior especialização do trabalho (ROSSETTI, 2003).
A sociedade primitiva pode ser suficientemente
simples para que cada cidadão possa exercer a
maioria dos ofícios produtivos. Os produtos e a

153
cultura quando são relativamente simples não
demandam a especialização do trabalho porque não
é difícil para alguém conhecer todo o processo de
produção do bem. As sociedades primitivas tendiam
a dividir e especializar cada vez mais o trabalho
com a formação de grupos de guerreiros,
agricultores, sacerdotes etc. Muitos povos nômades
simplesmente colhiam os frutos com os quais se
alimentavam, já nas sociedades pós-industrializadas
os produtos são tão complexos que cada indivíduo
precisa dominar uma etapa da produção que muitas
exige anos de estudos. Engenheiros precisam
estudar mais quatro anos além dos anos de ensino
básico e o médico necessita de mais de sete anos.
Ainda quando o trabalho é relativamente mais
simples o processo de produção na economia de
mercado demanda a especialização porque a própria
carga horária de trabalho não permite a ocupação
em diversos cargos diferentes. Paul e Ronald
Wonnacott tratam da evolução da qualidade,
quantidade e outros benefícios advindos da divisão
e especialização do trabalho (WONNACOTT, 1994).
Eles mostram as diferenças entre os artesãos do
século XIX e as mudanças com a melhoria do
processo de produção e afirmam que a
especialização foi o que contribuiu para a maior
eficiência nos ganhos de produtividade. A evolução
dos meios de produção é acompanhada da constante
especialização do trabalho. O mesmo não tem
porque ser diferente quanto a direção das empresas,
se um dos maiores trunfos do capitalismo foi a
especialização do trabalho o mesmo é natural

154
quanto a eficiência das empresas. A maioria das
grandes empresas especializam os trabalhos em
cada cargo, mas também o fazem na direção das
empresas.
Nas grandes empresas os administradores acabam
formando uma categoria, a “tecnoestrutura”
funciona para Galbraith justamente com a
dissociação entre controle e gestão. Assim Rossetti
afirma que o poder decisório passa dos
controladores para a “tecnoestrutura”. Embora
tenhamos normalmente a gestão dos
administradores, as formas de gerir variam tanto
quanto o número de empresas (GALBRAITH,
1967;ROSSETTI, 2003).
No “Manifesto do partido comunista”, Marx e
Engels afirma que na sociedade burguesa os que
trabalham não ganham e os que ganham não
trabalham (MARX;ENGELS, 2009, P.62). Certamente
grande parte dos pequenos proprietários de
empresas também deixaria as suas empresas nas
mãos de administradores competentes para poderem
se dedicar a outras atividades e ao lazer, mas a
realidade da maioria das pequenas empresas impede
isto por falta de recursos. Os grandes proprietários
das grandes empresas não só não as administram de
fato como também recebem todos os benefícios dos
seus lucros sem nenhum esforço precisarem fazer.

9.5 O preço do sucesso


Nos modelos mais eficientes de capitalismo as
empresas privadas possuem liberdade para a tomada

155
de decisões que afetem as empresas. Quando
sindicatos, grevistas e outros grupos exercem
pressão sobre a administração da empresa, a
tendência é que o lucro seja afetado. Esse tipo de
pressão é especialmente danoso nas empresas
públicas dos países democráticos, pois os políticos
perdem popularidades ao negar as demandas dos
trabalhadores. Negar alguns anseios dos
trabalhadores é sempre uma medida impopular,
porém muitas vezes é o melhor para a prosperidade
da empresa.
A liberdade de decisão e ação é crucial para o
sucesso das empresas. A experiência nos mostra que
dificuldades na contratação e demissão de
funcionários por parte de empresas públicas causam
uma redução na competitividade em comparação
com as empresas privadas. Esse tipo de ineficiência
da empresa pública em relação à privada é que
muitos defendem que deve ser evitada para não se
perder as vantagens ou virtudes que existem no
sistema capitalista. A falta de flexibilidade na
direção das empresas arruinou diversas empresas
públicas pelo mundo afora. Se considerarmos que
buscamos os melhores administradores para gerirem
as empresas e não dermos a eles os poderes de
decisão incorreríamos em um contrassenso. Se
devêssemos controlar a atividade dos
administradores seria sim quanto a fiscalização para
evitar abusos e corrupção que possam envolver tais
funcionários. Se o Estado permite que a pressão de
funcionários organizados ou mesmo por lei a livre-
decisão da empresa pública seja impedida, então o

156
Estado deve arcar com as conseqüências e admitir
que não é a empresa que é ineficiente e nem os seus
administradores e sim o Estado é o maior culpado
por promover um ambiente hostil ao bom
funcionamento da empresa.

10 Outras questões de relevância


que envolvem as grandes
empresas.

10.1 Preços básicos da economia


As grandes empresas e indústrias dão boa parte da
base de preços na economia de mercado. Grandes
empresas exercem ampla influência na inflação e
poder de compra. Com estes preços básicos altos
por quaisquer motivos o poder aquisitivo da
população será menor, assim como o contrário
também afeta o poder aquisitivo só que de forma
oposta, ou seja, se os preços reduzirem, o poder de
compra da população consumidora será maior.

10.2 Concentração econômica


A concentração de partes do mercado nas “mãos”
das grandes empresas é uma realidade no mundo
capitalista. J. Kenneth Galbraith reafirma esta
condição em “American Capitalism” (GALBRAITH,
1952). Embora Galbraith defendesse que exista o
chamado “poder compensatório” como o dos

157
sindicatos, por exemplo, na verdade esse não é
produtivo, de fato, se compararmos estas empresas
com outras similares em países mais autoritários
que não tenham as mesmas garantias trabalhistas as
empresas nestes países terão inúmeras vantagens
competitivas.

10.3 Educação e a grande empresa


As grandes empresas absorvem uma boa parcela
dos profissionais preparados pelas melhores
instituições, portanto fazem uso do grande esforço
social para a formação de profissionais altamente
qualificados. Por um lado as grandes empresas se
beneficiam deste grande esforço coletivo para a
excelência técnica, mas por outro lado são
importantes para colocar esta aprimorada força de
trabalho em ação. Universitários que inicialmente
só possuem potencial produtivo, após o emprego se
tornam produtivas, de fato, para a sociedade. Além
de servirem a sociedade os empregos gerados por
estas empresas também servem as próprias pessoas
empregadas, que de outra forma estariam
subutilizando as suas capacidades. O retorno
salarial e de qualidade de vida que grandes
empresas podem fornecer quando o “mercado de
trabalho” reconhece o valor do profissional, são
potencialmente maiores que os oferecidos pelas
pequenas empresas.

158
11 Alguns problemas da social-
democracia
Não adianta taxar as grandes fortunas e nem
as grandes heranças porque assim que a lei esteja
próxima de ser assinada os ricos do país correm
com toda a sua riqueza para paraísos fiscais, os
ricos muitas vezes deixam de ter imóveis em seu
próprio país. Isso ocorreu com os ricos da França e
em outros países. Tudo isso parece ser inevitável.

*
Economias governadas pela social-democracia
apresentam baixos índices de crescimento
econômico. O excesso de intervenção Estatal
impede o dinamismo da economia. Excesso de
impostos reduz o lucro das empresas e por isso
reduz o nível de investimento na economia, assim
como o nível de atratividade econômica do país.
Para alguns pensadores como Frank Parkin o
modelo social-democrata é inconsistente em vários
aspectos (PARKIN, 1971).

*
O Estado deixa de ter como foco os problemas
fundamentais tradicionais como, segurança e ordem
e passa a atuar em todos os aspectos da vida dos
cidadãos. Essa é uma tendência, pois a democracia
faz com que os políticos prometam cada vez mais e
para tal tarefa são obrigados a aumentar ainda mais
o Estado. Outro problema é o da obrigação de

159
adesão aos sistemas públicos, como os
previdenciários que muitas vezes são ineficientes,
algumas pessoas gostariam de escolher por si
próprias o modelo previdenciário que melhor lhe
aprouver. Neste caso, muitas são as críticas às
instituições burocráticas que decidem o que é
melhor para a população, nesse sentido temos as
críticas racionais de Bobbio (BOBBIO, 1996, 1997).

12 Problemas de relevância na
democracia

12.1Aparelhamento político-partidário
O estudo de Robert Michels sobre os
problemas dos políticos, partidos políticos e a
democracia são relevantes para compreendermos as
dificuldades de mudança originadas da própria
democracia adotada pela maioria dos países. As
organizações complexas dos partidos são tratadas
por Michels, principalmente em seu livro publicado
com o título “A Sociological Study of the
Oligarchical Tendencies of Modern Democracy”
(MICHELS, 2001). A consolidação da classe política
e dos chamados “políticos profissionais” muitas
vezes gera o corporativismo similar ao da
burocracia, os políticos se tornam elite e passam a
defender os seus próprios interesses quando
deveriam tão somente defender os interesses dos
seus eleitores. Essas são tendências que ocorreram

160
nos países socialistas, mas que também são tão
freqüentes nos países capitalistas.
Os partidos políticos e os políticos que estão
constantemente no poder muitas vezes preferem
manter as condições políticas habituais que lhes são
favoráveis, com isso as reformas necessárias são
preteridas. A rotina é mais favorável a quem já está
no poder do que mudanças que possam acarretar em
alterações do cenário político. Mesmo os políticos
ou partidos de oposição quando se alternam no
poder muitas vezes cessam com o discurso por
mudanças e evitam rupturas com as políticas
vigentes.
Outro problema é que o discurso dos políticos
muitas vezes não corresponde com a prática. Max
Weber também tratou do tema da política como
profissão (WEBER, 2000). É possível notar a grande
semelhança entre a estrutura empresarial capitalista
e a estrutura político-partidária, onde os clientes são
os eleitores. Compreendendo estes problemas
poderemos evitar que a democracia impeça
mudanças que a própria sociedade queira.

161
Parte III

Mudar ou não?
Os sistemas atuais são cheios de contradições,
em muitos casos os políticos e dirigentes dos países
não observam os diversos aspectos da vida social
para optar entre uma ou outra política econômica ou
social. Alguns pensam que a economia é a ciência
maldita, mas é analisando os seus aspectos que
poderemos prover o que grande parte das pessoas
do mundo atual deseja. Como não há uma ciência
exata que possa nos garantir que políticas
deveremos adotar, no entanto a mesma razão que
nos faz progredir a produção econômica é tão capaz
quanto a razão que pode nos fazer melhorar o
sistema de governo, então podemos confiar nesta
razão tanto em um caso quanto em outro. Mesmo
quando a razão não é suficiente para garantir tudo o
que desejamos com a mudança de governo ainda
assim podemos voltar atrás como muitos países
socialistas fizeram. A experiência nos fez avançar
em muitos aspectos das nossas ciências e será a
experimentação que poderá nos dizer se a nossa
razão está correta ou equivocada. Ser conservador a
ponto de observar contradições e defeitos e ainda
assim nada fazer para mudar pode ser tão retrogrado
e indesejável quanto fazer escolhas “erradas”.

162
Muitos que criticam o comunismo como uma
forma ineficiente de geração de riquezas e por
possivelmente levar o país ao atraso tecnológico,
precisam compreender que um novo sistema melhor
pode significar o mesmo quanto ao capitalismo
atual. Em outras palavras poderíamos dizer que o
capitalismo pode ser ineficiente na geração de
riquezas e levar ao atraso tecnológico se comparado
a formas alternativas de orientação
socioeconômicas. Para tanto só saberemos se
ousarmos aplicar as alternativas.

Opções individuais e sociais


Muitas pessoas podem discordar do estilo de
vida levado nas economias de mercado. Alguns até
mesmo se questionam se o estilo de vida
denominado primitivo não era melhor em muitos
aspectos aos nossos, esta foi a reflexão de
Montaigne em seus “Ensaios”. Quando Montaigne
entrou em contato com a cultura dos indígenas
canibais da antiga França Antártica, em que hoje se
situa o Rio de Janeiro no Brasil, relata de forma
irônica muitos dos valores daqueles povos indígenas
que para ele nada tinham de bárbaros ou selvagens.
Para um homem culto do Velho-mundo como
Montaigne a surpresa ao refletir sobre aquele
“mundo novo” o inspiraram a escrever algumas
palavras instigantes:
“... É uma nação na qual não há nenhuma espécie
de tráfico, nenhum conhecimento das letras, nenhuma
ciência dos números, nem nomes de magistrados, nem

163
superioridade política, nem o costume de servir, nem a
riqueza ou pobreza, nem contratos, herança, partilhas,
ocupações que não sejam de ociosidade, nem excessivo
respeito de parentesco, roupas, agricultura uso do vinho
ou do trigo. Até as palavras que significam mentira,
traição, dissimulação, avareza, inveja, detração perdão,
são aí desconhecidas...” (MONTAIGNE, 2000).
Muitas são as formas de vida social possíveis,
afirmar a superioridade de uma ou outra não é
possível por existirem muitos fatores em cada uma,
só o que podemos é optar pela que pensamos ser
melhor para nós de acordo com os nossos valores e
vontades. Marshall Sahlins leva em consideração as
sociedades da “Idade da Pedra” e outras sociedades
em comparação com a sociedade capitalista
moderna e chega a diversas conclusões intrigantes.
Quando Sahlins trata da primeira sociedade da
afluência algumas reflexões e dados nos levam a
crer que as sociedades dos caçadores e coletores
muitas vezes possuíam mais tempo para o lazer, ou
seja, eram menos “escravas do trabalho” do que a
grande massa do sistema capitalista atual. Para
Sahlins é mais fácil encontrar fome hoje do que na
Idade da Pedra. As necessidades dos povos
caçadores e coletores eram mais facilmente supridas
do que a dos cidadãos das sociedades capitalistas
atuais (SAHLINS, 1972). Podemos levar em
consideração o pensamento de Marx de que em
nações pobres o povo não tem necessidades. As
“necessidades” do homem civilizado
contemporâneo crescem junto da complexidade
cultural e econômica, por isso exigem cada vez
mais esforços sociais e pessoais para alcançá-las

164
(MARX,2002,2009). A escolha e adoção do sistema
político-econômico deve observar estas
contradições, depois de fazer isso ficará mais claro
para cada cidadão o que se quer e o que se pretende
evitar ao defender “políticas sócio-econômicas”.
Existem muitas propostas anarquistas, liberais,
socialistas, comunistas etc. que agradam a alguns e
desagradam a tantos outros. Podemos afirmar que
muitas pessoas apreciam o sistema capitalista e os
benefícios inerentes a este modelo econômico,
entretanto muitas críticas como as que já vimos
anteriormente subsistem e nos impelem a melhorar
no que pudermos no sentido de torná-lo mais ético,
justo e democrático. Talvez maximizar os
benefícios materiais e culturais também seja
importante para muitas pessoas que vivem sob a
tutela de sistemas contraditórios que geram grandes
riquezas para uns e miséria e exploração para
outros. Então talvez além desses itens a escolha
recaia sobre um sistema que possua as
características da inovação tecnológica e
crescimento econômico do capitalismo, mas com a
equiparação de rendas e oportunidades vistas em
alguns países de orientação socialista. Neste
momento estamos chegando no perfil do cidadão
consciente e racional apto a defender posições
político-econômicas mais complexas que estejam de
acordo com as suas preferências, ambições e nível
de compreensão de problemas complexos.

165
Uma alternativa
O ser humano consciente da complexidade da
sua sociedade provavelmente vai ter menos
preconceitos com os tipos de relações sociais e vai
procurar onde estão os vícios e virtudes destas
relações para que possa ser o mais responsável
quanto puder. Encontrar os defeitos e virtudes
inerentes a cada sistema político-econômico é
importante para refletirmos sobre alternativas.
Interpretar a história não é fácil pela complexidade
de fatores com grande potencial de influência nos
resultados finais observados, mas a razão cuidadosa
nos permite afirmar com alguma segurança, como já
vimos, que algumas medidas são efetivas para
determinados resultados enquanto outras são
ineficientes para atingir tais resultados.
Como já vimos os principais sistemas político-
econômicos podemos agora passar para as soluções
alternativas. J. A. Schumpeter em seu livro
“Capitalismo, Socialismo e Democracia”
(SCHUMPETER,1984), afirma que o moderno
padrão de vida das massas evoluiu durante o
período de grandes negócios relativamente
desenfreados. Neste caso, talvez a estrutura das
grandes empresas e da economia de mercado
tenham favorecido às pessoas que se beneficiam
deste sistema econômico. Mesmo criando
“necessidades” e por mais que isso possa ser
discutido, muitas pessoas aceitam tais novas
“necessidades” e dedicam boa parte das suas vidas a
conquistá-las. As grandes empresas criam tanto
estas novas necessidades quanto ajudam a criar a

166
riqueza que a sociedade precisa para que cada
pessoa ou grupo possa saciar estas necessidades. As
grandes empresas, como já vimos, estão no limiar
das vantagens e desvantagens desta sociedade de
contradições denominada capitalista. A linha tênue
que separa os benefícios dos malefícios coloca a
grande empresa em uma das posições mais
delicadas do sistema capitalista. A grande empresa
pode gerar grandes benefícios sociais, assim como
pode desvirtuar todos os esforços sociais para
melhorar o sistema.
A percepção da posição delicada e conflitante da
grande empresa não é nova, podemos citar a opinião
valiosa de Paul Samuelson:
“Isso sugere que o problema futuro poderá não ser
escolher entre grandes empresas monopolísticas e
concorrentes de pequena produção, mas sim projetar
meios de melhorar a ação social e econômica de grandes
empresas. O objetivo a alcançar no futuro poderá ser o
de manter a capacidade tremendamente criadora da
moderna empresa de produção em massa, trabalhando
para o bem público.” (SAMUELSON, 1970, p.558-559).

Em conformidade com as virtudes e vícios


encontrados nos diversos sistemas político-
econômicos analisados, podemos estruturar e
conceber as diretrizes para um sistema
racionalmente coerente com as necessidades e
aspiração do novo homem que surge em uma
sociedade tão antiga que já passou por inúmeras
experiências de erros e acertos.
A economia de mercado possui potencial de
geração de benefícios sociais enormes, mas se as

167
grandes empresas podem gerar grandes
contradições e ainda assim gerar grandes benefícios,
então o que precisamos não é acabar com as
grandes empresas e sim minimizar as contradições
das mesmas.
Existem alguns inconvenientes em determinar
objetivos para as propriedade privadas, qualquer
imposição exige o uso da força, nem que seja o uso
da ameaça da mesma. Naturalmente a liberdade
sofre alguma restrição em qualquer tipo de
imposição, para que os objetivos da empresa
privada sejam diferentes dos atuais e ainda assim se
respeite a livre iniciativa individual seria necessária
a concordância do empreendedor, mas este mundo
de consciência social ainda não existe de fato.
Mesmo com grandes esforços sociais de
conscientização dos problemas e importância das
empresas, ainda assim não poderíamos garantir que
os empresários mudariam os seus objetivos de lucro
para outros objetivos que contribuiriam mais para
uma sociedade melhor e mais igualitária. Por outro
lado, proibir a iniciativa privada restringe tanto a
liberdade individual quanto determinar os objetivos
e a atuação dela. Neste caso, devemos pensar sobre
as opções que temos. A empresa pública é um tipo
de empresa que pode ter objetivos predeterminados
de acordo com os interesses da sociedade. As
empresas públicas existem hoje na maioria dos
países, mesmo os países de capitalismo mais
tradicional, como os EUA, possuem empresas
públicas. Os países socialistas possuem empresas

168
públicas, o que diferencia um sistema de outro é a
relação entre o Estado e as empresas.
Em vez de maximizar o lucro, ao contrário da
empresa privada, a empresa pública pode
maximizar a produção, a redução de preços ou
qualquer outra opção que seja da preferência
popular. Além dos objetivos da empresa, outra
questão que precisamos lidar é com a viabilidade da
empresa pública. A questão da viabilidade é de
extrema importância, pois como a história nos
mostrou, empresas públicas ineficientes são piores
para a população do que empresas privadas, isso
ocorre porque as empresas privadas não consomem
recursos públicos, já as empresas públicas
ineficientes geralmente demandam subsídios e
recursos que são retirados da própria população.
A empresa pública é uma empresa comunal
porque pertence a todos. A partir de agora vamos
nos referir à empresa pública que possui as
características descritas como pertencentes ao
modelo do Comunismo Empresarial de Mercado,
como empresa pública do CEM ou simplesmente
empresa comunal.
Se desejarmos, por exemplo, substituir as
grandes empresas capitalistas por estas empresas
comunais (empresas públicas do CEM) sem que
para isso tenhamos que impedir a iniciativa privada,
então devemos instituir empresas comunais mais
eficientes do que as empresas privadas justamente
em suas áreas de atuação que é a de geração de
receitas. Para a empresa comunal ter a eficiência da
empresa privada basta que ela possua as mesmas

169
características competitivas que são impostas pelo
mercado. Então podemos dizer que se trata de um
Comunismo empresarial de mercado, pois temos
empresas comunais funcionando com as estratégias
e regras de mercado. Ainda que a empresa comunal
funcionasse em tudo de forma similar as empresas
capitalistas ela diferiria em um ponto crucial, as
receitas não seriam denominadas lucro porque não
representam acréscimo na renda individual de
ninguém. Sem os exorbitantes lucros os grandes
problemas originados da propriedade e
desigualdade de renda tendem a ser minimizados, as
desigualdades originadas da faixa salarial não se
comparam com as desigualdades originadas do
lucro das grandes propriedades. Este comunismo
empresarial de mercado veremos a seguir mais
detalhadamente e contrastaremos suas vantagens e
desvantagens, além de compará-lo com os sistemas
atuais.

Comunismo Empresarial de
Mercado
Temos dois pontos importantes para melhor
compreender antes de prosseguir:
• As ideias liberais funcionam bem na
administração da empresa, por outro lado
geram as desigualdades que o socialismo
busca resolver. Além disso, desmotivam os

170
trabalhadores, pois eles se sentem
explorados e alienados, ao verem que o fruto
do seu trabalho vai para os donos do capital
que nem mesmo trabalham na empresa.
• A noção marxista de que o empregado
trabalharia mais motivado se soubesse que o
fruto do seu trabalho visa o bem comum
parece ser muito coerente. Porém no
comunismo marxista os trabalhadores
ganham de forma igual independente da sua
produtividade. Isso foi considerado por
vários autores como uma receita para o
fracasso de toda teoria a marxista.

Então temos dois conceitos que sozinhos não são


tão eficientes, mas juntos podem maximizar a
eficiência, não só das empresas, mas de todo o
sistema econômico. Podemos chamar esse conceito
de síntese liberal-comunista. Unimos basicamente
os dois pontos fortes de duas grandes teorias
econômicas:
1. Valorização meritocrática do funcionário de
acordo com a sua produtividade, similar à
empresa capitalista.
2. O funcionário sabe que o fruto do seu
esforço vai para o povo e não para donos do
capital pertencentes a uma casta de elite.

171
A primeira está na teoria liberal e a segunda está na
teoria marxista. Esta síntese liberal-comunista busca
o melhor de ambas.

Antes de ver pontualmente vamos tratar de


forma geral a nova estrutura econômica e de poder,
a questão da viabilidade também será tratada.
Vamos tratar “comunismo empresarial de
mercado” com a legenda: CEM; a sua conceituação
se baseia em todo o tratamento dado a esta forma de
orientação política presente neste trabalho.

Os grandes problemas políticos e sociais


estudados por gerações de economistas, cientistas
sociais, cientistas políticos, filósofos etc.
normalmente desembocam na questão da
propriedade privada. Nas economias capitalistas o
lucro geralmente é apontado por críticos como o
grande divisor dos grupos sociais. Até mesmo entre
os defensores do capitalismo existem muitos que
acreditam que os lucros exorbitantes, geralmente
ligados as grandes empresas, são no mínimo
desnecessários e constante motivo de tensões
sociais. As grandes empresas privadas estão no
cerne de todos estes problemas, para pessoas de
bom-senso, se estas grandes empresas fossem de
propriedade comum e não distribuíssem lucros para
um pequeno grupo de favorecidos pelas condições
sociais as relações sociais seriam muito mais
equilibradas.

172
Esta intuição que, a primeira vista, parece ser
uma opção natural na busca de soluções para os
problemas apresentados é, na verdade, mais do que
uma boa opção quando considerada cuidadosamente
os seus pormenores como faremos a seguir.
Partindo da percepção que a economia de
mercado não é de todo ruim, ela possui as suas
vantagens e desvantagens. De acordo com o que já
vimos até aqui podemos fazer uma série de
conclusões, entre elas:
1. As economias complexas são
dependentes das grandes empresas,
portanto não podemos prescindir delas
se desejamos manter o nível de
consumo e renda elevados.
2. As grandes empresas privadas são a
origem de grandes problemas e
contradições políticas, econômicas e
sociais.
3. As grandes empresas são auto-geridas
e não dependentes das capacidades dos
seus proprietários.
4. As receitas dos Estados são quase
sempre maiores do que as receitas das
grandes empresas privadas em seus
países, isso significa com algumas
reservas que existe capital para
instituir empresas concorrentes nos
moldes do CEM.
5. Grande parte da economia e dos
empregos se constituem de pequenos
negócios e empresas.

173
6. As pequenas empresas não geram
tantos problemas e contradições
quanto as grandes.
Nesta abordagem inicial podemos refletir
sobre a interação destes seis referenciais de acordo
com a proposta do CEM.
Em economias complexas, como as pós-
industriais, a necessidade das grandes empresas é
evidente já que a produção em massa não pode ser
realizada sem as grandes estruturas. Os menores
custos e a maior produtividade também dependem
das grandes estruturas empresariais. Desta forma, a
necessidade destas grandes estruturas de produção
são evidentes, além da produção já vimos os outros
benefícios da grande empresa anteriormente, muitos
destes benefícios são estratégicos para os países, por
isso mesmo são de grande importância. A geração
de tecnologia e a absorção de profissionais
qualificados pelas grandes empresas também não
podem ser negligenciadas. Até mesmo o nível
elevado de consumo e renda apresentados em
alguns países não seria possível sem a participação
das grandes empresas na geração de riquezas, além
da geração produtos e serviços para serem
consumidos. Tudo isso nos leva a consentir sobre a
necessidade de se ter grandes empresas no seio da
sociedade.
Mesmo sendo de grande importância para a
sociedade, as grandes empresas privadas são
poderosos geradores de desigualdade nas relações
sociais. As grandes propriedades distanciam a renda
das pessoas comuns da renda dos afortunados

174
herdeiros e detentores dos meios de produção, estes
últimos recebem os lucros enquanto os funcionários
das grandes empresas efetivamente trabalham para
gerar tais lucros. Essa relação, que é descrita por
muitos como uma relação entre explorador e
explorado, permite a quem tem todo o trabalho de
gerar o lucro ficar alheio a ele e os proprietários não
precisam de esforço algum para perceber os
resultados de tanto esforço despendido. Temos que
ressaltar que existe uma grande diferença entre a
grande empresa e as empresas menores porque estas
últimas geralmente dependem dos esforços dos seus
proprietários. Tudo isso já vimos anteriormente,
outra questão que vimos foi que as desigualdades
econômicas são apenas uma das facetas das
desigualdades oriundas das grandes empresas
privadas. Outras desigualdades relacionadas a
grande empresa privada vão desde as discrepâncias
no poder político até a diferença na capacidade de
controlar setores do mercado, e com isso ter
vantagens contra a concorrência das pequenas
empresas de iniciativa privada. A fragilidade do
pequeno empresário diante do grande distorce as
relações que muitos defensores do capitalismo
apresentam como éticas. De fato a concorrência
nunca é perfeita quando uma ou mais empresas
possuem grande parte do mercado em que atuam, as
empresas menores quase sempre saem prejudicadas.
Outros problemas referentes às grandes empresas
privadas já foram expostas anteriormente,
principalmente nos tópicos denominados:
Diferenças entre os danos sociais e materiais das

175
empresas pequenas e das maiores e Diferenças
de funcionamento e competitividade de empresas
grandes e pequenas.
Como já vimos, nas grandes empresas
predominam a “autogestão”, ou seja, elas não
dependem dos proprietários para funcionarem e
alcançarem o sucesso no mercado. Com isso, uma
das grandes vantagens do sistema capitalista que é
referente ao tino comercial e capacidade de criação
dos proprietários movidos pela intenção de obter
lucro deixa de ter influência no que tange às
grandes empresas. Esta referida capacidade, que
muitos autores tratam como sendo essencial para a
dinâmica e desenvolvimento econômico no sistema
capitalista, apenas continuam efetivas nas empresas
menores e dependentes das decisões dos seus
proprietários, já nas grandes empresas o sucesso das
mesmas é dependente dos próprios funcionários
pagos para este ofício. A direção das grandes
empresas depende da “tecno-estrutura” formada por
profissionais encontrados no chamado “mercado de
trabalho”. A eficiência dos profissionais que
dirigem as grandes empresas são recompensadas de
acordo com as leis de mercado, os administradores
mais capazes e melhor preparados tendem a receber
maiores rendimentos e salários, isso garante os
incentivos necessários para que o profissional
busque a maior produtividade. Entre os benefícios
do capitalismo, o aumento constante da
produtividade do trabalho talvez seja o maior dos
benefícios, além da liberdade de iniciativa. Desta
forma, este grande ganho do capitalismo

176
representado pelo aumento de produtividade do
trabalho que abrange melhorias técnicas, científicas,
qualitativas, quantitativas, entre outras, não são
mais dependentes da iniciativa dos proprietários,
isso é verdade no caso das grandes empresas.
Estas três noções nos servem de diretrizes para
crer que: “se as grandes empresas fossem de
propriedade comum e não distribuíssem lucros para
poucos afortunados grande parte dos problemas e
contradições da sociedade seriam atenuados.” Ao
menos os problemas relacionados aos males do
grande capital encontrariam solução racional. Essa
mudança é possível e bastante simples, como
veremos mais à frente, e depende apenas das
escolhas políticas da sociedade. Diferentemente do
comunismo marxista, o Comunismo Empresarial de
Mercado não exige mudanças culturais profundas,
muito menos guerras sangrentas ou revoltas
populares de grandes proporções. A própria
condição de autogestão da grande empresa garante
que ela possa existir sem a classe dos proprietários,
esta autonomia não necessita alterações drásticas no
sistema atual, até mesmo porque esta já é a
realidade do funcionamento da grande empresa. A
mudança é ainda mais amena porque no CEM,
diferentemente das nacionalizações e estatizações
impostas pelos estados, não é necessário recorrer a
imposições. As tensões sociais são naturalmente
menores quando não precisamos ferir as liberdades
individuais para mudar a realidade social, esta é
uma grande vantagem do CEM em relação a outras
propostas de mudanças sociais baseadas na

177
imposição por meio da força do Estado e restrição
de direitos de liberdade individual.
Devemos notar que muitos autores consideram
que qualquer tentativa de mudança na estrutura
econômica e de poder que favorece a uma pequena
elite seria seguida de reações em sentido contrário
por parte desta elite. Robert Heilbroner chega até
mesmo a admitir que o sistema econômico e de
poder é tão enraizado que não poderia ser alterado
repentinamente sem levar a sociedade a um grande
caos (HEILBRONER, 1966). Mesmo sabendo da
possibilidade de resistência às mudanças por parte
das elites egoístas devemos ter coragem e ousadia
se realmente quisermos transformar a sociedade.
A transição do capitalismo para o CEM pode
ocorrer de forma amena por causa da ampla
estrutura da própria economia de mercado do
capitalismo contemporâneo. O tópico quatro, tal
como enumerado acima, noticia o seguinte: “As
receitas dos Estados são quase sempre maiores do
que as receitas das grandes empresas privadas em
seus países, isso significa com algumas reservas que
existe capital para instituir empresas concorrentes
nos moldes do CEM”. Essa observação é fácil de
ser constatada na maioria dos países. Os Estados só
poderiam ter receitas menores do que a das grandes
empresas privadas se os impostos fossem muito
mais baixos do que ocorre na maioria dos países
atuais ou se tratasse de economias pouco complexas
em que poucas empresas privadas possuíssem uma
parcela muito grande da economia inteira. Como já
vimos, na maioria dos países a complexidade da

178
economia faz com que a participação das empresas
menores seja grande no total da economia. A
produção de riquezas totais conta com grande
participação das empresas menores, isso possibilita
que o Estado tenha receita maior do que a receita
das grandes empresas que atuam em seu país. Com
essa receita superior a das grandes empresas o
Estado pode criar empresas concorrentes nos
moldes do CEM ou mesmo comprar as grandes
empresas do país. Com a substituição gradual em
poucos anos as empresas CEM podem ser a maioria
das grandes empresas em qualquer país. Essa
transição é suave e só dependem da opção política
de cada país, já que recursos existem. Em poucos
anos de prioridade na reformulação da economia
para os moldes do CEM o Estado já poderá retomar
as suas políticas habituais, ou de outra forma o
Estado pode levar mais tempo para consolidar a
transformação utilizando um percentual menor dos
recursos nacionais. Outras formas são possíveis
para financiar esta transformação, tais como o
endividamento externo. Como veremos mais à
frente, o financiamento externo ou mesmo o
endividamento interno é mais recomendável para a
implantação do CEM do que para outros gastos
comuns porque se trata de investimentos que terão
retorno financeiro. As alternativas de
financiamento, assim como outras vantagens do
CEM serão analisadas mais à frente. Para a
implantação do CEM não é necessária a proibição
dos grandes negócios nem a limitação de direito
algum, por isso as mortes e desrespeitos aos direitos

179
civis que são naturais na implantação do socialismo
e comunismo tradicional são evitáveis na
implantação do CEM. Apesar de não exigir a
proibição dos grandes negócios temos diversos
motivos para concluir que a grande empresa
capitalista de propriedade privada tenderá a
desaparecer diante das empresas baseadas no CEM
ou ao menos reduzir em número e poder para níveis
mais aceitáveis. Um dos motivos para a natural
supremacia das empresas comunais do CEM está na
ausência de distribuição de lucros a proprietários, a
receita das empresas comunais são reinvestidas,
com isso o ganho de competitividade é enorme
diante das empresas capitalistas. A capacidade de
substituição das empresas capitalistas pelas
empresas comunais estão ligadas a viabilidade e ao
uso dos recursos públicos dos impostos.
O item cinco afirma que: “Grande parte da
economia e dos empregos se constituem de
pequenos negócios e empresas”. Esta afirmação é
constatada na maioria das economias capitalistas.
Este é o motivo pelo qual é possível para qualquer
estado capitalista implantar o CEM e é também um
dos motivos pelos quais seria de grande dificuldade
e até mesmo desnecessário transformar as empresas
capitalistas menores em empresas comunais. O
CEM não precisa avançar sobre os setores da
economia dominados pelas empresas menores. Para
reforçar esta opção de não intervir nas empresas
menores podemos observar o sexto item, segundo o
qual: “As pequenas empresas não geram tantos
problemas e contradições quanto as grandes”. Sobre

180
este item seis já tratamos no tópico denominado:
“Diferenças entre os danos sociais e materiais
das empresas pequenas e das maiores”. O
contraste entre os danos sociais causados pela
pequena e pela grande empresa é de extrema
diferença. A propriedade do grande capital
desiguala imensamente as relações sociais, listamos
onze grandes disparidades no dano social entre a
propriedade da grande empresa e a da pequena
somente no referido tópico denominado:
“Diferenças entre os danos sociais e materiais
das empresas pequenas e das maiores”. Estas
onze diferenças são suficientes para nos
posicionarmos sobre a necessidade de mudar as
grandes empresas, mas também nos revelam que a
pequena empresa de iniciativa privada é inofensiva.
A sociedade não precisa se resguardar dela como
precisa em relação a grande empresa de iniciativa
privada.
Com a observação destas seis noções podemos
compreender a necessidade e a oportunidade única
que temos no capitalismo contemporâneo para
mudar a sociedade de forma pacífica. As classes
oprimidas e as pessoas sensatas de boas intenções
sempre buscaram equilibrar as relações sociais, a
estrutura dos Estados atuais, assim como a estrutura
econômica das economias de mercado. Criaram as
condições ideais que propiciam as mudanças que
podem finalmente equilibrar de diversas formas os
participantes da sociedade. Trataremos de outras
questões envolvendo o CEM a seguir.

181
Viabilidade do CEM
Alguns dos ideais socialistas e comunistas não são
compartilhados por grande parte da população. A
consideração de que a igualdade material seja uma
questão de justiça é controversa. Escolher entre
liberdade ou igualdade e notar a existência de uma
contradição ao tentar obter ambas já passou por
estudiosos como, F. Hayek, Noberto Bobbio, Mario
Guerreiro, entre outros (HAYEK,1960; GUERREIRO,
2002; BOBBIO, 1996). Parece ser necessidade lógica
que para igualar materialmente os cidadãos seja
necessário ferir a liberdade, talvez a questão mais
importante seja o quanto de liberdade os cidadãos
estão dispostos a sacrificar para equilibrar as
relações sociais. As grandes desigualdades
econômicas e políticas também interferem na
liberdade e distorcem as convenções sociais. O
estilo de vida proporcionado pelas economias
complexas atuais são dependentes de relações de
produção muito complexas nas quais a sociedade
como um todo se envolve, podemos pensar que
nada seria mais justo do que todos os que
participam do processo de geração de riquezas
participem também da distribuição das riquezas. O
grande problema nesta antiga discussão é que a
chamada justiça distributiva esbarra no problema da
liberdade. Nas economias capitalistas é normal que
pessoas diferentes realizem esforços diferentes para
atingir os mesmos objetivos ou objetivos diferentes.
Devido a essa pluralidade na atuação das pessoas
dentro da mesma sociedade é natural que muitas
pessoas considerem justo existir desigualdade

182
material, mas a desigualdade política não é
defendida por nenhuma corrente respeitável de
pensamento. Já vimos que a grande empresa privada
e o grande poder econômico desiguala o poder
político entre os indivíduos ou grupos da mesma
sociedade. Quanto a isso podemos adotar o CEM
como medida racional para evitar as distorções de
poder político, a adoção do CEM também reduziria
as grandes desigualdades de renda na sociedade,
mas ainda assim continuariam a existir desigualdade
de renda. A próxima questão a se discutir seria o
quanto de desigualdade pode ser tolerada.
Como já vimos, a possibilidade de desigualdade
material incentiva a iniciativa individual que por
sua vez é forte propulsor do desenvolvimento
econômico. As opções individuais podem refletir
em maiores ou menores rendas, até aí a justiça ainda
pode ser determinada pela iniciativa individual, no
entanto outros fatores influenciam na formação de
renda, tais como: herança, condições de sorte,
características genéticas, intelecto, beleza física,
aspectos culturais, preconceitos etc. Por tantos
motivos sabemos que as desigualdades de renda não
podem ser creditadas totalmente aos méritos
individuais, os fatores que determinam as diferenças
na renda são muitos. Muitas sociedades capitalistas
definitivamente não seriam as mesmas se as
diferenças de renda não fossem tão comuns. Nos
EUA os esforços individuais para adquirir maiores
rendas muitas vezes são enormes e podem levar
toda uma vida de esforços, tal fato muitas vezes se
deve ao status social que diferencia a pessoa “bem-

183
sucedida” materialmente dos demais. Na Coréia do
Sul e no Japão os esforços dos estudantes em atingir
as boas notas “exigidas” pela sociedade seriam
vistas com muita estranheza por outros povos que
dão preferência a outros valores culturais. As
diferenças econômicas são traços culturais
arraigados em muitas sociedades. O próprio Keynes
admitia que existam justificativas sociais e
psicológicas para desigualdades de renda e de
riqueza, embora não para grandes disparidades
(KEYNES, 1992). Esse pensamento de Keynes é
compartilhado por muitos economistas entre os
mais destacados. Para ter uma sociedade que
mantenha as características positivas do capitalismo
de mercado mais desenvolvido e ao mesmo tempo
refreie os excessos e características negativas dele,
temos que mudar os fundamentos que permitem os
excessos sem alterar as características que permitem
benefício desejáveis.
Considerando que implantar o CEM e substituir as
grandes empresas privadas por empresas comunais
seja a medida política mais correta a se adotar,
então temos que garantir a viabilidade e a
hegemonia justa e produtiva, ou seja, a hegemonia
que não seja baseada em extinção da concorrência
por determinação do poder central, nem em
privilégios legais que prejudiquem a concorrência
com empresas capitalistas.
Para melhor abordar a viabilidade do CEM vamos
tratar, a seguir, pontualmente os seguintes tópicos:

184
A. Diferença entre finalidade e
encerramento de operação na empresa
capitalista e no CEM.
B. Hegemonia justa e produtiva da empresa
comunal no CEM
C. Desenvolvimento econômico no CEM
D. Outras vantagens no CEM
E. Estabilidade econômica na transição para
o CEM
F. Financiamento do CEM

A. Diferença entre finalidade e


encerramento de operação na empresa
capitalista e no CEM.

Do ponto de vista do proprietário a principal


finalidade da empresa capitalista é o lucro, já a
empresa comunal do CEM possui diversas
finalidades diferentes da empresa capitalista. Paul
Samuelson afirma que existem casos em que uma
companhia faria melhor se entrasse em liquidação e
devolvesse o seu capital (SAMUELSON, 1970),
esta é uma opção muito comum nas empresas
capitalistas que não conseguem dar os lucros
desejados pelos seus proprietários. Assim a decisão
de encerrar ou não as atividades na empresa
capitalista está ligada a geração de lucro. O mesmo
não ocorre nas empresas do CEM, pois, como
vimos, o objetivo delas não é o lucro.

185
Não seria sensato se os cofres públicos
financiassem empresas improdutivas e que dessem
prejuízos, pois esta condição acaba levando a
dependência ao Estado e terminamos por premiar a
ineficiência. Uma economia com tais características
podem estar alimentando catástrofes que podem
gerar crises ou até mesmo atrasar muito o
desenvolvimento econômico e tecnológico. Todas
as virtudes do capitalismo que já vimos reafirmam
que o sistema econômico é beneficiado por
empresas eficientes, por isso não podemos subsidiar
empresas em constante prejuízo.
Apesar de não ser de bom alvitre subsidiar empresas
deficitárias, se levarmos em consideração os
benefícios sociais da empresa comunal do CEM
poderemos entender que se ela possui condições de
se auto-sustentar, mesmo que não gere lucros, ela
deve continuar em funcionamento. Isto pode ser
compreendido por várias questões, a primeira é que
a empresa que se mantenha em “equilíbrio”, ou seja,
não gere lucros e nem prejuízos ela já está gerando
alguns benefícios sociais, tais como:
1. Emprego para os funcionário.
2. Salários dos funcionários que fomentam a
economia.
3. Produção que gera bens de consumo
4. Produção que ajuda na estabilização dos
preços da economia e reduz a inflação.
5. Geração de experiência e tecnologia.
6. Geração de riquezas materiais e culturais.
7. Manutenção da concorrência e todos os
seus benefícios que já tratamos.

186
Além destes enumerados benefícios sociais também
podemos incorporar ao tema que a empresa que em
determinado momento esteja em “equilíbrio” entre
ganhos e gastos, pode no futuro gerar mais ganhos
do que gastos. O empenho das forças produtivas da
empresa pode levar uma empresa em dificuldades
momentâneas a apresentar aumento de eficiência
com o tempo.
É normal que os administradores queiram manter os
seus empregos e para isso tenham uma visão de
longo prazo do negócio, mas ainda assim é
importante traçar planos para curto, médio e longo
prazo, pois é de grande interesse social que as
empresas possuam longa vida útil e gerem
benefícios para a sociedade por bastante tempo para
que o investimento e esforço social sejam
recompensados.

B. Hegemonia justa e produtiva da


empresa comunal no CEM

Ingerência - O inimigo da empresa


comunal
Como já vimos, os grandes proprietários do capital
e das grandes empresas podem reagir às mudanças
preconizadas pelo CEM, mas precisamos observar
que este não é o único problema para a implantação
do CEM. Já vimos anteriormente como a história

187
nos mostrou como o Estado pode prejudicar a
economia e as empresas. As empresas públicas
podem ser ineficientes e geradoras de prejuízo
mesmo possuindo monopólios por causa da
ingerência política, isso ocorreu e ocorre em
inúmeros países. As empresas públicas ineficientes
que se tornam eficientes quando são privatizadas
não se tornam lucrativas porque os proprietários
privados são mais inteligentes ou capazes, até
mesmo porque os administradores são encontrados
no “mercado de trabalho”, por isso podem ser
contratados tanto pelos proprietários capitalistas
quanto pela sociedade representada pelo Estado. O
que permite a maior eficiência e geração de lucros
da empresa privada é o foco nas estratégias para
obtenção de lucro. A razão do Homo Economicus
para chegar ao lucro não é única do capitalista, esta
mesma razão pode ser compartilhada pelos
administradores da empresa comunal. As economias
planificadas e as empresa públicas se tornam
improdutivas e geradoras de prejuízos quando
entram outros objetivos e razões na administração
das empresas. Já vimos que a grande empresa
permite inúmeros benefícios para a sociedade com a
sua atuação tradicional, mas estes benefícios
somente são alcançados quando as empresas estão
focadas em seus objetivos tradicionais,
normalmente quando ocorrem desvios nas funções
das empresas elas se tornam incapazes de
proporcionar os benefícios esperados. As empresas
privadas estão livres para buscar os lucros sem a
intervenção de opiniões diversas que possam

188
desviar este foco nos resultados positivos das
finanças. O que ocorre nas empresas públicas
ineficientes normalmente é que dificilmente se
consegue dar autonomia total para que os
administradores competentes e reconhecidos pelo
“mercado de trabalho” possam atuar livremente
buscando as receitas que permitem a sustentação da
empresa.
O Estado tem um inimigo que é muito pior do que o
tradicional proprietário capitalista, o grande inimigo
em potencial da empresa comunal é o próprio
Estado. O maior problema deste inimigo é que ele é
não é declarado, está oculto pelas “boas intenções”
da ingerência dos representantes de objetivos
diferentes dos tradicionais e que busquem formas
impróprias de inovar o funcionamento das
empresas. O Estado democrático é especialmente
mais fragilizado quanto ao apelo dos defensores da
diversificação dos objetivos da empresa, pois para
muitos políticos defender a mudança dos rumos da
empresa pode significar votos por parte de uma
população desatenta e ignorante quanto ao
funcionamento das empresas e da economia. Para
que o CEM se efetive, o Estado tem que fugir da
tentação de colocar a opinião de pessoas que
correspondam a ineficiência empresarial. Isto não é
difícil de se reconhecer, a maioria das escolas de
administração concordam no essencial para
determinar lucros e produtividade das empresas.
Para reduzir as possibilidades de ingerência na
administração das empresas comunais os Estados
democráticos precisam ainda mais do que os

189
Estados autoritários de leis e instituições confiáveis
que garantam esta tão necessária autonomia
empresarial. A gestão da empresa comunal no CEM
deve ser autônoma.

Identidade jurídica
O Status de empresa pública ligada ao Estado pode
ser perigoso quanto a mudança de governos com
opiniões opostas, por isso podemos dar autonomia
financeira para a empresa comunal. Conseguir isso
não é difícil porque as empresas que busquem seus
rendimentos podem pagar pelo seu financiamento.
Fazer a empresa pagar o seu financiamento é uma
forma de impedir que futuros governos privatizem a
empresa, ou seja, ela será comum, mas autônoma
em relação a propriedades, seja do Estado ou
privada. Se o Estado aplicar os recursos para a
fundação da empresa em termos de empréstimo e a
empresa pagar pelo crédito ela terá maiores
argumentos de independência em relação aos
governos. Esta empresa pode existir como pessoa
jurídica autônoma, assim como as empresas
capitalistas podem possuir identidade jurídica
autônomas.

Estrutura de empresa capitalista


Diversos modelos de comunismo foram tentados
baseados em coletivismo na qual todos teriam os
mesmos poderes na estrutura da empresa, porém
estes modelos não deram certo na maioria dos casos
por questões que a razão do Homo Economicus é

190
capaz de perceber com facilidade. Os modelos de
coletivismo e cooperativas, muitas vezes tiram a
competitividade que o sistema hierárquico possui.
As cooperativas geram impasses em que todos são
iguais e por isso ninguém pode exigir mais esforço
nem tampouco valorizar os méritos individuais,
todos tendem a se igualar no marasmo sem buscar
inovações. As ideias de empresas coletivas dos
socialistas utópicos, entre outros, não funcionaram
em grande parte porque carecem da agressividade
das empresas capitalistas, por este motivo elas não
conseguem sobreviver à concorrência. O
Comunismo Empresarial de Mercado precisa e deve
se nutrir dessa agressividade para que possa
concorrer com as empresas privadas e se impor.
Viver em comunas independentes de baixa
produtividade, tais como as do socialismo utópico
pode ser desejável para alguns, por outro lado a
maioria das pessoas parece apreciar o estilo de vida
de grande potencial de consumo que alguns países
permitem, isso não é conseguido com
empreendimentos amadoristas.
A estrutura da empresa capitalista moderna é o
modelo mais eficiente que temos de
profissionalismo ao buscar atender as ambições dos
proprietários das empresas, no entanto, no CEM a
mesma estrutura de máxima eficiência na geração
de riquezas atenderá aos anseios da sociedade como
um todo. As estruturas mais eficientes de empresas
são o ideal que o CEM deve buscar, os melhores
profissionais da administração e economia de seu

191
tempo podem prover essa necessidade com bastante
confiança.

Cuidados especiais no CEM

Setor contábil desvinculado da


estrutura administrativa
É importante separar a auditoria e setor contábil
como um todo da orientação da direção da empresa
comunal. Isso é necessário para que as bonificações
que os executivos e demais funcionários das
empresas no CEM possam receber não possam ser
manipulados pelos mesmos. A parte contábil tem
que ser independente da direção da empresa e não
pode sofrer qualquer ingerência. Notadamente
grande parte das fraudes contábeis ocorrem por
influência da direção executiva das empresas, estes
podem fraudar os termos contábeis para receber
bonificações por lucro da empresa. Esta medida é
bastante relevante para evitar lucros fictícios, até
mesmo porque os outros motivos das fraudes são
por questões de propriedade e essas questões
somente acometem empresas capitalistas. As
empresas no CEM, por não possuírem proprietários,
não sofrem as influências que as empresas
capitalistas sofrem quando os proprietários querem
aumentar os valores de mercado da empresa e das
ações para lucrarem com isso de alguma forma.

192
Fragilidade da empresa pública
A condição de uma empresa pública é frágil quanto
aos apelos de entidades organizadas, por este
motivo devem ser evitados os sindicatos em
empresas públicas. É preciso frear o poder dos
sindicatos no CEM para que não interfiram no
dinamismo nem gerem força para trabalhadores
improdutivos. Temos que ter sim é uma política
para bonificação dos trabalhadores produtivos e que
invistam em sua produtividade. Podemos dar um
contrato de compromisso de não se vincular a
sindicatos para quem aceitar trabalhar nas empresas
comunais do CEM, por saber que é prejudicial a um
modelo de empresa que não pode sofrer ingerência
nem influência política. Para evitar que com o
tempo perca as suas características. Além do mais
as leis dos Estados normalmente já oferecem vários
tipos de garantias para qualquer empregado. As
mesmas garantias que os empregados de empresas
privadas possuem podem ser estendidas para as
empresas comunais sem influenciar na
concorrência.
Ao impedir que empresas comunais sofram a
influência de sindicatos não precisamos fazer o
mesmo quanto às empresas capitalistas. A empresa
do CEM gera muito mais benefícios sociais do que
a empresa capitalista. Isso por si só já é motivo
suficiente para garantir essa diferença de status
entre uma e outra. A empresa capitalista, como já
vimos, tende a gerar muitos malefícios a sociedade,
assim os sindicatos servem para equilibrar um

193
pouco a relação, ao menos entre a empresa e o
empregado.

O mal da governança corporativa


Não podemos também cair nas armadilhas da
simples “governança corporativa” que inclua os
funcionários nas decisões da empresa comunal no
CEM, porque existe uma tendência em praticamente
toda a vida social humana de indivíduos integrados
em grupos que formem uma espécie de corporação
buscarem defender a melhoria das suas próprias
condições ao invés de buscar a melhora de todos ou
de outras partes que não as suas. Este fato sempre
foi comum na história e pode ser facilmente
analisado empiricamente nas diversas instituições
corporativas. Para evitar essa tendência, se
definirem que é importante alguma forma de
gorvernança corporativa, algumas precauções
devem ser tomadas para evitar que o corporativismo
prejudique a eficiência da empresa comunal no
CEM, tais como:
1. Não permitir que os funcionários decidam
sobre os seus próprios salários.
2. Não permitir que os funcionários decidam
sobre condições de trabalho que possam
reduzir a produtividade da empresa.
3. Apenas permitir aos funcionários decidir ou
opinar sobre questões que não reflitam em
redução da produtividade ou das receitas,
assim como que resultem em aumento dos
gastos e custos da empresa.

194
Critério objetivo para escolha dos
quadros administrativos
Como já vimos, a ingerência política é perniciosa
para o funcionamento da empresa comunal, então
devemos evitar que o poder de escolha dos
administradores fique nas mãos dos governantes.
Governantes com o poder de nomear
administradores das empresas públicas podem fazer
mal uso deste poder, seja por interesse próprio ou
seja por inaptidão para a escolha dos melhores
quadros. A empresa comunal não pode depender
dos critérios subjetivos de algum governante para a
escolha dos administradores. Para evitar que os
governantes tenham poder inapropriado ou
interfiram na administração da empresa comunal,
devemos elencar critérios objetivos para a escolha
dos administradores.
Um critério objetivo muito usado com grande
eficácia em diversos países é o concurso público. O
concurso permite uma avaliação meritocrática
baseada no conhecimento teórico dos candidatos ao
cargo.
Outra forma objetiva plausível é a licitação, nessa
modalidade podemos abrir uma disputa com
critérios objetivos que levem em conta maiores
taxas de lucro e menores valores de salário. Quem
propor um programa com maiores lucros e menores
salários venceria a licitação.

195
Qualificação e experiência dos
administradores
Para que a empresa comunal garanta que tenha os
melhores profissionais do mercado, além de pagar
bons salários, deve observar a experiência dos
administradores. Podemos avaliar a experiência dos
candidatos aos cargos da administração da empresa,
com isso podemos verificar a colocação no mercado
e histórico de cada um. Um cadastro com
administradores bem-sucedidos permite a um
posterior concurso selecionar os melhores
profissionais do mercado. O critério de experiência
acaba sendo secundário até porque ele é mais
subjetivo e relativo a atividade e contexto em que
cada administrador esteve envolvido.
É possível exigir comprovação e histórico de
lucratividade das empresas em que os candidatos
estiveram trabalhando na atividade de
administrador. É possível avaliar a taxa de lucro e
volume de negócios realizados em determinado
período para qualificar os administradores
profissionais, candidatos ao cargo de administrador
da empresa comunal. Um candidato com histórico
de prejuízo não poderia estar apto a concorrer a
vaga de administrador, enquanto o candidato que
tiver histórico de lucro à frente de outras empresas
estaria qualificado a se candidatar a vaga aberta
para a empresa pública. O mesmo deve valer para
os administradores de empresas comunais, se o
administrador se mostrar ineficiente em gerar
lucratividade à empresa, então deve ser impedido de
se manter no cargo, bem como de se candidatar a

196
novas oportunidades na administração das empresas
públicas. O volume de negócios e proporções dos
negócios administrados podem ser analisados para
colocar administradores em negócios com
proporções adequadas a sua experiência.
Como os altos cargos da empresa comunal são de
grande responsabilidade, os critérios para
qualificação dos candidatos aos cargos devem ser os
mais rígidos possíveis. Devemos evitar ao máximo
candidatos com histórico de corrupção, crimes e
desvios de ética.

Igualdade das leis trabalhistas


O emprego público em muitos países reflete em
status diferenciado do empregado privado. Em
muitos casos o funcionário público possui mais
direitos do que os funcionários privados, isto
aumenta os custos da empresa pública em relação a
empresa privada. Permitir legislação que torne a
empresa comunal mais custosa do que a empresa
privada naturalmente levaria ao fracasso da empresa
comunal quanto aos seus objetivos originais. Em
muitos casos beneficiar o funcionário reduz a
competitividade da empresa pública, com isso
prejudica toda a sociedade. Escolher entre o
funcionário e toda a sociedade não é muito difícil
para qualquer pessoa imparcial. Se quisermos
garantir o sucesso da empresa comunal e do CEM
temos que garantir que o funcionário e as atividades
da empresa comunal não sejam mais custosos
desnecessariamente do que na empresa privada. Até
mesmo existe uma incoerência ética quanto a isto,

197
pois funcionários de empresa pública ou privada são
cidadãos da mesma nação e por isso devem ter os
mesmos direitos. Favorecer um ou outro
desequilibra a concorrência.
Outras precauções talvez sejam tão necessárias
quanto estas e podem variar de Estado para Estado
com as suas diferenças correspondentes a cada país.
Não podemos dar privilégios legais aos funcionários
da empresa comunal perante a empresa privada. Se
existe necessidade de diferença das leis trabalhistas,
devemos dar maiores vantagens competitivas é para
a empresa comunal, pois ela beneficia muito mais a
sociedade do que a capitalista.

Circunstâncias favoráveis
As empresas mais bem sucedidas sempre precisam
do que Ferdinand Lundberg chamava de
circunstâncias favoráveis. Não é simplesmente a
tenacidade do empreendedor que faz o sucesso do
empreendimento, se a conjuntura não for favorável
as dificuldades podem ser insuperáveis. Por isso
Lundberg comenta que se Henry Ford fosse suíço,
trabalhando sob as leis da suíça, nunca, por mais
esperto que fosse, poderia ter criado uma Ford
Motor Compaany. Se Rockfeller fosse cidadão da
Inglaterra, da França, da Rússia, da Alemanha ou da
China, jamais teria desenvolvido a Standard Oil
Company (LUNDBERG, 1972). As circunstâncias
favoráveis variam de situação para situação, pode
ser dependente da existência de mercado
consumidor, do fornecimento em boas condições de

198
matéria prima, fornecimento de produto, do nicho
de mercado, monopólio de produto patenteável, ou
qualquer outra forma de oportunidade. Estas
condições são observadas pelas empresas
capitalistas e devem igualmente ser observadas
pelas empresas comunais do CEM. São as mesmas
condições que permitem a empresa capitalista gerar
lucro que devem nortear os investimentos das
empresas comunais, no entanto a empresa comunal
utilizará os rendimentos não como lucro, mas como
receita para o próximo investimento.
Para constituir a empresa comunal, assim como para
operá-la é preciso que se observe a possibilidade de
auto-sustentação das mesmas. A empresa comunal
somente precisa ser auto-suficiente, ou seja, se ela
não der prejuízo já estará prestando ótimos serviços
para a sociedade. Para saber se as circunstâncias
para constituir e operar a empresa comunal são
favoráveis, ou não, é necessário que se tome
procedimentos similares aos das empresas privadas
mais eficientes. Profissionais qualificados para
traçar as estratégias de sobrevivência da empresa
são facilmente encontrados no “mercado de
trabalho”. Não é necessário desenvolver nenhuma
teoria diferente das existentes e mais aceitas nas
escolas de administração e economia.

Fundação e gestão da empresa comunal


A empresa comunal no CEM deve ser fundada
observando-se a viabilidade econômica da mesma, a
auto-sustentação dela deve ser buscada tanto quanto

199
a da empresa privada. A gestão da empresa comunal
também deve obedecer as mesmas orientações
quanto a viabilidade da empresa privada para que
com isso ela possa concorrer com a empresa
capitalista. A empresa capitalista utiliza os métodos
mais modernos de administração e contabilidade, o
mesmo não pode ser diferente na empresa comunal
para que ela seja competitiva.
Em todos os aspectos gerenciais as empresas
comunais podem ser semelhantes às capitalistas,
tanto a estrutura de comando quanto a orientação.
Para se aplicar toda a teoria da firma, a
microeconomia e os estudos mais avançados da
atualidade sobre gerenciamento empresarial, a
estrutura de gerenciamento da empresa comunal
pode ser estabelecida como a das grandes empresas
mais eficientes da atualidade. Vale ressaltar que dar
autonomia à direção da empresa não significa
deixar de fiscalizar. Grande parcela do sucesso das
empresas privadas está na fiscalização constante e
minuciosa, para evitar a fraude dos funcionários. O
mesmo deve ocorrer nas empresas comunais e
talvez com ainda maior ímpeto e punição, pois o
prejuízo causado por fraudes em empresas públicas
é ainda pior para a sociedade. A legislação deve ser
rigorosa quanto à punição dos desvios nas empresas
comunais.

Estímulo à eficiência
A mesma pressão por resultados que a empresa
privada possui, que inclui a perda dos cargos

200
gerenciais em casos de maus resultados, pode dar a
mesma competitividade a empresa comunal.
Garantir que os administradores só permaneçam no
cargo se preencherem critérios de ganho de
eficiência empresarial é tão importante quanto
conceder benefícios caso as metas de eficiência
sejam alcançadas ou superadas. A concessão de
bonificações ou a punição são os verdadeiros
motores da competitividade da empresa capitalista,
isto, é claro, quando tratamos da gestão da empresa.
Dar ao gestor da empresa o bônus como
recompensa por bons resultados ou punir como
ônus aos maus resultados foi a forma que os
proprietários das empresas capitalistas encontraram
para transmitir ao gestor profissional da empresa
exatamente os mesmos motivos que mobilizam o
proprietário capitalista a buscar o máximo de suas
capacidades. Assim o proprietário não mais precisa
buscar o ganho de eficiência e lucro ou se preocupar
com os prejuízos, pois agora ele possui empregados
voltados diretamente para essas funções.
A bonificação e punição é a forma que o CEM
possui para dar a empresa comunal as maiores
qualidades da empresa privada.

Uso das receitas e lucros no CEM


Nas empresas privadas o lucro líquido que não
retorna para a empresa é distribuído para os
proprietários. Esse lucro é o grande gerador das
desigualdades econômicas nos países capitalistas
porque a maior parte da população não possui as
grandes propriedades que permitem os exorbitantes

201
lucros para uma pequena parcela da população. As
empresas comunais no CEM apenas possuem
receitas, mas não distribuem lucros, apenas os
reinvestem.
Na administração das grandes empresas privadas a
necessidade de gasto para o custeio total das
operações da empresa são facilmente definidos e a
sobra de recursos que se denomina lucro líquido
pode ser distribuída para o uso pessoal dos
proprietários. No CEM o custo total da empresa
pode ser determinado como o das empresas
privadas, no entanto a sobra de recursos que
caracteriza o lucro líquido deve seguir a objetivos
predeterminados. Ao constituir a empresa comunal
as normas de uso das receitas que ultrapassem os
custos de manutenção da empresa devem ser
definidas. Para usar estes recursos livres devem ser
observados os objetivos e estratégias da empresa.
Se os recursos livres forem absorvidos por políticas
públicas com objetivos alheios aos da empresa
temos que notar que isto limitaria as vantagens
competitivas que as empresas comunais possuem
diante das empresas capitalistas. Desta forma, se o
Estado decidir se apoderar dos lucros da empresa
comunal, ou simplesmente definir o seu uso, o
Estado estaria retirando as vantagens estratégicas da
empresa comunal e com isso decretaria o fracasso
do sistema econômico que denominamos
Comunismo Empresarial de Mercado.
Para que a empresa comunal possa ser mais
competitiva do que a empresa privada do
capitalismo ela precisa utilizar as receitas livres

202
para o crescimento da própria empresa. Desta forma
o que caracteriza lucro para o proprietário da
empresa capitalista seria recurso para investimento
da empresa comunal. Com estes recursos para mais
investimentos a empresa comunal poderá adquirir
mais bens de capital, contratar mais funcionários,
ampliar as instalações, comprar empresas privadas,
investir em tecnologia, diversificar a atuação etc.
Com o uso das receitas livres dentro dos próprios
objetivos de crescimento e desenvolvimento da
empresa comunal o CEM ganhará competitividade
diante do capitalismo e poderá se impor pela
concorrência, além de que os benefícios sociais
gerados pela empresa serão ampliados.

Financiamento da empresa comunal no


CEM
Tudo o que permite o aumento da eficiência da
empresa capitalista deve ser adotado para que a
empresa comunal possa concorrer com ela, a única
diferença necessária que a empresa comunal não
pode se igualar a empresa privada é quanto a
algumas das formas de financiamento. A empresa
privada pode vender parte da propriedade para
arrecadar recursos para o financiamento dos seus
projetos de investimento. O chamado “mercado de
ações” foi uma criação do capitalismo que facilitou
muito a venda de parte da propriedade da empresa
privada e arrecadar recursos. Com a venda de ações
ou cotas de participação na sociedade, as empresas
privadas conseguem obter imensas somas de

203
recursos para financiar os seus projetos. Esta forma
de arrecadação de recursos para investimento deve
ser evitada pelas empresas do CEM porque ela
permite a reprodução de todos os defeitos que
encontramos no capitalismo. Isso ocorre porque a
compra e venda de ações exige a detenção da
propriedade e junto dela os malefícios
anteriormente tratados. Então devemos observar as
formas alternativas de financiamento para as
empresas comunais do CEM.
Muitas empresas privadas são financiadas com
recursos de instituições financeiras. As afirmações
sobre a poupança do proprietário da empresa para
fundá-la nem sempre correspondem a realidade,
muitas vezes o capitalista cria e mantém a sua
empresa com dinheiro do banco. Este tipo de
financiamento também é possível no CEM, bancos
podem financiar as empresas comunais. Os bancos
privados costumam exigir inúmeras garantias para
conceder os seus empréstimos, naturalmente se a
empresa comunal já estiver em operação e for auto-
sustentável ela conseguirá obter recursos nos bancos
privados. Por outro lado, para criar as empresas
comunais pode ser necessário que o Estado dê
algumas garantias para os bancos. É justamente para
a criação da empresa que é necessária a atuação do
Estado, depois que a empresa conseguir obter os
seus resultados positivos ela poderá encontrar
financiamento com mais facilidade. Para constituir
as empresas comunais o Estado pode definir fundos
e aplicá-los de acordo com os projetos e viabilidade
econômica de cada empresa. Alguns países

204
possuem bancos públicos para o investimento, este
tipo de instituição pode ser útil para financiar as
empresas comunais, principalmente as que estão em
fase de fundação e consolidação. No início das
operações as empresas podem ter dificuldades em
pagar pelo financiamento e por isso ele deve ser
facilitado o quanto possível.
Podemos notar que o endividamento da empresa
não é um mal em si e nem mesmo reduz a
viabilidade da mesma. Podemos citar a opinião de
Paul Samuelson no que se refere ao financiamento
da AT&T, uma das maiores empresas de todos os
tempos:
“A A.T.& T. Tem crescido por todo este
século. Tem feito novas dívidas esse tempo
todo, sem nunca acabar. Se a nossa economia
continuar sadia, não há dúvida de que a
A.T.&T. Terá uma dívida crescente em títulos
pelo resto do século. Esta é uma finança
prudente, e não errônea. É prudente adquirir
aquela dívida em forma de títulos, mas não
por ter a companhia instalações e
equipamentos comprados com aquele
financiamento da dívida e que ela poderia
liquidar de uma hora para a outra. Não há
ninguém a que a A.T&T. Possa vender artigos
assim especializados numa emergência, por
servirem apenas para o negócios de telefones,
no qual a empresa possui completos
monopólios locais.
Por que será prudente o aumento interminável
da dívida da A.T&T.? É prudente porque as
receitas em dólares que a companhia pode
obter com os seus serviços telefônicos

205
deverão aumentar com a população e com o
PNB. Os juros sobre a dívida e a ocasional
reconsolidação (mas não a reforma) da dívida
podem ser pagos com as receitas dos clientes
da companhia telefônica. Se todos eles
ficassem pobres, por exemplo, devido à
guerra atômica, a A.T.&T, teria que abrir
falência e não pagaria a sua dívida. Mas numa
economia em crescimento, nenhuma firma em
plena atividade age na suposição de que todo
mundo abrirá falência.” (SAMUELSON,1970,
p.558-559)

Depois que a empresa comunal já estiver


instituída e for capaz de se auto-sustentar ela
poderá optar pela melhor forma de manter a sua
sustentação, mas é importante notar que as
formas de financiamento bancário também
podem reproduzir parte do processo de
exploração capitalista, porém baseado nos juros.
Por isso seria de suma importância criar bancos
de investimento com fundos públicos para que
com isso as receitas da empresa comunal não
sejam dirigidas a classe rica por meio dos bancos.
Como já vimos, para iniciar a empresa comunal
pode ser necessário facilitar o crédito, porém
facilitar o crédito para a empresa já estabelecida
pode causar desconfortos com as empresas
privadas que precisam pagar juros. Uma solução
para este inconveniente, e ainda assim não alienar
os lucros da empresa comunal para instituições de
crédito privadas, seria utilizar bancos públicos
para financiar as empresas comunais

206
consolidadas com taxas de juros de mercado.
Assim as empresas privadas não poderiam
reclamar de subsídios, pois pagariam as mesmas
taxas por empréstimos e ao mesmo tempo as
receitas das empresas comunais não iriam para os
cofres privados e sim para os cofres de
instituições bancárias públicas que, inclusive,
podem ser empresas comunais nos moldes do
CEM. No Brasil, por exemplo, temos grandes
bancos públicos e um banco de fomento
específico aos grandes empreendimentos
empresariais chamado BNDES, Banco Nacional
do Desenvolvimento Econômico e Social.
O crédito também é uma forma eficiente para
tornar a empresa comunal livre da ingerência dos
governos. A lei pode declarar a empresa comunal
livre da ingerência de governos, mas outra forma de
fazer isso é quando a empresa comunal paga pelo
investimento realizado pelo governo, neste caso fica
mais fácil tornar a empresa independente quanto a
qualquer mudança de governo. Empresas
dependentes dos governos são mais vulneráveis a
governos oportunistas que tenham intenções de
privatizá-las ou controlá-las.
As formas de financiamento das empresas comunais
são de importância crucial para a determinação do
sucesso e viabilidade das mesmas. As empresas
privadas podem emitir diversos tipos de títulos. As
empresas comunais também podem emitir diversos
tipos de títulos para o financiamento dos seus
projetos, o que é importante é que a propriedade da
empresa não seja alienada. Diversos tipos de títulos

207
são possíveis sem a necessidade de alienar a
propriedade da empresa. Até mesmo a emissão de
títulos que estejam vinculados ao lucro da empresa
são possíveis, mas o ideal talvez seja a lei impedir
que possam ocorrer abusos na emissão deste tipo de
títulos e impedir que os lucros de longos períodos se
tornem um tipo de propriedade de fato para
investidores. Para evitar distorções e o retorno a
exploração do lucro das empresas comunais pelos
donos do capital privado é possível permitir a
emissão de títulos vinculados ao lucro apenas para
instituições de finalidade pública. Muitos países
possuem fundos públicos para a organização
previdenciária ou semelhante, estes fundos podem
adquirir os títulos das empresas comunais sem
gerarem as distorções econômicas naturais do
capitalismo, isto é possível porque as instituições de
previdência social utilizam recursos da população
para garantir a aposentadoria dos contribuintes,
então não temos a simples distribuição de lucros
para a parcela mais rica da população. Qualquer
órgão que utilize fundos públicos ou que
simplesmente não sirva nem distribua valores para a
classe rica pode adquirir os títulos das empresas
comunais sem reproduzir o sistema de exploração e
distribuição distorcida da renda natural do
capitalismo.
O modelo de venda de ações pode ser realizado sem
gerar acúmulo de grande riqueza para uma pequena
elite. Para tanto basta limitar a quantidade de ações
que cada pessoa física possa comprar. Outra forma
é limitar a venda de grandes somas de ações a

208
instituições e fundos de interesse público, tal como
fundos previdenciários que não distribuam os lucros
das ações para uma elite burguesa.

Obtendo hegemonia
Com a lógica dedutiva podemos afirmar que se a
empresa A for igual a empresa B em tudo teremos
resultados iguais, porém se A receber uma
vantagem que B não tem, então podemos afirmar
que a empresa A obterá melhores resultados que B e
vencerá a concorrência. A necessidade desta
sentença lógica nos permite prever que ao criar
empresas em tudo semelhante as grandes empresas
privadas, porém que ao invés de distribuir os lucros
ela os utilize para reinvestir na própria empresa,
então teremos uma superioridade natural baseada
em fundamentos racionais da empresa que reinveste
os lucros.
Com isto podemos dizer que o ponto mais forte da
empresa comunal na concorrência com as
capitalistas é a ausência de distribuição de lucros.
Marx e Engels defendiam que a produtividade do
trabalhador seria maior se ele trabalhasse para si ao
invés de trabalhar para outrem com a alienação do
seu trabalho (MARX;ENGELS, 2009). Talvez
participar de uma iniciativa de interesse comum
permita maior satisfação e produtividade na
empresa comunal, mas questões mais subjetivas
podem variar com maior facilidade, por outro lado,
a tendência da supremacia da empresa que reinveste

209
os lucros diante da que distribui os mesmos para os
proprietários é lógica e natural.
Sabendo desta superioridade natural da empresa
comunal no CEM é previsível que a classe rica que
sempre se beneficiou do sistema capitalista trate de
criticar a mudança de paradigma que torna a
empresa comunal mais capaz do que grande
empresa privada. Os setores da sociedade que
podem criticar são os mesmos que dizem que o
sucesso depende das capacidades da iniciativa
privada, se for verdade então a iniciativa privada
encontrará o seu lugar mesmo na economia do
CEM, se eles perderem para as empresas comunais
será porque a supremacia deles se baseava em
estratificação sistemática do modelo capitalista e
isso deve ser superado.

Funções, eficiência e controle eficiente


do governo

Muitas funções o Estado pode ter sem ter que


interferir na autonomia da empresa comunal. A
função de determinar os melhores profissionais para
administrar as empresas comunais pode ser
realizada por órgão do Estado, embora para garantir
a autonomia da empresa comunal talvez essa
escolha possa passar pelo crivo de instituições
reconhecidas fora do governo. Embora a indicação
política ou burocrática para os quadros de direção
ou mesmo para os demais seja preocupante, pois
corre o risco de ocorrer troca de interesses, temos a

210
possibilidade do governo apenas regulamentar os
parâmetros da nomeação. A nomeação em si pode
ocorrer de acordo com o mercado de trabalho.
A função de garantir a eficiência das empresas
comunais pode ser realizada por autarquias que
analisem os resultados das empresas para
determinar a necessidade de mudanças no quadro
administrativo.
O que é de grande importância é garantir que a
mudança dos quadros administrativos não obedeça a
critérios políticos e sim a critérios de eficiência e
lisura na execução das funções conferidas ao
administrador. A burocracia pode ser independente
para aprovar ou desaprovar a manutenção dos
gestores da empresa comunal em cada ano ou prazo
definido para o fim do exercício administrativo.
Critérios pré-definidos de eficiência são importantes
para que os órgãos burocráticos não precisem
opinar de forma arbitrária sobre a permanência ou
não dos gestores da empresa comunal.
Um bom critério para manter ou demitir os gestores
pode ser a previsão de lucro e a constatação de
lucros efetivos. Por exemplo: Se em um ano o lucro
cair trocamos os administradores. Se em um ano os
lucros subirem mantemos os administradores.

Controle e punição
O controle deve ser feito sobre os possíveis
excessos por parte dos funcionários executivos e os
demais. Garantir que os administradores não
utilizem a força econômica e política da empresa
comunal para fins pessoais é de suma importância

211
para evitar os já conhecidos males das grandes
empresas privadas. Garantir a punição para
qualquer desvio das funções corretas dos
administradores da empresa comunal pode ser
previsto por lei ou contrato. Grande parte desse
controle pode ser realizado por órgãos policiais,
embora autarquias também possam realizar parte
destas tarefas.
Uma medida interessante é permitir que qualquer
pessoa possa denunciar a corrupção na empresa,
quem tiver denuncia que leve a punição do agente
corrupto faz jus a receber indenização do
condenado. Essa medida pode se estender até aos
policiais e órgãos fiscalizadores para incentivar o
trabalho de apuração desses crimes.

Auditoria
A auditoria é crucial para evitar problemas de
fraude dentro da própria empresa, tal como ocorreu
em gigantes como a Tyco. A SEC (Securities and
Exchange Commission) atua nos Estados Unidos
inibindo muitas das fraudes envolvendo grandes
empresas, como as empresas no CEM não são
orientadas pelo regime capitalista de propriedade
fica ainda mais fácil criar órgãos com poderes para
investigar e punir as fraudes.
Toda empresa comunal do CEM pode ser obrigada
a contratar serviço independente de auditoria. A
empresa que fizer auditoria deve ser obrigada a
comunicar a polícia caso haja fraude e é obrigada a
comunicar o órgão que vai demitir o administrador.
Assim tudo fica mais transparente, já que o

212
administrador não terá ingerência sobre os
auditores.

Consultoria
Empresas ou agências de consultoria podem prestar
ótimos serviços para que o Estado possa ter controle
da empresa comunal sem a necessidade da
ingerência direta dos políticos. Para isto a
consultoria deve ser realizada por profissionais, tais
como administradores, contadores, economistas,
engenheiros etc. Estes profissionais somente
poderão ser imparciais nos seus ofícios se estiverem
desvinculados do poder político e da administração
pública. Para garantir a livre atuação dos
consultores eles devem ter independência política e
somente sofrerem punições em casos de
irregularidade legal. Muitas grandes empresas
capitalistas fazem uso de empresas de consultoria,
uso semelhante a empresa comunal pode fazer. Se a
empresa comunal seguir caminhos diferentes do
aconselhado e obtiver resultados ruins talvez seja
forte indício de má gestão, neste caso, trocar a
administração da empresa pode ser aconselhável.

Garantia de eficiência
Para o administrador continuar na empresa ele deve
aumentar o lucro, com a maior capacidade de
investimento do que a empresa privada, nada é mais
natural do que aumentar o lucro constantemente.
Podemos exigir uma maior taxa de crescimento da
empresa de acordo com a taxa de re-investimento.

213
Assim o administrador só se mantém à frente da
empresa enquanto ela for lucrativa, se der prejuízo
trocamos os administradores. Esse é um incentivo à
eficiência e é uma forma de garantir o sucesso da
empresa ao longo do tempo.
Assim temos critérios objetivos na demissão dos
administradores, assim como temos critérios
objetivos na admissão, tendo em vista os concursos
públicos.

C. Desenvolvimento econômico no
CEM
Podemos facilmente notar que todos os benefícios
que o capitalismo é capaz de prover para a
sociedade o CEM pode se equiparar porque não
desaparecem nenhum dos traços que
reconhecidamente são capazes de gerar tais
benefícios. A eficiência produtiva e alocativa
funcionam com a mesma lógica no capitalismo e no
CEM. Por outro lado temos diversos motivos para
crer que no CEM os benefícios sociais serão muito
maiores do que os do capitalismo, isto tanto em
termos sociais quanto em termos econômicos. As
empresas privadas retiram parte da sua receita em
forma de lucro para ser distribuído entre os
proprietários, caso isto não ocorresse nada seria
mais lógico do que crer que a economia cresceria
muito mais com o total investimento de todas as
receitas das empresas. Os estudos da economia
indicam que existe um fator multiplicador que faz

214
com que o aumento no investimento fará com que a
renda se expanda. O oposto também é verdadeiro,
pois qualquer decréscimo no investimento faz com
que a renda se contraia. Se as rendas das grandes
empresas privadas que servem como lucro para o
uso pessoal da classe rica fosse revestida em
investimentos, em tecnologia, maior produção e
qualidade, contratação de empregados, entre outros
usos produtivos, teríamos fortes razões para crer
que a sociedade e toda a economia seriam muito
mais beneficiadas. O próprio crescimento da
economia é dependente do investimento. Muitas
vezes podemos verificar a proporção de crescimento
da riqueza em relação ao nível de investimento,
porém quando tratamos de investimento em
tecnologia o potencial de crescimento se torna
imprevisível, pois uma simples inovação
tecnológica pode levar toda a economia a uma
verdadeira revolução, este foi o caso da revolução
industrial, assim como da revolução da tecnologia
da informação. Se todas as empresas privadas
investissem mais em tecnologia certamente o
mundo todo estaria mais avançado em muitos
aspectos. O maior investimento também pode ser
causa direta do aumento dos níveis de emprego, se
as empresas investissem mais nos recursos humanos
provavelmente não teríamos os problemas de
desemprego que temos atualmente.
No CEM as receitas das grandes empresas devem
ser utilizadas no investimento, isso resulta em
desenvolvimento tecnológico, contratações de
empregados, aumento na qualidade e produtividade

215
etc. Tudo isso que ocorre na microeconomia se
reflete na macroeconomia. Com o aumento dos
investimentos de cada uma das grandes empresas no
CEM, toda a economia perceberá os resultados
positivos. A economia é a reunião de todos os
agentes econômicos, com o aumento generalizado
nos investimentos das grandes empresas certamente
toda a economia será positivamente afetada.
Podemos observar algumas das melhorias na
economia que podem ser deduzidas ou intuídas após
as mudanças do CEM.

Desenvolvimento tecnológico
O desenvolvimento tecnológico tenderá a ser maior
porque ao invés de retirar lucro para os proprietários
as empresas terão de investir todo o lucro na própria
empresa. As empresas grandes são muito
dependentes de tecnologia de ponta, é natural que
os investimentos recaiam sobre a tecnologia. A
receita de muitas empresas grandes podem depender
de inovações tecnológicas e do monopólio das
patentes, nestes casos o investimento em inovação
tecnológica seria estratégia necessária para estas
empresas comunais. Comparando com o sistema
capitalista, teremos mais investimento em
tecnologia no CEM. O modelo capitalista retém o
dinheiro do lucro nas mãos dos ricos, enquanto no
CEM o lucro retorna para a economia como
investimento.

216
Maior oferta de empregos
Com o investimento total dos recursos da empresa
parte destes valores serão mobilizados para os
recursos humanos. Sendo assim, a contratação de
funcionários tende a ser maior nas empresas
comunais do CEM do que das empresas capitalistas.
Quanto mais funcionários maior pode ser a
produtividade da empresa, no entanto as empresas
privadas capitalistas buscam maximizar os seus
lucros contratando o mínimo de funcionários
possíveis. Com as empresas comunais podendo
investir maiores recursos, as necessidades de
contratação de funcionários serão efetivadas na
busca do pleno emprego e do alcance do potencial
máximo das empresas. Com a generalização do
modelo de empresa comunal a oferta de empregos
na economia será maior.

Aumento da renda dos trabalhadores


Com a maior oferta de empregos na economia é
natural que ocorra valorização da faixa salarial dos
trabalhadores. Outro motivo para o aumento da
renda dos trabalhadores é que o investimento em
recursos humanos tende a ser maior nas empresas
comunais pelos motivos que já tratamos, com isso é
normal que maiores salários e bonificações sejam
dadas como premiação ao serviço produtivo dos
funcionários. A administração mais moderna
considera que um trabalhador satisfeito com sua
renda tende a ser mais produtivo. O problema do
capitalismo é que a ânsia por maiores lucros
dificulta o aumento da renda do trabalhador. Essa

217
pressão muitas vezes é irracional, porque a empresa
poderia ficar ser mais produtiva e lucrativa caso o
trabalhador estivesse mais motivado. Esse é um
exemplo de influencia psicológica de cunho
emocional, não é uma decisão racional e lógica. No
CEM a empresa comunal pode dar um voto de
confiança ao empregado porque sabe que o lucro
todo será revertido para a própria empresa.

Crescimento das empresas


Com o maior investimento das empresas comunais
é natural que elas cresçam e se tornem mais
produtivas. O que garante o crescimento das
empresas são as condições favoráveis e o seu
investimento, então se compararmos uma mesma
empresa capitalista e uma empresa comunal em um
mesmo ambiente observaremos maiores
possibilidades de crescimento das empresas
comunais do que das empresas capitalistas já que o
seu investimento é maior pelos motivos que já
vimos.
A empresa que reinveste todo o seu lucro cresce
mais do que a que retira o seu lucro para entregar a
uma ou algumas pessoas, como é o caso da empresa
capitalista. Empresas maiores e mais fortes
possibilitam economias maiores e mais fortes.

Crescimento econômico
O crescimento das empresas comunais, além do seu
investimento em tecnologia e com o conseqüente
ganho econômico devidos a melhoria tecnológica
das grandes empresas do país, e também com o

218
aumento do nível de empregos e salários, podemos
concluir que toda a economia entrará em um ciclo
virtuosos de crescimento econômico e ganho de
produtividade. O crescimento econômico é
dependente da quantidade de investimento, no CEM
com as grandes empresas investindo mais, podemos
alcançar maiores taxas de crescimento econômico.
Com este investimento maior o pleno emprego
tende a ser alcançado, os investimentos nos meios
de produção também tendem a ser maiores, com
isso aumentaremos a capacidade de produção da
economia e garantiremos crescimento econômico
por longos períodos de tempo.
O próprio desenvolvimento dos setores reprimidos
da economia possível no CEM, o qual trataremos a
seguir, garante que existam empregos e produção
onde não haveria no capitalismo e também podemos
substituir a simples importação dos produtos que o
setor privado não via interesse em investir pelas
baixas possibilidades de lucro. O ganho no poder
aquisitivo por causa da redução de preços no CEM
também pode estimular a economia.

Desenvolvimento de setores reprimidos


No capitalismo o lucro é o motor principal da
economia, por isso os setores menos lucrativos
ficam relegados e inexplorados. Muitas vezes as
empresas não possuem interesse em atuar em algum
setor da economia e com isso a importação pode ser
a única alternativa. Como no CEM o lucro não é
necessário, se o setor da economia que não permite
lucro permitir o sustento dos custos do

219
empreendimento, então poderemos ter a atuação da
empresa comunal, com todos os seus benefícios.
Como já vimos, a possibilidade de auto-sustentação
é a única necessidade para que a empresa comunal
possa operar.
Alguns Estados podem até mesmo acreditar que
subsidiar alguma empresa seja necessário em alguns
casos de setores reprimidos, mas esta é outra
questão que deve ser discutida com alguns cuidados
especiais. Subsidiar uma empresa que não seja
autossustentável não segue os padrões do CEM e
pode ser negativo, por mais que gere alguns
benefícios.

Preços e poder aquisitivo


A grande gana por lucros dos proprietários das
grandes empresas privadas faz com que os preços
sejam os mais altos possíveis. A concorrência é
normalmente a única forma de pressionar os preços
dos produtos e serviços produzidos pelas empresas
capitalistas para baixo. Certamente se não houvesse
concorrência os preços dos produtos na economia
capitalista seriam os maiores possíveis, ou seja,
seriam os valores máximos que os consumidores
pudessem pagar. Com as empresas comunais
podendo reduzir a sua margem de lucro para níveis
suficientes a manter o sustento dos custos, a
empresa está livre para reduzir os preços e assim
vencer a concorrência. Sem lucros os preços podem
ser mínimos, isso significa que os preços podem ser
baixados até os valores próximos ao de custo do
produto ou serviço. As grandes empresas muitas

220
vezes possuem grande parte dos preços básicos da
economia, desta forma os produtos oriundos da
produção em massa podem ser reduzidos no CEM.
Esta redução dos preços básicos da economia
garante maior poder aquisitivo à população porque
uma mesma hora de trabalho de algum cidadão
poderá comprar mais produtos. Em muitos países
boa parte da matéria prima é produzida por grandes
empresas e no CEM o preços destas mesmas
matérias primas podem ser reduzidos, isso retro-
alimenta a economia que poderá reduzir outros
preços e aumentar o emprego das forças produtivas.

D. Outras vantagens no CEM


Entre as vantagens que garantem não só a
viabilidade, como também a legitimidade do CEM
podemos destacar algumas.

Equiparação econômica e justiça


distributiva
A igualdade material não pode ser atingida no
CEM, no entanto podemos reduzir as desigualdades
que distanciam a renda dos mais ricos e dos mais
pobres. A grande desigualdade econômica no
capitalismo está estreitamente ligada a grande
propriedade das empresas privadas. No CEM as
grandes empresas não distribuem lucros para a
classe rica, elas apenas pagam salários e
bonificações de acordo com o merecimento de cada

221
funcionário. A tendência é que com o tempo as
grandes desigualdades materiais reduzam de forma
gradual sem a necessidade de ações violentas. A
questão da justiça distributiva é eticamente mais
defensável nos moldes do CEM do que no
capitalismo porque no capitalismo para se ter uma
renda alta pode bastar uma herança abastada, já no
CEM para se alcançar uma renda mais elevada o
empregado tem que se qualificar e se dedicar. O
esforço pessoal passa a ser mais importante do que
o berço em que nascemos. O “mercado de trabalho”
acaba por determinar uma justiça distributiva mais
ética no CEM do que no capitalismo.

Equiparação de poder político


No capitalismo poder político sofre grande
desequilíbrio devido ao imenso poder econômico e
estratégico das grandes empresas privadas e de seus
proprietários. Com o advento do CEM o equilíbrio
do poder político tende a ser muito maior. Isso
porque não teremos grandes proprietários com
imenso poder e riqueza para desequilibrar o jogo
político.

Alocação de recursos
O CEM facilita a alocação dos recursos em áreas
mais importantes do que o sistema capitalista que
utilizará os recursos conforme as preferências
individuais das pessoas ao invés das reais
necessidades sociais. Alocar os recursos em áreas
importantes no CEM é possível, pois a necessidade
de lucro é menor, então setores que a iniciativa

222
privada não se interessaria pode ser explorado pela
empresa comunal, pois ela só precisa de receita o
suficiente para suprir os custos.
Outro motivo é que para iniciar uma empresa
comunal quem define em que setor os recursos
serão investidos não é um indivíduo apegado aos
seu dinheiro e preso ao seu lucro. Ainda que o
retorno seja financeiro baixo, a empresa comunal
pode trazer muito retorno para a sociedade.

Escolha de objetivos
A empresa comunal em vez de maximizar o lucro
pode maximizar a produção, a redução de preços ou
outra opção que seja da preferência popular,
entretanto estas questões devem ser avaliadas com
muito cuidados para não reduzir a competitividade
diante das empresas capitalistas.

Evita fuga de capital para o exterior


A fuga de capital para o exterior tem sido um
grande problema no capitalismo. Muitos países
investem grandes somas de recursos para
desenvolver a economia local. Alguns setores
recebem investimento público em educação,
infraestrutura, subsídios em impostos, empréstimos
etc. Contudo muitas empresas decidem investir em
outros países, levando recursos do país de origem
para outro país. Essa fuga de capital é
especialmente problemática para o país de origem
quando a produção industrial é substituída por outro
país. Nesse caso, a riqueza que era produzida e

223
incentivada pelo Estado passa para o exterior. No
Comunismo Empresarial de Mercado o Estado pode
exigir que a empresa pública mantenha sua
produção dentro do território nacional. Isso é
garantia de que os recursos públicos ficarão no
próprio país. O mesmo ocorre quando investidores
resolvem sair do país por qualquer sinal de crise, o
que tende a agravar a crise original. Como no CEM
os recursos de investimento estão nas mãos de
empresas públicas, então esses recursos não vão sair
do país em termos de fuga de capital.

E. Estabilidade econômica na
transição para o CEM
Manter a estabilidade econômica no período de
transição entre o capitalismo e o CEM é um desafio
a ser buscado para evitar guerras e rebeliões. Muitos
países já possuem diversos setores da economia
bem desenvolvidos, atuar nestes setores ou iniciar
em outros menos desenvolvidos é questão de opção
política. É natural que setores pouco explorados ou
setores monopolistas carecem de apoio popular e
apelo político, talvez estes possam ser os alvos
iniciais em países que possuam a economia
relativamente frágil. Economias pujantes e bastante
complexas dificilmente poderiam sofrer com o
apelo dos capitalistas e grandes proprietários, no
entanto podemos traças algumas estratégias para
reduzir os efeitos de tais apelos.

224
Investimento inicial em setores
reprimidos
Muitos países que não atingiram um alto grau de
desenvolvimento econômico e industrial podem
priorizar o investimento nos setores reprimidos.
Desta forma, as empresas comunais nestes países
seriam primeiro fundadas em setores que sejam
pouco explorados ou até mesmo inexplorados pela
iniciativa privada. Esta forma de direcionamento do
investimento inicial estimula o desenvolvimento da
economia onde o setor privado não tenha interesse
suficiente para investir. A outra vantagem desta
forma de direcionamento do investimento inicial é
que ela não ameaça os setores da economia já
consolidados e explorados pelas empresas privadas.
Com isso impedimos a fuga das empresas privadas,
ou o atrito com a elite tradicional. Impedir a figa de
capital pela imposição legal pode ser muito
traumático e pode gerar efeitos opostos aos
desejados.
Esta forma de investimento também pode substituir
a maior parte dos produtos importados por produtos
nacionais produzidos nas empresas comunais.
Setores estagnados com baixa tecnologia, baixa
produtividade e baixa qualidade também podem
passar por grandes mudanças com a introdução de
empresas comunais.

225
Investimento prioritário em setores
monopolistas e oligopolistas
Como já vimos o monopólio, oligopólio, entre
outros semelhantes, são perniciosos para a
economia. Criar empresas comunais para
concorrerem com as empresas monopolistas e
oligopolistas seria de grande valia para a sociedade
e para a economia. Nestes casos as empresas
comunais seriam duplamente úteis em suas
finalidades econômicas e sociais, teriam as
finalidades tradicionais da empresa comunal do
CEM e ainda ajudariam a resolver os males do
monopólio e oligopólio.

Avanço progressivo do CEM


Como já vimos, a hegemonia da empresa comunal
pode ser inevitável, mas para que a iniciativa
privada não seja inibida pode ser relevante permitir
o avanço gradual das empresas comunais. Isso não é
difícil de fazer porque para as empresas comunais
atuarem em todos os setores dominados por grandes
empresas privadas é necessário que o Estado crie
muitas empresas comunais. Até a hegemonia da
empresa comunal se impor, as empresas privadas
continuariam obtendo lucro, portanto continuariam
motivadas a continuar operando. Além disso,
empresas privadas podem encontrar soluções para
continuarem operando com lucro mesmo durante o
avanço das empresas comunais. Até porque o
crescimento econômico eleva o poder de compra
das classes mais baixas.

226
Redução gradual do Estado
Muitos Estados possuem grande parte da população
dependente dos serviços públicos. A aplicação do
CEM já resolve os problemas básicos dos serviços
públicos direcionados aos setores mais vulneráveis
da sociedade, tais como saúde pública, educação
pública, renda auxiliar, moradia subsidiada etc. Isso
ocorre porque com o desenvolvimento econômico e
redução da pobreza decorrente da implementação
do CEM as pessoas vão ter condições de pagar
pelos serviços com seus próprios recursos, sem
necessidade de subsídio estatal. O problema é que
levaria algum tempo até as empresas públicas do
CEM poderem empregar grande parte da população
e com isso resolver os problemas da vulnerabilidade
econômica dos empregados. Portanto as pessoas
estariam descobertas dos serviços públicos até
serem, de fato, beneficiadas pelo CEM.
O problema é que ao retirar todo estado de uma vez,
de forma abrupta, as pessoas que dependem do
Estado ficariam sem cobertura. Ao retirar o estado
os mais pobres sofrem muito no curto prazo.
Para não reduzir os serviços públicos todos de uma
vez, esse processo pode ser feito gradualmente.
Conforme o Estado for gerando as empresas
autônomas e as pessoas mais pobres forem sendo
empregadas, podemos ir retirando as mesmas dos
serviços públicos. Assim que as pessoas forem
empregadas e se tornarem mais próximas da classe
média, não vão mais depender do assistencialismo
do Estado, vão poder pagar seus planos de saúde,
não vão depender de faculdades públicas

227
financiadas por impostos, vão poder pagar suas
próprias escolas e faculdades. O mesmo acontece
para a maioria dos outros setores da economia.
Assim o governo pode ficar mínimo ou até
praticamente desaparecer e junto dele a elite política
corrupta dos governantes.

F. Financiamento do CEM

Impostos
Os valores arrecadados por impostos podem ser
investidos em empresas comunais nos moldes do
CEM. Os recursos dos impostos são oriundos da
sociedade e devem ser gastos de acordo com os
interesses da mesma. O CEM busca resolver muitos
dos males das sociedades atuais, por isso podemos
ver de quais formas os recursos oriundos dos
impostos podem ser revestidos na melhora da
sociedade por meio do CEM.
Já vimos anteriormente a asserção que dizia o
seguinte: “As receitas dos Estados são quase sempre
maiores do que as receitas das grandes empresas
privadas em seus países, isso significa com algumas
reservas que existe capital para instituir empresas
concorrentes nos moldes do CEM”. Tendo esta
constatação em vista, podemos instituir as empresas
comunais com os valores das receitas dos Estados
sem a necessidade de recursos externos. O CEM
pode ser estabelecido gradualmente, ou seja, cada
setor dominado por grandes empresas privadas pode

228
receber empresas comunais de acordo com as
possibilidades de financiamento do Estado. A
tendência que já vimos de superação das empresas
comunais solidificará o CEM aos poucos, em um
prazo relativamente pequeno de tempo as empresas
comunais podem obter hegemonia.
A mudança também pode ser mais rápida. Muitos
países possuem carga tributária elevada. Com os
impostos próximos de cinqüenta por cento podemos
transformar o país em pouco tempo com os recursos
de todos sem a necessidade de confisco violento,
como ocorreu nos países socialistas e nas
nacionalizações forçadas.
Nem todos os países possuem altas taxas de
impostos. Taxas de impostos menores também
permitem uma mudança em ritmo menor, mas caso
o investimento seja constante com o tempo as
empresas comunais serão maioria, com essa
predominância o CEM se imporá.
As possibilidades de financiamento não se resumem
a carga tributária, também incluem outras questões.
O gasto eficiente que reduz os desperdícios permite
maior capacidade financeira ao Estado. Outra
dificuldade é quanto aos países que possuem grande
parte da renda nacional atrelada a gastos constantes
e que dificilmente podem ser abandonados por
causa da pressão política. Alguns países possuem
exigências constitucionais que podem limitar a
liberdade de uso dos recursos públicos, mas adotar
ou não o CEM é acima de tudo uma opção política.

229
Endividamento e garantias

Prover garantias
Prover garantias para o crédito em instituições
financeiras privadas. Neste caso o Estado somente
precisará utilizar os recursos públicos se a empresa
comunal estiver com dificuldades em pagar pelas
dívidas de seu financiamento. O ponto positivo
neste caso é que podemos conceber que, com as
tendências vistas anteriormente de hegemonia da
empresa comunal, apenas algumas empresas terão
dificuldades em pagar as dívidas. Sendo assim, o
Estado não precisará utilizar muitos recursos
públicos, apenas nos casos excepcionais de
incapacidade de auto-sustentação da empresa
comunal.
O Estado atuando como fiador pode instituir
empresas comunais com recursos do setor privado
que tiver interesse em oferecer os créditos
necessários. Desta forma a maioria das empresas
comunais nem mesmo necessitariam de recursos
públicos para iniciar ou manter as suas atividades.
Este modelo de financiamento do CEM pode ser
uma ótima solução para os Estados que não
possuírem muitos recursos livres para investimento.
Até mesmo Estados que possuam bastantes recursos
podem utilizar este modelo de financiamento para
multiplicar os recursos a ser investido no CEM.

230
Endividamento e multiplicação de
recursos
O endividamento do Estado é tema bastante
estudado, nos estudos sobre este tema temos
algumas discordâncias, porém em alguns aspectos
que trataremos a razão e a relação de causalidade
são praticamente unânimes. O endividamento para
gastos que não gerem aumento na renda nacional ou
retorno para que se pague o crédito obtido somente
são aconselháveis quando o país esteja em
crescimento econômico ou possa reduzir outros
gastos. A lógica por trás disso é bem simples, se o
país não estiver crescendo a riqueza nacional ou não
puder reduzir outros gastos que ele tenha ele não
poderá pagar pelo endividamento por falta de
recursos. Da mesma forma uma pessoa ou família
que se endividar somente poderá pagar pela dívida
se tiver previsão de novas receitas ou se puder
reduzir os seus gastos em outra área para efetivar o
pagamento. Se o Estado simplesmente emitir moeda
para efetivar o pagamento ele provavelmente gerará
inflação.
Com a percepção da situação acima referida surge
uma questão: Existe alguma vantagem no
endividamento? Mais uma vez poderemos traçar um
paralelo entre uma família e o país para
observarmos a lógica comum entre ambos os casos.
Caso a família tenha a oportunidade de investir em
algum negócio e não possua capital para tanto,
ainda que a renda familiar seja insuficiente para
arcar com a dívida, se o empréstimo for realizado e
investido no referente negócio o retorno do negócio

231
garantirá o pagamento dos valores do empréstimo,
caso o resultado seja o esperado. O que sucede é
que a família que antes possuía recursos modestos
passaria a ter renda maior, além do aumento de
propriedade e ativos adquiridos com os valores dos
empréstimos. Neste caso o empréstimo foi positivo
para a família porque foi um tipo de endividamento
orientado ao investimento. O investimento que
tratamos aqui tem a definição de algum recurso
empenhado com o intuído de ser multiplicado,
assim no caso do empréstimo o investimento vai
render os frutos que permitirão tanto quitar a dívida
quanto obter ganhos adicionais. Com o Estado pode
acontecer algo similar, se o Estado se endividar com
o intuito de investir, então ele empenhará os
recursos oriundos do crédito de forma que possa
multiplicar os recursos investidos para tanto pagar a
dívida quanto obter bens e valores que
anteriormente não possuía. Como dissemos
anteriormente, se o Estado se endividar para gastar
os recursos em setores da sociedade que não
multiplicam os recursos empenhados, então
provavelmente ele terá dificuldades para pagar a
dívida e também não obterá bens excedentes, como
os que são produzidos constantemente por
empresas. Como a hegemonia das empresas
comunais no CEM é natural, então o Estado pode se
endividar com uma razoável segurança de que
poderá quitar as dívidas e ainda obter todas as
vantagens e benefícios relativos ao CEM.
O endividamento no CEM também se justifica pelos
efeitos de crescimento econômico que o

232
investimento no setor produtivo acarreta. No CEM
o crescimento econômico é muito mais provável do
que no capitalismo. Com o crescimento da
economia as receitas do Estado geralmente
aumentam proporcionalmente, sendo assim o
conseqüente aumento na receita do Estado
proporcionará os recursos necessários para o
pagamento das dívidas.

Geração monetária e inflação

Cada país tem a soberania para decidir sobre a


emissão de moedas e o controle da inflação. Os
estudos sobre estes temas indicam que o cuidado
com a inflação de preços é de suma importância
porque o aumento generalizado de preços
geralmente leva a sociedade ao empobrecimento. A
perda de poder aquisitivo que acompanha a inflação
costuma prejudicar mais a parcela mais pobre da
população que é justamente a parcela mais frágil.
Com todo o cuidado que o tema demanda podemos
indicar algumas condições em que a expansão
monetária pode ser recomendada para alguns países.

Expansão monetário-produtiva
Reconhecendo que nas economias complexas de
mercado o funcionamento dos preços, embora
complexo demais para ser previsto com exatidão,
possui algumas formas de comportamento que
podem ser observadas e manipuladas de várias
formas.

233
Na economia de mercado os preços seguem as leis
da oferta e procura, os minerais preciosos são caros
porque existe maior demanda do que oferta dos
mesmos, o oposto também ocorre com a mesma
correlação, se um lápis for menos desejado do que é
ofertado o seu preço terá de ser baixo para que o
consumidor decida comprar em um lugar ao invés
de outro mais caro. Embora existam muitas outras
motivações psicológicas ou sociais para o
consumidor escolher entre um ou outro produto,
podemos, ao menos em parte, concordar com a
corrente de pensamento que acredita que a inflação
tem suas raízes na escassez dos produtos ofertados
aos consumidores. Os obstáculos que existem
quanto a oferta dos produtos e serviços são vistos
por muitos, como a corrente estruturalista, como
uma das causas para o aumento dos preços.
Parece ser evidente que se Estado criar moeda sem
que a economia cresça em produção teremos
aumento nos preços. A razão para isto se assemelha
bastante com a lei da oferta e procura, se existir
mais moeda do que produtos os produtos se
encarecerão, se existir mais produtos do que moeda
os preços tenderão a cair. Esta lógica corresponde
aos dados empiricamente obtidos, muitos estudos
correlacionam a expansão da base monetária sem o
correspondente crescimento da produção com as
altas das taxas de inflação. Não se pode desenvolver
a economia na base da criação de dinheiro, quanto a
isso todos concordam, as funções da moeda se
relacionam com a geração de riquezas. A riqueza do
país está na produção de bens e serviços, é a

234
produção que deve aumentar para aumentar a
riqueza da nação.
A noção de riqueza ligada a produção de bens e
serviços nos leva a aventar algumas possibilidades.
Adotando a nossa definição de investimento como o
empenho de recursos visando a sua multiplicação,
podemos diferenciar a expansão monetária para
cobrir gastos, da geração de moeda para
investimento seguro, como o do CEM. Esta última
forma de expansão monetária é segura porque existe
tendência de hegemonia da empresa comunal. A
diferença é que a criação de moeda para cobrir
gastos, tais como na saúde pública, não gera
riquezas, por isto mesmo gera pressões por aumento
de preços. Por outro lado a expansão monetária
empenhada em investimentos em empresas
comunais nos moldes do CEM geram riquezas
porque aumentam a produção e por isso, em alguns
casos, não gera pressão por aumento de preços.
Se o aumento da produção acompanhar a proporção
da expansão da moeda não deveremos ter inflação,
entretanto além do efeito psicológico também temos
que observar com atenção os setores que oferecem
dificuldade de aumento da produtividade.
Os setores que sofrem maiores pressões de inflação
devem ser os setores em que o investimento em
empresas comunais sejam focados para que a
produção gerada pela empresa comunal possa suprir
a demanda e conter as pressões de inflação.
Aumentando a oferta de produtos e serviços
podemos conter a inflação quanto a estes mesmos

235
produtos e serviços, mas para isso precisamos
observar diversas questões, tais como:
1. O tempo necessário para a empresa
comunal poder ofertar os produtos que
receberiam aumento de demanda.
2. A quantidade de produção que a empresa
comunal poderá ofertar em relação a
demanda. As empresas comunais não
podem produzir muito menos do que a
demanda para evitar as pressões de
inflação.
3. Determinar quais setores sofrem maiores
pressões inflacionárias para atuar
enfocar o investimento Estatal neles.
4. Determinar a quantidade máxima que o
Estado pode expandir a base monetária
sem levar à inflação generalizada.
A expansão deveria ser gradual, pois como cada
empresa que inicia as operações levam algum
tempo para iniciar a produção, então a expansão da
base monetária deveria começar bem baixa e
crescer gradualmente conforme as empresas entrem
em atividade e reduzam as pressões inflacionárias.
Se toda a economia e a renda da população
crescessem e um determinado setor da economia
permanecesse estrangulado e não pudesse crescer a
sua produtividade e este mesmo setor sofresse
pressão de demanda pelos seus produtos, então seria
natural que os preços deste setor em particular
crescessem mais do que os demais preços da
economia. A expansão monetária pode controlar
mais facilmente a inflação se os recursos da

236
expansão monetária forem investidos em empresas
comunais nos setores que mais sofrem pressões
inflacionárias. Algo recorrente em alguns países é
que os preços podem aumentar com base no
descompasso de crescimento das indústrias de base
em relação ao restante da economia, neste caso o
investimento em empresas comunais nestas áreas
pode resolver este tipo de pressão por aumento de
preços. Este tipo de investimento do CEM pode ser
focado em qualquer setor ou mesmo ampliado e
generalizado para diversos setores da economia.
Algumas correntes, como a dos monetaristas,
presumem que os agentes econômicos privados
utilizam os recursos mais eficientemente do que o
governo, por isso a crença de que ao reduzir o
“tamanho” do Estado na economia os recursos
seriam aplicados de forma mais produtiva e os
preços sofreriam menores pressões. Este argumento
possui razões plausíveis e foi fartamente
documentado pela história, esta questão se relaciona
com a ocorrência dos prejuízos referentes a má
atuação do Estado na economia. Mas já vimos que
no CEM o Estado não se torna “pesado” e nem
ineficiente porque as empresas comunais atuam de
forma independente e com a eficiência superior a
das empresas capitalistas. Além de seguirem as leis
do mercado as empresas comunais são ainda mais
eficientes que a capitalista. A atuação do Estado nos
moldes do CEM leva a economia a maior
produtividade, isso ajuda a controlar os preços.
Com toda a economia crescendo de forma
sustentável e com os setores mais reprimidos

237
também crescendo seria plausível esperar que o
investimento em ampliação das forças produtivas
acompanhe e evite com isso a inflação de longo
prazo.
A dosagem da expansão monetária, o investimento
nas empresas comunais e o controle dos preços são
relativamente difíceis porque precisam manter
constante monitoramento de diversos dados, mas
cada país tem que determinar se realmente for
viável gerar moeda de forma coerente e racional
para investir em produção e geração de riquezas.

Outras questões importantes no


CEM

Necessidade de empresas comunais


independentes
O estado corre o risco de criar grandes monopólios
se centralizar as empresas comunais. Para evitar
este risco que, como já vimos, é ruim para a
economia como um todo, é preciso que as empresas
comunais sejam independentes umas das outras.
Esta questão se relaciona com os benefícios da
concorrência, com empresas independentes a
concorrência existirá e beneficiará a toda sociedade.
A concorrência tende a aumentar a produtividade, a
qualidade e muitos outros benefícios oriundos dos
esforços da competição.

238
Motivos pelos quais o CEM não gera
males de crescimento excessivo do
Estado
No CEM o Estado não agrega os males do
crescimento excessivo porque as empresas
comunais são autônomas. Já tratamos dos
problemas provenientes do crescimento excessivo
do Estado que implica em ineficiência
administrativa e outros problemas. A necessidade
constante de recursos para sustentar uma máquina
Estatal e toda a sua enorme burocracia se torna
problemática quando acarreta em grandes esforços
por parte da sociedade, já que é ela que arca com as
despesas no final das contas. Muitos outros
problemas podem surgir nos Estados com
crescimento descontrolado. O uso pessoal e de
classe da máquina estatal normalmente acompanha
o grande aparelho estatal, assim como a ineficiência
no uso dos recursos públicos. Com o que estudamos
sobre monopólio e concorrência podemos crer que
seria natural ao Estado aplicar os recursos com
menos eficiência do que as empresas que estão sob
regime de concorrência, pois o Estado convencional
atua com poder de monopólio. No CEM o Estado
não cresce além do seu tamanho habitual porque as
empresas comunais não estão vinculadas
administrativamente a ele. Com a autonomia e o
regime de concorrência natural do CEM o uso dos
recursos públicos tendem a ser o mais eficiente
possível.

239
Motivos pelos quais os lucros não
devem ser distribuídos aleatoriamente
Se os donos não são os empregados e sim a
sociedade, então os benefícios da empresa devem
ser revestidos para a sociedade e não para os
empregados, de outra forma retornaríamos aos
problemas oriundos da propriedade da empresa
capitalista. Os salários dos funcionários são uma das
vantagens sociais da empresa comunal, mas não são
as únicas. Temos outras vantagens sociais, tais
como a tecnologia gerada, a riqueza gerada e todas
as outras vantagens que já tratamos anteriormente.
Com isso não podemos permitir o uso total do lucro
ou receita das empresas comunais para serem
distribuídos entre os funcionários e sim parte dele e
a outra parte reinvestida nos ganhos sociais
referidos. Como a administração da empresa
comunal deve ser semelhante a empresa capitalista,
então não há porque o Estado dar privilégios aos
funcionários da empresa comunal. Dar privilégios
aos empregados da empresa comunal implica em
desvantagem perante a empresa privada. As práticas
da empresa comunal precisam ser as mais eficientes
presentes no mercado, isso significa que o
administrador deve estar livre para ser duro onde
precisar e distribuir benefícios onde houver
vantagem.

240
Importância de manutenção da
iniciativa privada
muitas empresas privadas podem encontrar
soluções para continuarem obtendo lucros, isto
acaba sendo positivo para a economia porque a
sobrevivência destas empresas não se daria pela
estratificação sistemática do capitalismo e sim por
inovações produtivas. As empresas privadas que
melhor servirem a sociedade oferecendo aos
consumidores o que eles desejam certamente
garantirão a sua sobrevivência. Com a empresa
privada buscando maior eficiência toda a sociedade
será beneficiada.
Não podemos impedir as grandes empresas
capitalistas por lei sob pena de caracterizar o
monopolismo estatal que é pernicioso para a
economia como já vimos, além disso a
sobrevivência de grandes empresas capitalistas é o
melhor termômetro da eficiência das empresas
CEM porque se as empresas capitalistas superarem
as comuns do CEM é porque elas são mais
eficientes e competitivas. Onde as empresas
comunais do CEM forem efetivas as grandes
empresas capitalistas tenderão a perder espaço e
somente permanecerão as que introduzirem
melhorias significativas, isso acaba sendo positivo
para a sociedade como um todo.

Incentivos econômicos
Com o investimento em empresas comunais o
Estado estará investindo diretamente no setor

241
produtivo, com isso garante muitos benefícios
sociais e econômicos.
Sempre que o Estado gasta os seus recursos em
áreas não produtivas, como a saúde pública, os
recursos gastos não se multiplicam. Para manter
altos padrões de saúde o Estado terá sempre aquelas
despesas e com tendência de aumentar com o tempo
e com o aumento da expectativa de vida. O mesmo
não ocorre nos investimentos em produção, o
investimento em empresas comunais no CEM
multiplica os valores investidos. Sempre que o
Estado investir uma quantia qualquer ela gerará
empregos e outros benefícios e também gerará mais
riqueza econômica. O Estado não fica dependente
do gasto inicial, como no caso da saúde, e ainda
aumenta a riqueza do país.

Investimento estratégico
O Estado pode investir em empresas comunais em
setores econômicos de grande interesse estratégico,
seja para a defesa nacional, para o desenvolvimento
tecnológico, para composição de setores de
importância para a sustentabilidade do país ou
qualquer outro motivo. O investimento em setores
de baixa qualidade, produtividade ou tecnologia
também pode ajudar a melhorar os padrões de vida
das pessoas e o nível de diversos setores da
economia. O investimento estratégico também pode
ser orientado para os setores de crescimento
limitado com o intuito de conter o aumento dos
preços e evitar a tendência generalizada da inflação.
Tais vantagens são impossíveis no capitalismo.

242
243
Parte IV

Diferença entre o CEM e os


ordenamentos institucionais
atuais.
Tendo em vista as condições fundamentais do
CEM podemos afirmar que este modelo de
organização política e econômica difere em muitos
aspectos dos sistemas atuais.
Podemos afirmar que o CEM não exige planificação
da economia. A economia não possui nenhum tipo
de comando autoritário no CEM. A chamada “mão
invisível” continua operando no CEM porque as
forças de mercado não são impedidas e sim
reforçadas por novos participantes capazes de
imprimir maior dinamismo à economia.

244
Podemos correlacionar a tabela das três formas
básicas de ordenamento institucional do processo
econômico organizada por Paschoal Rossetti de
acordo com os critérios propostos por Lindbeck
(ROSSETTI, 2003). As três formas de ordenamento
institucional são apresentadas divididas em cinco
pontos:
1. A liberdade econômica
2. A propriedade dos meios de produção
3. O sistema de incentivos
4. A coordenação econômica e a alocação de
recursos
5. O lócus do processo decisório

Podemos ver cada item separadamente e


confrontar com as noções fundamentais do CEM:

1. A Liberdade econômica

• Economia de mercado: Ausência de


restrições à liberdade econômica. –
No CEM encontramos este aspecto da
economia de mercado.
• Sistemas mistos: Restrições à liberdade
dos agentes econômicos. Introdução do
conceito de liberdades sociais. -
No CEM este critério não é necessariamente
similar ao dos sistemas mistos porque não é
indispensável interferir nas liberdades dos
agentes econômicos para manter as empresas
comunais e nem mesmo é necessário o uso de

245
recursos de impostos para criar as empresas
comunais. Neste caso o CEM pode ser ainda
mais liberal do ponto de vista da utilização
dos recursos individuais por meio dos
impostos do que os países mais liberais
conhecidos. As possibilidades de uso de
recursos de terceiros pelo endividamento ou
mesmo a expansão da base monetária faz com
que o uso de recursos oriundos de impostos
possam ser minimizados. Se o Estado atuará
mais contundentemente, ou não, é questão de
opção política.
• Economia de comando central: Amplas
restrições às variadas formas de liberdade:
de ocupação, de empreendimento, de
dispêndio e de acumulação. –
O CEM não exige estas formas de atuação do
Estado.

2. Propriedade dos meios de produção

• Economia de mercado: Privada,


individual ou societária. –
No CEM encontramos estes aspectos da
economia de mercado. Podemos ressaltar que
a propriedade comum a toda a sociedade
instituída na forma de empresas comunais não
impede nenhuma das outras formas de
propriedade. Além do mais, as empresas
comunais também são reguladas pelo
mercado.

246
• Sistemas mistos: Coexistência de formas -
Este aspecto também é possível no CEM.
• Economia de comando central:
Coletiva. Socializada. -
No CEM é possível a existência de
propriedade coletiva e socializada.

3. Sistema de incentivos

• Economia de mercado: Busca do


benefício privado máximo pelos agentes
individuais –
No CEM encontramos este aspecto da
economia de mercado, embora não seja a única
forma de objetivo dos agentes econômicos porque
as empresas comunais possuem outros objetivos. A
grande ambição de lucros da empresa capitalista
retira grande parte da receita da empresa para uso
externo à empresa, ou seja, o uso pessoal dos
proprietários, a empresa comunal do CEM não
precisa extrair lucro para ninguém, o seu objetivo
pode ser o próprio crescimento da empresa
comunal.
• Sistemas mistos: Submissão do interesse
individual-privado ao interesse social -
No CEM é possível este tipo de orientação
política embora não seja necessário submeter
o interesse individual com o poder do Estado,
o interesse social pode ser alcançado no CEM
pela hegemonia natural da empresa comunal.
Vale ressaltar que o interesse individual é

247
valorizado mesmo nas empresas comunais por
meio de bonificações, é isso que estimula os
funcionários no CEM.
• Economia de comando central: Busca
do bem-comum: o solidarismo e a
cooperação em substituição à competição.
-
No CEM este modelo de organização é
possível em parte, mas a empresa comunal
necessita das características naturais da
competição para consolidar a sua hegemonia
diante das demais empresas privadas.

4. Coordenação e alocação dos recursos

• Economia de mercado: Atribuída à livre


manifestação das forças do mercado –
No CEM encontramos este aspecto da
economia de mercado, entretanto o Estado
pode instituir empresas em setores estratégicos
devido a reduzida necessidade de lucros.
• Sistemas mistos: Atribuída à atuação
conjugada de forças do mercado com
planejamento público indicativo, não
impositivo. -
No CEM esta forma de atuação do Estado é
possível.
• Economia de comando central:
Atribuída a ordens minuciosas emanadas
de centrais de planificação. -
Este modelo não é possível no CEM.

248
5. Locus do processo decisório

• Economia de mercado: Os mercados –


No CEM o mercado pode ser fundamental no
processo decisório, incluindo as empresas
comunais.
• Sistemas mistos: Os mercados sob o
poder regulatório da autoridade pública -
No CEM esta característica pode ser
predominante ou não dependendo somente das
opções políticas, quanto a maior ou menor for
a regulação dos mercados.
• Economia de comando central: As
centrais de planificação, como última
instância da organização burocrática. -
No CEM este modelo de planificação é
incompatível com a autonomia necessária para
a atuação eficiente das empresas comunais.

Conclusão
Com todos estes aspectos analisados
individualmente podemos afirmar que o CEM não
pode ser incluído em nenhuma das três formas de
ordenamento institucional do processo econômico
tradicionalmente estudadas. Os aspectos
fundamentais do CEM podem ser aplicados
concomitantemente com políticas mais liberais ou
mais intervencionistas. Já a economia de comando

249
central, como as de muitos modelos socialistas,
apresentam muitos aspectos incompatíveis com a
essência do CEM.

250
Parte V

Abordagem pontual dos tópicos


dos Pontos principais positivos e
negativos dos sistemas atuais
---------------------------------------------------------------
---------------------------------------------------------------

Comparação do CEM com os


tópicos do capitulo II sobre
“Pontos principais positivos e
negativos dos sistemas atuais”

Como já vimos os pontos positivos e negativos


dos diversos sistemas político e econômicos
vigentes e teóricos, podemos comparar o CEM a
eles pontualmente.

1 A planificação do mercado e
Capitalismo de Estado

251
As maiores críticas relativas a impossibilidade
de planejar toda a economia não podem ser feitas
quanto ao CEM. Se for mesmo verdade que o
“mercado” atende melhor aos interesses dos
consumidores ao garantir melhores preços e
qualidade das mercadorias, então o CEM atende
ainda melhor que as economias de mercado
capitalistas porque possui maiores tendências de
redução de preços, por não retirar lucros para
proprietários e garante aumento da qualidade devido
ao total re-investimento das receitas da empresa
comunal.
As críticas quanto a fixação de preços de forma
artificial também não podem ser feitas ao CEM
porque os preços são definidos pelo mercado.
*

1.2 Incoerência e ética no


capitalismo de Estado
As críticas realizadas ao denominado
“capitalismo de Estado” quanto ao uso da máquina
pública para incentivar o crescimento econômico
que beneficia as grandes empresas privadas e com
isso a classe rica da sociedade, não podem ser feitas
quanto ao CEM, pois no CEM o Estado desenvolve
as empresas comunais que são de propriedade de
toda a sociedade. No CEM o Estado não utiliza
recursos públicos para beneficiar o grande capital
de propriedade privada, este uso dos recursos

252
públicos é incoerente com os padrões éticos atuais.
Por outro lado, os valores dos impostos podem ser
eticamente usados para reverter o processo gerador
de acumulo de propriedade dos meios de produção,
este tipo de uso dos recursos públicos é que ocorre
no CEM.

A dificuldade de conceber e defender eticamente o


capitalismo de Estado, por não haver uma doutrina
clara sobre esta forma de atuação do Estado, pode
confundir os cidadãos de países democráticos. A
clareza dos argumentos e fundamentações éticas do
CEM são importantes para evitar a manipulação
política das massas e da opinião pública. O
favorecimento da elite econômica de um país pode
ser camuflado de políticas econômicas no
capitalismo de Estado, mas no CEM sabemos que
as políticas econômicas favorecem não à elite e sim
a toda a sociedade.
O aumento das contradições internas no capitalismo
de Estado é natural porque podemos definir o
capitalismo de Estado como o Estado atuando pelo
capitalismo, no Cem o Estado atua pelo bem
comum.
*

2 Tamanho do Estado e suas


conseqüências

253
O aumento do Estado muitas vezes pode causar
o empobrecimento da população porque os custos
do Estado são financiados com os impostos
combrados da sociedade. No CEM os custos do
Estado e o seu “peso” para a sociedade não
aumentam. Desta forma, o crescimento econômico
não é afetado no CEM porque para aplicar o CEM o
Estado não precisa retirar mais recursos do que
habitualmente faz. Se o Estado ao aplicar o CEM
redirecionar os recursos de algumas políticas
públicas para a criação de empresas comunais o
“peso” do Estado poderá diminuir ao mesmo tempo
que a economia será estimulada a crescer mais. Até
mesmo o uso dos recursos é geralmente visto como
sendo mais eficientemente usado por empresas
privados do que por setores públicos, mas como já
vimos, no CEM o uso dos recursos é ainda mais
eficiente do que o das empresas privadas. A
criatividade que é tida como maior na iniciativa
privada do que na pública e por isso tende a levar os
países socialistas a uma estagnação econômica, no
CEM os incentivos para criação são maiores nas
empresas comunais do que nas capitalistas devido
ao uso total das receitas na empresa e ao estímulo
de pertencer ao empreendimento de interesse
comum.
As dificuldades em promover políticas diferentes
referentes a imobilização que o Estado obtém
quando as receitas estão todas atreladas a gastos
criados por governos anteriores não precisam
ocorrer no CEM, pois as empresas comunais não
precisam atrelar as suas despesas às receitas do

254
Estado devido a sua auto-suficiência de
financiamento. Com isso o poder de cada eleitor e
dos seus representantes não são usurpados por
governos anteriores como acontece no aumento
descontrolado do tamanho do Estado ao presumir o
uso de recursos posteriores.
*

3 Burocracia
Os males da burocracia não se apresentam no
CEM, pois a autonomia das empresas comunais
torna desnecessário o aumento da burocracia estatal.
Além do mais, com a redução das desigualdades
sociais e econômicas torna-se reduzida as
necessidades de um Estado atuante em diversas
áreas.

4 Aparelhos ideológicos de Estado


A questão dos aparelhos ideológicos é complexa
nos países democráticos, mas certamente o uso
pernicioso do aparelho estatal pelas elites políticas e
econômicas é antiético e reduz a legitimidade do
sistema de governo. Enquanto houver uma classe
extremamente mais rica do que as classes inferiores
o uso dos aparelhos ideológicos continuarão tendo
hegemonia elitista. No CEM as classes mais

255
elevadas tendem a se equiparar naturalmente com as
demais classes, com isso a manipulação (ao menos
a de origem econômica) dos aparelhos ideológicos
será menor porque serão menores as influências
econômicas.
Sem a predominância dos interesses da grande
burguesia a sociedade sofre menos influências e
domínio cultural de interesse burguês. A educação
voltada apenas para o desenvolvimento técnico, o
consumismo exacerbado, a devastação ambiental, as
guerras de motivação econômica, a exploração do
trabalho e outros problemas sociais ligados ao
interesse burguês podem ser discutidos com maior
igualdade entre as partes da sociedade no CEM. Os
problemas da formação de opinião e conteúdo a ser
ensinado nas escolas tendem a ser democratizados
no CEM.
Sabemos que a concentração de poder não está
presente só nas mãos da elite econômica, também se
apresenta nas elites políticas. Os benefícios do CEM
não se limitam a restringir o poder da elite
econômica, mas também da elite política. Porque a
elite política sempre se liga a elite econômica, seja
pelo lobby pelas outras formas já tratadas neste
trabalho e em outros. Podemos crer que no CEM,
com a autonomia das empresas comunais em
relação ao poder político, a elite política não terá
toda a concentração de poder que possui na
máquina estatal convencional.
A alienação ocorre tanto no capitalismo como no
socialismo, tal como observa Noam Chomsky
(CHOMSKY; HERMAN, 2003). No CEM com a

256
propriedade sendo comum, e a autonomia na gestão
da empresa comunal, o funcionário da empresa não
será alienado, na verdade toda a sociedade estará
relacionada e beneficiada pela produção da empresa
comunal.

5 Alguns problemas e benefícios


das experiências do comunismo
Quanto a necessidade de alto progresso
tecnológico para a viabilidade do comunismo
marxista, podemos crer que este elevado progresso
técnico seria mais rapidamente atingido no CEM do
que no capitalismo porque toda a receita da empresa
comunal é investida na própria empresa, por outro
lado a empresa capitalista somente investe o
suficiente para manter o lucro dos proprietários.

*
As diferenças de nascimento e de classes são
necessariamente muito menores no CEM do que no
capitalismo, apesar de que o ideal de igualdade
absoluta de algumas correntes do comunismo não
seja possível no CEM. Com uma classe que subsiste
do trabalho alheio o capitalismo mantém diferenças
oriundas do nascimento, no CEM essa classe de
ricos herdeiros tende a desaparecer e ser substituída

257
pela classe média trabalhadora dos funcionários das
empresas comunais.
*
A forte classe média alcançada pelos países
mais desenvolvidos do capitalismo conseguiu tornar
estas sociedades menos desiguais, temos diversas
razões para crer que no CEM a classe média será
mais presente e as desigualdades serão muito
menores do que no capitalismo. Isso porque, como
vimos, os lucros das empresas não são entregues a
proprietários extremamente ricos, mas sim retornam
para a própria empresa. Uma vez que o lucro
retorna à empresa ela pode contratar mais
funcionários e pagar melhores salários. Tudo isso
aumenta a classe média e reduz a classe rica.
*
O autoritarismo que muitos países socialistas
passaram era bastante previsível por causa da
grande concentração de poder nas mãos dos
dirigentes do Estado. Essa tendência não se verifica
no CEM porque o poder dos políticos não cresce,
pois as empresas comunais são autônomas. No
CEM os dirigentes do Estado não acumulam todo o
poder que os dirigentes de Estados centralizadores
podem acumular. A centralização dos agentes
econômicos sob o controle do Estado com a
planificação da economia facilita o autoritarismo e a
concentração desigual de poder perante o resto da
sociedade.

258
As experiências do socialismo real mostraram
como a concentração de poder político é capaz de
levar à concentração do poder econômico. Muitos
países do socialismo real eliminaram o poder
econômico da antiga elite econômica e passaram a
concentrar o poder econômico nas mãos da
liderança política. Nestes casos a desigualdade
econômica e política continuou a existir, já no CEM
o poder político não é concentrador por causa da
autonomia das empresas comunais, além disso o
poder econômico também reduz concomitantemente
porque as empresas comunais não possuem
proprietários para extraírem lucros.

A capacidade dos países comunistas em oferecer


alguns serviços públicos fundamentais também
podem ser alcançadas com o mesmo empenho em
países capitalistas. Certamente no CEM o Estado
pode manter muitos dos serviços fundamentais
dependendo das opções políticas de cada sociedade.

*
Os graves problemas de corrupção naturais dos
países altamente burocráticos não atingem o CEM
porque a burocracia não precisa aumentar ao adotar
o CEM. As demais causas para a corrupção ligadas
a redução das possibilidades de crítica ao governo e
falta de liberdade democráticas também não
atingem o CEM porque nele não é necessário
controlar a opinião pública e as críticas ao governo,

259
tal como é necessário para manter regimes
autoritários.
*
A questão das liberdades democráticas pode
atingir países capitalistas ou comunistas, este é um
problema complexo que exige maior participação da
sociedade. Com o maior equilíbrio nas relações
econômicas e políticas que o CEM provê ao reduzir
as desigualdades econômicas e ao evitar a
concentração do poder político, é natural que a
sociedade fique mais apta a requisitar os seus
direitos e liberdades.

6 Outros problemas que


prejudicaram os países socialistas
Algumas das dificuldades práticas que os países
socialistas enfrentam também podem acometer o
CEM. É preciso observar estes pontos para evitar
alguns erros tão comuns.
*
O foco militarista de muitos países socialistas
exigiu que se retirassem os recursos que poderiam
ser usados para melhorar a qualidade de vida dos
cidadãos. Grandes somas de recursos passaram a ser
usados em áreas militares que em nada melhoram a
vida das pessoas. A diferença dos objetivos das
diversas indústrias são inegáveis, enquanto as

260
indústrias de bens e serviços melhoram a qualidade
de vida, as indústrias bélicas produzem o potencial
de morte e submissão. Se os massivos recursos que
os países socialistas usaram na indústria de guerra
fossem usados na melhora da vida do cidadão,
certamente a qualidade de vida seria melhor. A
escolha entre a “indústria da vida” e a “indústria da
morte” é opção política de cada Estado. Tanto o
CEM, o capitalismo ou o socialismo podem ser
vítimas de más opções políticas.

*
A questão da cooperação internacional é de
suma importância no mundo atual. O CEM em nada
impede a cooperação internacional, muito pelo
contrário, a solidariedade é mais difícil quando se
trata de empresas privadas com interesses
exclusivos no lucro do que em algum país sem uma
elite econômica extravagante e egoísta.

7 Alguns problemas do
capitalismo atual

7.1 Abuso do poder econômico

Os grandes males do abuso do poder


econômico estão na raiz do problema da grande
propriedade privada do capitalismo. No CEM o

261
grande capital privado tende a desaparecer e junto
dele o abuso do poder econômico individual. A
grande empresa comunal não pode ser usada para
benefício individual de políticos devido a
autonomia e nem dos administradores devido aos
mecanismos de controle, então os abusos que
ocorrem com o poder das instituições privadas
podem ser evitados no CEM. Até mesmo as guerras,
como a guerra civil norte-americana e outras
guerras motivadas pelos interesses econômicos da
classe rica são evitáveis no CEM.
Os problemas de manipulação da opinião
pública em favor da classe rica não deve ser
encontrado no CEM, pois estes problemas estão
ligados a propriedade privada dos meios de
comunicação. Esse tema que foi extensivamente
tratado por Chomsky passa a ter outra lógica no
sistema aqui proposto (CHOMSKY; HERMAN,
2003). No CEM os meios de comunicação vão
pertencer predominantemente as empresas
comunais, com isso não há dominação de classe na
escolha dos conteúdos a serem transmitidos a toda a
sociedade. Na empresa comunal o conteúdo da
informação é escolhido por cidadãos comuns da
classe média de acordo com os interesses dos
consumidores.
Os grupos de pressão originários da classe rica
que influenciam a tomada de decisão política nos
países capitalistas tenderão a desaparecer com o
avanço do CEM. O lobby garante o poder de
cidadãos e grupos abastados que não conseguem
controlar a política diretamente por meio de

262
representantes eleitos, este modelo de poder político
está fadado a desaparecer no CEM, pois não
teremos proprietários para fazer as suas
reivindicações políticas de interesses pessoais e de
classe. É natural que, como as grandes empresas
sejam comuns, os interesses de classes da empresa
privada tenda a esvaecer, as pequenas empresas
privadas que podem subsistir no CEM não possuem
poder econômico ou político suficiente para
interferir no processo político de forma desigual
perante o restante da sociedade. A tirania camuflada
que os grandes proprietários exercem em muitos
países não possui as características para ser
reproduzida no CEM.
Os problemas da corrupção que acompanham
a grande propriedade privada também são inibidos
no CEM, até mesmo porque a classe média não
possui os recursos necessários para corromper da
mesma forma que a classe mais abastada possui.
Os valores culturais da elite econômica
capitalista tendem a sofrer grandes mudanças no
CEM com a diluição da própria elite econômica.

7.2 Disparidade de renda e miséria

A grande disparidade de renda que existe entre


os mais ricos e os mais pobres de uma mesma nação
capitalista reduz conforme o avanço do CEM. No
CEM a renda da população tende a ser equiparada,
com isso muitos problemas e tensões sociais são

263
resolvidos. A um observador imparcial, como Paul
Samuelson, a estratificação da desigualdade
econômica dentro da sociedade é tão grande que em
muito se assemelha ao sistema de castas dos
modelos econômicos mais nocivos que a
humanidade pode criar. A exploração dos
trabalhadores pelo patrão guarda muitas
semelhanças com os sistemas feudais e
escravagistas(SAMUELSON, 1970). A superação
destas contradições sociais é parte dos objetivos do
CEM.
A irracionalidade inerente aos meios de
produção que só visam o lucro privado desaparece
no CEM e dá lugar a um sistema racionalmente
coerente com os interesses de toda a sociedade.
Os benefícios das diversas políticas sociais
também podem ser adotados no CEM tanto quanto
podem ser adotados nos modelos capitalistas.
O modelo imperialista e colonizador do
comércio internacional imposto pelos países ricos
aos países mais pobres dificulta o desenvolvimento
dos países mais pobres e acentua as desigualdades
de riqueza internacionais. O modelo capitalista
estratifica esta condição imoral de colonização, as
empresas multinacionais, assim como a importação
beneficia principalmente os países que já são ricos.
A tecnologia é desenvolvida nos países ricos e os
países pobres fornecem a matéria-prima. A
subordinação tecnológica dos países pobres não
pode ser superada sem mudanças estruturais
racionalmente orientadas. Empresas capitalistas de
países mais pobres enfrentam enormes dificuldade

264
para concorrer com as grandes empresas de países
ricos, quanto a isto o CEM é emancipador porque as
empresas comunais possuem vantagens diante das
empresas capitalistas. Países ricos também podem
barganhar melhores acordos internacionais. Com o
CEM temos as vantagens da empresa comunal, com
estas os países mais pobres podem se emancipar
tecnologicamente e economicamente dos países
ricos. Países pobres podem gerar suas próprias
tecnologias e concorrer com empresas que não
poderiam em um modelo capitalista.
A questão do crescimento econômico nos
países capitalistas que muitas vezes é acompanhado
de crescimento na diferença econômica entre os
mais ricos e os mais pobres não tende a ocorrer no
CEM, aliás a desigualdade econômica tende a
reduzir muito com o avanço do CEM, já que as
empresas comunais não distribuem lucros para
proprietários como ocorre no capitalismo.

7.3 Valores culturais

Os problemas inerentes aos valores culturais


forjados no capitalismo são de difícil solução,
alguns problemas que são determinados pela
existência de uma classe rica extravagante e
influente podem ser resolvidos ou minimizados no
CEM, entretanto os valores culturais da sociedade
não podem ser impostos autoritariamente. Os
valores culturais são construção social de formação

265
complexa demais para supormos que podemos
manipulá-los com facilidade. Mas certamente o
Estado pode interferir nas questões culturais.
Permitir que a classe rica permaneça com todas as
vantagens que possuem ou atuar com intuito de
tornar a sociedade mais justa são opções políticas
que interferem na cultura. Que valores culturais
uma sociedade mais justa e igualitária teria é uma
questão que não pode ser predeterminada com
exatidão.

7.4 Problemas ambientais.

Os problemas ambientais causados pelo modelo


de produção das economias complexas da
atualidade somente poderão ser revertidos se houver
interesse humano para tanto. Qualquer modelo de
produção que busque satisfazer a crescente ambição
por bens materiais terá impacto no meio ambiente.
Para reverter este processo muitas opções políticas
precisam ser feitas. O capitalismo dificulta a tomada
de opções políticas que contrariem o interesse dos
grandes detentores dos meios de produção, por isso
no capitalismo é mais difícil reverter o processo que
devasta a natureza. No Cem não temos resistência
da classe detentora dos meios de produção, porque
com as empresas comunais essa classe tende a
desaparecer, só restando os pequenos proprietários
que não possuem a mesma influência dos grandes
proprietários.

266
*

7.5 Estratificação do sistema capitalista

O sistema capitalista está muito enraizado na


cultura de muitos países, por isso as mudanças
abruptas podem ser perigosas. O CEM pode ser
instituído lentamente para evitar grandes convulsões
sociais, mas se a sociedade desejar mudar com
maior celeridade ela pode fazê-lo. Para contornar a
estratificação do capitalismo muitas medidas podem
ser tomadas, cada caso pode exigir decisões
políticas diferentes. Por maior que seja o poder da
classe rica e por mais elaboradas que sejam as suas
estratégias para evitar a mudança dos seus
privilégios, é direito do povo decidir por si qual
política lhe convém adotar. É essencial ao povo ter
consciência de que o poder em última instancia lhe
pertence, para exercê-lo só é necessário se
organizar.

8 Algumas vantagens do
capitalismo atual
As vantagens do capitalismo provenientes do
crescimento econômico e tecnológico são também
alcançadas no CEM, as empresas comunais podem
levar o país a crescimento econômico e tecnológico
ainda maiores do que no capitalismo. Em uma

267
baseada no CEM as taxas de investimento
empresarial são naturalmente maiores porque todo o
lucro da empresa comunal é reinvestido. Isso
garante maior produtividade e dinamismo
econômico. Além disso temos a motivação
psicológico que sabe que o resultado do esforço do
seu trabalho não está sendo alienado, ao contrário,
está sendo revertido para toda a sociedade.
*

8.1 Crescimento econômico

O crescimento econômico que pode ser


impulsionado pelo capitalismo depende de alguns
aspectos que já foram bastante estudados. As
políticas de redução do tamanho do Estado com
relação a exigência de impostos que estimulam o
crescimento econômico no capitalismo também
podem ser adotadas no CEM com os mesmos
efeitos na economia.
Como a economia capitalista é movida pelo
lucro, se a empresa não puder gerar lucros para os
proprietários a empresa será desativada. A empresa
comunal não possui essa necessidade de lucro para
ser distribuído, então pode permanecer ativa mesmo
se apenas for capaz de se auto-sustentar. Com essa
diferença entre a empresa capitalista e a empresa
comunal, podemos observar que políticas que
normalmente causam retração nos investimentos
capitalistas e resultam em baixo crescimento
econômico na economia capitalista, as mesmas

268
políticas não reduzem o crescimento no CEM, pois
as empresas comunais vão continuar a investir
mesmo com menores expectativas de receitas. As
políticas sociais que são tidas como inibidoras do
investimento capitalista não inibem o investimento
da mesma forma no CEM, os objetivos da empresa
comunal não são fornecer lucro para proprietários e
sim continuar operando e crescendo, entre outros
objetivos inerentes a sua atividade. Tendo em vista
estas características do CEM podemos afirmar que
as políticas sociais são muito mais viáveis neste
modelo político-econômico e não impedem o
crescimento da economia.
A motivação para o continuo aperfeiçoamento
técnico continua existindo nas empresas comunais
tanto quanto existe nas empresas capitalistas porque
a estrutura de funcionamento da grande empresa
privada é similar a da empresa comunal, além disso,
as empresas e empreendimentos menores continuam
rendendo lucros para os pequenos proprietários.
Como já vimos anteriormente, os lucros dos
pequenos empreendedores tendem a serem maiores
no CEM, por este motivo o dinamismo econômico.
Os incentivos para a criação são ainda maiores do
que no capitalismo. A economia de mercado e todos
os seus benefícios de criação e inovações estão
presentes no CEM.
O incentivo econômico baseado na redução do
“peso” do Estado a ser sustentado pela sociedade
pode ser adotado no CEM, até mesmo o Estado
pode reduzir os seus gastos ao mesmo tempo em

269
que estimula a economia com a criação das
empresas comunais.
Os estudos com indícios de que o crescimento
econômico reduz a pobreza também servem para o
CEM. No capitalismo o crescimento econômico
beneficia os trabalhadores e principalmente os
proprietários, por outro lado no CEM os
trabalhadores se beneficiam duplamente em relação
ao capitalismo já que as receitas da empresa
comunal são reinvestidas na empresa e na
contratação de mais funcionários, assim como o
aumento dos salários são mais presentes que na
empresa capitalista.
Os problemas de acentuação das disparidades de
renda entre as classes sociais que ocorrem mesmo
em períodos de crescimento econômico no
capitalismo não possui a mesma tendência de
ocorrer no CEM, a tendência no CEM é a da
redução da pobreza e das desigualdades sociais.
*

8.2 Meritocracia, concorrência e


incentivos no capitalismo

O modelo de concorrência em um livre mercado


gera desigualdade. A desigualdade pode ser justa
quando decorre exclusivamente do mérito, porém
dificilmente poderíamos apartar o mérito justo da
sorte injusta. Se houvessem igualdades de
oportunidades, existiria maior mobilidade social.
Ao observar que existe uma estratificação que

270
separa ricos e pobres ao longo das sucessivas
gerações, podemos concluir que as oportunidades
não são iguais. Portanto não podemos afirmar que o
capitalismo garante critérios justos de mérito. Essa
condição de estratificação social fica mais clara em
alguns países que possuem grupos raciais
diferentes, muitas vezes centenas de anos se passam
sem que membros de certos grupos raciais emerjam
para as camadas superiores de classes sociais. Essa
estratificação fica clara em países como o Brasil e
os EUA, porém é mais difícil de ser percebida em
países racialmente mais homogêneos. Quem nasce
em uma família mais abastada possui enormes
vantagens competitivas, a renda tende a ser maior
nos filhos das famílias ricas do que dos filhos das
famílias pobres. Embora exista algum nível de
mérito, provavelmente as condições familiares,
sociais, ambientais influenciam tanto que
inviabilizem o termo meritocracia no sistema
capitalista. No estágio atual do capitalismo o mérito
ainda está presente apenas entre os funcionários das
empresas, os donos do grande capital relegaram a
função administrativa aos trabalhadores. No CEM a
empresa comunal permite que o mérito seja
resgatado para todos os envolvidos na empresa.
A concorrência também é natural no CEM tanto
quanto no capitalismo. Todos os benefícios
oriundos da concorrência que podem ser percebidos
no capitalismo também o podem no CEM. Existe
uma diferença que favorece ao CEM no que tange a
concorrência, no capitalismo o monopólio,
oligopólio, e outras formas possíveis de

271
manipulação das forças do mercado são corriqueiras
porque todos os proprietários visam o lucro e muitas
vezes encontram formas para maximizar o lucro
manipulando o mercado, no CEM a manipulação é
evitada devido aos interesses da sociedade. A
empresa comunal não pode ferir a concorrência,
com este objetivo ela é constituída e fiscalizada. A
concorrência perfeita é possível no CEM, os
monopólios e oligopólios que tanto prejudicam a
sociedade não encontram respaldo nem
oportunidade no CEM.
No CEM os méritos dos pequenos
empreendedores são valorizados como no
capitalismo, no entanto os méritos que nas grandes
empresas são dos funcionários e não dos
proprietários, na empresa comunal estes méritos são
valorizados da mesma forma e com a mesma
eficiência que no capitalismo.
A descentralização da economia de mercado
permite que o sistema de concorrência premie quem
melhor conseguir servir aos consumidores, este
ideal é mais presente no CEM do que no
capitalismo. No capitalismo os monopólios,
oligopólios, reserva de mercado por ligações
políticas, entre outras atividades nefastas, são
difíceis de serem evitados, por outro lado a empresa
comunal pode ser facilmente fiscalizada e os
responsáveis por distorcer os seus objetivos podem
ser punidos duramente por lesão a toda a sociedade.
A economia planejada não pode fornecer as
melhorias nos produtos e serviços que os
consumidores desejam, quanto a isso a economia de

272
mercado possui inúmeras vantagens. A busca por
melhores salários também é parte fundamental no
regime de concorrência que eleva constantemente a
produtividade geral da economia. No CEM o
“mercado de trabalho” pode ser favorecido muito
em relação ao capitalista, pois as empresas
comunais podem valorizar muito mais os bons
funcionários por possuir mais recursos a disposição
para o investimento da empresa, este é apenas mais
um dos benefícios de excluir os lucros dos
proprietários.
Os benefícios da concorrência melhoram os
produtos e desenvolvem a economia, por outro lado
no capitalismo a parcela mais frágil e pobre da
sociedade se beneficia muito menos destes avanços
do que a classe rica, no CEM essa contradição é
evitada porque os lucros dos avanços técnicos não
vão para os proprietários e sim para a sociedade
como um todo.
O atraso tecnológico e econômico que os países
socialistas passaram era previsível pelas teorias
clássicas da economia, a igualdade absoluta de
renda elimina os incentivos para o melhoramento
técnico. Sem a concorrência e os incentivos ao
melhoramento é racionalmente previsível que a
evolução dos padrões de produção seja reduzida ou
mesmo estagnada. Estes males não atingem o CEM
devido a manutenção do regime que premia os
méritos individuais. A grande diferença entre o
capitalismo e o CEM é que o capitalismo não
premia apenas os mais produtivos já que os lucros
das grandes empresas são destinados aos

273
proprietários que nem mesmo interferem no sucesso
das empresas; no CEM os méritos dos funcionários
são premiados, mas não existe premiação a pessoas
desvinculadas do sucesso da empresa comunal.
Portanto podemos dizer que a meritocracia é mais
presente e efetiva no CEM do que no capitalismo.
*

9 Microeconomia
Comparar os fatores da microeconomia que
influenciam as empresas e em última instância toda
a economia são de suma importância para a melhor
analise do CEM e a sua comparação com outros
sistemas político-econômicos.

9.1 Empresas pequenas e grandes,


liberdade e poder estratégico

A tendência de que em economias complexas a


maior parte dos empregos estejam distribuídos entre
as empresas menores provavelmente continuaria no
CEM, embora as empresas comunais tendam a
contratar mais funcionários do que as empresas
privadas por causa do total investimento das
receitas.
O potencial estratégico das grandes empresas
são maiores do que a das empresas menores
tomadas separadamente, a tecnologia e a própria

274
estrutura da grande empresa são muito úteis para
questões de defesa nacional. Essa diferença entre a
empresa pequena e a grande nos sugere que o
Estado deve ter maior atenção e interesse nas
grandes empresas, estas últimas não são muitas e
podem ser acompanhadas pelas instituições
públicas. Os países menos desenvolvidos
necessitam de cuidados especiais porque muitas
multinacionais, bem como a importação, não
garantem transferência de tecnologia. A situação de
baixo desenvolvimento tecnológico de alguns países
limitam até mesmo a soberania do Estado porque os
países desenvolvidos podem embargar de diversas
formas ou mesmo utilizar o poderio bélico contra os
países subdesenvolvidos. As empresas comunais do
CEM podem suprir estas necessidades técnicas e
econômicas dos países menos desenvolvidos e
também podem consolidar a importância estratégica
das grandes empresas em qualquer país.
Os apelos de liberdade para a livre empresa
continuam podendo ser correspondidos tanto no
CEM quanto no capitalismo.
*

9.2 Diferenças entre os danos sociais e


materiais das empresas pequenas e das
maiores

Podemos observar e comparar pontualmente o


CEM com os temas que destacamos no respectivo
tópico relativo a estes pontos.

275
1. Os proprietários do grande capital que
existe no capitalismo tenderão a
desaparecer com o progresso do CEM.
As grandes fortunas ligadas a esta classe
detentora dos meios de produção
também tenderá a desaparecer e com
isso a redução das desigualdades sociais,
políticas e econômicas também reduzem.
Os proprietários de pequenas empresas
não são tão lesivos para a sociedade
como os grandes proprietários os são, e
por isto mesmo poderão continuar
gerando os seus benefícios sociais
relativos a sua atuação econômica.
2. Todo o poder de influência política que
envolve a propriedade do grande capital
desaparece a medida que as empresas
comunais conquistem a sua posição
natural de hegemonia. Com a
propriedade coletiva dos grandes meios
de produção os abusos do poder
econômico privado deixa de existir. A
facilidade de união da elite econômica
nos países capitalistas se deve a sua
natural condição de minoria, a
organização da classe rica permite a
manipulação das políticas para atender
aos seus interesses. O desequilíbrio no
poder político que tende a existir no
capitalismo devido as grandes fortunas e
a apropriação privada dos meios de
produção são evitadas no CEM devido a

276
propriedade comum dos meios de
produção. No CEM os cidadãos podem
conquistar maior igualdade econômica e
política.
3. No capitalismo a transmissão de
informações pelos meios de
comunicação sofrem a influência da
classe rica que detém os grandes
veículos de comunicação, no CEM essa
nefasta relação de causalidade inexiste
porque os meios de comunicação ficarão
nas mãos da sociedade por intermédio da
empresa comunal. No capitalismo a
própria publicidade empresarial costuma
financiar os meios de comunicação e
influencia na formação e interpretação
de informações, no CEM as empresas
comunais que buscarem fazer as suas
campanhas publicitárias não levam
requisições de interesse de classe aos
veículos de comunicação porque não
representam classe alguma, as empresas
comunais são autônomas e por isso nem
mesmo defendem os interesses de
governos ou políticos. A influência
ideológica que as grandes empresas
privadas podem ter sobre a sociedade
não possui fundamento ético e no CEM
este problema pode ser evitado.
4. A tecnologia e a infra-estrutura das
grandes empresas são de suma
importância para os Estados. As grandes

277
empresas privadas que tenham interesses
incompatíveis com os interesses sociais
são muito mais lesivas do que as
empresas menores com os mesmos
interesses nefastos. A atuação antiética
da grande empresa é muito mais lesiva
do que a da pequena empresa. No CEM
as empresas comunais não representam
os interesses individuais de
proprietários, com isso podemos
assegurar o uso ético dos recursos
comuns com muito mais facilidade do
que qualquer tentativa de controle da
empresa privada. A resistência e
manipulação por parte dos donos do
capital é historicamente percebida nestes
casos. Outra questão é que se as grandes
empresas podem favorecer o
crescimento econômico elas também
podem limitá-lo, as empresas privadas só
investem quando podem extrair os lucros
para os proprietários, já a empresa
comunal possui o objetivo de estar
sempre atuando e investindo todas as
suas receitas.
5. Os monopólios e oligopólios que em
muito prejudicam a sociedade costumam
ter como precursores as grandes
empresas, as empresas menores
necessitam de muita organização para
manipularem o mercado. Todos os males
advindos dos monopólios e oligopólios

278
podem ser evitados no CEM, as
empresas comunais devem manter a
concorrência e as empresas pequenas
privadas continuam com poucas
possibilidades em manipular o mercado.
Todos os benefícios da concorrência são
mais naturais no CEM do que no
capitalismo.
6. A estratificação das desigualdades
sociais é fortalecida pela grande empresa
privada, a herança é uma das formas de
se garantir a grande desigualdade de
riquezas presentes no regime capitalista.
A herança exclui todos os argumentos
relativos a meritocracia no capitalismo,
pessoas que em nada participaram do
processo de geração de riqueza herdam
fortunas que os tornam mais poderosos e
ricos do que os cidadãos que realmente
se esforçaram para produzir aquela
riqueza. No momento em que uns
nascem com riqueza e outros não,
inexiste a igualdade de condições para a
busca do melhoramento da qualidade de
vida. No CEM toda esta estratificação
que desiguala os cidadãos da mesma
sociedade tende a ser eliminada. No
CEM o esforço social para a geração de
riquezas não diferencia ninguém com
relação ao seu nascimento, cada um é
favorecido de acordo com o seu mérito e
esforço pessoal.

279
7. Os danos ao meio ambiente muitas vezes
possui como precursores as grandes
empresas privadas. O grande poder
político e econômico dos grandes
proprietários privados do capital
dificulta a punição dos culpados mesmo
quando existem leis para isto. No CEM a
punição dos responsáveis pelos danos
previstos em lei é mais fácil por se tratar
de funcionários de classe média e não de
grandes proprietários extremamente
ricos e poderosos. As relações de poder
são mais equilibradas no CEM e isso
permite que as instituições públicas
possam funcionar com maior eficiência.
8. A influência da classe rica na legislação
e execução das leis é inevitável em
países que possuem grandes
desigualdades de riqueza. Tanto as leis
quanto a execução delas sofrem
influências dos cidadão afortunados, isso
muitas vezes leva o Estado a adotar
políticas promíscuas que só beneficiem a
poucos cidadão de grande poder
econômico e político. Podemos afirmar
que com o progresso do CEM estes
problemas serão resolvidos pela
eliminação desta classe de extrema
riqueza e influência.
9. Os graves problemas de corrupção
originados da grande capacidade de
corromper da classe rica são resolvidos

280
no CEM com o enfraquecimento desta
classe. O enfraquecimento da classe rica
é natural no CEM com o avanço das
empresas comunais.
10. Os ganhos irregulares comuns ao
capitalismo que podem prejudicar toda a
sociedade também devem reduzir no
CEM com o controle efetivo do Estado
sobre as empresas comunais, este tipo de
controle é muito difícil em empresas
privadas por causa da absoluta
autonomia perante órgãos de controle. A
auditoria e outras formas de controle da
empresa comunal são desvinculadas do
setor administrativo, isso garante o
controle efetivo das empresas comunais.
A punição também é mais fácil e dura no
CEM do que em instituições privadas.
11. Os graves problemas que as grandes
empresas privadas podem transmitir aos
acionistas, funcionários ou a toda a
sociedade são mais fáceis de serem
controlados no CEM devido ao controle
que o Estado pode ter. As fraudes das
grandes empresas privadas podem até
mesmo desestabilizar todo o sistema
econômico vigente, principalmente no
frágil sistema capitalista que necessita
tanto dos lucros.

281
9.3 Diferenças de funcionamento e
competitividade de empresas grandes e
pequenas

A grande diferença entre a empresa grande e


a pequena nos mostra que as menores são
inofensivas se comparadas as grandes, são
as grandes empresas privadas que
caracterizam a exploração do trabalho e a
alienação. Nas empresas menores os
proprietários costumam ter participação
ativa na produção de riquezas, além de não
poder retirar grandes lucros porque estes são
naturais das grandes empresas e não das
pequenas. O CEM leva em consideração
estas diferenças, por isso visa substituir as
grandes empresas privadas por empresas
comunais, ao passo que não necessariamente
precisa se preocupar em substituir as
menores.
As formas de financiamento que
possibilitam o crescimento das empresas
privadas podem ser substituídas no CEM
pelas formas de financiamento das empresas
comunais que já tratamos. Resolvendo a
questão do financiamento já resolvemos
talvez o problema mais relevante quanto a
constituição da grande empresa.
A dissociação entre o controle da
propriedade da grande empresa e a sua
gestão é regra geral na maioria dos países

282
capitalistas e é o mesmo motivo que permite
a empresa comunal se equiparar a empresa
privada em seus moldes básicos.
Os lucros que tendem a ser maiores com o
maior tamanho das empresas constituem
outro motivo pelos quais a grande empresa
privada concorre em desigualdade com as
empresas menores. A maior eficiência da
empresa comunal em relação a grande
empresa privada não é mais desigual do que
a desigualdade na concorrência entre
empresas pequenas e as grandes empresas
privadas.
Os cinco pontos que tratamos sobre as
vantagens que as empresas maiores e a
união de empresas para formar uma
corporação maior possuem são algumas das
motivações que tornam as empresas maiores
mais competitivas que as menores. Com isso
a igualdade de concorrência proclamada
pelos defensores da livre iniciativa e do
Estado liberal é fantasiosa. A própria
capacidade financeira altera totalmente as
possibilidades de igualdade entre a empresa
grande e a pequena. A igualdade almejada
entre a grande empresa e a pequena é
ilusória, não podemos ser inocentes quanto a
isso. Se inexistirem justificativas éticas para
a manutenção das vantagens competitivas
que as grandes empresas possuem quanto as
menores, então não há motivos para

283
reclamar sobre as vantagens da empresa
comunal sobre a grande empresa privada.
*

9.4 Dissociação entre controle e direção


na empresa grande

A revolução na gestão das grandes empresas


que consolidou o processo de dissociação
entre o controle e a direção nas grandes
empresas privadas é a mesma grande
mudança que possibilita as empresas
comunais terem os mesmo e ainda maiores
vantagens competitivas que as empresas
privadas. Essa revolução na gestão das
empresas foi capaz de manter os incentivos
que promovem os máximos esforços
pessoais pela produtividade naturais do
capitalismo e transpô-los para um sistema
mais justo e igualitário como é o CEM.
Devido a esta mudança na gestão o CEM
pode manter e aprimorar todas as vantagens
do capitalismo e ainda assim promover os
ideais comunistas de forma mais eficiente do
que nunca.
*

9.5 O preço do sucesso

284
As vantagens competitivas que as empresas
privadas possuem diante das instituições
públicas tradicionais são facilmente
reconhecidas, qualquer escola de
administração reconhece virtudes e vícios
nos diversos modelos administrativos. Se a
sociedade quiser adotar o CEM e colher os
seus benefícios ela precisará reconhecer que
a empresa comunal não pode dar regalias
aos funcionários que reduzam a
competitividade delas diante das empresas
capitalistas. A empresa comunal não pode
dar privilégios que as empresas privadas
evitem por perceber ser prejudicial a
eficiência da empresa. A autonomia política
e algumas outras questões administrativas
também devem ser levadas em consideração
para evitar a distorção da função da empresa
comunal.
*

10 Outras questões de relevância


que envolvem as grandes
empresas.

10.1 Preços básicos da economia

No CEM as grandes empresas serão comuns


e por isso a base de preços que dependem
das indústrias básicas e das mais complexas

285
tenderão a serem menores do que no
capitalismo. A ausência da necessidade de
lucros permite a redução dos preços pelas
empresas comunais. Desta forma o poder
aquisitivo da população subirá, assim como
o nível de consumo e a qualidade de vida
referente a estas questões.
*

10.2 Concentração econômica

A concentração econômica das grandes


empresas é natural na economia de mercado,
mas se a concentração estiver nas mãos das
empresas comunais ela estará no final das
contas nas mãos da sociedade.
No capitalismo os proprietários podem sair
do país e levar consigo os seus recursos, o
mesmo não ocorre no CEM. Isso porque a
empresa comunal não tem proprietários e
porque ela pode ter regras instituídas quanto
a tais casos. Muitas vantagens a sociedade
pode perceber com a consolidação do CEM.
*

10.3 Educação e a grande empresa

A educação faz parte do esforço coletivo


que permite o desenvolvimento técnico da
sociedade. As grandes empresas se

286
beneficiam deste esforço coletivo, por isso é
justo que estas mesmas empresas retribuam
a sociedade. Os proprietários das empresas
capitalistas aparentemente se beneficiam
mais do esforço coletivo do que contribuem
com ele. Não é plausível crer que alguém
que recebeu vultosa herança tenha
contribuído mais para a geração de riquezas
do que grande parte da sociedade junta, pois
de fato temos herdeiros que sozinhos
recebem maiores rendas do que grande parte
da sociedade junta. No CEM esta
contradição é corrigida. As empresas
comunais retribuem muito mais e de forma
justa a toda a sociedade envolvida no
esforço coletivo pela geração de riquezas.

---------------------------------------------------------

11 Alguns problemas da social-


democracia
Alguns dos problemas associados a social-
democracia podem ser evitados com o empenho
político. O CEM não exige necessariamente que o
país adote medidas que reconhecidamente
acarretam em alguns problemas. Taxar as grandes

287
fortunas não é necessário no CEM, embora possa
ser feito. É questão de opção política.
*
Os impostos excessivos também não são
necessários no CEM.
*
Com a adoção das políticas do CEM o Estado
não precisa perder o foco nas políticas tradicionais.
Sem a necessidade de gastos constantes o Estado
fica livre para manter as demais políticas.

12 Problemas de relevância na
democracia

12.1 Aparelhamento político-partidário

O aparelhamento político-partidário é uma


realidade em muitos países capitalistas, a elite
política muitas vezes está ligada a elite econômica
ou simplesmente está tão presa à estrutura de poder
que não tem interesses na mudança do país. Para
mudar o sistema econômico e suas relações com o
poder político é necessário que a sociedade esteja
consciente desta condição. Ainda que as forças
detentoras do poder político e econômico possam
resistir às mudanças a sociedade pode mudar porque
em última instância o poder político reside na

288
maioria ainda que o poder econômico resida na
minoria, esta contradição é a mesma que possibilita
que a maioria decida os seus próprios destinos. A
minoria possui em si a força e a fraqueza, pois não
pode sustentar a sua vontade contra uma maioria
consciente.

== == ==

Conclusão
Podemos concluir que o Comunismo
Empresarial de Mercado é mais eficiente em gerar
crescimento econômico que os ordenamentos
estudados, também é mais eficiente em gerar
benefícios sociais.
Os modelos político-econômicos atuais estão
presos a dois paradigmas, geram crescimento
econômico, mas com muita desigualdade ou
diminuem a desigualdade, mas ao mesmo tempo
diminui o crescimento econômico causando
empobrecimento geral. O Comunismo Empresarial
de Mercado surge como uma alternativa apoiada na
ortodoxia econômica e de acordo com os dados
históricos. Isso significa que a lógica intrínseca ao
CEM não contradiz a lógica do “mainstream”
econômico, o comunismo é atingido mantendo-se
os conceitos norteadores da economia liberal e da
síntese neoclássica. Naturalmente não estamos
falando do comunismo marxista, nem de
planejamento central, ambos já foram rejeitados

289
pela história. O que falamos é de uma economia em
que os donos do capital são os antigos proletários,
isso significa que a economia é dominada por
empresas públicas. Portanto temos o ideal
comunista unido a eficiência prática da economia de
mercado. Essa é uma superação tanto do
capitalismo quanto do socialismo e da velha
esquerda.
Ao longo deste trabalho mostramos, por força
da lógica, que podemos ter crescimento econômico
ao mesmo tempo que temos equanimidade de renda
e justiça social. É possível alcançar um país
basicamente de classe média, uma sociedade sem
extremos de pobreza ou riqueza e ao mesmo tempo
uma economia afluente.
Alguns dos grandes males da nossa sociedade
podem ser resolvidos com o Comunismo
Empresarial de Mercado. Com o advento do Estado
moderno os governantes ganharam poderes
políticos gigantescos, isso levou a grande
desperdício de recursos oriundo do mal uso do
dinheiro público e da corrupção. Em muitos países
o poder desproporcional da elite política se tornou
problemático. O Comunismo Empresarial de
Mercado resolve grande parte destes problemas ao
inverter a direção de atuação do Estado. Ao invés de
políticas de cima para baixo, no CEM temos uma
economia descentralizada, onde empresas públicas
autônomas viabilizam empregos para que as pessoas
possam decidir sobre suas vidas de forma
satisfatória, sem a necessidade de assistencialismo
nem dos governantes.

290
Os grandes problemas sociais estão ligados a
pobreza e desigualdade de renda. A criminalidade
está em grande parte atrelada a pobreza e
desigualdade, pessoas com empregos e condições
de se manter com o seu trabalho estão menos
propensas a cometer crimes com finalidade de
ganho material. A desigualdade de acesso à
educação também é uma distorção causada pela
desigualdade de renda. Pessoas nascidas em berços
mais abastados recebem educação melhor e
melhores oportunidades de emprego
posteriormente. Famílias com menos posses
também sofrem mais quando ficam doentes, a saúde
costuma ser um problema sério para os mais pobres.
O Comunismo Empresarial de Mercado garante
uma economia mais desenvolvida e reduz a
desigualdade de renda entre os cidadãos, isso
permite uma sociedade com muito menos
problemas sociais que a sociedade capitalista atual.
No capitalismo a riqueza fica concentrada na
classe alta, os trabalhadores, que são os verdadeiros
responsáveis pela produção da riqueza, ficam
desprovidos da sua real parcela da riqueza por eles
produzida. O CEM resolve essa distorção, dando a
riqueza aos verdadeiros merecedores dela, os
trabalhadores.

== == ==

291
Parte VI

Fases do Comunismo Empresarial


de Mercado
A princípio o Comunismo Empresarial de Mercado
poderia sem impeditivos lógicos avançar
naturalmente em direção a uma sociedade
comunista. As empresas públicas seriam mais
eficientes do que as privadas, com o tempo as
empresas privadas dariam lugar às empresas
públicas. Em algum momento tenderíamos a ter
uma economia toda baseada em empresas públicas.
Essa é a característica fundamental do comunismo,
meios de produção comum.
No entanto existe a possibilidade do capital privado
ser mais resiliente do que se espera, neste caso
poderíamos identificar e aplicar três fases distintas
para implementar o Comunismo Empresarial de
Mercado.

1º Uma primeira fase que vamos denominar:


Capitalismo Público
2º Uma segunda fase que vamos denominar:
Socialismo Acelerador
3º Terceira fase que é o Comunismo Empresarial de
Mercado propriamente dito.

292
Capitalismo Público

Na primeira etapa denominada Capitalismo Público


aproveitamos a estrutura do capitalismo ainda
existente para utilizar os recursos dos impostos na
criação e compra das grandes empresas pelo Estado.
Assim iniciamos um processo de empresas
transformação econômica onde as grandes empresas
passarão a ser empresas públicas nos moldes do
CEM. Como essas empresas serão mais eficientes
do que as privadas, já que serão iguais em tudo
(A=A), porém com a vantagem de reinvestir todo o
lucro, então teremos as empresas públicas
substituindo as grandes empresas privadas.
Capitalismo Público é a primeira etapa, que visa
pegar os elementos positivos do capitalismo,
substituindo o capital privado pelo público. É a
etapa que entra um programa de crescimento
econômico acelerado, onde a economia precisa
crescer, aí usamos o modelo selvagem de
capitalismo já focando na substituição de capital
privado por empresas públicas. A mais valia e
exploração ainda existe, mas é levada para a
prosperidade comum.
O Estado Governamental reduziria constantemente
e os recursos de impostos deixariam de ser gastos e
passariam a ser investimento. Neste processo a
economia cresceria e se tornaria mais dinâmica. As
pequenas e médias empresas privadas seriam
beneficiadas e se tornariam mais lucrativas com o
crescimento econômico.

293
Os resultados naturais desta fase seriam crescimento
econômico acelerado e redução da desigualdade
social extrema, já que as grandes empresas
passariam a ser públicas. Entretanto ainda haveria
uma classe afluente das empresas médias, porém
não seria uma elite tão poderosa capaz de corromper
políticos e distorcer o sistema econômico.
Outro resultado dessa fase seria a redução do Estado
Governamental, podendo levar a extinção da casta
política que tanto deturpa as democracias
burguesas. As menores necessidades de decisões
políticas poderiam ser realizadas pelos cidadãos em
uma Telecracia (Vasconcelos, Leandro, 2023) ou
outro modelo muito mais honesto que a democracia
burguesa.
Os avanços seriam tantos que muitos países
desejariam mesmo se manter perpetuamente no
Capitalismo Público e não há problema nisso. Seria
um modelo, em si, muito superior ao capitalismo
vulgar.

Socialismo Acelerador

Na segunda etapa denominada Socialismo


Acelerador, já teremos um país livre da opressão da
classe rica. Podemos avançar para o fim da
diferença entre as classes sociais. Essa etapa
buscaria acelerar o ritmo em direção à fase final do
Comunismo Empresarial de Mercado propriamente
dito.
Algumas medidas poderiam ser adotadas, tais
como:

294
Taxação de grandes fortunas seria um dos primeiros
passos
Com o fim da fase denominada Capitalismo Público
grande parte dos meios de produção que pertenciam
a grande burguesia já estariam nas mãos do Estado,
no entanto ainda haveriam ricos, pois o Estado
naquela fase ainda compraria as empresas, com isso
as pessoas continuariam com o dinheiro da venda
das empresas. A taxação de grandes fortunas
poderia acabar com essa discrepância de renda.
Com isso o Estado teria mais recursos para
continuar financiando a criação de mais empresas,
isso fomentaria a economia. Por outro lado, esse é
um movimento que põe em risco a saúde da
economia. Poderia haver transtornos e pânico por
parte do grupo rico e do grupo dos pequenos
burgueses. Como essa taxação pode ocorrer é uma
arte que deve levar em conta todo o cenário
econômico.

Limite de movimentação financeira

A limitação de movimentação financeira é uma


medida essencial para acabar de vez com as
diferentes classes sociais. Com uma limitação de
movimentação de renda acabamos também com o
problema da grande corrupção nas empresas
públicas, já que ninguém será rico no país que
adotar essa limitação. Essa limitação é possível
com as novas tecnologias que permitem o fim do
papel moeda, dando lugar apenas às movimentações
financeiras bancárias. As movimentações bancárias

295
podem ser controladas facilmente, pois deixam
rastros e os bancos podem ser obrigados a impedir
movimentações financeiras maiores que o limite
legal.
No Socialismo Acelerador se pode decidir que não
será permitido ter renda acima do maior salário
pago na empresa pública. Se a pessoa movimentar
mais que o seu salário, isso pode gerar uma
exigência de comprovação ou mesmo pode-se ir a
um extremo de não permitir movimentação acima
do salário da empresa. Com isso não teríamos uma
classe burguesa e nem uma classe oriunda da
corrupção.
Outra repercussão importante da limitação de
movimentação financeira é que ela inviabiliza a
corrupção que envolvam transações internacionais.
Não poder tirar o dinheiro do país acima do salário
da empresa pública, nem entrar com dinheiro de
fora, impede que um funcionário de empresa
pública tenha enriquecimento ilícito mesmo que vá
para o exterior para fazer as transações bancárias.

Expropriação ou aumento de impostos?

Expropriação das empresas pode ser uma


possibilidade já que a economia não entraria em
colapso facilmente porque já teria uma base grande
de empresas públicas lucrativas. No entanto a
expropriação deve ser vista com muita cautela já
que outros países podem não aceitar essa medida.
Uma medida mais aceita é o aumento de impostos,
pois ainda é visto como uma medida não autoritária.

296
Taxar para aumentar a competitividade da empresa
pública
Uma medida controversa para acelerar a transição
socialista é sobretaxar as empresas privadas que
estão em concorrência com a empresa pública para
aumentar a competitividade da empresa pública.
Essa medida envolve um risco muito grande de
reduzir o potencial de produtividade da empresa
pública já que ela estaria ganhando a concorrência
baseada em vantagens artificiais e não em eficiência
comprovada pelo mercado. Embora em setores que
o estado está entrando possa ser útil, generalizar
esta prática pode reduzir a competitividade e
eficácia das empresas públicas como um todo.

Fim do Estado Governamental ou inicío do


Estado de bem-estar

Nessa etapa temos dois caminhos a escolher. Um é


acabar com a pobreza e desigualdade de classes
simplesmente e deixar que cada pessoa tome suas
decisões sobre o que é melhor para a sua vida.
Podemos reduzir drasticamente o Estado
governamental, que é a parte do Estado
administrado por governantes e deixar apenas a
Infraestrutura Autônoma, ou seja, as empresas
públicas autônomas. Com isso não teríamos mais a
necessidade da classe política e nem os problemas
da ineficiência ligada às decisões políticas. O outro
caminho é adotar um modelo de socialismo de bem-
estar com características similares ao estado de
bem-estar social. Essa opção é possível porque na

297
segunda etapa do CEM, no Socialismo Acelerador,
quando o capital privado já não domina mais o
estado, então é possível dar mais direitos aos
trabalhadores. Um estado de bem-estar socialista
seria possível porque não teríamos mais uma
burguesia para atrapalhar. Dar mais direitos
trabalhistas seria viável já que todas as empresas
seriam públicas, naturalmente tais medidas
baixariam a lucratividade geral, mas se forem feitas
com parcimônia de modo a não gerar mais despesas
do que receita nas empresas, poderíamos ter um
modelo que poderia melhorar as condições de vida e
trabalho da população como um todo.
Medidas possíveis seriam a redução da jornada de
trabalho, aumento do salário mínimo, exigência de
melhores condições de salubridade no trabalho etc.

Comunismo Empresarial de Mercado

Com o avanço do CEM, à terceira etapa caberia


extinguir o que restasse do estado governamental. A
terceira etapa denominada Comunismo Empresarial
de Mercado, ainda só é possível imaginar como
seria de forma vaga, pois ainda não temos visões
concretas de como seria uma sociedade sem a
necessidade de estado. Seria em muito semelhante
ao estágio final do comunismo que Marx acreditava,
já que não haveria distinções de classe nem Estado,
teríamos um novo homem vivendo em uma nova
sociedade, uma sociedade justa.

298
Parte VII

A legitimidade do estado e dos


impostos: crítica à ética da
propriedade privada

Introdução
A ética da propriedade privada (EPP)
é diretamente ligada a ética argumentativa. A
argumentação é uma ação humana que pressupõe a
utilização do corpo humano como um recurso
escasso. A argumentação pode ser empregada para
fazer justificações, e assim proposições éticas.
William Rehg assim define o contexto da ética
comunicativa que dá base à ética argumentativa:
Eu quero introduzir a ética do
discurso de Jürgen Habermas (ou
"ética comunicativa") como um
veículo para a reflexão sistemática
sobre os problemas que atendem
ao consenso em sociedades
pluralistas. (REHG, 1997, P.2,
tradução nossa)
Jürgen Habermas foi um dos
principais defensores dessa posição. A ética do
discurso de Habermas leva à ética argumentativa de
Hans-Hermann Hoppe. Este último observa que,
quando duas partes estão em conflito, elas podem

299
optar por resolver o conflito por um dos seguintes
meios: “Engajar-se em violência ou se envolver em
argumentações honestas”. Ele conclui que a “não-
violência” é uma das normas subjacentes à
argumentação ética que é aceita por todos os
participantes. O conteúdo das proposições não
poderia negar as pressuposições da argumentação.
Fazer isso seria uma contradição performativa entre
as ações e as palavras de alguém. Então Hoppe faz a
seguinte ligação entre a argumentação e a ética de
propriedade privada:
Eu demonstro que somente a ética
libertária de propriedade privada
pode ser justificada
argumentativamente, porque isso
é a própria pressuposição
praxeológica da argumentação; e
qualquer proposição ética não
libertária está violando essa
preferência demonstrada. Tal
proposição pode ser feita, é claro,
mas seu conteúdo proposicional
iria contradizer a ética para qual
ele demonstrou uma preferência
em virtude do próprio ato de
elaborar proposições,(...)
(HOPPE, 2006, P.340, tradução
nossa).
Em primeiro lugar é preciso dizer
que não é toda a ética de propriedade privada que
está equivocada, apenas alguns dos corolários dela.
A ética de propriedade privada parte
de alguns princípios. O “axioma da ação” é o
primeiro princípio que Hoppe utiliza para iniciar a
fundamentação da ética argumentativa. Esse

300
conceito é originalmente tirado de Ludwig Von
Mises (MISES, 2010), onde se conclui que seres
humanos agem, isso não pode ser negado sem cair
em contradição performativa. Em seguida usando a
lógica da ação dá o fundamento à “praxeologia” que
utiliza o axioma da ação e as leis do raciocínio
lógico para deduzir outras “leis” da ação humana,
como as leis fundamentais da economia.
É importante frisar que Mises
defende que não existe nenhuma justificativa final
para proposições éticas. Nas palavras do Hoppe:
“A economia pode nos informar
se certos meios são ou não
apropriados para realizar certos
fins, no entanto se os fins podem
ou não ser considerados justos
pode tampouco ser decidido pela
economia ou por qualquer outra
ciência. Não existe justificativa
para escolher um fim ao invés de
outro.” (HOPPE, 2006, P.340,
tradução nossa).
Em sua busca por um fundamento
racional da ética, Hoppe evita inicialmente os
argumentos utilitaristas. Então Hoppe (HOPPE,
2006) afirma que a ética libertária de propriedade
privada é a única que pode ser justificada
argumentativamente, por uma alegada
pressuposição praxeológica da argumentação.
Hoppe alega que a argumentação é
uma ação que exige o emprego de meios escassos e
de propriedade privada. Então Hoppe segue com a
seguinte afirmação:

301
“Para começar, ninguém poderia
possivelmente propor nada, e
ninguém poderia tornar-se
convencido de qualquer proposta
por meios argumentativos, se o
direito de uma pessoa de fazer uso
exclusivo de seu corpo físico não
tivesse sido pressuposto.”
(HOPPE, 2006, P.342, tradução
nossa).

Isso significa que para que não haja


contradição prática na argumentação é preciso
aceitar o direito de autopropriedade da outra pessoa
que está argumentando.

Problemas da ética argumentativa e da EPP


Até aí Hoppe não comete nenhum
erro lógico, porém a seguir ele comete um salto
lógico, ele faz uma afirmação que não deriva da sua
lógica argumentativa. Esse erro lógico está na
seguinte proposição de Hoppe:
“Além disso, seria igualmente
impossível sustentar a
argumentação para qualquer
comprimento de tempo e
depender da força proposicional
do argumento de alguém se esse
alguém não for autorizado a se
apropriar, além do próprio corpo,
de outros meios escassos através
da ação homesteading (se utilizar
deles antes que outro alguém o
faça),” (HOPPE, 2006, P.342,
tradução nossa).

302
Afirmar que a propriedade só pode
derivar da apropriação original (Homesteading) não
possui nenhuma ligação lógica com as premissas
citadas anteriormente, tais como o “axioma da
ação”, a praxeologia, e as contradições
performativas de quem tente atacar a ética
argumentativa. Como foi dito anteriormente, para
que a lógica da ética argumentativa seja válida é
preciso pressupor a autopropriedade, mas dizer que
a apropriação original é a forma de apropriação que
deve ser aceita é extrapolar essa lógica.
Então entramos na seguinte
proposição do Hoppe:
“Também é óbvio que tal direito
de propriedade sobre o próprio
corpo deve justificar-se um priori,
quem tentar justificar qualquer
norma seja ela qual for já terá que
pressupor o direito exclusivo de
controle sobre o corpo como uma
norma válida, simplesmente para
dizer, "Proponho tal e tal”.
(HOPPE, 2006, P.342, tradução
nossa).
Sim, a ética argumentativa exige a
aceitação de que temos controle exclusivo sobre o
corpo, mas não demonstra como um recurso natural
pode ser apropriado sem gerar conflitos. A
autopropriedade do corpo é a priori porque é
necessária para que não haja contradição
performativa. Por outro lado, a apropriação original
(Homesteading) não é um a priori porque não é
necessário para a argumentação funcionar. Tem que
haver uma apropriação legítima para que a

303
propriedade seja necessária para a argumentação.
Como veremos adiante, para a apropriação ser
legítima os mesmos direitos de apropriação devem
ser dados a todos os indivíduos.
O importante notar é que Hoppe usa
a apropriação original como busca da resolução de
conflitos. Hoppe alega que sem o princípio da
apropriação original ninguém poderia fazer nada
nem poderia sobreviver. O problema da proposta do
Hoppe é que a apropriação original não elimina os
conflitos, ela apenas diz arbitrariamente quem deve
ter a propriedade dos recursos escassos, nesse caso
ele defende que seja quem se apropriar
originalmente de algo.
Hoppe afirma o seguinte para validar
o argumento pró apropriação original:
“Se ninguém tivesse o direito de
controlar qualquer coisa de
qualquer modo além do seu
próprio corpo, então todos nós
deixaríamos de existir” (HOPPE,
2006, P.342, tradução nossa).

Na verdade, com a minha proposta


de Estado controlador da coisa pública, ainda assim
as pessoas estariam controlando suas posses das
propriedades comuns e poderiam sobreviver, tal
como na proposta hoppeana.
Hoppe tenta implicar que qualquer
forma de apropriação diferente da original seria
insustentável e toda a população morreria (HOPPE,
2006). Ora, a maioria dos Estados utilizam formas
de apropriação diferente da original e ninguém

304
morreu por isso. Durante o feudalismo a
propriedade pertencia ao dono do feudo e os
camponeses apenas trabalhavam nela sem nunca ter
a propriedade da terra, mesmo assim as pessoas não
morreram, portanto o argumente hoppeano é
inválido. O que é necessário para a sobrevivência é
a posse e não a propriedade.
Hoppe define agressão como invasão
da integridade física da propriedade de outra pessoa,
dessa definição também não decorre que a
apropriação original seja a forma correta ou justa de
apropriação, como veremos adiante.
Hoppe fala sobre os “atrasados” que
não teriam direito aos recursos apropriados por
outros, mas essa é uma proposição arbitrária. Para
buscar uma ética que universalize os direitos temos
que dar os mesmos direitos para todos, não importa
se são “atrasados” ou os primeiros a se apropriarem
de algum recurso escasso. Então para que todos
tenham os mesmos direitos precisamos recorrer a
uma forma de apropriação que não desiguale os
primeiros e os atrasados. Considerando os recursos
do planeta iguais para todos chegamos a um
conceito de “panpropriedade”, ou propriedade
comum a todos, ao invés da simples propriedade
que exclui os não proprietários. Para fazer isso
evitando conflitos podemos recorrer ao Estado, ou
seja, uma entidade que garanta a aplicação das
normas éticas e garanta que os recursos pertençam
igualmente a todos.

Alguns problemas práticos da EPP

305
Praticamente não temos espaço livre em nosso
planeta para se aclamar um território novo como
uma apropriação original (homesteading). Até
mesmo os locais desolados e sem recursos valiosos
que tendem a não ser do interesse humano, tais
como grandes desertos ou grandes selvas, ou locais
congelados, como a Antártida. Ainda assim, esses
lugares já possuem alegados donos, países africanos
se apoderaram do deserto do Saara, a Amazônia foi
apropriada por países da América do Sul. Então, no
planeta Terra a apropriação original é praticamente
inviável.
Alguns podem dizer que as propriedades atuais
foram apropriadas originalmente ao longo de
centenas ou milhares de anos, portanto seriam
propriedades éticas. Mas sabemos que extensos
territórios foram tomados à força das pessoas que
viviam antes naqueles locais. Isso ocorreu, por
exemplo, com a colonização das terras americanas,
onde europeus tomaram as terras e escravizaram as
populações nativas. Não há como definir quais
territórios foram apropriados pacificamente e quais
foram em algum momento apropriados mediante
violência. Durante a idade média europeia os nobres
passaram a ser os donos das terras e os demais
apenas tinham a sua força de trabalho.
Muitas das propriedades antigas e atuais foram
abarcadas mediante violência ou ameaça. Em
grande parte das sociedades existentes ao longo dos
milhares de anos que os humanos existem na Terra,
a propriedade das coisas era comum. Caçadores e
coletores, por exemplo, não possuíam proprietários

306
privados dos terrenos. Só com o sedentarismo, com
a criação da agricultura e criação de animais as
pessoas começaram a se preocupar com a definição
de propriedade privada. Não tem como afirmar
quais territórios foram apropriados sem violência ou
se em algum momento histórico houve violência,
isso torna o conceito de apropriação original
(Homesteading) inviável, já que ele exige
apropriação pacífica.
Consequentemente, os recursos naturais do mundo
já possuem donos, por conta dos sistemas políticos
e econômicos aplicados historicamente, poucas
pessoas nos países formam uma casta de elite,
enquanto a grande maioria nasce pobre. Os filhos
dos ricos tendem a herdar bens e recursos, já os
filhos dos pobres apenas possuem o próprio corpo
para usar como fonte de trabalho e renda.
Isso faz com que com o passar das gerações alguns
poucos nasçam em família com muitas posses,
enquanto outros nascem na pobreza. Não queremos
dizer que não pode haver mobilidade social no
capitalismo, mas que a desigualdade enorme que
existe não precisaria existir em um modelo mais
igualitário e eficiente.
Vamos supor que um navegante chegue a uma ilha
desabitada. Em um local desolado seria fácil alguém
chegar e se apropriar originalmente de algo, não
haveria conflitos porque não teria ninguém para
disputar os recursos locais. Com a vinda de
imigrantes e o crescimento populacional os
conflitos surgiriam. Não haveria igualdade material.
O navegante seria dono de toda a ilha e quem não

307
quisesse aceitar suas condições morreria de fome,
sede, frio ou qualquer outra morte por carência
material. Em um modelo sem Estado, o dono da ilha
teria tanto poder que poderia recrutar uma polícia
privada para defender seus próprios interesses, com
isso ele poderia impor as leis que quisesse. Nesse
caso, ainda que houvesse igualdade formal (perante
a lei) a disparidade material seria tão grande que
tornaria a igualdade apenas um conceito metafísico,
sem existência no mundo real. A lei seria mera
formalidade, servindo apenas para manter os
privilégios de uns ante os desafortunados.
A “panpropriedade” garante que os mais
afortunados, que nasceram em famílias que tinham
poder ou porque simplesmente chegaram primeiro,
tenham os mesmos direitos aos recursos do planeta
que os que chegarem depois ou nascerem em
famílias pobres.

Defesa do Estado com base na ética


argumentativa e na EPP
Então aqui podemos fazer uma
defesa do Estado usando os argumentos que são
válidos da ética argumentativa e parte da ética de
propriedade privada.
Penso que Mises estava correto na
seguinte observação:
(...) no entanto se os fins podem
ou não ser considerados justos
pode tampouco ser decidido pela
economia ou por qualquer outra
ciência./Não existe justificativa
para escolher um fim ao invés de

308
outro. Em última instância, qual
fim é escolhido é arbitrário de um
ponto vista científico e é uma
questão de capricho subjetivo,
incapaz de ter qualquer
justificativa para além do mero
fato de simplesmente ser
preferido. (HOPPE, 2006, P.340,
tradução nossa).
Não existe uma ética certa, todos os
modelos éticos são arbitrários porque não se pode
provar qual seja a forma mais universalizante e
igualitária de tratar todos os indivíduos e as
propriedades. Isso porque cada ser humano é
diferente dos demais, cada um tem seus próprios
desejos e subjetividade. O que podemos é tentar se
aproximar ao máximo da justiça, ou seja, tratar
todos igualmente.
Se considerarmos que os recursos
escassos pertencem a todos, então teremos que
todos os bens são públicos e a apropriação deles por
um indivíduo é um roubo diante dos demais
indivíduos. A existência da coisa pública exige um
Estado, que pode ser estruturado de várias formas,
todas elas serão de alguma forma arbitrária. A
escolha do modelo de Estado será arbitrária, seja
democracia, oligarquia ou monarquia ou outra
qualquer. O que é importante frisar é que um Estado
que trate mais igualitariamente os indivíduos está
mais próximo de uma ética universalizante.
O Estado é a garantia de que todos
terão os mesmos direitos. Os impostos podem servir
como aluguel sobre algum bem ou recurso da coisa
pública pertencente a todos, para que as pessoas

309
possam ter posse de tais recursos. Valor esse que
deve ser redistribuído a todos de alguma forma para
universalizar a propriedade dos recursos.
Se todos os indivíduos seguissem
essa regra jamais teríamos conflitos.

Igualdade formal e material


É consenso que o ser humano não vive sozinho, é
um ser social. Por social entendemos que para viver
plenamente os humanos precisam de outros
humanos. Ninguém nasce e consegue sobreviver
sozinho. A coletividade cria as condições materiais
para a manutenção da vida. Daí decorre que para
haver autopropriedade é preciso a contribuição de
outras pessoas.
O trabalho, em seu caráter
universal e sócio-histórico é a
cooperação existente entre os
seres sociais e que produz formas
de interação humana como os
símbolos, a linguagem, as
representações, os costumes,
dentre outros componentes
denominados por cultura. Em
outras palavras, é o conjunto das
relações humanas que elabora e
produz, simbólica e
materialmente, as condições,
modos e formas da vida em
sociedade (BARROCO, 2008, p.
26-27).
Todo ser humano precisa de recursos para
sobreviver. Recursos podem ser alimentos, material
para fazer roupas, habitação etc. Quanto mais

310
complexa a sociedade mais recursos as pessoas
usam, seja por necessidade ou por vontade própria.
Não podemos afirmar que o ser humano é
ontologicamente um indivíduo desligado dos
demais. Para declarar que os humanos são
ontologicamente iguais, não basta existir apenas
uma autoproriedade, também é necessário existir
uma panpropriedade (propriedade de todos).
É preciso que todos tenham a propriedade dos
recursos, mas é importante que o fruto do trabalho e
ação das pessoas sejam dadas aos seus responsáveis,
do contrário não estaríamos respeitando a
autopropriedade e a liberdade humana. De acordo
com a praxeologia ainda estaríamos condenando a
nação à pobreza. Então, como podemos igualar
todos perante as propriedades e ao mesmo tempo
respeitar a ação e liberdade da autopropriedade
(indivíduo)? A panpropriedade resolve esse
problema de forma totalmente funcional com o
conceito de aluguel sobre a posse dos recursos
(panpropriedade).
Em busca de leis justas e éticas temos que tratar
todo ser humano como ontologicamente igual.
Como precisamos dos recursos escassos para
vivermos (ser um humano de fato), para sermos
ontologicamente iguais precisamos ter os mesmos
direitos à propriedade deles. Se um pode matar um
animal para comer, os demais também devem ter os
mesmos direitos. Se um pode se apossar de uma
maçã e extrair seus recursos, seja comendo, fazendo
um perfume ou vendendo, os demais também
devem ter direitos a esse recurso do planeta.

311
Mas não há como ter liberdade se cada um não
puder usar o recurso como bem deseja. A posse
resolve esse problema, assim a propriedade é
universalizada e a posse é uma extensão da
autopropriedade. Temos aí uma ética da
panpropriedade.
Tanto quem chegou primeiro terá o mesmo direito
de acesso aos recursos que os que chegarem depois.
Não teremos distinções entre proprietários e
proletários, que existe com as regras de propriedade
convencionais ou com a libertária. Dependendo do
sistema de administração dos recursos não teremos
nem mesmo grande distinção entre ricos e pobres.
A igualdade formal é a igualdade perante a lei,
enquanto a igualdade material é aquela que leva em
consideração a realidade material. Quanto mais nos
aproximarmos da igualdade formal e material mais
éticos seremos porque estaremos mais perto de
direitos universalmente iguais. Por fim, os seres
humanos serão tratados ontologicamente mais
igualitariamente, e perante as leis serão mais
próximos de uma universalização formal e material.

Limites da ética
Podemos admitir que por meio da
ética argumentativa seja ético não ferir a
autopropriedade de outro individuo, ou seja, o seu
corpo e o que mais seja extensão dele. A extensão
do corpo pode ser suas atitudes, trabalho, entre
outras, o resultado das atitudes e do trabalho
possuem ligação direta com a pessoa. Portanto, se
alguém produz algo, esse algo de certa forma

312
pertence a ele, ainda que como simples posse, já
que estamos propondo um estado sem propriedades.
O que não podemos definir como
absolutamente ético é a melhor forma de alocação
dos recursos escassos. Isso porque os indivíduos são
diferentes, se optarmos pela escolha democrática,
então quem discorde da escolha não achará justa a
decisão, se optarmos por não haver Estado, então
quem quer um Estado achará injusta a decisão. Se
distribuirmos valores iguais para todos os
indivíduos, ainda assim muitos poderão discordar.
Nunca teremos consenso absoluto devido à
complexidade da mente humana.
Mesmo a autopropriedade tem
limites. Por exemplo, alguém comete um ato
antiético e criminoso, muitos concordariam em uma
punição a essa pessoa, mas seja qual for a escolha
da forma de punição também seremos arbitrários.
Não existe alguém com autoridade para determinar
quais penas são mais justas. Mais uma vez o que
podemos fazer é escolher um modelo de governo
que ditaria as regras. Um governo democrático
escolheria por voto a forma de punição do
criminoso, então essa seria uma agressão ética
cometida contra a autopropriedade.
O que a lógica mostra ser eticamente necessário é
os recursos pertencerem a todos para evitar que um
tenha mais direitos que outros, porém o arbitrário é
a forma de distribuir os recursos. Temos que buscar
na razão e na argumentação um bom-senso
direcionado a escolha da melhor forma de distribuir
os recursos que pertencem a todos.

313
Defesa do Estado com base no utilitarismo
O próximo ponto que Hoppe trata é o
utilitarismo. Para deixar claro alguns argumentos
utilitaristas precisamos notar que o imposto é
justificado pelo Estado que está universalizando os
recursos.
Quanto ao ponto de vista
praxeológico, como manter os incentivos à ação
humana? Para todos os efeitos é como se a
propriedade fosse da pessoa que tem a posse da
mesma, ela pode passar para herdeiros, vender,
construir algo, sublocar, doar, misturar seu trabalho
a terra, etc. A única diferença desta proposta é que
os impostos devem servir como aluguel aos
recursos escassos. Assim se dá uma posse sobre os
recursos comuns, ao invés de propriedade.
Então como podemos gerar posse
sobre os recursos? O Estado pode “vender” os
recursos que ninguém tenha posse, pode permitir a
“apropriação original” ou qualquer outra forma,
desde que os impostos, melhor dizendo aluguel,
sejam cobrados a todos que possuam recursos e
revertidos para todos os indivíduos pertencentes ao
Estado.
A panpropriedade pertence a todos,
mas o que alguém faz com a posse da propriedade
vai das escolhas de cada um. De acordo com a
praxeologia e as leis econômicas, quem investir
melhor seu tempo e recursos tenderá a ter mais
posses. Quem escolher gastar mais ao invés de
investir, tenderá a ter menos posses. Esse tipo de

314
desigualdade é necessário para se manter os
incentivos ao crescimento econômico. O mais
importante na panpropriedade é que, por mais
posses que alguém tenha uma parcela igual de
propriedade sempre existirá para todos.

Conclusão 1
Em suma, a ética argumentativa
hoppeana e a ética de propriedade privada quando
deduzidas corretamente acabam por legitimar o
Estado. O erro de Hans-Hermann Hoppe não está
nas premissas e sim nos corolários específicos da
apropriação original e da propriedade exclusiva.
Finalmente quanto ao chavão
“imposto é roubo” podemos afirmar que os
impostos, quando definidos como aqui definimos,
ou seja, em forma de aluguel sobre os recursos
comuns, neste caso não se pode afirmar que
imposto seja roubo. Imposto só pode ser
considerado roubo se os recursos forem privados,
mas como vimos a propriedade privada é antiética,
pois é uma espoliação ou roubo aos demais
indivíduos que também deveriam ser donos dos
recursos para que não exista privilégio sobre os
recursos escassos. E como ninguém pode roubar o
que já é seu, as pessoas que formam o estado, que é
de propriedade de todos os seus integrantes, não
estão roubando ao cobrar impostos, apenas estão
alocando seus próprios recursos (recursos de todos)
para o bem-estar comum.

315
Conclusão 2
Como vimos, todas as formas de
organização política e econômica são de alguma
forma eticamente arbitrárias. A não ser que
absolutamente toda a população concorde com o
regime político integralmente, sempre teremos
conflitos de interesses. Podemos definir justiça
como a forma mais igualitária de tratar as partes,
neste caso as partes envolvidas são a população de
determinado território ou Estado. A ética é a forma
mais justa de tratar as partes. Por isso, a propriedade
dos recursos sendo comum é mais justa do que a
propriedade privada. Como o Comunismo
Empresarial de Mercado traz uma maior
equanimidade política e material do que os demais
modelos político-econômicos, então acredito que o
Comunismo Empresarial de Mercado seja o modelo
mais justo e ético a se adotar.

Conclusão 3
Por fim, como define o “axioma da
ação” e a “praxeologia”, a finalidade da ação
humana é sempre melhorar a condição de quem age,
inclusive materialmente. Um Estado ético não pode
contrariar a própria natureza humana. O
Comunismo Empresarial de Mercado possui o
potencial de maximizar o bem comum tornando a
nação mais próspera e justa do que qualquer outro
modelo. De outra forma o Estado entraria em
contradição com o axioma da ação que já
concordamos estar correto.

316
Considerações finais
Após uma análise da ética
argumentativa que dá base a ética da propriedade
privada e ao anarco-capitalismo, podemos concluir
que a lógica da argumentação pode provar que a
autopropriedade (a propriedade dos próprios
corpos) é eticamente justificável e necessária para a
argumentação. A argumentação é pré-condição para
resolver conflitos de forma pacífica, lembrando que
conflitos só existem quando mais de uma pessoa
deseja o mesmo recurso escasso. Neste caso, a ética
para a apropriação de recursos escassos exige a
autopropriedade e a argumentação.
Posteriormente concluímos que para
haver ética é necessário que todos tenham direitos
iguais aos recursos escassos. Quando um indivíduo
clama que alguns recursos pertençam apenas a ele,
sem levar em conta que outros indivíduos também
possuem direitos iguais, então o indivíduo que se
apodera dos recursos está abandonando a
argumentação e se tornando um ditador. Para a ética
ser universal precisamos que todos os recursos
pertençam a todos. Vimos que uma proposta
funcional para igualar todos os cidadãos quanto a
propriedade dos recursos é manter um Estado que
cobre aluguel sobre os recursos e distribua o aluguel
em forma de benefícios para todos. Portanto não
podemos afirmar que este tipo de imposto seja
roubo, ao contrário, é ele que permite o uso ético
dos recursos.

317
Por fim nos deparamos com a
questão utilitarista sobre qual é a melhor forma de
alocação e distribuição dos impostos. A
praxeologia, assim como o argumento biológico
(VASCONCELOS, 2012), nos provam que os seres
humanos agem sempre com o objetivo de melhorar
as suas condições, sejam materiais, psicológicas,
sociais etc. Desta forma podemos concluir que a
melhor forma de alocar os recursos dos impostos é
utilizar um modelo político-econômico que
maximize os benefícios e minimize os problemas
dos indivíduos. Como melhor alternativa para que
possamos oferecer melhores condições materiais e
liberdade para que cada um possa buscar seu
próprio bem-estar, podemos aplicar o Comunismo
Empresarial de Mercado. Essa é uma proposta que
visa maior desenvolvimento econômico, maior
igualdade de renda, maior igualdade política e a
redução dos problemas causados pelos outros
modelos de organização estatal.

318
Parte VIII

Motivos e métodos.

Público alvo e finalidade deste


trabalho
Os cidadãos podem se envolver na política e para
tal não precisam relegar essa tarefa a burocratas ou
a profissionais, cada ser humano pode pensar por si
próprio. As ciências podem nos fornecer
ferramentas para atuarmos no mundo, mas só a
nossa consciência pode nos obrigar a adotar uma ou
outra ação. Muitos homens desejam saber como
devem se comportar, assim a filosofia (na acepção
original grega) buscou conhecer o mundo e
encontrar a verdade das coisas. Mesmo após mais
de dois mil anos e com a sua divisão em diversas
disciplinas científicas ainda não conseguimos
encontrar a verdade de tudo, esta verdade seria
necessária para adotar uma ou outra ação com
certeza absoluta. Mas existe um mundo que é o que
nós observamos com os sentidos humanos e neste
mundo existem vontades, podemos estudar e tentar
compreender o que são tais vontades, no entanto
elas existem no presente e muitos querem saciá-las.
Temos aí uma questão que pode ser estudada e que
pode ser tratada de forma pragmática. Essa foi a

319
crítica de Marx aos rumos que a filosofia estava
tomando, segundo a qual: "Os filósofos até hoje se
preocuparam apenas em interpretar o mundo; trata-
se, porém, de transformá-lo". Assim o homem como
ser passível de razão pode atuar conscientemente no
mundo, a atuação política é a forma de atuar em um
mundo com tanta diversidade de seres, sejam
humanos ou outros.
Por estes motivos o público alvo deste trabalho é o
ser consciente e ele é também meio para o objetivo
final deste trabalho que é a atuação política, ou seja,
a atuação concreta no mundo.
Só o ser consciente pode mudar a realidade de
forma coerente com as suas aspirações. Nenhum ser
racional pode compactuar com a exploração e é
justamente o ser racional que possui livre-arbítrio
para mudar a sua realidade. Quem pode explorar
seus semelhantes se eles forem maioria organizada?
A maioria tem força quando se organiza, para se
organizar ela precisa estar consciente da realidade
da exploração. A mudança só é possível a quem
ouse tentar.

Importância do estudo da economia e


da política.
O estudo da economia é necessário porque os bens
de consumo não são abundantes por natureza. Se os
homens tivessem tudo a sua disposição como Adão
e Eva tinham no Jardim do Éden não precisaríamos
estudar o funcionamento da economia com
finalidades práticas. De forma semelhante se todos

320
tivessem tudo o que desejam em abundância e sem
a necessidade de ferir ou interagir com outros
indivíduos, não precisaríamos desenvolver a
política. É por causa da escassez que buscamos o
uso ético e racional dos recursos, por isso devemos
pensar nos direitos não apenas com base na
liberdade individual, mas também com base na
utilidade universal dos recursos disponíveis. A
política não pode ser estudada apenas pela ótica dos
princípios éticos que deveriam ou poderiam nortear
as políticas de Estado, a política também deve ser
vista como uma ciência de utilidade prática que
possa orientar as formas de uso dos recursos
escassos.

Importância da interdisciplinaridade.
Devido a complexidade da sociedade e do mundo
para ter um juízo sensato o cidadão precisa
conhecer muitas das questões que são estudadas
tradicionalmente por diversos setores tais como a
economia, ciências sociais, filosofia, ciência política
etc. A atuação política demanda grande
responsabilidade já que envolve os interesses de
muitas pessoas e do potencial enorme de alteração
do meio ambiente.
Como vimos, os recursos materiais são escassos no
mundo atual e isso nos força a raciocinar sobre o
seu uso. Os estudos nos mostram que o tema é
complexo e envolve várias áreas da especialização
das ciências, por este motivo só podemos tratar o
tema com a observação ampla e interdisciplinar.

321
Método e abordagem lógica

O estudo de eventos históricos em economia e


política é fundamental para a compreensão de
sistemas contemporâneos e para a previsão de
tendências futuras. Este livro adota um método de
análise lógica para examinar fatos históricos
relacionados à economia e política que são
amplamente reconhecidos pela comunidade
acadêmica. A metodologia proposta oferece uma
abordagem sistemática e rigorosa, visando
esclarecer relações causais, desfazer mitos,
interpretar o impacto desses fatos ao longo do
tempo e principalmente projetar novas formas de
visão que possam causar transformações positivas
na nossa realidade. As propostas presentes nesta
obra apresentam um rigor lógico e dedutivo que
garantem a viabilidade do sistema em tela.

Estrutura lógica do CEM

Podemos provar que a empresa do CEM é superior


à empresa normal do capitalismo, para isso vamos
considerar que a empresa A é empresa do CEM e B
é empresa normal do capitalismo. Com a lógica
dedutiva podemos afirmar que se a empresa A for
igual a empresa B em tudo teremos resultados
iguais (princípio da identidade A=A), porém se A
receber uma vantagem que B não tem, então
podemos afirmar que a empresa A obterá melhores

322
resultados que B e vencerá a concorrência. A
necessidade desta sentença lógica nos permite
prever que ao criar empresas em tudo semelhante as
grandes empresas privadas, porém que ao invés de
distribuir os lucros ela os utilize para reinvestir na
própria empresa, então teremos uma superioridade
natural baseada em fundamentos racionais da
empresa que reinveste os lucros.
O argumento sugere que há duas tipos de empresas:
A (empresa do CEM, que reinveste lucros) e B
(empresa normal do capitalismo, que distribui
lucros). A declaração lógica procura mostrar que a
empresa A é superior à empresa B sob certas
condições.

Vamos denotar:

• A e B como a empresa do CEM e a empresa


normal do capitalismo, respectivamente.
• E(x,y) como "a empresa x é igual à
empresa y em tudo."
• R(x) como "a empresa x obtém melhores
resultados."
• V(x,y) como "a empresa x vence a empresa
y na concorrência."
• S(x) como "a empresa x reinveste os
lucros."

A estrutura lógica do texto pode então ser resumida


pelas seguintes sentenças em lógica proposicional:

323
1. E(A,B)→(R(A)↔R(B)) — Se A e B são
iguais em tudo, então terão resultados iguais.
2. (E(A,B)∧S(A)∧¬S(B))→(R(A)∧¬R(B))
— Se A e B são iguais em tudo, exceto que A
reinveste lucros e B não, então A terá melhores
resultados que B.
3. R(A)∧¬R(B)→V(A,B) — Se A obtém
melhores resultados que B, então A vence B
na concorrência.

Podemos concluir que, se A e B são iguais em todos


os aspectos, exceto que A reinveste os lucros
enquanto B distribui, então A é superior a B.

Prova lógica para concluir que A é superior a B se


E(A,B) e S(A) e ¬S(B):

1. E(A,B) (Hipótese)
2. S(A) (Hipótese)
3. ¬S(B) (Hipótese)
4. E(A,B)∧S(A)∧¬S(B) (Conjunção de 1, 2,
e 3)
5. R(A)∧¬R(B) (Modus ponens aplicado a 2
e 4)
6. V(A,B) (Modus ponens aplicado a 3 e 5)

Portanto, sob essas condições, podemos concluir


que A é superior a B, ou seja, V(A,B). Isso está em

324
conformidade com o argumento do texto, fazendo
assim a estrutura lógica válida.

A economia do CEM é superior à economia


capitalista vulgar
Com esta prova, podemos concluir que um sistema
onde as empresas comunais do CEM sejam
predominantes, teremos uma economia mais
competitiva do que a economia capitalista vulgar.
O argumento sugere que as empresas do CEM que
reinvestem os lucros são mais eficientes e ou obtêm
melhores resultados em comparação às empresas do
capitalismo vulgar. Vamos assumir que uma
economia é mais "eficiente" se as empresas
predominantes nela são mais eficientes.

Para formalizar isso em lógica proposicional:

• C(x) como "a empresa x é uma empresa do


CEM."
• N(x) como "a empresa x é uma empresa do
capitalismo vulgar."
• E(x) como "a economia x é eficiente."
• P(x) como "a empresa x é predominante na
economia."

Podemos então expressar:

1. C(x)→R(x) — Se uma empresa é do sistema


CEM, então ela obtém melhores resultados
(é mais eficiente).

325
2. N(x)→¬R(x) — Se uma empresa é do
sistema capitalista vulgar, então ela não
obtém melhores resultados (é menos
eficiente).

Agora, vamos provar:

3. (P(x)∧C(x))→E(x) — Se as empresas do
sistema CEM são predominantes, então a
economia será mais eficiente.
4. (P(x)∧N(x))→¬E(x) — Se as empresas do
sistema capitalista vulgar são
predominantes, então a economia não será
mais eficiente.

Prova para o item 3:

1. P(x) (Hipótese)
2. C(x) (Hipótese)
3. R(x) (Modus ponens aplicado a 1 e 2)
4. E(x) (Conclusão, dado que empresas
eficientes tornam uma economia eficiente)

Prova para o item 4:

1. P(x) (Hipótese)
2. N(x) (Hipótese)
3. ¬R(x) (Modus ponens aplicado a 2)
4. ¬E(x) (Conclusão, dado que empresas
ineficientes tornam uma economia
ineficiente)

326
Essa estrutura lógica deixa claro que uma economia
baseada em empresas do CEM seria mais eficiente
do que uma baseada em empresas do capitalismo
vulgar, naturalmente a economia é uma ciência
complexa, mas a lógica e coerência existe provando
a viabilidade e superioridade do sistema
denominado Comunismo Empresarial de Mercado.

O CEM leva a uma economia mais rica ao


mesmo tempo que reduz a pobreza

Considere que no CEM os meios de produção sejam


majoritariamente de propriedade coletiva, ou seja,
não há predominância da propriedade privada dos
meios de produção.
Nesse modelo, a propriedade coletiva dos meios de
produção pode afetar a alocação de recursos e a
distribuição de renda. A propriedade coletiva dos
meios de produção pode evitar a concentração de
riqueza nas mãos de poucos, garantindo a igualdade
de oportunidades e reduzindo as desigualdades
sociais e econômicas. Como já provamos que as
empresas do CEM são mais produtivas que as
capitalistas vulgares, então temos um sistema que
reduz a pobreza e desigualdade ao mesmo tempo
que cresce a economia e a torna mais dinâmica e
produtiva.

Vamos adicionar algumas novas definições às


nossas proposições:

327
• O(x) como "a empresa x opera com meios de
produção de propriedade coletiva."
• G(x) como "a economia x reduz a
desigualdade e pobreza."
• D(x) como "a economia x é dinâmica e
produtiva."

O texto sugere:

5. O(x)→G(x) — Se a empresa opera com


meios de produção de propriedade coletiva,
então ela contribui para reduzir a
desigualdade e a pobreza.
6. C(x)→O(x) — Se uma empresa é do sistema
CEM, então ela opera com meios de
produção de propriedade coletiva.

E a afirmação a ser provada é:

7. (P(x)∧C(x))→(G(x)∧D(x)) — Se as
empresas do sistema CEM são
predominantes, então a economia será tanto
dinâmica e produtiva como capaz de reduzir
a pobreza e a desigualdade.

Prova:

1. P(x) (Hipótese)
2. C(x) (Hipótese)
3. R(x) (Modus ponens aplicado a 1 e 2 usando
a proposição C(x)→R(x) das provas
anteriores)

328
4. O(x) (Modus ponens aplicado a 2 e 6)
5. G(x) (Modus ponens aplicado a 4 e 5)
6. D(x) (Conclusão, dado que empresas
eficientes tornam uma economia dinâmica e
produtiva, podemos inferir R(x)→D(x))
7. G(x)∧D(x) (Conjunção de 5 e 6)
8. (P(x)∧C(x))→(G(x)∧D(x)) (Conclusão)

Nessa prova, nós mostramos que se as empresas do


sistema CEM são predominantes, a economia será
tanto capaz de reduzir a desigualdade e a pobreza
como de ser mais dinâmica e produtiva. Isso está de
acordo com o desenvolvimento de todo o livro.

329
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