Você está na página 1de 25

Neuropsicológico

RAVIT
Teste de Aprendizagem Auditivo-Verbal de Rey

Jonas Jardim de Paula


Leandro Fernandes Malloy-Diniz

VETOR
Livro de instruções Vol. 1
EDITORA
Sumário

Picha síntese
..1l
Prefácio
13
Apresentação
1

1. Memória: o que ée como mensurá-la?.


2.0 teste de Aprendizagem Auditivo-Verbal de Rey 25

3. Aplicação do RAVLT 2

4. Correção e interpretação dos resultados 31

5. Estudos de validade para a população brasileira 37

45
6. Estudos de precisão para a população brasileira
7. Confeccão das normas brasileiras do RAVLT 49

57
8. Casos clínicos
61
Referências
65
Sobre os autores
Ficha-síntese
RAVLT -Teste de Aprendizagem Auditivo-Verbal de Rey

0bietivo/Finalidade: Avaliar os processos de memória declarativa episódica utilizando a


reneticão de uma lista de palavras. O teste tem maior aplicabilidade em pacientes com trang
tormos mentais e doenças neurológicas, em especial os transtornos neurocognitivos (demência e
onmprometimento cognitivo leve). Pode contribuir para o diagnóstico e diagnóstico diferencial
de quadros clínicos que cursem com o comprometimento da memória declarativa episódica.

Páblico-alvo: Crianças, adultos e idosos (idade 6 a 92 anos) com capacidade linguística


preservada.

Aplicaçáo: Individual.

Tempo de aplicação: Aproximadamente 40 minutos, considerando as etapas de evocação


um intervalo
tardia e reconhecimento. Entre as primeiras etapas do teste e essas últimas há
de aproximadamente 20 minutos, que pode ser utilizado para outros procedimentos.

sobretudo
Profissionais a que se destina: Psicólogos que trabalham com saúde mental,
avaliação de transtornos neurocognitivos e psicodiagnóstico.

Evidências de validade: Estudos brasileiros com evidências de validade convergente,


alvergente, por estrutura interna e validade de critério.

Pidedignidade: Estudo de consistência interna, teste-reteste, convergència entre exa


nadores e intercorrelacão entre as variáveis.

omas: 1.458 brasileiros oriundos des cinco macrorregiöes brasileiras (Sudeste, Sul, NOT
deste, Norte e Centro-Oeste), com jdade entre 6 e
92 anos.
Prefácio
Datu obra érealmente muito esperada pela
enlngia e suas interfaces no Brasil. O Teste decomunidade científica e clínica na área de neurop
Aprendizagem Auditivo-Verbal de Rey (RAVLT) é
mdos instrumentos mais usados na avaliação de processos de
pisódico-semántica, constituindo-se em um parndime tkenazagem e memória verbal
taeis o instrumento certamente dispen8a apresentações, poia foi avaliação utilizando estímulos
Aiersos idiomas en diferentes países e aplicado em muitas traduzido e adaptado para
pesquisas. Todo neuropaicólogo ou
ebudante nesta área já se deparou com alguma versão do RAVLT em seu percurso profissional e
de formação.
o RAVLT congrega a análise dos processos de codificação, armazenamento (curto e longo
prazo)
erecuperação
nein (evocaçãoíndice
à interferência, livre deereconhecimento), além de permitir invetigar capacidadede e resis
ene velocidade de esquecimento, entre outrass medidas quantitativas
e oualitativas, extremamente úteis no processo de avaliação e diagnóstico neuropsicológico. A
Bmnaracão dos resultados dos vários escores e fndices gerados permite ir alémn da análise simples
de acurácia e realizar inferências interpretativas de acordo com os modelos de memória dos sub
processos preservadoa edeficitários. Seu uso proporciona índices para planejamento da intervenção
neuropsicológica. O desempenho no instrumento caracteriza-se pelo envolvimento de proce ssos
lir perceptuais,
onhe & além dos mnemônicOs, já que os estímulos são verbais (palavras) ea
oral Como todo instrumento de avaliacão, deve, é claro, ser usado dentro de uma
bateria de avaliação neuropsicológica.
Este Livro de instruções da versão brasileira apresenta uma compilacão de mais de duas décadas
de estudos do grupo de pesquisa dos autores na área da avaliação neuropsicológica com este instru
mento. A dedicaçãoeo êxito dos autores para sistematizar conhecimentos e dados em uma obra
de qualidade devem ser salientados. O trabalho deste volume vai muito além de uma adaptação do
instrumento, pois alia uma série de capítulos iniciais que proporcionam ao leitor conhecimentos
área de memória verbal, fundamentais a quem vai utilizar o instrumento em Beu processo de
avaliação ou receber um laudo de outro profissional e interpretá-lo, com vistas a aplicar em sua
conduta clínica, de pesquisa ou na área educacional.
Oleitor encontrará uma revisão sobre os conceitos de memória, as formas de avaliá-la, incluindo
um percurso histórico sobre casos célebres de pacientes com perdas graves de memória, assim como
as bases neurais dos processos mnemônicos. Com base nisso, oleitor poderá compreender oTeste
de Aprendizagem Auditivo-Verbal de Rey (RAVLT), suas características e aplicabilidades, assim
como um breve histórico da sua versão original e da versão brasileira. Ademais, a obra apresenta
um cuidadoso processo de investigação das evidências sobre propriedades psicométricas do instru
Bento. Eindicada a leitura dos inúmeros estudos publicados com dados da versão brasileira com
3rupos clinicos, neurológicos e neuropsiguiátricos. O estudo normativo envolve uma ampla faixa
earia, ba 92 anos, com grande número emostral. de cinco regiões brasileiras, com
diterentes gaus
t ade, sendo as tabelas normativas Apresentadas por faixa etária, na forma de percen
d a atenção a cuidadosa divisáo dos omunos etários na confeccão das tabelas normativas:
1Ede tres em
17 anos; 18 a 20 três anos, na amostra de inf§ncia/adolescência (6 a 8 anos; 9 a l} 1Z a l;
15
anos (21 a 30 anos; 31anos), e por décadas, nas amostras com idades entre os 20 e os 80
separadas
ou mais). Há a40 anos; 41 a 50 anos; 51 a 60 anos; 61 a 70 anos; 71 a79 anos e 80 anos
rência tamb¿m uma pequena Amostra de participantes analfabetos, queéaainda uma refe-
normativa
é
agradável, necessária em noSso país. Apesar de ser uma obra de conteúdo
apresentando técnico, aleitura
informações sucintase suficientes para sua compreensão.
13
Femandes Malloy-Diniz
Jonas Jardim de Paula | Leandro
neuropsicológica no Brasil tem se beneficiado, e muito, do
Aárea da avaliação
autores desta versão brasileira, que háanos contribuemtrabalho
dois grandes pesquisadores,
e
conhecimentos e ferramentas de
compartilhamento de con avaliação por
coma aproduçao
meio de suas publicações e
destes
dernostrando uma trajetória consistentee comprometida com a
cursos, formaçãoe
em Neuropsicologia no Brasil. bsta e uma obra que vem coroar a trajetória destes e a com a
atuacån
o
sintetiza anos de trabalho de qualidade na tematica da avalição neuropsicológica da momkPois
instma.
Esse campo, um dos grandes pilares da avallaçao neuropsicológica, tem agora um
nedráo internacional com estudos bem delineados e conduzidos, sob o ponto de vista n o e
ferramentas de trabalbo
lógico e psicométrico, para integrar seu rol de
Convido oleitor a desfrutar de mais um trabalho que expõe uma parte da experiência, com.
netêneia,
ética edo incansável desejo de elevar a Neuropsicologia brasileira ao maior patamar de
autores.
qualidade que caracterizao trabalho destes

Jerusa Fumagalli de Salles


Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Apresentação
A sersio que
apresentamos neste Livro de instruções é resultado de 23
auronsicológicas realizadas por nosso grupo de pesquisa. Durantea década deanos de Ducosinas
mentos para avaliaçao 1990
neuropsicologica estavam devidamente adaptados à realidade
alternativa adotada pelos neuropsicólogos clínicos nessa época era a tradução e o uso brasileira. A
tarofas. sem estudos de valhdade, imediato de
doda a necessidade de obtenção denormas ou qualquer outro parämetro psicométrico. NeBsa época,
os estudos com o RAVIT, apÓs parâmetros normativOs para testes
tradução neuropsicológicos, iniciarmos
of neuropsychological tests (Spreen & literária a partir dos estímulos presentes no Compendium
Strauss, 1991,1998, Spreen et al., 2006). Os
nrimeiro trabalho foram publicados em resultados desse
amostra de adolescentes, adultos e idososseguida, e continham parâmetros normativos para uma
Corrèa, 2009). Aversão brasileira apresenta brasileiros (Malloy-Diniz, Neve8, Abrantes, Fuentes &
por André Rey. No entanto, diversas nodificações em relação à versão proposta
é um dos principais paradigmas
mantivemos o nome de Rey em justa
homenagem ao autor deste que
neuropsicológica. internacionalmente usados na clínica e pesquisa em avaliação
Embora este trabalho tenha sido, durante muito tempo, a
entre desempenho de pacientes e única alternativa para comparação
parâmetros de sujeitos típicos da população brasileira,
críticas podem ser realizadas a este estudo. Inicialmente, cometemos o diversas
em 1959, ao mesmo equívoco de Taylor,
realizarmos a tradução literal das palavras do inglês para o idiomna português prati
cado no Brasil. Uma tradução desse tipo incorre em dois tipos de erro:
palavras e falta de controle sobre a frequência do substantivo no idioma.mudança no tamanho das
Além disso, a amostra do
estudo é particularmente pequena (n=247 sujeitos), os sujeitos são de uma única
cidade brasileira
(Belo Horizonte) e as propriedades psicométricas do estudo náo foram
devidamente investigadas.
Após esse estudo inicial, o segundo autor deste manual iniciou uma série de correções e
novas
adaptações ao instrumento. O primeiro passo foi a reconstrução da lista de palavras a partir de
substantivos dissflabos e de alta frequência no idioma português praticado no Brasil (Pinheiro,
1994). Em seguida, uma série de estudos com amostras maiores, de diferentes faixas etáriase com
grupos clínicos distintos foram realizados. As primeiras publicações com essa nova lista ocorreram
posteriormente com resultados de adultos (Salgado et al., 2011) eidosos brasileiros (Malloy-Diniz
et al., 2007). Estudos com populações clínicas (De Paula et al., 2013a, 2016; Malloy-Diniz et al.,
2009), de validade de construto (De Paula et al., 2012; Fichman et al., 2010), validade ecológica
(De Paula et al., 2015) e fdedignidade (De Paula et al., 2012; Magalhães, Malloy-Diniz & Hamd
nian z012) foram realizados em seguida evidenciando que a nova versão apresentava propriedades
Pcométricas adequadas para seu uso na populaçåo brasileira.
Aobra apresenta a versáo brasileira do Teste de Aprendizagem Auditivo-Verbal. Trata-se de
pelo teste, o ins
al tecnico que primeiramente expõe a definição do construto avaliado para ele.
em si, os estudos Dsicométricos no contexto brasileiro e os dados normativos
Oprimeiro capítulo resume brevemente os principaiss achados em neuropsicologia da memória
os sistemas de memória e seus corre-
publicados nas últimas
latos neuroanatômicos,
décadas. Discutimos primeiramente
utilizando para isSo alguns casos clínicos clássicos sobre otema.
Em seguida é apresentada e descrita a versão do RAVLT utilizada neste estudo e para a qual
foram obtidos parâmetros normativosse evidências de validade.
Seguem-se os métodos correção, incuindo as variáveis que podem ser obtidas com
incl
a de aplicação e as evidências de evalidade e confiabilidade
aplicação do instrumento. Em sequência, são abordadas 15
Jonas Jardlm de Paula | Leandro Femandes Maloy-Dintz

do teste no contexto brasileiro, incluindo uma revisão de literatura dos estudos clínicos brasileime
que o adotaram em amostras com demências, transtorn08 mentais e doenças neurológicas,
No Capítulo 7 são apresentados os dados normativOB à populaçâo brasileira; no último capftule
três estudos de cas0.

16
1. Memória: o que ée como mensurá-la?

Cictemas de memória: aspectos temporais, de


conteúdoe de processos de evocação
Nosso senso de identidade depende fundamentalmente de nossa capacidade de
aprender, arna
zenar e recuperar intormaçoes. O mesmo podemos dizer de nossa orientaçáo no tempo e no eSpaço
enossa capacidade de resolver problemas de forma sistematizada. Quando nos deparamos com as
mais diversas situações em nosso dia adia, conciliamos novas informações åquelas já vivenciadas
ememória
que nos dão pistassobre aaspectos
e seus
diferentes
possibilidade de um comportamento serbem-gucedido. Fato é que
se constituem em um dos principais balizadores de nossa
complexidade cognitiva e nossa capacidade de adaptação.
Exemplos clinicos nos mostram o quão caótica se torna a vida guando os sistemas neurais
que subsidiam processos mnemônicos são daniñcados, Na doença de Alzheimer, por exemplo,
um processo neurodegenerativo compromete reiöes do sistema nervoso central assoctadas o
funcionamento da memória (Jack et al., 2013), Na demência associada à doença de Alzheimer, a
progressão das talhas em apreender, armazenar e recuperar novas informações inverte o curso da
existência do paciente, causando limitações funcionais progressivas que minam a autonomia do
paciente em realizar atividades de vida diâria (MeKhann et al., 2011). Guiado pela lei de Ribot',
o enfermo passa a experienciar a vida em direcão ao passado, deixando de fazer novos registros
mnemônicos
Os quadros deeamnésia
apagandose gradualmente oque aprendeu
instauram de forma por último.
aguda e impedem que Emindivíduo
outras condições
avance noclínicas
tempo
adquirindo novas informaçöes, situações comuns em pacientes vítimas de traumatismo cranioence
fálico (Friedland &Swash, 2016) ou acidente vascular encefálico (o'Brien & Thomas, 2015). Casos
anedóticos como Lucy Whitmore, do filme Como se fosse a primeira vez (2004), ilustram claramente
tais dificuldades. Aprotagonista do filme, após um traumatismo cranioencefálico, decorrente de
um acidente de carro perde sua capacidade de apreender novas informações e esquece eventos
que aconteceram um pouco antes do acidente. Um desses eventos é um namoro recém-iniciado
com Henry Roth restando a ele conquistá-la a cada dia já que ela não se torna capaz de apreender
sobre essa nova relação.
Na vida real temos miríades de casos semelhantes ao de Lucy. Alguns desses casos no8 ajuda
ram substancialmente na compreensäo de como amemória se organiza em termos temporais, de
conteúdo ede processos de evocaçâo. Ocaso clássico da literatura neuropeicológica sobre sistemas
de menória teve início em uma intervenção malsucedida ocorrida no dia 25 agosto de 1953. Nese
dia, Henry Gustav Molaison (o paciente H.M) foi submetido auma neurocirurgia que envolveu a
ressecção bilateral do lobo temporal medial e áreas adjacentes, como o córtex entorrinal, a formação
hipocampaleo complexo amigdaloide. Oobjetivo da cirurgia era tratar um quadro de epilepsia
refratária que acometia H.M. desde sua infäncia quando ele teve um traumatismo craniano em
um acidente de bicicleta. A gravidade do quadro e a ausência de resposta aos tratamentos disp0
níveis fez que ele e sua família procurassem o famosO neurocirurgião canadense, William Scoville
(Annese et al.. 2014).
Na época, Scoville era famoso pela adoção de procedimentos experimentais no tratamento de
pacientes, por exemplo, psiquiátricos refratários. Embora o8 avanços na compreens£o dos sistemas
neurais envolvessem diferentes processos motores, sensoriais ecognitivos, pouco se sabia à época
Lei descrita no século XIX por Thòodule ARibot, segundo aqual processos de regressdo da memória váo do mais novo para omais
antigo, do mais complexo para omais simples, do mais deliberado ao mais automático, do mais organizado para omais caótico,
17
Fernandes Malioy-Diniz procedimentos
Jonas Jardim de
Paula | Leandro
já havia realizado alguns
alguns pacientes (Penfela
e
No
neurocirurgcos
1930).
hipocampal. Penfield subjacentes em unilateral. No caso H.M
sobre a função
que removera o
as
estruturas
hipocamnpo e envolviama remoção apenas intencionalmente. Scovil e su-
Hölscher,produzi
2003).s
procedimentos mesmo que não
e, memória
entanto, esses estruturas que removeu sabemos hoje sobre
das
bestimou aimportância que mudou o curso do que palco do acirrad.
uma das
situações clínicas
lembrar que a
século XX ainda era
primeira metade do Lashley (1950) havia publicado um miee
inf.e debate
Eimportante contexto, Karl modelo animal
localizacionistas'eholistas". Nesse qual relatava experimentos commemória. O zeitoeiB
entre busca do engrama, no subsidiando processos de
chamado Emn específicos observacão
artigo
riam a ausência de sistemas neurais
justamente por casos
clínicos como o de H.M. e a
Brenda Milner foia re de refinada de
transformado psicóloga canadense
o tema foi 2005). No caSo H.M., a póe-cirúrgicas (Scoville & Milner. 19t
neuropsicólogos (0geden, suas manifestações estudos sobre a espeeinl:
da investigação sobre evolução de seus
vel por boa parte autobiográfico, Milner descreveu a com o paciente H.M. Partindo
do
Em um relato experincias diferene
memória incluindo suas inicial era avaliar
ção dos sistemas de não humanos, seu
interesse à
estudos experimentais com primatas
estudos o autor comparava animais submetido8
cerebral. Nesses funcionais. E
especializaçåoio hemisférica hemisfério, verificando suas consequências enm
bectomia temporal unilateral em cada sugerindo que comprometimentos
descreveu uma dupla dissociação", passo
suas conclusões iniciais relacionados às lesões temporais no hemistêrio esquerdo, ao
conteúdos verbais seriam mais temporais no hemisf¿rio
para conteúdo não verbal estaria mais relacionado às lesões
que déficits
direito (Milner, 2014).
pacientes com amnésia decorrente de lobectomia temporal
Milner também ahavia avaliado alguns do paciente H.M. Ao longm de
o caso mais famoso avaliado por Milner foi o ante.
esquerda. No entanto,
experimentos, a performance de H.M. a despeito da extensa amnésia
vários anos de diversos exemplo, H.M. não se lembrava
rógrada, apresentava alguns aspectos da memória preservados. Por algumas horas
de fatos e eventos vivenciados após a
a.los vivenciado. No entanto, o armazenamento auestionado
cirurgia, mesmo se fosse
temporário de aacbes (memóri a
depois de mentais (memória
de informações para realização de operaçõeshabilidades motoras.
de curto prazo) e a manipulação Além disso, H.M. aprendia novas
de trabalho) não estavam comprometidas.
desenhar entre duas estrelas (uma menor,
dentro da maior)
mediante múltiplas tentativas, como refletida
esbarrar nas linhas que as contornavam, tendo como referência a imagem de sua mão
sem seguintes (Milner, 2014).
tal tarefa nos dias
no espelho, mesmo que não se recordasse de ter feito sustentação da hipótese de que conte
Outros pacientes descrito8 posteriormente auxiliaram naevocados de forma não consciente. Por
údos evocados voluntariamente eram dissociados daqueles profundo comprometimento cerebral
exemplo, o paciente E.P (Stefannacci et al., 2000) teve um compreendia o lobo temporal medial.,
bilateral após um quadro de encefalite herpética. A les£o
incluindoa amígdala, hipocampo, formação para-hipocampal, córtex entorinal, giro fusiforme e
temporal lateral e lobo parietal esquerdo. Dada
provavelmente redução do volume da insula, lobo
aextensåo das lesões de E.P, seu comprometimento também foi mais
pronunciado que o de H.M.
Déficits na capacidade de nomear e definir o significado de palavras também estavam presentes,
mesmo que sutilmente. Tal comprometimento foi associado pelos autores à lesâo temporal lateral
e no giro fusiforme. No entanto, assim como H.M., o paciente E.P apresentava preservação da
capacidade de aprender e evocar hábitos mesmo e sem consciência de que estava evocando tais
informações.
*Defendiam que sistemas cerebrais especializados subsidiavam funções especificas. s cerebrais apresen
' Defendiam a austncia de especialidade regional do cérebro e os princípios da equipotenciinlid
einlidhae to de nerda funeional.
tam o mesno potencial funcional) e açuo em massa a e uma Jesdo no Sistema neural z levaa uma consequens
funcional y(preservando a função x) euma lesáo no Sistema neural yleva a uma consoquência funcional z (preserrando a fungdoy
logo osistema neural zéo substrato da função yeoSistema neural yé osubstrato da função x.
18
Aprendizagem Audtivo-Verbal de Rey
RAVLT Teste de

OBcúmulo de evidèncias sobre os diferentes domínios da memória nos leva a uma taxono
Rializada que deve considerar três eixos princinais: o temno o conteúdo e o tipo de processo
volvido (Cruzconteúdos
et al., 1996).
s
Com relação ao tempo, considerando este exato demomento como uaA
aprendizagem.
marco, temos já apreendidos e conteúdos que estâo em processo
organização temporal da memória envolve processOs que vâo do registro sensorial à consolidaçáo
A informações ime-
para evocação posterior. memória de curto Prazo consiste na manutenção de
diatas por tempo limitado (alguns segundos ou minutos), As informações que preenchem esse si8
ama temporário de armazenamento de informações podem vir do presente, via registro sensora
e atribuição SIgnincado via percepção e linguagem ou do paAsado guando resgatadas de nossa
nemória já consolidada. Esse segundo sistema consiste na memória de longo prazo.
O fracionamento da memória em termos temporais nos permite definir dois tipos de amnesla:
onterógrada e a retrógrada (Cipolotti &Bird, 2006), Oprimeiro tipo consiste em déhcits ca
onsolidaçåo de novos conteúdos a partir de um marco temporal. Osegundo consiste na pera
onteúdo previamente apreendido. Opaciente H.M., por exemplo, apresentava um prejuizo nteu
eanacidadede aprender novas informacões sobre fatos. eventos e também novas palavraß. Alen
disso, n£o conseguia se lembrar de experiencias vivenciadas cerea de dois anos antes da cirurgla.
Je menoB
Podemos dizer, então, que H.M. tinha uma amnésia anterógrada euma amnésia retrógrada t
nronunciada, com um gradiente temporal de cerca de dois anos.
Amemória também está fracionada em termos de conteúdo. Sistemas neurais distintos esa
Pelacionados adiferentes conteúdos, como sintetizado por Larry Squire (2004, 2009). Bm termas
gerais, os conteüdos podem ser agrupados em declarativos (podem ser organizados em proposl
ções verbais) e não declarativos (evocados automaticamente na forma de procedimentos, hábitos,
condicionamentos verbais ou não verbais), Amemória declarativa pode ser dividida em episódica
(relacionada a fatOs e eventos vivenciados pelo indivíduo) e semântica (que se refere a conheci
mentos gerais e rótulos usados para definir e categorizar informações).
Por fim, em termos processuais, a aprendizagem, ou recuperacão de conteúdos já apreendidos,
sáo
pode ocorrer de forma deliberada ou não deliberada. Os processos deliberados ou conscientes
referidos na literatura como processos explícitos, Os processos não deliberados ou não conscien
tes såo referidos como implícitos. De acordo com Dew e Cabeza (2011), diferenças entre menmória
explícita e implícita são bem delimitadas na literatura em diversos aspectos. A memória explícita
é associada ao sistema declarativo de memória. É consciente do esforço voluntário para
envolve tarefas de
ecuperação da informação armazenada. A testagem da memória explícita buscá-las
demanda direta, ou seja, såo solicitadas informações armazenadas ao sujeito que deve
declarativa, é não
voluntariamente. No entanto, a memória implícita se relaciona à memória não
indiretas como
consciente e sua evocação não évoluntária. A testagem geralmente envolve medidas
tarefas de priming positivo ou negativo.
Adissociação entre processos implícitos e explícitos apode ser compreendida a partir de situações
cotidianas, Por exemplo, quando estamos apendendo dirigir um automóvel, inicialmente somos
comportamento no trânsito.
apresentados a informações conceituais e sobre regras de condução e
Os processos declarativos de aprendizagem e memória são particularmente úteis para registro
em uma prova de legislacão de
de informacão e tomada de decisão deliberada. Quando estamo8 as informações relacionadas
recuperar
trânsito, por exemplo, usamos processos deliberados para
às questões. Quando estamos em nossas primeiras experiências na condução de um automóvel,
operar. NossOs errose acertos nos fazem
aprendemos sobre as partes do carro, sua função e como
malsucedidos. A exposição repetida às expe
repetir comportamentos bem-sucedidos e extinguir os
direçãoe às regras de trânsito faz tais processOS serem evocados de forma cada vez mais
riências de
processos implícitos para evocar cada esquema
automática. Com a experiência, passamos a usarconsequência desse processo de proceduralizacão
comportarmental necessário à boa direção. Uma Em contrapartida, a evocação de conheci
do conhecimento é o aumento da velocidade ea perícia.
19
Fermandes Malloy-Dinlz
Jonas Jadim de Paula | Leandro
dispendiosa em termos temporais e sujeita a menor eficiênei
mais
mento por processos explícitos eésolução de problemas é mais intensa (p. ex.: como em uma situacio
de atenção
quando a demandaade em que não se conhece as viag de trânsito).
urbano
de trânsito em um centro anteriormente, sendo a memória um sistema composto por múltinlo
Conforme mencionado portanto
diferentes paradignas. Não existe, com au
memória deve envolver
processos, a avaliação da sim de domínios específicos caracterizados de acordo
valiaçåo global da memória, mas definição e tipos de paradigmae
e do tempo. O Quadro 1 apresenta
pectos temporais, de conteúdo Figura l, por sua vez, sintetiza os principais
componentes
usados para avaliação da memória. A
sistema de memória.
processos cognitivos envolvidos no
as definições e métodos de
avaliaçáo do sistema de memória
Ouadro 1. Referência rápida para
Exemplo de sintoma
AvallaçJo (exemplos)
Componente da memórla

man Pedir ao paclente para repetir imediatamente após a exposi.


Memória de curto prazo: Paciente hao consel asinfermacbes que acabou de ver ou ouvit. Exemplos
capacidade de reter tempo-ter por alguns segundos o
de
repeticão
rariamente uma Informaçãominutos uma informação emtestes: Digitos das Escalas Wechsler de Inteligència;
da sequencia direta do Cubos de Corsi; aprendizagem inicial
(tentativa A1) da lista de palavras do Teste de Aprendizagem
mente.

Auditivo-Verbal de Rey; evocação (desenho) imediato da Figura


Complexa de Rey: evOcação imediata das hlstórias no teste de
Memória Lóglca.
Memória de |Paciente falha em relembrar Após um Intervalo de tempo, o paciente deve relembrar um
longo prazo |informações há conteúdo ao qual fol previamente apresentado. Exemplo
inutos meses ou testes: Tentatlva A7 do RAVLT; evocação apos intervalo de tem
Ens minutos, meses
anos.
po na Figura Complexa de Rey; evocação tardia das histórias
no teste de Mernória Lógica): Testes de Vocabulário (p. ex.
Escalas Wechsler de Inteligencia).
ciente falha em evocarTestes em queo paciente deve evocar conhecimentos gerais e
Memória Declarativa
(semântica)
nformseK
s sobre rótulosinformações semanticas. Exemplo: testes de nomeação (p. ex:
semánticos, definlções de pa- Teste de Nomeaço de Boston), vocabulário (p. ex.: vocabulário
lavras ou informações sobredas escalas Wechsler e Peabody Picture Verbal Test) e conhe
conhecimentos gerals. cimentos gerais (p. ex.: Informações das escalas Wechsler).
Memória Declarativa Paciente falha em relembra Testes em que um conteúdo é apresentado e posteriormente é
(episódica) ou experiências viven-pedido ao paclente que orelembre. Exemplo de testes: apren
ciadas. dizagem de listas de palavras (p. ex.: Teste de Aprendizagem
Auditivo-Verbal de Rey), de histórias (p. ex.: Memória Lógica)
ou a reprodução de elementos visuais aos quais o paciente fo
anteriormente apresentado (p. ex.: Figura Complexa de Rey).
Memoria
Não Declarattva.
Paciente falha em reproduzir Testes de aprendizagem e evocaço de respostas automáticas
resnostas autematizadas (p.ou
(n em ot essc
automatização escrita
ex.: por condiclonamento ouespelhada).
aprendizagem motora)
Memória Paciente não consegue sus-Testes de aprendizagem em que o paciente além de manter
Operacional tentar informações tempo-temporariamente uma informação em mente, deve realizar
rariamente na memória deoperações com elas (p.ex.: Digitos, ordem inversa, das Escalas
das
rt prato para ização eegencia; sequència de números e letras
ntals In e Inteligência; repetição na ordem inversa
resover um problema. fazer dos cubos de Corsi).
uma conta matemática, se
orientar espacialmente em
uma rota).

20
RAVLT Teste de Aprendzagem Auditivo-Verbal de Rey

Controle Fleubt
Coonite
Processamento
imploto
Memoria Operscional

Alça Esboço Retentor


lonalogica VIsuoespacial episodico

Menoria de Curto Prazo

CONSOLIDAÇÃO

Processamento

AGORA
PASSADO

Figura 1. Sistemas de memória e processos cognitivos envolvidos.

Sistemas neurais e processos de memória


O caso H.M. foi determinante para compreendernmos a participação de estruturas como o Hipo
campo em processos de aprendizagem ememória. Estudos posteriores foram fundamentais para
uma noçáo mais ampla dos sistemas neurais relacionado8 a diferentes componentes da memória
(Squire, 2009; Henke, 2010; Dickerson &Eichenbaum, 2010o).
Considerando a memória declarativa episódica, há evidncias inequívocas da participação de um
nplexo de estruturas que, em conjunto, recebem o nome de hipocampo expandido. Informações
especificas (p. ex.: sobre objetos e relações espaciais) são inicialmente
in: encaminhadas a diferentes
regiões do córtex temporal medial como o giro para-hipocampal e o córtex peririnal. As projeções
dessas duas regiões para o córtex entorrinal permitem a integração de diferentes informaçôes em
um episódio único a partir de um processo denominado binding (Dickerson &Eichenbaum, 2010).
Ocórtex entorrinal apresenta conexões recíprocas como hipocampo, estrutura fundamental para
a consolidação de informações aprendidas. O hipocampo, por sua vez, apresenta subdivisões que,
com
olatËva especialidade funcional, processa diferentes aspectos da informação. Como o formato
do hipocampo também lembra um chifre comoo do Deus egípcio Amon, uma parte dessa estrutura
recebe o nome de "Corno de Amon", ao qual referimos usando as iniciais CA.
OCorno de Amon édividido em très regiões: CA1, CA2 eCA3. De acordo com Travis e colabo
radores (2014), as regiões CA2 e CA3 parecem estar mais relacionadas à codificação e consolidação
de conhecimentos sobre itens (p. ex.: objetos) ao passo que a região CAl parece estar mais ativada
orendido. As outras regiões do hipocampo, o giro
durante processos de evocação do conteúdo apren
dentadoeo subiculum também aparentam especialidade funcional. Assim como CA2 e CA3, o giro

21
armnazenamento de
Jonas Jadim de Paule
Leandro Femandes
Malioy-Diniz

relacionado àcodificação
e ao
temporal e espacial
informaçöes
entre estí.
dentado tambén
parece estar mais
em processos de segmentação projeçóes aterentes e eferent
importante várias múlin
sendo particularmente uma espécie de hub contendo assim, está envolvido enm
considerado cérebro e, exemplo .
los. Osubiculum é o hipocampo a outras regiões do Khristiansen (2015) sugerem, por par
que interconectam
aprendizagem e memória. Aggleton e ao núcleo anterior do talamo é
aspectos da subiculum aos corpo8
mamilares e
envolvem memória necessitando
conecta o problemas que
o circuito que para a resolução de
cularmente importante
te mnemônicas. mamilares e o talamo. Essas estn,
flexibilização das representações fórnix, Os corpos m diferente
estruturas desse circuito incluemo aprendido. Projeções do tálamo para
Outras consolidação do conteúdo apreendidas (Kessels &.
turas são cruciais para a armazenamento das informações
fundamentais paraao o
envolve a construçáo de assemblei
regiões corticais sÃo cortical de nossa8 memórias
Kopelman, 2012). Arepresentação interconectadas que, quando ativadas, facilitar
consistem em redes sinápticas córtico-subcorticais envolvendo 0 Cke
de neurônios, que determinado conteúdo. Outros circuitos 2008)
recuperação de um
estão relacionados à memória episódica (Bird & Burgess,
também process2.
tex pré-frontal e parietal semântica tem sido relacionada a um sistema complexo de
A memória declarativa de convergència
ser integradas a partir da atividade de zonas
mento de informações que devemzonas de convergência são redes de neurônios situadas em áreas
neural (Binder & Desai 2011). As combinatório que ativa di
que carregam o código
multimodal
do córtex ASSOciativo unimodal e envolvidas na representação de um determinado conceito
ferentes regiöes sensoriaise motoras
sensoriais (relacionadas às regiöes sensoriais
Inicialmente, informações subsidiadas por sistemas
(envolvendo regiões motoras do lobo frontal) e de pro
primárias do cérebro), de controle da ação
pré-frontal medial e polo temporal) alimentariam zonas
cessos emocionais (envolvendo o córtex giro fusiforme e no lobo parietal inferior. A
de convergência situadas no córtex temporal medial, das regiöes sensoriais e
evocação futura de informações semânticas está relacionada à reativação de convergencia seriam,
motoras envolvidas com um determninado item a ser recordado. As zonas
item quando ele
dessa forma, responsáveis pela integração de características de um determinado
recuperado da memória. Essa integração ocorre dentro de uma mesma modalidade sensorial
(p. ex.: cor e formna de um objeto) ou mais de uma modalidade (p. ex.: cor, forma e cheiro). Dessa
forma, conforme proposto por McNorgan e colaboradores (2011), as zonas de convergência s£o
organtzaats net a gu ecom zonas de convergência unimodais (que integram, por exemplo,
caracteristicas de um mesmo neorial) e as multimodais (que integram caracteristicas aas
zonas de convergência mais simples), permitindo a evocação mais detalhada de um determinado
item aprendido.
Amemória não declarativa envolve a atividade de diferentes sistemas. Squire e Dede (2015)
apontam que hábitos e habilidades motoras dependem da atividade striatal. Desse modo, respostas
condicionadas envolvendo a musculatura esquelética estariam relacionadas à atividade cerebelar, e
condicionamento envolvendo respostas emocionais estaria relacionado àatividade de uma cireuitaria
protagonizada pela amígdala. Já opriming e a aprendizagem perceptiva estariam dependentes de
diferentes regiões neocorticais.
Embora as associaçôes supracitadas sejam bem sustentadas pela literatura, Cabeza e
(2013) apontam para diversas evidências atuais que sugerem que estas Moscovitch
não devam ser consideradas
de modo estanque e cabal. Aneurobiologia da memória parece ser mais
entre circuitos neurais faz os mesmos circuitos neurais estarem complexa e a inter-relação
envolvidos com diferentes tip0s
de memória. Os autores citam, por exemplo,
evidências de ativação dos núcleos da base tanto na
aquisiço e evocação de hábitos quanto em tarefas de memória
vidade do córtex pré-frontal ventrolateral do hemisfério esquerdoepisódica. Do mesmo modo, a ati
do cérebro é ativada tanto em
tarefas relacionadas à memória declarativa quanto de
Cabeza (2011) ressaltam que os limites priming conceitual. Nesse sentido, Dew e
neurobiológicos entre a memória implícitae explícita não
22
Auditivo-Verbal de Rey
RAVLT Teste de Aprendizagem
são radicais. Por exemplo, olobo temporal mesial tem sido anplamente associado aos processo8
explícitos. No entanto, pacientes amnésicos com lesões Snessa região do c¿rebro também podem
apresentar comprometimentoo na evocação implícita para relação entre itens e não para alernbranga
de itens em
Dow e Cabeza (2011) sugerem que a classifcacão tradicional dos sistemas de memora Pue
ria envolver novass associações anátomo-funcionais úteis para compreensão de como a memória
éorganizada. Essasclassificações envolveriam novos eixos como as dicotomias entre processos
rolados-automáticos, itens. Por
perceptivos-conceituais, para relaçoesmenmo aparaonvolvendo
conta
memória
Remnlo, processo8 mais deliberados de evocação estariam na dependência de
krtex pré-frontal ventrolateral do hemisfério esouerdo e o bipocampo, ao passo que processos
mais automáticos envolveriam o córtex para-hipocampal, rinal e regiões sensoriais comoo córtex
visual primário. Aspectos sensório-perceptivos da memória envolveriam em maior grau o córtex
para-hipocampal e regiões sensoriais como o córtex visual primário, ao passo que aspectos mais
conceituais envolveriam o hipocampo, o córtex rinal e o córtex pré-frontal ventrolateral do he
misfério esquerdo. Por fim, aspectos da memória envolvendo a relação entre informações/itens
estariam relacionados ao hipocampo e córtex para-hipocampal, ao passo que a memória de itens
em si estaria mais relacionada ao córtex rinal.
2.0Teste de Aprendizagem Auditivo-Verbal de Rey
Segundo Weiner e Craighead (2010), a origem do Teste de Aprendizagem Auditivo-Verbal de
Auditory-VerbalJ Learning Test - teste
Rey (Rey RAVLT) tem como: reforência uma adaptação do
de memória para palavras desenvolvido pelo psicólogo £douard Claparède (1873-1940),série
participante
em 1913.
de l5
Neste teste, o deveria recordar imediatamente após apresentação, uma
s Na versáo de Claparède havia três listas diferentes de palavras, cada uma delas evoca
da imediatamente após a exposição. Boak (2000) sugere que es8e teste seja um dos mais antigos
naradigmas de avaliaçao cognitiva em us0 contínuo desde sua origem no início do século AA. NO
entanto, foram as modificações posteriores às listas de Claparède que tornaram esse método um
dos principais instrumentos na avaliação de processos de aprendizagem e memória.
Opsicólogo suíço André Rey (1905-1965), entäo aluno de Claparède no instituto Jean-Jaques
Rosseau, em Genebra, foi oresponsável por tais modifcacões, as quais foram tão substanciais
trouxe
que
teste passou a ter seu nomne. André Rey era um psicólogo erimental e clínico que
Psicologia contribuições em campos como a educncño oriantnco profissional e neuropsicologia
(Lautrey &Ribaupierre, 2004). Seus estudos incluían participantes e pacientes de diferentes 1dades
etinham por foco a avaliação de diferentes domínios da cognicão. Por exemplo, seu doutorado, obudo
em 1934 sob orientação de Claparède, versou sobre inteligencia prática de bebês. Rey desenvolveu
diversos testes igualmente famosos como um teste de cópia e evocação tardia de uma hgura de
difcil decodificação verbal (o teste Figura Complexa de Rev), Ainfuência de Rey nos primórdios
da psicologia Brasileira no século passado também deve ser frisada. Em uma visita ao Brasil, Rey
passou cerca de quatro meses em um centro de Psicologia Educacional situado na Fazenda do
Rosário em Ibirité, Minas Gerais. Esse centro era coordenado pela Dra. Helena Antipoff, também
ex-aluna de Claparéde. Em sua permanência no Brasil Rey ministrou durante quatro meses uma
série de cursos sobre diagnóstico e psicologia experimental.

Figura 2. André Rey.

Considerando-se especificamente oteste de aprendizagem de listas de palavras, as modificaçöes


feitas por Rey (1958) consistiram nos seguintes itens:
25
Jonas Jardim de Paula | Leandro Fernandes Malioy-Diniz
exposieB
uma lista de palavras contendo 15 substantivos. A cada
1. a exposição sucessiva de
sujeito deveria lembrar das palavras da lista; uma nova lista d
evocação das palavras dessa lista, era apresentado ao sujeito
2. após a quinta
que igualmente deveriam ser lembrados em segujdal.
palavras contendo também 15 substantivos,
cabia ao sujeito lembrar novamente as palavras da primeira
3. após esta lista de interferncia,
lista, agora, sem a apresentação desta;
participante na qual estavam embutidas as palavree
4. por fim, o examinador lia uma história ao ao participante, identificar corretamente as palavras
anteriormente aprendidas. Cabia agora, a
enquanto o examinador lia a história.
que havia ouvido anteriormente
da aprendizagem e memória auditivo-verbal se
Esse paradigma de avaliação neuropsicológica Neuropsicologia. Diversas modificações no para.
tornou amplamente difundido principalmente na particularmente difundidag.
digma foram realizadas posteriormente. Algumas delas se tornaram
Weiner e Craighead (2010) destacam duas inserçóes:
usando a lista de l5 suba.
1, da tarefa de evocação tardia (após 30 minutos), realizada por Taylor,
tantivos de Claparède; que o sujeito deve
2. inserção feita por Muriel Lezak da tarefa de memória de reconhecimento em
identificar as palavras anteriormente aprendidas em uma lista que contém tais palavras e al
guns distratores,

0 Teste de Aprendizagem Auditivo-Verbal de Rey se tornou um dos testes de memória episó


dica mais usados, tendo sido traduzido e adaptado para diversos idiomas em difererntes países.
Compèndios tradicionais de neuropsicologia clínica apresentam diferentes versões, métodos de
versões suprimem o
aplicação e traduções (Mitrushina et al., 2006; Spreen et al., 2008). Algumas nome
nome de André Rey nootítulo da tarefa, usando apenas AVLT ou atribuindo de institutos e
universidades em que as modificações foram realizadas. Versões adaptadas a diferentes culturas
Compõem grandes estudos normativos em neuropsicologia clínica, por exemplo os projetos Mayo's
older Americans normative studies (Steinberg et al., 2005) e o Mayo's older African American
normative studies (Ferman et al., 2005).

A versão brasileira do RAVLT


A versão que apresentamos neste Livro de instruções é resultado de 23 anos de investigacões
neuropsicológicas realizadas por nosso grupo de pesquisa. Durante a década de 1990 poucos
instrumentos para avaliação neuropsicológica estavam devidamente adaptados para a realidade
rasileira. Aalternativa adotada pelos neurp clínicos nesta época era a tradução e uso
imediato de tarefas, sem estudos de validade, u qualquer ou
outro parâmetro psicométrico.
Nessa época, dada a necessidade de obtenção de parâmetros normativos para testes neuropsicoló
gicos, iniciamos os estudos com o RAVLT, após tradução literária a partir dos estímulos presentes
no Compendium of Neuropsychological Tests (Spreen &Strauss, 1991;1998, Spreen et al., 2006).
Os resultados desse primeiro trabalho foram publicados em seguida econtinham paråmetros nor
mativos para uma amostra de adolescentes, adultos e idosos brasileiros (Malloy-Diniz et al., 2000).
Aversão brasileira apresenta diversas modificações em relação à versáo proposta por André Rey.
No entanto, mantivemos o nome de Rey em justa homenagem ao autor deste que é um dos princi
pais paradigmas internacionalmente usados na clínica e pesquisa em avaliação neuropsicológica.
De scordo com Woodard (2006) alguns autores atribuem da lista de distratores à Edith Taylor (1959), No entanta, ha
ios de que o uso da lista de distratores jå era por André Rey desde a década de 1940.
26
Auditivo-Verbal de Rey
RAVLT Teste de Aprendizagem
Embora este trabalho
tenha sido, durante muito comparação
tempo, a única alternativa para
otre desempenho de paeientes e parâmetros de Auieitos tiniens da nopulação brasileira, avera
críticaspodem sser realizadas a esse equívoco de Taylor
realizarmos a estudo. Inicialmente,docometemos o mesmo português
em 1959 ao tradução literal das
palavras inglês para o idioma
prati
cado no Brasil. Uma tradução desse tipo incorre em dois tipos de erro: mudança no tamanho das
palavras efalta de controle sobre afrequência do substantivg no idioma. Tal equívoco nas versóes
RAVLT é destacado por Creightone colaboradores (2011) e deve ser evitado em adaptaçoes
transculturais de testes desse tipo. Além disso, a amostra do estudo é particularmente pequena
(n=247 sujeitos),
psicométricas do
os suyeitos são de uma única cidade brasileira (Belo Horizonte) eas propriedades
estudo não foram devidamente investigadas.
Aversáo atual do teste foi desenvolvida em seguida. Aconstrucão das listas Ae B seguiu o
seguinte critério.
a) Foram escolhidas palavras de alta frequência no idioma portugus praticado no Brasil. Tal
procedimento evita o potencial problema de uso de palavras pouco familiares aos sujeitos. Como o
teste é aplicado em crnanças a partir de 6 anos, foi usada como referência para a criação das duas
listas oestudo de Pinheiro (1994), que apresenta palavras de elevada frequência no portuguès bra
sileiro para crianças escolares. lsso torna a lista anlicÁvel às diferentes faixas etárias que compoe
te livro de instruções.
este
b) Foram incluídos apenas substantivos concretos e dissílabos torpando a lista comparável as
outras adaptaçoes internacionais, garantindo assim gue as listas Ae Btenham o mesmo nivel de
dificuldade para aprendizagem.
c) Os distratores para a lista de reconhecimento também foram escolhidos com criterios
semelharntes aos supracitados. Foram selecionadas palavras dissílabas, de alta frequência e que
se
apresentavam caracteristicas semânticas (significado semelhante) ou fonológicass (pronúncia
melhante) às palavras das listas A e B.
Em seguida, uma série de estudos com amostras maiores, de diferentes faixas etárias e com
grupos clínicos distintos foi realizada. As primeiras publicacões com essa nova lista ocorreram
posteriormente com resultados de adultos (Salgado et al., 2011) e idosos brasileiros (Malloy-Diniz
et al., 2007). Estudos com populações clínicas (De Paula et al., 2013; 2016; Malloy-Diniz et al.,
2009), de validade de construto (De Paula et al., 2012; Fichman et al., 2010), validade ecológica (De
am 1
Paula et al., 2015) e fidedignidade (De Paula et al., 2012; Magalhäes et al., 2012) foram realizados
em seguida evidenciando que a nova verso apresentava propriedades psicométricas adequadas
para seu uso na população brasileira.

27
3.Aplicaçáo do RAVLT
Na versáo brasileira hv, uma lista de 16 substantivos (ista A) é lida em voz alta para
um intervalo de l tentativas
o sujeito com t segundo entre as palavra8, por 5 vezes consecutivas -
AB, Cada uma das leituras é sempre sequida por um teste de evocaçáo espontânea. Nessas
tativas osujeito deverá falar omáximo de palavrasque se lembrar. Não importa se o suelo
enetir palavras, masteste
cada palavra corretamente evocada só será pontuada uma vez. e
Importante: O deverá ser aplicado neste mesmo formato, seguindo todas as tentativas
rientacões, mesmo que o sujeito se lembre de todas as palavras na tentativa Al.
Na primeira tentativa (Al) dá-se a instrução:
"Vou ler uma lista de palauras. Preste bastante atencão, pois guando eu terminar, voce devera
repetir tantas palaUras quantas puder se lembrar Não tem importência a ordem em que Doce
vai repeti-las. Procure apenas se lembrar do máximo de palauras que puder.

Deve-se marcar um Xna folha de aplicacáo ao lado de cada palavra lembrada. O aplicador pre
cisa ficar atento às colunas que indicam as tentativas. Embora a anotaçáo da ordem das palavras
ditas não seja um requisito, o registro poderá ser útil para a avaliação qualitativa das estralegas
usadas pelo sujeito para guardar as informações.n«o
Umaforam
outralidas
informação relevante para aanin
pelos sujeitos. Os falsos positivos
qualitativa éaanotação das palavras ditas e que
são informações relevantes para identiicar parafasias semânticas e literais. Além disso, em quadros
demenciais écomum que osujeito fale palavras que no foram lidas pelo examinador: Tais palavTas
poderáo ser anotadas no quadro de intrusões na folha de ao.
Importante: Não deve ser dada o ualquerpista em ao número de respostas corretas,
repetições ou erros.
Quando o sujeito informar que não consegue se lembrar de mais palavras ou ficar 10 segundos
a mes
sem dizer uma nova palavra da lista, o examinador deverá informar que vai ler novamente
ma lista de palavras.
Ainstrução para a segunda tentativa (A2) é a seguinte:
"Agora vou ler as mesmas palavras novamente. De novo, quando eu terminar, quero que voce
repita para mim todas as palavras que puder se lembrar, inclusive as quejá foram ditas da vez
passada. Não tem importância a ordem das palavras, procure apenas dizer todas as palauras
que vocéê se lembrar, incluindo aquelas que foram lembradas na vez anterior:"

Da tentativa A3 a A5 repete-se a seguinte instrução:


"Novamente eu vou ler as mesmas palavras. De novo, quando eu terminar, quero que você
repita para mim todas as palauras que puder se lembrar, inclusive as que já foram ditas da vez
passada, Não tem importância a ordem das palavras, procure apenas dizer todas as palauras
ne ve2 anterior.
que vocé se lembrar, incluindo aquelas que foram lembradas na
Jer
A ordem de apresentacão das palavras é fixa em todas as tentativas. O examinador deverá
todas as palavras, na mesma ordem, em todas as apresentações da lista.
Importante: Oexaminador passará para aprózima tentativa sempre que osujeito informar que
n£o consegue se lembrar de mais palavras ou ficar 10 segundos sem dizer uma nova palavra da lista.

29
Ferngndes Malloy-Diniz
Jonas Jardim de Paula | Leandro substantivos
interferència, também composta por lb esta
quinta tentativa, uma lista de (tentativa B1). A instruçao para
Depois da
sujeito, sendo seguida de sua evocacão
(hsta B)é lida para o
etapa do teste é a seguinte:
palauras. Preste bastante atenção, pois, quando eu terminar
ordem
de Não tem importáncia a
"Agora vou ler uma nova lista
palauras quantas puder se lembrar. puder."
voce deverá repetir tantas Procure apenas se lembrar do máximo de palauras que
em que você vai diz&-las.
seia
sujeito que recorde as palavras da lista A, sem que ela
pede-se ao
Logo apÓs a tentativa Bl,
(tentativa A6).
nesse momento, reapresentada
fale todas as palavras que conseguir se lembrar a primeira listase
"Agora eu quero que você me você vai repeti-las. Procure apenas
importância a ordem em que
que li para você. Não tem
lembrar do márimo de palauras que puder.
intervalo de aproximadamente 20 minutos, que deve ser preenchido com outras ativi
Após um
demandem raciocínio verbal, pede-se ao sujeito que se lembre das palavras da lista
dades que não
A (tentativa A7) sem que a lista seja lida para ele.
guardar as palavras e que será testado no
Importante: Náo é avisado ao sujeito que ele deve
vamente em relaçåo à lembrança destas.
Édada ao sujeitoa seguinte instrução:

"Novamente eu quero que você me fale todas as palavras que conseguir se lembrar da primeira
dizé-las. Procure apenas
lista que li para vocé. Não tem importância a ordem em que você vai
se lembrar do máximo de palauras que puder."
reconhecimento no qual uma lista con
Após a tentativa A7 é aplicado o teste de memória de
tendo as 15 palavras da lista A, as 15 palavras da lista Be 20 distratores (semelhantes Às palavras
de lista Ae B em termos fonológicos ou semânticos) é lida para o sujeito. A cada palavra lida, o
sujeito deverá indicar se ela pertence (ou não) à lista A. A instrução dada ao sujeito é a seguinte:

"Agora vou ler para você uma lista com diversas palaUras. Todas as vezes que eu falar para
você uma palaura que estava na primeira lista que você aprendeu, você deverá dizer sim.
Todas as vezes em que eu ler para vocë uma palavra que não estava nesta primeira lista, voce
deverá me dizer não, "
Deve-se marcar a resposta (S para sim e Npara não) na folha de aplicação ao lado de cada pa
lavra da lista para o reconhecimento.
Todo oprocesso de aplicação do teste dura cerca de 30 a 45 minutos.

30
ACorreção einterpretação dos resultados
tentativas de Al a ATe para a de palavTas
Para as tentativa Bl, o total de pontos é o número
corretamente. Não s£o contadas as computados alguns
ditas repetições. Além desses dados são da memória. O uso
índicesda tarefa, que representam componentes ou processos mais específicos
espt
desses fndices opcional, embora alguns como o escore total :sejam comuns ao uso do teste. Cabe
nroñssional definir quais os índices serão utilizados em sua avaliacão clínica mediante as hpo
teses a serem testadas pelo teste. Os valores obtidos deyerño ser incluídos na coluna Pontuação do
Quadro de resultados que consta na folha de aplicação.

Memória de reconhecimento
Apontuação do teste de memória de reconhecimento écalculada somando todos os acertos (palavras
da.alista Aepalavras não pertencentes àlista Aidentificadas corretamente - 35 (total de distratores).
Procedimento semelhante a este tem sido utilizado em testes de memória de reconhecimento como o
da bateriaCERAD permitindo avaliar não apenas aidentifñcacáo dos alvos (palavras da lista A), como
para também avaliar o efeito de falsos negativos (distratores) e falsos positivos (palavras da listaA nao
identificadas).

Alista de palavras para o reconhecimento é composta pelas seguintes siglas:


A= Palavra da lista.
R= Palavra da lista I
SA = Semanticamente semelhante à palavra da lista A
SB = Semanticamente semelhante à palavra da lista B
FA = Fonologicamente semelhante à palavra da lista A
FB = Fonologicamente semelhante à palavra da lista B

Índices de aprendizagem
so de aprendizagem: Escore Total e Apren
Utilizamos dois métodos para a avaliação do processo
dizagem ao Longo das Tentativas (ALT). Nesses dois índices quanto maior o resultado encontrado
melhor se deram os processos de aprendizagem ao longo da tarefa.
Oprimeiro e mais simples éocálculo do Escore Total, feito pela soma das cinco tentativas
reter e recuperar o
de e representa de orma geral a capacidade do
sujeito em
apendgem
cont mediante múltiplas apresentações. E dado pela fórmula:
Escore Total = A1+A2+A3+4A4+A5
Osegundo cáleulo, ALT (ou, em inglês, LOT - Learning Over Trials), representa o quanto o
participante
Al conseguiu
(capacidade aprender
de repetição ao longo do teste (Escore
independentemente Total)sucessivos).
de estímulos controlando-se
Seu ocálculo
efeito daé realizado
tentativa
pela seguinte fórmula:
ALT = Escore Total - (5XA1)

Indice de retenção
ORAVLT fornece não apenas informações sobre os processos de aprendizagem como também
Permite estimar como a retencão das informações aprendidas ocorre em cada etapa da tarefa, O
31
Jonas Jardim de Paulal Leandro Fernandes Malloy-Diniz

para esse cÁlculo é o fndice de Velocidade de Esquecimento, que estime


Indice mnais tradicional longo prazo.
quanto conteúdo se mantém entre as evocações de curto erepresenta a vulnerabilidade do conteúdn
Velocidade de Esquecimentoé um cálculo que
OIndice de mais conteúdo e
Quanto menor o valor desse indice
evocadoeem curto prazo à passagem do tempo.dado pela fórmula: Velocidade de Esquecimento=ATIAS
é
perdeu entre as etapas A6 e A7 do RAVLT. Ele

Índices de interferências
interferência proatiue
escores de interferência: o índice de
Ao longo da tarefa s£o calculados dois
eo índice de interferência retroativa.
O Indice de Interferência Proativa representa o
quanto o conteúdo aprendido anteriormente
influencia a aprendizagem de um novo conteúdo. Escores mais elevados de interferência proative
a aquisição de novas informacöes
indicam que o conteúdo aprendido ao longo da tarefa facilita
Ele é dado pela fórmula: Interferência Proativa =Bl|A1.
com novas informaçöes inter.
OIndice de Interferência Retroativa representa o quanto o contatomais elevados em Interferência
fere na recuperação de um conteúdo previamente aprendido. Escores a recuperação de
Retroativa sugerem que a presença de um novo conteúdo afeta significativamente
informações previamente aprendidas. E dado pela seguinte fórmula: Interferência Retroativa = A6/A5
O Quadro 2 sintetiza o cálculo dasas diferentes medidas do RAVLT.

Quadro 2. Cálculo dos resultados do RAVLT


Primeiras etapas da |Total de palavras corretamente identificadas na primelra tentattva. NJo slo
A1 contadas as repetições.
aprendizagem
Total de palavras corretamente identificadas na segunda tentativa. Não são
A2
contadas as repetições.
Total de palavras corretamente identificadas na tercelra tentattva. NJo slo
A:
contadas as repetições.
|Total de palavras corretamente identificadas na quarta tentativa.
A
Não são contadas as repetições.
A5
Total de palavras corretamente identificadas na quinta tentativa.
Não são contadas as repetições.
Distrator Total de palavras corretamente ldentificadas na lista de interferència. Não são
contadas as repetições.
Evocação imediata Total de palavras corretamente identificadas na evocação Ilvre, após a lista de
AE
interferência. Não são contadas as repetições.
Evocação tardia A7
Total de palavras corretamente ldentificadas na evocação lvre, após ointerva
lo de 20 a 30 minutos. Não sao contadas as repetções.
Reconhecimento Reconhecimento
Soma de todos os acertos (palavras da lista Ae não pertencentes à lista A
identificadas corretamente)- total de distratores).
Indices de Soma dos totais das cinco primeiras tentatvas de evocação da lista A.
Escore Total [A1+A2+A3+A4+AS).
aprendizagem
|Aprendizagem ao longo Total de palavras recuperadas corretamente nas cinco primeiras etapas do
das tentativas (ALT) teste descontando-se o efeito de A1. [Escore Total-(5xA1).
Indice de retenção Velocidade de Total de palavras evocadas na sétima tentatBva da lista Adividido pelo total
esquecimento de palavras evocadas na sexta tentativa da lista A, após o intervalo de 20
|minutos. [A7IA6).
|ndices de Total de palavras evOcadas na lista Bdividido pelo total de palavras evocadas
interferéência Interferencia proativa
na primelra leitura da lista A. (B1/A1J.
Total de palavras evocadas na sexta tentativa da lista A d
interferëncia retroativa AOlvidido pelo total de
palavras evocadas na quinta tentativa da lista A, após a interferencia. [A6/
A6/ASI.

32
Auditivo-Verbal de Rey
RAVLT Teste de Aorendizaoem
Após realizarro cálculo para todas as medidas, o profissional deverá ábuscar o percentil, de acordo
indicada.
om a tabela mais

Cuia para interpretação dos percentis


Os dados normativOsscdo RAVLT serão expostos em percentis. Nâo existe nenhum guia consensual
au defnitivo sobre como cada escore deve ASer interpretado, A nomenclatura para cada classificação
ou faixa de interpretação dos percentis varia de autor para autor e de área para área. Ainda assim,
apresentamos sugestáo de como cada faixa de desempenho pode ser interpretada e tormos
clinicos. Assim, apOs o preenchimento da coluna Pontuacáo do Quadro de resultados que etária
aplicação,,o psicólogo deverá
constaà
de correspondente àfaixa
na o avaliadoo pertence e transformar osutilizar
folha a tabela em percentil.
valores brutos normativa
qual .Caso não haja ovalor bruto
na tabela, opsicólogo deverá considerar afaixa de percentil. Além da interpretaçãoodos percentis,
sIgerimos aos leitores que também utilizem os escores-padráo com base na média e no desvio
-nadr¥o correspondentes a cada grupo etário. Um dos mais comuns, oEscore Z, pode ser calculado
subtraindo a média esperada para a idade do desempenho do paciente edividindo-se oresultado
pelo desvio-padråo esperado para a idade. Oresultado representa a distância em desvios-paarao
do escore do paciente com relação à amostra normativa'.
Tabela 1. Interpretaçço dos percentis

Percentil Interpretocão clinico


Interpretaçõo geral
< Percentil S Desempenho inferior Déficit clinico
Possivel déficit
Entre 5 e 25 Desempenho médlo inferior

Entre 25 e 50 Desempenho médio Típlco


Entre 50e 75 Desempenho médio Tipica

Entre 75e 95 Desempenho médio superior Típico


Desempenho superior TÍpico
>95

Compreendendo os constructos avaliados pelo RAVLT


neuropsicológica da memória e
O teste tem se mostrado uma medida importante na avaliação processOs cognitivos. O
aprendizagem auditivo verbal fornecendo diversas informações sobre esses Embora
Quadro 3 sintetiza as principais medidas derivadas da aplicação da adaptação brasileira.
apresentamos
existam diversas formas de obtenção de escores do RAVLT descritas na literatura,
principais medidas de aprendizagem au
neste livro de instruções os dados psicométricos de suas conteúdos
de interferência entre
ditivo verbal, memória episódica de curto e longo prazo e relação
de Spreen, Sherman & Straus, 2008:
(para revisão das medidas do RAVLT indicamos a leitura
Mitrushina et al., 2008; Baron, 2004). revisão em Spreen et al., 2008: Lezak et al.
Conforne amplamente exposto na literatura (vide
episódica verbal já que um determinado evento
2012) o RAVLT é um teste de memória declarativa imediatamente e retido para evocação
(leitura da lista de palavras) deve ser aprendido, evocado a
aprender
até Ab) mostram o quanto o indivíduo consegue
tardia. As etapas iniciais do teste (Aldeterminado temporal.
conteúdo verbal. Com relação ao eixo
partir da exposiço sucessiva de um
Para o cleulo do Fsoore Z. considerara seruinte fórnula: Z= X"X
dp
33
Jonas Jardim de Paula I Loandro Fernandes Malloy-Diniz
evocaçao imediata
curto prazo a qual é aferida pela
memória episódjca verbal de pó8-interferÇncia de A6. Tambem mede a memórie
O teste mede a palavras aprendidas d
tentativas Al e B1, bem como na evocacÃo deve se lermbrar das
nas prazo, já gue o indivíduominutos mesma lIhe seja novamente
epl80dica verbal de longo de tempo de cerca de 20 sem que a
lista A, após um intervalo e60 palavras, aquelas 15 pertencentes à liste
identificar entre mportantes para
apresentada. Além disso, o sujeito deve que pode fornecer informaçóes
intervalo de tempo o reconhecimento é particularmente útil
A, também após um longo O índice de memória de (Thierney et
avaliar a memória de longo prazo,memória em quadros como a demência de Alzheimer
na identificação de déficits de
ocorre uma Amnésia anterógrada (Baldivia et al., 2008)
em que importante
al., 2001) ou em lesões adquiridasvelocidade de reconhecimento fornece um parámetro
Ainda nesse aspecto, o índice de evocação de curto prazo e a evocaço de longo prazo.
Medidas
a úteie
sobre a perda de um conteúdo entre de aprendizagem auditivo verbal sáo indicadores
em testes
de velocidade de esquecimentocom risco para desenvolver quadros demenciais, como a demencia de
no seguimento de pacientes
Alzheimer (Silva, 2012; Archer et al., 2007). conteúdos que
RAVLT também é bastante útil para aferir como a relação entre dois A
O teste
pode, de algum modo, prejudicar a eficiência de aprendizagem deles,
eståo sendo aprendidos à interferncia de distratores proativos retroatiativo_
identificaçáo de elevação da suscetibilidade (2011)
teraputicos. Por exemplo, Jaccoby e colaboradores,adultos
pode ser muito útil na definição de alvos proativa em
mostram que o treino de aprendizagem para diminuir o efeito da interferncia
de "falsas memórias"
e idosos pode ser útil na redução da formação apren
sendo aprendido pode ser prejudicado pela
Oquanto um determinado conteúdo que estáreferido na literatura como interferência proativa.
dizagem prévia de um conteúdo semelhanteé
música por alguns minutos e passa a aprender
Em termos práticos, se você está aprendendo daumamusica anterior pode minimizaro aprendizado da
uma nova música semelhante, o aprendizado A (que tem 15 palavras de alta
música nova.a.No teste RAVLT, isso se dá analisando o efeito da lista
B (que também tem 15 palavras de
frequência no idioma português falado no Brasil) sobre a lista
recente revisão publicada por Saury e
alta frequência no português brasileiro; B1/Al), Conforme
Emanuelson (2017), a interferência proativa é uma importante medida da integridade hipocampal,
Dentado. Em populações clínicas,
estando na dependência de sub-regiões como o CA3 e o Giro
diferentes idades como em uni
suscetibilidade à interferência proativa tem sido evidenciada em
versitários que apresentam comportamento de binge drinking (Parada et al., 2011). O aumento
tambémem tem sido demonstrado em pacientes
depen
do efeito de interferência proativa no RAVLT e adolescentes usuários
dentes de outras drogas como as metanfetaminas (Hoffman et al., 2006)
de Cannabis e de inalantes (Takagi et al., 2010). com o aprendizado de
No entanto, um conteúdo que vinha sendo aprendido pode ser prejudicado
& Smith, 2012), estando
um novo conteúdoe isso é referido como interferência retroativa (Eakin (Saury
esta função também relacionada à atividade hipocampal, em particular da região CA1e CA3
e Emanuelson (2017). No RAVLT, a interferencia retroativa pode ser aferida comparando o total
evocadas em A5 (A6/A5). Do
de palavras evocadas na tentativa A6 com a quantidade de palavras
ponto de vista clínico, as medidas de interferência retroativa são muito úteis na identificação de
Além disso,
déficits de memória em pacientes com demência de Alzheimer inicial (Ricci et al., 2012).
a interferência retroativa parece ser também relacionada à atividade de circuitos frontoestriatais
do cérebro, o que explicaria o desempenho prejudicado em pacientes acometidos por esquizofrenia
(Torres et al., 2001).

34
apresentado.
ser (lsta
B) c um após A) (lista
aprendida
anteriormente
intfor uma
-capacidadenovode retroativainterferencia Suscetibilidadeà mação RetroativaA6/AS Interferencia
automatiza A). lisexposições
ta à previ(S
oconteúdo umdeção
go
apósa B1) lista caso,a (no novo alaprender em
dificuldade a
Reflete sucateexposiclo conteudo
após
a minado
deteranterior.
aprender
um e proatvainterferència
- Suscetiblidadeà ProativaInterferencia
B1/A1
informaç novas retercapacidade
de sobrdistratores
ae
conteúdose exposiçãoa
novos incluindo a tempo, passagem do Efeidato Esquecimento
tentativas. próximas relembrados
nas itensquantidade
de
substanclalmentea A7/A6 Velocidade
de
nenta lets letura
da orimeira palavras
na quantidade
de grande
crs
mesmo exposiçoes. itl
nos bastante ser pode
modo. Do
(tentativa
A1), lista leitura
daprimeira desempenho
na
ruim comeacom
um
sujeto queo em casosnaquelesparticularmente
útl medidea Essa tathvas.
ten dS ao
as longoaprendizado total
de ganho palavras) de
conteudo exposição ao primeiraaprendizagemna compraseuacom quediferenteja(lista (ALT!
informaçlo uma fornece
auditivo-verbal, aprendizagem glde
obal Medida tentatlvas
Aprendizagem
ao das ongo
exposiçao
ele, a durante
sua aprender consegue pessoa uma que
conteudo quantidade
de Representaa vezes.repetidas exposto
por conteudo Aprendizagem
aprender
um-capacidade de auditivo-verbal aprendizagem gide
obal Medida
espontanea. evocação partdair relatadodevidamente Total Escore Indices
de
aprendido, conteudo
fol Indicando
oque melhor a sejasujeltodesempenho
dofoi não mas
nhecimentoo memória
de de
teste no
espera-se
que casos, dols Nos Da.
resposta
ver organização
da capacldade
de pelamotivação
ou relacionadasà
questÖes afetado
paricularmente
por avalacsoé itda
anteriormente.
em Este
aprendidas palavras ldenthcação
das relacionadaà
conteudo. verbaleplsódica Memoria Reconhecimento
novo um exposideção sucedido Reconhecimento
anteriormente
fol que e ocorrido palavras) (aprendizagem
de
lista da Eventoà
um
lembrar
de capacidade
sede verbalepisódlca
- prazo longo Memoriaà
de
conteudo. novo exposição
umde sucedidoà foi que A7
Tardla Evocação
tempoe pouco ocorreu
hå palavras)
que (aprendizagem
de
lista da evento
Um de capacidade
lembrar sede verbal-eplsódica prazo curto Memória de
orarlamente sujelto.apresentado ao verbal ConteUdo Um lmedlata Evocação
Verbal-Capacldade
manter de Pr azo Curto Memórl dea
aprendlzagem. de composição
indices dos S4medlda Distrator
conteudo. mesmo sucessiva ao exposiçdo aprendido paraa matútil erial ésó de goe
quat aumentara capacidade auditivo-verbal- apósa
de Aprendizagem CUrdeva
aprendlzagem. inde
dices composiçlo
dos para Smedida
a útil é

conteudo. mesmo sucessiva ao exposiçdo aprendido AS
quant aumentara capacidade após
a materlal de eoe Esea
aprenoagen de
auditvo-verbal- Aprendizagem arve
de
indices
de composiçlodos para medida
conteudo. mesmo sucessiva ao exposicão apósa materlal
aprendido a uti ésó e 3s4E A4
i aumentara capacidade
aprendlquantzagem. de auditivo-verbal- Aprendlzagem oe
Curva dad
indide
ces composição
dos paraa útil só
meoi
é Da
onteudo.quant mesmo sucessiva
ao exposiçdo aprendido
apósa aterial A3
aumentar
a capacidade
de
auditivo-verbal- Aprendizagem de
dade
ado
sujelto.apresentao Curde
va
verbalcont údo
rarlamente
um manter capacidade
de Verbal- Prazo MemóreC
de
ia AZ
construto Defindo ição verbal
auditivo
Aprenditgem
A1
do
tem teste Etapa
do
avaliaçãoteste de
uditlvo-Verbal
Rey de Aprendizagem Teste
de RAVLT
Quadro s
Medidas 3.
5. Estudos de
validade para a populaço brasileira
Aaálise da estrutura fatorial do RAVLT
oRAVLT avalia três
grandes processos da
omento e a recuperação de informações, Emmemórie enisódica verhal. a codificação, o armaze
um teste de
apresentações dos mesmos
estímulos espera-se que tais aDrendizagem verbal por sucessiva
seia, maior atuagao dos mecanismos de codificacão nas processos ocorram de forma sequencial, ou
mo

etanas iniciais do teste e maior envolvimen"


to dos processos de armazenamento e recuperacão nas etanas
uma etapa relacionada à nosteriores. Nesse sentido haveria
Àrecuperação. codificação/aprendizageme uma seguinte relacionada ao armAzenamentor
Existem poucos estudos que investigaram diretamente a
estrutura fatorial o
forma a testar a hipÛtese anterior, e eles apresentam almuns resultados ay
controversos, sugerindo
estruturas contendo entre um e trÁs fatores (Salthouse et al. 1996: Vakil & Bachstein, 1983; De
Paula et al., 2012a). As diferentes estruturas fatoriais refAetem. em grande medida, as
diferentes
combinações de variáveis utilizadas em cada um dos estudos, como discutido em Spreen e coa
boradores (2006). Considerando as variáveis mais utilizadas em estudos clínicos, e estudadas de
forma mais aprofundada na literatura - como na revisão de Cotta e colaboradores (2012) e na
tabela de estudos clínicos brasileiros a ser apresentada neste livro de instruções - são as cinco
etapas de aprendizagem e as medidas de evocacão imediata. tardia e o reconhecimento. Nesse
sentido, as cinco primeiras etapas de aprendizagem (A1, A2, A3, A4 e A5) representam processos
relacionados à codificação que levam à aprendizagem enguanto as etapas A6, A7 e Reconhecimento
representam a recuperação do conteúdo aprendido. Em síntese, a estrutura fatorial do RAVLT
deveria ser composta por dois fatores.
De forma a testar tal hipótese, De Paula e colaboradores (2012a, p. 26) avaliaram 126 ido8o8
saudáveis, com idades entre 60 89 anose escolaridade variando do ensino básico ao ensino su
perior. Nessa amostra o8 autores investigaram a estrutura fatorial do RAVLT por meio de uma
fatoração por eixos principais e rotação oblíqua. O procedimento encontrou dois fatores, que em
conjunto explicaram 59% da variância dos resultados. Oprimeiro fator apresentou cargas fatoriais
A7
mais elevadas nas etapas A1, A2, A3 e A4, com redução significativa delas nas etapas A5, A6,
e Reconhecimento. O segundo fator, contudo, apresentou cargas muito baixas entre Al e A4, mas
interpretam tais resul
cargas mais elevadas nas etapas A5, A6, A7e reconhecimento. Os autores
Se em um
tados como uma transição dos processos cognitivos necessários à realização da tarefa.
do teste (fator
primeiro momento os mecanismos de codificação são mais necessários à realização
recuperação ((fator
1), à medida queo conteúdo é trabalhado, oS mecanismos de armazenamento e
já armazenadas no sistema de
2) tornam-se preponderantes, representando a busca de informações
cujo objetivo é aferir
memória, Tal resultado é compatível com a proposta original do instrumento,aprendido
do conteúdo (fator 2), A
processos de codificação»aprendizagem (fator l) e recuperação
tradicionalmente adotadas no teste, o
Figura 3 sintetiza esses achados. Considerando as medidas
a subescala ALT (Escore Total-(5xA1).
escore total da tarefa (somatório de Al a A5), assim como Reconhecimento
medidas A6, A7e
seria as medidas representativas do primeiro fator, enquanto as
seriam representativas do segundo.
37

Você também pode gostar