Você está na página 1de 170

PSICOLOGICA

MAIOR -

G EO-P-SIQ~lU.E
por WILLY.. HELLPAC.H

EDIÇÕES PAULINAS
\VJLLY HELLPACH
Prol. e Pres. do I nslit 1 1lo de Psicologia da Universiclaclc ele Hcidelberg,.
Prof. na Esl'ola S11p,·rior ele Tecnologia ele Karlsruhe,
Membro () l'(li 11 :1 rio d,, /\<"aelcmia da, Ci�ncias de Heidelberg.

('01,1•:\,:,\Cl 111,; l'HIC'OI.OOJA E PEDAGOGIA.

"I'� YC li O LOGICA"
<Hfllllllê M,\IOR)

GEOPSIQUE
PJ l{lfH DJ\ l"OH

110.\/()RIO 1)/\1.BOSCO, SSP.

O ho111c1n, o tempo e o clima, o solo


e ;i p;i is�gcrn

EDIÇÕES PAULINAS
Titulo original
Geopsyche
Fcrdinanct Enke Verlag Stuttgart, 1950

Tradução de Miguel Zauppa

A BERNHARD DE RUDDER
tk1cobridor de novos horizontes da me­
t,•orobiologia, guia e promotor da bio­
rlimtfticfl, dedico esta sexta edição da
11/1rfl, que desde o nosso encontro lhe
d t'l•1• 1111110, enriquecimentos, como cien­
ti</11 ,, como homem, em comunhão de
1<11/1 it" ,, dr roroç1ío.
w. H.

@ 1967 by l,:OJÇôES PAULlNA.S. - SÃO PI\CLO


de Siul/gart. Pr11ti111/r11 11rn11/iecimento devo ào Dr. Alfred Uitgeversmaatsrllf1/1/1ij (dn1 Haag), 1949 e uma francesa, em
fü1k1• jJm t,·1 ro1111·11 t ir/o t "111 /Jrontidão nesta iniciativa e aco­ 1944, pela Payot, l'flli,, que se tornou possível af1enas J;elo
l liido 1•11/1t (11 111m /111/ilirnc"I'.\ a sexta edição, ao lado de ou­ interêsse do i11nr1111, /11 r·I g!'l1cral Karl Heinrich v. Stülpnagen,
lro.1 /1rr/ J11//1"1 ri111tlfit111 /1111 111i111 redigidos depois de 1938, vítima do 1111 i111w /11'/o sua altivíssima particij1ação na con­
i1'/o 1\ Ei11liilt11111g i,1 dil" ViilkC'rpsychologie, Sozialpsychologie, juração rir• 20 r/ 1 ju/l,11, As tratativas para uma tradução in­
J\fr11srl1 1111d Volk cl1·1 ( :, osstaclt, Sinne und Seele, bem como glêsa, cuja /o/ln jr! , 111 19'.17 o britânico Journal of nervous and
r, 1/'ft,çfío r/1• riis,11•11r1çt11·1 "li II inr•nitas Litterarum", que me foi mental dis<':1�1· n/H111l 111•r1 como "strange", estavam já para se­
/11t 11·11/l'rrrla /mi rnli gt11 , m11i/f o.1 /JOr ocasião do meu 70ry ani­ rem co11c/11irl<11. t/11t111t!11 o 1•ntrada em guerra dos Estados Uni­
l nví1io. dos (lro/111·0-\/' ri, 1111111 raia !'di!ôra de Nova Iorque) impediu
N,·,t,· rliflril rl,·,·t11i" 1 C)'lfl-,19 consolou-me um jJ011- a sua rr•(l/i fl('iw U 1110 l'riição inglês a seria particularmente
n1 " falo rir q111· ( :c•op�iqrll' 11·111/111• /e11/ia sido jJrocurado P d t'sejâvl'i, r/r,r/n II f!U111rl,· /r·rvor com que a ciência a7iglo-ame­
'!"'' ro111 11 /1011111 rim r111n., o< /N·rlirlo,1 foram sPmjne aumen­ rica11a .1r·g111· t'.1/n /11 oblt•11,rílicn.
lr111r/{). Agma 1'1'1'r1 o [11�. Si11lo, tod(/l•io, o dever de J1erlir Assim lirr11rio Í-1/1• li1•·10, q111• rnr t' f1arlicularmfnle caro,
indulgência, aquelo idulgência que hoje (, /Jermitido pedir a f1orq11c o 11·11 rr/1r111•ri1111•1110 l,rí qur1/ro decênios J;roporcionou
lodo livro de autor alemão, jJorque nós, durantP os anos fu­ ao autor 11111 rr•1101111· ril'l1ilfi,·o iilll'1'1/0Cio11al. Conserva ainda
nestos da guerra, não só fomos expulsos da ciência de todo o o mrsmo /Í/u/o. 1110, o (i" l'diçfio /ior/1· 1cr ronsidrrada inlri­
mundo e da sua literatura, mas também fJorque dejJois da ca­ ramt'nle rrfr•i/r, co111 rt•r/1rilo r) /niml'Í1f1. Talncz sf'ja o últim«.
/Jitulação e de/Jois de cinco anos de ocupação militar, não de­ Jt, de falo, um 111i/r,g11· soir ainda (/ ca111/10 aos 74· n 110s.
sa/Jareceu o isolamento espiritual da Alemanha, especialmente O maior prazer /Jor tê-la rralizado é-me f1roporcionado
1to campo da bibliografia científica, mas a/1enas mitigou-se, <' fJ<'la possibilidade que se me oferece para dedicá-la ao estu­
ri<'j1e11dr ainda semJ;re de com/Jlacências f1essoais e do acaso dioso que, como nenhum outro contribuiu para a constituição
o C011St'g11ir 11111a obra rstrangeira, e, ainda mais, chegar tão da meteorobiologia e da bioclimática e com o qual, além dos
11,111t•11/r• a ln notícia da sua publicação. As barreiras do mn­ comuns interêsses científicos, tive a felicidade de estar ligado
('{lr/o linriro e das revistas foram retiradas afJenas dP moro por uma jnofunda amizade.
/11·rcr'/JIÍl'r'i. r rir nada valeu o aj1êlo jJor mim lançado duran­ Reconhecimento particular devo ao meu fiel colaborar/oi
t,· a 111 inlta jJriml'ira Pst.ada 11a hos/Jitaleira Suíça em janeiro no Instituto de Psicologia da Universidade de Heidelberg, Dr.
rir• 19..J 7, quando a "Neuezuricher Zeitung" acolheu gentil- Wilhelm Witte, j1ela ajuda que me j1restou.
111r11t r um meu a;·tigo sôbre esta triste situação (26 de janeiro Termino, endereçando à ciência dos fenômenos geoj1siqui­
,Ir· 19..J 7). Um livro científico alemão não /Jade, portanto, nos cos, à qual dri o meu modesto contributo, os votos com os
dias de hoj<', estar inteiramente a par da literatura estrangei­ quais Goethe acostumava ('ncerrar as cartas na velhice: ªUnd
ro. /}ara não falar da que está esgotada. E é apenas um ma­ so f ortan!", semj1re assim para a frr11/('/
wo co11sôlo o fato de tomarmos assim involuntàriamenle a
drsforra /1elo tratamento reservado a nós em outros tempos, Heidelberg, 1949.
quando, /Jor exemf;lo, nas jmblicações francesas jnecedPntes Willy Hellpach
às duas guerras mundiais a consideração da bibliografia cien­
tífica alfmã era muito limitada, ao passo que nos f;aíses me-
11ores da Europa ocidental e setentrio11al 71otava-se uma te11-
dPncia rrrsCPnte /Jara referir as j1ublicações rias nações "oci­
dt'11tais'' França, Inglaterra e América e para ignorar a alemã.
De maior consôlo foi o fato de em /Jlrna guerra e duran­
/r o /Jeríodo jJÓs-bélico, Geopsique poder ver três ediçÕ('S em
fí11[!.11a estrangeira: uma espanhola, fmblicada pela casa editôra
111adrilrnha Esj;asa-CaljJe, 1940; uma holandesa, jJor Leoj10lds

8 9
1 NTIZODUÇÃO

l. Antropologia científica. - O que o homem comunica


ao mundo c-0111 o sc•11 rorpo e sua alma e o que o mundo dá
ao seu corpo e à s11a :dma, corno interferem reclprocarnente
um no outro, e qunl (, o Sl'll resultado? Tudo isto constitui
objeto de pesquisa cirntíficn, o contcC1do ela investigação an­
tropológica. Herrclit;:irirdaclc, ronst ituiçfío individual e mun­
do externo ou ambiente chocan1-se uns contra os outros e nes­
te choque forma-se a realidade existencial "psicofísica" acessí­
vel a nós na pesquisa científica.
A existência, ao contrário, ele urna alma autônoma e li­
vre nas suas ações, de uma consciência que julga e age segun­
do as normas elo bem e elo mal, de uma vontade moral, ele
uma razão que se guia segundo as suas leis, bem corno a fôr­
ça com que elas, além ela hereditariedade e elo ambiente, de­
terminam o destino temporal e ultraterreno elo homem, cons­
tituem o objeto de uma pesquisa não só "metafísica", mas "me­
tapsíquica", cujas conclusões ultrapassam os limites elas ciên­
cias experimentais. Sempre que estas ousaram entrar em tais
questões, nada mais fizeram que sair do seu leito e desviar cio
seu caminho.
Mas também quem afirma a existência no homem de
qualquer coisa ele imortal e de divino, 11111a alma destinada à
eternidade, dotada de razão, que quer e age 111oral111cntc livre,
deve admitir que êste eu, durante a su;i vida tcnena, está vin­
.::ulaclo por condições corpóreas e corpóreo-psíquicas, pelo que
freqüentemente também a dccisi'ío 111ond111cnte livre não po­
de prescindir totalmente cio estado ele "saúde", dos instintos.
das percepções sensíveis, elas flu t uaçõcs da vida vegetativa. O
conhecimento dêsses iníluxos não perde absolutamente impor­
tância também para quc111 acln1ile urna alma espiritual imor­
tal. Hoje quase não há mais diversidade de opiniões sôbre
isto: não só o médico, mas também o eclucaclor, o juiz, e até

11
m�smo o diretor cspitilua.l dt�nrn1 conhecer a quilo qw· 1m na
os homens esc r avos, qnal í: a sua jntensidaclc o � frcqürnria clob,·a tirando-as elas nossas possibilidades , s ão cm ptática o
do se u i nfluxo; os po nto s atravé s dos quais abr al'l.ge o 01g:1� elemento decisivo na vida corm..1111. As pos!5ibilidades, que se
ni.sn10; as suas leis imanentes, físicas ou químicas, bi o lógicas (•li ocultam por tn\s das rea lidades c orno dispos ições hereditárias,
psicológicas, etno1ógicas ou sociológicas. Ning'uéru qu e exe rça fa2e111 às v6zes aparecer con10 desejável e necessári a tuna . 1n u­
tais f11nções p ode dizer qu" corresponde pleniuneJlt e. aos ,..,. dança da:; condições ambientais ; ela:; no:-, rcvelan1 lan)bénl
q11isitos exigidos se rião possui noções exata.� de anlr opol ogb limites além dos quais semelhante modificaçã o ambienta! não
científic a, nem tampo uco quem a elas pertence por tradiçã o ma is pode ter eficácia. Ninguém, com efeito, pode conr r a­
de f a1nília ou se sente "nato" di rctot espiritual, juiz, e ducador, por-se aos seus elementos hereditári os, assim corno ninguérn
1nédico, (lirigente. pocle s;:iltar (ll�n, da própria sún)bl'a: e só é possível formar as
c o-resp e tivas realidades vitais ap�nas nos lin1itcs das pos si­
Além disso todos dcveria1n ser urn pouco a ntxop6log<->s
para si rnesn1os: para o al'nbic.nte en1 que viYc1n , para o:: bilidades.
se·11s filho,! 3. Três ambientes . - Tôdas as influê ncias que o ho 1nc111
"fa rnbérn po r isso é útil co nhe ce r qualquf!r coi sa sôb re os s ofre são resu1nidas sob o tênno de concom.itantcs f1sfquictlS e
influ�os que çonti.nua mentc se a podP.ra,n d-, nó s, i nsurgindo conslitucm o objet o da psicologja so cial, o ra1no da ciência que
<.!o patrimôni o her editário ou do arnbiente, e que f reqüentc­ estuda. a vida psíq u ica n a c omu n ida de. Dela s e desdobram,
menle sa em vitori osos. cotu ra todos os b ons propósitos . Corn ern constante ação recíproca, um grande núme ro de c riações,
efeito , é pos,ívcl cliininar, pre,·enir ou frea r o que é prc­ qu� sohreviven, a o indivíd110 e <Jue nós indicamos em sentido
judidal ou tr1au sôn1en1.e se o c onher.e n10s : e quanto n,elhor ma is r estrito cotno cü1ilização J e en1 sentido la rgo com o cultura.
e conhecem os , tanto 111ais efi cazn1e nre podemos coritP.-! o com .Es ta distinção ne1n sen1ptc é p1·oposta c om a mcsrna pte..
pro vidências da autor idade pública. ci são; todavia comporta a sua utilidade: sob o c onceito de
civilização c ompr-eendernos essencialm ente o domínio sôbre os
2. l lcrcditarkdadc e ;unbicnte. - Há cem ::,no� a ciência tesouros <� $Ôbn:: as 1:nrça.s da oatuxez a, setL tts llfrut o sistemáti­
esta va propensa a fazer tudo depender do a 111biente e consic\c •. j
co e s ua ut lização; sob o conceito <le cultura entende1nos, de
ra va qu ase nula a função daquil o que t raze 1nos conosc o ao
ouLro lado; a ordern dos valores espidt uais ( e su...ts concreti­
inundo. Depois, pa�sado rneio século, i nverteu.se essa t e n ­ za ç.õcs cxterjores co1110 construções, Jcis, obra.s.-pri1nas etc.), nas
dênci;:i, A111hos os pontos de vista s.ão unilaterais. O horrn�rn
qu a is a so cied ade huuiana continuamente se exprin1c e se evo­
concreto nã o é lllll produto apenas do a1ubientc nem 1nna pura
lui. A1nb os pressupõem uma va sta e se1npre maj s extensa.
criação de seus pais. /\ moderna cifinciri da hereditariedada
:submissão e l.ransforx nação da ,ullun: :'l.a prú:nitiva, tanto da
nm ensina qt1c os sêrcs v ivos tn.'lzem consigo como fatôrc s h e ­
que está c1n nosso r ed or , co1n o d a que exis te cl&.nlro d e n6,.
reditários apenas J10.<si!Jilidades, predispos ições , a o passo que
Não obstante; a natureza: tlll nós e cru Lôrno de nós, é e1n
aquilo quê se transfoi'rnH �rn realidade é eslabc]ecidn pelo an,.
gr a nde parte ina cessível. Reivindic a continuamente o seu .. di-
biente < luc cu, parte sornos n6s 1nesff 10s que crit.1nu)s.·
Compreende-se , porta nto , como a formação dêste último 1·cito, do interno e do externo, especialmente defronte às di­
t: de grandíssi n, a impprtância, unrn. vez que son10s o ser vi­ mensões da sua submissão, que costu1:neira111ente apontamos
<:orno s11perc':ivilização e supercultu ra .
,·c-nte -<téc nic o" da tet ra, o ªhomo fabe r". Corno a prímu]a
A 1ia.ittreza fonna1 porta nto, en1 tôtno de nó s, o terce iro
c hine�a. que nos é descrita pelos rnan11ais de botâ nic a, flores.
cc v enne!ha qua ndo mantida à temperatura de 15'' C. e b ran­ a111biente, qnde fi can1os i ncl uídos e que faz sentir as suas i n­
ca tão logo a temperatura ati nge os 35,, C., a ssim tem uma fluências sobretudo dentxo ele nós. Corpo e alma na sua rea­
jnfluência decisiva a atn1osfe ra na qual ctcscerr,os e nos r n o ­ lidade natu ral, enq uanto he reditários, c.:01110 n as suas condi­
v-?fno::, alt;rn das qualid ades e das di.tj)osi ções h�reditá.rias. ções sociais, civilização e c ultura, encont ran1.sc a todo mornen­
Deverno s, p ortanto: conhecer ambos os fatôr�s, «s possi­ to sujeitos a êsses ültluxos naturais consciente1n cnu� e, -ainda
111ais , inconscienten1cn te.
bilidades e as rea lidade s . As realidades que o ambiente des-
12
13
'1. Formas fenomênicas do ambiente natural. - A natu­ C'\Jll'r1i'nC'ia clri :111il1ic 1· 1ti· 11alural e para o seu efeito sôbre nós.
reza circunstantc aprcsc'ntn-sc ao corpo e à alma sob quatro :--ta� os M'111iclm 11.1" podem colhêr tudo na natureza. Na­
principais modos fe110111rnicos; tempo, clima, solo, e paisagem. d.1 s:ilw111p, �til 111• .1 p11·s�iio atmosférica enquanto não a co-
Influcnci::1111 inclircta111cnt<' o nosso ser, na medida em que ofe­ 11lll'cc•1111C>, :111 ,!\ e'·, d.1 e it-11rir\; a eletricidade atmosférica nos
recem ou rcço111cnda111 estn ou aquela alimentação, nos for­ (· 1,·11·!.,cl.1 "1 1,11:1, ,1•11·, nos fenômenos do raio e do trovão;
ça111 a u1n dclcnninado 111odo de vestir, comportam uni teor 11 11m,11 1111•,11111,11111 11.111 p11s�ui órgãos ele percepção nem para
de vida prcdorninant1'11H·11tt· ao ar livre ou em ambientes fe­ :1, 1,11'1:JC,rn•, 1dl1,l\111li•t;1, 111·111 para as penetrantes(§ 33). Não
chados, concliciona111 :1 proporção e a espécie do nosso movi­ J'1Hl1·111,1, 1 11•1, ,•l 11 1 •,1·1 1,1\ c·l1111·11tc sequer as oscilações médias
mento, incuba111 011 11fio doenças de caráter e de periculosiclacle cl.1 11111i,l.1d1• ,1l111rnl1•11, .1 'i'odavia, tais propr'iedades do am­
111uito clivcrsns. Nfio {, a 1111dtipliciclacle clêsses influxos indi­ l1i1·111,· 11.11111,d 1'�1•1 11•111 i1illi1t-11cins - isto é, influxos - sôbre
retos o objetivo da 11ossa pesquisa. O seu estudo pertence 1 1m. 111ll11r•11C 1.1· 1p11• 1111cl1·111 �1·r de importância notabilíssima,
aos 111ais diversos n1111os ela ciência: à higiene, à dietética. à 1·,,1·1111.1 ' .111 "'"''' ,·,t.11'11 d,· s:111d1· r à nossa eficiência. Ou
etnologia e à história ela cultura, à geologia médica e à ciên­ 1111"ll1rn, 11 1111...,11 11111111111 c·111 pn (, 11111 í'l<'mcnto ela natureza, em
cia da colonização. i11i111,•1 11111t.1 i11l1·1 c111111111ic .ic,,111 crn· 11 o :1J1il>irnlr circunstante. A
Todavia. tempo e clima. solo e paisagern agem t"aml l é:n s11.1 11·11,,111 , iLil, 1111, e"'''" cl11 :1 fisiologia, n S<'ll tono, o com-
ele modo imediato sôbre o nosso organismo, que a nenhum 11111 t.11111·11ln I it.il clm ,c•11s l1•1iclm 1• dos �1•11s órg:ios, a sua vi­
instante pode fugir à sua influência. Ainda mais: no mais '-IC'id.1cl1· 1• o sc•11 rn11s:l1;11, :1 1 11'11111id:1n cl.1s suas funções, tudo
vasto significado da palavra, permanece ligado a êles, por­ (. <rn1d1·tn111i11ado 1wl:1 1c· l:11i,:i sil11ação do a111i>ientr natural.
quanto a mais jovem das técnicas de propulsão, o YÔo, possa l11·111 <·01110 pelo seu C'Hl'iÍtcr pl'rn1anentc·, sc111 que isso nos seja
elevá-lo a alturas vertiginosas. Até mesmo o solo e a paisa­ <i.1cl11 rrn1rn pr1n•pção srnsívrl.
gc111, que aparentemente deixa atrás ele si, confirmam ao ho- ,\ }ll'essão at 111osf(,rica exerce influxos sôbre os quais o
111r11t encerrado no avião 011 na cápsula u111 aspeto da sua rniw, "sc·mo" ele lr,·cza e pêso cio ar nos pode enganar com­
antig-a i111porUincia e alcançan1 um nôvo. Não é mais "uma plc·t:11111'11tr ai(- o ponto ele nos dar a impressão contrária. De­
,·ida'', a q11<' perde todo contato com a paisagem; com efeito, pni,. q11ant:1s vrzrs impressões e influxos se entrecruzam e se
ela reaparece ern qualquer jardim, cm qualquer rua em meio 1>1·1 111rk1111 ! Prova1110-lo especialmente na primavera, quando
às metrópoles, pelo que bem se pode dizer que em tôcla parte :1 i111,1Pc ·11 1 cios w:1dm rrvrrclrriclos e das flôres encanta os
onde o homem esteja, sempre é acompanhado por êsses quatro 11!11m, ,. ,1 d11ç11r:1 1· :1 111:111sidiio cio ::ir restaura a pele. ao pas­
elementos. 'º qtll' ;111 111c·s11111 l1·111po twlo isso cansa os nossos membros,
trn 11.1 ,n11tl 1rio 1· 1•,1·i1:1do n 1111sso '111111or e paralisa a nossa
5. Impressão e influxo. - As quatro formas elo ambiente :iti, id:1d1· (�� B2 1' HCi). 1\11,ilo� timrn111 pro\'aS de semelhante
natural agem sôbre os homens de dois modos diversos e cla­ rontr:is((' nos p::iíses 111c·1·iclio11:1is, q111• lfío frc'qiientemente desi­
ra·.iente perceptíveis: percebemos que chove, faz calor, tem­ '11rlc·111, depois dr poucos dias. ro111 :i fôrça rnc•n·antc dos seus
pestade ou frio; isto é, notamos imediatamente o elemento influxos, o eslrangeirn inchri:.iclo 1wla lwl1•,.:1 cl:is suas impressões.
meteorológico dominante. Percebemos se o tempo varia rà­ l)c\'e1110s disting11ir c-11icl;1dos:11111·111 <' rssc·s dois n 1oclos ele
pida e freqüentemente, se está bom ou ruírn, ensolarado ou ac:·ir ela nature;:a sôbrc o ho111<'111, P:1r:1 l:11110 drnominalllos
encoberto, ou seja, notamos em que clima vivemos. Vemos sc11sí11Pis as influências devidas ;1 i111p1·1·ssõc ·s. e tôniraf as de­
montes e planícies, rios e praias, mas sentimos também se ele­ vidas a influxos. Estudaremos o S('II :1spc•to /11irolóf,!iro, levan­
vemos subir, distinguimos o solo duro ou elástico, a areia do do cm con�icleração os drilos rrn · p(11·cn
• s �c'1111c•1111• na 111eclicla
terreno pantanoso; diferenciamos primavera e inverno pelas r111 qur é indispensável pnra rxplicar :iq11r1t• aspeto.
imagens que oferecem aos nossos olhos. A natureza nos é as­ A natureza é par;:1 nós, c·111 (dLi111,1 ;111{disc·, :i lt>rrr1: o nos­
sim dada contlnuamente em impressões sensíveis. impressões so olhar vagueia sim pelo 1111i,·1•1·so: ll'SIL'1111111'1a111-no durnntc o
fortes ou fracas, rudes ou delicadas, e as fracas ou delicadas dia o céu azul e o sol. e clr noi I<' :is t r1•v;1s rn111 as <'Strêlas e a
não S?" menos importantes que as rudes e fortes para a nossa lua. Todavia o céu é azul porq11c· o vr111ps nlravés do invó-

14 15
lucro da atmosfera terrestre, pelo que quanto chega até nós dernação tornam-se u111 elemento decorativo da moradia de cer­
do universo nos impressiona e nos influencia apenas na sua tas "elites" ou ele 1 1111a dl'lcrminada classe profissional (profes­
conversão terrestre, através do invólucro ou através dos cor­ sôres, eclesiásticos, litn:1los). Descrevi o estado atual dos co­
pos terrestres. Assim, o nome científico da terra responde per­ nhecimentos social-psíq11icos na Sozialpsychologie (2� ed., 1947,
feitamente à função de designar os fatos dos quais nos ocupa­ por Fercl. Enkc, St1illg:11I), r cm Mensch und Volk der Gros­
mos: chamá-los-ernos geoj)síquicos, e para a nossa viela psí­ sstadt (ib., 19311) 1t·11t!'i :1v:diar pelo menos em parte as in­
quica diremos sem mais, quando se apresentar o caso, geopsi­ fluências rn11<·0111i1:111t1•� lt·tnpsicológicas: por fim, no Hand-
que, enquanto ela recebe cio tempo ou cio clima, cio selo 011
da paisagem, influências pelas quais, é modificada. buch der biolor.:i.,r/11•11 ,l1/11·it,1111·thoden de Abderhalden {vol.
A oportunidade de tal designação é confirmada pelo en1- 1 VI, parte C, cad. 11" 'I, 1 1 )2 I), encontra-se elaborada tôda
1

prêgo de têrmos como "sociopsíquico" para designar as modi­ uma "psicologia do :1111hi,·11l1·".
ficações e as determinações que o nosso íntimo recebe da vicia No gue cli7. rt'sp1·i10 ,111 1118/)(lo de pesquisa dos fenôme­
em sociedade e elas criações desta vicia (como profissão, famí­ nos geopsíquicos t' dt• x11il� 1111w,1,1·s, servimo-nos dos processos
lia, estado, cultura). E talvez não estará distante o tempo em que cm geral 1•st:io t·111 11,11 11.i p,il'ologi,t l111111ana e na psico­
que se começará a estudar cientlficamente as influências de­ logia ani1rn1I. 1'111 i,,11 11,1 , 1•1 l,tl,111 .11;:io d:1 ohr:i, a começar ela
4-� edição, 11:io 1 11.11� .1111,11111" 111•11·,"'11 io d:11-IIH• 11ma descri­
rivantes do ambiente criado pela técnica, como salas e móveis,
casa e átrio, ruas e praças, estradas e veículos, fenômenos que ção, dado t I' 11•, 11111 11111,1, �"' 1,1 111•11·,�(11 io dt·lm1gar-sr- clcspro­
porcional1111'1il 1· .'1 ,·, 11111 11111,1 ,1., l1, 111, p,11 .1 prnpi'l-los de· modo
podemos definir como "tetopsíquicos" ao lado dos sócio-psí­
quicos e geopsíquicos, com os quais completam o círculo das convrni1·11l1·, ,H1 11,1•�11 •1111•, 11111 111111.1, 111I 1·st11do j(1 pnssou a
fôrças ambientais que forjam o nosso ser pelo patrimônio here­ �rr p;it1 i11111111,1 d,1� 111:11111.11, 1· do, g11i:1s 111!'todol6gicos ela psi­
ditário plasmável. rologi:1 g,•1 ,tl, d., p,11nl11gi;1 :q,lir:ida 1: das s11as diversas cspe­
l'i:ilid.id,·�. 11111 o�p1·,:10 1· :111 to-l'elação - experiência clínica
Naturalmente haverá sempre relações que não se deixam
1· 1wd.ig11g11:1 :1v:t!iaçiio cslaLÍslica segundo a lei do grande
inserir neste tríplice esquema: em contato com a realidade,
11111111·111, 111,1� 1:1111h(·111 segundo a lei do número pequeno
com efeito, também a melhor classificação se revela desar­
,·11l 1111 "� 1 11{•111tlos da pC'sq11isa ela psicologia popular: todos de-
ticulada, e justamente por êste fato, de resto, nasce o impulso
11•111 1 1111t1il111 il' 1· <'<H11plcLa-sc numa convergência contínua pa-
para prosseguir sem limites as pesquisas científicas. Assim, por
1;1 :"�••11111 .11 ,,.� 1t's11ltados geopsicológicos. Profanos e médi-
exemplo, o conteúdo de livros, revistas, jornais, manifestos e
1111, 1•d111.1d 1 1 1·,·s 1· ('l'i111inalistas, colonizadores e esportistas tan-
semelhantes, os prQclutos literários de tôcla espécie, enquanto
11 1 da� 1110111 :1 nli:is como da água, peritos agrários e criadores,
"ambiente lido", exercem temporàriamente um influxo deci­
111issio11{1l'ios e 111ilitares, e não por último os psicólogos de la­
sivo sôbre os leitores, e concorrem para a formação ela cha­
borat61'io, todos são chamados a dar o seu contributo. A nossa
mada "opinião pública". Pertencem êles aos fatos social-psí­
exposição mostrará como os resultados há muito tempo me­
quicos, enquanto, pela sua mediação, homens comunicam-se
lhor comprovados são devidos ao trabalho experimental de
com outros homens influenciando-os e impressionando-os, as­
psicologia; e corno também lhe cabe indiscutlvelmente, em
sim corno um tempo, antes da invenção ela imprensa, agiam os
todo setor da psicologia científica, a precedência metodológica,
manuscritos. Trata-se, por assim dizer, dos discursos cio pró­
honestamente merecida desde a fundação da "psicofísica" por
ximo "conrrclados" em escritos e gravuras, que, antes ( corno
Fechner. Também ela, porém, tem seus limites: não é ina­
pregações, discursos, conferências, lições etc.), têia :,inda hoje
plicável no âmbito dos fenômenos de massa e de determina­
parte essencial naquela impressão e naquele influxo. 1fas al­
dos fatos (como talvez os regionais), mas, assim mesmo, sua
guns clêsses influxos passam para o campo "tetopsíquico" :1plir;ição 1 é bem restrita.
quando a "apresentação" cio conteúdo elo livro (pensemos tão
Nfto queremos, pelo amor do céu, provocar um conflito
50111 ente nas decorações da Bíblia, nas bíblias ilustradas, corno 111('todol6gico. Todo processo pode trazer progresso ao nosso
cm tôdas as técnicas tipográficas de ilustração) se transforma c·o11li1:<'ill1C'nto, conquanto seja empregado com rigorismo.
num incentivo para a leitura, e livros "preciosos" p!'la sua cnca- l)i;intc de tôdas as pretensões dogmáticas dos métodos, tem
16
J7
2 - OeGJ�lotto
gou ainda necessário levar em consideração, na determinação l.1 11H'nl.e esta forn1:1 1111·Leorológica nos oferece oportunidade pa-
conceituai do tempo meteorológico, a natureza do solo corpo 1,1 distinguir co111 s1•gurn11ça, sem complicadas reflexões, entre.
de um só elemento e seria sem dúvida uma pretensão inde­ ,1 impressão (' o infl1 1xo meteorológico. O "espetáculo" de
vida, se um ramo tia ciência a ela estranha, como a geopsico­ 1 11lla te111pe8l;1d1· vinll'nl:1 suscita no homem (e também em
1 11uitos ani 111 ais) t•11 1oções elementaríssimas, p. ex., temor, sus­
logia, ou a meteorobiologia, a bioclimática ou "geomedicina"
quisessem usurpar-lhe êste direito exclusivo. Por isso limita­ to, angústi:1; It(i indivíduos que ficam presos, fascinados, domi-
mo-nos à definição tradicional, exclusivamente atmosféri<:a du 11ados pelo C-8petáculo de um temporal, que o admiram com
tempo, como se usa comumente na meteorologia. interêssc, ao passo que outros se acantoam logo ao seu apa-
Aquelas multíplices combinações apresentam alguns tipos 1 ecer. O temor do temporal pertence aos fenômenos mais
fundamentais (mai s ou menos como tempo bom, tempo chu­ difundidos e elementares do mêdo, que podem ser suscitados
voso, tempo frio, temporais e semelhantes), que ch<1:1:amos por acontecimentos naturais. O efeito tônico do temporal sô­
formas meteorológicas. Na discussão sôbre as influências psí­ hre o nosso estado físico e sôbre o nosso rendimento deriva das
quicas que os fenômenos atmosféricos exercem, é oportuno pro­ rnndições da atmosfera, que se formam costumeiramente antes
ceder do mais até ao menos conhecido, partindo das condições dn descarga tempestuosa, e freqüentemente podem persistir de­
objetivas alcançadas pela experiência para chegar às possibili­ pois dela, se bem mu itas vêzes afrouxam e desaparecem com
dades e às tentativas de uma sua explicação científica, dos da­ n início ela descarga. t o "ar tempestuoso", a situação atmos­
dos dos fenômenos às efetivas conexões dos seus elementos fi'·rica antes do temporal, que apresenta por ass.i m dizer, o exem­
essenciais. plo clássico de u ma forma meteorológica debilitante. Muito
f 1t •qiienternentc, tão logo se inic ia a descarga do raio, no tro­
v.io, no aguaceiro ou na saraivada, notamos a sensação de um
A. - EXPERmNCIA DO INFLUXO 1 d1·escar incipiente.
METEOROLOGICO Por c�saço, prostração, a psicologia entende um estado
-iil 1 j1•1ivo, claramente percebido, das condições gerais do orga-
7. - Formas fundamentais. - Há o tempo que enfra­ 1 1i� 111n onde o prazer que sentimos nas nossas atividades, ou
quece e o tempo que rev igora; é uma expressão familiar tam­ ,1,1 1111��:1s próprias capacidades, ou ambos ao mesmo tempo,
bém ao homem mais simples, que não reflete muito sôbre as ,,, l,111,· 1111•111c diminuídos. Se em semelhante condição de
suas própr ias condições. Mais difícil é estabelecer se o tem­ , .,,111,1111,·11l 11 prnd11zimos um rendimento realmente menor que
po é agradável ou desagradável, pois isto pode depender de 111 111,, "' 1 1·�. q11(·111 pode indicá-lo é sàmente uma verificação
fatôres completamente subjetivos, talvez de interêsses práticos 111 11 ''11,.1 d11 q1H' rc-ndemos. Mas também quando o rendimen-
(a chuva anula, para quem mora na cidade, as projetadas fé­ 111 l'l1•1i", 11fío di111inu i com relação ao habitual, é, todavia,
rias no campo, mas pode ser muito desejada pelo camponês) 1 ,111.�1'.g11ido, ('111 cond ições de cansaço, somente com esfôrço de
ou pela receptividade das impressões que provêm da paisagem , 1 1 11L1t k 11 ,ais intenso (devemos "obrigar-nos" ao trabalho, à
condeterminada pela situação meteorológica. Freqüentemente, .1l1·11çiio, à ativ idade) e com evidentes sinais de repugnância e
porém, o prazer ou o aborrecimento causado pelo tempo coin­ dl'�gllsto.
cidem seguramente com o efeito somato-psíquico que as con­ Em muitos casos, porém, permanece objetivamente abai­
dições atmosféricas suscitam no nosso organismo e no seu es­ /m (1;1 medida costumeira, não obstante todo esfôrço contrário.
tado fisiológico. N 11 1,1ormaço da tempestade o trabalho torna-se mais difícil, e
" ,.�11'\1·ço :.intelectual particularmente pesado. O rendimento é
1. - Tempo debilitante , 1 111q ,, 1111wLiclo: um trabalho manual de precisão torna-se pro­
l d, 111o i1i, o, caminhamos com .passo pesado, o golpe de vista
11m 1•11K,11111, cometemos erros nas contas e erramos ao escre­
8. Ar de temporal. - A meteorologia define os tempo­
,,.,, ,, 11w11l(· distrai-se. A canseira pode surpreender-nos e
rais como "processos de condensação do vapor áqüeo atmosfé­
1111 1111111 ,10� n ponlo de reduzir-nos à inércia e impelir-nos a
rico conexos com d�scargas elétricas visivas e acústicas". Jus-
21
20
uma letargia atordoada. Devemos apelar a tôdas as fôrças <kscjo com cli111i1 111iç:'ío de polência, com ejaculação prernatma
para não adormecermos sôbre o trabalho ou enquanto ouvi­ rn 1 rclarclada tl 111 ·,111t1· n ínsc ele máxima ereção; todos êsses fe-
mos urna conferência ou suportamos uma conversação. 11ô 111cnos, ele, idos :'i 1·xri1abilidade do sistema nervoso, podem
À noite não conseguimos dormir, e também isto é um ser lambr,11 d1·ilos do 111onnaço tempestuoso.
,efeito tônico do ar tempestuoso. A prostração está geralmen­ Ta111b(·111 o sono ,:. cm geral perturbado; sobretudo na
te correlacionada a uma espécie de irrequietação, isto é, cm estação q11C'llll' {· 1 11cnos restaurador e mais superficial (§ 90)
têrmos psicológicos, a uma excitação que invade tanto o cor­ Ilesse 1 11on11;iço, {· quase sempre inquieto, mesclado de sonhos,
po como a alma, com manifestações tanto físicas como psíqui­ perturbado pelo despertar freqüente; susto e gritos acontecem
cas. Os membros cansados tremem ligeiramente, notamos uma isoladamente até mesmo a pessoas que normalmente não se
inquietação íntima, agitamo-nos no leito, contorcemos os de­ deixam influenciar; aumentam e tornam mais freqüentes nos
dos, caminhamos para cima e para baixo, não temos paz. A "nictopatas" verdadeira e propriamente ditos, especialmente in­
-psicofisiologia chama a tal estado irrequietação de movimento fantis, a incontinência, o ranger dos cientes, o sonilóquio e o
ou excitação motória. Aparece quando nos encontramos nu­ sonanibulismo.
ma condição ele espera ansiosa, de incerteza, de impaciência, Os que são sensíveis às variações meteorológicas aperce­
de irritação; mas pode também ser · determinado pelo esgo­ bem-se da iminência elo temporal através do efeito diferente
tamento, por princípios de doença, ou formar-se pela ação que os cotidianos volutuários, como o chá, café, fumo e so­
de alguns venenos corno café e vinho. É particularmente pe­ brl'tudo o álcool, provocam neles. Chá e café já cm doses
nosa quando insurge contemporâneamente a um estado de can­ 1 1 1cnorcs que as costumeiras provocam um efeito excitante ançr­
saço. J ustarnente esta mistura de cansaço e turbulência sus­ mal, e já não causam o prazer que geralmente produzem, ao
cita na grandíssima maioria dos homens a extenuação de tem­ passo que sobrcvêm chamas passageiras, palpitações, irrequic­
pestade. lação e insônia; o cigarro não tem sabor algum e o seu efeito
Piora também a disposição de es/1írito. Pode formar-se agradável não é mais notado; as doses 'de álcool, que outras
um estado de espírito deprimido e ansioso, mas também irri­ ,i'·,rs "animam", melhorando o humor e reerguendo o espírito
tado e "carregado" que cm temperamentos muito sensíveis ao d,• iniciativa, agora se revela não como estimulantes mas co-
tempo (§ 36) pode transformar-se em angústia anormal. l\fa­ 11111 excitantes, ou, vice-versa como debilitantes e paralisantes,
nifestam-se sinais de excitação tisica, não só os de natureza 1111 11;1m logo briosos e litigantes, insidiosos e de mau humor,
motória, mas também os de natureza sensorial, secretória c ,. 1·11q11anto normalmente favorecem o sono, agora o pertur-
"vegetativa" ( § 44) : movimentos desordenados e incertos, con­ 1 1 ,1 111, o tornam inquieto, pesado, não restaurativo, superficial.
trações convulsivas ou tremor dos feixes musculares delicados, 1•: 111 particular os temperamentos hereditàriamente "nervosos",
principalmente nas pontas cios dedos, dos lábios e das pálpe­ '•1·11silivos", "vegetativos" (§ 44) sob o influxo cio mormaço de
bras ( convulsões dos músculos "fibrilíferos"), sensações nos ti·111prslacle reagem em medida excessiva e de maneira diversa
membros ou sôbre a pele, formigar e senso de torpor, picadas, cio 11or111al a todos os efeitos dos venenos volutuários.
torções, retesões, pontadas, zumbidos nos ouvidos, clarões nos O mêdo cios temporais que muitas pessoas sofrem favo-
olhos, visão indistintas, "mouches volantes" ( pontos esvoaçantes 11·< 1• naturalmente essas condições, mas por si mesmo não po­
e séries de pontos no campo visivo), sensação de vertigem, cl 1 · st•r confundido com o efeito imediato do mormaço. É mui-
de pêso, opressão na cabeça a ponto de esta parecer estourar, 1 11 difícil distinguir quanto deve ser circunscrito ao temor dos
e em geral tôdas as espécies de dores de cabeça, palpitações e 1 1 1•1 i ,os do temporal, e quanto pelo contrário deve ser atri­
0

carcliopalmias, rubores e palidez, "fervuras" e sensações pul­ l 1111 il 11 :10 influxo do ar mormacento. O primeiro é muitas vê-
santes; nas hemorróidas os sintomas importunas ela urgência, 1 l'frn c;ado pelo segundo. As coisas estão, todavia, mais ou
do prolapso, da dor e até mesmo da hemorragia, além cio suor !IJ1. 1111 111'�l<' pé: o verdadeiro mêdo do temporal alcança o seu
e da secura, fluxo ou falta de saliva, acrescido estímulo uri­ 11H•• ,/ /1oi1 da explosão ela descarga tempestuosa, porque o
nário, diarréia, piroses, falta de apetite, repugnância diante de 11 i'd ll , -11�rilaclo justamente pela vibração elos raios e pelo
alimentos outras vêzes indiferentes; no campo sexual acrescido 1 il 11,11 il 1.11 il 1 1s trnvões; ao passo que efeito do mormaço alcan-
22
23
ça o seu grau mais elevado no momento em que êste toca o seu comportamento clcnola ao mesmo tempo todos os sinais
ponto máximo, isto é, geralmente até o desencadear-se cio tem­ ele inquietação.
poral, que freqüentemente assinala o início do alívio. Toda­ Devido a est.-i 111uclança de altitude ele vôo da prêsa, tam­
via, os fenômenos freqüentemente se entrecruzam: não raro o bém muitos pássaros voam mais baixo; mas não é esta a úni­
mêdo ele quem teme os temporais surge já ao primei ro apa­ ca influência incliretn do ar de temporal sôbre o seu compor­
recer de nuvens tempestuosas, ao primeiro distante ribombo tamento; a inquietação do seu vôo rasante, do seu ciciar (não
de trovão e, à noite, a um pálido lampejar. Freqüentemente raramente se111elhante àquele que emitem quando se aproxima
o efeito do mormaço se faz sentir muito tempo antes, e pode uma ave de rapina), o tom diferente da sua voz melódica, que
ser já bem acentuado, embora estando ainda o céu sereno. De às vêzes chega até a clesentoar-se, indicam que as suas condi­
resto, em quantos sofrem elo mêdo dos temporais encontramos ções fisiológicas sofreram urna mudança muito desagradável,
associadas outras formas ele angústia e ele apreensão: p. ex., que se manifesta numa instabilidade impotente.
zoofobia (de ratos, sapos, grilos etc.), nictofobia, temor elo Alguns ornitólogos pretendem distinguir muitas "árias"
contágio, sujeição dos estranhos e semelhantes. Não se de­ particulares, que são cantadas antes dos temporais (e em ge­
veria, porém, esquecer que o mau tempo, descarregando-se ral consideradas corno indício de tempo inclemente). Ime­
com violência, deve incutir rnêdo num espírito ingênuo. O diatamente antes do desencadear-se do temporal muitos em­
temor que o temporal desperta durante o seu desencadeamen­ plumados emudecem, o grave silêncio elo bosque conta-se de
to é um fenômeno natural, que se manifesta também em mui­ fato entre as notas elo efeito penoso cio temporal sôbre a na­
tos animais, e a sua superação representa um contributo ela tureza. Também alguns peixes parece que manifestam uma
educação e da civilização, a que contribui também a cons­ espécie ele inquietação antes dos temporais; todavia as obser­
ciência ele que o pára-raios atenua ele muito o perigo e que vações a êste respeito são incertas e ambíguas; o seu mais fre­
o trovão, por mais violento que seja, não representa peri­ qüente "saltar" (fora da água) poderia ser pôsto em cone­
go algum. xfío com a maior abundância ele insetos sôbre a água. Há
Nos animais a distinção entre efeito tônico e efeito sensí­ 11111ito tempo que se conhece a inquietação da carpa, de um
vel elo temporal é naturalmente muito mais difícil. Muitos 111odo grral indolente, nas ocasiões ele temporais: remexe
animais, com efeito, são medrosos e podem deixar-se dominar 1111,itn 111:iis q11e ele costume a lama elas suas águas e arranca
por impressões sensíveis muito insignificantes, improvisas, insó­ 11111,111� "s:rltos''; sôbre êste saboroso peixe ela água doce, po­
litas, especialmente as "espécies fugitivas", como cavalos, mui­ ,, 111, 11111• 11s l11►1111·11s chr�arn a considerar corno um indicador
tos pássaros, répteis e borboletas. Sem dúvida o relâmpago e d11 1,·1111111, t• �t\111 1· :1 s11a t'Í(·tiva reação fisiológica às condições
o trovão os espantam e ao seu manifestar-se acantoam-se com .,111111•.!1'1 it .11 1 1·11•11tilit':11,11•11t1· hc111 pouco sabemos de seguro.
freqüência. Mas alguns mostram também uma inconfundí­ \ .ri,·, i.1 .1 p1·11.1 1·st11d:1r de 111oclo mais sistemático do que
vel reação tônica ao mormaço já muito tempo antes elo de­ �•· t1·11, 1,·ito :it(· :1gor:1, :1 rc:1ção à tempestade no reino animal.
sencadear-se elo mau tempo, alguns de modo pouco acentua­ q11.,11to s:ilH•111os sôbl'c isto consiste ainda urna confusão ele
do, outros com muito vigor. Sôbre isso foram feitas numero­ 1·nnlH·ri111r·ntos fragmentários e desconexos, afirmações devidas
sas constatações, algumas elas quais muito conhecidas, mas nem 1·111 grande parle a tradições populares, onde certamente con-
tôclas podem ser consideradas aceitáveis. Todos sabemos que 11111·111 experiências seculares, mas também pseudo-experiências.
o mormaço do temporal torna alguns insetos que picam e su­ l'odt·-se, não obstante, afirmar sumàriarnente que o comporta-
gam muito incômodos no seu comportamento em relação ao 1111·1110 dos animais no mormaço antes da tempestade, especial-
homem e aos mamíferos (cavalos!): tavões, mosquitos e per­ 1111•1111· de ,muitos insetos, pássaros e mamíferos, corresponde ao
nilongos demonstram-se ele um importunismo maior e muito 11111,1.1110 (!talvez com predomínio da inquietação e da excita­
ávidos ele sangue; também as môscas caseiras e as elo estábulo , 111 rrl(ltúria), pelo que se pode concluir numa perturbação
persistem em molestar com particular obstinação. Em geral 111,rl 1111" , l.1s condições fisiológicas.
êsses dípteros comparecem em maior número, evitam o vôo
alto e pousam mais pesadamente que em outras ocasiões; o

24 25
9. Equivalentes do temporal e do «mormaço rígido». - tc11 1poral são, scg111 1 do ;1 111ctcorologia, as descargas atmosféri­
Alguns fenômenos atmosféricos recordam em parte o tempo­ cas conhecidas <'0111n fogo ele santelmo; precedem especialmen­
ral, sem todavia apresentar a rápida e violenta dissolvência de te as te1111>t'sl:1d1·s d<" neve. Sôbre os seus efeitos concretos
urna autêntica tempestade. Tais são os processos de conden­ nada Sl' sahl" :1i11d;i dv 111uito seguro.
sação elo vapor áqüeo presente na atmosfera como aguaceiros,
formações improvisas ele neblina ( especialmente nas monta­ 10. Morr11aço r vento mormacento. - Não é só o ar
nhas), saraivadas, algumas quedas de neve, e, por fim, os re­ tc11 1 pestuoM1 q11<' é sentido como "mormacento", mas chama-
lâmpagos e os fogos de santelrno. Os temporais de inverno, 111os "111nr111aço·' ta111bé111 a tôcla mistura ele temperaturas ele­
que às vêzes dão início com apenas um raio ou um trovão a vada� rom forte umidade atmosférica, bem como um escasso
um neviscar ou a uma rajada de granizo, oferecem apropria­ 111ovi1ncnlo da atmosfera. O seu efeito é substancialmente aná­
damente um quadro particular ele um equivalente tempes­ logo ao efeito elo mormaço ternpestuoso, talvez com um des­
tuoso. Corno a sua fôrça ele excitação sensível é pouca, res­ locamento do seu centro de gravidade para um estado ele fra­
saltam muito 111<1is claramente a ação tônica da situação atmos­ q11cza apática. Todavia, de modo geral, é raro faltar o in­
férica que os precede. Es,a ação é análoga ao efeito elo ar fluxo excitante, quase sempre perceptível na perturbação elo
tempestuoso, se bem a sua intensidade seja inferior. Um es­ scmo. Em prirnriro lugar coloca-se, porém, a sensação ele uma
tado ele espírito propriamente inquieto, abatido por essa mis­ cli 111 i 1111 ta rficiencin (física e mental), que pode chegar inclu­
tura ele excitação psíquica e ele cansaço, forma o ponto cen­ sive ao cansaço lctúrgic-o. Tais condições atingem o sc11 grau
tral em tôrno elo qual se agrupam, mais ou menos numerosos, 11 1ais elC\·aclo antrs do aparecimento daquele fenômeno mor­
evidentes ou apenas acenados, os diversos sintomas descritos. boso, q11e melhor conhecemos entre os efeitos produzidos sô­
A maior parte dessas formas meteorológicas, "equivalen­ hrc o homem pelo tempo mormacento: a insolação, que se
tes aos temporais"', manifestam-se na estação cm que os tem­ :1 presenta particularmente como conseqüência elo cansaço fí­
porais são raros, e a situação atmosférica antes ela sua irrupção �irn durante o mormaço (cfr. § ::lO).
aparece já claramente distinta pela baixa temperatura ela si­ Verdadeiramente o tempo mormacento não age sôbre to­
tuação tempestuosa. Não obstante isso, o ar, antes cios equi­ ,l,11 os homens no sentido que temos descrito. Alguns tempe-
valentes elo temporal, pode ter caráter particular de opressão, 1 ;111H·11tos, quando o tempo apresenta um avançado caráter
que se torna perceptível ele modo característico no seu efeito J1 1m111;iccnto, reagem até com um estado ele acrescido bem-
tônico, .mas também ele modo sensível, anàlogmnente autênti­ 1•,1 .11 fisiológico. Êste "paradoxo" cio efeito elo mormaço pa-
co mormaço, devido à elevada temperatura, determinando um 11•1 ,. \('l'ificar-se em dois grupos de indivíduos: antes ele tudo
contraste característico difícil de se descrever. Indicamos êsse '◄11l 111 · os que estão habituados desde a infância àquele clima,
caráter ela atmosfera corno "mormaço rígido". É uma carac­ "' q1rnis sofrem, no entanto, diante ele tôclas as outras formas
terística cio tempo equinocial, especialmente na primavera. 111,·t<"orológicas relativamente mais ásperas elo mal-estar sensí­
A meteorologia consieera o relâmpago não como um equi­ \1'I q11c lhes é provocado pelo frio, vento, etc.; em segundo
valente ao temporal, mas corno reflexo lu111inoso de um autên­ l 11t•:i1 cm alguns temperamentos nervosos, que são hipersensí­
tico temporal distante. Continua incerto se isto se verifica cm \ 1•i� a todos os estímulos e ao mesmo tempo são "anêmicos",
todos os casos; certamente há confusões e graduações com os 11l m·tudo "astênicos": sentem quase sempre necessidade de
autênticos "raios ele superfície", onde a descarga eletrostática f1:111qiiiliclade e de condições ele viela o mais possível unifor-
ele massas de nuvens · tempestuosas pode verificar-se sem tro­ 1111 ,,, 1· rragem com muita violência a tôcla mudança. Se-
vões. Levando-se em consideração a situação atmosférica, am­ 1'1111cl11 ·\ rxperiência, êles não suportam ele forma alguma uma
bos são equivalentes ao temporal, podendo o mormaço tem­ ;11l,11.1, ,111 de calor como também um trabalho maior da epi­
pestuoso dissolver-se depois dêles ( o povo diz, quando vê re­ i!r,1111, 1• do metabolismo. Todavia, em comparação com ou-
lampejar: o tempo está se refrescando!). Até que ponto 11,1", , 11111 :is suas paradoxais reações ao mormaço, formam
-os efeitos do temporal influem sôbre as condições psíquicas, 11111., 1 111111 11 i:1 hr111 reduzida.
depende antes e depois cio estado atmosférico. Equivalentes elo :-;. . l 11 111 o 111ormaço seja caracterizado ele um modo geral
26 27
o , i n-
pela calma atmosféri ca, há, por ém, movi mentos da atmosfera 11. Fohn. ( : 0111 o siroc o, é geralmente confundid
tantes das mon tanh as, o
que, estan do em relação com um grau mais elevado de tem­ C'lusive na linguag<'lll rornum dos h abi os v l s e povoa­
c nsigo p r
fohn, porq11c tr,11. gl'rnlmcnte
a a a e
peratura e de umidade, sublinham precisame nte o caráter mor­ o
racterística sirocal . Den­
mac ento. São os ventos mormacentos. O seu efei to é aná­ dos prcmonta11hosos um Lcmpo de ca
porém, o fohn é um vento
logo ao de um forte mormaço tempestuoso , antes, não é raro tro da sua esfcr:i originária de ação,
diss - em estridente c ontraste
superá-lo em i ntensidade. Precisamente o s indivíduos que es­ rclativa111c111c quente e além o
o e pobre de vapor áqüeo,
tão habituados ao siroco - o típico representante de tais ven­ com o úmido siroco - é sequíssim
depende os grandiosos efei­
tos na r eg i ão mediterrâ nea - ressentem-se do seu for te e per­ e justa111 enle desta sua propriedade
ureza alpina ( d issoluçã
o
sistente soprar num alternar-se de abatimentos e de irr equieta ­ c nom i d nat
tos que suscita na e o a a
C mo, poré m, na s vi­
d as neves, maturação das colheitas!).
o
ção freqüentem ente muito penoso, enquanto que os tempera­
e esgot ando dá freqüente­
mentos sensitivos podem cair num estado de espírito de deses­ zinhanças ou nas zonas onde vai-s do
nte assu mir o c aráter
pêro, que desaparece somente com o cessar el o vento. mente lug ar a chuvas, pode casu alme sêco e vi olento, um
é quen te,
Por êsse seu efeito o siroco não é apen as o maior inimigo siroco. Mas o verdadeiro füh n
s e
i da s alturas n os v ale
d as convalescênc ias mediterrâneas - os que são mui to ner­ clássico vento de montanh a, que ca p mais q ue com-
c rde l,
não está li gado a nen hum ponto
or
vosos esp ecialmente, com ten dências para a dep ressão, devem a a

pensar duas vêzes antes de se dir igirem par a tais regiões mas el norte.
nos países por êle percorri do constitui também um pretexto p a­ pareça ocasionalmente co mo vento o quem
s as c içõ s met eorológicas é o fühn
ra transcurar os próprios deveres e para aban donar-se a todos Dentre tôd a ond e
ga sm os o efeito
fís c s d s
exerce sôbre as condições psic o i a o or ni
os excessos. O artesão, quando não consegue cumprir a or­ mpestuoso e do siroco. I n­
mais intenso, superior ao do ar te
de m r ecebida, apresenta imediatame nte co mo desculpa o si­ um modo geral sã o in dife­
clusive os temper amentos que ele o.
roco, e o deli nqüente passional procur a tirar provei to d esta
tm sfé icas, ress entem-se do seu influx
circunstância, diante elos jurados e fr eqüentem en te o consegue. rentes às variações a o r
d im di t me te an­
inten sida a a n
A sua ação alcança a mais alta
e e
Espec ialmente os excessos sexuais, os atos ele violência inspi­ s horas do seu desencadear,
ra dos pelo ciúme e seme lhantes, são freqü entemente julg ados tes de o vento sur gir e nas primeira pro funda e tormentosa
com in dulgência o u até mesmo absolvidos, caso seja demons­ r. pode provocar desânimo, ansiedade irritação "carr egada"
aç , u
com o qu e por uma grande desgr
a o
trado que no tempo do ato dominava uma pesada atmosfer a o voc a a cessação de
tôda
sirocal. Em outros países em lugar do s iroco agem as monções de tensão for tíssima; além disso pr a um inqu ietação,
ligad
1-ficiência, especialmente i ntelectual,
a a
( de verão ) e na Europa centra l a maior parte dos ventos sul­ os membros são pesados,
que ameaça "fazer o pei to explodir";
ocidentais e ocidentais. , os alimentos não têm
a cabeça sente-se como que comprimida
Além disso, não é necessário que a temperatura seja mui­ s o ss melh a-se a o de um febr i­
sabor algum, nem odor, o on a e
to alta; também o seu aumento relati vo é às vêzes, embor a não odos os m atizes, até a
s for-
sempre, considerável; somente a umi dade (cfr. § 28) é sem­ citante. Tais reações apresentam t te seme lh antes àque­
tanc lmen
111as mais leves, que são subs
ia
pre muito elevada. O ponto culminante da ação do siroco uos o fohn excita com
coincide geralmente com o mais intenso soprar do vento, até las el o mormaço . Em muitos in divíd ntão urna sexualidade
; e
particula r vi olência o instinto sexual
mu dar de direção. Os pródromos, muitas vêzes urna repenti­ mo er ume n ta até chegar a uma
rnstumeiramente muito d na a
na muda nça de humor ( abulia, i nquietação, mêdo ) , não ra­ da inq uieta ção geral tende
ramente aparecem já quando o vento aind a não se manifesta. 111:1nia penosa, que sob o i mpulso es h abituais.
,1 11 m desabafo superando tôda s a s in ibiçõ
São êles um indício da cheg ada iminen te do siroco. s exó ic s, vent o que mais se aproxima do
nas form a t a o
e Kap land , um
Mormaço e vento morma cento apresentam-se geralmente "C pe-d okto " el
i,il111 d 0s Alpes poderia ser o a r
quando o céu está encoberto ; mas se o sol apar ece, êle se faz e mans . Os verd adeiros "ventos quen­
, 1!10 cio sudoeste, sêco o
sentir sôbre a pele com um a desagra dável sensação, como se e o chamsin da Africa
ln" p, ,·x. 1 dos desertos, como o sirnum
"picasse" ( cfr. § 12) . m com o fohn a extrema secura, mas
, 11•11l11 1111 nl têm em comu
O fohn da Euro-
.q11!'�1•11t:11 11 uma temperatura muito maior.
29
28
pa central, porém,· nem se1npre é acompanhado pela tempe­ d.1� ronc.lições fisiológicas, o que substancialinente não é senão
ratura elevada; há sem dúvida fohns que apresentam uma ;1 lo, ma mais débil e mais branda daquelas influências me­
temperatura superior a 20° C, mas o seu efeito psicofísico po­ l l'lll o lógicas elas quais ternos falado até agora. A disposição
de ser igualmente relcvantC' a urna temperatura ele apenas 59 d1· espírito é um diminuído "bom humor", urna espécie ele
ou 109 acima ele zero. E111bora sendo tão baixas, são, porém, .1h11lia ou irresolução, certo sentimento geral de descontenta-
sempre mais altas que a temperatura preexistente: todo fõhn 1111•nto, uma incerteza sôbre o que fazer, acompanhada por
determina com efeito u 111a considerável e repentina elevação c1·1 la inquietação. A isso pode-se acrescentar um grande nú-
ela temperatura, não rnr;:i111cnlc na medida de 109 em poucas 1111·ro de mal-estares físicos da mais diversa natureza.
horas e muitas vêzes de 20" no espaço de um dia ou dois. Uma forma particular de mudança meteorológica é o
Na linguagcn, cicnlífic:1 o conceito de fohn estendeu-se re­ ft:mpo maluco, conhecido em algumas zonas como "tempo de
centemente a tôda cspécil' de vento de queda, conseqüente­ 111:1,ço", em outras como "tempo de abril".Por outro lado, e tam­
mente ta111br111 às correntes atmosféricas que irrompem rà­ lH'·111 mais ràpidamente, o céu sereno com ar pungente muda-se
pidamente sôbre a área ele depressão; para cles.ignar, pois, tais 1·111 céu nublado com ventos e aguaceiros, com saraivadas e ne­
fenômenos encontramos a denominação "livre John". Somen­ \ .1�cas. Fr eqüentemente a nova rajada que se ergue já é visível
te a exp eriência poderá confirmar a oportunidade (sob um 1·rn110 d ensa nuvem escura no horizonte, enquanto o tempo vai
ponto ele vista meteorológico e climatológico) de se adotar M·n•nando. Antes da chuvarada, intervêm freqüentemente o
esta denominação. Sôb re as influências psicofisiológicas cios 1·l1·ito tônico do ar tempestuoso; de resto, muitos aguaceiros
"fülms livres" não há até hoje observações utilizáveis. Seria 11·, C'lam-se pelas d e scargas elétricas corno uma equivalente do
muito desejável que fôssem recolhidas, mas para utili;;:á-los se­ 11·111poral. O tempo sereno apresenta duas fases meteorológi-
rá indispensável demonstrar, com precisão e exatidão, que a 1 .1s: uma, "fresca", com "ar limpidíssimo" ( e correspondente
situação meteorológica é justamente determinada nas suas ca­ r•ll'ito sôbre o organismo), e outra, "rnorrnacenta", muitas vê-
racterísticas por um verdadeiro vento de queda. 11·s "mormaço rígido", que prepara o surgir de uma nova ra­
j;1d:1 e na qual "o sol pica" de modo característico.
12. Queda barométrica. - É do conhecimen
to geral que É esta uma ocasião particularmente propícia para distin­
indivíduos predispostos aos '·reumatismos",
como também as �• 11 i, o efeito tônico do efeito da paisagem da situação baro-
p e ssoas que têm cicatrizes reagem com um aumen
to ou uma 1111·l 1ica. Com efeito, a qu eda do humor desaparece ordinà-
diminuição das suas dores nas mudanças barom
étricas. Para 11.1111t'nte durante a segunda fase, enquanto que o prorromper
uma p e ssoa normal, urna simples mudança
atmosférica age, tl.1, rajadas, que se dão geralmente quando o céu está coberto
ou apenas de modo indireto ( quem não dispõe
de um guar­ ptll' espêssas nuvens ("anoitec e"), já traz a "dissolução", de
da-chuva ou d e ve acudir às colheitas, alegra-se
com o tranqüi­ 11uHlo que muitos indivíduos, durante o processo de descar­
lizar-s e cio tempo) ou com uma impressão sensív
el. Nos "in­ ".,1, não obstante que o espetáculo apresent e um quadro deso­
divíduos-barômetro" esta impressão sensível é geralm
ente mui­ L,tl11, sentem um extravagante praz er.
to forte, tanto que inclusive o desaparecimento
momentâneo No que diz respeito ao reino animal, sabe-se que muitos
do sol pode provocar imediatamente o mau hun1o
r, ou - e é ,1111111:iis revelam um forte pressentimento, superior ao do ho-
isto apenas que nos inter e ssa neste capítulo
são também 1111•111, inclusive para a simples mudança meteorológica. E1n
tônicamente hipersensíveis às mudanças rneteo
rológ-irn s. Ve r­ 1•11111• podem estar ern jôgo influências indiretas, enquanto :3.
dadeiramente, a distinção do efeito sensível e cio
efeito tônico 11111id.irll' crescente da atmosfera modifica a impressão olfativa
apresenta muitas vêzes dificuldades muito
111ais graves pela '"' 11 ,.d1or :da alimentação vegetal. Naturalmente para a p,i­
simples mudança m e teorológica, que pelas for111a
s meteoroló­ , nl,11(1., ,111i,i'1al não é fácil interpretar o conhecido cheirar o
gicas das quais t emos falado até agora. 111, ;, l.111il1('r o nariz e semelhantes indícios de mudança ·1:e-
O piorar do bom tempo é advertido por essas 1 ,1111li'11 11 ,1 11,uito conh e cidos entre criadores el e bois, ovelhas
pessoas, do­
tadas de um temperamento sensível ao tempo r I "11,, ,� 'l'oclavia, êss e comportamento, corno também o pa­
, antes ainda que
se manife ste como fenômeno sensível por uma i ,,,1,·,11 d11 pavão e o seu contínuo esvoaçar e n1 círculo, os fre-
cer ta mudança
30 31

11.
qüentes mergulhos de outros animais domésticos (patos, gan­ poderia também pensar que ambas as interpretações são cer-
sos), caso pudessem ser avaliados de modo aceitável, pGde­ 1 as? Como a dispepsia piora justamente na iminência da mu­
riam ser explicados como sintomas de inquietação e de mau­ d:i.nça do tempo, não pode estar contido nas suas manifesta­
-humor. O comportamento das andorinhas indica a sensibili­ ções um preanúncio da mudança atmosférica? Durante a
dade meteorológica dos insetos, muitos dos quais, com efeito, guerra, na Alemanha estava largamente difundida nos meios
já bem antes de surgir uma repentina mudança meteorológica, populares uma espécie ele doença devida a parasitas intestinais,
p. ex., a chuva, refugiam-se nas vizinhanças dos abrigos oca­ <'Spccialmente ascarícleos, com distúrbios nervosos muito pe­
sionais (terra, para-peito, esconderijos). Pelo contrário, o "ro­ nosos. Pois bem, em tais indivíduos foi possível constatar não
dopiar" a grande altura dos mosquitos é um índice de tempo poucas vêzes uma sensibilidade meteorológica muito elevada, e
melhor. Muitos estudiosos querem atribuir êste comportamen­ cm particular um aumento dos distúrbios especificamente pa­
to a uma mudança puramente mecânica no pêso do corpo, r:1sitários com o ar mormacento, os equivalentes do temporal
que nos pequenos insetos é provocada pela dessecação ou pe­ ti na mudança atmosférica. O instintivo comer ervas dos cães
la capacidade higroscópica devida à finíssima penugem. Sem poderia ser uma manifestação análoga.
dúvida, transcuráveis oscilações de pêso em massas tão mi­ Agudas observações sôbre o comportamento dos insetos an­
núsculas podem ter importância para o vôo e portanto influir tes e durante a mudança do tempo nós as encontramos em
também sôbre o prazer do vôo. Mas é de se duvidar que e,ta !•'abre, grande cientista francês. Por exemplo, as lagartas das
-seja a causa essencial, que determina a transferência de �ede. aranhas dos pinheiros não abandonam seus buracos durante
Antes de tudo se deveria acertar se a medida de tal acresci­ dez dias enquanto predomina uma baixa pressão atmos­
mento higroscópico do pêso supera, por exemplo, aquela de f{>rica, se bem que durante vários dias não tenha caído chuva.
que se carregam os insetos que visitam as flôres na impregna­ Também os escaravelhos conservam-se escondidos durante a
ção política ou na procura cio néctar, que, como mostr,t a fase da queda barométrica, ao passo que vêm à luz quando
experiência, não prejudica nem a agilidade nem a altura do :iinda continua a chover, antes que o tempo se normalize. Es­
seu vôo. ta sua falta de vontade de se arrastar dificilmente pode ser
Se considerarmos o pêso, e nos limitarmos às sensações de­ 1•xplicacla com os aumentos higroscópicos do pêso cios quais
sagradáveis que surgem nêles pela mudança higroscóp1ca da falávamos há bem pouco. Entre o povo, desde tempos re-
pelugem, deveremos demonstrar que tais oscilações provocam 111olos, sempre existiu uma afetuosa atenção para as várias rno­
também em outros casos sintomas de repugnância, inclusive no d I ilações, tonalidades e timbres do canto cios passarinhos como
mesmo âmbito altimétrico. A mudança de conduta nos pei­ p1 <'anúncio do tempo. Observações sistemáticas confirmaram-
110 muito bem. Parece quase certo que existe nos pássaros
xes, batráquios e pássaros não eleve talvez ser circunscrita ape­
nas ao diferente comportamento dos insetos. Devemos, an­ 1111,a espécie ele paradoxal reação ao mormaço (§ 10), pois
tes, fazer distinção entre estas duas ordens de fatos: um pei­ 11111 moderado calor úmido é-lhes muito mais agraciável que
xe salta sôbre a água, um pássaro voa muito baixo porque os .1os mamíferos. Os pássaros. canoros sentem-se melhor quan­
insetos agora se mantêm naquele ponto; um pássaro pia ou do a temperatura matinal é branda do que quando é um pou-
1 o 111ais baixa, e também um tempo um pouco nublado é
emudece porque também êle sente em si mesmo uma s�nsa­
ção desagradável de uma iminente mudança de tempo. Quell!, 111ais favorável à sua alegria canora. O vento é-lhes geral-
nas condições atuais da psicologia animal, pode estabelecer 111,·11tc indesejado. Sob o influxo predominante da radiação
qual é a causa que está em jôgo em cada caso particulai? l11111i11nsa, que parece exercer certo predomínio sôbre os de-
Devemos guardar-nos tanto ele prestar muita fé aos dog­ 1 i.11, r:i tôres meteorológicos, notáveis são os períodos onclu­
mas populares como da presunção racionalista. Vulgarmente o L111l1• do désejo canoro e ela melodia. Seria necessário regis-
fato de os cães comerem ervas valia e vale ainda como um 1 i,,, I • 11111gràficamente também para se conseguir captar com
indício infalível de um iminente piorar do tempo. A ciência 111,1i• p11·1isfio as expressões clesentoadas, descompostas, que te-
11111, 1111, ido nos tentilhões, nas andorinhas e em outros pás-
boje o explica exclusivamente como manifestação de uma dis­
pepsia, devida quase sempre a vermes intestinais. E não se 11111• ,1111!·, do temporal e do prorromper do fi:ihn, e nas ver-

32 33
a,11,,,.1,,uo
• delhões antes do neviscar invernal. Nos insetos, como tam­ .,, vt-zcs é tambéJ1J de alguns graus abaixo) sentimos a neblina
bém nos peixes e nas borboletas, a mudança de côr da epi­ , ,,1110 algo que "pcnclra" em nós. Ela causa uma sensação de
derme parece indicar uma mudança meteorológica. A psico­ .11 1,·pio extremamente molesta e penosa, uma espécie de umida­
logia animal séria, que evita as especulações e registra com cl,· i111palpável, mas real. Freqüentemente, mas nem sempre, é
exatidão apenas o comportamento ("behaviorismo") dos sêres .11 rn11panhada por um autêntico "mormaço rígido". Provà­
vivos, tem ainda diante ele si um campo vastíssimo de pes­ \1·l111ente tudo isso tem relação com as suas propriedades "co­
quisa relativo à geopsicologia animal. Entre o behaviorismo loidais" (cfr. aerossol § 43) . Mas é muito difícil isolar disto
da vida livre, ela vida scmilivre (guarda, proteção, alimenta­ < ,·lei Lo da impressão da paisagem, que nela tem certamente
ção; auxílio para nidiíiC"ar para as corruíras dos parques, para 11111.1 parte essencial: a perda de tôda a visibilidade, o obscu-
os pássaros da cidade, corno os melros, para as cegonhas, para 1 1·1 i111rnto da realidade numa fôsca indiferença deprime pro­
os animais de jardi111 etc.) e o do cativeiro, há muitas dife­ l 1111d,1111ente o espírito. A êste respeito, a neblina é o que mais
renças a notar. 1 :1proxima da obscuridade. Há nela qualquer coisa de sinis­
lHI. Ern nenhuma outra forma meteorológica é tão difícil se­
13. Neblina. - É a experiência comprovada que o tem­ i'·' 1 :ir no efeito complexivo o influxo tônico e a impressão
po nebuloso age de modo oprimente sôbre os homens. Na­ 1t•11�ívcl.
turalmente prescindimos aqui de situações em que a formação
da neblina ( sôbre os lagos, no cimo das montanhas) acarreta 14. Tempo de neve. - Entre os equivalentes do temporal
a perda de orientação, determinando assim um perigo para 1 � D) contam-se também as rajadas de neve. A situação de
a vicia. A sua ação opressora pode às vêzes ter cqmo efeito "1 igidez . morrnacenta" precede muitas vêzes as grandes neva­
uma irritação das preocupações. A neblina persistente pro­ < l.1•. in\·ernais, antes das quais o tempo é geralmente gelado,
vam urna acentuada depressão, avilta e excita. Nas regiões 111.1•: simultâneamente calmo, "denso" e "pesado". Muitas
de muita neblina até mesmo o início de chuva, com densa, 111·•wns afirn1am que "cheiram" êsse "tempo de neve", o que
formações de nuvens muito ahas é frcqücnlcmcntc recebido •1;11ifica que se trata principalmente de uma percepção sen-
com alivio depois cios dias de nevoeiro. Para quem não está 1wl cli,er se realmente se dêem verdadeiras sensações olfati­
habituado, semanas a fio ele neblina são dias de "desespêro". ' .,, indefinidas como de modo análogo acontece com o fohn
Inclusive as crianças, que num primeiro momento se alegram ( � •17). As pessoas sensíveis ao tempo sentem, porém, o "tem­
com o fenômeno enquanto tal ( é uma alegria cheia ele estu­ i'" ele neve" antes ele tudo no seu efeito tônico, que é muito
por, igual à que se sente diante de uma saraivada, de um mo­ , 1111'lliante ao do "ar tempestuoso": um acentuado aviltamen-
mentâneo escurecimento), logo se cansam quando a neblina 111 111csclado de sinais ele excitação. O estado de espírito é dc-
persiste. O clima nebuloso tem qualquer coisa ele "rr�lancó­ 1111•,sivo, inquieto, angustioso ou abúlico, ansioso ou irritado,
lico"; desde tempos imemoráveis os povos do J\{editcrrâneo, 11 ,1pl'titc diminui, o trabalho torna-se pesado. Mas tal situa­
acostumados ao sol, consideravam a neblina como a caracte­ , ,10 dissolve-se sempre no curso de uma abundante nevada, e
rística das inóspitas regiões nórdicas, corno habitantes melan­ d, 111oclo geral depois que cessou de nevar, como, depois de
cólicos, e o "país da neblina" significava para os próprios po­ 11111 1<'11,poral, determina-se um estado de espírito particular-
vos nórdicos o reino da desolação, governado por Tkl, a deusa 111•1111· jovial e à vontade.
da morte: era o seu "inferno' '(não talvez país grlado). ( :,u110 antes ele nevar o céu apresenta-se geralmente en­
É ele grande importância encontrar a causa a que de\·e "'li" 1111111 fôsco véu escuro, poder-se-ia pensar que o efeito
ser atrihuído êssc efeito. Meteorologicarnentc a nC'blina é urna 1• 111 1 ,11:� origem em fatôres da paisagem. Mas todos os da-
forma ele ,onder:sr1ção cm gotinhas extremamente finas elo va­ 111� , 111d?1dos contradizem semelhante explicação. Especial­
por áqiieo atmosférico. Exerce ela, como tal, uma influên­ llH til! 1 pt>rturbação do sono é geralmente descrita mais ou
cia pa�ticular sôhre os nrg::mismos, ou, pnr ;iraso, sf>brc a ,11- 1111·111 ••�i,11: início, à tarde, de um estado de espírito ele in­
perfície da nele Não o sabemos. Em tôdas as temperaturas ·,:11,I 11 111, dt' abulia; sono irrequieto, agitado, cheio de sonhos
(a sua geralmente é ele apenas poucos graus acima ele zero, e ,l,•,:11 1,1,l.1\1·i�. despertar num estado de fraqueza; um olhar à
34 25
C t'·u sem nuvens, dias ensolarados, frio m oderado ( entre
ia nela descobre q ue neva de nsamente, mas co isa de há pouco < )" e -109), ausênci a de vento ou ar ligeiramente movimen-
tempo. Além disso, pelo caráter tônico do eieito , de ve-se ter 1.ulo, com di re ção do vento (no velho continente e no hemi s-
presente que o "tempo de neve", isto é, o ar antes da neva da,
1(·1 io boreal, especialmente na E uropa central e oriental) para
t a mbém para os indivíduos que não se excitarr. com tais efei­
, , t•sle (no roeste, até este-sudeste; § 51) , co ncorrem além disso,
tos, apresenta contudo aquêle caráter evidente, do qual já f a. 1·111 conjunt o com o aspeto da paisagem nevada, que devemos,
!amos, de s er " denso " e "pesado" ( o po vo, com efeito, o co­ pod- 111, d istinguir do puro efeito meteor ológico, para determi-
nhece e fala mu it o : " o te mp o é de ne ve") e provoca facil­ 11.1r aq uêle estado de elevad o bem-estar fisiológico conhecido
mente dores reumáticas, nevrálgicas, distúrbios vários; além 11111· lod os.
disso, emb ora sendo a sua temperatura de u m modo geral br an­ f.: possível que, além do seu encantador efeito paisagístico,
d a ( ai nda qu e se tenham registrado quedas de neve a uma
11111a camada de neve par ticularmente fresca determine ime­
temperatura. de 409, geralmente ela cai quando se registr a. uma tli:llc> incremendo tônico do estado de boa disposição, que p'o­
temperatura. q ue oscila entre Q9, e normalmente e ntre - 19 e , lt ·ria estar em relação com o reflexo da luz e a radioatividade
+ 1 9), a.presenta freqüentemente um avança.do caráter de ri­ 1l.1 neve fresca ( § 35). Chegamos a co nhecer o grau de se­
gi de z mormacenta. (§ 9). N ão é raro o caso de grandes ne­ , 11r:i. d� ·atmosfera e da alta press ão através de propriedade­
vadas se iniciarem com a explosão de um raio o u de um tr o­ .1t 1110s[éricas não perceptív eis diretamente. Semelhante dia de
vão, pelo que se revelam inconfundivelmente como um equi­ 111wrno é mais ou menos o contrário de um dia morm acent o
va lente do temp oral. O presumível efei to da paisagem é tam­ de verão, que geralmente, pela consider ável densidade atm os-·
bém contr adito pelo freqüent e diss olver-se da depressão com o 1(·1 i ca e pelo nível barométrico descendente, é muito quente,.
início da nevada, embora o céu continue ainda escuro por 111il>lado, sem ventos ou com ventos que sopram com direção·
muitas e muitas horas; m as a partir dêsse m o mento a sit ua­ , .11 i{t vcl de oeste p ara sudoeste .
ção complica-se pela impress ão causada pela paisagem da ne­
vada ( § 117) . 16. Tempo bom. - Também em pleno verão há dias que
pmk 111 ser definidos como "frescos", não obstante o sol inten-·
�11. Para dizer a verd ade, acima de certa temperatu ra, mais
II. Tempo refrigerante 1111 menos além d e + 259, o f rescor n ão é mais perceptív el. Se,.
sombra de uma
111m\ 111, em tal dia, nos transportarmos para a
15. Dia de inverno ideal. - Quando o tempo está ame­ , l't:i, de uma m oita, ai nda q ue sej a p or poucos
s egundos, per-·
no, também se manifesta d e bom humor o nosso estado fisio­ 11•l ll 'mos l ogo u m ar mais f re sco. P or mais que, também na
lógico. Quando fora está fresco, também nós de u m modo u 1111i>ra, a temperatur a possa ser el evada, a ssim m esmo parece·
geral nos sentimos bem dispostos e tal nos mostramos e1,; nos­ 1p11" gozamos d e um pouco de refrigério. O céu apresenta-se ,
sas atividades. Isto é: quando a situação barométrica é mar­ g1•1.ilmcnte sem nuvens ou no máximo cortado por cirros p as-
cada pelo tempo f rio, céu sereno e pela moderada. agitação 1111,111•iros; a pressão é alta, a umidade escassa, não há vento ou
atmosférica, nós nos sentimos de bom h umor, alegres, eufóri­ 111p1·:1 nma leve brisa do levante. Não obstante o elevado ca-
cos, empreendedores e a nossa atividade desenvolve-se bem e 1 111 , s<·nlimo-nos bem dispostos nas n ossas atividades, conse-·
ràpiclarnente, e até podemos concluí-la melhor do que de cos­ 111111110s levá-Ias a têrmo com a máxima f acilidade, coisa que
tume. Essa disposição de espírito pode aumenta r atê chP,gar 1111l.1111ns sobretudo no caminhar e no subir.
a urna avançada excitação, que impele incessantemente à ação, N:1 parte mais meridi onal da Europa é o outono, e nas
sem jamais transformar-se e m mau humor, mas cedendo final­ I' 111 1 111ai� ce ntrais também a primav era., a estação que a pre­
m ente apenas a um sadio "cansaço " e a urna indolência res­ ' 111 1 11111ior número de dias por nós sentidos co mo frescos e·
taurad ora., ainda que de breve d uração. O protótipo de um j,ui 1111111 preferidos porque são amenos. Em tais dias p ode-·
tempo ele tal nature za, meteorologicamente ameno e psicolo­
gicamente vivaz, é todo dia de inverno, límpido e gélid o, sem
ven to ou com vento moderado, das zonas t emperadas.
37
36
partes da terra p rové111 ele
mos encontrar tôdas as propriedades das quais falávamos, e a 111111 1 ·, no passo que para outras
temp eratura oscila habitualmente entre + 159 e + 259. ,111tras direções.
Nas zonas temperadas ( até as latitudes subtropica is e sub­ pois, obedece a lei
-árticas) em tôda estação há portanto realmente o "tempo 18. Serenidade. - É muito natural, intensidade a s
rast e, percebemos com mais
bom", qu e sentimos como mais ou menos "fre sco". D e modo l>htl"ológica cio cont ntes , qu ndo, com paradas com
10111 1 as meteorológicas re fresc a
a
ge ral é também m eteorolàgicamente belo e o mais duradouro. maior desta que. Sob êste as­
. ·, formas debilitantes, assumem ­
Nêle sentimo-nos de bom humor, ativos e eficientes. A is dos temporais, isto é, quan
pc·to, a situação qu e se cria depo m p -
necessidade de sono é '·normal", isto é, depende do maior ou , é freqüentemente u ro

menor grau de cansaço, o sono é profundo e contínuo, e ao ,ln o tempo se refrescou realmente tura pare ce resp i-
da cri
l nt i po cio frescor meteorológico . Tô
a
despertar nos sentimos bem r epousados e de bom humor. Tô­ esta do d e bem- estar e a efici
ência. O
1 .r c se rest ab e l ece o
clas as funções vitais estão em pleno ritm o de eficiência. I
rtunidade par a se mel han te ob­
liil1 11 oferece muito m enos opo po tépi do-ú rnicl o, si-
ele tem
,c·r, ação, porque surge numa fas
e
17. Fresco rígido. - Fala-se do v erdadeiro bom tempo . :rv[as a situação rnct eoro ló­
apenas quando r esplende o sol. Todavia, também quando o 1 ncal, que p erdura div ersos dias ada s, ap nta to­
grandes nev rese
•,1ca, que se forma depois elas
sol e stá encoberto, "turvado", o tempo po d e ser fresco, ame­ nso; e todo s sabem como isso
dos os traços do fr escor mais inte a
no. Após muitos dias de bom tempo com forte calor, prova­ nas, depois das quedas da nov
mos p articular s ensação de frescor até m esmo quando o te m­ ,·. perceptível n as zonas prealpi dos Alp es, q uando o
lev das
tH•ve ele estio. Nas zonas mais
e a
mui­
po se an uvia. Em tôdas as estaçõ es conhecemos dias "rígi­ entos susceptíveis sentem
dos", que nem sempre nos são agradávei s para as sensações 1t·11 ,po é "cortante", os temperam féric a d vida a
itua ção atmo e
to 111 ais a rápida mudança da s
s
cutâneas que, devido às molé stias do vento, nos impedem de ntre temp o d bilit ant e e temp o re­
111n contínuo alternar-se e e
ficar muito tempo ao ar livre , ao passo que nos sentimos ex­ o tempo, tôda vez que
s e rena
traordinàriamente bem dispostos e eficiente s quando no,s en­ lrrscante. Indivíduos sensíveis a do fisio lógic o, tan­
pl xiv e t
,. refresca, p ercebem no seu corn e o s a
contramos dentro ele casa ao abrigo das rajadas de vento. ca talvez pelo apar ecer cio
Chamaremos esta situação metere ológica "fresco rígido". to por indícios particulares (nun con t tam com
o, "pic ",
sol, enquanto que, se êle, por exe mpl
a s a
Ela pr edomina especialmente na Europa centro-orie ntal e ém à no ite, clurante
,r({u rança como é enganador) , como tamb
norte -oriental ao lest e do Elba, e pod e provocar nos alóctones, com d spert ar d e m anhã, graças justamente
1) sono, no modo o e
mas também nos autéctones, um eterno contraste entre e feitos to-psíquic a, do seu
.10 melhoramento da sua tonaliclacle sorna
favoráveis e desfavoráveis, provocando moléstias catarrais e ela ua eficiê ncia.
fortes distúrbios nervosos. É precisamente a inversão do efeito ,·stado fisiológico e s

"ela s regiões meridionais". Tal tempo rígido é uma estrutura


met e orológica muito heterogêne a; a sua temperatura ( sem al­ B. - EXPLICAÇÃO DO INFLUXO
gum limite inferior ) está sempre abaixo el e + 159 C; pode ser METEOROLóGICO
tempestuoso, mas também apenas ventoso e até mesmo sem nstrar as re­
vento; geralmente é muito nublado, mas o céu pode aparecer 19. Explicar cientificamente significa demo experiência
fato dado p ela
também sem nuvens; umidade e pressão atmosférica não são L 1 ções causais e as relações de um
mais simp l s. Êst es últimos são chamados
uma sua característica; o ar é antes leve e sêco que pesado e 1' 111n outros fatos e
e "compl exa", isto é,
úmido, enquant o sobrevém freqüent emente uma "rigidez mor­ " 1 ·lcmentos", e a experiência simpl es diz-s
l\l [ as não e dev e esquecer que o con-
macenta". Sobr etudo é muito indicativo o tipo de vento: nêle, 1 rn11 plicada, composta. s
simples, isto é, ele
mesmo quando sopra muito brando, está contido aquêle par­ 1 1 •i11l de, "ma is simples" ou mesmo do mais
Não há nada de elementar, seja
ticular elemento "agressivo", difícil de de screver, que jus-ta­ 1•! 1 111<•nto, é muito relativo.
ou de uma q ua ­
mente chamamos de "rígido", e que, quando a sua· fôrça é , p11• Nc· trate d e uma coisa, ou de um processo
s separando-a ern
,
ltil,111 1 ·, que a ciência não submeta à análi
e
maior, p enetra "até à medula dos ossos". Na Europa é êle os" ci os antig os
. Os "átom
o vento qu e sopra quase sempre do leste, do nordeste ou do '1'1,tlq11cr coisa de mais elementar
39
38
são para nós complexas formações de massas; as partículas de ( oxigênio, azôto, gás carbônico, gases nobres, vapor d'água),
massa (moléculas) das ciências clássicas naturais modernas fo­
q11e são os seus elementos concretos. Ela apresenta certas pro­
ram decompostas, por sua vez, nos átomos modernos da quí­
pi icdades, estados ou processos: p. ex., "é quente, tranqüila,
mica contemporânea, e sabemos quanto seja complexo o con­
111ove-se, ressoa (nas tempestades), cheira, é pesada, num en-
ceito de átomo da física hodierna. Depende das necessidades
11 l'laçamento contínuo que é artificialidade querer destrinchar.
da pesquisa a determinação do ponto de elementaridade a que
A eletricidade da atmosfera, que se descarrega num temporal,
nos devemos limitar, e é um ato cognoscitivo que cabe a esta
1· uma espécie de combinação das partículas materiais atmos-
decisão. Êle decide também quando os elementos empíricos
1 (·ricas, uma soma de determinadas qualidades e condições,
não são mais suficientes e elevem ser introduzidos elementos hi­
lw111 como uma ação constituída de processos particulares. O
potéticos. Também êstes, porém, devem ser intuitivos (como
q11e é o elemento determinante para cada caso particular pode
o é justamente o "átomo-modêlo" da física mais recente).
s1•1· estabelecido tão somente por um olhar experiente e prático.
Teoria, isto é, a tentativa de explicação que enquadra
num todo só o campo de pesquisa, indica no seu significado li­
teral uma visão intelectiva. Antes, quanto mais abstrata é a 21. Temperatura. - Frio ou calor são em geral as qua­
formulação elas leis, dos processos e das correlações (quanto li<.lades mais evidentes do ar. Fisicamente, porém, sentir que
mais êstas fôrem de exclusiva competência da matemática su­ ln1. calor ou frio pode manifestar-se de dois modos muito di­
perior), a que chega a pesquisa científica, tanto mais a pes­ l t •rentes, cuja distinção. se torna clara no alto das montanhas
quisa deve propor-se que as tentativas de explicação dessas 1111111 dia ideal de inverno: ao sol faz então um calor escaldan­
leis sejam intuit.ivas. Esta evidência, que é característica da tt•, o sol queima, e o ar iluminado pelos raios solares é de
teoria, mant�m o necessário vínculo cognoscitivo das noções \t'rão, a ponto de se poder usar roupas muito leves ou mes-
científicas de alto nível com a realidade, sem o qual a ciência 1110 dispensá-las, ficar sentados ou deitados; à sombra, porém,
deixa de ser conhecimento da realidade, dissolvendo-se numa domina um frio invernal, e quando o sol tramonta, a tem­
artificiosa dialética ele fórmulas abstrusas (formalismo). peratura pode descer de 309 a 40Q ou mais. O calor existia
A� tentativas ele explicação podem servir-se de todos os .,penas na zona exposta às radiações e desapareceu logo ao cessar
meios explicativos possíveis: de provas diretas e indiretas, de dl 'stas, perdendo-se no ar e na terra gelada.
deswbertas experimentais, de deduções tiradas por exclusão, Num dia ideal de verão, porém, estando já a terra e o
mas o seu instrumento mais eficaz é a experiência, que sub­ :1r sujeitos há meses a um esquentamento, a irradiação acres­
mete ao pesquisador os dados de fato experimentais, ou os t'<'nta ainda mais calor, até chegar a um grau insuportável,
reconstrói artificialmente, simplificando-os ao extremo. 111as quando desaparece, ar e terra continuam quentes e a tem­
No nosso caso é evidente que se contrapõem um ao outro p1·ratura não desce além de certa medida; se a irradiação no-
dois membros que devem ser explicados: as condições meteo­ 111 rna nas camadas mais altas e frias da atmosfera é impedida
rológicas e a vida psíquica. Aquelas influem sôbre estas, co­ por formações de nuvens, até mesmo a noite, embora sendo
mo temos visto, de um modo ou de outro; tentar explicar tais d1 ·stituída de radiações, torna-se enfadonhamente quente pelo
influências significa procurar em ambos os setores os elemen­
tos que nêles estão coinvolvidos e esclarecer o deito elementar 1·:t l or que emana do ar e da terra. Se no início da primavera
110s deitarmos por terra num dia ensolarado, do solo promana
que tem lugar no seu encontro, isto é, por ação dos elementos
meteorológicos sôbre os elementos psicofísicos. 11111:1 penosa sensação de frio, ao passo que dava a impressão
d,· 1·star bem quente por estar exposto ao sol; mas, no outono,
tlr•pnis de u�n longo esquentamento estivo, nos dias em que o
1. - Os elementos meteorológicos 11 N t' apresenta ameno, o solo pode dar a sensação de estar
1111i� quente que o "tempo".
20. Elementos podem ser coisas, corpos, qualidade, es­
tados, processos. A atmosfera, na qual se desenvolvem os fe­ 1 )l'vcmos, portanto, distinguir bem se as sensações de ca­
nômenos meteorológicos, é constituída de partículas materiais l,,, 1• de frio, que provocam em nós uma dada situação meteo-
1111 111:ir:1, são devidas ao esquentamento ou à dispersão térmi-
40
41
ca da radiação ou da irra diação, ou pelo 1111 1 rn1tra 11111 excessivo rcscalclarnento , enquanto (s ob u111 si-
contrário a o esquen­
tamento ou à dispersão térmica por transmissã
o ou conclução 1111111:111t·o inlJuxo ele radiaçõe s ultravioletas) desenvolve uma
ele calor material. Na prática, para as s ituaçõ ,1il 1 �tfi 11 cia corante, que em grande parte ab sorve (com o bron-
es barométricas
que se vêm a determinar, é sobretudo impo 1· 11 ) nas camadas mais superficiais a s radiações caloríficas, e
rtante o calor de­
vido à r adiação solar dire ta (além disso p 1•111 parte é o ar frio circunstante quem providencia a disper­
odem ser efeitos irra­
diantes indireto s pela reflexã o do calor
solar sôb re a praia '"º de quantidades muito elevadas de calor produzidas pelas
p. ex., ou sôbre grandes superfícies de águ
a ), e o calor do ar 1,1diações.
retido pelo esquentamento solar ou modific
a do pela irrupçi'io /\ mudança de côr é, portanto, uma reação ela pele às
das mass as de a r quentes ou frias (ventos- 1.1diações bioquímicas; tal não se dá quando o organismo é
setentrionais, fóhn).
1•111 geral pobre de substâncias corantes, portanto n os indivíduos
22. Calor radiante. - O calor é pr oduzid 11111·. têm a pele muito branca (na prática muitos indivíduos
o princip al­
mente por radiações com longitude de
ond as de 14.000-600 loi ios, isto é, com cabelos pobr es de substâncias corantes). A
m(.J., qu e no espetro são l ocaliza
das no fina l das " ondas lon­ ,11:t pele não se bronzeia, mas o sol a assa, e tal assadura ad­
gas"', principalmente no vermelho e mais quire ràpidamente um caráter morb os o, transformando-se em
além, no "infraver­
melho" (indivisíveis ao s nossos olh os). 1•1 ite1na (queimadur a); a inflamação penetra então muito pro­
A intensidade térmica
elas radiações diminui ràpiclamente a l II ndarn ente sob a pele e pode causar dano; isto explica por­
lém cio amarelo até o ver­
de, ao passo que nas r adiações am arelas que as raças de côr suportam os climas tórridos melhor que as
e a mare l o-vereies a
intensidade luminosa é mais forte. 1.1c;as branr.a s (§ 75).
As radi açõe s azuis apre­
sentam uma atividade predominantem Semelhantes lesões podem aparecer quando o ar do a m­
ente química, que se es­
tende até além do violeta, no "u biente é tão quente que o defluxo do calor produzido pelas
ltra vi o leta" (invisível para
nós) ; mas as r adiações calorífic 1 ac-liações nos tecidos subcutâneos não é mais suficiente, co rno
a s vermelha s ou ultraverm
são pouquíssimo ativa s qulmic a elhas
mente, tanto que já há muito 110s dias tórridos de verão, nos quais se tomam os "banh os de
tempo são usauas sem inconven ,oi". Se, porém, o ar externo é fresco por si mesmo, o calor
ientes na revelaçã o das chapas
fotográficas. de irradiação se disperde continuamente ao atravessá-la, mes-
A percentagem elas diversas radiaç 1110 quando é contlnuarnente alimenta do pela persistência da
ões presentes n a luz so­
lar "branca" ou amarela é dif radiação s olar. Então o estado de b em-estar geral é muito el e­
erente nas dive rsas estaç
rn o per cebemos no ca lor do ões; co­
sol, no inverno, nos
pa íses a ltos ' ado. Em outras palavras, o efeito p sic o-físico elo calor pro­
ê!e é muito rico ele radiações duzido pelas radiações solares diretas sôbre a pele depende do
térmica s, que, porém, podemo
perceber apenas até que nos s
�rndiente térmico interno elo tecido cutâneo e subcutâneo, da
ilumina diretamente, pelo fato
que já desde o outono êle perm dispers ão suficientemente rápida da t emperatura dos t ecidos
anece no céu por mui
tempo e muito baixo, pelo que to pouco
os seu s raios caem muito obll­ produzida pela radiação para o ar externo muito fre sco. C on­
quarnente para se obter um
escaldarnento duradouro cio for me se apresenta êste gradiente, há tôda uma escala de efei­
cio solo corn o no verão . ar e
tos, que nós (em parte por experiência, em parte após têrmo s
As radiações térmicas com co <:fctu aclo sistemáticos ensaios científicos) podemos dispor co-
mprimento de onda inferio r
a l. 200 rnµ, isto é, especialmen 1110 segue.
te as radiações vermelhas lu­
minosas (e não as radiações A influência mais branda (como se conclui cio cociente
"ob scuras" em ondas lo ngas),
penetram profundamente no 1·11 lrc o calor de r adiação produzido e o calor ele condução dis­
s tecidos pro vocand ,
te sôbre a pele, mas em cert o não somen­
os casos até mesm o num a prof lH·rso, tanto por uma radiação moderada e ar externo bran­
-didade de 3cm, aumentos de un­ do ou fresco, quanto t ambém por urna intensa irradiação e
temperatura cios tecidos de 2\'
3'1 C., elevando assim a temperatu a 11· externo muito frio) mostra um evidente maior bem-estar
ra média que é pouco mais
,de 379C., até 409 e ma is.
Nós o sentimos corno prurido ou li Kiológico, um estado de satisfação, pelo que n os sentimos bem
·"assadura" do sol. É a própria dispostos no desenvolvimento das nossas ocupações . Diante
pele que deve proteger o cor-
d1· uma influência ma is forte o estado de bem-estar torna-se
42 43
mais pos1t1vo, e pode dar origem a uma espécie de sentimento
voluptuoso, uma real euforia, como freqüentemente nos é des­ 111 1ic · :t c:1beça, sobretudo se por razões prof issionais, não com­
crita por quantos praticam os banhos de sol. Não raramente i"" 11· 111 pelo men os conseqüências leves. A excitação, prefe-
a um agradável bronzeamento mistura-se já uma excitação 1 iwlrncnte sob a forma de excitabilidade de espírito, de impa­
sensível. Prosseguindo, a ex citação torna-se desagradável, e • i/1 11cia resmungona, de impetuosidade furiosa, proverbial dos
então manifestam-se a irritação, a opressão e a inquietação. , 111i 11 hc iros e cozinheiras, foguistas, forneiros, forjadores, fun­
A radiação estende-se, pois, sôbre a cabeça, e portanto sô­ d i dores e outros, é a sua manifestação mais comum. Sabemos
bre o cérebro, a umentando ràpidamente a excitação que se , 1111· as excitações diárias se ac umu lam e se tornam crônicas e

torna patológica, determinando enfim um estado de confusã o, 11111 fj m produzem um estado de s uperexcitação "nervosa", que

com irreflexividade, loquacidade, canto, aluci nações, até mes­ 111111 o tempo se transforma numa hipersensibilidade até o há­
mo frenesi . A etapa sucessi va é a morte, que pode sobrevir l 11 10 inicial ao calor radiante. A velhice, a arteriosclerose in­
durante o delíri o ou depois de um estado de apatia. As cau­ ' 1pi l 'nle, doenças graves, infortúnios (entre os quais desponta
sas fisiológicas dêsses fenômenos elevem ser procuradas em es­ ., rnmoção cerebral, que pode provocar por vários anos uma
tados de inflamação cio cérebro e das meninges, que podem 1diosin crasia ao calor radiante) aumentam esta sensibiliza­
também manifestar-se com sintomas físicos, como desmaios ou i r111, como a ciência chama o pr ocesso particular, pelo qual
convulsões. po11co a pou co o organismo se torna sempre mais exposto
di:1ntc das exigências qu e num primeiro tempo suportara sem
Na_ maior parte dos casos um efei to tão grave é uma con­ tl,111os aparentes (§§ 44, 50, 58).
seqüência da insolação pràpriamente dita, do golpe ele sol, Sob êste aspeto o sol direto exerce uma ação muito mais
devi do à radiação solar sôbre a cabeça descoberta. Também ,;',pida, pois supera largamente em intensidade ele radi ação
a energia radiante que emana das nossas fontes terrestres ele tí1das as f ontes terrestres de calor. Por isso é evidente que
calor, �orno caldei ras, altos fornos, forjas, chamas de gás, fo­ 11111a das mais antigas invenções do gênero hu mano foi o cha­
go das lareiras e fogões, chamas de lâmpadas etc pode às pt'•11 para de fender-se cio seu calor nas regiões com clima tór-
vêzes provocar "sintomas de insolação". Todavia é necessá­ 1 iclo. Mas mesm o com a cabeça protegida, uma irradiaç ão
rio ser prudentes sôbre quanto é atribuíd o às doenças men­ t''l(CCssiva do corpo por obra do sol, prolongada por vanas ho-
tais devidas à radiação de calor ( as chamadas psicoses ca­ 1 as, pode produzir uma situação semelhante, àq uela d e um
lóricas). Sabe-se como a opinião comum considera fàcilmente •;nlpe de sol, várias horas, cujos indícios mais leves são um
como causas reais da desordem psíquica motivos ocasi onais, que ,·stado de inquietação, excitação, ansiedade , opressão, leve con­
desencadeiam a primeira evidente explosão de exci tação, ou f 11 são e sinais secundários de excitação física de tôda espécie ,
até mesmo fatôres profissionais ( o clássi co "ca nsaço"), que 1. 1is como aumento do número das pulsações e da temperaturi).
são simplesmente fatôres concomitantes. Quando se diz que (febre), tremor, conv ulsões e semelhantes. Conseqüências aná­
um número muito elevado de foguistas dos navios se adoenta ln�as foram sempre mais observadas n os banhos de luz artificial.
de paralisi a ( amolecimento cerebral) dever-se-ia demonstrar, Uma parte importante cabe ao gradiente térmico. Um
com uma pesq uisa de envergadura internacional, que êles so­ c•l l 'lllCÍl.to desfavorável nas "profissões caloríficas" que vimos é
frem dêste mal mais freqüentemente que todo o resto da tri­ �nalmente a elevada temperatura do ar, que domina, além da
pulação, dado que tal doença supõe uma precedente infec­ forte radiação e calor, nos ambientes de trabalho (cozinhas,
ção sifilítica, difundida entre os marinhei ros. Todavia, pode­ �:ila das máquinas, etc.). A êste propósito a higiene modern a
ria também ser verdade que com o tempo os golpes de calor providen ciou melho rar as suas condições ( com o aumento dos
tornam o cérebro - num organismo sifilíti co - mais recep­ ,,·1 1s loc�is, a ventilação, a alimentação do fogo à distância,
tivo à ação infetante das toxinas dos espiroquetos, em compa­ ,, �1•111rlhantes). Por i sso a insolação em lugar aberto é prc ­
ração com os marinheiros que trabalham ao ar livre; só que d,111 1i11 antemente uma doença de verão avançado e extrema-
tal fato não está ainda comprovado. 1 111•1111· rara no inverno nas altas montanhas, se bem q ue a
Não se pode duvidar que persistentes radiações de calor 11111 . 1 radiação térmic a do sol em zonas de planalto seja en­
tíl11 111ais intensa que a do sol de estio nas zonas de p lanície.
44
45
Quanto Htais o gradie nte té rmico é baixo, ta11lo ruais desa­ En 1 oulra s pabv ras: o elemento, a que visa a ten tativa
gra dável (, o efe it o d o t al or sôbre o estado iisiológico. Qua11- Ele explic ação das in fluê n cias n1etco ro lógic.:as, qua ndo p rocura
o fa tor e en1cnta!' da r adiaç ão térntic.a {s o h fonua da Hv re r a ­
to 1nais o g·radiente térrnjco é eJ evado, tanto 1nais a gradá\ds l
:;ã o êsses efeitos . SP. a te ru peratura do ar supera a tc1n p<:ra­ diação solar ), não é al>solutmnentc u1na sin 1ples qualidade iso­
tnl'a do c,orpo hwua110, i st o é , os 37\IC ( e i s to <� tn ttit o coon n n
lncia do ar ou da luz so la r, mas é um p rocesso de urna e leincn­
já JJa s zonus subtr opic ais). A te.ndêncin da ten1peratu ra che­ tarid<uJc ut u ito relativa, e justa1ncn tc aquel a cor?'entc tárn:.ica,
ga a inverter-se, quando a pele é diretan1entc eXJ)osta a u ma cujo g radiente de 1ern1ina de modo dec isivo a inflnência psi­
cofís ica r adia nre do c a lor so la r.
radjação superi or a 37<.'U: ú fluxo ténnit:o escorre e ntão do
externo p z1ra o int erno, a ten1peratura do c orpo a urnenta niui.. O resultado é u111a c on seqüência prát ica de gran d.í!'>sin1a
t o, d&.t.erm:na ndo , de niotlo diverso qu e no n, ornrnço e na in­ imp ol'tância (c .01no se mpre: ac on tece qu ando i a teo ria é e x a ­
solação ( � :) l), ma .ri frlêntico no efeito, un1 so1Yedo uro térrni­ ta), isto é: para se obter a melhor in flu ênc a dire t a p os sível
co, que pslq11i came.nce é bcrn difícil suµo rtar, m esmo quando eia l uz so lar s8bre o orga n ism o, devcn1os dar mn a fon11�1 opo r ­
ti de g,·au muito leve , e ac ompaoba ,fJari passu a excitação e tu na a e sta corre nte tél'n1ka, a ê:,,tc gra dlc�nte da ten1peraturn;
o cansaço , e parec:e sen1clh ant e p ela i ntensidade a o efeiro do
n ão hasta deixar dett�rmina da ene:rgia solar agir sôbre a pe le,
a r te .mpestuos o e de.;. fOhn. Assi m é expli cáve l co1110 f oram a.in da que fôssc pos�h·d mec lí :l- a n1ulto 1T 1 a is exatan1 ente de
exco gitados trajes n,uic o refi nad os n o modo de vestir-,e e c s­
qua nto é- p ossív el faz ê l.o até hoje e111 dia: é necess ário prediS..
pcdaln 1e nte n os chapéus, e ntr e os po\'OS <1uc vivc :11 c1n clima s por o a mbie nte e fa,e r port anto o balwtço cle st,i r a diação so­
desérti c os, e nsola rados e sen1. son1bra. lar de diferente iotcns ida<k C<Hn a ternpcra tura do ar, com a
s,.1a 1n aior ou rncnor frigidez, com a u 1nidaclc a t1n osférica e o
23. Balanço térmic o . - O efei to psicofísico ela radiação u1ovj1ucnto do ar nec essário� para predispo r o me lhor gra die- n •
térmica apresenta un1 avançado caráter dinâmico. P re sci n­ te 1érrnico no corpo� só assin 1 u m "ban ho tk sol" ( no sentido
dindo da r�cliação direra �ôbre a cabeça, que, se prolongada , 1najs ()1nplo) terá um e fc�to útil pata o nossn e stado de �aúde
e na s f.u aS nlte riore s c:o ns c q üêndas psico fí.sic:as.
pode produzi r en1 tôd a t<-: mpera tura si n tornas de insolttção, de•
p erlde da relação en1 qu e estão ele urna part e a in h�nsidari c da
radiação e de o utra a pos.1 ibilidade de dipcrsão do cal or no ar 24·. Calor de condução atrno sféric ,L - Todo s c :011hcc em
o a mbiente . Est .\ possibilidade de disp ersão ténn ica nã o dr-,. a fan1o sa descrição feita por Hu nibol,lt sôbre o frio tão inten­
pc�nde apenas da te1uperatura do se r , n1as tambérn da utuida­ so a p onto de faze r ba ter o� dente s, nas r1oites t ropica is, qua n•
de �1Jn1o�férka e do seu n1ovirncn to (vc.:nto). Se cons idcta r.. <lo dep ois do l1 amont a r do sol � ternpe ratura de sce brusca­
n1os a infJuência psíquica do caJor radiante, Yerernos logo q11c n,ente de 40•C e ma is a 20•<.::. Inversamente, qu ando depoi�
niío é possh e! isolá-l o radicalmenre . O calor r adiante, cspc­ da asp e reza elo frio con: vento cortanh:: do noroe�lc, Hdo n1ar
da!rnentc do sol, pod e deixa r.nos de b o111 humor, co n tentís­ do sul veru o •:e nto do de.gêld', a l.l-m1peratura, cmbo r:l não
s irnos, 111-u pouc o ind olente.s ( o ·'doke fa r Jlientc'�), põe.nos v<1.ria ndo ruuita cois<l ohjetiv ;un: en te, pode dar-nos a impres�ão
1
de unia t�pi<lcz pritnave ril. Con10 se torna re nt'.va a n o!isa
nmna ílernnática eufori:l, 1WlS pode ta1n bén1 esti nm lar.nos, tor..
s ensibilida de ao ca lor e ao frio, quando, ao p re parar u m b.i­
nar-nos en2p recndc.do rc s, c�ficient es, provoc ar uma P.x citação
nho, i1nergimos as n ãos ora na água qm�ntc, o ra na ftgua
1
n1 uho agradáv el, friquietaç.ão n 1ista talvez à let a rgia e fraque­
fria ! Nossa per cepção acen t11a crnn exagêr o qua lquer ele va­
za, por fim, pert urbações psíqu icas en-1 fonnas c onfusa s e de..
li ran tes. ção ou q u eda de temperatura. Se tomamos 11111 sorvete e l ogo
O efeito que ir.su rge em cada caso partiçuJa r, n un ca d e ­ a.pós 1..n n go le de água, êste , que cm outros mon1ento� no s dá
pend e só <la r adi;:lçã o té rrriica qu e n cs a tinge, n1as é substan­ un1a sen sa'ção de rcfrigél'io, ago ra no s pa rece 1nôrno e 1nsípido .
cialn1ente um res11!tado d o gradi ente da ten,peratura orgânica �o s dias tórr . i dos de ve r ão, \lll1 local onde reinarn 221C
do interior do corpo à epider me e desta ao a r externo, con10 s e no s dá a terup eratul'a idea l, ru as se fora o ar �-e refre :;ca e111
conclu i al ravé s do recíproco intcrcân1bio do calot· radiuntc e vjr tude d e urn tc1upc.:ral, e.n tão aquêlc 1nesmo loca] torna-se de
d o c alor at1nosférico, da umida de e d<> 111ovin1ento do ar (§30). tnn ca lo r su foc an te. Nnn1a pa la vra, ca lo r e frio, corno scnsa -
<i6 47
ções, são o resultado do intercâmbio térmico entre o nosso i\ 111,,10 de quanto foi aprendido, da tradução e da contagem.
corpo e o seu ambiente atmosférico. Também aqui é a dinâ­ \� .1tividadcs físicas reduzem-se muito pouco ou só num se­
mica dêste intercâmbio que determina o efeito. Por meio de g111uln tempo; as próprias crianças, com efeito, que na classe
reações químicas e do trabalho dos músculos, o organismo pro­ 11· d l ·ixavam ficar sentadas exangues, logo depois no pátio fa-
duz continuamente a "sua" temperatura normal, que no ho­ 1·111 11111 barulho infernal e se mostram alegres e de bom hu-
mem é pouco superior a 37° no interior do corpo. De acôr­ 1 11111, passando inclusive muito tempo ao sol. Também neste
do com o ritmo com que cede ao ambiente uma certa quali­ 1 .1�0, porém, o trabalho metódico e intenso sofre mais que o
dade dêste calor, continua a sua atividade térmica. Quando 1'1go livre, a marcha é mais pesada que o anelar comum, e as
não pode mais transmitir calorias porque o ambiente é mais 1•,rnrsõcs alpinas são mais difíceis que o passear pelas planí-
quente que o próprio organismo, então regula a sua sensibi­ 1 11·s. Se o calor atmosférico se aproxima da temperatura do
lidade térmica e a sua temperatura. Ambos os processos têm 1111 po, mais ou menos em tôrno de 35°C, ou a alcança e a
um notabilíssimo influxo sôbre a eficácia física e mental. Não ,1q1cra, aos sintomas de excitação podem sornar-se sinais de
existe uma temfJeratura absoluta otimal onde fJossamos ter o 1 1111saço, que dão origem àquela sintomatologia que sabemos
mais elevado senso de bem-estar e a mais forte potência cria­ , l ·r provocada pelo temporal e pelo fohn, ao passo que num
dora. O que importa em todo grau de temperatura é aquilo 1:ilor moderado (sob os 309C) predomina uma fleuma agra­
que estamos ou não estamos fazendo, prescindindo das condi­ tl:ívcl, urna preguiça eufórica, até que se pode secundá-la; so-
ções extremas do frio e do calor. Antes, até mesmo nestas 111c·nte a necessidade ele fazer algum esfôrço provoca então o
condições é possível alcançar um estado de bem-estar e de ca­ 111surgir ele uma excitação, talvez urna animosidade irritante,
pacidade operativa, se a proteção direta da epiderme contra 1 1111a situação "carregada", mau humor. Cansaço e excitação
o frio ou contra o calor é organizada de modo oportuno. �11rgem muito mais ràpidamente, tanto mais intensos e em
O inverno siberiano não só é suportado, mas os coloniza­ graus ele temperatura muito mais. moderados, quanto mais
dores tropicais o elogiam quando voltam para as zonas tem­ 1 1111iclaçle atmosférica se junto ao calor, determinando assim
peradas e sentem mal durante o ano inteiro porque têm sem­ n mormaço (§§ 10 e 28). Mas o efeito do calor atmosférico
pre frio. No homem, quanto ao que diz respeito à sua rela­ tl'm, sempre, como componente a fadiga; é esta a diferença
ção com a temperatura meteorológica e climática, o hábito 111ais notável que distingue do calor radiante, cujo núcleo ati­
exerce um papel muito importante (§ 67). Feitas essas re­ vo se manifesta no componente excitação.
servas pode-se todavia considerar válidas algumas experiências Também o ar muito quente, que se estagna em ambientes
comuns, que já receberam uma confirmação experimental. 111uito aquecidos, não se afasta nos seus efeitos somato-psíqui­
Elas dizem respeito ao verdadeiro calor, ao gêlo cortante e à ros do quadro complexivo que descrevemos a propósito do
particular reação cerebral do homem. rnlor qtmosférico natural em lugares abertos; só que geralrnen-
1(' acrescentam-se também os efeitos secundários cio ar vicia­
25. - Calor. - Chamamos assim às situações meteoro­ do (§ 31 ).
lógicas, nas quais a temperatura atmosférica alcança à sombra Todos os efeitos, como são agravados pelo umidade, são
259C e mais. Na Alemanha, nos dias em que a temperatura :issim retardados e mitigados pelo movimento do ar. Corren­
é tão alta, as aulas são suspensas desde a manhã, porque não lc·s de ar, flutuações constantes, todo tipo ele ventilação são,
é mais possível esperar um bom rendimento escolar. Durante portanJo, uma autodefesa instintiva dos homens, a que nas
o calor determina-se uma notável fraqueza, que pode chegar mnas tórridas se dá grande importância, para a resistência ao
inclu·sive a uma necessidade invencível de sono depois do mais 1 .dor e par� a preservação de uma porporcionada eficiência
leve esfôrço. Os alunos cochilam de tal modo que só a poder ( �� :i7-58, f0-11).
ele grande esfôrço conseguem manter-se despertos. A capa­ l�n1hora a sonolência seja invencível, durante o calor o
cidade intelectual reduz-se notàvelmente, e ele modo especial ,111111 gc•ralmente não é repousante, é pouco profundo e quase
também a intensa atividade da atenção, do pensamento, da ,1•1111111· perturbado por sonhos molestas e por freqüentes e im-
composição (lingüística, p. ex.), da assimilação e ela repro- 11111, isoH sobressaltos. Além disso é de breve duração.

48 49
Ort1J)A.f11ue
Particular "intolerância", isto é, uma diminuição da ca­ ,.,1 clorn1ir. Sabe1nos que isso acontece também com os em­
pacidade de suportar, é notada nos períodos de grande calor l, 1 1,1g,1dos, quando estão fora de si, justamente quando a sua
com rçspeito às bebidas alco6licas que, ainda que bebidas em i ll 'I H' d l 'i ra alcança a fase máxima da apatia e não no estado
quantidade pouco ativas para extinguir a sêde, aumentam o ,1, ,·,citação. Experiências de hibernação em animais não for-
cansaço e favorecem os sintomas de excitação numa medida 1 1 1•1 l'!'a111 nenhuma resposta certa a êste problema.
tanto maior quanto menos são diluídas. O café, todavia, pa­ ,\1 (1111 elo perigo de congelamento, o frio cortante influi
rece ser o melhor antídoto para o seu efeito cansativo, como 1<1•1 :d 111 cnte também em outras fases sôbre as condições psi­
já se pode deduzir ela sua difusão corno principal bebida nos , 111 ísirn s. Antes provoca a excitação, que começa geralmente
países quentes. Seus C'ÍC'itos excitantes, nos lugares onde é , 11 111 uma sensação ele frio, para transformar-se numa supere­
usado corno gênero ,olt1t11ário, são atenuados pela rápida in­ ' 11.,çfio percebida por qu antos estão em tôrno ou pelo pr6-
fusão e pe la forte clulcificação ("expresso", "preparação à mo­ 111 io sujeito exposto ao frio; mais tarde surgem sinais de cansaço,
ela turca"). L 1 diga, sonolência, inércia mental. Quando se sai elo ar gelado
, ,11·1 no para se refugiar num ambiente quente, pode sobre­
26. }<rio coxtante. - N6s o colocamos entre os 1Q9 até ' 11 ainda uma excitação tardia, ainda qu e esta se circunscreva
-70'1C. Se o organismo não é suficientemente protegido con­ :i 1n1ia reação c utânea local elo rosto. Tal excitação pode fa-
tra êle ( e dada a necessidade de respirar é possível apenas um 1•1 dissipar-se fastidiosamente ele modo particular o aclorme­
isolamento relativo contra o ar frio e gelado) há o perigo de ' 111H•nlo, provocado, por exi>mplo, pelo cansaço depois ele urna
morte por congelamento. Se bem seja um fato muito raro, 1.11 d ( ' passada ao ar livre, no frio cortante. Assim os novatos­
é importante para o nosso argumento sob o ponto de vista iln inverno nos montes o u elo inverno continental pagam o·
psíquico. 11il lllto ele urna estada muito prolongada ao ar livre, que pre--
i\. morte por congelamento apresenta uma elas mais ní­
tidas sintomatologias de paralisia psicofísica que conhecemos. ,1,111íamos ser refrescante.
O congelado é anles colhido por uma lev<' sonolência, q ue
depois se torna sempre mais inve ncível. Não obstante perce­ 27. Valores otimais ( optima). - Teoricamente é pos­
ber o perigo iminente, deixa-se vencer pelo cansaço. A vítima , 1 , 1·! calrular um valor absoluto optimal da temperatura em
pers11adc-sc ele que deseja descansar por apenas alguns rni­ cp11• um homem nú, em completo repouso, em lugar sornbrea­
fi.
m1tos. Não obstante qualquer exortação ela se eleita ou sen­ il 11 ou sem vento, sentiria o mais alto estado ele bem-estar
, transcu rando as diversa s avaliaç ões de
ta-se. O sono que sobrevém imediatamente a conduz direta­ �iol6gico. Esse cálculo
mente para a morte. Os experientes sabem muito bem que a ,dguns pe squisadores, sempre indicou urna temper atura um
coisa mais importante em caso ele perigo ele congelamento é pcH1ro abaixo ela ten1peratura interna do corpo, mais ou me-
não ceder àquela sonolência. Há alguns anos um jovem al­ 1 1 11� por volta cios 32,59C. O mais leve movimento do ar e
pinista que escorregara para um precipício gelado, onde ape­ l 1 1do aumento ele umidade põe, porém, por terra tais cálculos.
nas conseguiu mover-se, manteYe-se desperto a poder de in­ S.,n rles úteis para determinar estudos de fisiologia, mas são·
tas
gente esfôrço e cantando até que o salvaram. Se cm tais ca­ ;,•111 conseqüência prática para o exame elas relações concre
, 11 111 1 rspeito às temperaturas que se apresentam na efeti\·a si-
sos se nota uma angustiosa agitação, característica cio início
do cansaço, ela eleve ser atribuída ao susto pela consciência elo 11 1,11;:ío meteorol6gica.
perigo iminente. E -;istc, por isso, outro valor totalmente diferente a se con­
Quanto diz o célebre meteorologista americano Abercrom­ ,11 ln: 1 1·, e é determinado pela diferença ele temperatura entre
by, segundo o qual na América foram encontrados congelados ,11 /11l e 1 a cabeça. Nós o chamamos diferença otimal.
lo, em q ue
com as vestes completamente arrancadas, não constitui prova 1;', sabemos elos banhos "romanos", por exemp
absoluta ele angustiosa agitação. Pode também acontecer, por 11 111 1 ,�11 corpo s uporta por longo tempo elevadí ssimas tempe-
atordoamento apático, que o congelado se despoje ele suas rou­ 1111, 11,1", corno um grande calor até 100", somen te se a cabeça
tempe ratura norma l, como n uma atmosfc-·
pas agindo antomàticamente na sonolência, corno faz quando , 1·1 1 ( mi Irar numa

50 51
ca -
ra de temperatura não sup erior aos 209C. A ntes, a maneira 1w� s11íicicntcmcntc quentes, pois nas salas aquecidas as
de ve stir-se dos ho men s está subordi nada a esta exclusiva exi­ s pre a se m t r m alt o,
111.1d.1s mais quentes tendem em an e e no

gência da cab eça. as cam das mai fri d r m mais a o solo, de


,111 pa,s,o que a s as a e e
muito
A tensão mensurável ela t emp eratur a pode estabelecer-se 11mdo a acontecer que a cabeça fica circundada de ar
d s i f ri r s. :t::. t fato - alén1
exatam ente entre a cabeça e a planta cios pés - e não sem ra­ 11 i;1is quente que as extremid a e n e o e s e
e xp li-
zão a antiguíssima sabedoria popula r dizia : "Cabeça fria e d.1 deterioração da composição elo ar (§§ 31 e 103) -
pés quentes!". O contrári o, pés fri os e cabeça qu ente, é cau­ 1 ,1 po r qu e, no verão, quando o ar ela sal
a n ão é mais aque-

sa dos mais penosos mal-estares que pod em i nsurgir no nosso 1 ido artificia lm en te, ainda s uportam os muito bem a me sma
físico (§ 106). Mas a clif"erença o timal varia no seu valor ele 1,·mperatura que, como efeito do aquecimento a9rtificial, nos é
111olcsta, como uma t emper atura de 21 ou 22 .
9
acôrdo com a al,iuidar/1, que elevemos desenvolver. É o qu e
já se concluiu de qualquer form a através elas clássicas pesqui­ Bastante alheia às o utr a s dif e r e nç a s otimais par ece ser o
sa'S com que, há trinta an os, o psicólogo dinamarquês Alfr edo do sono. N st c so é n ec essário l evar em consid eração
,íl imo e e a
Lehrnann, ao lado cio seu mestre Pedersen, t entou estabele cer os difer en tes hábitos d e vida. Enquanto os homens modernos
experimentalmente o efeito psicofí sico das condiç ões me teoro­ robrem o resto do corpo de modo a conservá-lo muito que nte
lógicas, O calor otimal por a tivid ades mentais é de 89 mais ou o v estem completamente , conservando, porém, a cabeça
baixo qu e pelo simples traba lh o mu scular; para ê ste foram es­ tk:scoberta à temperatura da sala, que pode também estar a ba i­
tabelecidos como ótimo ( optimum) de 159 a 179; para as pri­ xo de z ero (salas nã o aquecidas), nos campos europeus vigora
meiras, porém, de 79 a 1Q9C. :1inda o costume de d ormir em ambi entes muito quentes, em
­
Isto está p erfeitamente de acôrd o com a experiência de estábulos ou até m esmo sôbre estuf as, em salas muito aqueci
que nós nos sentimos mais b em dispostos para o trabalho men­ das e pouquíssimo ventiladas, Urna an tiquí ss im a e xp eriên c ia
po ­
tal quand o a temperatura é ame na cio que qu a nd o faz calor, e nos diz que e ssas condições não são as piores; neste caso,
não pod emos explicar êste fato sen ão com o efeito favorável cio rém, trata-se de gente que trabalha apen a s físi c am e nte, c ujo
en ­
tempo fresco sôbre a cabeça, onde está o órgão da criação sono é - mais profun do e menos sensível às condições ambi
m e ntal, o cérebro. A ntes, é sabido que quando numa sala há aqui s o lui qu par quem ex erce um tra­
tais. T am bém e c nc e a
da
uma temperatura superior aos 189 geralmente nos sen timo s balho predominantem ente intelectual, o va lor diferencial
muito mais sem vontade para todo trabalho i ntelectual, obten­ o corp a ab ç é n tabilíss im o , quer na
temperatura e ntr e o e c e a o
do resultados pouco compensadores. Evidentemente para o vigília, quer durante o sono ,
trabalho mental o gradiente térmico com r ela ção ao ambiente , O fato de o rendi mento intel ectual ser superior nas zonas
om
a sua di nâmica ele r efrigeração, el ev e ser assegurad a de modo temperadas nas zonas sub-tropicais dos climas continentais ( c
particular e ser relativam en te muito rápida. d v ria t r rig p l m nos
noites e inver nos frios; § 59) e e e o em e o e

Há, portanto, um valor diferencial (diferen ça otirnal) fa­ ne t f ôm n . O h m suport a sempr e apenas
cm part e s e en e o ome
­
vorável para a temperatura existente sob as n ossas vestes e pa­ por um br evíssimo tempo (com o passageiro "refrigério" restau
ra aqu ela que circunda a nossa cabeça; para o trabalho men­ consc t m nt dv rtid como s ensa­
rador) um frio g e ral ien e e e a e o
ma,
t al êste valor é particul arme nte grande em comparação com o ção difundida sôbre tôda a epiderme do corpo. Nessa for
o prov ca s, d vári mod s; com
s eu valor na atividade corpór ea e no completo repouso. como refrigério , nós até o mo e e os o
Êle
Sôbre a pesquisa experimen tal clêste valor otirnal com v es­ correntes de ar, abluções , banhos, livrando-no s das roupas .
tuário adequado, com o aquecimento, o arejarncnto e especial­ pode, ·então, determinar em nó s , es p ec ialme n t e e m c on tr a ste
ment e conduzid o um d eterminado t eor ele vicia, está fundada l pr c d nt , rápida lh r n s c ondições fisioló­
com o c a o r e e e e me o a a

gicas e_ a�m ent,o da atividade. Mas logo êste ef eito ce ssa


e
uma parte essenci al da nossa civilizaç ão, e specialmente n as
zonas te mperadas, que impõem ao homem que trabalha a r e­ d arr pi , q liga a i n qui e taç ão
insurge o mal-estar o e o ue se uma
que
clusão na m ai or parte d o tempo em ambient es f echados. A geral ( talvez uma espécie de autodefesa do organismo
ento) e indisp siç o ten são
dificuldad e maior é, antes, a êste prop6 sito, a ele con servar su­ procura aquecer-se com o movim o ã a

ficientemente fresco o ar ela sala em tôrn o da cabeça e os intel ectual,


52 53
absol'\e;r
28. Umidade. - Na linguagem comum diz-se que o ar está ,111ito prox11110 da saluração, não só não pode mais
"'úmido " quando seu conteúdo de vapor áqüeo se torna per­ , apor, do qual o o rganism o pr ecisaria desf azer-se, mas
11i'ln1
ceptív el como neblina, e também imediatamente após abun­ 111 111esmo ten1po, co m a grande
qu antidade de v apor q ue
dantes precipitações at mosféricas, quando t u d o "pinga". A e 111 1 té 11 !, exerc e elevad a pr e ssão c o ntra a ev apo ração do corp o .
quente
meteorol ogia, porém, enlend e por umidade atmosférica tôda ,\ esta altura poder-se-ia objetar: se o ar, tanto o
quantidade ele vapor d'água, mesmo quando invisível ou im­ , então c rp nã p o de mais eli-
rn111 0 o frio, está saturad o o o o o
perceptível. Disting ue-se a umid ade atmosférica relativa da água evap rand -a, determ inand o assim um a cúmulo
111inar o o
de um
abso luta. Esta úlliina indica a quantidade de vapor que está , ,cessivo de vapor no corpo, pelo que, se isto é causa
present e em tôd a quanlidade de volume de ar como seu ele­ depen e exclusi vame te, c o mo se vê, da umida de
111al-estar, d n
p r. Nias qui é ne essá­
11 !ativa do ar e d a saturação de v a
mento constitutivo ( cio 1ncs1110 mod o como o oxigênio, o azô­ o a c
dispersão
to etc.). Desta quanlidacle depend e o efeito de pressão, a rio lc,,ar em conta a dispersão térmica ! A contínua
importante
p ressão do vapor. /\. umidade relativa, porém, indica quan­ tc'T mica do corp o, o gradiente térmico (§ 30), tão
corpo , é al­
to vapor poderia ser absorvido por tôda unid ade de volume para o bem-estar e para a capacidade vital do
de ar, antes da saturação, isto é, antes que sej a alcançado o duas vias princip ais: antes ele tu do com a condu­
ca nçad o p o r
ndo lugar
limite ela capacidade que o ar t em de absorver o vapor d'á­ c;ã o térmica direta do corpo para o ar , e em segu
gua. Ambas estão, como é fácil compreend er, em estreitíssi­ da água fisi lógica no ar. Qu anto mais
c·n111 a evap oraçã o o
iro fenô-
ma relação também pelo efeito qu e exercem sôbre o orga­ frio é o ar, t anto mais facilmente se cumpre o prime
nismo. O ar quente pode conter em si, antes que seja alcan­ s se requer a evapor ação da água; quando
11H'n o e tanto meno
necessida­
çada a saturação, u ma quantidade de vapor muito m aior que t·,tá frio, com efeito, não transpiramos e não ternos
encarreg a ( o
o ar frio. Em igual unidade relativa, a umidade absolut a cio de de transpirar; pelo contrário , a própria pele se
ar quente e cio ar frio é muito dif erente: o ar frio sa t urado os por s se fecham ) de limit ar urn a pequena
profano d iz que o
ele v apo r é muito mais sêco, muito menos úmido que o ar perda de água p or evaporação.
externo
quente saturado. A contínua con dução "sêca" do calo r no ar frio
Por isso o ar m ormacento qu ase sempre se apresenta quan­ disper sã té mica e d o g ra­
se· encarrega suficientemente da o r
do o ar está quente, e só excepcionalmente quando está fri o rre o i nterior
rliente "centrífugo" ela ternper atura, que dec o d
(rigidez mormacent a, § 12). De fato, o mormaço depende f z cal r, ta t mais e scass a se
para o exter-i or. Quanto mais a o n o
de ttma umidade atmosférica relativa e absolu ta mui to eleva­ ele con uçã sêca elo calor do co rpo p ara
lorna a possib ilidad e d o
orpo, alcança -a
da. C omo? o ar, e se a sua temperatura se aproxima à do c
Par a que o corpo possa eliminar água sob a forma de essa c duçã se torna imp ossível. 11uit o
r a supera, então on o
vapor ( e est a é um a das suas necessid ades vit ais, uma exigên­ "úmiel a", ist é, a
mais importante torna-se então a via
o
cia da sua contínua dispersão térmica), a sua particul ar "pres­ de vapor . Mas esta únic a saí d a é
perd a de água em forma
de v apor
sã o fisiológica d o vapor" deve ser superi or à pressão do vapor praticável apenas se o ar externo po ssui urna pressão
ci o ar ambien te. pela pressã fisioló gica do
tão baixa que possa ser superada o
Naturalmente tal atividade é mais intensa q u ando a pres­ e êste c s se verific a justam ente quando
,·apor elo organism o a o
são atmosférica elo vapor é alta, ci o q ue quando a pressão é ::t umidade atmosférica abso luta é rela
tivamente pouca. Quan­
o r, a ntes
baixa: Mas o ar frio, devido à sua rápida saturação de vapor, t o mais faz çalor, tanto mais o ar pode absorver vap
só apresent a valores absolutos de pressão bastante baixos, pel o sat rado; logica me te, p o rtan t o, corno parece, a po s­
qu e seja u n
que disso re­
que, mesm o quando está saturado e tem pela su a escassíssima ,ihiliclade c\e evaporação e a dispersão térmica
umidade absoluta urna mais elevada umid ade relativa, não ularm ent ab da te para o corpo quando f az
,ulta é partic e u n n
pela limita ­
apresenta dificu ldade alguma à expansão ela pressão fisi oló­ rnuito c alor, o que representa uma compensação
gica do vapor. Ess a expansão só poderia ser obstaculacla ape­ d águ ; entã nós transp iramo s hencfi-
rão ela perda "sêca" a a o
nas pela impossibilidade do ar p ara absorver outro v apor C": 1 111cnte e ternos que fazê-lo .
uma
áqüeo .· O ar quente, pelo contrário, quando está satur ado ou Por rxperiência, porém, sabemo s que o benefício de
54 55
transpiração abundante, quando faz muit
o calor, com o tem­ d 1 • úgua, à 111rs111a temperatura porque no pr imeiro caso é o
po torna-se problemático, pois a quantidad
e absoluta de vapor :1r que exerce uma influência, no segundo caso é a água. Nu-
contida no ar, ainda que a sua umid
ade relativa seja mode­ 111:1 época COlllO a nossa, quando as curas climáticas de tôda
rada e não esteja ainda saturada, assim
mesmo já é tão gran­ ,·sp{:cic estão largamente difundidas, seria de grandíssima im­
de que a pressão fisiológica do vapor,
que tende a fazer eva­ portância científica explicar como substâncias aeriformes em
porar a água orgânica, pode contrastá-
la sempre mais dificil­ gernl, e portanto também a água aeriforme, influam sôbre o
mente. O suor persiste então sôbre
a pele sem poder evapo­ organismo. Tais pesquisas deveriam formar o objeto p rinci-
rar, a dispersão hídrica do organismo
encontra dificuldades e 1rnl de uma medicina natu ral que pretenda possuir legítimo
também com ar relativamente sêco o
gradiente térmico insu­ fundamento científico.
ficiente começa a determinar um "acúm
ulo térmico". Quan­ As conclusões científicas confirmaram quanto a experiên­
to mais então a umidade relativa cio ar
é elevada, tanto mais cia nos ensina sôbre o caráter mormacento do ar em várias
aumentam as dificuldades para se elimi
nar a água; o suor lei nperaturas. Em Bruxelas constato u-se que já uma tempe­
coagula-se sôbre a pele, dando-nos a
desagradável sensação de ratura de 29,5ºC com 45% de umidade relativa se apresenta
que estamos "ensopados", unida à
sensação de que "tudo como mormacenta, assim como uma temperatura de 259 com
nos belisca".
Isso acontece com o mormaço típico, isto 75% de umidade! Vê-se aqui corno entre 209 e 309, quer di­
é, com elevada zer pràticament� numa temperatura variante entre tempo ame­
temperatura atmosférica unida a uma
alta umiclacle relativa no e tempo quente, a sensação de mormaço é uma função ele
cio ar; mas a condição do organismo
em relação à dispersão graus de calor, não obstante a diminuição da umidade relativa.
térmica torna-se muito desagradável a
qualquer temperatura O fisiológico Rubner definiu como ótimo de umidade, em
atmosférica elevada, isso por causa cios
valores absolutos da repouso físico e com temperatura externa ele 189G, o valor de
umidade atmosférica e ela sua alta pressã
o. Um calor muito :�O a 40%. :E:le achou que uma umidade relativa numa con­
intenso, embora per maneça sêco, n os
seus efeitos sôbre o orga­ centração de 80%, (isto é, com ar em 4/5 saturado, com ca­
nismo se aproxima por isso sempre mais
cio mormaço, com pacidade de absorção de 1 / 5), com uma temperatura de 24Q
temperatura moderada.
já é pouco suportável psicologicamente mesmo para homens
Resumindo, podemos dizer que o efeito cm repouso físico e sumàriamente vestidos, pois dá origem aos
da umidade at­
mosférica é conseqüentemente um efeito
tanto mais exclusivo típicos efeitos do mormaço: fraqueza, inquietação, opressão,
ela umidade relativa (e ela sua capacidade
ele absorção do ansiedade inclusive. Tôdas as tentativas para apresentar for­
vapor áqüeo do ar, do chamado deficit
de saturação), quanto mações matemàticamente exatas dessas relações foram até ago­
mais baixa é a temperatura atmosférica,
e que sempre se as­ ra insatisfatórias.
socia ao efeito da umidade absoluta do
ar, da pressão atmos­ A uma temperatura baixa o ar relativamente muito úrni­
férica preponderante, quanto maior
é o aumento da tempe­ do ( ou com o seu conteúdo de vapor em condensação líquida:
ratura do ar.
Se a um{dade absoluta do ar exerce tamb neblina) pr ovoca um efeito particular bem conhecido de todos,
ém uma influên­ mas muit o difícil de ser descrito cient1ficamente. O ar fresco
cia direta sôbre o organismo, não o
sabemos. É, porém, mui­ ou frio parece então "insinuar-se em nós", é "frio-úmido". São
to provável. Não podemos imaginar
a água como qualquer indícios seus arrepios e tremores. Evidentemente êste fato es­
coisa indiferente para o organismo.
Antes, é muito provável tft em relação com a excessiva disper são térmica determinada
que o vapor, isto é, a água gasiforrne, de
acôrclo com a quan­ pelo ar frio e úmido. Como a água é um condutor térmico
tidade absoluta que adere sôbre a superfície
da pele ou sôbre melhor qµe o ar sêco, o corpo, para cada unidade de tempo,
a superfície interna cios pulmões (respirand
o) , exerce uma in­ cede mai's cal or ao ar externo saturado ele vapor áqüeo que
fluência específica. Também a água líquid
a produz um efeito :io ar sêco.
específicamente hídrico, quando a bebem
os ou tomamos um Ambos os efeitos, o mormaço do ar quente-úmido e o úmi­
banho, e não apenas um efeito da "fluid
ez" ou da tempera­ do e frio, são particularmente conhecidos nos ambientes com
tura. Um banho de ar age de f orma
diferente que um banho atmosfera artifical, onde domina uma elevadíssima umidade:
56
57
tern-
estufas, la\·anderias, salas ele banho etc. Também o ar meteo­ 29. V e nto. - As explicações precedentes (sôbre a
rológicamente natural é nomeado metafóricamente conforme umida de atmos férica, organi smo), têm valor
111•1.1t11ra cio ar,
. O
tais ambientes artificiais: ar de lavanderia, ar de estufa. ,q11•11:1s sob a tácita suposição de que se trata de ar calmo
novam ente todos os proces sos seja
Um fenômeno caracte rístico dêsses ambientes é o elemen­ 11 v111 movimento modifica
to sufocante de tal ar C11niclo de elevada temperatura. A são térmic a como da evapo ração; por sorte, porém,
d,1 disper
duranie
respiração não é fácil: co111 e feito, também com o ar respirado 1·111prc acelerando-os. Até mesmo no calor extremo,
cedemos uma quanticlaclc considerável de água fisiológica, e l movim ento de ar ( pro vocado arti ficial-
" 111ormaço, um eve
refri­
justo em medida tanto maior ou menor quanto mais é frio ou 11wnlc com leques etc.) nos proporciona momentos de
mais úmido é o ar externo. Quando o tempo é fresco (diga­ o o frio é muito intens o, o vento
L•.i'-rio. E igualmente quand
aumen-
n1os urna tcmperat·ura de 15'1 o corpo expele com os pulmões 11,1is insignificante pode tornar-se insuportável, porque
são térmic a que o orga-
sob a forma ele vapor urna quantidade de água quase dobrada 1.1 de tal modo o processo ele disper
cm comparação com a pele ; quando, no entanto, o ar é mui­ poder enfren tá-lo, compe nsa a perda com nova
11is1110, para
to úmiclo, com urna temperatura de 25°C, através da pele é produção de calor orgânico.
eliminada uma quantidade de água maior que com a respira­ dade
Conforme demonstraram as pesquisas sôbre a quanti
ção; e com ar muito sêco a 25 9C uma quantidade ele água ão térmic a cresce, quand o a
d 1 · refrigeração (§ 30), a dispers
três vêzes maior que com a respiração! vento aumen ta ele 1 m por segund o, mais que
velocidade do
:VIas o fato de têrmos classificado como sufocante apenas o valor inicial ; com a
1 111 por segundo, mais que 1 /3 do seu
ar q uente-úmido, não obstante ser a sua absorção pulmonar de cêrca de 3 m por segund o, duplic a-se
111lcnsiclade do vento
mais escassa, depende da temperatura corno tal: uma queda por segundo torna-se quatro
I' com uma velocidade de 8 m
térmica estimula se mpre a atividade respiratória ( evidentemen­ \ êzes maior que na ausência de vento.
te de modo reflexo, da pele para o sistema nervoso); tôcla tér-
O vento fraco com respeito à sua fôrça de dispersão
\'ez que o ar é relativamcnt,.; mais fresco "nós respiramos", as­ de não
111ica é igual a urna queda da temperatura atmosférica
p i ramos o ar '·a plenos pulmõe s·•. Em tal atmosfe ra a respi­ incal­
111enos que 20qC. Por isso o vento aumenta de forma
ração pode dar um rendimento maior do que quando a tem­ m o perigo de congel ament o; a maior freqüê n­
culável també
pe i-atura au111cnta; quanto mais o ar externo se aquece, tanto e com as ondas de frio,
cia de mortos pelo frio coincide sempr
mais \·iva é a exigência de que a pele alivie com a sua fun­ a umidade
ção a atividade respiratória. Se após o mormaço os pulmões especialmente com as nevadas, porque (cfr. § prec.)
neve sôbre a pele acelera ainda mais a dispers ão térmica.
não mais estão em condições ele providenciar suficientemente ela
Mas com o frio o vento redobr a além disso o perigo de
à evaporação da água, determina-se uma sobrecarga ela fun­ porque aumen ta o cansaço , que é um fato no
congela mento
ção respiratória com conseqüente "sufocação'. Em indivíduos o
afetados por distúrbios respiratórios de natureza patológica, a ('ncaminhamento daquele processo mortal, o que representa
ante por êle causad o sôbre as funçõe s psi­
cfcito mais import
dificul0ade ele respiração pode aumentar até chegar a urna
cofísicas. Todo movimento ele ar age antes estimulando e
\·erclacleira ansiedade, a menos que pelo contrário a natu­ efeito
depois. de algum tempo cansando. Enquanto cansa, o
reza da doença não exige ar úrnido, como acontece, por exem­ pode continu ar, e isto freqüe ntemen te dá origem
excitan te
plo, com certas afecções bronquiais. A conhecidíssima "se­ te em
àquele fastidiosíssimo mal-estar que já sabemos presen
cura" cio ar de a111bientes internos de esquentamento central, s. Cientif icamen te devem os procur ar separar os
outras ocasiõe
porquanto diz respeito aos distúrbios por ela causados nos ór­ s à mu dança da ba­
efeitos diretos dos indiretos (isto é, devido
gãos respiratórios, depende essencialmente da dete rioração ela
lança térmiàa e da balança do vapor áqüeo).
compo sição cio ar por ventilação defeituosa (que existe sem­ que
Todo vento exerce urna influência direta excitante,
pre com o aquecimento através de estufa) e do superaqueci­ ligeiram ente "estimu lante", re­
num primeiro tempo é apenas
mento dos radiadores, que causam o depósito do pó e por isso dora". Praias marítim as e montan has são
frescante, "anima
p roduzem molestas elementos irritantes; era uma conhecida im­
freqüentemente procuradas por êsse motivo. Um vento
desvantagem elas antiquadas estufas de ferro. a provoc ar em muitos indivíd uos uma vcr-
pt·luoso não tarda
58 59
dadeira excitação: provoca antes um excessivo empreendimen­ , 111 l 11 gares expostos a correntes de ar tornarem-se "tediosas"
to, um impulso notório (por exemplo, luta-se contra êle 1 ,.i 1 :1 êlcs. Pode-se supor que se trata de qualquer coisa ele
com uma espécie de vontade para se prosseguir), em seguida dd1·n·nle do efeito do vento. As correntes ele ar são geral-
a agitação torna-se penosa e perdura até mesmo depois da 1111·nlt.: leves fluxos locais muito circunscritos, que têm lugar
exposição ao ar livre, podendo inclusive impedir o sono. Fre­ 111111 1a ou noutra parte cio corpo. Além disso tem lugar uma
qüentemente comparece também com indícios de tensão, nos ,1il 1 tra<;;.ão ele calor muito intensa, localmente circunscrita, e
chamados distúrbios "espásticos", dos quais o mais conhecido p.11·;t isso tais temperamentos são hipersensíveis. E é sabido
é a tensão dos músculos das faces, que pode inclusive dificul­ '1 111· aqui entra em jôgo o hábito desde a infância: para o
tar a palavra. l\!Jais que acelerar a dispersão térmica do ven­ 1• 11 ropeu continental "há corrente" onde o anglo-saxão sente e
to, é provável que tudo isto seja devido a uma sua influência p1 ovoca agradável ventilação.
direta sôbre a pele, cujo sistema de vasos sanguíneos reage
fortemente ao movimento ventoso do ar, seja com um vivo 30. O gradiente pessoal. - Prescindindo da possibilidade
enrubescimento, seja com a palidez. Além disso insurge ainda tl1· urna influência direta ainda inexplorada do vapor d'água
um efeito mais remoto, novamente indireto. Todo movimen­ �r,hre a pele, e dispensando a indiscutível e direta influência
to de ar exige uma tensão mais intensa de numerosos feixes de do vento sôbre a epiderme, com tôdas as conseqüências que
músculos. Já a àtitude do rosto e a posição da cabeça modi­ d\'la podem derivar, os fatôres da temperatura, umidade e mo­
ficam-se quando sopra o vento: apertamos os lábios mais es­ \ i 111 ento ela atmosfera, unem-se ainda num triângulo ele alter-
treitamente, cerramos as pálpebras, curvamos as costas para a 11a Livas, que determina o processo ele lroca térmica elo orga­
frente; todo movimento contra o vento requer maior esfôrço; nismo �com o ar externo. Disso dependem contlnuarnente nos­
tudo isto determina uma mais viva excitação motória. A esta M) bem-estar e nossa eficiência. Em última análise, tudo de­
segu e, como sua segunda fase, um cansaço motório, a típica pende elo gradiente térmico, onde o calor gerado pela troca
"distensão" depois da aumentada tensão, e é novamente um química do nosso metabolismo e pelo intercâmbio energético
efeito indireto elo vento. pode ser cedido ao ar ambiente em quantidades necessárias à
Provàvelmente isto é reforçado também por um cansaço vicia. Esta dispersão térmica cumpre-se tanto pela radiação
direto, que o vento provoca soprando contra a pele; esta se­ romo pela condução. Para cada uma dessas duas cabe mais
gunda fase depois ela excitação geralmente se manifesta com a 011 menos a metade da cessão de calor desejada. A radiação
p al idez depois do enrubescimento. Se, não obstante isso, é ( do mesmo modo corno o é para tôda radiação terrestre) é
necessário continuar a expor-se ao vento, em muitos indivíduos (•sscncialmente influenciada pelo ambiente sólido (solo terres-
se determina um supercansaço, que pode, aliás, chegar a um 1 re, inclinação do solo, mas sobretudo edifícios, paredes, ruas
esgotamento. Até agora não se conseguiu encontrar fórmulas rstreitas etc.), mas nela participa também o estado da atmos­
simples para tôdas essas relações que se envolvem reclproca­ f cra, por exemplo, a limpidez ou a nebulosidade, formação de
mente. Uma tentativa foi feita através do conceito de rigidez vapor ou de pó. A condutibilidade varia ele preferência de
do ar, que é por assim dizer a contraposiçã.o exata do morma­ acôr!!lo com a temperatura circunstante, com a percentagem ele
ço atmosférico. Mas deve-se observar, a êste respeito, que a vapor e com o movimento do ar. Tudo isto junto imprime o
qualificação ele "rígido" vale sobretudo para o frio mvito in­ se u caráter no gradiente térmico.
tenso, sem incluir absolutamente a presença elo vento; tam­ Parte essencial cabe também às condições pessoais. O
bém quando falamos de "invernos particularmente rígidos", ri­ u,-adie1_1.te otimal, que assegura a mais alta eficiência e o mais
gorosos, temos em mira as baixas temperaturas constantes, o seguro bem-estar físico, é muito diferente de homem para ho-
gêlo persistente. 1 1 1ern. 01 "endurecimento" pode apresentar algumas modifi­
A1uitos indivíduos são particularmente sensíveis às cha­ cações, habituar-nos a gradientes mais rígidos, mas tal possibi-
madas "correntes de ar", que lhe causam imediatamente dis­ 1 idade talvez seja freqüentemente superestimada. Falando a
túrbios locais ( talvez de natureza nevrálgica, reumática), ou rigor, não é disso que se trata quando se fala de gradientes
perturbam totalmente o seu estado geral, a ponto de as férias pt'ssoais, mas antes àe "tipos" aos quais um ou outro perten-
60 61
cem sem o saber; determinadas "constituições" ou "tempera­ did:i p:ir:i 11111 it1gar e um tempo, fisiológica, patologicamente
mentos", ou qual outro têrrno se lhes queira dar, suportam esta 1· pnrtanto, seja higiênica corno terapêuticamente - pode
ou aquela rapidez ele dispersão térmica, e outros não. 1,·1 11111 ,·alor ,nuito diferente, conforme seja maior na sua es-
Indivíduos que exercem atividades físicas têm gradientes 1 1 111111·,1 a dispersão térmica devida ao vento ou a que se eleve
otirnais diferentes dos que fazem trabalho mental. Para cada ,1 i 1 radiação, ou então à evaporação e especialmente à con­
grupo há naturalmente 111atizes especiais. Estas são seleciona­ ,1,u;.io. /\ êste propósito o observatório de Davas publicou no-
das o mais ràpidarnentç possível desde a infância pelos hábi­ 1 ,� instrutivas, pelas quais se conclui que já ele acôrdo com a
tos de vida, e são por isso n1odificáveis com o "endurecimento" 1ill11rn. sôbre o nível do mar "cada fator, pelos quais é con­
e a adaptação; é, porc\111 difícil prescindir completamente de d 1 l'i1111ada a quantidade de esfriamento, se comporta ele modo
quanto há de defeituoso na própria constituição. 1 111 1 ilo diferente". Nós acrescentamos que além disto nessas
Entre as múltiplas tentativas (diferentemente julgadas mas 111cclições não é considerada a umidade atmosférica; todavia os
úteis devido as acesas discussões suscitadas) para a explicação ,1p.11clhos forneceram alguns elementos muito importantes, con-
científica dêsses fatos e uma exata compreensão dêsses proces­ 1 1 1111ararn inesperadamente, isto é, que o vento tem urna no-
sos de dispersão térmica, enquanto são submetidos ao influxo das 1.1hilíssima fôrça de dispersão térmica mesmo quando é mo­
condições meteorológicas, já há muito tempo ocupa urna po­ d,·rado.
sição de primeiro plano a chamada quantidade de esfriamen­ Em vez, tôdas essas observações homoiotérmicas, catatér-
to. Exprime aquela quantidade de calor que é cedida ao exte­
111icas e frigorimétricas nada dizem sôbre a fôrça ele regula-
rior por tôda unidade de superfície ( cm2.) na unidade de 1H'111 geral com que por meio da pele o organismo ,·ivente pro-
1 t11 n I imitar a dispersão física do calor, e ainda menos sôbre
tclllpo (segundo) por parte do corpo físico, que é aquecido
artifialrnente até determinada temperatura. A homoioterme ,1 conformação tipológica ·(constitucional) e pessoal ela disper­
de Frankcnhauser, o cataterrnômetro do inglês Hill, por fim o s:ío térmica, que pràticarnente determina a tendência térmica
frigoómetro ele Domo são tentativas diferentes para chegar ao tio interior elo corpo para o ar livre, isto é, do homem para o
mesmo objetivo. O aparelho ele Domo, largamente experi­ ",ento e para o tempo". Quão pouco sabemos ainda sôbre
isto mostra-o justamente também o caso extremo da balança
mentado, é dotado de uma esfera preta de cobre que é aque­
cida eletricamente até 36, 5''C. e mede registrando contlnua­ !t'·rmica, a reversão . . . térmica e o mais elevado acúmulo do
1• racliente, a insolação.
rnente a quantidade de calor que se de\'e fornecer ininterrup­
tamente para compensar a perda do calor da esfera que é ce­ Esta última em geral é causada pelo tempo bastante rnor-
dido ao meio exterior. 1 1 1acento: todavia, temos visto que com o aumento da tempe­
Trata-se, portanto, de um dispositivo puramente físico, ratura um tempo quente-úrnido pode ceder o lugar a um ca­
que tem apenas remotíssima analogia com as condições do or­ lor mais sêco, e que também os dias muito quentes e não
ganismo vivo, que dispersa o seu calor pelo que pode apenas 111ormacentos podem provocar insolações, assim como da expo­
fornecer urna explicação sôbre as exigências gerais que um sição aos raios diretos do sol sem suficiente proteção da cabeça
clima local, urna situação meteorológica, o tempo diurno ou podem surgir, combinando-se, insolação e golpe de sol, que
noturno impõem na sua totalidade à regulação tfrmica. Mais dc1·em por isso ser considerados distintamente.
não lhe é passivei fazer, pois para averiguar cor\10 semelhante O golpe de sol provém de processos inflamatórios das me­
situação meteorológica ou climática pode ser úti I ou nociva ao ninges após as radiações ele calor sôbre a cabeça, ao passo que
home.m, dever-se-ia decompor a quantidade ele esfriamento fí­ a insolação é1 provocada por acúmulo ele calor no corpo, de­
sico, estabelecida pelo frigorímetro na sua totalidade, em cada vido à insufidente cessão dêle ao ar ambiente. Se no primei­
seu componente. l\1as a experiência mostra que urna disper­ ro caso prevalecem os sintomas de excitação, no segundo quem
são térmica predominante devida a movimentos de ar (tempo domina é o cansaço físico e a paralisia: urna crescente fra­
ou clima ventoso) é suportada muito bem por alguns tempe­ q11cza transforma-se em tontura, à qual segue um estado de
ramentos, ao passo que muito mal por outros, a ponto de a :,bulia e de semi-sonolência.
quantidade de esfriamento físico numericamente idêntica e me- O acúmulo térmico no interior da cabeça irrita e acelera

62 63
o qua�o patológico; são por isso particularmente prejudiciais 1, 1111s de milhões de home ns que vivem nas grandes metrópo-
colarinhos e chapéus apertados incômod os; mas o perigo da 1 1•• n atmosfera diária q ue representa o "ar livr e". A maior
insolação chega ao cérebro partindo do interno, justamente pe­ p,11 Ir dêsscs homens têm experiência também do "tempo" me­
lo superaquecimento não defluente para o exterior; pelo con­ ll'11·ológico apenas s ob a forma fenomênica em que se desen-
trário, no golpe de sol vem do exterior por irradiação da pele 111lvc no perímetro urbano.
da cabeça e do crânio. O oxigênio, que é o componente de maior importância
É característico, por6m, o fato de que não são vítimas de 111:il, é contido em igual quantidade em todo ar natural. As
insolação todos e quaisquer indivíduos e sequer a maior parte 1,11iações oscilam ao máximo em tôrno do 1/2%, compreendi­
daquel_es que em dia muilo mormacento devem d esenvolver a d, 1s as grandes cidad es industriais. Sensíveis deficiência de
"1 igÍ'nio pode advir apenas de uma dimi nuição da quantida-
mesma atividad e ( por exemplo, urna marcha difícil e prolon­
1 h· :ibsolut a de oxigênio, e isto se verifica tão sàmente após
gada) e estão inadequadamente vestidos. Os casos d e insola­
ção entre êles são sempre relativamente poucos e sempre casos 11111�t rarefação muito ava nçada da atmosfera: logo mais de-
isolados. Isto se dá, ou porque nêles se forma um gradiente 11•,cmos tratar dêsse caso (§§ 34 e 63).
térmico particularmente desfavorável, porque a sua produção Determinadas formas meteorológicas, como os temporais e
11 fohn; ativam em pequen as quantidades o oxigênio ordinário
de calor é muito eleva d a ou a cessão é particularmente inati­
11:i sua forma mais agressiva: o ozônio, que existe em grande
vo a capacid ade de suar (por exemplo, é um fator muito di­
verso) ou então o seu sistema nervoso reage violentamente a q11:1ntidade acima da nossa atmosfera respirável, como uma
um gradiente térmico desfavorável. Os estudos sôbre as in­ 1·.,mada altíssima, a 40-50 km acima do solo, e corno tal exer­
solações confirmam, portanto, só a experiência de uma di­ n· sôbre os sêres da terra uma proteção n ecessária a existência,
versÍdade extraordinária das constituições humanas com res­ rontra o excesso de radiações ultravioletas, que são por êle
peito às relações térmicas com o ar ambiente. Sôbre tudo :,bsorvidas. Na nossa atmosfera respirável chega até a 10 mg
isto voltaremos a falar quando estudarmos os fatos climáticos. vin 100 m2, e sem dúvida existe em maior profusão ao ar
livre que nas cidades, enquanto qu e parece desaparecer com­
31. Composição do ar. - "Ar viciado" significa, para os pletamente do ar das grandes metrópoles. Produzido artifi­
leigos, particularmente prejudicial para a saúde e a eficiência c·ialmente e misturado em q uantidades maiores no ar, tem
orgânica; ar bom, puro, "ozônico" é o particularmente salutar 11111 odor nauseante (semelhante ao cloro), irrita a membrana
enquanto alivia as pessoas do ar viciado, "ar da cidade". Es­ pituitária e não possui absolutamente ação refrescante, mas
peram-se mesmo do ar "d estituído de pó" ou "salífero" efeitos ação soporífera paralisa nte. Isso n ão exclui que em peque ­
miraculosos para a saúde e o bem-estar. Até o ar que cheira níssimas quantidades possa exercer um influxo totalmente di­
ao olfato é sem mais considerado como "viciado", ao passo verso. :Mas sabemos bem pouco que tenha fundamento cien-
que na verdade alguns areofétidos são inócuos e as substân­ 1 ífico. O que o povo em geral batiza logo como "ozônio" não
cias mais nocivas que contaminam o ar, tais corno o gás car­ (· mais que o ar muito fresco, isso é, ao contrário do ar me­
bônico e óxido de carbônio são inodoros e portanto mais pre­ fílico, v_iciado, superaquecido. E quanto ao "Ar an" de C ur­
judiciais. Na composição do ar devemos distinguir mui cuida­ ry, onde se faz uma renovada apologia sôbre o primado do
dosamente entre efeito sensível e efeito tônico. ozônio em todo efeito meteorológico e climático, é evidente
A atmosfera que respiramos é composta de azôto, oxigê­ que, do ponto de vista científico, há aind a muita coisa a e$­
nio, vapor d'água, gás carbônico e gases nobres ( argônio, hé­ clarecer. Voltaremos ao assunto mais adiante ( § 47).
lio, neômio). Dêsses componentes apenas o oxigênio e o gás A mesma coisa vale para os outros elementos presentes na
carbônico têm importância decisiva para julgar sôbre a "pu­ atmosfera err{ qu antidades extremamen te pequenas, no estado
reza" ou, dizendo melhor, sôbre a idoneidade d o ar natural. dr esboços: superóxido de hidrogênio (que geralmente está
Avaliar as multíplices possibilidades de contaminação d 0 ar presente onde se forma o ozônio), ácido nitroso, iodetos e se-
contid o em ambientes internos não faz parte do nosso argu­ 111elhantes. Se autorizados manuais higiênicos repelem, ap e ­
mento; con sid eraremos o "ar da cidade", que hoje é para cen- nas pela exigüidade das doses, um efeito biológico de tais
64 65
11 Ooop.,lque
misturas quumcas, isso é duplamente estranho, porqnanto po­ !<1,11.c-111t•ntr o estado fisiológico (e portanto indiretamente tarn­
der-se-ia muito bem clcn1onstrar a ação patológica, antes, 11,0- l ii'•111 a eficiência), não só despertando repugnância, nôjo até
ral elas bactérias e elas toxinas por elas produzidas devido à 1 1111\ oc,u nú11sl'as, rnas também causando dores de cabeça e
sua extrema pequenez de massa e de quantidade. Se, por 1•11sação ele- tontura. Sabemos que a sensibilidade dos homens
exemplo, são contln11a111enlc injetadas na atmosfera das nm­ 0111 relação a tais oclôres é muito diversa. Populações intei-
sas grandes cidades, J)l'q11c•nas quantidades de óxido ele car­ 1.1s vi,·cm ern certas cidades durante todo o dia numa atmos­
bônio pelos escapamc'ntos dos veículos, essa contamin..,ção f1 •ra ele odôres que é intolerável a estranhos não habituados. Mé­
atmosférica com urn g:'1� , cuenoso e mortal, embora em quan­ dicos, enfermeiras acostumam-se pouco a pouco a "ignorar'
tidades tão diminutas, exigl' por parte da autoridade púbhca , , lôrcs que aos profanos parecem "pestíferos", repugnantes. As
a mais séria atenção, pois {, possível que sejam prejudicarias a "tirações precedentes eram insensíveis aos odôres emanados pc­
sanidade e a eficiência ela população. Os gases de descarga l 1s latrinas, às exalações dos esgotos e semelhantes. IV[uitos
dos motores rnnté111 c0rc-a de 7% ele CO e freqüenterncnte d,�s�es maus odôres não são venenosos, mas inócuos.
mais que isso, até 15�,: ora, já 1/100 de tal veneno no •m­
Mas também os oclôres agradáveis (perfumes) muitas vê-
lume de ar aspirado por um certo tempo pode provocar efei­ 1c•s agradam tão sàmente por alguns minutos, para depois se
tos prejudiciais, e esta percentagem foi efetivamente encon­ tornarem indesejáveis. Especialmente os perfumes elas flôrcs
trada nas ruas ele Nova Iorque: agentes ela polícia rodoviária, '1Jcfrc1Clas11 , doces, estonteantes "atacam os nervos", gerando
que nelas prestavam serviço por longas horas, não poucas vê­ drpois ele algum tempo, ele forma incliviclualrnentr muito di­
zes apresentaram um grau de saturação do sangue com o tó­ versa, opressão cefálica, tonturas, náuseas, até mesmo um es-
,ico superior à metade do grau mortal. Ainda que nãn se •clo ele narcose. Não faltam casos mortais ( talvez ao dor-
manifeste algum indício de envenenamento agudo, contudo é 111ir em campos de tremoceiros, no feno fresco), mas diflcil-
muito provável que com o tempo tais contaminações diárias 111cnte podem ser demonstrados. Em todo caso, em todos os
cio sangue ,·enham a ter suas influências maléficas para a saú­ hospitais as flôres durante a noite são afastadas dos quartos
de, para as condições fisiol6gicas e para eficiência de quantos dos doentes. l\,fuitos indivíduos não suportam sua presença
são suas vítimas. •:rquer na sala de estúdio.
O gás carbônico, do qual o ar livre contém mais ou me­ A sensibilidade não é sàmente pessoal mas é também ex-
nos ele 1 /60 a 1 /20%, com uma percentagem um pouco mais 1 raorclinàriamen te diversa com relação às diversas espécies ele
alta nas cidades (até os 10 milhões de m3 ele gás carbônico, perfumes. Os perfumes artificiais desgostam notàriarnente a
que as chaminés de Manchester vomitam diàriamente na at­ :il !2;1 ms e perturbam as suas relações com os indivíduos que os
mosfera 1120 ultrapassam o seu conteúdo percentual mai5 que 11,arn, ao passo que fascinam a outros e especialmente os ex­
um quarto sôhre o normal) e nos ambientes fechados, já com , i tam sexualmente. Os odôres especificamente sexuais (odô­
uma percentagem de 1 /25% tem um efeito molesto, dá uma rcs afrodisíacos) ocupam extranha posição intermediária; àvi­
sensação cJc, opressão à cabeça, de sufocação, de falta de von­ clarnente aspirados no estado ele "libido" (desejo sexual), são
tade para o tr:1balho. l'vfas é necessário para o organismo em ci<' ação repugnante depois da satisfação afrodisíaca. Também
porcentagens pcquenís<irnas ( § 64). Ainda não conhecemos, 11 simples mau cheiro do suor das partes genitais pode ter êste
todavia, com precisão como as 05cilações do conteúdo de ácido ,·feito discorde, especialmente o suor das axilas. É muito
carbônico, conticln< cm média no ar livre, exercem um influxo t•,tranho como os maus odôres produzidos individualmente, por
sôbre o estado f;siológico e sôbre a eficiência orgânica. Os c•xemplo, o hálito, geralmente não são sentidos como clesagra­
elementos olfativos exigem uma avaliação particular, enquan­ cl:íveis, mas 1recebidos como uma certa complacência narcizan­
to nos permitem reconhecer qualquer coisa de fundamental­ tc· ( diz um antigo provérbio latino: cuique suus crepitus bene
mente nôvo. ,,/{'/). Também na vida olfativa do homem há certa quanti­
d:ide de fatos inexplicados que um dia induziram um pensa­
32. Sensotonia. - Há maus odôres que. por mais leves que dor original e profundo como Gustavo Jager a ligar todo o
sejam, podem violentamente "atacar os nervos" e prejudicar

66 67
carlate é uma côr de sagrad ável e o am arelo vermelho uma
complexo el a vicia psíqu ica, isto é, tôclas as emoções, hum�es, estridente combinação, não podem subtr air-se à fôrça excitan-
i nclinações e aversões a tipos ele odôres e a relações olfa tivas. 1<: dês,ses tons cromáticos. É just amente a experiência sensi-
De qualquer forma, é um fato cientificamente incontro­ 1 iva qu e permite colhêr de form a elementar o tom complexi­
vertível que cert as experiências sensitivas podem provocar re a­ vo da vicia : sensotonia !
ções violentíssimas no organismo. Não se trata, port anto, só
ele uma reação puramente sensível cio prazer ou cio clesgôsto, catódicos
ela atração ou el a repulsa, ela náusea ou ela voluptuosid ade, mas 33. Radiações. - Com a descoberta dos raios era dos
a v rd deira
( 1869) começou p ara a física moderna
e a
também cio fato ele se insurgirem contemporâneamente mo­ ma quantid ade ele
dificações tôni cas (dores ele cabeça, tonturas e semelhantes) raios; a partir de então pu demos conhecer u
ia e o públi co, cuja f antasia se entu siasma fà­
que por outras experiências ele prazer e ele clesgôsto, ele náu­ lipos de energ
com prazer outras
sea ou ele voluptuosidade não são absolutamente tão difundi­ cilmente com essas descobertas, imagina
"ra os terres tres" , q e dizem provocar o cân­
das e violentas. A experiência sensíve l prejudica ou favorece l'Spécies, como os i u
v oleta s e infravermelhos,
o estado complexivo do organismo. Por isso tais efeitos po­ rcr. Os raios Rõntgen, os raios ultra i
ainda miste­
ios ósmi o "p netra nt s",
a radioativi dade, os r a c c s e e
dem ser definidos como "sensotônicos". ncia real não mais se
:Êles, porém, não pertencem apenas à esfera olf ativa. A riosos na sua origem, mas de cuja existê turez a, a nos­
rtant es. N n
pode du vidar, são os mais impo
a a
esta altura ocorre -nos quanto já temos considerado na discus­ onfig uraçã o mete oroló gi ca e climá­
�a mode rna ci ên cia, p e la c
são cio� movime ntos atmosféricos ( § 29) : o vento exerce não radi oativas e os raios
sàmente u ma ação de dispersão térmica puramente tônica ( que tica, tqma em consideração as radiações
da m to supe r ores qu e a lu z, cuja
ultravioletas e em med i ui i
é idêntica seja que tenhamos ou não consciência el a experiên­ e l mino sa, ou colo­
simplei?_ presença ou ausência, intensidad
u
cia sensível do vento, no sono como na vigília), mas a irr ita­ ante par xistê nci a de todos
ração J1ão sàmente é determin
a a e
ção cutânea que percebemos, causad a pelo seu soprar contra condi çõ s m eteorológi ­
os sêres vivos, mas influi ao lado elas
e
a pele ( das faces, por exemplo) age tônicamente sôbre todo o s nsibi lidad e e sôbre o
cas de modo essencial sôbre a nossa
e
organismo conforme é agraciável ou não, provoca refrigério acl r ", luz solar, úm ido etc.).
nosso juízo ("tu rbad o", "se a a
ou cansaço, não simplesmente uma sensação de refrigério ou efeitos radi oativos e
cansaço, mas um estado objetivo de refrigério ou ele fraqueza. Podemos ele modo geral considerar os
lumi noso , pois o pouco que sabe ­
Até mesmo um higienista tão dotado de senso crítico e muitas ultravioletas como o efeito
s, de um ponto de vista
vêzes hipercrítico como Flügge a êste propósito atribuía ao ven­ mos sôbre êsses dois tipos de radiaçõe
ad caso nada mais que um
to um. aumento el e apetite, sem que houvesse provàvelmente psicofísico não representa em c a
Notemos
in ado e t lvez m ais intenso.
um correspondente aumento de metabolismo. efeito luminoso cont u a
pres ente s na luz
.) estão
Mas um teatro particularíssimo de efeitos sensotônicos é que os raios ultravioletas (abrev. U.V dura nte o verão
de mod o mais nten so,
solar, e precisamente,
i
a esfera ótica. A fôrça da excitação elas côres cio espetro de e nós tahto s U .V. quan­
ondas longas e a fôrça clistensiva elas curtas, isto é, no pri­ (um dia de pleno v erão i rradia sôbr mon tanh as; qu a­
e no alto das
meiro caso o vermelho e o amarelo-l aranja, o verde escuro e tos um mês inteiro· de inverno) q ando têm as
ialmente
se nada nos ambientes internos, espec
u
o azul carregado no segundo, que domina todo o homem, e gia radio at va emer g e do­
janelas fechadas com vidros. A ener i
talvez também muitos anima is, m anifest a-se provàvelmente tam­ parte como gás quími ­
solo em parte como radiação física, em
bém sem a percepção d a c ôr na correspondente radiação cro­ mas está presente também
co, como as chamadas emanações,
má tica do corpo (mas isto não foi ainda totalmente apura­ fres , na h va, no sereno, na ne­
cm tôdas as p1ecipitações cas c u
do), � todavia extraordinàriamente aumentada pela percepção exerça .uma ação conco­
ve fresca. É muito provável que ela
óti ca el a côr (e portanto nos daltôni cos, como demonstra a ias natu r s (curas hiclroterápicas
mitante em numerosas terap
ai
e xperiênci a, é consideràvelmente exígua). :E:ste efeito é tão ci almente o s banhos da
kneippistas, lamas , banhos term ais, espe
e vidente pelo fato que muitas vêzes não tem nada a que ver des jazidas de uranínita
com a complacência ou a i ndiferença ou mesmo o fastio das Boêmia setentrion al, próximos às gran das montanhas) .
das e no lto
mas sobretu do em zonas eleva
a
côres em questão. Também aquêles aos quais o vermelho es-
69'
68
Tôda luz na sua forma fenomênica
natural, como ação da q ue as amareladas
excitante sôbre o organismo, e o mesm •1111111icamente ativas e 1111,ito mais eleva
o se pode dizer sôbrc eren tes e não obs-
to do s_eu a umento, sej a segundo a qu a 1111 avermelhadas, que são q ulmica rnente indif
intensidade (intensidade: luz sol ar com
ntidade seja segundo a
1.111lc isso são pslquicmncnte excit antes ? Já um psicó logo tão
respeito ao tempo en­ como Alfre d Lehm an n não soube cla r-
coberto , superfície nevosa com r espeito , 11nmspeto e prcci�o o
aos prados, espe lho emos aceitar simples -
de águas com respeito a pântanos ou 11 11 ' urna explicação, e ainda hoj e dev
charnecas; quantidade: , aind a que contr aditórios. Provà­
dias de verão em co111paração com ' 11'1\le os fatos como são
os dias de inverno, noites da luz corno tal , mas elo
polares, luga res "abertos" comparados '"l t ne nte não dependem absolutamente
às ruas). Tôda obscu­ de luz, como faz pensar o
ridade, especialmente tôda priva ção de , ,iní.tcr térmico cios diversos tipos
luz, possui uma ação
os pinto r s terem usad o e usarem p ara os
paralisante. Além disso os graus mais l 1 to de justamente e
leves de excitação po­ ama relas a indicação
dem ser sentidos co,110 "calmantes".
A clarida de aumenta em 1 ipos de luz de ondas longas vermelho-
tipos d luz azu de ondas curtas
tnns quentes", e para os
l
todo caso as funções vitais, a obscu e
ridade as diminui. Esta .
a firmação tem seus limite
s nos sêres viventes crepusculare s ,1 indicação ele "tons frios"
o tão racionalística,
( que, ·porém, são a minoria ) e na Mas n ão se pode dar urna explicaçã
libido se xual também do
sse simp lesm e t� de uma associação imagina-
homem, cujos pontos culmin antes par rnmo se se trata n
e cem cair igua lmente no a" e é ao mesmo tempo a
crepúsculo e na a urora. Ma s é discu t i,·a : porque a luz cio sol é "dourad
tível se isso depende da c lor, por isso lig remos com aquela
nossa princip al fonte ele
a
lu7. corno tal ( § 94). a
versa . Com efeito, a
Esta ação da luz e ela obscuridade não l i1 z amarelada a ilusão cio calor, e vice-
tem apenas um justa n1en te a m is branca até urna
111a i s a rdente luz solar é
a
efeito estreitamente tônico ("quemotônico"
), investe, isto é, o quan menor é a sua
to
organismo no seu complexo e pode ter brancura obtusa e cegante , ao passo qu e
lugar também em relo ou verm elho é o sol. T al­
quem não vê a luz, como nos cegos (tamb t·nergia térmica, tanto mais am a
ém êles tornam-se corno ambiente p erma -
anêmicos na obscuridade do inverno polar ' cz ao preferir a luz a tons amarelos
bém um efeito sensotônico, isto é ( § 32)
), mas tem tam­
1wntc trata-se de uma reação insti
ntiva, que revela um a obje ­
ue até
o aumento ou a d i ­ nec essidade vit al, sem q
minuição da nossa vitalidade depende em
medida notável da ti,·a oportunidade, antes uma m. o do stam os de­
clêsse
ag-ora saibamos o que é mesmo qu e
e
percepção sensível da luz. Para um e para
outro efeito há ndo.
um ótimo de luminosid ade e um ótimo Í ( ·nclenclo e instintiva mente protege
cromático. Supor­ um ótimo diferen­
ta mos a luz "deslumbrante" só condicionadam Além disso existe também para a luz
ente e por bre­ s o provam na luz
ves instantes; o nosso organismo exige sempr cial, desta vez entre olhos e corpo. Todo
e um a mudança s d fend er órg ã o ela vista, ao
deslumbrante : então elevemo e o
gradual ele luz, portanto depois ela sombra
a luz crepuscular e continuar escoberto, antes,
d
por fim a obscuridade noturna; quase tôdas passo que o resto cio rosto pode
as mora dias das temente nota que se sente
mais diversas civilizações possuem dispositivo q11ern toma banhos de luz freqüen
s para atenuar a do ap as um par de óculos escuros. Por
luz cio di a. Nós preferimos a luz ligeiram e mais à vontade usan en
nte amarelada co­ uma quantidade de luz
rno a "dourada" que nos é oferecida pela luz 011tro lado o ôlho absorve cliàriamente
do sol quando r a ela todo o corpo, deveria exer­
êste se encontr a realmente afastado cio m q11c, quando quer emos expo
e io-dia, e é justa­ nos nas raças de p ele
m ente isto que explica o fascínio paisagístic cer uma ação superexcitante, p elo me
o ( § 14) da ma­ zmen t prot egida por pigmentos
nhã e ela tarde, e a preferência que encontram !'iara. Só urna epiderme efica e
os na ilumina­ sistir à perm an nte expo sição à luz, e é esta
ção artificial; a luz elas velas, a luz elétrica de rorantes pode re e
incandescência, rna ásios , que vivem nos
a razão porque os povos negros e
l
os lampeões ele querosen e nos são mais agraci
áveis que a luz s m prob l mas perm itir-se o luxo ele
e létrica ele arco volta ico, a luz
fluorescente ou de acetileno. !'limas tropicav,, podem e e

Nfas aqui surgem num erosos problemas que , i ndar nus.


não encon­ o organismo hu-
traram ainda uma solução! Como é que os E ncontramos enfim um ótimo rítmico:
tipos ele luz azu­ ente tamb ém o orga n ismo cios an imais e
lada ou esverdeada têm para nós qualque 111ano (e ordinàriam
r coisa de frio, ele maior segurança, sente­
p a ralisante, se bem contenham uma p ercentage d:is plantas sobretudo) prospera com
m de radiações
·W melhor e dá o máxi mo ci o seu rend imento numa periódica
70 71
alternat iva de d i ve
rsos gr aus e tip os
do alternar-se do dia e da no de luz. Esta é a função
ite, d9.-tempo sereno e do tem ultravioletas e radi oat iv id ade são p ara nós uma grande in­
nublado, das estações; os ho po cógnita.
mens (com o t ambém muitos
m ais) aliviam-na predispo nd ani­ Por escrúpulo e não por uma ex igência científic a devem os
o meios de defesa
dia ções (sombra, moit as, gru contra as ra­ acenar a algum as esp6cies de radiações, que poderiam even­
t as, ninhos, edifícios, troncos,
das). Pe la s experiên cias de ten­ lu alme_nte exercer qu a lqu er influência sôbre os org anismos.
vida n as zonas subárti cas rev
l a-se que uma clarid ade per e­ Desde 1912 são conhecidos os potentíssimos raios (a sua
sistente sem pausa
dade não só não é a bsolutam s de obscuri­ fôrça de penetração ultrap assa a de uma col un a de chumbo
ent
cia p rejudicial à vid a (§§ 55-5 e propícia , mas tem influên­ de um metro de espessur a). Provém d o universo, talvez do
6). Evidentem ente sob êste
peto o homem continua liga a s­ sistema galáctico , e foram por isso cham ados raios cósmicos
do à n atureza ; a terra que lh
entregue já era desde tem e fo i (ou penetrantes, ou também, com um têrm o muito pouco idô­
pos remotos densamente pov
nos cinturões tropic ais, onde oada neo, "ultra"). :Ê.les p arecem exercer um influxo n ocivo sôbre
o dia e a noite têm quase se
a mesm a dura ção, ao pas so mpre o a umento de m assa do org anismo, que se exprime no p êso
que a su a h abit abilid ade quas
ticamente term ina nos círc e prà­ d o corp o ; não se sabe mais sôbre o seu intluxo e discute-se até
ulos p ol ares. O ecúmeno terr
é determinado por um equi estre mesm o sôbre a sua natureza física.
líbrio dinâmico de "claro-esc uro"
provàvelmente os h abit ant , e Plantas em germinação ( que se encontr am num a fase de
es d as gr andes cida
não sem dano p ara a vital des o modificam gr andíssima expansão celular) devem em an ar tênues raios, qu e
i dade com a s ua
e sempre intensa iluminaçã sempre insaciável
o técnica notur na . influenciam sôbre o crescimento de outras plantas na sua es•
Todos os efeitos orgânicos fer a de ação. Para um grande número de processos gerrni­
da luz se p otenciam n os raios
ultraviolet as e nos ra ios rad
ioativos. Êstes, c omo também nativ9s, que se desenvolvem todos os anos nos trópicos, p ar­
r aios Ri:intgen, exercem sôbr
e os tecid os vitais
os ticul armente nas zonas temperadas durante a prim avera, seria
f ormações que geralmente, profunda s tr ans­ realmente incalculável o efeito orgânico complexivo de tais
queir a- se ou não, são destru
Os raios ultravioletas curam ições. energias. Todavi a , não possuímos ainda um conh eci ment o su­
o r aquitismo, o l u
no sangue os glóbulos e p o , a umentando ficiente sôbre as radiações "mitogênicas" (mitoradiações).
o p igmento, influenciam nas
mais vari adas os processos
metabólicos, multiplic am inten
formas De outras formas ondulatóri as usadas na radiofonia ( on­
mente a formação cio pigm
ento epidérmico na
s a­ d as ultracurtas) r ecenteme nte foi comprov ado que c ausam va­
às suas radiações. pele submetida gos pr ej uízos p ara a saúde. Tr at a-se de fenômenos debilitan­
É_ inadmissível q ue ta l possa tes análogos aos que foram descritos a propósito do m orm a­
sofrimento psicofís
acont ecer sem u m
e specífico ço. Não se s abe ao certo quanto se lhes pode atribuir, seja
ico con comitante.
a longôs tratamentos com tais Qu antos se submeter am d o p onto de vista b iológico, seja do ponto de vista físico. Se
muito tempo que sentiram
irradiações e já manifestaram
há os prejuízos lamentados fôssem. verdadeiros, as autoridades sa­
pode t ratar-se m ui to bem de
uma grande " agressivida de".
Mas nitárias, especialmente no camp o da higiene psíquica, dever iam
volucionárias que s urgem no
uma conseqüência das reaçõe
s re­ ocupà r-se com muita atenção dos ap arelhos transmissores de
corpo ; também as curas ba
lneá­ ond as curtas. O mesmo se diga p ara as "ondas ultra-sônicas",
ri as num primeiro tempo
extenuam o org anismo, e é isto é, de excitação ondulatória com uma freqüência de mais
justamente a sua r eação a e est a
l as. Com muita precauçã o d
evem
de 20. 000 vibra ções p or segund o, não mais p ercep tíveis pe­
ser a colhidas as afirmações
empíricas sôbre u ma ação d los nossos ouvidos. P arece pr ovoc arem com m aior intensid ade
juvenescimento", por exem e "re­
plo, da s f ontes radioativas ; co aquel as sensações pen osas quando ouvimos t ons muito a ltos.
m e a mod a corrente, t al fôrç nfor­
a foi atribuída às mais diversas Tal feí.'.iômeno , mais qu e n a natureza livre, p oderia verificar-se
substâncias e fôrças da natu no b arulhd ensur decedor das cidades e z onas industriais.
reza ou da té cni ca;
m ente de uma sugestão, e se trata-se gera l­
para alguns as férias em Ga
surtem tal efeito, para outro stein 34. Pressão atmosférica. - Evidentemente não advertimo s
s o é o s ana tóri o
uma viagem marítima. Do veget ariano ou da atm osfera que grava sôbre nós. Há
p onto de vista f1sicofísico r a de modo dir eto o pêso
io s disso uma pr ov a convincente : sentimos n o ar qu alquer cois a
72
73
de "gravoso", uma opressão de
origem meteorológica, qual­ dificações psíquicas. Se se diminui a pressão na câmara, ge­
quer coisa ele "pesado", de opressor,
quando se \·erifica uma ralmente por algu111 tc111po não se manifesta nenhum efeito
ele\·ada situação atmosférica, onde
a pressão atmosférica di­ t·viclente.
minui por "depressões" barométricas
( o têrrno "depressão" sig­ J\ s quedas ela pressão atmosférica correspondentes às al­
nifica aqui uma diminuição ele pres
são; na psicdogia é em­ turas médias orográficas na câmara de pressão transcorrem
pregado para indicar um estado
ele opressão). :-.Ias é pos­ ,cm qt!e surja qualquer sintoma. Somente quando a pressão
sível que haja u rna percepção indir
eta das mudanças da pres­ diminui de um têrço de atmosfera, isto é, ele uns 500 mm do
são atmosférica por n1eio de nossa
s sensações musculares, ar­ nível barométrico, surgem conseqüências psicofísicas, que se
ticulares, orgânicas: a queda da
pressão cio ar ambiente, co­ 111anifestarn por paralisia, diminuição do prazer e ela capaci­
rno, por exemplo, no alto elas mon
tanhas ( § 61), relaxa as dade de ação. São rarefações da atmosfera que correspondem
cápsulas elas articulações de n1ocl
o semelhante rios "hemisfé­ a uma altit ude de mais de 3. 000 metros, onde quern sobe é
ricos ele i\fagcleburgo" na experiênc
ia física, e pode muito bem surpreendido por uma situação conhecida como "mal de mon­
depender clêsse fato a leveza e a
"destreza" que muitas pes­ tanha". Um relaxamento, que cresce ràpidamente, apodera­
soris notam nas excursões pelas
montanhas, especialmente ao -se do corpo e da vontade. Para quem é atacado pelo mal
subir, caminhar, saltar ( § 61).
Outra confirmação é dada ele montanha é simplesmente impossível prosseguir. Senta-se
pela fraqueza que insurge por uma
exagerada diminuição da 011 se deita. Após alguns minutos de clescanço sente-se sur­
pressão externa em alturas ainda mais
elevadas, provocando os preendentemente aliviado, e sobe novamente com coragem e
primeiros sintomas do "mal de mon
tanha" ( § 61.). De resto, fi\rça, mas depois de um breve trecho, que gradativamente
não há uma insolúvel contradição
entre os efeitos ela pressão mi-se tornando menor, sente-se novamente atacado pelo mal
atmosférica devidos a uma mu,clanç
a meteorológica e os devi­ (corno se se tratasse de urna advertência cio perigo de conge­
dos às férias na montanha: neste
segu ndo caso parece que o lamento). Por fim pode cair num estado de atordoamento e
efeito seja o mesmo, isto é, u ma
diminuição ele pressão, ao ele inconsciência; então significa que está próximo o perigo ele
passo q ue no primeiro caso acon
tece o contrário. Daqui sur­ 111orte por congelamento ( quando sobrevém uma tempestade
ge o p roblema se em ambos os
casos se trata de efeitos da de neve ou um frio muito intenso). Nem sequer faltam os
pressão atmosférica.
Felizmente existem pesquisas expe sintomas de excitação de vários gêneros - especialmente quan­
rimentais para esclare­ do se está num balão ou avião - que denotam uma angústia
cer as duas relações A pressão
atmosférica é u m estado ela i 1 11provisa. A sintomatologia pura da rarefação atmosférica
atmosfera relativamente fácil e
simples de isolar. Pode-se parece ser um acentuado cansaço psicofísico.
aumentá-la e diminuí-la à vontade
nas chamadas "câmaras As primeiras teorias sôbre os efeitos ela rarefação atmos­
pneumáticas", onde se pode também
reproduzir qualquer tem­ férica estão ligadas ao mal ele montanha. Hoje predomina a
peratura e umidade. Demonstra-se
então que um moderado explicação baseada na falta ele oxigênio no organismo. E é
aumento da pressão atmosférica (
corno predomina costumei­ desta teoria que Loweu (Davos) deduz os efeitos mais impor­
rarnente durante o bom tempo)
provoca .um estado psicoló­ tantes do clima de altitude. Segundo a sua doutrina, o san­
gico agradàvelmente "eufórico", onde
de modo ideal, se entre­ p;t1e arterial ainda suficientemente carregado de oxigênio, em
laçam bem-estar, tranqüilidade e
urna sensação avançada de rnnseqüência da baixa pressão do ar e dos seus componentes
atividade e ele frescor. Em aumentos <7ue ultrapassam de
muito aos possíveis ao ar livre, surge �,1sosos, não suporta mais comprimir em quantidade suficien­
m distúrbios progressivos tv o seu oxigênio nos tecidos e nos órgãos do corpo, e é jus­
bem conhecidos há muito tempo por
aquêles gue usam esca­ tamente de\ta retardada e diminuída oxidação que resultam
fandros: penosas opressões no peito
, zunidos, zumbidos e sen­ :i� mais vadadas modificações bioquímicas. Como prova disso
sações ele explosão nos ouvidos
e semelhantes. (O verdadei­ Pl t ' apresenta a constatação de gue todos os efeitos essenciais
ro mal de imersão, porém, o "mal
de Caisson", deriva da l 1 infísicos e bioquímicos do ar de montanha, quais são a maior
convulsão cio estado físico, ele urna
Êsses sintomas angustiantes ocultam, em
imediata rarefação cio ar). r, t'qüê;1 cia ela respiração por minuto, da profundidade da ins­
geral efetivamente, mo- pirnção, do número das células vermelhas do sangue e do seu
74
75
o "va­
um instrumento particular,
conteúdo de emoglobina, o aumento da pressão sanguínea e para tal fim é necessário
da troca desaparecem logo depois da inalação artificial do riógrafo". antes e durante repentina
s
oxigênio. Mas para as altitudes médias, que são as féri as mais Essa perturbação comparece siro co, an­
oximação do fohn e do
aprop�iadas para um repouso recreativo, as pesquisas não apre­ quedas barométricas, à apr de ne­
e ant es de gigantescas tempestades
sentam resultados sempre compatíveis com esta teoria. Volta­ tes do mau tempo rela ção com as "fre nte s dos
um a
remos ainda a falar sôbre o clima de alta montanha ( § 64). ve. Evidentemente tem ela por algu ns cien­
§ 41) e é adotada
Se, portanto, as q uedas de pressão atmosférica menores elementos barométricos" ( de ma l-es tar, que apr ende­
estados
que ½ de atmosfera na câmara pneumática não produzem tistas como explicação dos Con­
a con hec er atra vés daq uelas formas meteorológicas.
modificações psicofísicas, se a mesma queda de pressão, que mos da per turb açã o da
tais influências
surge pela mudança de tempo e por uma moderada supera­ firmaç;io experimental de es fisio lógi cas e sôbre a
as con diçõ
ção de_ altit ude, provoca cá e lá efeitos realmente contraditó­ pressão atmosférica sôbre efei­
te até hoje; a atribuição dos
rios, isto é, de uma pa rte sensação de leveza e aumento de eficiência individual não exis es da pre ssão atm osfé rica
oscilaçõ
atividade e de outra estados de opressão e queda de rendi­ tos psicofísicos do tempo às alh o ( § 40s s.).
ria hipótese de trab
mento, conclui-se então que nestes casos não é evidentemente não é mais que uma provisó
a pressão atmosférica a causa da mudança psicofísica. Sà­ os
- Veremos (§ 42) como
ment� com a altíss ima pressão da atmosfera livre ( o que al­ 35. Eletricidade atmosférica. ação da elet rici dad e
gumas vêzes acontece quando o tempo está insàlitamente belo elementos esse nciais para uma explic icas so­
nas influências meteorológ
e duradouro) e com uma pressão baixíssima ( como predomi­ atmosférica estão presentes just am ent e sôb re êste ponto
icidade,
na nas altitudes) manifestam-se as conseqüências que descre­ mato-psíquicas. Por infel dad os de fato e
, enquanto que os
vemos acima. Entre êsses dois extremos há uma esfera in­ nossa ciência é inadeq uada
ter mediár ia onde tomam parte decisiva também outros fatôres. as conclusões são inegáveis. se
ser considerados distintos,
A êste propósito há a confirmação inegável de que até Há dois fatos que devem : disp ersã o e a
em correlação a
mesmo o mal ele montanha não surge mecânicamente com bem que fisicamente estejam
determinadas altitudes e determinados valores da pressão at­ queda de potencial. p e­
A dispersão da eletricidad
e na atmosfera depende de
mosférica, mas ( prescindindo das condições da constit uição, ma dos íon s, dos q uais
etrizantes, ch
queníssimos corpúsculos el
a
da individualidade e dos esforços precedentes) com particular s, que
no ar livr e doi s tipo s principais: os gás-íons leve
pref erência em cer t_os lugares da terra e em determinadas mon­ existem que são par tícu las de
íons pesados,
tanhas. O fato nunca pode ser explicado de forma topogrà­ são moléculas de ar, e os águ a. A carga elét rica para
as de
f.icarnente unívoca, mas a constatação de que não existe uma pó ou microscópicas gotinh a; em méd ia o
positiva ou negativ
só montanha na terra onde não sejam conhecidos e temidos um e outro tipo pod e ser rica pos it va é ma is ou
carga elét i
tais lugares, onde é freqüente o mal de montanha, indica que número de partículas com relação
igu al ao de car ga elétrica negativa , mas esta
aqui inter vêm ainda outros fatôres que o favorecem. Podem men os teo roló gica s, com o tem­
situações me
ê!es ser as condições do vento, o frio, mas também radiações é alterada por particulares íon s pe­
ndes cidades o número dos
ou emanações raaioativas do sólo que estão aind a bem longe porais e o fohn. Nas gra alto das mo nta­
nos campos ou no
de serem conhecidos. sados é muito maior que pú cul os d con dut ividade
cipais cor s a
Se já um bar ômetro de câmara mostra incessantes mu­ nhas. Os leves são os prin científi­
dispers ão elét rica do ar. Recentemente, para fins
danças da p ressão atmosférica que, lentissimamente - de mo­ ou s de íon s de pês o in­
ros três tipo
do análogo aos ponteiros de um relógio, mas sempre hora por cos, f <?ram copstatados out
hora constatáveis - sobe ou desce, assim há outra fórm ula termediário. ' nte, os
s movem-se incessanteme
que revela temporàriamente uma mudança de pressão atmos­ Os corpúsculos eletrizante ado s mil har es de vêzes
ssima, os pes
férica, onde o valor da pressão oscila entre dois extremos de leves com velocidade altí rico da ,ter­
esp ecia lme nte sob o influxo do campo elét
limitada amplitude. Nossos barômetros usuais não são apro­ men os, é dot ado de carga elétri-
atmosfera,
priados para indicar esta perturbação da pressão atmosférica; ra. tste, com respeito à
77
76
-estar e melho­
negativos provoca bem
laboratório com íons só cia o contrário
ca negativa. E é assim que entre a superfície terrestre e a carga túrbios. Mas aconte
parcial p ositiva distribuída no ar se forma urna contínua ten­ ramento ele diversos dis izado com íons positivos. Ora, na
ion
!'Om ar artificialmente menos Ç> inver­
são com , ariável queda ele potencial. Com o se comportam teo rol ógi ca as coisas são mais ou
realidade me o a atmosfera com
em rela,ção a isto os objet os ( e o s sêre s viventes) que se en­ bem-estar quan d

contram sôbre a superfície da terra, depende naturalmente da so: tem-se aqui o maior descarga positiva relativamente uni­
a
sua condutibilidade el<-trica: os maus condutores, que estão respeito à terra possui urn tempo" é como se chama realmen­
ade do bom
túria ("e letricid túrbios psicofí­
sôbre a superfí cie e se cle,·arn no ar, apresentar ão entre a , enquanto que os dis
te êste fato atmosférico) ior se torna a
base e o vértice uma alta diferença de potencial: os bons con­ is numeroso s quanto ma
sicos ins urgem tanto ma erior a atm osf era e entre
dutores, não. Entre os bons condutores conta-se também o cor­ s cargas no int
d
ibil ida de da numa
po humano, mas o noss o c·onhecimento sôbre essas coisas não rev ers
dente. Poder-se-ia talvez pensar
é tão vas1o que nos pcrrnita negar s ubstanciais diferenças de ela e o solo correspon sentido análogo
à per turbação ba­
potencial C'ntre a cabeça e a planta dos pés. Já somente o "perturbação elétrica·' num acima ( § 34). Tão somente ul­
s
fato q ue entre 100 úrvores os raios atinjam numa proporção rométrica que descrevemo s poderão demonstrar se tal "per­
e pac ien te pesquisa
teriores s
ão da pressão
ck• 50 vêzes as coníferas, 20 os carvalhos, apenas 3 a faia, in­ respondente à perturbaç
turbação do campo" cor o ela eletricida­
dica a existência de particularidades orgânicas inexplicadas com ibuída ao estado efetiv
atmosférica deve ser atr
relação à s tensões eletrostáticas da atmosfera, que não podem ente o organismo.
ser esgotadas com elementares generalizações asciomáticas dos de, que agride propriam
manuais. Já a experiência citada por Domo no seu primei ro
ca
sensitividade meteorológi
trabalho, segundo o qual durante o fohn deitar-se h orizontal­ II. - Sensibilidade e
mente como também umidecer as mãos e o rosto alivia o mal­
teorológicas
-estar, demonstra que aqui podem intervir diminuições gra­ . - As influências me
36. O sentir o tempo os os homens;
diente e cios desvi os, ( como quand o se sopra sôbre um vidro e da mesma forma tod
não atingem absolutament con hecimento de­
ou sôbre o !arre após tê-los esfregado). Acrescentemos qne, têm de modo igual
pelo menos nem t o dos erim ent a o pelo menos
em certas situações atmosfé-ricas, isto é, no alto cla5 monta­ tenham exp d
las , ainda que todos já corno qualquer coisa d e agraciável,
nhas, numerosas pessoas ( que se definem "homens elétricos") eno
uma vez um temp o am Até mesmo as
podem chr origem a descargas com crepitações e pe quenas cen­ acresce o rendimento.
que alivia o humor e sma idade, ela
telhas entre' a superfície ela sua epiderme e todos os possíveis biente de \'ida, da me
objetos, tanto bons cerno maus condutores, por exrrnplo, as pessoas de idêntico am gem de modo mu ito diverso às for-
ma raç a ou fam ília rea
mes
g:--ades me1á!icas ela, escadas, como também as próprias pe­
mas debilitantes. ssoas que o tem
po não p ode ja-
ças de roupa ( especialmente ele lã e de sêcla). E uma an­ Há uma categoria de pe que ixa m de tôdas as
tiga opinião popular sôbre as "dores do tempo" ( em cicatri- sfazer, poí s se
1nais, por assim dizer, sati a muito incons­
7,es, articu!açi'íPs inflamadas ou afetadas por reumatismo s · etc.) ito quente, a primaver
"Stações; o verão é mu mu ito monótono. A
recomenda compressa s de pele de gato e semelhan1es. Em ido e o outono
tante, o im·erno muito ríg cansa-as, o ar das montanhas en­
ambo, cs casos temos experiências ele infl11 ências or�ânicas sol
chuva deixa-as tristes, o cabeça e nevralg ias,
as
da eletricidade atmosférica, que contradizem todo possível de­ ce-as, n ma r s ofrem dores de o
fraque o
ntr ion ais per tur bam
nominador comum explicativo. os países sete
claras noites de verão d -lhe s can ati­
do Me diterrâneo parecem i s ou me­
s
A êste propósito nenhum progresso assinalaram as expe­
seu sono leve, e as costas ma
riências que h:í alguns decênios empreenderam Dessauer e seus áti cos , os superexcitáveis, que
tivas. São o s rieurop nas dem ais exi gên cias vitais.
colaboradorr, do Instituto el e Francforte sôbre as influências também
nos se comportam assim lho , nas hor as livres
médicas cio ar ionizado, re spirado artificialmente e carregado otado pelo t raba
Sentem-se eternamente esg c on eqü ênc ias d e s ua
ele modo cxrlusivo com cargas positivas ou negativas. Dessas sofrem com as s
tornam-se hipocondríacos, val , tan-
em
tentativas ( justamente cliscuticla s ) parece concluir-se pela sur­ s de caprichos e pouco
preendentr ronstatação de que ju stam ente o ar ionizado rm dissipação estão carregado
79
78
to no matrimônio como na solidão: Goethe caracterizou-os íavorável não diz nada de nôvo. Temporais e fohn nos mos­
como temperamentos problemáticos. tram ºuer�lmente a sensitividade meteorológica , em seu iní-
. está
A êsses opõem-se muitos que afirmam não perceber ge­ cio e muitas vêies antes ele irromperem, 1ste e, na ·fase pro-
ralmente em si nenhum dos fenômenos geopsíquicos. O tem­ drâmica. Os que têm um pressentimento do tempo são jus­
po para êles só existe enquanto alivia ou perturba as suas tamente os que são susceptíveis aos mais tênues pródromos, e
ocupações, e consideram todo o resto como "imaginação"; ha­ o podem ser por congênita constituição ou suas faculdades de
bitualmente também a paisagem é para êles indiferente, a na­ percepção.
tureza não lhes diz nada, no máximo deixam-se impressionar Entre tais t.ernperamentos encontra-se grande número ele
um pouco apenas com um panorama desconhecido, bizarro, neuróticos de tôcla espécie, indivíduos que em geral "levam tu­
exótico. do a sério", lunáticos, depressivos etc. A êles associam-se �s
Entre êsses dois extremos coloca-se a multidão daqueles, afetados ·de certas "neuropatias" físicas, especi�lmente hem1-
que deixam entrever todos os matizes, desde a emoção oca­ crânicos, epiléticos, nevrálgicos: êstes últimos constituem um
sionada por uma situação meteorológica particularmente ruim setor particular da sensitividade meteorológica, isto é, a esfera
ou encantadora, até à mais sutil sensitividade das oscilações do patológica cios que sofrem ele dores musculares e de nevral­
tempo. Êstes últimos são os autênticos sensitivos meteorológi­ gias, dos que sofrem reumatismo, artrite, e de todos os por­
cos; distinguem-se dos que foram descritos precedentemente, tadores de cicatrizes que costumeiramente são chamados de
que estão sempre a se lamentar do tempo, isso porque êstes "barômetros ambulantes".
aqui são beneficamente susceptíveis às situações meteorológi­ O sintoma de sua sensitividade meteorológica é a dor lo­
cas favoráveis, ainda que igualmente sensíveis ao mais leve in­ cal d� todo tipo e intensidade, cio leve "suspeito" retesar e
dício de uma piora atmosférica. São os "barômetros ambu­ prurido, até ao "arrancão" ou àquela forma não tanto intensa,
lantes" cuja sensitividade pode ser limitada moderando o seu mas assim mesmo tormentosa do sofrimento devido ao can­
organismo, como pode ser estimulada para pior com a auto­ saço, em que não sabemos como conservar ou estender o mem­
observ�ção. bro atingido. Oportuno seria distinguir especlíicamente da
A idéia de que as modificações cio estado fisiológico este­ ênsitividade meteorológica, a "sensibilidade meteorológica",
jam em relação com fatos meteóricos leva a não prestar aten­ ;Sta reatividade ao tempo puramente sensorial e local, onde
ção a seus efeitos, (por exemplo, os caprichos hipocondríacos Je modo geral não se verificam perturbações notáveis das con­
e a excessiva preocupação por presumíveis doenças considera­ dições fisiológicas gerais, cio teor de vicia, da atividade pro­
das iminentes, da qual poderiam provir distúrbios para as con­ fissional, mas que se limita aos distúrbios locais. Esta deno­
dições de saúdeJ , mas a se preocupar com as mais leves va­ minação corresponde também à linguagem da psicofisiologia,
riações meteorológicas, e em certos casos a se convencer real­ que distingue as mais simples percepções locais dos sentidos
mente ele correspondentes modificações do estado fisiológico. como "sensações" da reação geral do "sentimento" e cio "sen­
O afinamento ela sensibilidade transforma então a sensitivida­ tir" que agarra tôda personalidade do seu complexo.
de m�teorológica de modo sempre mais preciso em pressenti­ Confirma-me nesta proposta, que apresentei à primeira
mento do tempo. Isto é, tais indivíduos reagem aos sinais conferência de Francforte para a colaboração médico-cientí­
precursores de uma mudança meteorológica ( que os usuais ins­ fica, o fato de que uma autoridade tão cauta no uso das pa­
trumentos nem sequer registraram), várias horas antes que se lavras corno Rudder, a considerou corno "oportuna" na sua
verifiqu_em as primeiras quedas da pressão atmosférica ou das i\1etereólogia. Portanto, de moei.o geral, tôdas as doenças
primeiras rotações da rosa-dos-ventos; sàmente um olhar ge­ que diminuem a nossa capacidade de ação e pio­
ral do mapa meteorológico europeu poderia prognosticar com ram a& nossa\ condições fisiológicas ( e o são tôdas efetiva­
tanta certeza uma iminente mudança ele tempo. Parece que mente), podem também intensificar a reação meteorológica;
muitos animais são dotados de tão avançado pressentimento do nas doenças agudas geralmente não o percebemos, porque pre­
tempo quanto os homens. O fato de haver um modo total­ dominam febres altas, dores ou opressão, mas os sofrimentos
mente diferente cio simples sentir um tempo atualmente des- crônicos, por exemplo, distúrbios cardíacos, afecções pulmona-
80 81
e · Ge0'Jl3fquf
res, arterioscleroses , tor nam-nos quase sempre hipersensíveis a 111a d a . constituição. Mas há apenas duas gerações que êle
levíssimas pioras do tempo. Além dis so o fohn e o siroco po­ l'ntrou no auge lurninoso cios novos conhecimentos e das con­
dem aumentar as dores e a asma até o tormento e em par­ n.:pçõe,5 modernas, a ponto el e representar um nôvo e juvenís­
ticular há doenças ocultas ainda ignoradas, c uj os primeiros sin­ sirn o campo ele estudos. Importantes serviços p oderá p res­
tom as podem ser efeito de uma sensitividade m eteorológi ca an­ tar a seu ulterior desenvolvimento a elaboração cuidadosa elas
tes des conhecida: tumores rnalignos, catarro pulm onar agudo, pesquis.as geon1fclicas. l� provável também que provenham
s upurações do antro maxilar, aposte mas ocultos.
nutras signi fic;iti\':lS <,·c orrelaç ões": quem possui uma "geopsi­
A mesma situação encontramos nas pessoas operadas re­ qu e"', possui algo 1nais, q ue o fará compo rtar-se d iferentemen­
centern ente e em tôcla espécie de convalescentes; antes, neste te de qu em não o tem. A êsse respeito nada mais há a acres ­
caso uma simples sensibilização por u rna forma meteorológica centa r além elo que se disse a propósito cio animal (§§ 8-12).
nunca dantes .notada, de m odo particular, pode i ns taurar por
a nos e por tôcla a vida a se nsibilidade em relação a ela. Por
fim, leves crescimentos no ventre depois de uma operação po­ 37. Distinções empíricas. - Só com base na experiência
dem pro\·ocar por longo tempo notáveis reações a mudanças podem os fe nômenos geobiótico s ser classificados ele um a par­
rneteorológicas, qu e se manifestam em condiçõe s ob scuras, opri­ te em corpóreos e psíqui cos e de outra em subjetivos e obj e­
mentes, m uitas vêzes ele descrição difícil corno geralmente se tivos. Bem se pode dizer que os que têm uma acentuação
originam do inchaço, ou i nérci a, ou irritação do sisterna inte s­ psíquica subjeti\· a pertencem ao tipo h umano mais sensitiv o e
tinal e especialme nte do estado cio diafragma qu e lhe e stá unido. 111<1is sensível. O tipo m ais robusto nada per cebe, mas pes­
Seria, porém, um grande êrro concluir d aí que a sensi­ q u isas_ experimentais revelam que t ambém êle, sen1 q ue o no­
bilidade, a sensitividade e o pressentimento meteor ológico ge­ te, é influenciado pela situação meteorológica ( ou pelas esta­
ralmente não são mais que uma hipers ensibilidade de nature­ ções: §§ 82 e 86), quan do o seu rendimento sofre variações .
za quase pato lógica de um organismo no fundo anormal o u Há, pois, outro tipo (justamente o tipo "sensíve l") que reage
arruinado por doenças. Justamenle as mais recentes pesqui­ essencialmente cmn pe r cepções corpóreas, como retensões e re­
sas sôbre os e feitos do foh n realizad as no clássico t eatro de In­
puxões em c icatrizes ou nas articulações, dores de cabeça,
nsbruck, terra natal el as pesquisas sôbre o fohn, re\·elaram até sensações desagradáveis (prurido, forrn igar , entorpeci­
as mais leves comoções em ind ivíduos robustíssimos, jovens e mento) em todos o s membros. Tais sintomas fisiopsí quicos
esportistas, durante ê sse ve nto. pode m ser muito violentos, ao passo qu e os meramente p síq ui­
A aumentada susceptibiliclade do organismo a um deter­ cos ainda não co mparecem ou estão to talm ente excluídos. Es­
minado grupo de estímul os não será m ais por muito tempo tes compare cem corno mudança de humor e se es tendem mais.
de natureza "patológica", a menos que se queira dar a êste por tôda a esfera volitiva manifestando-se como indisposição,
c onceito uma acepção ilimitada e arbitrária. É justamente a r alta de vontade no trabalho, e portanto comprometem mais
característica de determinada constituição, à qual no caso po­ fortemente atividades que requerem p articu lar tensão da von­
deríam os dar o nome ele "geobióti ca", e que se pode tornar tade e de atenção e exigem uma intencionabilidadc para o
de fato "geopática" em e xtremas degene rações. Não foi ai nda cumprimento do "objetivo": trata-se, porta nto, em sentido es­
provad o se esta constituição representa por si mesma u m fe­ trito, do "trabalho mental", corn o pens ar, refletir, controlar,
nôm eno parcial, ou se trata de um fenômeno p arcial de deter­ contar, compor, crit icar, transíarmar, elaborar. Pelo contrá­
m inadas constituições (v. § 50), como se esforçou para chs­ rio, formas ele at ividade mais instintivas, mecânicas, podem
tinguí-los e delimitá-l os a m edi cina m oderna (com a con stitui- prnnanece r imperturbaclas, e às vêzes podem até inclusive ser
ção ·'artrítica" ou " cíclica" ou "vegeta tiva"). fa\·oreciclas, por exemplo, idéias, o livre fantasiar, inspirações
. inesperadas, improvisações. Ac redita-se comumente que essa s
Tod os êsses problemas foram realmente agitados desde
tempos remotíssimos, e os encontramos rnáxime nos i ní cios d a funções mentais surpreendem de modo geral o h omem seten­
antropologia e da patol ogia científica, quando , meio m ilênio trional, habituado ao trabalho metódic o, intenso, sóbrio, mas
antes qu e a nossa, a escola hipocrática discutia sôbre o proble- n�to o m eridional, que está subrnetido muito mais intensamente
:10 domí ni o el as formas meteorológi c as debilit ante s. Lombro so
82
83
constatou um máximo de idéias produtiva s dur ante o mês d 1 · Os elegantes métodos da estatística matemática podem
maio, ist o é, numa esta ção (com o veremos: §§ Bi-88) onde Sl' ,1·1upre enganar sôbre êste ponto quem os usa, e assim, tam­
nota de modo particular um característico enfraquecimento das hi'·m diante de questões tão solidamente empíricas como o efei-
funções instintiva s da vida psíquica. E eu mesm o constat ei pes­ 10 meteorológico sôbre a nossa vida psíquica, tôda complica­
soalm ente em mim um diferente efeito mental no clima fresco (ío matemática e especialmente todos os m é todos comparati­
da Alemanha ocidental e no clima "mole" d o alto Reno: eni vos ta�to numéricos como gráficos (nas curvas) contêm em si
Greifswald de fato trabalh o mais, m as em Heidelberg te nh o n perigo de dissolver e deturpar a realidade com a sua artifi­
mais idéi as. Da vida cios gênios sab emos qu e a s "idéias" sur­ rialidade . Todo cálculo press upõe que as unidades usadas se­
gem preferlvelmente elll situações de distensã o espiritual, por jam homogêneas e inv ertíveis mas não rar o isso não se verifica
exemplo, de manhã, logo ao despertar; Helmh oltz deixou-nos a no plano empírico: foram necessários dez a.nos para que a
respeito testemunhos clássic9s. c-limatologia se convencesse que a. média diária, m ensal, anual
da temp eratur a. não tem nada a que ver com o caráter real
38. Reações psicofísicas isoladas. - Para delin ear um qua­ do clim a de uma localidade.
dro dos efeit os m e teorológicos somato psíquico s com urna cons­
cienciosa introspecção ou com a interrogação d e outros ou com o A experiênc ia psicológica, como tôda outra experiên cia,
pressupõe certa engenhosidade no escolher e no excogitar mé­
auxíli o da experiência, é sempre necessário basear-se sôbre mo­
todos e pr ocessos. A êste propósito não há nenhum limite pre­
dificações o mais possív el circunscritas e univocamente determi­
clusivo e serão sempre bem acolhidas as p esquisas geop sicoló-­
nadas e não ficar satisfeito com expressões genéricas, como por
gicas levadas a efeito com métodos novos. Sôbre êles não há
exemplo: "sinto qu e o tempo piora" - "já senti o terre moto
rnuita coisa a observar: há mais ele 30 anos que as exp eriên­
várias horas antes" - "antes que chegue o fohn, sinto-me aba­
cias se movem sôbre o me smo binári o, e o mesmo se pode di­
tido por dias inteir os" e semelhante s. Também os inquéritos,
zer quanto às inqui rições. Não obstan te isto há muitas ou tras
qu e são o cavalo de batalha da psi cologia americana, de vem
sondagens qu e convalidam, modificam ou completam as in­
a presentar um número posslvelmente não muito grande de per­
formações at é agora coligidas no âmbito das questões e dos
guntas forn,uladas com muita precisão sôbre particular es bem
p ontos de vista ainda discutidos. Tais inquirições não devem
precisos. É talllbém indispensável, por exemplo, saber com cer­
s er considerada s supérfluas, ant es gostaríamos que fôssem l e­
teza quais aspetos da atividade profissional res sentem as influên­
vadas a efeito em extensão muito mais vast a. que a atual.
cias meteorológicas ( ou quais as aproveitam) .
Mas há um ponto de vista capital a ser considerado. Tra­
Já desde as primeiras pesquisas experimentais, l evadas a
ta-se da distinção entre distúrbios estáticos e distúrbios dinâ­
efeito há urna gera ção por L ehrnann e por Pedersen sôbr e as
micos, que é essenéial na psicofisiologia. Todos sab emos que
r elações entre as condições meteorológicas e o trabalho (§ 27),
também num nôvo estado de grande cansaço nos são possíveis ,
com qu e se abrem novos caminhos à ciência, foram introduzi­
com um conveniente esfôrço de vontade ou por um impulso
d os os métodos em uso na psicologia experimental, corno pro­
instantâneo (urna alegre surprêsa, uma o rdem brusca, músi­
blemas aritméticos simplicíssimos ( adiçã o progressiva de nú­
ca) , operações momentâneas ainda congeniais. Assim um ar­
meros a urna só cifr a ), decorar pal avras e sílabas, ações mu s­
gumento interes sante ou o pr ofessor podem em pouco temp o
culare s muito precisas e el ementarís simas, como a c ompre ssão
reanimar uma classe esgotada p elo calor até conseguir obter
do dinamôm etro, os erguiment os de pêso, os chamados te mpos
de nôvo rendimento normal. Após uma tão alta tensão está­
de reação ... Foi grande a diversidade ci os resultados. São pro­
tica, tanto mais marcante é em geral a reação distensiva que
batórios apen as quand o se estendem por longo perí odo ele tem­
segue, de 1modo que em certas ocasiõe s as autoridades sanitá­
p o ou quando são repetidos em análogas condições meteoroló ­
rias escolares chegaram até ao absurdo de acusar o professor,
gicas p elos mesmos suj eitos em experiência e por outros, pois
que reanimou a cl asse , de tê-la onerado com excessiva carga
do contrário é m uito difícil separar as oscilações do est ado fi­
de trabalho, porque p ermitira aos alunos continuar na classe
siológico e do rendimento orgânico devidas às irregularidades
a té além do seu n orma l sintoma de cansaço. Ou seja, da
d o teor de vida, a casos acidentais ou particul ares períodos
operação momen tân ea e estática deve-se distinguir a dinâmica
p essoais ou constitucionais (§ 87).
85
84
ele si
tade , e o próprio domínio
do rendimento que, segu ndo a distinção principal em uso na , mn grandes esforços de von mi mal é pôsto
do de e spírit nor
111csmo p ara manter um esta
o se
ciência do trabalho, se exprime nos dois processos do exercício reg ra de vida quan­
rt tíssi m
.) dur a pro va : é es ta uni::t imp
o an a
e ela fadiga. O exercício consiste nisto : tôda atividade em cos
E todos os pro cessos científi
curso aumenta pelo fato de estar sendo cumpr ida ; vice-versa, do sopra o fohn e o siroc o ! i ex t s, q se base a­
os e
do
11htiveram resultados inc-ornplet
n a o uan
a fadiga é prov oc ada pelo fa to que tôcla ativid
ade em curso sicofísicas .
as pro vas está tic as das funções p
diminui justamente porque está sendo cumprid a. ram a p ena s n
di n âmicos de­
os estátic s
Desta distinção entre Ienômen
o e
A realidade apresenta justamente esta ap arente incompa­
uito c ompli cado )
aq uela outra en­
tibilidade no jôgo alternado ( q ue, porém, nos permite uma pL'nde também ( ele n iodo m tivo s. Q diz er que ,
penetr ação mais profunda das funções orgânicas) entre a as­ e qualita uer
tre fenômenos q·uantitativos n rma lmente
ce nsão e a queda de u111a atividade durante sua realiz ação e psicofísicas já está o
na dinâmica elas atividades lm nte num det ermi­
na sua repetição, o que re presenta justamente a "dinâmica" ões, espec ia e a
incluído que em certas fraç qua­
do rendimento. �las também as condições fisiológicas mos­ ifeste uma progressiva p iora
nada fase cio c ansaço, se m an men to p con­
idade de re nd ode
tram essa mesma dinâmica; aí também, como sabemos, é ne­ litativa, en quanto que a quant
i
té m m um ilusório au­
cessário distinguir as condições fisiológicas cio momento nas sofrer es o
firmar ainda sem prejuízo ou
a
quais nos podemos encontrar o u às quais somo s impelidos, pe­ p al avras pob re s, nós
trabalh amos tão
t . Diz end em
me nte que a nt es,
o o
lo seu mesmo andamento, que perdura além das condições
n
or ainda, mais ràp
ida me
1 àpidamen te, ou m elh nós
inferio r em q ualidade. Se
momentâneas. 111as o nosso trabalho é sempre tem p , tr nsc ur an­
por lon go a
"trabalhamos sem in terrupç ão"
o
To dos os indícios e os dados c er tos demonstram que o esta d o t al ( os
ecipi t m -n em
do os sintomas de can saço, pr
a o os
influxo meteorológico se estende em medida especialíssima · ao
se de t ravai!" = em
briaguez de traba­
aspecto dinâmic o das co ndições e el as a
tividades psic ofisiológi­ fran cese s cha ma m "ivr es
o
ouvimos a pen escorrer sôbre o
lh o ), qu e a cabeça ar dente,
a
cas. As formas meteorológicas debilitantes aumentam a fadi­
m se ap nte flu ir , m as
tar are
papel, .sentimos as idéias bro
u
ga, isto é, a possibilidade de cansaço; a diminuição do r endi­ e no
quanto fizemos é de pouco va­
mento surge mais depressa e pro cede ma is ràpidamente e com 111ais tarde reconhecemos que vêz s já escrita apres­
bre de espírito ; às e a
maior intensidade que c om o tempo ameno, onde, ao con­ lor , mes quin ho, p o trai
al, com erros or tográficos ,
trário, pode ser retardada. Igualmente uma diversão, um a sada, t rêmula, alterada, desigu
brincadeira ou qualquer outra coisa elo gênero pode por um lho.
a q ueda qualitativa do traba sob a ação
mome nto tranqüilizar-nos, quando o fohn nos deixa ele· mau te é d eterminada tam b ém
Situação sernelhan e- em g rande parte a
humor, mas tôclas as formas met eorológi cas debilitantes tor­ ool"
cio álcool, e a "lenda do álc
refe r se
icas de
as bebidas alcoól
n am .mais difícil ou imped em a longa pe
rm anência, daquele f to, ist é, à c apacid ade qu e têm
êst e a o
ticu l o at dinâmic o
humor florescente e da quela alegre disposição gerada pelo t em­ modo par f or
increment ar o trab alho. De
ar

po ameno. Também a ten tativa d e reanimar-se pode pro­ é p rol ongado num esta
do de supercan•
cio exercíci o , qua nd o êste
no es­
vo car justamente o efeito contrário, talvez urna brusca rea­ ; nós nos obstin a s então mo
saço, é muito compr.omentido c nti m a p iorar até a
ção, falta de von tade, raiv a ; em poucas palavras, também nes­ obt emos
tudo, mas os result ados que
o nua
te casei tra ta-se an tes de tu do da dinâmica el o n osso estado de c nte c e ele p referên cia
nas p erturbações me•
inutilida de. Isso a o
espírito . É importante ter presente tudo isso, pois el eve s er u m mal-estar no
organismo.
teorológicas, que provocam titativ a­
levado em consider açã o nas exigênci as prátic as ( na escola, no r- nos p ara manter quan
serviço militar, por exemplo, nos dias muito quentes ou bati­ Podemos tam bém esforça a q decresce
idade, m as ual ida de
dos pelo fohn ou pelo siroco) : em caso de necessidade, po de­ mente invariacla a n ossa ativ ez tanto maior e quanto mais
nt em me did a rapid
-se desenvolver por um br evíssim o período de tempo grandes e p recisame o n um
m trabalho escol ar, executad
e

atividades p or motivos jus tificáveis, mas não se pode exigir se prolonga � trabalho. Nu m ltip l c m e tornam-se
s erros se i a
dia mormac ento de ver ão, o
u
as ativid ades normais que requerem muito tempo.
Em semelhantes condições meteorológic as a eficiência n or­ srmpre mais grossei ros . dizer
parte dos c asos podernos
mal é atingível só mediante elevado dispê ndio de fôrças e Na prática , par a a maior
87
86
e
r que os c onceitos q uantidad
que o cansaç o cr esce tanto mais depressa quanto mais longo é É n ecessário, poré-m, observa l x q e sã o decom­
sumários c o mp e os u
o tempo requerido ou maior o esfôrço que o trabalho exige, e c qualidade representam uais re q uer
o exe rcício diminui correspondentemente em qualidade. Esta em mu ltíp licc s elem entos, cada um dos q
postos de sig ific ar inten­
A quantidade p o n
afirmação pode ass umir o val or de uma lei provisória dos dis­ uma análise particular. r , fôr ça, dila taç ão, am­
extensão, núm e o
túrbi os causados pelo tempo debilitante sôbre a atividad e psi­ sidade mas também , di reção ,
e representar a perfeiç
ão a
cofísica. Querendo exemplificar, podemos dizer que antes de plitu de; a qualid ade pod la-s e rea lm en t e de "ele­
a elegância (fa
tudo tal tempo não per111ite um estudo intenso e prolonga­ a seg urança, a b e leza, de questões de
" dos p obl emas de aritmética ou
do, ao passo que atividades já muito adiantadas na realiz ação çã inversamente a
r
gante solu o
signific do e
ofun didade e do
a
continuam a ser d esempenhadas de modo relativament e fácil. jôg o), alé m da pr e, p or ex emplo
,
squinhe z e exterioridad
A agressividade mcteorol6gica dos fatô res dinâmic os e qua­ superficialidade , a m e ge s da fanta­
samentos o u das im a n
litativ os na n oss a "psicofísica", mais que para as a tividades é da concatenação dos pen g enéricas ,
o se p od e dar ou ac eitar indicações
vá lida também para as condições fisio16gicas e o estado de sia. P or isso nã o ofe r eci do p ela obser­
s para cada cas
es pírit o. Em ambos é a mudança qualitativ a que mais salta enquanto essas distinçõe uiriçã , de a côr d o c om a
ia ou pela inq
o
aos olhos. O fato mais importante n ão é, portanto, que o ti­ vaç ãQ, pe a exp eriê nc bal ho de
l
s empre um ulterior tr a
p o calmo s e torn a excitável, e o hipocon dríaco seja assaltado sua natureza, requerem
por outros caprichos, mas que temperamentos s erenos (para pesquisa.
sua pr6pria maravilha. e desgôsto) s e irritam, os tipos indi­
feren tes de improviso se e xasperam, os tipos alegr es e abertos
ito meteorológico
enervam-se repentin ament e e agem como de primidos e apáti ­ III. - Teoria do efe
cos. E tanto mais êsses fatos adquirem relêvo ( eis a din âmi­ dom inante é
temp o r elativamente
ca), quanto mais intensa e pr olongada foi a emoção sus cita­ 39. Dificuldade. - O o, e nunc a podem os estar certos
da; por isso, o que conta não é tanto a reação afetiva a uma um fenômeno muito complex ais e ene rg éti cos , e
seus elementos materi
experiência isolada que tem um êxito diverso, quanto o "hu­ de conhecer tod os os ese con cre ta da s c o ndições
lor para a gên
mor" que no curso dos dias de trabalho, da atividade profis­ ainda meno s o seu va ípr oc o c oncurso
para determiná-la.
e o seu rec
sional, de uma lo nga discussão devida a atritos, a um longo rneteorol6gicas a êst e pr o pó sito mudaram n a
colóquio que nã o se pode evitar, pior a sempre mais. E em últ im o a no s as opiniões
Nestes s
correspondê ncia a isso, às vêzes, não é o apetite, que já é mais meteor ologia. complexo é todo
ômeno ain da mais
frac o, mas é o sabor dos alimentos, corno tan1bém o bom gôsto Além disso., um fen tem po te m uma estru­
org an ism o humano
. Se o
em
do cigarro, do vin ho que é es tragado; a perturbação dinâmi­ est ad o d o os químicos tom
ca, sem que proc ess
ca e quantitativa da funçã o s exual revela-se freqü entemente e tura estreitam ente físi e n asc e e mo rre atr avé s de
de modo bastante evidente por uma diminuída potência com rt n táv el, t o do ser vive nt s o de­
nêle pa e o
conex es ã
físico-químicos. Essas
õ
acrescido desejo (que pode tornar-se impetuoso quand o sopra processos e conexões adas e gu iad as pa ra o interior do
en ta s, r gu l
m " a in dividuação",
ori e
o vento mormacento ), uma pr ematura ejaculação do sêm e n, termina da s, da
r fôrças que plasma
ausência de s atisfação, mau humor c om relação ao compa­ pr6prio organismo po morte, e portanto
ralisação determina a
nheiro, incapacidad e de rep etir o coito. a natureza, e cuja pa ími ca, a putrefação. Es sas
pu rament e físico-qu
Resumind o, diremos melhor que , c om a s formas meteo­ a d com po siç ão
cia quando são
em tôdas a sua evidên
e
rológicas debilitantes, trata-se mais de distúrbios que de enfra­ fôrças vitais aparecem ia. Mui o t obs curo é o se
u
quecimentos do comportamento psicol6gico complexivo, e com à luz po r fat os d e c onsciênc est am in­
postas ) e s e manif
nde s e desenvolvem
as formas refrescantes trata-se de melhoramentos mais qu e de operar e o seu agir o val er ma is quando são menos
fazem
aumentos. Com os fatôre s qualitativos são compr e endidos tam­ conscientemente e se en volver fun ções endereçando­
ue poss amos des
bém_ os din âmicos , pois avaliamos sempre uma qualidade de con scie nte s . Q e a nossa vont a­
com a nossa r e flexão
acôrdo com o curso e o des e nvolvimento c omplexivo de urn a -as a uma finalidade ue aconteçam
dizer 6bvio. Ma q s
função mais que s e gundo a entidade do seu efeito conside­ de, pa rece-nos , p or assim
rado em c ada mome nto particular. 89
88
todos os dias, a tôda hora, por parte dos organismos e no or­ sas crenças por espccul:-içõcs interessadas, não se pode, toda­
ganismo, fatos de uma finalidade realmente maravilhosa, onde via, ignorar que as suas falsas atribuições requerem com fre­
não aparece nenhuma experiência de consciência, como os qüência um grãozinho de justa experiência ou um instintivo
instintos dos insetos e dos pássaros, os processos d a cura e da pressentimento, que depois a ciência convalida.
imunização, as transfor111ações ele adaptação às modificadas Não é, portanto, coisa indigna para a ciência dar certo
circunstâncias exteriores elas plantas, tudo isso nos é incompre­ valor a essas "nenças populares" e verificar a sua genuinidade
ensível. e veracidade. Mas a ciência deve por outro lado eliminar ine­
O desejo que temos de saber sempre mais a fundo choca­ xoràvelrncnte t uclo quanto sabe a místico, e que atrai um
-se contra limites intransponíveis ( cios quais o behaviorismo e spírito ingênuo, pois não tem isso ligação alguma com o te r­
all!ericano erróneamente quis fazer um princípio de pesquisa), reno ela ciência. E com isso tocamos na segunda tese : "efei­
isto é, um organismo co111 J1orta-se desta ou daquela forma sem t o s a distância" e semelhantes interpretações não são uma ex­
que possamos reduzir isso a uma conexão puramente física­ plicação científica, mas a confissão de fatos inexplicáveis: p or
-química de ações elementares. Todavia, também para os seus is�o também o fator meteorológico "psicotropo" ( e sobretu­
fatos psicofísicos a biologia eleve fazer tôda tentativa possíve l do o biatropo que insere nos sêres viventes), o que seja êle
para semelhante redução. Êste princípio nos deverá guiar na e!ementar ou complexo) determina a reação psíquica à si­
economia ela pesquisa também na teoria dos efeitos sornato­ tuação meteorológica, dev e ser procurado lá onde o homem se
psíquicos das condições meteoro lógicas e sobretudo na teoria encontra exposto a êle. Quer isto dizer que, para a determi­
geopsíquica. É óbvio que não poderá nunca degenerar numa nação da gênese ela sit uação meteorológica podem sempre in­
simplificação muito avançada rias relações complexas ou che­
tervir as camadas mais altas ou uma camada relativamente
gar a lranscurar fatôres desconhecidos. :-ilta ela atmosfera. A meteorologia, com as suas p esquisas,
pode chegar até além da troposfera, na estratosfera e na io­
nosfera, e a reação dos voláteis como elos insetos e dos pássa ­
a) Os elementos agressivos na situação meteorológica. ros, ao tempo, pode verificar-se muito acima do solo; mas a
40. Precedência da geosfera. - Iniciando do homem, mas condições cotidianas em que vem a se en­
a pesquisa das rontrar e nas qu ais se mostra dependente das condições 111e­
causas . meteorológicas elas reações
psíquicas às condiçõe s teorológicas, cumpr e-se na geosfera, isto é, na camada ela at­
do tempo, apre sentam os duas teses: 1)
não se diz que tôda s mosf era que jaz, oudula e turbilhona imediatamente sôbre o
essas reações ou pelo menos em gran
de parte sejam provoca­ solo terrestre, onde r espiramos, trabalhamos, e que nas suas
das por um único elemento isolado
do tempo, mas é possível propriedades se distingue muito, por algumas tendências, das
que o seja; 2) o transmissor da influ
ência meteorológica - camadas mais altas também ao ar livre e não sàrnente nas
consiste êle em um ou mais ou num
conjunto de elementos cidades.
mete orológicos operando em "acôrdo"
, como afirmava o geo­ As mudanças e as conformações meteorológicas, que se re-
físico Linke - pode ser encontrado
só no ponto onde está gistram em regiões muito altas, por quanto importantes,, só
em c ondições ele alcançar o organis
mo. podem todavia aproximar-se do nosso organismo se se estendem
A. propósito da primeira tese devemos
recordar que a opi­ à nossa camada atmosférica vital, à geosfera. Ora, também
nião comum gosta ele atribuir todos
os efeitos a urna única sob êste ponto de vista, a nossa psiqu e, enquanto reage ao tem­
causa, bem como ele procurar na práti
ca ele todos os dias um po e ao clima, é geo-psique. As situações excepcionais, onde o
bode expiatório, a quem atribuir a culpa
de tudo quanto não homem como :aviador se afasta da geosfera e sobe até às zonas
agrada. Assim, com relação ao temp I
o, tornou responsável a da troposfera e mais acima, onde se verificam as transforma­
luz pelas doenças, p elos resfriados
e hoje fala das "radiações ções meteorológic as, terão s empre uma função tramcur ável ao
terrestres", con siderando-as como causa
de todos os males ima­ lado dos fenômenos cotidianos ela geosfera exp osta às intem­
ginávei s, como o câncer, papo, e sgotam
ento nervoso, distúr­ p<'rics. Em alguns autores encontramos também o têrrno ''bios­
bios mentais. Ainda que freqüentem
ente seja reforçada nes-
frra". Mas não só os animais voláteis (pássaros, insetos)
90
91
transcorrem uma boa parte da sua vida numa "biosfera" mui­ eia dos meteorólogos prová-lo; de resto, elas derivam da quí-
to acima ela "geosfera", mas também sêres aquáticos não exis­ 111ica coloidal. . \ propriedade fundamental, que distingue (e
tem geralmente na "biosfera", que se estende imediatamente separa) as rnassas de ar, que assumiram a estrutura cios corpos
acima da crosta terrestre. atmosféricos, é a sua temperatura.
As mesmas considerações devem ser feitas para o clima Em tôdas as relações meteorológicas têm função impor­
(§ 52): a camada atmosférica próxima da terra não age sà­ tante as 111udanças e os movimentos de massas ele ar frio das
mente sôbre a vida terrestre (bios), mas tem uma influência zonas árticas e de massas ele ar quente dos trópicos. É im­
igualmente essencial sôbre numerosos fatos e processos anorgâ­ possível aqui embrenhar-se nas complicadas averiguações em­
nicos, por exemplo, formação do húmus, carroção das rochas,
píricas e nas teorias que a rneteorologia elaborou a êste pro­
depósitos de Iama, ele areia, e formação dos pântanos; é de pósito; quem deseja saber qualquer coisa de mais certo a res­
igual modo "eclafosfera" como "biosfera". Em consideração
peito deve consultar a clara e concisa descrição contida em
a essas circunstâncias, o têrmo geosfera nos parece o mais con­
Wetter und WetterentwickLung ( tempo e evolução do tempo)
forme aos fatos, porque é mais universal.
ele I-I. V. Ficker, cap. V: "Na frente de batalha das massas
Nós, portanto, procuramos o fator "psicotropo" na geos­ ele ar"; ou na MeteorobioLogia de B. de Rudcler; cap. III: "Os
fera ( onde, como se verá no § 109, pode vir do alto para baixo, corpos atmosféricos". A principal distinção é entre a "frente
da troposfera ou do solo terrestre). E não nos obstinamos quente" e a "frente fria". De uma improvisa mudança ele ar
desde o início em acreditar que deve consistir num único e tropical origina-se uma frente quente, o ter.mômetro sobe e o
isolado elemento meteorológico, por exemplo, ou sàmente na barômetro desce; vice-versa, quando o ar polar desloca à sua
temperatura, ou só na pressão atmosférica, ou só numa forma
frente o ar tropical, origina-se uma frente fria, e por onde êle
de radiação, mas partimos antes da complexa situação meteo­
passa, o termômetro desce e o barômetro sobe.
rológica e perguntamos em quais relações mais simples a me­
teorologia a decompõe, para derivar de elementares fatos geo­ Rudcler crê poder afirmar: "Em geral, é à passagem de
físicos, especialmente aerodinâmicos, as snas formas principais, camadas atmosféricas que se deve atribuir uma ação patogê­
como o bom tempo; a queda barométrica, temporais, chuva, nica". Trata-se aqui antes de tudo ele doenças corpóreas (co­
ne\·adas, fühn etc. mo gripe, laringites, pulmonites, ataques ele rouquidão, gol­
pes apopléticos, embolias etc.), e não de reações psicofísicas,
41. Frentes dos corpos atmosféricos. - Segundo uma no­ que não ultrapassam o âmbito das normas condições de saú­
va teoria meteorológica muito significativa e influente, a at­ de. Nos doentes são evidentes notáveis diferenças entre o efei­
mosfera até uma altitude de 10 km está dividida em forma­ to ela frente quente e o ela fria, e parece que tais diferenças
ções gasosas, os corpos atmosféricos, dos quais cada um repre­ existem tambén1 na sensibilidade meteorológica dolorosa (lo­
senta para si mesmo um todo relativo, urna "individuação cal), pelo menos em certo grau, tanto com relação à
amorfa" e corno tal �e delimita numa correspondente forma­ duração da dor, quanto com relação a um pressentimento
ção vizinha. Os limites entre êsses corpos atmosféricos são cha­ doloroso de uma frente que se aproxinia: as dores ela frente
mados "frentes", camadas de ar dispostas muito irregularmen­ quente atenuam-se mais ràpidamente, mas são sentidas muito
te, aobradas em forma de ondas, com enseadas e corcovas, Lernpo antes que as ela frente fria. Nos indivíduos sadios, no
onde se dão as combinações entre os diversos corpos, pelo que que diz respeito aos fenômenos corpóreos, ainda não se con­
são também indicadas como "camadas ele instabilidade". Os seguiu precisar con.1 segurança diferenças entre a reação à fren­
corpos atmosféricos podem ser dispostos em camadas horizon­ te fria e a reação à frente quente. Os fatos são ainda muito
tais, ou também verticais, que se modificam pouco a pouco, discutidos. ·.rodaYia, pode-se considerar quanto segue como
"envelhecem" e por fim morrem. Algumas séries, que na sua 1neclianamente certo.
sucessão apresentam relações recíprocas, são chamadas fa111í­ Atingem o organismo de modo particular, isto é, o J1er­
lias de corpos atmosféricos. Pode ser que essas analogias bio­ l 11 ,.ba111, as mudanças meteorológicas que se originam após as
lógicas sejam1 úteis para o seu conhecimento; é da competên- 11111danças de corpos atmosféricos e que, portanto, acontecem

92 93
o
atmosférica, pertence t!c mod
pela passagem el e frente ele corpos atmosféricos. Estã o ainda, tare s da co1nplrxa situação exp erim enta l",'
"intuitivamente
1·,peci a l o estado da a t111osfera ,
porém, pára ser esclarecidas quais são as perturbações devidas
p11sc111os ham r "tom atmosférico". Por exemplo
que nós pro c a
'·m le",
às frentes frias e quais às quentes e se existem entre as duas e ch umbo", "enervante", o
sent imos o ar como se fôsse "el
diferenças apenas extensivas ou também intensivas, isto é, quais ", "ásp er ", "picante", "cortante", "sufocan­
"pes ado ", 'rígido o
­
são a sua duração e as suas conseqüências. a brandura, calor, frieza, ven
te", e co111 isso atribuímos à su qu nã se clen ­
Tanto as pesquisas ele natureza fisio-patológica como as ta" particular, e o i
tosidade ou a ineniclacle uma "no , calm e sem lhan tes.
frio
tiiica simplesment e com o c alor,
a e
de n atureza fisio-psicológica devem levar em consicl eraçã.o a
o "mormaço ríg ido " é
progressiva diferenciação dos tip os de frente s operada pela O que definimos anteriormente corn
ele unclarnental importân­
f
mesma meteor ologi a ; hoje seri a já insuficiente e enganadora 11111 dos tons atmosféricos. São êles meteorológica", ela "to­
rm ção
a es quemátic a a proximação - passagem da frente, ou por­ cia para a totalidad e ela "fo
a
e111 determinado tempo e re­
tanto perturbação elo organismo! - pois é sabido que deter­ nal ida" atu1osférica, que domina
m eteoropsíqu ica. Qual seja
minadas reações orgâni cas estão antes associadas a determinados presentam uma experiência total nar: nela
osso .exame determi
tipos de frentes e que suas formas são d eterminadas pela pas­ a sua estrutura, não cabe a o n tôre s psic ofisi lóg icos. O
e fa o
sagem ele frentes. Pelo que as pesquisas puderam ditar até rnncorrem fatôres físico-químicos iênc ia ci o deve r de estu­
hoje, há a jJOssibilidade ( à qual deveremos logo mais prestar seu estado geral unitário exo nera a c
o f enôm en o musical
do tim­
muita atenção) de demonstr ar uma relação ma is estreita de d:í-las anallticamente. Ta mbém Hem h tz corno o con­
reações psíquicas de indivíduos sadios ( ou sensitiv os, m as não bre foi explicado cientif icamente
p o r ol

a análise cios ressoa


dores, em­
própriarn ente anormais, § 36) às J;assagens de frentes quentes, cmso ele tons elem entares com n su inte irez a. Mais
e, pelo contrário, uma p redominância el as doenças físicas ( pe­ ário
bora sej a êle um fenômeno unit
a a
nôm en o do
r com respeito ao f e
lo seu insurgir e exacerbar-se, ta lvez até por prognose desfa­ nu menos o mesmo p ode-se diz e
vorável) às passagens de frente frias. tom atmosférico.
Podem os compreendê-l o , visto que as reações mais vio­
o). - Para a p raxe mé­
lentas e gerais cio humor e ela atividade (que insurgem nos 42. O fator psicotropo (biotrop
a, e em geral para qual quer
temperamentos robustos) seguem aquela s formas meteorológi­ dica, operat iva, escolar, esportiv
exp lica ção das relações acima incli­
cas qu e verdadeir amente não pode1n ser catal ogadas sem mais praxe é ele grande valor a
p od e ser prevista em mui­
na teoria cios corpos a tm osféricos e elas frentes (fohn,. tempo­ racbs. A aproximaçf10 elas frentes
lógi cos, e com b ase nisto pode­
rais quentes, mormaço persistente, siroco), mas em cuja estru­ tos casos p elos mapas meteoro no orga­
tura intervern, todavia, traços essenciais elas frentes quentes ,l: fixar, remover ou mesmo dos
el
ar a sua influênc i a
trab alh . Tra t -se ele urna
ni,1110, o s horários e as pausas o
o a
(por exemplo, ascenção do termômetro com qu eda cio barô­ 134).
i 111 portante disciplina, a g eurg ia (§
metro), ao passo que, por exempl o, as gr aves afccções ca­ tífico como tal, a teoria
tarrais, freqüentem ente indicadas como "doenças ele r esfriado", .\!I as p ara o aprofundamento cien a proximação de fato
s.
c m urna
especialmente a genuÍl�a gripe p anclêmica estão ligadas na su a 11:10 pode dar -se p or satisfeit a o
e fren tes ex rc erem
sos tipos e
nu11plexo s. Já o fato de diver
d
aparição maciça e agravarnento a irrupções de ar frio. Tal­
rent es ef eitos orgânicos, imp
õe logo a ques­
l'\ iclen ternente dife
,·ez, porém, existem também grupos ele fenômenos tanto psi­ r ao qual isso eleve ser atri­
cofisio lógicos corn o patofisiológicos ligado s simplesm ente à p as­ t:ío el o fat or estrutural diferenciado que concluir corno certo•
ln1ído. Se, po r exemplo, se tivesse
s-agem elas frentes (indiferentemente quanto à sua gualicl acle), (pelo a parecimento ela dor)
como podemos revelar especialmente nas formas meteorológi­ que as fr entes fluentes são sentidas as condições psicológ icas)
el
rn1 advertidas · (pela modificação
cas de rajadas (tempo de m arço na Europa) com o rápido vêz es mais) que as frentes
11111ilo tempo ante s (talvez duas
alternar-se ele fases de tempo bo m e tempo ruim, ameno e uisa elas causas cliscrimina-
l I ias, tornar-se-ia inevitável a pesq
rígido, que dá origem aos transtornos. lidade ou grupo de quali-
1111 i:1s. Deve haver então uma. qua
A os fatos m eteorológicos fundamentais, que dependem sem a na pré-sensibilidade. Se
d úvida do " ac ôrdo'' (ou ela "dissonância") ele fatôres elemen- 1 l.lll t ·, que provoca esta diferenç
95
94
acrescentarmos a experiência de que também as formas feno­ 1,1 l 1 0111ogênio, que, porém, deriva de fatôres aparentemente
mênicas do tempo, que não são reduzidas simplesmente às dil'1·1c11le�. Antes, a ciência tende a conglobar numa noção cs­
fórmulas dos corpos atmosffaicos e das frentes, provocam to­ [(11 el e definitiva também o conceito daquela causa comum,
davia análogas reações sensíveis de pré-aviso, tornar-se mais im­ \Í 111 plificando-a e analisando-a nos seus dados elementares. A
periosa a necessidade ele aprofundar o fator biotrópico e so­ g,·opsicologia, como a acústica, não pode aceitar como última
bretudo, considerando o argumento de que nos ocupamos, o 1rsposta a teoria do "acôrdo"; também onde muitos fatôres
psicotrópico a cuja ação elevem ser atribuídas tais diferenças particulares exercem um efeito total, a pesquisa deve investi­
e afinidades. gar como êsses fatôres particulares intervêm para determinar
A esta altura torna-se necessária uma ratificação: mas não o efeito total. Só conduzindo com exatidão esta pesquisa, as
é preciso que seja o rncsn10 fator, isto é, um único fator. O 111odernas ciências naturais chegaram ao atual domínio do ho-
organismo reage frcqi.ientc111cnte às mais diversas influências 111c111 sôbre a natureza.
da mesma forma ( como vice-versa diversos organismos res­ A impressionante homogeneidade do efeito psicofísico de-
pon,dern diversamente à 111esma influência). Os alimentos mais 1 ivante de formas meteorológicas como o ar tempestuoso, o
variados nos saciam; remédios, drogas ele composição diver­ 111ormaço, o fohn, o siroco, e em doses mais leves o mormaço
síssima fazem tôdas o mesmo efeito de provocar suor, aumen­ rígido e a queda barométrica, é um dado da experiência. Tô­
tar a expulsão da urina ou de abaixar a febre. A excitação das essas formas têm em comum uma afinidade de tom atmos­
psíquica pode transformar-se num estado de calma tanto com férico, como qualquer coisa de oprimente, de fraco, de mole,
urn perfeito repouso quanto com ocupações de gêneros dife­ de enervante. Se o ar tempestuoso sem vento ( que tem um
rentes. Cansamo-nos não só por esfôrço excessivo, mas tam­ efeito paralisante: "não se move uma fôlha"), o fohn impe­
bérn por não fazer nada; em ambos os casos comparece exa­ tuoso quente e muito sêco, o siroco tempestuoso quente e mui­
tamente o mesmo sintoma: o bocejo. Já a experiência mostra to úmido, por fim um tempo refrescante ( queda barométri­
que não só o ar frio nos pode estimular, mas que também o trica) com vento e chuva e o frio nebuloso com ou sem vento
pode fazer o calor solar de um belo dia; que todo calor muito exercem os mesmos efeitos sôbre o estado fisiológico e sôbre o
persistente e inclusive úmido nos esgota, seja que se trate de rendimento, dificilmente tais efeitos podem provir da tempe­
mormaço natural, seja ele ar artificial (como nas estufas), mas ratura como tal, ela umidade como tal e da presença do vento
que também o vento e a neblina persistente exercem um efei­ por si mesma.
to debilitante e paralisante. Em outras palavras há estímulos É verdade que um notável agravamento do processo de
que com a sua fôrça e duração suscitam no organismo a mes­ dispersão térmica corpórea, isto é, certa deformação do gra­
ma reação, não obstante suas qualidades estimulantes sejam diente térmico, faz insurgir condições psicofísicas muito fortes,
diferentes. Portanto, uma alta (ou baixa) temperatura, uma corno é possível constatar nas formas extremas da insolação e
pressão atmosférica muito escassa, um forte movimento de ar do congelamento ( § 30). Mas não é sôbre essas situações ex­
(não importa que o ar deslocado seja frio ou quente, tênue ou tremas que devemos tratar agora. Com feito, o fi:ihn sopra
denso, sêco ou úmido), e por fim uma radiação podem sozi­ freqüentemente com temperatura a tão poucos graus acima de
nhas provocar modificações no estado fisiológico e no rendi­ zero e apresenta tal secura que a situação fisiológica global
mento, inclusive no sentido de perturbações ( ou inversamente corresponderia realmente a um tempo ameno, se não soprasse
no sentido ele aumentos ou de melhoramentos). E é justa- o fi:ihn, e o particular mormaço rígido que precede os tem­
.mente isto o que é necessário estabelecer para explicar em par­ porais ele inverno com queda de neve mostra uma temperatu­
ticular o efeito psicofísico das formas meteorológicas extremas, ra entre 1 e ,- 1, ou também de vários graus abaixo de zero,
que persistem por longo tempo na sua influência. que, portanto1, não tem nada a que ver com defeituosa disper­
A ciência tende sempre a conquistar novos conhecimen­ são térmica.
tos: o cientista, com efeito, jamais renuncia à tentati\·a de Dito isso, apresenta-se a questão da pressão atmosférica
procurar urna causa comum para efeitos diferentes, ou, co­ como portadora do fato psicotrópico prevalecente. Com efei­
rno é o nosso caso, encontrar uma causa comum para um efci- to, a pressão atmosférica, às vêzes uma rápida e excessiva que-

96 97
acopsíqtu
ela ela pressão atmosférica, é justamente o elemento comum ele \ 1·!1•11 irid:1cll' at111osférica realiza em prime1nss1ma linha
fôclas aquelas formas 111cteorológicas psicotrópicas. Toda\·ia, 1 1111•.-1liilidndc. Ilá fatos meteorológicos que o fazem crer.
diflcilmenle se pode explicar por via dedutiva ele que modo i ."1, l.1 .1, lormas ele mormaço que conhecemos estão em rela­
mna diminuição cio pêso da massa de ar que nos domina, uma ,111 111111 ll'llsÕes elétricas elo ar, que exigem descargas eletros•
queda ele pressão ele natureza física eleve produzir uma opres. ,, l11 ,1, C) 111ais mormacento clima ela terra, o tropical, apre­
são de natureza psicológic:a, cansaço, sensação de pêso grave ' 1it1 .111 111csmo tempo o maior número ele temporais. O mor•
nos membros: um fato ainda mais enigmático quando se pen­ 1,11" 1 1giclo freqüentemente é um preanúncio ele raros tempo-­
sa que a mesma diminuição ele pêso de ar, que se verifica nu• '" 11111·1 n:-iis, durante o fohn a situação elétrica sofre enérgi-
ma ascenção alpina a u111a altitude moderada, com crescente 1" 11111clificações, que se manifestam com fenômenos eletrostá.
rarefação atrnosférica, provoca exatamente os sintomas contrá. 11111•, por exemplo, no alto das montanhas com descargas de
rios, isto é, SC'nsação de le,·eza, desembaraço, excitação, fres• 1., .. 11ll1," sôbre o corpo ele numerosos indivíduos (§ 35), e Rud-
cor, bo1n humor! (§ 34). Por isso, há uma geração, o ame. 1, 1 11nla com razão que "processos elétricos de imensas di.
ricano Dexter encontrou a cautelosa fórmula de reconduzir os 111 11 ,1,1•,·· freqüentemente se desenvolvem nas camadas instá•
efeitos meteorológicos psicofísicos às "atmosferic conclitions re­ P1 d,1 atmosfera, nas frentes elos corpos atmosféricos enquan•
gistr>red by the barometer'', aos fatôrcs atmosféricos indicados 111 ,1, s11perposições ele frentes seriam caracterizadas por dis-
pelo barômetro, coisa que deixou a possibilidade ele aceitar ou­ 1 1il11n� cio campo elctro-magnético.
tros fatôres, para os quais a pressão atmosférica, esta particular
propriedade do ar cômoclamente passível de medição, é ape­
1:1. Elétrons - Aerossol. - Os temporais ressaltam a ev1-
nas u111 indicador indireto. Pouco a pouco foram sendo reco­
I, 111,, ,orrclação entre o estado fisiológico dos sêres vivos e a
lhidos fatos sempre mais numerosos, contrários a urna simples il, t, 11 id:ide atmosférica (§ 8) . As grandiosas descargas ele•
e imediata correlação dos distúrbios meteorológicos somato•pSÍ· i111•t,1licns (relâmpagos) pressupõem cargas enormes com ten•
quicos com a pressão atmosférica: a estatística patológica não
,ii, rnrrcspondentes, a "explosão" as torna perceptíveis tam-
demonstra ele forma alguma tal conexão; os "barômetros am.
111 111 Pntrc as formações tempestuosas aéreas( nuvens ele tem•
bulantes", as cicatrizes, as articulações reumáticas e semelhan•
I"'" 111,·) e os objetos ou sêres viventes ( árvores, animais, ho-
tes, manifestaram as suas intemperanças muito antes que os
1! 1111� l d:, terra; as descargas quase sempre trazem consigo
barômetros físicos, e até enquanto êstcs ainda subiam.
1 111il11'·111 11111a benéfica distensão sornato•psíguica. Sob êste pon-
Eu mesmo, no volume Geopsychischen Erscheinungen (3�
1,, d1· vista nada parece mais simples que limitar o efeito
ecl., §§ 40-41), descrevi um caso muito significativo, onde fo­
11111i,1sf{-rico cio temporal à tensão eletrostática presente na
ram obsen-ados graves distúrbios psicofísicos, ma is ou menos
,t 11i,1�l1·ra.
semelhantes acs que se verificam durante o fohn, com o barÔ•
'\III i to mais difícil é formar uma idéia satisfatória ele CO·
metro ainda em ascensão, como pré.aviso ele tempo fustigante,
com rhuva e neve. Mas especialmente as clássicas pesquisas 1111 t,tl trnsão age sôbre o organismo. Se arrasto para frente
, 11,11 :1 trás as solas dos meus sapatos num pavimento de li.
ele Trabert ( 1906.7) sôbre o influxo do fohn demonstraram
que os distúrbios psicológicos por êle rnusaclos insurgiam com ,.,11·, 1 (foi C. Dorno quem constatou êste exemplo), carrego-me
1, 11111:Í\ l'is cargas eletrostáticas, sem perceber a menor per•
muita freqüência e eram particularmente importunas ao apro•
1 11 l,:11,:111 cm minhas condições · fisiológicas. Tôdas as expe•
ximar-se da "depressão" ( queda elo barômetro) que os serviços
11, 111 1 " mm cargas eletrostáticas do corpo não revelaram até
meteorológicos assinalavam no exterior, mas que ainda não se
, , , 1w11huma modificação psicofísica que possa ser cornpa•
fazia sentir diretamente. Deviam, portanto, intervir fatôres
que o barômetro não registra em absoluto. Em outras pala­ 111 , 11p11•la \que se determina durante o pesado mormaço tem•
vras, fatôres que precedem, para dizê-lo em têrmos físicos, a """' i\ associação da tensão elétrica aos efeitos psico]ó.
aproximação da depressão barométrica, os quais se propagam tl11 11·1nporal continua sendo ainda urna questão sem so-
h11 ';11 Talvez novos métodos de pesquisa poderão um dia
ràpiclamente atra\'és das propriedades térmicas do ar, o seu
movimento mecânico ( o vento). 111r, í l.1�.
l-;,111 1·1111·ntes as pesquisas voltaram•se resolutamente para
98
99
Alf. 111 disso, tôda a situação se complica pela viscosidade
o �tudo dos fenômenos de condução elétrica. Antes, após 1, l.111•,.1s ramadas da geosfera, isto é, pela sua transformação
distinguir vários tipos de íons (íons grandes ou íons médios e í 111 ,1(,r111ol coloidal. A neblina (§ 13), mas especialmente a
pequenos etc.) a sua numeração em determinados corpos at­ 111111,1«;,1 1' ele modo geral o vapor transformam a atmosfera nu-
mosféricos tornou-se quase como um método de moda. Tal 11 1.1 1 111111 ação coloidal, que tem o caráter de "água salgada";
método, porém, continua até hoje cheio de contradições sob i111 1 ,,, 110 ar gasoso estão dissolvidas "em dispersão" partículas lí­
o ponto de vista científico. A fumaça de um só cigarro nu­ q111, l.1\ (na neblina) ou sólidas(na fumaça) ou de ambas as
ma sala altera tôda a balança iônica, uma vez que o núme­ q 11''1°i 1 ·s (no vapor), que obedecem às leis fisioquímicas (que
ro dos. íons pesados torna-se o triplo dos leves; isso demonstra 1,,, 111,1111 urna parte especial e muito complicada da ciência das
que, quando intervêm rapidíssimas modificações na distribui­ 1 11 1 111,1i;õcs coloidais "dispersas"). É de pertinência ela geofí-
ção dos iônios, não se verificam efeitos psicofísicos compará­ 1, ,1 1•xplicar se se pode continuar a considerar tôda a atmos-
veis aos efeitos meteorológicos do ar tempestuoso, do fõhn, 1, 1 1 ron10 dotada de tal estrutura, isto é, como aerossol. Em
do mormaço rígido, da queda barométrica etc., que já des­ t 1 1d 1 1 rnso, também nos sêres viventes há importantes forma­
crevemos; o não fumante, a quem talvez seja subjetivamente ' , ,,•� 1' processos com caráter coloidal, sôbre os quais se fun­
importuno êste único cigarro, nunca sentirá uma perturbação il , hoje essencialmente a fisiologia celular. O profundo ar-
no seu estado e no seu sentimento como naquelas situações 111,11 inserto no livro Handworterbuch der Naturwissenschaft
meteorológicas. É certo que nos sentimos melhor com um bom ( 1111. IT, parte biológica: "Disperse Gebilde") chega, do pon-
tempo persistente, onde a atmosfera é mais uniformemente 111 d,• vista elétrico, a êste resultado: " ... no organismo de­
rica de partículas com carga positiva; mas o frescor, que en­ ' 1 1 11 S<· desenvolver inúmeros fenômenos colóido-elétricos nas in­
tão sentimos (§§ 15-18), provém da "eletricidade do bom l 11111:1� membranas e superfícies terminais pela contínua neo-
tempo"? Esta tensão descobre mais uma vez todo o alcance 1 111 111:ição e mascaramento de íons e pela tendência à concen-
da geosfera. Na troposfera quem domina é sem dúvida a ele­ 11 ,11 .10 que ali se origina".
tricidade positiva do bom tempo. Mas como andam as coisas
C:omo se dá isso, se contra êsses fenômenos se chocam ou­
imediatamente acima do solo terrestre? A terra, quando o
l 111s inúmeros fenômenos eletro-cloidais do aerossol geosféri­
ar é de bom tempo, comporta uma carga negativa (provàvel­
,,.., Bem pouco sabemos sôbre êste choque de elementos ele-
mente proveniente da sua radioatividade, § 109); na verda­
deira geosfera flutua ininterruptamente uma dupla corrente 1111 coloidais, que deve realmente acontecer. Trata-se provà-
de compensação de núcleos dotados de carga elétrica em si­ 11 l 1111•nte de uma luta de íons, segundo o que afirma H. V.
tuações muito variadas também no tocante à queda de po­ 1r,c1 u·r; com efeito, "nas escritas meteorológicas fala-se hoje
1 111 freqüentemente de frentes, que quase parecem relatórios de
tencial continuamente oscilante. Ora, as experiências de Des­ 1 ,11111>:ite".
sauer e do seu colaborador queriam provar que de uma par­
te o ar carregado de íons negativos age da mesma forma que Por fim, o casal Düll procurou demonstrar que o influxo
um fator climático "favorável", por exemplo, elimina a exces­ 1 ,1111 r6pico sôbre o aumento dos óbitos até aos mais leves ofus­
, .i111 1·ntos do estado fisiológico, derivam das erupções que ocor-
siva pressão sangüínea, as dores de cabeça e semelhantes. Hap­
pel, colaborador de Dessauer, mostrara que por uma forte car­ 11·111 periodicamente cada 27 dias, da atividade solar, com o
, I' 1,· massas gigantescas de elétrons solares são lançadas no
ga da pressão atmosférica o · ar mais leve deveria aspirar do
11111v1·rso e também sôbre a terra, onde se manifestam com dis-
solo urna quantidade de ar, que seria carregada principalmen­
te de íons positivos. Como se êste ar seja tão ionizado, não 1111 l 1ios cio campo magnético-terrestre. Tanto os dados de fa­
'" , 111110 a in\erpretação foram contestados; por outra, um pe-
é bem claro; poder-se-ia, talvez, pensar que o aumento da io­
111,1 rnmo Rudder atribui-lhe muita importância(§ 99). De
nização negativa · da troposfera eleve do solo, após o tempo
p1,dq11rr forma, estejam as coisas, porém, podemos imaginar
piorar, massas de partículas positivas; mas, com exceção das
, 1 1 " ! 'huva" eletrocósmica agindo sôbre o organismo apenas
experiências de Francoforte, não temos nada que nos demonstre
,i.10 levarmos em consideração a modificação da balança
como . causa do mal-estar a ionização positiva do ar que nos
1 ,1p 1"111' da eletricidade atmosférica e da eletricidade do solo,
circunda e a ionização negativa como deterrninante do estado
de bem-estar. 101..
100
porque do contrário voltaríamos a cair naquela bra nda ação pl 1 '\11s ,, dos dados cn1pmcos até os elementos 111ais si1 11pl<·,, {·
a distância de "catástrofes cósmicas", isto é, num conceito con­ , i.111·L1 urgente atual do estudo do influxo meteorológico: a
tra o qual inclusive Ruddcr combateu vigorosamente. ,· ·.,, 1 :11 da se dedicam os parágrafos que seguem.
Na interpretação dos Düll o fa to terrestre eletromagnético
torn a-se de resto o elemento ativo, pelo qua l, de um lado é
configurada a situação 111eleorológica e de outro influenciado b) As zonas de contato com o organismo.
o organismo. Segundo êles não há em geral nenhuma ver­
dadeira influênci a elo tempo sôbre os sêres vivos, mas atmos­ ·H. Consciência e sistema nervoso. - A consciência não
fera e sêres vivos são contemporânea mente perturbados pela 111111ca o carnpo imediato de a ção das influências rneteoroló-
mesma ativida de elelrossolar; as pretensa s influências meteo­ 1,1 ,, , de que estamos trata ndo. Onde isto se verifica, experi-
rológicas nos organismos são conseqüências direta s elas modi­ 111( 1 1 l.1111os o tempo como impressão(§ 5), sensivelmente e
ficações <la cleLricidaclc Leneslre causada s pelo sol, que atin­ "' 1 ,1s reações cio estado de espírito determinad as pela per-
gern contemporâneamente a situação meteorológica e os fe­ ' Pp• .10 sensh·el e de acôrclo com a paisagem, entendida no
nômenos vitais. , ,.tido lllais amplo; é o quadro meteorológico e isto quer cli­
O resultado, portanto, também cientifica mente fa lando, é 'l'I' o quadro paisagístico ( que pode também ser ele um a ci-
um "quadro multíplice de frentes", com exclusão de qualquer 1!,,d 1 •, � 139) de um triste dia de chuva ou ele urna serena
uniformidade. As relações funda mentais a êste propósito não 1,11il rn solar, ele um demonía co escurecer pelo ma u tempo ou
foram aind a suficientemente esclarecidos para poder servir co­ L, 1•stranha c laridade cromática elo fohn, o que provoca em
mo princípios explicativos de outros fenômenos m ais comple­ 11,,- determin ados estados psíquicos de excitaçã.o ou de calma,

xos. Qua ndo, embora sendo as nossas noções tão incompletas, d,· opressão ou de alívio; a natureza é para nós urna experiê
' , 1 11nitária. Contràriamente, o efeito "tônico " el o tempo não
se pretende estabelecer complica díssima s relações entre fenô­
menos atmosféricos e alguns princípios explicativos elementa­ t111 necessidade da consciência , antes, não raras vêzes é com­
que se refere
res, torna-se clifíci I refutá-los; isso, porém, não significa que l l l 'L1 111cnte diferente da consciência paisagística a
'
111 i11H 1\'era, fi:ihn, clima "meridi on al"); apenas em certos ca­
aquela explica ção seja solidamente funda da. São os mesmos
princípios explicativos que são discussão! Por exemplo, se se , �lc chega à consciência, e o faz quando o estado fisioló­
quisesse explicar uma comoção cerebr al, reduzindo-a, ele acôr­ ;i c -11 rnrrespondente se manifesta também psicologicamente, co-
do com a moda que durou por algum tempo, a "estratificações 1,11, lllll modificado "bem-estar", corno ma u humor ou bom
moleculares", a explica ção não seri a suficiente, pois dever-se-ia l111111 or. Mas isso não é necessário, as modificações elo rendi-
justamente estabelecer quais estratificações moleculares carac­ 1111•1110, por exemplo, em geral não são conscientemente notadas
mu-
terizam uma comoção cerebral; assim, bem pouco compreen­ I'' fo interessado e podem verificar-se também sem alguma
1l,, 11 ça consciente do estado fisiológ ico. A zon a de ação do
demos t ambém a respeito de influxos metereológicos somato­ a;
,·l i ·1t11 tônico elo tempo é fisiológica, primàri a mente corpóre
psíquicos, quando dizemos que são postos em relação com mo­ os.
1,•11111dàriarnente pode ta mbém traduzir-se em efeitos psíquic
dificações do estado dos iônios ou com processos eletro-coloi­
dais. Resumindo, falta-nos simplesmente a quilo que é o pres­ "1 11 t'Íc·ito p aisagístico, porém, acontece exatamente o contrá­
la -
suposto de uma efetiva explicação: o traço de união consta nte J '" :1qui é a experiência psíquica que está em primeiro p
111, ,. que pode, em segundo lugar, determ inar também con-
daquilo que é complexo àquilo que é elementar. Abre-se aqui
uma grande lacuna. Não há clarez a nem sôbre as re lações 1 .,,,111antes repercussões corpóreas.
entre processos iônicos e as formas meteorológicas, nem sô­ J;'1 urn dia de prim avera, cujo "qua dro" e cuja experiên-
bre a relação com as formas de perturbação no organismo, 1·11�Í\;el têm efeito encantador também sôbre a nossa pele
formas de natureza pura mente corpórea, para não falar das í 1 111 wno), pode "atacar os nossos nervos" con1 o seu "ar",
psicofisicas. Procurar pacientemente essa relação, êsse ponto , , pode cansar, deixar sem vontade, descontentes, esgota­
de contato com urna pesquisa que se estende cios fa tos com- i i l 'l'itaclos. Na linguagem comum, os "nervos" são in-
11 lm C'0mo o c ampo ele ação, que êle escolhe para ag ir sô-

102 103
bre o nosso organismo. Mas cientificamente bem pouca coi­ , tlh:1, portanto, ante a seguinte afirmação: é esta parte do
sa vale semelhante afirmação, enquanto é muito genérica para �1sl1•1,1:1 nervoso geral que representa o verdadeiro campo de
um fato tão complexo ( como o era a teoria precedente, que "�·'º <los influxos meteorológicos sôbre o estado de saúde e
tudo fazia depender dos íons. É óbvio que os nervos en­ •.1·11,n• a eficiência!
trem em jôgo, pois de maneira geral não se dá mu­ (,: evidente, porém, que o problema não ficou de todo es­
dança nenhuma no estado fisiológico e atividade que não , l.m•rido, pois essa fórmula é ainda muito vaga. A autono-
passe pelos nervos, se bem que freqüentemente não depen­ 1 1 1i.1 t· Jabilidade do sistema vegetativo não apresenta um ca­
da dêles. Aqui, porém, trata-se de saber se os "nervos" são o , .,11·1· unitário que o põe em movimento. Conhecemos tem-
verdadeiro elemento decisivo para que se verifique aquêle efei­ 1'1'1 ;11ncntos cuja reação vegetativa a insólitas exigências do
to. A dor manifesta-se sempre nos nervos, mas a patologia 11111:inismo consiste em distúrbios dos vasos sanguíneos como
chama justamente "ncvralgias" apenas as dores que têm sua , 1il,or, palpitações cardíacas, sensação de frio nas extremida­
causa nos próprios nervos; eu ofuscaria a situação diagnósti­ d,•s, com predominância em alguns dos sistemas centrais e em
ca e terapêutica de uma periostite, de uma úlcera duodenal, de 1111tros dos sistemas periféricos. Conhecemos outros, porém,
uma supuração do antro maxilar, de uma fratura de costelas, se q111· sentem imediatamente as palpitações, que não conhecem
11 rubor, mas respondem a um insólito sofrimento com estí-
quisesse afirmar que as dores verificadas nesses casos provêm dos
1 11111 0s urinários, suor nas mãos, diarréia ou com aridez na
"nervos", porque sem os nervos a dor não pode manifestar-se.
l,t\ca, sensação de sêde, distúrbios devidos à acidez estomacal,
Não teria então significado nenhum procurar no "sistema ner­
1slc> é; com uma modificação da função grandular. Alguns
voso" o responsável pelas modificações do estado fisiológico e
1 l':igcm de uma forma que poderemos chamar "sociopsicofí­
da eficiência orgânica provocadas por determinadas condições
�1,a'·, com sintomas semelhantes a desgostos profissionais, a
meteorológicas, pois equivaleria a aceitar como explicação cien­
dissabores com o próximo, enquanto podem expor-se impune-
tífica a locução usual: tal ou qual tempo "ataca os nervos".
11u•n tc a desregramentos e a dietas defeituosas, e não perce-
Ora, nos estudos mais recentes, que tratam dêsses efei­
1 ,,.,11 o tempo. Vice-versa, há temperamentos muito duros,
tos, atribui-se fàcilmente a determinada parte do nosso siste­
111s1·nsíveis, impassíveis de um ponto de vista socio-psíquico,
ma nervoso, chamada sistema nervoso vegetativo, a função
1 11:1s que são "barômetros ambulantes", ou que pagam com
de veículo dos efeitos meteóricos. Trata-se do aparelho ner­
graves conseqüências os mais leves excessos no uso de venenos
voso que é composto essencialmente pelo cordão terminal "sirIJ­
1 olutuários. Quem se recorda como há vários anos a classi-
pático" da medula espinhal, depois pelo nervo vago e por fim
1 i ! 'ação da doença de Basedow como "neurose do simpático"
por tôdas as suas ramificações nos reticulados "parassimpáti­
nhstaculou por tanto tempo o caminho para sua real com­
cos" ou viscerais, que diferentemente do restante sistema ner­
i>' t"Cnsã<? como uma grave disfunção da tiróide, descobrirá na
voso "periférico", de todos os nervos motores e sensitivos, pos­
, l'Írrência ao "sistema nervoso vegetativo" para explicar as
sui urna ampla independência do "sistema nervoso central",
11•:1çõcs meteorológicas somato-psíquicas, uma indicação para
da medula espinhal e do cérebro, e funciona em relação a
11l1<·riores pesquisas, não uma explicação definitiva.
êles com uma relativa "autonomia". Êle regula tôdas as fun­
ções do organismo que se subtraem à vontade e em parte à Essas pesquisas deverão orientar-se em duas direções:
consciência, quais sejam a atividade cardíaca, a respiração, O "sistema vegetativo" como ponto de ataque é como tal
os movimentos do intestino, a atividade pupilar, as secreções 11111ilo vasto; devemos, por assim dizer, dividí-lo em pequenas
glandulares, a produção e a dispersão do calor, o metabolis­ 111• 1 l 1·s, analisar as suas diversas zonas individuais e estabelecer
11 �1·11 modo ,de comportar-se diante das modificações
das con­
mo geral. Por quanto sejam complicadas e em parte ainda
discutidas as interferências recíprocas das suas três secções prin­ oll 11 w� meteotológicas ou em determinadas situações atmosfé-
cipais, o simpático, o vago e o parassimpático, todavia a sua 1 1 , ,� persistentes. Seguem êsse caminho os nossos parágra-
importância para o nosso estado de saúde e para a nossa efi­ 1,~,: ., .. ,.'19.
l•'. 1 , 1 segundo lugar devemos distinguir diversos grupos de
ciência é evidente, pois tudo o que fazemos inconsciente ou
pouco conscientemente é por êle regulado. Nenhuma mara- I• 11q11• 1 .1111cntos, de acôrdo com as zonas do vegetativo com
105
104
que reagem as exigências m e teorológicas; e disso tratarão .os Nl t1 s o que para os gases intestinais se manifesta de 1110-
parágrafos 50 e 69. do tão grossei ro , ern geral acontece silenciosamente para o ('S­
No curso cio estudo serão relevadas também eventuais di­ I.ido total gasoso no interior do corpo. As tensões articulares
ferenças na sensibilidade e certas formas rnetereológicas, ( ou d 1•vcm rnudar com a pressão atmosférica externa; como po­
principalmente a elas; § 50) isto será de grande importância, da­ de tornar-se fastidioso ter "ouvidos tapados" por urna impro­
da a conexão que o liga ao estudo das reações ao clima espe­ \ isa mudança de altitude! O que nós chamamos "tom", q ue
cialmente à aclimatação ( � 71). ,;ignifica literalmente "tensão" é �ertamente, em parte essen­
Por fim, não nos cl(',-cmos esquecer que as reações rn::-­ rinl também uma tensão gasosa interna no estado de contras-
tcóricas, embora sendo prirnàriarnente de natureza fisiológica, 11' com a tensão externa. Nias êste tom encontra o seu cle-
tornam-se secundàriarncntc ro11scientes, quanto mais duram e 111C'ntar sedimento psicológico na nossa "sensação geral", que
quanto mais sãos crrt,1s, C'Spccialmente na nossa civilização, , por si mesma um núcleo do nosso "bem-estar".
que cm geral desenvolveu cm elevadíssimo grau o conceito elo /\. gasotonia do organismo, ainda que os seus efeitos se­
conhecimcnlo. Disto derivam efeitos retroativos elas mesmas j,u11 devidos a ações mecânicas grosseiras ou delicadas, é in­
rcaçõe� físicas, urna vez que são "sensibilizadas" ( §� 36 e 58), dubitàvelrn ente um ponto de ataque para o tempo atmosfé-
se enrijecem e se afinam com a auto-observação e uma cons­ 1 iro, através elo qual se torna "sensível" aos sêres vivos.
Nes­
ciente expectativa. O conhecimento das reações meteorológi­ •1·s limites a pressão atmosférica dominante conserva inteira
cas e uma consciente expectativa. ,1 sua importância como fator meteorológico psicotrópi
co: há
Por urna espécie ele mudança dialética pode também acon­ rnntratempos de ordem meteorológica provocados só por no­
tecer que a hipersensibilidade e a hipersensitividade meteoro­ lÚ\·eis e em particular imediatas mudanças ela pressão at-
lógica atribuam ao tempo ( ou ao clima local) todo menor 111osférica.
mau humor. cansaço ou moléstia, que provêm de causas co-­
rnuns totalmente diversas. Então, com tais informadores, o 46. Vasotonia. - A tensão elos v asos do nosso sistema
cient·ista corre o perigo de fazer atribuiçõe s errôneas (por circulatório é condicionada pela mudança da tensão gasosa;
ewmplo, às passagens das frentes, que nos períodos de tem­ a 111ais relevante manifestação desta relação é o fatal influxo
po inconstante são tão freqüentes na Europa central, torna­ cl1 · situações meteorológicas críticas sôbre estados patológ icos
-se bem difícil uma demonstração da sua não cumplicidade dos vasos sanguíneos como arterioscleroses e formações coa­
nas cotidianas variações do humor e elo rendimento). " ttlosas, tanto que entre as causas ele morte freqüentemente
dependentes ele situações meteorológicas anotam-se sem dúvi­
45. Gasotonia. - Todos sabem que por uma parte do da ataques apopléticos, paralisias cardíacas, embolias. É evi­
sistema vegetativo as mais simples modificações mecânicas ela lh-ntc que perturbações particularmente fortes ela pressão
pressão podem ocasionar desagradáveis, oprimentes ou pelo me­ ,1t111Ósférica podem ser funestas par a um sistema vascular de­
nos gravosas perturbações elas condições fisiológicas. Pen�e­ ll·1·iorado, exatamente corno o são violentas perturbações elo
mos nos intestinos. Urna "sobrecarga" do estômago ( por ex­ 1'.�laclo ele espírito. E valeria a pena procurar saber como a
cesso ou muita pressa na alimentação), um acúmulo de for­ , ;isotonia proveniente ele situações meteorológicas agressivas se-
mações gasosas flatulosas no intestino grosso, provocam não 1, 1 relativamente determinada pela gasotonia. Mas nem tô­
somente alterações locais, mas freqüentemente também um de­ d:1s as oscilações vasotônicas podem ser explicadas corno ga­
·,uranjo no todo, falta de vontade, e indefinido mal-estar. A ,111ônicas. Muitas na viela diária não têm nada a que ver
, 11111 a clini\mica dos gases, mas têm a sua gênese, por exem-
sensibilidade a isso aumenta com o passar cios anos; especial­
mente para as pessoas anciãs o arrôto cu a expulsão do gás 1'I", rm sitLações psicológicas. A vasotonia tem uma grande
tra7cm um imediato alívio, e em alguns círculos civilizados, 111q11H tftncia para as emoções nas pessoas sãs, cuja expressão
como entre os _japonêses, a expulsão é realmente um costume 'I'" ,1•11ta, talvez, no enrubecer e no empalidecer um acen­
" 11 l11 1·lcmento vasotônico.
1'l.C'spitaleiro, para nã.o provocar as citadas moléstias depois ele
uma abundante alimentação. 'l,1n é tampouco verdadeir o que as descobertas de Bet-

106 107
chamad os semo­
tmann, releva das nos capilares especialmen te dos lábio s mas­ d) Como são considerado s os sin tomas
tles abraçam tôda a
c ulinos durante sit uações meteorológicas pa rticular mente crí­ tônicos, dos quais já falamqs (§ 32)? a excitação dos ner­
sôbr e
ticas e que apresentam por assim· dizer formações forradas no 1:xlcnsão do estím ulo exter no físico até
r gão cen tral (cérebro)
interio r dos maiores c irc uitos do fluxo sanguíneo, possam ser vos sensórios e a sua condução ao ó nov e t em r e-
e dê ste e
,;o processo psíquico da percepção
am n
interpretadas s implesmen te como fen ômenos gasotôn icos. An­ Não · dev e mos,
o v as otô ica d pel e .
i recesso até a m odificaçã
n a
tes, · é necess ár io reco nhecer que o tom dos va sos em geral
será diferente, conforme
pode ser modificado nos mais vários modos, também com re­ rom efeito, esqu ecer que - a vasotonia
o como um refrigério que
lação aos influxos meteoro.lógicos. São êles . rt·cebemos um golpe de vento gelad
o! Ta mbém no caso da
a) Do exterior os vasos sangüíneos podem dilatar-se : aper­ trm: alívio ou corno um calafrio penos
ser decisivo para a va so­
tar-s e o u alternativa rnenle apertar-se e dilatar-se; is so acon ­ influência do frio sôbre a pele pode a
" frio; a adaptação psíquica
tece por efeito do calor (vermelhidão) ou do frio (pa­ tonia como nós "entendemo s o
sôbr e mo te p o r
mesmo
ílle pode em certos casos decid ir até
a r
lidez ou rubo r), por ação dos produto s químicos sôbr e a pele
ou s ôbre a mucosa, corno coca ína, a drenalina e outros, p asta ('()ngel am,ento ou não. servir-se da leva
de mos ta rda, c ertos óleos etc.; além disso, por efeito de ações
O efeito m eteorológico psicofísico pode
.
vasotôn ica de todos os quatro pon t os
mecânicas como fricção (esfregamentos), prur ido, pressão, cho ­ mp ortamento" dos c a­
Sabemos, realmente, que cer to "co ­
que, s ucção, e é provável que também o choque do ar em mo­ ade d a ir ror ação sa ng uí
vimento contra a pele tenha uma influência m ecânica sôbre pilares cutâneos, determinada quantid um s entime nto de
i dá o ig m
nea da pele , em si e po r s r e a
a sua vasotonia . Segundo uma terminologia em uso, que de­ artificialmente, por exem
­
signa ( especial me nte na bio logia ge nética) os influxos do am­
bem-estar psicológico , que obtemos mbé m q u an­
o; i urg ê
plo , lavando-nos ou tomando banh
ns e le ta
biente com a preposição "peri", também nós podemos chamar amente, a pós a diminuí­
tais efeitos "f;eritônicos". do os caP,ila res cutâneos se enchem nov
do frio). O efeito pode
b) Com respeito a êsses efeitos há outros, que melhor se da circulação sanguínea (por efeito
pur m nt e peritônico, isto é, uma
ser sensotônico, mas també m a e
po dem chamar endotônicos: pr ovêm do interno, seja das pe­ e­
r ou do "reviver" da p
riódicas oscilações dos mesm os vasos sangüíneos (inclusive dos :igradável sensaçã o c utânea (do calo o t ) , mas esta ex­
cia ( e
le) pode chegar à nossa consciê n s ns om
mais sutis), sej a por oscilaçõe s cen trais que têm a sua causa ou s sentimos simplesmente
jo­
na ati_v idade cardíaca ou no sistema nervoso centr al, entre os periência pode também falhar e no , s a i r raç
utân ão
viais , sem mais f azer caso da sensação
c ea e r o
quais age, com as suas interferências , não obstante a sua mis­ (p it m). O qu eim ar-se a o
sa nguínea da pele é s ufici e nt e er o
teriosa autonomia, o sistema vegetativo. Se todo s os dia s into­ , a se nsação de bem-es­
sol conta-se en tre os casos sensotônicos
xicarmos o organis mo, p or exemplo, com á lcoo l, ca fé, fu mo, f i entr e os casos peritônicos,
t11r de uma sala quente após o r o
insurgem, em parte des ejados, em parte indes ejados, efeitos va­ nenhum a consciente sen­
pois habitualmente não se manifesta
sotônicos qu e pode m manifestar-se co m calor cutâneo, verme­
a peritonia e a sensotonia
lhidão do rosto, palpitações, rubores, m as também com p alidez saçã o epidérmica . Em todo caso,
s cutâ s pre senta um componente
cio n osso sistema de v aso neo a
e sensação de frio (talvez quand o se fuma mais do que de im o e muito evidente,
< lo efeito meteór ico psíquico , simplicíss
cos tume ).
p i é ind inex plic áv el. De res-
e) Categoria particular dos processos endo tônicos consti- q11c não se pode de compor, o s a a
te também no efei-
tuem os processos timotôniws, causa dos pelas emoç ões, mu­ 1 o intervém ( como sensotonia) ocasionalmen
1 n pais agístico ( § 120) .
dança s do humor, explosõ es do sentimento, num a palavra, pe­ tá condicionado pe-
Mas oJ. nosso bem-estar ou mal-estar es
la viela psíquica emoc io nal. Manifes tam-se êles costumeir a­ om ente pel a vasotonia
1, �:isotoni� geral do organismo e nã o s
mente no homem com o rubor e com a palidez: fenômenos o stad fi iológ ico é influnciado por
, 1'1d{·1 mica. Sabe-se qu e e o s
expres sivos notáveis qu e pressu põem o conhecim ento da expe• dific ções da pressão
l1 , 1•11 irregula ridades cardíacas , por mo
a
riência emotiva a que pertencem. Quan do êle s se v erificam sos o inter ior do corpo. E
sem isso, devemos considerá-los anorma is (por ex emplo, rubo­ 1111.11í,wa, por entupimentos veno n
f itos meteoro-
duo dos
"11" s1· apresenta um cas9 muito ár
e e
res rnorbosos e semelhante s).
109
108
lógicos: com efeito, esta cndovasotonia é determinada preci­ l l111•1 síssilllas pesquisas experimentais julgant ler d('n1011s-
samente também pela perivasotonia (o efeito elos banhos ele 11,11111 111ocl i íicaçõcs da pressão sanguínea devidas às mudo n-
gás carbônico para distúrbios cardíacos depende pelo menos 1,,1� <111 :11· respirado, assim corno, por exemplo, elo ar dotado
elo leve estímulo que a cura exerce sôbre a rêde dos vasos .!1 l raços ele gás hilariante mediante luz ele arco (Kestner)
cutâneos\, mas é tambr1n, ele uma forma ainda obscura, au­ , 1111111 também do ar ionizado (Dessauer). Aqui a endovaso-
tônoma, com um período próprio e submetida ao influxo ele 1n111.1 M·ria influenciada pelas condições cio ar respirado. De-
tôda a estrutura físico-quí111ica do interno. Êste com efeito 1•1110s recordar a respeito também quanto é referido com se­
age diretamente sôbre a substância elo coração, sôbre as pa­ i' 111 .111,a e circunstanciaclamente por informadores sérios, isto
redes elos vasos, sôbre a substância cerebral, sôbre a tensão ce­ 1 , , pH· êles conhecem um característico "odor elo fohn" ( o ar
lular .:__ e a questão' dos pontos de contato endotônicos in­ d,· 11t·vc antes da nevada).
clusive os ti111otônicos) do tempo é justamente uma parte elo Nestes casos poder-se-ia tratar de partículas químicas clis-
problema pri nci pa1: como o tempo ( ou qual elemento do 11 ilH1ídas na atmosfera, mas também ele propriedades atmos-
tempo), r-om L'Xceção da peritonia, atinge também os tecidos 1, 1 ir:is purar!1ente físicas, que estimulam particularmente os
e os órgãos internos? , , 1 ;.1os sensório-olfativos: assim, conhecemos um estímulo no
, 11:,10 gustativo pelo contato com o metal (por exemplo, a
47. Físico-quimismo. - Ao lado da pele e dos órgãos elos 1 i111ina de aço de uma faca), o qual tem lugar provàvelrncnle
sentidos, uma verdadeira coligação do organismo com o mun­ ,·111 processo de decomposição química. E111 todo caso será
do externo são os pulmões. Se o fato essencial no efeito me­ 111•1·c·ssário que a ciência enderece uma particular atenção para
teorológico dependesse ela produção atmosférica do óxido de .t 1 (']ação entre o aumento e a diminuição da pressão san-
azôto, como o fisiólogo Kestner tentou provar (N 2 O, "gás 1• 11Ín<·a e os dixersos tipos de ar respirado. Além disso há a
hilariante'', gera-se em pequeníssimos traços quando o ar é possibilidade de que a pressão sanguínea manifeste os seus
artificial111entc irradiado rorn raios ultravioletas, e por isso 1 lt•itos psíquicos de modo puramente físico, e que valores cli­
Kestner rrê' que rlc se forma também nas grandes altitudes , 1 1 sos da pressão sanguínea tenham, ele uma forma ainda eles­
troposféricas por efeito cios raios ultravioletas naturais e é ar­ < onllC'cida, uni influxo sôbre o quimismo do tecido celular
rastado para baixo, à geosfera, por ventos de queda), a coi­ d, s nervos.
sa seria extremamente simples: nós aspiraríamos um tóxico, Recentemente um estudioso, Curry, através de pesquisas
em pequeníssimas doses que seja, e conseqüentemente senti­ nperirnentais e experiências diárias, esforçou-se para desco­
ríamos opressão na cabeça, fraqueza, àiminuição de rendi­ lu ir na atmosfera um complexo-ozônio com mais "ozônides"
mento, mal-estar, corno acontece com outros venenos. d,· elementos atmosféricos aos quais deu o nome de "Aran",
Do mesmo modo simplicista consideram a situação aque­ id!'l1tificando nêle o fator propriamente biotrópico. Acerta­
las hipóteses que, para dar uma explicação do clima, servem­ d \111cnte, a crítica se mantém até agora diante desta desco-
-se da falta de oxigênio ou de gás carbônico ( § § 34 e 66). A 111'1 ta, numa posição de expectativa. Tal atitude parece mais
tentativa de explicação ele Kestner encontrou pouca acolhi­ 1wtificacla ainda pelo fato de Curry ter inserido em seus ca-
da, pois as suas descobertas experimentais não puderam ser 1,it1ilos propriamente científicos relações que têm sabor ele fan­
confirmadas, dado que também violentíssimas quedas meteó­ t.1�t icn - sôbre efeitos "empíricos" tanto ela posição natural
ricas sôbre o mesmo lugar não acarretam e111pobrecimento de d,, ,\rnn como da saturação artificial do ar da sala com o
oxigênio no ar livre. Se durante o mormaço "sufocante" ou \ 1,111 que se baseiam em declarações muito vagas e in­
durante o fohn a respiração se torna difícil (e nos distúrbios <" 11t 1111:'lVcis cfe hóspedes de casa e semelhantes. No curso de
cardíacos ou nas doenças pulmonares em tais casos pode so­ 1,,, ,111os \'imos naufragar muitas tentativas de derivar de um
brevir uma ânsia real), depende isto da redução de rendimen­ 11'1•111(· os efeitos meteorológicos e climáticos, para aceitar
to que atinge o organismo e coinvolve também os dispositi­ 1111111 1111110 acreditável, a todo nôvo empreendimento do gê-
vos reguladores da respiração. Corno? Também êste é um 11'1,1 ,1 �olução cio complexo problema. Que a hipótese do
problema rnncernente ao efeito meteorológico. \11111 1111·1t·rc um atento e sério exame, é evidente.

111
110
Podemos afirmar mais ou menos a mesma coisa para o 11 l:1to de que a libido aurnenta mais que a potênri:1, l" q11<·
gradiente da temperatura. Trata-se de dois problemas, um ,·11 1 gt1·al o sexo feminino sempre parece mais susecptíwl à
estático e um dinâmico. O problema estático: que aqueci­ ,1t;:1 u e.lo fohn que o sexo masculino. O organismo Ic111inino
mento, expresso em graus absolutos de temperatura (por exem­ ,•�t:'1 sujeito geralmente a uma hormonalidade mais lábil, e
pl o, 449C), suporta o organismo humano, e que temperatura �,1hc111os também que o sistema tiroideano na mulher oscila al-
interna dos tecidos é compatível com o estado fisiológico nor­ 11·, nativamente com os processos de reprodução.
mal? O problema dinâmico: que valores de queda da cor­ Por outro lado os efeitos meteorológicos, especialmente
rente térmica são otimais para o estado de saúde? Mas há m algésicos (dolorosos), adquirem geralmente um ressalto
geralmente também a possibilidade de. serem coinvolvidos p ro­ 11,1 rlicular nas pessoas idosas, e isto não nos. permite atribuir
cessos químicos termoquímicos e que, portanto, no organismo .10 hormônio sexual urn significado causal para êste influx o.
não exista apenas urna produção química de calor (o meta­ l'ortanto, devemos contentar-nos por ora com o registro de
bolismo produz calor, exatamente como qualquer processo 11111 sintoma: o hormônio sexual, além de uma série de ou­
químico), mas vice-versa também uma regulação térmica ·do t ,·os processos no organismo, é notàvelmente influenciado por
metabolismo, que encontra a sua expressão psicofísica no nos­ determinadas formas meteorológicas, mas talvez uma acres­
so estado geral e na nossa eficiência ( § 5). l'ida ou diminuída emissão do hormônio sexual no corpo não
,', a causa principal do conseqüente estado de mal-estar ou de
48. O papel dos hormônios. - No quimismo de todos 1 1111a diminuída atividade etc. De mais a mais, a ciência
os sêres vivos intervêm, como nos dizem os estudos da última hoje não está ainda em condições de dizer se o aumento hor-
geração, certas substâncias que não são aduzidas e integradas 1 11onial é diretamente provocado por fatôres meteóricos ativos,
do exterior, nem são descarregadas no exterior, mas são pro­ rn1 por via indireta sôbre o sistema vegetativo, submetido à
duzidas e elaboradas no organismo. São elas chamadas "hor­ influência atmosférica.
mônios" (substâncias ativas) ou também "incretos" (produtos
ela secreção interna), e hoje as mais conhecidas têm origem As pesquisas deverão comprovar se, corno depois da con­
nas glândulas genitais (testículos e ovários), na tiróide e &r­ rcpção, se verificam também nas quedas atmosféricas e em
gãos anexos, nas supra-renais, na hipófise e (nas crianças) geral nas formações meteorológicas psicotrópicas, alguns pro­
no timo. O problema elos hormônios apresenta indubitàvel­ cessos hormonais que se afastam dos costumeiros.
mente um grande número de questões ainda discutidas sem
solução. Uma delas é justamente se se podem aduzir pro­ 49. Eletrótono. - Sob êste nome, no tempo das clássicas
cessos hormonais para explicar os efeitos meteorológicos psi­ pesquisas sôbre a eletricidade animal, a fisiologia descreveu o
cofísicos. diverso estado de excitabilidade que apresenta um nervo atra­
Como nos fenômenos meteorológicos, que têm uma eficá­ ,·<·ssado por corrente elétrica. O eletrótono neste sentido mais
cia somato-psíquica, trata-se de veículos ativ os improvisos e r!'strito tornou-se em parte o ponto de partida para o desen­
rapidíssimos, que igualmente podem desaparecer ràpidamente, \'olvirnento da eletrodiagnóstica e ela eletroterapia. :Mas aqui
devererpos levar em consideração apenas um correspondente q1 1eremos tratar do eletrótono num sentido mais largo, isto é,
desabafo improviso (ou vice-versa um recuo de emissão) de do comportamento geral cio tecido vivente com relação à ele-
hormônios na circulação do metabolismo. 1, iricla�e, seja que esta seja evidentemente fornecida pelo or­
De um hormônio feminino conhece-se hoje uma impro­ p:i nisrno ou que insurja nêle.
visa e notável aparição na urina algum tempo depois da con­ O vínculo com o eletrótono naquele sentido mais estrito
cepção ( § 82). Falou-se já dos aumentos instantâneos, que r ,1 noção, já há tempos adquirida, segundo a qual todo ór-
às vêzes exercem realmente ação agressiva, do desejo sexual 1,,11, que se encontra em /unção é atravessado pelas leves cor-
ao surgir o fohn e o siroco e durante um mormaço pesado 11•1111·� ele ação, isto é, encontra-se, com respeito à susceptibi-
( § 5 7, clima tropical). Isso faz pensar num aumento de hor­ 1 11 l.1d,• ti influxos perielétricos, no estado eletrotônico. Pressu-
mônios sexuais do sistema nervoso. Concorda também com 111 l i ,•1 11 lt'n te êste fato explica já uma experiência geopsicoló-

112 113
tl1'TflJ,Mfq1u1
gica, isto é, o favorável efeito do repouso quando predominalll \1·i N, 111;il dispostas, não propriamente cansadas mas pelo 111(·-
formas meteorológicas que dão origem a mal-estar e na fasl' 11"' i 11 cquictas e num estado de improdutividade, pelo que
de aclimatação a exigências atmosféricas insólitas, ou seja, aque­ 11111 lt'lllJ)O quente e úmido é acolhido como um alívio·, às vê-
las que tem relações de ionização fortemente modificadas. 1 , 111110 real "libertação". Hoj e não podemos ainda delirni-
Prescindindo dêstc importante indício, devemos, porém, 1 11 �11firientemente os tipos "caracterológicos" aqui em ques-
1·ecordar ,que, se de um ponto ele vista eletrotônico é muito 1 111 ,�l l'_s não têm absolutamente uma maior semelhança· com
provável que a eletricidade atmosférica tenha primazia psi­ " " 111 •11rnstênico" que é o grupo (mais numeroso) dos que
cotrópica, ignoramos, todavia, tôclas as particularidades dos '" 11 1 11i desagradàvelrnente atingidos por formas mormacen-
efeitos da eletricidade a llllos[érica sôbre o organismo ( § § 35 1 •"; t rnta-se ele outro gênero de irritabilidade psicofísica, que
e +3). Dever-se-ia empreender, começando, por assim dizer, 11111,.h t 'hnente se manifesta con10 uma particularidade tarn-
do a-be-cê, um clrtrnninaclo programa de trabalho eletrobio­ 1 11 111 ,·111 outras tendências vitais. É um fato para cuja ex-
quín 1ico para a sol11çã.o clêsses problemas. Uma só coisa não 1'1 11 .1ção concorrem, cada qual com uma contribuição pró-
é permitida na pesquisa: a afirmação a priori de que qual­ 111 1,1, a fisiopsicologia, a geopsicologia e a psicologia social.
quer coisa está "excluída" ou é "impossível". Semelhantes Jl 1 cqüentemente os sexos �·eagern de uma forma um pou-
élfinuações preconcebidas comportam tão somente o risco ele 1 " d i krcnte. Na questão da maior sensitividade meteoroló-
desviá-la. Tôda possibilidade eleve ser examinada; o objetivo 1 11 ,1 :i balança pende para. o lado feminino. A opinião con-
cl<L investigação é descobrir a realidade e a eficácia ( ou o con­ 11 111.1 (apresentada precedentemente também por nós) foi ali-
trário) dos possíveis fatôres. 1 111 111,1da pelo fato que a mulher geralmente pouco se preo­
' 1q 1.1 ron1 os seus corriqueiros mal-estares e não se observa tão
50. Tipos de reação e suas gradações. - Está claro qu e 111 1 !1,1 e ansiosamente como o homem, A hipocondria é um
nem todos os homens apresentam ao in[luxo meteorológico 11 1,.11 e,sencial notável do homem, que talvez chegue a for-
zonas igualmente acessín;is, da mesma amplidão e maleabi­ 111,11 11111 verdadeiro instinto, pois no hornern as perturbações
lidade. Na prática, a reação meteorológica modifica seu com­ ,1., ,·,tado de saúde indicam com muito maior segurança que
portamento não só de acôrdo com o grau, mas também de 11 il 11H ·nte qualquer coisa não está em ordem nêle, ao passo
acôrdo com sua natureza. Já a distinção entre sensitividade e ,p11• . 1 função reprodutiva ela mulher normalmente (nas re-
sensibilidade meteorológica trai semelhante diversidade. Há 1,1s 111cnsais, por exemplo) traz consigo urna série de peque-
um p�queno grupo ( § 1 O) que apresenta uma reação ao. mor­ 1111� cnntratempos que está na natureza das coisas. Fisiologi­
maço jJarad oA al: seus membros sentem-se melhor quando o t ,,1111•nfl• a mulher está muito mais predisposta para o sofri-
cal or .e a umidade são mais intensos que quando reina tem­ 1 11101111 1 t' muito mais dotada que o homem. Mas se as rnulhe-
po "ameno", que para muitíssimos outros é o ótimo meteoro- 1,1\ ,l pl l'ndem a cuidar elos distúrbios causados pelo tempo,
lógico. E as observações médicas do últin10 decênio confir­ 11• 1 11•1 111 geralmente de modo mais sensível, e, como parece,
mam essa reação paradoxal: há doenças que aparecem ou 11 1 11 clt ·pressa que o homem; adquirem, portanto maior sen-
m:e pioram com "frentes frias", e outras com "frentes quen­ 111 11l.1dt• meteorológica.
tes". A ciência meteorológica deve ainda esclarecer se entre '-,1· 11a. literatura médica popular fôr encontrado ocasionalmente
, 11111°t'ilo como "neurose meteorológica", êste conceito deve ser
êsses dois tipos reina algum contraste essencial que dispensa 11•11

os conceitos de calor e ele frio, ou se não há talvez um agen­ l•'I" lld 11 objetivamente. Nem sequer é possível falar de uma "en-
11, I ,,1, nmológica", de uma doença nervosa delimitável dêste gêne-
te psicotrópico comum, presente em determinadas frentes frias '\ 11·nção sensitiva aos fenômenos meteóricos pode temporària­
(' ern determinadas frentes quentes, ao passo que falta e1!1 ,1,. "" L(ir �m primeiro plano no âmbito de uma irritabilidade ner­
p,·1 ,d, mas trata-se quase sempre de um· complexo de sintomas,
outros. 111 d l ' outros que talvez se distinguem com menos evidência ou
P:ira o observador atento, não pode passar despercebido , .. ,·1111N provocantes (como a irritabilidade meteoropsíquica num
que certas formas de tempo "fresco" na Europa central dei- ,, 1, 1111 1 · predomina o fohn). É normal, e não anormal, que
i,;111 ,·111 f!eral relações psíquicas com o tempo atmosférico; en­
xam numeros.as pessoas por muito tempo deprimidas, excitá- ili ,111 1 11 l i1 N de fato muito freqüentes nos animai's selvagens, que têm,

U4
115
precisamente de acôrdo com as condições atmosféricas, um compol'­ cos quando caem doentes ou devem sofrer as conseqüências
tamento instintivo, como também o homem primitivo! Dever-se-ia póstumas de uma ÍLTida, de um esgotamento, ele uma opera­
considerar como anormal "quem não se apercebe de nada" antes do ção. Somente rntiio sofrem as conseqüências do tempo e co­
mormaço tempestuoso ou do siroco! A reação psíquica patol6gica meçam a co,nprccndcr que sã.o sensíveis aos estados meteó­
ao tempo deve ser prudentemente diagnosticada pela sua particular
intensidade, extensão ou qualidade. As artificiosidades da existên­ ricos, coisa que atr então haviam ridicularizado. Um fohn
cia devidas à civilização, como o dever do trabalho mecânico com que colhe o organis1110 durante uma grave crise de saúde, sen­
tempo ou clima desfavoráveis à atividade, complicam a sensitividade sibifiza-o às vêzes por tôcla a vida ao mau tempo em geral.
meteorológica. A "geopsique" como tal é absolutamente sã, antes O estudo cuidadoso das situações graduais e dos tipos de
originalmente sã. São os fatôres de adomesticação, como nós cha­
mamos a "civilização", que ameaçam detu,·pá-la, transformando-a num reação é essencial para a explicação dos efeitos meteóricos
fato morboso. psicofísicos, porque as diversas formas cio tom, cio quirnismo,
ela capacidade de descargas eletrostáticas, da hormonalidade
Corno se apresentam as coisas do ponto de vista da ida­ etc. estão ligadas às constituições e às idades, e justamente
de? As crianças, é natural, raramente sabem dizer quais são por i�so podemos recolher importantes indicações sôbre o fa­
as causas de seus mal-estares. Que o seu estado objetivo ele tor psicológico nos estados meteóricos, como sôbre o ponto de
saúde possa sofrer influxos meteóricos, está fora de dúvida; ataque orgânico clêste fator sôbre o organismo.
as observações sôbre o rendimento e o "comportamento" dos
alunos, muito instrutivas a êste respeito, permitem-nos reconhe­ 51. Rosa-do9•ventos dos estados físico-psicológicos (Cfr.
cer influências atmosféricas às vêzes até mesmo lá onde não fig. n 9 l). - Resumamos o estado dos nossos conhecimentos
são jamais conscientemente experimentadas por adultos sen­ geopsicológicos, de que temos falado neste capítulo. Entre
siveis ao tempo (§ 86). Também as formas infantis de per­ as va!iadas formas fenomênicas do tempo estão aquelas que
turbação do sono, especialmente em crianças irritáveis, como exercem um influxo sensível ou comprovável sôbre o corpo e
sobressaltos, gritos, estremecimentos (''nictopatias"), mostram a psique cio homem (e de muitos animais). :E:ste efeito é
inconfundíveis dependências de situações 111eteorológicas de na­ muito diferente de acôrdo com o seu grau; toma-se mais sen­
tureza tlpicamcntc psicotrópica. O antigo costume escolar ele sivelmente consciente para urna categoria de homens, que são
interromper as aulas quando o calor sobe a mais de 25 9 C não por isso classificados como meteoro-sensitivos. Uma varieda­
é a melhor solução para o problema (pois que 209C ele calor de dêstes forma o grupo dos "meteoro-sensíveis", nos quais o
muito úmido podem ser bem mais enervantes que 25 9C de trmpo ·se manifesta antes de modo sensível com distúrbios lo­
calor sêco), mas constitui sempre um indício ela experiência cais em determinadas partes cio corpo, especialmente com do­
que a semelhante temperatura a melhor boa vontade ele es­ n.:s. A diminuição da fôrça de resistência, a idade e a repe­
tudar dos alunos sucumbe diante elo esgotamento devido ao tição das mesmas influências meteóricas podem ·exacerbar a
n1or maço. srnsitividade meteorológica ou provocá-la. A natureza do efei­
A sensitividade meteórica aumenta com a idade. Os te­ to é, conforme as formas meteóricas interessadas, ou refres-
cidos piais fortemente desgastas, especialmente as articulações 1·;inte ou debilitante; ambas estão em relação tanto com o
e os Yasos, reagem com maior sensibilidade ao ternpo. Além 1·,tado de saúde subjetivo, quanto com a objetiva capacidade
da sensibilização em parte de natureza puramente física, so­ d1· rendimento. Ao efeito debilitante geralmente juntam-se
brevém também maior consciência (§ 58). Formas meteóricas �i111omas de uma fastidiosa e perturbante excitação.
ele violentíssima atividade, corno o fohn, depois que foram Oe modo geral o efeito debilitante deriva de situações
provada_s por uma ou duas vêzes, despertam a sensitividade 11wl1·6ri<-as quentes e úmidas, o refrescante de situações frias e
meteórica, seja por · aquelas particulares formas das condições , , •� Jllas o primeiro pode verificar-se também com o ar frio
atmosféricas, seja em geral. Disto depende também o fato ,, 111r11tlo ("mormaço rígido") e atingir inclusive os seus graus
que muitos indivíduos, emigrando para as zonas cio fohn, ali 111,11� i11t1·nsos com o vento do fohn, isto é, com urna situação
não se "habituam", mas sofrem sempre. l\1uitos tomam co­ ,\ ,, 1• rc•lativamente branda. Um grupo de indivíduos, que
nhecimento também pela primeira vez dos influxos meteóri- , , •IINI if111 111na minoria, apresenta a reação meteorológica "pa-

117
116
casos, excita de modo desagradável, e isto pode até mesmo gunclo os quais, co1110 pontos ele Yista diretivos, dividimos a
prejudicar completamente o aumento da eficiência. Corres­ nossa descrição do cf cito psicológico do tempo atmosférico.
pondentemente o efeito debilitante do fohn e do siroco, dos Por isso, justan,cntc· a rosa-dos-ventos dos estados fisiológicos
ventos de fogo e mormacentos ( também dos ventos do degêlo nos lembra que as siluações meteorológicas determinadas pe­
no fim do inverno) geralmente torna-se tanto mais tormen­ los ,·entos ou, para dizer com mais prudência, caracteri­
toso, quanto mais aumenta a intensidade do vento; a tem­ zada, pelos ,·entos cni si e por si, e não somente nas situa­
pestade é quase em tôda direção desfavorável para o estado ções críticas do st.:u 111oclificar-se, cabem efeitos específicos bem
fisiológico, ainda que o organismo não seja exposto direta­ circunscritos sôbre o organismo somato-psíquico.
mente ao seu sôpro.
A explicação de todos os efeitos com um só elemento do
tempo é impossível. Calor, umidade, vento, mas também a
pressão atmosférica podem provocar cada qual por si mes­
m.o os efeitos sôbre o organismo com seus influxos termodinâ­
micos e quase mecânicos. É muito provável que para os efei­
tos mais violentos e característicos da maior parte dos casos
intervenha também o estado elétrico da atmosfera.
Z_onas influenciáveis no organismo são a gasotonia, a va­
sotonia, o quimismo do metabolismo e da mudança energéti­
ca, pr9vàvelmente também o jôgo dos hormônios e o eletró­
tono. Como tôdas essas zonas funcionais orgânicas em pri­
mazia ou também exclusivamente são governadas pelo "sis­
tema nervoso vegetativo", não surpreende que indivíduos, nos
quais tal sistema é insolitamente sensível por hereditariedade
ou por lesões vitais ( doenças corpóreas, depressões psíquicas),
isto é, que os chamados "estimatizados vegetativos" sejam
muitas vêzes meteorosensíveis ou meteorosensitivos de modo
acentuado; todavia, sensitividade meteórica (meteorotropis­
rno) e "simpaticotonia" ( ou vagotonia) não coincidem exa­
tamente; há numerosos meteoro-sensitivos sem notável agres­
sividade vegetativa, e vice-versa a estigmatização vegetativa não
se manifesta necessàriamente como irritabilidade meteorotró­
pica. Em particular são observados repentinos e violentos
efeitos quando comparecem camadas instáveis de ar livre,
portanto especialmente quando há uma mudança ele corpos
atmosféricos com passagem das frentes, o que provàvelmente
se manifesta pelo menos em parte nas condições do vento. To­
davia, não se pode deduzir unicamente da teoria da mudan­
ça dos corpos atmosféricos e elas frentes, a possibilidade ge­
ral de urna rosa-dos-ventos psicofisiológica. Temporais e fohn
não são reduzíveis a tal fórmula. Em todo caso, uma ex­
periência não preconcebida mostra que numa constante si­
tuação com ventos do levante e do sudoeste conservam váli­
dos aquêles caracteres da forma refrescante ou debilitante, se-

120 121
CAPÍTULO II

CLIMA E PSIQUE

52. Essência do clima. - O tempo atmosférico não é


simplesmente mutável, mas é também imprevisível na sua mu­
tabilidade. Fala-se proverbialrncntc dos humores cio tempo,
que nas nossas latitudes temperadas sentimos ele modo par­
ticular. Mas também nos trópicos um temporal, como uma
tempestade ele neve nas zonas árticas, irrompe na região ele
modo totalmente improviso. Contudo, tôcla situação meteo­
rológica sôbre a terra tem também grande regularidade. Em
tôcla · parte há as "estações", que são caracterizadas por um
determinado tempo. No mesmo dia elo mês ele julho ele dois
anos consecutivos uma vez pode fazer calor sêco, outra frio e
chuvoso: mas nas regiões baixas, em tôrno cios 509 ele la ti­
tucle, neste dia não podem dominar nem gêlo nem neve, ela
mesma forma como num dia ele janeiro não pode reinar urna
temoeratura de 309.
• As condições meteorológicas modificam-se durante o ano
com regularidade geralmente muito elevada. Há um caráter
do· temjJo para cada região terrestre; a palavra tempo indica
já por si mesma uma condição I neteorológica que perdura
por longo período cronológico, e a ciência denomina justa­
mente clima a êste caráter do tempo. O clima é o ti po re­
gional da sucessão meteorológica. J� êle diversíssimo para as
diferentes regiões ela terra, pelo que sôbre ela há climas mui­
to diferentes. .Isso depende ele três fatôres ele natureza cósmi­
ca: a posiçpo cio sol no interior ela órbita elíptica, a rotação
ela terra em tôrno do próprio eixo e a inclinação clêsse eixo
lerrestre, e talvez entre, como quarto fator, também a rota­
ção do sol em tôrno do próprio eixo com as regulares suces­
�fü:� das manchas solares, erupções e semelhantes.
/\lr111 ela mudança das estações há também as cio dia e

123
da noite, que, como sabemos, dá-se em formas diferentes nas tárias de urna espécie, de uma estirpe, de um grupo, corno
diversas regiões e nas diversas estações. Também durante o êle influi na for111ação clo solo, como, vice-ve rsa, é modifica­
dia hi certa regularidade par a as condições meteorológicas. do por mudanç:1s naturais ou artificiais cio solo (saneamentos,
Há certos climas nos quais durante a noite faz calor quase reflorestarncntos, rcprl'samentos).
que na mesma intensidade que de dia, e outros nos quais a Por mais que os efeitos cio clima sôbre o estado ele saúde
noite se torna sempre mais fria que o dia. Alguns fenômenos sejam illlportanles, todavia, nem a determinação conceituai
meteóricos, como o sereno e a neblina, comparecem de pre­ nem a necessidade ele aprofundar os fatos climáticos se redu­
ferência em determinadas horas do dia. Neste sentido fala­ zem, de modo tão unilateral, unicamente ao aspeto médico.
se justamente do clima diurno ele um lugar, de uma região, As colônias e lugares de tratamento não são realmente os
de urna estação. O conhecimento do clima diurno é de in­ únicos lugares existentes onde importa o conhecimento do cli­
terêsse prático, por exe'lllplo, para o surgir, em certas horas ma. Se a medicina tem necessidade para os seus objetivos par­
cio dia, de ventos favoráveis ou desfavoráveis à navegação, ou ticulares ele um conceito mais restrito do clima, deveria expres­
para a cura de doenças, para a distribuição das precipitações sá-lo, em definição particular, como "clima higiênico" ( ou
atmosféricas e, po r fim, graças aos nossos hodiernos conheci­ semelhantes). O clima, simplesmente, pode significar apenas
mentos, para o alcance da r adiação luminosa e ultraluminosa, o caráter típico do tempo de urna zona terrestre, em tôdas as
que é de g rande importância para as florestas e jardins. suas causas e em tôdas as suas possibilidades de ação.
O mesmo pode-se dizer do "clima estacionai". O modo
corno transcorre em algumas partes a primavera ou onde o
tempo efetua durante urna estação as suas mudanças é de
grande importância para a agricultura, para a medicina, para A. - MUDANÇA CLIMÁTICA
a técnica elas comunicações e para outros aspetos práticos da
Yida. Quando se emprega o conceito de clima pata unidades
cronológicas diferentes do ano, pode-se sempre determiná-lo 53. Algumas indicações. - Um clima muito diferente do
M.abitual exerce forte influxo sôbre o organismo. Dá-se isso
acrescentando o correspondente adjetivo (clima diurno, no­
por mudanças ele lugar, por deslocamentos individuais ou emi­
turno, autonal, de julho etc.). Quando se fala simplesmente
g r ações em massa, por viagens de negócios ou desportivas,
de clima, entende-se o caráter anual do tempo.
Pelo contrário, não é justificável o costume que alguns por expedições ou colonizações. Chamamos desaclimação os
manuais de medicina tem de definir como clima apenas o vários distúrbios e as transformações do estado habitual que
estado do solo e do ar em relação aos seus efeitos higiênicos. então surgem, e aclimação é o seu reequilibrar-se, o retôrno
Par a as necessidades práticas como para o conhecimento teó­ gr adual do bem-estar no organismo. No caso ele mudanç
as
rico, a importância do clima é imensamente superior. O flo­ p r ovisórias ele lugar, a readaptação ao habitual de origem
po­
restal, o jardineiro, o agr icultor, o montanhês enfrentam to­ de-se chamar ele reaclimação. Por fim, para uma aclima
ção
dos os dias problemas e aspetos do clima estranhos ao cam­ perfeita e duradoura, que se estende também à descendência,
po médico. Até mesmo ao colonizador, ao estadista, ao co­ parece muito oportuno o nome de inclimação.
merciante, ao capitão freqüentemente impõe-se como primei­
ro problema saber qual flora ou fauna hospeda um clima
estr angeiro e qual a que, portanto, se pode par a aí exportar 1. - A subártida
e desenvolver . Ao geógrafo, geólogo, biólogo, antropólogo,
etnólogo o clima apresenta problemas que em geral não têm 54. Posição terr estre excepcional. - Ao "ecú
rn eno", área
nada a ver com as preocupações da medicina (higiênicos ou terrestre habitada, pertence
apenas o setor continental
terapêuticos), por exemplo, o de saber se as raças se diferen­ no do círculo polar da calo em tôr­
ta norte do nosso globo, a "Ãr
ciaram pelo clima, quais as novas propriedades normais que lida ". A calota esférica ­
em tôrno do pólo Sul (a Ant
um clima diferente desenvolve além das disposições heredi- <' dcspo,·oada a começar do ártida)
55 grau de latitude sul. A Ár-
9

124
125
Lida encontra-se, entre tôclas as zonas climáticas ela lerra nu­ A característica mais notável da · escuridão ártica con­
ma posição excepcional, porque nela (e outro tanto natural­ siste nurna ligeira de pressão psíquica, com alguns sinais de ex­
mente na Antártida) o ritmo ele 24 horas elo dia e ela noite citação devidos à moderada queda do tom vital complexivo,
não existe mais. Isto depende da posição oblíqua elo eixo ter­ ela ·'vitalidade". Se recentemente foi posta cm dúvida a va­
restre em relação à órbita solar, pelo que as calotas polares lidade clêste processo, por exemplo, pelos esquimós, porque
permanecem por determinados meses expostas ao sol, ao pas­ entre êlcs é celebrado com alegres festas o fim da noite inver­
so que em outras lhe estão ocultas. nal, ti ata-se aqui de um regozijo pelo retôrno da luz, pela
E!}tre êsses dois períodos inserem-se outros de transição chegada do verão, e provàvelmente de um rito mágico para
de urna semana, nos quais também o sol surge e tramonta, a caçada de im·erno. :Mas é também possí,·el que a depres­
com o ritmo cio dia e ela noite. i\lfas a característica elas zo­ são psicofísica, causada pela obscuridade invernal entre êsses
nas pqlares são, todavia, os meses ele permanente dia ele verão povos, não seja tão intensa corno entre as raças nórdicas mui­
e os meses ele permanente noite invernal. �a "subárLicla", to sensíveis ao clima, situadas a maior distância cio círculo po­
islo é, nas regiões ainda densamente povoadas em tôrno do lar europeu; corno os esquimós, comportam-se, porém, os po­
círculo polar norte, e já na parte mais próxima ao pólo das vos das grandes raças mongólicas, que aprenderemos a co­
zonas temperadas, nota-se um resto de efeito daquela excep­ nhe:-.er como as mais sensíveis ao clima, realmente como "cli­
cional posição nos dias longos e nas noites breves, "claras" ( as mato-apáticos'· (§ i6).
"noites brancas" da Rússia) do verão, bem corno nos dias A êste propósito teriam grande importância para o nos­
breves e pobres de luz e nas noites longas elo inverno. Já so problema observações complementares elas zonas ártica e
as cos_tas elo l\Iar Báltico, que se estendem ent1·e os 54 e os subártica asiáticas. De resto, um êxtase cultural, segundo a
60 graus de latitude norte, mostram ao rnara,·ilhaclo europen psicolo_�ia popular, não pode nunca ser atribu.ído a uma es­
continental nos meses de junho e ele julho aquC'las "noitC's pontânea disposição de espírito favorável ele quem clêle par­
brancas" que em geral não se tornam cscur::is, nias pcrrnanC'rem ticipa. E para a subárticla européia a reação depressiva é tan­
no estado de crepúsculo. to mais marcante enquanto a sua população está otimamente
55. O · ciclóide polar. - Sabe-se, pelos relatórios de ex­ aclimada ao seu clima nórdico, antes, em geral está realmen­
pediçÕi;'!s polares, qual é o efeito profundamente deprimente te inclinada, de modo que êle é o seu "clima adequado" ( § i9).
do escuro inverno ártico ou antártico. Precisa-se grande fôr­ O retôrno elo sol restabelece o equilíbrio orgânico abalado.
ça moral para superá-lo. Individualmentf' sente-se profunda Poucas semanas e a quantidade de luz cobre o vazio de longos
depressão, cansaço, relaxamento, sonolência: indiferença para r nc·,e� escuros. O ,·erão polar provoca em muitos indivíduos
com o destino ela vida, falta de vontade na atividade intelec­ efeitos e\'iclentes ele excitação. O cansaço ao anoitecer em ge­
tual, menor constância no trabalho, fraqueza da memória, de­ ral não comparece mais, a duração do sono diminui, ao pas­
satençã.o: tudo isso em contínuo aumento, até o auge, que so que no im·erno pode-se estar sujeitos a uma verdadeira so­
em geral se dá no fim da noite invernal. nolência; o bom humor e a operosidade são extraordinários.
Istp tudo repercute fisicamente no aspeto pálido, "anê­ Pode também manifestar-se (como acontece também com os
mico", no olhar lânguido, maior fraqueza, menor apetite, in­ que efetuam viagens turísticas pelas terras nórdicas) um esta­
dolência: no mais das vêzes também no pulso mais lento e do ele espírito como aquêle que insurge nas montanhas ( § 61)
mais fraco. Do ponto de vista suciopsíquico manifesta-se mai, (' é indicado na µsico!ogia como "maníaco" ou "hijJomaníaco".
elevada excitabilidade em relação aos próprios semelhantes, /\ falta ele :5ono e a euforia não raramente traem, porém, (co-
1110 nas montanhas) traços ele superexcitação, tanto que devido
impaciência, irascibilidade, propensão para os litígios: são sin­
tomas ele excitação da depressão orgân . ica geral, favorecidos a 11111 irracional teor de vida pode também causar um "estado·
1 ·1isto" ligeiramente maníaco-depressivo, onde estados de es­
ele modo particular pela temporânea inatividade. (Tais sin­
tomas são conhecidos também pelas tripulações dos navios nas pírito ele tom elevado (euforia) se entrelaçam e entrecru­
longas viagens efetuadas também sem as condições ambien­ ;,:1111 COlll excitabilidade e sintomas de mau humor de tôcla es­
pfri1·. O forasteiro no verão ártico e subártico deve aprender
t;iis -·da obscuridade elo inverno ártico).

126 127
antes a dormir, a gozar com medidas certas a maré de luz que do organismo devido à falta ele hortaliças, de alimentos vege-
escorre ininterruptamente dia e noite e a frear o seu empreen­ 1:tis (,·crclura e legumes). A alimentação cios países nórdicos
dimento. O aumento elas funções vitais é perceptível também baseia-'Se de fato geralmente na carne e na gordura. Isto, po­
fisicamente a qualquer olhar. O apetite pode tornar-se real­ rtm, não autoriza a superestimar aquela possibilidade elas zo­
mente "insaciável", uma alimentação demais pesada (gorduro­ nas temperadas. Talvez o decair imediato ela balança vitamí­
sa) é magnlficamente suportada em quantidades exageradas, nica no âmbito do metabolismo geral por efeito da privação
respira-_se "a plenos pulmões", o olhar é vivaz, o colorido "flo­ da luz e da diminuição ele radiações atmosféricas continue sen­
rescente" parece que se rejuvenece. do o fator ativo mais decisivo.
Obeserva-se que, diferentemente cio escuro inverno, os sinto­ No caso do verão ártico e subártico devem ser levadas em
mas não manifestam o seu grau mais elevado no fim, mas de consideração três outras coisas. Pode-se colocar em segundo lu­
um modo geral no período culminante da duração da luz; gar, depois da grande abundância de luz, a estranha secura
antes, os sinais de excitação podem realmente cair nas primei­ de ar 'daquele clima estivo, urna propriedade que por outro la­
ras semanas, durante as quais a nova luz permanente é goza­ cio pertence também ao clima de altitude. Além disso as os­
da em medida excepcional, ao passo que no final geralmente cilações da temperatura entre o dia e a noite são moderadas: o
predomina um quadro de tranqüilo bem-estar. verdadeiro verão avançado continua ameno até ao meio-dia, com
A psicologia indica a mudança cios estados de espírito cio forte predornínio irradiante do frescor do ar. Na região su­
tipo ela que temos descrito, como "cíclica", e quando se trata bártida européia quem desejar pode tamb(:m encontrar a ra­
de modificações relativamente leves, fala de estados "ciclóides". refação atmosférica; as regiões altas da Noruega sobem a
Podemos chamar "ciclóide polar". .M:anifesta-se êle também quase 2. 500 m. Tudo somado, o clima cstial ártico e su­
nos habitantes daquelas regiões, como clemostram não só nu­ bártico pode ser definido um clima fortemente estimulante
merosas testemunhas, mas também pesquisas sôbre o sono, com (§ 7'.?), que dispõe da propriedade de aumentar o ritmo de
as quais se concluiu que entre os 57 e os 58 graus ele latitude tôclas as funções vitais e de superexcitá-las por uma excessi­
(Estocolmo, Dotpart) a profundidade cio sono aumenta nos ,·a estada ao ar livre. Vice-versa, o inverno ártico comporta
meses. invernais, ao passo que diminui no verão. O clima além 11111 clima que abaixa, por falta da luz solar, tôdas as funções
ela latitucle 55 provoca, portanto, no organismo aumento elas vitais, e para os homens de raça indo-germânica pode ser to­
funções vitais durante a luz estiva e queda durante o tene­ lerado apenas com uma quantidade ele recursos técnicos ( mo­
broso inverno. radias bem aquecidas, regulagem ela luz). Muitíssimos indi­
\'Íduos·, habituados aos climas meridionais, sofrem não só por
56. Os fatôres ativos. - A mudança de luz ela reg1ao <'ausa da escuridão, mas também devido ao longo período
ártida é certamente a causa essencial cio ciclóide ártico. É de frio.
provável que já a mudança da quantidade de luz baste sàzinha
para provocar a mudança cios fenômenos vitais. Mas não é
menos provável que também a estrutura ela luz de Yerão, a II. - Os trópicos e o "Sul"
composição ela radiação permanente cio sol com um só tipo ele
radiações (exatamente como nas montanhas; § 65) exerça uma 57. Biastenia dos trópicos. - Nos trópicos, os dias são eter­
parte importante nas influências biológicas. na mente iguais, e o mesmo se dá com as noites; o crepúsculo
Infelizmente não possuímos ainda pesquisas suficientes sô­ {· brevíssimo; a noite é densamente escura, ao passo que o dia
b.re êste ponto que possam ser comparadas com as clássicas pes­ {· inundado, ele luz brilhantíssima. Como o sol durante todo
quisas luminoso-climáticas elo clima elas montanhas. Em todo o ano passa muito perto cio zênite, o calor é muito elevado.
caso o ciclóide polar é em primeiríssima linha um efeito do cli­ ( )s trópicos são a eterna zona do calor da esfera terrestre, co-
ma luminoso ela zona ártida e da subártida. Além disso é hoje 1110 as regiões polares são as zonas de frio. Por "estações"
difícil estabelecer qual influência deve ser atribuída a um fator cli�tinguem-se apenas períodos sêcos e períodos úmiclos, os pe­
indireto, isto é, ao empobrecimento vitamínico (avitaminose) ' índos d;:i. chuva e os períodos da sêca. A umidade atmosfé-

128 129
('l,:op.�IQll.e
rica é, porém, sempre 'elevada e o calor tem um caráter pre­
dominantemente mormacento. A freqüência dos temporais é de urna comum perturbação mental, ela depende às vêzes
superior à de tôdas as outras regiões da terra. e é quase uma infâmia colonial para as nações européias
Já o ingresso neste clima, durante a travessia marítima, ele inoportunos hábitos de vida, sobretudo de excessivo con­
comporta para o europeu uma sensível piora do estado fisio­ sumo de álcool, que durante o mormaço tem um efeito li­
lógico. Os europeus sofrem pela elevação e persistência da geiramente excitante, provocando arruaças, e além disso de­
temperatura. Acontece como nos longos períodos de calor pende de fatôres sóciopsíquicos, que às vêzes influem em tal
sem refrigério nos climas temperados: sentimo-nos fracos, sem sentido, como é bem compreensível, agindo sôbre uma base
vontade, esgotados, excitados (isto especialmente durante o rnracterológica desfavorável. Tôda colonização nasce também
mormaço), o apetite din1inui, o sono é irregular, perturbado do impulso da aventura e da sêde de domínio. Quando não
e não repousa. (Após os dias de canícula a necessidade de �e tem experiências das situações criadas por êsses fatôres nas
repousar passou a ser u111a regra). As noites frescas mitigam terras coloniais, a sua percentagem é geralmente muito
êste efeito; mas as noites tropicais são só relativamente fres­ elevada. A ineficácia de muitas inibições, que na pátria eram
cas; se bem a queda da temperatura com respeito ao calor eficazes, a inserção numa esfera de costumes aparentemente
diurno, depois do tramontar do sol, seja algumas vêzes tão primitivos, a real necessidade da autodefesa física (muitas vê­
brusca a ponto de originar aquela sensação de frio magistral­ zes rápida e resoluta), o "selvagem" qual adversário, a ne­
mente descrita por Humbolch, todavia a temperatura noturna ce�sidade de submetê-lo, contra o seu impulso, a um trabalho
permanece sempre muito notável para permitir um real re­ sistemático, por fim a maior intensidade cio instinto sexual,
frigério do organismo. O clima tropical é um perpétuo tem­ que -pode inclusive chegar ao desejo furioso, tudo isto concor­
po canicular. re para explicar essa transformação.
Tôda história colonial está, portanto, cheia dêsses exces­
Também durante a nossa canícula o quadro do relaxa­
sos. Geralmente tornam-se mais raros quando a vida se nor­
mento psicofísico corresponde àquele da "fraque,.a excitável",
n1aliza; por isso para as terras de colonização são enviados fun­
da neÚrastenia. Nfanifcsta-se ela principalmente entre os sen­
cionários experimentados, de bom caráter e casados. Os casos,
sitivos: em quem exerce uma atividade mental ou em geral
provàvelmente rhuito poucos, de cólera tropical realmente pa­
em quantos são pslquicamente assoberbados e nos "indivíduos
tológica, com improvisos acessos de loucura furiosa e ele maus
nervosos", ao passo que o robusto "indivíduo musculoso" re­
tratos, poderiam talvez ser atribuídos todos a um influxo al­
siste um pouco mais; no clima tropical, porém, atinge geral­
coólico em indivíduos psicopatas.
mente a quantos pertencem à raça branca, e de modo sem­
pre m�is grave e duradouro os indivíduos de côr clara, louros Que o fator climático, isto é, a vida num grande e per­
e róseos (raças nórdicas), a ponto ele se poder falar com mais sistente_ calor, determina uma acentuaçã.o sádica e violenta
exatidão de biastenia, que consiste numa excitável queda da do instinto sexual, não se pode negar de modo absoluto. Con­
vitalidade geral, de tôdas as funções orgânicas, numa pertur­ firma' tal afirmativa, entre outras, a experiência européia: no
bação instável de todo o equilíbrio do sistema. Mas também C'rotismo geral a "lascívia da dor" ( algolagnia: sadismo e
nos q1;e pertencem a raças de côr êste efeito não é muito 111asoquismo) desempenha um papel maior entre os povos me­
diferente. ridionais e não entre os setentrionais pelo que naquelas re­
De acôrdo com as circunstâncias e com as predisposições giões é maior a disposição para se desculpar uma violência
pessoai� pode acontecer que no quadro biastênico se introduza sexual especialmente quando varre o siroco, tratando-se de
o elemento excitável. Então, além do cansaço e dos ímpe­ 1111la situaç�o mormacenta particularmente agressiva.
tos de ira de maior e\·idência, manifestam-se graves excessos Tudo 2onsiderado o efeito tropical depende do calor úmi­
de excitação, crises de chôro, impropérios e até mesmo vias de do como fator principal, exacerbado pela sua persistência e
fato contra os próprios semelhantes. Esta "rólera tropica/·" continuidade. Talvez intervenham também a superabundân­
não representa, porém, nenhuma sintomatologia morbosa. c·i:1 estival da radiação luminosa, bem como a eletricidade at-
Prescindindo de casos particulares, onde não se trata mais que 1110.1//rica. Com efeito, a atmosfera tropical não é somente
1111111 perpétua atmosfera de canícula, mas freqüentemente uma
130
131
d(• altitude). Em particular a conservação da espécie parece
perpétua atmosfera de temporal. Se pensarmos no estado de
rnmprometida. Se uma real esterilidade do matrimônio en-
excitabilidade e de relaxamento, que já nas latitudes tempe­
1 rc brancos seja mais freqüente nos trópicos que em outro lu­
radas provoca o mormaço com forte tendência aos temporais,
gar, é incerto; muitas vêzes não se trata mais que de uma
quando persiste por inteiras semanas, pode-se ter urna idéia
111oderação da mulher devido aos sofrimentos físicos tropicais,
do efeito que exerce semelhante tempo quando perdura por
antes desconhecidos; mas seguramente não é propício para as
todo o ano.
rrianças brancas virem ao mundo no clima tropical. É im­
Segundo multíplices experiências, o ponto culminante da
pressionante o número da prole vitalmente fraca, doente, neu-
biastenia tropical cai no segundo ou terceiro ano de estado.
1·opata. :Êste fato justifica plenamente a denominação ele
Mais tarde manifesta-se uma espécie de adaptação; geralmen­
"biastenia tropical", de fraqueza vital dos trópicos.
te, porém, sem que a objetiva diminuição de rendimento me­
lhore. Também a sintomatologia biastênica, por mais que Quando se fala simplesmente de clima tropical, entende­
seja relativamente inócua, durante o ano revela freqüentemen­ -se comumente o clima das baixas regiões tropicais. Com efei­
te estados de sofrimento muito graves, devidos a doenças tro­ lo, uma progressiva dispersão térmica, o ar cada vez mais sê­
{'O e em movimento, com modificação da estrutura da radia­
picais de natureza puramente corpórea ( dores de fígado, febre
intermitente, desinteria). Muitas pessoas, obrigadas a traba­ i,:ão, conforme vai se elevando sôbre o nível do mar, fazem
lhar e viver por muito tempo nos trópicos, nunca mais se li­ rom que a atmosfera perca também entre os trópicos o seu
bertam de sensível biastenia ou pelo menos neurastenia: os rnráter especificamente tropical. (� por isso também que as
anos t,opicais, do ponto de vista da saúde, são anos de guer­ :dtas regiões já há muito tempo são consideradas como esta­
ra. Alguns missionários empreenderam contestar êsses fatos ções climáticas e de cura para os elementos que saem das
com estatísticas sôbre a duração da vida em terras de missão, 1'l'giões baixas, onde é impossível a aclimação. Que os indí­
mas deve-se dizer que a sua particular forma de vida ascéti­ gc-nas sul-americanos não suportem do ponto de vista da saú­
ca não pode ser tomada como um caso normal, ele modo par­ de o transplante das baixas para as altas regiões tropicais, a
ticular no que diz respeito aos missionários católicos, ligados que acenou Sapper, é uma afirmação baseada principalmente
ao celibato. Como regra continua perfeitamente válida a afir­ 1·111 narrações coloniais do tempo da conquista e da escravi­
mação que, para os homens comuns de raça branca, especial­ dão do trabalho, e deve, portanto, ser acolhida com reservas.
mente das zonas climáticas temperadas e subárticas, o clima Os indivíduos comuns geralmente não reagem apenas com uma
tropical representa o extremo limite onde se pode suportar rc-pugnância afetiva, mas em seguida muito freqüentemente
a vida. t;11nbém psicofisicamente, às exigências das formas de existên­
('in. que devem enfrentar; também para a "nostalgia", a sau­
Na raça branca, só em casos excepcionais é que se veri­
dade de casa (§ 60) êste momento torna-se uma causa con­
fica adaptação real do clima dos trópicos; mais facilmente pa­
('omitante. Naturalmente bruscas ascensões em regiões muito
ra os de pele escura (mediterrâneos) que para os de pele cla­
l'lt•vadas (na América do Sul e no interior da Ásia até 4.000,
ra (nórdicos) e para os mestiços nascidos de sua união; mui­ 1· mais metros) acarretam repentinas oscilações no estado de
to mais facilmente, como parece, nos povos onde se verifi­ �aúde · como "reação de ingresso" ( § 68) . Tudo isso não mu-•
cou um largo cruzamento com elementos africanos, antes de d:1 em nada o estado geralmente muito mais suportável do
tudo portugueses, depois espanhóis, italianos do sul, como tam­ clima tropical das altas regiões, o que precisamente é tanto
bém nos sul-americanos cruzados com elementos aborígenes. 111ais propício quanto mais é elevada a altitude, até o limite
O elemento do centro e do norte da Europa dificilmente pros­ d1· habitabilidade.
pera nos trópicos. Ali adoece, não resiste; necessita de in­ Recent�mente foram comunicadas por informadores iso-
terrupções para passar férias na Europa, de estações de cura,
1:1( los impressões favoráveis de determinadas regiões tropicais,.
que se encontram nas zonas altas dos trópicos, de temporadas
1·�1><'Cialmente da Austrália e da América do Sul. Mas ainda
em áreas temperadas. Calcutá, dizia-me certa vez um colo­ �.10 muito isoladas e contrastam com experiências mais nu--
nialista experimentado, para o branco seria o inferno, não fôs­ 1111·rosas e vastas de muitos colonialistas de tôdas as nações
se o céu de Darjeeling (uma estação de montanha a 2. 185 m
13J;
132
ocidentais, para que possam ser aceitas. Seriam necessárias
muitas_ confirmações, especialmente com respeito à opinião se pode agir diversamente. Por isso aparecem em primeiro
avançada, que somente o pleno esfôrço físico no clima tropi­ plano os aspetos impulsivos, intu1t1vos, sentimentos do eu; tor­
cal, e não a sua moderação, garanta e favoreça uma segura namo-nos mais cômodos, mas "mais homens".
inclimação. É um fato evidente que a descida efetuada gra­ Já no sul da Ale111auha, mas sobretudo nas regiões me­
dativamente das regiões tropicais para as regiões baixas faci­ ridionais do Mediterrâneo, .freqüentemente esta atenuação da
•Jita a aclimação, ainda que relativa. Isso vale para tôda acli­ tensão é sentida também como desagradável. Manifesta-se en­
mação (§ 70). Infelizmente para a maior parte dos que pro­ tão urna oprimente paralisia de atividade, uma pesada letar­
curam uma existência nos climas tropicais, não é possível es­ gia, urna falta de vontade e impotência "par a fazer qualquer
colher tal via indireta. coisa de bom"'. Esta forma de influxo pode estar em ber­
rante contraste com a expectativa com que se procurou o "sul",
com o seu encante, paisagístico (incluídos os seus dias enso­
58. Climas das regiões meridionais. - A transferência
para o Sul representa, para o europeu sobretudo continental e larados) ou com a inicial atenuação agradável.
para o norte-americano, um caso sobremodo importante de mu­ ?vluitos turistas provaram tudo isso nas te rras meridio­
dança de clima. As saudades das terras meridionais dos povos eu­ nais; freqüentemenLe as férias no sul tornam-se, depois ele
ropeus que vivem ao norte dos Alpes é proverbial; ela é comu­ certo ternpo, sempre rnais difíceis de suportar; acontece o con­
mente interpretada como um vivíssimo desejo de sol, calor e trário ela aclimação, a ponto ele se poder falar em "desacli­
do bom tempo, distante do fresco e do frio, da côr de chumbo lllação". Especialmente quando se provou 111ais de uma vez
da neblina e da chuva, do inverno e do semi-inverno. As o siroco e o fohn (por exemplo, ern Friburgo, Zurique, Ber­
férias "no sul" começaram logo a ser consideradas como meio na, no lago de Constança, na Itália meridional), o clima me­
terapêutico e de repouso. Hoje, porém, para determinadas ridional, em vez ele se tornar sempre mais suportável, torna­
doenças, como tuberculoses, reumatismos, nefrites, anemia, são se insuportável. As for.mas rnormacentas do tempo e do cli­
considerados salutares outros climas totalmente diferentes ou ma nos seus graus de mais acentuada incisividade têm uma
somente determinadas for mas climáticas meridionais (por tendência para a sensibilização. Quer isto dizer que agem
exemplo, clima elo deserto); oculto do clima meridional di­ com sempre maior violência, quanto mais freqüentemente são
minuiu muito, bem como o ela paisagem. Aqui consideramos provadas; o recém-chegado não presta atenção a isso, mas se
como senso crítico os valores da bacia mediterrânea, que, não voltar uma segunda vez, sofrerá sempre mais. Como o fohn
obstante tudo, são reais. Embora "meridional" seja um con­ não é absolutamente urna forma de vento mormacento, mas
ceito muito vago e nada unitário, há um efeito comum, que difunde calor sêco, e dado que nêle a tendência para as sen­
serve como fio condutor através de tôda mudança climática sibilização foi constatada semp re com maior segurança, de­
com relativa direção para o sul: uma ligeiríssima paralisia, ve-se pensar também neste caso num fator atmosférico dife­
deve ríamos dizer uma atenuação do estado psicológico geral. rente da temperatura e da umidade como responsável pela fôr­
Esta atenuação pode manifestar-se como um conceito fleumá­ ça sensibilizante, fator que poderia ser por exemplo a eletri­
tico de gôzo agradável ("dolce far niente"), como efeito re­ cidade atmosférica ( § 43). Isto concordaria muito também
pousante (da forte tensão devida às atribulações do trabalho, com o fato de os efeitos mais desagradáveis (e precisamente
do atropêlo da vida na cidade, das ingentes preocupações pro­ um gritante contraste com a expetativa já mencionada e com
a, seu encanto paisagísticc) provirem da primavera · e do iní­
fissionais). Neste sentido o "ar mais meridional" age desde
os pré-Alpes do sul, especialmente· no sudoeste, no alto Reno, cio do verão. Freqüentemente é nesta estação que se verifica
sôbre quem vem do norte e do nordeste. Tudo se torna o evidente 1 efeito contrastante cios países meridionais. A pri­
"mais agradável", a despreocupação passa a dominar, a ten­ mavera avançada e o princípio do ve r ão são, porém, as esta­
são diminui, assim como também a exatidão e o rendimento. ções do mais rápido aumento térmico, mas sobretudo do au­
Nos primeiros momentos o que se sente é indignação, mas, mento da tendência tempestuosa na atmosfera e do aumento
depois rle algum tempo, surge a convicção que neste "ar" não ela pe rcentagem de raios ultravioletas na estrutura da radia­
ção solar (sol "picante"), sem esquecermos, naturalmente, as
134
135
condições gerais do estado de saúde na "crise primaveril" ( § § 60. Dificuldades do clima marítimo. - O clima maríti-
87-88), cuja labilidade constitui um pressuposto particularmen­ 1110, como se apresenta no seu aspeto mais genuíno em alto
te favorável à influência das terras meridionais. 111ar, é exatamente o oposto do clima continental. Enquanto
:is grandes massas dos continentes apresentam variações extre-
111as do tempo, aqui as grandes massas de água dos oceanos
III. - Interior e costas marítimas nivelam a temperatura. Os saltos são insignificantes; a mé­
dia de janeiro e julho difere por exemplo em Liverpool só
59. Benefícios do clima tropical. � O tempo no interior c111 pouco mais de 109 e em S. Francisco em apenas 5 9. Tam­
dos grandes continentes submete o organismo aos mais fortes bém a temperatura máxima e mínima mostram geralmente
contrastes de calor e frio, de secura e de umidade, a extremos quanto muito apenas 1/3 ou 1/4 do valor das distâncias con­
estacionais e diários. As diferenças de temperatura entre o tinentâis, raramente além dos 20 ou 25 graus. A sucessão do
verão avançado e o coração do inverno podem atingir às vê­ calor e do frio (o frio comparece apenas excepcionalmente)
zes 1Q09C; 609C de diferença entre o dia mais quente e o dia {· gradual e contínua. O mesmo vale com relação ao dia e
mais frio são um caso normal. Além disso são notáveis tam­ à noite. Em alto mar a diferença entre a máxima tempe­
bém e�tre dia e noite durante a estação quente: em pouco ratura diurna e a mfoima temperatura noturna é apenas de
tempo o termômetro pode subir de pouco acima ele zero nas poucos graus, ele 29 a 1 v ou talvez menos. Raramente surge
primeiras horas cio dia até 25 9 e mais no fim do período uma real secura, prevalecem abundantes precipitações, em par­
matinal. ticular são muito freqüentes as formas lentas (neblina, chuva,
Depois de temporais, que se manifestam com aguaceiros chuvisco, borrifos ele neve). A umidade atmosférica relativa
e saraivadas, com relâmpagos e trovões e se esgotam somente é sempre muito elevada. A tendência à tempestade é mode­
depois de longas horas, a temperatura freqüentemente é ge­ rada; após os temporais, porém, não se verifica aquêle estado
lada, para mudar-se logo depois em calor. A enormes ne­ ele refrigério, mas persiste o calor {unido como antes. Raras
vadas e tempestades ele neve seguem-se semanas com dias in­ são as quedas barométricas; raros os casos em que a bonança
vernais ensolarados e cristalinos, com ausência de vento e frio se transforma improvisamente em tempestades. O vento em
penetrante. geral �onstitui o fator determinante da queda de temperatura
C' do estado de refrigério.
Essas exigências são bem suportadas pela maior parte elos
homen_s, contanto que estejam adequadamente protegidos con­ Quem é estranho a êste clima, encontra muitas dificul­
tra o frio. Os imigrantes sofrem muito com o frio pungente dades para habituar-se. Prescindindo das deficiências sensí-
do longo inverno tôda vez que se devem expor; suportam me­ 1·eis (pouco sol, céu cinzento, ar úrniclo, muita neblina, e em
lhor, graças às noites um pouco mais frescas, o calor elas se­ geral tempo agitado), êle sofre, não obstante a falta de ca­
manas de verão, ao passo que se sentem menos à vontade nas lor, pela umidade também na temperatura moderada; vi­
estações de transitação do fim do outono e cio início ela prima­ ce-versa, sofre até mesmo por urna sensação de gêlo úmido,
vera, freqüentemente tempestuosas e frio-úmidas. Às vêzes 111csrno quando o frio não é excessivo, sempre por efeito da
aparece um estado de excitação, que pode manifestar-se numa sua umidade, que "se insinua" em tudo. Faltam os estímu­
irrequietação sem meta, irritação, insônia. Todavia, no sono, los alternados e o seu efeito estimulante e excitante; o vento,
freqüentemente acontece o contrário: as noites frescas assegu­ o umco que aqui exerce esta funçã.o, para quem não está ha­
ram também nos longos períodos de calor diurno o repouso bituado é de um efeito fastidioso, debilitante; provoca opres­
necessário. A eficiência geral somatopsí.quica é aumentada, são cefálica e mal-estar ( § 29). Sentimo-nos cansados, mal
mais freqüentemente origina-se (anàlogamente como no ve­ d ispostos para a atividade, fleumáticos; o apetite e a diges­
rão ár.tico e nas montanhas) uma desusada mania de agir que tão desaparecem, sobrevém uma sensação de vazio e de opres­
é hipomaníaca. O verdadeiro clima continental é um dos cli­ sfLO, um estado de indiferença mental. :Ê.sses efeitos podem
nws mais propícios J;ara o estado de saúde que existe s5bre s11rgir em primeiro plano com tanta violência, a ponto de
a terra. of11scar não só o fascínio da paisagem, mas também os efeti-

136 137
vos melhoramentos do estado de saúde (talvez doenças ca­ gicamente uma distensão das funções ativas ela psique, antes de
tudo da atenção; conte111porâneamente verifica-se um aumento
tarrais). A aclimação torna-se demorada, às vêzes parece ina­
do impulso motório, portanto uma leve excitação motória. As
tingível para os indivíduos especlficamente continentais que se
transferem adultos para o clima marítimo. provas experimentais sôbrc êsses efeitos, realizadas pelo Dr. Ber-
1 iner sôbre crianças, induziram-no a atribuir a excitação ao
Um tipo particular ele clima marítimo é representado pelo
clima litorâneo, cujos efcilos são um pouco diferentes. Distin­ frescor ventilado e a diminuição da atenção ao úmido-brando.
gue-se do clima marítimo comum pela sua ventosidade; mas Talvez seja exato; mas é necessário considerar que muitos adul­
los caem antes numa espécie de cômoda apatia, que os induz
não é isso senão urna elas vantagens. Com efeito, muitos fre­
qüentadores elas praias num primeiro tempo sofrem também rw prolongado ócio. Isto talvez depende do fato que os adul­
(e às vêzes contlnua111entr) pelo vento, ainda que, na maior los necessitados ele repouso muito freqüentemente se abando­
nam a esta apatia, sem reservas, deixando-se conduzir, por efei­
parte, a êle se habitue1n e constatem as objetivas vantagens do
forte 111ovirnento ele ar. Tais vantagens consistem antes de to cio fator paisagístico dado pela vastidão cio murmúrio do
111ar, a uma espécie ele sonolência (falou-se de uma ligeira hip­
tudo na constante e adequada dispersão térmica e evaporação
cio corpo, e conseqüentemente na eliminação, ou, mais exata­ nose;(§ 1.18), enquanto que as crianças encontram nas praias
ocasiões inesgotáveis para se divertirem. Dado o contínuo mo­
mente, na prevenção do estado mormacento com todos os seus
\'imento ao ar fresco e ventilado insurge nelas uma excitação
inéonvenientes somatopsíquicos, e secundàriamente no prazer e
motora, enquanto que os adultos se abrigam contra o ar ven­
no efeito de um estímulo climático verdadeiramente sensível e
tilado deitando-se na praia, entre as dunas, debaixo das tendas,
vigoroso, que falta às formas inertes cio clima marítimo.
e se abandonam ao repouso no ponto cm que o clima maríti-
Sóbre êste ponto possuímos pesquisas precisas. Os multí­
plices., resultados obtidos podem assim ser retomados. Nas mo é temperadamente úmido.
praias marítimas abertas, quanto mais a praia (compreendidas Os climas marítimos ela terra mostram muitas gradua­
as dunas arenosas) é clara, quanto menos ela é modificada cem ções. O tipo melhor localizado poderia ser o clima do Atlân­
a presença de bosques, prados, colinas ou montanhas, tanto tico oriental, isto é, o clima da Europa Ocidental, que no no­
mais ali se entrecruzam dois caracteres climáticos, o úmido e roeste apresenta urna acentuação de caráter úrniclo-brando por
ameno elo clima marítimo geral, e o fresco e ventilado, que mui deito da corrente quente do Gôlfo. Com respeito aos outros,
freqüentemente pode ser dito fresco e tempestuoso, cio clirna falta-lhes em medida considerável aquela abundante radiação,
que contrabalança o mole equilíbrio do clima centro-marítimo
particular cio litoral.
( não ,por efeito, segundo o nosso parecer, da agradável im­
Ambos os elementos distinguem-se claramente de muitos
pressão produzida pela paisagem, mas pelo influxo excitante
outros já nas condições subjetivas cio estado de saúde de todos
puramente climático). No Atlântico oriental o sol raramente
os dias que êles determinam. Há numerosos indivíduos que
, aparece, por uma grande parte do ano predominam céu en­
estão sempre sujeitos a uma condição de contraste, pelo que o
coberto, chuva ou neblina. O clima cio Pacífico oriental ( p.
"mar" poderia ser para êles um fator recreativo, se o perpétuo
<·x., o. californiano) apresenta novamente o caráter ameno e
frescor ventilado da praia nua não turbasse as suas férias, dei­
vrntilaclo do tipo climático marítimo juntamente com uma
xando-os irritados, esgotados, insones, ocasionando-lhes dores de
notabilíssima radiação solar (superior àquela do Mediterrâ­
cabeça e nevralgias. tste estado de coisas melhora logo, se
neo) e muito moderadas diferenças entre as horas cio dia e
evitam a verdadeira praia ou de qualquer forma se nela não
.i � estações.
se demoram demasiadamente. Na Europa Central encontra­
Os 1 climas continentais, pelo contrário, contam-se entre os
mos uin exemplo dêste clima exclusivo da costa nas praias ale­
11niform�s. São todos assinalados por violentos contrastes me­
mãs do Mar cio Norte. Já outros temperamentos preferem
tt-oro!ógicos, embora com graus diferentes conforme se en­
justamente a praia, porque o seu clima fresco e ventilado re­
c·onlram no centro ele grandes massas continentais ou antes
presen�a para êles um agradável açoite climático com respeito
nns suas margens: Berlim - possui de fato um caráter climá-
ao efeito "relaxante" cio clima marítimo úmido e brando.
1 irn rnntinental apenas acentuado; em Viena é já mais acen-
Férias relativamente longas na praia determinam psicolo-
111r1do; rm Moscou alcança a forma extrema.
138 139
IV. - Montanha e planície l':1 salvação está no movimento e no apêlo a qualquer resto
de energias, quem sofre o mal de montanha depois de alguns
61. Efeito da altitude. - Quando um ser vivo sobe às
111inutos de repouso sente-se aliviado e se levanta como que
montanhas ou voa nos ares, prova uma influência da atmos­ "renasçido", para recair nas mesmas condições após outra cen­
fera que nenhum outro clima da terra oferece: o ar torna-se lL:na de passos.
mais rarefeito, mais leve a pressão atmosférica, que ao nível
Trata-se de uma das formas mais evidentes de paralisia
do mar, como é sabido, é igual ao pêso de uma coluna de 111otória que conhecemos; quanto mais intensa é a sua exten­
mercúrio de 760 mm. ou de uma coluna de água de 9 m. di­ são, tanto mais toma parte nela também a psique, pelo que
minui continuamente. E assim até que, a determinadas al­ :1 inutilidade de todo esfôrço para prosseguir, provoca no fi­
titudes, sem contramedidas, o organismo humano começa a nal desencorajamento, apatia e uma sensação de abandono ao
sofrer ("mal de montanha", a 3.000 111. até 6.000 m.) e além próprio destino. Acrescentando-se ( como é muito fácil a tais
elos 6. 000 111. sem dispositivos especiais, sucumbe, porque o ar :i.ltitudes) os efeitos do frio, nevadas ou tempestades de neve,
rarefeito não pode mais oferecer a quantidade necessária de {'ntão o mal de montanha e o congelamento comparecem jun­
oxigênio.
tos de_terminando um estado de letargia, que ameaça seria­
De onde provêm os efeitos psicossomáticos, que tôda al­ mente a vida.
titude abaixo da zona do mal de montanha exerce sensivel­ É indubitável a diversidade local do perigo de advir mal
mente (por isso hoje ela é procurada como lugar de vera­ tle montanha. Se bem a respeito corrarn muitas lendas, espe­
neio) ? Talvez da rarefaç.ã o do ar ou de outras propriedades cialmente entre os montanheses, a possibilidade ele ser co­
das regiões altas, afins àquelas do verão polar, do interior dos lltido pelo mal além do limite correspondente de altitude apre­
continentes, e, em parte, também das costas? senta-se de modo muito desigual em diversas montanhas e
Na climatologia e especialmente na climatofisiologia do­ partes ela montanha, e tôdas as tentativas feitas para dar uma
mina a respeito uma grande variedade de opiniões. Duas são explicação a êste fato, até hoje não foram satisfatórias.
as hipóteses fundamentais: uma faz consistir na rarefação do O italiano Mosso, um pioneiro da psicofisiologia das re­
ar o elemento essencial do efeito biológico da altitude, a ou­ giões altas, descreveu eficazmente uma excitação característi­
tra, porém, a atribui à radiação solar. Um dia, como tantas ca que pode surgir como prelúdio psíquico dos casos leves de
outras controvérsias científicas, também elas encontrarão seu
111al de montanha, e que da fase hipomaníaca se transforma
ponto de encontro: não é verdadeiro que a rarefação atmos­ ràpidamente numa manifestação de violência e ele irritação
férica, corno se apresenta nas montanhas, seja indiferente pa­ ("embriaguez cios fundidores"); manifesta-se com clamor, fan­
ra a respiração do organismo, mas é igualmente certo que a íarronice, loquaciclacle, familiaridade com estranhos, importu­
particular fôrça e o tipo de radiação nas altitudes exerce sô­
nismos, mania de projetos para o dia seguinte, inquietação
bre o organismo um influxo decisivo. A fadiga e a queima­ nervosa, insônia ( "nenhum sinal de cansaço") . Às vêzes um
dura das geleiras demonstram já de modo evidente ao pro­
consumo inoportuno de bebidas alcoólicas exaspera o quadro
fano tanto uma corno outra influência sensível. ou até mesmo o determina. Continuando a excursão pode-se
A forma de atividade do clima montês, no modo em que chegar imediatamente a uma fase de paralisia do verdadeiro
se manifesta além dos 3. 000 metros, ora prorrompendo ines­ 1 nal de montanha.
perado, ora desaparecendo até além dos 5. 000 metros, isto é,
Abaixo da zona do mal de montanha o efeito geral da
o "mal de montanha", assemelha-se muito nos seus sintomas altitude, embora mais moderado, age, todavia, na mesma. di­
ao perigo de congelamento (§ 26). Mesmo sem a fadiga, to­ reção,· determinando urna insólita excitação. Nos graus mais
do o organismo é colhido improvisamente por um cansaço pa­ leves ela · se manifesta como uma excitação muito agradável:
ralisante; sentar-se é o único recurso possível no momento, mas sentimo-nos bem dispostos, o ar nos parece ameno e "leve",
freqüentemente é também um deixar-se conduzir por uma fôr­ a atividade corpórea não requer fadiga, sobe-se "leves como
ça maior. Enquanto, porém, no congelamento a sonolência uma pena", pode-se prosseguir a excursão por horas inteiras,
sobrevém invencível e letal justamente sentando-se, e a úni- a vida ele todos os dias é esquecida, deixam-se de lado as preo-
140 141
cupaç5es. Particularmente aumenta a suscetibilidade às im­ i11d1"1 cl1· ·1.000 m: l'vféxico, os Estados da Cordilheira, o Ti­
p ressões: não somente goza-se a beleza da paisagem monta­ l11•1, .1 11mior parte da África do Sul possui as suas cidades
nhosa, mas intervém o gôzo puramente sensível do "ar" ·nu­ 1•1111tqmis a mais de 1. 500 m de altura; na Ásia, sede ori-
ma medida desconhecida; "traga-se" a sua pureza, frescor e 1"";'11 in da antiga cultura humana, a altitude média continen-
leveza, ''sente-se", "cheira,se" o ar (mesmo prescindindo dos 1,d t'· de 1. 000 m. Trata-se naturalmente de urna aclimação
11 l.11iva. Nem tôdas as atividades, especialmente as físicas
perfumes dos prados e cios bosques) "como champanha".
Tal excitação clirnáLica pode já ser notada a altitudes 111,1is pesadas, podem ser desenvolvidas como na planície. Mas
médias. Freqüentemente basta uma ascensão ele 300 m sôbre (diíl'tentemente do clima tropical e do inverno ártico) alcan-
1, -M' boa capacidade média de rendimento, que se consolida
o nível do mar para provocá-la. Na Alemanha é muito co­ o1

nhecicl_o pelo efeito cio ar o altiplano ele Munique, que se es­ , <1111 o aumento cio bem-estar. Parece mesmo que algumas
tende entre 400 e 600 111. A facilidade no caminhar e no su­ 111odificações objetivas, como aumento da pressão sanguínea, as-
bir é notada cm tôclas as montanhas em tôrno cios 1. 000 me­ 111:t, moderada dilatação do bócio, sono breve e superficial, que
tros. ·Há inclusive um valor otimal que gira em tômo cios 11.1s regiões baixas determinam notáveis distúrbios e com os
500 e 1.500 m. (mas para muitos indivíduos, como parece, q11nis se "sofre", além dos l. 500 metros são suportados sem
encontra-se entre 600 e 1 . 200 m). IIIC"Onvenientes. Com que rapidez todo o crganisn10 psicos­
M'1n:'itico se acostuma com a altitude, podemos vê-lo em mui­
Em altitudes mais elevadas, freqüentemente já cios 1. 700 até los casos do mal de montanha, que dcsaparc-ce perfeitamente
2.000 metros, anelando-se mais ràpiclamente, e ainda mais quan­ ,. para sempre depois de um oportuno teor de vida sem es­
do se sobe ou se fala durante o caminho, notam-se as primei­ lorços de alguns dias, se bem a altitude não seja diminuída.
ras clificulclades, que forçam paradas mais freqüentes para Experiênciaô muito surpreendentes foram feitas a êstc res­
tomar ar. Não raras vêzes então o estado de excitação psí­ peito com as expedições ao Himalaia, no Everest e no Nanga
quica assume acentuaçã.o desagradável: irritação, estado ele l'arbat. Pode-se dizer que os habitantes do baixo plano, psi­
opressão com desabafos, inquietação penosa, especialmente an­ rnflsiêamente sadios se aclimam em breve tempo a qualquer
siedade (talvez "tenha acontecido qualquer coisa em casa"), :iltitude até 3.000 rn. sem auxílio ele recursos técnicos respi­
indefinida inconstância, mas sobretudo grave e freqüente in­ ração artificial do oxigênio e semelhantes) com boa capaci­
sônia. Esses efeitos são favorecidos por rapidíssimas ascen­ dade média de rendimento e completa sensação de bem-estar.
sões a maiores altitudes e podem ser mitigados com uma as­ li-to é uma outra prova da utilidade jJara a saúde dos climas
censão gradual com etapas de vários dias ("estações de passa­ ncilantes da terra. Com efeito, o clima de altitude (com
gem"). Às vêzes trata-se de um indefinido sentimento de 1·,ceção feita aos casos do mal de montanha) é um clima
mal-estar geral, por trás do qual se oculta uma mutável mis­ sobremaneira estimulante; imprimem-lhe êste caráter sua se­
tura de excitação e de paralisia devidas ao clima. cura itmosférica, sua intensidade de radiação, sua ventosida­
O efeito principal da excitação vem dos cimos, das cris­ de, o grande número de seus contrastes meteóricos e p rovà­
tas, dos planaltos. Os vales altos apresentam-no atenuado: \'Clrnente (entende-se até a certo grau) também a sua rare­
os vales estreitos, também a urna notável altitude, pelas con­ fação atmosférica ( § 72).
dições oprimentes da paisagem, apresentam freqüentemente na
sintomatologia psicológica, de acôrdo com o hábito c com a 63. Os fatôres ativos das zonas de altitude. - O clima
sensibilid'ade paisagística, elementos heterogêneos. ele altjtude é o clima da terra que a ciência estudou com maior
precisão. jlnterêsses esportivos e médicos juntaram-se aqui pa­
62. Habituação à altitude. - Quase todos os homens, mes­ ra escl9recer suas principais propriedades ativas e sua ação. A
mo os crescidos num plano mais baixo, acostumam-se ao cli­ extraordinária atração das montanhas sôbre os turistas do
ma montanhês, que é o de mais fácil aclimarão existente na século XIX e a sua eficácia curativa levaram com efeito a
terra. Houve povos, que se estabeleceram desde a antigui­ medicina e outras ciências a interessarem-se por elas de mo­
dade, com cidades e reinos de surpreendente cultura em alti.. do particular.

142 143
V!'!rdadeiramente, também para o clima tropical existem la de altitude, e atribuem a fatôres totalmente diferentes os
muitas pesquisas, mas são muito unilaterais e limitadas ao es­ deitos psicossomáticos seja de uma situação meteorológica de
tudo dos perigos de algumas doenças nos trópicos. O clima baixa pressão, seja de uma altitude com baixa pressão. É
tropical é o clima mais insalubre, e vice-versa o clima de al­ rerto que na mudança meteórica e na mudança de altitude
titude é o mais salubre da terra. n mesmo fator do "ar inais leve" não pode de forma alguma
Que papel ativo desempenha o fator mais importante das representar o elemento positivo.
zonas de altitude, a rarefação do ar, no seu efeito cl imático A secura do ar da montanha, sua temperatura fresca e
psicofisiológico? Procuremos dar uma resposta precisa pe lo it sua viva mobilidade, e talvez também a sua "pureza" (tra­
menos para esta questão. Para as altitudes médias, mais ou ta-se aqui de um conceito cientificamente não muito ortodoxo)
menos entre os 1. 500 m, nota-se a reação contrastante com têm um efeito excitante, anàlogamente ao ar de verão ártico
as exp<:riências meteorológicas ( § 34) : o bom tempo com va­ e do clima continental, e nos graus mais brandos beneficamen­
lores elevados da pressão atmosférica ( quando o ar "pesa sô­ te estimulante. Êsses fatôres estão presentes e ativos em to­
bre nos" com uma pressão notável) dá uma sensação geral do clima de altitude. A incerteza diz respeito às condições
de leveza, frescor e desembaraço; as quedas barométricas, qua­ da rarefação atmosférica e da radiação luminosa, que provo­
se sen1.pre coligadas a notáveis diminuições da pressão atmos­ cam influências físico-químicas.
férica, produzem estados fisiológicos de opressão ( o têrmo "de­
pressão" tem na psicologia e na meteorologia um significado 64. Respiração nas zonas de altitude. - t possível que
oposto: nesta significa uma diminuição da pressão, naquel a o menos pesado nas montanhas se faça sentir também en­
de uma opressão). Diminuições da pressão de 30-50 mm e quanto tal ( § 34) sôbre o mecanismo das articulações (ou sô­
mais -são acompanhadas já por uma conveniente queda ba­ bre a tensão gasosa intestinal, a que reagem sensivelmente
rornétrica, que torna a vida "pesada" aos temperamentos me­ sobretudo as pessoas anciãs, § 45) . ]\!Ias é certo que o ar mais
teoro-sensitivos; a mesma diminuição de pressão com a alti­ leve age antes de tudo como ar mais rarefeito, isto é, em igual­
tude corresponde a uma ascensão numa altitude de apenas dade de volume, por exemplo num metro cúbico, os nossos
500 m sôbre o nível cio mar e desenvolve uma ação sensível pulmões recebem uma quantidade menor de oxigênio. Com
exclusivamente estimulante, que põe de bom humor e alivia o respiro igualmente abundante inspiran10s de 1 . 000 a 2. 000
tôda atividade. m de altitude uma quantidade de ar consideràvelmente me­
Infelizmente as pesquisas experimentais em ambientes ar- nor, e portanto também uma quantidade menor dos elemen­
tificiais, que permitem modificar à vontade a pressão atmos­ tos do ar, sobretudo do oxigênio, que a uma altitude de 10 m.
férica aspirando e emitindo ar com as bombas (câmaras pneu­ Pode-se notá-lo já em tôrno dos 1.500 metros devido às di­
máticas) não resolveram o enigma dessas experiências con­ ficuldades de respiração (por exemplo, quando se sobe e ao
trastantes. mesmo tempo se fala) . Acertou-se agora que uma série de
O primeiro estudioso que concluiu clássicas pesquisas ex- fenômenos fisiológicos, que se manifestam no clima ele altitu­
perimentais sôbre a pressão atmosférica, Paul Bert, observou de (maior profundidade ela inspiração, aumento de pulsações,
ocasionais sintomas de excitação antes de intervirem sinais de
da troca gasosa e ela pressão sanguínea) podem desaparecer
paralisia análogos ao mal de montanha (que se manifestam
logo com a inalação artificial de oxigênio. Os fenômenos do
quando a pressão do ar diminui de 1/4 de atmosfera, isto é
mal de montanha são hoje estendidos quase geralmente co­
de 250 mm), mas a partir de então não mais foi confirmada
mo efeitos de uma grave deficiência de oxigênio no organis-
de modo irrefutável qualquer modificação sensível psicofísica
conseqüente à diminuição da pressão atmosférica de 20 até 1110. Não é nosso objetivo examinar as diversas opiniões que
l 00 n1m na câmara pneumática. insistem sôbre o efeito da falta ele oxigênio.
Por isso não faltam estudiosos que põem em dúvida o papel Infelizmente a ciência não deu ainda urna resposta de­
de tal pressão nas modificações do comportamento psicológi­ finitiva ao problema: uma leve diminuição de oxigênio, co­
co, tanto pela pressão atmosférica meteorológica quanto pe- mo acontece somente nas médias altitudes, exerce efeitos es-

144 145
1 O • Goop•lque
timulantes psicossomáticos? A êste proposito poder-se-ia pen­
novas vias de pesquisas cm tôrno das propriedades da ra­
sar no papel do gás carbônico no ar, a cuja ação uma auto­
diação luminosa nas montanhas. Já na sua publicação de
ridade como Mosso, quis atribuir inclusive o mal de monta­
l!JI 1, Luft und Licht im Hochgebirge (Ar e luz na alta mon­
nha. Seriam então ele modo definitivo os fatôres componen­
tanha), encontramos a -clássica descoberta do singular pro­
tes cio ar que, com a 111odificação ela pressão, influenciariam
rcsso dinâmico da radiação durante as estações.
sôbre o organismo como agentes químicos.
A radiação solar nas altas montanhas, de acôrdo com
A afirmação de Locwy (Davas), segundo o qual o prin­ .1 estação, apresenta um conjunto muito mutável de radia­
cipal responsável seria o oxigênio, como demonstra o desa­ <.;Ões de ondas longas e curtas, onde, por exemplo, a percen­
parecimento de essenciais perturbações fisiológicas com o iní­ lagcm de radiações térmicas (vermelhas e ultravermelhas com
cio da inalação artificial de oxigênio, não é totalmente con­ intensa ação química); é diferente de mês para mês. O mês.
vincente. Pode tambén, ser que essa inalação elimine, como de janeiro apresenta radiação térmica muito intensa (de on­
uni llledicarnento, distúrbios que são causados por fatôres to­ de· deriva a conhecida sensação de calor quando se está ex­
talmente diferentes, por exemplo, um influxo exclusivamente postos nas altas montanhas ao sol de meio-dia, embora sen­
radiante nos tecidos. Quando fricciono um congelado não do o ar de um frio pungente) e só uma dose muito limitada
com panos quentes mas com a neve, para reativar as suas fun­ de raios ultravioletas; no mês ele julho a quantidade de raios
ções vitais, isto não demonstra que seja a falta de frio o fator 1dtravioletas aumenta quase o triplo; e ta111br111 no outono,
causal do congelamento! Todavia, é necessário reconhecer que é talvez o período mais bcnéfiro para a saúde elas zonas
que é muito inverossímil que a diminuição da respira ção de 111011tanhosas e que infelizmente não é utilizado como é-poca
oxigênio, como se verifica nas maiores altitudes, deve perma­ de repouso, a percentagem ele radiações ultravioletas é supe­
necer sem conseqüências para o organismo. Esta argumenta­ rior àquela do inverno e da priinavcra, enquanto a primavera
çifo dedutiva (que ela necessidade de oxigênio para a vicia ele sua parte mostra um máximo da percentagem térmica. O
conclui por perturbações vitais que surgem por uma sua de­ :ir cristalino atinge o ponto máximo no inverso e o seu valor
ficiência) é, corno se vê, inclubitàvclmente sustentada por via 111ais baixo no verão.
indutiYa da experiência, quando o refornecimento artificial de Se compararmos essas afirmações com as condições fisio­
oxigênio trunca prontamente aquelas perturbações. lógicas experimentalmente comprováveis elos homens transfe-
Se, portanto, não conhecemos ainda nos particulares a 1 idos para a alta montanha, salta logo aos olhos a sua aten­
relação, que intercorrc entre os efeitos psíquicos da altitude dibi!ida_de. Com efeito, nas zonas altas as estações mais pro­
e a relativa deficiência ele oxigênio, todavia, combinando em pícias à saúde são sem dúvida o alto e tardio inverno e o ve­
conjunto considerações dedutivas, podemos chegar à conclu­ r:ío avançado até o princípio cio outono (no hemisfério seten­
são que a rarefação do ar representa no clima de altitude um trional janeiro até março, agôsto até outubro). A composi­
fator ativo essencial, e isto essencialmente pela deficiência de <;fio estática das radiações é muito vária: no inverno poucos
oxigênio, trazida, pela rarefação do ar. Embora sem conhecei: 1 n ios ultravioletas com valores térmicos elevados, que aumen-
cientlficamente todos os efeitos psicofísicos dos diferentes ti­ 1 :u 11 de semana em semana; no outono abundância ele raios
pos ele radiações, coligando igualmente argumentações dedu­ 1 il lravioletas com poucas radiações térmicas: mas no período
tivas e indutivas, estalil1os também convencidos que a radia­ pn11ro propício à saúde daquelas zonas, na primavera adian-
ção das zonas de altitude está interessada do mesmo modo 1:1cla e no tardo nutono (abril-maio: novembro-dezembro se-
que a rarefação do ar nos efeitos psicossomáticos daquele cli­ 11•ntrionais) a energia térmica é altíssima com contínuo au-
ma. Nestes dois fatôres consistem as fôrças ativas das zonas 11H•nto dos' raios ultravioletas, e depois moderada com forte
altas, que nenhum outro clima da terra possui. di111in11ição dos ultravioletas.
Em outras palavras, não se deve argüir: muitas raclia-
65. Radiações das zonas de altitude. - As pesquisas de 1,1ll•s ultravioletas prejudicam, poucas ajudam, muito calor é
um estudioso ela Prússia oriental, forçado a permanecer em 111•11Nico, pouco calor é maléfico, porque tais afirmações são
Davas por fortuitas c_ircunstâncias de vida, abriram à ciência 1•11 14:in:1doras. Parece que uma dose ele raios ultravioletas
146 147
muito moderada, mas também levemente crescente dia a dia, 1110 e são influenciadas pelas suas propriedades ( § 60, no fi-
seja igualmente favorável à saúde como uma dose notàvel­ 11�1) : a quantidade de radiações do inverno puramente conti­
rnente mais forte, mas dia a dia decrescente, se a primeira é nental no interior da Rússia ou da Ásia é muito mais notável
acompanhada dia a dia por uma dose térmica de igual forma que nas planícies baixas da Alemanha setentrional ou nas
crescente, e a segunda por uma dose térmica estável. Pe­ roslas do Mar do Norte ou do Báltico. Também os trópi­
ritos cÍas zonas de altitude consideram geralmente para o he­ ros têm radiação notabilíssima. Para os habitantes das zonas
misfério norte os meses de março e de outubro como os meses l<:mperadas do Ocidente sem dúvida não se pode transcurar
"mais belos" também pelo bem-estar que causam e não só nada da quantidade de radiações das suas zonas e altitude.
pela impressão natural que suscitam; um possui uma radia­ l)avos no inverno é de uma luminosidade seis vêzes mais forte
ção ultravioleta branda mas crescente com calor em rápido que Kiel e em pleno verão pelo menos dupla. A alta mon­
aumento, o outro uni calor uniforme com radiação ultravio­ tanha, assim nos podemos exprimir, nos apresenta um fluxo
leta m(?deradamente forte mas decrescente! Tendo presente de luz em ar mais leve.
êste fato, é hipótese verossímil que não temos ainda absolu­
tamente descoberto o verdadeiro segrêdo das estações de al­ 66. Descida para as zonas baixas. - A mudança de alti­
titude. Continua antes sempre possível que nela tomem par­ tude, descendo, pode ter efeitos muito diferentes, de acôrdo
te essencial energias que (como as racÍÍações penetrantes a com a altitude e de acôrdo com as suas particularidades cli­
grande altitude, § 35) não foram ainda exploradas nos seus máticas tropicais, subárticas, marítimas ou continentais. Fre­
efeitos biológicos. qüentemente comparece um leve síndrome de paralisia, que
Em todo caso a quantidade complexiva da radiação nas age como calmante quando nas zonas altas se gerou um es­
zonas montanhosas é sempre muito grande e supera geralmen­ tado de espírito inquieto, excitado ou mesmo irritado; mais
te a das zonas baixas. Isso vale naturalmente para as zonas freqüentemente, porém, manifestam-se opressão, cansaço, fal­
de ver<1-neio de qua !quer forma comparáveis, isto é, para vales ta de vontade na atividade, sonolência. Especialmente um
altos e extensos e para os verdadeiros altiplanos. Em vales movimento vivaz como subir, fazer ginástica, dançar, torna-se
estreitos, com pouco sol e pouco céu aberto, as radiações que pesado. Pausas adequadas durante a descida em "estações de
alcançam o organismo sofrem uma correspondente diminui­ transição" (a 1 . 200 e 500 metros acima do nível do mar) são
ção. Não se deve esquecer nunca que a radiação sem sol, a aconselhadas para a maior parte dos indivíduos, quase com
luz de sombra, com valores de luminosidade oscilantes, e in­ 111aior urgência que as correspondentes paradas durante a su­
tensidade térmica essencialmente mais escassa, contém rela­ bida, porque uma depressão no plano pode tornar-se molesta­
tivamente mais raios ultravioletas que a luz direta do sol. mente mais fastidiosa que a excitação da subida.
Isto compensa por assim dizer bioqulmicamente, a perda d e tste efeito alcança o seu grau máximo na nostalgia dos
radiações nas regiões com céu muito coberto. planaltos que pode aprofundar-se até chegar a constituir es­
Não obstante isto as zonas ele altitude superam tôda zona tados notáveis depressivos. Todavia, aqui intervêm também
baixa tanto na radiação complexiva quanto na percentual de experiências psicológicas suscitadas pela paisagem (para o adul­
raios ultravioletas. Ambas aumentam com o nível do mar ( e lo crescido na montanha a primeira vista da planície é, co­
diminuem com a latitude geográfica, aproximando-se dos pó­ mo provei eu mesmo há 15 anos, uma verdadeira desolação
los). O fato de os próprios altijJlanos também com modera­ que oprime) , freqüentemente trata-se também do primeiro
da altitude apresentarem já com particular relêvo o efeito cio abandono da terra natal por exigências do dever ( serviço mi­
clima de altitude, especialmente com sintomas de animação litar), outras vêzes misturam-se fatôres profissionais, pelo que
e de excitação, depende, além do forte movimento do ar, tam­ na nostalgia da montanha de quem dos montes volta para casa
bém dos valores muito elevados da radiação. Não é por tô­ depois das férias freqüentemente desempenha um papel im­
da parte, de resto, que o contraste entre zonas de altitude e portante na monotonia do trabalho cotidiano. De resto, há
zonas baixas é tão forte como na Europa Central e Ocidental, lambérn um mal-estar inverso provocado pela paisagem, isto
onde as planícies e as costas estão na esfera do clima maríti- r, urna genuína nostalgia paisagística do habitante da planí-

148 149
cie que vai para as montanhas; são estados opressivos provo­ 1 1.1dos c:onternporânca111cnle um depois elo outro. Nesle caso
cados pelas alturas emergentes, pelas paredes dos vales, pela J1<1dcrn manifestar-se cfci los novos totalmente desconhecidos
"estreiteza" do horizonte, que pode ocasionalmente chegar até (1·111 certos casos muito p<'rigosos) que não são observados em
à angústia. Tudo isso, porém, é estranho às questões climá­ 111·11hurn de cada re111édio lomado separadamente .
ticas ( § l 16). Para o habitante dos trópicos o regresso das Ora, é justamente êstc o caso cio clima. Em todo clima
estações climáticas em zonas altas representa naturalmente a ,,,1{1 presente de modo permanente ou por longo período de
retornada ela luta com as clificuldacles impostas pelo clima mor­ 11•111po um estímulo, que no Lempo aparece apenas ocasional-
rnacento das zonas baixas tropicais. 1111·nte; além disso co111parecem combinações ele estímulos con-
111111arnente diferentes. Em confronto com estímulos meteóri­
' ns de breve duração nêle entram em jôgo, portanto, dados
B. - TEORIA DA ACLIMAÇÃO 11m·os como o hábito, a suj1ressão, a su/Jerexcitação por efeito
PSICOLóGICA , lo influxo persistente sem que sobrevenha o hábito, e por fim
.1 l1i/1erexcitação não obstante o a/1arente costume.
67. O problema metodológico. - Faríamos a ilícita sim­ Todos os influxos cli1nálicos sôbre o organismo são do
plificação cio argumento, se supuséssemos que todo efeito do tipo dinâmico muito claro, islo {, trata-se não ele reações in­
clima não seja senão um efeito continuado do tempo. De cli,icluais, que surge111 e dcsapan'cc111 por um fato que é a
um ponto de Yista atmosférico isto é exato. Como o clima ,1ia causa (como no tempo}, mas d<' 1111ia cadán de ieações
não é mais que um caráter do tempo, todos os elementos me­ 1· de _fases alternadas, que se rnaniíesta111 de modo completo
teóricos são também elernentos climáticos. Também o efeito la111béin cronologicamente e aLé mesmo sem a fase cio pri-
psicofísico do clima não pode ser provocado senão pela tem­ 11 lf'iro efeito ( § 68 ss.).
peratura, pela umidade, pela pressão e pela eletricidade at­ O efeito meteorológico é uma reação bre\·e, que se ma-
mosférica, pela luz, pelo ,·ento, pela composição do ar, por 11ifcsta com o estímulo rnete6rico a que corresponde na sua
fatôres elo solo ou por elementos ainda desconhecidos. Neste dlll'açã.o. O efeito climático é uma cadeia de reações, onde
sentido também nós consideramos o clima tropical como mor­ e :ida membro seguinte é concleterminado pela situação cria­
maço persistente, e pomos em relêvo êste ou aquêle síngulo da pelos membros precedentes, entre as quais se elevem anotar
fator meteorológico (por exemplo, vento e radiação) neste t.1111bém as reações que se deram diante ele estímulos prere­
ou naquele clima como essencialmente determinante. cl,•ntes _. com a modificação ela adaptação, da influenciabilida­
Mas cio ponto de vista elo organismo um efeito conti­ cle e da disposição reativa por elas introduzida.
nuado ele um estímulo não é simples continuação ou simples É dessa diYersidade entre o caráter permanente do cli-
sorna de efeitos iguais ele breve duração. Todo estímulo crô­ 111a e o caráter ternporâneo cio tempo meteórico que nasce a
nico pode (não eleve mas pode) modificar o seu efeito tanto cli, ersidade entre os métodos de pesquisa dos efeitos psicosso-
mais ràpidamente, quanto mais é radical a modificação, com­ 111Úlicos climáticos e meteóricos. A confirmação científica do
parado ao efeito agudo cio mesmo estímulo. Sabemos a pro­ ,·f('ito meteórico, que não pode acontentar-se com declarações
pósito de estímulos químicos (por exemplo, venenos volutuá­ �11bjetivas sôbre o estado de saúde, encontra' na brevidade e
rios, remédios) que a mesma dose, que antes agia muito vigo­ rn pricho dos fatôres meteóricos naturais, especialmente nos im­
rosamente, se é contínua e ulteriormente tornada, ou não tem p1 c�sionantes e de forte efeito, corno temporais, fühn, neva­
mais nenhum efeito (sonífero!) ou depois de algum tempo das, a sua, dificulclacle principal.
age de modo prejudicial em vez de salutar, ou no momento Importante fonte de êrros de tôdas essas pesquisas é a
necessário não age mais (produzindo portanto hipnoses), ao f1l'qüente e grande dificuldade para estabelecer se determina­
passo que revela efeitos secundários indesejados (no coração e da diminuição (ou acréscimo) do estado de bem-estar ou do
no estômago) num rápido aumento, que em geral- não apa­ 11•11dimento durante poucas horas ele temporal ou poucos dias
reciam com a dose tornada urna vez. dl' fohn, durante a queda barométrica ou o retôrno do bom
A coisa complica-se muito se remédios diferentes são to- fl•111po, não se deva atribuir a outras causas, que agem na-
150 151
quele mesmo período. Por isso, quando se trata de pesquisas dt• maneira muito 111ais ampla e frutuosa que os do tempo, e
sôbre o efeito meteorológico são substancialmente postas em L1mbén� o aspeto psicológico não é aqui tão insatisfatório, em­
dúvida as inf armações ('111 larga escala ( tomadas nas escolas, bora seJa ainda avarcnlo. Pelo contrário, dissente-se mais aca­
quartéis, escritórios e semelhantes), porque aqui somente com loradamente sôbre o papel de cada fator climático sôbre o
processos estatísticos é possh·el uma frutuosa compensação das l'Ícito .complexivo. Aqui, com efeito, é mais ou menos im­
fontes de êrros, que no caso particular podem desaparecer, e possível isolá-lo, como é possível no tempo. Posso saber qual
de inextricáveis complicações. Além disso, a reprodução ex­ (, a influência que exerce durante horas uma elevada tem­
jJerimental dos diversos elementos meteóricos ( elevado calor peratura ou a umidade ou uma pressão reduzida sôbre o cor­
e umidade, modificada pressão atmosférica etc.) e as pes­ po e sôbre a psique de um sujeito (pessoa ou animal). Mas
quisas psicológico-experin1c-ntais dos seus influxos merecia in­ não é possível reproduzir por meses e por anos tais condi­
clubitàvclmenlc um cuidado mais sistemático do que o que ções. Já grandíssimas dificuldades sobrevêm quando se trata
lhe foi dado até então. de dias. Isso demonstra que o fator climático decisivo, a du­
Não é passivei imilar experimentalmente as condições me.. ração das propriedades climáticas, não é reproduzível expe­
teóricas gerais; eu não reproduzo a situação ela chuva quan­ rimentalmente. Devo aceitar o clima natural como se apre­
do faço escorrer sôbre alguém uma ducha de água fria; de senta. Não me escorre êle como o tempo, mas persevera. Fre­
resto, uma boa experiência científica não imita a situação na­ qüentemente comparecem sem dúvida interferências devidas a
tural, mas predispõe artificialmente os diversos fatôres desta mudanças meteóricas, que podem cancelar o puro influxo cli­
situação, de modo que sua inserção e eliminação, sua grada­ mático (se na montanha temos algumas semanas de bom tem­
ção e modificação estejam abaixo do livre arbítrio de quem po ou pelo contrário de chuvas ou tempestades, isto corno é
vive a experiência. sabido, incide fortemente sôbre o nosso repouso), e como no
As leis da gravidade não se descerram atirando uma pe­ tempo também no clima se misturam todo gênero de fatôres
drinha no laboratório, mas eliminando justamente a queda não atmosféricos, tanto que pode ser muito problemático eli­
livre não verificável e substituindo em seu lugar a g,1eda em minar dêle, por exemplo, à distância do lugar de trabalho,
deslize da máquina gravitacional, do plano inclinado e a os­ especialmente do trabalho de todos os dias, a alegria e a de­
cilação do pêndulo, pelos quais é possível regular as fôrças silusão despertadas pela paisagem, a preocupação pela pró­
ou as freadas do movimento descencional dos corpos. Não pria saúde e outros fatos semelhantes.
é possível imitar o fõhn como tal com uma máquina que pro­ Não obstante isto há uma série considerável de resulta­
duza vento com ar aquecido; mas poder-se-ia pesquisar o dos seguros sôbre os efeitos do clima; o clima de altitude é o
seu efeito, produzindo em ambientes hermeticamente fecha­ que melhor foi estudado, porque interêsses esportivos e mé­
dos algumas das suas propriedades elementares e provando as dicos unidos pretenderam e obtiveram um grande número de
suas influências sôbre o comportamento somático e psicológi­ noções e de explicações. Não é por acaso que as duas obras
co. Isto certamente é difícil, mas não seria totalmente im­ pioneiras levam o título: Fisiologia humana nos Alpes, 1897,
possível, se se tivessem meios suficientes. De um ponto de de A. Mosso; Hohenklima und Bergwanderungen, 1906 (Cli­
vista puramente corpóreo (fisiológico) existem, especialmente ma de altitude e migrações alpinas), de Zuntz, Müller, Lae­
por motivos higiênicos, numerosas pesquisas sôbre os efeitos do wy, Gaspary.
calor, da umidade e da radiação sôbre o metabolismo, a ces­ Vem depois o clima tropical, para cujo estudo foram de­
são hídrica e semelhantes. Mas do ponto de vista psicológi­ cisivos os interêsses coloniais, mas o interêsse neste caso foi
co não há mais que escassíssimos progressos. 111ais ou imenos limitado à esfera das doenças tropicais, espe­
No clima, todavia, a natureza, por assim dizer, continua cialmente das infecciosas. A êle pode-se acrescentar o clima
estável; o clima, no qual estou e realizo as minhas pesquisas, elas costas, para cujo estudo os banhos de mar e os interêsses
não se esvai à minha frente como a situação meteorológica, ela� ad!ninistrações das estações de cura deram por vêzcs im­
mas continua o mesmo durante todo o tempo em que ali es­ pulso, ainda que em outras oportunidades o obstacularam ou
tou. Por isso, os seus efeitos gerais podem ser comprovados tendenciosamente ocultaram.

152 153
Infelizmente não possuímos noções exatas sôbre as con­ d<' vicia, exigem muito das próprias fôrças com a falsa cren­
dições elo verão subártico e sôbre o clima continental, para os <;:t, que exprimem dizendo: Sinto-me tão bern como nunca!
quais não ternos quase outro recurso a não ser as rudimen­ Pode-se dizer que as nossas costumeiras curas climáticas
tares e casuais experiências ele passagem; contudo trata-se de d11r;:inte as férias, Clllbora sendo ele bem poucas semanas, em
fonnas climáticas que não foram ainda convenientemente con­ 1(1·ral consistem ap�nas de reações de ingresso e reações de
sideradas, para não cli,.er desfrutadas em relação às suas pro­ ,td;:iptação - e enquanto essas últimas estão ainda em pleno
priec!àcles recreativas e curativas. nll'so, as férias deve111 ser interrompidas, provocancl9 a inter­
' 1·nção ela reação egressiva e da reação ulterior.
I. - As fa.11·. 1 da reação psicológica
69. Estímulo e temperamento. - A duração de cada
68. Conceitos fundamentais. - Antigos médicos de bal­ 11111a dessas fases reativas, e conseqüentemente a sua recípro­
neários costu111avarn definir o sucesso ele uma cura corno uma r,t relação quantitativa, bem corno a violência ou morbidez
"estranha natalidade''. Era um consôlo para os pacientes que de cada fase em particular, a forma das suas curvas, plana e
não raramente, depois ele terem efetuado um tratamento de dilatada, escarpada e íngrcn1e, enfim a passagem contínua ou
várias semanas, se sentiam apenas um pouco melhor, às vê­ li111sca de uma fase para outra ( uma espl-cie ele embriaguez
zes pelo contrário até pior. Mas era também um consôlo jus­ 111gressi1·a da reação precoce pode degrada� pouco a pouco
to; em todo caso ocultava o núcleo precioso ela experiência 1•111 dificuldades fisiológicas ou inverter-sr i111 provis,1111en te) :
que ·a reação salutar a um tratamento curativo, especialmente ludo isso é um resultado muito co111plexo cio tipo e ela intcn­
à aplic_ação de virtudes salutares naturais como os banhos, po­ �idade cio esrímulo climático ele gênero nô1·0 e do estado de
de ser uma reação tardia, razão por que não devemos perder ,1claptabiliclade, isto é, ela "constituição" de quem entra no
a coragem diante de uma jJrim.eira reação totalmente diferente. 11ôvo clima.
Adquirimos assim os dois conceitos fundamentais, que são Por constituição entende-se aqui o comportamento fun­
cleterniinados pe!o conhecimento e pela avaliação das mudan­ damental elo organismo, decisivo para o tipo das suas reações
ças climáticas. Todavia, êlcs devem ser distintos ulteriormen­ ,t t�cla atividade vital que lhe seja exigida. Quando exami­
te. A reação precoce subdivide-se cm reação ingressiva e rea­ namos em particular o seu aspeto psicológico, então falamos
ção de adaptação; já a reação tardia distingue-se em reação d1• temperamento. Todos os séculos verdadeiramente gran­
Pgr r,ssiva e em reação ulterior. Por longos períodos ele férias dl's da medicina e da higiene, conquanto partissem de proble-
num nôvo clima, por curas em zonas montanhosas ou na orla 111as diferentes ( como a bacteriologia), não tardaram a orien­
madtirna prolongadas por vários meses, por expedições e via­ tarem-se para a constituição do homem como o fator central
J iara vencer as doenças e para a conservação ela saúde; ela
gens longas, enfim por estadas nas colônias que se prolongam
por anos, sobrevém ainda a reação permanente, que repre­ t'· lambém decisiva pela maneira como nos adaptamos o mais
senta o comportamento duradouramente modificado do orga­ 1 ;\piclarnente possível, sem dano ou realmente ele modo van­
nismo sob as novas circunstâncias climáticas. Ela se mani­ t.1joso, às novas condições climáticas. Ela é o verdadeiro rea­
festa também por simples mudanças de lugar ele poucos dia� lor ele tôdas as reações que o organismo cumpre em resposta
ou semanas, mas é geralmente tão breve que é difícil clistin­ 11 qua!quer estímulo.
guí-la _ela reação de adaptação. Por muitos profanos é con­ Por estímulo a ciência entende, em sentido estrito, uma
fundida realmente com urna reação ele ingresso. Errôneamen­ , o111sa agente, cujo efeito chega até muito ·além daquilo que
le consideram o bem-estar, ou vice-versa as dificuldades cio dl'vc atribuir quantitativamente ao estímulo; dizendo, com
nôvo clillla, após o seu ingresso na sua esfera, simplesmente 011tras palavras, é um influxo que provoca efeitos. Isto é
como a verdadeira reação do seu organismo a êste clima. Re­ possível onde quer que extraordinárias energias potenciais es­
gressam, pois, antes cio tempo ( afirmando não suportar êste lP j:1111 prontas para serem transformadas em energias atuais,
dima) ou superestimam a sensação ele bem-estar que pro­ o 1p1c se verifica também no âmbito cios fenômenos mecâni­
vam, não se ruiclam de tomar precauções com respeito ao teor ' 11s, nfío vitais (anorgânicos). Pertencem a esta esfera a mui-

154 155
to conhecida pedrinha, que desencadeia uma avalancha e a 11 estado fisiológico geral. Deve então ser evitado, ou pro-
centelha que provoc a uma expl osão. Sua importância no , uraclo, ou, em dados casos, ser substituído ou integrado com
mundo mecânico (por exemplo, por improvisos danos mate­ t rntamentos artificiais. Justamente a técnica moderna, gra­
riais, corno rupturas e semelhantes) poderia ser muito maior c.;:is à qual voamos, ouvin10s rádio, telefonamos, morremos me-
do que se pens ou antes. Contudo, todo ser vivo, de acôrdo 110s de apêndicite, eliminamos graves epidemias e alcanç amos
com a sua estrutura, é cxtraordinàriamente susceptível a cer­ 111ai.or longevidade, tel1l a sua base no cuidadoso e preciso
tas influêi;icias do estímulo. Hoje descobrimos nas vitaminas ,·�tudo de todos os efeitos que são produzidos pelas várias cau­
substâncias e stimulantes de quantidade infinitesimal, cuja sns. Isso tudo não restringe a totalida de n o seu valor. Com
ação, todavia, t em unta importância decisiva para o cresci­ 11111 a,·ião racionalmente concebido um "sujeito completo" de­
mento dos sêres vivos e para a sua própria possibilidade de ' ('!'ia um dia erguer-se no ar e aprender a manejá-lo, e o rné­
vida. Drogas, algumas espécies de chá etc. são conhecidas co­ d ico sabe de muitos casos nos quais pode aconselhar a p er-
mo estímulos quantitativamente insignificantes, mas que pro ­ 111anência nas zonas montanhosas, não obstante isso provoq ue
vocam em geral ou em indivíduos particularmente susceptí­ penosa turbação no sono, por efeito da ra refação do ar em
veis (predispostos, alérgicos) os mais graves prej uízos (por :iltas quotas ou dos raios ultravioletas, porque o efeito com­
exemplo, erupções cutâneas) ou os melhores efeitos curativos, plcxivo é no final sal utar. A dosagem do estímulo segundo o
de acôrdo com o s casos. t,•mperamento é realmente o capítulo principal do catecismo
A previsão do que fará urna determinada constituição geoterápico e indica ao mesmo tempo a clássica conjunção do
diante de determinados estímulos, quando, como e por quanto ex ame analítico e sintético, de noções elementares e de urna
tempo reagirá a êste ou àquele e stímulo, é em cada caso par­ l'isão g eral.
ticular um fato de experiência, do "golpe de vista", ou me­
lhor, de ambos ao mesmo tempo. Também para a prescri­ 70. Leis do estímulo. - Geralmente a excitabilidade de
ção de mudar o estímulo climático há uma prognose intuitiva, 11m organismo é tanto mais sensível, quanto menos é normal
que uns tem e outros não, mas que po de ser substituída em nas suas funções com o totalidade ou em algumas suas par­
grande parte pelo conhecimento e pela reflexão. Em todo ca­ tes. O conceito médico da "fraqueza excitável" é muito ins­
so a ciência permanece sempre fiel à tarefa que lh e foi con­ trutivo a êste propósito. Um ser vivo (ou um órgão) ne­
fiada: isolar na medida do possível, nesta "totalidade" do rcssita e suporta estímulos fortes, para que algo se modifique
efeito do estímulo climático, o elemento particular e dêle ti­ nas suas funções. Pode-se pretender tudo de uma índole "ro­
rar apli cações práticas. A diabete é certamente uma totali­ busta"; ela não o adverte como qualquer coisa de particular.
dade constitucional, mas onde iriam parar os diabéti cos se a Um exemplo tirado do âmbito dos efeitos meteorológicos:
patologia se tivesse limitado a isso? Um d os mai s notáveis quem está enregelado encontra alívi o se entra numa sala mui­
progressos conseguidos nos últimos anos para vencê-la, é o tra­ to quente e bebe qualquer coisa quente também; mas se se tra­
tamento com a insulina, cuja descob er ta foi possível pesqui­ ta de um congelado, :neste ca so estaremos pondo em perigo a
sando os efeitos d e um fator particular no organismo sôbre �ua vida; podemos aquecê-lo somente com muita cautela, e s­
distintas atividades metabólicas, pelas quais se entreviu algu­ fregando-o antes não com panos quentes, ma s com neve, pa ra
ma possibilidade de substituição artificial, onde é insuficiente. q11c o estímulo térmico não intervenha com muita violência.
:E:ste fato deve ser posto em particular relêvo, porque o con­ Vice-versa, quem se encontra sup eraquecido deve esfriar-se len­
ceito da "totalidad e", válido em si; é amiúde insensatamente re­ tarnente, !3-ntes de poder saltar na água fria, sem pôr em pe-
petido para justificar o abandono ele uma pesquisa científica. 1•igo a vida e a saúde. Ao excursionista esgotado, café e vi-
Também no âmbito dos e stímulos climáticos há sem dú­ 11 l t o no início podem s er dados apenas em doses mínimas, para
vida muitos casos, onde um estímulo (por ex emplo, rarefação que o organismo responda ao estímulo com urna salutar rea-
atmosférica ou elevada temperatura) exerce como tal uma 1;:io. Quem jejuou por muito tempo, deve no início oferecer
influência sôbre determinadas funções particulares (sono, es­ .w cstôn1ago só pequ enas quantidades, isto é, deve, estimulá­
tado de espírito, pressão sanguínea) portanto �bém sôbre lo :1 voltar às suas funções com pequenos antepastos, antes de
156 157
lhe entregar a refeição efctiYa. Todos êsses exemplos de­ p1·11ctração dos raios 11ltravioletas, que na luz ela sombra estão
monstram em todo caso a regra, que aqui vige. Há sempre rnnticlos em medida relativamente mais intensa que na luz
exceçõ es e continua sempre ele pé o risco e a possibilidade de �nlar ( § 65), mas se cldcndem apenas cio superaquecirnento.
emp regar meios duros, rot11 efeito salutar. Em geral, porérn , F{-rias contínuas na p1 ;;iia podem comprometer, por efeito elo
quanto mais um organismo está necessitado ele cuiclaclos, de , ,·nto incessante, tôcla u111a cura de banhos de mar.
repouso, de distensão, de tratamento, tanto mais moderada O vidro elas janelas é urna invenção tão benéfica porque
cle\·c ser a mudança cli111(11ica que lhe é prescrita. Nós cha­ a�sim a radiação ultravioleta chega até nós atenuada; a ela,
ma111os esta regra de lei /1111damental das curas climáticas. rnn1 efeito, devemos expor-nos sàmente de acôrdo com ce rtas
A lei das pausas do estímulo é por assim dizer sàmente pausas para receber benefícios para a saúde. É provável que
LllJJa aplicação. O progrl'sso da civilização nos põe em con­ todos os sêres vivos que pela sua natureza levam urna cxis­
dições ele dispor os cstí1111rlos a racionais distâncias de tempo lé"ncia à sombra, vivendo ern grutas, bosques, sob as copas das
11111 do outro. O que o ani111al faz freqüentemente (mas não :ín ores, nos prados e na água, sêres crepusculares e noturnos,
scrnp r c) de 111odo instintivo, o homem o regula racionalmente 1·1·itam instintivamente um excesso ele raios ultravioletas. Os
( e o estende depois também aos animais domésticos). Nós lromin[cleos na sua origc111 eram pro,·àvelmente sêres dos bos­
regulamos a nossa vida, pelo menos em grande parte, distri­ c1ucs ou elas grutas. E {· possível inclusive que tenham passa­
buindo os estímulos cm determinadas distâncias e por isso os do ::i usar habit11allllcntc o sc11 ,·cst 11ário n11rn prirneiro ten1-
tornamos 111ais úteis à nossa saúde. Por outro lado a justa po não para sr clcícnde1·c111 cio írio, mas das rncliaçÕC's solares
pausa é duplamente importante para todo organismo debili­ ( tah e1. nos desertos). Os pnvos nus das ,-onas tropicais ,·i­
tado. Tomar-se-á vinho como fortificante tão sàmente em cer­ \ cm nas matas densas.
tas horas do dia; tôcla receita médica contém a significativa Como a intensidade, assi111 ta111bé111 a pausa cio estímulo
indicação: '·três ,·êzes por dia" ou "uma colher de sopa à dcYc ser medida com relação ao organismo que deve receber
manhã e à noite'·, e semelhantes. A um convalescente con­ influxos, isto é, em relação ao estado das suas fôrças, bem co-
cede-se L1111 passeio, a pern1anência ao ar livre, diversões e 1110 com base na intensidade e no tipo do estímulo. Estímu­
trabalho com cletcrn1inaclos intervalos. Há muito tempo que los climáticos temperados são em geral mais indicados a um
sabemos como a favorável ambientação a um clima muito di­ organismo extenuado e superexcitado que os violentos. Uma
ferente clcpencle crn grande parte ele que os que devem ir t•,posição ao sol em alta montanha no inverno pode, sem inter­
para o campo não se exponham logo ininterruptamente aos , u pção ser prolongada 111ais q uc no verão. Quem toma um
rnais fortes fatôres climáticos: vento, mar, sol em altas mon­ hanho todos os dias no mar Báltico ou no Mediterrâneo, não
tanhas, ar livre no inv�rno. poderá seguir a rnesrna regra e prolongá-lo da mesma forma
Às vêzes podemos aperceber-nos só indiretamente ela exi­ 110 :\far elo Norte com a sua mais baixa temperatura, sua
gência ele pausas cios estírnulos, por exemplo, com respeito à intensa ventosidade e seu conteúdo salino mais elevado. E.
rarefação do ar que nos circunda também nos ambientes fe­ .1quêles a quem é muito útil um banho diário notam logo
chados elas zonas montanhosas. Aplicamos então o princípio �internas de hiperexcitação se tomam um banho logo de rna-
elas pausas aos movimentos, justamente porque aqui o estí­ 1rl1ã e outro à tarde, desprezando a pausa do estímulo de
rnulo ela deficiência do oxigênio se faz sentir com tôcla sua 21 horas.
fôrça. A êste respeito talvez seja oportuno exigir que o novato Freqüentemente a pausa do estímulo é mais importante
nos prillleiros telllpos faça duas vêzes por dia um passeio ou qul' a sua intensidade: existem numerosas pessoas que podem
urna excursão ele urna hora, mas repouse no resto do dia. Os lwhcr tôd,lt. tarde urn frasco de vinho sem sofrerem conseqüên­
efeitos desagradáveis dos banhos ele sol devem quase sempre c-i:1�, mas sofrem-nas se beberem meio frasco duas vêzes por
ser atribuídos à inobservância cio princípio elas pausas. Até di:1. Vice-versa, constatou-se que às pessoas anciãs e aos con-
mesmo os indivíduos sãos deveriam interpor entre as exposi­ 1 :iicsccntes são de grande benefício três breves passeios durante
ções ao sol dar dejante períodos sempre mais longos de per­ o dia, ele uma meia hora cada um, ao passo que um passeio
manência na sombra; assim não reduzem absolutamente a �1\ <11· 11111;1 hora, os extenua. A mesma coisa pode ser elita

158 159
para as radiações solares e os tratamentos climáticos. Pelo J11•tamcnte nos preocupamos também em sortir tipos diferen­
contrárjo, um banho mais demorado é melhor suportado qu<' lrs de radiações com vidro colorido e permeável aos raios
dois banhos breves no mesmo dia. Dever-se-ia, prestar por 1iltravioletas e outros meios semelhantes. (Os discos de pa­
exemplo maior atenção para o fato de várias pessoas supor­ pel impregnados com óleos vegetais, usados na China, deixam
tarem _melhor a qualquer temperatura da água urna perma­ passar uma quantidade considerável, mas alternada, de raios
nência nela num período mais longo nadando, que alternando 11ltravioletas).
continuamente banhos de água e banhos de ar, ao passo que Para o organismo necessitado de cuidados tudo isto tem
para outras dá-se o contrário. A determinação certa das pau­ grande importância. No clima artificial das enfermarias ou
sas clci estímulo é uma das condições essenciais para o êxito dos locais de tratamento isto pode estender-se até a exata
salutar ele uma cura baseada em fatôres climáticos. 1·�colha do envernizamento ou cio revestimento das paredes.
Por fim há a lei ria gradação do estímulo. Estímulos in­
tensos .são mais bem suportados, com correspondentes reações 71. Formas reativas constitucionais. - Para uma prog­
fisiológicas mais adequadas, se o organismo é mais gradual­ nose racional de como se desenvolve em cada caso particular
mente habituado a êles. Na eletroterapia denominaram-nos a reação a um nôvo clima, é útil o conhecimento de certos ti­
"estímulos introclutivos". O ar rarefeito das zonas de altitu­ pos de reagentes.
de provoca geralmente dificuldades quando é procurado im­ Distinguimos indivíduos térmicos e indivíduos frios, tem­
provisamente, e é conhecido o efeito de alívio das estações ele peramentos compensativos e temperamentos de contraste, tem­
passagem, ainda que só para um pernoite. Muito usado con­ peramentos com reação J;recoce e temperamentos com reações
tra o estímulo das radiações é o guarda-sol, que além de per­ /ardias.
n1itir uma rcgulagern à vontade das pausas do estímulo, possi­ Essas distinções por si mesmas não se referem simples-
bilita também gradação muito variada. Os abrigos naturais 111cnte à dependência racial ( o negro um indivíduo térmico, o
contra o ar e a luz são as árvores frondosas, especialmente nórdico um indivíduo frio) ou no estado de aclimação desde
ruas arborizadas, bosques, matas. a mais tenra infância. Em todo grande grupo racial, cultu­
No bosque a gradação do estímulo com respeito à luz, ral ou climático pode-se encontrar aquêles tipos. Há nume­
ao calor e ao vento pode ser realizada ele forma realmente rosos i_ndivíduos, com predomínio de raça nórdica ele origem
ideal pela sombra mais densa até a plena iluminação solar setentrional, que se sentem efetivamente à vontade sàmente
( § 138). Da mesma forma acontece nos lugares ele cura no verão ou no sul ela Europa, especialmente com uma ele­
para os cardiopatas com a "cura cio terreno", isto é, graduan­ ' nela temperatura uniforme.
do sistemàticamente estradas de subida e estradas planas. Conhecemos outros nos quais todo verão médio-europeu
De resto, também para o processo da graduação, exata­ traz muito "calor" e o seu melhor estado fisiológico coincide
mente como para o das pausas, vale a regra que o aumento rom as estações mais frias. Êles toleram melhor antes um
do estímulo é calculado com tanto maior prudência e em 111au tempo que um tempo muito quente e persistente. Sen­
graus tanto menores, quanto mais o organismo a ser curado lem-se melhor no clima continental e nas zonas altas cpm as
está abalado. Uma graduação sistemática, indispensável para \1ias rápidas e fortes quedas de temperatura, com noites frias
os doentes, convalescentes e debilitados, inclui por isso a am­ ,. im·ernos rígidos. Assim ambos êsses climas oferecem con­
pla possibilidade da combinação dos estímulos. O clima é ll'mporâneamente ao tipo de contraste o modo para satisfazer
uma contínua variedade de estímulos, que giram em conjunto ;\s próprias exigências. Para êle não é a temperatura abso­
sôbre nós. A graduação para o clima não consiste portanto li I La o que importa, mas a dinâmica ela temperatura. Os
simplesinente em graduar a intensidade ele cada fator, mas l<·111peramentos ele contraste gostam também cio calor eleva­
também em graduar o estímulo complexivo com a eliminação do apenas quando êste se alterna freqüentemente com um frio
ou iserção dêste ou daquele seu particular elemento. Eu de­ .1n·ntuaclo. Agrada-lhes a sombra gelada de um dia de in­
vo poder apresentar ao orga'iiismo a rarefação atmosférica tan­ V<'rno nas montanhas como o sol abrasador. Gostam cios ve-
to ao sol como na sombra., tom ar que se move e ar imóvel. 1 íi1•� muito quentes como dos invernos rígidíssimos; até a mu-

160 161
li OM1>11!Q11G
dança ártica de invernos escuros e de verões luminosos rst.'1
mais ele acôrclo com as exigências elas suas condições fisioli', 11po contrário, pois a uébil reação precoce os induz a preten­
gicas que o eterno eyuilíhrio do clima 111arítirno ou o 111rn der muito das próprias fôrças, e depois terão que arcar com
maço persistente do clima tropical. .,� conseqüências. Nas altas montanhas num primeiro tempo
1111 por semanas inteiras não sentem nada; quanto mais so­
Outros, pelo contrário, sofrem com todos os fortes co11 ° licrn, tanto mais parecr111 sentir-se em condições esplêndidas,
trastes climáticos. Uni ver�io ameno e um inverno brando {, 11ias às férias de verão scg11e um inverno mau, em condições
o que há de mais agradfivel para êles no curso cio ano; im c'1 ele esgotamento, hiperexcítação, sem repouso. Na montanha
nos rígidos com verões muito quentes os enfraquecem e c,s 1 <·ngem com insônia após semanas e não nos primeiros dias
deixam "abatidos"; até 111csmo longas semanas de neblina bran ele permanência, no calor, com falta de apetite. São indiví­
da é para êles melhor qur longas semanas ele frio rígido e se· duos à frente elos quais nunca se pode elogiar o dia antes do
reno. gsses tipos, qu<' se agi upam em tôrno cios pólos quente• .1noitecer; para êles em tôdas as curas climáticas são necessá­
e frio, compensação e contraste, freqüentemente podem sc·1 rin� grandes ·precauções, urna exata consideração das experiên­
distinguidos claramente· jA na usual avaliação elas estações e· rías precedentes e prudentes cuidados na fase inicial. De res­
do seu caráter meteorológico. t claro que na mudança cli­
to, a disposição para o lipo ele reação precoce ou tardia não
mática encontrarão correspondentes dificuldades. Os temp<'· 11•111 nada a ver com o "temperamento" normal; justamente
ramentos compensativos não podem ser mandados para as al­
1·11tre os tipos sangüíneos, fàcil111cnte inflamáveis, são muito
ta� montanhas a não ser por motivos de fôrça inaior, e cl l' ­
difundidas as naturezas com reação tardia: o seu "tempera-
veriam ser enviados preferlvelmente para as regiões tempera­
111ento" deixa-se dominar fàcilmcnle, muito fàcílmente por tô­
das; as montanhas médias às vêzes já provocam nêles desa­
dns as exigências requeridas pelas situações por êles vívidas,
gradáveis contrastes. Para os temperamentos de contraste o 111as o organismo adia fàcilmente a sua reação biológica.
clillla continental cio Este europeu ainda é muito pouco des­
Não se deve portanto, confundir a reação fisiopsíquica
frutado: muitos indivíduos poderiam encontrar aqui ela ma­
1 ardia ou precoce com a reação psicofísica lenta ou rápida do
m�ira _mais perfeita quanto as suas exigências requerem. Nós
1nomento, com o tipo sangüíneo ou fleumático. Movem-se ern
percebemos na utilização elo clima continental de escopo rc­
planos orgânicos diferentes.
creati\·o e de repouso indícios da climatologia destinada a ter
�ucesso, tanto do ponto ele vista terapêutico como higiênico,
72. Clima com estímulos tên�es e estímulos fortes. -
seja como meio ele cura como de profilaxia. Entre os climas da terra mais conhecidos pelas curas climá­
Os afetos de reatividade precoce e de reatividade tar­ ticas, todo clima relativamente próximo ao equador (no he-
dia formam um grupo que deve ser considerado à parte. 111isfério norte os "meridionais") pode ser considerado como
Ilá, então, não só reações precoces e reações tardias, mas ligeiramente estimulante, e como pertencente a esta espécie
também urna inclinação para um e para outro tipo. Percebe­ pode ser também contado todo clima evidentemente marítimo,
mo-lo já na realidade biológica cotidiana, quer corpórea quer ,·wetuando-se as praias abertas e as cobertas dos navi�s. O
psíquiia. Em rnuítcs indivíduos "tudo acontece só depois", "rau mais baixo da tenuidade do estímulo é então representa­
êles superam u111a ar-·;t::ição de modo aparentemente brilhante, cio pelo clima tropical. Na sua clássica forma rnormacenta
mas depois de semanas e meses, quando aquilo que provaram pode-se chamá-lo "escasso de estímulos", tanto gue possui um
já foi há muito tempo eliminado, sofrem pelo que fizeram. C'Í<•ito exclusivamente relaxante e em geral não pode ser acon­
1\ssirn Dagarn pelos erros de dieta, pelo excessivo consumo de •1•lhaclo para �uras terapêuticas; mas na sua variação sêca,
gêncrc� vol:ituários, por desregramentos depois de dias em yez 1 p1110 deserto, a escassez ele estímulos, graças ao fator da nú­
ele ap::'.", powas horas. São justan�ente êles que depois de uma ní111a umidade atmosférica, encontra logo uma função tera­
operação elevem resignar-se a sentirem-se doentes, quando a pí\1tica, por exemplo, na ausência de estímulo para o sistema
convalescença cirúrgica já passou: então "os seus nervo� s::.1!­ 1·c·1Ttório dos rins.
tam à pele''. A sua reação precoce é fraquíssima, muito for­ Seria necessário estudar se também determinadas hipe-
te é, porém, a tardia. Estão mais expostos ao perigo que o 11·x<·i t;1çõrs psíquicas não poderiam encontrar no clima de-
162 163
l,l aqui da reação transitória ou temporânea a um clima di­
sértico um muito apropriado teatro terapêutico. Com fortrs lorente, mas da adaptação vital a tal clima. A êste propó­
estímulos apresentam-se, porém, todo clima das zonas altas 1· KÍlo podemos imaginar duas possibilidades fundamentais: ou a
_
as praias marítimas abertas como a coberta dos navios, o cl1 1 t·ação da mudança climática se perde com o tempo e o velho
ma· continental e subártico. Os três estímulos elementares d(' nl'ganismo é adaptado às novas exigências climáticas, ou êle
intensa eficácia são a luz, o frio e o vento. Na sua exata cor­ �1· transforma, desdobra novas propriedades, que o tornam ca­
relação, com atenuação ou exclusão de um ou de outro, co­ paz de se adaptar às novas exigências.
mo também na determinação das pausas e da duração dos Na prática, essa nítida distinção atenua-se indubitàvelmen­
estímulos favoráveis, nisso consiste a arte da terapia climática t1· de modo bem radical. Com razão pretende-se que um in­
baseada na teoria, experiência e intuição do estado do doen­ divídu9 aclimado tenha readquirido o seu bem-estar psicológi­
te, e também a normal exigência de retemperar todos os anos ro. Se o mal-estar que surgiu no nôvo clima subsistir, quer
as próprias fôrças encontra em tudo isto a base daquela espon­ dizer gue a adaptação ainda não se efetuou. Mas geralmen-
tânea evasão para as montanhas e para as praias que nos dias 11' presta-se bem pouca atenção a êste fato; o bem-estar pode
de hoje está muito em voga entre os povos civilizados. ,1ssumir uma nova caracterização. Talvez no lugar do em­
A fôrça recreativa da mudança climática não deveria tor­ preendimento e da boa disposição do espírito no clima conti-
nar-se, porém, um dogma higiênico. Além da sua eficácia 1H'ntal, quando a transmigração se efetua para zonas rnaríti-
i ndubitável e freqüentemente apenas muito violenta, não se 111as, após dificuldades de adaptação que se prolongaram por
deve esquecer o benéfico efeito sôbre c> estado de saúde que 111eses e até por anos, com falta de vontade, sensação de opres-
p rovém da evasão do ambiente cotidiano ( escritório, excessi­ 1flo, inçlolência, cansaço, aparece por fim uma forma de bem-
vas relações sociais, exigência habitual mecanizada). Em 1·star mais agradável, fleumática, que faz enfrentar as coisas
outras palavras, numerosos indivíduos sem mobilizar fortes exi­ �t·m nunca tomá-Ias a sério.
gências climáticas encontrariam nessa evasão, embora perma­ Fato semelhante encontra-se freqüentemente em inclima­
necendo no mesmo clima, o mesmo repouso recreativo ou �ões no sul ("dolce far niente"). Observou-se também o con-
um repouso ainda mais seguro, que com um frustrado estí­ 1 l'ário: indivíduos da Alemanha sul-Ocidental elogiam, talvez
mulo das excessivas altitudes ou elas praias abertas. drpois de algumas crises de adaptação, o "ar campestre" do
Um fato merece atenção particular: para os mesmos ha­ clima berlinense, percebem nê!e muito maior excitação e gran­
bitantes de climas fortemente estimulantes uma substancial fôr­ de frescor com menor necessidade de sono. Acontece entãü
ça recreativa pode justamente encontrar-se em clima ligeira­ qne depois de anos o regresso para o clima precedente falha,
mente estimulante, como o de muitas colina, da Riviera e não comporta mais "reclimação" alguma; o organismo evidente-•
dos lagos da Itália Setentrional. Hoje infelizmente esta for­ 111ente inverteu-se ao ponto de agora, a uma idade mais avan­
ma é _ subestimada em confronto com os Alpes, as prai as , as çada, não encontrar mais a reconversão ao clima que lhe era
viagens em alto mar e ao frio invernal. "no rmal". A inclinação subjetiva foi levada a efeito na for-•
• 111::i de uma transposição permanente das condições psicosso-·
111áticas, que não são mais reversíveis.
li. - Modificações psicossomáticas operadas pelo clima Óutro tanto acontece com a inclimação objetiva. Só que­
,1 sua demonstração é muito mais difícil e incerta. É sabido
73. lnclimação. - O processo de aclimação obtém me­ que a_ sensação de bem-estar subjetivo pode ocasionar enga--
lhores êxitos onde se transforma numa constante adaptação ao 110s, quando 1se trata de determinar a efetiva capacidade de-
nôvo clima, portanto nas migrações de todo gênero, como emi­ 1·1•nclimento ou se o estado de saúde é o mesmo de antes, ou
grações, colonizações ou também longas viagens de explora­ �1· melhorou realmente. Também o ambiente exprime fre­
ção que se prolongam por anos. A escolha do lugar de re­ qiic-ntemente sôbre isso juízos errôneos e esquece que a dimi-•
sidência é ele tempos remotíssimos um dos casos normais da 1111ição ou o aumento podem ser devidos a circunstâncias to-­
vida cotidiana, onde poderiam ( e muitas vêzes deveriam!) in­ t11ln1ente diferentes das climáticas, por exemplo, circunstâncias
tervir considerações sôbre fatôres de inclimação. Não se tra-
16S
164
profissionais, quando a transferência foi requerida por esl.t·,,
óu: então pela idade ; antes, não raramén le• o rendimento dr "' pouco têm a ver co 1 1 , ti instinto natural, o estado de adap­
alguns indivíduos por certos anos diminui por si ràpidarnen l, , t.,liilidaclc do "s;mgue" ao "solo·•. a adequação elas circuns-
seí11 uma causa aparente, assim como não faltam maturicl-:, 1 •11cias de vida às fôn;:,1$ e aos impulsos vitais, mas são deter-
des l a rdias, que só depois dos 30 anos chegam ao auge do sc1 1 1 1 1 111ados de mil modos por fortuitas circunstâncias exteriores.
rendimento. \J:1wral111ente també.Jl l uo acôrclo natural há discordâncias de
Por isso, uma respo�ta geral ao problerna ela inclimaçiiu lnc!o gênero. Pode ser que a climática temperada elas zonas
objetiva torna-se extraord inàri arnente mais difícil . .1111eriores aos Alpes ( lago ele Constança, lago de Zu rique etc.)
Tampouco os d istúrbios objetivos do estado de saúde of1 11 presenta como totalidade o cl ima adequado para uma "ín­

recc111 um contributo lot,iln 1ente acei tável. Parece, po.r exe111 dnk• compensativa", tJJas torna-se insuportável pelo freqLiente
pio, q 1 1� aun,011tos da prc•ssão sanguínea em altitudes mais cl,, oprar elo fohn, tanto que é preferido um clima continental
vaclas podrm lornar-se qu:i k1ucr coisa de permanente sem as­ ,<•111 [ohn, ainda que menos apropr iado, mas rico de contras­
sumir n i 1 11portância tk urn indício de vida mais breve e ain h",. Exislcn1 lamhén1 não po11ros indivíduos que afirmam ter
d a sem prc judica r o c.� taclo ele bem-estar e a eficiência cardía­ ,•nronh'ado o clima "iclu;1I" a que "pertence" a sua natureza,
ca ( ao subir, respirar, trabalhar em gera 1 ) . 110 mar Adriático, na Califórnia ou 11os mares elo Sul.
O organismo se reorganiza sôhre u m comportamento n,n. Entre as cons(it,iiçÕl·s e as diversas estações já estabele­
cl ific:ulo ; ao passo que nas wna� baixas qualquer um dêss1•s < 1·1110� precedentemeulc ( ¾ 7 1 ) 1 clac;iies ele afinidade eletiva.
clisLúrbios scr.in patológico, nas zonas altas é simplesmente "fi. 1 .irnbém para :� ,uclho, ind i 1 1 1u1,iio <'� i�ten, '•6t i ,nos estacio­
siológico'·. n,Lii'', que são diferente� dr ac-6rd11 i'Olll <>s temperaJ11entos.
Há também u111 terceiro caso de tnclivíduos transferidos \qu i as casacterísticas do l1ábito pcrdeJ 1 1-sc parcialmente em
que objetivamente são mais sadios e mais eficientes, mas que l n lôrcs . pcrsonalíssin,os. Sôbrc islo, porén,, há uma série de
subjetivamente rião conseguem libertar-se de um ccl'lo abor­ í.,to,; vál idos cm ge ral, que determinam em parte por ação
do homem, em parte por efeito do clima, o pi·ocesso de incli-
reci 1ucnLo cio nôvo clima. /\ mesma coisa pode-se talvez afir­
111:tção e a adeyuação ao nôvo clima.
mar com relação à i nsônia nas niontanhas. Numerosos t11-
herculosos1 que com uma estável perrnariência nos lugares de 75. Condições biológicas otimais. - Em primeiro lugar
cura nas montanhas, tornam-se de ano em ano objetivamente \ ('111 a idacÍI'. A inclirnação é realmente uma função do 11ú-
mais sadios e mais eficienLes, devem "resignar-se" a um sono 111cro dos anos ele vida. Fazern exceção apenas os dois µri-
mai!l escasso. 1 11�i1·os a·nos (os lactames) : a sua transferênc.ia para u111 clirm1.
insólito, mas especialmente para um clima mais <p1ente, é
74. Clima adequado. - A inclimação pode tornar-se par­ �1·111pre pel'igosíssimo. Para as outras idades a curva de adap-
ticularmente favorável ou desfavorável, conforme a transmi­ 1 ,1,:5.o corre de rnoclo que o seu ótimo e.ai no terceiro e quaito
gração está de acôrdo ou em contraste com a htdole. :M uitos de�ênio de vida, mais precisamente entre os 1 5 e os 35 anos.
indivíd uos encontram o "seu" clima só depois de muita pro­ \o aproxilllar-se elo 4·0'-' ano a capacidade de inclimação cio
cura ou por ci rcunstâncias fortuitas. Outros são arrancados 01·ganismo a um clima inadequado diminui ràpidamente. A
por uma transferência do ·'seu•· clima e não conseguem adap­ i11Jigração nos trópicos depois elo 50� ano é sempre arriscada.
tar-se a nenhum outro. Ernbora neste caso possa.111 interfe1•ir ( )nele há 111uitíssimas privações e desperdício de energias psí­
elementos subjetivos de tipo neurastênico, é evidente que o:; quicas, como por exemplo nas expediçõe$ árticas, segundo as
organismos muito "geossensitivos", têm um clin1a congenial, que <'xperiências dê uma autoridade corno Frithjof Nansen, o quar-
pode até ser geossensit.ivo em outro lugar, muito distante da 1 1 decênio com a sua mais amadurecida e con$tante sereni­
residência em que o destino os colocou. dade oferece inclusive elementos que devem ser preferidos com
Toda.via, a terra natal, o teatro ela infância e também o 1 1·.1 pcito ao t erceil'o.
local . de traballio (especialmente nas grandes cidades) mui- No que diz respeito ao sexo, para o feminino a inclirna­
•, río � psicologicamente mais fácil e fisicamente mais difícil ; pa-
]66
167
tropical")
a especie (§ 57, "cólera
dr· vação de excessos de tôd idente qu e as mulheres são menos
ra o sexo masculino dá-se o contrário. Isso pode dependerque, que ela traz col)sigo, é
ev s do q ue
um l ado da mais eleva da média de exigên cias do hom em,
e d silu did as co1 11 fracassos, riscos e projeto smo em
s ua� fortement e
ina das , me
por exemplo , dá um nôvo fundamento à existência c om as us homens; são d e espírito
tenaz e mais i ncl
era nça fei­
t o, d mais fo te l bilid de har­ de silusões, a urna persev
cilad as e seus risco s, de ou r a r a a
situações de vida che ia� de ont ram essen­
ente in­ enc
mulhe r, cujas glân l s genitai s são altam erança. E nisso
mônica d ta de resignação e de esp ilida<le semitiva corpórea.
a du a
fisioló.
fluenciáveis pelo clima com um efeito sôbre o estado cial compensação da su a
lab rófugos
gico geral mais durado ur o q ue no hom em.
Ta mb ém nas ime nsa s em igrações de milhõe s de p ente
üen tem
Além disso as mullicre s fisica e pslquicamente sofrem
por exc essiva s exigências climát icas. Supor tam mal o frio
mais
cor­ no fün m esta r à alt ur a da sit
lheres
da última guerr a, as mu uação corno as mais resig­
m u ito freq

aç primc r,t e vento impetu oso, ao passo demonstrara mais tenazes e elásticas. mas u m
Isso não
tante, o morm o o e o
nad a psic olo gic am ent e, as
e des­ quico,
que sã_o menos alingicbs por um clirna mais uniforme relaçfü, c omportamento climato-psí p ara a mu­
s

sto pode estar em (· p or si mesmo um ente se rev el


ti tuído de contra stes. També m j stam a
c:ontrapêso diante dêlc, que a o h omem.
i u
que
co111 a maio!' sensibil.idade cio sistema humoral inte rno, lher mais desfavorável que
par ele incli-
depende de modo p a rticu lar d o m e can i sm o das glându las
As raças, o p o nt o d e vista da sua capacidade ocam-se
d
ida des col
genita is. ie, c11t cujas extrem
vista 111ação, formam um a sér as: as primeiras cn1 geral não resis­
A�tigamente a dife rença dos sexos dêste ponto de as nórdicas e as mo ngó li c
aos cleser­
mais notáve l pel te r de vida exclusi vamen te do­ tr6picos , aos su bt1·6picos, q uais con­
era ainda o o
Lcm po r mu it tem p o aos
às
sexo f minin o, esp ia men­ o
áticas "merid ion ais" ,
mé stico da mulher. Des de que o ec l
los, a tôdas a s formas climndicionalmente e co1n muitas clifi­
e
re com
te a juventude, lev a um a vicia mais exposta ao ar liv seguem am bie nta r-se só c o
nas climàti-
nç ind bitàvel- rém , são as raças hum a
conseqüente fortalecimento fís ico, esta difere a u
ruldades; as segundas, po nhecemos.
mente diminuiu. ta- r::nnente mais fortes que
co a ção ep idér-
Todavia, a� disposições dos sexos não podem absoludi­ Isto cau sa ma rav ilha , tanto mais que pela color ça branca.
eto, p rque indi m antes a mais pró xim a da ra
mente_ s er canceladas por compl o ca
mica a raça amarela parece vivem e agem (modestos e dili­
mulheres
versi dade da disposição natural. Especialmente as Povos e indivíduos mongóis to nas regiões tropicais como nas
ríodo e téril, são
grávidas e lactantes, tão logo retornam ao p e s
gentes corno as abelhas)
tan
e-se entre o
de qu alquer forma susceptí.v eis a climas i nsólitos. A incli­
subárticas; ou me lh or , o seu habitat nativo estend entre mais
ulo polar ártico, st é,
ma ção tropical parece mais difícil e defeituosa par a as mulhe­ trópico meridional até o círc e se trata aqui p recisamente de
i o

res das zonas nórdicas do que para os homens. Sofre muito de lOQ graus de lat itu de. Qu
indiferença
especialmente o seu sis tema de reprodução. Os distúrbios é provado pela mesma
11ma propriedade da raça, is asiáticos e americanos; também
menstruais surgem obstinados, em não poucos casos o desejo climática dos ramos racion América, d o· Equador à Terra do
a
sexua l extingue-se por completo, ao contrário do que se dá no a am tô dia
os índios ocup
a
até a gelada Groenlân
r da
homem, cuj a sexualidade é geralmente aumenta da até o abor­ frio-úm i n o hemisfério sul, cadei as de
fogo do
io norte, com comp actas o seu cx­
recimentô nas zonas mais quentes.
e o Alasca no hemisfér até
Naturalmente não se deve perder de vista que tôdas es­ ros prosperaram juntos
populações, cujos memb
sas reações corpóreas podem encontrar u ma importante com­ it pelo homem branco.
lcnnínio lev ado a efe o
tras raças, existem nu m
er osas ex-
pensação numa maior f;aciência e boa vontade de suportar, No que concerne às ou somente para as raças mor-enas
que geralmente é própria das mulheres ern comparação com la
periências' em, larga esca raças "negras", os negros. Ambas
o ho mem. É um elemento importantí.ssimo par a a coloniza­ ( Mediterrâneo1 e p a r a a s
arelas na cã­
ção, q�1e nas nações colonizadoras possibilitou dar, já há uma as , mas seguem as am
precedem as raças nórdic a. O clima adequado, o cli ma
gera ção, uma resposta muito mais positiva que no passado à clim
pac idacle de mudar de os tróp icos, para os mediterrâneos os
questão do matrimônio de um homem qu e se prepara para nativo para os n e gr o s são
não se sentem muito
emigrar para, as colônias. Pre scindindo da serenidade cria­ os a princípio
, e d a preser- �ubtrópicos; ambos os grup
da pel o "e s pírito domés tico" onde age a mulher 169

168
escala um produto da con fomiação g·e ológica ( § 1 10) . Com
bem nas zonas nórdicas, sentem muitas saudades do sol e do
a sua c-apacidacl,· tlc adaptação climática, freqüentemente nas
caior, mas a inclirnação dá-se com menos prejuízos que pa1•;1
zonas baixas r objcnivawente mais sadio ( pela ccssaçfo da,
as raças nórdicas emigradas para os trópicos. Pode-se di�PJ
causas que.; JHovocn 1 1 1 e) lJúcio específico elas zonas de altitude) ,
que as difiClildades de adaptação para êles são mais subjeti\ :. 1s
q11e objetivas. ainda que iuhjc·t iva1 11t•n t t· deva lutar por muito tem-pc contra
as saudades da monlanlia : assim, graças ao fato ele se ter
Dr; resto, também as experiências que dizem respeito no
temperado na 11 1t)t1la11ha, acostuma-se 111ei1os diflcilmente aos
reino animal movem-se l'I n análoga direção. Abstração feita
climas frios, c ('1'l l todo r:lso habitua-se melhor aos climas quen­
dos sêres viventes arnliiel i 111áticos, como os pássaros, que p,1s­
tes qt:1e o tipo nórdico, e encontra no genuír10 c1inia continen­
:;am a sua existência Ol l 1 dois clirnas difere ntes, e são no fund c J
tal. com seus con trastes de temperatura semelhantes aos das
co11sti t11 ições trtlilicas, os animais das zonas nórdica.1 muiw
dt!kilrnenlc se habi t ua J J , (: l l l regiões meridionais ; a rena, por zonas altas, a forma climática das zonas baixas relativamente
cxc1 1 1plu, St'11 1 pr�· fl!gi,1 da vigilância e de tôdas as prisões das mais adequada a êle.
,:u1 1.:1s 1 1 Jeridionais e se tlirigiu para o norte; ursos brancos e
76. Condições climáticas ot imais. - Como climas geral­
focas definham, ao passo q ue para os animais tropicais Car­
mente mai.s favorrívd:.· da tcrn:i elevemos considerar o clima
lc� Hagenbeck dernonstrou que se encontram extraordinària­
de alt.itude e o clima continr11lal. Mas também nêles é ele
monte bem no gêlo e na neve e se movem l ivremente, contan­
grande importância para o prn<'('%o dr• inr.li111ação o pr>ríuilo
to que tenhamos a gentileza de reservar-.l hes um pequeno es­
iugressivô. Cor'no o período n1ai� (1 t il !)Ode-se rnnsiderar o
pa.ço onde possa.rn brincar; êles não necessi tam absolutamemc
princípio do verão, mais Oll 1111mo� o 1 1 1/:s de jl1lho ( m, Emo­
da imitação dos seus fatôres climáticos "selvagens", e portantq
pa ) : o inverno, e1 1 1 ambas as formas, pelo seu frio rígido ap1·e­
não é necessário que sejam mantidos constantemente ern gaio­
senta diferença rnatcir do que qua lquer ou tro clirna ( com ex­
las muito quentes ou úmidas. Tudo isso é ,·álido para os
clusão do subártico) ; menores são os riscos durante o verão e
animais de sangue quente. Para os de sangue não quente, as
o outono. O verão avançado da montanha dá já uma acen­
experiGncias são muito divergentes. Ent re êstcs, os mais in0-
port1mos para os liomens, como os 11 1osquitos, in felizmente pa­ t11ada sensação de repouso e o tardo verão do c lima c:antinen­
tal pode ser muito quente e superar realmente o calor sêco
recem não serem inferiores à raça amarela quanto à insemi­
antes suportável : o mormaço, porém, descarrega-se p;c.ralmen­
bi liclacie climática ; povoam tanto o círculo polar quando o
le d F pois ele 1.un breve período dando maravilhosa sensação de
equador, com igual vitalidade e agressividade.
frescor- e de alívio ao passo que as noites trazem consigo agra­
Entre as formas raciais européias, a chamada "alpina"
d:il·el queda de temperatura, mesmo após dias muito gue:ntcs.
constitui urna excessão ao problerna consti ,ucional . Eu mes­
A estação mais bela que se possa imaginar ein todos os
mo _considerei o célebre .E-I omo alpinus ( cuja existência feno­
dois climas é freqüentemente o tardo 011tono. Vice-versa, o
típic a é contestada apenas por autores como Scheidt e Lenz,
inverno àvançado como período ingresivo apresenta bruscas
cuja opinião é, a h1eu ver, errada ) das grandes zonas de al­
1�xigências devido ao frio ; e a estação seguinte, a primavera,
titude ela Europa Central não uma "raça" particular, mas
�c-ralmente até fins de maio, não obstante alguns dias isolado�
wna população mestiça que se originou ele cruzamentos entre
rhcios de promessas, é no complexo uni período lânguido, ne­
o norte e o sul, o este e o oeste ( é disso Lnna prova a inclc­
l 111 loso1 com chuvas e ventos, um acentuado tempo de confu­
ten11inação e a multiforme dispe1· são de tôelas as suas carac­
si10, que é evitado inclusive por quantos necessitam de repouso.
terísticas cromáticas) 1 que sob o influxo d�1s montanhas mo­
També rp nos trópicos domina êste tempo de confusão e
dificou a sua constituição a começar pelo aparelho da tiróide, <'Sl)ecialmentc o período das chuvas é um· têrmo ingressivo par-
e. assumiu o "habitus" tiróideo ( tireose ) , isto é, corporatura
1in1larmente desfavorável : isto é atestado também de um pon­
forte, tendência para a adiposidade, formas infa11tis das extre­
to ele vista puramente físico, por exemplo, através ela cons­
m idades, epiderme com impurezas (granulosa, manchada ) . O
t a t ação de nu!J lerosos casos mortais. No clima marítimo e
lilJo cretino é, por a�sim dizer, o seu extremo.
110� se, ts prolongamentos para o interior:, o inverno fôsco e
Conseqüentemente, êste tipo de população seria em longa
171
HO
úmido, com neblina e
chuvas
muito lllais dificultoso; tam , apresenta o período ingressivo
bém aqui o têrrno melllo carbônico, na mudança iódica, é uma das muitas relações cli­
cípio do verão, o verão r é o prin­
avançado e o outono. máticas, pelo que a pesquisa experimental fisiológica v,isa ati­
acontece na antártida. O mesmo não
Aqui o início da inclin vamente a conhecer os distúrbios iniciais, os elementos da de­
endido no tardo verão. ação é empre­
Esta época não martiriza saclimação e da inclin1atação, sôbre as quais reina ainda mui­
mo com as noites claras o organis­
do princípio e do pleno ta incerteza.
dia pqr dia aproxima-se verão, ma�
mais das "normais" pro
dia e da noite do resto porções do Assim continuamos ainda presos a interpretações grossei­
da terra, e portanto per
pouco a pouco na obs
cu1•idade invernal e pre
mite penetrar ras sôbre a clivcrsictac.1c das raças locais. Tais interpretações
a começar no outono, serva o novato, foram insensatamente propostas há mais de dois milênios e
dos danos que lhe pod
pela extraordinária cxp em ser causados meio: a começar de Heródoto, a quem as qualidades étnicas
criê11cia sensível do ei:;:c
dica, que forma, por esso de luz nór­ dos gregos apareciam como reflexo da ideal sucessão elas es­
.tssim dizer, um confro
briaguez da floração pri
maveril do sul europe
nto co111 a em­ tações nas suas sedes, através das teor.ias de :Montesquieu no
çosa vegetação dos tró u e com a vi­ século do iluminismo, cuja unilateralidade suscitou a crítica
picos.
Um segi.mdo período do escocês Davi Rume, até as fórmulas do recente passado,
dado pelo tardo invern do ano relativamente que pretendem simplesmente explicar as raças como uma "va­
o. Nêle a obscuridade favorável é
para a claridade lumino
sa e passa diretamente
encaminha-se riedad� do lugar de permanência". Além disso vêm conti­
luz sem uma verdadei
ra primavera de entrem
para o verão de nuamente à luz de modo surpreendente, porque em represen­
eio. tantes das ciências naturais, aceitações acríticas de opiniões
77. Climas e raças locais históricas superfiéiais, ao passo que entre os cultores das ciên­
ra provam na sua for . - Todos os sêres vivos cias históricas transparece a incompetência nas ciências na­
ma fenomênica a incons da ter­
do ambiente nah1ral ou tante atividade turais. De nossa parte tentaremos com):,inar em conjunto
cultural onde transcorr
tência. I ndivícluos da em quanto é, por assim dizer, uma exigência conceituai, quanto é
mesma espécie mostram a sua exis­
lugar onde v.ivem, um
a determinada niarca, , conforme o fruto de uma real experiência, e por fim quanto foi espedfi­
de criaturas do mesm que os distingue camente comprovado. Ésses tTês diversos graus devem possl­
o
tre êsses sinais se con gênero de um lugar distante. Se en­ vehnente ser considerados distintamente, pois amiúde se mis­
tam também os heredi
q ue conti nua riam tàriamente fixados, turam sem que o percebamos.
assim
wn problema ainda mu também num outro teatro de vida, é
ito distante de qualquer
tific amente madura.
Em
solução cien­ 78. Norte e Sul. - No interior de todo espaço étnico
transforma o "fenotipo todo caso o lugar de fechado deparai:no-nos com uma marcada e sensível consciên­
", o fenômeno em si; permanência
lativamente homogêneos, os exemplares re­ c:ia de diferenças essenciais entre a parte da população domi­
signados costumeiram que vivem num certo ciliada no norte e domiciliada no sul. Trata-se aqui, portan­
ente como "tipos locais lugar, são de ­
ainda de Iorn1a muito ", mas deveríamos Lo, de uma relativa distinção entre Norte e Sul, que se veri­
melhor, falar de "raças
no homem, represe lo cais". Estas, fica em todo território lingüístico nacional; assim, o alemão
ntam também os tipos
gicos. Uma qua11tida étnicos e geneal
ó­ 1lo norte não só não se assemelha ao seu vizinho eslavo do
de
ção da raça local, ent de circunstâncias intervêm na forma­ sul (dinamarquês), ou o alemão do sul ao (confinante) fran­
re as quais também os
cos, muito difíce is de fatôres climáti­ cês do norte, mas o francês meridional, o italiano meridional,
tituiç ão no curso do serem isolados. :f::Jes modelam a cons ­ o holandês meridional, o britânico meridional, o chinês meri,
process
Dêsses segredos da dep o de inclimaçã,o. diana!, o, russo meridional, o espanhol meridional diferencia-se
endência do homem da
revelamos senão as
pont terra não de uma forma comum do francês setentrional, do italiano se­
difica-se de acôrdo com as extremas: o tipo de respiração ma­ lcntrional etc.
a altitude, o mesmo val
tema da tiróide; o quimis e para o sis­ Apesar de as fáceis fórmulas - a que de bom grado esta
mo do organismo, por
sua concentração ácida exe <listinção recorre - deverem ser consideradas em geral como
e alcalina, no predomínio mplo na
do ácido problemáticas, todavia o fato é certo. Corno nota verdadei­
172 ran1u11tc comum, que distingue tôdas as partes étnicas seten-
173
ma is me­
1 1 ,1 . Tôda vid a rcl ativaincnte
der prolong;;tr a rxi �tt- ci e é ma conforme is
1 11a da natureza"
trianais elas meridionais ( no hemisféri o setentrional : no 111c•ri rid ion al está '· 1 1 i ais pr6 xi tem menos
liberdade do set criado,
diona! nrnito 1uais escassamente habitado e habitáYel pod c:rL 1 it. criatura, goza 1rnl is :1 sup ort áve l. O "do lce far
pa�a ser
dar-se o contt-ário) po<lc-se indicar isto : nas zonas setent ri r � necessidade ele r11ir,/tlorl,·1 írit o, sôbre a
l'llS c•fcilos sôbre o esp
nais de u111 povo pl'cdomina1J1 os traços essenciais da sohri c · nie nte" C(H t t 1mlns u, .� -se con duz ir, as larg as
n p01kr dei xar
chdr, da ::i�pcreza (frigidt•z, rigidez, reserva) , do empenho i n l",m ta� ia e• os inst into s, em nór dico.
co1t1 parcimônia ao hom
:c l ertu;:t l e daquele çonsrqücnte d a vontade, da tem1cida1k, comodidades oíerec icla s l11 1en tc, e pod e go­
dura e incansàve
prl.cii'ncia e: scvericbdr : 11:is regiões meridionais pelo C(m Lr:I F,�te dn•,· lra ballrn r rnn.is o} . Inc lu, ivc o al!l or se­
ure,,a, óci
ri� pr<",·a!ccem os traços c•��enciais da viv<1ciclade, excitabi li<la­ �ar 1,tt•.110s ( sol, cal or, nat frl\ ·orá vci s pm a
condições ma is de�
dr. paixão, da e.�fera alcl il'a e fantástica, da instinti Yidade <· :rn al c:ncont ra ao aberto mais freq üên cia da org ani zaç ão
d,.t jov.ialid i :dc. rlesdobrar-se e necessita com fal ta de ocasiões naturais. Tam­
Nessas rn1ções (arirna cio equador} , as partes étnicas se­ pel a CÍ\ il izaç :io, por
nforecicla s desenvolve-se
s e das grandes cidade
tr•1t :·ion:iis �ii<1 t1t:iis prál ir•as, n1ais reservada�, poré1)1 n1ais con­ f r,m a v1da das .idade nm s e nas pra ças ( ag ora )
n le nas
nadas, a� 111rtidionniH mnis musirnis, mais acessíveis porém mais 1 •1ui to mais frl.' qüe nte111e e mu ito ma is nas
s 1 1 l 1 e se desenvolv
dcscoi>.fiaclas. r-c,n fonnc: se desce para o r,íi r i 1 tas ccm for rnc se \'a i
ns t' llí\S
Todavia o contraste não pode sernpre durar tão es­ t·asas , nos salões, nm nee:6ri
quemàJ irnr nente, pois a vicia e c,pecir1 l mente as formas hi $tÓ­ ,..,!·,:nclu pal':t o nor te. irn ent re
con1 ras lt' (·tn ir-o-p�icológ
ricas de vida não se deix::irl1 nunca subd ividir totalmente em Substa nci almt�nt e no clim ático in­
enc ialt 11.1.: nl1 ' d�• 1 1 1 1 1 dt ·ito
categorias. Assim o escocês ao lado da sobriedade e da tena­ l'\orte e Su l tr::ita-�11 css t·e as qua is o ho-
cidade mostra sempre fortes traços de misticismo, e o mesmo t o : são clif erc 1ite s for mns d� viria, cnt trib uam
rli re con
r. Conq uan to parri. isso a ( e p or­
,icontece com os lrnhitantcs da \Vestfalia. na Alemanha me­ 1 :1em vem a se cn;;on tn-1 síq uic
con stituição sornatop
ridional. Do mesmo modo poder-se-ia ('onsiderar Florença, rnocli íicações diretas ela lógico ) , pa­
êste comnrndio de musirnlicladc, cm comparação com Nápo­ me nto " visto sob o asp eto· psic o
ta nto elo "tempera conhecimentos
o estado hodierno dos
les, a e�sência d o dima "mrridinnal" (para os habitantés do r11 aceitá-lo não ba�ta
norte ) ; ma, se tomarmo� a alt;:i I tália e a baixa I t á l i ,1. como �eopsicoiógicos.
11ma unidade nacional, Florença torna-�e urna cidade com ca­ p:r o-
racterística� relativa111ente meridionais com respeito aos cen­ hom ogê neo e clim a heterogên eo. - Mas o
79. Clima que os po­
tros ind11slriai, e comerciais como Gênova, J'viilão, Turim. Ve­ bém nestes têr mo s : será
1 '- ema pode ser pôsw tam - • ins tin to ( a nMo�o ta.1 -
neza constitui um capítulo à pal'te. Com tais exemplos po­ procuraram po:
YOS ( 01t alguns povos ) clim a acie­
de.se ver quando é extenso e relativo o campo de interpreta­ o dos pássar os) o '\e u''
\'cz ao imp ul so- migratóri m aí est àvdmen­
ção, e ü,to representa sempre urn perigo para a ciência. :tvfas ga8 buscas se fixara
<[uado e só depois de lon nór dic as o clim a tropical
no co1:nplc::-:o "h;i .=ilguma coisa" na divenüdade entre o norte a as raças
tc? É eYidente que par res pei to aos cli-
e o suí, e hoje se poderia formular a explicação climato-psi­ vale também com
e'· hcterogê11 eo. Antes, isto us de lati tud e: com
col6gica que segue. menos 40 gra
1 tias subtropic ais até pel o torn ou- se his tor ica me nte um a
Em lôcla a terra a disU'lncia do equad or significa em mé­ errâneo
,,feito, a bacia do ?víeclit ra todos os povos germânicos do
dia urn clima mais pobre de luz e calor, mais rígido e m a is irn fos sa con mm pa ços pude-
\ enlade r a sua sede ; os sem tra
cinzento. /1. côr "cinzenta• · , a escassez de luz, age como fatoI nor te, que ali ten tar am fixa popu laç ão
a
nas misturando-se com
essencialmente paisagístico, que de'l:emos manter distinto do 1 am ser cxmservado� ape . Vic e-v ers a, pod e-se
efeit o estreitamente climático ( § 13 "neblina", e o importan­ óct one e em mi nú scu las diá spo ras rue d itc:r -
,rnt raça
te � 1 1 4 sôhte a paisagem ) . A falta de calor, o frio e a umi­ correspoudente para a
c-onstatar um fenômeno oni zaç ões , em
dade, o a,·ançar do im·erno ( essas ,ircunstâncias pràpriamcn­ Ela, nas sua s col
1 ânea e o clim a nórdico. substancialrnente além dos u
45
te clirnáticas) , forçani a urna mais exclusiva " a dornes6cação", ra che gou
111:nh 1 1 1 na parte da ter do gr:i
LUlB existência no "cli.n1a artificial" de ambientes fechados, dir eçã o do pól o ; à. alt ura
�onw também a \IU1 trabalho mais duro na natureza para po- n •ITI gra u� de lat itu de em
1 75
174
/l

5()<1 encontram-se apenas ilhas loca


is, como os valões belg:.is ,.
os franco.canadenses (que ali pros
peraram verdadeiramente), lnatográficas das í·por;-1s passada� e dos tempos :ituais (cfr.
ao passo que entre 30 e 4.5� no norte
da África e na Europa cap. III, Solt, ,. Psiq1 "', � 1 10 ..111 J.
em tôrno dos 35 graus tanto de latitude
norte como de lati
tude su l na América a raça mediterrânea
é senhora da situn 80. Desvios por deito do clima. - As modificações pa­
ção ( nos trópicos propriamente ditos parec
e sobreviver de cc·r­ tológicas (011 C(lll' S(' aprnxi1r1am de tais limites) que smgem
ta forroa apenas misturando-se com as
raças de côr; o Brasil mm t1111a 111ud:111ça çli111{\Li(':1, _iú foram exp()stas nas suas for.
forma um todo, aplicando a teoria "inte
gralista" da forma­ 111as pri1i.-ipnis 1 q11;111do tda11,os do� vários climas. Resta-nos
ção étnica) .
O verdadeiro critério de adequação racia apenas tra<,;ar 11111 quadro 111ais sintétlco.
consistiria portanto na caprtridade da l de um clima Pod�·wos distinguir como principai-s forrnas teóricas um
raça de formar povos i: rlcsvi() d« aclimação e um rles-vio df desaclimaçri.o. O primei.
preservá- l os num cl ima. Pode-se falar
realmente de uma t,·i rn não é nada mais que a fase da passagem para a adaptação
da adaptação no esj1aço vital: a capa
cidade de existir como em nôvu tli111a. Pode ser apenas perccpth·cl ou muito inten.
povo num determinado local (não
simplesmente em grupos so, mas é scrnpre urn proc-t•�s�1 transitório-, u111 processo de in­
isolados ou como indivíduos em part
icul ar), o que inclui a n:rsão, que dú ori g- c1u n u111a 1101·::i. 11orrnaliclacle ou, de acé\r.
prosperidade generativa, é a med
ida de adaptação de Luna do com os casos, H'.Stal;rll'Ct' a antiga. l)ifcrc11t.e 1\ porém,
raça a um lugar e da adaptação
às raças de uma zona qual. a fornm de des,·io clt: dcsacli11111ção. J-:111 g1·1·,il \> organisrno
q uer da terra climàtícamente cara
cterizada. Assim a zona cli­ que é ;itingiclo jfi ni'.í.o (, di111àlic:rn11·11t1· i1clC'q11adn e j� t1ão se
mática torna.se ao mesmo tempo
um fator constitutivo para libcrlf! das reaçôes clinift1icas. O c·.'n·111plo ,·l:',ssieo é cl�1do
a gênese do complexo étnico: isto é,
daquelas famílias de po­ pela biastenia tropical. Aqui o organi�1110 não consegue adap­
vos afins pela raça, homeogêneos
de sangue (isto é, semel han­ tar-se à elevada situação térmic:a persistçmc, nem conset'l'a a
tes de sangue, se bem nem semp
re homogêneos, do mesmo sua adaptação originária a uma siluação tfamica rnais bai•
sangue), como é, por exemplo, o
compl exo étnico dos povos .\a e 1nut�h-el (a da sua terra).
germânicos, dos povos romanos etc.
Certamente tal fator do espaço vital Êsscs desaclimados sofrem pelo calor tropical, mas tam­
à raça exerce a sua ação em conj climático adequado bCan nas viagens 1wlas zonas ternperadas ( e não raramente
unto com fôrças multíplice.s .
e compl exas, com qualidades lingü üurante tôda ::i l'ida depois do relômo à pátria) continuam a
ísticas, históricas, religiosas, sofrer peló frio da terra natal. Também nas zonas altas
que cm parte o intensificam e em
parte o obstaculam. Mas além dos 2.000 metros, ( por exemplo, nos países andinos da
uma olhada ao mapa das religiões
do Ocidente e da terra em , \ mérica do Sul\ oferece n Luitos exe1 nplos, nos q1tais não se
geral nos revela todavia como as
formações confessionais de­ rnnse,e;ue alguma aclimaçfw à altitude, nem, depois elo retÔr•
pois de séculos de confusões
e ele lutas firmarrun-se relati. no às zo11as baixas, alg-uma "reaclirnação"' a estas { que na­
vamente e delimitarem.se geogràfic
amente contra tôda expeta. qnclcs países são constituída� pol' 11111 a planície trop.ícal).
tiva. Isto não deve induzir à
falsa afirmação de que o clima O desvio de clesarliwação pode tanibém parar num de­
faz a fé; mas passando pelas cond
ições climáticas do espaço krrninaclo nh·el das condições fisiológica,. 1, êste justaniente
vital dos povos e das nações, êle
tem verdadeiramente uma n caso mais freqüente, tarnbé111 na biastenia tropical. Mas
comr,a rticipação essencial na
delimitação e na agregação das pode também fornmr-sl: progi-e�sil'a111e 11te (forma ele des,·ío
realidades fenomênicas da fé relig
io�a. progressivo). Não se sabe se isso é um fenomêno puramente
Do mesmo modo o fator clima
também sôbre o problema tão difíc lança. um pouco de luz rlirnapsicofisico, sem que intcl'vonham influxos de doenças infec-
il da gênese das raças. É 1 insas ou abuJo de venenos voluntários. Também na rl esac fi.
difícil pensar que uma raça deva
ter-se locomovido e se for­ 111nção generatiua, que pode desenvolver totalmente a sua ação
mado justamente lá onde hoje
não mais pode existir como j{, na "segunda ou terceira geração" pela intervenção de cles­
povo. Nessas djscussões deverão
dizer importante palavra cui­ fnvorávcis efeitos climáticos, é muito difícil separar a ação con•
dadosíssimas (indubitàvehuente apen
as el as!) confirmações cli- rr ►11)itanle ele específicos fatôres morbosos dos danos à vitalidade
176 1,1i-1wrnli1·a causados pelo clima. Somente um ressaneamento

IR • ik111u,,·t,nu
1
177
muito avançado do mundo tropical dos seus peri1:, t>S de i.!lk• , ; 1mçt,es mcteorológiccis A'crais poclem ser muito arbitnÍl'ias tan­
cções poderá esclarecer o problema sob êste aspeto. to ele dia corno de 1 1ni11· 1 ncslc ou naquele 11\odo, :mas são
d,•lerrninadas nos �C' ll� 1 i pos pelas estações ( pode nevar 01.1
cle,ab ::i r urn temporal eh· din ou de noite, mas o temp oral
C. - PERIODICIDADE GEOPSICOLóGJCA q uase só no vc1·ã11, a� 1 11•,·adas somente no inverno) .
Ta.111bém O, :,ni 1 1 1 ; 1is ,, as phrntas parecem dep ender do
81 . Unidades periódicas fundamentais. - A eterna re­ ,1 1 10 e do din nas suas í 1 1 11çõcs vitais. A delimitação das esta­
petição dos mesmos fenC>t 1 1<'nos na sucessão dos estad os meteo­ çifo� r de fato 1 \'.gu lnd r 1 1 w1is sôbre êles que sôbre as caracte­
rológico8, que nós r'ha11 1,1 1 1 1os clima, é um fato de natlU"C7.n ríst icas 1>m-ai 1 1c1t ll' diirnllológ.icas. A germinação, o 1·erdejar,
cósrnica, isto i'·, clrll'l'l l1i1 1,1do pelm, propriedades ela tríplice : i floração, a 111,üuração, o secar revelam com mtúta clareza a
po,içfíu 1 · 1 , 1c 11. i 1 uc11 lo dos c•o1·pos celestes, sol, terra, hia. A� 1 1111dança. A i ncJu�etàção dos insetos, a 1nigração dos pássa..
s11as unidades f11mhrnw1 1 t a is si1o o ano, o dia e a lunação. Es­ rns, o letargo in\'ernal, a estação cios arnôres e o tempo clà
La últin,a, d iscu te-se ainda se provo<'a na atmosfera flutua­ c;1ça s5o dcl(lJ't1 iim1clos na Seta multíplice variedade p e\m,.
ções regulares. Em todo caso exérce efeitos extraordinários !'�lações .
sôbrc as grandes massas ele água da superfície terrestre, os ,\ m udança cfü1 ria da ,·ida veg('tal c ani1nal 1 son0 e v1gí ­
oceanos, onde produz as rnarc�s corn fluxo� e refluxos. E é di­ li,-l , horn das nli,u<::nlaçõcs, abc1·t 1 1 ra ,, fcclir11 1wnto das rtôrcs
fícil imaginar que 11rna fôrça tão grandiosa deva ser indife­ Plt fôlhas cumprem-se em purtc tãn pot il1 1::i l, 1 1cnll' q ur a "lio­
rnntc para os processos que se dcscn\'olvem no invólucro at­ rn das flôres'' e o ''calendário , t•g,1 ·ial" pcrrruccu1 às dássicas
mosférico, tanto mais q11e a rotação ela terra é de granclíssillla 1 1•nta t ivas da hiocnrnia boU\ nirn e há rnais de 1 1 1eio s�culo­
irnportància para a formação dos ventos : o nosso satélite, que �1· pôde desenvolver urna nota branca da ciê.ncia chamada
clc(cnnina na pa i te líquida da superfície terrestre tais peri6- ' fcnologia", que encon trou lugar seguro inclusive no serviço·
clica.s agilaçõf's, ni:io pode pois ser de todo indiferente para 11 \L'Lcomlógico oficial para as previsões que in teressarn à ag ri­
a àtwosfern. ' t t ltura e à silvicultura ( i nfelizmente, . porérn, a. fe11ologia ofi-
Não �e trata, teclada, de simpJes transposição para a at­ 1 i.1! com respciw à \'egetal ainda está confinada a urna con­
inosfera do conceito ele maré, e uma efetiva pesquisa sôbre tliçiín miseranda, numa espécie de fase pré-científica ) .
i�t�1 encontra inclusive, após decisin1s iniciati v a s de i 1 1 1portan­ J\ ,;igília e o sono são também para o gênero humano as­
tes drcu los científicos, uma a1·ersão dos círculos met enrnló­ r c·açõcs principais à rn11clança elo dia e da noite. Frcsc01· e
gicos qualificados, reforçada por outras de amadores. c· :1 11:,aço mani restain-se de manhã e à noite, os esgotmnentos
Sãc), porém, inegáveis os falôrcs puramente solares do 1 w1is conhecido� ::io meio-dia ( § 92) . Menos evidente é o in-
ano e elo dia, também do ponto ele vista dirnático. À parte 11 1 1 ,0 direto das estações. A dependência estacio n a! da viela
algumas oscilações, aqui ocorrem regularmente na mesma su­ ,..-�('tal comrorta consigo que a \'ida do 011n ponês transcor-
cessão determinadm, estados das condições meteorológicas corn­ 1 ,1 uiais r:ôrnoclamente no inverno que na prünavcra e no ve­
plexiv.is ou dos elementos meteóricos. A êste propósito é irn­ J ,.io : m:i.s os camponeses cm geral não dizem 4ue uma esta­
pre0,ionantc no curso do ano a m\ 1 dança das condições me­ , 11 seja par2. êles mais fa,· o rável que as outra,.
tec)rológicas C'Otnplexivas e mais ainda a mudança no curso Há indivíduos sempre doentios que tewem os "pcríodos­
do dia cios elementos meteóricos : ternpo de ,·eríio, tempo in­ t lc· transição", pri.rnaYrra e outono, porque lhes são nocivos. A
Yern.11, tempo primaveril e outona 1 ; entre os trópicos, perío­ 1 1 1, ,•nt11de ,na ida-de do desenvolvimento sofre geralmente o ex-
do de sêca e período de chuvas, e do� círculos polares, inverno 1111 11 1::.ntc ih fluxo da pri maycra. Pelo contrário o verão avan­
escuro e verão l11rninoso ; entre o dia e a noite, manhã, tarde '· ,ido cansa de um modo geral quem mora na cidade, ainda
e anoitecer tornam-se mais evidentes as cli,·c1·sida clcs da CjL1an­ 1 1111· os que sofren1 apcrturas econômicas temam mais o in-
tidacle de luz, cios graus de temperatura, das formas de umi­ 1 1 • 1 1 Jt l . Quase sempre das cidades e especialmente das grandes
dade (orval h o ! ) e, diante de observações científicas, també)Jl , 1 1 \ , , , 11·� 11'°" l!m os tipos dos quais já temos falado ( § 7 1 ) isto
da pressão e da eletricidade, enquanto que as formas das cons- , , e ,., "t,•1npcra111cntos reativos" de acôr<lo corn os casos :;io ca-
178 179'
( por •orte, podert•• 11n� dizer) para a nos�a consciência; mas
lor do ,·erão e à rigidez itll'crnal, ou ao frescor csti\'o ou ao isto não signific:1 qm: a periodicidade a que estamos subrneti­
inverno brando. à u111idadc primaveril ou à ventosidade do d G, nüo ienh:i 1•111 pari\' efeitos enormemente importantes.
outone. As concliçõcs 111ci1·nrológicas anuais raramente os dei­
xan:J ss1tisfcitos. Sl'io pl'��oas que não encontraram o seu clima
"adequado·'(§ n). E,11 lodos êsses casos é neces,ário se111. - .irn
prc prescindir de 11n1il:1s circunstâncias cotidianas de nature­ I. - A periodicit!ar/1· amtal da vida psiqu
za nã.o cli111ática, c:01110 d1·�ilusões profissionais, mudanças da nas temperadas da
dieta, dcscómodiclade d1• ;1 lojar.ucnto, escassez de estuário e im­ 82. Ardor sexual. - EJrr ambas as zo
1nudança singula r, que
pressão paisngística cli· 1111, 1c111pc, claro ou sombrio. Em ge­ terra con,tatou-se no século XJX urna
da da prima\>era e q ue so­
ral supõc-st: qu,• 11 Hd1iltn .iadio s,· encontre bem cm qualquer sohrt\'<' lll nos homens com a entra
ncia. Desta "crise
<·stn,ão t' (j\tC niio �1· r11id1· llti\i, das suas clcsnmtagens, a me­ mente a estatística sociológica põe em evidê á representa ç ão
ment o
nos q11t· não �1· 111a11ilt·sl('111 c111 fon11as extremas. Tamhém pri1rnweril'' tornou prôpria111ente movi
condições de saúde e
para as l,c,rns dt1 dia faz exceção quem de manhã nunca se ele uma curva an11al psicofisiológica das
m.
sente bc111 e: que apenas corn a tarde se sente eficiente ( .. tísico ela capacidade de l'endirnrnlo do home
como o verdadeiro
ele manhã, elí:tr:ico à Lardc"), Ante, de tudo a primavera se mostra
es dos homi 11íd1·o s. bto íoi consiatadn unica­
Só o aprofundamento cient.ífico da experiência cotidiaúa trm/10 dos amôr
dmln qu<' a apa1'ência su­
revela que todos os homens sôbre a terra estão sujeitos de i1,n menre por meio elas estatí:;licas, ch.:ndo a urna
o à opin itto que ( corre spo11
modo mi.tito regular e Constante às horas do dia e às esta­ perficial ha,-ia levad clos) a irnpul­
<lom cstira
ções. O nosso organismo inevitàvelmentc faz parte do ritmo tcndhcia obsen-hcl já nos animais não estiv esse li­
dida de do hom e
�i,·idadc sexual e a fecun
m
cósmico do ano e cio dia, ainda que ele modo imperceptível unifo rmem ente dura nte
gada a urn período, mas que e),,"Ístisse
todo o ano.
cm todos os paí -
:\s estatísticas do aumento de populaçíío ndência racial
da sua depe
Meses �c·s, acima da sua cstn1tura social, tante maior
f fl Ili IV V VI VII VIII IX X XI XII zaçã o, m ostram uma cons
e do ,eu grau ele civili inver no e início
fins do
freqüência anual de nascimentos nos de concepções
nria maio r n{un ero
da primavera, o qne denu Na França,
do verão.
na primavera arnnçada e no princípio têm urna percen­
e de junh o
por exemplo, o� rnêses de maio

'-........
percentag m que não
tagem mensal que ultra1Jassa os 9%,
e

is; com efeit o, jane iro,


� mais é alcançada nen1 antes nem depo
,JI/
julho , 8, 3 -4-o/o das
....-
m a 8%, abril e
outubro e novembro chega Nas
meros 81-88).
� fecundações ( Cfr. tabelas anexas aos nú impr essio nan­
form a parti cular
0statísticas alemãs aparece de
ilegífonos; aqui , on­
te acentuação dessa divisão para os casos
lame nto é ainda mais
clr n pura impulsividade para o acasa estão na van­
nte que no matr imôn io,
J'nnementc determina ao passo que
- !{llarda 0s1 meses de abril a té junho (primavera
),
outu bro e nove mbro têm maior
meses con\o janeiro e fevereiro, es legítimas.
conc epçõ
r'c:.::rcsso, en, percentagem média, que nas derar as
a isto quis- se consi
Justamente em consideração ao ar livre
giras mais favor áveis à vida
<·onclições metcoroló conce p<;.Õe$
num érico das
Fil?. 2: Cu1Ta an\!,J ,!as con:cpçõ�s na ]'rança. 1·111110 a causa específica do aumento
181
J80
,cl i1 w11lc pódl! r-sc-ia objetar que vfan co111pleian1rpLe à luz só
na primavera avançada. Mas então não fica bem e�• l.1)(• os ,ittlS de , iolência sexual que levam à concepção, cnc1uanto
,ciclo o seu rápido regresso no tardo verão ( que na Fra11c::i j:1
os q111· níio traz.em. conseqüências (ie3111 abafados pelo silên­
,é notável no mês de julho, ainda quentissimo e geral1111·11\t'
rio, ,\ (\stt· propósito <� instruti,·a a estatística italiana sôbre
sêco), nem se explicaria a falta de diversidade entre os \Ú
rtS t1•11i:1ti1·1H; de estupro em crianças, que mostra o nmsmo
rios anos ele acôrclo com as condições meteorológicas no iní­
au11w11tn ela violência se:-:ual, com as cifras mais altas em ju-
,cio do Yerão. Exataiue1)le o fato de na França, onde o cli­
11) 10 , 111uito elevadas eni abril, maio, e ainda cm julho e agôs­
ma ten1 um marcado caráter meridional, o mês de julho a�­
to, 11111ito baixas de no\'embro a fevereiro (islo {:, ao redor do
;;inalar já o evidente regresso de concepções, ao passo qw
especialmente na Prússia (e portanto na Alemanha mais se­ i11 ,•t·mo). A. percentagem de tais dditos, c.om efeito, só em
tentrional, onde prirmi\ ('l'a u verão demoram a chegar) alcan­ ju11ho é superior a 13%, ao passo que cm novembro atinge
ç.1111 ainda a cifra recorde do início do verão, demonstra co- npcmis 5%. Em semelhantes casos a existência doméstica a
1 1 10 não é :i lt'111pcratura por si mesma, isto é, o seu valor que o inverno forç.a e a vida livre de verão, desempenham
médio absoluto nun1a t,:Slação, e tampouco as condições da u111 papel mais irnporlan1.e qLJe parn a união sexual consu­
natureza que são decisivas, mas o fato da primavera como tal. mada de comum acôruo,
Antes de tudo podemos constatar: anualmente os três mc- l\fas a analogia das cif'ras, transcuranclo a grande diver­
sidade dos clin1as, deixa, totlaYin, rcrnnhcccr ainda, indepen­
1;es de primavera registram a maior freqüência de concepções:
aqui, continua, porém, incerto se é a tendência à união sexual dentemente das ocasiões favod1\'C'Í� fü> i11qrnlso1 o falo ela p.r i­
on o aumento da tendência à concepção que se coloca na niavei'a corno fator decisivo; dr resto, ta111b(•n1 11a eslalística
base da freqüência estatística. Isto nunca poclerá ser escla­ alemã o aumento ele março a �tbril 111ostra 1t111 valor progrcs-
recido, porque o número das uniões extra-conjugais foge ao
contrôle e também porque um relêvo estatística aceitável Meses
ern todos os matrimônios de um po,·o chorar-se-ia contra as 1 li Ili IV V Ili VII Vl/f IX 1(. XI XII
mais gra,es dificuldades.
!\s formas mais indeterminadas do arsescido instinto eró­
tico são zombeteiramente designadas pelo povo corno "�enti­
mentos de primavera". i\{anifo.stam-se êles nã atrativa geral
com relação ao sexo oposto, na inclinação para se "enamo­
rar" a fa,,,er a cô1'te por passatempo (flêrte), e também numa
inquietação difícil ele ser compreendida, no impulso "para o
e.'-:terno", ao qual freqüentemente, todavia, pode estar ligado
um cansaço ora agradável ora incômodo. l� a tendência para
a "enf.atuação" em todo senti elo, seja sexual, ,entirnental ( as
poesias da primavera são na sua maior parte líricas de amor),
seja mot6ria (vaguear). O estado sentimental, a "irrequieta
e injustificada ânsia" de Schiller, é desfavorável à sóbria e
recoUiida aplicação, à atividade incansáxeJ e constante, mas
favorece a "enfatuação"; afirmações e doctLmentos antigos e
ht,1rt1aníssimos desta experiência testemunham que ela inter­
vém inevitàvelrnente em tôda mudança anual prirnaYeril.

83. Estupro. - Uma prova ulterior a êste propósito é


ofereci.da pelos estupros. Nêles o desejo, sexual apresen.ta-se
na França.
no seu grau de intensidade propriamente bestial. lndubità- Fig. 3: C\J rva anual dos crimes de estupro
183
182
,�i,·o asccncional do:, delitos
sexuais equivalente a Cl'IO
terço. enq uantci <tue o mês I d1• 1111\ {'. por antonoma.sia <) 111/"s doce, o 111ês delicioso. 1\ maior frc­
de jun
que duplo cem respeito :irn, n1e.1 ho mostra w11 \·:iln1 111;1i, qtiência de suicídios na pri1.11avcr:i. e no princípio cio verão não
Ps de fevereiro e no,·1•1 11l 11·p,
pode, portanlo, ser iillil1uída a nen!tuni clêsses estímulos oc::i­
84. Suicídio. - f� surpree úonais, qt1{' podr111 i 11 11•r, ir na atividade sexual, 117a, tralr1-sc
c.ios suicídio, assu1nern o llll'S ndente como as curvas an11ais simplesn1rntr- de urna \'xclusin1. manifestar/to do fato da pri­
tno ritmo. Dos lllil suicídios
todos os anos se verifir:1111 na que' ma\Tl 3,
Prússia, na França e na Itáli:1 ,
60-70 acont:ece111 cm jaiwiro, 75-85 . 1

e1'.!:1 setembm, só 60 c111 85. Doenças mentais. - O maior nún1ero de inlerna­


dezembro, mas de abril :1 j1111ho, 100
(pelo menos 98)-110. Os mcn/u, nos hospitais p�iquiátricos clur:rntr os 1m!SlllOS meses, há
tnesc, cl<' 111aic e jimlw 1·111 todos
1

li
os três paises mQstram n� 50 anos abundantemente docurncntaclos na l tália pOl' Lcimbcoso
cifra� 111ais alta.:;.
e mais recentemente pela clínica psiguiáD·ica da Universidade

l
f.:�tt l'nto nos s111 p1·L·e11d1·, em prim
gl't':\I :1 cun a cios �11icídios portanto ei ro lugar porque cm ele .Hcidclberg e por contínuas dJscrvuções levadas a deito cm
1 da impotência vital, se­ outros lugares, foi atrib11ido por alguns psiquiatras à ocasional
gue p�11·alclarncnte a curva da mais
alta vitalidade, da procria­ circunstância s0cial d:1 nen'�sidadc de subrncter à guarda de
ção, e dos seus excessos, da violt'
ncia sexual; ern segundo lu­ outros os clocntés do n11111m cluranLe os período, de colheita
gar, porque a estação invernal
é a mais dura para a mas$a (onde rodos clc�,·e111 ir pai:1 os cn111pos r 11ing1u1111 pude íicar
da população angustiada per cotid
ianas preocupações, sob cujo cm casa a · firn de cuidar ck 11111 ali1•nntl,1 \rrcq11 iclo}.
pêso cleH:ria ser mais fácil para
perder a coragem de ,·iver dc­ Tal razão Lerá cénamc-n�t• o se11 1·:.11(,r, n1:1� não (, sufi­
,·ic.lo ao frio, à falta de alojame
nto, à fornc; em tercci rn lugar, cicntt· p:.ira expliear a nntán·l rep.11l:1ridadt da� cu1·,·as. 11Hi­
porque a prin1avera avançada e
o início do verão são as esta­ . s repetidas por ui11 decênio, assegu­
tas pesquisas 1J1ais , êzi.;
ções do ano partic,danncnte agm
dáw,is C'Olll a sua plenitude de raram-me que també rn no interior dos hospitais, cm110 ates­
lu7 C' bn,ndura da ten1pcrnt111·a
, o .icu despertar de flôres e a tam médicos e vilcgiantes, a pri1naveni e o verão são senti­
111ultifornw ,·ida 7oológic-a: ante
s, o 111.f>s de maio (setentrion al) dos como os pi?rícclos mais i.rrequielos, cnde os estados de
Meses excitação são mais freqüentes e m:Jis ,·iolcntos 1-\ êstc pro­
I li Ili V
pósito sente-se, porém, a necessicl::idc de mais ctúcladosas ela­
VI VII V!/1 IX X XI XII
borações estatísticas.
Para a "alienação periódica.. e1 1.1 sentido t11ais estreito
( alienação clínica, màníaro-depressiva, ciclotomias nas formas
m:iis ]cYcS ele distúrhios: c,pírito mutá\·c] constituído por fa­
ses de nielancolia e ele frcnesi) não conhecemos até agora ne­
nhuma rclaçft0 aceitá,·el sôbre as suas oscilações estacionais.
•\tP agora foram notados casos isolados, que mosttarn ligeiras
clqJtessões cm tôda prirnaYcra, mas con1 igual freqüência no
outono ou ern dezemb ro . Só obsen-ações dernorn.clas podern
pre,cn·ar de erros: um eles primeiros doentes encontrados na
n1inha carreira. ele 11curólogo parecia apresentar uma clá,sica
ligação estacionai dos scL1s ataqu1;� h1aníacos e clepressi,·os,
rna, depois de alg; urn tempo percebi que se trataYa de um ci­
clo fixo cio seu estado de espírito, um de 7 meses abundantes
e outro de 6 meses, de modo que depois de poucos anos as
coincidências estacionais se inverternn1 exatamente e à dife­
Fig. 4: Curva anual dos rença da primeira observação os estados depressivos caíam no
suicídios na Prússia.
verão e os hiporoaníacos no inverno!
184
t85
Algu1mts oscilaçncs levíssimas do estado d�· ,·�pí I i I o d 1 • I'' 1111.i, 1·111. E111hora prescindi11do ela rn11tl'la rolll que dc­
muitos tempcrnrncntos ger;llmcnte parecem ter 11111 nexo t•s1:1 \t't11 st·r acolhidas as estatísticas dêste ci1mt1,na, a atividade
cional, co111 urna remota analogia com casos especific:rn1<·nl1 1 11,11 i, :i apresenta de rnodo cronolôgicamente aceitável as suas
patol0girns. Entre êstcs conta-se talvez o mau humór de dr· di\ 1,r�as fases, que podrin estender-se por meses e por ant1s.
zcrnhro de Goethe e a tristeza primaveril de Schiller ( � n:i l l :o�taria, porém, de confirmar, dada a minha familiaTiclaclr
J';, difícil, todavia, excluir nesks casos os efeitos da irnpres�fio rn111 o estudo do gênio, que lá onde existc111 claros testemu-
pak1gística. .:\o que me di✓, respeito pessoalmente posso no 11l r11s ele "idéias" qu� possibilitaram uma obra genial, a pri-
tiu· no passado, até a 111inha jtiventude, uma levíssima dinti• 111;1\ <'ra avançada e o princípio do verão são os pcl'íodos que
nuição psíquica ccJm f",iltn de vontade na aüvidacle, tendênt i:i 111,iis freqlienternente comparecem.
para. c:aprid10s (cspcriali11e11te hipoc0ndríacos) e distúrbios di De maior importfmcia prática é o rendimento di.ário ela
gcsti\·os ··orrv0sos" em lôrno das duas datas cio solsticio; ;i 1116dia dos homens. As condições mais IavoráYeis à sua pro-
c·la s1·g11c• Jc'g1il:-i1111c-ntc· 1·111 jariciro e cm julho o retôrno à nor­ 1 ura são oferecidas pelos or- ganismos das crianças, onde du-
mal .1lc;g1 ia cio traballto r às normais condições do estado fí. 1 ante o curso do ano se manifestam evidentes oscilações regu­
�i r0 gnal. Lires, que geralmente podem ser registradas e medidas através
do exame das tarnfas escolares.
86. Oscilação do rendimento psicossomático. - Lombro­ O desem·olvimcnto fisico trp1 lugar. com uma regular al­
so, um elos pioneiros ela história natural do gênio, cc:instatou tvrnativa, de modo que os .tllllll't1los cu, longitude caem nos
na 1:epa rtiçii.o estacion.11 das "idéias criativas'' uma maior fre­ 111cses de abril até julho, enqua.1110 que durante a paralisação
qüência na primavera aYançada com valot máximo cu1 maio do crescimento longilí.neo do 1JL1tono, mais ou menos de se­
e urn outro ótimo relativo em setembrn. A genial '·crnbria­ tembro até dezembro, prossegue o cresciw . euto de massa, que
gucz criati\·a" cairia por isso na fase intensiva da crise geral (, medido pelo aumento elo p�so; no tardo in\"C:�rno e no iní-
Meses Me5es
I li Ili Ili V VI VII VIII IX X XI XII I li Ili IY V VI WI VIII IX X XI XII

,-
'/
,,,,,,,,,, ' -
..,,,,._.:..

'
Físico - Psíquico-•-•­
Fig. 5: Hospitalizações na clínica psiquütrica
de Heidelberg. Fig. 6: Curso anual do rendimento psic@físicoi
186 187
cw da_ prim m·cra o cresc imen to de
massa d in1in ui 1· c•11 1 1 ,1 110
van iente e1n fu11ç ão o nesciim:1 1 to ,1p1 1 1, 1 1 1 111çrio O<'on c, corn urn outro objcio, na , iolf-11ci:1 se­
longilh 1co. ( O au11 li•n t u dt:
massa, c.:orno ,; sabid o. ron i in1,1a, aind ,11; , I : 1 1 1as � l::i rnbém a característica mais geral de todô tipo
a que sem exccH sini ,•11-
gord an1e nto1 depo is ele tcm iinad o til ' ", 1J1!1 1 iagu<:::"', pois todo e.s tado de embriaguez comp<'ie-�<·
o cres cime nto longiJíneo nt{·
os anos d!' regresso fí<;ico : roupas dt· 1 1 1 1 1 estado de cxcitac;fto de um aspeto da vida psíquica e
passadas, corno uniJori11�·s
e c<>l(• tes, e ca lç-, ados , dos 25 anos
tornam-se gera lmen te mui­ d , 1 t•xc:lusiio de u 1 1 1 ontro, cspccialmc111c ( cumo na típica ern­
to aper tados 1 0 ou 15 anos mais l ,1·ingucz do alcoolismo) de u 1 u ,,stado de excitaf<IO motó rill ( lo­
tard e ; 5Ôme nte o enve lhec i­
nwn to <1carreta unta rtd 1 1tão de
n1ass a conteiuporân camcnte q 1 1: 1ridadc, autolesionismo, \'Ontade de destruição) com dimi-
a uma dim inui �ão lon� ilí lll'a) .
1111írl11 função intelectu al, isto é, falta de 1 1 1 1 1 objt'tivn, assistc-
?- lu i ta� pcsq 1 1 isas �ôhr(• o 1 cndi 111 1 1 H1 t i cidade.
ento esco lar e cxpe riên­
<'ias �ôbr e 1•1(.' (1!,1n •s 1 1 1n� l r:1m , conq
uant o os resu llados sejam :'-Jos estados de embriag11ez corn paréce com maior clcscn­
nm �t•1 1s p,1 ni('1d n 1·t·s d i íl·1·1·1 1tcs, 1
p rcriso . O 1·<•tii o 1 1 1 1 1 iln ª"an çado
1 1 1 1 quadro corn plcx ivo muit o
, da meta de de julh o até o
r, c•amcmo a originária instintividade da natureza, e é êste an-
priu dpiL ) de ,1clen 1ljJ'o prm·oc,1 1 , •s o grãozinho de verdade nmti<lo no provéi-b io : ''a Yerda­
1 uma qued a de rend imen to tan­ d1' está no vinho". ,\ L' 11 1hri:. 1"\"uez elo amor de mna parte,
to físico como rncn tal. (O perí
odo elas férias é por isso per­ q11e le,·n à irreflexiva él J Jl"OfHiaçiio ou doação, e portanto m1-
feita mente opor tuno ) . Do outo
no até o fim de jane iro, com
um a u men to mais ou menos rápi 1 1 1c· 11 ta. as probabil idades ele u111a çonçcpção, e a C'1 1 1briag-11ez
do, o rend imento corp6reo e ninti,·n da 01 1t.ra, onde a8 •• ic,l,1 ias" i 1·1·01 11pc1 1 1 �N11 írrio ela fan•
1 1 1enta ] alca nç.a b se,1 ,·alo r otim
al, cujo ápice cai em méd ia
no inici o do inn: rno. De abri 1 -t�ia, ,rrn estarem aincl,1 disciplir1<1cla� 11,1 1 11,1 1·t·rdadcir8 .or­
l até julh o acon tece um fato
notárn l, isto é, uma espécie de clc'rn intelectual, t'ónd ivicle1 1 1 si 1 11plt·s 1 1 1e11k rslll bi l,1 teral.iclacle
fr11c!a cio rend imen to c:omple­
xh·o: _o rendimento energético pura d,, estado de c11 1bri,1 guc.;z. Ta11,hC: 1 1 1 as fases da c1 1 1br iag·ucz
men te corpóreo alcança o
�cu augr , ante s, o impu lso à a t i 11 1,:ntal, tornando-se necessário o recolhimento numa clinica,
1 ·icb1 de corp6rra é aum
( atim cnto /1siconwt6 rio ) , mas o enta do distinguem-se por n111a imtintiva excitação motória ( " ' furio­
rend imen to in tensivo mental
d e todo tipo ( Capa cida de de apre so�" ) com obscmcci1 1 1cnto mental particularmente forte
nder, aten ção, esmê ro ) cai
inin teJ:ruptan tcnLc até o ponto mais ( · 'obscuridade" 'f .
baixo do Yerão �1vançado.
A cu.r,· a anua l do r1nidi1í11•n to )u,v. A. forma mais le,·e desta si t uação rp1e l.e,·a à lourura fu­
e nil rcYe la, portanto , u111a
depressão física e men tal no pl"in cípio riosa. à ,·io-l�nria r-arm1l, ao suicídio, é a indeterminada irre­
do im·erno, um tom fí.
sico clcq do_ com urna profunda qued q 1 1ietação e1·6tica, ou inquietação em geral , com falta de von­
a espir itual dura nte tôda
a prinim-era, que ,e delin eia já nu
tai,do inverno para desem­ tade ou incapa,cidadc de dom[nio raciun a l e de trabalho cl isci­
bocar na d up!a depressão do
verão avan çado . pl ! nado, cm 1 10 a p�rrnit_ern conhecer os dias da primavera.
_
N•sto conJ!uom a al-lresc1d;1 111tens 1dade da ,·ontade sexual e
87. Crise, p1·iinaveril como unid ade. ,1� osc i lações cio 1 1:'mlirnento diá rio releváveis experimc n l a l-
- J usta mentc os efei­
tos ela prim avera dcsc1:itos nos pará
grafos 82 e 86 ajudam-nos 1 1 1('nte, que nd organismo juven i l , com n seu íortíssimo im-
a supe rar a contradição aberta entr
e as maiores freq üênc .ia5 1 11 d so ao au mento no senti-do long.ilíneo (a verdadeira ,·itali­
das concepções e das violência s
carnais ele uma parte e do-.1 dnde de aumento) sinrronizarn-se na fase prima\·cril de acres­
suicídios de outra. A psicopatologia
nos inosfra qne os suicí ­ l'ida motricidade e de d i m inuída i n telcclllal idaclc. A prima­
dio, são p erpetrados rom .n1aio r
freq üênc ia entre os alien a­ \'cra favorece uma limvsc psíquica e pesa sôbre a noase ps.i­
do�, quan do depoiR de uma mela ncol
ia a inibj çãQ psicomotória rc\ló_gica, ,isto é, favorece o aspeto instintivo, passional e fan-
esn1orecç e deix a re::ilm cnte o luga
r a uma · reação psicorno­ 1f1stíco da vida psíquica, e influi clesfavoràve/mentc sôbre o as­
tór ia, enqu anto cont inua m a subs
istir traços de depressão por p t · t o disciplinado do pcnsanwnto, cio juízo, da vontade, en­
u111a defei tuos a diagnose pato lógic
a. Substanc ialmente , um de­ q1 1anlo aliYia contemporâneamente a Yitaliclade corpórea ( au-
fáto de J1nsJiicácia men tal junl a.me
ntr com um aum ento im­ 1 1 wn t o longilíneo) afrouxando a consolidação física (aumen-
tmlso motó rio, leva à Yiolência cont
rn a própria vida . Esta 1 1 1 r lP 1 1 1:issa ) .
188
189
88. Explicação bioclimática da
causas dementa res de$sa influ êJici crise primaveril, ,,�
a da prim avera e do i 1 1 1rio 1 1 1 11 1 1,u> í· à a l tu ra absoluta da tcrnperal.11ra e talllpouco à
do \·erão sôbrn q orgánis 1 1 10 aind , 1 1 11;nu da luz ( não obstante que em maio a intensi< bcle de
a não são conhecidas de 1 1 1p t
elo exat o. Se se pensa que 1 1 l,,11,;1r> do sol seja a mais forte em sentido absoluto) que in­
o tardo outo no e o iriverno sig1
ficmn para o 1 111. mclo ve_getal 1i
e ani rn al urna rela t jva par
aJi7.t1 ' " 1 1 1t•1 1 l,1 à excitação sexual, pois se assim fôssc, deveriam en­
çif o, especialmente para a funç r " ' 1 1 1;1 11iicstar-se oscilaçõt•s mu· i to mais fortc�s nas curvas, ele
ão gera tiva, o aspeto físico d,1
cri,e prii nav eril cio ho11 i<'Jtl não ,, ,11 d,, com as várias condições meteorológicas anuais : fre­
parece difícil de ser e..,1)lic ado
com os mesmos fatfü-cs nl,·m enta p11· 1 1 1 1 • 1 1 1cnte antes vel'ifirnm-sl! tardas primaveras muito fria,
res gue no inverno são cau sa
da par aliza ção e na pri11 1avcta
provocam o "despertar da m1° , ,dor estivo até o ou tono iniciado corn corTcspondente n u­
turc;,:;i", i-sto é. os fatôn·s l11m inos ! 1 1 1 1 l'Sti\·o e céu sereno outonal. É, a dinftniicn ela subid a lu­
os e t·érm i cos. A prim avera
da, 1rmas t<'ITr:st , r� 1 1 • 1 1 1prr ada , 11 ,u 1•a e térmica, que todavia se repete todos os ar1os ele 1110-
� (e ela árli da) é cara cterizad
p t'lo mai s 1 ;í piclo a 1 1 1 1 1c·111 0 de h1% a
e o pri J1J ci ro verão pelo auge 1., ,1 i l1stancialrne nte uniforme além ele tôdas as oseilacões men-
d., tlur açft o luiu i 11 ns:.i .
d:. i; condições 1neteorológi cas, provucando todos· os anos
O auge tén uico cai apenas llO , , r i.tturcza vi\·a o n iesu 10 c u rso da gennin;ação e crescimento
prírn;;ive ra é assi nala da pcl0 \'erâo avançado, mas a
aum ênto térmico mai s ráp ido, 111• ;1 floração, a rnaluraçf\o L� a murchidã o.
precisamente aré os g-ra11s da
temperatui·íl que não são ailld Nó, vernós no caloi e rn, 1 1 1:, a� fôrças a LÍ\•as nw i g cvi­
um \·erd acle iro "ca lor", isto a
é, não aind a i nsuportáveis pela d, I I I L'S, mas certarnenle não süo as {1 1 1ic:\S : p.ira não falar de
con diçõ es fisiológicas do hom s
em. Luz e calor são as dua o " 111·1 l.\·ic1 ainda desconhecidas o alldanienLo anual da radiação
g rand es ffü-ças do de�p erta r s
vita l da natu re%a terrestre. , dr 1 , 1 violeta e da uHrarradiação c6�111icn coptrib, 1 e1.11 por sua
cia vegetal e animal torna-se A vi­
deso iada e ent riste ce tant o ma is p;11 11· para o resultad o cornplex ivo.
sensivel men te q uan to mai s elas
vêm a fa. Irnr, q11anlo mai s faz O mesmo mais ou menos poden,ns dizer cio a11".ílio da•
fl'i0 e calo r. Ma., q 1 m ndo
tcn1 ai11os e"Xa1 t 1ina r isto com 11 1 1 1 1ina� ausentes durante o inverno, mas que ao início ela
l,1ção ao horn crn, resu lta a c<st rc­
mnha 1'onscqü ênc ia que as mai 1 • 1 1 1 1 1a\·era são novamente (com a "verdura") e indiretamen te·
alt;ts a ti\1d adc s intc lccl iva� r s
1·oli 1 ivas aparncern num a espé
cie cln con tra� lc COJ.U a orig ­ , 1 1 1 1 1 a forragem fresca e verde no lei te,
manteiga, queijo)
inár ia vita lida de m1tural ! Alé
d isso há outros fatos q11e ates m ,, ,1 1 1 1i ladas. Tudo isto concorre seguramente, mas em me­
tam um
Um melhoramento ela formação fenô men o sem elha nte. d,d,1 1 nu ito diferente; corn efeito, as condições sociais de ali-
aco n:ip2wh2 jmt i /Jassu. uma d inte lect ual das massas 11 11•11t:1cií.o nas diYersas classes ahastadas são tão distantes uma,
imin
ho1 1 1ens gen iafa são muito freq uiçã o dos nas cim ento s. Elli oi I m;tras sôbre o consumo de verdura, r nanleiga e leite, e
üentes o celi bato, a assexua l.i­
dad e, a farta de filhos ou clesc 1 11 1 1IH'•1n os costumes uacionais e a:, possibilidades de ali1 nen­
end ênc ia d'talm cnte frac a . Ins­
tint o e inte lect o sã.o às vêze l ;ll':in ( por exem.plo entre a Itália e a Alemanha \ são tão pou-
s sentidos como ant agonistas.
dotn ínio dos instintos ·é conside O ' 11 l'n111 paráveis 1 que é impossível deduzir (só ou também em
da von tad e ; antes, a ela é r rado corno o objeli\·o prin cipa l 1 11•dida prevalecente do simples contributo de determinadas
f eqü entemente imposta a sua com
p!eta repressão. Considerado ­ 1 t.rn1inas ·1 a uniformidade dos falos provocados pela crise pri­
tuclo isso, não se dev e ahso lu­ ' , ,q• 1 i l , que invade tôda n ação e tôda c,u:nada social. A
tamentc niarm·.ilhar-sc caso
se man ifeste tam hém uma rela
a!te ma tiYa segundo as estações ção , 11 1 1l'i:1 eleve por isso olhar com olhos desconfiados para essas
; o
da nat ureza leva U. J I I con trib ulo grande perí odo do repouso , plkaçõe� de moda.
às rnai.5 elev ada s funções es­
piri tuai s ; ao con t1:ário elas Ri,surn.indo : com abril e maio começa a irrupção ela cri­
sofrem pela irn 1pçã o cio período
elos "ins tint os'', que também ,1 priu1�vc::ril, sem considerar se os meses são relativamente
entre os ho11 1ens civi lizados ma­
n i festa-se aind a esta tisti cam ente 1 1 1 ,,l'\lS ou já muito q uentes ; urna primavera particularmente
com o o gen uíno período im­
Lint ivo, isto é, corno o tempo • 1 111• 1 1 1 c rejuvenecc algumas tendências, por exemplo, as se­
dos amôrcs.
É de se du\ 'ida r se é possíve . 1 , .11�, t\1 1 1 parte diretamente, em parte aumentando as oca­
dêst e fenômeno a qua lqu er l atri buir a respons abil idad e
fator em par ticu lat. É evid "''' d1· snti.sí a:1.ê-las, do mesmo modo como um ternpo frio-
ente 1 1 1 1 11cln n 1 1·11Lt:1 o instinto e diminui as ocasiões. No fim de
190
191
julho e c1u agôsto scgt1e a qucda psico
físita com \·:1l i11. 1•, 1111 111111 1tl11,11 os .. J,·111t·Ullls biopsíquir<1s r c.nswocli111áticos da
nimo, de rendimento, independentem
ente do fat:o tjll!' t hu111 J II i 111111 (•1il, dos cursos estacionais das condições fi�iológi­
ou faça calor. Que lllll grande e pers
istente calor a111111·11t(• Ci ' ,1,, 1t·ndimento. Êssas pesquisas, porém, ainda não as
carn,aç·o, é natural, mas a depressão
está presente tarnb 1�n1 d11- 111 ,ti •�oh11 amente.
rante u11 1a canícula fria e chuvosa.
O início do im·crno é para o trab
alho intelectual urna
estação favorán.:l, aindà que faça frio
ou neve, ou urn tem­ l/. - Periodicidade diária da vida psíquica
po "ele lôbos''; é óbvio tp1c uma maio
r freqüência de dias clr
fühn pode afrouxar o prazer, mas
isto não dependt- ele outra
,coisa senão de uma irn1.pçfio influ 11'1. Estado desperto e sono. - O alternar-se da luz e da
enciai que surge neste pe­
ríodo; êsscs dil'er�os di�tt'rl'l)Íl)s tlcsa , 11111liicle como fato de natureza cósmica domina tôda a
parece1n rompletamenru rw
g, ,wdc· q 11 :1dl'C.> dr• t•t,•1·110 n,tômo t 1, 11 111s a sua distribuição é muito variada. Entre os tró­
quanto ao mesmo feJ1Ôme­
no principal. ,1 tllll'ação do dia e da noite é mais ou menos igual, ao
Se é p ro,·,h·el qlle no desenvolvime • •111<· ,1Jém dos círculos polares esta mudança alternada
:·il a componente de excitação deve nto da crise prirnavt'• 1 1 11111 11111 1 ·ilmo não inais <liihio, rnas anual de duração apro-
ser atribu.ícla principnl­ 1 , 1d.11111·ntc igua).
mente ao aume11to da luz, é men
os provável que :i compo­
nente do cansaço deve ser atribuída \ ,ona do globo que se csttJnde l•11lrc os t1·6picos e r,s
ele igual forma ao au­
mento térmico. Ainda não foi poss 1,, 11 ln� pola1·es mostra uma dunição do dia 1gu,il àquela da
ível demonstrar rigorosá-
11'lE'nte até hoje essas atribuições; e
é sabido que a interpreta­ ",11, ,.,'lfllC'nte nos dois equinócios; e1n outros lugares, porém,
ção das. l:'statísticas apresenta se11 1 pre •1111111dJ1 elos trópicos para o círculo polar, a obscu ridade se
11ülhares de aspetos.
Pesquisa fundi11 1 tentr1 J e já clftssica ,, 11dl' �t•mpre mais por urna metade do ano, e ela mesma
aguda publicado pelos cientistas nrstc campo, romo i 111.1 :i illZ pela outra metade. Todo o rnunclo cios seres vi-
dina111arquc�es Leh rnann e 11• i'• n·g1ilado por êst:e acontecimento cósmico, pois os esta­
Pcclcrsen, c.;011firrnm a sul>�tnnciaft1
1cnte pela influência térmi­ lo� d1• IC\pouso coincidem com a obscuridade e a máxima ati•
ca sôbre o re11diu1c11to elo ltornem
apenas a lei oti 111 al do ta­ 11.l,1d, com o claro. Todavia, essas cnincidências são váliday
for (§ 27). J)e n.1aio até junho
nas zonas temperadas poder­ ,111·1lil', l)()J' aproximação, e são mais exatas pa:r,1 os pássaro§
-se-ia rixar rcalment.c u111 Yalor térm
ico utirn al, que não é al­ 111tr. 11;io fr1ltam excerões e lacunas; inclusive o, pássaros con,
cançado. no inverno e e: superado no
período da canícula. Não t,1111 t u111 espécies noturnas canoras e de rapina que repou-
f muito provável que o específic
o cansaço pri 111averil rt:fül­ 11111 p1 incipalmente de dia; entre os insetos as espécies cre-
te de semelhanlc ten1peratura orim
aL Como a primm·era avan. 1111, 11L11t·� $�io particularmente 111'.1merosas e muitos mamífe­
çada e o princípio cio verão são
também a estação cio mais "'', 1rn110 os roedores e rapaces, dormem e passam clesperr.n<
rápido :rnmcnto ela freqüência dos
temporais ( que j{i di11ünui ,1,, d111 rumo de noite segundo as fases. Tarnbém o compor ­
substancialmente no tardo verão),
no caso do cansaço prima­ • 1u•111n tio homem é apenas aproximativo. Não dorme é,t·•
veril deve-se pensar em fatôres eletr
omagnéticos atmosféricos; 11111• 1r,d:1 a noite, nem se mantém desperto (por exemplo, n.o
o ··tempo ele ;;-bril", isto é, o temp
o açoitante, mostra antes 1, 111 u6rclico, sub-polar) durante todo o dia; inclmive no
u.1n notá ,·el caráter de equivalente
ternpestlioso, o período de 1 i<'k, ni111;;il polar conservou inteiramente a exigência e a ca­
cansaç·o prop riamente subjerivo entr
a na pri rnavera a,·ançada, l•,11 ul.1d1 1 , na sua «spccífica. vµ.riação f1eri6t/.ica de 24 horas cliá­
e já se acenou que êste cansaço subj
etivo está freqüentemen­ d,1 , rir hnanter-se desperto por uma grande parte e de dor­
te em contraste com o prazer subj
etivo pelo aumento tér­ '"P p, 11 uma parte 11ún.ima ( § § 91-92) .
mico primavc;ril.
Pesq uisas mais exatas sôbre os curs ( > sono é urn estado evidente ele repouso elos músculos
nas temperadas, cspccialn1 enle nos os anuais /ora das zo­ 11l11111:'1rio�, dos sentidos (especialmente dos olhos) e da cons-
trópicos e nos subtrópicos, 11 IH 111, Tôclas as outras funções continuam na sua atividade,
teriam certamente fornecido bem
mais amplas possibilidadt's ,,,1,il1111·11I(' 1aoclificando�se e em parte aumentando a quan-
rn
193
o,·0,,11,11,,.


tí-dade e a quaüdade; mas sôbre isto existem ainda muitas coi­ 1111'110 contínuo de 6-9 horas. As concliçê\f•$ dt' vida da c1v1-
sas a serem esclarecidas cie ntificamente; a recente localização lização alua] contemplam geralmente um valol' 1116dio de 7-8
dos centros nervosos reguladores do sono no i.nterencéfalo prn­ horas. füte período, em condições de vida de cena foi-ma
mcte a êstc propósito i111port.m1cs esc:larecimentos. niHurais {no campo), durante o período estivo de luz, c,1i
O adormecer exclui de qualqLter forma a atividade �-o­ 111;:iis ou menos nas horas cnlre o crepúsculo e a aurora. coin­
lunt:íria, a \'Ísta, a consciência da situação e o cu: se sob !'e­ cidindo com a noite, ao passo qu e durante o inverno �scui-o,
vém enquanto caminhamos ou estamos de pé, nos dobra:mos, Mm a.� noites longas, vem a cair para o mesmo período mais
o� olhos se fecham, enquanto que 1-1tn estado de entorpecimen­ 0u menos no coração das trc\·as ( das 9 às ·I hs.). Quanto
to nos invade e a consti�ncia se extingue. Resta um resíduo mais a existência torna-se artificiosa, quanto 1nais, portanto,
de rnov.iment o, de perrt·pc:fio e de consciência que se mani­ ela se desenvolve nas cidades, tanto mais tarde os homens ge­
foôla na inquietação do do, 111('11lc, na s11a capacidade de des­ ralmente iniciam e terminam o seu período de sono: perma­
JWrf ,11· Jwlu CÍ(•ito dos l'SIÍ1111ilos sensíveis, no� sonhos. A ex­ ner.ew despertos até tarde da noite e despertam com o dia já
' i11(:ôo da , l'1·dad1'irn t·misriêricia aparece entre outras n a irn­ alto. Esta atitude não é natural e ciuase sempre acarreta dis­
pos:.ibilid<1de ele cspecL[in1r por q11anto tempo dormimos, e sa­ tú1·bios nn sono, no rci1dimenlo e na saúde. Antes de tudo
be-se bc111 q11anto nos iludimos nêsse cálculo. prejndirn o sono e a sua [ôl'(;:a rc<Trativa. Disto se conclui
que exi.ste uma relaçiio ínt.iinrl 1'111.u· r, ohicu.rirlá.dt 11ot-unw e
90. Profundidade do sono. - Brevíssimos períodos de n sono do homem, relação cp1e n:'ío pode ser in1punc111enlc
s.eno podem ocasionalmente ser indeferíveis ( trata-se de 111i­ eliminada.
n11tos, de fracções de horas) e possuir um efeito muito res­ O sono normal não é nunca igual111c11tc profundo do p1·in­
tatu:ad01·, mas n,ão basta nunca para restaurar a plena ca­ dpio ao fim_ Por f;rofundídade do sono a ciência entende a
pacidade. De regra, para tanto é ne. cessário um sono no- c.ipaciclacle de resistência a tentativas de despertar, e mecle a
sua profundidade çom a intensidade sonora neces�ária pm·a
despertar um dormente; para isso serve-se da altura da que­
da de algumas esferas, que caem sôbre um prato m etálico
(lm1to mais sonoro quanto mais alta é a queda) dotado de
um suporte graduado. Com um aparelho do gênero conse­
guin-se medir a profundidade do sono nas mais diversas horas
cl;;: noite. O resultado é muito surpreendente, conquanto es­
Leja de acôrclo em algum casos com antiguíssimas experiências
populares.
A profundidade de sono de uma noite passada dormindo
11ormal_rnente é muito heterogênea. É maior durante o pri­
meiro têrço ( o "sono de antes da meia-noite") ao qual a sa­
hPcloria popular atribui tuna grande fôrça restauradora. De­
pois diminui ràpidamentc e durante 4-6 horas alcança apenas
a metade da profundidade inicial. Somente na penúltima e
última hora torna-se novamente mais profundo ("profundida­

9 10 11 12 1 2 , 4
de matutina"), mas no melhor dos casos não alcança mais
que 2/3 do valor inicial. Isto requer para muitos dormentes
um despertar artificial e torna difícil o levantar-se, ao passo
Fig. 7: Curva ar,ual do sono: zona estriada - máximo e mínimo da que para outros transforma-se por si n o despertar com a ne­
eletricidade atmosférica (E) cessidade de levantar-se.
e da pressão alinosférica (D) Cc::rtos indivíduos já desde a juventude mostram uma de-
194 195

'
flexão nesta curva normal. Nêles a profondidade i 11 icial nun­
ca alc�nça o valor elevado gue tem em outros; o �c11 �ono
apresentá-se mais agitado e a profundidade muda durantt- a
noite e torna-se maior pela manhã, chegando às vêzes n al­
cançar ou mesmo superar a profundidade inicial Poderemo�
calcular entre 10 e 20% o número dos indivíduos que esta­
riam pr.edisjJostos hereditàriarnente a essa espécie de sono. Pa­
ra uma percentagem muito mais elevada a curva do sono so­
fre urn desvio rumo a esta curva anormal por efeito de h�­
bitos de vicia, corno �e dfi ,rntes de tudo nas grandes cidades,
urna viela ele prazeres e 11111 predomínio do trabalho intelectual.
Co1110 por 11rna viva c..'(igência dos sentidos ou do intelecto
desperta-se até a tareias horas da noite, o primeiro sono é
superficial e inquieto; a sua duração e a profundidade de
manhã tentam evidentemente reconquistar quanto foi perdido V: 1 1 1 1 1 1 1 J
às prip1ciras horas. Quanto ao número, um têrço dos cita­ ,o 11 12 1 2 3 4- , 6 Hora
dinos e dos que trabalham intelectualmente apresentam êsse
andamento anormal.
Quase tôdas as formas ele sono diurno são substancial­ Fig. 9: Curva do sono ligcÍl'amentc ::inornrnL
mente mais superficiais gue o sono inicial noturno. Entre elas

11 12 2 3 4 5 6 Hora
Férias---- Per. trabalho----

Fig, 8: Agravamento da curva normal do �ono devido a camas pro• ti.


fissiona.is.
Fig. 10: Curva do sono tipicamente anormal.

196 197

..
contam-se (além do "cochilo'' ocasional, a "soneca") (l sriuo
da tarde (a sesta, da qual encontramos utna necessidade l'lc­
ruentar la111béJL1 0111 indivíduos que desempenham tral 1 all t os
pesados nus campos, corno também nos an - imais; não se trata,
portanto, absolutamente de um "mau costume ela super-cul­
tura") e as forinas de sono diurno a quem são forçados quaJ1-
1os trabalham à noite.
A profundidade do sono diminui um pouco nos meses
de verão e aumenta nos 11,eses invernais. Esta diferença é •

}1)
mais notável nas zonas subtíttica�, onde à noite clara corres­
ponde wn 00110 1uui10 r)lais SUJX:rficial (mesmo com escureci­
rncn lo anificia 1) e ao dia escuro ( durante o inverno) um so­
llC> bern mais µroJundo.
A necessidade im·encível, diária, do sono continua, po­
...
• 1-�
\; , \.•
1 li e
��
rém, imudacla, e também a sua dtiração cai a apenas 6 horas
para os autóctones na� "noites brancas" e aumenta para mais !t· iO1
.

1 1 1 1 1 ,,4 1 'I
6
9 11 12 1 2 3 5
de 9 horas <luxante o inverno escuro. Naturalmente tudo isto Verão -•-• -•-
encontra uni limite no dever cotidiano impôsto pelo trabalho. lnvern·o ---

91. Determinação da profundidade do sono. - Entre es­ Fig. 11: Curva do sono ,egun<lo as estações.
curidão e sono, claridade e estado desperto existe apenas uma
1 elação genérica; a inaior profu11didade do sono não eo1Tes­
pcnde à cscLu·idão ·mais profunda da noire, nem o sono tor­
na-se mais ràJ>idaniente profundo ao seu início em correspon­ Pressão e eletricidade Htrnosférica mostra1n dia a dia as
dência ao mais rápido escurecer do dia. d 1 a111adas '·horas d ,J. curva", isto é, duas rnáximas e duas 111í-
11imas. A altura barométrica da noite cai entre as 21 e 22 bo­
Prescindindo do fato gue as condições de escuridão da ms, a depressão barométrica matutina entre as 3 e as 4 horas.
noite são em larga medida determinadas também pela luz da l'oder-se-ia ter a impressão que o dia normal seja por assim
lua, a mais rápida diminuição da luz �olar tern lugar logo di1:rr emoldurado por esta depressão e por aquela ,dt1.1ra, on­
depois do tramontar do sol, e nos trópicos em particular ime­ de à altura notu1:na corresponderia a sonolência. e o aclorme­
diatamente depois; durante muitos meses do ano o mais rá­ < 1•1·, à depressão matutina o despertar·. Urna conexão real é
p i do aprofundar-se do sono dá-se em vez algumas horas mais porém, mais que problemática. Para a eletricidade atmos­
tarde. Justan1ente no coração ela noite, em tôrno da meia­ ft'\rica a niais frnte condutividade diária da atmosfera verifica-se
-noite, não obstante a escuridão ser mais profunda, o sono A noite, pelas 2 J horas ( e ele manhã às 8 horas) 1 a mais es-
começa a tornar-se mais superficial. Vice-versa, quando it t '1FS::t (além do rneio-dia) às 3 horas da manhã. As coisas '
noite vai gradativamente aclarando-se, ao amanhecer, o sono ••·Hfio corno para a pressão atmosférica; a máxima conclutivi­
volta outra ve,, a acentuar-se. O cu1"So da escuridão noturna d:,de cpincide com o tempo do adormecer e o mínimo de con­
não tem, portanto, nada que ver com o andamento da pro­ dutividade com o per1odo cm que mais ou menos se verifica
funclicla<le do sono elo homem. o despertar; mas nada prova Ltma conexão casual. Para maior
Outr-o tanto tênue é a relação com o andarnento da te.rn­ p1·1Lclência pode-se deixar subsistir como problema insolúYe!,
perat11ra. A noite comporta uma dimfouição ( que oscila de ,11 J erto a pesquisas, a relação; à maior pres.são e à maior con­
várias formas) do calor atmosférico, cuja ponta mais baixa d 11 Lividacle segue mais rápido aprofundar-se do sono, à me­
caj logo depqis do surgir do sol. uor: 111 cssão e menor condutividade segue o despertar.
198 199

..
É muito mais provável que a firofundida{h- rio .10110 110- 1.11r,1� n<•b ensinmu, porém, qLLe seguras d,·pl'1Hl1�11<·i:1s n:1111r:1i�
turno apresente um período próprio, que se dcscnvolvC' cnt di­ 110 romportamento dos sêres vivos permite.m a l'nrn1:1c;:iP d1·
versas fases segundo a exigência do repouso que o o.rganismo lu·111 radicadas ocorrências periódicas. Não obstante a ndap•
dc\·c pr0pol'C'i(111a1· a si mesnw. O estado bioquímico do c:m­ 1.1ç1io g<'ral ao período escuro da. noite, o sono segue substa11-
saço, u111 n,sttltado muito co111plcxo de consumo material e
rinlt11ente as suas leis. Isso resulta tap1bém do seguinte: a
ele ad1mulo de substâncias tóxicas (toxinas} leva, após um :dternada repartição muito diferente da escuridãQ e da luz fü\
rendimento diái·io de 7.5 horas, à nece:;sidade elementar d a ;ÍJ'tida e na subártida nií.o fêz com que se11� ltabiu1ntes, sem
sono16ncia, e aquilo q11e o estmlo d e sono eleve bioquirnica­
di�linção de raça, ficassem dormindo po:r u111n 111etade elo -�oo,
rnetrle destruir e reconslrnir percorre uma série complexa de
1w111 os conservou despertos na outra metac:;le, se111, porém, mo­
fases onde a p1·of undid,1dl' cio sono, por causas bioquímicas dificar nem a necessidade diária de sono, nem a sua extensão
r1inda t1c�c-,,11hcriclas, 111c1�ln1 a mudança que temos descrito. (r·Prca de 1/3 do dia completo).
A 111cclicina, co111 a 8ern.prn llla'is assídua "procura dos
rilrno�·• dc�cobriu justamente ul.fla quantidade de ''cursos diá­
rios·· d<· prncessos fisiológico-químicos, que indicam a mudan­ 92. Curso diário do rendimento. - A fôrca restauradorà
ça periódica da "vitalidade diária", e entre êsses processos des­ dri sono nottirno não se tr:-1du1/. logo m11n valo;. rnáximo irne­
<:ohriu · justamente também o da sucessão do estado desperto diato de rendimento clepojs clt· lnrninaclo o sor\o. 1\b�tração
e do sono. lsto não exclui absolutamente uma mais estreita l'i·ita dos fenômenos subjetivos de camaço (sonolência), con-
conexão entre a noite e o sono. Muitas expe,·iências bio16- 11,L os quais muitcs (111esmo sadins) rlr-vt'111 l111al' por 11m bo111
\'�paço ele tempo depois do despertar, ta111bém a capacidade de
1t·11din1ento objetivo mostra urna ascen�lío hesitante, quP. alcan-

1, ... '
1.;n o ápice antúneridiano somente depois ele 4 011 5 horas ap6s
n levantar. Tôdas as atividades são perturbadas pelo hábito
dt • muitos indivíduos de refrescar-se artificialmente com vários
111cios, depois do despertar entre os quais o banho e a pl'i-
111eira refeição, especialmente quando esta contém gêneros vo­
lt1ttuírios estimulantes, corno café, chá, cacau. O impulso pa­
ra tomar logo alimento não é muito violento após uma pausa
1111Lritiva de umas 10 horas; em muitos, pelo contrário, falta
q11::tsc ccmpletamente e se anuncia tão somente depois de
q11alquet atividade. Também para quem não está habitua­
do àqueles estimulantes é cmplricamente aceitável que o al-
' 1·:rncc da plena eficiência matutina segue só depois de algu-
111;is horas, no máximo depois de 1 ou 2 horas. Para os "ma­

.\ f·'·
Ili'
clnigadores" (entre às 5 e às 6) o rendimento deveria che-
\ 1��1r ao seLt auge às 9-10 e perdurar até o meio-dia.

··'• 1 1
Precisamente ao rnciti-clia dá--se uma brusca queda, qual­
1 \. \ <pu.>r que seja a atividade de que se trata. Entre as 12 e as

1

1
11
1
12
1 1
1 2
'. ' '
1 � 6 Hora
15 hora s iôda curva diária mostra um traço cronológico ele
,
renclime:nto psicofísico diminuído; é êle indicado como queda
meridiana ou sela d o meio-d; O ponto mais profundo cai
entre às 12 e às 14 horas.
Mais gradual que a queda é a nova ascensão do rencli-
Fig. 12: Curva do sono no Artico, 111cnto para o ápice-p6s-meridiano, alcançado entre às 17 e às
200
201

• •
19 horas. Habitualmente não chega à mesma all11rn do ápi­ h1m1nr por tôda a manhã, e, pelo conli/11 iu, :) 11nit1• 11:io gn�­
ce antime.ridfano, todavia a disposição subjetiva para :1 .,tivi­ ta111 de ir para a cama, permanecem despertos ro111 ur11r1 in­
dadc po< .lr Sl'l' JJ1ainr. bêste segundo valor optinial dt• 1c11- saciável vo ntade de brincar, e, postas na cama, não ad,u 1111'•
.. dimcnto desenvolve-se o casaço vespertino, que normal i11 e1llc
i111pel c a adormecer muito tcrnp0 antes ela 1neia-noite.
cem p or longo tempo e nas primeiras horas da noite most1·::i.n1
l1111 sono leve, irrequieto, acompanbado de sobressaltos, sus­
tm e sonolóquios ( nictopáticos, § 8).
Êstc cui·so co111pleJ1.'lVO do rendimento parece adaptar-�e
também a todos aquêlcs dos quais antes ( § 90) for;;un dcscri­
t� as exigências e os hábitos anormais de sono; êles despertam 93. Periodicidade específica da curva dif ü:ia. - O fato
tnrdc e continua111 ''sono l1:11Los" durante tôda a manhã; to da­ de estar despertos e ativos é o único vínculo seguro ela ;ossa
via, la111lir111 o �eu rr11cli111enlo aumenta pouco a pouco, mas ,·ida diurna com o fato cósmico do diá cJaro. De resto, a dú­
não nlcança a rw va uc 111n hon1cm sadio; a sela do meio-dia p lice ascensão e queda do rendiment o diário representa tam­
�nal111t·11lc é 1nuilo 1)�1iirn: depois, o final do período ela tal'­ bén1 urna periodicidade específica. O que a curva diária es­
dl' Ira,: uni rendi111cnto \'erdadeiramente alto, que freqüenlc­ pelha é o curso variadamente entrelaçado, que a ciência do
:uentc perdura até a noite e pode melhorar sernpre mais co- trabalho ben1 conhetc, da dinâmica do rendimento cm e-xer­
dcio e cm contínuo cau�ar-�<•. 1\ 111es 1 ua função bioquí 111 ica
1 1 10 disposição subjetivá até alcançar uma verdadeira "febre
de trabalho" noturna. cio sono, que eli111ina a facliga, p1·od111 <•viclcntcmrnLe s11bsti\n­
Não raramente a predisposição para tal inversão diurna cias orgânicas, que dc;ve111 st'r 1'('111ovid,�s nova111cntc apenas
!.orna-se evidente desde a iximeira infância. Tais crianças são permanecend o despertos 111ais de111ontda111enle, anlcs de po­
der alcançar o pleno rendimento. Explicar-se-ia ussi rn o es­
difíceis de serem despertadas, rnostram-�e esgotadas e de mau
tranho cansaço matu.ti110 depois cio despertar: não sabemos,
n..tda ainda, porém, sôbre tais substâncias.
" � e
No máxi1no poder-se-ia pôr em relação a sela do meio­
-dia com o relativo ápice témlico de todo dia. Opõe-se to­
ttavia a extraordu:1ária diversiclacle dos graus absolutos de tcrn­
pcrat11ra nas diversas estações e zonas da terra, que é difícil
p6r de acôrdo com a uniforrniclade da queda do rendimento
ern tôrno do meio-dia. A dirHÍnuição meridiana do rendimen­

" to é aproximativawcnte a mesma tanto com uma tempera­


lura de - J ܺ no inverno quanto aos + 209 no verão. Não há
com o que se ma.ravilhar se gra.us de lcrnperátura ain da. mais
c•levados determinam um cansaço meridiano de particular vio­
lência, assim corno nos sentimos fortemente em ambientes s11-
, pcraquecidos.
Também a plenitude ele luz e a composição huninosa são
111uito difeJ'entes quando o sol está alto, conforme o tempo se
:1presenta sereno ou nublado e com sol estival ou ü1vernal. A
ncressiclade eiementar de alimentação dos homens, que levou
; 6 ? 8 9 10 Ho 1 m m tôcla r.arte nestes últin10s tempos a adoção -de Lm1 qual­
Anormal-•-•- q 11cr tipo de alimentação indica que, depois ele uma atividade
de· algumas horas {mesmo se consiste ·no estar despettos), é
,tlc.;nçacla unia dctem1inada condição· do metabolismo, que en.
Fig. 13: Curva do rendimento •diário: wna estriada, hora de tempern­ ,·oi1tnt a sua expressão. mais que na exigência do alimento tam-
tura máxima diurn�.: 1i,:111 na dirninu.ição do rendimento. Uma alimentação par-

21/2 203

' �·
ticulannente abundante (a refeição principal ao nicio-clia) tor­ h:íbilo 1)\1 da cil'CUJ)S[âo.cia que so111e1 1I,· H llllill• li';)/ ('f\ll�igo d
na ainda mais profunda a sda, porque comporta como conse­ lranqiiilidacle necessária para o retolhi111enlo 111 l·1 1 t:il. N 11111 ,·­
rJüêncià por algu111 le111po wna acentuada necessidade de re­ rosos intelectuais devido a urna perturbação cio sono, dt•\1•111
i• pouso � d� .�flllO no organismo saciado, o que se dá tarnbém desabituar-se novamente do trabalho noturno, sem climirn1 ir :1
qualidade das suas produções. '
no, an1 tm11,.
A n.:fuição principal ao meio-dia é determinada pela ex­ Mas além da "sela cio meio-dia" coin a s,1a queda de n·11-
periência segundo a qual o organismo neste período necessita cli11wnto, há mais duas h.oras do dia que se distingnen1 ante�
de qllalquer forma ele uma pausa nas suas atividades. O ho­ dt· l11do füiologican1cnte e são com freqüência t:1111bé 111 cons­
ráriô "inglês" ele trabalho (horário continuado de trabalho) l'ic·11tcmente advertidas. Uma coloca-se no fin;'\I <l:1 r\oitc,
assinala para êstc� perfodo dn dia uma pausa e trunca a ati­ quando se verificam mais numerosos os casos de ruoi·lc e \'i­
"idacle 111ais m1 111r-11os no ponto onde começa a nova ascensão t'('-,·ersa, como parece, também de nascimentos. Posta em mé­
pc'is-111t'l'idiana do 1"u11di111cnlo. Leva em consideração as con­ dia entre as 4 e 7 horas da manhã, é também conhecida co-
dic.;iíes d<" vicia da� grandes cidades, com o que assegm·a ao 1110 a fase da tempe:rah1ra corpórea objetivamente mais bai­
,a. Neste período comparece além disso um detem1inado ti­

-
trahalhaclol' um conveniente período ele tempo contínuo e re­
lativamente fresco para si (para a sua família, para suas ocupa­ pn de· fastidiosa convulsão do sono, o despertar pl'e1 1 1atun1, e
çõts etc.). Mas cio ponto de vista do rendirne11to, o horário ,'· estranho o fa�o de a opinião pop1il�11· ;itrih 11 i1 i\s rnr�n1a� l io-
continuado poderia ser desvantajoso, pois reserva uma parle 1':is uli1 acréscimo no desejo sexual. (Todo i�lo aprP�Cnla n()­
notável da atividade para a "sela cio rneio-dia". É uma con­ \illl1ente uma relação inversa entre in,linto vila! e cansaço <I A
quista das grandes cidades industriais e é portanto determi­ dela, que notamos prececkntementc na ,relaçfü, entre união
�Pxttal e suicídio) ( § 84) _
.. -�
nada pelas condições artificiais da existência, onde o hon1c111
,• re-nuncia aos seus vinculos com. os ritmos cósmicos e com o Goethe ilustrou poeticamente esta sexnalidade ela amora no
pNíodo específico da s11a natureza orgânica. "1\guiles'' e no "Diário". A outra hora crítica é o 'início dt1
11Crile, o fim ela tarde; ao contrário da noite, é temida pelos
94. Horas Cl'lticas do dia. - CoIJ10 com relação às esta­ doentes devido ao aumento da febre. Parece que existem nu-
ç?ies, ,�ssi111 l,tmbém com relação às diversas fases do dia exis­ 111crosos indiví.duos que nestas horas são agarrados por uma es­
tem preferência de acôrdo com o tipo humano. Poder-se-ia pécie de indefinida inquietação e sofrem tonturas, que depois

-
fabr de afinidades eletivas. Dependem elas em parte da es­ desapar�cem com o sobrevir da noite Yercl adeira e prôpl'ia­
trutura geral ela psique, isto é, das íntimas condições psico­ lllf:'nte dita_
lógicas ela sua atividade criadora. Como pela mesma razão Três, portanto, são as horas críticas do dia, nas quais in­
ó ..:feito do álcool aproxima-se variadamente nos particulares rnl'gem oscilações repentinas das funções: meio-dia, início da
daquele experimentalmente comprovado, assim também há ín­ noite, noite avançada; ousaríarnos quase definí-la�: situações
doles nas quais o ápice de rendimento antimeridiano é sem 1 i1ais extremas. Não é possível demonstrar clireras dependên­
dú,·ida objetivamente superior ao pós-meridiano, talvez até a •·ia� cósmicas. As distâncias entre umas e outras são, como
noite, não s6 com satisfação, mas também melhor, porque co­ M' vê, - forte111ente desiguais: dispostas em série são: +-5, 10-12
loca a seu favor a disposição subjetiva, que permanece de fora \' 7-8 horas.
na experiência psicológica. Ou então acontece (como a núm) Um contributo essencial para a explicação das causas que
que uma atividade rnajs ou menos mecânica obtém melh'0r nisso intervêm poderia ser dado por vastíssimas comprovações
êxito de manhã, enquanto a verdadeira atividade "criadora" i-ôbre um fato: se, a maior freqüência dos casos de u1orte e a
desdobra-se à tarde: fato êstc que é perfeitamente paralelo queda ela temperatura se verificam sempre às mesmas horas as­
com a situação prin1averil. Não se conhece ainda bem co­ t ronôrnicas (horas do relógio) ou se êlcs se deslocam com a

mo se distribuctn êsses tipos. A opinião de que se pode de­ : 1 11rora; para a crise da noite avançada eu creio ( verdadeira­
senvolver o trabalho mental melhor (ou em geral somente) à llll'nte com base apenas em observações fundadas sôbre im­
noite é freqüentemente utna ilusão quando nasce de um mau Ji' essõcs) ter con 1provado ambos os fatos, um início pontual

20+ .:ws
..
1 i l 1 , 1 1 ,1 urntv (H1 no sono, ofon•t·ia pnr:1 l a 1 1 1 1 1 " 1 , i in:1 p, i 1 1l'i 1nl
de uma parle, e u ma conexão com o fenômeno do crt·púsculo
d, 1 11 0,·as e de j1 1stificações. O sonf ü 1 1 bulo ;1d l li 1 1 11•1·idn, p111
( e portamo urna clcsloc:ac:fio (·01u as estações ) ela 011 lra. 1 1 1.iiu11•� q u e fôsscm as precauções que to.,1Javam, era : 1 1 r:1íc l11
1 1 1,11:11t'- 1 itarnente pela lua para abandonar o leito e apro:-.i
111,11 •<e dela o n1áximo pos�ível : por is�o �ubia às janelas. , e•
111, - Influ:rn lmurr . 1/ :ios tetos e tôrres.
95. Crenças poptdarcs sôbre a lua e ciência. - O ho­ C J lado misterioso dessa sclenopatia tr:1 a pc1·sis1ênri11 do
mcu I comum tem a. cou\·ic·ção que as fases ltmares exercem um t' :Lti lo ele sono d-mante tais arriscadas ascen�iir�. E 1 1sín11va-sc
rnn�tantc e forte inJluxc, snlll'C' os acontecimentos da tena. , r t ,1 q 1 1e era pe:rigosíssirno dçspertnr o escalad or lunar ( pNr
U111.1 parte de•$:ir, rom ir1;,-t•s siio supcrs·fições just<1111entc pelo L' 1 ·1, 1p l n , com um grito) porque então pr:l:cipitar-$c-ía sr1 1 1
a 1 non1omln d.iR M 1 ns c11111 1·adiçõc�. Ou tras parecem dignas de , i l Ltção, a o passo que d e outra foxma voltaria sozinho a o seu
,1• 1 <· 1 1 1 r<·r•�:111 1ii1 1,1c lus no seu conteúdo de experiência. Diante l 1 1l';ir depois de a1gu 1 1 1 tempo. A lém dêsses estados de noe­
rk·s�a rnis�5o a t·ii'\neic1 do século passado demonstrou-se sem­ l 1 1 1 1h11lisrno punham-sl' em obscura relação corn a selenopalia

- TIJ'C nStica e hostil. ).fas a pre,·isiio rneteorológica de Falb a r ·•ns cpi !éticos de lnucura nos alienados, hebcclci ras trimes-
ffz refletir, e no final do século lUTI fisico de fama mundial, 1 1 . 1 is, vagabunclagens not urnas e atf a tendência pm·a trai) a-
Arrhenius, intere�sou-se pelo problema. F.le acreditou poder 11 1r � noite. O (JUC a ciênria pcns11 dr l u rln j ,; tn?
provar que há u ma influência regu lar da revolução da lua /\ µsicopatologia considerou por crrt0 f.1•1 1 1 pci (1� cstndns
o.ôbrc temporais, auroras polares e tempestades magnéticas, sô­ rlt' •·onamh.ulismo, e e111 geral os L)�tados . 11ic- 101ní l icos, cnl11 tl m
bre o início elas menstmações e dos acessos epiléticos Enfim, �1 i t ns durante a noite, o fa lar nos sonho� e sc1 1 1cll i an tes, crn 1 10
procurou na. eletricidade atmosférica a ponte de l igação entre 11111ito afins à autêatica epilepsia, co1110 "eq11i,•:1lcntes cpil�p-

""
as faseg lunares e êsses fenômenos : se tivesse demonstrado urn 1 1 1 os·• ou "epileptóides" de grau relati Yamente b ra ndo. Era o
período regular dependente dc1 l ua, poder-se-ia falar de uma l t1 11po em que Lonibroso queria interpretar como um epilcp-
m::i.ré ela e!etricid,i.cle almosféric:a. 1t'iit l1• nt(· mesu 10 a inspiração genial. Uma parte dos ataques
As tentativas de ArrheniL1s cncon tl'al'am pouca ressonân­ 1-1 it IOpáticos não mostra relação com a lunação, mas com cir­
cia no 1rnmdo cicntífic.o. Hoje, porém, a teoria dos corpos e •·1 1 nsti\ncias completamente diversas, c:omo leituras à noite, his-
elas frentes atmosféricas está ducididamente mais próxima de 1,·,1 ins horripilantes, jogos excitan tes que se prolongam por
unn teori. a da maré atrnosf6rica quF. as precedentes concep­ 1,1,dto tempo, temor ela escola na manhã seguinte, brincadci-
ções sôbre a gênese meteorológ ica ; a natureza da atmosfera r .i,, sensuais prematuras nas crianças, u5o �lc alimentos de di-
polar, onde os fenôruenos eletromagnéticos são muito eviden­ l lc-il digestão etc. Outros casos ton 1 arn-sc rnais freqüentes du-

.
tes e impressionantes, foi comprovada desde o tempo das pes­ 1 ,rnle o plenilúnio, mas apenas porque tôda penetração de luz
quisas de Birkeland e de Bjerkncs :. mas quando se trata de 110 <7 uarto excita o clor1J1ente, ele modo que o noctarnbulisrno
at ribuir também só uma parte dêsses acontecimentos ao ctir­ dt•�:1parcce com 1.1m suficiente escurecimen lo: pode-se rcal ni cn­
so da l ua, à c.iêncja cornporta-se de nôvo ceticamente com.o H· j ) ro\·ocar de modo artificial excmsões durante o sono colo-
antes. .'\qui, corno na medicina, abre-se um divári-o insaná­ ' .111clo u ma lâ.mpada no quarto ao lado, co111 o que o sonâm-
\ (li entre a ciência e a opinião popular. Quem conhece por 111,lo se move na direção da fonte luminosa, como nos ou tros
e:-;pcriência qlle em tais casos jamais uma parte tem comple­ e :,�ns na dü·eção da janela, através ela qual penetra a luz da
lnmcn te razão e a outra não, não deve poupar esforços para
l i 1n, lnfolizmente não pudemos avaliar ainda suficientemen-
submeter os fatos a sempre novos exames.
1 ,,, a Jé1 1/• desses casos, quantos pode111 pe1'sistir daqueles que -
96. Selenopatia. - O povo miúdo tinha um tempo uma !''H't•ção feita da luz que perturba o sono - mostram, todavia,
espécie de mágico pavor pela "atração" que a lua exerce tan­ 1 1 1 1 1n relação regular corn as fases ltinarcs. Não ocullarnos a
to mais inesist.1 velrnente, quanto mai� cheia �e mostrava a sua 1 111 /111•.uão que tais casos existem, mas para uma demonstração
forma luminosa. O fenômeno do "notambulismo", el o cami- 11:10 liasiam as comuns bases experimentais .

207
.,,. 206
.,
Pelo contrário, hoje pode-se àfirrnar que cxislc unia ll'­ 1 1 1.1 <'01 1 10 1:11, a� pesquisas até hoje apl'CSL• 1 1 tar:11 1 1 1'('1,1i l tndoR dcsi-
lação d os acesms ron1111lii1HH ,.JJilúticos ( os quais, co1 110 se sa­ 1! 1 1 .1 is. O gincc6logo Guthma.nn, de Prancofortc, co111 base em
he, intcrvôm ro 1 1 1 1m1 profundo escurecimento da consciência) 1 11·\1 1 1 1 is:is fei ta.� entre l (l : ()00 n1ulheres, éhegou a afirrriar t1111{1
nm1 as fasn lu·11.m1•.1·. Nalgum indivíduos podem réina1• lier­ 1·\ 1d1•11 t 1· prcfer'ência do dia clo plenilúnio e elo novilúnio, con1
tas cliscr('pâncias, mas no comple:-:o a maior freqüência cai 1 1 1 1 1,1 t'�pc': cie dt ponto mínimo no dia re�pectivamenfü · prece­
i rncd:i. 11 ta 1 1 1 cnte a n tes do novilúnio, com um mínimo de acc�,os d1•111 1'. Niío se . deve, pon:rn, p<insar nem aqui ni.mia-: prefe-
à altura cio último qunrlo. Portanto, a semana do último 1 h1,·i:1 ;,,.rrchat::i dora : s11pondo-se que· Selll () inflnxC\ lunar Tt(l
q uarto ao novilúnio devi.· ser considerada corno a de maior 1 1 1 1 ,0 de q1i,it1•0 sernanas se verificassem · erre. a tk , .i?0 rnens-
perigo para o epilético, Esta é uma fórmula tão simples que 1 1 1 1:u,:õc�; eoSClb·,·a[juêle imJluxo e 1 1 1 • vez . \·eriíica-sc esta · v,u•iação!i
não cle\'eria ser difíc il ccm firn 1á-la ou contradizê-la com rna­ 1 1, 1, dias normais , verificam-se apenas 355, mas no dia 'do plc-
!'ç 1 i }1 I rc,·olhido r-11 1 lodo o 1 1 1 u ndo., O que importa agora é 1 1il11 1 1 io e ck1. nov. il6nio sobe.m consideràvelrt1enlc -para álém de
.iust11 1 1 1L•nh· a wri fic:tçiin desta "sc111ana crítica" antes do no­ 1()() ( 0 1 1 � 1 1 lécli:l 5+0) e· no dia precedente caem a menos d e
\'i iúuin. '100 ( r m mrdia 2+!i ) .

'· 97. Lunação e instinto de reprodução. - A crença po ­


pular d os campos põe em m u ltíplices relações c:orn as fases l ll­
O Jmlandês Branson, porrrn, encontrou, com niaterial igu<1l-
1 1 11·1i l1· vasto; uma rcsol 11ta prdrrência p<·lo 1 1nd,�l'i1 1 10 dia dt•­
pni� do novilúnio e outra 1m·f1·d·1 1 riH 1 1 1l·1 1 os accn( 11ada i 1 1 1t·­
nares a possibilidade de semear, porque delas dependem a ger­

�-
dí11L:111 11.: ntc ,wle� du novilúnio. Sq,(1111do i:k a 11 1 1ai1i1 fn·q1 11\n•
minação, o crescimento, a maturação. Pode-se também acre­ 1 i;1 verificar-se-ia, pmtanto, m1 11·s do I1()\' i lú11io e do plc11ilú-
ditar que o papel que a luz lunar desempenha no calendá­ 1 1 io. Poder-se-ia pergu ntar se a clife1•pnça 1 1ão dcn� ser atTi­
rio dos enamorad ()s não se lim ita simple8rnente a dar viç:la a l111ída _ eventualmente à rna io1' apro:-.i11 1 ação das marés occâ hi­
,•,., rcrnânticas manifestações, mas a uma espécie de inquietação r. os ela Holanda. A unia \·erificação sôbre a conexão fo·rne-
erótica q,1c com o crescer dá lua se apodera dos jovens ; po­ 1 1 11·11 t<· acrcd ilada µelas populações elas i lhas frígias e pelas suas
der-se-ia i-eal 1 1 1 cnte falar ele um ·'ardor lunar". 1 1,1 1'l<'i ras entre o início do fluxo e o início das dores, tal con­
A mágica atração que o plenilúnio sempre exerceu sôbre ! ,,rnilância demonstrou-se encontrável ém modesta rnedida no

-
o aman te Cfoctbe, o jovem e o velho, ( "Felicíssima é a noite" : \ l ar cio Norte, mas não mais no 1.\ far Báltico (Kiel ) .
c.:arn,;ão de amor ao clarão do luar às \'ésperas cios seus 80 �e com is,0 se conclui que os nascimentos são influencia­
ano� ! ) apresenta i.11egà"elmente qualq ucr coisa de elementar, dos d iretamente pela maré , nfta, porém, pela própria l u nação
que parece emanar de uma direta excitaçã.o do amor sensível. ( 1 mn.1 ue não deveria ter a 1 1 1csma influência em tôda J)arte? ) ,
Todavia, na realidade nunca se descobriu para a lunação 1�m 1·1 11 1 L i nua obscuro como o Jato elo fluxo pot si deva provocar
paralelo com a crise pTim:w eril e o seu i nfluxo inrensivo do t : d <'rt•itn, se111 pensar· em fatôres at111osféricôs a êles ligados.
in�tinLo. Em tudo isto trata-se, porém, de funções puramente cor­
Pelo menos isto 1·ale para o sexo 111asc1Jiino. Para as mu- p,;1•c:1 s, e poder-se-ia perguntar o qi.tc temos a vet com os fe-
lheres as coisas se verificam de uma forma um tanto dife. n::n­ 1 1/\ 1 111'11os · 'geopsíquicos''. Na realidade é necessário reconhe­
te. Temos aqui um nexo, ainda qu<'- medíocre, da agres.sivi­ <'1 • 1 que seria uma grande vitória se se pudesse demonstrar
�fa dc sexual e da intensidade elo instinto com a menstruação 1 1 1111 precisão influxos biológicos lunares: abrir-se-ia assim o
( um mais v ivo desejo instintivo em concomitância corn o pe­ 1 : 1 1 1 1 inho parn a solução cios proble111a. , da "·selei:i opsiqne'", das
ríodo réspectivamente terminado) e uma intermédia e aproxi­ c il' JJel1dências psiqu icas lunares, que ,·ão muito além do fato
mativa coincidência do ciclo menstrual com a revolução da d:, oscil!1çiio do instinto sexual feminino l iga.dá ao c-iêló meús-
lua : o mês é antes originàriamente a unidade lunar, e os 1 1 1 1:11, gue, Iodada, seriai ·demonstrado có1110' paralelo à lua,
"menses" são as regras da lua. t :1sn f.ôsse por esta <letenuin•ado.
A 11111ll 1 er do povo jamais se deixou persuadir que as suas (:) estranho é qtie os dias de • preferência rece ntemente
regras têm algo cm comum com a lua. Todavia, desde quan­ 1 1 11 .1 1pr0,·::idos niio ·coin<idern com os perí'odos elo aumento suo-
do Arrhenius provou corno "cientlficamente idôneo" o proble- 11• 1 il : 1 , rn•ntv provadô pelo instinto : êstes · caein ililediatamentc
208 ZM
1 t . ,u1.;t'" 1r,ur


11111i1" 1<•1r1po isto foi consitlen1do como �úndo mais uma fan-
depois da menstruação, aquêles notàvelmente depoi�, à me­ 1.,�ti,-.1 nença lunar. Mas no fim do século passado 11111 gran.
tade dos dias entre as duas regras. E por fim tudo se com­ d,• 111'1n1ero de viajantes pôde constatar que os indígenas ti-
plica quando se trata de estabelecer se se deve atribufr o efei­ 11ha111 razão. O eunice emigra de fato �'Õmente nas noites
to essencial à revolução sidérea da lua ou à sinódica, ao retôr­ tio (dtimo quarto da revolução da lua em amb os os meses ci-
no do nosso satélite ao mesmo ponto orbital ou à ocorrência 1.1do\ que são os meses da crise da primavera do h.emistério
da ntesrna forma luminosa da lua. Ambas diferem cêrca de t11rr.-�tre meridional, correspondentes aos meses ele maio e abril
2 1/6 dias da outra, a lua retorna novamente depois de 1111 lwmisfério setentrional.
27 1/6 dias à mesma po�ição orbital, mas só depois de 29 1/2
A pontualidade lunar do verme é surpreendentemente
cLias alcança a mesma forma luminosa. Se imaginarmos um
,,._:,ta. O caso mais freqüente parece ser o enxame que se
efeito :aerodinâmico da rovolução lunar sôbre a atmosfera, o
lorma ao amanhecer do dia do último quarto de lua; há, po-
valor sinódico irupõc-sc naturalmente como o suporte do in­
1 r-111, antecipações e retardamentos, mas numa quantidade tão
fluxo gravitac-ional, pois êle indica justamente a recomposi­ Insignificante que não vale a pena procurar registrá-la.
ção do 111es1110 triângulo de massas: lua-terra-sol.
Em pesquisas feitas por Arrhenius sôbre as oscilações da O fenômeno cio palolo é cm geral independente do esta­
, lo nublado e das condições do tempo. No Oceano Atl!intico
eletricidade atmosférica ( dos temporais e das auroras polares)
" cunicc da Polinésia tern um grupo afim, cuja er<1igração se
com a revolução da lua, concluiu-se, porém, como período
1 l'rifica em junho e julho, isto é, m1 scgundn metade do pe­
principal, um valor que coincide· muito corh o sideral. Pelo
dndo da crise primaveril, com um máximo no primeiro guar­
contrário, tentativas recentíssimas para calcular a "gravidez ir, da lua, quando o último quarto se inicia muito tarde em
biológica" no homem ( o tempo da real fecundação até o nas­ i1ilho. A pontualidade lunar é antes transcurada. Não são
cirnen to) chegaram ao número de 265 dias, isto é, quase exa­
,•onhecidos outros casos paralelos no reino animal. F. inacre­
tamente 9 meses sinódicos: as luas "novas" ela antiquíssima
di (ávcl que não devam existir. A pesquisa biológica tem aqui
crença popular.
11111 c�'lmpo de imenso alcance para o conhecimento do vínculo
Também o único fenômeno animal, que demonstrou até
hoje uma "pontualidade lunar" astronômica, regula-se exata­ dismico do mundo vivente.
mente sôbre a forma ltuninosa da lua, isto é, segundo o va­ Até agora não se encontrou uma explicaçfio satisfatória
lor da revolução sinódica: o "enxame do palolo". dC' como os quartos de lua poderiam ter uma influência. É
Êste fato bem deter.minado e estranhíssimo de um nexo
frí.c il compreender que ta.l explicação deve ser procurada na
sexual de llrn ser vivo com a lua representa o modo de pro­ maré por via indireta: a intensidade do fluxo que domina no
pagação de um animal natural dos bancos coralinos dos ma­ í1Jtimo quarto causaria a laceração do corpo do verme, ten­
res do Sul, da família dos vermes, a eunice viridis. Ele se so ao máximo pela excitação sexual. A isso contradiz o fato
reproduz tanto sexualmente como por via vegetativa. Duran­ dr os enxames se demonstrarem completamente independentes
te a cr:ise sexual as extremidades posteriores cio corpo sepa­ elo movimento da maré produzido pelo vento. Altura do flu­
ram-se e espalham-se sôbre a superfície da água, onde a sua ''° e movimento do vento são, porém, qualquer coisa de dife­
substância germinativa, feminina e masculina, fecunda-se sim­ rente, e a maré considerada em si pode ser investigada como
plesmente misturando-se· na água, corno nos peixes. Contem­ possibilidade de explicação distinta de tôcla outra; infelizmen­
porâneamente, porém, o fragmento de cabeça gue ficou ape­ lt' ainda temos bem poucos particulares sôbre o efeito do flu­
"0 e refluxo nos animais q-ue povoam o mar.
gado ao coral desenvolve-se novamente e forma outro indivi­
duo completo. Ora, os indígenas afirmavam que aquelas par­ Outra possibilidade de explicação s.eria oferecida pela elc-
tes do corpo que se espelham - pescavam-nas e as comiam 1 ricidade atmosféi-ica, caso possuísse um andamento sinoidal
como "palolo·' - apareciam apenas duas vêzes por ano em d11s fases lunares. Enfim, poderiam também entrar cm jôgo­
quantidades abundantíssimas, em verdadeiros enxames, isto é, fatôrcs intermédios ainda desconhecidos, como, por exemplo,
em outubro e em novembro, e também então só naquelas n ultra-radiação, cujo único efeito biológico comprovado tem
duas noites em que a lua cumpre o seu último quarto. Por lugar justamente nos processos de crescimento (§ 33). Qual-

210 211
' •' '" .. ! · l -- ! ;. ..,.., - �,

Çj LÍÇr 'q,uªe _ séja ,a explicáção 9ue se r,oderá d41r U/l/ 1dia, o fe­ 1• rn,c',di,·a (§ 97 ) . E como não sabc 1 1 10, aindt, �<·, 11:1 rn:ilid:1d:• 1
nô1íi�n,o .d9 . palolo é ' u111 falo que revela O , Ízi; i; o lu1).a de Úma r ,,p,,1 1;1� 1 1 1 1 1a inte1Yén1 nas reações b.iolõgicas, pai a 1 1� ,11 "�º�
·1.s.P.,/'/.iie animr1( i11frriQr no c.ornpõrtamento 1nst inti1Ju da sua' i '' r1hl1•1 11as dc,·crnos basear-nos antes ele tudo .na amplitud,· c io
,f!rop,,ag,afão , • , ' ••• - ,.., ,, ::�, • .. ..
,.. •0 • •• , , '
11·11 1po l1 111ar.
, • _ •. . Esqi., pois,. cleo1;Qns/Ta1o /W� · �.;:ist_e em seres v1ve_nteJ; .u 1 11
A

'l'illl1 bé11 1 no gue çliz Tcspeito à "astrologia'', c1ue nos <'�"


,i,1if�!i,,·o J1siç_v{í.íico . (fu1ár. , .. . . l r 11 i.;a,11os para fundar sôbrc bases científica�. não nos li betta-
�,

- •, · • e; · '''! ' t,J.


,.,,.,. . . . (
Outros "iit-in ós': cóí·i,iicos "
1 1 11 11 s1'- ria1 1 1ente ainda dos ob.stáculos de unia 1 1 1r11talidad<' pré­
' w r 1 tí fica. Dela fazem parte entre outrns n at<-nção prestada
,, hora do nacimento (sobretudo se de dia) e as tolices cio�
98. Cosniosofia. F'íc�1ti esse1'1çialmerite nó ·ca:mpó da es- l11 11·6scopos. Fixa-se nurna misteriosa ação a distância, que das
ptculat.;�d " trnta1 iva de' ·aprest:'i'i tar a 'unidade de-·' 28 .d ías . co- 1 onstclações" se estendem não se sabe. sôbre que coisas. Não
1 , 10 uni perí,od(1 dementar de',, vita!' i�npo-t't�néia. . · A · tentâtf\'a ,, < 'Ntamc:nte sôbre o estado fisiológico ou qualquer coisa de
1'ita_i'.� ,:asta foi ,ernprecnaiâa pelo médko W. Fliess . . Segundo •1•1 1 tclhante, mas sôbrc a "sorte" : com efeito, a prognose sôbre
êle, totlo elelnçnto ''ferninin o1 ' na substânci.a: ·.vivênte deve de­ , 1 smtc é qualquer coisa de místico, que torna os ho1 1 1rns cré­
·senvolver-se · s'egundo· rnúltipJos dessa:· · unidade,'· ísto é, em r l 1 1 los. Com uma pesquisa verd<1d1•ira1 1 1t'ntt' h1 boriosu d (' vf•r·­
·23 dias. " ' 'A ela contrapÕC'-se a unidade orlgi.ná t ia . ". n1ascu linà" •s<·•i:1 ·anrc'.5 de tudo cst::ibelecer dr 1 11 1 1:1 v(•� por tôda� se a dc-­
"ele 23 diàs; co1i10 tod_o 'efetivo sei· · vivente i:lóssui u'n1 a estnitu­ lt ' I 1 11inados grupos de dias nat-alkios, ele- arôrdn corn a csta-
ra ' bi��exual .'é apresen ta uma tnisttira ele substâncias rnasculi­ 1;íl,1, correspondem determinados tipos ele rnnstituição, espt-­
n·as e sub�tândas fem ininas ( o sexo indicá apenas o prndo111í­ ri:d111cntc do ponto de vista psíquico, isto é determ inados
nio de umas sôlJ1:c as 0 1 1 1.ras) , as distâncias dos acontecimentos "ll'mperanientos", trabalho que não pode ,er substituído pela
· •críticos· · na 1·.xisi:ênçia prál.ita a co11 1eçar pel o nascimento se­ i n fantil analogia com as representações dos astros no zodíaco.
riam sc1 1 1 pr<' 1 1 1 1 1 1 1 1 ú l 1 iplo co11 1plcxo de 2'.i f' 28 dias. :tvlas Haveria um fato cosmofisico, do qual poderia partir : as
assi 111 form u lada a hipÓlC'SC rnostra já uma gra,·e lacuna, pois 1·1 1 1 pções periódicas e não periódicas do sol (§ 99) , poderiam
clêste modo tôtlas as di�!âncias superi o res a 600 dias podem ••�t::ir em relação com as mudanças de tensão na esfera solar
decompo;.-se i10s números 23 é 28, · 011 na sua superfície, q ue são co,ndicionàdas pela mutável po­
As provas simp[t,,, .em\)orá scfl 1pre desejáveis (as de 1 , 2, ,iç;ão .astronômica dos grandes planêt�s. O estudo sistemáb­
'3 vêzes 2B e 23) na olm:i' de Fli�ss ião ·seinpie cxt1 e111arnenre n, da diniinuição e do aumento da "constante solar" - isto
escassas ,e gera lmente _cliscut.íveis. Todavia, lllll cxa'rnc ni'inu­ í•, da quantidade de calor irradiado, que a terra recebe nos
ci oso . dos ) 3 . Yol.u mcs da vida clo's anilllais c1·e Rrehm demons­ l i 1 1 1 ites ela sua at1nosfera, da atividade das manchas solares,
tt'qÍ:1 que,· e111, todos os CéjSOS, iia "�poéa' dós ar1 \ôrcs e d_a repro­ cbs erupções, que parecem estar submetidas a um período de
dí1ção; desernpenhà'ni no çomportameríto llJll pápel evi'clente, 2 7 dias ( § 99) , das autoras polares e das tempestades rnag-
que ultrapassa de mii ito o s,imple� acaso�· distârwias que se mo­ 11ét icas e111 relação, por exemplo, com os grandes rnovim�ntos
n.: rn �J•l r,n édia cntr'� . 2:i .e · 30 . dias. Co1JJ t'uclo. íssp nada sa­
,. com , a e.."<citação das n,�sSfl:!; h�1manas - caso fôssern émpre-
héii-,ô{ de uma conexão Có,TÍI a lua; como no, caso do wnice .
:H.c$tà apenas un'i °frito : a unidade cronológica da revolúção 1•11didas com éircunspecção e superioridade de espírito boas
pesquisas estatísticas, seria digno da seriedade científica e va­
lu.pal' ·se e1,1 con tra corí, rlÍaior frcqiiênc'ia nás unidades gei-ati­
:'ªS. ela· \·idâ do� animais e :1j ara o homem n� vida d_as IY\U· lLi ria realmente a pena.
lh�(er· Si( Tnttjüe�tcrnente' � _apenas apmximativa, não ' nos O h?rósct>po é urna pseudo-profecia amaclota ou negocis­
dçvemos· cs'gúcccr é1u e é iinp,cissivêJ esperarn1os . algo (l ífercntc, t a , qu_e não tem nada que ver com o esfôrço de urna séria
não cfçv1clo à consiqer�v�! 'á1�15liti.1 de ' 'ç!e .osciláção :b�onológica wogi;tose da caràct�rologia, da psicotécnica, da meteorologia
i}i' 't_odo sç' t; \ iyo, lllas pelo fa f,o '.'cósrnico qt1e a ,1Íks.Í1�a un1�Iádc rn 1 da medicina. A profecia verdàdefra tiltrapassa a esfera de
da " rdvoluçãü lun'at; n5o " e "i'1nic:1, ' 1 nM se ·s ubd1'vkfé' �-1 1 1 siit'ei°al , ndo possível conhecimento científico.

:iii 2'13
1 111, 11los c·om um esplendor lfw claro q1u' proch11 lt-11ucs som­
99. Rotação do sol. - O sol gira em tôrno do próprio lwas. LJHC representam já um conspicuo efeito l11 11 1i11oso: ain­
eixo. A sua massa fluída., potém, apresenta por diversos graus d:1 se discute sôbre uma qualquer influência da luz e�l1 clnr sô­
de latitude períodos de rotação de diferente duração. Preten­ l 11·r os processos vitais. Por enquanto não se conhece ainda
<leu-se calcular para o equador sola r cêrca de 25 dias, para as .d 1411111 perí.odo do ser vivente que possa ser pôsto em rela�ão
Tegiõcs polares até mais de 30 dias, e para as latitudes médias c11111 uma qualquer revolução estrelar (incluidos os planêtas),
(ele 35 a 559) entre 27 e 29 dias. 1 1c· 111 se descobriu algum fenômeno sideral compm:ávcl ao fe-
Para o nosso problerna os fenômenos solares mais impor­ 11ô 11tcno lunar do palolo (§ 97) ou qualquer Jllenstruação
tantes conexos com esta rotação, �ão as manchas e as erup­ planetária ou epilepsia ligada à aparição de ro111ctas. Pon­
ções chamadas luminosas da cromos fera; sã.o descarregadas no tos de orientação da pesquisa científica �ão sempre os [atos e
universo ntravés dessas i1 11ensas massas de elétrons e uma pe­ 11ão as simples possibilidades deduzidas de fascinantes analogia'>.
quena parte alc.'lnça a �\lrnosfera terrestre, provocando a s "tem­ No rnáximo pode-se, portanto, apresentar a questão dos
pestades" magn(·ticas. B. e T. DLtlJ tentaram provar estatis­ "puríodos criptocósmicos", i�to é, daqueles que se verificam
ticarnente uni paralelismo entre essas erupções e os casos mor­ 1·n1 sêres viventes sero coincidir com os do sol e da lua. Entt·e
tais de tuberculose, que acontecem na terra entre os homens. f�Les coloca-se em primeiro l11gar o período do ano sctenário,
Sucederam-se êles justamente com um ritmo de 27 dias. Se eh-pois que se apresentou u111a q1mlq11rr p1'()va para a oconên­
as pesquisas especiais da geomedicina e da heliofisica tivessem dn periódica de 23 dias de Flicss.
que confirmar semelhante conexão, conseguir-se-ia indubitàvel­ Um ritmo setenal da vida hutll[l.l.10 (, s11pnstc1 desde a an­
mente obter uma prova de extraordinário valor sôbre a im­ tiguidade com multíplices 1ra.nsfon11açõcs, ro1110 11rna csp6cic
portância dos acontecimentos eletrocósmicos para a vida de lei originária da vida. Sólon baseo11 nela uma famosa sub­
terrestre. di,·isão da idade do ho,11.em. Entre a gente do campo impera
t oportuno também notar que uni cientista tão prudente :1inda hoje a crença de que o sétimo ano seja particularmente
como De Ruddcr fa,1. um juízo positivo sôbre as pesquisas de fa1·orável à concepçã.o da mulher, mas freqüentemente perm a­
Dull. 11as o mesmo autor constata que até agora não se des­ nr.cc ambíguo o têrmo com o qual se inicia a contagem, se
cobriu qualquer relação aceitável entre fatos biológicos e o do nascimento ou da concepção.
periódico aparecimento daS manchas sol ares. Há também pe-_ O neurólogo P. J. 1vioebius cha111ou a atenção do mun­
ríodos mensais para as manchas solares, mas mais importan­ do científico para o sétirno ano como sôbre uma unidade p e-
te e mais notável é o seu ritmo de 11 1/8 ele anos, onde au­ 1•iódica precisamepte cio ponto de \'ista psicofisiol6J;ico, quan­
mentam e diminuem, de modo que cada 12 anos se nota um do descobriu ern Goethe um l'itrno inais ou menos setenal da
nível altíssimo em suas manifestações. A meteorologia e a produção poética e da agitação erótica, cujas evidentes osci­
climatologia dela se ocuparam de diversa s formas; para o rit­ lações alcançam o auge nos anos de 1767, 1780-81, 1786-88,
mo vital elos OTganismos não podemos contar ainda a êste pro­ ( 1794-97, transcurado por J\foebius), 1800-01, 1807-08,
pósito con1 pesquisas probativas. 1814-15, 1822-23 e 1830-31. Ninguém, que cónheça verda­
deiramente o de�envolvimento da vida ele Goethe como ho-
100. O ano setenário. - Sôbre os influxos estrelares, além 111em e como poeta, pode fechar o� olhos diante dessa insis­
do sol e da lua, 1iada sabemos de seguro que ultrapasse a im­ tência ele d atas. Nós achamos que ele modo análogo é. divi­
pressão que a sua imaginação provoca em mujtos espíritos. O dido cem um ritmo setenal o desenvolver-se da vida e ela ati­
céu estrelado, considerado na sua totalidade, os diversos agru­ vidade criador a em alguns grandes cientistas do século XIX:
pamentos chamados "constelações", e ent.re os planêtas espe­ Robert. M ayer, Helmholtz, G. l'vfendel, em parte também em
cialmente Vênus no tempo do seu .mais intenso brilho, tudo Leibniz, Darwin, Hackel, bem como na vida de Bismarck, que
isso exerce sôbre nós uma atração "mágica", semelhante àquela apre;;cnta um ritmo particularmente constante na l'nesma
que provém cio mar em tempestade, das geleiras, da flamejante direção.
aurora polar, do deserto infinito. Vênus reluz em certos mo- Sôbre a particular importâ,ncia do 28° ano de vida, ou,

214 215
para faJal' con1 mairn· cautela, entre os 25 e 30 anos, o físico­ 11.-1 m1111 vibrante escrito polí:J 11ico, dt·vidn :111� 1111il1ípli 1•t;� :il H1-
quírnico W. Ostwald chamou pela primeira \·ez de modo con­ ,11�, 11fio se de,·a nw.is crnprcgar o 1êr1110 .;l'1Ís111i t n" l )1·\ f'J"•
\·ince_nte ,1 atrn<:fio d<' l<Jcl,is. H. Swoboda pretendeu ck:mons­ ,1•-ia (;nti\o estender o ostracismo a expre�sõe ·s con10 "di11:.i111i
.
tra.r arnpla111cntc por· ,·ia genealógica que ern ge.i-al cada $é­ , " .. ··campo'.' e outras ainda, que sofrem um amílogo de.,g:1�
ti11w anc, ( contado do nasciruento, talvez ela concepção I ele 11· 110 emp.rêgo cotidiano ele palawas parn êsse fim. l� s11fi­
to.cio ho1111··11 1 (· u1u ·'g.i:a11cle ano" para a. fôrça generativa física , it·nll', do nosso ponto ele vista, que a 111'squisa utilize êssr�
e espiritual, ao qual se contrapõe o período intermediário to­ , ,1111:1·itos depois de tê-los claramente dctcrn1í11ado.
nto ·'anos estéreis'·_ Quando essa oscilação não é reconhecí­
vel ao primeiro olhar, isto depende talvez das datas de nasci­
niento dos pais ou en1 .t.:t·,·al dos antepassados. Para um nú­ D. - CLIMA ARTIFICIAL
mero couKidrrávcl ele ca�os o ritmo swobodoniano é evidente.
Ta,11hí•111 l'lll ( loethe o rit1 110 se inicia cio ano de nascimento l01. Clima de adomesticação. - Já os àpi1nais não se
de a111bc1� os pais ( clistam::iaclos de cêrca ele 21 anos) e uma drtf-111 conti.n11anwnte na natureza livre. iv[uitas espécie� re­
"pulsação setenal'" que deriva dos antepassados ma.ternos mas­ ,idrm cm nfohos, Lroncos, Loca�, que elas mesmas ccnstrncm.
CLtlinos e entrelaça-se com as pulsações. pessoais da at.i\·idadc 1 oda1·ia, essas fáceis acomodações são instintivas, ohcdecc111 a
criadora e do amor do poeta de modo muito singula1·, e pre­ inslinlos freqüentemente sc,t;uros <· ro111plc·xos r 11i'io podc•111 MT
cisamente através da mãe de Goethe, o que se manifesta entre 1·,t t·ndidas con10 "autoclo111Csttcaçào". Fa ln-�<• ck 11 n ,a 1•xi�­
1 794 e 1797 como um "nó ele distiirbio". ti·ncia aclon.1estic.ida quando u111 ag<'ntt· racio11al prcclispÕt• unw
Não podem subsistir dú\·idas sôbrc a grande difusão de 1·xistência subtraída à forma ele viela ínstii1tiv.t. Isso é feito
movimentos ondulatórios setenais de natureza biológica no cur­ 1wln ''Homo Faber", o homeltl que;; (abrica instrumento$ e dê­
so da vida do home11). /\ ciência clC\ 1erf1 ampliar o material li·� .ie serve de modos ,·ariaclos e com um contínuo progresso.
das do_curnentações e depois interpretá-lo. Se se provasse, além .\ adnmesticaçfLo dos -homens, chamada "civilização", assumiu
dos períodos anuais, lamb{·nt llll'I outro ritmo funda1ncntal da 1m ('Llrso dos séculos formas st_'111pre mais complexas. Até: mes-
m1turcza hmnana ou da 11.a/ure.za ,m1 wnal, surgiria então a 11111 o seu comeie. nte "1'etôrno·• à natureza, por exemplo nn
questão sôbrc c:orno estabclece1· se êle corresponde a qualquer :1t11�1I viela ao ar livre, banhos, esporte, dá-se com meios téc-
período cósmico, pelo qual é ou foi utt1 tempo determinado. 11iros e ce-rn detenninadas regras racionais. De forma ai11da
Ni'ío �e. pode com efeito transcurnr sequer a última possibili­ 111ais sistemáticas que no tempo dos nossos avós, que para a
dade de que períodos cósmicos há rnuito te1np0 transcon-jclos 1·1·1Teação ao ar !i,ore saía :m das cidades, as populações do
tenham dei-xaclo a sua rnarca na natureza lllunana, continuan­ ,fr1do XX criam <1rtificialmente as condições climáticas de:­
do a oscilar nela corno 1.1m<1 propriedade periódica, ao passo , icb, contrapondo ao clima das tidadçs e dos escritórios, curas,
que no universo já desvaneceram. Po1· exemplo, recenteniente ,,·dentárias, banhos ele so.J, mudanças de altitude. A nossa
foi ]e,:antaclo, para a radiação da altura, o problema se se t"-:i.stf-n_cia cli11 1ática torna-se sempre mais determinada pelo
trata somente de urna massa cósmica radiante temporânea, que "..-lima ele aclomcsticação".
num dia distante poderá desaparecer. Em todo caso, não te­ :Mas a verdadeira contra:posição ao clima naFural é for-
rnos até agora um ponto seguro de referência para afirmar a 11ntcla por aqueles arnbientcs ele moradia, onde nos entretemos
existência ele um período setenário. Os período� das man­ 11:1 hi L11almente ou quase sempre: escrilórios e cidades. · fl.les.
chas solares obedecem a rnna lei numérica totalmente dife­ p1 odm:cm parcialmente um clima artificial completamente nô-
ITn te (§ 99) e tarnbén:1 o per.íodo de 35 anos (recentemente 1 o, onde muitos milhões de homens transcorrem os seus dias
contestado) de Rrückner com respeito à mudança climática ,, :is suas· noites. É provável que isso determine uma jnfluên­
terrestre, não autoTi:la nenhum embuste para a extração do l'ia muito mais profunda sôbre o organismo do que aquela que
subrn(iltiplo 7. possamos imaginar hoje, mesmo onde se criou uma conformação
A pesquisa deve continuar sem esmorecimentos. Não pa­ "higiênica", Jlode-se eli111inar muitos Clernentcs nocivos, ma�
rece justificado que corno pronugnou recentemente De Rud- .1 for111a 'ele vida do citadino contínua quase completamente

216 217
pro11•1 ivo, do q11:il o 01·µ. a ­
cond utor úti'l acertar o u,ais favorável val.or
norestciro, do an1igo no seu estado <le , q.m11s11 no Ro1111,
diferente da d o campon
ês, do
te ç da sua n.isn10 tem maior necessidade
q�1ase Lodos por dois psicossomático.
pela melhor restituição cio frescor
r os
<le cavalos, que ,;i,·iam tempo ass im com o são . Ta mbém
existência no vento e no efe it , já an­ - Em tômo dos corpo�
ida, se vestiam! Com 103. O a1· das salas e escritórios.
o
êles, não há :1 1111::uor dúv eiro s p ores dos a atmosfera dos locais fecha­
s e nos prim rec urs
atmosféricos do estuário dispõe-se
tes do advento das ci dade era a indumentária o poten
te
os ocais mi�lo� r c011tplcxos das
das talv ez) dos. Deixamos de lado aqui
l
escritórios (m1 s ten is
sticação, que afasta\' a sem p re ma to s indiví.<l11ôs ufío podem fu­
fator de civilizaçã o e adome puramente animalesc a. grandt:s indústrias, dos quais mui nem uJlla c.xrrssiva in up­
ã
o homem de u111a existên
cia gir. Nem uma intensa ventilaç .
o

re o corpo e a vestimenta uem ?.bo lir a diversidade do ar cio,


102. Adornos e leitos. - E11t s propriedades são muito ção de luz podem e d e
osfera. Nós queremos absoh1-
ar, cuja ambientes fechados ela livre atm
fonnu-�e uma camada tk fal­ sua v€:ntos'idadc. A quantida­
livr e atm osfera. Sabemos que a Lamente por-nos ao abrigo da
dil°l'rentcs daq 1das clt1 r àquela do ar livr e. A es­
p de de luz continua sempre infer i_o
1
a pele nos hominíd e o s cria ara
ta ele 11111;1 pl\llttaKc111 ou el o tér­ da: também com janelas abct•
mo dificad as. O reg ulam ent trutura da radiação é modifica
,rwlaholismo concli. ções muito stido, e precisa• uh:1·aviolcta, an tes, �rral111rn­
rico são dife re n tes num corpo reve tas apenas pouquíssima energia e e�n i­
mic o e o híd io, e num cor­ d <' dns salas, q t1artos
lidade do vest uár lc nenhuma, chega à profunclida
mente de acôrelo com a qua eriência que o icas sãn e 1 J:11· g r, 111l•d i<.ht 1t10Jifi­
t6rios. As condições térru
1
pel a com m exp 1
aH'dl '�,
po nu. Já se tornou evidente
u
csfri:oi 11t•n1 0 das p
influxos sôbr o nosso e5tado cadas pelo super aqueciment o e pelo
1
e
\·c,tuário itracional pode exercer üent cine nle ern loca is vent ila­
imento. dos forros e dos assoalhos; freq tcrn p
de saúde e sôbre o nosso rend tura objetiva sente-se 11l)1a
eral ura
por mais de uma camada de d os com igual tempera cial­
O corpo. en1 ger al é cob e rto
do que ao ar livre. Isto dep ende espe
é circundado por um sistema mais "agrad ável "
vestuário sobrepostos, pelo que m ente da variacão elo
fator umidade.
se poderiam chamar, l evando­ com janela s aber-
complexo de "atmosferas", que rn o aquecido, mesmo
l clclirnitação, corpos atmosfé­ O ambient � inte
to diferente do
.,c r·m consideração a sua súti formadas pela próp ria fa. tas, possui um corpo aéreo ele estru tura mui
riws do ,'<'ilU!Í r io. As frentes são cigari-os mod ifica radicalmente
da higiene do vestuário co
nsiste que o externo. /\. fumaça cios ede quase
,enda e um.a tarefa essencial mel hore s mud anç as de a distribuição dos iônios, o vidro
elas jan e las imp
são as o letas também do
justamente _ em acertar quais completamente o ingresso aos r ios ultra vi
vestido. In<lubitàvelmente tarn­
a
corpos atmosféricos no homem amente exagerou-se q uando
apresenta um a notável ga­ mais rico fluxo de luz solai·. Cert
bérn por isso o clima dos vestidos fech adas nur11 quarto de alher­
veste-se muito rnai_, leve­ se afirmou que com as janela s
ma de aclirnaçãn: na noss a gera ção vamos num clilTla essen­
o o sexo ferninino, e a isto �ue de S. 11:oritz não nos encontrá
mente nue na precedente, sobretud seu1elh<1nte do albergue
te. Produzir o clima dos ves­ cialmente diferente que num quarto uma
nos habitua mos mu tto fàcilmen de Norderney; todavia,
tal afirmação dá ainda semp re
a complexivo ( nas zonas al­ s dos
tido s que �eja oportuno para o clim i déia aproxirn aliva da
particularidade dos corp os aéreo
fa muito c01nplexa, mas im- CL•nh e6-
ta s, nos trópicos, ártida ) é uma tare locais fechados ( que são mais bem in dic ados cóm a
l.
portante, da higiene climática gera a existência somo� cir- da expressão "ar de moradi a"). as a pre s,ão man-
Dura.ntc cêrc:a de urn têrco da noss De todos os elementos climáticos apen
aé eo do, leito . A sua e strutura climática tanc ialm ente os mesm os valores ql1e ·
cundados pelo corpo r tém por tôda parte subs
objeto de investigação. m, pode ri ser discuth·el
específica só há pouco tempÔ tornou-se pos'lui o ar livre: também isto, poré
a

ta um rorp o atmosférico de ve,- da pres são atmo sféri ca, nas "osci­
Subslanrialn1entc êle represen nas fqrmas de pertu rbação e ( § 34) .
to e excessh·o esfr;amen­ lações", que são talvez as mais important
es para a saúd
1·uário 1110difiraelo. Superaquecimen em larga medida de s fech ados mostra
ndem amb iente
to. como deitos indesejados, depe É sabido como o cor po aéreo dos
te como há indivíduos que d com o tipo de a quecimento
hábitos civilizaclos, e é surpreenden sensíveis rnodificações · el e acôr o
um sono frio sem di,t{1rbios usado: nos locais com aquecimento
centra l domina uma at-
podem suportar um sono quente e
emp reen dimento verdadeiramente
fisio lógic o s vis\veis. Seria um 219

218
111osfcl'a difere1ite dos que são aq1iecidos com Csl ufo�, graças ,c·1• t,! ' l:t 1\:cicla. -Enquanto Bütwicr :it•1 t·di t.1 tl 1 ·\ ' l 'I 1ali 1·11 1 1s-
à abundante Yentilaçãn dn fogo, o que falta crn \'C;, no caso 1:,'l':11 IIIHa ,-Os.:ilação_ ·lmifo1•J,'lle· de-, tôdas as energi <1� M ( ) t�p1·r·1ro,
do aqucri nwnto central . O mesmo pode ser d i t o quanto ao P. Kfa t.zer chêga ao ·re�tdtado, que a& racliacões de onda� ,· 1 1 1 -
q u e diz re�pei t o ao material das paredes. Os ambient(•s in­ 1 :1� sãó àbsdbiid'as ·mais· in'.t ensaincnle que ;s das ondas lon­
tcmos dt, eo11sln 1ç5o de ci11 1 ento traern-se l ogo à primeira in1- ·g·�s. · Também nós estan1os- ,propcmos a seguir esta ·opintã<J ;
p re�siio pol' urn ar n,iais sufocante có'm respeito aos corpos aé­ 'rnh ci a ·energia amárelo-\·errrlellra tT infravr·1· 1 1 1elha permanec(:
n�os cios côrnodos da8 construções de tijolos. Também di­ 1·111 1 1 1 edicla maior que a azul-violeta · e a1(, m('smo a ultra-vio­
fc·rentn é o ar no interior de paredes de madeira, e provàvel­ cjuc
l1;rn ,' desaparece"' q uas·e ' por ·-C'Oll'lplét9 ela /{"OSÍrrn citadina.
llleHtc não pelo odor. N:1s frentes para o ar livre e para os <:k1 1 1•1' ó · as·· Ttízes1 vefu1elhaS prbvottut1 it�xti'titi,)âo psíqt,ira, " as
lorni� confinados w·nHt• vol1intàriarnentc urna "corrente ele nzuis ' 'téi11 u111 · efei1b ·pslqt}icamente calmante ( § l l 4 : uma aii-
a r" ( * 20 ) , < J l it· pm 1111 1 ito� {, sent ida como tanto mais preju­ 1 iiloY11ia"·· airida enexplicávet do · papel fotoqulmica mente · mais a:ti>-
dicial q11a1110 1 1 1ais ( frnc;a. Os lugares próximos às portas 1 d' dlis <côres a111àrelo-ver111el ha-s ) , · pode-se 1'>ensar que po1� esta
alwrla, u, 1 à� janelas frcqül"nternente são desagradáveis a m u i­ 1 i'a /5'." õi-ganismo que vive nas cidades toma-se · rsiquic; amente
tos i nclidcl uos : cm geral encontramos no âmbüo dos corpos 1 1 i!l��- ·'ex�i tâv(êl; mais irasch·cl; r ao n ,e�mo tempo foica 1 1 1t··n t<1
atrecs dos cômodos a diversa reatividade às frentes cios cmpos 1 1 ltnós fresei\· 'ao pas�o que e; ol'goanis 1 1 1 0 nos ra11 1po�, pel (> li­
atmosféricos. , 1·t· acesso ao ar aberto, torna-se p�iq11iça 1 1 1(·11l(' 1 1 1nis n,l rn o l'
fisicamente mais fresco. t\1j1•c•w 1Ha 1 1 1 0� c•qn i 11 tr1•pn·tn<;ií () <'01 1 l
I04. Clima de cidade. - Pátios e ruas são formados por 1 f,da cautela : mas, COIIIO se \'t\ concorda l, illl lb�n, ('0111 aqui­
edifícios fechados e sãÓ circundados por paredes tão altas e es­ lo qut,: proc:'uramos nos ca1 1 1 pos e d() <[li<' ternos falta nas ci­
treitas que, através do ar liv1·e, ali se depositam corpos aéreos dades. · F· ora de questão está o fato que ao "cli lll a luminoso''
de natureza particular. Êles são essencia lmente mais quentes n1he urna parte notabilíssinia do cfe-ito psicosso 1 1 1ático da gcos­
(à, \'êzes também mais frios ) , mas secos, menos mó Y eis, mais fC'ra das cidades ; nenh um dos out,-os fatôres elementares da
pobres de l uz, e isto cm 1nedida tanto maior, quanto mais cs­ . 1 l 1 1 1osfora, especialmente rias· grandes cidades ind 1 1 striais, po­
t?'to próxin1os do solo: tambérn a s11a composição é diJerente. dcTia ser tão profundamente ·mod i.ficado, comparando-se corn
Os raios ultravioletas llâo penetram profundamente nos pá­ 11, campos, corno a radiação.
tios e nas ruas. Pela notável quantidade de partículas de pó Acrescente-se àlérn disso que ruas e praças, locais de tra­
a icnizaç5.o da geosfera é m u ito diferente do que na livre h:dl 10 e mo�·adias estão sempre niais i.me1'sas em :fluxos ele
at111osfcra. Sabemos como o ar interno elas grandes ciclades, /11: art ificial. A sua influêr1tia biológica é notada principal-
por exemplo, numa noite de ver5.o, ·d ifere extraorclinàriamen­ 1 1 11·ntc 110s danos locais do órgão ' da vista. Além da tendên­
te do ar livre até tornar-se insuportável. A diferença entre o <'Í:'\ para 11 cxcessi\·a in lensiclade (para se obter "lul diurna")
ar da cidade e o ar l i vre foi antes cientificamente subestimada t· para a aproxirnação cromática . à luz diw-na natural ( "luz
e unilateralrnenle julgada cem base nos elementos nocivos à d i n rn a artificial" ) ; o problema 9a su portabilidade geral dessas
saúde que ela contém. A compacidade dos corpos atmosfé­ t : 1 d iações por um l'ongo períodõ de tcnJpo não é quase to-
ricos da cidade manifesta-se freqüentemente pela acrescida for­ 1 1 1:,do em consiclc1.-ação.-
mação de vaJ1or. O vapor é, de resto, aquilo que freqüente­ Todos os ti:po!\ ele · 1 ui �rtificial pràticarnente 11sàdos são
mente delimita as atmosferas cios povoados como corpos atmos- 1 1 1 1 1 i l o diversos · tam'b cri1 na · su?, cstn1tura qüalifativa da luz so­
. fériros co11 1 o ambiente circunstante aberto. O seu estudo,
l:11 e da luz diurna difundida. SulJjetivamentc as radiações
porém, na climatologia e na meteorolcgia ainda está nos seus 1 1 1nis :imarcbs sã.o gerah 11erife 111ais desêjaclas, -porqi. 1 e dão 1fra-
pri rnt'iros passos (§ 43 ) . 11'i- ( lu7, · quenle�)', àó pasfo gue o desenvôJv in'1ento té·cnico as­
Em particular a fiUração da luz, pelas diferentes estrutn­ J t Í rn os tipos de luz branca sernpre mais "pura". Nada· sabe-
ra� que, de acôrdo com o predomínio do vapor áqüeo ou da 1 1 1 í 1s ainda .sôbre o seu efeito orgânico. O clima d a luz arti­
fuma�a produzida . pelos ,aparelhos de aq1. 1 ecimento, oferecem fi, iol i 1 1 1 pôe-se, porém, ao citadino e ta 1 1 1 bém ao camponês por
as capas de vapor, necessita ainda de muitas pesquisas para 1 1 1·1 íodos do dia tão intensos, com crescente uniformidade e
220 22 1
vistosidade, e anulou já em tão larga medida o antigo alter­
nar-se entre lu,a; diurna e homs crepusculares escassamente ilu­
minadas em cslrcit�\S zonas luminosas pela luz artificial, a pon­
to de se dever anotá-lo entre os fatôres mais essenciais do nos­
so ambiente físico, que condicionam a sa{1de, o bem-estar e o
rendimento. E seria já tempo de se voltar a atenção para o
estudo dos seus efeitos psicológicos.
O fato de' n0s aclimatarmos geralmente ao ar de qual­
quer cidade não significa que isto se dê sem modificações do CAPÍTULO li
organismo (§ 73). Uma elas mais fundamentais distinções
etnológicas entre rjdaclc e campo é por tôda a parte o menor
SOLO E PSIQUE
número de prole das populações elas cidades. Isto depende
principalmente do fato que a civilização citadina menoscaba
o desejo de procriação, e não tanto da famosa "viciosidade" 105. Espaço vital. - É mérito do geógrafo Frederico
do citadino ( as massas pobres das grandes cidades do século l{atzel o ter chamado não por primeiro, mas de rnoclo parti-
XIX não• podem ser qualificadas como viciosa�; o camponês 1·11lannente sistemático nas suas obras sõbrc antropogcografia,
\'ive em moradias e com alimentação muito melhores que mui­ biogeografia, geografia politica, etnologia, como ta1nbérn em
tos trapalhadores nas fábricas) enquanto a educação de uma t·�critos menores sôbrc o espaço vit;il e a paisagell!, a nos�a
prole numerosa é ma.is difícil nas cidades que no c.ampo. Por ,t1enção sôbrc a importância fundamental daquele complexo
isso justamente as camadas citadinas mais ambiciosas e abas­ de fatos que se desenvolvem no espaço vil.ai para a� plantas,
tadas são mais fortemente atingidas pela diminuição da des­ para os animais e para o homen1. Carlos Hagenbeck de-
cendência, ao passo que nos bairros pobres existe ainda uma 1uonstrou na prática que o bem-estar e a eficiência de ani-
ininterrupta tendência para o crC1jcimento familiar. Mesmo 1nHis no cativeiro dependem não tanto da imitação do clima
1150 sendo fácil demonstrar que na vida citadina a objetiva originário com g·aiolas aquecidas e umidificadas ou esfriadas e
fôrça gerativa diminui com o tempo, todavia é um fato com­ ventiladas, quanto, sim, da realização de tôclas as exigências,
provável que todo adomesticamento que ultra.passa uma cer­ tcqueridas pelo espaço vital, e sobretudo também espaço de
ta medida de artificiosidade nas condições de exigência apre­ diversão, entendido no sentido literal.
senta a êste respeito contrastes na criação das plantas e dos Muitos importantes instintos animais são orientados de
animais; à vida citadina é por assim dizer uma existência hu- arôrdo corn ô espaço vital, como a construção do ninho, o ins­
1 nana de estufa. Linlo i 11igratório. A existência dos pássaros muda periodica­
É possível, por exemplo, que a atmosfera das cidades, to­ lll�,nte entre a estabilidade do ninho e a agitação em vôos
mando êste têrmo em sentido especificamente climático, au- distantes; presumivelmente o instinto do nomadismo e o ins­
111cntc relativamente as funções vitais, enquanto .-eprime as tinto sedentário são também para algumas espécies humanas
ocasiões para uma exclusiva absorção mental, mas talvez seja propriedades originárias, que se misturam contlnuamente.
possível que opere isto também ern sentido absoluto e direto O elemento essencia1 de todo espaço vital é o solo. Issó
por efeito da modificação clirnatobiológica da constituição orgâ­ vale especialmente para o homem, que é um ser que caminha
nica geral. A hjst6ria indica tràgicamente como em tôda ur­ t• se acampa, diferentemente dos pássaros, aos quais o solo ser-
banização dos povos ao lado do esplêndido incren,ento cultu­ 1'(� temporàriamente como sede, e dos peixes que nêle não po­

ral principia-se também a lenta decadência das energias étni­ <lnn existir. Somos criaturas ligadas ao solo terrestre. . Por isso a
cas naturais. o:üureza do solo não nos pode ser indiferente. Também os po­
rns nômades ( que já constituem um fenômeno excepcional)
pt·rmanecern ligados às propriedades do solo nas paragens por
011rl 1• transitam e nos luga-res de acampamento.
222 223
11• 111'1•tli�posta, tambéllJ en1 com.liçfü·s pri111itiw1s dr rxistGncin,
A 1::âs1ênáa normal de uma /Jojmlação compr1'<'ll(/f a pos­ 1, 111 im1iutivan1cnte, que alguns evolucionista, pc11s:ira111 tJ11c
se de uma determinada :irea do solo por uma est · irpr, clã, ; posição ereta do homem talvez deva ser posta ern relr11;ão
vm·o ( ou a unia co11111nidadc étnica anúloga) e a s11a defesa , 1>111 ('sta tendência do organismo.
Ião log-o ela seja contestada. Além dis�o intervêm, ('Otno Com efeito, não se trata simplcsmenle de uma j)'rocli u i­
fatôrcs decisivos, eventuais qualidades do so.lo corno isolamen­ ,/11,fi. ubjeti,va, o que é quase sempre expressão de urna exata
to, irritação e semelhantes. O organismo dêlc recebe incons­ Jwn·cpção de qualquer coisa de nocivo: os animais selvagens
ricntementc, com uma probabilidade que confina com a cer­ 11•:d111l'nLe n·ão ingetem nenhum alimento prejudicial para o
teza, influências que sãú ig-uais as _.que provêm da atmosfera. •11•11 sistema digestivo, nem planta alguma q11c �rj,1 venenosa.
Sabemos, pOl'ém, nrnito pouco ·ainda sôbrc isso. t mui­ l l1n frio prolongado do solo arruína a saúde; as im'1meras "do-
to Pstranho, pnis o soJn parece ,Jsc1• um elemento ela natureza 11•, r,,w11áticas" dêle dependem em larga escala. Como já se
11111ito 111ais accssív(•I l!t!C o ar. Não obstante isso a sua parte 1 iu, l:>asta a experiência dos "pés frios" para provocar u111 for­
n:i fonnaç.ão do lc111po n1etcórico e o do clima é ainda mais ds�i1110 desajuste e uma cena paralisia da capacidade de ren­
ou 111cnos dc�c:onhecida. É prm-�vel que, por exemplo� o des­ di111rnto. Para o trabalho cara.cter1sticarnente mental isto tem
'clbhrà'1·-sc do tcniporál' (e disto a opinião' poptilar $e1iijn·e es­ 1 ,dor ele modo particnlar, e o clito popular: "cabeça fria, pt�s
·re1·e c:onvcnct'cla )' ê:lepencle em laí•ga · escaià do solo local: isto 1p1cntes!" é substancialmente exalo. H{1 rnui1o !('111po j{1 fo­
se mai1ifosfa de fo-rma in1pressÍÓi,arife na .. tfueda do. raio. A rn111 registradas queixas sôbre as cl('sv:i.ntalirns que acarreta
' clivcrsá inflÚência das J)l:,rntãs na queda dbs raios ( § �5) difi­ pnra o trabalho menta.! a frieza do solo e111 lnc,,is rf'ntc ao
-tilmente pode �er explicada apenas p01· uma· diferente co.n­ l'iião. Evidentemente aqui o valor ôtirnal dif<'rcncial, do qual
clutibilidade da. l\lad (:!i'ra O�I da nalurefa da casca,. poi's pod!) ­ falamos anteriormente (§ 27), sofre gra,·cs :'-1.lleraçõcs. /\ m·­
riam ta1ubém estar ern relação corf1 a natúreza do :so-Jo· riuc hlina do solo é considerada como tini fen.ô111eno particulan11en­
Se> forma no âmbito das raÍ .7es . lt· pérfido e perigoso para a saúde.
1
A recente ''111icrocli1mí .tica' das plantas mostra-nos corno Vice-versa o calor do solo produz um estado de pra1/.er,
a geosfera prchin1a do solo, após os influxo.; do solo, difere q11c ( na areia aquecida pelo sol, nas charnecas ensolaradas
111uito elo ar livn,; que se estende muito acima do solo; tarn­ l'lc.) pode aumentar até uma volutuosa euforia quando ,e jaz
hérn aqui podi'l'·SC-ia dizer que se fo,rn1a llll'I corpo a6 i·co pró­ horizontalmente. Por isso antes de deitar-se o ho!llen1 pro­
-...:irno ao solo ( corpo atmosférico do �olo). Um problcina cru­ C'urn �empre certa base ou a prepara em fornia de forragem,
ciante é estabelecer até que altura êle C'.hc>ga :. se pelas concli. rnli�rtas, travesseiros etc. Uma prolongada influência do ca­
ç<"ies meteorológicas são muito importantes _justamente as ca- lor cio solo provoca um estado de sonolência, onde pouco a
111adas .111ai� a,ltas da ;1tmosfcn1 até a q;tratosfera, o que acon­ pouco se desvanece o estado geral da euforia.
tece na geosfera a um metro 111ais ou menos de altura tem .'\ arq1ú/etura dos povos sofre notável influxo da tempe­
111na i1uportância clim.atobiológicá especial para o horne111 que r;i lma do solo: pavimentação de madeira, esteiras, tapêtes são
�e er1wc no máximo a dois metrcs -d0 _solo;_ tôdas, <1.s medições �ol11çõcs ditadas pela necessidade de modificar a temperatura
•que têm uma importância biqclimática deveriam ser_ tomadas do solo. Solos refrescantes servem es�encialmcnte para aju­
nesta região pró-..jma ao _solo. Esclarece,r , corn,eçanc! _o . quase dnr a manter fresco o ar dos locais habita.dos nos climas muito
elo início, a c.ijif./cifica nà{urnza tfo solo do homem, será. urna quentes; o pavimento ele ladrilhos tem notoriamente qualquer
di1S tarefas mai� grandiosas ela ciência do s4 cu lo vinte. coi�a de "desagradável" para quem está habituado a pavi-
111e11tos termoçoibentes. E é também característico que entre
tôdas as f armas de· banho o esfriamento puramente de baixo
A. - ••PROPRI'EDADÊS.
·•!
TELÚRICAS ELEMENTAIUK .
r t • 1
, • ' • .,
1iiio encontrou alguma difusão. Não se conhecem simples· ba­
nlws de dorso,, a in1ersão fria dos pés é empregada quase só
l06. Tempc�ahl.�� do �pi�� � Úrn 'dist.úrbio n�;iít:�t difícil por crianças como diversão momentânea ou é uma específica
âE ,cr tolerado ·peJo or_gani�111ç;', h�1fliano, é .,tôd_á ·c�pé�ie_ }le f?io prescrição curativa.
do solo. A proteção coi1tra' êle é procurada ou artificíalmen-
225
224 1n . ocoJl6t«u-t
Esfrianientos con1 água são praticados pt•iuc-ipalmente em d,1 l11Nlid:i do tc111po. Os adultos parcrc111 S<'I' 1;11,1is sensíveis
forma de banhos de imersão completa, ou com lavagem do •1111• :is Cl'ianças e a :sua grande maioria suporta C()111 HHrita
rosto; da fronte, das têmporas, do peito e das ,nãos. Parece ilt11nrldadc o balanceio..
que cm lôda posição do corpo uma sensação de frio, que sobe Nn viela êstes distúrbios não são só· ocasionais, e co1110
de baí.,w, r:<•pugna ao organismo. , 1\�t�Ht·ias permanentes não se verificam na natureza. e na civili-
.1, ,111• senão por via excepcion al por motivos profüsio:qa.is. Até
linjl' 11;;\o sabemos se tudo isto tem algum influxo �ôbre a tri­
107. Gravitação e fôrça centrífuga. Movimento do solo.
Conforme nos afosta1110s do solo a fôrça de gravitação di­ l'11 l.,�·iío marítima viajante, sôbre os operários Pie., a ponto de
1111 l111ir rnodificações psicossomáticas n a sua vida.
minui. Igualmente, graças ao achatamento polar cio globo.
aumenta do eqi1ador aos pólos (verdadeiramente com notável
irregularidade: en'll'c rc·giões muito próx.i111as existem conspí­ 108. Composição do solo. «Varinha mágica». Radiaç-Ões
cua� difrr<'nçaR nos valores da fôrça da gravidade, que per­ 1, 1n-stres. - O debatido problema da rabdomancia i•ndica que
ll:nce111 às dt·scobcrtas 111ai$ estranhas da geofísica) . Vice-vel'­ 11111ito�, e entre êles homens de ciências, estão convencidos de
sa, a fôrça centrífuga, à qual e.,tão sujeitas tôclas as coisas que 11111,1 ação psicofisiológica à di�tância, pelo menos sôbre certos
existem na superfície terrestre, diminui em quantidade muito 111dh iduos, de matérias que se cn.conlrarn sob a superffo:ie ter-
mais consi.clerável: a vclqcidade de rotação de todo ponto da 1 •·�ti(', co.m o água, jazidas de nrut.ais, carvão etc. Tai� l io-
s uperfície é tanto mais baixa, quanto mais nos afastamos do 111,•11, poderiam ser definidos "g ,·o,w·n.,/111i.t ·•. Entre êlcs adqui-
equador e:m direção dos pólos: nos pólos ela é quase nula. A 111 ,1111 uraior notoriedade os "rabclo111antes''.
resultante entre fôrç<l de gravidade e fôrça centrífuga modifi­ Segurando-se com as mãos as duas extremidades de uma
ca-se, portanto, consideràvclmente zi medida que nos aproxi­ 1111 inha forqullhacla, .a extremidade não forquilhada, posta ho-
mamos dos pólos. É completamente obscuro se isto tem al­ 1 110111al111ente ou um pouco inclinada. para a terra, apresenta
guma importância orgânica; que nós saib amos, nunca isto foi 11111 lig-eiro e à.5 vêzes violento estremecimento, tanto para ci-
examinado com relação às planLas, onde o geotropis�no 'põe crn 111H <:otr10 para baixo; descobrem-se assim as veias de água que
ressaltQ êstc problema, pol' exemplo, pelas posições dos ramos , 11111•111 profundas na terra, e presta.r.n-se úteis serviços nas pes­
•1111�11� hídricas ern zonas pobres de fontes de iri"igação.
e das fôlhas. Não é absolutamente impossível êsscs fatos gco­
ruecânicos poderem ser· detenni n ados por fenômenos de in­ Mui tos rabdomantes. reagem apenas à ágt.1 a. Outros se
q u ietação cm animais e homens, fugas e senrelhantes. fües 111 ,·�t�n1 para i ndicar as veias mais diversas, como minerais,
nãn chegain à consciência. Onde movimentos telúricos -se tor­ 1 11 viio e as modificações mais notáveis da estrutura profunda
nam c_c-nscientes, provocam no homem (e em muitos animais) do �<Jlo. A "vara" na forma indicada é constituída de ma:-
11•ii11is diversos, e em geral se reconlrncc que ela não tem ou­
uma notável sensação de mal-estar.
,, u qignificado além de um indicador visível da reação ner-
Pode-se já not:cl.-lo em leves oscilações provocadas por in­ 111�n C' muscular do pesquisador; as suas sintigas super-estru.tu-
significantes abalos telúricos; mas um p;·é-sentirn cnto, sempre 1'1•� 111ágicas (pois o rabdomante de hoje é o escavador d. e op-
afirmado. do terremoto não foi até hoje cientlficarnente ates­ 11 111), que antes desempenhavam um papel espetacular, hoje
1

tado em ncnhurn caso. Igualmente é para n ós muito penoso i ,1, :1111 em desuso.
o abalo do solo natural ou artificial por parte de veículos pe­ Urna variedade da varin ha é o ''pêndulo magnético"; até
sados, grandes máquinas e semelhantes. Em não poucos in­ q111· oscila pe n durado ao dedo, nada mais significa que um in­
divíduos isto desperta uma sensação de náusea. Às vibra­ il11 in de excitação, como acontece com a varinha; mas fre­
ções das hélices dos navios modernos habituarno-nos apenas q1i1•11temente foi provado também numa disposição sem cone-
muito gradualmente. A forma extrema conhecida dos efei­ ,111 com o corpo humano; e isto qu e agora pode ou quer sig-
tos da oscilação do solo é o "enjôo". Uma longa viagem de 111ficru·, não tem mais nada que ver cóm o nosso argumento.
hem p rovoca situações semelhantes, isto é, uma semiobscuri­ \ ,1ús interessa apenas a capacidade de reação psicofísica do
dade passiva devida a u111a forte diminuição da consciência 1111.(1111 i�n1() ih modificações da composição geológica.
Zió 227�
l:Jm aspeto recentíssimo dêste argumento é representado
1w11h111 11 progresso, mas continua estático m1 1 11 "1100 liq11et". O
pelas "radiações telúricas", às quais foram atribuidos especial­ •·�1, 1do de todo o fenômeno da "medíunidade telúrica" devc-
mente efeitos patológicos: o câncer deveria irromper e com­ 11,1 ocupar-se na substância em acertar a probabilidade que urn
parecei· com particular freqüência apenas onde moradias e lo­
u.111po de temperamentos muito sensitivos adverte influências
cais de tmbalho estão implantados sôbre camadas telúücas ra­ ,ti 111nsféricas e terrestres, que não são perceptíveis pelos ho-
diantes, hipótese que ser'ncou realmente inquietação e pânico 11 w11� comuns. A êste respeito, apenas rigorosas pesquisast .le-
entre algumas populações. Também o efeito a distância da 1 ,,das a efeito sem paixões, poderão iluminar-nos.
água sôbre o rabdomante çomum cai porém, se qui'sermos fa­
zer dê!e um quadro científico, no conceito do "efeito radian­ 109. Eletricidade telúrica. - A terra representa um gi-
te", seja que de tais veias promanem energia e emanações de 1•,,1 111esco campo negativo com respeito- à atmosfera dotada de
natureza ainda desconhecida, seja que, vice-versa, as mais va­ ''"Hª positiva ("eletrkidade do belo campo'',.§§ 35 e· 43).
riadas substância� ajam como defesas sôbre o mesmo sujeito, l•: 11 tn· as duas camadas flutua continuamente, mas com inten­
provocando 11111a reação psicomotória ( agitação do braço etc.). ,uladc e natureza variáveis, uma corrente de �ompensação que
óbviamente é sempre possível que das profundidades da 11.1 superfície terrestre •( como produto da intensidade ele cam-
terra promanem radiações sôbre cuja natw·eza ainda nada se sa­ 1 111 <' da cond-utividade) mede cêrca de 1 .500 amperes. Con-
be. E.la, po1·én,, não pode dar-se por satisfeita com simples 11.1 <'la, pois do contrário o campo negativo terrestre não teria
possibilidades, mas fundar-se sempre sôbre fatos concretos, que 1·"plicação1 supõe-se existir uma corrente de origcn1 desconhe­
devem ser demonst1·ados, pelo que a tarefa de quantos afir­ ' Ida, que descarrega no corpo <la terra uma carga negativa
mam tais coisas é inegàvelmente a de apresentar sôbre elas ,1• 1 11prc nova: talvez esta corrente .provf111 d<> 11niverso, mas
provas cientificamente rigorosas. As suas exigências para a 1,,lvc� também só das nuvens, especialmente elas situações tem-
exatidão de tais experiências são justificadas e não podem ser 1w,t 11osas. Seguramente nuvens e vapores, particularmente nas
recuadas como "vexames". pl.111íries e até a 1. 500 metros acirna do nível do mar, pro­
A êste respeito uma grande parte elas tentativas de de­ , rn·a111 nas proximidades do solo vários distúrbios do gradien­
monstração cxnprccnclidas é muito insatisfat6ria. Num ca,o, t I de _tensão. Além disso o ar pr6ximo ao solo -é continua-
por mun visto, não obstante a presença de um eminente e�pe­ 1111·11(r ionizado pelas emanações radioativas terrestres: mais
cialista em hidrologia, não foi possível chegar a algum resul­ .1111da, nas proximidades elo solo, especialmente nas cidades,
tado cientJficamente seguro; contudo em ambientes preveni­ 1 11,•valcce a forma{ão· ae iônios -pesados como conseqüência
dos também esta tentativa foi apresentada como que circun­ d 11� 1111rncrosos núcleos de estabelecimentos industriais que for-
dada "po,r tõdas as cautelas científicas". Os protestos tocam 111·1·c111 partículas de pó e de fuligem. Or1amld01>�0. Iô &$1 pla-
então costumeiramente a susceptibilidade, aos quais seguem 111<·ics· b 100 vê 7:es mais rico de emanações r-adioativas que, o,
desagradáveis discussões sem objetividade. Substancialmente a si­ ,1 livre e na alta montanha pode ser também 10.000 vêzes
tuação é ainda semelhante àquela do estudo dos fenômenos 111.i i� rico. Uma influência ( gue dá origem ao papo) ela e_rna-
"ocultos" ou "parapsíquicos". Uma parte está convencida des­ 11,u;i' .io radioativa do solo sôbre o sistema da tiróide e portanto
de o início, e a outra é considerada como maçante desman­ ,oh rn o balanço hormônico ( §' 48) é em geral mui to provável
,1 g1 1 11do pesquisas mais recentes.
cha prazeres que paralizarn os "médiuns". Raios rõntgen, ra­
dioatividade, ultra-radiações, podemos afirmá-lo, foram prova­ Nesta complicadíssima situação o corpo humano represen-
1 ,1 urna parte da massa terrestre, mas ao mesmo tempo (em
das com tôdas as mais rigorosas as,segurações da pesquisa exa­
ta e valorizadas tecnicamente nas propriedades. Também pa­ 1111\fil'qi.iência do seu forte conteúdo hídrico) é também um
1 111111 condutor; talvez pode-se compará-lo com um mau mas
ra as "r;;idiações telúricas" nada se pode transcurar.
11,w inrficaz pára -raios. Do cair do raio sôbre êle até o es-
Infoli�mente o autor deve constatar que numa geração 1 11111•r de levíssimas descargas visivas e acústicas ( descargas de
inteira, i�to é, desde quando,' apareceu a primeira edição des­ , 1•11!1'1h tts e crepitações) encontramos tôdas as gradações per-
ta obra, a solução do "problema da varinha mágica" não· fêz 1, plÍ I l'i� pa sua interferência com o campo atmosférico. Tais
228 229
levíssima�- dc�canias dão-se. tanto entre a pele e l)S vestido�, ., llip�llcsc apresenta �·1aior dificuldade. ,\ lllllio, p:wtc dos
e�vecialmente roupa branca, como entre a epide1:rnc e obje­ .1111_ 11 w1� e � bo.111em nao estão estreitamente lig-ad<,� no solo, o
_ _
tos (111etálic,os) externos Orinco da porta e semelhantes). O lio1111·1 n civ1hza�o sobretudo nutre-se com muitos produtos de
selt comparecimento, porém, não tem urna regra .ncrn, Se_!�un­ lc'1'1?s cstrangeir-as, e também de um ponto ele vista pura111rn­
do as pPssoas nem segundo as situações, do mesmo modp_ ê1µc lc· ll:no111ênico não foi ainda den1ostrada uma coincidência tlc
para a formação dos temporais e. . o n{m1ero das quedas dos 1 ipo8 étnicos locais com qualidades ho111ogêueas cio solo. As
raios s.ôbre objetos terrestres, particularmente os orgânicos, co- lrn 111a� genealógicas abraçam parcialmente partes do solo, quú
1110 as plantas ( § 35). E.m todo caso não há alguma relação ,:m 111uito heterogêneas pel.a forfüa e estmtt 1 ra. Na Alerna-
rccor:i.h.ecíyeJ entre sensitividade tempestuosa ou· . do, fühn .· e a 1111:1, por :�emplo, isto ,·ale como regra geral: pL'11St'1110s na
1el11ti,·a _ uniJormidacle e na clara delimitação cio "habil11s" alc-
aparição de tais ckscargas.
Talvez scja111 as t)Scilaçõcs particularmente violentas e. rá­ 111iio nas zonas de altas montanhas e na planície, ou nas re­
pidas tanto da velocidade dos íons como da intensidade. ela �iõ�·� diversíssimas por natureza cio solo e clima que se esten­
con:ente _resultante, que inJluenciam o organismo. Bo�. as d1·111 do J\,,fosa até os montes Fichtel, e sôbre o qual vive o
pesquisas neste campo, de um ponto ele vista puramente . geo­ tipo racial francês muito hori1ogênco.
físico, estão em pleno desenvolvimento, pelo que é bom não /\_ tentativa para co1 11prccncler a parlicularidadt' lornl dn
adiantar hipóteses apressa.das e estéreis. Limitar-nos-en;ios a Ic-11olipo foi empreendida crn. laq(a l'St·ala por Frani: Boas. A
«::onstatar q.ue também sé\qre êste: ponto. o clima , próximo ao Phlt' propósito êle _se servi11 das 111L·dic;: õc� da cahC'Çfl e• do rnslo,
solo da geosfera .apresenta condições de vi�la particularmente c'wH·lui11 que tôdas as espécies c11ropt\ias d<: i111igrantc8 nos l�s-
lábeis e •diferentes daquelas ela livre atmosfera alta, que . se 1.1dos Unidos modificarn as suas p,·oporçõcs quantitativas d::i
enfureceír) sôbre o solo elas cidades recoberto de corpos aé­ 1 ,dit'çn, e precisamente no sentido que as forll1as cranianas por­
reos ( § 104). Sôbre as influências das oscilações da cori·epte dc•11 1 cm comprimento e tendem a u1n valor compensativo, en­
eletromagnética na massa terrestre, e sôbre o 1nodo de agi­ q11:1nto que o� rostos se toma111 mais afilados. O afilar-se cio
rem como coisas nas "tempestades magnéticas" e nas aurqras 1 cc,w 111aniJesta-se nas crianças que abando1�aram para sem­
boreais, nada sabemos de certo. p,·•· :1 Europa antes do décimo ano de idade: a transforma-
1,.u, crânica, porém, manifesta-se apenas na prole nascida no
�,,lo ;\111ericano. Boas não soube encontrar uma causa para
B. - :ESPAÇO E POVO 1111 kn9meno. As suas pesquisas .(muito discutidas) e as de
�11:t escola limitam-se a constatar esta modificação craniana
· 110. Raças locais., - Em todo nôvo lugar de • per,manên­ ';1111rrica na" cm imigrantes ele tôda procedência.
cia os sêres vivos experimentam certas mudanças no seu as­ Já Otto Ammon mostrara que a formação da massa era-
peto ( do "fenotipd'). O nosso conhecimento sõb�-e êste ponto 11i:111a cm clctenninados distritos de Baden se estende ta1nbém
é hoje tal, que podemos indicar como contínua e'sta tendênci:;i .1 população hebraica ali residente. A observação do autor da
rnodi'ficadora. ◄ 111 /1 roj1olog ie dti r Badener é por isso notável, ,porque• deveria
Oomo o solo é a parte mais estável do lugar · de penna­ 11•p11•stnlar pelas suas fundamentais concepções . antropológicas
nência, enquanto que a situação atmosférica, e conseqüente­ , , ,ciei < , is uma incômoda diiicukla<le científica. Com efeito, o
mente o dima cm sentido rigornso, está st1jeito a uma l,lltcr­ , 1t•11üs1.a objetivo jamais fecha os olhos diante de dificuldades
nativa muito mais inconstante, a tentação .de fazer com que a ,1i11 d:1 t�o graves e incômodas. Eugênio. Fischer acreditou ter
morfologia dos sêres vivos dcpe1;1da dos influxos cio solo, ,e de , 11 w :1t ri lmir a rotundidade çi·ânica ele elementos nórdicos cs­
.acôrdo ·com o seu espaço útal tem qu_alquer coi�a de atraen-· -.,,nri:d mrnt c a in[iuências· ambiel'.l�is. ("perístase") ainda cles-
te. Para o reino vcgeLal é já.. difícil compreender a,· relação­ 11111l i l'C'i<l :-, s noR, seus p11rticulares. Exclusivamente ao inf111�0
. das sL�as espécies locais com o quim.ismo cio> solo, ele onde a pl-an­ d 11 ,oln 1· do lug'ar de petmanência deve ··ser _atribuid.o o tipo
là. tira o 5eu alirnt:nló coo1 o conta:to ime.tliatp das raízes. -p(o­ ,1.,1ld,•11 de· 111uitas zonas de montanha, onde o fenômeno gc-
.funclas. Para a natureza animal, inch.,1.i1;1cl0-�e os homintd os, 1 ;d 1· 111:1nifc�ta com muita evidência ntl papo. ('"pescoço de
!,':

:23{) 231
montanha"), o que pode também provar distúrbios das fun­ il;.wdona impunemente o seu arnl>ie111c tradicional". Nosta
ções vitais: a sua explicaçtío como conseqüência da falta de , .1clical afirmação de Eickstedt está, por assi111 úi•-:cr, C()ll('('ll·
iôdo é atualmente contestada, presumindo-se que o fenômeno 11 i1d: .1 tôcla a problemáti.:a da5 •relações entre "o sang.L1e t o

seja devido a nm excesso de emanações radioativas do solo; 11111''. Trata-se em substância de saber se o "dimá adcqu::i-
mas é possível integrar as duas hipóteses no' sentido de uma il11 ' ( § 74) inclui tàmbém ·o ''solo adequado", pois o fato d(:,
ação concomitante de ambos os fatôres. 11.1,1ç,1s à sua mais maciça evidência e rnncretização, o solo
Eickstedt e Schwidetsky apresenlam como· um aos resul­ IP•' recebido uma posição predominante nas cxprtssões po­
tados da. sua Rassenuntl'1'suchung Sclt/esiens ("Pesquisa racial p11h11·�·s simbólicas, não autoriza a excluir o w1:dadciro dima
da Silésia") a prcferêncin de determinados solos para determi­ ,11111osférico da pesquisa.
nados tipos antropológicos. i\lén1 disso a co'nstituição dos ·ha­ 1 )e um ponto de vista étnic�psicológ ico a qnestc"io apre-
bitantes no seu núcleo l'acial estável pareceria diferente nas 1111a-se como sendo de -grande interêsse, mas complexa. Pre­
zbnas rochosas P f.lorcstais, nas 1·egiões montanhosas e nos va­ ,1111,ivclrnente faz parte daquelas que, dada a sua -vastidão,
les. Eu1bora aceitando corno válida esta afirmação, resta ain­ i,wlcui receber apenas uma resposta aproximativa. Trata-se
da, porém, estabelecer se determinados tipos procuram deter­ d,· rnn.iprovar se os grupos dos hominídeos ( e se consiclerarn
minados lugares de permanência, porque ali encontram ins­ , , 1110 grupos que agem uni1ària111entc só as populações) são
tintivamente o "espaço vital adequado" 1 ou se tal radicaliza­ 1·11q1rc tipos regionais no sentido rlgido que tôda separação 011
ção foi determinada por motivos totalmente diversos, pelos 1 ,111ilsão do "seu" solo tem urn cfrito pcnuariCOLP prejudicial
quais o solo local modificou a sua constitLúção, infelizmente / pnl' exemplo, provoca uma persistente inquit:tt1ção), que: não
antes de se ter resposta serão ainda necessárias muitas pa­ 111 11111ítc mais nenhuma autoctonia. Se assirn fôsse, não haveria
,1 li111ação alguma (§§ 73, 79, 80) plenamente válida em sen-
cientes pesquisas como as ac.ima lembradas.
Hoje pode-se considerar como provável: que o solo, sô­ 11!10 estrito.
bre o qual vivemos, intervem na nossa conformação morfoló­ i\ maior parte das experiências sôbre plantas e animais
gica e funcional, segundo a sua figura externa e a sua estru­ , ,111/i·adiz, ,todavia, semelhante "dependê1icia do solo" por par­
tura ínti111a, Atualmente só isto é permitido afirmar. E rn i, rlo.r sê·res 1;ivos. Tôda, "punição" dos hominídeos que. aban­
pai,ticular, falta ainda· urna delimitação precisa dos fatôres da ol1ui;1111 o seu a1ubiente .tradicional em muitos casos demons-
influência a1J11osférica e telúrica. Assim. não sabemos absolu­ 11,1,�1• corno um castigo temporário, como. uma longa, -difícil e
tamente se as diversas "regTas'' que a biol'ogia animal apre­ 111•11ma readaptação,, que no fim, todavia, se transforma numa
sentou -_para a J'nudança fenotípica da grandeza do coqJo, · do, , "' 11plcta incli.mação. . Mas já os parágrafos precedentes nos
membros, a coloração da pe]e e da plum agem (regras, de Berg­ 111mlrnram (§ .79) que isto é .muito diferente para as diversas
mánn, Allen, Gloger) exprimem variações dependentes do so­ 1,11;11�, espécies e tipos; por e�emplo, quc. a raça nórdioa está
:,l ou da atmosfera. O comparecimento local do chamado , ,l11•itamente ligada ao seu clima, que a raça mongólica é cli-
melanisrno, isto é, o .enegrecimento das côres dos animais antes 1111) 1 inunente ''ubiquitária" e, se sente à. vontade tanto no equa­
mais claros, ern bairros ind1..1striais fuliginosos, f a;z. pensar eru d111 <·orno no círculo polar, e que a raça mediter-rânea colo­
' i1-�I' no meio têrmo, embora s1,proxi111anclo-se da intolerância
influências atrhosféricas (presmn1velmente através da traquéia
c1,c1s larvas ou crisálidas); mas a aparição de tais formas negras , 11111:'itica da raça . .nórdica ( § -75). Indubitàvelmente nisto
também em distritos fechados, onde não há indústrias, anula 1t 111 1111111 parte clecisiva o caráter g·eral das grandes zonas cli-
mais uma vez aquela explicação. 1111,ric·i'ls e não a natureza do solo local e regional.
Quanto ao que diz respeito às variações psicofísi cas pode­ Foge completa.mente à pesquisa até que ponto chega a
mos dizer apenas que transformações fenr>típicas do "habitus'' •�-111 drsta últin1a. Em todo caso deve ser considerada dis-
geral ( e não simplesmente_ de sinais part-iculares) não se po­ 11i11.1 disto a questão de saber se a dependência nativa elo
dem verificar sem deixar traços na psique. "1111 indui uma subjetiva autoctonia, isto é, se o "ambiente
.
11 11ii, i1,11al", enquanto solo, retém psicologicamente quantos

ll 1. Autocto,nia. "Nenhuma forma dos hominídeos 111'1,· 1J11RC'(•ra111 ou nêle foram criados, se bem possam êles pros-

232 233
peras também em outros lugares. Acreditamos que a êste <i11J1·s), deveria ser a meta de u111a polílira do solo gcnp,iro­
respeito valem as diferenças tij;ológicas e que, po,tanto, po1: l1i){ i<'a111ente fundada, equivalente à previdência para 11111 1•011-
tôda parte e �111 LOclos os tempos entre a população existem 11•nicnte equilíbrio entre campos e populações agrícolas.
com uma di11tribuição divcrs_a indiví,d_uos irrequietos, nômades, Tndubi.tàvelmente o nosso parágrafo sôbre os efeitos psi­
errantes, ao lado de outros sedentários, perseverantes, fixos no roflsi.cos do solo faz urna figura mesquinha; já o espaço a êle
solo. A mb,os são, de resto, necess4rios para a gênese daquilo ,k·dicado parece desp1·opol'cionaclo com respeito aos outros três.
que nós chamamos "cultura" e '•história", uma vez que a his­ l'odavia, êste estado insa.tisfatól'Ío dos conhm:iuientos, que é
toria é guiada mais pelos •'irrequietos". e a cultura é preserva­ q11asc apenas um amontoado de problemas, niíu deve dcscn­
da pelos perseverantes. ,·orajar nem levar-nos a subestimar semelhantes qucslões. Tô­
<111 ciência deve também começar. Quem teria previsto que
Até hoje, pon:-111, 11:io foi ainda demonstrado se existe urna
.i cocha palpitante de wna rã na cozinha de Galvani seria o
relação funcional, pelo que �1111a longt11ssima permanência nu-
111à srde tof11a 111ais cstàvclmente radicados ao solo, tanto que pdncípio de uma imensa revolução da existência humana?
a nutoctonia seria uma variável dependência g1Jneratiua ao <Jurn1 teria acreditado que telefone, telégrafo, rádio, televi­
solo por causa do uascimento, ou seja, em outras paJl;tvras, se �.io, com a sua vitória sôbre o espaço de uma perfeição antes
o tipo regional é determinado pelo solo e as populações a êle 1•,111�iderada impossível; que fhL"<OS de luz dara co1110 o dia,
se sintam subjetivamente ligadas em medida tanto maior<,_ quan­ 1\-1 °1 ovias elétricas, cabos occânicús submarinos, ondas clt· r:'i­
to mais numernsos são as gerações que nêle viveram. din e as misteriosas radiações de I líllorf 1· llccqucrl'I, Jfrrtz,
lt/;n(g·cn, Curie, Hess e Kohlhõrslu1· lcria111 sido ronst'qiiênriH
Em nenhu.111 caso podern0s hoje darwinisticamente con­ ,1.1 hanal observação de Galvani e de Volta?
ceber �01110 "adaptações" em sentido rnecanista os inegáveis Não podemos predizer até onde chegará um conhectmen-
fatos de rnodificações fisiopsíquicas dos organismos num nôvo 1, 1 de l'clações ainda tão modesto. Nesta incerteza está o mi­
solo. Podem também ser modificações totalmente indiferen­ l.1g11' e o mistério da ciência outras vêzts tão racional. Co-
tes ou até mesmo ( do ponto de vista da vitaüdade cornplexi­ 11111 Goethe, podemos, portanto, definir "um trabalho honesto"
va) prejudiciais, com efeitos nocivos depois de gerações, isto 1,1da laboriosa tentativa de melhorar, embora atravfa de hipó­
é, de-generações. I,or outro lado, todo jardineiro ou criador u•�,•� efêmeras, o conhecimento das relações entre fenômenos
sabe, e todo educador deve saber também, que submeter con­ 1lt:1i� (incluídos os psicofísicos) e o solo, para assim apresen-
tinuamente os organismos à experiência de novas condições 1111' um contributo para o futuro capítulo sôbre o solo e a
v.itais não pode surtir um efeito favorhel. A vida necessita p�iq11e, capítulo indubitàvelmente mais conspícuo do que aquê­
de uma 1neclida de . tranqüilidade e de continuidade -no seu l1· q11e, com senso de responsabilidade, pode hoje ser escrito .
e.�pontâneo des.euvolvirncnto, pela sua "asseidade". Uma in­
cessante mudança de lugar, quando não se dá, como para a
maior parte dos . verdadeiros povos nômades, no interior de
uma reg1ao muito unifon11e ( estepes, desertos), poderia com
O' tempo �er prejudicial. Com tudo istp o ·'solo" não pode ser
identificado corno "terra natal". A.inda que a vida citadina
·irnpele a �úna intensà atividade sem descanso, à "flutuação",
toda-via ji1 bá muüo tempo existem nas cidades gerações• au­
tóctones, e a história aponta muitas delas como portadotas não
5cnnentc de urna cultura espiritual mais elevacla, mas tan,bém
de uma extraordinál'ia fôrça de vontade e de 'livres criações.
_\Ião acabar com as cidades, mas devolver novamente -ao solo
• eon'l um vínculo mais natural citadinos e vida citadina, cuidar
da dependência nativa do solo e da autoctonfa citadina (co­
mo de resto ,·ale para milhões de pessoas até das grandes ci-
235
234
CAPÍTULO IV

PAISAGEM E PSIQUE

112. Solo e paisagem. - Q uando é que chamamos urna


p11 1 <:iio ele ten.itório "paisagem"? Srn1 dúvida, quando a "vc-
1111h''; o cego n ão conhece paisagens, falla111 m1 �tia vi.da. J\llas
1,,111b�m nel11 sempre que a vemos: o c:1111ponlls não vê o seu
, ,1 111po, que ara, como paisagem, t• La 1 11po11co o 1·ngcnhci1·()
1111,�idcra corno paisagem a ágila i111peLuosa, que clevt: rcgu­
l.11 A natur.eza torna-se para nós paisager11 apenas quando
1 111·cilamos ou a procuramos sem uni escopo puramente uli­
l 1 t.í 1 io, corno experiência sensível con cretamente vivida, q uan­
d" a deixamos agir sôbre nós como impressão. A vista desern-
111•11l i a, um papel de primeiro plano nesta impressão sensível,
1,ul i11•ia não a esgota absolutamente. Também as experiências
iln� tHtlros sentidos concorrem para a formaçãc da impressão
JlitÍ�agÍ$ liCa da natureza. Sons e rumores (o canto dos pás-
1,110�, a agitação do mar), odores, especialmente os agradá­
' 1•1� como o perfw.ne dos prados, o odor das fôlhas no outo-
11", n "odor da água"; inclusive o$ sentidos táteis podem no
1 ,1111 desempenhar um papel .importante: as formas do vento
(ln,N,1 de m aio, a tempestade nos mares). depois a tepidez do
.i1 ( 1w início da ptilnavera e n o tardo outono), a ''1noleza" ou
., �11.i "rigidez" e em geral tudo quanto é conhecido como
1•1111 atmosférico" (cf.r. § 42), enfim a sensação provenien te
,1 11 ,olo, ela dureza elo terreno rochoso, de um cantei ro m a­
' 111 do bosque, da areia do deserto, dos cascalhos:- tudo. entra
1 1't: 'I CS na característica experiência da paisagem, ainda que
,11 d\' forma marginal, oorno elemento co ncomitant;c e inte-
11 o111h' da contemplação da natureza. Somente o sentido do
.,,,�tp nêle quase nunca participa ou só de passagem e es-
1 u 11 .'1dirn111cnlc .
C:,1rnprccnder.nos, portanto, sob o Lêrmo de paisagem a

:m
i111 Jncssão sensível geral, q1,1e é despertada no homem por urna ,,11.,d:t da. cáJ:>ifriclade ,ele ren.cliu1t.:n!ó J1° 111 dislí1rbios suhjdivos
parte da superfície terrestre juntamente com a porção de céu .111 1·slaclo fisiológico e inclusive sem um indkio dt· qut· o rc11-
que está sôbrc ela. Que êste pedaço de céu é um elemento ili 11 w1 1to é diminuído; desta forma vemos (§ 82-88) justa111<'1l•
iutegrantc d,1 paisagem está fora de dúvidas; o azul som­ 1, 111anifestarem-se os fatos psicológicos da crise p1·imavel'il. N:i
1 11,1ior parle dos homens os efeitos 111eteóricos são geralmcnLc-
brio t.· tão 1:aractcrístico na paisagem mediterrânea e freqüen­
1111 r1111,.itmtes, e somente para uma minoria de rneteorossensí­
temente também para a da alta montanha, como o céu azul­
pálido o é para a paisagem nórdica, o céu cinzento para a \ ''" 11 11 e111 poucos casos, quando sobrc,·f-1 11 forlls$i1 na� 1 11u­
paisagem holandesa e dcLcrminados agrupamentos de nuvens tl,1 11ça8 meteóricas e climáticas, chegam a 11111:1 roncn·ta ex-
para a paisagem ele \CrfüJ. 1 w1 ii"nl'ia subjetiva,
!\,fos, cp,ant.o ao dn, vnlr quanto dissemos para o ouvido l)il'erente é crn vez o cáso da paisagem. A exfn·?'iê111;ia
t· o Lato: rlt· t•s1:í nas 111argens, é 11 111 seu eler11ento e sozinho J•,111flgí_rt.ica da natureza circu.n.,tante de uwra é consciente,
não forma nunca para nós uma "paisagem", assirn como ape­ , hem nas formas primitivas ela ex-periência; ela pode tarn­
nas 11111a natureza contemplada pode ser uma paisagem, mas l 11 1 11 Iiear no limiar da consciência ou aprofundar-se no seu
não mna experiência da natureza apenas auditiva, olfática e >111 l!'nnscien te, mas isto ,� Llm!.1 exceção. Ôbviamf"nle não ele­
tátil. Com efeito, temos uma plena experiência da paisagem ' 1110s 8upor no homem simples o refinadn gfwn da paisag·c111
também com uni estado indiferente do céu, por exemplo, à d, t1ucn1 considera a natw·eza a1•l.Íslita 011 i11l(•kclualn1C11l1· e
noite com céu coberto, exclusivamente pela vista ela parte do l i ,1111:-1r conseqüentemente Lôda si111pl<'S i111p1 Lis�lít, sn�citad:1 pi:­
solo que abraçamos com o olhar. l 1 1 i;1!urrza "inconsciente'' ou "11ãn-1Jaisag"Ística''. O c:m1po-
O solo na paisagem é o elemento principal, mas como tal 11, 4, o . pastor, o pescador têm ceitanwnLe u111a sua ingênua
age sôbre nós mirn sentido completamente diferente daquele , P"l'irncia vivida da paisagcrli, aincla que não sentimental
<Jlie ternos cortsicleraclo antes. Jt a imagem do solo o elemen­ • "11111 n do citadino. Todos êles sente111 a amplidão do ho-
to principal ela paisaReTJJ, que forma o objeto da nossa con­ 1 1 mll'e das planícies, ou a grandiosidade dos montes, ou
templação, não a sua nalu:rezri física ou química. A irnpnrs­ 111ansidão de um rio, enquanto tudo isto se entrelaça
são que a forma elo solo e o seu revestimento (vegetação) •w mistura com pensamentos práticos: na "nostalgia"
rxcrce sôbre nós, é "paisagístira", ou pelo menos pode ser ou I" 1., rn.n /1aisage111, a terra estrangeira traz aquela .impressão
tornar paisagística, isto é, determinar-se na forma de uma pu­ , 1·n11S('Íência, ele forma aguda, todavia também na vicia ele
ra experiência sem.ível ( a rúesrna impressão pode também per­ ''"'"' os dias está sempre consciente de qualquer forma.
manecer ou tornar-se não paisagístka, ·por exemplo ern con­ 'I':� is distinrões têm só um Yalor relativo. Muitíssimos in-
siderações cientificas, agrícolas, hjdráulicas). Poderemos di­ 1hdd11os, que ;1ão são conscientemenle meteorossensitivos, as­
,.t'J : tôda impressão suscitada pela forma e pelo revestimento ,1111 111c-�rno advel'tem antes elos temporais, elo fühn, cla.5 ne-
do �olo pode assnm'Ír valor dr /Jaisagem. No capítulo prece­ 111.,� ou elas mudanças ele tempo numerosos sensações semi­
dente consideráY amos em yez o influxo (não a imfiressão!) ' .,11Hri( 0 11Lcs, não individuando, porém, claramente a origem
exercido sôbre o organismo da natureza objetiva do solo. · Por ,11• dislúrbios e mal-estares.
isso as propriedades do subsolo podiam ser importantes ou lJ111::i quantidade. de e)\.-periências v1s1vas semiconscientes
também mais importantes que as da su/1erfície. Na experiên­ , nl)xr1 1 ras têm a sua origem na angústia ou amplitude, lmni-
cin da paisagem pelo contrário intervém apenas a impre.uão 1111,id11dc ou escuridão, variedade ou uniformidade da nat,tre-
da :superfície do solo. 1 lr11 11b<'.·11 1 nos movimento, cm que ·ela não é conscientemen-
Finalmente a orige111 dos influ.Yos do s0l9 sôbre o orga­ 1, \'i, icla e não chega a ser paisagem. Êsle reino intenn.ediá­
nismo podia permanecer ignorada por êle; não é realmente a " , 11l�·r o qw1 é claramente consciente " o verdadeiro incon.s-
c,periência cotidiana quem descobre que êles provêm do solo, 1111/, (· muito extcmo na vida prática de toôos os dias e in-

rna� somente a ciência, Antes, exatamente como alguns efei­ 1111I 1• 11or111c111cnte sôbre o nosso ser, se bem seja muito difícil
tm meteóricos e climáticos, êles não chegam psicologicamente d, �1•1· :111l'llisado e controlado cientlficamente.
a urna experiência consciente, e causam, por exemplo, uma

238 239
A. - GôZO PRIMITIVO DA NATUREZA
1111 111111 acL'nl11ada111cnte a.gradáv-1'/; 110 ci 11:, ,l'lltt•, pc1ré·111, há
113. Singularidades paisagísticas. - A ingênua experiên­ •111.ilq111•1 çnisa de desagrad:h'el, isto é, de oprim<:rtlt, à� ,·r %CS
cia vivida da natureza percebe-as como paisagem. As impres­ 11·,1li1u•nlc fiarali.ranle. O efeito do branco oscila entie es�as
sões e tan1bÍ'rn ( quando a impressão lern um efeito duradou­ l'""1hilidades, de acôrdo co111 o grau de brancura, da sua
ro, § 32) os influxos vêm exclusiva:rnente delas. Nelas encon­ li 11dê-1wi:.i para o cinzento, ama1·elaclo e á%tilac'lo, da sua ex-
tra expressão o encanto ou o desengano da paisagem. Uma 1, 11�:111 <' da sua duração. Não pode haver dúvida algurna
frase de Rudolf Hans Bartsch, conhecido poeta da paisagem 1il11 !" o cfe.ito cahna111·e de uma paisagem im·ernal, pois
da Alemanha Meridional, CKprime esta verdade de modo in­ ,, ,1·111i111os agraclàvrhncnie nu111 primeiro tcrnpo: co111 o pa�-
superà.velmente simples: "O jovern Kõtt pertencia àqueles 11 do� dias, porém, (por exemplo, na Ai·tida), 111mhi-$e nun1a
cem 111il, (jll<' tê1ll J)M 11i1111. pai&ag. em pot1cos outros sentirn en­ ,pi'·r·1t· de paralisia, sempre q,m acentuada opressão do es­
Los for:1 dos qt1e fonuam a herança de todos os domingos li­ p111111,
vres: ,·crcle Sl'in pó, pa7., canto dos galos e um a lmôço . ao l)c•s�as co11stataçõe:; coric!L1i-se que a natureza na. Suo co­
ar livre'". /\ côr esti,·al da vegetação e um sorn campestre /,, 111rlío J;ossui um eftilo j/l'('(lomina,nt,•mf'nte tranqiiilizador .,ô­
(o canto dos galos) no fun.do do silêncio da natureza, eis os /11, o "spirito. Podemos realmente divisar nisto um segrêdo
dois elementos a que se limita o gôzo da natureza. p'i1nl6gico de todo gôzo da nal11rr�:1 ,: ele• 1ôda noslalg-ia pnr
Para outros cc11J mil a re. compensa oferecida pela paisa­
•.•l,1 No verde elos campos e no azul do ('é11 esgota-se para
gem por LU11 passeio no campo é a "vista" ele um monte, cm 111111\ !duos a beleza da paisagem: é muito i111pon:anlc que não
011. tras palavras (além ele particulares intercssar1tes que não
• 1o1111 11111 pra7.er excita1ite, 111as lranqüilizador o (JLLe dela de­
são uma e.J\7Jeriência ela natureza, corno cidades, tôrres, diques
, 1, ;a 1;: como tal, com efeito, que ela desdobra os seus par-
etc.) a amplidão e a riqueza da vista, �ubstancialmente uma
impressão formal, tanto mais forte, quanto mais é "clesmesu- 1 i; 11l.1rcs valores recreativos da vida movi rn entada dos dias de
1,acla". Outros - isto não pode ser desconhecido - não che­ li 1h,1lho e ela cidade, bem como da maior parte dos modos
gam a uma. expcriê;1�cia vivida da natureza corno paisagem, 11 lilll':ais de recreação e das desordens volutuárias.
mas Limitam-se à alegria do ar fresco, da $Olidão, do contraste ,:: possível que a. influência trnnqi.iilizante do az,tl e do
de vida com hábitos cotidianos da cidade e só ocasionalmente ,,1 d,· �i'il>rc o o.r,2;anismo não se limite à ação elo ôlho (isto é,
sentem o efêmero encanto de um instante sôbrc um prado 1 11111 ,1· desenrola só através da experiência ,·isiva das côres),
florido, sôbre um brilhante espelho de água, sôbre um monte 1111111 1 t•:, q1.1c é a mais for-te, mas que tôda a epiderme, expos­
ou do canto melódico de um passarinho. Justamente em tais l,1 1h radiações azuis ou verdes, reaja com unia aquiesc&ncia
indi,-iduos é possível constatar de modo inequívoco o efeito d1, ,ist1•111a nr:1Toso. Conscqiientemente alguns dias de férias
elemn1far do fato paisagístico. 1111111 ,1111bientc verde ou 37,ul poderia acalmar tarnbén1 o cego.
1 i-11•111 nl.�uns testemunhos a respeito, mas não absolutamen­
lt ,1 \\lll'OS.
1 - Os cfei-tos visivos da f;aisagem ()11ando o verde e o arnl sobrepujam o cinzento, a açi:ío
, il111.111ta· 11111da e de agradável torna-se oprimente. Tsto s1con-
114. Côres da paisagem. - Verde e a;:ul são as duas 1, 11• crn11 m11itos nórdicos na paisagcrr.1 sul-alpina, cuja \'ege-
côrcs que a dominam; juntam-se o branco (da paisagem in­ 1 ,,,,,o (oli,·cin1s, agaves) é freqüentemente de um acentuado
\'Crnal )· e o einzlmfo (ou cinzento-escuro) das águas, das zo­
, 11111·1lln-1·crde, nos períodos ele prolongada sêca com céu co­
nas ele altas montanhas, de deserto, elas formações de nuvens 0

lo 1111: lt:í larnbém superfícies de água, cuja côr cinzento-azul


no céu etc. Todos os outros tons cromáticqs são fenômenos
ocasionais, ain,da que algumfs vêzes vivazes e extensos ( como li""�11 i q11tdqucr coisa de clen1entanncnlc "rnclan . c61ico". A
as côres elo crepúsculo) . O efeito co111111u das quatro côres ,,,, l1r:111n1 age, como foi dito, com base no tom q1u� reveste:
principais é calmaute. Tal ação possui no verde e no azul í1111 d·11 cimento, grandçs superfícies de nc\>e (ainda que não
:1 1 11 1tl1.1111 :ii11cla torna.do de cfü- brancu-"sujaP ) têm qualquer
240
'241
HI f�,14/tllillllfr
coisa de sombrio e de oprimente, mas se estão expostas à luz ,I,· fllfl:l (após a erupção do Krakatoa) no estreito de Son­
do sol, determinam uma agradável sensação de paz, que pode .r., ., 1·sLranheza de um, fenômeno natural como tal possui. um
até chegal' à ei,:c,itação. , 1,,,10 excitante colateral, mas é igualme11te verd ;.tdeiro tJUé
Antes, as côres principais da metade "quente" do arco­ 1 11111!{,lll a excitação elementar do vet'melho· possui uma parte
-íris, as radiações luminosas de ondas longas, l!Crmelho e ama­ 1111pm lante.
relo são o-ernlmente excitantes. A fôrça excitante mais ele­ Isto vale também para o sangue. Mito e m�ia do san-
me�tar pe7-tence ao vermelho, e precisamente, ao, que parece, 111• originaram-se seguramente em pa1·te da fôrça excitante
a duas posições do seu particular tom , cromático, o cremoso e d11 vtir111elho sangüíneo. Não é s6 o perigo acarretado pela
o escarlate, isto é, o azul-vermelho e o amarelo-vermelho. Am­ I" , ela de sangue, · que excita, pois muitas hemon-àgia�, ainda
bas não são ,muito representadas na paisagem do solo, mas 'I"'' abundantes, não levam à morte, e esta comparece, tam-
operam nas côrcs do crepúsculo e nas auroras polares da 111111 por causas totalmente diferentes e sem ferida alguma.
Artida . • \ ;utima associação do sangue com as taculdades vitais e com
11 ",ilrua" funda-se por uma parte no fato de o sangue, como
O efeito excitante agradável do vermelho é conhecido e
incontestável em homens primitivos. Creme e escarlate são 111tln vermelho brilhante, produzir imediatamente uma exci-
côres preferidas por todos• os "selvagens" em medida tanto 1,,1 ,,o vital. O vermelho é a côr principal do sentimento vi­
maior, quanto mais luminosas aparecem. A luz do fogo, a i.d, u seu predorrúnio como côr colorante caracteriza tôclas as
chama viva, o fogo-de-bengala, mas também a magni.fiscência lllf{•�1111as condições primitivas; ao invés, as côrcs da metade
111.," elo arco-íris tem uma significação apenas nas culturas
dos crepúsculos matutinos e vesperais exercem já sôbre as
crianças um profundo e excitante fascínio. Jvfuitos tempera­ 111 .i� elevadas, e para indicá-las não temos sequer têrmos dis­
mentos patolàgicamente sensitivos (hjstéricos, epiléticos, tuber­ t,tdos. Pode-se talvez chegar até a dizer que é a am·ora po­
culoso.s) demonstram realmente uma afinidade eletiva para l,11 que aptesenta contlnuamente como "paisagem" ao ho-
1111 111 mbártico a natureza invernal sombria e escura corno a
côres , ermelhc>-vivas, por exemplo, no próprio vestuário, na es­
colha dos tapêtes. A psicologia, já há muito tempo, precisa­ 111,110. l:": um último fator de excitação que a noite polar
nJente desde E. Jaensch, procura descobrir se as espécie.s hu­ 1111�1,11·a na sua paralisante falta de luz e na sua deprimente
manas se distinguem por uma particular sintonia com o ver­ 111 .111rura uniforme da neve.
melho ou o azul. Os tipos de coloração escura, por exemplo, O vermelho atenuado, "rosa", provoca apenas aquela
seriam "vermelho-visivos", os de coloração clara "azul-visivos". 111,ii� leve excitação que dá uma côr de serenidade festiva; a fôr­
' 1 tlc excitação do vermelho diminui consideràveln1ente tam-
A êste propósito não temos ainda resultaç!os seguros, pois os
fatos essenciais são ainda pouco claros e discutíveis. 111 111 no amarelo. O amarelo brilhante apresenta-se geralmen--
R necessário além disso considerar distintas a fôrça de 1,· to1110 côr estimulante. Já repetidas vêzes revelamos como
,1 ",•�tfuTUlo" não passa de uma forma mais branda da exci--
ex_citação e o caráter agraciável. Pode-se desde a infância . sen­
tir grandes alegrias pelos tons azuis, mas estar, todavia, subme­ 1 1<;11e1. Sob êste aspeto justamente a luz solar como impressão·
tidos à excitação do vermelho vivo. Eu mesmo tenho há muito p111�11i uma influência irresistível sôbre o nosso espírito, que é
11110 mais vivaz quanto mais acentuadamente amarelo (mais
tempo um.a acentuada preferência pelo azul sombrio, com ca­
pacidade mais ou menos fraca para distinguir as suas gradua­ d1111r:1do) se apresenta o sol. Isso acontece de manhã ou à
ções, e sou ÍOPtemente excitável diante do vermelho, junta­ t 11·dc·, ao passo que o sol de meio-dia, com a sua brancura
, 1 1·s�iva ( prescindindo-se das circunstâncias da distribuição da
mente com mais fina capacidade de distinção no âmbito do
. areio. 111 , conforme explicado no parágrafo seguinte) nos mostra a
venT'elbo e do am
A fôrça elementar da excitação do setor vermelho-amare­ 11,111,n•za como sendo "mais obtusa". Uma intensidade par--
lo do espetro cromático não se extingue absolutamente com a 11, 11lnr é apresentada pelo efeito amarelo-ouro do sol nas la--
extensão do gôsto à tnetade azul-violeta. É certo que, por 1111 ides geogràficamente mais meridionais das zonas temperad as.
exemplo, n� côres crepusculares tão extraordinárias, como as .,t,, u� fübb·ópicos do qual certamente depen_de uma parte da
, 11il11 i11g11c.:11 que as· terras meridionais contêm para os nór-
que foram vistas pela última vez no encantador tramontar

242 243:
, 11 1 11l.1di/s por 1.1 quela côr. Sllbtrair-s(• a P�ta 1 ·nlm;i1.;íln r. a ra­
discos ; quem já viajou pelo Gotardo à tarde ou de 1 1_mnl 1 ã bc:r11 ,11, 1 1 1 i lcmíria da nostalgia das populações n6rcli rn s l 't'las tc1 -
cedo · num dia t!P sol p1·ovou esta di.fe::tença na lu111i. nosid,1cle,
1 ,. tt tcridionais.
à n,arela entre a parte norte e sul dos Alpes (em certos casos
muito Íntcn�a) . O efeíto é, porém, diferente daquele do \'i:r­
melho. Não denota nunca quanto de sinistro e excitante está 1 1 5. Indução cromática e j ogos de luz. - Na vida pní-
1 1, : 1 1•111 geral, porr-m, o efeito cromát ico d t' pc:nde meno, dn
con-iiclu numa prolongada e ·fntensa luminosidade vermelha ; �
l n 1 1 1 c-romáti�o abwl11to que elas relações r das d isposiçõrs da�
, 111 c-s. ·o mesmo vale parn a paisagem. F. pr<•c-i�a 1 11fmtc pe1n
se11 1 1jre . uma cspéáe cle jovialidade, 11111 "estado de excit3:ção",

>\
nn\ intensificar-se do 5, entill1Cnto víta.l brandamente exultante,
,, 1m g-rnuíno da naturc7a são os dois fcnônll ' nos cl;i 11nri,1 dar !t·
que surge da luminosidadl' arnarcl.i. O antigo provérbio : ·
,1 1 rôres e do es/Jlendor em tôdas as suas graduações, qm• prt'•
horn 1 1 1.ttinal pr,ssui ouro na bôca''. 1111c a consciência cio aL1-
, , d1•111 todo efeito das várias côres , com exceção feita para
1JJcnto d,· 1·c-1 1'di11 1<'l'l t(l da 1 1 1anbã (§ 92 ) com R imagem \11a­
do céu azul sem nurnns e das amplas superfícies verd_cs
ravíl hl1sa da wa c0lcn·açlio fundamental, o amarelo-ouro. .
prndos ) . Amba� provocam um estado notável ele agradável
Vermelho e amarelo co:i:nparecem na natureza sobretudo
, rih1ção, cuja expressão de c�pírito mais característica t'· n
cnn10 coloraçôes' do cé{1 e rnmo ''luz';. Como co 1 oração �las 1 1 1 mi. lo. Prados montanhmos no princípio do verão. nfi c:i.111-
rrichas ou do solo são aspectos particulares da paisagem ) 0-
I H >' dr flôre.1 das culturas hol.11Jd1·sa�, 1 1 1:i� tn11 1hc1 1 1 1 a 1 1 1:i1.p 1i­
c�J, para .a , egctação o amarelo das flôrcs e o amarelo-veq:le
l 1, ,� ncia do surgir e elo tramonta1· do sol, drpois n cintila. ,· do�
especfalmente · nal; zonas temperadas é uma das cõres princi­
, fll'lhos de água e o _gélido brilho da pnisagc111 1 1t·vacl 11 c·nso­
pais da prin1aver'a : o prado primaveril dos pintores é quase
l.11 .ida podem suscitar lllTI verdadriro encanto também f'm
séJ1ipre tu11 niostruário ' do amarelo das flôrcs. Depois uma
111d ivícl 1 10s indiferentes e pa1·ticulàrmrntc 11as crianças.
rni�mra de amarelo e' veri11eiho retorna nas orgias autunais
Os seus espíritos simples não �e cansani de alimentar-se
elas fõJhas, óndc se podem novamente constatar o efeito ele­
,l,1 variedade e do esplendor da natureza. Olhos mais acos-
r'1 1e11 tar daquelas côres �ôbre o espírito : há também homem
de' gosto�1 lnuito siri1ples 1 que levam para casa corno ornart1en­ 1 1 1 1 1 1:irlos às côres sucumbem mais fàcilmP.nte ao tédio de gc­
to fôlhas · de outono, enquanto gue as crianças já à vista dos. ., ,, lfto primitivos. romo também à ação do vermelho e d 'J
11 11:1rrlo intenso. As suas exigências vão do sirnple� contraste
bosq ues \'errneU10-amarelos pr-orro111pem em gri tos. de júbi lo.
J ustamente iridivíduos jovens, cheios de ,·ida, sentem o . início d1· rôres opostas a mais refinadas «induções", isto é, a rnutá-
ela coloração outonal conio qua lquer coisa de esti n1ulante, a n­ 1 , , ;, influxos de qualidades cromátiras postas próximus umas
tes, de alegremente excitan__te depois elo cinzento-l'erdc· u 1n ' 1.t� outras , em apr.,.,ximaçõe� e cm sncc,sõe,, com tendência
ta nto obtuso do verão avancado. 1i:1.-:1 cleslocarern-se para os valores cromáticos do lado frio elo
Com o escuro chegarn�s ao grupo das colorações mais •· ,pr> I ro e para as rôres apagadas, amortecidas, obscurecidas
indiferentes, que culminam nas graduações elo cinzento. O (n� côres "claro-escuras", assim chamadas por W. Ostwald) ,
cinzento escuro é uma côr natural n,uito difundida, antes a côr 1 1111• dcscmoenham u111 papel notàvcl no gôsto mais refinado.
principal do solo. Quanto mais êle é cinzento, tanto mais o \ , , rsplcndor brilhante e cintilante preferem as formas mai.,
seu efeito é deprimente ; quanto mais é escuro, tanto mais tar­ c l,•lin1das designadas como clm·ões. Não é mais a experiência
dia · é a s11a impressão sGbre o espí 1·ito. 1 1 11\f-n11a da paisagem. ma� antes urna experiência prooriarnen-
�or experiência pessoal sei quão fascinante excitação .pe­ 11· Psf{,tica, que se desdobra nessas graduações mais finas de
de desencadear n'u m espírito infa.ntil a prímeira visão .da · 'tçr. ./'11 , luz e obscuridade (§ 1 26) .
ra ven�iell�a", por exemplo ela Boêmia. Cinzento é além dis­ Mas. também o espírito simples sente na repartição ele luz
so o céu chuvo�o, a neblina, o crepúscnlo depoi� d'os últÍ.mos , d(• sombras o contraste que se origina da a.proximação re­
efeitos solares ; no CÍJ,'lzento apa.-ecc imersa a ''nature,m cio. mau • íprncn do claro e d o escuro. A êste contraste deve ser atri­
k1npo'' '. t êlc a tõ,· ptópria ela uniformid a d e 0J;ri m1in le. Ela l111lclo t::imbém o efeito diletante e mutável da natureza enso­
f,11 11da ( ao contrário do que se dá quando não há sol ) . De
�xerc· e um notá�cl · influxo sôbre a psique humana, espeoi,a l-
1 1 1ente sôl:frc os indidc:uos que durante teclo o ano vivem cir- 1 1 1 1 1clo pnrticular ela se desdobra nas regiões montanhosas e na

244 245
variedade dos campos, dos bosques, das manchas, das árvores 1 1111 :111:dogias, especialmente gua)1d.o pode M't in!t·q11l·t:1da ri-
isoladas e de grupos de árvores. Disto depende uma boa par­ 1•111,1dn1ucnte.
te do encanto elementar ele uma região colinosa e montanho­
sa ao contrário das regiões planas, a menos que não-· se trate 1 l6. Formas e dimensões da paisagem. - Entre as 1·ca­
de plankies ricas de grupos arborizados (parques). '·'""' 1Hais simples na experiência da natureza inclui-se també111
Também o mar agitado apresenta freqüentemente um jô­ 11111t·la pela qual uma paisagem é sentidii como ''estreita" e
go de luzes e de sombras muito variado e rico de efeitos. A p1111nr1to angustiosa e deprimente. Para os habit.antes das
psiq ue mais sensitiva reagirá novamente a graduações mais pl;wk·ies que se transferem para as zonas n1ontm1hosas, islo
req uintadas, talvez a certas repartições quantitativas entre su­ 111111n-se realmente uma regra. Vice-versa, µ:-ira OH habitan-
perfícies lumino�as e sombreadas; sob êste aspeto as luminosi­ 1,•, elas montanhas a planície possui algo de melancólico e de­
pi i111L'nlc na sua imensidão. O mesnio pode ser di.to do mar;
dades 11 1atutinas e vesperais geram, quanto ao que sabemos,
u111 quadro pa isagístico muito mais rico de volúpias qüe o ,1qui a reação freqüentemente comparece �6 depois de um lon-
1111 período ele estada. As saudades dos montanheses na p la-
meio-d ia radiante de sol, onde as sombras se encolhem para
da1· lugar a uma superabundante luz contínua. Em todos 11H'i<' êlepende princípalnientc da falta ele articu lações, varia-
1,ilidade;; e movimento das fonnas visivas que a natureza apr«'·
êsses efeitos intervêm já com um 'pêso decisivo as relações ,·nL::i. Vice-versa, o habitante das planlc-ieR c11contra 11:.,s
formais puras da natureza.
1 .111des linhas e nas superfícies 1111ifur111c� da .ma nal\U'c'z(l
Siµgular é a distinção entre claro e escuro, que sobre­ 11111.1 h':! leza e "entonação" particulares, que a regiãrl 111ont,1-
vém com o desvanecer da luz diurna da natureza indefinida, 11l1,,,a muito "irrequieta" devasta. No 11/riito ria 11,,f.ieriência
à �wite e à luz da lua,. Os, estímulos luminosos dessas pa.isa­ ,1,, 11.al!freza sôbre populações inteiras, forma e dimensão ria,
gens são acessíveis de_ mqdo geral so111ente a uma contempla­ J111i 1a{!em deveriam desempenhar ,im paju•l mais .significativo
ção mais scnsibilizad,a, enquanto que o espírito primitivo de­ ,1111· a côr.
las recebe f undamentalmente uma impres_são sinistra e não Os adjetivos "tranqüilo" e "irrequieto" repJCscntam di-
consegue libertar-se pelo menos de urna sensação de maJ-estar, 1 l'lmnente a reação psicológica que é provocada por uma e por
quando realmente não assaltam temor, preocupação, horror. 1111ln1 das formas e dimensões. Tôdas as linhas simples ex-
E-ste estado de espírito,· além da incerteza da luz, é reforçado 1t·11sas ( cristas, horizontes das planícies, cursos de ág\1a, espe-
pelo desvanecer e deforma:r-se das formas em qualquer · coisa 1 i:il111cnle dos países desenvolvidos, nuvens estratificadas) e
de "espetral" pelo efeito da l uz lunar, mas .. também por obra l<icbg as superfícies ( as planícies, amplos vales entre monta-
da semi-obscuridade ('§ 128) . 111 1 :i, etc.) têm mn efeito tranqüilizantc, às vêzes mesmo p a-
De forma muito variável o céu estrelado entre em tôdas 1.1lisante e cansativo. A ação calmante por si pode ser urna
as espéc'ies da experiência notui·na como coroação do con­ ,/i 1 1r•nsão, quando sobrevém depois da excitação devida a um
traste claro-escuro da noite.· O seu milenário fulgor prove­ 1H'Ílmulo de formas multiplices. Talvez nêstc sentido se des­
niente da obscuridade profunda pode já fascinar foi-temente o t \oh l 'c o efeito da pa.,sagem da montanha para a planície, cs­
esph'ito infantil e ingênuo; e até mesmo homens apaixonados, \ll'C'ialmente se esta última já é avistada de um observatório
geralmente pouco acessíveis ao gôzo da natureza, são às vê­ rl C'v ado, onde se descortinam impressões muito poderosas sô­
zes induzidos a esta contemplação por uma espécie- de devoção hl'r a planície: assim são a. planície da Baixa Saxônia vista
( § 136) ; para muitos as suas particularidades são essenciais: de Broéhen, o vale do Reno das alturas ele Heidelbcrg, a Si-
estrê!as e cónstelações, Espero e Lúcifer, esta e aquela estrêla 1(-�ia da crista_ dos Montes dos Gigantes, a planície elo Pó dos
fixa, Orino como preanúncio do inverno; e sabe-se quão gran­ d,,l'lives dos Alpes, e as mais grandiosas visões do alto sôbre
de é a i mportância para muitos indivíduos do "Cruzei ro do n 1nar tranqüilo: o Mar Báltico ele Ri.igener Kõnigstu hl, o
Sul", como distinti vo do outro hemisfério do nosso globo ter­ \kclitcrrâneo elos muitos picos costeiros. Vice-versa, tôda re-
restre. Ta.rhbém aqu i é freqüentemente a forma, a figura que 4iílo montanhosa oferece ininterruptas variações, uma multipli­
possui em si qualquer coisa de influente e que i nduz a desco-- j icl:1clc e abundância de formas variadas, lineares e superficiai�,

246 247
ondu l ações, pontas, ângulos, picos, uma rrü stura <k· elemen­
tm perpendiculares, horizontajs e oblíquos, alturas <' quedas 1 1 7_ Paisagem movimentada. - É raro a 1 1:111111• ✓ :1 ,1·1
repentioas, dc(' li,·r�, gm-gt1 11 tas e saliências. 1 11·1 fc:itamente imóvel. No céu j)(1s.1am as nuvens, as frlll 1 :1,
A est;i a l t ma insere-se indubitàvelmentc um tipo muito l 1 P 1 1 1 1 1 lal!l e oscilam ao vento, troncos <· /{alhos se dobra1 1 1 , M : 1�
diferetllr' da cxperjência concreta ela natureza, que está mui­ , �obrctudo a águ,a. que é dotada de tmr incessante movinH' t 1•
to distante clb efeito psicológico elementar da simplicidade ou 1 1 1 ; 1·ln corre, flui, deflui, serpenteia, onthda, cai, salta, prcc-i­
w111pl exidade das forma� : o efeito analógíco ( mais exata­ J i i l n-sc ; inclusive uma pm-te do reino aninial ''pcrt('l1C'<''' par:t
mente "homeotrópico" ) , por relembrar semelh anças. Longas " ôll10 imecliatamenrc à paisagcn 1 : pássaros qur von i 1 1 , 11 1m­
q , i i 1 os que zumbem, borboletas, libélu.las, ahrll1ns 11:1K l'lô 1 <'�,
linhi\S uniformes e su pPrfíei('� imensas não si'ío justamente na­
p;i 1 1 lanos, e vegetações dos banhados; os campos n 1aclurt, 1s n11-
da mais q 11<• cl::is 1 1 1 csn1:1s. Ma.� 1 1111,1 abundância de formas
t l 1 1 lm 1 1, no "moYer-se do bosque" confunde-se o leYe movimen-
,·;11 i:idas aprP�N 1 ta 1 1 1 11n q1 1antidadc de imagens que "recor­
1 1 1 embalante das copa$ (além cio elemento acústi<:o) . O rnir
da111•· sf1'l'11 :111i111.idos, b u 111anos, vegetais, instrumentos e se- d,, chuva ou o seu bater na superfície, mas sobretudo o i J1 -
1 nclh,Httt·�. Daq 1ri cler·ivam muitos nmnes que a fantasia po­ , li1 1ar, cair, redemoinhar, danças elos floco� ele nevl', I.J t·,-
pular atribuiu às formações rochosas, pontas, gargantas, tron­ 1.11 1 ichar cios rios du1'antc u,n temporal, são fcnô 1 1 1(:nos mdcó-
r:os de árvores. Paisagens br1a1:ras como o "Pão de Açúcar" 1 il'ns em movimento, qw� frcqiit•1rn•1 1wn1L· n 1 11 1i:1 f11rn1:1 1 1 1 1 1 i l n
110 Rio de Janeiro, as "Agulhas Negras" na Serra do :M ar, , .u·;ictcrística se transfor 1 1 1an1. <>nq1. 1:11110 " i 1 1 1:11,{v11� d o t<•1 1 1pt1" .
tcstemunlwni uma fantasia inesgotável e às vêzes exemplar, ,., 1 1 expressão paisagística.
que por elas foi estimulada nos homens que as visitaram. A Também aqui o gô�.9 pri1 1 1iliYo da nalurcr.a l i 1 1 1i ta-sr ao
alma popular é nestes casos, ainda que de fom1a modesta, mi­ p, 11·1 icular ou ao simples. Urna espessa 11Pvad a impressiona
tframentu orientada ; tais formações são narradas pelas histó­ i1 n·sistlYelmcnte o espírito infantil ; crianças de quatro a sete
rias que revivem personagens consideradas inclestru;íveis e po­ .11 ws podem cnntemplar demoraclamen t·e o cair da nc\'P, em
tências ocultas e mágicas. Nisto notamo� u rn rnodo de consi­ d11:1s atitudes : a uniforme. , silenciosa queda da neve tem em
derar a paisagem, que reprnsenta mn primeiro e essencial de­ ,i qualquer coisa de profundamente calmante, mas se os fio­
' n� turbilhonam e elançarn, rumorosas explosões ele alegria e
grau para o mais elevado gfüo da natureza a que o homem
!inter de palmas revelam a excitação.
tende (§ 1 27 ) .
De forma um pouco 11Jais atenuada age um rio que es­
Não são irrelevantes a dimensão, a direção espacial de r'Ol'l'C tranqüilo e lento, ao contrário de uma fonte "alegre­
f{ randes formas simj;les da natureza. Paredes J1erpendicu la ­ i 1 1c11te" saltitante ou de nma massa de água vertiginosa, in­
ra, declives, árvores a ltíssimas e de grande porte, "pontas'· l1•rrcmpida em alguns pontos, que se "precipita'', turbiJhona,
gigantescas no reino elas formas alpinas têm todos qualquer i.,:orgulha. Enquanto o leve mO\·er-se do bosque nos embala
coisa de "envol\'ente", que é sentida ou como sublime, ma­ 11 1 1 111a espécie de sonolência , corno também o moderado e uni­
jestosa, ou deprimente, angustiosa, vert1gmosa. Também na fnnnc quebrar-se das ondas m1s praias marinhas, o ondular
rnajestade, solenidade e sublimidade está incluída a experiên­ 1 1 1 1 1do de um trigal, a vista de um movimento i rregular do
cic concreta da própria pequene7 com respeito a urna gran­ 1·tnto nos ramos das árvores ou sôbre a grama dos prados
el e:za superiol'. pndc ter qualquer coisa de desagradàvclrnents excitante, qual­
quer cs,isa de initant.c, enquanto que o mar tumultuoso pro­
Diforente é a impressão devida a grandes extensões h o -
' (1ca excitação quando pouco antes parecja indu�it' ao sono
1Lo'lltais. Ela indu,, antes ao cansaço, ou a um efeito cal-
,·o r n os seus estímulos acústicos.
111ante, provoca sonolência. Trata-se das ü-npressões que fa­
Tudo isto corresponde aos efeitos psíquicos gerais ele per-
zem os carnpqneses se11t.ir a planície como vazia, desolada, te­ 1:cpção de movimento_ Du, as propriedades gerais os distinguem,
diosa, � os habitantes das planícies a alta montanha como isto é, velocidade e direção do movimento. Nós sabemos já
oprimente e sinistra. .ro ver oscilar um pêndulo que a lentidão adormec<'l, a rapi-

249
dez ( ora festiva, ora agradável) excita; a confusão da direção u,,� q11iclos por muito tempo e abamlo11ar-nos ao fh11r p9�'­
de movimento pode cleixal' alguém com a "cabeça cO'l"fusa", e " dm pensamentos ou até mesmo a um estranho ,·,wi r> dc-
há indivíduos lJUC não podem suportá-lo por muito tempo; a • • 111N1· it-ncia, onde tem luga.r uma experiência pálida l' s,·111
movimentaçík, uniforme e ordenada de urna multidão de fiéis 11111t<'i'1do.
(ajoelhar-se ou erguer os braços) é de uma ação profunda­ A irregularidade do som, porém, e,-<cita. Assim o grilo
mente calnrnnte, diante dela sentimo-nos como que "seguros''. ,111 t omja, o bra.rrt.ido do cervo ena.morado, a explosão das p;e-
l\,fas não se deve esquecer que a vista do- movimento é sus­ 11·11 ,,� nas altas montanhas, ·o tom das avalancl1es t· as qut-clas
tentada muito freqüentemente por rumores que acompanham d, pedras, tôdas impressões, que se coloca111 ?Is 111argens da
o próprio movimento, ou pela advertência do movimento no p111�ibi tidade de serem concretamente experirnc11tadas co11 >o
próprio corpo. ,·l1·11ll:ntos da paisagem, uma vez que têm uma parte 111uito
, 111,1wra na verdadeira impressão da natureza; quando inter­
1
' , 111, porém apresentam uma nota sinistra, angustiosa, que dá
TI. - fü límulos a.11ditivo.1, olfativos, tácteis da paisagem 1 �,·nsação de urn perigb.
/\ natureza sem sons poss1;i um efeito estranho, entre cal­
118. Sons e rumores. - É um mérito indestrutível do ro­ llllllllc e excitante. Nós chamamos êste cstiido de $ll�pcnsftn
mantismo ter reanimado variadamente a natureza com ru­ ·11p1 intente". A natureza i'nuda nos ap::irccc como não-na•
mores e harmonias aproximando-as assim da alma simples. 1111't',rn, possui qualquer coisa de sinistro, e todo run ,or que
Para esta, de fato, urna natureza "muda" está morta, ela não 11,•la comparece a aproxima de nós e nô-la torna 1nais f:1111i­
lhe diz nada, antes, contém para ela qualquer coisa de sinis­ li,1,. Conhecemos essas situações antes dos temporais ( quan­
tro, desolado e de vazio. O canto dos pássaros, por exem­ d11 insetos e pássaros emudecem-se e não sopra o menor ven­
plo, para o povo é tão inseparável do gôzo da natureza, que lu), na noite profunda e ao meio-dia. A sua nota oprimen­
qu:1lqner operário ela cidade, com um par de raminhos flo­ li �co1pre foi inativo de comovida recriminação e1u criações
ridos e um pássaro canoro prisioneiro, cria para si o comple­ ,11tí�ticas: "Silêncio no Bosque" de Blocklin, a novela de
xo da "natureza" i1a sua inatural existência urbana., O pra­ 11,•ysc "Encanto Meridiano", a ovacionada poesia ele Gusta­
;cer ve.m em primeiro lugar da melodia do canto dos pás,a­ "' Fa.lkes, o rüito de Pan etc., e a clássica descrição de Ale-
ros. Uma atenta consideração, porém, demonstra que os ru­ ,111dre von Humbolt do silêncio do· meio-dia na floresta vir-
m.ores se inserem na impressão paisaglstica com uma varie­ 1w111 tropical, que contrasta tão violentamente com o seu es-
dade muito maior. Também o zumbipo elos insetos num dia 1d 1 1ilo noturno. Todavia, apenas um espírito sensitivo assi-
de Ycrão, o ctic-cric dos grilos ou o coachar das rãs fazem 111il;1 o silêncio verdadeirarilente de acôrdo com a paisagem.
parte desla espécie; lllais geral ainda és o efeito do movimento \ popularidade da poesia romântica contribui para fazer com
das copas dos bosques, o ulular do vento, o go�·gulhar da águ,1, q1w nela a natureza sussurre, murmure e se agite, estrile e
o murmúrio do riacho, o cair da chuva, o quebrar-se do mar, 1'> it,', module e vibre, cante e ressoe.
o fragor de uma cac.:hoeira; tudo isso dificilmente pode ser se­
parado da natureza também para um cspfrito apurado por de­ 119. Odôres. - Os odôres agradáveis, os perfumes, anà­
terminadas experiências das. paisagens. lt1).lfllt1ente ao canto melódico dos pás•saros; são para muitos
A maior parte dessas experiências sonoras têm qualquer 111didduos ele gostos •simples um elemento constante do g8zo
coisa de ca.lnwnte até graus muito intensos, às vêzes quase d,1 natureza. Também neste caso é wn e_lernento só que age
narco-tizantes. A monotonia do rumor ela água pode provo­ ,•111 primeiro lugar: são determinados perfumes de flôres que
car urna espécie ele sonolência, como acontece à beira do mar, 1"<Citam o encanto, como tílias, acácias, violetas, alér11 das flô-
p�r�o de um dique, de uma queda de água, com graus hip­ 1 ns ele jardim. Há depois os eflúvios perfumados dos prados
not1cos que chegam até uma espécie de levíssima paralisia da 1 loridos no início do verão, freqüentemente de indescritível in-
atividade- bem como da tensão psicológica e' corpórea. Até 11•11sich,cle nas montanhas nas horas ensolaradas do meio-dia;
mesmo o movimento º leve cio bosque nos convida a manter- 1'11íi111, o perfume do feno, das flôres de banhados, que são
250 251
urna característica da natureza rnuito mais pat·a o morado!"
I " i< l,·•M' lentar separá-las umas elas ouu·:.is ( e quc 1 1 \ l'-i l io to-
das cidades que parn o cai1 1p(>nês, para o qt1al não são mais. 1 1 1. 1 1 1 1 i 1 1 1 i.<;� no complexo urna posição relativa 1 1 1c1 1h- i 11dt•p1•11-
que ele111entos rotid ianos du seu trabalho. Por isso o homem,
d, 1 1 1 , · ,1 nrns um instante depois confluem novamente na <'"-Jll'•
habitualnu-1rte afastado da natureza, adverte também os não­
1 1 t• 1 1ria Llllitá1:ia da corpotali<la<lc, comparável a um tecido,
·Odôn·� co1110 mensagens da natureza : odor da madeira, "odor
, 1 i jn� fios são distinguíveis apenas ao ôU10 111unido de lent('S.
cl;i água" ( odor leve e intenso de plantas putrefeitas na água ) ,
1 fil l.1,, de um modo muito d.i fe1•enle pod,� n í in lervi.r. A
"odor da terra" por exemplo, proveniente da folhagem que no 1 li 11 ,ah sensação do a,· sé)br-e o rosto, �li \' Íl'l'-Vl�l'S::I a SI'ª ri­
outono murcha e se decompõe.
i• 1d1•1, a sua a,;pereza, o queimar do sol do pl1:no \'Crfio, o
O efeito psicológic<i da experiência oJfativa é muito pri­ 1 1prnr do vento contrário, a elasticidade das :.11·1ic1il,11,:<ies no
mitivo no home1 1 1 r S(' 1 1 1< 1,·c �cl'alrncnte nas graduações opos­
, , 1 1 1 1i11har por uma trilha fôfa do bosq�1e, o caminhar sôbrc
ta� "ag1·1,dftvcl .. e ''rrp11g11anl.t•", pcrfuL11c e mau cheiro. A
111•1 ,• fresca, o desl.izar sôbre a água tranqüila, o frescor· da
ckt(•r1 1 1 i nados oclôrc� parC'ccm corresponder notáveis excitações
, ,1 1 1i>ra do bosque ou de uma garganta onde corre um riacho,
sexuais, ro1 1 10 ao, odôrcs doces e "mormacentos" das tília� e
1 ilgiiação da areia nas dunàs, tudo f1oçle pertencer à impres­
cbs acácias. Podemos, porém, chamar com mais justiça . como
"característicos" da natureza um certo gênero de odôre.s como ·'" de uma paisagen1 e estar às vê-✓.es quase inseparàveh11c11tc
, 1 1 1 11•xa a ela.
o da água, da terra e semelhantes; aproximam-se êles da re­
pugnância e tão logo atingem graus mais intensos, tornam-se Possuem um efeito ern parte cal 1 1 1a11 11•, r111 pa l'lt• lig,·íra-
mau cheiro. Todavia, nenhum mau che. iro entrl\ na expe­ 1 1 11•111(· estimulante, às vêzcs ( co11 10 qunndo sop1 :1 1 1 1 1 1 v1·11tn
riência concreta ela paisagem. Tudo quanto tem sôbre os 1 1 1·,co) ·mais inteosamenrc excitante, q 11(· termina 1•1 1 1 116s ; 11 ias
1 1rnlc também manifestar-se como a1,uarlàodmrn1t,• rlthililcmtç,
sentidos um elementar efeito repelente destrói tôda possibili­
1 1 que acontece algumas vêzcs no ar de.: verão ; e,lll todos êsses
dade de gôzo. Notamo-lo quando sentimos o mau cheiro de
urn cadáver ( de um animal ) ou o odor cio cstêrco, de uma , .1�0� pertence ao gôzo da nawreza, até que o possamos ade­
•p1:1da111en1e receber num estado de tranqi.iilo repousó : quan­
pele e semelhantes : êle "dist'�ll'ba" a impressão da paisagem e
d 1 1 1 porém, devemos ,>ercladeirarnente caminhar com urn es­
com ela não entoa de forma ,ilgurna. ConLudo, deve-se aiüda
' 1 1po, torna-se penoso o cessa de ser um elemento da paisagem,
ob�ervar que os o<lôres "característicos", têm urn duplo valor
l i II nando-sc u11i incômodo.
no seu efeito, de acôrdo com a nossa disposição íntima no mo­
O rncsmo pode-se di7, er de todo gênero de ,·ento, do frio
mento em que nos atinge1n. Como o odor sexual, antes do
,. do gêlo. A sensação do frio gelado nas faces faz parte rcal-
ato, pode ter um efeito inebriante sôbre os sentidos, mas tor­
1 1 1í'11 tc da i.magem perfeita da paisagem invernal, tanto sôbrc
nar-se depois repelente e nauseante, assim, ora fechamos as
. , gêl.o, como no trenó ou sôbre esquis; mas o verdadeiro frio
narinas aos odôres do estábuló, ora os respiramos a. plenos pttl­
1 1 ;1 0 {., mais um fator da paisagem, e sim perturba e desnói o
mões com sinal característico de quanto é "ca1npestrc". Os
• n1 <J da natureza. Sensações insólitas dêste g-ênero inicialmen-
camponeses não fazem nem um nem outro gesto. Êles acei­
11• obstaculam a impressão da paisagei n : o montanhês pode
tam corno gôzo da nah1reza apenas os odôres agradáveis quan­
•• 01iu os estímulos da planície i1úinita somenté num estado de
do também nêles não põem em primeiro plano o significado
1 1 ·pouso contemplativo, ma� caminhar na planície cansa-o a
prático (no caso do feno, da floresta) , até que dêles lornanr
1 . 1 1 ponto, que as sensações do esfôrço que disso derivam im-
consciência habitual como parte do trabalho e não do seu gôzo.
1 wclcm-lhc de �enlir concretamente a natureza como "pai­
•,t1;(•1T1 ...
120. Corporalidade. - Assim chamamos o inextrincável
I novêlo das experiências sensíveis, que em parte se referem à
Com o homem da planície, porém, dásse justamente o
, ,11 1 1 rá rio quando sobe pdas montanhas. Jv[ uitcs indivíduos,
epiderme, em · parte aos músculos, articulações e órgãos in­ d,· resto, durante o esfôrço da subida, permanecem incapazes
ternos, e determinam a (odo momento o nos�o "estado fisio­ ,1,· gozar a nat urc7.a e l'evivern cõncretan1.ente a /Jaisage111 al­
lógico". São elas : quente, frio, fresco, brandura, dureza, mo­
/ •iH a apenas q uando che ga m aos· picos ou quando caminhaw
leza, propriedade de ceder, resistência, movimento, rigidez ; ,(il 1 1 1 : as nistas e durante a descida. Sõrne)'lte o desli,mr nu-
252 · 253
ma barquinha permite a muitos gozar a paisagem do lago 111· .1ri:'1vcl a ponto de impedir-nos de ndwrlir os Ri111rn11as d1•
rncsmo do ponto de vi�ta paisagístico; êles devem a11dar sôbre n�aço, até que, superexcitados e mortos de cansaço, nos srn-
o lago ou sôbrc o mar para provar, ,reais experiências. Ao pas­ 1111108 impossibilitados de continuar a caminhar. . Por cH1tro
so que numerosíssimos outros perdem assim, devido a levíssi­ 1 uli,, existem sensações de "agradável" cansaço, que con�iclr-
mas "impressões do enjôo", tôda possibilidade de gozar a na­ 1 .1111ns realmente como o prêmio de uma fatigosa excursão nas
tureLa, coisa que conseguc.rn fazer apenas com uma tranqüila 1111111tnnhas, que recebido quando atingimos o cimo. Trata-se·
contemplação da margem. Isso vale, de resto, também para ,11 uma dinâmica ininterrupta e incompreensível de cxperiên­
outros meios de locomoção. Alguns sentem a natureza mais ' 1.,� delicadíssimas, variadamente entrelaçadas, 01·,t para cons-
intensamente vagueando, outros, pelo contrário, parando em 111111 a nossa imagem da paisagem, ora refletindo-se dirl'la-
pontos detenninados. l lft indiv(duos, aos quais o automobi­ 111rnlc sôbre o nosso físico até perturbá-lo e transtorn{1-lo .
li�mo d<'u u111 modo co111pletamente nôvo de viver a paisa-
1{\'lll, Gozam a natureza com o mudar do caráter da paisa•
gc111 sob fonnas sempre novas. Outros,_ porém, não guardam 111. - Imagem e caráter da paisage ·,:n
nada da paisagem durante a viagem. O mesmo aconteceu
na-i viagens por ferrovia, quando foram melhorados os incô­ 121. Terra pátria e país estrangeiro. - U111 testemunho
modos mais grosseiros, como o contínuo sacolejar, o barulho, , nn, incentc da parte que o irreal exerce sflbrc a psicologia
a fumaça. tln, indivíduos simples é o fato que uma l'spC-cic de <''>prriên­
Em todos êsses exemplos é necessário considerar particu­ n.1 sintética da natureza manifesta-se i111provisa111entc nêl<'s
larnicnte a massa das sensações de. movimento do nosso cor­ q11ando distantes da paisagem habitual. Nas .raurlad11l, r \CI'·
po que entram a fazer parte da experiência concreta da pai­ d.ide, entram também outros elementos além dos paisagísti� os;
sagem, ou, pelo contrário, a dissolven1. As sensações muscu­ 111·c1ücntemente são êstes os principais: a língua estrangell'a,
lares do ôlho t6m um papel muito impor, tante. Todos sabem d1,ildo diferente, outro comportamento, outros costumes e usos,
por cxpc-1 iência corno nas ex-posições, galerias etc., uma con­ 11111m alimentação. É na criança que encontramcs mais êsses
templação meio demorada e concentrada cansa fàcilmente. A í.11ôres incomuns como causa principal da saudade da casa,
natureza tem a prerrogativa de permitir-nos agarrar os seus d11� pais e dos innãos. Por outro lado, o estímulo emocional
grandes quadros mais ou menos com um olhar sern tensão ("ao do nôvo pode lutar com uma tal nostalgia e também domi-
infinito"); o ôlho "repousa" nos seus feixes musculares mais 11(1-la completamente. Aí a paisagem não desempenh a papel
t •�t'nciaL
grosseiros como nos mais delicados.
É a êste ponto que o efeito paisagístico passa para o "tô­ Depois da puberdade, porém, sente-se mais fortemente
nico··: é o mundo intermediário dos efeitos sensotônicos, que (§ 129); na recordação a imagem da pátria grava-se numa
já estudamos (§ 32) e que aqui encontramos novamente, de 1111agcrn ideal, cuja distância é dolorosamente medida. As­
modo especial com a sua estreita correlação com o "tom atmos­ �i,11 a nostalgia do planaltino trasferido para a planície dc-
férico" ( � 41). Antes de tudo êle provoca não raramente 11111n�trou-se tão forte que alguns governos, como a ex-monar­
efeitos discordantes. Com efeito, o mesmo ar primaveril, que quia austríaca, pensaram seriamente no destino das expedi­
acaricia mansa e beneficamente a pele, debilita-nos também r;éies militares. Outro tanto difícil pode tornar-se a nostalgia
por e.rta via puramente sensotônica, e não apenas com as ·suas pl'la água (rios ou praias), pelas planícies, pelas regiões bai­
imensh-eis influências sôbre o sistema nervoso central. Quan­ x:is entre os montes. Muito freqüentemente o homem co-
tos indivíduos não apresentam o seu rosto a.o vento da praia 11mm adquire uma completa e consciente experiência da pá­
antes cheios de alegria, altamente restaurados e insaciáveis, Iria s6 na terra estrangeira, e muitíssimas vêzes é precisamente
até que se apercebem que êste estímulo violento os excita, tor­ ,1 paisagem natal que ocupa o primeiro lugar naquela ex-
nando-os irascíveis e cansados! 1wriência.
A aparente facilidade de uma excursão em altas mon­ Entre os tipo� de países estrangeiros há a paisagem exó-
tanhas com magníficos panoramas pode suscitar um prazer tão 1 Íc(I, que emociona elementarmentc o espírito simples e opõe

254 2S5
freqiienternente urna resistência muitas \'êzes \'itoriosa sôbre a p11· llw íalla qualqL1er coisa. O C'lt·1111:J.1to rr11hlll'll.,ti1:o d:i pni.
,,,g, 1 111 tio sua pátria torna-se-lhe sempre in . ais lo, t1 1 1111•Jlll' p1,·
sa udade. O Conceito de exótico .é flutuante: trata-se �cmp.ce
de um quadl'o cmuplcxivo fortemente contrastante c6.1l1 as 1·1111· ,. consciente.
imagens habiluais da terra natal, com numerosos ele!llcntos Co10 uma expressão um pouco audaz poder-se-ia falai' n·;il•
de gênero 11ôvo {árvores, flôres, animais, rochas, côr elo solo, illi'll11: ele urna "nostalgia conceit11al", onde a nostalgia da 1w-
r'nas também habitantes e fornias. de coloni,zação). Já as ro­ 111, 1•1:-1 se transforma tanto mais, quanto nrnis se prolonga. J�
1 nostalgia, imaginativamente muitas vêzt:s 1111,iln pâlicla, 11ia�
chas de · Adersbachér m1 o Spreewald causam uma impressão
, 1,•11Lrt11cntc tanto mais audaz pela "monnipsitlade'', pela
exótica em quem não cSLá acostumado; ainda há cem anos a
:1 f.tlif1'', pela "amplitude'', pelo "sol", pela "rf11 ", jJt'l:1 'p:.i,".
natureza· dos Alpes, tanto as regiões· das geleiras como as Do­
,�1r1 é, por qualquer mudança concreta (também elo l<'lllp(>, tias
ln,nitas do Sul 111nliL('l'r:u1ro rxercian1 urn estranho efeito sô­
,,,tações) de propriedades características permanentes da paisa-
bre n 111aior parte dos turistas nórdicos. Dr.sr:rtos, Tr6piccs,
1••·111 naquela totalidade resumida, que nós justamente chama­
Ál'tida, noites n(mJicas estivais, Japão, Yellowstonepark, Is­
llJO� o caráter da paisagem.
lândia, Nov;:i Zelândia conservam até boje o seu encan­
io exótico. Ora, quanto mais deu1orada1neme esta imagem caractel'ÍS­
O efeito psicológico dà ação exótica de qualquer· grau é o /1, 11 ele uma paisagem se torna 11rna pAlida i111age1 11 1nnc111ônil'a
1.'sluj1or. Na experiência vivida da natureza· simples, não com­ 1•pa,.acla da realidade, tant() 111ais a psiqt1l' tn.1.ça :.,� 11ul.\' 1·n­
J)licada e sem requintes, possui êle ein geral um papel dominan­ t1111r1çÕe8 regenerando dia a dia, a si 111u�111i1, o Sl'u Lrahalho, a
te, por exemplo no gôzo ele um "panm·ama" grandioso de altos ,11.1 experiência. vivida. A irnagc111 11111cmônica ,,1'1'1 t1 a 1.:sta c·i..­
picos. · Nem sequer o aspeto ú1ais ou menos misterioso lhe cau­ l"'riência concreta do presente e ela 111es111a é lransftw111ada iu-
sa danos; pelo contrário, sabemos (através do cinema, roman­ nlunlàriamente. Os mesn1os acontecimentos da vida colidía-
ces criminais etc.) que o espírito simples cio homem médio é 11,1 lnnge da pátria procuram UJ'.l'l contraste nostálgico na mag-
in-esistlvclrnente atraído por aquilo que é misterioso e sinistto. 11,lkência e na variedade da natureza nativa, opõem aquilo
Fregiienterncnte também aqui a imagem de quanto se contem­ •1111· é pequeno e rumoroso àquilo que é grande e silencioso; ela
plou com estupor nas suas pal'ti.cularidacles combina-se apenas 1111 na-se o símbolo para condenar tudo quanto há de contras-
quando nos afastamos. E:,.,iste uma espécie de nostalgia pelos 1. 1 11lt'. n.:i vida de cada dia, esquecendo-se que na pátria a vida
países exóticos, seja que tenham sido conhecidos por vôos, seja , ,1tidiana apresenta as rnesmas dificuldades, aspeJ:ezas e agruras.
que .\P tenha df'rnoraclo nêles como mna nova pátria; muitos O caráter da paisagem é, portanto, modificarlo por um
11órdicos não conseguiram mais libertar-se da "tclealgia" pela 11l►jc•lirn conceito qualitativo em ideal-fantasia., em entidade nos-
naLl!reta ensolarada e colorida do Mediterrâneo ou pelas noi­ 1. 'dgica. No gôzo primitivo da natureza chega-se a êste nível
tes tropicais no hemisfério meridional ( onde constelações des­ ,/1 11111r1a forma u1uito atenuada e obscura. Nôle entramos na
conhecidas podem intervir na concreta experiência da pai­ tona ela animaç ão subjetiva da natLu·eza e portanto de todo
sagem). tipo d t� cuncreLa experiência da paisagem, a cuja riqueza, am-
11lit 1 1de e requinte apenas os séculos mais recentes se clesccr­
122. Paisa gem característica. ·- Não obstante o seu mais •ill·t1n1.
iorte efeito sôbre o espírito, uma imagem mnemônica, quando
se '' forma'" apenas na memória, não corresponde na sensibilida­
de à realidade. Ela é e111 cada particular .ruais indeterminada, B. - A ANIMAÇÃO DA PAISAGEM
e quanto UJais se afasta cronológicamente elo original, tanto
lllais é reduzida aos seus traços esi,enáais. Poder-se-ia dizer que 123. Triade originária das impressões naturais. - O que
se conve1ie (psicológicamente, entende-se) de uma imagem ,1 natureza circunstante oferece à percepção sensível pode pro­
nu1n símbolo. Aquilo do que se sente falta substancial é alti­ l or ·ar três tipos originários ele ressonância no espírito: sirnples­
tudes, cimos, vales, ou vlce-versa a amplitude de vista, o ho­ mc-ntc fJrazer (vontade, alegria, delícia, bom humor), temor
riwntc infinito, supel'fí.cies de água. Quem tem saudade sab e ( :irrepio, opressão, angústia, espanto, desânimo), estupor (rna-
1.57
156
17 (1.,ipp,1.dltHIJ
ravilh a, SLu·prêsa, di,·ertimen to) . A isto
se li rn i l,1 a concreta
cxpc1iência da paisagem no espír ito ingên 1 1 1111l\:rc111 a inte11sidade com •4uc st' i i l'a di 11 1 1 1 1 1 c l l ·speito ; lc-
uo de urn indiv íduo
médi o, JJor i�so da \"ai e \ em. 1\1omentâ 1 ,1-nos a receber despeitosamente até mesmo i n<'w 11a� r 1 11nunica­
11 ea e- temp orà1·i ar11en ­
t<'� (prin cipa lmen te na jm·e ntude em idad •;< ll'�, às vêzes impele-nos inclusive a reev0car coisas imlif 1 •J'�•111cs
e evolu tiva) lamb éin
o ho111cm simples tem, porém, veleidade e· inseri-las à · Iôrça na irritação. Tnversamente, numa grand,,
s sentimentais. A poe­
sia dos can tos popc.:lares atesta- o assim
corno aqui lo que o ho- , 111'(!,l'ia vemos o mundo inteiro tão róseo, o.té tornar-nos iucoJ l l-
111cn1 canta, lê e observa ele boa vont 111 t•1•nsí veis ao ambiente CÜ'cu·nstante.
ade.
"Sen time ntal" signi fica que a ento naçã Assim a alegria de um dia livre do trnbalho irradiá-se pc;, ti•
ern qual quer coisa qt 1 é sr encontra o pessoal é inse riela , 11 li pouco sôbre tôclas as coisas, não se exd 1 1imln a i1Hl11reza,
no exte rior da nossa pessoa,
sem que ela esteja oiig i11ú1• ia men te prc�e d1· 1nodo particular para o cútaclino, para quc111 é 1111 IH ru1·n <'X·
n re. Desta fo1,ma o ho­ 1wiií'ncia. Êle torna-se "aberto" para o qµe é '·belo'' n:1 nól.­
mem �c111p rc s<mt irn<:n talizou os an
i1r1ai s (esp ecia lmen te os do­
més ti<.:o� ) quan do se 1 hr apresentava l t 1 1 1'�a ; mais exatan1ente dá uma coloração diferente, gue pro­
a i�to r c\ t nica mcn te de inten sidad
uma ocasião. O in1pu l�o ' ,' 1 1 1 do seu profundo, também aquilo que antes era indiferente,
e muit:o diferente , provàwl­
n1rnte por hereditariedade genética 11 •11 1 inclo imenso prazer, Esta capacidade é especialmente re-
ou por part icularidades 101 çada por impressões em si agradáveis, em cujo efeito agra­
cons tituc iona is : a raça med i terrânea
é mui to menos sent imen tal d;',vol é coinvolto também o que é indiferente. U111 sol lépído,
(e por isso mtú to mai. s paté tica )
que a raça 11.órd íca : pelo con­
trário, o tipo alpi no é incli nad o 11 awl profundo cio céu, um verde pálido, a varieclack das flô-
à sentimentalid ade. Esta de­
pende a lém disso do grau de cultm 1 1'�, 1 1 1 11 cintilante espelho de ág11i1, que A p1•cndc111os an trs a co-
a, da riqueza de experiên­ 11l wn:r como fatôres que su�ci.tarn urn prn;,;cr elcJ1 1cnta1 ( * § 1 1 '.1
cias e sobretud o ela idad e. Entre
os 1.5 e 25 anos todo homem
é mai s sent imental que na infância 1· 1 1 .5 ) , proporcionam "um belo d ia", 011 1 c11j1, âi1 1bito agorn
e depois elos 30 : nos anos 1 .11nbé111 o zumbido dos mosquitos e das abelha�, o tri-eri do�
da reg r essão ( depois dos 50) o
me nte rn 1 29) .
sent ime ntal ismo retorna nova­
t•rilM, o barulho da água, o canto do galo - impressões em
�i <' por si provàvelrnente muito indiferentes - tornam-se ex-
A paisage m oferece às emoções sent
ticu larm ente agrad;h ·el, porq ue imen tais 1 1111 objeto par­ 1 wrirncia$ que dão uma sensação de alegria. Falando psico1õ­
não lhe opõe nen hum a defesa.,
presci ndin do-se talvez dos excessos gicnrnente : a irradiação do seJJtimento fundamental 1eva à
das potê ncia s natura.is. Ela
conforma-se, p or as�irn cfü7,er, com '\1s�imi lação" de tôdas as outras diversas impressões, à "ade­
tudo quanto nós nela inse­
rimos, arr.nonizanclo-o. Como q 1 1ação" delas à c.ôr fundamental dominante do nosso intimo.
todos sabe m, os nos$os sern elha n­ 1 l.'1- sc urna sínteJ:e rnuito simples da impressão da paisagem ;
tes de form a algu ma se sub111ete
m a isto, embora haj a tem pe­
ramentos cujo sent ime ntal ismo
não sofre desi lusões por nen hum t.1mbém aquilo que não tem propriamente nenhuma iniluên-
rênero de contratempos. · 1 i:t $entimental particular, i nsere-se na totalidade da paisagem.
Assim, inversamente, também o espanto, o des�nimo o
limror, têm uma ação irradiante e assimilante. Disto é um
I. - Si,uonização da J1aúag1mi ( l:'1ssico exemplo a milenária sujeição pela verdadeira alta mon­
l nnha, cuja inóspita solidão de rochas rígidas ou cobertas de
1 24. O processo de irrndiação. �•/llo faz transcurar as amabilidades e as belezas que nelas há.
q 1 1and o uma experiência psicológ - Falamos de irradiações
"ií,nwnte com a construção de vias foniculares, de mais den­
ica qualque r dá côr sentirnen­
tali nentc a outr as e:'\1Jeriência �n\ núcleos populacionais com refúgios seguros, to•·na-se pos­
s cujo e specífi co tom sent ime
<� originàr iam ente diferente ou ntal �, \ ('! a sua "descoberta" paisag.ística. O volutuoso abandono
mu ito indeterminado. Se de­
pois de 1 1111a experiência mui to ,\ l'Onternplação da beleza dos picos e das cristas alpinas seda
triste como a perda de urn ente
q u erido, colh e-no s 11n1 alegre .iimln hoje, sem a técnica do alpinismo, impossível para a
acontecimento, por exem plo urn
sucesso profissiona l , êste assume 1 w,ioria dos homens. O mesmo se diga para o alto mar, cujo
o
lancólica : neste estndo de espí rito tom de uma felicidade me­ j,\/\10 só foi conquistado através da navegação a vapor. Antes
, trist e, me rgul. h an1 tam bém as
alegres recordações que conserv na uma monstruosidade, pronta a engulir quem se aventu-
amos da pessoa perdida. Tod
os 1 il�S<'. e tal é ajnda hoje para o pescador e o barq ueiro.
258
259
No gôzo comum da natureza o bom tempo é naturalmen­ ,·;"º dc�l'rnpcnha um papel dcdsh-o .1 "alk1í·nri.1" da p;ii�:i
te uma fonte fundamrntal de agradável irradiação ela par­ 1·111 � tal irradiação e assimilação. Nesta I c1111�,1, idack s111
ticular disposição ele espírito ( cio turista e dos excursionistas 1 111 1 1inl1ll conosco os cenários mais dóceis da natureza, n }ll"
com rc-lação à pai�agem. S6 em parte é verdade - (· nr­ ,,,.;, e a água, porque não excitam, de forma tão cvidcnh•
cessário pô-lo em evidência - que com o bom tempo a na­ , rn110 as zonas montanhosas, encanto, espanto ou temor, 111:1,
tureza é objetivamente "mais bela", isto é, mais cheia nas ,.,y ral111cnte são antes indiferentes e µ011:111111 mais dóceis t·
�uas côres, mais luzente e cintilante. Isto se dá em geral 1.1h?ú,·cis.
apenas para o gôzo mais fino da natureza. Naturalmente esta possibilidade ele h:1r111011i1-::1c;fi.o tl'rn os
A "vista", tão importante e entusiasmante para um es­ , 11� li1 11Ües. A ampbdão uniforme da pla11kic cmist•g1ll' nw,
pírito ingênuo no �ôzo da natureza é, por exemplo com um d1firnldade absorver as itradiações de uma vivaz comoção do
tcrnpn muito belo freqiicnte11wnte defeituosa e velada, uni , pírilo, mas cowbina-se 111elhor às entonações da nostalgia,
1rnut• , :ipor cnvol"c tudo, as cadeias dos montes parecem in­ d 1 �l'nsação de abandono, da melancolia, isto 1\ aos estados
di�tinln_� de longe. O aspeto da paisagem antes de importan­ d,· c:spírito leves, incletcrn1inados, de preferência a.os violentos,
tes quedas barométricas, especialmente antes do fohn, pode ser .q,idaiventc variáveis; dislo deriva o fato que a "desrnhe1 la
grandioso para as massas, pela fôrça e côr, nos particulares e d.1 planície", isto é, dos seus C'stín11iln�, do� sem valore� de
corno totalidade. Se, não obstante isto, muito freqüentemen­ , 11tclll:1Ção, do seu encanto cst(•tico 1� p1'crrnga1iv:i cio� l1·111po�
te se tem esta sensação, a razão deve ser procurada (mais que q111• , ivcm predom.inantemente dt· tab 1·nlo11açõc·� ,. são de�li
no presságio meteorolõgicamente desfavorável de tais cenários) 1111dns de emoções intensas e variachh.
na íntima disposição que já se preparou ou já se efetivou por Outro pl'ocesso é o contrasle - comcit!llle m1 inrnnsrien-
influxos meteorológicos. Sentimo-nos já diminuídos, tristes, 1, da tendência sentimental que �e m·igina 11a ação da pai­
,cm vo11tade, irritados; e assim nos sentimos pelas causas (co- •'½«'111, com aquela própria, íntima. Um cinzento e lempes-
1110 Yimos antes, não ainda esclarecidas) da situação do fõhn: 111oso dia de chuva com queda de fôlhas turbilhonantes é o
por isso a natureza não nos diz nada, diante dela permane­ 1 , 11ário certo para a despedida; contudo na realidade muitas
cemos obtusos, apáticos, ::iusentes e achamos que ela rnesrna é í• 1( •s bl'ilha o sol. Quantas vêzes, por exemplo, lemos nas
"obtusa", se111 voz: comportamo-nos diante dela de forma não 1 i,nica� que durante um sepultamento a luz era "triste". O
diferente de como nos senti.mos antes de ler um livro com o ,1 11 contraste com a ação triste sublinha sempre mais a fnnda-
mesmo estado de espírito, ou como nos comportamos com os 1111·nla entonação deprimida desta, que se irradia sôbre o proces-
amigos que encontramos: o nosso estado de espírito sem von­ 11 rontrastante e ofusca a sua alegria mudando-a em melancolia.
tade, oprimido pelo fohn, irradia-�e sôb re Ludo e tudo tinge Por esta via a nossa psique apodera-se, por assim dizer,
com o �eu descontentamento. ti., paisagem; quando a natureza se contrnpõc a nós como ela
Desta forma origina-se aquilo que nós chamaríamos com , desejada, pálida ou colorida, fôsca ou luminosa, no ar.ôrdo
justiça "paisagem sirnpática", se o têrmo simpático não com­ 1111 no contraste, encontramos 1110 aµoio no nosso íntimo, que
preendesse um sentido incondicionada.mente favorável, que não ,, 1cfo1ça combinando-se ou contrastando-se com ela. Estamos
se adapta bem às irradiações desagradáveis; por isso o cha­ 1q1ii diante de uma tendência psicológica geral, isto é, do im­
maremos melhor. Jt11l,o ,,ara procurar um objeto para os nossos sentimentos,
, 11111 o qual procuramos desabafar-nos, fazendo dêlc uma cau-
125. Paisagem sintorúzada. - No homem co111um, psiqui­ ,1 ou c:oncausa de tais sentimentos. A paisagem significa sim­
camenic sadio, sàmcnlc estados de espírito muito ,igqrosos pos­ pl,•smentc u111 aspeto da realidade com a sua fôrça lenitiva e
suem ,m,a energia de irradiação sôbre coisas que não têm urna lilll'l"ativa para as intenções íntimas, qtrn (como é m1úu fre­
relação imediata com a entonação fundamental existente. ql11·1lle cm temperamentos sensitivos, nervosos, dotados ele gran­
Quanto mais ;ifinado é o instrumc-nto psicológico, quanto mai� ,1,. cultura) não têm nenhuma caúsa comum, mas são sim­

ressoa e vibra cm uníssono, tanto mais bastam entonações de­ pl i •s111t·11le "estados de espírito" e portanto muito mais neces-
licadas_ para imergfr tôdas as coisas na sua coloração. Neste 11 ,idos de efusão.

260 26f
126. Sensibilização estética. - A maior distância ela in­ d1•1 tisb�inias, perigosas, e porlantn JJcu.wn 1, a11qiiiliz:11ll1·�. Q11.111-
gênua: experiência vivida da natureza e distância també111 das d11 11ií.o se aprc�enta mais desta forma, então signiíil'a q11I' Nc·
formas ingênuas do scnti1 11entalismo é a representação artí�­ 1111.i til ízou, diluiu, "subli111ou-se" em contos ou fábuln�. t,l i ·
tica da paisagem, corno se efetua na p.oesia e na pintura pai­ 1,111ti1,1ua a viver, e m . bora não tendo 111ais, como u11.1a vez, 11111
sagfatica r' de forma particular no impressionismo da pullura Jlho real, à margem das religiões corno superstição, e a .rtt­
paisagística. A nature,,a é reproduzida com uma composição /" 1 ,tição da natttreza é no povo simples 11 11) inextirpável fun-
colorida, onde para o homem simples não resta mais nada d.i 1 lt1 hereditário.
vcrdadeira · na lurcza. Com efeito, para êle ela não é mmca Fatôres míticos desernpe;nharam sc111 dúvida 11111 paprl
uma simples luminosidade ele valores cromáticos e um c·inti­ 11111iortante no clesenvoh-imento do scnti111ent.o da p;1isng,·111.
lar de luz, nern q11ando sr lhe contrapõe com qualquer in­ f,1<-s abrirão ao homem os olhos para muitos panicula1 cs da
l<·nto J)rfttico, nem tp1r1ndo a procura como gôzo. A referên­ 11:1L11rc;za cósmica e terrestre, tanto viva como não viva. O
t"ia à nal11q· ·z;i pcrck-se no beco se111 saída ela arte. E ru cer­ lio111c111 foi forçado a prestar atenção a estas particularidades,
los c:aso, ela chega a prncluzir valores artísticos muito finos e pois podi;im justamente significar qualquer coisa de ín1por-
elevados, que, po rém, são acessíveis apenas a Lun restrito círculo 11111Lc, ele útil e de nocivo, qualquer coisa que deveriã ser �'s­
de áp�ll'ados entendedores, enquanto permanecem cultural­ ' 011jurada ou repelida. Heras e violet;1s no ingresso da f;l'llla
mente irnprodutivos, is"to é, distantes ela maioria dos homens d,· C..:alipso na Odisséia n1io s5o vistoso� ornrn1w11lm \'t•gc·tnis,
comuns, sem cuja participação comovida, a presença e111otiva e 11 1.i� os atributos ela 1uorle: :,iquela gl'lll:1 /• 11:1 Vl'l'd:id,· 1 1111a
o êxtase fascinante e aproximativo não constitui cultura gc­ 111111ba com ilusórias pro1nessas ele í 1 11or1�ilic.l:-1<ie, da Ljutd cll'vt
n11ína. Êste é o ponto mais alto a que pode chegar a repre­ l 11g i 1· quem caiu prisioneiro.
sentação artística ela paisagem. Acima dêle só resta a espi­ tlhiitas denoniinaçõcs de orige1n popular dC' ci111os, gw·-
ritualização. 1-1,111tas, rios, formações rochosas, átYores e noites, indicam se111-
J11'1• a intensidade com que êles suscitaram o rnêdo e a aten­
,;�o cio ho1nem; muitas antigas denominações paisagísticas de­
l]. - EsjJirituali.zaflÍO da J1aisagwr11. ' il-nrn daí. Quando a luz desvanece, pode suceder ao homeu1
d1· boje ser assaltado ele formas indeterminadas pm wn 1110-
, i11wnto cio vento, um farfalhar ele salgueiros e um expandir­
127. Animação mtstJca da natureza. - A crença mhica s1· de neblina como se J8sse do reino dos F.lfos. J nclubitàvel-
de que na natureza habitam sêres dotados de faculdades pre­ 1111.:rtte o gôzo da natureza é qualquer coisa ele diverso; mas
term1t11 !·ais mágicas, que se pode esconjurar, conquistar ou re­ itqucla relação mítica e semimítica, além cio gôzo genuí110 1
pelir só co111 a magia, sêrcs que se ocultam nos clespenhacle.i­ , onstitui urn segun,do aspeto não menos essencial da concreta
rns, fontes, rios, pântanos, moitas, bosques, árvores, flôres, gru­ <'XilCriência ela paisagem, o aspeto animado pelos espíritos e
tas, montes, isto é, em todos os sihes inanimados, vegetais m1 p11nanto espititualizante.
ani.mai�, não é uma inserção na natureza de uma ação qual­
q1.1er 011 impulso espet1·al, semidivino ou divino, mas é urna 128. Humanização da paisagem. - O "espírito" não é
rnanife�tação \•ital da influência que as fôrças físicas e reais 1111nca para o homem comum e cheio de vida uma abstt,ata
presente, na natureza exercem sôbre o homem. f11nção inteletiva, mas é sempre uma vontade concreta; com
Por mais qnc a clc,cnfreacla fantasia da alma primitiva 1 r�peilo ao sentimento e à índole, à memória e à fantasia, êlc
-
elabore e embele1.c ªCJuela convicção, ela nunca se re\·ela CQ­ ,i�nifica. fundamentalmente o complexo de quanto há de fixo
mo inventora ou criadora, mas age absolutamente. corno . per­ ,, permanente, de certo e de duradouro na vida da alma, com­
cepção, isto é, vi,·e. de forma concreta uma revelação. Todo i 11'Ptnclida também a imortalidade: os "espíritos'' e o espírito
1.11ito autêntico é compenetrado pela realida de e pela atividade ,d1Íssi111_0, Deus.
fie suas formas e ele seu comportamento_, que raramente são A simples espiritualização da n_a.tureza não é, portanto,
int,;ênuas e neste sentido "poéticas", mas são. geralmente po- ori1·ntada rumo a conseqüências tão filosófi.ca� como estas, que
262 263
a terra OL1 urna estt:êla ·-pensa", ou que um arbusto �C'Fl t1111 Nt·�ta atrib11içiío ele lr:iços {tito�, 011 1 1 111i� g1·ral 111t 'nlt• dt�
ser que reflete. Coisas seruelhantes apareceriam ao homem 1111ços de natureza intencional e moral, -át.rili1ii,iío fritn ;\ pai
como tolices. Todavia, êlc atribui aos sêres da natureza e às �il/.(t'lll, está a sua humanização, o modo mais importrrnt,· tl f/
formas gue os encerram ou os acolhem cm si, a.s intenções do 1l'ifl(:ão com a. paisa gem q1�e nÓJ conhecemos. Ainda hojl! .1
bem e do 111al. Elas lhe parecem ameaçadoras ou atraentes, , ,prr·iência concreta da paisagem �e cumpre fregüenterncnlr
perigosas ou caridosas. Tarnbém quando a crença míticà de ,,,.�tas categorias. Ela (também para o homem, simples) l/)1-
que êles existem desaparece, certos cenários suscitam na nos­ 11011-sc abstrata no sentido que insere aq11êlcs traços, u'm que
sa iruaginação um eco que os faz viver como "enregelantes··, rli��o surja Lltn sério temor. Quanqo isto ,1c't1ntcc'<', então u
"horripilantes", "infernais" (uma característica que eu sem­ 11,il ur:eza cessa logo ele ser "paisagem", corno 11:1 tr11 qx•st11d1•
pre senti en 1crgir no Falsarcgo, nas Dolomitas), "sublimes'', dt· nev.e que assalta ele sut'prêsa os alpinistas e a1 1 1c.:aça a �11é1
'·cnvol\ C'tdc�", soh.:ncs, 111:1jc•s(oso�, soberbos, tétrico:-;, mas tarn­ \ ida, ou con10 a tempestade em alto mar, que põe a nave en 1
h1�111 pl{1 cido�, serenos, ::ilegms, mórbidos etc. Quando tais ad-· 11<•r.igo. Sômente com certa medida de segurança diante dos
jet ivo., nu·actcrísticos n;ío são suficjentes, freqüentemente re­ 1·lt·mentos o _ gô;:o antropom6rfico da natureza como fJai.rngern
corre-se aos verbos: então o mar tempesta, C11furece, repo1,1sa1 1111 na-se possil'l:d.
desencadeia-se, a parte rochosa cala-se, ameaça; enregela; o
meio-dia incuba, o frio nos agride, a chuva açoita, o ar ele ve­
rão aqiricia ou nos delicia. C. - PAISAGEM E DJ�ST{NO
Às vêzes podemos constatar urna notável contraposição em
tais têrmos e conceitos. Incubar é uma função animal cone­ 129. Vértice vital e receptividade da natureza. - 1':111lm-
xa à idéia da interua difusão de calor; neste sentido é enten­ 1·:1 com tôdas as cliversidacles pessoai� e as diversas condtçõcs
dida também a sua tran.�posição para o meio-dia; crn ve�, o l'lllturais, na vida de todo homem há um perigo particular-
outro sentido, igualmente derivado cio autêntico incubar, isto 111cnte permeável ao influxo da natureza. Isto se dá nos anos
é, o acocorar-se, o não mover-se, o sotT1brio silêncio e a imo­ clc•pois elo desenvolvimento e da maturação se,...-ual. É um te-
bitidade, que é uma característica de 1,1m homem que "incuba" 111a freqüentemente tratado e descrito. Também indivíduos,
e amadurece Ll111 projeto, é transposto para o mormaço meri­ ,·uja capacidade de viver a paisagem mais tarde se extingue
diano, de modo que o têrmo vem a indicar contemporâ J;J.ea­ 11ara dar lugar a uma obtusidade ou ao ponto de vista pura­
mentc uma sombria i111obi.lidade durante uma abundante difu­ I11Cl).tC utilitário, têm naqueles anos uma relação mais ínti1na
são de calor. "Nodoso" é antes de tudo uma característica pu­ com o ·'ar livre", com os campos e os bosques, as flôres e o
ramente vegetal, referente aos nós, mas é transposta figurada­ \'coto, às fôlhas e as nuvens. Muitos sentem um. impulso que
mente tambén.1 para mu indivíduo que tem semelhante estru­ os impele a humanizar e a sintonizar a natureza aos seus pró­
tura psicológica, e daqui se transfere para a característica cio prios estados de espírito. Estabelecem urn tipo de colóquio
carvalho num sentido espiritualizado: ass.im, quando pensa­ ,·ccíproco; sua psique ouve a tempestade, o mover-se do bos­
mos em carvalhos nodosos, freqüentemente pensamos não so­ l (lie, o canto dos pássaros, e dá a tudo isso uma interpreta­
mente nos nós físicos dos seus r:a111os·, mas êles nos _ aparecem çfio e um significado; o jovem pode imergir-se dernoradamen­
também corno a imagem da "nodosidade" humana ( caprichos le, como se estivesse sonhando, na contemplação de um cemí­
e semelhantes). "Rígido" é originàriamente um traço do C<'J.­ rio natural e de certa forma perde-se nêle, por mais modesto
ráter e ela conduta humana, que metaforicamente referimos ao que seja. A luz da lua, a noite, o céu estrelado encerram
inverno e depois novamente a nós. "Aspero" é qualidade físi­ particulai'es misteriosos. Pela primeira vez, e freqüentemen­
ca referente a uma superfície, que depois é aplicado r.netafo­ lr pela última na vida, são êles entrelaçados com obscutos
ücamente a um inodo de ser humano, em seguida ao tempo 1>ressentimentos de um clestülo da existência. A procui-a in­
e por fim revivido na pele e na psique: um vento frio parece determinada de um Desconhecido e de um Incondicional sR-
determinar sôbre nossas faces um estado de aspereza e nos to­ t isfaz a alma que está despertando; o ímpeto para a procura
ca corno um "áspem" criado. C'hcgà de repente,.. acompanhado às vêzes pe.Jo fanatismo reli-
264 265

II
f,, 11 11111 entonação discord1· (''a111liival1!1111•") ,1 q1 11· s1• 111:rni•
gi oso ou então por uma crise religiosa e freqüentclllcnte t1ssu­
lr�ta 1w sentimento da natureza dos velhoH. O prn1�ri 11 1(·11111
mc a forrna panteísta de wna deificação da naturci.a. O ho­
dn rnortc, conscientemente aceito e espasrnõd i ca111L'11t1• ara�t:i•
mem jamais se Sl·ntt·, alr(lvh da natüreza, tão identificado c:0111
cio, aü se insere de modo dl!fini'livo, no .fundo do pr-/1111 iu
a divindade, coo1 potênc .ias fatais sôbre-humanas, ou tam­
11111rchar-se, enquanto ql•e e) scnli111enlll se apega tanto mais
bém L.fo hostil a tudo isto; nunca, porém, tão absorto nêles
lt:nazmente à vida do coswo eternamente: renovável.
c:omo 11a juventude.
Uma prova disso terno-la nos casos de 11101·te, que: susci-
Quando o processo de maturação não encontra a sua so­ 1a 111 uma forte emoção (nior'Le de um an1ig<1 íntimo), torna111
lução natura] e as instânci as da puberdade permanecem crô­ d,• nÔ\'o temporàriarncnt� receptivo, para não diz1·r nccessi-
nicamcnte sem solução, rntão freqücntenrente também a re­ 1.1do da natureza, o l1oruem anc i ão antes desapai,xonado, frio
cepti\·idade à nat11 reza 1r;insforn ra-se numa espécie de cxtra­ <' estranho em relação a ela. Ao contrário dos povos latinos,
\ÍO, q11c ns�u111c o a�pl'in de 1111\ �cnti rnenlo violento e con- nrjos cemitérios são cidade$ de mortos feitas de pedra, o nór­
1-,rlscJ da p11licrdadc. /\ cnfatuação pela natureza em môças dico ocidental transforma os sepulcros dos seus antepassados
j:í ad,rltas tem freqüentemente qualquer coisa daquela con­ e111 pequenos bosques Yc:l'cles e floridos: todo nosso último des-
dição. Na vida já anr ,nçada o amor pode despertar nova- 1i i10 terreno é com efeito w11a ,·cstituição à naturern, que aco­
1uente a tendência para colhêr a natureza como espelho de ll 1l· temporària1ucnte aguêlcs q11e entram no c•trrnn n•pt,11qo.
uni estado de espírito e revivê-la em formas antropornórficas.
Manifesta-se então nas poesias �entimentais: rnas também nos
grandes poetas existe aquela conexão; tôda poesia. paisagísti­ 130. Paisagen1 e alma popular. Sc1111·llia11lcs ao cnc:a11-
ca de goethe flutua segundo a sua orientação erótica: também to da paisagem nos anos cio dc�ü11volvi111c•1H(> ,, ao rctfü no à
11:11ure:i:a na idade avançada são os reflexos das tradições po­
a sua última grande poesia da natureza e do amor, a canção
escr i ta ao luar aos 79 anos ( Oberselig isl die Nachl). p1ilares na natureza circunstante e desta naqueles (por exc111-
Dois atos psicológicos da puberdade confirma a expenen­ plo, nas canções e na pintura, nos campos e no� jardins). To­
óa da paisagem: a "tirnose" geral, e excitabilidade da parte davia, ainda se discute se tal reflexo significa mais que uma
emotiva da vidn intima, que pode chegar às vêzes até uma l'ef!exão isto é, se implica um modelamento da alma popular
caótica confusão do espírito, e um aumento da faculdade /mr efeito da paisagem, onde vive um Pº''º·
visiva conhecido como "eide_o;e", que transforma um material Para dar resposta a tal questão é necessário antes de tudo
-agradável em irnpressões. Arnbos estão cn1 conexão c:om trans­ Ler presente uma distinção muito importaute. As rnultíplices
posições tônicas fisiológicas de todo o sistema corpóreo e de­ 1,·orias, que desde a antiguidade tentaram explicar povos, cul-
· saparccem quando elas se esgotam. A receptividade da pài­ 111ras, histórias, for•mas polít-icas, espirilualidade, civilização,
Séig-em na puberdade é, portant0,, em grande parte um fenô­ rr!igião, arte, essencialmente corno resultados do ambiente na­
meno biológico n1ais que psicológico; justamcn le disso depen­ tural, 111uito raramente distinguiram os influxos fisiológicos da
de a sua freqüente falta de sinton ia com o espú·ito corno tam­ rli111ática e as im pressões da paisagística. Contudo, justamen-
bém a rapidez com que pode comparecer. 1(' por êste problema étnico, existe uma grandíssima diversi­
O cnvel/1.ccimen.to comporta er·n geral urna segunda in­ dade entre aquilo que o corpo humano sofre cotn o seu am­
tensif i tação da receptividade na gratidão pelas sinceras alegrias biente ( o que em certas circunstâncias influencia também as
que ela proporciona. Sól, calor, verde e flôf es: indubitàrn l­ ,ua,� ps_í.quicas elementares), ou se é aquilo que a psique hu­
mente na cre�cente receptiv idade pr'irnaveril ele indivíduos an­ mana ( ainda que seja através do instn1mento sensível do seu
ciãos intervêm também emoções antropopoéticas. A recorda­ nnpo) · cxperime1 1ta neste ambiente. wfostramos em diversos
ção coletiva di 1 "primavera da vida", o tempo da juventude, pontos como freqi.ientcmentc as duas ações se inten'.alam ou
o melancólico aba11dono à recordação e o refugiar-se num concorrem para um único efeito, mas não é inútil rcpetí-lo
eten10 retfü:no daquilo que pode ser vivido apenas urna vei 11rais uma vez: enquanto um clima pode determinar ou so-
na própria existênci11, tudo iss'O impele na velhice a se pro­ 111cnte .condeterminar a veloc idade de movimento, a intensida­
curar no eterno resw11ir da nature7, a um reflexo agradável. de do rendimento, a medida da fadiga ou a favorável ambien-
267
266
"-
tação e quantos nêle viven1; os conteúdos da existência deri­ l(l'c" e ''melancólico" possuem u11Ja b:1s1· IJ�irnlógirn wtnl111(•11-
vam da paisagem, antes de tudo diz respeito à sua capacidade 11• cliforente ela plenitude e da indiferença. A COJH"-ÜIO d11 1u1·­
ou abundância, depois também ao seu estado concreto. lnnrolia com uma férvida fantasia é outro tanto ex1·111plal'
Po� aí se compreende como é necessário procurar no 110 ramo étnico do Médio Reno-Palatinado.
esjhito· e na /anlasia ele uma população as influênciàs essen� Tudo isto deveria ser estudado no8 particulares de 11111
ciais d.i paisagem. Há agora um fato específico seguro: têi� folclore fundado em ba$eS verdacleiran1entc ri(•ntíficas e obje­
das as populações alpinas da terra, nos costumes, na arte e tivas. Na fase descritiva e de coleta de dados não há outras
nas crenças populares são ele uma fàntasia mais rica, mais va� nttcgorias para a ciência senão "exato" e "i11c•xa10" (rcm­
áada, mais móvel em comparação com os habitantes das pla-. l(lltinto isto esteja longe de esgotar a taa·efa da po�q11iS}l). P:u-
nicie�. Até mesmo onde a,s condições étnicas originárias (es� 1 ic-11larrnente atraente é no campo da nossa probleJ11ática 1l
coccses) ou aconwci1rH.:n tos político-religiosos (suíços) apresen-. la(·ilidade com que conceitos analógicos podem vir à tona eui
lfl 111 111m1 considerável passionalidade, permanece uma farto 1•n1Hextos diferentes, sem explicar nada na realidade. Urna
poté:ncia fanláSLica, que se manifesta na fé ou na poesia e nos, 111onografia sôbre Labrador pretendia por exemplo derivar dos
costu 111es (folclore). Sentenças como "Fris.ia non cantat'' não, Mrnndes contrastes de luz da Antártida um �cnso nomáticQ
podern ser tomadas muito ao pé da letra, mas encerram an­ ,los esquimós muito superior àcj11d(' dos pov().� 1 rnpicais, cn­
tiguíssimas experiências. N urn país como a Silésia com um q11anto que é evidente que a nbundância das C<JJ'\'� tio� tr6-
complexo multiforme de montes e w11a plan5cie fertilíssima pirns embota os olhos. E quern não sr lrmhrn q111· w 1rnlo11
(sem sombra de escassez, que poderia produzir nos homens. d1:scle os tempos remotos explic:;1r a t�ultura pilúri<·a dos pm <•s
uma pobreza interior) o contraste entre a plenitude da expe­ 111ecliterrâ.neos justa,::nente con1 a adon1esLicação do seu Olho
riência fantástica dos habitante� da planície é evidente. Um ;1 abundância cromática da sua paisagem circunstante, à faltn
outro exemplo dêste gênero é dado pela distinção entre o, 1k 11111 verdadeiro inverno, ao azul profundo cio mar, à pleni­
planalto ela Baviera e a populaçã.o cio planalto em tôrno ele. tude dourada dos seus tramontares? É um exemplo de uma
MuniqLte até o Danúbio. As zonas alpinas formam até hoje­ .1pressada conclusão sem base científica, com que se pode ex­
o campo da produção artística popular, enquanto que política_ plicar tudo OLl nada.
e economia receberam maior impulso na planície da Alema­
nha do Norte. À parte a intervenção sobrenatural de Deus, 131. Paisagem e sorte étnica. - Nenhum aspeto psico-
não se poderá .interpretar tão fàcilmente como um efeLto ex­ 1,'igico c:lo caráter t\tnico é irrelevante para o desenvoh-eMe do
clusivamente político o fato que a maior parte das zonas mon-. destino de um povo, sequer no seu modo de sentir a nature­
tanhosas da Alta Alemanha tenham permanecido 01.1 voltado­ n. Assim, como povos sensíveis à arte ou fanáticos não se
pa.r:a o catolicismo baroco, que à indiferex1ça do intelecto e, pode fundar e conservar um grandioso, império, poJque não
da vontade opunha multíplices e vigorosos apelos à fantasia porleríam mais satisfazer aos suas exigências íntimas. Pelo
e ao sentimento. 1p1c· sabemos, não há exemplos de impérios duradouros go­
É agora muito importante notar que aquela indiferença-, , t'rnados de zonas montanhosas, conquanto uma posição cli­
e aquela riqueza ele fantasia não têm nada que ver com o ílcilmente acessível pela altitude apresentasse enormes van­
temj1ermnento e coro o caráter, que são condicionados e plas-. trigc.ns para a defesa de uma capital. Poder-se-á tah-ez ale-
rnados muito mais fortemente em parte por fatôres antropo-. 1-;:tr corno explicação que a forma de vida JJsicólÓ[!. Íco-socinl
lógicos hereditários e em parte por acontecimentos históricos. «l:cs paisagens montanhosas conduz ao isolamento elas suas po­
Assim o planalto alemão e o bávaro têm uma conformação, pulações eni zonas de influências limitadas e pequenas, ao pas­
caz,açterológica diversíssima, e com uma pontinha de verda­ \1l que as plarúcies são muito mais propícias para o aflu­
de ccmparou-se o cumportamento alemão com o da Baixa Sa­ ,n e para a consolidação de grandes massas humana�. Df'
xônia.; a plenitude da fantasia expressa no folclo1:c, em cultos:: Íol'ma absolut-a não é., porém, simplesmente a objetiva articula­
e manifestações artísticas populares unc1, porém, ·em dois ··ra-. ç:ío da natureza que impõe êsses diversos fenômenos ét-
mos étnicos das zonas de montanha. Qualidades como "ak-- 11i1·os, mas também o seu reflexo na mentalidade da popu-
268 269
1,1 : a alma popular na sua rnfcrú1 1cia ;'1 p.1i�:igo 1 1 1 1' nn sua
lação : já os animais erram muilo mais amplamente nas gran­
t'OJHTcla experiência da natureza ainda é q11a,.c u 1 1 1a 1 1:l'l':1 vÍI'·
des planícies, não apenas porque isto não lhes é nmlcslo, mas
•.,• 1·111 para a ciência.
porque a plankic ilimitada não apre�enta nenhum obstáculo,
ncni ,cqut'I' ps.içologicarnerne, à sua movimentação, ao pa.�so 1 32. Sentimento da nature:,;a e condições cuJtmais. -
que i1s JXl, (•eles montanhosa� não s6 restringem e limitam o l',irn que a natureza se . transfonnc ein paisai.ç1·rn, é nece,sá l 'io
campo visivo - ótico, mas também o psicológico. 1 { 1 1(' seja domada até certo ponto. A ternpr� 1 adl' de nrw, que
Todos sabem que um ambiente montanJ\oso até mesmo J 11ic a vida .cm perigo, podemoo \'ÍVê-la pahaglsl ir;i nwntc n0
nas imediatas adjacênciiis é quase inesgotável em opor obs­ 1 11:í xi r.110 quando retorna mais tarde à lemb ra nça ( <' tal l -1'/. 1·c•­
tác11'os para se Sllpenu, ao p:i�sú que a planície continua sem­ I 11 1•,c(Jl{1-la co,mo mn fator ernotivo da paisagem ) , mas não no
p re a mesma o : 1 l rt1 i n nlli:1r para a amplidão do horizonte
1 1 1u1 11cnt9 do seu enfurecer. Somente depois da sua insersão
ili111itadl1. Nesl ::i )1 1 1 1plidfio está a rna própria grandiosidade ; 1 1,1 ✓.ona civilizada ela terra, com construções de estradas, po­
n ,t: 1 andiosidndc• d:i ti1ont.i11ha, em ve;,;, está na sua riqueza de , 1 1.idos, meios ele comunicação, alojamento para animais e pa-
1'0111 ,a�. 1 1 lt on 1cns, foi que a alta montanlia perdeu o seu pncler ai11c­
e, portanto, também a na tureza rnrno paisagem, que em r l1 011 ,ador; só a navegação a vapor lornn11 ar<'s�h 1 ·! n0s l i o-
certos casos forja psico]ogias h istôricarnente decisivas. A êste 1 1 n•n1. o mar como paisagc111. E11fi 1 1 1 , sô 1 1 u•11I(' l l l 1 rn sit uaçfio
respçito, porém, devemos reconhecer que e.stamos apenas nos 1 k rela tiva segurança diant<' dos '·(•lc· 1 1 1('n tos" 1� pos�ívul rl'vi-
inícios de tm1a pesquisa histórica, que descobre os povos não 1 1 ·1 a natureza como pái$agcm. l.k foto, l'Om(i l;il 1•la (, no
rnaiç extlusivamcnte como objetos, mas também corno sujei­ l 1 1 1 1cl1.1 u,1 1 espeL,íc.uio, q1jo efeito agrnd::\vel dcpcnd 1 · do fato
los, com fôrças que dão impulso ou afrotD,am o processo hi�­ ,1, . nçio oprimir o espectador. Tôda cxpcriêncin da pai�agern ,
tó1·ic;c,. Todavia mu itos dados incompletos e prematuros pu- dn mais primitivo sentimento da natureza � apurada 1·cpre­
111 Iam já entre as dobras de uma geografia política ( como �1·111ação artística, é sempre de alguma Ionna um gô z o .
scmpn: nc início ele novas considerações científicas ) , e nos dão
bo8 base para consti 1 1 1ir uma fonte de conheci !Tl ento de fôr­ Por isso, no curso da evolução humana, o gôzo ela paisa-
ça_; até: agora muito pouco considera das na história. As pes­ 1J1·1 1 1 acompanhou e ramificou-se na civilização e no crescente
qui,as biol6gicas sôbre tUlJ ou mais povos nos esclarecerão o durníni.o do hoU1ern sôbre os tesouros e sôbre as fôrcas da na-
aLc,mce. efetivo (além de outros fatôres) das condições clim á­ 111 reza. Os tempos modernos forarn particularmen,tc íavorá­
tica.1 da existência para a forma e a mudança fenomênica, pa­ , (•i, para a sua expansão, justamente j1orque promoverarn um
ra o tipo local e talvez também para a propagação racial, pa­ 1•x 1 r:1ordin6rio progresso da civilização. E os seus maiores be-
ra a capa cidade e tenacidade de Tendimento de uma po­ 11 1 'Íic·iários, os abastados, nós os encontramos, como j{i na tar­
pulação. tl :1 an tiguidade, como protagonistas ela pajsagem que se aper-
O conhecimento das paisagens onde se desenrolou a his­ 1 ,·it;na e se d iferencia sempre mais. lvfas também para a rn!S­
tória nos convencerá como o transcorrer da história, o seu sur­ ili:1 dos homens, o genuíno gôw ela natureza túrnou-se mais
1 ;1,10 e comum, sirnplesmynte porq,1e menos perturbado. Os
g-ir e o seu desaparecer são condeterrninados por parüculari­
1 1 1 •iig os das quedas de raios e da� tempestades 111arítimas, dos
dadt>s psicológicas, que tem a sua origem e se desdobram pela
,11,irna is rapaces e das epidemias foram quase todos elimina.­
njif-'Yit1ncia da natureza como paisagem. Se nós, entre as ca­
r im. A fadiga no contato com a natureza tornou-se leve, a
l',lClerísticas- etnológicas anotarmos também o tipo de cosh1-
l 1•1·1iica simplificou tantas operações que há um século ape-
n 1e• e de crenças, o culto e os costumes, a poesia e a arte ( o
exemplo dos grego� atesta que 1,H U povo, embora poEticamen­ 1 1,1, con_1portavam dificuldades e riscos de tôda espéci.e. O fato
q ue boje camadas sempl·e mais amplas e simples de po\'O par-
lc insignificante, p,�ck ter para os pósteros um valor indest.ru­
1 11 ipam cio gôzo ela natureza é um te�temunho da sua con-c-
tÍl'e!, igual para o Ocidente àquele dos romanos, politicamen­
1.i,;jci com a civilização.
!c podcrcsm) então é fora de dúvida que a paisagem e a sua
concreta c;,..-periência apresenta um contributo essencial no des­ .\fas as condições culturais não se -esgotam no nível da ri-
tino dás populações. Há aqui um campo imenso de pesqui- 1iiz (lção. Ê necessário, com efeito, distinguir entre cultura e

270 271
civil.i :.ação. Pode-se falar de autêntica cultura apenas lá onde 1 1 11 1 1adri, rases do des(· 11vol1 i 1 111·n1n, pD1 1•x<• 1 1 1pln, n1) isol:11H('1 1 -
o povo, (ou um grupo de povos) subordina o Conteúdo e as 1 1 1 <· J1a solidão, foi s1·11 1p11· 11 1 11ilo forlcrnentc ct1l oi id:1 por
formas de vida a u 1 1 1 valor espiritual supremo forjando-os sô­ 1 1 1 1 1:1 experiência paisagl�tic.1 ( dt·s,•1 I() ; n1ancl 1 as; noites pol:i­
bre êles. Neste sentido i dades humanas muito pobres em civi­ , ,., : auroras boreais ; tempt•stadt·s l'h . ) . Blr.mento essc.ncia l d ()
lização possul ra1n urna elevada cultura e uma época muito ci­ 1 1 1 isticismo e do panteísmo li 1 11á1 ico foi cJ,, lc111pos imernori à is
viiizada não comporta necessàriamente uma "cultura". Tal " l'rn briagucz da imersão , . da i rn personiJic:ição sentimental
fenômeno não pode deixar de ser considerado e tem um sig­ na paisagem. �1fais ainda, p1Jré11 1 , isto ,•:tlr• p:i.rn ri poesia,
nificado profundo ta1nbé111 para a visão que u!U povo tem da pint ura e rnúsica. Aqui a t'xpcriência ela pais:1.l.\'c 111 rriou rcal-
natureza e da pàisage1r1. Quando a natureza , como nas gran­ 11 1t·n te nm·os gêneros artísticos, q ue transforn 1ara1 1 1 1· ;n II pli :i-
-cles religiões n�clcnl·onis, (· qualquer coisa que deve ser supera­ 1 a11.1 o reino da arte, enriquecendo-a c:om novos horizontes.
d a , <·1itfln o direito t· ;i facu ldade ele gozá-la poderão desdo- Uma obra popularíssim.a entre os alemães, o ''Franco Atirador"
1 1m r-s<., �ú,.inl 10s não obstante ou contra as concepções funda- ( dr r Frei.rdziil.z ) , {; uma poesia de acentuado tom paisagístico :
1 1 1cnu1is do1 1 1inames. Eicl1endorf[ vi1·e e movimen ta-se na paisagem : C:. Da1·id F 1ic­
Quando, porém, ela é vista antes de tudo como obra ele clrich e Ludwig Richter conw Hans Tho111a sflo paisagem trans­
Deus ou pante1sticamcnte como o próprio Deus, então a imer­ formadas 6111 irnagem ; e a u lnrn� se1 1 1clha 1 1 1 1·s sfin \'tH·ont r:.1tlo� t·1 1 1
são nela, o colóquio com ela, a referência dos seus fenômenos 1ôcla li teratura moderna. Assi1 1 1 , q1 11io grnncl 1 • 1 1i'\o foi : t parlt· q 1 1c
ao homem pode tomar-se o ponto central de tôda espirituali­ (nmaram na h i,tória cl:;i :lr'll' < loi� 11<1 1 1 11 •� ,·n1 ,1co l{ 1 1 i�cl l 1 < · l (' va1 1
dade e _sensibilidade. Não há dúvidas que o nosso século, tan­ C :ogh ! Na J;intura nwr/1 r11c1 " p11i1(1!.!_1 111 101 1101t-.11· 111110 /J/1 1 /1'
to no cristianismo como fora dêle, tende a esta segunda con­ r/11 huma11id(ldl'. E111 geral rll'st<· ,·r111 1po não t1 1 1 1 ais po,�Í q •I fa­
cepção. f�le aspira a uma naturalização ela espiritualidade e lar de experiôncias puramente in tcrir1n·s, pnis n11nca u 1 1 rn .:i t ivi­
a uma valoriz;ição das potências naturais da existência hu­ dade ci·iadora esteve na humanidade tão próxima ela terra.
mana, abrindo assim novos horizontes também à e:-rperiência
da paisagem. 1 33. Valor recreativo e fôrça catártica. - O que hoje é
O problema iuais alto e sem dúvida tàmbém mais difícil possivel capta r cientüicamente das correlações emre condições
nesta problemática é apresentado pelo homem genial. De culturais e sentimento da natureza, parece ser ao primeiro
acôrdo com a direção da sua fôrça criadora, a sua experiên­ ollrnr qualc1uer coisr1 ele u 1 uito banal e comum e não ter ne­
cia paisagística terá naturalmente uma importância de alcan­ n h uma relação exata com a i111portância da paisagem. Isto,
ce muito diverso. Moltke, como permitem acreditar suas cm·­ porém, não parecerá 1 1 1ais ,·ercladciro caso Cónsiclerannos que
tas_. erã um espírito dotado ele urna sensibilidade agudíssima " homem dêste século procura na natme;m rambém como pai­
para a paisagem, todavia não é verdade que ela tenha algu­ �ap:em lima fôrça rcacn:ati,·a mnna clinmnsi'io jamais conhe­
ma vez exercido qualquer influência sôbre a sua avaliação es­ cida an teriormente.
tratégica da paisagem ; considera-la-íamos num capitão como
Esta confiança provém da jJTofnndidar/ 11. da nl m a , e não
um sentimentalismo não objetivo e perigoso. Também o che­
é simplcsrncnte uma elas tantas noções científicas. embora tão
l'e de uma expedição colonial dificilmente escolhe o lugar pa­
prc,iosas, de natureza higiênica e terapêutica, fruto ele ra­
ra acai11pamentos tomando por base regiões de paisagem esté­
ciocínio.
tica, (!lte n�o s(;'jarn romemporâneamente {it�is. Uma bela
, ist a, ambientes encantadores, trarnontares magníficos, um azul Ainch\ urna vez a parece a diunsid ad e essencia l rmtrf/ in ­
carJ"eg-ado do mar não são pontos de vista que podem deter- i/11 .\0J climtí.ticos t' impressões paü a.gísli cas. Higiene e terapia
11 1inar a viela e a colônia. Conseqüentemente podemos consi­ rlimática, tôda "geom edicina", seja que se aplique ao indiví­
c'crar como irrelevante o influxo das impressões paisagísticas duo saélio ( por exemplo ao colonizador) ou ao doente, é tan-
s,ôbre o gênio da ação. 10 1 nelhor 1 isto é, mais segura nos seus sucessos, quanto r 1 1ais
Coü1 a ati\'idacle idealizadorn e im. aginativa as coisas são s : atém ao cxari1e racional dos efeitos psicológicos e psicoff­
diferentes. Uma concepção religiosa, especialmente em deter- �1r.os dos fatôrcs climáticos e da totalidade do clima. Tal pon-

272 1 A • Gflo)1,, fquo 273


to de vis_ta impõe-se sempre mais e com justiça, d1•sde quan­ ,,, 1iil,t1 lt!n 1ente a conser\'ar 111 11a natureza densa e relativameu-
d0 a raélonal utilização cio clima em favor da saúde da hu­ 11· i ntata próximo às cidades,
manidade e do rendiHiento do homem atraiu o intcrêssc dos A reação dos homens À paisage 1 1 1 é diversíssima, e taril-
6rgãos responsáveis e da opinião pública ( § I 35- .L 38) . 1 1,'· 111 entre os l'noradores ela cidade, ulgLms são por ela apenas
f _ex1�eriên<;ià, porém, ensina também qual é a sua im­ / orados", ao p)'!sso que out ros lhe sft' o realmente alérgicos.
portancia mclus1ve na aplicação dos fatôres curativos exclusi­ \lt:rn sempre isto é .conscicn1emcntc captàclo; um passeio re­
v_amente físico-químicos o estado psicológico, por exemplo, con­ i'1 c:Hivo , behl escolhido do ponto de vista cli 1 nático, pode ser·
fiança total na virtude da prescrição, a' confiança no médico pc·, 1- urhado por um aspeto oprimente ela paisagem, ou, vice­
a sugestão das pessoa$ t•ircunstantes ' a " J)Sicoterapia" ccnsci'en� H'rsa, pela sua veste pobre e desmaiada. Existe111 não pou­
. .
te e mconsc1cnte. Traba ll1{) e exercício desenvolvem a sua ação ' o� indivíduos_, que a grandiosidade do l\rfar do Norte ou dos.
de un1_:i partr _atravPs do l'l'forçarncnto físico dos músculos, a1:­ •vnncles picos alpinos "abate" por inteiras semanas, embora o
�:<'u laçot:�, S!'nbdos, ncl"vos, mas ele outra com a subjetiva con­ ·:n··· lhes seja utilíssimo. Vice-versa a quem necessita, ( não
liança na renovada capacidade de rendimento com a aleo-ria � ·1 procura i ) de fortes· diversivos para as suas vicissitudes pro­
da atividade e a sati�fação da criação, numa palavra, a e:pe­ l h:onai..5, uma doce paisagem colinosa "diz'' muito pouco e é
riência vivida da ação . De igual forma a ap)icação climátiça " 1u ü o insigni ficante.
tem o seu aspecto mais imediato na paisagem de um clima. A lu­ Na dor, a fôrça puri ficadnrn d!' u ma nalur-cza ele nôvo
minosidade do sol em si é tranqüilizadora, e poderia ser anotada 0 f:1cro é conhecida
j:í h:í 111uitó tt·n1po 1 ns filhos dos ricos são
entre os fatôres propriamente clirnáticos, mas a sua fôrça mais 1•11viados para viau;ens cnr Lônrn do 1 n 1 1ndo q uando devem
elevada de reanimação desdobra-se na repartiç.<"í.o inesgotável !'Onsolat-se de uin amor não rm-rc•spo11dido. O efeito rcsul-­
de luz e de sombra, na mudança das côres e das formas, que t .mtc não <:onsistc apenas n.n �squeeimento, mas numa trans--
eíetua na paisagem . O homem torna-se então tanto mais re­ 1'11r, 11aç;ão profunda dos valores : diante de paisagens imensas
ceptivo por esta "terapia das férias" , qu anto mais :;is vic;ssi­ "' serenas, m6rbidas e silenciosas, tantas coisas que pareciam
bde� ela �ua existência o a!astam da naturez a. A urbaniza­ 1•11eirmes tornam-se pequenas, e o eterno a parece com maior
naturer.a e
çiín da \· ida o põe novam ente cm contat o com a P• idência em relação ao transitótio. A paisagel1'1 op ortuna-·
ente diferen te. Os proces sos de , 1rnte escolhida, graças justamente <1,0 1·equinte do moderno,
ela lhe fala com vm tolalrn
espirit ualiza ção ela paisag em se desdob ram es­ ,1·ntimento da natureza, possui urna grande fôrça de catarse.
enlonação e da
nto da civiliza ção
$encialrnente sôbre êstc grau do desenv6lvime \fo citad ino a expetiência de t1ma noite ao ar livre, a contem­
ho inatu­
industrÍal. A sorte semjne mais gra;;e de um trabal pbção do téú estrelado, uma paisagem l unar, no verão ou no
máqu inas,
ral que grrwa sôbre a h. umon idade , escrav a ri.as suas ,·01·t1ção do inverno, pode provocar forte comoção psicológica.
sempr e mais pura.
pmvo cá uma nostalgia de um.a natureza \ alguns isso é cornpletarnente negado : vemos, todavia escra­
gue seja,
Tàrn bfr t o parque, por mais be1o e fascinante ' os end urecidos no trabalho, cuja alma "funde-se." apenas em
::t m uito a artific iosicl:i de geral da vida ; quant o mais a 1 )1 est'nça da natureza distante da cidade e não diante elas obras
lembr
mar, de­
natureza está livre da artificiosidade ( alta montanha, , ,,. arte ou ele uma experiência religiosa. A própria Igreja
) tanto maior é o seu valor recrea tivo. 1 i11-se 9brigada a adotar o culto divino ao ar livre_, não sàmen­
serto1 floresta virgem s
p praze r. Se depoi
Em todo caso êl� é rocur ado cont maior ão. Com
lP porque os jovens não podem mais dispensar os passeios clo-
cnte benéf icos, é outra quest 1 .ii nicai,, mas também porque êles se sentem mais bem di.s­
os seus efeitos são i!!Ualm
clima prej ;1dici�I
efeito, ni\o só tais paisagens podem tct um pwtos para os valores eternos quando diante de uma paisagem.
; tamb ém a e..'Cper1ênc1a pat­
à "r,ychofisic;'·, mas a superexcita m \ ..re�peitc, lembramos -que as lamentações contra o "panteís--
set' exces siva, psico logic amente predo­ 1 io ou contra a "divinização da natureza" não e.Jiminam do·
sa. gístic a corno tal pode a poder desen-
tal
minante , e é ' JJ0rtanto , preparada de modo es· �,mu los
1 1 11 1 ndo êsses extraordinários fatos psicológicos. Seria bom, po-
vale a regra do� , 1'•111, inclusive nas instruções religiosas, solidificar as relações ho-
volver u ma ação recreativa. Aqui nota hoJe que
e 72) . A polít ica floi"e stal 1 w11 1-nat1.1reza, e ensinar aos jovens a subir das belezas do cria­
m ais tênues ( § § 70
utilidade e tende con-
um bosque natu ral tclll seu valor e sua dn ao esplendor daquele que as fêz.

274 275,
Também a medicina encontra aqui um nôvo c:,irnpn e no­
\·as perspetivas. Após um século de pi•ogressos incrí\'l'i�, q11c
,-enceram numerosas clocJJças e prolongaram considetà, 1·l11rcn­
t0 a 1·.ida humana, a personalidade moral e espiritual do lio-
1ncm rcclnma turmdtuosamcntc os seus direitos. A •'il'l'adia­
ção" freqüentemente se m,mifesta sob formas estranhas e pe­
rigo�a�, e o elemento racional benéfico deve então impor-se
tambép1 com a violência. Todavia, todo fator elementar in­
serido na natureza hurnana rccla111a os seus direitos, e não es­ CONCLUSÃO
[JCra o bem-estar de comiderações racioIJais e sofisticadas.
Cn111clc• pm·1,• dos l,on1cn� ocidentais sofre pela profissão TAREFAS DE UMA GEORGIA
ad1r11irid(1 /Jól Mrlc. Novas legislações sociais estão h·abalhm1-
do parn evitar lal inconveniente. Enti·ementes, porém, quem
súft·c não se dá por satisfeito com ouvir exortações à paciên­ 134. Ciência aplicada. - Conquanto tôda pesquisa, no
cia. Também no homem cio século XX, que deseja sarar e \1•11 processo, seja autônoma, todavia 11111itas q1.1cstões de pro-
procura um repouso recreativo, o fator ético é no\·amcnte 1,11,mas científicos, e pr'ecisamcnlc dos problcn1:.is cs�c.:nciaís,
muito forte, a. sua personalidade lU()ral exige distensões. e h,
bertaç .ões, que nenhuma terapia física lhe pode dar. Curá e
il:1<Vie com base em preocupaçõc� sõhrt· a vid:,1 p1·[t1ira m1 �a­
hrc 1110\·imentos ideológicos.
recreação são sentidas embora muitas vêzcs de modo incons­
.\ienhuma pesqui.�a cicntffica, pol' lllai� adc,·cnlt· à vida,
ciente e obscuro) conio catarse, ou de qualquer forma não con­
1 c·solve por si mesma questões religiosas 011 {ilosóficas, políli-
sccuth·eis sem catarse.
1 .l� ou técnicas. Mas nenhurna pesquisa, por mais absh·ata
Os valores recreativos rc•entrarn naquela esfera racional d,t vicl�, permanece sem conseqüências para a solução de tais
que no século XfX proporcionou no homem doente tanros be­ pcoblemas. A ciência rnodificoll a imagem do mundo quan­
nefícios. Os wilores recreativos ela paisagem condensant-se po­ do permaneceu conscientemente nos seus limites e. não quan­
rém, na experiência irracional ela natúreza: são êles ele modo do saiu à J1rocurn de utilidades imediatas ou quando prel.endeu
especial fôrças catárticas, e a êle, se volta todo ser que aclver­ ,1•1· uma ideologia. É um direito qu_e assiste aos cientistas es­
lc o seu destino como que obscurecido no seu significado, di­ l1·nder à vida prática os resultados do seu campo específico.
lacerado na sua totalidade e perturbado nas antiquíssimas or­ ,\ 1 ai; a elaboração dêsses dados em vista da transformação da
dens de valores. ,·,islência pessoal 011 social, devem deixá-la aos cultores das
disciplinas práticas, sempre recordando que onde pretendc-
1,1111 desempenhar diretamente semelhante tarefa, abandona­
mm o terreno da ciência pura e a sua autoridade não mais
os protegeu. Esta, porém, garante-os até quando se limitam
;1 informação e a exprimir juíws relacionados ao seu campo
1·spccífico.
Tudo quanto dissermos nesta conclusão deverá ser enqua­
.\1 :ic.lo Cll) tais limites. Pretende ela apenas rnosirar com dois
,·wmplos qual é a importância que pode ter o cOF1heciu'1ento
111•opsicológico além do seu valor de puro conhecimento cien­
tdi,'o. A geopsicologia recebeu também fortes impulsos das
1,111d.anç,as de teor de vida, dos problemas higiênicos, do dc­
·••11\'f1lvi.111ento social de novas camadas da população. Fre­
•1111•11tc1ncnte procurou sabet por que o m.um;lo e o homem se
276 277
'
-modificam e o gue descobriu modificou por sua vri o mundo 1, 1� 1i lngt'llJ. de ac6rdo co1 11 :1s l'011diçf>cs Jm•11·01•0!6gi rn s. Niiu
e o homem com êle. . , ln:ita apenas de Cüid.aclo�, se hem urn compnrl:111ll'nlo r;i-
D��de tempos remotíssimos existiu uma "geutKia", urna 1 lru1al ( no mar, na alta 111m1L:inh:i.) �cj;i particular111cnl': i111-
config w'ação da terra em que vivemos, para melhor possuí-la, 1111rtarte e frr(JÜentementc ainda J1111itn pouco valori%ado; rN-
para torná-la sujeita, para adaptar-nos a ela. Hoje ela possui 1.111 ,os hoje na épc-ca dos 1•x:i.gcms 1·1, 1 lodos os campos, na
o seu direito de consolidar-se numa ciência. Se os indícios não fll'Mrtrl'a de luz como ele �,r, clepnis de g,·t·açõcs que levara,11
são realmente falazes, o momento presente está particular­ 11111n vida predorninantemcnk encerrada n:-i <'idatk e na casa.
mente preparado para empreender o trabalho em tal campo e ( lt·:i, também com rehção ao sol o nosso modo dl' \ ivt.:r eleve
propoi· muitas questões às pesquisas neste sentido. �r•i educado pouco a pouco, sob o influxo das rioçõc� l'ádio­
•'► inlógicas, à exata dosagem de luz e de sombra. Ap6s as
Instância fondarncntal para a ciência é que todo tipo de
ação e tk influência gci'll'gica seja inserida e descrita na for­ 11 1:111ias extremistas é nece ssário encontrar o equilíbrio. Dian­
rna de um 141Jograma nurn prospeto do complexo dos el'emen.­ tt· de situações meteorológicas gravosas, Como o mormaço, tam-
lflf r:nete6ricos, climáticos e paisagísticos que caracterizam uma
1,(-m as exigências do serviço militar foram há tempos re-
loca lidade. Tal prospeto deve ser o mais exato possível. 1·stucladas em algumas nações (prevenção contra a insolaçã.o1) .
Apresentei a êste respeito propostas detalhadas, e o eco susci­ Quanto ao fi:ihn e ao sirorú, as JH'SS<)n$ de.diradrts n 11111:1
tado a seu favor entre os médicos é urbanistas mostra que ,1tividade mental, cspecialn 1cnu• os c•s11,da11t·cs, d 1 •vr•1·in111 pôr
isto corresponde realmente a uma efetiva necessidade. Ób­ 1•11 1 prática racionais nwdid::is d1· :dlvio, 1·01110 mod.l'l'aç1io, l.a­
viamente o primeiro passo é a constatação rigorosa dos fatos. vagens, repouso em posição hori�ontal por 1 11 11 h 1·1·vt• 111◊11 H•n­
Com um sistema internacional convencionado de cifras ln e semelhantes.
-e de siglas é possível representar num diminuto espaço car­ Um subcapítulo parti.culal'J11cnlc i111 portantc é representa­
tográfico tôdas as relações essenciais enlTc os vários fatô.res. de pela justa adaptação à t.eoria dos J;erfodos. Na divisão
Também o trabalho de pesquisa dimatográfica deveria com­ diária .e anual dos períodos de ensino, na determinação dos
p l etar as lacunas e as incertezas existentes, por exemplo, no períodos de repouso (pausas e férias), no horário das aulas,
clima fluvial. Por fim a coleta dos geogramas, no maior nú­ t·specialmente no tocante às matérias de ensino e curvas do
mero possível, é w11 pressuposto fundamental para urn plano e rl'ndirnento diário(§§ 92-93), a ciência geopsicológica tem
uma açãó geúrgica rac.ional. i'1teis conselhos a dar. Na avaliação de urn problema como
o ela melhor divisão do trabalho dos adultos durante o dia, a
135. Comportamento certo no clima. - O modo mais curva do rendimento diário, da pausa do meio-dia e a rc-
simpfcs de se aplicar a geurgi,a é a adaptação racional do no�­ 10111acla pós-meridiana deve absolutamente ser observada (ho-
1 úrio inglês) .
so teor· de vida a tm1 dado clima e a dadas condições meteo­
roló1!.icas. O homem primitivo provê instintivamente a isso A insubstituível importância do primeiro sono noturno
qwrndo -repousa dur·;mte as horas quentes, pratica ginástica anterior à meia-noite força, por exemplo, os poclêres públicos
movimentada durante o frio cortante ou Se refugia à somb ra a lll11a enérgica luta contra os rumores noturnos da cidade.
nas horas de sol mais forte. Têrmos como hábito, plenttucle ,\s prejudiciats anotmalidades do sono (§ 90) e da conseqüen­
de luz nas habitações, vestuário arejado etc. exprimem intei­ te perturbação também da curva do rendimento diário, exi­
ros programas sôbre o teor r.le viela, e têm os seus fundamen­ g-eni uma enérgica repressão à "vida noturna". O provérbio:
tos em noções ou hipóteses científicas, a manhã tem a bôca de ouro, não se adapta a tôdas as ativi­
A higiene nestas questões deven:í preocupar-se muito mais dades e a toe/os os homens, mas a muitos, e a autoridade pú­
.com o,; fatos geopsíquicos. O hodierno teor de vida nos cró­ blica não deveria impedir-lhes o aproveitamento de tal fa.
pic:os, por exemplo, pode ser mais inteligentemente disposto c11Ldade.
-que precedentemente, dadas as experiências científicas ali rea­ Corremos o perigo de nos tornar, sem o ·querer, verda­
lizadas. Também a vida de todos os diâs nas zonas tempe­ deiros dorminhocos, se antes das 8 horas nos é impossível fa-
rndas apresenta ócasiõcs de todo- gênero, que permite111 a sua 1t·r qualquer coisa. Em Sttutgart, por exemplo, airnJa hoje

278 279
· todos o� ;:!tnprcgaclos iniciam os trabafüos às �C' le du t'antc o nhr<·l· muito rnrlhM a prol ilv111füirn elas d osrs ('Sli 1 n1.1ln11tcs gra­
\·erão, segundo um estilo cio vicia sadia e ligado � t t•rra, a(I c ll.lt i,·amcnte mais rortc.·� p11 r:1 o orgc11Lis1110 nccc:ssitado u t • re­
yual também os �uecos se acost1111lam fàcil1 1 1ente, dado o Sf•u p1 11 1so bem corno o aspC'lo pr·rigo�o da convalesccnçn : contra
temperarncnro cai 1)ponês. 1 1 1 1 1:1 indiscriminada exal! at;i111 pt'i:,1 r:icfo H;ÕPs, até n1esrno a
Na segunda metade dá vida, no máximo depois dos 55 �r•1n l 1rn e a obscuridade 1mdnin111 n·i,·indirar os seus direito.�
anos, u1t1 regime de trabalho e de pausas diárias e anuais é 1·011 1') sit11ações rerreativus.
particula r111ente importante para consei-var a galhardia, antes, TaJ1·e7, seja a cl irnfrtíca dn noite, rt•fo 1·c:,(l :1 1)1•1:i� sua, s11-
a própria ida. Para cnnduir, a assistência higiênica da ju­ :_:"C ·�l i\·ns imprc�sões paisagíst int� ( cé1 1 estrd r 1 dn 1•,tr:111bc, ao ci-
ventude t> da velhice já deduziu e poderá deduzir regras pre­ 1 :1dino :_ l uz da lua ) que inspfra cleten11inaclus 1 1sos, como o
ciosas elos fatos gcopsíquiro�. ,J, . transcorrer as horas vesperais deitados 011 passeando. Ju�­
t n 1 1 wme uma geurgia radicada em fundamentos geopsico16gi­
1 36. Pt1squisa racional do clima. - A escolha de u m cli- ' os ,i ustifica para o organismo- necessitado do mar a escolha
1 1 1a de convalc�ccnça ou de repouso, os processos ele aclimação, dn•- mates internos (Mar Ráltico ?\1ar Negro �•vfar 1'1editer-
cspecialll)enl:e as suas dificuldades mt imigração, na colonjza­ 1·i\nco ) que "acarir.iam" rnai� e "íust igm n•· 1; 1 e1�os q ue os occa­
ção, nas viagens de exploração, enfim, tudo quanto se poderia lll'� de1·iclo à falta ele 111an'-s, no movimento 1 1 1ais rnocl l 'rndn ,,
indicar como clima ele vi<1gem ou ele transrnigração, ocupou par­ :i sua maior riqueza ele rnriaçõ1·s p;1isng-ís1 Í<":ls.
cia lmente, durante o último decênio, o centro dos interêsses Também as pro11rirdndc'� dn , 1·rl'in suh f 1olar ,iust ifirHria 1 1 r
fisiopsicológicos. Nós conhecemos as principais formas .cli­ 1 1 1 1 1 a sua exploração mais si�t c·1wí tirn c· rn 1 , fins krapí\ 1 ti C "os e·
máticas da terra com suficiente clareza e exatidão, não obs­ 1 ctreatirns do que é dado 1 1s,1frnil' n:1.s viag'(•ns- ocn�icmais pe­
tante a diversidade ele opiniões quanto aos particul,H"es. lo� países nórdicos: antes, aquelas cnmt i t 1 1 içÕ(!S , que- necessi­
Naturalmente a pesqu.isa não pàra e os dados são contl­ lnm de todos os fatôres essenciais das ·1 1Hmta11has 1 c:01 1 1 t?,\:c1ição
nuamente retificados, limitados ou estendidos mais aind a ; por tia ra.rE;façiio do- ar, poderiam nêle encontrar aquilo que o seu
c•\cmplo, urn complexo de falos tão ass1cl uarnente estudados <':lsn nece�sita. Já relevamos- ( § 59) que o genuíno clima
como os cio dima das mo11ta.nhas, nos seus t11Jluxos fisiopsí­ ronlinen.tal representa uma das formas meteorológicas mai!t
q11icos e nos seus diversos ele mentos ( rarefação atmosférica, ra­ hi.:ndicas da terra, mas a sua. utilização es tá a.penas no inicio.
diação, quantidade de refrigeração ele. ) , não pode pennane­ Assinalamos enfim uma grnnde incógnita, também do pon-
cer no âmbito ele um conhecimento científico elo ambiente. 10 ele vista geopsicológlco, cujo estudo a geurgia solicita com
Foi a importância prática e h igjênica que conferiu ,a tudo isso 1 1 1 gê11cia, isto é, o "clima fluvial". Num tempo cm que se
um poderoso impulso. Isso é demonstrado, pois os climas prefere passar as férias perto da água ou sôbre ela ( barcos,
terapr1.iticamente essenciais, corno os de altitude, das prai <1 s 1lt· :111 1pmnentos, banh,os de mar, cruzeiros ) tal clima tornow-se
m<1rítimas, do deserto são considerados com particulai- favor p1 ntica1uenlc muito importante_: com tôcla probabilidade ê!e
naquelas pesquisas. Assim a praxe e a teoria da convalescen­ 1 1•presenta u ma espécie ele síntese das propriedades climática!f
ça concentraram-se sôbre êles de modo quase exclusivo. 1·os reiras e continentais com o acrésci .r no dr uma fase perió­
,\ fas corn o crescer do núrnero dos homens necessitados dir,1 particular elos ventos, muito bem determinada nas ho-•
de um período de repoL1s0 e de recreação, e contemporânea­ 1 .1, do dia. e com muitas variações locais, de a.côrdo com a lar­
mente com o d imin uir do bem-estar econômico dos povos, ca­ " il"a , da pendência e ela temperatura do rio, a natureza do
r:icterística dos ten;ipos presentes desde a primei ra guerra mun­ l 1 11 ldo do vale e da paisagem das margens. A vida e a ex­
dial, é necessário sair à proctira de outros cfü 11as corroboran­ ! ll 'l'irncia do rio é qualquer coisa de extraordinário também
tes, repousantes, salutares e mais ao a lcance de todos. É, d 1 1 ponto ele vista puramente psicoló g-ico ; semelhante rstím1 1 -
pois necessário q ue a pesquisa da radiação celeste difundida l1 1 paisagístico não deveria ser ul teriormente transcuraclo, por-
estabeleça e reconheça o \·alor recteat:ivo das zonas de · al titu­ 1 p 1:1nto pcssa ser um elemento irracional.
de média, das montanhas médias comuns, das zonas ele bos­ Enfim, mais qur aE viagens, as emigrações e a proCUl'a
ques, das zonas wrcles de colinas e de planícies. Hoje se co- , 1,, um clima mais distat1te, na vida de todos os dias tê r n unia

280 281

irnport§ncia air.da maior os mm·imentos de urna pop1i l11._ão n 111,·//1or âima domhlho ,/)(Ira lodv.,.' listo .rn p-rrma pr.�­
no interior ele 1 1 m delimitado distrito climático. Tuclc, q 11:111- rr11isa, (l mai.r imj1ortanl,t' /)(1/(1 ô j)Ol'O, d1•11e1'á .1er O 1'.lf'0/10 tl e
to a êlc se refere ))Ode ser resumido no conceito de .. dima tilda eeur}!Ía racional.
cdílico". Não há necessidade tl1· 1,1·m·:i� td lr.rirwes para confirrnar
Aqui, na última gcraçã.o, verificou-se uma mudança r·a­ q 1 1c para o� lugares de curn t· cl1· <·onvn h:.�ccnça etc. êsses pro­
dical ria escolha das árc,,s fabris: o mundo saiu literal e cons­ l,lp11 1a� têm urim impc-rtând:i p:1rticul1;1 r (f1ind ;"1 C]lle tenham
çienten{cnte da sombra para o sol, e para o sol cla.rclejante ! ;ido apenas formulados ) _ Tambfo1 ne�1tt• t'itso, ::o lado da
E m muitas cidades aind::i, h� rm:io sécul o aquêles que podiam 1 orrida para o sol elo passado recente, <l,·vt:-sc: ltJ1 1 1111· c 1 1 1 con­
escolher a sua residência, por exemplo, os proprietários de vi­ ,ideração também "vento e te ,npo'·, garan Lít i 1 1 n:1 1'$Colha rn­
las, procmavarn de p!'<ifnrncia posições sombreadas ou as som­ ,·ionaJ do clima.
breavam pl'Oposil'ada1 1ic11tc com parques, d ispondo também os
lcxais c-sscnciais na frente norte. Agora tudo exige uma po­ 1 37. Preparo artificial do clima. - O fogo, que os po­
sição ensolarada e os quartos de dormir cla. s crianças, de estar, ,·ns primitiyos al imentannn tom tremendo esfôrço numa ra­
de trab:ilho, são clispo�tos possivelmente na frente sul. ' em:>. ou sob uma tenda, é a forma mais anti1p da procluçfto
- Da mesma forma já se apresenta a questão da excessiva de um ambiente arti ficia l , 111,is tamhf-1 11 11::1 civifü1'çf111 mais
fomin:::s:dade artificial, bem como da exposição à. luz solar. progressista continua a sei' o fa tor principal de- tal rli1nn. f:11·
Moje sabemos que a l uz diurna difundida tem as suas vanta­ r- útil, quando corrige 11111a situação- C'iiJJ 1:'ítira in rnpur(óvd �,o
gens ( por exemplo, na mistura cios vários tipos de radiações ) , m·ganisrno : é prnjutlicial 9,mndo produ:1 1 1 1 1 1 t·li 1 1 1n demn ele
c,p<."'Ía i 1� icnte mm respe ito ao sol dardejante .da tarda primà­ íunraça e irrespirável, couro nas grandes c idadc-s induslriais.
,-era e do pleno verão. Hoje sabemos que para êste clima, mais que o� 10 1 1 1i­
::Xeste e em prohlemas semelhantes o conhecimento da lhíics de metros cúbirns que as chaminés de Manchester , ,,_
geosfera é de impúrtância .imensa : ela nos pode dar as ba�es n 1itam na atmosfera diàriamente, tem maior importância (ju�­
biológicas para unJ cliu,a cdílico certo. Isto não diz abso­ tamente cm consideração das suas diferentes condições me-
l11tamcnlc re,pçito apenas ao ponto cardeal e à incidência da 1 eorológicas) as miríades ele partícu.las ele ht liger n , de mas�a

iuz solar. Trata-se t�mbém da resa dos ventos ( § 5 1 ) , de, diminu tíssima, onde se dá a mtdtiplicação dos iônics pesados
Ya!ores d::. quantidade de refrigeração, das relações da tem­ ,·1 11 detrimento dos leves, com a gênese de núcleo� rle conden­
pen1tm� do solo, talvez também da ionização d o- solo, coisas sação destinados a formar neblina, chuva e temporais. IVIas
tôdas que não são absolutmncnte estranhas à ciência e insig­ roma pic-tou, assirn também o cérebro humano poderá me­
oificantes_ Só levando-as em consideração ter-se-ão as bà�cs lhorar - novamente o seu dirna_ Criai- climas favoráveis ao
Tar:ionai.s para a oportuna construção de edifícios e de colônias. hm1-estar fisiol6e-ico e ao rendimento dos homens é mai� 1 in ia
As dificuldades cconÔfflicas estão muito bem ele acôrclo n1i�são de uma ·geurgia efet�va.
-com \il11 plano ele c.c1istrução racional; a "ratio" não é um Antes de tudo ela deverá tomar em consideração o ve�'tuá­
-cqt�ival'e:1.te ao ·'Juxus". Estamos aqui diante de um elos ten- , :o • e a residência , pois ( § § 1 02-1 04) c1 ue, nos c.ir:-undatn ele
iáculos da g:etU·gia , que tem grandíssimo alcance para a ex­ rnrpos atmo,féricos artificiais, entre os quais passamos a maior
tensi'io cio teor de ,·ida, popular, para a saúde füica e ps.í quica 11a1te da vida. Também quem dorme .durante todo o ann
<lo.'=. cidadâos, em partícula!' para o seu bern-estar e a sua efi­ ,•,-,:n as janelas abertas, precfüpõe c.om o seu leito em ti'-rnn
dência, como tan.ibém para a juventude que cresce. Para a c 1 o corpo uma atmosfera de propriedades tér:mic.is partícula­
1naior parte do� homens a "escolha" do espaço vital é extre­ , c•s, de partj•: ular composição e radiação. O dima das sal:-!,
mamente limitad;'I : rstão êles l ignclos às suas cidade�, fre­ / � 1 0 :1)·, até agora rnnsiderado quase gue só do ponto de ,- i:1-
,qüentcJ'.neMe a.o seu bairro, e o seu local de trabalho é um só ! 1 do calor ou do frio e do reparo contra o "ento, ,q;ós os
durame tôda a vida. Quão essencial não é que semelhantes 1 1toclcrnos conhecimento� sôbre a estrutura da luz, demonstrou
ambientes sejaro construídos ele modo geúrgiéamente perfei­ nntrns propriedades e outras possibilidades de ser modificadtJ :
to�, na medida em que o permitem as suas condições ele vida! 1�,irn 11:1 fo,glaterra e na América forarn feit.::s tentativas ccui

282 283

\

ddros pcrmeúveis aos raios ultravioletas; ta111bérn a fo1 1 1 1a dt1 1 1 1 1 1 terreno_ cou1 prados ou rn11 1po�, o tip<i ela ,·cgctaçiío (que
chapa de vidro, por cxcn1plo, ondulada ou lisa , 1 1 1oclifi1':1 e> 1 1udc sei tal qu\: at1 ai 011 11·pcle os raios) , o regime dos rios, o
ingrcs,o ele energia� de ondas curtas. s,\ncarnento dos pântanos l"tr. ronfiguta diferentemente o ti/iu
A qu..:s tífo sôbrc se em alguns casos não são mais salutii­ 11 1c·teorológico elo tempo da 1·1·p,i�o, l'mbora que, para tanto, se­
rcs nas j:rnelas hjes de papel oleado em lugar do vidro, dado jam necessários longos períodos. l 'odc111os aqui ve1• como o t i­
q ue m prinieiras deixam passar uma lur, 111tli8 deslumbrante, po da clirnática esté'í ligado d i n.:la1 11entc h p:\isa.t1;em artific.:ia. l ,
,11,1s u11Ja JJOrção mais abundante de raios ultravioletas, apre­ 1 1 1 1 e o homem criou e sempre· est�ncle 11ia i� 1 1:1 11i1t111:e1.a que o
�.ent.0 11-sC' cepois ele recentes pesguisas. circunda.
1\os p[itios, nas ruas de uma grande cidade (poluída pela Hoje não é mais w 1 1a utopia pensai nu possibilidadL' de
fumaça d;\s fábricas ) , rli1aàti1·;rn 1eutc cstal1.los circundados por i n fluenciar até mes.mo as relações dos ventos, desde que já 11tll
11arn ri t 1 1 1osJen1 difcrcnl<· <.!aquela que reina ao ar verda.deira- ho,gue de dimensões muito amplas está em condições de fazê-lo.
1 1 11•1 1t1· lin·c. 01•a 1 é evidente que não devemos limitar-nos a to- Se as montanha.5 são perfuradas para permitir a passagem de
1 11.'1 -b .1ssi111 como é, compensando as suas condições desfavo­ i"c ·rro\'ias, porque não deveria �cr possível, por exemplo, faz.er
r:Í\'t\ is apenas corn uma longa estadia ao ar livre. Sem dúvi­ o mesmo para permitir a entrada de clctcr111inada� correntes ele
d<l: alguma, 11ão há cidade que possa modificar-se como que por ;i r num \'a.lc? Tal vez uru di:1 a rnsa dos ventos p�icoló�ica
encantQ, t ransformando-se num gigantesco povoado, <la mesma rn S 1 ) poderá dar indicaçô<·s (1 t.-is p:1 r.1 1·::1 i� projclos.
forrmt corno um jardim nunca si; transforma nwn bosque ; mas
a ine/a que devemos racionalm ente procurar alca,ujar é pelo
Já acenamos brevemente rn 70\ it i l l l porliinri11 da h igi<·­
nc florestal, isto é, do n.:flc1n·sta1 1 1t·1 1to, do dc·s 1 1 111ü1 1 1 1cntn l' do
menos predispor um sadio clima olimal de cidade. em todo nô,;o trato dos bosques co111 a in lt:nçiío de fav�1rcccr u �aúcil- das
tlcsenr:o/l;imcnto urbanístico : o técnico de geurgia, como cola­ populações : a criação de zonas arborizadas nas prox.imidades
borador do urbanista, é uma exigência que ano após ano se tor­ cl:1 cicl�cle é um dc,·er urgente de uma política florestal hi­
na niais imperiosa. O arranjo urba11ístico elo século XX deve giênica e tcrapêL1tic.:i. Ni�to será necessário ter presente tam­
ser irnpôsto sôbrc novas hases. bém a e"periência ela paisagem, cio prazer, da alegria, do
Também as -pesquisas da n1oderna higiene sôbre vestuário ,1.: ôzo ,·isi,·o, auditivo, ela respiração, em 01.1tras palavras, do
e sôl,)re as relações com a economia térmica e hídrica do cor­ i n fluxo da paisagem na conformação do clima.
po, com o seu estado de bem-estar, com as exigências do es­
porte etc.:. levaram em consideração a permeabilidade do te­
139. Criação da paisagem. - O instinto de promover
cido às radiações a:b 1fodo assim novas vias para a formação de
1 1 1od1ficaçõcs no solo onde reside talvez seja un> dos mais pro­
um corpo :1éreo do Yestuário sôbre a nossa epiderme conforme
as necessiclacle,s. lunclos cio homem. Das plantações com objetivo utilitário, da
: 1!.( ricultura primiti,·a passou para 1in w quanLiclade ele "mo­
Os corpos aéreos elo \'estuário, do leito, das salas, do labo­
' ill lent<?s do solo'·, como tcrrapl,magcm, criações ele novas co­
r:itório e da cidade doravante podem e devem ser racional­
mente dispostos e graduados. limL�, clcssccamentos, rcfloresta 1 1 1en tos, e.alçamentos, :ité à cria­
c; �o de jardi ns com fins rccrcati,·os e ornamentais.
A. radical transformação cios bosques foi determinada prin­
1 38. Ciímat.urgia ao ar livre. - Também o caráter na­ eipa l 1 1 1cnte pela paixão pela caça e não só pela utilização da
Lurnl elas conclições meteóricas é modificáYcl, e freqüentemente 1 1 1.tdeira. O princípio histórico da "hetertgeneidade do.s fins"
,·ale a pena modificá-lo. Se o "humor" das concliçõecs meteó­ 1 r·c'qiicntcmente aparece com evidência : jardins, ruas, prada­
ricas do momento ainda se subtrai à nossa técnica ( os "bom­ rias, qtt(� originàriarnente surgiram para satisfazer a sêdc ele
bardeamento� contra a chuva" e semelhantes mostraram-se até ,;lória dos prí11cipcs, caprichos pessoais, considerações cstraté­
agora em grande parte ineficazes) , com tanto maior segurança �icas, !lecessidades esporti\·as, passaram em seguida pant o
sabemos que tudo quanto ca.i sob o nome de "alqueive ( ou d o i lo1nínio público para rec.:reação, ornamento de cidades, pa.s­
seu antônimo ) influência o clima d a sua região. Saneamentos, ••·ios e di ,·crtirnenlo elas massas populares, Parques popula-
desi natamentos, reflorestamentos, como também a existência de 1 1·�, bosques de cidades, sebes, caracterizam a época da cria-
284 285
çífo da paüagem para utilidade pública, especialn,cntt• pHrfl os ficiais, cliques e regula111c11lação dos rios retamente condm:i­
habitantes das grandes cidades .. (Modêlo memorável de cria­ ,los podem tornar mais grandiosos e mais belos os territórios
ção de paisagem urbana de incomparável encanto r o de ,•m vez de desf_igurá0los. 'J'ôcla velha barragem cc;,nstituiu-se
1_;_:,mi:iu1g-o). num enriquecimento da paisagem: po.r que não deveriam sê­
Hoje dever-se-ia construir levando-se em coµsideração .Jo também os moderno's diques?
quanto saben'los sôbre as condições apropriadas para · a saúde. Já superamos as macaquices tcati:ais da natureza, mas dos
Ern algumas cidades encontramos ainda pequenos bosques pla­ tempos em que nos compraz!amos em preparar por tôda parte
nejados com boas intenções, que, porém, sofrem de "enfisema fontes, cascatas, montes e gargantas, rnchas a.r!ificia'is em mi­
p,ilmonar", isto é, concle1lsamento de moitas, e que teriam ne­ niatura deve ser conservado o pri11cípio seg,mdo o qual deve­
cessidade antes de tudo de um radical desbastamento. Fre­ mos dominar a natw·eza.
qüentemente a opinião pública protesta quando são erracli­ O conhecimento científico daquilo que - no ambiente
cloo alg11n:; eirnmplarcs, revelando de modo característico o vegetal em desenvolviinento, verdejante, floresceri'te, lw1üno­
apêgo primitivo à s. particularidades da natureza (§ J 13); na �c), sombreado, refrescante, ensolarado, perfumado e agradável
realidade, porém, se em muitos lugares se deveriam aumentar é necessário e faz be,n à alma cio ho1J1em do século XX
as florestas, em outros dever-se-ia "desfolhar" um pouco. De deveria intervir sempre mai .s com as suas sugestões nesta obra.
modo particular, apenas com um racional desmatamento os .\ paisagem artificial assim conforn1a<la, a serviço de um bem
picos dos montes podem reoferecer o gôzo natural da prospe­ 11 tais elevado que o simples dcsfrutamcnto, l' uma d:H mais
tiva. Floresteiros capazes em certos casos tornaram alguns hclas personificações do nosso doo1ínio racional sôbrc a naturc:,.a.
bosques mais agradáYeis aos olhos com plantas fanerógamas, O nosso tempo reconheceu ta111bélll qu.c eleve pôr 111n li­
pois também a miçroílora não deve ser aceita assim como witc à sua vontade de domínio <' conservar em parte a natu­
cresce seh agem ente: a mão criadora do homem poderia aqui reza assim como ela é; isto é, eleve defender a natureza. To­
fazer muito mais do que a nature'1:a. () clima de radiação de davia, nos diversos casos, é sempre difícil estabelecer se é me­
um parque ou de urna florcstà, conlorm.e fôr sendo ccrrigiclo, lhor deixá-la totalmente inculta, ou modificar parcial e mar­
deverá dar diretivas essenciais para a cria.ç:io da paisagem. ginalmente a sua flora ou a sua fauna. A êste respeito fomos
Uma e)..-igência fundamental e111 tais criações são os "gol­ freqüentemente testemunhas de disputas vivacíssimas. Em
pes de vista", pois nada requer tanto uma di.slensão como o (1llirna análise, a renúncia à criação da paisagem e a conser­
ôlho do homem fechado numa sala, sempre atento em mirar vação �a natureza na sua integridade_ em cada caso particular
objetos próximos, trate-se de um operário ou d·e um intelec­ ,i já uma questão que exige uma palavra da geurgia científica-
tual. A época da luz sempre se alegrou com as côres, com o
Yerde luminoso, com a variedade e com as profundas satura­ 140. Homem e terra. - O moderno conhecimento da na­
ções cromáticas. Desta forrna muitos !ligares de cura e par­ tureza por obra da técnica revela a dúplice e discorde relação
ques urbanos transformaram o tardo verão e o início do outo­ do homen1 com as potências da natureza. Todo o pro­
no de pálidas estações numa orgia de luz. Em muitos luga­ i1rcsso no seu estudo nos possibilita desfrutar ou domesti­
res deve-se evitar o empobrecimento, que a loucura do tráfe­ r"ar o seu setor, mas todo desfrutamento apresenta ao mesmo
g-o provocou em 1rrnitas alamêda.5, jardins, grupos de fontes. l1•111po uma rêde de novas dependências, onde o homem é
Um nôvo perigo é constituído pela aumentada necessidade de
111involvido. De resto jaz inato nisso urn impulso essencial ao
estacionamento para veículos: mas também isto deve ser es­ p1'6prio progresso técnico. Com efeito, justamente por esta
conjurado com esphito inteligente, fazendo com que não se 111ião ,êle .tende a melhoramentos sempre mais extensos, que,
deturpe a beleza das construções. 11orém, encontram sempre limites na lei natural descoberta e
Cuidados especialíssimos merecem árvores e moitas com , .i lorizada. Isso é evidente quaodo está diretamente em jôgo
flôres perfumacl,1s: tílias, acácias, sabugueiros, jasmins, rosas 11 l10111em, a sua vida, a sua morte, isto é, na medicina racio­
selvagens. A tecnicização da natureza impõe tarefas extra­ , .. ,l Os 1·aios rõntgen não destroem apenas os tecidos doen­
ordinárias à transformação criativa da' paisagem: lagos arti- '"'• mas infelizmente também os sadios: e isso marca um limi-

286 287
te à sua aplicabilidade. O espantoso núrnero dos caso� dr• 11101·­ \l,1, t:1111bé .m �ôcla clepcnclê1wi::i vi�l11111brada pmmcte a consc­
tc por incidentes rodoviários ameaça a tomar o lugaJ d.1 pas­ ' 11,ílo de novas liberdades! O no�so intcktto e a nossa ,·on-
sada 1 11ortaliclade np.iclêrnica: todo aumento de veJociclad,• d t 'H• 1 ,dr• saber-se-ão tanto ruais �rnhoras ela tena quanto 11,ais
,cobre os lilllites de adaptação da nossa percepção, a nossa , 1•11- , 1•, nnhecennos a terra dominadora do nosso corpo e da nos­
-ção e a específica agilidade orgânica (frear , n1anobrar no -.1 psique.
...-olanle). 1� êste o modesto conll'ibuto q1H: a rxplicação cientifica
O 111csmo fenômeno repete-se na geobiótica. Tempo e tl11, fenôrnenos geopsíquicos ap1·ese11ta au c•,pí l 'ilo hu111ano, à
dima, solo e paisagen1 concorrem para transfo rruar-nos no t do�ofia e à religião. O 11st 1.1d o dn 1" 1 'laçii o n1t r,• n /l'rra 1· o
que sornos, inas variadamente e em medida tanto maior, quan­ /1t1111nn niio coinvolve 11em jJresJu j!iie alg11.111a rnnc;1•ju;fw gt!·
to mai� exatamente <1p1·t•ndc1110s a conhecê-los e os utilizamos. 1;1/ ria vida e do cosmo, nem pretende revelar a es.,·ê nc ia álti-
Nã() é por ;waso qu1: justa111cnt.c o homem técnico do século 111t1 de iôdas as coisas. Apresenta-se êle sob multíplices for-
XJX t' XX de posse de urn aumentado drn nínio sôbre os te­ 111.1s , ora como antropologia, ora como etnologia e economia ,
souros e st1hrc :1s Jôrças da natureza retorna entusiàsticamcnte 111';1 ,ornu história da econoTllia, ela moral , ela guerra, da fé ,
às ÍOl'nras de vicia ·'mais naturais", e se refugia no esporte 11,1<·ional etc.
aquático, no alpinismo, nas excursões onde a 11aturcza está Em cada uma dessas disciplina� c�t(l prl�sentr• e- é estuda­
relativamente intata. Todavia, inclusive esta fuga não o rio por elas o influxo clen1c11tar da8 fikç:is tt·111po, di 111 c1 , s,,l1J
subtrai àquele dissídio . ,. pnisagern sôbrc a psique hu111an:1. Por 111:iis difr1·rntc� (jUP
A natureza conquistada no esporte abate-o improvisamen­ .i· ja 111 as concatenaçi'írs, os ('111rr-laça11 1,·n los, ;1� fi 11 alidndes e
te , como a fera selvagem abate o domador; uma avalanche , o� aperfeiçoamentos que introdmi 11 r i111rnd lll na !erra , to­
uma ten1pesladc no mar , um desabamento revelam a sua im­ d.11·ia sernpre e em tôd,,s as sitt1açõcs ho11Yr, há e l rnxerit. fre­
portância. O perigo é realmente inato nos estímulo, dêsses qiil'ntcmente talvez de modo imperceptível , mas j amais ine­
esportes: querl'ln realmente defrontar-se com a nature;,;a pe­ ficaz, uma determinada psí q uli terrestrl': urna geoJ;siq ue.
rigosa � nascern de um dissídio radicado na própria alma do
ho111e111, que ú 1·ontade espiritual e lei natural ao mesmo tem­
µo, eternamente em discórdia consigo n1estna.
O nosso espaço vital terrestre, o solo cu111 a atmosfera
-pró:s:ima a êlc, a geosfera, é a nossa verdadeira pátria, que não
podemos abandonar. As suas influências representam a par­
te mais íntima da natureza a nós acessível. Pensadores fan­
tasiosos conceberam realmente o 110mem como um órgão do
corpo d;:i lel'ra , uma sua parte; 1nas também o crentt:, que vê
no homem o senhor da terra nela pôsto pelo Criador, não po­
de sLtbtrair-se ao seu pêso � à sua influência.
Nós vivernos com a mãe terra um modw oivtwli que ,
<J11anto mais <1 conheêido com exatidão e respeitado , tanto mais
torna-se salutar. Por isso são de Ólirna valia as sugestões ela
ciência. O nosso ólmlo ao mundo 9L1e const:rwmos para nós
mesmos é o reconhecimento de que o domínio sôb re as /ô rças
naturais ,: cv111jnado com o conhccimeuto do d om ín io q ue elas
ex1'rcem sôbre nós. A êste respeito a relação entre senhoria
-e submissão ,¼parece inelutável e imutável. Se aument,nn os
numeradores, au1ncnt·ll t ·arnbém o denominador.
T�da liberdade conquistada descobre nú\'as dependências.

288 289
Ili • Gao1>slqtts
NOTAS E INDICAÇOES DAS FONTES
111, 1 números referem-se a 1wi ou a um grupo dos MO parágrafos)

li§ 1-5. - Divagações ocasionais a respeito da influência do am­


l,11 ntc natuml sôbre o homem, enconlranw-h1s desde a antiguidade em
1,111itos autores (Heródoto e Bipócmtes); no séc. XVJII culminam na
/'/1éorie d11 milieu de MoNTBSQurnu, muito mais importante que a.
,l,1 seu compatriota Tainc, Lâo freqüentt•mr,ntc <"it:,do, (A primcirn
oi" "trais forces )>rim01·diales" de THit1c, que dct(muinam o home111,
,, a chamada "raça"; para o papel que 1111• alrilmi cm senso here-
1liil11'io-biol6gico, cr' ,·. a minha IJ:infiihrnng i1I tlio VolkerpsJ1chologie,
" cd., l 94-4, p. 135, }1ota do * 42). Trata-•" de si,nplcs imp1·cssõcs
ul':isionais, que são especulativamente elaboradas. Mais nã .o conhc­
', ,uos sôbre aquêles séculos. pois a históri,1 do desenvolvimento dessas.
11111rcpções ainda não foi ·escrita. No séc. XIX inicia-se o estudo
, i,•11tífico, sistemático, do argumento: QuETELET, S11r l'homme, 1835,
rnntérn já no volume ll, cap. IH um parágrafq intitulado: "Jnfl11ence
,1,, clima/ et des saisons sur /e penchant au crime". Uma pedra mi­
lt•n;ir é a ob,·a do economista alemão ADOLFO WAGNER, Die Ge­
fl,,miirsig keit i,1 die scheinbar wilkiirliclwt menschliclien J-Jandlun-
i•rt1, 1864, (A regularidade nas ações humanas aparentemente vo­
h111tárias), que estuda os fenômenos tratados nos noss·os §§ 82 e ss.
1) primeiro compêndio das noções científicas do seu tempo foi o
h\·1·0 de C. LOMlJROSO, Pensiero e Me.teore, 1878, obra de visual
nmito ampla, de apresentação ousada. dos problemas mas também com
11� efeitos próprios dêste autor. No munllo europeu, estranhamente, en­
nuitrnu pouca apreciação o talentoso volume Weather lnfluenccs de
l·. G. DexTER ( lllinois, 1904).
Nos últimos decênios apareceram, trabalho; que interessam mais
à medicina, como os de B. DE RuooER, Grundriss einer Meteorobio·
/,,,:ie des Menschen, 2• ed., 1938; de A, A,�u;s, Météoropathologie,
l',1ris, 1932; os Biok/imat. Beibliitter d. Meteorolog. Ztschr, publica­
rios desde 1934 por F. LINKE e W. ScrrMIDT, e a excelente pano-
10111ica de A. ÜBERHUMMER, • Mediâni.rche Geographie no fase. de
wt.-out. ,de 1935 dos Petermanns Mitteilttngen; por Iim a obra cm
rnl.iboração aos cuidados de oito autores, Klima-wetter-M ensch, 1939.
\ pub)jcação em muitos volumes dos americano·s W. F. PETERSEN e
111. E. MILLIKEN, The Patie11t and the Weather (milhares de pág-ina,
1•111 grande formato) é difícil de ser avaliada criticamente devido à
,1\111 nclância elo material. Mas um testemunho da disponibilidade de
u11•ios que reina nos Estados Unidos pal'a as pesquisas científicas. De
t u-átcr mais divulgativo são já as obras do francês A. M1sSENARD-

291

Você também pode gostar