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Nathalia Oliveira - Velocidade 01 - Você
Nathalia Oliveira - Velocidade 01 - Você
Tudo o que pensou foi em aturar o ronco insuportável dos motores e tirar
uma graninha extra no final do mês, nunca imaginou que naquele final de
semana conheceria Christopher Bergman, o famoso tricampeão de Fórmula 1,
mundialmente conhecido, queridinho da mídia, rodeado por fãs e claro, o
amor da vida e maior ídolo de sua avó.
No outro dia Antonela chegou à agência e mais uma vez foi quase
que jogada dentro da van pelo atraso de dez minutos.
Hoje começava o estresse das equipes. Era na sexta-feira que se iniciava os
treinos livres, que serviam para mostrar o rendimento do carro e acertar tudo
para o treino classificatório.
Chegaram ao autódromo e foram correndo vestir o pedaço de pano
que chamavam de uniforme e as meninas já tinha alguns visitantes as
esperando para os passeios aos boxes.
Começaram a visita, passando pelos boxes dos pilotos, alguns já se
preparavam para ir treinar e outros conversavam com suas equipes. Antonela
ainda estava abobalhada de como os pilotos acordavam cedo! Não era nem
oito da manhã ainda e estavam todos lá.
— Olha seu amor, Antonela — Anna começou a cantarolar enquanto
passavam em frente do box da Ferrari. Antonela respirou fundo e ignorou a
amiga. — Não vai dar um beijinho de boa sorte, nele?
— Limites, Anna, limites.
Camila estava sentada do lado de fora do box, mexendo em seu
celular e observando o movimento de pessoas em frente ao box do irmão. Em
meio de todas aquelas, viu as grid girls passando e gritou ao ver Antonela.
Saiu correndo e chegou perto dela que conversava com uma loira.
— Antonela! — abraçou ela que quase gritou de susto. Ao ver
Camila, ela deu um sorriso e retribuiu o abraço.
— Oi Camila, bom dia.
— E aí, tudo bem? — perguntou e Antonela sorriu, como aquela
menina conseguia ser simpática naquela hora da manhã?
— Tudo ótimo! Essa aqui é minha amiga, Anna — apontou para
Anna.
— Oi, prazer Anna. Sou Camila Bergman — deu um beijo em Anna
que assentiu.
— Que nome bonito, Camila Ber... Bergman? — ela berrou, fazendo
tanto Antonela quanto Camila se assustar. — Bergman? Você é Camila
Bergman? Irmã do Christopher? Nossa Senhora! — começou com o ataque
dela que fez Antonela desejar um buraco para se enterrar. Camila apenas ria e
assentia a cada pergunta de Anna que queria ter certeza do que tinha ouvido.
— Ela assusta nos primeiros cinco minutos, depois você se acostuma.
Só não pode passar muito tempo junto, se não acaba ficando igual — a
modelo disse para Camila que começou a rir. Anna fechou a cara e mostrou a
língua para Antonela.
— Menininha, você por aqui? — Robert falou assim que se
aproximou do grupo. Ao ouvir a voz dele, Antonela virou e deu um
sorrisinho forçado. Surpreendendo Camila que os olhava sem entender.
— Eu trabalho aqui — sua tentativa de ser amigável falhou
miseravelmente.
— Não sabia que vocês duas se conheciam — disse ao ver Camila
abraçada em Antonela.
— Ah, nos conhecemos ontem! A Antonela é muito legal! Pena que
ela não gosta de corridas.
— Ah não gosta?
— Não, nem um pouquinho.
Christopher que conversava com sua mãe dentro do box saiu para
procurar Robert e a primeira coisa que viu, foi sua irmã abraçada com
Antonela. A modelo, que agora sabia o nome. A última coisa que foi achar ali
foi Robert. Como sua irmã conhecia Antonela e ele nem sabia disso?
— Christopher! — ouviu Robert gritando por ele assim que chegou
na porta da garagem.
Antonela gelou dos pés à cabeça quando ouviu aquele nome e logo
depois o flagrou olhando para o grupinho. Anna abriu um sorriso de orelha a
orelha e jogou o cabelo todo para um lado. Antonela notou que ele usava o
macacão de corrida, desabotoado e com as mangas amarradas na cintura. Viu
quando o piloto acenou para Robert e começou a caminhar na direção dele,
na verdade de todos que continuavam reunidos.
— Antonela e Anna andem logo! Já foram todos embora — Adriana
gritou com as duas, que se assustaram.
Anna quase chorou por ter que ir embora naquela hora, enquanto
Antonela se apressou, agradecendo aos céus por Adriana ter a salvado dessa.
Se despediu de Camila e deu um aceno para Robert, para logo depois sair
correndo puxando Anna.
— Tchau menininha — Robert sorriu para Antonela que no mesmo
momento que Christopher parou do lado deles, saiu correndo feito uma louca
atrás do seu grupo. — Chegou tarde demais, campeão — riu e cutucou o
ombro de Christopher, que estava com uma cara amarrada.
— Perdi alguma coisa? — Camila encarou o irmão, franzindo a testa.
— Desde quando conhece essa modelo? — o piloto perguntou para a
irmã.
— Desde ontem. A Antonela é super legal, adorei ela — disse toda
animada e Christopher olhou para Robert.
— Hmm — deu de ombros e Camila abriu um sorriso, percebendo o
quanto o irmão estava estranho.
— Você está a fim da Antonela? — começou a bater palmas, ficando
animada ao perceber o total desconforto dele.
— Eu? Lógico que não! — olhou para Camila como que se ela fosse
louca. — Nem a conheço.
— Não? Então para que pediu o telefone dela? — Robert debochou.
— O quê? — gritou alto demais. — Você pediu o telefone da
Antonela? — começou a rir da cara que Christopher fez. Ele queria um
buraco para se enterrar.
— Não foi somente dela — desdenhou — Tem mais umas dez
modelos no meu celular para que eu ligue. Eu sempre fiz isso.
— Mas, aposto que ela será a primeira pessoa que você vai ligar —
Robert bateu no ombro de Christopher que deu uma corada de leve. Sempre
foi muito tímido nesse quesito de mostrar aos outros que se interessava ou
gostava de alguém.
— Que bonitinho! — apertou as bochechas dele — A Antonela vai
ser minha cunhadinha.
— Fica quieta Camila — deu um tapa na mão da irmã que começou a
rir do nervosismo dele.
O treino começou alguns minutos mais tarde e Antonela olhava tudo
atenta com Anna ao seu lado. Estava acompanhando a batalha entre
Christopher e Álvaro que tiravam o melhor do carro para conseguir as
melhores parciais e acabou que Álvaro, conseguiu a melhor volta do dia.
Christopher deixou o carro na garagem logo depois de terminar o treino com
uma cara amarrada. Nunca soube perder e quando isso acontecia, se
comportava como um menino mimado. O que fazia com que todos a sua
volta achassem um pouco de graça. Ele foi almoçar com os pais e Camila,
ainda nervoso.
Antonela estava deitada no sofá que tinha na sala ouvindo as outras
meninas conversando enquanto se maquiavam e ajeitavam seus cabelos. Não
estava nem aí para sua aparência, tinha feito escova, pois era mais fácil do
que os cachos e não precisava ficar retocando toda hora. Comia uma maçã e
pensava em Christopher, que lhe invadiu os pensamentos de uma hora para
outra.
Ele parecia muito irritado hoje, principalmente a hora que saiu do
carro após Álvaro ter feito a volta mais rápida do treino. Por que tudo aquilo
por simples milésimos? Era somente uma corrida, Deus do céu! Para que se
estressar com aquilo? Como Anna diz sempre, estresse dá rugas. E iria ser um
pecado aquele rosto tão lindo, ficar cheio de rugas.
— Coletiva com o Christopher, agora. Vamos meninas! — Adriana
entrou na sala batendo palmas para fazer com que elas se apressarem.
E então começou a sessão de gritinhos e de maquiagens voando para
todos os lados. Antonela foi calmamente até sua bolsa passou um gloss cor de
boca e retocou o blush rosa de suas maçãs do rosto. Era isso que tinha a
oferecer para o piloto irritadinho.
Depois de quinze minutos todas saíram novamente para o mesmo
salão da coletiva do dia anterior. Será que era todo dia aquela chatice? Será
que todo dia Christopher tinha que falar que iria dar tudo de si no próximo
treino? Como ele aguentava?
As cinco modelos ficaram novamente em frente do palco e logo ele
chegou ainda com a cara amarrada. Antonela arqueou a sobrancelha,
segurando um sorrisinho. Que homem mimado.
Ele já tinha tudo, qual iria ser a diferença de deixar o coitado de
Álvaro ganhar uma corrida?
Falou, falou e falou. De como estava decepcionado com os
resultados. Dessa vez alguns repórteres fizeram algumas perguntas para ele
que respondeu sem dar muita importância.
— Christopher, você está namorando? — um jornalista perguntou
para ele que sorriu e já começou a corar com a pergunta indiscreta.
Era a típica pergunta de jornalistas sensacionalistas, que infelizmente
ele tinha que responder. Embora soubesse que qualquer resposta que desse,
seria modificada e divulgada de forma duvidosa, como sempre.
— Ainda não, mas espero começar muito em breve — respondeu e
então seu olhar caiu para Antonela que olhou para trás novamente e viu
Anna.
Afinal das contas, era para ela ou para sua amiga que ele tanto
olhava? Do mesmo jeito sentiu seu rosto ficar vermelho e quente. Será que
era mesmo para ela aquela indireta? Estava ficando bem louca por achar que
aquele homem estava soltando alguma indireta para ela, deveria ser o tanto
de sol que tomou na cabeça hoje. Só podia.
Ele falou por mais alguns minutos e logo foi embora, dessa vez não
teve coletiva com Álvaro, somente com outros pilotos. Ficaram lá por mais
de duas horas ouvindo os pilotos falarem, falarem e falarem. Quando tudo
terminou já passava das seis da tarde. Adriana chamou as modelos para irem
embora. Pegaram a van que as deixou em frente da Prime, e depois, cada uma
foi para sua casa.
CAPÍTULO 6
Christopher tinha que admitir que tinha sido um imbecil com todos os
jornalistas que o entrevistaram no cercado que a imprensa autorizada de cada
país ficava para fazer entrevistas após o fim da corrida. Normalmente ele não
responderia daquela forma para pessoas que estavam fazendo seu trabalho,
mas hoje não conseguia controlar suas respostas afiadas e mal educadas.
Sua assessora de imprensa, vendo que não daria certo ele continuar
respondendo às perguntas daquela forma, se desculpou com todos e o tirou de
lá. Se viu livre para caminhar até o box, ignorando todos os fãs que se
aproximavam no caminho. Quando finalmente entrou, percebeu que o clima
estava horrível. Eles tinham ferrado com toda sua corrida e o imbecil do
piloto em sua frente tinha terminado de jogar a última pá de terra em sua
cova.
Seguiu em frente sem falar com ninguém, até chegar em sua sala de
preparação, pegar todas as coisas e decidir que iria embora agora mesmo. No
caminho para o estacionamento cruzou com Robert, que apenas se colocou
com seu lado em silêncio, sabendo muito bem como Christopher era quando
perdia, ainda mais daquela forma vergonhosa.
— Eu dirijo — tirou as chaves das mãos de Robert e destravou o
alarme. O senhor se limitou a fechar os olhos, fazer uma careta de dor e
imaginar o que viria a seguir.
Como previa o caminho que os levaria para o hotel era uma rodovia
quase deserta e Christopher pisou no acelerador e em um certo ponto virou
totalmente o volante, fazendo o carro dar um cavalo de pau no meio da pista.
Robert continuou de olhos fechados e se segurou no banco, sentindo um
desconforto no estômago ao ver o carro girando no meio da pista e os pneus
gritando em protesto ao movimento agressivo. Esperou até ele se acalmar e
seu estômago parar de se contorcer para então abrir os olhos e encarar
Christopher debruçado sob o volante.
— Melhor? — arqueou a sobrancelha e Christopher assentiu, dando
partida no carro e voltando para a estrada. — Me lembre de avisar a Antonela
de nunca andar com você depois de uma corrida ruim. A coitada teria um
ataque cardíaco.
Robert abriu um sorriso ao falar de Antonela, sabendo que aquela
garota tinha um poder quase que milagroso em cima de Christopher. Era
nítido para quem o conhecia realmente que estar na presença da modelo o
deixava mais tranquilo. Como previa, seu truque funcionou e Christopher
sorriu de canto ao ouvir o nome dela, lembrando que dali a algumas horas a
veria novamente.
— Desculpa por isso — bateu os dedos no volante e Robert revirou
os olhos. Não era a primeira nem a última vez que aquilo aconteceria.
— Já me acostumei, só preciso me lembrar a não pegar caronas com
você.
— É um ótimo método para relaxar.
— Onde pensa ir agora?
— Do hotel diretamente para o aeroporto, não fico nem um dia a
mais nessa cidade — torceu o nariz e Robert sorriu ao ver os traços dos
mimos de Alexandra presentes naquele momento.
— Diretamente para os braços de Antonela — falou em um tom de
voz feminino e meloso, que fez Christopher rir.
— Isso mesmo!
— Isso ainda vai dar em casamento.
— Não é para tanto.
Christopher bem que tentou se manter indiferente, mas sua mente o
traiu ao produzir uma imagem que ele não imaginou que seria tão agradável.
Uma porta se abrindo e Antonela passando por ela vestida de noiva.
Realmente não devia pensar nessas coisas, porque a única certeza de que ele
tinha na vida era de que não se casaria. A quase experiência com Betina já
tinha sido o suficiente para mostrar que não servia para aquilo.
— Não precisa fingir que não está de quatro pela menina. O
comentário da festa do Peter foi que você dispensou três mulheres e foi
embora para o hotel sozinho.
— Ela é diferente de tudo que já conheci, é uma novidade.
— Só toma cuidado para não agir com faz com as outras com ela. A
garota está apaixonadinha e realmente não parece ser igual as outras que você
conhece. É a primeira mulher que você fica que não está nem um pouco
interessada em quem você é, uma assim não dá sopa por aí sempre.
— Eu sei disso, mas você sabe como eu sou também, não quero estar
em um relacionamento sério com ninguém — deu de ombros, vendo pela
visão periférica Robert negando com a cabeça.
— Não é porque a Betina fez aquilo contigo que...
— Não fala dessa mulher, Robert — interrompeu o amigo, que se
limitou a respirar fundo e ignorar. Christopher era um cabeça dura de
primeira.
— Não está mais aqui quem falou — ergueu as mãos para o alto. —
O que vai fazer nessa pausa das corridas?
— Talvez ir para Cancún — sorriu ao imaginar repetir o final de
semana passado em Cancún, mas no fundo sabia que o que queria era ficar
perto de Antonela, seja onde for.
— Faz bem, você precisa estar relaxado na Austrália. Vai ser
diferente de hoje, tenho certeza — apertou o ombro dele e Christopher
assentiu.
Chegaram ao hotel e logo arrumaram as malas para embarcar. Em
questão de três horas já estavam dentro do avião particular de Christopher
voltando para o México.
Pousaram em solo mexicano quando estava amanhecendo o dia e após toda
aquela viagem cansativa e o final de semana estressante, Christopher não
resistiu em se jogar na cama assim que chegou no apartamento e finalmente
dormir seu sono dos justos.
◆ ◆ ◆
Antonela abriu os olhos pela manhã com certa dificuldade por conta
da claridade e logo sentiu Christopher beijando seu colo e seu rosto. Revirou
na cama e resmungou, o escutando rir e a puxando pela cintura, fazendo com
que virasse de frente para ele.
— Que foi menino? Está cedo — deu um selinho nele que ainda
sorria, todo bem humorado para aquela hora da manhã, enquanto ela estava
ali com a cara toda amassada e com dores absurdas no corpo. Talvez devesse
pedir a ele pegar mais leve com ela.
— Eu sei que é cedo, só te acordei para falar que estou indo em uma
reunião, mas eu volto antes do almoço, tudo bem? Fica me esperando?
— Pode deixar, vou me comportar como uma ótima namorada.
— Quem diria, Antonela é uma mulher do lar agora — gargalhou
alto, vendo Antonela sentar na cama olhando perplexa para ele.
— Está insinuando o que hein? — estreitou os olhos.
— Eu? Eu nada!
— Hm, vai trabalhar, vai Christopher, tchau — deu mais um selinho
nele e logo depois enfiou-se debaixo da coberta cobrindo a cabeça e fechou
os olhos novamente.
Acordou novamente com seu celular tocando na mesinha ao lado da
cama, suspirou vendo que era apenas o despertador que programou para o dia
anterior, mas que ainda estava ativado. Sentou na cama e viu que eram quase
dez da manhã, então resolveu levantar e ir tomar banho, relaxando ao
máximo que pode debaixo da água quente.
Será que Anna já tinha voltado de viagem? O que ela queria afinal?
Não aguentava mais de tanta curiosidade, queria saber de uma vez por todas
tudo o que estava acontecendo e o que tinha acontecido com a amiga nesse
tempo em que estavam sem se falar.
Saiu do banho com a cabeça mais fresca, enrolou o cabelo em uma
toalha e vestiu um roupão, indo até o closet onde tinha uma pequena pilha de
roupas em uma parte do armário de Christopher. Vestiu um vestido verde
soltinho e um chinelo branco, voltou ao banheiro para dar um jeito no seu
cabelo, procurou por um secador por algum tempo, mas optou por deixar
secando por si próprio ao não encontrar o aparelho. Saiu do quarto bocejando
até encontrar na cozinha Joana e outra mulher conversando.
— Bom dia! — falou alto para as duas que viraram para ela.
— Bom dia menina! Quanto tempo não vejo você por aqui. Essa é a
Paula.
— Oi Paula — disse para mulher que deveria ter uns trinta e poucos
anos e que a olhava de forma completamente envergonhada.
— Preparei seu café da manhã — Joana apontou para a bancada.
— Não precisava se incomodar... — nem terminou de falar ao ver a
careta de puro tédio de Joana, então sentou no banco em frente da ilha da
cozinha, começando a comer enquanto conversava com as duas.
— Antonela, vou ao supermercado mais tarde, você quer alguma
coisa de especial? — perguntou e Antonela arregalou os olhos, já estava tão
intima da casa para querer alguma coisa lá dentro?
— Não, acho que não. Precisa de companhia para ir com você? —
perguntou de forma simples, para a total surpresa de Joana.
— Se quiser me acompanhar, irei adorar.
— Que horas você vai?
— Depois do almoço.
— Tudo bem, eu vou. Eu gosto de ir ao supermercado — sorriu e as
duas mulheres riram. Desde quando Christopher arrumava uma namorada
que ia ao supermercado fazer compras para o apartamento dele? — Vou
descer para comprar algumas revistas e caminhar um pouco, não conheço
quase nada por aqui — disse ao se levantar do banco.
— Tudo bem, tem uma banca de jornal virando a esquina.
— Obrigada! Com licença, meninas — saiu da cozinha, indo ao
quarto para escovar os dentes e pegar sua bolsa.
— Bem que você falou que ela é simpática, um avanço depois
daquela nojenta da Betina. — Paula comentou baixo, evitando que Antonela
ouvisse qualquer coisa.
— Deus ouviu minhas preces — revirou os olhos e as duas
começaram a rir.
— Já volto, tudo bem? — Antonela retornou à cozinha de forma
rápida e acenou antes de sair correndo pelo apartamento.
Saiu do prédio toda sorridente acenando para o porteiro que acenou
com a cabeça educadamente e abriu o portão para ela. Foi caminhando pela
calçada até a banca de jornal onde Joana tinha indicado.
Ao passar por diversas madames com seus cachorrinhos, começou a se
perguntar se aquele lugar era para ela. Será que Alexandra não tinha razão?
Ela seria a pessoa ideal para Christopher? Mesmo sabendo que eram
completamente diferentes, ele era famoso e admirado, enquanto ela era
totalmente comum, quando estavam juntos isso parecia não existir. Encarou
outra madame, completamente maquiada em plena manhã com uma bolsinha
a tiracolo que deveria valer por todo o seu guarda-roupa. Era claro que não
pertencia aquele lugar.
Chegou à banca de jornal e foi direto ver os jornais. Tinha três
mulheres segurando as coleiras de seus cachorrinhos, na parte de revistas de
fofocas, as ignorou e continuou lendo as notícias do jornal.
— Olha a nova namorada do Christopher! — mostrou a revista a
outra mulher em um tom debochado.
— Eu já vi, ela é tão estranha, olha o tamanho dessa bunda. Que
horror!
— Ela é linda, sua invejosa — começou a rir e revirou os olhos pelo
o que a mulher, a mais loira delas disse.
Antonela largou o jornal na prateleira e se aproximou das três
mulheres. Será que era dela mesmo que falavam?
— Os dois são capas de quase todas as revistas.
— Não dou dois meses para ela aparecer grávida. Acha que vai
perder essa chance de ganhar na loteria? — torceu o nariz e Antonela
respirou fundo, ao ver que elas seguravam uma revista da qual ela era capa
com Christopher.
— A senhorita procura algo? — o dono da banca falou com Antonela
que estava disfarçando vendo as revistas infantis que ficavam ao lado da onde
as três mulheres estavam. O grupinho olhou para ela, procurando saber quem
era aquela garota ao lado delas.
— Er... Um jornal de hoje, por favor — disse de forma simples e o
jornaleiro soltou um risinho, antes de ir buscar o jornal.
— Eu acho que vou querer um jornal de ontem — a loira ao lado
começou a rir junto com as amigas, pela piadinha que fez Antonela perder
completamente a paciência, virou lentamente para a tal mulher e tirou os
óculos. As outras duas arfaram e deram um passo para trás.
— Algum problema? — perguntou cinicamente, cruzando os braços
para encarar a mulher muitos centímetros mais alta que ela.
— É a garota da revista — uma delas murmurou.
— Quer dizer alguma coisa para mim, linda? — voltou a encarar a
loira em sua frente.
— Eu? Eu não tenho nada a dizer. Estávamos comentando que você é
capa de todas as revistas, meus parabéns — se embolou nas palavras e
Antonela arqueou as sobrancelhas.
— Ah sim... — pegou a revista que estava na mão dela e nem se
preocupou com o título, colocou na bancada do jornaleiro e separou mais
algumas revistas de moda. O homem voltou com o jornal e Antonela pagou
tudo — E da próxima vez, olhe para os lados para ver se a pessoa estranha
em questão não está por perto — ao falar, viu a cara de espanto delas. — Ah,
não que isso seja da sua conta, mas ele ama a minha bunda.
Antonela deu meia volta e começou a andar pelas ruas pouco
movimentadas, ainda rindo. Pegou a revista da qual era capa junto com
Christopher e foi até a matéria deles. Falava basicamente coisas genéricas,
algo sobre a sua carreira e uma pequena matéria falando do passeio do
shopping junto com Camila. E no final uma pergunta: Será que de uma vez
por todas ele tinha sossegado?
Começou a rir sozinha fazendo algumas pessoas olharam para ela.
Entrou em uma lanchonete e pediu um smoothie de frutas vermelhas.
Algumas pessoas olhavam para ela e o homem do caixa chegou a perguntar
se ela era a namorada do piloto. Antonela suspirou, deu um sorriso, pagou o
smoothie e saiu da lanchonete ainda rindo. Claro, quem iria pensar em ver a
namorada de uns dos homens mais famosos, conhecidos e requisitado em
quesito mulheres com o cabelo ainda secando, com um vestido bem podre e
chinelos. Nem ela iria acreditar nisso!
Voltou feliz para o prédio, tomando a bebida no canudinho, enquanto
lia o jornal de hoje, no caminho acabou encontrando uma pequena
floricultura e entrou lá e comprou um arranjo de orquídeas.
— Oi menina — Joana sorriu assim que Antonela entrou na cozinha.
— Como foi o passeio?
— Foi legal — respondeu. — Trouxe essas flores, acho que é a única
coisa que falta aqui.
— Concordo. Como o Christopher não para em casa, nem compensa
ter flores sabendo que irão morrer se depender dele. Posso colocar em um
vaso para você? — esticou os braços pegando o arranjo das mãos de
Antonela. — O Christopher ligou e falou que não vai conseguir sair da
reunião para vir almoçar com você.
— Não sei por que, mas eu tinha essa impressão — revirou os olhos e
esticou o braço para pegar uma maçã da fruteira ao seu lado.
— Ele quase não acreditou quando disse que você queria ir ao
mercado comigo — colocou as flores em um vaso de cristal azul marinho.
— O Christopher deve achar que eu sou uma mimada, igual as outras
que ele conhece. Eu não sei cozinhar, mas o resto eu faço — viu Joana rir
enquanto levava o vaso na sala, colocando na mesa de centro e voltando para
a cozinha para conversar com Antonela.
— Ele adora implicar com você.
— Eu que o diga.
— Ele é apaixonado por você Antonela, foram poucas as vezes que vi
o Christopher tão feliz, sendo o Chris que todos conhecemos. Antes de você a
vida dele se resumia a corridas, voltar para casa, festas, bebidas, mulheres e
mais corridas. É incrível ver a felicidade dele agora.
— Minha mãe também estava me falando a mesma coisa, que eu
mudei totalmente. Antes de conhecer ele, minha vida era trabalho e festas, há
muito tempo eu não sabia como era bom ficar em casa vendo filmes e
tomando sorvete, sem me importar com nada.
— Vocês fazem um casal lindo. Dá para ver de longe o quanto fazem
bem um para o outro — passou a mão no cabelo de Antonela que sorria. — E
cá entre nós, sem querer ser puxa saco, mas de todas as namoradas do
Christopher e olha que não foram poucas, você é a que mais agrada a todos. E
olha que para me agradar não é nem um pouco fácil — piscou para Antonela
que começou a rir.
— Estou me sentindo honrada — colocou a mão no peito, fazendo
uma ceninha que fez Joana sorrir.
— Ah, ele falou para você ir com o seu carro porque ele não quer
você andando de táxi por aí.
— Ele não perde uma chance de me fazer usar esse carro.
— Porque você não aceita de uma vez por todas, menina?
— Eu não me sinto bem aceitando esses presentes caros dele. Faz tão
pouco tempo que nos conhecemos, não quero que pareça que estou me
aproveitando. E eu sei que todo mundo pensa que eu estou ganhando com ele
muito mais do que ele comigo.
— Eu te entendo, mas, para fazer cabeça daquele menino, vai ser
muito difícil.
Antonela foi ler as revistas, rindo a cada especulação sobre ela nas
matérias, Joana a chamou meia hora depois para almoçar e logo depois ir ao
supermercado. Antonela foi escovar os dentes e trocar de roupa, prendeu o
cabelo em um rabo de cavalo e foi atrás de Joana que estava chamando o táxi,
já que ela se recusava a pegar o carro. Parou no meio do corredor lembrando
do carro que estava ao lado do que Christopher lhe deu e que sabia que ele
não usava para quase nada, já que era o xodó dele.
— Jô não precisa do táxi! — gritou, do corredor. — Onde estão as
chaves do carro?
— Em cima do aparador da entrada.
Viu de longe o chaveiro com o logo da marca do seu carro e o
ignorou por completo, pegando a chave chique e moderna da Lamborghini.
Desceu com Joana para a garagem e apertou o botão do alarme,
surpreendendo-se quando piscou os faróis da Lamborghini cinza fosca, do
tipo que fez seus olhos se arregalarem no mesmo segundo.
— Eu acho que você pegou a chave errada.
— Que nada... — falou, tentando lidar com o pânico que começava a
crescer em seu peito. — Só vamos dar uma volta, igual ele fez com meu
carro. — abriu a porta do carro e já deu um passo para trás, assustada quando
a porta abriu para cima. Para cima!
— Seja lá o que Deus quiser — Joana entrou no banco do passageiro
se benzendo.
Antonela olhando para o painel do carro meio em dúvida, nunca tinha
pegado em um carro com direção hidráulica, quanto mais dirigir uma
Lamborghini. Não sabia nem como ligar o carro.
— Você sabe dirigir isso Antonela?
— Dirigir é que nem andar de bicicleta — ficou procurando o lugar
de colocar a chave do carro, até entender que ele ligava apenas apertando um
botão no painel. Ao apertar o motor ligou em um ronronar potente e logo foi
se acalmando, sendo quase imperceptível. Ela queria ter certeza do que estava
falando.
— Ele vai surtar com você.
— Vai nada — minimizou, revirou os olhos e acelerou o carro,
escutando o motor roncar alto e ecoar pela garagem. Joana fechou os olhos
quando Antonela quase bateu em uma pilastra da garagem.
— Ainda acho melhor irmos de táxi.
— Está tudo bem — manobrou o carro quase batendo no para choque
do Mini Cooper.
Saiu da garagem rapidamente, um pouco assustada com a potência
daquele carro, só de encostar o dedão no acelerador ele deslanchava e isso a
assustava demais, porque nunca tinha andado tão rápido assim em um carro.
Chegaram ao supermercado após vinte minutos de muita agonia por
parte de Joana que ao final já rezava alto, depois de Antonela quase bater na
traseira de um carro, por pouco não atropelar um homem que parou no meio
da rua abobado com o carro e quase não conseguir parar em um sinal
vermelho, atrapalhada com o pedal do freio. Nem acreditava que chegaram
vivas ao destino.
— Pelo amor de Deus, nós vamos voltar de táxi — Joana falou assim
que conseguiu sair do carro.
— Aí sim que o Christopher me mata se eu deixar o carro dele aqui.
— Menina, isso não se faz.
— Só quero meu carro de volta — piscou para Joana que riu e assim
começaram a fazer as compras para casa.
Em quesito alimentação até tinha algo de parecido com Christopher,
exceto pelas guloseimas, é claro. Gostavam de quase as mesmas coisas e
como Joana o conhecia como a palma de sua mão ficou feliz em saber que
Antonela era tão prestativa com ele e com tudo que o cercava. Não teve
preguiça em nenhum momento de pegar alguma coisa do outro lado do
supermercado e se divertiu muito com ela e sua paixão por doces.
Passava das cinco da tarde quando começaram a passar as compras pelo
caixa. Antonela pegava as coisas do carrinho e Joana colocava os produtos
empacotados no carrinho com a ajuda de um ajudante. O celular dela
começou a tocar e Antonela viu que era Christopher.
— Oi amor — sorriu, colocando mais produtos na esteira.
— Antonela, onde você se meteu com a Reventón? — a voz dele, fez
a barriga de Antonela gelar, ele não estava nada feliz.
— Com quem?
— A Lamborghini — murmurou. — Onde você está?
— No supermercado com a Joana.
— Não saia daí.
Antonela ficou uns trinta segundos olhando para o celular meio
perplexa pelo modo que ele tinha falado com ela. Terminou de passar as
compras e quando estava saindo com Joana para o estacionamento, a porta
automática abriu e passaram Christopher e Robert. Antonela olhou para
Christopher e não gostou nada da cara que ele fez para ela, parecia que tinha
matado uma pessoa e não feito uma brincadeira boba.
— Oi, menininha — Robert sorriu para Antonela que retribuiu o
sorriso gentilmente. — Joana, eu te ajudo a levar as compras — pegou o
carrinho que Antonela empurrava e saiu com Joana para o estacionamento.
— O que foi? — perguntou irritada por aquele olhar reprovador de
Christopher.
— Vem — a puxou pela mão para o lado de fora do mercado.
— Me solta! — puxou a sua mão de cima da dele, encostando em
uma parede e cruzando os braços. — Por que está fazendo isso?
— Por que você se comporta feito uma criança de cinco anos? —
perguntou ignorando o que tinha acabado de falar. Antonela arregalou os
olhos, jura mesmo que ele estava bravo por aquilo?
— Você está fazendo uma tempestade em um copo de água.
— Você tem ideia do que podia acontecer? Você podia ter se matado
e matado a Joana!
— Mas, não matei ninguém!
Claro que nunca iria falar do homem quase atropelado nem do sinal
vermelho. No fundo sabia que tinha feito uma coisa errada, não pelo carro,
mas sim por sua vida, da de Joana e dos pedestres, ela definitivamente não
sabia dirigir aquele carro.
— Você podia ter sido sequestrada, tem noção disso?
— Por causa de um carro? — fez uma careta, deixando aparecer o
vinco entre as sobrancelhas.
— Não se sai com um carro desses no México, Antonela! — falou
alto, enraivecido.
— E por que você comprou então? — cruzou os braços, o olhando
debochadamente.
— Você foi muito irresponsável — acusou de braços cruzados assim
como ela e Antonela respirou fundo. Ele queria brigar? Ela sabia fazer isso
excelentemente.
— E você um... Um... Isso ai! — bufou, não tinha nem o que falar
dele. — Quer saber, eu não quero ficar brigando aqui.
— Você não devia ter pegado o meu carro.
— É mesmo? E você podia ter pegado o meu?
— É completamente diferente, Antonela.
— Não é porcaria nenhuma! E me dá licença, Christopher — jogou a
chave para ele e saiu correndo na chuva para a rua.
Christopher iria segui-la, mas pelo o que conhecia de Antonela, ela
iria o atirar em frente de algum carro. Desceu para o estacionamento e viu
Robert e Joana arrumando as compras no porta-malas do carro.
— Cadê ela? — Robert perguntou.
— Foi embora — respondeu de forma seca.
— Está tudo bem? —se debruçou na janela do carro, vendo o
semblante nervoso de Christopher.
— Está.
— Posso pedir para devolver o carro dela?
— Por favor. Obrigado por ficar com ele esse tempo.
Robert saiu de perto dele, sabendo que não teria nem um papo com
ele nesse momento. Tinha pena de Antonela por ter que aturar aquela
personalidade complicada de Christopher.
Joana entrou no carro e retornaram para o prédio, onde Christopher
ajudou a subir com as compras.
— Que flor é essa? — franziu o nariz ao ver vaso na mesa de centro.
— A Antonela comprou — falou da cozinha evitando olhar para a
cara que Christopher ficou após falar o nome de Antonela.
Christopher foi para o quarto e a primeira coisa que reparou foi nas
revistas em cima da cama, ao se aproximar viu as fotos deles no shopping
estampadas na maioria. Tantas revistas com fotos todas iguais, era ridículo
como a mídia os usava para ganhar dinheiro.
Entrou no banheiro e o estranhou, era impressionante que nas poucas vezes
que Antonela foi ali, já tinha conseguido deixar seus rastros, como com a
escova de dentes rosa fluorescente que destoava completamente do ambiente
branco, o perfume favorito dela estava na bancada, caído no mármore
indicando que ela tinha se arrumado rapidamente hoje pela manhã.
Pela primeira vez em sua vida estava arrependido por uma atitude
dele, sempre se considerou perfeito, incapaz de cometer um erro e agora,
tinha que admitir que foi um erro o que fez com Antonela, como ela mesmo
disse não era para tanto, não precisava armar toda essa confusão por uma
coisa tão pequena.
A preocupação com o carro era enorme, afinal era um carro de um
milhão de dólares, uma peça de colecionador e que definitivamente não
deveria ser usado para passear pelas ruas da cidade do México como se fosse
um carro normal. Mas, saber que ela ou Joana poderiam ter se machucado,
era o que realmente tinha o tirado do sério. Antonela não sabia nem o que
estava fazendo, não entendia nada sobre carros e sabia que tinha exagerado,
porque claramente ela não sabia sobre as peculiaridades do carro.
Voltou ao quarto pensando como Antonela tinha feito para voltar
para casa, ele mais do que ninguém sabia que ela morava longe daquele lugar
e agora se sentia totalmente arrependido. Olhou para o telefone e não se
controlou, quando se deu por si estava ligando para Antonela, chamou uma,
duas, três, quatro... Até o celular ser desligado. O pior era que entendia o lado
dela, se alguém falasse daquele jeito com ele, também ficaria do mesmo
modo. Ela claramente não queria atendê-lo. Talvez o certo fosse dar um
tempo para que se acalmasse.
CAPÍTULO 29
Fazia dois dias desde que Christopher viajou para a Austrália e com o
fuso horário, ficava bem difícil deles se falarem, mas sempre davam um jeito
de pelo menos falar um “Oi”. Os treinos estavam puxados para ele que quase
não parava no hotel, levantava cedo e ia para o autódromo treinar e só voltava
de noite, após as reuniões com a equipe. Christopher estava decidido a ganhar
essa corrida de qualquer forma, o que fazia Antonela ficar com o coração na
mão, pois sabia o quanto ele era teimoso e que não mediria esforços para
ganhar.
A saudade que sentia dele a atormentava e para passar os dias mais
rápido dormia o máximo que conseguia, trabalhava o quanto podia e não
desgrudava de Anna, que entendia muito bem o seu lado, porque estava na
mesma situação.
Era noite de sexta-feira e Antonela foi arrastada por Anna para o
shopping, que dizia que não poderiam perder a mega liquidação que estavam
promovendo. Enquanto assistia Anna se esbaldar nas compras, Antonela
tentava se controlar para comprar só o que realmente estava precisando.
Percebeu que falhou quando saiu da loja de sapatos com três pares novos que
não era nem uma necessidade.
— Minhas pernas estão doendo — Anna começou a reclamar assim
que voltaram a caminhar pelos corredores do shopping.
— As minhas também e estou com fome.
— O pior é que eu também estou. Uma saladinha, que tal?
— Sabe o que eu realmente queria comer? — deu um sorriso enorme
para a amiga que na hora entendeu que viria uma coisa bem gordurosa.
— O quê?
— Um big lanche com hambúrguer, queijo derretido, salada e muito
ketchup. E também batata frita e um grande copo de coca cola — terminou de
falar com os olhinhos brilhando e ao olhar para Anna a loira estava com a
mão na boca, pálida e com uma cara de nojo. — Anna? — chamou a loira
que virou de costas e saiu correndo com suas sacolas para o banheiro do
shopping.
Antonela arregalou os olhos e foi atrás de Anna, entrou no banheiro e
viu as sacolas da amiga esparramadas pelo chão. Esperou por cinco minutos
até sua amiga sair da cabine pálida.
— Tudo bem? — aproximou-se dela que lavava o rosto na pia.
Segurou carinhosamente os cabelos da amiga e percebeu quão gelada ela
estava.
— Você que fica falando dessas coisas nojentas que gosta de comer
— fez cara de nojo mais uma vez.
— Tem certeza de que foi por causa do meu hambúrguer?
— Lógico que tenho! — revirou os olhos.
— Quer ir embora?
— Não, eu quero comer alguma coisa.
— Então vamos para sua salada.
— Aí você falou minha língua.
Anna parecia melhor e mais corada enquanto caminhavam juntas em
direção ao restaurante, mas Antonela ainda a olhava com desconfiança,
tentando ver algo no corpo de Anna que tinha deixado passar nos últimos
dias, mas ela parecia normal. Assim que sentaram na mesa e fizeram o pedido
ao garçom, Antonela olhou para a amiga.
— A hora que você passou mal parecia grávida — comentou após
provar o suco de morango geladinho que tinha acabado de chegar na mesa.
Anna ergueu os olhos e ficou parada com o canudo na boca — Você não está
grávida, né?
— Não Nelis, está tudo normal comigo.
— Melhor você procurar um médico, vai que eu vou ser tia e nem
estou sabendo.
— Para de graça! O Álvaro acho que me mata se eu estiver grávida.
— Porque, amiga?
— Ah sei lá, ele parece não gostar de crianças e falou que não
pretende ser pai, além de deixar bem claro que se cuida para evitar que
alguém engravide dele por causa do dinheiro — os olhos dela caíram para a
salada e Antonela estranhou, porque ela parecia um tanto infeliz.
— Vocês estão bem?
— Acho que sim — balançou os ombros. — Ele é muito diferente de
mim. Os pais dele me acham uma vagabunda oportunista, é tudo muito
diferente do que eu estou acostumada. Ele está sempre ocupado, diferente no
começo que me dava total atenção. E parece que não está nem aí para o nosso
relacionamento, entende? — o desabafo de Anna pegou Antonela de
surpresa. Sabia o quanto Anna estava empolgada com o namoro e nunca
imaginaria que estivesse passando por aquelas coisas.
— Às vezes é só medo de compromisso, esses caras são assim
mesmo, mas nem por isso significa que não gostem de alguém — pegou um
pouco de salada com o garfo e a comeu com os olhos em Anna, pensando no
que tinha escutado da amiga.
— Eu não sei. Às vezes eu acho que é mesmo por causa das corridas,
toda a pressão que colocam em cima dele, mas em outras eu vejo como o
Chris é com você, ele trabalha com a mesma coisa que o Álvaro, mas nem
por isso te exclui da vida dele e te coloca de lado, muito pelo contrário. Mas,
com o Álvaro não é assim. Ele não me inclui em nada, desde que voltamos da
casa dos pais dele me deixa meio de lado, sai com os amigos e nem me avisa
— pegou seu copo e deu um gole, enquanto Antonela analisava a situação da
amiga.
— Anna, eu acho que você está colocando a carroça na frente dos
bois. Vocês acabaram de se conhecer e ao que me parece você está querendo
um compromisso sério. Me surpreende muito logo você estar tão apaixonada
assim por ele, talvez não devesse pressioná-lo tanto por compromisso. Esses
caras cheios da grana e fama como ele é, se assustam quando alguém chega
dessa forma neles, parece que é interesse, entende?
— Não sou interesseira, eu só gosto dele.
— Eu sei amiga, mas ele pode não estar entendendo isso, vai com
calma.
— Eu nunca senti isso por ninguém. Talvez esteja mesmo
precipitando as coisas. Mas, eu meio que sempre sinto não ser adequada,
como se fosse menos que ele pela situação que nos conhecemos...
— Ele já falou algo sobre isso com você? — perguntou, tentando não
transparecer o ranço que sentia por Álvaro.
Algo nele parecia errado, ainda mais depois de saber por Christopher
que ele espalhava para outras pessoas que pagava pela companhia de Anna.
Tentava relevar pela amiga, mas não era uma coisa que conseguia esquecer.
— Não, mas eu sinto que não é algo que ele lide bem. Ele parece
querer apressar as coisas comigo, como começar a namorar rápido, me levar
para viajar com os pais dele, mas ao mesmo tempo parece que se envergonha
de mim — explicou e Antonela sentiu seu coração apertar pelo desabafo dela;
— Ele também gosta de você Anna, fica tranquila — fez um carinho
no braço da amiga e comeu mais um pouco da salada. — Você não está
fazendo aquelas coisas novamente né?
— Que coisas?
— Você sabe... Ficar vomitando — falou baixinho e viu os olhos dela
se arregalarem de imediato.
— Não, eu realmente não sei o que aconteceu comigo lá. Mas não é
nenhuma das suas duas opções — abriu um sorriso e para provar que falava a
verdade encheu a boca com a salada.
— Eu espero que não seja — sorriu de lado e terminou de comer.
Anna disse que teria que ir embora, pois amanhã tinha uma sessão de
fotos cedo. Assim que saíram do restaurante, Antonela decidiu que ficaria
mais um pouco, pois não tinha nada o que fazer em casa e como ainda estava
com vontade do seu hambúrguer, foi até um fast food e pediu um lanche
pequeno, batata frita e coca cola.
Sentou em uma mesinha da praça de alimentação, misturada no meio de todas
aquelas pessoas começou a comer, com os pensamentos em Anna e na
relação complicada que estava começando a ter com Álvaro. Não queria que
nada de mal acontecesse com sua amiga na primeira vez que ela decidia se
apaixonar. Ela não merecia que ninguém a fizesse sofrer.
— Oi Antonela! — disse uma voz feminina atrás dela.
A morena desviou sua atenção do hambúrguer para a mulher. Betina.
Lembrou-se imediatamente de tudo o que Christopher tinha lhe falado, para
ficar longe dela e mais mil recomendações. Mas, o que poderia fazer agora?
— Oi Betina! — sorriu de um modo levemente forçado, por conta do
nervosismo de imaginar Christopher descobrindo que ela não tinha feito o
que ele pediu.
Ergueu os olhos para Betina e se sentiu uma mendiga perto dela. Ela
era uma das mulheres mais lindas que já tinha conhecido e com aquele
vestido que se lembrava muito bem de ter visto na coleção de verão da Gucci,
ficava ainda mais perfeita.
— Posso me sentar?
— Claro — deu mais um sorriso, vendo a loira sentando com uma
postura invejável em sua frente. Ela claramente parecia destoar do ambiente
da praça de alimentação.
— Oh, fiquei tão assustada com o que aconteceu segunda-feira.
— Ah... Acho que tenho que pedir desculpas, não imaginava que
aquilo aconteceria — mordeu uma batata e viu a loira apenas assentir.
— Não se preocupe com isso, a culpa não é sua. O Christopher não
gosta do Álvaro, por isso deu aquele ataque. Ele só quer te ver longe das
encrencas dos dois — revirou os olhos e Antonela assentiu e deu uma
mordida em seu lanche. — Estou chocada de ver você comendo essa coisa —
apontou para o hambúrguer e Antonela esticou o lanche para ela. — Não
obrigada, faz anos que não como essas coisas. Sou vegana.
— Nossa, meus parabéns. Eu não vivo sem carne — deu mais uma
mordida e Betina fez uma cara de nojo disfarçada.
— Não tem medo de engordar?
— Todos nós vamos ficar feias, enrugadas e velhas. Por que não
curtir um pouco enquanto temos dentes para mastigar? — deu de ombros e
Betina tentou sorrir, mas o resultado não saiu como o esperado.
— Pensamento interessante.
O que Christopher estava fazendo com aquela esquisita? Podia ser
arrumadinha e ter uma bela comissão de frente, mas era pobre, comia carne
como um canibal e se vestia de um jeito tão simplório que até a empregada de
sua casa tinha um closet melhor. Ela não era nada parecida com Christopher.
— Você conhece o Christopher? — olhou para a loira em meio a
outra mordida no hambúrguer. Betina desviou os olhos para ela novamente.
— Mais ou menos — suspirou — Sou amiga do Álvaro e temos
alguns conhecidos em comum. O vejo em corridas e em festas, mas ao que
parece ele não gosta muito da minha presença.
— É, percebi — falou, sem pensar.
— Ele te falou alguma coisa sobre mim? — olhou séria para
Antonela que estava tomando a coca cola pelo canudo.
— Só falou para eu não me aproximar do Álvaro e de você — afastou
o canudo da boca quando se deu conta que já tinha falado demais. Droga.
— Ele é seu namorado ou seu pai? — deu uma risadinha debochada.
— Às vezes me confundo também — deu um sorriso sincero para a
loira, que entendia muito bem esse jeito de Christopher e o que Antonela
estava passando, porque já tinha estado daquele lado da história.
— Sabe, achei tão estranho essa história de você e a namorada do
Álvaro serem amigas. Os dois não se suportam.
— Ah... — riu pelo nariz. — Não tem nada a ver, somos amigas há
muito tempo, muito antes de conhecer os dois e não é porque não se dão bem,
que nós temos algo a ver com isso.
— Eu acho que ela e o Álvaro não combinam em nada. O Álvaro é
um tipo digamos que... Exigente, não sei se os dois vão durar muito tempo.
— Os dois se amam, isso basta.
— Hmm, não sei...
— Eu e o Christopher também não temos nada a ver um com o outro.
Eu por exemplo não gosto muito de corridas e ele... É piloto — revirou os
olhos e Betina olhou para Antonela querendo descobrir o que Christopher
tinha visto naquela menina sem sal e que se quer gostava do que ele fazia. —
E assim mesmo, estamos juntos e nos damos bem.
— É, você tem razão — resolveu concordar com ela, porque
Antonela parecia ter uma resposta na ponta da língua para tudo. — Já vai
embora? — perguntou, assim que viu ela terminar de comer.
— Vou sim, estou cansada. Passei a tarde inteira aqui com a Anna.
— Eu também já estou indo. Vamos?
— Vamos — levantou da cadeira, pegou sua bolsa e as sacolas e foi
caminhando com Betina pela saída do shopping.
Estava quase na porta de saída quando olhou para a vitrine de uma
loja de animais e viu um único cachorrinho lá. Era minúsculo e estava
encolhido no vidro de adoção.
— Coitadinho — correu até a vitrine para brincar com o cachorrinho.
Betina revirou os olhos e foi atrás dela.
— Deixa esse cachorro aí Antonela.
— Ele está sozinho — olhou novamente para o filhote e decidiu
entrar na loja, sendo atendida por uma vendedora sorridente. — O
cachorrinho da vitrine está sozinho?
— Sim, os outros foram adotados, só ele não foi adotado — a
vendedora respondeu e Antonela sentiu o coração apertar.
— Vou levar ele — falou, decidida, fazendo a vendedora sorrir.
— Como assim? Deixa esse cachorro aí Antonela — Betina se
colocou ao lado dela, se recuperando dos espirros pela alergia que tinha de
animais.
— Ele vai morrer se ficar sozinho — disse a Betina que revirou os
olhos.
— E o que você tem a ver com isso?
— A vegana daqui não é você? Defenda os animais então — deu um
tapinha no ombro da loira e olhou novamente para a vendedora. — Vou levá-
lo.
— Vou buscar ele para você — sorriu, saindo de trás do balcão.
Antonela saiu de perto de Betina e foi até onde tinha algumas
roupinhas e brinquedos, escolheu alguns brinquedos bonitinhos e pratinhos
para ração e água, além de uma coleira que achou a coisa mais linda do
mundo. A vendedora logo retornou com o cão nos braços, passando para
Antonela logo depois.
— Oi bebê, tudo bem? — falou com uma voz fofa com o cachorrinho
que a cheirava. Ele era tão pequeno e todo mesclado de marrom claro e
branco.
— Ele está com as vacinas até agora em dia, aqui tem a cartão de
vacinação que tem de ser seguido para seu animal ser saudável.
— Pode deixar, vou levá-lo no veterinário.
— Já tem um nome?
— Não, vou dar para o meu namorado, ele vai escolher — explicou
para a vendedora que assentiu com um grande sorriso no rosto ao passar as
compras de Antonela no caixa.
— Você vai dar esse bicho para o Christopher? — Betina apontou
para o cachorro no colo de Antonela, sem conseguir esconder o puro
desprezo que sentia daquela situação.
— O que tem de mal?
— Li em uma revista que ele não gosta de animais em casa.
— Ele tem uma cachorra, Betina.
— Em uma casa de praia — respondeu de imediato, recebendo um
olhar surpreso de Antonela.
— Como sabe?
— Li na revista — sorriu de lado e Antonela apenas assentiu.
Saíram da loja com o cachorrinho já na coleira e com sacolas
exclusivas dele. Antonela despediu-se de Betina no estacionamento e assim
entrou em seu carro, deixou Betina totalmente constrangida ao ver o carro
velho que ela tinha. Ela era completamente fora dos padrões! Christopher
tinha enlouquecido?
CAPÍTULO 31
Na terça feira, Antonela foi convencida por Anna de irem para uma
festa da Prime, celebrando um contrato importante com uma holding do ramo
têxtil e de varejo. Antonela sinceramente não queria ir, porque sabia que teria
que acordar de madrugada para buscar Christopher, mas Anna a convenceu
ao dizer que elas tinham que dar as caras para serem lembradas nos futuros
trabalhos com a tal empresa.
Perto das onze da noite estavam prontas para sair, com Anna
deslumbrante com sua pele bronzeada contrastando no vestido de paetês
azuis e a sandália de salto agulha.
Antonela enquanto se vestia se deu conta de quanto tempo fazia que não se
arrumava para ir em festas, na verdade se sentia um pouco estranha com
aquelas roupas que não diziam mais nada sobre ela.
— Estamos lindas — Anna fez uma pose na frente do espelho,
batendo o quadril em Antonela.
— Tenho que concordar — Antonela deu uma piscada e virou para
pegar sua bolsa em cima da cama. — Vamos logo — puxou Anna pelo braço
e saíram do quarto. Na garagem, enquanto Antonela abria o portão, Anna
entrou no carro de Christopher. — Mas, nem por cima do meu cadáver! Pode
sair daí que nós vamos com o seu carro.
— Eu nunca andei numa Ferrari — fez uma carinha de dó e Antonela
apenas se limitou a cruzar os braços.
— Eu não sei dirigir direito esse carro e se alguma coisa acontecer
com ele, nem vendendo minha alma eu consigo pagar. Por favor, não faça
isso comigo.
— Nós vamos devagar, vai! Não vai acontecer nada — abraçou a
cintura de Antonela e começou a balançá-la.
— Anna, não!
— Por favor, minha amiga mais linda desse mundo — juntou as
mãos em frente do rosto, piscando de forma dramática.
— Isso não vai dar certo — suspirou desistindo de fazer Anna deixar
de lado a deia de não usar o carro de Christopher. Nunca iria conseguir isso
daquela teimosa.
Sentou no banco de couro e suspirou ao olhar o painel, não iria ser
tão difícil quanto da primeira vez, certo? Pegou a chave que deixou guardada
no console e ligou o carro, fazendo Anna dar um gritinho ao seu lado ao
escutar o som potente do motor.
— Meu Deus, isso é um sonho! — gritou animada, assim que
Antonela deu ré no carro. — Onde que eu coloco música nessa nave? —
perguntou para a amiga, concentrada em sair da garagem.
— Não faço a mínima ideia — respondeu, finalmente saindo e
colocando o carro na rua. Assim que manobrou, enxergou suas duas vizinhas
paradas no portão na casa delas. — Boa noite — disse baixinho, acenando
para as duas senhoras que não responderam, apenas abriram a boca e
assistiram a Antonela sair com o carro. — Eu vou ser sequestrada, tenho
certeza — resmungou, observando Anna retocando o batom no espelho no
quebra-sol.
— Só relaxa e sente a vibe — deixou o batom de lado para tentar
descobrir onde era o rádio.
Durante o caminho, Antonela não conseguiu relaxar como Anna ao
seu lado, que se remexia no banco e cantava alto as músicas, ao mesmo
tempo que a guiava até a boate. Se concentrava apenas em dirigir o carro com
todo o cuidado e tentar não errar as marchas, era confuso demais que o
câmbio fosse atrás do volante, como nos carros de corrida. Tudo enquanto
pensava que era uma loucura estar sozinha com Anna, em uma Ferrari na rua
tarde da noite e indo para Deus sabe onde!
Logo começou a reconhecer o caminho e concluiu que iam para a
parte mais badalada da cidade. Antonela quis socar Anna, porque ali era onde
havia os maiores índices de furto de carro, mas já estavam na frente da boate
e Anna não desistiria tão fácil. Totalmente a contra gosto, deixou o carro no
estacionamento e a pior parte foi quando teve que entregar a chave para o
manobrista.
— Solta a chave Antonela — Anna puxou a amiga que segurava a
chave forte e do outro lado estava o manobrista confuso.
— Eu vou morrer nas mãos do Christopher! Ele vai fazer justiça com
as próprias mãos.
— Solta Antonela! — puxou forte e Antonela soltou as chaves de
vez. — E agora vamos — pegou o cartão do número do carro que o
manobrista lhe estendia e saiu puxando Antonela para a escada que dava
acesso à entrada da boate.
Antonela ao para trás, viu o manobrista sumindo com o carro em dois
segundos, respirou fundo e olhou para frente, vendo que todas as pessoas da
fila olhavam para elas.
— Por aqui, meninas — o segurança abriu a passagem dos Vips para
elas e Antonela olhou para Anna. Aquilo não acontecia muitas vezes na vida,
ainda mais na 1 Oak.
— Viu, é isso o que acontece quando se chega com uma Ferrari —
Anna piscou para a amiga e a arrastou para as escadas de acesso à boate.
— Anna... — nem teve tempo de falar já que antes mesmo de
terminar o nome da amiga estava dentro da boate com o som tão alto que
chegava a doer os ouvidos — Anna! — gritou no ouvido da amiga que
encarava a multidão com um sorriso no rosto.
— Que foi?
— Eu vou te matar!
— Vamos nos divertir — berrou enquanto puxava Antonela até o bar
do local. — Duas tequilas duplas, por favor — pediu ao barman.
— Vamos embora.
— Por quê? A festa acabou de começar — disse, desviando o olhar
para um cara ao lado delas que a encarava. Deu um aceno e abriu um sorriso
para o homem.
— Você tem namorado — gritou mais forte ainda, tentando fazê-la
lembrar de Álvaro.
— E daí? — rebateu com um sorriso ainda maior no rosto e pegou as
duas bebidas que o barman estava segurando. — Para você dar uma relaxada
— esticou o copinho para a amiga que negou com a cabeça de imediato. —
Está tudo bem, estamos juntas.
— Louca — começou a rir e pegou a bebida da mão de Anna.
— Aos pilotos gostosos! — brindou com Antonela e assim caíram na
gargalhada.
— Eca — Antonela fez cara feia assim que virou a dose de tequila,
como Anna.
— Você enfia coisa bem pior na boca, para de drama — revirou os
olhos e sentiu o tapa de Antonela em seu braço. — Vamos dançar! — puxou
a amiga para a pista lotada, com todos se espremendo em busca de um espaço
para dançar.
Antonela sabia que todos estavam olhando e provavelmente a
fotografando. Sabia que poderia estar encrencada por estar em uma boate
com Anna, sendo que seu namorado deveria estar em um avião voltando para
casa. Mas, já que estava ali queria aproveitar, queria curtir com Anna todos
os momentos que tinham perdido enquanto estavam brigadas.
Naquele momento a única coisa que queria era voltar a ser a Antonela
de antes, uma que não era reconhecida, que não aparecia nas capas de revistas
como a mulher mais sortuda do ano. Gostava de música, de festa, de
multidão, de luzes, de todos a olhando. E não importava se estaria ou não
sendo mal falada nas revistas de amanhã, se estariam questionando sua roupa,
o sapato, o cabelo, o corpo ou o seu caráter. Estava sendo a Antonela de
sempre, a que todos conheciam, mas que não era conhecida.
— Para quem não queria vir até que ela está bem animadinha —
Anna comentou para Adriana que estava ao seu lado junto de mais três
meninas da agência, entre elas Daniela e mais alguns modelos que
observavam Antonela dançar próximo dali.
— Fazia tempo que não a via nas nossas festinhas — Adriana disse.
— Ela arrumou uma coisa bem melhor para fazer — Daniela revirou
os olhos ao falar, se intrometendo.
— Por que todos estão me olhando? — Antonela chegou à mesa e
Anna e Adriana sorriram para ela.
— Estava comentando que você tem andado sumida de nossas
festinhas — Adriana sorriu. — Você e Anna eram as que mais aproveitavam.
— Agora somos moças de família Dri, temos namorados e temos que
cuidar deles para nenhuma baranga cair matando em cima — Anna olhou
para Antonela sorrindo, esta que bebia uma dose de saquê batido com
morango e gelo. O gosto era tão gostoso que nem se lembrava que era bebida
alcoólica e aplacava a sede que sentia depois de dançar.
Ficaram em volta da mesa do camarote, sendo apresentadas para o
dono e os sócios da empresa, pelo que Antonela conseguiu entender eles
eram canadenses e decidiram expandir o mercado comprando algumas
empresas mexicanas. Parecia que viria coisa bem grande a julgar o tamanho
da felicidade de Adriana.
Logo as conversas mudaram de tom, com alguns dos sócios dando
em cima das modelos e Daniela parecia determinada em entreter o dono da
empresa. Antonela se manteve afastada, observando Anna que conversava
com um dos sócios. Era naquele momento que odiava seu trabalho, porque
nunca conseguiria dar em cima de um empresário para conseguir algum
benefício ou uma posição melhor nas campanhas.
Cansada da música alta e de esquivar das investidas do cara que conversava
com Anna, pegou sua bolsa afim de procurar o espelhinho que carregava e
esbarrou no celular com a tela acessa, pegou para ver as horas e quase teve
uma sincope quando viu que eram três e quarenta e cinco da manhã!
Tinha quinze minutos para ir buscar Christopher no aeroporto.
Quinze! Como tinha esquecido as horas assim? Christopher ia a picar em
pedacinhos! Ao ver que o celular tinha duas ligações perdidas dele, gelou.
Era a sua morte! Conseguia já enxergar a tão famosa luz.
Levantou da mesa rapidamente, se despedindo de todos na maior
pressa e saiu puxando Anna pela mão, esta que não entendeu absolutamente
nada. Foi correndo até o estacionamento ainda puxando Anna pela mão,
jogou na bancada do manobrista o cartão do número do carro, uma nota bem
alta de dinheiro que daria provavelmente para pagar mais três vezes o valor e
sem esperar por ele, pegou a chave da Ferrari no painel e saiu correndo até o
carro, jogando sua bolsa, os sapatos e Anna no banco do passageiro.
— O que está acontecendo? — Anna gritou desesperada assim que
viu Antonela acelerando pelas ruas vazias a exatos cento e cinquenta por
hora. — Antonela! — berrou mais uma vez a vendo passar pelo meio de dois
carros que iam lentos pela velocidade dela.
Estava ficando zonza por Antonela entrando em ruas que não fazia
ideia da onde iria dar. Ela não tinha falado que não sabia dirigir aquele carro?
Fechou os olhos e somente os abriu assim que sentiu o carro parar em
qualquer lugar do mundo. Olhou para o lado e sua amiga já estava correndo
do lado de fora. Desceu rapidamente e saiu correndo atrás dela que entrava no
salão do aeroporto executivo.
— Está explicado — revirou os olhos, ao ver a amiga pular em cima
de Christopher, cruzando as pernas em volta da cintura dele e o beijando com
um fervor que a fez arregalar os olhos.
Antonela tinha acabado de a tirar de uma festa, arruinado qualquer
chance de ser a modelo principal da marca, apenas porque tinha esquecido o
namorado.
— Que saudades amor! — Antonela dizia ao abraçá-lo apertado. Se
pudesse ficaria o abraçando daquele jeito pelo resto de suas vidas, mas sabia
que ele cairia duro dali a cinco minutos. — Te amo, te amo, te amo, te amo,
te amo — prendeu o rosto dele em suas mãos e o beijou novamente.
— Eu também te amo — Christopher sorriu para Antonela que ainda
o abraçava forte, forte até demais. — Amor, me aperta um pouco mais fraco?
Está faltando o ar.
— Estava com muitas saudades — ela começou a beijá-lo
novamente, dessa vez tendo o cuidado de soltar o pescoço dele, que não
estava entendendo nada daquela recepção calorosa até demais dela.
— Hey! Vamos parar por aqui ok? — Anna tirou a mão de
Christopher da cintura de Antonela e puxou a amiga do colo de Christopher.
— Como podem ficar se agarrando desse jeito as quatro da manhã? — cruzou
os braços, falando como a boa puritana que não era.
— Anna vai procurar seu namorado que deve estar por aí, vai.
— Está me expulsando é? Defenda sua cunhada, Bergman. — cruzou
os braços, o vendo sorrir pela briguinha das duas. — Cunhado, você sabe do
meu namorado lindo?
— Eu preciso mesmo responder isso? — arqueou uma sobrancelha,
vendo a loira mostrar a língua em resposta — Dele eu não sei, mas o Peter
estava logo atrás de mim — apontou para o outro lado do saguão e a viu
revirar os olhos enquanto Antonela dava uma risada alta e bem diferente, que
o fez estranhar o modo como ela estava agindo.
— Está repreendido em nome de Jesus — se benzeu — Bom, já que
ninguém me fala onde meu namorado foi parar eu vou ligar para ele. E ah!
Cuida da Antonela porque ela está um pouco bêbada, bebeu a noite inteira na
festa da agência e quase que se atrasou para vir te buscar. Até mais
pombinhos — saiu jogando beijinhos para os dois que permaneciam estáticos
e chocados.
Christopher por Antonela ter bebido, dirigindo e quase o esquecido
no aeroporto e Antonela, bom... Antonela estava chocada por sua melhor
amiga ter contado para Christopher. Iria matar Anna depois dessa.
CAPÍTULO 32
Deveria fazer pelo menos uns cinco anos que Christopher não
acordava tão tarde, talvez fosse o jet lag que estivesse fazendo seu corpo ficar
mole daquela forma. Era uma da tarde quando finalmente conseguiu sair da
cama, encontrando Antonela na sala, falando com alguém sobre o trabalho
dela.
Ao entrar na cozinha, lembrou que Joana estava de folga e decidiu
começar a preparar o almoço pelo horário. Algum tempo depois, Antonela
entrou na cozinha, o abraçando pela cintura e dando um beijo em sua
bochecha.
— Você me irrita, Bergman — Antonela reclamou, enquanto tentava
fazer o almoço junto dele que não a deixava nem chegar perto da cozinha. —
Eu sei cozinhar!
— Sua avó me contou das suas experiências culinárias e pelo nosso
bem, não estou a fim de morrer queimado. Se for para morrer queimado
morro se o carro pegar fogo sei lá, não com seus limitados dotes culinários.
— Então namore com uma chef — mostrou a língua para ele e sentou
na bancada, o vendo colocar a carne em uma assadeira.
— Enquanto eu puder alimentar nós dois, prefiro mil vezes a minha
modelo — jogou o pano em cima da pia e foi para perto de Antonela, a
abraçando pela cintura e ficando no meio das pernas dela que parecia uma
criança procurando arte em cima da bancada.
— Você é insuportável.
— Eu sei que é mentira — revirou os olhos assim como ela e
Antonela bufou, pegou uma maçã que estava ao seu lado, dando uma
mordida enquanto ele a olhava. — Então hoje para eu não ser mais o
insuportável e por não te deixar queimar o meu apartamento, vamos almoçar
fora, que tal?
— Não adianta me comprar com restaurantes, eu vou cozinhar.
— Você é muito teimosa.
— Então me deixe tentar, por favor? — utilizou de seu máximo
poder, olhos grandes piscando em conjunto com um beicinho, vendo
Christopher bufar logo em seguida.
— Faz o arroz — se rendeu, a vendo pular da bancada.
— Está bem — foi ao armário onde estava as panelas e pegou a
primeira que viu na frente.
— Essa é muito grande, somos dois não oito — cruzou os braços ao
ver a panela gigante para um simples arroz. Antonela o fuzilou e pegou uma
menor, ligou o fogo e colocou a panela no fogão. Saiu para procurar o arroz e
voltou com uma lata — Isso é quinoa, Antonela, quinoa! — prendeu o riso
vendo a cara de decepcionada dela ao abrir e encontrar o grão diferente.
Antonela revirou os olhos e foi atrás do arroz, voltando cinco minutos depois
com a lata certa. — Você vai queimar a panela! — apontou para a panela
vazia em cima da chama acessa do fogão.
— Você pode me deixar fazer o arroz em paz?
— Vou ver televisão, qualquer coisa me grita — deu um beijo na
testa dela e logo saiu da cozinha, deixando Antonela olhando para o arroz e a
panela.
— Droga! — praguejou enquanto pegou seu celular em cima da
mesa, discou o número de casa e esperou três toques até atenderem. — Oi vó,
como que eu faço arroz?
Esquente o óleo, coloque a cebola picadinha até dourar e depois
coloque o arroz.
Antonela espremeu um grito assim que colocou o arroz na panela e o
óleo espirrou em sua mão. Fora o corte que estava no dedo por cortar a
cebola. Droga! Por que não sabia cozinhar assim como Christopher ou sua
avó? Saiu de perto da panela escutando os estalos do óleo no arroz. Cozinhar
era uma arma fatal!
Quando estiver um pouco dourado, jogue a água quente e coloque o
sal.
Tirou do fogo a chaleira com a água fervente e com muito cuidado
colocou no arroz, ficando feliz por não ter acontecido um desastre. Bom,
conseguiu derrubar um pouco de água quente em seu pé, ganhando mais uma
queimadura, mas isso nem contava. Pegou o sal e colocou duas colheres
cheias, mexendo com satisfação. Estava indo tudo bem, ela já tinha dominado
a arte da culinária.
Tampe a panela e deixe o arroz secar.
Tampou a panela e foi para a sala com Christopher que via um jogo
de tênis na ESPN. Antonela estava quase dormindo vendo bolinha para cá e
bolinha para lá quando lembrou do arroz. Foi correndo para a cozinha e
desligou o fogo, abrindo a tampa da panela com muito cuidado.
Deus! O que tinha acontecido com seu arroz? O cheiro de queimado
invadiu a cozinha e Antonela foi correndo fechar a porta, tentou ligar a coifa,
mas a cozinha de Christopher parecia um laboratório da Nasa com tanta
tecnologia e falhou na tentativa, então abriu todas as janelas e começou a
abanar o cheiro com um pano de prato.
Pegou uma colher e começou a mexer na panela, em baixo estava
completamente queimado e em cima os grãos estavam úmidos, grudados e
gosmentos. Era um desastre na cozinha! E Christopher iria morrer de rir dela.
Pegou um pouco com a colher e provou, começando a tossir no mesmo
segundo. Saiu correndo para buscar um copo de água. Estava salgado!
Salgado até demais! Poderia matar alguém de hipertensão facilmente.
Encostou na parede pensando no que iria fazer agora. Tinha enchido
o saco dele para cozinhar e provar que ele estava errado, para terminar com
ele rindo de sua cara. Olhou para a geladeira e viu um imã de um restaurante
que entregava em casa. Abriu um sorriso largo e foi correndo para buscar o
celular, ligando rapidamente para o restaurante.
— Chris, o almoço está pronto! — Antonela gritou para ele que ainda
via televisão.
Terminou de colocar os pratos na mesa e olhou para sua mesa digna,
orgulhosa por ter conseguido pegar o pedido com o porteiro sem que
Christopher nem tivesse escutado. Christopher chegou na sala olhando para a
mesa assustado, não tinha nada queimado, nada estranho. Estava tudo
perfeito. Olhou para Antonela que sorria orgulhosa dela mesma.
— Você que fez isso? — apontou para o arroz com legumes em uma
linda travessa decorada com bom gosto e a salada de espinafre com nozes e
queijo por cima.
— Para combinar com a sua carne — sorriu novamente para ele. —
Vamos comer?
— Vamos.
Antonela tinha vontade de rir da cara dele, sabia que era errado o
que estava fazendo, mas era divertido vê-lo olhando a comida com espanto.
Pegou o prato dele e o serviu colocando principalmente bastante arroz, o
dobro do que sabia que ele comia.
— É o suficiente, obrigado — tirou o prato da mão dela, sorrindo
agradecido.
— Bom apetite, amor.
— Onde você aprendeu a cozinhar?
— Essas suas viagens têm servido de alguma coisa — deu de ombros
— Para você ver como eu não vivo só em festas me embebedando — em um
segundo o sorriso doce se transformou em um sarcástico.
— Antonela... — a chamou da cozinha, onde deixava os pratos após
o almoço.
— O que foi?
— Sabe que eu te amo não pelo o que você faz e sim pelo o que você
é, não sabe? — olhou para ela que sorriu, ainda sem entender o que ele queria
dizer com aquilo. Então a ficha caiu, ele não se importava se ela sabia ou não
cozinhar. Ele sabia a verdade.
— Eu odeio esse seu paladar — começou a reclamar ao ouvir as
gargalhadas de Christopher.
— Esse restaurante é meu e essa é a minha salada preferida —
contou, vendo o rosto incrédulo dela.
— Claro, porque além de piloto, colecionador de carros que não
podem sair na rua, ele também tem um restaurante... — debochou, revirando
os olhos.
— É só para investir — se explicou, a vendo dar risada.
— Eu sou bem burra mesmo — riu pelo nariz, balançando a cabeça
negativamente. — Apesar de destruir completamente o arroz e
definitivamente não saber mexer na sua cozinha, prometo que aprender, você
faz muito por mim, quero retribuir.
— Eu sei que isso não é só pela comida — se aproximou dela,
colocando as mãos na pele macia da bochecha de Antonela. — Você não tem
que tentar ser uma pessoa diferente do que você é porque acha que está em
desvantagem aqui.
Antonela arregalou os olhos, tentando entender como ele sabia tanto
sobre ela, sem que eles nunca nem se quer tivesse falado sobre esses
assuntos.
— Não muda nunca, Ella. Eu te amo exatamente assim — beijou a
bochecha dela e levantou da cadeira, pegando Antonela no colo e se jogando
no sofá em cima dela.
— Você vai me matar seu gordo! — começou a rir da cara de
desgosto que ele fez. Apertou as bochechas dele que a agarrou pela cintura e
a beijou. A campainha tocou no mesmo momento e os dois se separaram. —
Está esperando alguém?
— Não, nem tocou o interfone.
— Deve ser alguém conhecido — assim que Christopher saiu de
cima dela e foi abrir a porta começou a arrumar o cabelo e a roupa,
preocupada em ser Alexandra na porta. — Oi! — ouviu Christopher gritando
da porta.
— Até que enfim encontramos o requisitado Bergman em sua
humilde residência — Léo abraçou o amigo que começou a rir.
— Quase que fica sem o chá de bebê do seu afilhado — Ester sorriu
bem humorada ao abraçar Christopher que estava surpreso com o quanto
Ester estava bem mesmo com a barriga que parecia já pesar bastante.
— Como você é exagerada — Christopher rebateu. — Vão ficar aí na
porta para o resto da vida?
— Você que é mal educado e não nos convidou para entrar — Léo
entrou no apartamento com a mulher, enquanto Christopher fechava a porta.
— Está sozinho em ca... — parou de falar assim que viu Antonela sorrindo
encostada no sofá. — Nós atrapalhamos alguma coisa? — olhou para
Christopher e Antonela maliciosamente.
— Antonela! — Ester foi até a morena e a abraçou. — Quanto
tempo!
— Como vai esse meninão? — passou a mão na barriga redondinha e
volumosa embaixo do vestido longo que Ester usava.
— Está muito bem, me matando de dor nas costas. E você como está?
— Está tudo ótimo
— Não disse que iríamos nos ver muito? — Léo foi perto de
Antonela e lhe deu um beijo na bochecha.
— Você tinha razão — Antonela recebeu uma cotovelada de leve do
homem.
— Aprenda a confiar nas palavras sábias do Léo aqui — deu uma
piscada, vendo a garota abrir um sorriso.
— Vamos sentar, pessoal — Christopher apontou para o sofá.
Léo ajudou Ester a sentar no sofá, porque a cada dia se tornava mais
complicado para ela fazer coisas simples como sentar ou amarrar os sapatos
com aquela barriga de seis meses.
— Primeiramente queria pedir desculpas por termos vindo até aqui
sem nem ao menos avisar. — Ester começou.
— Desde quando vocês precisam avisar? — Christopher olhou para
Ester revirando os olhos.
— Ester iria parir um filho se eu não a trouxesse aqui hoje — Léo
desviou os olhos da mulher que lhe deu um tapa nas costas.
— Não gostei do trocadilho — mostrou a língua para o marido e
voltou a olhar para Antonela e Christopher, ignorando Léo. — Como estava
dizendo, precisava vir aqui para falar do chá de bebê amanhã, que o senhor
Christopher tenho certeza de que não sabia.
— É, eu não sabia — coçou a cabeça, completamente envergonhado
— Mas, ninguém me contou! — defendeu-se.
— Ela vai colocar a culpa em mim, quer ver? — Léo falou com
Antonela que se sentia uma intrusa no meio da conversa deles.
— Culpa do Léo — apontou para o marido que se limitou a olhar
para Antonela, arqueando a sobrancelha, comprovando sua teoria. — Bom,
trouxe o convite para vocês e os mato se não forem no chá de bebê do
afilhado de vocês! E vocês não entendem nada de hormônios de gravidez,
então isso é sério.
Ester continuou falando algo, mas Antonela e Christopher se
entreolharam confusos. Ela tinha falado afilhado de vocês?
— O que foi? — perguntou ao ver a cara de espanto dos dois. — Ah
sim! Desculpa não te falar antes, Antonela. Você aceita ser madrinha do
Pietro?
— Eu? — Antonela olhou para Ester espantada.
Como ela seria madrinha do filho de um casal que tinha visto uma
vez na vida? Ela e Christopher namoravam há cinco minutos e eles estavam
querendo lhe entregar uma criança? Olhou para Christopher, buscando uma
resposta, mas ele parecia tão surpreso quanto ela, olhando para Ester com
dúvida.
— Sim você! Eu e você nos demos tão bem e eu queria uma pessoa
que agradasse o Christopher também, já que bem... Deixa para lá! Você
aceita? — perguntou a Antonela que já estava um pouco emocionada, mas
ainda completamente assustada. Christopher fixou o olhar em Ester e ela
apenas deu de ombros.
— Lógico que eu aceito! E obrigada Ester e Léo, é uma honra.
— Vamos ser uma família agora — Léo sorriu para Antonela que
continuou o agradecendo.
— Sabemos que serão os melhores padrinhos para o Pietro —
segurou na mão de Antonela e Christopher com carinho — E eu vou começar
a chorar.
— Mulheres — Léo revirou os olhos, recebendo um tapa no ombro
vindo de sua esposa.
Léo e Ester ficaram com Antonela e Christopher até o final da tarde e
foram embora, quando as pernas de Ester começarem a inchar e a doer.
Voltaram a ficar sozinhos no apartamento, aproveitaram para ver um filme e
combinar sobre a viagem para Mônaco.
Antonela estava nervosa, ao mesmo tempo em que iria para o lugar
que era um sonho, se lembrou que veria Christopher correr ao vivo
novamente. E isso a fez tremer na base e achar que o melhor a fazer seria
ficar por ali mesmo. Sinceramente não gostava do jeito sério dele durante as
corridas, tinha medo de acontecer alguma coisa e ela estar ali para ver. Além
do mais, não sabia o que esperar, porque diferente do GP do México, não iria
a trabalho, mas sim como namorada de Christopher e era difícil admitir, mas
não fazia ideia de como fazer aquele papel na frente de todas aquelas pessoas
importantes. No fundo sabia que era um nada perto de toda aquela imensidão
que estava prestes a se jogar. Eram tantos prós e contras que decidiu deixar
esse assunto para depois.
Christopher sugeriu irem jantar no Pujol, um restaurante badalado e
de alta gastronomia que queria apresentar a Antonela, que ainda não o
conhecia. Antes de irem, passaram na casa dela, pois as roupas que tinham no
apartamento dele não eram adequadas para a ocasião. Enquanto ela se
trocava, ele fez companhia para Marcela, contando as novidades da Fórmula
1.
— E como estou?
Antonela colocou as mãos na cintura assim que retornou à sala,
vendo Christopher e Marcela a olharam e começarem a bater palmas.
Escolheu seu melhor vestido para o jantar no restaurante premiado que
Christopher tanto falava e gostou de como estava com o vestido vermelho
justo, com o comprimento um palmo abaixo dos joelhos e um decote
profundo nas costas.
— Tem certeza de que não quer ir mesmo Marcela? — Christopher
perguntou pela quinquagésima vez para a senhora que só ria e basicamente
empurrava os dois para irem passear.
— Vão logo e aproveitem a noite! — acenou para os dois e voltou a
olhar a televisão.
— Eu sei de alguém que quer ir jantar conosco — Antonela sorriu
para Christopher e antes dele falar alguma coisa ela já tinha subido a escada
rapidamente, batendo os pés no assoalho de madeira com força. Ele olhou
para Marcela que somente sorriu. — Fecha o olho e não abre! —gritou ainda
no segundo andar da casa, próxima a escada. Christopher começou a rir, mas
fechou os olhos. — Não abre até eu mandar — aproximou-se dele e colocou
a companhia do jantar ao lado dele no sofá. — Pode abrir — ficou de frente
para Christopher que abriu os olhos e olhou para Antonela esperando a
surpresa dela. Antonela apontou para o lado, quando virou o rosto estranhou
o cachorrinho que o olhava.
— Desde quando você tem um cachorro?
— Desde que eu o adotei para você — cruzou os braços na frente
dele que olhava para o cão pequeno e com os pelos longos em tom de branco
e marrom.
— Para mim?
— Estou chamando de Júnior, mas você pode mudar se quiser.
— Ah sim — balançou a cabeça e olhou para o cachorrinho
novamente. —– Então ele é meu, meu assim, de levar para casa?
— Por quê? Você não quer?
— Quero. Mas, eu não sei cuidar de um cachorro — confessou dando
um sorrisinho de leve.
— Eu acho que você nasceu com vinte anos de idade — revirou os
olhos. — Seu apartamento é tão grande e você fica sozinho o tempo todo,
achei que seria uma boa ideia — explicou e Christopher deu um sorriso
pequeno, acariciando a cabeça do cachorro.
Antonela estava há tão pouco tempo em sua vida, mas era a pessoa
que mais se preocupava com o seu bem estar, seja perguntando como estava
várias vezes por dia ou tentando fazer a sua vida ficar mais alegre.
— Foi uma ótima ideia. Obrigado, amor — deu um beijo na testa
dela, deixando escapar o apelido carinhoso, que causou um risinho nela.
— Vamos logo — se virou com o cachorrinho para o sofá onde
Marcela estava. — Tchau vovó — se inclinou, beijando a bochecha da
senhora.
— Tchau meu amor, fique com Deus e tome juízo nessa cabeça de
vento — benzeu Antonela.
— Até mais, Marcela — Christopher se despediu e então resolveu dar
um beijo na bochecha da senhora, assim como Antonela. Ele achava estranho
esse comportamento tão afetivo delas, pois nunca teve isso em casa com seus
pais, mas para sua surpresa parecia bem natural.
— Até meu menino, juízo para você também — benzeu ele assim
como Antonela que estava rindo com a cara de espanto dele. — E se não nos
vermos essa semana, boa sorte na corrida.
— Obrigado — ele sorriu para a senhora e foi atrás de Antonela e do
cachorrinho que dormia tranquilamente nos braços dela.
Abriu a porta para ajudar a namorada com os braços ocupados e
levou um susto quando viu um homem parado em frente na porta, pronto para
tocar a campainha. Antonela também levou um susto e quase deixou o
cachorro cair no chão. Era esse o momento que nunca gostaria de presenciar
na vida. Christopher e Pablo. Um de frente para o outro.
— Opa! Assustei? — Pablo perguntou ironicamente.
— Não — Antonela respondeu de forma direta.
Christopher olhava para os dois esperando a vez de ser apresentado,
mas ao que parecia Antonela não iria fazer isso.
— Vovó está?
— Sim — pegou na mão de Christopher tentando o fazer andar.
— Então esse que é seu tão famoso namorado? — olhou para
Christopher que estava basicamente sendo puxado por Antonela para o carro.
Christopher parou e encarou Pablo.
— E você quem é? — Christopher perguntou.
— Vamos Christopher! Eu estou com fome — tentou puxar ele
novamente, mas Christopher parecia um poste fincado no cimento.
— Sou Pablo Castillo, primo da Antonela.
Christopher não respondeu, apenas seguiu parado olhando para o
homem em sua frente. Antonela não fez nada, apenas olhava preocupada com
o susto que o namorado tinha acabado de levar. Talvez deveria ter comentado
da novidade nada satisfatória com ele.
— Christopher, por favor, vamos!
— Algum problema? — Pablo perguntou, olhando para os dois.
— Você não ia entrar? — gritou com ele que se assustou com a
pouca amabilidade de Antonela com ele.
Christopher olhou para ela e depois para Pablo que ainda parecia
chocado com a reação de Antonela. Pegou na mão da namorada e sem dizer
mais nada foi até o carro com ela, desligou o alarme e abriu a porta para ela
entrar, seguindo depois para o banco do motorista onde rapidamente arrancou
com o carro ainda confuso com a cena inusitada.
— Está tudo bem? — Antonela perguntou, tentando analisar a
serenidade que ele demonstrava.
— Tudo. E você está bem?
— Ele não é um problema para nós dois, você sabe, não é? —
encostou-se ao ombro dele que a olhou rapidamente e voltou a olhar para
frente.
— Isso depende de você — ponderou. — Se você ainda gostar dele,
eu não posso fazer nada.
— Eu amo você. Ele é meu primo, nada mais.
— Ele foi seu namorado, durante anos — trincou os dentes e acelerou
o carro.
— Ele é passado e nós dois somos o presente — tocou a mão dele
que segurava o volante e o viu dar um sorriso de lado.
— Eu acredito em você.
Ele virou o carro em uma rua e acelerou mais um pouco, até parar em
um lugar bonito, iluminado e com pouca movimentação nas ruas de Polanco.
Christopher deixou o carro nas mãos do manobrista e passou a mão na cintura
de Antonela.
— E eu sei que você me ama — deu um beijo rápido nela antes dela
o empurrar assustada.
— E o Júnior? — olhou para o cachorrinho que voltou a dormir em
seu colo.
Christopher começou a rir e entrou com ela no restaurante, recebendo
sorrisos de um grupo de mulheres que deixava o local. Antonela apenas
revirou os olhos e o abraçou.
— Boa noite — falou com a hostess atrás do balcão. Ela desviou a
atenção da tela do computador e olhou para ele, dando um sorriso de
admiração. — Eu tenho uma reserva no nome de...
— Christopher Bergman, perto da varanda — respondeu rapidamente
e então sorriu.
Antonela achou graça, pois a qualquer minuto a menina que não tinha
mais de dezoito anos iria cair desmaiada no chão. Era bem engraçado como
todos olhavam para Christopher como se ele fosse um santo imaculável e
inalcançável.
— Isso — sorriu. — Bom, será que você poderia cuidar dele? —
apontou para o cachorrinho. A menina olhou para Antonela e deu outro
sorriso enorme, dessa vez Antonela se assustou.
— Antonela! Ah, oi! Desculpe! — colocou a mão na boca. Não era
permitido dar esses tipos de ataques com os clientes e ela estava cansada de
saber disso. — Ah sim, claro que eu cuido. Sem problemas.
— Tudo bem — deu um sorriso para a menina e passou Júnior para
ela que segurou o cachorrinho com carinho.
— Ele ficará bem! — olhou para os dois que sorriram. — Raul os
guiará até sua mesa — apontou para um homem de meia idade que os olhava
da porta do restaurante e prontamente chegou perto deles com uma postura
cordial. — E eu sei que é errado, mas você poderia tirar uma foto comigo,
Antonela? — falou bem baixo com a morena que se espantou.
— Foto? — encarou a garota, chocada. — De você com ele? —
apontou para Christopher.
— Não, com você — pediu com os olhos brilhando e Antonela
continuava com os olhos arregalados.
— Claro — murmurou a palavrinha e viu a garota dar o celular para
Christopher tirar a foto.
Ao olhar para frente viu que ele segurava a risada ao olhar ela se
encostar ao lado da garota para tirar a foto.
— Muito obrigada, você é linda! — a garota agradeceu e Antonela
ainda estava abalada quando se afastou dela.
— Obrigada você — sussurrou, ainda sem entender o que tinha
acabado de acontecer. Não seria certo pedir a foto para Christopher? Ele sim
era o famoso.
Raul os guiou até a mesa e apresentou o cardápio para eles. Antonela
adorou o lugar logo de cara, olhando encantada para a decoração moderna em
tons amadeirados, mas sua parte favorita com certeza era o jardim arborizado
na varanda onde estavam sentados.
— Que lugar lindo! — colocou a mão na boca chocada pela beleza.
— É lindo mesmo — completou a vista do lugar, que ficava ainda
melhor com os olhos curiosos e brilhantes de Antonela admirando cada
detalhe.
— Eu adorei! — pegou na mão dele que estava em cima da mesa.
— É um prazer ter a presença de uma celebridade jantando comigo
— ao dar risada, viu que ela estava balançando a cabeça negativamente, com
as bochechas coradas.
— Não entendi nada do que aconteceu ali, ninguém nunca pediu para
tirar foto comigo — ao ver a empolgação inocente e genuína dela com aquela
novidade, apertou a mão dela e sorriu de leve.
Nesse momento se deu conta que ela era uma menina ainda,
começando a vida e se deslumbrando com tudo o que acontecia com ela.
Começou a pensar se mais para frente, ela lidaria bem com todo o assédio e a
fama que estava prestes a ganhar. Sinceramente esperava que fosse capaz de
administrar a carreira que com toda certeza decolaria depois de toda aquela
repercussão em cima do namoro deles.
O garçom chegou e eles fizeram o pedido do menu degustação de seis
tempos que Christopher não parava de elogiar. Quem olhava para os dois não
podiam negar que era o casal mais feliz daquele lugar, inebriavam amor e
felicidade para todos os lados. Eram o legitimo casal apaixonado. E
realmente se sentiam assim, enquanto conversavam foram atrapalhados três
vezes, uma por um homem alto, vestido em um terno nitidamente caro,
pedindo uma foto com Christopher quase que emocionado por ver o ídolo em
sua frente. A segunda por uma adolescente de uns quinze anos que pedia uma
foto também e a terceira por um menininho gracioso, de dez anos que veio
com a mãe que explicou que ele estava com vergonha. Tirou uma foto com
Christopher e saiu chorando de emoção.
— Graças a Deus tudo voltou ao normal — Antonela suspirou assim
que Christopher sentou na cadeira após a foto com o menininho. Ele riu e fez
cara feia para ela que bebia um pouco de vinho.
— Por que está bebendo? — perguntou e a viu olhando
debochadamente.
— Vem falar que eu estou bêbada de novo que eu te jogo nesse mato
— cerrou os punhos e o viu revirando os olhos.
— Você não bebia.
— Eu não bebo — respondeu de imediato.
— Isso não é suco de uva — disse ironicamente e Antonela voltou a
rir.
— Vai ficar controlando meu nível de álcool no sangue? Você que é
má influência para mim!
— Agora a culpa é minha? — se auto apontou chocado com o que
tinha acabado de escutar.
— Não me lembro de você fazendo nenhum voto de castidade contra
bebidas alcoólicas, muito pelo contrário — revirou os olhos e voltou a
repousar a taça na mesa. — Eu não quero parecer uma menininha idiota para
seus conhecidos. Não posso sair pedindo coca cola em um jantar importante
— balançou os ombros e Christopher ficou parado pensando no que ela tinha
escutado.
Ela estava do jeito dela tentando se adaptar ao mundo dele,
começando por pequenas coisinhas, que por mais insignificantes que fossem,
diziam muito para ele.
— Você não existe — negou com a cabeça e pegou a mão dela,
dando um beijinho no dorso.
Os pratos começaram a chegar e eles comeram entre conversas e
risos, com ele a atualizando das novidades da viagem. Do nada Christopher
ficou sério quando viu nada mais nada menos que Betina entrando ao lado de
um homem jovem, moreno de olhos claros. Antonela estranhou ele que
estava sorrindo e do nada ficou sério, interrompendo a bronca que tinha
levado da assessora de imprensa por falar da vida pessoal para os jornalistas.
— O que foi? — olhou para ele que não falou nada, apenas voltou a
comer.
Olhou para a mesa ao lado e viu Betina olhando para ela com um
sorriso. A loira acenava e Christopher olhava para Antonela, medindo a
reação dela. Antonela sorriu para a loira que pareceu não ficar satisfeita com
isso, a viu levantar e ir em direção ao banheiro, olhando para Antonela.
— Eu... Eu preciso retocar a maquiagem.
— Não vai comer mais?
— Não, já terminei — após dar um selinho rápido foi para o
banheiro, deixando um Christopher completamente diferente do de dois
minutos atrás. Antonela entrou no toalete e viu Betina passando o batom em
frente ao espelho. — Oi Betina!
— Oi querida — olhou para Antonela que estava ao lado dela
começando a retocar o lápis de olho. — Como vai?
— Ótima! E você? — mirou a loira de canto enquanto piscava após
passar o lápis.
— Estou perfeitamente bem. Acho que temos um imã, onde vamos
acabamos se encontramos.
— Incrível, não é? — pegou a máscara de cílios em sua bolsa e
começou a retocar.
— Como seu cabelo está lindo! — mexeu no cabelo de Antonela que
realmente estava lindo. Desejava em seu íntimo que aquela menininha sem
sal se explodisse e ficasse careca.
— Obrigada. Você também está linda.
E era verdade. Ela estava com um vestido amarelo que combinava
com o tom bronzeado da pele dela, como se tivesse acabado de voltar de
férias em Saint Tropez. O modelo do vestido era bem parecido ao que vestia,
mas parecia incrivelmente mais bonito no corpo longilíneo que ela tinha e
Antonela mais uma vez se sentiu uma formiga perto dela.
— E seu namorado sempre mal educado — fingiu uma chateação,
vendo Antonela sem graça, provavelmente sem entender a implicância de
Christopher com ela.
— Bom, vamos? — observou a loira guardar sua maquiagem na
bolsa que era o último lançamento da Dior.
— Vamos.
As duas voltaram para suas devidas mesas e o jantar seguiu sem
problemas. Christopher estava quieto e sério, o que deixava Antonela confusa
já que antes de Betina chegar ele estava feliz e calmo. Após o final da
degustação, foram apresentados ao chefe renomado dono do restaurante e
foram pegar Júnior com a hostess, sentada atrás de sua bancada com Júnior
dormindo no colo. Antonela agradeceu o tempo que ficou com ele e a menina
falou que não tinha sido trabalho algum.
Betina apareceu por ali com o rapaz e chegou a ficar vermelha de
raiva quando viu Christopher segurando o cachorro que Antonela comprou
para ele. Aquela cena lhe mostrou muito mais do que estava disposta a
descobrir e sinceramente estava sendo bondosa demais com Antonela. Era a
hora de atacar.
Foi para o lado do casal e cutucou discretamente Antonela que virou e ficou
parada, somente olhando para Christopher que encarava Betina com uma cara
de dar medo.
— Desculpa Antonela, mas queria saber se podemos ir novamente ao
shopping amanhã? Gostaria que você me ajudasse a escolher umas roupas.
Você pode?
Antonela sentiu o coração errar uma batida ao ver o olhar de
Christopher recair em cima dela, sem dizer nada ele saiu de perto das duas, se
encaminhando para fora do restaurante.
— Betina me desculpa, eu preciso ir atrás dele. Depois conversamos
— saiu apressada do lado da loira que deu um sorriso enorme e assim saiu do
restaurante com o rapaz belo ao seu lado, sabendo que aquele final de noite
tinha sido melhor do que o esperado.
Antonela entrou no carro onde Christopher estava a esperando, nem
conseguir abrir a boca e ele arrancou com o carro, fazendo Júnior cair do
banco de trás. Antonela pegou o cachorrinho e o colocou em suas pernas,
olhando para Christopher que estava sério. Sabia que ele estava nervoso,
bravo e talvez decepcionado com sua promessa quebrada de não ficar perto
de Betina.
Estranhou que ele não estava fazendo o caminho do apartamento e
sim de sua casa. Resolveu que continuaria quieta e durante o caminho apenas
o observou de canto de olho, vendo que ele estava imóvel no banco,
deslizando o carro pelas ruas vazias com velocidade, dobrando esquinas sem
desacelerar com uma facilidade impressionante. Muito antes do que esperava,
ele parou o carro em frente de sua casa, ainda se mantendo em silêncio.
— Não vai falar comigo?
Christopher olhou para ela de um modo diferente e Antonela
arrepiou-se com a frieza que ele demonstrava naqueles olhos verdes. Parecia
que tudo o que havia ali dentro agora era raiva.
— Tudo bem, até mais — abriu a porta do carro e saltou para fora
levando Junior com ela. Sentiu a mão de Christopher em seu braço, a
puxando para dentro do carro novamente.
— Me dá ele — pegou o cachorro das mãos dela e Antonela ficou
perplexa, piscando os olhos para se livrar do choque. Respirou fundo e
novamente saiu do carro, dessa vez entrando de uma vez por todas em sua
casa.
Christopher bufou e bateu a cabeça no volante. Porque Antonela
tinha que ser tão teimosa? Gostar de desafiar tudo e a todos? Existiam tantas
mulheres para ela resolver começar uma amizade e tinha de escolher justo
Betina? Que não era amiga nem de sua sombra!
Olhou para cima e viu a luz do quarto dela sendo acessa. Respirou
fundo e arrancou com o carro, descontando toda sua raiva no acelerador. O
cachorrinho apenas latia alto, em uma tentativa frustrada de fazer Christopher
o olhar. Recebeu um cala a boca e abaixou as orelhas, deitando no banco ao
lado de seu novo dono raivoso.
Em poucos minutos chegaram ao prédio, Christopher pegou o
cachorro do banco e subiu com ele até o apartamento, junto da bolsa com os
itens que Antonela tinha comprado especialmente para ele. Realmente
Antonela não tinha mais o que fazer, para ficar comprando coisas para
cachorros e fazendo amizades com pessoas como Betina.
Antes do banho, se lembrou do chá de bebê de Ester amanhã. Pegou
o celular e enquanto jogava a cama nova de Júnior na sala, ligou para
Manuela pedindo que comprasse algo bonito para seu afilhado. Feito isso, foi
tomar banho e se jogou na cama, se assustando quando uma coisa gritou em
baixo dele. Levantou rapidamente e viu Junior olhando para ele enquanto
abanava o rabo.
— Não. Você não vai dormir aqui, cai fora garoto.
O empurrou para o chão e deitou na cama, a sentindo tão vazia sem
uma certa pessoa ali ao seu lado para abraçar e dormir em cima de seu braço,
mesmo que soubesse que acordaria na manhã seguinte com uma dor terrível
após horas sem movimento. Bateu em sua testa, irritado em como sentia falta
de Antonela e não fazia nem meia hora que tinha a deixado em casa. Ao
sentir quatro patas em cima de sua barriga, ergueu o pescoço.
— Sai para lá! Vai dormir na sua cama! — apontou o dedo para a
porta e o cachorrinho abaixou as orelhas e pulou da cama, indo para fora do
quarto. — Tudo bem! Vem aqui pulguento — bateu no colchão com as mãos
e não levou mais de dois segundos para Junior aterrizar de um jeito nada
delicado em cima de sua barriga. — Para de me lamber. Vai dormir lá
embaixo! — fingiu estar bravo e o cachorrinho o obedeceu prontamente,
rodando até encontrar uma posição confortável aos pés de seu dono.
Christopher começou a rir e apagou o abajur, virando para o lado e
mergulhando em uma profunda insônia.
CAPÍTULO 33
Antonela quis gritar e espernear assim que o sol iluminou seu quarto,
não tinha dormido nada essa noite. Uma bela noite de insônia e não podia
dormir agora que seu sono veio, tinha que ir trabalhar em uma sessão de fotos
para o catálogo de uma loja junto de Anna e Daniela. Tudo o que poderia
querer, não? Foi se arrastando até o banheiro onde tomou banho e se ligou no
automático para colocar roupa, dar um jeito no cabelo e descer para tomar
café da manhã.
Emma e Marcela nem falaram nada com ela, pela cara sabiam que a noite não
havia sido nada agradável. Em menos de meia hora estava no estúdio onde
algumas pessoas começavam a chegar. Anna arregalou os olhos ao ver a
amiga chegar cedo demais, de óculos escuros e com um bico do tamanho do
mundo.
— O que o Christopher fez dessa vez? — a abraçou e ela começou a
chorar.
Nem sabia o porquê de estar chorando. De raiva. Não dele. Dela.
Idiota. Retardada. Teimosa. Contou toda a história para Anna que ouvia
atentamente, amparando a amiga e alisando seu cabelo.
— Tem alguma coisa de errado nessa história! Porque ele odeia tanto
a Betina? Tudo bem que eu não fui com a cara dela, mas ele deve ter um
motivo muito pior. Não deve ser somente porque por ser amiga do Álvaro.
— Eu também acho. Apesar dos dois se odiarem, não tem motivo
para ele odiar a Betina — disse enxugando a lágrima que escorria por sua
bochecha.
— Não que você saiba — deu um sorriso confortador para a amiga
que sorriu e a abraçou.
Logo começaram as fotos. Daniela estava quieta, parecendo um
pouco deslocada já que Antonela e Anna além de estarem em uma perfeita
harmonia se davam muito bem com o fotógrafo. Fizeram algumas juntas e
outras separadas. Eram as garotas propaganda da loja e o trabalho teria que
sair perfeito. Somente pararam para almoçar rapidamente no estúdio mesmo e
logo voltaram as fotos. Anna via a amiga dando tudo de si própria para fazer
seu trabalho bem, sair realmente feliz e perfeita nas fotos e sabia que aquilo
não estava sendo nada fácil para ela.
Tinha vontade de gritar e sair correndo de lá, para se trancar o dia
inteiro em seu quarto. Se existisse uma coisa no mundo que odiasse, era
brigar com Christopher com toda certeza, ainda mais por coisas idiotas, que
não faziam o menor sentido. Como a teimosia dela. Balançou a cabeça
tentando se concentrar pela milésima vez em seu trabalho e não em
Christopher, porque sabia que estava acabando.
E logo tudo acabou, as fotos ficaram perfeitas, o fotógrafo saiu feliz,
o estilista da loja saiu feliz, a dona da loja saiu feliz, todos saíram do estúdio
felizes, menos Antonela.
— Não adianta você ficar assim, amiga. Namoro é assim mesmo, um
dia está tudo ótimo e no outro está péssimo, tudo vai ficar bem — a abraçou e
Antonela continuou quietinha. Anna tinha razão. Brigas não faltam em
namoros, somente é preciso perceber que os momentos bons anulam os maus.
— E durou menos que eu esperava — começou a rir ao olhar por cima do
ombro de Antonela.
— Tá falando do quê?
A loira apenas deu mais um sorriso enorme e virou Antonela de
ombro, fazendo a amiga mirar Christopher parado ao lado do carro dele,
olhando na direção das duas.
— Vai — empurrou Antonela para frente, esta que estava imóvel
feito uma estátua de mármore. Anna olhou seria para ela que respirou fundo,
irritada. — Antonela, não seja orgulhosa. Brigar com ele não te leva a nada.
Você foi a errada. Ele pediu para você não falar com a Betina, você
prometeu, mas não adiantou nada. Ele está certo e você não tem por que estar
brava com ele, pelo contrário! — falou seriamente e Antonela se assustou
com Anna, aquele era o papel dela. O de dar broncas!
— Desde quando ele tem uma guardiã?
— Não é questão de proteger e sim de fazer você ficar com uma cara
e humor melhor. Não gosto de te ver assim, Nelis — virou ela novamente de
frente para Christopher que parecia não se importar com a demora dela. —
Nada de brigas, peça desculpas e esclareça as coisas. Agora vai! — deu um
beijo no rosto da amiga e saiu saltitando para seu carro, acenando para
Christopher no percurso.
— Er... Oi! — deu um sorrisinho sem graça para ele, após algum
tempo tomando coragem de ir pedir desculpas e admitir que estava errada.
Christopher sorriu para ela, achando graça do jeito que Antonela
estava, totalmente sem graça. Ela era tão ruim em encerrar brigar quanto ele.
— Vem aqui — a puxou pela cintura, segurando o rosto dela com
uma mão antes de beijá-la.
Antonela quase começou a chorar de emoção, era surreal o modo
que a ausência dele a fazia ficar louca, irritada e chata. O abraçou forte,
pedindo aos céus que aquele momento durasse por toda a eternidade.
Colocou a mão no rosto dele após se separaram do beijo.
— Me desculpa — falou baixinho e ele sorriu, compreendendo como
era difícil para ela pedir desculpas.
Orgulho. Entendia o lado dela, não era tão diferente dela. Dois
orgulhosos juntos o resultado sempre seria longos dias separados por
simplesmente um não saber pedir desculpas para o outro. Agora tudo parecia
estar diferente. Pedir desculpa por um erro, não era nem um bicho de sete
cabeças, contanto que estivessem juntos.
— Vamos esquecer de tudo o que aconteceu, está bem? — passou a
mão pelos longos cabelos dela enquanto ela ainda o apertava num abraço
bem apertado.
— Eu te amo.
— Também te amo — e a beijou mais uma vez. Ficaram por vários
minutos em frente do carro, até verem que tinha gente olhando e paparazzi
tirando fotos. — Eu mereço! — revirou os olhos e abriu a porta do carro para
Antonela que torceu o nariz.
— Onde vamos? — perguntou a ele que já estava dentro do carro.
— Eu sabia que você iria esquecer o chá de bebê do nosso afilhado.
Depois do desespero momentâneo da parte de Antonela, chegaram à
casa de Ester e Léo minutos depois, vendo vários carros parados em frente da
residência, que por sinal era linda e tão grande que chegava a ser absurda,
pegando quase um quarteirão de um condomínio exclusivo. Desceram do
carro, atravessando pela grama até a porta de entrada, que estava decorada
com balões azuis escritos “Pietro”.
Christopher abriu a porta sem cerimônias, passando pelo meio de um
grupinho de crianças que brincavam no hall. Antonela sorria, estava feliz.
Feliz por estar ali. Feliz por estar segurando a mão de Christopher. Feliz por
estar tudo bem entre eles. Tudo novamente em paz.
Desceram as escadas e foram para o jardim, onde todos estavam reunidos. As
vozes e os risos eram altos. Era óbvio que todos estavam felizes por estarem
presenciando aquele momento tão especial para a vida daquele casal.
E então Antonela olhou para frente, vendo todos devidamente
arrumados como se estivessem em um casamento vespertino, os homens com
trajes sociais em tons derivados do bege e as mulheres em belíssimos
vestidos. Antonela arregalou os olhos ao se dar conta de como estava vestida:
Um short jeans puído, camisa branca de botões e um all-star branco. Droga!
Como não tinha pensando nisso antes?
— Os padrinhos chegaram! — Léo gritou no meio da pequena
multidão que se espalhava pelas mesas e a beira da piscina.
Todos olharam para o casal, sorrindo. Todos menos uma pessoa. A
que mais chamou a atenção de Antonela. Estava ao lado de um grupo de três
mulheres, da onde Ester tinha saído. Betina.
— Antonela, você está... Linda. — Ester falou pausadamente após a
olhar de cima a baixo e conseguir deixá-la ainda mais abalada por seus trajes.
Abraçou Ester, ainda desnorteada com a presença de Betina. Não
queria mais brigas com Christopher, não seria justo acontecer isso
novamente.
— Eu amei a decoração, está linda — elogiou, vendo Ester sorrir,
orgulhosa do trabalho bem feito.
De verdade tudo estava lindo, o tom azul bebê com branco, os balões
azuis metalizados que eram enfeites de mesas e estavam por toda parte e
vários artigos infantis espalhados por todos os lugares. Vendo de longe
parecia um casamento de muito bom gosto.
— Obrigada! Oi Chris! — abraçou e deu um beijo no rosto dele.
Christopher também parecia nada à vontade ali e tanto Antonela quanto Ester
sabiam o porquê disso. — Me desculpa Chris, mas ela é minha amiga. Não
poderia fazer isso sem ela, ainda mais depois da situação de madrinha e... —
estava cochichando baixo com ele e Antonela tentava não querer ouvir, mas
era inútil. A curiosidade falava mais alto.
Não entendia o porquê de tudo isso, Christopher nunca falava nada.
Tinha prometido contar, mas nada. Não entendia o porquê de tanto ódio por
Betina.
— E ai casal! — Léo se aproximou dos dois, animado como sempre.
Realmente para Léo não existia tempo ruim, estava sempre com um
sorriso enorme no rosto. Deu um beijo no rosto de Antonela e elogiou as
pernas dela e logo tratou de puxar Christopher para uma mesa onde estavam
os amigos dos dois, que para Antonela só era familiar Plínio, da viagem de
Cancún. Ester queria matar Léo, por ter a deixado sozinha em uma situação
que não fazia ideia como reagir. Ex-noiva e sua melhor amiga no mesmo
lugar que a atual e madrinha de seu filho. Era algo muito desagradável.
— Vem, vamos — deu um sorriso sem graça para Antonela e sem
saída a levou para perto de suas amigas, dessas que incluam Betina. —
Melody, Sara, Catarina e Betina — foi apontando para cada uma das
mulheres, belíssimas por sinal.
Antonela sorriu, sem animo nem vontade de ficar ali assim que as
quatro a olharam com cara de nojo e lhe olharam do mesmo modo que Ester,
como se fosse uma mendiga.
— Essa é Antonela, minha amiga, madrinha do Pietro e namorada do
Christopher — olhou para Betina esperando que pela primeira vez na vida ela
ficasse quieta.
Betina se limitava a sorrir com toda aquela pose que deixava
Antonela mais desajeitada ainda, o vestido rosa claro em um tecido
maravilhoso e longo a deixava pior ainda, sendo observada pelo olhar atento
e curioso das outras três mulheres.
— Já nos conhecemos — Betina expôs.
— Como? Vocês se conhecem? — Ester perguntou para Betina e
Antonela ao mesmo tempo. — Mas como pode...? O Christo... — nem
terminou de falar e viu Christopher chegar por trás, abraçando Antonela pela
cintura.
— Infelizmente as duas se conhecem — lançou um olhar debochado
para Betina que soltou um risinho sarcástico e bebeu o resto do champanhe
em sua na taça.
— Christopher... — Antonela rosnou, implorando para que ele não
começasse a brigar ali.
— Seu problema sempre foi ser covarde, não é Christopher? É
homem o suficiente para bater no peito e dizer que corre com aquele seu
carrinho a sei lá quantos quilômetros, mas é uma criancinha na hora de
encarar a realidade e dizer sobre seu passado para os outros — disse enquanto
o media da cabeça aos pés.
Christopher ficou perplexo, assim como Antonela, Ester e o resto das
pessoas, que pararam tudo o que estavam fazendo para olhar os dois. Léo
rapidamente se aproximou da mesa onde estavam, com Plínio ao seu lado.
— E você? Acha que é mulher o suficiente? Você é falsa! Quer achar
um modo qualquer de acabar com o meu namoro com a Antonela, assim
como já fez com os outros. Sinto em te dizer, mas não é você e essa sua alma
imunda que vai conseguir isso dessa vez — o tom calmo não enganava a
raiva oculta. Antonela não sabia o que fazer, estava chocada.
E por mais que não soubesse o que havia naquela história, era
impossível não entender. Tanto ódio não poderia ser por causa de Álvaro.
— Christopher não vale a pena — Léo segurou o ombro do amigo,
olhando sério para ele que não tirava os olhos brilhantes de ódio de Betina.
— Imunda? Não era isso que você achava quando me pediu em
casamento, muito menos quando transava comigo todos os dias — sorriu
furtivamente, olhando diretamente para Antonela que não movia nem um
músculo se quer. Christopher se calou. Léo e Ester congelaram. Assim como
todos ali presentes.
Antonela apenas soltou os braços de Christopher que entrelaçavam
sua cintura e saiu dali, de perto das pessoas que cercavam, que queriam ver o
circo pegar fogo. Subiu as escadas correndo e entrou na primeira porta que
viu na frente, era um quarto normal, talvez de hóspedes. Ouviu o zumbido
das vozes no andar de baixo, o que a fazia acreditar que aquilo não era um
pesadelo.
Christopher pediu Betina em casamento.
Por algum motivo eles não se casaram.
Mas, iriam.
Poderia ser que agora fossem uma família. Christopher e Betina. Por
mais que quisesse acreditar que era um sonho horrível que estava tendo, sabia
que não era. As batidas na porta denunciavam isso. Como Betina pode ter
sido tão suja a ponto de ser amiga dela sendo que sabia muito bem que era
namorada do seu ex? Pura falsidade.
— Antonela, por favor! — Ester implorava do outro lado da porta
para Antonela abrir.
Antonela nem prestava atenção no que Ester falava, estava sentada na
beirada da cama ainda perplexa, totalmente em choque. Poderia esperar por
tudo nessa vida, menos que Christopher e Betina quase tivessem se casado.
— Antonela, por favor, amor! Deixo te explicar — assim como Ester,
Christopher batia na porta, desesperado com o silêncio de Antonela.
Léo chegou com a chave do quarto e nem isso fez Antonela sair de
seu transe. Entraram os três e Léo trancou a porta por dentro. Christopher
ajoelhou-se na frente de Antonela, ficando quase na mesma altura que ela.
— Antonela — a chamou, que parecia nem o ouvir.
Estava muito distante daquele quarto. Seus pensamentos vagavam
por Betina vestida de noiva, entrado em uma belíssima Igreja, indo para os
braços de Christopher que a esperava no altar. Como não tinha pensado
naquilo? Como tinha sido idiota o bastante para fazer aquilo?
— Por favor, fala comigo — pegou na mão dela e nada dela
responder.
— Antonela? Está tudo bem? — Ester mexeu no cabelo dela e
Antonela pareceu acordar e olhou assustada para Ester.
— Eu vou buscar um copo de água, ela está mais branca que
fantasma — Léo disse já saindo do quarto.
— Eu sabia que iria acontecer isso — sentou ao lado de Antonela que
olhou para ela com os olhos cheio de lágrimas. Era o chá de bebê dela, dia de
felicidade para as mães. E tinha acabado com tudo.
— Eu que tenho que pedir desculpas e... — Antonela tentou dizer,
mas se perdeu em suas próprias palavras.
— Eu que sou o culpado. Me desculpa Ester, eu acabei com toda a
festa — Christopher se desculpou.
— Você não tem culpa nenhuma e pensando bem nem eu. Toda a
culpa é da Betina, ela que não soube se comportar. Bom, eu acho que tenho
que deixar vocês conversarem — deu um sorriso fraco e abraçou Antonela.
— Ela pode ser minha amiga, mas eu a conheço. Ela não é uma boa pessoa.
O que o Christopher fez, foi tentar te manter longe disso, não era preciso
você saber das coisas que ela faz para ter o que quer. Então não briguem, é
isso mesmo o que ela quer — continuou passando a mão pelo cabelo de
Antonela que balançou a cabeça.
Léo chegou com a água e logo após fazer Antonela tomar até a última
gota, saiu com Ester do quarto. Christopher sentou ao lado dela na cama, que
somente olhou de canto para ele.
— Perdão — Christopher falou e voltou a ficar em silêncio. Tampou
o rosto com as mãos, os braços apoiados nas pernas.
Antonela olhou para ele e sentiu um nó na garganta. Ele tinha
escondido dela somente para protegê-la. Apesar de odiar a tratarem feito uma
boneca de porcelana, que mulher não gostaria de estar sendo protegida pelo
namorado? O entendia.
Compreendia que o que tinha acontecido antes de conhecê-lo, era o
passado dele. Assim como ela tinha seu passado e ele entendia. Ela teve
Pablo. E agora, mesmo sendo difícil de falar, ele teve Betina e era passado. E
para ser sincera, em sua busca sobre a vida de Christopher na internet, viu
fotos de várias mulheres que ele já tinha namorado ou tido affairs,
obviamente deveria ter prestado mais atenção nessa parte, pois com toda
certeza estava tudo lá sobre Betina.
— Não tenho o que te desculpar, já aquela dissimulada... — cerrou os
punhos pensando no que fazer quando encontrar com Betina.
Christopher levantou a cabeça e olhou para ela, assustado. Antonela
não era desse tipo de pessoa que fica brigando com outras. Ainda mais
mulheres.
— É compreensível sua raiva.
— Isso era a coisa que eu menos podia imaginar — deu um sorriso
sincero e ele encostou o rosto no pescoço dela. — Por que você não casou
com ela? — olhou para ele de canto esperando uma reação. Apenas viu o
olhar perdido, vazio. — Se não quiser não precisa falar.
— Não. Você foi a pessoa que ficou no meio de tudo, acho que tem
que saber — suspirou, balançando os ombros com cansaço. — Faz uns três
anos que eu estava noivo dela, até que descobri que ela estava me traindo e
terminei com ela — deu um sorriso forçado ao fim.
Antonela olhou para ele torto, esperava uma história de três horas de
duração. Sabia que tinha mais coisas e ele não queria contar.
— Somente isso? Esperava uma história catastrófica — deu um
sorriso para ele que somente revirou os olhos.
— Não gosto de dramas.
— Deixo ver se eu entendi. Você estava de casamento marcado com
ela... — era perturbador pensar que os dois tiveram algo juntos e poderiam
estar casados hoje. — Ela te traiu e você descobriu, terminaram... E agora ela
aparece, você a odeia e é amiga do Álvaro. Eu não entendo isso — ignorou a
cara que Christopher fez ao falar de Álvaro.
— Eu não a odeio, só é uma pessoa que quero ficar bem longe. Só
estava comigo pela fama e pelo dinheiro. Se ela é tudo o que ela é hoje, é por
mim. E deixou bem claro isso quando terminamos. Não me amava, amava o
que eu tinha — virou o rosto para o lado, tentando escapar daquelas
lembranças ruins e dolorosas. — Ela esteve comigo nos momentos péssimos
e eu sei disso. Mas, ela se aproveitou de tudo e me fez de idiota.
— Vai com calma, Christopher. Ela pode ter te traído e tudo mais,
mas é feio você falar que ela só é o que é, por causa de você — expressou seu
pensamento e ele a olhou completamente incrédulo — Não estou defendendo
ela, calma — se apressou em dizer — Isso pode muito bem acontecer
comigo. Eu não sou ninguém e namoro com você. Se a gente terminar, eu
ganhar fama e tudo mais, não ia gostar de saber que você fala que tudo que eu
sou é graças a você — explicou e Christopher por um momento achou que
ela estava brincando, até entender o que ela realmente estava querendo dizer.
— Você não é igual a ela — se apressou em dizer, sentindo o ar pesar
ao ver o rosto sério e o suspiro pesado dela. — Tudo bem, você tem razão,
me desculpe — disse sinceramente e acariciou a mão dela.
— Você a amava? — Antonela perguntou, vendo o olhar assustado
dele. Apesar de ela não gostar daquele assunto, tinha curiosidade. Muita
curiosidade.
— Eu a conheço desde a adolescência, por mais que não tivéssemos
nada sério durante vários anos, ela sempre esteve por perto. Eu nunca fui
santo, nós vivíamos terminando e voltando, mas eu a amava e quando decidi
parar com toda minha vida de diversão para ter uma família com ela, me senti
um idiota. Quando descobri, achei que minha vida amorosa estava acabada,
para sempre. Que nunca mais iria poder amar e por isso fazia das mulheres
uma diversão na minha vida. Até encontrar você — olhou para ela, a vendo
com os olhos nublados pelas lágrimas — Me lembro que achava que não iria
conseguir, quase perdi meu emprego de tanto que eu batia aquele carro. Era
duro ter que esquecer ela e do meu ami... — parou de falar quando viu o
brilho de curiosidade iluminar todo o rosto da mulher ao seu lado.
— Amigo? Que amigo? Ela te traiu com seu amigo? — perguntou,
boquiaberta.
— Ella, não me faz falar disso. Não que me incomode, mas tem
várias pessoas envolvidas nisso, inclusive você. E não quero trazer essa
história novamente, já basta o que aconteceu.
Como estava envolvida nisso se nem ao menos o conhecia? Se a ideia
era deixar a história oculta, ele tinha acabado de falar a coisa errada.
— O que? Como assim? O que eu tenho a ver com essa história?
— Ella, não. O que importa é que agora nós estamos juntos, você
sabe de tudo, não há mais segredos entre nós dois. E a Betina, não pode mais
fazer nada contra você — disse o que Antonela nem ouviu, com sua cabeça
tal qual uma engrenagem tentando colocar aquela história em ordem e então
algo estalou e fez total sentido.
— Você odeia a Betina e o Álvaro e os dois são amigos. Pelo o que
eu sei de você, nunca iria deixar ela perto dele e isso eu falo por experiência
própria. Ele tem alguma coisa a ver com essa história? — perguntou
completamente desconfiada e viu Christopher coçar a nuca nervoso.
O que mais queria naquele momento? Sumir dali o mais rápido que
pudesse.
— Antonela não faz isso. Eu não quero ver mais ninguém sofrendo e
eu sei se eu te contar você vai contar para a Anna, e eu não quero a ver
sofrendo, ela é uma pessoa sensacional. Deixa tudo como está.
— Os dois te traíram, não é? Você era amigo dele! — colocou a mão
na boca chocada. Christopher não era tão difícil de ler, ainda mais quando
nervoso. — E agora vocês se odeiam por isso.
— Antonela, para — falou seriamente com ela que olhava para a
janela, pensativa.
— Então, se isso vai envolver eu e a Anna, eles ainda estão juntos? É
isso? A Betina e o Álvaro tem um caso? — colocou a mão na testa onde já
começava a suar frio.
Anna iria morrer se ficasse sabendo disso. Já não tinha gostado de
cara de Betina e saber que o homem que ama, que está feliz e que a mudou
completamente, estava com outra ao mesmo tempo que ela. Outra que por
acaso é a ex-noiva de Christopher, Betina. Agora tudo fazia sentindo, ainda
mais depois das reclamações que Álvaro era sempre esquisito e distante.
— Eu não sei, acho que sim. Fazia tempo que não via os dois juntos,
por isso que dei aquele vexame no show dela. Eu não sei o que eles querem e
além do mais, a Betina tenta acabar com todo relacionamento mais sério que
eu tento ter e eu não queria que ela fizesse alguma coisa contra nós.
— Isso não é justo! Por quê? Agora que a Anna está feliz, está
amando. Ela nunca sentiu isso por nenhum outro homem. Por que ele tinha
que fazer isso com a minha amiga? — abraçou Christopher, deixando as
lágrimas deslizarem por sua bochecha.
Queria socar Betina e Álvaro, mas sabia que isso não levaria a nada.
Não podia obrigar Álvaro a largar Betina e amar Anna, a vida era dele e ela
não era nada. Christopher a abraçou, entendendo que a dor de verdade de
Antonela, era por Anna.
Antonela não era uma santa e talvez por seus próprios erros tinha
compreendido muito bem o passado dele com Betina. Era a mulher que
sempre sonhou, apesar de todo o ciúme que ela tinha, era compreensiva.
Sabia separar as coisas da imaginação e da realidade, do passado e do
presente.
— Fica calma — apertou ela contra seu peito.
Tentava engolir os soluços, mas a raiva que sentia dentro de seu
coração fazia sentir vontade de cometer um assassinato. Christopher foi a
acalmando, até Antonela dormir. Ajeitou a morena na cama e saiu do quarto,
descendo para o jardim onde todos olhavam para Ester que abria seus
presentes sob os risos e aplausos das mulheres. Léo o ele olhando para o
monte de mulheres que cercavam Ester e levantou da mesa, indo até ele.
— Ela foi embora? — Léo colocou a mão no ombro dele e
Christopher olhou para ele, negando com a cabeça.
— Está dormindo.
— Resolveram tudo?
— Sim. A Antonela é uma pessoa bem compreensível, sabe separar
as coisas. Ficou assustada e chateada, já que a Betina e ela estavam próximas,
saiam por aí para fazer compras e essas coisas, não esperava que fosse pura
falsidade. Ela surtou a hora que contei da traição com o Álvaro, ele namora a
melhor amiga dela.
— Outch... — fez cara de dor. Realmente aquela era uma situação
bem desagradável. — Mas, acho que eles não têm mais nada não. A não ser
essa alma demoníaca semelhante — deu uma gargalhada, acompanhado por
Christopher.
— Não sei. Eles são um cubo de gelo, não demonstram emoções.
Não dá para saber nada! Fico muito chateado pela Anna, ela é uma pessoa
incrível e merece ser feliz e o Álvaro pode estar brincando com ela.
— Acho que nessas coisas de casais não devemos nos meter. Você e
a Antonela estão bem e acho que se existir alguma coisa entre os dois ainda, é
males que vem para bem, quem sabe não é até bom, essa Anna pode saber se
o sentimento é mesmo verdadeiro.
— Acho que ser pai está mexendo com seus sentimentos! —
começou a rir, levando um tapa na cabeça como resposta. — Ela foi embora?
— Foi quase cuspindo fogo — gargalhou, todo bem humorado como
sempre.
Ficaram observando Ester sorridente, estava feliz por ter todas
aquelas pessoas ali prestigiando aquele bebê que já era tão amado mesmo
antes de nascer. Léo, Christopher e Plínio cansaram de ver Ester em meio de
chupetas e mamadeiras e foram ver televisão, enquanto bebiam cerveja e
colocavam a conversa em dia.
Já estava escurecendo quando Antonela desceu as escadas coçando o
olho e bocejando. Ótimo, tinha dormido quase a tarde inteira na casa de
Ester, onde deveria estar fazendo seu papel de madrinha Quase caiu da
escada quando ouviu um uníssono “Gol” sendo berrado. Olhou para a sala e
estava Christopher, Léo e Plínio vendo um jogo de futebol na televisão.
— Quem vê pensa que joga futebol muito bem! — Antonela falou e
logo começou a rir ao ver Léo e Plínio gargalhando de Christopher que fez
uma cara amarrada. Antonela sorriu e sentou no colo dele, apertando as
bochechas coradas de Christopher.
— Ele era sempre o último a ser chamado para o time — Plínio
respondeu e voltou a rir de novo. Christopher era o único que não ria, apenas
observando os três que compartilhavam a graça de sua tragédia pessoa.
— Não sei de onde vem tanta graça — revirou os olhos.
— Em alguma coisa ele tinha que se dar mal — Léo bateu nas costas
de Christopher que deu um risinho irônico.
Antonela deu um beijo rápido dele, já ouvindo Ester gritando feliz
por ela ter acordado. Foi para o jardim, onde agora só restavam algumas
mulheres e as crianças que ainda tinha pique de correr pelo vasto gramado.
Ajudou Ester até o final da festa, ignorando os olhares curiosos das outras
pessoas. Por volta das oito e meia, só restavam Antonela, Christopher, Plínio
e sua namorada, Júlia. Tinha vinte anos e era aquela típica menina com o
rosto de boneca assim como o jeito, o cabelo, o corpo, as roupas.
Completamente o oposto de Plínio que fazia o tipo de policial gato, com o
porte atlético dele.
Continuaram conversando, contando histórias dos tempos de
adolescentes dos três amigos. Das brigas com Ester na escola. Ester tinha a
idade de Christopher e Plínio, por isso estudou com eles na mesma sala. Já
Léo era três anos mais velho, ou seja, três series a mais. Assim mesmo eram
amigos. O celular de Antonela começou a tocar e quando viu no visor
“Anna”, sentiu o estômago revirar e os olhos simultaneamente se encherem
de lágrimas. Pediu licença e foi para o jardim atender a amiga.
— Oi Nelis! — Anna gritou animada.
Antonela sorriu, a animação de Anna chegava a ser contagiante. Por
que aquela pessoa tão boa tinha que passar por isso? Justo quando estava
amando uma pessoa de verdade, sem pudores, sem restrições. Se entregando
de corpo e alma.
— Oi Barbie — respirou fundo, tentando não demonstrar sua alegria
que não estava nem um pouco contagiante.
— E então, tudo bem com você e o Christopher? Onde você está?
Como foi a reconciliação?
— Calma Anna! — começou a rir da agitação da loira. Ouviu a
gargalhada estrondosa de Anna e voltou a rir, acompanhando a loira. — Está
tudo bem, fizemos as pazes e tudo voltou ao normal. Bom... Nem tanto! Mas,
depois eu te explico. E por último, eu estou no chá de bebê do meu afilhado.
— Afilhado? Que afilhado?
— De um casal de amigos do Christopher. Eles me convidaram para
ser madrinha do bebê e não me pergunte o porquê, já que só vi os dois duas
vezes na vida.
— Ah, legal — comentou, de forma que sua voz transparecia os
ciúmes. — Como ele vai se chamar?
— Pietro, sua ciumenta!
— Agora vai me trocar pela mãe do seu afilhado, vai me deixar
sozinha para o resto da vida e eu vou morrer de desgosto.
— Anna, pelo amor de Deus — revirou os olhos ao rir junto da
amiga. — O que foi? Por que me ligou?
— Queria saber se você vai viajar com o Christopher essa semana.
— Eu acho que sim. Amanhã bem cedo vou buscar meu passaporte e
estava combinado antes da briga irmos de noite. E você, vai?
— Não. O Álvaro me disse que não conseguiu fazer reserva no hotel,
porque lá está tudo cheio. Aí vou na próxima. — ao ouvir aquilo, Antonela
sentiu o gosto amargo do ódio subir pela garganta. Era óbvio que era mentira.
— Se você quiser, eu peço para o Christopher tentar conseguir uma
vaga.
— Acho melhor não, o Álvaro está nervoso, talvez seja melhor eu
ficar. E além do mais vou aproveitar para fazer um desfile. — a inocência
dela tirou Antonela do sério. Não sabia se devia falar ou não o que Álvaro
andava aprontando para a amiga. Antes que abrisse a boca, Anna a
interrompeu. — Te liguei para pedir uma coisa.
— Fale.
— Você poderia ficar de olho no Álvaro? Sabe, essas meninas
oferecidas estão a solta e eu tenho medo. Você sabe bem como é isso —
bufou e Antonela engoliu em seco e sentiu os olhos se encherem de lágrimas
mais uma vez. Não era justo uma pessoa fazer isso com Anna, a loira podia
ter seus defeitos, mas estava apaixonada por Álvaro. — Eu sei que você me
entende, não entende?
— Claro.
— É só isso. Você pode fazer isso por mim? — pediu com aquela voz
que fez o coração de Antonela partir em dois. Ela não tinha coragem de falar
para a amiga o que estava acontecendo.
— Claro, sem problemas. Mas, você sabe que não tem sentido ficar
com uma pessoa que você não confia, não é? — perguntou e viu a amiga
bufar do outro lado da linha. — Ok, posso lhe ser útil em algo a mais?
— Era só isso Nelita! Amanhã vou na sua casa desejar boa viagem e
escolher suas roupas, afinal, você tem que arrasar em Mônaco! Depois te
ligo, beijos — e rapidamente desligou, deixando Antonela sem saber o que
fazer.
Queria matar aqueles dois demônios com suas próprias mãos. Voltou
a sala e Christopher viu que pela cara dela as coisas não estavam boas e por
isso se apressou em ir embora. No caminho decidiu que tinham que ir para
casa de Antonela, avisar a família dela da viagem e antes de chegarem,
passaram em uma pizzaria.
— Hey? Tem alguém em casa? — Antonela gritou enquanto jogava
as chaves e a bolsa em cima do sofá, Christopher vinha logo atrás com as
pizzas. — Ué — olhou para Christopher estranhando o silêncio daquela casa.
Isso nunca acontecia.
— Será que saíram?
— Tiiita!
O silêncio foi cortado por uma vez infantil, muito conhecida por
Antonela. O pé descalço batia no piso de madeira em uma corrida um pouco
desengonçada.
— Bella! — saiu correndo até a escada, onde a menina descia
tentando correr. Pegou ela no colo ainda faltando cinco ou seis degraus e a
abraçou forte, beijando a bochecha da menina.
— Tita, estava com saudades! — passou seus bracinhos pelo pescoço
de Antonela.
— Eu também meu amor. Como você cresceu minha princesa! —
olhou para ela que sorriu e deu um gritinho ao ver Christopher ali.
— Tito! Tia me solta, eu quero ir com o tito — pediu para Antonela
que sorriu e a soltou no chão, observando aquele toquinho de gente se jogar
em cima de Christopher que começou a rir.
— Nelis! — Bianca desceu a escada correndo indo na direção de
Antonela que quase foi esmagada devido a tantos abraços e apertões.
— Chega Bia — começou a rir e deu uma tossida pela falta de ar.
— Você está linda — deu um tapinha na bunda da irmã que sorriu, se
dando conta que não havia lugar que se sentia melhor do que com sua
família.
Tinha passado o dia inteiro recebendo olhares feios por sua roupa e
foi só chegar em casa para receber um elogio.
— E você também! Cadê os outros? — Antonela olhou a escada,
onde não vinha mais ninguém.
— Não vieram. Eu tive que fazer a primeira prova do meu vestido de
noiva! Só trouxe a Bella.
— Ai que emoção! Nem acredito que está chegando.
— Cunhadinho! — deixou Antonela falando sozinha e foi falar com
Christopher que brincava com Bella e Frederico, o gato de Antonela, no chão.
Antonela sorria, mas seu sorriso murchou assim que viu descendo da escada,
Pablo junto de Marcela e Emma.
— Oi meu amor! — Marcela se aproximou e deu um beijo na testa
da neta.
— Oi vovó.
— Tudo bem? — Emma perguntou para a filha que estava
empenhada em ignorar Pablo parado ao lado dela.
— Tudo ótimo — sorriu mirando Bella correndo atrás do gatinho e
Christopher olhando todo preocupado, no caso de a menina cair. Ele levantou
do tapete e foi na direção de Antonela assim que viu Pablo parado ao lado
dela.
— Boa noite — Christopher sorriu para Emma e Marcela e deu um
sorriso debochado para Pablo.
— Christopher! Como é bom ver você aqui — Marcela aproveitou
para abraçá-lo, fazendo Pablo revirar os olhos pelas costas de Christopher.
— Eu e Antonela trouxemos algumas pizzas para comermos — disse
tentando cortar o clima estranho que estava na sala.
— Bella quer pizza de chocolate — a menininha ergueu os bracinhos
e bateu palmas, fazendo todos sorrirem pela fofura.
Foram para a sala de jantar e Antonela e Bia arrumavam a mesa
enquanto Christopher e Pablo pegavam os pratos, talheres e copos. Antonela
se divertia da cara que Christopher fazia, parecia uma maratona de quem
arrumava a mesa mais rápido e melhor, obviamente Christopher levava a
melhor por seu nível elevadíssimo de competitividade. Antonela puxou
Christopher e assim sentaram à mesa, começando a comer rindo das
palhaçadas que Bianca dizia. Antonela se levantou para ir pegar a pizza, mas
a mão de Pablo cruzou seu caminho.
— Vai comer pizza de trufa negra? Desde quando você gosta dessas
frescuras? — Pablo perguntou assim que ela colocou a pizza no prato,
fazendo a morena revirar os olhos e saber que ele só estava colocando pilha
na situação, obviamente para atingir Christopher, este que estava querendo
mergulhar a cara daquele abusado na pizza.
— Deixa a Antonela pegar do que ela quiser, Pablo — Bia revirou os
olhos falando em um tom de brincadeira, mas que todos sabiam que era sério.
— À vontade — ele piscou para Antonela que respirou fundo,
tentando manter a calma de não acertar um soco na cara dele ali mesmo. E
sabia muito bem que Christopher estava no mesmo dilema.
— Christopher você leva jeito com crianças — Marcela tentou
quebrar o clima pesado vendo Bella no colo de Christopher, este que a
ajudava a partir sua pizza de chocolate.
— Ela que gostou de mim, sou muito desastrado com crianças —
Christopher confessou rindo.
Só faltava sair aqueles coraçõezinhos da cabeça de Bianca, de tão
encantada pelo cuidado de Christopher com sua filha. Marcela e Antonela
também não estavam muito diferentes.
— Lógico que não! Ela é difícil para gostar de pessoas, com você se
deu bem desde que te viu — Bianca disse e viu seu cunhado abrir um sorriso
e passar a mão no rabo de cavalo de Bella.
— Ele é meu tito — Bella falou para a mãe, deixando todos
boquiabertos por ela entender sobre o que estavam falando.
— E eu Bella? — Pablo perguntou para a menininha distraída com a
pizza.
— Não sei, eu não te conheço — olhou para ele rapidamente e voltou
a comer. Bianca erguer os olhos para Antonela que prendeu a risada, assim
como Christopher, Marcela e Emma. — Eu o conheço, mami?
— Não, meu amor. Ele é primo da mamãe bem, bem distante —
passou a mão no cabelo da filha que murmurou um uhum e voltou a comer.
— Tá, porque meu tito é o tito Chris — mirou Christopher que sorriu
e deu um beijo na bochecha dele, deixando uma marca de chocolate no rosto.
Antonela apenas sorriu e recebeu uma piscada do namorado.
— Bom, mudando de assunto... Eu tenho que falar uma coisa —
Antonela começou a falar, olhando na direção de sua mãe e de Marcela.
— Ih, mas já está grávida? — Bia brincou com Antonela que a
fuzilou.
— Cala a boca — deu um tapa no braço da irmã.
— Não brinca com isso menina — Emma disse para Bianca que
estava gargalhando da cara de Antonela e Christopher.
— Não é isso, é que eu estou indo viajar.
— Ui, lua de mel antecipada? — Bianca começou a rir ainda mais,
vendo Antonela e Christopher ficarem vermelhos.
— Bianca! — Marcela repreendeu Bianca, que riu ainda mais alto.
— Pode ficar tranquila Bia, ainda não é lua de mel — Christopher
disse para ela, vendo a cunhada bater as palmas das mãos, deixando Antonela
cada vez mais vermelha.
— Ótimo, vocês dois engoliram palhaços, comediantes ou o que? —
Antonela os questionou, fingindo estar brava
— Quem deve teme! — Bianca sugeriu.
— Cala a boca Bia — tampou o rosto com as mãos.
— Vocês três não batem bem da cabeça — Emma mirou Bianca,
Christopher e Antonela que ainda riram sem motivo algum. E Pablo? Bom,
esse somente fuzilava Christopher.
— Continue, está indo viajar para onde menina? — Marcela,
perguntou.
— Vou viajar para Mônaco com o palhacinho aqui do lado —
apontou para Christopher que ainda tentava parar de rir em companhia de
Bianca.
— Mônaco? — Emma e Marcela gritaram assim que Antonela
finalizou. Elas sabiam mais que ninguém que Antonela era doida por aquele
lugar.
— Sua sortuda! Tem certeza de que não tem nenhum piloto solteiro
não? — Bia perguntou para Christopher com um olhar suplicante.
— Quando vocês vão? — Emma indagou.
— Amanhã — Christopher respondeu e todos ficaram parados
olhando para ele. — Eu sei que é antecipado, mas é por conta da corrida. Sei
que a Antonela quer conhecer Mônaco... — segurou a mão dela, vendo o
sorriso estampado em todo o rosto dela. — E quanto antes melhor —
terminou e deixou todos pasmos. Emma olhou para Marcela que apenas
sorria, completamente abobalhada com aquela situação.
— Estou tão feliz por você, meu amor. E além do mais você precisa
descansar, vai ser ótima essa viagem para você — Marcela segurou a mão de
Antonela.
— Desculpa me meter aí no assunto, mas acho que descansar é a
última coisa que ela vai fazer — Bianca disse maliciosamente.
— Devia respeitar pelo menos a sua filha — Pablo entrou no meio da
conversa com um tom completamente rude com Bianca que olhou para ele e
revirou os olhos.
— Me desculpa querido primo, mas eu sei o que falo ou não na frente
da minha filha. E acho que esse assunto não interessa a você e sim a minha
irmã. Então cuide de sua vida — respondeu ao homem que assim como todos
ficaram em silêncio.
Christopher olhou para Antonela que estava sem jeito. Bianca não
tinha travas na língua e não media o que falar. Marcela e Emma também
estavam envergonhadas, sempre que Christopher iria visitá-las tinha uma
discussão entre a família.
— Só espero que não cresça uma vulgar feito a mãe — respondeu
cinicamente e Antonela arregalou os olhos e abriu a boca para falar alguma
coisa, mas Christopher apertou sua mão.
— Olha aqui queridinho, se você está com dor de cotovelo sinto em
lhe informar, mas está uns quatro anos atrasado. Acorda para vida e para de
ficar com essa frustração de corno, porque cá entre nós, não tem nem como
fazer uma comparação. Se quer estragar esse jantar, a porta da rua é serventia
da casa — bateu as mãos na mesa e Antonela arregalou os olhos, vendo Pablo
ficando vermelho de raiva. Christopher abriu a boca, chocado com o barraco.
— Vem cá, vamos brincar — Christopher levantou da mesa e pediu
licença rapidamente. Antonela olhou para ele agradecida por tirar Isabella
dali.
— Chega vocês dois! E quer saber de uma coisa, se minha sobrinha
vai ser vulgar ou não, se eu vou descansar ou não nessa viagem o problema é
meu e da Bianca. Não venha se meter nisso Pablo. E já não é de hoje que
você está me provocando e ao Christopher. Se quer chamar atenção, umas
luzes de neon ajudariam muito. E desculpa vovó, sei que ele é seu neto, mas
ou a senhora dá um jeito nele ou eu vou embora dessa casa — Antonela
levantou da cadeira fazendo um barulho alto.
Pablo estava perplexo, assim como Bianca, Emma e Marcela. Saiu da
mesa seguida por Bianca. Subiram para o quarto de Antonela e acharam
Christopher e Bella brincando no tapete do quarto com um jogo de montar
peças. Christopher na mesma hora levantou do tapete, colocando Bella em
cima da cama e foi para perto a namorada.
— Desculpa — Antonela o abraçou e viu ele balançando a cabeça
positivamente.
— Por que esse infeliz tinha que voltar? Que morresse na Espanha!
— Bia ficou xingando Pablo em português, aproveitando o fato de Bella não
entender. — Você deve estar traumatizado com nossa família — começou a
rir, falando Christopher que sentava na cama com Antonela ao seu lado.
— Minha família é bem pior — respondeu e deu de ombros.
— Bem mais educada, pode ter certeza. Sua mãe pelo menos não sai
berrando — Antonela deu um sorrisinho de lado, brincando com a mão dele.
Era bom saber que por mais que tivessem problemas em ambas as
famílias em relação ao namoro deles, nada disso os abalava e seguiam juntos
e unidos. Era muito boa a sensação de serem eles contra o mundo.
— Eu briguei com ele para te defender e ainda me chama de mal
educada? — Bianca colocou as mãos na cintura.
— Eu achei que ele fosse jogar um pedaço de pizza na sua cara de tão
irritado que ficou — Christopher riu ao falar, vendo Bianca cerrar os olhos.
— Ele que jogasse, eu ia enfiar uma trufa negra no orifi...
— Bianca! — Antonela a cortou, apontando para Bella que embora
estivesse brincando, sempre estava atenta para tudo que acontecia em volta.
Christopher foi embora menos de uma hora depois, após ouvir um
milhão de desculpas de Emma e Marcela pelo incidente com Pablo. Antonela
preferiu ficar em casa, uma porque tinha que arrumar as malas, e outra para
curtir um pouco mais a irmã e a sobrinha. Christopher passaria por volta das
quatro da tarde, para irem ao aeroporto. Pela manhã buscaria seu passaporte e
enfim estaria livre para conhecer por fim o Principado de Mônaco!
CAPÍTULO 34
— Sua idiota!
Foi a única coisa que Anna disse após Antonela contar tudo o que
tinha acontecido na noite anterior no apartamento de Christopher. Antonela
revirou os olhos e Anna continuou em silêncio.
— Eu já te falei o que me prende aqui, tenho medo de que não dê
certo. Eu vou ficar sem trabalho lá e morro de medo que as pessoas achem
que estou com ele por interesse.
— Antonela, que se foda as pessoas! Ele sabe quem você é, sabe o
quanto você rala para ter seu dinheiro e o quanto se esforça pelo
relacionamento de vocês. Você pode muito bem encontrar outro emprego lá,
ir para estudar, fazer qualquer coisa. Não é por isso que você tem que virar
uma perua idiota. E nem se precisasse você viraria.
— Anna, eu não sei... Vai contra tudo o que sou deixar a minha vida
de lado por conta dele.
— Você o ama, de verdade?
— Amo, amo muito.
— Então está aí sua resposta. As outras coisas, a gente dá um jeito. O
que não dá é para perder a pessoa que mais te faz feliz nessa vida, baby.
— Anna... — deu um sorriso, sentindo um frio na barriga.
— Vai falar com sua mãe e sua avó comunicando que você vai se
mudar. Amanhã ou quarta estou aí para te ajudar com as malas, então até
alguns dias.
— Anna eu não... — não conseguiu nem terminar de falar quando
caiu a linha.
Desligou o celular e olhou para sua tela, vendo uma foto dela e
Christopher de papel de parede do aparelho. Suspirou e ficou observando a
foto por alguns momentos. Como iria viver sem Christopher se nem ao
menos aguentava ficar um dia brigada com ele?
Pulou da cama e desceu a escada correndo, vendo Emma, Marcela
e para variar Pablo – este que não saia mais de casa – vendo televisão na sala.
Emma olhou para ela e sorriu, ficando feliz de ver a filha que desde ontem
não saia do quarto.
— Preciso falar com vocês — olhou em direção de Emma e Marcela.
— Comigo também?
— Já que você praticamente mora aqui, você também Pablo —
revirou os olhos e ignorou a cara de espanto que o primo fez.
— O que aconteceu? — Marcela perguntou preocupada.
— O problema é o que não aconteceu, é o que vai acontecer —
começou a estralar os dedos e teve que não olhar para a careta que os três
fizeram para elas.
— Antonela, você está me deixando preocupada. — Emma disse,
apreensiva.
— Eu quero que vocês fiquem calmas, não me matem, não me
encham de perguntas, é uma coisa normal e que...
— Você está grávida?
— Por que todo mundo acha que eu estou grávida? — resmungou. —
Claro que não, vovó.
— Fala logo Antonela! — Pablo resmungou e recebeu um olhar
debochado da morena.
— Ontem eu tive uma conversa com o Christopher e... — não
terminou de falar, pois a voz de Marcela cortou a dela.
— Vocês terminaram? — Marcela gritou apavorada.
— Não vovó! Vocês sabem que eu e ele não conseguimos mais nos
ver por causa das corridas, a loucura do campeonato e a distância. Ele irá
mudar para a Itália agora e eu... Bom, nós conversamos ontem sobre a
possibilidade de eu ir junto.
— Entendi tudo — Emma suspirou e passou a mão por seus cabelos
pretos, começando a ficar com os olhos úmidos ao pensar em Antonela indo
embora.
— Você vai morar para a Itália com ele? — Pablo perguntou
chocado.
— Eu tinha decido não ir, porque tenho vocês duas aqui, minhas
irmãs, meus sobrinhos... —ignorou a cara que Pablo fez e direcionou o olhar
para sua mãe e a avó. — E meu emprego. Não queria mesmo ir e deixar tudo
para trás o que eu tenho. Mas, me desculpem — sentou na poltrona e abaixou
a cabeça deixando-a suspensa por suas mãos.
— Filha — foi até Antonela e abaixou na altura dela. — Não precisa
ficar assim, meu amor. Você é adulta, está noiva dele, era óbvio que isso iria
acontecer mais cedo ou mais tarde. Você é minha filha e me dói muito ver
você ter que sair de casa e principalmente ter que morar tão longe de mim,
mas estou feliz por você e pelo Christopher.
— Eu acho loucura — Pablo resmungou do outro lado da sala.
— Quieto Pablo — Emma o cortou de imediato.
— O que foi vó? Por que não fala nada? — levantou a cabeça e olhou
para Marcela, que continuava calada.
— Ainda estou processando a informação, Nelinha — respirou fundo
e Antonela sorriu, levantando da poltrona e indo para mais perto da vó. — Eu
estou feliz por você meu amor — deu um beijo na testa dela. — Mas... —
olhou seriamente para Antonela que diminuiu o sorriso, esses “mas” nunca
eram bons. — Eu acho errado irem morar juntos estando no pecado.
— Como assim vovó? — arregalou os olhos e olhou para Emma, que
se controlava para não rir.
— Para ir morar junto com uma pessoa vocês tem que ter alguma
coisa.
— Eu estou noiva, ué — mostrou o anel que carregava no dedo.
— Não casada! — falou indignada. Antonela começou a tossir e
ouviu Pablo ter um ataque de risos enquanto Emma olhava para Antonela,
achando graça da reação de sua mãe.
— Vó, mas... Eu não quero casar. Não agora. Eu sou nova ainda, ele
quer se dedicar as corridas e é isso, quando tudo estiver mais calmo nós
vamos nos casar, mas não agora. Nós tenho seis meses de namoro, noivado,
sei lá.
— E quer ir morar com ele vivendo no pecado? — a senhora arqueou
a sobrancelha e fez Antonela sorrir.
— Mãe, seja um pouco moderna. Isto já é mais que normal para
casais da idade deles e eu não me surpreendi muito, estava óbvio que isso iria
acontecer — abraçou Antonela que sorriu, ficando emocionada com a mãe.
Emma nunca foi lá uma das maiores fãs de seu namoro com Christopher e
conhecia muito bem a mãe para saber que ela estava feliz com aquele passo
gigante que estava dando.
— Eu estou feliz por você, enfim encontrou alguém que te faça feliz
e você tem todo meu apoio nisso, pode ter certeza — abraçou Antonela que já
não aguentava mais segurar o choro e enfim começou a chorar ao abraçar a
avó.
Não fazia ideia de como avisar Christopher que tinha decidido,
estava com medo dele, de ter magoado ou simplesmente depois de tantas
coisas ditas naquela conversa ele ter mudado de ideia. Essa última podia ser a
coisa que mais temia. Com a ajuda de Anna, que chegou na terça-feira de
manhã, afoita de emoção e já querendo começar a arrumar as roupas de
Antonela na mala, o que deixou não somente Antonela, mas como Emma e
Marcela assustadas com tanta pressa.
Após conversar com a loira decidiu que faria uma surpresa para
Christopher, descobriu por Robert que na quinta-feira ele estaria em um
evento no centro da cidade, de uma empresa que tinha acabado de se tornar
patrocinadora da Ferrari, ali seria o local que falaria para ele que aceitava ir
construir uma nova vida ao lado dele, longe de tudo o que mais amava no
México.
Muito antes que esperava a quinta-feira chegou e logo estava sendo
totalmente produzida por Anna, como se fosse uma Barbie, vestindo e tirando
roupas, passando por mil penteados malucos e maquiagens mirabolantes
feitas pela amiga. Eram oito e meia da noite quando enfim ficou pronta.
Usava um vestido amarelo midi e acinturado que Anna achou nas
profundezas de seu guarda-roupa junto de uma sandália dourada de salto alto,
olhou-se no espelho e gostou do resultado, definitivamente Anna tinha um
ótimo gosto. Estranhou quando Anna saiu do banheiro também arrumada, em
um vestido preto tomara que caia que conhecia muito bem e que por um
acaso era seu, uma sandália alta e os cabelos naqueles cachos perfeitos de
sempre.
— Onde a mocinha pensa que vai?
— Acha mesmo que eu vou perder esse momento? Eu espero ver
você casando desde que eu te conheço.
— Eu não vou me casar — falou pela milésima vez naquela semana,
já um tanto irritada.
— Você me entendeu. Agora vamos ou se não vamos nos atrasar —
puxou Antonela do quarto, pegando sua bolsa e a da amiga.
Desceram a escada e despediram-se de Emma, Marcela e Pablo, este
que perguntou aonde elas iriam, levando um coice nada educado de Anna.
Foram no carro de Anna para o hotel, e no caminho foram ensaiando o que
Antonela iria falar para Christopher, não tendo sucesso algum em nenhum
dos ensaios.
Na chegada ao hotel os flashes caíram em cima das duas, alguns
estranharam já que era um evento da Ferrari ali e Anna estava presente,
mesmo sendo namorada do piloto rival. Mas, as duas já tinham quebrado
tantas barreiras nesses quesitos que era como outra notícia banal para os fãs
de Fórmula 1. Com a ajuda dos seguranças entraram por fim no evento e logo
uma simpática garota as acompanhou para o salão onde estava sendo o
evento, no oitavo andar do hotel. Antonela estava nervosa, estalava os dedos
e fazia questão de não participar da conversa entre a garota do hotel e Anna.
Na porta do evento foram recebidas por outra hostess que era só
sorrisos para as duas, Anna simpática como sempre elogiou a festa e quando
a mulher perguntou à Antonela o que achava a morena deu um sorriso e um
elogio comum. A mulher deixou as duas dentro do salão e logo se retirou
ainda sorridente.
— Vamos procurar ele.
— Ok — Antonela abraçou o braço de Anna e a loira riu de
Antonela, vendo que ela estava realmente muito nervosa.
Começaram a andar pelo salão movimentado, muitas pessoas
estavam presentes, homens e mulheres vestidos elegantemente, as mesas
formavam um círculo em volta do pequeno palco e de um espaço vazio, uma
pista de dança talvez. Alguns sorriram para Antonela e ela retribuía o sorriso,
ainda que estivesse tremendo dos pés à cabeça.
— Olha quem está aqui! Boa noite Antonela! — Peter chegou até ela
sorridente.
Antonela olhou para Anna que arregalou os olhos e tentou se
esconder atrás de amiga, totalmente sem sucesso por ser alguns centímetros
mais alta do que Antonela.
— Boa noite Peter — sorriu de forma simpática, recebendo dois
beijinhos no rosto. — Como vai?
— Vou bem.
— Anna — apontou para a amiga que estava mais vermelha que um
pimentão. — Lembra dela, não é? — sorriu maliciosamente para ele que
começou a rir.
— A namorada do Guzman, claro que me lembro. — piscou para
Anna que deu um sorriso sem graça e fuzilou Antonela que estava as
gargalhadas. — Como vai?
— Muito bem — a loira respondeu de forma ríspida.
— E seu namorado? — perguntou sarcasticamente. Antonela se calou
e olhou para Anna, do mesmo jeito que odiava que falassem de Christopher a
loira não era tão diferente.
— Melhor ainda.
— Viu o Christopher? — perguntou, cortando a tensão sexual que se
formou entre os dois.
— Está com o pessoal da Ferrari, acabei de sair de lá. Por ali. —
apontou para o lado direito do salão.
— Obrigada Peter, até mais — agradeceu com um sorriso no rosto.
— Por nada. Até mais Anna, lembranças para seu namorado — disse
e então saiu rindo de perto das duas.
— É um cretino mesmo... — começou a ficar vermelha pela raiva
latente e Antonela começou a rir e agora foi a vez de Anna ser puxada por
Antonela.
Seguiram onde Peter tinha indicado e logo viram Christopher
conversando em uma roda de homens, enquanto segurava um copo. Antonela
parou atrás de uma pilastra e Anna ficou de frente para ela.
— E agora? — perguntou, nervosa.
— E agora você vai lá! — revirou os olhos. — Vai, Antonela. Vai
com fé e coragem, ele não vai te ignorar, nem te expulsar da festa. Vai logo!
— puxou Antonela de trás da pilastra e então começaram uma briguinha já
que Anna jogava ela para frente e Antonela jogava a loira para atrás da
pilastra. E isso atraiu ainda mais olhares para as duas.
— Anna, para sua louca — empurrou ela e recebeu outro empurrão
da loira. — Está todo mundo olhando maluca.
— Vai logo! Vai! — foi empurrando Antonela e antes que percebesse
estava a menos de um metro de Christopher. — Tchauzinho — acenou para
Antonela e logo saiu correndo, de volta à pilastra.
Antonela arregalou os olhos e virou para frente, vendo Christopher
de costas bem em frente a ela. Olhou novamente para Anna que fazia um
gesto com a mão para ela ir de uma vez. Levantou a mão para tocar nas
costas dele e fechou os olhos ignorando as mil cenas trágicas que poderiam
ocorrer devido a sua imaginação tão pouco fértil.
— Menininha! — gritou Robert. Antonela abriu os olhos e viu todos
que estavam na rodinha olhando para ela, se fosse em outra ocasião sentiria
vergonha, mas agora só lhe interessava Christopher, este que se mantinha
com os olhos arregalados, sem entender a presença dela ali. — Desculpe —
deu um sorriso sem graça vendo a cara surpresa de Antonela.
— O que está fazendo aqui? — Christopher sorriu, achando graça da
cara de assustada que Antonela estava.
— E—Eu... — parou de falar e respirou fundo vendo que se
continuasse iria começar a gaguejar. — Eu vim falar com você — deu um
sorriso tímido e Christopher olhou para os homens que olhavam para
Antonela e ela pode sentir, assim como em Mônaco, que era um cavalo de
aposta.
— Volto em um minuto, com licença — falou com os homens que
acenaram com a cabeça e ele ficou ao lado de Antonela, esta que olhou para
trás e deu um sorriso enorme para Robert que começou a rir, entendendo o
gesto da menina. Enfim, tudo estava quase dando certo. — É impressão
minha ou a Anna está escondida atrás da pilastra ali atrás? — perguntou
virando para trás e vendo um vulto de cabelo loiro se mover.
Antonela prendeu a risada e continuou andando. Entraram no
elevador e Christopher apertou o botão da cobertura. Continuou quieta
olhando para os números do painel do elevador. Christopher olhava para ela e
viu que as mãos dela mesmo estando cruzadas uma na outra estavam
tremendo e então sorriu, sabendo que por mais que brigassem, sempre
estariam juntos.
Saíram do elevador e Antonela sorriu ao ver que estavam na
cobertura do hotel que não tinha ninguém, com uma visão privilegiada de
toda a cidade. A piscina enorme cortava o local, deixando tudo em um tom
azulado.
Olhou para Christopher e viu que ele foi até a grade de proteção para
olhar a vista, quase que correu até ele e logo estava ao seu lado. Pode ver que
sorria pela bochecha arqueada e então respirou fundo, sendo inundada por
uma onda absurda de coragem para enfim falar o que queria.
— Será que ainda tem uma vaga na Itália para mim?
Christopher deu um sorriso enorme e pegou a mão direta dela que
estava em cima da proteção do prédio e entrelaçou seus dedos aos dela.
— Depende se você vai aguentar comer tantos carboidratos regados a
muito molho e vinho durante um bom tempo — os dois riram e Christopher
puxou Antonela pela cintura, dando um beijo daqueles de tirar o fôlego por
completo e deixar a pessoa até tonta, Antonela teve essa comprovação assim
que ele a soltou.
CAPÍTULO 45
Com certeza a parte mais difícil de ter que avisar que iria se mudar
para a Itália em menos de duas semanas, se não foi Anna, foi com Bianca e
Claudia. Surtar foi muito pouco para as duas que no mesmo dia já tinham
comprado passagens e viriam no próximo final de semana, mas não sabiam
explicar a felicidade que estavam sentindo por Antonela estar finalmente
feliz.
Antonela estava completamente ocupada com sua mudança e em
passar algumas horas de seu dia se dedicando a conversar com a arquiteta
sobre o apartamento que Christopher comprou no centro de Milão e que
praticamente obrigou Antonela a dar os seus toques. Em meio a decoração,
começava a embalar suas coisas que seriam mandadas para o apartamento
novo.
Na sexta-feira Antonela e Anna acordaram cedo e levantaram
decididas a fazer o que Antonela mais temia e sentia, ir à agência e falar com
Adriana. Nunca imaginou ter que sair da agência, desde que entrou lá nunca
pensou nisso e nunca quis sair. Sempre foi seu sonho estar lá, mas agora tinha
que seguir um novo caminho.
— O que devo a honra da presença dessas presenças ilustres? —
Adriana disse sorridente assim que as duas meninas entraram no escritório.
— A Antonela precisa conversar com você — Anna começou a falar
e ao olhar para Antonela viu que a amiga tinha lágrimas nos olhos.
— O que aconteceu querida? — Adriana abraçou Antonela e sentou
ao lado dela, no sofá.
— Eu sinto muito por estar te falando agora, tão em cima da hora,
mas foi uma coisa inesperada o que aconteceu e... — começou a tagarelar e a
gaguejar ao mesmo tempo.
— Antonela, vá direito ao ponto. Estou confusa — Adriana pediu.
— Ela vai morar com o Christopher na Itália — Anna falou de uma
vez.
Adriana se calou e olhou para a garota totalmente assustada. Já
Antonela estava nervosa, não queria fazer uma desfeita a Adriana e lhe
apavorava a ideia de que ela pensasse isso.
— Dri, você não sabe como eu fui feliz aqui, minha vida inteira lutei
para entrar e de um jeito ou de outro eu deixei minha marca aqui. Por favor,
não fique chateada comigo.
— De jeito nenhum, você tem que correr atrás de sua felicidade, se
tem algo te impedindo aqui no México, se liberte e corra atrás. E eu estou
feliz por você estar fazendo isso, claro que vou sentir falta, assim como você
também fará muita falta para a empresa — olhou para que sorriu. — Sua
história aqui ficará registrada para sempre para as outras modelos, pode ter
certeza. Mas, agora é hora de voar sozinha e eu te compreendo e apoio.
— Obrigada Dri — abraçou a loira novamente e voltou a chorar.
— Agora chega de chorar, seu olho vai ficar inchado menina! —
soltou-se de Antonela e limpou os cantos de seus olhos.
Praticamente tinha visto Antonela crescer, quando entrou naquela
mesma agência ainda era uma adolescente, que conquistou seu espaço no
mundo tão competitivo da moda. Era isso que mais admirava em Antonela.
Nunca a viu desistir na primeira barreira.
— E para que lugar da Itália vai se mudar?
— Milão — sorriu e seus olhos começaram a brilhar, Anna e Adriana
perceberam o quanto ela estava feliz, apesar de assustada com tantas
mudanças em pouco tempo.
— Uau, que incrível! Pensa em continuar trabalhando lá?
— Gostaria muito, mas sei que o padrão de lá é diferente daqui.
— Mulher bonita é mulher bonita em todo o lugar do mundo —
levantou do sofá e foi até a sua mesa, abrindo uma gaveta e tirando um cartão
de lá. — Fale com Lucy, vou mandar agora mesmo minhas recomendações
para lá. Com toda certeza do mundo você estará em boas mãos — entregou o
cartão para Antonela que ficou completamente perplexa, afinal estava com o
cartão da agência de modelos mais prestigiada do mundo.
— Dri, eu não sei nem o que falar!
— Vou ficar orgulhosa de ver vocês nas semanas de moda mais
importantes do mundo — olhou para Antonela que apenas sorriu, sabendo o
peso daquilo que ela falava. — Seja feliz Antonela.
— Obrigada por acreditar em mim e me ajudar a ser quem eu sou
hoje
— Deixa de drama menina! — puxou Antonela para mais um abraço
e se rendeu as lágrimas.
A garota era tão especial, foi sua aposta desde o primeiro momento e
até o último dela ali, lhe surpreendeu em tudo.
Mais uma parte estava cumprida, Antonela saiu de lá ainda
chorando, pois estava abandonando praticamente toda sua vida dentro
daquela agência. Começou a lembrar de quando entrou lá, sentindo-se um
patinho feio em comparação com as outras modelos, o curso de
aperfeiçoamento aonde conheceu Anna e em poucos meses sua primeira
campanha. Nunca pensou que abandonar tudo poderia ser tão doloroso
misturado com uma sensação de satisfação, era bom saber que em pelo
menos alguma coisa tinha feito a diferença.
Bianca e Claudia estavam para chegar, Emma tinha ido buscá-las
no aeroporto. Antonela fingia não saber a festinha de despedida que estavam
preparando para ela, mas não tinha como negar aquilo, sua família inteira
estaria ali. Folheava uma revista de decoração se dando conta que na última
semana estava tão por dentro das novas tendências de decoração que poderia
virar uma decoradora sem dúvidas.
Faltava menos de uma semana para se mudar de vez e algumas
coisas já estavam sendo enviadas. Cada vez mais a Itália chegava perto dela e
a ideia de viver com Christopher completamente sozinha em outro país ainda
lhe apavorava muito.
— Oi — Pablo sentou na cadeira ao lado dela no pátio. Antonela
olhou para ele e revirou os olhos. — Não adianta revirar os olhos, vamos
conversar.
— E quem disse que eu quero conversar com você? — colocou as
mãos na cintura e começou a rir.
— Eu disse, agora me ouça, ainda sou seu primo.
— Apesar de saber que só vem merda, vai fala — revirou os olhos
novamente e o mirou com seriedade.
— Tem certeza de que é isso que você quer mesmo? Ir morar na
Itália? — olhou para Antonela com a testa franzida. Ela parou e encarou o
jardim, dando um sorriso logo em seguida.
— Por ele eu vou, se necessário, até para o Japão.
— Você nem ao menos fala direito italiano — ponderou, a vendo dar
de ombros. — E sei lá, vocês são tão diferentes... Por favor, não me leve a
mal — ergueu os braços como que se rendesse e Antonela o olhou com mais
atenção.
— Eu sei que somos diferentes, mas nós já passamos por tantas
coisas para ficarmos juntos.
— Você está se sentindo bem nessa situação? Seja sincera de
verdade.
— Dele estar pagando tudo? — ergueu a sobrancelha e Pablo
assentiu. — Claro que não Pablo, mas se eu quiser ficar com ele, isso vem
incluso — deu de ombros e ele novamente assentiu, sem saber muito bem
como falar. — Não quero que os outros pensem que sou uma interesseira,
principalmente a família dele, mas se eu realmente quero ficar com ele, tenho
que aceitar.
— Você tem muito caráter Antonela... — deixou um sorriso bobo
aparecer em seu rosto e a morena apenas assentiu, sem saber se gostava do
rumo que a conversa estava tomando. — Você nunca me perdoou, não é? —
olhou para Antonela seriamente e ela fechou o sorriso e também o mirou.
— Perdoar eu perdoo, foi uma coisa adolescente que aconteceu, os
hormônios há mil, você sabe. Eu te perdoei, mas não esqueço o que eu passei.
E nem em mil anos eu vou esquecer.
— Você ama o Christopher muito, não? — perguntou por fim, ao ver
o quanto Antonela tinha mudado e estava muito mais madura. Sinceramente,
ele não tinha mais quase nada da garota que ele namorou.
— Amo. É um amor completamente diferente do que eu julgava ter
por você, como eu disse era coisa de adolescente. Com ele não, é muito
diferente. E desculpe pela sinceridade.
— Tudo bem Antonela, se estou perguntando essas coisas é porque
quero ouvir.
— Apesar de tudo eu quero que você seja muito feliz, você merece.
Ou não. — deu um sorriso engraçado para ele que começou a rir.
— Eu ainda acho loucura tudo isso o que está fazendo, mas quero que
saiba que vou estar do seu lado, independente de tudo o que aconteceu. Uma
coisa tão grande não é tão fácil de se esquecer.
Não estava gostando definitivamente do rumo que esta conversa
estava tendo.
— Obrigada.
— Posso te dar um abraço? — pediu olhando fixamente para
Antonela, que vacilou.
Olhou para Pablo e ele não parecia querer fazer algo a mais, acenou
com a cabeça e esticou os braços, sentindo Pablo contornar sua cintura com
os braços dele. Não gostou daquela sensação, era algo como voltar ao
passado, para uma parte de sua vida que não gostava de lembrar.
— Antonela? — ao ouvir a voz de Christopher, se soltou de Pablo
assustada, não esperava que ele fosse chegar tão cedo e nem queria que
tivesse presenciado aquela cena.
— Oi amor! Eu estava... — levantou da cadeira e foi para o lado de
Christopher, vendo Pablo levantar atrás dela.
— Te desejo tudo de bom, Ella — Pablo olhou para ela mais uma vez
e após um sorriso breve dela, saiu de perto dos dois.
— Por que estava o abraçando?
— Relembrando os velhos tempos — deu um sorriso enorme para ele
que ficou pasmo.
— Não brinca Antonela — cruzou os braços e fez um bico, a fazendo
abrir um sorriso enorme e o beijar em seguida.
— Ele estava me perguntando sobre a minha decisão e me dando boa
sorte, somente isso.
— Hum, sei — deu um sorriso para ela que caiu da gargalhada e a
puxou pela cintura, selando seus lábios aos dela.
— E então, não iria chegar mais tarde? — entrelaçou sua mão a dele
e virou em direção a varanda para entrar na casa.
— Sim, mas já até passei na casa dos meus pais e aproveitei para
deixar seu endereço e fui comprar os vinhos para o jantar.
— Ah tá... — subiu as escadinhas da varanda e estava quase entrando
em casa quando parou e olhou para ele. — Como assim deixar meu endereço
na casa dos seus pais?
— Você acha que a despedida era apenas sua?
— Como você vai trazer a sua mãe para a minha casa? Endoidou
Christopher?
— Já até passou da hora da sua família conhecer a minha e vice
versa.
— Christopher, sua mãe vai vir na minha casa. Olha para tudo aqui e
compara com as casas que ela está acostumada a ir.
— Ela não...
— Me humilhar é diferente dela falar alguma coisa para minha mãe,
minha avó ou qualquer um da minha família, e Christopher, se isso acontecer
pode ter certeza de que ela não vai sair por cima.
— Ela não vai fazer nada Ella, eu prometo.
— Eu de verdade espero. Vou tomar banho, daqui a pouco minhas
irmãs e meus sobrinhos chegam — deu um selinho nele e entrou em casa,
subindo direito para seu quarto. Ter Alexandra em sua casa era sinônimo de
confusão e de verdade, ela que não tentasse mexer com sua família.
Quando saiu do banho levou um susto as escutar tantas vozes lá
embaixo, não era somente um jantar de despedida? Tinha vontade de esganar
quem preparou isso, apesar de ter uma forte intuição de que os responsáveis
eram Anna e Christopher. Aqueles dois juntos eram totalmente impossíveis.
Vestiu uma calça jeans que sobrou em seu armário, a camisa ampla branca e
calçou uma sandália de salto preta. Maquiou-se e logo estava pronta, seja lá
quem for que estivesse lá embaixo esperava que estivesse bem vestida.
Desceu para o térreo e quase teve um ataque quando viu, além de
seus sobrinhos correndo pela sala, um carrinho de bebê e várias pessoas o
cercando. Logo identificou o cabelo loiro de Anna vindo em sua direção,
diretamente para seus olhos, causando uma cegueira provisória.
— Espero que goste de sua festinha, daqui a pouco seus sogros estão
chegando. E ah, seu afilhado é a coisa mais linda do mundo! — Anna chegou
animada, falando alto e abraçando Antonela, tudo ao mesmo tempo — Posso
começar a me despedir agora de você?
— Faltam quatro dias para eu ir embora, sem drama — revirou os
olhos. — Pietro está aqui?
— Sim!
— Ai! — saiu correndo para a sala e entrou na pequena rodinha que
estava formada, vendo Pietro de olhos abertos e dando risada no colo de
Christopher. — Own, meu neném — pegou Pietro no colo e começou a beijá-
lo.
— Muito obrigado por me ver, estou muito feliz com isso. Sou
trocado pelo meu próprio filho — Léo fez bico, fazendo um drama básico.
— Oi Léo — Antonela acenou, voltando a dar atenção para Pietro um
segundo depois. Até olhar para o lado e ver Bella sentada no sofá com os
braços cruzados e emburrada. Entregou o bebê para Christopher e foi falar
com sua sobrinha. — Oi, princesa — deu um beijo na bochecha dela que nem
ao menos saiu de seu lugar.
— Oi tia — a garota disse emburradinha. Antonela sorriu e para ela
não a chamar de tita devia ter feito alguma coisa.
— O que foi meu amor? — passou a mão no cabelo castanho dela.
— Vai com o neném, vai — afastou a mão de Antonela e todos
olharam para ela, sorrindo pelos ciúmes da menina. — E Clisto... E Chris... E
você não é mais meu tito! — desceu do sofá e saiu correndo, deixando todos
perplexos.
— Maria! — Bianca chegou gritando que nem uma louca. Antonela
deu um pulo para trás ao ver Bianca chegar correndo, com certeza na
intenção de pular em cima dela.
— Ai! Também estava com saudades Bia — disse completamente
sem ar, pelo abraço apertado dela.
— Antonela Maria! — Claudia chegou gritando também. Antonela
fechou os olhos ao ver as duas pulando em cima dela.
— Adeus coluna, olá dor nas costas.
Após falar com todas as pessoas presentes, que de fora de sua
família estavam apenas Ester e Léo, estes que se adaptaram muito bem aos
gritos e berros daquela casa. Pietro também adorou ficar no colo de todos e
era a atração da noite. O que causava um ciúme em Bella que nem ao menos
falava com Antonela ou Christopher. Miguel e Gabriela não desgrudavam de
Christopher, que jogava Monopoly com os dois no chão da sala. Emma não
desgrudava de Antonela, assim como Bianca e Claudia. A campainha tocou e
Antonela olhou para Christopher, um nó em sua garganta se formou
exatamente naquela hora.
— Eu abro — Antonela saiu correndo para o hall e rezou antes de
abrir a porta, levando uma surpresa ao ver Robert parado com um sorriso no
rosto e uma garrafa de vinho nas mãos.
— Boa noite, menininha! — ele falou animado e Antonela apenas
sorriu e o abraçou.
— Pode entrar Robert, fique à vontade.
— São os pais do... — Emma chegou ao hall e parou ao ver Robert, o
conhecendo de algum lugar. — Boa noite.
— Mãe este é o Robert, engenheiro do Christopher. Robert essa é
minha mãe, Emma — apresentou os dois que sorriram um para o outro e
deram um beijo na bochecha.
— Ou Roberto, não é Antonela? — olhou para a filha que ficou
vermelha e Robert riu. — Entre Robert — sorriu para ele que ainda ria
relembrando da confusão que ele e Antonela causaram alguns meses atrás ali,
pouco antes da viagem para Cancún. Fechou a porta e foi para a cozinha levar
o vinho que Robert trouxe e logo voltou a sala, vendo todos conversando
animadamente.
A campainha tocou novamente e Antonela diminuiu o sorriso e
ouviu um grito de Camila, ainda da porta de sua casa. Percorreu a sala a
procura de Christopher e não o viu, entregou Bella que estava em seu colo
ainda emburrada para Claudia e foi para o hall da casa, vendo sua mãe e
Christopher parados lá. Camila abraçava Emma e logo atrás da menina estava
Carlo e Alexandra. Foi para o lado de Christopher que a abraçou e sussurrou
um "Fica calma" em seu ouvindo, como se isso fosse adiantar alguma coisa.
— Carlo e Alexandra, sejam bem vindos — Antonela olhou para os
dois que entraram na casa, fechou a porta e recebeu um beijo no rosto de
Carlo.
—Tudo bem? — Carlo perguntou simpático como sempre.
De uma coisa tinha certeza, Christopher foi muito abençoado por
puxar quase tudo de seu pai, iria ser muita maldade ele ter o gênio do cão de
Alexandra.
— Tudo ótimo e com o senhor? — sorriu, de forma simpática.
— Não poderia estar melhor! Enfim você conseguiu fazer o
Christopher tomar juízo — olhou para Christopher que fez uma cara feia para
o pai e Antonela começou a rir.
— Agora todo mundo fala mal de mim.
— Mas o papai não tem razão? — Camila se meteu no assunto. — Oi
Nelis! — pulou em cima de Antonela e lhe deu um beijo no rosto.
— Oi Cami! — deu um sorriso. — Cadê o Rafael? — perguntou
maldosamente. Camila arregalou os olhos e fuzilou Antonela. Christopher
emburrou somente de ouvir falar o nome do menino.
— Cala a boca — mostrou a língua para Antonela. — Sua avó está
aí?
— Está na sala.
— Eba! Tô entrando! — saiu correndo para dentro da casa e todos se
assustaram com o comportamento da menina. Antonela olhou para Alexandra
que estava abraçando o filho e foi para perto da mãe que conversava com
Carlo.
— Boa noite Antonela — Alexandra acenou.
— Oi Alexandra — sorriu, tentando parecer simpática.
Sua mãe nem o resto de sua família tinham que suportar suas
discussões com Alexandra. Christopher estava tenso, tinha implorado para a
mãe não armar nenhuma confusão pelo menos por hoje, mas sabia que tudo o
que falava sobre Antonela para sua mãe entrava por um ouvido e saia pelo
outro.
— Boa noite, sou Alexandra Bergman — estendeu a mão para
Emma.
Antonela estranhou de imediato a simpatia de Alexandra e olhou
para Christopher, que estava com um sorriso no rosto.
— Emma Castillo — apertou a mão de Alexandra e olhou para
Antonela confusa, ela não era o diabo em pessoa como sua filha falava?
— É um prazer finalmente nos conhecermos. Estava ansiosa para
conhecer a família de Antonela, já que ela é tão especial para meu filho —
tentou esconder o tom sarcástico da voz, porém não obteve os melhores
resultados.
— Também estou muito feliz por conhecer a família do Christopher.
— E seu pai Antonela? Não vai apresentar ele? — Alexandra olhou
para a garota sorrindo furtivamente. Silêncio. Antonela olhou para Alexandra
controlando as ganas de arrancar aqueles cabelos loiros dela. Christopher
estava descrente com o que a mãe tinha acabado de dizer, ela sabia muito
bem que o pai de Antonela já tinha morrido.
— Claro, posso te levar lá no Dia dos Mortos — cruzou os braços e
olhou para Alexandra, esta que arregalou os olhos pela resposta mal educada
de Antonela. Emma colocou as mãos no rosto, morrendo de vergonha pelo
comportamento da filha.
— Bom, vamos para a sala — Emma falou a primeira coisa que veio
em sua cabeça para acabar com aquele clima tenso. Carlo e Alexandra
sorriram e acompanharam Emma para dentro da casa, deixando Antonela e
Christopher ainda no hall.
— Me desculpe por isso — fechou os olhos, sentindo uma vergonha
profunda pela provocação nada engraçada ou sutil de sua mãe.
— Sua mãe me tira do sério — cruzou os braços e fez bico,
Christopher se aproximou dela e lhe deu um beijo, interrompido dois
segundos depois pela campainha. Antonela empurrou ele e arrumou o cabelo,
abrindo a porta e dando um sorriso enorme ao ver Rafael parado, com as
bochechas coradas de vergonha. — Rafael! — falou animadamente.
Ele sorriu e Antonela o abraçou, o menino estava gelado e suas mãos
estavam tremendo. Soube o porquê quando virou para trás e viu a cara que
Christopher fazia para o menino.
— Oi Antonela, oi Christopher.
— Olá Rafael, a Camila não veio.
— Christopher! — Antonela gritou repreendendo-o. — É brincadeira
dele Rafael, ela está aí sim. Vem, vamos entrar — saiu puxando Rafael, não
sem antes dar uma cotovelada na barriga de Christopher assim que passou
por ele.
Estavam todos reunidos na sala, nunca em toda a sua vida podia
imaginar uma cena daquelas, sua família reunida junto da família de
Christopher, que há alguns meses era somente o ídolo de sua avó. Nunca
poderia imaginar aquele piloto sério, que julgava ser mimado e metido
jogado no tapete brincando com seus sobrinhos enquanto fuzilava Rafael,
sentado ao lado de Camila, somente conversando. Nem ver sua mãe e Robert,
aquele cara chato que há alguns meses não suportava nem olhar para a cara
dele, conversando e rindo. Nem passava por sua cabeça ver Anna junto de
suas irmãs se divertindo com Léo e Ester. Muito menos ver a felicidade de
sua avó ao estar conversando com Carlo, sobre nada mais nada menos que
Fórmula 1. A única coisa que podia imaginar era ver Alexandra olhando para
todos presentes ali como se fossem extraterrestres e se não fosse por Pablo
que conversava com ela, estaria totalmente excluída. Nunca pode imaginar
que faria parte daquele conto de fadas e ninguém dali fazia ideia de como iria
sentir falta de cada pedaço daquelas pessoas presentes ali.
— Um brinde ao casal feliz! — Anna propôs um brinde assim que
sentaram ao redor da mesa.
— E a felicidade que terão daqui para frente — Carlo sorriu e
brindaram novamente.
— Enfim ela conseguiu o que queria — Alexandra resmungou e
sentou na cadeira, cruzando os braços.
Antonela olhou para Alexandra e jurava que se não fosse por
Christopher, Carlo e Camila a colocaria com toda sua arrogância para bem
longe daquele jantar que se tornaria muito mais agradável sem a presença
dela.
— Lógico que consegui Alexandra, finalmente vamos ser felizes sem
essas pessoas degradáveis que não aprovam e nem estão felizes com nada —
apertou as bochechas de Christopher que arregalou os olhos. Alexandra
estava pasma e os outros seguravam a risada pela resposta afiada de
Antonela. — Espero que isso te deixe feliz, ou estou errada? — deu um
sorriso totalmente sarcástico para Alexandra que soltou o ar e olhou para
Antonela.
— Você é muito impertinente garota.
— Mãe! — Christopher gritou envergonhado pelas pessoas que
olharam para Alexandra como se ela sim fosse a extraterrestre dali. E tinham
razão. Antonela não iria dar aquelas respostas para alguém que não merecesse
de verdade.
— Quer saber, vocês que vão para a Itália, se casem, tenham filhos,
adotem cachorros, fiquem lá para sempre. Você esqueça que tem uma mãe e
você sua vadiazinha, o castigo vem com o tempo! E não sabe como eu rezo
para que o seu castigo seja para ficar sem o meu filho e tudo isso que cerca
ele, porque com certeza são as coisas que o cercam que você gosta, não é? —
levantou da mesa ainda olhando para Antonela que estava com um sorriso
debochado no rosto enquanto todas as pessoas fizeram um silêncio
assustador, até mesmo as crianças se calaram.
— Engano seu, já temos um cachorro, só faltam os filhos mesmo —
Antonela sorriu e aproveitou a cara que Alexandra fez, cheia de raiva dela.
Era bom ver Alexandra assim e era mais magnífico ainda ver uma
perua descer do salto tão baixo para somente ofender uma pessoa.
— Alexandra já chega — Carlo levantou da mesa e puxou a esposa
pelo braço, querendo o mais rápido possível sair dali com ela que já tinha
dado o vexame do mês inteiro. — Com licença. — falou para as pessoas que
ainda continuavam paradas, olhando para Antonela que balançava a cabeça
negativamente.
— Eu peço desculpas pela minha mãe... Ela não está nada bem e... —
Christopher parou de falar ficando confuso com as próprias palavras. — Com
licença. — saiu dali também, indo atrás dos pais. Pensou em voltar ao ouvir
os gritos da rua, mas percebeu que o melhor seria intervir a discussão
calorosa que eles estavam tendo no meio da rua.
— Antonela, me desculpa. Você não é nada disso que ela falou. —
Camila tentava se explicar, com lágrimas nos olhos. Antonela apenas segurou
a mão dela e deu um beijo no dorso, acalmando a garota.
— Bom... Vamos comer! — Marcela sorriu, notando sua neta
olhando para a parede, claramente perdida.
— Animação pessoal, não aconteceu nada. Não vamos ver a Nelis
por um bom tempo, vamos lá — Anna começou a bater palmas e animar os
convidados, que aos poucos começaram a comer a conversar.
Após alguns minutos Carlo e Christopher voltaram à mesa,
pedindo desculpas a todos pela cena ridícula que Alexandra protagonizou.
Antonela nem falou nada, sabia que foi errado o que fez ao ficar respondendo
Alexandra. Era a mãe de Christopher e se um dia sua mãe fizesse igual apesar
de estar errada, não gostaria nada se alguém respondesse mal a ela. Agora já
estava feito, Alexandra tinha ido embora com o carro de Carlo e arruinado o
jantar.
Após o jantar Ester e Léo foram embora e logo depois Christopher
e Carlo, que tinha emprestado seu carro à Alexandra e precisava de uma
carona. Camila após muito implorar para o pai acabou ficando para dormir
assim como Rafael que não teve problema nenhum após Anna ligar para seus
pais e perguntar se ele poderia dormir fora de casa.
Muito antes do esperava, todos estavam deitados e prontos para dormir. No
quarto de Antonela estavam suas irmãs, Anna, Camila e suas sobrinhas.
Christopher ligou duas vezes para fazer Antonela jurar que Camila e Rafael
estavam em quartos separados com ao menos vinte metros de distância. E
sim, estavam. Na sala estavam o marido de Claudia, o noivo de Bianca,
Rafael e Miguel.
CAPÍTULO 46
Como em um passe de mágica seu dia chegou. Sentia que sua vida
estava tomando um rumo inesperado, diferente de tudo o que tinha imaginado
para si própria.
Sempre achou que sua vida se resumia primeiramente em ter que
suportar aqueles tantos anos de colégio e ao se formar, viu que um ciclo de
sua vida tinha acabado. Depois deveria começar a trabalhar, arrumar um
namorado e aproveitar a vida.
Acreditava que nunca iria literalmente ser feliz, consequentemente
após o que ocorreu com Pablo viu que era nada mais nada menos que outra
etapa cumprida, infeliz, mas foi. Começou a se dedicar ao seu trabalho, a sua
diversão e se conhecer. Não teve o que reclamar dessa sua fase de
adolescência com Anna, foi ótimo enquanto durou. E naquela corrida há
alguns meses, sua fase de adolescente um pouco atrasada teve seu fim.
Conhecer Christopher, sair com um cara que sempre julgou mal,
fazer as várias loucuras que fez e começar a sentir aquele amor arrebatador
por ele, foi uma fase – Anna que ficasse triste, mas até mesmo a época das
farras perdeu para essa – que hoje tinha seu fim. E em solo italiano,
começaria outra.
Não queria despedidas. Odiava despedidas. Odiava chorar. Mas tendo
uma amiga como Anna que deu uma super desculpa de também estar indo
para Londres coincidentemente na mesma hora e no mesmo dia, sendo que
não tinha voos naquele horário. Sabia que não era verdade já que
embarcariam em um aeroporto privado com o avião de Christopher, mas
resolveu abrir uma exceção para aquela loira teimosa. E então, às dez da
manhã lá estavam toda sua família e amigos reunidos. Apesar de tudo e de
discordar de todas aquelas pessoas chorando por ela na sala enquanto
esperavam o avião ficar pronto para o embarque, cada pessoa ali era parte de
sua vida.
— Se vocês quatro não pararem de chorar, eu vou socar cada uma de
vocês — falou com Anna, Bianca, Claudia e Camila que desde que chegaram
não paravam de chorar. — Camila, você é a que menos tem motivo para
chorar aqui e você também Anna, basta ter corrida que eu vou ver vocês
duas.
— E eu sua mal agradecida? Uma ou duas vezes por ano? — Claudia
soluçou. Antonela sorriu e soltou o ar, abraçando as duas irmãs.
Claudia sempre foi controlada, mas hoje até ela estava passando dos
limites. Abraçou as irmãs e olhou para Christopher que sorria ao lado de
Robert, que junto de Camila foi o único da família dele que apareceu por lá.
Já tinha se despedido dos pais um dia antes e se esgotado com os gritos de
Alexandra. Era melhor assim, sem mais confusões. Começaria uma nova vida
literalmente com o pé direto. Carlo obedeceu a esse pedido, embora tivesse
ficado ressentido por não estar perto do filho. O que era meio que dramático,
quando se tem um próprio avião e está dentro do circo da Fórmula 1.
— Mesmo assim vou sentir saudades Nelis, não vou ter com quem
andar de kart comigo, justo agora quando você estava aprendendo a pisar
fundo — Camila abraçou Antonela pela cintura, dramatizando como a boa
filha de Alexandra que era.
— Agora você tem o Rafael, ué — provocou e Christopher fuzilou
Camila que nem falou nada, apenas suspirou e perguntou para si mesma por
que não gostar de Betina antes, ela pelo menos não encheria tanto seu saco.
— Como se ele gostasse de carros.
— Então terá um projeto para se ocupar por uns tempos — Antonela
sorriu e abraçou Camila, beijando o topo da cabeça da menina. — E gente, eu
não estou indo para não voltar nunca mais, prometo não me enfiar no estoque
da Dolce&Gabbana e nem entrar para a máfia italiana, eu volto. Parem de
drama.
— Sortuda — Anna resmungou.
Ainda restavam pouco mais de quinze minutos para o horário do voo
e somente faltava se despedir de sua mãe e sua avó. Essa era a parte que mais
temia e que mais lhe perturbava. Olhou para as duas que estavam uma ao
lado da outra, rindo uma vez ou outra das bobagens que eram ditas à
Antonela, principalmente pelas irmãs e Anna. Sentiu os olhares ao caminhar
para o lado das duas e se jogou em um abraço acolhedor, materno, único. Não
tinha nem noção do quanto iria sentir falta das duas, eram simplesmente tudo
em sua vida. Porto seguro. Conselheiras. Amigas. Mãe. Avó.
Quando somos novos achamos que tudo o que os adultos fazem ou
falam são para nos provocar, para acabar com nossa alegria e nos deixar
como robozinhos. Nunca foi o exemplo de filha ou até mesmo aquele orgulho
de neta, mas hoje, vendo tudo o que passou e o que as duas fizeram por ela,
não tinha nem palavras para agradecer. Por mais que doesse, deveríamos
aprender a ouvir os mais velhos, muitos de nossos problemas estariam
resolvidos se ouvíssemos com mais facilidade. Sua mãe e sua avó eram
simplesmente únicas em sua vida.
— Obrigada por tudo, por tudo mesmo — Antonela olhou para as
duas com carinho.
— Meu amor, já falamos tanto esses dias que acho que nem tenho
mais o que falar para você. Quero que saiba que mesmo do outro lado do
Atlântico, você sempre vai estar aqui comigo — colocou a mão em seu
coração e Antonela sorriu. — Sempre vai ser a minha criança, minha
princesa. Quero que você seja muito feliz com o Christopher e eu sei que isso
vai acontecer porque você merece, meu amor.
— Obrigada mãe — abraçou ela novamente e ficaram assim por
algum tempo. — Me promete que você vai ficar bem, vai ser feliz, vai
arrumar um namorado e construir sua vida mãe — falou rápido antes que
Emma falasse alguma coisa. Na lata. Ela arregalou os olhos e quase que
gritou. — Você é nova mãe, merece ser feliz novamente. Papai iria gostar
disso.
— Já te falei para não beber a essa hora da manhã — abraçou
Antonela ternamente e ela começou a resmungar.
— Não adianta mudar de assunto.
— Concordo com a Nelis, tia. Ela já está criada, está indo morar com
o futuro marido dela, agora é a sua vez de ser feliz — Anna piscou para
Emma e todos começaram a rir.
— Vocês duas literalmente estão ficando loucas — revirou os olhos e
virou para Antonela novamente. — Liga quando chegar.
— Está bem mãe — sorriu e abraçou Emma pela coisa mais normal
que ela poderia dizer. Mães! — Eu te amo.
— Eu também meu amor e você nem imagina o quanto — beijou a
testa de Antonela e logo a soltou, deixando a filha ir até a avó esta que muito
antes de chegar perto dela já chorava.
— Aí minha vida — abraçou Antonela e a garota sorriu, não fazendo
questão alguma se limpar as lagrimas que escorriam por seu rosto. — Vamos
parar de chorar, ok? — limpou seu rosto e viu Antonela fazer o mesmo. —
Não é um dia de tristeza hoje.
— Eu te amo, vovó.
— Eu também meu amor e você sabe disso — pegou as duas mãos de
Antonela e olhou para a neta. —Tem que me prometer que vai ter cuidado
com tudo, não vai ser teimosa se ficar doente e dar ataques para ir ao médico,
qualquer coisa vai ligar para cá e por favor, por favor, por favor, não
desapareça meu amor. Venha visitar essa velha aqui de vez em quando.
— Não precisa nem falar dona Marcela — beijou as mãos de sua avó.
— E eu prometo.
— Ouviu Christopher? Ela prometeu. Se caso ela ficar doente não
ouça quando ela falar que está bem e não precisa ir ao médico, leve ela! Ela é
teimosa que nem uma mula — encarou Christopher que caiu na gargalhada.
— Vó, não estou indo para um acampamento da escola e além do
mais eu vou me cuidar — revirou os olhos e Marcela fez uma cara
desconfiada.
Manuela chegou perto de Christopher e Antonela prestou atenção,
mas ela apenas dizia que tudo já estava preparado e eles poderiam embarcar.
O frio na espinha que sentiu foi assustador. Christopher olhou para Antonela
sorrindo e ela também sorriu, começando a sentir suas pernas bambas.
— Vai meu amor. Não se esqueça, eu te amo e todos aqui te amamos
— beijou o rosto de Antonela que acenou com a cabeça.
Olhou para cada pessoa que estava ali e então pegou sua bolsa que
estava com Anna, sorriu para a loira e entrelaçou sua mão na de Christopher.
— Até sábado — Anna deu um sorriso sapeca para Antonela que
também sorriu, apesar das lágrimas que insistiam e rolar por seu rosto.
— Exibida — Bianca mostrou a língua para Anna.
Antonela riu baixo e sentiu Christopher passar um braço por sua
cintura, ele estava com aquele sorriso lindo e confortante que a acalmava.
Antonela olhou para trás e viu todos olhando para os dois e acenando. Fechou
os olhos, deixando duas lágrimas rolaram por seu rosto e seguiu em frente.
Tinha que admitir que dormiu praticamente a viagem toda, se
recordava apenas da primeira hora no avião. Assim que comeu um lanchinho
oferecido pela aeromoça, que claramente queria agradar a Christopher e a
ignorava completamente, pode dormir em paz.
Quando acordou viu que Christopher estava dormindo tranquilamente
ao seu lado e não quis acordá-lo. Começou a observar pela janela do avião as
nuvens e o dia que já estava indo embora. Não era possível que tivesse
dormido tanto assim. A aeromoça perguntou se desejava alguma coisa, então
decidiu pedir um sanduíche e coca cola, sando informada que em uma hora
pousariam. Christopher não tardou a acordar e assim que terminou o lanche
pousaram em sua nova cidade e casa.
— Benvenuto! — Christopher levantou os braços e falou para
Antonela animado, esta que bocejava e se preocupava em não tropeçar
naquelas escadas traiçoeiras do avião.
— Grazie.
— Quase uma italiana — abraçou Antonela de lado e os dois riram,
entrando no aeroporto.
Após a parte burocrática pegaram as poucas malas que vieram com
eles, já que tudo tinha sido mandado para o apartamento há alguns dias e
então saíram do aeroporto.
— Posso sentir o cheiro de roupa nova — Antonela farejou o ar,
fazendo Christopher rir.
— Eu te amo — colocou a franja dela para trás e ficou sorrindo feito
um bobo, ignorando as pessoas que quase trombavam neles.
— Se eu não te amasse sinto em te dizer, mas não estaria aqui — fez
um bico e ele lhe deu um selinho. — E então, quem vem nos buscar?
— Vida nova, tudo novo.
— Isso deve ser perturbador para você não? — começou a rir e o
acompanhou até onde ele pediu um táxi e logo estavam a caminho de casa.
Demoraram quase trinta minutos para chegar em casa. Se julgava o
trânsito do México caótico, Milão então era enlouquecedor. Mas, valeu a
pena aqueles minutos dentro do carro, para apreciar o movimento e o luxo de
Milão. Talvez fosse este um motivo de Christopher escolher Milão ao invés
de qualquer outro lugar da Itália, até mesmo Maranello, onde é a sede da
Ferrari, sentia-se culpado por trazer Antonela para outro país, então que pelo
menos fosse um lugar que a agradasse. Sabia que seria torturante para ela ir
morar em um lugar pacato e calmo como Maranello, onde a única ocupação
são carros, carros e carros e o ponto turístico a fábrica da Ferrari. Ela iria
enlouquecer.
O táxi parou em frente do prédio de cinco andares, em uma rua onde
existiam prédios não muito altos, árvores e uma arquitetura clássica. As
pessoas passavam apressadas pela calçada. De menos de cinco minutos que
ficaram ali junto do taxista retirando as malas do carro, cinco pessoas
pararam para tirar fotos com Christopher, fora o taxista que pediu um
autógrafo. Gostava do carinho que as pessoas tinham com ele, em qualquer
lugar do mundo – menos as fãs assanhadas ou quando voltava com
hematomas para casa, mas isso era um caso à parte.
Entraram no prédio e pegaram a chave com o porteiro, eufórico com
o novo morador. Fez questão de subir com os dois até o apartamento no
quinto andar, explicando como funcionava a trava do elevador com senha
para cada andar.
O elevador parou no andar e o porteiro se despediu, deixando os dois
no pequeno hall de entrada.
Antonela teve a impressão de que seu coração sairia pela boca
quando Christopher abriu a porta pela primeira vez do apartamento. Não
sabia explicar o que de verdade estava sentindo naquele momento, só sabia
que estava feliz. Muito feliz. Aquela era sua nova casa. Sua nova casa com
Christopher.
— Como manda o figurino.
Ele falou perto do ouvido dela, que não compreendeu muito bem já
que estava mais ocupada naquele melodrama que fazia em sua cabeça, só foi
entender quando se viu nos braços de Christopher adentrando pelo hall com
cheiro de flores.
— Acho melhor largar de ser modelo e se dedicar à decoração —
sorriu e colocou Antonela no chão, virando as costas para pegar os animais e
as duas malas que vieram com eles.
Deixou tudo ali no hall, abrindo a gaiola dos bichinhos, Fred estava
dormindo ainda sob os efeitos dos relaxantes, Júnior saiu de lá ainda meio
grogue, trombando em uma parede. Christopher riu e foi procurar Antonela, a
achando na sala, imóvel e em silêncio observando tudo o que tinha
conseguido fazer em tão pouco tempo ainda lá do México, abraçou a cintura
dela, dando um beijo de surpresa na bochecha.
— Ficou tudo lindo –— disse, com os olhos na ampla sala, com um
sofá bege em L cortando a sala, combinando com os móveis e detalhes em
madeira.
Tudo amplo e arejado, deixando um toque moderno e de bom gosto.
Sem dúvidas tinha deixado o apartamento como os dois queriam, mesclando
o gosto de ambos.
— Obrigada.
Abriu a porta de correr de vidro da varanda, querendo ver de perto a
vista que deixava a sala quase que cinematográfica. Estavam atrás da galeria
Emanuelle II, um dos pontos mais visitados e luxuosos de Milão, onde as
grifes mais conhecidas do mundo estavam presentes. Aquilo era o paraíso na
Terra!
Logo foram conhecer o resto do apartamento, a cozinha que ficava
em um longo corredor junto de uma lavanderia, em outra porta tinha a sala de
jantar, um escritório muito bem decorado com alguns troféus de Christopher
e logo vinha uma escada que levava ao segundo andar do apartamento.
No segundo andar tinha três quartos, dois de hóspedes e a suíte
master, ainda bagunçada com as malas e algumas caixas que tinham sido
enviadas antes. Assim como na sala, a varanda dava de frente para as ruas
movimentadas de Milão e as luzes ofuscantes da cidade pareciam refletir no
quarto.
Antonela estava se divertindo vendo tudo o que tinha feito sendo
aprovado por Christopher, podia querer mais alguma coisa? Morava onde
sempre sonhou, tinha ao seu lado o melhor homem que alguém poderia
sonhar ter.
É claro que a felicidade não duraria muito tempo, Christopher tinha
falado que pela manhã viajaria para a Bélgica, aproximadamente quatro horas
de avião de Milão. Ela preferiu ficar para arrumar o closet e outros objetos
que trouxe, assim como tratar de arrumar uma diarista para limpar a casa pelo
menos alguns dias pela semana. Iria ser duro não ter mais a comidinha de sua
avó ou de Joana. Precisava urgentemente aprender a cozinhar!
— A Raquel está vindo para cá, disse que não tem graça ficar lá
vendo a corrida sabendo que você está aqui sozinha. Daqui umas duas horas
ela está aqui.
Avisou Antonela enquanto se vestia pela manhã, a vendo revirar na
cama. Se espreguiçou e novamente se jogou na cama, ainda cansada pela
noite de estreia do apartamento que teve com Christopher. Seria bom passar o
final de semana com Raquel, ela era uma ótima companhia.
— E duvido que a Anna irá aguentar também.
— Estou passando a acreditar que foi um erro a gente vir para cá,
devíamos ter nos mudado para sei lá, Coréia do Sul, assim eu não estaria
perto para amenizar a solidão das duas. Europa é tudo muito perto — os dois
começaram a rir e Christopher sentou na cama ao lado dela.
— Vai ficar bem?
— Você acha que morando em frente a essas lojas eu vou ficar mal?
— deu uma gargalhada e sentou na cama, brincando com a mão dele.
— Obrigado por ser tudo isso o que você é e por me aceitar assim
como eu sou. Duvido que um dia tenha pensado em se mudar e no dia
seguinte ficar sozinha em um país totalmente diferente.
— É o seu trabalho, eu entendo.
— Domingo de noite eu estou de volta.
— Tudo bem, estarei aqui te esperando.
— Eu te amo — abraçou Antonela e lhe deu um beijo.
Por mais que fosse incômodo, estava se acostumando com essa vida
maluca de Christopher. Esses últimos meses de loucura a fizeram entender
quantas responsabilidades ele tinha e que a vida dele embora parecesse fácil e
divertida, com todo o glamour de conhecer países, andar de jatinho e se
hospedar em hotéis de luxo, não era nem um pouco. Ele não tinha tempo para
curtir quase nada e tudo o que parecia glamuroso e cheio de luxo, era apenas
mais uma parte do trabalho.
— Eu também te amo — se inclinou para beijá-lo. — E volta, ouviu?
— Ouvi — sorriu e pegou a mesma mala que trouxe do México,
saindo do quarto abraçado com Antonela. Junior estava dormindo no último
degrau da escada e logo começou a pular nos dois.
O interfone tocou duas horas e meia após Christopher ter saído do
apartamento rumo ao aeroporto. Antonela tinha acabado de sair do banho e
estava de roupão, após alguns escorregões para chegar até a cozinha naquele
mármore italiano liso, correndo e com os pés descalços e molhados, ficou
orgulhosa de si própria por nenhum dano maior. Autorizou a entrada de
Raquel e subiu correndo para o quarto para se trocar, tirando da mala o
primeiro short e camiseta que achou. A campainha tocou e desceu correndo
novamente, agora de chinelo e tentando arrumar o cabelo molhado. Junior e
Fred – este que ainda estava sob os efeitos dos calmantes – estavam na porta,
curiosos com a primeira visita.
— Raquel! — quase gritou vendo a morena no meio de duas malas,
diferente demais para ser ela mesma.
O antes cabelo comprido agora estava curto, em um corte moderno,
com a franja jogada sobre os olhos. Ela sorriu, parecendo achar graça da
primeira reação de Antonela.
— Bom, a reação do Nicolas foi bem pior.
— Você está linda, só não estava esperando — mostrou a língua
infantilmente e as duas riram. — Vem, entra — deu espaço para Raquel e a
ajudou com as malas, largando perto da escada.
— Uau! Que apartamento! — ainda mantinha o sorriso, agora
observando a vista da varanda. — Você nem deve estar gostando.
— Nem um pouco — fez cara de nojo e caíram na gargalhada
novamente.
Raquel era uma pessoa fácil de ser amiga, era divertida, sabia sempre
o que dizer nas horas certas e ocupava o silêncio de forma agradável, sempre.
Além de ter uma história e a personalidade muito parecida com a de
Antonela.
— Espero que não tenha ficado brava comigo por ter vindo, mas
sabe, não queria te deixar sozinha aqui — piscou dramaticamente e Antonela
revirou os olhos.
— Sei, sei — atravessou a sala e foi até onde Raquel estava,
debruçada na grade da varanda e sendo paparicada por Fred e Junior que
rolavam em seus pés. — Mas de verdade, é bom ter você aqui. Sabe cozinhar
não sabe? — olhou para ela que deu uma gargalhada alta e apertou as
bochechas de Antonela.
— Acho que os meninos vão ter algumas despesas conosco nesse
final de semana — piscou — Mentira, sei fazer algumas coisas.
— Quisera eu saber algumas coisas.
— Pobre Christopher... — balançou a cabeça. — Acho que já
descobrimos o porquê de a Alexandra não gostar de você.
— Por quê? A Betina servia o que para o Christopher? Soro
antiofídico? — levantou uma sobrancelha.
— Você não vale nada, Antonela!
Não demorou muito para decidirem ir bater perna pelas ruas de
Milão, saíram do apartamento perto da hora do almoço e logo entraram na
galeria Emanuelle II, babando nas vitrines que encontraram ao longo da
avenida. Também não demorou muito para o celular de Antonela começar a
tocar e Anna dizer que estava chegando em Milão às oito da noite para se
juntar ao lar das abandonadas da Fórmula 1. E após um rápido almoço no
principal restaurante de Milão, o Il Salotto di Millano, se entregaram por fim
ao mundo da moda. Na galeria estavam as principais lojas do mundo da moda
e se divertiram comprando e arriscando a pouca habilidade que tinham em
falar italiano.
Voltaram ao apartamento com algumas sacolas, para um primeiro dia
soltas em Milão até que não se descontrolaram tanto. Alguns sapatos,
algumas roupas e poucos acessórios.
Christopher tinha deixado estrategicamente alguns telefones e panfletos de
restaurantes de entrega em domicílio, no meio de tantas massas e comidas
exóticas, acabaram se rendendo ao bom, velho e gostoso McDonald's.
Os lanches chegaram com uma entregadora nova do McDonald's, uma loira
exuberante cercada de duas malas enormes segurando dois sacos de papel
pardo cheio de lanches gordurosos e ao lado de um simples entregador que
chegava até gaguejar de tão tímido.
— Entrega para a vossa senhoria — Anna deu uma gargalhada e
entregou os lanches para Antonela, que pagou ao entregador.
— Aposto que o pobre entregador vai sair daqui direto para a
psicanálise depois de subir no elevador com esse furacão — Antonela deu
risada ao ver o entregador batendo o corpo na porta do elevador.
— Cala a boca Maria — gritou para Antonela que estava dentro do
apartamento, colocando os lanches na cozinha. — Oi Raquel! Seu cabelo! —
colocou a mão na boca chocada. — Você está linda! — sorriu e as duas
começaram a rir.
Era fato, não teria silêncio por um bom tempo ali, pensou Antonela
enquanto colocava os lanches e os refrigerantes em cima da mesa.
— E você então? Clareou o cabelo né? Em Londres parecia mais
escuro.
Apesar das gargalhadas altíssimas, dos latidos e miados constantes,
do filme decadente que passava na televisão, era bom ter as duas em casa. Se
tivesse ali sozinha, recém chegada em Milão, certamente faria uma visitinha
para Christopher na Bélgica.
Passaram o final de semana inteiro passeando por Milão,
aproveitando cada loja que entravam e se divertindo com o que aprontavam.
Nunca pensou que poderia se divertir tanto em um país diferente, longe de
tudo que mais gostava. Por enquanto parecia somente uma viagem entre
amigas, mas sabia muito bem que não era assim. Dali a algumas horas
começaria a vida real, sua vida com Christopher. Sozinhos em Milão.
Christopher não ganhou a corrida, o carro quebrou logo no começo e
ele estava visivelmente transtornado por perder aquela corrida com pontos
preciosos para o campeonato, mas assim mesmo saiu aplaudido pelo público.
Ao retornar ao box, foi informado que o problema foi uma falha no motor.
Esses problemas aconteciam, era uma falta de sorte, mas poderia acontecer
com qualquer um. Assistiu do box, um novato ganhar a corrida e
sinceramente, até se sentiu um pouco melhor ao ver o garoto vibrando no alto
do pódio. Era um momento icônico na vida de qualquer piloto.
Não era nem sete da noite quando Antonela, Anna e Raquel que viam
um filme romântico italiano, foram surpreendidas por Christopher e Nicolas
adentrando no apartamento.
— Amor! — Antonela deu um grito fino e atravessou a sala, pulando
em cima dele assim que o alcançou. Christopher sorriu e abraçou Antonela,
que lhe deu um beijo.
— Olha a pornografia! — Nicolas falou perto dos dois, recebendo
uma revirada de olhos de Antonela em resposta.
— Tudo bem? — olhou para Christopher e segurou o rosto dele entre
duas mãos, ele estava nitidamente decepcionado. — Já passou, não é sempre
que ganhamos, perder faz parte.
— Eu sei. Mas, o que importa é que agora eu estou aqui, com você —
e a beijou novamente.
— Hei, hei agora sou eu que falo! Olha a pornografia, por favor. Isso
é para vocês dois também. — Anna cutucou Nicolas e Raquel que
começaram a rir e se separaram. — Me respeitem! — fez bico e logo todos
estavam sentados ao lado da loira.
— E então, o que fizeram no final de semana? — olhou para as três
que se entreolharam e deram sorrisinhos angelicais. — Vou começar a me
preparar para a fatura do cartão de crédito — jogou as mãos para o alto,
fazendo um drama — Devia se preparar também Christopher, de calma ela só
tem a cara — apontou para Antonela que mostrou a língua para ele.
Ficaram nesse clima de brincadeiras por bastante tempo, até
resolverem pedir comida e em pouco tempo estavam reunidos na sala
comendo comida japonesa. Nem mesmo o telefonema de Álvaro para Anna
perguntando onde estava, estragou o clima que pairava ali. O interfone tocou
novamente tempos depois e todos ficaram surpresos, pois não esperavam
mais ninguém ali. Raquel foi atender e voltou com uma cara séria e pálida.
— Quem era? — Antonela foi a primeira a perguntar.
— O porteiro falou que tinha um homem querendo subir para buscar
a namorada — olhou para Anna e fechou a boca, a deixando em uma linha
reta. Logo depois olhou para Christopher e Nicolas. — É o Álvaro — disse
com todo o cuidado.
Christopher e Nicolas se entreolharam e Antonela olhou para os dois,
implorando para ficarem quietos. Anna levantou da cadeira em um pulo ainda
assustada com a notícia.
— Eu vou pedir para ele esperar lá na portaria, podem ficar
tranquilos. Eu de verdade não quero confusão com vocês nem com ele —
Anna falou para Christopher e Nicolas que continuaram quietos.
O silêncio era tanto que foi possível escutar a loira fechando a porta e
o click da luz automática. Antonela olhou para os dois e logo depois para
Raquel que sentou novamente ao lado de Nicolas.
— E agora? — Antonela sussurrou.
Era a pior situação que podia acontecer. Não queria magoar Anna e
muito menos os que estavam presentes ali ao seu lado. Mas, não podia
simplesmente acolher Álvaro com os braços abertos, Christopher não iria
gostar e magoaria Nicolas que também tinha um relacionamento horrível com
Álvaro. E se tratasse Álvaro como um qualquer iria ofender Anna. Estava
apavorada e Raquel percebeu isso.
— Eu acho que vocês poderiam ser um pouco flexíveis com ele, pelo
menos hoje. Vamos acabar magoando a Anna — Raquel colocou a mão no
ombro de Christopher e com a outra mão entrelaçou seus dedos aos de
Nicolas. Christopher olhou para Antonela e ela somente abaixou a cabeça.
— É o Álvaro, Raquel. Como quer que eu seja simpático com ele? —
Christopher olhou para ela seriamente.
Antonela engoliu em seco, afinal sabia que toda aquela raiva que
Christopher sentia de Álvaro era por Betina. Achava que toda aquela situação
era ridícula, já que Christopher jurava que não sentia mais nada pela ex-
namorada.
— É o namorado da melhor amiga da Antonela, isso não conta para
você? E o mesmo para você Nicolas, iria gostar que eu fosse estúpida com
uma mulher de um amigo seu? Com a Antonela? — os dois se entreolharam e
ficaram quietos novamente. — Eu não gosto dele, a Antonela também não.
Mas, a Anna gosta. Não é educado ficar na porta de uma casa sabendo que
tem gente lá dentro.
— Faça o que quiserem — Christopher levantou da cadeira e se
jogou no sofá, sendo seguido por Nicolas. Antonela abaixou a cabeça e
Raquel passou a mão no cabelo dela.
— Não liga para eles, vai lá — Raquel piscou para ela que deu um
sorriso de canto, tristonha.
Levantou da cadeira e foi até o elevador, encontrando Anna e Álvaro
na portaria, conversando em um tom baixo. Eles perceberam sua presença e
olharam para ela. Anna estava com um sorriso triste no rosto e a expressão de
quem se desculpava.
— Oi Álvaro! — sorriu tentando parecer simpática.
— Boa noite, Antonela — fez um aceno com a cabeça.
— Eu já tenho que ir — Anna fez um beicinho ao se aproxima da
amiga — Amor, vou arrumar minhas coisas e já venho. Iria embora amanhã e
por isso está tudo uma bagunça. Espera aí que eu já volto — deu um selinho
em Álvaro e foi para o lado de Antonela, esperando a amiga para voltarem ao
apartamento.
— Vem Álvaro, sobe com a gente — esticou o braço em direção ao
elevador, ignorando totalmente a cara que Anna fez ao seu lado. — Acho que
está com fome não? Comida de avião é horrível.
— Está ficando louca? — Anna sussurrou.
— Vamos — olhou para ele tentando ignorar o rosto perplexo dele.
— Eu prefiro ficar aqui — ele disse, completamente chocado com a
atitude de Antonela.
— Vai me fazer esta desfeita? — perguntou de forma simpática.
Anna e Álvaro se olharam, confusos. — Vamos — puxou ele pelo braço e
junto de Anna colocou os dois dentro do elevador. — Fique à vontade —
falou assim que abriu a porta do apartamento, dando passagem para ele e
Anna entrarem.
— Belo apartamento, parabéns — disse, olhando para os lados.
— Obrigada.
— Eu... Eu vou arrumar minhas coisas. Vai ficar bem? — Anna
mirou Álvaro, preocupada.
— Ele vai sim Anna, vamos jantar — cortou Álvaro antes que ele
falasse alguma coisa.
Anna fez um esforço para mover seus pés e sair correndo escada
acima, sabia que essas ideias mirabolantes e impensadas de Antonela, quase
sempre não davam certo.
— Pode entrar — deu caminho a Álvaro para entrar no corredor que
levava à sala.
Era nítido que ele não estava nada à vontade ali, nem mesmo Junior
ou Fred se aproximaram dele, como faziam com todas as visitas. Na sala,
Christopher estava esparramado no sofá com Nicolas sentado em uma ponta,
viam um jogo de beisebol e Raquel olhava para suas unhas, sentada em uma
poltrona branca e preta.
— Gente, o Álvaro — Antonela o anunciou, meio que inútil já que
todos sabiam da presença dele ali.
Christopher e Nicolas olharam por cima do sofá e logo voltaram o
olhar para a televisão. Raquel vendo os dois não fazerem absolutamente nada
pela visita levantou da poltrona, não sem antes tacar uma almofada na cabeça
de Christopher e mandar um olhar medonho para Nicolas.
— Oi Álvaro! Tudo bem? — perguntou simpática, se colocando do
lado de Antonela rapidamente.
— Tudo ótimo e com você?
— Tudo bem — sorriu. — Meninos, o Álvaro está aqui — mirou os
dois com uma voz maldosamente assustadora. Álvaro levantou uma
sobrancelha e pareceu achar graça do comportamento infantil dos dois.
— E aí — Nicolas falou totalmente de mal vontade, talvez com medo
de Raquel. Levantou do sofá e veio até os três, de cara amarrada. Antonela
olhou para Álvaro e viu a careta que ele fazia, prendendo o riso.
— Olá Blanco — deu um sorriso sarcástico para o espanhol que
desviou o olhar de Álvaro e abraçou Raquel pela cintura. — Boa noite,
Bergman — disse e Christopher não fez a mínima questão de responder pelos
próximos minutos.
Anna chegou menos de cinco minutos depois de ter subido as
escadas, com suas malas totalmente desarrumadas, quase abertas e algumas
sacolas de lojas na mão. Equilibrava-se para segurar tudo e ainda puxar a
mão de Álvaro para fora do apartamento, sabendo muito bem o clima tenso
que estava ali. Acabou deixando quase metade de suas roupas no closet e em
cima da cama e pediu à Antonela para enviar depois. Agradeceu a todos e
desejou felicidades para Antonela e Christopher e logo jogou Álvaro com
suas malas dentro do elevador, acenando para a amiga.
Antonela sabia o quanto essa rivalidade de Christopher e Álvaro a
fazia sofrer, ainda que Christopher a tratasse bem, nunca poderiam sair como
casais ou simplesmente ser aceita e compreendida por Álvaro quando fosse à
casa de Antonela. A morena entendia isso, Christopher também implicaria
muito caso resolvesse passar alguns dias na casa de Anna e Álvaro.
Fechou a porta e voltou para a sala, onde só era possível ouvir o
locutor gritando a cada passe no jogo, Raquel retirava o jantar e levava tudo
para a cozinha, em silêncio. Anna estava tão desesperada que nem ao menos
deixou Álvaro comer alguma coisa.
Foi ajudar Raquel a tirar as coisas que restavam na mesa e enfiou a
louça na máquina enquanto via Raquel jogar o que sobrou no lixo. Não tinha
mais a mínima vontade de ficar no meio de Nicolas e Christopher. Decidiu
que iria para o quarto dormir, se despediu de todos e logo subiu.
Não estava defendendo Álvaro, seria até ridículo fazer isso depois de
tudo o que ele fez para Anna com Betina, mas não custava absolutamente
nada serem pelo menos simpático com ele, por Anna. Por outro lado,
entendia Christopher, a amiga era dela não dele. Não tinha nada a ver com
essa história.
Christopher entrou no quarto meia hora depois, Antonela estava
terminando de se vestir após o banho, não falou nada com ele que entrou no
banheiro também sem dizer uma sílaba se quer. Se não estivesse com tanto
medo dele ficar bravo com ela por defender Álvaro, estaria rindo desse
comportamento infantil dos dois.
Deitou da cama e ficou o esperando sair do banheiro, folheando uma
revista de moda. Christopher saiu do banheiro com uma calça de moletom,
todo atrapalhado em vestir a camiseta branca no peitoral ainda molhado.
Antonela prendeu a risada ao vê-lo deitar ao seu lado ainda sem falar
absolutamente nada, olhando o teto como se algo fosse muito interessante.
— Chris?
— Hm? — respondeu, orgulhoso como sempre. Sabia que não
adiantaria de nada, porque por mais que quisesse não conseguia ficar nem um
pouco bravo com Antonela.
— Será que ainda tá de pé a ideia da Coréia do Sul? — olhou para ele
sorrindo, escutando a gargalhada dele um segundo depois. Girou na cama e
ficou por cima, o beijando logo em seguida.
CAPÍTULO 47
Não se lembrava de ter estado tão nervosa em toda sua vida como
quando pisou com o pé direito na longa passarela escura e rodeada por velas.
Nunca tinha desfilado para uma grife famosa, o máximo que tinha feito era
tirar fotos para a campanha da Dolce&Gabbana alguns meses atrás, mas
desfilar era bem diferente. Estava rodeada da alta elite da moda italiana,
celebridades, jornalistas, fotógrafos, só de pensar nisso sentiu seu estômago
embrulhar.
Não iria passar mal. Se recusava a fazer qualquer coisa que não fosse
desfilar com perfeição aquele vestido em crepe de seda bege, com uma longa
fenda e um decote poderoso nas costas. Respirou fundo, contou até cinco
mentalmente e viu a produtora dar o sinal para ela.
Desfilou com perfeição e total controle de seus passos, ao final da
passarela fez uma pose, encarando as lentes dos fotógrafos e voltou a
caminhar, saindo da passarela com a cabeça erguida e um sorriso contido no
rosto. Tinha conseguido!
Na segunda entrada, estava com um body de seda e renda preto, com
transparências suaves na barriga. Era sensual e poderoso na medida certa, e
sua entrada foi com esse espírito, caminhando com passadas longas até o
final da passarela. Quando voltou para encerrar o desfile ao lado das outras
modelos, não se lembrava de ter se sentindo tão satisfeita e completa em toda
sua vida. Ela tinha chegado até ali e tinha conseguido.
Assim que saiu de lá, Anna a abraçou tão forte, mas tão forte, que
teve vontade de chorar. A amiga realmente estava feliz por ela. No coquetel
para convidados, foi recebida calorosamente por Lucy e parabenizada pela
diretora criativa da marca. De cada dez perguntas que lhe faziam, seis eram
de Christopher e o noivado dos dois, mas ainda assim estava feliz e satisfeita
com seu trabalho.
Junto de Anna se empolgaram um pouco demais e acabaram
chegando em casa uma e meia da manhã. Antonela segurava Anna que
trançava as pernas de tão bêbada que estava. O apartamento estava uma
escuridão e somente a luz da rua iluminava a sala, jogou Anna no sofá e ligou
a luz da sala. Tirou a sandália da amiga e as suas, deixando junto da bolsa no
chão e então foi novamente para a maratona de carregar Anna até o andar de
cima. Estava no terceiro degrau da escada e quase soltando a loira quando a
luz da escada se acendeu e apareceu Christopher, com uma bermuda de
dormir e sem camisa, coçando os olhos inchados e bocejando.
— Antonela?
— Chris me ajuda aqui, ela é pesada! — pediu e Christopher desceu a
escada correndo, pegando Anna no colo e levando a loira para o quarto de
hospedes.
— O que aconteceu com ela?
— Bebeu feito uma louca — olhou para Anna que ria dormindo. —
Super normal dela.
— Que horas são?
— Uma e meia — virou de costas para ele e foi até Anna.
— E aí, como foi lá?
— Foi legal, todo mundo perguntava de você — revirou os olhos e
ele sorriu. — Bom, eu vou dar um banho nela para ver se essa louca melhora
um pouco. Pode fazer um café bem forte e amargo e pegar uma aspirina?
— Dá conta dela sozinha?
— Dou sim. Já sou craque em curar as bebedeiras dela — piscou para
ele que novamente riu e saiu do quarto, deixando Antonela empurrando Anna
para o banheiro.
— Nelis, estou mal — Anna abraçou Antonela e deu um beijo no
rosto da amiga, que fez cara feia pelo bafo de bebida.
— Quem mandou beber! — sentou Anna no vaso sanitário e tirou a
meia calça dela, logo depois o vestido, a deixando de lingerie.
— Eu acho que eu quero... — não completou a frase e levantou
cambaleando, puxou a tampa do vaso, caindo de boca lá, literalmente.
Antonela fez uma cara de nojo e começou a passar as mãos pelo cabelo de
Anna. — Eu estou bem... — ela tentava dizer após gorfar. — Não estou não!
— falou rapidamente e voltou a enfiar a cara lá dentro.
Antonela franziu o rosto e colocou a mão na boca, deixando Anna
para sair correndo para a pia.
— Amor, o café... — Christopher entrou no banheiro empurrando a
porta devagar e arregalou os olhos ao ver Anna jogada no chão e Antonela
vomitando na pia. — O que aconteceu? — largou a aspirina e o café em cima
da bancada e saiu correndo para perto de Antonela. — O que aconteceu? —
perguntou desesperado ao vê-la vomitando com força, fazendo com que o
corpo pequeno tremesse.
Era óbvio que Antonela não tinha bebido nada, estava sã e pelo o que
sabia ela não tinha tão estômago fraco assim. Segurou os cabelos dela
enquanto a via lavar o rosto e escovar os dentes, pálida como a neve.
— O que aconteceu amor? — a abraçou contra seu peito preocupado
com a palidez de Antonela.
— Não sei. Meu estômago revirou, acho que foi pela Anna — olhou
para a amiga que estava encostada na parede, dormindo novamente.
— Deita um pouco Antonela.
— Não posso deixar a Anna assim, ela está deplorável — apontou
para a amiga que agora abriu os olhos e começou a cantarolar uma música.
— Eu a coloco debaixo do chuveiro, agora deita um pouco — levou
Antonela até a cama do quarto de Anna e a deitou lá. Voltou ao banheiro e
enfiou a loira debaixo de uma água morna, a deixando sentada debaixo da
água, para logo voltar ao quarto, para ver Antonela.
— Ela vai acabar se afogando lá Chris! — Antonela começou a rir,
ao vê-lo do seu lado.
Ele saiu correndo pelo quarto, totalmente desnorteado. Tirou Anna
debaixo do chuveiro e enrolou uma toalha no corpo dela, a levando de volta
para o quarto ao som de “La Cucaracha” entoado aos berros pela loira.
— Eu vou trocar essa roupa molhada dela — Antonela disse,
levantando da cama lentamente.
— Eu vou lá embaixo pegar um chá para você, é bom para o
estômago — olhou para Antonela que assentiu.
Assim que ele saiu do quarto, Antonela enxugou e trocou Anna, a
enfiando debaixo do edredom. Tomou banho ali mesmo e colocou seu
pijama, sentindo todo seu corpo fraco e suando frio.
— Uma bêbada e uma doente. Era só o que faltava — Christopher
deu um sorriso ao ver Antonela e Anna deitadas na cama. — Melhorou?
— Parece que estão pulando carnaval no meu estômago.
— Quer ir ao médico? Ou eu posso chamar um aqui.
— Não Chris, é só má digestão eu acho. Comi tanto naquele coquetel
que deve ter sido isso, não se preocupa.
— Toma seu chá. — entregou a xícara à Antonela e foi pegar o café
de Anna, acordando a loira e a fazendo sentar e tomar, junto da aspirina.
— Iiih, o que foi Nelis? — Anna viu a amiga ao seu lado, pálida
demais ao tomar um gole do chá e sair correndo para o banheiro com a mão
na boca. — O que ela tem? — olhou Christopher que nem estava mais ali,
tinha seguido Antonela tão rápido que Anna nem percebeu a movimentação.
— Está tudo bem? — perguntou assim que ele saiu com Antonela no colo,
alguns minutos depois.
— Ela está bem fraca, vou ficar com ela no quarto, tudo bem?
Qualquer coisa é só chamar.
— Claro, qualquer coisa me avisa! — nem mesmo conseguiu
terminar sua frase e se jogou na cama, fechando os olhos para assim aliviar o
mundo que girava.
Christopher ficou uma boa parte da madrugada olhando para
Antonela que ressonava tranquilamente ao seu lado, embora o rosto ainda
estivesse pálido. Se entregou ao sono quando já estava perto das quatro da
manhã ao perceber que as bochechas dela estavam mais rosadas e que
provavelmente não acordaria mais naquela madrugada. E conforme o que
tinha imaginado, Antonela passou a noite bem, dormindo seu sono
adolescente de sempre, pesado até demais.
— Minha amiguinha mais linda do mundo, hora de acordar! — Anna
entrou no quarto de Antonela cantarolando e abrindo as cortinas, deixando o
sol irradiar a claridade pelo quarto.
Antonela bufou e olhou para Anna, tampando a claridade com a mão
e franzindo toda o rosto. Sentia sua boca seca e uma inquietação em seu
estômago, diferente de sua amiga que embora tivesse bebido todo o estoque
de champanhe e vinho branco da festa, já estava recuperada, com a pele
radiante e cheia de energia.
— Melhorou?
— Estou melhor, eu acho — Antonela esfregou os olhos. — Cadê o
Christopher?
— Foi trabalhar, deixou um beijo para você e disse que se passar mal
novamente o telefone do médico está em cima do balcão da cozinha. E ah,
falou que volta amanhã! Está indo para Londres, uma reunião com sei lá
quem que não entendi — falou um tanto rápido, exigindo muita atenção da
parte de Antonela.
— Poxa, queria ter me despedido dele.
— Ele tentou te acordar, mas a princesa não se deu ao luxo de abrir
os olhinhos — deu um sorriso e Antonela tacou o travesseiro na cabeça dela.
— E você, está bem?
— Estou, levantei com dor de cabeça, mas o Chris me deu uma
aspirina. Me diga, paguei muito vexame ontem?
— Não, apenas deu trabalho para o Christopher que teve que te dar
banho — começou a rir ao perceber a cara de Anna.
— Antonela Maria! — arregalou os olhos e cobriu o rosto, corado. —
Ai que vergonha, como você deixa isso?
— Você queria o que? Eu estava passando mal e você precisava de
ajuda. E além do mais, ele não viu nada de mais, baranga! — mostrou a
língua para Anna que ainda estava vermelha de vergonha. — Só fico
imaginando se um dia o Álvaro descobrir dessa.
— Nem brinca!
Anna resolveu ficar com Antonela até Christopher voltar no dia
seguinte e como ela não tinha animo nenhum de passear ficaram vendo
filmes e comendo, ainda que na maioria das vezes Antonela capotava antes
mesmo do primeiro beijo dos mocinhos. Christopher ligava regularmente em
intervalos de duas ou três horas e sempre Antonela estava dormindo.
Passava das duas horas da tarde de segunda-feira quando Christopher
chegou no apartamento, todo preocupado com Antonela que dormia
tranquilamente, ao lado de Anna que via uma série adolescente. Podia jurar
que se ficasse ali sentada ao lado de Antonela mais algumas horas criaria
raízes.
— Desisti de tentar que ela coma algo saudável, só quer saber de
doce. Vê se você consegue, ela está muito chata — Anna mostrou a língua
para Antonela que ainda dormia. Christopher sorriu e deu um beijo na testa
da noiva. — Bom, vou ligar para a companhia para reservar minha passagem
— levantou da cama e saiu do quarto, deixando Christopher com Antonela
que não dava sinal algum que acordaria pelas próximas horas.
CAPÍTULO 49
Cada dia que se passava era uma descoberta para Antonela, nunca
sabia quando iria acordar bem, sem enjoo nenhum ou tão mal que não
conseguia sair do banheiro por horas. Sentia-se outra pessoa, completamente
diferente do seu habitual. Apesar de tudo, era uma experiência intensa e rara.
Sempre foi uma pessoa agitada e agora a coisa que mais desejava era chegar
em casa e ficar descansando, sem nem pensar em colocar o pé para fora de
casa.
Com Christopher as coisas estavam bem mornas, discutiam um
pouco, mas cinco minutos depois lá estava ele pedindo desculpas. O motivo
das discussões? Sempre o mesmo. O trabalho de Antonela que muitas vezes a
deixava sem tempo para ele. O que Christopher não sabia era que dali a
alguns meses Antonela teria de se afastar por um bom tempo de sua carreira.
E isso a deixava ainda pior, tinha acabado de fechar o contrato da sua vida
com a Gucci e inclusive desfilaria durante a temporada de inverno da semana
de moda, quando sua barriga com toda certeza já estaria enorme e nem ao
menos podia falar com eles porque sabia que vazaria para a mídia e antes de
mais nada precisava falar com Christopher e contar a verdade, mas
simplesmente não conseguia, porque o clima entre eles estava péssimo.
— Você vem comigo sim — disse Christopher no celular para
Antonela que bufou e sentou no sofá, entediada.
Era quarta-feira à tarde, estava quase escurecendo e Christopher a
obrigava a sair do estúdio fotográfico onde fazia fotos para a capa de uma
revista que pediu uma entrevista com ela, contando sobre sua vida e
obviamente sobre seu relacionamento com Christopher, para ir com ele para a
França, onde seria a próxima corrida. Iriam ficar na casa de Raquel e Nicolas
e de verdade não estava com a mínima vontade de ir.
— Eu vou na próxima, Christopher.
— Você falou isso na corrida da China — a lembrou e Antonela
suspirou, passando as mãos pelo cabelo, tinha tanta coisa para fazer essa
semana e essa viagem inusitada somente atrapalharia tudo.
— Eu sei, mas eu prometo que irei na próxima. Cingapura, não é?
— Você vai comigo para a França sim, estou arrumando suas malas e
espero te ver aqui em uma hora. O voo sairá às sete da noite — disse e então
desligou, deixando Antonela com o rosto fervendo pela raiva. Odiava esse
lado controlador de Christopher, odiava ele pensar que ela vivia em função
dele.
E exatamente uma hora depois lá estava Antonela, ainda com a
maquiagem e o penteado do ensaio fotográfico, chegando ao apartamento
emburrada e vendo suas malas arrumadas na sala. Tomou um banho e
enrolou muito, somente para provocar Christopher, arrumando seu cabelo e o
alisando, como se não faltasse meia hora para embarcarem. Depois de uns
gritos dele resolveu começar a se arrumar, e enfim pegou uma calça jeans e
uma blusa qualquer, junto de um casaco e uma bota. Começou a se maquiar
em frente ao espelho grande do closet e então desviou a atenção para sua
barriga. Era a primeira vez que parava para olhar assim, talvez ainda não
estivesse tão certa de que agora era para valer. Estava grávida. Ainda que isso
nem fosse perceptível a ninguém. Puxou sua blusa e olhou para a barriga
descoberta, parecendo a mesma coisa de sempre, exceto por uma pequena
pontinha que começava a apontar bem embaixo, mas para os outros não
passaria de uma gordurinha qualquer.
— O que você está fazendo?
Christopher perguntou ao entrar no closet e ver Antonela parada
olhando para a barriga em frente ao espelho. Ela deu um pulo para trás,
cobrindo rapidamente o abdômen e tentando disfarçar o susto da melhor
forma que conseguiu.
— Arrumando a blusa — respirou fundo e vestiu o casaco. —
Vamos?
— Vamos.
Antes das dez da noite estavam na França, junto de mais uma
multidão que chegava para a Fórmula 1. Antonela dormia em cima de
Christopher dentro do táxi que os levavam para a casa de Nicolas e Raquel.
— Ella! — Raquel gritou ao ver Antonela pendurada em Christopher,
dormindo literalmente em pé. Antonela despertou com o grito e então se
perguntou se ela não ficava desanimada nunca. — Você está tão diferente! O
que andou fazendo? — perguntou à Antonela enquanto a puxava para dentro
da casa, deixando Christopher e Nicolas tirando as malas do carro, este que
realmente estava com sono.
— Não sei.
— Você parece mesmo diferente. Está mais bonita, seu cabelo está
brilhando — abraçou Antonela e subiu as escadas, mostrando o quarto dela e
de Christopher. — Qualquer coisa é só me chamar — piscou para a amiga
que sorriu e agradeceu, vendo Raquel sair do quarto e logo entrar Christopher
com as malas, agradeceu também a hospitalidade de Nicolas e logo foram
dormir.
Nos treinos Antonela não fez a mínima questão de comparecer, sabia
que seria só um objeto ali, então ficou conhecendo a cidade junto de Anna e
Raquel, que saiu como uma ótima guia turística para as duas. Marselha era
linda, cheia de praias, com direito a noites frescas e gostosas. Conheceram
tantos pontos turísticos que ao final do dia estavam mortas.
No domingo Christopher ganhou, tendo uma pequena vantagem em
relação aos pontos do campeonato sobre Álvaro, o segundo colocado, este
que não pontuou na corrida, depois de colidir com um outro carro, em um
acidente bem feio, mas que felizmente todos saíram ilesos.
— Parabéns amor! — Antonela deu um sorriso para ele assim que
entrou no box, todo suado e descabelado.
— Obrigado Ella — deu um beijo na testa dela e foi para o motor
home, a deixando mais uma vez sozinha em meio de tantas pessoas que nem
ao menos falavam com ela.
Desanimou-se ao ver que nada mais daquilo tinha sentido, não se
sentia feliz por ver Christopher ganhar, era apenas uma coisa normal agora,
não existia mais a ansiedade de conhecer novos lugares, novas pessoas em
meio dessas viagens, tudo passava a perder a cor. Talvez estivesse cansada de
tudo isso que era obrigada a fazer parte, dos sorrisos falsos e das pessoas que
nem a conheciam, mas sentiam-se como suas melhores amigas, achando que
estavam no direito de julgar toda sua vida. Em todo esse tempo
acompanhando Christopher, teve a prova que esse mundo de carros e
velocidade não passava nada mais nada menos do que ambição e rivalidade.
Tudo se resumia a negócios.
— Estou vendo você mandando o Christopher e todo mundo aqui
para aquele lugar— Anna suspirou entediada, ao chegar perto da amiga.
— Tenta ser uma pessoa que você não é, para esses babacas que
somente gostam de você porque é uma propriedade do Bergman — puxou
Anna para fora do box, caminhando pelo paddock enquanto desviavam das
pessoas aceleradas ao lado delas.
— Se acalma, você tem que se lembrar que o Christopher ama tudo
isso aqui.
— Engraçado, eu tenho que apoiar ele em tudo, mas ele não me apoia
em nada. Pelo contrário, só sabe me criticar — disse com raiva e Anna
suspirou, percebendo que ela estava chegando no limite.
— Eu entendo que você quer que ele te apoie, mas um dia ele vai
perceber. Agora não fica nervosa, não faz bem ao bebê — colocou a mão no
ventre de Antonela e sorriu para a amiga.
— Eu só estou cansada de ser uma pessoa que eu não sou, de me
portar como uma mulher gentil e compreensiva com ele. De ser somente uma
marionete que o Christopher coloca a hora que quer em Milão, na França, em
Cingapura, na Índia, sei lá. Anna, isto é ridículo. Ele só pensa nele mesmo,
não liga para mim, nem para ninguém que não seja ele — desabafou,
sentindo sua garganta fechar. Amava Christopher, de verdade. Mas, aquela
situação estava insustentável.
— Antonela, por favor... Para de ficar nervosa. Eu entendo o que
você está sentindo, comigo não é muito diferente. Mas, você o ama e quem
ama é paciente e ele vai perceber que está errado — abraçou Antonela que já
estava se controlando para não começar a chorar no meio de toda aquela
gente.
— Eu só não sei se eu vou aguentar até ele se dar ao luxo de ver que
também precisa ser compreensivo comigo — entrou no motor home sozinha,
pois Anna ficou parada raciocinando o que a amiga quis dizer com aquilo.
De noite foram à festa organizada pela cidade aos pilotos e
escuderias. Então lá estavam Álvaro com Anna, Nicolas com Raquel, junto
de Antonela e Christopher e mais quinhentas pessoas. Antonela de braços
cruzados, ao lado de Christopher em uma mesa gigante, bufava a cada dez
segundos tendo que ouvir aquele papo furado de Christopher com alguns
outros homens presentes na mesa. Algumas mulheres, tentavam inclui-la na
conversa, totalmente sem sucesso já que Antonela se mantinha olhando para
suas próprias unhas.
— Ella, o que você tem? — Raquel perguntou assim que se sentou ao
lado dela. Antonela não era assim, não era triste, não escondia nenhum
sorriso, nem era tão fria como estava sendo nos últimos dias.
— Sono — deu um sorriso de lado, tentando se livrar de mais
perguntas.
— Tem certeza de que você não está com nenhum problema?
— Tenho Raquel. Pode ficar tranquila, está tudo bem comigo — deu
mais um sorriso forçado e então voltou a olhar para suas unhas, deixando
Raquel cada vez mais preocupada.
— Buenas noches! — Anna chegou gritando no ouvido de Antonela
— Ella, eu preciso te mostrar uma coisa — dessa vez falou baixo com a
amiga, atraindo a atenção dela de imediato.
— Vamos ao toalete — levantou da mesa. — Quer vir Raquel?
— Claro!
Caminharam até o banheiro, em silêncio, Anna parecia séria e
Antonela curiosa. Normalmente Anna não era tão discreta, então
provavelmente deveria ser algo sério.
— O que foi? — perguntou à Anna assim que entraram no banheiro,
morrendo de curiosidade. Anna suspirou e abriu sua bolsa, tirando de lá uma
revista — Me dá logo — puxou a revista das mãos dela, vendo que a amiga
estava um pouco receosa de entregar.
Ao olhar para a capa, viu sua própria foto e se surpreendeu com a
rapidez, porque era a revista ao qual fez concedeu a entrevista e as fotos na
quarta-feira. Achava que seria lançada apenas no mês que vem
— O que tem?
— É melhor você ler e ver as fotos que estão dentro, eles te foderam
bonito — disse para a amiga de forma pesarosa e colocou-se ao lado dela.
Raquel como também não estava entendendo nada, resolveu dar uma
espiada na revista. A capa continha em uma letra grande "Antonela Castillo:
De gata borralheira à super Top Model. Os maiores segredos da vida dela e
da Fórmula 1”.
— Anna... — Antonela murmurou, sentindo um nó na garganta.
Aquele título não estava combinado de entrar. Abriu a revista na
exata página que começava a entrevista, ilustrada por uma foto de dela. E
então começou a ler a entrevista que uma jornalista simpática e falante tomou
um dia antes da sessão de fotos. Aquela revista era sua primeira entrevista
falando de sua vida profissional, pessoal e sentimental após tantos meses com
Christopher, pensava que tudo já estava mais calmo e então poderia falar.
— Eu não estou entendendo aonde você quer chegar Anna.
— Por favor, cale a boca e leia Antonela! — quase gritou com a
amiga que resolveu fazer o que Anna sugeria e então começou a ler, ficando
mais branca e gelada a cada pergunta que era feita e respondida por ela.
As perguntas estavam certas, lembrava de cada uma delas, mas as
respostas não batiam muito com o que tinha respondido. As primeiras como,
onde nasceu, como era sua vida antes de Christopher e seu trabalho, estavam
certas, igual ao que tinha respondido. Mas, a partir de Christopher as coisas
começavam a mudar, dizia que odiava qualquer coisa que ligue a Fórmula 1,
inclusive pilotos e escuderias porque os achava ambiciosos demais. Sendo
que tinha falado que apenas nunca gostou de Fórmula 1, por não ser algo que
a agradasse e chamasse sua atenção.
Dizia que os membros presentes na Fórmula 1 apenas pensavam em
si próprios, sem importar o próximo, e consequentemente se tornava um
esporte egoísta e calculista. Lembrava-se muito bem de ter respondido que o
esporte era apenas “Um tanto solitário, pois dentro do carro é somente o
piloto e o carro. Ainda que necessitem de uma equipe, na maioria das vezes é
um esporte solitário.”
Em outra pergunta dizia-se assustada pelo tamanho da arrogância e
grau de mimos dos pilotos que nunca aceitavam perder na competição,
tornando-se assim um bando de homens egoístas e mimados. Essa sim era
totalmente ao contrário de tudo o que tinha falado, tudo bem que chegavam a
ser um pouco mimados e não aceitavam perder, mas eram pessoas
maravilhosas, assim como Nicolas, Fábio e até mesmo Álvaro.
E sobre a viagem de Mônaco, dizia que ficou muito assustada em
como os homens presentes na Fórmula 1 eram descarados e até mesmo mal
educados, pois sofreu momentos constrangedores para sua moral quando
Christopher não estava presente. Além das mulheres serem vulgares até
demais! A única coisa que tinha falado era sobre como ficou surpresa com o
lugar e que pode perceber que a Fórmula 1 é um mundo para homens mesmo,
mulheres não tinham chances ali. E as que estão presentes, eram tratadas mais
como um troféu a ser exibido e que isso deveria mudar, pois existiam
profissionais muito bem qualificadas que trabalhavam lá e mereciam mais
destaque. Nunca tinha sofrido nenhum assédio por um mecânico se quer e
ainda que achasse algumas mulheres vulgares, nunca falaria isso para
revistas. Definitivamente escreveram tantas mentiras ali, que não fazia ideia
do quer fazer, nem como agir.
— Eu não falei nada disso — Antonela colocou a mão na boca
chocada.
Queria matar com suas próprias mãos quem publicou todas aquelas
mentiras, não tinha falado aquilo, nunca iria falar aquilo de pessoas que
sempre a trataram bem.
— Vira a página — Anna falou baixo para Antonela que jogou a
revista em cima da pia.
— Não quero ver, já falaram mentiras demais.
— Olha o que eles fizeram Antonela.
Anna virou a página à força, e então Antonela e Raquel se
aproximaram, vendo algumas fotos de Antonela criança, fotos do início de
sua carreira e até mesmo em um ensaio sensual que fez para uma revista
masculina há alguns anos. Aquela sim foi a gota da água. Eles simplesmente
tinham a colocado pelada em uma revista de moda.
— O que eles fizeram comigo? — colocou a mão no rosto e começou
a chorar.
Definitivamente estava perdida, pela entrevista que logo alguém leria
e se espalharia pelo paddock inteiro e pelas fotos, que sempre quis esquecer
que um dia fez aquilo. E agora estava tudo ali, estampado para todos verem.
— E ainda dizem que é para conhecer a Antonela, isto não se faz com
ninguém! — Raquel disse indignada, acariciando o ombro de sua amiga,
visivelmente abalada.
— Amiga, eu sinto muito — Anna abraçou Antonela que amassava a
revista, logo uma revista que sempre admirou fazer aquilo com ela, era
ridículo.
Olhou pela última vez para as fotos tiradas no estúdio, não tinha
reparado lá como tudo aquilo tinha ficado vulgar e grosseiro O que era para
ser somente um trabalho totalmente artístico, ficou mais pornográfico até
mesmo do que as fotos para a revista masculina.
— Você tem que fazer alguma coisa, aproveita que ainda não saiu às
bancas. Consegui essa cópia porque vi você na capa e então implorei para o
jornaleiro, mas hoje mesmo estará em todas as bancas.
— Eu vou morrer...
— Tem que ter um jeito de ninguém ver isso, você tem que processar
eles por escrever infâmias sobre você.
— Até eu processar eles, já vai ser tarde Raquel, isso já vai sair e
todos irão ler — começou a picar a revista em pedacinhos e então ouviram
uma batida na porta.
— Meninas, vocês estão aí? — Christopher falou alto para as três
ouvirem e Antonela olhou para Anna e Raquel, começando a chorar ainda
mais.
Anna respondeu que já iriam sairiam e tentou salvar a maquiagem de
Antonela, totalmente borrada. Implorou para ela agir normalmente e então
voltaram para a mesa, distribuindo sorrisos para todos que as olhavam.
Na segunda-feira, logo pela manhã, Antonela e Christopher
embarcaram de volta a Milão. Ela estava com os olhos inchados e vermelhos,
dando a desculpa que estava com alergia da maquiagem para Christopher. A
raiva que sentia de quem fez tudo aquilo com ela era enorme, nunca tinha
sentindo tanto ódio dentro dela. Não tinha feito absolutamente nada para
aquelas pessoas, por que fazer isso com ela? Apesar de tudo, sabia a resposta.
Era por dinheiro. Ela daria um belo dinheiro para aquela revista decadente.
No aeroporto puxava Christopher de todas as revistarias presentes ali, receosa
quanto à reação dele à revista.
— Amor, vou ao balcão de informações perguntar se o avião está
pronto, tudo bem? Fica um pouco aqui — ele apontou para uma cadeira ao
lado.
— Vou ao banheiro então — deu um selinho nele e seguiram em
direções opostas.
Antonela foi ao banheiro, fez uma maquiagem rápida em seus olhos,
tentando amenizar aquele inchaço e então voltou com os óculos no rosto, não
obtendo grandes resultados com a maquiagem. Voltou para o lugar onde
Christopher tinha pedido para o esperar, sentou na cadeira e colocou seus
fones de ouvido.
— Antonela.
Escutou a voz de Christopher bem perto e ao olhar para cima, ele
estava parado, de braços cruzados e com uma cara amarrada.
— Já podemos ir? — levantou da cadeira.
— Não antes de você me explicar o que significa isso — mostrou a
revista que ela era capa.
Antonela sentiu a pressão cair de imediato, sentindo as pontas de seus
dedos começaram a formigar. Tantas horas tentando esconder para ele
descobrir em menos de dez minutos.
— Você tem ideia do que estava fazendo?
— Eu posso explicar!
— Eu poderia esperar qualquer coisa de você, menos isso. Você já
posou seminua, fez esse ensaio fotográfico enrolada em um lençol e ainda
falou mal dos meus amigos, as pessoas que eu convivo, meu chefe, Antonela!
Você só pode estar ficando louca — falou um pouco alto com ela, se
controlando para não chamar a atenção naquele aeroporto executivo.
— Eu não fiz isso... Christopher, deixa eu te explicar — tentou pegar
o braço dele, que se afastou com habilidade do toque dela.
— Vamos embora daqui — pegou o carrinho com as malas dos dois e
saiu empurrando, deixando Antonela para trás.
Ela não sabia nem mais o que pensar, apesar de saber que
Christopher não iria acabar com essa discussão assim. Saiu correndo atrás
dele e logo embarcaram, sozinhos no avião dele. Sentou-se em uma poltrona
ao lado dele e viu que ele olhava com um ódio imenso para a capa da revista
que repousava no banco ao lado dele.
— Christopher... — levantou assim que decolaram, caminhou até ele
e abaixou-se. — Me deixa explicar, por favor.
— Eu quero dormir, me deixa em paz — virou de costas para ela, a
deixando completamente isolada.
Pousaram em Milão uma hora e meia depois e Christopher ainda
ignorava completamente Antonela. Ela até que conseguia o entender, mesmo
sem ter feito nada, somente com as mentiras que ele pensava que fosse ela
que tinha falado, o tinha machucado muito, além daquelas fotos, já seria o
bastante para qualquer pessoa ficar brava.
Pegaram o carro que ficou no estacionamento do aeroporto e então
voltaram para casa, mergulhados no maior absoluto silêncio. Antonela não
sabia nem como falar alguma coisa para explicar todas as mentiras publicadas
e sabia que ele não iria dar o braço a torcer e muito menos começar uma
conversa civilizada. O silêncio ainda pairava até que entraram na rua do
prédio, dando de encontro com uma multidão parada bem em frente ao prédio
onde moravam.
— O que é isso? — olhou para Christopher assustado, vendo a
multidão que cercava o prédio e a portaria. Junto deles tinham até mesmo
alguns policiais, tentando, em vão, dispersá-los dali. Em meio a tudo isso era
possível ver milhares de flashes em cima do carro.
— Não dá para entrar na garagem, eles estão tampando tudo — falou
em um tom meio rude, dando meia volta, e então parando do outro lado da
rua, onde estava mais calmo.
Não teve nem tempo de tirar as malas do carro quando a multidão do
outro lado do prédio chegou perto dos dois, os cercando contra o carro. A
gritaria era enlouquecedora e nem Antonela, muito menos Christopher,
faziam ideia do porquê de todas aquelas pessoas ali.
Foi no meio dessa confusa que Antonela viu um homem segurando
sua revista, gritando feito um louco e ao lado dele dezenas de pessoas falando
coisas totalmente sem nexo, algo como fotos, autógrafos ou elogios um tanto
grotescos a ela. Assim que seu olhar pousou na revista que o homem
segurava, Christopher também fez a mesma coisa. Pode ouvir ele bufar ao
seu lado, antes de sair feito um furacão pelo meio das pessoas, empurrando e
derrubando quem não saia de sua frente, batendo contra as câmeras que eram
posicionadas na frente dele.
Antonela arfou, se encostando ainda mais contra o carro, procurando
Christopher em meio das pessoas que se aproximavam cada vez mais dela,
visualizou ele entrando no prédio, ignorando o porteiro que oferecia ajuda.
Começou a empurrar algumas pessoas que estavam em sua frente, mas elas
eram tão pesadas que nem se moviam, então sentiu um homem a puxando
pelo braço, abrindo caminho entre as pessoas, logo viu que era um segurança
e rapidamente estava dentro da portaria, hiper ventilando como nunca e
ouvindo o falatório do porteiro, totalmente desesperado com seu estado,
enquanto a ajudava a entrar no elevador, a levando até o andar de seu
apartamento.
Respirou fundo ao ver a porta do apartamento aberta, agradeceu ao
porteiro que avisou que qualquer coisa era somente avisar e então desceu. A
situação que já estava complicada agora era o triplo do problema. Entrou em
passos lentos no apartamento, vendo somente a luz da sala acessa e lá estava
Christopher sentado no sofá de cabeça baixa, com as mãos na testa, tampando
seu rosto.
— Eu sinto muito por isso — falou baixo e sentou-se na mesa de
centro, ficando de frente para ele. Colocou a mão no braço dele e ficou o
esperando começar a falar, berrar, espernear. Assim era Christopher.
— Eu sabia que iria acontecer isso, eu sabia — disse ele de uma
forma assustadoramente calma e não se moveu nem um milímetro se quer.
— Eu não fazia ideia de que eles iriam fazer isso comigo, escrever
aquelas coisas e que hoje estariam um bando de loucos aqui embaixo.
— Em toda a minha vida... — levantou a cabeça e olhou para
Antonela, mostrando seu rosto vermelho. — A coisa que eu mais zelei foi
minha descrição, minha vida pessoal, minha proteção. E também das pessoas
que eu convivo. E você, acabou de jogar tudo isso no ralo. Tem ideia do que
vai acontecer amanhã? Além de ter você em todas as revistas, em todas as
más bocas, cheia de fotos de você pelada, eu ainda vou ter que aguentar os
outros falando de mim. Por sua culpa!
— Olha aqui Christopher, eu estou me desculpando por tudo o que eu
estou te fazendo passar, eu sei que você é super reservado, mas eu não sou.
— Então você gosta de toda aquela confusão? Gosta de homens te
chamando de gostosa? Gosta de falar mal do trabalho do seu noivo e
principalmente, do seu noivo? Te agrada a ideia de sair pelada em fotos? —
levantou do sofá já falando alto com Antonela, que apenas ficou olhando para
ele, assustada.
— Olha lá o que você fala para mim, Christopher!
— Estou apenas falando a verdade — gritou. — Eu pensava que você
fosse uma mulher madura, centrada, compreensiva, fosse tudo o que sonhei,
mas com tudo isso eu vejo que não é!
— Não sou mesmo e você devia ter visto isto desde que me
conheceu. Sabe o que você queria como sua mulher? Uma marionete! Para
você fazer o que quiser com ela, a hora que quiser, como bem entender. Mas,
eu não sou assim, eu penso, eu falo, eu faço o que quiser. Você não manda
em mim. E se eu saio ou não pelada em revistas, se eu falo ou não mal de
seus amiguinhos e de você, o problema é meu — levantou da mesa e foi para
sua frente, gritando ainda mais alto que ele.
— O problema é que você não entende que se você gosta dos
holofotes em cima de você, devia aprender a respeitar que eu não gosto. Você
nunca vai saber o que é ter uma pessoa ao seu lado que todos já a viram
pelada, você nunca vai entender por que vive nesse seu mundinho que isso é
sempre normal. Para você é normal tirar a roupa e ficar fazendo caras e
bocas.
— Seja lá o que você está querendo insinuar, eu digo e repito, não me
arrependo de nada que eu fiz. Se eu sai pelada em revistas, o problema é meu,
você me quis assim, tem que me aceitar assim. E se não sabe essas fotos são
de muitos anos atrás, porque Christopher, eu nunca tive um papai para me
ajudar a construir minha vida — olhou para ele que prestava atenção em cada
palavra que saia de sua boca. — E se quer saber, eu posso não ter falado tudo
aquilo que saiu na revista, mas cada palavra ali eu pensei. E é isso mesmo
que eu penso de você e de todos que você convive. Vocês só pensam em
dinheiro, carrinhos idiotas e em detonar as outras pessoas, e se você gosta
disso, eu não. E eu cansei de ser a sua marionete, que você exibe a todos e a
coloca em qualquer lugar quando não pode ficar junto. Agora eu sei muito
bem o que a Betina sentia, e de verdade, não quero ser igual a ela nem fazer
as coisas que ela fez com você — berrou suas últimas palavras e deu as
costas para ele, indo em direção à escada.
No segundo andar, ouviu um barulho estrondoso na parede, virou
para Christopher e o viu olhando para a parede, cheia de cacos de vidros de
um vaso caríssimo que ficava em cima da mesa de centro, junto de algumas
flores. Subiu correndo a escada ouvindo outros barulhos vindos do primeiro
andar. Apesar de toda aquela briga, finalmente tinha falado tudo o que
pensava daquele mundo que ele fazia parte, odiava tudo aquilo.
Entrou no quarto já não contendo as lágrimas, correu para o banheiro
e então ligou a banheira, arrancou o vestido que estava e olhou-se no espelho,
estava com a maquiagem completamente borrada e não conseguia parar de
chorar. Pegou um perfume e o jogou no chão, tentando, em vão, amenizar sua
raiva. Ouviu mais um estrondo vindo de lá de baixo e deduziu que
Christopher estava destruindo a sala inteira. Ótimo. Pegou outro perfume e o
jogou de encontro ao espelho, observando-o ambos se espatifarem.
E então, pela primeira vez desde aquele dia, lembrou-se do bebê,
assim que sentiu uma pontada de leve em seu baixo ventre, algo mais simples
que uma cólica, como se dissesse que ele estava ali com ela. Olhou para a
banheira e já estava cheia e então entrou, sentindo a água quente queimando
sua pele, assim se sentia muito melhor. Só queria algo que a acalmasse.
Mais uma vez a pequena cólica atingiu o ventre de Antonela, esta que
olhou preocupada para sua própria barriga coberta de água e que a água tinha
uma pequena mancha vermelha, misturando-se com a água cristalina da
banheira. Levou a mão até sua intimidade e pode ver com sua própria mão o
sangue escorrendo por seus dedos.
Sabia que alguma errada estava acontecendo, mas não conseguia lutar
contra isso, seu corpo estava pesado demais, assim como seus olhos e uma
escuridão agradável a chamava para fechar os olhos e relaxar. Sem pensar
mais duas vezes se entregou à escuridão, afundando na água cristalina agora
tingida de vermelho.
CAPÍTULO 52
Estou grávida.
— Até que enfim, suas irmãs já estão aí, só faltava você menina —
Emma puxou Antonela pelo braço, assim que ela entrou em sua frente.
— Calma mãe, estou aqui.
— Sejam bem vindos Anna e Álvaro. Obrigada pela presença —
Emma abraçou os dois que sorriram e agradeceram, logo depois falaram com
Robert e entraram para o restaurante. — Antonela? — chamou a filha que
estava parada ao lado dela e de Robert.
— Oi. — olhou para a mãe com o dedo na boca, comendo unha.
— Você não vai entrar?
— Não. Está bom aqui. Uma bela noite! Vou receber os convidados
com vocês.
— Menininha, menininha... — Robert balançou a cabeça
negativamente, achando graça no comportamento dela.
— Suas irmãs querem te ver, Antonela. Vai. — apontou para a
entrada do restaurante e Antonela fez uma carinha de dor. — E não me olha
com essa cara. E nada, nada de provocar a Alexandra. Você me entendeu?
— Alexandra já chegou? — agarrou-se em Robert que começou a
gargalhar.
— Não só ela, menininha. — piscou para Antonela que se agarrou
mais nele.
— Antonela para de graça — Emma puxou Antonela e quase jogou
ela dentro do restaurante.
— Ok, mãe, ok. — revirou os olhos e arrumou a roupa, e então
entrou de vez no restaurante observando algumas pessoas sentadas na mesa.
Nem teve tempo de olhar para todas as mesas quando foi praticamente
engolida por dois furacões.
— Antonela! — berrou Bianca, atraindo a atenção de várias pessoas.
— Maria! — Claudia, assim como a irmã, berrou e ambas abraçaram
Antonela, fazendo quase metade das pessoas olharem para as três.
— Tudo bem? Que saudades! — Bianca se agarrava nela, vendo o
quão magra sua irmã estava. — Como você está? Você não me contou quase
nada pelo telefone, Antonela. Estou muito preocupada com você.
— Então você bateu mesmo na velha? — Claudia sussurrou e
Antonela suspirou. — Ela está aí, você sabe né? O Christopher está tão para
baixo coitado. A cobra então...
— Por favor, parem de falar disso. Eu também amo vocês, agora
chega. Cadê meus sobrinhos?
— No parquinho, lá fora — Bianca apontou para uma porta de vidro
no fundo do restaurante.
— Vou lá. Já volto e falo para vocês, curiosas. — apertou as
bochechas das duas e saiu correndo pelo meio das mesas.
Viu no fundo do restaurante em uma mesa grande, Carlo e Alexandra
sentados conversando com Álvaro. Engoliu em seco e fingiu não ver
Alexandra olhando para ela. Abriu a porta de vidro e observou o jardim
iluminado e com alguns brinquedos. Ouviu os gritos de Isabella, Gabriela e
Miguel e foi correndo até eles, vendo que eles corriam um atrás do outro.
— Tita! — Bella parou de correr atrás dos primos e foi correndo até
Antonela, se jogando no colo dela.
— Tudo bem com você? — beijou a bochecha gordinha da menina.
— Aham — ficou brincando com os cabelos de Antonela, enquanto a
tia falava com Gabriela e Miguel. — Você não vai falar com o tito, tita?
— Tito? — perguntou, franzindo a testa.
— Ali — a menina apontou para trás de Antonela, que virou e viu
Christopher e Anna sentados no banco e olhando para ela. Engoliu em seco e
deu um sorrisinho para Isabella. Anna fez um gesto com a mão e Antonela a
fuzilou com os olhos. — Vai falar com o tito — desceu do colo de Antonela e
foi a empurrando pela perna. Assim que Antonela estava de frente com
Christopher, Isabella subiu no colo dele.
— Oi — ela deu um sorriso completamente sem graça e Anna caiu na
gargalhada.
Christopher não fez a mínima questão de levantar do banco, apenas
olhou para Antonela e começou a brincar com Bella.
— Oi Antonela — ele disse bem sério e Antonela arregalou os olhos
e quase saiu correndo de lá, ele nunca tinha falado daquela forma com ela.
— Antonela você está ficando roxa, respira amiga — Anna abanou
Antonela que lhe deu um tapa no braço, ficando mais vermelha ainda. —
Hey, não se pode bater em mulher grávida!
— Bella vai poder brincar com o bebê da tita Anna? — Bella perguntou, com
o dedo na boca.
— Lógico que vai, princesa — tirou Isabella do colo de Christopher e
foi saindo de mansinho de perto de Antonela e Christopher. Eles que se
resolvessem sozinhos!
— Tudo bem? — Christopher perguntou a ela que sentou no banco e
então ficaram os dois sentados um ao lado do outro, olhando para frente.
— Tudo, fora os ataques de minhas irmãs, ataques da Anna, ataques
em geral — suspirou e viu um sorriso pequeno sorrir no rosto dele.
Nem se quisesse realmente, conseguiria ficar a tratando mal. Sua
raiva tinha sido controlada com muitas doses de terapia, viagens e exercícios
físicos, até se dar conta que não era porque ele preferiu sofrer por ela e tentar
recuperar o namoro, que ela não tinha o direito de tentar seguir com sua vida.
Durante os meses que ficaram juntos, ele não tinha a noção de como seu
comportamento abusivo tinha a machucado. Ele simplesmente queria que ela
fosse uma pessoa que não era, até se dar conta de que tudo que mais gostava
de Antonela, estava naquilo que ele mais implicava, como o amor pelo
trabalho que ela tinha, a independência e a autonomia que ela adorava ter.
— Você está muito bonita — ele sorriu um tanto envergonhado,
embora fosse nítido o quanto Antonela estava abatida e visivelmente mais
magra. Antonela também sorriu, achando uma graça as bochechas vermelhas
dele.
— Obrigada. Você também está muito bonito — elogiou, reparando
que a pele dele estava bronzeada. — Eu tentei te ligar várias vezes... — falou
baixinho e viu Christopher assentir, de cabeça baixa.
— Antonela! — Camila chegou correndo e se jogou em cima de
Antonela e Christopher. A morena respirou fundo, sabendo que o clima e a
conversa com ele tinham terminado. — Tudo bem?
— Tudo ótimo, Cami.
— Atrapalhei alguma coisa? — a garota deu um sorriso tímido e
Christopher a fuzilou com o olhar. — Bom, deixa eu ir e...
— Não, pode ficar, eu tenho que entrar — Antonela levantou do
banco, arrumando um pouco o vestido. — Você está linda Camis — deu um
sorriso e logo depois entrou no restaurante.
— Deseja enforcamento ou um tiro? — Christopher olhou para a menina com
um sorriso exagerado nos lábios.
— Eu, hein — saiu correndo do irmão que começou a rir e foi atrás
dela.
Antonela sentou à mesa junto de suas irmãs na mesa da família.
Ainda que Anna ficasse balançando os braços toda hora da mesa dos pilotos.
Mas não foi, não pertencia mais a aquela parte e ainda mais que teria de
aguentar Alexandra.
Antonela não poderia estar mais feliz por ver sua mãe tão feliz, como há
muito tempo não a via. Era bom saber que pelo menos ela e Christopher
serviram para alguma coisa. Juntar Emma e Robert.
O jantar foi servido logo após um pequeno discurso dos noivos.
Robert pediu a mão de Emma para Antonela, Bianca e Claudia, o que
provocou gargalhadas de todos os convidados. Após Antonela ameaçar
Robert um pouquinho caso não fizesse sua mãe feliz, enfim ficaram noivos
literalmente.
Antonela comeu rapidamente e voltou para o jardim onde estava no
começo da festa, sentou do banco e ficou olhando para o céu, se lembrando
de seu pai, sabia que o que ele mais queria era ver Emma feliz e sabia que ele
estava feliz por ela nessa nova fase da vida.
— Um doce por seus pensamentos
Christopher se sentou ao lado dela, fazendo Antonela dar quase um
pulo pelo modo silencioso como chegou. Olhou para Christopher e ele
segurava dois pratos com um petit gateau bastante tentador.
— Estava pensando em meu pai — deu um sorriso tristonho e pegou
o prato das mãos dele. — Hm, isso aqui está bom mesmo! — disse ao enfiar
um pedaço generoso do doce na boca.
— Um tanto difícil qualquer coisa doce não estar bom para você —
comentou e os dois riram e ele começou a comer o doce. — Tem razão, está
uma delícia.
— Isso pode na sua dieta?
— Não, mas é gostoso. Além do mais, até coca cola já entrou na
minha dieta.
— Isso sim eu não esperava.
— Por que está pensando em seu pai? — perguntou a ela, a vendo
olhar para o céu e abrir um pequeno sorriso.
— Meu pai sempre pediu para que minha mãe fosse feliz e hoje ela
está feliz. E eu sei, eu sinto que seja lá onde ele estiver, está feliz por ela.
— Ele está feliz por sua mãe e muito orgulhoso de você, pode ter
certeza.
— Orgulhoso de mim? — balançou a cabeça negativamente enquanto
mirava o chão. — Muito difícil.
— Lógico que está. Você é uma pessoa maravilhosa, direita e lutou
por tudo o que você sempre sonhou. Você é uma filha que todos os pais
sempre quiserem ter Antonela, sério.
— Nunca consegui tudo que eu sempre quis... — deixou o prato de
lado e abaixou um pouco a cabeça. Christopher ficou calado por alguns
segundos e tomou de uma vez coragem para pegar Antonela pelo braço.
— Posso? — perguntou a ela contornando os braços em torno do
corpo de Antonela. Ela deu um sorriso fraco e encostou a cabeça em seu
peitoral. Ambos sorriram, e naquele momento, sentiram que estavam de volta
em casa. — Por que está chorando? — perguntou a ela enquanto mexia em
algumas mechas marrom do cabelo de Antonela.
Ambos não podiam descrever o que estavam sentindo naquele
momento, era como se tudo voltasse ao seu devido lugar, ao seu próprio
alinhamento.
— Porque eu sou uma idiota — fungou. — Me desculpa
Christopher... — virou o rosto para frente dele e segurou o rosto dele, o
obrigando a olhá-la. — Me desculpa por fazer toda essa palhaçada, por te
fazer sofrer, por ser tão egoísta, por desistir tão fácil. Eu errei demais com
você, mas eu peço, por favor, que me perdoe... Eu não sei viver sem você
Christopher. Durante esse mês eu passei os piores dias da minha vida e eu
tentei, tentei muito, mas eu não consigo — ela falava rapidamente e ele
apenas se limitou a acariciar o ombro dela com o polegar, embora estivesse
vibrando por dentro por saber que ela estava se rendendo aos dois novamente.
— Eu amo você e você sabe que eu vou te esperar por quantos dias
você queira. Porque eu quero você para mim, mas totalmente sã do que quer.
Porque quando tudo voltar ao normal, não vai mais ser aquele namoro
noivado maluco que vivíamos. Vai ser casamento Antonela, vai ser para
construir família. Vai ser sério e para sempre. — segurou o rosto dela,
afastando a franja dos olhos dela.
Antonela sorriu e não contendo os soluços que escapavam de sua
garganta, abraçou Christopher do melhor jeito que pode, da maneira como
quis há vários dias. De um modo que poderia senti-lo, podia estar ainda mais
junto dele.
— Posso falar com vocês dois? Ou melhor, com você Antonela?
Alexandra se aproximou dos dois que continuavam abraçado, quase
em passos de gato. Antonela deu um pulo de perto de Christopher,
reconhecendo muito bem aquela voz. Os dois levantaram ao mesmo tempo e
encararam a senhora.
— Sabia que vocês iriam estar aqui, preciso muito falar com os dois.
— Não tenho nada para falar com você Alexandra — desvencilhou-
se dos braços de Christopher e ia saindo quando ele a puxou novamente.
— Ouça ela, Antonela — Christopher falou seriamente. — Tenho
certeza de que ela repensou muito sobre algumas questões.
— Exatamente, não seria tão suicida a ponto de discutir com você
novamente. Fiz um procedimento semana passada — acariciou a maçã do
rosto, vendo que seu público não tinha curtido muito sua piada. — Pelo amor
que nós duas sentimos por ele — olhou profundamente para Antonela, esta
que se limitou a suspirar.
— Tudo bem.
— Estou lá dentro — ele quase saiu correndo de perto das duas.
Sabia que Alexandra iria pensar trezentas vezes antes de falar alguma ofensa
à Antonela, depois de todo aquele tempo que tinha ficado sem falar com a
mãe, tinha certeza de que ela tinha aprendido a lição.
— Quero pedir que me ouça Antonela, depois fale alguma coisa —
Alexandra se sentou no banco e apontou para o espaço vago.
— Tudo bem — se policiou para não revirar os olhos na frente dela,
por mais vontade que sentisse de fazer aquilo naquele momento.
— Desde que o Christopher nasceu, aquele menino é a luz da minha
vida, claro, filho mais velho, menino e ainda todo o ser humano que ele é,
que você conhece muito bem. Que mãe não gostaria de ver seu filho sendo
um cavalheiro? Um homem de princípios, inteligente, instruído e bonito. Mas
esse amor, acho que passou dos limites. Eu não percebi, ou melhor, não
queria perceber que não tinha mais meu menino nos meus braços, ele já era
um homem. Um homem como eu sempre sonhei como meu filho, o homem
que todas as mães gostariam de ter como filho. Você também sabe desse
gosto doentio dele por corridas e eu nunca gostei, nunca me dei bem com a
ideia de perder meu filho por alguma bobagem, um mísero erro. Mas apoiei,
tive que apoiar... — suspirou e deu um sorriso. Antonela percebeu que ela
falava praticamente com ela mesma, mais um desabafo do que qualquer outra
coisa.
— A Betina sempre foi a mulher que eu sonhei para meu filho, nunca
escondi isso de ninguém, linda, de uma família excelente, educada,
inteligente... — olhou para Antonela após a gargalhada estrondosa que a
garota soltou. — Ainda que ela tenha feito mal ao meu filho, eu não pude ver
isto, vi apenas a embalagem, não me importei com os sentimentos do meu
filho, não me importei que ele sofria, que precisava de carinho, apenas me
empenhava em fazer os dois voltaram. E nada dava certo — soltou um riso
amargo e ficou em silêncio por quase um minuto, Antonela a acompanhou,
sem saber o que falar. — Até que você apareceu na vida dele. Tudo ao
contrário que eu sonhei um dia para meu filho e não me conformava com
todo esse amor, o carinho e o respeito que tinham um pelo outro em tão
pouco tempo juntos. Eu vi que estava perdendo meu filho.
— Alexandra, eu sei tudo o que você vai falar, não precisa continuar
— a interrompeu, sabendo que dali em diante ela iria começar a ofender e
sinceramente, não precisava de mais ninguém a colocando para baixo.
— Por favor, Antonela — olhou para ela que suspirou e se encostou
ao banco. — Você foi mãe, ainda que por tão pouco tempo. Obviamente
sentiu todo esse amor louco que nos invade. Agora imagina você ver todo
esse amor sendo totalmente ignorado por causa de uma menina que surgiu do
nada, tão nova como você — olhou para Antonela que estava com os olhos
arregalados. Desde quando Alexandra citava a gravidez dela sem a ofender?
— Agora imagina esse amor ser rejeitado por um próprio filho seu... Dói,
não? — deu mais um sorriso amargo. — Durante toda minha vida eu errei
muito, sempre quis o melhor, não só para mim como para minha família, e só
hoje eu percebo que a única coisa que Camila e Christopher queriam não era
dinheiro, não era brinquedos nem carros de corrida... Era amor. Era amor de
mãe. — ficou calada um tempo e limpou os olhos, já borrados de maquiagem
pelo choro. Não era somente ela que estava chorando, Antonela fungava,
limpando o rosto com a manga do vestido. — E você, mesmo sendo a modelo
fora dos padrões e deslumbrada até com uma viagem à Cancún, deu todo o
amor que não só o Christopher precisava, não só para ele, como para a
Camila também. Eu não sei nem imaginar o quanto os dois te amam —
percebeu que a garota sorria e chorando ao mesmo tempo, ao seu lado. — E
somente quando damos de cara com a realidade, como o Christopher fez
comigo logo após que vocês terminaram, que eu fui ver que eles te amavam
como você era, assim como você amava os dois como eles eram, você os
enxerga, Antonela. E eu nunca consegui fazer isso. Eles nunca ligaram se
você era pobre, se não sabia como se comportar na mesa, se era diferente das
outras modelos. Eles perceberem que a única coisa que você queria era dar e
receber amor. Somente eu que pensava totalmente ao contrário. A ganância
cega muito as pessoas, você deve aprender isso.
— Por favor... — pediu baixo, não conseguindo mais conter o choro.
Queria ir embora dali, o mais rápido possível.
— Você e o Christopher abriram os meus olhos, do modo mais duro
possível, mas foi necessário. O que eu fiz para você eu sei que não tem
perdão, não tem explicações, nem nada. Mas, eu quero que você saiba que
você foi a melhor coisa que aconteceu na vida de minha família e não foi só
por ensinar meu filho a amar de verdade e a minha filha a usar um vestido,
foi muito mais que isso e você sabe. E eu tenho que te agradecer por tudo
Antonela, por mais que ainda seja essa baixinha petulante, você fez com a
minha família tudo o que eu deveria ter feito. Eu retiro tudo o que eu disse a
seu respeito, estava muito enganada e ainda mais o que disse sobre aquela
criança que você carregava. Ficou muito claro para mim que mesmo que o
Christopher não soubesse, o bebê levou metade dele e você levou a outra
quando foram embora. Meu filho não é feliz, é praticamente um legume
dentro daquele apartamento. E é por isso que eu estou aqui Antonela —
pegou na mão dela, que a encarou seriamente. — Devolva a vida do meu
filho, sejam felizes... Construam uma família e por favor, o faça feliz. É um
pedido de uma mãe para outra mãe — soltou a mão de Antonela que ficou
parada por alguns segundos absorvendo tanta informação para sua cabeça.
Em menos de dez minutos sentia do ódio profundo a uma afeição por
Alexandra que nunca se imaginou tendo. Desde o princípio sempre soube que
era tudo ciúmes, mas não pensava que fosse tão doentio assim.
— Eu posso fazer tudo o que você me falou, mas eu não consigo te
perdoar — deu de ombros e limpou debaixo dos olhos, vendo Alexandra
apenas assentir.
— Não estou pedindo isso Antonela. Apenas abri meu coração para
você. E além do mais, acho que sob hipótese algumas poderíamos ter alguma
relação sogra e nora boa, mas acho que pelo menos o respeito vem com o
tempo — levantou do banco e Antonela continuou sentada. — Faça meu filho
feliz, é só isso que me importa. — olhou para Antonela com um sorriso
contido e deu as costas para ela, entrando para o restaurante.
Para Antonela a noite acabou ali mesmo. Precisava pensar sozinha.
Longe de Christopher, longe de gritos, longe de noivados, longe de todos.
Saiu pelos fundos do restaurante evitando encontrar alguém e então foi de
táxi até sua casa, que iria ficar vazia por mais um bom tempo, até terminar o
jantar.
Ao dar de encontro com seu travesseiro fofo, chorou até não aguentar
mais. Nem ela sabia o que estava acontecendo, o porquê de estar assim. Céus,
por que tinha que ser tão confusa? Queria muito voltar com Christopher, mas
morria de medo de voltar a acontecer tudo o que havia ocorrido. Estaria
insistindo no mesmo erro?
Não queria sofrer tudo de novo, nem o fazer sofrer ainda mais. Sabia
que se voltassem, assim como ele disse, seria sério, era casamento de
verdade. Alexandra conseguiria se controlar e não se meter mais na vida dos
dois? Ele iria respeitar suas escolhas? Os dois encontrariam algum equilíbrio?
Apertou a cabeça com as mãos, tentando se livrar daqueles
pensamentos. Não obteve muito sucesso. Então ligou o fone até o volume
mais suportável para seus ouvidos e tentando pensar em outra coisa, acabou
dormindo.
CAPÍTULO 59
Poderia ser um dia como qualquer outro do ano, um dia em que o sol
estava no alto do céu azul e límpido trazendo a alegria das pessoas. Poderia
ser um dia em que estaria em casa com Christopher ou na Itália para acertar
os últimos detalhes do começo da temporada. Poderia ser um dia qualquer, se
não fosse o seu casamento com Christopher.
Após tantas reviravoltas na vida de ambos, tantas coisas ruins e boas,
enfim estavam a poucas horas de selar todo o amor que sentiam um pelo
outro na frente de um altar. Também poderia ser um casamento qualquer, se
não fosse o casamento de Christopher Bergman e Antonela Castillo, que logo
mais seria a mais nova Sra. Bergman. A história dos contos de fadas, estava
se tornando realidade. A confirmação de que nada tem de ser perfeito.
Mundos diferentes podem ser interligados e conviver bem com as diferenças,
ainda que o percurso possa ser árduo.
Um piloto de carros de corrida não é necessariamente um homem frio
e egoísta. Uma modelo não é somente um manequim frívolo e fútil que só
pensa em si própria e na roupa que irá vestir pela manhã. Eram a prova real
disso. A prova que seja lá qual for o seu mundo, sempre é possível evoluir,
aprender com as diferenças e se dar a chance de conhecer pessoas novas e se
encantar com o desconhecido.
Antonela respirou fundo e fechou os olhos, sentindo o cabeleireiro
atrás dela fazendo o penteado. Tentou se lembrar da última vez que pode
parar por um dia para relaxar como estava fazendo hoje. Nos últimos três
meses, não parava mais em casa e carregava Anna para todos os lugares que
ia. Nunca pensou ter que viajar tanto para achar um vestido de noiva e após
muito procurar acabou escolhendo participar da criação do vestido de seus
sonhos com a Dior.
Fora todos os outros preparativos que tomaram todos os seus dias. Se
não fosse Anna, Camila e Raquel estaria muito encrencada. O que importava
mesmo era que tudo estava certo, a igreja, o salão do hotel onde seria a
recepção dos convidados, a lua de mel nas Ilhas Maldivas. O que tinha que
fazer hoje era descansar e aproveitar o seu dia.
Foi colocar o vestido de noiva quando passava das oito e dez da
noite, sendo que o casamento foi marcado para as oito. Esperava que
ninguém se importasse com seu pequeno atraso.
E assim que seus olhos encontraram seu reflexo no grande espelho, ela
colocou a mão na boca, não acreditando no que estava vendo. O vestido era
do jeito que sempre sonhou, com o corpete todo em renda, que deixavam seus
ombros delicados e femininos, as costas tinha um decote em formato V e a
saia era em tule, combinando com a cauda longa e que harmonizava
perfeitamente com o véu em tule francês branco que usava.
E o mais incrível de tudo é que pela primeira vez em sua vida, sentia
que aquele era a coisa mais certa que estava fazendo. Ser a Sra. Bergman era
tão certo para ela, como respirar.
Seus pensamentos vagaram para a noite anterior e todo o desespero
que passou ao saber que Peter e Plínio, o amigo de infância de Christopher, o
que aparecia sempre com três modelos a tira colo, prepararam uma despedida
de solteiro para Christopher no clube mais badalado do México.
Tinha dormido na nova casa de sua mãe, checando as últimas coisas
que faltavam e escrevendo os cartões que seriam enviados aos convidados,
logo após o casamento, agradecendo a presença, mas seu pensamento não
saia de Christopher e do que ele poderia estar fazendo. Na última semana
tinham se visto duas vezes, pois ela não parava e ele estava sempre ocupado.
Eram tantos compromissos, tanta loucura, que eles nunca conseguiam se
encontrar, quem dirá ficar juntos. A última vez que se viram realmente foi
antes do chá de cozinha dela, cinco dias antes do casamento. Ele passou por
lá mais para se certificar que Anna não tinha contratado Gogo Boys para uma
despedida de solteira, do que para ver realmente como estava tudo. Ao olhar
para Antonela, completamente pintada e com um véu na cabeça, se certificou
que estava tudo na mais perfeita ordem. Apenas para saber no dia seguinte,
que Anna e as irmãs de Antonela, obviamente encheram a casa com strippers,
assim que todas as senhoras foram embora.
E agora, ele estava na despedida de solteiro dele e Antonela queria
esganar todos aqueles homens com suas próprias mãos. Ao errar o sexto
cartão, resolveu parar e ir dormir. Subiu para seu quarto e encarou o vestido
de noiva na capa e respirou fundo. Amanhã seria o grande dia.
E o seu noivo ainda continuava desaparecido!
A campainha tocou e ela sabia que sua mãe e sua avó estavam no
hotel onde seria a recepção com a organizadora de casamentos e Robert
obviamente estava na despedida. Bufou e desceu a escada, abrindo a porta
com seu pijama de flanela rosa e uma cara mal humorada. Ao erguer os
olhos, encontrou Christopher sorrindo maliciosamente, encostado no batente
da porta. Cruzou os braços no mesmo momento e se encostou também no
batente.
— As strippers eram bonitas? — Antonela arqueou a sobrancelha. —
Por um momento quis cancelar esse casamento, ouviu Bergman?
— Não vai cancelar nada — ele continuou com aquele sorriso torto
dele que deixava Antonela um tanto quanto desestabilizada. — E acho que
meus amigos gostaram muito mais delas do que eu. Conheço uma pessoa
bem melhor...
— Ah, é mesmo? — continuou com os braços cruzados, impedindo a
entrada dele na nova casa de sua mãe, após o casamento. — E o que veio
fazer aqui?
— Aproveitar minha despedida de solteiro com a única mulher que
eu quero. Solteiro, noivo, casado, daqui há cinco, vinte ou cinquenta anos —
sorriu ao ver que Antonela começou a rir, com os olhos cheios de lágrimas.
Ele a segurou pela cintura, batendo a porta atrás deles. — Posso dormir aqui?
— Tínhamos um combinado, Chris — resmungou enquanto ele lhe
beijava de um modo que seu fôlego não existia mais.
— Não tem problema nenhum. Garanto que amanhã vai ser bem
melhor do que hoje.
Antonela bateu a porta do seu quarto com o pé e ficou no chão
olhando para ele, que também a olhava com aqueles olhos lindos, os braços
musculosos e o sorriso que ela mais amava. Ah, com toda certeza do mundo
amanhã seria bem melhor...
— Antonela? Antonela? — a organizadora gritava para Antonela que
estava com um sorriso estranho, parecendo longe.
Ela se ligou novamente e viu seu reflexo no espelho, esperando a
hora que Christopher lhe visse daquele jeito. E então virou para trás,
encontrando os olhos lacrimosos de sua mãe.
— Ella... — Emma colocou a mão na boca, emocionada ao ver sua
filha.
Antonela desde que começou a se preparar para o casamento disse
que queria algo para completar seu conto de fadas, nada mais justo que um
casamento de princesa para ela. E com aquele vestido e a beleza que
Antonela tinha, estava verdadeiramente uma princesa.
— Eu vou chorar — Anna começou a abanar o rosto querendo se
livrar da vontade de chorar.
— Como estou? — Antonela colocou as mãos na cintura, assim que
se aproximou das duas.
— Uma princesa — Emma limpou os cantos dos olhos e abraçou
Antonela. — Eu te desejo toda a boa sorte do mundo, porque você merece!
— Mãe, isso não é uma despedida — deu um sorriso, emocionada.
Estava bem claro para ela, não podia chorar, não queria chorar! Mas, era tudo
mais forte que ela.
— É sim Antonela. Minha filha cresceu, está prestes a se casar. É
uma despedida, mas não no mal sentindo, muito pelo contrário. Seu pai
estaria tão orgulhoso de você.
— Eu te amo — abraçou Emma e limpou uma lagrima que escapou
de seus olhos.
— Eu já te disse que você é a melhor filha que alguém pode ter, mas
meu amor, você é muito mais que isso. Você sabe.
— Obrigada, mãe — deu um sorriso enorme e a abraçou mais uma
vez. — Obrigada por tudo que você fez por mim.
— Você é a coisa mais importante de minha vida Antonela. Não há o
que agradecer. — suspirou e limpou o rosto. — Bom, agora chega de
despedidas! Vamos que você já está atrasada. Vou falar com o motorista que
você está pronta — acariciou o rosto de Antonela e foi para fora da suíte.
Antonela virou para Anna que estava ao seu lado com os olhos azuis
rasos de água e as mãos em cima da barriga redondinha, de cinco meses. Há
dois dias tinha descoberto que esperava uma menininha, assim como sempre
quis.
— Minha amiga... — Antonela abraçou Anna forte e ambas não
puderam conter o choro preso na garganta.
— Obrigada por ser a melhor amiga do mundo — segurou o rosto de
Antonela limpando as lágrimas da amiga. Bendita seja a maquiagem a prova
da água!
— Eu que tenho que agradecer, sempre esteve comigo, não
importando o momento. Você é muito mais que uma amiga ou uma irmã,
você é meu anjo da guarda — segurou a mão da loira e com sua outra mão
tocou a barriga dela.
— Eu te amo muito, Nelis.
— Eu também te amo, Anica. — abraçou Anna e lhe deu um beijo no
rosto. — Amigas para sempre?
— Até o último suspiro de minha vida — bateu a palma da mão
contra a de Antonela. — Agora vamos, para um casamento começar tem que
ter uma noiva e uma madrinha, lindas e gostosas — bateu na bunda de
Antonela.
Ao olhar para as portas da igreja aberta e Christopher de frente para o
altar sorrindo, completamente abobado, Antonela sentiu o coração parar de
bater e no segundo seguinte quase explodir. Enquanto caminhava lentamente
de braços dados com Robert e atrás de Miguel e Gabriela, não conseguia
olhar para pessoa alguma que não fosse Christopher. Ninguém dos trezentos
convidados chamava mais atenção do que ele. No olhar dele. No sorriso dele
e em seus olhos cheio de lágrimas.
Era muito estranho pegar na mão de Christopher e sentir que tudo
mudaria dali para frente, ele dali a alguns minutos seria seu marido, para
sempre.
Robert deu um beijo em sua testa e a entregou de vez nas mãos de
Christopher que também deu um beijo na testa e a ajudou a subir os degraus
até o altar. Antonela podia sentir a mão dele trêmula e gelada em cima da sua.
A dela não estava muito diferente.
Olhou para seu lado do altar e estavam Anna e Álvaro como seus
padrinhos e Emma e Robert, os pais da noiva. Já tinha chorado o bastante por
não ter seu verdadeiro pai naquele dia tão especial, mas Robert
desempenhava muito bem este papel. Como padrinhos de Christopher
estavam Nicolas e Raquel junto de Alexandra e Carlo, esta que já estava
chorando antes mesmo da cerimônia começar.
Após algumas palavras do padre, Bella entrou na igreja com as
alianças, mais graciosa do que nunca. Antonela e Christopher sorriram e a
menina logo chegou perto deles e após entregar as alianças ao padre, foi
abraçar os "titos".
— Eu, Christopher Ferrer Bergman, prometo a ti Antonela, ser fiel
até ao fim, amar-te como a mim e te respeitar, na alegria e na tristeza, na
riqueza e pobreza, na saúde e na doença sem qualquer incerteza e até que a
morte nos separe. Eu te amo. — Christopher falou, soltando um risinho
nervoso ao final, por quase derrubar a aliança no chão de tanto que tremia.
Ao olhar para Antonela, ela sorria de um modo calmo, emocionada ao ver a
aliança deslizar por seu dedo.
— Eu, Antonela Maria Moraes Castillo, prometo a ti Christopher, ser
fiel em toda a parte, te amar e te respeitar, na alegria te abraçar e na tristeza te
confortar, na saúde te agradar e na doença te ajudar, na riqueza te saudar e na
pobreza te encorajar até que a morte nos separe. Eu te amo. — Antonela
colocou a aliança no dedo dele, ciente das lágrimas que rolavam por seu
rosto, emocionada pelo brilho do olhar que Christopher mostrava em sua
frente.
— O que Deus une nada nem ninguém separa e sendo assim, vos
declaro marido e mulher. Pode beijar a noiva.
Christopher sorriu abertamente, não podia nem medir o quanto estava
feliz por enfim ter ela para sempre como sua esposa, sua companheira, mãe
de seus futuros filhos. A puxou pela cintura e segurou o rosto dela, a beijando
no exato momento que ela também se aproximou para o beijar, ouvindo os
aplausos de todos os convidados.
Após a cerimônia, foram direito para o carro que os esperava, que
para a surpresa total de Antonela, era uma Ferrari reluzindo de tão vermelha.
Ela gargalhou e viu Christopher girar a chave nos dedos, dando uma piscada
para ela. Juntou sua mão a dele e foi para a Ferrari, sendo empacotada dentro
do carro com seu vestido enorme.
— Estamos casados! — Antonela colocou a mão na boca ainda um
tanto perplexa com tudo o que estava acontecendo. Parecia não ser real.
— Está feliz? — Christopher perguntou, vendo como ela estava
linda, Antonela parecia reluzir.
— Não poderia estar mais, você é só meu agora — deu um sorriso
malicioso e o puxou pela gravata.
— Eu sempre fui mesmo — deu de ombros e a beijou, para logo
depois pisar fundo no acelerador do carro.
Assim como toda a cerimônia, a recepção não estava deixando a
desejar em quesito bom gosto e decoração. Os convidados estavam
sorridentes e aproveitando a festa, enquanto Antonela e Christopher recebiam
os votos de felicidade de seus amigos, familiares e pessoas não tão agradáveis
assim...
— Betina? — Antonela arregalou os olhos com a convidada que
estava na fila dos cumprimentos.
Christopher também olhou surpreso e já estava levantando o braço
para chamar os seguranças quando Pablo chegou por trás de Betina,
abraçando a loira pela cintura.
— Não sabia que você a conhecia, Antonela — Pablo comentou,
parecendo verdadeiramente surpreso.
— Vocês se conhecem? — olhou para Christopher procurando
alguma resposta, ele parecia mais confusa que ela.
— Estamos namorando, não é lindo? — Betina segurou o rosto de
Pablo e lhe deu um selinho, voltando a olhar para Antonela logo em seguida.
— Que? Como assim? Vocês dois namorando? — Christopher
colocou a mão na boca para não começar a gargalhar.
— Claro. Por quê? Tem algum problema? — Betina perguntou.
— Estamos surpresos — Antonela gargalhou e logo olhou para
Pablo. — Bom... O que eu posso falar então? Sejam felizes.
— Desejo o mesmo para vocês — Betina sorriu abertamente para os
dois. — E de verdade, espero que todo o passado comigo e você ou com o
Christopher, seja esquecido. Porque afinal, agora somos família.
Antonela olhou para Christopher que ainda parecia tentar absorver a
informação. Não fazia sentido nenhum, aqueles dois juntos. Betina era uma
mulher que vivia de aparências e Pablo era um arquiteto que não tinha muito
que oferecer a ela.
— Claro que sim — Antonela sorriu sarcasticamente e recebeu um
abraço de Betina e Pablo, antes deles virarem as costas e entraram para a
festa. Antes de passar na porta, Betina virou para trás novamente e sorriu para
Antonela, do mesmo modo como antes, cínica como sempre.
Antonela começou a rir e entendeu muito bem o recado, Betina
trataria de machucar outros corações a partir de agora, o primeiro seria de
Pablo. A roda novamente girava e pelo menos a partir de agora, não teria
mais problemas com ela, a vida traria mais pessoas para ela se ocupar.
— Antonela... — Alexandra se aproximou do casal com um sorriso
tímido dos lábios.
Antonela encarou a sogra e não pode deixar de sorrir, Alexandra
vinha se esforçando muito para pelo menos suportar ela com Christopher. Se
tudo aquilo fosse mesmo fingimento, estava fingindo muito bem. Porque
afinal, Betina não mudou, Alexandra também não mudaria, mas tinha
aprendido que sem Antonela era o mesmo que não ter seu filho por perto,
então teria que achar um meio termo.
— Eu do fundo do coração desejo toda a felicidade do mundo para
vocês dois — pegou as duas mãos de Antonela e segurou, olhando
profundamente para a garota.
— Obrigada Alexandra, também desejo a você tudo de bom —
Antonela deu um sorriso simples, porém sincero.
— E mais uma vez obrigada por ser tudo o que você é para meus
filhos. Obrigada. — deu um sorriso, um beijo em cada lado do rosto dela.
◆ ◆ ◆
Você deve se perguntar por que às vezes nada dá certo em sua vida,
porque você não consegue algo importante, porque nem tudo não sai da
forma como você deseja. Aposto que todos já se sentiram assim, e eu não sou
exceção.
Eu aprendi que a vida não é sempre bela e que as pessoas não são
amáveis e gentis, do pior modo possível. Vivendo. Mas, não me arrependo.
Sem saber de tudo isso, não seria quem eu sou, não veria a realidade de nada,
seria uma idiota para falar a verdade.
Mas, eu agradeço todos os dias, que em um desses dias infernais eu
tenha conhecido o Christopher. Ainda que ele não fosse nada do que eu
sonhei para mim um dia, nem quem eu sonhei. Posso dizer também que os
pensamentos mudam rapidinho com o tempo.
Christopher foi mais que um piloto, um ídolo mundial, namorado ou
marido, ele foi e é tudo na minha vida, mas isso todos já estão cansados de
saber.
Às vezes, enquanto o abraço, fico me imaginando sem Christopher. O
que seria de mim se naqueles dias do GP do México, ele não estivesse
olhando para mim e sim para Anna como imaginei? E se Anna não desse meu
telefone? O que eu seria agora? Continuaria naquela vida completamente fútil
que vivia antes? Nunca encontraria meu verdadeiro amor, como dizem por aí,
minha alma gêmea?
Não estou aqui para continuar no e se... O importante é que
aconteceu, foi real e continua sendo real. Somos reais. E após todos esses
anos continuamos nos amando cada dia mais, como se fosse o último.
E se não fosse por esse grande amor que sinto por ele e por nossa
família, não estaria aqui debaixo deste sol, no kartódromo batizado com o
nome de meu avô, Otávio Castillo. Ouvindo esses barulhos infernais dos
carrinhos com motorzinhos potentes e ainda tendo de suportar toda a dor de
ver meu filho dentro de um desses carros, com Christopher ao lado
incentivando o menino como se fosse a coisa mais saudável para uma criança
de cinco anos se fazer.
— Por favor meu amor, vá com calma, você é pequeno e... — eu
dizia desesperada ao lado do kart de Luca, enquanto o ajudava a colocar o
capacete, poucos minutos antes do início do Campeonato de Kart Junior.
— Antonela, ele não está correndo em um Fórmula 1, se acalme — vi
Christopher revirando os olhos e se ajoelhando ao lado do filho, segurando a
mãozinha do menino.
— Ainda — meu filho deu uma piscada para o pai que começou a rir
e foi abraçar o menino todo orgulhoso de sua cria.
Eu me limitei a revirar os olhos e bufar, vendo aqueles olhos
esverdeados idênticos ao do pai, no garotinho que me fazia ficar sem ar
diversas vezes por dia.
Tinha certeza de que tinha um carma a pagar. Quando pensei que iria
livrar minha família do mundo da velocidade, após Christopher se
"aposentar" e pendurar o macacão quando Luca estava prestes a fazer três
anos, dei com os burros na água. Meu filho é um fanático por corridas, treina
de kart desde os três anos de idade e agora quer porque quer correr de
verdade. Claro que o Christopher quase baba pelo gosto do menino pelo
esporte. Eu até entendo ele, deve ser prazeroso ter tido um pai piloto, ter sido
piloto e agora ver seu filho querendo seguir esse caminho. Uma pena que eu
sei muito bem o que as mães dos pilotos sofrem, já tirei uma base por ter sido
a esposa do piloto, a neta de um piloto, e agora serei a mãe do piloto.
Mas, se Luca quer isto, o que posso fazer a não ser apoiar e rezar para
todos os santos que conheço para meu pequeno ficar bem e que nunca lhe
aconteça nada?
— Eu te amo, mamãe — Luca me abraçou e eu sorri, sentindo como
sempre meu coração se encher do mais puro amor sempre que ele soltava
aquela frase.
— Se cuida, monstrinho — beijei a mãozinha dele. — Boa sorte.
— Obrigado — ele me deu um beijo molhado na bochecha e foi para
perto de Christopher que pegou o menino no colo e começou com suas dicas
e truques sobre o kart e a pista.
— Mamã — senti a mão da minha garotinha puxando a barra do meu
vestido, enquanto minha atenção ainda estava em Christopher e Luca.
Olhei para baixo e vi a minha bebê de cabelos castanhos levantando o
braço pedindo colo. Era minha pequena cópia, mas ainda com os olhos
intensos e chamativos de meu marido.
— Alice — a peguei no colo e beijei a bochecha corada dela.
O que Luca tinha de fanático por corrida, Alice com a graça do meu
bom Deus, não tinha puxado nada. Como Christopher dizia que ela era
“fresca" igual a mim. Pelo menos minha filha não tinha puxado Camila, que
agora tinha por fim realizado seu sonho de ser piloto, antes mesmo de fazer
dezoito anos, já estava correndo em algumas categorias na Europa. Ainda que
sofresse vários tipos de preconceitos por somente ela e mais uma mulher
correr naquela categoria, desempenhava muito bem o seu papel e não tinha
desistido do sonho de ser a primeira mulher a pilotar um Fórmula 1. Bom,
talento eu sei que ela tem, apoio da família também, bastava mais preparo
para ela realizar seu sonho. E claro, Alexandra desistir da ideia de mandar a
filha para a faculdade.
Assim como Luca foi meu presente de casamento para Christopher,
Alice foi meu outro presente para ele quando se aposentou na Fórmula 1. Ela
é o xodó da casa e muito diferente da maioria dos irmãos, ela e Luca se dão
mais que bem. Além de irmãos são melhores amigos um do outro, em
conjunto com Natalie, filha de Anna e Álvaro e também Pietro, de Ester e
Léo.
— Cacá, você vai ganhar e ser que nem o papai — ouvi ela dizendo
para Luca que deu uma risadinha e abraçou a irmã, que batia na cintura dele.
— Vou ganhar para você, Ali — ele beijou o rosto da irmã e por fim
entrou no kart.
Eu sentia as lágrimas quase caindo de meus olhos, mas me limitei a
dar um beijo no meu filho e sair de perto dele segurando a mão de
Christopher, que estava com Alice no colo. Fomos em direção da pequena
arquibancada do kartódramo, onde estavam Carlo que babava pelo neto com
Alexandra ao seu lado, Camila e Rafael que pareciam ter uma discussão
acalorada, como sempre. Anna e Álvaro estavam por ali com Natalie, além de
minha mãe, Robert e Mia, minha mais nova irmã. Ela tinha sido adotada há
dois anos por minha mãe e Robert e sinceramente não era minha pessoa
preferida no mundo, por estar sempre na defensiva e ter um temperamento do
cão. Resolvi me sentar ao lado de vovó, que me recebeu com um enorme
sorriso.
Eu não tenho o que reclamar da minha vida. Tenho um casamento
perfeito, um marido que eu sou eternamente apaixonada, filhos maravilhosos,
além de uma família espetacular.
Para o desagrado de Christopher, ainda trabalho, não mais como
modelo, ainda que no alto de meus vinte e oito anos ainda seja convidada
para várias campanhas.
Depois que Luca nasceu e fiquei um pouco com ele, me dediquei
totalmente a minha carreira como modelo, pois queria encerrar com chave de
ouro essa fase de minha vida e fiz campanhas maravilhosas, desfilei nas
semanas de moda francesa e italiana, fui capa na Vogue e então fiquei
grávida de Alice e decidi parar com a minha carreira, bem quando
Christopher se aposentou das corridas, seguindo o nosso combinado.
Acabei montando uma agência de modelos, e finalmente podia fazer o que
gostava, cuidar da carreira de modelos, ter um tempo para cuidar dos meus
filhos e de brinde provocar um pouco Christopher, deixando claro que nunca
iria parar de trabalhar.
Ele também não largou para sempre o mundo das corridas, após se
aposentar com incríveis cinco títulos mundiais, decidiu montar uma fundação
para descobrir novos talentos das corridas, priorizando crianças com pouca
renda a mostrar seus talentos e ascender no esporte, de brinde montou esse
kartódramo onde estamos, ajudou a desenhar traçados de novos autódromos
da Fórmula 1, todo ano participava ativamente no projeto dos novos carro de
corrida da Ferrari, correu um rali Dakar ao lado de Carlo – tenho certeza que
meu primeiro cabelo branco surgiu depois de ver os dois capotando o carro
de uma duna de uns vinte metros -, correu e ganhou as 500 milhas de
Indianapolis, assim como as 24 horas de Le Mans, ao lado de Camila.
Conquistando a tríplice coroa do automobilismo que ele tanto falava que
queria. Ou seja, meu marido fez tudo, menos deixar de correr. Mas, ao menos
eu e as crianças o tínhamos em casa todos os dias.
— Não está nervosa? — Anna me perguntou assim que sentou por
perto, eu sorri e apertei a mão dela.
— Não imagina o quanto.
— Não sabe o que te espera Antonela — Álvaro começou a rir e
Anna deu um tapa no braço dele.
— Obrigada Álvaro, você me ajudou muito — respirei fundo e fiz
um positivo para ele com o dedo.
Anna e Álvaro eram o casal mais doido que eu já vi na minha vida.
Casaram assim que Natalie nasceu, em uma cerimônia simples no cartório e
há três anos quase se divorciaram, ficaram mais de seis meses separados e
apenas para variar, os dois arrumaram pessoas para fazer ciúmes ao outro.
Quando Anna chegou beijando Peter, não deu dois dias e os dois estavam
juntos novamente. Brigam feito cão e gato, mas se amam. Não que eu e
Christopher não briguemos, pois todo casal tem isso, mas são inúmeras vezes
menores do que as deles.
Anna desistiu da carreira de modelo e descobriu um talento que nem
ela sabia que tinha. Desenhar roupas, criar e produzir. E hoje é uma estilista
conceituada e posso dizer que adoro produzir desfiles para ela. Álvaro
também saiu da Fórmula 1, um ano depois de Christopher, assim que
conseguiu seu primeiro e único título mundial. E hoje, gerencia as empresas
da família dele, principalmente as equipes de corrida que eles tem em
algumas categorias importantes pelo mundo.
— Estou tão nervosa por ele... Já fui esposa, mãe e agora avó de
piloto. É pedir demais para meu coração — Alexandra olhou para o céu
fazendo drama e eu virei em sua direção, dando um sorriso de leve.
— Obrigada Alexandra, está me deixando cada vez mais
desesperada.
Minha relação com Alexandra tinha melhorado muito. Muito mesmo.
Claro que não a amava perdidamente e sabia que ela sentia o mesmo, porém
nos respeitávamos como sogra e nora. Ela amava os netos e os trata
muitíssimo bem. Era isso que me importava, não minha relação com ela.
Claro que nenhuma das palavras que ela me disse irão sair do meu coração,
mas com o tempo aprendi a ignorá-las e viver minha vida, pois afinal,
Christopher estava comigo e era com ele que eu tinha uma família.
Obviamente ela não perdia uma oportunidade de falar qualquer coisa para
mim, seja como minha calça está apertada, minha carne salgada demais ou
que a Alice está com o vestido sujo. Porque afinal, ninguém muda!
— Ele vai ganhar — Christopher disse assim que sentou ao meu lado,
completamente tenso por ver Luca no kart, já alinhado para o começo da
corrida, de apenas cinco voltas.
— Como você sabe? — perguntei, aproveitando para me aconchegar
no ombro dele.
— É meu filho — disse todo convencido e eu ri, dando um tapa em
sua coxa.
— Vamos apoiar ele até o fim, não é?
— Claro que sim.
— E você vai me amar até o fim? — perguntei e ele me olhou
daquela forma maliciosa que fazia tudo em meu interior girar, me aproximei
dele ainda mais e o abracei.
— Para sempre — deu um sorriso enorme e me puxou para ele, me
beijando.
Quando abri meus olhos e parei de beijar Christopher, Luca já estava
fora do kart pulando em cima de Carlo, Robert e Camila. Eu e Christopher
sorrimos, aquele poderia ser o começo de uma vida de glórias para nosso
filho, mas também no fundo, torcíamos para ele mais tarde encontrar alguma
modelo com certos problemas quanto a corridas. No nosso caso deu certo,
esperávamos que a fórmula servisse para mais alguém.
FIM DO LIVRO 1
AGRADECIMENTOS