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POLI POSITION

Copyright© 2024 – Michelle Passos


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quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da autora.

Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é
mera coincidência.

Design de capa: Ellf Designer


Diagramação: Jack A. F.
Ilustrações: Little Pink Design – Rosa Aguiar
Betagem: Laís Moreira
Revisão: Deborah A. A. Ratton
Classificação: 18 +

Edição Digital ǀ Criado no Brasil


1º Edição
Março de 2024
Sinopse

Todo mundo sonha com um último ano de carreira glorioso.


Para Theo Savard, o maior piloto dos últimos tempos da Fórmula 1, não seria diferente.
Aos 40 anos, Pole Position, como é conhecido no mundo do automobilismo, só quer
encerrar seu ciclo de sucesso da melhor maneira possível: batendo recordes e colecionando mais
um campeonato mundial.
Para isso, escândalos e fofocas não podem fazer parte da sua realidade.
Summer Campbell, 25 anos, é ex-namorada de Joshua, sobrinho mais velho e melhor
amigo do piloto. A jornalista esportiva, aspirante a artista plástica, precisa de um novo emprego,
e o cargo de assessor de Savard está à disposição.
Josh conta com a ajuda do tio para reconquistar Summer.
Theo só precisa de alguém que cuide bem da sua imagem.
Summer está em busca de dinheiro para alcançar seus sonhos.
Juntos, viajando pelo mundo, GP após GP, piloto e assessora descobrirão que Josh está
longe de ser o que os conecta.
O desejo latente a cada troca de olhar, conversas despretensiosas e mais coisas em comum
do que poderiam supor é do que Theo tenta correr agora.
Basta saber se o amor por Joshua falará mais alto do que o jeito diferente – e muito bom –
com que Summer Campbell, a garota proibida, faz o coração do velho piloto bater.
Sinopse
Nota da autora
Dedicatória
Prólogo - Theo Savard
Capítulo 1 - Summer Campbell
Capítulo 2 - Summer Campbell
Capítulo 3 - Theo Savard
Capítulo 4 - Summer Campbell
Capítulo 5 - Theo Savard
Capítulo 6 - Theo Savard
Capítulo 7 - Summer Campbell
Capítulo 8 - Theo Savard
Capítulo 9 - Summer Campbell
Capítulo 10 - Theo Savard
Capítulo 11 - Summer Campbell
Capítulo 12 - Theo Savard
Capítulo 13 - Theo Savard
Capítulo 14 - Summer Campbell
Capítulo 15 - Summer Campbell
Capítulo 16 - Theo Savard
Capítulo 17 - Summer Campbell
Capítulo 18 - Summer Campbell
Capítulo 19 - Theo Savard
Capítulo 20 - Summer Campbell
Capítulo 21 - Theo Savard
Capítulo 22 - Summer Campbell
Capítulo 23 - Summer Campbell
Capítulo 24 - Summer Campbell
Capítulo 25 - Summer Campbell
Capítulo 26 - Summer Campbell
Capítulo 27 - Theo Savard
Capítulo 28 - Summer Campbell
Capítulo 29 - Summer Campbell
Capítulo 30 - Theo Savard
Capítulo 31 - Summer Campbell
Capítulo 32 - Theo Savard
Capítulo 33 - Summer Campbell
Capítulo 34 - Summer Campbell
Capítulo 35 - Summer Campbell
Capítulo 36 - Summer Campbell
Capítulo 37 - Theo Savard
Capítulo 38 - Summer Campbell
Capítulo 39 - Summer Campbell
Capítulo 40 - Theo Savard
Capítulo 41 - Theo Savard
Capítulo 42 - Theo Savard
Capítulo 43 - Summer Campbell
Capítulo 44 - Summer Campbell
Capítulo 45 - Summer Campbell
Epílogo - Theo Savard
Agradecimentos
Outros livros de Michelle passos
Biografia
Redes Sociais
Nota da autora

Olá, querido (a) leitor (a)!


É um prazer ter você aqui comigo em mais uma jornada pelas histórias que vivem no meu
coração e eu transformo em palavras.
A história a seguir foi criada com o intuito de entreter causando leves suspiros apaixonados
pelo caminho e aquele quentinho gostoso no coração ao final! Ainda assim, gostaria de ressaltar
um ponto que você deve levar em consideração:
Summer é uma personagem que perdeu a mãe de forma trágica. Se assuntos relacionados
te causam algum tipo de incômodo, sugiro que tenha cautela durante a leitura. Pular as partes
onde ela descreve sentimentos e ações, suas e de familiares, diante do ocorrido, não atrapalha o
andamento do enredo, mas, se achar que não deve permanecer na leitura, não siga em frente, está
bem?
No mais, se jogue! Theo Savard está mais do que pronto para conquistar a Pole Position do
seu coração!
Partiu acelerar?
Boa leitura!
Com amor,
Michelle Passos
Dedicatória

Dedico este livro a todas as mulheres cuja força está na crença de que tudo podem.
Porque vocês podem mesmo!
Não há ninguém no mundo que tenha o direito de te dizer até onde seus sonhos podem te
levar. Somente você. Então, vai lá e arrasa, garota!
O mundo está esperando para aplaudir o quão incrível você é!
Prólogo - Theo Savard

TORONTO, CANADÁ
VINTE E SEIS ANOS ATRÁS

Nunca corri tanto na vida.


Quando meu pai acenou para que eu voltasse até ele, eu já sabia o que ele queria dizer.
Joshua está nascendo.
Meu primeiro sobrinho está nascendo!
Terminei a volta mais rápida da história daquele kartódromo e saí do carro já tirando o
capacete. Enquanto o ouvia gritar comigo para ir com calma, arranquei a parte de cima do meu
macacão do jeito que eu pude.
Laura, minha cunhada, está me dando um sobrinho!
Se eu nunca corri tanto na vida, meu pai então… infringiu todas as leis de trânsito do
Canadá.
Não podemos dizer que ele ficou completamente feliz quando meu irmão engravidou a
namorada aos vinte e um anos. Mas, agora, sei que ele vai ser o avô mais babão do mundo.
Joseph Savard é muito durão nos negócios, mas é um grande molenga quando se trata de nós.
E é por isso que eu amo o pai que eu tenho!
Nós dois largamos o carro de qualquer jeito no estacionamento do Saint- Sacrament
Hospital, e gritamos pedindo licença para quem quer que esteja no nosso caminho.
Fazemos a velocidade de uma maratona pelos corredores do hospital até chegar na área
da maternidade, onde encontro minha mãe esperando ao lado de fora com os pais de Laura.
— Ele nasceu! — mamãe diz, com os olhos cheios de lágrimas. Nós três nos abraçamos,
vibrando.
Pergunto empolgado:
— E cadê ele? Derek, Laura? — Quero vê-los.
Caramba, estou tão empolgado! Quero conhecer o meu sobrinho agora.
Acho que, depois de ganhar meu primeiro campeonato de kart há alguns anos, nunca
esperei tanto para alguma coisa como ser tio de Joshua. Nenhum dos meus colegas de escola são
tios. Só eu! Só eu.
Theo Savard, quatorze anos. Tio!
Eu sou tio!
— Calma, querido! Eles já estão no quarto. Vamos poder entrar em alguns segundos. Vá
lavar essas mãos. — Aponta em minha direção em sinal de reprovação. — Você ainda está
vestido nesse macacão imundo! — Ela me olha, vendo a peça pendurada na minha cintura.
Minha mãe tem absoluta certeza de que um dia vai ter um infarto com as minhas corridas.
Meu pai tem certeza absoluta de que um dia serei campeão mundial de Fórmula 1 e
entrarei para a história do esporte.
Eu aposto mais no meu pai, porque não há nada que me faça mais feliz do que entrar no
meu kart e acelerá-lo até chegar ao limite. Embora minha mãe faça um drama sobre as corridas,
ela sempre confunde a adrenalina de me ver correndo até onde o acelerador pode me levar com
uma doença cardíaca. No fim, ela sempre comemora quando cruzo a linha de chegada em
primeiro lugar.
Essa é a coisa mais maneira que eu já fiz na vida.
É o que quero fazer para o resto dos meus dias.
Quase tropeço quando saio como um raio até o banheiro para lavar as mãos. Quando
volto, somos liberados para entrar.
Assim que a porta se abre, entramos todos devagar. Meus olhos vão diretamente para o
pequeno berço ao lado da cama da minha cunhada e um pequeno pacote embrulhado em uma
roupinha amarela sacode um pouco os bracinhos, resmungando.
Caraca…
— Vem cá, Theo. Pode chegar perto — Laura diz, com a voz baixa e um sorriso feliz.
Saio do transe enquanto vejo nossas famílias abraçando Derek e ela. Dou alguns passos
até ele e aqui está: Joshua Savard.
Nem percebo quando todo mundo já está em volta de mim, porque só consigo olhar para
ele.
Meu sobrinho. Meu sobrinho!
Suas bochechas rosadinhas e a pequena boca são engraçadas, mas eu quase consigo ver
um pouco de todos nós nele.
Quando seus olhos finalmente se abrem, Josh olha nitidamente em minha direção.
— Olha só, ele gosta do tio Theo! Ele se parece com você quando nasceu, filho. Não é,
Joseph? — minha mãe é quem diz, com as mãos nos meus ombros.
Sinto quando meus olhos se enchem de lágrimas, e, como eu prefiro a morte a aguentar
todo mundo nessa sala me vendo chorar, seguro o soluço no fundo da garganta ao mesmo tempo
que sinto o coração esmurrar meu peito.
— Parece que ele já gosta do tio mesmo, hein? — agora ouço a voz do meu irmão.
Ele brinca e me dá um tapa fraco na cabeça, daquele jeito idiota Derek de ser. Mas tudo
bem. Por hoje eu posso até fingir que não nos provocamos o tempo todo. Ele me deu um
sobrinho e agora, para mim, isso é tudo o que importa.
Como eu esperei por você, camarada. Como eu esperei!
Vamos andar de kart juntos e dominar este mundo, pequeno Savard.
Levo o dedo até sua mãozinha e a agarro, balançando devagar, e repito para mim mesmo
na minha mente:
Seremos melhores amigos, Josh! Eu te prometo. Jamais, em hipótese alguma, deixarei
que alguém te machuque ou te chateie. Seremos nós dois contra todo o resto.
Capítulo 1 - Summer Campbell

TORONTO, CANADÁ
DIAS ATUAIS

Foda-se.
Foda-se. Foda-se!
Sou a mais nova desempregada de Toronto. E, quer saber? Foda-se!
Existe um momento da nossa vida em que decisões não podem mais ser adiadas. Até
quando e por qual valor alguém merece ser humilhado, menosprezado e se sentir inferior aos que
estão ao seu redor e fazem a mesmíssima coisa que você? Anote aí para você não insistir no erro
como eu mesma fiz: por tempo nenhum e por qualquer valor que seja!
Meus pais não me criaram para que homens nojentos, misóginos e que se acham
importantes e inteligentes demais digam a mim que não tenho capacidade ou conhecimento o
suficiente para ocupar o cargo que eu tenho.
Ser quem eu sonho ser.
Jamais alguém dirá a mim até onde posso chegar. Este é o tipo de coisa que eu decido,
não os outros.
Seguro minha caixa com os pouquíssimos pertences que eu tinha na minha mesa da
redação do The Toronto Post e ando a passos largos pelos corredores enquanto todos os meus
antigos colegas me olham estupefatos.
Sim, eu joguei uma garrafa de água na cara do meu ex-chefe abusivo de merda.
Aquele velho asqueroso que não perdia uma oportunidade de me assediar e dizer o
quanto eu tenho a “carinha angelical” da minha mãe com o corpo e a língua de uma mulher
perigosa.
Eu detesto que falem da minha mãe. Detesto!
Ela está morta e nem assim as pessoas a deixam em paz.
— Summie, você precisa de ajuda? — ouço a voz de Rox, colega da coluna de
Economia, assim que passo por sua mesa.
Sorrio gentil e balanço a cabeça, agradecendo.
— Obrigada, Rox. Vai ficar tudo bem. Boa sorte aí para vocês.
Desço os lances de escada o mais rápido que posso e, assim que passo pela catraca
eletrônica do prédio pela última vez em minha vida, sinto o maior alívio que já experimentei nos
últimos tempos.
Simplesmente não consigo acreditar que não vou mais colocar os pés nessa merda de
jornal!
Penso imediatamente que preciso ir direto até o Lounge Gallery, o café-galeria da Betty,
onde meus últimos quadros estão expostos.
Vou em direção ao estacionamento em busca do meu Corolla estacionado. Jogo a caixa
de qualquer jeito dentro do carro e me sento ao volante, tomando alguns segundos para processar
tudo o que houve agora.
A chance de eu nunca mais arrumar um emprego na mídia depois de xingar meu chefe e
jogar água nele é gigante. Foi impensado, eu sei. Na verdade, talvez nem tanto. Mas o negócio é
que não me arrependo.
Só preciso pensar com calma o que fazer agora, uma vez que meus quadros quase nunca
são vendidos. Não posso depender do “quase”, muito menos do meu pai.
Sem pensar muito, ligo o carro e vou em direção ao bairro de Kensington Market, onde a
galeria fica. Não demoro vinte minutos para estacionar na rua ao lado.
O Lounge Gallery é um lugar descontraído, que serve comida boa, os melhores cafés da
cidade, dispõe de mesas para coworking e, ao mesmo tempo, é uma grande galeria. Os meus
quadros e de outros nove artistas ficam espalhados no alto das paredes, expostos para que
compradores interessados possam os levar para casa.
Betty, uma das proprietárias, é quem está no balcão agora. Jogo minha bolsa no banco ao
meu lado e sento de frente para ela.
Ela olha para mim de um jeito divertido e manda:
— Por que é que você está com cara de poucos amigos? — Termina de secar um copo e
vai para o próximo.
Betty é uma mulher de cinquenta anos, com cabelos encaracolados e coloridos, da pele
mais branquinha que já vi na vida. Adoro abraçá-la, porque a nossa diferença de altura faz com
que ela se pareça uma pequena boneca entre os meus braços.
— Ah, é uma longa história. — Quero tentar não pensar nisso agora. — Betty, me diga
que vendemos pelo menos unzinho. — Quando faço um beiço, ela ri.
Betty e sua esposa, Alice, tornaram-se grandes amigas desde que me deram a
oportunidade de expor aqui os quadros que venho pintando. Por mais que, até o momento, me
esconder em um pseudônimo não tenha me dado retorno algum, ainda assim elas me apoiam.
— Eu queria te dizer que sim, meu bem, mas nada por enquanto. — Cruzo os braços no
balcão e deito a cabeça, bufando em seguida. Sinto quando os dedos úmidos de Betty tocam
minha mão. — Sum, vai acontecer, fique calma. Você é talentosíssima! E sabe que não estou
dizendo isso por sermos amigas. Olhe só para as coisas que você pinta!
Este é o maior sonho da minha vida: viver das coisas que eu pinto.
Ao contrário da minha mãe, que tinha as artes plásticas como hobby, eu descobri com a
aquarela e os pincéis para o que vim ao mundo.
Não que eu não goste de jornalismo. Na verdade, eu amo. Foi a forma que encontrei de
estar mais próxima da minha outra grande paixão: os esportes. Até tentei seguir carreira de
ginasta como a minha mãe, mas me lesionei cedo, sem contar que tenho um pouco mais de altura
do que a maioria das atletas da ginástica artística costuma ter, então a carreira esportiva não
chegou a se tornar, de fato, uma grande realidade para mim.
Assim, cobrir jornalisticamente os grandes eventos esportivos do Canadá e do mundo,
enquanto noite ou outra sento no meu pequeno ateliê no apartamento que divido com Aileen,
minha amiga desde a escola, e me dedico aos meus quadros, me parece uma vida boa. Uma vida
que eu gosto de viver. Tirando a parte em que eu tinha um chefe babaca e alguns colegas de
trabalho insuportáveis.
Mas, agora, parece que só me sobrou tentar a sorte com as obras que eu já finalizei.
Levanto os olhos e encaro minha amiga.
— Eu acredito nisso, Betty. Eu só… — nem tenho palavras para o que queria dizer agora.
— Estou tão exausta.
— Eu sei, eu também me sinto assim na maioria do tempo, mas, posso te dizer uma coisa,
querida? O mundo é ótimo para surpreender pessoas incríveis feito você!
Ela pisca para mim, o que me faz encher os olhos d’água.
Betty está coberta de razão. Preciso acreditar que o mundo tem reservado coisas boas
para mim. Não porque eu me ache extraordinária ou algo do tipo…, mas simplesmente porque
ninguém além de mim pode fazer com que a minha vida seja sensacional.
Esse é um papel só meu, de mais ninguém.
— O que seria de mim sem você?
Ela é, sem dúvidas, uma das pessoas mais humanas e gentis que tive o prazer de conhecer
na vida. A forma dela de encarar a vida com leveza, humor, de uma forma prática e sempre
muito positiva, já me salvou das minhas crises existenciais diversas vezes.
— Você continuaria sendo essa mulher lindíssima, cheia de talento e que ainda vai
mostrar exatamente ao que veio. No seu tempo, como tem que ser. Com Betty ou sem Betty,
Sum! — brinca, parando com seu trabalho e me olhando de perto. — Alice pediu para te
convidar para um delicioso maple syrup[1] lá em casa no sábado. O que você acha?
— Nada me faria mais feliz neste momento, acredite! — devolvo, feliz com o convite.
Amo as tardes na casa das duas. São, de longe, alguns dos meus momentos mais
divertidos.
Minha amiga sorri com a resposta e me serve um copo de soda de maçã verde, meu
preferido.
— Vamos te aguardar. E aí, com calma, você vai me contar o que está acontecendo hoje.
Estamos combinadas?
Sugo um pouco do líquido pelo canudo e respiro fundo, mexendo a bebida verde no copo
alto.
— Acho que até lá estarei pronta para isso. Obrigada, Betty!
— Sempre às ordens, minha querida! — assim que fala, chegam alguns clientes.
Termino minha bebida, olho para minhas telas paradas na parede e penso que amanhã
será outro dia.
Amanhã, depois que todo esse turbilhão passar, eu penso no que fazer.
Agradeço a minha amiga e sigo para a porta, ficando parada no meio da calçada por
alguns segundos, respirando o ar da cidade caótica.

Estou com a toalha ainda enrolada na cabeça, de camisão e pantufas, sentada no sofá e
olhando meu telefone quando Aileen atravessa a porta do nosso apartamento.
Minha amiga de infância e companheira de casa estreita os olhos na minha direção antes
de voltar a mão para a maçaneta e fechar nossa porta outra vez. Ela deixa o pacote de
supermercado que segura na outra mão em cima da nossa mesa e questiona:
— Você está em um dia de folga e não me avisou?
Olho para seu rosto corado pelo esforço, quase da cor dos seus cabelos vermelhos, e
balanço a cabeça negando.
— Me diga qual foi a última vez que eu tive folga naquele inferno, Aileen…
— Por isso mesmo a pergunta! — Minha amiga larga a bolsa ao lado das compras e vem
em minha direção. — Não é nem meio-dia, Sum.
— Eu me demiti.
E aí explico tudo para ela, do começo ao fim. Aileen Thompson faz aquelas caras e
bocas, chocada com a parte da água, mas orgulhosa de mim.
Não importa o que eu faça: no fim, Aileen sempre se sentirá orgulhosa. É assim comigo
também. Nunca passamos a mão na cabeça uma da outra se não é o que a ocasião pede, mas, não
importa o que aconteça, estaremos até debaixo d’água ou queimando nas chamas uma pela outra.
Leen, como a chamo, é uma ruiva lindíssima, um pouco mais baixa do que eu, de olhos
verdes intensos e apaixonados. Ela tem esse jeito de se vestir sempre muito colorido e cheio de
estampas, o que faz da minha amiga bibliotecária um destaque aonde é que ela vá.
— Você está mal, amiga?
Ela me puxa para seus pequenos braços e eu me permito ser um pouco cuidada. Nos
conhecemos na escola, ainda garotinhas. Desde então não nos desgrudamos mais.
Foi fácil saber com quem dividiria um apartamento em minha vida adulta. Nós duas
sempre nos demos bem e, apesar de sermos muito amigas e vivermos juntas uma da outra,
sabemos respeitar o espaço de cada uma, o que é fundamental para que a partilha de uma casa dê
certo.
— Na verdade, não. Apesar de a minha cabeça gritar que eu deveria.
Ela sorri e balança a cabeça, negando.
— Você não deveria mesmo. Já tinha passado da hora de sair dali, Sum. — Ela coloca
meu cabelo que escapa da toalha para o lado e me olha de perto. — Chega de humilhação.
Suspiro enquanto mordo a bochecha por dentro.
— Eu só não queria… parar de trabalhar, sabe? Preciso manter a cabeça ocupada em algo
de que eu goste… Que eu ame!
Seus ombros balançam e ela me responde:
— Vá pintar seus quadros, Summer Campbell! Não é isso o que você quer de verdade
para você?
Leen é, junto com meus irmãos, minha maior incentivadora. Ela tem certeza absoluta de
que um dia meu nome será tão famoso que valerá alguns bilhões de dólares. Sim, bilhões.
Na vida, tenha amigos como Aileen Thompson.
— Eu não vendo um quadro há mais de mês. — Sorrio um pouco triste, mas conformada.
O mundo é ótimo para surpreender pessoas incríveis feito você! ouço a voz de Betty em minha
mente. — Tenho dinheiro na poupança, sei que não passaria perrengue com as nossas contas dos
próximos meses, mas eu realmente gostaria do conforto de saber que o dinheiro está entrando.
— Amiga, eu já te disse para fazer a técnica 33x3 de lei da atração. — Nesta hora, ela me
solta e fica de pé, prendendo os cabelos em um coque. Não consigo evitar a risada. — Não ria,
Summer Campbell, quase Savard — brinca comigo me chamando pelo sobrenome do meu
namorado, Josh.
Faço uma careta, porque isso está longe de acontecer.
Estou muito mais próxima de um fim com Josh do que de ser sua esposa ou algo do tipo.
— Eu não sei fazer essas coisas que você faz.
Aileen jura de pé junto que todas essas técnicas que ela usa a fazem manifestar inúmeras
coisas, como a vaga de bibliotecária que ela tanto queria, os três mil dólares para pagar a
inscrição do curso dela em Madrid no ano retrasado e o tal cara por quem ela ficou apaixonada
em um bar cruzar o seu caminho novamente. Max, seu atual namorado.
Eu acredito? Não sei. Eu duvido? Também não sei.
— Claro que sabe! — Volta aos pacotes de compra e eu me levanto para ajudá-la. O
mercado deste mês é dela. — Você só precisa acreditar como se aquilo já fosse seu, entendeu?
Nada de dizer eu quero, eu preciso. Isso vibra escassez. Se você quer e precisa, é porque você
não tem, então o Universo vai te trazer mais disso.
— Ok — zombo da minha amiga. — Eu trabalho viajando o mundo todo!
Ela me olha e sorri, dando uma piscadinha.
— Isso, mas seja mais específica. Trabalha com o que viajando o mundo todo?
— Com esporte! Com o que mais seria?
— Seus quadros, oras. — Ela tira a lata de atum do pacote e aponta para mim. — Estava
em promoção.
— E o que eu tenho que fazer?
Sigo Aileen até a cozinha modesta do nosso apartamento e ajudo a colocar as coisas nos
seus lugares.
— Agora você vai escrever por três dias, trinta e três vezes, o seguinte: Sou tão feliz e
grata pelo meu trabalho com esporte, que me permite viajar o mundo todo! Sou tão feliz e grata
porque rodo o planeta fazendo sucesso com a minha arte! — Os olhos da minha amiga brilham.
— Leen, isso é sério? — questiono enquanto coloco algumas latas de Coca-Cola na
geladeira.
— É claro que é, Sum. E precisa ser com lápis. O carvão é um mineral orgânico. Caneta
não serve.
Deus do céu…
— Isso deve doer a mão! — resmungo antes de colocar o pacote de legumes congelados
no freezer.
— E daí? — Cabelos de fogo, como meu irmão costuma chamá-la, se encosta no balcão e
me encara bem séria. — Se for com essa energia, não vai dar certo mesmo! Você precisa sentir
que aquilo já é seu, Summer. O que são três dias de mão doendo para uma vida vivendo seu
grande sonho? Lei da atração é sobre energia, sentimento!
Eu não acredito que estou aqui, neste dia maluco da minha vida em que gritei com meu
ex-chefe, joguei água na cara dele e fiquei desempregada, ouvindo minha amiga dizer que basta
escrever coisas com lápis para que meu sonho se realize.
— Tá certo, eu vou tentar — digo, mesmo sabendo que não vou. — Mas antes preciso ir
até o Josh, ele ainda não sabe.
— Seu namorado vai dar pulos de alegria! — ela me provoca, porque sei que é verdade.
— Você acha que eu devo conversar hoje? — Puxo uma das cadeiras e me sento de
qualquer jeito nela.
Aileen morde a bochecha antes de me responder:
— Tem certeza disso, Summer? Assim, não estou aqui para falar o que acho ou deixo de
achar do seu relacionamento. É só que o Josh pode ter o defeito que for, mas ele é um cara legal,
e hoje em dia a coisa mais difícil do mundo é encontrar alguém que goste da gente de verdade!
Aileen Thompson é o tipo de garota que precisa de um relacionamento para se sentir
bem. Não lembro por quanto tempo vi Leen solteira, porque isso quase nunca acontece. Já eu,
sou a pessoa que demora a entrar em um.
Eu amo a minha solitude.
Meu espaço, minhas coisas, meu tempo comigo mesma.
Há pouco mais de um ano, comecei a namorar Joshua Savard. Nos conhecemos na época
da faculdade. Eu do Jornalismo, ele de Ciências Contábeis. Vários amigos em comum, uma
afinidade como poucas.
No começo, éramos apenas bons amigos. Daquele tipo inseparável. E algumas coisas só
eram boas justamente por isso. Sei lá. As coisas bobas de que a gente ria, os jogos de futebol que
acompanhamos juntos, as corridas pelo parque de manhã que fazíamos, as coisas pequenas do
dia a dia junto com seu melhor amigo.
Depois de andarmos tanto tempo juntos, em algum momento percebemos que as coisas
mudaram. A gente simplesmente não conseguia mais se desgrudar, e o que a gente achava que
era apenas amizade acabou se tornando algo com o benefício do sexo vez ou outra. Quando
demos por nós, estávamos namorando. Meu próprio friends to lovers? Tive!
Mas, ultimamente, percebo que nunca deveríamos ter entrado na parte do lovers.
Nós somos tão diferentes em tantos níveis…
— Eu entendo o seu ponto de vista, Aileen. Mas talvez eu só não queira ter alguém que
me queira agora.
— Todo mundo quer alguém que o queira, Summer. — Ela ri, como se minha fala fosse
completamente absurda. — Pensa com calma, só isso! — pede pela última vez.
— Vou pensar. — Encerro nossa conversa por aqui e digo a ela que preciso secar os
cabelos.
Beijo seu rosto e agradeço o colo e os conselhos.
Capítulo 2 - Summer Campbell

Ligo para Josh umas cinco vezes, mas ele não me atende. Sei que a uma hora dessas, às
quatro da tarde, ele já deve estar em casa e, talvez, tudo o que eu preciso seja da sua atenção. Sei
que venho com a intenção de ter uma conversa sobre nós dois, mas quem sabe Leen não esteja
certa? Talvez não seja o momento de colocar ponto-final em mais uma coisa da minha vida. Por
enquanto, pelo menos.
Respiro fundo antes de dar a partida e sair rumo a Yorkville, onde Josh e toda a família
Savard mora.
Não é para menos, certo? Estamos falando do metro quadrado mais caro de Toronto,
onde é que os Savards poderiam residir senão ali?
Atravesso sem pressa o meu trajeto de cerca de quinze minutos até a portaria do enorme
condomínio de casas. O rapaz que está aqui hoje me anuncia e eu sigo até a mansão de Josh.
Vejo seu carro parado na porta.
Encosto o meu logo atrás e subo a pequena escada da frente, tocando na campainha.
Alguns segundos se passam até que Meredith venha me receber.
— Olá, querida! — A governanta dos Savards me convida para entrar com seu jeito
caloroso de sempre.
Meredith, assim como a maioria das mulheres de sua idade, é fã incondicional da minha
mãe.
— Como vai, Dith? — Ajeito a bolsa no ombro e olho, pela milésima vez, para a sala
enorme da mansão.
Eu já morei em uma casa assim. Nada disso aqui é novidade para mim.
Sara Mackenzie e Donald Campbell, meus pais, sempre tiveram dinheiro. Meu pai
continua tendo, tocando sua empresa de TI em Halifax, na Nova Escócia, mantendo a fortuna dos
Campbells como sempre foi. Mas desde a morte da minha mãe… Bom, dinheiro passou a ser
somente dinheiro. Aquilo que compra o necessário e satisfaz o que é essencial.
Ele não me comove, muito menos me deslumbra.
Não me faz me sentir mais importante.
O dinheiro não é capaz de me devolver a única coisa que eu desejaria ter de volta nesta
vida.
— Tudo bem, meu bem. Josh está no escritório. Vá até lá. — Aponta para a porta enorme
que eu conheço tão bem.
Aceno para ela enquanto meus pequenos saltos batem no mármore branco que minha
sogra escolheu para sua casa cheia de coisas banhadas a ouro e itens de colecionador.
Quando minha mãe faleceu, eu e meu irmão mais velho, Alex, não quisemos voltar para a
cidade da minha família, como fez meu pai com minha irmã mais nova. Demos as costas a todo
aquele luxo. Porém, ao contrário de mim, meu namorado não abre mão das regalias que tem na
casa dos pais.
O primeiro dos netos do império Savard, donos da maior rede de aluguel de carros do
mundo, Joshua vem sendo preparado para assumir as coisas da família, já que o único que
poderia fazer isso antes dele é nada mais nada menos do que Theo Savard, o hexacampeão
mundial de Fórmula 1. O homem por quem o Canadá tem verdadeira adoração, assim como era
com minha mãe.
O tio e melhor amigo de Josh é um dos homens mais importantes da atualidade no
esporte mundial. Meu pai e meus irmãos são completamente loucos por ele.
A verdade é que eu também. Quem não seria?
Os números e a trajetória de Theo Savard na F1 são incríveis. Qualquer amante de
esporte feito eu não pode ser nada menos do que apaixonado por esse homem.
Dou duas batidinhas antes de entrar no grande escritório. Vejo Josh sentado à mesa,
compenetrado em seu computador, mas rindo.
— Olá, estranho! — brinco com ele, que levanta os olhos para me ver.
Josh acena com a mão, pedindo que eu espere um pouco. Ele está com aquele headphone
enorme que usa toda vez que está jogando videogame com seus amigos do internato. Os caras
mais ricos do mundo, herdeiros de algum império, como o dele.
— Você aqui? — Seus lábios somente sibilam, para que os outros não possam ouvir.
Balanço os ombros como quem diz “sim, estou aqui, não está vendo?”, e jogo minha
bolsa no sofá de couro preto.
Ele volta a atenção ao monitor e eu rio, meio incrédula.
Vinte e seis anos. Joshua Savard tem vinte e seis anos.
E pensar que, se hoje pela manhã eu não tivesse dado uma de louca e acabado com meu
emprego, provavelmente eu não sairia da redação antes das nove da noite.
São quatro da tarde e Josh não está trabalhando para manter os negócios inabaláveis,
como ele adora dizer, mas sim no conforto do seu lar, jogando videogame com um bando de
outros marmanjos. O que Josh faz na Savard RAC, afinal? A verdade é que até eu, sua
namorada, não sei ao certo.
— Merda! — reclama e bufa. Josh balança a cabeça e diz para alguém: — Estou saindo,
cansei disso por hoje. A gente se fala.
Ah, sim! É porque ele perdeu, não porque estou aqui.
Ok.
Ele joga os fones na mesa e se levanta, vindo em minha direção. Fico parada com os
braços cruzados, enquanto ele me solta aquele sorriso de quem sabe que não foi legal.
Nos últimos tempos, Josh tem sido tudo, menos legal.
— Desculpa, linda. Era o finalzinho da jogada! — Seus braços contornam meu corpo
enquanto fico imóvel.
Seus beijos são espalhados por todo o meu rosto, o que me deixa um pouco incerta de
como agir.
— Acabou, Josh. Definitivamente não tenho mais emprego! — Balanço os ombros em
forma de alívio.
Ele para por alguns segundos e me solta, segurando-me em seguida pelos ombros,
olhando incrédulo.
— É sério isso? Te mandaram embora?
Nego com a cabeça e mordo a bochecha.
— Não me mandaram. Eu me demiti. Joguei água na cara do meu chefe. Uma garrafa
inteira dela.
Josh quase se dobra tamanha a risada que dá. Eu também rio, mesmo sabendo que foi
completamente errada a forma como eu agi.
— Essa é a minha garota! — Seus lábios juntam-se aos meus em um beijo rápido.
— Fui maluca, eu sei! Eu só não pensei na hora, mas, olha… Chega! — Deixo meu corpo
relaxar um pouco enquanto ele volta a me abraçar. Deito a cabeça no ombro de Josh e respiro
fundo. — Estava tão cansada daquilo, e todo aquele machismo destilado em forma de piadinhas
que só eles achavam sutis.
Sinto quando ele beija o topo da minha cabeça.
Josh Savard é alguns bons centímetros maior que eu. De cabelos pretos, um pouco
enrolados, olhos castanho-claros e um rosto que parece ter sido esculpido com perfeição, ele é
um dos caras mais bonitos e cobiçados de toda Toronto.
Arriscaria dizer do Canadá inteiro.
— Chute a bunda desses merdas, baby! Você tem mais grana que todos eles juntos até o
dia da morte deles.
Ouço sua voz grave me dizer.
Fecho os olhos por alguns segundos e prendo os lábios entre os dentes antes de
responder:
— Isso não é sobre dinheiro, Joshua. É sobre respeito. — Eu me afasto um pouco e
encaro meu namorado.
Ele dá outro sorriso, agora é aquele de quem vai soltar uma piadinha ou brincadeira
infeliz. Infelizmente Joshua Savard é do tipo que adora fazer isso.
Enquanto éramos só amigos, eu achava divertido ter um amigo meio idiota. Agora que
estamos em um relacionamento sério, isso passou a não ter mais graça.
— Querida, eu sei que não é isso que quer ouvir, mas você se colocou nessa posição. —
Abre os braços enormes, como se quisesse explicar sua teoria. — Você sabe como nós, homens,
somos.
Eu cruzo os braços e arregalo os olhos, encarando Joshua bem de perto.
Eu não acredito que ele me disse isso!
— Não sei, não, Josh. Talvez você queira me explicar!
Ele bate o punho fechado na outra mão, como quem está tentando ganhar tempo para
formular seu argumento.
— Somos babacas! A verdade é essa. — Sua cara é como se ele estivesse me dizendo
algo óbvio. — Você tem a família mais rica de Halifax. Por que é que está se sujeitando a
trabalhar em uma redação de jornal, virando plantão atrás de plantão para aguentar falação de
macho escroto?
E aí está um dos grandes motivos pelos quais Summer Campbell e Joshua Savard não
tem nenhum futuro como um casal. Tudo sempre é sobre dinheiro. Já estou de saco cheio desse
tipo de conversa.
— Você realmente está falando isso? Você tem certeza de que queria me dizer isso? —
Aponto em sua direção, quase espumando. — Que merda toda é essa que você tem de apego com
dinheiro, Josh? Já pensou que poderia ser uma mulher sem as condições que eu tenho que
estivesse na mesma posição? Que, ao contrário de mim, não tivesse para onde correr? Não é
sobre dinheiro, porra, é sobre respeito! É sobre direitos!
— Por que você faz disso um problema, Summer? Dinheiro é sempre a solução. E seu pai
tem aos montes. Sua mãe te deixou uma boa grana. — Ele me olha como quem não entende.
A verdade é que nunca vai entender. Nunca entendeu.
E eu não sou Laura e Derek Savard para ensinar esse tipo de coisa para o filho deles.
— Eu não quero mais ter que te explicar isso, Savard. Sério. — Pego a bolsa e coloco de
novo no ombro. Sempre que eu caio nesse papo mole da Aileen de dar mais um tempo ou uma
chance porque Josh gosta de mim, nunca dá certo. É uma grande perda de tempo.
— Agora você vai me chamar de Savard? — Aponta para o próprio peito, a voz
levantando algumas oitavas.
— Não é o seu nome, cacete? — disparo as palavras em sua direção, já pronta para sair
pela porta neste exato minuto.
Sinto a mão de Josh segurar o meu braço e olho para ele.
— O que você está fazendo, Summer?
— Indo embora, não está vendo?
— Indo embora, como? — Ele parece um pouco confuso, mas a verdade é que eu não me
importo mais.
Não me importo mais com tanta coisa…
Minha vida passou a ser não me importar. Essa é a verdade.
— Estou terminando, Josh Savard. Estou terminando com você. Essa sua postura de
riquinho mimado com vinte e seis anos nas costas me irrita. Me irrita que para você a vida se
resuma à fortuna da sua família. Me irrita que o que você gosta de fazer do seu tempo é gastar o
dinheiro que seu avô deixou para vocês, suas festas sem fim, seus charutos importados, suas
roupas exclusivas, seus campeonatos de videogame com mais uns dez herdeiros das famílias
mais ricas do mundo. Estou sem paciência para o seu mundo vazio de propósito! Você não tem
direito de me achar uma fraca simplesmente porque, ao contrário de você, eu sou alguém que
tem ambição de ser conhecida por quem eu sou e não pelo sobrenome que eu carrego.
Quando dou por mim, já cuspi as palavras em cima de Josh.
Nem sei há quanto tempo eu venho segurando isso dentro de mim, e, quer saber? Agora
que saiu, não me sinto nem um por cento culpada.
— Eu não… — começa a falar e passa as mãos pelos cabelos, respirando fundo, um
pouco nervoso. — Não te chamei de fraca, Sum. Eu não disse isso!
— Não precisa! — grito, voltando o corpo na sua direção. — Você me acha idiota pelo
simples fato de não querer viver do dinheiro da minha família. De não sair correndo e pedir
socorro para o meu pai. De achar que meus quadros um dia me tornarão alguém que eu sonho em
ser. — Joshua nunca disse com todas as letras que acha uma perda de tempo que eu pinte as
coisas de que gosto e coloque na galeria para vender, mas toda oportunidade que tem para
brincar de que isso não me dará o futuro que eu sonho ele usa. — De eu passar as tardes de
sábado na casa de duas mulheres gays porque as considero como minha família. Você me acha
um ET por ser uma rica que não está nem se fodendo para isso! E eu acho você um babaca
justamente pelo contrário.
— Uma casa de subúrbio realmente não é um lugar para você, Summer.
— A sua casa não é um lugar para mim. — Aponto para tudo em volta de mim. —
Aliás…, nem é sua! — Vejo quando Joshua dá alguns passos para trás. — O seu jeito de ver o
mundo não é nem um pouco apropriado para mim.
— Por que você está fazendo isso, Sum? — Seus olhos agora são uma mistura de
angústia e desespero, como se eu não pudesse fazer isso com ele.
— Porque é o melhor que nós dois podemos fazer se queremos, pelo menos, manter o
mínimo de respeito um pelo outro. Vá viver seu mundo do jeito que você gosta de viver, Josh.
— Pelo amor de Deus, Summer. Pare com isso! — Eu conheço esse tipo de risada que
vem após essas palavras.
Josh está a alguns segundos de me chamar de doida, louca, ou alguma palavra do gênero.
Respiro fundo e esfrego os olhos, cansada demais para discutir.
— Josh, veja só… — Fecho os olhos por alguns segundos, só para tomar o fôlego de que
preciso. — Não está funcionando mais. Já faz tempo! A gente é completamente incompatível
como casal. Eu adoro você, de verdade. Você é um cara legal, divertido, bem-humorado, mas é
isso… — Sacudo os ombros. — A gente pensou em algum momento que a amizade se tornaria
outra coisa, mas não se tornou. E está tudo bem também.
— É claro que se tornou! — sua voz aumenta outra vez e ele bate o pé no chão, irritado,
depois coloca as mãos na cintura. — Está dizendo que não é apaixonada por mim?
— Estou dizendo que a gente não funciona bem junto. Isso acontece, não somos uma
exceção.
— Você só pode estar de brincadeira. — Ele ri outra vez, cheio de ironia, e tenta se
aproximar de mim.
Dou alguns passos para trás e coloco a mão na frente, pedindo a ele distância.
— Acabou. Não se aproxime, Joshua. Estou falando sério. Eu tive um dia de merda e
agora eu vou embora para a minha casa de onde eu nem deveria ter saído. Volte para o seu game
e pronto.
— Você só está um pouco confusa, Summer. Não vou levar em consideração o que está
dizendo. Seu dia não foi legal e... — Eu sei o que Josh está tentando fazer, mas ele não vai
conseguir.
— Acredite: não estou nem um pouco confusa, Savard. Tenho plena consciência de cada
palavra que eu disse. E é isso, queira você ou não.
Antes de ele argumentar mais uma vez, saio pela porta e ando rápido até a entrada da
mansão, descendo as escadas de dois em dois degraus e entrando no meu carro tão rápido como
jamais fiz na vida.
Capítulo 3 - Theo Savard

FEVEREIRO
DIAS DEPOIS
LONDRES, INGLATERRA

— São dezesseis temporadas pela Fórmula 1, Theo. Como nasceu a decisão de se


despedir das pistas este ano?
Um dos jornalistas me pergunta.
Acabei de anunciar ao mundo que esta é a minha última temporada como piloto
profissional da categoria. Centenas de repórteres e fotógrafos estão aqui agora, na sede da
McLean, brigando por uma palavra minha ou a melhor foto que estampará a capa do seu jornal
amanhã.
“Theo Savard, quatro vezes campeão mundial de Fórmula 1, anuncia
aposentadoria”
Já posso prever as manchetes.
Respiro fundo antes de falar ao microfone mais uma vez.
— Já venho pensando sobre isso há uns dois anos. Não foi nada precipitado ou resolvido
de forma aleatória. Acabei de completar quarenta anos, estou aqui desde os vinte e quatro como
piloto principal das equipes pelas quais passei. Seis campeonatos mundiais na bagagem, cento e
noventa e cinco pódios. Chegou a hora de investir em outro lado da carreira.
— Como é para a McLean perder um piloto do nível de Savard, Wisbech?
Direciona a pergunta para o nosso chefe de equipe.
— Com certeza é uma grande perda, mas sabemos o quanto isso é importante para a
carreira do Pole — me chama pelo apelido. Sou o recordista de poles de toda a Fórmula 1, por
isso sou conhecido no meio como Pole Position, ou somente Pole. — Já estamos preparando
Jackson e estamos de olho nas possibilidades que teremos para a temporada do ano que vem tão
competitiva quanto teremos com a despedida de Savard.
Tomo a palavra logo em seguida.
— Eles estiveram ao meu lado o tempo inteiro enquanto refletia se esse era o momento
certo ou não. Sabem o quanto contribuí para a equipe nos últimos anos. Três dos meus
campeonatos foram ganhos dentro da McLean, junto com Wisbech. Devo muito à todos eles que
me fizeram competitivo em todos esse tempo juntos.
— E quais são as expectativas para o último ano dentro das pistas?
— O sétimo e último campeonato, não tenha dúvidas. Estamos trabalhando
incansavelmente para isso — devolvo para quem pergunta.
— O fim do seu casamento pesou na decisão, Savard?
Dou uma risada incrédula. Eles nunca se cansam.
— Eu não vou falar sobre a minha vida pessoal, gente. Essa é uma coletiva sobre minha
aposentadoria. Qualquer coisa diferente disso, acreditem, não vou responder. Próximo.
Faz quase três meses que Louise e eu resolvemos pôr um fim no nosso casamento de oito
anos e, desde então, a imprensa não sabe falar de outra coisa.
Já especularam, no mínimo, dez mulheres diferentes com quem estou tendo um caso ou
algo parecido, mas essas merdas não estão nem um pouco perto da verdade.
Não tem ninguém, porra!
Casamentos simplesmente acabam. E foi assim com o nosso. É triste, mas acontece.
Planos mudam, sonhos se desencontram.
As mulheres com quem tenho dormido de lá para cá estão longe de ser o motivo.
Ficamos por mais dez minutos respondendo a perguntas, até que a minha equipe de
relações públicas recém-contratada, junto com a equipe da McLean, anuncia que a coletiva
chegou ao fim. Carl, irmão de Louise, era quem me assessorava e cuidava da minha imagem e
vida pública, comandando inclusive minhas redes sociais pelos últimos dez anos, e com o fim do
casamento, em comum acordo, resolvemos que era melhor não seguirmos trabalhando juntos.
Só que a verdade é que eu não me sinto nem um pouco à vontade trabalhando com
pessoas que não estão comigo o dia todo e tratam as coisas de forma superficial. Já avisei para
Mark que, provavelmente, não seguiremos com eles. Preciso de alguém que se dedique vinte e
quatro horas às minhas coisas, como Carl fazia, e que me conheça de verdade, principalmente
para a última temporada em que, com toda certeza, serei um dos assuntos mais comentados da
Fórmula 1. Preciso minimizar danos, caso existam. Sei que terei a atenção redobrada em cima de
mim. Qualquer deslize, escândalo ou polêmicas não são possibilidades para o meu nome.
— Sr. Savard, as entrevistas da semana que vem já estão agendadas. Mandei todas elas
para sua agenda eletrônica. Segunda nos Estados Unidos, quarta no Canadá.
Lar, doce lar.
Pedi que dessem preferência para a América do Norte quando os pedidos de entrevista
pós-notícia chegassem, e elas não demoraram nem meia hora. Não os visito desde o Ano-Novo e
preciso de um pouco de “casa” antes dos testes de inverno no Bahrein. Sinto falta de estar perto
da minha família passando tanto tempo viajando o mundo inteiro.
— Ok, Myrna. Obrigado. — Despeço-me de George Wisbech, da equipe de comunicação
da McLean, e saio com Mark, meu empresário, bem ao meu lado. — Procure o melhor assessor
que você conhece e ofereça o valor que for preciso, Mark. Estou falando sério. Não consigo
acompanhar o que esse pessoal está fazendo. Como estão controlando as informações, o que
estão fazendo com as minhas redes sociais. Preciso de alguém que seja a minha sombra.
— Sinto te informar, mas o melhor era o Carl — solta enquanto mexe no telefone ao meu
lado.
Vamos andando para a parte de trás do prédio da McLean, já esperando as centenas de
paparazzi que aguardam minha saída.
— Caralho — grito para ele enquanto coloco meus óculos de sol. — Preciso de alguém.
Os flashes e a gritaria começam assim que colocamos os pés para fora. Ouço centenas de
perguntas aleatórias, todas feitas ao mesmo tempo, enquanto os seguranças me ajudam a chegar
até o carro. Aceno para alguns deles antes de entrar e ouvir a porta atrás de mim sendo fechada.
Respiro fundo enquanto abro o botão do meu paletó e Mark me olha de frente.
— Vamos simplesmente esquecer sua situação com a Louise e chamar o Carl de volta,
Theo. Seja um pouco racional.
Meu motorista arranca enquanto abro uma fresta da janela para respirar ar puro.
— Não existe essa chance, Mark. Não venha justamente você me falar uma merda dessas.
— O cara não te fez nada. Ele não tem culpa se o casamento de vocês dois fracassou. —
Estala a língua e meneia a cabeça para mim.
A verdade é que Mark nunca suportou Louise.
— Não dá mais para misturar as coisas. Ele é o irmão da minha ex-esposa. Preciso de
privacidade, viver a minha vida sem me preocupar com o que Carl está ou não falando para ela.
Não é que eu não goste dele ou que tenhamos algum tipo de problema, simplesmente não dá para
ser. Ponto-final. Estou falando do meu último ano como atleta de elite da Fórmula 1, Lee.
Meu empresário, um coreano atrevido, alto, que mais parece um armário, meu amigo há
duas décadas, bufa e balança os ombros.
— Ok, vou ver o que posso fazer. O preço que for?
— Quando dinheiro foi um problema para assuntos assim? — Retorno o olhar para fora.
— Está certo.
Neste exato minuto o meu telefone toca.
Josh.
— Fala, garoto — cumprimento meu sobrinho e melhor amigo.
— E aí, tio? A TV e as redes sociais não falam de outra coisa. Você vai ser assunto para
o resto do ano.
— A gente já sabia, não é? Agora é curtir a última temporada.
— Estou orgulhoso. Acho que nem preciso te dizer de novo.
Se eu pudesse explicar o quanto amo esse moleque…
Sempre fiz questão de mantê-lo próximo de mim o quanto pude. Já carreguei Josh pelo
mundo inteiro, GP atrás de GP, ano atrás de ano. Ele é, literalmente, um garoto de paddock, mas
meu irmão não deixou que meu sobrinho seguisse meus passos, por mais que o menino quisesse.
E é assim que ele vai se tornar o próximo Savard a assumir os negócios da família, diferente de
mim, que levei o hobby de criança para a vida e me tornei o cara que meu pai acreditou que eu
seria um dia.
Ao contrário de mim, meu irmão só ligava para o futebol americano. Kart era só por
diversão. Assim, ele fez Josh também seguir pelo mesmo caminho e manter os esportes somente
para a distração.
— Valeu, cara. Como estão as coisas por aí? Estarei no Canadá na terça-feira à noite.
— A minha avó já sabe disso? Ela vai mandar todo mundo desmarcar o que tiver para te
ver.
Dou uma risada e balanço a cabeça para mim mesmo, vendo as ruas de Londres ficando
para trás.
— Vou ligar para ela assim que desligarmos. Acabei de saber que tenho um compromisso
de TV na quarta.
— Podemos jogar golfe.
— Claro. Te mando a minha agenda e você olha o horário em que estarei disponível.
Mas, então, está tudo bem, ou não está? Você não respondeu a minha pergunta.
Meu sobrinho fica calado do outro lado da linha por alguns segundos.
— Porra, tio. Eu fiz uma merda do caralho! Do caralho…
— O que foi dessa vez?
— Summer terminou comigo. Sei lá… — Ele parece realmente chateado. — Ela tinha um
trabalho de bosta no The Toronto Post e acabou se demitindo. Eu não dei a atenção que eu
devia. Ela precisava de mim, entende? Por mais que eu não entenda como alguém que tem tanto
dinheiro fica preocupada em trabalhar para os outros e aguentar merda atrás de merda. Mas é
do que ela gosta, o que eu posso fazer? Ela gosta de ganhar o próprio dinheiro. Não liga para a
fortuna dos pais.
Vi Summer apenas duas vezes, uma quando esteve em Mônaco com minha família para o
GP e em alguma festa que meu irmão fez em casa. Sei que é filha de Sara Mackenzie, a campeã
olímpica de ginástica artística. Talvez sejamos as duas figuras esportistas mais importantes do
Canadá.
— Eu fui um pouco infantil quando ela veio me contar. Fiz brincadeiras que eu não
deveria fazer. — Ele faz uma pausa e aumenta um pouco o tom da voz. Na verdade, meu
sobrinho foi infantil quando traiu a garota. Ele não vê isso como um problema desde que ela não
saiba. — Não sei como dizer a ela, sem ofendê-la, que pintar quadros e expor em uma galeria
esquecida no meio de Toronto não vai sustentá-la. Você acredita que ela me chamou de riquinho
mimado? Que droga. — Ele ri como se não acreditasse no que ouviu.
Bom, a verdade é que Joshua Savard é isso, sim. Mas também não sei dizer a ele esse tipo
de coisa sem ofendê-lo, meu sobrinho não entenderia. Infelizmente em seu caso, idade não é
totalmente sinônimo de maturidade. E talvez nem seja culpa dele, mas da forma como meu irmão
e sua esposa criaram Josh e seus outros filhos.
Sempre tivemos dinheiro, muito. E não podemos ser hipócritas: a família Savard gosta e
muito de tudo o que tem. Mas podemos ver nitidamente quem de todos nós é mais influenciado
por isso. Derek Savard com certeza é um deles, isso se reflete nos seus garotos.
— Sinto muito por vocês, Josh. Mas não vão faltar garotas para você. Nunca faltaram.
— Não, tio. Acho que você não entendeu. Ela terminou comigo, caralho. Me falou um
tanto de coisa sem fundamento algum. Não quero terminar com Summer!
Mas se você a trai, Joshua, o que ainda quer com uma mulher que nitidamente não ama?
penso comigo mesmo.
— O que você está esperando para ir atrás dela então?
— Preciso da sua ajuda. Foi por isso que eu te liguei.
Eu?
O que tenho a ver com isso?
— Se explique melhor.
— Você ainda está em busca de um bom assessor? Alguém que entenda cem por cento do
seu mundo, não é? Você me disse que não estava indo bem com a nova agência.
Olho para Mark, que está distraído com seu telefone, e volto a Josh em seguida.
— Sim, estou.
— Contrate a Summer, Theo. Ela é uma jornalista sensacional. Entende a Fórmula 1
como nós dois entendemos. É disciplinada, atenta, não tem medo do trabalho. Não existe
ninguém que vá cuidar melhor do seu último ano na mídia e nas redes como ela.
Começo a rir e mexo nos cabelos, pensando na maluquice que esse garoto está me
dizendo.
— Josh, ela é colunista. Ela cobre esportes. O que Summer sabe sobre cuidar da vida
pública de um atleta?
— Ela é filha da Sara, tio, irmã do Alex dos Hunters. Ninguém melhor do que a filha da
melhor ginasta do país, irmã do maior central em ascensão no momento, jornalista de formação,
para saber lidar com a vida de um atleta. Você é meu melhor amigo. Não existe ninguém que
possa convencer Summer de que eu mereço outra chance do que você.
Do que é que esse menino está falando?
— Você entende que estamos falando da minha carreira, certo, Josh? Você tem
consciência disso, não é?
— Eu não te pediria algo assim se não confiasse no que estou dizendo. Me quebra essa,
tio. Ela precisa de um trabalho, ela é boa nisso, e aí você vai poder dizer a ela quem eu
realmente sou. Preciso reconquistá-la!
Mark presta a atenção em mim agora, enquanto coço a testa e suspiro. Josh não é bobo.
Ele sabe para quem está pedindo isso.
Apesar da ótima relação que meu sobrinho e eu temos uma vida toda, algumas das suas
atitudes me incomodam, e muito. Mas isso não faz com que eu quebre a promessa que fiz a ele
quando nasceu. Meu papel, como melhor amigo, é aconselhá-lo sempre que posso. Na maioria
das vezes, Joshua me escuta, mas nem sempre isso acontece. Porém, não é algo sobre o que eu
possa fazer muito a respeito. Ele é um homem de vinte e seis anos, não um garoto. Precisa ter
responsabilidade pelas escolhas que faz.
A lei do retorno é implacável. Se você é babaca na vida, a vida vai ser babaca com você
também.
— Não tenho tempo de ficar te ajudando a flertar, Joshua. Você, melhor do que ninguém,
sabe que tempo é uma coisa que eu não tenho quase nunca.
— Você não precisa ficar falando de mim o tempo todo, não é isso que estou te pedindo.
Mas ela vai conviver com você, isso já basta para que saiba quem eu sou.
Ela sabe quem você é. E se isso não a agrada, está aí o motivo pelo qual ela terminou.
— Você vai contratar a namorada do seu sobrinho para ser sua assessora? — é Lee quem
pergunta, com os olhos arregalados.
Faço sinal para ele calar a boca.
— Vamos conversar quando eu chegar aí, está certo? Não posso te responder isso agora.
— É justo, eu entendo. Mas pensa com carinho… — Ele faz uma pausa e emenda em
seguida: — A gente se vê então. Vou marcar nosso golfe no clube. Te amo, cara.
— Também te amo, rapaz. Se cuide aí. — Desligo e coloco o celular do meu lado, no
banco do carro.
Mark fica olhando a minha cara, esperando que eu diga alguma coisa.
— O que foi?
— Você está de sacanagem que vai contratar uma garota inexperiente só porque o
criancinha do seu sobrinho está te pedindo!
— Eu não disse nada, porra! Você me ouviu dizer alguma coisa?
— Esse menino te faz de gato e sapato, Savard — cospe as palavras na minha direção,
meio puto. — Reclamando da melhor assessoria da Europa para colocar uma garota que você
nem conhece no lugar.
— Mark, não me enche. Sério. Só me faça o que eu vou pedir: quero a ficha completa de
Summer Campbell na minha mesa ao fim do dia.
— Não estou dizendo? — Ri, mexendo no celular. — Ok, senhor Savard. Como a
majestade quiser.
Pego meu celular de volta para discar para minha mãe.
Eu não prometi nada, prometi?
Não sou burro. Jamais colocaria minha carreira em risco pelos caprichos de Josh. Só não
custa dar uma olhada nos atributos profissionais da menina. O máximo que vai acontecer é a
gente perceber que não existe a chance de isso acontecer, e então Joshua vai ter que se virar com
suas próprias coisas, até porque já passou da hora de ele crescer.
Capítulo 4 - Summer Campbell

Desço no aeroporto internacional de Halifax duas horas após partir de Toronto.


Resolvi passar alguns dias em casa com meu pai, assim, precisei declinar do convite de
Betty e Alice para esse sábado. Remarcamos para o próximo.
Alex também está vindo ficar um pouco conosco, cumprindo uma suspensão do Quebec
Hunters, time da NHL onde meu irmão é capitão e central.
Quando atravesso o portão de desembarque, uma lindíssima Ava está me esperando ao
lado do nosso pai. Não consigo evitar o sorriso!
— Olha ela aí! — minha irmã mais nova grita, enquanto corre na minha direção, fazendo
com que eu largue minhas coisas no meio do caminho e abra os braços para recebê-la.
Como é linda!
O cabelo, castanho como o meu, está agora quase na cintura. Baixinha como nossa mãe, a
pele clara com um tom bronzeado traz mais alegria à garota que precisou de toda sua força e
maturidade precoce para passar por coisas que uma menina de doze anos não deveria passar.
Seus braços me apertam com tanta força que quase caímos no chão. Solto uma risada
enquanto fecho os olhos e sinto seu cheiro de avelã tão típico.
O cheiro da nossa mãe.
— Você está cada vez mais forte. O quanto Amelia tem exigido de vocês nesses treinos?
— faço menção a sua treinadora, a melhor amiga da minha mãe.
Minha garota, seis anos mais nova, aperta os olhos enquanto me encara.
— Muito. As bolhas da minha mão não me deixam mentir. — Mostra os pequenos calos
espalhados por suas palmas.
A ginástica é um esporte incrível, mas, como qualquer outro, exige um bocado de
sacrifícios.
Não pode ser à toa que ela agora faz parte da seleção canadense de ginástica artística.
Três passos depois e o sorriso saudoso de Donald Campbell está entre nós.
— Ei, pai. — Minha irmã me solta enquanto estendo os braços para ele.
O homem alto e corpulento, de quem Alex é quase uma cópia vinte e seis anos mais
jovem, me acolhe.
Sinto sua falta. Sinto falta do ambiente familiar e de tudo que nós cinco vivemos por
muito tempo.
Infelizmente, a partida da minha mãe fez com que aquela configuração familiar se
desfizesse. A gente tenta sempre que é possível ter momentos assim, mas é quase demais fingir
que tudo está normal quando sabemos que jamais seremos os mesmos depois que ela se foi.
Sara Mackenzie, como era conhecida antes de se casar com meu pai e herdar o
sobrenome dos Campbells, era o centro do nosso mundo.
— Bem-vinda, querida. Você está tão bonita… — Beija minha testa enquanto deito a
cabeça rapidamente em seu ombro.
— Talvez o desemprego e a solteirice tenham me dado um skin care gratuito.
Avie, como chamamos nossa irmã desde pequena, ri ao nosso lado enquanto vejo um
sorriso torto nascer nos lábios do Sr. Campbell.
— Ainda não acredito que você teve coragem de terminar com o gato do Josh! — Minha
irmã está revoltada com o fim do namoro desde que liguei para casa e contei tudo o que andou
acontecendo em Toronto na última semana.
— A vida não é movida pela beleza das pessoas, Ava — meu pai diz antes mesmo que eu
me pronuncie. — Deixe sua irmã em paz.
Olho para ela e apenas sacudo os ombros tentando dizer que nosso pai está coberto de
razão.
Josh me ligou insistentemente todos esses dias, deixou recados na caixa postal, encheu
meu aplicativo de mensagens de áudios e mais áudios, mandou flores, mandou bombons,
comprou todos os meus quadros expostos da galeria como se isso fosse me comover a essa
altura, enquanto mandei devolver cada centavo para ele e pedi que mandasse todos eles de volta
para Betty.
Sei que ele está tentando me vencer pelo cansaço, mas a notícia ruim que tenho para
Joshua Savard é que, não importa o que ele tente, está perdendo seu precioso tempo.
De repente, vemos um pequeno alvoroço perto do portão.
É Alex chegando, junto com alguns fãs pedindo por fotos e autógrafos.
— Ele é tão famoso! — Ava diz, debochada, só para tirar um sarro.
A verdade é que ele é mesmo. Desde que foi draftado, há cinco anos, este é o momento
mais especial da carreira do meu irmão. Os Hunters estão voando na Liga. As expectativas para
os playoffs são as melhores possíveis.
Ele atende um por um, sorrindo para as selfies e entregando os papéis assinados. Não dá
para discutir, além de talentoso em cima dos patins, meu irmão é muito bonito. E ele sabe disso!
Loiro, alto, forte, os olhos cor de mel, com uma lábia quase letal, Alexander Campbell já
destruiu mais corações por Halifax, Toronto e Quebec, do que deveria ser permitido para um
homem só.
Quando nos vê, olhando por cima da cabeça de algumas pessoas, sorri, tentando acabar
com a tietagem o mais rápido que pode. Avie é a primeira a agarrá-lo.
— E aí, caçula? — Alexander coloca os óculos escuros no topo da cabeça enquanto
abraça Ava com força.
Depois é a minha vez.
— Como vai, capitão? — Bato a mão na aba do seu boné dos Hunters e meu irmão ri,
abraçando-me em seguida.
— Estou bem, Sums — ele me chama pelo apelido que minha mãe me deu ainda quando
criança. É assim que gosta de me chamar. — E como você está?
— Ficarei bem, em breve! — declaro sabendo que meu irmão me conhece mais do que
qualquer pessoa nesta vida.
Nossa diferença de idade é de somente dois anos, eu com vinte e cinco, quase vinte e seis,
ele com vinte e sete, quase vinte e oito, e, apesar das brigas normais entre irmãos, Alex sempre
foi o meu melhor amigo, aquele com quem não tenho medo de me abrir e me expor.
Sempre acreditou nas minhas habilidades de artista plástica e me diz constantemente
sobre a certeza de que, um dia, Summer Campbell será um dos nomes mais respeitados da
pintura contemporânea. Assim como Ava também acredita.
— Claro que vai — garante, agora abraçando nosso pai de forma bem rápida. — Sr.
Campbell — brinca.
— Parece que teremos um bom fim de semana, afinal de contas. Bem-vindo, filho. — Dá
dois tapinhas nos ombros de Alex e vamos nos direcionando para o lado de fora do aeroporto.
Vinte minutos se passam até que estamos todos entrando pelo grande portão da casa da
família Campbell. Seu grande jardim de entrada com a pequena fonte que nossa mãe adorava. É
uma enorme moradia, com espaço para uma família gigantesca. Sempre que piso aqui, penso no
quão solitário deve ser, às vezes, para o meu pai. Mas ele escolheu permanecer neste lugar, não é
algo que eu, meus irmãos ou quem quer que seja possamos mudar.
Descendentes de escoceses, meus pais nasceram aqui, na Nova Escócia, uma das
províncias do Canadá. Na nossa infância, Alex e eu vivemos aqui. Um pouco antes de Ava
nascer, nos mudamos para Toronto, por conta dos negócios do meu pai e a nova carreira de
treinadora da minha mãe.
Quando ela morreu, meu pai não conseguiu fazer outra coisa que não fosse voltar para as
origens e se esconder dentro deste casarão enorme com a gente, onde as lembranças dela estão
por todos os lados.
Respiro fundo sem saber se quero mesmo encarar isso, mas, antes que eu desista, meu
irmão me cutuca e balança a cabeça, mandando-me descer. A última vez que estivemos aqui foi
nas festas de fim de ano e a comemoração sem a minha mãe continuou sendo um pouco difícil
para Donald Campbell.
— Vem, Sums. Vai ficar tudo bem — diz baixo, quando nosso pai já está ao lado de fora,
acompanhado de Ava.
— Eu espero que sim — devolvo e saio em seguida.
Meu pai se encarrega da minha mala enquanto minha irmã sai me puxando e falando
várias coisas ao mesmo tempo. Há algum tempo que ela passa mais dias fora de casa, nos
treinamentos, e viajando para seus campeonatos. Não posso dizer que eu ache ruim. Quando a
tristeza se faz mais forte que meu pai, a situação torna-se um fardo grande demais para uma
garota de dezoito anos carregar dia e noite.
Assim que todos nós entramos pela porta da sala de casa, nosso pai vai direto para seu
pequeno bar de madeira, encher um copo de uísque.
São dez e quinze da manhã.
Alex e eu nos encaramos e tudo que precisa ser dito entre nós acontece apenas com o
olhar.
O homem que bebe pouquíssimas vezes, já que tem o trabalho como seu foco principal e
enfatiza constantemente que a bebida é inimiga do foco de pessoas bem-sucedidas, sempre tem
um copo de uísque à mão quando estamos todos em casa.
É a forma do meu pai de lidar com a vergonha por ter, de certa forma, nos negligenciado
ao longo do seu luto. Por muito tempo, fomos somente Alex e eu por nós e Ava.
— Um brinde ao final de semana em família. — Meu pai sorri, levantando seu copo e em
seguida derramando o líquido âmbar garganta abaixo.
Avie olha de mim para nosso irmão mais velho e um silêncio se faz entre nós quatro.
Alex é o primeiro a quebrar o gelo para sair do meio disso.
— Bom, eu vou subir com minhas coisas e da Sums. Preciso também gravar uns stories,
desço em breve. — Seu sorriso não chega realmente aos lábios e vejo como ele puxa sua mala
com pressa e em seguida, a minha.
Nosso pai fica parado, olhando o movimento de Alex em direção à escada.
— Foi só um brinde — tenta se explicar.
Balanço a cabeça.
— Ninguém disse nada, pai. — Como se precisasse, não é mesmo?
A verdade é que um psicólogo levado a sério resolveria toda essa situação.
Mas, a vida inteira, meu pai recusou ajuda.
Ava mais que depressa se agarra em mim e diz:
— Comprei framboesas para fazermos cranachan,[2] Summie. Você vem comigo?
Meu pai ainda me encara, como quem pede desculpas por uma fraqueza. O negócio é que
eu realmente não tenho o que dizer sobre isso, então vou simplesmente me guardar no meu
próprio silêncio.
— Claro, Avie! Vamos lá. — Deixo a bolsa no sofá que minha mãe tanto amava e minha
irmã me puxa na direção da cozinha, de onde sinto um cheiro bom vindo.
Georgia está cozinhando.
A namorada do meu pai.
— Ah, vocês chegaram! — Seu sorriso se expande assim que me vê e ela enxuga as mãos
no pano jogado na mesa.
Georgia me abraça forte, o que faço questão de retribuir.
Não sei o que seria de nós sem ela. Mas também não sei o que será dela se ele continuar
assim. Não sei até onde suportaria viver com alguém que não consegue, de fato, me amar.
Ela tem quarenta e cinco anos, é uma pediatra renomada em Halifax e eles estão juntos há
dois anos. Donald Campbell com certeza é alguém melhor desde que Georgia chegou, mas não
acredito que ainda seja o suficiente.
— Como vai, Gia?
Seus belos cabelos dourados estão presos em um rabo de cavalo perfeito. Os olhos azuis
brilham enquanto me responde.
— Vou bem, querida. Eu soube do emprego e do namoro. Sinto muito! — suas palavras
são muito sinceras.
— Não sinta, Gia! Summer nunca esteve tão feliz. Fale para ela, Summie. — Minha irmã
ri do outro lado da cozinha, colocando framboesas na boca.
Reviro os olhos.
— Não era mais para ser, nem o trabalho nem o Josh. Estou tranquila com as minhas
decisões.
— Você sabe que seu pai acredita que você possa voltar para Halifax, não é? Não estou
sendo fofoqueira, só estou te preparando para uma possível tentativa de intimidação!
— Não existe essa chance. Vocês duas sabem, ele também. — Vou até a pia e lavo as
mãos antes de ir para perto de Ava pegar os ingredientes que precisamos para a sobremesa.
— Sabemos — nossa caçula se adianta.
— O que você pretende fazer agora?— Gia volta para perto da panela.
Acredito que esteja cozinhando algumas coisas para a sopa do almoço.
— Ainda não sei. Vi alguns cursos de técnicas avançadas de aquarela em Toronto. Pensei
em me inscrever para algum deles. Me dar um tempo até saber exatamente como seguir. Afinal,
já sabemos que nenhum jornal vai me contratar, certo?
— Ah, mas ele mereceu, vai. — Avie pula na bancada e Gia ri da minha irmã falando do
meu ex-chefe.
— Campbells não levam desaforo para casa. — Meu irmão entra na cozinha neste mesmo
minuto.
Ele e Georgia se abraçam demoradamente.
— Nem acredito que vocês todos estão realmente aqui. — Ela me parece um pouco
emocionada.
— Têm sido dias difíceis, Gia? — questiono sabendo que não há como a gente fugir
muito do assunto.
— Vocês sabem… — Ela sacode os ombros enquanto suspira forte. — Vai chegando o
aniversário do falecimento da mãe de vocês, as coisas pioram um pouco. — Isso não deveria ser
uma desculpa. — Meu irmão pega uma maçã verde na fruteira de centro e morde a metade. —
Isso não vai trazer a nossa mãe de volta. Não vai mudar o que passou. Ele deveria te respeitar —
o tom de Alex aumenta um pouco.
Percebo quando a namorada do meu pai dá alguns passos para trás, como se o peso das
palavras do meu irmão caísse sobre ela.
Como se soubesse que essa é a completa verdade. A única aceitável.
Ela parece querer nos dizer algo, mas é neste instante que meu pai aparece na cozinha,
indo em direção à geladeira em busca de água.
O silêncio cai sobre nós todos outra vez.
Essa merda de silêncio que eu detesto.
Eu odeio! Me faz voltar para dias que pareciam intermináveis.
Dias em que eu só queria que aquele ônibus não tivesse batido. Que ela, por algum
milagre, não tivesse nos deixado.
E é por isso que quase nunca quero voltar para casa.
O silêncio foi o que nos restou.

A casa de Donald e Sara Campbell é uma enorme mansão cercada de muito verde, um
lago enorme, alguns cavalos, já que meu pai praticou hipismo a infância e a juventude quase
toda, e um pomar cheio de pés de pêssegos e mirtilos. Minhas recordações de criança são sempre
as melhores. Nossas festas de aniversário eram as mais divertidas, nossos encontros tradicionais
de família escocesa, mais ainda.
Eu amava tudo o que a gente era, mas hoje tenho um pouco de dificuldade de amar o que
somos.
O resto do dia de ontem até que foi mais tranquilo do que imaginei. Passamos um pouco
de tempo na beirada do lago enquanto meu pai e Alex pescavam alguns peixes só para devolvê-
los à água de novo. Ava mostrou a mim e a Gia algumas das acrobacias que Amelia tem
preparado com ela para a próxima competição, e à noite fomos todos para a sala assistir a um
filme juntos.
Depois de um café da manhã mais promissor ainda, levanto-me da mesa e volto para o
segundo andar, indo até meu quarto e abrindo o guarda-roupa. Puxo a pequena caixinha que fica
sempre guardada no mesmo lugar e volto pelo corredor, até a última porta.
Giro a chave na fechadura e, quando sinto que já está destrancada, demoro alguns
segundos para abri-la totalmente.
Nunca está diferente. O estúdio de pintura da minha mãe permanece exatamente como ela
o deixou a última vez que esteve aqui. Eu já decorei o lugar de cada coisa.
Entro devagar, segurando um pouco da respiração por conta da poeira até conseguir
atravessar o cômodo e abrir um pouco as duas janelas que dão frente para o lago. Por alguns
segundos, quase posso vê-la podando suas rosas vermelhas com seu chapéu apropriado, as luvas
e o sorriso pintado de rosa-claro, como ela adorava.
Olho novamente para dentro e encaro algumas das suas telas inacabadas, que ficaram em
seus cavaletes. Algumas pensamos juntas. No quadro de anotações pendurado na parede verde-
clara, rabiscos com sua letra.
Todas as vezes que entro aqui, consigo nitidamente me lembrar dela me ensinando o
básico, como o lavar, molhado sob molhado, molhado sob seco, salpicado, reserva e tudo o mais
que faz da aquarela um tipo de pintura fascinante.
Eu sempre ouvia tudo com muita atenção, porque amava o tempo que passava com minha
mãe, principalmente aprendendo sobre uma coisa que eu descobri amar mais do que poderia
supor.
O vazio que essas lembranças colocam no meu coração me rasgam a alma.
Como sinto saudades dela...
— Quando posso, venho aqui também — ouço a voz de Alex e me assusto, virando o
corpo para dentro.
Olho para meu irmão, que encosta a porta para nos dar privacidade.
— Eu sinto como se ela fosse atravessar este cômodo a qualquer momento, cheia de
tubos de tintas nas mãos.
Alexander sorri, aquele sorriso cheio de saudade, e suspira. Meu irmão tem quase dois
metros de altura, o tronco largo e toda essa postura de atleta intimidador, mas só eu sei o quanto
existe um garoto ferido ali dentro, que ainda não superou a perda da mãe e a negligência do pai.
— Ele está se esforçando para ficar mais próximo de nós ou foi impressão minha? —
pergunta assim que para bem ao meu lado.
— Se esforçou, pelo menos. — E nem precisou de mais um copo de bebida para isso.
Alex concorda com a cabeça e passa uma das mãos pelos cabelos.
— A Gia vai dar no pé qualquer hora dessas e aí eu não sei o que vai ser do velho, Sums.
Avie já é uma mulher e, daqui a pouco, está indo para o mundo como nós dois fizemos.
Deito a cabeça no seu braço e respondo:
— Espero que ele acorde antes disso.
— Você acha que vai? Enquanto ele não se tratar dessa culpa, não sei o quanto as
perspectivas podem ser consideradas, de fato, boas — sinto o rancor na voz de Alex.
Meu pai lida com a morte da minha mãe afundado na sua empresa. É a forma que ele
arruma de não pensar no acidente que tirou a vida dela. Por anos a fio ele só pensava em
trabalho, trabalho, trabalho, não reservando tempo para cuidar de nós. Por isso, tornou-se uma
figura ausente, mesmo estando no mesmo lugar que todos nós.
— Não sei. Eu realmente não sei…
Meu telefone toca exatamente neste momento.
Joshua.
Meu irmão observa pelo canto do olho e dá uma risada debochada.
Ele detesta Josh.
— Está assim desde que terminei. Ele não passa um dia sequer sem tentar falar comigo.
Estou cansada disso! — digo enquanto olho para seu nome piscando sem parar na tela do meu
aparelho.
— É melhor você atender. Assim esse idiota te deixa em paz logo — murmura com cara
de desprezo e beija minha testa, afastando-se em seguida.
Bufo por uns três segundos, até que aperto o botão verde e coloco o aparelho na orelha.
— Oi, Josh — cumprimento sem muito ânimo.
— Estou na porta da sua casa. Cadê você? — a voz do meu ex parece completamente
animada.
— O que você está fazendo aí? — é o que devolvo para ele.
— Vim te contar uma novidade, queria te dizer pessoalmente. Onde você está? Posso ir
te encontrar.
— Em Halifax. Olha, Josh. — Estou há alguns segundos de ser bem grossa, mas penso
com calma e decido repensar as palavras. — Acho que já falamos tudo o que precisávamos falar.
Eu realmente não tenho mais nada o que dizer para você, me desculpe.
— Mas você nem me ouviu ainda, Sum. Calma! — Ele nem se abala com o meu fora.
Não acredito que Josh não vai me deixar em paz. — Theo está na cidade, veio para uma
entrevista de TV. Você viu as notícias, não é?
Claro que vi! Theo vai se aposentar das pistas este ano. Não existe outro assunto no
mundo do esporte inteiro que não seja isso.
— Sim, eu soube — sou sucinta.
— Você gostaria de trabalhar com Theo Savard no seu último ano de Fórmula 1,
Summer Campbell? — me joga, assim, do nada.
Fico calada por alguns segundos tentando processar o que é que esse garoto acabou de
dizer.
— Como é? Eu não entendi.
— Foi isso mesmo que você ouviu — a voz volta a ficar animada. — Meu tio está com
sérios problemas de equipe depois que encerrou o contrato com o Carl, o irmão da Louise. Ele
não está gostando da assessoria que está cuidando das coisas dele e me perguntou se eu não
conhecia alguém que gostaria de assumir a função, eu só consegui pensar em você.
Em mim?
Summer Campbell, assessora de Theo Savard, seis vezes campeão mundial da Fórmula
1? O maior do mundo?
Isso é algum tipo de pegadinha?
— Joshua, não tem graça! — Rio irônica, xingando Alex mentalmente por ter me
incentivado a atender essa ligação.
— Eu estou falando sério. Ele quer te ver para conversar. É uma oportunidade única,
Summer! Ninguém na vida pode ter um chefe melhor que o meu tio, pode acreditar! Sem contar
o quanto isso vai ser incrível para a sua carreira. Theo Savard é um nome que abre portas!
Disso eu não tenho a menor dúvida.
— Meu forte nem é a assessoria. Eu não posso ter uma responsabilidade dessas. Estamos
falando do seu tio, o maior da F1!
— Se ele mesmo está acreditando em você, por que você não está, Summer? Apenas diga
sim! Não queria tanto um trabalho que te valorizasse?
Meu Deus…
Começo a andar de um lado para o outro do ateliê.
— Isso não está certo. Ele é seu tio, nós dois acabamos de terminar. Não vamos misturar
as coisas, ok? Eu te agradeço, mas…
— Summer! — ele grita do outro lado da linha. — Eu sou seu amigo, cacete! Não tem
nada a ver com a gente. É um emprego. Um emprego do caralho!
— Você tem noção do que é cuidar da imagem pública de um atleta?
— Nenhuma, mas sei que você tem. É o que você ama, Sum, junto com seus quadros… O
esporte! Quando você volta para Toronto?
— Hoje à noite.
— O Lee vai entrar em contato com você para marcarem um papo, tá bem? Precisa ser
amanhã. Ele não vai ficar muito tempo no Canadá.
— Quem é Lee?
— O empresário dele, você conhece. Mark — escuto o barulho do seu carro ligando —,
bom, já que você não está aqui, estou indo embora. Olha… Eu sei que isso pode mudar a sua
vida, Summer. Por favor, confie em mim!
Assessora de Theo Savard?
De repente, eu me lembro da técnica de Aileen. Eu acabei fazendo aquilo, com toda a fé
que eu tinha. Escrevi trinta e três vezes por três dias o que ela me disse para escrever e, enquanto
minhas mãos doíam, eu tentava pensar, pelo menos uma vez, em acreditar nas coisas que minha
amiga acredita.
— Calma, Josh. — Balanço a cabeça tentando organizar as informações. — Eu teria que
me mudar… para Mônaco?
Sei que é lá onde Theo mora agora depois do seu divórcio. Estivemos em Monte Carlo no
ano passado, para o GP. Foi uma das duas vezes que vi Theo pessoalmente, mas quase não nos
falamos. Naquele final de semana, ele terminou em primeiro lugar. E, claro, garantiu a pole
position.
— Para onde o Theo precisar ir — ouço o sorriso em sua voz. — Nada mal viajar o
mundo de graça enquanto trabalha, não é?
— É… Nada mal! — Acabo rindo também, mais de incredulidade do que tudo.
Sou tão feliz e grata pelo meu trabalho com esporte, que me permite viajar o mundo
todo! Como assim?
— Bom, obrigada, Josh. Eu vou… Vou conversar com ele.
— É isso, garota! — comemora do outro lado e faz uma pequena pausa. — Eu sinto
sua… — Percebo o exato momento em que ele se vê tentando cruzar uma linha que eu não
gostaria que ultrapassasse, então ouço o som baixo da sua risada. — Até mais! — muda o
discurso e encerra a ligação.
Olho para o aparelho na minha mão sem conseguir acreditar na conversa que acabei de
ter. Dois minutos depois, meu celular pisca com uma mensagem.
Mark Lee.
Capítulo 5 - Theo Savard

Vir ao Canadá torna-se sempre um evento.


A mídia não me dá o mínimo sossego e tentam me seguir para qualquer canto em que eu
esteja. Isso inclui a porta do condomínio onde minha família mora e minha residência oficial no
país fica.
— Alguém já te avisou sobre o tumulto que está lá fora? — minha mãe, Salma, pergunta
assim que cruza a porta dos fundos, que dá diretamente para a área de lazer da minha casa.
Mark está afastado, ao telefone, enquanto leio algumas das notícias do dia no jornal.
Levanto os olhos quando ouço a sua voz e sorrio já de pé para abraçá-la.
Salma García Savard é uma mulher cheia de disposição, no auge dos seus quase setenta
anos. Trabalhou por muito tempo no marketing da Savard e hoje faz parte do conselho
administrativo da empresa.
— Vou sair de helicóptero — sano sua dúvida.
Em breve tenho um encontro com Summer Campbell e duas entrevistas para a TV.
Mark e eu investigamos a vida profissional da garota inteira e tudo o que vimos é que a
ex-namorada do meu sobrinho é realmente muito boa. Apuração cuidadosa, palavras calculadas,
reportagens que foram destaques no meio jornalístico e dois prêmios como jornalista revelação.
Ainda não sei se é a coisa certa a fazer, já que a expertise de Campbell não é assessoria,
mas Summer vem de uma família inteira de esportistas e eu acredito que ela saiba melhor do que
muita gente lidar com isso.
— Tudo certo para os testes de inverno? — questiona enquanto me aperta entre os
braços.
Beijo seu rosto antes de nos afastarmos.
— Acredito que sim. — Puxo uma cadeira para que ela se sente ao meu lado. — Vai ser
o ano mais difícil da minha carreira inteira, mas sabíamos que o momento de me despedir
chegaria. Sei que Bahrein é o começo do fim.
— De uma carreira incrível, meu amor. — Segura minha mão e aperta, dando-me um
sorriso encorajador.
Apesar do medo no seu coração de mãe nunca ter lhe abandonado, sei que aqui eu tenho a
minha maior fã.
— Não podemos negar. — Devolvo o sorriso e emendo em uma pergunta: — Mãe, o que
você acha da Summer do Josh?
Os olhos dela se abrem sem entender direito, mas sei que, de todos nessa família, minha
mãe é a mais observadora.
Ela não é muito das palavras, mas sabe exatamente tudo o que se passa ao seu redor.
— Até onde eu saiba, ela nem é mais do Josh. Seu sobrinho está solteiro, ele não te
contou?
— Contou, sim. — Rio antes de continuar. — E o menino não está nem um pouco feliz
com isso.
— Ele não é mais um menino, Theo! — me lembra. — E se você quer saber o que eu
acho: a Summer terminou tarde. Joshua está se tornando um bobão inconsequente, um rapaz
mimado. O seu pai, com certeza, já teria dado o grito com Derek a respeito do quão
inconsequente este menino tem se tornado.
— Calma, mãe… — tento frear um pouco a sua fúria.
— Ah, Theo, não seja cego, por favor. Vocês dois podem ser melhores amigos, e o que
mais você quiser, mas a verdade é que Derek e Laura estragaram aqueles meninos o quanto
puderam. — Ela ajeita os cabelos negros pintados, parecidos com os meus, atrás da orelha. —
Não existem chances de Joshua assumir qualquer cargo estratégico dentro daquela empresa. Ele
vai nos levar à falência. Não tem responsabilidades, coisa que seu pai fez questão que você e
Derek tivessem desde meninos. Nenhuma mulher com um pouco de amor-próprio quer um
homem assim ao lado.
— Caramba. Você está realmente com raiva. — Pego a xícara de café que estava
tomando antes de ela chegar e termino de beber. Ofereço um pouco, mas recusa. — Mas sei que
você tem razão em várias dessas coisas. Não sou bobo. Amo Josh como amo todos os outros,
inclusive Matthew e Perry — os gêmeos, filhos mais novos do meu irmão —, mas sabemos que
ele tem uma percepção de mundo um pouco equivocada.
— Um pouco? Você é tão bonzinho, corazón. — Balança a cabeça, rindo, usando seu
espanhol. — Mas por que está me perguntando de Summer? — ela volta ao assunto principal.
— Devo contratá-la para ser minha nova assessora. A garota saiu do jornal e Josh me
disse que ela está em busca de outro emprego.
O sorriso da minha mãe se abre.
— Ela é adorável, Theo! Uma garota muito esforçada apesar de todo o dinheiro do pai.
Summer é o tipo de mulher que ainda vai fazer muito sucesso pelos seus próprios méritos. Fico
feliz em saber que vai ajudá-la.
Se eu contar que é porque o adorável Josh foi quem pediu, vou ouvir mais do que estou
disposto, então, fico calado.
— Carl me faz uma falta absurda. Não consigo encontrar ninguém como ele. Preciso de
alguém que se dedique totalmente a mim. — Eu não deveria ter raiva de Louise por ser irmã
dele, mas, na verdade, às vezes é tudo o que sinto.
— Acho a Summer perfeita para isso. Ela é jornalista de esportes, tem uma família cheia
de esportistas. Se houver algo que ela ainda não saiba, tenho certeza de que se esforçará para
aprender.
— Vamos ver. Vou encontrá-la em meia hora.
— Aqui?
— Com certeza não, minha querida Salma — é Mark quem diz, chegando em seguida.
Ele pega a mão da minha mãe e a beija. — A garota está correndo do seu neto como se ele fosse
o próprio demônio.
— Viu? — Ela olha para mim com cara de poucos amigos, mas sorri para Lee.
Summer pediu a ele que nos víssemos fora do condomínio, já que tem evitado encontrar
Joshua. Não posso julgá-la, afinal, se eu puder evitar encontrar Louise, acredite, o faço.
— Tem planos para hoje à noite, docinho? — Mark brinca com ela, que gargalha.
Esse coreano safado não perde tempo nem com a minha mãe. Não consigo entender
como alguém pode ter tanta lábia feito esse homem. Em todos esses anos sendo fiel ao meu
casamento, Lee comeu todas as mulheres que tentaram cruzar a linha comigo. Acho que, no fim
das contas, nossa parceria de negócios é melhor para ele do que para mim.
— Me respeita, rapaz, ela é minha mãe — zombo enquanto me levanto, colocando os
óculos escuros no rosto. Olho no relógio e vejo que horas são. — O helicóptero está chegando?
— Em dez minutos. Você está pronto?
— Estou. — Dobro o jornal e deixo junto com a xícara para que recolham depois.
— Temos um jantar de família amanhã, não se esqueça — ela me relembra. A matriarca
dos Savards está organizando um momento antes de eu ir embora, já que com o início da
temporada não voltarei para casa tão cedo como gostaria.
— Estarei lá.
— Até amanhã, rapazes. — Senhora Salma se levanta e faz o caminho para dentro de
casa no exato momento em que escutamos o barulho do helicóptero rodeando o condomínio.
Summer Campbell

— Eu me pareço apresentável para uma entrevista de emprego com Theo Savard?


Olho pela milésima vez no espelho, encarando meu corpo em um vestido azul-marinho
que cobre minhas coxas e tem manga bufante. Para os pés, escolhi uma sandália média, bege, de
salto fino.
Gosto dessa cor, porque sempre acho que destaca o tom mais bronzeado da minha pele e
combina com os meus cabelos lisos, uma espécie de castanho claro com algumas mechas mais
loiras, agora, cortado um pouco abaixo dos ombros.
— Quando é que você não está apresentável, Summie? Você tem a elegância e a postura
da sua mãe! — isso é um baita de um elogio, já que minha mãe era a mulher mais elegante e
bonita que já conheci.
A ginástica ensinou postura para ela, coisa que sempre exigiu tanto de mim quanto de
Ava.
— Preciso entender que bruxaria é essa que você fez, Leen. Não é possível que escrever
coisas em um papel realize nossos sonhos.
Aileen me olha deitada na minha cama e ri alto.
— Eu disse a você! — Quando vai começar todo seu discurso, meu celular apita.
Vou até minha penteadeira, onde ele está, e vejo uma mensagem avisando que o
motorista de Theo já está na minha porta esperando.
Sim. Ele mandou o motorista vir me buscar.
— Chegou! — grito para ela, que dá um salto da cama e vem em minha direção.
— Amiga, já deu tudo certo, está bem? Lembre-se: você é maravilhosa. Não se esqueça
disso em nenhum momento dessa conversa, está certo? O emprego já é seu.
Confesso que não consegui dormir essa noite. A ligação com Josh e a mensagem de Mark
ficaram martelando na minha cabeça o tempo todo.
Preferi não criar alarde dentro de casa, por isso não contei nada para nenhum deles.
Aileen é a única que sabe que talvez eu me torne assessora do maior atleta do Canadá dos
últimos tempos.
Pensei inúmeras vezes em ligar para Joshua e Mark a fim de declinar da oferta, mas algo
dentro de mim tem me falado que não devo fazer isso porque, se der certo, vou viver um dos
momentos mais malucos e incríveis da minha carreira dentro da comunicação.
— Ok, ok! Eu te ligo assim que sair de lá. — Pego minha bolsa já pronta e olho meu
cabelo pela última vez no espelho.
Fico reparando se minhas pernas um pouco longas demais, os seios fartos e o quadril um
pouco mais avantajado que a maioria deixam o vestido inapropriado. Mas a verdade é que não
tenho mais tempo para mudar de ideia.
Antes de sair, checo o batom rosa-claro, e dou um abraço apertado em Aileen, indo por
fim em direção à rua.
Ao sair do elevador e cruzar a portaria do prédio, dou de cara com um Volvo XC60. É
um blindado.
— Bom dia, senhorita Campbell — o motorista de Theo me cumprimenta sorridente
enquanto abre a porta do veículo para mim. — Eu me chamo Norman e vou conduzi-la até o
Radison Blu para encontrar o senhor Savard.
Ele diz o nome de um dos hotéis mais caros e luxuosos de toda a Toronto. Sei que não é
só para me encontrar que Theo está por lá. Ele vai ceder duas entrevistas depois do nosso papo.
A estada de Savard na cidade é o assunto do momento e não há nada que a mídia goste
mais de falar do que sua aposentadoria. Voltei para casa ontem à noite lendo tudo o que podia
sobre suas recentes declarações, porque não faço ideia sobre o tipo de coisa que vai querer saber
de mim. Até porque, sou uma jornalista esportiva, na teoria eu deveria saber tudo sobre ele, e sei,
na verdade.
Quantas poles, quantos pódios, quantas corridas, quantos pontos, tudo mesmo.
Agradeço ao Norman e aceito sua ajuda para entrar no carro enorme. Enquanto
passeamos pelas ruas da cidade e acompanho o movimento intenso de uma segunda-feira pela
metrópole; agradeço mentalmente pelo curso de verão que fiz sobre gestão de mídias sociais e
branding. Hoje, Theo Savard não é só um piloto de F1, ele é uma marca valiosíssima, que precisa
de um cuidado impecável para se manter perene mesmo depois de se aposentar das pistas.
Confesso que pensar em ser a pessoa que o ajudará com isso me agrada mais do que eu
poderia imaginar.
Norman estaciona o carro na entrada de trás do hotel, enquanto me encara pelo retrovisor
e avisa:
— Não há como entrar pela porta da frente. A imprensa está acampada por lá esperando
que o senhor Savard apareça em algum momento. Ele precisou se deslocar de helicóptero para
chegar até aqui.
— Está tudo certo, Norman. Te agradeço por avisar.
Assim que desço do carro, dois seguranças aparecem ao meu lado, conduzindo-me hotel
adentro.
— O senhor Savard pediu que acompanhássemos a senhorita até a suíte presidencial —
um deles me diz assim que o elevador abre a porta na nossa frente. — As damas primeiro, por
gentileza.
Agradeço a cordialidade e entro. Os dois vêm logo atrás e bloqueiam o elevador para que
ele vá direto até o último andar.
Começo a ficar um pouco tensa, o que não deveria acontecer. Eu já conheço Theo,
mesmo que tenhamos trocado apenas meia dúzia de palavras. Ele não é um estranho.
Só é o tio do meu ex-namorado, que não sai do meu pé.
Quando o elevador se abre, uma única porta está de frente para nós. Mais dois seguranças
estão ali parados e se apressam em falar no seu rádio ou coisa parecida.
— Bom dia, senhorita Campbell. — Um homem oriental, alto, forte e bonito, surge do
nada pela porta enorme de mármore escuro.
Sim, eu me lembro dele. Mark Lee.
— Bom dia, senhor Lee. — Retorno o aperto de mão que ele me dá.
— Me chame de Mark — e pisca para mim. — Entre, por favor. Theo está te esperando.
— Com licença — digo antes de atravessar para dentro do cômodo que não é nada menos
do que perfeito.
As paredes são todas de vidro, com vista para o lago, e os móveis em tons escuros, cinza
e preto, trazem o ar de poder que um quarto como este sempre quer transmitir.
Vejo Savard parado de costas, olhando pelo vidro para o lado de fora, enquanto fala no
celular com alguém.
Ele usa uma calça de alfaiataria azul-marinho de corte impecável, enquanto a camisa
social que abraça o corpo malhado na medida certa para um piloto de elite da Fórmula 1 é de um
azul bem claro.
Nem se tivéssemos combinado, nossas roupas poderiam ter tons tão parecidos.
Pelo visto, temos dois amantes de azul por aqui.
Assim que está encerrando a ligação, ele se vira para mim e me dá um sorriso bonito,
colocando o aparelho no bolso logo em seguida.
— Summer, seja muito bem-vinda! — a voz forte e rouca chega até mim antes mesmo
que ele cruze a distância entre nós.
O que chega antes também é seu perfume, fresco e marcante.
Theo Savard é uns bons doze centímetros maior que eu, com meus 1,71 metros. Os
cabelos negros bagunçados e o cavanhaque muito bem aparado trazem um charme extra a um
dos homens mais cobiçados do esporte.
Pense na fila de mulheres que devem passar pela cama dele agora que está solteiro? É
errado pensar que eu passaria facilmente se ele não fosse tio de Josh e, provavelmente, meu
próximo chefe?
— Theo, é um prazer revê-lo! — Aperta a minha mão e me dá um beijo no rosto bem
rápido, o que não impede que seu perfume me abrace.
Deus do céu!
— Por favor, me acompanhe. Vamos nos sentar. — Aponta para o sofá de couro escuro
próximo à outra parede. — Está tudo bem com você? Muito tempo desde que nos vimos pela
última vez, não é mesmo?
— É verdade! Foi em Mônaco — respondo enquanto nos sentamos, cada um em um
canto de sofá. Mark se acomoda na poltrona de frente para nós. — Está tudo bem, sim. Obrigada
por perguntar, Theo.
— Seu irmão vai ganhar a Stanley da temporada para o Quebec, não é? Só se fala de
Alex Campbell agora! Quem sabe o Toronto não o traga para cá em breve? Adoraria vê-lo
jogando aqui.
Theo Savard está elogiando Alexander Campbell. É oficial: meu irmão vai surtar!
— As chances são grandes. Ele e o time estão bem animados. — Sorrio com a gentileza
da sua preocupação em me deixar à vontade. — Quem sabe? Amaria ter meu irmão mais
próximo.
— Estar perto da família é sempre bom. — Devolve um sorriso amigável. Theo está
ótimo no auge dos seus quarenta anos. Daria a ele uns trinta e cinco, talvez? — Summer, andei
conversando com Josh sobre a minha necessidade de um novo assessor depois que desfiz o
contrato com meu ex-cunhado. Não me adaptei ao trabalho feito pela agência. Não funciona para
mim. — Os ombros de Savard se balançam. — Carl era minha sombra e isso me dava
tranquilidade de ter alguém ao meu lado o tempo inteiro, que podia trocar informações imediatas,
que me permitia fazer parte do processo. Me acostumei assim.
— Faz todo sentido, Theo. Eu compreendo.
Ele coça a barba com sua mão grande e bonita, continuando:
— Diante da indicação de Joshua, Mark e eu pesquisamos sobre você e te confesso que
estamos surpreendidos.
— Você é uma jornalista e tanto, Campbell — Mark agora é quem fala. — Sabemos do
seu problema com o seu chefe do The Toronto Post e fique sossegada, porque isso não é um
problema para nós. Inclusive, seria se você não tivesse feito o que fez. — O homem ri, o que me
deixa um pouco mais confortável. — Estamos falando aqui de Fórmula 1, Summer. Um
ambiente completamente machista. Você vai ser cantada, assediada, passar por momentos
constrangedores, infelizmente. Só precisa fazer duas coisas diante disso: ignorar e em seguida vir
me contar, do resto eu e meu pessoal cuidamos. Claro, se você aceitar o convite de Savard para
integrar a nossa equipe.
— Vocês querem mesmo que eu assuma sua assessoria, é isso? — pergunto para Theo.
— Você quer? Se sim, é isso que queremos também. Precisamos de você cuidando das
minhas entrevistas, meu posicionamento com a imprensa, das minhas redes sociais, das minhas
ações sociais com o instituto, gerir qualquer crise de imagem ou algo do tipo. Não que eu seja
um cara que se envolva em coisas polêmicas.
As pessoas já o acham um dos homens mais bonitos do país sem ao menos terem tido a
chance de vê-lo de perto. Imagine se pudessem!
— Eu posso fazer isso. Não era a minha área de atuação, mas me preparei para esse tipo
de trabalho no último verão.
— Contratei uma consultoria para te dar uma imersão no que for preciso até que a pré-
temporada comece. Até lá, a agência vai cumprir o contrato que temos e então encerraremos.
Por que é que Theo Savard está fazendo isso tudo só para me contratar?
— Theo, me desculpe a sinceridade, mas… isso não tem a ver com Josh, tem? Porque eu
e seu sobrinho não estamos mais juntos, e espero que isso não seja qualquer tipo de favor a ele
ou algo assim. Eu me sentiria completamente honrada em poder ser quem vai cuidar da sua
imagem no seu último ano nas pistas, e, acredite, eu seria a melhor nisso, porque nunca entro em
nada se não for para dar o meu melhor, mas se tem a ver com ele…
— Então você será a melhor, Summer, porque não tem a ver com meu sobrinho — sua
voz é firme. — Se você terminou com Josh, tem seus motivos, que não cabem no meio da nossa
conversa. Ele só me disse que você poderia ser a pessoa que eu procuro, Mark e eu concordamos
que, de fato, é.
— Cinquenta mil euros mensais, Summer — Mark toma a palavra novamente —, o
salário.
Puta que pariu!
Está de sacanagem?
— Uau! — não consigo esconder o espanto.
Quanto tempo da minha vida enfiada naquele inferno de redação eu precisaria para
ganhar um terço disso?
— É o justo, está bem? É o que o mercado tem pagado. Era o que eu pagava para Carl.
Sei que é uma responsabilidade gigante, mas acreditamos que você vai saber lidar com
tranquilidade — a forma como Theo fala é totalmente confiante. — O contrato é por um ano.
Depois, voltaremos a conversar sobre o futuro, se isso for algo que queiramos, as duas partes.
Meu Deus, isso só pode ser um sonho!
— Eu aceito, Theo! — eu nem me embanano e tremo para dizer as palavras.
— Perfeito. — Ele me dá um sorriso de canto, que faz meu estômago se contorcer.
Theo Savard, meu novo chefe.
Summer Campbell, assessora do maior piloto de todos os tempos da F1!
— O contrato está aqui. Caso queira levar para seu advogado ler com você, fique à
vontade — Lee me diz. — Mas vamos embora em dois dias para Mônaco. Quarenta e oito horas
são suficientes para você providenciar o que precisa levar?
Theo fica de pé, ajeitando a calça no corpo.
— Morar na mesma casa seria um problema para você, Summer? Sei que pode parecer
estranho, mas tenho ideia do quanto custa viver em Monte Carlo. Você não precisa aceitar se não
quiser. Mas em casa temos espaço, você terá seu carro, cartão ilimitado, o que você precisar.
Fique tranquila, que faço questão de que tenha sua privacidade.
Essa é a parte na qual eu ainda não tinha pensado.
Vou dividir um teto com Theo Savard? É isso mesmo?
— Quase não ficamos por lá, mas saiba que, quando estivermos, a casa é sua como é
minha, e do meu secretário também, Manfred. — Ele respira fundo antes de continuar: — Não
vou te dizer que não será exaustivo, porque será. Rodar o mundo todo em um ano parece uma
coisa glamourosa, mas na verdade é estressante e cansativo. Porém também é o que meu trabalho
exige. — Seus olhos castanho-escuros olham atentamente dentro dos meus, o que deveria me
intimidar, mas na verdade me deixa cheia de expectativas. — Preciso que você seja a minha
melhor amiga, Summer. A pessoa que vai saber de mim mais do que eu mesmo.
O quanto eu não daria para ver a cara do meu ex-chefe ao saber que agora eu sou nada
menos do que o braço-direito de Theo Savard?
O mundo realmente não gira… Ele capota.
— Quarenta e oito horas são suficientes, Mark. E não precisa de advogado, eu confio em
vocês. E, Theo, tudo bem morar com você. Acho que vamos ficar mais em hotéis do que tudo,
não é mesmo? — Ele ri, concordando. — Então, conte comigo. Nada pode ser pior do que tudo o
que passei no The Toronto. Aposto que você deve ser o chefe dos sonhos de qualquer pessoa.
Theo solta uma gargalhada e aponta para Mark.
— Pergunte a ele, ninguém melhor para te dizer se sua teoria faz sentido.
— Não poderia ter um chefe melhor, Campbell, acredite. Principalmente a parte do cartão
ilimitado. Essa é a melhor qualidade de Savard.
Nós três rimos juntos. Mark me entrega o contrato e uma caneta, eu assino sem pensar
demais.
— Seremos um ótimo time, então. — Rubrico todas as laudas do contrato e Lee faz
questão de que eu fique com uma via, que é minha.
Ele e Theo me dizem mais algumas coisas, em que, confesso, não consigo prestar muita
atenção.
Acho que não me sentia tão feliz assim desde que vendi meu último quadro na galeria.
Chupa, The Toronto Post!
É oficial: Fórmula 1, aí vou eu!
Capítulo 6 - Theo Savard

Estou na varanda da casa da minha mãe após o jantar em família, ao telefone, quando
Josh aparece com dois uísques cowboy nas mãos. Encerro a ligação e aceito o copo.
— Como ela estava? — é a primeira pergunta que faz.
Falei com Josh que só conversaríamos depois do jantar, porque não estava a fim de falar
sobre negócios enquanto estávamos à mesa.
O pouco tempo que tenho com a minha mãe é precioso para mim, dada a raridade com a
qual nos encontramos, por isso aproveito sempre que posso. Depois da minha aposentadoria,
espero mudar um pouco isso.
— Bem. — Dou um gole longo na bebida âmbar e sinto o exato momento em que ela
parece rasgar a minha garganta. Meu momento favorito. — Delicioso. — Observo o copo de
perto.
— Foi o pai dela quem me deu — meu sobrinho comenta e completa. — É um Glenturret
Triple Wood. Você sabe que os Campbells são descendentes de escoceses, não é?
— Imaginei que fossem. — Na verdade eu soube quando Mark me trouxe a ficha
completa da filha de Sara.
— O que ela disse sobre mim? — A empolgação de Joshua é genuína e eu não sei como
dizer ao garoto que Summer não parece nem um pouco disposta a dar outra chance para ele.
— Ela não disse nada, Josh. — Dou outro gole na bebida e tento guardar na memória a
informação de que preciso comprar algumas garrafas dessa para minha casa. — Dê um tempo a
ela. Summer já te disse que não quer voltar, não disse? Ficar insistindo agora não vai resolver
muita coisa. E, Joshua — aproveito para deixar claro de uma vez por todas —, você sabe que
estou ao seu lado para tudo, mas, por favor, não atrapalhe o trabalho de Summer. Ela só está
contratada porque é competente para o cargo. Preciso dela cem por cento focada em mim. Se em
algum momento eu achar que você deva tentar uma aproximação, eu vou te dizer. Enquanto isso,
foque no seu trabalho, como um homem.
Não vou dizer a Joshua que nas poucas palavras de Summer, entendi que realmente não
há volta.
Nunca havia reparado nela, mas a verdade é que minha mãe tem lá um pouco de razão.
Summer me parece bonita e inteligente demais para gastar tempo com um rapaz que ainda não
sabe realmente o que quer da sua vida.
No nosso pouco tempo de conversa, Campbell me pareceu ser uma mulher
completamente segura de si, de pulso firme, sem muito tempo a perder. Vi nos olhos dela a
mesma determinação que eu tinha dentro de mim enquanto lutava para chegar até onde sonhava.
Sua beleza também não me passou despercebida. Não sou um homem cego. Talvez o ego
de Joshua com o término esteja tão ferido porque qualquer um concordaria que Summer tem uma
beleza única. Os olhos são expressivos, a boca é bem desenhada, chamativa, e tem um corpo que,
não dá para negar, parece ter sido feito sob medida para aquele vestido que abraçou gentilmente
todas as suas curvas bonitas. Mark foi o primeiro a expressar isso verbalmente, assim que ela
saiu de lá. Já eu, guardei todas essas percepções para mim mesmo.
— Você está querendo dizer o que com isso, Theo? — pergunta um pouco desconfiado.
— Quero dizer que você precisa ter a seriedade que o nome Savard exige que tenha.
Você é herdeiro de um legado que não nasceu da noite para o dia. Seu avô deu a vida para que
hoje você e seus irmãos desfrutem da vida que têm. Se acha que é digno de ser quem
representará a Savard no futuro, prove. Mostre trabalho, tenha disciplina, seja responsável. Não
dá para viver só das regalias, Joshua. A vida não é assim.
— Meu pai andou reclamando de mim, foi? — Meu sobrinho ri, mas sei quando seu riso
é de preocupação.
— Ninguém andou reclamando de você. — Não vou falar do que a avó disse dele. — Só
estou falando do que vejo. Você estudou nas melhores escolas e na universidade mais renomada
do Canadá, Josh. É um homem inteligente, que tem um potencial absurdo para se tornar um
monstro nos negócios. Use isso a seu favor. Dinheiro e status acabam do dia para a noite. Sua
reputação é o seu verdadeiro legado.
Meu sobrinho respira fundo e toma seu uísque.
— Eu sei. Você está coberto de razão, tio. Sei também que esse é um dos motivos pelos
quais Summer terminou nosso namoro. — Ele olha em direção à área da piscina. — Ela me acha
um cara mimado que tem tudo o que quer, a hora que quer.
— E você tem mesmo, afinal de contas. Mas se está disposto a ser mais sério, não achar
que o coração dela ou de qualquer mulher com a qual se envolva é uma brincadeira, Joshua,
mostre a ela que está enganada, mas mostre com atitudes, porque neste exato momento é o que
você é: um garoto mimado.
Ele ri e bate a mão no peito, como se eu o tivesse acertado.
— Você é cruel, Theo Savard, mas eu te amo.
Traição é o tipo de coisa que eu não aceito. Seja em qualquer área da minha vida.
Não cheguei aonde cheguei sendo desonesto em minhas relações. Inclusive, Louise e eu
só terminamos tudo com o máximo de respeito que pudemos, porque escolhemos ser fiéis ao que
tínhamos até o último momento.
Ver Joshua achando esse tipo de coisa normal é difícil de digerir.
Rio de Josh e o puxo para perto. Meu sobrinho passa o braço pelas minhas costas
enquanto dou dois tapinhas em sua cabeça.
— Eu também te amo e é por isso que estou te dizendo todas essas coisas. Você tem vinte
e seis anos, Josh, não tem mais idade para agir como um garoto. Nem nos negócios, muito menos
com as mulheres. Mulheres de verdade estão interessadas em homens de verdade.
— Essa era a última coisa que eu gostaria que você pensasse de mim. Que não sou um
homem de verdade.
Não é segredo para ninguém que a nossa relação é muito melhor do que a de Derek com
ele. Os dois são muito parecidos e, na maioria do tempo, isso vira motivo de embate direto.
Traição, inclusive, é algo que Joshua cresceu vendo seu pai fazer com a mãe. Laura, em
contrapartida, finge que não vê o óbvio para continuar tendo a vida que tem.
Eu amo meu irmão. Apesar de todas as nossas diferenças, ele sempre foi o cara que eu
idolatrava junto com meu pai. E, por mais ambicioso que ele seja, precisamos ser sinceros ao
dizer que Derek Savard suou muito para transformar a marca no que é hoje. Porém, suas atitudes
na vida pessoal não são lá seus pontos fortes.
Nunca tive dúvidas de que não seria um sucessor da Savard. Eu nunca quis nada da vida
que não fosse pilotar carros de corrida e ser campeão mundial da F1. Já meu irmão, nasceu para
os negócios.
— Não é sobre o que eu penso de você. É sobre o que você transmite ser para todo
mundo. Se não é isso que você é, Joshua, chegou a hora de mostrar para o mundo. — Puxo Josh
e dou um beijo demorado na sua cabeça.
O moleque que até um dia desses corria gritando atrás de mim pelo paddock, agora,
precisa de conselhos de vida adulta.
Ainda não sinto o peso dos quarenta anos. Talvez porque me considero um homem jovem
e cheio de disposição. Levo minha rotina de treinos a sério, mantenho uma alimentação saudável
e equilibrada, mas principalmente porque nunca deixei o garoto Theo Savard morrer dentro de
mim; sei que é ele quem me mantém assim, muito mais que todo resto.
Porém, quando vejo meus sobrinhos assim, grandes e donos do próprio nariz, sei que já
não estou, de fato, tão novo assim.
— Eu sou um cara legal. Eu tenho um coração bom — emenda, realmente preocupado.
— O que você pensa de mim me importa mais do que qualquer outra pessoa neste mundo.
— É claro que você é. Ninguém duvida disso, Joshua, muito menos eu. Você só precisa
se encontrar. Todos nós, em algum momento da vida, precisamos, não há nada de errado com
você. E estou aqui, ao seu lado. Eu sempre estarei.
— Sempre estaremos.
— Nós contra todo o resto.
Esse é o nosso lema.

Summer Campbell

— Ele não disse isso! — Alex ri do outro lado da chamada de vídeo.


Aileen e eu estamos conversando com ele enquanto colocamos minhas coisas dentro das
duas malas que vou levar para Mônaco.
— Com todas as palavras. Eu juro — reafirmo, lembrando os elogios de Savard para meu
irmão.
— Porra! — Ele acabou de sair do banho e está conversando com a gente enrolado em
uma toalha, fazendo a barba com o celular apoiado na pia. — É Theo Savard, Sums. Ele é o
maior, caralho! E agora é seu chefe. Que maluquice. — O sorriso do central dos Hunters é de
incredulidade. — Não acha, cabelos de fogo? — chama por Leen.
Aileen não vai admitir, mas suas bochechas estão vermelhas por causa de Alexander.
Eu me acostumei. A vida inteira foi assim. Nunca tive uma amiga que não achasse Alex
Campbell um gato, até porque ele é mesmo!
— É totalmente perdoável que ela me deixe sozinha em Toronto. Afinal, vai morar com
Theo Savard. Até você gostaria de morar com ele, não é, Alex? — brinca, mas vejo seus olhos
presos na beirada da toalha do meu irmão.
Eu deveria lembrá-la de que está namorando?
— Facilmente moraria — responde enquanto passa a lâmina no rosto pela última vez. —
Quando te vejo agora?
— Provavelmente na Royal International Tattoo. — De repente, algo me preocupa. —
Como eu vou dizer a um dos homens mais importantes da Fórmula 1 que eu preciso de uma
folga para participar das minhas tradições familiares?
A festa que originalmente começou em Edimburgo, capital da Escócia, acontece também
em Halifax todos os anos.
É tradição para os Campbells participar de um dos dias da parada, geralmente a sexta, e
continuar o resto do fim de semana em uma grande festa na minha casa, cheio de danças,
comidas e bebidas típicas escocesas. É, sem dúvida, minha época favorita do ano! Era a da
minha mãe também.
— Ele vai entender, não? — Aileen, também descendente de escoceses, é quem
questiona.
Bom, se ele não entender, não sei o que farei. Para o meu pai, não existe faltarmos ao
Royal International Tattoo.
Ok. Agora tenho algo com que me preocupar.
— Vocês não serão melhores amigos como o homem mesmo disse? — a voz de Alex nos
chama a atenção. — A pausa da temporada não é entre julho e agosto? Provavelmente Theo
estará de férias.
Será que Deus vai ser tão bom assim comigo?
— Não tinha pensado nisso. — Sento-me ao lado da minha mala na cama e respiro fundo.
— Em vinte e quatro horas estarei em Mônaco, meu Deus!
— Papai já surtou? — Meu irmão de repente puxa a toalha da cintura e eu escuto o exato
momento em que Aileen ofega.
E, na verdade, ele estava de short por baixo o tempo inteiro. Alexander olha bem para a
tela e ri, com aquela cara de safado que ele tem.
— Você vai matar a coitada do coração, Alex.
Minha amiga percebe que está de boca aberta, então volta a si, dando um pulo ao meu
lado e olhando desconcertada para os lados.
— Quem, eu? Como se não conhecesse seu irmão! — e se esforça bastante para fingir
que não está completamente abalada com o fato de que achou que Alexander ia realmente
mostrar seu pau.
— Aham… — zombo. — Papai achou incrível, mesmo sem conseguir disfarçar a
decepção por achar que eu voltaria para Halifax — respondo ao meu irmão. — Acho que ele
realmente pensou que eu faria isso.
— Ele não vai morrer por causa disso. Deixe o velho com a chateação dele para lá e vai
cuidar da sua vida, que agora é em Mônaco. Me liga quando chegar?
— É claro! Para todos vocês.
— Te espero. Tenho que ir para o treino agora. Na próxima eu prometo não usar nada
por baixo, Leen — e pisca.
Minha amiga engasga e eu solto uma gargalhada.
— Ela namora, Alex. Sai fora! Tchau — e encerro a chamada. Aileen me olha
completamente apavorada. — Está tudo bem, amiga. Respira!
— Seu irmão é maluco. — Balança a cabeça e fecha os olhos. — Coitada da garota que
se apaixonar por ele.
— Não fala mal do meu irmão — brinco, tentando me sentar na mala para ver se ela
fecha.
Coitada mesmo! Alexander Campbell tem uma fama horrorosa quando o assunto são
mulheres.
Leen segura o zíper e puxa, quase conseguindo.
— Já posso sentir sua falta desde já? — muda de assunto um pouco emocionada.
Estamos juntas há quase quatro anos e sempre fomos o apoio uma da outra, para tudo. Sei
o quanto nos custará emocionalmente estar longe uma da outra, mas sei também que não existe
ninguém tão feliz quanto eu agora. E sei que, se estou feliz, Aileen também está.
— Já estou sentindo a sua. — Largamos a mala metade aberta e metade fechada. Assim
que ficamos de pé, puxo-a para os meus braços e ficamos grudadas por segundos incontáveis. —
Se você colocar alguém no meu lugar, eu juro que te mato! — tento deixar a situação um pouco
menos dolorosa.
Vou continuar pagando pelo espaço porque pretendo estar de volta em um ano.
— Ninguém jamais poderia tomar o seu lugar. Você é única na minha vida, Summy!
— Promete que vai se cuidar? — Seguro seu rosto branquinho entre as mãos e vejo seus
olhos se enchendo de lágrimas. — Eu volto logo!
— Não se preocupe. Vou ficar bem. — Beijo todas as suas sardas e ela ri no meio do
choro.
Nós duas nos agarramos em outro abraço forte, no exato momento em que meu telefone
toca.
Solto Aileen e pego o aparelho. É Betty.
— Por favor, por favor, me diga que é uma notícia boa! — já atendo ao telefone assim.
Ela gargalha do outro lado da linha. — Não venha me dizer que Josh voltou aí para comprar tudo
de novo.
— Não, não. Ele não voltou. Mas, sim: você vendeu um quadro. O “Lembranças”.
Olho para Aileen e meu suspiro sai alto.
É o quadro que fiz para minha mãe.
Nele, pintei o seu sorriso em preto e branco. É um dos quadros que mais amei fazer.
— Para quem? — quero saber.
— Era uma moça. Anabell. Disse que não é daqui. Estava em Toronto a negócios.
Sento-me de novo na cama e sorrio feito uma boba.
— Não acredito, Betty!
— E ela disse que você tem muito talento, viu? É curadora de arte em algum lugar por
aí, mas não me deu mais detalhes.
De repente, sinto uma enxurrada de emoções brotar exatamente no meio do meu peito e
sair pelos meus olhos.
— Ah, querida. Não chore! Você merece, Summie.
— Vou sentir saudades… — digo enquanto enxugo o rosto. — Espero que você continue
acreditando em mim até que eu volte.
— Garota, você é a minha preferida. — Nós duas rimos juntas. — Vá lá, arrase na F1.
Volte ainda mais inspirada e cheia de quadros incríveis para mostrar ao mundo ao que veio,
está bem? Estamos daqui torcendo por você!
— Obrigada, Betty! Mande um beijo para Alice, por favor.
— Ela está aqui ao lado te mandando outro. Beijos, querida. Te faço a transferência do
valor hoje ainda.
Agradeço mais uma vez e desligamos.
Aileen me olha com aquele sorriso orgulhoso e me ajuda com as lágrimas, enxugando
uma que escorre bem no cantinho.
Sei que, se estivesse aqui, Sara Mackenzie estaria muito orgulhosa de mim, e é isso que
me mantém de pé. É isso que me faz acreditar que ainda existem coisas muito boas por vir.
Que ser a nova assessora de Theo Savard e vender um novo quadro sejam somente as
primeiras de muitas delas.
Capítulo 7 - Summer Campbell

O Aeroporto Internacional Pearson de Toronto está completamente lotado de jornalistas,


fãs e tudo mais que se possa imaginar. Todo mundo quer uma palavra de Savard, um clique, um
autógrafo, o que puderem. Acessível como é, Theo decidiu chegar até aqui e aparecer para o
público. Enquanto os seguranças cuidam dele, Mark me convida para irmos direto à pista para
embarcarmos no jato particular que nos levará até Mônaco.
A viagem até lá não é rápida, por isso precisamos embarcar o quanto antes.
— Summer — Mark me chama assim que entramos no avião. Sou apaixonada por esse
conceito de poltronas creme de couro e o charme das cabines de aviões particulares. O avião de
Theo é totalmente completo para viagens longas como a que precisaremos fazer hoje. — Estão
aqui o seu MacBook de trabalho, um iPad e um iPhone. A conta de Savard já está logada, então
fique à vontade para entrar e entender as coisas que acontecem por lá.
Sento-me na poltrona confortável que ele aponta para mim. Na mesa a minha frente,
todas as ferramentas que ele acaba de citar.
— Não se assuste com as coisas que você vai encontrar nas redes do Theo. Direct com
foto de mulher pelada é a mais leve.
Solto uma risada e o coreano ri também.
— Meu irmão me diz que recebe, pelo menos, umas três por dia.
— Ah… Multiplique isso por algum número que te cansaria de conferir. Meio mundo
quer dar para Theo Savard e não faz questão de esconder isso.
Quem sou eu para julgar quem gostaria de dar para Theo?
— Como é trabalhar para alguém tão famoso assim, Lee?
Mark suspira e parece pensar um pouco.
— Desafiador, eu diria. Mas sensacional. Theo é um cara bacana. É mais humilde do que
eu acho que deveria ser, na minha insignificante opinião. É honesto, trabalha feito um maluco, é
muito exigente com tudo, mas nos dá liberdade de trabalhar e confia que vamos entregar sempre
o nosso melhor. É cansativo, mas, no fim, sempre vale a pena.
— Estou tão ansiosa — confesso.
Mark ri de lado enquanto pega o celular no bolso.
— Isso é ótimo! Estranho seria se não estivesse. Prepare-se para o mundo maluco da
Fórmula 1, Summer Campbell.
— Algum conselho sobre algo que eu não deva fazer? — Se há alguém que pode me
direcionar para não errar, essa pessoa é Mark Lee.
— Nunca fale do fim do casamento dele. Theo não gosta desse assunto.
É compreensível. Ele foi casado por muito tempo e, por tudo o que sei, foi dedicado ao
relacionamento o quanto pode.
— Anotado! — Pisco para Lee.
— Cheguei — ouço a voz grave vinda de trás de nós, logo depois do perfume marcante,
que chegou na frente outra vez.
Theo hoje está em um traje esporte, vestido em uma camisa Polo creme. A cor da blusa
destaca o bronze perfeito da sua pele, herdado da família materna, os Garcías, que são espanhóis.
Óculos escuros aviador e uma calça jeans que parece ter sido desenhada especialmente para ele.
Os tênis brancos compõem o look perfeito.
— Oi, Theo. — Eu me levanto para cumprimentá-lo, pois ainda não nos vimos hoje.
O tio de Josh levanta os óculos até o topo da cabeça antes de me envolver em um abraço
quente. Desta vez não tão rápido quanto o da nossa reunião.
— Como vai, Summer? Pronta para essa loucura?
O cheiro desse homem… Eu já disse que Theo Savard é o homem mais cheiroso que eu
já conheci?
— Completamente pronta. — Sorrio e tento não mostrar o quanto seu cheiro mexe
comigo quando nos soltamos.
É fácil perceber em apenas um abraço como o corpo de Theo é preparado para o esporte.
As pessoas não fazem ideia do quanto um piloto de F1 treina para aguentar um final de semana
com treinos, sessão classificatória e a corrida em si.
Alguns deles perdem por disputa cerca de dois quilos em líquidos, de tanto que
transpiram. É preciso manter o corpo são e pronto para isso.
Theo Savard é, sem dúvidas, bem preparado.
Ele toma sua poltrona e suspira alto, olhando no relógio.
— Então vamos nessa. Podemos aproveitar o tempo para conversar um pouco mais.
Enquanto estaremos no Bahrein, você ficará em Mônaco com a consultoria que contratamos,
Mark já te disse?
Sei que ele está falando dos testes de inverno. É assim que as equipes e pilotos
conseguem testar os carros construídos para o ano e entender o que está funcionando bem e o
que precisará de ajustes antes do começo oficial da temporada.
— Não disse ainda, mas já a alertei para a quantidade de bocetas que aparecem no seu
direct.
O sorriso de Theo sobe automaticamente e eu não aguento, solto uma gargalhada. Ele ri
junto comigo.
— Que educado você, coreano de merda — brinca com o empresário. — Summer é uma
mulher, esse é o tipo de palavreado para usar com ela?
Acho fofa a forma como Theo se preocupa com o que penso. Mas a palavra não me
ofende.
— É o meu jeito, querida Summer. — Mark apenas sacode os ombros.
— Não se preocupem comigo! Se eu contar as coisas que eu ouvia naquela redação,
vocês dois vão vomitar.
— Bom dia a todos. Aqui quem fala é o capitão Davis. Sou o piloto responsável por levá-
los com toda segurança e conforto até o aeroporto de Nice, na França — ouvimos a voz vinda
da cabine de comando.
E assim nos preparamos para decolar.

Passamos as próximas três horas conversando sobre alguns releases que vamos distribuir
na imprensa nos próximos dias. Como isso ainda está nas mãos da agência, vou apenas monitorar
o trabalho deles.
Enquanto repassamos o calendário da F1 para nos prepararmos com antecedência e não
termos problemas na agenda de Savard, percebo que as férias de verão serão exatamente na
época das festividades em Halifax e nunca me senti tão feliz e aliviada como me sinto agora.
Depois de termos o almoço servido e jogarmos um pouco de papo fora, o que me revelou
um Theo brincalhão, engraçado e muito divertido, acabei pegando no sono. Acordei cedo para
não me atrasar e isso cobrou seu preço.
Não faço ideia de quanto tempo se passou até o momento em que sinto uma coberta
sendo colocada em cima de mim. Abro os olhos ainda um pouco grogue, mas posso ver o rosto
perfeito de Theo parado ao meu lado. Ele sorri e fala baixo:
— Volte a dormir. Você estava tremendo de frio — e não me dá tempo nem de
agradecer, sai andando pelo avião, indo para o espaço atrás de onde estamos.
Abro os olhos totalmente e vejo que Mark também não está aqui.
Eles estão me dando privacidade para descansar.
Não consigo evitar o sorriso que dou ao pensar que se preocuparam até com isso.
Trabalhar para Theo Savard, até aqui, tem sido o paraíso.
Volto a dormir um pouco mais e acordo já quase chegando à Nice, onde
desembarcaremos.
Theo está de volta à cabine, sentado de frente para o seu MacBook digitando algo
freneticamente. Ele usa óculos de grau, que eu não sabia ser um dos seus acessórios essenciais, já
que nunca aparece assim nas redes.
— Que péssima funcionária eu sou, não é? — brinco e ele levanta os olhos, mirando em
minha direção. — Dormir na frente do chefe, assim, no primeiro dia de trabalho.
Savard sobe um sorriso de lado, o que parece ser sua marca, e ajeita os óculos no rosto,
respondendo:
— Imagino que você não tenha dormido direito esses dias. Mudar de repente de país,
começar um novo emprego, se despedir de quem ama, sei que não é fácil. Pode não parecer, mas
eu sou uma pessoa completamente ansiosa. A úlcera de estimação que tenho no estômago não
me deixa mentir.
Solto uma risada preguiçosa por causa do sono e tento me ajeitar, percebendo outra vez a
coberta que ele colocou em mim.
— Obrigada pela coberta. Acho que estava dormindo tão profundamente que nem percebi
que estava tremendo.
Theo abaixa a tampa do aparelho eletrônico e se concentra em mim. Mark não está por
perto, então é a primeira vez que estamos de fato sozinhos um com o outro.
— O ar costuma ser bem gelado. Já me acostumei. — Tira os óculos do rosto e sei que
não deveria me parecer assim, mas isso é realmente sexy. — Josh ficou feliz por ter aceitado
nossa oferta. Ele realmente acredita muito em você, Summer.
Eu sabia que o assunto “sobrinho” chegaria em algum momento. Os dois são melhores
amigos. Josh tem verdadeira adoração por Theo e o tio não faz questão de esconder quem é seu
menino predileto. E eu não posso ser mal-educada com ele, de forma alguma. Theo não tem nada
a ver com minhas particularidades com Joshua Savard.
— Eu sei, liguei para ele ontem, conversamos um pouco. Foi legal Joshua ter pensado em
mim mesmo rompidos.
Ele balança a cabeça concordando e respira fundo.
— Fico feliz que ele não a tenha magoado a ponto de não serem nem amigos. É uma
sensação estranha quando isso acontece. — Olha para baixo, rindo, mas o riso não me parece
nem um pouco de felicidade. Acho que está falando dele e da ex-mulher. Mas, como boa ouvinte
que sou, vou seguir os conselhos de Mark e me manter calada.
— Não existem motivos para ter raiva de Josh, Theo. Sempre fomos grandes amigos. A
gente só… — Como vou falar isso sem soar indelicada? — Temos pensamentos e projetos
diferentes de vida.
— Eu compreendo perfeitamente, Summer. Acredite em mim — e, outra vez, tenho a
certeza de que não é de mim e do sobrinho que Theo está falando.
Tudo o que eu sei sobre o término ouvi da boca de Josh e da família.
O sonho de Theo é ter filhos.
Ele sempre foi louco por crianças e Louise correu disso enquanto pôde. Segundo Josh,
fazia uns dois anos o casal já vivia no limite, empurraram o quanto conseguiram. No fim do ano
passado, resolveram finalmente acabar com o relacionamento de anos e seguirem cada um a sua
vida.
— Torço muito pela felicidade dele. Sei que vai conhecer uma mulher com quem vai se
entender. — Quero deixar claro de uma vez por todas que não existe a chance de que Joshua e eu
sejamos um casal outra vez.
— É o que eu também espero, Summer — o timbre marcante de Theo soa divertido. —
Ele ainda está sofrendo por vocês dois, mas isso vai passar. Josh é novo. Ainda tem muito o que
viver e aprender. — A piscada que Savard me dá em seguida deveria ser ilegal, porque sei que
sua intenção é que eu tenha um pouco de pena do sobrinho, mas na verdade me faz pensar no
quanto este homem é bonito. E proibido.
Ele é meu chefe, é tio do meu ex-namorado.
Tenha um pouco de juízo na porra da cabeça, Summer Campbell!
— Senhor Savard e demais tripulantes, aqui é o capitão Davis. Iniciamos o procedimento
de descida até o Aeroporto de Nice. Peço a todos que se preparem para o pouso.
Saio do transe em que me enfio enquanto vejo Theo arrumar seu cinto e Mark voltar de
onde é que ele estivesse para se juntar a nós.
Arrumo minha própria poltrona e me concentro em pensar que, em alguns poucos
minutos, minha vida estará, de uma vez por todas, transformada.
Capítulo 8 - Theo Savard

A autenticidade de Summer Campbell é uma coisa que encanta.


E digo isso com facilidade, mesmo não tendo a menor intimidade com ela. Sei que a ex-
namorada do meu sobrinho poderia tentar me agradar querendo dizer qualquer coisa a respeito de
um possível retorno com Joshua ou coisa do tipo, mas ela já deixou bem claro que isso não vai
acontecer.
A única coisa que espero é que ele tenha maturidade para entender e siga em frente, como
Summer está fazendo.
Antes de eu vir embora, ele foi até a minha casa me perguntar o que eu achava sobre um
MBA na França de Administração Estratégica. É claro que eu o apoiaria, estamos falando de
estudos e conhecimento, e isso nunca será demais. Mas lhe fiz uma pergunta muito sincera: Você
está fazendo isso porque deseja ser a cara da Savard no futuro ou porque quer impressionar
Summer de algum jeito?
Josh ficou sem respostas.
E sua falta de respostas foi o suficiente.
Durante o caminho de Nice até Monte Carlo, para onde voltei para o meu último ano de
Fórmula 1 após minha separação, penso que assim como Joshua, eu já quis impressionar alguém.
Quando conheci Louise, estava no auge. Tinha acabado de ganhar meu primeiro
campeonato, era o cara mais popular e ovacionado da categoria.
Eu era tudo o que sonhei ser um dia.
E, quando coloquei os olhos em Louise, sabia que eu faria qualquer coisa por aquela
mulher. Eu iria até o Inferno se fosse preciso, abriria mão de toda a farra e a quantidade absurda
de mulheres que passavam pela minha cama dia após dia. Ela ganhou o meu coração ali, no
primeiro sorriso, naquela festa pós GP da França, onde fui apresentado a Carl, seu irmão, que era
assessor de outro do grid na época.
Dali, a gente nunca mais se desgrudou. Viramos manchete de todas as revistas de
celebridades e fofocas do mundo. Ela era uma das top models mais bem pagas da Europa e nos
tornamos o casal mais querido da mídia.
Talvez a minha diferença para Josh com a mesma idade seja que, correndo pela F4, F3 e
F2, tive que aprender muito cedo a me virar sozinho pelos lugares onde andava, porque meu pai
tinha que dar conta de manter o legado da sua multinacional.
Às vezes, minha mãe vivia algum tempo fora comigo, mas aquilo era desgastante para
ela, até porque ela tinha responsabilidades dentro da empresa, então resolvi assumir meu papel
de homem o quanto antes e fui em busca do que eu queria para mim sozinho, sem ter alguém
para chorar quando tudo estava dando errado e sendo uma merda ou para vibrar por mim quando
eu estava no topo. Meu empresário na época era tudo o que eu tinha.
Assim, quando conheci Louise e me apaixonei, não dei sorte para o azar e não agi como o
herdeiro milionário e o cara da vez que eu era. Simplesmente agi como o homem de verdade que
eu deveria ser e ela merecia que eu fosse.
— Sabia que oitenta por cento das pessoas que vivem em Mônaco são milionárias,
Summer? — ouço quando Mark pergunta para minha assessora e ela vira o rosto em sua direção,
rindo. — Se você estiver em busca de um bom partido, este é o lugar. Com esse seu rosto de
anjo, vão se jogar aos seus pés.
Campbell ri alto e balança a cabeça.
— Ah, eu estou ótima sozinha, Lee. Obrigada!
— Você está chamando Summer de interesseira? — atiço a discussão só para ter do que
rir. Lee levanta a sobrancelha. — A família dela provavelmente tem mais dinheiro do que você
vai sonhar em ter sua vida inteira, seu safado!
— Eu sei de quem ela é filha, seu idiota — me responde. — Você sabia que Theo era
apaixonado pela sua mãe?
Summer olha agora para mim e um sorriso divertido aparece em seus lábios.
Uma coisa não há como negar: Mark está coberto de razão quando diz que ela tem cara
de anjo, porque tem. Summer é o tipo de mulher que vai parar o paddock.
Campbell é muito, muito bonita.
Ela é bonita até dormindo. Não sei se esse é o tipo de coisa na qual eu deveria reparar na
minha assessora, mas a verdade é que não tive como evitar.
— Você tinha um crush na minha mãe, Theo? — ouço sua voz doce perguntar.
— Eu e todos os garotos do Canadá. Sua mãe era de longe a moça mais bonita que eu já
tinha visto.
E você é a cara dela, penso comigo mesmo.
— Acho o máximo quando escuto essas coisas. — Ela ri, feliz, e suspira, olhando de
novo pela janela, admirando as luzes da madrugada. — Como Mônaco é incrível.
É sim.
O principado de Mônaco é, sem dúvidas, um dos lugares mais luxuosos do mundo. E,
quando Mark diz que muito mais da metade das pessoas que moram aqui são milionárias, é
porque são de fato. Aqui nós temos o que chamamos de paraíso fiscal, por isso grande parte dos
ricos do mundo escolhem Monte Carlo para ser o seu lar.
Eu não tenho problema algum com pagar impostos. Só estou aqui porque Mônaco, de
todos os lugares em que eu corro todos os anos, para mim, é o mais especial.
Foi aqui que, vendo uma corrida com meu pai e meu irmão, ainda um moleque, tive a
certeza de que seria um piloto de Fórmula 1. Foi aqui também que, anos depois, já dentro da
categoria, ganhei meu primeiro GP. O GP de Mônaco de três anos atrás foi o último em que meu
pai me viu correr, antes do AVC vitimá-lo e uma tristeza tremenda tomar conta de mim.
Um dos grandes sonhos do velho Joseph Savard era me ver sendo pai, já que campeão da
F1, ele teve a alegria de assistir acontecer. Infelizmente, não pude realizá-lo antes da sua partida.
Louise não quis.
Existem inúmeras razões pelas quais eu gosto deste lugar, mas a principal de todas é que
aqui sinto como se eu fosse uma pessoa melhor. Como se o garoto Theo Savard, aquele que
sonhou até que pudesse fazê-lo ser real, jamais tivesse crescido.
— Os milionários dão festas ótimas. Vou te levar a algumas — Mark brinca novamente
com Summer, que abre outro sorriso.
— Eu gosto de festas. Não vou recusar.
Dez minutos e estamos dentro de casa.
A maioria das coisas por aqui são exageradas. Casas, apartamentos. Tudo em Mônaco
cheira a sofisticação máxima.
Para mim, não é necessário. Moro somente com meu secretário, já que Lee tem seu
próprio apartamento aqui perto. Então aluguei uma casa até o fim do ano com quatro quartos,
cozinha grande como eu gosto, sala espaçosa, piscina, um escritório para minhas reuniões, uma
pequena academia para os meus treinos, e gramado para Paddock correr e brincar.
Falando nele, assim que desço do carro, vejo seu vulto correndo em minha direção. Antes
de atendê-lo, abro a porta para que Summer possa descer. Seguro sua mão e com um pequeno
pulo ela salta para fora.
— Obrigada, Theo.
Pisco para ela e sorrio.
— Não por isso, Summer.
Paddock já está pulando nas minhas pernas, então me abaixo para cumprimentá-lo.
— E aí, garotão? — Chacoalho sua cabeça com a mão enquanto ele late e tenta me
lamber logo após. — Também senti saudades, rapaz.
Paddock é um cocker spaniel inglês atrevido de três anos, cheio de personalidade. Ele
detesta Mark, o que faz com que meu empresário não tenha simpatia por ele também.
— Oi, lindão — ouço a voz de Summer atrás de mim.
— Summer, cuidado com… — antes que eu avise que Paddock não é lá muito bom em
fazer novas amizades, o filho da puta me larga e pula nela, dando uma lambida em sua mão.
Eu me levanto e olho para os dois.
— Como você é lindo! Qual é o seu nome? — ela pergunta para o cachorro, mas é claro
que espera que eu responda.
Ele balança o rabo animado para Summer e eu dou uma risada.
— Esse grande safado se chama Paddock e ele não gosta de quase ninguém. Mas parece
que tem uma nova amiga.
Campbell aperta os olhos em um sorriso largo e brinca um pouco mais com ele.
— Que nome incrível! Eu amei. — Ela alisa as orelhas do cão que nem lembra mais que
eu estou aqui. — Eu sou a Summer, Paddock!
— Como assim, esse pulguento não está latindo para a Campbell? — Mark dá a volta e
para ao meu lado.
— Parece que ele só gosta de gente bonita — solto e rio.
Summer por alguns segundos desgruda os olhos de Paddock para me olhar. Mark faz o
mesmo, mas ri de lado, com aquela cara de puto dele.
Ah, merda.
Tá bem, porra. Eu chamei a garota de bonita.
Mas ela não é?
— Esse é um pré-requisito para o Paddock? — Summer realmente não deixou minhas
palavras passarem despercebidas. — Me sinto lisonjeada então.
O secretário da minha casa, Manfred, aparece pela porta para me salvar do começo de
constrangimento que sinto.
Porra, Theo!
— Senhor Savard, que bom que voltaram! — o alemão me cumprimenta.
— Como vai, Manfred? Tudo certo por aqui?
Manfred Koch é meu braço-direito na vida pessoal. Ele cuida da casa, cuida do Paddock,
organiza meus horários quando estou aqui, além de resolver com a nutricionista, o personal
trainer e as stylists tudo o que eu preciso para as semanas seguintes.
— Tudo incrivelmente bem! Temos algumas coisas para conversar, reservei um horário
logo cedo na sua agenda.
— Perfeito. Summer — chamo-a e ela estende a mão para Manfred. — Esse é o meu
secretário, de quem te falei. Manfred, esta é Summer Campbell, minha nova assessora.
— Muito prazer, querida! Seja bem-vinda. — Os dois se cumprimentam. — Seu quarto já
está pronto te esperando!
— Ah, eu não queria incomodar — diz sem graça.
Percebi nas horas juntos, dentro do avião, que Summer cora rápido quando se sente
tímida.
Achei bonito.
Para falar a verdade, achei bem sexy.
— Imagina! Não foi incômodo algum. Vamos, vou te ajudar a levar as suas malas. Volto
em breve e pego as suas, senhor Savard.
— Eu mesmo levo, Manfred — aviso. — Ajude Summer com calma. Mostre a ela toda a
casa. — Aponto para a porta e pisco para Campbell. — Seja bem-vinda ao seu novo lar,
Summer.
Ela ajeita a bolsa no ombro e suspira forte, parecendo animada.
— Obrigada, Theo.
Apenas acena e acompanha Manfred, que arrasta as duas malas que o motorista já
colocou para fora do carro.
Paddock vai atrás dos dois enquanto Mark para ao meu lado.
— Nem você consegue disfarçar o quanto acha Summer bonita para caralho! — Sua
risada é tão debochada quanto é possível, e eu me viro para encarar meu empresário.
— Você acha Summer bonita para caralho? — provoco.
— Quem não acha, Savard? Você acredita que o babaquinha do seu sobrinho está
sofrendo por qual motivo? Ela é uma delícia e tem uma cara de quem olha nos seus olhos
enquanto mama devagar.
— Você é um puto escroto, Lee. — Dou um murro no seu ombro e a gente ri. — E eu
preocupado com aquele tanto de homem em cima dela no paddock…
— Preocupado, por quê? Eu já disse, vou defendê-la de todos eles.
— E quem a defende de você? — Agradeço ao motorista por ter retirado minha mala e
puxo pela alça, indo na direção de dentro.
Mark vem ao meu lado.
— Ela não precisa se defender de mim. — Estala a língua. — Sua assessora é solteira,
Savard. E Summer tem cara de que não faz nada que não queira. Se ela parar na minha cama, foi
porque não resistiu mesmo. E você sabe que quase nenhuma delas resiste.
Eu queria ter a metade da autoestima de Mark Lee.
— Não mexa com Summer, Mark. E isso é uma ordem. — Paro na porta para não entrar
e dar de cara com Campbell nos ouvindo conversar. — Tudo que eu não preciso agora é de você
quebrando o coração da única pessoa que eu não posso perder. Você nunca fica com nenhuma
delas. Não preciso de Summer indo embora no meio da temporada por causa do seu pau de
bosta.
— Calma, rapaz — Mark brinca de me abraçar e me dá uns tapinhas nas costas. —
Talvez ela queira se divertir também, já que eu duvido que Josh soube entretê-la do jeito que ela
realmente merece.
— Isso é problema dos dois, não nosso. — Joshua e Mark se detestam. E toda
oportunidade que os dois têm de falar mal um do outro, falam. E eu ignoro os dois lados todas as
vezes. — Fique longe dela, Lee. Eu não vou falar de novo.
Dou as costas para ele e entro, enfim, na minha casa.
Capítulo 9 - Summer Campbell

Em pouquíssimo tempo convivendo com Theo, apenas algumas horas de avião, e pelas
oportunidades que tinha junto à família de Joshua, consigo perceber o quanto ele é um homem
diferenciado.
Sua casa em um lugar como Mônaco fala por si só: simples e funcional, nada exagerado.
Uma cozinha ampla, porque, segundo Manfred, Savard adora cozinhar. Uma sala bonita e
aconchegante. Dela, posso ver o lado de fora iluminado com uma pequena área de lazer e
piscina.
Já no andar de cima, depois de subirmos uma escada de mármore claro lindíssima, o
secretário de Savard aponta para onde é o quarto do meu chefe, o escritório, o quarto de
hóspedes, o banheiro social e, enfim, o meu quarto, onde devo morar pelos próximos meses.
Manfred me ajuda com as malas enquanto abro a porta.
— É lindo! — acabo falando em voz alta e ele ri, balançando a cabeça concordando.
— Escolhi tudo pessoalmente! Cada item daqui é novo, como o senhor Savard pediu.
Olho para o cômodo que é pintado de creme, a cama enorme e os móveis todos brancos,
conferindo um ar bem clean.
Vejo a porta da suíte ao fundo, uma pequena poltrona de couro marrom do lado direito,
uma escrivaninha com uma cadeira lindíssima e uma varanda com mesa e cadeiras de ferro,
pintadas de branco. Já me imagino aqui tomando meu café da manhã ou lendo Outlander em
uma noite fresca. Daqui é possível ver o Porto Hércules, onde todos os ricaços, como Lee fez
questão de me lembrar, deixam seus iates e embarcações luxuosíssimas, e as festas mais
badaladas de Mônaco acontecem. Estamos muito próximos de lá.
É por ali também que está um dos circuitos de rua da Fórmula 1 mais famosos do mundo.
Imagine acordar todo dia e poder olhar para o lugar onde os grandes nomes do automobilismo
fazem história todos os anos?
— Você montou este quarto sozinho em dois dias? — Coloco minha bolsa em cima da
cama enquanto espero uma resposta de Manfred.
Ele aparenta ter por volta dos trinta anos, tem os cabelos castanho-claros, muitas sardas
no rosto de pele clara e uns olhos verdes belíssimos.
— Querida, este é o meu trabalho. — Ele me parece uma pessoa genuinamente feliz. —
Senhor Savard pede, eu realizo.
E, mais uma vez, estou impressionada com o cuidado de Theo em cada pequeno detalhe.
— Muito obrigada, Manfred!
— Não há o que agradecer. — Sorri outra vez. — Passaremos um bom tempo juntos
enquanto não estiverem viajando, certo? Então gostaria que soubesse que estou à disposição para
o que for necessário, assim como sou para ele. Meu papel aqui é cuidar da vida pessoal de
Savard e te ajudar em tudo que puder para que esteja disponível para ele o máximo de tempo
possível.
Fico extremamente curiosa e acabo perguntando no impulso.
— E Savard tem uma vida muito agitada?
Manfred ri discreto e balança a cabeça dizendo que não.
— Ninguém poderia me dar menos trabalho do que ele. O homem é daqueles que preza
pela calmaria, não pelo furacão. — Ele caminha até a pequena varanda, de onde vemos a
brilhante e viva noite de Monte Carlo. — Fui treinado para ser tudo o que ele precisa. Savard tem
uma nutricionista que faz o cardápio dele para a semana. Eu que preparo. — Aproximo-me para
prestar mais atenção no exato momento em que o cheirinho do mar ganha meus pulmões. —
Cuido, junto com as duas stylists dele, dos looks dos próximos dias. Mesclamos moda
sustentável com roupas convencionais.
— Ele veste Kayla Tucker, não é?
Kayla é uma das estilistas de moda sustentável mais famosas do mundo. É esposa de um
dos caras da NFL, Jake, ex-Tigers, e agora dos Patriots.
— Exatamente! Savard está completamente engajado com as questões climáticas e
sociais. Parece que o homem é cheio do dinheiro e, na teoria, deve ser um louco consumista e
esnobe, mas não é! É um dos famosos com que mais gostei de trabalhar até hoje.
— E você já trabalhou com muitos?
— Alguns. — Pisca para mim e respira fundo antes de completar: — Vou te deixar
descansar um pouco e aproveitar seu quarto, Summer. O fuso acaba nos deixando um pouco
mais cansados. Passaremos os próximos dias juntos e aí você vai poder conhecer um pouco mais
da minha rotina com Theo. — Ele volta para dentro do quarto e eu o sigo. — Fique à vontade na
cozinha, está bem? Ela é sua. Nos vemos amanhã! Bom descanso.
— Não tenho como te agradecer por toda essa recepção! Obrigada de verdade.
Simpático, ele se aproxima e me dá um abraço, o que me pega de surpresa. Mas acabo
aceitando e o abraçando de volta.
— Foi um grande prazer, Campbell.
Quando deixa meu quarto, sigo até a porta e fecho, olhando tudo ao redor mais uma vez.
É incrível.
Simples e incrível, do jeito que eu gosto.
Mal posso esperar pelo dia de amanhã e para poder contar tudo a Leen, Alex e Ava.
Quando paro e observo com mais cuidado os detalhes do quarto, vejo perto da
escrivaninha uma tela de aquarela. Corro até ela só para confirmar do que se trata, mas eu saberia
a léguas de distância de quem ela é.
Luciano Almirante.
Brasileiro, aquarelista, com características marcantes da arte moderna e do
contemporâneo.
Meu coração dispara enquanto observo cada traço pincelado nesta tela.
Eu sou tão fã de Luciano. Deus!
Como é que Theo soube disso?
Viro-me de costas para a mesa e encosto o quadril nela, olhando para fora da sacada. Não
consigo evitar meu sorriso.
Aperto os olhos e, de felicidade, começo a dar pequenos gritinhos e uns pulos no lugar,
sem conseguir acreditar que isso tudo está realmente acontecendo comigo!
Preciso me lembrar de agradecer a Aileen suas técnicas malucas pelo resto da minha vida.

Depois de um merecido banho no banheiro que tem a melhor hidromassagem que eu já


experimentei em toda vida, volto para o quarto e tiro o essencial das malas. Assim que encontro
meu conjunto macio e confortável de moletom, visto e calço as minhas pantufas, indo direto
secar os cabelos.
O inverno rigoroso da Europa não está nem um pouco agradável e as médias de
temperaturas, como eu já previa, estão chegando aos sete graus durante a noite. Nada muito
diferente do que passamos no Canadá, mas eu não sou lá a pessoa mais feliz no frio.
Para tentar me adaptar mais rápido ao fuso, já que aqui já passa de uma da manhã, mando
uma mensagem rápida para o meu pai, meus irmãos e Aileen, só para dizer que amanhã
conversaremos.
Decidi descer e ir até a cozinha preparar um sanduíche rápido para matar a fome e tentar
dormir.
Aproveito para observar os detalhes que não consegui ver antes, na minha chegada.
A sala de estar é mais ampla do que percebi naquele momento e está com a lareira acesa.
Os lustres de cristal são perfeitos, parecidos com os da casa do meu pai, e combinam com os
móveis sofisticados e modernos.
Quando desço o último degrau, encontro um Paddock preguiçoso e peludo, deitado pelo
caminho.
— Ei, bonitão! — Eu me abaixo para brincar com ele. Suas orelhas enormes estão
espalhadas pelo chão. — Está se escondendo do frio neste tapete quentinho? — Vira a
barriguinha para cima me pedindo carinho e eu começo a rir, dando a ele o que quer.
Eu amei tanto o nome dele! Nada poderia ser mais original para um piloto de F1.
— Ele está me esperando para dormir lá em cima, isso sim.
Ouço a voz imponente de Savard surgir na sala. Quando olho para cima, vejo-o como eu,
dentro dos seus moletons de cor cinza-escuro, os pés em uma meia grossa, antiderrapante, os
cabelos me parecem úmidos.
Ele segura uma taça de vinho tinto na mão.
O cheiro? De banho recém-tomado e loção pós-barba de homem gostoso.
— Vocês dormem juntos então? — brinco com meu chefe, e ele encosta o ombro no
batente que separa sua sala grande da cozinha enorme.
Cruzando os pés e parecendo relaxado, leva o vinho à boca.
— Na maioria dos dias, sim. — Theo sorri de lado e aponta com a cabeça para a cozinha.
— Você deve estar com fome. Vem comer.
Paddock reclama quando largo sua barriguinha e fica de pé, vindo atrás de mim. Assim
que atravesso a cozinha, vejo vários ingredientes para um sanduíche na ilha do meio, uma
garrafa de vinho junto deles e percebo um som ambiente, de jazz.
— Você gosta de parma e queijo brie? — questiona enquanto liga uma frigideira e coloca
uma colher de manteiga para derreter.
Chego mais perto, do outro lado da ilha, e me encosto no balcão, concordando com a
cabeça.
— Adoro!
— E vinho tinto? — Tira os olhos do fogão para me encarar.
— Também.
Savard se afasta o necessário para ir até um dos armários e tirar uma taça de lá. Quando
volta, entorna o líquido escuro no cristal e me oferece. Eu me estico para alcançar sua mão e
agarro com um pouco de força, com medo de deixá-la cair. Nossos dedos se esbarram e Theo me
olha bem dentro dos olhos.
Tento não suspirar alto, porque, apesar de todo frio que está fazendo, Theo está
completamente quente.
— Um brinde? — sugere.
— Claro! — Levanto a taça e ele faz o mesmo, batendo na minha.
— A uma parceria de sucesso.
— A uma parceria de sucesso! — repito e nós dois sorrimos, levando as taças até a boca.
É um vinho muito, muito bom.
Theo volta ao fogão, dourando fatias de pão.
— Está tudo certo com o seu quarto? Precisa de algo que Manfred não pensou?
— Na verdade, ele pensou em mais do que eu preciso.
Savard dá um sorriso discreto, que o faz parecer mais bonito do que já é, e confirma com
a cabeça.
— Coisas que você precisa saber sobre Manfred: ele é totalmente perfeccionista.
— Percebi pelo quadro do Almirante — jogo para ver o que ele tem a dizer.
Seus olhos me alcançam mais uma vez e agora o sorriso fica um pouco mais largo.
— Pedi a ele que visitasse suas redes sociais para ver do que você gosta.
Mentira que Theo Savard fez isso!
Alguma coisa dentro de mim me deixa agitada.
Excitada.
No bom sentido, juro.
— Foi muito gentil, Theo, de verdade. Obrigada por se preocupar.
Ele coloca os pães nos pratos para começar a montar nossos sanduíches.
— Quando disse que preciso que sejamos melhores amigos, eu disse a sério. E, para isso,
preciso que você se sinta em casa. — Vejo-o posicionar cuidadosamente os pedaços de parma na
fatia. — Tudo aqui é seu, como também é de Manfred. Não somos patrão e funcionários, somos
amigos que dividem a mesma casa. Se meu quarto é como preciso que seja, o de Manfred
também, o seu não haveria de ser diferente. Se tiver algo que não goste ou precise mudar, apenas
diga, nós mudaremos.
— Está tudo mais que perfeito, sério! — reafirmo.
— Fico feliz em saber. — Bebe mais um pouco e pega um maçarico para derreter o brie
em cima do presunto. — Quero te pedir uma coisa.
— Claro! Diga.
A essa altura, eu faço o que esse homem quiser.
— Mark é um cara legal, mas exagera algumas vezes nas brincadeiras. Ele não é melhor
que você por ser meu empresário. — Savard larga os sanduíches e apoia as duas mãos na
bancada, encarando-me de frente. Observo seus dedos bonitos e a mão forte, antes de olhar de
novo nos seus olhos. — Se ele passar dos limites, coloque-o em seu lugar.
Solto uma risadinha.
— Ele tem um humor ácido de que eu gosto. Mas, sim, tudo bem. Entendi o recado.
— É meu amigo, um cara em quem confio de olhos fechados. Mas, acredite, Mark não é
o tipo de homem que perde oportunidades. Se é que você entende o que estou te dizendo.
— Ele é meu colega de trabalho, Theo. Não seremos nada além disso, pode acreditar.
— Mesmo que sejam, o que não tenho direito de pedir que não, só tome cuidado. Mark
não tem uma boa fama quando o assunto são relacionamentos, então… Só estou te deixando a
par do que esperar.
Lembro de Joshua dizer alguma coisa sobre achá-lo um babaca. Mas, sei lá, eu gosto
realmente de Lee.
Termino minha taça de vinho e Theo me pergunta se quero um pouco mais. Nego.
— Não fique com vergonha, Summer, beba à vontade — diz.
— Eu tento nunca exagerar, Theo, mas te agradeço.
— Não se dá bem com bebidas? — pergunta interessado, enquanto termina nossa
refeição.
Assim que o sanduíche está montado, ele empurra o prato na minha direção. Puxo a
banqueta que está ao meu lado e me sento.
Sei que é uma coisa muito íntima, mas sinto como se eu pudesse dividir com eles. Se
seremos melhores amigos, há algumas coisas sobre mim que Theo Savard precisa saber.
— Foi um homem bêbado que causou o acidente com o ônibus da minha mãe. Desde
então, prometi a mim mesma que jamais me colocaria em uma posição de quem não tem controle
sobre o que faz consigo e com os outros também. Prefiro sempre ficar bem antes do meu limite
— solto antes de dar a primeira mordida.
Quando sinto o gosto defumado na boca, meus olhos se fecham automaticamente. Theo
me observa com calma, sem me apressar para continuar. Ele repete meu ato de se sentar e
também morde seu sanduíche.
— Sinto muito, Summer. — Passa o guardanapo na boca devagar, sem tirar os olhos de
mim. — Eu me lembro da comoção que foi com a partida da sua mãe.
Realmente foi uma grande comoção.
Sara Mackenzie foi a maior medalhista olímpica de ginástica artística pelo Canadá.
Minha mãe era simplesmente incrível no que fazia. Não havia outra igual.
Naquele dia, quando voltava de um torneio interestadual com sua equipe, parou em uma
pequena cidade vizinha a Toronto, quase ao lado da empresa do meu pai.
Ela ligou para ele, perguntando se a buscaria ali, mas ele tinha um compromisso
importante, não podia desmarcar.
Minha mãe me ligou várias e várias vezes, para que eu pudesse ir da faculdade para lá,
mas eu estava ocupada demais, entretida em uma conversa idiota e banal de um monte de
patricinhas com quem eu andava naquela época.
Sem conseguir nossas caronas, resolveu seguir com o ônibus até Toronto. No meio do
caminho, um carro desgovernado obrigou o motorista a jogá-lo para o lado, a fim de evitar a
colisão. Mas o que ele encontrou foi um abismo de mais de vinte metros de altura, o que vitimou
minha mãe e metade da sua equipe juvenil.
— Pois é. — Respiro fundo depois de reviver aquele dia inteiro na minha cabeça mais
uma vez. Como faço todo santo dia. — Mas tudo bem. — Tento deixar a conversa leve outra
vez. — Você é muito bom em sanduíches, hein?
Theo ri, levantando o seu em minha direção.
— Muitos anos tendo que me virar sozinho antes de me casar. Não que Louise gostasse
de cozinha, na verdade, detesta. Mas em casa tínhamos quem fizesse, pelo menos. Porém, eu
gosto de cozinhar. É meu tipo de coisa favorita. E você?
— Não sou lá mestre nisso — não posso mentir. Na verdade, sou um verdadeiro desastre.
— A Leen, minha amiga que mora comigo em Toronto, é melhor nisso do que eu.
— Cozinhar é terapêutico. Só não é melhor do que correr.
É bonito ver o amor que Theo sente pelo que faz. Os olhos dele brilham e eu posso ver
isso daqui, em uma cozinha de iluminação ambiente.
— Não deve ter sido fácil tomar a decisão de parar… — Não falamos sobre isso hoje
durante o voo.
Theo suspira e volta a servir seu vinho. Enquanto retorna a garrafa para o lugar, ele me
responde.
— É, não foi. Precisei de dois anos para me sentir realmente pronto. Não para parar, mas
para fazer o que é certo. Parar, de verdade, acho que nunca vou. Velocidade é o que me mantém
vivo. Fórmula 1 é meu oxigênio. Mas, a partir de agora, vou precisar ressignificar as coisas.
— Poucas pessoas têm realmente coragem, Theo. E é exatamente isso que estou vendo
em você agora.
Savard sorri e cruza os braços no peito.
— Às vezes o medo não é tão ruim, Summer. O medo de ficar estacionado em um
relacionamento falido, só porque em algum momento da vida eu jurei que aquilo seria para
sempre, e de não parar no momento certo e sair de cena da forma que minha história e minha
carreira merecem, porque achava que deveria insistir um pouco mais, que me fizeram, de fato,
ser corajoso. Romper um casamento de anos não é fácil. Decidir parar de competir, muito menos.
Mas foi preciso. Eu me obriguei a enfrentar meus medos, e eles me tornaram um homem
corajoso.
As palavras de Theo soam como um tapa na minha cara, porque nunca pensei dessa
forma.
E é a mais pura verdade.
Foi o medo de viver sendo diminuída dentro do trabalho que me fez ter coragem de
acabar com tudo. Foi o medo de continuar em um namoro sem futuro que me fez ter coragem de
romper com Josh. O medo de nunca poder viver do que eu realmente amo foi o que me deu
coragem de expor meus quadros na galeria da Betty.
O medo nos faz mais fortes.
— Você está coberto de razão!
Savard pisca para mim e nós dois voltamos ao fim da nossa refeição, agora em silêncio.
Minutos depois terminamos e ele se oferece para pegar meu prato e minha taça. Theo
coloca tudo na lava-louça enquanto fico de pé.
— Viajo amanhã cedo para Londres. Teremos a apresentação do carro da temporada e
algumas reuniões na sede da McLean antes de irmos ao Bahrein. Tire o dia para descansar e
aproveitar Mônaco. Seu carro está na garagem, é só pegar a chave com Manfred.
— Combinado — agradeço em seguida e nós dois saímos de volta para a sala.
Paddock, que ficou quietinho todo esse tempo, levanta-se e vem com a gente. Subo as
escadas dois degraus na frente de Savard, até que estamos na porta do meu quarto.
— Até a volta, Campbell. Divirta-se.
Theo coloca as mãos dentro dos bolsos da calça escura e prende os lábios entre os dentes.
Acho que ele nem percebe que faz isso.
Mas meu coração, sim, porque minha frequência cardíaca, de repente, dispara.
— Até a volta, Savard. Obrigada. — Eu me balanço devagar sem saber o que fazer em
seguida.
Minha cabeça fica se questionando se devo ou não o abraçar ou fazer algo além de abrir a
porta e simplesmente entrar, mas ele é mais rápido que eu. Uma de suas mãos segura de leve o
meu braço e, mesmo vestida neste casaco, sinto o calor de sua palma atravessar o tecido.
Meu corpo inteiro se arrepia porque, agora, consigo sentir ainda mais forte sua loção.
É tão boa!
Ele deixa um beijo rápido no meu rosto e sua barba arranha devagar minha bochecha, o
que me faz segurar um gemido dentro da garganta. Seu hálito tem vinho e a mistura completa me
deixa de pernas bambas.
O que é ridículo, porque ele é meu chefe.
Meu chefe!
Summer, ele é Theo Savard, mas é seu chefe!
Ele se afasta, sorri pela última vez e sai, com Paddock do seu lado, rumo ao seu quarto.
E eu fico aqui ainda, alguns segundos, até que minhas pernas consigam andar outra vez.
Capítulo 10 - Theo Savard

FEVEREIRO
UMA SEMANA DEPOIS
BAHREIN, ORIENTE MÉDIO

Tiro o capacete e arranco a balaclava assim que desço do carro. A equipe já está em volta
de mim e todo mundo me abraça.
A McLean tem uma equipe como poucas dentro da F1 hoje e, no fim, somos todos como
uma grande família. Sabemos que, para que Jackson e eu possamos colher os frutos na pista,
antes, tivemos a mão de cada um deles nos mínimos detalhes.
Cumprimento todo mundo e eu vou direto para dentro do box. Alguém me oferece água e
eu bebo metade da garrafa de uma vez só.
Apesar de estarmos ainda no inverno, estamos falando do Oriente Médio, e a temperatura
não é lá tão fria como na Europa.
O corpo sempre cobra.
Depois de pilotar o carro da McLean para a temporada na parte da tarde de dois dos três
dias de teste, posso afirmar que temos nas mãos algo em que acreditar. Sei que fiz o melhor
tempo da pré, com meu companheiro de equipe ficando em terceiro lugar. Os engenheiros e
projetistas da equipe trabalharam feito loucos para sanar alguns problemas que percebemos ao
decorrer da última temporada na aerodinâmica do carro para o modelo deste ano. Tivemos
modificações no aerofólio traseiro, trazendo uma diferença absurda para as curvas.
George, meu chefe de equipe, me abraça satisfeito, enquanto Jackson, meu companheiro
de equipe, também vem em minha direção.
— Obrigado, rapazes. Trabalho feito por aqui. Duas semanas para ajustes e então
estaremos de volta. — O primeiro GP da temporada também é aqui.
Jackson e eu nos damos um abraço rápido, parabenizando um ao outro, e eu começo a
puxar meu macacão do corpo.
— A Romanus vem forte de novo. O carro é mais potente e estável que todos os outros.
Pelo visto, mudar de motor não foi um problema para eles — o piloto número dois da McLean é
quem fala.
— E não vai ser para nós também — devolvo, acreditando que, mesmo que eles tentem
muito, não vão tomar o meu título deste ano.
Vejo Mark adiante e aceno para ele.
— Vou tomar um banho e já volto para a entrevista.
— Não demora, Pole — George me alerta. — Já me falaram que você vai ser o primeiro
a falar.
— Deixa comigo, capitão — chamo pelo apelido que uso com ele.
Corro para o motorhome o mais rápido que posso. Enquanto tomo banho, deixo um áudio
de Josh rolando no telefone do lado de fora.
E aí, cara? Como estão as coisas? Acredito que deva estar exausto da pré. Pelo que vi de
sexta e ontem, achei um carro a sua altura. Me conta depois o que achou. E como está com a
Summer? Vi que ela postou algumas fotos por Monte Carlo. — Ele faz uma pausa e suspira,
enquanto ouço com atenção e espalho o xampu pela cabeça ensopada de suor. — Caralho, ela
está tão feliz. Não lembro a última vez que vi o brilho nos olhos dela daquele jeito... — Agora
ele ri, um riso que parece irritado, como se fosse errado que Campbell pudesse se sentir feliz
longe dele.
E algo dentro de mim me incomoda, porque me senti terrivelmente mal em ter percebido
o cheiro do cabelo de Summer naquela primeira noite lá em casa, semanas atrás.
Era um cheiro doce, inebriante, uma coisa que nela, uma mulher quinze anos mais nova,
me pareceu uma mistura de algo inocente e sexy.
Tive vontade de tocar seus cabelos e sentir um pouco mais, até que minha consciência
gritou feito sirene dentro da minha cabeça.
Isso seria a porra do maior erro que eu poderia cometer na vida. Summer Campbell é a
minha assessora, cacete.
Ela é a ex-namorada de Joshua.
A verdade é que sinto falta do toque de uma mulher.
Vivendo tanto tempo casado, mesmo que o sexo já não fosse mais como no começo,
Louise estava ali, sempre que eu voltava. Eu ainda podia sentir sua pele macia nas minhas mãos,
o cheiro do seu corpo, o volume dos seus seios, a bunda empinada na minha direção. Sinto tanta
falta disso que me fez parecer um idiota perto de Summer.
Sei que vou transar amanhã, porque eu vou.
Eu mereço a merda de uma foda boa e eu vou ter. Quem vai ser? Não faço ideia. Nos
clubes, todos nós prezamos pela discrição. Todo mundo sai feliz, ninguém sabe quem é quem. É
para isso que as máscaras servem.
Mas eu não sou esse tipo de cara, no fim das contas. Sou o estilo que gosta de ter uma
família para onde voltar ao final de cada GP. Tentei por anos que essa família fosse a minha
esposa e nosso filho, mas ela nunca quis me dar.
Provavelmente minha ex-esposa não tenha sido filha da puta nessa história. Ela nunca me
prometeu, mas eu sempre achei que em algum momento mudaria de ideia. Por quantas e quantas
vezes imaginei minhas crianças no paddock comigo, correndo pelos boxes? Muitas.
Mas esse era um sonho só meu. E, assim, aos poucos, diante de tantas outras coisas que já
pareciam não fazer mais sentido para nós dois, o casamento chegou ao fim.
Agora estou solteiro, frequentando clubes secretos e trepando com mulheres que eu não
faço a mínima ideia de quem são. E, depois, tudo volta a ser a merda que é, porque em casa não
há ninguém me esperando.
A não ser Summer Campbell, a ex-namorada do meu sobrinho.
A mulher que proibi Mark de sequer chegar perto.
Eu então? Muito menos.
É antiético, é completamente errado. Seria um completo escândalo, desses que a mídia
viveu a vida inteira tentando arrancar de mim e nunca conseguiu.
Foi um momento constrangedor em que eu não sabia se podia dar boa-noite para ela sem
parecer inapropriado abraçá-la, o que acabou sendo, porque deixei o cheiro do seu cabelo me
parecer um convite que eu queria muito aceitar.
Não tinha nem vinte e quatro horas que ela estava trabalhando para mim, porra! Ela tinha
aberto seu coração, falado da morte da mãe, e por cinco milésimos de segundos eu quase fui um
filho da puta estragando tudo antes mesmo que Mark, com seu superpoder de afugentar
mulheres, pudesse sequer tentá-lo.
Espero que a distância desses dias tenha tirado da garota qualquer coisa estranha que ela
possa ter pensado ao meu respeito. Não sou esse tipo de homem. Nunca fui.
Você acha uma boa ideia mandar uma mensagem? Talvez desejando boa sorte para o
primeiro GP no comando da sua assessoria? De repente, eu não sei mais como tratar minha
melhor amiga — continuo o ouvindo enquanto enxaguo a cabeça e pego a toalha, saindo do
chuveiro. Que merda, Theo. Que merda! — lamenta. Bom, me responda quando puder, você
deve estar ocupado por aí. Nos falamos em breve. Te amo, cara.
Pego o telefone em cima da pia e fico olhando para a tela. Quando vou clicar para gravar
outro áudio, pisca na minha tela: Summer Campbell.
Ei, Savard! Parabéns pelo ótimo tempo. Os portais não falam de outra coisa que não
seja seu desempenho e o carro da temporada da McLean no Bahrein. Estão dizendo que meu
chefe tem grandes chances de campeonato em seu último ano de F1. Como uma boa jornalista
esportiva, eu concordo :)
Rio para suas palavras.
Estou a postos aguardando a entrevista. Aproveitando, pré-agendei algumas entrevistas
para a próxima semana e aprovei alguns materiais para suas redes. Já estou em contato com o
marketing da McLean e soltaremos em collab seu vídeo explicando a diferença entre os pneus.
Pode, em algum momento, dar uma olhadinha? Não precisa ser hoje, você deve estar exausto,
vá descansar! Mandei tudo no nosso gerenciador. Abraços e até amanhã!
Digito rápido para ela:
Olá, Campbell. Obrigado! Estou feliz com o teste, teremos um carro totalmente
competitivo para esse último ano. Acredito no campeonato. Hoje tenho um compromisso, mas
amanhã, durante o voo, olho tudo com calma e te retorno. Bem-vinda oficialmente. Agora é tudo
com você. — Encerramos o contrato com a agência hoje. — Abraços e até amanhã.
Quando vou responder ao meu sobrinho, Mark bate na porta com força.
— Se a mocinha não quiser pagar uma multa, é melhor se apressar. Estão te esperando
para a entrevista.
— Só estou respondendo a uma mensagem.
— Responda andando para lá. Cinco minutos, Savard. Vamos — escuto seus passos se
afastando no motorhome.
Volto para a conversa de Josh, mas sei como a FIA[3] é rigorosa, por isso é melhor não
arriscar. Largo o telefone e me arrumo com pressa.
Respondo ao meu sobrinho depois.

Summer Campbell

“Intensos” nem chega perto para descrever meus últimos dias. Vivi vinte e quatro horas
por dia a consultoria que Theo contratou para mim. E, confesso, foi uma das coisas mais
incríveis que já fiz.
É diferente estar do lado de quem noticia fatos esportivos para estar do lado de quem
cuida do que noticiam sobre o esportista. E a conclusão a que eu cheguei é que, mesmo que
Savard insista em dizer que não fez nada disso por causa de Josh, a verdade é que fez, sim.
Seria muito mais fácil e óbvio contratar outra pessoa que já tenha experiência com isso.
Theo Savard é quase bilionário, poderia ter a assessoria mais incrível e foda do mundo esportivo
trabalhando com ele. Mas, ao contrário disso, resolveu me dar uma chance e me treinar para ser
quem ele precisa ao seu lado.
Eu me sinto lisonjeada? Sim. Um pouco chateada porque no fim das contas é tudo sobre
Joshua? Também. Mas, quer saber? Não vou desperdiçar essa oportunidade. Se veio através do
meu ex ou não, não me importa.
Theo chega hoje à noite a Mônaco após os testes do Bahrein. A mídia não fala de outra
coisa: Pole Position vem com grandes chances de encerrar a carreira comemorando mais um
título mundial.
O carro da McLean recebeu pouquíssimas críticas e todas elas são passíveis de ajustes até
o começo da temporada, em duas semanas. O calo no pé da equipe vai ficar por conta da
Romanus, que apresentou um carro tão potente e estável como os da equipe de Theo, mesmo
trocando o motor deste ano.
Nas horas vagas, Manfred fez questão de me apresentar a vida glamourosa de Monte
Carlo.
Fomos a algumas baladas, pubs incríveis, conheci alguns dos seus amigos da cidade e
andamos até de lancha no sábado, enquanto Paddock estava no seu SPA canino.
Sim, o cachorro de Savard vai para o SPA, e nós dois estamos ficando cada vez mais
amigos. Eu e aquele peludo lindão.
Preciso confessar que essa não é nem de longe uma vida ruim!
Dirijo pelas ruas da cidade enquanto converso com Leen ao telefone.
— Josh vai tentar uma reaproximação, não é? — minha amiga pergunta enquanto pinta as
unhas do pé, segurando o pincel do esmalte com a boca, falando tudo errado.
— Já está. Disse que ficou muito feliz em ver minhas fotos na internet, que eu realmente
estou me sentindo feliz. Está me stalkeando, não é? Me “prometeu” que deixará os negócios de
lado para nos visitar em um dos GPs, como se eu estivesse implorando por isso!
Minha amiga ri.
— Coitado, Sum. Ele só está tentando ser legal!
Viro à direita e sigo pela orla. Estou em busca de uma loja que Manfred recomendou para
comprar meus materiais de pintura. Não trouxe quase nada de Toronto e já tenho várias ideias
para quadros novos.
— Coitada de mim. Ter que ficar repetindo o resto da vida que não quero nada com ele.
Pior… saber que Theo, na verdade, acredita que está ajudando Josh na sua “difícil missão”,
porque é o que ele está fazendo.
— É o melhor amigo dele, Summer. Eu faria o mesmo se fosse você.
— Eu sei. — Olho rapidamente para a tela, com o sinal fechado, e digo diretamente para
Aileen. — Sei que, qualquer coisa que Theo esteja fazendo sobre mim, é com boa intenção. Ele
não é um homem burro. Está na F1 há anos, é um dos caras mais bem pagos do esporte e não
arriscaria a carreira por ninguém. Se eu estou aqui, tenho algum crédito, mas sei que foi o
coração dele quem ajudou a tomar a decisão, pensando que poderia facilitar as coisas entre mim
e Joshua, talvez. Pior é pensar que, se fôssemos fazer uma comparação bem justa, em um mundo
paralelo, o tio tem muito mais chances comigo do que o sobrinho.
Aileen para com o esmalte, me olha e gargalha.
— Summer Campbell!
— Amiga, você sabe que eu não estou mentindo!
Acelero seguindo o GPS do carro.
A verdade é que sempre fui dos caras mais velhos. Joshua foi uma curva malfeita durante
o percurso. Sempre gostei de homens mais maduros, mais resolvidos, que sabem exatamente o
que querem.
Com vinte, namorei um de trinta. Meu pai achou a morte. Com vinte e dois, namorei um
de trinta e cinco. Daí, ele já largou para lá e parou de reclamar. Os dois tornaram-se bons amigos,
inclusive.
— Ele é seu chefe! — grita do outro lado da tela.
— Sei bem disso. Não estamos falando de nada diferente do óbvio aqui. Mas, se você me
pedisse para escolher entre os dois, não tenha dúvidas de que o cheiroso do meu patrão seria a
minha escolha.
Não dá para esquecer aquela primeira noite na casa de Theo. Acho que não é nada que ele
force, Savard simplesmente é charmoso de natureza, cheiroso feito o inferno e exala testosterona.
Não sei como andam suas relações depois da separação, mas eu tenho para mim que meu
chefe não é o tipo de cara que deve ficar sem transar por muito tempo.
Inclusive, quem precisa transar, sou eu.
Na verdade, preciso há bastante tempo. Digamos que Josh não era lá o cara que me
deixava completamente satisfeita quando o assunto era esse. Não estou dizendo que ele era ruim,
não é isso. É só que… eu sempre estava esperando por mais.
Mais adrenalina, mais emoção, mais coração na boca, mais perigo.
Eu gosto do perigo quando o assunto é sexo.
E Josh era o cara que não se importava tanto assim com isso.
Talvez eu aceite o convite de Lee para irmos a uma festa de ricaços nesses iates enormes.
Quem sabe algum deles esteja disposto a me deixar feliz? Eu não iria reclamar.
— É, eu sei. Também sei que você tem juízo e sob hipótese alguma colocaria em risco
sua carreira por uma noite com Theo Savard.
— Claro que não! — respondo de imediato. — Nem ele, Aileen. Isso chega a beirar o
absurdo. Você jamais conhecerá alguém tão focado quanto esse homem. Ele é simplesmente
metódico do começo ao fim. Não é à toa que ele é do primeiro dia do signo de virgem.
Escândalos são a última coisa na qual você verá Savard enfiado.
— Então contente-se em sentir o cheiro da loção dele de vez em quando e é isso.
Rio da fala da minha amiga e afirmo com a cabeça.
— Pode deixar. — Estaciono em frente à loja e desligo o carro. — Preciso ir. Qualquer
coisa, me chame. Está tudo bem mesmo o Alex passar o final de semana aí no nosso apartamento
com você? Não quero confusão com seu querido Max.
É como chamo o namorado de Aileen.
— É claro que está. O apartamento é seu também, logo seu irmão pode usá-lo sempre que
precisar. Já deixei sua chave na portaria para ele pegar quando chegar aqui.
Alex vai participar de um evento em Toronto este fim de semana e eu ofereci meu quarto
para que ele se hospede.
— Te amo, Leen. Obrigada por tudo! Nós nos falamos mais tarde.
— Eu também te amo, amiga. Se cuida!
Capítulo 11 - Summer Campbell

A loja que Manfred me recomendou não me serviu de muita coisa. Os materiais não eram
tão premiuns como os que costumo usar, por isso voltei à estaca zero.
— Em Londres com certeza você vai encontrar.
Savard, Lee e eu passaremos a próxima semana inteira na Inglaterra. Theo participará de
programas de TV, dará algumas entrevistas que aprovei, gravará campanhas e, de lá,
embarcaremos junto com a equipe da McLean para o Bahrein.
— Provavelmente, sim — respondo ao Manfred com o iPad nas mãos, enquanto troco
alguns e-mails com o pessoal de comunicação da equipe de Theo.
Eles me forneceram todo o material disponível de Savard que fizeram no último ano.
Também consegui um social media incrível, já que Savard não estava satisfeito com o que estava
trabalhando com suas redes antes. Juntos, estamos pensando em pautas mais humanizadas para
continuar fazendo das redes de Theo um lugar onde os fãs sentem-se mais próximos dele, e não
só impactados pelas campanhas de publicidade que faz.
Theo e eu trocamos algumas mensagens hoje, enquanto ele voltava, sobre aparecer mais
nos stories. Vamos abrir caixas de perguntas, fazê-lo responder a elas direto aqui de casa, em
seus treinos de academia, nos momentos de descanso, nos hotéis, de um jeito que traga seu
público para dentro do seu dia a dia. Ele adorou.
É até engraçado pensar nisso, mas Theo Savard é um ótimo tiktoker. Ele não tem
vergonha de fazer as dancinhas da moda, entrar nas trends e viralizar pela internet.
As fãs ficam completamente obcecadas.
— Peça Logan para te dizer onde encontrar. Ele vai saber — hoje, Manfred está no modo
chef de cozinha.
A nutricionista de Savard mandou o cardápio preparado para essa semana que ele passará
em Monte Carlo.
— Quem é Logan?
— O assessor de Jackson, companheiro de Savard na McLean.
— Ah, ok! — agradeço enquanto pego um tomate grape lavado e jogo dentro da boca.
Paddock, que está deitado aos meus pés, de repente levanta a cabeça, olha para a porta e
late, correndo disparado para fora.
— Sr. Savard chegou — anuncia o secretário, sem tirar os olhos da sua panela no fogão.
Não sei exatamente o motivo, mas isso faz meu estômago se agitar. Acho que a presença
sempre imponente e cheia de energia de Theo me deixa um pouco nervosa.
Ou talvez seja somente seu perfume mesmo.
Bom, vou precisar aprender a conviver com isso pelo próximo ano inteiro.
Alguns segundos depois, Theo atravessa a porta, desta vez sem Mark. Ele usa um casaco
de couro bege, um cachecol marrom, calça jeans e uma bota.
— Ei, vocês dois — brinca comigo e Manfred, enquanto se abaixa para dar atenção a
Paddock, que não para de pular em sua perna. — Você se comportou, garoto? — Meu chefe
conversa com seu cocker spaniel e aperta suas orelhas, dando um beijo longo em seu focinho.
Sei lá, mas eu acho um charme a forma como ele trata Paddock. O jeito como as pessoas
lidam com os animais, para mim, diz muito sobre elas.
— Se comportou bem até demais. — Manfred ri e aponta para mim. — Seu amigão
encontrou outra cama onde dormir agora!
Theo olha diretamente para mim e sorri, mas é aquele sorriso cheio de charme e
divertido.
— Você está me traindo com Campbell, Paddock? É isso mesmo?
O cachorro de Savard decidiu que meu colchão agora é seu lugar favorito para dormir
enquanto ele não está em casa, o que Manfred achou incrível, já que nem com ele Paddock gosta
de dividir a cama. Confesso que amo ver meus episódios de Sen Çal Kapımı[4] com esse manhoso
enrolado nas minhas pernas.
— Não consegui dizer não! — Balanço os ombros como quem se desculpa e Theo sorri
mais largo.
— Esse cachorro não gosta de Lee porque é um safado feito ele, essa é a verdade. —
Manfred e eu rimos. — Tudo certo por aqui?
— Na mais perfeita ordem, Sr. Savard. Já estou no preparo da semana. Precisa de algo?
Theo nega com a cabeça.
— Não se preocupe com o meu jantar hoje. Tenho um compromisso. — Meu chefe olha
as horas em seu Rolex caríssimo. — Pode me acompanhar, Summer? Gostaria de conversar um
pouco com você.
— Claro! — Recolho meu iPad da mesa da cozinha e me despeço de Manfred, seguindo-
o pela sala, subindo a escada e indo direto para o escritório dele.
É a primeira vez que entro aqui. Como era de se esperar, o cômodo é simples, mas muito
bem-organizado.
Uma pequena estante de livros diversos se encontra bem atrás da mesa de Theo, ao lado
de uma com inúmeras réplicas de troféus dos GPs em que Savard saiu vencedor. E, olha…,
acredito que aqui estejam somente os mais importantes, porque Theo, além de deter o título de
mais pole positions de todos os tempos, ficou em primeiro por muitas e muitas vezes.
Não percebo que fico olhando atentamente para um em específico.
— Ímola, 2017 — ele me diz, sem que eu precise perguntar. — Foi a minha primeira e
única vitória na Itália.
— Foi onde o Senna morreu.
— Exatamente. — Theo encosta o quadril no tampo da sua mesa, bem ao meu lado,
olhando para os troféus feito eu. — O maior de todos os tempos.
— Me arrepio todas as vezes que assisto a algo dele e eu nem ao menos era viva quando
tudo aconteceu.
— Só as lendas são capazes de fazer isso. — Ouço o riso em sua voz e olho na sua
direção. — Tenho certeza de que é assim que as pessoas se sentem quando se lembram da sua
mãe.
Tenho pensado bastante nela esses dias.
Tenho pensado no meu pai também.
Gia andou me mandando algumas mensagens dando a entender que talvez precise de um
“tempo” longe de Halifax para cuidar de coisas da sua carreira. Alex e eu, na verdade,
interpretamos como um: amo seu pai, mas não estou mais aguentando essa situação.
Ainda não tive coragem de ligar para ele e entender o que realmente está acontecendo,
mas sei que vou precisar fazer isso em breve.
— Será assim com você também — devolvo, olhando o restante do cômodo que conta
com algumas poltronas, um quadro enorme do seu rosto pintado a óleo.
É lindo!
— Estou longe de chegar aos pés dos dois, Summer. Acredite. — O tio de Josh ganha
minha atenção mais uma vez. — Gostaria de te agradecer por todo seu empenho. A consultoria
foi só elogios para você. O marketing da McLean me parabenizou pela contratação. Parece que
você já tem o coração de todo mundo, até do Paddock.
Acabo sorrindo, mesmo tentando não deixar a vaidade tomar conta de mim. Na verdade,
ainda sou uma criança no meio de todos eles, mas me sinto feliz em saber que o que tenho feito
está agradando.
— Não estou fazendo nada menos que o meu trabalho, Theo. É diferente do que eu fazia
no meu dia a dia, mas não há dúvidas de que é mil por cento mais empolgante! E sobre o
Paddock, ele tem sido uma ótima companhia para as noites frias de Monte Carlo.
De repente, percebo os olhos de Theo bem atentos a mim. Nós dois ficamos em silêncio e
eu me preocupo em não deixar minha respiração falhar.
Por que ele precisava ser tão lindo assim?
— Quando tiver oportunidade, saia com Manfred e Mark. Eles sabem aproveitar a vida
em Mônaco. Não é justo que uma garota na sua idade se sinta sozinha em um lugar como este.
— Theo abre as pernas torneadas e cruza os dedos das duas mãos entre elas. — Faça amigos,
Summer. Divirta-se.
— Manfred me levou a alguns lugares, foi ótimo! Já Mark tem cara de que se diverte em
orgias! — brinco com meu chefe.
De repente, Theo solta uma gargalhada alta, rouca, sexy, de tombar a cabeça para trás. Ai,
ai...
— Não tenha dúvidas. Ele realmente se diverte em lugares assim. Mas sabe se divertir em
boas festas convencionais também. — Savard limpa o canto do olho, de onde uma lágrima
escorreu.
— Quem sabe na nossa volta do Bahrein?
— É sempre bom algum tipo de entretenimento no retorno dos GPs. A gente volta com a
adrenalina lá em cima. — Ele se levanta e se aproxima um pouco. — Inclusive, viu que
precisaremos ficar em Londres outra vez na volta do Bahrein? Mark disse que te avisaria. — O
auge da beleza deste homem é exatamente quando ele faz o que acaba de fazer: colocar as mãos
nos bolsos e estufar o peito, mostrando todo o poder que é ser Theo Savard.
— Sim. Você e Jackson têm gravações pela McLean. Talvez você queira aproveitar para
visitar o instituto, o que acha? Temos um total de três horas disponíveis na sua agenda na quinta,
depois precisamos voltar para Mônaco. Kayla vem nos apresentar os modelos desenhados para o
segundo semestre.
— Claro. Pode marcar!
— Com release ou sem release para a imprensa?
— Com, por favor. Este é o tipo de trabalho que precisamos divulgar mais. Desde a saída
do Carl isso foi um assunto deixado de lado, precisávamos voltar a colocar em evidência.
Theo tem um instituto que leva seu nome e ajuda milhares de crianças no mundo inteiro,
principalmente refugiados órfãos e crianças que vivem com o HIV.
— Combinado. Deixa comigo. — Abro minha agenda e escrevo rapidamente uma nota
para não me esquecer.
— Vamos convidar Jackson para nos acompanhar. É um ótimo momento para
colocarmos nossa amizade em pauta. Sei que com o começo da temporada vão tentar a todo
custo nos colocar como rivais, porque estou me aposentando e ele está em busca da posição um
da McLean, mas não é o que vai acontecer. Preciso que você e Logan estejam na mesma sintonia
sobre isso, Summer. Vou te passar o telefone dele. Entre em contato, certo?
— Farei isso! — Ele mexe em seu telefone e, segundos depois, recebo uma notificação.
— Algo mais?
— Por hoje é só. Tenho algumas coisas pessoais para resolver agora à noite, então, por
favor, não pense mais em trabalho por hoje, estamos combinados?
Um chefe que me pede para não trabalhar. Se isso não é um sonho, eu realmente não faço
ideia do que possa ser.
Rox me mandou uma mensagem contando que não existe outro assunto na redação que
não seja meu trabalho com Savard. O’Brian, aquele asqueroso do meu ex-chefe, está espalhando
para todo mundo que Joshua fez Theo ter “dó” de mim e me colocou para “cheirar seu rabo”.
Que ele não dá um mês até Savard chutar a minha bunda, porque sou uma grande oportunista.
Bom, vou mostrar a esse imundo quem é a oportunista de quem ele não para de falar. O
momento certo ainda vai chegar.
Confesso que me sinto curiosa para saber o que seriam “coisas pessoais” de Theo Savard,
mas penso que isso não é da minha conta, então guardo minha curiosidade para mim mesma e só
concordo.
— Tomar uma taça de vinho e ler um capítulo do meu livro favorito serão tudo o que
farei hoje.
De repente, meu chefe parece curioso.
— Você gosta de ler, Summer Campbell?
Achei que era meio óbvio, sou uma jornalista.
— Depois de pintar, é a coisa que mais gosto de fazer. Leio de tudo. Mas, no momento,
estou lendo um romance de época. Outlander[5]. É um romance histórico, que mistura fantasia.
Se passa na região dos meus antepassados, na Escócia. Sou descendente dos clãs Campbell e
Mackenzie.
As sobrancelhas de Theo se levantam e ele aponta para mim.
— Tem uma série, não tem? Conheço o Sam que faz o cara principal, já esteve nos
paddocks de alguns GPs.
— Sim! É essa mesma. Amo a série, mas sou louca pelos detalhes dos livros.
Estou muito acostumada a encontrar artistas e pessoas famosas pelas minhas coberturas
Canadá afora, mas confesso que estar de cara com Sam Heughan faria de mim uma fã que
tremeria completamente. Mas a cereja do meu bolo, com certeza, seria dar de cara com a Taylor,
ou quem sabe o Kerem Bürsin[6]?
— Livros sempre são melhores E, depois, quero saber um pouco mais sobre as suas
origens. Se quiser me contar, claro. Sou louco por história.
Às vezes me pergunto como duas pessoas tão diferentes podem ser melhores amigos, tio
e sobrinho. Joshua sempre achou “engraçado” todo o apego que eu e meus familiares temos com
a nossa cultura. Assim como ele não liga muito para a cultura espanhola, herdará da avó, mesmo
que se renda algumas vezes às visitas ao país e nada muito além disso. Josh Savard ama a sua
vida e história canadense, o que eu acho que o faz perder muito, já que considero a Espanha um
dos lugares mais fascinantes que já conheci, e sua cultura, para mim, dispensa comentários.
Ele é um Savard fora da curva. Tenho certeza disso. Pena que não para o lado bom.
— Fique à vontade na adega e escolha o vinho que quiser. A casa também é sua, não se
esqueça. — Theo pisca para mim e suspira em seguida. — Agora preciso mesmo ir, Summer.
Percebo que este é um convite para que eu deixe seu escritório, então me apresso a virar
para o lado da porta.
— Nos vemos amanhã, Theo. Boa noite. — Ando a passos largos para sair do cômodo,
mas olho para trás uma última vez, e Theo Savard continua parado no mesmo lugar, olhando em
minha direção.
— Bom vinho e boa leitura, Campbell — é o que ouço antes de fechar a porta e correr
para o meu quarto.
Capítulo 12 - Theo Savard

MARÇO
UMA SEMANA DEPOIS
LONDRES, INGLATERRA

— Theo, você está preparado? Precisa ser um take único.


— Vamos nessa. — Eu me preparo para me barbear.
Hoje é dia de gravar publicidade para um dos meus maiores patrocinadores. A ideia aqui
é simular um pós-banho, onde faço minha barba e, em off, minha voz fala de todas as qualidades
do barbeador considerado o melhor do mundo.
Ganhar dinheiro para isso é fácil.
Nunca tive dificuldade com as câmeras. Na verdade, eu gosto.
As pessoas consideram os quarenta mais como tiozões? Se sim, sou um “tiozão” das
redes sociais.
Não tenho problema em fazer tiktoks, aprender as dancinhas do momento ou dublar
áudios. Inclusive, gosto! Talvez seja o meu sangue espanhol que, na maioria do tempo, fala mais
alto que o gélido canadense.
O maquiador espirra um pouco mais de água na minha barriga para simular o banho
enquanto as gotas escorrem até a beirada da toalha, que cobre os shorts que uso por baixo.
Mark e Summer conversam alguma coisa por trás da equipe de filmagem enquanto me
preparo para a gravação que não posso errar.
Os dois têm andado bem juntos nos últimos dias, o que me agrada, porque preciso que a
minha equipe esteja em sintonia. Acho que Lee entendeu meu recado sobre não ultrapassar o
limite com Campbell, o que me gera um certo alívio, apesar de nunca perder a oportunidade de
importuná-la com suas cantadas baratas.
A cada dia que passa, tenho mais certeza de como Josh com seu “problema de ego”
resolveu o meu “problema profissional”. Summer sabe se antecipar a tudo, sempre propositiva,
sem medo de argumentar e se contrapor a algo que eu diga e ela não concorde.
Ela tem personalidade forte, é autêntica, destemida e faz o que for necessário para que as
coisas aconteçam da forma como precisam.
E eu gosto disso. Pra caramba, para ser bem sincero.
— Prontos? — o produtor pergunta e todo mundo entra em silêncio. Aceno com a
cabeça. — Três, dois, um, gravando.
Ligo o barbeador e olho dentro da câmera, como um espelho, e começo o processo.
Devagar, aparo meu cavanhaque, deixando os pelos mais baixos. Meu barbeiro oficial em
Londres já está no estúdio esperando terminar a gravação para finalizar da forma correta.
Vinte segundos depois, ouço a voz outra vez.
— Perfeito! Corta — e eu paro.
Quando olho para a frente, meus olhos caem direto nos de Summer, que me encaram
atentamente.
Summer Campbell tem olhos intensos, muito bonitos. São olhos que convidam.
Dentre todas as qualidades da garota, com certeza a forma como ela olha para as coisas e
as pessoas, como se sua atenção fosse única e exclusivamente aquilo ou aquele é uma das que eu
mais gosto nela.
E digo com tranquilidade que isso seria um grande problema para mim se ela não fosse
minha funcionária, ex-garota do meu sobrinho e completamente proibida para mim.
É que eu tenho um tesão absurdo por mulheres assim. Completamente inteligentes,
sagazes e seguras feito ela.
Mas não posso ter por Campbell.
Ela segura seu iPad inseparável abraçado no peito enquanto alguns fios de cabelo estão
soltos do rabo de cavalo que está usando hoje. As pernas longas estão vestidas em um jeans
justo, que fica bonito nela. A blusa de manga longa e gola alta pink confirma toda a jovialidade
que Campbell exala.
Quando desvio os olhos para Mark, meu empresário me olha como se tivesse acabado de
me pegar cometendo um crime inafiançável.
Não deixa de ser, pelo menos para a minha consciência.
Acabei convidando Joshua para nos acompanhar ao Bahrein. Sei que tudo o que ele quer
é estar perto de Summer e, talvez, eles consigam pelo menos ter uma última conversa
pessoalmente, de um jeito melhor do que no dia em que terminaram. Mas ele disse que não pode
ir, já que tem compromissos pela Savard e não pode se ausentar da empresa.
Temos um grande avanço aqui? Quem sabe?
— Eu adoro como você adora as câmeras, Savard — agradeço por o produtor chamar
minha atenção outra vez. — Impecável.
Ouço palmas de todos os lados, porque acabamos a gravação. Agradeço a todos enquanto
meia dúzia de gente já está em cima de mim me ajudando com o microfone escondido, a água do
banho de mentira e todo o resto.
Meia hora depois estou de barba feita, vestido para o frio insano de Londres e saindo
acompanhado de Mark e Summer.
— Como você consegue fazer aquilo? — Summer me pergunta, direta. — Ficou
parecendo que estava meio obcecada? Não conseguia parar de te olhar.
Solto uma risada enquanto fecho os botões do meu casaco e coloco os óculos escuros.
— Você diz gravar uma vez só?
— É! — Campbell se empolga e eu sinto um calor no peito com sua voz animada.
Cacete… — Você parece nascido para atuar. Já pensou em mudar de profissão? — agora sei que
ela está brincando.
Mark ri do nosso lado e diz:
— Você acha que meto esse homem nessas coisas por quê? Quando esses pés pararem de
acelerar, não posso ficar pobre. Ele sabe que é bonito e gosta de se exibir, os patrocinadores
amam gravar com Savard.
— Quanto você acha que eu deveria cobrar na Justiça por exploração, Campbell? Você
ouviu com seus próprios ouvidos que ele só faz isso porque tem medo de perder a vida de luxo e
mordomia dele, certo?
O sol, que não é capaz de esquentar ninguém no meio deste inverno, bate no rosto de
Summer e ela ri com os olhos fechados por alguns segundos.
Ela é bonita até assim.
Porra! Sinto falta de Carl. Era mais fácil quando era com ele. Era mais fácil quando eu
era casado.
Estou parecendo a merda de um cachorro no cio.
— Eu cobraria absurdos. Vai, Savard, mete um processo nele! — e aponta para Mark,
que finge decepção.
— Caramba, Campbell. Eu achando que nosso próximo passo era a cama, e você está me
apunhalando pelas costas.
— Eu sei que você quer muito, Lee, mas não vai ter acesso a esse corpinho. Sinto muito!
— Pisca em direção ao meu empresário.
Dou uma risada e bato no ombro de Mark.
— Me conte como é se sentir rejeitado, Lee?
— Ela está falando isso agora. Até o fim do ano estaremos casados.
— Nem sob tortura eu me casaria com um tipo feito você, Mark! Você é bonito demais e
cafajeste na mesma proporção. Eu tenho amor à minha saúde mental. Agora pare de me imaginar
pelada e vamos trabalhar.
A porta do carro já está aberta e ela entra, deixando-nos para trás. E eu não consigo parar
de sorrir.
Eu adoro essa sua língua afiada.

Summer Campbell

Eu sei. Eu fui pega no flagra.


Theo Savard, meu chefe, me pegou olhando para ele enquanto estava todo molhado,
enrolado em uma toalha, no meio da gravação de uma campanha.
Eu, que deveria estar ali trabalhando, estava imaginando como poderia ser esse homem
daquele jeito, com aquele peitoral definido, os braços torneados e a barba malfeita, por cima de
mim.
Não posso mentir: tenho tido pensamentos completamente errados com Theo. De repente
penso em como seria se, por acaso, o visse mais à vontade dentro de casa ou se, no meio da
noite, ele resolvesse entrar no meu quarto.
Isso é totalmente absurdo, eu sei. Além de não fazer o menor sentido. Ele é meu patrão e
não magoaria Josh por nada neste mundo. Mas, a cada segundo que passo ao lado de Savard,
mais encantada eu fico.
E com mais tesão também!
Ele é simples, é inteligente, tem sacadas geniais para tudo, é bem-humorado, trata todo
mundo bem, sem distinção. Além disso, cuida de Paddock como se ele fosse a joia mais preciosa
do mundo inteiro e ainda evita a todo custo me encarar demais, porque respeito e fidelidade são
coisas inegociáveis para Theo. Talvez eu esteja deixando meus pensamentos demonstrarem mais
do que eu deveria e ele já tenha percebido.
Por isso dei uma de louca e disse que fiquei fascinada com sua atuação. Eu preciso desse
emprego, não estou na posição de deixar tudo se perder porque não me importaria se o tio do ex-
namorado quisesse me foder.
Talvez a ideia de dividir uma casa tenha sido um pouco demais. Entendo que tenha sido
assim com Carl, irmão de Louise, que, segundo Manfred, morava em um pequeno estúdio dentro
da propriedade que o casal Savard tinha em Paris. O ex-cunhado de Theo é um homem solteiro,
que nunca se importou em doar seu tempo ao tio de Josh, até porque recebia muito bem para
isso.
Mas agora estamos falando do mesmo teto, de dois adultos solteiros, dois quartos de
distância, mesmo corredor, e, dizendo por mim, subindo pelas paredes.
Preciso urgentemente comprar um sugador, já que deixei o meu no Canadá, morrendo de
medo de a imigração me parar e eu ter que explicar para Theo que fui barrada porque estava
tentando embarcar para Nice com uma rosa que me faz gozar quando não tenho um homem que
me ajude com isso.
O problema é que agora eu fico desejando que ele seja o homem que me ajude
exatamente com esse tipo de coisa.
Será que vou ser indelicada demais se pedir para sair da casa de Theo tão rápido assim?
— Tudo pronto para hoje à noite, Summer?
Hoje à noite? O que tem hoje à noite além da minha cama de hotel com meu fish and
chips e assistir o The Eras Tour, o filme?
— Com o quê? — devolvo para Mark.
— Como assim, com o quê? O jantar da McLean.
— Está na agenda de vocês, não? Às vinte horas.
— Mas está na sua? — questiona, com uma cara confusa.
Acho que a minha está igual.
— Deveria?
— Eles não te avisaram que você está convidada?
Eu, em um jantar da McLean? Com George Wisbech?
— Não!
Theo pragueja e balança a cabeça.
— Tudo bem para você? Eu prometi que te apresentaria pessoalmente hoje. É para os
pilotos e equipes. Me desculpe se você tinha outro plano.
Como vou falar que não?
— Imagina. Está tudo bem. Eu só preciso…
Eu só preciso comprar uma roupa decente, porque não trouxe nada para um jantar com
George Wisbech, o maior e o melhor chefe de equipe atual da F1. Pensei que seríamos
apresentados um ao outro em qualquer momento no meio do circuito do Bahrein, não em um
jantar formal. Puta que pariu!
— Faça o seguinte: tome a tarde para você. Logan conhece todo mundo em Londres, ele
com certeza achará alguém para te ajudar com qualquer coisa de que você precisar. É por minha
conta.
— Tenho bastante coisa para resolver, Theo. Não posso perder a tarde.
— Estou mandando, Summer — e quando ele ordena me sinto tremer inteira.
Seus olhos me queimam e eu juro que agora não estou maluca ou algo do tipo.
Deus infelizmente sabe as coisas que ando imaginando esse homem me mandar fazer, e
tem mais a ver com tirar minha roupa e ficar de quatro, não sobre não trabalhar.
Pior é que não tenho com quem desabafar. Se eu disser para Aileen que tenho sonhado
com Theo e eu na mesma cama, ela vai acabar comigo. Contar para minha irmã mais nova que
preciso transar e tenho pensado no meu chefe para isso, sem a menor chance. Muito menos para
Alex. Meu irmão e eu não temos assuntos tabus entre nós, mas acho que isso é um pouco demais
para compartilhar com ele.
Vou seguir o conselho do próprio Theo e arrastar Manfred comigo para alguma festa de
Monte Carlo. Sei que as baladas que ele frequenta são LGBTQIA+, mas sei também que ele não
vai se importar de mudar de ares comigo um diazinho só que seja.
— Seu desejo é uma ordem, chefe — brinco e abro meu iPad, tentando organizar a
cabeça e adiantar o máximo de tarefas que eu puder enquanto seguimos para a outra gravação.
Depois do almoço vou precisar correr para um shopping qualquer e resolver meu problema de
roupa. — Como devo me vestir? — pergunto na lata.
— Ligue para Lilibeth — diz o nome da sua stylist. — Ela vai saber exatamente como te
ajudar.
Depois da gravação, o barbeiro de Savard arrumou a confusão que ele fez no rosto. Deus,
e ficou tão bonito… Theo está com um ar mais jovem, mais sexy. Estou tentando não olhar para
ele demais, mas está um pouco impossível.
— Está certo, farei isso — e encerro o assunto, porque a última meia hora foi caótica
demais.
Preciso de um tempo em silêncio para entender tudo o que estou sentindo.

Logan Jones é um cara incrível.


Desde que nos conhecemos, no começo da semana, temos andado bastante juntos, tirando
o tempo que precisamos nos dedicar aos nossos assessorados. Ele é divertido, alto-astral e um
cara completamente desembolado. Conhece tudo e todos. Por isso não foi difícil que ele
conseguisse alguém que pudesse me preparar para o jantar da noite.
Da minha altura, a pele negra, os cabelos cacheados e perfeitos, já perdi a quantidade de
vezes que me fez rir contando os absurdos dos bastidores da F1. É engraçado como todos eles,
cada um de sua forma, me fizeram em tão pouco tempo me sentir tão bem no meio de um tanto
de gente e uma realidade que eu não conhecia antes.
Já no shopping, aproveito enquanto procuro a loja a que Lilly pediu que eu fosse e ligo
para o meu pai.
— Com George? Que privilégio, querida! — responde feliz assim que digo a ele com
quem me encontrarei hoje mais tarde.
— Não me sinto totalmente preparada — confesso enquanto avisto a loja de grife ao
fundo do andar em que estou.
É claro que a stylist de Theo me faria vestir algo que considero além do necessário. Mas
meu chefe mandou, então…
— Você vai tirar de letra, meu bem, como tudo o que faz — sinto que meu pai tenta me
dizer isso com uma voz mais animada, mas não me convence.
— Georgia já viajou para o congresso?
— No começo da semana.
— E vocês estão bem, pai?
— Defina bem, querida — ouço o que me parece o barulho de teclado do outro lado.
Com certeza ele está se matando de trabalhar para fugir do conflito com a namorada.
— Juntos, resolvidos, conversados. — Entro na loja e me sento em um banco estofado
alguns metros porta adentro só para terminar esta conversa.
— Não exatamente.
— Pai, vou te dar um conselho no papel de amiga. Não jogue a chance de ter uma mulher
como Gia ao seu lado porque ainda não dá conta de certas coisas. Melhorar só depende de você.
Ninguém pode arrastar seus pés até o consultório de um psicólogo para resolver as questões que
estão pendentes aí dentro da sua cabeça. — Esse é o tipo de conversa que tento não ter com
Donald Campbell. Meu pai não aceita que precisa de ajuda e ficar batendo nessa tecla me cansa,
assim como a Alex também. — E é o que vai acabar acontecendo. Ela está indo embora porque
está cansada de tentar. As pessoas sempre tentam de tudo pelo amor, mas todo mundo tem seus
limites. Talvez você não tenha se dado conta, mas Georgia tem se doado muito mais nessa
relação do que o senhor. Então, se não é o que quer para você, pelo menos a deixe ir ser feliz
com alguém que está disposto a amar a mulher incrível que ela é. Agora, se o senhor tem noção
do que eu acabei de dizer sobre ela, sabe que, como a mamãe, Gia é uma em um milhão.
Ninguém deveria ser tão sortudo assim como você é.
Meu pai ri do outro lado da linha, mas é um riso de dor. É a forma como ele aprendeu a
rir desde que, no lugar daquele ônibus, o que chegou para nós, parados ali esperando por ela, sua
comissão técnica e suas atletas, foi a notícia de que o veículo havia rolado ribanceira abaixo.
— Às vezes parece que você é a mãe, eu sou o filho.
— É porque muitas vezes eu precisei mesmo ser, pai.
Solto as palavras. E não vou dizer que solto sem querer. Eu nunca disse isso para ele, é a
primeira vez.
Talvez eu já devesse ter feito.
Segundo meu psicólogo, por algum tempo, Alex e eu precisamos ser a “mãe e o pai” do
nosso pai, e a experiência foi traumatizante porque, cuidando do luto dele, não tivemos quem
cuidasse do nosso. E no meio disso tudo precisamos ajudar a criar uma criança de doze anos que
tentava entender por que a mãe não voltaria mais para casa.
— Sinto muito. — Meu pai não é muito bom com sentimentos.
Só era quando minha mãe estava viva.
Sei que isso vem das gerações passadas e dos nossos ancestrais. Os homens das
Highlands eram guerreiros que estavam ali sempre prontos para lutarem por seus clãs.
Demonstração de afeto ou algo que pudesse mostrar qualquer tipo de fragilidade não era lá o
forte deles.
Assim meu pai cresceu. Assim, um pouco, crescemos eu e meus irmãos também.
Canadenses, sangue escocês… Muitas vezes me chamaram de grossa e insensível só porque sou
muito direta, independente de qual seja o tipo de relação.
Aileen dizia que eu precisava ser mais romântica, por isso não sossegou enquanto não me
viciou em seus livros preferidos de romance. E aí eu descobri que, na verdade, sempre existiu
uma romântica incurável dentro de mim, que adora sofrer por mocinhos de caráter duvidoso e
que torce insistentemente por finais felizes. Talvez eu tenha me tornado mais doce depois disso.
Só talvez.
— Está tudo bem, pai. Fica tranquilo. — Percebo que preciso desligar logo, pois estou
com o tempo contado. — Preciso desligar agora. Amanhã te ligo para contar do jantar. Me
promete pelo menos que vai pensar no que eu te disse?
— Isso eu posso prometer, Sums — usa o apelido que minha mãe tinha para mim. Dou
um meio sorriso sabendo que isso é um sinal de que ele está falando sério. — Eu conferi a
agenda da F1 deste ano. Eles estarão nas férias de verão durante o Royal International Parade.
Você vem para casa?
— Claro que vou, pai. Nunca faltei. — Mas precisaria faltar se Theo dissesse que não
posso ir. Aliás… tenho que levantar essa pauta com ele.
— Ótimo! — Percebo em sua voz o quanto se sente aliviado por saber que não pretendo
quebrar nossa tradição familiar. — Bom jantar, querida. Divirta-se.
— Obrigada, pai. Até mais — e desligo.
Assim que me levanto e vou em busca de ajuda, uma das atendentes diz que Lilly já ligou
para elas e que separou alguns modelos para eu dar uma olhada.
A mulher é mais rápida do que imaginei!
Capítulo 13 - Theo Savard

Confiro meu relógio pela segunda vez enquanto estou ao lado de Mark no saguão do
hotel. Summer me mandou uma mensagem pedindo por mais cinco minutos, pois a pessoa que
Logan conseguiu para ajudá-la se atrasou um pouco.
— Dá tempo de fumar um charuto? — Lee pergunta.
— Guarde seu pulmão para fazer graça com Wisbech — aconselho.
Meu chefe de equipe, com toda certeza, mandou trazer uma caixa inteira de Cuba só para
essa noite. O homem adora.
— Logan nos colocou no clube amanhã. Eu, você e Jackson. Confirmo ou desmarco?
Quando vou abrir a boca para responder a Lee, o elevador se abre e de lá sai uma
Summer que faz minha boca parar de produzir saliva.
Minha garganta fica seca imediatamente.
— Puta que pariu. Caralho… Como pode ser gostosa assim? Você me arrumou um
problema, Savard. Preciso comer essa garota.
Ouço a voz de Mark enquanto acompanho os passos firmes em cima do salto alto preto,
meias finas escuras e um vestido de manga longa vermelho, colado no corpo, abraçando suas
curvas perfeitamente desenhadas e bonitas.
É a primeira vez que vejo Campbell em uma roupa tão justa assim. A calça jeans de mais
cedo nem chega perto disso.
Eu te arrumei um problema, Mark? Joshua Savard me arrumou um problema, isso sim.
Esqueça o que eu já disse antes sobre isso não ser verdade.
— Ela te deu um bom e sonoro fora hoje cedo, já se esqueceu? Vai ter que gozar na mão
mesmo — zombo do meu empresário, mas a verdade é que me sinto um pouco desesperado.
Não foi uma boa ideia levar Summer para dentro de casa.
Não pensei que não estava falando de Carl. Não pensei que não estava falando de
Manfred.
Estava falando de uma mulher. Bonita, atraente, inteligente. E que diferença faz se ela é
ex do meu sobrinho? A cabeça do pau às vezes é cruel e pensa antes que a cabeça de cima.
Talvez o mais sensato seja oferecer a Summer outro lugar para morar enquanto
trabalhamos juntos.
Antes mesmo que ela chegue até nós dois, seu perfume toma completamente os meus
sentidos. E provavelmente não só os meus, porque todos os homens que estão neste saguão agora
param para ver Summer deslizar até nós.
Isso tudo é um verdadeiro desastre.
Theo Savard, seu filho de uma puta, faz essa merda de coração parar de bater errado
desse jeito, caralho.
— Eu me humilharia por um simples abraço agora, Summer Campbell. Não me importo
se você chutou minhas bolas hoje mais cedo negando meu pedido de casamento — Mark brinca
com a garota, que ri, parando de frente para nós.
Ela está praticamente da minha altura agora e eu posso ver de perto a boca volumosa
coberta por algo que brilha, e a maquiagem sutil, que nem seria necessária.
Por que é que estou pensando na boca da minha assessora me chupando?
— Você é tão exagerado, Lee! — responde e olha devagar na minha direção. — Espero
que George não fique bravo pelo nosso pequeno atraso.
— Ele jamais ficaria. — Sorrio para Campbell, tentando me lembrar do dia em que Josh
nasceu.
Das promessas que fiz àquele garotinho naquele quarto de hospital.
Preciso raciocinar rápido, porque isto aqui está me levando para um caminho
completamente errado.
Completamente proibido.
Ela ajeita o cabelo castanho atrás da orelha e eu quase consigo ouvir Mark uivar feito um
lobo.
Guardo uma nota mental para pedir a Manfred que procure um apartamento perto de casa
para Campbell.
Como vou dizer isso a ela? Ainda não sei. O que não dá é para ficar imaginando se ela
está pelada do outro lado do meu corredor. Se ela se toca deitada na cama ou tomando banho na
hidromassagem. Se ela goza gostoso a poucos metros de mim.
Merda!
A resposta para o clube amanhã é sim. Com certeza é sim. Mais uma vez vou me afundar
em uma mulher qualquer para ver se coloco o mínimo de juízo na minha cabeça.
— O carro já está nos esperando. Me daria a honra, dama de vermelho? — Lee oferece o
braço para Summer, que segura o casaco no outro.
Ela aceita o gesto dele enquanto digo:
— Com licença. — Tiro a peça da sua mão e seguro eu.
Ela me agradece com um sorriso e dispara:
— O que diria meu ex-chefe se soubesse que minha nova dupla de rapazes me trata como
uma rainha?
— Que sabe que não consegue apreciar as coisas boas da vida, tipo a sua companhia —
meu empresário brinca.
E pensar que Lee encheu a porra do meu saco no dia em que Josh ligou querendo que eu
desse uma oportunidade para Summer…
Pisco para ela concordando com Mark e vamos os três em direção à rua. Está um frio
congelante do lado de fora, por isso Summer corre os poucos passos que nos separam da calçada
até o automóvel.
Sem que os dois percebam, respiro mais fundo e o cheiro impregnado no casaco de
Summer faz meu peito errar uma batida.
Que merda.
Que merda…

A noite transcorre como eu já imaginava: todo mundo está apaixonado por Summer.
Enquanto tomo meu uísque tranquilamente do outro lado da mesa, já que George faz
questão de que minha assessora se sente ao seu lado e ao da esposa, Cameron, todo mundo ouve
atento tudo o que a garota tem para contar.
Campbell fala de sua origem escocesa, dos irmãos e do pai. As pessoas riem quando ela
conta que jogou uma garrafa de água na cara do ex-chefe, e o garoto mais velho do meu chefe de
equipe, Albert, escuta completamente hipnotizado.
Jackson parece observar um diamante raríssimo, tentando compreender o que fazer para
tê-lo para si.
Todos eles, na verdade.
— A concorrência está acirrada — Mark me cutuca. — Vai ser um ano difícil para sua
assessora, Savard. Pelo visto, todo mundo quer entrar na calcinha dela.
Rio um riso irônico para ele, mas no fundo é de completa amargura, porque eu quero
também.
Não há um segundo, desde que vi Summer neste vestido vermelho, em que a visão dela
parada na minha frente, de costas, apenas aguardando que eu o abra, tire do seu corpo e a foda
com força logo em seguida, tenha saído da minha cabeça. Lilibeth foi uma demônia desgraçada
quando escolheu esse negócio justo para que Campbell usasse hoje.
— Eu amava ver as competições da sua mãe! — Cameron chama a atenção de Summer.
— Era incrível, né? — Sorri feliz. — Eu ainda assisto a algumas gravações.
— Você não quis seguir os passos dela?
— Eu sigo, na teoria. Não na ginástica, porque acabei puxando ao meu pai na altura e,
quando teimei em fazer aulas, acabei fraturando o joelho. Tive que viver minha paixão pelos
esportes no jornalismo. Mas a minha mãe pintava aquarelas. Ela era incrivelmente boa nisso, e
essa paixão eu herdei.
— Você é uma artista, Campbell? — meu colega de equipe tenta parecer interessado no
assunto para chamar a atenção de Summer.
Jackson Pedrosa é um grande mulherengo filho da puta.
O brasileiro é certamente a grande promessa da F1 para as próximas temporadas. Acabou
de completar trinta anos e é talentoso feito o irmão mais velho, Joel Pedrosa, bicampeão da F1, e
hoje disputa a Stock Car Pro Series, no Brasil.
Mas, quando o assunto são polêmicas com a mídia, baladas e mulheres, a fama dele não é
nem de longe das melhores. Logan faz jus ao que recebe, porque o cara dá um trabalho do cacete
para o assessor dele. E não adianta o quanto eu já tenha tentado o aconselhar sobre isso, Jackson
não me escuta.
— Eu tento ser. — Summer faz aquele movimento involuntário de afastar os cabelos dos
olhos. — Ainda sou um pouco medrosa sobre isso. Já tive algumas pessoas importantes para
mim dizendo que eu jamais conseguiria viver das minhas pinturas. — Quando seus olhos se
esbarram nos meus, sei exatamente de quem ela está falando: Joshua. — Vendo alguns quadros
com um pseudônimo, em uma galeria de Toronto. Talvez um dia eu tenha coragem de pintá-los
sendo eu mesma.
— Me diga onde fica, vou comprá-los, todos. — Ele ri e dá um pequeno tapa na mesa.
George também ri, com seu charuto na boca. Mark também acendeu um.
— Nem sob tortura! — Ri e se balança devagar.
— Savard, você encontrou uma preciosidade! — o gerente de comunicação da McLean,
Brandon McGomery, é quem diz.
— É, eu encontrei — tento parecer o mais relaxado possível —, Summer quase foi da
família, mas meu sobrinho pisou na bola.
— Meu Deus! Você quase foi sobrinha disso aí? — Jackson aponta para mim e brinca
com Summer, que ri. — Que castigo!
— Nem tão castigo assim — Mark agora tem a palavra. — Savard falta lamber o chão
que Josh pisa, não seria diferente para a garota dele.
Para Summer eu lamberia outra coisa, Lee, mas você vai morrer sem saber que acabei de
pensar exatamente isso.
Nossos olhares se esbarram mais uma vez.
Isso é errado. Caralho, isso é muito errado.
O que é que eu estou caçando para mim no ano mais importante da minha vida? Um
problema da porra!
Percebo quando ela morde o lábio delicadamente e respira fundo. Passo a mão devagar
pela barba, tentando manter a cabeça no lugar.
Vamos ao Bahrein e, enquanto isso, Manfred conseguirá um lugar para Summer e aí
seguiremos o ano com o foco no necessário: o campeonato e nada mais.
Summer precisa ser a solução, não a merda de uma distração.
Logan chama a atenção de Summer com alguma conversa e as pessoas voltam a falar
entre si enquanto olho para Mark e digo:
— Amanhã, clube, sim.
Ele ri de orelha a orelha e chega mais perto do meu ouvido para que as pessoas não nos
ouçam.
— Entendido, chefe.
De repente, George bate um garfo em sua taça de champanhe, chamando a atenção de
todos nós.
— Bom, Summer e demais presentes que estão entrando agora nessa loucura chamada
Fórmula 1, este é o meu jantar oficial de todo começo de temporada. Nada como um bom
momento entre amigos e colegas de trabalho para começarmos com o pé direito. Como não é
segredo para ninguém, viveremos um ano ímpar na McLean. Nosso grande Pole Position deixará
as pistas e será em um dos nossos carros, como tem feito pelos últimos anos da sua brilhante
carreira. Savard, em nome de toda a equipe, gostaria de te agradecer por todo esse tempo juntos e
por tudo que nós alcançamos juntos. Sentiremos saudades. Jackson, nem tanto.
Todo mundo ri, inclusive eu. Meu companheiro de equipe me dá um tapa no ombro e
aperta firme.
— Sabemos o quanto você fez do automobilismo a sua vida e o mundo sempre se
lembrará do legado enorme que deixará para as futuras gerações. Nossos engenheiros
trabalharam incansavelmente para construir um carro que esteja à altura do atleta que você é.
Você merece um campeonato do caralho, Savard, e é isso que nós vamos te dar.
De repente, todo mundo está de pé e aplaudindo. Eu me levanto junto com os meus
colegas e agradeço, aplaudindo-os de volta, porque Theo Savard jamais seria quem é se não
tivesse cada um deles ao lado.
Summer sorri de orelha a orelha enquanto me encara com os olhos brilhando. Pisco para
ela quando todos voltamos a nos sentar.
— Jackson, este é o ano de provar para o mundo que você merece o lugar que Savard está
desocupando, então, meu querido, foco nas pistas, vamos cuidar dessa imagem baladeira e um
tanto quanto problemática. Logan, eu conto com você.
— Sim, chefe! — brinca com Wisbech. — Nada que eu já não faça incansavelmente
vinte e quatro horas do meu dia!
Todo mundo ri e Jackson se manifesta:
— Eu juro que vou ser um homem comportado este ano — Pedrosa diz isso todo começo
de temporada.
É um grande mentiroso, mas eu gosto pra caramba.
— Um brinde? — George propõe. — Um brinde ao Pole, ao Jackson, aos nossos
mecânicos, engenheiros, técnicos, nossa equipe de comunicação, aos assessores, e todas as outras
dezenas de áreas que nos suportam enquanto estamos colocando nosso sangue e coração para
correr em cada circuito ao longo do ano. Um brinde a McLean!
Todos nós nos levantamos outra vez e subimos nosso copo.
Que seja como deve ser! Épico e grandioso.
Olho de soslaio para a mulher vestida de vermelho a minha frente e dou um gole rápido
na bebida âmbar, que rasga minha garganta feito fogo.
O fogo que está me consumindo por dentro.
Definitivamente eu só tenho um desejo além desse: que eu não estrague tudo.
Porra, Savard. Não estrague tudo!
Capítulo 14 - Summer Campbell

MARÇO

ABERTURA OFICIAL DA TEMPORADA


GRANDE PRÊMIO DO BAHREIN

Nada prepara alguém para o que é viver os bastidores disso.


Acho que só me senti tão emocionada assim vendo Alex e Ava em seus esportes. E,
claro, vendo a minha mãe.
O glamour do Bahrein e um GP disputado à noite, sob todas as luzes da cidade, faz a
sensação ser ainda mais incrível!
Após os treinos livres de sexta e ontem, na sessão classificatória, Theo Savard se
consagrou mais uma vez como pole position. Ele teve o melhor tempo de volta, deixando
Sebastian Armstrong da Romanus na P2 e Jackson na P3.
A internet explodiu com hashtags e postagens sobre Savard. Em qualquer portal que se
entre, ou nos Trend Topics do X, não existe outro assunto que não seja o meu chefe.
Para os fãs da equipe e dele, este ano será de Savard como piloto e da McLean como
construtora.
— A modelo, aquela que eu te falei que Jackson anda pegando, veio mesmo! Acredita?
— Logan chama minha atenção no meio do paddock. Ele revira os olhos, depois de ter enviado
pessoalmente para a garota um paddock pass, a pedido do chefe. — Será que elas fingem que
não sabem que ele e nada são a mesma coisa?
— Logan! — Solto uma risada enquanto andamos pelos bastidores simplesmente
abarrotados de gente. Nunca vi tanto famoso e rico junto na minha vida. E olha que ando no
meio deles desde que me entendo por gente.
— Estou falando sério. Se existe alguém que pode disputar na canalhice com Mark, essa
pessoa é Jackson Pedrosa, meu bem! — solta, enquanto entramos na garagem da McLean.
Os mecânicos e toda a equipe andam de um lado para o outro finalizando os carros e
realizando os últimos ajustes.
— Por que vocês pegam tanto no pé do coitado do Mark? O homem é solteiro. Deixem-
no fazer o que quiser.
Logan me olha e ri, mas é um riso de alguém que sabe alguma coisa que eu não sei.
— Querida, deixe isso para lá. Vamos trabalhar, porque eles precisam falar em cinco
minutos.
Refere-se a Theo e Jackson, que responderão a três perguntas para a imprensa antes da
corrida.
Eu, Logan e Samantha, a assessora da McLean, recebemos as perguntas previamente e
preparamos os dois para as respostas.
Pego meu iPad e disparo materiais para o social media para que ele suba nas redes com as
informações já aprovadas enquanto busco Theo com os olhos, já que abriremos uma live de dois
minutos só para que ele comece sua temporada junto com os fãs.
Vejo-o lá do outro lado, junto com Wisbech e Pedrosa. Os três conversam avidamente e
Theo me parece compenetrado muito além do que vi nos últimos dias. Ele olha em direção ao
seu carro, que está sendo preparado para a corrida, como olhou para mim naquele dia do jantar.
Eu sei que eu poderia ter dito não para a escolha de Lilibeth, mas quando vi aquele
vestido vermelho que parecia me embalar a vácuo, decidi que seria aquilo mesmo que usaria.
Que Mark não perderia a oportunidade de falar umas bobagens, eu já esperava. Mas eu
queria mesmo era ver como Theo se comportaria. E existem olhares que expressam muito mais
do que bocas que se abrem e soltam palavras ao vento, eu posso jurar que Savard me comeria ali
mesmo, naquele saguão, se ele pudesse.
Ou em qualquer outro lugar, se ele não achasse que isso é completamente errado.
Além do fogo e do desejo, eu vi a dor. Eu vi o desespero de Theo sobre administrar
dentro de si o que o coração manda e o que o corpo pede.
Não posso mentir dizendo que isso não me deu um tesão danado. A forma como ele
tomava seu uísque, me olhando discretamente por cima do copo durante o jantar, fez meu
coração disparar. Juro, tentei pensar em Josh e em como isso não deveria ser uma hipótese a ser
cogitada na minha cabeça, mas não chegou nem perto de me convencer de que eu não iria para a
cama com Theo Savard se ele quisesse. Que eu me esqueceria completamente que ele é meu
patrão e que é o dinheiro que me paga que acerta as minhas contas no fim do mês. Que já estive
na cama com outro Savard antes, inclusive um que ele ama, que viu nascer, e que tem como
melhor amigo.
Nada disso pareceu ser suficiente para mim.
Aileen diria que estou maluca, e talvez eu esteja mesmo: completamente louca pelo meu
chefe.
O pior em tudo isso é que Theo não consegue nem ser um pé no saco ou odiável, na
verdade ele é completamente o contrário.
Fiz uma chamada de vídeo com meus irmãos e meu pai ontem, antes do classificatório,
para lhes mostrar os bastidores da corrida. Quando Theo passou por mim e perguntou com quem
estava falando, eu disse a ele que era a minha família.
Meu chefe fez questão de parar ao meu lado e conversar com os três. Eu nunca vi pessoas
tão felizes feito eles.
Depois foi a vez de Aileen, Betty e Alice.
Sim, ele estava falando com Betty e Alice. As mulheres lésbicas com quem Josh não
fazia questão nenhuma de ser simpático ou pelo menos agradável.
Aquelas cuja casa fica no subúrbio e, segundo o sobrinho de Theo, não era lugar para eu
frequentar.
Não sei se meu chefe percebeu quando meus olhos se encheram de lágrimas, porque isso
significa muito para mim. Meus amigos de verdade são algumas das coisas mais preciosas que eu
carrego na vida e nunca foram suas contas bancárias que me fizeram permanecer ao lado deles.
Volto ao presente e vou até os três, chamando Savard.
— Theo, precisamos abrir a live. A entrevista é em três minutos.
Ele ajeita o boné na cabeça e se afasta dos dois, vindo para perto de mim.
— Estou bem assim? — questiona, tentando arrumar a barba e o cabelo por baixo da aba,
achando que existe alguma coisa nele que tenha algum defeito. Bom, Theo Savard, isso é
impossível.
— Está um gato! — tento soar em tom brincalhão.
Ele prende um riso e morde a boca por dentro, soltando em seguida:
— Não adianta mentir, Campbell, eu não pretendo aumentar o seu salário. Pode parar por
aí.
— Não sou eu quem está dizendo, são suas fãs. A foto de meia hora atrás já tem quase
trezentas mil curtidas e está cheia de comentários como: “Savard, case-se comigo!” “Este
homem, uma garrafa de água e uma ilha deserta e eu passava um mês.” “O futuro pai dos meus
filhos!” e etc.
Savard ri tão alto que algumas pessoas olham para nós dois. Tento não fazer o mesmo,
mas falho.
— Você não deve acreditar em tudo o que falam na internet, Summer. Nunca te
ensinaram isso?
Preparo o telefone para começar a gravá-lo, mas antes digo:
— A gente sabe que elas não mandam fotos sem calcinha na sua DM à toa, Savard!
E, quando percebo, já disse as palavras ao meu chefe.
Vejo quando ele passa a ponta da língua devagar pelos lábios um pouco secos e,
misericórdia, como eu queria que esta língua tocasse em outro lugar!
— Três, dois, um… Estamos ao vivo!
De repente, o fogo nos olhos de Theo dá lugar ao seu lado profissional e ele sorri para a
câmera. Em segundos temos mais de cinquenta mil pessoas na live.
— Olá, pessoal! Aqui é Theo Savard, direto do Circuito Internacional do Bahrein para a
abertura da temporada que será minha última como piloto profissional da categoria. Gostaria
antes de tudo de agradecer a todos vocês que, desde o meu anúncio, só têm me enviado
mensagens de carinho e apoio, e dizer que eu e a McLean vamos em busca de um ano
extraordinário para fechar com chave de ouro esta trajetória.
É impossível acompanhar tudo. São tantas mensagens, tanta gente entrando, tantos
corações subindo na tela… Desejo que Savard tenha noção do quão grande e importante na vida
de todas essas pessoas ele é.
— Espero que estejam todos com as TVs ligadas, porque em breve eu e meus dezenove
colegas voaremos pela pista em busca dos primeiros vinte e cinco pontos. Vocês estão
preparados? — Ele bate na aba do boné e pisca para o celular, despedindo-se logo em seguida.
Quase duzentas mil pessoas assistindo a uma live de dois minutos.
— Você é um fenômeno, Theo Savard! — solto assim que encerro a transmissão.
Meu chefe ri enquanto o pego pelo braço para seguirmos às três perguntas da imprensa.
— E você parece Carl, que saía me levando de um lugar para o outro em questão de
segundos — cumprimenta uma pessoa ou duas enquanto caminhamos.
— É para isso que servem os assessores!
— Você realmente está saindo muito melhor que a encomenda, Campbell. — Aquele
meio sorriso quase me faz tropeçar em cima de Phillipe Gusmann, chefe de equipe da Romanus,
um deus quando o assunto é F1.
— Quero saber aonde você foi para achar uma assessora bonita desse jeito e que te
aguente, Savard! — o homem zomba de Theo, enquanto me cumprimenta. Ele toca os lábios na
minha mão, muito galanteador, e sorri. — Bem-vinda à Fórmula 1, Campbell!
Phillipe Gusmann está beijando a minha mão!
— Ah, muito obrigada, Gusmann, sou uma grande fã do seu trabalho!
Meu chefe ri e, não sei se percebe, mas pega em meu braço, segurando devagar, como se
fosse algo comum me tocar.
Eu realmente gostaria que fosse!
— Não venha com esse seu papinho-furado não, Phil. Essa já é minha.
“Essa já é minha.”
É claro que eu sei que ele está falando que eu sou sua assessora e que tudo não passa de
uma brincadeira entre os dois, mas os dedos grandes e quentes de Theo me tocando, enquanto
sua voz rouca diz no meio do paddock que “sou sua”, fazem as coisas em mim esquentarem
rápido demais.
Tudo em mim ao lado de Theo Savard anda ficando quente demais. Quente demais…
Despeço-me de Philipe e seguimos.
Quinze minutos depois estamos de volta à garagem da McLean, onde Theo e Jackson se
preparam para a volta de formação e para montarem, enfim, o grid de largada.
Wisbech me chama.
— Quer escutar nossa comunicação com Theo?
— É sério? — Não acredito!
— É claro que é.
Mark chega logo em seguida, passa um dos braços pelo meu ombro e diz:
— Aproveita aí, queridinha do chefe, porque Carl e eu quase tínhamos que implorar por
isso!
— Mas olha a cara feia de vocês dois e a beleza estonteante dessa mulher! — George
brinca, piscando para mim.
— Foi mal, Lee. — Dou de ombros para ele.
George instrui alguém para que me consiga um fone a fim de ouvir tudo o que eles
conversarem com Savard direto do pitwall.
Enquanto isso, os engenheiros de cada um dos dois pilotos conversam com eles
separadamente. Theo segura suas luvas enquanto concorda ou não com a cabeça. Os dois
apontam para coisas específicas no carro de Savard e, por fim, se abraçam antes que o
engenheiro se afaste; assim, a equipe começa a levar seu carro para a pista.
Meu coração começa a se acelerar, porque eu sei que é agora. A corrida vai começar.
A equipe passa cumprimentando os dois e desejando boa sorte. Enquanto toda a muvuca
ocorre, vejo os olhos de Theo me procurarem. Ele sorri de lado, ajustando a parte de cima do
macacão no corpo.
Vejo quando Mark se dirige a ele e, antes mesmo que eu possa pensar sobre, estou indo
atrás de Lee.
— Boa corrida, cara. — Os dois se abraçam forte, com aqueles tapas exagerados que
homens dão nas costas uns dos outros.
— Valeu, Mark. — Ele se afasta enquanto estou bem ao lado.
A gente nem pensa muito, eu simplesmente coloco os braços em volta do pescoço de
Theo e ele me abraça forte pela cintura, mantendo meu corpo bem colado ao seu.
— Boa sorte, Pole! — nunca chamei Savard assim, mas acho que o momento mais do
que merece.
Sinto sua risada nascer e vibrar pelo seu peito, balançando meu corpo de um jeito
gostoso. Consigo sentir cada centímetro que emana calor do corpo deste homem. O jeito como
sua respiração bate no meu pescoço, bem na voltinha entre ele e minha orelha. Estou
completamente arrepiada agora, dos pés até a nuca.
— Esse coração está batendo forte assim de ansiedade, Campbell?
Eu quase desmaio neste exato minuto.
Consigo imaginar a cara de Mark ao nosso lado ouvindo isso. Vou virar piada para esse
safado.
Mas me surpreendo quando me afasto de Theo e percebo que, na verdade, estamos
sozinhos. Mark já está em outro canto conversando com uma mulher.
Olho para o meu chefe, ainda sem graça, e mordo a beirada da boca, tentando não rir.
— É meu primeiro GP, assim, aqui dentro. É tudo muito à flor da pele.
— De “à flor da pele”, eu entendo — devolve, e eu realmente não consigo dizer se é
sobre corrida mesmo que estamos falando agora.
O cheiro de Savard e ele assim, dentro deste macacão vermelho-escuro…
— Será que você pode ficar com isso aqui para mim? — Ele tira o boné da McLean e os
cabelos lisos e desgrenhados apontam para todos os lados.
Pego a peça de sua mão enquanto ele enfia os dedos entre os cabelos, ajeitando, e eu me
pergunto se, agora que ele não pode mais me sentir tão próximo dele, pode ainda ouvir meu
coração, que, com certeza, está a mais de cem batimentos por minuto.
Por que você é lindo e gostoso desse jeito, Theo Savard?
— Chegou a hora, Pole Position. Vamos — ouço a voz de George atrás de nós.
Meu chefe balança a cabeça concordando, pegando a balaclava e encaixando na cabeça.
Antes de pegar seu capacete, ele me olha outra vez e diz:
— Te encontro no pódio para comemorar o primeiro lugar e pegar isso com você! —
Pisca e vira as costas, indo em direção à sua equipe, que o aguarda para entrar no cockpit[7] e
fazer os últimos ajustes.
Fico alguns segundos parada no mesmo lugar, pensando em suas palavras enquanto a
McLean inteira trabalha a todo vapor.
Se todo GP for assim, não sei se chego viva até o último circuito.
Nem eu, muito menos as minhas calcinhas. Estas, com certeza, já não têm mais salvação.
Theo Savard

O circuito de Sakhir tem como uma das suas principais características as retas que são
muito longas e curvas que podem chegar até noventa graus. Isso nos obriga a ter muito controle
dos freios, o que exige bastante energia e esforço.
Estamos falando de tirar um carro de mais de trezentos quilômetros por hora para menos
de cem, em questão de segundos. Por isso, quando Jackson e eu testamos o carro da temporada,
muito além de nos preocuparmos com as novas melhorias sobre a aerodinâmica, nos
concentramos quase que integralmente em observar nosso sistema de frenagem. Foram
necessários alguns ajustes, o que nos fez colher frutos por muito tempo da prova.
Seb está determinado a me passar, mas com uma boa estratégia junto com o time, consigo
segurá-lo, mesmo com meu amigo aproveitando uma das zonas de DRS para diminuir minha
vantagem. Ele até tenta uma ultrapassagem, mas defendo minha pole como posso.
Nós dois sabemos o quanto é importante administrar o desgaste dos pneus,
principalmente aqui, onde mesmo a noite, a temperatura continua sendo alta. Por isso, opto por
uma parada na volta quatorze, trocando meus pneus macios pelos médios, pensando na
maximização de permanência dentro da pista. Já ele, faz o contrário, porque resolveu entrar com
os médios para ganhar mais tempo no começo da corrida. Agora, opta pelos macios.
Duas voltas depois, ganhando velocidade pela escolha da nova gama, Seb me aperta e
voa ao meu lado, me ultrapassando.
— Droga — grito no rádio e aperto o pé, tentando mantê-lo diante dos meus olhos, o que
se torna um pouco difícil, mas não impossível, já que o desgaste de Arm agora é maior do que o
meu. Ele imprime uma diferença de seis segundos para mim, o que me fará trabalhar um pouco
mais se quiser terminar essa corrida em primeiro lugar.
— Consegue acelerar mais um pouco? Arm está se distanciando.
Estudando os movimentos dele, afirmo à equipe que sim.
Ficamos assim por cerca de quinze voltas. Cada pequena derrapagem traseira de
Sebastian me traz vantagens de milésimos de segundos e eu só preciso não errar com o momento
de fazer minha nova troca.
— Box, Savard. — E, assim, decidimos pelo undercut[8] na volta trinta e seis, voltando
para a gama macia.
Os mecânicos fazem um trabalho perfeito na troca dos pneus e saio disparado para
alcançar Sebastian, que será obrigado a parar a qualquer momento, já que o desgaste dos dele
começaram a cobrar o preço.
— Quais as condições dele agora? — pergunto ao pitwall[9].
— Pneus dianteiros começando a apresentar problemas. Ele está com dificuldade nas
curvas, mais lento que o normal. Quatro segundos de diferença entre vocês. Ele deve forçar um
pouco mais até a próxima volta e vão chamá-lo para o pit. Agora só dependendo de você.
— Entendido.
E, sem medo, voo com meu carro enquanto Armstrong se prepara para entrar na pit
[10]
lane .
— Acelera. Fode com esse pneu! — é a voz de Wisbech que me arranca uma gargalhada.
— Sim, senhor, capitão! Vamos nessa, time — falo para que a minha equipe ouça. —
Onde está o Jackson?
— P4. Vai pegar a P3 na parada de Mendes.
— Ok.
Eu me concentro e sigo determinado.
Colo na traseira de Sebastian, que volta à pista com a gama média, já que gastou todos os
seus macios do final de semana, já que escolheu usar um jogo deles na classificação. Ainda que
agora ele tenha maior aderência, acelero com tudo o que posso.
Apertando meu amigo de longa data, recuperando cada milésimo que perdi ao cair para
P2, aproveito uma zona de DRS cinco voltas depois e passo por Sebastian.
— É isso, porra! — grito enquanto a equipe comemora do outro lado.
— Fantástico, Savard! Ele está a 1.5 segundos.
E o resto da corrida é uma verdadeira briga entre mim e Armstrong. Ele não facilita, e
nossa diferença chega a apenas 0.7 segundos.
— Entramos na última volta, Pole. É só segurar agora!
— Entendido.
— Jackson está logo atrás dele, dois segundos apenas.
— Fala para ele acelerar, caralho!
— Está vindo com o que pode.
Meu coração dispara à medida que sei que a chegada está próxima.
Somar vinte e cinco pontos no primeiro GP é crucial para um começo realmente
promissor de temporada.
E quando vejo que serei o primeiro a cruzar a linha, começo a gritar.
— Porra! Porra. Caralho!
— Boa, Pole! Boa! Vai com tudo. É nosso!
Meu carro passa pela bandeira quadriculada e eu coloco o braço para fora, comemorando
com a torcida, que grita meu nome e está de pé, acenando e aplaudindo.
— É isso, caralho! É o Pole — George grita.
— Parabéns, Theo! — ouço uma voz suave do outro lado do rádio que faz a adrenalina
acabar de explodir nas minhas veias.
O que é que eu vou fazer com tudo o que Summer Campbell tem despertado em mim?
Como vou conseguir lidar com a merda da atração que estou sentindo se nem no meio do
paddock eu consigo ser muito discreto?
Quando vi Summer com meu boné da McLean na cabeça, seus jeans apertados e aquela
camiseta preta, tão a cara da Fórmula 1, desejei vê-la usando somente ele, enquanto eu apertaria
seu pescoço contra a cama e arremeteria rápido e fundo dentro dela.
Deus não me preparou para ver aquela sua boca bonita me chamando de Pole.
Que tesão foi aquilo…
— Valeu, Campbell! Valeu, time. Grande trabalho hoje. Vocês são a melhor equipe deste
campeonato. Vocês são foda.
Paro o carro e metade da equipe já está me aguardando para a comemoração.
Este momento é sempre o melhor.
Não existe nada que possa definir a sensação de chegar em primeiro. De ser o campeão.
Quando saio do carro e tiro o capacete, aquela confusão de gente me abraça e me levanta,
todo mundo gritando, todo mundo comemorando.
Mark aparece no meio das pessoas e me dá um abraço apertado pela grade, grita do fundo
do peito junto comigo. Jackson vem logo atrás e a gente comemora o pódio duplo da McLean.
George surge, alguns dos mecânicos, a comunicação da equipe, um mar de gente.
Mas eu realmente só me sinto feliz de verdade quando aquele par de olhos castanhos
intensos está diante de mim, sorrindo de orelha a orelha, os braços cruzados, meu boné nas mãos,
iluminada pelas luzes do Sakhir.
Bonita de um jeito que eu ainda não encontrei palavras para explicar.
Vejo Samantha, assessora da McLean, se aproximar de mim e a abraço, aproveitando a
oportunidade para puxar Summer logo em seguida e fazer o mesmo, sem levantar suspeitas de
que estou abraçando as duas profissionais por motivos completamente diferentes.
O coração dela ainda continua batendo forte.
O cheiro dela parece ser tudo o que eu precisava sentir depois de ter corrido por quase
duas horas.
A forma como, mesmo com a grade nos separando, seu corpo parece se moldar
perfeitamente dentro dos meus braços também.
— Parece que você dá sorte, Campbell! — Acabo beijando seu rosto devagar.
O barulho em volta de nós dois é ensurdecedor, mas posso sentir nascer do seu peito um
suspiro, que Summer tenta controlar.
Ela ri enquanto aproveito nossos três segundos de abraço. Levanta a mão e coloca o boné
na minha cabeça, com um sorriso genuíno que chega a doer dentro de mim, porque eu não
deveria deixar que isso me afete tanto como de fato afeta.
— Acho que você não vai querer esperar até o pódio para usar isso. Vai lá que estão te
esperando, Pole Position. — Summer pisca, ainda olhando para mim com um jeito que mistura a
malícia de uma mulher que sabe o que está fazendo e a prudência de alguém inteligente o
suficiente, que concorda que é melhor não irmos por este caminho.
As pessoas começam a engoli-la, ao passo que querem se aproximar para ver a
comemoração do pódio.
E, mesmo que eu precise me afastar para ser entrevistado e seguir para a cerimônia, a
verdade é que tudo em mim vibra a energia dessa mulher.
E não sei quem quis enganar quando pensei em pedir Manfred para que conseguisse outro
lugar para ela. Não há outro lugar onde eu gostaria de ver essa mulher que não seja a minha casa,
mesmo que esteja me colocando em uma situação muito mais complicada do que planejei.
Eu não vou sobreviver à Summer Campbell até o fim de tudo isso.
Deus sabe que não vou.
Capítulo 15 - Summer Campbell

MARÇO
LONDRES, INGLATERRA

Saio do banheiro secando os cabelos enquanto pego o celular e vejo as notificações que
chegaram enquanto eu estava no banho.
Vejo uma mensagem de Joshua.
Respiro fundo antes de abrir.
Ei, Summie!
Só estou passando para dizer que estou muito orgulhoso de você. Fico feliz que esteja
dando certo. Por você e pelo meu tio. Ontem conversamos um pouco e ele não conseguiu
esconder o quanto está satisfeito com você e seu trabalho. Eu sabia que não poderia ser
diferente. Você é a pessoa mais determinada que eu conheço.
Espero poder vê-los em breve.
Às vezes, tenho a sensação de que Josh nunca vai desistir. Ao mesmo tempo, pela nossa
amizade de alguns anos, quero acreditar que ele só quer mesmo ser meu amigo. Mas eu
realmente não pretendo abrir brechas para que ele possa eventualmente acreditar que algo vai
mudar entre nós dois quando tudo isso acabar e eu voltar para o Canadá.
Respondo rapidamente:
Ei, Josh!
Foi uma experiência incrível. Nunca vou me esquecer do meu primeiro GP.
E obrigada mais uma vez por toda ajuda. Serei sempre muito grata. Seu tio é de longe o
melhor chefe que já tive na vida. É uma honra poder ajudá-lo em um ano tão especial da
carreira.
Espero que esteja bem!
Recebi também uma mensagem de Gia dizendo que não sabe o que foi que andei falando
com meu pai, mas que recebeu uma mensagem dele pedindo para que pudessem conversar.
Sorrio para suas palavras e encaminho para Alex, que me responde imediatamente
dizendo que espera que nosso pai tenha por fim colocado a cabeça no lugar.
Ava esteve fora de casa nos últimos dias para um campeonato, mas disse ao voltar que
achou nosso pai mais animado do que costuma de fato ser.
Largo o telefone e me apresso para vestir uma roupa e ir até Theo. Hoje vamos gravá-lo
respondendo a algumas das perguntas que seus seguidores fizeram nos últimos dias. Gravamos
várias voltando do Bahrein e o engajamento das redes dele foi às alturas.
Bato um secador muito rapidamente nos cabelos molhados e pego meu iPad, saindo do
quarto andar e indo até o nono, onde ele está hospedado.
Antes de bater no 917, fico alguns segundos parada à porta.
Aquele abraço ao fim da corrida. Não consigo esquecer.
O beijo molhado de suor de Savard e sua barba, que arranha gostoso, quase me fizeram
perder a cabeça. Mas, depois de toda a adrenalina, sei que o homem em questão não fará nada a
respeito disso, porque sabe que um passo a mais na direção do que queremos fará com que a
realidade de Savard seja ter se deitado com a ex-namorada do sobrinho, e eu não sei o quanto
Theo está disposto a encarar isso.
Além do mais, estamos falando do meu chefe, um homem público, com o mundo inteiro
de olho em cada passo que ele tem dado no último ano como profissional.
Acabaríamos com a carreira de Theo cedendo ao nosso desejo, e por mais que esteja
sendo impossível esconder que, se não fosse isso, já teríamos pulado na cama um do outro há
alguns dias, vamos continuar fingindo que o desejo não é palpável entre nós dois.
Que não estamos correndo contra isso, porque estamos. Desesperadamente.
Por esse motivo eu decidi, voltando para Mônaco, sair da casa de Savard. Eu sei que ele
vai entender. Inclusive, vai achar melhor, como eu também estou achando. Assim, quem sabe,
Theo se sinta à vontade para receber as garotas que quiser em casa e eu possa levar alguém que
eu conhecer por aí até a minha casa também?
Servidos de um bom sexo que nos satisfaça, será mais fácil seguir um ao lado do outro
sendo o que somos: funcionária e patrão.
Só.
Quando minha mão pesa para bater à porta, percebo que está destrancada. Abro só um
pedacinho e vejo Savard sentado na cama, conversando com alguém ao telefone. Quando me vê,
despede-se e pede para que eu entre.
— Com licença.
Theo olha na minha direção e sorri, deixando o celular na mesa ao seu lado.
— Você já está aí. Estava te esperando. Era Derek ao telefone.
Meu ex-sogro.
Dou alguns passos para dentro e fecho a porta atrás de nós. É a primeira vez que estamos
em um quarto sozinhos neste quase um mês trabalhando juntos.
— Conseguiu descansar um pouco?
Theo tirou o dia inteiro para resolver algumas coisas do divórcio com Louise junto com
seu advogado, que vive aqui, e depois ficou trancado neste quarto, segundo ele para colocar o
sono em dia, já que em fim de semana de GP fica completamente desregulado.
Mark precisou ir para casa, nos EUA, por motivos pessoais, por isso estamos só nós dois
na Inglaterra.
— Dormi o sono dos justos — brinca, ficando de pé em seguida. — Com a minha vida
resolvida agora, vou conseguir ficar em paz.
Deixo o iPad na mesa de canto e me encosto nela.
— Vocês já vão assinar os papéis? — minha curiosidade não é só pelo meu lado mulher,
mas porque sou sua assessora.
Sei que a notícia vai vazar a qualquer momento e os tabloides vão contar a história como
lhes convier. Preciso estar preparada para frear qualquer tipo de coisa absurda que possa
envolver Savard.
— Em quinze dias. — Coloca as mãos nos bolsos da calça e vai andando devagar até a
janela, de onde se pode admirar as luzes da noite londrina.
— E você está bem? Sei que foram muitos anos… — tento não soar invasiva demais.
Theo se vira em minha direção e sorri um sorriso genuíno. Os olhos castanhos brilham de
uma forma diferente.
— Aliviado é a melhor palavra, eu acredito. Preciso encerrar este capítulo o quanto antes.
Estamos de acordo sobre como os bens serão divididos, concordamos em não tocar no nome um
do outro para a imprensa… Quero que Louise siga sua vida, porque é exatamente o que farei
com a minha.
E, quando diz essas palavras, Theo Savard me parece um homem completamente
decidido.
— É necessário seguir em frente, sei bem. — Dou meu melhor sorriso de apoio e
pergunto: — Está pronto para responder a algumas perguntinhas?
Theo coça a barba, uma coisa que eu realmente acho um charme nele.
— Espero que você tenha sido boazinha e selecionado as menos constrangedoras.
— Ah, isso eu já não posso te prometer! — zombo e ele gargalha. Pego o aparelho de
volta e sigo para perto dele. — Acho que a luz aqui está boa.
Ouço alguém bater à porta e Theo diz que podem entrar. É um serviço de quarto.
O rapaz entra com seu carrinho e deixa na mesa uma pizza muito cheirosa, duas taças e
um vinho.
— Uma garrafa só, porque sei que você não exagera na bebida — justifica.
Tento não sorrir, mas não consigo.
Theo é apegado a detalhes, aqueles que fazem diferença.
Aqueles que demonstram o quanto ele se importa.
Não deveria, eu sei, mas isso faz as pequenas borboletas do meu estômago baterem suas
asas de um jeito muito particular.
— Hoje eu aceito um pouquinho mais do que na última vez.
Ele sorri porque entende meu pequeno gesto também.
— Será uma honra te servir mais meia taça, senhorita Campbell.
Savard agradece ao funcionário do hotel enquanto balanço a cabeça, rindo. Entrego a ele
o iPad para ver as perguntas previamente e se preparar.
Na meia hora seguinte Theo responde, entre um gole e outro e mordidas generosas na
pizza de margherita com duplo queijo maravilhosa que nos trouxeram, sobre seus novos projetos,
sobre a influência da cultura espanhola na sua vida; conta piadas, curiosidades dos seus anos na
F1, coisas engraçadas que já viveu nos bastidores, sobre sonhos e, aqui, algo me surpreende.
Além de ser pai de um filho legítimo, Theo sonha em adotar uma criança.
— Acredita que minha mãe também tinha esse sonho? Ela sempre dizia ao meu pai que,
quando nós três, Alex, Ava e eu, estivéssemos tocando a nossa própria vida, ela adotaria uma
criança maior para que pudesse cuidar e dar a ela a vida que não teve até ali.
Savard está sentado em uma cadeira e pega um guardanapo para limpar as mãos,
enquanto estou no chão, salvando sua resposta nos rascunhos para que o social media possa
editar os vídeos e postar.
— Eu sonho em ser pai desde que vi Joshua nascer. Acho, inclusive, que já teria parado
antes se fosse pai. Dedicaria todo o tempo que eu pudesse ao meu filho. Eu já disse isso
publicamente, inclusive.
— Você realmente é apaixonado por ele, não é? — Meu sorriso é de compreensão.
Theo sai da cadeira e se senta ao meu lado. Nós dois encostamos as costas na lateral da
cama enorme do quarto e ele abraça os joelhos, virando o rosto em minha direção.
— Sou. Joshua é uma das partes mais incríveis do meu coração, Summer. Ele trouxe vida
para a nossa casa. Era uma criança alegre, inteligente… Um carinha diferenciado.
— Sim, eu te entendo. Sinto falta da nossa amizade para te ser sincera. Penso que, se não
tivesse misturado as coisas, hoje ainda teria o meu amigo. É uma pena que a gente tenha
confundido tudo. Olha só como acabou...
— Ele realmente acredita que vocês dois possam voltar. — Os cabelos negros de Theo,
um pouco bagunçados, caem em sua testa enquanto ele me olha bem de perto, a cerca de vinte
centímetros de mim.
— Eu sei. E sei também que você aceitou me ajudar por causa dele.
Savard prende o lábio inferior entre os dentes e depois sorri.
— Eu não aceitei te ajudar, Summer. Eu te contratei porque é a pessoa certa para o que eu
preciso. Acredite, você não estaria aqui se eu não achasse que é boa o suficiente. Eu tenho minha
imagem em jogo e posso amar Joshua como amo poucas pessoas neste mundo, mas isso não me
faria colocar minha carreira e reputação em risco.
— Não vamos reatar, você sabe, não é?
Quero que fique claro de uma vez por todas.
— Sei, sim. — Reparo nos poucos fios brancos que surgem na sua barba, o que faz este
homem muito mais charmoso. A idade fez um bem danado para Theo Savard, essa é a verdade.
— E ele vai entender em algum momento também, mas precisamos respeitar o tempo dele.
Joshua acha que você pode perceber a qualquer hora que o que terminaram tem conserto.
Sinto-me realmente tocada pela honestidade do tio de Josh comigo, pois ele poderia
simplesmente não entrar neste assunto e está abrindo as cartas para mim. Eles são melhores
amigos, devem ter os seus segredos e, ainda assim, Theo não está me escondendo as intenções e
pensamentos do sobrinho.
— Obrigada por acreditar em mim. Significou muito, Theo. — Olho dentro dos seus
olhos e meu chefe suspira. — Foi um momento difícil aquele. Sei que parece idiota, porque na
teoria tudo é fácil para quem tem dinheiro feito a gente, mas eu não gosto de coisas fáceis. Minha
mãe não nasceu rica, nem o meu pai. Gosto da sensação de saber que sou capaz de conquistar
meus sonhos, como os dois conquistaram.
— É isso que te diferencia dele. — Savard passa a mão pelos cabelos para ajustá-los.
Confirmo com a cabeça.
— Não estou falando que é errado que Josh queira usufruir do que a família de vocês
conquistou todo esse tempo. É dele também, eu compreendo… Mas o jeito exagerado de achar
que dinheiro é tudo e resolve tudo, isso me incomoda. Dinheiro, por exemplo, não traz o tempo
de volta, nem as pessoas que a gente ama.
Eu só falo desse tipo de coisa com meu psicólogo, Aileen e Alex, meu grupo seleto de
pessoas em quem confio. Não gosto de tratar dessas coisas com Ava. Tento blindar minha irmã o
máximo que posso sobre tudo que a morte da mamãe deixou em mim.
— Você daria cada centavo que sua mãe te deixou para estar com ela outra vez, não é?
De repente, meus olhos se enchem de lágrimas, porque é exatamente isso. E Josh nunca
entendeu. Eu tentei explicar algumas vezes de forma que ele pudesse compreender do que é que
eu estava falando, mas ele nunca entendia. Nunca.
— Cada centavo, Theo. Cada um deles. Eu daria tudo para que aquele ônibus tivesse
chegado a Toronto como deveria ter sido. — Acabo virando tronco em sua direção. Ele me
encara atento a todas as minhas palavras e parece uma escuta tão vulnerável quanto a minha fala.
— Eu daria qualquer coisa para ter atendido a ligação dela, que perdi enquanto estava jogando
conversa fora sobre coisas supérfluas com um bando de gente mais supérflua ainda. Eu daria
tudo por um último beijo, um abraço apertado, para que ela pudesse ver o quanto Ava é uma
garota linda e talentosa. Que assistisse ao Alex recebendo todo o reconhecimento que merece.
Que pudesse se orgulhar dos meus quadros simples, expostos em uma pequena galeria escondida
de Toronto. Eu daria qualquer coisa, Theo, qualquer coisa!
Quando me dou conta, os braços de Savard me puxam para o seu peito e eu, sem medo,
me afundo nele.
É quente, é reconfortante, tem cheiro de segurança e é como se me coubesse
perfeitamente.
Theo Savard me lembra lar.
Nós dois não falamos nada por algum tempo, abraçados aqui, neste quarto de um hotel
famoso de Londres. Não tem nenhuma conotação sexual ou algo do tipo. Só é bom, em toda
simplicidade de um abraço. Eu me aperto em seu corpo forte e definido, e me deixo levar pelo
seu cheiro marcante e viciante.
Talvez eu não queira sair dos seus braços nunca mais.
— Sinto muito que ele não tenha compreendido você, Summer. Eu realmente sinto muito.
Sinto quando seus dedos alisam meu braço devagar. Por onde passam, deixam rastro. É
um toque simples, mas é o toque que eu desejo receber.
De quem eu desejo receber.
Quando levanto o rosto, estou perto demais da boca de Theo. Os olhos escuros me
encaram com fogo e também com sofrimento.
Nós dois queremos isso como dois mais dois são quatro.
Os meus olhos caem em seus lábios, que estão entreabertos. Meu chefe passa a ponta da
língua devagar por eles e, Deus do céu, sinto uma pontada entre as pernas como se sua boca
estivesse lá.
Minha respiração ofega e eu penso que em um só movimento eu me sentaria em seu colo
e o resto seria só uma história para contar. Ou para guardar para mim, já que estamos falando do
meu chefe, tio do meu ex.
Theo não vai avançar o sinal, por mais que tudo nele queira fazer isso. Por mais que seus
olhos me digam exatamente o contrário, dividindo-se entre olhar a minha boca e os meus olhos, e
sua mão, agora nos meus cabelos, me convide para aproximar meus lábios dos seus.
O único som possível de se ouvir agora é de nosso coração batendo tão rápido que me
sinto novamente no GP do Bahrein.
Esqueça o resto e me beije, Theo.
Por favor, me beije!
Quando penso que há a possibilidade, Savard se afasta devagar. Ele me solta e fica em
pé, indo até a sua taça de vinho.
Sinto falta do seu calor no segundo seguinte. A sensação é de abandono.
É, não vai mesmo acontecer.
— Aceita um pouco mais? — pergunta e, completamente desorientado dentro deste
quarto que agora me parece muito apertado, fica de costas para mim, caminhando até o balde
onde a garrafa está.
— Só mais um pouco. — Levanto-me também e pego o telefone, fechando o Instagram.
— Vou te mandar algumas ideias de trend do TikTok para avaliar o que acha que faz sentido ou
não, pode ser? O público que tem te assistido é um pouco mais jovem, acho que é bom para sua
imagem investirmos em conteúdos mais divertidos e de que esse público gosta — mudo
completamente o assunto porque me sinto humilhada o suficiente por ter pensado há alguns
segundos que ele seria mesmo capaz de me beijar.
— Estou com tempo, pode me mostrar agora — responde, voltando com a garrafa de
vinho para perto de mim.
Sento-me na beirada da sua cama e olho para baixo, sem coragem de ficar encarando
Savard. Ele fica em pé na minha frente e meus olhos vão para seus pés descalços, que são lindos.
Eu já disse que até os pés deste homem são perfeitos?
Que droga!
— Logan me mostrou uma nova que está estourada no Brasil. É com uma música da
Taylor.
— Você é uma swiftie, Summer? — e aí percebo que ele assume o tom brincalhão de
sempre para tentar nos tirar dessa nuvem de constrangimento na qual nos enfiamos.
— Assumidíssima. — Sustento meu olhar para encará-lo outra vez.
E já encontro um Theo sorridente, servindo mais bebida para mim.
— Eu gosto da Taylor — fala e deixa a garrafa ao lado da minha taça.
— Você gosta de Taylor Swift, Savard?
Meu olhar de espanto não deve passar despercebido.
— Gosto, sim. Já levei Perry a uns dois shows. Laura tem pavor de multidão. Derek, não
preciso nem dizer que não colocaria os pés em um show desses nem amarrado — fala sobre a
irmã de Joshua, a gêmea de Matthew. Adoro os dois, são uns fofos.
— Mentira!
Não consigo imaginar Theo Savard em um show da Taylor acompanhado de uma garota
de quatorze anos.
— Ela e umas quatro amigas. Saiu nas revistas e portais, pode procurar aí. — Aponta
para o meu iPad.
E eu realmente o faço, porque preciso ver isso.
Theo ri alto enquanto navego pela web e encontro várias notas sobre sua presença nos
shows com a sobrinha e outras garotas.
— Isso é você dançando? — tiro sarro e mostro um vídeo nas redes sociais em que ele e
Perry cantam e dançam na área VIP da apresentação.
— Eu levo jeito, pode falar . — Pisca.
Se ele soubesse o quanto isso não me ajuda em nada! Por que homens conseguem
simplesmente seguir em frente? A gente quase se beijou e agora Savard está aqui fingindo que
nada aconteceu.
— Então vamos te colocar para dançar Taylor nas redes sociais. Você e Jackson, porque
é preciso pelo menos um par para a trend.
— Temos um par aqui, não? Por que preciso de Jackson?
O quê?
— Você só pode estar maluco! — Gargalho e tomo meu vinho.
— Carl aparecia nas minhas loucuras, por que você também não pode?
— Porque eu sou péssima dançando! — e começo a tremer só de imaginar isso.
— Você é descendente de escoceses, Summer. Pare com isso. Levante-se e me diga o que
precisamos fazer.
— Theo, você não vai fazer isso comigo! — reclamo.
— É pegar ou largar — Balança os braços e faz um beiço, que eu não reclamaria de
morder depois de um beijo.
Reviro os olhos e abro o aplicativo com os vídeos que salvei, mostrando a ele a trend de
“Shake it off”.
— É fácil para nós dois — comenta e eu começo a rir de desespero.
— Não estava no meu contrato de trabalho que eu era obrigada a passar vergonha em
rede social.
— Vai ser divertido, vem. — Ele me puxa pela mão e eu me levanto. — Se você é uma
swiftie, agora vai ter que me provar.
— Eu sei todas as músicas dela de cor, de frente pra trás, de trás pra frente. Não está mais
do que provado?
— Duvido que você saiba a ordem das faixas de 1989. Eu sei.
— Eu não acredito em você! — solto para cima dele as palavras e Theo me olha rindo,
lambendo o vinho dos lábios e dizendo:
— Vamos lá: Welcome to New York, Blank Space, Style, Out of the woods… — Quando
vai continuar, faço-o parar.
— Não é possível!
— Eu sou um bom tio e não é só para Josh. — Faz aquela cara charmosa dele.
Se eu pudesse me apaixonar por Theo Savard, a hora seria esta, com toda certeza.
— Está bom. Só por isso eu vou gravar esse vídeo com você. — Fico de pé e respiro
fundo. — Mas, ó, só vou autorizar essa publicação quando eu estiver com todas as minhas
faculdades mentais em pleno funcionamento. Neste momento, estou sob o efeito de álcool.
É mentira. Nem estou bêbada.
— Então coloca esse celular para gravar aí.
Encaixo o aparelho de volta no tripé e Theo se posiciona ao meu lado.
— Não acredito que vou fazer isso — confesso, olhando diretamente para ele.
O tio de Josh ri de orelha a orelha.
— Pois acredite, Campbell.
Respiro fundo e coloco o celular para gravar em dez segundos.
— Você entendeu, Theo? A gente tem que ficar girando e fazendo gracinhas para a tela.
— Perfeitamente, senhorita assessora — debocha de mim e eu dou um tapa no braço
dele, que ri alto.
— Três, dois, um… Foi! — eu digo.
It's like I got this music in my mind, saying it's gonna be alright.
Nós dois imitamos a trend, batendo os dedos no dedão, e então começamos a girar.
Cause the players gonna play, play, play and the haters gonna hate, hate, hate.
Theo simplesmente encarna o “engraçadinho” e começa a fazer olhares sexy, as caras e
bocas mais engraçadas que eu já vi, toda vez que está na frente; eu começo a rir
descontroladamente, enquanto tento acompanhá-lo na dança.
Baby I'm just gonna shake, shake, shake. Shake it off. Shake it off.
Ele começa a fazer um tipo de dança que eu acredito ser espanhola e quase engasgo.
Theo ri no meio do vídeo enquanto estou tentando dar o meu melhor no gingado. Savard acaba
me pegando pela cintura e levantando pelo lado do seu corpo, o que me faz espernear e rir de
escorrer lágrimas. Assim, ele sai com a gente do quadro de gravação quando a música acaba.
— Pelo amor de Deus, eu estou passando mal — digo no meio de um fôlego que eu tomo
entre risos.
Theo me coloca no chão, rindo também, e acaba ajeitando meu cabelo atrás da orelha, já
que bagunçou tudo, caindo no meu rosto.
— Acabei de descobrir que eu sou uma piada para você, Summer Campbell.
Não deixo que ele perceba que o simples tocar da ponta dos seus dedos no meu rosto
alastra fogo por todo o resto.
— Você não era, até um minuto atrás, Theo Savard.
Ainda tentando recuperar a respiração, passo a mão na beirada do olho, limpando a
lágrima. A gente se encara de frente, as respirações bagunçadas, os olhos que não conseguem se
desgrudar, uma energia que parece querer nos abraçar.
Eu passaria a noite dançando com ele tranquilamente só rindo do seu gingado, das suas
caras, do seu jeito descomplicado de ver a vida, do seu jeito sexy e totalmente despretensioso.
Eu gosto do que sinto quando estou com esse homem. Eu realmente gosto muito.
Ficamos em silêncio por alguns segundos que me parecem longos demais, então tomo a
frente para acabar com isso.
— Bom, chega por hoje! — Afasto-me um pouco do meu chefe e pego o telefone,
salvando o vídeo dentro do aplicativo. Amanhã vejo o que faço com isso. — Vá descansar,
amanhã você e Jackson terão um dia longo.
É dia de gravação com a McLean.
— É verdade.
Theo dá alguns passos para trás, encostando as pernas na cama.
Recolho rapidamente minhas coisas e me aproximo dele, dando o abraço mais rápido da
história em Savard.
— Te encontro amanhã no café.
Ele concorda com a cabeça e pisca.
— Bons sonhos, Campbell.
Diz enquanto estou dando a volta em sua cama para ir até a porta. As palavras me pegam
pelo caminho e eu olho para trás uma última vez. Dou a ele um sorriso.
— Te desejo o mesmo, Savard.
E saio, pensando que hoje a minha noite será longa.
Bem longa.
Capítulo 16 - Theo Savard

Ter juízo e controle dos meus atos sempre foi uma das minhas características mais
marcantes. Até porque, nas pistas, preciso ser frio e calculista, não impulsivo. Isso me traria
sérios riscos. Me custaria, por vezes, a vida.
Não consigo nem explicar o quanto de controle tive que usar para não beijar Summer
Campbell ontem à noite. O quanto estive perto de ultrapassar um limite que não é seguro com
essa mulher, porque eu sei que, uma vez que eu atravesse a linha proibida, não vou mais querer
voltar atrás.
Mas ela estava tão cheirosa, tão bonita, com seus cabelos ainda úmidos, de banho recém-
tomado, sem maquiagem. Só sendo ela. Só abrindo seu coração.
Eu desejei segurar seu cabelo pela nuca e afundar a língua na sua boca. Sentir o gosto que
seu beijo tem e ouvir como seus gemidos saem da garganta quando está com tesão.
Porque ela estava.
Eu estava.
Meu pau ficou tão duro e dolorido quando ela olhou fixamente para minha boca me
pedindo por um beijo sem nem precisar usar palavras, que eu precisei me afastar.
Precisei interromper ali, antes que eu levantasse Campbell pelos braços e a jogasse
naquela cama. Não pararia até que ela gritasse meu nome, comigo afundado no meio das suas
pernas.
É isso aí: estou completamente fodido e louco pela minha assessora. Pela mulher que
meu sobrinho namorou.
Depois que ela foi embora, não consegui evitar: fui para o banho outra vez e me
masturbei pensando em Summer pelada, andando pela nossa casa, me provocando.
Consegui visualizar cada pedaço da sua pele que ainda não vi.
O seu quadril macio com aquela curva que faz sua bunda rebolar quando anda. A barriga
lisa, dourada, com seus pelos claros. Os seios, que, com certeza, se espalhariam para fora dos
meus dedos, porque são fartos. Os bicos duros, chamando pela minha língua, a boceta
encharcada, pronta para me receber.
Foi assim que gozei, chamando seu nome debaixo da água fria. Imaginando Summer
Campbell sendo minha.
De um jeito que ela não pode ser.
Josh apareceu imediatamente na minha mente me dizendo que sou um filho da puta
escroto, o que não me impediu de continuar pensando em Summer gozando para mim.
Volto a colocar a xícara de chá nos lábios no exato momento em que o meu tormento
atravessa o saguão enorme do hotel, onde eu e vários outros hóspedes estamos tomando café da
manhã.
Hoje seus cabelos estão presos e caindo em ondas que se balançam ao passo que ela vem
rápido em minha direção.
Está toda de preto e com uma bota alta de salto fino, que eu amaria deixar em seus pés
enquanto a fodesse sem parar.
Bonita para um caralho!
— Você é maluco ou algo do tipo, Theo Savard?
Para na minha frente, sentando-se apressada na cadeira desocupada.
— Bom dia para você também, Campbell. Dormiu bem?
Porque eu, não. Passei a noite pensando em você. Alisando meu pau feito um
adolescente, por sua culpa.
— Como você deixou soltarem aquele vídeo? Você nem me falou nada.
Ah, é isso?
Ontem, quando ela foi embora do meu quarto, eu mesmo mandei nossa gravação para o
menino das redes sociais; pedi que ele editasse e jogasse no TikTok.
Ela ficou linda.
Sua cara tímida e suas risadas, que saíam do fundo do peito enquanto a gente esbarrava
um no outro o tempo inteiro e eu fazia umas gracinhas para ela sorrir, foi demais para eu guardar
só para mim.
O mundo merece conhecer a beleza de Summer Campbell e como ela fica deliciosa
rindo.
E, pelo que vi hoje cedo, o vídeo já passou de dois milhões de visualizações.
— São as minhas redes, o conteúdo estava pronto. Eu só resolvi adiantar o seu trabalho.
— Mentira. — Aponta para mim, brava. — Você queria me ver pagando mico na
internet. Hoje eu acordei com incríveis duzentos mil seguidores no Instagram, Theo Savard.
Duzentos mil!
Meu sorriso sobe e eu ofereço um brinde a ela com a minha xícara. Summer fica parada
olhando para minha cara.
— Você agora é famosa, pelo visto.
— Suas fãs encheram meu direct com mensagens do tipo: tire a mão do meu homem! —
Não aguento e solto uma gargalhada. As pessoas das mesas ao redor olham para nós dois. —
Não tem graça, Theo!
Ela tenta falar baixinho para não chamar mais a atenção.
— Summer, não seja boba. Veja pelo lado bom: é uma ótima chance de você mostrar sua
vida, suas pinturas. As pessoas amam lifestyle. Os assessores hoje são seguidos porque as
pessoas querem saber o que vocês fazem além de cuidar da nossa vida. Você será Summer, a
assessora de Theo, que, muito além de ter talento para cuidar da vida de um velho piloto de F1, é
magnífica pintando quadros e fazendo o que mais quiser fazer.
Em silêncio, ela continua olhando para a minha cara.
— Você nem sabe se eu sou. — Tenho certeza de que é. É filha da sua mãe, irmã do seu
irmão… Inclusive, não te vi pintando até hoje.
Summer cruza os braços e as pernas, mordendo o canto da boca.
— Vou a uma loja que Logan me indicou hoje, comprar algumas coisas de que preciso.
Em Mônaco eu não achei. Mas você não vai me ver pintando mesmo. Ninguém vê. Nem Aileen.
Josh nunca nem chegou perto de assistir a algo assim.
— Por quê?
Ela pensa bem antes de me responder.
— Tenho vergonha. Apesar de achar o final sempre bom, para mim, o processo parece
sempre horrível.
— O processo foi feito para doer, Summer. É assim que colhemos aprendizados e
melhoramos nas próximas tentativas. Não fique sonhando que ele será perfeito, isso não existe.
— Mas às vezes dói muito mais do que deveria doer. — Suspira e olha para a tela do seu
celular. — Eu sempre acho que todo mundo vai odiar. E, quando passo meses sem vender um
quadro sequer, sinto-me uma fraude.
— Todos nós nos sentimos assim em algum momento da vida.
— Para! — Agora ela ri. — Você é Theo Savard, o maior da F1.
— Mas não fui sempre. Eu já fui a Summer com medo de que nada que eu fizesse fosse
suficiente para que me enxergassem como alguém de potencial. Eu nasci em berço de ouro,
Campbell, mas isso não me garantiu o lugar aonde eu cheguei. Você não faz ideia do quanto eu
apanhei e das coisas pelas quais passei.
— Não quis te ofender — ela se desculpa.
— Não estou ofendido. De forma alguma. Olha, vamos fazer o seguinte? Vou te dar um
presente, quando estiver preparada.
— Presente?
A razão da minha noite maldormida agora parece bem curiosa.
— Quando estiver preparada, vou chamar um amigo que é curador para ver o seu
trabalho. Só vocês dois. Assim ele pode te ajudar sem que você se sinta exposta a mais ninguém.
Alguém que vive disso te dizendo se você está no caminho certo ou no que pode melhorar. O que
acha?
Os olhos de Summer brilham de um jeito que neste tempo trabalhando juntos eu ainda
não tinha visto.
Ou será que estou tão hipnotizado por ela que agora vejo coisas que não via antes?
— Você é meu chefe, já me dá um trabalho, não precisa me dar nada além disso, Theo.
— Não sou seu chefe. — Ajeito-me na cadeira e apoio os braços em cima da mesa. —
Sou seu amigo, lembra? Foi para isso que te contratei. Melhores amigos, esse era o combinado.
Summer ri, mas os olhos estão cheios de lágrimas, como ontem, falando da mãe.
— Como vocês dois podem ser tão diferentes assim?
Queria ter uma resposta boa para lhe dar que não seja falar mal do meu irmão e minha
cunhada, mas, antes que eu possa pensar em algo, ela diz:
— Olha, acabou de chegar: Oi, Summer. Sou bi e discreta. Que tal você, Savard e eu?
E aponta o celular na minha cara.
— Eu não tenho nada para fazer amanhã. Pergunte a ela se às oito está bom.
Os olhos de Summer se arregalam e depois ela os estreita em minha direção, fazendo uma
careta.
— Theo Savard, você não vale nada.
— Eu nunca disse que valia, Campbell. Se você interpretou assim, foi totalmente por sua
conta — digo entre uma risada e o fim do meu chá. — Estou indo para a McLean. Hoje à noite
tenho um compromisso, está bem? Nos veremos amanhã.
Nunca tenho nada para dizer a Summer além de que tenho um compromisso à noite
quando vou ao clube. Como eu contaria para minha assessora que ultimamente preciso ir foder
mulheres desconhecidas para ver se consigo pelo menos não pensar demais nela?
— Ah, ok! — diz somente e balança a cabeça. — Vou terminar algumas coisas agora de
manhã, então, se precisarem de mim, me liguem. Estarei com Logan.
— Divirtam-se — desejo, enquanto o garçom vem recolher o pedido de Summer para o
café da manhã.
— Obrigada, chefe — brinca e me dá um sorriso gostoso demais.
Essa maldição de sorriso que está me tirando o juízo.

Summer Campbell

— Se eu te perguntasse uma coisa, você me responderia francamente? Esqueça que sou


uma mulher! — questiono Logan enquanto passamos em frente ao Museu Britânico.
Já que os rapazes passarão o dia na McLean gravando, resolvemos andar por Londres, e
Logan aceitou me ajudar indo à caça dos materiais que preciso para minhas novas telas.
Já tenho três em mente.
Minha vida virou uma completa loucura hoje cedo. De repente, me tornei o hype das
redes sociais. Todo mundo quer saber quem é a assessora de Savard que interagiu com ele no
vídeo. Aileen, meus irmãos e até Gia, me mandaram mensagens falando sobre nossa dança, que
viralizou. Pelo visto, me tornei famosa do dia para a noite de verdade.
Queria poder xingá-lo e ficar com raiva por ter feito isso, mas o negócio é que Pole
Position sabe muito bem como sair desse tipo de situação.
Odeio o quanto ele é fofo, e lindo... e gostoso!
Aff!
— Claro que sim. Qual é o problema de você ser mulher? — Volto à conversa com
Logan, que me encara como se eu estivesse falando um absurdo.
— Ah, eu sei que tem assuntos que vocês me escondem. Eu não sou burra.
— “Vocês” é muita gente, querida! — brinca comigo enquanto caminhamos para a Great
Russel Street, onde fica a Cornelissen, a loja de materiais para pinturas.
— Ok, desculpa! — volto atrás na minha acusação. — Toda vez que estamos aqui, Theo
sempre tem um “compromisso pessoal” que nunca me fala o que é. Em Mônaco, às vezes, é a
mesma coisa. Eu sou a assessora dele, o braço-direito. Eu deveria saber, não? Theo e Jackson
mexem com coisas ilícitas por acaso? São viciados em jogos? Apostas?
Logan começa a rir no meio da rua e para, olhando para a minha cara como se eu fosse
uma trouxa.
— Summer Campbell, meu amor, você não pode ser tão ingênua assim!
— Por quê?
— Apostas? Jogos? É sério isso?
— O que é então? Pelo amor de Deus — imploro que ele me diga, porque não aguento
mais ficar curiosa desse jeito.
— Acho que comer bocetas e rabos não pode ser considerado coisas ilícitas, ou você
acha? Até porque quem dá é maior de idade e faz porque quer.
Eu engasgo e começo a tossir.
Meu Deus! É isso?
— Theo e Jackson saem para transar?
— Não é óbvio? Você acha mesmo que seu querido chefe recém-divorciado, lindo feito
um deus grego, desejado pela metade da população feminina do planeta, e pela minha
comunidade também, não está enfiando aquele lindo pau na maior quantidade de bocetas que ele
pode, Campbell?
— Como assim, lindo, Logan? Você já viu o pau de Savard? — Que conversa maluca é
essa?
O assessor de Jackson ri alto e me puxa pelo braço, levando-me para um canto da rua
onde há um banco. Nós dois nos sentamos.
— O dele, não, porque Theo é discreto. Ele entra para os quartos privados. Mas o de
Jackson, já. E, olha, meu chefe é a porra de um cretino, mas eu esqueceria tudo isso se estivesse
com aquele pau na minha boca!
Estou completamente horrorizada com o andar desta conversa.
— Aonde é que eles vão?
— Isso não pode sair daqui, ok? Eu tenho um termo de confidencialidade assinado com
Theo e Jackson. Se você abrir a merda da boca, eu estou sem emprego.
É muito mais sério do que eu pensei.
— Eu jamais faria isso, Logan! — acalmo o rapaz.
— Eles frequentam um clube secreto. De elite. Onde homens e mulheres entram
mascarados e não têm suas identidades reveladas. Eles transam entre si sem saber de fato quem é
a outra pessoa.
— Você está de sacanagem comigo?
— Não. Eu te juro. É tudo cheio de glamour. A casa é simplesmente de babar e tudo
cheira a sofisticação.
— Como você sabe de tudo isso? — estou chocada.
— Sou eu que garanto que eles tenham a diversão que querem — sinto um pouco de
orgulho na fala de Logan. — A casa recebe uma quantidade máxima de pessoas por dia. O rapaz
que promove as noites de clube é um velho conhecido. — Faz uma pausa e complementa. — Na
verdade, a gente se pega às vezes. Mas, enfim…
— Você já foi lá?
— Claro que já! — Ri se aproximando ainda mais de mim. — Várias vezes. Jackson é o
mais exibido. Adora um voyeur! Já Theo, é o que você conhece do seu chefe: discreto demais
para isso, até por trás de uma máscara. Mark adora um ménage.
Não sei o que dizer.
Theo Savard frequenta clubes secretos de sexo.
— Quer ver com seus próprios olhos, Campbell?
Acordo dos oitenta mil pensamentos que estou tendo ao mesmo tempo e olho na cara de
Logan.
— O que foi que você disse?
— Quer ir e espiar seu chefe? Ele vai hoje, sozinho, já que Jackson tem sua própria orgia
marcada para mais tarde.
— Você está maluco? O que Savard falaria se desse de cara comigo em um lugar desses?
Vigiando seus passos?
Logan revira os olhos e bufa.
— Summer, confie em mim, eles nunca sabem quem é quem. Você só precisa ir com uma
máscara bem trabalhada e o resto é resto. Até porque você só vai espionar. Fique pelos cantos
usando sua rosa branca.
— Rosa branca?
— Sim! O clube tem códigos. As mulheres usam uma rosa branca ou uma rosa vermelha
que escolhem na entrada. A branca significa que são apenas voyeurs, as vermelhas significam
que estão disponíveis para o sexo.
Tem todo um esquema… Cristo!
— Eu não sei… nem o que falar!
Meu amigo ri e bate com a mão de leve na minha perna, ficando de pé outra vez.
— Eu iria! Theo fica um verdadeiro gostoso dentro daquele terno preto, cabelinho de gel,
uma máscara preta incrível!
Enquanto Logan sonha com Savard em seu clube de sexo, sabendo exatamente como é,
eu fico usando minha própria imaginação para tentar visualizar a cena.
Levanto-me junto com Logan e voltamos a caminhar, atravessando a rua para entrarmos
na loja.
É melhor eu não mexer com isso.
— Eu agradeço, mas não vai rolar.
— Vamos fazer o seguinte: me dê um codinome que gostaria de usar e eu vou deixar sua
entrada liberada. Se a curiosidade for maior, você já tem uma programação para esta noite.
— Eles usam codinomes?
— Claro! Ou você acha que ele conta para alguém que o nome dele é Theo? Lá, seu
patrão se chama Dionísio. — O deus do vinho! — Qual vai ser o seu?
— Não vou ter um codinome. Não vou lá, Logan.
— Anda, Summer. Me fale. — Ele me cutuca tanto com os ombros que eu perco a
paciência e falo:
— Sunshine.
Meu pseudônimo sai da minha boca. É assim que assino meus quadros. Sunshine Raye.
Ou somente S. Raye.
— Tem a sua cara. Você se parece mesmo com um raio de sol, bebê. Vou ligar para o
meu amigo, e aí você decide.
O pânico me toma só de pensar na hipótese.
— Tudo bem, mas eu não vou.
Nós dois entramos pela pequena porta da loja que me parece um paraíso e pela próxima
meia hora quero não imaginar que hoje à noite Theo Savard vai transar com uma mulher
desconhecida cujo nome ele não sabe.
Não quero pensar que ele esteja fazendo isso e que essa pessoa não sou eu.
Não quero!
Capítulo 17 - Summer Campbell

Ok. Eu estou indo.


Summer Campbell está indo a um clube secreto de sexo assistir ao seu chefe flertar com
outras mulheres e transar com alguma delas.
Desde que nos separamos, Logan e eu, e cada um foi para o seu canto, não consegui parar
de pensar em tudo o que me contou. Aquilo ficou queimando dentro de mim.
Não faço ideia de em que momento tomei coragem para pesquisar onde em Londres eu
conseguiria uma máscara bonita, mas nem foi difícil assim descobrir. A loja ainda entregou no
hotel.
Ela é toda dourada e trabalhada como se fosse para um baile de corte. Já experimentei
diversas vezes e, realmente, é bem difícil de imaginar quem possa estar por trás dela.
Fico segundos que parecem infinitos olhando para o objeto em minha mão e imaginando
o que é que eu estava fazendo.
A mensagem de Logan com a confirmação da minha entrada e o endereço da casa fez
meu estômago se revirar de tanta ansiedade.
Não lhe avisei que eu vou, mas ele vai acabar sabendo, não é?
Vou assumir que a curiosidade me venceu.
Prendi meu cabelo no coque mais alto que eu podia e usei um gel para escurecê-lo;
enfiei-me em um vestido preto, curto, com mangas compridas e transparentes, e caprichei em um
batom vermelho que nunca usei aqui.
O perfume também troquei.
O simples fato de imaginar que qualquer merda pode acontecer e Theo descobrir que
estou ali vigiando já me faz suar.
Fico olhando pelo aplicativo de corrida e, a cada movimento do carrinho na tela,
mostrando que estou cada vez mais próxima, tenho vontade de pedir que ele volte para trás, mas,
toda vez que tento abrir a boca, as palavras não saem.
Dez minutos depois e estou em frente a uma mansão incrivelmente bonita, discreta e que
jamais chamaria a atenção de qualquer pessoa sobre o que ela esconde por detrás dessas paredes.
Ela tem um jardim enorme na frente, com caminhos de asfalto iluminados até a grande
porta.
Olho de novo para a máscara pensando que, quando eu resolver descer deste carro, não
haverá mais volta. Conto até três, encaixo o objeto dourado no rosto e agradeço ao moço, saindo
antes que a minha coragem suma de uma vez por todas.
Quando chego ao primeiro portão, uma mulher estonteante, de cabelos loiros brilhantes,
em um vestido vermelho sereia, olhos azuis e joias que devem valer um rim, sorri para mim.
— Olá, querida! Seja bem-vinda. Qual é o nome?
— Sunshine — respondo um pouco tímida.
Theo, Jackson e Mark entram aqui de graça, segundo Logan. Mas pense o quanto as
outras pessoas não devem pagar por uma noite onde só a beleza da recepcionista já vale todo o
resto?
— Ah, senhorita Sunshine. Está bem aqui. Você é nossa convidada esta noite. — Sorri
enquanto marca alguma coisa em seu tablet. — Branca ou vermelha?
Eis a questão.
Passei o banho inteiro pensando: só quero ver Savard ou me arriscaria a fazer algo com
alguém? Porque se meu chefe, que está descaradamente doido por mim, alivia seu tesão
comendo outras mulheres, eu posso muito bem aliviar o meu dando para alguém que me
interesse. Certo?
— Posso pegar uma de cada? Talvez eu mude de ideia durante a noite.
O sorriso de compreensão da loira é instantâneo.
— Obviamente sim, minha querida. — Ela me entrega uma espécie de broche com rosas
naturais. Opto pela branca para entrar e coloco no bojo do vestido, guardando a vermelha com
muito cuidado na bolsa pequena. — Que sua noite seja deliciosa, senhorita Sunshine.
E eu tenho certeza de que essa mulher foi treinada para falar “deliciosa” e despertar tesão
nas pessoas, porque é o que acaba de me ocorrer.
Um homem enorme, forte, bonito, de cabelos escuros e terno, me oferece a mão.
— Boa noite, senhorita. Deixe-me te acompanhar até a parte de dentro da casa.
E eu vejo isso acontecer com mais duas mulheres que chegam atrás de mim.
Aceito o gesto e agradeço, morrendo de medo de que ele tenha percebido que eu estou
suando um pouco mais do que seria o normal de uma pessoa que não está nervosa.
O problema é que eu estou.
Theo já deve estar por aqui, porque fiquei vigiando da janela o momento em que ele saiu
pela porta do hotel e entrou em um carro desconhecido.
O homem elegante me conduz pelo caminho iluminado até a porta principal. Daqui, sigo
para um salão central enorme, onde é possível ver duas escadas ao fundo, uma de cada lado do
cômodo. Os lustres de cristal pendurados no teto são simplesmente os mais bonitos que já vi na
vida.
A meia-luz não deixa que a gente perceba nitidamente quem são as pessoas ao nosso
redor e as máscaras cumprem seu papel. Aqui, todo mundo se torna realmente anônimo. E
estamos falando de muitos.
Mulheres totalmente elegantes em seus vestidos caros e sandálias altíssimas. Os homens
estão em sua maioria vestidos de cor escura.
— Champagne, madame? — Um garçom para ao meu lado com a bandeja repleta de
taças.
Acabo aceitando uma.
— Muito obrigada!
Ele pisca para mim e continua andando entre as pessoas.
Há dois bares, um de cada lado, onde bancos altos estão dispostos e homens e mulheres
jogam conversa fora. Pelas laterais, sofás enormes de couro preto contrastam com o mármore
claro da construção.
Dou um gole na bebida varrendo o lugar com os olhos em busca dele, mas Theo não
parece estar aqui.
Uma música suave toca de fundo enquanto conversas começam e terminam ao meu redor.
Vejo mulheres com rosas vermelhas sendo conduzidas escada acima e entendo que é lá que as
coisas realmente devem acontecer.
Devagar, caminho entre as pessoas e percebo olhares na minha direção. E eles vão direto
para a rosa branca pendurada acima do meu coração.
Eles entendem que sou carta fora do baralho.
Ando um pouco mais, misturando-me entre todos, até que meus olhos param no fundo do
bar da esquerda. Eu reconheceria aquela postura e seu relógio a quilômetros de distância.
É Theo Savard.
Acompanhado de uma mulher.
Tento engolir a frustração que nasce no meu peito e se embola na minha garganta
enquanto vejo meu chefe sentado em um banco alto, de frente para uma morena de cabelos lisos
e compridos, vestida com um longo, de cor vinho, rindo para ele e se aproximando cada vez
mais.
Começo a tremer.
Seguro a taça com as duas mãos e fecho os olhos, pensando no quanto minha ideia foi
completamente estúpida.
O que você está fazendo aqui afinal de contas, Summer Campbell?
Tento disfarçar, mas não consigo parar de olhar para os dois.
Não tenho direito de sentir ciúmes do meu chefe, ou tenho? Porque é exatamente o que
estou sentindo agora.
Um ciúme que está me consumindo.
Desligando-se da conversa por alguns segundos, ele olha na minha direção. Respiro
rápido, com medo, e vejo quando seus olhos caem sobre minha rosa branca. Observo a mulher
colocar sua mão com as unhas pintadas de vermelho no peito de Savard e depois se levantar.
Deus, eles vão para um dos quartos.
Eu não quero ver isso. Eu não quero ver!
Antes que eu assista a Savard acompanhá-la, dou as costas e saio andando na direção da
escada.
Subo sem pressa, apenas imaginando o que vou encontrar a seguir.
Não quero pensar no que acabei de ver...
Uma tristeza me consome enquanto entrego minha taça vazia para outro garçom,
atravessando a porta que encontro quando termino os degraus.
Aqui há um corredor enorme, para um lado e para o outro. Algumas pessoas vêm e vão e
não consigo decidir para onde ir.
Escolho a esquerda por um motivo completamente idiota: minha mãe era canhota.
E eu não deveria estar pensando nela justamente dentro de um clube de sexo, imaginando
que, em alguns minutos, meu chefe vai foder com outra mulher.
O corredor é ainda mais escuro do que o andar de baixo. Várias portas fechadas ficam
pelo caminho, enquanto vejo uma aberta no fim. Todos os homens que passam por mim me
olham descaradamente, e eu não sei se agora me sinto lisonjeada ou não.
O único homem que eu gostaria que me olhasse não o fará.
Quando chego, enfim, à porta aberta, encontro uma sala cheia de gente. Algumas estão
sentadas nos bancos de couro preto, parecidos com os do andar de baixo, e outras estão em pé,
bem próximas do centro, onde há uma espécie de cama suspensa preta, incrivelmente grande,
com dois casais que estão transando.
Uma mulher de vestido branco está com a peça embolada no quadril, o tronco deitado na
cama, enquanto o homem mascarado segura sua cintura com força e soca rápido em sua boceta.
Ela geme alto e aperta o couro da cama.
A outra mulher está completamente nua, só de máscara, cavalgando em um homem negro
enorme, com os braços incrivelmente fortes, que desfere tapas em sua bunda enquanto ela apoia
a mão em seu peito e quica no seu pau.
Eu fico completamente vidrada.
Todo mundo em volta está hipnotizado pelos quatro. Alguns casais trocam carícias ali
mesmo, assistindo ao sexo explícito alheio.
Fico imaginando que essas pessoas podem ser qualquer um. Um ator famoso, uma
modelo estourada na mídia. Influenciadores mundialmente conhecidos ou um piloto de Fórmula
1, como Jackson.
Acho que é disso que ele gosta, segundo Logan.
Começo a cruzar as pernas devagar porque descubro que gosto de ver isso também. Estou
tão excitada que nem consigo explicar.
Ou talvez seja a lembrança de que a última vez que tive sexo fui tão mal comida por Josh,
que não sabe nem onde fica um clítoris, que sinto inveja das duas mulheres.
Quero dar para um homem que saiba me comer de verdade. Desse jeito aí.
Enquanto um deles vira a mulher para baixo do seu corpo e a fode com tanta força que
arranca gemidos até dos voyeurs, resolvo trocar minha rosa aqui mesmo. Tiro a branca e coloco a
vermelha no lugar.
Eu preciso transar. Forte, duro, até perder as forças.
Bom, se Savard pode, eu também posso, sim.
Que se dane ele e aquela mulher. Hoje, eu vou transar.
De repente, ouço uma voz perto do meu ouvido:
— Mudou de ideia?
Dou um pulo para trás tão rápido que eu quase caio. Uma mão forte me segura pela
cintura me impedindo de parar no chão.
Viro-me para o lado e encaro a máscara que esconde um rosto.
Um rosto que eu conheço.
Theo Savard.
Puta que pariu, Summer!
Puta que pariu! Ele sabe que sou eu!
Fodeu. Fodeu. Fodeu. Fodeu.
Savard me seguiu?
Agora de perto, posso apreciar melhor os detalhes. Theo penteou os cabelos negros para
trás, daquele jeito que fica lindo demais. Está todo vestido de preto, até a camisa de dentro. Na
mão que não me segura, trouxe seu uísque, e está cheiroso de um jeito que faz o ciúme dentro de
mim triplicar. Ele vem comer essas mulheres cheiroso desse jeito?
Ele olha diretamente para mim.
É agora que vou ser, literalmente, desmascarada.
Olho em volta de nós procurando pela morena, mas não a encontro em lugar algum da
sala. Será que ele desistiu?
— Querida, me perdoe, eu não quis te assustar. Desculpa a indelicadeza.
Espero que me chame pelo nome, mas ele não o faz. Meu coração está tão acelerado que
tenho medo de passar mal aqui, na sala de sexo do clube secreto onde eu deveria passar
despercebida, mas falhei miseravelmente.
— Você está bem? Precisa que eu chame alguém para te ajudar? — Solta-me devagar.
— Não, obrigada. — Ele vai reconhecer a minha voz. Por que eu fui abrir a merda da
boca?
— Fico aliviado. — Sorri e aponta para os casais ainda transando. Agora um terceiro se
junta a eles. — Você gosta de assistir? Vi a sua rosa branca lá embaixo.
Ele realmente estava olhando para a minha rosa. Ele me viu! Eu não imaginei coisas.
— Acho que sim! — digo baixo, na tentativa de não deixar que nada soe familiar para o
tio de Josh.
Theo passa a ponta da língua no lábio inferior e suspira.
— É a sua primeira vez aqui?
Ele realmente não se deu conta de que sou eu. Está diante de mim e não faz ideia
realmente de que eu seja Summer, sua assessora.
— Sim. Estou visitando a cidade — não é uma mentira. — E você?
Nega com a cabeça.
— Já vim algumas vezes.
A mulher do terceiro casal agora, enquanto é fodida de quatro, recebe um beijo na boca
da mulher de branco.
— E o que você gosta de fazer aqui? — questiono ao meu patrão.
Theo observa os casais transando e leva o uísque à boca outra vez, como no dia do jantar.
Olha agora em minha direção com aquele sorriso de canto, respondendo sem pressa:
— De foder.
Ouvir a palavra “foder” saindo dos lábios de Savard faz minha boceta se contrair tão forte
que seguro a boca para não gemer.
Meu Deus! O plano não era esse. Era só ficar pelas beiradas vendo tudo. Agora ele está
ao meu lado falando que está aqui para transar. E, pelo visto, fui a escolhida da noite, porque a
outra mulher simplesmente sumiu.
É sério isso, Summer?
Logan vai me matar!
— E você já fodeu hoje? — Seguro minha bolsa com força, tentando fingir que não estou
à beira do pânico.
Perguntar para ele assim, de uma forma que parece suja, só me faz querer levar isso
adiante. E eu deveria? Com certeza, não.
— Ainda não. A única mulher que chamou a minha atenção entrou pelo salão usando
uma rosa branca. — Eu me viro outra vez para ele, que ostenta aquele sorriso gostoso e safado
no rosto. — Mas parece que acabou de mudar de ideia. — Os olhos se fixam na minha rosa
vermelha.
Theo Savard quer me foder.
Sim.
Meu chefe quer transar comigo.
E eu estou completamente desesperada para transar com ele.
— Você estava me vigiando? — brinco e ele dá uma risadinha, abaixando a cabeça.
— Você também estava. Eu vi — me devolve.
— Desistiu da sua parceira, então? — eu preciso saber.
Ele balança a cabeça, respondendo:
— É uma amiga de clube, Já nos conhecemos. Não transo com ela.
Por que é que estou sentindo um alívio enorme agora? Porque eu sou uma burra, só por
isso.
— A propósito, sou Dionísio. — Theo me oferece a mão. — Seu criado.
— Sunshine. — Aceito seu toque tão familiar.
— Gosto de Sunshine. — Toca os lábios na minha mão, os olhos sem sair dos meus. —
Você gosta de se exibir? Assim como eles?
— Talvez um dia. Hoje não.
— Por que mudou de ideia? — pergunta um pouco mais perto para que eu possa ouvir,
porque a música da sala, junto com os gemidos e barulhos de sexo, agora deixa tudo um pouco
mais caótico por aqui.
— Porque percebi que há muito tempo não tenho sexo como gosto de ter. — Com qual
coragem digo essas palavras? Não faço ideia. Só sei que meu chefe quer me levar para a cama e
eu estou há um mês vivendo por isso. — Meu ex não sabia exatamente como fazer as coisas das
quais eu gosto.
— E do que você gosta, Sunshine? — Sinto como a respiração de Theo se acelera.
A minha já não está normal há muito tempo.
— De ser fodida com força — sussurro para o piloto.
Os olhos de Savard fecham-se por alguns segundos e, quando se abrem novamente,
parecem pura labareda através de sua máscara.
— Isso é um verdadeiro pecado, meu bem. Você merece ser tratada como deseja. — Um
garçom passa ao nosso lado e Theo troca o copo vazio por um novo. — Gostaria de me
acompanhar, Sunshine? Para ficarmos só você e eu? Ficaria mais do que feliz em poder resolver
o problema que seu ex te deixou.
O seu sobrinho, Savard! Seu amado sobrinho!
A mão à meia-altura me convida para sairmos daqui. Fico parada olhando de Theo para
ela, pensando nas possibilidades.
Posso aceitar e ter uma noite incrível ou, quem sabe, descobrir de uma vez por todas que
Theo e eu não temos nada a ver.
Posso ser pega no pulo se essa merda de máscara sair do lugar e aí tudo virará um caos.
Eu prometi para Logan que não o prejudicaria com Theo e Jackson, e seria exatamente o que
aconteceria.
Ou posso ir, não ter problema nenhum e ter um sexo sensacional com o homem que tem
tirado todo meu juízo.
Ele me olha ansioso e, antes que eu pense demais, seguro sua mão. O sorriso do meu
chefe sobe automaticamente e ele entrelaça os dedos nos meus, puxando-me devagar para fora da
sala de voyeur.
É isso.
Theo Savard está prestes a me devorar.
Capítulo 18 - Summer Campbell

Do outro lado do corredor há um elevador. Savard, ainda segurando a minha mão,


pressiona o botão para chamá-lo.
Será que é tudo um teatro e ele sabe exatamente o que está acontecendo aqui?
Aileen me diria que eu sou completamente maluca, tenho certeza disso. Mas meu tesão
está me mandando pagar para ver.
Estou com tanta vontade de Savard que meu lado racional simplesmente foi desligado da
cabeça neste momento.
O elevador chega e a gente entra. Theo aperta o botão para o andar de cima enquanto nós
dois ficamos completamente em silêncio.
Sei que o intuito aqui não é criar intimidade com ninguém. Ele veio em busca de sexo e é
exatamente isso que está indo fazer comigo, mas é estranho pensar nas coisas dessa forma.
Sem nome, sem telefone, sem “te vejo por aí”.
A porta se abre assim que chegamos ao terceiro andar. Aqui, há ainda mais portas do que
no andar de baixo. Luzes vermelhas e verdes indicam quais estão ocupados e quais não.
Como se soubesse exatamente aonde quer ir, Savard nos leva até o fim do corredor. Ele
abre uma porta e me puxa devagar para dentro, trancando logo em seguida.
É um quarto amplo, bem escuro, com uma cama enorme e quadrada. Há um frigobar,
uma poltrona de canto, um espelho grande na parede e de frente para a cama.
— É exclusivo para mim quando venho. Ninguém tocou em nada aqui.
Theo Savard tem seu quarto exclusivo para sexo quando vem ao clube. Entendi.
— É bonito.
Deixo minha bolsa em cima da pequena mesa ao lado da porta e começo a caminhar pelo
quarto. Posso sentir os olhos de Savard me queimando por trás.
— Quer beber alguma coisa?
— Não, obrigada! — Estou esperando somente o momento em que tudo isso vai dar
errado.
Tenho certeza de que ele vai me chamar pelo nome a qualquer segundo.
Ouço o farfalhar de tecidos e me viro no exato momento em que Theo tira o paletó do
terno, ficando somente de calça e camisa. Ele vem andando devagar em minha direção e, quando
para já alguns centímetros de mim, diz:
— Aqui é você quem manda, Sunshine. Nada acontecerá sem a sua permissão. Então me
diga o que você quer, porque eu estou mais que pronto para te dar.
Meu Deus! Eu quero tantas coisas com esse homem.
Quero sentir o gosto da sua boca, o calor da sua língua pelo meu corpo. Suas mãos
pesadas tão acostumadas a pilotar os carros mais potentes da F1 me apertando com raiva. Com
tesão.
Quero sentir Theo Savard inteiro dentro de mim.
— Quero tudo o que quiser me dar, Dionísio.
Ele se aproxima tanto que nosso nariz coberto pela máscara se esbarra.
— Essa boca vermelha está liberada para mim?
Se eu pudesse explicar o quanto este homem está sexy com essa máscara e esse seu tom
de voz cheio de desejo…
— Ela é sua!
Theo não me deixa mais raciocinar. Ele me puxa pela cintura enquanto seus lábios se
chocam com os meus. O gosto do uísque invade meus sentidos quando sua língua mais que
esperta toma passagem pelos meus lábios.
Solto um gemido, não consigo evitar, e isso faz Theo grunhir profundamente.
Abraço seu pescoço e colo meu corpo no seu enquanto sua boca toma a minha com fúria.
Deus... Como eu sonhei com isso!
E é macia, é gostosa, é do jeito que imaginei. A forma como Savard prende minha língua
com os dentes e depois a chupa, me deixa mole. Sinto imediatamente os bicos dos seios duros, os
peitos pesados e o meio das pernas úmido.
Ele puxa meu quadril em direção ao seu e eu sinto o volume na sua calça, o que
imediatamente me faz roçar no seu pau.
— Coitado do infeliz que não soube apreciar você, Sunshine. — Larga a minha boca para
falar, os lábios vermelhos do meu batom e do beijo. Meu coração está completamente
descompassado. — E que sorte a minha de poder te dar tudo o que quer. — As mãos do meu
chefe deslizam para baixo das minhas pernas, suspendendo meu vestido pela bunda somente o
necessário para agarrar minhas nádegas.
Theo aperta tão gostoso que eu solto outro gemido.
— Você tem um gemido tão safado… — diz me olhando nos olhos enquanto busco
fôlego. — Imagina só como vai gemer quando eu estiver dentro de você?
Perco totalmente o raciocínio quando ele diz essas palavras.
Uma das suas mãos sai de trás e vem contornando a calcinha minúscula que eu resolvi
colocar para vir até aqui. Sem muita cerimônia, Savard escorrega os dedos para dentro do tecido,
encontrando minha boceta.
Um pequeno grito sai da minha garganta. Theo Savard está com sua mão dentro de mim!
Ele me faz andar de costas até me encostar no espelho, e então, me vira de frente, fazendo
com que eu fixe os olhos no nosso reflexo. Do nosso lado, uma cadeira parece que terá serventia.
Theo a puxa até pará-la ao lado da minha coxa, e me faz colocar o pé em cima dela, deixando-me
exposta.
Sua respiração está tão pesada perto do meu ouvido que faz minha boceta piscar,
enquanto seu dedo volta a procurar minha calcinha pela frente do meu corpo, e ele brinca com
meu clítoris. Assim, estou com uma perna em pé e a outra suspensa na cadeira, sendo tocada por
Theo Savard bem atrás de mim, encostando seu pau pesado e quente na minha bunda. Espalmo
as mãos no espelho, fechando os olhos e tombando a cabeça para trás. Estou sendo masturbada
pelo maior da Fórmula 1.
Meu chefe!
— Que boceta gostosa, Sunshine. Olha como está escorregando. — Enquanto reviro os
olhos e solto outro gemido, Theo investe dois dedos dentro de mim e eu arranho o objeto que nos
reflete.
Volto a cabeça para o lugar e olho diretamente para baixo, vendo o movimento da sua
mão, entrando e saindo de mim.
Parece um sonho, mas não é! É Theo Savard, sendo um grande e delicioso safado.
Comigo!
— Ahhhhh, sim! Sim! — eu grito enquanto ele vai um pouco mais forte.
Sua boca beija o espaço entre meu pescoço e orelha, e eu ofego.
— Você é tão cheirosa. — Seu nariz arrasta chamas por onde passa me provocando. O
contato frio da máscara na minha pele me deixa vidrada. — Quero te lamber inteira. Mas, antes
disso, você vai gozar assim, bem na minha mão. — Nossos olhares se encontram no espelho e
ele vai mais rápido, sem me dar trégua, e eu amo cada segundo.
Cada um deles!
— Por favor... — minha voz sai completamente afetada, porque Theo sabe com exatidão
o que fazer com essa mão.
A forma como ele toca onde preciso me faz pensar que nenhum outro soube fazer direito
antes.
É delicioso!
O número 1 da McLean acrescenta mais um dedo e eu contraio a boceta em volta deles, o
que faz Theo largar meu pescoço e olhar diretamente para mim mais uma vez.
— Que putinha safada. Rebola pra mim — e aumenta o ritmo, fazendo minha perna
suspensa na cadeira tremer.
Savard me chamou de putinha.
Quantas vezes eu sonhei com este momento?
Quantas noites não gozei sozinha imaginando que eram os dedos de Savard me
maltratando?
E agora são, de verdade.
Mexo o quadril, aumentando o atrito dos seus dedos longos dentro de mim.
— Mais rápido, Dionísio. Me fode mais rápido — imploro, quase sem ar nos pulmões.
— Você manda, meu bem. — Theo soca com velocidade e eu começo a gritar.
Forço a bunda contra sua virilha e sujo o espelho com a marca das minhas mãos, que
escorregam por ele.
— Ele já te fez gozar assim?
Se ele soubesse que está falando do próprio sobrinho. Do melhor amigo…
— Nunca. Mas você vai. — Como eu sempre tive certeza de que faria.
Ele sorri de um jeito safado, sexy, cheio de tesão, e começa a esfregar o dedão no meu
clítoris enquanto me fode.
— Dionísio — chamo seu codinome e sinto que não vou aguentar mais por muito tempo.
— Goza, Sunshine. Goza nesses dedos com força. Daqui a pouco é no meu pau.
E, só de falar em Savard dentro de mim, minha boceta explode em um gozo intenso.
— Ahhhhhhh! — uivo enquanto tremo inteirinha.
Theo não tem dó de mim e continua metendo forte, sem parar, dizendo tantas
obscenidades ao meu ouvido que fico imaginando se alguém poderia imaginar que Pole Position
falaria esse tipo de coisa. A outra mão segura meu quadril, para me manter no lugar.
Meu tronco vai para a frente eu choramingo com a intensidade do orgasmo. Sinto a
contração apertando seus dedos e fazendo-os entrar com dificuldade, o que prolonga meu gozo.
Não lembro a última vez que gozei tão forte assim.
Depois de segundos com a testa apoiada no espelho, buscando por ar, sem conseguir
dizer sequer uma palavra, desço a perna suspensa porque tenho a sensação de que vou ceder. Ele
tira a mão devagar de dentro de mim, esperando até que o último espasmo tome meu corpo.
— Queria tanto lamber esses dedos agora… — sussurra para mim, e eu entendo o que ele
quer dizer.
Estamos falando de um clube onde tudo é secreto e sexo só é permitido com preservativo,
por questões de saúde. Sexo oral ou algo que possa trazer problemas depois está fora de questão.
Como eu queria essa boca em mim. Como eu queria…
Ele me segura firme e me vira outra vez, arrastando-me para a cama.
Savard me senta nela e eu, ainda procurando por ar, seguro o cinto da sua calça e começo
a abrir.
— Quero ver o que você guarda debaixo desta roupa preta, Dionísio.
Theo não me impede.
Por alguns segundos, imagino que estamos dentro do seu quarto na nossa casa, despindo
Savard após chegarmos de alguma viagem longa. Sonho com o dia em que ele vai me comer ali,
onde moramos.
Só de pensar que Manfred pode estar em volta sem saber o que estamos fazendo…
O simples pensamento me faz ter mais pressa ainda. Abaixo a calça de Theo e sua boxer
branca surge na minha frente.
Antes de abaixá-la, começo a abrir botão por botão da camisa do meu chefe, enquanto ele
assiste ao movimento completamente calado, só me observando.
Fico de pé e tiro as mangas da sua camisa, esfregando as mãos pelos braços fortes de
Savard. Sinto cada pequeno pedaço de sua pele em contato com a minha.
E, quando a peça cai junto da calça, volto com as mãos pelo seu peitoral definido e
barriga trincada. Theo tem pelos espalhados pelos dois, o que me deixa completamente maluca.
Quero sentir o atrito deles no meu corpo.
— Não me recordo da última vez que uma mulher me venerou desse jeito, Sunshine —
ele abre a boca.
Meus olhos voltam para os dele e ficamos nos encarando por vários segundos.
— Coitadas dessas infelizes que não souberam apreciar você. — Penso em Louise e
devolvo sua própria frase.
Ele ri, um riso gostoso.
Um riso que me preenche.
Não perco tempo e me sento de novo na sua frente, abaixando logo a sua cueca. O pau de
Theo salta bem na minha cara. Grande, grosso, com a cabecinha molhada.
Minha garganta fica seca instantaneamente.
É lindo e está chamando pela minha boca.
Mas eu não posso. Não hoje. Talvez nunca, mas aqui realmente não posso.
Agarro-o pela base e começo a masturbar Theo devagar. Ele geme à medida que sobe e
desce. E esse homem fica tão bonito com tesão! Nem uma máscara é capaz de esconder o quanto
Theo Savard fica ainda mais lindo quando transa.
Seu pau tão duro e tão quente na minha mão. Não quero parar de tocá-lo.
Ele aproveita por incontáveis segundos até que me diz, embriagado pelo desejo:
— Preciso te foder.
Por favor, Theo Savard. Faça isso!
Afasta-se, terminando de tirar calça, cueca, sapatos e meias do corpo. Ele fica
completamente nu na minha frente e eu olho para cada pedacinho para registrar este momento na
minha memória, mesmo que aqui, neste quarto, estejamos praticamente sem luz.
É tão lindo.
Tão, tão lindo!
Meu chefe é um verdadeiro gostoso.
E eu vou dar para ele agora, mesmo que ele não faça a mínima ideia disso.
Vejo quando Theo pega algo no chão e joga na cama ao meu lado. Camisinha.
— Agora é a sua vez, Sunshine. Vou te comer só com essas suas sandálias.
Ele me oferece a mão para me deixar de novo em pé. Ficamos cara a cara enquanto sinto
seus dedos segurarem a minha rosa.
De repente, Theo puxa de uma vez e a joga pelo ar, fazendo com que várias pétalas
vermelhas caiam sobre nós dois.
Como uma cena de filme.
Então ele diz:
— Você não precisa mais disso hoje.
Como se fosse uma promessa de que vai me dar em breve o que eu realmente vim buscar
neste quarto com ele.
Então me vira de costas e começa a descer o zíper do vestido, até a altura do meu cóccix.
Sem pressa, ele desce as mangas de tule pelo meus braços, enquanto a sua boca maltrata a minha
nuca.
Deixa o vestido cair de mim e ajuda quando agarra na minha bunda. Theo escorrega as
mãos junto com tecido até que se livre dele. Assim, estou de costas para ele vestindo somente a
calcinha, os saltos e a máscara.
— Fica de quatro na cama. Quero tirar sua calcinha olhando para sua bunda.
Eu obedeço de imediato. Subo na cama com os joelhos e empino o quadril em sua
direção.
A próxima coisa que sinto é um tapa que me faz gemer alto.
— Você tem um rabo delicioso. Olha o tamanho disso. — Ele me bate de novo e eu
rebolo para Theo, sentindo minha boceta outra vez pedir por mais.
— Então bate mais forte!
Ele enche os dois lados de tapas estalados enquanto fico gemendo feito uma cadela. Theo
se abaixa e passa a língua pela minha carne quente pelos tapas, e eu arfo com o contato. É tão
gostoso...
De uma vez só, puxa as duas alças da calcinha pelo meu quadril, deixando-a parada no
meio das minhas coxas.
— Olha só para essa bocetinha, Sunshine. Ela está implorando para ser fodida. — Dá
pequenos tapas nela e eu ofego.
O barulho viscoso é pelo tanto que estou molhada.
— E você não vai vir me dar o que eu quero? — pergunto quase gozando de novo só com
suas provocações.
Theo me vira na cama, agora me vendo nua de verdade. Ele me olha inteirinha, desde a
máscara que esconde quem eu sou até a minha boceta.
Se eu o venerei, Savard está me endeusando.
Nunca me senti tão desejada na vida como estou me sentindo por ele agora.
Devagar, aproxima-se e puxa a calcinha pelas minhas sandálias, jogando no chão.
Ele se ajoelha na beirada da cama e pega a camisinha, rasgando a embalagem com a
boca. De repente, meu corpo toma total consciência do que acontecerá em alguns segundos.
Vou saber exatamente como é ter Theo Savard dentro de mim.
Assisto ao movimento das suas mãos cobrindo seu pau grosso com o preservativo.
Quando termina, suas pernas pedem passagem entre as minhas. Ele deita o tronco por cima do
meu e eu acho que vai me beijar mais uma vez, mas, enquanto seu calor me cobre, sua boca vai
direto para o meu peito.
— Eu o ouvi implorando pela minha boca — brinca e começa a me chupar.
Tombo a cabeça para trás enquanto agarro seus cabelos na nuca.
— Cristo, que língua gostosa... — as palavras saem sem que eu perceba.
Isso incentiva Theo, que mama de um jeito tão safado que me faz cravar as unhas no
meio das suas costas e arranhá-lo com vontade.
Theo mexe os quadris até que somente a cabeça do seu pau encontre a entrada da minha
boceta, sem realmente entrar, e se mexe devagar, só para me provocar.
Ele chupa totalmente esfomeado.
Tudo o que sua boca faz em cima, provoca coisas em baixo.
Quero-o inteiro, quero agora.
— Me fode, por favor. Me fode forte! — peço desesperada.
Ele suga com tanta vontade, brincando com a ponta da língua no bico logo em seguida,
que eu choramingo desesperada.
Savard apenas move o quadril devagar e eu sinto quando centímetro por centímetro vai
me invadindo.
Minhas unhas voam agora para os seus braços e eu os arranho inteiros.
— Ó meu Deus! — as palavras saem da minha boca no exato momento em que Theo
estoca a primeira vez.
Sinto-o completamente dentro de mim.
Deliciosamente inteiro dentro de mim.
— Porra de boceta gulosa, Sunshine. Olha como você está me apertando — solta meu
peito só para me dizer.
— Não fique aí parado. Por favor. Preciso sentir você me foder duro.
Ele sorri e tira o tronco de cima do meu. De repente, sua mão me agarra pelo pescoço, me
forçando contra a cama, sem machucar. Apenas me dominando.
Ele se apoia com a outra mão ao lado do meu corpo e começa a mexer o quadril. De
repente, começa a me comer forte, fazendo a cama inteira balançar. Ele entra e sai fácil, porque
estou completamente babada.
Nunca senti tanto tesão na minha vida inteira.
A visão de Theo Savard por cima de mim, mantendo-me na cama segura pelo pescoço,
fazendo comigo o que quiser... Eu não estava preparada para isso.
Definitivamente não estava!
Abro mais as pernas e deixo que me tome com raiva.
Meu corpo está tão ligado que sinto cada uma das minhas células neste momento. Todas.
Theo me acende. Me faz transcender.
Savard me incendeia completamente.
Assisto ao movimento brusco que faz nosso corpo se chocar e chego à conclusão de que,
ao fim, vou querer mais.
Estou completamente perdida.
Quero Theo Savard. Quero este homem todos os dias a partir de agora.
O barulho de sua pele suada batendo contra a minha virilha preenche o lugar junto com a
música que toca também aqui dentro. A força da sua mão contra o meu pescoço enquanto Theo
tira tudo e me preenche de novo é demais para mim.
Seguro sua bunda forçando-o para dentro enquanto Savard mexe o quadril, rebolando,
fazendo com que eu sinta coisas que jamais senti.
— Você vai me matar assim. Isso é tão bom… — deixo as palavras escapulirem.
— Você não sai daqui hoje até dizer com essa boca bonita que foi fodida como gostaria
de ser, Sunshine — e soca forte enquanto eu grito alto. — Como merece ser.
— Eu quero que você me pegue de quatro — peço.
Essa é uma das minhas maiores fantasias com Theo.
— Quer ver como você fica incrivelmente linda enquanto dá essa boceta para mim? —
sua voz sai entre um fôlego e outro. — Vou te mostrar.
Assim que Savard sai de mim, meu corpo treme com a falta. Ele me oferece a mão, me
ajudando a levantar outra vez.
— Fica de quatro olhando para o espelho — ordena.
E eu não me importaria de obedecer a esse homem na cama para o resto da minha vida.
Theo quer literalmente que eu assista a ele me fodendo por trás.
Eu faço o movimento tão rápido que ele ri.
— Meu Deus. Como você é gostosa, caralho.
Assisto enquanto ele dá a volta e sobe na cama ajoelhado, parando exatamente atrás de
mim. Empino a bunda o máximo que posso e ele me dá mais tapas, bem ardidos, o que me faz
piscar descontroladamente.
Não seguro o gemido quando Savard posiciona seu pau e o encaminha outra vez para
minha entrada, empurrando sem dó.
Colo a testa na cama e grito.
— Ai! Assim… — solto enquanto sinto a primeira estocada.
Levanto a cabeça para olhar no espelho enquanto assisto ao Theo Savard mascarado me
fodendo forte e por trás.
Ele segura minha cintura com os dedos cravados na minha pele e mete, fazendo meu
corpo inteiro se balançar.
É a cena mais bonita a que já assisti na vida.
Tão impiedoso quanto é nos circuitos mundo afora, este homem também não tem dó
entre quatro paredes.
Observo seus braços definidos arranhados, me segurando, e seu peitoral perfeito, um
conjunto incrível que me deixa completamente alucinada por este homem.
E pensar que há tão pouco tempo ele era só o tio famoso do meu ex, o cara que eu
venerava por ser um dos maiores do esporte.
Agora está me pegando de quatro e vai me fazer gozar de novo, porque tudo isso é
demais para eu aguentar.
Levanto um pouco o tronco e encaro de novo nossa imagem no espelho.
— Perfeita — ele sussurra enquanto mete mais rápido. — Você fica linda demais assim,
Sunshine — e investe de novo, o que arranca um fôlego sofrido de dentro da minha garganta. —
Nunca aceite que um homem te entregue menos do que você merece. Essa sua bocetinha foi feita
para ser saciada.
— Queria sentir sua porra escorrer de dentro dela… — confesso.
Eu realmente adoraria que isso acontecesse.
Theo sorri e empurra com muita força.
— Não estou falando? Você é o sonho de qualquer homem. — Savard me estapeia de
novo e eu tenho certeza de que amanhã vou acordar com a marca dos seus dedos na bunda. —
Como alguém poderia não perceber isso? — Abaixa o tronco para falar perto do meu ouvido. —
Vamos imaginar juntos então, querida, que vou te encher com a minha porra enquanto você
aperta o meu pau dentro de você. Goza para mim, Sunshine.
Theo segura meu pescoço com força, pressionando minha cabeça contra a cama, a outra
mão no meu quadril, e começa a me maltratar, me fodendo até o limite.
O choque dos corpos faz um barulho alto, misturado com meus gritos e seus gemidos,
acompanhados da música de fundo.
Meu chefe vai gozar comigo.
Pole Position vai gozar para mim.
— Dionísio… — choramingo, segurando-me para não o chamar pelo nome de verdade.
— Sunshine!
E Savard empurra mais três vezes enquanto sinto o orgasmo nascer dentro de mim e se
espalhar pelo meu corpo inteiro.
Sinto-me explodir em milhares de pequenos pedaços, que me fazem sentir
completamente viva!
— Hmmmmmm — solto entre os lábios enquanto sinto Theo socar de novo e gemer
entre os dentes.
— Ah, porra! — e assim, ele goza.
E goza muito, enterrando-se em mim, afundando os dedos na minha carne, falando
palavrões de um jeito delicioso.
Fodida do jeito que eu queria ser.
Que eu mereço ser.
Theo continua investindo, enquanto gozamos mais. Quando paro, meu corpo desaba
devagar no colchão e o dele me acompanha. Sinto o peso por cima de mim, seus pelos brincando
de me fazer cócegas nas costas e percebo que ficaria assim por horas e horas sem reclamar.
Com a respiração acelerada, ele beija a ponta da minha orelha e diz:
— Era disso que você precisava, Sunshine?
— Nada menos que isso — respondo preguiçosa, rindo, com os olhos fechados.
Ouço e sinto sua risada, enquanto as mãos de Theo escorregam pelo meu corpo, como se
quisesse guardar na memória cada pedaço dele.
Meu coração se aperta imediatamente, porque sei que, provavelmente, nunca mais terei
mais disso.
Abro os olhos enquanto ele ainda se dedica à minha pele e respiro fundo, pensando que
preciso ir embora e chegar ao hotel antes dele. Não posso correr o risco de Savard me encontrar.
Ele se afasta devagar, saindo de dentro de mim, o que me faz ter a real dimensão de tudo
o que acabei de realmente fazer com meu chefe, e me levanto de uma vez em busca das minhas
coisas.
— Está com pressa? — Ele se acomoda na cama, cruzando os braços atrás da cabeça e
me assistindo ainda nua indo atrás da minha calcinha.
Ajeito no rosto a máscara, que se atrapalhou um pouco, e começo a me vestir enquanto
ouço-o tirando a camisinha.
— Tenho um voo de volta para casa logo pela manhã — minto e começo a arrumar o
vestido no corpo.
Faço um malabarismo para puxar o zíper, assim como foi no hotel, mas Theo sai do seu
lugar e para minhas mãos, ajudando-me a subi-lo até o fim das costas.
Meu corpo se arrepia com cada contato da ponta dos seus dedos na minha pele suada e
sensível.
Quando termina, dá um beijo na minha nuca.
— É uma pena. Eu te convidaria para virarmos a noite aqui, se você pudesse.
E eu ficaria sem nenhuma dúvida, Theo Savard.
Sorrio e me afasto o suficiente para chegar até a minha bolsa.
Ainda nu, meu chefe me observa com muito cuidado através da sua máscara preta.
— Obrigada por cumprir com sua promessa, Dionísio.
Ele sorri, incrivelmente lindo, e vem até mim, pegando-me pela cintura e tomando minha
boca outra vez.
E esse beijo não tem nada de provocador, de indecente ou coisa assim. É um beijo pós-
sexo relaxado, calmo, como se partilhássemos a intimidade da cama sempre.
Meu coração dispara tanto que sinto o exato momento em que se estilhaça, porque já
sente falta de algo que não terá nunca mais.
Sua língua brinca com a minha e eu respiro fundo, querendo mais, mas tenho que ir
embora, o mais rápido que eu puder.
Afasto-me devagar e entrego um sorriso para ele.
— Foi um prazer, Sunshine. — Ele pisca para mim.
Daquele jeito que eu amo que ele faça.
Ando alguns passos até a porta e aceno antes de sair. Paro alguns segundos do lado de
fora, sem acreditar em tudo o que acabou de acontecer.
Quando acordo do transe, disparo para o elevador, querendo sair daqui o mais rápido que
eu puder.
Eu perdi completamente o meu juízo.
Capítulo 19 - Theo Savard

Eu cometi um terrível engano ontem à noite.


Fiz a coisa mais idiota que eu poderia ter feito: fodi uma mulher enquanto imaginava
Summer Campbell no seu lugar.
Assim que coloquei os olhos na moça discreta que ficou me encarando quando eu
conversava com Lilith, uma velha conhecida do clube, fiquei duro de tesão.
A estatura, o corpo, tudo se parecia com minha assessora. Aquela mesma que me faz ir
aos clubes somente para tentar esquecê-la.
A rosa branca me indicava que nada ali aconteceria, até que resolvi segui-la ao andar de
cima e a flagrei no momento exato em que resolveu trocar as flores.
A máscara não me deixou ver muito além. Ela escondia bem os olhos também. A única
coisa que atrapalhou um pouco meu plano inteligente de fingir que aquela era Campbell foi o
cheiro, completamente diferente do que estou acostumado a sentir quando ela está por perto.
Tive o melhor sexo dos últimos tempos. Nenhuma mulher com quem me deitei no clube
nesses meses me deixou tão sedento como Sunshine me deixou. É uma pena que nada ali era
sobre ela, mas sim sobre alguém que eu projetei em seu lugar.
Ela queria um sexo bom que o ex não foi capaz de dar. Eu queria fingir que Campbell era
quem me entregava todos aqueles gemidos e gozava para mim.
A mulher misteriosa era simplesmente feita para um sexo selvagem e safado, assim como
sei que minha assessora, parada agora na minha frente enquanto conversa com a comunicação do
meu instituto, também é.
Eu tenho certeza de que é.
E não haverá Sunshine ou outra que resolva o meu problema enquanto eu não me deitar
com Summer.
Já vivi muitos dilemas morais durante a minha trajetória. Acredite: a Fórmula 1 e o
esporte em geral são mundos sujos, como a maioria das coisas que envolvem dinheiro.
Pela minha criação, fui moldado a viver conforme o que é justo e certo, por isso desejar
essa mulher fode tanto com a minha cabeça.
Ao mesmo tempo, tenho pensado que não pode ser tão errado, desde que a gente não leve
isso para outro lado. Não podemos confundir as coisas. Não podemos deixar que o sexo
ultrapasse todas as outras camadas.
Sei que ela jamais contaria para Josh.
Eu, muito menos.
Não quero confusão com meu melhor amigo simplesmente porque sei que tudo o que
estou sentindo é só o que é: desejo. Puro e cru. Vontade de foder. Depois que tudo acontecer,
isso vai acabar. Voltaremos a ser só o que somos.
— Por que você está calado desse jeito?
Jackson é quem pergunta. Ele não foi ao clube ontem, porque marcou um encontro com
três modelos no próprio hotel em que está hospedado. A notícia já saiu hoje de manhã nos
jornais. O pobre do Logan não tem um dia sequer de paz. Wisbech, com certeza, vai comer o cu
dele em algum momento.
— Acordei com dor de cabeça. Dormi mal esta noite — minto.
A gente anda pelos corredores de uma das sedes do instituto, que fica aqui, em Londres.
Tenho outra na França, onde morei por muitos anos com Louise, no México e na Costa
Rica. Esses são alguns dos países com o maior número de refugiados presentes.
Aqui, as crianças e adolescentes têm direito a recreação e aulas de esportes variados,
pinturas e esculturas, espanhol e francês. Prestamos assistência de saúde e fazemos
acompanhamento escolar.
Com as doações, somos apoiadores oficiais de hospitais que tratam de crianças
HIVpositivas. A maioria delas, em condições de saúde estável, participam de todas as atividades
que oferecemos aqui.
— Sexo agora te dá dor de cabeça, Savard? — zomba e me dá um tapa no ombro.
Olho para meu companheiro de equipe.
— Seja sério uma vez na sua vida, Jackson. Aqui não é lugar para ficar falando dessas
merdas. Inclusive, aproveite o momento para tentar limpar sua imagem de esgoto que você
terminou de enfiar pelo ralo ontem.
— Calma, Pole! — fica assustado comigo.
Mas, quer saber? Foda-se. Sem tempo para lidar com o inconsequente que ele é.
— Algum probleminha aí, rapazes? — Logan chega e nos pergunta.
Summer vem logo atrás.
Por algum motivo que com certeza inventei somente na minha cabeça, hoje ela parece
estar mais distante de mim.
Talvez Summer tenha se cansado dessa brincadeira de a gente querer algo e que eu não
tome qualquer atitude sobre.
— Está tudo sob controle aqui, Logan, fique tranquilo — devolvo ao assessor de Jackson.
— A TV já chegou! — é ela quem diz agora.
Uma rede de TV britânica solicitou nos acompanhar para uma reportagem.
— Estou pronto — afirmo enquanto Logan e Jackson trocam algumas palavras um pouco
mais afastados de nós agora.
— As perguntas são as que já sabemos mesmo, está bem? — Ela não está olhando
diretamente nos meus olhos desde que nos encontramos hoje no café da manhã.
Perguntei se estava indisposta e ela somente me disse que teve uma noite difícil para
dormir.
Não pode imaginar como foi a minha, então.
Quando voltei ao hotel, pensei centenas de vezes em bater à porta do seu quarto só para
olhar para o seu rosto ou ouvir a sua voz, mas eu estava cheirando a sexo e não sou esse tipo de
homem.
Summer não merece que eu seja esse tipo de canalha que fode outras e depois
simplesmente aparece à porta do seu quarto, te tira do seu descanso por puro capricho. Só porque
eu precisava desesperadamente ver o seu sorriso ou sentir o cheiro típico do seu perfume.
Eu vou acabar enlouquecendo. Essa é uma grande certeza na minha vida.
— Você ainda está brava porque pedi para postarem o vídeo no TikTok?
Neste momento, ela me olha.
Aqueles olhos brilhantes que tem.
— Claro que não. — Dá um sorriso, mas ainda não estou convencido. — Eu me tornei
uma subcelebridade que recebe xingos em cinco de cada dez directs, convites para ménages e
propostas para vender fotos dos meus pés. Está tudo ótimo!
— Querem que você venda imagens dos seus pés? — Olho diretamente para eles, que
estão calçados em sandálias baixas hoje.
Os pés de Summer são muito bonitos.
Ela inteira é bonita. Inferno!
Campbell mexe em seu iPad e confirma com a cabeça.
— Não sabia que tem mulher hoje em dia que vive vida de luxo só vendendo fotos dos
pés? Fetiche tem sido um bom ramo de negócios.
Vejo a movimentação do pessoal da TV arrumando tudo para a gravação, mas sei que
ainda tenho alguns segundos, então digo:
— Me perdoe te fazer passar por isso.
Summer levanta a cabeça e me encara mais uma vez. Os lábios hoje estão em um tom
rosa mais claro que o comum, os cabelos estão soltos, lisos, a bochecha um pouco mais corada
que o normal.
De repente, passei a reparar em tudo nessa mulher, e a verdade é que eu durmo ansioso
para saber como ela estará no outro dia.
— Não quero um pedido de desculpas, Savard. Foi divertido, no fim das contas. —
Balança os ombros e suspira. — Se ao menos a Taylor me notasse depois de todo esse mico…
Valeria mais a pena!
Dou uma risada quando o produtor do canal nos chama.
Talvez a gente possa resolver isso.
— Estamos prontos aqui. — Logan se aproxima.
Summer volta ao modo profissional e caminha na nossa frente, levando-nos até uma das
salas onde acontecem as oficinas.
Durante a próxima hora, Jackson e eu falamos um pouco de carreira, os planos para o
futuro, sobre nossa amizade e sobre o apoio a causas como as que defendo hoje no instituto.
Acabo de nomeá-lo como um dos padrinhos do projeto e sei que, mesmo com a vida
maluca e desregrada que leva, esse é o tipo de coisa com a qual ele é comprometido.
— Recentemente, você disse nas redes sociais que gostaria de ser pai de um filho
adotivo, Savard. Quando foi que esse desejo nasceu no seu coração?
— Não sei te dizer exatamente quando, mas sei que é algo que realmente serei. Algumas
dessas crianças só estão esperando a chance de serem verdadeiramente amadas, cuidadas, terem
dignidade e uma vida como qualquer ser humano merece ter. Eu sou um homem que teve
privilégios a vida toda e, acredito eu, continuarei tendo pelo resto dela, então, sim, eu serei pai de
uma criança que, eu tenho certeza, transformará completamente tudo em mim. E para melhor,
não tenho a menor dúvida.
Olho por cima do ombro da repórter e vejo Summer logo atrás, encarando-me com os
olhos cheios de lágrimas.
Sei como esse é um tópico sensível para ela, pelo desejo de Sara que não foi
concretizado. Ela troca o peso do corpo de uma perna para a outra e sorri para mim. Devolvo
outro a ela.
— Você também é muito engajado com a causa animal, não é mesmo?
— Não tanto quanto deveria, mas será um dos meus projetos para o futuro. Meu
cachorro, Paddock, era vítima de maus-tratos e utilizado para reproduções em cativeiro no Brasil.
Foi Sebastian Armstrong, da Romanus, quem me contou sobre a situação com a qual ele estava
engajado já há algum tempo. No GP de São Paulo do ano passado foi quando eu fui até o abrigo
onde ele estava, e então Paddock me escolheu. Foi paixão à primeira vista. Quero poder fazer
mais pelos animais, é uma meta de vida.
Jackson responde a outras perguntas e depois andamos com eles para gravar takes em
partes estratégicas do instituto, mostrando o que oferecemos às crianças e adolescentes
atendidos. Por fim, eu me sinto exausto, mas sei que vai valer a pena. Sempre que entramos em
evidência na mídia consigo ajuda de mais patrocinadores e, assim, fazemos a roda
constantemente girar.
— Por que você nunca me disse que Paddock foi resgatado de maus-tratos?
Ouço os passos da sandália e a voz de Summer atrás de mim enquanto tomo um copo de
água na sala de administração. É uma sala pequena que uso sempre que estou aqui.
Apenas uma mesa com quatro cadeiras, um monitor para reuniões remotas e um espaço
com água e chás.
Viro-me para encontrá-la e seu rosto é de dor.
Não contei porque sabia que ela ia ficar assim. Os dois, de repente, têm uma ligação que
nem eu e nem Manfred, a segunda pessoa de quem aquele safado mais gostava, conseguimos
explicar.
— Porque o passado está onde tem de estar, lá atrás. Hoje ele é bem-cuidado, é amado, e
é o que importa, Summer. — Jogo o copo descartável no lixo e volto a atenção para ela.
— Não é justo isso. Meu Deus… O Dock. — Dou uma risada, porque acho bonitinho
para caralho quando ela o chama assim. E aí eu me pergunto como não me encantar por Summer
Campbell. — Não ri. Eu estou triste, Savard. É sério.
— Sei que está. Não ri por mal. Acho legal o apelido que você deu para ele.
Um meio sorriso sobe em seu rosto bonito e Summer fica corada.
Eu adoraria saber se é assim que ela também fica depois de um sexo suado e gostoso.
— Vocês dois foram incríveis na entrevista. Tenho dó do Logan às vezes por ter que lidar
com as maluquices do Jackson, mas nunca conheci alguém tão bom em contornar situações
desastrosas como ele — muda completamente de assunto.
Acho que a encarei demais.
Já passei da fase de me controlar como deveria.
— Logan realmente é um cara como poucos.
— Você deveria tê-lo contrat… — O telefone de Summer toca e ela pega o aparelho,
pedindo desculpas e se virando para atender.
— Oi, Betty!… Saudades! Está tudo ótimo, e aí?… Não, não! Estou em Londres. Estava
em uma gravação com Savard… Como? Dois?… — a voz aumenta um pouco e eu sinto uma
felicidade genuína vinda dela. Summer vira-se para mim de uma vez só e abre um sorriso tão
intenso, que não faço a mínima ideia do que seja, mas tenho vontade de sorrir de volta para ela.
— Não acredito! É o terceiro em quase dois meses… — Ela não para de sorrir e eu nunca vi
Summer tão bonita como agora.
Agradece à mulher e encerra a ligação, parecendo engasgada.
Summer caminha de volta para perto de mim e então diz:
— Eu vendi dois quadros, Theo. Eu vendi dois quadros! Dois quadros.
De repente, Summer pula em mim, sem hesitar, e me abraça. Seguro seu corpo contra o
meu e ela tira os pés do chão. Sinto quando coloca as pernas longas em volta do meu quadril,
segurando-se em mim como se fosse algo comum entre nós dois.
A verdade é que a sensação é justamente essa. Sinto que Summer, de qualquer forma,
teria que fazer parte da minha vida.
Imediatamente seu cheiro invade meu nariz e faz minha respiração falhar. Tudo em mim
deseja Summer Campbell.
Cada maldito pedaço em mim.
Fecho os olhos e deixo meu nariz correr por seus cabelos enquanto agarro sua cintura
com força, fazendo-a sentir-se segura. Ela mexe a cabeça e faz o rosto chegar até o meu.
Consigo sentir seu peito subindo e descendo à medida que sua respiração falha como a
minha. Seu hálito fresco batendo na minha boca, fazendo-me pensar que não tenho mais para
onde correr.
Mantenho Summer presa em mim apenas com uma mão, enquanto levo a outra até seu
rosto, já que os cabelos caem por cima dos seus olhos e eu quero vê-los agora.
Summer Campbell é como um sol.
Ilumina tudo em volta dela.
É como a vejo agora.
Com sua bondade ao se compadecer de Paddock por ter sofrido na mão de pessoas cruéis.
Por se emocionar com a minha escolha de ser pai de uma criança órfã.
Por ter vergonha, mas dar seu melhor em uma dança boba de rede social só porque eu
disse que não faria sem ela.
Com sua genuína felicidade por saber que aquilo que nasce em sua alma, e ela transforma
em pinturas, toca mais pessoas do que realmente acredita poder tocar.
Summer Campbell irradia amor e entrega em tudo o que faz. E ela faz tudo brilhar.
Faz tudo ter vida. Faz tudo ser mais bonito.
Estou completamente rendido à doçura desta mulher.
E eu vou beijá-la. Vou beijar Summer Campbell porque não posso mais evitar. Não quero
mais evitar.
Afasto os fios que caem na sua bochecha até que minha mão escorrega devagar até
chegar ao seu pescoço. Summer fecha os olhos de um jeito tão sexy e delicado, que, porra, me
deixa completamente duro.
Meus dedos tomam sua nuca, que se arrepia, e um barulho sai da garganta de Campbell,
quando ela abre ligeiramente os lábios.
Que delícia, caralho!
— Summer? — alguém chama do lado de fora e então tudo se quebra.
Ela abre os olhos, os arregala e, de repente, já estamos longe um do outro. Desce tão
rápido do meu corpo que quase cai nos saltos.
Frustrado com Logan gritando pela minha assessora, ainda a ajudo para que fique de pé e
não se machuque.
— Estou indo! — responde alto, completamente perdida.
Tento respirar da forma correta, mas estou tão puto que tenho certeza de que acertaria um
soco no nariz do assessor de Jackson se pudesse.
Merda!
— Parabéns pelos quadros, Summer. Você merece — é o máximo que consigo dizer
agora.
Ela me olha ainda afetada, sem saber muito o que fazer, mas rapidamente pega o iPad e
começa a andar até a porta. Antes, um pouco confusa, olha em minha direção de novo e diz:
— Obrigada, Theo. E… me desculpa… por isso… — Abaixa os olhos e gira a maçaneta,
saindo em seguida.
E eu fico aqui, com vontade de quebrar alguma coisa e de gritar. Gritar até que meu peito
se esvazie dessa sensação que não consigo explicar.
Dou um murro fraco no tampo da mesa e me seguro nela com as duas mãos, falando para
mim mesmo todos os palavrões que eu conheço.
Summer Campbell vai ser minha completa ruína.
Capítulo 20 - Summer Campbell

MARÇO
SEMANAS DEPOIS
MONTE CARLO, MÔNACO

— Acabei de te enviar o valor do mês, Leen — digo para minha amiga, que está em uma
chamada de vídeo comigo.
Coloquei o telefone ao lado da tela que estou trabalhando desde que voltamos para
Mônaco.
Em breve estamos indo para a Austrália, depois de um GP disputadíssimo da Arábia
Saudita. Theo terminou em segundo dessa vez, o que o fez empatar com Sebastian; deixando a
mídia em êxtase, todos ansiosos por uma temporada que será disputada do começo ao fim.
Perfeccionista como é, o resultado não agradou ao meu chefe. Para descontar a
frustração, tem usado seu simulador por horas, a fim de abrir vantagem no próximo Grande
Prêmio.
Ainda não tive coragem de dizer para Savard que quero sair daqui. Aliás, não que eu
queira. Eu preciso.
Transar com ele piorou tudo drasticamente, porque estar perto de Theo o tempo inteiro
não está mais funcionando.
Não há um mísero dia em que eu não me lembre de tudo o que aconteceu naquele clube.
De como Theo me levou ao limite somente com os dedos, como sua boca suja me fez ansiar
ainda mais por ele dentro de mim, e, quando de fato aconteceu, nada poderia ter me preparado
para aquilo.
Foi duro, foi quente, foi safado… Foi tudo o que eu sonhei. É tudo com o que continuo
sonhando.
E aquele quase beijo no instituto fez meu coração parar de bater de mil formas diferentes.
No café, eu simplesmente o ignorei, porque não sabia como me comportar ao seu lado depois da
noite que tive com ele. Depois, já estava grudada nos seus braços, comemorando a venda dos
meus quadros.
Eu nem pensei! Fiquei tão feliz que só fui. Eu só queria que alguém pudesse se sentir
feliz por mim como eu estava naquele momento. E, por fim, além de feliz, descobri que Savard
também estava com tesão. Seu pau duro não poderia dizer o contrário.
Um segundo a mais, só um segundo a mais, e eu o teria sentido outra vez, como tenho
estado completamente desesperada para sentir.
Não tive coragem de contar para Aileen, sendo assim, ter dado para meu chefe continua
sendo meu segredo. E só meu.
Isso está me matando!
Para Logan, dei o máximo de detalhes que pude da casa, disse sobre assistir aos casais na
sala voyeur, mas menti e falei que não consegui achar Theo lá dentro e que, provavelmente, ele
deveria estar com alguma mulher enquanto me distraía vendo outras pessoas transando. Foi o
que consegui inventar.
Pego a paleta outra vez enquanto escolho o laranja, misturando um pouco com o roxo
para fazer a transição de cores e criar o gradiente do céu. Estou tentando pintar a vista que tenho
do meu quarto à tarde. O cenário do pôr do sol? O Porto de Mônaco.
— Obrigada, sis — agradece enquanto está apoiada em cima do seu livro da Julia Quinn.
— Summie, eu tenho uma coisa para te contar.
Pincelo mais uma vez na minha tela e volto o olhar para o telefone.
— Ih, lá vem! Abre a boca logo, Aileen!
Ela bufa e respira fundo em seguida, fechando o livro.
— Eu terminei meu namoro. Quer dizer…, ele terminou comigo!
— O quê? Quando foi isso? — Paro com meu trabalho e fico exclusivamente com minha
amiga.
— Algumas semanas já.
— E por que você não me disse nada? — esbravejo.
— Eu não queria te preocupar aí do outro lado do mundo! Sei como você é. — Ela brinca
de ajeitar os cabelos vermelhos no rabo de cavalo perfeito. Um jeito Aileen de tentar disfarçar
algo que ela precisa dizer.
— Quando foi exatamente? — Ela para e pensa, mordendo o lábio inferior. — Anda,
Aileen!
— Ai, tá bom! Naquele fim de semana que o Alex passou aqui em casa.
O quê?
— Foi por causa do meu irmão?
— Ah, não necessariamente.
Foi por causa do meu irmão.
— Alex fez alguma coisa de que Max não gostou?
— Além de existir e ser bonito? Não.
Ai, meu Deus…
— Sinto muito, Leen. — Puxo o banco que deixei ao lado da tela e me sento. — Não
sabia que ele era ciumento assim. Se soubesse, não teria deixado Alex ficar aí.
— Você nem Alexander têm culpa de nada, Summie. Pelo visto, eu é que tenho o dedo
podre para escolher namorados! — Por que é que Alex não me contou nada? — E, antes que
você vá atrás do seu irmão, saiba que fui eu quem implorei para que não te contasse nada.
E meu irmão não quebra promessas. Esse é o tipo de cara que Sara e Donald Campbell
criaram.
Deixo os ombros caírem porque, agora, eu só queria poder abraçá-la.
— Sinto muito não poder estar aí por você, amiga.
Aquele sorriso que eu amo surge logo em seguida.
— Fica tranquila. Não estou sozinha… Tenho passado as noites ou com Serkan Bolat, ou
com Jamie Fraser — cita os protagonistas de Sen Çal Kapimi e Outlander. Eu rio, porque é
exatamente o mesmo que eu tenho feito, já que não posso fazer o que eu realmente gostaria de
fazer: passar a noite na cama do meu chefe.
— Você anda muito bem acompanhada então!
— Eu estou bem, ok? Só te contei agora porque precisava estar tranquila antes de fazer
isso. Agora me sinto melhor sobre tudo o que aconteceu.
— Acredito em você. — Dou um sorriso para ela. — Em breve estaremos juntas, quando
formos ao GP do Canadá. Vou passar todo tempo que eu puder grudadinha em você!
— Não vejo a hora! — Ela ri largamente, o que deixa meu coração um pouco mais em
paz. — Preciso ir! Hoje tem clube do livro. Não esquece de me mandar foto da tela nova quando
acabar.
— Você vai ser a primeira a ver! — prometo a ela. — Eu te amo, Leen.
— Eu também te amo, Summie. — Acena antes de encerrar a ligação.
Fico ainda um tempo parada, olhando para a tela, antes de voltar a atenção para o
trabalho.
Passo as próximas duas horas pincelando o céu de Monte Carlo. A cor fica exatamente a
mesma de quando o sol está indo embora. Estamos nos aproximando da primavera e os tons por
aqui têm mudado aos poucos.
Depois de trabalhar bastante, largo meus materiais no canto que separei para eles dentro
do quarto e vou para a cama com meu iPad assistir ao episódio de Sen Çal Kapimi.
É hoje que Serkan vai atrás da Eda, finalmente, e assumir que é apaixonado por ela.
Enfim, as fãs de haters to lovers sendo agraciadas com o momento do lovers.
Ouço pequenos passinhos pela casa e assisto ao exato momento em que Paddock aparece
na minha porta, ficando paradinho esperando que eu abra.
Começo a rir e vou até lá.
— Oi, amigão! Vem cá.
Ele nem me espera terminar de falar e entra correndo, pulando na minha cama.
Tem sido assim todas as noites, e eu amo sua companhia.
— Você é como Sirius do Serkan, Paddock — falo do cachorro do protagonista da novela
turca. — Só gosta de quem gosta de você, não é? — Passo a mão na sua cabecinha e ele gosta.
Nos enfio debaixo das cobertas, mas, antes de colocar o episódio para rodar, olho para o
cachorro de Savard e digo:
— Sinto muito por tudo o que você passou, meu amor. — Meu coração não para de doer
desde que descobri tudo o que Paddock viveu antes de encontrar o amor de Theo.
Isso é tão cruel, meu Deus.
Os olhos do cocker spaniel inglês brilham e ele suspira, aconchegando-se mais em mim.
Que sorte a de Savard por ser escolhido para cuidar desse meninão!
Coloco, enfim, Sen Çal Kapimi para rodar e, meia hora de sofrimento depois, assistimos
ao tão sonhado beijo.
— Aiiiiii. — Meus olhos se enchem de lágrimas enquanto começo a rir. — Está vendo a
miséria que é a vida de fã de dizi turca, Dock? A gente vive morrendo esperando por um beijinho
só!
E, como se me entendesse, o safado me dá uma lambida no rosto. Gargalho e o aperto
contra mim.
— Fala se esse homem não é a coisa mais linda do mundo? Quer dizer, depois do seu pai.
Estou tão desesperada que começo a desabafar com o cachorro de Savard.
— Eu não consigo esquecer Savard. O que é que eu faço? Eu não devia ter feito o que eu
fiz.
Seus olhinhos prestam atenção em mim e eu beijo sua testa, pausando a novela e me
afundando mais na cama. É difícil demais andar com ele o dia todo e fingir que nada aconteceu,
porque tudo que eu sonho é ter mais daquilo novamente. Tudo, do começo ao fim. Eu quero tudo
de novo!
Brinco com as orelhas de Paddock e suspiro, dando-me conta pela milésima vez da merda
em que me coloquei.
O sorriso de Savard me desperta coisas que não deveria, porque agora sei como ele sorri
quando fode.
Olhar para os seus dedos grandes agora me faz suar, porque eu sei exatamente como ele
sabe usá-los com destreza. Quando vejo sua boca formando um “o”, só consigo pensar em como
ela ficaria perfeita se estivesse no meu seio novamente. E quando ele usa uma roupa preta, só
consigo imaginar que ela ficaria ainda melhor aos seus pés, quando eu mesma tirasse peça por
peça. E beijasse seu peitoral, sua barriga…, tomasse seu pau na minha boca.
— Deus do céu… — falo alto para mim mesma e aperto o cãozinho um pouco mais. —
Não consigo parar de pensar besteiras com ele! Eu sou uma menina má.
Ele esfrega o focinho em mim, fazendo cócegas.
Beijo uma das suas orelhas e ele se ajeita para dormir na minha cama outra vez.
Abraço o cão de Savard e me afundo no travesseiro. Se não é o dono que vai dormir
comigo, pelo menos que seja o cachorro.

— Bom dia, bom dia! — Chego já vestida para minha corrida matinal em busca do meu
parceiro fitness: Manfred.
Quando estou por Monte Carlo, nós dois acordamos bem cedo e corremos pela cidade. Eu
e Leen adorávamos fazer isso, e ter um pouco da minha rotina de Toronto por aqui me deixa
feliz.
— Amiga, não me mata! — ele diz mexendo na geladeira. — Hoje não vou poder,
preciso ir ao mercado. Estão faltando coisas para o almoço do Sr. Savard.
— Ah, Manfred. — Faço minha melhor cara de desapontada. — Faz isso mais tarde!
— Não dá tempo, Sum. Preciso adiantar isso.
— É sério que você vai me deixar ir sozinha?
Ele deixou um iogurte com frutas preparado para mim dentro de uma tigela. Manfred
sabe que eu adoro.
Pego na bancada e começo a tomar, quando escuto:
— Eu vou com você, Campbell. — Olho para trás no exato momento em que Theo
atravessa a porta da cozinha.
Apesar da cara de quem acabou de acordar, Savard está vestido com calça de moletom,
camiseta sport, seu boné da McLean e tênis.
Lindo, só para variar.
Manfred sai de trás da porta da geladeira e diz:
— O senhor sabe que Charles está chegando para sua aula de personal, não é?
— Remarque para amanhã. — Ele passa ao meu lado e pega o outro pote idêntico ao
meu, tomando seu iogurte sem pressa. — Bom dia, Summer. — Meu chefe me encara por alguns
segundos e eu tenho quase certeza de que ele e seu secretário podem ouvir meu coração agora,
porque está completamente acelerado.
Manfred olha de Theo para mim e eu apenas balanço os ombros.
A esta altura, Manfred, por mais discreto que seja, já deve ter percebido meu interesse em
Savard. Isso deve ter aumentado depois que perguntei para ele por algum lugar bom e acessível
onde eu poderia morar em Monte Carlo e, educadamente, ele riu da minha coragem de lhe
perguntar algo assim, porque tudo aqui é uma verdadeira fortuna.
— Bom dia, Theo. Não precisa se incomodar. Você precisa do seu treino. — Além da
musculação, Savard faz exercícios específicos, como o fortalecimento do pescoço.
Esse tipo de exercício é feito por eles por causa das forças G, que eles enfrentam
constantemente durante as curvas, suportando até quatro ou cinco vezes o peso da cabeça em
cada uma delas. Como estão relacionadas à gravidade, induzem movimentos dos pilotos dentro
do carro, gerando tensões justamente no pescoço. É por isso que Savard e os companheiros de F1
têm essa parte do corpo tão larga.
Para mim, esse é só mais um dos charmes deste homem.
— Estou precisando respirar um ar puro. Vai ser bom. Vamos lá.
E eu estou completamente necessitada da sua boca na minha outra vez.
— Se prepara, porque o fôlego dessa mulher não acaba nunca.
O olhar que meu chefe me dispensa não me parece de alguém que está realmente
imaginando meu fôlego em uma corrida.
Desvio os olhos e volto a prestar atenção no iogurte.
É nítido que estamos evitando um ao outro o máximo que podemos. Talvez Savard esteja
de ressaca moral por ter cogitado realmente me beijar, e eu porque estou tentando lidar com tudo
da melhor forma que posso, mesmo falhando de um jeito miserável.
— Ok. Estou pronta, quando quiser, podemos ir. — Cedo, porque não há o que fazer.
— Nos vemos em breve, Manfred — despede-se do secretário e grita pelo cachorro. —
Vamos passear, Paddock!
De repente, o safado surge descendo as escadas na velocidade da luz e atravessa a
cozinha até chegar aos pés de Savard.
Apresso os passos e vou atrás dos dois.
— Quantos quilômetros você costuma correr? — pergunta enquanto pega a coleira de
Paddock do lado de fora da casa, no quintal.
— Três indo e três voltando. — Aproveito para ligar meu relógio.
Savard termina com o cachorro e faz carinho em sua cabeça, ficando de pé. Sorri na
minha direção e espera que eu tome a frente.
Saímos por Monte Carlo percorrendo as ruas ao lado um do outro, com Paddock nos
acompanhando no ritmo.
Algumas pessoas acenam para Savard, que sempre responde com educação e sorrisos,
mas sem perder a concentração.
Ele corre completamente focado, sem olhar para os lados. Já eu, vez ou outra, olho de
canto para dar uma espiada no meu chefe. Até de perfil, esse homem é bonito.
Ouço sua respiração pesada junto com a minha, enquanto nosso coração se acelera pelo
ritmo. Já Paddock está se divertindo muito, correndo cheio de fôlego.
Depois dos três quilômetros, paramos de frente para o Porto. É tanto barco e iate atracado
que até me sinto tonta.
Coloco as mãos nos joelhos e abaixo a cabeça, tentando respirar melhor. Ouço sua risada
e olho para cima, vendo Theo me encarar.
— Eu sei, Manfred exagerou. Ele quis dizer que eu tenho muito fôlego comparado a ele,
que corre um quilômetro e já quer voltar para casa.
— Mas você foi ótima. Seu tempo é muito bom. As pernas longas devem ajudar um
pouco também.
Ok. Theo repara nas minhas pernas.
Nota mental: usar mais saias e vestidos curtos. Nota mental 2: eu sou uma cretina safada.
Levanto o tronco e respiro pesado, rindo.
— Não ajudavam muito na ginástica artística, mas na corrida, realmente, é uma
vantagem.
Ele sorri, tentando controlar a própria respiração.
— E os quadros? Tem conseguido pintar um pouco?
Já disse que eu amo o quanto ele é preocupado com isso?
— Sim! Nas folgas, tenho me dedicado um pouco mais.
Vejo uma gota de suor escorrer por sua testa e ele limpa, antes de perguntar:
— E que dia você vai me deixar finalmente ver o que tem feito?
Nunca!
Principalmente o quadro secreto. Se há algo em que Savard jamais colocará os olhos é o
meu “projeto particular”. Resolvi pintar porque não quero me esquecer daquele dia nunca e eu
sei que, em algum momento, minha mente vai me trair fazendo-me perder os detalhes.
Pintar é uma forma de nunca deixar que morra.
— Eu já disse que tenho vergonha. Para com isso! — Dou uma risada e tiro os olhos dos
dele, encarando de novo os barcos dos milionários de Monte Carlo.
— Você ficou tão feliz aquele dia… — Meu coração está disparado agora e não tem nada
a ver com a corrida.
O beijo que não aconteceu.
— É raro vender meus quadros. — Encaro Pole outra vez para demonstrar que estou bem
sobre não termos avançado o sinal. Mesmo que isso seja uma mentira horrorosa. — Já são três
desde que comecei a trabalhar para você. Talvez eu realmente precise pensar sobre levar isso
mais a sério quando nosso contrato acabar.
Não estamos nem na metade do ano, mas a sensação que tenho é de que está voando e em
breve nós dois diremos adeus um ao outro.
— Minha proposta sobre o meu amigo está de pé. — Ele tira o boné da cabeça e balança
os cabelos molhados. Paddock late para ele e nós dois rimos. — Deixe que ele veja e então tome
a melhor decisão sobre sua carreira.
— Quero fazer um curso, me especializar um pouco mais na técnica. Preciso acreditar
que posso fazer isso além de diversão.
Ele arqueia uma sobrancelha e ri de lado, com um certo ar de ironia.
— Pintar deveria te dar tesão, Campbell. É o que sinto quando corro. — Ele volta o boné
para a cabeça, agora com a aba para trás.
Tesão é o que sinto por você, Theo Savard.
Muito tesão por você.
— Eu sinto! Claro que sinto — devolvo, arrumando o cabelo, que, com certeza, deve
estar todo bagunçado.
— Deixo a diversão para as coisas que me distraem, como jogar golfe, ouvir as músicas
de que eu gosto, viajar para lugares a que nunca fui, ir a shows com os meus sobrinhos… Quais
são seus tipos de diversão além de ler?
— Ver novela turca — sai mais rápido do que raciocino.
Savard me encara, achando graça.
— Novela turca?
Ninguém me entende!
— É, são conhecidas como dizi. Não são tão famosas pelo Canadá, mas foi uma amiga
brasileira que me apresentou, a Isa. Nos conhecemos na galeria onde estão os meus quadros.
Começamos a conversar e ela me contou que tem uma marca de roupa inspirada em uma das
produções mais famosas da Turquia, Sen Çal Kapimi. No Brasil, é uma febre. Eu não dei muita
bola, mas um dia estava à toa e resolvi colocar um episódio para ver. Nunca mais consegui
largar. É tipo uma praga aquilo. É como ver na TV os livros que eu gosto de ler.
— E que livros você gosta de ler, Summer? — Theo cruza os braços no peito largo e eu
suspiro, tentando não ficar reparando demais.
— Os que têm final feliz. — Dou de ombros como se fosse óbvio.
O sorriso disfarçado no seu rosto esculpido me faz cócegas no estômago.
— E não é o que todos queremos, afinal? É justo que seja do que você gosta. — Ele tira
os olhos de mim e encara o mar azul cristalino que está de frente para nós. — Eu tenho uma
coisa para você.
Diz assim, do nada. Ele tira a mão do bolso e saca o celular. Mexe por alguns segundos e
me entrega.
Quando olho, vejo o rosto de Taylor na tela.
Volto os olhos para ele outra vez, assustada, e ele fala:
— Aperta o play.
Seguro o aparelho tremendo um pouco e clico no vídeo.
“Ei, Summer!
Acabei de saber que você é uma grande fã. Vi também o vídeo que você e Theo fizeram
para as redes sociais. Eu amei aquela dança, garota. Você leva jeito. Não deixe que ele te fale o
contrário.”
O quê?
“Estou gravando este vídeo para te agradecer pelo carinho e dizer que você está mais do
que convidada para assistir aos shows da turnê do fim do ano. Vou te esperar lá!
Um beijo!”
Fico olhando para a tela por alguns segundos que não faço ideia se demoram ou não. Eu
estou petrificada no lugar, sem conseguir me mexer. Meus dedos tremem tanto que o celular
quase cai.
Sinto quando sua mão segura a minha e ele dá uma risada baixa.
— Somos amigos. Desculpa se eu não te contei isso antes. Ela ficou feliz em te dar um
oi.
Viro a cabeça para ele outra vez e inevitavelmente meus olhos se enchem de lágrimas.
Theo tem tanta coisa com que se preocupar e simplesmente fez com que Taylor Swift em
pessoa gastasse seu tempo raríssimo para dizer que sabe que eu existo.
— Eu não acredito que você fez isso. Que… — Olho de novo para o celular dele em
nossas mãos. — Theo…
Queria abraçá-lo. Queria me pendurar nele como fiz aquele dia no instituto, queria
esquecer por alguns segundos apenas que as coisas não são tão complicadas entre nós dois.
Queria dizer a Savard que, das formas mais simples e genuínas, ele me faz sentir especial.
Ele me faz sentir cuidada, querida.
Theo Savard me vê.
Ele me enxerga. Ele valida meus sonhos, minhas emoções.
Ele não acha nada do que eu faça uma besteira. Ele me respeita e se importa.
Ele se importa.
Ele me faz sentir que são certas todas as coisas que desperta dentro de mim.
Eu gosto de como meu coração bate em um compasso diferente quando é por ele.
E, ultimamente, é a única forma como tem batido.
— Me agradeça me convidando para ir ao show com você — Theo me tira dos
pensamentos e volta o boné para a frente, segurando mais forte a coleira de Paddock. — Pronta
para os três quilômetros de volta? — e como se não tivesse acabado de me dar um dos presentes
mais lindos que alguém poderia ter me dado na vida, ele quebra o momento.
E sei que não é por mal, estamos sendo vigiados por fotógrafos. Demonstrar minha
emoção fazendo qualquer coisa que possa nos prejudicar não seria inteligente.
— Pronta! E obrigada por isso. Você não sabe o quanto significa para mim. — Dou meu
melhor sorriso enquanto ele volta o telefone para o bolso.
Theo pisca para mim, de um jeito cúmplice.
Nos viramos e começamos a corrida imediatamente.
Paddock vem ao nosso lado, feliz, balançando o rabo peludo.
Coloco de volta os óculos escuros que estava usando antes apenas para disfarçar meus
olhos, que não podem esconder o quanto estou mexida.
O quanto estou ferrada.
Você não pode se apaixonar por Theo Savard, Summer.
Você não pode!
Capítulo 21 - Theo Savard

MAIO
MADRI, ESPANHA

Acabamos de gravar uma campanha para o patrocinador master da equipe, uma empresa
de seguros. Estamos aqui há dois dias e embarcaremos daqui mais dois para o GP de Emilia-
Romagna, na Itália.
Apesar de ser um grande amigo, Sebastian tornou-se uma bela pedra no meu sapato.
Ganhamos a mesma quantidade de corridas até aqui, três no total para cada um, o que está me
deixando completamente irritado. Não esperava um último ano tão apertado assim desde o
começo, mas é o que torna nosso esporte cheio de adrenalina e emoção.
É o que as pessoas desejam.
Coincidências ou não, Joshua está aqui em um congresso pela Savard, representando meu
irmão. Combinamos de almoçar uma típica paella, prato que adorávamos ajudar minha mãe a
preparar quando ele ainda era um molequinho.
Mark saiu para almoçar com Jackson e Logan, já que meu sobrinho e ele não se
suportam. Além do mais, acho que precisamos mesmo de um tempo a sós.
Assim que entro pela porta do restaurante, o maître vem até mim me cumprimentar e me
acompanha até a mesa, onde Josh fala ao telefone, dando uma golada em um copo de rum.
Quando me vê, desliga e fica logo de pé, dando-me um abraço apertado.
— Até que enfim! — brinca assim que nos soltamos.
Sorrio e bagunço seus cabelos, nosso jeito de dizer que estamos felizes por estarmos na
presença um do outro. Sento-me na cadeira de frente para ele e zombo:
— De irresponsável da família para representar o seu pai em uma conferência deste
tamanho… Como você o convenceu sobre isso?
Meu sobrinho ri enquanto toma um pouco mais da bebida dele. Peço ao garçom uma água
tônica.
— Nossa relação está melhor. Acho que meu pai percebeu que resolvi parar de brincar.
— Balança os ombros de forma tímida. — Estou trabalhando mais de doze horas por dia, tio. Eu
nem sabia que isso era possível.
— Como não, garoto? Você cresceu vendo seu avô sendo visitante na própria casa
porque vivia dia e noite naquela empresa.
Agradeço ao garçom que traz minha bebida e levanto meu copo para brindarmos. Joshua
toca o seu no meu e sorri.
— É… Acho que, na verdade, nunca olhei por essa perspectiva. Eu sentia falta do meu
pai quando era ele quem precisava se ausentar muito, mas acho que as centenas de presentes e
viagens acabavam compensando um pouco. Você também, de alguma forma.
Era uma época boa aquela, quando eu conseguia levar meu sobrinho comigo para as
competições que eu fazia. Nos divertimos bastante juntos.
— Nenhum presente, por mais caro que seja, compensa a ausência, Joshua. Você e eu
sabemos disso.
Ele não tem palavras para responder, por isso muda o assunto.
— Por que você não a trouxe?
Claro que iríamos falar de Summer.
— Não havia necessidade. Estou aqui com Mark. Ela pode tocar o que é necessário de
Monte Carlo.
E ela pediu para ficar. Manfred foi passar alguns dias na casa da família na Alemanha e
ela se dispôs a ficar com Paddock. Disse que precisa terminar algumas telas que levará para o
Canadá quando formos para o GP de Montreal.
— Me fala tudo, Theo! — Meu sobrinho debruça na mesa de madeira polida,
aproximando-se mais de mim. — Ela te fala das nossas coisas? Da nossa amizade? Algo de
quando namoramos? Agora ela é famosa, não é? Vocês dois dançando juntos na internet...
Nós dois já falamos sobre isso antes.
Confesso que naquela hora eu só queria divertir Summer, não pensei que seria uma coisa
que incomodaria meu sobrinho. E, por mais que ele não tenha utilizado essas palavras, sei que
foi exatamente o que aconteceu.
Balanço meu copo de tônica encarando as borbulhas que se formam.
— Quase não temos tempo, Josh. Summer tem trabalhado como o coitado do Carl não
trabalhou todos esses anos. Eu, treinado um pouco além do necessário, com Armstrong na minha
cola querendo levar esse título. Só posso te dizer que ela está bem, está feliz. É dedicada ao
trabalho, comprometida. Nas poucas vezes que tocou no seu nome, falou com respeito. E foi só
isso. Sobre a fama, não é algo que ela goste muito. Mas aquilo foi uma brincadeira, como outras
diversas que Carl e eu também aprontávamos.
Ele arqueia a sobrancelha, um pouco frustrado.
— Porra… — Dá um pequeno tapa na mesa antes de se jogar na cadeira de um jeito
desleixado. — Não é possível que ela realmente tenha me esquecido assim, tão rápido. Quem
supera um namoro desse jeito?
Molho a boca antes de responder.
— Joshua, o sentimento do outro é do outro. Não é coisa que a gente controla. Eu me
casei para morrer ao lado de Louise e olha só o que fizemos no mês passado. No nosso caso, foi
se desgastando, no de Summer, talvez, não era tão forte quanto ela pensava. Mas isso é sobre ela
e o que ela sente.
Meu divórcio foi como imaginei. Mais tranquilo, impossível. Na mídia, várias notas, mas
todas relatando as coisas como foram. Summer foi impecável nisso.
— Eu transo com outras mulheres imaginando que é ela que está ali. Que o grito é dela, o
corpo, o cheiro… — Ele suspira e dá um riso irônico.
Acredite, Joshua. Eu sei exatamente o que é isso.
Exatamente.
— Você não acha que é hora de ir viver sua vida independente do que Summer possa
decidir sobre vocês no futuro? Porque ela está vivendo a dela.
— Summer está fodendo com outros homens? É isso que você quer me dizer?
Está?
Eu não sei.
Mas deveria, já que eu sou covarde demais para fazer o que nós dois estamos querendo
há muito tempo. Uma mulher como ela não merece implorar por sexo. Summer simplesmente
deveria ter esse tipo de coisa disponível a hora que quisesse.
— Não sei da vida pessoal de Campbell, Josh. Ela é minha funcionária. O que faz fora do
expediente não é da minha conta.
Mas eu queria que fosse. Merda… Eu queria que fosse.
Ele passa a mão pelos cabelos, frustrado, meio puto, e bufa.
— O tal do clube que você e Jackson começaram a frequentar, tem alguma coisa assim
por aqui, não? Podíamos ir. Preciso transar, Theo. Preciso parar de pensar que Summer está
dando para alguém. Isso é demais para mim.
Essa é uma merda de uma hipocrisia.
Ele está fodendo com um tanto de mulher, traiu Summer bem antes dela sequer pensar
em terminar e a garota não pode transar?
Que merda de cabeça é essa que Josh tem, caralho?
Voltando ao clube, não vou lá desde a vez que transei com a Sunshine. Marquei umas
duas ou três vezes com Mark e Jackson, mas no fim dei para trás. Não adianta querer transar com
outras mulheres se quem eu quero e preciso está na porta ao fim do corredor do meu quarto.
Summer virou rotina nos meus pensamentos enquanto tomo banho, estou deitado para
dormir ou volto da corrida direto para o meu motorhome.
É só dela que preciso, não de desconhecidas. Isso já não funciona mais.
— Dei um tempo dessas coisas — tento responder o mais imparcial possível.
— Como assim, tio? Não está mais transando? — Ele ri.
— Algo do tipo.
— Que merda é essa? — Fica curioso.
Estou morrendo de tesão pela sua ex-namorada. Isso é a merda.
— Estou interessado em uma pessoa, estava indo ao clube por motivos errados. Agora
preciso me dar um tempo para pensar direito sobre isso.
— Você está apaixonado, Theo Savard?
— Eu disse interessado — enfatizo.
— Todo mundo sabe que você é todo certinho. Interesse para você significa estar de
quatro. — Ele acha divertido e se aproxima outra vez. — Anda, me fala quem é!
Nem se me torturassem.
— Alguém dos bastidores, você não conhece.
— Me diga o nome, que eu procuro, caralho!
— Deixa de ser fofoqueiro, moleque. — Olho meu telefone, que apita um e-mail. — Não
vou falar quem é.
— Por quê? — O brilho que vejo nos olhos do meu sobrinho agora jamais seria o mesmo
se eu contasse a verdade.
— Porque ela já esteve envolvida com alguém do meu convívio, e eu respeito isso. —
Termino minha tônica e peço outra.
O garçom aproveita para nos dizer que a paella chegará em cinco minutos.
— Tá, mas e daí? — questiona. — Esteve, não está mais, certo? Se você está solteiro e
ela também, qual é o problema, tio?
Você, porra! Você é o caralho do meu problema, Josh.
Minha lealdade. Meu compromisso com a nossa história.
Se não fosse isso e Logan, eu teria beijado sua ex no meu instituto, arrancado sua roupa
ali mesmo e fodido Summer em cima da minha mesa com toda a fome que estou sentindo por
ela.
— Você acha fácil assim? De verdade?
Ele me encara com seus olhos castanho-esverdeados, como os da mãe, e diz que sim.
— A vida é uma só, porra. Vai trepar! Ela quer?
— Eu espero que sim. — Tamborilo os dedos na mesa.
— Eu não sei por que motivo, justo eu, estou aqui te dando um conselho desses. Para
mim, parece tão óbvio. — O sorriso de Josh sobe, se divertindo com meu impasse.
— Talvez eu realmente tenha me tornado um velho idiota, quem sabe? — Levanto meu
copo em um sinal de “vamos brindar a isso”.
Ele gargalha no momento em que o prato chega.
— Pelo menos me fala: como ela é?
— É a mulher mais bonita na qual eu já pus a porra dos meus olhos.
Admito.
É exatamente o que sinto quando penso em Summer Campbell.
— Eu conheço essa sensação… — Sorri de lado e mexe no cabelo bagunçado feito o
meu. — Só vou sossegar quando meu telefone tocar e você me falar que fodeu essa mulher por
uma noite inteira. Vou te infernizar bastante até lá, Pole. Acredite.
Você não sabe o que está falando, Joshua. Você não faz a mínima ideia do que está
falando.
A próxima hora é regada a comida espanhola, mais bebidas e aquela sensação boa de
sempre ao estar com meu melhor amigo, mesmo sabendo que, no fim das contas, provavelmente
vou chateá-lo em algum momento.
Vou quebrar a boa regra que diz que amigos não “mexem” nas gavetas uns dos outros.
Porque a verdade é que já estou com a mão nesse puxador há muito tempo.
Acho que não há mais como voltar atrás.

Com as gravações finalizadas antes do previsto, Mark e eu resolvemos voltar à tarde


mesmo para Monte Carlo.
Já no carro, saindo de Nice, nós dois jogamos conversa fora e ele me atualiza de alguns
contratos que está negociando renovação.
— Vamos para a La Rascasse. Hoje é por minha conta — sei que está dizendo isso
porque renovamos com a Nike.
Ele quer comemorar.
— Podemos fazer isso na Itália, não podemos? Estou cansado pra caralho.
Meu empresário revira os olhos e me devolve:
— Puta que pariu, Savard, o que está acontecendo com você? Parece um velho babão.
Não sai mais para transar, não sai mais para dançar, não sai para comemorar contrato. Você tem
quarenta anos, não é setenta.
— Eu tenho direito de querer descansar, cacete! — Vejo o motorista parar na porta do
prédio dele. — Você só fica aqui orquestrando as merdas, quem dá no duro mesmo sou eu. Estou
exausto, Lee. Não fique esperando que este ano vou ser louco e inconsequente feito Jackson. Eu
tenho um campeonato para ganhar, o último da minha vida. Você, inclusive, deveria ser o
primeiro a me apoiar nisso.
Ele para por alguns segundos antes de descer e balança a cabeça.
— Velho. Vai embora dormir. Vou comer duas bocetas hoje, uma por mim e outra por
você. Sexo por osmose, será que existe isso? Se sim, vou te fazer um favor, porque é isso que
você está precisando, de uma boceta que te deixe de bom humor. Até amanhã.
Bate a porta atrás dele e eu dou graças a Deus que estou livre da falação de Mark, pelo
menos até amanhã na hora do almoço, quando ele vai chegar com a cara inchada de tanta bebida
e por ter virado a noite com alguma mulher qualquer.
Cinco minutos depois e já estou entrando em casa. Não avisei a Summer que voltaria
porque não vi necessidade. Pensei que, se avisasse, poderia deixá-la um pouco tensa pensando
que deveria cuidar das minhas coisas, mas quis que ela aproveitasse o seu tempo para a sua arte.
Quando estamos em Londres, ela sempre dá um jeito de ir até a loja que encontrou para
comprar mais suprimentos e, desde que veio trabalhar comigo, o último mês foi quando falou
mais abertamente dos seus quadros, e ela fica infinitamente mais bonita quando fala disso.
Tiro os sapatos na entrada e entro de meias. Largo a bolsa de viagem na sala mesmo e
passo pela cozinha, abrindo a geladeira e dando uma olhada. Manfred deixou as refeições todas
prontas e etiquetadas por dia. Não temos nada para hoje, porque na teoria eu não deveria estar
aqui, então decido que vou cozinhar uma massa rápida e usar um molho que ele deixou no
congelador.
Ouço um som de música vindo do andar de cima. Parece que Summer abriu a porta do
quarto. Resolvo largar as coisas da comida na ilha da cozinha e vou devagar rumo à escada da
sala. Talvez ela esteja com fome e queira me acompanhar.
Subo de dois em dois degraus até chegar à altura do andar, de onde vejo a entrada do seu
quarto. Paddock está deitado em sua cama, olhando em direção a algo.
O som que sai do seu quarto eu conheço. É Taylor.
De repente, vejo Summer aparecer no meu campo de visão. Ela está descalça, uma
camisa cinza enorme no corpo, que parece fazer de vestido. Os cabelos presos no alto da cabeça,
bagunçados, segurando uma paleta com muitas tintas, e um pincel na outra mão.
Summer está pintando.
A curiosidade me faz ficar mudo. Sei que ela não gosta que a observem pintar, mas
confesso que gostaria muito de ver isso.
Minha assessora está sorrindo, feliz, e aponta o pincel sujo em direção ao meu cachorro,
cantando com Taylor:
“Cause karma is my boyfriend, karma is a god. Karma is the breeze in my hair on the
weekend. Karma's a relaxing thought. Aren't you envious that for you it's not?”
As pernas longas de fora se balançam enquanto ela se diverte ao som da música. De
repente some de novo, então saio da escada e dou mais alguns passos na direção do quarto, para
ampliar o que meus olhos conseguem ver.
Vejo uma perna do cavalete armado com uma tela que já não é mais branca. Vejo cores
como preto, cinza e vermelho espalhadas por ela. Dou mais dois passos e observo-a de costas,
compenetrada com o pincel deslizando pela tela, sem pressa.
Ela ainda cantarola o restante da canção, balançando a bunda redonda de um lado para o
outro. Respiro fundo e seguro a boca, impedindo que algum barulho saia de dentro da minha
garganta.
Como é linda. Cacete…
Quando dá dois passos para trás, coloca a ponta do pincel na boca, como quem quer
admirar o que está fazendo.
Summer coloca a mão, agora desocupada, na cintura. Mais três passos e estou quase
dentro do seu quarto. Para que Paddock não me entregue, encosto no batente do lado ao
contrário.
Cruzo os braços e fico aqui, parado, apenas observando a beleza que é Summer Campbell
sendo o que ama ser.
Ela se afasta da tela, aproximando-se de um banco alto ao lado, cheio de tubos. E então
meus olhos caem em sua obra.
Ela é escura, e tem um homem ao centro.
Um homem de cabelos negros, roupa preta, usando uma máscara.
Ao redor dele, pétalas de rosas vermelhas voam para todos os lados, trazendo a única cor
viva que a tela tem.
E, de repente, meu coração bate tão rápido que tenho a sensação de estar a trezentos por
hora dentro de um circuito.
Como uma chuva, as lembranças caem sobre mim tão rápido que é difícil de raciocinar.
Eu sei quem é esse homem. Eu sei que pétalas são essas.
Eu mesmo as mandei pelo ar com as minhas próprias mãos. Mãos que tocaram uma pele
macia e uma boceta encharcada antes e depois disso.
Aqueles olhos… Aquela boca.
Aquela voz.
Porra. Sou eu ali, merda.
Sou eu!
— Sunshine?
Minha voz sai mais alta, por cima da música, no exato momento em que Summer se vira
assustada em minha direção e Paddock late por descobrir minha presença.
Ela deixa a paleta cair no chão e dá um passo para trás, completamente assustada.
Os olhos de Campbell olham de mim para a tela, enquanto o cão vem correndo na minha
direção, pulando na minha perna.
Um caos se instala junto com a voz de Taylor, que não para de cantar enquanto entendo
de uma vez por todas, sem a menor sombra de dúvidas, o que aconteceu:
Eu fodi Summer Campbell.
Capítulo 22 - Summer Campbell

Escuto o exato momento em que minha paleta bate contra o chão e, em seguida, tudo vira
uma verdadeira bagunça.
Ele está aqui.
Theo Savard está aqui, na porta do meu quarto, olhando para a minha cara… e para o
meu quadro.
Ele não voltaria amanhã, caralho?
Quando dá alguns passos para dentro do quarto, eu congelo no lugar.
Minha respiração fica fraca e preciso contar até dez para não desmaiar.
Meu Deus. Meu Deus. Meu Deus.
Ele me chamou de Sunshine.
Theo para de frente para a tela e observa com cuidado cada detalhe dela.
É ele.
É meu chefe, todo de preto, mascarado, e as pétalas que ele espalhou pelo ar.
Nossa cena de filme particular.
Venho pintando esse quadro há quase um mês. Trabalhei em cada pequeno detalhe que
minha mente me entregou de presente. Assim, eu guardaria aquele dia comigo para sempre.
Mas, agora, Theo sabe que eu sou a mulher com quem ele esteve.
A mulher com quem transou.
— Como eu não percebi? — pergunta um pouco incrédulo, olhando outra vez entre mim
e a pintura.
Além de perder o emprego, vou perder um amigo, já que Logan, com certeza, vai se foder
junto comigo.
Isso não pode estar acontecendo.
Não consigo responder. As palavras estão aqui, na ponta da língua, mas não consigo fazer
com que saiam.
Theo agora deixa minha tela de lado e se concentra somente em mim. E, quanto mais
perto ele chega, mais as sensações de déjà-vu me tomam.
Foi assim que ele veio até a mim aquele dia depois de tirar o terno e me dizer que, a partir
dali, era eu quem mandava.
— Era você, Summer. — O jeito como Savard está me olhando agora deveria ser
proibido, porque está me deixando com tesão enquanto deveria me deixar apenas apavorada.
É um olhar pesado, lascivo, indecente.
É quente.
Theo está a centímetros do meu rosto agora. Ele observa com cuidado todos os meus
traços. Não sei mais como respirar, porque o ar abandona os meus pulmões.
A presença de Savard torna-se tão intimidadora que minhas pernas fraquejam. Em
segundos, estou em seus braços.
Minhas mãos se seguram desesperadas nos braços torneados e os rostos se encontram.
— Me deixe te ouvir dizer que era você. Fala para mim, Summer, diga que era você —
sua voz já não é mais a de Theo Savard, o rei das pistas de F1.
Agora, ele tem a postura e a voz de um predador, ansiosíssimo para atacar sem nenhuma
piedade a presa.
— Era eu — assumo, porque não tenho mais para onde fugir.
Seus olhos se fecham por alguns instantes e, quando se abrem outra vez, estão tomados
por fogo e um desejo visceral.
— Deus… — Parece sofrer enquanto o peito sobe e desce rápido demais. — Eu não
quero nem saber como você foi parar lá dentro, garota. Não me conte. — As mãos enormes do
piloto me apertam contra o seu corpo e seu pênis ereto pressionando minha coxa faz meu coração
quase parar de bater. — Você foi na intenção de foder com outros homens, Campbell? Quando
trocou aquela rosa… — ele rosna e pragueja, olhando-me com raiva. — Me diga o que você
estava fazendo naquele lugar, caralho! Você sabia o tempo todo que era eu?
Sua boca bonita demais falando palavrão acaba de se tornar uma das minhas coisas
preferidas da vida. A forma sacana com que Savard fala quando está com tesão é uma grande
perdição.
— O tempo todo — afirmo. — Eu só fui para ver. Eu tinha curiosidade de saber o que é
que você tanto fazia quando saía sem dizer para onde ia… Eu não queria foder com ninguém,
quer dizer… — Encaro Savard e digo de uma vez só. — Eu te vi com aquela mulher. Eu vi como
vocês dois conversavam perto demais um do outro. Só achei que, se você tinha direito de transar
com alguém, eu também tinha. — Sacudo os ombros. — Mas eu queria mesmo era foder com
você.
Já que me enfiei completamente debaixo da chuva, só saio daqui encharcada.
Ele grunhe no mesmo momento em que anda comigo até a parede mais próxima e
encosta meu corpo ali, com força, obrigando minhas pernas a se abrirem enquanto sua coxa fica
entre as duas. Minha calcinha de algodão entra em atrito com o tecido do seu jeans.
— Você quer me matar, não é? Você quer acabar comigo. E, olha, você está
conseguindo, porra. Você entrou na minha mente e não há a merda que eu possa fazer para que
saia. Tem noção do martírio que estou vivendo, Campbell? — e, como se precisasse de algo em
mim para poder sobreviver, Savard lambe meu pescoço, mordiscando o final dele. Minhas mãos
se agarram nos seus cabelos e minha boca se abre para que o gemido que nasce no meu peito
saia. — Era para foder Sunshine e te esquecer, mas, cacete, era você. Aquela boceta gostosa dos
infernos é a sua, Summer.
Não acredito que Theo Savard está assumindo que está mesmo maluco por mim como
estou por ele.
Eu não acredito. Eu não acredito.
Eu não acredito!
— Não posso te pedir desculpas por isso… — sussurro, tentando manter um pouco de
dignidade enquanto, por dentro, estou dando um duplo twist carpado. — Eu não me arrependo.
— Começo a tremer descontroladamente, e Theo respira forte e muito rápido perto do meu
ouvido, passando o nariz pelos meus cabelos, como que querendo guardar para ele o meu cheiro.
— Eu queria você dentro de mim, Savard.
— Porra! — grita e esfrega a perna na minha boceta. — Repete essa merda para mim,
vai. Fala de novo, com essas mesmas palavras.
— Queria você dentro de mim — dou ao homem o que ele quer.
Uma de suas mãos vai até o meu cabelo e faz uma espécie de rabo. Ele puxa com força
em seguida, deixando minha boca completamente a sua disposição.
— Você tem noção do quanto isso é perigoso e errado, não tem? — O jeito bruto de Theo
está me deixando completamente molhada. Ele olha da minha boca para os meus olhos repetidas
vezes, de um jeito animalesco. — Eu sou o tio do seu ex-namorado. Você trabalha para mim. Eu
não deveria querer você como ando querendo, Summer.
— A gente não deve nada para Josh e… — Molho os lábios com a língua, porque estão
secos demais. — Ele não precisa saber. Ninguém precisa saber.
Meu chefe nega com a cabeça, em uma mistura que vai do desejo à dor.
— Você sabe que, para mim, não é assim. Eu sou o tio dele, somos melhores amigos. Ao
contrário de vocês dois, não tenho como desfazer nossa relação. — Savard cola a testa na minha
e fecha os olhos, mas continua falando. — Eu sei que ele não é o cara certo para você, mesmo
que ele queira que eu pense o contrário. Mas quer saber de uma coisa, Summer Campbell? —
Abre os olhos e me encara de um jeito tão safado... Cristo! — Hoje, vou ser a porra do canalha
que eu não deveria ser.
Sua língua agora lambe meu queixo e o morde em seguida. Meu gemido abafado faz com
que eu feche os olhos de tanto tesão.
— Quero sexo com você, Savard, como fizemos naquele clube. Não há nada que Josh
possa fazer que me convença de voltar atrás. Não importa o que aconteça depois daqui, ele
continuará a não ser uma opção.
Pole passa a barba pelo meu rosto várias vezes, deixando-me completamente arrepiada,
ao mesmo tempo que solta alguns palavrões entre os dentes.
— Preciso saber como você goza olhando de verdade para você — quando me diz
sussurrando, aperto as pernas na sua coxa e me esfrego forte. — Sem máscara, sem rosas. Sem
codinomes. Preciso te foder enquanto você grita o meu nome. — Minha respiração sai
completamente errática dos pulmões. — Não consigo lidar com a minha consciência hoje. Que
vá para o Inferno! — a voz aumenta quando ele sabe que não pode mais controlar o que quer.
Porque eu também quero. Eu quero mais que tudo! — Hoje, Summer Campbell, você e sua
boceta são minhas. Só hoje.
— Sim, só hoje!
Não faço ideia do que estou falando.
Se o que Savard precisa é que eu concorde que não vamos fazer mais nada depois de
hoje, desde que ele faça alguma coisa nos próximos minutos, é isso que darei a ele.
E como se soubesse que não precisa de uma resposta, porque sabe exatamente que tudo o
que eu quero é que se afunde a noite inteira dentro de mim, Theo puxa minha boca na direção da
sua. Eu me derreto exatamente no momento em que, sem pressa alguma, ele me tortura apenas
encostando os lábios nos meus, roçando a boca em mim, bem devagar, de olhos abertos,
observando minha reação.
Com tranquilidade, seus dentes se prendem no meu lábio inferior e, à medida que ele
morde, passa a ponta da língua por ele inteiro e depois puxa, não consigo segurar o gemido. Em
seguida, sou tomada pelo beijo mais avassalador que recebi em toda a minha vida.
O jeito como tudo em nós dois me parece familiar demais soa perigoso, porque estamos
em um acordo verbal de que, quando esta noite acabar, não haverá o depois.
Ele me vira e começa a andar de volta para perto da minha cama. Ouço seus pés batendo
na minha paleta e nos meus pincéis, e Paddock late. A contragosto, soltamos a boca um do outro
e ele olha para a porta.
— Amigão, para o quarto.
E, como se entendesse que não pode ficar aqui, o cão dá meia-volta, indo em direção ao
quarto de Theo. Sem esperar muito, sinto o calor das suas palmas mergulhando por baixo da
minha blusa velha e suja de tinta. Quando encontram a minha calcinha, puxam com violência a
peça para baixo, fazendo com que caia nos meus pés.
Assim que os mexo rápido para que saia completamente do meu corpo, Theo me empurra
sentada na beirada da cama. Apoio as mãos atrás do corpo e ele agarra a barra da minha blusa,
subindo-a até a minha barriga.
Quando olha diretamente para a minha boceta molhada e pronta, fecha os olhos e sacode
a cabeça, dizendo algumas palavras em uma língua que eu acredito ser espanhol.
Savard se aproxima mais e ajoelha na minha frente, parecendo bêbado de tanto tesão,
pedindo:
— Abre bem essas pernas para mim, Summer — e como se suas palavras fossem duas
cordas amarradas nos meus pés, puxando cada uma para cada lado, abro-as, ficando
completamente exposta para o meu chefe. Ele me olha com esses olhos negros, sedentos e diz
sem nenhuma sutileza: — Vou finalmente saber o gosto que essa boceta tem.
Antes mesmo que eu possa me preparar, Theo abaixa a cabeça e toma minha carne
encharcada entre os lábios.
— Oh, meu Deus — solto sem me dar conta de que falei mais alto do que pretendia,
porque a forma como a língua de Savard me chupa exatamente no ponto certo já me deixa a beira
do limite.
E ele nem começou ainda!
Suas mãos enormes agarram minhas coxas e me puxam mais para a beirada da minha
cama, fazendo o encaixe perfeito entre sua cabeça e o meio das minhas pernas. Agarro os cabelos
dele e puxo numa mistura de tesão com completo desespero.
Naquele dia ele me fez gozar primeiro nos seus dedos, hoje vai ser com a sua boca.
Sua barba raspa pela minha pele sensível e eu arfo, revirando os olhos.
— Theo, pelo amor de Deus. — Os lábios sugam e a língua serpenteia pela minha boceta
todinha.
De baixo para cima, para exatamente onde preciso que esteja.
Minha mão sobe por dentro da minha camisa e agarra meu seio deixando-o exposto.
Massageio e puxo o bico.
Encarando-me, ele não alivia para mim.
— Vou gozar na sua boca desse jeito — afirmo, porque não vai demorar.
Isso deixa o homem ainda mais safado.
— Eu quero tudo o que você tem pra me dar, Summer. Só temos essa noite, então vamos
fazer valer a pena. Goza na minha língua, me deixa sentir o mel da sua bocetinha.
Eu amo como a boca dele é suja, Deus do céu!
Começo a rebolar os quadris nos seus lábios e a gemer alto. Theo rosna quando me ouve,
chupando faminto, deixando-me quase em queda livre.
— Geme, Campbell. Enche essa casa com seus gritos. — Ele lambe rápido meu clítoris e
me olha de um jeito tão safado que solto outro grito. — Me deixa ouvir o quanto você gosta da
minha boca te chupando inteira.
— Não para — minha voz sai Manhosa e arrastada.
Obedecendo, dedica-se por minutos que quase me parecem horas. A língua brinca na
minha entrada, me fodendo, e eu tombo a cabeça para trás, enchendo meu quarto e a mansão de
Theo Savard com minha histeria. Meu corpo começa a se contorcer e todo o resto é uma
sucessão dos meus gritos com gemidos de Savard, e sua língua me proporcionando um orgasmo
delicioso, que me toma desde os pés até a nuca.
— Puta que pariu! Theo… — eu xingo e ele continua lambendo, chupando cada gota que
escorre para a sua boca.
Meu corpo sente os espasmos e ele busca no fundo da minha boceta tudo o que quer, sem
o menor tipo de pressa. Quando tira a boca de mim, deixa ver sua barba melada, os lábios
brilhando e o tesão estampado nos olhos.
— Você tem a porra da boceta mais gostosa que eu já provei, Campbell. Que delícia. —
Sem me dar tempo de respirar, Savard se levanta e avança em cima de mim.
O choque dos corpos faz com que eu me deite completamente no colchão e o peso dele
me parece tão familiar que imediatamente o meu o reconhece. A boca do meu chefe vem de
encontro a minha e sinto o gosto do meu sexo nos seus lábios e sua língua.
Isso me dá um tesão absurdo.
Ainda sem conseguir respirar direito, sua boca faz amor com a minha. O jeito como se
encaixam e nossos lábios deslizam faz meu peito errar uma batida.
Parecem exatamente feitas uma para a outra.
Puxo-o pela camisa, querendo mais e tudo desse homem. Savard prende minha língua
entre os dentes e chupa, o que me deixa completamente entorpecida. Pole position sabe beijar,
sabe chupar, sabe foder como ninguém.
Que mentira foi essa que contei de que sei que isso acaba hoje e aqui?
Ele para nosso beijo devagar e diz com os lábios encostados nos meus: — Tira essa blusa
para mim. Quero te comer pelada.
— Me dá seu pau na boca antes, por favor! — Se essa é a única chance que terei de ter
Theo, então eu preciso de tudo.
Ele se levanta devagar sem parar de me admirar um segundo sequer. Mantenho as pernas
abertas, porque quero que ele veja como me deixou. Savard abre o botão da calça jeans,
deixando à mostra sua cueca preta. Quando puxa seu pau para fora, ele bate em sua barriga,
enorme, grosso, duro feito rocha.
Minha boca saliva. E então ele diz:
— Vem cá, vem?
Theo Savard

Nunca vi uma mulher com a cara tão safada para vir chupar um pau.
Summer vem como uma gata no cio, de quatro na cama. Depois de ter chupado a boceta
mais doce da minha vida inteira, não sei que argumentos vou precisar usar para que minha
cabeça entenda que não haverá depois, porque não pode haver.
Eu nem me enfiei nela ainda e já estou sofrendo por saber que não estarei dentro dela
outra vez.
Summer resolve ficar ajoelhada de frente para mim, no chão, segurando meu pau pela
base e me olhando como quem quer obedecer.
Que gostosa do caralho! Puta merda.
— Chupa esse cacete, Summer.
Ela começa a me tocar antes de, finalmente, me levar à boca e, no momento em que isso
acontece, solto um gemido rouco.
— Ah, merda! — Agarro um punhado dos seus cabelos e seguro com força.
Summer geme com meu pau entre os lábios e começa a mamar feito uma vadia.
Não consigo decidir qual é a cena mais bonita dessa mulher: ela gozando na minha língua
ou me chupando feito a safada que é.
Empurro meu pau contra sua boca e Summer chupa com vontade, recebendo o máximo
que pode dentro dela, abrindo sua garganta para mim. Vejo quando as lágrimas escorrem no
canto dos seus olhos, mas ela não para.
Mantenho seu rosto entre as mãos e fodo seus lábios, que sugam meu caralho de um jeito
tão gostoso que faz minhas bolas doerem.
Ela faz tudo isso me encarando, e não sei por que, Mark me vem à cabeça, dizendo que
era assim que ele a imaginava chupando um pau.
Eu nunca mais vou me esquecer de Summer Campbell assim.
Deixo que ela brinque pelo tempo que quiser até que tiro devagar meu pau da sua boca.
— Levanta. — Dou uma mão para ela, que fica de pé no mesmo instante, limpando o
cantinho dos lábios. — Tira a blusa — mando outra vez.
Eu mesmo me desfaço das minhas roupas em questão de segundos, junto com os tênis.
Minha assessora me olha inteiro enquanto puxa a blusa pela cabeça, os cabelos macios
caindo pelos seus ombros.
Ela sim, é uma pintura.
Summer parece ter sido detalhadamente desenhada. Cada pedaço do seu corpo curvilíneo.
Seus seios perfeitos e bonitos, sua cintura, o seu quadril. As pernas longas, os pés delicados. Eu
passaria facilmente muito tempo do que me resta de vida admirando essa mulher assim.
Pela sua respiração, ela me parece ansiosa. Mas não vou deixá-la esperando mais, porque
eu mesmo não consigo esperar um segundo sequer.
Eu me abaixo na minha calça caída pelo chão para pegar minha carteira e arrancar a
camisinha dela. Rasgo a embalagem e desenrolo rápido na minha ereção, enquanto seus olhos
acompanham todo o movimento.
Aproximo-me dela outra vez e seguro sua nuca, Summer suspira alto e fecha os olhos.
Suas mãos, sem receio, passeiam pelo meu peito devagar, como fez naquele dia, e seu calor é
algo que parece pertencer a minha pele, porque combinam.
Beijo sua boca rapidamente antes de me virar e sentar em sua cama. De lado, vejo minha
imagem no seu quadro e tento não imaginar que, se eu não tivesse me encantado pela figura
misteriosa de máscara dourada, poderia ter sido outro em meu lugar.
Um outro qualquer teria dado à Summer o que ela queria, de fato, ali.
Logan, seu filho da puta. Tenho certeza de que foi você.
Não sei se mando te matar ou se te agradeço por isso.
Bato com a mão na coxa enquanto ajudo-a a se sentar de frente para mim.
— Monta em mim, Campbell.
Ela joga o cabelo de lado enquanto posiciona um joelho de cada lado das minhas pernas.
Com maestria, sua mão segura meu pau e guia para dentro dela. Devagar, Summer senta em mim
e eu uivo, porque sentir essa boceta de novo em volta do meu pau é bom pra caralho!
Ela geme, dengosa, o olhar de quem está implorando para ser fodida com força.
Caralho! O que vai ser de mim até o resto desta temporada?
Como eu vou viver na mesma casa que Summer depois de hoje?
Seguro sua bunda redonda e durinha, apertando forte.
— Ai, Theo… — choraminga. — Seu pau… é tão bom! — Tomba a cabeça para trás e,
segurando no meu pescoço com as duas mãos, começa a cavalgar.
Que porra de mulher gostosa do caralho!
Enquanto sobe e desce, seus peitos se balançam na minha frente e eu não perco tempo,
abocanho um deles. Ela geme e rebola, levando-me até o talo.
Seguro seu bico rosado entre os lábios e maltrato Summer como ela maltrata meu pau. O
jeito como senta me faz enterrar fundo e arranca da minha garganta um gemido abafado.
Solto tapas na sua bunda e ela grita alto. Sugo com vontade o biquinho que parece uma
pedrinha na minha língua de tão duro.
— Você chupa tão gostoso, Deus do céu — as palavras saem sôfregas e Summer para
comigo inteiro dentro dela, rebolando.
E agora quem quase goza sou eu.
— Por que esta boceta parece ter sido feita para o meu pau, Summer? — Aperto mais
forte sua bunda, forçando-a contra mim.
Os olhos dela estão embriagados pelo desejo e sua respiração bate forte contra o meu
rosto.
— Porque talvez tenha mesmo sido — me provoca.
O que me castiga por dentro é acreditar firmemente nisso.
Summer pega impulso e quica rápido, com força, com raiva. Seus cabelos castanhos com
mechas douradas voam para todos os lados enquanto assisto a uma única gota de suor escorrer
entre os seus seios, serpenteando até morrer no seu umbigo.
Suada, seu corpo cheira ainda mais gostoso. É um cheiro natural de Campbell. Um cheiro
que está me matando.
Levo a mão até sua boceta lisinha, com poucos pelos por cima, e brinco com ela enquanto
seu quadril se choca sem parar contra minha virilha.
— Não quero gozar agora — diz de forma arrastada. — Se esta será nossa única noite
juntos, por favor, faça durar como se fosse para sempre!
Fico tão alucinado com suas palavras que me levanto com Summer de uma vez só. Ela dá
um pequeno grito e se segura forte em mim. Caminho até sua mesa de canto e espalho os papéis
que estão em cima dela, deixando que caia tudo no chão.
— São coisas importantes, Savard — reclama, mas morde os lábios quando a sento no
tampo e, sem dar tempo para que ela fale alguma coisa a mais, começo a mexer outra vez,
fazendo meu pau deslizar fácil dentro dela. — Esquece, esquece! — Ela me puxa com força para
o meio das suas pernas, meu pau se afundando inteiro em sua boceta encharcada.
Summer é o verdadeiro paraíso.
Em pé, fodo-a e faço sua mesa balançar. Ela se apoia com os braços para trás, bem aberta
para mim.
— Não se preocupe, Summer, porque tudo o que você vai fazer a noite inteira é gozar.
No meu pau — e meto fundo. Ela grita e revira os olhos, gemendo alto em seguida. — Na minha
boca. Nos meus dedos. — Avanço o tronco em sua direção e passo a língua pelos seus lábios.
Ela me devolve a lambida. — Até que diga que não aguenta mais, eu não vou parar.
— Prepare-se para ir até o amanhecer, Pole — e, quando me chama assim, vou tão rápido
que o porta-retratos com uma foto de Summer e a família cai virado para baixo.
Dou graças a Deus. Não quero comê-la enquanto olho para a cara do seu pai e do seu
irmão.
— Só por isso, você vai gozar de novo. — Eu me desencaixo dela e faço com que fique
em pé.
Viro-a de costas para mim.
Seguro-a pela garganta, forçando suas costas contra o meu peito. Ela deita a cabeça no
meu ombro e me oferece a boca, que eu beijo de imediato. O jeito como Campbell brinca com
essa língua faz todo o meu juízo escorrer de mim.
Pego meu pau e procuro sua entrada. Querendo me ajudar, a descarada empina a bunda
contra mim, com as mãos apoiadas na beirada da mesa.
Com meu joelho, abro mais suas pernas e entro outra vez, segurando firme nos seus
quadris, empurrando com força.
— Deus, Theo… — sussurra perto do meu ouvido. — Você é grande demais.
— É do tamanho exato para satisfazer esta boceta — e soco de novo.
Ela ofega, mas se aperta contra mim, rebolando a bunda, totalmente perdida no seu
próprio desejo.
Esse do qual nós dois tentamos correr o tempo inteiro, falhando de uma forma que era
inevitável.
— Você me deu o melhor orgasmo que eu já tive, aquele dia — diz enquanto aperta os
dedos na mesa, choramingando logo após. Com toda sua coragem e ousadia, porque, se há uma
coisa que Summer Campbell é, é completamente destemida, olha no fundo dos meus olhos para
completar. — Foi a melhor noite da minha vida inteira!
Estou completamente fodido.
Estou na merda e vou para a casa do caralho depois dessas palavras.
E da minha também, Summer. Da minha também.
— Hoje vai ser melhor, meu bem. — Mordisco sua orelha e ela sofre, empurrando-se
cada vez mais contra o meu pau.
Solto seu quadril e junto as mãos nos seus seios. Pesados e perfeitos para mim. Prendo os
bicos e puxo, fodendo Summer agora bem mais rápido. Ela grita muito, do jeito que eu gosto.
Summer aperta meu pau tão forte que tenho certeza de que ela não vai demorar. Eu já
estou no limite.
— Goza comigo? — pede entre um fôlego e outro.
E o que é que esta mulher quer que eu não obedeça agora?
Capturo a boca de Summer outra vez e empurro duro, curto, deixando o estalo da nossa
pele ecoar por todos os cantos deste quarto. Com o pescoço virado para mim, Summer joga os
braços para trás, abraçando o meu, deixando o encaixe do meu corpo no dela perfeito.
Quando as pernas da minha assessora começam a vacilar, vou mais forte e sinto minhas
bolas se repuxarem. A sensação se espalha pelo meu corpo inteiro e eu urro nos lábios dela.
Summer faz o mesmo.
Gozo tão forte que pressiono seu corpo para a frente, e ela morde meu lábio enquanto
convulsiona em volta do meu pau. Summer larga minha boca e grita, chora, arranha minha nuca
inteira, tenta se manter de pé, mas precisa da minha ajuda.
— Minhas pernas. Não sinto minhas pernas — diz no meio de um riso, misturado com
uma espécie de choro, enquanto busca seu próprio ar.
Eu não consigo sair do lugar porque, ainda sem forças, só quero ficar com Campbell
assim, em mim.
Passo os braços pela sua barriga e afundo o rosto nos seus cabelos. Quando sinto que
meus pulmões estão funcionando outra vez, saio de dentro dela. Beijo o ombro de Summer e a
ajudo a chegar até a cama, onde ela cai desengonçada, espreguiçando o corpo inteiro.
Vou até o banheiro e descarto o preservativo, voltando em seguida.
Summer está de bruços, com essa bunda linda virada para mim e o rosto de lado, com um
sorriso enorme, que não deveria me deixar tão desesperado como estou agora.
Eu me deito ao seu lado e fico com os olhos na altura dos dela.
Ela me encara de perto, sem deixar de sorrir, suada, as bochechas coradas de gozar, a
respiração completamente descontrolada e, como se fosse possível fazer isso outra vez, invade
meu coração de um jeito tão arrebatador que sou atropelado pelo sentimento que isso me traz.
Não sei como vou atravessar essa porta quando for a hora e fingir que não acabei de me
colocar na pior situação que eu poderia ter me colocado.
Não é possível passar pela cama de Summer e sair ileso.
Estou ferrado.
Porra. Estou completamente ferrado.
Mas quando um dos seus pés brinca pela minha perna, dizendo do seu jeito que, em
breve, quer tudo outra vez, penso que amanhã eu me preocupo com isso.
Não agora. Não enquanto a mulher mais bonita que a porra deste mundo já viu está nua,
deitada ao meu lado, esperando que eu a faça gozar sem parar.
Amanhã eu me afundo na lama.
Hoje, não.
Capítulo 23 - Summer Campbell

MAIO
SEMANA DO GP DE MÔNACO

De fato, ninguém está preparado para a loucura que é esta semana no calendário da
competição. O Grande Prêmio de Mônaco é o Oásis dos entusiastas da Fórmula 1. As festas nas
mansões e iates já estão rolando desde o último domingo e a maioria das equipes já está por aqui,
apenas se preparando para o final de semana.
Theo tem ficado mais fora de casa que tudo, em reuniões intermináveis com Wisbech,
Jackson e os estrategistas da McLean.
Ele precisa vencer. É sua última corrida no lugar que ele chama de “lar” e todo mundo,
inclusive Pedrosa, está trabalhando para que isso aconteça.
Os dias têm sido um pouco estranhos entre nós. É bem complicado viver na mesma casa
do último homem com quem você transou e simplesmente ter que fingir que isso não existiu. O
jeito como Savard me olha e depois desvia o rosto, porque Manfred ou Mark aparecem, me deixa
em um misto de euforia com frustração.
A verdade é que eu não deveria ter deixado que aquele dia acontecesse.
O clube tinha que ser o suficiente para nós dois, mas não foi. Afinal, só eu sabia com
quem estava.
Não é sobre me arrepender, mas sobre ter mentido para mim mesma, porque não é
possível passar por uma cama duas vezes com Theo Savard e acreditar de verdade que vai ser o
suficiente.
Não tem como ser.
Naquela noite, Savard não teve qualquer piedade de mim.
Nós dois passamos a noite inteira revezando entre transar em todas as posições que
podíamos, gozar feito dois loucos, esperar até que nosso corpo estivesse pronto mais uma vez, e
voltar para o item um.
Transei de quatro, por cima, por baixo, de lado, na varanda do quarto, encostada na
parede, sentada na minha pequena mesa e dentro da hidromassagem do banheiro. Por fim,
exaustos, nos deitamos na minha cama, sem conseguir falar muito sobre tudo o que aconteceu e
em pouco tempo adormecemos. Ele acha que eu não vi, mas acordei no exato momento em que
Theo pegou suas coisas espalhadas pelo quarto e saiu pela porta. E então a realidade caiu em
mim como um enorme balde de água fria.
Fiz um calendário onde risco todos os dias até o fim do contrato para saber por quanto
tempo vou ter que aguentar essa tortura, porque ainda consigo sentir a boca de Savard por cada
canto do meu corpo. Suas mãos percorrendo todo e qualquer pedaço de mim, seus olhos me
fazendo promessas que, infelizmente, não podem cumprir, porque eu também me lembro
perfeitamente das suas palavras, que diziam que aquilo precisava acabar ali.
— Minha cabeça parece que vai explodir! — digo aos meus irmãos, ambos em uma
ligação de vídeo comigo.
Espirro logo em seguida.
Não bastasse tudo isso, estou gripada, como há muito tempo não ficava, justo nesta
semana. Que maravilha!
— Você já tomou alguma coisa, Sums? — Alex está preocupado.
O motivo, eu sei.
Tenho pavor de ficar doente. Na verdade, desenvolvi um certo pânico sobre isso depois
que minha mãe morreu.
É que, desde que ela se foi, sentir-me mal passou a ser sinônimo de ter que enfrentar isso
sozinha. Infelizmente, meu pai não estava disponível para um colo, uma ajuda ou qualquer coisa
que parecesse um cuidado. E por vezes me via chorando mais pela falta de carinho e afeto do que
por estar doente de fato.
— Mandei mensagem para Manfred, ele me disse que tem no quarto dele. Vou lá buscar
daqui a pouco.
— Qualquer coisa, você vai ao médico. Por favor — minha irmã é quem pede.
Outro trauma que a morte da nossa mãe deixou: não importa se seja um resfriado ou
qualquer coisa assim, Ava sempre vai ter medo de nos perder para qualquer bobagem que for.
Pego o lenço de papel que deixei ao meu lado na cama e limpo o nariz, completamente
vermelho e irritado.
— Vou fazer isso, prometo.
— Meninas, preciso ir para o treino. Eu falo com vocês mais tarde. Summer, tome a
porra do remédio, estou falando sério — Alex me adverte. — E você, Ava, cuidado na viagem.
— Ela está indo para mais uma competição com o time.
Despeço-me dos meus irmãos e me afundo no travesseiro, tomando coragem para me
levantar. Já é noite e eu não como nada desde o almoço.
— Quando decido me levantar, saio do meu quarto só de camiseta e calcinha, já que me
encontro sozinha. Manfred precisou viajar para Paris por dois dias.
Mole, sem energia e com o celular na mão, sigo no sentido das escadas, quando o
aparelho cai ao chão.
— Droga! — praguejo e me abaixo para pegá-lo.
Neste exato momento ouço um pigarro atrás de mim.
Levanto-me na velocidade da luz e fico instantaneamente congelada.
Senhor Jesus. Por quê?
Tomo coragem e me viro, dando de cara com um Theo parado no meio do corredor,
vestido no seu estilo esporte, as mãos dentro dos bolsos.
— Meu Deus! Me perdoa. Eu não sabia que você já estava aqui — minha voz sai
totalmente fanha.
Parece que o meu problema é nunca perceber quando este homem volta para casa.
Coloco as mãos na frente, tentando tapar com alguma dignidade a minha calcinha, mas
não há muito o que fazer. Para piorar, minha camiseta é branca e, sem o sutiã, meus bicos estão
aparecendo através do tecido.
Meu chefe me encara como se fosse um leão faminto, prestes a pular na sua presa, mas
parece um pouco preocupado. Seus olhos percorrem a pele exposta das minhas pernas, passa pela
minha calcinha e, neste momento, vejo como sua respiração muda completamente. Eles sobem
pela minha barriga até pararem nos meus seios.
— Não peça desculpas, Summer, é a sua casa — diz por fim, agora com o olhar preso ao
meu. Quais as chances de isso continuar dando certo? Preciso sair urgentemente daqui. — Você
está bem? Sua voz me parece ruim.
— É, eu estou um pouco gripada. — Fungo. — Ou muito, não sei — eu me complico
toda na explicação. — Vou… — aponto para a minha porta — voltar para o quarto.
— Não volte — a voz que agora está carregada de algo a mais soa pela distância que nos
separa. — Você precisa de alguma coisa?
Sacudo os ombros, mas até isso faz meu corpo inteiro doer.
— Eu só ia ao quarto do Manfred pegar um remédio.
Ele dá alguns passos vindo até mim.
— Fique aqui, eu mesmo vou lá. — Passa por mim, mas se vira e questiona: — Sabe
onde está?
De repente ele não está mais me olhando como se eu estivesse seminua. Savard está de
verdade preocupado.
— Em cima da mesa dele.
— Vá se deitar, eu já volto — afirma e some escada abaixo.
Respiro fundo e volto correndo para dentro, enfiando-me outra vez embaixo das cobertas.
Minutos depois ele rompe porta adentro, e para ao meu lado com um copo de água e as pílulas na
mão. Sento-me e pego, agradecendo.
Sem cerimônia, Theo senta-se na beirada da cama e coloca a mão na minha testa.
— Você está com febre.
— Tudo bem, vai passar. — Não quero que fique preocupado comigo.
Ele já tem outros milhões de coisas no que pensar.
— Tenho um termômetro no meu quarto. Fique aí, eu já volto.
— Theo... — tento reclamar, mas ele nega com a cabeça, já de pé.
— Pare de ser teimosa, Summer.
E se vai.
Suspiro e fecho os olhos, pensando que não era assim que eu gostaria que a gente se
aproximasse aqui outra vez. Ouço seus passos segundos depois.
Ele liga o termômetro e pede para que eu levante meu braço.
— Já, já vai passar. — Tento sorrir, mesmo não acreditando nisso.
Mudo, Savard tira o termômetro de mim quando apita.
— Trinta e oito e meio. Eu disse. — Respira fundo e me encara. — Olha, tenho uma
reunião agora com Mark e um patrocinador. Preciso participar. Assim que acabar, eu vou voltar e
vamos olhar de novo essa febre, está bem? Fique quieta aqui, Summer, por favor — seus olhos
parecem apavorados —, se precisar de qualquer coisa, meu celular estará ao meu lado.
O jeito com que fala, cuidadoso e preocupado, faz cócegas em mim.
— Não vou sair daqui, eu juro.
Ele parece relutante em sair de perto, porque fica alguns segundos ainda parado, olhando
para o meu rosto. Por fim, decide se levantar e sair, mas não antes de reforçar:
— Volto rápido.
Quando a porta se fecha, respiro fundo, abraçando meu travesseiro e afundando o rosto
no meio dele.
Theo Savard

Não presto atenção em metade das coisas que Mark e o representante do patrocinador
discutem. Eu só penso nela.
Summer Campbell é a única coisa que passa pela minha cabeça da hora em que acordo
até a de dormir.
E que golpe do destino foi esse ao colocá-la vestida daquela maneira bem na minha
frente? Quais as chances de a visão mais bonita que já tive não explodir a minha cabeça?
Quando olhei para Campbell daquele jeito, alguma coisa dentro do meu peito mudou.
Não foi só a frequência cardíaca, porque sou homem, e o quanto aquilo foi sexy jamais passaria
despercebido.
Mas estou falando sobre algo que vem mexendo com meu juízo desde a noite em que nós
dois transamos sendo Theo e Summer.
E vê-la doente daquele jeito está me consumindo e piorando tudo isso.
Preciso ver como ela está.
Peço desculpas para Mark e o rapaz, digo que preciso sair da reunião. Dou a Lee total
autoridade para responder em meu nome ao que for decidido entre os dois.
Desligo o MacBook e me levanto, saindo pelo corredor, caminhando em direção ao seu
quarto outra vez.
A porta está do mesmo jeito que deixei há uma hora. Coloco a cabeça para dentro e vejo
que Summer está dormindo profundamente, agarrada em um travesseiro. A testa está molhada de
suor.
Fico alguns segundos parado, somente olhando seu rosto corado pela febre, os cabelos
úmidos.
Summer precisa se alimentar. Por isso, desço para a cozinha para procurar algo que eu
possa fazer.
Está tudo errado aqui. Completamente errado.
Ela não deveria se sentir constrangida na própria casa, como ficou no momento que nos
encontramos no corredor. Ela foi feita para andar livremente como estava naquele momento. De
calcinha, de camiseta, sem os dois, do jeito que quisesse.
Na verdade, quando algo no meu peito me incomodou, foi exatamente o quanto vê-la
daquele jeito foi a confirmação de que eu amaria poder tê-la assim todos os dias.
E não é sobre a quase nudez ou a provocação que isso traz.
É sobre sentir que parece certo, que Summer e eu podemos ter esse tipo de intimidade.
Podemos ser mais do que um patrão e uma funcionária dentro desta casa.
Enquanto mexo na geladeira, encontrando alguns legumes, penso que nunca fui o cara
das coisas superficiais. Isso nunca combinou comigo.
Até antes de Louise, quando eu levava alguma mulher para cama, a certeza era que eu
planejava que a gente fosse repetir.
Tenho dificuldade com as coisas rasas, porque, para ser um piloto como eu, intensidade
em tudo é o mínimo que você pode exigir de si mesmo.
Todas as vezes que botei os pés naquele clube, em busca de prazer, estava na verdade
tentando administrar dentro de mim uma falta que eu sempre soube que sentia.
Eu gosto do depois. Do que vem a seguir.
Foder e ir embora não é nem de longe o meu tipo de foda.
Por isso, transar com Summer ferrou com a minha cabeça, porque, por mais que eu tenha
exigido dela que depois daquilo a gente não levasse isso adiante, eu mesmo não sou homem o
suficiente para cumprir com o que pedi.
As noites que tenho virado em claro não passo só pensando no seu corpo e em todas as
formas que ainda sonho em provar Summer, mas vasculhando suas redes sociais e sorrindo para
qualquer vídeo que ela já tenha postado, namorando os sorrisos que ela dá para cada foto e sobre
cada pequena coisa que descubro dela.
Summer tem verdadeira adoração pelas suas tradições familiares e nunca perde a festa
típica que eles fazem em Halifax. Ela e Alex são melhores amigos e é nítido em poucas imagens
o quanto são cúmplices e cuidam um do outro. Nas fotos onde ela está com o pincel e tintas na
mão seu olho brilha completamente diferente, e nas imagens com Sara, Summer ainda sendo
uma garota, é que vejo verdadeira felicidade em seu rosto.
Meu novo vício é adorar tudo o que aprendo sobre ela.
De repente ouço barulhos de patas batendo no piso. Paddock vem do meu quarto e para
exatamente ao meu lado. Pico os vegetais e coloco para cozinhar. Eu me abaixo e abraço meu
garoto, beijando sua cabeça.
— O quão fodido seu pai está, Paddock? — brinco com sua orelha enorme.
Eu transei com Summer e não me arrependo.
Quero tanto mais disso que me sinto sufocado, como se fosse um garoto de vinte anos,
ansioso para encontrar de novo a garota com quem saiu na semana passada.
O fato é que eu tenho quarenta, já deveria ter passado dessa fase. O problema é que, mais
velho ou não, é assim que as coisas funcionam para mim.
E o que me impede de ter mais do que eu quero é o fato de que a mulher que não tem me
deixado dormir é a mesma que meu sobrinho sonha em ter de volta; e mesmo que eu saiba que
isso não vai acontecer, não sei como dizer a ele que, no lugar de ajudá-lo, eu me afundei entre as
pernas dela e agora me pareço mais com um maldito viciado, de tanto que preciso de Summer
outra vez.
Porque eu a quero de um jeito que Josh não compreenderia.
Não quero Campbell pelo sexo, muito menos para tratá-la como alguém que vai passar.
É justamente o contrário.
Eu quero que Summer fique.
Eu quero que ela seja não só o meu agora, mas também o meu depois.
Como dizer isso ao único cara que você prometeu jamais magoar?
Eu ainda não sei a resposta.
Paddock parece se compadecer de mim, já que se esfrega entre meu braço e meu tronco,
até que esteja no meu colo.
— Ela é linda, né, cara? É fácil entender por que você se apaixonou. — O safado me
lambe o rosto inteiro e eu acabo rindo alto.
Levanto-me e volto para as panelas, terminando uma sopa que não tenho certeza se ficou
muito boa.
Subo as escadas e, quando entro em seu quarto com a comida, Summer está acordada. Ela
me olha ainda um pouco abatida, mas sorri de lado.
— Acho que dormi.
— Dormiu. sim — brinco e coloco a bandeja em seu colo.
Ela se ajeita sentada e olha para o prato.
— Você fez isso para mim? — Um pequeno sorriso surge em seus lábios.
Balanço os ombros e afirmo.
— Foi o melhor que consegui pensar. Desculpe se não tiver ficado bom.
Summer ri, pegando a colher e mergulhando na sopa.
— Não precisava. Eu ia levantar e comer alguma coisa pronta, mas, muito obrigada,
Savard.
Ela leva devagar a comida aos lábios e fecha os olhos no segundo em que engole.
Fico assistindo a Campbell admirar a refeição e suspiro alto, pensando nas inúmeras
coisas que gostaria de dizer a ela agora.
— Está muito bom. Eu não tinha noção da fome que estava. — Continua comendo e eu,
um pouco atrevido, coloco de novo a mão em sua testa.
— A febre não cedeu completamente.
— Mas já me sinto um pouco melhor — devolve. — Não fique aí em pé, sente-se —
convida e, devagar, acomodo-me ao seu lado. — Prometo estar melhor até sexta.
— Você não está preocupada com isso, está? Pelo amor de Deus, Summer. Primeiro,
vamos cuidar de você. O resto não importa.
Só depois de dizer as palavras, percebo o que falei. Ela para com a colher no meio do
caminho e me encara por alguns segundos. Sem realmente levar à boca, devolve a colher para o
prato, respirando pesado, e diz:
— Obrigada... por não me deixar sozinha.
Eu jamais deixaria, Campbell.
— Não tem o que me agradecer.
Nós dois ficamos assim, olhando um para o outro, dizendo coisas que não conseguimos
colocar em palavras.
Summer abaixa a cabeça e volta para terminar a refeição. Quando come praticamente
tudo, tiro sua bandeja e coloco na mesa.
— Você precisa tomar seu remédio em quatro horas. Vou ficar aqui na poltrona,
esperando dar o tempo.
— O quê? — Ela se mexe na cama. — Não, Savard. Claro que não. Vá descansar! Vou
ficar bem.
Sem a menor chance.
— Eu vou ficar, Summer. Quer você queira, quer não. Vou tomar meu banho e volto em
meia hora.
A boca dela se abre para argumentar, mas meus passos são mais rápidos, então não
escuto o que tem para dizer.
Passados os trinta minutos, de banho tomado e com meu MacBook na mão, retorno.
Summer também tomou banho, porque está com outra roupa e parece agora menos doente do que
antes.
— Volte para seu quarto, Theo, por favor. Eu detesto a sensação de incomodar — Olha-
me um pouco relutante, ainda fungando, em pé, perto do seu guarda-roupas.
Ignoro e fecho a porta atrás de mim.
— Vá se deitar e descansar, Campbell, vou ficar muito bem aqui. — Sento-me no
estofado, abrindo o aparelho.
Porém, meus olhos estão à espreita, observando seu movimento pelo quarto. Summer
fecha a porta em que estava mexendo e volta para a cama, se ajeitando outra vez. Ela se encolhe
e fica virada de lado, de um jeito que possa me ver. Tento me concentrar no trabalho, mas já sei
que isso não vai dar.
Os flashes de Summer nua, suada, gozando para mim a noite inteira, me perturbam.
Em algum momento, Campbell acaba dormindo outra vez, o que me faz, por algum
tempo, me dedicar às coisas que Mark precisa de mim. Quando meu relógio, enfim, me diz que é
hora de tomar novamente os comprimidos, vou até ela e vejo que a febre voltou outra vez.
Summer está tremendo, completamente suada.
— Summer... — tento acordá-la sem assustá-la. Ela abre um dos olhos, me encara, e
volta a fechar. — Você precisa tomar o remédio, está queimando em febre.
Ouço seu suspiro.
Ela aceita as pílulas e se esforça para levantar o tronco e tomar água. Quando me devolve
o copo, pergunta, um pouco fraca.
— Será que você se importaria de me abraçar?
Fico parado no lugar, tentando entender se eu não compreendi errado sua fala. Mas, no
momento em que, de costas para mim, afasta-se em sua cama dando-me espaço, percebo que foi
realmente o que me pediu.
Ainda sem saber o que fazer, pergunto-me se devo ouvi-la. Minha resposta vem quando,
mais rápido do que meu pensamento, tiro os chinelos e me ajeito na cama de Summer, bem ao
seu lado.
Com cuidado, passo um braço em volta do seu corpo e o dela, totalmente quente, se
aninha em mim.
Encosto a cabeça no travesseiro e fecho os olhos, sentindo seu cheiro doce e marcante.
— Eu detesto ficar doente. E detesto ficar sozinha quando isso acontece... — confidencia,
a voz fraca. — É quando mais me lembro que minha mãe não está mais aqui — e agora sinto o
choro em seu tom. — Obrigada, Theo... por insistir em ficar.
Meu coração se aperta, assim como faço com seu corpo. De repente, levo a boca até seu
rosto e beijo. Summer segura firme o meu braço entre os seus.
— Estou aqui, Summer. Bem aqui com você. Não vou te deixar sozinha. Está me
ouvindo?
Ela arfa e movimenta a cabeça concordando.
Nós dois ficamos em um silêncio confortável, enquanto me dou conta de que poderia
dormir assim para sempre ao seu lado. Não me importaria, nunca.
— Savard...
— Oi.
— Você voltou ao clube depois que... — Para no meio da pergunta, mas resolve
completar: — Depois de nós?
Meus dedos brincam devagar com seu rosto, já que Summer mantém minha mão bem
perto dele. Sinto sua respiração quente batendo no meu antebraço.
— Nunca mais, Summer. Nunca mais...
A forma como respira agora parece de alívio e, como se precisasse das minhas palavras
para relaxar, ela se ajeita de um jeito gostoso entre os meus braços. Em seguida, diz:
— Boa noite, Theo.
Sabendo que não vou pregar os olhos a noite inteira, concordo com a cabeça, antes de
falar baixinho ao seu ouvido:
— Boa noite, Campbell.
E assim, em segundos, ela dorme outra vez.
Acordo com o barulho da campainha.
Até entender onde estou, levo um tempo. Quando olho para o meu peito, uma
descabelada e linda Summer está sobre ele. A boca um pouco aberta, ressonando em um sono
profundo.
Tiro alguns fios dos cabelos que caem em seu rosto e aproveito para ver como está sua
febre. Pelo toque, parece controlada.
A campainha toca outra vez.
— Merda — praguejo baixo e, com cuidado, tiro-a de cima de mim.
Quando coloco sua cabeça no travesseiro, Summer se vira de lado, completamente
apagada.
Beijo seus cabelos antes de, enfim, ir ver quem é que está batendo aqui a uma hora
dessas.
Desço as escadas e vejo Paddock todo esparramado no tapete da sala. Eu me espreguiço e
abro a boca indo em direção à entrada de casa.
Quando abro a porta, dou de cara com um sorriso que eu conheço muito bem e que eu
não fazia ideia de que veria novamente tão cedo. Os braços estão abertos, prontos para me
abraçar, como se devêssemos comemorar o que está acontecendo aqui agora.
Isso só pode ser uma grande piada.
— Pensou mesmo que eu não viria, não é? Cheguei!
E, então, Josh pula em cima de mim.
Capítulo 24 - Summer Campbell

Eu não sei de onde estou tirando paciência para aguentar Josh por todo esse fim de
semana.
De repente, ele apareceu na porta da casa de Theo na quarta-feira, enquanto eu tentava
me recuperar daquele resfriado horroroso.
Foi tudo tão estranho. Quando dei por mim, Josh já tinha tomado conta de todo o
ambiente, como se estivesse completamente confortável em chegar e mudar toda a dinâmica da
casa.
O jeito empolgado como me abraçou quando eu, enfim, me levantei, me fez paralisar,
porque eu não fazia ideia de que meu ex estava vindo para o GP. Pela cara de Theo, nem ele.
A família Savard não costuma aparecer nas corridas, até porque eles estão cuidando de
suas outras coisas, mas sei que estarão todos no Canadá e na Espanha. Essa é uma conversa que
Theo e eu já tivemos em alguns momentos e ele diz que isso não o incomoda, porque sua mãe já
não tem mais idade para ficar viajando o tempo inteiro, de um lado para o outro, e o restante da
família está sempre presente de outras formas.
Mas, então, surge um Josh Savard engraçadinho, do nada, para deixar tudo o que já
estava tenso um pouquinho pior.
Dizer que ficar doente me trouxe uma das melhores noites da minha vida deveria parecer
absurdo, eu sei. Mas ainda não consigo explicar o que foi dormir nos braços de Theo. O jeito
como ele alisava minha mão, beijava vez ou outra a minha testa, cheirava meu cabelo, mantinha-
me segura entre os seus braços... Como eu queria mais disso.
Como eu queria...
Mas Theo mudou completamente desde que o sobrinho chegou. Ele mal olha nos meus
olhos e fala comigo o necessário. Até Mark percebeu o seu mau humor, porque veio reclamar
para mim. Sei que ele está inventando a desculpa sobre a pressão que está sentindo da McLean e
da imprensa mundial sobre quem chegará primeiro hoje, ele ou Armstrong, mas eu não sou
burra.
Pole está me evitando porque meu ex-namorado está aqui. E para mim fica cada vez mais
nítido que não há nada que o fará pensar a respeito de nós dois, porque Josh sempre virá em
primeiro lugar.
E se há uma coisa que o sobrinho de Savard tem feito é tentar. Ele me cerca em toda
oportunidade que tem, tenta fazer piadas das quais já ri muito mas hoje parecem não ter mais
graça, e, sempre que tem a oportunidade, tenta encaixar alguma situação que vivemos juntos
enquanto namorados. Com muita educação, tenho tentado ignorar todas as suas tentativas. Já
Savard, sai de perto todas as vezes que Josh força intimidade demais.
Se eu estou completamente desconfortável em estar no mesmo lugar que tio e sobrinho,
Theo não poderia estar mais ainda.
Mas isso não lhe dá o direito de fingir que eu não existo.
Em um dia, ele me faz sopa e dorme comigo, cuidando do meu resfriado, dizendo que
não me deixará sozinha, no outro, ignora a minha existência.
— É de família mesmo, não é, amada? — Logan me cutuca enquanto assiste ao Josh
rindo e conversando calorosamente com meu chefe dentro do box, depois de Theo e todos os
outros pilotos terem feito a volta de saudação em carro aberto, participado de gincanas nas
pequenas arenas e de responderem a algumas perguntas rápidas para a imprensa.
— O quê? — questiono, limpando o nariz de novo.
Ainda não estou completamente curada.
— A beleza, o que mais seria? — Faz aquela cara engraçada de sempre. — Ele realmente
deve ser um porre, para você não ter aguentado.
Solto uma risada e respiro fundo, atualizando no iPad o nome de Savard no Google,
acompanhando as notas que saem em tempo real e os comentários no X.
Infelizmente ele não conseguiu sua última pole em Mônaco, o que o deixou ainda mais
insuportável. Ontem Theo não conversou com quase ninguém após a classificação. Hoje ele
precisa reverter a situação, o que aqui em Monte Carlo é um desafio e tanto, por causa das curvas
apertadas do circuito de rua.
— Josh é um cara legal, só não é para mim.
— Você tem cara de quem gosta de homens, baby, tipo o tio!
Alguma coisa me diz que Logan desconfia de algo, mas prefiro fingir que nem eu e muito
menos Savard demos na cara. Se isso se espalha pelo paddock, nós estamos perdidos.
— Não existem dúvidas de que Theo realmente faria mais o meu tipo do que Joshua, mas
ele não é uma opção, então…
— Você não transaria com ele, Summer? — quer saber, fazendo o mesmo que eu em seu
tablet. Paro com minhas pesquisas e olho bem para ele, que me encara de volta. — O cara é rico,
bonito, tem umas mãos enormes, a voz grossa, tem cara de que não soca fofo…
Não soca mesmo, Loggie!
— Tem noção do que você está falando?
— Vocês são solteiros, não? — Os ombros sacodem.
— Vou fingir que não te ouvi falar essa bobagem — mudo de assunto, porque este
terreno é perigoso.
De repente todo mundo está se movimentando, porque Pedrosa e Savard precisam se
preparar para irem formar o grid.
Jackson terminou o classificatório em P5 e precisará trabalhar um pouco mais para
ganhar posições.
— Depois voltamos a este assunto. — Sorri e se vai.
Logo Josh está ao meu lado.
— Ele tem ficado puto assim a temporada inteira?
Até meu ex está percebendo.
— Acho que ele não gostou da pole do Arm.
— Você acha? — Joshua ri e passa o braço pelos meus ombros. — Aposto com você o
meu fígado que ele vai voar por cima do Sebastian, mas vai arrancar esses pontos dele. Esse era
o circuito preferido do meu avô, meu tio não vai embora para a festa hoje sem se despedir de
Mônaco em primeiro lugar.
Mark tem tanta certeza de que Theo consegue reverter o segundo lugar que já marcou
uma festa na nossa casa para mais tarde. Arrastei Manfred com a gente para a corrida, porque é a
única do ano inteiro a que ele pode assistir, então deixei que Lee contratasse alguém que possa
ocupar o lugar de supervisão do meu amigo pelo menos por hoje.
Ele deve estar bem feliz na área VIP agora com os amigos que trouxe consigo.
Tiro devagar o braço de Joshua de mim e digo:
— Preciso trabalhar. Nos vemos depois.
Saio de perto antes que eu seja mal-educada com toda essa invasão. Não quero ser.
Theo parece estar em outro mundo quando coloca sua balaclava e as luvas. Decidi dessa
vez não ir até lá, porque, se ele me ignorou os últimos cinco dias, não é agora que meu chefe vai
mudar seu comportamento.
Sei que era ele quem mandava Manfred saber se eu estava melhor ou não. Mas não me
importo com isso. Fazer o secretário como garoto de recados é o fim.
Se Savard quer ser um sem-educação só porque Joshua está aqui, saiba que eu também
sei jogar este jogo.
Antes de o ajudarem a entrar no cockpit e se ajeitar, Theo lança um olhar em minha
direção, e me encara diretamente. Mantenho meu olhar no seu, com a sensação de que ele
gostaria de me dizer muito mais do que me dirigir apenas um olhar. Mas, antes mesmo que
desvie os olhos, dou as costas e saio andando.

Campeão pela última vez em Monte Carlo: Theo Savard vence o Grande
Prêmio de Mônaco

Enquanto a tensão pairava sobre o Circuito de Mônaco, Pole estava determinado a


desafiar a liderança de Armstrong. Com as luzes vermelhas se apagando, ele mergulhou na
curva Saint Dévote, buscando qualquer brecha para ultrapassar. O carro azul da Romanus
cortou o ar à sua frente, mas Savard não desistiu. Aproximou-se, milímetro por milímetro, do
seu amigo de longa data.
À medida que a corrida avançou, os estrategistas da McLean se tornaram cruciais. A
equipe no pit wall calculou o momento perfeito para a troca de pneus, enquanto ele mantinha a
pressão sobre Sebastian. E então, como uma análise perfeita da situação, digna de todas as
conquistas que acumulou até aqui em sua brilhante carreira, Savard enxergou sua grande
oportunidade: a chicane da Piscina. Com um movimento audacioso, o piloto mergulhou pelo
interior, aproveitando ao máximo a zona de DRS para ganhar impulso.
O rugido dos motores ecoou pelas ruas estreitas de Mônaco enquanto os dois carros
disputavam curva após curva. Mas foi Pole quem saiu à frente, ultrapassando Arm com uma
mistura de habilidade, coragem e determinação.
Enquanto cruzava a linha de chegada, as arquibancadas disputadíssimas do circuito de
rua em Monte Carlo eram tomadas pelos gritos dos fãs, celebrando uma das ultrapassagens
mais épicas na história do Grande Prêmio de Mônaco.
Theo Savard

Só existia uma chance de fazer o que fiz há pouco nesta pista, e o que aprendi em todo
esse tempo de Fórmula 1 é que oportunidades perdidas nos custam às vezes a realização de um
sonho.
Não poderia me despedir da minha carreira sem ser campeão aqui. Na minha casa. No
lugar onde minha paixão pelo automobilismo nasceu. Sei o quanto isso significaria para
Sebastian também, já que ele nasceu e cresceu em Monte Carlo, mas, quando colocamos nossos
carros em disputa, a amizade fica guardada nos boxes até que a gente volte. Lá, correndo, somos
sempre cada um por si.
Já na área do pódio, cercado por centenas de pessoas que me ovacionam, me abraçam e
parabenizam, encontro um sorridente Joshua, que me aperta entre os braços.
— Porra! Que tomada do caralho. Você é grande demais, tio. O maior do mundo. — Ele
me dá tapas nas costas.
Meu peito se enche com uma risada gostosa, porque essas eram exatamente as palavras
que meu pai usava para mim: Você é grande demais, filho. O maior do mundo! mesmo quando
eu ainda não era.
E ele ensinou Joshua a acreditar no mesmo.
Se existem duas pessoas no mundo que jamais duvidaram de mim, chamam-se Joseph e
Joshua Savard.
Como eu queria que ele estivesse com a gente aqui agora.
Seguro a nuca do meu sobrinho e colo sua testa na minha, olhando dentro dos seus olhos.
— Eu te amo, moleque.
— Eu te amo mais, caramba. — Ri alto, emocionado. Os olhos repletos de lágrimas. —
Somos nós contra o resto.
E, neste momento, meu coração se estilhaça como tem feito desde que abri aquela porta e
dei de cara com ele na minha casa.
Meu sobrinho não avisou, simplesmente apareceu e então tudo ficou pesado de um jeito
que eu não soube lidar.
Não consigo encarar Summer sem sentir que estou cometendo o pior dos pecados da
Terra, porque sei que não é possível que eu olhe para ela de outra forma que não seja como quem
a quer mais que tudo.
Porque eu quero.
E depois daquela noite, dormindo com ela nos meus braços, tão vulnerável e entregue, eu
não tenho mais dúvidas.
Wisbech e os demais integrantes da McLean me empurram rumo ao pódio e eu digo a
Josh que o vejo em breve.
E os próximos minutos podem ser descritos como os mais loucos de toda a minha
carreira. Eu nunca ouvi tanto grito e aplauso como agora. Até Seb, ao meu lado, no segundo
lugar, está assobiando e batendo palmas, seguido de Mendes, em terceiro hoje.
Nunca esperei ser uma lenda para os outros, mas sempre batalhei para ser muito melhor
do que meus próprios objetivos.
Ser ovacionado em pleno Circuito de Mônaco, pela última vez, faz a ficha que tenho
guardado há um tempo começar a cair.
Está chegando o fim.
Quando levanto o troféu, tento guardar na memória este exato segundo para que, lá na
frente, eu jamais me esqueça do poder dos meus sonhos.
Mas, enquanto abrimos o champanhe e molhamos uns aos outros, disfarçadamente
procuro por aqueles olhos na multidão, porque, circuito atrás de circuito, muito mais do que o
primeiro lugar, eu busco o abraço de Summer quando tudo acaba.
É como se não fosse completo o ato de ficar duas horas dentro de um carro correndo feito
um louco, fazendo uma manobra perigosa atrás da outra, em risco iminente de minha vida e levar
o primeiro lugar... Não ter Summer Campbell me esperando com meu boné depois que a
bandeira balança faz com que tudo isso perca a graça.
Como eu pude deixar que as coisas chegassem a esse ponto?
Enquanto a gente celebra e sinto o gosto adocicado da bebida escorrendo para dentro da
minha garganta, penso no quanto queria abraçá-la agora. O quanto queria girar Campbell nos
meus braços e me afundar na sua boca.
O quanto queria uma comemoração que envolvesse somente ela e eu, na nossa casa, onde
eu começasse tirando a sua roupa na sala, deixasse a metade delas pela escada e terminasse com
a sua calcinha no chão do meu quarto.
E eu daria a Summer o que ela quisesse. Do começo ao fim.
Daria muito mais que o meu corpo.
Provavelmente, entregaria à minha assessora a minha alma.
Engulo o restante que joguei na boca, voltando o olhar para as pessoas, e então a enxergo
lá no fundo, os braços cruzados olhando diretamente para mim.
O olhar de Campbell não tem nada a ver com aquele de dias atrás, quando me
confidenciou sobre se sentir sozinha todas as vezes em que adoece. Agora ela me olha com
tristeza e decepção.
E quem sou eu para dizer que não deva se sentir assim?
Quando Josh aparece ao seu lado, abraçando a sua ex-garota, tudo o que eu tenho sentido
ganha uma proporção gigantesca dentro de mim. Porque eu sei que é errado não querer vê-lo
perto dela, se é justamente para isso que esse menino está aqui.
É nítido o quanto Joshua se esforça em cada palavra que diz para Summer, na tentativa de
que a garota preste atenção nele mais uma vez. E todas as vezes que eu penso que ela pode ceder,
a porra da minha raiva aparece e eu fico a segundos de perder o controle.
No final das contas, quem é o imaturo dessa história? Joshua ou eu? Tenho me
questionado.
Sei que ela está com raiva de mim, que pensa que simplesmente a deixei lá, doente esses
dias todos como se fosse um grande babaca, mas é melhor que pense assim. Summer não sabe,
mas fui ao seu quarto todas essas coisas, só para ver como estava. Enquanto minha casa inteira
descansava no silêncio da noite, eu ficava minutos parado em sua porta, apensas a observando,
querendo mais que tudo tomá-la nos meus braços outra vez.
Alguém me abraça e me puxa para fora do pódio, eu volto para a realidade, dando um
sorriso que não quero dar.
Querendo ou não, agora ela terá que ficar ao meu lado, pelo menos pela próxima hora, já
que a imprensa inteira está à minha espera.
Depois, é hora de comemorar em casa.

Mark Lee não sabe organizar festas sem exageros. É sempre comida demais, champanhe
demais, uísque demais, mulher demais, glamour demais.
O jeito exagerado com que leva a vida.
Olho agora para a minha piscina recheada de mulheres de biquíni que não faço ideia de
quem sejam, rodeadas de amigos e celebridades que Mark convidou.
Wisbech, Pedrosa, nossos engenheiros e eu conversamos sobre a corrida e a quase chance
de Jackson hoje em entrar também no pódio, mas ele ficou na P4.
Neste momento, estamos liderando, além do campeonato de pilotos, também o de
construtores. Mas a Romanus está nos ameaçando nos dois, já que o segundo piloto deles,
Kennedy Díaz, está em disputa direta com Jackson.
Dou um gole na minha cerveja ainda prestando atenção no assunto quando vejo Summer
do outro lado da sala, mexendo em seu telefone. Ao contrário de como estava no circuito, agora
ela se enfiou em um vestido bonito, justo, e uma sandália alta, daquelas que ama usar.
Eu não deveria ficar pensando nisso, mas minha cabeça me pergunta se ela não está tão
bonita assim só porque Joshua está aqui.
Enquanto eu falava com a mídia, Campbell se dirigiu a mim o mínimo possível, somente
me instruindo sobre o que responder ou não. Quando eu procurava alguma forma de fazer com
que ela precisasse me olhar, fui duramente ignorado, o que deveria me deixar nervoso, mas, na
verdade, me deixou cheio de tesão.
Summer Campbell não é mulher de levar desaforo para casa, e está simplesmente me
colocando no meu lugar, depois de eu ter passado a semana inteira fingindo que ela não passa de
uma simples assessora.
Depois de passar todos esses dias sendo um grande babaca de merda.
Eu sei.
Essa foi a forma mais fácil que encontrei de lidar com o fato de estar convivendo com ela
e Josh e não pensar que estamos guardando dele a informação de que dividimos a cama algumas
vezes.
Eu e a ex-namorada dele.
Peço licença aos meus convidados e tiro o celular do bolso, fingindo que vou olhar
qualquer coisa, mas caminho em sua direção. Ela não percebe que estou indo até lá. Quem não
percebe também é Josh, que chega até Summer antes de mim.
Paro no lugar e fico encarando os dois.
Summer larga seu telefone e presta atenção no meu sobrinho, que está com uma taça de
champanhe na mão, sorrindo, falando manso com Campbell.
Pela primeira vez em todos esses dias, vejo-a olhar com paciência para ele. Ela presta
atenção no que ele diz e até ri, balançando a cabeça. Mordo a merda da minha bochecha e sinto o
gosto do sangue tomar minha boca. Dou uma outra golada generosa na bebida amarga.
— Você sempre foi péssimo nessas coisas, Savard. Você não sabe disfarçar — ouço a
voz de Lee do meu lado esquerdo.
Viro o rosto em sua direção.
— Do que você está falando?
Ele aponta discretamente o queixo na direção dos dois, depois me encara mais uma vez.
— Seus olhos estão gritando “ciúmes”! — Meu empresário ri. — Você me proibiu de me
enfiar no meio das pernas da garota, mas você mesmo não se aguentou, não foi?
— Por que não sabe tratar os outros com o mínimo de respeito, Mark? Não dá para falar
como um homem civilizado? E que porra é essa que está dizendo?
Ele balança a cabeça negando, e continua:
— Você não sabe brincar com essa coisa de “às vezes”, Theo, porque eu tenho certeza de
que foi esse seu combinado com ela. Está aí, escrito na sua cara, o seu desespero com Josh aqui.
Você tem medo de que ele descubra que está se deitando com a ex-garota dele. — Entorna
uísque cowboy garganta adentro antes de completar. — Mas deveria ter medo é de que todo
mundo nesta festa descubra. Saiba fazer as coisas da forma que devem ser: escondidas. Não
coloque o último ano da sua carreira em risco por conta de uma boceta. Você é emocionado, mas
não deveria ser burro.
— Cala a porra da sua boca, Mark — as palavras saem tão comedidas e baixas que me
espanto de não ter explodido e transformado esta festa em um circo. — Lava essa merda antes de
falar da Summer. Ela não é o tipo com quem você está acostumado a andar. E eu te pago para
cuidar dos meus contratos, não da minha vida, então não venha me dar conselhos que eu não te
pedi.
Ele engole em seco, passa a língua pelos lábios, frustrado, mas emenda:
— Só não estrague tudo, Pole. Tem ideia da merda que isso seria se caísse na mídia? Ela
é a ex do seu sobrinho. Você acha mesmo que, no fim da sua carreira, é o que esperam do único
cara que não é polêmico dentro da F1?
Esfrego a testa e bufo, olhando de novo para os dois. Vejo o exato momento em que Josh
coloca a mão na cintura de Summer e a conduz até a porta da frente. Ele deixa a taça na bandeja
de um garçom e, em segundos, os dois saem de casa.
O fogo que toma conta do meu peito parece que vai explodir tudo em volta de mim.
Tenho vontade de jogar esse copo de cerveja em uma das paredes, mas o olhar de Mark me faz
engolir a porra do meu ciúme e me colocar no meu lugar.
No de quem não está na posição de exigir de Summer o caralho que seja.
Termino com a bebida e coloco o copo em cima da mesa, dando uma última olhada para
Lee antes de virar-lhe as costas e voltar para perto da minha equipe.
Capítulo 25 - Summer Campbell

Josh e eu estamos andando pelas ruas de Monte Carlo há, pelo menos, duas horas, depois
de estacionarmos o carro por aí.
A noite está agradável e nós tivemos um bom momento juntos. Rimos de algumas coisas
do passado, relembramos momentos bons que vivemos com nossos amigos, ele me contou sobre
a empresa e como tudo mudou desde que nos separamos.
Claro, Joshua pediu outra chance. E eu já sabia que era isso que ele queria quando insistiu
que saíssemos um pouco da festa só para ter um momento de “amigos”. Não sou tão inocente
assim. Mas, como todas as outras vezes, fui firme em dizer não.
— Você não sente saudades da gente? — pergunta olhando para o chão, caminhando
devagar ao meu lado, visivelmente chateado.
Observo a movimentação intensa de gente na cidade aproveitando a estada por conta da
corrida e paro no lugar.
Josh percebe e para também, olhando-me em seguida.
— Por que está fazendo isso com si mesmo, Josh? Você é um cara lindo, incrível, com
um humor que eu adoro. Inteligente… Você sabe que a gente não funciona mais. Sempre soube,
na verdade. Eu também. A gente cometeu um erro e isso quase custou a nossa amizade. Eu adoro
você, do fundo do meu coração, mas não sinto saudades de algo que nem deveria ter acontecido.
— Você me magoa desse jeito, Sum. — Ele passa a mão nos cabelos bonitos, jogando
para trás. — Fica parecendo que foi a pior coisa que poderia ter feito na sua vida.
— Não coloque palavras na minha boca, está bem? — Ele adora fazer esses joguinhos
nos quais eu nunca caí. — Só vamos seguir em frente, sem ressentimentos. Nós somos amigos,
sempre vamos ser, e ficaremos felizes um pelo outro pelas escolhas que estamos fazendo e ainda
faremos. Alguém legal vai surgir para você, como alguém também vai aparecer para mim.
É óbvio que Savard surge imediatamente na minha mente e no mesmo instante me mando
para a puta que pariu.
— Me desculpe por ser grosso, mas não vou ficar feliz quando souber que você está com
alguém, Summer. — Passa a mão agora pela barba, de um jeito frustrado, e olha em direção à
rua, para não me encarar.
Deus, por que ele é tão imaturo assim?
Reviro os olhos, porque não quero perder mais meu tempo discutindo sobre isso.
— Podemos ir embora? Eu tenho muito trabalho amanhã cedo.
Espero que, a uma hora dessas, aquele bando de gente já tenha ido embora. Só aceitei vir
para a rua com Josh porque não estava com a mínima vontade de ficar em casa, e me esconder no
meu quarto me pareceu infantil demais.
Quis tanto abraçar Theo ao fim da corrida. O jeito como ele conduziu tudo até que a P1
fosse sua encheu meu peito de uma coisa misturada entre a felicidade e o orgulho.
Savard é tão determinado com suas coisas. Não é à toa que seja quem é. Mas não
consegui esquecer a forma como me tratou por todos esses dias, por isso simplesmente me
mantive em meu lugar, por mais que tudo em mim gritasse para correr até ele.
Ficar naquela festa fingindo que está tudo bem foi demais para mim.
Josh demora alguns segundos para me responder, até pegar a chave do carro no bolso e
apontar para onde deixamos estacionado.
— Vamos.
O resto do caminho é puro silêncio, o que não me incomoda, mas sei que está quase
matando Josh.
Quando estaciona o carro, desço com calma. Espero que ele desligue e chegue até mim.
Pela falta de veículos e barulho, parece que a farra de Lee já chegou ao fim.
Nós dois ficamos parados olhando um para o outro.
— Josh, não quero briga, não quero clima ruim, não quero que sejamos dois estranhos um
para o outro. Podemos ficar bem? Eu quero que você fique bem.
— Eu vou tentar — solta enquanto brinca com a chave do carro. — Posso te abraçar?
— Que pergunta ridícula, Joshua Savard. — Puxo-o na minha direção e ele ri, abraçando-
me forte.
— Me perdoa se eu não fui o cara que você merecia que eu fosse. Por todas as merdas
que fiz, por não ter percebido a tempo o quanto eu só estava te afastando. É o maior
arrependimento da minha vida, Sum. E vou morrer com isso dentro de mim. Mas não posso
continuar sendo idiota ao ponto de querer que você mude de opinião agora. Me desculpe por
insistir.
Saio do seu abraço devagar e seguro suas mãos, olhando bem para ele.
— Está tudo bem, ok? Passou. Estou seguindo a vida, você também, e sei que um dia vai
conseguir olhar com carinho, como eu olho, e tudo vai se tornar uma boa lembrança.
— Eu espero mesmo que sim. — O sorriso dele não chega a ser triste. — Bom, vamos
entrar? Você precisa descansar e eu tenho um voo cedo para pegar.
— Mas você não ia embora só no outro fim de semana? — foi o que ele disse todos esses
dias hospedado aqui.
— Acabei de mudar de ideia. — Agora o sorriso é amargo.
Ok, Josh. Ok.
— Entendi.
Quando me viro para a direção da casa, vejo a sombra de Savard se afastando da janela.
Nós dois fazemos o trajeto curto até a porta, quando encontramos Theo sentado no banco
alto do seu pequeno bar, que fica na sala. Nem parece que horas atrás isto daqui se parecia com
uma balada de Ibiza. Aposto que Manfred foi quem colocou a equipe da festa para arrumar tudo
antes de ir para a casa do cara que ele está encontrando.
Meu chefe segura um copo de uísque e dá um gole grande assim que eu e Josh paramos
ao seu lado. Ele suspende a cabeça e, antes de qualquer coisa, olha diretamente para mim.
Sinto como se Theo quisesse me falar muitas coisas com esse olhar, mas não faço questão
de saber o que pode ser. Ele desvia a atenção para Josh e sorri.
— E aí, crianças? Se divertiram?
Crianças?
É sério, Theo?
— Foi um bom passeio por Monte Carlo. — Sem querer demonstrar fraqueza, de repente
meu ex parece o cara mais animado do mundo. — Summer é sempre uma ótima companhia.
O tio só balança a cabeça, rindo pelo canto dos lábios, mas resolve me encarar.
— Ah, com certeza ela é, Josh.
O que está dando nesse homem?
— Bom, eu vou subir e arrumar as minhas coisas. Resolvi voltar mais cedo para o
Canadá. Tenho coisas da Savard para resolver. Vejo vocês amanhã cedo. — Joshua beija minha
testa e diz: — Obrigado pela noite, Sum. Dorme bem. Boa noite, Theo, e parabéns mais uma vez.
Nunca vou me esquecer do dia de hoje. — Estende a mão para o tio, que pega e aperta.
— Bom descanso, garoto. Obrigado por estar aqui. Foi muito importante pra mim.
Ele termina com um tapa no ombro de Theo e nos dá as costas, indo em direção à escada,
subindo dois degraus por vez.
Fico parada até ouvir a porta do quarto em que ele está se fechar. Solto a respiração e
olho para o meu chefe, soltando um:
— Boa noite, Savard.
E começo a fazer o mesmo caminho que o sobrinho dele.
— Gostou de passear com o seu ex? — a voz de Theo é como um sussurro, mas me faz
parar no lugar.
Viro o corpo devagar e olho para ele, que está agora com os braços apoiados no bar.
Savard ainda não trocou de roupa, está vestido impecavelmente como estava mais cedo. De uma
vez só, termina sua bebida âmbar, coloca o copo no bar, mas não tira os olhos de mim.
Volto alguns passos até ele, questionando:
— Que diferença faz para você saber se eu gostei ou não, Theo?
Vejo quando seu pomo-de-adão sobe e desce com força. É como se Savard estivesse
engolindo algo.
E, pela cara dele, é raiva.
— Você está bonita assim para Josh?
Os olhos do piloto percorrem desde a minha sandália até o encontro da minha coxa
desnuda e a barra do meu vestido off-white. Depois, sobem até o decote, que não é nada
provocativo, mas é bonito e valoriza meu colo.
— E desde quando você se importa com isso? Eu fico bonita para mim. Deixe de ser
maluco! — apelo.
Depois de todo o gelo desses dias, quero mais que ele vá se danar.
— Você já viu a forma como ele olha para você? — o tom de Theo não é realmente como
se ele esperasse uma resposta minha, mas como se concluísse apenas.
E estivesse sofrendo por isso.
Eu realmente desisto de entendê-lo.
— Ele vai superar. — Estou de saco cheio de Savards por hoje.
Faço menção de me virar outra vez e sinto os dedos gelados segurarem meu braço com
calma. Paro e fecho os olhos, respirando fundo.
— Ele te beijou, Summer? Josh e você se beijaram?
Nem sei o quanto de incredulidade deve estar estampado no meu rosto agora.
— Que tipo de mulher você acha que eu sou?
Seus olhos estão negros e eu já vi este olhar antes.
— Só me responda, não vai doer. — Ele me puxa um pouco mais para perto e minhas
pernas acabam entre as suas.
De repente meu coração dispara. De raiva e de nervoso. E também porque o cheiro do
perfume deste homem hoje está me matando.
Como alguém pode ser tão bonito e perfeito como Theo Savard?
Que ódio!
— Você sabe a resposta — cuspo as palavras em um tom mais baixo, com medo de que
Josh nos ouça.
As mãos grandes de Theo seguram minha cintura e ele abre mais as pernas, encaixando-
me perfeitamente entre elas. Tira a bolsa da minha mão, colocando no banco ao lado do seu.
— Mas eu quero ouvir da sua boca. Quero ouvir com a sua voz. Josh encostou em você?
Por que é que eu estou excitada com Theo possessivo assim? Eu deveria dar um tapa no
meio da cara dele.
— Seu sobrinho é imaturo, mas não é louco.
Antes que eu termine de falar, a mão de Theo puxa minha nuca em direção ao seu rosto.
Meu corpo estremece no exato momento em que sua língua reivindica a minha. Enquanto a
minha cabeça grita para que eu me afaste, minhas mãos grudam nos seus braços e eu me entrego
a ele.
Theo conduz nosso beijo como se sua boca soubesse exatamente tudo o que a minha
quer. Como seus lábios pressionam os meus, como sua língua brinca com a minha e me deixa
querendo mais, e como o gosto do seu hálito e do uísque estão mandando fogo diretamente para
o meio das minhas pernas.
Quando ele larga meus lábios para mergulhar a boca no vale entre minha orelha e nuca,
preciso morder a bochecha para não gemer.
— Josh não é louco, mas pelo visto você é — falo tão baixo que quase nem escuto a mim
mesma. — Me tratou como se eu fosse invisível todo esse tempo, e agora está me beijando feito
um animal!
Sua língua lambe com fome a minha pele sensível e eu cravo as unhas nos músculos dos
seus bíceps. Não consigo manter os olhos abertos de tanto tesão.
— Devo estar louco mesmo — responde com a voz grave, trocando-nos de lugar. Theo
me senta no banco alto e fica no meio das minhas pernas, subindo o vestido até o meu quadril,
deixando minha calcinha de fora. Savard olha diretamente para a minha boceta e sua respiração
entrecorta, ansiosa. — E não me orgulho da forma como te tratei. — Faz uma pausa, olha dentro
dos meus olhos e sussurra, alisando minhas coxas com as mãos enormes. — Deus vai me mandar
direto para o Inferno, Summer.
— É provável que Ele me envie para te fazer companhia, Savard. — Afasto a calcinha
para o lado e Theo fecha os olhos antes de tombar a cabeça para trás.
A esta altura, depois de sentir essa boca em mim outra vez, já esqueci toda a raiva que ele
me fez passar.
Não pode ser normal o quanto eu quero Theo Savard.
Ele volta a me encarar e se encosta em mim, deixando minhas pernas completamente
abertas.
— Josh está chateado?
— Está.
Suas mãos seguram meus cabelos pela nuca e dão um tranco na minha cabeça. Preciso
me controlar para não gritar.
— Você disse não para ele?
— Como tenho feito todas as vezes.
A ponta do seu nariz se junta ao meu e nós dois ficamos respirando rápido, sentindo o
hálito quente do outro bater nos lábios molhados e inchados.
— E por que eu estou tão feliz com isso, Summer? Me responde. — A testa do meu chefe
cai sobre a minha enquanto uma das mãos procura minha boceta. — Joshua, meu sobrinho, deve
estar puto lá em cima agora e sabe no que eu estou pensando?
Quando seus dedos escorregam pela minha carne já encharcada, os dedos dos meus pés
se contorcem na sandália.
— Me diga você, Pole — provoco, porque sei o quanto isso o enche de tesão.
— Em dar para esta boceta o que ela quer. — Theo entra com um dedo em mim, só para
me perturbar. Dou um solavanco no banco e ele puxa meu cabelo, encostando a boca na minha,
dizendo: — Shhhhhh! Silêncio.
Então, enfia o segundo dedo e começa a me foder, fazendo-me encará-lo no processo.
Não sei o que está me deixando mais excitada, seus dedos ou saber que Josh está somente
a um andar de distância.
Minha mão voa com urgência até a frente da sua calça, onde o seu pau marca o tecido.
— E você não se importa que Josh possa nos ouvir? — Massageio sua ereção de baixo
para cima enquanto ele aumenta o ritmo da mão.
— Você é uma boa garota, Summer, vai saber se comportar.
Abro o botão da sua calça e puxo seu pau para fora da cueca. Savard está tão duro e
quente… Movimento a mão rápido e meu chefe grunhe entre os dentes.
— Não foi você quem disse que não repetiríamos isso?
Ele estoca os dedos com força dentro de mim e minha boca forma um grande O,
enquanto seguro o gemido na garganta.
— Pelo visto, eu sou uma fraude em cumprir minhas próprias regras quando se trata de
você, Campbell.
E aí eu me derreto inteira na sua mão. Tomo cuidado para não fazer barulho, mas rebolo
em seus dedos e não descanso os meus no seu pau.
— Só mais esta vez, Theo Savard? — ironizo enquanto seus olhos me queimam e ele
morde o lábio inferior, empurrando o quadril na direção da minha mão.
— Só mais esta vez — sussurra ao mesmo tempo que tira a carteira do bolso.
Os dedos de Theo saem de mim e ele tira o preservativo de lá, colocando o objeto ao lado
da minha bolsa.
Rasga com rapidez a embalagem e eu largo sua ereção, assistindo-o colocar a camisinha
para entrar em mim.
Nossas respirações são uma verdadeira confusão, e eu apoio as duas mãos na parte de trás
do banco, abrindo bem as pernas, deixando espaço suficiente para que Savard se mova.
Theo segura seu membro e bate com a cabeça na entrada molhada, eu reviro os olhos de
expectativa.
— Estava com saudade desta boceta gulosa. — Entra devagar, centímetro por centímetro,
e eu amo cada sensação que isso me desperta.
A forma como me encara agora é uma mistura de tesão e descontrole. Ele entra inteiro, de
uma vez só, e minha boca voa para a sua, que me beija com fúria.
Theo se move devagar, o que me faz sofrer. Ele apoia as mãos atrás de mim, no pequeno
balcão do bar, e mete lentamente para não fazer barulho. Coloco os braços em torno do seu
pescoço para ficar mais segura.
Meu chefe encontra uma forma de me foder mais rápido e sem deixar o banco ranger.
Começo a gemer no meio do nosso beijo e Theo faz o mesmo.
— Se você continuar assim, não vou aguentar não gritar, Savard — largo sua boca só
para confessar.
Ele empurra mais forte, fazendo-me contrair em volta dele, deixando meus seios
doloridos de tanto tesão.
— Geme no meu ouvido, Summer. Geme só para mim. Eu sei que você consegue ser
uma garota boazinha hoje — e estoca até que sinto suas bolas baterem na minha bunda.
Prendo o lábio entre os dentes, mordendo forte, respirando feito uma louca.
Grudo a boca no ouvido de Theo e começo a gemer baixinho, deixando que ele saiba que
nunca vou me cansar disso.
De nós dois.
Mesmo que eu esteja colocando o meu coração à prova mais uma vez.
Mas, enquanto ele está enterrado dentro de mim, não quero pensar nisso.
De repente, ouvimos um barulho no andar de cima.
Josh abriu a porta.
Fico completamente desesperada e começo a empurrar Savard.
Ele apenas faz que não com a cabeça e diz com tranquilidade:
— Pega sua bolsa e minha carteira.
Olho para ele apavorada, mas ouço os passos de Josh se aproximando da escada. Pego os
dois com uma mão só e Theo ao mesmo tempo me iça no seu colo, encaixado em mim,
caminhando sem pressa por alguns passos, até que estamos debaixo da escada.
Ele encosta minhas costas na parede e me mantém ali, quando Joshua desce o último
degrau, a menos de dois metros de nós.
Savard e eu ficamos nos encarando por alguns segundos, até que ele toma a minha boca
de forma apaixonada. Theo me beija com carinho, sem pressa, e eu penso que este homem só
pode estar louco, mas não consigo negar.
Ouvimos Josh mexendo na cozinha, e, com meu coração completamente disparado, beijo
Pole, segurando seu rosto com uma mão, sentindo a barba me pinicar.
Ele começa a mexer o quadril devagar, me fodendo assim, debaixo da escada, seu
sobrinho fazendo barulho com copos no cômodo ao lado.
É impossível que ele nos veja onde estamos, mas sei que qualquer som poderia chamar
sua atenção até nós.
Aperto com força os objetos que seguro com medo de que caiam e façam barulho.
Quanto mais Savard empurra seu pau dentro de mim, de um jeito que parece ensaiado para que
não nos coloque em apuros, mais perto de gozar eu fico, de tanto tesão que estou sentindo agora.
Ele me fode macio, suave, reivindica minha boca como sua.
E ela é.
Talvez Theo não saiba, mas, se há uma coisa que eu sou desde que transamos naquele
clube, é dele.
Josh volta pelo caminho que fez antes e Savard para o movimento, sem deixar de me
beijar. Tenho a sensação de que Joshua vai aparecer com a cara bem aqui e dizer que sabe que
estamos transando esse tempo todo.
Mas isso não acontece.
Ele volta a subir as escadas e Theo, de repente, volta a socar forte, como fez no banco.
Aperto as pernas com mais força no seu quadril e começo a gemer sem conseguir me controlar.
Theo troca sua boca pela mão, fazendo-me mordê-la, enquanto Josh sobe as escadas e seu
tio maltrata minha boceta bem abaixo dele.
Meu Deus. Eu vou gozar!
Meus dentes cravam sua palma e ele solta um rugido abafado, empurrando cada vez mais
rápido.
Ouvimos a porta de Josh se fechar de novo e então Theo diz:
— Olha nos meus olhos e goza, Campbell.
— Então não para, Theo. Eu quero forte. Mais forte!
— Josh vai nos ouvir — comenta, mas empurra bruto e faz minhas costas se soltarem da
parede com o impacto.
Que delícia!
— Não estou mais ligando. Só quero gozar com você!
— Você é uma safada. — Seu quadril soca rápido e me arranca um fôlego sofrido. — A
porra de uma safada que vai me deixar louco. — Sinto seu pau me esfolando e o orgasmo nascer
bem embaixo, no meu ventre.
Eu rebolo com suas mãos sustentando minha bunda enquanto o gozo chega.
— Ai, Savard! Ahhhh… — as palavras saem baixas, mesmo doida para gritar.
— Isso, Summer. Goza — e uma simples palavra saída da sua boca me faz derramar
completamente no seu pau.
Deixo as coisas caírem ao chão na esperança de que não chamem a atenção do seu
sobrinho e tomo impulso segurando nos seus ombros, mexendo o quadril e gozando sem parar.
— Não para, não para! — imploro, e ele mexe mais rápido, me comendo com tanta força
que quase desmaio no seu colo enquanto meu orgasmo me arrasta para um lugar escuro.
Sinto quando é Savard que se liberta dentro de mim.
Ele goza tão forte que seu corpo treme junto do meu.
— Caralho, Summer! Porra… Ahhhhh! — fala palavrões no meu ouvido enquanto se
enterra fundo e se derrama, fazendo com que sua testa suada encontre o meu próprio suor, que
escorre pelo meu pescoço.
Suas mãos ainda me mantêm suspensa enquanto, de repente, a sala é tomada pelas nossas
respirações erráticas e pesadas.
Abraço Theo com força e ele faz o mesmo. Ficamos parados assim por um bom tempo,
só sentindo o cheiro do outro, o calor dos corpos, o jeito como nosso coração está batendo
completamente errado.
Mas parece certo.
Me parece tão certo…
Seus lábios macios depositam um beijo no meu ombro e ele me leva de volta para o
banco. Meu chefe me senta e nós dois ficamos nos encarando por segundos até encontrarmos a
forma correta de respirar mais uma vez.
Seus dedos brincam com meus cabelos grudados pelo rosto e o simples gesto faz meu
coração disparar outra vez.
Ele estava com ciúme de Josh.
Theo Savard estava com ciúme do próprio sobrinho, e ele talvez não faça ideia de como
isso é uma verdadeira bobagem, porque não existe outro Savard que eu queira que não seja ele.
Theo guarda o pau dentro da calça, mesmo com preservativo, todo melado de mim. Ele
segura minha calcinha e volta o tecido para o lugar, colocando-me de pé e arrumando o vestido
no meu quadril outra vez. Pede um segundo e volta até a escada, pegando nossas coisas. Seguro
minha bolsa, ainda um pouco tonta.
— Quer uma água? Eu vou pegar para você.
Nego.
— Tem no meu quarto, bebo lá.
— É melhor tirar sua sandália, o salto vai fazer barulho na escada.
Concordo com ele e devolvo minha bolsa para suas mãos, abaixando-me e retirando o
calçado. Seguro os dois e Theo me oferece a mão. Olho dele para ela e acabo aceitando.
Nós dois fazemos o caminho até a escada e subimos tudo de mãos dadas, muito devagar.
É um risco enorme, porque, assim como foi beber água, Josh pode decidir fazer qualquer outra
coisa aqui fora, mas Theo não desgruda a mão da minha.
Assim que paramos na porta do meu quarto, eu me viro em sua direção. Ele me entrega a
bolsa e suspira, passando a língua no lábio, olhando bem dentro dos meus olhos. Sem que eu
possa questionar, toma minha boca outra vez na sua.
Suas mãos agarram minha nuca e beijo Savard com a mesma devoção que me beijou
minutos atrás lá embaixo. Fico na ponta dos pés para alcançá-lo e tenho vontade de arrastá-lo
para dentro comigo.
A forma como sua língua brinca com a minha me deixa completamente alucinada, e eu
nem me recuperei do orgasmo que ele acabou de me dar.
Mas passaria a noite inteira com Theo dentro de mim.
Facilmente passaria.
Devagar, ele separa a boca da minha, dando-me dois beijos rápidos. E o jeito como me
encara agora me diz que estamos nos despedindo. Amanhã, voltaremos a ser somente Theo e
Summer. O piloto e sua assessora.
— Boa noite, Campbell — e, com muito cuidado, anda pelo corredor que passa pela porta
onde seu sobrinho está, alcançando seu quarto, lá do outro lado.
Antes de fechá-la, como se ela pesasse como uma pena, sustenta o olhar em mim e
respira pausadamente, como quem está brigando internamente sobre as coisas que sente.
Espero que suma da minha vista para fazer o mesmo que ele e, com todo cuidado que
posso, fecho meu quarto. Escorrego o corpo pela parede, caindo sentada com todas as minhas
coisas sendo largadas ao redor de mim, e paro alguns segundos para pensar na loucura que
aconteceu nos últimos vinte minutos.
Eu não deveria ter cedido, mas simplesmente não consigo resistir a Theo.
O que não deveria ser um problema, se eu estivesse em busca somente de sexo gostoso e
orgasmos como nunca tive antes na vida.
O problema é que sei que já estou colocando mais coisas em jogo, coisas que não posso
evitar sentir.
Transar com Theo Savard enquanto ele não consegue se libertar da culpa por Josh coloca
em risco meu coração.
E eu não sei até onde estou disposta a sacrificá-lo.
Capítulo 26 - Summer Campbell

JUNHO
FINAL DE SEMANA DO GP DO CANADÁ

Acho que só passei pela grande prova que foram meus últimos dias porque sabia que este
momento chegaria: estar com Aileen.
Theo não reclamou quando pedi para não os acompanhar no hotel por esses dias. Acho
que ele nem teria coragem. Por isso, aluguei uma pequena casa de temporada para que eu e
minha melhor amiga pudéssemos passar um tempo juntas. Tentei que minha família também
pudesse vir, mas todos eles tinham compromissos neste fim de semana, então só nos veremos nas
festividades de agosto.
Desde a última vez que transamos, meu chefe voltou a ser como era no começo:
engraçado, brincalhão, mas distante. Um dia, quando estávamos sozinhos entre um compromisso
e outro, perguntei se ficaríamos para sempre daquele jeito, como se nada tivesse acontecido.
Com muita calma e delicadeza, Savard me disse somente essas palavras: Lee já sabe.
E então eu entendi que agora o problema ia além de Josh.
— Você não vai mesmo me contar o que está acontecendo? — Minha amiga aparece do
lado de fora da casa, na varanda, onde estou sentada no sofá desde que voltamos da classificação
há, mais ou menos, umas duas horas.
Ela foi comigo para o circuito ontem e hoje também, assistiu de perto meu chefe
conquistar sua última pole dentro de casa.
A briga amanhã entre Theo, Seb e Mendez está movimentando o mundo esportivo.
Theo concordou em dar entrevistas para três jornais do Canadá e estou fazendo a seleção
para quais deles ele dirá algumas palavras durante os próximos dias por aqui. Eu, me
surpreendendo um total de zero por cento, chego ao e-mail de inscrição do The Toronto Post.
Que ironia do destino, não é mesmo?
Meu antigo chefe quer que a pessoa que ele colocou no meu lugar entreviste Theo
Savard, enquanto eu, que trabalhava feito uma maluca naquele lugar, nunca tive credencial nem
para fazer uma cobertura de GP.
Sei que a vida pode me devolver de alguma forma a “filha da putice” que eu vou fazer
agora, mas, se O’Brian achou mesmo que ia conseguir uma coisa dessas, vai cair agora do
cavalo.
Deixo Aileen esperando enquanto copio e colo no e-mail de resposta.

Olá!
Informamos que, infelizmente, o The Toronto Post não foi selecionado para a série de
entrevistas que Theo Savard dará no Canadá.
Agradecemos a inscrição.

Atenciosamente,
Summer Campbell
Assessoria Theo Savard (McLean Racing)

Nada como um dia após o outro!


Volto a dar atenção à minha amiga.
— O que você quer dizer com “o que está acontecendo”? — Ela sabe.
Aileen com certeza sabe, porque, perto dela, não consigo disfarçar.
— Aí dentro desse coração. — Abaixa a tampa do meu MacBook e eu olho em sua
direção. — O que é que está te angustiando tanto?
Eu não quero mentir para ela.
— Vou te contar uma coisa que não pode sair daqui. E não é por minha causa. Posso
prejudicar muito outra pessoa. Aliás, uma grande quantidade de pessoas.
— Você sabe que eu jamais faria isso, Summie. — Minha amiga bibliotecária chega mais
perto e me abraça.
Seus cabelos vermelhos, que eu tanto amo, trazem paz ao meu coração, porque me
reafirmam que estou em casa.
Era disso que eu precisava.
— Estou apaixonada por Theo Savard, Leen.
E é a primeira vez que verbalizo essas palavras. Eu esperava que fossem soar mais
estranhas, mas a verdade é que não me parece tão absurdo assim.
Não me parece errado gostar desse homem como eu gosto.
Seu sorriso gentil e acolhedor me emociona.
— Eu vi nos seus olhos, pelo jeito como você olha para ele.
— Estou dando tão na cara assim? — Eu me desespero.
— Não. — Ela ri baixinho. — Você é sempre muito discreta. É só que eu te conheço
como a palma da minha mão.
Olho para baixo na tentativa de acalmar meu peito.
— Foi a coisa mais intensa que eu já vivi na minha vida, Aileen. Ninguém nunca me
beijou do jeito que ele beijou. — Fecho os olhos me lembrando daquele último beijo, na porta do
meu quarto. — É um sexo quente misturado com um toque cuidadoso, com uma gentileza
diferente, com um desejo carregado de sentimento. Eu não sei explicar.
Sinto seus dedos brincando com meus cabelos. Ela encosta o seu queixo no meu ombro.
— Vai ser um escândalo quando todo mundo souber, não é?
Nego com a cabeça.
— Ninguém vai saber. Aliás, você sabe, o empresário dele também. Mas não vai passar
disso. Savard pode não ter resistido ao que a gente queria, mas está empenhado em não magoar
Josh. O sobrinho está acima de qualquer coisa para ele. Nós dois, eu e Theo, não somos uma
opção.
Não quero chorar. Deus, por favor, não quero chorar!
Seus pequenos braços me apertam agora e eu deito a cabeça em Leen. Pensar nisso desde
aquele dia tem doído mais do que eu gostaria.
— E o que você pretende fazer?
— Não sei — sou sincera. — Tenho um contrato para cumprir. Ainda restam seis meses
até o fim da temporada e a aposentadoria dele. É difícil viver na mesma casa que o homem que
você quer, mas que não pode ter. — Rio da minha própria tragédia.
— Não seria o caso de se mudar?
— Para isso, eu teria que usar o dinheiro que minha mãe deixou. É meio que pagar para
trabalhar. Você não faz ideia do quanto custa morar naquele lugar, Aileen.
— É, estamos falando de Mônaco, me desculpe. — Beija meu rosto várias vezes. —
Você não está sozinha, amiga. Ouviu? E, por favor, não se culpe por gostar de alguém. O fato de
Josh e Theo serem sobrinho e tio é só uma coincidência, não uma situação que você procurou
com as próprias mãos.
— Obrigada. — Sorrio, mesmo que triste. — Sei que não, mas isso não diminui o
problema. Antes, eu tinha certeza de que poderia viver muito bem transando loucamente com
meu chefe sem que ninguém precisasse saber, muito menos que a gente esperasse algo para além
disso. O negócio é que eu espero. Quero isso mais que tudo, Leen, mas ele nunca vai me dar.
Tudo o que pode me oferecer é o que seu corpo me proporciona, mas meu desejo é que o coração
de Savard entre nessa equação junto com o meu, e eu preciso de uma vez por todas encarar o fato
de que isso não tem chances de acontecer. — Levanto com meu computador e ofereço a outra
mão para ela. Combinamos de cozinhar juntas hoje para relembrarmos nossos dias morando sob
o mesmo teto. — Quer saber como foi minha primeira noite com Savard? — Dou um sorriso de
lado porque, já que estou no meio da merda, não custa pelo menos contar para minha melhor
amiga sobre as loucuras que eu cometi nesses meses longe de casa.
— Isso é pergunta que se faça? — Mais que depressa ela está de pé ao meu lado. — Você
transou com o maior piloto de todos os tempos da Fórmula 1, é claro que eu quero saber!
— Foi em um clube de sexo.
Aileen arregala os dois olhos e eu começo a rir descontroladamente.
Como eu estava com saudade dela.

Poucas coisas me parecem tão bonitas na vida como o sorriso de Theo Savard quando
ganha um GP. Ousado e destemido como é, emplacou mais um recorde que deixou a internet em
frenesi. Nunca nesse tempo todo o perfil oficial de Savard recebeu tantas menções.
Theo conquistou a pole na classificação, teve a volta mais rápida da prova e ainda liderou
o Grande Prêmio no Circuito Gilles Villeneuve, em Montreal, o tempo inteiro configurando o
que eles chamam na F1 de Grand Chelem.
Ainda no carro, com uma multidão ao seu redor, recebe de Wisbech a bandeira do
Canadá. Quando tira o capacete e a balaclava, fica de pé em cima dele e balança o símbolo do
nosso país, fazendo-me torcer o nariz na tentativa de não chorar.
É lindo!
O grito da equipe, da torcida, a festa que as pessoas fazem ovacionando mais um feito
que ficará para sempre marcado na sua história me faz lembrar a medalha de ouro que a minha
mãe ganhou em sua última olimpíada.
Eu assisti àquela fita, no mínimo, umas duzentas vezes. E, em todas, eu me emocionava.
Não tinha nada que pudesse explicar a sensação de ver minha mãe sendo aplaudida de pé por um
país inteiro. Amada e querida como se fosse uma pessoa íntima, da família de cada um deles.
Sara Mackenzie foi determinada em tudo o que fez. Colheu todos os frutos que pôde.
E é como eu enxergo a trajetória brilhante de Theo neste último ano.
— Você não vai lá? — Logan bate o ombro em mim, acordando-me dos meus
pensamentos.
— Tem muita gente, depois eu cumprimento.
Meu amigo me olha de lado, fazendo uma careta.
— Anda, querida. Seu chefe acabou de fazer uma das maiores façanhas da Fórmula 1! —
Ele me dá um pequeno empurrãozinho e eu caminho alguns passos, olhando feio para ele, mas
indo devagar até a multidão em volta de Theo. É tanta gente que não acaba.
Wisbech e Mark o abraçam forte e sua equipe o pega, jogando para cima. A gargalhada
dele ecoa por todo o circuito, mas bate direto no meu coração. Engulo em seco e penso em voltar
para trás, mas logo aparece uma senhora Salma animadíssima com os gêmeos, irmãos de Joshua,
passando um braço pelo meu e dizendo:
— Vamos lá, Summer!
A mãe de Theo, Matthew e Perry acompanharam todo o nosso final de semana. Já Josh
apareceu só hoje, com aquele tanto de amigo riquinho e metido que ele tem, ostentando na área
VIP e tentando me ignorar. Acho que a tática do sobrinho de Savard agora é outra e, mais uma
vez, não consigo entender como um cara de vinte e seis anos acha que esse tipo de coisa pode dar
certo.
Espero que ele não tenha ido incomodar Aileen.
Quando finalmente todos descem, os sobrinhos grudam no tio e a Salma faz o mesmo. Eu
fico dois passos para trás, só assistindo.
Ele fica extremamente emocionado e algo que a mãe diz faz Theo fungar, segurando as
lágrimas. Ele beija a testa dos três e promete que irá em breve abraçar Derek e os outros.
Sua atenção cai em mim logo que eles se afastam e vão comemorar com o restante das
pessoas.
— Não vai vir aqui me dar um abraço, Campbell?
Entre um meio sorriso e uma vontade absurda de chorar, avanço os passos que faltam até
ele.
Imediatamente meu corpo parece relaxar, como se tivesse acabado de se entregar ao vício
da droga que o entorpece. O calor do corpo de Savard se alastra por cada parte do meu e eu
respiro fundo, querendo mais disso para sempre.
Você pode me abraçar para sempre, Theo Savard?
— Uma temporada mágica como essa não poderia acontecer se eu não tivesse alguém em
quem eu confiaria a minha vida como confio em você. Obrigado por ser meu ponto de paz,
Summer.
Sem medo de que os outros vejam e pensem qualquer coisa, Theo beija demoradamente
minha testa e sorri, envolvendo-me nos braços outra vez.
Sem palavras para responder, eu me perco no momento em que ele me solta e já abraça
outra pessoa, passando de amigo em amigo, preparando-se para ir até o pódio e receber seu
troféu.
Dando a volta para me afastar e tentar processar o que Theo acabou de me dizer, meus
olhos se esbarram com os de Mark, que agora me observam de um jeito um pouco diferente.
Ele tem ficado muito mais calado ultimamente e as brincadeiras não são tão audaciosas
como antes. Não me incomoda que saiba, porque eu não me importo com o que pense de mim.
Me incomoda a forma como tem me olhado a semana inteira.
Como se eu fosse um perigo para Savard. Como se eu fosse irresponsável o suficiente
para colocar a imagem dele em risco.
Antes que as coisas fiquem ainda mais estranhas por aqui, caminho de volta para Logan.
Capítulo 27 - Theo Savard

Theo Savard, da equipe McLean, faz história no GP do Canadá com


Grand Chelem

Em um espetáculo de pura maestria e determinação, o piloto de Fórmula 1 Theo Savard,


da equipe McLean, fez história no Grande Prêmio do Canadá, sua terra natal, ao conquistar um
impressionante Grand Chelem. Este feito extraordinário não apenas solidifica o legado de
Savard como um dos maiores pilotos de todos os tempos, mas também é uma homenagem
emocionante ao seu país de origem.
Com um desempenho impecável desde o treino classificatório até a bandeira
quadriculada, Savard não apenas garantiu a pole position, mas também liderou todas as voltas
da corrida, registrando a mais rápida e cruzando a linha de chegada em primeiro lugar. Este
Grand Chelem é um testemunho do talento excepcional e da habilidade inigualável de Savard
nas pistas.
Além disso, esse triunfo épico ganha um significado ainda mais especial, já que Theo
Savard anunciou no início deste ano que se aposentará no final desta temporada. Sua vitória no
GP do Canadá é um presente para seus fãs e uma celebração emocionante de uma carreira
brilhante e repleta de sucesso.
Mas a jornada de Savard está longe de acabar. Com o próximo Grande Prêmio sendo
realizado na Espanha, país de onde sua mãe tem descendência, Theo está determinado a
continuar sua impressionante temporada. Até o momento, ele é o piloto com mais pontos na
competição, e sua determinação em deixar sua marca no esporte é mais forte do que nunca.
Os admiradores de todo o mundo estão ansiosos para ver o que o futuro reserva para
Theo Savard nesta temporada de despedida. Uma coisa é certa: ele continuará a inspirar
gerações de pilotos e fãs de Fórmula 1 com sua paixão, talento e dedicação incomparáveis.

Abaixo o jornal somente o necessário para ver Summer sentada em uma banqueta de
balcão, conversando com uma simpática mulher de cabelos coloridos que acabei de descobrir se
tratar de Betty, aquela que ligou para ela e disse que Summer tinha vendido quadros.
Sim, estou no café-galeria onde Campbell expõe suas obras.
Estamos há três dias sem nos vermos. Desde o fim da corrida e das suas obrigações de
assessora comigo, estamos falando somente o necessário por mensagens. Ela está no seu antigo
apartamento com a amiga, que conheci no fim de semana. Me encantou saber que Summer, sem
me causar surpresa alguma, é cercada de pessoas que são apaixonadas por ela.
Acho que não há outra forma de sentirem algo por ela que não seja paixão. É o que
desperta nas pessoas. Manfred, Paddock, Logan, Wisbech, Jackson… Todos eles podem provar
minha teoria. Campbell tornou-se uma unanimidade entre todos que estão ao meu redor. Eu me
pergunto por qual motivo comigo seria diferente. Não há como.
Depois daquele dia em que deixei meus sentimentos e vontades falarem mais alto que
meu juízo, preferi me afastar. Não é justo que eu coloque Summer na condição de quem tem que
esperar por algo que ela não tem certeza se vou ser capaz de dar. E mesmo que no meu corpo eu
não carregue uma célula sequer de arrependimento por ter fodido com ela enquanto Joshua
estava lá, acima de nós, depois na cozinha, em algumas coisas Mark estava certo.
Ele me pediu desculpas no dia seguinte pela forma como se referiu a Summer. Eu
conheço Lee há muitos anos, e duas coisas sobre ele são fatos: é talentosíssimo no que faz e é
ambicioso feito o inferno.
Não sou burro. Sou um homem de quarenta anos e sei perfeitamente que a preocupação
de Mark é muito mais sobre ele, seus planos e seus status, do que realmente sobre mim. Manchar
meu nome e ter problemas com a mídia pode causar algumas quebras de contrato e dinheiro a
menos no bolso dele ao fim do mês. Se a marca Theo Savard tem problemas, Mark Lee tem
problemas maiores ainda.
Quando minha situação com Louise começou a me atrapalhar dentro das pistas, Mark era
categórico em dizer que eu deveria me separar, pois mulher nenhuma valia mais do que meu
legado. Meu empresário é o cara que não tem intenção de constituir uma família ou dever nada
para uma mulher, então, com toda sua praticidade, em sua cabeça era melhor que eu tratasse
minha esposa como algo descartável. Ter um filho também era uma bobagem. Mark tinha certeza
de que essa só podia ser a ideia mais idiota que eu já tive, porque ter filhos significava desviar
minha atenção da Fórmula 1 para alguém que no futuro só me traria desgosto e não me daria o
valor que mereço.
Provavelmente ele deve estar falando do tipo de filho que ele mesmo é.
Porém, talvez eu tenha deixado transparecer demais o quanto estou envolvido com
Summer, e Mark, ela e eu concordamos que isso não é uma boa ideia.
Em um ano como este, estampar as manchetes desse tipo de veículo falando que estou me
deitando com a ex-namorada do meu sobrinho é enterrar tudo o que construí durante anos da pior
forma que eu poderia fazer, porque sabemos que é esse tipo de argumento que será usado. Isso
deixaria Summer em uma posição completamente delicada, colocando sua seriedade como
profissional a prova, provocaria burburinhos dentro da McLean e faria o foco em Theo Savard
ser totalmente o oposto do que precisamos.
Mas não tem sido fácil estar ao lado dela o tempo todo e não poder tocá-la, abraçá-la,
sentir o cheiro do seu cabelo e ouvir seus suspiros quando toco em sua pele. Para mim, tem sido
algo semelhante a morrer um pouco por dentro a cada vez que isso acontece.
Por isso, em um momento em que jamais seríamos julgados ou interpretados de outro
jeito, tomei Summer entre os braços por três segundos na comemoração do Grand Chelem e
disse a ela o que de fato se tornou para mim: meu ponto de paz. De onde quero partir todos os
dias e para onde quero retornar todas as noites. Por mais errado que isso seja, por mais perigoso
que possa parecer.
Quando Mark me avisou que voltaria à França antes de nós para, mais uma vez, resolver
coisas pessoais, tomei uma decisão meio louca. Pedi a Norman, meu amigo de anos e motorista
da família Savard, que me ajudasse a vir até aqui sem ser percebido. Ele me arrumou um carro
comum, me tirou do condomínio sem que ninguém notasse e o boné simples que coloquei na
cabeça junto com os óculos escuros enormes têm feito seu papel. Até agora ninguém notou que
sou eu aqui, sentado a uma mesa de café, com o jornal de segunda-feira na mão, espiando minha
assessora entregar seus novos quadros para Betty, como ela me disse ontem à noite que faria.
Esperar até amanhã para vê-la outra vez não se tornou uma opção para mim.
Tenho urgência em estar perto dessa mulher.
E o simples fato de estar a alguns metros dela, já faz meu coração bater do jeito que deve,
como não tem batido nesses dias separados.
— Este é incrível, Sum! — a mulher comenta enquanto segura a tela entre as mãos.
— É a vista do meu quarto em Monte Carlo — comenta entre um sorriso — e este é a
vista do circuito de Bahrein.
Volto a fingir prestar atenção no jornal enquanto ouço as duas.
— Seus traços estão cada vez mais precisos! — recebe um elogio e ri, suspirando em
seguida.
— E olha que simplesmente não tenho tempo. A vida de Savard é uma loucura. Mas eu
tento, porque pintar é o que me traz paz e, ultimamente, tenho precisado bastante.
— As coisas estão difíceis por lá? — a mulher quer saber. — A pergunta que não quer
calar: como é trabalhar para o homem mais famoso e desejado deste país?
A forma como o cabelo de Summer balança em seu rabo de cavalo faz coisas dentro do
meu peito que não deveria, porque machucam, me causam falta, me fazem ter vontade de me
levantar e ir até ela, reivindicar um beijo e todo o resto.
— É caótico de um jeito delicioso — Campbell responde e continua: — Ele é um homem
incrível, Betty. Íntegro, honesto, engraçado, divertido, obstinado, inspirador. Nunca me diverti
tanto e me senti tão valorizada em um trabalho como me sinto com ele. Tenho a sensação de que
Savard me enxerga, sabe? Ele me entende. Ele se preocupa comigo, com as minhas opiniões,
com o que eu penso, com o que eu proponho. Não é só sobre a Campbell que corre atrás dele o
dia todo com um iPad na mão. É sobre quem eu sou quando justamente não preciso fazer nada
disso.
Porra, Summer.
Porra. Porra. Porra!
Como é difícil não gostar de você.
Como é impossível não querer você.
— É o emprego dos sonhos então — Betty gargalha e questiona: — E este aqui? É bem
diferente, hein?
Desço um pouco mais o jornal e dou de cara com o meu quadro.
O quadro que Summer pintou sobre nossa noite no clube.
— Sim, bem diferente. Se chama Dionísio. — As longas pernas de Summer se cruzam
para o outro lado e o vestido amarelo que está usando hoje se levanta um pouco mais. — Não ia
vendê-lo, mas acho que é bonito demais para guardar só para mim.
Eu não tinha visto terminado, até porque esse assunto nunca mais surgiu entre nós dois. E
agora posso enxergar, mesmo que de longe, o quanto cada detalhe conta nossa trajetória naquela
noite.
— Quais são os planos para depois do fim do contrato? — a mulher de cabelos coloridos
quer saber.
Summer balança a cabeça e sacode os ombros.
— Estou empenhada em estudar um pouco mais. Talvez passar algum tempo na Escócia.
A última vez que fui para lá, a minha mãe ainda era viva. Tem algumas coisas que gostaríamos
de ter feito juntos, como família, mas ela se foi antes disso. Quem sabe eu tome coragem de fazer
agora, sozinha? Quero visitar a Ilha de Skye, onde meu pai pediu a mão dela em casamento.
Quero pintar um quadro lá!
— Vai ser uma bela homenagem, querida. — A amiga pega as mãos de Summer e beija.
— Você está indo pelo caminho certo.
Ilha de Skye.
— Eu realmente espero que sim! — Minha assessora sorri e fica de pé. — Preciso ir,
Betty, Savard tem duas entrevistas amanhã, vou passar a noite trabalhando. Foi muito bom rever
você.
A dona da galeria dá a volta no balcão e a abraça demoradamente.
— Alice vai ficar sentida por não ter te visto.
— Diga que deixei um beijo cheio de saudade. — Summer beija o rosto da amiga e dá
um sorriso, afastando-se. — Até mais, Betty.
— Até, Sunshine Raye — e minha assessora vem em minha direção.
Subo outra vez o jornal e espero que ela passe, antes de olhar para trás e conferir que já se
foi.
Sunshine.
Rio sozinho enquanto balanço a cabeça, pensando na informação que acabo de receber.
Summer usou seu pseudônimo de pintora para entrar no clube.
Ainda passo algum tempo aqui antes de tirar alguns dólares do bolso e deixar junto com a
notinha do café que eu pedi em cima da mesa. Assim que saio para as ruas de Toronto, pego meu
telefone e ligo para Norman.
— Preciso de um favor seu. Em meia hora, vá até a galeria e compre dois quadros. Vou te
mandar por mensagem a descrição de cada um, está bem? Não cite o meu nome, de forma
alguma, está bem?
— Deixe comigo, Sr. Savard.
— Muito obrigado pela ajuda de hoje, Norman. Te devo uma.
— Sempre às ordens, senhor.
Desligo e vou em busca do carro que deixei afastado daqui.
Capítulo 28 - Summer Campbell

JULHO
LONDRES, INGLATERRA

Theo: Você se importaria de me ajudar a escolher a roupa? Lilibeth separou uma, mas
não sei se estou completamente confortável com ela.
Estou terminando a minha maquiagem quando recebo a mensagem de Savard.
Jackson, pela primeira vez no ano, ganhou uma corrida, deixando Pole em segundo. A
dobradinha de primeiro e segundo lugares no GP da Inglaterra causou verdadeiro alvoroço
dentro da equipe. O dono, Benjamin McLean, está promovendo uma grande festa na sua casa
para comemorar o excelente resultado que pilotos e equipe conquistaram até aqui. Estamos quase
chegando às férias de verão da temporada, quando as equipes precisam parar por quatorze dias
consecutivos, e a expectativa é de um retorno ainda mais glorioso.
Savard têm feito uma série de vídeos de “arrume-se comigo” para os grandes eventos de
que participa ou para coisas do dia a dia. Os números nas suas redes subiram astronomicamente.
Temos, inclusive, inspirado a assessoria de outros pilotos a humanizarem ainda mais suas
marcas. Com Jackson, estou ajudando Logan a fazer o mesmo.
Por isso, hoje, contratamos um rapaz que nos auxiliará com a gravação de Theo se
arrumando para o grande evento da McLean.
Eu: Claro! Me dê alguns minutos e já chego aí.
Seguimos do mesmo modo: foco no trabalho. Evito ao máximo ficar sozinha com Savard.
Sempre que posso, coloco Manfred ou o próprio Mark para estar entre nós e assim evitar que a
gente caia em algum assunto com o qual não saberemos lidar agora.
Dói, porque vejo no seu olhar que as coisas estão malresolvidas e que não teremos como
escapar de uma conversa em algum momento.
Há rumores nas redes sociais de que Josh esteja engatando um romance com uma
influenciadora digital muito famosa no Canadá. Não sendo nenhuma surpresa para mim, não
poderíamos ser mais diferentes uma da outra. Eu espero que Joshua não esteja somente
brincando com a garota só porque é birrento demais e acha que pode me causar qualquer
desconforto como ao me tratar com indiferença no Canadá ou aparecer com uma nova namorada.
Na verdade, estou contando os dias para que isso deixe de ser apenas um rumor e se
confirme.
Pego o vestido mais fácil que encontro entre as minhas coisas e visto para ir até lá. O
verão vem chegando pela Europa e, durante os dias, o calor está maltratando, por isso trouxe
minhas roupas mais frescas para cá.
Cinco minutos depois estou batendo à porta de Savard.
Ele aparece logo em seguida, vestido em um jeans gasto, camiseta branca e os pés
descalços.
— Desculpa te incomodar. Você devia estar ocupada se arrumando.
Olho para a barba aparada e os cabelos molhados, de quem acabou de sair do banho. O
cheiro fresco é sempre um grande problema para mim. Espero que ele não consiga perceber o
quanto meu coração está agitado no peito agora, porque provavelmente eu vou ficar corada em
segundos.
— Está tudo bem. Já estava finalizando, só falta me trocar.
Mas nem decidi ainda o que usar.
Essas festas de milionários são sempre uma mistura de glamour demais com conforto de
menos, e eu fico sem saber exatamente o que fazer para unir as duas coisas, já que detesto me
sentir desconfortável só para me parecer bonita.
Theo abre espaço para que eu passe e atravesso o pequeno corredor até sua cama. Lá
estão duas opções de roupa: uma mais clássica, com a camisa do traje branca e uma gravata-
borboleta, e outra opção totalmente preta.
Minhas memórias despertam automaticamente.
Olho rapidamente para Theo, que está me observando em pé, bem ao meu lado. Antes
que eu pergunte o que não devo, meus olhos caem no seu travesseiro, onde uma revista está.
E sou eu na capa.
Sim, sou eu.
A Brand Magazine me convidou para uma matéria sobre como transformamos em poucos
meses a marca de Theo. Fizemos as fotos e a entrevista semana passada em Mônaco, na nossa
casa. Eu me senti completamente honrada e muito feliz. Não conseguia imaginar que o trabalho
com Savard daria frutos tão rápido.
Mais feliz do que com o convite para a entrevista eu só fiquei ao receber de Betty,
quando eu ainda estava em Toronto, uma mensagem dizendo que vendi o quadro de Savard e da
minha janela de Monte Carlo meia hora depois de ter saído de lá.
Segundo ela, o homem era mais velho e disse que daria as duas telas de presente. Nunca
vendi nada tão rápido em toda a minha vida!
— Como você conseguiu isso? — Nossos olhos se conectam e ele sorri, dando dois
passos para a frente e pegando a revista.
— Pedi que me enviassem antes de colocarem em circulação. Esta é a sua, ia te entregar
amanhã.
Os poderes da fama.
Pego o exemplar da sua mão e me sento ao lado das suas roupas para ver.
Nunca pensei que fosse ser capa de uma revista um dia, e eis aqui.

O novo brilho de Theo Savard: Como Summer Campbell transformou a


imagem do piloto de Fórmula 1

Abro a revista e vou direto para a página da reportagem.

Nos bastidores do mundo glamouroso da Fórmula 1, uma nova estrela está brilhando
intensamente. Summer Campbell, a talentosa e visionária jornalista esportiva, foi contratada
recentemente para a assessoria do renomado piloto Theo Savard e, desde então, tem feito uma
revolução na marca do veterano das pistas.
Com um olhar fresco e inovador, Summer conseguiu revitalizar a imagem de Theo
Savard trazendo uma abordagem moderna e envolvente para sua presença nas redes sociais.
Desde que assumiu o cargo no início deste ano, tem trabalhado incansavelmente para
aproximar Theo de seus fãs, mostrando um lado mais pessoal e descontraído do piloto de 40
anos.
Em uma entrevista exclusiva para nossa revista, Campbell compartilhou insights sobre
como foi possível transformar a persona de Savard. "Theo sempre foi um talento excepcional
nas pistas, mas eu queria mostrar ao mundo o incrível homem por trás do volante", revelou.
"Ele é carismático, engraçado e genuinamente apaixonado pelo que faz. Nosso objetivo era
transmitir essa autenticidade para o público, e estou muito orgulhosa dos resultados até agora."
Uma das estratégias-chave de Summer foi incorporar elementos de entretenimento e
lifestyle nas redes sociais de Theo. Desde postagens com dancinhas da moda até sessões de "Get
ready with me", os fãs têm acompanhado de perto os momentos descontraídos e divertidos do
piloto, que antes eram pouco conhecidos.
Com a ajuda da assessora, Pole Position, apelido de Theo nos bastidores da Fórmula 1,
não apenas conquistou um novo público, mas também se tornou uma figura mais acessível e
querida por seus fãs de longa data. E com a temporada vigente em pleno andamento, no ano em
que Savard anunciou que se aposentará das pistas, perenizar o legado do esportista torna-se
crucial. (...)

Paro a leitura neste ponto e subo os olhos para encará-lo. Ele está sorrindo, os braços
cruzados no peito, genuinamente feliz.
— Espero que um exemplar desse chegue até a redação do The Toronto Post — brinca e
eu rio. — Desejo que qualquer pessoa que um dia tenha duvidado de você, Campbell, se
arrependa. Uma capa de revista como essa, para um veículo com o poder da Brand, diz muito
sobre quem você é de verdade e não sobre o que pensam de você.
— Eu não te contei — confesso. — Mas enviei um e-mail diretamente para O’Brian
negando que você desse entrevista para eles. — Theo prende os lábios com os dentes na tentativa
de não rir, mas ele falha. — Eu sei que foi tão infantil quanto jogar água na cara dele, mas não
resisti.
Meu chefe começa a gargalhar e senta-se ao meu lado.
— Ah, Summer… — tenta falar no meio do riso. — Você é incrível, é isso que você é.
E suas palavras pairam entre nós dois, enquanto ele toma fôlego e cessa a risada bem
devagar. Seus olhos não saem dos meus e eu temo estar estragando minha revista, porque minhas
mãos estão suando.
— Obrigado pelas palavras… Pelo que falou de mim aí. — Aponta para a publicação. —
A verdade é que não chego nem perto de ser de verdade o homem que seus olhos enxergam que
eu sou.
Acredito que estamos entrando em um terreno “pessoal” agora, depois de tantas semanas
longe disso.
— Você sabe que é. Eu não disse nenhuma mentira.
— Eu não sou, e você sabe — conclui.
Respiro fundo e penso que não estou pronta para começar uma conversa que não vamos
poder terminar. Pelo combinado, o rapaz chega em cinco minutos.
— Sua dúvida é sobre a preta ou a branca? — vou ao que realmente interessa.
Meu chefe molha os lábios com a língua, sentindo-se visivelmente frustrado.
— Lilly mandou a branca, talvez eu queira a preta.
— Algum plano para depois das comemorações de Benjamin? — provoco e Theo
entende, porque ele ri e abaixa a cabeça, negando em seguida.
— Nada que envolva rosas brancas ou vermelhas.
Confesso que às vezes me pergunto se ele tem saudades de ir ao clube. Mas, para o bem
da minha sanidade mental, repito milhares de vezes que isso não é da minha conta. Prefiro não
imaginar que ele pode querer se deitar com outra mulher só para me tirar do pensamento ou
qualquer coisa assim. Porque eu mesma, por mais que quisesse, não conseguiria fazer isso com
outro homem.
Nenhum deles é Savard.
— Se você precisava mesmo da minha opinião, sabe que eu também prefiro a preta.
Ele vira o corpo para trás, na direção da roupa e suspira, olhando-me em seguida.
— Então será o que usarei, Campbell.
Não ficamos sozinhos assim há muito tempo. Se eu tivesse um pouco menos de juízo,
seria o momento perfeito para montar no colo dele e fazer o que meu corpo vem me implorando
desde aquele dia em que transamos com Josh em casa. Ter mais de Theo.
Tenho a sensação de que ele não se oporia, porque a forma como seus lábios estão
ligeiramente abertos e seus olhos procuram pela minha boca me diz mais do que palavras.
Mas o que o nosso corpo pede não é exatamente do que meu coração precisa.
— Gravata, ou sem gravata? — questiona, quebrando o momento.
— Sem. — É melhor eu sair daqui, porque posso imaginar uma utilidade melhor para a
gravata de Savard e isso envolve as minhas mãos amarradas.
Eu sei que ele acabou de pensar a mesma coisa que eu, porque seus olhos não sabem
mentir para mim.
De repente, o telefone toca. Meu chefe respira com certa dificuldade, mas se levanta e vai
até o outro lado da cama atendê-lo.
— Pois não. Ah, sim… Pode deixar subir. Por favor — e desliga. — O cara chegou.
Esta é minha chance de sumir daqui.
Fico de pé, segurando a revista, e me viro para ele:
— Nos vemos lá embaixo daqui a pouco.
— Não vai ficar para supervisionar? — Vejo a decepção tomar conta do seu rosto.
— É melhor não — e dou o melhor sorriso que consigo.
— Está bem. — O sorriso de lado que me oferece não pode ser classificado como feliz,
de fato.
Caminho até a porta e, antes de abri-la, ouço sua voz me chamar.
— Summer…
Levo alguns segundos para finalmente me virar na sua direção.
— Sim?
— Você ficou linda pra caralho na nossa piscina — refere-se à foto de capa da revista,
que tirei exatamente ao lado da piscina em um terninho preto elegante, mas com apelo sexy,
escolhido por Lilly especialmente para mim. Os cabelos molhados e penteados para trás foram o
verdadeiro charme da imagem, junto com a falta da camisa por baixo do terno, deixando o
volume dos seios à mostra. O fotógrafo da Brand fez um trabalho impecável. — Você é a mulher
mais bonita que eu já vi em toda a minha vida. — A postura imponente enquanto as mãos
descansam nos bolsos da calça não combinam com o sofrimento dos seus olhos castanhos.
Você não tem esse direito, Theo Savard!
Você não tem direito de maltratar meu coração desse jeito.
Não quero ouvir essas palavras da sua boca se elas não vão mudar as coisas entre a gente.
Não adianta me dizer o que eu gostaria que dissesse se não pretende fazer nada a respeito disso.
Isso não muda nada na nossa situação. Só me machuca mais e mais, porque eu quero tudo
dele, que não pode me dar nada.
Antes que eu responda, ainda tremendo, com os olhos cheios e prestes a se derramarem, o
rapaz chega e bate à porta.
Theo fecha os olhos e xinga alguma coisa que eu não consigo entender.
Com raiva, apenas me viro, passo pelo videomaker e vou na direção do elevador, batendo
os pés, enxugando o canto dos olhos e tentando respirar fundo.
Você ainda não viu a mulher mais bonita da sua vida, Savard. Mas, essa noite, você vai
ver.
Capítulo 29 - Summer Campbell

Meus saltos fazem barulho no piso liso do saguão ao passo que me aproximo do bar do
hotel. Logan, Jackson, Mark e Savard já estão por ali, sentados em banquetas, jogando conversa
fora, tomando alguma coisa.
Quando meu amigo, em risos, olha para mim, solta um sonoro:
— Ca-ra-lho, Campbell do céu. Quem você quer matar hoje? — Logan coloca a mão no
peito, todo exagerado, e fica de pé.
Ele está fantástico em um terno azul-turquesa.
Os outros três homens ficam mudos enquanto seus olhos me conferem inteirinha.
— Case-se comigo, Summer. Eu prometo não me meter mais em polêmica alguma. —
Jackson assovia e pega na minha mão, fazendo-me girar no lugar. — Nunca mais na vida use
outro batom que não seja vermelho. Foi feito para você — o brasileiro brinca.
Mark me encara e sorri, comentando:
— Não adianta, Jackson. Eu já pedi antes, levei um grande fora. Pelo visto, não é dos sul-
americanos e nem dos asiáticos que Campbell gosta.
O empresário de Theo me alfineta e eu apenas dou de ombros para ele.
Quando meus olhos se esbarram nos de Savard, sei que consegui o que eu queria.
Sim, estou vestida como Sunshine.
O mesmo vestido, com o qual eu sempre ando na minha mala, o mesmo salto, o mesmo
batom vermelho e, inclusive, o mesmo perfume. Os cabelos, porém, deixei caírem macios em
ondas.
— É hoje que Wisbech e a esposa te chamam para uma farra! — Logan ri e me cutuca.
— Como assim? — abro a boca finalmente, um pouco assustada com a informação.
— Você não sabia? — Jackson para ao meu lado e não tem vergonha alguma de cheirar
meus cabelos, dizendo: — Porra, Summer. Me perdoa se eu ficar duro, mas que cheiro é esse?
Rio e dou um tapa no seu ombro, empurrando o número dois da McLean para lá.
— Meu perfume de ocasiões especiais — solto e olho de novo para Theo, que ainda me
analisa como se quisesse me atravessar.
De tesão ou de incredulidade pela minha ousadia, eu ainda não sei.
E nem quero.
Tome essa, Savard, e aguente a noite inteira!
— Os dois gostam de uma “coisinha” a três. Você não percebeu como eles te olhavam no
jantar do começo do ano? — Logan quer saber.
— Cameron gosta de, ó. — Jackson imita uma boceta com a mão e coloca a língua no
meio dela, simulando uma chupada.
— Meu Deus, Pedrosa! — Bato minha bolsa nele. — A gente está no meio de um bar.
Pelo amor de Deus!
Ele gargalha e balança a cabeça.
— Te pago mil dólares se eles não te chamarem para passar a noite com eles —propõe.
— E dois mil se você não aceitar, só para ver Wisbech decepcionado.
— Não vou terminar a noite na cama do seu chefe, fique tranquilo, Jackson. E pegue seu
dinheiro, vá ajudar alguém que precisa. — Logan e Mark riem, mas Theo nem sequer se mexeu
no lugar. — E aí, não vamos? Não gastei tempo nesta produção toda para vocês quatro ficarem
me olhando.
— Fique tranquila, que o que não vai faltar é gente para babar em cima de você,
Campbell. — Mark pisca na minha direção, mas olha de canto para o chefe.
— Você não vai elogiar sua assessora, Pole? Que tipo bosta de chefe é você?
Jackson é quem cutuca.
Fico parada olhando na direção de Savard, que se levanta, ajeita o botão do smoking
preto no corpo, vestido exatamente como naquela noite.
Dionísio.
— Você está deslumbrante, Summer. Incrivelmente bonita, como sempre. — Os lábios
formam um sorriso que só eu conheço. Só eu vi. Só eu provei. Só eu senti. — Prepare-se para ser
cobiçada pela alta sociedade de Londres. Vamos? — Aponta o caminho até a porta e Logan é
quem me oferece o braço para me acompanhar até lá.
Estamos na frente, mas sinto da nuca até os pés um olhar me queimar.
E que queime. Que queime muito!
Pelo visto, a noite vai ser bem divertida.

Theo Savard

Caralho. Caralho. Caralho. Caralho, Summer!


Porra!
Esse é um tipo de tortura que não se faz nem com seu pior inimigo.
O que ela está querendo? Que eu foda com tudo?
Queria que eu perdesse a minha maldita cabeça no meio de Jackson, Mark e Logan?
Pelos segundos que fiquei calado, foi exatamente o que eu pensei. Foi exatamente nessa
porra que eu pensei. Se isso vai ser um problema para a minha carreira? Foda-se. Estou de saco
cheio de tudo isso.
Estou de saco cheio de não ter Summer como meu corpo implora.
Como meu coração grita.
Agora estamos aqui, na mansão de Benjamin McLean, rodeados das pessoas mais
influentes do mundo, em uma mistura de comemoração com bajulação de patrocinadores,
bebedeira, drogas ilícitas, pegação e tudo mais que se possa imaginar.
Enquanto Jackson, Mark e eu fazemos as honras, puxando saco de algum investidor, aqui
e ali, Summer está na pista de dança com Logan e integrantes da equipe, tomando champanhe e
se divertindo.
Mais cedo, no meu quarto, eu só queria me aproximar.
Agora, somos dois moradores da mesma casa que nem parecem viver juntos, e, por mais
que eu me comporte na frente dos outros fingindo que está tudo bem, não está. Eu vejo como ela
me evita, como busca sempre a companhia de Manfred e, às vezes, até de Mark, só para não
precisar ficar sozinha comigo.
Estou colhendo os frutos das decisões que eu tomei, eu sei.
Mas só queria dizer a ela o quanto é uma merda a posição em que estou e que miséria não
chega perto do que estou sentindo esse tempo todo desde que nos tocamos pela última vez.
O quanto estou orgulhoso pra caralho do quão foda ela é e de onde está chegando.
Ninguém se torna capa da Brand à toa. E eu só fui o meio, o menos importante. O que levou
Summer Campbell até lá foi a sua competência.
Foi a sua determinação.
Metade dos filhos de ricos que estão aqui já pararam ao lado dela, tentaram papo, falaram
ao seu ouvido. E Summer deixou.
Ela riu, se divertiu e até colocou os braços no pescoços de alguns deles.
Mas ela não veio como Summer Campbell.
Essa mulher nitidamente veio atazanar o meu juízo montada de Sunshine. E eu não sei se
ela sabe, mas Sunshine é minha.
Se Summer me odeia por ser um canalha que ainda não teve coragem de assumir para o
sobrinho que está apaixonado pela ex-namorada dele, é um direito que ela tem. Não tenho contra
o que argumentar.
Agora, Sunshine é uma coisa que ninguém toca. Ninguém além de mim.
E ver minha assessora rebolando com aquele vestido curto, os saltos altos e a boca
vermelha implorando para ser beijada enquanto Wisbech, o próprio McLean e metade dessa festa
a cobiçam, aí não.
Ela foi bem longe e vai me pagar.
— Onde Mark está? — pergunto para um dos caras da equipe que está conosco.
— Acabou de sair com três meninas, você não viu?
Mark nunca me surpreende.
Eu só preciso de meia hora. Tenho certeza de que ele não volta do buraco em que se
enfiou com as garotas em menos de uma.
Apresso os passos até Benjamin, pegando uma dose de uísque no meio do caminho.
Tomo um gole com pressa até interrompê-lo em uma conversa cheia de risadas.
— Ben, tenho um pedido um tanto quanto pessoal para te fazer.
— Pole! — o velho risonho bate no meu ombro e aperta, enquanto a outra mão afasta o
charuto que está fumando. Benjamin é um dos caras mais inteligentes e bem relacionados que já
conheci. Quando me trouxe para a equipe, foi com Wisbech pessoalmente me fazer a proposta,
prometendo todas as condições para ser um dos caras mais competitivos dentro das pistas, e
assim foi. — Você pode me pedir o que quiser, rapaz.
— Quero levar Summer na sala de carros. Gostaríamos de umas fotos para as redes
sociais. Sei o quanto aquele lugar é sagrado para você, mas te prometo que nada sairá do lugar.
Ele ri e comenta baixo:
— Que mulher, hein, Savard? É muito mais bonita pessoalmente.
— Ela é realmente um encanto. — E uma diaba atentada que está encostada no bar agora,
rindo das bobagens de um moleque qualquer.
— Não deixe ninguém saber que você está indo lá, ok? Esses bêbados não fazem ideia do
que aqueles carros significam. Tenho certeza de que pulariam no cockpit e quebrariam alguma
coisa. — Ele faz uma cara ruim e termina: — A senha da porta é 1914. Talvez eu apareça lá com
algum patrocinador, quem sabe? Eles adoram essas coisas.
Sorrio em agradecimento e bato nas suas costas.
— Ah, vai ser ótimo ter vocês lá. — Espero que você esqueça essa merda de ideia
imediatamente. — Não nos demoramos. Volto a tempo de ouvir seu discurso.
— Não o faria sem você. — Ele se despede e volta à conversa com os outros homens.
Vou a passos largos até a outra extremidade da festa, e em segundos paro ao lado dela,
que toma algo de canudinho enquanto um babaca conta alguma piada.
— Com licença.
Summer se vira na minha direção.
— Oi, Theo! Deixa eu te apresentar, este é o…
— Oi — digo ao cara e viro-me de costas para ele. — Preciso de você, é um pouco
urgente.
— Agora?
— Agora.
Ela olha para o rapaz, um pouco confusa, mas se despede.
— Nos falamos depois.
Não se falam, não.
Começo a caminhar e ouço o barulho dos seus sapatos logo atrás. Sua voz vem em
seguida.
— Aonde você está indo?
— Você vai ver.
Saio do salão de festas de McLean e começo a atravessar o espaço enorme entre a área de
lazer e o complexo onde ele guarda os carros em que fui campeão pela equipe.
Sim. Benjamin tem em sua casa os três carros com que conquistei mundiais pela McLean.
— Por que estamos saindo da festa, Savard?
— Porque ela vai continuar em outro lugar. — Mais dez passos e paro na porta enorme.
Digito a senha na fechadura digital e ela se abre devagar. Aponto para que Summer entre
enquanto ela olha para tudo completamente desconfiada.
Assim que atravessamos e a porta se fecha, as luzes se acendem, mostrando-nos uma
escada.
— O que nós dois estamos fazendo aqui? — seu tom é um pouco mais sério agora.
— Desça — ordeno.
Ela me olha reticente, mas segura no corrimão e vai descendo devagar, degrau por
degrau. Vou três passos após os dela.
Quando a escada enfim acaba, as luzes do salão são também acionadas pela nossa
presença. Summer imediatamente reage.
— Meu Deus! — Coloca uma das mãos na boca, olhando para os carros vermelhos
expostos como em um museu. — Por que esses carros estão aqui? Não deveriam estar na sede da
McLean? — e me encara, esperando minha resposta.
— Ben quis assim. Ele é o dono, ele é quem decide.
Animada, ela anda pelo lugar de luz baixa indo para perto dos carros, conferir um por
um.
— Dezoito, vinte e um e vinte e dois. — Aponta para cada um, com os olhos brilhando,
sabendo exatamente os anos em que me levaram ao campeonato mundial.
— Qual é o seu preferido? — Molho os lábios com a bebida forte, enquanto minha
assessora diz sem hesitar:
— Vinte e dois. Te vi pilotando quando fomos para Mônaco te assistir.
Caminho devagar para perto do melhor carro que já dirigi dentro da McLean. Não é à toa
que todos os meus maiores recordes foram batidos naquele ano.
— Uma ótima escolha, Sunshine.
Quando a chamo pelo seu pseudônimo e codinome, seus olhos se arregalam e ela ofega.
Agora sim, meu bem, o jogo começou.

Summer Campbell

Ainda estou sob o impacto de estar de frente para os três carros que escreveram a história
de Theo pela McLean, quando ele me chama por Sunshine.
E ouvir essa palavra de novo na sua voz faz meu corpo traidor ferver.
Sua postura não é mais a de Theo Savard. É a do predador Dionísio.
Do homem que sai à procura de sexo.
Eu não perdi seus olhares o tempo inteiro em mim. Inclusive, rendi um tanto de papo
chato com uns meninos bobos só para que ele ficasse lá, sofrendo, enquanto pensava duas vezes
em ficar me colocando nesse lugar que nunca tem uma definição.
Mas parece que eu provoquei Savard muito mais do que imaginei que fosse possível.
— Você gosta de brincar com fogo, não é? — Para ao meu lado.
Estou bem na traseira do carro que acabei de escolher.
— Talvez eu goste, sim — cuspo, meio puta.
— Então aprenda, se ainda não aprendeu, que tem que estar disposta a se queimar,
querida — sussurra bem no pé da minha orelha e meus olhos se fecham à medida que o arrepio
desce do meu pescoço, passando pela minha nuca e o resto do corpo inteiro. — É assim que as
coisas funcionam. — Savard leva uma das mãos até meus cabelos e os coloca de lado, deixando
minha pele à mostra, disponível para ele. Sua respiração está controlada, ao contrário do meu
coração. — Coloque as duas mãos aí, Sunshine.
Aponta para o aerofólio traseiro do carro.
Como?
— Você só pode estar de brincadeira comigo — sibilo, sentindo o exato momento em que
minha boceta pisca e acende tudo dentro de mim.
— Estou com cara de quem está brincando? — Theo pergunta, segurando meu rosto e
virando para o dele, encarando-me sério, jogando o restante do uísque garganta abaixo, sem
retirar os olhos de mim. — Coloque as suas mãos ali e empine essa bunda para mim.
Meus pés vacilam nos saltos altos e ele percebe o quanto suas palavras me afetam.
— É perigoso, Theo. Nós estamos…, estamos em uma festa — mal consigo formar as
palavras de tanto tesão que sinto.
— Aqui, para você, é Dionísio — suas palavras soam ríspidas. — Tivesse pensado nisso
antes de distribuir toda sua simpatia por aí, neste vestido. — Savard está com ciúme, está com
raiva e está de pau duro, porque sua ereção quente está encostada na lateral do meu quadril.
Meu coração está tão acelerado que tenho medo de desmaiar agora. E, mesmo sabendo
que é a maior loucura que eu poderia fazer na minha vida, decido obedecer. Seguro o aerofólio
do carro com o qual Theo Savard conquistou o seu hexacampeonato mundial e jogo o quadril
para trás.
Ouço a respiração pesada se misturando com a minha. É tudo o que podemos ouvir
agora.
Levanto o rosto e procuro por câmeras. É claro que há algumas delas.
— Vão nos ver — aponto.
— Você gosta de correr riscos, não deveria se preocupar. — O barulho do copo sendo
colocado no chão faz minhas pernas tremerem, e, quando sinto o calor das mãos de Savard no
meu quadril, solto um gemido baixo. — Está gemendo, Sunshine? Eu nem comecei ainda. — Os
dedos dele começam a embolar meu vestido e a puxá-lo para cima. Deus, quando ele
descobrir…
Prendo a respiração no exato momento em que me sinto nua na parte de baixo.
— Caralho! Você veio sem calcinha, sua safada? Estava andando esse tempo todo no
meio desse tanto de homem sem calcinha, cacete?
— Ia marcar o meu vestido — respondo, forçando a bunda para trás. Sinto a ardência no
exato momento em que Theo levanta a mão e me dá um tapa na nádega direita. — Ahhhhhh! —
deixo escapar dos meus lábios enquanto ele aperta a carne com força.
Com muita raiva.
A sensação de que alguém vai descer essas escadas a qualquer momento me faz escorrer
pelas pernas e eu aperto os dedos com força na asa traseira do carro de Theo.
— Você vai mesmo me comer aqui, Dionísio? — e eu me sinto tão depravada por chamá-
lo assim, em voz alta. Quase não aguento de tanto tesão.
— Vou te foder como você merece ser fodida, Sunshine. É isso que eu vou fazer. Foi
assim da outra vez, será assim também agora.
Ouço o barulho do seu cinto sendo aberto, junto com a calça. Olho ao redor, para esses
três carros que fizeram história dentro das pistas e não acredito que estamos mesmo prestes a
fazer isso.
— Você disse que queria sentir a minha porra escorrendo de você. — Sou tão pega de
surpresa por sua pergunta que ofego. Minha respiração parece muito errada agora. Afasto mais as
pernas, implorando para que ele venha logo. — Isso não responde nada, Sunshine. Diga com
essa sua boca suja: quer sentir minha porra escorrendo de dentro dessa boceta?
— Quero, Dionísio! — suplico.
Meu anticoncepcional está em dia, está tudo certo com a minha saúde, prefiro pensar que
só está me pedindo isso porque está tudo certo com ele também.
E a verdade é que eu não vejo a hora de sentir seu pau diretamente na minha boceta. É
tudo o que eu quero.
— Empina mais esse rabo pra mim — a voz intimidante do meu chefe faz com que meu
corpo se mova na mesma hora.
Quase apoio o tronco no aerofólio, ficando com o quadril na altura do dele.
Sinto quando Savard me pincela com a cabeça quente, provocando.
— Theo! — grito de um jeito abafado.
— Quem é Theo? — Bate com o pau na minha boceta várias vezes.
Seu pau quase entra, mas ele tira outra vez. Por pouco eu não gozo só assim.
— Dionísio — eu me corrijo. — Rápido, por favor.
— Amo essa sua pressa para ser fodida — ouço o sorriso em sua voz sem poder vê-lo na
posição em que me encontro.
Savard encaixa a cabecinha na minha entrada e começa a empurrar devagar.
Meu. Deus. Do. Céu.
Theo escorrega tão fácil dentro de mim que fecho os olhos, aproveitando a sensação
enquanto minha carne se abre completamente para ele.
É tão gostoso! Pele com pele. Tão intenso. Tão íntimo…
— Melada e gostosa. Ahhh, Sunshine. — Theo solta uma espécie de rugido, o que me faz
piscar em volta dele, e para com seu pau inteiro dentro de mim. — Isso vai ser rápido. Depois,
vou te mostrar no meu quarto de hotel por que você não deveria ter me provocado. E vai ser a
noite toda.
Sua promessa me deixa no limite, e, quando vou reclamar, Savard soca seu pau de uma
vez, me fodendo com vontade.
— Ai! — sibilo, agarrando com força a peça do carro, ouvindo o barulho molhado que o
atrito entre nossa pele soa. — Que delícia! Não para, por favor…
— Uma boceta atrevida e gulosa — provoca, enterrando os dedos na carne do meu
quadril e fodendo tão rápido que perco o fôlego. — Nunca mais insinue oferecer o que é meu aos
outros, Sunshine. Você está me ouvindo? — Seu pau vai fundo e eu me aperto em volta dele,
fazendo tudo ficar ainda mais intenso.
— E o que é seu aqui? — atiço Savard, que está furioso.
— Você. Tudo em você. Cada pedaço seu. Tudo é meu. — Toma mais força no quadril e
me faz gemer à medida que escorrega fácil e rápido, cada vez mais fundo.
Este é o momento em que eu deveria parar isso tudo e dizer que ele está completamente
enganado.
Não posso ser toda dele se é disso que foge. Não posso ser de um homem que vive em
um conflito sobre o que realmente sente.
Mas tudo o que faço é permanecer em silêncio, rebolando a boceta no seu cacete,
gemendo feito uma depravada, no salão de exposição de carros da casa do seu chefe.
Suas bolas se chocam em minha bunda e eu sinto uma das mãos de Savard escorregar
entre nós dois, se sujando da nossa baba. De repente, ele toca meu ânus, sem parar de me esfolar.
— Pare de me torturar assim — peço, mesmo que eu queira justamente o contrário.
— Eu nem comecei, querida. — Devagar, meu chefe vai me abrindo com um dedo
melado, buscando espaço.
Colo a testa no aerofólio e começo a gemer descontrolada.
O ritmo do seu pau junto com seu dedo no meu rabo não vai me deixar demorar aqui.
— Mete outro — mudo o discurso, que não convenceu nem a mim mesma, e me jogo na
provocação de Theo.
Já estamos fazendo a coisa mais errada que poderíamos, porque basta alguém surgir aqui
e nós dois viraremos o maior escândalo da história da Fórmula 1, então vou fazer valer a pena.
— Então você gosta de que fodam esse cuzinho, Sunshine?
— Preferia que fosse seu pau, mas quero gozar nele hoje.
Ouço e sinto o estalo imediato que sua outra mão dá mais uma vez na minha bunda.
— Porra de mulher safada, caralho! Prepara esse rabo, vou comê-lo mais tarde.
Quando diz isso, imagino imediatamente como será receber o pau grosso de Savard bem
lá. É neste momento que mete o segundo dedo e começa a socar seu pau em mim com muita
força. A sensação de estar totalmente preenchida com a iminência do perigo começa a me
arrastar para o orgasmo.
— Cristo, eu vou gozar — anuncio, perdendo as energias.
Começo a tremer.
— Vem que eu quero te encher de porra. Goza para eu gozar sua boceta inteira. —
quando diz, percebo como a voz de Theo falha.
Ele também já está quase lá.
Jogo os cabelos de lado e viro o rosto em sua direção. Aqui, neste lugar meio escuro,
como naquela noite do clube, vejo outra vez o homem que tem feito meu coração bater de um
jeito que nunca bateu antes me tomar por trás, imponente, grande, safado e sem piedade.
Meus olhos se fecham rapidamente assim que o primeiro raio atravessa meu corpo,
enviando espasmos por ele inteiro.
— Caralho! — eu grito no meio de um gemido. — Meu Deus! Savard — volto a chamá-
lo pelo sobrenome e desta vez ele nem se importa.
Empurra com tanta vontade que tenho medo de estragar o aerofólio. Preciso me segurar
nele com força para não desabar no chão.
— Por que diabos você é tão gostosa assim? Por que você não sai da minha cabeça,
porra? Quero morar na sua boceta, Campbell. —Empurra mais algumas vezes antes, ainda
trabalhando os dedos na minha bunda quando solta seu próprio gemido sofrido. — Ahhhhhhh…
E neste exato momento sinto os jatos de porra de Savard dentro de mim. Choramingo e
ele goza tão forte, que eu continuo apertando seu pau, gozando junto com esse homem.
— Theo! — suplico por algo que nem sei mais o que é.
Estou completamente em êxtase, sentindo tudo ao mesmo tempo em cada pedaço de
mim. É de longe o melhor orgasmo que já tive.
Porque cada transa com esse homem consegue ser melhor que a outra.
Ele soca em mim mais três vezes até parar completamente. Nós dois ficamos alguns
segundos tentando recuperar o fôlego, em silêncio. Olho para o carro vermelho na minha frente e
por um segundo não consigo acreditar que fizemos mesmo isso.
Quando Savard se desencaixa com calma de dentro de mim, tirando antes os dedos, sinto
seu pau pincelar um pouco da porra no fim da minha coxa, no encontro com a minha bunda.
Suspiro arrepiada.
Ele puxa meu vestido para o lugar, cobrindo-me outra vez. Subo meu tronco ficando de
pé, virando-me devagar para encará-lo ao mesmo tempo que vejo meu chefe tentando guardar o
pau ainda duro dentro da calça.
Minhas pernas começam a se cruzar porque sinto tudo o que ele jorrou dentro de mim
escorrendo aos poucos. Isso me dá tanto tesão que volto a respirar pesado.
Savard sorri, percebendo, e sei que está adorando cada segundo, porque, de alguma
forma, acabou de me marcar.
Ele termina de ajeitar o terno no corpo, se alinhando, me olhando de um jeito que me
promete tanta coisa...
— Vamos voltar, ouvir o discurso de McLean e nos despedir. Estamos indo embora.
Ele se abaixa para pegar o copo; com toda tranquilidade do mundo, vira-se e sai andando.
E com meu juízo totalmente atrapalhado, sigo-o, porque mal posso esperar pelo que me
aguarda no 1705 do The Stafford London hotel.
Capítulo 30 - Theo Savard

A claridade do dia me desperta assim que entra por alguma fresta da cortina.
Demoro um pouco para abrir os olhos, porque me sinto morto. Quase não dormi essa
noite, mas existe um bom motivo para isso.
Estava com ela nos meus braços.
Sorrio ao me lembrar do que estávamos fazendo há umas três horas e me viro para o lado,
espreguiçando e procurando seu corpo, mas não o encontro. Desperto por completo e encaro o
lençol totalmente bagunçado sem sua presença.
Quando viro o rosto para procurá-la, encontro-a em pé, olhando pela janela, vestida com
a minha camisa, já que viemos direto para o meu quarto de hotel, e não é possível dizer que
deixei seu vestido inteiro para contar alguma história quando chegamos aqui.
Summer e eu fodemos a noite inteira.
Tive tudo o que quis dela.
Dei a ela tudo o que ela queria.
Fico parado por alguns segundos, apenas admirando sua beleza e o quanto fica incrível
vestida assim. Este é o tipo de visão que quero ter a partir de agora, todos os dias.
Não consigo evitar o sorriso e respiro fundo, porque, provavelmente, não vou deixar que
saia daqui antes que a gente esteja um no outro mais uma vez.
Ela segura os cabelos e os prende no alto da cabeça, ainda encarando o lado de fora,
observando Londres.
Levanto-me bem devagar, porque não quero distraí-la. Ando com calma os poucos passos
que me separam de Summer e a abraço por trás.
Minha assessora se assusta, mas aperto suas costas contra o meu peito e beijo seu
pescoço, dizendo perto do seu ouvido:
— Bom dia, Campbell.
Ela ri enquanto as mãos deslizam pelos meus braços, segurando-se firme em mim. Olho
junto com ela para o dia bonito de verão lá fora.
E, mesmo que fosse um dia nublado de inverno, neste momento ele seria fodidamente
incrível para mim.
— Bom dia, Pole!
Provoca e eu mordo devagar a ponta da sua orelha.
Summer gargalha, se encolhe e eu a puxo para trás o suficiente para chegar até a mesa do
quarto, onde estão as minhas coisas. Pego meu celular e seguro sua mão fazendo com que ela se
vire na minha direção em um giro de cento e oitenta graus.
Digito rápido no aplicativo de música o que eu quero e coloco para tocar, voltando com o
aparelho para onde estava.
Puxo Summer pela cintura e faço seu corpo quente se colar ao meu. Ela sorri de forma
preguiçosa, com os olhos bonitos ainda inchados por ter dormido pouco.
Linda. Caralho… Linda demais.
Seus braços passam pelo meu pescoço quando entende que vou dançar com ela.
— É assim que acorda quem começa a noite com Dionísio e termina com Theo Savard?
— provoca, ficando na ponta dos pés para me alcançar.
Balanço-a de um lado para o outro ao som de Alicia Keys.
— Você é a única apta a responder a isso — devolvo para ela, ajeitando o cabelo que está
grudado na sua boca.
Aproveito para beijá-la rapidamente.
Sinto o suspiro que solta enquanto rodo seu corpo pelo quarto ao som da canção.
“Algumas pessoas vivem pela fortuna, algumas pessoas vivem apenas pela fama.
Algumas pessoas vivem pelo poder, é. Algumas pessoas vivem apenas para jogar o jogo”
Seus lábios querem dizer algo, mas Summer balança a cabeça, sorrindo, e deita o rosto no
meu ombro.
Beijo seus cabelos e continuo conduzindo-a devagar, de um lado para o outro. Suas
pernas longas me seguem enquanto mantenho seu corpo cada vez mais próximo do meu.
“Algumas pessoas pensam que as coisas materiais definem o que elas são por dentro, e
eu já me senti assim antes, mas essa vida é uma chatice. Tão cheia de coisas superficiais”
Minhas mãos mergulham debaixo da camisa e encontro a pele nua de Summer. Ela arfa
quando aperto a sua cintura e desço pela sua bunda.
Ela é tão gostosa… Não me canso de tocá-la.
“Algumas pessoas querem tudo, mas eu não quero absolutamente nada se não for você,
amor. Se eu não tiver você, amor”
Campbell acende-se na minha frente, e percebo quando seus bicos brincam no meu
peitoral, por baixo do tecido. Puxo devagar uma mão do seu corpo e levo até a sua nuca, tirando
a cabeça de Summer do meu ombro e fazendo-a me encarar.
— Estou viciado em você, Summer Campbell — e vejo como seus olhos brilham ao me
ouvir. — Estou completamente viciado em você.
Tomo sua boca na minha e ela se entrega sem receio.
Nossa língua também dança, conforme nossos pés. Volto a mão para junto da outra e
subo pelo seu corpo, até encontrar seus seios pesados. Ela geme nos meus lábios e eu fico duro
imediatamente.
Seguro seus bicos entre os dedos e os giro devagar. Ela desgruda a boca da minha e solta
um grunhido sofrido.
— Theo…
— Diga, Summer. — Puxo os dois, sentindo como estão duros.
Quero os dois na minha boca. Levanto a blusa e a deixo apoiada no seu colo. Vejo como
Summer esfrega as pernas uma na outra.
Depois dos peitos, é essa boceta quem vai receber a atenção da minha língua.
Eu me abaixo o suficiente para tomar o bico rosado entre os lábios. Imediatamente
Summer segura minha nuca e grita, enquanto continuo fazendo nosso corpo dançar.
— Meu Deus… Savard!
E quando ela me chama pelo sobrenome, sugo e bato a língua no bico intumescido. O
corpo dela treme quando escorrego uma das mãos para o meio das suas pernas.
— Eu não vou aguentar! — assume quando troco a boca de peito.
Sua pele é tão macia e cheirosa.
Summer foi feita para ser adorada.
Cada pequeno pedaço do corpo dela.
Esfrego devagar seu clítoris e mamo minha garota. Sinto-a tombar a cabeça para trás
enquanto Alicia termina a canção e nós dois ficamos aqui em pé, parados.
Os únicos sons que ouvimos agora é do seu sexo encharcado sendo tocado e da minha
boca sugando sem parar.
Tenho a sensação de que vou gozar somente tocando a boceta de Summer e eu não
sentiria a menor vergonha por isso.
Eu nunca senti um tesão tão devastador quanto o que sinto por esta mulher.
— Theo… — ela me chama de novo, puxando meu cabelo com força, gemendo safada,
como gemeu a noite inteira. Tão, mas tão deliciosa… — Eu não posso mais…
Suas pernas se apertam em torno da minha mão e eu esfrego mais rápido, porque quero
sentir Summer gozar para mim outra vez.
Quero viver de fazer essa mulher gozar.
Largo seu peito e tomo sua boca de novo. Desesperada, ela agarra minha nuca e me beija
sem pudor. Amo como Summer fica completamente vulnerável em meus braços, aproveitando
tudo o que eu quero lhe dar.
Mordo a ponta da sua língua no exato momento em que ela começa a respirar rápido
demais, gemendo nos meus lábios, e seu corpo se convulsiona.
Meus dedos vão em um ritmo acelerado e ela tira a boca da minha, gemendo alto e,
provavelmente, acordando o hotel inteiro.
— Ahhhh! — Ela se segura em mim, afundando as unhas nos meus ombros, deixando-me
a um fio de me derramar nesta cueca dos infernos.
Summer vem de uma vez e abocanha o espaço entre o meu pescoço e o ombro, mordendo
e gozando forte nos meus dedos, esfregando-se neles, forçando o quadril para a frente.
Puta que pariu!
— Você goza gostoso pra caralho. Preciso foder você, Summer — falo ao ouvido dela ao
mesmo tempo que a dor pela mordida se espalha em minha pele.
Ela aproveita até o último segundo, enquanto faço com que ande devagar até a cama e a
jogo deitada.
Quando tento me afastar para abaixar a cueca, Summer me prende com as pernas. Olho
para ela.
Sem conseguir respirar direito, faz com que eu caia em cima do seu corpo.
Minha assessora me olha séria, procurando o jeito certo de puxar o ar, e seus olhos se
enchem de lágrimas.
— O que foi, Summer? — pergunto, tentando fazer com que meu peso não a machuque.
— Aconteceu alguma coisa?
— Eu não posso com isso tudo, Theo. — Respira com força, o peito subindo e descendo
rapidamente.
— Isso, o quê?
— Nós dois. — Limpa o canto do olho direito quando a lágrima escorre. — Não funciona
para mim. Sabemos que você não vai levar qualquer coisa adiante, por causa de Josh, e eu vou
terminar mais envolvida do que já estou agora, porque eu estou. — Sobe os ombros como quem
pede desculpas. — Você não acha mesmo que eu fiz a bobagem que fiz ontem porque não sinto
nada, não é? A roupa era de Sunshine, os sentimentos eram meus. Não posso ficar fingindo que
não me dói quando a gente acaba, você vira as costas e me evita até que a gente caia de novo
nessa confusão de não conseguir ficar sem nos tocar. — Ela funga ao mesmo tempo que sinto
uma pontada no peito, como se alguém tivesse acabado de enfiar a mão ali e esmagado meu
coração. — Não posso fazer isso comigo, porque nós sabemos quem vai sair machucada de tudo
isso quando esse contrato acabar e cada um seguir o seu caminho. — Respira fundo e diz de uma
vez só: — Eu quero sair da sua casa, Theo.
Fico imóvel por alguns segundos.
Porra, Summer. Não!
Viro devagar meu corpo e faço com que se deite por cima de mim. Summer vira o rosto
para o lado sem querer me encarar e uma lágrima escorre, caindo na minha bochecha.
— Ei, olha para mim. — Seguro seu queixo devagar e trago na minha direção, até que
seu rosto bonito e corado pelo orgasmo esteja acima do meu.
Sorrio de lado, enquanto limpo seu choro. Seus lábios estão tremendo na mesma medida
que meu coração está disparado, como se eu estivesse em plena pista, acelerando.
— Por favor, não me olha assim — pede.
— Fica comigo, Summer Campbell — eu peço.
Na verdade, talvez ela não perceba, mas estou implorando.
Ela ri, um riso irônico, e tenta se levantar, mas seguro seus braços mais que depressa, e
faço com que permaneça onde está.
— Estou te pedindo para ficar comigo — repito as palavras com meus olhos diretamente
nos seus. Os dela estão se enchendo de lágrimas outra vez. — Você me quer, Summer
Campbell? Porque eu te quero desesperadamente. Não há nada nesse mundo que eu queira mais
do que quero você. Então, vou te pedir mais uma vez: fica comigo. Fica na nossa casa. Fica na
minha vida. Para além de um contrato. Não é ele quem nos prende mais agora, e você sabe muito
bem disso. Desde aquela noite no clube, desde que tive você nos meus braços pela primeira vez,
Summer, você sabe que não é mais sobre papéis assinados e datas marcadas. Não vai embora,
fica comigo.
Ela balança o rosto de um lado para o outro, rindo e chorando, os cabelos caindo em
cascatas pelo seu rosto perfeito.
— Eu não posso, Theo. Isso já está doendo agora, imagina o quanto mais vai doer daqui
para a frente?
— Não quero mais te magoar. E eu assumo, sei que fiz isso. Sei que fingir que a gente só
podia ter sexo enquanto esse não é nosso tipo de coisa te machucou. Você sabe que não sou um
homem ruim, baixo e muito menos canalha. Não estou te pedindo para ficar comigo da boca para
fora ou por capricho. Estou pedindo porque preciso de você. Eu quero você, Summer, não
importa o que venha pela frente. — Passo a ponta do dedo no seu nariz bonitinho demais, beijo
sua boca e continuo: — Não vai ser fácil — admito, empurrando algumas mechas para trás da
sua orelha. — Mas, no momento apropriado, Josh vai ter que entender. Você não merece ser o
segredo de alguém. Não quero te esconder.
Ela ofega e me olha preocupada.
— Não há uma mulher mimada aqui que espera que você passe por cima de qualquer
coisa por nós dois, Theo. Sou sua assessora. Melhor do que ninguém, eu sei os riscos que um
escândalo te traria, porque, sim, neste momento seria um grande escândalo. Sei que ninguém vai
enxergar isso da forma que é: simples. Porque é simples quando duas pessoas solteiras se
envolvem, mas… vão falar que você traiu Josh, e eu não quero isso.
— Sim, é o que vão falar — corroboro com sua afirmação. — Mas não quero que isso
nos impeça de sentirmos o que a gente sente. Não quero mais fingir que não me importo com
você. Que não sinto isso que fica me queimando o tempo inteiro aqui dentro.
Seus olhos brilham e ela pergunta com sua voz suave:
— E o que você sente, Theo? — Summer encosta o queixo no meu peito e eu desço as
mãos pelo seu corpo nu, quente, macio, familiar.
Minha nova casa. O meu lar.
— Como se tivesse encontrado o meu lugar no mundo.
Porque é o que eu sinto quando olho para ela. Quando Summer está nos meus braços e
tudo o que penso é que não importa o quanto eu tenha tentado ir contra o desejo que nos tomou
de início, quanto é ela quem faz tudo ter sentido dentro do meu coração.
— Não brinca comigo — as palavras saem baixas, e eu sinto o quanto são sinceras.
Beijo sua bochecha molhada e raspo a barba pela sua pele. Summer choraminga.
— Brincar com você seria como brincar com meu próprio coração, Campbell. Não
poderia jamais. — Observo com calma cada pedaço do seu rosto perfeito.
O coração dela bate tão forte que o meu o acompanha. De repente, parece que estamos
em completa sintonia.
— Meu Deus… — Ela ri entre as lágrimas e afunda o rosto no meu ombro. Passo meus
braços em volta dela e aperto seu corpo contra o meu, sentindo-me um pouco sortudo demais por
saber que, a partir de agora, não teremos mais que sofrer por estarmos longe um do outro. — Eu
só queria um emprego e acabei apaixonada pelo meu chefe.
Dou uma gargalhada e puxo com cuidado o seu rosto na minha direção. Ela me encara
enquanto mantém o lábio inferior preso entre os dentes.
— Você está apaixonada por mim, Summer Campbell?
— Provavelmente mais do que eu deveria, Theo Savard.
— Que coincidência boa essa, não é mesmo? Porque eu também estou bem apaixonado
por você. Por cada pequeno detalhe de você.
Summer ri e balança a cabeça, como quem não acredita.
Quem não acredita nisso sou eu. O que eu posso ter feito de tão bom para a vida me dar
esta mulher de presente?
Seus lábios se juntam aos meus devagar, de um jeito puro, diferente dos beijos que
andamos nos dando em todas as outras vezes. Depois respira fundo e fica um pouco mais séria.
— Vou conversar com Josh junto com você, quando for a hora.
— Não vai, não. — Nego com a cabeça. — Esse é um assunto meu e dele. O de vocês, os
dois já resolveram. Fique tranquila.
Ela não parece muito feliz agora, mas não me contraria.
— Vamos esperar o fim da temporada. Você está tão perto de tudo o que tem sonhado. —
Brinca com minha barba, passando os dedos delicados de leve. — Não vamos colocar tudo a
perder.
— Podemos fazer isso — e me comovo com a bondade do seu coração. Realmente não
deveria me espantar pelo jeito com que Summer é sensata em cada mínimo detalhe de tudo o que
faz e pensa. — Desde que eu não precise acordar sozinho na minha cama a partir de agora.
Ela ri alto e arqueia uma sobrancelha.
— Isso é um convite, Pole?
Dou um tapa na sua bunda e Summer grita. Rolo para cima dela outra vez e seus cabelos
se espalham pelo lençol branco.
— Isso é uma intimação, Campbell.
Seus braços passam por trás do meu pescoço e ela diz:
— É bom que Paddock não precisará mais escolher em que cama dormir.
Sorrio de lado e beijo seu queixo.
— É provável que ele vá dormir no seu quarto, porque as coisas que estou pensando em
fazer com você por cada noite a partir de agora não são algo que a gente queira que ele assista.
Summer uiva e me provoca.
— Uhhhh… temos promessas, hein, Savard?
— Que serão cumpridas. Todas. — Puxo seu lábio entre meus dentes e Summer se
contorce abaixo de mim.
— Então quer dizer que… — Pausa sua fala, sem saber como dizer o resto.
Dou uma risada e faço com que ela se levante. Eu fico de pé e a ajudo a se sentar na
beirada da cama. Minha camisa cai de volta no seu corpo, cobrindo tudo, e ela olha para mim,
entre um sorriso e outro, mordendo o canto da boca.
Eu me ajoelho de frente para ela.
— Summer Campbell, Sunshine às vezes — zombo e ela ri, colocando as duas mãos na
boca. — Posso ser o seu lar? Porque você já é o meu.
Ela tomba a cabeça para o lado e me olha daquele jeito que eu amo.
Como se não houvesse nada no mundo além de nós dois.
— Ninguém nunca me pediu em namoro de um jeito tão bonito — assume e ri.
— Depois que fiquei velho, me tornei uma espécie de poeta brega. Se você aceitar, é com
esse tipo de coisa que vai ter que conviver.
Ela se joga nos meus braços e se ajoelha junto comigo. Rio com o nariz entre os fios do
seu cabelo e aperto Summer contra mim.
— Foi tudo o que eu pedi na vida: um namorado velho e brega. — Seu rosto fica de
frente ao meu e o sorriso dela é tudo de que eu preciso para enfrentar o que vier pela frente.
Porque sei que estou comprando uma guerra. Uma gigante, em que talvez não tenha
como sair ganhando.
Mas, tudo bem. É quase certo que eu precise mesmo pagar um preço alto para estar com
ela.
E, cara, por essa mulher eu faço qualquer coisa.
— Então é o que você tem a partir de agora — e beijo minha mulher, porque qualquer
oportunidade de ter um pouco mais de Summer, a partir de agora, eu jamais vou desperdiçar.
Capítulo 31 - Summer Campbell

JULHO

Estamos no caminho para o GP da Bélgica. Mark está doente e não conseguiu nos
acompanhar. Eu me ofereci para ajudá-lo com suas pendências e estou aproveitando o tempo de
voo para isso.
Theo está do outro lado, vendo alguns vídeos que sua estrategista-chefe selecionou das
últimas corridas no Circuito de Spa-Francorchamps, considerado um dos mais difíceis da F1.
Vez ou outra olho em sua direção só para poder admirá-lo um pouco, o que
repetidamente me faz cócegas na barriga.
Às vezes me pego sozinha pensando naquele dia do hotel em que Savard me pediu para
ficarmos juntos. Para que eu não fosse embora…
Eu esperava escutar qualquer coisa deste homem, menos aquilo.
Nada me preparou para ouvir Theo me chamar de “lar”. Todas as vezes, depois disso, em
que não podemos nos tocar, nos beijar, nos abraçar e, ainda assim, apenas com os olhos, ele me
faz sentir que tudo o que queria era que pudéssemos fazer isso, deixa meu coração
descompassado.
O problema é que, às vezes, a paixão nos faz agir de forma perigosa.
Não bastasse transar na casa do dono da McLean, eu tive o sexo mais insano da vida
dentro do motorhome de Savard no GP da Hungria, na semana passada, depois de outra P1, que
deixou Pole disparado na liderança de pilotos. Wisbech bateu na porta duas vezes enquanto eu
estava com o pau de Theo na minha boca e depois de quatro no seu sofá.
E, quando Manfred saiu para levar Paddock em sua caminhada diária durante nossos dias
em Monte Carlo, fui devorada na ilha da cozinha, no sofá da sala e encostada no corrimão da
escada.
Temos pulado nas madrugadas para o quarto um do outro e eu sempre acordo com Theo
ao meu lado, olhando para cada detalhe de mim, me dando um belo orgasmo de bom-dia em
seguida. E eu não sei se ele sabe, mas isso me faz ficar um pouquinho mais apaixonada a cada
dia que passa.
Não consegui esconder isso de Aileen, que fez a maior festa na nossa ligação. Sei que
sabe do risco em que coloquei Theo admitindo isso para ela, mas, antes mesmo que eu pedisse,
minha amiga me jurou que não sairia dali.
É por isso que a amo!
Já meu irmão tem me dito insistentemente que estou diferente, e, por mais que eu tente
mentir para Alex, sei que não vou conseguir por muito tempo. Preciso me preparar para dizer a
ele que seu grande ídolo agora é, na verdade, seu novo cunhado.
Vejo Theo mexendo nos seus óculos de grau sem perder a concentração na tela do iPad.
Fecho o e-mail acabando minhas demandas, as de Mark, e resolvo colocar um episódio de Sen
Çal Kapimi para assistir.
Eda e Serkan estão próximos do casamento e eu não vejo a hora de assistir a isso.
Ajeito-me de forma relaxada na minha poltrona e prendo a atenção no episódio, abrindo
um sorriso atrás do outro quando ele chega para vê-la e avisar que precisa viajar para resolver
coisas, mas que estará de volta a tempo de subirem no altar.
Meus olhos se enchem de lágrimas imediatamente quando, olhando nos olhos de Eda
através do espelho, Serkan diz:
“Se eu nascesse cem vezes, eu me apaixonaria por você cem vezes.”
Tenho vontade de dar um gritinho, quando percebo que alguém está respirando perto
demais de mim. Olho para o lado e Theo está abaixado com o rosto ao lado do meu.
— É complicado competir com esses caras de livros e novelas. Olha só o que eles falam.
Pauso o episódio e me viro em sua direção.
Ele ainda está com os óculos e um sorriso lindo estampado no rosto.
Eu nunca vou me acostumar com o jeito com que Savard me olha.
— No meu coração, a pole também é sua. Não existe competição.
Savard gargalha e se levanta, oferecendo-me a mão, fazendo com que eu fique de pé. Ele
senta-se no meu lugar e me coloca em seu colo. Sua mão repousa nas minhas coxas e eu passo os
braços pelo seu pescoço.
— Acho bonita a forma como você encara o amor, Summer. — A outra mão vem até o
meu rosto e brinca pelo meu queixo, minha bochecha, fazendo-me fechar os olhos devagar.
— Foi a forma como fui criada dentro de casa. Meus pais sempre me ensinaram que o
amor vale a pena e que ninguém merece nada menos do que vivê-lo de forma avassaladora.
Ele concorda e suspira, olhando os meus olhos com devoção.
— Seus pais estavam cobertos de razão. Você é uma mulher que merece ser venerada —
e, quando Theo diz essas palavras, tenho vontade de chorar.
Isso é uma promessa?
Além do sexo, temos compartilhado muitas outras coisas.
Temos dividido muitas informações sobre os nossos gostos. Ele quis saber mais sobre
Outlander, ao me ver lendo um dia antes de dormir, e expliquei como tudo em torno da fantasia
de Diana Gabaldon tem a ver com a história da minha própria família. Contei sobre os clãs,
como a guerra dizimou o nosso povo, como meus antepassados foram parar no Canadá e sobre
nossos planos familiares para visitar a Ilha de Skye, onde meu pai pediu a minha mãe em
casamento.
É um dos lugares mais mágicos e inspiradores da Escócia, citado inclusive na música de
abertura da série televisiva de Outlander.
Ele ficou fascinado com tudo que lhe contei.
Nenhum dos homens com quem já me envolvi tiveram interesse verdadeiro sobre como a
história da minha família é importante para mim. Só ele.
Theo me contou um pouco mais sobre seu lado espanhol, sobre como começou no
automobilismo ainda um garotinho, os dias sozinho pelo mundo em busca de ser quem é hoje, a
ideia de abrir o instituto; contou coisas que fizeram com que seu casamento não desse certo, mas
elogiou, com muito respeito, todas as qualidades da ex-esposa.
Essa é uma das coisas que diferencia Savard da maioria dos outros homens para mim: ele
não desmerece a história que teve com Louise só porque acabou. Mesmo preferindo manter-se
afastado e não tocar quase nunca no seu nome, ele sabe que ela foi uma parte importante da sua
história.
Aos poucos, muito mais do que dividir nossos dias entre nossos compromissos
profissionais, viagens para as disputas, e a cama ao fim do dia, temos enxergado nas nossas
singularidades coisas que nos complementam.
— Por falar nos meus pais… Acho que já te disse que temos uma tradição de família, não
disse?
— Andei vendo um tempo desses para trás no seu Instagram — assume.
Savard andou me stalkeando?
Solto uma gargalhada e ele ri também.
— Temos a Royal Nova Scotia International Tattoo todo fim de julho. É uma grande
festa para os descendentes. Tem música, dança, teatro, comidas típicas, enfim… Estaremos nas
férias de verão, e eu queria saber se para você seria um grande problema que eu fosse para casa
durante esse período. É importante para o meu pai, para os meus irmãos. Era uma das festas
preferidas da minha mãe. É quando nos sentimos mais próximos dela.
Theo ajeita meu cabelo e faz que não com a cabeça.
— Tire a semana toda para você. Já é um semestre inteiro longe de casa, você merece
ficar perto deles um pouco.
— Prometo que trabalho de lá!
Ele nega com a cabeça e ri.
— São férias, Summer. Eu também vou tirar uns dias. Estamos próximos do meu
aniversário, preciso passar um tempo com a minha mãe, meus sobrinhos… Josh. Vou levá-los
para alguns dias na Espanha.
Claro. E é totalmente compreensível.
E não me passa despercebido a menção do aniversário, porque realmente sei que está
chegando.
Segundo Theo, Josh está um pouco mais distante do que o normal nos últimos tempos.
Ele acredita que seja pela nova garota com quem anda saindo e também porque Derek, seu
irmão, tem exigido cada vez mais atenção do filho dentro da Savard.
— Vai ser ótimo então! — e, só de pensar em ficar tanto tempo longe dele, meu coração
dói.
— Sabe, eu estive pensando em uma coisa. — Respira fundo e relaxa a cabeça no encosto
da sua poltrona. — E se eu fosse com você?
Meus olhos saltam para fora na tentativa de entender o que está dizendo.
— Você diz… para a minha casa?
Ele ri do meu comportamento e faz que sim com a cabeça.
— Não posso ir todos os dias, mas eu poderia participar da sua festa de família. Chego
cedo e volto ao fim do dia.
Começo a rir meio boba, com meu coração completamente disparado.
— Você faria isso?
— Por que motivo não faria? — Sua sobrancelha grossa e bonita sobe, chamando o
sorriso de lado que me deixa completamente mole. — Sei que as pessoas ainda não sabem disso,
mas eu sou seu namorado, Summer Campbell. Eu quero fazer parte de qualquer coisa que te
deixe feliz.
Tapo a boca tentando segurar minha alegria, porque não existe nada que possa me
preparar para o tipo de homem romântico que é Theo Savard.
— Meu pai e Alex vão ter alguma coisa do coração! Meus tios também. — Abraço Theo
com força e ele faz o mesmo, rindo. — Não acredito nisso. Não acredito nisso!
— Talvez tenha um kilt para mim por lá? — e quando brinca sobre a vestimenta
escocesa, minha risada sai mais alta do que eu pretendia.
— Você usaria? — Olho para ele mais uma vez, e o brilho nos seus olhos me responde
antes mesmo que as palavras.
— É claro que sim! Inclusive, acho que vou ficar bem bonito em um, você não concorda?
— Suas mãos pesadas me puxam devagar pela bunda e eu adoro a sensação de sentir meu corpo
assim, completamente colado ao seu.
— Principalmente se você não usar uma cueca por baixo. Vai ficar um verdadeiro
charme. — Ele gargalha, trazendo meu rosto para perto do seu, beijando meu queixo.
— Acredite em mim quando digo que essa não vai ser uma boa ideia. Preciso que seu pai
goste de mim, garota. — E ouvi-lo falar sobre a aprovação do meu pai deixa meu coração mais
acelerado ainda. — Agora eu tenho um pedido para te fazer.
Com essa barba me arranhando deste jeito, ele pode me pedir o que quiser.
— Diga-me, Pole Position.
Seu sorriso em contato com a minha pele alastra fogo por onde seus lábios se esticam.
Ele para por um momento e me olha nos olhos outra vez.
— Me dou de aniversário, todos os anos, três dias no instituto acompanhando as crianças
e participando das atividades. Queria saber se você aceita dar aulas de pintura nesses dias.
Meu sorriso sobe automaticamente.
— Você está falando sério?
— Por que não seria? Você é incrível pintando, é o que mais ama fazer. Eles vão adorar
ter aulas com você.
Paro um pouco e penso.
— É que nunca ensinei ninguém a pintar. Não sei se sou uma boa professora. Mas posso
ensiná-las com meu coração, se isso for o suficiente!
Ele pisca e me devolve:
— É do que as crianças e os adolescentes precisam.
Ok. Acabo de me apaixonar de novo por Theo Savard.
— Sendo assim, vai ser uma grande honra para mim te dar um presente como esse. —
Ele sorri e beija minha mão, que acaba de segurar. — Mas, e você? O que faz por lá todos esses
dias?
— Ensino espanhol.
O jeito como rio faz com que ele erga uma sobrancelha.
— Diga alguma coisa para mim em espanhol, Theo Savard.
— No puedo esperar a verte desnuda y follarte, Summer Campbell[11].
Fico confusa porque não entendo nem sequer uma palavra, mas acho sexy feito o inferno
ele falando com essa língua que parece enrolada demais.
— Espero que tenha sido um elogio.
Theo concorda e sorri de lado, aquele sorriso que me tem inteira.
— Eu disse: você é a mulher mais linda do mundo, Summer Campbell.
Fico parecendo uma grande idiota quando ele gargalha e me puxa rápido, tomando minha
boca na sua, enquanto eu nem tenho tempo para pensar, só para sentir o quanto os lábios e a
língua deste homem me levam para vários lugares sem que a gente precise sair do lugar.
É uma grande verdade: não existe homem mais romântico no mundo do que Theo
Savard.

Eu nem me lembro a última vez que nos divertimos tanto como família. A noite de
festival ontem foi simplesmente uma das mais bonitas e animadas a que já assisti em todos esses
anos. Alex, Ava, eu e nossos primos só chegamos em casa quase de manhã, depois de
encontrarmos amigos antigos da escola e virarmos a noite cantando, dançando e relembrando
bons momentos de infância e adolescência.
Meu pai não parava de sorrir, e eu nunca o vi tão bem com Gia como agora. Os dois não
se desgrudaram um segundo sequer durante os desfiles e shows, e Alexander me disse ter certeza
de que nosso pai nos falaria alguma coisa. E, bom, não é que meu irmão estava certo? Ele acabou
de nos chamar, os três, na sala para uma conversa.
Depois do banho, desço com os cabelos molhados mesmo. Alex está respondendo à
caixinha de perguntas no seu Instagram e Ava preparando a seleção de músicas para a grande
festa dos Campbell, que acontecerá amanhã.
E eu estou trocando mensagens com Theo.
Theo: Que ideia horrível foi essa que eu tive de te dar férias, Campbell? Paddock não
para de chorar sentindo a sua falta.
Rio para o aparelho e digito rápido:
Eu: Paddock, Pole? Tem certeza de que é o cachorro quem está chorando de saudades?
Vocês estão só a algumas horas de mim, e amanhã isso acaba!
Ele trouxe Dock para o Canadá dessa vez.
Theo: Eu e ele chegamos à conclusão de que qualquer distância entre você e nós é muito.
Saudade de dormir sentindo seu cheiro…
Suspiro e mordo os lábios. Quando levanto os olhos, meu irmão está me encarando.
Endireito-me e mudo minha cara, respondendo:
Eu: Saudade de dormir sentindo seu corpo no meu, Savard! Agora preciso de alguns
minutos, meu pai chamou para conversar.
— Quando Alex e você finalizarem, eu falo. — Donald Campbell está visivelmente
ansioso.
Não sei quantas vezes ele já nos abraçou. Depois de beijar meu rosto repetidamente desde
que cheguei de Monte Carlo, ele só conseguia dizer sobre como era bom me ter em casa outra
vez.
E, pela primeira vez nos últimos anos, não bebeu quando viu todos nós juntos. Isso não
passou batido.
— Já terminei. — Meu irmão guarda o telefone no bolso do moletom e me questiona. —
E você, Summer?
— Eu também. — Largo meu aparelho e Ava faz o mesmo em seguida.
Nosso pai fica de pé, olhando para nós três sentados no sofá de frente para ele. Anda de
um lado para o outro, mexendo com as mãos, sem saber exatamente o que falar.
— Vamos, pai! — minha irmã incentiva.
— Ok! — Para e respira fundo, colocando as mãos na cintura. — Vou pedir Gia em
casamento.
Ah, meu Deus!
Nós três nos olhamos completamente surpresos.
— Eu… — volta a falar. — Eu fui até o túmulo da mãe de vocês e, bem… — Coça a
cabeça. — Conversei com ela. — Ele tem medo de que isso soe como bobagem, mas a verdade é
que Alex e eu já fizemos isso várias vezes. — Acho que nunca fiz algo assim esse tempo todo,
porque eu tinha medo de que isso significasse uma despedida. Não sei me despedir de Sara, não
quero me despedir dela. — Nosso pai abaixa a cabeça. Ava chega um pouco mais perto de mim.
Passo o braço pelo ombro da minha caçula e mantenho-a bem próxima. — Resolvi procurar a
terapia — assume e isso faz um carinho tão grande no meu coração. Meus olhos também
mostram o quanto sinto orgulho dele agora. — Já fui a algumas sessões, enfim… — Faz uma
pequena pausa e olha para nós três outra vez. — Não quero perder Georgia e nem quero perder
vocês três. Sara foi o suficiente para uma vida toda. Quero vê-los felizes, vivendo sua vida,
criando seus legados, como ela fez. E quero viver com Gia até os últimos dias da minha vida,
porque sei que é o que a mãe de vocês gostaria e é o que eu quero também. Amo Georgia, não
posso perdê-la.
Ao mesmo tempo, nós três nos levantamos e abraçamos nosso pai. O abraço apertado que
ele nos devolve é como uma cola que restaura algo que parecia completamente quebrado e sem
solução.
O que ele acaba de nos contar é um passo pelo qual nossa família espera há muito tempo.
— Amo vocês, meus filhos. Amo tanto vocês — a sua voz embargada me quebra. —
Prometo que estou buscando ser um pai melhor. Sei que perdi alguns anos e isso não tem volta,
mas também sei que posso fazer diferente daqui para a frente e é isso que eu vou buscar por cada
dia que me resta. — Sinto seu beijo na testa, ele dá outro na de Ava, que está rindo, e em Alex,
mudo, respirando muito fundo.
— Te amamos, pai — sou eu quem digo. — E nós estamos aqui para te apoiar nessa
jornada de cura. — Levanto o rosto e meu pai está sorrindo para mim, emocionado feito nós três.
— Nossa mãe com certeza está muito orgulhosa, eu não tenho dúvidas.
— É tudo o que eu desejo, minha filha. — Ele nos aperta mais uma vez e, quando nos
soltamos, Alex bate no seu ombro, enxugando rápido os olhos.
Sei o quanto custou para Alex toda a omissão do meu pai.
Ele foi meu irmão, meu pai, meu amigo, meu abrigo, na maioria do tempo. Um homem
como meu irmão, sei que existem poucos por aí. A mulher que se casar com ele tirará a sorte
grande.
— E quando vai ser o pedido? — Alex sorri, tentando mudar a expressão.
— Amanhã. — Donald Campbell é só sorrisos agora, demonstrando um pouco de
nervosismo.
— Pai, por que você não disse isso antes? A gente tinha que preparar alguma coisa mais
especial, não? — Ava questiona.
Ele nega.
— Não tem nada mais especial do que estar rodeado de família e amigos, querida. É só
disso que Gia e eu precisamos.
De repente, eu me lembro de que preciso falar com eles.
Mordo o lábio antes de abrir a boca.
— Tem uma coisa que eu ainda não contei para vocês.
Os três voltam os olhos para mim, curiosos.
— Manda, Sums! — Alexander me cutuca.
Eu deveria ter dito antes? Sim! Mas achei que a grande surpresa do dia seria essa, e não
um noivado!
— Pai…, por acaso você não se importa de ficar noivo na frente de Theo Savard, se
importa?
Eu ouço em uníssono:
— O quê?
Ergo as mãos como quem diz que sente muito.
— É que eu convidei meu chefe para conhecer nossa festa, e ele topou!
Não vou contar que foi o meu namorado quem se ofereceu para vir. O maior piloto da F1
na minha casa já é um acontecimento, dizer que foi ele quem se ofereceu para vir porque agora
assume outro posto na minha vida, além de meu chefe, já é muito.
— Theo Savard, aqui? Em Halifax? Na nossa casa, Summer? Porra, Theo Savard?
Meu irmão fica completamente maluco.
— Gente, vocês não podem contar para ninguém, pelo amor de Deus!
— Criosd, tenho que pedir mais uísque! — meu pai chama por Cristo.
Minha casa vira uma grande confusão. Ava sai gritando e pulando. Alex me pergunta
umas vinte vezes se tenho certeza e meu pai começa a ligar para um tanto de gente pedindo o
dobro das coisas que já tinha pedido para a festa de amanhã.
Fico parada olhando para o furacão que se torna a sala da minha casa pensando que,
quando eles souberem a verdade mesmo, Halifax virá abaixo.
Capítulo 32 - Theo Savard

HALIFAX, NOVA ESCÓCIA, CANADÁ

Paro o carro que reservei, na Savard do aeroporto de Halifax, na porta do endereço que
Summer me informou. É um grande portão de grades e daqui é possível ver o enorme gramado
do jardim, que se estende até a entrada do casarão, no fundo da propriedade.
O som da festa pode ser ouvido aqui fora.
Encosto-me no carro e cruzo os braços enquanto vejo uma jovem correndo pelo caminho
em direção ao portão.
Summer Campbell vem trajada com um vestido preto, na altura dos joelhos, não muito
apertado no seu corpo, com os braços livres de mangas. Por cima, me parece um lenço,
quadriculado com as cores preta, verde e azul. O tartan[12] da sua família.
Ela abre o portão rapidamente, sorrindo, para de frente para mim.
Linda pra caralho, como sempre.
Estou com tanta saudade dessa mulher…
— Theo Savard! — A boca pintada de rosa-claro, como ela gosta, os cabelos soltos, e o
sorriso que é capaz de fazer meu velho coração parar por alguns segundos.
— Summer Campbell. — Tiro os óculos escuros do rosto, ajeitando na gola da camisa.
— Você está… incrivelmente mais bonita do que já é. Eu não sabia que isso era possível.
Enquanto ri, balança a cabeça. Não perco o momento em que morde o lábio, corando.
— Gostou?
— Totalmente! Achei bonito o lenço.
Summer segura o tecido, olha para ele e depois diz:
— É um sash. Mulheres não usam kilt, então, usamos nosso tartan assim, em forma de
um tecido que adorna nossa roupa. — Ela respira fundo e fala baixo, mudando o assunto: — Eu
ainda não acredito que você está aqui!
Desencosto-me do carro e dou dois passos em sua direção.
— Pois acredite, Campbell, eu estou.
— Se você não desistir de mim hoje, não desiste nunca mais. Tem vinte pessoas lá dentro
que só sabem falar seu nome há cada cinco minutos.
Agora quem ri sou eu.
— Primeiro: eu jamais desistirei de você, e segundo: vai ser divertido, tenho certeza.
Ensaiei até uns passos de uma dança que eu achei na internet. — Jogo os pés para lá e para cá
como se soubesse o que estou fazendo.
Campbell ri alto, então sei que estou fazendo a coisa certa.
Fazer essa mulher sorrir sempre é tudo o que eu quero.
— Meu pai mandou buscar uma caixa inteira do uísque que você gostou para te dar de
presente — comenta e completa: — Ele está mais empolgado com a sua visita do que com o
pedido de casamento a Gia.
Ontem ela me contou que o pai decidiu pedir a mão da namorada em casamento hoje.
Depois de tudo o que ela vem compartilhando comigo sobre sua família e a jornada difícil que
enfrentaram após a morte de Sara, sei que Summer não poderia estar mais feliz.
E eu estou por ela também.
— Espero que Georgia não perceba isso. Não quero que sua família me odeie.
— É impossível que isso aconteça. Você é Theo Savard, eles gostam mais de você do que
de mim. — Revira os olhos, divertida.
Mais um passo e agora estou de frente para o seu rosto. O cheiro de Summer faz meu
juízo começar a escorrer pelas mãos.
— Se eu te beijar aqui, agora, o que acontece?
Ela olha rapidamente para a minha boca, depois para os meus olhos.
— Meu pai vai ter Theo Savard, campeão mundial de Fórmula 1, beijando sua filha na
porta da sua casa, gravado.
Automaticamente meus olhos vão para o portão e vejo duas câmeras, uma de cada lado.
— Droga! — Volto um passo e digo, pesaroso: — Estou pronto para comer scotch
[13]
broth e encher a cara de uísque, já que não dá para beijar minha namorada.
Summer torce esse seu narizinho bonito e me puxa pelo braço, fazendo com que a gente
atravesse o portão da mansão Campbell.
— Vem logo, antes que todo mundo apareça para buscar a gente aqui.
E, assim, sigo para dentro do mundo de Summer.

Eu não consigo me lembrar da última vez que me diverti deste jeito.


Donald Campbell e toda a família de Summer são simplesmente as pessoas mais cordiais,
engraçadas e espirituosas com quem cruzei nos últimos tempos.
Minha vida sempre foi viver enfiado em grandes eventos, almoços e jantares importantes
onde status, roupas caras e o carro que você tem na garagem são quem dita sua real importância.
Apesar de ver o quanto eles estão felizes porque, de alguma forma, eu represento uma figura
importante para o esporte do país e do mundo, estão me tratando de igual para igual. Tão igual
que agora estou vestido com um kilt e estava abraçado há minutos em Alex e no tio de Summer,
dançando alguma coisa que não sei o nome, comemorando o pedido de Donald à Georgia.
Summer não conseguiu esconder o quanto isso a deixou feliz e, pelo visto, à família
inteira.

— Assisti a algumas das suas partidas, Alex. Eu sou muito fã do seu estilo de jogo. Ainda
estou contando que o Toronto vai te buscar na próxima temporada, quem sabe?
O irmão de Summer ri, balançando a cabeça.
— Cara, é um sonho. Não tenho do que reclamar sobre o que estou vivendo em Quebec,
mas sei o quanto a minha carreira mudaria com uma movimentação dessas. — Alexander lembra
muito Summer e é exatamente uma cópia do pai. — Mas o central deles é forte, está em
destaque, só por um milagre isso aconteceria tão cedo.
Bato no seu ombro.
— Milagres, às vezes, podem ser sinônimo da palavra “contato”. Se você me disser que
realmente quer, coloco seu empresário para falar com quem faz as coisas acontecerem lá dentro.
— Eu ficaria eternamente grato, Savard. — Ele coça a cabeça e sorri, depois completa:
— Ainda nem acredito que você está aqui em casa. Que loucura! Não consigo te dizer o quanto
sou seu fã. Quantas vezes acordei de madrugada só pra te ver correr.
— Obrigado, cara. Me sinto honrado. — Bato em seu ombro e aperto forte. — Te espero
para minha última corrida. Quero sua família inteira lá.
— Será um enorme prazer para os Campbells.
— Mais Glenturret para Savard, por favor — Donald pede a um dos irmãos e alguém
enche o meu copo. — Aqui em casa ninguém fica de copo vazio. — O riso do homem é feliz e
eu agradeço quando, mais uma vez, meu copo está completo. A mão pesada de Donald cai sobre
mim, e ele fala: — A nossa casa agora é a sua casa, Theo. Poucas vezes na vida me senti tão
honrado como estou com sua presença aqui.
— Obrigado a você por abrir suas portas para me receber, Donald. — Nós dois
brindamos e ele me abraça de lado, dizendo em seguida:
— Filha, apresente o andar de cima para ele — chama Summer, que, mesmo com a irmã,
a madrasta e as primas, não tira os olhos de mim.
Eu sei porque não consigo tirar os meus dela também.
Porque foi difícil não olhar enquanto o primo tocava gaita de fole e, mesmo que me diga
ser uma péssima dançarina, deslizou pelo gramado da sua casa como se tivesse nascido para isso.
A ancestralidade de Campbell está em sua alma e é nítido o quanto ela se sente parte de cada
mínimo detalhe das suas tradições.
— Ah, claro, pai! — Sorri para mim. — Vamos lá, Savard. — Aponta para a porta pela
qual entrei há pouco tempo, quando fui trocar a roupa no banheiro do andar de baixo.
Acompanho Summer enquanto ela faz questão de me mostrar cômodo por cômodo.
A casa é grande, bonita e me traz a sensação de um lugar acolhedor, mas confesso que
não estou prestando muita atenção nisso. Enquanto passamos pela sala, a grande biblioteca de
Donald e depois subimos as escadas, só consigo pensar na sorte que foi ter meu caminho cruzado
com o dela.
— Aqui é onde passei grande parte da minha infância e adolescência. — Abre a porta do
seu quarto para mim. Fico parado olhando e coloco a cabeça para dentro só para observar. Ela ri.
— Entra, não tem nenhum bicho-papão aí dentro.
— Não acho que seja respeitoso com seu pai, Summer — concluo, por mais que eu
queira.
— Meu pai está bêbado e felicíssimo lá em baixo porque agora está noivo e você está na
nossa festa, Savard. Pode entrar! — e me puxa pela mão, fazendo com que eu pise dentro do
cômodo.
O barulho da porta se fechando vem logo em seguida.
O quarto é simples, com uma cama espaçosa encostada na parede de cor creme, uma
mesa com cadeira bem perto da grande janela, a suíte e o closet logo em seguida, à esquerda.
— Bonito como você, Campbell — brinco e dou mais um gole no copo.
Summer sorri e suspira em seguida.
— Tudo pronto para a viagem em família? — questiona, indo até a janela.
Eu me aproximo e olho para fora, encarando a bonita Halifax.
— Partimos depois de amanhã. — Vamos para o litoral da Espanha, Minorca.
— Vai ser um bom aniversário adiantado, afinal, Pole! — Divertida, me cutuca com o
ombro.
Rio e olho para ela.
— Com certeza será.
— Sabe o que eu estou pensando? — ela me encara ao perguntar.
— Diga-me, Campbell.
— Que você fica incrivelmente gostoso dentro desse kilt.
Gargalho e olho para baixo, encarando a vestimenta.
— Quando a gente se casar, posso usá-lo outra vez. O que você acha?
Summer fica espantada e sussurra:
— Casar?
Minha sobrancelha se levanta e eu completo:
— Não sou o tipo de homem que enrola mulher, achei que você sabia essa informação
sobre mim.
Ela prende os lábios nos dentes, tentando segurar o sorriso. Summer sai da janela e, com
cuidado, me puxa outra vez pela mão, trazendo-me até o meio do seu quarto.
— A gente tem trinta segundos — informa enquanto me encosta na parede, ao lado do
seu closet. Se Summer soubesse o que penso sobre parede e ela, não faria isso. — Depois, só
quando eu voltar para Monte Carlo.
— Para o que, querida?
— Me provar que quer ser meu marido, Theo Savard.
Enlaço a cintura dela e trago seu corpo rápido para perto do meu. Ela ri baixo e se agarra
no meu pescoço.
— E como posso fazer isso?
Seus olhos castanhos e brilhantes me encaram enquanto ela fala entre sussurros:
— Me beije como se fosse a primeira vez.
É uma ideia estúpida essa porra? Claro que é. Não sobre fazer qualquer coisa para provar
à Summer o que ela quiser, óbvio.
Quero que ela seja minha mulher. A mãe dos meus filhos.
Mas estamos em sua casa repleta de parentes por todos os lados.
Só que eu não aguento mais. É me pedir muito para ter Summer Campbell nos braços e
não tomar dela o que eu puder.
Quando minha língua mergulha entre seus lábios macios e rosados, minha namorada
geme baixinho, segurando com força um punhado dos meus cabelos. Seu gosto é doce, suave e
quase me faz perder o controle. Minha mão desocupada desce até a sua bunda e aperta. Summer
chupa meus lábios com força e roça o corpo no meu.
Completamente deliciosa, da cabeça aos pés.
Devoro sua boca enquanto ela se entrega, manhosa. Puxo a pontinha da língua entre os
dentes e minha garota arfa. Assim que abre os olhos, está tomada pelo desejo. Não posso nem
dizer como está a droga do meu pau agora.
— Caralho, como eu estava com saudade de você — murmuro ainda com a boca
encostada na sua. — Preciso de pelo menos um minuto antes de sair daqui. — Respiro fundo,
enquanto ela ri da minha cara, tão afetada quanto eu. — Te provar que vou ser seu marido aqui
não foi uma boa ideia, afinal.
A safada aperta meu pau por cima do kilt e fala bem perto do meu ouvido:
— Vai ser? Eu nem disse que aceito, Savard. — Provocadora.
Dou um tapa na sua bunda e ela se controla para não rir alto, enquanto afirmo:
— Você será a minha esposa, Summer Campbell. Tenha certeza disso como dois mais
dois são quatro.
Sem conseguir parar de sorrir, ela segura meu rosto e me beija outra vez, rapidamente.
Retribuo e me afasto da parede.
— Talvez eu goste de me chamar Summer Savard, por que não? — Passa os dedos pela
minha barba e ajeita o meu cabelo. Ah, Summer… Eu mal posso esperar por esse dia. — Pronto
para voltar à festa dos Campbells, Pole Position?
— Quase!
Entrego para Summer meu uísque e ajeito essa merda melhor dentro da cueca. Alguns
minutos depois e me sinto decente para sair andando pelos corredores da casa de Donald outra
vez.

DIAS DEPOIS
MINORCA, ILHAS BALEARES, ESPANHA

Termino de conferir algumas informações de contrato que deixei pendentes antes de


entrar de férias para sinalizar Mark sobre coisas que não estão de acordo. Mesmo dos Estados
Unidos, onde está passando descansando, uma vez por dia nós dois nos falamos para acertarmos
situações que não esperam o descanso acabar para acontecer.
Tiramos o dia hoje para navegar pelo Mediterrâneo enquanto minha mãe prepara na
cozinha do iate alguma comida boa, porque o cheiro está vindo aqui em cima. Essa é uma rotina
que eu tenho com a minha família: no intervalo da temporada, a gente viaja para algum lugar e
comemora meu aniversário, mesmo que ele só seja no fim do mês.
Observo os gêmeos gravando vídeos, enquanto Josh está abraçado à garota com que está
saindo agora, Eyshila. Obviamente que, quando fiz o convite, estendi a ela, mesmo que até aqui
ele não tenha assumido nada com a menina. Fiquei feliz que aceitaram.
Derek e Laura ficaram em terra. Tinham compromisso com alguns amigos que também
têm casa de veraneio aqui.
A garota se afasta do meu sobrinho e vai em direção à escada que desce para os quartos.
Josh encara o mar azul-turquesa por alguns segundos antes de virar o rosto em minha direção.
Ele sorri e vem andando devagar.
— Você e meu pai: nunca sei quem é o pior. Vocês não largam o trabalho, nunca. — Ri e
senta-se ao meu lado em um dos bancos.
Abaixo meu iPad porque Summer e eu estamos conversando, e não é nenhum tipo de
conversa profissional. Bem o contrário disso.
Depois do beijo escondido que demos no seu quarto, tudo o que nos resta é ficar
provocando um ao outro enquanto não chega a hora de nos reencontrarmos. E a única conclusão
a que cheguei nesses dias longe de Campbell é de que definitivamente não estar perto dela é uma
grande merda.
Gosto do frescor da sua presença, do seu jeito que parece encher a casa, o avião ou
qualquer lugar em que estejamos juntos. Sinto falta de acordar antes dela e ficar observando
aquela pinta que tem bem pertinho do olho esquerdo, ou como sua boca é um eterno convite para
beijá-la. O jeito como sua pele me chama para beijá-la e como reage quando isso acontece.
— A vida dos grandes homens é assim, pequeno Savard — brinco com ele de um apelido
que usava quando Josh ainda era um garotinho e eu, um tio orgulhoso com seus vinte e poucos
anos.
— Sei que você vai ficar completamente decepcionado com o que vou te dizer — ele
coloca um dos braços para fora do iate, o que segura seu copo de cerveja, e completa, agora me
encarando —, mas acho que nasci com o gene trocado — e gargalha.
Acho que Joshua realmente esperaria que, ao contrário do pai, eu pudesse dar uma risada
sobre isso, afinal ele provavelmente está me dizendo esse tipo de coisa aguardando minha reação
de amigo, não de tio.
— Empenho e dedicação a algo que a gente almeja e em que acredita não podem ser
cobrados de ninguém, Joshua. Ou você tem, ou não tem. Ou, talvez, você nem almeje nada,
então não há mesmo o que possa ser cobrado.
Meu sobrinho me dá um meio sorriso, talvez, um pouco chateado com a minha resposta.
— Eu só não nasci para negócios, entende? Talvez, se eu tivesse seguido seu caminho,
seria mais feliz. Ou, sei lá — dá de ombros —, mais realizado.
Respiro fundo antes de virar meu boné para trás, ajeitando os óculos escuros no rosto.
— Você acha que o que eu faço não são negócios? — Meu riso não tem um pingo sequer
de humor. — Trabalho feito um desgraçado, dentro e fora daquelas pistas. Tenho que me
desdobrar em vários para dar conta de ser o Theo piloto e o Theo empresário. Minha vida é fazer
negócios o tempo inteiro, inclusive quando estou correndo. Estou correndo porque preciso
manter meu lugar na equipe, estou correndo porque preciso agradar os patrocinadores que
injetam uma grana fodida na McLean por minha causa, estou correndo porque preciso honrar o
contrato milionário que assinei com eles, o mais alto da F1 nos últimos anos. É isso que eu faço,
Joshua, negócios dentro de um cockpit apertado, colocando minha vida em risco GP atrás de GP.
— Desculpa, eu não quis te ofender — balbucia, um pouco contrariado.
— Não estou ofendido, acredite. — Quando vou me levantar, ele segura meu braço.
— Estamos aqui pelo seu aniversário. Foi mal, não quis falar bobagens.
Olho para sua mão e me sento de volta.
— Não se preocupe.
— Como Summer está?
Eu sabia que falaríamos disso, porque há muito tempo Joshua não toca no nome dela.
Só soube o que realmente houve naquela noite do GP de Mônaco porque Summer me
contou depois, quando já estávamos juntos. Sei que Josh se esconde um pouco quando se sente
humilhado, constrangido ou é contrariado. E foi o que fez comigo. Depois dali, nada sobre falar
da ex-namorada.
— Está em Halifax, com a família.
— Soube que você esteve lá. — Eu também sabia que isso não seria um segredo.
As pessoas vigiam a nossa vida, sabem onde estamos praticamente o tempo todo. Sem
contar que tirei fotos com os familiares de Campbell e não achei que deveria dizer a eles que não
podiam postar fotos comigo nas redes sociais. O quão grosseiro isso soaria depois de uma
recepção como aquela?
— Sim. O Sr. Campbell me convidou para conhecer a festa tradicional da família deles.
Não achei de bom-tom recusar. Passei o domingo na casa com eles — minto e não me orgulho
disso.
Quando for o momento de esclarecer minha relação com Summer, provavelmente eu
peça desculpas. Ou, talvez não.
Josh sorri, mas não é um sorriso amistoso.
Sei que ele está com ciúmes, mas não me sinto na posição de quem tenha que me
justificar por ir aonde eu quiser ir, afinal de contas Summer é minha assessora. Se passo meu
tempo livre com ela também não é da conta de ninguém. Nem dele.
— Andei pensando desde que estive na sua casa em Mônaco… É engraçado como tenho
a sensação, hoje, de que estimei demais as coisas que achava que sentia por ela.
E aí está. Joshua e seu jeito de tentar sair por cima de uma situação que não foi como ele
planejava.
— O que você quer dizer sobre estimar demais o que sentia? — Vou lhe dar a
oportunidade de se explicar.
— Ela é bonita? É — brinca, dando uma risada. — É gente boa? Também é. É gostosa?
Sim. Boa de cama? Também. Mas não é “isso tudo” — abre aspas.
Cruzo os braços e respiro de forma controlada. Agora vai tentar diminuí-la para parecer
que, no fim das contas, quem saiu ganhando foi ele, quando nós dois sabemos que o único
problema nisso tudo é que Joshua não aceita que Summer tenha colocado fim no seu
relacionamento.
Meu sobrinho foi criado para achar que dá as últimas palavras em qualquer situação.
Ouvir de Campbell que era o fim entre eles infringe as regras que ele mesmo criou para si.
— Sobre seus sentimentos, só você pode dizer, Josh. O que Summer realmente significa
ou significou para você. Mas… — Chego mais perto dele e olho nos seus olhos para dizer: —
Você não precisa diminuir Campbell para isso, nem dizer coisas nas quais não acredita só para
justificar o fato de que te machuca que tenha partido dela o fim disso tudo, não de você. Esteja
no direito de se sentir chateado, apesar de que, na minha opinião, ele não exista. Você traiu sua
namorada. A partir daí, seu direito, na verdade, acabou — Meu sobrinho respira pausadamente, a
expressão de repente mudando. Ele detesta ouvir as coisas como elas de fato são. — Mas não se
coloque no lugar de quem tenta tornar o outro pequeno para se sentir, de fato, maior. Você não é
um cara que precisa disso. — Bato no seu ombro e me levanto, deixando Josh parado, com o
olhar fixo em mim. — Vou lá em cima buscar uma cerveja.
Pego o iPad e saio de perto dele.
Acho que, pelas próximas horas, Joshua Savard terá muito o que pensar.
Capítulo 33 - Summer Campbell

DIAS DEPOIS

— Arrasa, Ava! — Eu me levanto na arquibancada e grito, com as mãos na boca para que
ela ouça.
Minha irmã sorri em nossa direção e acena, voltando a se concentrar.
Nosso pai, cheio de orgulho, bate palmas ao meu lado.
Hoje somos só nós. Gia tinha um congresso fora de Halifax e Alex já voltou para sua
rotina do time em Quebec.
O campeonato regional de ginástica artística traz várias pessoas para cá todos os anos, e
minha irmã é cotada como a grande favorita para o ouro na trave e no solo. Assim como nossa
mãe, Ava Campbell é completamente focada e jamais entraria neste ginásio pensando em perder.
— Ela está tão linda — ouço a voz potente do meu pai ao meu lado, com os olhos fixos
na caçula. — Sei que as pessoas sempre vão compará-la com a sua mãe pela profissão, mas… —
Ele para, pensativo. — É diferente. Ava tem seu próprio brilho.
— Tem — concordo e pego sua mão, apertando.
Meu pai me encara e sorri.
E isso é o mais importante. Nossa mãe foi uma inspiração, não alguém que Ava deseja
copiar ou imitar. Todos os seus méritos serão por sua competência, não pelo sobrenome
Mackenzie.
— Obrigado por ter cuidado dela quando eu não conseguia fazer isso, querida. — Ele
beija minha mão e a aperta. Devolvo o beijo e deito a cabeça em seu ombro. Não quero entrar
nesse assunto agora, porque estamos numa fase tão boa que a última coisa que quero é voltar a
falar do passado. — Alguém já te disse sobre o brilho dos seus olhos?
Levanto a cabeça de novo.
— Como assim, pai?
Ele sorri, tão parecido com meu irmão, e responde.
— É nítido o quanto você está feliz, filha. Tenho percebido isso todos esses dias em que
está aqui. Parece mais leve, mais realizada, mais… — ele procura a palavra certa — completa.
Fico um pouco sem jeito com suas palavras, e ele continua.
— Depois que conheci Savard pessoalmente, tive certeza de que você está em boas mãos,
Summer. Sua carreira, também. A forma como ele te trata, como se fosse mais do que uma
assessora, alguém em quem confia e por quem tem tanto apreço que sai de Toronto só para
conhecer suas tradições familiares, diz muito sobre ele. Confesso que isso deixou meu coração
mais em paz. Eu jamais admitiria, mas esse tempo todo com você andando para lá e para cá
estava deixando meu coração de pai aflito. Agora, te garanto: confio neste homem de olhos
fechados.
Meu coração se acelera e eu espero que meu pai não perceba. Será que ele terá o mesmo
pensamento quando souber que agora Theo e eu estamos juntos, como um casal?
— Ele é especial, pai. Tudo o que as pessoas imaginam sobre ele é verdade. Savard é um
homem bom, é honesto, é caridoso, justo… — Eu poderia dizer as outras oitenta mil coisas que
fazem esse homem ser o que é para mim, mas acho que acabaria entregando mais do que devo ao
Sr. Campbell. — Com certeza sairei maior da experiência de ser sua assessora.
— Se você está feliz, meu amor, então seu velho pai também está. — Ele beija meu rosto
e eu retribuo com um sorriso.
É neste exato momento que Ava é anunciada para a trave. O solo será só na quinta-feira.
Nós dois ficamos de pé e, junto com a torcida, gritamos por ela e animamos a
arquibancada.
Minha irmã respira fundo, totalmente concentrada, e corre em direção ao aparelho,
fazendo o apoio e ficando de pé, perfeitamente alinhada. O ginásio inteiro grita junto com a
gente.
— Vai, Ava! Arrebenta! — chamo por ela, que respira fundo, executando sua série com
maestria.
Ela faz suas acrobacias, saltos e coreografia, aterrissando perfeitamente na trave,
arrancando aplausos que nos ensurdecem. E, quando vai para a finalização, faz um duplo
carpado que enche meus olhos de lágrimas.
Meu pai me olha e, no meio do burburinho que se torna o ginásio, nós dois nos
abraçamos, pulando e comemorando.
Como queria que Alex estivesse aqui.
Que Sara Mackenzie visse o quão sensacional sua caçula é!
— 13.944. — Meu pai me tira do chão comemorando a nota histórica de Ava.
Meu telefone vibra com uma mensagem. Quando ele me volta para o lugar, pego o
aparelho e vejo que é de Betty.
Betty Atkins: ENTREVISTA THEO SAVARD
É um link.
Betty Atkins: Seu chefe acaba de te fazer vender TODOS OS SEUS QUADROS DA
GALERIA EM MENOS DE DUAS HORAS.
O quê?
Abro correndo o link que me leva para o YouTube. É Savard, sentado na sala da nossa
casa, dando uma entrevista para um programa de TV italiana. Que entrevista é essa? Eu não
aceitei nada para canal italiano nenhum!
Aperto o play e vejo-o rindo e conversando com o apresentador, que, antes de fazer
perguntas sobre Savard, sua excelente temporada e a aposentadoria, elogia um quadro que está
na parede da sala.
O meu quadro.
O quadro do Bahrein!
Foi Theo?
— Você é fã de arte, não é, Savard? O quadro da parede é de extremo bom gosto —
brinca o rapaz.
Ele sorri, olha de lado para o quadro, completamente à vontade no sofá, e responde:
— É de uma jovem artista do Canadá, chamada Sunshine Raye. O trabalho dela é
formidável e poucas pessoas conhecem. Ela expõe seus quadros em uma galeria-café no centro
de Toronto, o Lounge Gallery.
Isso não está acontecendo. Theo não fez isso! Meu Deus.
Meu Deus!
Eu: O que vc quer dizer com vendeu todos os meus quadros em menos de duas horas,
Betty?
Ela não demora para responder:
Betty: Todos, pelo triplo do preço. Todo mundo quer ter um quadro da artista favorita de
Theo Savard! Tem gente com nome na fila de espera para os seus próximos trabalhos.
Não é possível isso!
Meu pai me olha curioso e eu digo:
— Volto em cinco minutos. Preciso resolver uma coisa com Theo. É rápido.
— Claro, querida. Te espero aqui.
Corro para longe das pessoas, entrando para o corredor do lado de fora. Disco correndo o
número de Theo e no segundo toque ele atende.
— Olá, namorada.
Fico até tonta quando ouço sua voz me chamar assim. Eu ainda não me acostumei. Deus
sabe se vou conseguir um dia!
— Theo Savard! — eu o repreendo, tentando não amolecer. — O que foi que você fez?
Por que deu uma entrevista sem falar comigo?
Ouço sua risada do outro lado.
— Achei que você estava me ligando porque está com saudades. Era para me xingar,
Campbell? Foram só umas perguntinhas, mostrar a casa, não foi nada de mais.
— Como não foi nada de mais? E, sim, estou morrendo de saudades — admito. — Theo,
o quadro…
— O que tem ele, cariño? — me chama pelo apelido carinhoso em espanhol que agora
usa comigo.
— Você comprou o meu quadro — digo por fim, com tanto sentimento dentro de mim
que não consigo explicar.
— Não. Eu comprei o quadro da Sunshine. Conhece? — e me dou conta de que ele
descobriu, por fim, de onde tirei o codinome do clube secreto.
Dou uma risada nervosa da sua brincadeira.
— Você comprou seu quadro do clube também? — Só pode ser ele.
— Não precisa ter dúvidas. É meu. Como cada lembrança daquela noite. Só minhas e
suas. — Ouço um latido de fundo e sei que ele está com Dock.
— O mundo agora sabe quem eu sou, Theo Savard — digo em voz alta, feliz e assustada
ao mesmo tempo. — Por sua causa! Meus quadros da galeria acabaram.
— O talento não é meu, é seu, Campbell. Fui só o meio, como sempre.
Mordo a bochecha, tão feliz e emocionada pelo gesto deste homem que suspiro
profundamente, antes de perguntar:
— O que é que eu faço com você, hein?
— Essa é fácil! — Ri do outro lado e completa: — Que tal comemorar a vitória de Ava
hoje, voltar para Monte Carlo amanhã e fazer amor comigo o resto da semana? Não aguento
mais ficar nesta casa sem você.
A palavra amor não me escapa.
— Ok, eu posso fazer esse sacrifício — zombo, virando o corpo em direção à entrada do
ginásio outra vez.
— Vou pedir Manfred que emita sua passagem e te mande no seu telefone. Estou
contando os segundos a partir de agora, Sunshine Raye.
Dou uma risada alta, feliz, leve, certa de que nunca me senti assim.
MONTE CARLO, MÔNACO

Quase dois dias depois e estou, enfim, no caminho de Nice para Monte Carlo. Eu nunca
me senti tão ansiosa para chegar em casa. São mais de duas semanas longe daqui e, por mais que
estivesse amando meu tempo na casa do meu pai, confesso que estava sentindo falta de tudo isso.
O motorista vira a esquina e, quando vejo a fachada da minha casa, meu coração dispara.
Pareço uma criança de tão ansiosa.
Agradeço quando ele me ajuda a descer com minha mala. Digo que eu mesma levo para
dentro. Arrasto a bagagem pelo caminho até a entrada e bato a campainha.
Quando a porta se abre, vejo Theo parado, me olhando, o sorriso preguiçoso que chega
até os olhos, vestido de camiseta branca e uma bermuda creme. Os pés descalços e o cabelo
bagunçado me fazem perceber que eu estava com muito mais saudades do que imaginei todos
esses dias.
Meu coração bate tão forte que eu posso ouvi-lo como se estivesse fora do corpo.
Sem me policiar, pulo nos seus braços e Savard me segura com força quando minhas
pernas se prendem em torno do seu quadril. Nossas bocas se chocam no exato momento em que
ouço a porta bater atrás de mim, fechando-se bruscamente com o chute que ele dá.
Com facilidade, Theo caminha comigo, enquanto sua língua sempre provocadora
escorrega entre os meus lábios e procura pela minha. A respiração fica ofegante ao passo que as
mãos agora me sustentam pela bunda. Seguro seu rosto entre as minhas e entrego a ele o que
busca, até porque é tudo o que eu quero também.
Enquanto nossos lábios dançam juntos, sinto quando ele se senta no sofá, comigo no seu
colo, então beijo meu namorado com urgência e sinto suas mãos por todas as partes, deixando-
me completamente arrepiada.
O jeito como seus dedos seguram minha nuca, juntando o cabelo quase todo em sua mão,
conduzindo minha boca e me arrancando um pequeno gemido, me deixa com falta de ar.
— Obrigada por me enxergar, Theo Savard — digo finalmente quando nos separamos,
mesmo que nenhum de nós queira de fato isso. Os olhos escuros de Theo me analisam enquanto
os lábios abrem outro sorriso. Aquele que não me deixa ter dúvidas do quanto sou sortuda. —
Obrigada por fazer com que as coisas tenham sentido desde que nos encontramos, com que eu
acredite em sorte e destino. Obrigada por não achar que preciso me diminuir para caber no seu
mundo… Obrigada por confiar que minhas asas são grandes o suficiente para que eu possa voar
até onde almejo.
A risada de Savard vem acompanhada dos olhos brilhantes mais lindos que eu já vi na
vida toda.
— É um grande prazer te ver voar, Summer Campbell. É uma honra te ver sendo do
tamanho gigantesco do seu próprio mundo. Ele completa o meu.
Meus lábios tremem tanto quando as lágrimas chegam aos meus olhos que Savard dá uma
pequena gargalhada, passando a ponta dos dedos por eles.
— Eu sou muito apaixonada por você, Pole Position. Não sei nem o quanto disso é
possível mensurar, mas… — Balanço a cabeça, rindo enquanto o choro escorre pelo meu rosto.
—É maior e mais real do que qualquer coisa que eu possa ter julgado sentir por alguém algum
dia.
O jeito como esse homem descansa, de forma relaxada, a cabeça no encosto do seu sofá
enquanto me analisa profundamente me ouvindo dizer que sou apaixonada por ele, me causa um
tremor, daqueles que a gente só sente quando sabe que não há volta a partir daqui. Ainda que
nada possa dar certo, sei que meu coração é dele, e será para sempre.
A voz imponente de Savard arrepia todos os pelos do meu corpo.
— Que sorte a minha, meu bem. — Suas mãos descansam no meu quadril. — Porque, se
há uma coisa nessa vida que eu sou, Summer Campbell, é totalmente apaixonado por você.
Meu riso enche meu rosto e meu coração, e beijo Savard outra vez. Agora, suas mãos são
mais calmas do que antes e brincam por baixo da minha camiseta, alisando a pele quente e
necessitada do seu toque.
Quando elas sobem mais um pouco, ouvimos um pigarro. Solto seus lábios
automaticamente. Meu rosto se vira para encontrar um Manfred segurando o riso, com Paddock
paradinho bem ao lado dele.
Theo me encara e ri, vendo meu desespero estampado na cara.
— Não precisa ficar apavorada assim. Não é como se eu não soubesse que vocês dois
andam pelos cantos desta casa juntos.
Ah, meu Deus! Manfred sabia esse tempo todo?
Dock vem correndo e pula em cima de nós dois, arrancando-nos uma risada em coro.
Seguro seu focinho e o beijo, saindo de cima do colo de Theo logo em seguida.
— Não acredito nisso, Manfred! — falo mais alto, morrendo de vergonha.
— Provavelmente a gente é mais barulhento do que imaginava — Theo brinca e eu lanço
um olhar para ele, que ri daquele jeito sem-vergonha.
Eu tenho certeza de que estou vermelha feito um pimentão.
— Eu acho vocês dois incríveis juntos — o secretário de Theo e meu amigo declara. —
Torço muito para que tudo dê certo para vocês! E… — Ele fala baixinho como se mais alguém
estivesse nos ouvindo. — Contem com minha total discrição. Não sei de absolutamente nada!
Meu namorado aperta Paddock nos braços e beija seu cachorro, olhando depois para
Manfred e dizendo:
— Obrigado por ser um amigo fiel, Manfred. Tenho sorte de ter pessoas como você e
Summer ao meu lado.
Ele fica visivelmente emocionado com a declaração e ri, com os olhos marejados,
abanando a mão.
— Imagina, Sr. Savard, é um prazer! — Enxuga o cantinho dos olhos e se recompõe.
Vou até ele e o abraço apertado.
— Obrigada, Manni! — chamo-o pelo apelido. — Por tudo!
— Ah, não, Summer. Você também? Estou no meio do expediente, não posso ficar
chorando! — Ri com a voz embargada e me abraça ainda mais forte. — Adoro você, sua alegria,
seu astral. Você é maravilhosa e merece alguém como Savard — isso ele fala bem baixinho ao
meu ouvido. Quando nos desgrudamos, agradeço com o olhar. — Vamos, Paddock? Sei que sua
humana preferida está de volta, mas ela já vai embora de novo já, já, então não se acostume.
Vamos logo passear!
E, como se entendesse tudo, esse bonitinho pula do colo de Theo e corre até Manfred. Os
dois saem pela porta rumo às ruas de Monte Carlo e Savard fica de pé logo em seguida, pegando-
me pela cintura e puxando meu corpo para perto do seu.
Quando cheira meu pescoço, já sei o que esse homem quer. Porém, eu digo:
— Antes que você arranque minha roupa toda em apenas quinze segundos, preciso te
dizer que todos os quadros foram vendidos pelo triplo do preço, Theo Savard, seu safado! Você
colocou alguns milhares de dólares na minha conta.
Ele ri alto e segura o botão da minha calça jeans, abrindo devagar, enquanto com um pé
eu puxo um tênis e depois faço o mesmo com o outro. As meias vão em seguida.
— Acredito que a artista mais procurada do Canadá agora vai precisar produzir mais, não
é? — Suas mãos pesadas descem a calça pelo meu quadril enquanto eu solto um gemido rouco e
baixo. Por onde seus dedos passam, o fogo se alastra em mim. — Foi por isso que pedi a
Manfred para transformar o cômodo perto da garagem em um pequeno ateliê. Faz mais sentido
para um artista ter um canto decente para seu trabalho do que o lugar onde dorme, você não
acha?
Saio do transe de tesão em que Savard acabou de me enfiar e olho para ele surpresa.
— Mas não era lá que ficava seu simulador?
Ele faz aquela cara de que isso é o menor dos seus problemas.
— Achamos um lugar lá na academia. — Ele termina com a calça enquanto estou
tentando processar o que esse homem acabou de dizer.
Não bastasse me fazer vender todos os quadros que estavam com Betty, deixar pessoas
do mundo inteiro na fila de espera, agora ele está dizendo que montou um ateliê para mim?
Estou dividida entre chorar um rio, porque é isso que eu tenho vontade de fazer agora, e
reagir a Theo puxando minha calcinha de uma vez só pelas coxas, deixando-me nua na parte de
baixo. Meus pés fazem o trabalho mais uma vez e jogam as peças bem longe.
— Porque você fez isso, Theo? — ainda consigo perguntar, mesmo com a voz embargada
de desejo e de emoção.
Meus braços se levantam enquanto ele puxa minha camiseta para cima, mostrando meu
sutiã branco de renda. Ele joga a peça para o lado e me olha inteira de forma contemplativa. A
respiração de Theo está pesada, acelerada, e isso me faz esfregar as pernas uma na outra. Ele
fecha os olhos por alguns segundos como se estivesse se controlando.
— Porque você é a minha mulher, Summer, e eu faço qualquer coisa por você. — De
uma vez ele me vira, abrindo meu sutiã com pressa.
Arfo e sinto o peso dos meus seios quando a peça escorrega pelos meus braços e cai ao
chão.
Suas mãos vêm logo em seguida, segurando-os por trás. Nua, empino a bunda em direção
a Theo, sentindo-me tão adorada por este homem… Como eu poderia explicar Theo Savard
senão como a surpresa mais incrível e improvável que eu já recebi de presente da vida?
— Você tem um dom só seu de me deixar sem palavras, Pole — sussurro enquanto sua
boca toma meu pescoço, arrastando a língua por cada centímetro de pele que encontra pelo
caminho.
— Vamos deixar as palavras para depois, linda. Agora eu só preciso dos seus gemidos.
E, automaticamente, um deles sai da minha boca no exato momento em que os dedos de
Theo puxam os bicos dos meus seios. Ele me faz virar em direção ao sofá e me leva até lá,
fazendo com que eu me ajoelhe e coloque as mãos no encosto. Completamente exposta, aberta,
de quatro.
Espero para ouvir o barulho da sua roupa caindo, mas o que acontece a seguir me pega
completamente de surpresa. Theo senta-se no chão e deita a cabeça no sofá, bem abaixo do meu
corpo. Quando seus braços contornam minhas coxas, fazendo-me refém da sua boca, mordo o
lábio inferior com força, olhando para baixo, vendo seus cabelos negros bagunçados no estofado
claro.
— Quatorze dias longe desta boceta é certamente o meu limite, Campbell. Vem cá, senta
na minha boca.
E, antes mesmo que ele diga mais alguma coisa, abaixo o corpo em sua direção. Ele
aperta com força minhas pernas, fechando os olhos e me lambendo com fome, esfregando a
língua exatamente onde preciso.
Sem que eu possa controlar, os gemidos que ele tanto quer saem um atrás do outro da
minha garganta em uníssono com os próprios barulhos que nascem no peito e reverberam pela
boca de Savard, prevendo o orgasmo que me dará logo em seguida.
Rebolo em sua língua e encosto a cabeça perto das mãos, sabendo que eu jamais vou me
cansar disso.
Definitivamente jamais!
Capítulo 34 - Summer Campbell

UMA SEMANA DEPOIS

— Parabéns pra você, parabéns pra você! — Entro outra vez no quarto e encontro Theo
abraçado com Paddock.
Não posso sair por dez minutos que esses dois grudam um no outro.
O dia está lindo em Monte Carlo, como se tivesse sido preparado especialmente para os
quarenta e um anos de Theo Savard.
Ele abre apenas um olho, me encara de lado e ri, com aquela cara preguiçosa linda de
quando acorda.
Seguro o pequeno bolo que Manfred e eu fizemos ontem à noite, escrito: Há 41 anos
tocando o terror nos adversários! A gente riu por meia hora enquanto confeitava isso.
Theo se espreguiça enquanto Paddock rola para o meu lado da cama. Desde que Manfred
sabe oficialmente de nós, eu me mudei para o quarto de Savard. Quando Mark está por perto,
simplesmente fingimos que tudo continua como sempre foi.
Ajoelho-me no pé da cama quando ele se senta, relaxado, lindo de morrer, sem camisa,
feliz.
Ele sopra a pequena vela e fecha os olhos por alguns segundos.
— Fez um desejo?
— Meu desejo está diante de mim, mas, sim, fiz mais um.
Quando ele me puxa para perto, o bolo quase cai das minhas mãos.
— Theo Savard! — advirto e ele ri, tirando o bolo de mim.
— Há 41 anos tocando o terror nos adversários! Tenho certeza de que todos eles
concordam. — Olha para a letra malfeita de propósito enquanto Theo deixa o bolo ao nosso lado,
passa a ponta do dedo no confeito e lambuza meu rosto.
Fecho os olhos rindo e faço o mesmo na sua barba.
— Feliz aniversário, Pole!
Savard tomba um pouco a cabeça, o corpo apoiado na cama com um braço para trás. Seu
rosto se aproxima de mim e ele lambe o bolo que está na minha bochecha.
— Obrigado, meu bem — e afunda o rosto entre os meus cabelos bagunçados da manhã.
Chegamos há alguns dias de Londres, onde passamos dias incríveis no instituto. Theo é
um exímio professor de espanhol e as crianças e adolescentes estavam em completo êxtase com a
presença dele por lá. E o jeito como Savard cuida daqueles meninos e meninas, e dedica seu
tempo, seu carinho e sua atenção, deixa qualquer um desmontado.
Uma coisa é certa nessa vida: Theo Savard nasceu para ser pai. Está ali, nítido, no jeito
como ele olha, cuida, acolhe e aconselha todos eles. Agora entendo por que tem esse rito de
comemoração: ali, ele pode ser, de alguma forma, o que ainda não é e tanto sonha.
Eu o abraço forte e rodeio seu corpo com as pernas, enquanto ele me recebe e mantém
entre os seus braços. Devagar, levanta comigo e me leva agarrada a ele, até o seu banheiro.
Enquanto caminha, vejo o quadro de Dionísio pendurado na parede do fundo, onde Savard quis
colocá-lo.
Já de pé dentro do box, desfaz-se da minha blusa enorme que faço de pijama e joga no
chão. Depois, é a hora de largar sua calça para o lado de fora também.
Abro o chuveiro e a água quente cai em cima de nós. Theo passa a mão nos cabelos,
jogando-os para trás, molhados, enquanto uso o sabonete. Ele me beija com calma debaixo da
água, tocando devagar a minha pele, me ensaboando e enxaguando em seguida.
Faço o mesmo por ele, enquanto Savard cantarola e me pega para dançar. Nós dois
viramos uma verdadeira bagunça embaixo da água e eu não consigo parar de rir um segundo,
lembrando-me do vídeo desastroso que me trouxe milhares de seguidores.
Ainda recebo cantadas baratas no meu direct, e a maioria delas envolve suruba com Theo.
É unânime: meu namorado é mais desejado do que qualquer um pode supor.
Quando terminamos, visto o roupão e ele enrola a toalha no quadril. Enquanto
desembaraço meus cabelos, Savard prepara seu creme de barbear, espalha pela barba e me
oferece seu barbeador.
— Me ajuda?
— Não tenho a destreza do seu barbeiro oficial.
Ele balança os ombros como quem diz que não está nem aí.
— Confio em você.
Seu sorriso fácil me convence. Pulo na pia e me sento. Ele se encaixa entre as minhas
pernas e, com cuidado, começo o trabalho.
Suas mãos descansam nas minhas coxas e assim, de frente para mim, Savard me observa
de perto. Passo o aparelho com muito cuidado, concentrada em não fazer besteira, e ele apenas
aproveita o toque.
— Amanhã vou pedir a melhor comida de Zandvoort, vou invadir seu quarto de hotel,
vamos comer, tomar um bom vinho e, depois, vamos usar cada pedaço daquele cômodo, a noite
inteira.
Minha risada sai alta e eu me seguro para não deixar a barba dele deformada.
— Você sabe que tem treino no outro dia cedo, não sabe? Deixe Wisbech saber que você
planeja passar a noite inteira fazendo sexo com sua namorada secreta.
— Eu não vou contar, você vai? — Pisca, do jeito mais safado e que eu adoro.
— Nenhuma palavra sairá da minha boca. — Termino sua barba e olho, analisando com a
cabeça de lado. — É, até que não está tão ruim assim.
Beijo seus lábios e saio suja de creme.
Seus dedos escorregam pelas minhas pernas, para dentro do roupão.
— Me espere amanhã sem nada, Summer. Talvez eu comece o jantar por você.
E meus pelos inteiros se arrepiam.
Como não ser apaixonada por este homem?
— Eu adoraria que começasse, Sr. Savard!
Sua risada de lado me promete tantas coisas…
Mas, infelizmente, elas terão de ficar para amanhã. Theo tem reunião com Mark agora
cedo e eu preciso sair com Manfred. A ideia era que, junto com nossas coisas na rua, eu pudesse
comprar algo para Theo, mas ele me fez prometer que eu não lhe daria nada. Segundo ele, não
precisa de presente quando tem a mim. Eu me senti uma idiota cadelinha completamente
apaixonada? Sim, me senti.
— Preciso ir, Manfred deve estar me esperando. Voltamos para seu almoço de
aniversário, está bem?
Seremos só nós e Mark. A comemoração mesmo vai ser amanhã, na Holanda.
— Vou esperar por você, linda — e beija meu queixo, deixando-me descer de onde
estava.
Antes de sair, seguro sua toalha e faço-a cair aos seus pés, deixando Theo completamente
nu. Ele olha para trás e eu aponto para sua bunda perfeita.
— Eu gosto de olhar pra ela. — Pisco e Savard gargalha. Ele se vira completamente e
finge que vai correr atrás de mim, então meto o pé de lá, passando por Paddock, que está com a
boca no bolo. Antes de fechar a porta, eu grito: — Seu safado! Vai te dar dor de barriga.
Ele late para mim antes que eu, enfim, saia daqui.

Theo Savard

Ouço o barulho da campainha no exato momento em que fecho o botão da calça jeans.
Arrumo a gola da minha camisa polo e vou em direção às escadas para atender.
Quando, enfim, abro a porta, encontro um animado Mark.
— Parabéns para o patrão! — Ri, com seu jeito expansivo, dando-me um abraço
apertado.
Desde que voltou das férias, Lee parece menos rabugento, coisa que ele andou sendo
bastante antes do intervalo da temporada.
Entendo os motivos da preocupação do meu empresário, mas fiz questão de deixar bem
claro que quem decide o que fazer da minha vida sou eu. Summer reclamou de alguns olhares
atravessados e eu disse a ele que, se a ouvisse dizer algo sobre o comportamento dele com ela,
nós dois teríamos problema. Pelo visto, não quis arriscar.
— Obrigado, Lee. Entre. — Espero que passe para fechar finalmente a porta.
— Já providenciei a reserva para o almoço de amanhã.
Vou levar minha equipe da McLean para um almoço de aniversário e de volta da
temporada. Se estou em uma das melhores temporadas da minha história no ano mais especial da
minha carreira, eu devo muito a eles.
— Perfeito. Te agradeço por isso. Bom, vamos subir?
Ele me acompanha em direção à escada e pergunta:
— Cadê o resto das pessoas desta casa?
— Saíram.
Quando piso no primeiro degrau, a campainha toca outra vez.
— Está esperando alguém?
— Não que eu saiba. — Dou meia-volta para ir até lá e abro a porta.
Eu esperaria qualquer pessoa neste mundo aqui, menos ela.
Louise.
Está com os olhos vermelhos, parece assustada.
O que minha ex-mulher está fazendo em Monte Carlo?
— Louise?
— Oi, Theo. Desculpa aparecer assim… — a voz está completamente afetada. — É…
Feliz aniversário! — Dá um passo à frente e me abraça.
Abraço-a de volta e sinto o quanto está tremendo.
— Obrigado. — Eu me afasto devagar e a seguro pelos ombros. — Sem querer ser
indelicado, Lou, mas eu não sabia que você estava em Mônaco. Está tudo bem?
— Eu acabei de chegar. Mark está aqui, não está? Eu o vi entrando agora.
E, de repente, ele surge atrás de mim.
Louise está em Monte Carlo seguindo Mark?
Meu empresário fica parado, encarando minha ex-mulher.
Louise entra como um furacão e vai em direção a ele. Fecho a porta e fico observando a
cena.
— Conte para ele, agora, Lee, seu maldito! Conte para Theo! — ela grita e tenta agredi-
lo, mas Mark é muito mais rápido e pega seus braços no ar.
— Do que você está falando, sua maluca?
— Não me chame de maluca! — Ela se balança e eu vou até os dois, tirando Louise das
mãos de Mark.
— Que porra é essa, vocês dois?
Meu empresário dá dois passos para trás e solta:
— Não faço ideia. — A cara de desprezo dele me assusta.
Que ele não gosta dela, nunca foi segredo, mas há alguma coisa errada nisso aqui.
— Mark, eu não estou nem aí mais. Você acha que vou me calar porque está tentando me
fazer de louca? Acredite, estou pouco me fodendo — Louise nunca usou essas palavras. É como
ver outra mulher na minha frente completamente diferente daquela com quem fui casado por oito
anos. — Fale você, ou eu vou falar. Você não tem muita escolha!
Olho para os dois, perdendo a paciência.
— Eu não vou ficar no meio desse joguinho estúpido. Ou vocês me explicam que merda
está acontecendo aqui ou saiam os dois da minha casa, caralho!
Lee, de repente, muda a postura. De desprezo, sua cara transforma-se em tensão.
— Theo, é uma bobagem — tenta explicar.
— Não, Theo, não é — agora, mais contida, minha ex-mulher fala.
Ela olha diretamente nos olhos de Lee, que não consegue encará-la.
Por que é que eu sinto que não vou gostar do que está por vir?
— Vocês têm cinco segundos para dizer, ou vão sair pela porta em que acabaram de
entrar.
— Eu abortei um filho seu.
Demoro a compreender o que ela acabou de dizer.
Paro por alguns segundos, tentando processar o significado das palavras.
— Você fez o quê? — Viro meu corpo na direção do dela.
— O que você está fazendo, Louise? Droga! — agora Mark apela e sai andando em volta
do meu sofá, com a mão no cabelo.
Ela está com os olhos cheios de lágrimas, de frustração, de ódio.
— Era nosso filho, mas ele me fez acreditar que era dele.
E, quando termina de falar, sem reação, encaro o chão.
Parece que ele está se abrindo abaixo dos meus pés.
Levanto de novo a cabeça e, quando olho para Lee, seus olhos não são capazes de mentir.
Não mais.
— É sério? — Minha risada não tem um traço de graça. — Eu estou realmente
entendendo o que isso significa? — Aproximo-me da minha ex-mulher, que, ao contrário do que
faz com Lee, não consegue me encarar. — Fala, Louise. É isso?
Ela fecha os olhos, prende os lábios entre os dentes e respira pausadamente, até abrir a
boca outra vez.
— Eu e Mark. A gente… — se encolhe antes de terminar —, a gente ficava junto,
enquanto eu ainda estava casada com você.
— Puta que pariu — ouço o balbuciar de Mark, agora coçando a testa.
Um silêncio ensurdecedor se faz na minha sala, e dentro de mim também.
— Na nossa casa? Na nossa cama?
— Não, Theo, pelo amor de Deus — ele volta a falar, e aí eu grito.
— Cale a merda da sua boca, Lee! Só Louise responde agora — falo com tanto ódio que
começo a tremer. — Fala, porra! Na nossa cama? — Chego perto dela, que dá alguns passos para
trás.
— Não. — Vira o rosto.
— Por que você fez isso comigo, Louise?
Agora sou eu que começo a andar de um lado para o outro.
— A gente já não estava mais bem, você sabe… Quando eu vi, já estava acontecendo.
— Com a minha aliança no dedo? — Jogo as mãos para o alto, a frustração me
atravessando. — Que porra é essa de filho? Lee é estéril. Como você pôde achar que estava
grávida dele?
Ela nega com a cabeça, visivelmente abalada. Os olhos enfim se derramam.
— Eu nunca soube, Theo. Eu nunca soube disso. Até ontem. Até encontrar Josephine.
A ex-companheira de Mark.
Olho para ele e, sem pensar muito, vou em sua direção.
— Você fez Louise tirar um filho meu da barriga, Mark? É isso mesmo? Além de foder
com a mulher que ainda estava casada comigo, você a fez tirar o meu filho?
— Theo, olhe… Não tenho orgulho do que eu fiz, está bem? Aconteceu um dia,
estávamos bêbados. Seguimos em frente, até acontecer outras vezes. Mas vocês já estavam se
separando, então… — e para ele parece simples.
Não é sobre os dois. Eu pouco me importo com eles.
Pouco me importa a imundice que fizeram enquanto Louise, legitimamente, ainda era
minha esposa. Mas se ele foi capaz de gerar dúvida nela, mesmo sabendo que não pode ter filhos,
é porque eu ainda me deitava com ela.
Eu ainda transava com Louise, mesmo que o nosso casamento estivesse completamente
falido.
E, mesmo com todas essas informações, esse maldito imundo a fez tirar a criança.
Uma criança que não era dele, caralho!
Era meu filho.
O meu filho!
— Que tipo de ser humano podre é você que coloca em risco a vida de uma mulher para
que ela não tenha um filho de outro homem, Mark? — Meu rosto se aproxima do seu e ele não
sai do lugar. — Me explica, quem é você?
— Você ia foder com tudo, Theo! — ele começa a gritar. — Você é um emocionado que
ia foder com tudo. Ia fazer dessa criança a sua vida, com um último ano totalmente promissor de
carreira. Já viu o quanto está faturando agora? É absurdamente mais do que todos os últimos
quatro anos. Você ia parar isso tudo por causa de uma coisa que berra e chora o dia inteiro!
Quando a minha mão voa no meio da cara de Mark, ouço o grito de Louise, apavorada.
Ele vai ao chão, em cima da mesa de vidro, que se quebra inteira.
Mark Lee está assumindo que matou meu filho porque sabia que eu não renderia a ele o
dinheiro que rendo hoje.
Basicamente esse filho da puta está me dizendo sem remorso que tirou tudo o que eu
mais quis uma vida toda por causa de dinheiro.
Olho para Louise, sem acreditar em tudo o que ouvi até agora.
— Como você pôde colocar sua vida em risco por um maldito feito esse? Ele te detesta.
Como se colocou nessa posição? Que tipo de mulher é você, Louise? Era o divórcio que queria
antes? Eu teria te dado, porra! Acha que eu estava feliz? Acredite, eu estava longe disso. Agora,
ser traído assim? Por quê? Quando foi isso? Carl sabia o tempo inteiro dessa história?
Estou tão decepcionado que é difícil de acreditar.
Ela chora baixinho e me olha como quem sente muito.
— Ele me dizia que, se nascesse com os traços orientais como os dele, um escândalo
como esse custaria a carreira de nós três. Que não queria esse filho, que eu precisava tirar. Você
sabe, Theo, o quanto eu nunca quis isso para mim. Eu nunca quis ser mãe… Eu estava com a
pílula em dia, tudo certo, mas… — não consegue terminar de se explicar. O pior de tudo é
pensar que ela estava transando comigo e com Mark sem preservativo. Essa maluca estava se
deitando com o cara mais pilantra da face da Terra sem camisinha. O que essa mulher tem na
merda da cabeça? — Foi há um ano. E, não. Meu irmão nunca soube de nada.
Começo a fazer contas. Tentar ligar as coisas e aí me lembro de quando Louise passou
uns quinze dias na Bélgica, alegando uma viagem entre amigas. Quase nunca tinha fotos, mas a
justificativa era de que elas estavam aproveitando demais para perder tempo postando coisas em
redes sociais.
Tapo o rosto enquanto ouço Mark se levantar dos cacos.
Volto a olhar em sua direção.
— Você é completamente doente. — Aponto para ele, que está com a mão cortada. —
Você é o maluco mais doente que eu já conheci na vida, Mark Lee. É desprezível,
completamente deplorável. Você é perverso.
Não consigo respirar direito.
Meu filho.
Porra…
Meu filho!
— Você quer que eu faça o que, Theo? Te peça desculpas por te deixar mais rico? — A
mão está em cima do tapa que eu dei.
E aquela pose de soberba muito típica de Lee está ali.
— Eu? — Toco meu peito, gritando. — Eu quero que você vá para a puta que te pariu,
seu desgraçado! É isso que eu quero. — Jogo o dedo de um para o outro. — Estou me lixando se
vocês transavam, se ainda transam, o que fazem da vida de vocês! Eu não estou nem aí. Façam
da vida medíocre de vocês o que quiserem. Mas o meu filho? Você não tinha o direito. Não tinha
o direito de colocar a mão na minha criança! — A raiva começa a me consumir e, de repente,
penso nas palavras que disse a Summer hoje no banho; percebo a ironia de que, até mais cedo,
esse era um dos melhores aniversários que andei tendo, agora ele mais se parece com a porra de
um pesadelo. — Vá embora, Mark. Pegue suas malditas coisas e caia fora de Monte Carlo.
Acabou aqui — cuspo as palavras, segurando-me para não o acertar de novo.
— A gente tem um contrato, Theo. Não é tão simples assim. — Tenta se aproximar e eu
coloco um braço na frente do corpo, para que ele mantenha distância.
— É do jeito que eu quiser que as coisas sejam. Vocês acabam de jogar uma bomba em
cima da minha cabeça no dia do meu aniversário, acabam de assumir que mataram meu filho e
você pensa que eu estou me importando com um contrato? Arrume um bom advogado se quiser
ter o mínimo, Mark, porque, acredite, você arrancou tudo de mim, mas tenho certeza de que vou
arrancar tudo de você também! — Viro-me na direção da minha ex-esposa. — Some você
também, Louise.
— Não fiz isso para te ferir, Theo! Me perdoe… — suplica. — Mas você merecia a
verdade! Eu merecia a verdade.
Ah, a porra da pobre coitada!
— Não se coloque como santa, você não foi enganada. Sabia o tempo inteiro que existia a
chance de essa criança ser minha. Só quis acreditar nas desculpas de Mark para justificar sua
própria vontade de se livrar do bebê. — O pensamento me faz querer quebrar alguma coisa,
qualquer coisa. Preciso colocar essa dor para fora. — Você só está aqui fazendo todo esse
barraco porque descobriu que seu amante é um mentiroso que só estava interessado em ter você
na cama dele de vez em quando enquanto o “corno” do seu marido enchia o rabo dele de
dinheiro.
Ela fica muda.
— Você vai cumprir seu contrato comigo, Savard — o homem diz, com a voz firme,
crescendo para cima de mim. — Eu não vou sair dessa brincadeira com as mãos abanando.
— Me obrigue, Lee. — Rio com deboche. — Pegue sua mulher, saia da minha casa e me
faça o grande favor de nunca mais aparecer na minha frente, não quero ter que olhar na sua cara
nojenta. E, quando meu advogado entrar em contato com o seu, aceite os termos, é melhor para
você.
— Não tenho nada com Louise, Savard. Eu não tenho nada com mulher nenhuma, você
está cansado de saber disso. — Olha para ela como se fosse um pedaço de carne mordido e
descartado. — Não sei o motivo desse escândalo todo se nem ela queria essa criança! E você não
sabe o que é melhor para mim. Você não sabe nem o que é melhor para você! Está comendo a ex
do seu sobrinho, achando que essa é a coisa mais inteligente do mundo! — Sua gargalhada faz o
meu sangue ferver. Ouço a surpresa de Louise com a informação quando ela arfa. — Você não
sabe pensar sem mim, Savard. Só pensa com a porra desse seu coração de manteiga derretida e,
se eu não estivesse aqui esse tempo todo, você não seria mais nada.
— Vai embora, caralho, não me faça falar de novo! Saiam, vocês dois. Fora da minha
casa! — Quando a ira chega, eu me transformo. Ando até a porta e abro, berrando. — Fora,
porra! Fora.
Louise é a primeira a tomar uma iniciativa e caminhar até mim. Olhando-me com
profunda tristeza, pede desculpas de novo antes de sair. Mark ainda demora alguns segundos,
encarando-me com os olhos vidrados, maldosos, completamente alterados.
Com passos largos, ele vem também e para na minha frente.
— Você sabe que vai se arrepender, não é, Theo? Sabe que está fazendo uma grande de
uma merda me tirando do jogo.
— Merda eu fiz quando te coloquei na minha vida. Agora some. Caça o seu rumo!
O olhar de Lee me promete que isso não acabou aqui, mas não me importo. Porra, eu não
me importo!
Quando ele finalmente sai, bato a porta e pego meu telefone, discando para o meu
advogado.
— Bernard, entre com um pedido para cancelar qualquer documento que dê a Lee
autoridade em meu nome. Todos. Não se esqueça de nenhum, entendido? Ele não é mais meu
empresário. Nós vamos fazer a quebra do contrato e entrar com recurso para não dar a ele nem
um centavo a mais do que dei até hoje!
— Está bem, mas eu preciso saber o motivo!
— Depois eu te explico, agora só nos tire da mão de Mark, urgentemente. Te ligo mais
tarde — e desligo.
Transtornado, sinto que paro de respirar.
Tudo gira em volta de mim e meu peito parece se rasgar, como se uma faca entrasse pela
minha carne e me dilacerasse.
Meu filho…
Sento-me no sofá, de frente para a mesa destruída, e não percebo quanto tempo se passa
até que vozes animadas surgem pela porta.
Summer e Manfred.
As risadas cessam quando eles assistem à cena.
— Theo? — Summer me chama e continuo olhando para os cacos. — Theo? O que
aconteceu aqui? — Ela se aproxima e eu respiro fundo.
Definitivamente não consigo falar sobre isso agora. Nem com ela nem com ninguém.
Preciso ficar sozinho.
Levanto-me e olho para ela. Manfred completamente assustado logo atrás.
— Vou mais cedo para a Holanda. Você vai ficar.
Ela faz uma cara confusa e nega com a cabeça.
— Como assim, ficar? Eu tenho trabalho a fazer, Theo. Por que vamos mais cedo?
Não serei uma boa companhia para Summer. Definitivamente esse fim de semana eu
serei tudo, menos uma boa pessoa para ela, e eu gosto demais dessa mulher para colocá-la em
um lugar que não merece.
— Você fica, Summer. Não vamos discutir. Sobre a mesa… Mark e eu tivemos uma
briga. Ele não é mais meu empresário. E não me perguntem nada além disso agora, por favor —
é o máximo que posso fazer.
Contar o resto… O que ele fez com meu bebê… Não consigo.
Meus olhos se enchem de lágrimas pela primeira vez, porque me dou conta do que
acabou de acontecer aqui.
Busco o ar com pressa, mas ele não chega.
Tudo dói.
Tudo se quebra dentro de mim.
Summer se aproxima mais, querendo me acalmar, mas apenas faço que não. Beijo sua
testa de um jeito demorado e saio de perto, indo para as escadas.
— Vou terminar de arrumar minha mala.
— Mas e o nosso almoço?
Tenho a péssima ideia de olhar para ela e Summer está visivelmente desapontada.
Confusa. Triste.
Eu vou pedir desculpas, vou me explicar.
Mas não consigo agora. Não consigo fazer nada disso agora.
— Fica para outro dia, Campbell.
Subo de dois em dois degraus, ligando para o meu piloto e dizendo que precisamos
adiantar o voo até a Holanda.
Capítulo 35 - Summer Campbell

CIRCUITO DE ZANDVOORT, GP DA HOLANDA

— O que está acontecendo com Theo Savard, afinal? Parece que Pole está lutando desde
o início do fim de semana — um dos narradores da TV comenta.
— Sim, é uma situação preocupante para a equipe e para o próprio Savard. Parece que
eles não conseguiram encontrar o equilíbrio certo no acerto do carro, isso somado à evidente
falta de concentração do piloto desde sua chegada aqui à Holanda. Isso ficou claro desde os
treinos livres e virou assunto no paddock — o outro completa.
— Podemos chamar de vexatória uma largada na P6 para Savard quando, de quatorze
corridas antes das férias, nove poles foram dele? Ele mencionou problemas de aderência e
dificuldades para encontrar a trajetória ideal nas curvas rápidas, mas nos parece ser algo além
disso.
— É totalmente preocupante, Stuart. Esse é o tipo de coisa crucial aqui em Zandvoort,
com suas curvas desafiadoras e rápidas. O carro precisa estar perfeitamente ajustado para
extrair o máximo desempenho. Mas, sem a atenção cem por cento voltada para a pista, não há
supercarro que resolva. Parece que esse não foi o melhor aniversário de Pole.
Desligo a TV e jogo o controle de lado, em cima do sofá. Manfred está sentado ao meu
lado e segura minha mão. Olho para o meu amigo, controlando-me para não desabar.
— O que está acontecendo com ele, Manni? Não é justo me deixar no escuro assim! Esse
não é o Theo que eu conheço. — Tento secar o canto do olho antes que as lágrimas de fato
escorram.
— Não tem como estar bem o tempo todo, Summie. — Seus ombros se balançam. —
Tenho certeza de que ele vai se explicar assim que voltar. Não ganhar hoje não significa que está
tudo perdido. Ele ainda é o líder.
— Com que condições você acha que Theo vai dar essa entrevista de hoje? Eu tinha que
estar lá! — Praguejo de novo, porque foi a única coisa que eu fiz todos esses dias,
acompanhando o desastre que se tornou o final de semana de Savard na Holanda. Treinos
péssimos, classificatório em P6 e, agora, ele está terminando o GP em oitavo.
A gente mal se falou esses dias, porque ele sempre tinha uma desculpa para não me
atender ou prolongar uma conversa.
— Ele é um homem inteligente e experiente. Sei que vai saber o que fazer. Vou fazer um
chazinho para você, está bem? — Meu amigo beija minha mão antes de se levantar. — Fique
aqui e respire fundo. Eu já volto.
Acompanho Manfred caminhando até lá.
Nada faz sentido na minha cabeça. De manhã, promessas de um fim de semana perfeito
entre nós dois e, depois, tudo desmoronou. Eu não sei o que Mark falou ou fez para que os dois
acabassem com uma mesa de vidro quebrada, mas meu coração não está em paz desde então.
Não sei explicar, mas algo dentro de mim diz que coisas muito ruins ainda vão acontecer.
Já tentei tirar essa sensação do peito, mas ela não some.
Meu celular toca com uma mensagem.
Logan: Estou cuidando das coisas aqui, não fique nervosa. Vou acompanhá-lo na
coletiva.
Pedi ajuda a Loggie, que é a única pessoa que pode manter meu coração mais calmo
agora, porque está lá ao lado dele.
Por mais que eu não queria sentir raiva de Theo por ter me deixado aqui sem fazer ideia
do que está havendo, não consigo. Estou brava. Muito brava!
É sobre o meu trabalho, antes de tudo.
Eu: Obrigada por isso, Logan. Te devo uma!
Não disse a ele que Theo me proibiu de acompanhá-lo esse final de semana ao GP. Disse
apenas que precisei ficar para resolver outros assuntos e que Theo seguiu sozinho. Sobre Mark,
não sei o que Savard contou a todos. Logan pelo menos não comentou sobre o assunto comigo.
Meu celular apita de novo e, quando acho que vou ver o nome de Logan, é Joshua que
aparece em minha tela.
Joshua: Você é a puta mais desprezível que eu já conheci em toda a minha vida! Sua
vaca ordinária. Vadia! Você é uma cretina, Summer Campbell!
Leio a mensagem cinco vezes para ter certeza de que estou mesmo vendo essas palavras.
Eu: Como é que é, Joshua?
Só percebo que estou tremendo de ódio quando já estou de pé, andando pela sala, agora
sem mesa.
Quem esse menino pensa que é?
Joshua: É isso mesmo que você leu, vadia! Achou mesmo que eu não ia saber que você
anda esse tempo todo chupando o pau do meu tio?
De repente, minhas pernas cedem e eu caio no chão, em cima do tapete. Manfred ouve o
barulho e vem correndo.
— Summer?
— Meu Deus, Manfred. — Minhas mãos não conseguem segurar o celular direito e ele
cai. — Meu Deus! — Tapo a boca em total desespero.
— O que houve? Fala alguma coisa para eu entender o que está acontecendo! — grita
comigo.
Aponto para o telefone caído ao meu lado.
Mais que depressa, ele pega o aparelho e começa a ler.
— Cristo! — berra e olha para mim. — Summer…
— Como ele sabe? — Minha cabeça simplesmente começa a dar voltas e voltas.
O celular apita novamente.
— É ele. — Vira o telefone na minha direção.
Joshua: Acredite quando eu te digo que vou acabar com vocês dois, Summer. Eu vou
acabar com a vida de vocês. Sua puta!
Pego o aparelho da mão de Manfred, mas ele toma de mim outra vez.
— Não, você não vai responder! Não vai dizer mais nada para Josh, me ouviu? Nós
vamos esperar Theo e aí os dois vão decidir o que vão fazer.
De repente, o choro me toma.
— Ele vai acabar com Theo. Eu não posso deixar isso acontecer! Olha o escândalo que
isso vai ser.
Sinto os braços dele em torno de mim no exato momento em que começo a gritar.
Como Josh soube de Theo e de mim?
— Não chora, por favor, Summie, não chora. — Sinto seu beijo na bochecha e o aperto
nas minhas costas. — Você não fez nada de errado. Amar alguém nunca será errado, está certo?
Você não traiu ninguém. — Levanta meu rosto e me faz olhar nos seus olhos. — Você e Theo
não devem nada para esse menino, por mais que ele acredite que sim. Então, respira, fica calma.
Sei que Savard vai dar um jeito de resolver isso da melhor forma possível, porque é o que
sempre faz, com tudo.
Concordo com ele, mas não consigo pensar que isso não vá se tornar uma grande
tragédia.
Não foi assim que a gente imaginou que seria.
O telefone toca de novo.
Meu amigo olha para o aparelho e me entrega.
— É Savard.
Enxugo o rosto, ficando de pé desajeitada, e subo as escadas correndo.
— Theo, pelo amor de Deus, o que está acontecendo? Joshua me…
— Eu imaginei — sua voz me interrompe e eu paro no topo dos degraus.
— Você não vai mesmo me contar o que houve aquele dia com Mark? Como Joshua
soube? Você não pode me tratar como se eu fosse uma criança, cacete!
Meu namorado respira fundo do outro lado da linha e percebo o quanto está quebrado.
Isso me dói o coração de uma forma que não consigo explicar.
— Lee contou para Josh sobre nós dois.
Por que Mark faria isso?
— Por que vocês brigaram naquele dia?
— Eu só tenho cinco minutos antes da coletiva. Te liguei antes porque não aguento mais
guardar isso, muito menos acho justo que você tenha que ter lido desaforos de Joshua por minha
causa…
Ele parece tão cansado só pelo jeito de falar. Acabou de encerrar sua pior prova da
temporada e agora as coisas começam, finalmente, a se encaixarem para mim.
Entro no meu quarto e sento na cama.
— Eu estou com você, amor — é a primeira vez que chamo Savard assim.
Ele dá uma risada que é uma mistura de alegria com uma dor crua.
— Como eu queria te abraçar agora, Deus do céu… — O barulho que vem em seguida é
como se algo se espatifasse. Pulo para trás com o susto e o soluço agarra na minha garganta. —
Mark era amante de Louise.
E, de uma vez só, ele me conta detalhe por detalhe tudo o que se passou na sala no dia do
seu aniversário.
A cada pausa de frustração misturada com sofrimento enquanto me conta o quanto aquele
homem é cruel e desprezível, meu coração se quebra em milhares e milhares de pedaços.
Como alguém pode ser tão frio e mau-caráter como Mark Lee?
Como ele pôde obrigar Louise a tirar o próprio filho?
Quando ouve meu choro incontrolável, Theo segura o seu próprio.
— Eles arrancaram meu peito fora, Summer. — Respira fundo e suas próximas palavras
me fazem me arrastar da cama para sentar-me ao chão, abraçando o joelho. — Eles tiraram meu
filho de mim. Nem sequer me deram a chance de saber que ele existia, que estava ali.
Outra coisa se quebra do lado de lá. Eu me encolho de tristeza.
As cenas de Savard no instituto com as crianças vêm nítidas a minha mente agora e tudo
em mim dói. Nunca, em todos esses meses juntos, senti tanta angústia em sua voz.
É desesperador.
— Eu sinto muito, Theo. Eu sinto tanto! — Tento segurar um soluço, mas não consigo.
Ele fica algum tempo calado, com a respiração descontrolada.
— Eu preciso ir. — Pausa a fala e continua: — Fique tranquila, não vou te decepcionar
na entrevista. Desculpa não te trazer, desculpa não me explicar. Eu seria uma péssima pessoa
para você todos esses dias. Não queria isso. — Toma um pouco de ar para continuar: —
Campbell…
— Oi — falo baixinho, enxugando o rosto, tentando catar o que sobrou do meu coração
depois de ouvir tudo o que ele me disse.
— Não foi assim que eu imaginei fazer isso, acredite, mas preciso te dizer uma coisa.
Começo a tremer.
Theo está desistindo de nós. Theo está desistindo de nós.
Meu Deus. Ele está desistindo de nós!
Aperto os olhos com força, tremendo tanto que meus dentes batem.
— Fala.
— Eu te amo. Do jeito mais bonito que posso amar alguém, com a minha alma.
Quarenta e um anos de vida não me prepararam para o que eu sinto quando estou com você,
quando olho para você, quando sinto você. Me tiraram meu filho, Summer, mas não vão tirar
você de mim.
Sinto o ar sumir imediatamente e meus pulmões buscam por mais.
Não controlo o choro outra vez. Entre lágrimas e fungadas, respondo:
— Eu te amo, Theo Savard. Cada pequeno pedaço de mim te ama.
Ele ri do outro lado, devolvendo:
— É só disso que eu preciso, meu amor. — Meu amor. Meu amor. Como alguém pode
sentir tudo o que estou sentindo agora? — Vou sair daqui direto para o Canadá. Preciso
resolver isso com Joshua.
— Vou com você! — falo rápido.
— Não — alguém bate à porta de onde ele está —, preciso ir. Pegue um voo e vá para
seu apartamento com Aileen. Te encontro depois de lá.
— Theo, não! Joshua está com muita raiva. Me deixe ir junto com você — imploro.
— Vá para casa — ele é taxativo. — Nos vemos em breve, cariño — e desliga.
Theo Savard

Assim que desembarco na movimentada Toronto, Norman está me esperando.


Essa foi, sem dúvidas, a viagem mais longa da minha vida.
Meu nome está em todos os jornais com manchetes que chamam de vexame, tragédia e
reviravolta na F1 o meu desempenho na Holanda.
Entrar naquela pista o final de semana inteiro foi realmente contra tudo o que eu queria
fazer e, quando minutos antes da prova Joshua começou a me mandar mensagens tão absurdas e
baixas, eu não tive a menor dúvida do que estava acontecendo.
Nem ele me deixou ter.
Mark foi pessoalmente até a casa de Derek para dizer ao meu sobrinho que Summer e eu
estamos juntos. Esse é o tipo de homem com quem lidei todo esse tempo. Um homem baixo que
usa das armas sujas que tem em mãos para provar o quão desprezível pode ser quando é
contrariado.
A verdade é que eu previa que isso aconteceria e, para ser sincero, não havia muito o que
eu pudesse fazer a respeito. Quando escolhi estar com ela, sabia que esse dia chegaria e não há
por que não o enfrentar.
Eu faço qualquer coisa por Summer Campbell. Essa é a grande e absoluta verdade a
respeito de mim.
Bernard entrou em contato imediatamente com Mark e propôs que ele abra mão dos
direitos que teria com a nossa rescisão. Deu-lhe três dias para pensar. Caso se recuse a aceitar,
vou colocar Louise no meio disso como testemunha e aí o mundo e toda a Fórmula 1 saberão
quão podre é esse merda. Ele acha que vai me atingir colocando minha cabeça em uma bandeja
para Josh, mas a verdade é que Lee não sabe porra nenhuma sobre mim. Se ele quer que meu
sobrinho conte a todo mundo que estou namorando sua ex-namorada, posso contar também que
meu empresário se deitava com a minha mulher, ainda em um compromisso comigo, enquanto
eu trabalhava feito um filho da mãe para colocar dinheiro no bolso dele.
Escândalos? Temos bons enredos para contar por aqui.
— Sr. Savard. — Norman me encontra ainda na pista de pouso, com o carro já ligado.
— Como vai, meu amigo? Espero que bem — Bato em suas costas e entro no banco de
trás.
Ele toma seu lugar no volante e me olha pelo retrovisor.
— Direto para o condomínio?
— Direto para a casa de Derek.
— Sim, senhor.
Wisbech é a única pessoa que sabe o que houve. Eu não podia esconder tudo isso do meu
chefe, uma vez que fodi com a equipe no retorno das férias de verão. Todo mundo sabe que eu
não estava no meu normal, mas ele é a única pessoa ali dentro a quem devo toda e qualquer
satisfação.
Foi difícil ouvir da sua boca que todo mundo sabia que Mark era um canalha de quinta,
mas nem ele pôde acreditar na crueldade que meu ex-empresário foi capaz de fazer comigo junto
com Louise. Eu deveria estar me preparando para a Itália, no próximo final de semana, mas até
George entendeu que preciso resolver isso o quanto antes.
Meu sobrinho é uma bomba-relógio prestes a explodir.
Assim que o carro para em frente à mansão de Derek e Laura, Meredith, a governanta do
meu irmão, aparece à porta. Sempre carinhosa, me abraça forte quando subo os degraus até ela.
— Quanto tempo, querido!
Beijo sua mão e sorrio.
— Não vim te ver na última vez que estive aqui, não é, Dith? Me perdoe.
Ela sorri, mas é um sorriso triste.
— Vá com calma, está bem? Sei que nem sempre ele faz as coisas de forma certa, mas…
ainda é o meu menino.
Então Josh já espalhou a informação por esta casa…
Suspiro e faço que sim com a cabeça.
— É o meu garoto também, Dith. Isso jamais mudará.
Concorda comigo e me diz que ele está no escritório. Agradeço e sigo para o outro lado
da casa.
Quando chego à porta, bato duas vezes por educação, antes de abri-la. Josh está sentado
no sofá preto do meu irmão, falando com alguém ao telefone. Quando percebe que sou eu, fala:
— Eu te ligo em alguns minutos — e desliga, ficando de pé. — Que porra você está
fazendo aqui? — fala alto, o rosto ficando vermelho imediatamente.
Fecho a porta e fico parado no lugar. Joshua vem caminhando e, a dois passos de mim,
acerta um murro no meu maxilar.
Fecho os olhos no exato momento em que sinto o gosto de ferro dentro da boca e meu
osso quase sair do lugar. Seguro o rosto e respiro fundo, abrindo os olhos em seguida.
Ele grita esbravejando, parecendo completamente possuído.
— Eu quero que você morra, seu desgraçado! — Aponta o dedo no meu rosto, então
encurto o espaço entre nós.
— Pare de gritar, Josh. — Mexo meu maxilar de um lado para o outro, tentando voltá-lo
para o lugar.
Sei que isso vai me causar uma dor do caralho, mas deixe Josh. Essa é a forma como ele
aprendeu a lidar com as coisas na vida.
Se acha que eu mereço, deixe achar.
— Você não quer que eu grite o quê? — Aponta o dedo no meu nariz e eu fico apenas
observando. — Que você come a namorada do seu sobrinho?
— Vamos começar essa conversa por partes, para que ela seja uma conversa eficaz.
Primeiro: Summer não é sua namorada. Vamos colocar isso em perspectiva antes de qualquer
coisa. Eu jamais me envolveria com uma mulher que estivesse com você.
Meu rosto está latejando. Puta que pariu.
— Você é maluco, porra, ou dissimulado mesmo? Ou as duas coisas? — O vaso de vidro
que está na mesa de canto ao lado do sofá voa até a parede quando Joshua o arremessa com fúria.
Neste exato momento, Derek atravessa a porta.
— Que gritaria é essa aqui?
Olho para ele, que encara a cena do seu escritório repleto de cacos de vidro, como minha
sala ficou dias atrás.
— Vim resolver as coisas com seu filho — digo apenas.
Meu irmão abre os braços para mim e fala:
— Porra, Theo! Que merda foi essa? Eu te mandei um tanto de mensagem, você podia ter
me respondido antes de vir, caralho! Logo a garota que seu sobrinho comia? Não tinha outra?
— Derek, você pode sair daqui? — Aponto para a porta que ele acabou de abrir. — A
minha conversa é com Joshua. Nada nessa história precisa da sua opinião. Apenas saia.
— Pai, você fica — meu sobrinho chama pelo meu irmão. — Fica aí.
— Eu não acredito que vocês dois estão brigando por conta de uma boceta. — Ele coça a
barba e respira fundo, irritado.
Não dá para acreditar que Derek e eu fomos criados pelos mesmos pais. Não dá.
— Ela é a minha mulher, Derek, e eu vou te pedir com muita educação que você pare de
dizer sobre comê-la ou sobre ser apenas uma “boceta”. O nome dela é Summer Campbell. Se
precisar falar de novo sobre ela, fale Summer.
Josh começa a rir alto.
— Sua mulher? Woooooow! A minha ex-namorada é sua mulher — e começa a bater
palmas, fazendo todo o seu showzinho.
— Vai conversar comigo de homem para homem ou não, Joshua? Foi o que vim fazer
aqui. Vinte e seis anos cuidando melhor de você do que eles. — Jogo o dedo na direção do meu
irmão. — Eu acredito que consiga, mas, se é muito para você, me diga, e eu vou embora.
— Eu te peço para me ajudar com Summer e você coloca minha garota na sua cama! Que
merda de gente você é? Em Madri, você estava falando dela… e eu te dizendo para ir fodê-la.
Era a minha garota, porra!
— Sou alguém que se deitou com uma mulher solteira e que, antes disso, preferiu o
Inferno a ter que ceder ao que sentia. Mesmo que a gente saiba que você nunca a tenha amado,
Josh. Summer não é sua garota.
Ele chega mais perto e começa a falar quase cuspindo. Juro que, se levantar a mão mais
uma vez, vou ser obrigado a dar nele o tapa que nunca dei. E foda-se se Derek está aqui.
— Quem você pensa que é para me falar o que eu sinto ou deixo de sentir, Theo Savard?
— Sou seu tio. E seu melhor amigo. Alguém que te viu crescer e te amou
incondicionalmente. Esteve do seu lado nos momentos mais importantes da sua vida, se sentiu
feliz com suas vitórias e sofreu com você nos seus fracassos. Esse sou eu, Joshua. Alguém que te
conhece tanto quanto você mesmo. E sobre o que sente, não sou eu quem está dizendo, foi você
mesmo, em Minorca.
Por alguns segundos fica calado. Ele me olha com desprezo, mas, também, sabe que não
estou mentindo. Josh pode me odiar agora, mas sabe que estou falando a mais pura verdade.
— Me fale cinco coisas, Josh, só cinco coisas que você sabe sobre Summer. Coisas de
verdade. Coisas que um homem que a merece saberia — peço, sentindo meu queixo latejar.
— Não tenho que te dizer merda nenhuma! — resmunga.
— É porque você não sabe — devolvo.
Sem argumentos, meu sobrinho muda o jogo.
— E você acha mesmo que eu tenho que aceitar isso? Você está tentando arrancar até as
cuecas de Mark e quebrou a cara dele porque comeu Louise e agora acha que eu não tenho
direito de querer acabar com você por causa de Summer, seu corno maldito?
— Mark e Louise? — Derek olha do filho para mim, aguardando uma explicação.
— Você acha que eu estou preocupado porque Mark e Louise estavam transando? Ela
abortou um filho. O meu filho. Porque Mark pediu, porque Mark só queria o meu dinheiro. Ele
não te contou isso quando veio pessoalmente contar sobre mim e Summer, contou? — Dou uma
risada irônica, porque de repente ele parece pego de surpresa. — Pois é, Joshua — abro os braços
como meu irmão fez antes —, Mark “comia” a minha esposa, que estava grávida de mim, e a fez
acreditar que era dele, só para que ela tirasse e eu não resolvesse parar a minha carreira por isso.
Por ambição, por maldade. O meu filho, o maior sonho da minha vida — começo a falar alto
outra vez, cuspindo as palavras com toda a dor que elas me causam. — Não foi ao fim do meu
casamento, não foi depois de Louise e eu darmos um basta em um relacionamento que já estava
fracassado. Eu colocava Lee dentro da minha casa, vivendo como se fosse da minha própria
família, enquanto ele aproveitava meus compromissos para foder a minha mulher. Corno que
você disse, né? Pois então, fui. Você, Josh? Não. Não foi. — Coloco as duas mãos dentro dos
bolsos, olhando fixamente para ele. — Não estou aqui fazendo juízo de valor sobre o que você
sente ou deixa de sentir. Foi você quem confessou que estimou demais as coisas que sentia por
ela. E eu concordo. Amar nunca chegou perto do que você sente por Campbell.
— Puta que pariu! — meu irmão uiva. — Só piora! Mark e Louise. Caralho…
— E você a ama então? — o filho de Derek quer saber.
— Como não amei nem Louise, Joshua — respondo com toda a clareza que tenho dentro
de mim.
De todas as poucas certezas que carrego na vida depois da reviravolta que a minha deu
nos últimos dias, a maior é de que amo essa mulher mais do que qualquer coisa.
Joshua começa a respirar fundo de novo, os olhos injetados, completamente perturbado
com as minhas palavras. Ele chega mais perto e aponta o dedo para mim, raivoso.
— Se você continuar com ela, Theo, eu vou espalhar a notícia. Eu te juro, eu vou ferrar
com você e seu fim de temporada! Eu vou fazer da vida de Summer um inferno. Não importa o
quanto me custe, mas vou fazer a cara de vocês dois aparecer estampada em todos os jornais do
mundo e vou reduzir o deus Savard a um maldito traidor que roubou a namorada do próprio
sobrinho!
Aí está mais uma vez o meu sobrinho mimado. E nem percebe que Mark o usou para uma
vingança boba, que nada tem a ver com camaradagem sobre dizer a ele que agora estou com uma
mulher com que ele já se relacionou antes.
— Me diga o que você vai ganhar com isso?
— Não me importa o quê! Mas com ela você não fica, porra! É melhor mandar Summer
embora e ficar longe, ou eu te juro, Theo, eu vou acabar com a vida de vocês.
Ele não está blefando, eu sei. E, com a raiva que está sentindo, não pensaria que um
escândalo como esse mexeria não só nos bastidores da Fórmula 1, mas resvalaria em toda a
família Savard e, inclusive, nos negócios. Uma coisa que não aprendeu sendo herdeiro, porque
estava ocupado demais gastando o dinheiro que meu pai e o seu suaram para ganhar, é que a
mídia pode ser extremamente cruel e ordinária quando quer fazer com que algo tome proporções
que a gente não espera.
— Não vai porra nenhuma, menino! — Derek vai para cima de Josh. — Perdeu o juízo?
— de repente, um pouco de sensatez.
— Em uma semana, Theo, se Summer ainda estiver na sua equipe, eu vou para a mídia
contar o tipo de sujeito que você é. — Anda até o sofá e pega o telefone de lá, voltando para
perto de nós dois, ignorando a fala do pai. — Foda-se a Savard. Foda-se a McLean. Fodam-se
todos vocês! — e, depois de todo esse discurso, empurra a gente para os lados, saindo pela porta
como um furacão.
Capítulo 36 - Summer Campbell

Ouço quando Aileen abre a porta do meu quarto. Cheguei há pouco, mas não quis
incomodá-la, ela ainda estava dormindo.
— Ouvi dizer que minha melhor amiga já está em casa! — brinca, quando me mexo na
cama e olho para ela com seus cabelos em um rabo alto, seguro por uma faixa azul com bolinhas
brancas.
Quando meus olhos se enchem de lágrimas, ela corre até mim e deita-se ao meu lado.
— Ei! Estou aqui com você. — Seus pequenos braços quentes me envolvem e eu afundo
o rosto no seu ombro.
Minha amiga me aperta contra seu corpo enquanto me consola.
A viagem até aqui foi horrível. Não me lembro quantas vezes precisei ir ao banheiro do
avião para chorar em paz. O medo de abrir o celular e dar de cara com um escândalo na mídia
não me abandonou um segundo sequer.
Joshua continuou me enviando mensagens completamente desrespeitosas até que resolvi
bloqueá-lo. Até para alguém que tentou entender o sentimento dele neste momento, como eu
tentei, as coisas têm certo limite.
— A única coisa que eu consigo pensar, Aileen, é que vou acabar com a reputação de
Theo. Ele viveu a vida inteira construindo uma história e agora vai terminar o ano mais
importante da sua vida em capa de revista de fofoca.
— Summer, para! — repreende-me. — Isso não vai acontecer, ok?
— Você não conhece Josh. — Rio com desgosto, só de pensar que algum dia na minha
vida tive coragem de chamar esse menino de amigo. Para piorar, já chamei de namorado. — Se
eu te mostrasse as coisas que ele teve coragem de dizer…
— Não faça isso, porque você sabe que sou muito capaz de ir atrás dele quebrar aquela
cara bonita que ele tem.
Começo a rir no meio do choro, porque sei que é isso que ela está tentando fazer. Me
distrair, me tirar do lugar de desespero onde estou enfiada neste momento.
— Coitada dessa garota… A menina nova com quem ele está saindo. — Será que ela faz
ideia de tudo o que ele está fazendo comigo e com o tio? Acho que não.
— Quando foi a sua vez, ninguém te contou. Deixe que ela descubra em algum momento
também.
Meu telefone toca e eu o pego entre nós duas, na cama. É Theo.
— Oi! — atendo e Aileen senta-se ao meu lado, fazendo mímica para dizer que vai nos
deixar conversar à vontade, saindo em seguida e fechando a porta outra vez.
— Como foi de viagem, cariño?
Respiro fundo, com meu corpo se afundando na cama.
— Péssima, angustiante, pavorosa! — Theo ri do outro lado. — Vocês já conversaram?
O que ele disse?
— Posso subir?
Fico parada por alguns segundos antes de entender. Levanto-me e vou até a janela. Olho
para a rua e vejo Theo encostado no automóvel de Norman, de óculos escuros, roupas esporte
comuns, boné e tênis.
— O porteiro vai te reconhecer. — Coloco na balança, com medo de que isso possa trazer
mais problemas ainda.
— Estou pouco me fodendo, Summer. Apenas me deixe subir — diz olhando para cima,
na minha direção.
Mordo meu lábio, ansiosa demais para estar em seus braços.
— Vou te liberar na portaria.
— Já nos vemos, linda — e ele desliga.
Saio do quarto e vou até o interfone avisar para a portaria que Theo Savard subirá ao meu
apartamento.
Eu me ajeito um pouco melhor e digo à Aileen que ele está chegando.
— Vou só esperá-lo chegar e vou, está bem? Estou atrasada para abrir a biblioteca. Mas,
olha… — Pega meu rosto e me encara com seus lindos olhos verdes. — Estou aqui ao seu lado,
para tudo. Se eu voltar mais tarde e você não estiver aqui, espero que esteja em algum lugar
sendo feliz com o homem que você ama, Summie.
Rio enquanto meus lábios tremem. Agarro minha cabelos de fogo em um abraço, que
parece durar uma eternidade. A nossa eternidade.
— Eu te amo, Leen. Obrigada por ser a melhor amiga que eu poderia ter na vida.
— A sorte é toda minha!
A campainha toca neste exato minuto.
Olho para ela e brinco:
— Quer abrir a porta para o único hexacampeão de Fórmula 1 do mundo?
Minha amiga começa a rir e dar uns pulinhos, enquanto eu gargalho.
— Meu Deus, sim!
Pega sua bolsa de trabalho e coloca no ombro, ajeitando a postura e indo até a porta em
seguida. Quando abre, damos de cara com um incrivelmente bonito Theo Savard.
— Oi, Theo! — cumprimenta meu namorado toda contente.
— Aileen. — Pega sua mão, cumprimentando-a. — É um prazer revê-la.
— O prazer é todo meu! — Olha para mim e pisca. — Preciso ir para o trabalho, fique à
vontade. Beijo, amiga. — Manda um no ar e espera que Theo entre antes de fechar a porta.
Nós dois ficamos parados na sala, olhando um para o outro. De repente, corro os cinco
passos que nos separam e me jogo nos seus braços.
Theo me segura com força, afundando o nariz entre os meus cabelos. Tiro seu boné e
jogo no chão, querendo sentir a textura dos seus fios entre meus dedos.
— Como vivi todos esses dias sem você? — ouço a voz abafada.
— Estou me perguntando isso também! — Seguro seu rosto para beijá-lo, mas Theo
reclama, fazendo cara de dor.
Olho para ele, que, respirando fundo, fala:
— Joshua acertou um soco no meu maxilar.
Assustada, saio dos braços de Savard e, de pé a sua frente, quase grito.
— Ele não fez isso!
Theo afirma com a cabeça.
— Achei que tinha deslocado, mas voltou para o lugar. — Coloca a mão em cima de
onde dói e eu peço que ele me espere bem ali.
Corro até a geladeira e pego a bolsa térmica, voltando em seguida.
— Senta aqui. — Puxo-o pela mão e o coloco no sofá. Ajoelho-me de frente para ele e
encosto a bolsa no seu rosto. Não querendo reclamar, fecha os olhos e solta um pequeno gemido,
que tenta reprimir. — Foi tão ruim assim?
Theo coloca a mão por cima da minha e me olha de perto, passando a outra devagar pelo
meu rosto.
— O soco? Não. A conversa? Foi.
Eu sabia…
— Não me deixe aflita, pelo amor de Deus.
Theo toma a bolsa gelada de mim e segura ele mesmo. Ainda ajoelhada, apoio as mãos
em suas pernas.
— Joshua disse que vai contar para a imprensa se eu não te mandar embora e terminar
com você.
Meu estômago se embrulha na hora. Na verdade, eu já imaginava que alguma coisa assim
poderia vir dessa história.
— Previsível, como sempre — solto, sem conseguir esconder a tristeza.
Abaixo a cabeça, mas Savard me toca pelo queixo, forçando-me a olhar para cima.
— Por que não quer me olhar nos olhos? — questiona quando fujo dele.
Respiro com calma, antes de falar:
— A gente sabe que ele vai fazer isso, Theo. Joshua é inconsequente e não tem nada a
perder. Ele só quer que a gente saia como os vilões da história dele. — Balanço os ombros,
rendida. — Quer provar para o mundo que nós dois somos ruins.
— E nós somos? — Chega o tronco um pouco mais perto de mim. — Nós somos,
Summer Campbell?
— Não — digo apenas, sabendo que isso não muda nada. — A gente precisa fazer isso,
Theo.
— Isso, o quê? — solta devagar a bolsa no sofá, ao seu lado, e puxa minhas mãos
devagar, fazendo com que eu me levante.
Theo me traz para o seu colo e me sento de frente para ele.
— Não posso mais trabalhar com você. E… — Ele me interrompe.
— Não diga o que você vai dizer agora, Summer, porque não vou aceitar. Não existe essa
possibilidade. Deixe Joshua espernear o quanto quiser. Deixe que faça seu show. Nós dois, eu e
você, nós não vamos acabar tudo porque ele acha que pode dizer o que devemos fazer.
Passo as duas mãos no rosto, cansada.
— Por favor, Theo. Pense um pouco! — Meus olhos ficam completamente marejados,
mas tento terminar de falar sem chorar. — Não é isso o que você merece para o fim da sua
carreira. Não é assim que eu quero que as pessoas falem de você. Quero que o mundo fale seu
nome porque você é o melhor piloto que o mundo já viu correr. Porque é engraçado na internet, é
incrível com seus fãs e porque tem o coração bondoso, gentil e mais humano que já conheci.
Quero que as pessoas te admirem pelo homem que existe aí dentro. — Pouso a mão no seu peito.
Seus dedos cobrem os meus. — Não por uma fofoca de que você “roubou” a namorada do seu
sobrinho, porque a gente sabe, é a versão que a imprensa inteira vai contar.
— Não me importo com mídia, não me importo com fofoca, não me importo com porra
nenhuma, desde que tenha você. Eu te amo, Summer Campbell. — Os olhos de Theo brilham
quando ele diz, pela primeira vez, diante de mim, que me ama.
Abraço-o imediatamente e ele envolve minha cintura, deixando meu corpo bem perto do
seu.
— Eu também amo você, Theo Savard. Muito. Muito!
— Então nós faremos dar certo, meu bem. — Meu rosto volta para perto do seu e encosto
o nariz no dele.
Seu sorriso faz coisas dentro de mim.
— Você confia em mim?
— Com a minha própria vida — ele nem titubeia para responder.
— Nós precisamos deixar a temporada terminar. Deixe que Joshua acredite que a gente
não está mais junto. Me demita, Theo. Logan pode cuidar de você e de Jackson até lá. Vou voltar
para o Canadá, vou cuidar dos quadros novos para a galeria da Betty, vou estudar… Enfim. É o
que temos em mãos.
— Você não acha mesmo que eu vou ficar quatro meses longe de você, acha? — Suas
sobrancelhas se juntam no meio da testa com sua cara de reprovação.
— É o que está ao nosso alcance, Pole — brinco e vejo como, de brava, sua cara muda
para angustiada. — Não pense que é o que eu quero, mas não temos escolha. A gente precisa se
afastar. Precisamos fazer com que acreditem que não existe Summer e Theo.
Ele nega em silêncio, contrariado. Sua cabeça cai no encosto e Theo observa o teto por
segundos que parecem eternos.
— Não vou conseguir viver naquela casa sem você. Viver sem você. Isso não existe mais
para mim. — Tudo em mim dói ao ouvir o quanto cada palavra que sai da boca dele é sincera.
— Claro que vai. — Puxo com cuidado o seu rosto na minha direção. — São só alguns
meses, isso passa rápido — digo com meu melhor sorriso, mesmo sentindo meu coração se
destroçar aqui dentro.
Sei que esse é o momento em que Theo não deveria ficar sozinho. Ele acabou de
descobrir que foi traído no casamento, perdeu o filho que nem sabia que um dia existiu, não tem
mais seu empresário, está em pé de guerra com o sobrinho, o melhor amigo de uma vida toda, e,
agora, vou ter que sair de cena também. Mas, como alguém que eu amo muito me disse uma vez,
o medo nos faz ser corajosos, e o terror que me causa imaginar que posso perder o homem que
eu amo está me fazendo ter coragem de tomar uma decisão tão difícil como essa.
Por nós dois.
Visivelmente arrasado, meu namorado, sem olhar para mim, pergunta:
— Você me daria suas próximas setenta e duas horas?
— São suas.
Sou sua, Theo Savard. Tudo em mim é seu.
INVERNESS, HIGHLANDS, ESCÓCIA

Sentada na margem gramada do Lago Ness, próximo da ponte, vejo Theo a alguns
metros, conversando com o dono da locadora do outro lado da rua.
Sim, meu namorado me trouxe para as Terras Altas da Escócia. Ele me trouxe para o
berço da história da minha família.
Ainda sem acreditar, olho para cada pequeno detalhe deste pequeno pedaço de paraíso e
faço comentários mentais sobre tudo o que li e vi em Outlander, além das histórias que minha
avó sempre gostava de nos contar em volta de uma fogueira quando fazíamos festas na casa dela.
Já perdi as contas de quantas vezes chorei nas seis horas em que estamos aqui.
Theo me acompanhou até Culloden Battlefield, o museu, e campo de batalhas onde
aconteceu, de verdade, a Batalha de Culloden[14], e que mudou para sempre a história dos nossos
ancestrais. Os jacobitas foram praticamente dizimados em menos de uma hora, enquanto os
ingleses, com armamentos e munições muito mais modernas e apropriadas para uma luta como
aquela, não perderam metade disso.
Quando, em frente ao monumento de homenagem aos que se foram naquele dia, eu
encontrei as pedras com os nomes dos clãs caídos na batalha, eu chorei. Chorei muito. E Theo
me abraçou, entendendo o quanto aquilo tudo significava para mim.
“Nosso sangue ainda é o de nossos pais, e nosso o valor, de seus corações”, dizia uma
placa na entrada do museu.
— Pronto, temos um carro. — Passa o braço em volta do meu ombro, olhando para o
lago feito eu.
Theo não quis pegar um carro na empresa da família, tentando não deixar rastros.
Eu não soube que era para cá que estávamos vindo até que aterrizamos. Theo só pediu
para que eu confiasse nele, então foi o que fiz. E, de repente, ele me dá um presente assim.
Uma das coisas que mais amo nele é que Theo jamais deixa que os detalhes das minhas
entrelinhas passem despercebidos. Eu contei o quanto queria vir até aqui, até as Terras Altas, e
agora, como se não fosse o suficiente, vamos pegar a estrada até a Ilha de Skye.
Sim. Onde meu pai e minha mãe ficaram noivos. O lugar que sonhei tanto em conhecer
com eles, a minha família. É uma grande pena que eu não vá pintar o quadro, como sempre
sonhei em fazer, mas sei que isso um dia acontecerá. Hoje e pelas próximas quarenta e oito
horas, só quero aproveitar de Theo tudo o que puder.
— Podemos esperar só mais um pouco? Ainda estou confiando que o monstro do lago
Ness vai aparecer.
Theo dá a gargalhada mais gostosa que escutei dele nessas últimas vinte e quatro horas.
No avião até aqui, aflitos por tudo o que nos aconteceu nos últimos dias, Savard abriu seu
coração mais uma vez sobre o filho e, deitado no meu colo, ele chorou. Aquilo com certeza
ficará marcado na minha memória para sempre. Savard estava completamente vulnerável, sendo
o homem incrível por quem sou completamente apaixonada, exposto em sua dor dilacerante, sem
medo de mostrar que o cara implacável das pistas também sangra. Também sente.
Ainda não disse a ele o quanto isso tudo não sai da minha cabeça.
O quanto é difícil acreditar que Mark, com todos os defeitos que não fazia questão de
esconder, na verdade, era mais que isso. Era ruim, de verdade.
— É melhor a gente não brincar com isso. — Olho para cima e Savard me beija a boca
rapidamente. — Precisamos ir, senão estaremos na estrada muito tempo da noite.
— Ok, ok! — Ajeito a bolsa no ombro e abraço Theo pela cintura.
Nós dois voltamos para a rua e ele aponta o veículo que acabou de reservar. Antes de
partir, passamos pela pequena estadia que alugamos por algumas horas somente para deixar
nossas coisas, tomar um banho e seguirmos até nosso destino.
Não é segredo para ninguém que a Escócia é um dos países mais bonitos de todo mundo.
Com o tempo quase sempre muito úmido, os pastos e vales escoceses são de um verde que meus
olhos jamais viram parecidos.
Theo abre a capota solar do carro enquanto o vento gelado do Norte, junto com o pôr do
sol escocês, me fazem sentir viva. Observo apaixonada os cenários que, por muitas vezes, me
deixaram ainda mais apaixonada por este lugar.
De repente, no rádio do carro, uma música começa a tocar.
“Eu deveria? Eu poderia? Ter dito as coisas erradas da maneira certa mil vezes. Se eu
pudesse apenas rebobinar, eu consigo ver tudo em minha mente. Se eu pudesse voltar no tempo,
você ainda seria minha”
É Misunderstood, do Bon Jovi, e Theo está cantarolando, batendo os dedos no volante.
— Ei! É a música preferida do cantor favorito da minha mãe! — solto com um sorriso.
Savard olha em minha direção e sorri junto, batucando um pouco mais e se balançando
no banco, com uma estrada inteira só para nós dois.
Uma coisa tão boa toma conta de mim e fico de pé, colocando o corpo para fora, o vento
jogando meus cabelos para trás.
“Você chorou, eu morri. Deveria ter ficado calado, as coisas deram errado. Conforme as
palavras saíam da minha boca, soavam estúpidas. Se esse velho coração pudesse falar, diria que
você é a única. Estou perdendo tempo quando penso nisso”
Eu canto enquanto ele me acompanha me incentivando. Sento-me novamente e imito um
microfone enquanto a gente se encara, livres, felizes, por apenas quarenta e oito horas.
Só quarenta e oito horas até que nossa ausência seja tudo o que tenhamos um do outro.
Junto com as memórias, até que o ano acabe.
Theo acelera o carro enquanto a plenos pulmões nós dois soamos o refrão.
“Ahhhh! Eu deveria ter dirigido a noite toda, deveria ter ultrapassado todos os
semáforos. Eu fui mal entendido. Ahhhh, eu tropecei como minhas palavras, fiz o que pude.
Droga, mal entendido.”
Por alguns segundos ele solta o volante e finge segurar uma guitarra, fazendo o solo da
música. Não consigo parar de sorrir. Não consigo parar de sentir.
Tudo. Ao mesmo tempo.
Como vou sentir saudades. Meu Deus… Como vou!
Tempos depois, paramos em frente ao Eilean Donan Castle. Hoje, um castelo privado dos
descendentes do clã McRae, aberto para visitação. É, inclusive, o castelo mais visitado de toda a
Escócia. E foi, antes de tudo, o castelo do clã Mackenzie. Os descendentes da minha mãe.
— É surreal — Theo é quem diz quando arrancamos com o carro de volta ao nosso
destino. O dia já está indo embora e as visitas acabaram, então admiramos por fora a construção
antiga, cercada pelo encontro dos lagos Duich, Long e Alsh. — Essa sensação de estar nos
lugares onde a história aconteceu me deixa completamente fascinado.
Entendo perfeitamente o que ele quer dizer.
E, enquanto aproveito os últimos raios de sol, acabo adormecendo, já que duas viagens
longas nos últimos três dias estão cobrando seu preço.
É o vento gelado que acaba me acordando. As temperaturas na Escócia não costumam ser
nada amigáveis nem mesmo no verão.
Meus olhos abrem-se no exato momento em que o barulho da capota para. Theo abriu o
teto outra vez.
Quando olho para cima, acordo completamente e coloco as mãos na boca, hipnotizada.
Não acredito nisso.
Eu não posso acreditar nisso!
— Theo, é uma aurora boreal! — O céu está pintado entre o negro, azul e um verde
brilhante como nunca vi parecido.
Imediatamente fico em pé, olhando para a perfeição da natureza diante dos meus olhos.
Savard abre a porta do carro e sai, dando a volta até chegar a mim. Ele me ajuda a sair e
me abraça por trás. Encosto meu rosto no dele, sem achar as palavras certas para explicar o que
estou sentindo agora.
— Gostou?
— Se eu gostei? — Meus olhos desviam-se das luzes para encarar seu rosto. Estamos
parados no acostamento da estrada da placa que diz: Bem-vindo à Ilha de Skye. — Você sabia?
Ele sorri de lado e sacode os ombros.
— Nunca tem como prever, mas confesso que eu sabia que as chances eram enormes. Eu
pesquisei.
Acabo me virando de frente para ele, abraçando-o pelo pescoço. Savard beija a ponta do
meu nariz gelado.
— O que mais eu não sei sobre você que eu deveria saber, Sr. Savard?
O riso que ele dá me parece o de alguém que aprontou.
— Eu comprei seus quadros porque estava lá quando você os levou para Betty. Eu ouvi
vocês o tempo inteiro. Antes de você me contar, eu já sabia que era seu sonho vir até aqui, sentir
de perto sua história, suas raízes. Ter, de alguma forma, mais um pedaço da sua mãe com você.
Começo a rir e balanço a cabeça.
Theo Savard é uma grande caixinha de surpresas.
— Você estava disfarçado em um café-galeria me espionando?
Sua risada é gostosa e seu olhar apaixonado, ainda mais.
— Ficamos três dias sem nos vermos no Canadá. Você estava brava comigo. Aquilo já
estava acabando com o meu sossego. Fui atrás de você para fazer meu coração voltar a bater
direito, Sunshine.
Ele não pode me dizer essas coisas assim e achar que não vou mesmo ficar
completamente derretida. Não pode!
Beijo Theo e ele segura meu rosto de um jeito que faz minha boca e a sua se encaixarem
perfeitamente. O jeito Savard de me fazer achar que cada parte do meu corpo foi feita
especialmente para o dele.
Seus lábios me soltam devagar e eu viro a cabeça para o céu outra vez. É tão lindo e
surreal isto aqui.
— Como eu queria pintar essa noite. Guardar isso comigo para sempre!
Atrás de mim, comenta:
— Pensei mesmo que você gostaria, por isso a mala maior está cheia de tintas, pincéis,
duas telas grandes e o cavalete.
Viro-me subitamente em sua direção, olhando desconfiada para ele.
— Você não fez isso!
— Norman me ajudou. — Os ombros balançam devagar. — Quando chegarmos no iglu
de vidro que está reservado para nós dois, você vai ver — solta a informação como se isso não
fosse nada de mais.
Eu não sei por que ainda me surpreendo com as coisas que Theo Savard faz!
— Você está de verdade em uma missão para me fazer parecer impossível ficar esse
tempo todo longe de você, não é? — Ajeito o cachecol do seu pescoço, segurando para não
chorar.
— Acredite, Summer Campbell, um pequeno pedaço de mim morrerá a cada um desses
dias distante de você, então, se essa é minha chance de te fazer feliz antes que tudo o que nos
restará será a distância, é isso o que eu farei.
Capítulo 37 - Theo Savard

Estou aqui há cerca de duas horas olhando para Summer.


Está com paleta e pincel na mão, colorindo de verde o céu do seu quadro.
Ontem ela não quis dormir. Viramos a noite encarando o teto de vidro do lugar que
aluguei. A cada movimento das luzes, Summer se emocionava. Várias vezes ela repetiu que
nunca se sentiu tão feliz como estava naquele momento, aqui, em Skye, sob o céu mais bonito
que já vimos e entre os meus braços.
Eu queria dizer o mesmo que ela, mas, tudo o que eu sinto dentro do meu peito é uma
tristeza que não tem fim, porque sei o que vem a seguir, quando a noite de hoje acabar. Amanhã,
vou direto para a Itália, tudo que vai me restar de Campbell serão as lembranças e eu não me
sinto nem um pouco preparado para isso.
À tarde, quando acordamos depois de dormir a manhã inteira, saímos em busca de
alimentos para hoje, depois passeamos pela ilha e nos arredores.
Levei-a até a Kilt Rock, uma formação rochosa que lembra um kilt escocês e, por isso,
recebeu este nome. No meio dela nasce uma queda d’água que cai direto na imensidão do mar.
Foi lá que Donald Campbell pediu Sara Mackenzie em casamento.
Queria deixar que Summer tivesse seu momento, mas ela não me largou um segundo
sequer. Ficamos lá por muito tempo abraçados, trocando carinhos, apenas ouvindo o barulho da
natureza enquanto ela revivia na sua memória uma história que lhe contaram tantas e tantas
vezes.
Para Sara, esse era um lugar especial e, por isso, Donald não mediu esforços para que ela
não se sentisse nada menos do que a única mulher que ele gostaria de ter ao seu lado nessa vida.
E, enquanto estávamos ali, a única coisa na qual pensava é que quero fazer o mesmo por
Campbell quando for a hora.
Quando Summer disser sim para mim, quero que ela não tenha dúvidas sobre ser tudo o
que eu quero e preciso para ser de fato um homem feliz.
Ela olha para além do vidro do iglu, foca no céu colorido e volta a pintar. Summer
mistura as cores com delicadeza até chegar ao tom exato que deseja, e depois desliza com
cuidado na tela, em cima das marcações que fez antes.
Sou completamente louco por Summer fazendo aquilo de que gosta. É nítido que o
mundo não existe para ela quando tinta e pincel estão ao alcance das suas mãos.
Sem saber, Sara deu para a filha algo que a faz se enxergar de verdade neste mundo e isso
é muito bonito. Sei que ela seria muito bem-sucedida na carreira jornalística e de assessora se
escolhesse seguir assim, mas seu talento com as artes plásticas é um verdadeiro sinal de que foi
para isso que ela nasceu.
Summer segura o cabo do pincel entre os dentes, colocando uma mão na cintura enquanto
analisa a própria obra. Suas pernas longas e os pés descalços completam o meu próprio quadro
preferido. Não percebo quando solto um pequeno riso, mas ela ouve e se vira na minha direção,
sentado na beirada da cama enquanto finjo que estou resolvendo algumas coisas pelo meu iPad.
Eu deveria mesmo fazer isso, mas não tenho concentração suficiente.
— Ei! O que foi? — Sorri e tomba a cabeça para o lado, esperando minha resposta.
— Nada. Só estava aqui pensando no quanto você é linda.
Ela me dá aquele sorriso que me fez ficar maluco desde o primeiro dia e eu suspiro. Sem
pressa, caminha na minha direção. Deixo o aparelho eletrônico ao meu lado na cama e ajeito os
óculos de grau no rosto. Com cuidado, ela se senta de frente para mim. Apoio as mãos nas suas
pernas nuas, alisando com a ponta dos dedos.
— Você fala como se não fosse o homem mais bonito do mundo, não é? Olhe bem para
você, Theo Savard!
Solto um riso baixo e devolvo:
— Não sou nenhum Tom Cruise da vida, Summer Campbell.
— Ainda bem, porque o acho péssimo — devolve, enquanto pega seu pincel sujo de tinta
e passa no meu nariz.
Faço uma pequena careta e ela ri alto, agora pintando um pequeno coração na minha
bochecha.
— O que é que você está fazendo, garota?
— Deixando meu coração com você.
E se faz um silêncio, porque essas palavras doem.
Tiro uma das mãos da sua perna e levo até seu rosto, colocando os cabelos castanhos
atrás da sua orelha.
— O meu está nas suas mãos desde o dia em que você entrou naquele quarto de hotel
para a entrevista. Porque hoje tenho a convicção de que, de uma forma ou de outra, Summer
Campbell, você chegaria até mim, e faria meus dias melhores, minha alma mais leve, meu
coração mais feliz. Foi naquele dia que, mesmo sem saber, eu já era seu. Que, pensando estar
ajudando Joshua, estava, na verdade, colocando o meu destino nas suas mãos. E ele é seu, para
sempre, de mais ninguém.
Com toda sua delicadeza, Summer traz o rosto de encontro ao meu e seus lábios buscam
minha boca. Minha língua tem sede do seu gosto e sem demora a sua está brincando com a
minha. Doce, provocante… Beijar Summer Campbell é sempre como experimentar minha
sobremesa favorita.
Enrolo um pouco dos seus cabelos entre os dedos e puxo devagar, mantendo esse beijo
sob o meu domínio. Ela geme baixinho e respira fundo. Sabendo onde isso vai parar, eu me
obrigo a soltar sua boca. Sussurro para ela:
— Volte para o seu quadro. Não quero te atrapalhar — preciso de um autocontrole
absurdo para dizer isso.
— Ele pode esperar, Pole. Minha vontade de você, não.
— Se a gente começar, meu bem, não vamos parar até amanhecer. Porque eu quero tudo
de você.
— Eu quero que tudo em mim seja seu, Savard. Agora até a hora de dizer adeus.
Levanto-me com Summer e a deixo de pé. Com cuidado, pego seus materiais e levo até a
sua tela, deixando ao lado. Quando volto, seus olhos me fitam com ansiedade até que minhas
mãos estejam outra vez tocando sua pele.
Levanto devagar a blusa do seu conjunto cinza, depois baixo a sua calça, e descubro
Summer vestida em uma calcinha minúscula e um sutiã que combinam, os dois azuis-marinhos.
Ela balança os cabelos quando a peça de cima cai da minha mão e me encara com
expectativa. Quando seus dedos seguram a barra do meu moletom, deixo que ela faça seu próprio
caminho com a minha roupa. Quando ele chega nos meus braços, ajudo-a e puxo pela minha
cabeça, trazendo a camisa junto. Summer encara minha barriga e meu peito em completo
silêncio.
— Vou sentir tanta falta de te ver assim. — A mão desliza pelo meu abdômen, fazendo
minha respiração perder o ritmo.
O toque quente da minha mulher me desperta saudade antes mesmo que a gente se
separe. É só amanhã e meu corpo já reclama de sua ausência.
— A gente não precisa pensar na falta agora — minto, porque é mais fácil fingir que isso
não me está me matando do que a ver triste antes da hora. — Se só temos o hoje, querida, é ele
que vamos viver.
Os braços deslizam para trás do próprio corpo e ela se desfaz do sutiã. Os peitos pesados
caem como gotas no seu colo, macios, empinados, perfeitos.
Eu amo tudo nessa mulher. Absolutamente tudo.
Meus olhos percorrem sua barriga, seu umbigo, até que ela retira a calcinha.
Se algum dia alguém me perguntar o sinônimo de perfeição, com certeza é ver Summer
Campbell nua, emoldurada pela Aurora Boreal.
É como vê-la sair de um sonho, porque é com o que se parece agora.
Sem muita demora me desfaço da calça e da cueca, meu pau tão duro que dói. Ela nem
disfarça, olha para ele, mordendo o lábio de baixo, o peito subindo e descendo forte demais.
Ofereço a mão a ela e Campbell vem até mim, descansa a outra no meu braço, então
rodeio sua cintura, olhando dentro dos seus olhos grandes e bonitos.
— Amo você, Summer Campbell.
Não sei se me pareço com um idiota, visto que tenho dito isso a ela o tempo inteiro.
Quero que não se esqueça. Que não tenha dúvidas.
Ela passa uma perna no meu quadril, fazendo a cabeça do meu pau resvalar em sua
entrada, que já está molhada.
É tão gostosa…
Tão minha, merda!
O gemido é baixo quando sai da sua garganta e os olhos semicerrados me mostram o
quanto me quer dentro dela. E, hoje, terá tudo o que quiser.
Tudo.
Por isso seguro na base e procuro sua boceta, que me engole no exato momento em que
empurro um pouco para a frente. O som da sua boca agora é mais alto e ela diz em seguida:
— Eu amo você, Theo Savard!
Tomo impulso com as mãos agarradas em seu quadril e empurro mais, devagar, entrando
em Summer assim, em pé. Seus mamilos duros brincam pelo meu peito e ela tomba a cabeça
para trás. Movimento-me um pouco mais, agora inteiro dentro dela, apertada e escorregadia.
Aperto bem meus pés no chão e puxo Summer para cima, então sua outra perna me
agarra no quadril e ela fica suspensa. Assim, apoiando-se em mim enquanto seguro sua bunda,
Summer cruza os dedos atrás do meu pescoço e começa a se mexer. Vou junto dela e fodo sua
boceta até o talo.
— Eu amo você! Eu amo você… — começa a repetir enquanto sobe e desce no meu pau.
É tão gostoso o jeito como ela faz, que não consigo falar direito.
— Amo… Amo você, meu bem — e soco um pouco mais forte, mordendo meu próprio
lábio com força.
Suas unhas arranham minha nuca e eu aperto sua bunda com força. Ela deixa escapar um
grito manhoso, revirando os olhos. A boca formando um grande O.
Viro Summer e caio com ela na cama. Sem me desencaixar, afundo meu quadril entre as
suas coxas e ela arfa. Os cabelos espalhados pela cama, o rosto corado de tesão, o jeito como
seus olhos se fecham cheios de desejo…
Como eu vou viver sem isso, caralho?
— Eu amo ser o homem que você me faz sentir que sou, Summer Campbell — sussurro
no seu ouvido enquanto soco rápido, sua bunda recebendo o impacto das minhas bolas.
As mãos descem pelas minhas costas desesperadas, tocando tudo ao mesmo tempo,
puxando-me para si como se quisesse que eu morasse dentro dela.
Eu quero morar dentro de Summer.
Eu quero ser um só com essa mulher.
Ela puxa meu rosto para me ver de perto. Ele ainda dói um pouco, mas eu não me
importo. Tomo sua boca com fúria, porque não consigo olhar para ela e não ter vontade de beijá-
la.
Suas pernas se embaralham nas minhas como a nossa língua. Tomo impulso com o joelho
e vou mais rápido, entrando e saindo da boceta de Campbell com tanta força que ela morde meu
lábio e o faz sangrar.
— Eu amo tudo em você! — diz sôfrega quando solta minha boca. Meto forte, rápido,
fazendo com que a cama ranja abaixo de nós. — Isso, baby! — Me pede por mais, jogando o
braço para cima da cabeça, agarrando um amontoado do lençol, puxando com força. As pernas
de Summer prendem as minhas e me fazem me enterrar e fodê-la curtinho. Essa mulher ainda vai
acabar comigo, caralho!
Paro devagar e me desencaixo dela. Viro seu corpo com calma e deixo Summer de
bruços.
Ajeito seus cabelos para o lado e beijo a nuca. Com as pernas uma de cada lado do seu
corpo, meu pau todo molhado descansa na sua coxa.
Com a mão direita, encontro sua boceta e enfio dois dedos. Desço beijando pelo meio das
suas costas e Summer arqueia o corpo para trás.
— Meu Deus, Theo! Sim… — Movimento a mão e deixo que minha barba e língua
entreguem a ela o estímulo de que precisa.
É tão cheirosa. Tão deliciosa…
Mordisco sua pele devagar e ela levanta um pouco o quadril, rebolando.
— Quero que se lembre desses beijos todos os dias — aviso, e aumento o ritmo da mão.
Sei que ela vai querer gozar, mas ainda não é a hora. Ainda assim, acrescento mais um dedo e ela
aperta com força a fronha do travesseiro perto da sua cabeça. — Quero que se lembre da
sensação da minha barba na sua pele, da minha língua pelo seu corpo, das minhas mãos por cada
parte de você. Quero que se lembre de que existe um homem completamente apaixonado te
esperando, Summer. — Beijo a curva do encontro das suas costas com a bunda e ela geme alto,
mas se parece mais com um choro. — Para te fazer feliz, para te cuidar, para te proteger, para te
venerar. Para voltar a existir… — Mordo o lado direito da sua bunda durinha e redonda, e depois
passo a língua por ela. Seu quadril se movimenta rápido na minha mão e contra a minha boca.
Passo para o outro lado, repetindo o gesto. — Porque preciso de você para respirar, Campbell.
Preciso de você para viver.
Ela soluça e sua boceta estrangula meus dedos.
Afasto suas pernas com um dos joelhos e me encaixo atrás de Summer, trocando minha
mão pelo meu pau. Apoio os braços ao lado do seu corpo e empurro com força, entrando em
Summer de uma vez só.
Sinto seu corpo, abaixo do meu, se chacoalhando com o choro. Deito devagar por cima
dela e agarro suas mãos por baixo das minhas. Nossos dedos se entrelaçam com força. Ela vira o
rosto completamente molhado de lado, que eu beijo devagar.
Cada lágrima de Summer Campbell recebe um beijo meu.
Cadencio o quadril e soco gostoso, sentindo o quanto minha garota está no seu limite.
Summer força a bunda contra mim, completamente entregue.
— Eu também preciso de você para viver, amor. Eu também — balbucia entre os
gemidos e as lágrimas. O atrito da nossa pele faz com que nosso corpo inteiro esteja suado. —
Vou contar cada segundo, daqui até o dia de estar nos seus braços outra vez — termina de dizer e
geme arrastado, tentando se segurar. Minha boca encontra a sua e eu puxo o lábio de Summer
para mim com os dentes. Ela grunhe e pede: — Me faz gozar gostoso, Theo Savard. Me faz
gozar para você!
A bocetinha da minha mulher pisca no meu cacete enquanto mordisco sua orelha. Viver
sem os carinhos de Summer vai ser uma tortura, mas não ter sua boca sempre implorando para
gozar no meu pau vai ser como morar no próprio Inferno.
Summer se mexe abaixo de mim e completa:
— Me deixe gozar olhando para você.
O pedido dela é uma ordem.
Saio de cima dela sem pressa e Summer se vira para mim. Sentado em cima das minhas
pernas, Summer apenas se move e coloca as suas encaixadas no meu colo. Seguro meu pau e ela
se senta de uma vez só, tomando-me inteiro dentro dela.
— Summer… caralho! — solto e fecho os olhos quando minhas mãos agarram seus
cabelos, colando minha testa na dela. Campbell cavalga forte, com o rosto ainda marcado pelas
lágrimas, dividida entre a emoção e o desejo.
— Me faz gozar a noite inteira! — implora, olhando profundamente para mim, enquanto
quica e geme. — Me deixa marcada, Theo. Faz essa sensação no meu peito passar. Essa dor de
não te ter mais! Me faz esquecer tudo isso, eu te imploro! — Seu quadril se choca com tanta
força contra o meu que eu sinto meu próprio orgasmo chegando.
Mordo o pescoço de Summer e chupo em seguida, fazendo o que ela quer.
Ela uiva e rebola, e eu encontro seus seios entre nós dois, apertando com vontade,
deixando minha garota inteiramente fora de si.
— Ohhhhh! — abre a boca e solta o som, que ecoa por todo o iglu.
Seus olhos estão abertos, conectados aos meus e eu sei que Summer quer me dar o que
lembrar pelos dias tenebrosos que teremos pela frente longe um do outro. Ela quer que eu me
recorde de como seu corpo reage toda vez que o meu entrega a ele o que ela precisa. Fogo,
desejo, paixão… Do jeito mais intenso e cru que entreguei a alguém na vida.
O jeito errático como rebola agora, fazendo meu pau se enterrar e sair rápido demais de
dentro dela, me avisa que Summer vai gozar.
— Eu te amo, Summer — falo arrastado, segurando meu gozo. Quero vê-la se derramar.
Quero assistir Summer Campbell se deliciando com um orgasmo. É sempre lindo de
assistir.
— Ah, Theo! — As lágrimas chegam novamente e ela morde o lábio com força,
deixando os cabelos suados caídos de lado. — Eu amo você! Amo você! Amo você! Ahhhh… —
grita e, olhando para mim, começa a tremer, mexendo o quadril mais devagar. — Aiiiii! — Suas
unhas cravam meus braços, deixando-me sua própria marca, e então pede. — Goza em mim.
Goza em mim! Eu te amo! — quando me pede, subo o quadril rápido de encontro ao dela e me
seguro para não fechar os olhos ao sentir que esporro a boceta de Summer inteira.
— Ahhh, merda! Summer… — chamo pelo seu nome, puxando o rosto dela para mim,
beijando de novo suas lágrimas que não param. — Você é a minha vida, garota! Você é minha,
Summer.
Não seguro os gemidos quando mais jatos saem e ela geme descontrolada, ainda gozando
junto comigo. Summer me abraça forte, ainda se movimentando no meu colo e eu faço o mesmo,
guardando comigo a sensação do seu coração disparado encostado no meu peito. Devagar ela
para e nós dois, sem fôlego, caímos deitados na cama.
Ainda dentro dela, Campbell fica parada por cima do meu corpo, com a testa entre meu
ombro e pescoço, soluçando.
Minhas mãos percorrem o corpo suado, enquanto as palavras saem da minha boca:
— Você vai me esperar?
— Eu te esperei a vida inteira, Theo Savard — a voz sai bagunçada pelas lágrimas, pelo
orgasmo e pela quantidade de emoções que estão deitadas nesta cama agora com nós dois. —
Não vão ser cinco meses que mudarão isso.
Quero dizer alguma coisa, mas agora tenho que lidar com o choro que está travado na
minha garganta.
Tento segurá-lo o máximo que consigo, mas, de repente, estou fazendo companhia à
Summer. E, agora que a dor está voltando e tomando cada pedaço de mim, percebo que essa é a
única forma possível de lhe agradecer por tudo o que, mesmo machucando-a, ela está fazendo
por nós dois.

Summer Campbell deixa cargo de assessora de Theo Savard para seguir


projeto pessoal

Após uma colaboração de grande sucesso, Summer Campbell está deixando seu cargo de
assessora pessoal ao lado do piloto de Fórmula 1, Theo Savard. Conhecida por sua habilidade
em transformar a presença pública de Savard, Campbell revolucionou sua imagem não apenas
na mídia, mas também nas redes sociais, conquistando ainda mais a sua base de fãs leal e
engajada.
No entanto, após cuidadosa reflexão, Campbell e Savard tomaram a decisão mútua de
seguirem caminhos separados. Em um comunicado conjunto, eles expressaram gratidão pela
parceria e pelo sucesso alcançados juntos.
Agora, Campbell está ansiosa para embarcar em um novo capítulo de sua vida,
dedicando-se a um projeto pessoal que há muito tempo tem sido sua paixão. Embora os detalhes
sobre esse projeto permaneçam em segredo, é evidente que Campbell está ansiosa para explorar
novos horizontes e desafios.
Enquanto isso, os fãs de Savard aguardam ansiosamente para ver como ele seguirá
adiante em sua carreira, confiantes de que o legado de sucesso deixado por Campbell
continuará a influenciar positivamente sua jornada até sua aposentadoria das pistas, que
acontecerá ao fim da temporada deste ano.
Capítulo 38 - Summer Campbell

SETEMBRO
DEZ DIAS DEPOIS
TORONTO, CANADÁ

Enquanto estaciono o carro para atravessar até a Best Art School, a escola de arte na qual
me matriculei, meu telefone toca. Meu irmão fazendo careta aparece na tela para mim. Rio todas
as vezes dessa foto ridícula que ele colocou em seu número no meu aparelho.
— E aí? — atendo enquanto fecho o carro e arrumo a bolsa no ombro.
Sempre tive vontade de estudar aqui, mas, trabalhando no jornal em plantões
intermináveis, nunca me sobrou o que eu precisava: tempo. E agora, que estou sem um trabalho,
isso é tudo o que eu tenho.
O curso é dividido em dois módulos de quatro meses e confesso que estou ansiosa para
começar logo. Ter a rotina quebrada depois de tanto tempo ocupada com mil e uma coisas para
resolver por dia está me deixando confusa e angustiada.
Mas o pior de tudo é a falta que sinto de Theo.
Não consigo dormir um dia sequer sem chorar. Olho para o meu quarto e sinto como se
estivesse no lugar errado. Como se faltasse algo, e na verdade falta tudo.
Falta ele, falta Dock, falta Manfred, Logan, Jackson, Wisbech e tudo o que envolvia
minha vida ao lado de Savard. Toda vez que nos falamos pelo telefone é completamente
angustiante. A sensação que tenho é de que alguém vai nos descobrir a qualquer momento.
Sinto falta dos beijos de bom-dia, da nossa cantoria debaixo do chuveiro, das suas
dancinhas desengonçadas, pelado, só para me fazer engasgar de tanto rir. Do seu sorriso quando
vence uma prova, da alegria quando se equipa para ir em busca de mais uma vitória. Do seu
coração doce, gentil, do seu olhar que me abraça e do seu corpo que me completa.
Tudo em mim dói sem ele.
A imprensa não tem nos poupado das especulações, já que, juntos, estávamos fazendo um
trabalho impecável. Tenho tentado não ler as notícias para não ficar ainda mais triste.
— Já está na escola? — quer saber.
Não tive coragem de explicar ao meu pai e aos meus irmãos o que estava acontecendo de
fato. Se Alex imaginar as coisas que Joshua me disse, eu sei que isso não vai terminar bem.
Também não quero contar de Savard dessa forma. Acho até que ele não gostaria que eu fizesse
isso sem ele.
— Chegando agora. Intervalo de treino?
— Quinze minutos. — Ele fica em silêncio, mas não por muito tempo. — Você vai me
contar o que aconteceu de verdade ou vai continuar mentindo para mim?
Olho para o movimento de pessoas subindo as escadas da escola e entrando, mas resolvo
parar alguns minutos em um dos bancos ao lado. Sento sem pressa, colocando a bolsa no colo, e
respiro fundo.
Eu detesto mentir para ele. Deus sabe como detesto!
— Você está mesmo preparado para saber?
— Sobre você e Savard? Só estou esperando que me diga com sua própria boca. Eu não
sou otário, Sums, eu vi o jeito como ele te olhava apaixonado lá em casa. Quem é que viaja de
Toronto para Halifax em suas férias do trabalho só para passar um domingo no meio da festa de
família de uma funcionária?
Fecho os olhos e mordo a bochecha.
— Eu o amo, Alex. Amo Savard. E é completamente diferente de todos os outros com
quem já estive. Theo me enxerga, me valoriza, me estimula, cuida de mim, tem atenção aos
detalhes. Eu nem sabia que sonhava em encontrá-lo um dia, mas é o que percebo hoje. Sempre
sonhei com Theo, sempre quis um homem como ele para mim, e agora eu tenho. — Repenso
minha fala e corrijo: — Quer dizer, não mais, até o fim do ano.
— A McLean viu algum problema?
— Não. Foi Joshua mesmo.
Meu irmão ri antes de responder:
— Não vou dizer minha opinião de novo sobre esse garoto, porque já está mais do que
explícita: ele é um moleque. Um riquinho mimado.
— Que prometeu contar para a imprensa inteira que o tio está com sua ex-namorada.
Entende a gravidade disso agora para a carreira de Theo? A gente não teve muita escolha. Foi
melhor. Pelo menos até o fim da temporada.
— Como ele é cretino, caralho! — Alex bufa do outro lado da linha. — Ele está saindo
com aquela menina que faz dancinha para o TikTok o dia todo. Que porra está querendo
enchendo o saco de vocês dois?
Meus ombros caem com a frustração.
— Cansei de querer entender. Só preciso seguir minha vida para não colocar Savard em
uma situação delicada.
— Você tem ideia de que Theo Savard é meu cunhado, Summer Campbell?
Eu me levanto rindo, caminhando de volta para perto da escada.
— Eu sabia que você ia ficar insuportável assim!
— Não tenha dúvidas! O papai vai curtir também, não se preocupe — tenta me
confortar, e eu sei que é verdade. — Summer, fique bem. Eu estou aqui, mesmo que de longe.
Ninguém pode dizer a vocês sobre o que podem e não podem, que a história de vocês é errada.
Não é. Vocês não infringiram regras ou traíram alguém a partir do momento em que você disse
com todas as palavras para aquele protótipo de gente que vocês não tinham mais nada. Sua
atitude diante de tudo isso só me comprova que nossos pais criaram uma mulher muito foda.
Savard tem sorte de ter te encontrado, e eu tenho certeza de que ele sabe disso.
Não posso chorar agora, não em público.
— Eu te amo, irmão. Obrigada por ser o melhor.
— Eu também amo você, Sums. Pra caramba. A gente se fala mais tarde. Boa aula.
— Valeu!
Desligo e guardo o telefone, piscando várias vezes para que as lágrimas não me traiam.
Respiro e conto até três, indo enfim para minha jornada.

Theo Savard
DOZE DIAS DEPOIS
MONTE CARLO, MÔNACO

Tranco meu escritório assim que termino a reunião com meu advogado. Lee aceitou a
proposta de encerrar o contrato sem direito algum. Depois de ser orientado pelo próprio
advogado, decidiu que era melhor não entrar em um embate comigo, já que a exposição da
situação o colocaria em um lugar que ele não deseja: ficar sem emprego dentro da F1.
O piloto da Arrows, Sean, filho do dono da equipe, pegou Lee como empresário tão
rápido quanto pôde. A gente conhece a falta de talento que o garoto tem, isso não é segredo para
ninguém. Provavelmente a história que Mark conta por aí, de que minha carreira só se manteve
sólida nos últimos anos porque fizemos boas negociações com a McLean e com o mercado
publicitário, convença algumas pessoas. Bom, vamos deixar que Sean e seu pai descubram a
furada em que se meteram por si sós. Isso não é da minha conta.
Querendo ou não, viramos todos capas de revistas e jornais. Todo mundo quis saber por
que, de uma vez só, rompi contratos com meu empresário de anos e com a assessora que mudou
completamente tudo em torno de mim. Sobre Mark, aleguei incompatibilidade de objetivos. Ele
não quis comentar sobre. Com Summer, resolvemos dizer que ela optou por se dedicar aos
estudos da carreira que deseja seguir.
Logan e o escritório que contratei para ficar com meus contratos a partir de agora, até que
a temporada acabe e eu possa decidir como farei com isso, têm cumprido seus papéis. No
momento, é só disso que preciso.
Louise apareceu de novo, tentando uma conversa, querendo dizer que sentia muito sobre
tudo. Que sempre fui um bom homem e não merecia o que ela e Mark fizeram comigo.
Não há um dia sequer em que eu passe sem pensar no meu filho. Como ele seria se
estivesse aqui? Seria um sorridente menino, ou uma adorável garotinha?
Do que ele, ou ela, gostaria? Qual seria a cor dos olhos, dos cabelos, a primeira palavra
que falaria? Eu nunca vou saber. Nunca. Isso me mata.
Por isso, pedi a Louise que parasse de me procurar. Pedi que ela seguisse com sua vida
porque era o que eu estava tentando fazer com a minha.
Ela quis saber de Summer e eu respondi que não lhe devia nada da minha vida.
Sem muito o que argumentar, me desejou felicidades.
Eu desejei que ela pudesse ter paz na mente e no coração depois da atrocidade que
cometera.
Josh e eu não nos falamos mais. Fiz com que a notícia sobre o rompimento de contrato
com Summer rodasse o mais rápido que pude, não porque eu queria, mas porque ela insistiu,
assim ele nos deixou em paz. Pensei que me sentiria pior depois que os dias passassem, mas a
verdade é que não tenho muito o que fazer sobre ele. Quando tudo isso passar, espero que fique
bem, que foque nas suas coisas e siga em frente, como Summer e eu estamos fazendo também.
Decidi contar tudo para a minha mãe. Ela tinha o direito de saber sobre a situação com
Joshua e o neto que ela nunca vai conhecer. Não quero que tome um lado. Não existe um lado
nisso tudo. Existe o que é fato, e o que Josh acredita que seja, ou quer que seja. Ela entendeu. Ela
me consolou sobre meu filho enquanto nós dois chorávamos juntos. Como sempre, minha mãe
me deu seu colo quando eu mais precisei. Aquele de que eu sentia tanta falta enquanto estava
correndo mundo afora atrás do meu sonho o qual eu encerro em poucos meses.
Paro em frente à porta do quarto de Summer. Manfred está juntando as últimas coisas
para mandarmos de volta ao Canadá. Já se foi quase um mês desde a última vez que beijei
Summer e eu nunca me senti tão miserável dessa forma.
Tudo nesta casa me lembra Campbell, a começar por Paddock, que está cabisbaixo, tem
comido pouco e já não se sente tão animado para os passeios com Manfred. Meu secretário não
sabe, mas já o ouvi conversar com o cachorro sobre como ela trazia cor e ritmo para essa casa, e
que sente falta da amiga. Já eu? Tenho tentado ficar o mínimo que posso aqui, porque, se em
quase trinta dias já me sinto como um adicto na sua pior fase na luta contra o vício, não sei o que
vai ser de mim até o fim do ano.
Manfred mexe em uma das caixas e acaba me vendo aqui, na porta, encostado, pensando
em tudo o que eu e Summer fizemos ali dentro.
Fizemos sexo. Fizemos amor. Descobrimos o gosto musical um do outro e
compartilhamos trechos das nossas leituras. Ela me ouviu falar da vida e eu a escutei com a
mesma atenção. Vi Summer nua, pintando um quadro, e foi de longe uma das coisas mais lindas
que já presenciei. Descobri que fala sozinha à noite, ela provavelmente descobriu que eu finjo
que estou dormindo para não a preocupar, enquanto, na verdade, sofro de insônia. Em cada
pequena coisa que recebíamos um do outro, a certeza de que não pode haver ninguém além dela
para mim só foi crescendo. E hoje, quando olho para tudo assim, sem a energia que Summer
emana, dói de um jeito que é impossível de explicar.
— Perdão, Theo, não tinha te visto aí.
— Está tudo bem, Manfred. Fique tranquilo.
— Termino hoje — comenta, fechando o papelão. Antes, ele respira fundo. — É uma
pena…
Ele nem precisa completar para eu concordar.
— É, sim. — Mordo o lábio. — Você se importaria de me deixar um pouco sozinho
aqui?
Ele me olha compreensivo e se levanta. Passa por mim e me dá seu melhor sorriso,
dizendo:
— Fique à vontade. Já está na hora de tentar fazer aquele cabeça-dura do Paddock comer
um pouquinho.
Agradeço a compreensão do meu amigo e bato em suas costas, fechando a porta quando
ele sai. Ando até o guarda-roupa aberto e encaro as poucas coisas de Summer que ainda estão
aqui. São roupas, sapatos e objetos espalhados.
Seguro o vestido branco que ela usou no dia do GP de Mônaco, na festa aqui em casa.
Olho para ele e lembro o que fizemos lá embaixo, na sala. Muito mais do que o sexo gostoso e
proibido, naquele dia eu tinha certeza de que já estava apaixonado por ela. Perdidamente
apaixonado.
Cheiro a peça e meu peito parece que vai explodir. É um desejo tão dolorido que me
machuca em cada parte do corpo, como se, para estar vivo, eu precisasse do seu toque.
Fico um tempo segurando o tecido, até que meus olhos são atraídos por um objeto
dourado, brilhante.
Levo a mão até lá e puxo para mim a máscara do clube.
A máscara de Sunshine.
Sorrio segurando-a na mão, lembrando com detalhes cada segundo daquela noite. Se eu
não me apaixonasse primeiro por todo o conjunto que é Summer Campbell, eu já me apaixonaria
só por sua ousadia de ir em busca do que ela queria lá.
Um pouco de nós. E acabou ganhando tudo de mim.
O homem que eu sou. Por inteiro.
Sou dela. Só dela.
Meu raio de sol.
É isso que Summer Campbell é.
Essa mulher ilumina a minha vida, e não importa quantos malditos dias eu tenha que
esperar para acabar com essa angústia, vou viver cada um deles agradecido por saber que, do
outro lado, ela me espera também.
Capítulo 39 - Summer Campbell

OUTUBRO
UM MÊS DEPOIS
TORONTO, CANADÁ

O café já esfriou depois que Aileen me chamou umas cinco vezes para ir beber e eu não
fui. Estou tentando terminar a todo custo o último quadro da fila de espera da galeria de Betty.
Ela me convidou para fazermos uma pequena exposição de algumas obras lá no café.
Para que aconteça, terei que me dedicar quase que integralmente a isso, caso contrário não
conseguirei cumprir meu prazo, no fim do ano.
Os dias por aqui têm sido agitados. De manhã, vou para o curso. À tarde, produzo.
Assim, faço com que meus dias não sejam tão difíceis ou, pelo menos, que eu consiga fingir não
serem.
Quase sessenta dias sem ver Theo.
Quase sessenta dias sem acordar com seus beijos, seus carinhos, seu cheiro. Seu amor.
Tudo o que tenho dele são chamadas de vídeo em que tentamos atualizar a vida um para
o outro enquanto ele está em Monte Carlo ou com algum tempo dentro de um quarto de hotel ou
no motorhome.
Precisei contar tudo para Logan, desde o dia do clube até minha forçada demissão da
equipe de Savard. Ele aceitou o cargo até o fim da temporada e, mesmo sofrendo muito nas mãos
de Pedrosa, sabe que não tem nem metade desses problemas cuidando de Theo. No que posso,
ajudo-o, mas decidi de uma vez por todas que pintar é o que eu quero para mim.
Durante esse tempo, Joshua me procurou. Não uma, não três, não cinco, mas exatas vinte
e sete vezes. Fosse com números novos de telefone, fosse parando na porta do meu prédio ou me
seguindo na rua. Depois de todas aquelas barbaridades, ele queria “conversar”. Conversar o que,
afinal de contas?
Na última vez, fui pessoalmente à sede da Savard e pedi para falar com Derek. Disse ao
irmão de Theo que, caso seu filho continuasse com essa perseguição, eu mesma iria para a mídia
contar que ele estava agindo feito um stalker. Ele não está doido por um escândalo nos
envolvendo? Tenho um pronto para lhe dar.
Derek me garantiu que Joshua não me importunaria mais e, pelo menos até agora, dez
dias depois, ele realmente não apareceu.
Theo nem sabe disso e vai continuar sem saber. Ele e o sobrinho não se falam desde
aquela conversa, e não preciso preocupá-lo com isso. Tudo o que me importa agora é que ele
possa finalizar a temporada como sonha, o que não está muito difícil de acontecer. Dependendo
dos próximos resultados, Theo pode se sagrar campeão mundial ainda antes do final do ano.
Estamos a cerca de uma hora do GP dos Estados Unidos e Aileen saiu para comprar
algumas bobagens junto com cervejas para que vejamos juntas. Minha amiga, como sempre, tem
sido uma companheira incrível nesse tempo todo. Ela me dá colo quando o choro é impossível de
controlar e faz qualquer coisa para deixar meu ânimo lá em cima, tipo repetir nossos episódios
preferidos de Sen Çal Kapimi só para que a beleza de Serkan Bolat me distraia. Isa, nossa amiga
brasileira que nos apresentou a série turca, voltou para a cidade há umas três semanas, e está
vindo para cá assistir à corrida com a gente.
Concentro-me enquanto faço as folhas da árvore com cuidado. O sol que vem da janela
me dá a exata iluminação de que preciso para trabalhar o fim desta tela.
Às vezes, pintando na minha sala, me lembro de que não tive nem tempo de usar o ateliê
que Savard montou para mim na sua casa.
Paro um pouco, encarando a tela inacabada.
Desde que meu trabalho viralizou através de Theo, ganhei com minhas pinturas o que não
ganhei em dois anos expondo. E agora as pessoas querem de qualquer forma saber quem é que se
esconde por trás do nome Sunshine Raye. Não sei se ainda estou pronta para isso, mas é o que
Savard me incentiva a fazer todas as vezes que nos falamos.
O interfone toca, eu largo a paleta e o pincel para atender. O porteiro diz que há uma
entrega de flores para mim. Peço que a pessoa suba.
Quando o simpático entregador chega até meu apartamento, coloca em minhas mãos um
enorme buquê de rosas vermelhas e brancas.
Começo a rir sozinha antes de agradecer e finalmente fechar a porta. Pego o bilhete mais
do que depressa.

Para a mulher que colore os meus dias, mesmo de longe.


Sinto sua falta. Muita falta, meu raio de sol!
São exatos cinquenta e sete dias daqui até o momento em que o mundo saberá que sou
completamente apaixonado por você.
E, mesmo que talvez eu não mereça, você resolveu me esperar.
Você decidiu me amar.
Obrigado por isso, meu bem.
Obrigado por ser a parte mais bonita de tudo o que eu sou.

Com todo amor do meu coração,


Seu Theo.

Fico sentada no meu sofá e leio o bilhete centenas e centenas de vezes, todas elas
sorrindo. Sozinha em casa eu posso ouvir o som do meu coração acelerado ecoando por toda a
sala.
Como eu amo você, Theo Savard! Como eu amo você!
A porta se abre e vejo Leen e Isa entrarem, rindo alto e jogando conversa fora. Quando
elas percebem as flores no meu colo, Isa grita:
— Parece que tem um certo piloto bem apaixonadinho por aí, não é mesmo, Leen?
— Espero que seja dele mesmo e não do maluco do sobrinho dele — minha melhor
amiga comenta e eu faço uma careta.
— Se ele achou esse tempo todo que intimidou a mim e Theo com suas ameaças, é bom
que saiba que também não blefei com o pai dele quando disse que coloco minha boca no mundo
se chegar perto de mim outra vez.
Elas sentam-se ao meu lado no sofá.
— Pelo menos uma de nós já encontrou seu Serkan Bolat, não é? — Aileen brinca
enquanto eu gargalho.
— Eda Yildiz ganhou uma estrela, Summer Campbell duas noites em um iglu de vidro
assistindo a aurora boreal… O mundo realmente não é para homens amadores. — Isa faz uma
cara de choro e completa: — Que é o tipo que tenho encontrado por essa vida até agora.
— Já, já, o de vocês está batendo à porta também, vocês vão ver. — Eu me levanto, indo
em busca de um jarro onde possa colocá-las. As duas começam o movimento na cozinha para
nosso momento Theo Savard na TV e eu junto minha tela e as coisas de aquarela, colocando tudo
em um cantinho.
Savard vai largar na segunda posição e a expectativa está em saber se Armstrong, que
também tem feito um campeonato exemplar até aqui, conseguirá manter sua pole position.
— Ainda não falei, mas amei o corte novo! — minha amiga brasileira grita da cozinha
enquanto mando uma mensagem para o telefone de Theo.
Eu: Eu te amo e te esperaria pela vida toda se fosse preciso.
Contando todos os segundos daqui até cinquenta dias. Mal posso esperar por esse
momento.
Vai lá e mostre ao mundo por que você é o maior dos maiores.
Da sua, sempre, Summer!
Mexo nos cabelos, agora um pouco acima dos ombros.
— Estava precisando mudar um pouco. Foi ontem.
— Ficou incrível, eu disse a ela — agora é a voz de Aileen que soa de lá.
Savard ainda nem viu, mas espero que goste.
Me fez, de algum jeito, me sentir um pouco mais feliz. Era o corte que a minha mãe
usava.
Já com a transmissão na TV e os bastidores rolando, as meninas voltam com um balde de
KFC e as cervejas abertas.
O repórter passa pelo paddock entrevistando convidados, pessoas estratégicas das
equipes, e ao fundo vejo Savard conversando com Jackson, Wisbech e seus engenheiros-chefes.
Ele sorri, feliz, com aquele brilho que é próprio dele.
— Meu Deus, Summer! Você por acaso acorda todo dia e agradece a Deus por namorar
um dos homens mais bonitos do planeta? — Isa me cutuca e nós três rimos.
— Todos os dias, eu juro. Mas agradeço principalmente por, além de lindo, ser o humano
mais incrível que eu já conheci.
Elas olham uma para a outra e sorriem.
— Ai, como ela é romântica! — Aileen me cutuca com o ombro enquanto levo um
pedaço crocante de frango até a boca, rindo alto.
Minutos depois, os pilotos se preparam para a volta de aquecimento dos pneus e motores.
Theo ziguezagueia tranquilamente pela pista atrás de Sebastian, com Jackson na P5.
— Vamos lá, cunhado. Arrasa! — a ruiva ao meu lado grita e Isa se anima.
— Bora, Pole!
E, em uma prece silenciosa, digo:
— Vai, amor! Vai dar tudo certo. — Respiro fundo quando eles voltam para a formação
do grid.
Quando as luzes vermelhas se acendem, eles largam.
Meu coração bate tão rápido como se eu estivesse ali, em Austin, no Texas.
Sebastian está em vantagem de 0.5 segundos e Theo não arreda o pé, colando na traseira
do amigo.
Deixando os outros para trás, a briga entre os dois começa. Sei o quanto é importante
para Seb manter sua pole, mas ele e todo mundo sabem que Theo está vindo com tudo, o que me
deixa um pouco preocupada. Em qualquer uma das suas corridas só consigo respirar aliviada
quando Savard já tomou a frente e em todas as ultrapassagens eu fecho os olhos. Não tenho
coração para essas coisas.
Entrando na segunda volta, ele vê sua primeira oportunidade de passar na frente do piloto
da Romanus e força um pouco mais para que, na curva, Arm seja obrigado a deixá-lo passar.
Abaixo a cabeça para pegar a cerveja que deixei no chão, perto do meu pé, quando escuto:
— Savard sai com velocidade da pista, Joe. Ele bate na mureta de proteção… Meu Deus,
que cena forte!
Levanto o rosto imediatamente, a tempo de ver a frente do carro de Theo ser
completamente destruída pela força do impacto.
— É nítido que ele teve problemas para controlar o carro. Theo confiou na frenagem no
momento errado? Veja de novo como ele entra na curva em busca da ultrapassagem muito mais
acelerado do que deveria.
E assim, em câmera lenta, assisto ao Theo Savard passar direto da pista para se chocar
bruscamente com a barreira de proteção.
Sinto o exato momento em que meu coração para de bater.
Fico de pé imediatamente e tudo em volta de mim torna-se um grande borrão. Isa e
Aileen me sacodem, eu sinto, mas não consigo responder. Não consigo verbalizar.
Tudo em mim parece dormente, enquanto meus olhos, grudados na tela da TV, assistem à
cabeça tombada de Savard ainda dentro do cockpit.
Isso é uma mentira. Isso só pode ser mentira.
Por favor. Isso precisa ser uma mentira!
Os comissários de pista aparecem imediatamente, tapando tudo em volta dele.
A TV não para de falar seu nome e tentar focar as câmeras nas brechas que a equipe
deixa para poderem filmar a real situação.
Eu não posso ver isso.
Viro o rosto no exato momento em que o choro toma conta de mim e eu grito.
Grito alto, tão alto, que as duas me abraçam e começam a chorar junto comigo.
Sinto que meus pulmões expulsaram todo o ar de dentro deles e meus olhos vão para a
mesa com o vaso das rosas.
São exatos cinquenta e sete dias daqui até o momento em que o mundo saberá que sou
completamente apaixonado pela mulher mais linda de todo o planeta.
As palavras ecoam na minha cabeça, enquanto meu corpo inteiro treme.
— É, Steve. Ao que tudo indica, Theo Savard está desacordado. A equipe médica está
chegando ao ponto do acidente para fazer a remoção do piloto até o helicóptero, como é regra
para casos assim. Que momento tenso e angustiante para a história da Fórmula 1. Pole
Position, um dos maiores recordistas do esporte, no ano da sua despedida, em um acidente
dessas proporções. Todas as nossas orações para ele neste momento. Que tudo fique bem!
— Me digam que é mentira. Por favor. Me falem que eu não ouvi isso! — peço
desesperada, e as duas me apertam o máximo que podem.
— Estamos aqui, Sum. Estamos aqui — a voz chorosa de Aileen tenta me consolar.
Mas ela não diz que é mentira.
Ela não quer me enganar, como eu mesma quero.
— Preciso ir para lá. — Empurro as duas, que relutam em me soltar.
— Calma, Summer. A gente não sabe o que aconteceu ainda — Isa, em sua tentativa vã
de me acalmar, diz.
Balanço a cabeça negando, indo em direção ao meu quarto.
— Por favor, se vocês me amam, encontrem a próxima passagem para Austin! Vou pegar
minhas coisas. Qualquer preço.
No automático, pego a primeira bolsa, enfio qualquer roupa que vejo pela frente e me
visto de um jeito que, tenho certeza, não combina nada com nada. Mas não me importa. Não
estou nem aí.
Preciso estar com ele.
Preciso que Theo esteja vivo.
Ele não pode me deixar aqui sozinha. Ele não pode me abandonar assim.
Deus, por favor. Não faz isso comigo!
Capítulo 40 - Theo Savard

Por que eu ouço bipes?


Tento abrir os olhos, mas tenho a sensação de que estão colados. Eles simplesmente não
conseguem fazer o movimento que deveriam.
Ouço vozes, mas não faço ideia de quem sejam. A sensação horrível de estar em uma
paralisia do sono me atinge.
Que merda está acontecendo aqui? Onde estou?
— Estamos falando de uma concussão. O impacto da batida foi muito forte, Sra. Savard.
Ele teve sorte de não ser algo pior. Seu filho não vai demorar a despertar, fique tranquila. Agora
precisamos monitorá-lo e seguir com os exames para descartar qualquer outro tipo de problema.
Mãe?
Eu me esforço o máximo que consigo para abrir, finalmente, os olhos. E, quando faço
isso, vejo-a parada à minha direita junto de um homem de branco à esquerda. Um médico, com
certeza.
— Ele acordou! — ela é quem fala. — Depois de tanto tempo, Theo, me aprontar uma
dessas? Você pode ter quarenta e um anos, mas eu ainda sou sua mãe, portanto saiba que, quando
sair dessa cama, eu vou te bater, e ninguém vai me impedir! — Ela está muito agitada.
— Senhora Salma, te peço calma — o médico repreende. — Oi, Savard. Sou o Dr.
Warner. Consegue me ouvir?
— Sim — balbucio, tentando me mexer e sentindo o corpo completamente dolorido.
Puta que pariu! Por que eu estou aqui?
Ele pega sua lanterna e examina meus olhos.
— Você sabe onde está?
— Pelo visto, em um hospital — é meio óbvio.
— Digo, em que lugar do mundo, por qual motivo?
O telefone da minha mãe toca e ele pede a nós um momento. Olho para o médico outra
vez.
Esforço-me para pensar onde pode ser, e a única lembrança que vem a minha cabeça é de
um barulho ensurdecedor, misturado com medo.
Muito medo.
É uma sensação estranha, mas não sei dizer exatamente qual.
Volto à realidade quando vejo a mão do médico na frente dos meus olhos.
— Savard, vou repetir, sabe onde está?
Confuso, começo a ver alguns flashes na minha frente.
As rosas que pedi que Norman escolhesse.
Meu raio de sol.
Austin, Texas, EUA. P2. Tentativa de ultrapassagem.
Escuto minha mãe dizer:
— Ele acordou, Derek.
E de repente vejo a cena mais desesperadora da minha vida na minha frente: a barreira de
proteção diante dos meus olhos, e tudo ficando escuro.
— Puta merda! — grito. — Eu me fodi assim? — Tento me levantar da cama, mas o
doutor e a enfermeira que aparece logo em seguida tentam me segurar.
Logan entra na sala em seguida.
— Calma, Theo.
— Estou em Austin. Eu bati, não é? Logan?
— Está tudo bem. Você fez uma frenagem tardia — meu assessor tenta me acalmar,
falando baixo, mas a sua cara me entrega de que é pior do que estou imaginando. — Achou que
Seb ia ceder na curva oito com você na cola dele. Seu carro foi direto para o muro — tenta me
tranquilizar.
Passo as duas mãos pela cabeça sem acreditar que fiz mesmo essa bosta. Porque agora eu
me lembro, e na verdade nem sei por que tentei isso, eu teria outra chance na próxima curva se
mantivesse os 0.3 segundos de distância dele.
— Ferrei com o carro, não é?
— Completamente. — Respira pesado, o telefone sem parar de tocar. — Mas você está
vivo, isso é o que importa agora, Savard. Nunca mais na sua vida me faça passar por um susto
desses! — Coloca a mão no peito e parece que volta a respirar como se não fizesse isso há horas.
— Você está na frente, não precisa colocar sua vida em risco!
— Vamos te levar para alguns exames agora, Savard. — Recebo o aviso do doutor.
— Vou avisar Wisbech e Samantha. Precisamos soltar uma nota junto com o hospital. —
Logan começa a digitar freneticamente no telefone e vai em direção à porta.
— Eu estou bem. Me deixe sair daqui — reclamo, tentando outra vez me levantar.
— Fique bem aí. — Aponta o dedo na minha cara. — Se te acontecer alguma coisa,
George me esfola — e sai.
Tombo a cabeça de volta na cama e respiro fundo, sabendo que não vou ter muito o que
fazer, a não ser obedecer.

Depois de uns seis exames, estou com minha mãe, Logan, Jackson e Wisbech no quarto,
que chegaram após a corrida. Derek já ligou, no mínimo, umas dez vezes, e em todas elas pediu
para falar comigo e ter certeza de que estou vivo. No fim das contas, com todos os problemas
que tivemos por causa de Joshua, nosso sangue fala mais alto.
Segundo meu assessor, a imprensa inteira está na porta do hospital. A assessoria da
McLean o está ajudando, já que é impossível que ele cuide de tudo sozinho.
Segundo os exames, não quebrei nada, nem tive nada grave na cabeça, mas o impacto da
batida deixou suas marcas pelo meu corpo, ainda que os carros sejam muito bem preparados para
esse tipo de colisão.
— Você está de verdade se sentindo bem, Pole? — Wisbech está visivelmente perturbado
com minha batida.
Eu sei o que é assistir a alguém colidir daquela forma. É a pior sensação que se pode ter
quando está neste meio.
— Estou, George. Fique tranquilo.
— Você quase me matou do coração, porra! — Jackson está em completo pânico. —
Foram os piores minutos que eu já vivi na vida. Você não se mexia. — Meu companheiro de
equipe faz uma careta e balança a cabeça, parecendo espantar os pensamentos.
— Fui completamente amador naquela hora. E eu assumo. Como Seb está?
— Apavorado feito Jackson. Feito todo mundo, na verdade — Wisbech é quem diz. —
Bom, agora precisamos que você descanse.
O telefone de Logan toca. Ele sai de perto de nós por alguns segundos e volta, com uma
cara reticente.
— Savard…
— O que foi?
— … A Summer. Ela… Ela está aqui.
Quando Logan diz o nome dela, a máquina de monitoramento avisa que meu coração
imediatamente acelera. Ninguém me deixou pegar em um telefone, falar com ela ou ter qualquer
notícia.
— Deixem-na entrar. E, se puderem me deixar a sós com ela alguns minutos…
Enquanto fazia tantos exames, com tempo de sobra para pensar na merda gigante que eu
havia feito, eu consigo me lembrar, as únicas coisas que vinham até mim enquanto sabia que em
poucos segundos iria colidir, era a minha mãe, o filho que não conheci e Summer Campbell.
A dor que carrego pelo filho que Louise e Mark tiraram de mim, misturada com a
saudade dilacerante de Summer, fez daquele momento ainda pior. O pensamento que me abraçou
era de que eu ia morrer sem realmente ter vivido as coisas que eu sonhei em viver.
Ser pai.
Ser o marido dessa mulher.
— É claro. — George bate de forma leve no meu ombro e pisca para mim.
Todos eles saem, até que surge tudo o que eu mais quis ver nos últimos dois meses,
diante dos meus olhos. O sorriso que eu dou não combina com o rosto vermelho e inchado de
Summer. Ela joga a bolsa na cadeira ao lado da porta e vem correndo na minha direção.
— Por que você fez isso comigo, Theo? — Volta a chorar e me abraça.
Agarro Summer enquanto sinto dor por todos os lados, mas, porra, eu não me importo. É
ela aqui. Ela está aqui.
Seguro seu rosto e faço com que me olhe. Enxugo com os dedões as lágrimas que caem.
— Você cortou o cabelo, baby. Está linda!
Ela ri, mas cai no choro de novo.
O cheiro dela.
Os olhos.
A boca.
O toque.
Tudo nela faz meu coração disparar outra vez.
De repente, eu sinto como se a vida brotasse de novo por cada célula do meu corpo.
— Estou falando sério com você! — ralha e eu rio.
Linda demais.
— Me desculpe, amor. Eu não pensei. Fiz tudo completamente errado ali.
— Você podia ter… — Summer arfa e não consegue terminar. — Não consigo nem
pensar nisso. Graças a Deus que você vai se aposentar.
Minha gargalhada enche meu peito e eu toco seus cabelos. Os olhos de Summer se
fecham e ela deita o rosto na minha palma.
— É pecado dizer que quase morrer, agora, está me fazendo muito feliz? Você está aqui.
— Vai se ferrar, Savard! — Summer me olha chateada. — Eu quase tive um negócio na
sala da minha casa assistindo àquilo. Nunca senti tanto medo!
— Me perdoa por isso. Prometo que nunca mais vai acontecer.
Ela respira fundo, tocando meu rosto, minha barba, olhando cada detalhe.
— Você está bem? De verdade?
— Estou. Preciso de repouso por três dias, mas já estou liberado para o GP do México.
Vamos em frente, o campeonato está quase aí.
Summer olha para baixo, depois me encara outra vez.
— Sei que eu não deveria ter vindo assim. Mas fiquei completamente desesperada. Eu
precisava te ver vivo. Deixei Isa e Aileen completamente malucas. Nunca cheguei tão rápido em
um aeroporto.
— Chega disso tudo, Summer. — Puxo o corpo, sentando melhor na cama do hospital.
Dou espaço para ela e bato com a mão ao meu lado. Relutante, demora a se sentar aqui, depois se
deita comigo. Envolvo minha garota em um abraço e ela contorna meu corpo com cuidado,
deitando a cabeça no meu ombro. — O que é que estamos fazendo com a gente? Do que
precisamos nos esconder? Joshua vai aprender a lidar com as frustrações, nós dois vamos encarar
de frente qualquer rótulo que tentarem nos colocar, e o mundo vai saber que não pode existir
nada de errado em amar alguém como eu amo você.
Ela levanta o rosto em direção ao meu enquanto funga.
— Repete?
— O que, meu bem? — Aliso seu rosto, sentindo a pele macia de Summer com a ponta
dos meus dedos.
— Que você me ama.
O riso nasceu automaticamente nos meus lábios.
Como senti saudades, porra!
— Eu te amo, Summer Campbell. Eu te amo pra caralho!
Seus lábios tremem enquanto sinto seu coração bater acelerado demais.
— Você tem certeza disso? Está pronto mesmo para as consequências do que está por
vir?
— Summer, eu quase morri hoje. E, se eu morresse, teria deixado de viver sessenta dias
ao seu lado por causa de páginas de fofocas e uma reputação que não me preocupa. As pessoas
sabem quem eu sou. O que eu tinha que mostrar sobre mim, mostrei durante dezesseis anos,
conquistando pole atrás de pole, subindo em pódios, levantando troféus de mundiais. Por que
acha que quero perder mais tempo? Eu não sei o dia de amanhã, mas, se ele for o último da
minha vida, quero a garantia de que vou vivê-lo ao seu lado.
Os olhos dela sorriem para mim antes mesmo dos lábios. E, quando eles se juntam aos
meus, com cuidado, sinto que agora estou completamente em paz.
— Eu te amo. Nunca vivi dias tão angustiantes assim!
— Melhor do que ninguém, eu sei — brinco com seu cabelo de corte novo e beijo a ponta
do seu nariz.
— Acho que sua mãe está esperando alguma coisa lá fora. Ela me olhou de um jeito
como quem sabe que algo está acontecendo aqui dentro deste quarto — comenta e eu rio.
— É porque ela sabe mesmo.
Summer se apavora.
— Como assim, Theo?
— Eu não escondo nada dela. O que posso te dizer é que ela ficou muito feliz em saber
que você é sua nova nora.
— Ela não disse nada, nada? — pergunta, desconfiada.
— Disse o que a gente já sabe: que eu tenho bom gosto.
Summer ri alto e balança a cabeça.
— Engraçadinho!
— Agora temos que contar ao seu pai. Mas precisa ser frente a frente.
— Você vai pessoalmente dizer ao velho Campbell que está namorando sua filha?
Arqueio uma sobrancelha e confirmo com a cabeça.
— É claro que eu vou. — Não sei por que isso é uma dúvida para ela. — Assim que eu
ficar de pé e sair deste lugar, vamos direto a Halifax.
Ela tenta prender o sorriso, mas não consegue.
— Nunca tive tanta raiva de você e te amei na mesma proporção, Pole Position!
— Não tem aquela frase clichezona que diz: me ame quando eu menos merecer, pois é
quando eu mais preciso? — brinco e ela ri tanto, que se sacode.
— Sou capaz de fazer isso para o resto da vida facilmente!
— E o mundo achando que eu tenho sorte porque acumulo poles e títulos… Eles não
sabem de nada.
Summer traz a boca de volta a minha e eu seguro seu rosto, reivindicando o que é meu
por direito.
Sem mais distâncias. Sem mais espera.
A minha vida é agora. Não tenho tempo para perder enquanto tudo de que eu preciso está
aqui, literalmente nos meus braços.
E assim vai ser, para sempre.
Não nasceu ainda quem vá me dizer que não.
Capítulo 41 - Theo Savard

OUTUBRO
UMA SEMANA DEPOIS
TORONTO, CANADÁ

Depois de quase uma hora gravando o vídeo sem parar, o cara que Logan arrumou para
me ajudar se despede. Ele me prometeu que isso ficará pronto e irá para minhas redes sociais na
hora que eu preciso.
Combinei de pegar Summer às oito da noite em sua casa, então tenho meia hora até lá.
Enquanto arrumo a gola da camisa e encaro o espelho, ajeitando o cabelo pela última vez,
a campainha da minha casa toca.
Se não houve interfone da portaria, não é alguma visita de fora.
Desço as escadas de dois em dois degraus e atravesso a sala rapidamente.
Assim que abro, deparo-me com um Josh cabisbaixo, com as mãos nos bolsos de trás da
calça. Seu olhar sobe e encontra o meu. Nós dois ficamos alguns segundos em silêncio, até que
ele aponta para o lustre da sala e diz:
— Vi que a luz estava acesa, achei que pudesse te encontrar aqui.
— Boa noite, Joshua — cumprimento e aponto para dentro. — Entre.
Ele ainda não tem certeza se quer. Percebo pelos seus pés, que vacilam entre dar um
passo para a frente e continuar onde estão. Por fim, decide seguir em frente.
Fecho a porta e nós dois andamos devagar até o sofá que está perto da lareira. Eu me
sento e espero que ele faça o mesmo. Meu sobrinho escolhe o canto mais longe de mim para
fazer isso.
Ainda olhando para baixo, sua respiração é um pouco forte e ele mexe com o maxilar de
um lado para o outro enquanto eu só observo. Então, ele diz:
— Eu assisti àquele acidente umas duzentas vezes.
Encosto devagar as costas no sofá.
Não me surpreendeu que ele não me ligasse, não tivesse me procurado e nem mandado
uma mensagem. Não pensei que sairia da sua posição, porque isso traria a mim a impressão que
acabo de ter: Joshua está, de alguma forma, cedendo.
— É, foi feio. Um milagre ter saído inteiro daquilo bem com um pico de impacto de 62G
registrado no ADR[15].
Ele vira o rosto na minha direção e me parece angustiado.
— Você poderia ter morrido, Theo. Por que fez aquilo? — E, de angústia, agora ele
parece ter raiva.
Foi o que todo mundo teve de mim em algum momento depois do acidente.
— Eu calculei errado a frenagem. Foi realmente algo que eu poderia ter evitado, sei
disso. Não me orgulho da decisão errada que tomei ali.
Josh se levanta e esfrega o rosto, depois coloca as mãos na cintura.
— Porra! — grita, puto. — Você é maluco.
— Um pouco, às vezes. — Sorrio. — Fico feliz que você tenha vindo.
Porque realmente fico.
Seus olhos me encaram de lado e ele olha para baixo outra vez.
— Pensei muito antes de fazer isso, na verdade. — Meu sobrinho começa a estalar os
dedos, ansioso. — Olha… Não sei como começar essa conversa.
— Comece pelo começo, Joshua — incentivo. — Fale o que precisar falar na ordem que
faça sentido na sua cabeça.
— Você consegue me entender? — Aponta para o próprio peito, agora de frente para
mim. — Em algum momento disso tudo você se colocou no meu lugar?
— O tempo inteiro. Não houve nada que eu tenha feito além de pensar em como você se
sentiria, Josh. Desde o primeiro minuto, desde quando percebi que Campbell mexia comigo, essa
era a minha preocupação. Mesmo que eu soubesse que não estava traindo ninguém, o que foi,
para mim, difícil de aceitar também.
— Sei que ela não me prometeu nada, está certo? — Fecha os olhos e respira
pesadamente, com dificuldade. — Sei que em momento algum Summer me disse que aquilo era
um tempo, que eu poderia esperar por algo, ou o que quer que seja. Eu fui atrás todas as vezes,
mandei mensagens, insisti, apareci de surpresa em Mônaco, sei disso tudo. Mas eu sou homem!
Não é fácil aceitar que sua ex-namorada, na verdade, prefere seu tio a você!
— Tudo bem, você tem seu direito de sentir. Ninguém está aqui para te dizer o contrário.
Mas não é sobre preferir, Joshua. Ela não olhou entre nós dois e tomou uma decisão — tento
explicar com calma para que isso não se torne outra vez uma briga sem a menor necessidade. —
Summer e eu nos encontramos. E teríamos nos encontrado de qualquer jeito, fosse por você ou
não. Assim como não escolhi entre ela e você. Summer é a mulher com quem estou, você é meu
sobrinho e melhor amigo. São coisas que não se misturam, mesmo que a situação seja mais
complexa do que o normal.
— Talvez vocês todos tenham razão quando dizem que sou imaturo, que só penso em
mim... — Balança os ombros. — Posso ser assim, mas não tenho um coração ruim, você, melhor
do que meu próprio pai e minha mãe, sabe disso. Mas é difícil aceitar essa situação dentro da
minha mente. Pensar que vocês dois… — Ele sacode a cabeça e aperta os olhos com força. —
Enfim. Não consigo achar certo ainda, concordar... Summer não é a mulher que eu quis de volta
por amar, mas sim por estar com o ego ferido por ter sido chutado, jogado de lado. Eu assumo.
— Balança os ombros e volta a gesticular. — Somos completamente diferentes e, para ser
sincero, eu sempre soube que não temos nada a ver um com o outro. — Ainda assim, ela é a
mulher mais linda que eu já conheci, Theo. — Seu sorriso não é irônico e nem provocativo. É
sincero. — Onde eu passava com Summer, as pessoas paravam para olhar. Todo mundo prestava
atenção no que ela dizia, porque tem essa coisa que você sabe muito bem. — Bate com o pé
algumas vezes, tentando aliviar o nervosismo. — Summer é magnética. Ela tem uma luz que é só
dela. Essa mulher parece um sol, ela brilha. E eu não queria perder isso. Não queria aceitar que
não merecia sua atenção, seu tempo. Para mim, não era justo que Summer Campbell não
quisesse Joshua Savard.
É bom que ele consiga entender isso com clareza.
Talvez Josh não perceba, mas está dando um grande passo aqui.
— É um direito dela, Joshua. Assim como um dia pode decidir que não quer mais estar
ao meu lado também. Não temos que achar justo ou não. As pessoas são livres para escolher
onde deixar seu coração repousar.
Fico de pé e olho para o meu relógio.
Meu sobrinho apenas concorda, segurando o ar na boca, depois soltando devagar.
— Vocês estão juntos, não é?
— Sim. Estamos. Vou assumi-la e, de verdade, Joshua? Quem me convenceu a não ir em
frente, enfrentar você e quem mais precisasse, foi ela. Porque Summer sabia que isso não seria
um problema só para minha carreira em um ano com tanto significado, mas para a equipe da
McLean, para a própria Savard, o seu pai, a sua fortuna. Por mim, as pessoas podem fofocar e
interpretar as coisas da forma que pretenderem, Summer, eu e você sabemos a verdade.
Envergonhado, seus olhos voltam a olhar para o chão.
— Sim, nós sabemos — admite. — Eu amo você, Theo. — Agora me olha nos olhos —
Aquele acidente… — Ele passa a mão pelos cabelos, parecendo apavorado. — Eu vi você
morrendo ali. Em todas as vezes, eu te vi morrendo, eu juro. Nunca fiquei tão fodido da cabeça
como estou agora. Eu senti uma vergonha absurda. Um medo do caralho de te perder. As
melhores lembranças que tenho da minha vida inteira são com você. De todas as vezes que se
esforçou para me ver sorrindo, feliz. Todas as outras em que me acobertou quando eu fiz merda e
quando me defendeu do meu pai e eu nem merecia ser defendido. — Ri e coça a barba. — Não
tenho orgulho do murro que te dei e de tudo o que falei aquele dia. Não disse também que sinto
muito pelo seu filho. — Concordo com a cabeça em um gesto de agradecimento. — E que,
mesmo caindo completamente no que Mark desejava que eu fizesse naquele momento, não acho
que você merecia passar por isso. Falei da boca para fora. Falei com raiva. Nunca desejei seu
mal, nem de Summer. Quem sou eu para dizer que vou acabar com a vida de vocês, porra! — Ele
bufa, frustrado. — Ainda é muito para mim ter que conviver com os dois juntos, fingir
naturalidade. — Abre os braços, como quem pede desculpas. — Espero que você me entenda.
Mas não desejei aquilo, Theo. Deus sabe que eu nunca desejei que te acontecesse algo. Me
perdoe por essa merda toda. Caralho, me perdoa.
Puxo Josh para um abraço, porque acho que, agora, é do que ele precisa.
— Calma, cara. Eu tô aqui. E está tudo certo. Eu também amo você. Nada mudou para
mim, nunca vai mudar. Você é o meu garoto, sempre será. Não se obrigue a aceitar enquanto seu
coração ainda não é capaz disso. Peço apenas que respeite, assim como eu e ela vamos te
respeitar, sempre.
Os dedos de Josh apertam minhas costas com força. Nunca recebi um abraço dele como
este agora. Acho que meu sobrinho quer se certificar de que eu realmente estou aqui, de que
aquele acidente não me custou a vida. De que a gente pode, de alguma forma, recomeçar nossa
história.
Quando nos soltamos, ele limpa o rosto e funga, tentando me dar um sorriso que disfarce
as lágrimas.
— Bom, eu preciso ir agora. — Aponta para a minha porta.
Concordo com a cabeça e bato nas suas costas, caminhando devagar com meu sobrinho
até lá.
Muita coisa ainda precisa ser dita, com calma, eu sei. Mas vamos ter tempo para isso.
Uma vida inteira.
— Espero te ver em breve — comento enquanto giro a maçaneta.
Josh passa para o lado de fora e se vira na minha direção.
— Resolvi tirar do papel aquela brincadeira de estudar na França. Devo me mudar para
Paris na semana que vem. No fim das contas, não há como ser um grande homem sem ter um
verdadeiro propósito.
Meu sorriso se abre quase que instantaneamente e eu aperto seu ombro, orgulhoso.
— Você nunca se arrependerá de ir em busca de ser a melhor versão de você, Joshua
Savard.
Ele concorda, meio sem jeito, e diz:
— Andei procurando a Summer por um tempo, mas ela me bloqueou, com razão. — Ele
procurou Campbell? Eu não sabia. — Diga a ela que sinto muito? E que se um dia ela quiser
conversar e me ouvir… Vou ficar feliz.
— Darei o recado. Fique tranquilo.
Ele me dá um último sorriso e começa a descer as escadas, mas para no meio do caminho
e fala:
— Estarei em Abu Dhabi.
Minha última corrida.
Como sempre sonhamos que seria. Encerrar minha carreira sem Joshua ao lado seria
estranho. Não foi isso que combinamos por uma vida inteira.
— Leve sua garota — convido. Meu sobrinho sorri para mim e nega com a cabeça.
— Não estamos mais juntos. Estava com ela por motivos errados, não era justo.
Bom, por essa eu não esperava, mas confesso que me sinto orgulhoso.
Concordo com a cabeça e aceno antes que ele, enfim, se vá.

Summer Campbell

Assim que atravesso o portão do prédio, um lindo, cheiroso, incrivelmente sexy e


irresistível Theo Savard está me esperando. Ali, parado, com um sorriso no rosto.
— Boa noite, Theo Savard.
Ele se aproxima dois passos de mim, seu cheiro delicioso invadindo meus sentidos, e eu
mordo os lábios por dentro, de tão rápido que meu coração bate.
Estivemos em Halifax essa semana. Alex não esteve presente, mas Theo e eu
conversamos com ele por telefone depois.
Savard disse ao meu pai que estava ali para lhe garantir que cuidaria de mim como devo
ser cuidada. Que se apaixonou, antes de tudo, pelos meus valores, e que sabe que isso é fruto da
criação cheia de cuidado e afeto que ele e minha mãe deram a mim e aos meus irmãos. Que fui a
melhor coisa que já aconteceu na sua vida, e deu sua palavra de que fará tudo para que eu possa
ser feliz como mereço ser.
Eu nunca vi meu pai tão alegre daquele jeito. Donald Campbell, sempre muito durão,
ficou emocionado com as palavras de Savard e disse que tinha certeza de que eu fiz uma ótima
escolha, porque o coração de Theo transparece em cada uma das suas atitudes.
Gia e Ava não paravam de gritar, me abraçar, me fazerem rir.
Depois de todo o susto que eu passei com aquele acidente e de ver Theo sair ileso de algo
tão perigoso, ter a benção da minha família era o que faltava para eu ficar, finalmente, em paz.
— Boa noite, Summer Campbell. Você está… — e assim, na calçada, Theo pega minha
mão. Ele me faz girar nos meus pés, arrancando-me uma risada alta. — Simplesmente
maravilhosa.
Eu não sabia que roupa usar, afinal não é todo dia que você é convidada especial de
Taylor Swift para um dos seus shows! Por isso coloquei uma saia curta preta, meus tênis mais
confortáveis, uma blusa de paetê rosa-choque; caprichei nas ondas dos cabelos além de uma
maquiagem simples e discreta. Assim como prometido depois do vídeo que gravou para mim, ela
realmente pediu sua equipe que enviasse entradas para nós dois no seu show desta noite no
Scotiabank[16]. Ele ainda conseguiu mais entradas para Perry, que está indo com as amigas, e
Aileen e Isabela, que já foram para o show há algum tempo.
Elas ficaram o dia inteiro falando disso na minha cabeça. Savard já é unanimidade não só
com minha família, mas com as minhas amigas também.
As pessoas não viram com olhos estranhos a minha presença no hospital no dia do
acidente. Afinal, para todo mundo, minha relação profissional e pessoal com Savard sempre foi
muito boa. Assim, ninguém trouxe à tona algo que pudesse colocar a mira das especulações em
nós dois. Mas, depois de hoje, talvez as coisas comecem a mudar um pouco de patamar.
— Estou um pouquinho nervosa — admito enquanto sua mão desce até a minha e cruza
os dedos nos meus.
— Por quê? Está com medo de virar piada na internet de novo quando eu dançar Shake it
off do seu lado?
— Você não vai fazer isso!
— Mas é muito claro que eu vou fazer. — Sua sobrancelha sobe junto com o sorriso
delicioso. — Bom, vamos? Norman está nos esperando. — Aponta para o carro do outro lado da
rua.
— Só se for agora!
Sem medo, na rua deserta, atravessamos juntos, de mãos dadas. Theo abre a porta para
mim e entra em seguida, com o motorista e amigo me cumprimentando.
Enquanto ele dirige pelas ruas da cidade até o nosso destino, Theo diz:
— Joshua acabou de sair da minha casa.
A notícia me pega completamente de surpresa, uma vez que ele não foi capaz de fazer
uma ligação para o tio desde o acidente.
— Sério? E o que ele queria?
As pontas dos dedos de Savard brincam com meu queixo enquanto a outra mão descansa
na minha coxa.
— Resolver as coisas. Foi uma boa conversa, no fim das contas. — Vejo no seu olhar que
de fato ele está bem com isso.
— Sem gritaria, sem escândalo, sem murros?
Theo ri e afirma com a cabeça.
— Sem nada disso. Apenas um rapaz e seu tio tendo uma conversa madura e colocando
tudo em seu devido lugar.
Um certo alívio me atravessa, porque ele pode não admitir, mas eu sei o quanto estava
custando a Theo toda essa situação com Josh. Mesmo com todos os seus defeitos e que tenha
agido como nada menos do que uma pessoa completamente desprezível, no fim, sei que o
coração de Theo é bom demais para odiá-lo ou alguma coisa assim.
— Como é bom ouvir isso. — Deito a cabeça em seu ombro e sinto quando os lábios de
Theo deixam um beijo na minha testa.
Minutos depois estamos na arena, na entrada VIP. Norman abre a porta e Theo desce,
dando-me a mão para que eu saia em seguida.
Milhares e milhares de flashes são disparados em nossa direção. Theo sorri para as
câmeras, acena para os fãs que pedem por sua atenção e, quando dou alguns passos para seguir
na sua frente, ele segura a minha mão, sem me deixar soltar.
Olho para ele um pouco surpresa, com dezenas de repórteres gritando pelo nosso nome,
querendo uma palavra. Aperto a mão de Savard para que me diga alguma coisa, mas ele apenas
continua pelo corredor separado para as celebridades, gentil e cordial com a imprensa e todo o
resto.
Eu, com meu coração na boca, tento sorrir para não parecer surpresa, porque achei que
entraríamos aqui separados, sem nos tocarmos, sem segurar mãos ou qualquer coisa que dê às
pessoas o que imaginarem. Não havia combinado sobre entramos no show da Taylor Swift como
um casal.
Depois de quase cinco minutos, estamos dentro da arena, então me desespero:
— O que foi que você fez ali agora, Theo?
— Fiz o quê? — Ele me olha desentendido.
— Você segurou a minha mão na frente daquele tanto de gente, repórteres! Elas já têm
fotos nossas.
— Mas você é minha namorada, Campbell. Qual é o problema disso? — continua
andando e me puxando, como se eu estivesse falando uma bobagem.
— Qual é o problema? O problema é que eles ainda não sabiam disso! Pensei que, aqui,
era para fingir uma amizade, algo do tipo, não?
Theo para de andar e olha para mim.
— Pega seu telefone.
— O quê?
— Pega seu telefone, Summer.
Sem entender que diferença isso faz, abro minha bolsa e pego o aparelho.
Há uma notificação do TikTok na tela.
“Theo Savard acaba de postar um vídeo. Confira agora!”
Olho para ele e seus ombros se balançam. Reviro os olhos e abro o aplicativo, caindo
direto no vídeo dele.
“Arrume-se comigo para meu primeiro encontro público com a mulher da minha vida.”
No vídeo, Theo dança desengonçado, daquele jeito que os fãs dele amam, enquanto
escolhe peça por peça que está usando agora. Olho da tela para ele diversas vezes enquanto ri.
Um riso lindo. Um riso leve.
O sorriso que eu mais amo no mundo inteiro!
Abro os comentários do vídeo que foi postado meia hora atrás e lá está:
“Só eu que acho que ele e Campbell estão juntos?”
“Quem é time Savarbell aqui?”
“Diz que é a Summer, Pole! A gente shippa!”
“Meu Deus! Cadê o resto da fofoca inteira, homem?”
“Ele postou mais cedo que está indo para o show da Taylor em Toronto, a Summer
também! AAAAAAAAA! Está vindo aí???”
Theo Savard está me assumindo para o mundo. Meu Deus do céu!
— Chega de nos esconder, raio de sol. — Suas mãos me puxam pela cintura e eu sinto
que as pessoas ao nosso redor vão parando devagar para assistir. — Você não nasceu para ser o
segredo de ninguém. Agora todo mundo sabe que eu sou seu. Tudo em mim é seu!
Minha euforia é uma mistura de sorrisos e lágrimas e eu tapo a boca na tentativa de
segurar a emoção.
— Como é que pode existir alguém tão perfeito assim feito você, Pole? Me diz —
questiono, com o peito quase explodindo.
— Longe da perfeição, meu bem, mas, com certeza alguém melhor do que era antes de
ter você na minha vida.
Abraço seu pescoço enquanto os flashes não param.
E eu nem ligo. Agora, para mim, só existimos Theo e eu.
— Amo você, Savard!
Ele sorri e encosta o nariz no meu, nossos olhos conectados.
— Eu te amo mais, Sunshine Raye — brinca com meu pseudônimo e comenta baixinho.
— Você está preparada para isso? Porque eu vou te beijar agora e, provavelmente, amanhã todo
mundo vai saber que eu não sei me comportar muito bem quando beijo você.
Gargalho e meus olhos outra vez ficam marejados, fazendo que sim com a cabeça.
— Estou muito pronta para isso.
E quando finalmente seus lábios procuram pelos meus, eu me sinto livre.
Sinto-me inteiramente feliz, da cabeça até os pés.
Meu corpo inteiro grita “eu te amo” enquanto nossa língua se junta e tudo vira uma
bagunça em volta de nós dois.
Eu amo ser de Savard. E amo que ele seja meu.
Amo mais ainda que isso não precisa ser mais uma história não contada. Uma coisa
escondida.
O jeito como suas mãos me seguram e o calor do seu corpo se conecta com o do meu me
traz um arrepio pela espinha e aquele mesmo frio na barriga que senti quando beijei Savard pela
primeira vez, mascarada, em um clube secreto de sexo. Como eu poderia imaginar que o desejo
por uma noite com este homem se tornaria em tudo o que temos hoje?
Quando beija meus lábios pela última vez, ainda segurando meu rosto, e faz pequenas
juras de amor que só eu posso escutar, ignorando todas as pessoas que nos fotografam, assobiam
e chamam pelo nosso nome, sei o que ele está fazendo.
Do seu jeito, Theo está me prometendo que isso é para sempre.
E o para sempre, Pole Position, é tudo o que eu quero com você!
Novo amor no paddock: Theo Savard e Summer Campbell confirmam
relacionamento

O mundo da Fórmula 1 foi surpreendido por uma revelação emocionante quando o


piloto Theo Savard e sua ex-assessora, Summer Campbell, anunciaram seu relacionamento
amoroso na noite de ontem, em um show muito aguardado da americana Taylor Swift em
Toronto, no Canadá. Os dois foram flagrados chegando juntos e de mãos dadas ao Scotiabank.
Durante a apresentação, trocaram beijos, abraços, dançaram e cantaram juntos grandes
sucessos da artista, como Karma e Cruel Summer. Após dois meses da quebra do contrato de
trabalho entre eles, o casal decidiu compartilhar sua felicidade com o mundo.
Theo Savard, conhecido por sua habilidade nas pistas e seu carisma fora delas,
encontrou o amor nos braços de Summer, que fez um excelente trabalho de imagem para Pole,
como é conhecido no meio automobilístico, fortalecendo a carreira do piloto nos seis meses em
que trabalharam juntos. Sem dar detalhes sobre quando iniciaram a relação, os dois, agora,
sentem-se prontos para embarcar nessa nova jornada juntos.
Summer Campbell, uma figura respeitada nos bastidores da Fórmula 1 desde sua
chegada à equipe de Savard, no começo do ano compartilhou seu entusiasmo sobre o
relacionamento, afirmando: "Trabalhar com Theo foi uma experiência maravilhosa, e estou
animada para viver essa nova fase de nossa vida. Ele é um profissional excepcional e um
parceiro ainda mais incrível. Tenho sorte por tê-lo encontrado!"
Theo Savard também expressou sua felicidade elogiando sua agora namorada e ex-
funcionária: "Summer sempre foi uma presença indispensável em minha equipe. Sua dedicação
e habilidades foram fundamentais para o meu sucesso fora das pistas. Estou feliz por poder
compartilhar minha vida, planos e sonhos com ela. Há muito tempo não me sentia tão bem como
me sinto ao seu lado. Summer Campbell é todo o frescor de que eu precisava na vida."
Um aspecto que poderia ser delicado desse novo relacionamento é o fato de que Summer
é a ex-namorada do sobrinho mais velho de Theo, Joshua Savard, com quem o piloto tem uma
relação muito próxima. No entanto, ambos os envolvidos demonstraram respeito mútuo por
Joshua e afirmaram que todos eles estão lidando com a situação cercados de toda maturidade e
sensibilidade que ela merece.
Theo Savard anunciou sua saída das pistas para o fim deste ano e segue embalado na
busca pelo último prêmio mundial de Fórmula 1 da carreira, concorrendo de forma acirrada
com o inglês Sebastian Armstrong, da Romanus. Summer se dedica aos estudos de artes
plásticas, já que a aquarela é, de fato, sua grande paixão profissional, e não planeja voltar ao
mundo de assessorias e do jornalismo esportivo.
Capítulo 42 - Theo Savard

DEZEMBRO
CIRCUITO DE YAS MARINA - GP DE ABU DHABI

Existem alguns momentos da vida em que é possível olhar para trás e pensar que alguma
coisa poderia ter sido diferente. Em outros, temos a certeza de que tudo deveria ter sido
exatamente como foi.
É a sensação que tenho agora, aqui parado olhando para os meus dezenove companheiros
de competição. Enquanto a arquibancada inteira grita por mim, eles fazem um corredor para que
eu possa, oficialmente, me despedir da Fórmula 1.
A minha casa por incríveis dezesseis anos.
Sem dúvida alguma, o lugar ao qual pertence a minha alma.
Junto, claro, do coração de Summer Campbell.
Eles me saúdam com aplausos e eu, embargado com as lembranças de uma vida inteira
dedicada ao esporte, só consigo agradecer.
Hoje seria um dia e tanto para o velho Savard. Mas tenho certeza de que, não importa
onde esteja agora, ainda continua sendo meu maior entusiasta.
Pego na mão de cada um dos caras e recebo um abraço apertado. Muitos deles
começaram comigo. Outros já me viam correndo desde garotinhos. De algum modo, impactei a
vida de todos e, mesmo sem saber, eles deixaram um pedaço de si em mim também.
Nas conversas de paddock, em todas as trocas dentro e fora dos eventos oficiais da FIA,
mas, principalmente nas pistas, onde cada um, em algum momento, me mostrou do seu jeito por
que este esporte é simplesmente fantástico.
É viciante.
É do caralho!
Seb, meu único concorrente ao título hoje, me abraça forte.
Temos uma longa história juntos. Ainda em formação, com ele sendo três anos mais novo
do que eu, nós nos encontrávamos nos campeonatos de kart e já admirávamos um ao outro.
Quando chegamos finalmente aqui, o respeito só aumentou. A amizade foi crescendo cada vez
mais e hoje posso dizer que ele é um cara que vou levar para a vida.
Surpreendendo a todos, a McLean acaba de contratá-lo como piloto número 1 para a
próxima temporada. Para todo mundo foi uma grande surpresa. Para mim, nem tanto. Wisbech e
eu conversamos bastante sobre isso. Jackson precisa, provavelmente, de mais um ou dois anos
para realmente ter a posição que ele almeja dentro da equipe e, até lá, Arm deverá se aposentar.
O brasileiro completamente maluco é o próximo a me puxar para o cumprimento.
Chateado com a continuidade na posição dois, aceitou me ouvir e tivemos conversas muito boas
sobre como o tempo e a experiência nos levam para lugares inimagináveis. Acho que Pedrosa
ainda não sabe, mas ele será um dos maiores, se não o maior piloto da Fórmula 1 em alguns
anos. E isso não sou quem está dizendo. Suas estatísticas e projeções futuras colocam Jackson
em patamares gigantescos.
Um por um, despeço-me do grid atual. Com palavras de carinho e agradecimento, aceno
para a multidão uma última vez antes de me preparar para ir em busca do meu grande objetivo:
levar meu último mundial para casa.
De volta para a garagem, ouço atentamente minha engenheira-chefe com suas últimas
instruções.
O tempo inteiro somos interrompidos por alguém da equipe que me abraça e se despede.
É intenso e, ao mesmo tempo, leve. Alguém pula nas minhas costas e eu levo um susto. Pessoas
me gritam na área VIP do paddock e eu aceno.
Aos poucos, a ficha vai caindo.
Quando estou ajeitando o macacão no corpo, ele passa por nós.
Mark Lee.
Hoje deve ser um dia difícil para ele. O que deveria ter terminado como uma boa parceria
de anos, acabou assim, com ele sendo empresário de um garoto que ainda tem muito o que fazer
até conquistar os objetivos que são claramente do pai, frustrado, rodeando-me em todas as
oportunidades que encontra.
O que difere Mark de outros, mas poucos desafetos que já tive na vida, é que caráter,
comigo, não é coisa que se negocia. E ali, não há um pingo sequer.
Você acha que já ouviu de tudo no mundo quando o assunto é dinheiro, mas ele está aí
para provar que algumas pessoas desconhecem limites.
Mark não vem de uma família pobre ou algo assim. O problema dele, talvez, seja que a
falta de caráter é algo que o próprio pai enxergou nele desde menino, já que nunca se deram
muito bem. Mark queria provar a todo custo que seria alguém muito acima das ambições da
família para ele e seus irmãos, e assim aproveitou todas as oportunidades que teve pelo caminho,
o que resultou na nossa vida se cruzando.
Talvez o velho Lee soubesse que o filho é capaz de muitas coisas para ter dinheiro, mas
matar? Duvido.
Confesso que já pensei em diversas formas de foder com Mark como ele fodeu comigo.
De lhe causar uma dor tão insuportável como a que me causou, mas, no fim das contas, a única
conclusão a que chego é de que eu não sou como ele.
Eu jamais serei como ele.
E eu acho que meu filho, com certeza em um bom lugar ao lado do meu pai agora, não
gostaria que eu fizesse isso. Não é o tipo de homem que o pai dele é.
A Mark, só me resta pena.
E, para ser sincero, está de ótimo tamanho.
Viro o rosto no exato momento em que ela surge no meio das pessoas. Com seu cabelo
curto, que ficou tão lindo, seu sorriso enorme, sua luz, que faz tudo em volta dela brilhar.
— Oi, Pole! — Ela ajeita o boné da McLean na cabeça enquanto minha engenheira
resolve nos deixar um pouco a sós. Meu boné, escrito “Você é meu raio de sol”, combina com
sua camiseta, que diz “Raio de sol do Savard”.
— Olá, Summer Campbell! — O sorriso bonito que ela me dá faz meu coração disparar
mais do que a prova que me espera a seguir.
— Vim abrir a sua live. Hoje, sou ajudante por um dia de Logan!
No meio de uma risada, eu a puxo para mim, segurando sua cintura.
— Você está sem jeito de pedir seu cargo de volta, Campbell?
A sobrancelha se arqueia e ela me olha com deboche.
— Nem morta! Muito obrigada. De Theo Savard agora, só namorada mesmo, nada além
disso!
— Por enquanto — afirmo e ela morde o lábio de baixo, rindo, passando os braços em
volta de mim logo em seguida.
— Está pronto para o ato final, Pole Position?
— Com você ao meu lado, eu estou pronto para tudo, meu bem.
Nosso beijo é motivo de assobios e aplausos de desconhecidos, de celebridades, da minha
equipe, das equipes adversárias. Summer fica na ponta dos pés, segurando meu rosto enquanto
me entrega o gosto bom da sua boca.
É engraçado como tenho uma grande dificuldade de me lembrar dos detalhes de como era
a vida antes de Summer Campbell aparecer. É como se, por muito tempo, eu tivesse vivido no
automático, até que sua beleza, alegria e energia mudaram tudo, dentro e fora de mim.
Capturo seus lábios por mais três vezes seguidas antes de, finalmente, dar a ela o que veio
buscar aqui.
Depois da live, em que milhares de pessoas entram para me ver pela última vez vestindo
o macacão da McLean antes de dizer finalmente adeus à F1 como piloto, começamos todos os
preparativos para dar início à corrida.
As TVs, as revistas, jornais, todo mundo está o tempo inteiro por perto, esperando uma
palavra, uma foto, um gesto.
Enquanto coloco meus equipamentos, a imagem daquele garotinho feliz todas as vezes
que o pai o levava para o kartódromo me vem à mente.
Quantas e quantas vezes eu acelerava aquele kart imaginando o dia em que estaria aqui,
entre os melhores do esporte, fazendo história e construindo um legado?
— Espero que você arrebente com Seb hoje, por mim e por você. — Jackson chega e bate
no meu ombro, brincando. — Obrigado, cara. Eu vou sentir saudades, de verdade.
Minha vitória hoje não significa somente o campeonato de pilotos, mas a consagração do
de construtores também. O companheiro de Seb não teve um bom desempenho, no fim das
contas, deixando a equipe em quinto. Já Pedrosa somou pontos importantíssimos e está ajudando
a McLean a levar o campeonato deste ano.
— Semana que vem eu pago uma cerveja para consolá-lo — devolvo ao meu amigo,
abraçando-o uma última vez. — Foi um prazer estar ao seu lado.
— O prazer foi todo meu, Pole. Você é o maior, sempre será.
Logan chega em seguida.
— Meus dois garotos juntinhos!
Jones foi indispensável nessa reta final. Sem medo de atender ao pedido pessoal de
Summer para ficar em seu lugar, cuidou de cada detalhe como se fosse ela mesma. Ainda que
tendo um maluco feito Jackson para tomar conta. Talvez Pedrosa não goste, mas tenho uma
proposta pronta para fazer a Logan assim que tudo isso acabar.
Abraço meu assessor e digo para ele:
— Eu nunca te agradeci por isso, Loggie, mas valeu por ter quebrado seu contrato de
sigilo comigo.
Ele me olha com um sorriso safado no rosto e me devolve:
— Vocês dois ficavam naquela de fingir que não estavam doidos para pular na cama um
do outro. Eu só dei um empurrãozinho — e pisca.
Cretino!
Meu sorriso largo não me deixa esconder o quanto ele está coberto de razão.
Seguimos para os carros e então me concentro o máximo que posso. Estou em P2. Ainda
posso ser campeão mesmo assim, dependendo dos números de Seb, mas não vim aqui para
depender do resultado de ninguém. Vou tomar a P1.
Wisbech hoje está sem muitas palavras. Sei que, assim como para mim, em sua cabeça
também estão se passando muitas coisas. Eu o vejo parado ao lado do meu carro, olhando para
ele, parecendo distraído. Bato nas suas costas e ele então me olha. O sorriso não é triste, mas
guarda alguma coisa para além da alegria.
— Lembro-me exatamente do dia em que te contratei. Eu nunca vi aquela sede tão
maluca como naquele dia.
— Lembro-me da alegria do meu pai. A McLean sempre foi a equipe do coração dele,
você sabe.
Ele sorri, confirmando. Joseph Savard e George Wisbech foram bons amigos.
— Eu gostaria muito de te ver saindo daqui com essa taça na mão, mas só tenho um
pedido para te fazer agora.
— Manda!
— “Aproveite a jornada”, grande Pole. — Aperta meu ombro com força. — Se fizer isso,
de qualquer forma, você sairá vencedor.
Ele me puxa para um abraço, que não é demorado mas significa muita coisa.
— Deixa comigo, capitão.
O restante do tempo até a largada é uma mistura de lembranças na minha cabeça. E
quando, enfim, depois da volta de formação, com os olhos nas luzes, vejo-as se apagarem, tento
pensar que essa não é, afinal, a última vez.
Sebastian dispara na minha frente, mas acelero para não o perder de vista. Metade da
corrida consiste nas minhas tentativas de ultrapassagem e Arm segurando o máximo que pode.
Poupei meu jogo restante de pneus macios para o fim da corrida, quando posso precisar, em caso
de ultrapassagem, ampliar a minha vantagem sobre ele.
Pressiono sua traseira enquanto o inglês acelera o quanto pode, aproveitando a reta para
aumentar a distância. Estamos chegando na curva oito, de baixa velocidade, e é uma ótima
oportunidade para que eu possa apertá-lo.
Assim que entramos, freio um pouco mais tarde, dessa vez, completamente consciente e
controlando o carro com habilidade.
Chega de mureta!
Utilizo o ERS para acelerar mais na saída da curva, e isso me faz ficar lado ao lado com
Seb.
— É agora, Pole. DRS — o engenheiro de corrida fala pelo rádio.
Aciono o sistema e voo disparado pela reta principal, ultrapassando Armstrong.
Vou com tudo e vejo meu amigo ficando para trás.
— Isso, Savard! — ouço os gritos direto do pit wall.
Meu sorriso sobe e o peito se inflama. Minha adrenalina fazendo com que meus pés
acelerem e me coloquem bem à frente do meu amigo.
— Hahaaaaaa! — grito e comemoro. — Vamos pra cima!
— Pegue seu lugar, Pole Position! — a voz vibrante de George aparece em seguida. —
Voa!
Isso me faz rir. E é um riso de saudade.
Vou sentir falta disso. Como vou sentir…
— Sabe o que Joseph Savard diria agora se estivesse aqui, Theo? — e aí ele mexe
naquele ponto que me faz esquecer todo o resto. Sem que eu responda, continua: — Você é
grande demais. O maior do mundo!
E, entre gargalhadas, eu voo.
Agora, não sou mais o adulto Theo.
Sou o menino sonhador. Sou o garoto que se apaixonou por um carro como este em sua
primeira vez em Monte Carlo. Sou o garoto do velho Joseph.
Minha equipe informa que estou cinco segundos à frente de Sebastian. Gerencio com
cuidado o desgaste dos meus pneus e optamos por fazer o próximo pit, fazendo a troca no
momento exato. Já Arm, acaba perdendo a briga por conta dos pneus, que agora estão cobrando
o preço por sua escolha de estratégia.
E assim, em quinze voltas, com nove segundos de vantagem, fazendo a volta mais rápida
da corrida, vou me tornando heptacampeão do mundo.
Pelo rádio, ouço uma porção de aplausos enquanto os céus de Abu Dhabi se colorem com
os fogos de artifício. A equipe inteira grita junto comigo.
No rosto, meu sorriso se mistura com as lágrimas.
— Pole, em nome de toda a McLean, gostaria de dizer que foi uma honra do caralho
trabalhar com você, meu grande amigo — é a primeira vez em todo esse tempo que ouço George
Wisbech chorar. — Você foi o acerto mais especial da minha carreira. Se hoje vou dormir com o
coração em paz, é porque sei que você está saindo daqui da única forma como poderia sair: no
topo.
— Amo vocês, pessoal. — Assisto ao time invadir a pista. — Obrigado pela jornada
espetacular que fizemos juntos em todos esses anos. Vou embora com a certeza de que jamais
seria igual se eu não pudesse contar com cada um de vocês. Obrigado. Para sempre, muito
obrigado! Porraaaaaaa! — Balanço o braço enquanto eles pulam e acenam para mim, ao redor do
carro, ainda acelerado. Vejo as pessoas na arquibancada gritando e se abraçando, comemorando
comigo o momento mais singular de toda a minha história.
Alguém da equipe me entrega a bandeira do Canadá e outra da McLean. Ando com elas
em riste, balançando o braço.
Vou comemorando até parar o carro na posição 1. Quando saio, piso na parte dianteira e
balanço. Ainda chorando por baixo do capacete, só consigo pensar que valeu a pena.
Cada ano fora de casa, cada maldito dia em que me senti sozinho, cada coisa que deu
errado, tudo valeu a pena.
A McLean inteira agora me agarra, chora comigo, me joga para cima. No meio deles,
minha mãe, Derek, meus sobrinhos, Joshua.
Minha base, antes de tudo.
Meu sobrinho me aperta entre os braços e nós dois ficamos assim por um tempo. Esse
sonho não era só meu, era dele também. O garoto que eu amei tanto, desde que soube estar na
barriga da sua mãe. Sangue do meu sangue. Meu melhor amigo.
As palavras não cabem aqui agora, porque, assim como eu, ele também está chorando.
Até Derek Savard está chorando.
Mas é só quando Summer Campbell surge e pula em mim, que me sinto, de fato, um
campeão. Quando o seu cheiro e seu calor estão aqui, me envolvendo, me completando e
garantindo que o maior de todos os prêmios, na verdade, eu ganhei quando ela se apaixonou por
mim.
Já sem capacete e balaclava, limpo suas lágrimas com beijos e ela coloca o meu boné na
minha cabeça, como no primeiro GP em que estivemos juntos.
— Você é o meu raio de sol! — brinco com os dizeres do boné.
Olhando-me nos olhos, Summer ri, alisando meu rosto como se eu fosse a coisa mais
especial que ela tem neste mundo.
Deus, eu juro que vou fazer por merecer ser isso na vida desta mulher.
Ela confirma com a cabeça e encosta a testa na minha, dizendo bem baixinho, fazendo
meu coração velho de piloto se acelerar mais uma vez:
— Sou seu raio de sol, Pole Position. Para sempre o seu raio de sol!

O Yas Hotel está completamente tomado pela nata da Fórmula 1. Depois de um


campeonato disputadíssimo como o que se encerrou hoje, tudo o que a maioria quer é
comemorar junto com Savard. A equipe fez questão de fazer uma festa enorme para a despedida
de Pole.
Somente algumas coisas na vida me fizeram sentir tanta felicidade como ver a disputa
épica em que Theo e Seb se envolveram hoje. Quem não é fã de esporte jamais vai entender o
sentimento. Por isso, sou grata todos os dias aos meus pais por me incentivarem um vida toda a
ter os esportes como uma das minhas paixões. Pensar que, sem isso, muito provavelmente, hoje,
Theo e eu nem estaríamos juntos.
Enquanto ele me mantém por perto o tempo inteiro, abraçado ou de mãos dadas, me
beijando na frente de todos e dizendo juras de amor, bem baixinho, para que só eu possa ouvir,
confesso que ainda me sinto como uma grande boba apaixonada. Ele tem tanto orgulho de
mostrar ao mundo que estamos juntos que, às vezes, ainda sinto como se tudo o que temos vivido
nos últimos meses fosse um sonho.
Ainda se parece, porque é tão perfeito de tantas formas!
— Como é ser a namorada do único heptacampeão de F1 do mundo? — Logan brinca
comigo, me cutucando, enquanto Theo se afasta, posando para algumas fotos junto com a equipe
da McLean e outros pilotos do grid.
— Eu ainda não sei te dizer! — Passo meu braço pelo dele.
— Vocês são tão incríveis juntos — meu amigo sorri e me dá um beijo no rosto —
Obrigado por ter pensado em mim para o fim da temporada de Savard. Nunca vou me esquecer
disso, Sum.
Olho bem para Logan que está emocionado.
— Mas em algum momento você achou que eu pensaria em outra pessoa? Loggie, quem dá
conta de administrar o furacão que é Jackson Pedrosa, consegue qualquer coisa nessa vida!
A risada que ele dá é misturada com as lágrimas.
— Ah, pare! Hoje estou emotivo — abana o rosto e seca devagar o rosto. Vemos Josh
passar na nossa frente, lançando a mim um olhar que pede para se aproximar — Você nunca
mais vai falar com o Savard baby?
— Savard o quê? — meu riso sai descontrolado.
— Baby, oras — Logan ri comigo — Ele parece estar se coçando para trocar algumas
palavras com você.
— Ah, Logan, hoje não — encaro meu ex-namorado e sei que o assessor de Theo está
certo. Ele quer falar comigo. Mas, ainda não me sinto preparada. Em algum momento, teremos a
conversa necessária. Hoje, só quero comemorar com meu namorado seu feito histórico e a tão
sonhada aposentadoria das pistas. — Vou ao banheiro, já volto.
— Ok, vou dar um giro por aí — Vamos cada um para um lado. Sou cumprimentada o
tempo inteiro no caminho até ao toalete, e paro para conversar com algumas das pessoas. Até que
eu chegue lá, estou completamente apertada.
Depois de usá-lo, retoco meu batom e ajeito os cabelos, encarando o espelho. Colocando
meus pés para fora, ouço alguém dizer:
— Summeeeeer Campbeeeeell — a risada vem logo em seguida. Olho para o lado e um
bêbado Mark Lee está apoiado na parede, um copo de cerveja na mão.
Era só o que me faltava.
Tento ignorar e seguir em frente, mas sou interrompida outra vez pelas suas palavras.
— Eu nunca vou perdoá-lo, sabia?
Respiro fundo e resolvo me virar na sua direção.
— Ele não precisa do seu perdão, Lee. Aliás, ele está pouco se fodendo se você ainda
existe ou deixa de existir.
O coreano ri, dá um soluço e arqueia as sobrancelhas.
— Savard tinha um combinado comigo. Hoje seria o maior dia da nossa história — ele
olha para dentro do copo, como se estivesse procurando algo, depois olha para mim — Tudo por
causa de uma criança. Crianças são cretinas, Campbell. Você sabe disso!
— Cretino é você! — acabo falando mais alto, a raiva me inflamando. O que esse maluco
está dizendo? — Você fez Louise matar um bebê, Mark. Que tipo escroto e podre de ser humano
faz isso?
— Pelo visto, o tipo que eu sou — ele gargalha, quase deixando o copo cair, mas, percebo
em seguida que ele está, na verdade, chorando.
Deus...
— Tchau, Lee. — Me recuso a ficar ouvindo o que este homem tem para dizer. Isso é
completamente embaraçoso.
Mas, antes que eu saia, sua mão ágil segura meu braço.
— Theo sempre teve tudo, Summer. Tudo! Uma família boa, um pai amoroso, uma mãe
carinhosa, uma esposa bonita. Fama, dinheiro, respeito, status. Sabe o que eu tinha? — tento tirar
sua mão de mim, mas ele é mais forte que eu — Eu tinha Theo Savard. O maior de todos. Ele era
meu. — O quê? — Pole era tudo o que eu tinha, porque meus pais pouco se importam se estou
bem ou não. Meu único relacionamento de verdade foi um verdadeiro fracasso. Meus sobrinhos
me detestam porque minha irmã nunca tem nada de bom para falar de mim para eles... E a minha
vida só mudou quando conheci Savard. Quando ele me deixou fazer parte de algo que eu nunca
tive, enquanto frequentava sua casa, suas festas... Quando anos depois acreditou que eu era bom
o suficiente para fazer a carreira dele decolar. Enfim, alguém que se importava comigo...
Ele ri, um riso amargo.
— Mark, vou chamar alguém para te ajudar — tento sair dessa situação, mas seus dedos
me apertam ainda mais, puxando-me para perto.
— Por que aquela cretina da Louise tinha que arrumar um filho, porra? Um filho! Ela só
queria um pau para se divertir, e eu dei. Eu sempre fazia o que era necessário só para deixarem
Theo em paz. — Ele respira com certa dificuldade e seu hálito de bebida bate no meu nariz.
Jogo meu corpo para trás, me afastando o quanto consigo — Ela queria transar? Eu dei um bom
sexo para aquela safada. As outras todas queriam subir no colo de Savard? Eu dava a elas o meu.
Qualquer coisa para deixar aquele homem focado no que era preciso. O nosso combinado. A
nossa parceria. Só isso deveria importar, Campbell — agora ele fala mais alto, as lágrimas
caindo descontroladas — Não a merda de uma criança! Nem você. Você é um grande problema!
É isso que você é. Joshua é um bundão do cacete, que não sabe fazer nada direito, nem fornecer
um bom escândalo para a imprensa. Eu entreguei vocês na mão dele, caralho! Burro... Por isso
que eu detesto aquele mimadinho idiota!
Cristo!
É tudo pior do que eu pensava.
Que homem cruel, meu Deus do céu.
— Você precisa procurar um tratamento! — sei que ele não está absorvendo o que digo,
porque está completamente alcoolizado, mas preciso falar.
Quase caindo em cima de mim, Lee avança em minha direção. Meu coração dispara no
momento que ouço a voz gelada.
— Se você não tirar as mãos dela, eu juro por Deus, Lee, vou te matar — o som da voz
de Theo atravessa todo o meu corpo, que agora treme inteiro.
Savard para ao meu lado, os olhos vidrados em Mark, o punho cerrado. Ele olha para
mim enquanto tira meu braço do aperto de Lee, que tenta permanecer de pé, mas cambaleia.
— Olha quem chegou! — ele ri, babando e chorando, deixando o copo de vidro se
estilhaçar no chão — Seu traidor imundo! — ataca Theo com palavras — Você não é homem,
Theo Savard. Você é um bosta. Você não merece nada disso — aponta para todos os lados,
enquanto meu namorado me abraça, me colocando em sua proteção.
— Ainda bem que você apareceu! — agradeço aliviada — Mark está totalmente fora de
si — Não sei como dizer à Savard que seu ex-empresário é completamente obcecado por ele.
Meu namorado alisa meu rosto, meu braço, procurando algum indício de que fui agredida ou
algo assim.
— Ele te machucou, meu amor? Ele fez alguma coisa com você?
Tento acalmá-lo.
— Eu estou bem, fique tranquilo.
Sua respiração pesada me mostra o quanto está perturbado com a cena que acabou de ver.
— Olha o estado disso — aponta com o rosto para o homem, que agora caiu sentado no
chão. Algumas pessoas surgem. Sean, inclusive. O novo piloto de Mark — Vamos sair daqui. E
você — fala diretamente para Lee — Não atravesse meu caminho e da minha mulher de novo.
Você não faz ideia do que eu sou capaz, Mark. Não pague para ver! — Theo se vira para Sean e
fala com o tom mais baixo — Sei que você e seu pai acharam que era bom negócio contratar esse
merda, mas está aí o problema que pegaram para vocês. É bom que agora todo mundo sabe quem
seu empresário é de verdade.
Ele segura minha mão e me puxa para longe de todo mundo. Acompanho seus passos,
ainda assustada. Theo para mais adiante comigo e me olha nos olhos.
— Ele te ofendeu?
— Não — Simplesmente não me importo com o que ele acha de mim e de Savard juntos.
Portanto, todas as suas palavras, para mim, não fazem diferença.
Theo fecha os olhos por alguns segundos e respira fundo, antes de falar:
— Se ele não te ofendeu ou te magoou, então, vamos seguir em frente, porque eu não me
importo com nada que venha dele, Summer, desde que direcionado a mim. Com você, esse filho
da puta não mexe! — Ele bufa, tentando se controlar — Nada que Mark Lee fale de mim me
importa — Segura meu rosto entre as mãos, fazendo com que eu olhe dentro dos seus olhos. —
Hoje é o maior dia da minha história e, acredite, Mark já me roubou coisa demais para tentar
fazer isso mais uma vez, justo hoje. A única coisa que eu quero é que essa festa acabe logo, para
te levar até aquele quarto e provar a noite inteira o quanto sou feliz pra caralho por ter você. É só
você que me importa, Summer Campbell. Só você!
Com o coração ainda disparado, fico na ponta dos pés e o beijo. Ele toma minha boca
devagar e me puxa para mais perto. Abraço Theo bem forte, querendo mantê-lo assim. Depois de
tudo o que ouvi agora, talvez tenhamos que agradecer a Louise por ter dito a verdade.
Mark é um maníaco muito pior do que eu conseguia imaginar.
E só de pensar que Savard está livre dele agora, sinto a alívio percorrer cada pedaço do
meu corpo.
— Talvez isso seja tudo o que eu quero, heptacampeão!
Ele sorri, me dando vários beijos seguidos, enquanto brinco com a sua barba.
— Então você não terá nada menos do que isso, meu bem. Esta noite, e em todas as outras.
Alguém aparece chamando a atenção de Theo, e ele me entrega um sorriso, apertando
meus dedos entre os seus, fazendo uma promessa velada de que essas não são palavras da boca
para fora.
Se estamos juntos, nada mais importa.
E se Theo Savard está em paz, então, isso é tudo o que posso sentir também.
Capítulo 43 - Summer Campbell

QUATRO MESES DEPOIS


LOUNGE GALLERY
TORONTO, CANADÁ

O tilintar das taças e as vozes soando junto com a música ambiente, escolhida a dedo por
mim, fazem cócegas no meu estômago.
Enquanto a banda toca os maiores sucessos de Jon Bon Jovi em instrumental, sinto como
se minha mãe estivesse bem aqui, comigo.
Ela me puxaria pela mão, me faria rodopiar com ela pelo salão da galeria de Betty, hoje
com luzes baixas, drinques sofisticados e muitas pessoas queridas, cantaria I’ll be there for you
completamente desafinada e me faria rir até a barriga doer.
Sara Mackenzie olharia nos meus olhos e diria estar muito orgulhosa de mim. Assim
como disse em todas as outras oportunidades que teve. Quando tentei ginástica e me frustrei.
Quando comecei a imitá-la pintando quadros, sem a menor técnica e preparo. Quando disse que
seguiria a carreira de jornalista, mas ela sabia que, no fundo, minha veia artística, em algum
momento, falaria mais alto… Assim minha mãe era com todos nós. Ela nos incentivava nas
tentativas e erros para que nunca desistíssemos da busca em ser o que sempre sonhamos.
E hoje, vendo o resultado daquelas tardes entre mãe e filha em um pequeno ateliê
tornando-se real, palpável, concretizado, eu só queria que ela estivesse aqui. Mas sei que, de
alguma forma, em cada uma dessas telas que pintei em homenagem a todos os seus mundiais e
olimpíadas, ela está presente.
Está viva.
Sinto a mão quente de Theo se apoiar na curva das minhas costas nuas, do vestido
lindíssimo que ele me deu de presente especialmente para hoje, a noite da minha primeira
exposição. O cetim vermelho e longo parece ter sido feito para mim e eu tenho lá minhas
convicções de que o detalhe da fenda que se estende até o fim da minha coxa direita não foi uma
escolha aleatória.
Assim como era nas pistas, Theo Savard é estrategista em tudo nessa vida.
A aposentadoria tem feito muito bem a ele, inclusive. Enquanto estou aqui em Toronto,
empenhada em completar o segundo módulo do meu curso, Savard tem dividido o tempo entre
Londres, se dedicando ao instituto um pouco mais, e a sua casa daqui, onde Manfred e Paddock
agora moram. Eu me divido entre sua casa e o apartamento com Aileen. Assim, fico com ele
quando está na cidade, e posso curtir minha amiga, além de fazer companhia para ela quando ele
não está. Manfred agora faz parte de um trio com nós duas e Paddock virou nossa mascote
oficial.
A temporada em Mônaco foi muito especial para todos nós, mas agora será apenas um
lugar que visitaremos para continuar acompanhando as corridas, já que a McLean o convidou
para um ano nos bastidores da equipe. Segundo Wisbech, assim como Theo, ele pretende se
aposentar em breve, e o nome de Savard é unanimidade para uma possível substituição.
Meu namorado não pensou muito antes de aceitar. No fim das contas, a gente sabe onde é
que o coração dele realmente mora.
— Amor, este é Edward Durand, meu amigo curador, se lembra?
Claro que sim! A promessa que Savard me fez naquele café da manhã em que nosso
vídeo viralizou na internet.
— Que prazer conhecê-lo, Edward. Seja bem-vindo! — Abraço o homem de meia-idade
que usa óculos de aro vermelho-sangue, poucos cabelos brancos em volta da careca e um toque
requintado de grandes artistas.
Durand tem cheiro de criatividade!
— O prazer é todo meu, Summer. Estou encantado pela delicadeza dos seus traços. —
Estamos próximos da tela onde pintei o salto da minha mãe em seu primeiro ouro no individual
geral nas Olimpíadas de 1992. — Suas transições de cores são muito suaves. Isso exige muito
domínio técnico, querida. Que mãos abençoadas você tem!
Olho para Theo, que está sorrindo de orelha a orelha. Meu pai, Alex e Ava, Gia, Aileen e
Isa, todos aqui, estão muito orgulhosos de mim, mas como Savard? Tem parecido ser um pouco
impossível.
— Não fala isso, eu chego a me tremer. — Coloco a mão para a frente e mostro que não
estou mentindo.
Ele ri e brinca comigo dizendo que é uma grande bobagem.
— É delicado e fluido, assim como uma aquarela precisa ser de verdade. Tem potência
sem ser rude! Você nasceu para isso, eu posso te garantir.
Quando abro a boca para agradecer, Alice, a esposa de Betty, chega perto de nós e diz:
— Com licença, pessoal. Summer, você acaba de vender o quadro do Mundial de 1991.
Olho para ela, que balança os ombros toda animada. Os dedos de Theo agora me puxam
para mais perto, segurando-me pela cintura, e então me diz, vestido impecavelmente de preto,
como naquela noite.
A noite que mudou tudo para nós dois.
— Parabéns, Summer Campbell.
Foi difícil assinar meus quadros com meu nome verdadeiro. De alguma forma, sentia que
ainda não estava totalmente pronta para isso. Depois de muita insistência de Betty, meu professor
do curso, Albert, de Theo, Alex e Aileen, decidi tentar. E aqui estamos: quinze quadros, sete já
vendidos.
— Obrigada, Theo Savard. — Toco minha taça de espumante na dele. — Obrigada,
Alice!
Ela me abraça e parabeniza. Em seguida, é chamada por alguém, pede licença e se vai.
— Estarei na cidade até o final de semana. Que tal marcarmos um jantar para
conversarmos, Summer? Eu adoraria falar de oportunidades de mercado com você!
Meus olhos procuram o de Theo e ele sorri, orgulhoso.
— Vou amar, Edward!
— Traga o senhor seu namorado. Adoro jantares com ele.
A gente ri e Savard responde:
— Será um grande prazer, meu amigo. — Theo me dá um beijo no rosto e completa: —
Querida, quero apresentar algumas pessoas para Edward. Se importa se sairmos?
— De forma alguma. Preciso encontrar meu pai! Nos vemos daqui a pouco. Fique à
vontade, Edward.
— Obrigado, Summer. Já nos vemos novamente.
Aceno enquanto os dois homens se afastam. Procuro rapidamente e encontro Alex, Ava e
meu pai juntos, olhando para uma das telas. Caminho devagar até eles.
— Oi, família!
O velho Donald se vira, sorrindo de orelha a orelha.
— É como ver Sara de novo neste mesmo dia, filha. Como você é talentosa. — Seu braço
me traz para perto e eu me aconchego no meu pai. Meu irmão e irmã vidrados no quadro.
— Ficou incrível, Sums. — Alex bate o ombro no meu e dá aquele sorriso lindo de lado.
Theo tanto fez que Alexander acaba de ser anunciado como o novo central do Toronto
Warriors. A segunda maior contratação da história do time. A novidade foi recebida pelos
torcedores do time da NHL com uma empolgação que assustou até Alex.
— Ela merecia! — Olho para a pintura junto com eles e suspiro, feliz. Alexander tira o
olhar de nós e observa acima da minha cabeça. Acompanho e vejo que Aileen nos olha de volta.
Quando me percebe, desvia e retorna à conversa com Isa e mais algumas pessoas. Viro o rosto
para o meu irmão, que coloca a taça nos lábios, ainda encarando minha amiga. — Tem alguma
coisa que eu deva saber? — sussurro.
— Do quê? — Presta atenção na minha pergunta, fazendo-se de desentendido.
— Alexander Campbell… — Semicerro os olhos para ele, que ri.
Nega com a cabeça e fala:
— Não há nada aqui, Summer Campbell, que não seja prestigiar o seu sucesso.
Gia chega nesta hora, distraindo nosso pai, e Ava abre a boca.
— Eu duvido que não tenha nada. Eles estão assim a noite inteira!
— Cala a boca, garota. — Alex segura a cabeça de Ava e aperta debaixo do seu braço.
Ela reclama, mas ri. Os dois se abraçam em seguida.
Ele acha que me engana! Alex só se esqueceu de que sou sua irmã e, não importa quando
seja, ele ou Aileen vão ter de me explicar isso.
Minha amiga não namora desde quando terminou no ano passado, naquele episódio em
que Alexander precisou ficar lá em casa no fim de semana, o que para ela é um recorde dos
grandes.
Para não ter que voltar ao assunto, ele pergunta à Georgia e ao velho Campbell:
— E este casamento? Estamos ansiosos por uma boa festa de família.
Nosso pai estufa o peito e aperta Gia contra o corpo, sorrindo para a noiva.
— Decidimos que será no fim de semana do Royal International deste ano!
— Já temos data então! — Abraço os dois. — Temos que começar a pensar em tudo. Já
estamos em fevereiro.
— Já disse ao seu pai que não quero nada exagerado, mas você conhece a cabeça dura
que ele tem, não é? — Ela faz uma cara engraçada e a gente ri, todo mundo.
— Vai querer convidar a metade de Halifax! — Ava comenta.
— Eu não duvido — digo no exato momento em que o vejo atravessar a porta da galeria.
Joshua está aqui.
Acompanhado do seu novo affair, uma modelo espanhola lindíssima chamada Sofia
Rodríguez, Josh passa entre as pessoas, cumprimentando quem conhece, até encontrar o tio com
Edward. Theo e o sobrinho se abraçam forte, sorriem, brincam um com o outro e colocam Sofia
na conversa.
— Vou morrer sem gostar desse sujeito — a voz de Alex aparece logo em seguida perto
da minha orelha.
A verdade é que, mesmo depois de tudo resolvido entre Theo e Josh, ainda não tinha me
sentido confortável para uma conversa com o meu ex. Em momento algum Theo me cobrou
sobre isso. Disse que eu tinha direito ao meu tempo para resolver essa questão dentro de mim,
afinal de contas fui chamada de coisas que jamais ouvi de outra pessoa.
Depois de Abu Dhabi, não nos encontramos mais, já que agora ele está estudando fora.
Eu sabia que Josh estava na cidade para apresentar a namorada à família, mas não sabia que
viria.
— Vou lá — aviso a minha família e caminho entre meus convidados, recebendo o
carinho e algumas palavras deles, até chegar perto dos Savards.
— Olha ela aí. — Meu namorado sorri quando me vê.
— Oi, Josh! Que bom te ver aqui.
— Summer. — Com tranquilidade me envolve em um abraço rápido. — Essa é Sofia,
minha namorada. Amor, Summer Campbell, a artista.
— É um prazer te conhecer, Summer. Estava ansiosa! — Nós duas nos abraçamos
também.
— Sofia é louca por arte. Ficou entusiasmada quando eu contei que a namorada do meu
tio estava fazendo sua primeira exposição hoje.
As palavras não passam despercebidas para mim e Theo, que alisa com carinho a minha
cintura. Sei que isso tem um grande significado para Savard.
— Você é muito talentosa! Algum deles ainda está disponível? Gostaria de presentear a
minha mãe.
— Ah, muito obrigada, Sofia! Fico extremamente lisonjeada. Vou pedir Betty que nos
diga quais ainda estão livres para compra. — Quando me viro para procurá-la entre as pessoas,
Theo me diz:
— Eu levo Sofia até Betty, meu bem, não se preocupe.
E então eu entendo que ele quer nos dar espaço para ter, finalmente, a conversa que andei
adiando.
Sofia agradece a Theo, que lhe estende o braço. Edward se envolveu em uma conversa
com outra pessoa.
— Que prazer andar com o maior piloto de F1 de todos os tempos! — A moça sorri e
aceita o gesto do meu namorado, saindo com Savard em seguida, não sem antes dizer a Josh: —
Já nos vemos.
Theo pisca para mim e os dois andam devagar entre as pessoas. Josh, com as mãos nos
bolsos da calça, balança as pernas devagar, para a frente e para trás, um pouco nervoso. Dou uma
risada.
— Posso pedir uma bebida para você relaxar, se quiser — brinco e ele ri, balançando a
cabeça.
— Não estou bebendo há uns meses, já, Summer, mas te agradeço. — Seu olhar anda por
toda a galeria, de quadro em quadro, e então comenta: — Finalmente você conseguiu. Eu estou,
de verdade, muito feliz por você.
— Eu te agradeço, Josh. No fim das contas, valeu a pena ouvir o que meu coração sempre
pediu. — Um garçom passa com uma bandeja de taças cheias e eu troco a minha.
— Dá para ver o quanto ele está orgulhoso de você. — Aponta com o queixo para Theo,
que ri enquanto conversa com Sofia, Betty e Manfred.
— É! Eu tenho sorte. Muita sorte! — e encaro de longe o homem da minha vida.
— Summer… — as palavras demoram a sair de sua boca. — Eu te devo um pedido de
desculpas. Você não merecia ler nada daquilo que eu te disse. Sinto muita vergonha das coisas
que falei ao meu tio, mas nada se compara com a sujeira que eu fiz com você. Se algum dia
puder me perdoar por aquilo… — Os olhos de Joshua transparecem todas as sinceridades da sua
palavra. — Eu não fui um cara legal com você por várias vezes, e acho que você nem sabe! —
Não preciso de uma bola de cristal para entender o que ele está tentando me dizer. — Eu não
tinha o direito de julgar vocês e nem de te dizer aquelas coisas horríveis, pois são inverdades
usadas no meio da raiva. Apesar de não termos dado certo como namorados, sua amizade sempre
foi importante para mim, eu só estava sendo um moleque de ego ferido, achando que era dono do
mundo e da vida das pessoas. E eu não sou.
— É, você não é! — Eu lhe entrego meu melhor sorriso e dou de ombros.
Joshua acaba rindo comigo.
— Desejo que sejam de verdade muito felizes. Meu tio é um cara que merece ter uma
mulher com todas as qualidades que você tem! Hoje posso falar de coração que me alegro por
terem se encontrado.
— É bom ouvir isso, de verdade. E, sobre perdoar… Vamos fazer o seguinte? A gente
esquece que aquilo aconteceu, vamos vivendo cada um a sua vida e está tudo certo assim. Sem
mágoa.
Sua cabeça se balança, concordando.
— Está vendo? Vocês dois — aponta de mim para o tio — são as pessoas do coração
mais bonito que eu conheço. Não tinha como não se apaixonarem.
Seguro o riso, mas nós dois acabamos em uma gargalhada.
— Ok, eu nunca imaginei te ver falando tão tranquilo assim sobre tudo isso, Josh, mas
confesso que alegra meu coração!
Ele pisca para mim, oferecendo um sorriso de lado.
— Estamos aqui na vida para evoluir, não é? — Faz uma pausa, mas termina assim: —
Será que posso te dar pelo menos um abraço?
E, lembrando daquela noite em Monte Carlo, devolvo:
— Que pergunta ridícula, Joshua Savard.
Aliviado com minha resposta, o sorriso de Josh é aquele mesmo que ele dava toda vez
que nós, amigos, ríamos de coisas em comum e nos divertíamos juntos.
Nós dois nos abraçamos por algum tempo, enterrando de uma vez por todas as mágoas
que entregamos de presente um ao outro pelo meio do caminho.
— Gostaria de dizer que Sofia acabou de comprar o último quadro disponível da
exposição! — a voz de Theo nos diz que, por aqui, resolvemos o que era necessário resolver.
— Mentira? — Solto Joshua e olho para sua namorada, que me encara sorridente.
— Verdade! Ainda bem que corri lá. Chegou uma pessoa logo depois de mim. Estou
apaixonada por cada um deles, Summer. — Sofia me dá um abraço, que me pega de surpresa. —
Eu te desejo todo sucesso do mundo na sua nova jornada.
— Obrigada, Sofia! Sinto-me lisonjeada.
— Que tal uma foto? — meu namorado sugere quando o fotógrafo do evento se aproxima
de nós.
— Claro! — seu sobrinho responde animado, puxando devagar a namorada para perto
dele, posicionando-se ao nosso lado.
Theo para atrás de mim, abraçando-me e falando ao pé da minha orelha enquanto nos
arrumamos para o clique:
— Eu amo você.
O sorriso que isso me arranca é o mesmo que dou para a fotografia, e eu posso garantir
que, provavelmente, ficou muito bonita.
— Bom, vou andar mais um pouco com Sofia. Vou levá-la até a vovó — fala da minha
sogra, que está em algum canto com algumas amigas que vieram junto com ela.
— Vai lá, cara. — Theo aperta seu ombro e eles sorriem um para o outro.
Os dois seguem e eu me viro para Savard, ajeitando seu paletó, que nem está
desarrumado.
— Te dando a sua resposta: eu te amo mais!
Ele abaixa a cabeça e me dá um beijo rápido quando Betty chega e me convida para um
discurso.
Por cerca de cinco minutos, agradeço a todos os convidados que fizeram questão de não
me deixarem sonhar sozinha nesta noite e falo sobre o legado da minha mãe não só para o
esporte do Canadá, mas para a ginástica mundial. Agradeço individualmente a todos aqueles que
nesses últimos tempos me encorajaram a fazer o que hoje estou fazendo.
Depois de aproveitarem um tempo a mais comigo, todo mundo começa a ir embora, até
que só estamos Savard, Betty, Alice e eu.
— Vamos ter bastante trabalho essa semana — Alice comemora, falando sobre o envio
dos quadros para os compradores.
— Edward Durant, hein, Summer Campbell? — Betty brinca enquanto coloca algumas
coisas dentro da sua bolsa. — E sua namorada uma vida inteira duvidando do talento que tem! —
fala com Theo, que ri.
A mão dele alisa meu braço, o que arrepia minha pele.
— Fique tranquila, Betty, porque tudo o que não vou deixar que aconteça nunca mais é
que Summer duvide da potência de mulher que ela é.
Isso soa de uma forma carinhosa, mas pecaminosa também.
A verdade é que Theo tem me olhado a noite inteira com a cara de quem quer me
devorar.
O bom de tudo isso é que eu quero desesperadamente ser devorada por Pole.
— Isso me deixa feliz! — minha amiga brinca antes de dizer: — Bom, vamos nessa, mas
vocês podem ficar um pouco mais. — Betty nos olha com aquele jeito de quem sabe muito bem
o que vai acontecer se nos deixar realmente sozinhos aqui. — Tenho outra chave em casa.
Amanhã você passa aqui e deixa comigo, está bem? — Recebo seu abraço e ela diz baixinho: —
Estou muito, muito orgulhosa de você.
Sem conseguir soltá-la, aperto Betty entre os meus braços e, por alguns segundos, revejo
toda nossa jornada juntas até aqui. Que sorte a minha ter me sentado um dia junto a este balcão,
completamente desmotivada, e ter ganhado uma amiga para a vida inteira, que em momento
algum me disse que eu não era capaz.
Betty não abriu só as portas do seu negócio para que o mundo me enxergasse. Ela abriu o
coração para o meu sonho e, assim, ele se tornou o sonho dela também.
— Eu te amo! — Beijo seu rosto e a solto devagar, antes que eu me acabe de chorar aqui.
— Boa noite, queridos! — Alice me abraça forte, em seguida, Theo.
— Boa noite, meninas. Obrigado pela noite incrível que prepararam para ela. — Ele me
puxa contra seu corpo e beija meu pescoço, o que me faz rir e outras coisas mais.
— Foi um prazer, Savard!
Elas vão em direção à porta e, assim que ouvimos o som dela se fechando, a mão enorme
do meu namorado se espalma na frente do meu vestido, na altura do meu abdômen, e me
pressiona contra ele. Automaticamente meus olhos se fecham quando sua boca aberta e molhada
escorrega entre minha orelha e meu ombro, deslizando até a alça fina do tecido vermelho.
— Você foi tão incrível, raio de sol — a voz já não é a mesma e eu só consigo sentir a
antecipação me tomar inteirinha, da cabeça até os pés. Respiro fundo e coloco a mão por cima da
dele, fazendo com que escorregue um pouco mais para baixo. Theo ri contra minha pele. —
Você é gostosa demais em todas as suas versões, mas na versão feliz e muito segura de si,
sabendo que é talentosa e foda pra caralho, acabou de se tornar minha favorita.
Os dedos de Savard escorregam para dentro da fenda, alisando minha perna, e me arranca
um grito contido no fundo da garganta. Quando resvalam por cima do tecido fino da minha
calcinha, não consigo segurar, o gemido sai mais alto.
Jogo o braço para trás e seguro sua nuca, empinando a bunda na sua direção.
— Eu amo como você está sempre pronta, baby — diz ao escorregar dois dedos para
dentro e me tocar gentilmente.
— E eu amo que você me deixe sempre assim, Pole. — Rebolo na sua virilha, o pau
marcado na calça forçado contra a minha bunda.
Theo mexe os dedos com uma pressão deliciosa enquanto sussurra para mim:
— Vou te levar para viajar.
A notícia me pega totalmente de surpresa.
— Viajar? Para onde?
Não sei em qual das coisas me concentro: na curiosidade sobre o destino ou sobre o tesão
se espalhando pelo meu corpo com os dedos atrevidos e ágeis do meu namorado.
Theo solta minha boceta e, tirando a mão do meio das minhas pernas, me vira de frente
para ele. Os olhos negros, o sorriso safado, o desejo estampado no seu rosto… Cristo! Como eu
amo este homem.
Antes de me sentar na mesa ao nosso lado, escorrega outra vez as mãos por baixo da
fenda e começa a puxar minha calcinha pelas minhas pernas, até que ela caia nos saltos que estou
usando. Chuto-a de qualquer jeito enquanto ele me iça, puxando o vestido vermelho para cima,
deixando o tecido embolado no meu quadril.
Sem demora, abre seu cinto, o botão da sua calça e desce o zíper e um pedaço da cueca,
mostrando seu pau mais que pronto para mim.
Quando pego seu membro quente entre as minhas mãos, movimentando devagar e
gostoso, as suas passam pelos meus ombros, fazendo com que as alças do vestido escorreguem
pela pele, revelando em seguida meus seios. Savard suspira alto quando os vê. Deles, olha para o
meio das minhas pernas, estou completamente encharcada.
Suas mãos se juntam nos meus peitos quando solto seu pau, apertando um contra o outro,
forte, e eu arfo. Quando aproxima o quadril do meu, bem na beirada da mesa, de uma vez só,
empurra dentro de mim.
— Ahhh, Savard! — eu grito, ouvindo o som da minha voz ecoar por toda a galeria.
— Vamos para Istambul, meu bem — e mete forte, fazendo a mesa balançar.
Ele me olha de um jeito tão cruel e tão delicioso, fico completamente maluca.
— O que vamos fazer lá? — Quando soca de novo, reviro os olhos, contraindo a boceta
em volta do seu pau, segurando na gola da sua camisa, puxando com força. Savard me pune
apertando meus bicos, trazendo-os para ele. — Amor! — choramingo, perdida no meu próprio
desejo.
— Você vai ver quando chegarmos lá, meu anjo. Mas, agora, shhhh… — Semicerra os
olhos, fazendo um bico quando pede para não perguntar mais nada, e vai tão rápido dentro de
mim que não consigo mais raciocinar direito. — Não é hora de se preocupar com isso. Me deixa
te fazer gozar gostoso, porque hoje a minha meta é te dar um orgasmo por cada quadro vendido.
Eu quero quinze orgasmos?
Ah, eu quero sim!
Com este homem, eu quero definitivamente tudo que ele quiser me dar.
Capítulo 44 - Summer Campbell

MARÇO
ISTAMBUL, TURQUIA

Sinto alguns beijos pelo rosto enquanto tento assimilar o que está havendo. Abro os olhos
e dou de cara com um bonito e sorridente Theo Savard. Fico alguns segundos esperando para que
meus olhos se acostumem com a claridade e me espreguiço.
— Vamos, dorminhoca. Já chegamos a Istambul.
Mas, já?
Agora sim, estou com os olhos bem abertos e o coração acelerado.
Savard acabou de fechar um contrato milionário com uma companhia aérea da Turquia e
eles o trouxeram até aqui para gravar alguns comerciais. É claro que eu aceitei acompanhar
quando ele me disse que queria me trazer. Sei que, além disso, está aprontando alguma coisa,
mas ainda não consegui descobrir o que é.
Vai me levar para a Capadócia para voar de balão? Nunca voei de balão e confesso que
acharia incrível!
Mas o que está me deixando mais empolgada de tudo isso é que estou literalmente onde
Sen Çal Kapimi foi gravada! Inclusive, é possível visitar os locais de gravação, uma vez que as
produções turcas não são feitas em cenários montados, mas sim em prédios e casas reais.
Isa e Aileen me ajudaram a montar um roteiro de todos os lugares da novela para que eu
possa ir, como a casa da Eda, a floricultura da tia dela e o escritório de arquitetura do Serkan.
Enquanto Theo cuida dos negócios, vou fazer meu próprio tour. Prometi a elas que ligo de vídeo
em cada um dos lugares que eu for.
— Eu dormi muito, não foi?
Theo confirma com a cabeça e me oferece a mão para me ajudar a levantar.
Já de pé, eu me estico inteira enquanto ele me dá um beijo na testa e começa a pegar suas
coisas. Recolho minha bolsa e coloco os óculos escuros para sair no sol da Turquia.
De mãos dadas, nós dois descemos as escadas do seu jatinho e somos recebidos por
representantes da companhia aérea. Cordiais e muito amigáveis, eles se oferecem para nos
acompanhar até o hotel em que ficaremos hospedados para irmos depois até a sede da empresa.
Porém, Theo agradece e diz que iremos sozinhos até nossa estadia e nos encontraremos
todos mais tarde para a primeira reunião, da qual fui convidada a participar.
Um carro da Savard já nos aguarda e o funcionário ajuda meu namorado com nossas
malas.
— Não é feio recusar a companhia deles assim?
Ele me encara enquanto pega a chave e os documentos do carro com o rapaz simpático,
que lhe pede uma foto e um autógrafo. Gentilmente, Savard dá ao garoto o que ele quer, e abre a
porta para que eu entre. Então se abaixa e beija minha boca, respondendo:
— Estaremos com eles em breve, não se preocupe. E eu quero andar um pouco por
Istambul com a minha mulher. Que mal há nisso?
Ele está aprontando de verdade alguma coisa. Eu sinto!
Assim que fecha a porta e dá a volta, entra do seu lado e, antes de acelerar, coloca a mão
na minha coxa.
— Quero que aproveite cada segundo da sua viagem, baby.
— E eu vou. Acredite! Você me trouxe para o paraíso e nem está sabendo.
Ele ri e pisca para mim, talvez sabendo, sim.
Enquanto seguimos pelas ruas de Istambul, meu queixo cai diversas e diversas vezes. É
muito mais lindo do que tudo que eu pudesse imaginar. A mistura da arquitetura entre vários
estilos diferentes, as enormes mesquitas, palácios, edifícios históricos deslumbrantes, misturados
com a modernidade dos prédios no estilo arranha-céus, me deixa completamente fascinada.
— É muito lindo! — deve ser a terceira vez que digo isso, porque Theo ri.
Não deixo de reparar em todos os cafés charmosos que vejo pelo caminho, as feiras e
mercados coloridos, as vistas de tirar o fôlego…
Não me lembro a última vez que fiquei tão entusiasmada dessa forma.
Quando vejo uma placa sinalizando que estamos entrando no distrito de Sarıyer, eu me
lembro de ter anotado sobre isso em algum lugar. Abro meu iPad para conferir a lista que fiz
com as meninas e vejo que é aqui que a casa da Eda fica.
Vou reparando em detalhe por detalhe de tudo o que encontro pelas ruas enquanto Theo
segue o GPS até o hotel. Ele começa a entrar por algumas ruas estreitas e eu me distraio olhando
as casas incríveis que me fazem parecer estar dentro da novela.
Até que meus olhos se fixam na rua estreita de pedras que Theo está descendo. Por
alguns segundos, sinto-me em algum lugar em que já estive antes porque, de alguma forma, eu
realmente já estive.
Em todos os episódios a que assisti, eu estive aqui muitas e muitas vezes.
É a rua da casa de Eda Yildiz.
Devagar, Savard para o carro, e eu já vi o automóvel de um certo arquiteto milionário
parar no mesmo lugar. Savard olha para mim e diz:
— Chegamos, Campbell.
Meus olhos vistoriam a parte de fora. É o pequeno portão verde e as escadas onde, por
vários episódios, vi Eda e Serkan protagonizando minhas cenas preferidas da novela.
— Chegamos aonde, Theo?
Meu coração está batendo tão rápido que começo a tremer.
Ele aponta com a cabeça para a casa.
— Nossa estadia na primeira noite de Istambul.
Meus olhos de repente se enchem de lágrimas e eu tento dizer alguma coisa, mas não
consigo.
— Você… — Respiro fundo e aponto para o pequeno portão. — Você alugou a casa… A
casa da minha personagem favorita para nós?
Seus ombros se balançam como se isso não fosse nada e sorri em seguida.
— Apenas por vinte e quatro horas, porque era o tempo pelo qual ela estava disponível.
Minha boca se abre várias vezes, mas minha voz falha. Começo a rir ao mesmo tempo
que começo a chorar. Abro a porta do carro tão rápido que não sei como não caio quando coloco
os pés para fora.
Fico parada no meio da rua olhando para o terraço, depois as janelas, as grades baixas em
cima do muro, abraçadas por pequenas árvores do lado de dentro da casa… Eu não consigo
acreditar.
Ele desce do carro, fecha a porta com cuidado e se encosta ao lado dela. A gente se olha e
Theo pisca para mim. Eu começo a soluçar enquanto dou alguns passos para a frente, subindo os
degraus até o portão.
Não acredito que estou mesmo vivendo isto!
Olho para dentro do portão antes de me virar e ver que ele está no pé da escada, as mãos
dentro dos bolsos da calça, olhando para mim com amor.
Eu tenho certeza de que não existe nenhuma palavra inventada no mundo que possa
explicar o quanto eu amo esse homem.
O quanto me sinto feliz e sortuda por ser dele.
— Como você soube? Como descobriu?
— Tenha sempre um secretário incrível como Manfred e poderá realizar qualquer coisa
neste mundo.
Manfred, aquele safado. Ele me paga!
Sim. Eu e Aileen viciamos Manfred em Sen Çal Kapimi.
Desço alguns degraus até me encontrar com ele.
— Estou tão apaixonada por você agora, Theo Savard!
Ele gargalha e tira a mão da calça, arrumando meu cabelo atrás da orelha.
— Estou tão apaixonado por você agora e para sempre, Summer Campbell… —Suspira e
pega a minha mão. — Eu poderia te dizer como Serkan Bolat que, se eu nascesse cem vezes, em
todas elas me apaixonaria por você. — Meu Deus! Ele se lembra disso? — Mas eu só tenho
certeza de que estou aqui agora, então, queria te dizer que, em cada segundo do tempo que me
resta de vida, eu sou seu. Cada pensamento que eu tenho, Summer Campbell, eles te pertencem.
A forma como meu coração batia forte enquanto eu acelerava um carro de corrida em busca da
vitória me parece nada comparado com o jeito com que ele acelera quando você me dá esse
sorriso bonito. O jeito como tudo em mim parece vulnerável demais quando sua pele está em
contato com a minha ou quando você fecha os olhos esperando que eu a beije, é o que eu quero
sentir para sempre. — Theo sobe um degrau e fica mais perto de mim, enquanto me esforço para
não chorar demais, mas, Deus, como? — Eu daria qualquer coisa no mundo que me pedissem em
troca de viver o resto da minha vida ao seu lado. — Sorrindo, ele parece rendido. — Você,
Campbell, é o que faz tudo ter sentido. É a única certeza que eu carrego comigo. O resto não vale
de nada se não existir nós.
De repente, Savard desce o corpo e se ajoelha.
Isso é um sonho ou está mesmo acontecendo?
Quando ele tira a outra mão do bolso, a caixinha vermelha se abre e eu vejo um brilhante
em formato de meio-sol, com os raios imensos, cravejados de pequenas pedrinhas que brilham.
Muito.
— Você entrou na minha vida e transformou tudo. Cada pequeno pedaço de mim. Você
entrou na minha casa, nos meus sonhos, tomou conta de uma forma tão devastadora… e tão
deliciosa! — ele se demora na palavra e ri, fazendo-me arrepiar todinha, porque todas as nossas
lembranças mais doces e safadas me vêm juntas agora, e eu tapo a boca, rindo com ele, enquanto
meus olhos se embaçam com o choro. — Você aceita ser minha para sempre, raio de sol? A
minha mulher, a mãe dos meus filhos, a minha vida?
Eu me balanço tanto com os soluços que não consigo responder.
Só consigo sentir uma felicidade que me abraça inteira. Uma vontade de gritar para o
mundo todo que eu sou, sem a menor sombra de dúvidas, a mulher mais feliz do Universo inteiro
agora!
— Sim, Pole Position! Eu aceito ser a sua mulher, a mãe dos seus filhos e também a sua
vida, porque, definitivamente, você é a minha também!
O jeito como ele sorri aliviado e um pouco emocionado sacode tudo dentro de mim.
Savard pega o anel na caixinha, segura meu dedo e, assim que o coloca, beija o sol,
olhando para mim.
— Você demorou exatos sete segundos para dizer sim, meu bem. Isso não é coisa que se
faça. Meu coração parou três vezes nesse tempo todo.
Gargalho e olho para o brilhante sem acreditar.
Estou noiva de Theo Savard!
Ele se levanta e eu me jogo nos seus braços. Savard me segura com força quando minha
boca vai de encontro a sua e beijo-o com toda paixão que está transbordando meu peito agora.
Sua barba faz cócegas na minha palma quando seguro seu rosto e me entrego inteira. O
jeito como Savard brinca com a minha língua, e me mantém junto dele, é o tipo de coisa que eu
também quero para o resto dos meus dias. Eu quero sentir para sempre cada pequeno fogo de
artifício que parece explodir dentro do meu coração quando ele me olha, quando me elogia,
quando não me deixa desistir dos meus sonhos, dos meus projetos. Quando me abraça e fica em
silêncio se é só disso que eu preciso. Quando canta desafinado ao meu ouvido, deitados, para
minha ansiedade me deixar em paz. Quando conversa com a minha mãe junto comigo ao
visitarmos o túmulo dela e quando diz que eu sou a mulher mais linda do mundo, sendo que, na
verdade, estou me sentindo a mais feia delas.
Savard é o tipo de homem que não te deixa ter dúvidas do quão adorada e amada você é.
E, se há uma coisa que eu quero nesta vida, é ser adorada e amada por Pole Position para todo o
sempre!
— Você é um grande mentiroso, Theo Savard! — digo assim que nos separamos, mesmo
a contragosto. Ele levanta a sobrancelha sem entender. — Você disse que é difícil competir com
mocinhos de livros e novelas, mas a verdade é que é disparado muito melhor do que todos eles!
Ele ri e morde o lábio inferior, deixando-me com vontade de beijá-lo outra vez.
— Manfred me contou que Serkan deu uma estrela para Eda. Fiquei com medo de você
não achar a casa o suficiente.
Olho de novo para a construção e, finalmente, dou um pequeno grito. Savard ri, jogando
a cabeça para trás.
— Você não poderia ter me dado nada melhor que isso! Tem noção de que eu vou dormir
na casa de Eda Yildiz, Theo Savard? — Encaro-o de novo, emocionada. — Eu amo tanto você.
Tanto, tanto!
— Não mais do que eu te amo, raio de sol. Acredite quando te digo isso. — Ele pega
minha mão e cruza nossos dedos.
— Ei! E eu não tenho uma aliança para colocar no seu dedo, não? — argumento e ele tira
outra caixinha do bolso.
— Graças a Deus, você perguntou. Achei que ia me deixar voltar para Toronto com isso
no bolso.
— Sem chance! — Faço que não com o dedo. — É sério que você acha que eu vou deixar
Theo Savard, meu noivo, andar por aí sem uma aliança na mão? Tem dona, querido!
Pego o objeto e abro, tirando de lá uma aliança enorme, dourada.
— Leia o que está gravado nela — pede, o meio sorriso ali presente.
Trago até perto dos meus olhos e observo a parte de dentro.
Propriedade de Summer Campbell.
Sim, todo meu.
— Para sempre — respondo à sua declaração na aliança e beijo seu anel no dedo, assim
como ele fez com o meu.
Theo segura minha nuca em seguida, selando meus lábios.
— Eu tenho outro presente para a minha noiva.
Minha noiva. Minha noiva! Eu posso ouvir Theo Savard dizer isso o dia todo e, juro, não
me cansaria.
— O que é? — Ele está cansado de saber como eu sou totalmente curiosa.
Savard me dá um sorriso de quem aprontou muito mais do que só alugar a casa de Eda
para nós.
— Talvez… Assim, só talvez mesmo…— Levanta os braços como se não tivesse feito
nada de mais. — Eu tenha convidado Kerem Bürsin para jantar conosco.
Meus olhos saltam para fora e eu quase tropeço no degrau da escada.
— Você fez o que, Theo?
— Convidei o Kerem para jantar. Você sabia que ele é um ativista muito engajado nas
causas humanitárias? Defensor do direito das mulheres. Falei para ele sobre o instituto, ele ficou
feliz em podermos conversar mais sobre isso.
— Para! — Começo a abanar as mãos na frente do rosto dele. — Você está falando para
mim que convidou Kerem Bürsin, o Serkan, para jantar?
— Foi o que eu disse.
— Você tem noção de que, depois de você, ele é o homem mais lindo do mundo, junto
com o Sam Heughan de Outlander?
Ele ri e diz:
— E você acha que eu o convidei para jantar comigo por quê? Sozinha com ele é que
você não ia ficar. Eu sou bonzinho, raio de sol, mas não sou bobo.
Ahhh, Savard!
Eu me jogo nos seus braços de novo e ele se equilibra para me segurar. Beijo tanto sua
boca e seu rosto que quase cai comigo.
— Isabela e Aileen vão morrer quando souberem.
— A gente liga para elas e ele pode dar um oi. — Savard beija a entrada do meu pescoço
e me coloca no chão. — Deixa eu pegar as malas. Você deve estar ansiosa para entrar.
Assistindo ao Theo ir até o carro como se fosse meu próprio Serkan Bolat, penso no
quanto está enganado. Muito, muito enganado.
Ansiosa eu estou para viver tudo o que a vida ainda reserva para nós, Pole Position.
Capítulo 45 - Summer Campbell

UM ANO DEPOIS
BATH, INGLATERRA

— Paddock! — chamo por ele ao ouvir alguma coisa cair no nosso quintal. Tenho certeza
de que está correndo feito um louco no gramado e derrubou algo. Em cinco segundos ele aparece
na porta do meu ateliê, com o focinho e as patas completamente sujos de terra. — Seu safado!
Você tomou banho ontem — ralho quando ele me encara com esses olhos grandes que adoram
fingir inocência.
Agora que estamos morando em Bath, em um pequeno rancho cheio de calma e
tranquilidade, com muito verde, um bocado de animais, todo ar puro e som de pássaros de que
preciso para me sentir inspirada, nosso menino de quatro patas está mais do que aproveitando.
A calmaria do interior da Inglaterra me lembra um pouco a casa dos meus pais em
Halifax, o que foi um critério decisivo para Theo e eu escolhermos ter uma casa aqui.
A menos de duas horas de Londres, ele consegue se movimentar com facilidade para a
sede da McLean e seus outros compromissos profissionais mundo afora. Vez ou outra ficamos
no apartamento que temos lá, mas, na maioria do tempo, só quero aproveitar a vista incrível
daqui, concentrada em terminar meus quadros para a minha mais nova exposição, que acontecerá
em Nova York, graças a uma parceria inédita com Edward Durant. Ele tanto fez que agora terei a
primeira oportunidade de mostrar meus quadros em uma das galerias mais importantes e
conceituadas da cidade.
Tenho uma secretária que me ajuda com a casa e os compromissos, já que agora Manfred
é o assistente pessoal de Theo e viaja com ele para todos os cantos. Logan também é o novo
assessor exclusivo do meu marido. Os dois braços-direitos dele agora moram juntos em um
apartamento na capital britânica.
Sim, eu e Pole nos casamos no verão passado em uma festa incrivelmente bela na casa
dos meus pais, dois meses antes do casamento de Gia e o velho Campbell.
Savard fez questão de que eu pudesse honrar as minhas tradições familiares, como
prometeu na primeira vez que esteve em Halifax, e tivemos um final de semana que jamais vou
esquecer.
Assim que acordei, fui presenteada com um enorme buquê de flores e um bilhete que
dizia:
Raio de sol,
Uma vida inteira ainda é muito pouco para tudo o que desejo viver com você. Se já sou o
homem mais feliz do mundo até agora, mal posso esperar para saber como será depois que você
me disser sim.
Eu serei o cara no altar, completamente apaixonado, aguardando para te fazer feliz no
nosso para sempre.
Te espero!
Com amor,
Seu Theo.
E, dali em diante, não consegui parar de sorrir.
Todas as pessoas que amamos estavam lá e foi totalmente incrível.
Inclusive Joshua, que foi nosso padrinho de casamento.
Sim. Foi!
De tudo o que foi emocionante naqueles dias, ver Savard devidamente vestido com os
trajes e kilt da minha família… Não tenho palavras para explicar!
Mais lindo do que isso foi só seu choro incontrolável quando me viu chegar. Lá no altar,
me aguardando, suas lágrimas se misturavam com os sorrisos.
Enquanto caminhava até ele, nossos olhares eram pequenos lembretes de tudo o que
vivemos até chegar ali. E, para ser sincera, eu viveria tudo de novo.
Por Theo Savard, eu faria e faço qualquer coisa.
E pensar que há dois anos eu estava completamente desmotivada, acreditando que tudo ia
continuar dando errado para mim e, de repente, depois de fazer as técnicas malucas de Aileen,
surge um novo trabalho, um novo chefe, alguém que me enxergou para além de mim e
transformou tudo. Minha vida, minhas crenças e os meus sonhos.
Ser a esposa desse homem é um verdadeiro presente. Nos dias em que não acorda
cantando, ele levanta dançando. Nos dias em que meu humor não está dos melhores, arruma as
piadas mais infames e sem graça para me contar, me faz um chá, aparece com alguma besteira
que sabe que eu não deveria comer, mas que vou ficar feliz por fazer. Quando está longe e cheio
de saudade, ele me liga de qualquer lugar do paddock ou dos bastidores e me faz gozar com meia
dúzia de palavras safadas e pensamentos pecaminosos sobre o que fará comigo assim que voltar.
Quando estou em dúvida sobre meu talento e temendo não conseguir dar a Edward o que ele
precisa nessa exposição, me beija inteira, da cabeça aos pés, dizendo o tempo todo o quão
incrível, talentosa e foda eu sou.
Para cada um dos pequenos problemas que eu crio, Theo Savard tem uma deliciosa
solução. E hoje estou ansiosa porque, finalmente, ele vai voltar para casa no intervalo entre a
Arábia Saudita e a Austrália.
Somente há duas corridas como o novo chefe de equipe da McLean, ele tem trabalhado
incansavelmente com Pedrosa e seu novo piloto. O garoto Giulio Matarazzo é um jovem de vinte
e um anos que acabou de vir da F2, ocupando a vaga que era de Jackson, já que Seb resolveu se
aposentar no ano passado, somente uma temporada depois de Theo. Assim como meu marido,
Armstrong terminou a carreira como campeão mundial.
O jovem garoto, campeão da categoria no ano passado, é a grande aposta de Pole, e
pontuou nas duas corridas, chegando em P7 no Bahrein e agora em P5 na Arábia.
Jackson está voando, conseguindo P3 e P2, respectivamente. As chances de título são
reais.
Além dele, quem está com a mão quase na taça é Alex, avançando para os playoffs da
NHL em abril. Depois de terminar uma temporada sensacional em Quebec, é hora de mostrar ao
que veio em Toronto.
Aileen foi morar com o novo namorado, um argentino lindíssimo, filho de mãe
canadense. Parece que dessa vez a coisa vai andar. Quem sabe?
Eu fiquei desconfiada de que, talvez, ela e meu irmão estivessem tendo alguma coisa,
mas tanto um quanto o outro insistiram em dizer que era tudo coisa da minha cabeça.
Já Ava está se preparando para o mundial de ginástica deste ano e um bom resultado
garante a ela a tão sonhada vaga nas Olimpíadas. Estamos todos muito ansiosos!
Volto a me concentrar na minha tela, finalizando o último detalhe. Paddock ainda está ao
meu lado esperando que eu lhe dê alguma ordem. Mas, ao contrário disso, deixo minha paleta
com o pincel na mesa de suporte e me sento ao seu lado, abraçando meu cachorro, coçando suas
orelhas. Ele adora.
Olho para a tela e pergunto a ele:
— Você acha que o papai vai gostar? Estou ansiosa para saber!
Ele late, como se realmente tivesse uma resposta para isso, e, toda vez que faz esse gesto,
caio na gargalhada. Eu amo Dock tanto que nem sei explicar.
Paro por alguns segundos, recebendo suas lambidas, e encaro o desenho que passei os
últimos sete dias fazendo. Já pintei alguns quadros que significavam muito para mim,
principalmente os que fiz em homenagem a minha mãe. Mas este… Bom, este daqui é, sem
dúvidas, o mais importante da minha vida inteira.
Hoje decidi que vou fazer um jantar para Theo. Depois de casada, resolvi criar vergonha
na minha cara e fazer um curso básico de culinária. Não é possível depender de Joanne para
cuidar disso o tempo todo, até porque, quando Savard volta para casa, gosto de me conectar com
ele de alguma forma, e nossos jantares têm sido alguns dos nossos momentos favoritos juntos.
— Vamos lá, seu sujinho! Vou te limpar e depois vou para o meu próprio banho. Seu pai
vai chegar daqui a pouco.
Acompanho Paddock até o lado de fora e aproveito para passar nas baias dos cavalos e
dar um oi para eles. Assim como meu pai, Savard é apaixonado por equitação, e agora resolveu
manter alguns animais aqui no rancho. Nosso funcionário que cuida deles é extremamente
amoroso, o que deixa Theo tranquilo quando não está aqui para supervisionar pessoalmente o
tratamento das suas novas paixões.
Depois de lavar e secar Dock, subo para o meu quarto e aproveito para encher a
hidromassagem do banheiro. Enquanto a água não está na altura que desejo, ligo a Alexa e peço
para tocar Taylor.
Saio dançando pelo cômodo, arrancando a minha roupa enquanto o som invade meus
sentidos e meu coração. Sinto-me tão feliz agora. Tão, tão feliz!
Quando rodopio, livrando-me enfim do sutiã, um animadíssimo Theo Savard aparece na
porta do quarto, sorrindo, tão lindo que faz meu coração se acelerar como se fosse a primeira vez
que o vê.
Sem dizer uma só palavra, meu marido começa a dançar, entrando devagar no cômodo,
arrancando peça por peça da sua roupa, enquanto cantarola junto com Taylor.
Primeiro se desfaz dos sapatos e, enquanto rebola, arrancando-me uma gargalhada que
faz a barriga doer, abre a calça e deixa que escorregue pelas pernas. Em seguida, é a vez da
camisa, até que, bem pertinho de mim, ele deixa a cueca para trás.
Meus braços automaticamente se esticam e grudam no pescoço dele, que me puxa para
perto pela cintura.
— Cheguei na hora certa, esposa! — Eu realmente não me canso de ouvi-lo me chamar
assim.
— Eu nem ouvi o barulho do carro, marido! — devolvo brincando, dando um beijo em
Theo e o abraçando em seguida.
Quanta falta eu senti!
A forma como sua mão me toca de um jeito um pouco possessivo me diz que está com
saudade também. Amo como seus lábios sabem ser gentis e rudes, tudo na mesma proporção.
Beijar Theo depois de tanto tempo se parece um pouco com o sentimento de voltar sempre para
os meus momentos favoritos da vida. A maioria deles inclui Pole.
— Definitivamente não dá para ficar tanto tempo longe de você assim, Summer Savard!
— a voz sai um pouco abafada porque ele está com os lábios colados agora no meu pescoço, o
que me deixa toda arrepiada. Theo puxa minha bunda para cima e eu pulo nele, deixando as
pernas em volta do seu quadril. Ele caminha comigo até o nosso banheiro e vê que a banheira
estava sendo preparada. — Tudo de que eu precisava. — Sorri e me coloca devagar dentro da
água, entrando logo em seguida.
Pego nossos sais de banho que ficam na beirada da hidro e o cheiro delicioso de lavanda
surge imediatamente. Ele senta e me puxa devagar para perto.
— Eu estava te esperando um pouco mais tarde — confesso, beijando sua boca em
seguida.
Theo sorri, alisando minha pele molhada por baixo da espuma.
— Meu voo adiantou duas horas. Resolvi tudo o que era preciso com Logan e Manfred,
então resolvi correr logo para a minha mulher, porque não é normal o tanto que eu sofro longe de
você.
Começo a rir, então dobro os joelhos e me sento em suas coxas.
— É provável que eu possa ir com você para a Austrália, afinal — dou a notícia e seus
olhos rapidamente se arregalam.
Ele me puxa um pouco mais e a água se balança com o movimento.
— Você terminou os quadros?
— O último, há uma hora, mais ou menos.
— Raio de sol! —Fica tão feliz por mim que não consigo evitar abrir o maior sorriso do
mundo. — Viu? Eu te disse, Betty te disse, Eddie te disse: você era completamente capaz de
cumprir o prazo. Você é maravilhosa, Summer. — Seus dedos brincam pelo meu quadril e seu
olhar orgulhoso me deixa ainda mais ansiosa.
— Obrigada, amor! — Eu me abaixo um pouco e colo a testa na dele. — Seu incentivo é
sempre muito importante para mim.
— Você nunca terá nada menos do que isso, meu bem. — Seus lábios se encostam
ligeiramente nos meus. — Quero vê-los. Vai me deixar dar uma olhada?
— Sim, mas, antes, vamos jantar!
Ele faz que sim com a cabeça e termina:
— Combinado. Agora, vem cá. Preciso ficar sentindo seu cheiro por meia hora, pelo
menos.
Rindo, eu me junto mais ao Theo e deito a cabeça no seu ombro. Ele me aperta contra seu
corpo e brinca com as minhas costas, curvando o rosto para passar o nariz pelos meus cabelos e
minha pele.
Passamos praticamente a próxima hora falando de tudo, de todos, rindo um pouco e
matando a saudade na cama. Se ele gosta de me fazer gozar quando está longe, gosta dez vezes
mais de fazer o mesmo quando volta.
Eu realmente não posso reclamar da vida que eu tenho!
— Joshua me ligou — Savard comenta enquanto serve uma taça de vinho. Quando vai
pegar uma para mim, dispenso. — Não está bebendo?
— Tenho bastante coisa para resolver com Edward amanhã, preciso estar com cento e um
por cento da minha energia disponível — respondo enquanto sirvo seu prato com paccheri ao
ragu napolitano, que aprendi a fazer no ano passado, quando passamos férias na Sardenha, ao sul
da Itália. Vivi dias incríveis com uma chef de cozinha famosa chamada Betina Cerutti. Ela abre
sua casa para aulas de massas e molhos tipicamente italianos e agora eu quero fazer, o tempo
todo, tudo o que aprendi com ela. Theo ama, porque é um apaixonado pela culinária italiana.
— Está certo. — Preenche sua taça e continua falando. Eu coloco o prato na sua frente e
sirvo o meu. — Voltando a Josh. Ele e Sofia vão se casar.
— Que notícia boa! — Josh nunca esteve tão bem como agora. Após voltar de Paris para
casa, está assumindo ao lado do pai a diretoria executiva da Savard Rent a Car. A ideia é deixá-lo
preparado para assumir totalmente em, no máximo, cinco anos.
É bom vê-lo tão melhor assim. Mais maduro, mais comprometido com a história, o
legado e o dinheiro da família. No fim das contas, Joshua está provando a todo mundo o que é de
verdade: um cara bom.
— Pois é. — Theo dá um gole na bebida, e para por alguns segundos, antes de completar:
— Eles nos querem como padrinhos, mas fazem questão de nos convidar pessoalmente. Eu os
chamei para um fim de semana aqui. Tudo bem para você?
— Com certeza. — Esta casa está precisando de um pouco de movimento mesmo.
Sofia foi sempre uma graça em todas as oportunidades que tivemos de estarmos juntas. O
que poderia parecer estranho para ela, foi entendido com muita maturidade.
Falar que Josh e eu um dia já nos relacionamos nunca foi pauta das nossas longas
conversas.
Assim que Theo coloca a primeira garfada na boca, seus olhos se fecham em deleite.
Começo a rir.
— Meu Deus… Você nunca quis admitir, mas, na verdade, sempre existiu uma exímia
cozinheira aí dentro de você. — Aponta com o objeto de prata em minha direção.
Balanço os ombros e pisco.
— Foi uma tática que eu guardei, caso você não assumisse que estava completamente
apaixonado por mim. Conquistar pelo estômago é sempre infalível.
Ele leva a taça até a boca, dando um gole, colocando na mesa logo em seguida,
respondendo:
— Tinha como não ser completamente apaixonado por você, raio de sol?
Dou a primeira garfada e me surpreendo. Isso realmente está muito bom!
— Me responda você, Pole! — brinco e como mais um pouco, porque realmente, dessa
vez, eu acertei e muito.
Preciso mandar uma mensagem para Betina e agradecer outra vez.
— Analisando todas as possibilidades desde que você entrou com aquele vestido azul-
marinho no quarto de hotel onde te entrevistei, posso te dizer que o meu veredicto é: eu não tive
chance alguma! — Minha risada chama a atenção de Paddock, que aparece correndo pela sala.
Theo alisa sua cabeça e pergunta a ele: — Não foi, Paddock? Ela chegou naquela casa com esse
sorriso bonito, cheia de charme, e virou dona do nosso coração.
— Do cachorro primeiro — zombo e meu marido gargalha, negando.
— Isso é o que você acha, meu bem.
Nós dois continuamos nossa refeição enquanto ele me conta sobre as expectativas para
Melbourne. Não há nada mais lindo nessa vida do que ver Theo falando da sua equipe. Se ele
nasceu para ser o maior de todos os tempos, as pessoas mal podiam esperar para ver o maior
chefe de equipe que a Fórmula 1 poderia conhecer.
Quando terminamos, ele me convida para sentar no seu colo e, abraçados, termina seu
vinho.
— Quando vou poder ver os quadros?
Ele está realmente ansioso.
E eu? Nem sei dizer o quanto.
— Agora, se você quiser.
Theo beija meus lábios de um jeito doce enquanto ajeita meu cabelo, agora grande mais
uma vez, para não incomodar meus olhos.
— Estou pronto! — avisa, olhando-me daquele jeito que faz tudo dentro de mim se
bagunçar.
Saio do seu colo e seguro sua mão para que ele se levante do banco. Ele passa o braço
pelos meus ombros, mantendo-me bem pertinho dele enquanto caminhamos na companhia de
Paddock.
A noite em Bath está deliciosa, com o ventinho gelado do fim de inverno. Quando
passamos pela entrada da casa, vemos o quanto as estrelas estão brilhando. E eu sei que não
poderia ser diferente. Não hoje.
Adianto-me quando chegamos à porta do ateliê e a abro devagar. Acendo a luz no exato
momento em que ele cruza o espaço. Parado ao meu lado, Theo passa os olhos pelas telas,
sorrindo.
Minha nova coleção é em homenagem a sua carreira.
Sei que talvez eu devesse ter guardado segredo e não mostrado nada para ele, mas Theo
não aguentaria esperar.
Enquanto anda devagar pela sala, parando em frente a cada uma delas, que deixei
penduradas em vários dos meus cavaletes, olho para o fundo da sala vendo o meu quadro da
Aurora Boreal.
Todos os dias eu converso com a minha mãe. Todos os dias, tiro alguns minutos para
dizer a ela sobre as coisas que me acontecem. Consigo senti-la feliz, triste, ansiosa, radiante…
Percebo Sara Mackenzie dentro de mim com cada sentimento que eu sei que ela teria. E eu
sempre converso com ela olhando para esse quadro, porque, de alguma forma, Theo me levou até
ela naqueles dias. Pisar em Skye foi como abraçá-la outra vez e eu nunca mais vou me esquecer
daquela sensação.
Por isso, neste momento, peço a ela que esteja aqui, do meu lado, segurando a minha
mão.
Theo fica segundos e segundos em frente a cada uma. Seus primeiros prêmios no kart,
sua primeira pole e seu primeiro pódio, o primeiro mundial e outros momentos que fizeram deste
homem uma lenda do automobilismo. Às vezes ele para e olha para mim, rindo, mas com os
olhos cheios de lágrimas, dizendo-me mais do que as palavras realmente traduziriam.
Quando chega ao quadro da sua aposentadoria, respira fundo, tocando devagar a imagem
dele em pé no carro, balançando a bandeira do Canadá e da McLean. Savard suspira alto e passa
as costas da mão nos olhos, tentando espantar a emoção.
— Foi uma aventura e tanto — conclui. Rindo, chorando, os olhos de Theo olham os
detalhes. Ele passa a mão pela barba e abre um sorriso enorme. — Ficaram incríveis, linda. Eu
jamais poderia pedir por algo tão bonito assim. — Parada ao seu lado, ele me puxa para perto e
eu beijo seu rosto, com o coração disparado. — Foi esse que você terminou hoje?
— Não — nego e aponto para o cavalete do fundo. — O último quadro é aquele ali.
Ele me olha sem entender muito, mas pega minha mão e caminha os dez passos que nos
separam do quadro. Savard para comigo a alguns centímetros de distância e fica encarando a tela.
Nela, a pista do Circuito de Mônaco. Andando pelo asfalto, um homem alto, cabelos
negros, de mãos dadas com a sombra de uma criança, que segura a mão de uma mulher com
cabelos castanhos. Ao lado dela, um simpático cãozinho de cor caramelo e suas orelhas enormes.
Todos de costas.
A sobrancelha de Theo sobe enquanto seus dedos brincam com os meus.
A palma da minha mão está completamente suada e escorregadia.
— Esse orelhudo é o Paddock — diz, por fim, e eu começo a rir. Ele ri também, olhando
sem parar para o desenho. — E esse é o Circuito de Mônaco.
— Sim, são. — Aperto minha mão na sua e Savard respira fundo.
Então, depois de segundos que me parecem infinitos, olha para mim. Como se tivesse
acabado de descobrir que ganhou na loteria ou que soubesse que todo o ouro do mundo é seu.
E é o olhar mais bonito e apaixonado que Theo Savard já me deu.
— Não… — diz, dando uma risada que expressa sua total surpresa. — Não, meu bem.
Isso… — Aponta para a pintura. — Isso, Summer…
Faço que sim com a cabeça, segurando meu próprio choro.
Savard nega com a cabeça, rindo muito, os olhos completamente marejados, ficando de
frente para mim.
Ele me encara com paixão, com doçura, com tanto, tanto amor…
— É verdade isso? — Sua respiração começa a falhar enquanto sinto suas mãos quentes
tomarem meu rosto, levando-me para mais perto dele.
Eu moraria na felicidade de Theo Savard neste momento para todo o sempre!
— É verdade, meu amor. É verdade!
— Meu Deus do céu — então ele me abraça e começa a chorar.
Agarro meu marido entre meus braços e choro junto com ele.
Os seus me apertam forte e eu me sinto tão plena agora!
Quando me solta, beija a minha boca várias vezes, misturando nossas lágrimas, e eu rio
de novo, aceitando cada um deles.
— Eu vou ser pai, Summer Savard. Pai de um filho seu! Deus… — Limpo com os dedos
o seu rosto, enquanto ele ri o riso mais feliz de todo o mundo. — Pai do seu filho, meu amor! Eu
te amo tanto, raio de sol.
— Eu te amo mais! — repito várias e várias vezes.
De repente, ele se abaixa na minha frente e levanta com cuidado meu casaco e camiseta.
Alisando devagar, beija minha barriga.
O gesto me faz rir, na tentativa de segurar as lágrimas que chegam outra vez.
— Oi, filho — diz baixinho. — Ou filha — corrige enquanto brinco com seus cabelos
bagunçados, agora misturados com alguns fios brancos. — Você não sabe o quanto o papai te
esperou! — Cola a testa no meu ventre, ficando calado por alguns segundos. — O quanto eu
desejei você e seu irmão que não está mais aqui. — Tento não fazer barulho com o soluço que
solto agora. — Você vai ser a criança mais feliz e amada deste mundo, eu te prometo. Eu te
prometo! — Beija de novo e encosta outra vez a cabeça em mim.
Eu queria que meu marido pudesse se ver pelos meus olhos agora, e ele saberia, com
certeza, que nosso bebê jamais poderia ter escolhido vir para outra família que não fosse esta,
porque Theo Savard, sem sombra de dúvidas, será o melhor pai de todo o mundo.
Ele vira o rosto na minha direção e não consegue parar de sorrir.
— Nós amamos você! — sussurro e ele fica de pé, erguendo-me pelas pernas, fazendo
com que eu grude nele.
Theo gira a gente no lugar e eu dou uma gargalhada descontrolada, o que o faz rir alto
também.
— Eu vou ser pai, Summer Savard! Eu vou ser pai!
E seu grito de felicidade genuína ecoa pelo ateliê, pela casa inteira, mas, principalmente,
no meu coração. Porque, desde que eu soube que agora carrego nosso filho no ventre, felicidade
é tudo o que sinto. Da cabeça aos pés. O tempo inteiro.
E ser feliz com Theo Savard, do jeito que ousamos sonhar um dia, mesmo contra tantas
coisas, é tudo o que eu quero ser.
Hoje.
Amanhã.
E para sempre.
Epílogo - Theo Savard

QUATRO ANOS DEPOIS


GP DE INTERLAGOS, SÃO PAULO, BRASIL

É ensurdecedor o barulho do box da McLean agora. A equipe inteira está pulando, se


abraçando e comemorando enquanto Jackson Pedrosa se consagra campeão antecipado da
temporada.
— Está ouvindo isso, Pedrosa? É uma equipe extasiada com você — falo ao rádio
enquanto ele grita do seu carro, chorando.
Os fogos de artifício se estouram por todos os lados.
Vencer o primeiro mundial da vida dentro de casa é histórico. Eu nunca tive essa chance,
visto que a FIA sempre coloca o Canadá no meio do calendário, mas tive oportunidade de
realizar grandes feitos quando corri lá dentro.
— Não consigo parar de chorar, cacete! — Ouço seus soluços enquanto ele dá a volta
com a bandeira do Brasil na mão. Meu sorriso é instantâneo quando o ouço dizer: — Vocês são a
equipe mais foda dessa porra inteira. Savard, você é o maior. Obrigado por esse ano, por este
carro, por acreditar que era possível.
Eu sabia que toda aquela loucura de anos atrás se transformaria em algo muito potente.
Não à toa, Jackson conquistou números poucas vezes vistos na história da Fórmula 1, chegando a
liderar e ganhar uma corrida com vinte e seis segundos de diferença para o P2.
Isso tudo é resultado da sua busca incansável pela excelência e dos carros que projetamos
e desenvolvemos nos últimos dois anos. Ganhei a liberdade de ir atrás dos melhores profissionais
da F1 para termos uma equipe altamente competitiva. O desempenho de Jackson e Giulio este
ano nos provou que eu fiz as escolhas certas.
— Chora, porque você merece — devolvo enquanto as pessoas me abraçam, me
parabenizam e gritam ao meu lado o nome do nosso campeão.
Não foi fácil aceitar o cargo para substituir Wisbech. O maior dos maiores. Ao mesmo
tempo, era como se a vida estivesse me falando que, embora eu acreditasse que já tinha cumprido
meu papel aqui dentro, na verdade, isso estava longe de acontecer.
O sentimento de ser quem pilota um carro para quem “pilota” uma equipe é
completamente diferente, mas tão vibrante quanto. Esse é o tipo de coisa que me dá tesão na
vida.
Isso e a esposa lindíssima que eu tenho, vindo agora em minha direção de mãos dadas
com nossas crianças.
Tiro meu fone e me viro para ela.
Claire larga a mão de sua mãe e, com seus pequenos pezinhos, corre até mim, vestida
com a roupa da McLean, assim como meu garoto também.
Meu coração bate tão forte agora, porque a visão desses três juntos sempre será o maior
prêmio que conquistei nesta existência.
Eu não poderia explicar o dia em que Claire nasceu. As coisas que senti quando a peguei
pela primeira vez no colo transcendem qualquer sentimento de felicidade que eu tenha
experimentado ao longo dos meus mais de quarenta anos de vida.
Era como ver um sonho embrulhado em um pequeno pacote de roupinha branca, bem na
palma da minha mão. Seus olhinhos, suas mãos, os pés, a boquinha…, tudo em Claire é perfeito.
Tudo.
Eu me agacho para ficar à sua altura e de Noah, nosso rapazinho de oito anos. Depois de
dois anos de espera, Summer e eu, finalmente, fomos agraciados com sua adoção.
A primeira vez que meus olhos caíram no menino tímido, de olhos castanho-claros, pele
bronzeada e cabelos escuros encaracolados, tentando se adaptar a um mundo de possibilidades
que o instituto lhe oferecia e que jamais antes lhe havia sido mostrado ou apresentado, eu soube
que era ele. No meu coração, sabia que Noah era o filho que o mundo me daria de presente.
Summer me disse a mesma coisa assim que voltamos para casa naquele dia.
Não sossegamos enquanto não conseguimos o nosso sim, e, no dia em que ele finalmente
entrou pela porta do rancho, entendendo que a partir de então tudo ali também era seu,
principalmente todo o nosso amor, eu tive certeza de que sou um homem de muita sorte.
Muita, muita sorte.
Não há um heptacampeonato que chegue perto da sensação de ter a família que eu tenho.
Summer é meu bálsamo. A esposa e mãe mais bondosa, amorosa e perfeita que nós três
poderíamos ter. O amor que exala de cada mínima coisa que faz, seja na sua vida profissional,
como mãe dedicada ou como uma companheira extraordinária, dá a mim, Noah e Claire, a
certeza de que tudo de que precisamos está em cada pedacinho de Summer Savard.
A mulher dos meus sonhos.
O meu raio de sol.
Quando os pequenos corpos em proporções diferentes se chocam contra o meu, sinto o
amor me inundar.
Eu vivo por eles.
E morreria por eles também.
— Ah, que abraço mais gostoso! — digo aos dois, beijando-os alternadamente.
Claire, que nitidamente puxou os traços da mãe, com os cabelos lisos e bem claros, os
olhos esverdeados herdados de Sara, ri sentindo cócegas com a minha barba, e Noah está
completamente empolgado com a vitória de Jackson.
— Ele foi campeão, pai! — se anima, apertando os braços em volta do meu pescoço.
— Foi, filho. Vamos comemorar muito hoje! Não é, pequeno raio de sol? — pergunto à
minha filha, pois é como a chamo.
Ela balança a cabecinha, sacudindo os rabinhos que sua mãe fez no topo dela, fazendo-a
se parecer com um personagem de desenho animado. Dou uma risada e volto a beijá-los sem
parar.
Meus filhos nos paddocks tornou-se uma regra, já que minha esposa faz questão de que
isso não seja uma exceção. Em todas as chances que temos de eles viajarem junto comigo, sem
atrapalhar sua rotina de trabalho, nós fazemos. Aproveitamos o destino, curtimos tudo o que
podemos em família e depois mergulhamos no fim de semana de trabalho.
Noah é a paixão dos nossos mecânicos. Inteligente e sempre atento, adora aprender sobre
tudo com eles. Claire é sempre um show à parte, cheia de carisma e palavras emboladas que
deixam todo mundo encantado.
E se um dia eu achei que já tinha sido feliz na vida, não tinha real noção do que era isso
até que esses momentos acontecessem.
Sinto a presença de Summer na minha frente e, assim que levanto o rosto, ela está
olhando para nós, sorrindo. Levanto-me devagar e, segurando as mãos dos nossos filhos,
aproximo meu rosto do dela quando segura o meu.
Enquanto a idade tenta de todas as formas me entregar com o pequeno emaranhado de
fios pretos brigando com os brancos que insistem em aparecer cada vez em maiores quantidades,
Summer Campbell Savard está no auge da sua beleza, jovialidade e acabando de chegar aos
trinta e um anos.
Mas isso é o menor dos problemas para mim. Ao lado dela, eu me sinto tão jovem como
nunca fui antes.
Linda, talentosa, mundialmente conhecida pelo seu trabalho com as telas e, agora,
descobrindo outro talento: ensinar. Summer acaba de se tornar coordenadora do núcleo de artes
do instituto, assumindo algumas aulas de pintura na nossa matriz, em Londres.
Noah sente-se em casa, e Claire, tem vivido dias de muito aprendizado enquanto
frequentam o Instituto Theo Savard com a mãe.
— Estou tão, tão orgulhosa de você, Pole Position! — Seus olhos me dizem isso antes
mesmo que seus lábios, que encontram os meus em seguida.
O meu paraíso particular.
A verdadeira casa para onde quero voltar ao fim de cada GP.
Seus braços, seu calor.
Seu amor.
Quando resolvi que abriria mão da chefia da McLean para acompanhar Summer e os
primeiros anos de vida de Claire, minha esposa não deixou. Ela foi categórica em dizer que nós
dois saberíamos muito bem criar nossa menina sem precisar renunciar ao que nos deixava felizes
nesse momento. E liderar a McLean realmente era algo que eu queria muito fazer. Assim,
ouvindo-a, refiz algumas rotas, deixei minha família onde sempre esteve, na minha máxima
prioridade, e gerir meu tempo ficou mais fácil quando eu soube que qualquer momento livre das
minhas obrigações oficiais era exclusivamente dos três.
— E eu estou tão feliz em poder dividir isso com você, meu bem. — Beijo seus lábios
outra vez enquanto aliso sua pequena barriga pontuda.
Não dá para descrever o quanto minha mulher fica simplesmente maravilhosa grávida.
Agora, seremos seis, já que Dock é, oficialmente, o mais velho dos irmãos.
Em breve, seremos pai de outro garoto. Eu mal posso esperar por esse momento! Seu
nome será Joseph.
Noah está completamente apaixonado pela ideia de ter um irmão.
Ainda brincando com sua barriga, ouvimos Claire falar:
— Papá bezou a mamã.
Summer ri alto, o que me arranca uma risada também. Noah, que já entende tudo, brinca:
— Vocês dois se beijam demais!
Minha esposa puxa nosso filho para perto dela e abaixa a cabeça para enchê-lo de beijos
como fiz agora há pouco. Pego Claire no colo, mas digo a Noah:
— Um dia você vai encontrar uma mulher tão bonita, legal e especial como a sua mãe, e
aí, a única coisa que vai querer fazer da sua vida é beijá-la. Vai demorar bons anos para isso, mas
acontecerá.
— Eca! — Bota a língua para fora em uma careta. — Eu nunca vou beijar na vida! — sua
fala soa orgulhosa. Mas, depois, ele diz: — E nem existe outra mulher igual a minha mãe, então
eu não vou mesmo beijar nunquinha.
Minha ligação com Noah é algo que não consigo explicar, mas a dele e de Summer
parece coisa de outra vida. O jeito de falar, os trejeitos, as coisas de que gostam, e de que não
gostam também. A forma como nosso filho, mesmo com oito anos de idade, tem um senso de
proteção com a mãe, como se precisasse cuidá-la, ampará-la… é uma das coisas mais bonitas
que já presenciei.
Em certa ocasião, ao ver o jeito como meu sogro, Donald Campbell, olhava para o neto
com os olhos cheios de lágrimas, sei no que ele pensou. Na verdade, eu já pensei a mesma coisa
diversas vezes. Sem precisar nos expressar em palavras, a única coisa da qual temos certeza é de
que Noah Campbell Savard não poderia ser de outra família que não a nossa.
Outra vez, ele está em casa.
— Quando chegar a hora, conversaremos — devolvo a ele.
Summer faz uma careta para mim e brinca:
— Não incentive, pelo amor de Deus!
Meu peito se sacode com a risada que eu dou.
— Você é uma mãe ciumenta, Summer Savard? Eu não sabia disso.
— Só um pouquinho! — Ri de lado, beijando Claire no rosto em seguida. — Vamos
comemorar com o campeão?
— Agora! — Balanço minha garotinha enquanto ela bate palmas e Summer segue ao meu
lado de mãos dadas com Noah.
Enquanto caminhamos até a pista, onde minha equipe inteira ovaciona e comemora o
título de Pedrosa, penso em como a vida foi e é boa comigo.
Assistindo a eles assim, ao meu lado, como na tela de Summer, acrescidos de Noah, e na
falta do Paddock, que uma hora dessas está aprontando alguma coisa pelo rancho, sei que tenho
mais do que muitos sonham ter um dia.
E eu tenho muito mais do que mereço. Eu sei. Ah… Eu sei!
Mas não ouso recusar.
Como eu poderia?
Quando as crianças veem Manfred e Logan, correm até eles. Summer passa um braço
pela minha cintura e me abraça, eu faço o mesmo, puxando minha mulher para mais perto. Beijo
sua testa e suspiro, enquanto ela vira o rosto na minha direção.
— Eu tenho um presente para o chefe de equipe do campeão — solta, tentando esconder
um sorriso.
— Ah, você tem? — Ergo uma sobrancelha, esperando que me diga o que é.
Ela ri e passa o outro braço em volta de mim também, agora ficando parada na minha
frente. — Manfred e Logan disseram que adorariam ficar uma noite com as crianças.
— Ah, eles disseram, foi? — Beijo seu nariz.
— Sim! E, sabe...
— Diga o que você quer, esposa, e seu marido te atenderá!
No momento em que digo isso, Summer ri de orelha a orelha, sussurrando:
— Prepare-se para voltar ao passado, Pole. — Pisca e beija meus lábios rapidamente,
soltando-me em seguida, afastando-se.
Ela dá alguns passos em direção à festa da McLean, mas se vira e me olha, como fez
naquele dia, no Bahrein. Quando minha esposa morde os lábios e me dá as costas, correndo para
abraçar Jackson, começo a gargalhar, ainda parado no mesmo lugar, sentindo tudo ao mesmo
tempo dentro do peito.
Como eu amo essa mulher.
Deus do céu… Como eu amo essa mulher.

DIAS DEPOIS
LONDRES, INGLATERRA

Entro pela grande porta do casarão.


Parado, sou recebido por um garçom com copos de uísque.
Agradeço-o e pego o meu, dando um gole antes de descer para o salão.
Como sempre foi, o lugar está lotado esta noite. Repleto de pessoas escondidas por detrás
de máscaras, doidos para explorarem o limite do desconhecido e satisfazerem seus desejos mais
crus.
Um passo por vez na escada e começo a andar entre as pessoas. A maioria das mulheres
estão incrivelmente bonitas hoje, exibindo vestidos apertados e os lábios pintados em cores
fortes. Percebo alguns olhares e cumprimento com um aceno, agradecendo.
Encontro o sofá de lado e abro o paletó do terno para me sentar mais confortavelmente.
Apoio o braço aberto no encosto de trás enquanto assisto ao movimento calmamente, apenas
apreciando a bebida âmbar que desce deliciosa pela minha garganta.
Vejo casais subindo as escadas, interessados em começar sua noite. Quando me pergunto
o que é que pode estar acontecendo lá em cima, ela surge.
Os cabelos de lado, macios e brilhantes. O vestido preto longo, apertado no seu quadril,
deixando um vislumbre da curva provocante da sua bunda. As alças finas marcam seus ombros
bem desenhados, enquanto o decote segura perfeitamente os seios, agora ainda mais fartos.
Suspiro.
A máscara dourada não me entrega mais nada a seu respeito.
A rosa branca me faz querer descontroladamente arrancá-la dali.
De prontidão, ela aceita uma taça de água e começa a andar entre as pessoas, e meus
olhos não desgrudam dela.
Percebo como os homens param e olham. Estão curiosos.
Ela desfila por cerca de cinco minutos até que dá meia-volta e começa a subir as escadas.
Um casal sentado ao meu lado começa uma brincadeira safada que provavelmente vai acabar lá
em cima.
Com calma eu me levanto, terminando meu copo e devolvendo ao primeiro garçom que
encontro. Ajeito o terno outra vez e começo meu caminho até a escada do outro canto. Subo os
degraus de dois em dois, esperando chegar mais rápido lá em cima. Os barulhos vindos ao
corredor são um indício de que a sala de voyeur está em plena ação.
Cruzo com mascarados chegando e saindo, até atravessar a porta, olhando tudo ao redor.
Meus olhos nem demoram a encontrá-la, parada de frente para a grande cama de centro,
assistindo aos casais se tocando e transando desesperadamente.
Cada passo em sua direção faz meu corpo vibrar de excitação.
Quando paro ao seu lado, assisto a sua perna torneada para fora da fenda que vai até o
final da sua coxa. O sapato alto, a rosa branca, o batom vermelho-escuro, os olhos de mel que
agora me encaram. A barriga linda que marca o vestido.
— Gostando do que vê? — minha voz sai baixa, misturada com a música ambiente e os
gemidos que ecoam por todas as partes.
Seu sorriso me destrói.
— É bonito, você não acha? A forma como ela geme, como se estivesse tendo o melhor
sexo da vida dela.
— E talvez esteja mesmo tendo — devolvo, sentindo aquele cheiro de que eu jamais me
esqueceria.
É o mesmo perfume de anos atrás.
— Tomara que sim. — Pisca e volta a olhar para eles, respirando fundo.
— Está excitada? — Chego um pouco mais perto, vendo como os pelos dos seus braços
estão arrepiados.
Sua mão escorrega pela fenda, como quem me oferece para fazer o mesmo. Meus olhos
acompanham o caminho inteiro dos seus dedos.
— Descubra você — a voz sai doce e desafiadora demais.
— Eu não posso te tocar. — Minha respiração se acelera, minha boca sedenta por sua
pele. — Sua rosa.
Ela ri, enquanto escutamos a mulher gritar quando o cara dá tapas estalados e fortes na
sua bunda desnuda, socando tão bruto que faz o corpo da garota desabar no couro preto.
— Faça por merecer que eu troque, Dionísio.
Estalo meu pescoço de um lado e do outro, tentando me controlar.
Passo de leve o quadril na sua bunda para que sinta como estou.
Ela arfa, empurrando-a na minha direção.
— Isso faz com que eu mereça, Sunshine?
— Você gosta de me assistir vendo os outros fodendo? — Seu sorriso quase acaba com
meu juízo.
— Eu gosto de qualquer coisa que envolva sexo e você — disparo as palavras em sua
direção.
Ela se contorce e suspira, vendo agora dois homens com uma mulher. Enquanto um a
beija e toca todo seu corpo, o outro a fode.
De repente, ela abre a bolsa, tirando sua rosa vermelha de lá.
Então, com cuidado, troca a branca por ela.
A forma como o ar sai dos meus pulmões agora não pode ser considerada normal.
— Descubra, Dionísio. Vá em frente — brinca comigo quando minha mão mais do que
depressa some para dentro do seu vestido, procurando pela sua entrada. A outra, a abraça por
trás, apoiando em sua barriga.
E o jeito com que ela me oferece seu pescoço faz com que as memórias de anos dancem
na minha mente.
Quente, gostosa, encharcada, sempre pronta.
— Gosto de te ver olhando para eles, mas não gosto que fiquem olhando o que é meu. —
Beijo sua pele sensível atrás da orelha e ela geme.
— Talvez você deva me mostrar em outro lugar o que tem guardado aí dentro dessa calça
para mim.
Não é só na calça, meu bem. É, principalmente, no meu coração.
Arranco a mão da sua calcinha e coloco os dedos na boca, contrariando pela primeira vez
as regras do clube. Seus lábios se abrem com a surpresa, e em seguida ela morde a bochecha,
ansiosa.
Seguro sua mão e ando para fora da sala, desesperado para ter mais dela.
Porque todos os dias eu quero mais de Summer.
O tempo inteiro eu a quero.
Quero sua doçura, quero seus sorrisos.
Quero sua bondade. Quero sua alegria.
Quero sua excitação. Seus gemidos. Seu corpo suado.
Quero seu toque. Quero sua paixão.
Quero seu calor.
Quero viver com ela os seus sonhos.
Quero viver com ela o futuro que eu sonhei.
Quero assisti-la sendo dona do seu próprio mundo, das suas próprias conquistas.
Eu quero tudo com Summer Campbell Savard, para o resto da minha vida.
Porque só ela me completa.
Só ela faz com que eu seja a melhor versão de mim que já conheci em todos esses anos.
Só ela faz meu coração disparar como se eu ainda fosse um garoto bobo se apaixonando
pela primeira vez, em todas as chances que tenho de olhar nos seus olhos.
Não há Theo sem Summer.
Não há Dionísio sem Sunshine.
Não há nada em mim que possa existir sem esta mulher.
Absolutamente nada.
Ela é tudo. Absolutamente tudo.
Meu raio de sol.
Agradecimentos

Mais uma obra concluída!


Começar falando que foi um grande desafio tornou-se até um pouco clichê. Ainda assim,
um desafio que, no fim, me encheu de orgulho e de aprendizados, principalmente sobre mim
mesma.
Mas, como sempre, nada disso seria possível sem uma rede de apoio que faz, de verdade,
a magia acontecer. Aqueles que, direta ou indiretamente, foram todo o meu suporte para que eu
pudesse, hoje, trazer a história de amor de Theo e Sum para vocês!
Ele, antes e acima de tudo, sempre: Deus! Que me sustenta e me fortalece todos os dias.
Senhor, obrigada por me permitir, mais uma vez, viver um sonho!
Aos meus pais e ao meu namorado, Lucas, que, como sempre, não soltaram a minha
mão. Obrigada por acreditarem em mim e fazerem do meu propósito o sonho de vocês também.
Os amo, muito e sempre!
Laís Moreira, minha beta e conselheira, que por dias e dias segurou minha mão, me
ouviu quando me perdi e me ajudou a encontrar o caminho outra vez. PP não existiria sem você.
Obrigada por ter topado esse desafio e se divertido (e chorado um pouquinho) durante a jornada.
Te amo!
Fê e Ju, foram tantos os desafios pessoais que todas nós enfrentamos durante o último
ano até aqui e, ainda assim, soltarmos nossas mãos nunca foi uma opção, porque acreditamos
umas nas outras e amizades assim não têm preço. Obrigada por sonharem comigo mais uma vez.
Amo vocês!
Deh Amorim, Jack, Rosinha e Carlos Miguel, os responsáveis por deixar tudo o que
envolve Pole Position incrivelmente bonito. Revisão, diagramação e ilustrações impecáveis.
Obrigada por tudo! É uma alegria imensa contar com profissionais tão especiais e dedicados
como vocês!
Vanessa Pavan e LA Creative (Lari e Roh), que ficam nos meus bastidores fazendo
com que tudo aconteça da forma mais linda possível! Ainda bem que eu tenho vocês! Obrigada
pela dedicação e comprometimento com esse projeto e a minha carreira. Vocês são incríveis.
Love u!
Parceiras e leitores (as), que estavam à espera desta história há tanto tempo: obrigada
por aguardarem com paciência e tanto carinho. Não tenho palavras para te dizer o quanto me
sinto sortuda por ter os mais lindos e incríveis leitores desse mundo. Todo meu amor para vocês!
Família e amigos, o amor e a torcida de vocês fazem a jornada bem mais leve. Que
alegria é tê-los comigo. Obrigada por tudo!
Outros livros de Michelle passos

Tudo desmoronou na vida da jovem Caterine Izzo quando o noivo cancelou o casamento
duas semanas antes da cerimônia. Humilhada, desiludida e se perguntando o motivo de estar
passando por aquilo, a descendente de italianos descobre que o governo do país está leiloando
alguns imóveis por apenas um euro, e decide participar do processo para ser dona de um deles,
no Sul da ilha da Sardenha.
Vincenzo Milani é um CEO milionário, herdeiro e dono do olival mais premiado de toda a
região. Ao contrário de outros em sua posição, preza pela simplicidade e por suas tradições
familiares, levando uma vida tranquila na pequena comuna de Carloforte, com apenas seis mil
habitantes. Pai solo da pequena Gabi, tem aversão ao programa de imigração que a prefeitura
local implementou, por um motivo que destruiu a sua família, anos atrás.
O que a cerimonialista brasileira e o rico italiano, treze anos mais velho, não sabem, é que
uma noite de primavera na capital, Cagliari, mudará para sempre suas vidas. Desiludidos, eles
prometem nunca mais se apaixonarem.
Mas, não estaria o destino tecendo em sua manta invisível um amor outra vez para os dois?
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Quatorze anos separam a última vez que Stefano Ferri e Betina Cerutti se viram, do
momento em que seus olhos se cruzam novamente. Quatorze anos desde que o rapaz partiu o
coração da jovem da forma mais cruel que poderia fazê-lo.
Tanto tempo afastados trouxe apenas duas certezas: de que Stefano, hoje CEO milionário
no ramo dos gelatos, um dos homens mais bonitos e famosos de toda a Sardenha, sul da Itália,
não esqueceu totalmente aquela noite em que machucou a mulher que não deveria. E que Betina,
renomada chef de cozinha em Florença, mãe de um adorável garoto de doze anos e recém-viúva,
deixou por todo esse tempo o passado onde deveria deixar, e não está disposta a revivê-lo.
Voltarem a pequena comuna onde nasceram e cresceram fará com que ambos se
reconectem e precisem lidar com as consequências que o passado mal resolvido deixou.
Ele não está disposto a desistir. Ela tem certeza de que não irá ceder.
Será Stefano Ferri capaz de derrubar os muros que Betina Cerutti construiu em volta de si e
provar que eles merecem mais uma vez para os dois?

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Jake Miller acaba de se tornar o running back mais valioso da NFL, ao ter seu contrato
negociado com outra grande franquia da Liga. O jogador de ataque do St. Andrew's Tigers é um
cara que entra em campo sempre para ganhar, e sabe que essa é a grande chance da sua vida.
Abandonado pela mãe ainda pequeno, aos cuidados da tia, Jake cresceu sem saber quem
era o seu pai, e prometeu que jamais se tornaria o fracasso que podiam esperar que ele
fosse.Quando seu caminho cruzou com o do ex-quarterback profissional e, agora, treinador dos
Tigers, Sebastian Tucker, Miller ganhou muito mais do que um padrinho, ganhou também um
pai, alguém que se tornou sua grande referência, dentro e fora dos campos, e por quem tem um
enorme respeito.
Kayla é a caçula de Sebastian, que viu o jovem Jake Miller entrar e sair de sua casa como
se fosse alguém da família. Depois de morar em Londres por quatro anos e se tornar estilista de
moda sustentável, volta para encarar o maior desafio de sua carreira. Ela só não contava que seu
desejo adolescente pelo running back reacendesse ao encontrá-lo, e que se sentisse mais do que
disposta a marcar esse touchdown.
Do outro lado, o jogador não esperava se sentir tão atraído por Kayla Tucker, aquela garota
que agora é uma mulher (e tanto!).
Sebastian sempre teve uma única regra: que Jake e nenhum outro jogador jamais se
envolvessem com sua filha.
E agora? Será J. Miller capaz de manter sua palavra ao treinador e não cruzar essa "end
zone" proibida?

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Biografia

Michelle Passos nasceu e vive em Belo Horizonte, Minas Gerais. Formada em Jornalismo
e pós-graduada em Marketing e Branding, já trabalhou como repórter, fotógrafa e hoje atua na
área de Marketing de Conteúdo. Descobriu aos 11 anos que criar histórias é o que mais ama fazer
na vida.
Louca por viagens, amante de vinhos, chocólatra, apaixonada por suas cachorras, por
música e bons romances, acredita que a leitura pode “salvar vidas” e, por isso, escreve seus
livros com todo o amor do seu coração.
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[1]
Xarope de ácer ou xarope de bordo, conhecido como maple syrup e sirop d’érable nos Estados Unidos e no Canadá, é um
xarope extraído da seiva bruta de árvores do gênero Acer, sobretudo Acer nigrum e Acer saccharum, cujo nome comum, no
Brasil, é bordo.
[2]
Esta sobremesa tradicional escocesa foi criada originalmente para comemorar o início da colheita de framboesa escocesa em
junho. Este é um prato simples que combina muitos ingredientes escoceses típicos, incluindo uísque, mel, aveia e framboesas.
[3]
FIA significa Fédération Internationale de l'Automobile - em português: Federação Internacional do
Automóvel/Automobilismo. Quando se trata de F1, como seu órgão sancionador, define e rege os regulamentos do esporte.
[4]
Novela turca de grande sucesso e audiência no mundo, principalmente no Brasil. A história gira em torno da humilde Eda
Yildiz, que finge, a contragosto, ser a noiva de Serkan Bolat, o herdeiro de uma grande companhia, para conseguir sua bolsa de
estudos de volta. Os dois possuem personalidades totalmente opostas, mas logo se veem envolvidos em uma trama de paixão.
[5]
Após anos separados pela Segunda Guerra Mundial, Claire viaja com seu marido Frank Randall para a Escócia. Entretanto, os
dois acabam separados após Claire ser misteriosamente transportada através do tempo e mandada para 1743. Presa em uma época
onde os levantes jacobitas se iniciam, ela conhece o jovem guerreiro escocês Jamie Fraser e sua vida passa a correr riscos ao
conhecer Jonathan Randall, antepassado de Frank e capitão inglês.
[6]
Ator que dá vida ao arquiteto Serkan Bolat, de Sen Çal Kapimi.
[7]
Local do carro onde fica o piloto.
[8]
Antecipar o pit, colocando pneus mais novos para virar mais rápido que o carro da frente.
[9]
O pitwall normalmente se refere às estruturas que são construídas ao longo da parte superior do chemin de ronde, contra a
cerca entre o pitlane e a reta principal. É o local onde os engenheiros de corrida da equipe, os estrategistas principais e outros
membros importantes da equipe se sentam durante o fim de semana de GP.

Cada equipe tem sua própria configuração, com cerca de três a oito assentos para diferentes funções da equipe, além de um painel
de intercomunicação e monitores que exibem várias informações importantes, incluindo dados de corrida em tempo real, tempos
de pista e clima.
[10]
O pit lane é a via adjacente à pista principal, e é utilizada pelos veículos sempre que precisam de aceder à box. Esta pista
geralmente corre paralela à reta da meta e está ligada em cada extremidade à pista principal. No final da pit lane existe um
semáforo que regula o regresso dos pilotos à pista.
[11]
Mal posso esperar para te ver sem roupa e te foder, Summer Campbell
[12]
Tartan é um padrão quadriculado de estampas, composto de linhas diferentes e cores variadas. A título de exemplo, podemos
mencionar o uso frequente desta estampa em kilts, indumentária típica escocesa.
[13]
Sopa de cordeiro e legumes, comida típica na Escócia.
[14]
A Batalha de Culloden no dia 16 de abril de 1746, entre as tropas do governo britânico e os rebeldes jacobitas, ocorreu no
pântano de Culloden (Culloden Muir, também conhecidos como Drummossie Muir) perto de Inverness, na Escócia, e terminou
com uma vitória para as tropas do governo inglês. Os jacobitas (católicos), fiéis ao jovem pretendente ao trono, foram derrotados
por cerca de 9 mil soldados, fiéis à casa de Hanôver, comandados pelo Duque de Cumberland.
Várias foram as tentativas dos jacobitas de colocar novamente um Stuart no trono, mas as esperanças terminaram com a derrota
na batalha de Culloden. A causa jacobita foi aniquilada, e a constituição de clans e o uso do tartan foram proibidos por mais de
100 anos. Carlos Eduardo Stuart, aspirante ao trono de Inglaterra foi definitivamente derrotado, juntamente com o seu exército de
apoiantes jacobitas, recrutados sobretudo nas Highlands (zonas católicas) escocesas. Com esta derrota, a carreira política do
"young pretender" conheceu o seu fim, e a revolta que ele incitou na Escócia, procurando apoio entre os Highland Clans, foi
definitivamente dominada. Foi o fim de uma campanha de mais de um ano, na qual as tropas jacobitas conheceram algumas
vitórias e tentaram marchar sobre Londres (vindas da Escócia) para alcançar o poder.

[15]
É um equipamento que os carros de Fórmula 1 têm desde 1997, chamado gravador de dados de acidentes (corresponde à sigla
ADR, em inglês) e que usa os vários sensores do carro para determinar a violência de um impacto, computada em forças G.
Quando o ADR marca mais de 18G de pico de impacto, uma luz se acende no carro para mostrar para o piloto e a equipe de
resgate que ele é obrigado a passar pelo centro médico. Os dados também são recebidos pela equipe.
[16]
Anteriormente chamada de Air Canada Centre (ACC), é uma arena multifuncional localizada na Bay Street, no distrito South
Core no centro de Toronto, Ontário, Canadá.

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