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INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

BACHARELADO EM QUÍMICA INDUSTRIAL

MAYRA NERES DA SILVA

REAPROVEITAMENTO DE SUBPRODUTOS DA INDÚSTRIA CERVEJEIRA

VILA VELHA
2022
MAYRA NERES DA SILVA

REAPROVEITAMENTO DE SUBPRODUTOS DA INDÚSTRIA CERVEJEIRA

Monografia apresentada à Coordenadoria


do Curso de Bacharelado em Química
Industrial do Instituto Federal do Espírito
Santo, Campus Vila Velha, como requisito
parcial para a obtenção do título de
Bacharel.

Orientador: Prof. Dr. Juliano Souza Ribeiro

VILA VELHA-ES
2022
(Biblioteca do Campus Vila Velha)

S586r Silva, Mayra Neres da.

Reaproveitamento de subprodutos da indústria cervejeira. / Mayra Neres


da Silva. - 2022.
33 f. : il. ; 28 cm.

Orientador: Juliano Souza Ribeiro

TCC (Graduação) Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Vila Velha,


Curso de Química Industrial, 2022.

1. Cerveja. 2. Resíduos. 3. Reaproveitamento. 4. Impacto ambiental. I.


Ribeiro, Juliano Souza. II.Título III. Instituto Federal do Espírito Santo.

CDD: 641.23
Bibliotecário/a: Camila Rodrigues Quaresma Martins CRB6-ES nº 963
DECLARAÇÃO DO(A) AUTOR(A)

Declaro, para fins de pesquisa acadêmica, didática e técnico-científica, que este


Trabalho de Conclusão de Curso pode ser parcialmente utilizado, desde que se faça
referência à fonte e à autora.

Vila Velha, 07 de 07 de 2022.

Mayra Neres da Silva


AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, que permitiu que tudo isso acontecesse. Ao


Instituto Federal do Espírito Santo, que me acolheu e foi a minha segunda casa
desde o início de 2016, quando ingressei no curso técnico em química, até a
formação no curso superior em meados de 2022. A todo o corpo docente da
instituição e principalmente ao meu orientador Prof. Dr. Juliano Souza Ribeiro,
por ter me dado a honra e oportunidade de aprender com ele sobre química,
cerveja e também sobre a vida. Agradeço aos meus pais Aldo Rogério Gomes
da Silva e Flávia Neres Demo, que nunca tiveram uma formação de nível
superior, mas sempre me deram apoio e condições para que eu conseguisse
realizar esse sonho por nós. Agradeço também aos amigos que conheci no Ifes,
pois eles tornaram a caminhada mais leve.
RESUMO

Com o crescimento do número de cervejarias e microcervejarias no Brasil e no


mundo, é notável também o aumento da geração de resíduos pela indústria
cervejeira. Esse resíduo, que é constituído principalmente (85%) pelo bagaço de
malte, apresenta em sua constituição 30% de proteínas e 65% de fibras, carece de
uma gestão eficiente, já que sua principal destinação é para ração animal ou
adubação. Da mesma forma, contudo relativamente novo para nós brasileiros,
resíduos de lúpulos em flor, compostos, em sua maior parte por proteínas (15%),
celulose e lignina (43%), podem ser provenientes também da fabricação da bebida e
da extração de seus óleos essenciais por hidrodestilação. A transformação destes
resíduos cervejeiros em novos produtos é uma alternativa viável a ser utilizada para
a diminuição ou eliminação dos impactos ambientais causados pelo descarte
inadequado dos mesmos e atendimento das exigências legais referente à
destinação final dos resíduos produzidos. Visando eficiência econômica e
desenvolvimento sustentável, a presente pesquisa objetivou transformar os
subprodutos da indústria cervejeira em carvão ativado para filtração e em papel. Os
resultados obtidos com o carvão ativado produzido da lignina retirada destes
resíduos apresentaram elevada capacidade de extração de querosene em água,
enquanto as fibras de celulose e hemicelulose retiradas das cascas de malte e
resíduos de lúpulo foram facilmente moldadas em produtos que podem agregar valor
a esta bebida.

Palavras-chave: Resíduos, Cervejaria, Malte, Lúpulo e Papel.


ABSTRACT

With the growth in the number of breweries and microbreweries in Brazil and in the
world, the increase in waste generation by the brewing industry is also remarkable.
This residue, which consists mainly (85%) of malt bagasse, has 30% of proteins and
65% of fibers in its constitution, lacks efficient management, since its main
destination is for animal feed or fertilization. In the same way, although relatively new
for us Brazilians, residues of hops in flower, composed mostly of proteins (15%),
cellulose and lignin (43%), can also come from the manufacture of the beverage and
the extraction of their essential oils by hydrodistillation. The transformation of this
brewery waste into new products is a viable alternative to be used to reduce or
eliminate the environmental impacts caused by their improper disposal and
compliance with legal requirements regarding the final destination of the waste
produced. Aiming at economic efficiency and sustainable development, the present
research aimed to transform the by-products of the brewing industry into activated
carbon for filtration and paper. The results obtained with the activated carbon
produced from the lignin removed from these residues showed a high power of
extraction of kerosene in water, while the cellulose and hemicellulose fibers removed
from the malt husks and hop residues were easily molded into products that can add
value to this beverage.

Keywords: Waste, Brewery, Malt, Hops and Paper.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA ....................................................................... 7

2 OBJETIVOS GERAIS: ........................................................................................ 10

2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................ 10

3 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................. 11

3.1 AS MATÉRIAS-PRIMAS .............................................................................. 11

3.2 A PRODUÇÃO DE CERVEJA ...................................................................... 13

3.3 RESÍDUOS CERVEJEIROS ........................................................................ 14

3.3.1 Bagaço de malte de cevada .................................................................. 14

3.3.2 Resíduos de flor de lúpulo ..................................................................... 15

3.4 LIGNINA ....................................................................................................... 17

3.5 CELULOSE .................................................................................................. 18

3.6 HEMICELULOSE ......................................................................................... 19

3.7 QUEROSENE .............................................................................................. 19

4 METODOLOGIA DA PESQUISA ........................................................................ 20

4.1 PROCESSO DE POLPAÇÃO DO BAGAÇO DE MALTE DE CEVADA ....... 20

4.2 PROCESSO DE POLPAÇÃO DE RESÍDUOS DE EXTRAÇÕES DE ÓLEOS


ESSENCIAIS DE LÚPULOS EM FLOR ................................................................. 21

4.3 RECUPERAÇÃO DA LIGNINA .................................................................... 22

4.4 PRODUTO E PROCESSO DE OBTENÇÃO DE MATERIAL FIBROSO


ORIUNDO DE SUBPRODUTOS DA INDÚSTRIA CERVEJEIRA: PEDIDO DE
PATENTE SUBMETIDO AO INPI (BR 10 2020 010026 2). ................................... 22

5 DISCUSSÃO DE RESULTADOS ....................................................................... 25

5.1 CARVÃO ATIVADO À BASE DE LIGNINA .................................................. 25

5.2 MATERIAL FIBROSO ORIUNDO DE SUBPRODUTOS DA INDÚSTRIA


CERVEJEIRA......................................................................................................... 27

6 CONCLUSÃO ..................................................................................................... 29
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 30
7

1 INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA

A cerveja é uma das bebidas mais antigas já produzidas pelo homem, porém, não
há um acordo entre os historiadores sobre sua origem (SACHS, 2001). A bebida foi
desenvolvida paralelamente aos processos de fermentação de cereais e, na
antiguidade, difundiu-se lado a lado com as culturas de milho, centeio e cevada,
entre os povos da Suméria, Babilônia e Egito (AQUARONE, et al., 2001). A cerveja
chegou ao Brasil em 1808, trazida pela família real portuguesa de mudança para o
então Brasil colônia.

A produção de cerveja no Brasil apresenta uma tendência crescente nos últimos 30


anos, e em 2020 alcançou o patamar de 151 milhões de hectolitros (mi hl) colocando
o Brasil em terceiro lugar no ranking mundial atrás apenas da líder China (341 mi hl)
e dos EUA (211 mi hl) e a frente do México (107 mi hl) e da Alemanha (87 mi hl)
(BARTH-HASS, 2020). Mais da metade do volume do produzido de cerveja no
mundo vem desses 5 países. De acordo com a Oxford Economics, em 2019 o setor
estimulou US$ 28,7 bilhões em contribuições brutas para o PIB nacional,
correspondendo a 1,5% do total.

A pandemia de Covid-19 impôs mudanças à indústria cervejeira e segundo a


CervBrasil, o consumo migrou para dentro de casa. Por isso, subiu de 40% para
65% a parcela das vendas em embalagens descartáveis, como latas e long necks. O
uso das garrafas retornáveis dos bares caiu de 60% para 35%. O Brasil chegou a
um total de 1.383 cervejarias registradas no Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA), ao final de 2020, em meio à pandemia Covid-19. Foi o
primeiro ano em que todos os estados do país registraram ao menos uma cervejaria,
com a abertura da primeira fábrica no estado do Acre. No mesmo ano, foram
registradas 204 novas cervejarias e outras 30 cancelaram seus registros, o que
representa um aumento de 174 cervejarias em relação ao ano anterior, alta de
14,4% (MAPA, 2020).

De acordo com o Anuário da Cerveja do Ministério da Agricultura divulgado em


2020, as 1.383 cervejarias brasileiras estão espalhadas em 609 municípios
brasileiros, porém, o Sul e o Sudeste concentram 85% do mercado. São Paulo é o
8

Estado com mais unidades (285), enquanto Porto Alegre é a cidade com a maior
concentração (40) (MAPA, 2020). O Espírito Santo apresentou 41 cervejarias
registradas, demonstrando um crescimento de 58,4% em relação ao ano anterior,
ocupando a posição de 7° estado com maior número de registro de
estabelecimentos do Brasil (MAPA 2020). Vale ressaltar, no entanto, que a
legislação brasileira não distingue as cervejarias artesanais das grandes empresas
de cervejas, e por isso, os dados são computados com os dois setores
conjuntamente.

A produção de cerveja no estado do ES contribui para o crescimento de


microempreendedores, gerando trabalho e renda para todo mercado envolto nesta
produção, uma vez que é necessária a compra da matéria prima e equipamentos,
alimentando, desta forma, a economia do estado.

De acordo com o Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja, as cervejarias


impactam positivamente outros setores econômicos, como o agronegócio,
transporte, energia, veículos, alumínio e vidro, entre outros. Atualmente, mais de 2
milhões de pessoas são empregadas direta e ou indiretamente, seja nas unidades
fabris instaladas em solo brasileiro ou nas empresas que compõem a extensa cadeia
de valor, composta pelas indústrias dos insumos e da distribuição (SINDICERV,
2019).

Pela legislação brasileira mais atual, a cerveja é definida como:

Bebida resultante da fermentação, a partir da levedura cervejeira, do mosto


de cevada malteada ou de extrato de malte, submetido previamente a um
processo de cocção adicionado de lúpulo ou extrato de lúpulo, hipótese em
que uma parte da cevada malteada ou do extrato de malte poderá ser
substituída parcialmente por adjunto cervejeiro (BRASIL, 2019).

Os restos gerados pelas atividades agrícolas e industriais são tecnicamente


conhecidos como resíduos, assim definido pela NBR 10.004/1987. Estima-se que a
produção mundial anual de resíduo cervejeiro é de aproximadamente 30 milhões de
toneladas, sendo a produção brasileira em torno de 1,7 milhões de toneladas/ano.
9

Este resíduo é constituído essencialmente pela casca do malte e apresenta, em


média, em sua constituição 30% de proteínas e 65% de fibras, sendo considerado
um subproduto industrial com baixo valor agregado (REINOLD, 1997).

Tais resíduos carecem de uma gestão eficiente, já que sua destinação é de


responsabilidade do gerador, incorrendo em desrespeito legal caso sua remoção for
inadequada. Grande parte do mesmo é utilizada para a produção de compostos
destinados à alimentação animal ou adubação em campos e muitas cervejarias não
o reutilizam. Segundo os autores Mussato e colaboradores (2006), Borges e Neto
(2009), o descarte inadequado desses resíduos pode ocasionar danos ao meio
ambiente e sua eliminação direta ao solo ou em aterro sanitário tem se mostrado
ineficiente visto que os mesmos não são suficientes para drenar a grande
quantidade produzida por ano.

Assim como nas demais indústrias, há uma crescente pressão para reduzir os
subprodutos do processo produtivo da bebida, reutilizando-os em outros processos
ou produtos visando à sustentabilidade do negócio, o que envolve questões sociais,
eficiência econômica e desempenho ambiental em uma prática operacional de uma
empresa.

Diante desse cenário, o reaproveitamento dos resíduos cervejeiros é uma das


alternativas mais viáveis e utilizadas para a diminuição ou eliminação dos impactos
ambientais causados pelo descarte inadequado dos mesmos e atendimento das
exigências legais referente à destinação final dos resíduos produzidos.

De acordo com a Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ), atualmente, o Brasil ocupa o


segundo lugar no ranking dos países produtores de celulose e suas duas principais
fontes de madeira utilizadas para a produção são as árvores plantadas de pinus e de
eucalipto (responsáveis por mais de 98% do volume produzido). Em contrapartida, o
uso de resíduos agrícolas da Indústria Cervejeira para a obtenção de celulose seria
capaz de diminuir este número e proporcionaria um desenvolvimento mais
sustentável e um maior valor agregado para os produtos cervejeiros.
10

2 OBJETIVOS GERAIS:

Objetivou-se com esta pesquisa, reutilizar subprodutos da fabricação cervejeira,


sendo eles, em sua maior parte, bagaço de malte e lúpulo com o intuito de obter dois
novos produtos.

2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Produção de:

1. Carvão ativado à base de lignina para utilização como adsorvente


de contaminantes da água.
2. Material fibroso à base de celulose e hemicelulose, para a
confecção de produtos cervejeiros diversos, como: rótulos, porta
copos, copos, canecas, garrafas e embalagens de cerveja.
11

3 REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 AS MATÉRIAS-PRIMAS

A cerveja possui quatro constituintes principais: o malte derivado da cevada, água,


lúpulo e leveduras, todos considerados pela maioria dos produtos indispensáveis
para produção da cerveja tradicional (De Keukelerie, 1999). Porém, existem países
que permitem o uso de outro constituinte no lugar do malte de cevada como, por
exemplo, o malte de arroz, de trigo e milho. Já em outros países, por muitos anos,
foi proibido o uso de constituintes diferentes dos permitidos por lei, como no caso da
Alemanha com a Lei de Pureza, criada em 23 de abril de 1516 pelos duques
Wilheim 4º e Ludwig 10º, esta estabelece que a cerveja bávara deveria ser
constituída apenas por malte de cevada, água e lúpulo (Grambier, 2017).

Dentre os ingredientes principais, a água representa cerca de 90% da composição


em massa da cerveja e exerce grande influência sobre a qualidade desta (De
Keukelerie, 2000; Dragone et al., 2007; Silva; Faria, 2008; Araújo et al., 2003;
Zuppardo, 2010). Isso porque, a sua composição é fortemente alterada pelas
condições do solo onde se encontra e outras variáveis. Nas cervejarias, o uso de
água é distribuído da seguinte forma: (i) de uso geral (banheiros e limpeza em
geral); (ii) de processo (água da caldeira, água quente, água fria e etc); e (iii) nobre
ou cervejeira (água utilizada no processo de fabricação como matéria-prima).

Outro ingrediente de vital importância na produção de uma cerveja é o malte. Ele é


resultante do processo artificial e controlado de germinação (malteação) da cevada e
outros cereais como arroz, trigo, sorgo, etc. A cevada, cereal da família das
gramíneas (gênero Hordeum) é o mais importante deles. Ela é cultivada há cerca de
8 mil anos e reúne várias características que justificam sua utilização na produção
de cerveja, sendo rica em amido, contendo enzimas importantes, possuindo uma
casca que confere proteção ao grão durante a malteação e fornecendo o aroma e
sabor característicos da bebida (Rosa e Afonso, 2015).
12

O Terceiro componente vital para a fabricação de uma cerveja é o lúpulo. O lúpulo é


uma trepadeira da família Cannabaceae, gênero Humulus, espécie Humulus
Lupulus. É uma planta perene, dióica, sendo a planta fêmea a de interesse
comercial, visto que possui glândulas de lupulina que sintetizam e acumulam resinas
e óleos essências, que serão encarregadas pelo aroma e amargor na cerveja
(Grizotto, 2017). Essa planta é cultivada, quase que exclusivamente, para o uso na
produção cervejeira. De acordo com a Hop Growers of America, nas últimas
décadas, os Estados Unidos se tornaram o maior produtor mundial de lúpulo,
alcançando em 2021 uma produção recorde de 52,8 mil toneladas. Em termos de
produção, o país é seguido pela Alemanha. O Brasil, recentemente, tem
apresentado plantas que já se adaptaram ao nosso clima, mas ainda possui um
papel quase inexistente no cenário mundial
(https://www.agazeta.com.br/es/agro/viana-ganha-campo-experimental-de-lupulo-
para-exportacao-0522).

As leveduras pertencem ao domínio Eukaryota, reino Fungi, sendo organismos


unicelulares, eucariontes, de morfologia típica esférica ou oval. O gênero
Saccharomyces, o principal para os cervejeiros, reproduz-se por brotamento,
formando um broto em sua superfície e dividindo o núcleo. Quando forma-se uma
parede celular entre o broto e a célula original os dois são separados, resultando em
dois organismos (TORTORA et al., 2012). No mundo cervejeiro, há diferenciação
entre leveduras para a produção de cervejas tipo Ale e Lager, referindo-se a
leveduras Ale como Saccharomyces cerevisiae e a leveduras Lager como
Saccharomyces pastorianus (Carvalho et al., 2006, SILVA, 2019). As leveduras são
responsáveis pela fermentação, que de acordo com Tortora et al. (2012) é definida
como:
Qualquer processo metabólico que libera energia de um açúcar ou
de outra molécula orgânica, que não requer oxigênio ou um sistema
de transporte de elétrons e utiliza uma molécula orgânica como
aceptor final de elétrons.

Na produção cervejeira, a maior utilização desse gênero se dá ao seu uso milenar e


a habilidade de sintetizar etanol e gás carbônico (CO2) ao metabolizar açúcar
(WHITE; ZAINASHEFF, 2010).
13

3.2 A PRODUÇÃO DE CERVEJA

Para a fabricação da cerveja é necessário utilizar o grão de cevada malteado, pois o


grão in natura não possui o sistema enzimático necessário para a conversão do
amido contido no interior do grão (amilose e amilopectina) em açúcares
fermentáveis. O processo de malteação é dividido em três etapas (Silva e Faria,
2008): (i) a maceração, que fornece água ao grão para que ele inicie a germinação;
(ii) a germinação, que é conduzida em caixas preparadas com rigoroso controle de
temperatura, umidade (45-50%), oxigênio e CO2; (iii) e a secagem, que torna o malte
estável e armazenável por meio do processo de secagem. Nesta última etapa,
encerra-se o processo fisiológico e define-se o paladar, o aroma e a cor desejados
sabores e colorações.

Após a malteação, o grão chega às cervejarias, onde é iniciado o processo de


produção da bebida (Figura 1), que passa pelas seguintes etapas:

(i) Moagem do malte;


(ii) Mosturação;
(iii) Clarificação do mosto;
(iv) Fervura do mosto;
(v) Separação do trub quente;
(vi) Resfriamento do mosto;
(vii) Fermentação;
(viii) Maturação;
(ix) Filtração;
(x) Envase.
14

Figura 1 - Representação básica do processo produtivo da cerveja.

Fonte: Adaptado de Tozetto (2017).

O processo de produção da cerveja artesanal é realizado, basicamente, em quatro


etapas: preparo do mosto (brassagem), fermentação e maturação, filtração e
acabamento (envase) (Dragone et al., 2007; Silva & Faria, 2008). O Bagaço do
malte é retirado após da lavagem dos grãos (Figura 1), enquanto os resíduos de
lúpulo podem ser provenientes da parte quente ou fria do processo. Na parte quente,
são retirados após a fervura e na parte fria após o Dry Hopping.

3.3 RESÍDUOS CERVEJEIROS

3.3.1 Bagaço de malte de cevada

A cevada, cereal da família das gramíneas Hordeum vulgare L., após passar pelo
processo de malteação (ROSA; AFONSO, 2015; COELHO NETO et al., 2020), é um
dos principais ingredientes na fabricação de cerveja. Contudo, ao final do processo
de mostura (ROSA; AFONSO, 2015), é o seu bagaço (Figura 2) o principal resíduo
sólido formado (85% dos resíduos cervejeiros) (LIMA, 2010).

Embora sua composição química varie devido a diversos fatores (espécie da


cevada, o processo de malteação, a moagem, a mostura dentre outros) (CELUS;
BRIJS; DELCOUR, 2006; SANTOS et al., 2003), o bagaço de malte apresenta-se
como um material predominantemente fibroso, com significativos teores de proteínas
15

(15 a 26%) e 70% de fibras, compostas por celulose (15,5 a 25,0%), hemicelulose
(28,0 até 35,0%) e lignina (28,0% em média). Este material contém, ainda, lipídeos
(3,9 a 10,0%), cinzas (2,5 a 4,5%), vitaminas, aminoácidos e compostos fenólicos
(ALIYU; BALA, 2011; LIMA, 2010; ROBERTSON et al., 2010, MUSSATO et al.,
2006; MATHIAS, 2015).

Figura 2 – Bagaço de malte.

Fonte: elaborada pela autora, 2022.


O destino usual do bagaço de malte cervejeiro é a produção de ração animal.
Contudo, é possível explorar de uma forma mais científica a utilização deste
subproduto, de forma a extrair ainda mais certos componentes, antes de destiná-lo
como ração. Na literatura científica, vários trabalhos citam diversas aplicações, tais
como bioenergia e biogás (KAFLE; KIM, 2013), bioprocessos (GENCHEVA et al.,
2012), suporte para imobilização celular (HASHEMI et al., 2011), dentre outros.

3.3.2 Resíduos de flor de lúpulo

Os constituintes majoritários da flor de lúpulo (FIGURA 3) são (%m/m):


resinas totais (15-30), proteínas (15), celulose/lignina (43), água (10) e óleos
essenciais (0,5-3). Destaca-se que tais valores podem variar de acordo com a
variedade do lúpulo, local e técnicas de cultivo (BENITEZ, et al., 1997).
16

Figura 3 (A e B) – flor de lúpulo.

Fonte: elaborada pela autora, 2022.


Além da produção cervejeira, os resíduos de lúpulos também podem ser
provenientes de extração de óleos essenciais das flores por hidrodestilação (Figura
4), que é um método antigo e versátil no qual o material vegetal permanece em
contato com a água em ebulição. O processo consiste na evaporação dos
compostos voláteis da matriz vegetal, utilizando vapor, que em seguida são
condensados e coletados (GAVAHIAN & FARAHNAKY, 2018), enquanto os resíduos
da flor permanecem no cesto.

Figura 4 (A e B) – Extração de óleos essenciais de lúpulos por hidrodestilação.

Fonte: elaborada pela autora, 2022.


17

No decorrer do desenvolvimento do presente projeto, foram realizadas várias


extrações de óleos essencias de diferentes lúpulos capixabas em flor, dentre eles:
Comet, Zeus e Chinook. As flores foram plantadas no município de Viana – ES em
parceria com o Ifes – campus Vila Velha e a prefeitura de Viana. As extrações foram
realizadas no Lacemp – Laboratório de Análise de Cervejas e Matérias-Primas em
parceria com a HopDrops (start-up incubada no Ifes).

A HopDrops foi fundada com o objetivo de substituir o DryHopping convencional pela


adição de óleos essenciais na produção de cervejas artesanais e teve a subvenção
econômica de R$ 57.000,00 concedida pela FAPES – Fundação de Amparo à
Pesquisa e Inovação do Espírito Santo por meio da aprovação no Edital
“Fapes/Finep n° 07/2019 – Programa Centelha ES” (processo n° 86344943).

3.4 LIGNINA

A Lignina (Figura 5), do latim, lignum, que significa madeira, foi descoberta em 1838,
porém só mais tarde a molécula teve sua importância reconhecida e estudada mais
a fundo (SALIBA, 2001). Ela é uma complexa macromolécula polifenólica
tridimensional que se liga à hemicelulose e envolve parcialmente os polissacarídeos
e as microfibrilas de celulose na parede celular de plantas. Resume-se, a lignina, a
um material físico e quimicamente heterogêneo, formado por várias combinações de
p-hidroxifenil, guaiacil e siringil (HATAKEYAMA et al., 2009).

Figura 5 – Modelo de Estrutura química da molécula de lignina.

Fonte: Adaptada de INFOESCOLA.


18

A lignina proporciona suporte mecânico e elástico para a planta, facilita o transporte


de água e nutrientes em seu interior e dificulta a entrada de patógenos microbianos
(DAVISON et al., 2013).

3.5 CELULOSE

As plantas realizam reações de fotossíntese, que consistem, basicamente, na


conversão de água e gás carbônico em oxigênio e glicose, quando estão na
presença da luz solar, de acordo com a reação abaixo:

6 CO2(g) + 6 H2O(ℓ) + luz solar → 1 C6H12O6(aq) + 6 O2(g)

A glicose é um carboidrato classificado como monossacarídeo e as combinações de


várias moléculas de glicose são denominadas polissacarídeos. Quando essa
combinação ocorre por unidades de β-glicose, há a formação da celulose:

Figura 6 – estrutura molecular de celulose e da hemicelulose

Fonte: Laboratório de Química do Estado Sólido, 2022.

A celulose tem estrutura fibrosa e úmida, na qual se estabelecem múltiplas pontes


de hidrogênio entre os grupos hidroxilas das distintas cadeias justapostas de glicose,
tornando-as impenetráveis a água e, portanto, insolúveis, dando origem a fibras
compactas que constituem a parede celular dos vegetais (FOGAÇA, 2018).
19

Além de ser utilizada na produção de papel, ela é empregada na indústria


alimentícia, na produção de fibras, cosméticos, aglomerados de madeira, filmes,
agentes gelificantes, de biocombustíveis, adesivos, plásticos, tintas para impressão,
revestimentos e nano materiais (GUERRIERO et al., 2016).

3.6 HEMICELULOSE

Representando até 35 % da massa do material lignocelulósico (TRAJANO et al.,


2013), a hemicelulose é uma classe de carboidratos com composição e estrutura
variáveis de acordo com o tipo de planta. Mais especificamente, hemiceluloses são
polissacarídeos de estrutura amorfa com cadeia ramificada (Figura 6) e podem
conter pentoses (β-D-xilose, α-Larabinose), hexoses (β-D-manose, β-D-glicose, α-D-
galactose) e ácidos urônicos (GÍRIO et al., 2010).

3.7 QUEROSENE

Historicamente, o querosene foi obtido em meados do século XVIII, e rapidamente


passou a ser produzido em maior escala para fins de iluminação, devido à forte luz
de sua chama quando em combustão. No inicio do século XIX, passou a ser
utilizado como combustível para motores (MAURICE et al., 2001).
O querosene é proveniente do fracionamento do petróleo em uma unidade de
destilação atmosférica, na faixa de 130 a 300°C, e é constituído por hidrocarbonetos
com 9 a 16 átomos de carbono, sendo os principais compostos: parafinas,
naftênicos, aromáticos e olefinas (CAMONLESI, 2009).
20

4 METODOLOGIA DA PESQUISA

O principal processo utilizado para a obtenção de fibras celulósicas no mundo é a


polpação kraft, através do qual uma polpa de alta resistência é obtida, com baixo
teor de lignina, em que a recuperação dos químicos utilizados é uma das grandes
vantagens.

Na polpação kraft, a madeira sob forma de cavacos é tratada em vasos de pressão,


denominados digestores, com hidróxido de sódio (NaOH) e sulfeto de sódio (Na 2S)
em pH acima de 12. Este processo químico visa dissolver a lignina, preservando a
resistência das fibras, obtendo-se, dessa maneira, uma polpa celulósica forte (kraft
significa forte em alemão), com rendimento entre 50 e 60%. (SMOOK, 1989;
D´ALMEIDA, 1988; SIXTA, 2006).

O procedimento realizado na presente pesquisa é baseado na polpação Kraft.

4.1 PROCESSO DE POLPAÇÃO DO BAGAÇO DE MALTE DE CEVADA

O material recuperado da produção de cerveja (bagaço do malte de cevada) foi


lavado com água corrente até a retirada parcial dos compostos solúveis
remanescentes da produção do mosto cervejeiro. Após a lavagem, o material foi
secado por um período de 48 h a uma temperatura de 65 °C para evitar possíveis
fermentações dos açúcares residuais ainda presentes.

Uma massa de 300 g do bagaço de malte seco foi colocada em um béquer de 2l,
com adição de aproximadamente 200 mL de solução de NaOH a 6,0 M (até atingir
pH maior ou igual a 13) e 600ml de água deionizada. Após um período de descanso
de 30 minutos, o material foi submetido a um processo de polpação em autoclave
(ciclo de 60 minutos a uma temperatura de 121 °C, a 1,25 kgf/cm2 de pressão),
seguido de resfriamento a temperatura ambiente. O material sólido obtido foi então
filtrado em um saco de tecido sintético, de modo a extrair o licor negro contendo
lignina solubilizada, como se observa na Figura 7.
21

Figura 7 (A e B) – Processo de filtração para separação da polpa do licor negro.

Fonte: elaborada pela autora, 2022.


Neste ponto, a fração sólida foi lavada exaustivamente com água corrente até pH
neutro. Este material sólido foi utilizado para a fabricação de material fibroso, cujo
pedido de patente foi submetido ao INPI (BR 10 2020 010026 2).

4.2 PROCESSO DE POLPAÇÃO DE RESÍDUOS DE EXTRAÇÕES DE ÓLEOS


ESSENCIAIS DE LÚPULOS EM FLOR

Os resíduos de lúpulo foram submetidos a um processo de secagem, para


prevenção de reações de degradação por organismos, mesmo contendo uma baixa
concentração de açúcares.

Aplicou-se o mesmo procedimento utilizado com o bagaço do malte de cevada,


porém, algumas precauções foram tomadas. Por se tratar de um material mais frágil,
a solução de NaOH 6 M foi utilizada em condições mais brandas, sendo adicionada
lentamente para atingir o pH entre 10 e 11. A polpação em autoclave ocorreu nas
mesmas condições do bagaço do malte de cevada, entretanto, por menos tempo.

Após o processo em alta pressão e temperatura, o material também é submetido a


filtração e posterior lavagem com água até pH neutro.
22

4.3 RECUPERAÇÃO DA LIGNINA

O resíduo de licor negro (proveniente dos procedimentos 3.1 e 3.2) foi então
neutralizado com solução de ácido sulfúrico a 0,1 M para precipitação da lignina e
posterior centrifugação a 3000 rpm, por 10 minutos. Após decantar o sobrenadante,
a lignina precipitada foi seca em estufa por 24 h a 60° C.

Procedeu-se, então, com o tratamento térmico em mufla, empregando,


aproximadamente, 5,0 gramas de lignina, com aquecimento até 360ºC, por 30
minutos, a fim de proporcionar a degradação térmica e formação de carvão de
lignina.

Tanto a lignina quanto o carvão foram analisados por espectroscopia (Cary 630,
FTIR Spectrometer) no infravermelho médio por reflectância total atenuada (ATR).
Para o teste qualitativo de adsorção do material, aproximadamente 1 g do carvão foi
adicionado em coluna de vidro de 20 mL e após condicionamento com água pura,
uma solução aquosa saturada com querosene foi eluída pelo material por gravidade.
Os resultados foram acompanhados por espectrofotometria de absorção na região
do ultravioleta em um espectrofotômetro de varredura (Agillent, modelo Cary 60).

4.4 PRODUTO E PROCESSO DE OBTENÇÃO DE MATERIAL FIBROSO


ORIUNDO DE SUBPRODUTOS DA INDÚSTRIA CERVEJEIRA: PEDIDO DE
PATENTE SUBMETIDO AO INPI (BR 10 2020 010026 2).

O material sólido (separado pelo procedimento de filtração nos tópicos 3.1 e 3.2)
contém grande quantidade de fibras de hemicelulose e celulose. Após ser lavado
com água até atingir pH neutro, foram cessados os procedimentos químicos e
iniciados os processos de moldagem, para transformar o material misto com
resíduos de malte e lúpulo em copos, rótulos, bolachas para apoio, caixas para
guardar cervejas, dentre outros materiais cervejeiros. O material pode ou não ter
recobrimento de polimérico.
23

O material fibroso foi analisado por microscopia óptica e posteriormente por


espectroscopia no infravermelho médio por reflectância total atenuada, para
confirmar sua composição química.

Outra opção seria realizar o branqueamento das polpas de celulose obtidas com
resíduos de malte de cevada e lúpulos, utilizando processos e reagentes
branqueadores, sendo eles, preferencialmente: cloração (Cl 2), extração alcalina
(NaOH ou KOH), hipocloração (NaClO ou KClO), dióxido de cloro (ClO 2), peróxido
de hidrogênio (H2O2), oxigênio (O2), ozônio (O3), extração oxidativa (NaOH e O2),
extração alcalina com peróxido (NaOH e H2O2).

Toda a metodologia de pesquisa descrita acima foi ilustrada na figura 8.


24

Figura 8 – Fluxograma de processos.

Fonte: elaborada pela autora, 2020.


25

5 DISCUSSÃO DE RESULTADOS

5.1 CARVÃO ATIVADO À BASE DE LIGNINA

Em relação ao tratamento da lignina residual proveniente dos processos de


polpação básica dos resíduos cervejeiros (bagaço do malte e resíduo de flor de
lúpulo), observa-se na Figura 9 (A e B) a mudança das características físicas da
lignina após a sua conversão em carvão.

Figura 9: (A) Lignina seca em formato de material sólido. (B) Carvão de lignina com características
sólidas e quebradiças.

Fonte: elaborada pela autora, 2022.

Tanto a lignina quanto o carvão, foram submetidos a uma análise por infravermelho
médio por reflectância total atenuada (ATR) para que suas características químicas
pudessem ser analisadas. Observando o espectro da lignina (Figura 10) e sua
estrutura química (Figura 5) é possível notar a presença de estiramentos de ligações
O – H (~330 cm-1), estiramentos de ligação C – H entre carbonos hibridização sp3
(~2900 cm-1 ), estiramentos de ligações C = C (~1600 cm-1) e estiramentos de
ligações C – O (~110 cm-1 ).

Comparando com o espectro do carvão, apenas poucas ligações C – H entre


carbonos hibridização sp3 (~2900 cm-1) sobraram, além de resquícios de ligações C
= C (~1600 cm-1) e um número considerável de ligações C – O (~110 cm-1)
(SILVERSTEIN et al., 2014). Isso demonstra que a queima da lignina não foi
26

completa e o carvão apresenta ainda ligações químicas que o transformam seletivos


em filtrações.

Figura 10: Espectros na região do infravermelho médio por reflectância total atenuada da lignina e do
carvão ativado.

Fonte: OriginLab versão 2018

O carvão resultante foi adicionado em coluna de vidro e condicionado com 100 mL


água destilada. Após o condicionamento, três diferentes alíquotas de água saturada
com querosene foram eluidas pelo carvão e analisadas entre 190 e 350 nm em um
espectrofotômetro de varredura (Figura 11).

Figura 11: Gráfico de Absorção na região UV das soluções contendo querosene, antes e depois de
serem passadas pela coluna contendo carvão de lignina.

Fonte: OriginLab versão 2018.


27

De acordo com a Figura 11, foi possível observar que a água saturada com
querosene apresentou bandas características referentes a este composto (Regiões
entre 220 - 230 e 260 - 290 nm) (SILVERSTEIN et al., 2014). Por outro lado, as três
amostras eluidas pela coluna de carvão de lignina apresentaram um sinal baixo,
demonstrando que um elevado teor desse contaminante ficou retido no material,
uma vez que, o perfil de seus ensaios está praticamente acompanhando a linha de
base do espectro.

5.2 MATERIAL FIBROSO ORIUNDO DE SUBPRODUTOS DA INDÚSTRIA


CERVEJEIRA

Foram realizados dois procedimentos para confirmar a presença de celulose e


hemicelulose no material fibroso obtido após os processos de filtração (Figura 7B). O
primeiro consistiu em observá-lo por microscopia óptica (Figura 12).

Figura 12 – Visão microscópica do material fibroso misto de bagaço de malte e lúpulo.

Fonte: elaborada pela autora, 2022.

Na figura 12 é possível observar fibras, que de acordo com a Figura 6, é um dos


principais constituintes das moléculas de celulose e hemicelulose. Para confirmação
da hipótese, o material foi analisado por espectroscopia no infravermelho médio por
reflectância total atenuada (Figura 13). Através do espectro obtido pode-se verificar
28

a presença de estiramentos O - H (~3300 cm-1), estiramentos de ligações C – H


entre carbonos hibridização sp3 (~2900 cm-1) e estiramentos de ligações C – O
(~110 cm-1) característicos de celulose (SILVERSTEIN et al., 2014)..

Figura 13: Gráfico no Infravermelho médio por reflectância total atenuada do material fibroso obtido.

Fonte: OriginLab versão 2018.

O material, após ser analisado, foi moldado, de forma artesanal, como demonstra a
Figura 14 A e B.

Figura 14 – Objeitos moldados com o material fibroso obtido.


A - dois protótipos de porta copos de cerveja produzidos com resíduos cervejeiros.
B – Copo produzido com resíduos cervejeiros.

Fonte: elaborada pela autora, 2022.


29

6 CONCLUSÃO

Com o crescimento da indústria cervejeira é inevitável o aumento da geração de


resíduos pela mesma. Tais resíduos são constituídos, principalmente, pelo bagaço
de malte e lúpulos, que tem em sua composição, quantidades significativas de
celulose, hemicelulose e lignina. Deixar estes resíduos serem usados apenas como
fonte para alimentação animal e adubo é descartar a possibilidade de agregar mais
valor a bebida produzida pelos mesmos. Por isso, foi possível, após submeter os
subprodutos a processos de transformação química, gerar carvão ativado à base de
lignina e material fibroso à base de celulose/hemicelulose. O carvão ativado a base
de lignina apresentou adsorção significativa de querosene e os resíduos de malte e
lúpulo foram facilmente moldados em porta copos e copos descartáveis. Concluí-se
que a produção dos novos materiais é uma alternativa viável economicamente e
promove um desenvolvimento sustentável. As perspectivas para o futuro são de
aperfeiçoar o material fibroso, melhorando seu design, e tornar sua superfície apolar,
para que não tenha interação com a água. Em relação ao carvão ativado, o próximo
passo é realizar análises quantitativas de contaminantes (retidas antes e após a
filtração realizada com o material adsorvente). Por fim, pretende-se também
precificar todo o processo, para identificar a relação custo/benefícios empregada
nele, para que possa ser utilizado pela indústria.

Parte dos resultados apresentados neste trabalho foram publicados em:


Adyson Kleyton dos Santos Vieira, Luisa Barcello Leite da Silva, Mayra Neres da
Silva, Hugo Leonardo Andre Genier, Roberta Pacheco Francisco Felipetto, Juliano
Souza Ribeiro, CARVÃO ATIVADO À BASE DE LIGNINA EXTRAÍDA DE
RESÍDUOS CERVEJEIROS, Revista IfesCiência, v. 7, n. 1, p. 01-07, 2021. ISSN
2359-4799. DOI: 10.36524/ric.v7i1.1129.

A outra parte deste trabalho está em processo de pedido Patente protocolado


no INPI: BR 10 2020 010026 2.
30

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