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CURSO DE BIOMEDICINA
VILA VELHA
2022
CASSIA PIZZOL CAMATTA
GABRIELA PEREIRA BARROSO
VILA VELHA-ES
2022
DECLARAÇÃO DO(A) AUTOR(A)
A sociedade contemporânea está cada vez mais preocupada com a estética e com o
envelhecimento cutâneo, buscando procedimentos que minimizem os impactos do
envelhecimento cronológico e extrínseco à procura de uma pele mais saudável e
jovem. Os bioestimuladores são uma boa opção no gerenciamento do
envelhecimento, provocam a neocolagênese quando injetadas nas camadas da
pele. A partir de uma reação inflamatória controlada, induzem os fibroblastos a
produzirem colágeno, diminuindo a flacidez e reforçando os contornos enquanto
aumenta a resistência e melhora a textura da pele. Essa nova tendência vem
demonstrando resultados clínicos mais efetivos, pois possuem maior durabilidade e
estimulam a produção do colágeno pela própria pele a longo prazo. O intuito deste
trabalho é investigar, por meio de uma revisão da literatura, a ação das substâncias
biodegradáveis - Ácido Poli-l-láctico (PLLA), Hidroxiapatita de Cálcio (CaHA) e
Policaprolactona (PCL), sua eficácia na estética facial, semelhanças e diferenças
entre cada uma das substâncias, de forma a auxiliar os profissionais da área na
escolha do produto mais indicado. A pesquisa foi realizada através de revisão
bibliográfica a partir de materiais por meios escritos e eletrônicos, como artigos
científicos, livros e revistas, contribuindo para o avanço na estética.
1. INTRODUÇÃO....................................................................................................... 11
2. DESENVOLVIMENTO............................................................................................14
2.1 METODOLOGIA DA PESQUISA ......................................................................... 14
2.2.1 Anatomia da pele.............................................................................................14
2.2.2 Colágeno e sua composição bioquímica...................................................... 16
2.2.3 Colágeno e envelhecimento........................................................................... 17
2.3 BIOESTIMULADORES DE COLÁGENO INJETÁVEIS........................................20
2.3.1 Hidroxiapatita de cálcio (CaHA)..................................................................... 23
2.3.2 Ácido poli-l-lático (PLLA)................................................................................29
2.3.3 Policaprolactona (PCL).................................................................................. 37
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................... 42
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1. INTRODUÇÃO
Sabe-se que o maior órgão do corpo humano é a pele que vive em constante
transformação e, dependendo da região, apresenta variações em sua espessura.
Sua principal função é isolar as estruturas internas do ambiente externo. Constituída
por duas camadas: epiderme e derme, respectivamente. (DANGELO; FATTINI,
2007; DOMANSKY; BORGES et al., 2012).
A pele é o maior órgão do nosso corpo e tem como principal função isolar as
estruturas internas do ambiente externo. É constituída por duas camadas: epiderme
e derme (DANGELO; FATTINI, 2007).
Assim como a epiderme, a derme possui divisões, sendo elas: região papilar,
reticular e adventricial. A região papilar está mais superficial e se comunica com a
epiderme, sua função é fornecer nutrientes à camada superior. É composta por
tecido conjuntivo frouxo, com predominância de colágeno tipo III, os feixes de fibras
colagenosas são mais finos e ondulados e em disposição horizontal, o que torna a
pele menos resistente em comparação à região reticular (BORGES e SCORZA,
2016). Nela se encontram pequenos vasos linfáticos e sanguíneos, terminações
nervosas, colágeno e elastina e corpúsculo de meissner (BERNARDO et al., 2019).
Logo abaixo temos a camada reticular, constituída por tecido conjuntivo denso não
modelado, que fornece oxigênio e nutrientes para a pele (BERNARDO et al., 2019).
Por sua vez, compreende feixes de colágeno do tipo I, majoritário da população da
matriz extracelular na pele jovem, apresenta fibras colágenas mais espessas em
disposições horizontais. Uma característica importante de distribuição e localização
do colágeno presente na derme papilar é que fibras colágenas e elásticas dessa
camada apresentam um padrão tensional característico e distinto denominado de
linhas de Langer (linhas de tensão da pele ou linhas de clivagem) (BORGES e
SCORZA, 2016). Por fim, a região é a adventicial, circundada por folículos
pilossebáceos, glândulas e vasos, sendo constituída por feixes finos de colágeno
(BERNARDO et al., 2019).
Figura 1: Esquematização das camadas da pele, composta pela epiderme e derme. Logo abaixo se
situa o panículo adiposo.
Fonte: Francine Papaiordanou; Gabriela Pacheco de-Oliveira; Doris Hexsel; Antonio Carlos Amedeo
Vattimo.
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Figura 2: Representação da estrutura química dos três aminoácidos que, quando entrelaçados no
arranjo helicoidal, formam uma molécula tripla, denominada de tropocolágeno.
Até os anos 90, o conceito de rejuvenescimento facial era limitado a uma visão
bidimensional, e a abordagem era focada na redução de rugas e sulcos. Com o
aprimoramento do conhecimento anatômico da face, esse conceito foi expandido e
agora abrange uma visão tridimensional, que reconhece como sinais de
envelhecimento não só a perda da textura cutânea e as rugas de expressão, mas
também as perdas volumétricas secundárias à remodelação óssea e a redistribuição
da gordura facial (HADDAD, 2017). Várias teorias foram propostas para estimular a
produção do colágeno após o processo de envelhecimento, da mesma maneira que
a prevenção do desgaste físico da pele. O procedimento de maior destaque e
discussão são os bioestimuladores de colágeno injetáveis.
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Figura 3: A queda gradual na síntese endógena de colágeno no decorrer do processo de
envelhecimento acarreta diversas alterações morfológicas e funcionais no organismo humano, tal
como o aparecimento de linhas e expressão e rugas na pele.
Em 2001, foi aprovado pela US Food and Drug Administration (FDA) como um
implante injetável para ser um marcador radiográfico em tecido mole.
Posteriormente, em 2006, seu uso também foi liberado para aplicação em sulcos
naso-labiais e em pacientes com vírus HIV associados com lipoatrofia facial
(GOLDBERG,et al.,2018). Já em 2009, o FDA aprovou um protocolo para misturar
CaHA com lidocaína a uma concentração de 0,3% para melhorar o conforto durante
a injeção. (FLORES; GONZALES, 2011).
A aplicação da CaHA deve ser injetada na derme média ou profunda, para que o
estímulo do colágeno seja eficiente, sendo assim injeções dérmicas intradérmicas ou
superficiais não são recomendadas, devido ao grande risco de causarem nódulos
visíveis na derme superficial. Além disso, os resultados devem ser alcançados de
forma gradual ao longo de várias sessões, sendo desaconselhável a injeção
excessiva do material (LIMA,SOARES; 2020).
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A aplicação deve ser feita com agulhas ou cânulas. As agulhas têm a vantagem de
extrema precisão de movimento. Por outro lado, as cânulas causam menos trauma e
permitem o tratamento de áreas maiores na profundidade da injeção selecionada.
Van Loghem et al. compararam a diferença de precisão entre o uso de agulha e
cânula para colocação de enchimento supraperiosteal em um estudo com cadáveres
e concluíram que o uso de cânulas resultou em uma colocação mais precisa do
material injetado em comparação com as agulhas (VAN LOGHEM et al., 2015).
CARACTERÍSTICAS FÍSICAS
PRINCIPAIS INDICAÇÕES
Figura 5: Antes e depois de tratamento com Hidroxiapatita de Cálcio. Aspecto prévio e 14 dias após −
1/2 seringa.
Para discorrer sobre essa questão, uma equipe de 10 especialistas nas áreas de
dermatologia e cirurgia plástica, com vasta experiência em tratamento
dérmico-preenchedores para rejuvenescimento facial e corporal, foram convocados
para uma reunião, em novembro de 2017, na cidade de São Paulo/BR.
Questionários foram distribuídos aos profissionais, sendo obtido o consenso sobre o
manejo deste produto. De acordo com os membros do consenso (concessão de
≥90%), foram estabelecidas as seguintes diretrizes gerais para o tratamento com
CaHA hiper diluída (Quadro 04) (ALMEIDA et al., 2019; VAN LOGHEM et al., 2015).
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Quadro 02: Descrição da diluição de cada área de aplicação.
Pescoço De acordo com a espessura da pele: 1:2 (pele Técnica de ventilação ou 100
normal), 1:4 (pele fina) e 1:6 (pele atrófica). asterisco. (Figura 07)
Aplicação linear curta com
uma agulha pode ser
usada. (Figura 07)
Coxas Pode variar de 1:1 a 1:4 (1,5-6 mL de diluente) A técnica mais utilizada 100
de acordo com o grau de frouxidão. para a flacidez da pele é a
de múltiplas passagens de
cânulas por meio de
injeções em leque ou
asterisco.
Uma técnica de aplicação
linear curto com uma
agulha também pode ser
usada.
Fonte: Almeida et al. 2019
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Figura 06: Face masculina antes e 8 semanas após as injeções de 1,5 ml de CaHA (Radiesse)
diluídos 1:1 com 1,5 ml de lidocaína (total de 3 seringas divididas em 2 sessões com intervalo de 4
semanas). Observa-se a melhora da flacidez da pele e o discreto ganho de volume.
Em 2004, foi aprovado como agente preenchedor pelo Food and Drug Administration
(FDA) para tratamento em pacientes com lipoatrofia facial associada ao HIV e, em
2009, foi aprovado para tratamento com fins estéticos em pacientes
imunocompetentes (TARGINO et al., 2022). A aplicação de PLLA visa a restauração
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de áreas com perda de volume, lipoatrofia, flacidez e reabsorção óssea, por
consequência há a melhora de sulcos e rugas (GARCIA, 2010).
O polímero é degradado pela mesma via metabólica do ácido lático, por hidrólise,
resultando em CO2 e água sendo eliminado através da urina, fezes e respiração. O
produto é completamente metabolizado em 18 meses (HADDAD et al., 2017).
Estudos indicam que o ácido poli-L-lático apresenta correção completa em 80% dos
indivíduos no período de 24 meses. Ressaltando que a saúde e estilo de vida do
paciente influenciam na durabilidade do procedimento (HADDAD, el al., 2017;
FITZGERALD, 2018).
Figura 9: Locais indicados para aplicação com agulha e microcânula. A região rosa indica o uso de
microcânula e a região em verde aplicação com agulha, ambas em plano supraperiosteal. Já as setas
em vermelho sinalizam a utilização de microcânula em plano subdérmico .
Peles muito flácidas e com grande lipoatrofia são mais difíceis de preencher,
exigindo quantidades consideráveis de produto. A indicação de um bioestimulador
de colágeno pode ser feito com mais sucesso em um indivíduo sem tanta flacidez.
Em pacientes jovens observa-se melhorias relacionadas à aparência da pele e não
tanto ao volume (HADDAD et al., 2017).
Figura 10: Antes e depois de paciente após três sessões com ácido poli-l-lático.
O efeito adverso mais comum são pápulas e nódulos causados por acúmulo de
material, em geral por reconstituição inadequada. As pápulas são percebidas
somente quando palpadas, enquanto os nódulos não inflamatórios são
protuberantes. Esses acontecimentos podem ser minimizados pela atenção à
técnica de aplicação (diluição correta, tempo de hidratação e plano de aplicação).
Muitos nódulos ou pápulas não são visíveis, não causam impacto estético ou
funcional e podem se resolver espontaneamente. No caso de lesões visíveis ou
persistentes, podem ser opções a massagem vigorosa, injeção intralesional de
corticosteróides ou excisão cirúrgica (HADDAD et al., 2017).
Os granulomas tardios são um tipo de complicação rara (< 0,1%) onde nódulos
inflamatórios surgem meses ou anos após a injeção, persistindo e aumentando ao
longo do tempo. É uma resposta exagerada do indivíduo ao material injetado, por
infecções por bactérias de crescimento lento e pela formação de biofilmes. O
tratamento voltado para a tentativa de deter a infecção, inclui o uso de
corticosteróides e antibióticos. A hialuronidase pode ajudar a desfazer a matriz do
biofilme (HADDAD et al., 2017).
USO CORPORAL
Figura 11: aplicação de PLLA no glúteo. Na foto há a comparação entre o ângulo sobre a dobra glútea
(A) e aumento da espessura dérmica ao exame ultrassonográfico (B).
A resposta à injeção do produto, como acontece com qualquer injeção, cria uma
lesão que desencadeia um processo de reparo tecidual. O colágeno induzido pela
PCL segue a cascata de cicatrização caracterizada por três fases principais:
inflamação, proliferação e remodelação. A formação do tecido granuloso e o
aparecimento precoce do colágeno tipo III são seguidos pela produção e deposição
de colágeno tipo I em longo prazo, na fase de remodelação (SENA, 2021). Como a
carboximetilcelulose é absorvida nas primeiras 6-8 semanas, a perda de volume
provocado pelo gel carreador é gradualmente substituída pelo colágeno
recém-formado (LIN e CHRISTEN, 2020).
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As cadeias de PCL são divididas através da hidrólise das ligações ésteres,
resultando em ácido hidroxicapróico e água, que são reabsorvidos por vias
metabólicas e rapidamente excretados através da urina e fezes (LIMA, 2020).
Existem quatro versões desse bioestimulador: Ellansé-S (curto, versão S), Ellansé-M
(médio, versão M), Ellansé-L (longo, versão L) e Ellansé-E (extra longo, E versão);
com duração de 1, 2, 3 e 4 anos, respectivamente (LIMA, 2020). Essa diferença de
duração ocorre pela diferença no comprimento das cadeias poliméricas e o número
de ligações éster, que aumentam a cada produto. Essas cadeias se dividem
progressivamente até atingir o tamanho final de degradação. Só nesse momento as
microesferas colapsam, perdendo seu efeito andaime e, portanto, o volume ligado à
neocolagênese ( LIMA, 2020; GOODWIN 2018).
INDICAÇÕES E CONTRAINDICAÇÕES
Após o tratamento, os pacientes devem ser orientados a manter o rosto limpo, não
usar maquiagem e evitar exposição ao calor e radiação (sauna, sol), natação/banho
e consumo de álcool nas primeiras 24 horas. Isso está de acordo com as
recomendações globais para preenchedores dérmicos (MELO, 2017).
EFEITOS ADVERSOS
O preenchimento à base de PCL é bem seguro com baixa taxa de efeitos adversos,
mas potenciais complicações, como nódulos ou granuloma podem ocorrer, apesar
de raros (LIN e CHRISTEN, 2020). Os nódulos não são inflamatórios nem duros e
normalmente ocorrem por erro na injeção por superficialização do produto ou
depósito muito grande. Os granulomas são bem raros, porém graves, têm início
tardio. Não são duros e aumentam de tamanho com o tempo (CHRISTEN,
VERCESI, 2020).
USO CORPORAL
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base na revisão dos diversos artigos é possível concluir que todos os
bioestimuladores existentes no mercado são seguros para aplicação facial e corporal
e apresentam indicações e contra indicações similares. Além disso, a forma de
aplicação, mecanismo de ação e resultados também se mostram semelhantes.
Portanto, a escolha do produto depende da queixa do paciente e da familiaridade do
injetor com a substância. Independente do produto escolhido é necessário realizar
uma boa avaliação do caso clínico e realizar o procedimento com cautela, evitando
hipercorreção.
REFERÊNCIAS
SPENCE, Alexander P. Anatomia humana básica. 2. ed. São Paulo: Manole, 1991.
HADDAD, A. et al. Conceitos atuais no uso do ácido poli-l-láctico para
rejuvenescimento facial: revisão e aspectos práticos. Surg. cosmet. dermatol.
(Impr.), v. 9, n. 1, p. 60–71, 2017. Disponível em:
https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=265550847010. Acesso em: 27 out. 2022.
CUNHA, M. G. DA et al. Poly-L-lactic acid injections in sagging body skin. Surgical &
Cosmetic Dermatology, v. 8, n. 4, 2016. Disponível
em:http://www.surgicalcosmetic.org.br/details/514/en-US/poly-l-lactic-acid-injections-i
n-sagging-body-skin. Acesso em: 30 out. 2022.