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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC

CENTRO DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO E SOCIOECONÔMICAS – ESAG


CURSO DE ADMINISTRAÇÃO EMPRESARIAL

HUELLITON FAGUNDES
ISABELLA PINTO
PEDRO RUSCHEL
REBECCA PACHECO
SOFIA DE OLIVEIRA
SOFIA RABELO

ANÁLISE DO SETOR CERVEJEIRO CATARINENSE

FLORIANÓPOLIS
2023
HUELLITON FAGUNDES
ISABELA PINTO
PEDRO RUSCHEL
SOFIA OLIVEIRA
SOFIA RABELO
REBECCA PACHECO

ANÁLISE DO SETOR CERVEJEIRO CATARINENSE

Trabalho Interdisciplinar apresentado ao


de Programa de Graduação em
Administração Empresarial da
Universidade do Estado de Santa
Catarina, como requisito para conclusão
do semestre acadêmico.
Orientadora: Profa. Flora Moritz.

FLORIANÓPOLIS
2023

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LISTA DE FIGURAS

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO...........................................................................................................................................
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO......................................................................................................................
2 CARACTERIZAÇÃO DO SETOR...............................................................................................................
2.1 APRESENTAÇÃO..............................................................................................................................
2.2 PRODUTOS/SERVIÇOS DESENVOLVIDOS....................................................................................
2.3 ESTRUTURA ATUAL DO SETOR.....................................................................................................
2.4 CENÁRIO E ATUAÇÃO.....................................................................................................................
3 MATEMÁTICA APLICADA.........................................................................................................................
4 FUNDAMENTOS DE DIREITO...................................................................................................................
4.1 SINDICATOS......................................................................................................................................
4.1.1 CONVENÇÃO COLETIVA.........................................................................................................
4.1.2 RELAÇÕES DE TRABALHO...........................................................................................................
4.3 AMBIENTE E CONDIÇÕES DE TRABALHO.....................................................................................
5 PSICOLOGIA..............................................................................................................................................
5.1 CULTURA ORGANIZACIONAL E COMUNICAÇÃO INTERNA.........................................................
5.2 VISIBILIDADE....................................................................................................................................
5.3 ESTRATÉGIA DE MERCADO...........................................................................................................
5.4 MODELO DE LIDERANÇA................................................................................................................
5.5 CERVEJARIA UNIKA.........................................................................................................................
6 ARTICULAÇÃO..........................................................................................................................................
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................................................
REFERÊNCIAS..............................................................................................................................................

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1. INTRODUÇÃO

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO

O estado de Santa Catarina, conhecido por sua diversidade cultural e


econômica, tem experimentado um notável crescimento no setor cervejeiro ao longo
dos anos. Este trabalho se propõe a explorar os fatores impulsionadores desse
crescimento, visando explorar sua evolução histórica, a gama de produtos e
serviços, bem como, os desafios enfrentados por empresas da região e sua
configuração atual.
Outros elementos essenciais a serem explorados incluem a análise das
práticas de remuneração no setor, a taxa de rotatividade de mão de obra, visto que
buscamos identificar padrões e tendências que possam influenciar a estabilidade da
força de trabalho nesse ramo. Também, será dada atenção à perspectiva de
psicologia organizacional, examinando como as empresas desse setor buscam
moldar sua imagem e identidade no mercado, bem como a construção da cultura
organizacional predominante nas empresas cervejeiras.
Destaca-se que esta pesquisa incorpora uma entrevista com a Cervejaria
Unika, empresa localizada na região da Grande Florianópolis, com o objetivo de
trazer uma análise mais precisa sobre as expectativas de mercado, as aspirações de
um líder na área, além das dinâmicas internas entre as equipes no setor cervejeiro.
Também buscamos compreendermos o impacto da pandemia da COVID-19 e
seus efeitos no mercado cervejeiro, considerando as mudanças nas dinâmicas de
mercado, nas operações das empresas e nas tendências de consumo que surgiram
como resultado da crise global de saúde.
Por fim, como parte deste estudo, será realizada uma análise abrangente da
legislação que rege as atividades deste setor, identificando os marcos regulatórios e
as implicações legais às empresas envolvidas.
Ao buscar compreender o setor cervejeiro em Santa Catarina, procuramos
fornecer um amplo panorama deste setor em constante evolução, suas contribuições
para a economia local e seu lugar na cultura, turismo e identidade catarinense. Além
disso, destacamos a importância deste estudo em sua contribuição na formação de

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administradores pois proporciona uma visão prática e aplicada do ambiente
empresarial, capacitando futuros gestores a liderar com sucesso em um ambiente
diversificado e desafiador.

2 CARACTERIZAÇÃO DO SETOR

2.1 APRESENTAÇÃO

Assim como na Europa e no Oriente Médio, onde a cerveja é produzida há


milhares de anos, a história da cerveja no Brasil também começa com os povos
originários. Antes mesmo da chegada dos europeus, os povos indígenas brasileiros
já produziam uma bebida fermentada denominada cauim. De acordo com Hugo
(2013, s. p.), a bebida era
[…] Um fermentado à base de milho ou
mandioca, e em alguns casos misturado com suco
de frutas. Ao contrário das cervejas atuais, a
conversão enzimática do açúcar não era feita
cozinhando o mosto. Os índios pré-cozinhavam a
mandioca para torná-la macia. Depois a
mastigavam e cuspiam. Deste modo as enzimas
presentes na saliva faziam a conversão do amido
em açúcar.

Até os dias atuais algumas populações indígenas conservam o consumo


dessa bebida, sendo ela de forma bastante artesanal.
A produção industrial de cerveja no Brasil foi instalada por imigrantes
europeus, principalmente os alemães. Registros históricos indicam que a primeira
cervejaria brasileira data o ano de 1637 e foi implantada pelo imigrante alemão
Maurício de Nassau em Recife, que teria trazido uma fábrica desmontada da Europa
e que foi introduzida no Brasil (Portal Cervesia, 2013).
Na primeira metade do século XIX, a cerveja era um produto caro e escasso
no Brasil. A produção nacional era limitada, e a maioria da cerveja consumida era
importada (PASSOS, 2012).
Em 1836, através do anúncio do Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, surgiu a
notícia de fabricação de cerveja no Brasil. A concretização deste anúncio aconteceu

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em 1885 quando a fábrica Antarctica Paulista, que fabricava somente gelo e
produtos alimentícios, passou também a fabricar cerveja.
Após a mudança de fabricação e devido ao aumento do número e da
produção das fábricas nacionais, as cervejas estrangeiras perderam espaço no
mercado brasileiro, pois as mesmas possuíam praticamente a mesma qualidade e
sabor, e o preço mais acessível que as importadas (SUZIGAN, 2000).
A cerveja também entrou no estado de Santa Catarina pelas mãos dos
primeiros imigrantes europeus a partir do século XIX. A primeira colônia alemã
fundada no estado de Santa Catarina foi a de São Pedro de Alcântara em 1829, e as
duas primeiras cervejarias nasceram na Colônia de Joinville, em 1852. Os
imigrantes, habituados ao consumo da cerveja, buscaram alternativas para o
consumo da bebida. Uma delas, foi a sua produção de forma artesanal, pois
possuíam o conhecimento do processo (SANTOS, 2013). Nesse período, o malte e o
lúpulo eram importados e chegavam pelo porto de Itajaí (SC).
A cerveja artesanal, de acordo com Tomasi (2018), que destinava-se ao
consumo próprio, teve seu consumo ressignificado. Ainda que boa parte das
pequenas propriedades destinassem a produção ao seu próprio consumo e ao
pequeno comércio, algumas cervejas ganharam destaque devido à habilidade de
seus produtores.
Foi nesse cenário que o suíço Albrecht Gabriel Schmalz, natural de Nidau,
chegou ao Brasil em 1852, aos 31 anos, acompanhado da família. Na Suíça, que
assim como boa parte da Europa sofria com a crise no mercado de trabalho,
Albrecht tinha o ofício de cervejeiro e deu início ao processo da tradição da
produção e do consumo da cerveja artesanal na região de Joinville. Ele trouxe seus
equipamentos e construiu uma casa às margens do Ribeirão Mathias Strass e, junto
a ela, a primeira cervejaria artesanal da localidade e de Santa Catarina, a Cervejaria
Schmalz, edificação mostrada na figura 1.
Figura 1 - Cervejaria Schmalz

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Fonte: Opa Bier

Em seguida, com a criação da Colônia São Paulo de Blumenau, em 1850, a


indústria cervejeira tomou corpo. A primeira fábrica de cerveja, Schossland &
Hosang, foi fundada poucos anos depois da colônia, em 1858. A vila não tinha mais
de 1000 moradores. A fábrica cresceu e permaneceu ativa até 1923.
Além da pioneira Cervejaria Schmalz de 1852, citada anteriormente, outras
cervejarias antigas e extintas do estado podem ser citadas, como é o caso da
Cervejaria Schossland & Hosang, a primeira cervejaria de Blumenau, cidade até hoje
conhecida por sua cultura cervejeira.

Figura 2: Garrafas de cerveja de Blumenau do século XIX e início do século XX –


Acervo do Museu dos Clubes de Caça e Tiro – Blumenau SC.

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Fonte: Cervisiafilia

Em Canoinhas, a Cervejaria Canoinhense, é possivelmente a mais antiga


microcervejaria em atividade no Brasil, operando desde 1908.
Ao longo do século XX, essa tradição foi aos poucos sendo abandonada, a
ponto de restar pouquíssimas fábricas no estado no fim daquele período. Existem
duas principais causas para esse declínio. A primeira foi a Segunda Guerra Mundial,
que limitou as importações de insumos e equipamentos para a produção de cerveja.
Como quase todos os insumos eram importados da Europa, principalmente da
Alemanha, as fábricas catarinenses enfrentaram dificuldades para manter a
produção.
A segunda causa foi a repressão e o confisco de empreendimentos de
imigrantes e descendentes alemães por parte do governo Getúlio Vargas (1930-
1945). Essa política visava diminuir a influência da cultura alemã no país. Como
resultado, algumas cervejarias, assim como empresas de outros ramos, foram
abandonadas ou mesmo fechadas.
No decorrer do século XX, o mercado cervejeiro foi progressivamente
resumido ao avanço da monocultura. Nesse período, as grandes indústrias
cervejeiras consolidaram o mercado, absorvendo ou inviabilizando pequenos
empreendimentos e padronizando o consumo em torno de poucas marcas,
destacando-se predominantemente o tipo Pilsen.
A insatisfação dos apreciadores de boa cerveja desencadeou o que ficou
conhecido como Renascimento da Cerveja Artesanal, ou The Craft Beer
Renaissance, resgatando tradições na produção e apreciação da bebida. Em Santa
Catarina esse movimento se tornou ainda mais visível na virada do século XX para o
XXI, com destaque para as microcervejarias, especialmente na região do Vale do
Itajaí e Nordeste catarinense (SANTOS, 2013).
A revitalização das tradições cervejeiras em conjunto de técnicas modernas
com o saber dos imigrantes elevou a região do Vale ao posto de principal referência
brasileira em cervejas artesanais, com o reconhecimento de Blumenau como a
Capital Nacional da Cerveja. Em 9 de março de 2017, foi assinada a lei número
13.418/2017, que conferiu o título à cidade.

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Atualmente, em uma busca considerando a Classificação Nacional de
Atividades Econômicas (CNAE), em novembro de 2023, foram localizadas 293
empresas ativas no estado de Santa Catarina que possuem como atividade principal
a subclasse CNAE C-1113-5/02 - Fabricação de cervejas e chope. O município de
Blumenau lidera com o maior número de empresas, seguido por Joinville e
Florianópolis de acordo com a tabela 1, que lista as dez cidades com mais
estabelecimentos registrados no estado.

Tabela 1 - Principais cidades de fabricação de cervejas e chopes com CNAE C-


1113-5/02 de Santa Catarina.

Cidade Quantidade

Blumenau 23

Joinville 17

Florianópolis 16

Jaraguá do Sul 11

São José 10

Brusque 8

Chapecó 8

Itajaí 8

Timbó 6

Videira 6
Fonte: IBGE
Cabe destacar que a cidade de Blumenau é a sede da Associação Brasileira
de Cervejeiros Artesanais (Abracerva), e também abriga uma série de eventos e
festivais cervejeiros, entre eles, a conhecida Oktoberfest. Em 2022, a Oktoberfest de
Blumenau recebeu cerca de 600 mil visitantes, gerando um impacto econômico de
R$900 milhões para a cidade. O local também recebe o Festival Brasileiro da
Cerveja e o Concurso Brasileiro de Cervejas.
As três cidades de destaque também recebem o Festival Craft Beer que
nasceu em 2017 em Joinville, e que busca fomentar o mercado de cervejas

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artesanais, gastronomia e a prática do lazer. O evento é realizado atualmente nas
cidades de Florianópolis, Itajaí e Blumenau.
Na capital, no ano de 2019, foi instituído o Programa de Incentivo ao
Desenvolvimento de Nanocervejarias e de Cervejeiros Caseiros Profissionais. Além
disso, a criação do Caminho Cervejeiro na região da Grande Florianópolis buscou
integrar os pontos turísticos da região com a tradição cervejeira e oferecer
experiências gastronômicas e culturais.

2.2 PRODUTOS/SERVIÇOS DESENVOLVIDOS

O estado de Santa Catarina desempenha um papel significativo na produção


de diversos tipos de cerveja, contribuindo assim para a diversidade presente no
cenário cervejeiro global. Cada variedade de cerveja apresenta características
distintas, as quais são determinadas pelos ingredientes empregados e os métodos
de produção adotados. Na composição de uma cerveja destaca-se a qualidade dos
ingredientes, sua origem e o processo de fabricação que possuem uma forma única,
e portanto uma identidade diferenciada.
Santa Catarina é reconhecida por ser um produtor de destaque dos mais
significativos tipos de cerveja existentes globalmente. Cada tipo apresenta suas
singularidades e atributos distintos. Para empreender uma compreensão mais
aprofundada e sistematizada do complexo panorama cervejeiro, classificamos de
forma abrangente, visto que dois troncos fundamentais dão origem a uma extensa
variedade de subclasses. Para isso, é essencial proceder a uma divisão
fundamental, na qual surgem duas categorias principais: as cervejas de baixa
fermentação, também conhecidas como "Lager", e as cervejas de alta fermentação,
chamadas "Ale".
As cervejas do tipo Lager são submetidas a um processo de fermentação a
temperaturas mais baixas, resultando na deposição dos fermentos no fundo dos
tanques. Essas cervejas, em geral, são conhecidas por sua leveza e transparência,
com teor alcoólico menor, podendo variar entre variedades de cores claras e escuras
e possuem suas raízes na Alemanha.

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Por outro lado, as cervejas do tipo Ale têm sua origem na tradição britânica.
No processo de fermentação dessas cervejas, as temperaturas mais elevadas levam
os fermentos para o topo dos tanques. Como resultado, as cervejas Ale se destacam
por características como maior corpo, opacidade e amargor. Produzidas com
leveduras que operam de forma mais eficiente em temperaturas mais elevadas.
Como resultado, as ales são conhecidas por sua robustez e maior teor alcoólico, que
podem chegar a até 12%. As variedades de cervejas Ale podem ser claras ou
escuras e são apreciadas por suas notas que mesclam aromas de cereais e
nuances frutadas. É relevante observar que as cervejas do tipo Ale não devem ser
servidas a temperaturas excessivamente baixas, a fim de apreciar plenamente sua
complexidade de sabores e aromas.
De forma abrangente, entre os principais estilos de cervejas produzidas,
podemos citar:
Tabela 1 - Estilos de cerveja
Estilo de
cerveja Descrição

Cerveja de alta fermentação, norte-americana, com alto teor de


lúpulo, que confere um sabor pronunciado de lúpulo e notas
IPA cítricas. Cor entre dourado médio e cobre avermelhado.

Cerveja de alta fermentação, de origem inglesa. Cor de preto a


marrom profundo. Sabor tostado com amargor de lúpulo. Aroma de
Stout café e malte torrado.

American Pale Cerveja de alta fermentação, norte-americana. Cor dourado pálido


Ale (APA) a âmbar profundo. Sabor e aroma de lúpulo marcantes.

Cerveja de alta fermentação, Cerveja da Inglaterra. Sabor de malte


torrado com caramelo, nozes e/ou toffee. Semelhante a uma Stout,
Porter porém mais suave e menos amarga.

Cerveja de alta fermentação, belga, frequentemente com notas


Saison frutadas e picantes.

Cerveja de alta fermentação, forte e maltada, frequentemente


Barleywine envelhecida para desenvolver complexidade.

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Estilo de
cerveja Descrição

Cerveja de alta fermentação,de origem alemã, produzida a partir


do malte de trigo e cevada. Cor amarelo palha a dourado escuro.
Weiss/Weizen Sabor suave de trigo com notas de banana e cravo.

Cerveja de baixa fermentação, clara e refrescante, Sabor de malte


Pilsner/ rico e amargor aparente. Cerveja criada na República Tcheca. Cor
Pilsen dourado claro e profundo.
Fonte: Elaborado pelos autores com base nas Diretrizes de Estilo para Cerveja do Beer Judge
Certification Program (BJCP) – 2008.

Além disso, o estado de Santa Catarina destaca-se por possuir uma


multiplicidade de cervejarias artesanais e industriais. A região apresenta diversos
eventos que ressaltam a importância da cultura cervejeira, como os festivais de
cerveja, com ênfase para a Oktoberfest, que se passa em Blumenau, e atrai
milhares de amantes da bebida.
Os roteiros cervejeiros, as visitações de fábricas, degustações, e passeios
com a finalidade de agregar mais conhecimento aos apreciadores da cerveja estão
muito presentes no estado de Santa Catarina.
O setor cervejeiro em SC também auxilia no desenvolvimento de serviços
como bares e no fornecimento de insumos, visto que a bebida requer ingredientes
como malte, lúpulo e cereais, além de realizar a exportação para outros estados do
Brasil e fora do país.
As cervejarias de Santa Catarina também se destacam pelo total de produtos
registrados. São 4.372 cervejas diferentes produzidas no Estado, ou 12,2% de todos
os registros de produto da indústria cervejeira nacional (MAPA, 2022).
Portanto, é evidente o quanto o ramo da cerveja, move e impulsiona a
economia catarinense.

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2.3 ESTRUTURA ATUAL DO SETOR

O avanço da indústria cervejeira em Santa Catarina é notável, destacando a


importância crescente desse estado no setor recentemente. Em 2021, registrou um
incremento de 20% no número de cervejarias, indicando um ambiente favorável para
empreendedores e apaixonados pelo universo cervejeiro. Esse crescimento acima
da média nacional espelha a busca por cervejas artesanais de alto padrão e a
crescente preferência dos consumidores brasileiros por esses produtos.
Até o ano de 2022, Santa Catarina era o terceiro estado com o maior número
de cervejarias no Brasil segundo o Anuário da Cerveja. O estado perdeu essa
posição esse ano para Minas Gerais segundo uma matéria publicada no dia 11 de
julho de 2023 pela Coluna de Bastidores.
Nos últimos anos, Santa Catarina apresentou significativos aumento no
número de estabelecimentos industriais de cervejas e chopes (atividade que
compreende a Cnae 11.13-5), com crescimento médio anual de 21%. De 2010 a
2020, o estado aumentou em mais de sete vezes seu número de indústrias do ramo
(FIESC, 2020).
No que diz respeito à produção, observou-se que 40,30% das cervejarias
produzem, em média, até 5.000 litros por mês (SEBRAE, 2021). Isso resulta em uma
média anual de produção de 60.000 litros, evidenciando, mais uma vez, que a
perspectiva de produção na região, à exceção de alguns casos excepcionais, se
concentra na fabricação de quantidades modestas, com um foco nítido na
distribuição em escala reduzida.
Segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja, o Brasil se
destaca como o terceiro maior produtor de cerveja do mundo, gerando uma
produção anual de aproximadamente 14 bilhões de litros. Essa indústria
desempenha um papel significativo na economia do país, contribuindo com cerca de
2% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.
Conforme relatório da plataforma de big data Neoway, o setor de "Fabricação
de cervejas e chopes" é representado por 2.171 empresas registradas em todo o
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território brasileiro. A região sudeste lidera com 944 cervejarias, seguida pela região
sul, que abriga 899 empresas desse segmento.
Comparando a distribuição regional das cervejarias com a situação nacional,
Santa Catarina se destaca como o quarto estado com o maior número de cervejarias
do país, contando com cerca de 260 estabelecimentos. Essas cervejarias estão
espalhadas por todo o território estadual, com uma concentração ligeiramente maior
na região do Vale do Itajaí. Essa concentração é um reflexo da forte influência da
colonização alemã na região, que historicamente teve uma conexão significativa com
a produção de cerveja.
Quanto ao porte, podemos destacar a prevalência das microempresas. Essas
empregam cerca de 269 funcionários no setor. De acordo com dados da Associação
Brasileira da Cerveja Artesanal (ABRACERVA), são os pequenos e médios negócios
que estão impulsionando o crescimento no número de trabalhadores no setor.
Desde 2015, as fábricas com mais de 99 funcionários reduziram 1.184 postos de
trabalho, enquanto as empresas com até 99 empregados criaram 1.549 vagas,
resultando em um aumento líquido de 365 trabalhadores formais no setor.
Atualmente, mais de dois milhões de trabalhadores estão empregados
diretos, indiretos e induzidos, seja nas 53 fábricas estabelecidas no Brasil ou nas
empresas conectadas à ampla cadeia de valor, que inclui as indústrias fornecedoras
e distribuidoras. Na indústria cervejeira nacional, com crescimento de 11,6% em
2022, mais de 42 mil vagas diretas foram criadas (SINDICERV, 2022)
O Brasil se destaca como o terceiro maior produtor de cerveja a nível mundial,
ficando atrás apenas da China e dos Estados Unidos. É previsto que o país atinja
um volume de vendas de 16,1 bilhões de litros em 2023, representando um aumento
de 4,5% em comparação ao ano anterior (Euromonitor International, 2022).
Em 2022, as vendas também aumentaram em 8% em comparação com o ano
anterior, o que é um positivo progresso.
Santa Catarina se destaca no cenário cervejeiro não só pela excelência de
suas cervejas, mas também pela herança alemã presente em cidades como
Blumenau e Vale do Itajaí. Essa influência cultural tem impulsionado o turismo
cervejeiro, gerando uma significativa movimentação econômica no estado.

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O estado de Santa Catarina ganhou destaque como produtora de cervejas de
alta qualidade. Isso solidificou a sua reputação, e incentivou o surgimento de novos
negócios, impulsionando a criação de mais oportunidades de trabalho.

2.4 CENÁRIO E ATUAÇÃO

O mercado cervejeiro busca abranger toda a faixa etária maior de dezoito anos,
entretanto, esse público acaba se afunilando no caso de cervejas artesanais.
Focadas em qualidade, elas utilizam insumos com valores maiores, processos de
fermentação mais demorados e menores escalas, tornando assim, esse produto
mais caro. Com isso, foi constatado através de uma pesquisa realizada pela startup
Mind Miners, que os principais consumidores desses rótulos são homens de classe
alta e com idades entre 25 a 40. Ademais, existem diversos fatores que influenciam
quem compra determinado tipo de produto, podendo eles serem financeiros, gênero,
diferentes situações de consumo e até por gostos e quantidades. Sendo assim, a
rede de consumo dessa bebida é muito ampla e variada.
O estado de Santa Catarina possui não só uma grande quantidade de
indústrias produtoras de cerveja, mas também uma grande rede para a distribuição
das mesmas. Um exemplo de uma grande empresa muito relevante para o estado é
a Companhia de Bebidas das Américas (AMBEV), que produz, distribui e
comercializa vários tipos de bebidas, mas se destacam pela produção de cervejas.
Em Santa Catarina, foi inaugurada por eles a primeira linha completa de
processamento de lúpulo do Brasil, de acordo com o site Economia SC. Com isso,
as vendas são tanto para o mercado interno quanto externo onde não só grandes
marcas participantes da AMBEV exportam, mas também as cervejarias artesanais
começaram com essa prática, onde microcervejarias como a Dom Haus e Königs
Bier exportaram para o Chile com o apoio do SEBRAE/SC no programa Go To
Market.
Tendo em vista que o mercado cervejeiro já é muito antigo e bem consolidado
no Brasil e no mundo, o ambiente acaba sendo mais previsível e estável; isto pode
ser comprovado e analisado a partir dos dados coletados pela Euromonitor
International onde foram catalogadas as vendas de cerveja por ano no país.
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Gráfico 1-Vendas de cerveja em bilhões de litros no Brasil.

Fonte: Euromonitor International

Porém, devido a grande quantidade de cervejarias de produção em massa e


artesanais já existentes, a competitividade entre as empresas é muito intensa e
acirrada. Santa Catarina alcança a primeira posição do Brasil com um
estabelecimento para cada 34.132 habitantes, mesmo assim, grandes empresas
possuem um domínio de mercado, o que torna difícil a manutenção de marcas e
produções menores.
Para a cerveja chegar até o consumidor ela passa por um caminho muito
grande e complexo, desde a plantação do lúpulo até a fermentação nas fábricas,
depois o envasamento, transporte, armazenamento, venda e, por fim, a compra do
consumidor. Esse processo envolve muitas pessoas, áreas, equipamentos e
organização. Com efeito, as remunerações são variadas, a depender do cargo, piso
salarial e horas semanais. Entretanto, em toda produção, é necessária a
participação de um cervejeiro que detém os conhecimentos técnicos para que os
processos ocorram corretamente. A partir disso, em um levantamento estatístico
com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados - CAGED, foi
constatada uma média salarial do cervejeiro em Santa Catarina, sendo ela o valor de
R$ 2.478,00 no período de um ano a partir de setembro de 2022. Para uma maior
noção de médias, pisos e tetos salariais, segue o gráfico que analisa o salário do
cargo de cervejeiro nas regiões do Brasil.

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Gráfico 2- Salário de cervejeiro por região do Brasil

Fonte: CAGED

A rotatividade no setor é um ponto de destaque. No período de setembro de


2022 a setembro de 2023, houveram 345 contratações e 327 demissões, dentro dos
padrões formais e com carteira assinada, resultando num saldo positivo de 18
empregos formais gerados pelo mercado de trabalho para o cargo de Cervejeiro
(CAGED). O gráfico a seguir mostra as variações das contratações e demissões por
mês durante esse um ano no Brasil.

Gráfico 3- Contratações e demissões para o cargo de cervejeiro no Brasil.

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Fonte: CAGED
*fev/23 não possui dados catalogados.

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3 MATEMÁTICA APLICADA

No gráfico acima, o eixo x representa os anos (de 2000 a 2021) e o eixo y


representa o número de cervejarias. A linha conecta os pontos correspondentes a
cada ano, permitindo uma visualização clara do crescimento progressivo.
A partir desse gráfico, é evidente que houve um crescimento constante,
porém modesto, entre 2000 e 2010. A partir de 2010, o crescimento se torna mais
pronunciado, com a linha ascendendo de forma mais acentuada, indicando um
aumento significativo no número de cervejarias a cada ano.
No final da série temporal, especialmente nos últimos cinco anos, a inclinação
da linha é muito mais íngreme, refletindo um aumento exponencial e substancial no
número de cervejarias.
Esse tipo de gráfico permite uma visualização clara do padrão de crescimento
ao longo do tempo e destaca períodos de crescimento acelerado, o que pode ser útil
para identificar tendências e padrões específicos nos dados.

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3.1 TAXA DE VARIAÇÃO

A taxa de variação dos dados é a medida que expressa a mudança


percentual entre dois anos consecutivos. É calculada usando a fórmula:

Para cada par de anos listados, a taxa de variação é obtida comparando o


número de cervejarias de um ano com o número do ano anterior. Por exemplo, para
calcular a taxa de variação de 2000 para 2001, a fórmula seria:

Essas taxas de variação permitem compreender a dinâmica do crescimento


das cervejarias ao longo do tempo. Taxas mais altas indicam períodos de
crescimento mais acelerado, enquanto taxas mais baixas sugerem um crescimento
mais lento. O uso dessas taxas de variação é fundamental para identificar períodos
específicos de mudanças drásticas ou tendências consistentes ao longo dos anos.

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4 FUNDAMENTOS DE DIREITO

4.1 RELAÇÕES DE TRABALHO

O contexto do setor cervejeiro em Santa Catarina apresenta uma dinâmica


marcante, influenciada por fatores históricos e econômicos. O estado possui uma
tradição significativa na produção de cervejas, evidenciando a necessidade de
representação setorial para lidar com as especificidades das indústrias de bebidas.
Com efeito, surge, em 1973, o Sindicato das Indústrias de Bebidas de Santa
Catarina (SINDIBEBIDAS-SC), inicialmente denominado Sindicato das Indústrias de
Cerveja, de Bebidas em Geral e do Fumo de Blumenau. Como seu próprio nome
dizia, além das indústrias de bebidas, também representava a indústria fumageira e
abrangia apenas sete municípios: Blumenau, Ibirama, Indaial, Presidente Getúlio,
Rio dos Cedros, Rio do Sul e Timbó.
Em 2010, o sindicato deixou de representar a indústria de fumo, concentrando
sua atuação no setor de bebidas. Em abril de 2021, ocorreu a ampliação da base
territorial a nível estadual do sindicato, com exceção dos municípios de Araquari,
Corupá, Guaramirim, Jaraguá do Sul, Joinville, Massaranduba, São Francisco do Sul

e Schroeder — os quais são representadas em sua maioria pelo Sindicato Patronal


de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares (SINTRATUH). O sindicato, que passou
a se chamar Sindicato das Indústrias de Bebidas do estado de Santa Catarina
(SINDIBEBIDAS-SC), representa os trabalhadores da categoria em todas as demais
cidades do estado.

4.1.1 CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO

A Convenção Coletiva de Trabalho emerge como um instrumento de grande


importância no contexto da resolução de conflitos laborais. Este mecanismo propicia
que as partes envolvidas estabeleçam normas de natureza geral e abstrata, as quais
delineiam as diretrizes fundamentais a serem observadas nos contratos individuais
de trabalho.

23
A Convenção Coletiva do SINDIBEBIDAS-SC constitui um instrumento
normativo que consolida, por meio de cláusulas específicas, as condições laborais
para os profissionais que atuam nas indústrias de cerveja e bebidas em geral. Para
além da estipulação das diretrizes concernentes ao ambiente de trabalho, a referida
convenção estabelece medidas punitivas em caso de descumprimento de suas
cláusulas. Adicionalmente, aborda disposições que regulam a relação entre o
sindicato e as empresas, exemplificando tal relação com a inclusão do desconto em
folha de pagamento relativo à mensalidade sindical.

As cláusulas em questão revestem-se de significativa importância, pois


delineiam as condições laborais, assegurando direitos e benefícios aos
trabalhadores no segmento das indústrias de bebidas no estado de Santa Catarina.
Neste contexto, serão apresentados, de forma sucinta, seis exemplos destas
cláusulas específicas, a saber: 12ª, 13ª, 18ª, 19ª, 23ª e 24ª, com o intuito de
proporcionar uma compreensão mais clara sobre o conteúdo normativo mencionado.

A Cláusula 12ª da presente convenção aborda o Programa de Alimentação do


Trabalhador (PAT), uma iniciativa governamental voltada para a melhoria da
situação nutricional, especialmente dos trabalhadores de baixa renda. A gestão
compartilhada entre o Ministério do Trabalho e outras entidades delineia uma
adesão voluntária por parte das empresas, proporcionando benefícios fiscais às
pessoas jurídicas tributadas com base no lucro real. O propósito primordial do PAT é
aprimorar a qualidade nutricional da alimentação dos trabalhadores, promovendo,
por conseguinte, sua saúde. Destaca-se, ainda, a relevância da alimentação nas
empresas, assegurando que aquelas com mais de 130 empregados forneçam um
vale-alimentação mensal no valor de R$132,00 aos trabalhadores. Cláusula 12ª
destaca-se, assim, por garantir um benefício alimentar aos trabalhadores,
contribuindo para a qualidade de vida e bem-estar no ambiente de trabalho.

No que tange à Cláusula 13ª, esta estipula que as empresas serão


responsáveis pelo pagamento dos primeiros 60 dias de afastamento de empregados
por motivo de auxílio-doença ou acidente. Durante esse período, o pagamento
corresponderá a 80% da diferença entre o salário nominal do empregado e o valor
recebido da Previdência Social. Essa cláusula representa uma significativa proteção
24
aos trabalhadores, garantindo-lhes uma fonte de renda durante o afastamento por
motivos de saúde. Tal garantia é crucial, considerando que tais afastamentos podem
acarretar em redução ou suspensão da remuneração do empregado.

Ao estabelecer que a empresa deve complementar o valor recebido da


Previdência Social, a cláusula busca assegurar uma renda adequada ao trabalhador,
mitigando os impactos financeiros decorrentes do afastamento. Vale ressaltar que a
inclusão desta cláusula no contrato de trabalho denota o compromisso da empresa
em garantir direitos e proteções aos seus empregados, fortalecendo, assim, a
relação de confiança entre empregador e empregado.

A Cláusula 18ª, por sua vez, aborda o banco de horas, um sistema de


compensação de horas trabalhadas por horas de descanso. Mediante aprovação em
assembleia entre empregados e empregadores, com registro de presença e ata
protocolada nos sindicatos patronal e laboral, as empresas podem adotar esse
sistema. Cada período de compensação não pode exceder 6 meses, estabelecendo
o limite máximo de 2 horas extras por dia. O banco de horas exclui o trabalho aos
sábados já compensados, descansos semanais remunerados e feriados.

Empresas que adotam o Banco de Horas devem manter registro de ponto, e


ao final de cada período, o saldo de horas a favor do empregado deve ser pago com
acréscimo de 50%. Já em caso de saldo negativo, a dedução varia conforme o
motivo da rescisão contratual. Este sistema proporciona flexibilidade na gestão da
carga horária para as empresas e conciliação entre vida profissional e pessoal para
os trabalhadores.

Quanto à Cláusula 19ª, esta versa sobre a jornada de trabalho de 12x36,


composta por 12 horas de trabalho seguidas por 36 horas de descanso. Embasada
no Art. 7°, inciso XIII, Capítulo II da Constituição Federal e no Art. 59-A da CLT, esta
cláusula estabelece a remuneração do empregado submetido a esse regime,
composta pelo salário base acrescido de eventuais adicionais noturnos e reflexos
sobre o Descanso Semanal Remunerado (DSR). O intervalo intrajornada não pode
coincidir com o início ou término da jornada, e horas excedentes não são pagas
como horas extras, tratando-se de um regime de compensação de horas.

25
O parágrafo terceiro esclarece que os dias destinados ao repouso semanal do
empregado e os domingos não serão remunerados em dobro, uma vez que são
compensados no regime de trabalho 12 x 36. No entanto, os feriados laborados
serão remunerados conforme a Súmula n. 444 do TST, e o parágrafo sexto
estabelece que o empregado que trabalhar nessa modalidade de jornada não
poderá receber salário mensal inferior ao piso da categoria.

A Cláusula 23ª trata das regras e procedimentos para a concessão de férias


aos empregados. Essa cláusula impede o início de férias nos dois dias que
antecedem um feriado ou o dia de repouso semanal remunerado. Ela também
permite a concessão antecipada de férias coletivas ou individuais para empregados
que ainda não completaram o período aquisitivo, sendo consideradas quitadas
previamente. Os empregados podem solicitar férias imediatas, integrais ou
proporcionais, mesmo sem completar o período aquisitivo, ficando a decisão a
critério das empresas. Ademais, os trabalhadores que rescindirem o contrato de
trabalho de forma espontânea antes de completar 1 ano têm direito ao recebimento
de férias proporcionais.

A Cláusula 24ª, que trata dos uniformes e equipamentos de proteção, revela


uma medida de significativa importância, colocando em destaque a saúde e
segurança dos trabalhadores como prioridades. Esta disposição obriga as empresas
a fornecer, de forma gratuita, os equipamentos e uniformes necessários para
garantir que os colaboradores possam desempenhar suas funções com máxima
segurança e em conformidade com os padrões estabelecidos pela empresa. Ao
assegurar a devida provisão e manutenção de equipamentos e uniformes, a
empresa não apenas cumpre exigências normativas, mas também investe no
cuidado preventivo da saúde dos seus colaboradores, promovendo um ambiente
laboral seguro e propício ao desenvolvimento profissional.

4.2 SITUAÇÃO TRABALHISTA

No cenário atual do mercado de trabalho brasileiro, constata-se que um


cervejeiro, desempenhando a função de fabricante, possui uma média salarial de

26
R$2.014,64 para uma carga horária semanal de 43 horas. A média do piso salarial
de acordos coletivos em 2023, considerando profissionais sob regime CLT em todo o
Brasil, é de R$1.959,62. Esses dados foram obtidos através de uma pesquisa
conduzida pelo Salario.com.br, baseada em informações oficiais provenientes do
Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), eSocial, e
Empregador Web. A pesquisa abrange um conjunto de 697 salários referentes a
profissionais admitidos e desligados no período de setembro de 2022 a setembro de
2023. É relevante observar que o perfil profissional mais prevalente é caracterizado
por um indivíduo do sexo masculino, com em torno de 20 anos de idade, possuidor
de ensino médio completo, que desempenha suas atividades por 44 horas semanais
em empresas do segmento de Fabricação de Cervejas.

Importante salientar que os valores salariais apresentados não incorporam


quaisquer adicionais, como bônus, comissões, insalubridade, periculosidade,
acúmulo de função ou remuneração por hora intervalar. A análise se restringe ao
salário base mensal informado durante a admissão ou demissão, registrados no
contrato de trabalho e/ou Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS).

A ascensão expressiva da modalidade de contratação Pessoa Jurídica (PJ)


no Brasil, com um aumento de 67,5% entre 2012 e 2022, revela um panorama
laboral em transformação. Esse fenômeno é particularmente evidente no setor
cervejeiro, onde o crescimento atingiu notáveis 108,7% no mesmo período
(MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2022). Esse cenário é marcado por uma
flexibilização do trabalho e também a capacidade de adaptação do sistema produtivo
diante das variáveis econômicas, sociais e políticas (CASTILHO,1998). No entanto,
a suposta flexibilidade oferecida pela contratação PJ, especialmente no setor
cervejeiro, levanta questionamentos quanto à possível precarização das relações
laborais.

O ordenamento jurídico brasileiro, em especial a Consolidação das Leis do


Trabalho (CLT), estabelece direitos e garantias para os trabalhadores, visando
assegurar condições dignas de emprego. A crescente adoção da pejotização, no
entanto, implica em uma possível contornancia dessas normas e enfraquecimento

27
das leis trabalhistas, uma vez que os colaboradores contratados como PJ
frequentemente não desfrutam dos mesmos benefícios e proteções trabalhistas que
os empregados tradicionais.

4.2.1 EFEITOS DA PANDEMIA

De acordo com dados do Observatório FIESC, o setor cervejeiro de Santa


Catarina praticamente duplicou seu quadro de empregos formais na indústria de
cervejas e chopes nos últimos anos, alcançando 1.498 funcionários em 2020, último
dado disponível para a série. Tais números refletem não apenas a expansão da
produção, mas também a importância econômica desse setor para o estado. Esse
crescimento pode ser interpretado à luz de teorias econômicas que destacam a
influência positiva da diversificação da economia e do investimento em setores
inovadores.
No entanto, a pandemia de COVID-19 teve um impacto negativo no setor,
com fechamentos de bares e restaurantes, principais canais de distribuição da
cerveja. Um relatório do Instituto da Cerveja Brasil, o setor registrou um saldo de
fechamento de 25 vagas no primeiro trimestre de 2022, acompanhando o cenário
nacional. A análise também destaca que o setor cervejeiro brasileiro está se
recuperando da pandemia. No segundo trimestre de 2022, o setor registrou um
saldo positivo de 1.000 vagas.
Além disso, a crise de saúde global causou consequências sobre a rotina e
remuneração de funcionários do setor cervejeiro. As cervejarias de porte maior
foram aquelas com maiores mudanças, concentram esforços nos acordos de
suspensão de contrato, ajustes na carga horária e demissões (40%). Já as de
pequeno porte cortam menos vagas e exploram um leque maior de alternativas
(GUIA DA CERVEJA, 2021).
As cervejarias ciganas, que possuem menos funcionários que cervejarias com
fábrica própria, valeram-se menos de acordos de suspensão de contrato de trabalho.
Já brewpubs e cervejarias com fábricas próprias procuraram realizar acordos, como
previsto pela MP 936/2020, e recorreram às férias forçadas com mais intensidade.
Além disso, o cenário de urgência sanitária provocou a necessidade de
adequação nas medidas de segurança nas empresas. Os trabalhadores da empresa

28
AMBEV, organização de grande expressividade no setor cervejeiro brasileiro,
enfrentaram um aumento no número de casos de contaminações por COVID-19 nas
fábricas. A negligência da empresa levou os trabalhadores a iniciarem uma série de
ações de luta, incluindo greves, protestos e ações judiciais.
Essas ações resultaram em algumas conquistas para os trabalhadores, como
a assinatura de um acordo coletivo que previu a realização de testes de COVID-19
para todos os trabalhadores, a concessão de licença remunerada para os
trabalhadores que testaram positivo para COVID-19 e a implementação de medidas
de segurança nas fábricas.

29
5 ARTICULAÇÃO

30
31
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

-dificuldade de dados

-falta de dados recentes

-dificuldade de conversa

32
33
REFERÊNCIAS

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Management, vol. 17, no. 1, 1991, p. 99-120.

CHIAVENATO, I. Comportamento Organizacional: A dinâmica do sucesso das


organizações. 3. ed. Barueri: Manole, 2014.

HENKELS, Henry; TORKASKI, Fernando. Cervejaria Canoinhense. Disponível em:


Acesso em: 09 de novembro de 2023.

LIMA, Victoria. Turismo e cerveja: um estudo sobre o turismo cervejeiro no


município de Canoinhas. Trabalho de Conclusão de Curso. IFSC, 2020.

NELSON, M. The barbarian's beverage: A history of beer in ancient Europe.


Routledge, 2005.

RIBEIRO,Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil: 3. ed.- São


Paulo (SP): Companhia das Letras, 2011.

TOMASI, Alessandro Rodrigo Pedroso. Da panela ao copo: a produção de cerveja


caseira como prática de lazer. 2018. Tese (Doutorado em Estudos do Lazer) –
Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Universidade
Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2018.

Instituto da Cerveja Brasil (IBC). Relatório de Mercado Cervejeiro 2022. São Paulo:
IBC, 2022.

ambev-inaugura-em-sc-a-primeira-linha-completa-para-processamento-de-lupulo-do-brasil

sebrae-sc-auxilia-micro-e-pequenas-cervejarias-catarinenses-em-primeira-exportacao-do-
setor

34
saiba-mais-sobre-a-profissao-mestre-cervejeiro-e-sua-atuacao-na-industria

cervejeiro-fabricacao-cbo-841710

Mercado-de-cervejas-artesanais-cresce-e-consolida-os-estados-de-Santa-Catarina-e-Rio-
Grande-do-Sul-entre-os-maiores-do-país.aspx

https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/noticias/setor-cervejeiro-segue-crescendo-a-
cada-ano-aponta-anuario

https://digitalagro.com.br/2023/07/06/merhttps://ndmais.com.br/economia/producao-de-
cerveja-artesanal-em-sc-enfrenta-a-pior-crise-veja-os-motivos/cado-em-expansao-setor-
cervejeiro-segue-crescendo-a-cada-ano/

cervejas-artesanais-no-brasil-pesquisa-revela-detalhes-sobre-consumo

consumo-de-cerveja-2022

https://angelinawittmann.blogspot.com/2015/03/heinrich-hosang-primeiro-cervejeiro-de.html

https://esbrasil.com.br/producao-de-cerveja-foi-pouco-afetada-pela-pandemia/

https://www.nsctotal.com.br/noticias/setor-cervejeiro-de-sc-cresce-apesar-da-
pandemia-e-assume-protagonismo-no-brasil

https://economiasc.com/2021/04/08/economia-sc-drops-como-o-setor-cervejeiro-
driblou-a-pandemia-e-como-sc-se-destaca-nesse-cenario/

https://ndmais.com.br/economia/producao-de-cerveja-artesanal-em-sc-enfrenta-a-pior-
crise-veja-os-motivos/

https://guiadacervejabr.com/reorganizacao-novos-negocios-veja-licoes-setor-
cervejeiro-durante-crise/

https://bdta.abcd.usp.br/item/003067526

https://www.salario.com.br/profissao/cervejeiro-fabricacao-cbo-841710/

35
Questionário

Objetivo/questionário pesquisa
O objetivo primordial desta pesquisa reside na condução de uma análise
aprofundada e de natureza acadêmica do setor cervejeiro no estado de Santa Catarina.
A pesquisa pretende fornecer um exame detalhado das características, tendências e
dinâmicas que definem esse importante segmento da economia local.
Dito isso, é importante enfatizar a relevância das contribuições de empresários que
desempenham um papel fundamental no cenário cervejeiro local, sendo líderes e
influenciadores em suas respectivas empresas para este estudo. As informações buscadas
junto aos empresários do setor cervejeiro em Santa Catarina são cruciais para a realização
de uma análise completa e precisa.
A seguir, apresentam-se as perguntas que compõem este estudo. As respostas das
perguntas elaboradas são a base deste estudo acadêmico e ajudarão a lançar luz sobre
tópicos essenciais, como estratégias de negócios, cultura organizacional, práticas de ESG e
o impacto das cervejarias na economia regional:

1.Informações Gerais da Empresa:


a.Nome da empresa: UNIKA
36
b.Localização: Rancho queimado
c.Ano de fundação: 2016 e responsáveis/história de surgimento.
d.Fundadores: Luciano e Bruno, pai e filho.
e.Tamanho da equipe atual: 10 pessoas na fábrica

2.Cultura Organizacional:
a.Como você descreveria a cultura da sua cervejaria?
Empresa pequena, com foco na qualidade, um cuidado muito grande sobre
isso. Parceria com bares que condizem com os princípios da cervejaria.
Nenhum aditivo utilizado.

b.Quais são os valores fundamentais que guiam as decisões e ações da


empresa?
Qualidade e preço justo.

c. Como a empresa promove a diversidade e a inclusão no local de trabalho?


A empresa é muito pequena a ponto de pensar nesse quesito.

3. Produção de Cerveja:
a. Qual é o volume médio de produção mensal ou anual da sua cervejaria?
20 mil litros por mês.
- 95% barril
- Maior parte em bar

b.Quais tipos de cerveja vocês produzem?


30 tipos de cerveja, West coast, new England, puma alemã, madre pilsen,
cervejas sazonais, Catarina sour (na de pitanga e caju foi premiada).

c.Existem produtos sazonais ou edições limitadas?


Sim, produtos sazonais

d.Vocês têm planos de expansão ou novos produtos em desenvolvimento?

37
A empresa pretende manter-se em seu tamanho pequeno, contudo novos
produtos estão sempre em desenvolvimento.

e.Já receberam prêmios ou reconhecimentos pela qualidade de suas


cervejas?
Festival brasileiro da cerveja, world beer awards Londres, copa de cerveja da
américa, dentre outros.

4.Cenário e Atuação:
a.Sua empresa realiza vendas tanto para o mercado interno quanto para o
externo?
Somente interno e focado na grande Florianópolis.

b.Como você descreveria o ambiente de negócios do setor cervejeiro em


Santa Catarina?
Cerveja é cerveja, um produto estável pois sempre terá clientela,
especialmente no estado de SC devido a uma questão histórica, no qual tem
muitas influências alemãs (país com cultura de beber e produzir cervejas).

c.Como você descreveria a relação da empresa com os funcionários?


Ambiente bom, promovendo o bem-estar dos funcionários, participação dos
funcionários na empresa.

d. Por que a fábrica está em rancho queimado?


Já tinha um sítio e fez a fábrica lá. Expectativa de expansão da cidade.

5. Perfil do Cliente:
a.Qual é o público-alvo da sua cervejaria?
De modo geral pessoas mais velhas com condições financeiras mais
estáveis. 30-60 anos.

b.Vocês realizam ações de marketing específicas para atingir esse público?


Sim, Instagram ativo com o publico, artes visualmente atrativas e
minimalistas para atrair pessoas que buscam uma qualidade no produto.
38
c.Quais canais de distribuição vocês utilizam para vender seus produtos?
A empresa possui sociedade com bares.

d.Qual imagem ou reputação a sua empresa busca construir?


Cerveja de qualidade.

e.Como vocês lidam com feedback negativo ou sugestões de melhorias?


Com as eventualidades como problema na conservação da cerveja, eles
buscam corrigir o mais rápido possível. A maior reclamação foi dos
atendentes nos bares franqueados.

6.Sustentabilidade:
a.Há preocupação com a redução do impacto ambiental?
-Sobra do malte eles dão para a alimentação de gado
- Utilizam o alumínio que tem uma maior reciclagem
-Como o foco são bares eles reutilizam os barris
-Tratam os efluentes.

7.Legislação:
a.Existem requisitos específicos para a comercialização de cervejas
artesanais?
-Registro
-Alvarás
-Autorização prefeitura
-Pauta
-Impostos: 25% imposto fez vendeu
-CLT: Dificuldade e muito gasto

39

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