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Aglomerantes

Jéssica Martins
jessica.martins@ifmg.edu.br
Conteúdos
1. Definição, conceitos e classificação dos aglomerantes
2. Cal – Tipos, fabricação e propriedades
3. Gesso - propriedades, normalização e aplicações do gesso
4. Cimento Portland - definição, fabricação, propriedades, tipos de
cimentos
5. Materiais betuminosos
4. Cimento Portland
As propriedades e características do cimento Portland estão
diretamente ligados à sua composição. O cimento é composto
por clínquer ( produto da queima conjunta do calcário e argila),
principal componente presente em todos os tipos de cimento
Portland, e de adições minerais, que variam de cimento para
cimento e que são as responsáveis por definir seu tipo.
4.1 Obtenção do clínquer
• O calcário e a argila são abundantes na natureza
• Normalmente são encontrados lado a lado, prontos para
serem utilizados sem nenhum tratamento prévio.
• A exploração e a transformação das matérias-primas são
relativamente simples, apesar das grandes instalações
industriais e da elevada temperatura necessária para a
fusão dessas matérias-primas.
4.1 Obtenção do clínquer
• Uma fábrica de cimento é uma instalação industrial de
grande porte, localizada junto às jazidas de calcário e argila.
• O processo atual de fabricação do cimento é denominado
“via seca”, pois consiste em secar as matérias-primas antes
de colocá-las no forno.
4.1 Obtenção do clínquer
• O calcário explorado na jazida é levado aos britadores onde
será fragmentado, reduzindo-se o tamanho 5 cm de
diâmetro.
• Paralelamente, a argila é esboroada, sua composição
química conferida e, se necessário, corrigida com adição de
areia ou hematita para complementação.
• A mistura de calcário e argila segue para o moinho de bolas
onde será reduzida a pó e, simultaneamente, secada por um
jato de ar quente vindo dos fornos.
4.1 Obtenção do clínquer
• A mistura do calcário e argila chama-se farinha crua: farinha
porque é muito fina e crua porque não passou pelo forno.
• A farinha crua é lançada na parte superior do forno pela
torre de ciclone que se encontra à uma temperatura de
900°C, onde logo acontece a descarbonatação do calcário,
produzindo cal virgem.
• O clinquer, resultado das transformações químicas ocorridas
entre os elementos do calcário e da argila, sai do forno a
uma temperatura de ± 1000°C.
• Tem a forma de grãos
de 2 a 5 cm de diâmetro, escuro e muito duro.
4.1 Obtenção do clínquer
• Ao sair do forno a 1000°C, o clinquer é bruscamente
resfriado por um jato de ar gelado, passando a uma
temperatura de ± 250°C.
• O clinquer resfriado será estocado e estará apto à entrar na
última fase de fabricação do cimento Portland, ou seja, a
moagem final juntamente com a gipsita e as adições.
4.2 Outras matérias-primas: gipsita
e adições

Esquema de produção do cimento Portland


4.2 Outras matérias-primas: gipsita
e adições
a) Gipsita
• A gipsita é uma rocha composta principalmente de sulfato
de cálcio hidratado (CaSO4 × 2H2O). Participando com teor
entre 3 e 5% da massa de clinquer.
• Tem por objetivo reduzir a ação enérgica do endurecimento
rápido do aluminato tricálcico, proporcionando um
desenvolvimento mais lento das reações químicas de
endurecimento do cimento quando em uso.
4.2 Outras matérias-primas: gipsita
e adições
• São exemplos de adições: a escória de alto-forno
siderúrgico, pozolanas artificiais e o próprio calcário cru
(calcário que não entrou na composição da farinha crua –
resíduo da britagem).
4.2 Outras matérias-primas: gipsita
e adições
b) Escória básica de alto-forno siderúrgico
É um subproduto da fabricação do aço, resultado da fusão do
minério de ferro com outros ingredientes, incluindo as cinzas
dos combustíveis. Quando misturada com água, endurece
através de um processo extremamente lento
4.2 Outras matérias-primas: gipsita
e adições
c) Pozolanas
Materiais pozolânicos são materiais compostos por sílica e
alumina que, por si só, possuem pouca ou nenhuma atividade
aglomerante, mas que finamente moídos e na presença de
água e de clinquer, reagem formando compostos que também
endurecem e aglomeram
4.2 Outras matérias-primas: gipsita
e adições
d) Pó de calcário
É o calcário cru com elevado teor de calcita (> 90%) e que
moído nas mesmas dimensões dos grãos de cimento recebe o
nome de filler carbonático.
Tem efeito ligeiramente benéfico nas propriedades do
concreto, inclusive na resistência mecânica, por dispersar mais
e melhor os grãos de clinquer, intensificando sua ação.
4.2.1 Razões para uso de adições
• Técnicas
- Melhora propriedades específicas
• Econômicas
- Redução de custos
- Diminuição de resíduos poluidores
• Ecológicas
- Aproveitamento de resíduos
- Preservação das jazidas naturais
4.3 Moagem Final
• Determinados os materiais que serão adicionados ao
clinquer e seus respectivos teores, toda a mistura segue
finalmente para o moinho de bolas onde será pulverizada a
grãos menores que 75 mm, passando a compor o cimento
Portland.
4.4 Processo de produção do
cimento.
1. Extração da matéria-prima – A mina de calcário é
responsável pelo suprimento de calcário não siderúrgico
para produção do clínquer;
2. Trituração, moagem e homogeneização – O calcário é
misturado à argila e o composto é reduzido a partículas
bastante pequenas para obtenção da “farinha de cru”;
4.4 Processo de produção do
cimento.
3. Clinquerização – A “farinha de cru” é inserida em um
sistema de pré-aquecimento para poupar energia. Em seguida
é levada ao forno rotativo à 1450°C para produção do clínquer;
4. Moagem - O clínquer é moído com adições de escória de
alto forno siderúrgico e outros componentes (gesso, calcário
ou pozolana, conforme o tipo de cimento Portland);
4.4 Processo de produção do
cimento.
5. Estocagem - O cimento é armazenado temporariamente em
silos de concreto;
6. Ensacamento – A última etapa do processo de produção do
cimento consiste no ensacamento para posterior distribuição.
4.4 Processo de produção do
cimento.
4.5 Propriedades do Cimentos
• Finura
A finura do cimento pode ser determinado através da peneira
da malha n 200 (0,075 mm).
Cimentos finos geralmente aceleram o desenvolvimento da
resistência.
• Expansibilidade
A expansibilidade pode ocorrer após o final da pega, ao longo
do tempo, provocando fissuras, quando da queima do clínquer,
o teor de Magnésio ou CaO livre é elevado
4.5.1 Propriedades do Cimentos
• Tempo de Pega
O tempo de pega do cimento é importante para permitir a
aplicação adequada das pastas, argamassas ou concretos.
Para controlar o tempo de pega, é adicionado gesso (CaSO4.
2H2O) na moagem do cimento. Cujo o controle é feito através
do teor S03 (Trióxido de enxofre)
4.5.2 Propriedades do Cimentos
• Fatores que interfere no tempo de pega
a) Porcentagem de C3A (aluminato tricálcico) no cimento –
quanto maior, mais rápida ocorre a pega.
b) Quantidade de água de amassamento – uma pequena
quantidade a mais pode agilizar a pega por favorecer a
solubilização dos aluminatos, porém, em excesso pode atrasar,
em função da demora da precipitação dos compostos.
c) Temperatura – quanto mais elevada, mais rápida a pega;
temperaturas baixas retardam-na, podendo até paralisá-la.
4.5.3 Propriedades do Cimentos
• Fatores que interfere no tempo de pega
d) Grau de moagem do cimento – quanto mais fino o cimento,
menor o TIP.
e) Presença de impurezas orgânicas – se houver (geralmente
presente nas areias), haverá atraso ou mesmo interrupção da
pega.
4.5.4 Propriedades do Cimentos
• Resistência a Compressão
É medida através de corpos cilíndricos , dosa-se um traço com
cimento, areia e água a fim de se obter a argamassa padrão.
Os corpos de prova são rompidos em idades convencionadas
(3, 7, e 28 dias), obtém-se resultados que possibilitarão uma
visão da evolução e do alcance da resistência mecânica.
4.6 Tipos de Cimentos
Tipos de cimentos Portland A ABNT, Associação Brasileira de
Normas Técnicas, normaliza cinco tipos de cimentos Portland,
sendo que alguns ainda subdividem-se. A disponibilidade de
determinados tipos é regional, sendo que outros são
fabricados somente por encomenda.
4.6 Tipos de Cimentos
4.6 Tipos de Cimentos

Composição dos diversos tipos de cimentos


4.6.1 Tipos de Cimentos
a) Cimento Portland comum e com adições (CP I; CP I-S)
• Aglomerante que praticamente não tem adições. Devido ao
elevado teor de clinquer na sua composição, tem custo mais
elevado que os demais.
• Não é encontrado facilmente no mercado. É um
aglomerante de elevada resistência mecânica já nas
primeiras idades.
• Conta apenas com adição de 3% de gesso, presente em
todos os demais.
• Indicado para construções que não apresentem situações
especiais.
4.6.2 Tipos de Cimentos
b) Cimento Portland composto (CP II-E; CP II-Z; CP II-F)
• Nos cimentos compostos com escória (CP II-E), nota-se um
pequeno atraso no Tempo de Início de Pega e no alcance da
resistência mecânica nas primeiras idades.
• Com reações ligeiramente mais lentas, libera calor durante a
hidratação de maneira mais suave, contribuindo na
diminuição da ocorrência de trincas e fissuras nas estruturas
de concreto.
• Melhor resistência ao ataque das águas agressivas e suas
propriedades se acentuam quanto maior for o teor de
escória.
4.6.3 Tipos de Cimentos
b) Cimento Portland composto (CP II-E; CP II-Z; CP II-F)
• Nos cimentos com pozolanas (CP II-Z), a pega é mais
demorada e o alcance das resistências com a idade também,
por isso é recomendável que se aguarde mais tempo para a
desforma das estruturas de lajes.
• Sua presença em concreto aparente não é indicada, as
cinzas pozolânicas pode causar “manchas” na super
superfície externa das peças de concreto.
• Melhor resistência ao ataque de sulfatos, têm sua
durabilidade ampliada.
• Indicação: obras subterrâneas, presença de água, inclusive
marítimas
4.6.3 Tipos de Cimentos
b) Cimento Portland composto (CP II-E; CP II-Z; CP II-F)
• Os cimentos com material carbonático (CP II-F) são de
fabricação recente e as suas propriedades muito se
assemelham ao CP I-S, apesar do teor de clinquer ser
ligeiramente menor.
• Indicado para estruturas de concreto, argamassas de
assentamento e revestimento.
4.6.4 Tipos de Cimentos
c) Cimento Portland de alto-forno (CP III)
Este cimento apresenta adição de escória básica de alto-forno
siderúrgico em proporções bem mais intensas que o cimento
CP II-E (NBR 5735:1991). Suas características mais marcantes
são:
• Tempo de início e fim de pega prolongado
• Endurecimento lento e resistência inicial baixa nas primeiras
idades, o que requer maior cuidado na cura e maior tempo
de espera com a estrutura escorada.
• Sua resistência aumenta sensivelmente em idades próximas
aos 28 dias, chegando a superar muitos cimentos em idade
superior a 60 dias.
4.6.4 Tipos de Cimentos
c) Cimento Portland de alto-forno (CP III)
• De baixo calor de hidratação, favorecendo o não surgimento
de trincas e fissuras nas peças concretadas, apresenta boa
resistência aos meios agressivos.
• Indicação: obras de grande porte, em ambientes agressivos,
assim como também para aplicação geral
4.6.5 Tipos de Cimentos
d) Cimento Portland pozolânico (CP IV)
Cimento onde as adições de pozolana e calcário cru são maiores do
que no cimento CP II-Z.
• A pega neste cimento é mais lenta, a resistência inicial é baixa nas
primeiras idades (até 7 dias) e a resistência final um pouco mais
elevada.
• Seu endurecimento é lento em climas frios, o que requer
paciência para a desforma e uso de aditivo.
• Baixo calor de hidratação, boa resistência à ação de águas
agressivas.
• Indicação: barragens, onde elevada resistência mecânica não é
requerida e onde o permanente contato com águas
provenientes de tratamentos industriais, de esgoto ou de solos
seja necessário.
4.6.6 Tipos de Cimentos
e) Cimento Portland de Alta Resistência Inicial – ARI (CP V)
• Cimento composto basicamente de clinquer e gipsita, onde
só se adiciona calcário cru.
• Possui pega normal, porém, o endurecimento é muito
rápido devido ao seu maior grau de moagem.
• Sua resistência é sempre maior que 30 MPa aos 7 dias de
idade. Já aos 3 dias de idade, alcança resistência superior a
25 MPa, somente alcançada pelos demais cimentos após 21
dias.
• Indicação: obras que necessitam de desforma rápida das
peças de concreto.
4.6.6 Tipos de Cimentos
f) Cimento Portland Branco (CPB)
• Principal diferença coloração, que é obtida com matérias
primas com baixos teores de óxido de ferro e manganês
- Brancura superior a 78%
- Pode ser pigmentado

• Pode ser tanto estrutural como não estrutural


- Estrutural: concretos brancos para fins arquitetônicos
- Não estrutural: rejuntamento de azulejos
Evolução de resistência à compressão dos
tipos de cimento Portland
4.7 Embalagens
• Na sacaria do cimento deve ser impressa, de forma visível,
em cada extremidade, a sigla e as classes (25, 32 ou 40),
com 60 mm de altura no mínimo e, no centro, a
denominação normatizada (logomarca do órgão certificador,
por exemplo ABNT, e especificação da norma aplicada),
nome e marca do fornecedor.
• Sacos de papel kraft.
4.7.1 Embalagens
4.8 Recebimento e estocagem
• Os sacos de cimento não devem estar úmidos, ou com
aparência de que já foram molhados;
• Não devem existir pedras, pois isso indica que o cimento
absorveu umidade e encontra-se hidratado. Este cimento
não deverá ser utilizado, pois sua qualidade foi alterada;
• O cimento deve ser estocado em local seco, coberto e
fechado, longe do contato com água, afastado do chão e das
paredes.
• É recomendável que o produto ensacado seja utilizado em
até 90 dias da data de fabricação.
Hora da Prática
1. O que é o clinquer do cimento Portland e quais seus
principais componentes?
2. Por que a gipsita é um material imprescindível no cimento
Portland?
3. Qual é a influência da finura dos cimentos na composição
dos concretos?
4. Cite 3 razões para o uso de adições no cimento.
5. Explique o processo de produção do cimento.
6. Indique 2 fatores que interfere na pega do cimento.
7. Como é verificado a resistência mecânica dos cimentos.
8. Qual a principal diferença do Cimento Portland Branco para
os outros cimentos? E onde ele pode ser usado?
Hora da Prática
9. Indique um local apropriado para uso do cimento:
a) CPI
b) CPII-Z
c) CPII- F
d) CP III
e) CP IV
f) CP V

10. Como deve ser armazenado os sacos de cimentos? Quais os


cuidados devem ser tomados na obra?
Hora da Prática
11. No gráfico a seguir que representa a resistência mecânica (σ) com o tempo
(t), dos cimentos 1, 2 e 3, apontar:
a) O cimento de endurecimento mais rápido.
b) O cimento que apresenta maior resistência aos 28 dias de idade.
c) O cimento que promete apresentar a maior resistência mecânica com o tempo

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