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Organizadores

Adalberto Pandolfo Aline P. Gomes Marcele S. Martins


Luciana M. Pandolfo Dayane Muhammad Alessandro Goldoni

SEGURANÇA DO
TRABALHO

Estudos de casos II nas áreas de prevenção de


riscos, doenças ocupacionais e ergonomia
Organizadores:
Adalberto Pandolfo Aline P. Gomes Marcele S. Martins
Luciana M. Pandolfo Dayane Muhammad Alessandro Goldoni

SEGURANÇA DO TRABALHO

Estudos de casos II nas áreas de


prevenção de riscos, doenças
ocupacionais e ergonomia

Capa: Dayane Muhammad


Revisão de Conteúdo: Luciana M. Pandolfo
S456 Segurança do trabalho [recurso eletrônico] : estudos de caso II
nas áreas de prevenção de riscos, doenças ocupacionais e
ergonomia / organizadores Adalberto Pandolfo ... [et al.]. –
Florianópolis : Bookess, 2011.
E-book (formato PDF).
ISBN 978-85-8045-203-7

Modo de acesso: World Wide Web: <http://pt.scribd.com>.

1. Segurança do trabalho. 2. Ergonomia. 3. Doenças


ocupacionais. 4. Qualidade de vida. 5. Saúde do trabalhador.
I. Pandolfo, Adalberto, coord.

CDU: 331.45

Bibliotecária responsável Schirlei T. da Silva Vaz - CRB 10/1364


SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO...............................................................................................3

CAPÍTULO 1
Análise e avaliação dos níveis de ruídos/NPS existentes em uma
indústria metalúrgica...................................................................................... 5
Cassiano Casagrande, Milton Serpa Menezes, Aline Pimentel Gomes, José
Waldomiro Jiménez Rojas

CAPÍTULO 2
Análise do desempenho ergonômico em dois arranjos físicos de
cozinhas residenciais com layouts em formato horizontal e
L.................................................................................................................... 20
Eduardo Gava, Paulo Potrich, Marcele Salles Martins, Andréia Saúgo

CAPÍTULO 3
Avaliação macroergonômica no setor de pré-montagem de motores de
uma indústria de máquinas agrícolas ........................................................ 36
Fabiano Cervi, Marcelo Fabiano Costella, Patricia Dalla Lana Michel,
Alessandro Goldoni

CAPÍTULO 4
Análise ergonômica no setor de quebra de canal de uma empresa de
fundição de metais na cidade de Passo Fundo, RS.................................. 52
Fernanda Guilem Fortes, José Eurides de Moraes, Carla Raquel Reolon de
Oliveira, Juliana Kurek

CAPÍTULO 5
Análise macroergonômica de posto de trabalho de caixa
bancário............................................................................................................. 67
Leonardo Cerato Reveilleau, Roni César Rech Silveira, Andréia Saúgo,
Marcele Salles Martins

CAPÍTULO 6
Métodos para proteções de periferia de lajes: Diagnóstico em obras de
edificação em Passo Fundo, RS.................................................................... 89
Luciano Dors, Juliana Kurek, Aline Pimentel Gomes, José Waldomiro
Jiménez Rojas
CAPÍTULO 7
Estudo das descargas atmosféricas no meio rural............................. 107
Ricardo Nicolau, Adalberto Pandolfo, Luciana Marcondes Pandolfo,
Dayane Muhammad

CAPÍTULO 8
Diagnóstico dos riscos ocupacionais e riscos à saúde nos garimpos em
Ametista do Sul, RS..................................................................................... 125
Volker Weiss, Adalberto Pandolfo, Carla Raquel Reolon de Oliveira,
Luciana Marcondes Pandolfo
APRESENTAÇÃO

A competitividade e a dinâmica dos mais variados setores da


economia, a todo instante, geram a necessidade de técnicas mais efetivas e
menos onerosas nos postos de trabalho. A principal evolução do conceito
de economia que atinge a área de segurança e medicina do trabalho é a
valorização do trabalhador.
Um funcionário motivado, confortável e munido de todas as
ferramentas necessárias para desenvolver o seu trabalho vai produzir mais
que um funcionário em condições precárias de conforto e segurança. Além
do fator motivação, dificilmente mensurável, sabe-se que hoje os custos
com acidentes de trabalho ou mesmo indenizações por problemas de saúde
adquiridos no ambiente de trabalho são tão significativos que podem
desestruturar facilmente um orçamento.
As perdas sociais para as empresas que não valorizam o funcionário são
fatores que pesam na hora de contratar um profissional especializado em
engenharia de segurança do trabalho.
A Universidade de Passo Fundo forma profissionais habilitados a
atuarem na área de segurança e higiene do trabalho, capazes de trabalhar
com essas questões de forma abrangente e eficaz. A formação desses
profissionais termina com a elaboração de monografias que unem os
conhecimentos adquiridos com suas aplicações práticas.
Após a elaboração do primeiro livro derivado desses trabalhos de
alunos e professores, surgiram novas aplicações e estudos que estão
apresentados nesta obra e poderão ser conhecidos pelo leitor nas próximas
páginas.
De forma concisa, os autores se propuseram a aplicar os conhecimentos
científicos em situações práticas nos mais variados setores da produção,
abordadas em cada um dos oito capítulos do livro.
A apresentação dos artigos reunidos neste trabalho não tem o
objetivo de esgotar o assunto, mas de contribuir, através de discussões, e
introduzir o tema valorização do trabalhador no mercado, uma vez que
meio ambiente, saúde, segurança e qualidade de vida no trabalho são
preocupações constantes nas empresas de sucesso.
CAPÍTULO 1

ANÁLISE E AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS DE


RUÍDOS/NPS EXISTENTES EM UMA INDÚSTRIA
METALÚRGICA

Cassiano Casagrande, Milton Serpa Menezes, Aline Pimentel Gomes


José Waldomiro Jiménez Rojas

1. INTRODUÇÃO
O desenvolvimento industrial tem aumentado cada vez mais os
níveis de ruídos nos ambientes de trabalho, sobretudo nas fábricas. A
exposição dos trabalhadores a níveis elevados de ruído por longos
períodos de tempo pode acarretar perda auditiva e comprometimentos
físicos, mentais e sociais no indivíduo.
Os ambientes ruidosos, como a indústria metalúrgica, em que há,
no dia a dia, nível de pressão sonora (NPS) elevado, podem provocar
estresse sobre os trabalhadores, diminuição do rendimento, dificuldade de
concentração, aumento da ocorrência de erros, maior número de acidentes
e diminuição da produtividade em geral. O bem estar físico e mental do
trabalhador é fundamental para um bom desempenho de suas tarefas, tanto
na sua atividade profissional, como na sua vida social.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera que o som não
deve ultrapassar 50 dB para não causar prejuízos ao ser humano. A partir
de 50 dB, os efeitos negativos começam, alguns problemas podem ocorrer
em curto prazo, outros levam anos para ser notados.
A avaliação dos níveis de ruídos no ambiente de trabalho é
extremamente importante, pois pode indicar a potencialidade dos mesmos
interferirem na saúde e na segurança dos trabalhadores.
O objetivo desse trabalho é medir os níveis de ruídos presentes em
uma indústria metalúrgica, comparar os valores obtidos com os limites

5
normatizados e avaliar a percepção dos trabalhadores com relação a esses
níveis de ruídos e seus efeitos.

2. O DESENVOLVIMENTO DA INDÚSTRIA E DA POLUIÇÃO


SONORA OCUPACIONAL

O início da Revolução Industrial, a partir de meados do século


XVIII, foi um marco histórico no desenvolvimento de máquinas
diferenciadas, na descoberta de novos materiais e na modernização dos
processos produtivos (RIFFEL, 2001).
Segundo Batista (1998), a revolução industrial modificou o
panorama sonoro. A poluição sonora começou a fazer parte do cotidiano
dos seres humanos, chamando a atenção de pesquisadores, técnicos e
órgãos normatizadores.
No Brasil, a necessidade do aumento de produção levou os
ambientes industriais a níveis insuportáveis de ruído, trazendo
consequências danosas à saúde do trabalhador. Surdez e aumento da
tensão arterial são alguns dos malefícios provenientes da exposição a
níveis elevados de ruídos (ZANNIN, 1990).
De acordo com Almeida et al. (2000), o ruído pode ser contínuo,
quando não há variação do nível de pressão sonora nem do espectro
sonoro, ou de impacto, que são ruídos de alta energia e que duram menos
de 1 segundo. O ruído de impacto pode causar na cóclea (parte do ouvido
responsável pela percepção sonora) mudanças fisiológicas ou anatômicas
temporárias ou permanentes, elevando os distúrbios auditivos,
caracterizados por mudanças do limiar, dificuldades na percepção da fala e
zumbidos.
A mensuração do ruído pode ser realizada através de dosímetros -
aparelhos que estimam o nível equivalente de energia (Leq) que atinge o
indivíduo durante o período de medição, o qual poderá variar de poucos
minutos até a jornada de trabalho integral (ALMEIDA et al, 2000).

6
3. EFEITOS CAUSADOS PELO RUÍDO OCUPACIONAL

Zanin (1990) relata que o ruído age sobre o organismo humano de


várias maneiras, prejudicando não só o funcionamento do aparelho
auditivo como comprometendo a atividade física, fisiológica e mental do
indivíduo a ele exposto.
Entre estas consequências, a mais definida e quantificada consiste
em danos no sistema auditivo. Segundo Graça (2005) os efeitos do ruído
vão desde uma ou mais alterações passageiras até graves efeitos
irreversíveis. Em relação aos efeitos sobre o sistema auditivo, estes podem
ser de três tipos:
a) mudança temporária do limiar de audição: também conhecida
como surdez temporária, que ocorre após a exposição do indivíduo a ruído
intenso, mesmo por um curto período de tempo.
b) surdez permanente: que se origina da exposição repetida durante
longos períodos a barulhos de intensidade excessiva, ocasionando uma
perda irreversível associada à destruição dos elementos sensoriais da
audição.
c) trauma acústico: que é a perda auditiva repentina após a
exposição a barulho intenso, causado por explosões ou impactos sonoros
semelhantes. Conforme o tipo e a extensão da lesão pode haver somente
uma perda temporária, no entanto esta também pode ser permanente.
Além desses problemas, existem os efeitos “extra-auditivos” que
podem provocar ações sobre o sistema cardiovascular, alterações
endócrinas, desordens físicas e dificuldades mentais e emocionais, entre as
quais, irritabilidade, fadiga e maus ajustamentos.
Esses distúrbios dependem de fatores como: frequência do ruído,
intensidade, duração e ritmo, assim como o tempo de exposição, a
suscetibilidade individual e a atitude de cada indivíduo frente ao som.
Os principais distúrbios são:
a) distúrbios de comunicação: nos ambientes ruidosos, a
comunicação verbal é dificultada, aumentando a probabilidade de erros e
acidentes ocupacionais. Em alguns casos, podem ocorrer situações em
que, devido ao excesso de ruído no local de trabalho, o trabalhador tem a
necessidade de utilizar uma intensidade vocal mais forte que a habitual
7
para ser ouvido pelos colegas, provocando assim um esforço maior e uma
tensão ao falar, havendo consequentemente uma sobrecarga vocal, que
pode ocasionar lesões e alterações vocais (MEDEIROS, 1999).
b) distúrbios do sono: muitos estudos confirmam a influência
negativa do ruído sobre o sono, tornando-o mais superficial. Segundo
Seligman (1993) o ruído, mesmo de fraca intensidade, provoca a passagem
temporária de um estado de sono profundo para outro mais leve, o
chamado complexo “K”. Como o ruído tem interferência direta na
qualidade do sono, vai agir indiretamente no dia-a-dia do trabalhador,
prejudicando o rendimento no seu trabalho e na sua vida social. Seligman
(1997) ainda afirma que ruídos escutados durante o dia podem atrapalhar o
sono de horas posteriores. Os pacientes reclamam de dificuldade para
iniciar o adormecimento, de insônia e de despertares frequentes, o que
determina cansaço no dia seguinte.
c) distúrbios vestibulares (relacionados ao equilíbrio): de acordo
com Seligman (1997) durante a exposição ao ruído e mesmo depois dela,
muitos pacientes apresentam distúrbios tipicamente vestibulares, descritos
como: vertigens, acompanhadas ou não por náuseas, vômitos e suores
frios, dificuldades no equilíbrio e na marcha, desmaios e dilatação de
pupilas.
d) distúrbios comportamentais: muitos autores relatam uma série
de sintomas comportamentais, entre eles: mudanças na conduta e no
humor; falta de atenção e concentração; inapetência; cefaléia; redução da
potência sexual; ansiedade; depressão; cansaço; fadiga e estresse.
Acredita-se que estes sintomas podem aparecer isolados ou mesmo
conjuntamente (MEDEIROS, 1999). Gerges (1995) acrescenta ainda:
nervosismo, fadiga mental, frustração, irritabilidade, mau ajustamento em
situações novas e conflitos sociais entre operários expostos ao ruído. O
trabalhador que retorna ao lar após um dia em ambiente ruidoso tende a
irritar-se com maior facilidade. Portanto, é fato inconteste que os fatores
individuais têm importância muito acentuada, alguns indivíduos são mais
suscetíveis que outros, os efeitos relacionam-se diretamente com a reação
individual.
e) distúrbios neurológicos: Costa (1994) refere algumas prováveis
alterações como resposta à ação do ruído, que se manifestam como: o
aparecimento de tremores nas mãos, redução da reação aos estímulos
visuais, dilatação das pupilas, mobilidade e tremores dos olhos, mudança
8
na percepção visual das cores e desencadeamento ou piora de crises de
epilepsia. São relatadas também influências no sistema nervoso central,
inclusive alterações das ondas alfa no eletroencefalograma e aumento da
pressão do líquor raquidiano.
f) alterações na concentração e habilidade: como o ruído é um som
indesejável, apresenta a característica de irritar e, com isso, diminuir a
capacidade de concentração mental, afetando o desempenho na habilidade
de realizar algumas tarefas. Assim, trabalhadores que utilizam habilidades
manuais, por exemplo, podem ser muito prejudicados, pois sua capacidade
está diminuída, aumentando a probabilidade de erros e comprometendo a
execução de tarefas que exijam atenção e concentração mental
(MEDEIROS, 1999).
g) alterações no rendimento de trabalho: Silva (2006) relata que a
exposição a níveis elevados de ruído por um período de tempo interfere na
concentração e nas habilidades, tendo como consequência a redução do
desempenho e do rendimento de trabalho. O indivíduo fadiga mais rápido,
apresentando cansaço e prejudicando o desempenho de suas atividades.
Estudos demonstraram que o excesso de ruído altera a condutividade
elétrica no cérebro, além de provocar uma queda na atividade motora em
geral.
O anexo 1 da NR15 estabelece como limite de exposição dos
trabalhadores aos diversos ruídos ocupacionais o limite de 85dB para um
período de 8 horas diárias (ATLAS, 2007). Vários critérios foram
desenvolvidos para quantificar e garantir o conforto acústico e o estado do
sistema auditivo.
Com relação ao conforto acústico no trabalho, a Lei 6.514 de
22/11/77, que se refere ao Capitulo V do Titulo II da Consolidação das
Leis do Trabalho, relativo à Segurança e Medicina do Trabalho, dado pela
Portaria nº 3.751 de 23 de Novembro de 1990, Norma Reguladora NR17 -
ERGONOMIA menciona os parâmetros que permitem a adaptação das
condições de trabalho às características psicofisiológicas dos
trabalhadores, de modo a proporcionar conforto acústico, desempenho e
segurança.
Nos locais de trabalho onde são executadas atividades que exigem
solicitação intelectual e atenção constante são recomendados, pela NBR
10152 (ABNT, 1987), níveis de ruído entre 45 e 65 dB(A), onde o valor
inferior da faixa representa o nível sonoro para conforto, enquanto que o
9
valor superior significa o nível sonoro máximo aceitável para a respectiva
finalidade.

4. PROCEDIMENTO ADOTADO

Esse trabalho foi realizado em uma indústria metalúrgica de médio


porte, com 3.950 m² de área construída, localizada no Nordeste do Estado
do Rio Grande do Sul e cujas atividades estão classificadas como grau de
risco 3.
O modelo dos protetores auriculares que os trabalhadores utilizam
na empresa é do tipo plug, de inserção, com quatro abas de silicone,
ligados por uma corda de algodão. O número do CA é 5362, com
atenuação de 25,1 dB para frequências de 125 Hz e chegando a valores de
47,3 dB para frequências de 8000 Hz.
As medições foram realizadas durante o turno diurno nos setores
de preparação dos materiais, montagem interna, solda, limpeza, pintura e
almoxarifado. Foram selecionados qualitativamente os pontos de medição
em que os trabalhadores ficam mais próximos aos equipamentos que
geram ruído, com o microfone mantido na posição de 70º em relação à
fonte sonora e próximo ao ouvido do trabalhador, com leituras efetuadas
no circuito de compensação “A” e circuito de resposta lenta (Slow).
Conforme pode ser verificado no Quadro 1, existem diferentes
recomendações de metodologia com relação aos parâmetros e limites dos
níveis de ruídos avaliados, que dependem da finalidade da aplicação.
Como o objetivo principal desse trabalho é verificar o conforto acústico,
seguiu-se o que estabelece a NR17.

10
NR15 NHO 01 NR17
Exposição ocupacional, Ergonomia - Conforto
Aplicação Insalubridade
exceto conforto acústico acústico
Leq - Nível sonoro
Parâmetro Dose Dose
equivalente
Recomendado pela
LT = 85 db(A) para 8h - LT = 85 db(A) para 8h -
Limites NBR10152, de acordo
Dose = 1 Dose = 1
com a atividade.
Incremento de
5 dB 3 dB -
duplicação (q)
Nível de ação
50% dose = 80 db(A) 50% dose = 82 db(A) -
(Jornada de 8h)

Quadro 1 – Parâmetros e limites dos níveis de ruídos

A NBR 10151 (ABNT, 2000) recomenda a determinação do nível


sonoro equivalente (Leq) para ambientes que apresentam grande variação
dos níveis ao longo do tempo, bem como determina as condições para a
instalação do aparelho de medição.
Quando a exposição ao ruído é composta de dois ou mais períodos
de exposição de diferentes níveis, devem ser considerados seus efeitos
combinados, sendo que os mesmos podem ser obtidos com maior precisão
utilizando-se o dosímetro, que é um instrumento capaz de fornecer o nível
equivalente de ruído.
Segundo Grandjean (1998), esse indicador consiste na mais
importante medida para a caracterização da carga sonora. O Leq apresenta
a exposição ocupacional ao ruído durante o período de medição e
representa a integração dos diversos níveis instantâneos de ruído ocorridos
nesse período. Com isso, o efeito perturbador do ruído intermitente é
comparado ao efeito de um nível sonoro constante no espaço de tempo
analisado.
Em cada ponto de coleta foram realizadas duas medições com
duração de quatro horas (metade da jornada de trabalho), sendo a
temperatura ambiente de aproximadamente 34ºC. Todas as medidas foram
realizadas com tempo ensolarado e a umidade relativa do ar entre 65% e
80%.
De acordo com Saliba (2000) a dosimetria pode ser feita em parte
da jornada de trabalho quando o ciclo de trabalho se mostra regular e se

11
repete durante todo o período. As medições foram efetuadas nas segundas
e quartas-feiras, totalizando um mês de medição.
Foi elaborado um questionário objetivo, com questões de múltipla
escolha relacionadas à história ocupacional de exposição ao ruído e dados
sobre o estado geral de saúde do trabalhador. O mesmo está descrito no
apêndice A e foi baseado no questionário proposto por Silva (2006).
O trabalho teve como objetivo avaliar 100% dos trabalhadores
envolvidos no chão de fábrica, totalizando 54 questionários, que foram
respondidos fora do ambiente de trabalho, de forma individual e sem a
necessidade de identificação. Solicitou-se aos funcionários que
respondessem da forma mais sincera possível, possibilitando demonstrar o
sentimento do grupo com relação ao seu local de trabalho.
As repostas similares foram agrupadas e suas respectivas
porcentagens foram calculadas.
O equipamento utilizado para a realização das medições foi um
dosímetro da marca INSTRUTHERM, modelo DOS-450, N° Série
030502969, O.S. N°53800. A escala de medição é de (40 a 140) dB,
detector RMS verdadeiro, escala de pulso de 63 dB. Microfone de 8 mm
de alta impedância. O aparelho segue as normas ANSI S1. 25-1991, ANSI
S1 4-1983, IEC651-1979 e IEC804-1985.
A calibração do equipamento é realizada periodicamente pelo
laboratório de calibração INSTRUTHERM, que contrata profissionais
qualificados para tal tarefa, com a data da última calibração em
05/10/2007. O procedimento de calibração usado foi o PCI-002-Rev 0,
através do processo de comparação com um padrão rastreado.
A parametrização do dosímetro foi realizada conforme padrões
estabelecidos pela NBR 10151 (ABNT, 2000).

5. RESULTADOS DO ESTUDO DE CASO

5.1 Avaliação quantitativa

Os resultados obtidos através das medições dos níveis de ruídos


nos diferentes setores da indústria metalúrgica estão apresentados na
Tabela 1.
12
Tabela 1 – Medições de NPS máx e Leq nos diferentes setores
   0.*  0$& + 0.*  0$& +#
   
 
 
  ϵϭ͕ϯ ϲϰ͕ϰ  ! " "
# $ %&   " ' !# ( ϵϲ͕ϯ ϳϭ͕ϲ
) * ϵϯ͕ϱ !+ , ( ! ϲϳ͕Ϭ
, &- ϵϵ͕ϯ ϳϯ͕Ϯ ++ # !! 
" & . ϴϭ͕ϱ "( ) '#  ϲϬ͕Ϯ
! * &/ ϴϭ͕ϱ ϲϳ͕ϵ '  " )

Os valores destacados em negrito são os maiores resultados obtidos


entre as duas medições.
Como a NBR 10152 (ABNT, 1987) não apresenta os níveis de
ruído para as atividades desempenhadas em pavilhão industrial, a NR17,
no item 17.5.2.1, recomenda que para as atividades que não apresentam
equivalência ou correlação com aquelas relacionadas na NBR 10152
(ABNT, 1987), o nível de ruído aceitável para efeito de conforto será de
até 65 dB (A).
A Figura 1 mostra os resultados das medições do ruído nos
diferentes setores e o limite aceitável para efeito de conforto acústico
conforme a NR17.

Figura 1 – Resultado da avaliação quantitativa

13
Pode-se perceber que os níveis de ruído da grande maioria dos
setores está acima do nível estabelecido pela NR17, que é de 65 dB(A).
Além disso, foram constatados níveis de pressão sonora que ultrapassaram
100 dB(A), o que é altamente prejudicial à saúde e à integridade física do
ser humano que permanece durante um longo tempo nesse ambiente.
Os altos níveis de ruído são decorrentes das diferentes atividades
desempenhadas nos setores, em que as tarefas de corte, solda, furação,
limpeza, etc., geram atritos entre ferramentas e peças, resultando em
ruídos altíssimos.

5.2 Avaliação qualitativa

A Tabela 2 apresenta os resultados obtidos através dos


questionários respondidos pelos funcionários dos diferentes setores da
indústria metalúrgica.

Tabela 2 – Respostas dos questionários aplicados aos funcionários dos diferentes


setores

45*.&  6 0   /*.9 7&  6&/&7.*0


1 * 8.2&  
  & .  725&  7 7   .&   
2*3 0 .5&
 &5&  .4 5& .4 3.  7 . &7

 ϳ ϰ ϭ ϰ ϰ Ϯ ϱ
$ %& : ϭϬ ϳ ϲ ϳ ϳ ϰ ϳ
* ϱ ϰ Ϯ ϯ ϭ ϭ ϯ
&- ϯ Ϯ Ϯ Ϯ ϭ Ϯ Ϯ
& . ϰ Ϯ Ϭ Ϭ Ϭ ϭ Ϯ
* &/ Ϯ Ϯ Ϯ Ϯ ϭ Ϯ Ϯ
1 *; ( # ( ' ) # #
7 .*; "! !)< ) )< ,' +"< ), "< (' !< "! !)<

Entre os 54 trabalhadores entrevistados, 57,4% retornaram o


questionário para a compilação dos dados, como apresentado na Figura 2.

14
Figura 2 – Resultado da avaliação qualitativa

Dentre os temas abordados, os níveis de ruído inadequados para a


atividade e a dificuldade de comunicação obtiveram os maiores
percentuais, uma vez que grande parte dos trabalhadores acredita que estes
itens são os que mais prejudicam o ambiente de trabalho. Outros danos
como dores de cabeça, zumbido no ouvido, perda de concentração e
influência sobre o humor, também foram associados aos elevados índices
de ruído percebidos pelos trabalhadores.
Percebe-se que, mesmo que o questionário apresente resultados
subjetivos, 67% dos trabalhadores entrevistados acreditam que o nível de
ruído do ambiente de trabalho é inadequado para a atividade, o que se
confirmou através das medições.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados desse estudo, tanto quantitativos quanto qualitativos,


permitem concluir que o ambiente de trabalho estudado apresenta níveis
de ruído acima dos limites normatizados e não oferecem conforto acústico,
conforme a NR17, NR15 e NBR 10152 (ABNT, 1987). Isso significa que
esses níveis de ruído podem provocar danos à saúde dos trabalhadores que
exercem suas atividades nesse ambiente.
Os trabalhadores entrevistados têm percepção dos níveis de ruído
inadequados presentes no ambiente de trabalho onde exercem suas
atividades e dos efeitos negativos causados por esse ruído, como dores de
15
cabeça, zumbido no ouvido, perda de concentração, influência no humor e
dificuldades de comunicação.
Estas informações permitem conhecer a realidade e assim
desenvolver outros estudos que visem melhorar as condições de conforto
acústico nos ambientes industriais.
Recomenda-se a melhoria nos layouts da indústria, utilização de
material absorvente acústico nas paredes, piso e cobertura, implementação
de plano de manutenção adequado em todos os equipamentos e
instalações, substituição de máquinas antigas e obsoletas, mudanças nos
processos que produzem elevados níveis de ruído e utilização de
protetores auriculares por parte dos trabalhadores.

REFERÊNCIAS
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Avaliação de Ruído em Áreas Habitadas, visando ao Conforto da Comunidade.
São Paulo, 2000.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10152 (NB
95): Níveis de Ruídos para Conforto Acústico. São Paulo, 1987.
ALMEIDA, S. I. C. de, ALBERNAZ, P. L. M., ZAIA, P. A. História natural da
perda auditiva ocupacional provocada por ruído. Rev. Assoc. Med. Bras. [on-
line]. 2000, vol. 46, no. 2 [visitado 2008-05-03], pp. 143-158. Disponível em:
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concha na atenuação do ruído. Florianópolis, 1990, 115 f. Dissertação (Mestrado
em Engenharia Mecânica). Universidade Federal de Santa Catarina.

17
APÊNDICE A – Modelo de questionário
Setor: ______________________________________________
Função: ____________________________________________
Idade: ______________________________________________
Sexo: ______________________________________________
Escolaridade: ________________________________________

MARQUE A ALTERNATIVA QUE REPRESENTA A SUA PERCEPÇÃO


COM RELAÇÃO A CADA UM DOS TEMAS ABORDADOS:

1. Levando em conta a sua atividade, você entende que o nível de ruído no


seu ambiente de trabalho é:
a. ( ) ideal
b. ( ) alto, atrapalhando um pouco
c. ( ) altíssimo, atrapalhando muito

2. Na sua avaliação, você sente dores de cabeça, após o trabalho, por conta
do ruído:
a. ( ) nunca
b. ( ) às vezes
c. ( ) sempre

3. Você percebe que existe um “zumbido” no ouvido:


a. ( ) nunca
b. ( ) às vezes
c. ( ) sempre

4. No seu ambiente de trabalho, você percebe que o ruído faz com que você
perca a concentração e, conseqüentemente, a produtividade:
a. ( ) nunca
b. ( ) às vezes
c. ( ) sempre

5. Você entende que o seu ambiente de trabalho, em se tratando de ruído,


influencia no seu humor de maneira:
a. ( ) positiva, proporcionando que você fique calmo
b. ( ) insignificante
c. ( ) negativa, fazendo com que você fique estressado

6. No seu ambiente de trabalho, você sente dificuldade de comunicar-se:


a. ( ) nunca b. ( ) às vezes c. ( ) sempre

18
7. Na sua avaliação, você sente dores no corpo, após o trabalho, por conta do
ruído:
a. ( ) nunca
b. ( ) às vezes
c. ( ) sempre

8. Você percebe que a “carga diária de ruído” influencia na qualidade do seu


sono de forma:
a. ( ) insignificante
b. ( ) negativa, dificultando um pouco seu repouso
c. ( ) bastante negativa, dificultando muito o seu repouso

9. Você entende que um isolamento acústico nas divisórias dos setores:


a. ( ) não ajudaria a reduzir o ruído
b. ( ) reduziria um pouco o ruído
c. ( ) ajudaria muito na redução do ruído

10. Você entende que, de maneira geral, o nível de ruído no seu ambiente
de trabalho é:
a. ( ) ideal b. ( ) alto c. ( ) altíssimo

19
CAPÍTULO 2

ANÁLISE DE DESEMPENHO ERGONÔMICO


EM DOIS ARRANJOS FÍSICOS DE COZINHAS
RESIDENCIAIS COM LAYOUTS EM FORMATO
HORIZONTAL E L
Eduardo Gava, Paulo Portich, Marcele Salles Martins,
Andréia Saúgo

1. INTRODUÇÃO

O conjunto dos afazeres domésticos compõe-se de uma série de


atividades complexas, as quais exigem um trabalho predominantemente
manual, de natureza repetitiva e constante, o que acaba conduzindo o ser
humano a um esforço físico considerável, praticado muitas vezes em um
ambiente desprovido de infra-estrutura adequada.
A relação entre o homem, o trabalho e o ambiente construído no
qual as atividades domésticas se desenvolvem nos transporta para a real
importância da interação entre a arquitetura e a ergonomia contudo, o que
se identifica, atualmente, na maioria dos espaços arquitetônicos
construídos é uma total carência desta interação. Villarouco (2002) destaca
esta problemática.
O que se verifica é que, ainda hoje, os estudos de arquitetura
e projetos de espaço ressentem-se da abordagem ergonômica,
que fica ausente no processo de formação de muitos
arquitetos. Esta lacuna identificar-se-á como necessidade no
trabalho de profissionais, que tenderão sempre a produzir
projetos inadequados, onde os aspectos importantes do
usuário do espaço não são levados em conta.
Dessa forma, obviamente que será necessária uma série de
investimentos posteriores com o intuito de corrigir ou mesmo amenizar as
dificuldades identificadas no ambiente. Com isso, coloca-se em evidência
a inviabilidade econômica gerada por um planejamento mal elaborado,

20
cujas carências irão comprometer a segurança do usuário, bem como seu
desempenho no processo produtivo (TORRES et al. 2006)
Considerando que este compartimento ocupa um local de destaque
na hierarquia do conjunto de espaços que abrigam as atividades
domésticas, a cozinha, conforme Gurgel (2004) é um dos ambientes mais
propícios a acidentes numa residência, e também o mais perigoso, onde
gás, fogo e elementos pontiagudos estão em constante utilização.
Para estudar a relação do homem com o ambiente construído
devem ser consideradas as restrições físicas do ambiente e as
habilidades e limitações do homem. Entre esses fatores, o
layout se destaca como um elemento determinante na
utilização do espaço e do conforto do usuário, visto que o
arranjo físico preocupa-se não somente com uma disposição
racional do processo produtivo, mas também com áreas de
movimentação, alcances e manuseios de pesos, disposição do
mobiliário e condições humanas do trabalho (TORRES et al,
2006).
Com isso, busca-se destacar a importância da sinergia entre a
arquitetura e a ergonomia, visando uma nova abordagem por parte dos
profissionais envolvidos, a qual se pretende incluir tanto no processo de
concepção do ambiente a ser construído como na intervenção necessária
no ambiente arquitetônico existente.
Portanto, este artigo objetiva avaliar, a partir da análise de estudos
de caso, qual arranjo físico apresenta o melhor desempenho ergonômico
para cozinhas residenciais, alertando para as limitações do layout
apresentado, e para as respectivas consequências geradas no processo
produtivo, na segurança e no conforto do usuário.

2. ERGONOMIA E OS ARRANJOS FÍSICOS ATUAIS

O papel da ergonomia é subsidiar o planejamento, o projeto, a


avaliação de produtos, postos de trabalho, sistemas de informação e
ambientes, tornando-os compatíveis com as necessidades, habilidades e
limitações dos indivíduos (TORRES et al., 2006)
As contribuições da ergonomia para introduzir melhorias dentro do
ambiente no qual as atividades acontecem podem variar conforme a etapa
21
em que ocorrem tais contribuições e também conforme a abrangência com
que é realizada. Segundo Iida (1990) uma das formas de classificação da
abrangência é a análise dos postos de trabalho, a qual ocorre em uma
escala menor, de forma mais pontual, avaliando um setor que compõe o
sistema.
Para Couto (1995) a adequação geral do posto de trabalho ocorre
principalmente a partir da antropometria, pois dessa forma pode-se medir
as dimensões humanas e seus ângulos de conforto/desconforto e, com base
nisso, planejar postos de trabalho corretos. Tanto para se trabalhar
sentado, de pé ou semi-sentado, quanto para trabalho leve ou pesado.
Slack apud Torres et al. (2006) destaca que o projeto de arranjo
físico inicia-se com a análise dos elementos fundamentais: unidades de
planejamento de espaço (UPE), afinidades, primitivas de espaço e
restrições. Unidades de planejamento de espaço (UPE) são setores em que
se identificam uma área de trabalho, uma área de estocagem ou alguma
característica do estabelecimento.
As afinidades, por sua vez, correspondem à hierarquização,
segundo a frequência dos fluxos dos materiais entre as diversas áreas de
trabalho. As primitivas de espaço são as áreas mínimas de cada UPE,
definidas a partir da soma da área que o equipamento ocupa mais a sua
área de utilização e a sua área de circulação e, por fim, ainda segundo
Slack apud Torres et al. (2006) as restrições são os limitadores do layout
ideal, como as delimitações físicas da edificação, aberturas de iluminação
e ventilação e outras características externas.
Pode-se chegar a inúmeras possibilidades de layouts para um
determinado ambiente, desde que tenham sido considerados importantes
aspectos distintos da mesma questão, ou seja, ora o fator mais importante
pode ser a segurança, ora a estética do conjunto, a obtenção de um fluxo
racional, as condições ambientais, dependendo, assim, do ponto de vista
abordado.
Segundo Souza (2002) a escolha do tipo de layout deve estabelecer
um fluxo racional de trabalho, evitando-se deslocamentos desnecessários
de pessoas e materiais, bem como proporcionando maior conforto e
segurança aos usuários do espaço físico.
Iida (1990) destaca o arranjo físico ou layout como um problema
importante em cozinhas residenciais, no qual o bom senso indica que
22
aquelas peças entre as quais há um fluxo maior de movimentos devem ser
colocadas próximas entre si.

2.1 Abordagem dos arranjos físicos

Considerando que a cozinha residencial é o ambiente que mais


evolui e reflete as mudanças de hábito da sociedade, para planejá-la, além
de funcionalidade e do dimensionamento dos espaços, deve-se, sobretudo,
conhecer a rotina da família, uma vez que os hábitos interferem direto no
programa de necessidades. Atualmente, as cozinhas de alguns
apartamentos residenciais apresentam dimensões cada vez mais reduzidas,
comprometendo a distribuição do arranjo físico, o que influencia na
otimização do processo produtivo e do ambiente de trabalho, forçando o
projetista à verticalização e à ocupação do espaço cúbico com uma
superposição excessiva de unidades produtivas de trabalho (LEMOS apud
TORRES et al., 2006).
Para Gurgel (2004) a cozinha, essencialmente, é uma estação de
trabalho composta por três atividades básicas: armazenar (geladeira);
preparar (pia) e cozinhar (fogão). Sendo que a melhor forma de organizar
as três atividades é a triangular onde a sugestão é que se mantenha a soma
das três distâncias inferior a 6,5m.
Contestando Gurgel (2004) que exclui a bancada da disposição
triangular descrita como um arranjo físico ideal, Iida (1990) afirma que o
foco das atividades da cozinha ocorre na bancada, e que os fluxos entre
bancada e pia e entre bancada e fogão são maiores que entre bancada e
geladeira, destacando assim que a triangulação formada pela pia, fogão e
geladeira está ineficiente pela ausência do principal elemento da cozinha,
que é a bancada. Portanto para Iida (1990) no projeto do layout da
cozinha, o elemento mais importante a ser estudado é a bancada, ao lado
da qual deve ser colocada a pia e o fogão, enquanto as posições da
geladeira e armários são mais flexíveis.
Iida (1990) assim como Gurgel (2004) mencionam que as
cozinhas residenciais são classificadas em quatro tipologias distintas de
layouts, sendo que tais tipologias são definidas a partir de seu respectivo
arranjo físico, o qual por sua vez é determinado em função da disposição
da geladeira - fogão - pia/bancada. A organização dos postos de trabalho e
23
dos equipamentos caracteriza o formato, bem como a hierarquização dos
eixos sobre os quais ocorrem os fluxos e deslocamentos.

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Em função dos cenários reais disponíveis foi necessária uma


racionalização do conteúdo existente em termos de arranjo físico de
cozinhas residenciais. Dessa forma foram selecionadas para a elaboração
deste trabalho duas tipologias de cozinhas, com layout em formato
horizontal e em “L”.
Os dados coletados para o seu desenvolvimento foram obtidos
através de uma análise qualitativa do ambiente construído em relação aos
princípios básicos do layout, à integração geral, à mínima distância, ao
fluxo, ao espaço cúbico, à flexibilidade e à satisfação e segurança do
usuário. O estudo contempla, sobretudo, as questões de antropometria,
descritas por Panero e Zelnik (1998), a abrangência ergonômica através da
análise do posto de trabalho e a contribuição ergonômica através da
ergonomia de concepção, ressaltando assim a influência do arranjo físico
no desempenho das atividades através da interação entre a arquitetura e
ergonomia.
A abordagem ergonômica foi realizada através do levantamento
físico do espaço, de observações assistemáticas, de conversas informais e
de registros fotográficos. As observações assistemáticas foram concebidas
com base em visitas esporádicas ao ambiente analisado e o estudo de
caráter avaliativo do arranjo físico foi baseado nos princípios básicos do
layout: a integração geral, a mínima distância, o fluxo, o espaço cúbico, a
flexibilidade e a satisfação e segurança determinados por Slack apud
Torres et al. (2006). As conversas mantidas com os usuários reforçaram
sistematicamente a questão da abrangência e da contribuição ergonômica,
pois demonstraram as opiniões, queixas, avaliações e sugestões sobre a
realidade cotidiana do layout analisado. As Figuras 1 e 2 representam o
layout dos ambientes avaliados com suas respectivas tipologias, cuja
configuração foi concebida através do levantamento físico realizado.

24
Figura 1 – Estudo de caso - Cozinha com arranjo físico horizontal: bancada, pia e
fogão na mesma parede

Figura 2 – Estudo de caso - Cozinha com arranjo físico em L: geladeira, bancada


e pia na mesma parede e fogão no sentido perpendicular

25
4. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

4.1 Avaliação do arranjo físico da cozinha horizontal

A cozinha apresentada na Figura 1, com layout em formato


horizontal, apresenta as seguintes características: forro de gesso,
revestimento cerâmico na parede em que se localiza a pia, piso cerâmico
em todo o ambiente, ventilação e iluminação natural, bancadas de trabalho
de granito, churrasqueira, mesa de jantar para seis lugares, armários em
MDF com laminados melamínicos, sistema de exaustão com coifa
desprovida de saída externa, geladeira duplex, fogão de mesa com cinco
queimadores, forno elétrico, forno/fogão à lenha e forno microondas,
conforme exemplificado na Figura 3.
Com base no levantamento físico do espaço avaliado e nas
informações obtidas junto aos usuários da residência, foi possível
constatar que a cozinha cumpre também a função de um compartimento de
uso social, pois além das atividades diárias recorrentes do trabalho
doméstico, o ambiente também funciona como uma área de convivência,
um local utilizado pelos familiares para promover encontros e reunir
pessoas.

GELADEIRA
BANCADA

MICROONDAS
FOGÃO À GÁS

PIA
FOGÃO/FORNO À LENHA

Figura 3 – Levantamento fotográfico da cozinha com layout horizontal


26
A cozinha com arranjo físico horizontal apresenta uma
configuração retangular, com área de 23,21m². Todos os equipamentos
estão dispostos linearmente, e as atividades ocorrem de forma processual.
Constatou-se que os usuários desenvolvem a maioria das
atividades em pé e com acentuada movimentação dos membros.
Identificou-se ainda, com determinada frequência, a necessidade de se
adotar uma série de posturas inadequadas para acessar utensílios e
eletrodomésticos.
Com base na análise dos princípios básicos do layout,
compreendeu-se o seguinte:
• Princípio da Integração Geral: a integração das Unidades de
planejamento de espaço (UPE) ocorre de forma equilibrada, pois a pia, a
bancada, o fogão e a geladeira estão dispostos em um mesmo
alinhamento e, embora esta distância ultrapasse quatro metros, as
atividades são desenvolvidas com um nível de conforto mediano.
• Princípio da mínima distância de movimentação: a distribuição
das UPEs gera aglomeração de equipamentos e tarefas em linha reta. As
atividades que ocasionam maiores problemas são os deslocamentos entre
a pia e a geladeira, entre o fogão e a pia e o deslocamento para retirar os
eletrodomésticos e utilizá-los sobre a bancada.
• Princípio do fluxo: o arranjo físico determinado nesta cozinha
estimula um fluxo de materiais onde se encontra a bancada, sobre esta
ótica, identifica-se uma redução no ritmo de trabalho e, sobretudo, uma
dificuldade de organização dos materiais, em função das dimensões
reduzidas da bancada, pois o fogão e forno à lenha encontram-se ao lado
da pia, inutilizando a área de bancada de manipulação. Dessa forma,
acaba sendo necessário utilizar a chapa do fogão como bancada. Aliado a
isto, colocam-se outros elementos que prejudicam o fluxo das atividades,
como lixeira, escorredor de louça e materiais de limpeza. Verifica-se
ainda, que alguns eletrodomésticos estão dispostos em uma área de
difícil acesso, como nos armários superiores, em altura inadequada.
• Princípio do espaço cúbico: o espaço cúbico da cozinha
avaliada é aproveitado com certa deficiência, sobretudo, pela presença de
um equipamento cuja utilidade é inexistente, pois o forno e fogão à lenha
não dispõe de um funcionamento eficiente e, ainda segundo a usuária,
27
acaba gerando resíduos que prejudicam o acabamento dos móveis e do
forro de gesso.
• Princípio de satisfação e segurança: identificaram-se alguns
potenciais de riscos para possíveis acidentes, como a utilização de
bancos para retirar utensílios dos armários superiores e a prática de
determinadas tarefas que ocorrem simultaneamente, pois em função do
espaço restrito da bancada, ocorre uma aglomeração das atividades.
• Princípio da flexibilidade: a flexibilidade do espaço pode ser
viabilizada apenas quanto à disposição dos eletrodomésticos, pois os
condicionantes físicos da edificação não permitem uma disposição
diferente da maioria das UPEs e equipamentos.
Com a análise dos princípios do layout concluída, avalia-se a
relação e a intensidade dos fluxos entre as UPEs e os equipamentos,
sendo é possível classificá-los nos seguintes padrões:
Fluxo muito alto: geladeira – bancada.
Fluxo muito alto: pia – bancada.
Fluxo muito alto: fogão – bancada.
Fluxo alto: armários superiores – bancada.
Fluxo alto: armários inferiores – bancada.
Fluxo alto: lixeira – bancada.
Fluxo alto: fogão – pia.
Fluxo alto: geladeira – pia.
Fluxo comum: micro-ondas – bancada.
Fluxo comum: bancada – mesa.

Conforme a classificação especificada acima, nota-se um


distanciamento excessivo entre algumas UPEs e equipamentos de fluxo
alto, como a pia e a geladeira. Outra fragilidade perceptível é a
aglomeração de materiais que ocorre na bancada de manipulação. Dessa
forma, identificou-se que os principais problemas da cozinha horizontal
são os seguintes:
• Problema de Acesso: como alguns eletrodomésticos e louças estão
dispostos nos armários superiores, sua utilização depende de
movimentos indesejáveis, em que os usuários assumem uma
postura ergonomicamente inadequada, que ocasiona uma situação
de risco, e também prejudica o desempenho das atividades
desenvolvidas simultaneamente na pia.
28
• Problema de Espaço: a disposição do forno e fogão à lenha entre a
pia e o fogão a gás ocasiona uma situação de aglomeração de
tarefas na pia e uma superposição dos materiais sobre a bancada de
apoio, a qual dispõe de dimensões reduzidas e encontra-se ao lado
esquerdo da pia. A aglomeração das tarefas recorrentes da ausência
de uma bancada de manipulação adequada foi identificada como
uma das possíveis causas que geraram um acidente, ocorrido
durante o preparo de alimentos à base de fritura.
Sugere-se como contribuição para melhorar o desempenho ergonômico
da cozinha horizontal, as seguintes alterações:
• Remover o forno e fogão à lenha, utilizando esta área como
bancada de manipulação para que dessa forma se obtenha um
espaço com dimensões de 65 cm de profundidade e 91 cm de
largura na superfície horizontal.
• Os armários superiores, situados acima da pia, devem ser
deslocados de lugar para ficarem na altura ideal, conforme a Figura
4. Sugere-se distribuí-los no local onde se encontra o aparelho de
televisor e também acima do fogão a gás, sendo necessário para
isso alterar o sistema de exaustão existente.

Figura 4 – Nova proposta para a cozinha com arranjo físico horizontal

29
Conforme exemplificado na Figura 4, as alterações no layout
compreendem uma nova disposição de mobiliário, cuja configuração pode
ser identificada da seguinte forma:
• 01: armários superiores existentes dispostos em outra posição;
• 02: nova coifa de exaustão com formato retangular;
• 03: nova bancada de manipulação com tampo em granito - no local
da antiga chapa do fogão a lenha;
• 04: novos armários inferiores - no local do antigo fogão/forno à
lenha;
A nova disposição do mobiliário geraria contribuições para
melhorar o desempenho ergonômico do ambiente, uma vez que os
armários superiores estariam a uma altura de acesso recomendada de
1,53m. A inserção da bancada de manipulação sobre o antigo local do
fogão à lenha e a mudança do móvel superior situado acima da pia
proporcionam agilidade e conforto no desempenho das atividades
exercidas simultaneamente ou concomitantemente.

4.2 Avaliação do arranjo físico de cozinha em L

A cozinha com layout em L dispõe de uma área de 13,75m² com


formato retangular, iluminação e ventilação natural, revestimento
cerâmico em todas as paredes até 1,70m de altura e forro de gesso. A
disposição das UPEs e equipamentos é a seguinte: pia/bancada e geladeira
alinhadas na mesma parede e o fogão localizado em linha perpendicular.
Os móveis e armários são em MDF de laminados melamínicos, o tampo é
de vidro temperado de 12mm com acabamento em pintura branca, e o
fogão com quatro queimadores a gás está instalado sobre o tampo,
conforme exemplificado na Figura 5.

30
Figura 5 – Levantamento fotográfico da cozinha com layout em L

Em virtude da área limitada, não há mesa dentro da cozinha, existe


uma bancada para refeições onde é possível acomodar até quatro pessoas,
dessa forma, quando há necessidade utiliza-se a mesa da sala de jantar que
dispõe de seis lugares.
A partir da análise dos princípios de layout, constatou-se:
• Princípio da Integração Geral: sobre alguns aspectos, a integração
das Unidades de planejamento de espaço (UPEs) ocorre de forma
harmoniosa, pois predomina uma configuração longitudinal
ausente de interrupções nas unidades dispostas na parede ao lado
da pia. O dimensionamento das zonas de trabalho também está
dentro dos padrões recomendados. Entretanto, parte das UPEs e de
alguns equipamentos encontram-se excessivamente racionalizados,
ocorrendo, com isso, em determinados momentos, uma
sobreposição de equipamentos e atividades, como o microondas
que ocupa parte da área da bancada de manipulação.
• Princípio da mínima distância de movimentação: o arranjo físico
desta cozinha apresenta uma reduzida distância de movimentação
devido à proximidade das UPEs. Identifica-se, ainda, que a
localização da geladeira, próxima à porta, favorece o acesso dos
usuários que encontrarem-se nos demais cômodos da residência,
31
evitando assim deslocamentos desnecessários.
• Princípio do fluxo: os fluxos ocorrem de maneira equilibrada,
dessa forma as atividades se desenvolvem com eficácia, sobretudo
em função de uma dimensão linear generosa do tampo onde está
localizada a pia. A disposição deste layout, também favorece o
fluxo frequente que ocorre em direção à esquadria de acesso ao
terraço externo da edificação, pois se formou um eixo de
circulação livre sem comprometer a execução simultânea das
tarefas.
• Princípio do espaço cúbico: o espaço cúbico é bem aproveitado, a
única fragilidade é o uso do microondas disposto sobre a bancada
de manipulação, gerando uma sobrecarga nos demais espaços do
tampo de trabalho.
• Princípio de satisfação e segurança: observa-se certa ausência de
preocupação com a presença de crianças no local, sobretudo no uso
de determinados eletrodomésticos.
• Princípio da flexibilidade: a flexibilidade do espaço praticamente
inexiste, é garantida apenas pela possibilidade de redistribuir
alguns eletrodomésticos, isso por tratar-se de um ambiente com
uma proposta específica, cujas limitações espaciais são definidas
pelas características da edificação existente.
Através do levantamento dos fluxos existentes entre as UPEs e os
equipamentos definiu-se a seguinte hierarquização:
Fluxo muito alto: pia – bancada de manipulação.
Fluxo muito alto: fogão – bancada de manipulação.
Fluxo muito alto: geladeira – bancada de apoio.
Fluxo alto: armários superiores – bancada de apoio.
Fluxo alto: armários inferiores – bancada de apoio.
Fluxo alto: lixeira – bancada de apoio.
Fluxo alto: fogão – pia.
Fluxo alto: geladeira – pia.
Fluxo alto: microondas – bancada de manipulação.
Fluxo comum: pia – bancada de refeições.
Fluxo comum: bancada de manipulação – bancada de refeições.

32
Com base na análise dos padrões de fluxo, verificou-se a
viabilidade de reduzir a intensidade dos fluxos em direção à bancada de
apoio, redistribuindo estes deslocamentos para a bancada de manipulação.
O forno de microondas deve ser instalado junto à parede paralela a pia,
dessa forma seria possível aumentar o espaço de trabalho na bancada de
manipulação. A alteração sugerida para esta cozinha será apresentada na
Figura 6. Não será necessário promover modificações complexas ou que
exijam um investimento financeiro significativo, pois o arranjo físico atual
já contempla com equilíbrio a hierarquização dos fluxos e a integração das
UPEs.

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Figura 6 – Alteração proposta para o arranjo físico da cozinha em “L”

Conforme a modificação sugerida, o forno microondas seria


removido da área relativa à bancada de manipulação e instalado na parede
paralela a pia sobre uma prateleira situada a 90 cm de altura. Os demais
equipamentos e as UPEs não sofreriam alteração.
Posicionamento das UPEs e equipamentos:
• 01: geladeira
• 02: bancada de apoio
• 03: pia
• 04: bancada de manipulação
• 05: fogão
33
• 06: bancada para refeição
• 07: nova disposição do forno microondas

Por meio das avaliações desenvolvidas no layout da cozinha em


formato L, constatou-se que a bancada de refeições permite ao usuário
praticar a alternância de posturas entre posição de pé e posição sentada,
pois em função de suas dimensões pode-se utilizá-la no exercício de
determinadas atividades na posição sentada.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A cozinha caracteriza-se dentro do partido arquitetônico de uma


casa como um ambiente de uso frequente e constante, o qual abriga uma
diversidade significativa de serviços domésticos e também de relações
sociais entre as pessoas. Sendo assim, a cozinha desempenha atualmente
mais de uma função dentro de uma residência e deve estar devidamente
estruturada para tais finalidades, sobretudo com relação ao seu arranjo
físico ou layout.
Com base na análise comparativa desenvolvida entre os formatos
das cozinhas avaliadas, concluiu-se que a cozinha com arranjo em “L”
apresenta o melhor desempenho ergonômico, sendo necessário apenas
uma alteração mínima para melhorar o processo de trabalho.
Neste caso, o arranjo físico otimiza os deslocamentos e as
movimentações de carga, reduzindo os esforços humanos em função da
racionalização das unidades de planejamento de espaço (UPEs) e da
aproximação das atividades que compõem o processo de produção.
A distribuição dos principais equipamentos atende à hierarquização
dos fluxos prioritários entre o fogão, a bancada, a pia e o secundário entre
estes e a geladeira, além disso, a bancada, disposta entre o fogão e a pia,
garante conforto e eficiência na manipulação dos alimentos. A cozinha
com layout em “L” também proporciona a alternância de posturas
contribuindo para o conforto do usuário, o que não ocorre na cozinha com
arranjo horizontal.
Desta forma, para que se obtenha um arranjo físico
ergonomicamente adequado é necessário viabilizar a ergonomia de
34
concepção, em que seus aspectos devem estar presentes no momento da
criação do projeto arquitetônico, dessa forma, posteriormente seria evitada
a inflexibilidade do ambiente construído e a impossibilidade de melhorar
seu layout.

REFERÊNCIAS
COUTO, H. de A. Ergonomia aplicada ao trabalho: o manual técnico da
máquina humana. Belo Horizonte: Ergo,1995
GURGEL, M. Projetando espaços. 2ª ed. São Paulo: Senac,2004.
IIDA, I. Ergonomia: projeto e produção. São Paulo: Edgar Blücher,1990.
LERNER, W. Organizações, sistemas e métodos. São Paulo: Atlas, 1982.
PANERO, J.; ZELNIK, M. Las diemensiones humanas em los espacios
interiores: estandares antropométricas. 8ª ed. Barcelona: Gustavo Gili, 1998.
SOUZA, R.A. Administração da Produção. São Paulo, s.n., 2002.
TORRES, M.L.; MARTIS, L.B.; BEZERRA, E.G.S.; GALVÃO, S.C. Ambiente
Construído. In: Associação Nacional de Tecnologia Do Ambiente Constrído.
Porto Alegre, v.6, n.3, p.69-90, jul/set.2006.
VILLAROUCO, V. Avaliação ergonômica do projeto arquitetônico. Anais do
VII Congresso Latino- Americano de Ergonomia, I Seminário Brasileiro de
Acessibilidade Integral, XII Congresso Brasileiro de Ergonomia. Recife, 2002.
Disponível em: <http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br>. Acesso em: 09
jun. 2008.

35
CAPÍTULO 3

AVALIAÇÃO MACROERGONÔMICA NO SETOR


DE PRÉ-MONTAGEM DE MOTORES DE UMA
INDÚSTRIA DE MÁQUINAS AGRÍCOLAS

Fabiano Cervi, Marcelo Fabiano Costella, Patricia Dalla Lana Michel,


Alessandro Graeff Goldoni

1. INTRODUÇÃO

Com a crescente demanda do mercado de máquinas agrícolas é


necessário que as empresas busquem compatibilidade entre os sistemas
produtivos e humanos, pois com este equilíbrio se obtém vantagens
humanas e produtivas.
A participação dos funcionários é cada vez maior nas organizações
que utilizam a ergonomia participativa, isso traz maior satisfação dos
funcionários no trabalho, qualidade de vida e motivação (BROWN, 1995).
A maneira para implementar um processo varia de acordo com as
necessidades, interesses e possibilidades de cada empresa. Com isso, o
enfoque macroergonômico torna-se um elo entre o desenvolvimento de
um processo e a implementação de uma cultura de ergonomia na empresa
(GUIMARÃES, 2003).
Através da avaliação macroergonômica pode-se identificar quais os
pontos de menor satisfação, oportunidades de melhorias, envolvimento
dos funcionários nas possíveis soluções para os problemas encontrados e
ainda um maior comprometimento dos colaboradores quando da
implementação das melhorias propostas.
O objetivo geral deste trabalho é fazer uma avaliação
macroergonômica no setor de pré-montagem de motores de uma indústria
de máquinas agrícolas, buscando verificar o nível de satisfação dos
funcionários em relação ao ambiente de trabalho.
Os objetivos específicos são: utilizar o método de avaliação
36
macroergonômica do trabalho proposto por Guimarães (1999) no qual se
utiliza a abordagem participativa durante a intervenção ergonômica;
identificar quais os itens dos constructos necessitam melhorias em relação
à percepção dos funcionários; definir prioridades a serem trabalhadas pela
empresa, com base nos resultados obtidos.

2. O CONTEXTO DA ERGONOMIA NA HISTÓRIA DA


INDÚSTRIA

A produção artesanal caracteriza-se por mão-de-obra altamente


qualificada e ferramentas simples, mas flexíveis, para produzir exatamente
o que o consumidor deseja. “Os modelos de gestão se desenvolvem de
acordo com as situações (condicionantes) de uma época, em meio a
circunstâncias históricas que explicam sua concepção, potencialidades e
limitações” (GUIMARÃES, 2001, p. 3).
Segundo alguns historiadores, houve pelo menos duas revoluções
industriais
a primeira começou pouco antes dos últimos trinta anos do
século XVIII, caracterizada por novas tecnologias como a
máquina a vapor. A segunda, aproximadamente 100 anos
depois, destacou-se pelo desenvolvimento da eletricidade, do
motor de combustão interna e pelo início das tecnologias de
comunicação (CASTELLS, 1999).
Para Guimarães (2001) historicamente também se pode falar em
trabalho padronizado e repetitivo, além da entrada maciça de mulheres e
crianças no novo sistema de produção. Sob o ponto de vista da ergonomia,
poderia se falar no seguimento do trabalho monótono, repetitivo.
De acordo com o autor, o desenvolvimento de métodos para atingir
maior produção caracteriza uma importante fase na industrialização, o
Taylorismo. Nesta fase trabalhou-se na minimização de movimentos
inúteis, na economia de tempos, equipamentos, matéria-prima, espaço
físico e recursos humanos. A preocupação era com a alocação de pessoas
certas para a ferramenta, buscando redução de tempos inúteis no trabalho.
Já o Fordismo trabalhou com o aperfeiçoamento de linhas de
montagens, re-organizando o sistema produtivo, padronizando seus
produtos, desenvolvendo linhas de montagens móveis, com seus
37
montadores fixos em seus postos, obtendo altíssima produção. Após
alguns anos, por volta dos anos 60, surge o Neo-fordismo, que fez com
que as linhas de produção passassem de linhas dedicadas para
diversificadas, conquistando com isso maior diversificação de produtos
(GUIMARÃES, 2001).
Dez anos depois, por questões de produção, o Taylorismo e o
Fordismo entraram em queda e surgiu um novo sistema de produção no
oriente, chamado Produção Enxuta. Este sistema de produção tornava os
empregados membros da empresa, com todo um conjunto de direitos,
entre eles, emprego vitalício. Os empregados também concordavam em
ser flexíveis nas atribuições das tarefas e ativos na promoção dos
interesses da companhia, introduzindo melhoramentos, em vez de apenas
reagirem aos problemas (WOMACK et al., 1992).
Com a evolução dos processos produtivos e o desenvolvimento
tecnológico obtido com o passar dos anos, surgiram novas exigências e
demandas em relação ao homem e o trabalho. Segundo Moraes e
Mont’Alvão (2000) com a aplicação da tecnologia sobre os sistemas de
produção, enfatiza-se a necessidade de conhecer o homem. Os avanços da
tecnologia aplicados à engenharia fizeram com que o homem se adaptasse,
bem ou mal, às condições impostas pelas máquinas. Com a necessidade de
obter maior conhecimento sobre a interface homem-máquina, fortifica-se
o uso da ergonomia.
Conforme os autores, a origem do termo “Ergonomia” foi utilizada
pela primeira vez em 1857, pelo polonês W. Jastrzebowski, que publicou
como título de uma de suas obras “ensaio de ergonomia ou ciência do
trabalho baseado sobre as verdadeiras avaliações das ciências da
natureza”. No ano de 1949, quando da fundação da Ergonomics Research
Society na Inglaterra, o termo “Ergonomia” foi oficialmente adotado
(GUIMARÃES, 2002).
A definição de ergonomia para a Associação Brasileira de
Ergonomia é “o estudo da adaptação do trabalho às características
fisiológicas e psicológicas do ser humano”.
Dentro da ergonomia existe a macroergonomia, que é a visão
macro da ergonomia, focalizando o homem, o processo de trabalho e a
organização, o ambiente e a máquina. É a tecnologia de interface homem-
organização-ambiente-máquina, portanto, o objetivo central é otimizar o
funcionamento dos sistemas de trabalho, tendo em conta a interface do
38
desenho organizacional com a tecnologia, o ambiente e as pessoas
(MARTINEZ, 2002).
Hendrick (1993) define a macroergonomia como:
a ciência que trata de desenvolver conhecimentos sobre as
capacidades, limites e outras características do desempenho
humano e que se relacionam com o projeto de interfaces
entre indivíduos e outros componentes do sistema. Como
prática ela compreende a aplicação da interface homem-
sistema a projetos de modificações de sistemas para
aumentar a segurança, conforto e eficiência do sistema e da
qualidade de vida.
Entre os vários métodos desenvolvidos ou adaptados para
implantação da macroergonomia, um dos mais importantes é o método
participativo (BROWN, 1995). A participação dos indivíduos envolvidos
no processo de trabalho propicia que a intervenção ergonômica obtenha
melhores resultados, pois reduz a margem de erros de concepção e garante
que o novo sistema implantado tenha melhor aceitação por parte dos
trabalhadores.
A participação dos trabalhadores deve ser estimulada em todas as
fases, fazendo com que eles participem dos processos de mudanças,
transferindo-lhes responsabilidades para que os mesmos possam
desenvolver a utilização de suas habilidades, discernimento e julgamento
(NAGAMACHI, 1996).

3. METODOLOGIA

O método aplicado neste trabalho é o Método da Análise


Macroergonômica do Trabalho (AMT) proposto por Guimarães (1999).
Esta análise está divida em seis fases distintas (lançamento do projeto,
apreciação, diagnóstico, projetação, validação e detalhamento) que
demonstram a importância da abordagem sistêmica na ergonomia e na
priorização de problemas ergonômicos a serem solucionados, com
envolvimento dos funcionários em todas as fases da pesquisa. Neste
trabalho foram utilizadas as fases um, dois e três da metodologia, pois o
objetivo do trabalho era identificar os itens de demanda que pudessem
oportunizar melhorias na empresa. Não foram abordadas as outras três
fases do método em função do tempo que se faz necessário para identificar
39
as melhorias e executá-las, pois todos os problemas identificados passam
por uma avaliação envolvendo pessoas de diferentes setores na busca por
soluções adequadas para cada situação.

3.1 Fase 1: Lançamento do Projeto

Nesta fase é definido como cada participante atuará no projeto,


apresentam-se os métodos e técnicas a serem desenvolvidos nas demais
fases e é feito um cronograma de implementação.

3.2 Fase 2: Apreciação

Nesta fase é feito o mapeamento dos problemas e a classificação


quanto ao grau de importância. Com o intuito de viabilizar a participação,
a Análise Macroergonômica do Trabalho utiliza a ferramenta do Design
Macroergonômico (DM), desenvolvida por Fogliatto e Guimarães (1999),
para auxiliar no projeto macroergonômico dos postos de trabalho e de
produto. O DM possui ferramentas para seleção de amostras e coletas de
dados, como entrevistas e questionários estruturados, bem como
estratégias para organização das informações obtidas, destacando a
opinião dos usuários, pois elas permitem discriminar as diferentes
demandas, denominadas Itens de Demanda Ergonômica (IDE), em função
das atividades das pessoas.

3.3 Fase 3: Diagnóstico

Nesta fase é feita uma análise dos dados levantados na etapa


anterior, de acordo com as prioridades estabelecidas. Utilizam-se
observações sistemáticas planejadas estatisticamente. Deve-se definir o
que medir, como medir e quais instrumentos e técnicas utilizar, e qual
planejamento estatístico dever ser utilizado. As questões devem ser
avaliadas e compreendidas nesta fase, pois a base para o projeto de
qualquer produto, inclusive de um posto de trabalho é através de uma
análise bem feita no diagnóstico.

40
3.4 Fase 4: Projetação Ergonômica

Com base no diagnóstico, nesta fase devem-se sugerir soluções


para as necessidades dos usuários ou itens de Demanda Ergonômica
(IDE), levantados na apreciação e analisados no diagnóstico.
As soluções propostas são discutidas com todos os participantes e
são definidas quais alternativas são viáveis e devem ser implementadas.

3.5 Fase 5: Validação

Todas as soluções propostas e viáveis devem ser implementadas e


experimentadas pelos usuários, que junto com os especialistas farão a
validação das propostas.

3.6 Fase 6: Detalhamento

Esta é a fase do detalhamento ergonômico e otimização do sistema,


que são baseados na análise das atividades da tarefa real. São analisadas as
modificações propostas, efetuadas as modificações finais a nível
ambiental, de posto, de organização, ou seja, aquelas que se fizerem
necessárias.

3.7 Entrevistas

As entrevistas foram realizadas com 30% do número de


montadores do setor de pré-montagem de motores da indústria, seguindo o
modelo macroergonômico proposto por Guimarães (2001) que sugere o
uso de entrevistas abertas, ou seja, é feita uma única pergunta aos
entrevistados: “Fale do seu trabalho”.
Os entrevistados foram selecionados aleatoriamente, conforme
disponibilidade, após solicitação feita ao seu supervisor. As entrevistas
foram feitas em duplas. Nestas entrevistas foram levantados os itens de
demanda dos montadores que foram priorizados para formulação do
questionário aplicado a todo o grupo posteriormente.
41
Os itens foram separados por constructo, conforme o Quadro 1,
sendo mencionados no constructo “Ambiente de Trabalho” os seguintes
itens: temperatura, ventilação, fumaça de outros setores e ruído. No
constructo “Organização do Trabalho”: ritmo, relacionamento com a
chefia, rodízio de tarefas, espaço no local de trabalho, comunicação da
liderança com os funcionários, turno de trabalho e relacionamento com
colegas. Itens referentes ao constructo “Posto de Trabalho”: ferramentas
utilizadas no trabalho, disposição do layout, esforço físico e postura na
realização do trabalho. Os itens do constructo “Conteúdo do Trabalho”
foram: pressão no trabalho e produtividade. E os itens do constructo
“Empresa” foram: acesso ao restaurante em dia de chuva, acesso à
empresa em dia de chuva, qualidade das refeições, atendimento da área de
segurança e medicina do trabalho, atendimento da área de segurança
patrimonial, atendimento da área de engenharia de processos e percurso de
saída das bicicletas.

Quadro 1 – Constructos utilizados nas entrevistas

CONSTRUCTO ITEM DE DEMANDA


Temperatura
Ventilação
AMBIENTE DE TRABALHO
Fumaça de outros setores
Ruído
Ritmo
Relacionamento com a chefia
Rodízio de tarefas
ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO Espaço no local de trabalho
Comunicação da liderança com funcionários
Turno de trabalho
Relacionamento com colegas
Disposição Layout
Esforço físico
POSTO DE TRABALHO
Ferramentas utilizadas no trabalho
Postura na realização do trabalho
Pressão no trabalho
CONTEÚDO DO TRABALHO
Produtividade
Acesso ao restaurante em dia de chuva
Acesso à empresa em dia de chuva
Qualidade das refeições
Atendimento da área de segurança e medicina do
EMPRESA
trabalho
Atendimento da área de segurança patrimonial
Atendimento da engenharia de processo
Percurso da saída das bicicletas

42
3.8 Questionário

Após análise das entrevistas e separação por constructos, foi


elaborado um questionário com 25 questões que consta do Apêndice A. O
questionário busca identificar quais são os itens de demanda que precisam
ser trabalhados com maior urgência na opinião de toda a população do
setor.
Cada questão apresenta uma linha na qual os montadores deveriam
fazer uma marca com um X de acordo com uma escala de 0 (insatisfeito)
até 15 (satisfeito). Em cada extremidade e no centro da escala foram
colocadas âncoras, da esquerda para direita: insatisfeito, neutro e
satisfeito. As respostas de todos os montadores foram tabuladas em uma
planilha Excel e calculadas as médias de cada resposta. Com os dados
foram criados gráficos que mostram o nível de satisfação em cada item de
demanda.

4. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS


RESULTADOS

A tabulação dos dados foi realizada em planilha Excel, na qual


foram calculadas a média e o desvio padrão para cada questão. Estes
resultados serviram de referência para a comparação entre os itens
avaliados, partindo do princípio de que valores abaixo de 7,5 (média da
escala que varia de 0 a 15, para satisfeitos e insatisfeitos, respectivamente)
devem ser priorizados nas discussões dos grupos. Posteriormente, os
dados foram agrupados por constructo, facilitando a compreensão dos
mesmos. Foram criados gráficos para cada constructo, buscando um
melhor entendimento dos resultados alcançados com a aplicação da
pesquisa.
Com relação ao “Ambiente de trabalho”, o item de maior
insatisfação foi a temperatura, seguido da ventilação, fumaça e ruído,
todos abaixo da média, de 7,5. Isso mostra que deve-se fazer uma análise
mais criteriosa quanto ao conforto térmico e acústico dos trabalhadores e
verificar possíveis alterações para melhorar o ambiente de trabalho. A
Figura 1 apresenta graficamente os resultados.

43
Figura 1 – Avaliação do Ambiente de Trabalho

Quanto à “Organização do Trabalho”, houve quatro itens abaixo da


média e três itens acima. O item relacionamento com colegas foi apontado
com 6,63 e, portanto, deve ser trabalhado junto com a supervisão e
gerência da área, para identificar quais os motivos que estão afetando o
relacionamento. A comunicação com liderança foi avaliada com 5,34, esse
item está diretamente ligado com a supervisão, que deve conversar com
seus colaboradores e identificar as falhas de comunicação. Os itens com
maior índices de satisfação foram o espaço no local de trabalho, o turno de
trabalho, o rodízio de tarefas e o relacionamento com chefia. A Figura 2
apresenta graficamente os resultados.

Figura 2 – Avaliação da Organização do Trabalho

44
Com relação ao “Posto de Trabalho”, a postura na realização do
trabalho foi apontada com 6,51, mostrando insatisfação por parte dos
montadores. Nesse item, cabe uma avaliação ergonômica específica da
função, utilizando os requisitos da NR17. Na disposição do layout com
4,59, deve-se envolver os responsáveis pelo layout desta área e identificar
quais são as melhorias que se fazem necessárias. Já o item ferramentas
utilizadas no trabalho e o esforço físico apresentaram índices de satisfação
favoráveis, conforme mostra a Figura 3.

Figura 3 – Avaliação do Posto de Trabalho

Referente ao “Conteúdo do Trabalho”, todos os itens ficaram


acima da média, considerando um índice de satisfação aceitável pelos
montadores. O item produtividade demonstrou um alto índice de
satisfação, ou seja, os trabalhadores estão contentes com o nível de
produtividade exigido, conforme mostra a Figura 4.

Figura 4 – Avaliação do Conteúdo do Trabalho


45
Com relação à “Empresa”, os três itens que ficaram abaixo da média
foram a qualidade das refeições, o acesso à empresa e ao restaurante em
dia de chuva, este último foi apontado com 2,95, sendo o item de maior
índice de insatisfação por parte dos trabalhadores. Segundo informações
da gerência do setor, já existe um planejamento para a construção de uma
cobertura entre a fábrica e o restaurante, para evitar que os funcionários se
molhem nos dias de chuva. Os outros quatro itens, percurso da saída das
bicicletas, atendimento da engenharia de processos, atendimento da área
de segurança patrimonial e de segurança e medicina, ficaram bem acima
da média, mostrando um índices de satisfação adequados. A Figura 5
apresenta graficamente os resultados.

Figura 5 – Avaliação da Empresa

Os resultados deste trabalho foram disponibilizados para os


gestores da empresa juntamente com a sugestão de que seria pertinente
fazer um plano de ação para os itens que apresentaram índices de
satisfação abaixo da média de 7,5. Posteriormente os resultados também
foram disponibilizados para os montadores e foram solicitadas sugestões
para a solução dos problemas encontrados.

46
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a crescente demanda de produção e busca por resultados cada


vez maiores de qualidade, produtividade e, principalmente, segurança,
cada vez mais a filosofia de conciliar fatores humanos e produtivos está
crescendo na empresa e os trabalhos voltados a participação de todos os
colaboradores na identificação e solução dos problemas existentes têm
contribuído para o atendimento das metas estabelecidas pela companhia.
Com a aplicação da ferramenta de Análise Macroergonômica do
Trabalho (AMT) foi possível identificar situações de insatisfação que até
então não apareciam. Isso só foi possível porque o método utiliza-se da
percepção dos trabalhadores, em que cada um expõe seus sentimentos em
relação ao seu ambiente de trabalho. O item com maior índice de
insatisfação demonstrado na pesquisa é o acesso ao restaurante em dia de
chuva. Segundo informações da gerência do setor, já existe um
planejamento para seja construída uma cobertura entre a fábrica e o
restaurante, evitando que os funcionários venham a se molhar. Outros
itens de insatisfação foram a temperatura e a ventilação do local de
trabalho.
A avaliação também mostrou um elevado índice de satisfação dos
funcionários com relação ao espaço no local de trabalho, demonstrando de
que estes estão contentes com o local de execução de suas atividades, com
relação à produtividade e ao atendimento da área de segurança e medicina,
mostrando de que existe um suporte desta área no que se refere à
segurança dos funcionários.
Com a aplicação da ferramenta de Análise Macroergonômica foi
possível identificar situações de insatisfação por parte dos trabalhadores,
assim, a empresa fica com uma série de pontos a serem trabalhados junto
com seus funcionários e lideranças na busca por alternativas para que,
cada vez mais, as pessoas sintam-se contentes em seu ambiente de
trabalho, melhorando a produtividade, os índices de qualidade e, acima de
tudo, a segurança de cada um no dia a dia de trabalho.

REFERÊNCIAS
BROWN, O. Jr. The Development and Domain of Participatory Ergonomics. In:
IEA World Conference and Brazilian Ergonomics Congres, 7., Rio de Janeiro.
47
Proceedings Rio de Janeiro, 1995.
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
FOGLIATTO, F.S. & GUIMARÃES, L. B. de M. Design Macroergonômico:
uma proposta metodológica para projetos de produtos. Produto & Produção
(1999).
GUIMARÃES, L. B. de M. Histórico, ambiente e segurança. In: Guimarães.
Ergonomia de Processo. 3. Ed. [Porto Alegre: UFRGS/PPEG]. cap. 3. v.2.; 2001.
GUIMARÃES, L. B. de M. Histórico, ambiente e segurança. In: Guimarães.
Ergonomia de Processo. 4. Ed. [Porto Alegre: UFRGS/PPEG]. cap. 1.1. v.1.;
2002.
GUIMARÃES, L. B. de M. Análise Macroergonômica do Trabalho (ATM):
modelo de implementação e avaliação de um programa de ergonomia na
empresa. Material submetido à revista Produto & Produção, 2003.
HENDRICK, H. W. Macroergonomics: a new approach for improving
productivity, safety and quality of work live. In: Congresso Latino Americano, 2.,
Seminário Brasileiro de Ergonomia, 6., Florianópolis: ABERGO 93, p. 39-
58.,1993.
MARTINEZ, R.M., Um pazo hacia El futuro: El desarrollo de La
macroergonomia. Boletin digital factores humanos. Disponível em:
<http://boletin-fh.tid.es/bole23/art002.htm>. Acesso em: 08 set. 2008.
MORAES, A., MONT’ALVÃO, C. Ergonomia: conceitos e aplicações. 2ed.
ampliada. Rio de Janeiro, 2AB, 2000.
NAGAMACHI, M. Relationship between Job Design, Macroergonomics, and
Productivity. Human Factors and Ergonomics in Manufacturing. New York: John
Willey. v. 6, n. 4, p. 309-322, summer 1996.
WOMACK, J.; JONES, D.; ROOS, D. A máquina que mudou o mundo. Rio de
Janeiro: Editora Campus, 1992.

48
APÊNDICE A – Questionário de validação relativo à satisfação dos
usuários

PREZADO COLEGA!

Este questionário não é obrigatório, mas sua opinião sobre o seu trabalho é MUITO

IMPORTANTE. Solicito, então, que você preencha seus dados: idade, tempo no setor,

turno e setor de trabalho e marque com um X, na escala, a resposta que melhor

representa sua opinião com relação aos diversos itens apresentados.

Não coloque o seu nome no questionário. As informações são sigilosas e servirão para o
trabalho que está sendo desenvolvido. Muito obrigado.

Turno: ı Normal (07:30 – 17:18) ı A (6:00 – 15:48) ı B (15:48 – 00:11) ıC (23:38


– 07:40)

Setor de trabalho: ı Montagem do Motor

Exemplo:

3. Time de futebol do Brasil

Insatisfeito neutro satisfeito

Marque na escala qual a sua opinião quanto às seguintes questões:

1. Ruído no seu ambiente de trabalho

Insatisfeito neutro satisfeito

levemente
2. Ventilação no seu ambiente de trabalho

Insatisfeito neutro satisfeito leve


mente
3. Temperatura no seu ambiente de trabalho

Insatisfeito neutro satisfeito

49
4. Fumaça de outros setores

Insatisfeito neutro satisfeito


Levemente
5. Pressão no trabalho

Insatisfeito neutro satisfeito


levemente
6. Ritmo do trabalho

Insatisfeito neutro satisfeito

7. Produtividade do trabalho

Insatisfeito neutro satisfeito

8. Auxílio dos colegas (trabalho em time)

Insatisfeito neutro satisfeito


levemente
9. Rodízio de tarefas

Insatisfeito neutro satisfeito

10. Disposição do layout (deslocamento)

Insatisfeito neutro satisfeito

11. Espaço no seu local de trabalho

Insatisfeito neutro satisfeito


Lente
12. Ferramentas utilizadas no trabalho

Insatisfeito neutro satisfeito

13. Esforço físico realizado durante seu trabalho

Insatisfeito neutro satisfeito

14. Postura adotada durante a realização do seu trabalho

Insatisfeito neutro satisfeito

50
15. Acesso ao restaurante em dias de chuva

Insatisfeito neutro satisfeito

16. Acesso à empresa em dias de chuva

Insatisfeito neutro satisfeito

17. Relacionamento da Liderança com os funcionários

Insatisfeito neutro satisfeito

18. Comunicação da Liderança com os funcionários

Insatisfeito neutro satisfeito

19. Qualidade das refeições

Insatisfeito neutro satisfeito

20. Área de laser (local para descanso)

Insatisfeito neutro satisfeito

21. Turno de trabalho

Insatisfeito neutro satisfeito

22. Atendimento da área de Segurança, Meio Ambiente e Saúde

Insatisfeito neutro satisfeito

23. Atendimento da área de Segurança Patrimonial

Insatisfeito neutro satisfeito

24. Atendimento da área de Engenharia de Processo

Insatisfeito neutro satisfeito

25. Percurso de saída das bicicletas

Insatisfeito neutro satisfeito

51
CAPÍTULO 4

ANÁLISE ERGONÔMICA NO SETOR DE QUEBRA


DE CANAL DE UMA EMPRESA DE FUNDIÇÃO DE
METAIS NA CIDADE DE PASSO FUNDO, RS

Fernanda Guilem Fortes, José Eurides de Moraes,


Carla Raquel Reolon de Oliveira, Juliana Kurek

1. INTRODUÇÃO

O fundamento da fundição consiste em obter peças moldadas


empregando o método da fundição do metal em moldes. Para preparar um
molde, o qual mais tarde irá receber o metal, é preciso um modelo que
tenha as formas da futura peça. As cavidades interiores desta peça se
formam colocando dentro do molde machos preparados com as misturas
correspondentes. Os machos são empregados para formar na peça moldada
as cavidades necessárias (MALISHEV et al., 1970). Além da cavidade, o
molde deve conter canais e aberturas que permitam verter o metal líquido
em seu interior e alimentar a peça fundida durante o processo de
solidificação (KONDIC, 1973).
Após a desmoldagem da peça os canais são removidos
manualmente por batidas firmes de marreta. Essa atividade exige grande
esforço do trabalhador além de fazer com que ele a exerça com uma
postura inadequada. Portanto, um estudo sobre os problemas ergonômicos
existentes na atividade exercida no setor de quebra de canal da empresa de
fundição é de relevante importância.
Considerado um setor estratégico no contexto econômico, a
indústria de fundição destina 53% da sua produção para a indústria
automotiva - já que não existe nenhum transporte motorizado que não
utilize peças fundidas - e atende aos segmentos de máquinas e
equipamentos industriais, implementos agrícolas, indústria naval,
siderúrgica, redes de abastecimento de água e saneamento básico
(REVISTA PORTUÁRIA, 2007). Atualmente são 1254 empresas
52
localizadas especificamente nas regiões Sudeste e Sul do país que geram
58 mil empregos diretos. Também de relevante importância é o fato de
que as empresas de fundição se caracterizam pelo trabalho braçal, pesado,
com atividades estressantes e ambientes inóspitos. Por esta razão, os
acidentes de trabalho, assim como os problemas ergonômicos, podem
ocorrer com certa frequência, quando não observados os riscos que o
ambiente oferece.

2. METODOLOGIA

Este trabalho foi realizado em uma empresa de fundição de ferro


fundido nodular e cinzento, localizada na cidade de Passo Fundo, RS,
limitando-se ao setor de quebra de canal.
A primeira etapa do trabalho é o reconhecimento do local, das
tarefas e atividades realizadas pelo trabalhador e da organização do
trabalho no setor estudado, através de visitas à empresa. Durante as visitas
os registros das principais características do trabalho, assim como os
principais problemas observados, se deram através de uma observação
direta com o auxílio de fotos e vídeos para o registro das informações.
A segunda fase do trabalho é uma coleta detalhada de dados sobre
o setor a ser analisado, no caso o setor de quebra de canal. Para isso foram
utilizados formulários e entrevistas. Para uma coleta de dados quanto à
tarefa realizada foi utilizado um formulário adaptado do formulário
sugerido por Couto (2002) em um modelo prático apresentado no anexo
A, que leva em consideração os seguintes pontos: descrição geral da
tarefa, aspectos de dificuldades referidos pelos trabalhadores, descrição da
atividade, situações ergonomicamente inadequadas e solução, e ainda
fatores complementares como postura para trabalhar, diferença de método,
tempo de ciclo, existência de ações técnicas distintas no ciclo de trabalho,
ritmo e nível perceptível de tensão, tempo de trabalho e alternância de
tarefas e condições do ambiente de trabalho.
Para um maior detalhamento da coleta de dados foram utilizados
check-lists baseados em Couto (2002). A lista de verificação apresentada
no anexo B é uma avaliação grosseira da condição ergonômica de um
posto de trabalho. Este instrumento leva em consideração os aspectos
ligados ao posicionamento vertical ou não do tronco e da cabeça do
53
trabalhador, ao posicionamento vertical ou não dos braços do trabalhador,
à existência de esforço estático, à existência de posições forçadas no
membro superior, à intensidade da força feita pelas mãos, à frequência de
repetitividade de algum tipo específico de movimento, ao apoio dos pés, à
existência de esforço muscular, à possibilidade de flexibilidade postural e
à possibilidade de pequenas pausas ou período definido de descanso
durante a jornada.
A lista de verificação apresentada no anexo C é uma avaliação
simplificada do risco de lombalgia, ou seja, dor nas costas. Este
instrumento leva em consideração os aspectos ligados principalmente ao
posicionamento do tronco no momento da execução da tarefa, ao valor da
carga manuseada pelo trabalhador, à distância da carga manuseada do
tronco e à posição do tronco no momento de manusear a carga.
A lista de verificação apresentada no anexo D é uma avaliação
simplificada do fator biomecânico no risco de distúrbios músculo-
esqueléticos de membros superiores relacionados ao trabalho. Este
instrumento adota os seguintes critérios de avaliação: sobrecarga física,
força com as mãos, postura no trabalho, posto de trabalho, repetitividade e
organização do trabalho e ferramenta de trabalho.
Para cada item respondido nas avaliações A, B, C e D é atribuída
uma nota 0 ou 1, dependendo da resposta que pode ser sim ou não. Para a
interpretação dos resultados devem-se somar todos os pontos do
questionário e classificar a atividade de acordo com a soma dos pontos
obedecendo aos critérios de interpretação.
A última verificação é o cálculo do índice de sobrecarga
biomecânica para ombro e coluna que está apresentado no anexo E. Este
instrumento leva em conta os seguintes fatores: fator intensidade do
esforço (FIE), fator duração do esforço (FDE), fator frequência do esforço
(FFE), fator postura da mão, punho, ombro, coluna (FPMPOC), fator
ritmo do trabalho (FRT) e fator duração do trabalho (FDT). Para cada
fator existem classificações que correspondem a um multiplicador. O
índice é obtido através da multiplicação de todos os fatores e, para a
interpretação dos resultados a atividade é classificada a partir do valor
encontrado.
Como complementação da metodologia e, para outros
esclarecimentos quanto às questões ergonômicas que envolvem o setor,
em estudo foram feitos questionários e entrevistas diretamente aos
54
trabalhadores do setor de quebra de canal.
O questionário apresentado no apêndice A também foi utilizado
para complementar a análise. Trata-se de um questionário simples
preenchido pelo funcionário para maiores esclarecimentos quanto ao caso
estudado.

3. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS


RESULTADOS

3.1 Reconhecimento geral da situação em estudo

Os trabalhadores do setor de quebra de canal cumprem um horário


de 8 horas de trabalho por dia, sendo que 4 horas são cumpridas na
atividade de quebra e outras 4 horas na atividade do gancho. Isto acontece
na forma de revezamento a, aproximadamente, cada hora de trabalho,
coordenado pelos próprios trabalhadores do setor, ou seja, 1 hora
quebrando o canal para a retirada da peça e 1 hora retirando as peças e os
canais do local da quebra com o uso de um gancho e colocando-os nas
respectivas cestas de armazenamento, e assim sucessivamente.
Todos os trabalhadores do setor são do sexo masculino, com média
de idade de 23 anos, baixo grau de escolaridade, falta de qualificação
profissional e uma média de tempo na empresa de 1 ano e 10 meses.
As situações ergonomicamente inadequadas mais evidentes nessa
fase de observação são a repetitividade dos movimentos, o tronco
encurvado do trabalhador na execução da tarefa, os braços erguidos acima
do nível dos ombros e o esforço físico nítido como se pode observar nas
Figuras 1 e 2.

55
Figura 1: Situação ergonômica Figura 2: Situação ergonômica
inadequada - Braços suspensos inadequada - Tronco encurvado
acima do nível dos ombros

3.2 Posto de trabalho

Os principais pontos positivos para este resultado são a


possibilidade de flexibilidade postural no trabalho e a existência de uma
pequena pausa entre um ciclo e outro de trabalho. Mas o fato de as mãos
fazerem muita força e da repetitividade frequente dos movimentos são
fatores negativos para o resultado (Resultado: 5 pontos - condição
ergonômica razoável).

3.3 Riscos ergonômicos

• Avaliação simplificada do risco de lombalgia


Resultado: 10 pontos - baixo risco de lombalgia
• Avaliação simplificada do fator biomecânico no risco de
distúrbios músculo-esqueléticos de membros superiores
relacionados ao trabalho:
Resultado: 17 pontos - fator biomecânico de moderada
importância.
Através da observação deste resultado, alguns pontos podem ser
56
considerados relevantes, como por exemplo, a necessidade do uso de
luvas, a possibilidade de um pequeno descanso entre um ciclo e outro, o
fato de que as mãos fazem muita força aparentemente, a detecção de que o
esforço manual é repetido mais que oito vezes por minuto, o desvio lateral
forçado do punho como rotina na execução da tarefa, a elevação dos
braços acima do nível dos ombros também como rotina na execução da
tarefa, a flexibilidade postural do trabalhador durante a jornada de
trabalho, o ciclo de trabalho menor que 30 segundos, o revezamento nas
tarefas e a boa estabilidade da pega do cabo da ferramenta que não é nem
muito fino nem muito grosso.
A possibilidade de um pequeno descanso entre um ciclo e outro é
um ponto positivo para o trabalhador, que em se tratando dos membros
superiores, segundo Couto (2006), durante a realização de um esforço
físico, a existência de uma pausa ajuda a prevenir lesões por três motivos:
a) para normalizar o fluxo de sangue e “lavar” o ácido lático do músculo
no caso de um esforço muscular estático; b) para que os tendões voltem a
sua estrutura natural, no caso de alta repetitividade de um movimento; e c)
para que haja a lubrificação dos tendões. Já quando a carga de trabalho
físico ultrapassa os limites da capacidade aeróbica do trabalhador, as
pausas passam a representar o mecanismo fisiológico de compensação e
de prevenção da fadiga. Quanto mais frequentes e menores as pausas,
melhor será a recuperação do trabalhador e tanto melhor poderá manter
seu ritmo de trabalho (COUTO, 2006).
O rodízio ou revezamento das tarefas é outra forma de diminuir o
risco de problemas ergonômicos, pois dessa maneira há uma variação das
ações, diminuindo assim a repetitividade dos movimentos.
Já o uso de luvas é um aspecto negativo nesse caso, pois reduz a
sensibilidade táctil, o que acarreta aumento na força de preensão (LEÃO;
PERES, 2008). Outro problema ergonômico são movimentos vigorosos e
repetidos dos membros superiores, com os braços acima do nível dos
ombros que podem resultar em isquemia, inflamação e dor.
• Índice de sobrecarga biomecânica para ombro e coluna
Resultado: 9 pontos - alto risco de lesão
Para o fator intensidade do esforço a classificação se dá como algo
pesado que corresponde ao multiplicador 3, ou seja, percebe-se algum
esforço do trabalhador ao executar a tarefa. Para o fator duração do
57
esforço a classificação se dá entre (50 e 79)%, que corresponde ao
multiplicador 2, ou seja, a relação entre o tempo de esforço no ciclo e o
tempo do ciclo fica entre (50 e 79)%. Para o fator frequência do esforço a
classificação se dá entre 4 e 8, que corresponde ao multiplicador 1, ou
seja, considerando as diversas ações técnicas executadas pelo trabalhador
a correspondente frequência do esforço varia de 4 a 8. Para o fator postura
da mão, punho, ombro e coluna a classificação se dá como ruim, que
corresponde ao multiplicador 2, pois há um desvio nítido principalmente
da coluna do trabalhador na execução da tarefa. Para o fator ritmo de
trabalho a classificação se dá como razoável, que corresponde ao
multiplicador 1, pois o ritmo de trabalho observado é normal. O fator
duração do trabalho se dá entre 2 e 4, que corresponde ao multiplicador
0,75, ou seja, o trabalhador permanece de 2 a 4 horas por turno na mesma
função.
Isto se deve principalmente ao fato de que há esforço físico na
execução da atividade, de que a duração do esforço é um valor
considerável e de que o desvio principalmente da coluna é nítido.
• Questionário
O questionário utilizado mostra que o trabalhador dorme bem e
tem disposição para fazer outras atividades após a jornada de trabalho.
Não se sente física nem mentalmente cansado e não sente nenhuma dor ou
desconforto durante a execução das tarefas, isso só acontecia nos
primeiros dias de trabalho nessa atividade.
As exigências impostas pelo trabalho não são difíceis. O trabalho
executado diariamente não é pesado e não exige muita atenção e
raciocínio. Não existe nenhum tipo de pressão imposta em relação à
supervisão ou metas a cumprir. As horas-extras são pouco frequentes e
não há nenhum tipo de treinamento que torne o trabalho mais leve
operacionalmente. Vale lembrar que esta constatação é baseada nas
respostas dos trabalhadores, portanto expressa apenas a opinião dos
mesmos.

4. CONCLUSÕES DA PESQUISA

Levando em conta a revisão bibliográfica e os dados obtidos pelo


58
estudo desse trabalho são apresentadas as seguintes conclusões:
a) Há esforço físico relevante na execução das tarefas observadas
principalmente nos braços, ombros e tronco no setor de quebra de canal;
b) A questão postural mais crítica na situação analisada é o tronco
encurvado na maioria do tempo da execução da atividade de quebra de
canal;
c) Os problemas ergonômicos causados ao trabalhador devido à atividade
exercida no setor de quebra de canal são: tronco encurvado, braços
suspensos acima do nível dos ombros e esforço nítido.

Interpretando-se as listas de verificação e os índices obtidos


observa-se que o trabalhador do setor de quebra de canal de uma fundição
tem uma condição ergonômica razoável do posto de trabalho, o
trabalhador corre um baixo risco de lombalgia e um alto risco de lesões
biomecânicas de ombro e coluna.

REFERÊNCIAS
COUTO, H. A. Como Implantar Ergonomia na Empresa: a prática dos comitês
de ergonomia. Belo Horizonte: Ergo, 2002.
COUTO, H. A. Ergonomia Aplicada ao Trabalho: o manual técnico da máquina
humana. Vol I. Belo Horizonte: Ergo, 2006.
COUTO, H. A. Ergonomia Aplicada ao Trabalho: o manual técnico da máquina
humana. Vol II. Belo Horizonte: Ergo, 2006.
KONDIC, V. Princípios Metalúrgicos de Fundição. São Paulo: Polígono, 1973.
LEÃO, R. D.; PERES, C. C. Noções sobre Dort, Lombalgia, Fadiga,
Antropometria, Biomecânica e Concepção do posto de trabalho. Disponível em:
<http://www.ipef.br/publicacoes/scientia/nr76/cap07.pdf>. Acesso em: 10 dez.
2008.
MALISHEV, A.; NIKOLAIEV, G.; SHUVALOV, Y. Tecnologia dos Metais.
Trad. de L. A. Caruso. São Paulo: Mestre Jou, 1970.
REVISTA PORTUÁRIA. 01 outubro 2007. Disponível em: <http://www.revista
portuaria.com.br/?home=noticias&n=zST&t=setor-fundico-fortalece-sua-
participacão-cenario-economico-brasileiro>. Acesso em: 10 jun. 2008.

59
APÊNDICE A – Questionário
1. Dados pessoais:
Sexo: masculino ( ) feminino( )
Idade: _________ Tempo de trabalho na empresa:
Horário de trabalho: _________ Horas por dia: ____________ Sua
atividade na empresa: _______________________________
Escolaridade: ( ) 1º grau incompleto ( ) 1º grau completo
( ) 2º grau incompleto ( ) 2º grau completo
( ) 3º grau incompleto ( ) 3º grau completo
Número de filhos: ______________ dependentes: ___________

2. Após a jornada de trabalho você se sente fisicamente:


( ) Cansado ( ) Muito cansado ( ) Dorme bem
( ) Com dificuldades para dormir
( ) Tem disposição para fazer outras coisas
Mentalmente, você está:
( ) Bem ( ) Muito bem ( ) Cansado ( ) Muito cansado
( ) Sem disposição nenhuma ( ) Esgotado

3. Você sente alguma dor ou desconforto durante a execução das


atividades do seu trabalho?
( ) Sim ( ) Não

60
ANEXO A – Formulário
Formulário
Data: Unidade: Área:
Linha: Nº equipamento/máquina:
Tarefa:
Problema/preocupação ergonômica:
1. Descrição geral da tarefa:
2. Principais aspectos de dificuldades referidos pelos trabalhadores:
3. Sequência de ações técnicas (ou passos do trabalho ou situações de trabalho),
identificação de situações ergonomicamente inadequadas e solução:
Descrição da
atividade
(sequência de
Situações
ações técnicas Partes do Gravidade A-
ergonomicamente Solução
ou passos do corpo M-B
inadequadas
trabalho ou
situações de
trabalho)

4. Fatores complementares
Postura para trabalhar
(em pé, sentado, andando)
Diferença de método
(verificar se operadores de turnos e linhas
diferentes trabalham da mesma forma)
Tempo de ciclo
(produção padrão ou tempo padrão – baseado em
crono-análise – ref. ______; tempo de ciclo
prescrito, tempo de ciclo real)
Existência de ações técnicas distintas no ciclo
de trabalho
Ritmo e nível perceptível de tensão
(ritmo evidente, horas-extras, dobras, relação
produção x realizada)
Tempo de trabalho (quantidade de horas
efetivas no posto/turno) e alternância de tarefas
(informar as tarefas com as quais ocorre rodízio)
Ambiente
(iluminação, ruído, conforto térmico, etc.)
5. Evidências: ( ) Vídeo ( ) Foto ( ) Desenho
6. Identificador:
( ) Informe de desconforto pelos trabalhadores ( ) Médico ( ) Proativo ( ) Inspeção
7. Instrumentos de avaliação complementar:
( ) Check list de COUTO ( ) Moore e Garg ( ) LPR ( ) Modelo
biomecânico
( ) Dinamometria eletrônica ( ) EMG de superfície ( ) Freqüência cardíaca
( ) Metabolimeria ( ) Outros
8. Observações:
61
ANEXO B – Check-list para avaliação da condição ergonômica

CHECK LIST GERAL PARA AVALIAÇÃO GROSSEIRA DA CONDIÇÃO ERGONÔMICA DE


UM POSTO DE TRABALHO
1. O corpo (tronco e cabeça) está na vertical?
Não (0) Sim (1)
2. Os braços trabalham na vertical ou próximos da vertical?
Não (0) Sim (1)
3. Existe alguma forma de esforço estático?
Sim (0) Não (1)
4. Existem posições forçadas no membro superior?
Sim (0) Não (1)
5. As mãos tem que fazer muita força?
Sim (0) Não (1)
6. Há repetitividade frequente de algum tipo específico de movimento?
Sim (0) Não (1)
7. Os pés estão apoiados?
Não (0) Sim (1)
8. Tem-se que fazer esforço muscular forte com a coluna ou outra parte do corpo?
Sim (0) Não (1)
9. Há a possibilidade de flexibilidade postural no trabalho?
Não (0) Sim (1)
10. A pessoa tem a possibilidade de uma pequena pausa entre um ciclo e outro ou há um período definido
de descanso após um certo número de horas de trabalho?
Não (0) Sim (1)
Critérios de interpretação
10 pontos - condição ergonômica em geral excelente
7 a 9 pontos - boa condição ergonômica
5 ou 6 pontos - condição ergonômica razoável
3 ou 4 pontos - condição ergonômica ruim
0,1 ou 2 pontos - péssima condição ergonômica

62
ANEXO C – Check-list para avaliação do risco de lombalgia

CHECK-LIST PARA AVALIAÇÃO SIMPLIFICADA DO RISCO DE LOMBALGIA


1. O trabalho envolve posicionamento estático do tronco em posição fletida entre 30 e 60 graus?
Sim (0) Não (1)
2. O trabalhador tem que frequentemente atingir o chão com as mãos, independente de carga?
Sim (0) Não (1)
3. O trabalho envolve pegar cargas maiores que 10 kg em freqüência maior que uma vez a cada 5 minutos?

Sim (0) Não (1)


4. O trabalho envolve pegar cargas do chão, independente de peso, em freqüência maior que 1 vez por minuto?
Sim (0) Não (1)
5. O trabalho envolve fazer esforço com ferramentas ou com as mãos estando o tronco encurvado?
Sim (0) Não (1)
6. O trabalho envolve a necessidade de manusear (levantar ou puxar ou empurrar) cargas que estejam longe do
tronco?
Sim (0) Não (1)
7. O trabalho envolve a necessidade de manusear cargas (levantar, puxar ou empurrar) com o tronco em posição
assimétrica?
Sim (0) Não (1)
8. O trabalho envolve a necessidade de carregar cargas mais pesadas que 20 kg mesmo ocasionalmente?
Sim (0) Não (1)
9. O trabalho envolve a necessidade de carregar cargas mais pesadas que 10 kg frequentemente?
Sim (0) Não (1)
10. O trabalho envolve a necessidade de carregar cargas na cabeça?
Sim (0) Não (1)
11. O trabalho envolve a necessidade de ficar constantemente com os braços longe do tronco em posição suspensa?
Sim (0) Não (1)
12. O trabalho exige que o trabalhador fique com o tronco em posição estática, sem apoio?
Sim (0) Não (1)
Critério de Interpretação
11 ou 12 pontos - baixíssimo risco de lombalgia
8 a 10 pontos - baixo risco de lombalgia
6 a 7 pontos - risco moderado de lombalgia
4 ou 5 pontos - alto risco de lombalgia
0 a 3 pontos - altíssimo risco de lombalgia

63
ANEXO D – Check-list para avaliação simplificada do fator
biomecânico
CHECK-LIST PARA AVALIAÇÃO SIMPLIFICADA DO FATOR BIOMECÂNICO NO RISCO PARA
DISTÚRBIOS MÚSCULO-ESQUELÉTICOS DE MEMBROS SUPERIORES RELACIONADOS AO
1. Sobrecarga Física TRABALHO
1.1. Há contato da mão ou punho ou tecidos moles com alguma quina viva de objetos ou ferramentas?
Sim (0) Não (1)
1.2. O trabalho exige o uso de ferramentas vibratórias?
Sim (0) Não (1)
1.3. O trabalho é feito em condições ambientais de frio excessivo?
Sim (0) Não (1)
1.4. Há necessidade do uso de luvas?
Sim (0) Não (1)
1.5. Entre um ciclo e outro há a possibilidade de um pequeno descanso? Ou há pausa bem definida de cerca de 5 a
minutos por hora?
Não (0) Sim (1)
2.Força com as mãos
2.1. Aparentemente as mãos têm que fazer muita força?
Sim (0) Não (1)
2.2. A posição de pinça (pulpar, lateral ou palmar) é utilizada para fazer força?
Sim (0) Não (1)
2.3. Quando usados para apertar botões, teclas ou componentes, para montar ou inserir, ou para exercer compressão
digital, a força de compressão exercida pelos dedos ou pela mão é de alta intensidade?
Sim (0) Não ou não se aplica (1)
2.4. O esforço manual detectado é feito durante mais que 10% do ciclo ou é repetido mais que 8 vezes por minuto?
Sim (0) Não (1)
3. Postura no Trabalho:
3.1. Há algum esforço estático da mão ou do antebraço como rotina na realização do trabalho?
Sim (0) Não (1)
3.2. Há algum esforço estático do braço ou do pescoço como rotina na realização do trabalho?
Sim (0) Não (1)
3.3. Há extensão ou flexão forçadas do punho como rotina na execução da tarefa?
Sim (0) Não (1)
3.4. Há desvio lateral forçado do punho como rotina na execução da tarefa?
Sim (0) Não (1)
3.5. Há abdução do braço acima de 45 graus ou elevação dos braços acima do nível dos ombros como rotina
execução da tarefa?
Sim (0) Não (1)
3.6. Existem outras posturas forçadas dos membros superiores?
Sim (0) Não (1)
3.7. O trabalhador tem flexibilidade na sua postura durante a jornada?
Não (0) Sim (1)

64
ANEXO D - CONTINUAÇÃO

4. Posto de Trabalho
4.1. O posto de trabalho permite flexibilidade no posicionamento das ferramentas, dispositivos e
componentes, incluindo inclinação dos objetos quando isto for necessário?
Não (0) Sim (1) Desnecessária a flexibilidade de que se trata este item (1)
4.2 A altura do posto de trabalho é regulável?
Não (0) Sim (1) Desnecessária a regulagem (1)
5. Repetitividade e Organização do Trabalho
5.1. O ciclo de trabalho é maior que 30 segundos? Ou a mesma operação ou mesmo movimento é feito
menos de 1.000 vezes num turno?
Não(0) Sim (1) Não há ciclos (1)
5.2. No caso de ciclo maior que 30 segundos, há diferentes padrões de movimentos (de forma que
nenhum elemento da tarefa ocupe mais que 50% do ciclo?)
Não (0) Sim (1) Ciclo < 30 segundos (0)
5.3. Há rodízio (revezamento) nas tarefas?
Não (0) Sim (1)
5.4. Percebe-se sinais de estar o trabalhador com o tempo apertado para realizar sua tarefa?
Sim (0) Não (1)
5.5. A mesma tarefa é feita por um mesmo trabalhador durante mais que 4 horas por dia?
Sim (0) Não (1)
6. Ferramenta de Trabalho
6.1. Para esforços em preensão:
O diâmetro da manopla da ferramenta tem entre 20 e 25 mm (mulheres) ou entre 25 e 35 mm (homens)?
Para esforços em pinça:
O cabo não é muito fino nem muito grosso e permite boa estabilidade da pega?
Não (0 ) Sim (1) Não há ferramenta (1)
6.2. A ferramenta pesa menos de 1 kg ou, no caso de pesar mais de 1 kg, encontra-se suspensa por
dispositivo capaz de reduzir o esforço humano?
Não (0) Sim (1) Não há ferramenta (1)
Critérios de interpretação:
Acima de 22 pontos: ausência de fatores biomecânicos
Entre 19 e 22 pontos: fator biomecânico pouco significativo
Entre 15 e 18 pontos: fator biomecânico de moderada importância
Entre 11 e 14 pontos: fator biomecãnico significativo
Abaixo de 11 pontos: fator biomecânico muito significativo

65
ANEXO E – Índice de sobrecarga biomecânica
ÍNDICE DE SOBRECARGA BIOMECÂNICA:
FIE x FDE x FFE x FPMPOC x FRT x FDT
FIE = Fator Intensidade do Esforço FDE = Fator Duração do Esforço
FFE = Fator Freqüência do esforço FPMPOC = Fator Postura da Mão, Punho, Ombro, Coluna
FRT = Fator Ritmo do Trabalho FDT = Fator Duração do Trabalho
Fator Intensidade do Esforço
FATOR CLASSIFICAÇÃO CARACTERIZAÇÃO MULTIP.
Leve Tranqüilo 1
FIE Algo pesado Percebe-se algum esforço 3
FATOR
Pesado Esforço nítido; sem mudança de expressão facial 6
INTENSIDADE
DO ESFORÇO Muito pesado Esforço nítido; mudança de expressão facial 9
Próximo ao máximo Usa tronco e ombros; e outros grupamentos auxiliares 13
Fator Duração do Esforço
FATOR CLASSIFICAÇÃO MULTIP.
<9% 0,5
FDE 10-29% 1
FATOR
30-49% 1,5
DURAÇÃO
DO ESFORÇO 50-79% 2
>80% 3
Fator Freqüência do Esforço
FATOR CLASSIFICAÇÃO MULTIP.
<3 por minuto 0,5
FFE 4-8. 1
FATOR
9-14. 1,5
FREQÜENCIA
DO ESFORÇO 15-19. 2
>20. 3
=  0 .$ . 3 2  *. 
FATOR CLASSIFICAÇÃO CARACTERIZAÇÃO MULTIP.
Muito boa Neutro 1
FPMPOC Boa Próximo ao neutro 1
FATOR DA MÃO,
Razoável Não neutro 1,5
PUNHO, OMBRO E
COLUNA Ruim Desvio nítido 2
Muito ruim Desvio próximo dos extremos 3
Fator Ritmo de Trabalho
FATOR CLASSIFICAÇÃO CARACTERIZAÇÃO MULTIP.
Muito lento <80%
FRT Lento 81-90%
FATOR RITMO Razoável 91-100%
DE TRABALHO Rápido 91-100% apertado, mas conseguindo acompanhar
Muito rápido >116% apertado e não consegue acompanhar
= 6.  12*3
FATOR CLASSIFICAÇÃO MULTIP.
<1 hora 0,25
FDT 1-2. 0,5
FATOR DURAÇÃO 2-4. 0,75
DO TRABALHO 4-8. 1
>8 1,5

66
CAPÍTULO 5

ANÁLISE MACROERGONÔMICA DE POSTO DE


TRABALHO DE CAIXA BANCÁRIO

Leonardo Cerato Reveilleau, Roni César Rech Silveira


Andréia Saúgo, Marcele Salles Martins

1. INTRODUÇÃO

Os bancos brasileiros passaram por diversas transformações, para


possibilitar a manutenção da lucratividade em um mercado altamente
competitivo. Tornou-se essencial nessa estratégia de disputa por maior
lucratividade o aumento do número de clientes havendo, por
consequência, um aumento no número de agências bancárias. Houve uma
diversificação dos produtos oferecidos pelos bancos, incluindo seguros,
pagamentos de salários, recebimentos de tributos e taxas em geral e
financiamentos diversos, aumentando demasiadamente a demanda de
serviços (BELMONTE, 1998; VASCONCELOS et al, 1997; CAMPELLO
E SILVA NETO, 1992).
O trabalho de bancário, há alguns anos atrás, era sinônimo de
status, bons salários, prestígio e ascensão profissional. Atualmente essa
atividade se transformou em um local de sobrecarga de trabalho, tensão
psicológica e insegurança (CENCI, 1999).
Observa-se então que alguns fatores podem desencadear doenças
ocupacionais entre os caixas executivos de instituições bancárias, como os
de natureza ergonômica (alta repetitividade de movimentos e posturas
incorretas); de natureza organizacional (ritmo apertado de trabalho,
ausência de pausas) e de natureza psicossocial (pressão excessiva para os
resultados e ambiente tenso).
Esta análise, focada no design macroergonômico, é muito
importante pois objetiva ouvir os usuários (neste caso os caixas bancários)
quanto as suas necessidades, nas soluções de problemas, nas realizações
das demandas, no projeto de produtos e postos de trabalho, utilizando
princípios da macroergonomia e da ergonomia participativa.
67
O trabalhador é nutrido por um sentimento de responsabilidade,
que resulta em maior motivação e satisfação, quando lhe é permitida a
participação no processo decisório (NAGAMACHI, 1996). Segundo
Korunka et al. (1995) e Smith (1997) existe uma relação entre a falta de
participação do trabalhador no processo de mudança, a ocorrência de
queixas físicas e psíquicas e a redução na satisfação com o trabalho.
O resultado desta interação, além de permitir que as soluções dos
problemas surjam de onde eles acontecem, causa maior motivação, bem-
estar aos trabalhadores e consequente maior produtividade com qualidade
nos serviços demandados pela empresa.
Esta investigação nos postos de trabalho dos caixas de bancos foi
realizada para possibilitar a resolução dos principais problemas
ocupacionais existentes no setor.
Deste modo, o objetivo geral é identificar as demandas
(percepções, desejos, expectativas) dos caixas executivos de uma
instituição financeira bancária e o estabelecimento de metas que atendam a
tais expectativas e resolvam os problemas existentes com a interferência e
opinião dos próprios trabalhadores, através da aplicação das ferramentas
do método design macroergonômico (DM).

2. ERGONOMIA: DEFINIÇÕES

Grandjean (1998) afirma que, como ciência, a ergonomia tem 40


anos, mas seus efeitos são tão antigos quanto o homem. O homem tem
estado ocupado em tornar o trabalho mais leve e mais eficiente desde a
invenção da roda até o moderno computador. A palavra ergonomia vem do
grego: ergo que significa trabalho e nomos que significa legislação,
normas.
Moraes e Mont’Alvão (1998) apud Tondo e Maccari (2003)
consideram que a origem do termo ergonomia foi utilizada pela primeira
vez no dia 08 de junho de 1949, como campo do saber específico, pelo
psicólogo Inglês K. F. Hywell Murrel, quando pesquisadores resolveram
formar uma sociedade para o estudo dos seres humanos, no seu ambiente
de trabalho - a Ergonomic Research Society. Nesta data em Oxford criou-
se a primeira sociedade de ergonomia, formada por psicólogos,
fisiologistas, engenheiros ingleses e pesquisadores interessados nas
68
questões relacionadas à adaptação do trabalho ao homem.
Para Couto (1995) e Iida (1990) a ergonomia é o estudo da
adaptação confortável e produtiva entre o ser humano e o seu trabalho,
incluindo ambiente físico, aspectos organizacionais do trabalho, seu
controle e programação, e toda situação em que há o relacionamento entre
o homem e seu trabalho.
De acordo com Moraes e Mont’Alvão (1998) e Iida (1990) a
ergonomia tem como objetivos: melhorar as condições específicas do
trabalho humano com relação à higiene e à segurança do trabalho, com
relação à satisfação e ao bem estar dos trabalhadores, visando determinar
procedimentos mais racionais e formas mais produtivas de efetuar a tarefa.
Baú (2002) cita outras abordagens ergonômicas, classificando
como: Ergonomia de conscientização, que se refere à informação,
treinamento e capacitação feita geralmente através de palestras, cursos e
orientações individuais; Ergonomia de correção, realizada a partir de uma
situação de referência já existente, através de adaptações e pequenas
mudanças, é a ergonomia mais praticada, devido à possibilidade de
alterações mais rápidas e de fácil acesso pelo custo reduzido; Ergonomia
de concepção, procura avaliar, criando novos conceitos desde a
localização, layout, iluminação, equipamentos, para interferir nos
aspectos: máquina, ambiente, informação, organização e consequências do
trabalho.
Ainda segundo o autor, dentro da ergonomia de concepção está a
macroergonomia, que é centrada sobre o meio ambiente, sistemas sócio
técnicos, aspectos culturais e ideológicos. Sua tendência é levar em conta
um princípio básico da ergonomia: o problema orientado, que implica na
procura de uma solução, levando à necessidade de um diagnóstico
preliminar.

2.1 Contextualização dos riscos ocupacionais

Os fatores de natureza ergonômica (força excessiva, alta


repetitividade de um mesmo padrão de movimento, posturas incorretas dos
membros superiores, compressão das delicadas estruturas dos membros
superiores, frio, vibração e postura estática) conforme Couto et al. (1998)
são considerados atualmente os principais fatores causadores dos
69
problemas identificados como Lesões por Esforços Repetitivos - LER
ou,preferencialmente, Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao
Trabalho - DORT. No entanto, fatores de natureza organizacional e
psicossocial são elementos que contribuem de forma acentuada na
formação deste quadro.
Mattei (1995) afirma que seriam minimizados o aparecimento de
lesões e desconfortos relacionados ao trabalho, se primeiramente fosse
desenvolvido um programa de intervenção ergonômica, com a avaliação
da tarefa e do posto de trabalho, assim poderiam ser identificados os
fatores críticos do local, para introdução de correções e melhorias. Uma
das formas de prevenção usadas atualmente nas empresas, segundo Dias
(1994) é a aplicação de ginástica laboral, realizada pelos funcionários
coletivamente, dentro do próprio local de trabalho, servindo como
instrumento para promoção de saúde, prevenção de lesões e acidentes e
melhora na qualidade de vida.
Segundo o autor, a postura fixa do trabalhador, principalmente em
trabalhos sedentários, é um dos fatores que acarretam riscos. Quando os
locais de trabalho e as posturas são similares, mas um trabalho permite
maior movimentação que o outro e mudanças de postura, uma menor
porcentagem de trabalhadores apresentam queixas de problemas
músculos-esqueléticos. Porém, trabalhos mais dinâmicos com posturas
extremas como torções de tronco, abaixar e virar para o lado também
foram identificadas como fatores de risco.
A interação de uma série de fatores ocupacionais e individuais, que
incluem características do posto de trabalho, tais como a altura da mesa ou
bancada, a altura e encosto da cadeira, distâncias de alcance em relação a
equipamentos utilizados, formato e tamanho dos dispositivos e as
características antropométricas do trabalhador, influenciam nos desvios de
postura do mesmo (CODO; ALMEIDA, 1998).
Atualmente enfrenta-se em todas as organizações uma forte
turbulência, proveniente da influência da tecnologia da informação, que
acarreta mudanças e incertezas no mundo do trabalho e,
consequentemente, ao indivíduo da sociedade contemporânea. O bancário
dentro da organização em que trabalha, seja ela pública ou privada, sofre
toda a influência das incessantes mudanças decorrentes da economia
globalizada, em que as atividades e os negócios não conhecem fronteiras.
Em praticamente todas as funções que exerce, o trabalhador é alvo
70
de cobranças de conhecimento, qualidade, criatividade, excelência,
habilidades múltiplas. O fato de ser o propulsor da atividade econômica e
do sucesso globalizado vem afetando a sua saúde e qualidade de vida,
necessitando de uma administração com estratégias voltadas para o ser
humano integral, suas necessidades físicas e subjetivas, para suportar a
pressão de todo o processo de informação e tecnologia. Do mesmo modo,
os caixas executivos também são afetados com os mesmos benefícios e
males dos trabalhadores da era da informatização.
Souza e Silva (1999) dizem que um dos fatores que contribuem
para as posturas tensas no trabalho, aumento de competitividade e
desgaste emocional é a tensão excessiva entre os trabalhadores. Os autores
retratam as transformações advindas com a possibilidade de privatização
de instituições públicas, aliadas às mudanças que ocorrem no setor
bancário visando à automação de tarefas antes realizadas pelo ser humano.
Freidenson, Souza e Queiroz (1999) concluíram também que
trabalhar sob tensão é prejudicial na medida em que os movimentos
ocorrem com uma musculatura contraída, mantida por longos períodos,
podendo acarretar agravos à saúde.
Dugdill (2000) diz que os fatores psicossociais como o
envolvimento com o projeto de trabalho, a habilidade para tomar decisões
e o controle sobre o trabalho, são considerados positivos à saúde do
trabalhador. O autor sugere uma aproximação mais holística para o
desenvolvimento do ambiente de trabalho, envolvendo profissionais da
saúde nos projetos, conjuntamente com representantes da força de
trabalho.
Significativas mudanças na organização e no conteúdo das tarefas
de caixa foram geradas com a automação de certas atividades. De um lado
diminuiu a carga física e a possibilidade de erro, de outro, acentuou a
simplificação do fluxo e do conteúdo da tarefa, interferindo no ritmo, na
produtividade, interação com o cliente e no significado do trabalho
(JORDÃO e MIGUEZ, 1989).
Couto et al. (1998) afirmam que alterações psicológicas
importantes podem ser desenvolvidas por qualquer pessoa quando
submetida à tensão excessiva, tendo dor como consequência.
Tensão e cansaço, que são fatores decorrentes do modelo de
organização do trabalho bancário, são bem detalhados por Seligman Silva
71
(1986; 1994) e por Ferreira (1993). Algumas de suas causas são: a questão
do tempo de jornada insuficiente para cumprir as tarefas prescritas, com
consequente prolongamento do tempo de trabalho, acúmulo de funções e
insuficiência de empregados, pausas pequenas ou inexistentes em função
do intensivo ritmo de trabalho, pressões e controles exercido pelas chefias,
máquinas, autenticações, avaliação de desempenho, pressão para
cumprimento de prazos, metas, pressão das filas, dos clientes e a
necessidade de manter a cordialidade permanentemente, a grande
responsabilidade em relação ao dinheiro de terceiros, possibilidade de ser
vítima de fraudes, medo de assalto, limitações das perspectivas de carreira
e temor pelo desemprego, principalmente nos bancos privados.

2.2 Revisão Metodológica

A metodologia utilizada será o Design Macroergonômico


(FOGLIATTO, GUIMARÃES, 1999) que é uma metodologia em que os
usuários são estimulados a manifestarem suas preferências e a
participarem ativamente no projeto que leva a soluções com características
orientadas à satisfação da demanda ergonômica do usuário.
De acordo com os autores, a ferramenta DM compreende sete
etapas que serão descritas a seguir:
1) Identificação do usuário e coleta de informações acerca de sua
demanda ergonômica, que é a determinação dos indivíduos
desempenhando atividades diretamente influenciadas por decisões
tomadas no projeto de um dado produto;
2) Priorização dos itens de demanda ergonômica (IDEs)
identificados pelo usuário, com o objetivo de criar um ranking de itens
demandados, que pode ser feito em duas etapas. Inicialmente, identificam-
se os Índices de Demandas Ergonômicas (IDEs) através de uma entrevista
espontânea ou estruturada. Esses itens consistem, geralmente, de
características ou itens almejados pelo usuário. Os IDEs levantados são
priorizados utilizando a frequência e a ordem de menção dos itens pelos
entrevistados. Na sequência, os usuários recebem uma lista de itens de
demanda e identificam seu grau de importância utilizando uma escala
contínua, de 15 cm, com duas âncoras nas extremidades (pouco importante
e muito importante) e outra no centro da escala (importante). Marcas nesta
72
escala são diretamente transformadas em valores numa escala de 0 a 15. O
grau de importância apontado pelos usuários permite uma priorização dos
IDEs;
3) Incorporação da opinião de especialistas (ergonomistas,
designers, engenheiros, etc.) com vistas à correção de distorções
apresentadas no ranking obtido, bem como à incorporação de itens
pertinentes de demanda ergonômica não identificada pelo usuário. É
comum que itens ergonômicos relevantes escapem à percepção do usuário,
não sendo por eles demandados;
4) Listagens dos itens de design (IDs) a serem considerados no
projeto ergonômico. Nesta etapa, são listados os itens a serem avaliados
no design ergonômico de produtos. A atuação sobre os IDs é ditada por
sua relação com os IDEs. Um ID sem efeito sobre os IDEs será mantido
inalterado (no caso de um posto de trabalho já existente) ou não será
contemplado no projeto (no caso de novos postos de trabalho);
5) Determinação da força de relação entre os IDEs e os IDs
determinados, objetivando identificar grupos de IDs a serem priorizados
nas etapas seguintes da metodologia, através da utilização da Matriz da
Qualidade do QFD (Quality Function Deployment) que é uma ferramenta
de análise de decisão. Os resultados da MQ não indicam como projetar os
IDs, mas estabelece prioridades;
6) Tratamento ergonômico dos IDs. Determinar as especificações
técnicas e valores-alvo que levam em conta aspectos como conforto e
segurança do ambiente físico, questões antropométricas e de organização
do trabalho, materiais a serem utilizados, viabilidade técnica, etc. O
trabalho multidisciplinar envolvendo ergonomistas, designers, médicos,
engenheiros e outros, possibilita a obtenção de bons resultados nesta
etapa;
7) Implementação do novo design e acompanhamento. Nesta
fase, os usuários devem ser orientados em como atuar com a nova
proposta, fazendo o acompanhamento e proporcionando um feedback à
equipe de design quanto às soluções implementadas.

73
3. METODOLOGIA DA PESQUISA

Os usuários identificados neste trabalho são os que desempenham a


função de caixa executivo em uma instituição bancária na cidade de
Erechim, RS. São em número de 10, com idade variando de 28 a 51 anos.
Para a coleta de dados foi observado o posto de trabalho dos caixas
executivos, explicando a eles e ao gerente da instituição os objetivos e as
estratégias do estudo. As informações foram obtidas através de entrevistas
individuais com cada funcionário, solicitando que falassem sobre seu
trabalho. Utilizou-se a estratégia proposta pelo DM de levantar dados e
priorizá-los, segundo sua ordem de menção e a frequência de ocorrência.
Utilizou-se a função recíproca na qual a ordem de menção de cada item é
usada como peso de importância pelo recíproco de sua respectiva posição,
dada pela fórmula Pe=1/i, onde Pe é o peso de importância e i a ordem de
menção. A função recíproca garante um peso alto de importância para os
primeiros fatores mencionados. Deste modo, para a primeira menção será
atribuído o valor igual a 1; à segunda ½ (0,5); à terceira 1/3 (0,33) e assim
sucessivamente até a última menção do entrevistado. Os itens estão
listados na Tabela 1.
Tabela 1 – Itens de demandas ergonômicas identificados pelos usuários
ORDE
F1 F2 F3 F4 F5 F6 F7 F8 F9 F10 PESO
M
Layout inadequado 2 1 6 1 8 2,78 4
Dores 1 7 9 3 3 1,91 6
Pressão (filas e
3 2 2 2 1 4 3 4 1 4,66 1
chefia)
Pouca
valorização/autonom 4 3 1 1 2 2 5 2 4,28 2
ia
Relacionamento
4 6 4 0,66 8
interno ruim
Mobiliário
3 3 6 5 1 4 1 3,27 3
Inadequado
Temperatura ruim 4 5 3 3 1,11 7
Excesso trabalho 4 4 5 0,65 10
Tempo almoço
2 6 0,66 8
reduzido
Trabalho gera
3 1 6 2 1,99 5
tensão/estresse
Falta segurança 5 5 0,40 10
Muito ruído 2 0,50 9
Software inadequado 5 7 0,34 11

74
De acordo com as demandas obtidas nas entrevistas, foi estruturado
um questionário (Anexo A) para identificar o grau de insatisfação de cada
usuário em relação aos IDEs. O questionário foi dividido em tópicos, de
acordo com os problemas levantados nas entrevistas. Foram formuladas
perguntas relativas ao ambiente, organização, saúde e condições do
trabalho, levando-se em conta o peso que tiveram. Na metodologia DM a
importância é medida através da marcação de um “x” na escala contínua
de 15 cm com duas âncoras nas extremidades. A posição marcada
representa o nível de satisfação. Quanto mais próximo do lado esquerdo da
escala, mais tende a zero e mais insatisfeito, e quanto mais próximo do
lado direito, mais tende a 15 e mais satisfeito. Houve a necessidade de
realizar a inversão dos valores de intensidade nas questões 3, 4, 5, 7, 14,
15, 16, 17 e 18.
Para validação do questionário aplicado aos funcionários, o mesmo
foi submetido à aplicação do teste do Alpha de Cronbach, utilizando um
software específico para este fim, o Statistical Package for Sciences
(SPSS), versão 8.0 para ambiente Windows. Este teste permite verificar se
o questionário foi compreendido pelos respondentes e se as questões
realmente pertencem ao mesmo grupo. O resultado maior ou igual a 0,55
indica boa consistência interna do questionário, se o valor for inferior a
0,55 o questionário deverá ser reelaborado, ou deverão ser revistas as
questões mal interpretadas, isto é, aquelas cujo valor de Alpha se distancia
muito de 0,55. O resultado do Alpha de Cronbach para o questionário
indicou boa consistência interna para os construtos analisados,
apresentando um valor de 0,6741 para o total de itens avaliados.
O questionário foi tabulado e foi efetuado o somatório e
classificação dos itens de demanda, através do cálculo da média
aritmética, adicionando o cálculo percentual para cada item, como mostra
a Tabela 2. Os IDEs foram tabulados de acordo com a sua ordem de
importância, crescente, priorizando os IDEs com as menores médias, por
serem os itens de maior insatisfação.

75
Tabela 2 – Itens de demanda ergonômica
Itens de Demanda Média Peso W (%)
Tensão / estresse no trabalho 3,36 0,02487231
Pressão dos clientes nas filas 3,49 0,02583463
Volume de trabalho 4,71 0,03486565
Valorização da função de caixa 4,79 0,03545784
Pressão dos superiores hierárquicos 5,04 0,03730846
Dores nas costas, coluna vertebral 5,55 0,04108372
Dores nos ombros e pescoço 5,89 0,04360056
Autonomia da função de caixa 6,70 0,04959657
Dores nos braços 7,42 0,05492635
Postura física em seu posto de trabalho 7,49 0,05544452
Ruído no ambiente de trabalho 8,87 0,06565993
Dores nas pernas 9,06 0,06706640
Mobiliário do posto de trabalho 9,46 0,07002739
Software usado em seu trabalho de caixa 9,73 0,07202606
Temperatura no ambiente de trabalho 9,82 0,07269228
Segurança na execução da função 10,36 0,07668961
Leiaute do ambiente de trabalho 10,50 0,07772596
Relacionamento com colegas 12,85 0,09512177
Somatório Total 135,09 1,00000000

Através da divisão do somatório das médias de todos os itens pelo


número de questões, obteve-se o valor da média aritmética de 7,51,
permanecendo 10 (dez) IDEs com valores abaixo da média na aplicação
do questionário, priorizados para análise ergonômica.
Na terceira etapa foi necessária a opinião de especialistas para
complementar, qundo preciso, os IDEs apontados pelos usuários e que
pela sua importância não poderiam ficar fora de uma análise ergonômica.
Com base nos dados obtidos pelos usuários, através da observação do
posto de trabalho e dos trabalhadores e considerando os conhecimentos
teóricos adquiridos a partir de literatura em ergonomia, os especialistas
concluíram que os itens ‘layout do ambiente de trabalho’ e ‘mobiliários do
posto de trabalho’, apesar de terem sido mal pontuados pelos funcionários,
assumem papel fundamental na análise ergonômica. Os IDEs priorizados,
junto aos incluídos pelos pesquisadores, constam na Tabela 3.

76
Tabela 3 – IDEs priorizados com a incorporação da opinião dos especialistas
Itens de Demanda Média Peso W (%)
Tensão / estresse no trabalho 3,36 0,04516129
Pressão dos clientes nas filas 3,49 0,04690860
Volume de trabalho 4,71 0,06330645
Valorização da função de caixa 4,79 0,06438172
Pressão dos superiores hierárquicos 5,04 0,06774194
Dores nas costas, coluna vertebral 5,55 0,07459677
Dores nos ombros e pescoço 5,89 0,07916667
Autonomia da função de caixa 6,70 0,09005376
Dores nos braços 7,42 0,10026882
Postura física em seu posto de trabalho 7,49 0,10067204
Mobiliário do posto de trabalho 9,46 0,12715054
Layout do ambiente de trabalho 10,50 0,14112903
Somatório Total 74,40 1,00053763

A identificação dos Itens de Design (IDs) foi feita através da


análise das etapas anteriores, e foram submetidas à análise para
verificação da força de relação, pela determinação dos pesos de
importância entre IDs e IDEs, como determina a metodologia de Design
Macroergonômico. A Tabela 4 mostra os itens de demandas (IDEs)
identificados, com seus respectivos itens de design (IDs). Os IDEs foram
classificados em primários e secundários.

Tabela 4 – Lista de IDEs primários e secundários e Itens de Design


IDEs Primários IDEs Secundários Itens de Design
Maior valorização função de caixa Conversa com a chefia e colegas
Negociação com a chefia e
Maior autonomia função de caixa
melhorias no software
Diminuição da pressão nas filas Aumento do número de caixas
Condições do trabalho
Diminuição pressão da chefia Conversa com a chefia
Controle mais rigoroso e efetivo
Diminuição tensão/estresse
dos intervalos
Diminuição do volume de trabalho Aumento do número de caixas
Melhorar a postura Reeducar a postura
Promover ginástica laboral.
Saúde do trabalhador Reduzir dores no pescoço, ombros, costas,
Maior controle nos intervalos
coluna vertebral e braços
regulares.
Melhorar o mobiliário Redesenhar os guichês
Ambiente do trabalho
Melhorar o layout Nova disposição do mobiliário

77
A determinação da força de relação entre IDEs listados e os IDs
identificados foi realizada através da Matriz de Qualidade do QFD (Qualit
Function Deployment), apresentada no Anexo B, que é utilizada como
uma ferramenta de análise de decisão para priorização de IDs. Identifica
os IDs que tem pouco ou nenhum efeito na satisfação dos IDEs e,
consequentemente, podem ser desconsiderados no projeto, e a geração de
pesos de importância para os IDs relevantes na satisfação dos IDEs, e
através desses pesos, classificá-los quanto à sua prioridade no projeto do
posto de trabalho.
Nas linhas da matriz foram introduzidas informações sobre os
IDEs e nas colunas da matriz foram introduzidas informações sobre os
IDs, a avaliação dos competidores e a priorização dos IDEs. Os itens
relacionados à avaliação competitiva que analisa a posição da empresa em
relação à concorrência e à avaliação estratégica que considera a
repercussão do atendimento aos IDs, à imagem da empresa juntos aos
clientes e fornecedores e a sobrevivência da empresa a médio e longo
prazo, por serem de acordo com o método DM de preenchimento
facultativo e considerados irrelevantes neste caso, foram desconsiderados
no projeto, recebendo valor 1,00 para todos os quesitos. Como determina
a metodologia do DM, foram gerados pesos de importância dos IDEs
relevantes e classificados quanto a sua prioridade no projeto. Esses pesos
foram obtidos através da tabulação dos resultados do questionário,
considerando o resultado do somatório das médias dividido pela média
individual de cada IDE (Tabela 3).
A força de relação entre os IDEs e os IDs (Rij) foi avaliada
utilizando a escala apresentada na Tabela 5. Esses valores juntamente com
os valores de priorização dos IDEs (Pi) foram utilizados para a
determinação dos valores de Importância Técnica (ITj) para os IDs,
através da equação:

Ǐ
ITj = ∑ Pi x Rij, J = 1,....,J.
ị= 

Em que J denota o número total de IDs listados na matriz.


78
Os valores percentualizados de ITj foram então utilizados na
priorização dos IDs.

Tabela 5 – Escala utilizada na avaliação da relação entre IDEs e IDs na Matriz da


Qualidade
Valor Descrição
0 Nenhuma relação
1 Relação fraca
3 Relação média
5 Relação forte
Fonte: Fogliatto e Guimarães (1999)

Utilizando os resultados do percentual do ITj na Matriz da


Qualidade foi possível priorizar os itens de design que devem receber
tratamento ergonômico. Foi obtido o valor de 11,11% que é a média
percentual calculada a partir dos dados da importância técnica, sendo
gerado um ranking de prioridades para os IDs, considerando somente os
itens de design com valores acima da média, por serem os de maior
intensidade, representados na Tabela 6.

Tabela 6 – Ranking de prioridade da Matriz da Qualidade


Classificação Itens de Design % Importância Técnica
1 Redesenhar os guichês de caixa 18,24
2 Nova disposição dos mobiliários 13,35
3 Controle mais rigoroso nos intervalos 13,23
4 Promover ginástica laboral 11,57

4. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS


RESULTADOS

A partir da observação do posto de trabalho dos caixas executivos


da instituição financeira pesquisada e de entrevistas individuais foi
elaborado o questionário constante no Anexo A, cujos resultados foram
submetidos à análise estatística para verificar a consistência interna para
os construtos analisados, obtendo índice de Alfa de Crombach de 0,6741 o
qual indica que as questões foram compreendidas pelos respondentes.
79
Baseando-se nas informações fornecidas pelos funcionários do
estabelecimento, por meio do questionário, e seguindo as etapas do
método DM, foram identificados os IDEs, que foram priorizados de
acordo com a intensidade da demanda verificada através da média
aritmética dos itens, considerando como prioritários aqueles com valores
abaixo da média, que neste caso obteve valor de 7,51.
De acordo com a visão de especialistas, aos IDEs priorizados
foram incorporados os itens relevantes para melhor atender às demandas
dos funcionários.
Através da análise do posto de trabalho, discussões entre
especialistas e pesquisador, e com os próprios funcionários, baseando-se
nos IDEs, foi elaborada uma lista de Itens de Design de modo a atender às
demandas destes. Conforme prevê o método DM elaborado por Fogliatto e
Guimarães (1999), os IDs foram submetidos à análise da força de relação
entre os IDEs, através da Matriz de Qualidade do QFD, recebendo
pontuações de importância técnica para o estudo. Observou-se na Matriz
de Qualidade uma boa relação entre os Itens de demanda ergonômica e os
Itens de Design, concluindo-se que estes atendem àqueles de maneira
satisfatória, pois a existência de colunas em branco apontariam IDs
desnecessários e linhas em branco apontariam inconsistência da seleção
dos IDs, isto é, para determinado IDE, não haveria nenhum ID que o
atendesse.
O ID que obteve a maior pontuação percentual na MQ relaciona-se
com “redesenhar os guichês de caixas”, item que atende a um maior
número de IDEs, principalmente nas questões de saúde do trabalhador,
como melhorar a postura, reduzir dores no pescoço, ombros, costas e
coluna. A própria instituição financeira possui recursos humanos e
tecnológicos para reestudar e redesenhar os guichês, atendendo assim esta
demanda tão significativa dos funcionários.
O ID classificado em segundo lugar foi “nova disposição dos
mobiliários”, que atende a IDEs relacionados às condições de trabalho,
saúde do trabalhador e ambiente do trabalho. Os profissionais da área,
juntamente com os funcionários da instituição, deverão estudar uma
mudança de layout na implementação deste ID, que se acredita envolver
baixo custo financeiro.
Seguindo a classificação estão os IDs “controle mais rigoroso dos
intervalos” e “promover ginástica laboral”. Estes atendem aos IDEs
80
relacionados às condições de trabalho, principalmente no que diz respeito
à diminuição da tensão, estresse e à saúde do trabalhador nos itens
melhorar a postura, diminuição de dores no pescoço, ombros, costas e
coluna. O controle mais rigoroso dos intervalos passa por uma negociação
com a chefia da unidade para criar as condições necessárias para que os
mesmos ocorram, bem como pela conscientização dos próprios
funcionários da importância destes intervalos. A ginástica laboral na
empresa deve ser desenvolvida por profissionais de fisioterapia ou
educadores físicos, contratados para este fim. É essencial que os
trabalhadores saibam que esta prática é um importante recurso de auxílio à
saúde ocupacional e que atende as suas próprias demandas.
Os demais IDs foram pontuados com grau de importância técnica
abaixo da média, não sendo priorizados portanto na intervenção
ergonômica sugerida, mas conclui-se que são de grande importância ao
analisar que o ID de menor pontuação ficou apenas com 3,37 pontos
percentuais abaixo da média e devem, num segundo momento, ser
estudados.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A aplicação do método Design Macroergonômico neste estudo foi


a ferramenta adequada para atingir o objetivo de identificar as demandas
dos caixas executivos da instituição bancária em referência, e o
estabelecimento de metas que atendam a tais demandas, pois conclama os
funcionários a participarem do processo, da tomada das decisões e assim,
com o seu envolvimento, fica garantida a cumplicidade na implantação
das soluções.
Os resultados deste estudo mostraram que os funcionários têm
consciência dos principais problemas que afetam seu trabalho, porém foi
indispensável a opinião dos especialistas na incorporação de itens de
demanda pouco citados ou que passaram despercebidos por eles.
Os itens de demanda ergonômica relacionados à saúde do
trabalhador devem receber especial atenção com a implantação dos itens
de design como o redesenho dos guichês de caixas, a nova disposição dos
mobiliários, o controle mais rigoroso dos intervalos e a ginástica laboral.
No entanto, como os resultados obtidos na matriz de qualidade apontaram
81
uma diferença mínima de pontos percentuais entre a média e o item de
design menos pontuado, concluímos que todos os demais itens de design
têm fundamental importância no atendimento das demandas apontadas
pelos trabalhadores, e num segundo momento devem ser também objetos
de implantação.
As duas últimas etapas do método DM, que são o tratamento
ergonômico dos itens de design e a implementação do novo design e seu
acompanhamento, não foram desenvolvidas neste estudo por exigirem um
maior tempo e dedicação do pesquisador, dos especialistas da área,
funcionários e chefia da instituição financeira.

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84
ANEXO A

Marque com um X na linha abaixo, a resposta que melhor representa sua opinião com
relação aos diversos itens apresentados.

1. Quanto a valorização da sua função de caixa executivo, o que você acha ?


______________________________________________________________
pouco médio muito

2. Quanto a autonomia da sua função de caixa executivo, o que você acha ?


______________________________________________________________
pouco médio muito

3. Quanto a pressão dos clientes na fila, o que você acha ?


________________________________________________________________
pouco médio muito

4. Quanto a pressão por parte de seus superiores, o que você acha ?


_________________________________________________________________
pouco médio muito

5. O seu trabalho gera tensão, estresse ?


_________________________________________________________________
pouco médio muito

6. Quanto ao relacionamento com seus colegas, como você se sente ?


________________________________________________________________
insatisfeito neutro satisfeito

7. Quanto ao volume de trabalho, o que você acha ?


________________________________________________________________
pouco médio muito

85
8. Quanto a segurança na execução de sua função de caixa executivo, como você
se sente ?
________________________________________________________________
insatisfeito neutro satisfeito

9. Quanto a temperatura no seu ambiente de trabalho, como você se sente?


_________________________________________________________________
insatisfeito neutro satisfeito

10. Quanto ao ruído no seu ambiente de trabalho, como você se sente ?


________________________________________________________________
insatisfeito neutro satisfeito

11. Quanto ao leiaute do seu ambiente de trabalho, como você se sente ?


_________________________________________________________________
insatisfeito neutro satisfeito

12. Quanto ao mobiliário do seu posto de trabalho, como você se sente ?


________________________________________________________________
insatisfeito neutro satisfeito

13. Quanto ao software usado no “dia a dia” em seu trabalho, como você se sente?
_________________________________________________________________
insatisfeito neutro satisfeito

14. Quanto a postura física em seu posto de trabalho, como você se sente?
_______________________________________________________________
insatisfeito neutro satisfeito

15. Quanto a dores nos ombros, pescoço, o que você sente ?


________________________________________________________________
nada pouca dor muita dor

86
16. Quanto a dores nas costas, coluna vertebral, o que você sente ?
________________________________________________________________
nada pouca dor muita dor

17. Quanto a dores nos braços, o que você sente ?


_________________________________________________________________
nada pouca dor muita dor

18. Quanto a dores nas pernas, o que você sente ?

nada pouca dor muita dor

87
Itens de demanda Peso PI Itens de design Avaliação de
competidores

88
Controle mais rigoroso

Avaliação estratégica

Priorização dos IDEs


Nova disposição dos
Conversar c/ chefia e

Negociação c/ chefia

Aumento do número
Melhorar o software

Promover ginástica
Reeducar a postura
Secundário

guichês de caixa
Redesenhar os
Primário

competidores
Avaliação dos
mobiliários
intervalos
de caixas

laboral
colegas
Condições Trabalho Maior valoriz.função caixa 0,06438172 5 5 3 3 3 1 3 3 3 1 1 0,06438172

Maior autonomia da função 0,09005376 3 5 5 0 0 0 0 0 0 1 1 0,09005376

Diminuição pressão filas 0,04690860 0 1 1 5 0 0 0 0 0 1 1 0,04690860

Diminuição pressão chefia 0,06774194 3 3 0 0 0 0 0 0 0 1 1 0,06774194

Diminuição tensão/estresse 0,04516129 3 3 1 3 5 1 1 1 1 1 1 0,04516129

DiminuiçãoVoume trabalho 0,06330645 1 1 1 5 00 0 0 0 0 1 1 0,06330645

Saúde do trabalhador Melhorar a postura 0,10067204 0 0 0 0 3 5 3 3 1 1 1 0,10067204

Dim. dores pescoço/ombros 0,07916667 0 0 1 0 55 3 5 3 3 1 1 0,07916667

Dimin.dores costas/coluna 0,07459677 0 0 1 0 5 3 5 3 3 1 1 0,07459677

Ambiente do trabalho Melhorar o mobiliário 0,12715054 0 0 0 0 0 0 0 5 0 1 1 0,12715054

Melhorar o layout 0,14112903 0 0 0 0 0 0 0 3 5 1 1

1,00053763
ANEXO B

Importância técnica TI 0,99 1,03 0,94 0,87 1,48 1,06 1,30 2,05 1,50 10,94

8,80 9,15 8,43 7,74 13,2 9,49 11,5 18,2 13,3 100,00
%
CAPÍTULO 6

MÉTODOS PARA PROTEÇÕES DE PERIFERIA DE


LAJES: DIAGNÓSTICO EM OBRAS DE
EDIFICAÇÃO EM PASSO FUNDO, RS
Luciano Dors, Juliana Kurek, Aline Pimentel Gomes,
José Waldomiro Jiménez Rojas

1. INTRODUÇÃO

Em alguns momentos na execução da obra a proteção ao


trabalhador contra quedas de altura fica restrita ao cinto de segurança, mas
não são determinadas normas para fixação do cabo guia, por exemplo.
Geralmente na confecção de formas para estrutura em concreto armado ou
para remoção de outras proteções periféricas, como guarda corpo e
plataformas, torna-se necessária a utilização de dispositivos alternativos
para proteger o trabalhador contra quedas.
Segundo Costella (1998) quedas com diferença de nível foram
responsáveis por 25% dos acidentes ocorridos na indústria da construção civil no
Rio Grande do Sul nos anos de 1996 e 1997, considerando-se não apenas
acidentes fatais.
A NR18 especifica Condições e Meio Ambiente de Trabalho na
Indústria da Construção Civil, no item 18.13 - Medidas de Proteção
Contra Quedas de Altura, no qual são passadas as diretrizes para
instalação de diferentes sistemas de proteção coletiva (BRASIL, 2011).
Todavia, em determinados momentos, na remoção das proteções,
para execução de paredes ou montagem de formas, não é recomendado
nenhum método de proteção a ser utilizado, ficando a critério de cada
empresa adotar um sistema, nem sempre sendo o método adotado eficaz.

89
Este artigo tem como objetivo avaliar os métodos de fixação do
cabo guia que estão sendo adotados em algumas empresas da construção
civil no município de Passo Fundo, RS, a fim de contribuir para a
definição de uma técnica adequada e segura que possa ser adotada para
proteger o trabalhador na execução de tarefas na periferia das lajes.

2. MÉTODOS DE PROTEÇÃO

Segundo Saurin (2002) a eliminação ou redução de riscos nas


origens é medida prioritária para o combate de acidentes de trabalho, para
isso os projetistas devem desenvolver seu trabalho não apenas com foco
no usuário final da edificação, mas também nos usuários temporários,
trabalhadores que executam a obra e também prováveis atividades de
manutenção.
Martins (2004) afirma que o projeto de proteção coletiva na fase de
estrutura deve ter base no projeto estrutural e na montagem das formas, e
que a necessidade de proteções na borda do pavimento durante a execução
leva a prever no projeto furações nas vigas para o emprego do sistema de
guarda-corpo e rodapé, ou hastes para sustentação das plataformas.
Também apresenta alternativas para a fixação do cabo guia, como por
exemplo, furos em pilares, alças concretadas junto com a laje e um
dispositivo para prender um cabo de aço passando pelas bordas da laje nas
esperas ou arranque para o pilar, conforme apresenta a Figura 1.

Figura 1 – Componente fixado em armaduras de pilares durante as atividades de


concretagem, armação e execução de formas, criado por empresa visitada
Fonte: Martins (2004, p. 115)
90
3. A NORMA REGULAMENTADORA Nº18: MEDIDAS DE
PROTEÇÃO CONTRA QUEDAS DE ALTURA (NR 18)

O item 13 da NR18 deixa clara a obrigação de instalações de


proteção coletiva em locais onde exista risco de queda de trabalhadores e
projeção de material, aberturas nos pisos devem ter fechamento provisório
resistente, além de que se usados para transporte vertical devem ser
protegidas com guarda corpo fixo e cancela ou similar no ponto de entrada
e saída de materiais.
A proteção contra quedas, se for um anteparo rígido, deve ter altura
de 1,20m, travessão e rodapé, e ter vãos preenchidos com tela. As
plataformas de proteção devem ser instaladas após a concretagem da laje e
removidas somente quando o revestimento externo acima desta plataforma
for concluído. A primeira deve ter 2,5m de projeção horizontal e um
complemento de 80cm de comprimento com inclinação de 45°. As
plataformas acima desta devem ter 1,40m e um complemento de 80cm de
comprimento com inclinação de 45°, colocadas a cada 3 lajes.
As redes de segurança podem ser utilizadas como medida
alternativa ao uso de plataformas secundárias. O sistema limitador de
quedas de altura deve ser composto de rede de segurança, cordas de
sustentação ou de amarração e perimétrica da rede, conjunto de
sustentação, fixação e ancoragem e acessórios de rede. O sistema deve ter,
no mínimo, 2,50 m de projeção. As cordas de sustentação e perimétricas
devem ter diâmetro mínimo de 16 mm e carga de ruptura mínima de 30
kN. Na parte inferior do sistema, a rede deve permanecer o mais próxima
possível do plano de trabalho, deve ser ancorada na estrutura da
edificação, a qual deve ser dimensionada por profissional legalmente
habilitado e o sistema deve ser submetido à inspeção semanal. O sistema
das redes deve ser utilizado até o término dos serviços de estrutura e
vedação periférica.
A RTP nº 1 (Recomendação Técnica de Procedimento) que trata do
assunto medidas de proteção contra quedas de altura, cita que em todo o
perímetro e nas proximidades de vãos e/ou aberturas das superfícies de
trabalho da edificação devem ser previstos e instalados elementos de
fixação ou apoio para cabo-guia/cinto de segurança, a serem utilizados em
atividades junto ou nessas áreas expostas de trabalho, possibilitando aos
91
trabalhadores o alcance seguro de todos os pontos da superfície de
trabalho. Esse tipo de elemento de fixação ou apoio para cabo-guia/cinto
de segurança deve permanecer instalado na estrutura depois de concluída,
para uso em obras de reparos e reformas.
A NR 18, no item 15, que trata de andaimes, apresenta as
condições que os pontos de ancoragem devem atender para instalações de
equipamentos de sustentação de andaimes e cabos de segurança: estar
dispostos de modo a atender todo perímetro da edificação, suportar uma
carga pontual de 1200 kgf, constar do projeto estrutural da edificação e ser
constituído de material resistente as intempéries, como aço inoxidável ou
material equivalente.

4. METODOLOGIA

A Figura 2 apresenta as etapas realizadas para o desenvolvimento


deste trabalho.

Figura 2 – Etapas do trabalho


92
4.1 Levantamento de Recomendações Técnicas

Nesta etapa foram avaliadas as especificações técnicas da Norma


Regulamentadora 18 e os itens 13 e 15, que tratam de queda de altura.

4.2 Seleção de empresas no município de Passo Fundo para estudo


das proteções empregadas

O trabalho foi realizado com visita a obras em execução na cidade


de Passo Fundo, RS. Participaram sete obras, cuja seleção se deu em
função das etapas de execução que estavam sendo realizadas: estruturas de
concreto armado, levantamento das alvenarias no perímetro.

4.3 Visitação em obras das empresas selecionadas, descrição dos


métodos e justificativas

Preparação de questionário e abordagem na empresa. As visitas às


obras se deu no período de 25 de fevereiro a 4 de março do ano de 2009.
Em cada obra foi analisada a fase de execução, características da
edificação, quantidade de trabalhadores, tipos de trabalhos em periferia,
técnicas e dispositivos adotados pela obra e pelos trabalhadores para
proteção contra queda, especialmente nos trabalhos em periferia. Foi
utilizado um questionário padrão para todas as obras.

4.4 Análise dos métodos utilizados nas empresas

Nesta etapa foram relacionados os métodos utilizados,


especificamente para proteção do trabalhador de periferia, especialmente
nas tarefas de execução de formas de concreto armado e elevação de
alvenaria.

4.5 Proposta de método

Nesta etapa apresenta-se uma proposta de proteção do trabalhador


para execução das tarefas realizadas nas periferias de obra.

93
5. RESULTADOS

5.1 Obras visitadas e descrição dos métodos

As Figuras 3 a 13 apresentam as obras visitadas. Cada uma das


quais é descrita a respeito do número de pavimentos, estágio de construção,
número de funcionários, acidente de queda recente, sugestões de técnicas para
proteção no PPRA (Programa de Prevenção de Riscos Ambientais) e o PCMAT
(Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Construção).

Figura 3 – Obra 1

• Número de pavimentos: 19
• Estágio de construção: 3º pavimento, realização de trabalhos na estrutura e na
alvenaria.
• Número de funcionários: 14
• Acidente de queda recente: nenhum
• Possui sugestões de técnicas para proteção no PPRA e o PCMAT.

O desconforto e a redução da mobilidade causadas pelo uso do


cinto foram apontados como empecilhos para utilização de proteções em
periferia.
94
Os dispositivos de proteção presentes são: bandeja, guarda-corpo,
cinto de segurança e cabo guia.
O sistema utilizado na fixação do cabo guia pode ser descrito da
seguinte forma: os passadores são fixados aos pilares por parabolts na
altura que for necessária para realização dos trabalhos, também pode ser
fixado no teto ou no piso, na obra visitada é utilizado com cabo de aço,
como demonstra a Figura 4.

Figura 4 – Sistema de suporte do cabo guia fixado aos pilares, pode ser colocado
na melhor posição para realização das atividades

Figura 5 – Obra 2

• Número de pavimentos: 23;


• Estágio de construção: 5º pavimento, realização de trabalhos na estrutura,
alvenaria, instalações e revestimentos;
95
• Número de funcionários: 120;
• Acidente de queda recente: nenhum;
• Possui sugestões de técnicas para proteção no PPRA e o PCMAT.

Quando iniciam suas atividades na empresa, os operários são


informados sobre os equipamentos de proteção. O técnico de segurança
está sempre presente na obra e não foram registradas reclamações sobre os
dispositivos de segurança.
Os dispositivos de proteção presentes são: bandeja, guarda-corpo,
cinto de segurança e cabo guia.
Quanto ao sistema utilizado na fixação do cabo guia, os passadores
são fixados na laje e posicionados antes do guarda corpo, funcionando
como marcação de uma área a partir da qual é necessário utilizar o cinto.
Como o operário deve passar pelo cabo, normalmente por baixo, atua
como sinal para colocação do cinto, por não depender dos pilares para ser
instalado, pode acompanhar melhor os contornos da laje. É fixado por
parabolts, como expressa a Figura 6.

Figura 6 – Método de suporte para cabo guia, parafusado na laje mantém o cabo
suspenso, facilitando o encaixe do talabarte no cabo

96
Figura 7 – Obra 3

• Número de pavimentos: 9;
• Estágio de construção: 4º pavimento, realização de trabalhos na estrutura e
alvenaria;
• Número de funcionários: 10;
• Acidente de queda recente: nenhum;
• Possui sugestões de técnicas para proteção no PPRA e o PCMAT.

A redução da mobilidade causada pelo uso do cinto foi apontada


como empecilho para utilização de proteções em periferia.
Os dispositivos de proteção presentes são: bandeja, guarda-corpo,
cinto de segurança e cabo guia.
No sistema utilizado na fixação do cabo guia, o cabo de aço é
amarrado aos pilares ou arranques destes. É um dos sistemas que podem
ser instalados mais facilmente. Fica limitada à disposição dos pilares, por
exemplo, no caso das sacadas, ou vãos em balanço, conforme Figura 8.

97
 Arranques
dos pilares

Lage Cabo de
Aço

Pilares

Cabo de
Aço

Arranques
dos pilares

Figura 8 – Cabo fixado aos pilares, passando por trás dos arranques do
pilar, método utilizado com cabo de aço e corda

Figura 9 – Obra 4

• Número de pavimentos: 8;
• Estágio de construção: 3º pavimento, trabalhos na estrutura e alvenaria;
• Número de funcionários: 7;
• Acidente de queda recente: nenhum;
• Possui sugestões de técnicas para proteção no PPRA e o PCMAT.

A redução da mobilidade causada pelo uso do cinto foi apontada


como empecilho para utilização de proteções em periferia.
98
Os dispositivos de proteção presentes são: bandeja, guarda-corpo,
cinto de segurança e cabo guia.
O sistema utilizado na fixação do cabo guia é o mesmo da Obra 3,
porém com cabo de corda de fibra sintética.

Figura 10 – Obra 5

• Número de pavimentos: 15;


• Estágio de construção: 10º pavimento, realizados trabalhos na estrutura,
na alvenaria, reboco interno e instalações;
• Número de funcionários: 20 diretos e 12 terceirizados para execução da
estrutura;
• Acidente de queda recente: nenhum;
• Possui sugestões de técnicas para proteção no PPRA e o PCMAT.

A falta de fiscalização, de treinamento e de conscientização foram


apontadas como empecilhos para utilização de proteções em periferia.
Os dispositivos de proteção presentes são: bandeja, guarda-corpo,
cinto de segurança e cabo guia.

99
O sistema consta da utilização do cabo guia de aço passando pelas
alças concretadas na laje, chamadas “caranguejos”. É um método de fácil
montagem, mas por ser preso à laje, deve ser preparado antes da
concretagem. Pode acompanhar os contornos da laje, no caso das sacadas,
ou vãos em balanço conforme Figura 11.

Figura 11 (a) - Detalhe do cabo Figura 11 (b) - operário utilizando o


passando entre “caranguejos” cinto preso ao cabo
concretados na laje

Figura 12 – Obra 6

100
• Número de pavimentos: 10;
• Estágio de construção: casa de máquinas e caixa d’água, trabalhos na
estrutura e na alvenaria, reboco interno e externo e instalações;
• Número de funcionários: 14;
• Acidente de queda recente: nenhum;
• Possui sugestões de técnicas para proteção no PPRA e o PCMAT.

O desconforto e a falta de mobilidade causada pelo uso do cinto


foram apontados como empecilhos para utilização de proteções em
periferia.
Os dispositivos de proteção usados são: bandeja, guarda-corpo,
cinto de segurança e cabo guia.
O sistema utilizado na fixação do cabo guia é o mesmo da Obra 5,
porém com cabo de corda de fibra sintética.

Figura 13 – Obra 7

• Número de pavimentos: 9;

101
• Estágio de construção: casa de máquinas e caixa d’água, trabalhos na
estrutura, alvenaria e instalações;
• Número de funcionários: 7 diretos e 3 terceirizados;
• Acidente de queda recente: nenhum;
• Não possui sugestões de técnicas para proteção no PPRA e o PCMAT.

O desconforto e a falta de mobilidade causada pelo uso do cinto foram


apontados como empecilhos para utilização de proteções em periferia.
Os dispositivos de proteção usados são: bandeja, guarda-corpo e
cinto de segurança, não sendo utilizado sistema de cabo guia.

5.2 Análise dos métodos utilizados nas empresas

Os métodos utilizados nas obras visitadas apresentam algumas


diferenças quanto à facilidade de montagem e à utilização como barreiras
para as bordas das lajes.
Os métodos que mantém o cabo mais alto facilitam o engate do
talabarte, entretanto sua instalação não é tão simples, normalmente são
instalados com parabolts.
A instalação dos cabos amarrados aos pilares ou passando pelos
“caranguejos” é mais prática, mas os cabos ficam no chão e muitas vezes
são ignorados pelos operários.
Os sistemas que mantêm os cabos elevados funcionam também
como barreira.
O método de parafusar as ancoragens nos pilares permite o ajuste
da altura do cabo, útil em trabalhos em que a altura entre as lajes é maior.
Quando a distância entre os pilares é grande ou áreas em balanço, o
sistema apresenta restrições.
Os sistemas nos quais o cabo fica sobre a laje são de fácil
montagem, o que passa pelos “caranguejos” permite que o cabo
acompanhe os contornos da laje, independentemente da disposição dos
pilares. O método de amarrar o cabo nos pilares apresenta a mesma
restrição citada anteriormente, nas áreas em balanço. Outro ponto negativo
102
observado com o cabo sobre a laje é o acúmulo de materiais sobre o
mesmo.
O sistema que mantém o cabo elevado chama atenção, pois este
acaba atuando como mais uma barreira e marca uma área que pode ser
indicada como de uso obrigatório do cinto de segurança, torna obrigatória
a parada do operário para transpor o cabo, nesta parada deve ser engatado
o talabarte.

5.3 Proposta de método

A combinação deste último método com o proposto por Martins


(2004) deve apresentar bons resultados, um para a montagem das fôrmas e
concretagem e outro para remoção de fôrmas e fechamento das paredes.
Durante a montagem das fôrmas e a concretagem da laje pode ser
utilizado o método proposto por Martins (2004), prendendo os guias para
o cabo nos arranques dos pilares, como demonstra a Figura 14.

Figura 14 – Sistema para fixação do cinto de segurança na fase de


estrutura
Fonte: Martins (2004)

A posição do cabo no pavimento seria conforme a Figura 15, em


que este é representado pela linha vermelha.

103






 
 

 

 




Figura 15 – Posição do cabo no pavimento, utilizando o método que prende o


cabo guia aos arranques dos pilares

Após a concretagem pode ser utilizado o método que mantém o


cabo elevado, conforme a Figura 16, pois este requer que a laje já esteja
concretada para fixação dos guias. Este método pode ser utilizado como
barreira ou limite da área mais próxima às bordas da laje, pode ser fixado
a aproximadamente 1 metro das bordas.

Figura 16 – Cabo elevado a 1m das bordas

A posição do cabo no pavimento, representado pela linha


vermelha, pode ser vista na Figura 17.

104



 

 

 

 

 




Figura 17 – Posição do cabo no pavimento, utilizando o método que mantém o


cabo guia elevado

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nas obras visitadas, foram encontrados quatro métodos de fixação


para o cabo guia, de aço ou corda. O cinto de segurança foi facilmente
visualizado nos operários, embora nem sempre estivesse preso ao cabo
guia ou outro ponto da estrutura. Os guarda-corpos, quando removidos
para alguma atividade, não eram corretamente recolocados.
Uma das obras visitadas não possuía PPRA e PCMAT e os
trabalhadores não utilizavam cinto de segurança para proteção de
trabalhos na periferia.
As reclamações, por parte dos trabalhadores, sobre o cinto de
segurança foram o desconforto e redução da mobilidade. Em uma obra
foram citadas as necessidades de fiscalização por um técnico em
segurança no trabalho, treinamento e educação dos trabalhadores. Em
outra empresa, que passou a informação de que os funcionários não
reclamam dos EPI’s, a presença de um técnico de segurança no trabalho,
da CIPA e de conscientização sobre o assunto comprova e justifica a
ausência das reclamações.
Nenhuma das empresas teve acidentes recentes de quedas com
diferença de nível em trabalhos na periferia ou em outros pontos.
O dispositivo apresentado por Martins (2004), prendendo o cabo nos
arranques do pilar, pode ser utilizado na montagem das fôrmas e na concretagem

105
da laje, situações que impedem o uso dos métodos que prendem as ancoragens
do cabo guia na laje.
O método de proteção proposto possibilita a colocação do cabo
guia em toda periferia do pavimento antes, durante e depois da concretagem da
laje, para que os operários possam realizar os trabalhos de montagem e
desmontagem das fôrmas, concretagem, alvenaria, revestimento e instalações de
forma segura, aumentando a proteção contra queda.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Normas Regulamentadoras de
Segurança e Medicina do Trabalho. NR 18 – Condições e meio ambiente de
trabalho na indústria da construção. Disponível em: < http://www.mte.gov.br
/legislacao/normas_ regulamentadoras/nr_18.asp>. Acesso em: 22 maio 2011.
COSTELLA, M. F.; CREMONI, R. A. Análise dos Acidentes do Trabalho
Ocorridos na Atividade de Construção Civil no Rio Grande do Sul em 1996 e
1997. Disponível em: <http://www.cramif.fr/phd/th4/Salvador/posters/bresil/
melo_junior.pdf>. Acesso em: 4 ago. 2008.
MARTINS, M. S. Diretrizes para elaboração e medidas de prevenção contra
quedas de altura em edificações. 2004. Dissertação (Mestrado em Construção
Civil) – Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia, Universidade Federal de São
Carlos, São Carlos, 2004.
SAURIN, T. A.; FORMOSO, C. T.; GUIMARÃES, L. B. de M. Integração da
Segurança no Trabalho a Etapa do Desenvolvimento de Produto na Construção
Civil: um estudo exploratório. In Encontro Nacional de Engenharia de Produção,
22, 2002, Curitiba. Anais... Curitiba 2002.

106
CAPÍTULO 7

ESTUDO DAS DESCARGAS ATMOSFÉRICAS NO


MEIO RURAL

Ricardo Nicolau, Adalberto Pandolfo, Luciana


Marcondes Pandolfo, Dayane Muhammad

1. INTRODUÇÃO

Descargas atmosféricas, popularmente conhecidas como raios, são


fenômenos naturais que sempre impuseram temor aos homens, tanto pelo
ruído do trovão como pelos incêndios e destruição que causam.
Durante muitos anos os raios vêm sendo estudados por diversos
pesquisadores que conseguiram grandes avanços na busca por proteções
para os seres humanos e o meio em que vivemos. Porém ainda não
existem sistemas que possam garantir que esses fenômenos naturais não
causem nenhum dano. Conforme Leite (2001) foi longo o caminho
percorrido para se descobrir a natureza elétrica desses fenômenos e para se
chegar a regras confiáveis de proteção para propriedades, aparelhos,
equipamentos, objetos, animais e, principalmente, para as pessoas. Como
ainda há muitos aspectos desconhecidos sobre esse assunto, embora a
eficiência dos sistemas de proteção venha sendo melhorada ano após ano,
não se obteve até aqui uma proteção completa, ou 100% eficiente.
No Brasil, segundo dados estatísticos do INPE (2008), anualmente
morrem 200 pessoas e outras 1000 ficam feridas, vítimas de descargas
atmosféricas. O Brasil registrou, apenas no primeiro trimestre de 2008, 28
mortes causadas por raios. O número é 64% maior que o registrado no
mesmo período do ano de 2007. O aumento de raios no Brasil se deve ao
fenômeno La Ninã, resfriamento das águas do Oceano Pacífico que altera
a circulação dos ventos de forma global e favorece a formação de
tempestades. De acordo com a Rede Brasileira de Detecção Atmosférica
do INPE, entre julho de 2005 e 2007, as regiões onde mais caíram raios
foram Rio Grande do Sul e São Paulo.
107
A ação e efeito do raio causam diversos prejuízos, dentre eles
estão: incêndios em florestas, campos e prédios; destruição de estruturas e
árvores; colapso na rede de energia elétrica, interferência na rádio
transmissão; acidentes na aviação; acidentes nas embarcações marítimas;
mortes de seres humanos e animais em propriedades urbanas e rurais. As
propriedades rurais, segundo Leite (2001) à medida que vão se
modernizando, tornam-se mais sensíveis às descargas atmosféricas e, em
muitas delas, as consequências podem ser até mais danosas do que em
prédios industriais.
Dado o contexto acima, pesquisas sobre raios e proteções contra
esse fenômeno são de suma importância, devido às grandes destruições e
mortes que causam.
Atualmente, o trabalho no meio rural, em grande parte das
propriedades, prioriza a preservação da vida do homem, tornando-se
responsável por constantes melhorias e adaptações no meio. Essa
característica evolutiva vem forçando cada vez mais a substituição da mão
de obra humana por máquinas e sistemas eletrônicos, de forma a preservar
a integridade física do homem. Tal modelo vem ao encontro do proposto
neste trabalho, que tem como sujeito de estudos a busca pela indicação, de
um ou mais sistemas ou métodos de proteção eficiente para o homem e os
equipamentos que são utilizados por este, procurando descobrir quais
medidas de proteção devem ser utilizadas em uma propriedade
tipicamente rural, para a proteção contra descargas atmosféricas.

2. CONTEXTO HISTÓRICO

As descargas atmosféricas, ainda que não denominadas desse


modo, são fontes de curiosidade e observação há longa data, sabendo-se
de registros sobre a presença de raios ainda em 2000 a.C. Todavia, o
enfoque dado a tal fenômeno durante muito tempo foi atrelado à cultura de
divindades. É possível vislumbrar esse fato na literatura grega de 700 a.C.,
em que os registros mitológicos mostram Zeus como sendo o deus do raio.
Na mitologia chinesa, a deusa Tien Mu cuidava das trovoadas e Lien Tsu
era o deus do trovão. Com o passar do tempo, tais registros foram
assumindo novos formatos e proporções maiores, aparecendo em diversos
documentos e sendo citados inclusive na Bíblia. Mas apenas no século
XVIII por meio da pesquisa chega-se à descoberta da eletricidade e só
108
então o fenômeno de queda de raios passa a ser entendido enquanto
descarga elétrica das cargas acumuladas nas nuvens, pois até então os
efeitos destrutivos dos raios eram associados às pedras incandescentes que
violentamente caíam do céu na ponta do raio.
Comecemos com o curioso episódio de William Wall, que em
1708 “ao ver uma faísca sair de um pedaço de âmbar carregado
eletricamente, observou que ela era parecida com um relâmpago” (INPE,
2008). Esse certamente foi o pontapé inicial para que posteriormente, após
a descoberta das primeiras propriedades elétricas da matéria, fosse
possível constatar de modo evidente que os relâmpagos constituíam-se em
uma forma de eletricidade e que estavam de alguma maneira associados
com as tempestades.
Na sequência, tivemos a contribuição de Benjamin Franklin, o
primeiro cientista que se dispôs a criar um experimento, tentando
comprovar a natureza elétrica do relâmpago, como podemos acompanhar
na referência.
Em julho de 1750, Franklin propôs que a eletricidade poderia
ser drenada de uma nuvem por um mastro metálico. Se o
mastro fosse isolado do solo e um observador aproximasse um
fio aterrado, uma faísca saltaria do mastro para o fio quando
uma nuvem eletrificada estivesse perto. Se isto ocorresse,
estaria provado que as nuvens são eletricamente carregadas e,
consequentemente, que os relâmpagos também são um
fenômeno elétrico (INPE, 2008).
E a comprovação veio em 1752, com Thomas-François D’Alibard
que, realizando outro experimento, porém com o mesmo propósito, mostra
que a idéia de Franklin estava certa.
Ainda em 1752 Franklin, ao invés de utilizar um mastro metálico,
usou uma pipa, já que ela poderia alcançar maiores altitudes e poderia ser
usada em qualquer lugar e o resultado observado foi o mesmo que o
anterior. Posteriormente, outros tantos deram continuidade a essas
verificações, sempre realizando novas e importantes descobertas.

109
Em 1785, C. A. Coulomb descobriu que o ar é condutor de
eletricidade, observando que um objeto condutor isolado
quando exposto ao ar, gradualmente perdia sua carga, visto
que os gases eram então considerados isolantes. Sua
descoberta, entretanto, não foi compreendida na época e
acabou sendo esquecida. Em 1804, P. Erman, explicando as
observações de Saussure, sugeriu pela primeira vez que a
Terra devia ser carregada negativamente. Em 1842, J. Peltier
confirmou esta idéia e sugeriu que a carga no ar deveria ser
originária da Terra, a qual por sua vez se tornou carregada
durante sua formação. Em 1860, W. Thomson (também
conhecido por Lord Kelvin) defendeu a idéia de que cargas
positivas deveriam existir na atmosfera para explicar sua
eletrificação em tempo bom. Em 1885, J. Elster e H. F. Geitel
propuseram a primeira teoria para explicar a estrutura elétrica
das tempestades (INPE, 2008).
É interessante pensarmos na evolução da ciência, pois podemos
perceber que além de avanços e descobertas, que certamente muito vêm a
contribuir para a vida do homem e para o meio que o cerca, muitas vezes
as comprovações somente se dão no momento em que há uma
aceitabilidade e uma compreensão vinda da sociedade constituinte de cada
período, ficando por vezes um resultado durante muito tempo de lado e, de
repente retomado e visto com outros olhos, tendo outra força, é o que
podemos perceber no caso de Coulomb que cem anos depois tem seus
resultados comprovados por Linss e que dali em diante serve de
impulsionador para novas descobertas:

Em 1887, W. Linss chegou aos mesmos resultados obtidos por


Coulomb cerca de 100 anos antes e, então, estimou que a
Terra perderia quase toda a sua carga para a atmosfera
condutora em menos de uma hora, a menos que a fonte de
cargas fosse restabelecida. Este fato deu origem ao que se
tornou conhecido como problema fundamental da eletricidade
atmosférica, isto é, como a carga negativa da Terra é mantida.
Finalmente em 1899, J. Elster e H.F. Geitel descobriram que a
radioatividade está presente na atmosfera, estabelecendo uma
explicação para a presença de íons na mesma. As próximas
descobertas a respeito da eletrificação da atmosfera só
surgiram após o desenvolvimento de instrumentos fotográficos
e elétricos no século XX (INPE, 2008).
Hoje, o conhecimento acerca de descargas atmosféricas atinge uma
proporção bastante grande em relação a alguns anos atrás, porém, ainda
110
assim há muito o que se conhecer sobre tal fenômeno, despertando
curiosidade, interesse e até mesmo necessidade em alguns casos, em
especial no que se refere à questão de segurança e proteção, abrindo
margem para novos campos de pesquisa.
Atualmente existem várias pesquisas sobre os raios, a partir do
estudo de algumas delas, esta seção apresentará tópicos sobre
características das descargas atmosféricas e seus componentes.
Segundo Creder (2000) “raio é um fenômeno atmosférico de
danosas consequências resultante do acúmulo de cargas elétricas em uma
nuvem e a consequente descarga sobre o solo terrestre ou qualquer
estrutura que ofereça condições favoráveis à descarga”.
Para entendermos melhor as descargas atmosféricas tomaremos
como exemplo uma descarga negativa, que conforme Creder,
[...] são as mais frequentes. O raio é precedido de um canal
ionizado descendente (líder), que se desloca no espaço por
saltos sucessivos de dezenas de metro. Este deslocamento
provoca a formação na superfície da terra, por indução, de
cargas elétricas crescentes e de sinal contrário. Assim, o
campo elétrico da terra torna-se tão intenso que dá origem a
um líder ascendente (receptor), que parte em direção ao líder
descendente. O encontro de ambos estabelece o caminho da
corrente do raio, que se descarrega através do canal ionizado.
O raio atinge o solo ou uma estrutura no local onde partiu o
líder ascendente, por meio de um trajeto não necessariamente
vertical. Isto se torna evidente porque estruturas altas são
muitas vezes atingidas lateralmente pelo raio, embora
protegidas por um captor no topo. Os pontos de maior
intensidade de campo elétrico no solo e nas estruturas são os
próximos da extremidade do líder descendente (Creder, 2000,
p. 288)
Podemos visualizar a situação descrita na citação anterior
observando a Figura 1.

111
Figura 1 – Formação das descargas atmosféricas

Pode-se classificar as descargas atmosféricas de acordo a conexão


dos elementos. Na descarga intranuvem a corrente de descarga ocorre
dentro da própria nuvem. Na descarga entre nuvens ocorre de uma nuvem
para outra. Na descarga nuvem-estratosfera a corrente de descarga ocorre
da nuvem para a estratosfera. Na descarga nuvem-solo a corrente ocorre
entre nuvem e solo. Esta última representa 20% do total das descargas
atmosféricas.
Na formação do raio é estabelecido um canal condutor entre nuvem
e solo, que ocasiona o fluxo de corrente intensa. Isso gera o aquecimento
do canal causando, conforme Kindermann (1992) “um efeito luminoso
intenso, o relâmpago, e deslocamento do ar com forte efeito sonoro, o
trovão”. Como a velocidade da luz (300 milhões de m/s) é muito maior
que a do som (300 m/s), percebemos o relâmpago segundos antes do
trovão.
Segundo Mamede (2007) ”tomando como base medições feitas na
estação do Monte San Salvatori, as intensidades de correntes das
descargas atmosféricas podem ocorrer nas seguintes probabilidades: 97%
≤ 10 kA, 85% ≤ 15 kA, 50% ≤ 30 kA, 20% ≤ 15 kA, 4% ≤ kA”. Através
desses dados podemos confirmar como os raios podem ser perigosos, pois
a intensidade de corrente necessária para matar um ser humano é na ordem
de 50mA e, ao ser atingido por uma descarga atmosférica, se não vier a
óbito, ainda poderá sofrer muitas consequências, tais como: queimaduras,
paralisia muscular, problemas neurológicos, entre outros. Contudo o que
ocasiona a morte do indivíduo na maioria dos casos é a parada cardíaca,
provocada pela passagem de corrente no tronco do ser vivo, causando
112
fibrilação ventricular. Segundo Leite (2001)
os efeitos de raios sobre os seres vivos podem ser do tipo: a)
tensão de passo: em um ser vivo com os apoios (pés ou patas)
separados, fica sujeito a uma tensão que provoca a circulação
de corrente pelo tronco; b) tensão de toque: que ocorre quando
o condutor da corrente do raio tem uma alta impedância, são
geradas tensões ao longo dele, aplicada entre uma ou as duas
mãos e os pés, provocará a passagem de corrente pelo tronco,
causando frequentemente a morte; c) descarga lateral: em uma
situação parecida com a anterior, entre o condutor da corrente
e a cabeça da vítima aparece uma tensão tão alta que ocorre
uma descarga disrruptiva, causando frequentemente a morte; e
d) descarga direta: quando uma pessoa andando em um campo
aberto pode se tornar alvo e receber diretamente o impacto do
raio, caso em que raramente resiste às queimaduras e aos
efeitos da corrente sobre o cérebro e o coração.

Então, a única forma de garantir a integridade física quando se trata


de descargas atmosféricas é evitar ser atingido por elas assim, faz-se
necessária a pesquisa de métodos para a proteção contra tal fenômeno.
Seguindo esta linha, e consultando a literatura atual e a legislação vigente,
chega-se a NBR-5419 (ABNT, 2001) principal norma brasileira sobre
proteção de estruturas contra descargas atmosféricas, que traz como
objetivo: “fixar as condições exigíveis ao projeto, instalação e manutenção
de sistemas de proteção contra descargas atmosféricas (SPDA) de
estruturas, bem como de pessoas e instalações no seu aspecto físico dentro
do volume protegido”. Esta norma classifica o nível de proteção, que não
está relacionado com a probabilidade de queda do raio na edificação, mas
com a eficiência que o sistema tem de captar e conduzir o raio à terra,
fazendo referência a três métodos básicos para efetiva proteção, que são:
método de Franklin, Método de Faraday e método Eletrogeométrico.

2.3. Revisão do Estado da Arte

Não existem métodos direcionados especificamente para o meio


rural, devido ao grau de dificuldade de proteger uma área aberta, mas que
sofre incidência de raios que causam prejuízos e em alguns casos riscos de
vida para as pessoas e animais que estão submetidos a este fenômeno. Por
isso considera-se relevante a abordagem dos três métodos já mencionados,
113
os quais são normatizados pela legislação vigente, para que se possa
entender como se procede a proteção através dos mesmos.
Começando pelo método de Franklin que segundo Mamede (2007,
p. 620)
consiste em se determinar o volume de proteção propiciado
por um cone, cujo ângulo da geratriz com a vertical varia
segundo o nível de proteção desejado e para uma determinada
altura da construção [...] Utilizando a propriedade das pontas
metálicas de propiciar o escoamento das cargas elétricas para a
atmosfera, o chamado poder das pontas, Franklin concebeu e
instalou um dispositivo que desempenha esta função,
denominado páraraios.
Podemos entender melhor como é o método Franklin, bem como
visualizar os componentes deste sistema observando a Figura 2.

Figura 2 – Pára-raios tipo Franklin

Ainda usando como referência Mamede (2007, p. 624), temos o


método de Faraday, apresentado na Figura 3, que

114
consiste em envolver a parte superior da construção com uma
malha captora de condutores elétricos nus, cuja distância entre
eles é função do nível de proteção desejado [...] O método de
Faraday é fundamentado na teoria pela qual o campo
eletromagnético é nulo no interior de uma estrutura metálica
ou envolvida por uma superfície metálica ou por malha
metálica, quando são percorridas por uma corrente elétrica de
qualquer intensidade.

Figura 3 – Método Gaiola de Faraday

Por fim, Mamede (2007, p. 627) faz referência ao método


eletrogeométrico, apresentado na Figura 4.
Também conhecido como método da esfera rolante, o método
eletrogeométrico se baseia na delimitação do volume de
proteção dos captores de um Sistema de Proteção Contra
Descargas atmosféricas, podendo ser utilizadas hastes, cabos
ou mesmo uma combinação de ambos. É empregado com
muita eficiência em estruturas de grande altura e/ou de formas
arquitetônicas complexas.

Esfera rolante fictícia

Figura 4 – Método Eletrogeométrico


115
3. METODOLOGIA DO ESTUDO

Segundo Silva (2005) a classificação dessa pesquisa pode ser


definida com base em quatro pontos de vista: de acordo com sua natureza,
da forma de abordagem do problema, dos objetivos e dos procedimentos
técnicos. A pesquisa, sob o ponto de vista da natureza, será aplicada, com
objetivo de reconhecimento dos principais conceitos de proteção contra
descargas atmosféricas a fim de aplicá-los no ambiente rural. Do ponto de
vista da forma de abordagem do problema, a pesquisa será qualitativa,
através de reconhecimento das características de modelos considerados
como ideais. Do ponto de vista dos seus objetivos, a pesquisa será
exploratória, tendo em vista que há pouco conhecimento acumulado sobre
estudos e aplicação de métodos para proteção contra descargas
atmosféricas no meio rural.

3.1 Procedimento Metodológico

O procedimento metodologico dividiu-se em 4 fases distintas,


descritas a seguir.

3.1.1 Fase I: Levantamento Bibliográfico

A partir do levantamento bibliográfico, extraíram-se conceitos de


descargas atmosféricas, com enfoque nos aspectos ambientais do meio
rural, possibilitando a aplicação na proteção dessas áreas. Foram
pesquisados conceitos de eletricidade atmosférica, causas, consequências e
outros aspectos dos raios, além da legislação vigente sobre proteções
contra tais descargas, a fim de aplicá-los num modelo rural.

3.1.2 Fase II: Análise dos diferentes tipos de proteções contra


descargas atmosféricas

Na Fase II foram analisados, por meio de pesquisa bibliográfica e


116
pesquisa documental realizada na fase anterior, sistemas existentes,
considerados eficazes para a proteção contra descargas atmosféricas em
diversas áreas e equipamentos. Esta análise teve como objetivo distinguir
as características dos projetos existentes, para uma pré-qualificação dos
sistemas e medidas, que pudessem ser implantados no ambiente proposto.

3.1.3 Fase III: Escolha e aplicação do método de proteção


(simulação com dados levantados de uma propriedade rural)

Baseando-se nos estudos realizados nas Fases I e II, a Fase III


consistiu-se na tomada de decisão sobre quais métodos estudados de fato
seriam aplicados, para que fosse então, montado um conjunto de medidas
de proteção.
A fim de fornecer informações técnicas e facilitar tal escolha, nesta
etapa realizou-se o levantamento a campo, ou seja, colheram-se dados de
uma propriedade tipicamente rural, observando os pontos relevantes à
projeção e instalação de medidas e sistemas de proteção, além da
combinação de características abordadas durante a revisão da bibliografia.

3.1.4 Fase IV: Análise e discussão dos resultados parciais e


esperados

É é nesta fase que se apresenta o modelo desenvolvido, foi


idealizado partindo do cruzamento de todas as informações levantadas até
aqui, ou seja, as considerações técnicas pertinentes à bibliografia estudada,
as decisões tomadas através do estudo de caso, bem como todos os dados
levantados para o projeto de trabalho.

4. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS


RESULTADOS

Para a execução prática desse trabalho foram coletados dados a


partir da observação de uma propriedade tipicamente rural escolhida
aleatoriamente no município de São José do Herval, RS, dados estes
117
considerados relevantes para o objetivo a que se propunha a pesquisa em
questão, de avaliar a incidência de descargas atmosféricas na propriedade
escolhida e, a partir disso buscar medidas que venham a contribuir com
uma maior segurança tanto para as pessoas residentes na propriedade,
como para os animais e equipamentos rurais.
Primeiramente, em conversa com o proprietário, identificamos que
a propriedade não possuía nenhum sistema de proteção contra descargas
atmosféricas, apesar de já ter sofrido danos provocados pelo fenômeno.
Assim foi feito o levantamento das estruturas contidas na propriedade, que
podem ser observadas na Figura 5.

Figura 5 – Propriedade rural em estudo

A propriedade é formada por uma casa (moradia), uma casa menor


(utilizada para atividades domésticas) e um galpão, além de currais e
lavoura.
Com base neste levantamento preliminar, ficou evidente que para
proteger todos os locais de trabalho seria melhor fazê-lo em partes,
contudo antes de dar sequência ao estudo era necessário, seguindo a
Norma NBR 5419 (ABNT, 2001) verificar a probabilidade de quedas de
raios na propriedade. Por não existir na norma uma situação em que se
refletisse essa probabilidade, englobando todas as estruturas da
propriedade, tomou-se como parâmetro o cálculo a probabilidade de
incidência de raios somente sobre a casa (moradia), sendo ela
118
posteriormente usada como referência também para as demais estruturas.
De posse das dimensões da casa (5m de altura, 8m de comprimento
e 15m de largura) e seguindo as orientações da NBR 5419 (ABNT, 2001)
calculou-se número de raios para a terra por Km² por ano (Ng), utilizando
a equação (1):

Ng = 0.04xTd1.25 [por Km²/ano] Equação (1)

Em que:
Td é o número de dias de trovoada por ano, obtido de mapas
isocerâunicos, retirados da Figura B1 da NBR 5419 (ABNT, 2001),
resultando em:

Ng = 0,04x401,25 = 4,023 [por Km²/ano]

Como próximo passo, calculou-se a área de exposição equivalente


(Ae), dada pela equação (2):

Ae = LW + 2LH + 2WH + πH² [m²] Equação (1)

Em que L é o comprimento, W é a largura e H é a altura da


estrutura para a qual se deseja calcular a área de exposição equivalente.
Dessa forma, tem-se:

Ae = 8x15+2x8x5+2x15x5+πx5² = 428,53 [m²]

Agora podemos calcular a freqüência média anual previsível Nd,


de descargas atmosféricas sobre a estrutura:

Nd = NgxAex10-6 = 4,023x428,53x10-6 = 1,724x10-3 [por ano]


119
Depois de determinar o valor de Nd, o passo seguinte é a aplicação
dos fatores de ponderação, indicados nas tabelas B1 a B5 da NBR 5419
(ABNT, 2001), o que resultou em um novo valor para Nd:

Nd = 0,108x10-3 [por ano]

Agora sim, pode-se afirmar que, conforme a NBR 5419 (ABNT,


2001) item B4.1 e B5, a estrutura requer um sistema de proteção contra
descargas atmosféricas.
Os dados referidos nos mostram com clareza a necessidade de
medidas que venham favorecer a segurança desse meio, evitando riscos,
danos e acidentes. Para tal, como proposta desse trabalho, discutiremos
sugestões que levam em consideração aspectos de proteção da área rural
referida, partindo-se da idéia que, já sabendo da necessidade de proteção,
deve-se escolher um sistema ou método para tal. Assim a partir daqui far-
se-ão considerações das estruturas da propriedade, separadamente para as
casas, o galpão, os currais e as lavouras.

4.1 Casas (moradia e serviços domésticos)

Devido as suas formas geométricas, altura relativamente baixa,


porém com uma grande área horizontal e levando em conta aspectos
econômicos, sugere-se, por apresentar maior viabilidade, a aplicação do
método de gaiola de Faraday, não excluindo a possibilidade de utilização
de outro método, conforme as orientações das normas NBR 5410 (ABNT,
2004) e NBR 5419 (ABNT, 2001) para proteção desta estrutura, pois o
método sugerido poderá aproveitar estruturas metálicas já existentes na
casa em combinação com novos componentes, os quais não serão
discutidos aqui.
Ainda como sugestão para proteção da casa, devem ser instalados
dispositivos contra sobrecorrente nas linhas de energia elétrica e telefonia,
visando proteger pessoas e também equipamentos sensíveis. Outra
sugestão fica por conta das grades que cercam a casa, as quais devem ser
aterradas conforme as orientações das normas NBR 5410 (ABNT, 2004) e
NBR 5419 (ABNT, 2001).
120
4.2 Galpão

A instalação de sistemas de proteção contra descargas atmosféricas


(SPDA) no galpão não é especificamente contemplada na norma brasileira
de SPDA, porém, com base nos dados levantados sobre a probabilidade de
raios para a terra por km² por ano (Ng) calculada anteriormente, pode-se
concluir que é importante proteger essas áreas, já que o trabalhador passa
parte de seu tempo no interior das mesmas, além disso, estaremos
protegendo também os equipamentos e animais que lá se encontram.
Sugere-se, desse modo, como forma de proteção, o mesmo método
proposto para as casas, devido ao fato do galpão apresentar as mesmas
características geométricas, incluindo também a instalação do dispositivo
sobrecorrente já referido anteriormente.
Devido ao fato do galpão servir também como abrigo para
animais, para que haja proteção dos mesmos, devem ser instaladas malhas
de aterramento no piso, proporcionando a equipotencialização deste, pois
os quadrúpedes são muito vulneráveis a tensões de passo.

4.3 Currais e Lavouras

Nos currais, o risco de acidente por descargas atmosféricas


envolvendo o homem é bastante pequeno, devido ao curto espaço de
tempo em que este permanece no ambiente. Todavia, sem descartar a
possibilidade de ocorrência, torna-se interessante a instalação de SPDA
nessas áreas para proteger também os animais.
Novamente a solução a ser adotada é a uniformização dos
potenciais no solo através da inserção de uma malha aterrada para impedir
o surgimento da tensão de passo. Além disso, podem ser instalados
páraraios dos tipos Franklin ou eletrogeométrico nas mediações dos
currais.
Outro aspecto relevante é o aterramento das cercas, pois o arame
das mesmas pode ficar carregado de eletricidade estática quando sobre a
área pairar uma nuvem tempestuosa. Para descarregá-la é necessário
aterrá-la. Também é conveniente seccionar a cerca para reduzir a
eletricidade acumulada, conforme a NBR 5410 (ABNT, 2004).
121
No caso das lavouras é mais difícil pensar em proteção por
tratarem-se normalmente de grandes áreas abertas. Contudo o tempo de
trabalho destinado a esse espaço pelo trabalhador é bastante extenso e, na
maioria dos casos, contando com a utilização de maquinário, que é o caso
em avaliação – o uso de trator. Sendo assim, a medida mais adequada de
segurança nesse caso é o uso de maquinários que possuam cabines
fechadas, pois essas protegem o trabalhador em seu interior, obedecendo
aos mesmos princípios do método de gaiola de Faraday.
Todas as medidas de segurança abordadas até aqui devem ser
consideradas de suma importância para a minimização do índice de
acidentes por descargas atmosféricas em área rural. Porém não podemos
esquecer que a falta de orientação para proteção pessoal é um fator
culminante no alto índice de acidentes, pois muitas vezes as pessoas
procuram proteção em locais impróprios ou agem de forma insegura
durante as tempestades.
São medidas para a própria proteção: evitar permanecer em picos
de morro; evitar locais abertos, como lavouras; evitar permanecer debaixo
de árvores isoladas, é preferível procurar locais com maior número de
árvores quando não se encontrar abrigo mais seguro; nunca deitar-se
debaixo de uma árvore, principalmente com o corpo na posição radial, no
caso de uma descarga atingir a árvore, a corrente é injetada no solo no
sentido radial podendo o indivíduo ficar submetido à queda de tensão
entre as pontas dos pés e os braços; se estiver dentro da água deve-se sair,
pois se atingida por um raio faz surgir diferenças de potências, as quais
poderão fazer passar pelo tronco humano correntes inadmissíveis; não sair
às janelas para apreciar tempestades; afastar-se de cercas e grandes peças
metálicas.
O melhor abrigo para as pessoas que se encontram em situações de
risco é qualquer estrutura que possua SPDA ou grandes estruturas de
concreto mesmo que não possuam SPDA, interiores de automóveis,
caminhões e maquinários que possuam cabines fechadas.
A melhor forma das medidas de segurança atingirem um grau
elevado de eficácia é a fusão entre a aplicação dos SPDA propostos, e as
orientações aos trabalhadores do campo também referidas.

122
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao término dessa pesquisa, conclui-se que os objetivos propostos


no início foram alcançados, tendo em vista que a proposta principal de
sugerir meios de segurança para a propriedade rural analisada foi atingida.
Após realização de um estudo de caso foi possível propor medidas e
sistemas que se implantados corretamente trarão como consequência a
minimização do número de acidentes provocados pelas descargas. Porém
fica clara a dificuldade encontrada para garantir a proteção em tempo
integral do trabalhador do campo, por este não possuir um único local de
trabalho, mas sim manter-se constantemente em deslocamento por toda a
extensão da propriedade. Assim sendo, a melhor medida de prevenção de
acidentes causados pelo fenômeno em questão é a orientação ao
trabalhador.

REFERÊNCIAS
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas NBR 5410 - Instalações
elétricas de baixa tensão - Março 2004. Disponível em: < http://eletronicaifpb.
6te.net/files/norma5410.pdf >. Acesso em: 22 maio 2011.
BRASIL. Norma ABNT nº. 5419, de 30 de março 2001- revisada em 2004.
Estabelece as condições exigíveis ao projeto, instalação e manutenção de
sistemas de proteção contra descargas atmosféricas (SPDA). ABNT/CB-03 -
Comitê Brasileiro de Eletricidade, CE-03:064.10 - Comissão de Estudo de
Proteção contra Descargas Atmosféricas. Disponível em: <http://
www.abnt.org.br > . Acesso em: 10 jun. 2008.
CREDER, H. Instalações Elétricas. 14. ed. Rio de Janeiro: LTC – Livros
Técnicos e Científicos Editora S.A. 2000.
INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. São Paulo 2008. Disponível
em: <http://www.inpe.br/webelat/homepage/> . Acesso em: 12 jun. 2008.
____ - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. São Paulo 2008. Disponível
em: <http://www.inpe.br/noticias> . Acesso em: 05 jun. 2008.
KINDERMANN, Geraldo. Descargas atmosféricas. Sagra - DC Luzzatto
Editores. 1992.
LEITE, D. & Leite, C. Proteção contra descargas atmosféricas 5 ed. São Paulo:
Officina de Mydia Editora, 2001.

123
MAMEDE, J. F. Instalações elétricas industriais. 7 ed. Rio de Janeiro: LTC.
2007.
SILVA, E. L. da; MENEZES, E. M. Metodologia da pesquisa e elaboração de
dissertação. 4. ed. Florianópolis: UFSC, 2005. 138 p. Disponível em:
http://www.posarq.ufsc.br/download/metpesq.pdf>. Acesso em: 23 jul. 2008.

124
CAPÍTULO 8

DIAGNÓSTICO DOS RISCOS OCUPACIONAIS E


DOS RISCOS À SAÚDE DOS GARIMPOS EM
AMETISTA DO SUL, RS

Volker Weiss, Adalberto Pandolfo, Carla Raquel Reolon de Oliveira,


Luciana Marcondes Pandolfo

1. INTRODUÇÃO

O Rio Grande do Sul possui importantes reservas minerais e se


destaca na produção de gemas, principalmente de ágata e ametista. Ambas
as gemas ocorrem no interior de basaltos da Formação Serra Geral da
Bacia Sedimentar do Paraná.
A ametista é a mais importante das gemas produzidas no Rio
Grande do Sul, presente em 64% das jazidas cadastradas. A pedra
garimpada pode ser encontrada em muitos locais, geralmente associada à
ágata (BRANCO e GIL, 2002).
A maior concentração dessa gema ocorre no norte do estado, que
detém a maior produção e abrange vários municípios do Médio e Alto
Uruguai. Os municípios em destaque, segundo a Cooperativa de
Garimpeiros do Médio Alto Uruguai (COGAMAI, 2008) são: Ametista do
Sul (com a maior produção), Planalto, Frederico Westphalen, Cristal do
Sul, Iraí, Rodeio Bonito, Trindade do Sul e Gramado dos Loureiros, que
constituem o maior centro produtor do mundo, tanto em volume como
extensão, responsável por 80% das exportações de ametista do Brasil.
A extração ocorre a céu aberto ou em furnas (galerias subterrâneas
horizontais) cujo trabalho de perfuração e desmonte da rocha gera a poeira
mineral que contém sílica (SiO2) e, devido à falta de ventilação adequada,
o material particulado fica suspenso nas galerias propiciando a incidência

125
de doenças pulmonares como a silicose, causada pela inalação de poeira
de sílica.
Este trabalho tem como objetivo verificar os riscos ocupacionais e
os riscos à saúde dos trabalhadores nos garimpos de Ametista do Sul/RS,
pois a incidência de doenças pulmonares é muito grande nesse município e
tem causado danos irreversíveis à saúde desses trabalhadores.

2. A ATIVIDADE MINEIRA E A SAÚDE DOS TRABALHADORES

O extrativismo mineral é de grande importância para a sociedade,


pois contribui para a geração de empregos, fornecimento de matéria-prima
para a indústria e construção civil, e arrecadação de impostos. Entretanto,
conforme Kopezinski (2000) a atividade extrativista é exercida sem
técnicas adequadas e sem controle, originando a degradação do meio
físico, cujos efeitos perceptíveis são os desmatamentos, a perda de solos
superficiais férteis, a instabilidade das encostas, a erosão, o assoreamento
de rios, a produção de rejeitos, os efeitos na flora e fauna local e a
poluição.
A extração mineral é uma atividade insalubre, com diversos efeitos
lesivos à saúde dos trabalhadores das minas. O surgimento de doenças que
atingem as vias respiratórias, prejudicando principalmente o pulmão,
deve-se, em grande parte, ao contato dos trabalhadores com explosivos e
poeira mineral contendo sílica livre (quartzo, SiO2 cristalizada)
(RAMAZZINI, 2000).
Segundo Kulcsar Neto et al. (1995) a sílica aparece em grande
quantidade na natureza, sendo encontrada nas areias e na maioria das
rochas e constitui cerca de 60% da crosta terrestre. A poeira de sílica é
desprendida em operações de lavra, através da execução de tarefas como
cortar, serrar, polir, moer, peneirar, esmagar. A sílica está presente
também na fabricação de tintas, cimento, cosméticos, produtos
farmacêuticos e inseticidas, escavação de túneis, poços e polimento de
blocos de pedra, granito e quartzo. As partículas de poeira que contém
sílica tornam-se insalubres de grau máximo para os trabalhadores dos
garimpos (BRASIL, 1998).
A inalação de sílica livre causa a silicose, que é uma
pneumoconiose (grupo de doenças que se originam pela inalação de
126
poeiras e levam a uma reação inflamatória, fibrose e insuficiência
respiratória) assim denominada por Zenker em 1866, caracterizada pela
decomposição de poeiras no pulmão, com reação tissular.
Dias (2001) considera alguns fatores relevantes que podem
influenciar a ocorrência de silicose como: a concentração total de poeira
respirável; a dimensão das partículas (menores que 10 µm, a fração
respirável) sendo que as mais perigosas são invisíveis a olho nu; a
composição mineralógica da poeira respirável (em % de sílica livre); o
tempo de exposição; e a suscetibilidade individual.
A silicose é uma doença assintomática no início, mas com
evolução progressiva e irreversível. Conforme World Health Organization
(2006) a silicose é classificada como CID-109 (Classificação Estatística
Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde,
desenvolvida pela Organização Mundial da Saúde) e apresenta-se de três
formas:
• Silicose aguda: forma rara, associada à exposição maciça à sílica
livre, em jateamento de areia ou moagem de quartzo. Normalmente
aparece dentro dos 5 primeiros anos de exposição;
• Silicose subaguda: alterações radiológicas precoces, aparece após 5
anos de exposição. As alterações são de rápida evolução, os
sintomas são precoces e limitantes. No Brasil é encontrada em
cavadores de poços;
• Silicose crônica: latência longa, surge com cerca de 10 anos após o
início da exposição. Os sintomas aparecem tardiamente e através
de exames radiológicos percebe-se a presença de nódulos.

O diagnóstico da silicose é feito basicamente através da história


ocupacional do trabalhador e exame radiológico de tórax, seguido de
outros procedimentos como espirrometria e tomografia (MENDES, 1986).
Segundo Goelzer e Handar (2005) os casos de silicose continuam a
matar trabalhadores em todo o mundo e isto chamou a atenção de
entidades internacionais relacionadas à saúde e ao trabalho, como a
Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Organização Mundial da
Saúde (OMS) que lançaram em 1995 o Programa Internacional da
OIT/OMS para a eliminação global da silicose, com o objetivo de diminuir
127
as taxas de incidência da doença até o ano de 2010 e eliminá-la como
problema de saúde pública até 2030.
No Brasil, a silicose é também muito frequente, com cerca de
6.600.000 trabalhadores potencialmente expostos à sílica. Do total, cerca
de 500 mil estão ligados à mineração e ao garimpo; 2.300.000 à indústria
de transformação e 3.800.000 à construção civil (GEOLOGIA MÉDICA,
2009).
O médico pneumologista Tietboehl Filho (2007) ressalta que é
grande a incidência de silicose no Rio Grande do Sul, principalmente em
Ametista do Sul, devido ao processo de extração a seco. A questão é
considerada um problema de saúde pública, além de ser uma equação
difícil de ser resolvida sob os pontos de vista ambiental e social.

3. A NORMA REGULAMENTADORA Nº 22 (NR 22)

A NR22 tem por objetivo disciplinar os preceitos a serem


observados na organização e no ambiente de trabalho, de forma a tornar
compatível o planejamento e o desenvolvimento da atividade mineira com
a busca da segurança e saúde dos trabalhadores e se aplica a: minerações
subterrâneas, minerações a céu aberto, garimpos, beneficiamentos
minerais e pesquisa mineral.
Segundo a NR22, cabe à empresa e ao Permissionário de Lavra
Garimpeira elaborar e implementar o Programa de Gerenciamento de
Riscos (PGR) contemplando os aspectos desta norma, incluindo, no
mínimo, os relacionados a:
a) Riscos físicos, químicos e biológicos;
b) Atmosferas explosivas;
c) Deficiências de oxigênio;
d) Ventilação;
e) Proteção respiratória;
f) Investigação e análise de acidentes do trabalho;
g) Ergonomia e organização do trabalho;

128
h) Riscos decorrentes do trabalho em altura, em profundidade e em
espaços confinados;
i) Riscos decorrentes da utilização de energia elétrica, máquinas,
equipamentos, veículos e trabalhos manuais;
j) Equipamentos de proteção individual (EPIs) de uso obrigatório;
k) Estabilidade do maciço;
l) Plano de emergência;
m) Outros resultantes de modificações e introduções de novas
tecnologias.
Das responsabilidades dos trabalhadores cabe: zelar pela sua
segurança e saúde ou de terceiros que possam ser afetados por suas ações
ou omissões no trabalho, colaborando com a empresa ou Permissionário
de Lavra Garimpeira para o cumprimento das disposições legais e
regulamentares, inclusive das normas internas de segurança e saúde; e
comunicar, imediatamente, ao seu superior hierárquico as situações que
considerar representar risco para sua segurança e saúde ou de terceiros.
Vale ressaltar que é importante o uso dos EPIs pelo empregado
sujeito a riscos ambientais. Estes equipamentos são essenciais para
eliminar ou reduzir o potencial do agente agressivo. Portanto, ao
empregador, que deve zelar pela saúde de seus colaboradores, cabe:
fornecer e exigir o uso destes EPIs, sob pena de sofrer autuações e multas
impostas pelos fiscais da Delegacia Regional do Trabalho e Emprego e ser
obrigado ao ônus de continuar devendo os adicionais de insalubridade; e
organizar e manter em regular funcionamento, em cada estabelecimento,
uma Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), denominada na
Mineração de CIPAMIN, que tem por objetivo observar e relatar as
condições de risco no ambiente de trabalho, visando a prevenção de
acidentes e doenças decorrentes do trabalho na mineração, de modo a
tornar compatível permanentemente o trabalho com a segurança e a saúde
dos trabalhadores.

4. METODOLOGIA

Para a realização deste trabalho foram visitados oito garimpos,


onde foi possível, através de conversas informais com os garimpeiros,
129
obter informações sobre a situação de trabalho dos mesmos. Também foi
realizada uma entrevista com o presidente da COGAMAI, que forneceu
diversos dados.
Nas visitas foram observados os seguintes aspectos:
• Situação da rede elétrica;
• Máquinas e equipamentos utilizados na extração;
• Forma de utilização dos explosivos;
• Condições de moradia e higiene ao redor dos garimpos;
• Utilização EPIs;
• Retirada de pedras e dejetos;
• Documentação existente;
• Forma de ventilação;
• Existência de pó;
• Condições de trabalho dos garimpeiros.

Foram realizados laudos com as concentrações de poeira respirável


existentes no interior das minas durante a execução de dois diferentes
métodos de perfuração.
A análise foi qualitativa, observando-se a existência ou não de
condições de segurança e higiene para o trabalhador, tendo como
referência principal a NR22. Ainda que as normas regulamentadoras sejam
obrigatórias apenas para empresas que possuam empregados regidos pela
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e que nos garimpos a forma de
trabalho mais usual seja a parceria, na qual o garimpeiro recebe um
percentual das pedras encontradas, há um entendimento que, quando
existir a relação de subordinação, onerosidade e não eventualidade, como
acontece nos garimpos, cria-se um vínculo empregatício, tornando-se as
mesmas aplicáveis.

130
4.1 Descrição da região produtora de ametista

Ametista do Sul é uma cidade de pequeno porte com,


aproximandamente, 8.058 habitantes, situada no norte do Estado do Rio
Grande do Sul (IBGE, 2009). As primeiras ametistas foram encontradas a
céu aberto sob raízes de árvores, córregos e em atividades agrícolas,
surgindo aos poucos a exploração mineral e os primeiros núcleos
habitacionais nessa região (FELLEMBERG, 1994), mas foi na década de
1970 que a mineração atingiu o auge de produção e as extrações
começaram a ser feitas em galerias subterrâneas.
Atualmente a extração mineral é a principal atividade econômica
do município e corresponde a 90% da arrecadação de impostos. O
município possui cadastro de 300 garimpos, mas apenas 180 estão em
atividade, com cerca de 1200 garimpeiros trabalhando. Este número já
esteve perto dos 2000 trabalhadores, mas devido à crise no mercado
mundial houve redução dos postos de trabalho.

5. RESULTADOS

5.1 Problemas encontrados nos garimpos de Ametista do Sul

5.1.1 Falta de responsável técnico

Conforme a NR22 item 22.3.3, em todas as furnas é obrigatória a


existência de um profissional legalmente habilitado pela supervisão das
atividades da furna.

5.1.2 Identificação irregular da mina

Segundo o item 22.6.2 da NR22 todas as minas devem ter as


entradas identificadas com o nome da empresa ou do permissionário, e
todos os acessos e entradas devem estar sinalizados, porém, a maioria das
minas visitadas não estão devidamente identificadas, como pode ser visto
na Figura 1.

131
Figura 1 – Identificação irregular no acesso à mina

5.1.3 Falta de equipamentos de proteção individual

Em quase todas as furnas visitadas os trabalhadores não estavam


usando ou eram inexistente os EPIs, conforme Figura 2. O item 6.6.1 da
NR6 prevê o uso de máscaras respiratórias para evitar a inalação de sílica,
óculos de proteção, botas de segurança, luvas, aventais e protetores
auriculares.

Figura 2 – Garimpeiro sem os equipamentos de proteção individual

5.1.4 Más condições de saúde dos trabalhadores

A grande parte dos mineradores trabalha com concentrações muito


altas de sílica livre, sendo obrigatória a realização periódica de exames de
132
Espectrometria e Raio X pulmonar em todos os trabalhadores, como
consta no item 7.4.2 da NR7.

5.1.5 Excesso de poeira mineral proveniente da extração

Existem dois métodos de perfuração: a perfuração a seco com


martelete, que é o método utilizado na maioria das minas e pode ser visto
na Figura 3 (a), e a perfuração a úmido, em que uma mangueira de água é
acoplada ao martelete, conforme a Figura 3 (b).

Figura 3 (a) - Método de perfuração a Figura 3 (b) - método de perfuração a


seco úmido

Foram realizados dois laudos relativos à poeira respirável dentro


das furnas durante a execução dos dois métodos. No laudo realizado em
25/11/2004, durante a perfuração a seco, encontraram-se concentrações de
60,6 mg/m³, enquanto que no realizado em 01/06/2005, durante a
perfuração a úmido, encontrou-se concentrações de 3,20 mg/m³. Ambos os
resultados ficaram acima do limite de tolerância, porém fica evidente que
o método de perfuração a úmido traz menos riscos à saúde do trabalhador,
uma vez que a concentração de poeira com sílica no ambiente de trabalho
é menor. Portanto, este é o método que deve ser utilizado, e que está de
acordo com o item 22.17.3.1 da NR22.

133
5.1.6 Utilização de veículos em desacordo com as normas de
segurança

Os veículos utilizados para a retirada de pedras e dejetos das minas


estão fora das normas de segurança. Os veículos utilizados deverão ser,
preferencialmente, movidos a óleo diesel e possuir sistema de filtragem do
ar aspirado pelo motor, sistema de resfriamento e lavagem de gás de
exaustão ou catalisador, conforme item 22.11.7 da NR22. Também
deverão ter equipamentos mínimos de segurança e condições de trafegar,
tais como faróis, lanterna traseira, sinal sonoro de ré acoplado ao sistema
de marchas, buzina, sinal de indicação de mudança do sentido de
deslocamento e espelhos retrovisores.

5.1.7 Falta de sinalização nas áreas de circulação de veículos e


pessoas

Conforme os itens 22.19.1 e 22.19.6 da NR22 todas as vias de


acesso e circulação das furnas devem ser bem sinalizadas indicando nos
cruzamentos e locais de ramificações principais as direções e saídas da
mina. Todas as minas visitadas apresentaram inadequação ou falta de
sinalização, conforme se observa na Figura 4.

Figura 4 (a) - Área de circulação de Figura 4 (b) - Área sem nenhuma


veículos e de pessoas no interior da sinalização
mina
134
5.1.8 Problemas de iluminação e instalações elétricas

Foram encontradas diversas irregularidades nas instalações


elétricas das furnas. Os níveis de iluminação no interior das galerias são
muito inferiores aos previstos no item 22.27.1.1 da NR22. Desta forma, os
responsáveis deverão fornecer equipamentos individuais de iluminação
para os trabalhadores ou instalar sistema de iluminação de emergência que
possa substituir a iluminação artificial principal em caso de falha no
fornecimento de energia, conforme o item 22.27.2 da NR22.
A maior parte dos garimpos tem instalações elétricas precárias, os
fios condutores de energia elétrica e os cabos instalados no teto da galeria
não são protegidos, podendo ocasionar acidentes por choque elétrico ou
explosões, devido ao contato da energia elétrica com os estopins utilizados
para detonação. As instalações elétricas deverão estar protegidas contra
impactos, água e influência de agentes químicos, a rede elétrica deverá ser
projetada antevendo blindagem, estanqueídade, isolamento, aterramento e
proteção contra falhas elétricas conforme consta do item 22.20.23 da
NR22.
De acordo com o item 22.20.30 da NR22 deverão ser atualizados
os documentos referentes ao projeto das instalações elétricas e os
respectivos programas e registros de manutenções. Os fios condutores de
energia elétrica e cabos instalados no teto de galerias deverão ser
protegidos de forma a evitar contatos acidentais.
A Figura 5 mostra problemas de iluminação e instalações elétricas
encontrados nas minas visitadas.

Figura 5 (a) - Baixo nível de Figura 5 (b) - ) Sistema elétrico


luminosidade no interior da mina desprotegido
135
5.1.9 Livre acesso de qualquer trabalhador às máquinas e aos
equipamentos

Deve-se proteger todas as partes móveis de máquinas e


equipamentos ao alcance dos trabalhadores e que lhes ofereçam riscos,
conforme item 22.11.10 da NR22. E, segundo o item 22.11.18 da mesma
norma, deve-se instalar sistema de duplo isolamento em todo equipamento
elétrico manual, exceto quando acionado por baterias.

5.1.10 Inadequado manuseio de explosivos e armazenamento


de materiais inflamáveis

A utilização de material explosivo deve ser efetuada por pessoal


devidamente treinado, respeitando-se as normas do Departamento de
Fiscalização de Produtos Controlados do Ministério da Defesa.
A larga utilização de pólvora e de materiais explosivos deve seguir,
além das instruções já citadas, o item 22.19.2 da NR22 que menciona que
as áreas sujeitas à ocorrência de explosões ou incêndios devem estar
sinalizadas, com indicação de área de perigo e proibição de uso de
fósforos, ou de outros meios que produzam calor, faísca ou chama e
proibição de fumar.
Os depósitos de explosivos deverão ser construídos, armazenados e
mantidos conforme regulamento do Ministério da Defesa, item 22.21 da
NR22.
Nas visitas realizadas constatou-se que a maioria das minas não
cumpre estas recomendações.

5.1.11 Programas de prevenção à saúde do trabalhador

Existem diversos programas que devem ser implantados nas furnas


pelos proprietários e responsáveis para garantir a saúde e segurança do
trabalhador, sendo o mais importante deles o Programa de Controle
Médico e Saúde Ocupacional - PCMSO, conforme estabelecido na NR7.

136
Deve ser implementado em todos os garimpos o Programa de
Gerenciamento de Riscos (PGR), contemplando cada uma das alíneas
constantes no item 22.3.7 da NR22, dando muita atenção às medidas de
proteção coletiva contra a exposição a poeiras (sílica livre), ventilação,
estabilidade dos maciços, desmonte de rochas, iluminação, instalação
elétrica, sinalização das vias de circulação e armazenamento de explosivos
e pólvoras.
Em virtude do uso de explosivos, deverá ser montado um Plano de
Fogo, sob a responsabilidade de um blaster, para as atividades de
desmonte de rochas com uso de explosivos, contando com participação do
supervisor técnico da mina. O blaster será responsável também pela
execução ou supervisão da execução, as operações de detonação e
atividades correlatas, segundo os itens 22.21.3 e 22.21.4 da NR22.
Tendo em vista que as atividades estão localizadas no subsolo,
deverá ser implantado um Projeto de Ventilação no interior da mina, de
forma a garantir o atendimento aos itens 22.24.1 e 22.24.2 da NR22, que
dizem que todas as minas deverão ter ventilação mecânica.
A Figura 6 mostra a precariedade dos equipamentos de ventilação
utilizados nos garimpos.

Figura 6 – Ventilador utilizado na perfuração a seco

137
Nesse sentido, pode-se destacar que todas as furnas deverão ter um
plano de emergência, de acordo com o item 22.32.1 da NR22, no qual
deverá constar os principais riscos de incêndios, explosões, desabamentos
e todas as demais situações de emergência.

5.1.12 Treinamento

Nas minas visitadas não existe nenhum tipo de treinamento para os


trabalhadores. Deverá ser realizado treinamento de segurança para os
operadores de carros, quanto ao transporte, movimentação de materiais e
locomoção no interior das furnas, seguindo o item 22.7.5 da NR22 e de
procedimentos de emergência, primeiros socorros, riscos existentes nos
ambientes de trabalho constantes no Programa de Gerenciamento de
Riscos e dos acidentes e doenças profissionais. Conforme item 22.35.1 da
NR22 este treinamento deverá ser periódico.
De acordo com o item 22.35.1 da NR22. Deverá ser realizado um
treinamento básico para a contratação de trabalhadores, no qual deverão
ser abordados: ciclo de operações da mina, equipamentos de proteção
individual, principais máquinas e suas funções, infraestrutura da mina,
distribuição de energia, regras de circulação de equipamentos e pessoas,
procedimentos de emergência, primeiros socorros e riscos existentes nos
ambientes de trabalho
Existem diversos treinamentos específicos que também deverão
ser ministrados, com o objetivo de fazer uma reciclagem periódica dos
trabalhadores que executam as operações e atividades, dentre os
treinamentos específicos, podem ser citados: perfuração manual; manuseio
de explosivos e acessórios; inspeções gerais da frente de trabalho;
abatimento de chocos e blocos instáveis; tratamento de maciços;
carregamento e transporte de material; transporte por arraste; operações
com guinchos e içamentos; manipulação e manuseio de produtos tóxicos
ou perigosos; outras atividades ou operações de risco especificadas no
Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), de acordo com o item
22.35.1.3.1 da NR22.

138
5.1.13 Outras disposições

Existem condições mínimas de trabalho que devem ser seguidas e


não foram constatadas nos garimpos visitados, tais como: manter local
destinado à refeição que atenda às condições de segurança, higiene e
conforto (item 22.37.3 da NR22); manter instalações sanitárias tratadas e
higienizadas destinadas à satisfação das necessidades fisiológicas,
próximas aos locais e frentes de trabalho (item 22.37.3 da NR22);
disponibilizar armários individuais para a guarda de roupa e objetos
pessoais (item 22.37.3 da NR22); fornecer água potável em condições de
higiene nos locais e postos de trabalho, sendo proibido o uso de
recipientes coletivos (item 22.37.4 da NR22); e manter material de
primeiros socorros no local de trabalho adequado aos riscos do ambiente
de trabalho, previstos no Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR)
(item 1.7 da NR1).

5.2 Incidência de silicose em trabalhadores nos garimpos de Ametista


do Sul

Grande parte dos garimpeiros trabalha com concentrações muito


altas de sílica livre, sendo a silicose umas das principais doenças
encontradas nessa classe de trabalhadores.
Segundo dados fornecidos pela COGAMAI (2008) 70% dos
garimpeiros não tem conhecimento sobre a silicose e não sabe que o
agente causador é a poeira mineral.
Foi realizado um levantamento de dados junto à Secretaria de
Saúde do Município de Ametista do Sul e uma entrevista com os
profissionais da medicina do município. Os resultados encontrados nos
prontuários médicos mostraram que 38% dos garimpeiros consultados tem
silicose e 62% não tem o diagnóstico da doença, mas apresentam algum
dos sintomas da mesma, que são: tosse, cansaço, falta de ar, dor no tórax e
chiado no peito, tendo em vista que o garimpeiro só procura o auxilio
médico após serem constatados os primeiros sintomas, e não faz exames
de prevenção.

139
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A maior parte das normas de prevenção de acidentes do


trabalhador não está sendo cumprida nos garimpos de Ametista do Sul,
pois não existe muito interesse por parte dos proprietários dos garimpos,
sendo que a principal justificativa são os altos custos de implantação das
normas de segurança. Os principais problemas encontrados nos garimpos
visitados são: ventilações ineficientes, fiações elétricas totalmente
inadequadas, sistema de perfuração inadequado, falta ou o não uso de EPIs
por parte dos trabalhadores, sistema de explosões sem nenhuma norma de
segurança e alta concentração de poeira mineral com sílica livre, que pode
causar a silicose, doença muito grave que atinge muitos garimpeiros desta
região.
Uma maneira de reduzir sua incidência é a substituição do método
de perfuração a seco, largamente utilizado, pelo método de perfuração a
úmido, que é menos prejudicial à saúde desses trabalhadores.
Atualmente, o Ministério Público Federal está ajustando um termo
de conduta com os garimpeiros para diminuir a falta de segurança e
melhorar as condições de trabalho do trabalhador. A fiscalização efetiva
para o cumprimento das normas de segurança do trabalho e o treinamento
contínuo dos garimpeiros em relação aos procedimentos de segurança no
trabalho são imprescindíveis para melhorar a situação dos trabalhadores
nas furnas de Ametista do Sul.

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