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FRUTICULTURA

SUMÁRIO Página

CAPÍTULO 1 – IMPORTÂNCIA ECONÔMICA DA FRUTICULTURA .................. 01

CAPÍTULO 2 - PROPAGAÇÃO DE ÁRVORES FRUTÍFERAS ................................ 12

CAPÍTULO 3 – MANEJO DO SOLO E IRRIGAÇÃO .................................................. 29

CAPÍTULO 4 - PODA DAS PLANTAS FRUTÍFERAS ................................................. 42

CAPÍTULO 5 - PRINCIPAIS PRAGAS E DOENÇAS EM FRUTICULTURA........... 48

CAPÍTULO 6 – COLHEITA, PÓS-COLHEITA E ARMAZENAMENTO.................. 108

CAPÍTULO 7 – PERDAS PÓS-COLHEITA DE FRUTAS............................................ 119

CAPÍTULO 8 – MERCADO E COMERCIALIZAÇÃO DE FRUTAS......................... 124

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................... 136


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CAPÍTULO 1 - IMPORTÂNCIA ECONÔMICA DA FRUTICULTURA


A cadeia da fruticultura está emergindo e sendo chamada no resto do mundo – e
também no Brasil – como a “indústria das frutas” e não mais “fruticultura”. Por quê? Se
hoje visitarmos um pecking house (as instalações onde são beneficiadas, por exemplo,
as maçãs no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina), verificaremos que são instalações
que já superaram a era da mecanização, e encontram-se na era da robotização. Irei
restringir a minha palestra à produção de frutas in natura devido ao tempo escasso mas,
por analogia, o que for abordado sobre as frutas frescas, refere-se também às frutas
secas, como as castanhas, além das polpas de frutas e os sucos.
O Brasil é hoje um dos três maiores produtores de frutas no mundo. Só perde
para a China e para a Índia. A produção brasileira superou 35 milhões de toneladas em
2005, o que representa 5% da produção mundial.
A fruticultura emprega hoje 5,6 milhões de trabalhadores, ou seja, 27% da mão-
de-obra agrícola. Para cada US$ 10 mil investidos, geram-se três empregos diretos
permanentes e dois empregos indiretos. A agricultura de exportação necessita de
recursos humanos qualificados e com conhecimento específico, em outras palavras,
oferece bons empregos.
A fruticultura está fundamentada em pequenas e médias propriedades e este
aspecto é extremamente importante para um país em desenvolvimento, onde se busca o
crescimento do setor rural, o aumento de renda e a fixação do homem à terra. Hoje um
produtor, produzindo frutas adequadas, na hora certa e de forma correta, tem uma
rentabilidade financeira suficiente não apenas para a sua sobrevivência, mas também
para a sua evolução socioeconômica e de sua família. Para se ter uma ideia, um produtor
de uvas sem sementes hoje, no Vale do São Francisco, pode conseguir com a sua
produção, em um hectare, renda bruta anual de US$ 20 mil.
A fruticultura está em constante evolução, sendo que a base agrícola deste setor
já ultrapassou os 2,3 milhões de hectares, gerando oportunidades de 2 a 5 postos de
trabalho na cadeia produtiva por hectare cultivado.
O Quadro 1 apresenta a produção de frutas no Brasil. Através dele, é possível se
verificar que a produção de citros mais a de banana, representam 77% da produção total
de frutas brasileiras. O país tem muito o que caminhar ainda.
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Fonte: Fernandes in 8º Congresso de Agribusiness


Apesar de serem produzidas frutas em todo o Brasil, frutas de clima temperado,
de clima sub tropical, frutas tropicais, de clima equatorial úmido, o grande consumo
deste produto ocorre na Região Sudeste brasileira que absorve 48,3% das frutas
produzidas no país. O estado de São Paulo consome os 25,53% da produção (Ilustração
1).
Este fenômeno é devido a dois fatores: o primeiro, é claro, pelo alto poder
aquisitivo, mas o outro motivo é extremamente importante: a fruticultura gera frutas,
frutas são alimentos e alimentos são consumidos proporcionalmente ao número de
pessoas. Consequentemente, há uma distribuição de consumo bastante concentrada
nesses grandes centros urbanos. Este aspecto é relevante para que haja competitividade
quando as frutas são produzidas longe desses centros de consumo. É preciso que se
cuide da logística para que se chegue aos mercados do Sudeste de forma competitiva.
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O Gráfico 1 apresenta a curva de evolução da exportação brasileira de frutas


frescas entre 1998 e 2000. Verifica-se que o Brasil chegou em 2005 com mais de 800
mil toneladas, equivalendo a US$ 440 milhões. E as perspectivas são de que, nos
próximos seis anos, o país atinja o patamar de 1 bilhão e 300 mil toneladas e ultrapasse
o patamar de US$ 1 bilhão, somente em frutas frescas.
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Com relação às exportações, o Gráfico 2 mostra que o Brasil exporta hoje para
55 países. Porém, gostaria de indagar: perante esse gráfico, qual é o país que mais
consome frutas frescas? É o Brasil? Colocamos esse gráfico para mostrar algumas
armadilhas da estatística e esta é uma delas. Realmente o maior mercado brasileiro hoje
é a Comunidade Europeia e a maior parte dos países que funcionam como entrada para
as frutas nacionais são dois: Inglaterra e Holanda. Porém, o maior consumidor de frutas
brasileiras e o qual temos mantido com muito carinho, é o alemão. Porque a maior parte
das importações alemãs são feitas indiretamente. Este é um viés que estamos
procurando modificar, porque se conseguirmos deixar essa intermediação por nossa
conta, iremos, além de uma melhor rentabilidade, termos um maior controle sobre
odestino das nossas frutas. Hoje é possível se encontrar melão na Rússia, cujo produtor,
o Rio Grande do Norte, nem imagina que seu produto esteja sendo vendido lá. É
necessário que passemos a controlar o destino e a forma como os produtos nacionais são
comercializados, pois precisamos valorizá-los. O alvo brasileiro para os próximos anos
não é nenhum desses países do Gráfico 2. Dentro dos próximos seis a oito anos, o futuro
grande mercado para as frutas brasileiras é o constituído pelos países árabes, os países
do Leste Europeu, os do Sudoeste Asiático, mais a China.
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O Quadro 2 lista as estrelas das exportações brasileiras. Verificarmos que, por


esta tabela, em termos de faturamento, a grande estrela brasileira é a uva de mesa
também seguida pelo melão. Mas, com relação ao volume exportado, a banana é a
vedete, seguida também pelo melão. Estamos vivenciando uma nova estratégia da
fruticultura de exportação, ou seja, a substituição de frutas de menor valor agregado
pelas de maior valor agregado, o que permite que seja alcançado maior faturamento com
menor volume de produção. Para se ter uma ideia, a uva sem semente produzida hoje no
Vale do São Francisco, está valendo na cotação de ontem em Rotterdam, cerca de US$
3.200 a tonelada o que não é nada ruim.

O crescimento da fruticultura nacional


Alguns indicadores dos gráficos anteriores mostravam o crescimento médio
anual da fruticultura desde 1998 a patamares de 32%, em volume exportado, e 42% em
valor. Se olharmos a avaliação de 2005 a 2004, verificaremos que esse crescimento não
foi brilhante, mas isso não deve nos preocupar, porque a fruticultura, como qualquer
outra atividade agrária, é um negócio de risco. E, normalmente, a maior parte das frutas
provêm de plantios perenes e tem ocorrido, durante estes últimos dois/três anos,
problemas bastante sérios de adversidades climáticas. Há três anos a maçã não consegue
alcançar seu potencial de produção no Rio Grande do Sul por causa de secas, e agora
por conta do granizo. O Vale do São Francisco inundou onde não chovia. Aconteceram
problemas com a uva relacionados a chuvas fora do tempo. A consequência é que foram
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obtidos, em 2005, menos 3% em volume (827,7 mil toneladas), em comparação com o


ano de 2004. Porém, houve um aumento de 19,5% em valor (US$ 440,1 milhões) que é
justamente o diferencial de valor agregado que estamos considerando.
O saldo da Balança Comercial de Frutas Frescas é crescente (US$ 315 milhões
em 2005). É evidente que a valorização do Real está desfavorecendo a fruticultura de
exportação como qualquer outro setor. Mas a fruticultura brasileira está começando a
mudar seu posicionamento negocial com uma nova filosofia de que não devemos mais
nos abater contra as adversidades, mas sim tentar contorná-las. Realmente, é com ações
pró-ativas e procurando-se conhecer melhor os mercados externos, suas atitudes e
costumes e também sabendo como negociar com cada um dos povos, inclusive com o
nosso – que precisa ser negociado para consumir mais frutas –, que teremos dias
melhores.
O Gráfico 3 apresenta as perspectivas do comércio exterior até 2008. Verifica-
se, pela cor mais escura, o crescimento médio anual do mercado internacional de frutas
como a maçã, o papaia, o melão, a manga, etc. E na cor mais clara, o crescimento médio
anual esperado para as exportações das frutas brasileiras. Constata-se que há
perspectivas de crescermos – ou de aumentarmos as nossas exportações – acima do
crescimento médio do comércio internacional. Isto significa que estamos ganhando
share de mercado e não exportando mais porque existe um mercado crescente, o que
não é verdade.
O mercado europeu, por exemplo, já há alguns anos, está saturado em termos de
consumo per capita de frutas e a única forma de conseguirmos nele entrar é com a
diferenciação, exportando para lá frutas diferentes, frutas brasileiras e tropicais. A nossa
estrela deverá continuar sendo a uva. Neste ano de 2006, já mais da metade dos
parreirais de uva de mesa para a exportação do Vale do São Francisco são de variedades
sem sementes. O produtor brasileiro está reagindo rapidamente às demandas do
mercado internacional. Hoje os melões – que inclusive estão disponíveis nos
supermercados brasileiros – são tão diferenciados que é até difícil reconhecê-los.
Conhecíamos o velho melão valenciano amarelo, e hoje o Brasil está
exportando melões nobres de todas as variedades demandadas e apreciadas no mercado
internacional.
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Peculiaridades do comércio exterior da fruticultura


Vamos agora entender um pouco o comércio exterior, que é muito falado, mas
que para a fruticultura existem uma série de peculiaridades que merecem ser tratadas e
discutidas. Como indicador referencial, a produção mundial de frutas hoje é de
aproximadamente 633 milhões de toneladas (em 2005). Qual é o destino dessa
produção? Cerca de 91,5% permanece nos mercados domésticos, ou seja, a maior parte
da produção de frutas são consumidas nos países onde são produzidas. O mercado
internacional de frutas representa apenas de 8,5% a 9% da produção. Nos mercados
externos, 30% vão para a industrialização e 70% para o mercado in natura. No Brasil, se
for feita essa análise, ela não baterá muito bem, porque grande parte de nossa produção
de laranja vai para produção de suco. Mas, se desconsiderarmos este case, verificaremos
que a regra também se aplica ao nosso país. Portanto, o comércio internacional
apresenta um volume de 53,7 milhões de toneladas, e o valor é de aproximadamente
US$ 31,5 bilhões.
As características estruturais são interessantes para a fruticultura (Gráfico 4).
Dentro do comércio internacional existem dois tipos de mercados: os de proximidade,
que hoje equivalem a 24,8 milhões de toneladas; e os mercados de longa distância, que
representam 28,9 milhões de toneladas. Infelizmente, o Brasil não tem muitos mercados
de proximidade. Os nossos mercados de proximidade se resumiriam aos nossos vizinhos
territoriais, que não compram muito os nossos produtos. Assim, os grandes mercados de
proximidade são entre os países compradores do Hemisfério Norte, do Canadá para os
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Estados Unidos; dos Estados Unidos para o Canadá; da Alemanha para a França; da
França para a Espanha; e, consequentemente, se fecham as nossas perspectivas de
entrada. O que nos resta? Os mercados de longa distância, que se subdividem em apenas
um mercado, o de banana. Só a banana representa 29,6% da comercialização mundial de
frutas, o que explica a famosa “guerra das bananas”, para a conquista desse mercado,
que não é nada desprezível. As frutas exóticas e tropicais representam somente 8,4%.
Assim, temos que nos concentrar nos mercados de contra-estação, que
representam 15,8%. Que mercados são esses? Na Europa, quando começa a esfriar, não
há mais disponibilidade de frutas, sendo necessário importá-las, se a população quiser
continuar comendo frutas. Por exemplo, a Espanha hoje é o maior produtor do mundo
de melões mas, paradoxalmente, é o nosso maior importador do produto na Europa,
justamente nos meses mais frios, ou seja, em novembro, dezembro e uma parte de
janeiro.
As uvas que estamos exportando, além de uma série de outras frutas, como a
maçã são produtos de contra-estação. Salvo a manga, as nossas estrelas de exportação
têm como estratégia buscar esse mercado de contra-estação. Por quê? Porque são
produtos normalmente já conhecidos naqueles mercados, como a uva e a maçã não
sendo necessário se investir em marketing, em promoção de forma substancial para que
as pessoas se acostumem com essas frutas. Isso já não acontece com as frutas tropicais,
apesar de termos um mercado de 8,4%, e sermos hoje o terceiro exportador mundial de
manga e o primeiro de mamão papaia. O Brasil tem 70% do mercado europeu em suas
mãos, mas ele consome pouco e precisamos ensiná-los a consumir melhor. Para isso,
precisamos aperfeiçoar nossos sistemas de promoção e nossas estratégias de divulgação
das frutas brasileiras.
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Oportunidades
O Brasil tem um grande potencial de crescimento no setor da fruticultura com o
aumento, por exemplo, do cultivo de melões nobres (outras variedades); de frutas
orgânicas – se há um país que poderá realmente abastecer, não só o Brasil, como todo o
mundo, com frutas orgânicas, esse país chama-se Brasil, não tenham dúvidas sobre isso.
Outro fator de indução desse crescimento será o aumento do cultivo de uvas sem
sementes, que hoje predominam no mercado americano; com as uvas sem sementes
voltamos também a comercializar e a vender frutas para os Estados Unidos. Há também
a possibilidade de habilitação de mais packing houses para mangas, ou seja, sistemas de
manipulação de frutas para mangas. Não sei se todos sabem mas, para vendermos para o
Japão, para os Estados Unidos, os exportadores de manga têm que fazer um tratamento
quarentenário que pressupõe colocar a manga em temperatura de 58ºC durante tantos
minutos. Então, por favor, não comam manga nos Estados Unidos ou no Japão porque
elas já estão meio cozidas. Mas é o único jeito de se vender.
Precisamos mudar este tipo de mentalidade através de negociações
internacionais, porque não vamos matar nenhuma criancinha vendendo manga tirada do
pé. Mais uma oportunidade de crescimento do setor é a expansão do cultivo de banana
no Rio Grande do Norte e no Ceará, com qualidade e logisticamente mais competitiva.
Os grandes produtores de banana estão vindo para o Brasil, aliás, já estão aqui e os
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estados para exportarmos para a União Européia chamam-se Rio Grande do Norte e
Ceará. Por quê? Os custos de produção são menores e, consequentemente,
logisticamente estão mais perto da Europa, que recentemente abriu um mercado para a
banana e todos agora deverão concorrer em igualdade de condições, desde que paguem
E$ 176 por tonelada. Mas como são todos, creio que teremos vantagens.
Outro fator é o aumento das áreas certificadas de mamão no Nordeste, que vão
nos permitir entrar nos Estados Unidos que são, sem sombra de dúvidas, o maior
mercado de papaia. Outras frutas, a médio prazo, poderão entrar nos Estados Unidos
como o limão, as laranjas e as tangerinas. Obviamente, o Brasil pode aumentar a
produção de frutas o quanto quiser. Existem também oportunidades em novos
mercados, como, por exemplo, o Leste Europeu, países árabes, Sudeste Asiático e
China.
A potencialidade de aumento de competitividade internacional é real, mas temos
muito a melhorar em termos de custos e podemos melhorar nossa competitividade mais
ainda. Para se ter uma ideia, se considerarmos o custo “SIF” da uva sem semente
colocada no mercado de Rotterdam, com os economistas fazendo detalhamento da
planilha de custos, verificar-se que 80% dos custos provêm do custo de produção e de
embalagem, ou seja, se me derem o transporte de graça, ótimo, porque o meu problema
está com a produção e com as embalagens.
Barreiras e dificuldades
Não são poucas as barreiras que dificultam a expansão da competitividade da
fruticultura brasileira. Os custos de produção altos e pouca tradição no mercado
internacional estão entre elas. Normas e exigências diferentes são mais outras barreiras.
As diversidades de exigências são realmente significativas, não só as advindas das
legislações agro-alimentares, como agora, mais modernamente, as dos compradores e
consumidores.
Quem pretende exportar para determinada rede de supermercados precisa
cumprir os requisitos exigidos. Outra barreira enfrentada pela fruticultura é a baixa
capacitação dos pequenos produtores, apesar de o setor estar fundamentado em
pequenas propriedades, há muito o que se fazer para transformá-los de produtores em
empresários, porém é um trabalho gigantesco.
Mais uma dificuldade é a ausência de sistemas de organização competitivos para
a comercialização. Este é realmente o nosso grande “calcanhar de Aquiles”: sabemos
produzir, sabemos beneficiar, mas, na hora de comercializar, somos extremamente
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individualistas e não temos a mínima capacidade de organização. Precisamos melhorar


porque, de repente, alguém liga informando que chegaram dez contêineres juntos, ou
dez navios com contêineres de manga em Rotterdam, por exemplo, e ninguém soube. E
o que acontece na prática? Exatamente o que os intermediários querem: o preço vai lá
para baixo e os produtores vão receber talvez até menos do que o custo de produção que
eles tiveram.
O conhecimento insuficiente dos mercados e nichos é outra barreira bastante
importante e hoje é fundamental este conhecimento. Os nichos estão muito relacionados
com produtos diferenciados. Atualmente, para se ganhar mercados, existem três
alternativas no setor de fruticultura: produzir mais barato, o que não é muito fácil;
produzir com a mesma, ou com uma melhor qualidade que os demais, que também é
complicado; e, a terceira, competirmos com produtos diferenciados e é exatamente por
este caminho que iremos atingir nichos em outros segmentos.
Continuando a relacionar as dificuldades, é preciso haver uma análise
empresarial para a competitividade, além do aumento da concentração dos agronegócios
no mercado interno e externo. É uma realidade a fusão das grandes empresas, é um fato
com o qual temos que começar a conviver e traçar estratégias porque veio para ficar. E,
finalmente, a existência de barreiras fitossanitárias e também o baixo consumo de frutas
comercializadas no Brasil. É preciso se consumir mais frutas. Finalizando, se eu
perguntar a cada pessoa se considera as frutas um alimento, creio que unanimamente a
resposta será afirmativa. Porém, na prática não é o que acontece. O brasileiro considera
a fruta não como um alimento principal, mas sim como um complemento. Se o
Joãozinho passar na fruteira e pegar uma maçã antes do almoço, provavelmente, sua
mãe irá dizer: “coloque esta fruta aí na fruteira porque, senão, você não almoça,
Joãozinho”. E depois ele vai comer uma feijoada ou uma rabada, coisa leve!
Então, para nós brasileiros as frutas ainda são um complemento alimentar.
Existem muitos fatores que dificultam, falácias, preconceitos, como, por exemplo, “não
se pode dar abacaxi para crianças porque dá aftas”. Alguém já viu frutas tropicais na
fruteira de uma mãe que acabou de ter neném? Não, apenas algumas frutas mais
conhecidas tradicionalmente. Eu mesmo venho de um berço onde meus avós sempre me
ensinaram que “chupar laranja de manhã é ouro, à tarde é prata, e à noite mata”.
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CAPÍTULO 2 – PROPAGAÇÃO DE ÁRVORES FRUTÍFERAS


Para se perpetuarem, as espécies se multiplicam. Os vegetais superiores
multiplicam-se naturalmente por duas vias: pelo ciclo sexuado e assexuado. No ciclo
sexuado, também denominado de ciclo reprodutivo a multiplicação ocorre pela união do
gameta masculino (grãos de pólen) com o gameta feminino (oosfera) gerando um
embrião que está presente nas sementes.
Nesse processo há recombinação genética, ocorrendo variabilidade no genoma.
Por essa razão, a nova planta que se origina da germinação da semente é denominada
indivíduo, pois será geneticamente diferente da planta matriz. Pelo ciclo assexuado
também denominado vegetativo, a nova planta gerada é oriunda de estruturas
vegetativas (propágulos) como brotos, e nesse caso não ocorre recombinação genética,
ou seja, elas possuem a mesma carga genética da planta matriz.
Essas novas plantas são denominadas clones, que são cópias perfeitas, ou seja,
geneticamente iguais à planta que lhe deu origem. Em fruticultura, que é uma atividade
com enorme potencial de crescimento, o Brasil encontra-se em posição privilegiada em
decorrência da extensão territorial, posição geográfica e condições de clima e solos, que
permite a produção de uma grande diversidade de frutas, em diferentes regiões, o ano
inteiro.
Nesse aspecto, a produção de mudas ou a multiplicação de plantas controlada
pelo homem representa um dos requisitos de maior importância para o sucesso
econômico da implantação de um pomar. Como a maioria das espécies frutíferas são
plantas perenes, que produzem por um longo período, é de suma importância que as
mudas sejam de qualidade, pois terão influência direta na produtividade e rentabilidade
do empreendimento agrícola.
Diversas técnicas são utilizadas na produção de mudas de árvores frutíferas. O
desenvolvimento dessas técnicas permite que as mudas sejam obtidas com as mesmas
características da planta que se deseja multiplicar, o que garante a uniformidade das
mesmas em campo.
Como cada espécie apresenta uma particularidade, é necessário conhecer suas
formas de propagação e, assim, utilizar o melhor método para formação das mudas. A
produção de mudas de árvores frutíferas pode ser realizada pelo uso de sementes, cujas
plantas originárias não serão idênticas. É bastante utilizada na produção de porta-
enxertos de algumas espécies, em árvores silvestres que ainda não possuem cultivares
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melhoradas e em algumas fruteiras que apresentam vantagens na produção de mudas


como maracujazeiro, mamoeiro e coqueiro. Porém, os métodos mais adequados para se
produzir mudas de plantas frutíferas são os propagativos, pois eles garantem à nova
planta as características desejáveis da planta matriz.
Razões do uso da propagação
A propagação deve ser utilizada para:
• Manter as características da variedade que se deseja propagar, como produção e
qualidade dos frutos e homogeneidade entre as plantas;
• Multiplicar em larga escala uma única planta, selecionada como planta matriz;
• Combinar duas espécies para formar uma só planta, pelo uso do método de enxertia;
• Produção precoce de frutos por evitar a fase juvenil da planta, devendo-se selecionar
propágulos de plantas adultas;
• Produção de mudas de espécies em que a propagação é o único meio de multiplicação.
Como exemplo, temos a bananeira, cujo método de propagação é por meio de rizomas.
Outras espécies como a lima ácida tahiti, laranja-de-umbigo e figueira também
dependem de alguma técnica de propagação, pois as sementes que produzem não são
viáveis;
• Multiplicar espécies em que a propagação é mais fácil, rápida e econômica.
Métodos de propagação
Os principais métodos de propagação, que proporcionam a clonagem de plantas
com características desejáveis são: estaquia, alporquia, mergulhia, enxertia e estruturas
especializadas. O que vai definir a escolha de um ou outro método será a adaptação e
facilidade de formação de mudas em cada espécie.
Um dos principais fatores para o sucesso na produção de mudas, por meio da
propagação, é a escolha da planta matriz que deve ser representativa da variedade, ter
boa sanidade, ou seja, sem pragas e doenças, ser produtiva e esteja sendo conduzida
com todos os tratos culturais recomendados para a cultura, principalmente adubação e
irrigação.
A seleção adequada do material vegetativo que será retirado da planta matriz, o
substrato, a disponibilidade de água e as condições apropriadas de luz, aeração,
temperatura e umidade são elementos fundamentais para o sucesso de qualquer método
de propagação que se deseja utilizar.
Estaquia
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A estaquia é um método de propagação simples que consiste na retirada e


utilização de partes da planta matriz que deseja-se propagar. Esse método consiste na
capacidade de regeneração dos tecidos da estaca e emissão de raízes adventícias e
brotações. Pode ser utilizada na produção direta de mudas ou para a produção de porta-
enxertos. As estacas, ou seja, partes da planta podem ser obtidas de órgãos aéreos ou
subterrâneos, tais como, folhas, ramos e raízes.
Tipos de Estacas
A preferência por um ou outro tipo de estaca irá depender da espécie, da
facilidade de enraizamento e da infraestrutura do local. Em fruticultura, as estacas de
ramos com pelo menos uma gema, são as mais utilizadas, pois precisam apenas formar
novas raízes adventícias visto que já possuem um ramo em potencial, a gema. Com
exceção de algumas espécies como figo da índia e framboesa, as estacas de folhas e de
raízes, não são utilizadas na produção comercial de mudas de espécies frutíferas (Figura
1).

Figura 1: Tipos de estacas


São diversos os fatores que afetam o enraizamento das estacas de ramos, tais
como: condições fisiológicas da planta matriz, juvenilidade, condições do ambiente de
enraizamento, posição e graus de lignificação dos ramos. Quanto ao grau de
lignificação, pode-se classificar as estacas de ramos em herbáceas, semilenhosas ou
lenhosas (Figura 2).
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As estacas herbáceas são aquelas cujos tecidos não estão lignificados, ou seja,
estão com tecidos tenros e de coloração verde. São retiradas da parte apical dos ramos
no período de primavera/verão, épocas em que ocorrem os fluxos de crescimento
vegetativo. Como é um material sensível à desidratação, a coleta deve ser feita
preferencialmente pela manhã. As folhas (inteiras ou pela metade) devem ser mantidas.
A função da manutenção das folhas é a continuação do processo fotossintético
que fornecerá fotoassimilados tanto para a manutenção da estaca, quanto para a
formação das raízes. A utilização de estacas herbáceas é muito utilizada na produção de
mudas de goiabeira.
Estacas semilenhosas são obtidas de ramos parcialmente lignificados, após o
mesmo ter completado seu crescimento. Para enraizar, essas estacas ainda com folhas,
devem ser mantidas, assim como as estacas herbáceas, em ambiente com umidade
relativa alta para reduzir a perda de água pelas folhas. É bastante utilizada na
propagação de algumas espécies tropicais e subtropicais.
As fruteiras que perdem as folhas no outono (caducifólias), como figo e uva, por
exemplo, apresentam seus ramos lenhosos com boa capacidade de enraizamento. As
estacas são obtidas de ramos lenhosos, bastante lignificados, sem folhas, com idade
superior a um ano, sendo coletadas geralmente no período de dormência da planta
(inverno).
A propagação com esse tipo de estaca é mais fácil e mais barata, pois são mais
resistentes e não exigem ambiente com controle de temperatura e umidade.

Figura 2 - Graus de lignificação de ramos de seriguela


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Após a coleta das estacas da planta matriz, faz-se o preparo das mesmas,
colocando-as para enraizar em substrato adequado que possua boa capacidade de
retenção de água, drenagem satisfatória e esteja livre de patógenos de solo, planta
daninha e nematóide. Um dos principais substratos utilizados para o enraizamento de
estacas é a vermiculita.
Nessa etapa é importante garantir que o substrato esteja bem aderido à estaca.
Então se faz uma leve compactação do substrato ao redor das estacas, para evitar a
permanência de bolsões de ar, que impeçam a aeração na base das mesmas. É
importante lembrar que para algumas espécies frutíferas o uso de reguladores vegetais
auxilia no enraizamento, principalmente os produtos com ação auxínica comercializados
no mercado com os nomes de ácido indolbutírico (AIB) e ácido naftalenoacético
(ANA).
Por apresentarem difícil diluição em água, esses produtos podem ser dissolvidos
em solução alcoólica ou hidróxido de potássio para serem aplicados na forma líquida ou
misturados em talco para serem aplicados em pó. Depois de prontas, as estacas são
levadas para ambientes propícios ao enraizamento.
Ambiente para enraizamento
Devido à evapotranspiração, estacas semilenhosas e herbáceas requerem
instalações com sistema de nebulização intermitente, que permite a emissão de
pequenas gotículas de água, de tempo em tempo, mantendo a superfície das folhas
molhadas. No caso de estacas lenhosas, essas instalações não são necessárias, podendo
ser colocadas em canteiros de areia ou saquinhos contendo substrato com no máximo
uma tela de sombreamento para evitar os efeitos do excesso de radiação solar e chuva
(Figura 3 a, b, c).
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Figura 3 - Nebulizador com alta umidade relativa (a); canteiros de areia com
estacas lenhosas (b e c).
Alporquia
A alporquia é um método de propagação em que se faz o enraizamento de um
ramo ainda ligado à planta matriz (parte aérea), que só é destacado da mesma após o
enraizamento.
O método consiste em selecionar um ramo da planta, de preferência com um ano
de idade e diâmetro médio. Nesse ramo, escolhe-se a região sem brotação e faz-se um
anelamento, de aproximadamente dois centímetros, retirando toda a casca (floema) e
expondo o lenho. Depois disso, deve-se cobrir o local exposto com substrato
umedecido, a base de fibra de coco e envolvê-lo com plástico, cuja finalidade é evitar a
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perda de água, amarrando bem as extremidades com um barbante, ficando com o


aspecto de um bombom embrulhado. Os fotoassimilados elaborados pelas folhas e as
auxinas pelos ápices caulinares deslocam-se pelo floema e concentram-se acima do
anelamento, promovendo a formação das raízes adventícias nesse local. Recomenda-se
que a alporquia seja feita de preferência na época em que as plantas estejam em plena
atividade vegetativa, após a colheita dos frutos, com o alporque mantido sempre úmido.
A separação do ramo que sofreu alporquia da planta matriz, depende da espécie
e da época do ano em que foi feito o alporque. Após a separação, o ramo enraizado é
colocado num saco plástico contendo substrato e mantido à meia sombra até a
estabilização das raízes e a brotação da parte aérea. Quando isso ocorrer, as mudas
estarão prontas para serem plantadas no campo.
A alporquia é utilizada na propagação de muitas espécies frutíferas, e um
exemplo do sucesso do método ocorre na cultura da lichia.
Mergulhia
A mergulhia é um método de propagação semelhante à alporquia. A única
diferença é que na mergulhia, o enraizamento do ramo ainda ligado à planta matriz
ocorre no solo (Figura 4).

Figura 4 - Mergulhia natural em cajueiro/ Natal-RN


Assim como ocorre no processo de alporquia, na mergulhia a planta a ser
formada fica unida a planta matriz até o enraizamento. A mergulhia é feita no solo, vaso
ou canteiros, quando os ramos das espécies são flexíveis e de fácil manejo. O método de
mergulhia consiste em enterrar partes de uma planta, como ramos, por exemplo, com o
objetivo de que ocorra o enraizamento na região coberta. É um processo usado na
obtenção de plantas que dificilmente se propagariam por outros métodos.
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O enraizamento ocorre devido ao acúmulo de auxinas (hormônios endógenos)


pela ausência de luz na região enterrada ou coberta, que promove a formação das raízes
adventícias e também pelo aproveitamento do fornecimento contínuo de água e
nutrientes da planta matriz.
É muito importante que o local para a realização da mergulhia esteja isento de
patógenos, pois como é utilizado o solo para o enraizamento, há sempre o risco de
contaminação das novas plantas por doenças e/ou pragas. A mergulhia é um método
bastante utilizado na obtenção de porta-enxertos de macieira, pereira e marmeleiro.
Tipos de mergulhia
Há vários tipos de mergulhia, mas em fruticultura utiliza-se principalmente a
mergulhia de cepa, também chamada de amontoa.
Mergulhia de cepa
A mergulhia de cepa é muito utilizada na produção de porta-enxertos de
macieira. Inicialmente faz-se uma poda drástica da planta matriz do porta-enxerto,
deixando somente uma pequena parte do tronco, chamada de cepa. Essa poda irá
favorecer a emissão de inúmeras brotações jovens a partir da cepa. Após o
desenvolvimento dessas brotações, realiza-se a amontoa com terra, cobrindo a parte
inferior das mesmas.
Será nessa região enterrada que irá ocorrer o enraizamento de cada brotação
individualmente. Após o enraizamento, cada brotação será destacada da planta matriz,
formando um novo porta-enxerto. A planta matriz do porta-enxerto será novamente
podada drasticamente para iniciar um novo ciclo de produção, podendo ser utilizada por
muitos anos, dependendo de como as plantas são cuidadas.
Enxertia
A enxertia é um método de propagação que consiste em unir partes de plantas,
de tal maneira, que continuem seu crescimento como uma só planta. A parte superior
que formará a copa da nova planta recebe o nome de enxerto ou cavaleiro e a parte
inferior que formará o sistema radicular recebe o nome de porta-enxerto ou cavalo.
Cada uma das partes possui suas características próprias. O porta-enxerto tem a
função de dar suporte mecânico à planta, retirar água e nutrientes do solo, e em muitos
casos beneficiar a copa pela resistência a pragas e doenças de solo, seca ou a solos
encharcados. O enxerto ou copa é responsável pela fotossíntese que irá alimentar toda a
planta para a produção.
20

A enxertia deve ser realizada para propagar espécies que não podem ser
facilmente multiplicadas por outros métodos, para obter benefícios do porta-enxerto,
mudar a cultivar copa em plantas adultas (sobreenxertia) ou substituir o porta-enxerto
(subenxertia).
O sucesso da cicatrização entre as partes após a prática da enxertia dependerá da
espécie que se estará trabalhando; da habilidade do enxertador; da atividade fisiológica
do enxerto e do porta-enxerto; das condições a que as plantas serão submetidas durante
e após a enxertia; dos problemas de pragas e doenças e da incompatibilidade que possa
ocorrer entre as partes.
É importante destacar também que existem alguns limites na enxertia
relacionados à combinação copa e porta-enxerto. A maior facilidade da enxertia ocorre
entre plantas de um mesmo clone, aumentando o grau de dificuldade à medida que se
enxertam diferentes cultivares da mesma espécie, diferentes espécies e diferentes
gêneros.
O sucesso da enxertia intergenérica (entre gêneros) é bastante limitado, sendo
conhecidos alguns casos como o de pereira sobre marmeleiro, por exemplo. Em
fruticultura não se conhece sucesso de enxertia entre plantas de famílias botânicas
diferentes.
Tipos de enxertia
São três os tipos de enxertia: borbulhia, garfagem e encostia. No primeiro caso,
o enxerto é uma borbulha, ou gema; no segundo, um pedaço de ramo ou garfo destacado
da planta matriz com uma ou mais gemas e no terceiro, a união de duas plantas inteiras.
Borbulhia
A borbulhia consiste na justaposição de uma única gema sobre um porta-enxerto
enraizado. Embora haja vários tipos de borbulhia, serão descritas as formas em “T”
normal, “T” invertido, placa ou janela aberta e janela fechada. Cada denominação varia
em função do tipo de corte efetuado e na forma de fixação das gemas (borbulhas) no
porta-enxerto (Figura 5).
21

Figura 5 - Borbulhia “T” normal (a); Borbulhia “T” invertido (b); Borbulhia em
placa ou janela aberta(c); Borbulhia janela fechada (d). Fonte: Adaptado de
Hartmann et al. (2002)
As borbulhias em “escudo” e em “T” referem-se a uma mesma técnica (“T”
designa a aparência do corte no cavalo, onde a gema será introduzida e o “escudo”
refere-se ao formato dessa gema). O corte em “T” no porta-enxerto é feito abrindo uma
incisão transversal e outra longitudinal, onde será inserida a borbulha. A borbulha é um
fragmento de forma triangular, retirada da planta matriz após o corte do ramo que a
contém, também chamado de ramo porta-borbulha. Esse fragmento deve ter dimensões
proporcionais ao corte em “T” efetuado no porta-enxerto.
Com a ponta do canivete de enxertia, abre-se a região da casca abrangida pelas
incisões, levantando-a para inserção da borbulha que é introduzida com a gema voltada
para o lado externo. Em seguida, deve-se amarrá-la de cima para baixo, com o auxílio
de um fitilho plástico ou fita biodegradável. Toda essa operação deve ser rápida, para
que não ocorra ressecamento das regiões de união dos tecidos ou cicatrização dos cortes
antes que ela seja finalizada.
O “T” invertido é muito parecido, apenas o sentido do corte que o difere do
anterior, sendo o corte horizontal feito na extremidade inferior do corte perpendicular
do porta-enxerto. O escudo retirado da planta matriz agora tem sua base invertida. O
objetivo da variação na técnica é evitar a infiltração de água na região da enxertia. É
importante observar que a posição da borbulha não muda. A amarração do escudo deve
iniciar-se de baixo para cima no porta-enxerto. A facilidade operacional é maior, além
de impedir o acúmulo de água nos cortes, por isso é o tipo mais utilizado quando
22

comparado ao corte em “T” normal. O “T” invertido é amplamente utilizado por


viveiristas, principalmente os produtores de mudas de citros.
Na produção de mudas de pessegueiro pode-se utilizar o método de borbulhia
por janela aberta ou placa, onde a gema é retirada da variedade copa com um segmento
retangular e encaixada num porta-enxerto previamente preparado com a mesma
abertura. São feitos dois cortes perpendiculares paralelos e outros dois transversais,
formando um retângulo. O pedaço da casca é retirado, com o auxílio de um canivete.
Toma-se o cuidado para que os dois retângulos sejam de tamanhos bem próximos.
Depois o escudo encaixado é amarrado com fitilho plástico ou fita biodegradável,
sempre deixando a gema do pessegueiro exposta, pois ela é muito sensível e pode se
quebrar.
Na borbulhia tipo janela fechada, o corte da copa deve permitir a abertura da
casca em duas partes, como as folhas de um portão, que serão fechadas sobre a borbulha
após sua inserção. Duas incisões transversais e paralelas são feitas no porta-enxerto, e
um corte perpendicular une as duas pelo ponto central de seu comprimento. Levanta-se
a casca entre os cortes e a borbulha retangular semelhante à janela aberta é introduzida,
ficando em estreito contato com os tecidos internos do caule. A casca deve ser fechada
contra o escudo e amarrada com fitilho plástico, aumentando o contato entre os tecidos.
Garfagem
Garfagem é um método de enxertia que consiste na retirada e transferência de
um pedaço de ramo da planta matriz (copa), também denominado garfo, que contenha
uma ou mais gemas para outra planta que é o porta-enxerto. Embora haja várias
denominações, os tipos mais comuns de garfagem são: meia-fenda, fenda cheia; fenda
dupla, fenda lateral, inglês simples e inglês complicado (Figura 6).
23

Figura 6 - Garfagem fenda cheia (a); Garfagem meia fenda (b); Garfagem inglês
simples (c); Garfagem inglês complicado (d). Fonte: Adaptado de Hartmann et al.
(2002)
Na garfagem em meia fenda, o garfo é cortado em bisel duplo. O porta-enxerto
é cortado transversalmente, fazendo-se, em seguida, uma incisão igual a largura do
bisel. Aprofunda-se a incisão para baixo, por meio de movimentos com o canivete de
enxertia, então introduz-se o garfo na fenda, de tal modo que as camadas das duas partes
fiquem em contato em pelo menos um dos lados. Esse tipo de garfagem é utilizado
quando os garfos são de diâmetros diferentes do porta-enxerto, sendo necessário que
pelo menos um dos lados esteja em contato com os tecidos para que ocorra o processo
de cicatrização e sobrevivência do enxerto.
Já na garfagem em fenda cheia, a obtenção do garfo é idêntica ao caso anterior.
O porta-enxerto é cortado transversalmente à altura desejada, praticando-se em seguida
uma fenda cheia, do mesmo tamanho do garfo que será introduzido nessa fenda, de
maneira que os dois lados desse garfo coincidam por completo com o diâmetro do
porta-enxerto. Para a prática da enxertia por inglês simples é necessário que o garfo e o
porta-enxerto tenham o mesmo diâmetro. Corta-se o porta-enxerto a uma altura
conveniente do solo, talhando-o em um bisel simples enquanto o garfo também é
cortado em bisel, exatamente para encaixar no porta-enxerto, a fim de que possam
coincidir em toda sua extensão.
24

A garfagem por inglês complicado é realizada como no caso anterior, mas com
um encaixe mais perfeito. Coloca-se a lâmina do canivete um pouco acima do meio do
bisel do porta-enxerto e, a partir deste ponto, em sentido longitudinal e paralelo ao eixo,
fende-se o próprio cavalo, até que a fenda atinja o nível da base do seu bisel.
Faz-se o mesmo no bisel do enxerto. Então encaixa-se o garfo no porta-enxerto,
tomando o cuidado de fazer com que as cascas de ambos se coincidam. Os instrumentos
utilizados para a prática da garfagem são tesoura de poda e canivete.
Após a realização da garfagem, é importante amarrar bem forte o garfo no porta-
enxerto para manter as partes perfeitamente unidas. Depois, cobre-se o enxerto com um
saquinho plástico, os mesmos utilizados para sorvetes, para evitar que ocorra perda ou
infiltração de água na região de enxertia.
Quando iniciar a brotação do enxerto, retira-se o saquinho plástico o que deve
ocorrer por volta de 30 dias, dependendo da espécie. Já o fitilho plástico será retirado
após 60 dias, para garantir a união das partes enxertadas. Então é só esperar o
desenvolvimento da brotação para que as mudas possam ser plantadas em campo.
Encostia
A encostia é um método de enxertia usado para árvores frutíferas que
dificilmente se propagam por outros métodos. Em resumo é uma técnica que consiste na
junção de duas plantas inteiras, que são mantidas dessa forma até a união dos tecidos
(Figura 7).

Figura 7 - Enxertia por encostia. Fonte: Adaptado de Hartmann et al. (2002)


Após essa união, uma será utilizada somente como porta-enxerto e a outra como
copa. Para fazer essa enxertia, o porta-enxerto deve ser transportado em um recipiente
até a planta que se quer propagar sendo geralmente colocado na altura da copa, através
da utilização de suportes de madeira que o sustentarão.
25

Corta-se uma porção do ramo de cada uma das plantas, de mesma dimensão, e
encostam-se as partes cortadas, amarrando-as em seguida com fita plástica para haver
união dos tecidos.
O enxerto é representado por um ramo da planta matriz, sem dela se desligar até
que ocorra a soldadura ao porta-enxerto. Após 30-60 dias, havendo a união dos tecidos,
faz-se o desligamento da nova planta, cortando-se acima do ponto de união do porta-
enxerto.
Nessa fase, retira-se o fitilho plástico que estava amarrado e destaca-se o ramo
da planta original, formando uma nova copa. Tem-se, assim, a muda, constituída de
copa e porta-enxerto.
A primavera é a estação mais adequada para a prática da encostia e as que são
realizadas no outono desenvolvem-se muito lentamente.
Incompatibilidade entre copa e porta-enxerto
A compatibilidade pode ser definida como a capacidade que duas plantas ou
parte de plantas enxertadas possuem de se desenvolverem satisfatoriamente como se
fossem uma única planta. Já a incompatibilidade pode ocorrer devido a diferenças
fisiológicas, bioquímicas e anatômicas entre as plantas que podem ser favoráveis ou
desfavoráveis à união do enxerto.
Os problemas de incompatibilidade ocorrem principalmente em função da
enxertia entre espécies de diferentes famílias e gêneros. Os principais sintomas
associados à incompatibilidade de enxertia são:
• expansão da união do enxerto quando ocorre o super crescimento do diâmetro do
tronco acima ou abaixo do ponto de enxertia;
• quebra ou ruptura do enxerto na ocorrência de ventos fortes ou até mesmo quando a
produção de frutos na planta for muito grande;
• morte prematura da planta;
• amarelecimento e queda prematura das folhas no outono;
• aparecimento de uma linha escura na região da enxertia pela morte dos tecidos.
A presença de um ou mais desses sintomas não significa necessariamente, que a
combinação seja incompatível. Podem ser resultantes de condições ambientais
desfavoráveis, tais como falta de água ou nutrientes, ataques de pragas, doenças ou
inclusive, enxertia mal sucedida.
26

Micropropagação
A propagação “in vitro” ou micropropagação, consiste na aplicação da técnica
de cultura de tecidos para a produção de plantas idênticas a planta matriz. Este tipo de
propagação permite produzir mudas com alta qualidade genética e fitossanitária.
É feita em laboratórios a partir de pedaços de tecido vegetal. Estes fragmentos
retirados de vegetais são chamados de explantes e multiplicados em meio artificial (sem
solo), o qual fornece nutrientes e outras substâncias necessárias à multiplicação e
regeneração de novas plantas. A base para o cultivo de pequenas partes de plantas só é
possível pela propriedade da totipotência, que é a capacidade que toda célula vegetal
tem de regenerar uma planta completa, a partir de informações genéticas contidas na
mesma.
As técnicas de propagação “in vitro” permitem multiplicar vegetativamente
espécies de difícil propagação pelos métodos convencionais. Além disso, permite a
produção de um grande número de plantas a partir de um explante em menor tempo que
os métodos tradicionais de propagação. Possibilitam também, a produção de mudas
livres de patógenos causadores de doenças que pelos métodos convencionais de
propagação, podem ser transmitidos pelas mudas.
Entre as fruteiras tropicais multiplicadas pela cultura de tecidos destacam-se as
culturas do abacaxizeiro e da bananeira que estão sendo produzidas em maior escala por
algumas empresas do setor (Figura 8).

Figura 8 - Mudas de bananeira micropropagadas.


Estruturas especializadas
Algumas espécies possuem processos naturais de propagação por meio de
estruturas especializadas. Essas estruturas são caules, folhas ou raízes modificadas que
27

além de funcionarem como órgãos de reserva de alimentos podem também ser utilizadas
na propagação. Em condições adversas são esses órgãos que possibilitam a
sobrevivência das plantas.
Vários tipos de estruturas especializadas podem ser utilizadas na produção de
mudas. Em espécies frutíferas, as principais estruturas são estolões, rebentos e rizomas
que são úteis na propagação de algumas espécies, como, por exemplo, o morangueiro, a
bananeira, o abacaxizeiro, a framboeseira e a amoreira-preta.
Os estolões são definidos como caules aéreos especializados, muito comuns na
propagação do morangueiro; já os rizomas são caules subterrâneos que possuem gemas
para formação de novas brotações, as quais originarão novos pseudocaules e passarão a
ter o seu próprio sistema radicular. É o principal método de multiplicação das
bananeiras.
As mudas de bananeira são obtidas a partir do desenvolvimento das gemas do
rizoma. A denominação das mudas é dada de acordo com o desenvolvimento e peso do
rizoma. As mudas obtidas de rizoma inteiro são denominadas popularmente de:
• Chifrinho – apresentam de 20 a 30 cm de altura e têm unicamente folhas lanceoladas
(em forma de lança) com até 1,5 kg;
• Chifre – apresentam de 50 a 60 cm de altura e folhas lanceoladas, com peso variando
de 1,5 a 2,5 kg;
• Chifrão: apresentam de 60 a 150 cm de altura, com uma mistura de folhas lanceoladas
e folhas características de planta adulta, com peso superior a 2,5 kg.
28

Figura 9 - Mudas do tipo chifrão, chifre e chifrinho com folhas (a), sem folhas (b);
Pedaços de rizoma (c)
Essas mudas podem ser obtidas diretamente do bananal, tomando o cuidado de
selecioná-las de plantas vigorosas, que represente a variedade a ser propagada, esteja
isenta do ataque de pragas e doenças e com idade que não seja superior a quatro anos.
Embora a propagação por rizomas seja muito utilizada, nos últimos anos tem
crescido muito a produção de mudas de bananeira utilizando a técnica de cultura de
tecidos, ou micropropagação, como visto anteriormente.
39

A irrigação por aspersão pode ser de dois tipos: sobrecopa e sub-copa, quando
feita por cima ou por baixo da copa das plantas. A irrigação sobrecopa apresenta como
principais desvantagens o molhamento das folhas, o que aumenta a incidência de
doenças, e maiores perdas por evapotranspiração e pela ação dos ventos. Já a aspersão
sub-copa apresenta como desvantagem principal a interferência do tronco e copa das
plantas, o que dificulta o molhamento uniforme do terreno.
Na aspersão, as vazões e pressões são, normalmente, de média a alta, exigindo
motobombas de maior potência e demandando maior consumo de energia em relação ao
gotejamento e à microaspersão. Por outro lado, os aspersores não necessitam de
equipamentos de filtragem e apresentam uma menor necessidade de manutenção.

Figura: Irrigação por aspersão em videira. Foto: Marco Antônio Fonseca


Conceição.
Irrigação por microaspersão
A irrigação por microaspersão é bastante usada em videiras e outras frutíferas,
diferindo da aspersão, basicamente, pela vazão menor dos aspersores. Este sistema
requer filtros, sendo comum, porém, empregar-se somente filtros de discos (ou tela).
Nesses sistemas podem ocorrer problemas com a entrada de insetos e aranhas nos
microaspersores, causando entupimentos e, com isso, prejudicando a aplicação de água.
Por isso deve-se optar, sempre que possível, por microaspersores com dispositivos anti-
insetos.
Na microaspersão os emissores são, normalmente, posicionados individualmente
ou a cada duas plantas, não havendo problemas de interferência dos troncos, como na
aspersão sub-copa.
41

Figura: Irrigação por gotejamento em pereira. Foto: José Carlos Fachinello.


42

CAPÍTULO 4 - PODA DAS PLANTAS FRUTÍFERAS


A poda, muito embora seja praticada para dirigir a planta segundo a vontade do
homem, em fruticultura, é utilizada com o objetivo de regularizar a produção e melhorar
a qualidade das frutas.
A poda é uma das práticas culturais realizadas em fruticultura que, juntamente
com outras atividades, como fertilização, irrigação e drenagem, controle fitossanitário,
afinidade entre enxerto e porta-enxerto e condições edafoclimáticas, torna o pomar
produtivo. Para que a poda produza resultados satisfatórios é importante que seja
executada levando-se em consideração a fisiologia e a biologia da planta e seja aplicada
com moderação e oportunidade.
4.1. Conceitos
Existem diversos conceitos referentes à poda, dentre eles:
a) Poda é a remoção metódica das partes de uma planta, com o objetivo de melhorá-la
em algum aspecto de interesse do fruticultor;
b) É a arte e a técnica de orientar e educar as plantas, de modo compatível com o fim
que se tem em vista.
c) É a técnica e a arte de modificar o crescimento natural das plantas frutíferas, com o
objetivo de estabelecer o equilíbrio entre a vegetação e a frutificação.
4.2. Importância da poda
A importância da poda varia com a espécie, assim para uma ela é decisiva,
enquanto que, para outra, ela é praticamente dispensável. Com relação à importância da
poda, as espécies podem ser agrupadas da seguinte maneira:
a) Decisiva - Videira, pessegueiro, figueira.
b) Relativa - Pereira, macieira, caquizeiro.
c) Pouca importância - Citros, abacateiro, nogueira-pecan.
4.3. Objetivos da poda
Os principais objetivos da poda são:
a) Modificar o vigor da planta;
b) Manter a planta dentro de limites de volume e forma apropriados;
c) Equilibrar a tendência da planta de produzir maior número de ramos vegetativos
ouprodutivos e vice-versa;
d) Facilitar a entrada de ar e luz no interior da planta, com a abertura da copa;
e) Suprimir ramos supérfluos, doentes e improdutivos;
f) Facilitar a colheita das frutas e os tratos culturais dentro do pomar;
43

g) Evitar a alternância de safras, de modo a proporcionar anualmente colheitas médias


com regularidade.
4.4. Fundamentos da poda
Sob o ponto de vista fisiológico, a poda pode ser fundamentada pelo que segue:
a) A seiva se dirige com maior intensidade para as partes altas e iluminadas da planta;
b) A circulação da seiva é mais intensa em ramos retos e verticais;
c) Quanto mais intensa for a circulação de seiva, maior será o vigor nos ramos, maior
será a vegetação e, ao contrário, quanto maior a dificuldade na circulação de seiva mais
gemas de flor serão formadas;
d) Cortada uma parte da planta, a seiva fluirá para as partes remanescentes,
aumentando-lhe o vigor vegetativo;
e) Podas curtas (severas) têm a tendência de provocar desenvolvimento vegetativo,
retardando a frutificação;
f) Diminuindo a intensidade de circulação de seiva, o que ocorre no período após a
maturação das frutas, verifica-se uma correspondente maturação de ramos e de folhas.
Nesse período, acumulam-se grandes quantidades de reservas nutritivas, que são
utilizadas para transformar as gemas foliares em frutíferas;
g) O vigor das gemas depende da sua posição e do seu número nos ramos, geralmente as
gemas terminais são mais vigorosas;
h) O vigor e a fertilidade de uma planta dependem, em grande parte, das condições
climáticas e edáficas;
i) Deve haver um equilíbrio na relação entre copa e sistema radicular. Este equilíbrio
afeta o vigor e a longevidade das plantas.
Numerosos trabalhos têm demonstrado que a poda tem um efeito ananizante
sobre o crescimento vegetativo, ou seja, as plantas podadas, além de terem uma menor
longevidade, apresentam um porte menor.
Geralmente a poda reduz os pontos de crescimento da planta, aumentando,
assim, a provisão de nitrogênio aproveitável e de outros elementos essenciais para os
pontos de crescimento que permaneceram e isto, por sua vez, aumenta o número de
células que podem ser formadas. Desta maneira, a poda da copa favorece a formação de
células e a utilização de carboidratos. Por conseguinte, favorece a fase vegetativa e
retarda a fase reprodutiva.
O estímulo à fase vegetativa pode ser ou não desejável, depende da espécie
frutífera que se está trabalhando. A redução do sistema aéreo pela poda, qualquer que
44

seja o método utilizado, leva consigo uma perda mais ou menos importante das reservas
contidas na madeira suprimida e na diminuição do número de folhas, ou seja, de órgãos
assimiladores de carbono.
Nos primeiros anos de vida, toda a energia produzida é gasta para o próprio
crescimento da planta. Depois de formada as estrutura da planta, então começa a sobrar
seiva elaborada, que se transforma em reserva e é armazenada na planta. Desta maneira,
a planta, através destas reservas, pode transformar as gemas vegetativas em botões
florais. Esta acumulação é maior nos ramos novos e finos do que nos ramos velhos e
grossos. O equilíbrio entre a fase vegetativa e reprodutiva onde se considera a relação
entre o carbono e o nitrogênio nas diferentes fases da vida da planta.
4.5. Hábito de frutificação das principais espécies frutíferas
Afim de entender as necessidades da poda das plantas cultivadas, é necessário
um conhecimento prático dos seus hábitos de frutificação. De acordo com a natureza
que possuem, as plantas frutíferas podem ser divididas em três tipos:
4.5.1 Plantas que produzem em ramos especializados
Só produzem em ramos especializados, os demais ramos dessas plantas
produzem brotos vegetativos e folhas. Ex.: macieiras e pereiras. Esses ramos
especializados são geralmente curtos e muitos deles denominados esporões, podendo
apresentarem as seguintes denominações:
a) Dardos - são estruturas pequenas e pontiagudas, com entrenós muito curtos.
Apresentam uma roseta de folhas na extremidade, pouco maior que uma gema.
b) Lamburda - ramo curto com nodosidades na base, sem gemas laterais, podendo
terminar em gemas vegetativas ou de frutas (coroadas).
c) Bolsa - parte curta, inchada, constituída por tecido pouco diferenciado, porém com
grande acumulação de substâncias nutritivas, que se formam no ponto de união da fruta
colhida com o ramo. É um órgão de transição que pode dar origem a novas gemas
florais, dardos, lamburdas, brindilas ou vários deles de cada vez. Geralmente, são
formadas a partir de um esporão depois de vários anos.
d) Brindilas - são ramos finos, com diâmetro de 3 a 5mm e comprimento em torno de
20cm. Na ponta, podem apresentar um dardo, gema vegetativa ou floral.
e) Botão floral - forma arredondada e destacado, em geral apresenta maior volume do
que as gemas vegetativas.
48

CAPÍTULO 5 – PRINCIPAIS PRAGAS E DOENÇAS EM FRUTICULTURA


PRAGAS DA MANGUEIRA
Moscas das frutas - Ceratitis capitata e Anastrepha spp. (Diptera: Tephritidae)
As moscas-das-frutas fazem parte de um grupo de pragas responsável por
grandes prejuízos econômicos na cultura da mangueira, não só pelos danos diretos que
causam à produção, como, também, pelas barreiras quarentenárias impostas pelos países
importadores. A. obliqua é a principal mosca-das-frutas que ataca a manga. No Vale do
São Francisco C. capitata (Figura 1) é a espécie mais comum, contudo, além dessa
espécie, são relacionadas onze espécies do gênero Anastrepha (Figura 2):

Fig. 1. Adulto de Ceratitis Fig. 2. Adulto de Anastrepha


Os ovos das moscas-das-frutas são introduzidos, por meio do ovipositor, abaixo
da casca do fruto, de preferência ainda imaturos. No local onde são depositados, pode
ocorrer contaminação por fungos ou bactérias, o que resulta no apodrecimento local do
fruto. Aproximadamente dois dias após a postura, eclode a larva, que passa a se
alimentar da polpa do fruto hospedeiros, reduzindo sua qualidade e tornando-o
impróprio para consumo in natura, comercialização e industrialização.
1.1. PRAGAS SECUNDÁRIAS DA MANGUEIRA
1. PRAGAS DA INFLORESCÊNCIA E DE FRUTOS
Tripes - Selenothrips rubrocinctus e Frankliniella schultzei (Thysanoptera: Thripidae)
No Vale do São Francisco, S. rubrocinctus (Figura 3) e F. schultzei são as espécies mais
comuns de tripes que atacam a mangueira. Espécies do gênero Frankliniella têm sido
relatadas ocasionando danos em panículas, por sua alimentação em nectários e anteras
de flores, que poderá resultar em perda prematura de pólen (Peña and Mohyuddin,
1997). S. rubrocinctus e F. schultzei também têm sido reportados danificando frutos.
49

Em altas infestações o dano é visível na casca dos frutos, que apresentam manchas ou
rachaduras que depreciam o seu valor com comercial (Barbosa et al., 2000a; Brandão &
Boaretto,1999).

Fig. 3. Adulto de Selenothrips

Lagartas - Pleuroprucha asthenaria (Lepidoptera: Geometridae) e Cryptoblabes


gnidiella (Lepidoptera: Pyralidae).
Alimentam-se de pétalas e ovários de flores, resultando no secamento parcial ou
total da inflorescência com consequente diminuição da frutificação. Frutos pequenos e o
pedúnculo podem, ainda, apresentar a superfície da epiderme danificada pelas larvas,
levando a queda ou amadurecimento precoce. A presença destas lagartas é maior em
inflorescências compactadas pelo uso do paclobutrazol ou, infectadas pelo fungo
Fusarium spp., (agente da malformação floral), ambiente favorável ao ataque da praga.
C. gnidiella (Figura 5) também é uma praga comum em videiras na nossa região
(Moreira et al., 2004) enquanto P. asthenaria (Figura 6) tem sido relatada em
inflorescências e grãos de sorgo, na Colômbia (Pulido, 1979).

Fig. 5. Larva de Cryptoblabes gnidiella. Fig. 6. Larva de Pleuroprucha sp.


Cochonilhas
50

As cochonilhas Aulacaspis tubercularis (Figura 7), Saissetia oleae, Pinnaspis


sp. e Pseudococus sp., infestam os frutos da mangueira, podendo ocasionar exsudação
de látex, manchas e deformações nos frutos, desqualificando-os para fins comerciais
(Peña, 2004; Icuma & Cunha, 2001; Gallo et al., 2002).
A.tubercularis é considerada a espécie mais importante nos pomares destinados
à exportação (Nascimento et al., 2002). De acordo com Souza Filho et al (2004), há
indícios de que o orifício feito para a sua alimentação no fruto, favorece a penetração de
patógenos de pós-colheita.

Fig. 7. Aulacaspis tubercularis


Pulgões - Aphis gossypii, A. craccivora e Toxoptera aurantii (Hemiptera: Aphididae)
A ocorrência de pulgões em mangueira, em condições de campo, não é comum.
Entretanto, em plantios comerciais no Submédio São Francisco, observam-se
infestações de afídeos causando danos às plantas. São insetos sugadores, polífagos e
podem estar em outras culturas ou colonizando plantas invasoras, localizadas próximas
ou no interior do pomar (Barbosa et al., 2005; Ferreira & Barbosa, 2002).
Ao alimentarem-se da seiva, injetam na planta substâncias tóxicas, que
provocam o o secamento e a queda de flores, reduzindo, consequentemente, a produção
de frutos. Além disso, há redução da capacidade fotossintética da planta, devido à
ocorrência de fumagina (Barbosa et al., 2001b).
Formigas cortadeiras - Atta sexdens, Atta laevigata e Acromyrmex spp.
(Hymenoptera, Formicidae)
As formigas cortadeiras podem causar severas desfolhas em mudas, ainda nos
viveiros e em pomares em formação. Quando não controladas, após a transferência das
mudas para o campo, retardam o desenvolvimento e podem causar até morte de plantas
(Cunha et al., 2000).
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Fotos: Batista, D. da C.

Fig. 9. Sintomas de manchas em mangas causadas por Alternaria alternata.

Fotos: Tavares, S. C. C. H.; Batista, D. da C.

Fig. 10. a) Sintomas de declínios (infecções no tronco) causados por


Lasiodiplodia theobromae e, b) Fusicoccum aesculis (B).

PRINCIPAIS PRAGAS MELÃO


A cultura do melão, Cucumis melo L., expandiu-se muito no Nordeste brasileiro,
durante os últimos anos. Trata-se de importante opção agrícola nos pólos irrigados.
Dessa forma, as maiores áreas cultivadas com melão encontram-se nos estados do
Ceará, Rio Grande do Norte (Mossoró e Vale do Rio Açu), Pernambuco (Petrolina) e
Bahia (Juazeiro). Essas regiões são reconhecidamente áridas; entretanto, apesar dessa
condição, algumas pragas têm-se destacado e causado muitos problemas aos produtores.
A cultura do melão não tem muita importância nos estados da região Centro-Sul devido,
provavelmente, às dificuldades de cultivo durante o período das águas (verão) e à
sensibilidade da cultura às baixas temperaturas.
Mosca-branca – Bemisia tabaci, biótipo B (Hemiptera: Aleyrodidae)
Trata-se de uma das pragas de maior Socioeconomia para cultura do meloeiro no
Brasil (Figura 1). Este inseto apresenta alto potencial biótico, elevada capacidade de
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adaptação a novos hospedeiros, diferentes condições climáticas e grande capacidade


para desenvolver resistência aos inseticidas. Estes fatores fazem com que seu controle
seja dificultado.
Os fatores climáticos são condicionantes para o desenvolvimento da mosca-
branca. Altas temperaturas e baixa umidade relativa do ar favorecem seu
desenvolvimento. A disseminação da praga ocorre mais frequentemente pelo transporte
de partes vegetais de plantas infestadas de um local para outro.
Fotos: José Adalberto de Alencar

Figura 1. a) Adultos de mosca-branca em meloeiro; b) ninfas (fase jovem) de mosca-branca em


meloeiro.
Danos
A mosca-branca pode ocasionar danos diretos e indiretos na cultura do meloeiro.
Os danos diretos são causados pela sucção da seiva da planta e inoculação de toxinas
pelo inseto, provocando alterações no desenvolvimento vegetativo e reprodutivo da
planta, reduzindo o peso, o tamanho e o grau Brix dos frutos e prolongando o ciclo da
cultura. Em ataques severos pode ser observado o amarelecimento das folhas mais
velhas enquanto em plantas jovens ocorre a seca das folhas e, dependendo da
intensidade da infestação, até mesmo morte de plantas.
Além disso, grande parte do alimento ingerido é excretado na forma de um
líquido semelhante a mel, que serve de meio de crescimento para um fungo saprófita de
coloração negra (fumagina) que recobre as partes vegetais interferindo no processo de
fotossíntese da planta. Contudo, o maior problema causado pela mosca-branca à cultura
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do meloeiro está relacionado com os danos indiretos, pela transmissão do vírus causador
do amarelão.
Táticas de controle
O planejamento para adoção do manejo da mosca-branca no meloeiro deve ser
feito antes da realização dos plantios, pois trata-se de uma cultura suscetível à essa
praga, e que, na maioria dos casos, segue um modelo de exploração dependente do
mercado, ou seja, realizando-se cultivos escalonados, o que dificulta um bom manejo
fitossanitário. Este manejo deve ser baseado em medidas preventivas e curativas.
As medidas preventivas visam dificultar ou retardar a entrada do inseto na área,
bem como eliminar as suas fontes de abrigo, de alimento e de reprodução. Medidas que
favoreçam o equilíbrio biológico no agroecossistema, também, devem ser consideradas
antes e após a implantação da cultura.
As principais medidas preventivas para o controle e/ou convivência com a
mosca-branca são: a) planejar os plantios de forma que sejam feitos na direção contrária
à dos ventos predominantes. Assim, os plantios novos serão menos infestados pela
mosca-branca oriunda do plantio mais velho; b) fazer plantios isolados ou utilizar como
cerca-viva, plantas não hospedeiras da praga (sorgo, capim-elefante, etc.), intercaladas,
ao redor do plantio ou do lado do vento predominante; c) eliminar fontes de inóculo
como maxixe, abóbora, melancia, ervas daninhas hospedeiras da praga ao redor da área
a ser plantada; d) iniciar o preparo do solo, mantendo a área limpa, pelo menos 30 dias
antes do plantio; e) não intercalar o plantio com culturas suscetíveis à praga; f) rotação
de culturas com plantas não suscetíveis; g) após o plantio, manter a área isenta de
plantas hospedeiras da praga, no interior e ao redor da cultura; h) não permitir cultivos
abandonados nas proximidades da área cultivada; i) eliminar os restos culturais
imediatamente após a colheita.
Como medida curativa, pode-se adotar o controle químico, porém,
considerando-se o uso das substâncias químicas dentro de um programa de manejo
integrado de pragas (MIP), pois, o uso exclusivo, não criterioso e contínuo de
inseticidas não é a solução permanente para o controle da mosca-branca. Os produtos a
serem utilizados no controle químico devem ser aqueles registrados no Ministério da
Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) para a cultura do meloeiro, respeitando-
se as doses indicadas e o período de carência de cada produto.
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Amostragem
O processo de amostragem deve ser realizado de preferência em horário com
temperatura do dia mais amena, geralmente, de 6h às 9h. Para o adulto, amostrar uma
folha do terceiro nó, a partir do ápice do ramo, observando-se, a parte inferior da folha.
Para as ninfas, amostrar uma folha do oitavo ao décimo nó do ramo, observando-se,
com auxílio de uma lupa de bolso, uma área de uma polegada quadrada na face inferior
da folha, próxima à nervura central.
Nível de controle
Dois insetos adultos, quando na presença de sintomas de ataque do vírus do
amarelão e dez insetos adultos, na ausência de sintomas do amarelão. Pelos resultados
de pesquisa com a mosca-branca, constataram-se que o nível de controle encontra-se
dentro de uma faixa que é definida em função da variedade e/ou híbrido utilizado,
condições climáticas, bem como condições nutricionais da planta.
Brocas-das-cucurbitaceas – Diaphania nitidalis e Diaphania hyalinata
(Lepidoptera: Pyralidae)
As lagartas podem atingir até 20 mm de comprimento (Figura 2). Contudo,
Diaphania nitidalis e Diaphania hyalinata, são espécies que diferem quanto à coloração
dos adultos. D. nitidalis tem coloração marrom-violácea, com as asas apresentando uma
área central amarelada semitransparente e os bordos marrom-violáceos (Figura 3),
enquanto que a D. hyalinata tem asas com áreas semitransparentes, brancas e a faixa
escura retilínea nos bordos (Figura 4).
A postura é feita nas folhas, ramos, flores e frutos. O período larval é de
aproximadamente 10 dias. O ciclo evolutivo completo é de 25 a 30 dias.
Fotos: José Adalberto de Alencar.

Figura 2. Lagartas da broca-das-cucurbitáceas.


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Figura 3. Adulto de Diaphania nitidalis.

Figura 4. Adulto de Diaphania hyalinata

Danos
As lagartas atacam folhas, brotos, ramos, flores e frutos. Quando o ataque é
severo, observa-se na polpa dos frutos abertura de galerias tornando-os inviáveis à
comercialização. A espécie D. nitidalis ataca os frutos em qualquer idade, enquanto D.
hyalinata ataca, geralmente, as folhas, causando desfolha total da planta, quando em
altas populações (Figura 5).
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Figura 5. Folha de meloeiro apresentando danos pelo ataque de lagarta da broca-das-


cucurbitáceas.
Táticas de controle
O controle das brocas-das-cucurbitaceas é efetuado, basicamente, com uso de
inseticidas. A ação desses agroquímicos no controle de D. nitidalis é dificultada, pela
preferência das lagartas pelas flores e frutos, onde penetram rapidamente. As lagartas de
D. hyalinata são controladas mais facilmente, pelo fato de terem preferência pelas
folhas. Vários princípios ativos são registrados pelo Ministério da Agricultura Pecuária
e Abastecimento (MAPA) para o controle dessas lagartas e, poderão ser encontrados no
site http://agrofit.agricultura.gov.br.
Na presença de lagartas nos primeiros estádios de desenvolvimento, a
pulverização com Bacillus thuringiensis pode apresentar elevada eficiência sem
acarretar impacto negativo sobre os inimigos naturais e sem deixar resíduos nos frutos.
Amostragem
Avaliar 20 pontos em ziguezague, com cada ponto correspondendo a uma planta.
Nível de controle
O nível de ação é alcançado quando se registrar a presença de três lagartas por
planta, em média, nos 20 pontos amostrados.
Pulgão – Aphis gossypii (Hemiptera: Aphididae)
Esse inseto apresenta um potencial biótico elevado, formando colônias em
brotações e folhas novas da planta. Porém, na escassez de alimento, há o aparecimento
de formas aladas que migram para outras plantas em busca de alimento e formação de
novas colônias.
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Danos
Os pulgões atacam brotações e folhas novas do meloeiro, sugando
continuamente uma grande quantidade de seiva. Em elevadas infestações, essas partes
da planta tornam-se deformadas, comprometendo o desenvolvimento da mesma. No
entanto, o maior dano causado pela praga ao meloeiro é a transmissão do vírus-do-
mosaico, que compromete totalmente o desenvolvimento da planta, principalmente se a
transmissão ocorrer nas primeiras fases de desenvolvimento da cultura.
Amostragem
Avaliar em cada ponto do total de 20, uma folha do quarto nó a partir do ápice
do ramo.
Nível de controle
Sugere-se a presença de 10 insetos, em média, nos 20 pontos amostrados.
Táticas de controle
A aplicação de inseticidas para o controle do pulgão requer alguns cuidados e
precauções, pois, esse inseto é preso preferencial para os inimigos naturais das pragas.
Recomenda-se a não aplicação de produtos do grupo dos piretroides nas primeiras fases
de desenvolvimento da cultura, período no qual a presença de inimigos naturais começa
a ocorrer. Os produtos registrados pelo MAPA para o pulgão em meloeiro poderão ser
encontrados no site http://agrofit.agricultura.gov.br.
A eliminação de ervas daninhas hospedeiras do pulgão é uma importante medida
de controle cultural. No polo Petrolina, PE/Juazeiro, BA, constatou-se como ervas
daninhas hospedeiras deA. gossypii: beldroega (Portulacaoleracea L.), bredo
(Amaranthus spinosus L.), pega-pinto (Boerhaavia diffusa L.) e malva branca (Sida
cordifolia L.).
Outras medidas alternativas de controle são citadas como auxiliares na redução
populacional da praga, tais como: a) efetuar os plantios em sentido contrário aos ventos;
b) culturas atrativas aos inimigos naturais, como o sorgo, que é uma das fontes de
desenvolvimento para a fauna benéfica; c) manutenção da vegetação nativa entre os
talhões para preservar a fauna e a flora benéfica; d) eliminação de plantas atacadas pelo
vírus-do-mosaico a fim de reduzir as fontes de inóculo dentro do cultivo e, e) utilização
de quebra-vento com plantas não hospedeiras da praga.
Moscas minadoras – Liriomyza sativae e Liriomyza huidobrensis (Diptera:
Agromyzidae)
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Os adultos da mosca-minadora são insetos pequenos, com aproximadamente 2


mm de comprimento, coloração preta, com manchas amarelo-claras na cabeça e na
região entre as asas. A larva da espécie L. sativae tem coloração amarelo-intensa, ao
passo que a larva de L. huidobrensis tem coloração branco-creme e é mais robusta. O
período chuvoso é o mais favorável para essa praga, ocorrendo o inverso em períodos
com temperaturas elevadas.
Danos
A fase larval é a que causa prejuízos, pois o inseto abre galerias em formato de
ziguezague nas folhas, formando lesões esbranquiçadas (Figura 6). As galerias
aumentam de tamanho à medida que as larvas crescem. Um número elevado de minas
nas folhas pode causar a seca das mesmas e resultar na queima dos frutos pela
exposição aos raios solares.

Figura 6. Folha de meloeiro apresentando danos pelo ataque de L. sativae.

Táticas de controle
Em pesquisas realizadas na Embrapa Semiárido, observou-se uma eficiência de
100% no controle da mosca-minadora em melão com a utilização do princípio ativo
abamectin na dose de 100 ml para 100 L de água, efetuando-se três pulverizações em
intervalos de 10 dias, sendo a primeira quando foi observado as primeiras folhas
minadas na área. No entanto, outros produtos registrados no MAPA para o meloeiro,
poderão ser encontrados no site http://agrofit.agricultura.gov.br.
Como controle cultural recomenda-se a destruição dos restos culturais e a não
implantação da cultura próxima de culturas hospedeiras da mosca-minadora, tais como,
(feijão, ervilha, fava, batatinha, tomateiro, berinjela, abóbora, melancia, pimentão, entre
outras).
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Amostragem
Avaliar a folha mais desenvolvida do ramo em 20 pontos amostrados.
Nível de controle
Sugere-se a presença de cinco larvas vivas, em média, nos 20 pontos
amostrados.
Mosca-das-frutas – Anastrepha grandis (Diptera: Tephritidae)
Os adultos são de coloração amarela e medem cerca de 10 mm de comprimento.
Apresenta duas manchas nas asas, tendo a mancha anterior o formato de "S", enquanto a
posterior assemelha-se a um "V" invertido. Acredita-se que apenas as cucurbitáceas
sejam hospedeiras dessa espécie de mosca-das-frutas, pois, diversas e contínuas
prospecções foram, e estão sendo realizadas no Brasil, tendo sido verificada a presença
de A. grandis em apenas três espécies de cucurbitáceas.
A presença dessa espécie de mosca-das-frutas em áreas de produção de melão
pode inviabilizar a exportação da fruta. Pois trata-se de uma praga de importância
quarentenária.
Danos
As larvas, além de se alimentam da polpa dos frutos, danificando-os pela
abertura, facilitam a entrada de patógenos oportunistas, deixando-os impróprios tanto
para o consumo in natura, como para a industrialização. Os frutos atacados amadurecem
prematuramente.
Amostragem
A. grandis deve ser monitorada com o uso de armadilhas do tipo McPhail.
Devem ser utilizadas três armadilhas por hectare, tendo como atrativo alimentar,
proteína hidrolisada, na proporção de 500 ml para 10 L de água e 200 ml desta solução
por armadilha.
PRINCIPAIS DOENÇAS DO MELÃO
OÍDIO – Oidium spp. [Podosphaera xanthii]
O oídio do meloeiro é causado principalmente pelo fungo Oidium sp., fase
imperfeita de Podosphaera xanthii (=Sphaerotheca fuliginea). No Brasil ocorre apenas
a forma imperfeita do patógeno. O fungo afeta grande número de cucurbitáceas, tanto
cultivadas quanto selvagens, e existem várias raças fisiológicas que diferem quanto a
capacidade de infectar diferentes espécies de cucurbitáceas ou variedades de melão.
Aparentemente, a raça 1 predomina no Brasil, contudo as raça 2, 3 e 4 já foram
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RHIZOCTONIA – Rhizoctonia solani


Além de Didymella bryoniae e Fusarium oxysporum, Rhizoctonia solani
também pode causar podridão do colo em meloeiro. A doença é favorecida por altas
temperaturas e alta umidade do solo. Nas plantas atacadas por R. solani, os sintomas
iniciam-se por uma clorose e posterior necrose das folhas basais. Posteriormente ocorre
rápido murchamento ou declínio da rama. Em ataques severos é possível que o fungo
afete o colo da planta, causando murcha.
BANANA
Principais pragas e métodos de controle
Broca-do-rizoma - Cosmopolites sordidus (Germ.) (Coleoptera: Curculionidae)
É um besouro preto, que mede cerca de 11 mm de comprimento e 5 mm de
largura. Durante o dia, os adultos são encontrados em ambientes úmidos e sombreados
junto às touceiras, entre as bainhas foliares e nos restos culturais. Os danos são causados
pelas larvas, as quais constróem galerias no rizoma, debilitando as plantas e tornando-as
mais sensíveis ao tombamento. Plantas infestadas normalmente apresentam
desenvolvimento limitado, amarelecimento e posterior secamento das folhas, redução
no peso do cacho e morte da gema apical.

Figura 1. Adulto da broca-do-rizoma da Figura 2. Danos provocados pela larva da


bananeira. Foto: Nilton F. Sanches broca-do-rizoma da bananeira.

A utilização de mudas sadias (convencionais ou micropropagadas) é o primeiro


cuidado a ser tomado para controle dessa praga.
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O emprego de iscas atrativas tipo telha ou queijo é bastante útil no


monitoramento/controle do moleque. Estas devem ser confeccionadas com plantas
recém-cortadas (no máximo até 15 dias após a colheita). Recomenda-se o emprego de
20 iscas/ha (monitoramento) e de 50 a 100 iscas/ha (controle), com coletas semanais e
renovação quinzenal das iscas. Os insetos capturados podem ser coletados manualmente
e posteriormente destruídos. As iscas também podem ser tratadas com inseticida
biológico à base de um fungo entomopatogênico (Beauveria bassiana), dispensando-se,
nesse caso, a coleta dos insetos.
Quanto ao emprego de inseticidas, estes podem ser introduzidos em plantas
desbastadas e colhidas através de orifícios efetuados pela lurdinha. Também podem ser
aplicados na superfície das iscas e em cobertura. A utilização de quaisquer produtos
químicos deve ser realizada de acordo com os procedimentos de segurança
recomendados pelo fabricante.
O controle por comportamento preconiza o emprego de armadilhas contendo
Cosmolure, o qual atrai adultos da broca para um recipiente do qual o inseto não
consegue sair (Fig. 3 e 4).

Figura 3: Armadilhas de feromônio. (Fonte:


http://www.biocontrole.com.br/bio_cosmolure.htm)
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Figura 4: Armadilhas de feromônio. (Fonte:


http://www.biocontrole.com.br/bio_cosmolure.htm)

Recomenda-se o uso de quatro armadilhas/ha para o monitoramento da broca,


devendo-se renovar o sachê contendo o feromônio a cada 30 dias.

Tripes
Tripes da erupção dos frutos - Frankliniella spp. (Thysanoptera: Aelothripidae)
Apesar do pequeno tamanho (cerca de 1 mm de comprimento) e da agilidade,
são facilmente vistos por causa da coloração branca ou marrom-escura. Os adultos são
encontrados geralmente em flores jovens abertas. Também podem ocorrer nas flores
ainda protegidas pelas brácteas. Os danos provocados por esses tripes manifestam-se
nos frutos em desenvolvimento, na forma de pontuações marrons e ásperas ao tato (Fig.
5), o que reduz o seu valor comercial, mas não interfere na qualidade da fruta. A
despistilagem e a eliminação do coração reduzem a população desses insetos.
Recomenda-se a utilização de sacos impregnados com inseticida, no momento da
emissão do cacho, para reduzir os prejuízos causados aos tripes da erupção dos frutos.
Tripes da ferrugem dos frutos - Chaetanaphothrips spp., Caliothrips bicinctus
Bagnall,Tryphactothrips lineatus Hood (Thysanoptera: Thripidae)
São insetos pequenos (1 a 1,2 mm de comprimento), que vivem nas
inflorescências, entre as brácteas do coração e os frutos. Seu ataque provoca o
aparecimento de manchas de coloração marrom (semelhante à ferrugem) (Fig. 6). O
dano é causado pela oviposição e alimentação do inseto nos frutos jovens. Em casos de
forte infestação, a epiderme pode apresentar pequenas rachaduras em função da perda
de elasticidade. Para o controle desses insetos, deve-se efetuar o ensacamento do cacho
e a remoção das plantas invasoras, tais como Commelina sp. e Brachiaria purpurascens,
hospedeiras alternativas dos insetos.
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Figura 5. Danos provocados pelo tripes da Figura 6. Danos provocados pelo tripes da
erupção dos frutos. ferrugem dos frutos.

Lagartas desfolhadoras - Caligo spp., Opsiphanes spp. (Lepidoptera: Nymphalidae),


Antichloris spp. (Lepidoptera: Arctiidae)
As principais espécies de Caligo que ocorrem no Brasil são brasiliensis, beltrao
e illioneus. No estágio adulto, Caligo sp. é conhecida como borboleta corujão. As
lagartas, no máximo desenvolvimento, chegam a medir 12 cm de comprimento e
apresentam coloração parda.
No gênero Opsiphanes, registram-se no Brasil as espécies invirae e cassiae. Na
fase adulta, são borboletas que apresentam asas de coloração marrom, com manchas
amareladas. Na fase jovem, as lagartas possuem coloração verde, com estrias
amareladas ao longo do corpo, alcançando cerca de 10 cm de comprimento. O terceiro
grupo de lagartas que atacam a bananeira pertencem às espécies Antichloris eriphia e A.
viridis.
Os adultos são mariposas de coloração escura, com brilho metálico. As lagartas
apresentam fina e densa pilosidade de coloração creme, medindo 3 cm de comprimento.
As lagartas pertencentes ao gênero Caligo e Opsiphanes provocam a destruição de
grandes áreas, enquanto que as do gênero Antichloris apenas perfuram o limbo foliar
(Fig. 7). A aplicação de inseticidas no bananal ser realizada com cautela, para evitar a
destruição dos inimigos naturais.

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