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DOCUMENTÁRIO

A I m p r e n s a O f i c i a l no B r a s i l
Reportagem de V ito rin o d e Ol iv e ir a

Da ‘‘Gazeta do R io de Janeiro” ao servido que a casa, onde êles se estabeleceram,


atual “ Diário Oficial” — A s primeiras pu­ sirva interinamente de Impressão Regia, onde im­
blicações saídas dos prelos brasileiros — A primam exclusivamente tôda a legislação e papéis
censura e a liberdade de imprensa — A diplomáticos, que emanaram de qualquer reparti­
Impressão Régia e o Departamento de Im ­ ção do meu real serviço; e se possam imprimir
prensa Nacional. tôdas e quaisquer outras obras; ficando interina­
mente pertencendo o seu Govêrno e administra­
ção à mesma Secretaria. Dom Rodrigo de Sousa

P
a r e c e fora de dúvida que a primeira obra
Coutinho, do meu Conselho de Estado, ministro
impressa no Brasil tenha aparecido em e secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros
1747. j
e da Guera o tenha assim entendido, e procurará
M uito embora a Côrte Portuguesa não visse dar ao emprego da Dficina a maior extensão e lhe
com bons olhos a intromissão da iniciativa parti­ dará tôdas as Instruções e ordens necessárias, e
cular nesse setor, o Conde de Bobadella, aparen­ participará a êste respeito a tôdas as Estações o
temente por conta própria, resolveu, naquele ano, que mais convier ao meu real serviço. — Palá­
permitir que um tal Antônio Isidoro da Fonseca cio do R io de Janeiro, em trese de M aio de mil
instalasse, no Rio, uma pequena tipografia. Dêsse oitocentos e oito — Com a rúbrica do Príncipe
estabelecimento saiu, ainda em 1747, um livro,- o Regente n . s . ”
primeiro impresso no país, que se intitulava “R e­ No próprio dia da sua fundação a Impres­
lação da entrada que fêz o Reverendíssimo Se­ são Régia publicou uma obra em homenagem ao
nhor D . Fr. Antonio do Desterro Malheyro, Bis­ aniversário do príncipe regente intitulada: “R e­
po do R io de Janeiro” , escrito pelo D r. Luiz A n ­ lação dos despachos publicados na Corte pelo Ex­
tô n io R osado da C u n h a .
pediente da Secretaria de Estado dos Negócios
Sucessivamente apareceram mais duas obras: Estrangeiros e da Guerra no faustíssimo dia dos
um romance heróico “Em aplauso do Excelentís­ anos de S . S . R . o Príncipe Regente N . S . E de
simo e Reverendíssimo Senhor D . Frei Antonio todos os mais, que se tem expedido pela mesma
do Desterro M alheyro” e “Epigramas em latim” . Secretaria desde a feliz chegada de S . A . R . aos
Completando esta última vinha, ainda, um sonêto Estados do Brasil até o dito dia” .
em português. A tipografia de Antônio Isidoro A Impressão Régia estabeleceu-se na rua do
da Fonseca teve, porérrf, vida curta. Mal chegou Passeio n.° 44, e tinha três diretores. Entre os
a Lisboa a notícia do seu funcionamento de lá seus encargos principais figuravam os de exami­
vieram ordens para o seu fechamento imediato. nar minuciosamente os papéis e livros que se
Data, porém, de 1808 o verdadeiro início da mandassem publicar e o de fiscalizar que nada
história da imprensa no Brasil. Nesse ano, com se imprimisse contra a religião, o Govêrno e os
a família real em fuga, aqui chegaram os prelos bons costumes. Seu pessoal era composto de um
e tipos com que seria montada a oficina da Im­ escriturário com 250$000 anuais e um escrevente
pressão R égia. Êsse primeiro material, que veio com o ordenado de 200$000 anuais. Foi tam­
a bordo da fragata “M edusa” , componente da es­ bém nomeado um porteiro que acumularia as fun­
quadra que transportava D . João V I e sua famí­ ções de fiel e comprador. Recomendava-se a con­
lia, tinha sido mandado buscar em Londres para veniência de alugar alguns gravadores para os
a Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros trabalhos de impressão e de abrir chapas úteis
e da Guerra e se achava encaixotado na capital ao serviço das repartições de Estado. Entre as
portuguêsa. Êsses prelos e tipos deram ao Go- suas atribuições tinha também a Impressão Régia
vêrno a idéia da fundação da Impressão Régia a de publicar folhinhas para o ano imediato.
e o decreto que a criava tinha a seguinte reda­
Em setembro dêsse mesmo ano com eçou a
ção :
aparecer o primeiro jornal oficioso* que se intitu­
“Tendo-me constado que os prelos que se lava “Gazeta do R io de Janeiro” , totalmente re­
acham nesta capital eram destinados para a Se­ digido por frei Tibúrcio José da R ocha. O mais
cretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros e simples anúncio ou notícia que se pretendesse
da Guerra; e atendendo à necessidade que há da publicar nesse jornal, apesar do seu caráter sim­
Oficina de Impressão nestes meus Estados sou plesmente -oficioso e de ter êle um redator, care­
DOCU M ENTÁRIO
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cia não só de censura prévia pela Mesa do De- todQ 806. A “Gazeta” findou com o n.° 157, de
sembargo do Paço como também da aprovação 31 de dezembro de 1822, e, no dia 2 de janeiro
do Oficial Maior da Secretaria dos Negócios Es­ d0,, 1823, foi substituída pelo “Diário do Govêr-
trangeiros e da Guerra. no . Êste passou ainda pela denominação de
A “Gazeta do R io de Janeiro” deveria sair “Diário Fluminense” e, finalmente, em 1862 a
todos os sábados pela manhã, mas no n.° 2 anun­ ‘ Diário Oficial” .
ciou que apareceria duas vêzes por semana ao Em 1831 a Impressão Régia passou a ocupar
preço de 80 réis o número avulso. algumas salas da Academia de Belas Artes. Os
N o seu primeiro número vinha a seguinte dois primitivos prelos vindos de Portugal, esta-
declaração: vam aumentados de mais oito, sendo cinco de fa­
bricação nacional e três vindos da Europa.
“Esta Gazeta ainda que pertença por Privi­
legio aos Oficiais da Secretaria de Estado dos Ne­ A Imprensa Nacional deixou, em abril de
gócios Estrangeiros e da Guerra, não é contudo 1835, a Academia de Belas Artes, mudando-se
oficial; e o Governo somente responde por aque­ para a Cadeia Velha, antiga Câmara dos Depu­
les papéis, que nella mandar imprimir em seu tados; em outubro de 1860, a tipografia foi trans­
nom e. ” ferida para o prédio contíguo à Secretaria do Im­
I
pério, depois Liceu de Artes e Ofícios.
Em 1811, sendo a Impressão Régia deficitá­
ria foi-lhe anexada a Fábrica de Cartas de Jogar, Mas já em 1874, o Visconde do R io Branco
então monopólio do Estado, que passou a man­ mandava construir um edifício na rua 13 de Maio
tê-la. então rua da Guarda Velha, concluído em 31 de
dezembroí de 1877, no Ministério de Cotegipe.
Nova organização foi-lhes dada em 1815 pas­
sando ambas a pertencer privativamente ao pre­ O projeto e as obras foram dirigidos pelo en­
sidente do Real Erário. | genheiro Alfredo de Paula Freitas, catedrático da
Escola Politécnica. O edifício, máquinas, mobi­
Verificou-se em 1821, a abolição da censura
liário e todos os utensílios importaram em
Prévia, tendo sido, também, regulada a liberda­
1.000:592$982.
de de imprensa. Todavia, se o quadro ideal era
esse, a realidade era um pouco diferente, pois todo Mas o constante desenvolvimento da tipo­
0 impressor tinha que remeter ao Diretor dos Es­ grafia oficial, o aumento da maquinaria e do
tudos dois exemplares de cada fôlha na Impressão pessoal, a capacidade de produção de sua oficina
a fim de que os censores régios deixassem ou não exigiam melhores instalações pois o prédio de
prosseguir o trabalho. 1877 já não mais satisfazia às exigências da época.
Tinham o autor e o editor que ir submeten­ E em 28 de dezembro de 1940, com a presença
do a aprovação as páginas dos seus escritos e fa­ do presidente Getulio Vargas era inaugurado o
zendo desde o início as despesas de composição atual conjunto arquitetônico, situado na A v. R o ­
e unpressão para ficarem sujeitos ao cabo de drigues Alves, especialmente construído para a
algumas fôlhas impressas, a ser a obra proibida Imprensa N acional.
Pelos censores. Assim, nos seus 146 anos de existência teve
Em 28 de agôsto de 1821, o príncipe regen­ o atual Departamento de Imprensa Nacional as
te ordenou que se compusessem e tivessem fôrça seguintes denominações: Impressão Régia, pela
de lei todos os decretos emanados das Cortes Carta Regia de 13 de maio de 1808; Real Oficina
logo que fôssem' remetidos reimpressos na Im­ Tipográfica, depois de 17 de fevereiro de 1817-
pressão Régia. Havia entre êsses decretos reim- Tipografia Nacional, de agôsto de 1821 a janeiro
Pressos um, de 25 de abril de 1821, em cujo art. 1.° de 1826; Imprensa Nacional, em fevereiro de
se dizia: 1885 e, finalmente, Departamento de Imprensa
Nacional.
“Todos os bens da Coroa de qualquer natu­
reza que sejarr^ pertencem à Nação, e se chama­ A organização atual do Departamento de
rão em conseqüência bens nacionais” . Imprensa Nacional grupa tôdas as oficinas num
só setor de trabalho, no qual a direção única per­
Por êsse motivo, a Impressão Régia, em prin-
mite uma coordenação de energia e^ maior coope­
CIPios de setembro dêsse ano, passou a chamar-se ração .
Imprensa N acional. !
Em 28 de agôsto de 1821, a Secretaria do Suas instalações grandiosas e séu pessoal
Reino expediu um aviso segundo o qual ficavam altamente especializado colocam-na no ramo grá­
bentos de revisão prévia todos os papéis que se fico, como o maior estabelecimento do gênero na
houvessem de imprimir, mas no caso de abuso América do Sul. Presentemente efetua o D I N
ficavam responsáveis os autores ou editores e na trabalho de todos os ramos da arte gráfica desde
sua falta os impressores. o primitivo, de tipografia de caixa, até aos mais
modernos métodos de reprodução fotográfica ou
Em 1822 passou a “Gazeta do Rio de Ja­ de impressão em rotogravura e “offset” O seu
neiro’’ a denominar-se “Gazeta do R io” trazen­ aparelhamento permite trabalhos de real’ valor e
do numeração de páginas seguida, contando ao uma produção considerável
102 R E VISTA DO SERVIÇO PU B LIC O ----- JU LH O DE 1 9 5 4

A Oficina de Composição, sem favor, uma Edita o D . I . N . , além do “Diário Oficial” ,


das mais completas do continente, possui nada “Diário da Justiça” e “Diário do Congresso” , o
menos de uma centena de linotipos e várias inter- “Ementário da Legislação Federal” , revistas de
tipos, assim como fundidores de monotipos, má­ jurisprudência dos Tribunais, Boletins do Pessoal
quinas de fundir tipos, entrelinhas, fios e todo o e impressos das repartições do Govêrno e tôdas
material branco. as separatas de interesse coletivo.
Na Impressão conta o D . I . N . 3 grandes As suas edições de livros, das mais perfeitas
rotativas, rotativas pequenas, impressores cilín­ sob o ponto de vista gráfico, são ainda uma exce­
dricos e impressoras verticais. lente fonte de renda para o D . I . N .

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