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Conselho Profissional

Historiadores e cientistas sociais discutem quais os acontecimentos que definem o início e o


fim dos séculos e seus respectivos Zeitgeists. Emergem indagações acerca dos Leitmotivs
que os conformam e suas cesuras. O que marca o final do século XX e o início século XXI?
Será que temos uma nova configuração da sociabilidade nesse novo período? Será que o
desenvolvimento dos processos civilizatórios acompanhou a nossa evidente evolução
cultural e material?

Sendo assim, emergem indagações acerca da psicanálise e a sua relação com a cultura e a
sociedade contemporânea. Será que estamos municiados com reflexões e argumentos
suficientes para navegar nesse quadro? Será que o edifício, teórico e clínico, da psicanálise
suporta tais mudanças? E o exercício do ofício do psicanalista? No campo psicanalítico
como se move a dinâmica entre tradição e inovação no processo de formação/transmissão da
psicanálise? Como zelar do nosso ofício, em tempos de pandemia e de hiperconexão?

Com tais preocupações a Diretoria do Conselho Profissional desenvolveu algumas


atividades, ao longo de 2020 a 2022, que se encontram neste link.

Carlos Cesar Marques Frausino


Diretor do Conselho Profissional

Ofício psicanalítico: regulamentação e singularidade

No Brasil, a psicanálise é um ofício, não é uma profissão, não há legislação que a


regulamente, assim como há raros exemplos de países que têm lei específica para esse
objetivo.

No âmbito da Federação Brasileira de Psicanálise (Febrapsi) e da Associação Psicanalítica


Internacional (IPA), a formação dos psicanalistas segue as recomendações e postulados
freudianos e é constituída, necessariamente, por análises pessoais de alta frequência ao longo
de anos, supervisões clínicas com analistas experientes e por seminários teóricos e clínicos
acerca de autores contemporâneos e clássicos.

Processo permanente e singular que implica na conquista de um saber – pelo psicanalista –


sobre seu inconsciente, sua subjetividade e não um conhecimento constituído, cumulativo e
totalizante gerado em instituições de ensino. Um processo que não tem atalhos e é pautado
pela ética do respeito à alteridade e do cuidado com o sofrimento psíquico.

A FEBRAPSI, fundada em 1967, é composta por cerca de 2.308 filiados, 1.370 membros e
938 analistas em formação, espraiados pelo território nacional por meio de 18 Sociedades
Psicanalíticas e Grupos de Estudos. A Febrapsi é filiada à IPA, fundada por Freud há mais de
100 anos, presente em 51 países, com cerca de 18.300 analistas (12.820 membros e 5.480
analistas em formação) e 103 instituições (Sociedades e Grupos Psicanalíticos).

Sendo assim, como regulamentar, como definir legislações e arranjos institucionais estatais e
governamentais para enquadrar algo tão complexo, sensível e singular como a formação e o
exercício da psicanálise? Como lidar com o incremento acentuado da oferta de cursos de
psicanálise de matizes religiosos e outros que não seguem os parâmetros da formação de
psicanalistas pautados pela ética psicanalítica e pela seriedade na constituição no clássico
tripé formativo (análise pessoal, supervisão e seminários teóricos e clínicos)?
A Febrapsi reconhece as dificuldades e as complexidades!

Tais fatos e o zelo com a especificidade do método e da prática psicanalítica impulsionaram


a Federação a desenhar uma campanha permanente de comunicação e informação – cujo
nome é # psicanálise É , com o detalhamento da formação psicanalítica e do exercício da
psicanálise pelos membros da Febrapsi, em diversas frentes de comunicação (redes sociais,
imprensa em geral etc). A campanha não aborda a complexa e delicada discussão sobre a
regulação e/ou regulamentação da psicanálise.

O Conselho Profissional da Febrapsi, há décadas, tem se dedicado a discutir e atuar junto às


tramitações dos projetos de regulamentação do nosso ofício no Congresso Nacional.
Atualmente, tramitam no Senado o Projeto de Lei do Senado 101/2018, do senador Telmário
Motta, que Regulamenta a profissão de psicanalista; o Projeto de Lei do Senado 174/2017,
do mesmo senador, que Regulamenta o exercício da profissão de terapeuta naturista (no qual
insere a psicanálise); e a Sugestão Parlamentar 40/2019 (ainda não é um Projeto de Lei), que
propõe a Regulamentação da “Psicoterapia” como prática privativa de psicólogos com CRP
ativo. Vale notar que nenhum Projeto de Lei, nessa direção, foi aprovado pelo Parlamento
brasileiro.

Ademais, a Febrapsi, em 2000, foi uma das instituições fundadoras do Movimento


Articulação das Entidades Psicanalíticas Brasileiras, que aglutina um conjunto de dezenas
de entidades psicanalíticas, de variados matizes teóricos, e tem como objetivo debater e atuar
sobre iniciativas, no Congresso Nacional e fora dele, com a finalidade de promover a
regulamentação do nosso ofício, com argumentos pautados pelos postulados freudianos e os
princípios que norteiam a formação de psicanalistas e o exercício da psicanálise. A
participação da Febrapsi no Articulação é por meio do Diretor do Conselho Profissional, que
segue as deliberações do Conselho Diretor da Federação. Na atual gestão, seguimos dando
continuidade ao trabalho dos colegas que ocuparam esse espaço.

Rio de Janeiro, 27 de outubro de 2021.

Carlos Cesar Marques Frausino


Diretor do Conselho Profissional da Febrapsi.

Por que a regulamentação ameaça a psicanálise

A Federação Brasileira de Psicanálise (FEBRAPSI), fundada em 1967 com a denominação


de Associação Brasileira de Psicanálise (ABP), congrega 18 Sociedades e Grupos
Psicanalíticos em 10 estados e no Distrito Federal, somando cerca de 2.200 membros das
Sociedades e dos Institutos de Psicanálise. Surgiu com a finalidade de estimular o
desenvolvimento da Psicanálise no Brasil, de acordo com as normas idealizadas por
Sigmund Freud e padronizadas pela Associação Psicanalítica Internacional (IPA), da qual
todos os psicanalistas de nossas federadas são membros associados, bem como fizeram sua
formação seguindo as regras estabelecidas por ela há mais de 100 anos. A IPA possui cerca
de 12 mil membros e 5 mil analistas em formação e está presente nos cinco continentes, em
mais 70 instituições distribuídas em dezenas de países.

A FEBRAPSI também é membro fundadora do Movimento Articulação das Entidades


Psicanalíticas, que hoje congrega 17 entidades a compartilhar dos pressupostos básicos
enunciados por Sigmund Freud sobre as necessidades para a formação e o exercício da
Psicanálise.

A FEBRAPSI tem como objetivos proporcionar o intercâmbio e a união entre as Entidades


Federadas, promovendo, patrocinando e/ou estimulando atividades científicas e didáticas que
favoreçam a comunidade e a relação entre os psicanalistas brasileiros, e estimular a difusão
do pensamento psicanalítico.

Nossos psicanalistas em sua imensa maioria são médicos ou psicólogos. Mas também temos
membros com outras formações de origem. Eles estão amplamente inseridos na vida
acadêmica, com vasta produção científica, nas estruturas de atenção à saúde e atividades
junto à comunidade e à vida cultural do país. Participam em eventos científicos nacionais e
internacionais, bem como na publicação de trabalhos científicos. Cabe salientar que a
própria Federação publica a Revista Brasileira de Psicanálise, pioneira que está entre as mais
antigas do país na área, assim como a quase totalidade de suas federadas também possui suas
publicações. São revistas reconhecidas por indexadores nacionais e internacionais.
Destaque-se ainda a publicação da Associação Psicanalítica Internacional que está indexada
ao Medline.

Desde a criação da Psicanálise, a formação de psicanalistas baseia-se em três atividades


complementares e indissociáveis: a análise pessoal conduzida por colega comprovadamente
experiente e competente, o analista didata; o estudo da teoria durante quatro anos de
seminários e grupos de estudos, num total aproximado de 960 horas, e a prática clínica
supervisionada, durante 200 a 300 horas, em média. Esse tripé oferece àquele que a busca
uma formação baseada em experiência vivida. Nos institutos de formação, ele(a) entra em
contato com outros analistas que já passaram ou estão passando pelo processo, desenvolve
sua análise pessoal, participa de seminários teóricos e clínicos e tem seu trabalho
supervisionado, apresentando trabalhos com temas em Psicanálise que mostrem sua prática
clínica, para então receber o título de psicanalista.

A formação de cada psicanalista é um processo permanente e singular, que sempre se amplia


no diálogo com os textos clássicos e os atuais, produzidos por colegas, e na experiência
pessoal vivenciada com seus analisandos.

Um psicanalista não orienta, não aconselha, não diz o que é melhor ou pior para a vida de
ninguém. Nem se arroga ao direito de saber o que deva ou não ser feito pelos seus pacientes.

Para tanto é fundamental que o psicanalista possa diferenciar o que é seu do que é do outro,
ou seja, que não confunda os sofrimentos e alegrias de seus pacientes com os seus próprios
sentimentos e pensamentos.

Para isso é essencial que o analista se submeta – ele próprio – a uma psicanálise com um
analista mais experiente que lhe permita alcançar o melhor autoconhecimento possível. Este
trabalho, conhecido como análise didática ou análise de formação, pode transcorrer por mais
de oito anos, com frequência de três a quatro sessões por semana e não raro, anos depois de
terminar esse processo, muitos analistas retornam ao divã para uma reanálise. Especialmente
este ponto, fundamental para a formação do analista, entende-se impossível de ser
regulamentado. Uma tentativa de fazê-lo acarretaria uma desfiguração da própria essência do
processo analítico.

Enfatizamos este ponto – a análise pessoal – como o mais importante elemento do chamado
tripé da formação. Algo que impossibilita definições e regulamentações sobre este processo.

Psicanálise não é uma prática de convencimento. Sendo um ofício – e não uma profissão – a
Psicanálise não se ajusta aos modelos de profissionalização que recebem algum tipo de
certificação ou diploma, expedidos por instituições de ensino ou órgãos reguladores
públicos.
Enfim, o surgimento de um psicanalista depende, essencialmente, de sua análise pessoal
conduzida nos moldes acima descritos. A Psicanálise não é regulamentada como profissão
no Brasil e não o foi até agora porque os parlamentares brasileiros, desde as primeiras
tentativas na década de 1970, reconheceram a complexidade do campo psicanalítico e
resistiram a qualquer decisão que pudesse desfigurar, e mesmo banalizar, um ofício que lida
tão intimamente com o sentir, o pensar e o agir humanos. Os psicanalistas não reclamam
nenhuma regulamentação do Estado. A Psicanálise persiste há mais de um século graças a
princípios e métodos rigorosos e a um corpo teórico e técnico que tem a proposta de
Sigmund Freud como fundamento. Uma regulamentação da Psicanálise externa a seu campo
geraria um funcionamento contraditório ao surgimento ou formação de um analista.
Dificultaria a operação em vez de melhorar suas condições.

Reconhecemos a dificuldade de enquadrar um processo eminentemente particular,


independente e individual como o é a psicanálise num projeto regulatório, coletivo e
abrangente, como os propostos de tempos em tempos.

Hoje tramitam no Senado Federal dois Projetos de Lei que pretendem a “regulamentação”
do ofício da psicanálise, que podem levar a um quadro sério de manipulação e persuasão
dirigidas não para o atendimento à saúde mental do brasileiro, mas a interesses não
republicanos.

São eles: o PLS 174/2017, que regulamenta o exercício da profissão de terapeuta naturista e,
inexplicavelmente, inclui o psicanalista nesta classificação. O projeto está na Comissão de
Assuntos Sociais e o relator é o senador Irajá (PSD-TO), que apresenta voto pela rejeição da
proposta. E o PLS 101/2018, que regulamenta a profissão de psicanalista. Também se
encontra na Comissão de Assuntos Sociais, com relatório apresentado pelo senador Jayme
Campos (DEM-MT). Ambos os projetos são de autoria do senador Telmário Mota (PTB-
RR).

No presente momento, a FEBRAPSI, alinhada ao Movimento Articulação, tem a posição de


que seja retirada do texto do PLS nº 174 a Psicanálise em todas as suas modalidades, e de
que o PLS nº 101 seja rejeitado pela Comissão de Assuntos Sociais.

A FEBRAPSI se coloca à disposição para o debate desta importante questão e conta com o
apoio dos senhores senadores na luta pela preservação de uma psicanálise baseada na ética e
na rigorosa formação de seus profissionais.

Rio de Janeiro, 06 de novembro de 2019.

Anette Blaya Luz – Presidente da FEBRAPSI


Hemerson Ari Mendes – Diretor do Conselho Profissional da FEBRAPSI

Sobre a regulamentação da profissão de psicanalista

Há muito tempo se discute sobre a regulamentação da profissão de psicanalista. E, embora


após uma consulta feita aos seus membros, a posição da Febrapsi tenha sido pela não
regulamentação, o tema gera debates recorrentes em algumas instituições Federadas.Tais
discussões ocuparam as diversas diretorias antecedentes que trabalharam ampla e
profundamente sobre o assunto e as ponderações, tanto pela regulamentação, como pela
manutenção da posição atual, envolvem consistentes argumentos.

A psicanálise no Brasil, como se sabe, é um ofício, e não uma profissão; ou seja, não está
regulamentada como profissão. Ela está incluída na Classificação Brasileira de Ocupações
(C.B.O.) versão 2002. A (C.B.O.) não regulamenta, apenas reconhece as ocupações.
Com raras exceções, como é o caso na Itália, a psicanálise não é regulamentada em outros
países do mundo.

A necessidade de marcar posição sobre o que é a psicanálise, quais são os seus fundamentos
teóricos e sua práxis, remete à sua própria história. Desde Freud, inúmeras vezes tornou-se
indispensável delimitar o campo psicanalítico.

Em nosso meio esta situação assumiu uma premência maior nos últimos anos,
particularmente com a proliferação de entidades que ofereciam cursos e formações
psicanalíticas que não consideram os critérios indispensáveis a formação de um psicanalista,
estabelecidos desde a criação da psicanálise. A análise pessoal do analista, supervisão do
trabalho clínico e o estudo teórico dos textos psicanalíticos , aspectos fundamentais para que
se possa exercer a psicanálise sofriam graves deturpações por estes grupos.

É importante lembrar que, desde 1998, a Febrapsi, quando ainda era denominada –
Associação Brasileira de Psicanálise , tomou a iniciativa de entrar com uma representação
no Ministério Público envolvendo propaganda enganosa. O caminho foi basear-se no Código
de Defesa do Consumidor, uma vez que a profissão não é regulamentada. Posteriormente, o
Conselho Federal de Psicologia (CFP) também seguiu esta prerrogativa, através dos seus
conselhos estaduais.

Com o objetivo de tornar ainda mais eficazes e abrangentes as ações, a FEBRAPSI junto
com o Conselho Federal de Psicologia, com a participação do Conselho Federal de Medicina
e a Associação Brasileira de Psiquiatria , convidaram várias entidades psicanalíticas
independentes a se reunirem para debater sobre estes grupos que oferecem formação
psicanalítica. Além disso surgiu na mídia, sem que se soubesse sobre a sua origem, um
“Conselho Brasileiro de Psicanálise ”.

Assim ,em 2000, foi criado o Movimento Articulação constituído por entidades
psicanalíticas que têm nos postulados freudianos, os princípios que norteiam a formação de
psicanalistas e o exercício da psicanálise. Neste sentido, a Articulação tem sido muito
atuante sempre que novos projetos de regulamentação da profissão se apresentam na Câmara
dos Deputados.Os projetos de regulamentação da profissão têm um longo histórico, iniciado
em 1975, porém cabe destacar que nenhum deles foi formulado por psicanalistas.

A Febrapsi tem participado ativamente do Movimento Articulação desde o seu início, sendo
representada pelo Diretor do Conselho Profissional, que segue as diretrizes estabelecidas
pela diretoria.Nesta gestão seguimos dando continuidade ao trabalho desenvolvido nas
gestões anteriores.

O entendimento de que a psicanálise, por sua própria especificidade , não deve ser
regulamentada, tem sido o consenso entre as Instituições integrantes do Movimento
Articulação. Esta idéia não implica abster-se de defender o exercício da psicanálise, o que
vem sendo feito em ações jurídicas e manifestações públicas, que culminaram com a
publicação, pelo Movimento Articulação, do livro “Ofício do Psicanalista – Formação VS.
Regulamentação”, editado em 2009. Os textos sustentam a proposta firmada a partir do
debate interno e expressam o pensamento das entidades.

Permanecer debatendo, avaliando e refletindo sobre esta complexa situação tem sido a
posição da Febrapsi que, junto com o grupo que compõe a Articulação, tem se ocupado desta
relevante questão na última década.

Ana Paula Terra Machado (SBPdePA)

Á
MANIFESTO DE ENTIDADES BRASILEIRAS DE PSICANÁLISE

Há cerca de 90 anos a formação de psicanalistas está baseada em três atividades


complementares e indissociáveis entre si: a análise pessoal, os cursos teóricos e a supervisão
dos casos clínicos.

Esta tríade configura a formação como um ofício, e o psicanalista aprende e ganha


qualificação em oficinas – os institutos de formação – onde, artesanalmente, no contato com
outros analistas, desenvolve sua análise pessoal,

realiza seus seminários para o aprendizado teórico e técnico e tem o seu trabalho
supervisionado. A formação de cada psicanalista é um processo permanente, que se amplia
no seu diálogo com os textos clássicos e com os

produzidos por outros analistas, confrontados com a sua experiência pessoal na relação com
seus analisandos, mesmo quando já está qualificado como psicanalista. Esta qualificação,
portanto, não se ajusta aos modelos que

podem sofrer algum tipo de certificação por instituições de ensino ou órgãos reguladores
públicos; se existe um indicador, ele será, certamente, o de qual é a instituição que forma,
quem são seus componentes, que padrões são seguidos. Gradualmente este campo se
expandiu e surgiram instituições que se propõem a formar analistas, com variações nos
requisitos e na modelagem do processo de formação, mas mantendo os princípios gerais
como estabelecidos no início do século passado e ampliando a parcela dos analistas, filiados
a várias outras escolas, que se dedicam ao estudo e à prática da Psicanálise.

Ao longo dos anos este campo estabeleceu e mantém suas tradições, com uma prática onde
se preserva o patrimônio da psicanálise e onde se organiza um campo de assistência,
representado pelo tratamento às pessoas que nos procuram. As instituições psicanalíticas têm
a responsabilidade social de formar psicanalistas competentes, conferir-lhes autonomia para
o exercício de sua função, responsabilizando-os quanto à ética de seus atos.

Por estes motivos a psicanálise não é regulamentada como profissão no Brasil e em nenhum
outro país. Mesmo entre os psicanalistas existem muitas controvérsias e discussões,
embasadas no processo de formação e na natureza do exercício da prática clínica, sobre as
possibilidades de sua regulamentação.

Nos últimos cinqüenta anos várias tentativas, geralmente apresentadas por parlamentares,
têm sido feitas para alcançar uma regulamentação que, à primeira vista, protegeria os
psicanalistas e a população que recorre ao tratamento psicanalítico. Todas foram rejeitadas
pela comunidade psicanalítica brasileira, ou por não atenderem às especificidades intrínsecas
à psicanálise ou porque representavam somente interesses particulares de grupos e não
visavam o bem estar da população.

No momento está na ordem do dia mais uma destas tentativas: o Projeto de Lei nº 3.944 de
13 de dezembro de 2000, de autoria do deputado Eber Silva, do Rio de Janeiro.

Este projeto é, no seu todo, inaproveitável. Parte de premissas absolutamente equivocadas e


estipula procedimentos incompatíveis com a essência do ofício e da formação de seus
praticantes, abrindo mão do que consideramos o passo inicial de qualquer tentativa séria de
abordar esta questão – ouvir a comunidade brasileira de psicanalistas, através das Sociedades
e entidades que os formam e representam. A Psicanálise exercida no Brasil desfruta de um
reconhecimento, no país e no exterior, conquistado pela seriedade com que preserva e
transmite o patrimônio legado por Freud.
Os psicanalistas não reclamam nenhuma regulamentação do Estado. A psicanálise progride
há mais de um século graças a princípios e métodos rigorosos e um corpo teórico que tem a
proposta de Sigmund Freud como fundamento.

Aqui estão as principais entidades representativas que formam este campo e que assumem
plenamente o compromisso com a sociedade e com a população, buscando proteger o que
sabemos ser o importante e essencial para todos nós – a presença efetiva da psicanálise no
Brasil.

1. Associação Brasileira de Psicanálise

2. Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo

3. Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro

4. Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro

5. Sociedade de Psicanálise da Cidade do Rio de Janeiro

6. Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre

7. Sociedade Psicanalítica do Recife

8. Sociedade Psicanalítica de Pelotas

9. Sociedade de Psicanálise de Brasília

10. Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre

11. Grupo de Estudos Psicanalíticos de Ribeirão Preto

12. Grupo de Estudos Psicanalíticos de Mato Grosso do Sul

13. Núcleo Psicanalítico de Belo Horizonte

14. Núcleo Psicanalítico de Marilia e Região

15. Núcleo Psicanalítico de Natal

16. Núcleo Psicanalítico de Fortaleza

17. Núcleo Psicanalítico de Maceió

18. Núcleo Psicanalítico de Vitória

19. Círculo Brasileiro de Psicanálise

20. Círculo Psicanalítico da Bahia

21. Círculo Psicanalítico de Pernambuco

22. Círculo Psicanalítico do Rio Grande do Sul

23. Círculo Psicanalítico de Sergipe


24. Círculo Psicanalítico de Minas Gerais

25. Círculo Brasileiro de Psicanálise – Seção Rio de Janeiro

26. Grupo de Estudos Psicanalíticos – MG

27. Instituto de Estudos Psicanalíticos – MG

28. Sociedade Psicanalítica da Paraíba

29. Departamento Formação em Psicanálise, Instituto Sedes Sapientiae-SP

30. Departamento de Psicanálise, Instituto Sedes Sapientiae-SP

31. Departamento de Psicanálise da Criança, Instituto Sedes Sapientiae-SP

32. Círculo Psicanalítico do Rio de Janeiro

33. Sociedade de Psicanálise da Cidade do Rio de Janeiro

34. Escola Brasileira de Psicanálise – Escola do Campo Freudiano

35. Escola de Psicanálise Letra Freudiana

36. Sociedade de Psicanálise Iracy Doyle

37. Corpo Freudiano do Rio de Janeiro – Escola de Psicanálise

38. Práxis Lacaniana/Formação em Escola

39. Laço Analítico Escola de Psicanálise RJ

40. Laço Analítico Escola de Psicanálise Varginha(MG)

41. Laço Analítico Escola de Psicanálise Cuiabá(MT)

42. Associação Fóruns do Campo Lacaniano

43. Escola Lacaniana de Psicanálise – RJ

44. Escola Lacaniana de Psicanálise de Brasília

45. Escola Lacaniana de Psicanálise de Vitória

46. Percurso Psicanalítico de Brasília

47. Intersecção Psicanalítica do Brasil

48. Associação de Psicanálise de Brasília

49. Movimento Psicanalítico D'Escola (ES)

50. Traço Freudiano Veredas Lacanianas (PE)

51. Maiêutica Florianópolis – Instituição Psicanalítica


52. Centro de Estudos Freudianos de Recife

53. Reuniões Psicanalíticas (SP)

54. Associação Psicanalítica de Curitiba

55. Formação Freudiana – RJ

56. Aleph Psicanálise Transmissão

57. Espaço Moebius Psicanálise – BA

58. Escola Lacaniana da Bahia

59. Formações Clínicas do Campo Lacaniano-RJ

60. Escola de Psicanálise de Campinas

61. Movimento Psicanalítico Cuiabano – MT

62. Associação Psicanalítica de Porto Alegre

63. Recorte de Psicanálise – Porto Alegre

64. Espaço Psicanalítico de Brasília

65. Núcleo de Estudos Sigmund Freud – RS

66. Projeto Freudiano (Aracaju)

67. GREP8

Como o manifesto é das entidades brasileiras de psicanálise, as entidades abaixo o


subscrevem como apoios:

1. Conselho Federal de Psicologia

2. Conselho Federal Medicina

3. ABPsiquiatria

4. Núcleo de Estudos e Pesquisa em Psicanálise e Ciências Humanas da Universidade


Federal de Sergipe

5. Laboratório de Psicopatologia Fundamental do Programa de Estudos Pós-Graduados em


Psicologia Clínica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP

6. Rede Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental

7. Departamento de Psicodinâmica: Intervenção Institucional e Clínica de Adultos do


Instituto Sedes Sapientiae – SP

8. Programa de Pós Graduação em Psicanálise da UERJ


9. Departamento de Psicanálise e Psicopatologia do Instituto de Psicologia da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

10. Centro de Estudos em Psicoterapia, de Florianópolis – SC

CARTA ao CFP e CRPs

Caros Colegas do Conselho Regional de Psicologia 05 e do Conselho Federal de Psicologia,

Como deve ser do conhecimento de vocês, desde o ano 2000, o Conselho Federal de
Psicologia, inicialmente junto com o Conselho Federal de Medicina, desenvolve uma
parceria com a Articulação das Entidades Psicanalíticas brasileiras no que tange a luta contra
eventuais projetos de lei no Congresso Nacional, destinados a promover uma
regulamentação de práticas psicoterápicas ou mesmo psicanalíticas, orientadas ideologica- e
religiosamente, por interesses que nem de longe tangenciam aqueles proclamados pela ética
profissional do exercício da psicologia ou da medicina. A Articulação das Entidades
Psicanalíticas brasileiras se reúne ininterruptamente desde então e acaba de receber a notícia
de que novo projeto de Lei foi inscrito no Senado, Projeto de Lei do Senado n° 174, de
2017, visando, novamente, uma regulamentação do exercício de algumas práticas – dentre
elas as psicoterápicas e psicanalíticas – sem qualquer relação com o que a comunidade
profissional, de formação científica, julga ser de garante para essa mesma prática. O projeto
está publicado no site:

http://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/129523

e é de autoria de um Senador de Roraima, Telmário Mota – que recentemente mudou para o


PTB –, visando regulamentar “a profissão de Terapeuta Naturista, nas modalidades medicina
oriental, terapia ayurvédica, outras terapias naturais, e terapias psicanalíticas e
psicopedagógicas” (sic, grifo nosso).

Essa não é a primeira tentativa da Bancada Evangélica no Senado Federal buscar uma
regulamentação da psicoterapia e da psicanálise para que os membros dessas comunidades
se apropriarem de uma prática, um saber e uma clínica que, há mais de um século exige uma
formação fundamentalmente laica, que imprime uma necessária neutralidade no exercício da
profissão. A tentativa anterior, se deu com um projeto de lei impetrado pelo Deputado Simão
Sessim, em 2004, e pode ser barrada pela ação conjunta dos Conselhos Federais de
Psicologia, de Medicina e do movimento da Articulação das Entidades Psicanalíticas
brasileiras, razão de tomarmos a liberdade de lhes escrever no momento, solicitando a
retomada de ações conjuntas no sentido de, novamente, unirmos forças junto ao Congresso
Nacional para impedir que esse novo projeto siga adiante. Como das outras vezes, é de
absoluta clareza para todos os participantes de nosso movimento da Articulação que,
qualquer que seja a tentativa de uma regulamentação do trabalho do psicanalista, os únicos
que teriam a ganhar com isso seriam aqueles que nós, psicanalistas brasileiros das mais
diferentes instituições psicanalíticas – que nem sempre estão de acordo entre si, mas quanto
a isso são unânimes –, não consideram psicanalistas com formação suficiente para o
exercício dessa prática cujas regras são exclusivamente aquelas adotadas por Sigmund
Freud, criador da psicanálise: a da associação livre daquele que nos vem consultar e a da
abstinência do psicanalista. Qualquer outra regra, regulamentação, é contrária à prática
psicanalítica.

Na expectativa de podermos contar novamente com a presença e participação desse


Conselho em nossa luta para fazer prevalecer uma psicanálise nos moldes como a queria
Sigmund Freud e que hoje somos nós a defender,
Rio de Janeiro, 13 de setembro de 2017.

Cordialmente,

pela Articulação das Entidades Psicanalíticas brasileiras:

Entidade Representante1 CRP ou CRM e-mail

Aleph-Escola de Gêisa de CRP 04/1507 ferreirageisa@gmail.com


Psicanálise Carvalho Silva
Ferreira

Associação Rosane CRP: 05/37937 rosaneram@gmail.com


Psicanalítica de Ramalho
Porto Alegre – Maria Ida
APPOA Fontenelle

Centro de Estudos Gustavo CRM: gpsoares@terra.com.br


Psicanalíticos de Antonio de 12871/CREMERS
Porto Alegre Paiva Soares
(CEPdePA).

Círculo Brasileiro Anchyses CRM 52 33.538-8 anchyses@terra.com.br


de Psicanálise Jobim Lopes

Círculo Psicanalítico Edson Soares CRM 16343 RJ adm_cprj@cprj.com.br


do Rio de Janeiro Lannes

Corpo Freudiano Denise CRP 05/4182 dmaurano@corpofreudiano.com


Maurano Mello CRP 05/41492 patrick.clinica@gmail.com
Patrick Werner
dos Anjos

Departamento de Ana Maria CRP 06/13702 anasigal@terra.com.br


Psicanalise do Sigal
Instituto Sedes

Escola Brasileira de Samyra Assad CRP 04/6085 samyra@uai.com.br


Psicanálise

Escola de Sonia Alberti CRP 05/2486 sonialberti@gmail.com


Psicanálise dos
Fóruns do Campo
Lacaniano

Escola Lacaniana de Maria Teresa CRP 05/2313 mtsmelloni@gmail.com


Psicanalise Saraiva Melloni

Escola Letra Mauricio de CRP05/20365 mauriciolessa2@gmail.com


Freudiana Andrade Lessa CRP 02/29411
Patricia Sá

Federação Brasileira Rosane Müller CRP 11/0169 rosanemullerbr@gmail.com


de Psicanálise – Costa
FEBRAPSI

Formação Maria Helena CRP 06/4241 sa-leme@uol.com.br


Psicanalítica Saleme
Instituto Sedes
Sapientiae

Laço Analítico Francisca AMT-RJ: 412-1 mariana0307@hotmail.com


Escola de Mariana Abreu
Psicanálise Mayerhoffer

Práxis Antônia da CRP 05/5808 antonipmagalhaes@gmail.com


Lacaniana/Formação Conceição
em Escola Portela
Magalhães

Sigmund Freud Bárbara Conte CRP 07/1004 barbara.conte@globo.com


Associação
Psicanalítica

Tempo Freudiano Fernanda CRP 05-11426 costamouraf@gmail.com


Associação Theophilo da
Psicanalítica Costa-Moura

1 Representante da Entidade no Movimento Articulação das Entidades Psicanalíticas


Brasileiras

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