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SEMINÁRIO BÍBLICO DE TEOLOGIA CRISTÃ DO RIO DE JANEIRO

Seminário Interdenominacional – Entidade Mantenedora: COMUNIDADE CRISTÃ VIDA NOVA


Caixa Postal 46024 CEP 20560.970 – Rio de Janeiro/RJ

QUE É PSICANÁLISE?

É a ciência do inconsciente. É conhecida também como a ciência Arte. É a


forma de tratamento das neuroses através do processo de Livre
Associação, Interpretação de Sonhos, análise dos Atos Falhos e da
Resistência. A Psicanálise foi criada pelo grande médico neurologista
judeu/Austríaco Sigmund Freud, que viveu entre 1856 e 1939. É uma
ciência de vanguarda, da maior importância para que o homem se
compreenda, se resolva e compreenda o próximo na sociedade em que
vive. No dizer de Freud “ é a profissão de pessoas que curam almas, que
não necessitam ser médicos e que não devem ser sacerdotes”. Seu
propósito é descobrir, no inconsciente dos seres Humanos, suas
necessidades, complexos, traumas e tudo que perturbe seu equilíbrio
emocional.

Diferenças entre a Psicanalista a Psiquiatria e a Psicologia?

A PSIQUIATRIA

É a parte da medicina que se ocupa das doenças mentais ou melhor


dizendo, “doenças cérebromentais” aquelas de origem orgânica,
geralmente apresentando lesões do córtex cerebral, e sua terapia se

PSICANÁLISE
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efetua por meio de processos medicamentosos, cirúrgicos, eletro-choques,
etc. A atuação do psiquiatra incide, especialmente, sobre as psicoses.

A PSICOLOGIA

É a ciência que se preocupa com o comportamento humano em seus


aspectos e conduta objetivos observáveis, que possam ser medidos,
testados, compreendidos, controlados, descritos e preditos objetivamente.
Pode-se afirmar que o psicólogo se ocupa, antes de tudo, com a mente
consciente do homem, utilizando-se de aplicação de testes e de outros
recursos de sua especialidade.

O QUE É O PSICANALISTA?

É um profissional Clínico que pratica a Psicanálise empregando


metodologia própria pelo princípio evasivo.

É o profissional que aplica os princípios, os postulados, as técnicas e os


métodos da Psicanálise no tratamento ou na prevenção de distúrbios
psíquicos de natureza inconsciente, tais como: inadaptações, timidez,
impulsividade, sentimento de culpa, desgosto obsedante, escrúpulo
excessivo, distrações desagradáveis, dúvidas persistentes, abulias, fobias,
obsessões, neurastenias, neuroses de fracasso, etc. e perturbações
sexuais e somáticas de origem psíquica.

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COMO SE FORMA O PSICANALISTA?

No Brasil e no mundo, a Psicanálise é exercida livremente (não é


regulamentada), contudo sob critérios éticos bastante rígidos. No nosso
caso, no Brasil, seu exercício se dá de acordo com o artigo 5.º, incisos II e
XIII da Constituição Federal. Sobre a legalidade da prática profissional
psicanalítica, acrescenta-se ainda o Parecer do Conselho Federal de
Medicina, Processo Consulta 4.048/97 de 11/02/98. Parecer 309/88 da
Coordenadoria de Identificação Profissional do Ministério do Trabalho.
Parecer n.º 159/2000 do Ministério Público Federal e da Procuradoria da
República, do Distrito Federal, e Aviso n.º 257/57, de 06/06/1957, do
Ministério da Saúde, este último como marco histórico.

ÉTICA PROFISIONAL

Toda cultura e toda a sociedade institui uma moral, isto é, valores


concernentes ao bem e ao mal, ao permitido e ao proibido, e à conduta
correta, válidos para todos os seus membros. Culturas e sociedades
fortemente hierarquizadas e com diferenças de castas ou de classes
muito profundas podem até mesmo possuir várias morais, cada uma
delas referida aos valores de uma casta ou de uma classe social.

No entanto, a simples existência da moral não significa a presença


explícita de uma ética, entendida como filosofia moral, isto é, uma

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reflexão que discuta, problemize e interprete o significado dos valores
morais.

Nossos sentimentos, nossas condutas, nossas ações e nossos


comportamentos são modelados pelas condições em que vivemos
(família, classe e grupo social, escola, religião, trabalho, circunstâncias
políticas, etc.). Somos formados pelos costumes de nossa sociedade,
que nos educa para respeitarmos e reproduzirmos os valores propostos
por ela como bons e, portanto, como obrigações e deveres. Dessa
maneira, valores e deveres parecem existir por si e em si mesmos,
parecem ser naturais e intemporais, fatos ou dados com os quais nos
relacionamos desde nosso nascimento: somos recompensados quando
os seguimos, punidos quando os transgredimos.

No pensamento filosófico dos antigos a ética era concebida como


educação do caráter do sujeito moral para dominar racionalmente
impulsos, apetites e desejos, para orientar a vontade rumo ao bem e à
felicidade, e para formá-lo como membros da coletividade sóciopolítico.
Sua finalidade era a harmonia entre o caráter do sujeito virtuoso e os
valores coletivos, que também deveriam ser virtuosos.

A PSICANÁLISE mostra que somos resultado e expressão de nossa


história de vida. Não somos autores nem senhores de nossa história,
mas efeitos dela.
O sujeito ético, isto é, a pessoa, só pode existir se for consciente de si e
dos outros, ser dotado de vontade , capacidade para controlar e orientar
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desejos, impulsos, tendências, sentimentos e capacidade para deliberar e
decidir, ser responsável e ser livre.

Como princípios da Ética Psicanalítica consideramos o Psicanalista na


relação consigo mesmo, o Profissional e a sua relação com seus
pacientes, sua conduta como Profissional de interações e a sua relação
com a “sua” Sociedade

No caso da Sociedade Psicanalítica Ortodoxa do Brasil temos um código


de ética próprio, denominado Código de Ética Profissional dos
Psicanalistas da SPOB, aprovado pela Assembléia Geral da Sociedade
Psicanalítica Ortodoxa do Brasil, instrumento que disciplina todos os
aspectos da vida profissional e condutas dos Psicanalistas membros da
mesma, tanto filiados através do Conselho Psicanalítico Nacional, quanto
dos filiados através dos Conselhos Psicanalíticos Regionais.

Tem como objetivo básico a busca da verdade somente a verdade e nada


mais que a verdade.

Obs.: Por ser literatura extensa restrinjo-me a transcrever apenas os


itens de maior interesse dos meus clientes , estando, porém, sempre
à disposição para fornecer o complemento àqueles que se
interessarem.

Sigilo Profissional:

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Art. 6o. - O Psicanalista está obrigado a guardar sigilo profissional,
nos seguintes termos:

1- O sigilo profissional terá caráter absoluto dento das atividades


profissionais;

2- O Psicanalista não pode divulgar, em particular ou em público,


quaisquer informes que tenham origem nas palavras dos pacientes,
mesmo que estes tenham dito que os mesmos não eram
segredáveis.

3- O Psicanalista não pode informar a outro profissional, mesmo que


seja Psicanalista, sobre qualquer referência a respeito de paciente e
de seu estado de saúde, sem que haja autorização por escrito do
mesmo.

4- O Psicanalista não pode fazer menção do nome de seus


pacientes, mesmo quando apresentando casos clínicos, ainda que
os pacientes autorizem;

5- Sempre que o Psicanalista apresentar um caso clínico em


alguma atividade acadêmica (palestra, aula, conferência, congresso,
etc.) o fará sob pseudônimo.

6- O Psicanalista não pode apresentar, mesmo sob pseudônimo, um


caso clínico de alguém presente à palestra ou conferência,
ressalvando o fato de o paciente o ter autorizado, por escrito;

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7- O Psicanalista não pode identificar o paciente ou ex-paciente,
como tal, diante de terceiros;

8- O Psicanalista está proibido de comentar sobre pacientes,


mesmo com pessoas de sua intimidade, como esposa, filhos, etc.

9- O Psicanalista não pode comentar casos de pacientes com


outros pacientes mesmo com a intenção de encorajá-los, pois isto
tanto foge da técnica quanto amedronta o paciente;

10- O Psicanalista se tiver por costumes fazer anotações das


sessões, está obrigado a ter cuidado absoluto garantindo que
ninguém delas tome conhecimento, sendo de bom alvitre que anote
sob certas condições ou adote pseudônimos para os pacientes (na
ficha);

11- O Psicanalista tem o dever de comunicar ao seu respectivo


Conselho toda e qualquer informação sobre colegas de sua
Sociedade que esteja infringindo quaisquer princípios éticos ou se
conduzindo aleivosamente;

12- Em caso de solicitação policial ou judicial na qual a autoridade


peça informação sobre alguma fala ou fato conhecido de qualquer
paciente, vivo ou morto, o Psicanalista só poderá informar, após a
consulta a sua Sociedade e ao paciente, se vivo, e mesmo assim se
tal informação trouxer benefício para o paciente ou sua família;

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13- Em caso de pressão da autoridade para que seja revelado
algum conteúdo que não venha a beneficiar ao paciente ou sua
família, o Psicanalista terá que silenciar em nome da ética.

Direitos Profissionais:

Art. 8o. - São direitos do Psicanalista:

1- Recusar pacientes com patologia estrutural;

2- Recusar paciente não analisável;

3- Recusar paciente com patologia neurológica que inviabilize o


tratamento psicanalítico;

4- Recusar conduzir qualquer processo de psicanálise, mesmo os


não enquadrados nos itens anteriores ou que não firam leis ou
normas desta Sociedade, mas que estão em desacordo com a sua
consciência;

5- Recusar paciente que lhe esteja vinculado por laços de amizade


ou parentesco;

6- À luz do contrato analítico, cobrar e receber remuneração justa


pelos seus próprios serviços, sempre dentro da ética profissional;

7- Não fornecer, quando for o caso, o seu endereço e o seu telefone


particular.

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VII- Direitos do Paciente:

Art. 9º - São direitos do paciente:

1 – Direito de desconfiar do Psicanalista;

2 - Direito de escolher livremente o seu Psicanalista;

3 – Direito de em qualquer tempo, de modo unilateral, encerrar o


tratamento;

4 - Direito de encerrar livremente, a resistência;

5 – Direito de exigir o cumprimento do contrato analítico, no que lhe


diz respeito, na integra;

6 – Direito de não aceitar mudanças de horários, ao capricho do


Psicanalista;

7 – Direito de falar ou de ficar calado no tempo que lhe pertence;

8 – Direito de recibo pelos honorários honrados.

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NOTA:
PSICANÁLISE E RELIGIÃO

Rudolf Allers

O naturalismo e o materialismo são, necessariamente antagônicos da religião.


Uma atitude mental que introduz fatores imateriais e trans-mundanos, que
sustenta uma noção como a de uma alma espiritual e que acredita na
revelação, torna-se, para o espírito materialista, ininteligível, estranha e
perigosa. Tal mentalidade é, verdadeiramente, o oposto do materialismo e, ao
passo que as atitudes religiosas existem e permanecem eficazes na vida
humana, o materialismo sente a sua posição ameaçada. Os defensores de uma
explicação "científica" da realidade vêem na religião, ou um inimigo, ou, pelo
menos, um estádio rudimentar da evolução, que tem de acabar por triunfar para
assegurar o "progresso" definitivo da raça humana.

A psicanálise é profundamente materialista e não pode mesmo professar outra


filosofia. A sua base é o materialismo. Se os sequazes de Freud
abandonassem o seu credo materialista, ver-se-iam obrigados a deixar de ser
psicanalistas. Há alguns que estão convencidos de que podem acreditar, ao
mesmo tempo, na verdade da religião e na verdade da psicanálise, sem

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incorrerem em auto-contradição. Esses homens imaginam isso, ou porque não
conhecem suficientemente uma coisa e outra, ou porque o seu espírito é de tal
natureza que se acomoda às contradições, ou ainda talvez porque não são
bastante críticos para se aperceberem de tais contradições.

Ninguém que penetre no espírito da psicanálise e, ao mesmo tempo, seja


inteiramente conhecedor da essência da fé sobrenatural, pode acreditar que
estas duas coisas sejam compatíveis. Já varias vezes foi declarado, tanto por
autores católicos como protestantes, que a psicanálise é, basicamente anti-
cristã. Não há maneira de se sair deste dilema: ou se acredita em Cristo ou na
psicanálise. Os próprios sequazes de Freud não têm dúvidas a tal respeito.
Para eles, a religião não significa mais do que uma manifestação particular do
espírito humano, da mesma categoria que as práticas da magia, do totemismo
ou da bruxaria. Sempre os psicanalistas procuraram provar que a religião é um
produto de forças instintivas e da reação contra as mesmas.
Freud fala da religião como de uma "ilusão". Os ritos religiosos são
assemelhados a práticas devidas à obsessão, ou identificados com as mesmas
práticas. A religião é uma neurose dos grupos. Não vale a pena entrar em
pormenores, porque todas as obras dos psicanalistas estão cheias de
observações no mesmo sentido. Não há dúvida alguma de que a sua convicção
é que a religião é um fato puramente psicológico, que é nociva e condicionada
pelos mesmos fatores que condicionam a neurose nos indivíduos, e que,
finalmente, para bem da humanidade, tem de ser abolida e substituída pelo
reino da ciência. Era isso que Freud esperava; a "ilusão" devanecer-se-ia

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perante a luz da razão; a ciência substituiria a religião na cultura e na vida, e
uma nova época de prosperidade reinaria, quando a ciência reinasse como
senhor supremo.

Esta é a mentalidade dum homem que nasceu pouco depois dos meados do
século passado, que se educou na era do materialismo, do "liberalismo" e das
entusiásticas esperanças no futuro, e que foi incapaz de se libertar da
escravatura daquelas impressões que lhe haviam ficado da sua adolescência.
Hoje verificamos que a ciência faliu, não porque não seja uma das mais
admiráveis realizações do homem ou porque se mostrasse incapaz de
promover o progresso, mas unicamente porque lhe atribuíram a capacidade de
realizar aquilo que, de fato, nunca poderá levar a cabo. Mas a fé otimista de
Freud na ciência permaneceu inquebrantável durante mais de oito décadas de
sua vida. E nós poderemos compreender a sua imutável atitude; mas o que não
podemos compreender é como pessoas de uma geração posterior, que tinham
obrigação de ver as coisas como elas são, podem ainda defender um credo
como o cientificismo. Para pessoas desta mentalidade, a religião é apenas um
fato, como muitos outros, na história da cultura humana. E essas pessoas não
estão também preparadas para admitir qualquer diferença entre as religiões. O
último livro de Freud é um exemplo frisante desta incapacidade de discernir
certos pontos que são decisivos. Assim, ele não conhece absolutamente nada
das enormes diferenças entre o monoteísmo judaico-cristão e a idéia pagã de
um deus supremo. A sua concepção sobre o monoteísmo dos judeus, devida à
sua aceitação da religião de Athon, a divindade do sol do Egito, mostra que não

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conhece a essência do verdadeiro monoteísmo, e também que não procura
informar-se sobre coisas que ele mesmo era incapaz de conhecer devidamente
[1].

Basta um conhecimento superficial da psicanálise para que qualquer pessoa


possa ver o enorme golfo que separa a mentalidade cristã daquela que se
encontra implicada na concepção freudiana acerca do homem. E é
verdadeiramente impressionante ler num artigo de O. Pfister que os
ensinamentos de Jesus Cristo nos Evangelhos apresentam grandes analogias
com a teoria da psicanálise. Mas mesmo este autor, que, segundo parece, é
protestante, reconhece que há também grandes dessemelhanças. E nós só
temos a dizer que, de fato, as há. Outros teólogos protestantes, como, por
exemplo, o Dr. Runestam, da Universidade de Upsala, pensam diferentemente;
para esses, a psicanálise é profundamente contrária ao espírito do
Cristianismo.

Uma filosofia que nega o livre arbítrio; que ignora a espiritualidade da alma;
que, com um oco materialismo e sem qualquer tentativa de prova, identifica os
fenômenos mentais e corporais; que não conhece outro fim senão o prazer; que
se entrega a um confuso e obstinado subjetivismo e que se mostrou cega à
verdadeira natureza da pessoa humana — não pode ter qualquer ponto comum
com o pensamento cristão. É-lhe completamente oposta.

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O antagonismo existente entre a mentalidade do freudismo, de um lado, e o
espírito do Cristianismo de outro, é claramente percebido por aqueles que
acreditam que a religião no mundo moderno deve ser suplantada pela
psicologia, que o analista deve ocupar o lugar do sacerdote e que o homem
encontrará alívio para os seus sofrimentos morais e respostas às suas
dificuldades pessoais no consultório do psicanalista, em vez de encontrar esse
mesmo alívio na confissão que faz a um padre católico. Tal idéia assenta sobre
um errado conhecimento da religião e da psicanálise; ambas estas idéias estão
deturpadas. Não há qualquer similaridade entre a confissão e a análise. A
confissão é um sacramento. Os espíritos modernos não atentam senão aos
fatores psicológicos que nela se encontram envolvidos, mas é preciso notar-se
que mesmo esses fatores não são comparáveis. O penitente diz, na confissão,
as coisas que sabe, narra os fatos de que se julga culpado e, eventualmente,
expõe as dificuldades que o assaltam; tudo aquilo de que ele trata é "material
consciente". O confessor nunca faz qualquer tentativa de explorar o
inconsciente. A esperança e a boa vontade, um profundo conhecimento e,
finalmente, a graça de Deus irão ajudar o penitente a dominar os seus hábitos
pecaminosos, a evitar as recaídas, a fugir às tentações e a progredir no
caminho da perfeição.

Não sucede assim com o analista e o seu paciente. Neste caso, aquilo de que o
paciente tem conhecimento pouco interessa; o que importa é o inconsciente.
Nem um nem outro confiam na boa vontade, porque a vontade não passa de
um epifenômeno, e o que é real está escondido nas profundezas do

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inconsciente. Não há qualquer sentimento de culpa pela infração de uma ou
outra lei moral objetiva, ou pela rejeição de um valor moral, mas apenas uma
constelação de tendências instintivas, o conflito entre o super-ego e o id, e
assim por diante. o analista nunca poderá ocupar o lugar do sacerdote. A
missão deste tem de ser desempenhada por ele e mais ninguém [2].

Não há necessidade de estarmos a pôr à prova a paciência do leitor, trazendo


para aqui as idéias que os psicanalistas têm defendido pelo que diz respeito à
religião. Todos ele têm falado muito sobre um assunto que apenas
superficialmente conhecem e, além disso, confiam largamente nas suas
concepções etnológicas que, como já vimos [3], estão muito longe de ser
dignas de crédito. As suas conclusões relativamente a práticas religiosas, aos
ritos, à psicologia da fé e a outros assuntos semelhantes, muito dificilmente
poderão ser tomadas a sério. Muitas dessas idéias são positivamente ridículas
e mostram uma ignorância crassa.

Temos, porém, de enfrentar uma questão. Por que é que os psicanalistas têm
um tão notável interesse pela religião? Há mais obras e artigos na literatura
psicanalítica que tratam de problemas mais ou menos relacionados com a
religião do que se pode imaginar. Parece que o espírito analítico está possuído
de uma curiosa obsessão, e que se sente incapaz de se libertar dela. Não há
dúvida de que a religião tem desempenhado um importante papel na história, e
continua a influenciar mais a atitude geral da humanidade do que a própria
ciência. a ciência, considerada como tal, dificilmente exercer qualquer

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influência; não é a própria ciência, mas a crença popular nela, que tem
contribuído muito para formar a mentalidade de hoje. Ora, os psicanalistas não
tratam de saber as razões por que o homem chega a acreditar na ciência de
forma tão exagerada. Consideram como um postulado o homem ter de
acreditar na ciência, mas procuram mostrar que qualquer outra crença,
especialmente no sobrenatural, tem de ser explicada por razões psicológicas. A
sua atitude é inegavelmente dúbia, devido à sua crença na ciência. Esses
homens estão presos ao "cientificismo". Acreditam fervorosamente na ciência,
como a panacéia por meio da qual a humanidade se há de erguer a um nível
muito mais elevado.

Esta atitude tem certas raízes na história dos últimos sessenta ou cem anos. No
próximo capítulo diremos algumas palavras sobre este fenômeno. Mas o
fenômeno não explica a curiosa fascinação que a religião, e os problemas que
lhe andam ligados, exercem aparentemente sobre o espírito psicanalítico. Deve
haver algum fator mais diretamente ligado com a psicanálise e com a situação
presente da civilização em geral. Fazer luz sobre este ponto é coisa que se
torna ainda mais desejável, porque podemos assim alimentar a esperança de
penetrarmos mais na natureza da psicologia freudiana, ou antes na
antropologia freudiana, e, conseqüentemente, definirmos mais claramente a
política que tem de ser observada por um católico no que diz respeito à
psicanálise. Todo aquele que examine conscienciosamente a psicanálise e
considere os fatos fornecidos por esta psicologia, no que diz respeito à sua
própria natureza, só poderá chegar a uma conclusão. E tal conclusão há de ser

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expressa em termos muito breves: a psicanálise é uma heresia. Esta afirmação
parecerá, talvez, surpreendente. Os cristãos podem ver-se tentados a rejeitá-la,
porque não vêem nenhuma relação, ou qualquer terreno comum, entre a
psicanálise e a sua fé. Uma heresia — dirão eles — é uma forma deturpada da
verdadeira fé, que resulta de se desrespeitar ou desvirtuar qualquer dos artigos
fundamentais. Mas, seguramente, a psicanálise nada tem de comum com a fé
cristã. Não altera um artigo fundamental, como faz o Arianismo em relação à
pessoa de Jesus Cristo, ou como faz o Protestantismo, em relação à natureza
da Igreja, ou como faz ainda o Pelagianismo, no que se refere ao papel da
graça na salvação do homem. O analista, por sua vez, não levará a sério
aquela afirmação. Entende ele que nada tem de ver com o Cristianismo, que as
suas atividades são científicas e que a ciência é independente de toda a fé.
Dirá que estuda religião apenas como um fato entre tantos outros que a história
da humanidade apresenta. E acabará por afirmar que não pensa em negar ou
alterar qualquer dos artigos da fé, porque, para ele, tais fatos nada significam
senão uma forma particular da ignorância, uma superstição ou uma ilusão — e
não se nega uma ilusão ou uma alucinação, mas apenas se trata de estudar a
sua origem e curar o paciente.

Não esperemos poder convencer o psicanalista, nem nunca ele se considerará


um herético. Nenhum herético, através dos séculos que conta o Cristianismo,
se considerou alguma vez como tal. O herético, ou pretende estar dentro da
Igreja, mesmo que defenda opiniões que divergem largamente dos seus
ensinamentos, ou declara que é ele o único representante da verdade e da fé

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inalterada, e que a Igreja abandonou o caminho do seu Fundador, caminho
esse que ele procura descobrir de novo.

Mas esperamos poder convencer os católicos e, sem dúvida, todos aqueles que
acreditam em Cristo como Salvador e Redentor da humanidade. Muito
desejaríamos poder conseguir isso, não só porque a atitude dos cristãos, no
que se refere à psicanálise, ficaria melhor definida e fundamentar-se-ia melhor
do que num vago sentimento de relutância e de ofensa moral, mas também
porque a psicanálise é apenas um exemplo, ou ilustração, embora bastante
notável, de uma atitude mental que se desenvolveu a ponto de dominar a
mentalidade geral no decorrer do último século. Essa atitude tornou-se então
muito influente, embora as suas raízes remontem ao passado da cultura
ocidental. Um melhor entendimento daquilo que a psicanálise é, e um melhor
conhecimento da natureza do espírito que ela cria, habilitar-nos-ão a seguirmos
com mais clareza os rastos desse mesmo espírito em outras manifestações do
nosso mundo moderno.

O caráter herético da psicanálise tornar-se-á claramente visível quando


tivermos posto a descoberto as suas raízes e inspecionado os seus
antecedentes. Será isso a nossa tarefa no próximo capítulo. Aqui, apenas nos
referimos ao bem conhecido fato de que as heresias, através dos séculos do
Cristianismo, sempre sentiram a necessidade de afirmar, cada vez mais, os
seus direitos. É como se os hereges sentissem a consciência culpada e, com o

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fim de a fazerem calar, se sentissem forçados a apregoar as suas supostas
razões difamando a Igreja, contra a qual se levantavam. [...]

Os católicos sabem também, não obstante se sentirem alarmados com a idéia


de não serem modernos, que tudo aquilo que realmente contradiz os
ensinamentos da sua fé não pode ser verdadeiro. Sabem, como coisa certa,
que uma filosofia ou uma ciência que desrespeita concepções fundamentais do
Catolicismo há-de acabar por desaparecer, por muito grande que seja o seu
sucesso na hora presente. Sustento que a psicanálise é um enorme e perigoso
erro. E o meu interesse é evitar que o maior número de pessoas possível — e,
em primeiro lugar, tantos cristãos quanto possível — caiam nas garras de tal
erro.

Há uma concepção fundamental na religião cristão que não é apenas


desprezada mas, simplesmente, negada pela psicanálise. É a concepção do
pecado. Em psicanálise não há pecado. A sua filosofia é decididamente
determinista e a noção do pecado pressupõe o livre arbítrio. Também não há
lugar para a noção de pecado neste sistema, porque o comportamento
humano, de acordo com os princípios da antropologia freudiana, não depende
das forças conscientes, mas sim de forças inconscientes. Isto é apenas uma
conseqüência lógica do fato de que a psicanálise interpreta a consciência, não
como o reconhecimento da conformidade ou não conformidade com as leis
eternas da moral ou dos valores, mas como a expressão de um equilíbrio
restabelecido, ou perturbado, de forças instintivas. A psicanálise vê

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necessariamente na consciência um mero fenômeno psicológico. Tal
concepção da natureza humana não poderá exercer qualquer coisa que se
assemelhe a responsabilidade.

Desnecessário será dizer que a psicanálise nada tem de ver com quaisquer
noções que se refiram ao sobrenatural. Esta negativa completa do sobrenatural
não é própria duma ciência empírica que, prudentemente, limita as suas
investigações aos campos acessíveis à razão humana. O verdadeiro cientista
tem grande respeito pelos fatos, não se pronuncia sobre as coisas, unicamente
porque as não pode alcançar pelos seus métodos, e evita emitir juízos sobre
assuntos cuja compreensão não está dentro dos poderes da fraca razão do
homem. Mas o psicanalista vem dizer-nos que toda a crença no sobrenatural,
seja na graça de Deus, como no próprio Deus, na eficácia dos sacramentos ou
na imortalidade da alma, são tudo idéias que dimanam de fatores instintivos,
que esta psicologia se orgulha de ter descoberto e privado assim da sua força
impressiva. A psicanálise não vê diferença alguma entre a religião católica, os
seus usos, ritos e sacramentos por um lado, e os mais primitivos e fantásticos
costumes dos aborígines da Austrália ou da África central pelo outro.
Dificilmente se encontrará um artigo de fé que não tenha sido submetido à
análise, e que não tenha sido objeto de uma "explicação" psicanalítica. Estas
chamadas explicações causariam abalo num espírito católico, se não fossem
manifestamente baseadas numa absoluta incapacidade para compreender a
doutrina que se pretende explicar.

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Nos parágrafos anteriores apenas nos referimos às relações da psicanálise
com a fé católica sem nada termos dito a respeito da moral católica. Vamos
agora dizer alguma coisa sobre tal assunto.

A psicanálise, considerada como tal, nada tem a dizer sobre moral. Quer-se
uma ciência, e as ciências podem fazer afirmações apenas sobre o que é,
nunca sobre aquilo que devia ser. Esta é que é a verdadeira ciência. Mas não é
próprio de verdadeiros cientistas o uso que eles atualmente fazem da ciência
para propagar qualquer "reforma" da moral, ou para declararem que esta ou
aquela atitude está, ou deixa de estar, de acordo com a moral. Tais afirmações
feitas em nome da ciência são, sem dúvida, não a expressão de conclusões
que os fatos impusessem ao espírito, mas a expressão de convicções que tem
uma origem completamente diferente. A ciência apenas nos pode dizer os
meios de que nos podemos servir para atingir algum fim, mas nada conhece
acerca desses fins. A medicina não decreta que a saúde tem de ser
conservada; apenas nos ensina como devemos proceder para a conservar. A
expressão, tantas vezes ouvida, de "educação científica", ou significa que
devemos aprender na ciência a melhor forma para realizarmos os nossos fins,
ou não significa coisa alguma.

Todo aquele que acreditar que a ciência é capaz de fazer qualquer afirmação
sobre a razão por que as pessoas têm de ser educadas não conhece coisa
alguma sobre a verdadeira natureza da educação. E o mesmo sucede com a
moral: "ética científica" é uma expressão sem sentido algum.

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Mas mesmo o cientista é um ser humano e, como tal, não pode deixar de ter as
suas convicções, os seus ideais e os seus desejos. É apenas natural, embora
não seja justo, que ele procure, ainda que "inconscientemente", apresentar as
suas idéias e ideais pessoais como se derivassem das ciências. As ciências
que têm por objeto o homem não são as que estão especialmente arriscadas a
estenderem-se para um campo onde não têm competência. Pelo fato de que a
saúde é um bem naturalmente desejado pelo homem, a medicina facilmente
chega a acreditar que os seus ensinamentos sobre medidas higiênicas são da
mesma natureza dos preceitos morais. Pelo fato de que a psicologia conhece
que um espírito funcionando normalmente é um valor desejado, o psicólogo
julga-se autorizado a enunciar regras sobre educação. A psicologia médica está
inda mais propensa a cometer este erro do que qualquer outra espécie de
psicologia. O médico psicólogo observou muitíssimas vezes as desastrosas
conseqüências que uma educação errada pode ter no desenvolvimento do
caráter e da personalidade. Portanto, vem simplesmente declarar que este ou
aquele método de educação "tem" de ser adotado. assim, mais necessário se
torna examinar cuidadosamente o espírito de uma psicologia que se julga com
o direito de impor à educação os seus métodos e alvos.

Educação é mais do que instrução; é, primariamente, a construção de uma


personalidade moral. A ética e a educação estão, portanto, intimamente
correlacionadas. E a educação não termina depois de se ter freqüentado uma
escola superior ou um colégio: praticamente, a educação nunca termina.

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Somos educados pelos fatos, pelas influências do meio ambiente e pelas
idéias, de forma que temos de nos educar a nós mesmos.

Uma psicologia nascida dum espírito decididamente anti-cristão não pode ser
senão excessivamente perigosa. Mesmo que o psicanalista se esforce por
evitar qualquer ofensa às idéias e sentimentos religiosos ou morais do paciente,
não o poderá conseguir. O seu método, as suas interpretações, e toda a sua
mentalidade são de uma natureza manifestamente hostil ao espírito cristão.
Essa mentalidade dá-se a conhecer a todo o momento, e encontra-se implícita
em cada uma das mais triviais observações. Ainda que o analista esteja
resolvido a abster-se de toda a influência sobre a fé ou moral do paciente, a sua
resolução será ineficaz, e ele não poderá deixar de transmitir a esse paciente o
contágio de um espírito anti-cristão.

Há alguma coisa profundamente errada neste espírito, e o que está errado


melhor se aperceberá, se considerarmos as idéias que a psicanálise professa a
respeito do homem normal. A teoria de Freud era, e ainda o é em grande
extensão, um processo para a cura de doentes nervosos. Todo o tratamento
tem de ter como ponto de referência alguma idéia de normalidade, porque a
obtenção dessa normalidade é o sinal característico de que o tratamento foi
bem sucedido. Freud disse, mais do que uma vez, que um homem é normal
quando está apto a trabalhar e a gozar a vida. Não há nada mais na concepção
psicanalítica sobre a natureza normal do homem. Gozar implica, sem dúvida, a

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adaptação à realidade, desde que, não sendo assim, o desprazer seria maior
do que o prazer.

Esta concepção foi estabelecida de novo, por exemplo, por Hendriks, que
declara que a culminação do desenvolvido ego consiste em o indivíduo se
tornar capaz de manter a sua existência, e assegurar uma satisfação adequada
dos instintos libidinais e agressivos, num ambiente socializado de adultos.
Estas definições são, como se está a ver, muito incompletas; os fatores morais
são absolutamente ignorados ou, antes, estão incluídos na noção de
ajustamento ao meio social. É um erro largamente divulgado o acreditar-se que
a moral está limitada às relações com os nossos vizinhos: desprezam os
deveres para com a própria pessoa, como desprezam os deveres para com
Deus.

Daqui se segue que a psicanálise se mostra incapaz de avaliar devidamente


certos fenômenos, como o sentimento de culpa ou a consciência. A consciência
tem origem — observa um autor — numa identificação hostil. Vê-se que este
autor não teve, no seu espírito, a mais rápida visão do fenômeno a que se
refere. Outro diz-nos que o desejo de confessar o pecado cometido — não
precisa de ser no confessionário, porque este desejo pertence à natureza
humana — resulta de um impulso de revelação, que está relacionado com o
"instinto parcial" do exibicionismo. E há ainda um terceiro autor que nos vem
dizer que a necessidade da confissão está relacionada com o erotismo oral.

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Não será preciso multiplicar os exemplos. Os três já mencionados revelam uma
ignorância de tudo quanto se refere a religião e a psicologia geral.

A concepção naturalista da natureza humana vem colorir todas as afirmações


feitas sobre moral. Os verdadeiros mandamentos, as leis eternas, são coisas
que não existem, de acordo com este ponto de vista. E tal mentalidade não
pode senão ter uma influência altamente destrutiva sobre qualquer pessoa que
esteja possuída de convicções diferentes. É possível que o tratamento
psicanalítico de uma pessoa nessas condições venha a ser mal sucedido, se as
convicções são suficientemente fortes, e se a diferença entre elas e as do
analista se nota com clareza, ou poderá ainda suceder que esse tratamento
tenha como resultado um gradual desmoronamento de tais convicções, devido
à pressão contínua do espírito hostil do psicanalista.

O perigo de a moral não naturalista ser destruída pela análise, mesmo que o
psicanalista não tenha intenção de o fazer, é sempre muito grande, porque a
moralidade — ou amoralidade — do freudismo pode tornar-se uma forte
tentação. O psicoterapeuta logo é encarado pelo paciente como pessoa de
autoridade; chamem a isso transferência, se assim o quiserem, porque o nome
pouco importa. Uma concepção da vida que apela para o lado instintivo do
homem exerce sempre uma sedução natural e, quando tal sedução é
fortalecida pela autoridade, poderá tornar-se irresistível.

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Não se pode dizer com verdade que os psicanalistas preconizem um
relaxamento de costumes, mas é certo que eles concebem a moral por uma
forma que é exatamente o oposto daquilo que um católico sabe que a lei moral
implica. Isto refere-se em primeiro lugar à sexualidade, mas o mesmo sucede
com qualquer outro aspecto do comportamento. E temos de chegar à conclusão
de que o católico se deve abster de qualquer íntimo contato com as idéias
freudianas. Se ele tiver dessas idéias inteiro conhecimento, será o primeiro a
evitar tal contato; no caso contrário, é necessário pô-lo se sobreaviso.

Alguns adversários da psicanálise têm procurado acentuar a "imoralidade" da


teoria e da sua atitude prática, no que diz respeito a certos problemas morais. o
analista, dizem eles, é obrigado a defender pontos de vista incompatíveis com a
moralidade cristã e, portanto, não pode deixar de ter uma influência destrutiva
sobre o comportamento moral dos indivíduos e sobre as idéias morais do
público. Este ponto precisa de uma elucidação.

A concepção que Freud e a sua escola formaram da natureza humana é, sem


dúvida, muito diferente da concepção formada pela moral cristã e,
principalmente, pela moral católica. O "princípio do prazer", mesmo depois da
sua transformação em "princípio de realidade" não é a espécie de força motriz
que a moral cristã supõe estar no fundamento do comportamento moral. A idéia
de que a natureza humana está em ordem e "normal", desde que o indivíduo
esteja apto para trabalhar e para gozar, não é idéia que possa ser aceitada pela
ética católica. Estes aspectos da psicanálise são mais importantes, para

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responder à questão, do que a insistência de Freud sobre a sexualidade. Por
muito errada que seja a noção de uma libido estendendo-se a tudo, não precisa
de ser imoral.

O fato de que a psicanálise seja um sistema puramente naturalista e incapaz de


avaliar a religião e o comportamento religioso em seu verdadeiro valor, é, sem
dúvida, um sério inconveniente. Alguns analistas sustentam que não há
necessidade de pôr em perigo as crenças religiosas de um indivíduo, desde
que tais crenças não sejam o resultado de fatores patológicos ou um obstáculo
para a recuperação da saúde mental. No entanto, será difícil ver como o
analista, por muito que queira, evitará pôr em risco a atitude religiosa. Qualquer
paciente, mesmo de inteligência média, não pode deixar de compreender que o
espírito geral daquela teoria com a qual se relacionou durante o tratamento é
completamente hostil às suas crenças religiosas. E pouco importa o fato de o
paciente refletir ou deixar de refletir nisso.

O antagonismo entre a psicanálise e a moral católica, na medida em que tal


antagonismo está implicado no sistema da filosofia e da psicologia de Freud, é
uma coisa; o consciente eventual e a influência direta, aconselhando o paciente
a agir contra os princípios da moral católica, é outra. Se se soubesse que
muitos ou alguns psicanalistas aconselhavam os seus pacientes de forma que
lhe sugerissem um comportamento contrário à moral, o perigo deste sistema
tornar-se-ia, sem dúvida, muitíssimo grande.

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Algumas das idéias sustentadas pelos psicanalistas são contrárias às
concepções católicas, sem que sejam, no entanto, exclusivamente
características do freudismo. Desnecessário será dizer que um analista,
encontrando uma pessoa a braços com dificuldades domésticas, sem qualquer
esperança e incapaz de continuar a vida com o marido ou com a esposa,
acabará por lhe aconselhar a separação. Tal conselho poderá não ser mau,
mas implica, na mente do analista, a idéia de que, depois da separação, essa
pessoa poderá voltar a casar-se com alguém que lhe dê melhor vida. Esse
conselho podia ter sido dado por qualquer médico não católico; as convicções
que o originaram não são especificamente freudianas, pois pertencem a um
conjunto de idéias comuns a todas aquelas pessoas que julgam possuir "um
espírito liberal". O mesmo se pode dizer da sugestão para se procurar a
satisfação sexual pré-matrimonial. Seria diferente, se se sugerisse a uma
pessoa casada que, por qualquer motivo, procurasse relações sexuais extra-
matrimoniais.

É muito difícil saber qual é a atitude normal dos analistas no que se refere a tais
problemas, bem como é também muito difícil ter a certeza de que certos relatos
publicados são inteiramente dignos de crédito. O tratamento psicanalítico pode,
em alguns casos, principalmente se não foi bem sucedido, deixar um
ressentimento definido no ânimo do paciente, e esse estado mental poderá
muito bem deturpar, mesmo sem qualquer intenção consciente de calúnia ou de
prevaricação, a memória de coisas mencionadas durante as horas de análise. É
corrente, em alguns tipos da personalidade nevrótica, um certo desrespeito pela

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verdade objetiva; por isso, os relatos que nos são fornecidos por doentes
nervosos têm de ser olhados com muita precaução. Alguns psicanalistas
podem ter professado uma atitude demasiadamente "liberal", no que diz
respeito a certas leis morais, mas há ainda razão para perguntar se tal atitude
resulta do fato de serem sequazes de Freud, ou se resulta da sua mentalidade
geral. Não nos devemos esquecer de que muitas idéias, definidamente anti-
católicas, no que se refere a moral, têm partido de pessoas que não eram
psicanalistas. As opiniões defendidas pelos bolchevistas sobre o casamento,
sobre relações sexuais etc., pelo menos na primeira fase do seu domínio, não
dependem de qualquer influência exercida pelos psicanalistas. Não há dúvida
de que os pontos de vista de Freud contribuíram para propagar as discussões
sobre assuntos sexuais. A insistência com que ele se referiu à sexualidade, e
as suas provas, aparentemente científicas, da importância fundamental dos
fatores sexuais na natureza humana, fortaleceram a posição daqueles que
dirigiam os seus ataques contra a moral cristã. Mas não se pode dizer que o
próprio Freud pregasse diretamente uma moral anti-católica. No entanto,
pregou-a implicitamente.

Tanto quanto os relatórios podem ser acreditados, fica-se, sem dúvida, com a
impressão de que alguns psicanalistas não sentem qualquer relutância em
aconselhar atos decididamente imorais, especialmente — e até exclusivamente
— no que se refere ao comportamento sexual. Num congresso de psiquiatras
franceses realizado há anos, o Dr. Genil-Perrin referiu-se a numerosos casos
em que ele e outros intervieram, e em que era freqüente darem-se conselhos

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de tal natureza. Mas é impossível lançar mão de cifras dignas de crédito. Não
podemos saber quantos psicanalistas teriam, eventualmente, procedido dessa
forma, nem tampouco podemos saber quantas vezes eles se viram obrigados a
fazê-lo. A única coisa de que podemos estar certos é que o sistema da
psicanálise não contém fator algum que iniba o analista de se servir de tal
expediente. E sabemos também que existe um grande número de relatórios
que mencionam essa atitude por parte de alguns psicanalistas, mas sendo de
presumir que nem todos eles são falsos ou exagerados. No entanto, a justiça
pede que limitemos o nosso juízo a fatos que podem ser provados, e a única
coisa que se pode provar é o antagonismo essencial que existe entre o espírito
geral do freudismo e a mentalidade católica. Isto, contudo, seria suficiente para
obrigar os católicos a evitarem, tanto quanto pudessem, o contato com a
psicologia psicanalítica, e a evitarem qualquer situação que pudesse dar ao
analista, mesmo contra a vontade da pessoa, ocasião de influir sobre as suas
idéias.

A enumeração das proposições da escola de Freud que brigam


incontestavelmente com a fé cristão podia ainda continuar por algum tempo.
Julgamos, porém, que dissemos já o bastante. Nenhum católico poderá
professar tais idéias — a idéia da religião como uma neurose obrigatória, a
idéia de Deus como sendo a imagem do pai, e a idéia da comunhão remontar à
refeição totemística etc. — idéias essas que não podem ser consideradas
senão como falsas, para não dizermos sacrílegas. Mas há sempre uma
objeção. Não será possível separar o método da sua inaceitável filosofia? Não

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poderemos nós, embora sejamos cristãos, usar o instrumento fornecido pela
psicanálise? Não poderemos pôr de parte a concepção naturalista, as idéias
descabidas sobre religião, a negação da liberdade, o papel exagerado atribuído
aos instintos, e "batizar", digamos assim, a psicanálise, mais ou menos como se
diz que Santo Agostinho "cristianizou" o Neo-Platonismo e S. Tomás "batizou"
Aristóteles? Estes filósofos pagãos também ensinaram coisas que a filosofia
cristã nunca pôde aceitar, mas ensinaram outras coisas que eram verdadeiras,
ou que, pelo menos, com alguma modificação, podiam ser verdadeiras. Se a
filosofia cristã tivesse procedido com a filosofia pagã como se deseja que o
católico proceda para com a psicanálise, isso representaria uma enorme perda
para a humanidade, e teria talvez obstado o desenvolvimento da verdadeira
filosofia cristã. Que razão há, portanto, para tal radicalismo perante a
psicanálise, radicalismo esse de que a Igreja nunca se sentiu possuída no
passado?

A resposta é, simplesmente, que tal analogia não pode existir. Tentamos


mostrar, no capítulo oitavo, que se não pode separar a filosofia do método, e
que aquele que adota o segundo tem, necessariamente, de perfilhar a primeira.
Mas há outra razão para a intransigência que aqui consignamos. A psicanálise
não está para o católico na mesma relação em que a filosofia pagã estava, nos
primeiros séculos da cristandade, para com a filosofia católica. A psicanálise é
mais semelhante ao Maniqueísmo, ou a qualquer outra das grandes heresias,
do que à filosofia de Plotino ou de Aristóteles. E a Igreja nunca transigiu, por
pouco que fosse, com qualquer heresia.

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O espírito da psicanálise pode-se chamar, e com muita razão, espírito pagão,


mas não é o paganismo dos tempos pré-cristãos; é o paganismo que surgiu
quando a Cristandade já existia há séculos. E é um espírito completamente
diferente. O paganismo dos velhos tempos morreu, pelo menos nos países de
civilização ocidental, e não há possibilidade de o fazer reviver. Tal espírito não
pode tornar a aparecer, porque as alterações que o pensamento humano
sofreu, debaixo da influência de dois mil anos de Cristianismo, não podem
voltar atrás. O neo-paganismo não é um regresso aos tempos de Platão ou de
Sêneca: é, simplesmente, uma revolta.

Para compreender a natureza desse espírito, é necessário examinar a origem


da psicanálise e as forças que contribuíram para o seu aparecimento. E
teremos também de investigar as condições que tornaram possível o
surpreendente sucesso das concepções freudianas. Desta maneira
chegaremos — ao menos é essa a nossa esperança — a um melhor
conhecimento da verdadeira natureza desta teoria.

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NOTA:

A Psicanálise é ao mesmo tempo um modo particular de tratamento de


desequilíbrio mental e uma teoria psicológica que se ocupa dos processos
mentais inconscientes, uma teoria da estrutura e funcionamento da mente
humana e um método de análise dos motivos do comportamento, uma doutrina
filosófica e um método terapêutico de doenças de natureza psicológica
supostamente sem motivação orgânica.. Originou-se na prática clínica do
médico e fisiologista Josef Breuer, devendo-se a Sigmund Freud (1856-1939) a
valorização e aperfeiçoamento da técnica e a formulação dos conceitos nos
desdobramentos posteriores do método e da doutrina, o que ele fez valendo-se
do pensamento de alguns filósofos e de sua própria experiência profissional.

Sua formulação representou basicamente a consolidação em um corpo


doutrinário de conhecimentos existentes, como a estrutura tripartite da mente,
suas funções e correspondentes tipos de personalidade, a teoria do
inconsciente, o método terapêutico da catarsis, e toda a filosofia pessimista da
natureza humana difundida à época em que foi concebida. Além de alicerçar-
se, como método terapêutico, nas descobertas do médico austríaco Josef
Breuer, como doutrina tem em seus fundamentos muito do pensamento
filosófico de Platão e do filósofo alemão Arthur Schopenhauer.

No entanto, ao serem esses conhecimentos incorporados na Psicanálise, foi


aberto o caminho para um número grande de conceitos subordinados que eram
novos, como os de atos sintomáticos, sublimação, perversão, tipos de
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personalidade, recalque, transferência, narcisismo, projeção, introjeção, etc. A
psicanálise constituiu-se, por isso, em um modo novo de abordar as condições
psíquicas correspondentes a estados de infelicidade e a comportamentos
antisociais, e deu nascimento ao tratamento clínico psicológico e psiquiátrico
moderno.

A extraordinária popularidade da psicanálise poderá, talvez, ser explicada, em


parte, pela sua ousada concepção da motivação humana, ao colocar o sexo, -
objeto natural de interesse das pessoas e também sua principal fonte de
felicidade -, como único e poderoso móvel do comportamento humano. O
mundo civilizado, pouco antes chocado com a tese evolucionista de que o
homem descendia dos chimpanzés, já não se surpreendia com a tese de que o
sexo dominava o inconsciente e estava subjacente a todos os interesses
humanos. A novidade foi recebida com divertido espanto e prazerosa excitação.
Em que pese os detalhes picarescos de muitas narrativas clínicas, a
abordagem do sexo sob um aspecto científico, em plena era vitoriana,
representou uma sublimação (para usar um conceito da própria psicanálise)
que permitiu que a sexualidade fosse, sem restrições morais, discutida em
todos os ambientes, inclusive nos conventos. Essa permeabilidade subjetiva
confundiu-se com profundidade científica, e a teoria foi levada a aplicação em
todos os campos das relações sociais, nas artes, na educação, na religião, em
análises biográficas, etc. Porém, a questão da motivação sexual foi causa de se
afastarem do círculo de Freud aqueles que haviam inicialmente se
entusiasmado pela psicanálise como método de análise do inconsciente, entre
eles Carl Jung, Otto Rank, e Alfred Adler que decidiram por outras teses, e

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fundaram suas próprias correntes psicanalíticas. No seu todo, a psicanálise foi
fortemente contestada por outras correntes, inclusive a da fenomenologia, a do
existencialismo, e a da logoterapia de Viktor Frankl.

O pensamento de Freud está principalmente em três obras: "Interpretação dos


Sonhos", a mais conhecida, que publicou, em 1900; "Psicopatologia da Vida
Cotidiana", na qual apresenta os primeiros postulados da teoria psicanalítica,
publicada em 1901, e "Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade", que
contem a exposição básica da sua teoria, de 1905.

Em "Mal Estar na Civilização", publicado em 1930, Freud lança os conceitos de


culturas neuróticas, conceitos de projeção, sublimação, regressão e
Transferência. Em "Totem e Tabu (1913/14) e "O Futuro de uma Ilusão"(1927)
sua posição sobre a religião. Os postulados da teoria são numerosos, e seu
exame completo demandaria um espaço muito extenso, motivo porque somente
os aspectos usualmente mais expostos da doutrina e do método serão
examinados nesta página.

Importância do instinto sexual. Freud notou que na maioria dos pacientes


que teve desde o início de sua prática clínica, os distúrbios e queixas de
natureza hipocondríaca ou histérica, estavam relacionados a sentimentos
reprimidos com origem em experiências sexuais perturbadoras. Assim ele
formulou a hipótese de que a ansiedade que se manifestava nos sintomas era
conseqüência da energia (libido) ligada à sexualidade; a energia reprimida tinha
expressão nos vários sintomas que serviam como um mecanismo de defesa
psicológica. Essa força, o instinto sexual, não se apresentava consciente devido
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à "repressão" tornada também inconsciente; Revelação da "repressão"
inconsciente era obtida pelo método da livre associação (inspirado nos atos
falhados ou sintomáticos, em substituição à hipnose) e interpretação dos
sonhos (contudo manifesto e conteúdo latente). Processo sintomático e
terapêutico compreendia: A experiência emocional - recalque e esquecimento -
neurose - análise pela livre associação - recordação - transferência - descarga
emocional - cura.

Estrutura tripartite da mente. Freud buscou inspiração na cultura Grega, pois


a doutrina platônica com certeza o impressionou em seu curso de filosofia. As
partes da alma de Platão correspondem ao Id, o Superego e o Ego da sua
teoria das partes ou órgãos da mente (1923 - "O Ego e o Id").

Id - Freud buscou funções físicas para as partes da mente. O Id tinha a função


de descarregar as tensões biológicas regido pelo "princípio do prazer".
Corresponde à alma concupiscente, do esquema platônico: é a reserva
inconsciente dos desejos e impulsos de origem genética e voltados para a
preservação e propagação da vida..

O "Ego" lida com a estimulação que vem tanto da própria mente como do
mundo exterior. Racionaliza em favor do Id, mas é governado pelo "princípio de
realidade". É a parte racional da alma, no esquema platônico. É parte
perceptiva e a inteligência que devem, no adulto normal, conduzir todo o
comportamento e satisfazer simultaneamente as exigências do Id e do
Superego através de compromissos entre essas duas partes, sem que a

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pessoa se volte excessivamente para os prazeres e sem que, ao contrário, se
imponha limitações exageradas à sua espontaneidade e gozo da vida.

O Ego ou o Eu é a consciência, pequena parte da vida psíquica, subtraída aos


desejos do Id e à repressão do Superego. Obedece ao principio da realidade,
ou seja, á necessidade de encontrar objetos que possam satisfazer ao Id sem
transgredir as exigências do Superego.

É parte perceptiva e a inteligência que deve, no adulto normal, conduzir todo o


comportamento e satisfazer simultaneamente as exigências do Id e do
Superego através de compromissos entre essas duas partes, sem que a
pessoa se volte excessivamente para os prazeres e sem que, ao contrário, se
imponha limitações exageradas à sua espontaneidade e gozo da vida.

O Ego é pressionado pelos desejos insaciáveis do Id, a severidade repressiva


do Superego e os perigos do mundo exterior. Se submete-se ao Id, torna-se
imoral e destrutivo; se submete-se ao Superego, enlouquece de desespero,
pois viverá numa insatisfação insuportável; se não se submeter á realidade do
mundo, será destruído por ele. Por esse motivo, a forma fundamental da
existência para o Ego é a angústia existencial. Estamos divididos entre o
principio do prazer (que não conhece limites) e o principio de realidade (que nos
impõe limites externos e internos). Tem a dupla função de, ao mesmo tempo,
recalcar o Id, satisfazendo o Superego, e satisfazer o Id, limitando o poderio do
Superego. No indivíduo normal, essa dupla função é cumprida a contento. Nos
neuróticos e psicóticos o Ego sucumbe, seja porque o Id ou o Superego sao
excessivamente fortes, seja porque o Ego é excessivamente fraco.
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O terceiro agente é o "Superego", que é gradualmente formado no "Ego", e se
comporta como um vigilante moral. Contem os valores morais e atua como juiz
moral. É a parte irascível da alma, a que correspondem os "vigilantes", na teoria
platônica.

O Superego, também inconsciente, faz a censura dos impulsos que a


sociedade e a cultura proíbem ao Id, impedindo o indivíduo de satisfazer
plenamente seus instintos e desejos. É o órgão da repressão, particularmente a
repressão sexual. Manifesta-se á consciência indiretamente, sob a forma da
moral, como um conjunto de interdições e de deveres, e por meio da educação,
pela produção da imagem do "Eu ideal", isto é, da pessoa moral, boa e virtuosa.
O Superego ou censura desenvolve-se em um período que Freud designa
como período de latência, situado entre os 6 ou 7 anos e o inicio da puberdade
ou adolescência. Nesse período, forma-se nossa personalidade moral e social
(1923 "O Ego e o Id").

O inconsciente, diz Freud, não é o subconsciente. Este é aquele grau da


consciência como consciência passiva e consciência vivida não-reflexiva,
podendo tomar-se plenamente consciente. O inconsciente, ao contrário, jamais
será consciente diretamente, podendo ser captado apenas indiretamente e por
meio de técnicas especiais de interpretação desenvolvidas pela psicanálise.

Atos falhos ou sintomáticos. Os chamados Atos sintomáticos são para Freud


evidência da força e individualismo do inconsciente: e sua manifestação é
comum nas pessoas sadias. Mostram a luta do consciente com o
subconsciente (conteúdo evocável) e o inconsciente (conteúdo não evocável).
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São os lapsus linguae, popularmente ditos "traição da memória", ou mesmo
convicções enganosas e erros que podem ter conseqüências graves.

Motivação. Para explicar o comportamento Freud desenvolve a teoria da


motivação sexual (sobrevivência da espécie) e do instinto de conservação
(sobrevivência individual). Mas todas as suas colocações giram em torno do
sexo. A força que orienta o comportamento estaria no inconsciente e era o
instinto sexual;

Contribui com uma teoria das fases do desenvolvimento do indivíduo. A pessoa


passa por quatro sucessivos tipos de caráter: oral, anal e genital, com
regressão e fixação.

Fases do desenvolvimento sexual. Freud descobriu três fases da sexualidade


humana que se diferenciam pelos órgãos que sentira prazer e pelos objetos ou
seres que dão prazer. Essas fases se desenvolvera entre os primeiros meses
de vida e os 5 ou 6 anos, ligadas ao desenvolvimento do Id:

(1) a fase oral, ou fase da libido oral, ou hedonismo bucal, quando o desejo e o
prazer localizam-se primordialmente na boca e na ingestão de alimentos e o
seio materno, a mamadeira, a chupeta, os dedos são objetos do prazer;

(2) a fase anal, ou fase da libido ou hedonismo anal, quando o desejo e o


prazer localizara-se primordialmente nas exercesse e as fezes, brincar com
massas e com tintas, amassar barro ou argila, comer coisas cremosas, sujar-se
são os objetos do prazer;

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(3) e a fase genital ou fase fálica, ou fase da libido ou hedonismo genital:
quando o desejo e o prazer localizara-se primordialmente nos órgãos genitais e
nas partes do corpo que excitam tais órgãos. Nessa fase, para os meninos, a
mae é o objeto do desejo e do prazer; para as meninas, o pai.

Tipos de personalidade. O tipo genital é a pessoa plenamente desenvolvida e


equilibrada.

Aqueles que por algum motivo se detém em seu desenvolvimento emocional,


se fixam em qualquer uma das três fases transitórias (Freud. 1908), resultando
tipos e subtipos de personalidade correspondentes.

O tipo oral: (1) Oral receptivo: pessoa dependente, espera que tudo lhe seja
dado, sem qualquer reciprocidade; (2) Oral sadístico, não espera que alguém
lhe dê voluntariamente qualquer coisa. Decide-se a empregar a força e a
astúcia para conseguir o que deseja. Explorador e agressivo.

Anal sadístico: impulsivamente avaro, sua segurança reside no isolamento.


Ordenadas e metódicas, parcimoniosas e obstinadas.

Perversão. Porém, assim como a loucura é a impossibilidade do Ego para


realizar sua dupla função, também a sublimação pode não ser alcançada e, era
seu lugar, surgir uma perversão social ou coletiva, urna loucura social ou
coletiva. O nazismo é um exemplo de perversão, era vez de sublimação. A
propaganda, que induz em nós falsos desejos sexuais pela multiplicação das
imagens de prazer, é outro exemplo de perversão ou de incapacidade para a
sublimação.
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Complexos de Édipo. No centro do "Id", determinando toda a vida psíquica,
encontra-se o que Freud denominou de complexo de Édipo, isto é, o desejo
incestuoso pela mãe, e uma rivalidade com o pai. É esse o desejo fundamental
que organiza a totalidade da vida psíquica e determina o sentido de nossas
vidas. Freud introduziu o conceito no seu Interpretação dos Sonos (1899). O
termo deriva do herói grego Édipo, que, sem saber, matou seu pai e se casou
com sua mãe. Freud atribui o complexo de Édipo as crianças de idade entre 3 e
6 anos. Ele disse que o estágio geralmente terminava quando a criança se
identificava com o parente do mesmo sexo e reprimia seus instintos sexuais. Se
o relacionamento prévio com os pais fossem relativamente amáveis e não
traumáticos, e se a atitude parental não fosse excessivamente proibitiva nem
excessivamente estimulante, o estagio seria ultrapassado harmoniosamente.
Em presença do trauma, no entanto, ocorre uma neurose infantil que é um
importante precursor de reações similares a vida adulta. O Superego, o fator
moral que domina a mente consciente do adulto também tem sua parte no
processo de gerar o complexo de Édipo.

Freud considerou a reação contra o complexo de Édito o mais importante


conquista social da mente humana. Psicanalistas posteriores consideram a
descrição de Freud imprecisa, apesar de conter algumas verdades parciais.

Complexo de Eletra. O equivalente feminino do Complexo de Édipo é o


Complexo de Eletra, cuja lenda fundamental é a de Electra e seu irmão
Orestes, filhos de Agamemnon e Clytemnestra. Eletra ajudou o irmão a matar

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sua mãe e o amante dela, um tema da tragédia grega abordado, como
pequenas variações, por Sófocles, Eurípedes e Esquilo.

Narcisismo. narcisismo, isto é, a bela imagem que possuíamos de n(5s


mesmos como seres conscientes racionais e com a qual, durante Séculos,
estivemos encantados.

Conta O mito que O jovem Narciso, belíssimo, nunca tinha visto sua própria
imagem. Um dia, passeando por um bosque, encontrou um lago. Aproximou-se
e viu nas águas um jovem de extraordinária beleza e pelo qual apaixonou-se
perdidamente. Desejava que o noutro saísse das águas e viesse ao seu
encontro, mas como o outro parecia recusar-se a sair do lago, Narciso
mergulhou nas águas, foi ás profundezas á procura do outro que fugia,
morrendo afogado. Narciso morrera de amor por si mesmo, ou melhor, de amor
por sua própria imagem ou pela auto-imagem. O narcisismo é o encantamento
e a paixão que sentimos por nossa própria imagem ou por nós mesmos, porque
não conseguimos diferenciar um do outro.

Mecanismos de defesa são processos subconscientes que permitem a mente


encontrar uma solução para conflitos não resolvidos ao nível da consciência. A
psicanálise supõe a existência de forças mentais que se opõem umas às outras
e que batalham entre si. Freud utilizou a expressão pela primeira vez no seu
"As neuroses e psicoses de defesa", de 1894.

Os mecanismos de defesa mais importante são:

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Repressão, que é afastar ou recalcar da consciência um afeto, uma idéia ou
apelo do instinto. Um acontecimento que por algum motivo envergonha uma
pessoa pode ser completamente esquecido e se tornar não evocável.

Defesa de reação. Consiste em ostentar um procedimento e externar


sentimentos opostos aos impulsos verdadeiros, quando estes são
inconfessáveis. Um pai que é pouco amado, recebe do filho uma atenção por
vezes exagerada para que este se convenção de que é um bom filho.

Projeção, consiste em atribuir a outro um desejo próprio, ou atribuir ao outro


algo que justifique a própria ação. O estudante cria o hábito de colar nas provas
dizendo para se justificar que os outros colam ainda mais que ele.

Regressão é o retorno a atitudes passadas que provaram ser seguras e


gratificantes, e às quais a pessoa busca voltar para fugir de um presente
angustiante. Devaneios e memórias que se tornam recorrentes, repetitivas.

Substituição. O inconsciente, em suas duas formas, está impedido de


manifestar-se diretamente à consciência, mas consegue faze-lo indiretamente.
A maneira mais eficaz para essa manifestação é a substituição, isto é, o
inconsciente oferece a consciência um substituto aceitável por ela e por meio
do qual ela pode satisfazer o Id ou o Superego. Os substitutos são imagens
(isto é, representações analógicas dos objetos do desejo) e formam o
imaginário psíquico, que, ao ocultar e dissimular o verdadeiro desejo, o satisfaz
indiretamente por meio de objetos substitutos (a chupeta e o dedo, para o seio
materno; tintas e pintura ou argila e escultura para as fezes, uma pessoa

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amada no lugar do pai ou da mãe). Além dos substitutos reais (chupeta, argila,
pessoa amada), o imaginário inconsciente também oferece outros substitutos,
os mais freqüentes sendo os sonhos, os lapsos e os atos falhos. Neles,
realizamos desejos inconscientes, de natureza sexual. São a satisfação
imaginária do desejo.

Alguém sonha, por exemplo, que sobe uma escada, está num naufrágio ou num
incêndio. Na realidade, sonhou com uma relação sexual proibida. Alguém quer
dizer uma palavra, esquece-a ou se engana, comete um lapso e diz uma outra
que nos surpreende, pois nada terá a ver com aquela que se queria dizer:
realizou um desejo proibido. Alguém vai andando por uma rua e, sem querer,
torce o pé e quebra o objeto que estava carregando: realizou um desejo
proibido.

Sublimação, consistindo em adotar um comportamento ou um interesse que


possa enobrecer comportamentos instintivos de raiz Ética é renunciar às
gratificações puramente instintuais por outras em conformidade com os valores
sociais, como um homem pode encontrar uma válvula para seus impulsos
agressivos tornando-se disputador de um prêmio, um jogador de football ou
mesmo um cirurgião. Para Freud as obras de arte, as ciências, a religião, a
Filosofia, as técnicas e as invenções, as instituições sociais e as ações
políticas, a literatura e as obras teatrais (e se ele vivesse hoje diria que também
as páginas na Internet) são sublimações, ou modos para a substituição do
desejo sexual de seus autores e esta é a razão de existirem os artistas, os
místicos, os pensadores, os escritores, cientistas, os líderes políticos, etc.

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Esses mecanismos são aprendidos na família ou no meio social externo a que
a criança e o adolescente estão expostos. Quando os mecanismos de defesa
conseguem controlar as tensões, nenhum sintoma se desenvolve, apesar de
que o efeito possa ser limitador das potencialidades do Ego, e empobrecedor
da vida instintual. Se o mecanismo falha em eliminar as tensões e se o material
reprimido retorna à consciência, o Ego é forçado a multiplicar e intensificar seu
esforço defensivo e exagerar o uso dos vários mecanismos. É nestes casos
que a loucura, os sintomas neuróticos, são formados. Para a psicanálise, as
psicoses significam um severa falência do sistema defensivo, caracterizada
também por uma preponderância de mecanismos primitivos. A diferença entre o
estado neurótico e o psicótico seria, portanto, quantitativa, e não qualitativa.

Transferência. Freud afirmou que a ligação emocional que o paciente


desenvolvia em relação ao analista representava a transferência do
relacionamento que o paciente havia tido com seus pais e que o paciente
inconscientemente projetava no analista. O impasse que existiu nessa relação
infantil criava impasses na terapia, de modo que Freud considerou a solução da
transferência o ponto chave para o sucesso do método terapêutico. Embora
Freud demorasse a considerar a questão inversa, a da atratividade do paciente
sobre o terapeuta, esse problema se manifestou tão cedo quanto ainda ao
tempo das experiência de Breuer, que teria se deixado afetar sentimentalmente
por sua principal paciente, Bertha Pappenheim.

Os sonhos: conteúdo manifesto e conteúdo latente. (Significados


conscientes e subconscientes). A vida psíquica dá sentido e coloração

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afetivo-sexual a todos os objetos e a todas pessoas que nos rodeiam e entre os
quais vivemos. Por isso, sem que saibamos por que desejamos e amamos
certas coisas e pessoas odiamos e tememos outras. As coisas e os outros são
investidos por nosso inconsciente com cargas afetivas de libido.

É por esse motivo que certas coisas, certos sons, certas cores, certos animais,
certas situações nos enchem de pavor, enquanto outras nos enchem de bem-
estar, sem que o possamos explicar. A origem das simpatias e antipatias,
amores e ódios, medos e prazeres desde a nossa mais tenra infância, era geral
nos primeiros meses e anos de nossa vida, quando se formara as relações
afetivas fundamenta e o complexo de Édipo.

Essa dimensão imaginária de nossa vida psíquica - substituições, sonhos,


lapsos, atos falhos, prazer e desprazer com objetos e pessoas, medo ou bem-
estar com objetos ou pessoas indica que os recursos inconscientes para surgir
indiretamente á consciência possuem dois níveis: o nível do conteúdo
manifesto (escada, mar e incêndio, no sonho; a palavra esquecida e a
pronunciada, no lapso; pé torcido ou objeto partido, no ato falho) e o nível do
conteúdo latente, que é o conteúdo inconsciente real e oculto (os desejos
sexuais).

Nossa vida normal se passa no plano de conteúdos manifestos e, portanto, no


imaginário. Somente uma análise psíquica e psicológica desses conteúdos, por
meio de técnicas especiais (trazidas pela psicanálise), nos permite decifrar o
conteúdo latente que se dissimula sob o conteúdo manifesto.

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A psicanálise e a psicologia de Schopenhauer, Brentano e Hartmann

Alguns críticos de Freud dizem que ele não fez muito mais que desenvolver na
Psicanálise as idéias que Arthur Schopenhauer colocou em seu livro "O mundo
como vontade e representação", como o poder dos complexos com origem na
inibição sexual, incesto, fixação materna e complexo de Édipo., a começar pela
sua teoria dos instintos, os quais correspondem perfeitamente, na psicologia de
Schopenhauer, à Vontade opressora que dirige as ações do homem, e o faz de
modo total, não apenas no instinto sexual (Eros) como também no instinto de
morte (Tanatus) uma manifestação da mesma Vontade condutora da natureza.
O pensamento de Schopenhauer contem aspectos do que Freud desenvolveria
mais tarde na Psicanálise: o poder dos complexos com origem na inibição
sexual, incesto, fixação materna e complexo de Édipo e inclusive o que veio a
ser a teoria fundamental do método da livre associação de idéias utilizado por
Freud. O que Schopenhauer escreveu sobre a loucura antecipou a teoria da
repressão e a concepção da etiologia das neuroses na teoria da Psicanálise de
Freud. E o mais importante, Schopenhauer articula a maior parte da teoria
freudiana da sexualidade.

E o mais importante, Schopenhauer articula a maior parte da teoria freudiana


da sexualidade O conceito de "Vontade" de Schopenhauer contem também os
fundamentos do que viria a ser os conceitos de "inconsciente" e "Id" da doutrina
freudiana. A Vontade como coisa absoluta e auto-suficiente, tem ela própria
"desejos". Quando se manifesta na forma de uma criatura ela busca se
perpetuar por via dos meios de reprodução dessa criatura. Por isso o sexo é

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básico para a Vontade perpetuar a si própria. Resulta que o impulso sexual é o
mais veemente de todos os apetites, o desejo dos desejos, a concentração de
toda nossa vontade.

Os críticos consideram impressionante o quanto possivelmente Brentano


influenciou a Freud. Este assistiu suas aulas por pelo menos dois anos, e
exatamente na época que Brentano publicou seu famoso livro de 1874, no qual
seu equacionamento entre o físico e o psíquico, o psicossomático, é mais
salientado. O quanto Freud retirou de Schopenhauer foi provavelmente através
de Brentano, citado inúmeras vezes no referido livro, no qual Brentano também
discute amplamente Karl von Hartman, filósofo alemão, chamado "o filósofo do
inconsciente", autor de "A filosofia do inconsciente", de 1983, e o faz
precisamente na questão dos estados mentais inconscientes. Brentano gozava
de grande popularidade entre os estudantes, entre os quais estavam, além de
Sigmund Freud, o psicólogo Carl Stumpf, e o filósofo Edmund Husserl.

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