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3 Considerações Gerais
5 1. Introdução: o mercado livre de energia elétrica
11 2. Benefícios econômicos e sociais da abertura do mercado
15 3. O setor elétrico brasileiro em números
24 4. ACR, ACL e MMGD: a diferença entre as opções disponíveis
29 5. Abrindo o mercado de maneira organizada
47 6. Day-after: a gestão de portfólio das distribuidoras
51 7. Relacionamento entre Distribuidora e Comercializadora Varejista
54 8. Comercializador Varejista: reflexões importantes
57 9. O Supridor de Última Instância (SUI)
60 10. O futuro da competição e o Open Energy
62 11. Conclusão
65 Referências
67 Sobre a EY
68 Sobre a ABRACEEL
2 | Avaliação dos cenários possíveis para abertura organizada do setor elétrico brasileiro
Considerações
Gerais
As conclusões aqui apresentadas resultam da
análise de dados quantitativos e qualitativos, além
de projeções de eventos futuros, merecendo as
seguintes considerações:
3 | Avaliação dos cenários possíveis para abertura organizada do setor elétrico brasileiro EY Brasil | 3
• Todos os estudos foram baseados em dados • Algumas das considerações descritas à época
públicos, conduzidos pela equipe técnica da da análise baseiam-se em eventos futuros.
EY com o apoio da entidade subcontratada, Esses eventos futuros podem não ocorrer e os
o escritório de Advocacia Souto Correa resultados apresentados poderão diferir dos
Advogados, e submetidos para discussão em números reais;
três esferas da ABRACEEL: diretoria executiva
(9 reuniões realizadas, mais 2 all-day-working- • Qualquer usuário deste documento deve
sessions); Grupo de Trabalho constituído entre estar ciente das condições que nortearam este
os mais de 100 associados, que reunia cerca trabalho, bem como das situações de mercado e
de 200 participantes por reunião (4 reuniões econômica do Brasil.
realizadas); e Conselho de Administração – CAD
(3 reuniões realizadas).
Restrições de acesso a esse relatório
Nesse contexto, todos os temas aqui
apresentados foram amplamente discutidos Este relatório, bem como as opiniões e
e buscaram um ponto de equilíbrio entre as conclusões nele contidas, são de uso exclusivo
diferentes visões apresentadas. Por isso, o da ABRACEEL, que se reserva o direito de
resultado não reflete, necessariamente, a transferir a propriedade dos documentos para
opinião individual de nenhum participante o Ministério de Minas e Energia e para os seus
envolvido na elaboração, revisão ou no debate associados.
de qualquer tema.
Os materiais de apoio produzidos podem, se
• O trabalho envolve questões de julgamento necessário, ser distribuídos pela ABRACEEL
objetivo e subjetivo face aos dados para seus funcionários, diretores, consultores
disponibilizados pelas diversas fontes de e para o MME, Governo Federal e seus
informações consultadas; representantes e demais órgãos de fiscalização,
regulação e controle relacionados a este
• Este trabalho foi feito com base em trabalho, bem como os arquivos disponibilizados
informações coletadas de fontes públicas, juntos a esse relatório, que será público,
fornecidas pela ABRACEEL e/ou por demais eximindo a EY, no entanto, quanto a quaisquer
agentes consultados; responsabilidades oriundas da divulgação
efetuada. De qualquer modo, ressalta-se que
• Este documento foi preparado para o este relatório somente poderá ser manuseado
propósito descrito no contexto da proposta ou distribuído em partes caso seu conteúdo não
apresentada e não deverá ser utilizado para seja desconfigurado e seus direitos autorais não
nenhum outro fim. A EY não assumirá qualquer sejam violados.
responsabilidade por nenhum terceiro, nem
em caso de o documento ser utilizado fora do Os fatores que possam resultar em diferenças
propósito mencionado; entre o conteúdo deste relatório e o conteúdo
de documentos que tenham o mesmo objeto
• A EY não tem responsabilidade de atualizar deste trabalho incluem a utilização de distintas
este documento para eventos e circunstâncias fontes de informação e a aplicação de diferentes
que ocorram após a sua entrega, exceto a metodologias de tratamento de dados.
situação descrita no item anterior;
4 | Avaliação dos cenários possíveis para abertura organizada do setor elétrico brasileiro
1
Introdução:
o mercado livre
de energia elétrica
5 | Avaliação dos cenários possíveis para abertura organizada do setor elétrico brasileiro EY Brasil | 5
1.1. Histórico do mercado livre 514/2018, que o MME começou a diminuir os
no Brasil limites de carga por parte dos consumidores:
2.500 kW a partir de 1º de julho de 2019 e 2.000
A liberalização do setor elétrico brasileiro, isto é, kW a partir de 1º de janeiro de 2020.
a possibilidade de os consumidores escolherem
livremente seu fornecedor de energia, foi Com a portaria 465 do Ministério de Minas e
pensada ainda nos anos de 1990. Em 1995, Energia (MME), de 12/12/2019, foi estabelecido
a Lei nº 9.074 criou a figura do consumidor o cronograma para que consumidores de
livre de energia elétrica e estabeleceu que Alta Tensão (AT), com carga igual ou superior
consumidores existentes, com carga igual ou a 500kW, pudessem negociar energia com
maior que 10.000 kW, poderiam negociar fornecedores independentes, da seguinte forma:
energia com produtores independentes, a partir de 01/01/2021, consumidores com
inaugurando o mercado livre de energia no carga igual ou superior a 1.500kW; a partir de
Brasil. A Lei também previa que, após cinco 01/01/2022, consumidores com carga igual ou
anos de sua publicação, a carga mínima para superior a 1.000kW; e a partir de 01/01/2023,
os consumidores cairia para 3.000 kW e que, consumidores com carga igual ou superior a
contados oito anos da lei (ou seja, a partir de 500kW, todos independentemente do nível de
julho de 2003), o poder concedente, no caso o tensão.
Ministério de Minas e Energia, poderia reduzir
os limites de carga e tensão para o exercício Nesse contexto, desde 2015, tem-se debatido
da opção de contratação do fornecimento com sobre a abertura do Mercado Livre para todos
produtor independente e de energia elétrica. os consumidores, no âmbito dos seguintes
projetos de lei (PL) em tramitação no Congresso
Isso, entretanto, aconteceu de maneira muito Nacional: PL 1.917/2015, na Câmara dos
lenta: foi apenas em 2018, por meio da Portaria Deputados, e PLS 232/2016, já aprovado
Figura 1:
Fonte: Elaboração própria com base em pesquisas da ABRACEEL a partir da legislação de cada país
6 | Avaliação dos cenários possíveis para abertura organizada do setor elétrico brasileiro
5.563
pelo Senado Federal e, agora, respondendo
na Câmara pelo número 414/2021. A partir
do levantamento da legislação de 55 países
realizada pela Associação Brasileira dos são as novas Unidades
Comercializadores de Energia – ABRACEEL, Consumidoras (UCs) em 2021
verificou-se que 36 deles, incluindo Japão, no mercado livre de energia
Alemanha e vários outros países da Europa,
possuem mercado de energia livre para todos os
consumidores.
Gráfico 1:
25.000
200.000
20.000
150.000
15.000
100.000
10.000
50.000
5.000
- -
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020
EY Brasil | 7
Segundo dados da Câmara de Comercialização tendo barreiras à sua investidura no ambiente
de Energia Elétrica – CCEE, o mercado livre livre, o que demonstra que a liberdade garante
de energia encerrou 2021 com 5.563 novas que escolhas individuais sejam feitas por cada
Unidades Consumidoras (UCs). Nesse contexto, consumidor, de acordo com sua realidade.
cerca de 72% dos empreendimentos que estão
atualmente em construção serão destinados ao Mesmo com as restrições para migração do
mercado livre de energia (ABRACEEL, 2020). Ambiente de Contratação Regulada (ACR)
Atualmente, o segmento representa 34,5% de para o ACL, foi possível observar, ao longo das
toda a energia elétrica consumida no Sistema últimas décadas, o surgimento de uma ampla
Interligado Nacional – SIN, graças às medidas competição no segmento de comercialização,
recentes de abertura do mercado. Mesmo o que, agora, reduz as chances de uma
assim, de acordo com dados da ANEEL, para os concentração de mercado nos primeiros anos da
meses de referência de Jul/21 a Jun/22, 15% abertura para a baixa tensão, como aconteceu
dos consumidores (355 indústrias) optaram por em outros países.
não migrar completamente ao ACL, mesmo não
Gráfico 2:
Comercializadores como
agentes da CCEE
456
2020 397
341
2018 270
219
2016 191
171
2014 163
151
2012 147
113
2010 93
70
2008 55
48
2006 44
47
2004 41
35
2002 31
18
2000 5
8 | Avaliação dos cenários possíveis para abertura organizada do setor elétrico brasileiro
Em termos do tamanho do mercado, o segmento residencial é o segundo maior demandante de
energia no país, conforme demonstrado pelo Gráfico 3.
Gráfico 3:
17,4%
36,3% 30,7% 9,6% 6,6%
1.2. Mas, afinal, qual a diferença entre buscarão diferentes geradores de energia para
os mercados cativo (regulado) e livre? atenderem à demanda de seus clientes.
Hoje, esse papel ocorre por meio das
Antes de mais nada, é importante entender a distribuidoras de energia, que entram em leilões
diferença de papéis que existe no setor elétrico organizados pelo governo e são obrigadas a
brasileiro: enquanto os geradores de energia firmar contratos de longo prazo (de até 30
são responsáveis pela produção da energia, os anos) com geradores que não necessariamente
transmissores são responsáveis pelo transporte seriam as escolhas feitas pelos consumidores.
dessa energia em longas distâncias, e os Isso porque esses leilões podem acabar sendo
distribuidores são responsáveis por levá-la, em influenciados por decisões governamentais mais
baixas tensões, de maneira capilarizada, até as amplas que, por vezes, vão além dos interesses
nossas residências. exclusivos do setor elétrico – acabando por
subsidiar políticas públicas que, embora
Como visto anteriormente, apesar de previsto certamente meritórias, vão além dos interesses
para acontecer a partir de 2003, jamais foi relativos à segurança energética, envolvendo
dada ao consumidor residencial a liberdade custos de desenvolvimento regional ou local,
de escolha de seu fornecedor de energia. Na que deveriam ser pagos com recursos fiscais
hipótese de essa liberdade lhe ser dada, a (provenientes de arrecadação de impostos), e
infraestrutura “de rede” (isso é, a transmissão não por meio da elevação dos custos da energia
e a distribuição) permanecerá regulada, e o elétrica. Assim, como a teoria microeconômica
consumidor deverá continuar pagando por sugere, uma vez que as decisões são tomadas
esse transporte da energia; no entanto, ele pelos consumidores de maneira livre, espera-
poderá escolher livremente seu fornecedor se que seja alcançado o preço de equilíbrio de
– o que, na prática, será feito por meio de acordo com as opções oferecidas pelo mercado
comercializadoras varejistas, que, por sua vez, fornecedor, sem interferências externas.
EY Brasil | 9
Gráfico 4:
800
98,8
700
600 67,5
277
500
169
400
300
403 403
200
100
0
BAU Cenário mercado livre
TUSD TE Impostos
Hoje o mercado livre de energia elétrica do Brasil corresponde por cerca de 1/3 do total, sendo
restrito apenas aos maiores consumidores. Como forma de ilustrar o potencial benefício que haveria
para o consumidor residencial caso esse pudesse, hoje, escolher seu fornecedor, foi verificado o preço
médio negociado no ambiente livre (curva forward), e somado todos os custos de infraestrutura de
rede e os seus respectivos impostos, comparando o resultado com o preço médio do mercado cativo.
O resultado foi um preço total de R$ 777,99 para o mercado cativo e de R$ 638,57 caso o mercado
livre simulado – uma variação de, aproximadamente, 18%. O efeito econômico que essa diferença
poderia trazer ao país foi simulado no próximo capítulo.
10 | Avaliação dos cenários possíveis para abertura organizada do setor elétrico brasileiro
2 Benefícios econômicos
e sociais da abertura
do mercado
11 | Avaliação dos cenários possíveis para abertura organizada do setor elétrico brasileiro EY Brasil | 11
A liberalização da comercialização de energia
traz diferentes externalidades econômicas A abertura
do mercado
positivas como competitividade, flexibilidade,
escolha e previsibilidade de custos e de
consumo, além de garantir a alocação eficiente
de recursos, pela redução do direcionamento
estatal na expansão do sistema elétrico.
pode reduzir
A abertura do mercado pode reduzir a conta de a conta de luz
luz das famílias em até de R$ 108/MWh, quando
comparamos a TE média das distribuidoras (R$ das famílias em
até de R$ 108/
263 / MWh) com preço da energia no mercado
livre (R$ 155 / MWh). Incorporando a TUSD e
os impostos, a diminuição do custo da energia
reduziria cerca de 18% o preço final para o
consumidor. Em sendo verdadeira a premissa, e
MWh, quando
assumindo tudo mais constante, uma redução de
18% com gasto de energia aumentaria a renda comparamos a
disponível em 0,7%, liberando mais de
R$ 20 bilhões por ano para compras de bens TE média das
distribuidoras
e serviços. Isso resultaria em aumento do
consumo (efeito direto) que se reverteria sobre
toda a economia (efeitos indiretos e induzidos),
gerando um ciclo virtuoso sobre a atividade e
geração de renda/empregos. Combinando os
com preço da
efeitos, haveria uma elevação do PIB de 0,56%,
gerando aproximadamente 700 mil empregos. energia no
mercado livre
12 | Avaliação dos cenários possíveis para abertura organizada do setor elétrico brasileiro
Figura 2:
Figura 3:
Efeitos
indiretos
PIB Fornecedores
Efeitos
diretos
Fábrica Atividades
Efeitos
Induzidos
PIB
Consumo PIB
EY Brasil | 13
Metodologia de estimação
14 | Avaliação dos cenários possíveis para abertura organizada do setor elétrico brasileiro
3 O setor elétrico
brasileiro em números
15 | Avaliação dos cenários possíveis para abertura organizada do setor elétrico brasileiro EY Brasil | 15
3.1. Tamanho do mercado ontem, Prioritário de Termeletricidade (PPT). Este
hoje e amanhã programa, como uma resposta à crise de
2001, previa a implantação de 55 usinas,
Em 2021, a capacidade total instalada de com capacidade total de 19,4 GW, sendo
geração de energia elétrica do Brasil alcançou 91% de térmicas a gás natural e 9% de outros
181.610 MW – um acréscimo de 6.873 MW, combustíveis (CNI, 2018). A energia eólica
não incluída a Micro e Mini Geração Distribuída também vem ganhando espaço no cenário
(MMGD). As hidrelétricas sempre foram as nacional, devido a incentivos promovidos
principais fontes de energia; porém, essa pelo governo, como a promoção de leilões
participação vem perdendo espaço para outras específicos e uma linha de apoio financeiro
fontes desde 1996, quando representou 87,4% do BNDES (Gouvêa e Silva, 2018), chegando
da potência do país. No ano passado, a potência a 20.771 KW de capacidade instalada.
instalada das hidrelétricas foi de 109.350 MW, Vale mencionar também o crescimento da
enquanto das térmicas foi 44.866 MW e a eólica capacidade de geração solar, impulsionado
20.771, conforme pode ser visto no Gráfico 5. pelos preços mais baixos verificados nos últimos
anos, pela tecnologia robusta dos projetos e
Observa-se entre 2000 e 2004 uma rápida vasto potencial técnico (EPE, 2022b). Apesar
expansão da geração térmica, fato devido disso, essa matriz ainda representa apenas 2,6%
à incentivos do governo, como o Programa da capacidade instalada no país.
Gráfico 5:
120.000
Hidro
100.000
80.000
60.000
Termo
40.000
Eólica
20.000
Solar
0 Nuclear
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
2008
2010
2012
2014
2016
2018
2020
16 | Avaliação dos cenários possíveis para abertura organizada do setor elétrico brasileiro
3.2. Componentes de custo: por enquanto, não se observa a cobrança de
entendendo quem paga o quê uma parcela correspondente à segurança do
sistema – posto que a fonte solar é uma fonte de
A tarifa de energia elétrica é dividida em energia, e não de potência, como será visto no
Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição capítulo 3.4 deste trabalho).
(TUSD), que é a parcela pela infraestrutura
de rede (também chamada de “fio”), e Tarifa Na ponta de benefícios que são exclusivos do
de Energia (TE), que é a parcela proporcional ACR (isto é, componentes com “sinal trocado”
à quantidade da energia consumida (grosso na CDE, que beneficiam o consumidor),
modo, correspondente à geração de energia aparecem os créditos correspondentes à
necessária ao atendimento do consumidor). privatização da Eletrobras e o crédito tributário
TE. Ressalta-se que esses benefícios não são
Enquanto a TUSD é paga integralmente pelos carregados por consumidores migrantes,
consumidores cativos e livres, os consumidores representando um benefício permanente ao
especiais possuem desconto de 50% a 100% ambiente cativo.
no fio A e fio B, a fim de incentivar as fontes
renováveis alternativas (principalmente eólica e
solar). Porém, a Lei nº 14.120/2021, o Decreto 3.3. Histórico das tarifas no ACR
nº 10.893/2021 e a Resolução Normativa nº e dos preços no ACL
1.038/2022, definiram prazos para reduzir
esse incentivo gradualmente para os novos No mercado cativo, o preço da energia é
empreendimentos. definido em leilão e a tarifa de aplicação é
definida pela ANEEL. A tarifa é composta pela
Já os consumidores que também produzem Parcela A, que engloba a compra de energia,
energia, por meio da Micro e Mini Geração transmissão de energia e encargos setoriais,
Distribuída – MMGD, são isentos da TUSD, pela Parcela B, que são os custos de distribuição
pagando apenas o consumo mínimo da conta de energia, e pelos tributos. A Parcela A
para as distribuidoras. Todavia, com a Lei incorpora os custos não-gerenciáveis da
14.300/2022, foi estabelecido o calendário para concessionária de distribuição e a parcela B os
a tarifação do fio B na MMGD “nova” ao longo custos gerenciáveis (Fioravante, 2022).
dos próximos anos, além do pagamento de 40%
da TUSD Fio A e encargos TFSEE, P&D e EE. Existem dois desafios principais com o desenho
de compra de energia do ACR. Por vezes,
Sobre a Tarifa de energia (TE), o consumidor o valor final pago pela tarifa tem em sua
do ambiente regulado (cativo) está sujeito composição montantes não necessariamente
aos preços definidos nos leilões e à tarifa relacionados ao setor elétrico, como o recente
determinada pela ANEEL, que, por sua vez, 35º leilão de energia nova, que contratou a
englobam diversos outros custos, enquanto os fonte de resíduos sólidos urbanos, com ICB de
consumidores livres podem negociar o preço R$549 / MWh.
com as comercializadoras por valores, em geral,
inferiores aos do mercado regulado. Por mais meritória que seja a solução de
problemas de resíduos em grandes centros
Já os consumidores classificados como MMGD urbanos, esse tipo de prática, no longo prazo,
não pagam a parcela de TE, por se entender leva ao encarecimento da tarifa de energia
que eles produziram a quantidade equivalente elétrica, como se observou no Brasil ao longo
ao seu consumo (mesmo que, aqui, ao menos dos últimos anos.
EY Brasil | 17
Gráfico 6:
Composição da Tarifa
Compras de Energia
34,5%
Transmissão
6,5%
Distribuição
20,3%
Encargos e Tributos
18 | Avaliação dos cenários possíveis para abertura organizada do setor elétrico brasileiro
Um segundo problema é a indexação dos série. No mesmo ano, por conta de uma severa
contratos. Imaginando dois empreendimentos crise hídrica, foi criada a Bandeira de Escassez
similares, um com contratos de longo prazo Hídrica. Somado a isso, os valores das bandeiras
do ACR e outro de curto prazo no ACL: tarifárias foram reajustados para cobrir os
enquanto o primeiro tem seus reajustes custos de geração de energia decorrentes
indexados à inflação, independente do preço da conjuntura hidrológica e dos empréstimos
real de mercado, aquele no ACL está sujeito tomados pelas distribuidoras. Tudo isso gerou
a inovações tecnológicas e choques de oferta bolhas financeiras que pressionaram as tarifas
e demanda que fazem os preços flutuarem, de energia.
induzindo a eficiência e a inovação.
No entanto, em 2022, a Lei Complementar 194
Em 2020, com a pandemia da Covid-19, os estabeleceu um limite para aplicação do ICMS
reajustes anuais das distribuidoras foram sobre as tarifas de energia elétrica em todo o
transferidos para o ano seguinte, com país, e a Eletrobras repassou 5 bilhões por meio
injeção de recursos por meio de empréstimos da conta CDE, como resultado da privatização
setoriais, para tentar minimizar os impactos da companhia. Ambos os efeitos foram positivos
da pandemia. No final de 2021, quando as e fizeram com que, após muitos anos, a tarifa
bandeiras voltaram, foi necessário acionar a média do ACR voltasse a convergir com a série
Bandeira Vermelha Patamar II, a mais cara da histórica da inflação (IPCA).
Gráfico 7:
1.200
1.000
800
600
400
0
set-12
set-13
set-14
set-15
set-16
set-17
set-18
set-19
set-20
set-21
mai-12
mai-13
mai-14
mai-15
mai-16
mai-17
mai-18
mai-19
mai-20
mai-21
mai-22
jan-12
jan-13
jan-14
jan-15
jan-16
jan-17
jan-18
jan-19
jan-20
jan-21
jan-22
EY Brasil | 19
3.4. Fontes de potência e fontes de energia
De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética, a matriz elétrica brasileira é constituída da seguinte
forma:
Gráfico 8:
Composição da Tarifa
Hidráulica
65,2%
Biomassa
9,1%
Eólica
8,8%
Gás Natural
8,3%
Carvão e derivados
3,1%
Nuclear
2,2%
Solar
1,7
Derivados de petróleo
1,6%
20 | Avaliação dos cenários possíveis para abertura organizada do setor elétrico brasileiro
No entanto, uma questão importante a ser de capacidade – para permitir que o avanço das
compreendida é a diferença entre a capacidade fontes de energia ocorra de maneira saudável
instalada e o atendimento à carga máxima do e equilibrada, sem prejuízo da segurança do
sistema. Isso porque existe uma diferença entre sistema.
fontes de “potência” (aquelas que podem ser
acionadas a qualquer momento, de maneira Por isso, a discussão sobre “quem paga a
razoavelmente segura – como as hidrelétricas segurança” é válida. Buscou-se, então, no
e térmicas) e as fontes de “energia” (que são Sistema de Informações de Geração – SIGA,
intermitentes, como a eólica e solar). A carga da ANEEL, a relação de todas as usinas em
máxima histórica registrada pelo ONS, em 30 operação no Brasil. Esse número, por fonte,
de janeiro de 2019, foi de 92,15 GW, às 16h. foi comparado com a relação de todos os
Neste momento, as usinas eólicas entregavam contratos do ACR, disponibilizada pela CCEE.
3,9 GW dos 14,6 GW de sua capacidade Ambas as informações tinham como data-
instalada (27% do total), e as usinas solares base setembro de 2022. Foram somadas às
já estavam em descida de sua geração-pico, informações da CCEE os contratos de cota
observada às 13h. É importante observar que, (CCGF). O resultado, observado na Tabela 1,
25 dias depois, em 24 de fevereiro de 2019, indica que cerca de metade da capacidade
as eólicas chegaram a entregar ao sistema instalada total do Brasil está fora dos
apenas 6,6% do total de sua capacidade ambientes ACR/LER, e igual proporção pode
instalada neste mesmo horário. Isso explica a ser observada nas fontes de potência (UHEs e
necessidade de contratação de potência por UTEs), indicando que, hoje, ACR e ACL contam
meio de mecanismos como os leilões de reserva com potência disponível similar.
Tabela 1:
Fonte: Elaboração própria, com dados da ANEEL (Sistema de Informações de Geração – SIGA) e da CCEE (Resultado Consolidado dos Leilões
de Energia Elétrica por Negociação). Data-base set/2022.
1
Inclui Itaipu e cotas
EY Brasil | 21
3.5. Os custos para manter o setor elétrico hoje
O setor elétrico brasileiro possui, hoje, compromissos já firmados2 da ordem de R$5,68 trilhões (em
valores nominais, já considerando eventuais diferenciais entre a inflação e um reajuste real sobre a
parcela em análise3). Desse total, 26,1% correspondem à Tarifa de Energia (TE), principalmente por
conta dos chamados “contratos-legado”, que são as compras de energia em leilões organizados pelo
Tabela 2:
2
Compromissos firmados por meio de distribuidoras de energia, incluindo leilões regulados.
3
Por exemplo: se um componente de custo é atualizado pela SELIC, aplica-se sobre o valor presente o diferencial entre a SELIC e a
expectativa de inflação.
22 | Avaliação dos cenários possíveis para abertura organizada do setor elétrico brasileiro
Gráfico 9:
Perdas 470.499.595.477
Encargos 704.296.740.414
Fio A 684.708.349.862
Fio B 2.359.286.407.177
-118.785.199.288
Créditos
-23.580.462.687
Bilaterais 105.725.598.417
Angra 1 e 2 139.230.716.019
Cotas 171.174.827.590
Itaipu 201.499.384.209
Fonte: Dados do estudo contratado pela EY à TR Soluções (TR, 2022); adaptado pela EY
EY Brasil | 23
4
ACR, ACL e MMGD:
a diferença entre as
opções disponíveis
24 | Avaliação
Avaliação dos
dos cenários
cenários possíveis
possíveis para
para abertura
abertura organizada
organizada do
do setor
setor elétrico
elétrico brasileiro
brasileiro
Atualmente o Brasil possui um modelo misto de comercialização para atender dois tipos de mercado:
Na prática, o consumidor cativo com alto consumo, porém ainda inferior à demanda necessária para
ser classificado como consumidor especial, e, portanto, impedido de migrar para o mercado livre,
pode optar pela instalação de painéis solares (“on-site”) ou assinar serviços de geração “remota”, mas
que sejam classificados como “distribuídos” pela legislação vigente. Essa escolha, hoje, é de simples
operacionalização - ocorrendo através de um aplicativo – e possui o desconto já pode ser aplicado na
fatura seguinte. A forma de distribuição de custos por cada categoria pode ser verificada na Tabela 3.
Dessa forma, observa-se um subsídio-cruzado entre consumidores do ACR sem sistemas de MMGD
25 | Avaliação dos cenários possíveis para abertura organizada do setor elétrico brasileiro EY Brasil | 25
Tabela 3:
Fio A
Transporte
Fio B
Itaipu
Transporte
TUST Itaipu
Crédito tributário TE
Pagante Não Pagante Pagante com exceções Pagamento na compra de energia Pago diretamente na CCEE
Fonte: ANEEL, ABRACEEL, TR Soluções
4
Consumidores do ACL pagam sua própria perda na RB, relativa ao seu consumo, diretamente na CCEE.
5
Geram sua própria energia; porém, não participam dos custos das fontes de potência.
26 | Avaliação dos cenários possíveis para abertura organizada do setor elétrico brasileiro
e aqueles com sistemas. Para reduzir essa ano por um mesmo consumidor, que possui
distorção, a Lei 14.300/2022, que estabeleceu consumo equivalente a 1.000 kWh por mês,
um marco legal para a MMGD, definiu um a depender de sua escolha. A simulação de
cronograma de transição para que os novos ACL assume um possível cenário onde esse
geradores passem a não compensar todos os consumidor poderia migrar para o ambiente
itens tarifários, como pode ser observado na livre, contratando sua energia ao preço médio
Tabela 4. Apesar de trazer uma sinalização desse mercado.
de redução dos subsídios, a redução gradual
ao longo dos próximos 9 anos faz com que Ressalta-se que a obrigação de garantia de
cada optante pela MMGD garanta um direito fornecimento ininterrupto e sem oscilações é
até 2046 de não pagar custos que, de fato, da infraestrutura de rede, somada à correta
existem no ACR, e precisam ser recuperados operação do sistema de geração pelo Operador
de alguma maneira. Na prática, o que existe é Nacional do Sistema (ONS), que precisa, para
uma diferenciação de preços, onde um mesmo tanto, contar com fontes de potência para
produto (fornecimento de energia elétrica responder às variações de carga do sistema.
de maneira ininterrupta e sem oscilações) é Além da isenção da TUSD e do subsídio
oferecido a preços diferentes a consumidores implícito do mecanismo de compensação, cabe
diferentes, conforme pode ser observado no mencionar ainda dois outros incentivos tarifários
Gráfico 10, que simula os valores pagos por para o MMGD: o primeiro, estabelecimentodo
Tabela 4:
Fio B 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 0%
até jan/23 Compra Energia 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
Demais Componentes 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 0%
jan/23 a jun/23 Compra Energia 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
Demais Componentes 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 0% 0%
após jul/23 Compra Energia 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
EY Brasil | 27
Gráfico 10:
900
Comparativo de valores pagos por mês para um consumo de 1.000 kWh
800
700
600
500
400
300
200
100
0
ACR ACL ACL Até 2022 2026 2027 2028 2029 2029 c/
INCENTIVADA benefício =
1/3 TUSD
Fonte e premissas: TUSD residencial média Brasil (ANEEL); TE residencial média Brasil (ANEEL); Desconto incentivada: Base: 50%
sobre Fio B, Fio Rede Básica e Fio fronteira; Compra energia: % da TE (Estudo TR Soluções); Preço ACL referência: BBCE curva
forward; Custo Marginal de Expansão (CME) GD remoto: R$ 200/MWh (simulações próprias baseadas em projetos reais de 5MW em
área de atuação SUDENE). Redução dos benefícios da GD de acordo com a Tabela 4 desse trabalho.
pelo Convênio Número 16/2015 do CONFAZ, elétrica ativa injetada na rede de distribuição
concede aos estados o poder de isentar o pela mesma unidade consumidora com
ICMS sobre a energia elétrica de projetos de os créditos de energia ativa originados na
geração distribuída, nos termos do Sistema própria unidade consumidora no mesmo mês,
de Compensação de Energia Elétrica (SCEE). em meses anteriores ou em outra unidade
Esse mecanismo faz com que exista isenção consumidora do mesmo titular, nos termos do
do ICMS sobre a energia elétrica fornecida Sistema de Compensação de Energia Elétrica
pela distribuidora à unidade consumidora, na para microgeração e minigeração distribuída”,
quantidade correspondente à energia injetada conforme regulação da ANEEL.
na rede de distribuição pela mesma unidade
consumidora (CONFAZ, 2015). Portanto, o que se observa é a desproporção
de obrigações de pagamento por um mesmo
O segundo mecanismo refere-se à lei nº serviço prestado, de acordo com a escolha
13.169/15, artigo 8º, que isenta o pagamento que um determinado consumidor pode fazer.
de PIS/Pasep e COFINS a projetos de geração Potencialmente, uma migração organizada
de “energia elétrica ativa fornecida pela dos consumidores do ACR para o ACL poderia
distribuidora à unidade consumidora, na equacionar essa divergência.
quantidade correspondente à soma da energia
28 | Avaliação dos cenários possíveis para abertura organizada do setor elétrico brasileiro
5Abrindo o mercado de
maneira organizada
29 | Avaliação dos cenários possíveis para abertura organizada do setor elétrico brasileiro EY Brasil | 29
5.1. Cronograma sugerido de abertura
O Ministério de Minas e Energia, por meio da Entender como
o mercado
Portaria 50/2022, definiu que consumidores
de Alta Tensão (AT) poderão migrar para o
ACL livremente, a partir de janeiro de 2024.
Ato contínuo, foi aberta a consulta pública
137/2022, que propõe que:
de energia
• A partir de 1º de janeiro de 2026, os
elétrica deverá
consumidores atendidos em baixa tensão,
à exceção daqueles integrantes da Classe se comportar
nos próximos
Residencial e da Classe Rural, poderão optar
pela compra de energia elétrica a qualquer
concessionário, permissionário ou autorizado de
energia elétrica do Sistema Interligado Nacional; anos é um
• A partir de 1º de janeiro de 2028, os
consumidores atendidos em baixa tensão
primeiro passo
integrantes da Classe Residencial e da
Classe Rural poderão optar pela compra de fundamental
energia elétrica a qualquer concessionário,
permissionário ou autorizado de energia elétrica
do Sistema Interligado Nacional.
Treze anos após as mudanças do marco do desde 2010, projetando-se os próximos anos de
setor elétrico de 2004, os debates relativos à acordo com a média histórica de crescimento
liberalização do mercado de energia elétrica anual, verificada em torno de 2%.
foram retomados no Brasil em 2017, por meio
da Consulta Pública 33 do MME. Desde então, No entanto, essa é a projeção do total do
a preocupação central era com relação a uma consumo: com o avanço da MMGD, é necessário
eventual sobrecontratação das distribuidoras, projetar o crescimento dessa fonte, de maneira
que precisariam honrar os chamados “contratos a descontar-se da carga total o montante a ser
legado”, enquanto os consumidores migravam fornecido via MMGD, obtendo-se, assim, a carga
para o ACR. Assim, buscou-se nos próximos líquida. No Gráfico 11 e no Gráfico 12 é possível
capítulos simular se o cronograma proposto verificar o resultado dessa projeção, que traz
pelo MME (AT a partir de 2024; BT a partir de ainda um comparativo com o crescimento da
2026) é ou não adequado, quando comparado carga estimado pela EPE no PDE 2031.
aos vencimentos dos contratos-legado.
Com relação ao crescimento da MMGD, estima-
se o atingimento de 6,2 GWm em 2029 (Gráfico
5.2. Projeção de mercado 11). Já com relação ao crescimento da carga
total, estima-se que, até 2033, seria observado
Entender como o mercado de energia elétrica um crescimento de 27,3%, seguindo-se a
deverá se comportar nos próximos anos é um trajetória histórica (Gráfico 12). A EPE, para
primeiro passo fundamental. Assim, buscou-se o mesmo período, estima um crescimento de
o histórico de crescimento de mercado no Brasil cerca de 50%.
30 | Avaliação dos cenários possíveis para abertura organizada do setor elétrico brasileiro
Gráfico 11:
35.000.000
30.000.000
25.000.000
20.000.000
15.000.000
10.000.000
5.000.000
0
2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032
Gráfico 12:
120.000
100.000
80.000
60.000
40.000
20.000
Fonte: Dados históricos ONS. Projeção própria, considerando média histórica. PDE 2031 elaborado pela EPE
EY Brasil | 31
5.3. Velocidade de migração Embora Portugal seja uma boa referência
por ser um processo recente, o percentual
Uma vez calculado qual o tamanho total do de migração do país é influenciado pela
mercado, faz-se necessário estimar como os obrigatoriedade de que todos os consumidores
consumidores responderiam à possibilidade migrem, em breve, para o ambiente livre.
de migração do ACR para o ACL. Para tanto,
buscou-se na literatura internacional o padrão Em função disso, tomou-se por base o
de comportamento dos consumidores que percentual de domicílios da Grã-Bretanha
foram confrontados, no passado, com essa que migraram para comercializadoras novas
escolha. Conforme mostram os dados recentes e/ou não-locais (o que pode implicar em
de Portugal, o padrão identificado aproximou-se alguma sobreestimação, pois, a princípio,
de uma curva em “S”, onde os consumidores, parte da migração pode ter ocorrido para
num primeiro momento, migraram de maneira comercializadoras de outras regiões, também
conservadora – supostamente por ser algo com contratos legados).
novo, com grande assimetria de informação
entre empresas e consumidores; no entanto, Os dados apontam que, embora o processo
com a maior propagação de informações e com de abertura tenha se iniciado nos anos 1990,
o avanço do conhecimento dos consumidores, apenas recentemente ultrapassaram o patamar
essa migração de acelera, até atingir um de 60% de migração, comportamento similar ao
patamar de estabilização. observado no Texas.
Gráfico 13:
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
32 | Avaliação dos cenários possíveis para abertura organizada do setor elétrico brasileiro
Gráfico 14:
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
2021 Q3
2022 Q1
2010 Q1
2010 Q3
2011 Q1
2011 Q3
2012 Q1
2012 Q3
2013 Q1
2013 Q3
2014 Q1
2014 Q3
2015 Q1
2015 Q3
2016 Q1
2016 Q3
2017 Q1
2017 Q3
2018 Q1
2018 Q3
2019 Q1
2019 Q3
2020 Q1
2020 Q3
2021 Q1
North Scotland South Scotland Great Britain
Gráfico 15:
6
Proportion of domestic electricity customers on non-home supplier
EY Brasil | 33
Por isso, simulou-se dois cenários, nos quais, ao possível estimar, agora, qual seria a eventual
longo de quatorze anos, a migração atinge um sobrecontratação das distribuidoras por conta
total de 50% da baixa tensão (cenário 1), e de da migração de consumidores do ACR para o
70% (cenário 2). Para a alta tensão, ambos os ACL. Foram simulados três cenários:
cenários consideraram uma migração de 80% do
mercado, distribuída linearmente ao longo dos Cenário 1: Projeção de crescimento da carga
três primeiros anos de abertura. de acordo com o histórico brasileiro; migração
do ACR para o ACL limitado a 50% do total do
mercado cativo.
5.4. Estimativa da exposição
involuntária das distribuidoras Cenário 2: Projeção de crescimento da carga
de acordo com o histórico brasileiro; migração
Existem, hoje, pouco mais de 21 GWm de do ACR para o ACL limitado a 70% do total do
contratos na modalidade CCEAR, que, somados mercado cativo.
a outros contratos firmados pelas distribuidoras
e outras fontes de energia em formato de Cenário 3: Projeção de crescimento da carga
cotas, atinge o patamar de pouco mais de 45 de acordo com a previsão do PDE 2031 (já
GWm. Esses contratos se reduzem até 2028, descontada a previsão de crescimento da MMGD
principalmente devido à descotização das também de acordo com o PDE 2031); migração
usinas da Eletrobras. Na sequência, observa-se do ACR para o ACL limitado a 70% do total do
um período de certa estabilização na redução mercado cativo.
desses contratos-legado, que vai até 2032 –
quando outros contratos começam a expirar. Como é possível observar nos três gráficos,
Com todas essas informações em mãos, é o único cenário onde a linha tracejada (que
Gráfico 16:
50.000
40.000
30.000
20.000
10.000
CCEAR-FA CCEAR-EN CCEAR-EE Bilaterais Angra I e II Itaipu Proinfa CCGF Diferença acumulada
Fonte: CCEE, Relatório de Resultados Consolidados dos Leilões. Agosto de 2022. Foram desconsiderados os contratos classificados
como “Agente Desligado pela CCEE”; “Contrato não Adjudicado”; “Contrato Rescindido”; “Descontratado”; “Desistência da Venda”; e
“Outorga Revogada”.
34 | Avaliação dos cenários possíveis para abertura organizada do setor elétrico brasileiro
Gráfico 17:
50.000
Cenário 1 (teto migração BT = 50%)
45.000
40.000
35.000
30.000
25.000
20.000
15.000
10.000
5.000
50.000
40.000
30.000
20.000
10.000
EY Brasil | 35
representa os contratos-legado) supera a previu que todo o volume de MMGD deve ser
linha contínua (de total da carga do ACR, considerado como “exposição involuntária”
compreendendo o mercado do ACR mais as por parte das distribuidoras, devendo a ANEEL
perdas totais) é o cenário 2, que combina uma reconhecê-lo como tal nos processos tarifários,
premissa conservadora de crescimento (cerca garantindo, assim, o equilíbrio econômico-
de metade da projeção da EPE) com uma financeiro das concessionárias. Portanto,
premissa agressiva de migração (de 70%). observa-se que mesmo no cenário crítico não há
No entanto, é importante observar que a risco de desequilíbrio econômico-financeiro por
exposição máxima de 4,3 GWm em 2035 parte das distribuidoras, posto que já existem
decorre da redução da carga líquida projetada mecanismos legais vigentes que endereçam o
de pouco mais de 6 GWm de MMGD. Caso esse problema. Mesmo assim, explora-se no capítulo a
volume de energia não seja injetado de maneira seguir mecanismos adicionais que poderiam ser
compulsória no ACR, o cenário de carga seria considerados, caso haja a intenção de enxugar
maior, eliminando o problema. Exatamente contratos de geração do ACR.
por isso, a lei 13.400/2022, em seu artigo 21,
2 4
de capacidade no ACR
1 Término antecipado de
contratos de UHE no ACR
3 Transferência de Angra
1 e 2 para reserva de
5 Novo mecanismo de
descontratação
e transferência da energia capacidade (Lei 10.848, art 2º, § 20)
para o ACL, mediante
extensão de outorga
Como o Pmix tende a ser maior do que o 5.5.2. Rescisão consensual dos contratos
preço da energia no ACL, o incentivo para que de UTEs no ACR para reserva de
os geradores prosseguissem com o término capacidade
antecipado do contrato e a transferência de
energia seria uma extensão da outorga da Para essa alternativa, a premissa seria a
UHE, sendo o período de extensão calculado rescisão consensual dos contratos atuais de
da seguinte forma: a partir da verificação do UTEs no ACR (CCEARs) e a recontratação da
valor do contrato no ACR e do cálculo do seu potência a eles associada como reserva de
respectivo preço referencial de descontratação capacidade.
(pela projeção dos preços potenciais dessa
energia no ACL), a perda de receita por parte Essa contratação se daria por meio de processo
das UHEs seria trazida a valor presente. Esse competitivo, visando a seleção de fontes mais
mesmo valor presente seria compensado por baratas (parcialmente amortizadas) para a
meio da extensão das outorgas. reserva de capacidade. Ainda assim, a premissa
é de que seriam contratadas apenas as fontes
É importante ressaltar que, neste contexto, cujos preços atuais no ACR fossem maiores do
a extensão de outorga funcionaria como um que o Pmix das distribuidoras. Para explorar
mecanismo compensatório compatível com os essa alternativa, o foco prioritário seria a
novos riscos assumidos pelo gerador e com a descontratação das fontes térmicas, visto que
renúncia de receitas que se opera quando ele esta ação pode ser feita por meio de dispositivo
manifesta o aceite em encerrar um contrato infralegal. O incentivo para a UTE seria a
para ele vantajoso (preço de venda superior ao extensão do período contratado sob o CCEAR,
que ele conseguirá obter no ACL). Ao mesmo que seria substituído via reserva de capacidade
tempo, visando resguardar a segurança jurídica (CRCAP).
e o respeito aos contratos, também seria
necessária a manifestação de vontade por parte Sendo assim, a análise indica que o total
das distribuidoras contratantes nos CCEARs. que poderia ser descontratado do ACR,
considerando-se que o preço médio dos
Também cabe notar que o mecanismo permite contratos selecionados seja superior ao Pmix
a descontratação sem transferência de custos das distribuidoras, e com conclusão de contrato
para o ACR (consumidores cativos) ou ACL, mas igual ou posterior à 2030, é de 6 GWm8.
amortizada por meio do prazo da outorga.
7
Foi considerado apenas a questão de o preço ser maior que o Pmix. No caso das UHEs, os contratos começam a vencer a partir
de 2036.
8
Caso consideradas apenas as térmicas com preço superior ao Pmix médio de mercado, o potencial de descontratação é de 4,2
GWm, calculado com base nos leilões (CCEE).
EY Brasil | 37
Ressalta-se que a proposta é que as usinas mantenham seu lastro, isso é, possam comercializar a
energia livremente no âmbito do referido processo competitivo – fazendo com que o encargo de
reserva de capacidade fosse reduzido. O impacto dessa medida varia de acordo com o preço do
contrato considerado, como verificado na Tabela 5.
Tabela 5:
Gráfico 18
1.600 R$ 450
1.400 R$ 400
1.200 R$ 350
R$ 300
1.000
R$ 250
800
R$ 200
600
R$ 150
400 R$ 100
200 R$ 50
0 R$ 0
MW médio ICB
Fonte: CCEE, resultado dos leilões de ago/2022
9
Custo médio considerando a carga total de ACR e ACL
38 | Avaliação dos cenários possíveis para abertura organizada do setor elétrico brasileiro
5.5.3. Transferência de Angra 1 e 2 para “§ 20. Para atendimento do disposto no caput
reserva de capacidade deste artigo, poderá ser instituído mecanismo
competitivo de descontratação ou redução,
Para essa alternativa, a premissa é considerar total ou parcial, da energia elétrica contratada
como volume a ser migrado o volume total proveniente dos CCEAR, conforme regulamento
de energia produzida pelas usinas Angra I e do Poder Executivo federal.”
II, retirando esse volume do ACR, atualmente
contratado através de cotas, e migrando esse
volume para reserva de capacidade. Para Sendo assim, essa alternativa propõe que seja
implementação dessa alternativa, é necessária regulamentado o mecanismo competitivo de
alteração legislativa. A implementação dessa descontratação e redução (total ou parcial) da
medida permite a descontratação de 1,6 energia elétrica proveniente de CCEARs. Isso
GWm do ACR, atualmente com Pmix de R$ permitiria a venda de energia ora contratada
329,40, possibilitando também a redução do no ACR para o ACL, desde que a referida venda
Pmix atual das distribuidoras em 1,1%. Assim, ocorra através de mecanismo competitivo. Por
como na proposta anterior, aqui as usinas isso, é natural assumir que o ACL apenas se
permaneceriam com seu lastro, que poderia ser interessaria por contratos que tenham preço
comercializado livremente pela Eletronuclear. igual ou inferior ao negociado nesse ambiente.
EY Brasil | 39
dos preços médios dos contratos de cada descontratadas também as fontes que seriam
distribuidora, e (II) que eventual diferencial competitivas no mercado (combinação essa que
negativo de preços (Pmix final da distribuidora não exigiria alteração legal, apenas normativos
inferior ao seu Pmix existente antes da infralegais). É importante ressaltar que essa
implementação das medidas) seja apropriado na análise não considerou nenhum incremento
forma de abatimento de custos de transição e de competitividade decorrente de fontes que
de modicidade tarifária. pudessem ser enquadradas como incentivadas.
Gráfico 19:
8.000
7.000
6.000
5.000
4.000
3.000
2.000
1.000
40 | Avaliação dos cenários possíveis para abertura organizada do setor elétrico brasileiro
Tabela 6:
[1] Término antecipado de Novo Decreto do Poder Executivo A proposta prevista no item 1.1 abarca a medida, na modalidade
contratos de UHE no ACR e (Regulamentação do art. 2º, §20 da “descontratação de energia via extinção antecipada de CCEAR”,
transferência da energia para Lei nº 10.848/2004), e/ou com extensão de prazo da outorga enquanto meio de compensação
o ACL, mediante extensão de – o que poderia ser discutível juridicamente. Caso se considere
outorga Alteração das Leis nº 9.074/1995 e tratar de mecanismo de reequilíbrio, pode-se defender que já existe
12.783/2013 (dispositivos legais sobre previsão legal para a extensão de prazo, bastando a edição de
prorrogação) decreto para implementar a medida. Todavia, alterações legislativas
prevendo a medida trariam maior segurança jurídica e mitigariam
riscos de judicialização.
[2] Rescisão consensual dos Alterações no Decreto A Lei nº 10.848/2004 é minimalista ao tratar da reserva de
contratos de UTEs no ACR para nº 10.707/2021 capacidade, delegando sua ampla regulação a Decreto do
reserva de capacidade (prever contratação de potência Executivo. Por isso, do ponto de vista formal, atos infralegais seriam
atrelada à CCEAR existente, ampliar suficientes para viabilizar uma contratação lastreada nos CCEARs
a vigência máxima de CRCAP,e etc) e existentes, desde que haja anuência do gerador e que a nova
nova Portaria estabelecendo diretrizes contratação seja precedida de leilão.
para realização do leilão de reserva de
capacidade
[3] Transferência de Angra 1 e 2 Alteração da Lei nº 10.848/2004 O art. 11 prevê que o pagamento da energia gerada por Angra 1
para reserva de capacidade (arts. 3º-A e 11) e 2 será rateado entre as distribuidoras, conforme regulação (que
veda a comercialização fora do regime de cotas) e tarifa calculada
Reformulação da REN ANEEL nº pela ANEEL. Seria necessário alteração legal para I) afastar a
1.009/2022 cotização, II) admitir livre comercialização, e III) prever que a
potência seja direcionada à reserva de capacidade, com pagamento
à Eletronuclear advindo de encargo (EER), IV) sem necessidade de
prévia licitação
[4] Fim das cotas de Itaipu no ACR Alteração da Lei nº 5.899/1973 Atualmente, a energia produzida por Itaipu é adquirida de forma
Decreto nº 11.027/2022: mandatória pelas distribuidoras das regiões S/SE/CO. A alteração
Alterar: art. 7º; art. 10. legislativa seria necessária para permitir a comercialização da
Suprimir: art. 3º, § único ; art. 4º; art. energia proveniente de Itaipu no ACL, descotizando-a, o que
5º; art. 6º; art. 14, I, a; art. 14, §5º; também impõe a adaptação do Decreto (especialmente quanto à
art. 15; art. 16, 17, 18, 19 e 20. obrigatoriedade de repasse da energia de Itaipu às distribuidoras do
S/SE/CO).
Há possibilidade de manutenção dos custos de O&M da LT de Itaipu
com todos os consumidores (art. 27 do Decreto nº 2.655/1998): a
definir.
Avaliar: (a) Como ficará a questão do diferencial da Eletrobras; e (b)
Como ficará a questão do ativo regulatório da Eletrobras.
EY Brasil | 41
Proposta Alterações sugeridas Observações
[5] Novo mecanismo de Novo Decreto do Poder Executivo Possibilidade de descontratar ou reduzir, total ou parcial, energia
descontratação (Regulamentação do art. 2º, §20 da elétrica contratada proveniente dos CCEAR. Conforme exigido pela
(Lei 10.848, art. 2º, §20) Lei nº 10.848/2004) Lei, sobre os montantes descontratados ou reduzidos, não poderão
incidir os descontos de fio incidentes no consumo de energia.
42 | Avaliação dos cenários possíveis para abertura organizada do setor elétrico brasileiro
Gráfico 20:
Gráfico 21:
Impacto no Pmix
100%
80%
60%
40%
20%
0%
Medida 1.1 Medida 1.2 Medida 1.3 Medida 1.4
EY Brasil | 43
As figuras a seguir demonstram a sequência de ações a serem tomadas:
Distri. A Distri. B Distri. C Distri. D Distri. E Distri. F Distri. A Distri. B Distri. C Distri. D Distri. E Distri. F
Distri. A Distri. B Distri. C Distri. D Distri. E Distri. F Distri. A Distri. B Distri. C Distri. D Distri. E Distri. F
Distri. A Distri. B Distri. C Distri. D Distri. E Distri. F Distri. A Distri. B Distri. C Distri. D Distri. E Distri. F
44 | Avaliação dos cenários possíveis para abertura organizada do setor elétrico brasileiro
1
É importante ressaltar que ambos os
mecanismos, possivelmente, exigirão
ajustes e melhorias no futuro. Sobre
o MCSD, há críticas sobre os prazos
estabelecidos pela CCEE para realização
dos mecanismos de troca de energia,
sendo que as distribuidoras alegam
Definição de metodologia de cálculo ex-ante da
que não há antecedência suficiente em
sobrecontratação involuntária
relação à declaração delas para os leilões
Conforme descrito previamente, não há
centralizados. Quanto ao MVE, este
atualmente uma metodologia clara para cálculo
seria utilizado apenas se a energia fosse
da sobrecontratação involuntária e do “máximo
classificada como exposição involuntária,
esforço” previsto na regulamentação do MVE.
o que dependeria de regulamentação por
Atualmente a sobrecontratação involuntária é
parte da ANEEL. Outro ponto relevante diz
verificada apenas uma única vez, ao final do
respeito ao fato que, hoje, os resultados
ano civil, o que acarreta descasamento entre
de venda são comparados com o Preço
a sobrecontratação involuntária projetada e
de Liquidação Diário (PLD) realizado no
a sobrecontratação involuntária de facto no
período, o que acrescenta incertezas as
momento da realização do MVE. Uma metodologia
distribuidoras que optam pelo uso do
mais robusta para definição da sobrecontratação
mecanismo.
involuntária atenuaria riscos associados a venda de
montantes involuntários.
Com a comparação ao PLD realizado, a
2
distribuidora encontra-se em situação em
que mesmo que a venda de energia seja
realizada a preço maior do que o preço de
compra, caso o PLD realizado seja maior
do que o preço de venda, há obrigação
da distribuidora de retornar a diferença
aos consumidores. Ademais, questiona-
se também a competitividade da venda
através do MVE. Uma vez que o mecanismo
é processado de forma trimestral, com Alteração na comparação do preço de venda do
datas fixas, as datas de venda podem não MVE com o PLD
corresponder ao melhor momento para Embora o propósito da comparação com o PLD
venda de energia excedente, não havendo seja o ressarcimento dos consumidores caso haja
atualmente previsão de flexibilização do venda de energia por preço maior que o preço de
momento da venda da energia excedente. compra, na prática a obrigatoriedade de retorno ao
consumidor afasta as distribuidoras do MVE, visto
Por isso, para que os mecanismos possam que, a depender do PLD realizado, a operação
atender ao seu propósito de existência, pode não se tornar atrativa mesmo que o preço de
algumas alternativas para a aprimoração venda do MVE seja superior ao preço de compra.
desses mecanismos devem ser estudadas. A alteração desse benchmark poderia garantir
Dentre elas, destacam-se: um retorno mais eficiente aos consumidores
caso o preço do MVE seja maior do que o preço
de compra, atuando também para diminuir as
incertezas associadas ao uso do mecanismo por
parte das distribuidoras.
EY
EYBrasil
Brasil || 45
3 As regras do
Flexibilização de datas através da MCSD e do
MVE podem ser
descentralização do mecanismo
Conforme supracitado, atualmente o
processamento do MVE se dá através da CCEE,
em frequência trimestral. A descentralização
permitiria negociação direta entre distribuidoras
aprimoradas
e comercializadoras, flexibilizando as datas e
permitindo que a venda de excedente ocorra
em momentos de maior atratividade para
para mitigar esse problema, é que a questão
as distribuidoras. É necessário garantir a
se apresenta. Como solução, se propõe a
continuidade do mecanismo em sua forma atual
estimativa dos referidos custos com base no
para que distribuidoras que não optem pela
prejuízo líquido acumulado das distribuidoras
negociação direta possam continuar vendendo
(atrelado à venda dos contratos legados ao
excedente através do mecanismo centralizado
mercado livre, por valores inferiores aos de
pela CCEE.
aquisição), e o rateio deste valor entre os
consumidores cativos e aqueles que migrarem
para o ACL . Neste modelo, o exercício da opção
5.7. Custeio de transição de migração ficaria condicionado ao aceite
deste encargo, por força do que já dispõe a Lei
Apenas nesse capítulo chega-se à discussão nº 9.074.
sobre o eventual rateio de custos causado pela
venda no ACL de contratos cujo preço no ACR Uma vez que essa alternativa é proposta
fosse maior do que os valores negociados pelo como medida de último caso para tratamento
ambiente livre. Tal observação é importante da sobrecontratação, é razoável supor que
pois, desde 2017, quando as discussões de os custos decorrentes de sobrecontratação
abertura do mercado foram retomadas, a involuntária seriam muito baixos nesta etapa,
maioria dos debates já partiam da premissa de após aplicação das medidas anteriores.
que haveria sobrecontratação, e que a solução
seria a venda de contratos do ACR para o ACL Os critérios para este custeio deveriam ser
a um preço menor do que o contratado – algo regulamentados pelo órgão regulador, ANEEL,
que, como se demonstrou até agora, possui com metodologia clara, considerando o volume
baixas chances de acontecer. migrante e uma definição do período pelo qual a
tarifa deveria ser paga. Para a aplicação dessa
Por isso, apenas no eventual caso de existir medida, seria fundamental a definição objetiva
a sobrecontratação, e de todas as medidas dos critérios de medição e de rateio da tarifa
já discutidas acima não serem suficientes proposta.
10
Os consumidores que têm direito de migrar anteriormente à implementação dessas medidas seriam isentos desta cobrança.
46 | Avaliação dos cenários possíveis para abertura organizada do setor elétrico brasileiro
6Day-after: a gestão
de portfólio das
distribuidoras
47 | Avaliação dos cenários possíveis para abertura organizada do setor elétrico brasileiro EY Brasil | 47
A abertura do mercado e a migração do Para essa discussão, são trazidos apenas dois
consumidor cativo para o ACL traz desafios para riscos: o de preço unitário da compra de energia
a reorganização das atividades de distribuição, (R$ / MWh) e o de mercado (MWh por ano). A
principalmente no que toca a questão comercial Tabela 7 traz como esses riscos poderiam se
- tanto compra quanto venda de energia - e relacionar, e quais seriam as opções disponíveis.
relacionamento com o consumidor.
Em resumo, o não-aditivo do contrato implicaria
Por isso, o seguinte exercício precisa ser feito: na manutenção dos mecanismos atuais de
qual será a nova alocação de riscos do contrato, contratação centralizada (Quadrante 4),
e como a gestão desses riscos será realizada? por meio de leilões organizados pelo poder
concedente, e de risco de mercado total ou
É importante saber que a matriz de riscos é a parcialmente neutralizado pelos processos
peça mais importante dentro de um contrato tarifários, onde exposições involuntárias
de concessão, posto que é ela quem balizará são repassadas ao consumidor por meio de
eventuais pedidos de reequilíbrio ao longo de aumentos tarifários. No entanto, esse cenário
sua vigência. Por isso, qualquer alteração na pode ser aprimorado por meio de instrumentos
matriz implica em alteração de contrato – que, legais ou infralegais e sem desrespeitar os
por sua vez, exige anuência de ambas as partes termos vigentes dos contratos de concessão das
(adesão facultativa). distribuidoras.
Tabela 7:
DISCO contrata sozinha, (1) Não aceitável (2) Possível (3) Meta de longo Prazo
DISCO assume
aceitando que eventuais preços (a DISCO não pode (a DISCO assume tanto o (no longo prazo, espera-se a
acima do ACL incentivarão o tomar risco na compra risco de compra – tendo desverticalização completa do
o risco
consumidor a migrar. Regra e repassar eventuais liberdade na gestão de setor – com a separação das
precisa prever que migração problema de venda ao seus contratos – quanto o atividades de fio e energia)
Preço R$/MWh
Leilões centralizados (4) Cenário Atual (5) Possível (6) Não aceitável
DISCO repassa
(potencialmente de curto e (preferido – não exige (a DISCO compra energia (a partir do momento em
médio prazo), com o Pmix mudanças contratuais, de maneira organizada, que toda a atividade de
o risco
sendo calculado da maneira mas pode ser aprimorado porém assume a gestão comercialização é independente,
tradicional por dispositivo legal ou de eventuais sobras e não faz sentido haver regulação
infralegal) déficits) sobre a compra de energia de um
agente)
48 | Avaliação dos cenários possíveis para abertura organizada do setor elétrico brasileiro
Por exemplo: no lugar de empreender grandes tornada pública pela bolsa e no site da Aneel
esforços na organização de leilões para com, no mínimo, 30 dias de antecedência da
contratação de energia nova, que gerariam compra);
novos contratos-legado e dificultam a gestão
do portfólio no longo prazo, cada distribuidora • Não haveria discriminação de fonte, posto que
poderia ter a possibilidade de comprar energia o governo federal já conta com um mecanismo
de acordo com certas regras pré-estabelecidas para contratação do atributo “potência”
pelo poder concedente, como as a seguir: (leilões de reserva de capacidade) e, por isso,
interessa às distribuidoras apenas a compra da
• Possibilidade de compra da energia necessária commodity “energia elétrica”.
ao atendimento de seus consumidores, em
prazos flexíveis de até 5 anos, sem distinção de As mudanças propostas para o Quadrante 2
energia nova ou existente ; podem ser entendidas pela Tabela 8.
Tabela 8:
Repasse tarifário
(risco de mercado) Sim Sim
risco de sobras e déficits, seja pela liquidação organizados (Quadrante 2). Nesse cenário,
no curto prazo, seja pela revenda no ACL de espera-se que os incentivos econômicos estejam
contratos já firmados (quadrante 5). Caso essa alinhados, posto que, ao falhar na gestão de
opção não faça sentido para a concessionária, compra de energia, seu Pmix aumenta e há
manter-se-ia a regra atual, de sobrecontratação perda de consumidores para o ACL, o que
máxima de 5% e todas as demais regras de materializa seu risco de mercado, que também
liquidação. Um cenário possível, com ainda mais foi alocado sobre ela.
liberdade de gestão de portfólio para aquelas
distribuidoras que queiram assumir o risco de Sabendo que isso pode ser arriscado, em
mercado, é também assumir o risco de compra termos de capacidade financeira que uma
da energia, libertando-se das regras de leilões distribuidora teria para absorver eventuais
EY Brasil | 49
As distribuidoras
deverão ter
à disposição
instrumentos mais
flexíveis e ágeis
para a gestão de
seus portfólios
11
Os leilões poderiam ser organizados pela ANEEL sempre que demandados pelas distribuidoras, sem distinção de fontes ou
operacionalidade das usinas (não exige alteração legal), ou mesmo por meio de bolsas / balcão organizado, como B3 ou BBCE (o que
exigiria alteração legal).
50 | Avaliação dos cenários possíveis para abertura organizada do setor elétrico brasileiro
7
Relacionamento
entre Distribuidora
e Comercializadora
Varejista
EY
EYBrasil
Brasil || 51
Uma vez que o consumidor cativo de baixa Assim, um desenho possível pode ser a DISCO
tensão migra para o ambiente livre, seu ser responsável pela instalação de um medidor
relacionamento comercial passa a ser com a “padrão”, eletrônico ou não, mais barato,
comercializadora, que por sua vez o representa havendo a possibilidade da comercializadora
perante a CCEE e repassa uma parcela da fatura propor sua substituição por equipamento
paga por ele à distribuidora de energia, como diferenciado (que possa oferecer serviços
ressarcimento pelos serviços prestados de mais sofisticados), e, portanto, mais caro,
infraestrutura de rede. que poderia ou não ser cobrado, total ou
parcialmente, do consumidor – a depender da
Por isso, é importante que se estabeleça um negociação entre as partes.
conjunto de regras de relacionamento entre
distribuidora e comercializadora. Em que pese
esse relacionamento já ocorra para muitos 7.2. Sobre serviços prestados pelas
consumidores de alta tensão, que já podem ser distribuidoras à comercializadora
livres, uma vez que a base de consumidores
aumenta da casa das centenas ou milhares Serviços podem ser negociados entre
para a casa das dezenas de milhões, muda-se a comercializadora e DISCO, com regras de
escala de gestão, bem como o perfil do cliente partida sendo definidas pela ANEEL (tabela de
(expectativas, capacidade de pagamento, etc). preços regulados).
12
O processo de composição da BRR leva em consideração a “fotografia” do Ativo Imobilizado em Serviço (AIS) na data-base
da revisão tarifária. Isso significa que um equipamento instalado “no dia seguinte” da data-base do ciclo tarifário anterior será
considerado no ciclo seguinte já com 5 anos de depreciação – o que, em um modelo de amortização constante, faz com que a maior
parcela de remuneração fique para trás.
52 | Avaliação dos cenários possíveis para abertura organizada do setor elétrico brasileiro
consumidor será com a comercializadora,
intercorrências na rede – como
interrupções e problemas de qualidade –
continuarão sendo de responsabilidade
da distribuidora, com quem o consumidor
entrará em contato cada vez que tiver
reclamações relativas à falta de luz. Em
um caso de corte, seria natural que o
consumidor entrasse em contato com a
distribuidora, que deveria saber que a
razão da interrupção foi por conta de um
corte realizado pela comercializadora, com
quem o consumidor deveria entrar em
contato para regularizar o fornecimento.
EY Brasil | 53
8
Comercializador
Varejista: reflexões
importantes
54 | Avaliação
Avaliaçãodos
doscenários
cenáriospossíveis
possíveispara
paraabertura
aberturaorganizada
organizadado
dosetor
setorelétrico
elétricobrasileiro
brasileiro
8.1. Exigências mínimas
O objetivo da
inserção do
A figura do comercializador foi criada por meio
da REN n° 570, sendo definido pela ANEEL
como o agente responsável por representar
pessoas físicas ou jurídicas junto a CCEE, no
Ambiente de Contratação livre. Segundo a
comercializador
Resolução Normativa ANEEL Nº 1.011, de
29/03/2022, para exercer tal função, os varejista no
comercializadores devem, previamente, obter a
aprovação da CCEE. âmbito do ACL
O objetivo da inserção do comercializador
varejista no âmbito do ACL é simplificar e
é simplificar
ampliar a adesão dos agentes a esse mercado,
uma vez que o cumprimento das obrigações
e ampliar a
junto à CCEE fica a cargo do comercializador.
adesão dos
Para obter a aprovação junto à CCEE o agente
deve comprovar que possui estruturas técnico- agentes a esse
mercado
operacional, comercial e financeira adequadas,
conforme os critérios estabelecidos em
Procedimentos de Comercialização, no Seção I
da resolução. São elas:
EY Brasil | 55
• Encargos; assumida pela própria comercializadora, nas
condições colocadas no capítulo 7.
• Repasse dos descontos;
Há, ainda, uma situação específica, de que uma
• Assumir possíveis penalidades. decisão judicial tenha vedado, por qualquer
motivo, o corte do consumidor. Para o mercado
Caso o comercializador varejista extinga- regulado, a inadimplência é medida pelas
se mediante qualquer das hipóteses de “receitas irrecuperáveis”, calculada de acordo
resolução ou resilição previstas no Contrato com o submódulo 2.2 do Proret (Procedimentos
para Comercialização Varejista, o consumidor de Regulação Tarifária), que define um limite
representado deverá ser atendido, de acordo regulatório, a ser reconhecido pela tarifa, que
com a minuta de portaria disponibilizada no suporte essa inadimplência e dê um incentivo
âmbito da Consulta Pública 137/2022 do MME, para que a distribuidora se mantenha abaixo
pela distribuidora de energia, na figura de SUI dele.
– Supridor de Última Instância. Esse tema será
abordado no Capítulo 9 deste trabalho. A questão do incentivo é relevante, posto que,
nessa situação de decisão judicial, é necessário
que alguém conteste essa permanência do
8.3. O tratamento da inadimplência consumidor inadimplente na rede.
56 | Avaliação dos cenários possíveis para abertura organizada do setor elétrico brasileiro
9
O Supridor de Última
Instância (SUI)
57 | Avaliação dos cenários possíveis para abertura organizada do setor elétrico brasileiro EY Brasil | 57
A figura do supridor de última instância surge 10.848, de 15 de março de 2004, observado o
no contexto da abertura do mercado de modo disposto no art. 4º-A, § 2º, da Lei nº 10.848, de
a garantir a segurança do fornecimento de 2004.
energia ao mesmo tempo em que se mantém
a competitividade do mercado. Um SUI é § 1º O atendimento nas condições de
designado para cobrir as lacunas que podem que trata o caput deverá ser efetuado
ocorrer na oferta durante a liberalização por até noventa dias, por meio de
do mercado e no ciclo normal da atividade condições e tarifas reguladas, conforme
econômica. regulamentação da Agência Nacional de
Energia Elétrica - Aneel.
Para tal, existe uma definição mais restrita e
uma mais ampla, tratado de maneira específica § 2º O SUI não será responsável por
por cada país. Em um conceito mais restrito o eventuais pendências do consumidor
SUI é designado para situações emergenciais junto à CCEE decorrentes do
em que o comercializador entra em default ou encerramento da representação de que
deixa abruptamente de fornecer energia, por trata o caput.
qualquer motivo. Porém, ele pode ser definido
mais amplamente como um fornecedor padrão, § 3º Caberá ao consumidor tomar as
em situações em que o consumidor pode providências para a contratação de nova
escolher o seu fornecedor, mas não o faz por representação junto à CCEE.
qualquer motivo.
58 | Avaliação dos cenários possíveis para abertura organizada do setor elétrico brasileiro
A questão principal a ser debatida com relação que os consumidores seriam atendidos pelas
ao SUI diz respeito e eventuais diferenciais de distribuidoras – que usariam sua estrutura
preço que existem entre o preço por MWh a para intermediar essa transação. Vale lembrar
ser oferecido pelo SUI ao consumidor e o preço que os contratos de Energia de Reserva não
da energia no curto prazo – posto que não se possuem lastro; por isso, aqui, haveria apenas a
espera que o SUI tenha energia contratada para utilização dos valores de liquidação da energia
atender ao consumidor neste momento. de reserva para que a distribuidora comprasse
essa mesma energia no curto prazo (ambos
Por exemplo: é razoável imaginar que um a PLD). A distribuidora, então, devolveria
comercializador relevante, com grande número ao EER o Pmix (que foi o valor cobrado dos
de consumidores, entre em dificuldades consumidores), sendo a diferença entre Pmix e
financeiras justamente em um momento de altos PLD o real custo imposto ao fundo do ERR, que
preços de curto prazo, decorrente de algum nível poderia posteriormente cobrar judicialmente
de exposição (contratos de compra insuficientes do comercializador que causou originalmente o
para atender ao total do consumo de seus problema. Na prática, esse mecanismo serviria
clientes, o que o levou a comprar energia no curto para neutralizar o risco que haveria de um
prazo – que, caso apresente um valor maior do grande conjunto de consumidores migrar, em
que o preço médio cobrado de seus clientes, leva um momento de estresse de preços, todos
a um evento de estresse de caixa que pode ser de uma vez para um único agente (o SUI – no
grande demais para seu balanço). Nesse contexto, caso, a distribuidora), o que poderia acabar
os consumidores seriam transferidos a um SUI; desestabilizando também seu caixa, gerando um
porém, esse SUI também estaria descoberto, já problema sistêmico que poderia ser bastante
que ele não terá energia suficiente contratada – já prejudicial a todo o SEB.
que, até aquele momento, não havia consumo sob
sua responsabilidade. No médio prazo, sugere-se que a atribuição
direta à distribuidora do papel de SUI seja
Uma opção seria usar a energia de reserva desafiada, abrindo ao mercado a oportunidade
para “hedgear” o SUI, posto que essa energia para que comercializadoras se homologuem
é justamente liquidada no curto prazo. Esse como SUI, podendo passar a cumprir esse
hedge valeria apenas por 90 dias, período em papel, caso julguem oportuno.
EY Brasil | 59
10
O futuro da competição
e o Open Energy
60 | Avaliação dos cenários possíveis para abertura organizada do setor elétrico brasileiro
No modelo atual, os dados dos consumidores a consultas e operações integradas em
são reunidos e compartilhados em toda a diferentes sistemas.
cadeia, pela geração, transmissão, distribuição
e comercialização de energia, sendo as O Open Energy torna-se especialmente
distribuidoras as tutoras desses dados, relevante à medida que o consumidor assume
disponibilizados nas faturas de energia elétrica, papel protagonista no setor elétrico. Nesse
uma vez por mês. Dessa forma, não existe cenário, é fundamental que o sistema seja
uma facilidade de acesso dos consumidores não apenas funcional e seguro, mas que
aos próprios dados, o que impossibilita seu ele promova o efetivo engajamento dos
manuseio, seja para uma autogestão ou até consumidores. Por isso, é fundamental que o
mesmo para garantir negociações melhores e Open Energy proporcione boas experiências
menores preços no mercado. em termos de: I) engajamento sem esforço,
II) agilidade operacional, III) ferramentas
A proposta do “Open Energy” visa garantir adaptativas conforme necessidades dos clientes,
que os consumidores sejam os donos dos IV) transparência e V) garantia de proteção da
dados relacionados ao próprio consumo de privacidade dos consumidores (não basta ser
energia, podendo administrá-los e compartilhá- seguro, é necessário transmitir segurança).
los livremente, em acordo com a Lei Geral de
Proteção de Dados (LGPD), cuja observância Para tanto, o setor precisará se adaptar a
fica a cargo da Autoridade Nacional de essa nova realidade, por meio de: I) definições
Proteção de Dados (ANPD). O Open Energy tecnológicas sobre a operacionalização da
prevê um sistema que, com o consentimento troca de dados, II) escolhas sobre a construção
do consumidor, permite a troca de informações de centros compartilhados, III) determinar
com segurança e privacidade. quais agentes deverão compor o ecossistema,
IV) determinar quais informações deverão
Espera-se, com essa medida, a redução de ser compartilhadas, V) definição de regras
assimetria de informações, inclusive entre de sandbox regulatório e VI) determinar um
os consumidores, e dos custos operacionais, cronograma de abertura. O Open Energy
que ocasionaria tarifas menores. De forma exigirá ajustes na legislação e flexibilização das
similar ao Open Banking no Brasil, o fluxo normas de mercado do setor, mas experiências
de dados no Open Energy deve ser coletado internacionais e mesmo casos similares
e processado a partir de protocolos de observados em outros setores no Brasil
comunicação e das APIs (Application (Open finance) deverão servir de guia para a
Programming Interfaces), que possibilitam construção da prática brasileira.
Os dados são dos clientes O cliente deverá conhecer quais dados estão sendo
• Os dados são de propriedade dos clientes, que precisam armazenados
ter o direito a decidir; • Em linha à LGPD, o cliente deverá autorizar o
• Com quem compartilhar; armazenamento de seus dados, conhecendo o conteúdo
• O que compartilhar; que está sendo coletado;
• Por quanto tempo; • A qualquer momento o cliente poderá solicitar o
• Interromper o compartilhamento. recebimento dos dados armazenados.
Fonte: Estudos EY
EY Brasil | 61
11
Conclusão
62 | Avaliação dos cenários possíveis para abertura organizada do setor elétrico brasileiro
Capítulo Principais Fatos e Conclusões
• As fontes de potência estão igualmente distribuídas entre ACR e ACL (e, com a
descotização das usinas da Eletrobras, nova parcela relevante migrará do ACR para o
3. O setor elétrico ACL);
brasileiro em números • Existem custos já contratados, por meio das distribuidoras de energia, da ordem de
R$5,6 trilhões até 2051 - sendo que os contratos-legado representam pouco mais de
17% desse total.
• Em razão dos fortes descontos no fio, a MMGD, apesar de possuir uma energia mais
cara do que o ACR e o ACL, são mais competitivas para o consumidor final;
4. ACR, ACL e MMGD:
• A partir de 2029 a MMGD passa a rivalizar com o ACL, promovendo uma competição
a diferença entre as
saudável no setor;
opções disponíveis
• A não-abertura integral da BT entre 2026 e 2027 causará uma migração via GD, que
custaria cerca de R$2 bilhões às distribuidoras.
• O crescimento histórico aponta que a carga do SIN crescerá 26% até 2033;
• A EPE estima que a carga crescerá ainda mais nesse período: 50%;
• A MMGD alcançará 6 GWm na mesma data;
• Os contratos-legado são reduzidos de 2023 até 2028, pela descotização da
Eletrobras; na sequência, há uma estabilização até 2032, quando eles começam a
5. Abrindo o mercado vencer;
de maneira organizada • Foram simulados diferentes cenários de carga do ACR versus estoque de contratos-
legado, e não foram observados pontos relevantes de preocupação com relação a
eventual exposição involuntária;
• Mesmo que persista a preocupação de exposição, existem diferentes mecanismos
que poderiam ser utilizados para enxugar contratos do ACR, com impacto neutro (ou
até positivo) ao consumidor.
EY Brasil | 63
Capítulo Principais Fatos e Conclusões
• O papel de SUI, num primeiro momento, poderia ser a distribuidora – mas, no futuro,
poderia ser realizado por qualquer comercializadora interessada;
9. O supridor de última • É preciso estabelecer um mecanismo que, em caso de quebra de um comercializador
instância relevante, não se crie um efeito sistêmico que poderia comprometer todo o SEB:
propõe-se um hedge via EER.
64 | Avaliação dos cenários possíveis para abertura organizada do setor elétrico brasileiro
Referências
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Revista do BNDES, Rio de Janeiro, v.25, n.49, p. 81-118, jun. 2018.
Fioravante, Dea. O preço da energia: o descontrole do abuso de controle. Rio de Janeiro, IPEA,
2022.
Bjork, Isabel M.; Connors, Catherine R. Supplier of Last Resort: An overview of its Implementation
in ERRA Member States and Representative Countries in the EU. Energy Regulators Regional
Association (ERRA), Hungary, 2005.
Relatórios
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Disponível em: termicas_na_base_web.pdf (portaldaindustria.com.br). Acesso em: 21 de setembro de
2022.
CONFAZ – Conselho Nacional de Política Fazendária. Convênio ICMS 16/15. Brasília, CONFAZ, 2015.
EPE – Empresa De Pesquisa Energética. Plano Nacional De Energia 2050. Rio de Janeiro, EPE, 2020.
Disponível em: Relatorio Final do PNE 2050.pdf (epe.gov.br). Acesso em: 23 de setembro de 2022.
EPE – Empresa De Pesquisa Energética. Balanço energético nacional 2022. Brasília, EPE, 2022b.
Disponível em BEN2022.pdf (epe.gov.br).
EPE – Empresa De Pesquisa Energética. Balanço Energético Nacional 2021. Brasília, EPE, 2021.
Disponível em: BEN2021.pdf (epe.gov.br). Acesso em: 10 de setembro de 2022.
EY Brasil | 65
TR Soluções - Efeitos da abertura do mercado livre, relatório técnico. Estudo contratado pela EY
junto à TR Soluções, para aplicação no presente trabalho. 22 de setembro de 2022.
66 | Avaliação dos cenários possíveis para abertura organizada do setor elétrico brasileiro
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