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Capítulo 3

Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o compartilhamento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo.

Breve panorama dos


museus de arte no
Brasil e criação de
novos acervos

Traçar um panorama dos museus de arte no Brasil se constitui num


grande desafio, pois existem aproximadamente cerca 130 museus no
país com essa temática. Optamos, então, por destacar alguns deles, res-
saltando as instituições cujos acervos atingem uma notória importância.

A escolha também se pautou por outro critério: escolhemos aqueles


museus de arte que se espalham por muitos estados do território nacio-
nal, como os diversos MIS, MAM e MAC. Aproveitamos ainda para des-
tacar museus cuja existência seja recente, preenchendo e reavivando
questões essenciais no histórico dos museus de arte.

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1 Museus e acervos

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Segundo o Conselho Internacional de Museus (ICOM), museu é “uma
instituição permanente, sem fins lucrativos, a serviço da sociedade e
do seu desenvolvimento, aberta ao público e que adquire, conserva, in-
vestiga, difunde e expõe os testemunhos materiais do homem e de seu
entorno, para educação e deleite da sociedade”.1

No Brasil, essas instituições permanentes denominadas museus for-


maram seus acervos de distintas maneiras. No início, alguns museus já
possuíam edifício próprio, como a Pinacoteca de São Paulo (1905) e o
Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro (1937) (CHAGAS, 2006).

Figura 1 – Pinacoteca de São Paulo, exemplo de museu de arte público

Havia, no início da década de 1940, certa lacuna no campo artís-


tico e nas coleções dos museus. No Museu Nacional de Belas Artes

1 Definição de museu aprovada na 20a Assembleia do ICOM (Conselho Internacional de Museus), realizada
em Barcelona, em 2001.

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(MNBA), que já possuía a Divisão de Arte Moderna no Salão Oficial
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anual, sem incorporações “novas” internacionais, e na Pinacoteca de


São Paulo, as obras eram, na grande maioria, nacionais e acadêmicas
(MENDONÇA, 2009).

Como naquele momento os espaços de exposições de arte com


obras modernas de artistas nacionais e internacionais eram escassos,
o conhecimento da produção artística da época, e das últimas tendên-
cias das obras de arte internacionais, era limitado. No entanto, nessa
mesma década ocorre o nascimento dos MAMs, que traria renovação
nas coleções de arte nacionais.

Figura 2 – Museu de Arte Moderna de São Paulo, Ibirapuera

A primeira coleção do Museu de Arte Moderna de São Paulo, for-


mada entre os anos 1948 e 1963, foi doada pelo fundador e pre-
sidente do museu, Francisco Matarazzo, conhecido como Ciccillo
Matarazzo, à Universidade de São Paulo, constituindo o Museu de Arte
Contemporânea (MAC-USP), organizando-se assim um museu com
acervo de obras modernas. O MAM-SP permaneceu sem coleção até

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1967, ano no qual houve a doação de Carlo Tamagni, dando início ao

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primeiro ato para a refundação do museu.

Os anos 1950 e 1960 foram décadas de grande efervescência cul-


tural. A Fundação do MAM-SP e a criação da Bienal Internacional de
Artes Plásticas – que no início se denominava Bienal do Museu de Arte
Moderna de São Paulo, e a partir de 1963 apenas Bienal de São Paulo
– marcam um período de intensa transformação artística, que começa-
ria com o Movimento Concreto (Concretismo), passaria pelos grandes
festivais de música popular brasileira, o surgimento da Bossa Nova, a
eclosão do Cinema Novo e o Tropicalismo.

Destacamos que, na sequência da fundação do MAM paulista, uma


das primeiras exposições exibidas foi a dos internos do hospital psi-
quiátrico de Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro, onde o artista Almir
Mavignier, junto à doutora Nise da Silveira, desenvolveu uma atividade
terapêutica inovadora, da qual iriam participar, em seguida, os artistas
Ivan Serpa e Abraham Palatnik e o crítico de arte Mário Pedrosa. Essa
atividade teve enorme impacto na própria produção dos jovens artistas
cariocas, às vésperas da formação do grupo de concretistas.

No mesmo período, no MAM carioca, Ivan Serpa iniciava seu curso


de arte com crianças, transformando-se em um espaço enorme de fer-
mentação poética. Essa convivência com a infância e a loucura deixava
explícito o compromisso experimental e uma clara conversão à diferen-
ça (OSORIO; FABRIS, 2008). Ainda segundo Osorio e Fabris (2008), o
MAM assume um desafio pedagógico, o compromisso histórico com
a invenção e o ajuizamento do novo, instaurando-se, naquele contexto,
como uma mistura de escola e laboratório, mostrando uma oportunida-
de para o artista e o público reverem seu papel na relação com as obras.

Constatamos também que o MAM de São Paulo foi o responsá-


vel pela concepção e organização das Bienais Internacionais de São
Paulo, com início no ano de 1951, e que, de acordo com Maria Cecília
Lourenço (1999, p. 113), “projeta a arte brasileira, consolida ou exclui

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nomes e tendências da história da arte e torna-se um mecanismo im-
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portante para formação e ampliação de acervos museológicos, para o


próprio MAM e para outros, desdobrando-se até a década seguinte (a
de [19]60)”.

Vera d’Horta (1995) mostra como se deu a incorporação do acervo


no transcorrer da primeira fase do MAM de São Paulo, de 1949 a 1963,
dizendo que o acervo foi:

[...] enriquecido por algumas compras, inclusive durante as bienais,


por doações de artistas que faziam exposições no museu e por
outras ofertas de artistas, como foi o caso de Di Cavalcanti, que
doou ao museu mais de 500 desenhos. Quanto às obras doadas
por Ciccillo e Yolanda, o registro parece incerto até hoje, mas não
foram seguramente poucas. (D’HORTA, 1995, p. 24)

Portanto, além de doações de artistas e aquisições, grande parte dos


acervos foi formada por obras de arte de fortunas pessoais, as quais
eram propriedades particulares, e dos seus principais “mecenas”, que
por sua vez eram eleitos presidentes das associações mantenedoras.

O prédio do Museu de Arte Moderna da Bahia, localizado desde 1963


no Solar do Unhão, um sítio histórico do século XVI, com todo o seu
conjunto arquitetônico, foi restaurado ainda em 1959 por Lina Bo Bardi,
também sua diretora até 1964, quando foi deflagrado o golpe militar
no Brasil. A arquiteta idealizou a criação do MAM-BA juntamente com
o Museu de Arte Popular (MAP), com o objetivo de articular a indústria
artística com a arte popular.

Na reforma, os galpões foram preservados com o intuito de se criar


um museu-escola, por meio de cursos de formação tanto para crian-
ças e jovens quanto para adultos e artistas. Segundo Lina, as distinções
entre arte popular e erudita, antiga e moderna, não deveriam existir e,
assim, ela desenvolveu o Centro de Estudos sobre o Trabalho Artesanal
(Ceta) em parceria com o artista Mário Cravo.

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O acervo atual do MAM-BA foi formado a partir da transferência

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de obras do Museu do Estado da Bahia, atual Museu de Arte da Bahia
(MAB), e por doações ao longo dos anos.

Os MAMs no Brasil são:

•• Museu de Arte Moderna de São Paulo (1948)

•• Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (1948)

•• Museu de Arte Moderna da Bahia (1963)

•• Museu de Arte Moderna de Campinas (1987)

•• Museu de Arte Moderna Aluísio Magalhães – Recife/PE (MAMAM)


(1998)

•• Museu de Arte Moderna Murilo Mendes (2005)

1.1 Museu de Arte Contemporânea (MAC)

O Museu de Arte Contemporânea, criado em 1963, na Universidade


de São Paulo, recebeu de Francisco (Ciccillo) Matarazzo Sobrinho e
Yolanda Penteado a doação de sua coleção particular, ao lado da co-
leção que se havia formado para constituir o Museu de Arte Moderna.
A esse patrimônio posteriormente se juntaram novas aquisições de
Ciccillo e Yolanda, doações de artistas e obras premiadas nas bienais
do período de 1951 a 1961.

O processo de formação do acervo do museu constituiu-se após a


Segunda Guerra Mundial, quando no mercado internacional havia a pos-
sibilidade de compra, a valores acessíveis, de obras de artistas impor-
tantes do século XX.

O MAC, desde sua criação, e principalmente com o professor Walter


Zanini, teve a intenção de se transformar numa instituição aberta e
mais integrada à sociedade. Em sua primeira gestão, Zanini organizou

40 Educação em museus e contextos não escolares


exposições do acervo como programa educacional, exibindo um recor-
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te da coleção do MAC em várias cidades brasileiras.

Na gestão da professora Ana Mae Barbosa, como diretora do MAC,


houve o fortalecimento da atuação educacional do museu, ampliando
as ações do setor de educação.

Atualmente, os MACs se espalham pelo território nacional. São eles:

•• Museu de Arte Contemporânea de Americana

•• Museu de Arte Contemporânea de Campinas

•• Museu de Arte Contemporânea de Campo Grande

•• Museu de Arte Contemporânea de Niterói

•• Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco

•• Museu de Arte Contemporânea do Centro Dragão do Mar de Arte


e Cultura (Fortaleza)

•• Museu de Arte Contemporânea do Paraná

•• Museu de Arte Primitiva de Assis

•• Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul

1.2 Museu da Imagem e do Som (MIS)

Os Museus da Imagem e do Som constituem um conjunto de 32 mu-


seus, espalhados pelas capitais estaduais, e sua criação estabelece-se
com o intuito de salvaguardar coleções representativas do patrimônio
material e imaterial brasileiro.

Seu acervo possui uma vasta diversidade de suportes e formatos au-


diovisuais em diversas mídias, compondo os campos de interesse de um
museu que se relaciona com pesquisa, preservação e comunicação. A
primeira instituição desse porte foi criada no Rio de Janeiro, em 1965.
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Segundo Mendonça (2012), os acervos audiovisuais ou de imagem e

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som possuem as seguintes características:

a. Acervo sonoro, acervo de áudio e/ou acervo fonográfico: conjun-


tos de sons/áudios representativos do patrimônio material e ima-
terial gravados em suportes e formatos diversos, tais como: fitas
magnéticas analógicas em formato cassete/fitas de rolo; discos
de goma laca de 78 rotações; discos de vinil – LP, EP, compacto
e Maxi; sons/áudios gravados em formatos digitais, como CDs,
DVDs, MP3, entre outros.

b. Acervo videográfico: conjuntos de sons e imagens representati-


vos do patrimônio material e imaterial gravados em suportes e
formatos que abrangem as fitas magnéticas analógicas em for-
mato quadruplex e fitas magnéticas analógicas em formato cas-
sete, como as fitas Umatic, VHS, Betacam, S-VHS, SVHS-C, Vídeo
8, Hi8; e os formatos digitais, como DVcam, MiniDV, DVD, entre
outros.

c. Acervo cinematográfico: conjunto de sons e imagens represen-


tativos do patrimônio material e imaterial gravados em filme ci-
nematográfico ou película cinematográfica preto e branco e em
cores, nos formatos 35 milímetros, 16 milímetros e Super 8, entre
outros.

d. Acervo fotográfico: conjunto de imagens representativas do patri-


mônio material e imaterial gravados em filme fotográfico ou pelí-
cula fotográfica, em placas de vidro, em negativos, diapositivos/
slides ou em processos e arquivos digitais, entre outros.

Os MIS configuram-se também como centros culturais e reúnem


uma multidisciplinaridade de linguagens artísticas num mesmo espa-
ço, como: cinema, teatro, rádio, televisão, galeria de artes, biblioteca,
entre outros.

42 Educação em museus e contextos não escolares


O Museu da Imagem e do Som de São Paulo é um exemplo significa-
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tivo, reinaugurado em 2008, investindo nas novas mídias tecnológicas.


Concebido como centro cultural, as programações abrangem diversas
áreas artísticas, com curadorias próprias ou de convidados, que ocu-
pam todos os espaços expositivos do museu, além de eventos de cine-
ma, vídeo e música.

Por vivermos um momento histórico em que as mídias digitais estão


em evidência, o núcleo educativo do museu ganha um papel prepon-
derante na abertura para novas possibilidades de ação em relação às
tecnologias. Nesse sentido, o departamento de educação serve para
clarear a visão sobre nosso tempo, partindo da importância da preser-
vação de uma memória ligada a mídias mecânicas analógicas e digitais,
e pesquisas aprofundadas a partir de discursos artísticos, sociais e his-
tóricos, ligados a essas mídias.

1.3.1 Museu Brasileiro da Escultura (MuBE)

Desenhado pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha, o MuBE foi criado


em 1995, com um jardim projetado por Roberto Burle Marx (1909-1994).
O museu possui três áreas internas para exposições: o Grande Salão e
as salas Pinacoteca e Burle Marx. Não possui acervo fixo, embora pos-
sua obras expostas em seus espaços internos e externos, entre elas pe-
ças de Arcangelo Ianelli (1922-2009), Francisco Brennand (1927), Ivald
Granato (1949-2016), Nathalie Decoster (1965), João Carlos Galvão
(1941), Sonia Ebling (1918-2006), Caciporé Torres (1935), Kcho (1970),
Yutaka Toyota (1931), Marco Lodola (1955), Roberto Lerner (1941),
Waldomiro de Deus (1944) e Victor Brecheret (1894-1955).

IMPORTANTE

O MuBE realiza cerca de 25 exposições a cada ano, todas com entrada


franca. A instituição oferece visitas mediadas para crianças, estudan-
tes e terceira idade. Nas visitas, os educadores adotam abordagens

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criativo-pedagógicas, de acordo com uma perspectiva de ação educa-

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tiva e inclusão social. O museu também oferece cursos de história da
arte, filosofia, encontros acadêmicos, seminários e palestras. Há ainda
cursos de escultura, pintura, desenho, cerâmica e eventos de música,
teatro e cinema.

PARA SABER MAIS

Acesse o site do MuBE virtual, o qual contempla um amplo banco de


dados sobre a produção escultórica brasileira, disponível para livre con-
sulta via Internet. Nesse e em outros projetos, o museu também realiza
ações voltadas à promoção da responsabilidade socioambiental. Todos
são mantidos pela instituição e contam com apoio de parceiros que,
unidos ao MuBE, contribuem, decisivamente, para a difusão da arte e da
cultura no país.

1.2.2 Museu de Arte de São Paulo (Masp)

O Museu de Arte de São Paulo chama a atenção por sua construção


inovadora, criada pela arquiteta Lina Bo Bardi. No início, sua sede era na
Rua 7 de abril, no centro de São Paulo, sendo transferida posteriormente
para a atual construção de concreto armado e vidro na Avenida Paulista.

O Masp foi fundando pelo empresário Assis Chateaubriand, em


1947, e o crítico e marchand Pietro Maria Bardi foi seu primeiro diretor,
selecionando as primeiras obras a compor a coleção permanente.

Seu acervo reúne mais de 8 mil obras, entre pinturas, esculturas,


objetos, fotografias, tapeçaria, design e vestuário, de diversos períodos
históricos e de todos os continentes. Entre os artistas que compõem o
acervo estão: Alexander Calder (1898-1976), Vincent Van Gogh (1853-
1890), Hieronymus Bosch (1450-1516), Eugène Delacroix (1798-1863),

44 Educação em museus e contextos não escolares


El Greco (1541-1614), Francisco Goya (1746-1828), Diego Velázquez
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(1599-1660), Claude Monet (1840-1926), William Turner (1775-1851),


Rembrandt (1606-1669), Joaquín Torres-García (1874-1949), Diego
Rivera (1886-1957), entre outros. Lina Bo Bardi desenvolveu também o
desenho interior, no qual as pinturas foram colocadas em uma espécie
de cavaletes de vidro, dando a impressão de que flutuam no espaço
expositivo. No restaurante do museu, encontramos também um mobili-
ário desenhado por Lina, como sua famosa cadeira Girafa.

Figura 3 – Fachada do Masp

Atualmente, uma parcela do acervo do Masp está disponibilizada on-


-line e é composta por aproximadamente mil obras e seis exposições.

1.2.3 Centro Cultural São Paulo (CCSP)

A história do Centro Cultural São Paulo começa na década de 1970,


quando surgiu o Projeto Vergueiro, um complexo de escritórios, hotéis,
shopping center e uma grande biblioteca pública. Dois anos depois,
a administração de Olavo Setúbal cancelou o Projeto Vergueiro, e do

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plano antigo restou somente a construção de uma biblioteca pública.

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Para o novo projeto, foi instalada uma comissão de pesquisa com bi-
bliotecários, professores e o arquiteto Aron Cohen. O arquiteto Eurico
Prado Lopes venceu a concorrência aberta em 1976, e as obras se ini-
ciaram em 1978.

Posteriormente, com uma nova gestão na prefeitura de São Paulo,


o projeto da biblioteca foi adaptado para um centro cultural multidis-
ciplinar, com cinema, teatro, ateliês, espaço para espetáculos, além de
área de exposições e também da biblioteca. A concepção do edifício se
apresenta como uma construção com diversas entradas e uma ampla
área de circulação para os visitantes, além de um jardim suspenso mui-
to frequentado.

Atualmente, o CCSP propõe inúmeras ações educativas; os espe-


táculos são gratuitos ou com valor acessível, o cinema sempre exibe
diversas mostras de filmes e documentários. Os espaços de pesqui-
sa e estudo compõem-se de bibliotecas especializadas: Sergio Milliet,
Alfredo Volpi e Louis Braille, Gibiteca Henfil, Sala de Leitura Infanto-
Juvenil, Biblioteca de Culturas Surdas e Laboratório de Línguas.

Suas coleções são compostas pelo arquivo multimeios, coleção


de arte da cidade, discoteca Oneyda Alvarenga, Missão de Pesquisas
Folclóricas (idealizada e organizada por Mário de Andrade, quando pre-
sidiu o Departamento de Cultura de São Paulo), núcleo de memória do
CCSP, e ainda o laboratório de conservação e restauro.

Há alguns anos ocorreu uma apropriação dos espaços abertos do


CCSP por jovens de várias idades que tornaram o entorno um imen-
so palco de experimentações de dança. A partir daí, inúmeros grupos
se reúnem munidos de músicas de todo tipo e ensaiam coreografias,
espelhados no vidro fumê da arquitetura central. As mesas de todos
os espaços externos e internos são tomadas por estudantes, pesquisa-
dores e público em geral. O CCSP também promove um programa de
exposições anual por meio de concurso aberto aos artistas.

46 Educação em museus e contextos não escolares


1.2.4 Museu Afro Brasil
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Inaugurado em 2004, o Museu Afro Brasil é um dos espaços cultu-


rais mais novos da cidade de São Paulo. O acervo, com mais de 6 mil
peças, foi constituído pela coleção do atual diretor e curador, o artista
plástico Emanoel Araújo.

Localizado no Pavilhão Padre Manuel da Nóbrega, dentro do Parque


Ibirapuera, o museu possui um grande acervo, entre pinturas, escultu-
ras, gravuras, fotografias, instalações, documentos e peças etnológicas,
de autores brasileiros e estrangeiros, produzidos entre o século XVIII
até os dias atuais. Embora muitas vezes se pense o contrário, o Museu
Afro, conforme as palavras do diretor e curador Emanoel Araújo, é um
museu de arte, que abrange a partir de suas peças inúmeras facetas
dos universos culturais africanos e afro-brasileiros, abordando temas
como a arte erudita e popular, a religiosidade, o trabalho, as festas popu-
lares, entre outros, ao registrar a trajetória histórica e as influências da
cultura dos povos do continente africano na construção e constituição
da sociedade brasileira.

Tadeu Chiarelli, em seu livro Arte internacional brasileira (2002), salienta:

Sabe-se que embora o sexo, a origem nacional, racial e social nun-


ca tenham sido explicitamente determinantes para um indivíduo
ser considerado artista, a Europa universalizou a noção que um
artista, para ser de fato significativo, deveria ser necessariamen-
te homem e branco. Aparentemente, no último século, estas duas
necessidades parecem estar deixando de ser absolutas. No en-
tanto, tal situação de modo geral ainda permanece, uma vez que
são pouquíssimas mulheres e/ou homens nascidos fora dos polos
culturais europeus (e, mais recentemente, norte-americanos) que
hoje estão colocados na corrente principal da arte internacional.
(CHIARELLI, 2002, p. 11)

Partindo dessa observação de Chiarelli, destacamos a importância


do desenvolvimento das ações educativas no Museu Afro Brasil ao

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longo de sua existência, oferecendo visitas, palestras, cursos, formação

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para professores e oficinas, visando a aproximação com os conceitos
trabalhados pelos diferentes núcleos do acervo.

Importante destacar um conjunto de ações e reflexões no campo


da arte que valorizam a diversidade de códigos culturais em nossa so-
ciedade, em função não só de parâmetros de uma história da arte eu-
ropeia ou norte-americana, mas também e principalmente pelas incor-
porações estéticas geradas pela presença negro-africana e indígena no
continente americano.

IMPORTANTE

O Museu Afro Brasil como espaço da preservação e vivificação da me-


mória mira o desenvolvimento de saberes e a recuperação de nossa me-
mória cultural. O desafio não é só de contextualização e reflexão diante
de nossa cultura mestiça; mas também da abordagem de conceitos
como arte e identidade, tanto quanto como o de ação afirmativa.

O museu abriga exposições de curta duração; no entanto, o acervo


é o fio condutor com o qual são desenvolvidas as atividades educacio-
nais, com um contexto multidisciplinar. Destacam-se a rica abordagem
da mescla de obras, que reúnem o conceito do erudito e do popular,
sem grau hierárquico classificatório, presentes nas exposições. Expõe
obras de comunidades de artesãos, brincantes, mitos populares e po-
etas repentistas ao lado de obras de artistas de grande notoriedade no
universo das artes.

2 Aparecimento das grandes exposições


internacionais no Brasil
Na década de 1990, ocorre a primeira de muitas exposições interna-
cionais de grande porte, com Auguste Rodin na Pinacoteca do Estado

48 Educação em museus e contextos não escolares


de São Paulo (1995), intitulada Rodin: Esculturas. Foi seguida por outra:
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Rodin e a Fotografia, cujas instalações foram visitadas por mais de 183


mil pessoas.

A partir daí, há um aumento significativo das grandes exposições


no Brasil, com Claude Monet no Museu de Arte de São Paulo em 1997;
Fernando Botero em 1998; e a Porta do Inferno, também de Auguste
Rodin, outra vez na Pinacoteca de São Paulo, em 2001 (esta última atin-
giu cerca de 250 mil pessoas em suas visitas).

Ainda no ano de 2001, o Brasil recebeu a exposição Parade 100 anos


de Arte; em 2002, 500 Anos de Arte Russa; depois, China: Guerreiros de
Xian e os Tesouros da Cidade Proibida, e A Bigger Splash: Arte Britânica
da Tate de 1963 a 2003, ambas em 2003; Picasso na Oca e Fashion
Passion, em 2004, todas exibidas na Oca, no Parque Ibirapuera.

Ao atingirem um número exorbitante de visitantes, os museus e as


instituições de arte são obrigados a reestruturar toda a sua dinâmica de
visitação e repensar o papel educativo. Além de aumentarem significan-
temente seu contingente de educadores, notamos uma preocupação
não só com a formação interna, mas com o oferecimento de cursos,
palestras e a formação para professores.

Considerações finais
Fizemos um breve apanhado de algumas instituições de arte no
Brasil, suas estruturas, fundação e formação de acervos, além de uma
breve pincelada sobre a ação educativa nessas instituições. A maioria
dos museus possui núcleo de acessibilidade ligado à ação educativa,
que pensa toda a parte estrutural e em como tornar o museu e exposi-
ções mais acessíveis aos diversos tipos de público. É possível encontrar
informações sobre esses programas on-line, além de encontrar parte do
acervo de muitos museus para visitação via internet.

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Pesquise na sua cidade se há instituições culturais ou mesmo pe-

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quenos museus, e quais atividades oferecem, além das exposições de
artes visuais. Também é possível encontrar material educativo de mui-
tos museus e instituições culturais digitalizados e em vários formatos
para baixar. Aproveite para conhecê-los melhor.

Referências
CHAGAS, Mário de Souza. Há uma gota de sangue em cada museu: a ótica
museológica de Mário de Andrade. Chapecó: Argos, 2006.

Inserir: CHIARELLI, Tadeu. Arte internacional brasileira. 2. ed. São Paulo:


Lemos Editorial, 2002.

D´HORTA, Vera. MAM – Museu de Arte Moderna de São Paulo. São Paulo: DBA:
1995.

KIYOMURA, Leila. Paulo Mendes da Rocha projeta uma pedra no céu. Jornal da
USP. 13 abr. 2017. Disponível em: <http://jornal.usp.br/cultura/paulo-mendes-
da-rocha-projeta-uma-pedra-no-ceu/>. Acesso em: 13 jun. 2017.

LOURENÇO, Maria Cecília. Museus acolhem o moderno. São Paulo: Edusp,


1999.

MALUF, Verônica. O fenômeno das grandes exposições de arte em São Paulo.


Gente. Cultura. IG. 24 jan. 2017. Disponível em: <http://gente.ig.com.br/cultura/
2017-01-24/exposicoes-de-arte.html>. Acesso em: 28 mar. 2017.

MENDONÇA, Fernanda Tozzo. Os museus de arte no Brasil moderno: os acervos


entre a formação e a preservação. Campinas, 2009. Dissertação de mestrado
apresentada ao departamento de história do Instituto de Filosofia e Ciências
Humanas da Universidade Estadual de Campinas.

OSORIO, Luiz Camillo; FABRIS, Annateresa. Catálogo MAM 60. São Paulo:
Museu de Arte Moderna, 2008.

50 Educação em museus e contextos não escolares

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