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TÍTULO
IMPRESSÃO E ACABAMENTO
AUTORES
Printhaus
António José Oliveira Guedes
Eugénia Eduarda Sousa e Silva
Eusébio André Machado DEPÓSITO LEGAL
Fernando António Macedo Azevedo
446913/18
Fernando Ilídio Ferreira
Hermínia dos Santos Paiva Loureiro Viegas
Ila Beatriz Maia
Joaquim Machado ISBN
José Augusto Pacheco 978-989-8557-91-9
Marta Abelha
Miguel Castro
Rui Canário DATA
Rui Trindade
1.ª Edição, Santo Tirso, Outubro de 2018
COORDENADOR EDITORIAL
EDITOR
Paulo Cardo
EDIÇÃO
DE FACTO EDITORES
Rua de S. Bento, 93, 6.º andar, sala 3 RESERVADOS TODOS OS DIREITOS.
4780-546 Santo Tirso – Portugal Esta edição não pode ser reproduzida nem
geral@defactoeditores.pt transmitida, no todo ou em parte, sem prévia
www.defactoeditores.pt autorização escrita da editora.
ÍNDICE
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO 1
Rui Canário
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
Joaquim Machado
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
Rui Trindade
CAPÍTULO 8
Miguel Castro
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
entre outros) que importa, agora e uma vez mais, convocar e potenciar
perante os desafios emergentes com os quais é preciso lidar.
Ora, a propósito do trânsito temporal dos vinte cinco anos de existência
dos CFAE, esta obra reúne um conjunto de textos que desenha um
balanço crítico que convoca o passado e projeta o futuro, organizando-se
em torno de dois núcleos reflexivos fundamentais: por um lado, a reflexão
sobre os aspetos mais genéricos e constitutivos da formação contínua de
professores, embora com a cuidada indexação aos múltiplos contextos no
âmbitos dos quais não podemos deixar de colocar a atividade formativa,
designadamente aquela que respeita aos educadores e professores;
por outro lado, a reflexão mais específica e contextualizada sobre os
CFAE, para qual se recolhem subsídios de contextos e experiências
que, atualmente, sinalizam e consubstanciam a formação contínua de
professores em Portugal.
No âmbito do primeiro núcleo reflexivo, no capítulo 1, intitulado O que
aprender significa?, Rui Canário resgata, como o próprio título indica,
um dos primeiros e mais essenciais tópicos reflexivos, em função do
qual a formação de professores adquire pertinência, intencionalidade e
sentido. Com efeito, a interrogação radical sobre “os processos humanos
de aprendizagem implica uma conceção lata de educação que trans-
cende em muito a educação escolar”. Assim, propondo um conjunto de
tópicos de reflexão em torno da aprendizagem, Rui Canário aviva um
debate inacabado cuja pregnância depende, porém, da possibilidade
do afastamento da “abordagem pedagógica normativa” que permita a
“descrição não arbitrária das situações educativas”. Trata-se, no fundo,
do espaço fundamental de inscrição do trabalho formativo, exigindo
aos profissionais da educação, à semelhança de Sísifo, um trabalho
permanente de aproximação e recomeço.
Segue-se, no capítulo 2, o contributo de Fernando Ilídio Ferreira: Entre
a adaptação e a (trans) formação: uma análise crítica da noção de
prática reflexiva associada ao modelo das competências na formação
de professores. Neste texto, o autor propõe-se abordar de modo crítico
os conceitos de “reflexão” e de “prática reflexiva”, os quais assumiram um
carácter estruturante na formação de professores ao longo das últimas
décadas, salientando as ambiguidades decorrentes da sua transforma-
ção em meros slogans e da sua difusão mais num registo normativo e
prescritivo do que num registo crítico e emancipatório. Neste sentido, o
principal eixo argumentativo do autor assenta na análise do processo de
enviesamento da noção de “reflexão” que conduziu a uma aproximação
ao “modelo das competências, de inspiração gerencialista e com uma
forte associação à noção de empregabilidade”. Fernando Ilídio Ferreira
conclui o capítulo propondo a hipótese de que, nas instituições de ensino
RUI CANÁRIO
Instituto de Educação da Universidade de Lisboa
1
Este texto é uma versão resumida e adaptada da minha intervenção “Como se ensina,
como se aprende?”, realizada no colóquio comemorativo dos 30 anos da AFIRSE
em Portugal, realizado de 1 a 3 de Fevereiro de 2018, no Instituto de Educação da
Universidade de Lisboa.
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INTRODUÇÃO
Neste capítulo desenvolvo uma abordagem crítica dos conceitos
de “reflexão” e de “prática reflexiva”, que se tornaram estruturantes na
formação de professores, sobretudo a partir dos anos 1980, mas que têm
vindo a revelar algumas ambiguidades, sobretudo as que decorrem,
por um lado, da tendencial transformação daqueles conceitos em
meros slogans e, por outro, na sua difusão mais num registo normativo
e prescritivo do que num registo crítico e emancipatório. Argumento
que a noção de “reflexão” se tem aproximado mais do modelo das
competências, de inspiração gerencialista e com uma forte associação
à noção de empregabilidade, do que de uma perspetiva que valorize
uma análise crítica da educação que possa contribuir para a justiça
social e a democratização das escolas e da própria formação. A minha
hipótese de trabalho é de de que nas instituições de ensino superior que
formam professores a abordagem prescritiva continua a sobrepor-se à
abordagem reflexiva, desqualificando, assim, uma conceção de professor
como intelectual crítico transformador. Esta conceção valoriza a reflexão
coletiva, colegial e democrática, e é indissociável das dimensões política,
cultural e ética da profissionalidade docente. Por isso, defendo uma
maior ligação da formação de professores, quer inicial quer contínua,
às escolas e aos seus quotidianos, não na perspetiva de “ensinar” aos
professores modelos e técnicas de natureza meramente adaptativa
1
PISA - Programme for International Student Assessment, OCDE.
uma nova forma de poder que conduz à destruição dos sistemas ético-
-profissionais existentes nas escolas e à sua substituição por sistemas do
tipo empresarial competitivo. E conclui que a performatividade é uma
tecnologia, uma cultura e um método de regulamentação que utiliza
julgamentos, comparações e demonstrações como meios de controlo
e de mudança.
Os compromissos humanísticos do verdadeiro profissional
– a ética de serviço – são substituídos pela teleológica pro-
miscuidade do profissional técnico – o gerente. A eficácia
prevalece sobre a ética; a ordem sobre a ambivalência.
Essa mudança na consciência e na identidade do professor
apoia-se e ramifica-se pela introdução, na preparação do
professor, de formas novas de treinamento não intelectua-
lizado, baseado na competência. (Ball, 2005, p. 548)
estão sendo privilegiados por meio das suas ações quotidianas estando
pelo menos conscientes do que está acontecendo à sua volta (Zeichner,
2008). Face ao avanço de uma ideologia do consenso, que tende para
a resignação e o fatalismo (Ferreira, 2005), é necessário promover um
“paradigma da controvérsia” (Correia, 2001) que constitui um “paradigma
alternativo, que define também os contornos paradigmáticos da postura
ética e política de uma cientificidade atenta ao agir comunicacional” e,
como tal, não se constrói “em torno de uma epistemologia da observa-
ção, seja ela uma epistemologia do olhar distante e neutral ou a de um
olhar próximo e implicado, mas antes em torno de uma epistemologia
da escuta” (Correia, 2001, p. 33).
Rejeitando a conceção liberal que coloca sobre os indivíduos todas as
responsabilidades, é necessário que a sociologia da educação trabalhe
em busca de um novo modelo de democratização (Derouet, 2010).
As pistas enunciadas por este autor dão como exemplo o trabalho
conduzido por Ivor Goodson, no Reino Unido, entrevistando docentes
que vivenciaram a passagem das reformas democratizantes dos anos
de 1970 à reorganização liberal do governo Thatcher e, em seguida, à
implementação da Terceira Via, nas décadas seguintes. As primeiras
conclusões desse estudo mostram o fosso que tem vindo a ser cavado
entre as orientações impulsionadas na cúpula do Estado e o sentido da
ação para os atores situados na base. Para Goodson (cit. in Derouet, 2010),
o facto de não existir resistência organizada por parte dos professores
não significa que as reformas estejam a passar no quotidiano, pois
numa atmosfera geral de perda de referências, o quotidiano é feito de
limitação de riscos e de evitação de conflitos. Como sintetiza Derouet
(2010), o processo de educação não pode ser pensado somente dentro
dos universos da razão e da justiça formalmente definidos; é igualmente
essencial a “competência social” enquanto capacidade para discernir
em cada contexto e situação a referência pertinente, tanto em termos
de razão e de justiça como em termos éticos, morais, afetivos e emocio-
nais. Essa competência social pode constituir uma condição essencial
para que as escolas e os professores não sucumbam às pressões do
gerencialismo e da performatividade e, pelo contrário, contribuam
para a humanização e a democratização das escolas, assim como para
o trabalho e a formação docente.
CONCLUSÃO
Concluo este capítulo discutindo, em particular, o papel que tem sido
exercido pelas instituições de ensino superior em relação à designada
prática reflexiva e à conceção do professor como prático reflexivo. A
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INTRODUÇÃO
Se a globalização impõe padrões de reformas, as mudanças nas polí-
ticas e práticas de formação (inicial e contínua) de professores refletem
diversas perspetivas, não sendo possível compreender a realidade das
escolas somente a partir de reformas que buscam a excelência dos
resultados. Estar na escola significa partilhar significados pessoais em
lugares diferenciados, no reconhecimento da subjetividade, multiplici-
dade e singularidade, bem como na construção de um conhecimento
que é inerente aos sujeitos e à sua profissionalidade.
Neste texto são evidenciadas diversas perspetivas que poderão contri-
buir para possíveis respostas em torno quer da formação de professores,
quer do processo de desenvolvimento do currículo, sobretudo se o
professor for considerado um ator fundamental desse mesmo processo,
aliás no seguimento das ideias de Schwab (1969), quando, na identifica-
ção dos lugares comuns do currículo, o coloca em lugar de destaque,
perante os conteúdos, o aluno e o contexto.
Apesar de uma multiplicidade de perspetivas, a abordagem con-
ceptual de Lipovetsky e Serroy (2010, p. 15) tem o mérito de analisar
criticamente os tempos hipermodernos em que a educação, em geral,
e a escola e o professor, em particular, se entrelaçam num “sistema de
mundo globalizado” e “numa cultura-mundo”, ou seja, “com a cultura-
-mundo alastra por todo o globo a cultura da tecnociência, do mercado,
1
Para uma análise mais aprofundada destes dois referenciais, vide: Claude Lessard e
Anyléne Carpentier, Políticas Educativas. A aplicação na prática, 2016, p. 16.
2
Por mimetismo curricular entende-se a tendência para que as disciplinas nucleares
do currículo, por exemplo, Matemática e Português, com formas predominantes de
avaliação externa, sirvam de modelo às restantes disciplinas.
2. PROFISSIONALIDADE DOCENTE
Tal discussão sobre a formação de professores torna legítima esta
questão, formulada por Esteves (2015): O que pode justificar a busca
de uma nova profissionalidade docente?
As respostas da autora vão no sentido de os professores tomarem cons-
ciência quer das condições em que trabalham, dos constrangimentos
e possibilidades que estão presentes na sua ação profissional, quer do
imperativo de saberem e quererem agir com pertinência pela defesa
e afirmação de uma escola pública de qualidade para todos, que seja
um requisito para uma igualdade social, pois “a formação, não sendo
o único, pode e deve ser um esteio fundamental para a construção de
uma nova ou de novas possibilidades docentes” (Ibid., p. 323).
A este respeito é crucial repensar o conhecimento (Nichols, 2018;
Morgan, 2014; Young, 2010; 2013), bem como os saberes docentes (Hor-
den, 2014), num contexto de regulação transnacional e nacional, pois
a educação, e muito menos o ensino, não é uma receita de aplicação
universal. Neste caso, “o ensino não tem uma única dimensão. É muito
menos simples do que a maioria das pessoas pensa. Além disso, não
é só arte, mestria, ciência e vocação, ou mesmo uma combinação de
tudo isto. O ensino é também uma profissão e um modo de trabalhar
(Hargreaves & Fullan, 2012, p. 29). Não existindo um único modo de
ensinar, a formação de professores tem de reconhecer que o ensino
ocorre, geralmente, em condições imperfeitas, face a expectativas e
demandas conflituantes” (Ibid., p. 31), devendo ser referida a tendência
para a mercadorização da educação, já que a lógica neoliberal transforma
a educação de um bem público em um item do consumidor privado”
(Zeichner, 2013, p. 121).
E sempre que o conhecimento adquire centralidade no debate sobre
a educação e a formação de professores surge a polémica em torno
da universalidade e do relativismo. Não retirando a pertinência da
CONCLUINDO
A obsessão em torno dos resultados e consequente valorização dos
testes, não se inscreve apenas numa perspetiva pragmática de olhar para
a educação e formação de professores, como igualmente provoca na
educação e na formação de professores uma disfuncionalidade curricular,
lançando uma neblina sobre as escolas e os professores que torna o
presente mais sombrio, com o reforço de uma perspetiva pragmática, ou
seja, utilitária, que pretende substituir o aprender pelo fazer e que se torna
na fundamentação de uma similaridade curricular, alfa e ómega de uma
nova racionalidade tyleriana, já que o pensamento de Tyler (1949) não
só está de volta, pelo peso dos quatro princípios curriculares (objetivos,
conteúdos, atividades e avaliação), como também se amplia e difunde
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JOAQUIM MACHADO
Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa
CONCLUSÃO
A formação de professores visa a promoção dos saberes profissionais
inerentes ao desempenho docente. A sociedade do conhecimento requer
que essa formação não se circunscreva à formação inicial e pede um
novo paradigma de organização da aprendizagem.
A abrangência da docência comporta uma diversidade de saberes
profissionais e consubstancia-se em distintas dimensões do desempenho
docente, ele mesmo imbuído de tensões e paradoxos que estão na base
de diferentes políticas e de distintos discursos sobre o profissionalismo
docente (Flores, 2014). A experiência mostra que a formação mais sig-
nificativa ocorre em contexto de trabalho, pede transferência para a
ação docente contextualizada e em grande parte realiza-se através da
aprendizagem com os pares (Formosinho, 2009). Neste sentido, os efeitos
da formação tornam-se mais visíveis quando ela se associa a projetos de
desenvolvimento organizacional sustentados na colaboração docente.
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1. INTRODUÇÃO
A escola de hoje é um palco para onde convergem muitas das ques-
tões que afetam a sociedade atual e também encerra, ela própria,
algumas problemáticas que advêm dos seus atores ou do seu normal
funcionamento enquanto organização integrada no Sistema Educativo.
A este propósito, um estudo do Conselho Nacional da Educação refere
que “embora a formação de professores não seja a panaceia para todos os
problemas da educação, a verdade é que ela constitui um dos elementos
decisivos para melhorar a qualidade do ensino e da aprendizagem nas
escolas” (Conselho Nacional de Educação, 2014, p. 270). Com efeito, é
consensual que a formação está diretamente ligada à qualidade do
desempenho, quer dos docentes que iniciam o exercício da profissão,
quer daqueles que exercem funções há mais tempo, e que se defrontam
igualmente com desafios e problemáticas decorrentes da ação educativa
e do devir constante que os rodeia. As próprias instituições de ensino
público onde estes profissionais se integram, outrora escolas de pequena
ou média dimensão, em muitos casos viram-se fundidas ou inseridas
noutras organizações maiores e mais complexas, os agrupamentos,
originando novos desafios e novas problemáticas a nível organizativo
e estratégico, bem como na vertente ligada ao exercício individual da
profissão.
Por outro lado, o refreamento da entrada na profissão docente de
recém-formados que se tem verificado no nosso país poderá também
contribuir para que a formação contínua venha a assumir uma nova
centralidade como forma de impedir a cristalização das práticas dos
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A formação contínua de professores na escola pública vive atualmente
uma realidade bastante peculiar, qual teia onde se entrelaçam inúmeros
fatores. Ultrapassando visões gerencialistas, normativas ou voluntaristas
da formação contínua, a formação centrada na escola sem se encarcerar
na escola, permitirá animar e estruturar a inovação e mudança das
instituições e dos seus profissionais. Neste sentido será importante criar
as condições estruturais e organizativas adequadas, fundadas numa
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Inovação Educacional.
1
Estes programas, destinados a profissionalizar docentes integrados no sistema de
ensino, em consequência da massificação dos anos anteriores, eram coordenados
a nível regional pelas Equipas de Apoio Pedagógico, constituídas por Orientadores
Pedagógicos, dos diferentes grupos disciplinares - os ventoinhas, designação que
caracterizava a sua mobilidade.
2
Gilles Ferry (1983), analisando as práticas de formação, quanto ao tipo de processo,
dinâmica formativa e modo de eficiência, estabeleceu diferentes modelos de formação:
o modelo centrado nas aquisições, o centrado na iniciativa e o centrado na análise.
3
Este programa propunha-se apoiar programas de reconversão profissionais assim
como a formação contínua de professores e responsáveis da Administração Edu-
cacional, incluindo o pessoal não docente. Inseria-se no PRODEP - Programa de
Desenvolvimento Educativo para Portugal.
são colocados aos professores, quer no quadro mais amplo de uma socie-
dade cada vez mais complexa, quer nos contextos de trabalho cada vez
mais exigentes. Pede-se aos professores que garantam aprendizagens
de qualidade, exigindo-lhes competências que podem não ter adquirido
durante a sua formação inicial, mas que podem constituir um referencial
para a formação contínua.
Reconhece-se a importante experiência já acumulada, mas, também
se confirma que, ao longo do tempo, a noção de qualidade na formação
contínua de professores tem assumido diferentes entendimentos, o que
se tem refletido no modo como esta se tem concretizado e nos efeitos
pretendidos. Por estas razões, a formação dos docentes não pode ser
repensada à margem das mudanças que têm ocorrido nos últimos anos.
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de Formação de Associação de Escolas. Revista Portuguesa de Peda-
gogia. Ano 41 (2), 219-232.
RUI TRINDADE
Presidente do Conselho Científico-Pedagógico da Formação Contínua
1
O Prof. Sérgio Machado dos Santos foi o primeiro presidente do Conselho Coordenador
da Formação Contínua e, posteriormente, do Conselho Científico-Pedagógico da
Formação Contínua.
ao papel que podem assumir, hoje, no âmbito dos desafios com que
tais entidades são confrontadas.
É este olhar em retrospetiva que nos faz acreditar que os CFAE pode-
rão contribuir de forma decisiva para que os docentes portugueses
encontrem nos espaços de formação em que participam uma oportu-
nidade para reinventar a profissão, seja por via das iniciativas em que
se envolvem seja por via do modo como lhes é permitido vivenciar tais
iniciativas, condição fundamental para problematizarem o que fazem e
participar na construção das respostas subsequentes a esse processo de
interpelação, o qual terá de ser vivido como um processo de formação.
REFERÊNCIAS:
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MIGUEL CASTRO
Instituto Politécnico de Portalegre
INTRODUÇÃO
Mesmo no início da década de 80 do século passado, estava a terminar
o meu 12º Ano, na escola Secundária Mouzinho da Silveira em Portalegre,
ocorreu um evento pedagógico (Semana da Escola ou outra designação
da qual não me lembro), onde foi convidado o Professor Fraústo da
Silva. Com uma capacidade de comunicação e simplicidade invulgares,
durante a sua apresentação contou duas histórias, que segundo ele
refletiam a realidade da educação em Portugal. Essas pequenas alegorias,
cheias de humor sarcástico e certeiro ainda hoje me acompanham.
A formação de professores e educadores, até à afirmação dos Centros
de Formação de Professores (atuais CFAE), era controlada essencialmente
pelos recém-criados Institutos Politécnicos e as vetustas Universidades;
os poucos Centros que existiam, ainda no início, sem financiamento e
com muitas dificuldades, tentavam abrir caminho entre um mar de
obstáculos, que não deixavam margem para chegar eficazmente aos
docentes. Desta forma, a oferta de formação contínua de professores
e educadores vinha de cima para baixo, e estando eu, já professor, a
procurar e frequentar formação, fez-me lembrar a pequena história que
o Professor Fraústo das Silva nos contou e que começou a fazer muito
mais sentido para mim.
A história falava de uma Universidade que, tendo um investigador
brilhante, apostou e financiou um doutoramento (Especialização ou
Pós-Doutoramento) num dos mais conceituados institutos de investi-
gação do mundo. O investigador conseguiu uma brilhante tese onde
explicava tudo o que havia para saber sobre a ponta esquerda do intes-
tino da minhoca (não faço ideia se a minhoca possui intestino, mas a
que de pior possui. Nada de errado está neste retrato. O mais estranho
é encararmos os aspetos negativos apenas como culpa da escola e dos
seus atores e não corresponsabilizar todos nós, ou seja a ”sociedade”
que nela se espelha e reflete.
Este movimento de abertura da escola inicia-se com mais acuidade
após uma generalização das democracias de tipo ocidental (pós-se-
gunda Guerra Mundial) e essencialmente a partir da década de 60 do
século passado. A alteração e elevação das condições gerais de vida, a
massificação do bem-estar, a generalização, como direito humano, à
escolarização e o acesso democratizado à informação, provocaram uma
profunda necessidade de alteração do paradigma educativo e da sua
principal ferramenta – a escola.
Relativamente à profissão docente, a necessidade de adaptação à
realidade, que já não era exterior à escola, mas que nela entrava e se
afirmava, foi premente. Já não bastava (nem basta) ao professor possuir
um bom conhecimento científico e transmiti-lo! De transmissor, o
professor passa a educador, necessitando de múltiplas valências para
conseguir atingir o seu objetivo – o sucesso do aluno no seu contexto
social regional, nacional e global.
Talvez a nenhuma outra profissão se peça tantos e tão variados skills.
Exige-se do professor um conhecimento pedagógico e
didático adequados à multiplicidade de situações com que
se depara: além de ter de dominar os conteúdos que leciona,
deverá ainda promover e ser facilitador da aprendizagem,
estar atento aos alunos, organizar o trabalho na sala de
aula, diferenciar e diversificar os métodos, tendo em conta
a heterogeneidade dos alunos. Para além destes aspetos
deverá também ter em conta a estabilidade e o equilíbrio
emocional e afetivo de todos os alunos, assim como os
aspetos de caráter social da turma. (Ventura dos Santos,
2013, p. 10)
REFERÊNCIAS:
Alarcão, I. (2001). Professor-Investigador. Que Sentido? Que Formação?
Cadernos de Formação de Professores, I, 21-30.
Alarcão, I. (2009). Formação e Supervisão de Professores: Uma nova abran-
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Ação. Revista do CFAECA. Almada: CFAECA (pp. 31-37).
Castro, M. (2017). Teacher and kindergarten Teacher Lifelong Training – The
CEFOPNA. European Journal of Education Studies, Vol 3, Issue 9.
Bucarest
Costa, I. de S. (2013). Avaliação da Formação Continuada de Professores:
Programa Sala de Educador (Mato Grosso – Brasil). Lisboa: UL/Ins-
tituto da Educação
1. INTRODUÇÃO
A relevância da implementação de um plano de ação estratégico,
tendo em vista a exigida formação ao longo da vida, é consensual na
literatura, e encontra-se inscrita na Lei de Bases do Sistema Educativo sob
o princípio de que a formação de professores não se encerra na formação
inicial, mas complementa-se na formação contínua, numa perspetiva
de educação permanente. Conceção que defende o desenvolvimento
do espírito “crítico e atuante” face à realidade social, “a inovação e a
investigação” num movimento consubstanciado numa “prática reflexiva
e continuada de autoinformação e autoaprendizagem”.
Esta pretensão convoca a valorização e dignificação da profissão
docente, eixo central da qualidade do sistema educativo e envolve a
conexão efetiva de diferentes agentes educativos e sociais, dos quais se
destacam os Centros de Formação de Associação de Escolas, entidades
indispensáveis à concretização da formação contínua dos professores.
Nesta perspetiva, torna-se fundamental a criação e disponibilização
de uma oferta de contextos formativos de qualidade articulados com
as prioridades de formação das unidades orgânicas e dos profissionais
que as integram, de forma a favorecer o sucesso educativo e a promoção
da qualidade da escola pública, em ambiente de trabalho colaborativo.
Balizados pela sociedade do conhecimento que nos impele a um
ritmo crescente de desenvolvimento e permanente atualização, torna-se
cada vez mais relevante atender ao que acontece fora da escola porque,
geralmente, o impacto é sentido dentro da mesma.
Todos temos sido testemunhas das alterações que vêm a ser concebi-
das para operacionalizar este compromisso que visa proporcionar a todos
os alunos, nos doze anos de escolaridade obrigatória, oportunidades de
1
In http://esic.pt/oferta-educativa/servicos/#supervisaopedagogica
2
In artigo sob o título “Conceber estrategicamente uma estratégia de ensino” inserido
na publicação e-book de novembro de 2017, Universidade Católica do Porto.
http://www.uceditora.ucp.pt/site/custom/template/ucptpl_uce.
asp?SSPAGEID=3005&lang=1&artigoID=1698
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quatro anos se passaram desde que se iniciou o projeto da supervisão
e(m) colaboração. Neste intervalo de tempo, a conquista da abertura da
sala de aula e a multiplicidade de possibilidades a explorar nos papéis de
observado e observador foram desafios alcançado com sucesso - “ultra-
passados os constrangimentos das sucessivas exposições, foi evidente a
satisfação no processo e nos resultados, sendo certo que este exercício
constitui, apenas, o primeiro passo de um caminho desafiante e amplo
(…).” (Silva, 20153, p. 46).
Nesta ótica, “aprender a olhar a realidade de diferentes perspetivas e
apostar conscientemente na interação reflexiva, potenciadora da cons-
trução e disseminação de boas práticas pedagógicas foram caminhos
trilhados” (Silva, 20164, p. 94).
No entanto, a incorporação desta prática no quotidiano profissional dos
docentes, embora desejável, ainda não está naturalmente interiorizada.
O contributo da formação para a compreensão do alcance que
o trabalho colaborativo pode ter ou vir a ter na vida dos professores
parece ser inegável, como se depreende das transcrições que a seguir
se apresentam:
“As potencialidades deste curso concretizaram-se ainda,
como é evidente, no fornecimento de conhecimentos
acerca dos recursos pedagógicos e didáticos inovadores.
No decorrer da formação, foram abordadas, testadas e deba-
tidas metodologias de ensino – caso, por exemplo, da “aula
invertida” ou a própria prática da supervisão –, bem como
de ferramentas e recursos digitais – como a criação de um
padlet ou a utilização de jogos interativos – alargando a
3
In artigo sob o título “Supervisão em colaboração – testemunho de uma experiência
formativa” inserido na publicação e-book de novembro de 2015, Ser Autor, Ser Diferente,
Ser Teip, Universidade Católica do Porto -
http://www.uceditora.ucp.pt/resources/Documentos/UCEditora/PDF%20Livros/Porto/
Ser%20Diferente.pdf
4
In artigo sob o título “Observação de aulas e formação entre pares” inserido na publi-
cação e-book de outubro de 2016, Professores e Escola –Conhecimento, Formação e
Ação, Universidade Católica do Porto -
http://www.uceditora.ucp.pt/resources/Documentos/UCEditora/PDF%20Livros/Porto/
Professores%20e%20Escolas.pdf
REFERÊNCIAS:
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Oliveira-Formosinho, J. (2009). Desenvolvimento Profissional dos Professores.
In J. Formosinho (Ed.), Formação de Professores. Aprendizagem
Profissional e Ação docente (pp. 73-92). Porto: Porto Editora.
1. REVISÃO DE LITERATURA
A escola atual é, cada vez mais, confrontada com uma tal complexi-
dade de problemas que o trabalho docente (sobretudo em sala de aula)
exige o desenvolvimento e consolidação de práticas de colaboração e de
supervisão que contribuam para uma regulação mais eficiente e eficaz
dos processos de ensino e aprendizagem. Não obstante, a literatura
tem vindo a sublinhar a prevalência de práticas de trabalho isoladas,
individualistas e rotineiras, cuja principal consequência é a diminuição
da capacidade de avaliar de um modo competente os problemas, o que
se reflete, por sua vez, na capacidade de encontrar soluções inovadoras,
eficazes e coletivamente sustentadas (Fullan & Hargreaves, 2001; Roldão,
2007; Tardif & Lessard, 2005).
Como estratégia de regulação, a supervisão pedagógica entre pares
tem mostrado, quer do ponto de vista da investigação, quer do ponto
de vista das práticas, uma elevada potencialidade para mudar as formas
1
Este capítulo foi publicado na Revista de Estudos Curriculares Vol. 9, n.º 1, 103-121
(2018). Os autores agradecem à Direção da Revista de Estudo Curriculares a gentil
autorização para a sua inclusão na presente obra.
2. 1. Objetivos
O dispositivo de formação tinha como objetivos a desenvolver com
os professores participantes:
i) refletir sobre o papel da supervisão pedagógica na regulação dos
processos de ensino e aprendizagem;
ii) avaliar criticamente as práticas de trabalho docente;
iii) discutir a potencialidades da supervisão pedagógica;
iv) incrementar o trabalho colaborativo através de experiências sobre
a supervisão pedagógica;
2.3. Avaliação
Os formandos foram avaliados segundo uma lógica formativa, pro-
curando fomentar e desenvolver capacidades de autoavaliação que se
traduzissem, concretamente, na produção de materiais. Foram, assim,
tidos em consideração os seguintes aspetos e respetivas ponderações:
a) Participação (40%) – incluía a participação nas sessões, designada-
mente a integração nos grupos de trabalho, a participação ativa
na realização das tarefas e nos debates, o interesse demonstrado
e a iniciativa e autonomia.
b) Trabalho produzido (60%) - realização em grupo de um Projeto
de Supervisão (30%) e realização de um(a) Relatório Reflexivo
Individual/Narrativa das práticas de Supervisão (30%).
3. RESULTADOS
3.1. Metodologia
Para a análise dos resultados obtidos na ação de formação, recorreu-se
aos “relatórios reflexivos individuais” (RRI) que os formandos elaboraram
no final da ação de formação, os quais foram considerados para efeitos
de avaliação. A opção por esta fonte de dados constitui uma limitação
significativa se se tiver em conta os modelos de avaliação de formação
que propõem uma visão mais abrangente e integrada, considerando não
apenas a dimensão da aquisição da formação, mas também a dimensão
da transferência da formação (Caetano, 2007; Kaufman, Guerra & Platt,
2006; Kirkpatrick & Kirkpatrick,1994; Stufflebeam & Zhang, 2017; Warr,
Bird & Rackham, 1970).
Os RRI remetem apenas para a relação imediata com o processo for-
mativo, mesmo que neste caso tenha havido uma dimensão experiencial
de trabalho autónomo em contexto de escola e sala de aula, não contem-
plando eventuais impactes nas práticas docentes e organizacionais. Não
obstante, os RRI facultam informação relevante, descritiva e qualitativa
que se torna empiricamente adequada aos propósitos deste relato de
uma experiência de formação, no âmbito do qual serão convocados
os seguintes elementos: a caracterização dos participantes na ação de
formação, a leitura sintética dos RRI e a leitura analítica dos RRI.
No que respeita à caracterização dos participantes (n=17), foi enviado
por via eletrónica um inquérito por questionário com o recurso aos
formulários da app Drive do Google. Foram recebidas 14 respostas,
correspondendo a 82% dos participantes na ação de formação.
Para a realização da análise conteúdo, foram importados todos os
RRI (17) para o software MAXQDA 2018, o que permitiu a realização de
duas leituras dos dados:
-- uma leitura sintética, através do qual foram extraídas três ferra-
mentas visuais: o “visualizador da matriz de códigos”, o “retrato do
documento” e a “nuvem de palavras”;
-- uma leitura à analítica, na qual se procedeu a uma categorização
elementar assente em três códigos de análise: “supervisão”, “cola-
boração” e “formação”.
3.2. Participantes
Dos 14 participantes que responderam ao inquérito por questionário,
11 (78,6%) são do sexo feminino e 3 (21,4%) do sexo masculino.
No que concerne à idade, 5 (35,7%) situam-se no escalão etário 46-50,
4 (28,6%) no escalão 41-45, 3 (21,4%) no escalão 51-55 e 2 (14,3%) no escalão
56-60, o que, de um modo geral, configura um grupo de formação
relativamente envelhecido, em linha, de resto, com o perfil etário dos
docentes do ensino básico e secundário em Portugal.
De resto, no que respeita ao tempo de serviço, os participantes apre-
sentam um perfil que é naturalmente isomórfico com a idade. Assim, 5
docentes (35,7%) situam-se no escalão 26-30 anos de serviço, 4 docentes
(28,6%) no escalão 16-20 anos de serviço e 2 docentes (14,3%) no escalão
21-25 anos de serviço. Há, ainda, 1 docente no escalão 26-40 anos de
serviço e 1 docente no escalão 11-15 anos de serviço.
Quanto aos grupos de recrutamento e níveis de ensino, o grupo de
formandos é caracterizado por uma significativa variedade, abrangendo
participantes desde do Pré-Escolar até ao Ensino Secundário (2 Pré-Es-
colar, 1 do 1.º Ciclo, 7 do 2.º ciclo, 6 do 3.º ciclo e 2 do Ensino Secundário)
e 10 grupos de recrutamento diferentes (100, 110, 220, 230, 240, 260, 290,
330, 420 e 910).
Relativamente às habilitações literárias, todos os participantes pos-
suem licenciatura.
c. o processo de supervisão:
Relativamente ao processo em si, considero que o trabalho
de supervisão pedagógico desenvolvido permitiu con-
cretizar os objetivos traçados na ação. A metodologia de
investigação-ação que adotámos promoveu a articulação
e colaboração do nosso trabalho no que respeita à reflexão
e à ação sobre as nossas práticas pedagógicas visando o
seu melhoramento.
O grupo de trabalho desenvolveu as suas atividades num
paradigma de supervisão pedagógica enquanto ambiente
promotor de construção de desenvolvimento profissional
assente na cooperação e autonomia docente.
Fomos constatando que a supervisão pode ser possível,
é necessário vontade e abertura a novas relações com
o saber, vivenciando a comunicação compartilhada e a
troca de informações.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Face aos resultados acima apresentados, é legítimo inferir que os
formandos/participantes neste processo formativo apresentam, para
além de uma concetualização que se compagina com a maior parte
da literatura sobre o assunto, perceções muito positivas relativamente à
supervisão e à colaboração, reconhecendo a sua importância no trabalho
docente no sentido de melhorar os processos de ensino e aprendiza-
gem, sobretudo porque podem “constituir-se como uma atividade de
regulação reflexiva e colaborativa do processo de desenvolvimento
profissional, orientada para a promoção da autonomia, no trabalho que
venha futuramente a desenvolver”.
Por outro lado, os formandos/participantes também evidenciam que
a supervisão e colaboração, tal como foram implementadas e desen-
volvidas no âmbito do dispositivo de formação, acarretam vários efeitos,
entre os quais importa destacar os seguintes:
-- a promoção da articulação do trabalho realizado pelos vários
docentes;
-- a reflexão crítica e construtiva sobre as práticas pedagógicas, visando
o seu melhoramento;
-- construção do desenvolvimento profissional assente na cooperação
e autonomia docente;
-- abertura a novas relações com o saber, vivenciando a comunicação
compartilhada e a troca de informações;
-- e o crescimento a nível pessoal e a nível profissional.
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ção (pp.5490-5502). Porto: CIIE – Centro de Investigação e Intervenção
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Alarcão, I. & Canha, B. (2013). Supervisão e colaboração: uma relação para
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Alarcão, I. & Roldão, M. (2008). Supervisão: um contexto de desenvolvimento
profissional dos professores. Mangualde: Edições Pedago.
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Caetano, A. (2007) (coord.). Avaliação da formação. Estudos em organizações
portuguesas. Lisboa: Livros Horizonte.
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Flores, M. (2014). Profissionalismo e liderança dos professores. Santo Tirso:
De Facto Editores.
Fullan, M., & Hargreaves, A. (2001). Por que é que vale a pena lutar? O trabalho
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