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São varias as versões sobre a origem da palavra Carnaval.

No dialeto milanês,
Carnevale quer dizer " o tempo em que se tira o uso da carne ", já que o carnaval é
propriamente a noite anterior à Quarta-Feira de Cinzas. No Brasil, o evento é a
maior manifestação de cultura popular, ao lado do futebol. É um misto de folguedo,
festa e espetáculo teatral, que envolve arte e folclore. Na sua origem, surge
basicamente como uma festa de rua. Porém, na maioria das grandes capitais,
acaba concentrado em recintos fechados, como sambódromos e clubes.

Viagem no Tempo
A origem do Carnaval vem de uma manifestação popular anterior à era Cristã,
tendo se iniciado na Itália com o nome de Saturnálias - festa em homenagem a
Saturno. As divindades da mitologia greco-romana BACO e MOMO dividiam as
honras nos festejos, que aconteciam nos meses de novembro e dezembro.
Durante as comemorações em Roma, acontecia uma aparente quebra de
hierarquia da sociedade, já que escravos, filósofos e tribunos misturavam-se em
praça pública. Com a expansão do Império Romano, as festas tornaram-se mais
animadas e freqüentes. Na época ocorriam verdadeiros bacanais.
No início da era Cristã, começaram a surgir os primeiros sinais de censura aos
festejos mundanos na medida em que a Igreja Católica se solidificava. Querendo
impor uma política de austeridade, a igreja determinava que esses festejos só
deveriam ser realizados antes da Quaresma.
Os italianos adotaram, então, a palavra Carnevale, sugerindo que se poderia fazer
Carnaval - "ou o que passasse pelas suas cabeças" antes da Quaresma, numa
espécie de abuso da carne.
A festa chegou a Portugal nos séculos XV e XVI, recebendo o nome de Entrudo -
isto é, introdução à Quaresma, através de uma brincadeira agressiva e pesada. O
evento tinha uma característica essencialmente gastronômica e era marcado por
um divertimento entremeado com alguma violência. Fazia-se esferas de cera bem
finas com o interior cheio de água-de-cheiro e depois atirava-se nas pessoas.
Os mais ousados, no entanto, começaram a injetar no interior das "laranjinhas ou
limões-de-cheiro", substâncias mau cheirosas e impróprias e a festa foi perdendo
sua alegria. Foi exatamente esse Entrudo violento que aportou no Brasil.

Na segunda metade do século XIX, o jornal Diário da Bahia e a Igreja Católica


criticavam e pediam providências às autoridades policiais contra o Entrudo. Quando
se aproximava o domingo anterior à Quaresma, todo mundo "entrudava".
Apareciam pelas ruas em forma de bandos os "Caretas" envoltos em cobertas,
esteiras de catolé, folhas de árvores e abadás - uma espécie de camisa de manga
curta bastante folgada, atingindo a curva dos joelhos, que os negros usavam. No
Entrudo, molhava-se quantos andassem pelas ruas, invadia-se casas para molhar
pessoas e não se importava que fosse gente doente ou idosa.
Em 1853 o Entrudo passou a ser reprimido com ordens policiais. Mesmo assim,
as "laranjinhas" e gamelas com água continuavam existindo. Foi exatamente neste
período que o Carnaval começou a se originar de forma diferente, dividindo-se em
duas classes: o Carnaval de Salão e o Carnaval de Rua. O Carnaval de Salão tinha a
participação de brancos e mulatos de classe média; o Carnaval de Rua, contava
com negros e mulatos pobres.

Em 1860 o Teatro São João começou a realizar arrojados bailes de mascarados, na


noite de sábado, iniciando as festas com músicas baseadas em trechos da ópera
italiana "La Traviata". Em seguida, eram tocadas valsas, polcas e quadrilhas. O
evento contava com a participação das pessoas de bom nível social, que trocavam
os bailes realizados em suas casas pelo do teatro.

Na época, havia o perigo do homem formado e do negociante serem vistos


mascarados. Em razão disso, casas de fantasias e cabeleireiros, como os famosos
"Pinelli" e "Balalaia" mantinham especialistas em disfarces.
Como os bailes carnavalescos não estavam ao alcance de todos, nem de acordo
com a moral de muitos, era necessário estimular a sua ida para a rua. Por isso, os
sub-delegados foram autorizados a distribuir gratuitamente máscaras a quem
quisesse brincar o Carnaval. Várias comissões passaram a ser nomeadas pelo chefe
de polícia e a comissão central, juntamente com outras comissões paroquianas que
distribuíam máscaras, facilitavam a aquisição de outros adereços, bem como a
providência de banda de música. Os comerciantes logo aderiram à idéia de olho no
melhor faturamento, e começaram a adotar o Carnaval em substituição ao Entrudo.
O Grande Carnaval de 1884
O ano de 1884 é considerado como o marco decisivo para o carnaval da Bahia.
Embora a festa já possuísse considerável porte - principalmente nos salões - é
nesse ano que teve início a organização dos festejos de ruas e os desfiles de
clubes, corsos, carros alegóricos e de vários populares. A partir daí ocorre a
intensificação da participação do povo e aclamação do carnaval de rua, que até
hoje caracteriza esta festa na Bahia.
O Carnaval de 1884 pegou Salvador num período de crescimento rápido,
provocado pelo progresso da agricultura em outras regiões e pelas exigências de
um melhor ordenamento do espaço urbano com o êxodo rural. Respirava-se
progresso e os comerciantes já utilizavam a publicidade nos jornais durante a festa.
Tanto as pessoas que se fantasiavam como as que esperavam o cortejo vestiam-se
a rigor, algumas em ternos de linho, polainas e chapéus.

Fundado em 1º de março de 1833, o Clube Carnavalesco Cruz Vermelha só


veio a participar do Carnaval em 1884. O clube organizou um cortejo com rapazes
e moças ricamente trajados e a novidade foi a presença de um carro alegórico, com
o tema "Crítica ao Jogo de Loteria", ricamente decorado com peças importadas da
Europa. O cortejo saiu de uma das ruas do Comércio, subiu a Montanha, passou em
frente à Barroquinha, rua Direita do Palácio (rua Chile), Direita da Misericórdia,
Direita do Colégio e retornou rumo ao Politeama de Baixo (Instituto Feminino).

A iniciativa foi um verdadeiro sucesso e ganhou milhares de aplausos e pétalas


de flores dos populares que se encontravam nas ruas. O Cruz Vermelha mudou
basicamente o Carnaval.

Em março de 1884, um grupo de jovens fundou o Clube Carnavalesco


Fantoches da Euterpe.

O grupo era encabeçado por quatro figuras da alta sociedade: Antônio Carlos
Magalhães Costa (bisavô de ACM), João Vaz Agostinho, Francisco Saraiva e Luís
Tarqüínio. (seu primeiro presidente)
Em 1885, a disputa entre os dois clubes foi ainda maior. O Diário de Notícias, o
jornal mais influente da época, publicou um anúncio de um quarto de página, a
pedido do Cruz Vermelha, descrevendo a sua passeata. O Fantoches reagiu
publicando o seu programa de festas em três colunas. Ambos foram às ruas com
temas maravilhosos e indumentárias vindas da Europa. O carro-chefe do Cruz
Vermelha apresentava "A Fama" e o Fantoches, "A Europa". Desfilaram também
outros clubes, como "Saca Rolhas", "Cavalheiros de Malta", "Clube dos Cacetes" e
"Grupo dos Nenês".
Na época, não havia uma comissão julgadora para estabelecer quem vencia os
desfiles e o julgamento era determinado pela imprensa, que media a aprovação da
população através dos aplausos. O Cruz Vermelha, mais popular, sempre vencia,
pois o Fantoches, mais ligado à aristocracia, tinha uma torcida bem menor. Todas
as outras entidades representavam a classe média.
Em 1886, os negociantes resolvem não mais abrir o comércio na terça-feira de
Carnaval. Os presidentes dos grandes clubes reuniram-se na Associação Comercial
com o objetivo de estudar um itinerário único para todos os préstitos.
Dois anos depois, a cidade teve um dos carnavais mais famosos. O Cruz
Vermelha e o Fantoches, deram em conjunto um grandioso baile no Politeama.
Chegou, enfim, o dia do grande domingo de Carnaval. E havia muita gente pelas
ruas; nas janelas, o que mais imperava na cidade era a ansiedade. O primeiro
préstito a surgir foi o Cruz Vermelha com coordenação, esplendor e luxo. A
multidão vibrava atirando flores sobre os carros. O segundo a desfilar foi o préstito
do Fantoches, com a sua magnífica decoração dos carros alegóricos, a graça, o luxo
e o gosto artístico, que justificavam o delírio de todos. Resultado: Fantoches e Cruz
Vermelha desfilando sobre chuvas de rosas. O Carnaval já era uma verdadeira
atração, uma realidade conseguida com muita luta e anos de esperança e já se
podia afirmar que o vencera definitivamente o Entrudo.
Em 1892 é introduzido no Carnaval do país, o uso de "Confetes e
Serpentinas".Os confetes eram usados em retalhadas entre algumas entidades
carnavalescas da época, e as serpentinas vieram para substituir as flores atiradas
aos carros alegóricos.
Em 1894, o Carnaval era eminentemente da elite dos clubes Cruz Vermelha,
Fantoches e outros, que desfilavam pelas ruas e freqüentavam os bailes dos
Teatros São João e Politeama. A população pobre continuava a fazer apenas
algumas manifestações.
O Primeiro Afoxé

No ano seguinte, os negros nagôs organizaram o primeiro afoxé, denominado


"Embaixada Africana", que desfilou com roupas e objetos de adorno importados da
África.

Em 1896, surgiu, então, o segundo afoxé, o "Pândegos da África", organizado


também por negros. Os grupos representavam casas de culto de herança africana e
saíam às ruas cantando e recitando seqüências de músicas e letras.

Os afoxés exibiam-se na Baixa dos Sapateiros, Taboão, Barroquinha e


Pelourinho, enquanto os grandes clubes desfilavam em áreas mais nobres.
Nove anos mais tarde, um outro afoxé rompeu este tácito compromisso e subiu a
Barroquinha e a Ladeira de São Bento, gerando protestos em que se lastimou a
quebra deste pacto não escrito da divisão espacial de classes e de ritmos no
Carnaval. Neste momento, verificava-se na cidade uma divisão espacial muito
séria.

Dissidentes do Cruz Vermelha, fundaram, em 1900, o Clube Carnavalesco "Os


Inocentes em Progresso". O nome do clube foi inspirado em um bando de meninos
que passavam no local cantando e tocando em latas.

Em 1949, ano do IV Centenário de fundação da cidade de Salvador, é fundado o afoxé "Filhos de


Gandhy" pelos estivadores do Porto de Salvador, como forma de homenagear o grande líder pacifista
indiano assassinado em 1948, o Mahatma Gandhy.

Surge o Trio Elétrico


No ano seguinte, surgiu, então, a famosa dupla elétrica. Após observarem o
desfile da famosa "Vassourinha", entidade carnavalesca de Pernambuco que tocava
frevo na rua Chile, e empolgados com a receptividade do bloco junto ao público, a
dupla elétrica formada por Adolfo Antônio Nascimento - o Dodô e Osmar Álvares de
Macêdo - Osmar resolveu restaurar um velho Ford 1929, guardado numa garagem.
No Carnaval do mesmo ano, saiu às ruas tocando seus "paus elétricos" em cima do
carro e com o som ampliado por alto-falantes. A apresentação aconteceu às cinco
horas da tarde do domingo de Carnaval, arrastando uma multidão pelas ruas do
centro da cidade.
O nome "trio elétrico" surgiu em 1951, quando, pela primeira vez, apresentou-se
no Carnaval um conjunto de três instrumentistas. A "dupla elétrica" convidou o
amigo e músico Temístocles Aragão para integrar o trio e tocar nas ruas de
Salvador numa "pick up Chrysler", modelo Fargo, maior que a "fobica" do ano
anterior, em cujas laterais se liam em duas placas: "O trio elétrico".

Osmar tocava a famosa "guitarra baiana", de som agudo; Dodô era responsável
pelo "violão-pau-elétrico", de som grave, e Aragão, pelo "triolim", como era
conhecido o violão tenor, de som médio. Estava formado o trio musical.

Surge em 1961, o primeiro desfile público do Rei Momo, papel desempenhado


pelo motorista de táxi e funcionário público Ferreirinha.
No ano seguinte, surgiu o primeiro grande bloco de Carnaval, denominado "Os
Internacionais", composto apenas por homens. Nesta época, a todo instante
"pipocava" um trio elétrico novo, mas os blocos iam para as ruas acompanhados
somente de baterias ou grupos de percussão. Foi aí que também apareceram as
famosas cordas e as mortalhas para brincar o Carnaval. Em 1965 por decreto
presidencial é proibido o fabrico, a comercialização e o uso do lança-perfume,
introduzido em nosso carnaval desde 1906, importado inicialmente da França e
depois da Argentina.
Anos 70

Os anos 70 fizeram com que o apogeu do Carnaval de Salvador fosse a Praça


Castro Alves, onde todas as pessoas se encontravam e se permitiam fazer tudo. Foi
a época da liberação cultural, social e sexual.

Até esta época, os trios elétricos eram mais veículos alegóricos, ornamentados
quase que exclusivamente com bocas sedan de alto-falantes.
Os amplificadores eram feitos com válvulas e, em cima do trio, ficavam apenas
músicos com a guitarra baiana, o baixo e a guitarra, não existindo ainda a figura do
vocalista.

Ainda nos anos 70, os "Novos Baianos" ousaram e colocaram algumas caixas de
som no trio, além de equipamentos transistorizados. Baby Consuelo surgiu
cantando com um microfone ligado ao cabo de uma guitarra.

A composição carnavalesca "Colombina" de Armando Sá e Miquel Brito é reconhecida oficialmente


como o hino do Carnaval de Salvador.
Como se não bastasse tanta mudança, uma ainda mais radical ocorreu no Carnaval
74, com o surgimento do bloco "Afro Ilê Aiyê". A entidade que deu início ao
processo de reafricanização da festa contribuiu com a aparição do afoxé "Badauê" e
o renascimento do afoxé "Filhos de Gandhy". Era o começo do crescimento cultural
do Carnaval de Salvador; que passou a enfatizar os conflitos e a protestar contra o
racismo.

Em 1975 o trio elétrico "Dodô e Osmar" comemorou o jubileu de prata e retornou


definitivamente à cena carnavalesca após um período de 14 anos afastado. O trio
voltou com uma nova formação incluindo o músico Armandinho, filho de Osmar, e
mudou o nome para "Trio Elétrico de Armandinho, Dodô e Osmar".

Em 1976, surgiu, então, o trio elétrico "Novos Baianos", introduzindo junto com o "Trio de
Armandinho", o swing baiano.
No ano seguinte, as escolas de samba que participavam do Carnaval de Salvador
deixaram de desfilar. Apesar dos blocos de trio terem surgidos no início da década,
é em 1978 que o "Camaleão" inicia a superação do amadorismo vigente entre os
primeiros blocos de trio, representando um marco na emergência deles no Carnaval
de Salvador. Foi neste mesmo ano que o uso da máscara, antes alegria e graça dos
foliões, iniciou o seu processo de desaparecimento.
Adereço indispensável para complementar as fantasias de carnaval, a máscara que
em nosso convívio ficou mais conhecida como careta, serviu também para esconder
dos olhares conhecidos e indiscretos a vergonha de um rosto eufórico.
Em 1979, aconteceu, então, o encontro entre o afoxé e o trio elétrico, com o
surgimento da música "Assim pintou Moçambique", de Moraes Moreira e Antônio
Risério, desencadeando, assim, todo o processo do afoxé "eletrizado" da música
baiana atual.
Década de 80
No início dos anos 80, a transformação do Carnaval de Salvador se intensificou
mais ainda e coube ao bloco "Traz Os Montes" introduzir algumas inovações, tais
como a montagem de um trio elétrico com equipamentos transistorizados,
instalação de ar condicionado para refrigerar e manter os equipamentos em
temperatura suportável, retirada das bocas de alto-falantes, instalação de caixas de
som de forma retangular, eliminação da tradicional percussão que ficava nas partes
laterais do trio e inserção de uma banda com bateria, cantor e outros músicos em
cima do caminhão.
Em 1981, o bloco Eva, surgido em 1980 e considerado uma das entidades mais
irreverentes e inovadoras do Carnaval, decidiu radicalizar ainda mais do que o "Traz
Os Montes" e contratou engenheiros para assinar o cálculo estrutural do novo trio e
de todo o sistema de sonorização que importou dos Estados Unidos (como uma
nova mesa de som e vários periféricos necessários para o perfeito funcionamento
do trio e da banda). Assim, o Eva fez com que os outros blocos fossem obrigados a
investir também em seus trios.

O público e a crítica passaram a notar claramente a diferença gritante entre os seus


equipamentos e os demais, assim como a qualidade dos cantores e das bandas.

Neste mesmo ano o Governador da Bahia assina o Decreto nº 27.811, que


determina a suspensão do expediente nas repartições públicas na sexta-feira da
semana anterior ao carnaval.

Um ano depois, registrou-se a presença de tanta gente nas ruas de Salvador


que os tradicionais freqüentadores da Praça Castro Alves (intelectuais, profissionais
liberais e travestis) ficaram irritadíssimos com a invasão do tradicional reduto
liberal. Neste ano, a mortalha começou a desaparecer como indumentária
carnavalesca, tendo como opção o short, bermuda ou macacão.

No Carnaval de 1983, apareceram algo em torno de 30 a 40 ritmos novos.

Em 1988 pela primeira vez, um bloco afro de grande porte, o Olodum, desfila na
Barra. O ano da comemoração alusiva ao centenário da abolição da escravatura no
Brasil, cujo o tema foi "Bahia de Todas as Áfricas".
Cronologia do Trio Elétrico
"O Trio Elétrico, com seu som antropofágico, vai carnavalizando tudo.
Desde os populares mais clássicos, até os clássicos mais populares."
Caetano Veloso
Década de 30
Existia em Salvador um conjunto musical, criado por Dorival Caymmi, que animava
algumas festas e reuniões de fim de semana, e que se apresentava nas estações de
rádio. Começava, então, a fazer sucesso na Bahia o grupo Três e Meio, cujos
integrantes eram o próprio Caymmi, Alberto Costa, Zezinho Rodrigues e Adolfo
Nascimento – o Dodô. Em 1938, com a saída de Caymmi, o grupo reestruturou-se e
passou a contar com sete componentes, incluindo Osmar Macêdo.
1942
Em apresentação na cidade de Salvador, o violonista clássico Benedito Chaves (RJ)
mostrou pela primeira vez ao público local um "violão eletrizado". Dodô e Osmar,
ávidos em conhecer tal instrumento, foram assistir ao show no cine Guarani e
ficaram extremamente entusiasmados. Embora fosse um violão comum, importado
e com um captador inserido à sua boca, o instrumento era muito primitivo e
possuía microfonia. Dodô, porém, incansável na busca da superação deste
problema, construiu em poucos dias um violão igualzinho ao de Benedito Chaves
para ele, e um cavaquinho para Osmar. Apesar da microfonia persistir, os dois
uniram-se mais uma vez para formar a "Dupla Elétrica" e começaram a se
apresentar em diversos lugares.
Num determinado dia, Dodô resolveu esticar uma corda de violão sobre a sua
bancada de trabalho e prendê-la nas extremidades; sob a corda, colocou um
microfone preso à bancada. Quando a dupla ligou o microfone, algo inacreditável
aconteceu um som limpo, que parecia até o de um sino. Estava, então, descoberto
o princípio e logo foi possível perceber que o "cêpo maciço" evitava o fenômeno da
microfonia – e assim, com o nome de pau elétrico, nasceu a guitarra baiana.
1943/49
A dupla elétrica passou, então, a tocar em clubes, festas e bailes, com seus
próprios instrumentos.

Na quarta-feira anterior ao Carnaval, o famoso "Clube Carnavalesco Vassourinhas


do Recife", com 150 componentes, apresentou-se em Salvador com metais, alguma
madeira e pouca percussão.

Na manhã do dia seguinte à apresentação dos pernambucanos, Dodô e Osmar começaram a trabalhar
no projeto de construção do que viria a ser o "trio tlétrico". Osmar, proprietário de uma oficina mecânica,
retirou do galpão um Ford 1929, conhecido como "Fobica", e iniciou o processo de decoração pintando
em todo o veículo vários círculos coloridos como se fossem confetes e confeccionou em compensado, no
formato de violão, duas placas com os dizeres "Dupla Elétrica".
Dodô, com formação em radiotecnia, decidiu montar uma "fonte" que, ligada à
corrente de uma bateria de automóvel, iria alimentar a carga para o funcionamento
dos alto-falantes instalados na fobica (onde eles se apresentariam com os seus
"Paus Elétricos").
Em pleno domingo de Carnaval, a dupla subiu a ladeira da montanha em direção à
Praça Castro Alves e Rua Chile, por volta das 16 horas, e arrastou milhares de
pessoas. Dodô e Osmar, em cima da fobica decorada e eletronicamente equipada,
fizeram, assim, sua primeira aparição como os inventores do trio elétrico.
1951
A dupla resolveu convidar o amigo e músico Temístocles Aragão para formar o que
se chamaria de trio elétrico. O nome foi ganhando fama, fazendo com que, nos
anos seguintes, as pessoas ouvissem o som eletrizante e dissessem: "Lá vem o trio
elétrico".
1952
A fábrica de refrigerantes "Fratelli Vita" decidiu patrocinar o trio elétrico de Dodô
e Osmar e a dupla abandonou a velha fobica e passou para um veículo grande,
colocando nele oito alto-falantes, corrente elétrica de geradores e iluminação com
lâmpadas fluorescentes. O patrocínio permaneceu até 1957 – época em que o trio
elétrico de Dodô e Osmar apresentava-se nas ruas centrais de Salvador e animava
carnavais fora de época no interior do Estado
1953/58
Surgiram, então, novos trios elétricos tocando em cima de caminhonetes como o
Ypiranga, Cinco Irmãos, Conjunto Atlas, Jacaré (posteriormente chamado de
Saborosa) e o Paturi ( Feira de Santana/BA.)

1956
Surge o conjunto musical Tapajós (montado em uma caminhonete), primeiro
seguidor e grande responsável pelo fato do trio elétrico, como estrutura física, ter
se mantido e se expandido como fenômeno carnavalesco.
1957
O trio elétrico Tapajós anima o Carnaval no Subúrbio Ferroviário.
1958
O trio elétrico Dodô e Osmar ganhou o patrocínio da Prefeitura Municipal de
Salvador.
1959
A convite do governador de Pernambuco, o Trio Elétrico de Dodô e Osmar saiu pela
primeira vez da Bahia para tocar no Carnaval de Recife, sob o patrocínio da "Coca-
Cola".

1960
O trio elétrico Tapajós compra de Dodô e Osmar uma de suas carrocerias.

1961

O trio elétrico de Dodô e Osmar deixou de participar do Carnaval em virtude da


morte do sogro de Osmar, Armando Costa, maior incentivador do grupo. O Tapajós
firmou o primeiro contrato comercial com a Coca-Cola para animar as micaretas
das cidades de Feira de Santana, Pojuca, Catu e Alagoinhas.
1962
O Carnaval não teve mais uma vez a participação do trio de Dodô e Osmar; por
outro lado, assistiu à estréia do Tapajós, desfilando pelas ruas centrais da Cidade.
1963
Com o patrocínio da Refinaria Mataripe, o trio de Dodô e Osmar voltou a participar
do Carnaval de Salvador: era um carro alegórico, montado sobre uma carreta.
Armandinho, com apenas nove anos de idade, já era o solista do trio.
No concurso de trios elétricos promovido pela Prefeitura, o vencedor foi o trio
Tapajós, com uma nova carroceria totalmente metálica.
1964

Osmar resolveu construir uma miniatura de trio elétrico em uma pick-up Ford F-
1000. A engenhoca era destinada a seus filhos e aos filhos de Dodô, os quais
tinham todos no máximo 12 anos.

O trio elétrico Tapajós animou o Carnaval de Recife (PE) sob o patrocínio da


Coca-Cola e do Departamento de Turismo do Recife.

1965
O mini-trio de Armadinho e Betinho voltou a comandar o Carnaval de Salvador.
O trio elétrico Tapajós consagra-se campeão.
1966
O trio elétrico Tapajós foi aclamado bi-campeão
1967
O Tapajós consagrou-se tricampeão do Carnaval de Salvador, em concurso
promovido pela Prefeitura.
1969
Caetano Veloso lançou a música "Atrás do Trio Elétrico Só Não Vai Quem Já
Morreu". O trio Tapajós lançou no mercado fonográfico o primeiro disco gravado por
um trio elétrico e foi ao Rio de Janeiro para reforçar o lançamento nacional da
música. Em uma semana, a canção passou do sétimo para o segundo lugar nas
paradas de sucesso e foi apresentada no programa televisivo "A Grande Chance".
1972
Um histórico encontro na Praça Castro Alves ocorreu entre Osmar – que tocava
no trio elétrico Caetanave - e Armandinho, que se apresentava em cima do trio
Saborosa, fazendo o "Desafilho".
O Tapajós homenageou Caetano Veloso, pela sua volta do exílio em Londres, com o
lançamento da "Caetanave",um trio com linhas arquitetônicas arrojadas, uma
verdadeira obra de arte que, que com a devida proporção dos tempos, até hoje não
foi superada. Nas ruas, o público pôde apreciar os baianos Gilberto Gil, Caetano
Veloso e Gal Costa em cima do trio.

Surge o trio elétrico Marajós.


1973
O trio Tapajós animou o Carnaval da cidade de Curitiba

1974
Depois de uma longa ausência, a dupla Dodô e Osmar retornou ao Carnaval
com uma nova formação – "Trio Elétrico Armandinho, Dodô e Osmar". Na ocasião,
eles gravaram um disco sob o título "Jubileu de Prata", em comemoração aos 25
anos de criação do trio.

O Tapajós – que havia gravado seis LP´s e dois compactos - foi animar o
Carnaval de Belo Horizonte.
1975
Após sua estréia em 1950, a fobica voltou às ruas para comemorar o Jubileu de
Prata do trio elétrico. Uma grande festa foi organizada para homenagear seus
inventores, incluindo um desfile de vários trios elétricos puxados por Dodô e
Osmar. Especialmente montados e decorados para a parada, os trios saíram do
Campo Grande e chegaram até a Praça Castro Alves, onde executaram em conjunto
o "Parabéns a Você". Em seguida, a dupla recebeu o troféu comemorativo ao
jubileu pela criação da "máquina de gerar alegria".

A empresa Souza Cruz contratou dois trios da Tapajós para a cidade do Rio de
Janeiro.

1976
O Tapajós animou os carnavais de Salvador, Belo Horizonte e Santos.

Surgiu, então, a empresa Tapajós Promoções Artísticas e Publicidade Ltda.

Durante show na Concha Acústica de Salvador, Armandinho lançou mais uma


engenhoca de autoria de Dodô: uma guitarra de dois braços, batizada de Dodô e
Osmar.
Surgiu pela primeira vez nas ruas de Salvador o trio elétrico dos Novos Baianos,equipamento que causou
uma verdadeira revolução no cenário musical. A sonorização do trio mudava completamente, aindo dos
tradicionais amplificadores de vávulas e das cornetas Sedam para caixas acústicas, twiters e cornetas
Snak. A linguagem musical também sofreu mudanças, com os Novos Baianos cantando músicas do
repertório popular. Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Maria Betânia reuniram-se e batizaram o
grupo com o nome de "Os Doces Bárbaros".
1977
O trio elétrico Tapajós animou também o Carnaval em Brasília
Através do lançamento da música "Pombo Correio", o trio elétrico Dodô e Osmar foi
especialmente decorado com uma gigantesca ave branca afixada na proa do
veículo, que batia as asas ao ritmo do instrumental do trio.
1978
Morreu um dos pais do trio elétrico, Adolfo Nascimento, o Dodô. Seu
sepultamento foi acompanhado pelo trio Tapajós, envolto numa enorme faixa preta
em sinal de luto, executando a Ave Maria de Gounot e a marcha fúnebre de
Choppin, além do Hino ao Senhor do Bonfim.
Neste ano, aconteceu o casamento do som dos afoxés com o trio elétrico, graças a
Moraes Moreira e ao seu parceiro e poeta Antônio Risério, com o lançamento da
música "Assim Pintou Moçambique
1979
Três carros-trios da empresa Tapajós foram contratados por entidades
carnavalescas de Salvador. Na festa comemorativa do tricampeonato do Esporte
Clube Flamengo, o trio Tapajós foi contratado para, ao som de um frevo
especialmente composto por Moraes Moreira, arrastar uma verdadeira multidão de
torcedores do Maracanã até a Gávea, atravessando quase toda a cidade do Rio de
Janeiro.
1980
O trio elétrico Traz os Montes - na verdade, equipamento de uma entidade
carnavalesca – desfilou pela primeira vez nas ruas de Salvador. O Traz os Montes,
por sinal, firmou-se como o trio que mais introduziu as novidades técnicas no
Carnaval, possuindo um som extraordinariamente potente e de ótima qualidade e
inovando com toda a aparelhagem transistorizada
Com arranjo especial de Armandinho, a composição "Beleza Pura", de Caetano
Veloso, foi a música mais executada por todos os trios elétricos.
A cidade do Rio de Janeiro abriu suas festividades momescas com uma batalha de
confete em Madureira, cuja atração principal era o trio elétrico Tapajós.
Na cidade de Natal(RN), começou-se a observar a presença de três trios elétricos
no Carnaval, cujas construções tinham como consultor Osmar Macêdo.
1981
O novo trio de Armandinho, Dodô e Osmar teve como tema a música
"Vassourinha Elétrica", que, em poucas semanas, tornou-se sucesso de vendagem
em todo o País.
O trio elétrico Novos Baianos, comandado pela única cantora de trio, Baby
Consuelo.
1983
Um trio elétrico construído na Itália foi inaugurado na Pizza Navona diante de 80
mil pessoas embaladas ao som da banda de Armandinho, Dodô e Osmar
trieletrizado o "Império Romano".
1985
Um outro trio elétrico foi construído na França para fazer o Carnaval em Toulouse.
1986
O trio elétrico Armandinho, Dodô e Osmar foi para a Copa do Mundo do México e,
na volta, foi à França para percorrer várias cidades da Riviera Francesa, terminando
em Lion.
1988
Foi criado o trio elétrico Espacial, com palco giratório e elevado automático.
1990
O trio elétrico completou 40 anos.
1992
Orlandinho, filho de Orlando Campos, resgatou o trio Caetanave e prestou uma
homenagem à seu pai, promovendo neste Carnaval o encontro de gerações.
1997
O outro pai do trio elétrico, Osmar Macêdo, faleceu e teve seu sepultamento
realizado com um cortejo de trios elétricos passando na Praça Castro Alves.
1998
Foi inaugurado, na Praça Castro Alves, monumento em homenagem à dupla Dodô e
Osmar

A fobica voltou às ruas durante o Carnaval em homenagem a Osmar.

1999
O percussionista Carlinhos Brown retomou o projeto da Caetanave e trouxe um novo equipamento
para as ruas de Salvador
2000
A fobica e seus idealizadores serão mais uma vez homenageados no ano em
que o trio elétrico completa 50 anos de existência

Axé Music 20 anos de Sucesso


Tudo começou com o som vindo dos tambores das entidades carnavalescas de
origem africana em meados da década de 70. Nesta época, a Bahia via surgir o
bloco afro " Ilê Ayiê " e o afoxé " Badauê " e acompanhava ainda o renascimento
do afoxé " Filhos de Gandhy " - depois, vieram os blocos afros " Olodum e o
Muzenza ".

O trabalho dos "afros" e "afoxés" com seus ritmos, cores e batuques, iria, então,
exercer enorme influência nos artistas "criados" em cima dos trios elétricos, que no
início dos anos 80, começavam a fazer suas produções próprias e independentes.
Apesar disso, o sucesso dos novos músicos limitava-se à Bahia, graças ao incentivo
e à parceria fundamentais do estúdio WR, Itapoan FM e TV Itapoan. A hora
deles, no entanto, não deixaria de chegar... Em 1985, a canção " Fricote "-
composta por Paulinho Camafeu e interpretada por Luiz Caldas - explodiu e
derrubou as barreiras existentes na mídia do Sul e Sudeste do País e fez com que o
gênero denominado axé music conquistasse todo o Brasil. Caldas e a banda
Acordes Verdes abriram as portas da indústria fonográfica nacional para a música
baiana. A axé music rompeu uma estrutura sólida e foi responsável pela mistura
de diversos estilos musicais e rítmicos, quebrando conceitos e preconceitos na
maneira de fazer o público dançar, se vestir, se comportar e se distrair. Sem falar
no impulso econômico que deu à economia baiana, através do lançamento e venda
de milhares de CDs, da atração de turistas, da geração de empregos diretos e
indiretos e do crescimento do Carnaval de Salvador.

A explosão das canções baianas foi ainda responsável pela reinserção da música
brasileira nas rádios do País, já que as programações eram recheadas apenas por
sucessos norte-americanos. Foi também após o surgimento da axé music que
apareceram estilos musicais genuinamente brasileiros, como o sertanejo da cidade
de São Paulo, o pagode da cidade do Rio de Janeiro, a lambada do Pará e o pop da
cidade de Recife. Depois do sucesso inicial, o gênero continuou se espalhando e fez
surgir os carnavais fora de época nos quatros cantos do Brasil, as quais vêm se
expandindo a cada ano.

Embora muitas composições tenham sido lançadas nestes 20 anos da axé music,
apresentamos os 20 hits mais tocados nesta trajetória. Fontes: Jornal A Tarde,
Assessoria de Imprensa - Emtursa, W.R., Ricardo Chaves (cantor e produtor do CD
"Luiz Caldas e Convidados - 20 Anos de Axé) e o Jornalista Osmar Martins.

ANO MÚSICA BLOCO/CANTOR


1985 FRICOTE Luiz Caldas
1986 EU SOU NEGÃO Gerônimo
1987 FARAÓ, DIVINDADE DO EGITO Olodum
1988 PROTESTO DO OLODUM Versão da Bandamel
1989 BEIJO NA BOCA Banda Beijo
1990 REVOLTA OLODUM Olodum
1991 PREFIXO DE VERÃO Bandamel
1992 BAIANIDADE NAGÔ Bandamel
1993 DOCE OBSESSÃO Cheiro de Amor
1994 REQUEBRA Olodum
1995 AVISA LÁ Olodum
1996 ARAKETU BOM DEMAIS Araketu
1997 RAPUNZEL Daniela Mercury
1998 A LATINHA Timbalada
1999 JULIANA Pierre Onasis
Chiclete com
2000 CABELO RASPADINHO
Banana
2001 BATE-LATA Banda Beijo
2002 FESTA Ivete Sangalo
2003 DANDALUNDA Margareth Menezes
2004 MAIMBÊ DANDÁ Daniela Mercury

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