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No dialeto milanês,
Carnevale quer dizer " o tempo em que se tira o uso da carne ", já que o carnaval é
propriamente a noite anterior à Quarta-Feira de Cinzas. No Brasil, o evento é a
maior manifestação de cultura popular, ao lado do futebol. É um misto de folguedo,
festa e espetáculo teatral, que envolve arte e folclore. Na sua origem, surge
basicamente como uma festa de rua. Porém, na maioria das grandes capitais,
acaba concentrado em recintos fechados, como sambódromos e clubes.
Viagem no Tempo
A origem do Carnaval vem de uma manifestação popular anterior à era Cristã,
tendo se iniciado na Itália com o nome de Saturnálias - festa em homenagem a
Saturno. As divindades da mitologia greco-romana BACO e MOMO dividiam as
honras nos festejos, que aconteciam nos meses de novembro e dezembro.
Durante as comemorações em Roma, acontecia uma aparente quebra de
hierarquia da sociedade, já que escravos, filósofos e tribunos misturavam-se em
praça pública. Com a expansão do Império Romano, as festas tornaram-se mais
animadas e freqüentes. Na época ocorriam verdadeiros bacanais.
No início da era Cristã, começaram a surgir os primeiros sinais de censura aos
festejos mundanos na medida em que a Igreja Católica se solidificava. Querendo
impor uma política de austeridade, a igreja determinava que esses festejos só
deveriam ser realizados antes da Quaresma.
Os italianos adotaram, então, a palavra Carnevale, sugerindo que se poderia fazer
Carnaval - "ou o que passasse pelas suas cabeças" antes da Quaresma, numa
espécie de abuso da carne.
A festa chegou a Portugal nos séculos XV e XVI, recebendo o nome de Entrudo -
isto é, introdução à Quaresma, através de uma brincadeira agressiva e pesada. O
evento tinha uma característica essencialmente gastronômica e era marcado por
um divertimento entremeado com alguma violência. Fazia-se esferas de cera bem
finas com o interior cheio de água-de-cheiro e depois atirava-se nas pessoas.
Os mais ousados, no entanto, começaram a injetar no interior das "laranjinhas ou
limões-de-cheiro", substâncias mau cheirosas e impróprias e a festa foi perdendo
sua alegria. Foi exatamente esse Entrudo violento que aportou no Brasil.
O grupo era encabeçado por quatro figuras da alta sociedade: Antônio Carlos
Magalhães Costa (bisavô de ACM), João Vaz Agostinho, Francisco Saraiva e Luís
Tarqüínio. (seu primeiro presidente)
Em 1885, a disputa entre os dois clubes foi ainda maior. O Diário de Notícias, o
jornal mais influente da época, publicou um anúncio de um quarto de página, a
pedido do Cruz Vermelha, descrevendo a sua passeata. O Fantoches reagiu
publicando o seu programa de festas em três colunas. Ambos foram às ruas com
temas maravilhosos e indumentárias vindas da Europa. O carro-chefe do Cruz
Vermelha apresentava "A Fama" e o Fantoches, "A Europa". Desfilaram também
outros clubes, como "Saca Rolhas", "Cavalheiros de Malta", "Clube dos Cacetes" e
"Grupo dos Nenês".
Na época, não havia uma comissão julgadora para estabelecer quem vencia os
desfiles e o julgamento era determinado pela imprensa, que media a aprovação da
população através dos aplausos. O Cruz Vermelha, mais popular, sempre vencia,
pois o Fantoches, mais ligado à aristocracia, tinha uma torcida bem menor. Todas
as outras entidades representavam a classe média.
Em 1886, os negociantes resolvem não mais abrir o comércio na terça-feira de
Carnaval. Os presidentes dos grandes clubes reuniram-se na Associação Comercial
com o objetivo de estudar um itinerário único para todos os préstitos.
Dois anos depois, a cidade teve um dos carnavais mais famosos. O Cruz
Vermelha e o Fantoches, deram em conjunto um grandioso baile no Politeama.
Chegou, enfim, o dia do grande domingo de Carnaval. E havia muita gente pelas
ruas; nas janelas, o que mais imperava na cidade era a ansiedade. O primeiro
préstito a surgir foi o Cruz Vermelha com coordenação, esplendor e luxo. A
multidão vibrava atirando flores sobre os carros. O segundo a desfilar foi o préstito
do Fantoches, com a sua magnífica decoração dos carros alegóricos, a graça, o luxo
e o gosto artístico, que justificavam o delírio de todos. Resultado: Fantoches e Cruz
Vermelha desfilando sobre chuvas de rosas. O Carnaval já era uma verdadeira
atração, uma realidade conseguida com muita luta e anos de esperança e já se
podia afirmar que o vencera definitivamente o Entrudo.
Em 1892 é introduzido no Carnaval do país, o uso de "Confetes e
Serpentinas".Os confetes eram usados em retalhadas entre algumas entidades
carnavalescas da época, e as serpentinas vieram para substituir as flores atiradas
aos carros alegóricos.
Em 1894, o Carnaval era eminentemente da elite dos clubes Cruz Vermelha,
Fantoches e outros, que desfilavam pelas ruas e freqüentavam os bailes dos
Teatros São João e Politeama. A população pobre continuava a fazer apenas
algumas manifestações.
O Primeiro Afoxé
Osmar tocava a famosa "guitarra baiana", de som agudo; Dodô era responsável
pelo "violão-pau-elétrico", de som grave, e Aragão, pelo "triolim", como era
conhecido o violão tenor, de som médio. Estava formado o trio musical.
Até esta época, os trios elétricos eram mais veículos alegóricos, ornamentados
quase que exclusivamente com bocas sedan de alto-falantes.
Os amplificadores eram feitos com válvulas e, em cima do trio, ficavam apenas
músicos com a guitarra baiana, o baixo e a guitarra, não existindo ainda a figura do
vocalista.
Ainda nos anos 70, os "Novos Baianos" ousaram e colocaram algumas caixas de
som no trio, além de equipamentos transistorizados. Baby Consuelo surgiu
cantando com um microfone ligado ao cabo de uma guitarra.
Em 1976, surgiu, então, o trio elétrico "Novos Baianos", introduzindo junto com o "Trio de
Armandinho", o swing baiano.
No ano seguinte, as escolas de samba que participavam do Carnaval de Salvador
deixaram de desfilar. Apesar dos blocos de trio terem surgidos no início da década,
é em 1978 que o "Camaleão" inicia a superação do amadorismo vigente entre os
primeiros blocos de trio, representando um marco na emergência deles no Carnaval
de Salvador. Foi neste mesmo ano que o uso da máscara, antes alegria e graça dos
foliões, iniciou o seu processo de desaparecimento.
Adereço indispensável para complementar as fantasias de carnaval, a máscara que
em nosso convívio ficou mais conhecida como careta, serviu também para esconder
dos olhares conhecidos e indiscretos a vergonha de um rosto eufórico.
Em 1979, aconteceu, então, o encontro entre o afoxé e o trio elétrico, com o
surgimento da música "Assim pintou Moçambique", de Moraes Moreira e Antônio
Risério, desencadeando, assim, todo o processo do afoxé "eletrizado" da música
baiana atual.
Década de 80
No início dos anos 80, a transformação do Carnaval de Salvador se intensificou
mais ainda e coube ao bloco "Traz Os Montes" introduzir algumas inovações, tais
como a montagem de um trio elétrico com equipamentos transistorizados,
instalação de ar condicionado para refrigerar e manter os equipamentos em
temperatura suportável, retirada das bocas de alto-falantes, instalação de caixas de
som de forma retangular, eliminação da tradicional percussão que ficava nas partes
laterais do trio e inserção de uma banda com bateria, cantor e outros músicos em
cima do caminhão.
Em 1981, o bloco Eva, surgido em 1980 e considerado uma das entidades mais
irreverentes e inovadoras do Carnaval, decidiu radicalizar ainda mais do que o "Traz
Os Montes" e contratou engenheiros para assinar o cálculo estrutural do novo trio e
de todo o sistema de sonorização que importou dos Estados Unidos (como uma
nova mesa de som e vários periféricos necessários para o perfeito funcionamento
do trio e da banda). Assim, o Eva fez com que os outros blocos fossem obrigados a
investir também em seus trios.
Em 1988 pela primeira vez, um bloco afro de grande porte, o Olodum, desfila na
Barra. O ano da comemoração alusiva ao centenário da abolição da escravatura no
Brasil, cujo o tema foi "Bahia de Todas as Áfricas".
Cronologia do Trio Elétrico
"O Trio Elétrico, com seu som antropofágico, vai carnavalizando tudo.
Desde os populares mais clássicos, até os clássicos mais populares."
Caetano Veloso
Década de 30
Existia em Salvador um conjunto musical, criado por Dorival Caymmi, que animava
algumas festas e reuniões de fim de semana, e que se apresentava nas estações de
rádio. Começava, então, a fazer sucesso na Bahia o grupo Três e Meio, cujos
integrantes eram o próprio Caymmi, Alberto Costa, Zezinho Rodrigues e Adolfo
Nascimento – o Dodô. Em 1938, com a saída de Caymmi, o grupo reestruturou-se e
passou a contar com sete componentes, incluindo Osmar Macêdo.
1942
Em apresentação na cidade de Salvador, o violonista clássico Benedito Chaves (RJ)
mostrou pela primeira vez ao público local um "violão eletrizado". Dodô e Osmar,
ávidos em conhecer tal instrumento, foram assistir ao show no cine Guarani e
ficaram extremamente entusiasmados. Embora fosse um violão comum, importado
e com um captador inserido à sua boca, o instrumento era muito primitivo e
possuía microfonia. Dodô, porém, incansável na busca da superação deste
problema, construiu em poucos dias um violão igualzinho ao de Benedito Chaves
para ele, e um cavaquinho para Osmar. Apesar da microfonia persistir, os dois
uniram-se mais uma vez para formar a "Dupla Elétrica" e começaram a se
apresentar em diversos lugares.
Num determinado dia, Dodô resolveu esticar uma corda de violão sobre a sua
bancada de trabalho e prendê-la nas extremidades; sob a corda, colocou um
microfone preso à bancada. Quando a dupla ligou o microfone, algo inacreditável
aconteceu um som limpo, que parecia até o de um sino. Estava, então, descoberto
o princípio e logo foi possível perceber que o "cêpo maciço" evitava o fenômeno da
microfonia – e assim, com o nome de pau elétrico, nasceu a guitarra baiana.
1943/49
A dupla elétrica passou, então, a tocar em clubes, festas e bailes, com seus
próprios instrumentos.
Na manhã do dia seguinte à apresentação dos pernambucanos, Dodô e Osmar começaram a trabalhar
no projeto de construção do que viria a ser o "trio tlétrico". Osmar, proprietário de uma oficina mecânica,
retirou do galpão um Ford 1929, conhecido como "Fobica", e iniciou o processo de decoração pintando
em todo o veículo vários círculos coloridos como se fossem confetes e confeccionou em compensado, no
formato de violão, duas placas com os dizeres "Dupla Elétrica".
Dodô, com formação em radiotecnia, decidiu montar uma "fonte" que, ligada à
corrente de uma bateria de automóvel, iria alimentar a carga para o funcionamento
dos alto-falantes instalados na fobica (onde eles se apresentariam com os seus
"Paus Elétricos").
Em pleno domingo de Carnaval, a dupla subiu a ladeira da montanha em direção à
Praça Castro Alves e Rua Chile, por volta das 16 horas, e arrastou milhares de
pessoas. Dodô e Osmar, em cima da fobica decorada e eletronicamente equipada,
fizeram, assim, sua primeira aparição como os inventores do trio elétrico.
1951
A dupla resolveu convidar o amigo e músico Temístocles Aragão para formar o que
se chamaria de trio elétrico. O nome foi ganhando fama, fazendo com que, nos
anos seguintes, as pessoas ouvissem o som eletrizante e dissessem: "Lá vem o trio
elétrico".
1952
A fábrica de refrigerantes "Fratelli Vita" decidiu patrocinar o trio elétrico de Dodô
e Osmar e a dupla abandonou a velha fobica e passou para um veículo grande,
colocando nele oito alto-falantes, corrente elétrica de geradores e iluminação com
lâmpadas fluorescentes. O patrocínio permaneceu até 1957 – época em que o trio
elétrico de Dodô e Osmar apresentava-se nas ruas centrais de Salvador e animava
carnavais fora de época no interior do Estado
1953/58
Surgiram, então, novos trios elétricos tocando em cima de caminhonetes como o
Ypiranga, Cinco Irmãos, Conjunto Atlas, Jacaré (posteriormente chamado de
Saborosa) e o Paturi ( Feira de Santana/BA.)
1956
Surge o conjunto musical Tapajós (montado em uma caminhonete), primeiro
seguidor e grande responsável pelo fato do trio elétrico, como estrutura física, ter
se mantido e se expandido como fenômeno carnavalesco.
1957
O trio elétrico Tapajós anima o Carnaval no Subúrbio Ferroviário.
1958
O trio elétrico Dodô e Osmar ganhou o patrocínio da Prefeitura Municipal de
Salvador.
1959
A convite do governador de Pernambuco, o Trio Elétrico de Dodô e Osmar saiu pela
primeira vez da Bahia para tocar no Carnaval de Recife, sob o patrocínio da "Coca-
Cola".
1960
O trio elétrico Tapajós compra de Dodô e Osmar uma de suas carrocerias.
1961
Osmar resolveu construir uma miniatura de trio elétrico em uma pick-up Ford F-
1000. A engenhoca era destinada a seus filhos e aos filhos de Dodô, os quais
tinham todos no máximo 12 anos.
1965
O mini-trio de Armadinho e Betinho voltou a comandar o Carnaval de Salvador.
O trio elétrico Tapajós consagra-se campeão.
1966
O trio elétrico Tapajós foi aclamado bi-campeão
1967
O Tapajós consagrou-se tricampeão do Carnaval de Salvador, em concurso
promovido pela Prefeitura.
1969
Caetano Veloso lançou a música "Atrás do Trio Elétrico Só Não Vai Quem Já
Morreu". O trio Tapajós lançou no mercado fonográfico o primeiro disco gravado por
um trio elétrico e foi ao Rio de Janeiro para reforçar o lançamento nacional da
música. Em uma semana, a canção passou do sétimo para o segundo lugar nas
paradas de sucesso e foi apresentada no programa televisivo "A Grande Chance".
1972
Um histórico encontro na Praça Castro Alves ocorreu entre Osmar – que tocava
no trio elétrico Caetanave - e Armandinho, que se apresentava em cima do trio
Saborosa, fazendo o "Desafilho".
O Tapajós homenageou Caetano Veloso, pela sua volta do exílio em Londres, com o
lançamento da "Caetanave",um trio com linhas arquitetônicas arrojadas, uma
verdadeira obra de arte que, que com a devida proporção dos tempos, até hoje não
foi superada. Nas ruas, o público pôde apreciar os baianos Gilberto Gil, Caetano
Veloso e Gal Costa em cima do trio.
1974
Depois de uma longa ausência, a dupla Dodô e Osmar retornou ao Carnaval
com uma nova formação – "Trio Elétrico Armandinho, Dodô e Osmar". Na ocasião,
eles gravaram um disco sob o título "Jubileu de Prata", em comemoração aos 25
anos de criação do trio.
O Tapajós – que havia gravado seis LP´s e dois compactos - foi animar o
Carnaval de Belo Horizonte.
1975
Após sua estréia em 1950, a fobica voltou às ruas para comemorar o Jubileu de
Prata do trio elétrico. Uma grande festa foi organizada para homenagear seus
inventores, incluindo um desfile de vários trios elétricos puxados por Dodô e
Osmar. Especialmente montados e decorados para a parada, os trios saíram do
Campo Grande e chegaram até a Praça Castro Alves, onde executaram em conjunto
o "Parabéns a Você". Em seguida, a dupla recebeu o troféu comemorativo ao
jubileu pela criação da "máquina de gerar alegria".
A empresa Souza Cruz contratou dois trios da Tapajós para a cidade do Rio de
Janeiro.
1976
O Tapajós animou os carnavais de Salvador, Belo Horizonte e Santos.
1999
O percussionista Carlinhos Brown retomou o projeto da Caetanave e trouxe um novo equipamento
para as ruas de Salvador
2000
A fobica e seus idealizadores serão mais uma vez homenageados no ano em
que o trio elétrico completa 50 anos de existência
O trabalho dos "afros" e "afoxés" com seus ritmos, cores e batuques, iria, então,
exercer enorme influência nos artistas "criados" em cima dos trios elétricos, que no
início dos anos 80, começavam a fazer suas produções próprias e independentes.
Apesar disso, o sucesso dos novos músicos limitava-se à Bahia, graças ao incentivo
e à parceria fundamentais do estúdio WR, Itapoan FM e TV Itapoan. A hora
deles, no entanto, não deixaria de chegar... Em 1985, a canção " Fricote "-
composta por Paulinho Camafeu e interpretada por Luiz Caldas - explodiu e
derrubou as barreiras existentes na mídia do Sul e Sudeste do País e fez com que o
gênero denominado axé music conquistasse todo o Brasil. Caldas e a banda
Acordes Verdes abriram as portas da indústria fonográfica nacional para a música
baiana. A axé music rompeu uma estrutura sólida e foi responsável pela mistura
de diversos estilos musicais e rítmicos, quebrando conceitos e preconceitos na
maneira de fazer o público dançar, se vestir, se comportar e se distrair. Sem falar
no impulso econômico que deu à economia baiana, através do lançamento e venda
de milhares de CDs, da atração de turistas, da geração de empregos diretos e
indiretos e do crescimento do Carnaval de Salvador.
A explosão das canções baianas foi ainda responsável pela reinserção da música
brasileira nas rádios do País, já que as programações eram recheadas apenas por
sucessos norte-americanos. Foi também após o surgimento da axé music que
apareceram estilos musicais genuinamente brasileiros, como o sertanejo da cidade
de São Paulo, o pagode da cidade do Rio de Janeiro, a lambada do Pará e o pop da
cidade de Recife. Depois do sucesso inicial, o gênero continuou se espalhando e fez
surgir os carnavais fora de época nos quatros cantos do Brasil, as quais vêm se
expandindo a cada ano.
Embora muitas composições tenham sido lançadas nestes 20 anos da axé music,
apresentamos os 20 hits mais tocados nesta trajetória. Fontes: Jornal A Tarde,
Assessoria de Imprensa - Emtursa, W.R., Ricardo Chaves (cantor e produtor do CD
"Luiz Caldas e Convidados - 20 Anos de Axé) e o Jornalista Osmar Martins.