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3.1.

8– Manifestações Patológicas em Estruturas de Concreto Armado

Nas estruturas de concreto de edificações, surgem manifestações


patológicas que são geralmente decorrentes de erros de projetos, de execução e de
utilização.
Dardengo (2010) descreve as principais patologias que surgem nas
estruturas de concreto, extraídos do trabalho de Neville (1989), conforme o quadro 5:

Quadro 5 – Patologias em estruturas de concreto e suas causas


Patologias Causas que produzem a patologia
Corrosão de armaduras Pouco cobrimento, temperatura + umidade,
relação a/c, execução, etc.
Fissuras Deficiência de armaduras, erros de execução,
sobrecargas não consideradas, processo de cura
incorreto, temperatura, etc.
Infiltrações Deficiência na impermeabilização, juntas de
dilatação, retração do concreto, fissuras,
adensamento, relação a/c.
Manchas Porosidade, umidade, materiais utilizados
incorretamente na execução.
Trincas Dilatação térmica, sobrecargas, deformações da
estrutura, recalques, etc.
Nichos de concretagem Relação a/c, deficiência de adensamento, erros de
execução, concentrações de armaduras,
lançamento, etc.
Eflorescência Materiais, umidade, traço, porosidade, etc.
Fonte: Adaptado pelo autor (2014), de Dardengo (2010)

Os cálculos estruturais realizados através de softwares têm


proporcionado estruturas de edifícios mais esbeltas e leves. Isso, juntamente com a
necessidade de construir em prazos menores, e com a escassez de mão de obra (e em
geral pouco qualificada), faz com que haja um aumento significativo de patologias
nessas construções. (OLIVARI, 2003).
Souza e Ripper (1998) consideram que mesmo com a evolução nos
últimos anos das técnicas construtivas e dos materiais utilizados, como os métodos de
projetos, modernização de máquinas e equipamentos, consolidando a tecnologia da
construção, incluindo aí a concepção, a análise, o cálculo e o detalhamento das
estruturas, ainda existem limitações nessa área do conhecimento. Essas limitações se
aliam às falhas involuntárias, imperícia, deterioração, irresponsabilidade e acidentes,
acarretando às estruturas um desempenho abaixo do projetado e esperado. Mesmo as
estruturas bem projetadas, bem construídas e com utilização correta, podem desenvolver
sintomas patológicos.
Os autores dizem que com o crescimento acelerado da construção civil
surgem muitas inovações, que trazem em si, a aceitação implícita de assumir maiores
riscos dentro das regulamentações. Assim, houve um aumento do conhecimento
tecnológico sobre estruturas e materiais, através da observação de erros ocorridos que
levaram à deterioração precoce ou a acidentes. Souza e Ripper (1998, p. 17) consideram
que o concreto, como material de construção, é instável ao longo do tempo, pois altera
suas propriedades físicas e químicas relacionadas aos seus componentes e ao ambiente.
Quando esse processo de alterações compromete o desempenho da estrutura denomina-
se deterioração, e, os agentes agressores são os agentes de deterioração. Essa condição
tem implicação direta na durabilidade e vida útil da edificação.
Segundo Vitório (2002, p. 24), os problemas patológicos nas estruturas
de concreto, comumente se apresentam de forma bem característica e um profissional
experiente “pode deduzir a natureza, a origem e os mecanismos envolvidos, bem como
as prováveis consequências”. O autor considera que o aparecimento de fissuras, trincas,
rachaduras e fendas, que implicam na ruptura do material, traduzem os sintomas mais
comuns verificados nas estruturas e podem ser assim descritos:

fissuras são aberturas em forma de linha, na superfície do material, com espessura até
0,5mm;
trincas são aberturas em forma de linha, na superfície do material, com espessura entre
0,5mm e 1,0mm;
rachadura é uma abertura na superfície do material, com espessura entre 1,0mm e
1,5mm;
fenda é uma abertura expressiva na superfície do material, com espessura superior a
1,5mm.

Souza e Ripper (1998 p.19), considerando as patologias que as estruturas


de concreto podem ter, definem a associação de dois conceitos importantes, que são a
vida útil e a durabilidade, entendendo-se como “durabilidade o parâmetro que relaciona
a aplicação destas características a uma determinada construção, individualizando-a pela
avaliação da resposta que dará aos efeitos da agressividade ambiental, e definindo,
então, a vida útil da mesma”.
Os autores, baseados no documento C.E.B.(Comite Euro-International
Du Beton) – Boletim nº 183 – (1989), destacam o inter-relacionamento entre conceitos
de durabilidade e desempenho, como descrito a seguir: (adaptado pelo autor, de Souza e
Ripper (1989, p. 20)).

Durabilidade

Depende do cálculo estrutural (dimensionamento e detalhamento), dos


materiais (concreto, armaduras), da execução (mão de obra, responsabilidade) e cura
(umidade, temperatura). Esses elementos levam, no concreto, à natureza e distribuição
dos poros. Através da água presente nesses poros tem-se o mecanismo de transporte de
gases e líquidos que pode acarretar:

deterioração do concreto (física, química, biológica);


deterioração da armadura (corrosão).

Desempenho

As deteriorações podem comprometer o desempenho da estrutura nos


seguintes aspectos: resistência (segurança), solidez (servicibilidade) e estética. Dessa
forma, pretende-se que o desempenho das estruturas, observando-se as patologias
provenientes dos agentes agressores de deterioração e os limites permissíveis, seja no
seu todo satisfatório.
Souza e Ripper (1998, p. 28) consideram que nos processos de
deterioração das estruturas de concreto, definir as suas causas ainda é um estudo
complexo e em evolução e seu agrupamento ou similaridade é um assunto discutível.
Apesar disso, surgiram algumas classificações que interagem entre si e
podem ser dessa maneira abordada. Adaptado pelo autor, de Souza e Ripper (1998).
Como mecanismos de danos em estruturas de concreto, têm-se os
descritos a seguir, de acordo com uma cronologia sugerida pela Comite Euro-
Interational Du Beton, CEB (1992), adaptado de (SANTOS, 2003, p.31):

Antes do endurecimento do concreto: dano prematuro por congelamento, retração


plástica, assentamento plástico, movimentação das formas ou também movimentação da
fundação;
Após o endurecimento do concreto podem surgir alterações:

físicas: retração de agregados, retração por secagem, fissura em mapa;


químicas: relacionadas às reações expansivas;
térmicas: devido à retração térmica inicial, gradiente interno de temperatura e
mecanismos de ordem estrutural que são a sobrecarga acidental, fluência e
carregamentos de projeto.

A figura 11, mostra fissuras em viga de concreto armado devido à flexão.

Figura 11 - Fissuras de flexão e cisalhamento em viga

Fonte: O autor (2014).

3.1.8.1 – Patologias em fundações

Brandi (2004) diz que as fundações das edificações são os elementos que
fazem diretamente a interface da obra com o terreno. Para as Habitações de Interesse
Social se torna necessário o bom entendimento dos métodos e técnicas a serem utilizadas
para viabilizar uma fundação adequada a esse tipo de obra. De acordo ainda com o autor,
as patologias em fundações geralmente são oriundas de recalques diferenciais devido à
heterogeneidade dos solos.
As situações de recalques fazem surgir trincas e rachaduras na estrutura
de concreto e alvenarias, nos abatimentos de pisos, podem comprometer o funcionamento
de instalações hidrossanitárias, etc.

3.1.8.2 – Patologias nas estruturas de concreto

Helene (2003), comentando a Nova NB-1/2003 (ABNT-NBR 6118), diz


que as manifestações patológicas nas estruturas de concreto, principalmente a corrosão de
armaduras, têm aumentado consideravelmente. Isso acontece pela perda de proteção
natural das armaduras que tem como mecanismos principais a despassivação por
carbonatação e por elevadas concentrações de íons cloreto. O concreto também sofre
ações do ambiente, que podem deteriorá-lo. Além disso, a utilização de materiais
constituintes inadequados pode gerar incompatibilidade e reações deletérias.
No quadro 6, são descritos os principais mecanismos de deterioração e
envelhecimento do concreto, extraídos do texto de Helene (2003):

Quadro 6 – Mecanismos e sintomas da deterioração do concreto


MECANISMOS SINTOMALOGIA
Lixiviação: por águas puras, carbônicas agressivas Superfície arenosa, agregados expostos,
e ácidas. eflorescência de carbonato, redução do PH e
despassivação da armadura.
Expansão: por ações de águas e solos com Superfície com fissuras aleatórias, esfoliações e
sulfatos. reduções de dureza, redução do Ph e despassivação
da armadura.
Expansão: por reação Álcali-Agregado (RAA). Expansão geral da massa do concreto com fissuras
superficiais, profundas e aleatórias.
Reações deletérias, por transformações de Manchas de ferrugem, cavidades e protuberâncias
produtos ferruginosos na constituição nas superfícies dos componentes do concreto.
mineralógica do agregado.
De passivações por carbonatação da armadura Manchas, fissuras, destacamento de pedaços de
concreto.
Despassivações por elevado teor de íon cloro. Manchas, fissuras, destacamento de pedaços de
concreto.
Fonte: o autor (2014), adaptado de Helene (2003).
passivações
Cavaco (2008) cita o processo construtivo das edificações, ou seja, a
construção civil, envolve três etapas básicas que são: concepção, execução e utilização,
enumeradas por Ripper (1998).
O quadro 7 descreve as patologias geradas nas etapas citadas
anteriormente:

Quadro 7 – Mecanismos e sintomas de deterioração do concreto.


FASES
Concepção da estrutura Execução da obra Manutenção
Estudo preliminar deficiente. Iniciar serviços sem o término Utilização inadequada.
Anteprojetos equivocados. completo da concepção. Falta de manutenção eficiente.
Má definição de ações atuantes. Falta de condições locais de Não atendimento às limitações
Falta de compatibilização dos trabalho (cuidados e da obra.
projetos. motivações). Desconhecimento técnico.
Especificações inadequadas. Mão de obra sem capacitação. Problemas econômicos.
Detalhes construtivos Falta de controle de qualidade. Desleixo.
inexequíveis. Falta de fiscalização.
Erros de dimensionamento.
Fonte: o autor (2014), adaptado de Cavaco (2008).

Pelo já exposto, entende-se que as principais patologias nas estruturas de


concreto armado podem assim ser enumeradas (CAVACO, 2008):

Fissuração: tendo como causas: contração plástica do concreto, assentamento do


concreto com perda de aderência das barras das armaduras, movimentação de formas e
escoramento, retração do concreto, recalques de fundações, variação de temperatura,
ações aplicadas, desagregação do concreto, ataques biológicos;
Carbonatação do concreto: dissolução do anidrido carbônico (CO2) no cimento
hidratado com mudança do
do concreto para valores até abaixo de 9:
Corrosão das armaduras: que é a deterioração de um material por ação química ou
eletroquímica do meio ambiente aliada ou não a esforços mecânicos. Nas figuras 13(a) e
(b) são mostrados exemplos de corrosão em armaduras.

Figura 13 (a) e (b) – Corrosão em armaduras em pilar com destacamento do concreto.

Fonte: O autor (2014).

Fonte: O autor (2014).

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