No início do regime militar no Brasil, em 1964, o desenvolvimento industrial passou
por diversas mudanças. Houve uma grande desvalorização do salário frente ao custo de vida, com foco no salário mínimo, que foi muito reduzido; houve também uma quase que eliminação do direito à estabilidade no emprego; esses dois fatores se tornaram extremamente negativos devido a grande dificultação da organização de greves e lutas sindicais, fazendo com que fosse impossível para os trabalhadores buscarem por mudanças. Nesse contexto, os grandes empregadores foram altamente favorecidos salarialmente. E, mais ainda, os setores onde predominavam as grandes firmas que empregavam técnicas sofisticadas e portanto requeriam mão-de-obra administrativa e técnica especializada, que foram muito incentivados economicamente. Com isto, a demanda por técnicos, administradores e profissionais liberais cresceu mais que a oferta desses tipos de trabalhadores, levando a uma grande elevação de suas rendas. Isto gera uma concentração de renda, com um aumento da desigualdade entre os salários dos empregados de nível elevado, que se encontravam em pequenas quantidades, e os da grande maioria dos trabalhadores adestrados e não-qualificados, que se encontravam em grandes quantidades. Um trabalho de Carlos Geraldo Langoni, comprovou esse aspecto de concentração da renda, a partir do aumento da diferença entre a renda média dos vários níveis educacionais entre 1960 e 1970. Foi possível ver que em 1960, as pessoas que possuíam escolaridade de nível superior tinham renda 10 vezes maior que a dos analfabetos. E, nesse período, a renda das pessoas com escolaridade de nível superior subiu 51%, enquanto as pessoas analfabetas permaneceram com a mesma renda. Assim, em 1970, os de nível escolar superior recebiam um salário mais de 15 vezes maior que o dos analfabetos. Mostrando, desse modo, as grandes desigualdades sociais da época ditatorial no Brasil. A crescente desigualdade de renda entre grupos de escolarização diferentes gerou o surgimento de uma “nova” classe média, composta por pessoas assalariadas de elevadas rendas. Através dela, expande-se a procura por bens de consumo duráveis e há um aumento de serviços pessoais. Assim, essa classe média alta e a classe alta empregam uma parte considerável da força de trabalho que não é absorvida pela grande empresa, com serviços como empregados domésticos, lavradores e guardadores de carros, jardineiros, cabeleireiros, garçons de restaurante de luxo e muito mais. Com estes aspectos e dados, é possível ver como a distribuição da riqueza gerada pelo desenvolvimento industrial ocorrido no início do regime militar foi altamente desigual e com a ditadura militar sendo marcada por uma população composta, majoritariamente, por pessoas analfabetas e de baixa renda.