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1. RESUMO
2. INTRODUÇÃO
O indivíduo ao longo dos séculos buscou maneiras de manifestar o seu olhar diante
da realidade, por meio da música, dança e poesia. Na contemporaneidade isso se
mantém, com as formas artísticas, poemas contemporâneos, pinturas, grafites, pois o
ser humano por viver em um tempo histórico e social tem a necessidade de expressar
o seu estar no mundo, como o descontamento diante de um tempo injusto e
conturbado, como ocorre com Andresen e Drummond. Para Bosi (2000) o poema
projeta na consciência do leitor imagens do mundo e do homem muito mais vivas e
reais do que as forjadas pelas ideologias, o poema acende o desejo de uma outra
existência mais livre e mais bela. A poetisa Sophia Breyner e o poeta Drummond
realizam exatamente isso, desenham as imagens de seu mundo e da realidade que
vivem.
Segundo Paz (1982) a poesia é revelação da condição humana e consagração de
uma experiência histórica e concreta. Assim, o poeta pode utilizar o poema para falar
do seu tempo histórico, marcado muitas vezes pela instabilidade social e política, e a
poesia para o poeta é meio de sobrevivência, pois converte a sua visão de desprazer
diante de sua realidade no interior do poema. Diante disso, Sophia de Mello Breyner
revela a sua condição humana marcada pela realidade de seu tempo com a ditadura
Salazarista (1933- 1974), ou seja, por meio de sua poesia, Andresen tem o poema
como meio de ver o mundo e busca a liberdade dentro desse tempo incerto. De
maneira análoga, Carlos Drummond de Andrade possui poemas que também revelam
a sua condição no mundo diante da realidade permeada pelas guerras, como a 2ª
Guerra Mundial.
Para Bakhtin (1997) o homem tem uma necessidade estética absoluta do outro, da
sua visão e da sua memória, que são capazes de lhe proporcionar um acabamento
externo, isto é, a memória estética do outro gera o homem. Isso confere mencionar
que um poema não surge isolado, mas há um dialogismo, pois o poeta ao elaborar o
seu poema precisa da visão de outra pessoa, que confere dizer que Andresen e
Drummond possuem diálogos e semelhanças poéticas que serão analisadas, e que
ambos têm a poesia como meio de se inserir no mundo e interpretá-lo. Assim sendo,
o tema deste estudo se dá pelo conhecimento desses diálogos entre eles, visto que,
a presença de trabalhos que analisam Andresen e Drummond a partir da ótica do
tempo histórico são reduzidos, e verificar esses diálogos possibilitam entender a
importância do poema como necessidade humana de recompor os olhares sobre a
História.
A hipótese dessa pesquisa parte de que é possível notar os diálogos poéticos entre
Andresen e Drummond, os quais mostram sujeitos poéticos descontentes com o seu
tempo, o homem e a História.
Este trabalho está estruturado primeiramente na função social do poema e suas
relações com a História, qual é a voz do poema e como se dá essa voz em Andresen
e Drummond, posteriormente partir-se-á para a compreensão dos diálogos entre os
poemas dos autores, com a seguinte divisão: poema “Data”, de Sophia Andresen a
ser comparado com o poema “Os Ombros Suportam o Mundo”, de Carlos Drummond
de Andrade, o poema “Este é o tempo”, de Andresen a ser comparado com o poema
“Anoitecer”, de Drummond, ao final serão apresentados os resultados obtidos e as
considerações finais.
3. OBJETIVOS
4. METODOLOGIA
5. DESENVOLVIMENTO
5.1 A função social do poema e o seu lugar no mundo, a voz do poema, e como
essa voz se dá em Andresen e Drummond.
Data
Nota-se que o tempo também é sombrio no poema, construído pela visão que o sujeito
poético tem da inutilidade do amor e a sequidão do sentimento por conta desse tempo.
Essa ambientação de desprazer é configurada pelas expressões: “ficaste sozinho (2ª
estrofe), guerras, fomes, discussões (3ª estrofe). Além disso, esse tempo que o poema
fala é configurado por um indivíduo que não deve esperar nada de seu amigo e nem
da velhice, pois tais ações não têm mais importância em um tempo cercado pelas
guerras. Não obstante, percebe-se que a palavra “tempo” é repetida cinco vezes, que
acentua um contexto difícil e duro para o eu poético.
Desse modo, tanto o poema “Data”, de Sophia como o poema “Os Ombros Suportam
o Mundo”, de Drummond é possível analisar e verificar a presença de um tempo
injusto e incerto, e um sujeito poético descontente diante dessa realidade.
O poema “Este é o tempo”, de Andresen, inserido na obra Mar Novo (1958) novamente
possui um eu poético que concebe o tempo como um evento obscuro e impuro.
Este é o tempo
Da selva mais obscura
Esta é anoite
Densa de chacais
Pesada de amargura
ANOITECER
A Dolores
É a hora do descanso,
mas o descanso vem tarde,
o corpo não pede sono,
depois de tanto rodar;
pede paz — morte — mergulho
no poço mais ermo e quedo;
desta hora tenho medo.
Hora de delicadeza,
gasalho, sombra, silêncio.
Haverá disso no mundo?
Ê antes a hora dos corvos,
bicando em mim, meu passado,
meu futuro, meu degredo;
desta hora, sim, tenho medo. (DRUMMOND, 2000).
Na segunda estrofe, a palavra “pássaro”, como elemento natural auxilia a
compreensão desse tempo que não traz mais pássaros, ou seja, denota a dissipação
desses seres pela realidade, restando apenas as multidões cansadas e exaustas,
expressa na primeira estrofe em que a hora não é marcada pelo sino, mas sim pelos
apitos aflitos e sirenes que denotam um desespero e tom eufórico causados pelas
guerras. Dessa maneira, verificam-se os possíveis diálogos entre o poema “Este é o
tempo”, de Sophia e o poema “Anoitecer”, de Drummond em que a presença de um
tempo sombrio se faz presente em ambos os poemas, além de possuir um “eu”
descontente diante dele, embora a linguagem em cada poema seja singular para cada
poeta.
6. RESULTADOS
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
ANDRADE, Carlos Drummond de. A Rosa do Povo. 21. ed. Rio de Janeiro: Record,
2000. 214p. [recurso eletrônico].
______. Sentimento do Mundo. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
86p.
ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner. Coral e outros poemas: seleção e
apresentação Eucanaã Ferraz- 1ª ed.- São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
BAKHTIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes,
1997. 421p.
BOSI, Alfredo. O ser e o tempo da poesia. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras,
2000. 280p.
CEIA, Carlos. Iniciação aos Mistérios da Poesia de Sophia de Mello Breyner
Andresen. 2. ed. Createspace Independent Publishing Platform, 2018. 222p.
LE GOFF, Jacques. História e memória. São Paulo: Editora da Unicamp, 1990.
[recurso eletrônico].
MOISÉS, Carlos Felipe. Poesia para quê? A função social da poesia e do poeta.
São Paulo: Editora Unesp, 2019. 295p.
PAZ, Octavio. O Arco e Lira; Tradução de Olga Savary. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1982.
GALVÃO, Sonia Melchiori et ali. Manual de orientação de trabalhos acadêmicos.
Faculdade de São Bernardo do Campo. São Bernardo do Campo: FASB, 2018.
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. - São Paulo:
Atlas, 2002. [recurso eletrônico].