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RESTAURANDO OS SOLDADOS

Com o reintegrar na fé e na com unhão do


Corpo os caídos, os feridos e os desanim ados

PUBLICAÇÕES
w w w .v isao m d a.co m
C opyright © 2010 P astor Abe H u b er

Direção Geral
Abe Huber
Coordenação Editorial
Ivanildo Gomes
Capa
João Augusto Sá
Digitação de Manuscritos
Whodson (Abraão) Custódio
Revisão
Bia Paiva
Diagramação
Will Rodrigues
M ontagem e Gravação
Carlos Antônio

Av. Washington Soares, 2800 - Luciano Cavalcante


CEP: 60.811-341 - Fortaleza - CE
Site: www.visaomda.com
Filiada à

ASSOCIAÇÃO CEARENSE DOS ESCRITORES


C3L
Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil
Dados de Catalogação na Publicação (CIP)

RSTTr Huber, Abe. Pr.


Restaurando os soldados feridos/ Abe Huber
- Fortaleza: Premius, 2010
108p.
ISBN 978-85-7564-509-3
l.Eclesiologia. 2. Espiritualidade 3. Restauração.
I. Título.
CDU 2-175.6
D ed ic a tó r ia

Dedico este livro a todos os restauradores fiéis que se


esforçam por trazer de volta os soldados feridos, e que por isso
mesmo acumulam para si grande conceito junto ao Quartel-
General do Supremo Comandante;
Dedico-o, com toda a alegria, àqueles soldados que,
mesmo já tendo sido feridos, não se deixaram abater pelo pecado,
pela vergonha, pela mágoa, pelo desânimo ou pela sedução do
inimigo, mas voltaram a combater o bom combate nas fileiras
do General Jesus.
A g r a d e c im e n t o s

Em primeiro lugar, ao Rei e Comandante Jesus, que nos


arregimentou para a guerra, e a Quem queremos agradar, não
nos envolvendo em negócios desta vida;
Aos meus discipuladores e cobertura espiritual - Pastores
Paulo e Rebeca H ru b ik - que, juntamente com o Espírito Santo,
não me deixam cair, mas me restaurariam com todo o amor do
mundo e do céu, se fosse necessário;
A todos os valentes de Deus que combatem comigo o bom
combate do Evangelho, na sublime tarefa de ganhar multidões
para Cristo e cuidar bem de cada pessoa.
'
Restaurando os Soldados Feridos

“Sofre, pois, comigo, as aflições, como bom soldado de


Jesus Cristo. Ninguém que milita se embaraça com
negóciosdesta vida, afim de agradar àquele que o
alistou para a guerra”.
(Paulo de Tarso, em II Timóteo 2.3,4).

9
S u m á r io
APRESENTAÇÃO | 13
INTRODUÇÃO | 15
Entendendo as baixas no exército | 17
Papel da igreja com relação aos santos | 19
Tiago e a igreja judia do primeiro século | 21
Situação dos desviados no Brasil | 23
Dados sobre conversão e desvio no mundo | 26
Sintomas da tendência de matar os soldados feridos | 29
Esquecer todas as coisas boas que os soldados feridos já
fizeram no passado | 31
Condenar os soldados feridos | 33
Julgar a pessoa e falar mal dela na sua ausência | 36
Simplesmente ignorar o soldado | 39
O coração restaurador do bom samaritano | 41
Como restaurar os soldados feridos | 48
Exemplos poderosos de restauração | 57
U m samaritano dos dias modernos | 59
Outro samaritano dos dias modernos | 62
O seu Rei precisa de você | 64
“Soldados Feridos” - música da Alda Célia | 67
Davi e a Caverna de Adulão | 69
Adulão é lugar de reagrupamento e restauração familiares | 72
Adulão é local de profundidade | 72
Adulão, local de quebrantamento e humilhação | 73
Paradoxalmente, Adulão é lugar de reis | 73
Adulão é local de refúgio para soldados feridos | 74
Adulão é lugar de mudança de reino e liderança | 75
Outros soldados que Davi restaurou | 77
O soldado doente dos amalequitas | 81
Um a lição das formigas como soldados | 84
Os soldados cansados de Davi | 85
Os soldados de Davi depois da caverna | 93
Os valentes não se assustaram diante do tamanho do
inimigo | 97
Os valentes eram movidos por uma imensa
persistência | 97
Os valentes defendem aquilo que conquistaram | 98
Os valentes realizam tarefas além das expectativas | 98
Os valentes não tomam para si a glória de Deus | 99
Os valentes servem independente das recompensas | 99
Novos gigantes - novas batalhas | 100
CONCLUSÃO | 105
!
A presenta çã o

“Quem há semelhante ao SENH OR, nosso Deus, cujo


trono está nas alturas, que se inclina para ver o que se
passa no céu e sobre a terra? Ele ergue do pó o desvalido
e do monturo, o necessitado, para o assentar ao lado dos
príncipes, sim, com os príncipes do seu povo” (SI 113.5-8).
Os atributos do Senhor acima descritos no Antigo
Testamento vão ficar claramente evidenciados na pessoa e na
obra de Jesus no Novo Testamento. E como Ele é seguido por
discípulos que O imitam e fazem a Sua vontade, é correto dizer
que muitos homens e mulheres de Deus hoje são instrumentos
santos para resgatar outros do pó e do monturo.
Para mim é uma grande honra poder apresentar este livro.
Faltam-me palavras para descrever a dimensão da graça de Deus
que habita no Pastor Abe, assim como a abnegação e o amor que
ele tem por Deus e pelas pessoas.
Creio que tenho autoridade para falar sobre o Pastor
Abe e o tema, pois sou um soldado ferido que foi restaurado e
reintegrado à frente de batalha. Ele acreditou em mim quando
nem eu mesmo acreditava. Semelhante ao salmista do texto
acima, eu fui tirado do pó e do monturo e colocado ao lado de
13
Pr. Abe Huber

príncipes. Para mim, Pastor Abe é o maior príncipe ao lado de


quem eu me assento constantemente. E não há maior honra
neste mundo. Sou pastor ao seu lado há vários anos.
Acredito que este livro é muito importante para a
comunidade evangélica brasileira. É um tema dos mais urgentes
e necessários nos dias atuais. Se todos nós, pastores e líderes,
agíssemos de acordo com os princípios abordados pelo pastor
Abe neste livro, não teríamos um número tão grande de
desviados em nossa nação.
O Pastor Abe escreve com a autoridade de quem vivência
todos esses princípios e valores. Ele primeiro experimentou toda
essa realidade na prática; viveu para depois escrever. Para mim
ele é o maior referencial de pastor que eu conheço, que ama e dá
a vida pelas ovelhas. E é esse coração que tem feito a diferença
no ministério do pastor Abe e no crescimento de nossas igrejas.
Alegra-me poder encorajar cada pessoa que tem acesso
a este livro a fazer não somente uma leitura de seu texto, sem
preconceitos ou atitudes defensivas, mas a ler também a alma e
o coração do autor que pulsa em cada página, cada linha. Uma
leitura profunda vai trazer mais entendimento e compromisso,
ajudando-nos a colocar em prática a mensagem apresentada.
Acredito que a leitura integral deste livro pode suscitar
um batalhão maior de “restauradores”. Sei que muitas igrejas e
líderes já fazem isto com bastante propriedade, mas um estímulo
e um desafio como é este livro só vai aumentar a chama de amor
e cuidado que já está acesa, ou começar um fogo onde ele ainda
não existe. Deixe o Espírito Santo e o Pastor Abe falarem ao seu
coração através das páginas deste livro. Deus quer fazer de nós
verdadeiros restauradores de soldados feridos. Ao combate!
Pastor Sandro Oliveira
Discípulo do Pastor Abe
Vice-Presidente da Igreja da Paz Fortaleza
14
I n tr o d u ç ã o
O Comitê Olímpico Internacional realiza periodicamen­
te várias competições pelo mundo. Há os Jogos de Verão, que
são os maiores e mais famosos, mas há também as Olimpíadas
de Inverno e as Paraolimpíadas, estas voltadas para os portadores
de necessidades especiais.
Há alguns anos os Jogos Paraolímpicos aconteceram na
cidade de Seattle. Ali, nove participantes, todos física ou mental­
mente deficientes, se reuniram na linha de largada para a corrida
dos 100 metros. Quando foi dado o tiro de largada, todos eles
saíram apressados, não exatamente em disparada, mas com a dis­
posição de terminar a corrida e vencer.
Todos avançavam bem na corrida, menos um menino
que tropeçou no asfalto, caiu umas duas vezes e começou a cho­
rar. Os outros oito ouviram o menino chorando. De repente eles
diminuíram a velocidade e pararam. Então, todos eles se viraram
e voltaram. Cada um por sua conta.
Uma menina com Síndrome de Down curvou-se, bei­
jou-o e disse: “Isso vai fazer a dor passar”. Em seguida, os nove se
deram os braços e andaram juntos até a linha de chegada. Todo
mundo no estádio se levantou, e os aplausos duraram por dez
minutos.

15
Pr. Abe Huber

Aqueles jovens podiam até ser deficientes do corpo e da


mente, mas não eram deficientes de amor, de compaixão, de mi­
sericórdia. de sensibilidade. A pior doença de que alguém pode
padecer é a insensibilidade. Ao 1er esse relato, quase dá para ouvir
o que Jesus disse para o intérprete da lei que acabara de ouvir a
parábola do Bom Samaritano: “Agora vai tu eprocede de igual modo”
(Lucas 10.37).
Esta história é uma lição poderosa que nos leva a repensar
o nosso viver cristão, a dimensão do nosso amor e compaixão,
para que possamos repartir com os outros as ricas bênçãos pro­
venientes do coração compassivo de Deus. Ele tem derramado
sobre nós graça sobre graça, e, mesmo sem merecermos somos
premiados com todas as dádivas do Seu tesouro, simplesmente
porque Jesus resolveu nos amar, confiar em nós e investir tudo
em prol da nossa salvação e sucesso aqui na Terra.
Este livro nos conclama a uma tomada de decisão. Ele é
dedicado aos cristãos maduros, líderes que estão em posição e
condição de restaurar aqueles que se decepcionaram, se desvia­
ram, foram para o mundo e se apartaram da presença de Jesus e
da comunhão do Seu corpo.
Este livro nos desafia ainda a rever as nossas motivações,
reavaliar o nosso compromisso com Deus e com os nossos ir­
mãos, e partir para ações concretas de amor e resgate. Como
soldados, nosso objetivo maior é agradar Aquele que nos alistou,
e junto com Ele recuperar os territórios perdidos para o inimigo.
Começando pela nossa casa, pelos mais de perto, continuaremos
com os nossos amigos e irmãos afastados, pois somos agentes de
reconciliação, para a glória de Deus.

16
C apítu lo 1

ENTENDENDO AS BAIXAS
NO EXÉRCITO

17
'
Restaurando os Soldados Feridos

Existem muitos homens e mulheres de Deus que amam


ao Senhor Jesus sinceramente, de todo o coração, mas que em
dados momentos da vida já levaram uma rasteira do diabo, um
contra-ataque do inimigo, e de repente se encontram feridos,
sangrando pelo caminho da vida. Eles, que outrora estavam
sendo grandemente usados por Deus nos campos de batalha,
agora, de repente, se veem feridos, rejeitados, com um peso na
consciência por haverem pecado contra Deus. Por esse motivo
tais pessoas vão para o fundo do poço, e de lá não sairão, a menos
que outros soldados façam o seu resgate, deem-lhes a mão.
PAPEL DA IGREJA COM RELAÇÃO AOS SANTOS
Agora, qual deve ser a nossa atitude em relação a esses
irmãos que se encontram feridos pelo pecado? Nossa reação
deve ser de restauração. A igreja é apresentada na Bíblia como
uma família. Somos irmãos em Cristo e filhos do mesmo Pai
se já tivermos entregado nossas vidas a Deus. Daí que, sendo
família, temos responsabilidades de uns para com os outros.
Não podemos ser como Caim, para quem Deus perguntou:
“Onde está Abel, teu irmão?” E ele respondeu: “Não sei: Acaso sou
eu guardião, do meu irmão?” (Gênesis 4.9). O Senhor queria que
ele soubesse, que se sentisse responsável, que tivesse prazer na
companhia e no sucesso do outro diante de Deus. Mas não; ele
respondeu com uma pergunta que era, ao mesmo tempo, uma
atitude de afastamento, de descompromisso, de indiferença. A
tal ponto que tinha matado o seu irmão e parecia não sentir nada
com relação a isso.
A posição de Deus para ele era a seguinte: “Sim, você é
guardião do seu irmão. Você é mais velho do que ele, e por isso mesmo
deve velar pelo seu bem-estar, ajudá-lo nas suas lutas, alegrar-se com o
sucesso dele, apoiá-lo para crescer”. A posição de Deus para nós, hoje,
é a mesma: nós somos guardiões do nosso irmão em termos que
19
Pr. Abe Huber

jgrar por ele, discipulá-lo na verdade, conduzi-lo à maturidade


^cristã, ajudá-lo a crescer até à estatura de Cristo. Devemos estar
preparados para quando Deus nos perguntar: “Gude está teu
irmão?”
A igreja é comparada a um exército, guerreando
contra o mal, debaixo do General J.C. (Jesus Cristo). Em outras
situações, a própria Bíblia nos compara a um corpo. Dessa
maneira, somos membros uns dos outros. O pé não pode dizer
à mão: “eu não preciso de ti”. Precisamos um do outro a cada dia,
independente do quanto gostemos ou não dessa interligação
que há entre nós e nossos irmãos. O que você precisa entender
é que somos singular, únicos, especiais e importantes para
preenchermos alguma lacuna na vida de outra pessoa, e
imprescindíveis para o crescimento do corpo de Cristo.
A igreja se compara também a uma escola, onde
todos nós somos alunos. Estamos sentados aos pés do Espírito
Santo, sempre crescendo e aprendendo mais. N o entanto,
gostaria de fazer uso aqui de uma analogia entre a igreja e um
hospital. Neste, o povo de Deus deve servir sempre como agentes
de saúde em um pronto-socorro, de plantão vinte e quatro horas
por dia, para restaurar as pessoas feridas na vida.
Existem muitas pessoas sangrando, cujas vidas foram
despedaçadas em muitas áreas de seu viver. Por isso nós, como
povo de Deus, devemos servir como agentes de um verdadeiro
hospital. Quando a pessoa se sente derrotada, fraca, cabisbaixa,
pecadora e frustrada na vida, ela fala que não vai à igreja porque
se considera um errante pelos caminhos da vida. Eu gosto de
dizer que a igreja é um lugar para você que se enquadra nessas
situações.
A igreja é um hospital que pode trazer a cura para
todos os doentes (tanto espiritualmente, como até mesmo dos
enfermos no corpo físico). Pobre é o homem que pensa não
precisar de alguma cura, restauração e transformação em sua
20
Restaurando os Soldados Feridos

vida, por menor que seja. Todos nós precisamos de ajuda, de cura,
restauração. Felizes são o homem e a mulher que reconhecem
que precisam de mais cura, que dependem do tratamento de
Deus, desse santo hospital que se chama a igreja do SenhorJesus.
A igreja não é um hospital somente para as pessoas de fora,
mas também para os que fazem parte dela, ou seja, aqueles que
estão dentro. Muitas vezes nossas igrejas estão cheias de pessoas
que precisam de cura. São soldados valentes que trabalharam
muito para Jesus, mas que, de repente, pisaram na bola, levaram
uma rasteira do inimigo e estão precisando de um ombro amigo,
do hospital para tratamento e cura.
Nós temos que ser essa igreja-Jiospital. apta para
promover cura e restauração para os soldados feridos. Nossa
fé autêntica deve estimular, procurar e celebrar a restauração
de quem se desviou da verdade do Senhor. Seja um desvio no
sentido de incorrer em erros de fé e de ensino, seja no sentido
moral, de caminhada, de caráter.
TIAGO E A IGREJA JUDIA DO PRIMEIRO SÉCULO
Veja o que o apóstolo Tiago escreve em seu livro:
“Irmãos, se algum dentre vós se tem desviado da
verdade, e alguém o converter, saiba que aquele que
fizer converter do erro do seu caminho um pecador,
salvará da morte uma alma, e cobrirá uma multidão
de pecados” (Tiago 5.19-20).
Por aqui vemos o chamado fantástico e a oportunidade que
Deus dá, não somente para os pastores e líderes de células, mas
para todo seguidor de Jesus, 4e ser um r.estaunidor de brechas;
de restaurar os soldados feridos e ajudar aquele irmão que se
desviou da verdade. Converter essa pessoa do seu pecado e do
21
Pr. Abe Huber

caminho errado, salvar a sua alma da morte e cobrir multidão de


pecados: eis aqui um grande privilégio que Deus tem-nos dado!
Tiago escreveu para os cristãos judeus da Diáspora.
Diáspora é uma palavrinha que significa “dispersão ”, referindo-se
aos judeus que foram espalhados por todo o Império Romano
desde os tempos do Cativeiro Babilónico, e agora moravam por
todas as províncias. Muitos deles agora eram cristãos, como
resultado provável da mensagem de Pedro no dia de Pentecostes,
quando muitos deles estiveram lá para a festa e se converteram
pela ação do Espírito Santo. Eles voltaram para seus lugares de
origem e lá continuaram a seguir a Jesus, talvez ajudados por
equipes apostólicas e missionários itinerantes, como Tiago e
Pedro. Mas, com o tempo, começaram a sofrer dificuldades.
N o caso do texto citado acima, os cristãos da Diáspora
aparentemente tinham inúmeros motivos que podiam usar
como argumento para justificar o seu desvio da caminhada
cristã. Podiam desviar-se por incredulidade, por frieza espiritual,
ou talvez por não terem sido bem cuidados, devido à vastidão
do Império. Poderiam ter-se afastado pela expectativa de um
favor ou benefício divino não alcançado de imediato, por falta
de convicção religiosa, por desentendimentos internos, pela
busca por poder (cargos e posições) ou favorecimentos não
obtidos. Podiam estar se desviando por se sentirem injustiçados,
magoados diante de constrangimentos, ou por terem sido
vítimas da acepção de pessoas, ou ainda por se julgarem alvo de
atitudes erradas por parte de líderes ou pessoas que deveriam
agir obrigatoriamente de outra maneira - mais madura e mais
amorosa.
A Bíblia foi escrita para os cristãos de todos os tempos. E
embora eu saiba que o retrato dos cristãos judeus para quem Tiago
escreveu se repete ainda hoje, eu sei também que o outro lado
é verdade. Eu pessoalmente conheço muitos e muitos cristãos e
líderes na igreja que não procedem da maneira denunciada por
Tiago. Mas, infelizmente, esta tem sido a realidade em muitos
outros casos.
22
Restaurando os Soldados Feridos H»

SITUAÇÃO DOS DESVIADOS NO BRASIL


Com base nas taxas de crescimento do número de
evangélicos no Brasil, calcula-se que sejamos uma população
crente de mais de 40 milhões. Mas destes, quantos já foram
eficazmente consolidados na igreja? Quantos compreenderam
os princípios básicos e elementares da fé cristã e foram batizados?
Quantos foram ou estão sendo discipulados, acompanhados por
outros cristãos que lhes ajudam a avançar na fé e crescer na graça
e no conhecimento de Jesus? Quantos ainda estão na igreja?
Não existem dados oficiais quanto à permanência dos
crentes na igreja brasileira, mas a experiência prática tem sido
arrasadora na maioria das igrejas. Ainda que o número de
desviados continue oficialmente desconhecido e indisponível,
calcula-se que há entre 30 e 40 milhões de pessoas que se
desviaram do evangelho no Brasil, por motivos os mais diversos
possíveis.
Alguém disse certa vez que “a igreja é o único exército que
Jem tendência a matar seus feridos” . Ela é também o único exército
do mundo cujos soldados não voltam para buscar seus feridos
no campo de batalha. Ao contrário, substitui-os rapidamente
no batalhão e segue em frente, esquecendo-se de que muitos
soldados de valor ficaram à beira da morte, pelas trincheiras.
Não há dados oficiais com relação à situação dos
desviados no Brasil, mas há muita preocupação e estudos sobre
o assunto hoje em dia. O pastor Sinfrônio Jardim Neto, de Belo
Horizonte, é dos que têm estudado e escrito extensivamente
sobre o assunto.
O pastor Sinfrônio e outros dizem que há muita gente
desesperada por uma nova chance, mas não tem a quem recorrer.
Eles sabem que o único lugar onde encontrariam novamente a
paz para suas almas é a igreja, mas parece que os “irmãos m ais velhos
d o jilho pródigo ” não estão verdadeiramente abertos e prontos para
o seu retorno.
23
Pr. Abe Huber

Muita gente foi expulsa sumariamente das igrejas. Seja


porque inadvertidamente cortaram os longos cabelos ou porque
caíram em erros considerados “sem volta” por sua igreja, como
o adultério. Foram disciplinados, envergonhados publicamente,
afastados da comunhão e, muitas vezes, excluídos totalmente do
rol de membros.
Para os que passaram pelas situações descritas acima,
voltar é um passo difícil e, em algumas situações, impossível.
A própria igreja discrimina os desviados - essa é uma triste
constatação. O desviado é como uma jóia de ouro que caiu
na lama. Está toda suja, mas ainda é ouro c prccisa de gente
interessada, garimpeiros que estendam a mão e vasculhem até
encontrá-lo.
O pastor Sinfrônio diz que uma igreja de 200 membros
perde outros 400 em 10 anos. A constatação é que, para cada
crente que fica firme, depois de 10 anos, há outros dois que
se desviaram completamente, sem contar os que mudaram de
igreja.
Existem casos de irmãos que foram expulsos da igreja
porque não usavam chapéu. Mulheres são afastadas por terem
cortado o cabelo, pintado as unhas, usado calças compridas.
Homens são disciplinados por terem deixado crescer a barba,
usado bermudas, jogado futebol e até por terem sido vistos
andando de bicicleta.
As falsas profecias levam muitos ao desvio. Pode ser
que alguém profetizou a cura de um filho doente, e o menino
morreu. Pode ser uma direção para casar com determinada
pessoa, e aí os dois casam, mas o casamento não dá certo.
A decepção com lideranças tem feito muitos
tropeçarem. Acontece de o membro procurar alguém para
confessar uma fraqueza ou pecado e, em vez de perdão e ajuda
para vencer o mal, recebe a maior condenação.

24
Restaurando os Soldados Feridos m

Existe também toda uma propaganda bonita que algumas


igrejas fazem na mídia. As pessoas querem prosperidade e so­
luções imediatas, aqui e agora, sem entenderem as implicações
do discipulado. Querem sair do mundo, mas ao mesmo tempo
conservgi ,um.estilo de vida pecaminoso.
Existe ainda muita gente desviada por decepção contra
-----------------““ i" M U H M M M jM M M M m M U

o próprio Deus. A pessoa é crente fiel e, de repente, alguém a


quem ela ama morre. Ela pode culpar a Deus pelo infortúnio.
Age como se Deus tivesse sido ingrato para com ela.
As pesquisas mostram que q uando os desviados não são visi­
tados, a condenação em suas mentes e coração se torna ainda maior.
A pesquisa do pastor Sinfrônio mostra que entre 60% e 70%
dos desviados não recebem qualquer visita de líderes ou
membros após sair da igreja. São simplesmente descartados
ou substituídos por outros membros. Os outros 40% ou 30% de
desviados recebem de uma a três visitas, só que na maioria das
vezes é uma visita de cobrança ou condenação. Em vez de amar
o pecador e odiar o pecado, os visitantes apedrejam os dois, tra­
zendo mais condenação.
Hospícios e presídios estão lotados de ex-crentes.
Em muitos deles você encontra gente internada que recita ver­
sos bíblicos e canta canções cristãs. U m dia eles caíram em peca­
do e os demônios tomaram conta de suas vidas. Basta visitar um
presídio e encontraremos inúmeros josués, elias e samuéis. De­
tentos com nomes bíblicos, o que demonstra um berço cristão.
Quando você começa a conversar com um deles, descobre que é
filho de presbítero de igreja.
Em cada 10 mendigos que andam com sacos de bugi­
gangas nas costas, próximo a rodoviárias e estações de trem - ou
próximo aos mercados e portos-trapiches da Amazônia - pelo
menos três já participaram de uma igreja cristã. Você até encon­
tra entre eles homens que um dia ocuparam solenes púlpitos e
pregaram o evangelho.

25
Pr. Abe Huber

Uma grande causa para os desviados não retorna­


rem é a falta de perdão. Não perdoam a si mesmos, nem per­
doam aos outros. Muitos estão magoados com o próprio Deus e
O culpam por tudo. Outra causa é a maioria das igrejas não pos­
suir qualquer trabalho voltado para resgatar os desviados. M ui­
tos chegam a usar versos bíblicos para justificar o esquecimento.
“Saíram de nós porque não eram dos nossos...” é um dos mais citados.
É triste saber que a maioria dos desviados (acima de 50%) é afe­
tada pelo ressentimento contra a sua ex-liderança.
Imagine a seguinte cena: vários soldados estão lutando no
campo de batalha, e, de repente, um deles é atingido na perna, e
começa a sangrar. Os outros ficam estarrecidos, sem saber o que
fazer. E uma cena horrível: sangue e fumaça por todo lado. As
balas passam zunindo sobre as cabeças de todos, e o ferido co­
meça a rolar pelo chão com terríveis dores, gritando para alguém
ajudá-lo. Aí o sargento diz para os demais soldados: “Não, nin­
guém o ajude, senão o inimigo pode nospegar\” O soldado ferido con­
tinua a pedir ajuda, daí então o sargento aponta a metralhadora
em sua direção e o mata à queima-roupa e a sangue frio. Isso se­
ria muito cruel e diabólico, com toda certeza, e nenhum exército
do mundo civilizado faz assim com as suas tropas. Todavia, isso
acontece no mundo espiritual, mais do que nós imaginamos.

DADOS SOBRE CONVERSÃO E DESVIO


NO M UNDO

Existe um famoso órgão de pesquisas nos Estados Unidos


chamado International Bulletin of Missionary Research - IBMR
(Boletim Internacional de Pesquisa Missionária). Ele apresenta
os dados detalhados do Cristianismo no mundo. Trata-se de
uma espécie de mapeamento de como anda a fé cristã em nosso
planeta.
Restaurando os Soldados Feridos

U m dos dados mais interessantes do International Bulletin


ofMissionary Research diz respeito ao número total de convertidos
e desviados todos os dias, no mundo, considerando todos os
segmentos denominados cristãos. De acordo com o IBMR de
2010, cerca de 170 mil pessoas se convertem todo dia ao
Cristianismo no mundo, mas, em contrapartida, todos os
dias 91 mil cristãos se desviam, o que significa dizer que há
um acréscimo real diário de 79 mil novos cristãos em todo o
mundo.
Considerando os números acima, 53% dos que se
convertem ao C ristianismo todos os dias no mundo se desviam.
Apenas 47% permanecem. E desses, a qualidade da sua fé é
questionada por muitos estudiosos sérios. Dos que permanecem,
não podemos dizer sobre todos que são crentes nascidos de novo
e que dão testemunho de Jesus; muito menos que vivenciam os
valores da fé. Claro que há razões, peculiaridades e contextos
variados dentro desse número de desviados por dia, mas esse
dado não deixa de enfatizar a necessidade de as igrejas investirem
mais em discipulado, pastoreio eficaz e ensino.
De acordo com o censo do IBMR, existem 2,2 bilhões de
cristãos no mundo. Destes, há 1,13 bilhão de católicos romanos,
806 milhões de protestantes de várias matizes e 253 milhões
de ortodoxos. Eles apuraram que dos 2,2 bilhões de cristãos
existentes no mundo, apenas 1,5 bilhão são cristãos que vão
regularmente à igreja. Isto é, 700 milhões não vão à igreja ou
quase não vão, o que significa que 33% dos cristãos do planeta
são nominais.
Ainda segundo o IBMR, há 39 mil denominações cristãs
hoje no mundo, com 3,7 milhões de congregações — a maioria
delas de origem protestante, principalmente os pentecostais.

27
Pr. Abe Huber
A fo g a m en to ~
Conta-se que uma aldeia era cortada por um turbulento rio. Certo
dia irrompeu um grande alvoroço no povoado que tomou conta de
todos: “Socorro! Menino no rio!” As mães saíram correndo: “Será
meu filho?” Um rapaz que apreciava a cena e era ótimo nadador
amarrou uma corda pela cintura ejogou a outra extremidade para a
multidão, egritou: “Eu vou buscá-lo! Segurem a corda!”E se lançou
nas revoltas águas. Quando conseguiu agarrar o menino, foi um
alívio para todos. A multidão aplaudiu entusiasticamente. O rapaz
gritou, então: “Puxem a corda!”. Mas nenhuma só pessoa havia
segurado na ponta da corda, e os dois pereceram nas turbulentas
águas do rio.

O mundo é assim, como um rio turbulento onde cristãos


descuidados podem cair. O trabalho de resgate não pode ser de
uma pessoa só, mas de todos. O bom nadador não podia resgatar
o menino sozinho; ele precisava que as pessoas da vila puxassem
a corda. Todos devemos puxar a corda para restaurar aqueles que
estão se afogando, naufragando.
Existem muitos irmãos que são soldados feridos no
campo de batalha. O diabo enganou aquele irmão e ele caiu em
pecado, mas, ao invés de ajudarmos, muitas vezes acabamos
matando os soldados que estão passando por problemas. Mas
eu creio que, se algum de nós já agiu assim no passado, com a
graça de Deus, não faremos mais isso. Deus nos mudará para
que tenhamos uma nova cultura espiritual, tendo a mentalidade
bíblica de restaurar os soldados feridos.

28
C a p ít u lo 2

SINTOMAS DA TENDÊNCIA DE
MATAR OS SOLDADOS FERIDOS

29
'
Restaurando os Soldados Feridos

ESQUECER TODAS AS COISAS BOAS QUE OS


SOLDADOS FERIDOS JÁ FIZERAM NO PASSADO
Às vezes o soldado acabou de ser ferido, e parece que
dá um a amnésia diabólica nos outros irmãos. Eles esquecem
que aquele irmão fez tanto em prol do Reino de Deus, que
já ajudou tantas pessoas. E mais fácil se deixar levar por essa
amnésia (perda total ou parcial da memória), esquecendo-se
facilmente da boa fase daquele líder. Agora ele começa a sentir
aquela condenação e reação brutal por parte de muitas pessoas.
Começam a questionar: “por que elefe z isso”? “Ele não sabe que isso
épecado”? Sim, é verdade que é pecado mesmo, e é horrível, mas
ele é um soldado, ferido; pelo amor de Deus! Nós, como igreja,
precisamos ir atrás desses soldados espalhados pelo Brasil afora
para restaurá-los e ajudá-los a se livrar das garras do inimigo.
Eu me lembro do exemplo de Jimmy Swaggart. Aqueles
que são um pouco 'mais antigos na fé ainda se lembram de
seu ministério, suas aparições na televisão de todo o mundo
como um poderoso evangelista. Jimmy Swaggart nasceu em 15
de março de 1935, e agora em 2010 fez 75 anos de idade. Ele
chegou a ser o maior tele-evangelista do mundo, em termos de
audiência e volume de transmissões. Jimmy ainda possui muitos
programas de rádio e televisão em vários países, só não com a
repercussão de antes. E cantor com muitos discos gravados e
escritor de vários livros. N o auge de sua carreira, seus sermões
eram acompanhados de músicas alegres, cantadas e tocadas por
ele mesmo ao piano, coisa que até hoje faz.
Jimmy Swaggart influenciou toda uma geração de
pregadores pelo mundo afora nos anos 1980, especialmente onde
seu programa semanal era transmitido. N o Brasil, seu programa
era levado ao ar todo sábado de manhã, pela Rede Bandeirantes
de Televisão. Era dublado em português pelo pastor Neco
Simões. Jimmy Swaggart esteve no Brasil por duas vezes, onde


Pr. Abe Huber

lotou estádios como o Maracanã e o M orumbi, tendo milhares


de pessoas que o amavam e contribuíam financeiramente para o
seu ministério.
N o auge de seu ministério, Jimmy Swaggart caiu em
adultério por duas vezes, e acabou perdendo seu espaço na
mídia em todo o mundo. Foi horrível, mas ele mesmo foi
para a televisão pedir perdão a Deus e também às pessoas pelo
pecado cometido. E é verdade que quando um homem de
Deus cai em um pecado sério desses, ele deve ser retirado do
ministério por um bom tempo, para passar por um processo de
restauração. A Bíblia fala que o pastor e a pastora devem viver de
maneira irrepreensível. Porém, muitos evangélicos que outrora
admiravam muito Jimmy Swaggart, e recebiam tantas bênçãos
através daquele canal, agora estavam jogando lama, falando mal
dele, criticando de uma forma muito cruel.
Eu tenho um amigo pastor que já foi gerente de banco,
e ele tem outro amigo também gerente de banco em Belém.
Aquele senhor de Belém contou ao meu amigo uma história
muito interessante. Mesmo não sendo ainda um cristão convicto,
aquele homem disse ao pastor: “Eu sei que o que Jimmy Swaggart
fez foi horrível, e é pecado. Porém, eu perdoei o Jimmy Swaggart. Sabe
por que, pastor? Eu nunca poderei esquecer o tanto que eu e minha
família fomos transformados pela mensagem da Palavra de Deus que o
Jimmy Swaggart trouxe para nós através da televisão. Nossas vidasforam
mudadas e transformadas, e eu não posso esquecer tudo o que Deus fez
através daquele homem”.
Irmãos, isso é muito lindo e muito nobre. Nós não
podemos nos esquecer de como esses soldados feridos já
fizeram muitas coisas em prol do Reino de Deus. Hoje, após
ser restaurado e retornar aos púlpitos, o Jimmy voltou a pregar e
continua ativo e operante nos Estados Unidos, no Canadá e em
alguns países do continente Africano.

32
Restaurando os Soldados Feridos

C O N D E N A R OS SOLDADOS FERID O S
Este é outro sintoma da terrível tendência de matar os
soldados feridos. A Bíblia fala que o diabo é quem é o acusador
de nossos irmãos. Mas nós, muitas vezes, somos influenciados
pelo diabo, e podemos agir como o próprio diabo, se não
tivermos cuidado. E aí muitos começam a condenar e desprezar
a pessoa que se encontra perdida na estrada do erro. O diabo
tem uma estratégia muito suja: primeiro ele tenta você, fazendo
o pecado parecer gostoso, maravilhoso, inocente. Agora, depois
que a pessoa peca, ele começa a massacrar, e fala: “está vendo,
seu miserável? Você não dá conta de vencer esse pecado mesmo...” “Não
adianta você tentar seguir aJesus; você nunca vai vencer este problema”...
“Já que você pecou, então agora peque mais”. “É melhor você desistir de
vez desse negócio de seguir a Jesus\’’ “Você não dá conta de mudar”... O
diabo é assim: sujo e perito em condenar as pessoas. Primeiro ele
seduz a pessoa para o erro, pintando e disfarçando o pecado com
cores vivas e atraentes, e depois tem prazer em fazê-la sentir um
terrível peso de culpa sobre suas costas e consciência.
Mas graças a Deus que as Sagradas Escrituras falam que
se você pedir perdão a Deus, e confessar os seus pecados, Ele lhe
perdoa, purifica-o e não se lembra mais dos seus pecados. “Se.
porém, andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns
com os outros, e o sangue de festis, seu Filho, nos purifica de todo pecado...
Se confessarmos os nossos pecados; ele é fiel e justo para nos perdoar os
pecados e nos purificar de toda injustiça” (I João 1.7,9).
A Palavra de Deus diz mais: “E não ensinará mais cada
um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei ao
SE N IIO R ; porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior
deles, diz o SE N H O R ; porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca
mais me lembrarei dos seus pecados” (Jeremias 31.34).
A promessa de perdão para o que se arrepende vai mais
além: “Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor

33
Pr. Abe Huber

de mim , e dos teus pecados não me lembro” (Isaías 43.25). “Portanto,


agora nenhuma condenação há para 05 que estão em CristoJesus, que não
andam segundo a carne, mas segundo 0 Espírito” (Romanos 8.1).
Muitas vezes nós temos imitado o diabo, ao condenar as
pessoas que por algum motivo pisaram na bola em vez de seguir
o exemplo de Jesus. Nunca vou me esquecer de uma história
que mostra como o diabo gosta de condenar, julgar e trazer mais
condenação. Esse episódio sucedeu com um pastor que estava
tirando tempo com Deus em oração e jejuando. Ele iria ficar
neste propósito de jejum até certo período (dia e hora). Mas,
antes do término daquele período, certo dia a esposa dele estava
cozinhando uma deliciosa refeição. Aí o pastor, com o seu olfato
aguçado, começou a sentir o cheiro agradável do feijão com
bacon que estava sendo preparado. U m detalhe interessante é
que quando a pessoa está jejuando, tudo se torna muito gostoso,
mais cheiroso. Parece que tudo relacionado a comida apela para
os seus sentidos. O pastor não resistiu à tentação e quebrou o jejum
antes do tempo que ele tinha estabelecido como propósito, e
comeu daquele delicioso feijão até se fartar. Depois se sentiu
muito condenado por não ter suportado cumprir a meta que
tinha determinado, e pediu bastante perdão a Deus.
Não demorou muito e nosso amigo pastor ouviu
batidas em sua porta. Era alguém dizendo: “Pastor, tem alguém
endemoninhado lá na nossa rua. O senhor pode ir até lá para expulsar 0
demônio?” O pastor disse: “Oh Deus... Mas, amém... não épelos meus
méritos e, sim, pelo poder do nome deJesus, e eu fu i perdoado, purificado
ejá me arrependi mesmo por ter me excedido nofeijão”. Aí o pastor vai
até a residência onde se encontra a pessoa endemoninhada. Um
indivíduo que se encontra numa situação daquela está ferido e
escravizado pelo diabo. Não podemos esquecer que ali está um
ser humano precioso para Deus.
O pastor foi com zelo e amor até àquela pessoa, e falou
com o demônio que estava possuindo àquele indivíduo: “Espírito

34
3j

Restaurando os Soldados Feridos

maligno, eu te ordeno em nome de Jesus: sai!” O demônio, através


da boca daquela pessoa, disse: “Eu não saio!” O pastor tornou a
repetir: “Eu disse sai, em nome deJesus!”. O demônio começou a rir
dele, e disse: “Você acha que com essa barriga cheia defeijão você vai me
expulsar desta pessoa?” O pastor replicou: “Olha, com feijão ou sem
feijão, eu te ordeno que saias, em nome de Jesus!” E o demônio saiu,
para a glória de Jesus. A nossa autoridade sobre a obra das trevas
não se baseia em nossas obras de justiça ou esforço próprio, mas
na obra completa realizada por Tesus na cruz do Calvário: é o
poder e a autoridade do nome e do sangue de lesus. Precisamos
orar e jejuar, mas nosso sacrifício não é nada, comparado ao
sacrifício de Jesus.
Veja só o que a Bíblia diz: “Portanto, agora nenhuma
condenação há para os que estão em Cristo Jesus...” (Romanos 8.3).
Glória a Deus pelajustificação de Jesus.
Somos justificados por Cristo no momento da nossa
salvação. A justificação não nos faz justos, mas declara a nossa
justiça. Nossa justiça vem de colocarmos nossa fé na obra
completa de Jesus Cristo. Seu sacrifício cobre o nosso pecado,
permitindo que Deus nos veja como perfeitos, e sem qualquer
mancha. Pelo fato de nós, como crentes, estarmos em Cristo,
Deus enxerga a justiça de Seu Filho quando olha para nós. Isto
satisfaz as exigências de Deus para a perfeição; assim, Ele nos
declara justos - Ele nos justifica em Jesus.
Romanos 5.18-19 resume muito bem o princípio da
justificação: “Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre
todos os homens para condenação, assim também, por um só ato de
justiça, veio a graça sobre todos os homens para ajustificação que dá vida.
Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram
pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, muitos se
tornarão justos”.

35
Pr. Abe Huber

JULGAR A PESSOA E FALAR MAL DELA NA


SUA AUSÊNCIA
Vejamos o que o apóstolo Tiago relata em seu livro:
“Irmãos, não faleis mal uns dos outros. Quem fala mal de um irmão,
e julga a seu irmão, fala mal da lei, e julga a lei; e, se tu julgas a lei, já
não és observador da lei, mas juiz. H á só um legislador que pode salvar
e destruir. Tu, porém, quem és quejulgas a outrem ?” (Tiago 4.11-12).
Existem algumas formas já tipificadas de como se fala mal
de outra pessoa. A seguir apresentamos algumas delas.
Falar mal ipela difamação
“O homem perverso espalha contendas, e o difamador sepa­
ra os maiores amigos” (Pv 16.28).
“Como um pedaço de pau, uma espada ou umajlecha aguda
é o que dáfalso testemunho contra o seu próximo” (Pv 25.18).
O Dicionário Aurélio define a contenda como: 1. Tirara
boafama ou o crédito a; desacreditar publicamente; infamar, detrair, falar
mal. 2. Imputar a (alguém) um fato concreto e circunstanciado, ofensivo
de sua reputação, conquanto não definido como crime.
De acordo com o ordenamento jurídico brasileiro, difa­
mação é crime contra a honra, previsto no artigo 139 do Código
Penal. Infelizmente, existe uma considerável quantidade desses
criminosos dentro das igrejas, e o pior de tudo é que muitos
deles são líderes! E ninguém é punido, pelo menos de maneira
evidente, pelos homens.
Mas a difamação é um sério pecado diante de Deus: “Ir-
mãos, nãofaleis mal uns dos outros. Aquele quefala mal do irmão,
ou julga a seu irmão, fala mal da lei, e julga a lei; ora, se julgas a
lei, não és observador da lei, mas ju iz” (Tiago 4.11).
36
Restaurando os Soldados Feridos

Por outro lado, uma das boas maneiras de restaurar o sol­


dado ferido é falando boas palavras, promovendo paz. “.'Aquele
que não difama com sua língua, não fa z mal ao próximo, nem
lança injúria contra o seu vizinho... Quem deste modo procede não
será jamais abalado” (Salmo 15.3,5). Aqui vemos bênçãos e pro­
teção para quem não difama.
Falar mal pela calúnia
Paulo é categórico quando adverte Timóteo: “Nos
últimos dias sobrevirá tempos difíceis; pois os homens serão...
caluniadores... Foge também destes” (II Timóteo 3.1-5). A calúnia
é uma das armas mais mortais para derrubar soldados no campo
de batalha.
ODicionárioAuréliodefineacalúnianosseguintestermos:
1. Difamar, fazendo acusações falsas; mentira, falsidade, invenção.
2. (Jur.) Atribuir falsamente a (alguém) fato definido como crime.
A Calúnia pode ser feita através de mentira, falsidade e
invenção contra alguém. O Código Penal Brasileiro a tipifica como
crime no artigo 138. e prevê pena de seis meses a dois anos (mais
multa) contra os caluniadores.
Independente de como a lei penal é ou não aplicada na
esfera prática, não podemos deixar de reconhecer que o mundo
secular parece mais severo do que a igreja quando o assunto é
calúnia. A Bíblia não é. Ela é muito séria e rígida quando trata deste
assunto. Só é de admirar que, em muitas igrejas, os caluniadores
não sofrem qualquer ação disciplinar por conta de seus crimes, e
por isso o mal se avoluma. Dessa maneira, o caluniador sente-
se encorajado na sua tarefa maligna e destruidora dos valores
alheios, pois não há sanções contra seus ilícitos.

37
Pr. Abe Huber

A calúnia é como um fogo que se alastra atiçado pelo


vento. Logo outros da mesma índole começam a relembrar,
reproduzir as fofocas^e comentar as fraquezas, imperfeições e
pecados alheios, servindo-se da língua. Alguns, mais espirituais,
dizem que estão comentando apenas para que a outra pessoa ore
pela situação. E surgem assim verdadeiras correntes de oração: cada
pessoa contando o fato para outra e pedindo que esta ore por
determinada pessoa em pecado ou fraqueza.
A Bíblia condena a calúnia: “Não dirás falso testemunho
contra o teu próximo” (Êxodo 20.16). Este mandamento
protege o nome e a reputação do próximo. Ninguém deve
fazer declarações falsas a respeito do caráter ou dos atos
de outra pessoa. Devemos falar de modo justo e honesto
a respeito de quem quer que seja. Se há razões reais que
demandam um urgente confronto, devemos praticar os
princípios de Mateus 18.15-17. Aqui fica bem demonstrado
como devemos tratar um irmão que pecou. Devemos sempre ir
primeiro com a pessoa, diretamente.
“Não espalharás notícias falsas... D a falsa acusação te
afastarás...” (Êxodo 23.1,7).
“Seis cousas o Senhor aborrece... testemunha falsa que
profere mentiras, e o que semeia contendas entre os irmãos”
(Provérbios 6.16,19).
“A falsa testemunha não fica impune, e o que profere
mentiras perece” (Provérbios 19.9).
Conhecedores da gravidade desta situação, é necessário
que o povo do Senhor se aparte de toda forma de calúnia e
que procure viver em santidade. Dessa maneira, estaremos
nos guardando pessoalmente contra as ciladas do inimigo, e ao
mesmo tempo protegendo nossos irmãos de serem feridos e
massacrados pelo inimigo.
38
Restaurando os Soldados Feridos

Falar mal pelos boatos


“Não têm eles sinceridade nos seus lábios; o seu íntimo é
de todo crimes; a sua garganta é sepulcro aberto, e com a
língua lisonjeiam (adulam)” (Salmo 5.9).
Aurélio Buarque de Holanda, no seu dicionário, define o
boato como: “Notícia anônima que correpublicamente sem confirmação;
balela, rumor”.
O boato só pode ser uma obra que procede do coração
maligno. E o diabo usa seus demônios para entrarem nas igrejas
e despertarem as pessoas para usarem suas línguas para essa
prática. Se não temos certeza de um fato, qual a necessidade de
espalhá-lo? E mesmo tendo certeza, se sabemos que a publicação
dele só vai provocar fofocas e escândalos, por que publicá-lo, se
podemos procurar o irmão faltoso e ajudá-lo a se consertar?
“Não espalharás notícias falsas...” (Êxodo 23.1). Esta é a
determinação do Senhor para seu povo!
SIM PLESM EN TE IG N O R A R O SOLD ADO
Muita gente não sabe que tal atitude também pode causar
muitos transtornos na vida desse soldado. Vejamos um exemplo
dessa realidade. Suponhamos que você esteja num campo de
batalha, e que você está guerreando ao lado de outros soldados,
no exército de Jesus, lutando contra o mal. Aí, de repente, um
soldado cai ferido ao seu lado. Você, então, decide não fazer nada
em prol de trazer melhoria e cura para tal soldado. Mas, você
pode até dizer: “Pastor* eu sei de muitas coisas erradas, mas não falo
nada, fico só na minhal”

39
Pr. Abe Huber

Você sabia que a atitude acima é pecado? Sabe por quê?


Porque este é o famoso pecado da omissão. Você não fala nada;
embora também não fique julgando e fofocando sobre o irmão
caído. Essa, definitivamente, não é uma boa atitude. Você não faz
nada para aquela pessoa sair do “buraco”. Por isso que é pecado
de omissão. E você ainda se torna cúmplice, porque quem cala,
consente.
A Bíblia diz: “E não sejais cúmplices nas obras infrutíferas
das trevas; antes, porém, re p ro v a i-a s (Efésios 5.11). Se você
realmente ama o seu irmão, é claro que não vai ficar falando mal
dele, projetando acusação ou condenação sobre ele. Mas você
vai atrás dele com amor e carinho, vai confrontá-lo acerca do
seu erro, do seu pecado; você vai corrigi-lo e amá-lo. Você vai
restaurar suas feridas e livrá-lo das garras do maligno.

40
C a pítu lo 3

O CORAÇÃO RESTAURADOR
DO SAMARITAN O

41
Restaurando os Soldados Feridos
t

O livro de Lucas nos apresenta muitas histórias belíssimas.


Muitas vêm em forma de parábolas, ricas em significado para o
nosso viver como indivíduos e como grupo. Mostram o grande
amor de Deus para com o homem, mas mostram também o
amor que devemos ter por Deus e uns para com os outros. Uma
dessas histórias que Jesus contou foi sobre um bom Samaritano.
Ela tem algo muito profundo, o que acredito poder abençoar
muito o nosso coração.
Esta parábola foi contada como resposta a um intérprete
da lei que lhe perguntou: “Quem é o meu próximo ?” - a quem
Jesus decidiu dar uma lição, bem dada.
“E, respondendo Jesus, disse: Descia um homem de
Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores,
os quais o despojaram, e espancando-o, se retiraram,
deixando-o meio morto. E, ocasionalmente, descia pelo
mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo.
E de igual modo também um levita, chegando àquele lugar,
e, vendo-o, passou de largo” (Lucas 10.30-32).
A história continua com uma riqueza muito grande de
detalhes, os quais veremos aos poucos, no decorrer deste capítulo.
Mas, primeiro, gostaria que percebêssemos algo interessante
neste relato. Jesus está narrando a história de um homem que
andava pelas estradas. Seu veículo de locomoção era um animal.
Talvez ele levava muitos mantimentos e dinheiro consigo, além
de muitas bagagens.
Ferimentos por trafegar por terrenos perigosos
O homem descia de Jerusalém para Jericó. Jerusalém
representava o centro religioso onde se encontrava o templo -
43
Pr. Abe Huber

lugar de adoração, louvor e gratidão ao Deus de Abraão, Isaque


e Jacó. Jericó quer dizer “Lugar de Fragrâncias”. Podemos dizer
que são os aromas perfumados dos sonhos e das ilusões. Outro
nome de Jericó era também “Cidade das Palmeiras”.
N o tempo de Jesus, Jericó era a segunda maior cidade da
Judéia. Lá em Jericó se encontrava um Palácio de inverno, um
hipódromo e uma fortaleza, todos construídos por Herodes, o
Grande. Era, portanto, uma bela cidade, cheia de atrativos.
Havia dois caminhos que levavam a Jericó. U m era
mais seguro, só que mais longo. O outro era mais curto, um
atalho, porém muito perigoso, conhecido naquela época como
“caminho sangrento”, devido ao grande número de crimes
terríveis que aconteciam às suas margens. Tinha 27 km de
extensão, e uma ladeira acidentada que descia por 1040 metros,
desolada e muito perigosa. Era cheio de curvas, e ao seu lado
havia muitas cavernas naturais e reentrâncias rochosas, próprias
para esconder muitos assaltantes que não tinham respeito pela
vida humana. Foi por este caminho que nosso personagem
resolveu visitar Jericó, sem se preocupar com os salteadores do
caminho.
Enquanto trafegava pela estrada, o viajante foi subitamente
abordado por assaltantes. Roubaram tudo o que ele tinha.
Levaram a montaria, os bens, o dinheiro, ou seja, tudo o que
levava consigo. Além disso, a Bíblia diz que ele foi espancado
pelos assaltantes, a ponto de ficar semimorto na estrada.
A omissão da religião
Enquanto o homem estava agonizando, talvez desmaiado,
a Bíblia diz um sacerdote - uma autoridade eclesiástica - descia
também por aquele caminho e viu o homem sangrando e
terrivelmente ferido, mas “passou de largo”. Ele passou bem longe,
não falou nada e nem fofocou; no entanto, omitiu-se de ajudar
aquele cidadão.
44
Restaurando os Soldados Feridos

Deus tinha escolhido o povo de Israel para ser canal de


salvação para a humanidade, e instituiu o sacerdócio judaico
para Lhe oferecer sacrifícios e orações, e para cuidar do
homem. Mas aquele sacerdote judeu, ele descia compenetrada
e apressadamente para Jericó, e por isso não tinha tempo para
cuidar do homem abandonado no caminho da vida.
Mais tarde, passa pela mesma estrada um levita, e também
passa de longe. Os levitas, além de serem membros da tribo
sacerdotal, tinham também o encargo de cuidar do louvar e da
adoração. Eram músicos e cantores. Os levitas eram também
os diáconos, líderes de departamentos, porteiros e aqueles
que exerciam cargos de serviço no templo. Aquele que agora
descia pelo caminho perigoso talvez estivesse apenas pensando
em algum festival gospel que ia acontecer em Jericó, e não tinha
tempo a perder com um homem ferido. Outra pessoa poderia
chamar a ambulância, acionar os bombeiros ou o SAMU.
Muitas vezes a religião tem essa tendência de não
valorizar o homem como Deus valoriza. Deus não quer que
sejamos religiosos, tão aficionados às nossas tarefas e atividades
eclesiásticas que descuidemos do ser humano. Existem muitos
evangélicos que são religiosos, e eu falo isso porque também sou
evangélico e convivo com o meio. Não basta ser evangélico; há
muita gente sofrendo, carecendo de graça, de misericórdia, de
amor, de atenção. Muitos fazem de conta que não estão vendo
o sofrimento alheio. Mas nós não podemos agir dessa maneira.
Um exemplo de restauração
Eu me lembro da história de um casal que chegou à igreja
com muitos problemas. Eu vi o seu sofrimento. Começamos
a conversar e o marido me contou que há muito ele tinha se
divorciado, embora eu não lembre agora qual o motivo da
separação. Depois de algum tempo, ele voltou a se casar. Só que

45
Pr. Abe Huber

depois de tantos transtornos na sua vida, as pessoas começaram a


marginalizá-lo na religião tradicional onde ele frequentava e era
muito ativo. Ele já nem podia participar de algumas atividades
básicas daquela igreja.
Aquele homem começou a se sentir muito rejeitado.
Tornou-se um soldado ferido. Eu me lembro como se fosse
hoje, quando ele me procurou e perguntou: “Pastor, será que há
perdão para mim ? Será que Deus me transforma?” Eu lhe respondi:
“Meu irmão, realmente Deus não queria que você tivesse se divorciado;
Ele queria consertar e curar o seu casamento. Mas agora isso já passou e
você está casado com outra pessoa”. Eu senti que podia ir em frente,
e lhe perguntei: “Você quer entregar sua vida aJesus e receber o perdão
de todos os seus pecados?” Ele respondeu: “Pastor, eu quero, de todo
o meu coração”. E a sua esposa atual, que estava ao seu lado, já
foi dizendo: “Eu também querol” E naquele momento os dois
receberam Jesus como Senhor e Salvador de suas vidas.
Depois de fazer a oração de confissão com eles, o rapaz
me pergunta: “Pastor, e agora?” Eu abri a Bíblia com eles e lhes
mostrei o que a Palavra de Deus diz, pura e simplesmente:
“Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas
já passaram; eis que tudo se fe z novo” (II Coríntios 5.17). Eu falei:
“Meu irmão, Jesus não somente esqueceu e perdoou todo o seu passado,
mas Ele também lhe purificou totalmente. Na verdade, nem existe mais
esse pecado sobre você. A partir deste momento você tem uma nova vida
com Jesus. Porém, obedeça à Palavra de Deus sendo fiel à sua esposa e
amando-a acima de qualquer desejo que vai contra a Palavra de Deus”. O
homem me perguntou: “Mas eu posso ser usado por Deus?” “Claro,
meu irmão! Você não tem mais passado”. N o sentido espiritual, de
imputação das faltas diante de Deus, não. E como uma criança
quando nasce: obviamente aquele inocente não tem passado.
Quando você nasceu de novo, a velha criatura que você
era morreu e foi embora. Deus agora cria uma nova criatura: “as
coisas velhas já passaram; eis que tudo se fe z novo". No estado
presente de nova criatura você não tem mais passado. E toda
glória seja dada a Deus por isso!
46
Restaurando os Soldados Feridos

Você poderia replicar: “Mas, pastor, depois que eu aceitei a


Jesus eu pequei”. A boa notícia é que se você se arrependeu, você
não tem mais aquele passado, porque a Bíblia fala que Ele lhe
purificou e Se esqueceu do seu pecado. Se Deus esqueceu, não
precisa ficar se condenando, pensando que não tem mais jeito
para você.
Continuamos conversando e aquele agora novo homem
me disse: ‘‘Pastor, tem outro problema. Eu estou sendo transferido para
Manaus por questões de trabalho”. Eu falei: “Amém! Nós temos uma
Igreja da Paz em Manaus, e sei que você vai crescer muito na fé ali”. Ele
saiu de Santarém como novo convertido, juntamente com a sua
esposa.
Alguns anos depois daquilo eu estive em Manaus e me
encontrei com aquele irmão. Para a minha alegria, ele já era um
líder naquela igreja, sendo muito usado por Deus. Ele é um
jovem senhor muito inteligente, é gerente de banco, e ainda por
cima dá todo o seu tempo disponível para o serviço de Deus. Sua
família está muito abençoada, a esposa vai muito bem, e ele estava
até sendo usado para ministrar aulas na Escola Ministerial Paz -
EMP (nossa escola bíblica para a formação de líderes). E incrível
como Deus mudou a história daquele homem completamente.
E provável que você tenha sofrido muitos ferimentos
do diabo no passado. E possível que muitos deles vieram até
mesmo depois de você se converter. Contudo, quero garantir-
lhe que Deus tem um futuro brilhante reservado para você. Ele
quer restaurar e trazer vitórias para todas as áreas da sua vida.
A igreja toda é chamada para exercer o amor e a compaixão.
Nós fazemos parte desse hospital, onde somos enfermeiros e
médicos para tratar os soldados feridos. Talvez você diga: “Pastor,
eu também estou ferido”. Vou lhe falar algo de suma importância e
conhecido por todos nós: “é dando que se recebe”. Na medida
em que você começa a ajudar os outros debaixo da supervisão do
Dr. Jesus, automaticamente você também é ajudado.
47
Pr. Abe Huber

C O M O RESTAURAR OS SOLD A D O S FERIDOS?


Preste bem atenção no que o texto diz: “Mas um samaritano,
que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima
compaixão” (Lucas 10.33).
O samaritano passou perto do homem. Observe que os
outros íípassaram de largo”, significando que tiveram que fazer um
desvio, afastar-se do caminho para não esbarrar ou tropeçar no
homem caído. Mas esse samaritano, que não tinha nada a perder
ou a ganhar com o gesto, passou perto.
O levita e o sacerdote passaram por fora, motivados por
vários fatores: pressa, outras prioridades, preconceito racial,
preconceito religioso, medo de se tornarem eles mesmos
presa dos ladrões, etc. Aproximar-se demais poderia gerar
envolvimento, compromisso, e nenhum dos dois parecia
disposto a isso. O sacerdote, porque tinha compromisso de se
manter cerimonialmente limpo, e tocar num cadáver deixava o
sacerdote imundo, segundo a lei de Moisés.
Aproximar-se do ferido
Este é o primeiro segredo para a restauração de um soldado
ferido. O sol daquela região é causticante. O samaritano, com
certeza, tinha que desmontar, chegar perto e agachar-se junto
ao homem caído. Isto o deixava vulnerável, pois os bandidos
poderiam ainda estar por perto.
Ele precisava não ter medo de sangue ou nojo de vômito,
pois certamente o ferido estava em estado lastimável. O texto
não diz quem era o ferido, mas provavelmente era um judeu. O
samaritano não se preocupou com a raça, a religião ou a situação
social e econômica do ferido. Ele simplesmente achegou-se a ele
no intuito de ajudar.

4H
Restaurando os Soldados Feridos

Não podemos amar de longe, ajudar de longe, demonstrar


empatia e identificação à distância. E preciso aproximar-se, tocar,
sentir o real estado da pessoa.
Aquele que vai ajudar precisa ter muito cuidado com os
preconceitos e estereótipos. Assim também aquele que vai ser
ajudado, o soldado ferido, não pode recusar ajuda, não pode
ser orgulhoso a ponto de morrer sem receber o socorro que
lhe oferecem. Rumi, um poeta persa da antiguidade, conta a
seguinte parábola:
Um guerreiro fo i ferido por uma seta numa batalha.
Quiseram arrancar-lhe a flecha e curá-lo, mas ele exigiu
saber quem era o arqueiro, a que classe social ele pertencia e
onde tinha se posicionado para disparar. Também quis saber
aforma exata do arco e o tipo de corda utilizada. Enquanto
se esforçava por saber todos estes detalhes, faleceu.
Ter compaixão pela pessoa ferida
A versão Almeida Revista e Corrigida diz que o samaritano
“vendo-o, moveu-se de íntima compaixão ” (Lucas 10.33). Nós
precisamos ver do Espírito Santo; ver o futuro que o ferido vai
ter em Jesus. Você não pode ver com olhos carnais o pecado que
ele está cometendo, enfatizando em demasia os grandes erros
que esse soldado cometeu. Precisamos enxergar com um olhar
de compaixão, sabendo que Deus vai fazer uma obra maravilhosa
a partir daquela situação.
A Bíblia mostra que devemos imitar a Jesus, que era todo
compassivo. Ele é nosso maior exemplo de compaixão. Se você
ler o livro do profeta Isaías, você vai encontrar muitas profecias
profundas sobre Jesus. Jesus Cristo só nasceu 700 anos depois de
Isaías, mas esse profeta falou muito sobre Jesus, pela inspiração
do Espírito Santo. E uma dessas profecias está relacionada na
passagem a seguir.
49
Pr. Abe Huber

“Não quebrará o caniço rachado, e não apagará o pavio


fumegante. Com fidelidade fará justiça” (Isaías 42.3).
Neste versículo Isaías está não apenas mostrando que
Jesus viria a esse mundo, mas retrata também como seria a sua
missão. Ele diz que Jesus não esmagaria a cana quebrada nem
apagaria a torcida que fumega. E aqui você poderia indagar: “Pastor
Abe, o que é isso”?
Esmagar a cana quebrada quer dizer o seguinte: Naquela
época, havia um vegetal parecido com a cana ao lado do rio Jordão.
As crianças tiravam com muito cuidado o miolo daquela espécie
de cana para poder soprar, e dela saía até assovio, um barulho
como se fosse de flauta. Era um brinquedo, mas não deixava
de ser um brinquedo musical. Só que tais canas eram muito
delicadas. Ao se retirar o miolo, ou talvez depois dele tirado,
quando as crianças estavam soprando, às vezes ela se quebrava.
Sabe o que os meninos faziam quando ela se quebrava? Eles
simplesmente esmagavam a cana, jogavam-na fora e pegavam
outra, pelo fato de haver muito delas às margens do rio Jordão.
Deus está dizendo que Jesus é diferente. Quando Ele
começa a tratar a sua vida, Ele vai lapidando, transformando o seu
interior para que você possa ser usado como um instrumento de
louvor a Deus. Mas, se de repente você resiste ao tratamento de
Deus, ou alguma coisa deu errado, você “pisou na bola”, ou seja,
a cana quebrou, saiba que Jesus não vai, em hipótese alguma,
descartar-lhe da orquestra. Os meninos pegavam e esmagavam
a cana quebrada. Porém, o profeta Isaías inspirado pelo Espírito
Santo, diz: “o meu servo não uai esmagar a cana quebrada”.
Pisou na bola? Pecou? Errou? A cana quebrou? Ele vai
cuidadosamente endireitar aquela cana, trazendo conserto e
fazendo dessa pessoa um instrumento de louvor a Deus. Ele
pode tirar música, louvor e adoração de qualidade de você,
mesmo depois de uma quebradeira.

50
Restaurando os Soldados Feridos

O versículo diz também que Jesus não “apagará a torcida


que f u m e g a Como naquela época não havia luz elétrica, eles
usavam lamparinas alimentadas com azeite de oliva. Essas
lamparinas tinham um pavio que era chamado de “torcida”, e às
vezes o dono da lamparina se descuidava e não enchia o pote
de azeite que umedecia o pavio, e ele secava. Quando acabava o
azeite, o fogo do pavio (torcida) começava a queimar não mais o
azeite, mas sim o próprio pavio. A chama ficava bem fraquinha,
gerava muita fumaça e produzia um cheiro horrível.
Quando acontecia isso com alguém, principalmente
diante de visitas, a pessoa ficava com muita vergonha. Logo a
pessoa corria e apagava a “torcida” que fumegava. Aquele pavio
de onde estava saindo fumaça era apagado e tirava-se a “torcida”
queimada para ser jogada fora. Não parecia um problema
aparente para essa pessoa, pois ela tinha outros pavios guardados,
e bastava substituí-los.
O profeta Isaías diz que Jesus não faz isso. Se o óleo da
unção na sua vida foi acabando, pode ser porque você começou a
exibir pecados em sua vida, ao invés de exalar o bom perfume de
Cristo. A “torcida” da sua vida está fumegando? Pode ter certeza
que Jesus não vai lhe descartar. Ele não vai lhe apagar, nem lhe
substituir. O amor de Jesus por você é muito grande, e Ele vai
encher a sua vida de novo com a unção do Espírito Santo. O
óleo e o azeite de Deus vão reacender o fogo em sua vida. O fogo
vai queimar de novo, a luz vai brilhar e o perfume do Espírito
Santo ainda vai exalar de sua vida. Tudo porque Deus tem planos
maravilhosos para você.
Quando você pega a Palavra de Deus e a libera sobre a
pessoa quebrada ou se apagando, acontece o sobrenatural de
Deus na vida desse irmão. E importante entendermos que a
Palavra funciona com qualquer pessoa que se abre para ela, seja
líder, novo convertido, afastado dos caminhos do Senhor, um
crente que fica “pisando na bola”. Ela é poderosa e eficaz, e a fé
sempre funciona.
51
Pr. Abe Haber

Sempre falamos para os irmãos da nossa igreja que nós


cremos no mover de Deus na vida de todos os nossos membros.
A pessoa pode até estar afastada do caminho do Senhor, mas
tem jeito para ela. Veja o que o apóstolo Paulo falou: “Tendo
por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra
a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo ” (Filipenses 1.6). Este
é o meu versículo predileto na Bíblia para nossos liderados e
ovelhas na fé. Paulo tinha convicção de que Deus tinha muitas
coisas boas para realizar por intemédio dos Filipenses. E Ele
continuará a aperfeiçoar essa obra em nossas vidas até a volta de
Cristo Jesus.
Eu libero uma fé viva com base neste versículo. Existem
vários nomes para Deus e para Jesus na Bíblia, mas um dos que
eu mais gosto é A = a e (Alfa e Omega: na forma maiúscula
e minúscula^. Esses símbolos com nomezinhos esquisitos são
simplesmente a primeira e a última letra do alfabeto grego.
Seriam o equivalente ao “A” e ao “Z ” do nosso alfabeto. Ele está
nos dizendo que Ele não começa uma obra em nossas vidas e
depois pára pelo meio do caminho. Ele começou com a letra “A ”
e jamais vai parar na “C ”, “F”, “T ”, ”U ” ou qualquer outra. Ele
vai até o “Z ”, ou seja, até o final; aleluia!
Se Jesus começou algo, Ele vai completar essa obra na
sua vida. E porque Ele começou, você vai ser transformado, vai
vencer em nome de Jesus. Você vai superar o pecado e dar a
volta por cima; seu casamento será restaurado, as doenças cairão
por terra. Os problemas financeiros que lhe tiram o sono serão
vencidos, porque maior é Aquele que está em você do que o que
está no mundo. Lute e viva pelos valores de Deus.
Ele é o “Alfa e o Omega” (o Princípio e o Fim). Ele
começou uma boa obra e jamais vai deixá-la pela metade. Ele
vai completá-la até o grande Dia do Senhor. Pela graça de Deus
eu exerço muita fé quando oro por uma pessoa, inclusive por
você que agora lê este livro. Eu peço a Deus para que você e sua
52
Restaurando os Soldados Feridos

família possam ser poderosamente usados por Deus. Creio na


Palavra que diz que Deus restaura por completo.
Tratar as feridas do homem caído
A Bíblia diz que o samaritano colocou vinho e óleo
sobre as feridas do homem. Naquela época, vinho e óleo eram
remédios caseiros bem comuns. Quando alguém tinha uma
ferida, usava-se óleo e vinho para curar a enfermidade. O vinho
era um desinfetante natural, por conter álcool, e assim matava
os germes e micróbios. O óleo servia para aliviar a dor, evitava a
formação de cascões grossos e secos, e também impedia que as
moscas pousassem no ferimento. As moscas eram repelidas pelo
aroma forte e agradável do óleo, mas repelente para elas.
Imagine aquele samaritano ajoelhado à beira da estrada,
passando vinho e óleo nas feridas, amando o homem que se
encontrava semimorto. Com certeza ele sujou as mãos de sangue
e de areia. E possível que ele tenha sujado a camisa, ou também
precisou rasgar uma peça de roupa para fazer uma atadura para
estancar o sangue.
Quando você for atrás de um soldado ferido, não se
esqueça de levar o óleo. Agora, o que vem a ser esse óleo? E
a Palavra, na unção do Espírito. Não vá somente com amor e
carinho: estes, sem sombra de dúvida, são ferramentas muito
importantes; mas compartilhe uma passagem da Bíblia com a
pessoa - de preferência uma que tenha a ver com a situação que
ela está passando.
N o caso do homem ferido no caminho de Jericó, o
tratamento não foi feito só com óleo: vemos que o vinho também
estava presente naqueles primeiros-socorros. O que dizer do
vinho? Representa o Espírito Santo, a oração ungida. Quando
você está com um soldado ferido, ministre a Palavra de Deus, ore
por ele e não fique só na conversa, ouvindo e confortando. Passe
a Palavra nos ferimentos espirituais de que ele está acometido, e
você verá o efeito.
53
Pr. Abe Huber

O samaritano não parou por aí. Depois de ter passado o


óleo e o vinho no corpo do homem, ele colocou aquele doente
sobre seu próprio animal. Eu posso imaginar que o samaritano
desceu do seu próprio animal (veículo de condução naquela
época), e montou o homem. Isso fala de renúncia, sacrifício, de
você abrir mão daquilo que é seu por direito. Por exemplo, no
seu tempo de folga convidar um soldado ferido para almoçar
na sua casa. Ali vocês vão conversar, ele vai abrir o coração e
receber a ajuda de que precisa. Isso é sacrificar o que é seu em
prol de outrem. Vai haver vezes em que Deus vai lhe convocar
para sacrificar, renunciar para socorrer um soldado ferido.
Providenciar cuidados num local adequado
A Bíblia diz no versículo 34 que o samaritano levou o
homem para uma hospedaria e tratou dele. Na Palestina, naquela
época, não havia hospital. O que mais se aproximava de um
hospital eram as hospedarias. Havia o costume de muitas vezes
levar as pessoas doentes para uma hospedaria, para lá serem
tratadas das suas enfermidades.
Você não pode esquecer-se de levar aquele soldado ferido
para a hospedaria. Você o está amando, ajudando e crendo na
transformação que nosso Deus fará naquela vida. O hospital
simboliza a igreja, a célula e o discipulado, onde a pessoa é amada
e bem cuidada. A igreja deve ser essa hospedaria, assim como a
célula e outras reuniões importantes.

Garantir a continuidade dos cuidados


O texto mostra que o samaritano fez questão de que
o homem continuasse a ser cuidado, mesmo na sua ausência.
Ele queria se assegurar de que aquele homem seria curado
completamente, sem restarem quaisquer sequelas. Diz o texto:
54
Restaurando os Soldados Feridos

“N o dia seguinte, deu dois denários ao hospedeiro e disse-lhe: ‘Cuide


dele. Quando voltar lhe pagarei todas as despesas que você tiver”' (Lucas
10.35 -N V I).
O samaritano precisou viajar e cuidar de outros afazeres,
mas não abandonou o homem ferido. Ele deixou pago o
suficiente para o tempo que o homem ainda ficaria internado.
Deu dois denários ao hospedeiro. Era dinheiro suficiente para
pagar 32 dias de hospedagem naquele hotel, com todo conforto e
cuidados. Ele deixou claro que voltaria, e ainda pagaria qualquer
despesa extra. Jesus é assim: pagou na cruz pelos nossos pecados,
e continua a pagar por quaisquer outras dívidas que venhamos a
contrair enquanto somos cuidados.
Outra ideia que vale a pena ter em mente é a figura do
hospedeiro. Ele representa a liderança da igreja, o líder da célula,
o discipulador. Quando nós, à semelhança dele, nos propomos
a cuidar dos feridos que são trazidos até nós pelo Senhor Jesus,
Ele sempre “paga ” pelos serviços prestados. Pagar aqui é mais do
que a recompensa monetária: são as muitas bênçãos, em todas as
áreas da vida, que Ele derrama sobre aqueles que se empenham
em fazer a sua vontade.

55
C a p ít u lo 4

EXEMPLOS PODEROSOS
DE RESTAURAÇÃO
Restaurando os Soldados Feridos

UM 5AMARITANO DOS DIAS MODERNOS

Ricardinho não aguentou o cheiro bom do pão e falou:


- Pai, tô com fome!
O pai, Agenor, sem ter um tostão no bolso, caminhando desde
muito cedo em busca de um trabalho, olha com os olhos marejados
para o filho e pede mais um pouco de paciência.
- Mas pai, desde ontem que não comemos nada; eu tô com
muita fome, pai!
Envergonhado, triste e humilhado em seu coração de pai, Age­
nor pede para o filho aguardar na calçada enquanto entra na padaria à
sua frente. Ao entrar, dirige-se a um homem no balcão:
- Meu senhor, estou com meu filho de apenas seis anos na
porta, com muita fome; não tenho nenhum tostão, pois saí cedo para
buscar um emprego e nada encontrei. Eu lhe peço, que em nome de
Jesus, me forneça um pão para que eu possa matar a fome desse me­
nino. Em troca, posso varrer o chão de seu estabelecimento, lavar os
pratos e copos, ou outro serviço que o senhor precisar!
Amaro, o dono da padaria, estranha aquele homem de sem­
blante calmo e sofrido pedir comida em troca de trabalho, e pede para
que ele chame o filho. Agenor pega o filho pela mão e apresenta-o a
Amaro, que imediatamente pede que os dois sentem-se junto ao bal­
cão, onde manda servir dois pratos de comida do famoso PF (Prato
Feito): arroz, feijão, bife e ovo.
Para Ricardinho era um sonho comer após tantas horas na rua.
Para Agenor, uma dor a mais, já que comer aquela comida maravilhosa
fazia-o lembrar-se da esposa e de mais dois filhos que ficaram em casa
apenas com um punhado de fubá. Grossas lágrimas desciam dos seus
olhos já na primeira garfada.
A satisfação de ver seu filho devorando aquele prato simples
como se fosse um manjar dos deuses, e a lembrança de sua pequena
família em casa, foi demais para seu coração tão cansado de mais de
dois anos de desemprego, humilhações e necessidades.
Amaro se aproxima de Agenor e, percebendo a sua emoção,
brinca para relaxar:
59
Pr. Abe Huber

- Ô Maria! Sua comida deve estar muito ruim. Olha, o m


amigo está até chorando de tristeza desse bife, será que é sola de sa­
pato?!
Imediatamente Agenor sorri e diz que nunca comeu comida
tão apetitosa, e que agradecia a Deus por ter esse prazer.
Amaro pede então que ele sossegue seu coração, que almoce
em paz e depois conversariam sobre trabalho. Mais confiante, Agenor
enxuga as lágrimas e começa a almoçar, já que sua fome já estava nas
costas. Após o almoço, Amaro convida Agenor para uma conversa nos
fundos da padaria, onde havia um pequeno escritório.
Agenor conta, então, que há mais de dois anos havia perdido
o emprego e desde então, sem uma especialidade profissional, sem
estudos, ele estava vivendo de pequenos biscates, aqui e acolá, e que já
tinha dois meses que não recebia nada.
Amaro resolve, então, contratar Agenor para serviços gerais na
padaria e, penalizado, faz para o homem uma cesta básica com alimen­
tos para pelo menos 15 dias. Agenor, com lágrimas nos olhos, agradece
a confiança daquele homem e marca para o dia seguinte seu início no
trabalho. Ao chegar a casa com toda aquela “fartura”, Agenor é um
novo homem. Sentia esperanças, sentia que sua vida iria tomar novo
impulso. Deus estava lhe abrindo mais do que uma porta; era toda
uma esperança de dias melhores.
No dia seguinte, às cinco da manhã, Agenor estava na porta da
padaria, ansioso para iniciar seu novo trabalho. Amaro chega logo em
seguida e sorri para aquele homem que nem ele sabia por que estava
ajudando. Tinham a mesma idade, 32 anos, e histórias diferentes, mas
algo dentro dele empurrava-o para ajudar aquela pessoa. E ele não se
enganou: durante um ano Agenor foi o mais dedicado trabalhador da­
quele estabelecimento, sempre honesto e extremamente zeloso com
seus deveres.
Um dia Amaro chama Agenor para uma conversa e fala da
escola que abriu vagas para a alfabetização de adultos, localizada um
quarteirão acima da padaria, e que ele fazia questão que Agenor fosse
estudar. Agenor nunca esqueceu seu primeiro dia de aula: a mão trê­
mula nas primeiras letras e a emoção da primeira carta. Por ser adulto,
Agenor fez o antigo ginásio e o segundo grau de maneira mais acelera­
da, pelo sistema supletivo.
60
Restaurando os Soldados Feridos

Doze anos se passam desde aquele primeiro dia de aula. Agora


vamos encontrar o Dr. Agenor Baptista de Medeiros, advogado, abrin­
do seu escritório para seu cliente, e depois outro, e depois mais outro.
Ao meio-dia ele desce para um café na padaria do amigo Amaro, que
fica impressionado ao ver o “antigo funcionário” tão elegante em seu
primeiro terno.
Mais dez anos se passam, e agora o Dr. Agenor Baptista, já
com uma clientela que mistura os mais necessitados que não podem
pagar com os mais abastados que o pagam muito bem, resolve criar
uma Instituição que oferece aos desvalidos da sorte, que andam pelas
ruas (pessoas desempregadas e carentes de todos os tipos) um prato
de comida diariamente na hora do almoço. Mais de 200 refeições são
servidas diariamente naquele lugar, que é administrado pelo seu filho,
o agora nutricionista Ricardo Baptista.
Tudo mudou, tudo foi passando, mas a amizade daqueles dois
homens, Amaro e Agenor, impressionava a todos que conheciam um
pouco da história de cada um.
Contam que aos 82 anos os dois faleceram no mesmo dia,
quase que na mesma hora, cada um morrendo placidamente com um
sorriso de dever cumprido.
Ricardinho, o filho do Amaro, mandou gravar na frente da
‘Casa do Caminho’, que seu pai fundou com tanto carinho:
“Um dia eu tivefome, e você me alimentou. Um dia eu estava sem esperanças e
você me deu um caminho. Um dia acordei sozinho, e você me deu Deus, e isso
não tem preço. Que Deus habite em seu coração e alimente sua alma. E que te
sobre o pão da misericórdia para estendera quem precisarl”
Relato encontrado no blog do médico Vladimir Antonini.
Com leves adaptações nossas. Pode ser acessada
no seguinte endereço: www.antonini.med.br.

61
Pr. Abe Huber

OUTRO SAMARITANO DOS DIAS MODERNOS


Eu viajo muito. Costumo visitar várias igrejas, tanto
grandes como pequenas, não só no Brasil, como também em
outras partes do mundo. Nessas viagens eu ouço as histórias
de muitas pessoas, fatos e situações que acontecem com elas.
Mas eu não conheço uma igreja que demonstre tanto amor
como a Igreja da Paz de Santarém, no Pará. Eu falo muito sobre
essa. Quase vinte e quatro anos do meu ministério pastoral
aconteceram lá. A maior parte dos testemunhos que eu conto
têm aquela cidade e igreja como cenário. Eu sei que talvez esteja
puxando muita brasa para a minha sardinha, mas mesmo assim
quero correr esse risco.
Certa vez um dos irmãos da Igreja da Paz Santarém viu
um rapaz jogado na sarjeta. Ele nunca tinha visto aquele moço
antes. Era um homem jovem, bêbado e dormindo naquela sarjeta
imunda. Ainda era de dia, e como aquela sarjeta ficava no centro
comercial da cidade, as pessoas passavam de lado, por cima dele.
Era uma multidão de gente trafegando, sem muito espaço para
locomoção, pois as ruas do centro de Santarém são antigas,
estreitas e quase sem calçada. O homem parecia completamente
destruído pelo vício.
Nosso bom samaritano aqui era o Irmão Rone. Naquele
tempo ele era só um membro da igreja, mas hoje, graças a Deus,
é um pastor bem-sucedido na cidade de Fortaleza, no Ceará.
Ele é meu discípulo e faz parte da minha equipe pastoral, em
Fortaleza. Então, ele pegou aquele homem nos seus braços,
o colocou dentro de um táxi, e disse para o taxista: “Você pode
me seguir”. Assim, o Rone pegou sua moto e o taxista foi lhe
seguindo. Só que o Rone não sabia onde o bêbado morava. Daí,
ele decidiu levar aquele cidadão completamente alcoolizado para
a sua própria casa.
Enquanto eles estavam a caminho da casa do Rone, o
homem acordou dentro do táxi. Ele perguntou para o taxista:
62
Restaurando os Soldados Feridos nS

“E i, o que está acontecendo?” O taxista respondeu: “Não sei! Tô


seguindo aquele homem que está na moto, à nossa frente; ele te colocou
aqui e disse para eu segui-lo”. O bêbado replicou: “M as para onde
ele uai?” O rapaz teve uma surpresa agradável, quando chegou à
casa do Rone.
Chegando lá, Rone providenciou um banho para o
homem, para que depois pudesse fazer uma refeição. E em
seguida ministrou a Palavra de Deus para aquele jovem, na
intenção de ajudá-lo a sair daquela situação escravizante.
Quando eu cheguei a saber desta história, já havia uma
célula na casa do ex-bêbado. Ele e sua família estavam totalmente
transformados por Jesus. E ele próprio tornou-se líder de célula,
e continua crescendo em Deus. Eu escuto fatos como esse todos
os dias, de como Deus tem usado muitos de nossos membros
para curar as feridas de centenas e milhares de doentes espirituais.

Comendo frente afrente com o Rei


João escreveu o livro de Apocalipse para crentes. As cartas às
sete igrejas da Ásia foram escritas para cristãos, pessoas que já
tinham entregado suas vidas ao Senhor, mas que por algum
motivo esfriaram na fé, como o próprio contexto demonstra. Na
realidade, o versículo que se segue, extraído daquele contexto, é
para o soldado ferido - para aquele que um dia fez uma decisão
pública de servir a Deus, e agora está afastado. Vejamos:
“Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a
minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e
com ele cearei, e ele comigo” (Apocalipse 3.20).
O ato de cear, na cultura judaica, é algo muito profundo.
Há um significado muito especial em estarem juntos na mesma
casa, comendo um com o outro. Trata de íntima e profunda
63
Pr. Abe Huber

comunhão. Isto se aplica a você que se encontra ferido pelas


circunstâncias ruins que está enfrentando. Por isso o Senhor
Jesus lhe diz: “Eu o amo e quero ter íntima comunhão com você. Eu
estou batendo na porta do seu coração porque, mesmo que você já tenha
entregado sua vida para mim, eu quero muito mais intimidade. Sou eu
que lhe digo: abra a porta”.
Jesus disse: “Se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta,
entrarei em sua casa”. O Senhor não está dizendo que às vezes
Ele vai entrar, outras não. Veja que para Jesus não há impossíveis.
Não sei qual é a sua situação. Pode ser o pecado que assola a sua
vida ou o vício que tenazmente ou agarra, tentando derrubá-lo.
Mas eu sei de um Deus que é mais poderoso do que todos esses
pecados.
Jesus diz: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos,
e eu vos aliviarei” (Mateus 11.28). Jesus Cristo não disse que
ajudaria uns e não ajudaria a outros. Ele não disse que é carma,
que é o destino deles. Não, isso é mentira do diabo! Jesus está
disposto a ajudar todas as pessoas que forem até Ele.
O SEU REI PRECISA DE VOCÊ
Existe uma história verídica, não sei se serei tão claro e
preciso em todos os detalhes, pois faz muito tempo que a ouvi
pela primeira vez. N o entanto, tentarei expô-la com a maior
clareza. O que importa é a lição que todos nós podemos tirar
dela.
A Inglaterra é uma monarquia. Lá o rei ou a rainha é o
chefe soberano, politicamente falando. Hoje quem lá reina é a
Rainha Elizabeth II, e o primeiro-ministro é o chefe de governo.
Mas conta-se de um período quando o país era governado por
um rei, e ele estava travando uma grande guerra com outro país,
com uma nação inimiga. Havia muitos soldados no front, todos
lutando pela sua terra no campo de batalha.

64
Restaurando os Soldados Feridos

Aconteceu que um determinado soldado se feriu


horrivelmente nos combates. O acidente foi tão grave que duas
situações estavam presentes ali, o tempo todo: na primeira, ele
podia morrer a qualquer momento, e na outra, ele sentia dores
como nunca tinha sentido antes na história de sua vida.
Levaram o soldado para o hospital, e ele ficou vários dias
sofrendo dores terríveis, a ponto de desmaiar de dor muitas
vezes. N um dos momentos de lucidez ele mandou chamar o
médico, e disse:
— Doutor, seja bem honesto comigo; fale-me a verdade!
Existem chances de sobrevivência para mim?
O médico, com toda franqueza, lhe respondeu:
— Olha, soldado, o seu caso é caótico, bem difícil mesmo,
mas nós vamos fazer tudo o que está ao nosso alcance para salvar
a sua vida.
O soldado estava se contorcendo em dores. Depois que
o médico foi embora, ele chamou uma enfermeira e lhe disse:
— Quero lhe pedir um favor muito especial.
A mulher, com muita pena daquele soldado tão sofrido,
respondeu:
— Sim, pode falar o que deseja.
O jovem soldado disse:
— Aplique-me uma injeção letal para que eu morra. O
médico me desenganou e já não aguento tanto sofrimento; as
dores são maiores do que posso suportar.
A enfermeira replicou:
— Jamais farei tal coisa!
Mas, de tanto ele insistir, ela finalmente disse:
— Olhe, só se você pedir a autorização do médico.
O soldado mandou chamar o médico para lhe fazer
o pedido. E repetiu o mesmo pedido já feito à enfermeira. O
médico também disse que não poderia tomar essa decisão, a não
ser que tivesse a autorização oficial do rei. Ele perguntou:
— Como eu poderei pegar essa autorização?
— Você precisa mandar uma carta para o rei.

65
Pr. Abe Huber

Então o soldado chamou e enfermeira e ditou uma carta.


E foi escrito mais ou menos assim: “Senhor rei, eu sou um dos seus
soldados e tenho lutado há muitos anos nos campo de batalha. M as agora
parece que minha vida está chegando aofinal. O médico praticamente me
desenganou, e me disse que quase não tenho mais chances de sobrevivência ”.
Ele continuou a ditar para a enfermeira: “E u estou sofrendo
dores tão horríveis que peço a Vossa Majestade a permissão para morrer.
Autorize o médico a me aplicar a injeção para que eu morra mais rápido
e me livre de tal situação”.
Não demorou muito e o soldado recebeu uma carta-
resposta do rei. E para sua surpresa, tinha sido escrita de próprio
punho, pelo rei, a quem ele não conhecia pessoalmente. A
enfermeira, então, leu a carta para o soldado. Eu me comovo
muito com essa carta, pois entendo que o próprio Jesus faz a
mesma coisa com aquele soldado que quer desistir no meio do
caminho e acabar com tudo o que conquistou depois de vários
anos de luta. Veja o que o rei falou para aquele soldado:
“Querido soldado fiel, primeiramente dou-lhe minhas
congratulações pelo excelente trabalho que você desenvolveu
no decorrer desses anos, lutando pela nossa pátria nos campos
de batalha. Porém, com relação ao seu pedido, eu não posso
atendê-lo, pois você é um soldado muito importante para
mim. Saiba que o seu rei precisa de você, soldado. Preciso
de você curado, bom e de volta aos meus campos de batalha.
Eu, como seu rei, proclamo que você ainda vai lutar comigo
epela nossa pátria”.
Quando a enfermeira terminou de ler aquela carta, o
soldado semimorto, sofrendo tantas dores, recobrou o ânimo
e falou: “Bem, se o meu rei disse que eu vou viver, então eu vou! Eu
vou ficar bom”. Então ele começou a colaborar com o processo
de cura, a ponto de parecer uma recuperação quase milagrosa,

66
\
Restaurando os Soldados Feridos

e ele ficou completamente curado. Em poucos meses o grande


soldado ficou totalmente sarado daqueles ferimentos. E voltou
aos campos de batalha, e chegou a vencer a guerra, e desfrutar da
vitória daquela guerra para o seu rei.
Se por acaso você é um soldado ferido, eu quero lhe dizer,
em nome do Senhor Jesus, que o seu Rei precisa de você. Ele
está bem certo que você ficará bom e lutará muito nos campos
de batalha. A Bíblia fala: “Não sejam vencidos pelo mal, mas vençam o
mal com o bem” (Romanos 12.21). Deus garante vitória para você,
em nome de Jesus.
Eu e minha esposa temos uma amiga muito preciosa,
a pastora e cantora Alda Célia. Ela compôs uma canção muito
linda, que fala assim:
SOLDADOS FERIDOS - A ld a C ília
Quantos soldados feridos Ministrar a cura
Esquecidos no caminho Restaurar as vidas
Deixados pra trás E envolvê-los com o manto
Sentindo agonia e temor De amor do Pai
Que preferiu nos perdoar
Levam em si grande culpa E nunca desprezou
O desespero e a dor
Por terem manchado Vamos tapar suas brechas
O nome de Cristo, o Senhor Levantar os muros de proteção
Edificar novamente
Clamam por nossa ajuda O altar de adoração
E clamam por nosso amor
Clamam por mãos estendidas Vamos levar nos ombros
Que devolvam a esperança Os que foram na guerra atingidos
perdida Pois só o amor fortalece
Joelhos trôpegos e desfalecidos.
Somos chamados
Para derramar o óleo
Seus instrumentos
Pra sarar sua feridas
67
C a p ít u io 5

DAVI E A CAVERNA
DE ADULÃO
Restaurando os Soldados Feridos

Davi é um dos maiores símbolos de líder restaurador,


de comandante, general, de líder que entendia o coração e as
necessidades dos seus soldados. As vezes, até mais do que eles
mesmos.
O texto de I Samuel 22.1-5 relata o período em que Davi
ficou na Caverna de Âdulaó - um lugar de refúgio, decisivo
para todos os rumos futuros que a vida e o ministério de Davi
tomariam:
“Davi retirou-se dali e se refugiou na caverna deAdulão;
quando ouviram isso seus irmãos e toda a casa de seu pai,
desceram ali para ter com ele. Ajuntaram-se a ele todos
os homens que se achavam em aperto, e todo homem
endividado, e todos os amargurados de espírito, e ele se
fez chefe deles; e eram com ele uns quatrocentos homens.
Dali passou Davi a Mispa de Moahe e disse ao seu rei:
Deixa estar meu pai e minha mãe convosco, até que eu
saiba o que Deus há defazer de mim. Trouxe-os perante
o rei de Moahe, e com este moraram por todo o tempo que
Davi esteve neste lugar seguro. Porém o profeta Gade
disse a Davi: Não fiques neste lugar seguro; vai e entra
na terra de Judá. Então, Davi saiu efoi para o bosque
de Herete”.

E interessante o significado do nome. Adulão era um


local de refúgio. Significa, literalmente: “Justiça do povo". Davi
pessoalmente precisava se refugiar; precisava de um tempo
de retiro para recuperar suas energias espirituais e repensar os
passos futuros.
Com base no texto acima, podemos inferir algumas lições
que podem ser aprendidas da experiência de Davi em Adulão.
Pr. Abe Huber

ADULÁO É LUGAR DE REAGRUPAMENTO


E RESTAURAÇÃO FAMILIARES
A parte b do verso 1 mostra que Davi, que antes tinha sido
desvalorizado por sua família, agora é procurado por ela. Seus
irmãos e parentes fogem para estar junto dele e ali encontram
refúgio. Davi não estava presente na parte inicial da festa em que
Samuel o ungiu rei, nem foi bem acolhido por seus irmãos junto
ao exército de Saul. Parece que hoje, muitas vezes, líderes e
soldados precisam desse refrigério na “caverna”, onde os vínculos
e a harmonia familiares são restaurados e o exército preparado.
Os versículos 3 e 4 mostram a preocupação de Davi pelos
de sua casa. Davi não somente honrava seu pai e sua mãe, mas
queria o melhor para eles. Foi assim que ele passou a Mispa de
Moabe e ali negociou estadia segura e sustento para seus entes
queridos. Você vai com mais garra e valentia para a guerra quando
sabe que a sua família está bem e segura.
Será que nossas igrejas, nossas células, nossas reuniões
têm contado com a presença de famílias? Maridos e mulheres,
pais e filhos, irmãos em geral: será que eles estão encontrando
junto a nós esse espaço de restauração, de cura, de perdão, de
crescimento? Deve ser assim, em nome de Jesus!
ADULÁO É LOCAL DE PROFUNDIDADE
A caverna de Adulão é um sistema de corredores sem
fim e com passagens transversais que ainda não foi explorado
por completo pela paleontologia. Isso nos sugere que em
Adulão devemos nos separar de tudo que nos impele a
satisfazer a vontade de nosso ego e entrarmos na profundidade
do conhecimento de Deus. Precisamos ser uma “caverna” de
ensino, de amadurecimento, onde se ensina todo o desígnio de
Deus e se promove o crescimento de todos.
Restaurando os Soldados Feridos

ADULÃO, LOCAL DE QUEBRANTAMENTO


E HUMILHAÇÃO
Davi já tinha sido ungido rei por Samuel (I Samuel
16.1,13), mas estava sendo perseguido e oprimido por Saul,
o primeiro rei de Israel, e teve que fugir para preservar sua
vida. A caverna de Adulão era um lugar comum, sem nada de
especial, sem beleza alguma. As cavernas são lugares escuros,
frios, solitários. Poderíamos até dizer que uma caverna não é
lugar para um rei. Se Davi estivesse em um palácio, mais pessoas
estariam naquele momento com ele. Mas para aquele ambiente
isolado, longe das capitais e longe das badalações, só vinham as
pessoas que realmente precisavam dele.
PARADOXALMENTE, ADULÃO É LUGAR DE REIS
Apesar de já ter sido ungido rei, Davi não tinha qualquer
experiência de governo. Precisava primeiro aprender a governar
a si mesmo, governar sua própria casa, e cuidar daquele grupo
de homens que o procuraram para apoio pessoal e liderança.
Adulão é lugar de estágio para reis. Ninguém poderia imaginar
que o maior rei de Israel, escondido naquela caverna, estivesse
começando um reinado de justiça e expansão.
Muitos daqueles que realizam as melhores obras para
Deus hoje já estiveram antes na “caverna”. São pessoas que
se machucaram e sofreram, que aprenderam a valorizar a
misericórdia e a graça de Deus, e que por isso mesmo são mais
sensíveis às necessidades dos outros. Eles compreendem que o
ser humano está sujeito a quedas e fracassos, mas que há sempre
um caminho apontando para o Calvário, para Jesus, para a vitória.
E por terem feito eles mesmos esses caminhos de ida e de volta,
recebendo de Deus e de outros irmãos amor e compreensão,
eles podem agora ajudar aqueles que ainda lutam para acertar o
passo.
73
Pr. Abe Huber

ADULÃO É LOCAL DE REFÚGIO PARA


SOLDADOS FERIDOS
As pessoas que vieram até Adulão eram miseráveis,
aflitas, amarguradas, tensas, estressadas com a vida, carregadas
de culpas, mas encontraram em Davi um amigo que os recebeu.
Diz o versículo 2: “Ajuntaram-se a ele todos os homens que se achavam
em aperto, e todo homem endividado, e todos os amargurados de espírito, e
ele sefe z chefe deles; e eram com ele uns quatrocentos homens ”.

Soldados “em aperto”


São aqueles que não sabem mais o que fazer, chegaram
aos seus limites, perderam a esperança e a perspectiva de futuro.
Estão cheios de problemas. Eles precisam ir a Jesus e deixar na
cruz os seus fardos. Muitos daqueles eram soldados rejeitados
ou demitidos pelo exército de Saul. No nosso contexto de hoje,
precisamos ser como Davi: acolhê-los para que voltem a ser
soldados valorosos e vencedores.
Soldados “endividados”
São pessoas conscientes de seus erros, que estão convictas
de seus pecados. São os inadimplentes espirituais e sociais.
Pessoas que desgastaram amizades e relacionamentos por causa
de dívidas, tanto financeiras como promessas não cumpridas,
falhas de realizações. São aquelas que perderam espaço e
confiança em seu meio social e até na igreja. Essas pessoas, cujo
peso da culpa traz vergonha e tristeza, encontram em Adulão o
refúgio e a orientação de um Deus misericordioso, através de
um líder amoroso e acolhedor.

74
Restaurando os Soldados Feridos ^

Soldados “amargurados de espírito”


São os acometidos de depressão, derrotismo, más
lembranças do passado (traumas), vítimas de traição, causadores
de traição que querem ajuda. Nesta caverna devem se despir de
tudo que mascara a sua realidade, e entregar seus problemas a
Deus. A caverna funcionou como uma grande enfermaria, e suas
pedras como verdadeiros divãs que ajudaram aqueles homens a
se tornarem heróis de um grande reino. Saíram de lá para reinar
junto com Davi.
ADULÃO É LUGAR DE M UDANÇA DE
REINO E LIDERANÇA
Quase todos os homens vinham de um só lugar: do
reino e do exército de Saul. Lá eles não tiveram apoio nem
cuidado. Saul significa uma igreja ou liderança que não acolhe,
não cuida dos feridos, não discipula, não garante crescimento
com qualidade. N o exército de Saul só havia cobrança e regras
rígidas. E ainda tinham que conviver num reino e com um
rei que não possuía mais a bênção de Deus, e por isso mesmo
andava irritado, inseguro, frustrado, paranóico, e transferia isso
para todas as suas tropas. Só a misericórdia mesmo.
A misericórdia estava com Davi. Ao entrar no reino
de Davi, os antigos - mas agora novos de novo - soldados
precisavam mudar seu posicionamento; abandonar o antigo
padrão que escravizava e não resolvia suas mazelas e submeter-
se a Davi como seu novo chefe e rei. Foi isso que eles fizeram,
e os resultados estão contados nos livros de I e II Samuel e I
Crônicas. Junto a Davi eles encontraram descanso, restauração
e renovação. Com a subida de Davi ao trono, passaram a fazer
parte de seu reino, sendo o grupo que faria de Israel uma nação
poderosa, temida e vencedora.
75
C a pítu lo 6

OUTROS SOLDADOS QUE


DAVI RESTAUROU

77
Restaurando os Soldados Feridos

Precisamos, de uma vez por todas, como líderes e como


membros do corpo de Cristo, dar um basta naquele ditado que
diz que “o exército cristão é o único que não se preocupa com seusferidos”.
U m soldado ferido e deixado para trás, além de ser uma baixa,
uma arma a menos do nosso lado, pode ser colhido pelo inimigo e
se transformar em uma arma contra nós, principalmente quando
o inimigo faz por ele o que nós deixamos de fazer. É melhor
gastar tempo para ajudar, curar, restaurar, do que ter a surpresa
de ver nosso ex-companheiro d e farda lutando pelo outro lado.
Mas, infelizmente, isso acontece com mais frequência do que
nós gostaríamos de aceitar.
A Bíblia fala de uma história que aconteceu nos dias do
rei Davi. O ungido - mas ainda não empossado - rei Davi estava
sendo perseguido por Saul, fugindo errante pelos montes e
pelos desertos. Davi era um soldado de Saul, mas este o excluiu
e tentava matá-lo. Tudo por inveja, pois Davi tinha comunhão
com Deus e Saul havia sido rejeitado, por conta de seu coração
rebelde e desobediente ao Senhor. U m bando de homens se
ajuntou a Davi e com ele andavam de um lugar para outro,
de esconderijo em esconderijo, até que Deus resolvesse a
situação em Israel. Eram ao todo 600 homens, e suas famílias os
acompanhavam para todo lugar.
Houve um período em que a comitiva de Davi estava
morando na cidade de Ziclague. Originalmente esta era uma
cidade dos israelitas, mas nas muitas lutas com os filisteus,
territórios eram ganhos e territórios eram perdidos. Naquele
momento, Ziclague pertencia aos filisteus. Mas como havia
grande inimizade entre Saul e os filisteus, e como Davi era um
fugitivo de Saul, aqueles se tornaram tolerantes e até mesmo
aliados de Davi. Por isso o rei de Gate, Aquiz, cedeu o território
de Ziclague a Davi quando este se encontrava fugindo de Saul (I
Samuel 27.6). Mas havia outros grupos inimigos ao redor, como
os amalequitas, antigos rivais de Israel.
Pr. Abe Huber

Certa ocasião, quando Davi e seus homens não estavam


na cidade, os amalequitas assolaram Ziclague, levando cativas
as mulheres e a todos os que estavam ali, desde o menor até o
maior. O texto se encontra em I Samuel, capítulo 30.
“Quando D avi e seus soldados chegaram a Ziclague, no terceiro
dia, os amalequitas tinham atacado oNeguebeeZiclague, e haviam
incendiado a cidade. Levaram como prisioneiros todos os que lá
estavam: as mulheres, osjovens e os idosos. A ninguém mataram,
mas os levaram consigo, quando prosseguiram seu caminho. Ao
chegarem a Ziclague, D avi e seus soldados encontraram a cidade
destruída pelo fogo e viram que suas mulheres, filhos e filhas
haviam sido levados como prisioneiros” (I Samuel 30.1-3).
Davi e seus homens fizeram uma longa caminhada para
casa, depois das últimas guerrilhas. Fizeram uma marcha forçada
de cerca de 100 quilômetros, de Afeca até Ziclague. Quando
se aproximaram de Ziclague, ficaram horrorizados ao ver que
a cidade tinha sido destruída e suas famílias levadas cativas.
Ninguém foi morto, mas tudo o que tinha vida foi levado. O
pouco consolo foi saber que suas famílias ainda estavam vivas.
Cada um imagina o que poderia estar acontecendo (ou o que
aconteceria em breve) com sua esposa e filhos. Na melhor das
hipóteses eles se tornariam escravos, para um trabalho duro e
tratamento cruel. Na pior... eles não queriam nem pensar. As
duas esposas de Davi também foram levadas.
Os 600 guerreiros estão muito angustiados pelo que
aconteceu à sua cidade e às suas famílias. Eles choram até não
terem mais lágrimas. Então, começam a pensar sobre como
aquilo veio a acontecer. Fora ideia de Davi trazê-los para território
filisteu (I Samuel 27.1-4); foi Davi quem lhes pediu para que
vivessem nessa cidade remota (27.5-6), e foi ele quem os levou
a lutar a favor dos filisteus, deixando suas famílias vulneráveis
a esse ataque. Alguns ficaram tão furiosos que falavam até em
apedrejar Davi.
80
Restaurando os Soldados Feridos

Diante de toda aquela situação aterradora, a Bíblia diz que


Davi se reanimou no Senhor, e Lhe perguntou: “Devo perseguir
este bando de invasores? Irei alcançá-los? E o Senhor respondeu: Persiga-
os; é certo que você os alcançará e conseguirá libertar os prisioneiros” (I
Samuel 30.8). Com uma grande confiança no Senhor, fruto da
fé e da comunhão, David partiu com 600 homens. E olhe que
eles tinham acabado de chegar, estavam cansados, e ainda por
cima com um sentimento terrível de perda e desapontamento.
Mas Davi confiou em Deus e tinha uma palavra Dele.
O SOLDADO DOENTE DOS AMALEQUITAS
Davi e sua turma não tinham qualquer pista - a região era
vasta e o vento apagava facilmente o rastro das tropas inimigas
pela areia. Além de cansados e desanimados, ainda tiveram uma
evasão de mais de 30% no número de combatentes. 200 deles
resolveram não ir à perseguição aos amalequitas. Mesmo assim
Davi continuou a perseguição, só que agora com 400 homens.
Imagino que isso derrubou ainda mais o ânimo das tropas.
O sol era escaldante, o terreno acidentado e cheio de
esconderijos naturais. Parece que eles não sabiam mais onde
procurar, até que um fato novo muda drasticamente a situação.
Os homens encontram um egípcio caído no campo, e o trazem
até Davi. O que fez Davi e seus homens? Mataram-no como um
inimigo imprestável? Não! Muito pelo contrário: eles deram-
lhe água e comida. O versículo 12 diz que eles lhe deram um
pedaço de bolo de figos prensados e dois bolos de uvas passas.
Ele comeu e recobrou as forças, pois tinha ficado três dias e três
noites sem comer e sem beber. Uma refeição digna do próprio
Davi.
Aquele soldado tinha servido ao amalequita por muito
tempo, acompanhando-lhe fielmente em tudo, e até tinha ido
para a guerra com ele. Mas agora, depois do ataque à cidade

81
Pr. Abe Huber

de Ziclague, o soldado egípcio a serviço dos amalequitas caiu


enfermo. Seu senhor não quis perder tempo com medicamentos,
não quis ajudar na recuperação. Também não quis fazer com
que o servo fosse carregado, já que não conseguia andar sozinho.
Será que Deus abandona Seus soldados quando eles
ficam doentes? Será que Ele desiste daqueles que se afastaram
da comunhão, seja por qual motivo for? Pensemos somente
nas parábolas da ovelha perdida, do bom samaritano e do filho
pródigo. Mas aquele amalequita só valorizava o seu servo
enquanto ele lhe era útil, enquanto podia trabalhar e aumentar
suas rendas, até quando podia vigiar e proteger seus bens.
N o versículo 14 fica bem claro que o escravo era um
homem forte: “N ós atacamos o Neguebe dos queretitas, o território
que pertence a Judá e o Neguebe de Calebe. E incendiamos a cidade
de Ziclague”. Com esta declaração podemos entender que ele
participou da batalha, mas depois ficou enfermo, perdeu seu vigor
e foi abandonado no caminho, para morrer. Em contrapartida,
mesmo sendo um adversário de Davi, ele foi restabelecido com
comida e bebida. Agora, recuperado e restaurado, se converteu
num instrumento útil para Davi e seus homens. Pela informação
providenciada pelo egípcio eles localizaram os adversários e
resgataram com vida a todos os cativos. Além disso, tomaram
grandes despojos dos amalequitas derrotados, a ponto de repartir
com os 200 que ficaram cuidando da bagagem e ainda mandar
presentes para os príncipes das cidades de Judá.
Aquele servo não era material descartável, mas um
ser humano que tinha sentimentos, capaz de fazer grandes
conquistas. Para o seu senhor ele não tinha mais serventia,
mas recuperado por Davi ele se tornou um verdadeiro “GPS-
humano” para localizar o bando de seqüestradores. E os
amalequitas pagaram caro pela atitude de abandonar o soldado,
pois ele se transformou num instrumento determinante para a
sua derrota.

82
Restaurando os Soldados Feridos

Será que não existem soldados nossos que estão sendo


recuperados e recrutados pelo inimigo contra nós? Essa é uma
realidade assustadora, pois aqueles que já lutaram ao nosso lado
conhecem a língua que falamos, entendem nossos hábitos e
costumes, conhecem nossas fraquezas e sabem identificar nossas
estratégias. Eles sabem como nós funcionamos e por isso mesmo
se tornam mais perigosos, quando a serviço dos inimigos.
Imagine se fosse um soldado de Davi achado pelos amalequitas?
EXISTEM D U A S LIÇÕ ES IM PORTANTES QUE
PO D E M O S TIRAR DESTA HISTÓRIA:
Não se deve abandonar osferidos, pois isto demonstra
uma terrívelfalta de amor, e ingratidão
Aquele amalequita considerava seu servo como um
mero objeto. Enquanto o servo produzia, rendia lucros e dava
resultados, ele tinha valor; mas quando caiu enfermo, foi
descartado e deixado para trás, à beira do caminho. Como agimos
com aqueles nossos irmãos que fracassaram na vida espiritual?
Grande encorajamento pelo exemplo de Davi
Quando encontrou o egípcio, Davi não o matou, nem
o ignorou. Mesmo sendo um inimigo, ele o socorreu. Quando
encontramos um irmão caído não devemos olhar para ele como
um inimigo ou algo contaminado que pode nos contagiar.
Devemos fazê-lo notar que o sangue de Jesus Cristo é o remédio
infalível que cura e purifica.
A grande lição de Davi no trato com o soldado egípcio a
serviço dos amalequitas é que ele encontrou um inimigo ferido
e o tratou como amigo, restaurando-o para seu serviço. A igreja

83
Pr. Abe Huber

moderna, muitas vezes, encontra seus próprios soldados caídos


e os trata como inimigos, matando-os ou deixando-os para ser
encontrados pelo exército do outro lado.
Precisamos perguntar-nos sempre: Pertencemos ao
exército que se preocupa com os soldados feridos? Ou somos
tão indiferentes quanto o amalequita? Ficamos muito satisfeitos
quando as ovelhas nos dão lã e leite, dízimos e ofertas, quando
participam das reuniões, oram e ajudam na evangelização e nos
ministérios... Mas, o que acontece quando uma delas aparece
com um olho batido ou quebra uma perna? Nós a acusamos
diante das demais? Nós a consideramos um traidor? Ou fazemos
tudo para que ela volte para casa, como fez aquele bom pastor da
parábola, que deixou as noventa e nove em segurança e foi em
resgate da desgarrada? (Mateus 18.12-14).
Em qualquer batalha, alguns soldados caem feridos, e é
nosso sagrado dever não ignorá-los, mas sim providenciar-lhes
socorro imediato.
UMA LIÇÃO DAS FORMIGAS COMO SOLDADOS
Se observarmos as formigas, veremos que elas seguem
o seu objetivo persistentemente, com disciplina militar.
Elas conservam o mesmo ritmo e realizam seu trabalho.
Aparentemente elas têm pouca força, mas conseguem grandes
realizações. A Bíblia repetidamente nos manda aprender com o
exemplo das formigas. E elas têm muito mais a ensinar do que
apenas deixar a preguiça de lado.
As formigas são fracas, mas elas sabem cuidar umas
das outras. Se você agarrar uma delas, arrancar-lhe uma
perninha e logo voltar a colocá-la entre as outras, ela não
ficará abandonada. Logo outra formiga vai parar para examiná-
la, demonstrando preocupação e misericórdia. Rapidamente a
formiga ferida será levantada e amparada por sua companheira,
e não ficará exposta à morte nesse lugar.
84
Restaurando os Soldados Feridos

As formigas não apenas nos ensinam a trabalhar, mas


também a perseverar e a conquistar. Mas ainda nos mostram o
amor e a misericórdia de umas para com as outras.
Devemos ter atitudes de formiga quando a questão é
ajudar nossos colegas feridos. Quando vemos um irmão ou
companheiro de luta com as pernas quebradas, caído no pecado,
detemos nossa marcha para demonstrar-lhe amor e misericórdia?
Averiguamos qual foi o motivo dessa situação? Carregamos
nossos irmãos sobre os ombros da oração até que ele se reabilite?
OS SOLDADOS CANSADOS DE DAVI
Na tentativa de alcançar os seqüestradores, Davi e seus
homens com certeza tiveram que marchar com todas as suas
forças. Havia pouca ou nenhuma montaria. Os poucos cavalos
serviam para puxar carroças, não para conduzir os soldados. Toda
a marcha era feita a pé. A medida que o tempo passa e o calor do sol
os afeta, eles vão ficando cansados. Quando chegam às margens
do ribeiro de Besor, um terço dos homens simplesmente não
aguenta prosseguir. Eles têm todos os motivos do mundo para
querer prosseguir: suas famílias estão em perigo e eles querem
estar lá para resgatá-las, mas simplesmente faltam-lhes as forças
para continuar. Duzentos homens desmoronam ali próximo ao
ribeiro, incapazes de sair do lugar. Mesmo que seguissem em
frente, só iriam retardar os demais. Davi e os outros 400 homens
prosseguem, deixando a maior parte da bagagem para trás com
os que ficaram, a fim de se moverem mais rápido, gastando
menos energia.
A divisão dos despojos
Os guerreiros de Davi não eram perfeitos. Como em
qualquer equipe eles tinham disputas, intrigas, interesses e
comportamentos que precisavam de ajuste. O crescimento ao
lado de Davi foi progressivo, gradual, e é importante lembrar
85
Pr. Abe Huber

que esse episódio do sequestro de suas famílias e seus bens não


foi muito depois de saírem da segurança da caverna de Adulão.
Eles ainda estavam crescendo e aprendendo.
O texto de I Samuel 30.21-31 é muito esclarecedor, e
mostra que seus corações ainda precisavam de quebrantamento,
generosidade. Foram generosos com o egípcio que lhes ajudou
a achar o bando de amalequitas, mas não quiseram ser tão
compreensivos com seus companheiros que haviam ficado para
trás. Vejamos o texto.
“Chegando Davi aos duzentos homens que, de cansados
que estavam, não o puderam seguir eficaram no ribeiro
de Besor, estes saíram ao encontro de Davi e do povo
que com ele vinha; Davi, aproximando-se destes, os
saudou cordialmente. Então, todos os maus e filhos de
Belial, dentre 05 homens que tinham ido com Davi,
responderam e disseram: Visto que não foram conosco,
não lhes daremos do despojo que salvamos; cada um,
porém, leve sua mulher e seus filhos e se vá embora.
Porém Davi disse: Não fareis assim, irmãos meus, com
0 que nos deu 0 SE N H O R , que nos guardou e entregou
às nossas mãos 0 bando que contra nós vinha. Quem
vos daria ouvidos nisso? Porque qual é a parte dos que
desceram à peleja, tal será a parte dos queficaram com a
bagagem; receberão partes iguais. E assim, desde aquele
dia em diante, foi isso estabelecido por estatuto e direito
em Israel, até ao dia de hoje. Chegando Davi a Ziclague,
enviou do despojo aos anciãos de Judá, seus amigos,
dizendo: Eis para vós outros um presente do despojo dos
inimigos do SE N H O R : aos de Betei, aos de Ramote do
Neguebe, aos deJatir, aos de Aroer, aos de Sifmote, aos de
Estemoa, aos de Racal, aos que estavam nas cidades dos
jerameelitas e nas cidades dos queneus, aos de Horma,
aos de Borasã, aos de Atace, aos de Hebrom e a todos os
lugares em que andara Davi, ele e os seus homens.”
86
Restaurando os Soldados Feridos

Um grupo de soldados mesquinhos


A vitória foi grande. Eles recuperaram tudo que havia
sido tomado, tanto as pessoas, como o gado, como outros bens.
Na realidade a conquista foi ainda maior do que eles poderiam
imaginar. Na realidade, Davi e seus homens não recuperaram só
o que haviam perdido; eles conquistaram também uma porção
de coisas extra. Antes de atacar Ziclague, os amalequitas tinham
invadido muitas cidades e vilas filistéias e israelitas. Em todas elas
eles fizeram saques e pilhagens e arrecadaram muitos despojos.
E esses despojos agora representam o principal problema que
Davi tem diante de si. Alguns dos 400 homens que derrotaram
os amalequitas se recusaram terminantemente a reparti-los com
os 200 homens que ficaram para trás.
E interessante notar que entre os 400 homens que lutaram
ao lado de Davi havia o que o texto chama de homens “maus efilhos
de Belial”. Não eram todos, graças a Deus; eram apenas alguns
deles, mas o suficiente para criar uma situação embaraçosa. Só
precisamos ter cuidado porque nas igrejas, muitas vezes, esses
filhos de Belial parecem estar assumindo o comando. Não que
não sejam crentes, que não sejam salvos ou que sejam infiéis ao
rei. Eles são fiéis ao rei, ao reino e aos seus interesses. Eles só
não são compreensivos com seus companheiros mais fracos, que
ficaram para trás, que se cansaram na jornada. São intolerantes
e justiceiros.
Lógica certa -princípio errado
A lógica dos 400 homens que lutaram até o fim é
a seguinte: os outros 200 não tiveram parte na batalha ou na
vitória conquistada. Aos 200 deveria ser devolvido aquilo que
perderam, como as mulheres, os filhos e os bens que eles tinham
no momento do saque a Ziclague. Mas não deveriam receber
uma parte dos despojos extra da guerra, dos despojos que os
87
Pr. Abe Huber

amalequitas tomaram dos filisteus e israelitas. Eles defendiam


que esses despojos deveriam ser repartidos só entre os 400
guerreiros. Afinal de contas, foram eles que pagaram um preço
maior, que arriscaram a vida, que demonstraram força, coragem
e valentia.
Apesar da lógica forte, aqueles homens estavam montados
em argumentos errados para se recusarem a repartir os despojos
com os outros 200. Primeiro, eles presumem que os despojos
são seus para repartirem como quiserem, e deixam bem claro
que não estão dispostos a repartir com os demais os frutos de
“seu” esforço, suas aquisições.
Os 400 presumem que os outros 200 não tiveram parte na
batalha nem na vitória, simplesmente porque não estavam com
eles quando lutaram e venceram os amalequitas. Eles entendem
que a vitória foi deles, e que por isso deveriam receber crédito e
reconhecimento, e que por isso mesmo deveriam merecer uma
recompensa diferenciada.
Resposta do líder restaurador
Entra aqui uma séria questão de liderança. Os 400 homens
não estão pedindo uma parte maior dos despojos; eles estão
exigindo aquilo que entendem ser um direito só deles. Eles não
estão buscando a orientação de Davi; estão quase é usurpando
sua liderança, pela imposição que estão tentando fazer. Davi
não deixa que prevaleçam. Ele resolve lidar com suas exigências
e administra tudo com muita sabedoria e humanidade. Ele se
recusa a permitir que façam as coisas do seu jeito, enquanto lhes
mostra por que estão errados em suas imposições.
Davi faz-lhes entender que eles não merecem aqueles
despojos simplesmente porque lutaram na batalha, como
supõem. Tanto a vitória quanto os despojos são um presente
gracioso de Deus, pois foi Ele quem conduziu toda a situação
88
Restaurando os Soldados Feridos

para que eles tivessem bom êxito. Da mesma forma que foi
O Senhor Deus dos Exércitos quem lhes deu a vitória, foi ele
também quem lhes deu os despojos. Por isso eles não podem
reivindicar os méritos exclusivamente para si.
Quando um time ganha um campeonato de futebol ou
voleibol, por exemplo, as medalhas não são entregues apenas
para os 11 ou 6 jogadores que estavam em campo ou em quadra
no momento em que soou o apito ou que fizeram o último
ponto. A medalha é entregue a todo o elenco. Aqueles que estão
no banco são tão parte do time quanto aqueles que finalizaram
a partida. Quando Davi emprega o pronome nos, parece claro
que ele inclui todos os 600 homens. A vitória é do grupo todo,
e o grupo é bem maior do que os 400 homens. “Deus nos deu a
vitória”, ele argumenta, e fica claro que ela foi para todos os 600
homens; não apenas para 400.
N o momento em que Davi e seus homens surpreendem
os amalequitas, eles estão fazendo uma festa, celebrando as
conquistas e as pilhagens. Parece que havia senso de coletividade
entre eles; parece que eles entendiam que todos tinham direito
de celebrar e usufruir dos saques. Por que os homens de Davi
deveriam ser menos generosos? Os 600 homens de Davi são
todos irmãos, ele enfatiza no versículo 23. Eles não são apenas
um grupo de indivíduos, mas uma irmandade, uma família.
Um por todos e todos por um
Nós hoje, como corpo de Cristo, como igreja, devemos
aprender com Davi que a batalha é uma ação coletiva, cada
membro desempenhando um papel diferente. Só porque 200 se
cansaram e ficaram para trás não significa que não tiveram parte
na vitória. Eles ficaram cuidando das bagagens. Subentende-
se que cuidaram da bagagem de todos os 600 homens. Dessa
forma, os 400 podiam se locomover mais facilmente, sem
Pr. Abe Huber

peso para carregar, e ainda ter certeza que seus pertences não
seriam levados pelos moradores ou nômades da região. Os 200
contribuíram para a vitória. A vitória é uma vitória coletiva, e
assim, cada homem deve ter uma parte igual dos despojos.
Davi não deixa que aqueles “homens maus e filhos de
Belial” estraguem a vitória que Deus lhes deu. Ele garante que
os despojos sejam igualmente distribuídos entre todos os 600
homens. E o que ainda mais lindo é que eles não ficam com
todos os despojos dessa vitória. Nos versos 26 a 31, vemos que
Davi faz uso de boa parte dos despojos para com eles abençoar
algumas cidades israelitas que ele e seus homens costumavam
frequentar. Mostra gratidão, generosidade e tato diplomático.
Talvez Davi já esteja preparando terreno e ganhando aliados
para o seu futuro governo. E bem provável que aquelas cidades
tivessem sido atacadas pelos amalequitas e sofrido algumas
perdas. Provavelmente alguns despojos tinham sido tomados
deles.
Aquelas cidades são aqueles lugares que Davi e seus
homens costumavam frequentar. Talvez algumas delas foram
invadidas e saqueadas pelo próprio Davi. Alguns homens daquelas
cidades eram anciãos, homens de considerável influência, e
muitos deles eram amigos de Davi. Lembrando que Davi era da
tribo de Judá, e muitas daquelas cidades estavam no território de
Judá, o que fazia deles parentes de Davi. E o interessante é que
pouco tempo depois estes beneficiários da generosidade de Davi
foram os primeiros a abraçá-lo como seu rei.
Muitas vezes precisamos tomar decisões que nossos
companheiros de batalha não entendem. A igreja toda precisa
ser cuidada, preservada, e pessoas são mais importantes do que
projetos, bens ou posições. Vidas cansadas, quebradas e feridas
precisam ser reanimadas, curadas, consertadas.

90
Restaurando os Soldados Feridos

Restauração e generosidade ampliadas


A decisão de Davi teve um longo e duradouro alcance
- muito maior do que ele poderia imaginar naquele momento.
N o calor do momento, Davi tinha uma decisão importantíssima
a tomar. Deveria fazer a vontade de uns poucos homens maus e
filhos de Belial, deixando-os dividir os despojos só entre os 400?
Ou deveria ficar firme naquilo que é certo? Davi escolhe ficar
firme naquilo que é certo, e nesse processo, ele estabelece um
princípio que subsiste além dele. Devemos fazer o mesmo hoje,
e seremos chamados também, dentre outras coisas, como ele, de
homens segundo o coração de Deus.
A decisão de Davi teve ao mesmo tempo um forte
impacto pedagógico e legislativo. Pedagógico no sentido de que
estabeleceu um exemplo, uma lição que seus homens jamais
esqueceriam. Legislativo no sentido de que a partir dali se criou
uma norma para a partilha igualitária dos despojos entre todos
os soldados da tropa, como mostra I Samuel 30.25: “O que assim
fo i desde aquele dia em diante, porquanto o pôs por estatuto e direito em
Israel até ao dia de hoje”.

91
C ap 1t u i ,o 7

OS SOLDADOS DE DAVI
DEPOIS DA CAVERNA

93
Restaurando os Soldados Feridos

Podemos até estar frustrados na vida, desanimados e


decepcionados, mas não precisa ser sempre assim. Alguns, depois
de levar muitas pauladas na cabeça, acostumam-se, e entregam os
pontos, aceitando a vitória do inimigo. Os valentes de Deus (e
de Davi) não eram assim. Devemos fazer como eles. Já pregamos
bastante o arrependimento para os outros; mas quando erramos
nós mesmos precisamos ser capazes de nos arrepender e pedir
perdão pelos nossos erros.
A Majestade de Deus não pode ficar apagada diante de
uma opinião que nós temos em relação ao estilo do pregador, ao
horário do culto, à maneira como o louvor é ministrado na igreja.
Muitas vezes queremos que todas as demais coisas prometidas por
Jesus sejam acrescentadas às nossas vidas, mas não buscamos em
primeiro lugar o Reino de Deus e a Sua justiça.
Já vimos que os valentes de Davi eram a escória da
sociedade. Eram aqueles que todos discriminavam. Eram uns
“Zés-N inguém ”, homens sem lenço e sem documento. Eram homens
que não tinham nada de bom para oferecer aos outros; pelo
menos naquele primeiro momento. Eles não impressionavam
pelo que possuíam. Mas a fidelidade deles para com Davi era
impressionante. As igrejas e os homens querem impressionar
pelo que possuem, mas Deus está interessado na nossa fidelidade.
A Palavra nos diz que Davi estava acompanhado de pelo
menos trinta e sete pessoas (II Samuel 23.39). Eles andavam
juntos, eram seus consultores de guerra, seus ministros,
comandantes das tropas, chefes da guarda pessoal, etc. Mas, dos
trinta e sete que acompanhavam a Davi mais de perto, havia um
grupo mais restrito de cinco: Três que eram os cabeças (Josebe-
Bassebete, Eleazar, Samá), e dois (Abisai, Benaia) que estavam
tentando chegar lá.
Esses homens eram fiéis para com Davi, estavam sempre
ao seu lado, sendo amigos mais chegados que um irmão (Provérbios
18.24). Eles deixaram seus nomes gravados nas páginas das
95
Pr. Abe Huber

Escrituras porque foram até o fim. Quando Davi foi consagrado


rei sobre Judá, e depois sobre toda a nação de Israel, eles estavam
lá. Esta lição nos mostra que aqueles que partilham os momentos
de luta também se deleitarão nos momentos de glória. Quando
ajudamos a construir um projeto de Deus e para Deus, com
certeza colheremos frutos de bênção para nós e para nossos
filhos, para as gerações posteriores.
O Senhor Deus busca continuadores para a Sua obra,
pessoas dispostas a vestir a camisa de um líder ungido por Deus
e ajudá-lo até que determine os próximos passos. Os valentes
de Davi foram perseverantes e leais, prosseguiram firmes para
o alvo que não era somente de Davi, mas de todos. Deus não se
revela para aqueles que estão apenas de passagem, mas sim para
aqueles que têm compromisso e motivações elevadas.
Eis o texto de II Samuel 23.8-12:
Estes são os nomes dos principais guerreiros de Davi:
Jabesão, um tacmonita, chefe dos três guerreiros principais;
numa ocasião, com uma lança, enfrentou oitocentos homens
numa mesma batalha e os matou. Depois dele, Eleazar,filho
do aoíta Dodô. Ele era um dos três principais guerreiros e
esteve com D avi quando os filisteus se reuniram em Pas-
Damim para a batalha. Os israelitas recuaram, mas ele
manteve a sua posição e feriu os filisteus até a sua mão
ficar dormente e grudar na espada. E o Senhor concedeu
uma grande vitória naquele dia, e o exército voltou para
onde Eleazar estava, mas somente para saquear os mortos.
Depois dele, Samá, filho de Agé, de Harar. Os filisteus
reuniram-se em Lei, onde havia uma plantação de lentilha.
O exército de Israel fugiu dos filisteus, mas Samá tomou
posição no meio da plantação, defendeu-a e derrotou os
filisteus. E o Senhor concedeu-lhe uma grande vitória.

96
Restaurando os Soldados Feridos

OS VALENTES NÃO SE ASSUSTARAM DIANTE


DO TAMANHO DO INIMIGO
O verso 8b diz que Josebe-Bassebete brandiu sua lança
contra oitocentos homens e os feriu. Quem enfrenta 800
homens já venceu o pior inimigo de todos, que é o medo de
tentar uma tarefa humanamente impossível. Aquele valente não
desistiu diante das circunstâncias adversas. Ele tinha um coração
confiante e curado, pois sabia o que Deus já tinha feito na sua
vida e na vida de todo o exército.
Não devemos escutar o que as pessoas dizem de nós.
Precisamos dar ouvidos ao que Deus diz. Devemos nos
levantar em fé e agir, senão seremos eternos perdedores, ou
apenas “vencedores pela fé ”. A fé bíblica sempre produz resultados
concretos; não fica no plano das possibilidades e dos sonhos
altos.
OS VALENTES ERAM MOVIDOS
POR UMA IMENSA PERSISTÊNCIA
Os versículos 9-10 mostram que enquanto os filhos de
Israel se retiravam, Eleazar se levantou e feriu os filisteus até lhe
cansar a mão e ficar pegada à espada. Este valente lutou com tanta
obstinação, com tanta vontade, que sua mão ficou dormente,
seus dedos não abriam e a espada ficou colada na sua mão.
Muitas vezes, nos momentos de lutas e dificuldades, a
primeira coisa que fazemos é largar a espada. Desistimos de lutar
e tentamos nos proteger do combate. Mas Eleazar se apegou à
espada, e não a soltou de jeito nenhum. Deus sabia que aquele
valente era humano, não um titã ou semideus grego. Mas os
valentes de Deus são fiéis até o fim, na luta e nas batalhas da
vida. Deus conhece os seus limites e não vai deixá-los cair diante
da fúria do inimigo. Mas o valente precisa manter a sua posição.
91
Pr. Abe Huber

OS VALENTES DEFENDEM AQUILO QUE


CONQUISTARAM
O versículo 11 fala de um pedaço de terra cheio de
lentilhas. Era o campo da comida, e os filisteus queriam
incendiá-lo. O povo de Israel fugia dos filisteus. O valente Samá
se colocou no meio daquele terreno e o defendeu com a própria
vida.
Aquele era um campo estratégico. Era um momento
de desespero e de perdas, e todos escaparam. Mesmo ficando
sozinho, Samá não deixou que o inimigo tivesse a vantagem.
Não podemos conquistar as terras para entregá-las sem mais
nem menos a Satanás! Os valentes de Deus não são assim. Samá
não se sentiu ameaçado, não se sentiu preso, não estava debaixo
de nenhuma imposição.
Alguém já disse, com muita propriedade, que “o corajoso
é o medroso que acabou de orar.”
OS VALENTES REALIZAM TAREFAS
ALÉM DAS EXPECTATIVAS
Os versículos 15 e 16 mostram que Davi apenas expressou
um desejo em voz alta, assim: “Davi expressou este forte desejo:
Quem me dera me trouxessem água da cisterna da porta de
Belém! Então aqueles três atravessaram o acampamento filisteu,
tiraram água da cisterna e a trouxeram a Davi...”
Belém estava sitiada pelos filisteus e Davi sentiu um
enorme desejo de beber da água daquele poço. Era a sua terra
natal, e de repente pode ter batido um saudosismo bairrista. Eles
não precisavam ir, ninguém os obrigou a ir, ninguém pediu,
mas eles se reuniram e foram pegar água para Davi. Correram
um risco terrível, mas atravessaram todo um acampamento de
inimigos e realizaram o desejo de seu líder.
9H
Restaurando os Soldados Feridos

Nós, como soldados de Cristo, não existimos apenas


para fazer o que Deus manda, mas para agradar o Seu coração,
mesmo quando Ele não nos pede diretamente. O servo
faz o que mandam, mas o filho agrada o coração do Pai. O
medíocre faz o que lhe mandam, mas o herói realiza os desejos
do coração - tanto os mais simples quanto os impossíveis.
OS VALENTES NÃO TOMAM PARA SI
A GLÓRIA DE DEUS
É bom lembrar que o líder deve ser o principal valente.
Davi era o maior valente dentre eles, por isso mesmo estava
sendo elevado como rei de toda a nação. No versículo 17 ele
tem uma reação digna de um valente-rei: “O Senhor me livre de
beber desta água! Seria como beber o sangue dos que arriscaram a vida
para trazê-la\”. O versículo anterior diz que ele derramou aquela
água como uma oferta ao Senhor.
Os verdadeiros valentes de Deus colocam as necessidades
do Reino acima das suas próprias necessidades. Não podemos
confundir o sucesso da causa que defendemos com nosso desejo
pessoal de glória e reconhecimento. Havia água no acampamento,
e todo mundo bebia dela; por isso Davi não deixou que seus
desejos pessoais colocassem em risco a vida e a segurança de seus
homens.
OS VALENTES SERVEM INDEPENDENTE
DAS RECOMPENSAS
Os versículos 18-23 mostram que Abisai alçou sua lança
contra trezentos, e os feriu. O verso 19 diz que ele era mais
nobre do que os trinta. Contudo, Abisai não chegou aos três
primeiros lugares. E não precisava. Cada um tinha o seu valor,
a sua importância naquele ministério. Eles serviam por amor,

99
Pr. Abe Huber

lealdade, visão compartilhada do reino inteiro, e não apenas por


um projeto pessoal de fazer carreira.
O verso 20 diz que Benaia feriu dois heróis de Moabe,
homens fortes e poderosos. Benaia matou um leão no tempo
de neve. N o verso 21, ele matou um egípcio, homem de grande
estatura: outro gigante. Benaia era mais nobre do que os trinta,
porém não chegou a figurar no grupo dos três.
Os gigantes de Deus fazem as tarefas do Reino sem se
preocuparem com o tamanho das recompensas ou das posições
que serão dadas como promoção. Abisai e Benaia fizeram coisas
dignas dos maiores valentes, mas não receberam mais por isso.
E nem por isso se revoltaram ou saíram para criar seu próprio
exército, fundar seu próprio ministério. Eles entendiam que
Deus não os havia chamado para ser um sucesso; mas para serem
mais que VENCEDORES.
NOVOS GIGANTES - NOVAS BATALHAS!
A vitória de Davi sobre Golias é clássica. Ainda quando
bem jovem ele enfrentou o gigante dos filisteus e isso mudou
toda a sua história e da nação de Israel para sempre. E talvez
com a derrota de Golias, o povo pensou que a paz estivesse
consolidada. Só que eles perceberam, mais tarde, que os gigantes
voltam. Por isso é necessário estar preparado com a armadura de
Deus, para enfrentar os novos desafios.
O texto de II Samuel, 21.15-22 afirma:
D e novo, fizeram os filisteus guerra contra Israel. Desceu
D avi com os seus homens, e pelejaram contra os filisteus,
ficando D avi mui faixado. Isbi-Benobe descendia dos
gigantes; o peso do bronze de sua lança era de trezentos
siclos, e estava cingido de uma armadura nova; este intentou
matar a Davi. Porém Abisai, filho de Zeruia, socorreu-o,
100
Restaurando os Soldados Feridos

feriu o filisteu e o matou; então, os homens de D avi lhe


juraram, dizendo: Nunca mais sairás conosco à peleja,
para que não apagues a lâmpada de Israel. Depois disto,
houve ainda, em Gobe, outra peleja contra os filisteus;
então, Sibecai, o husatita, feriu a Safe, que era descendente
dos gigantes. Houve ainda, em Gobe, outra peleja contra os
filisteus; e Elanã, filho de Jaaré-Oregim, o belemita, feriu
a Golias, o geteu, cuja lança tinha a haste como eixo de
tecelão. Houve ainda outra peleja; esta foi em Gate, onde
estava um homem de grande estatura, que tinha em cada
mão e em cada pé seis dedos, vinte e quatro ao todo; também
este descendia dos gigantes. Quando ele injuriava a Israel,
Jônatas, filho de Siméia, irmão de Davi, o feriu. Estes
quatro nasceram dos gigantes em Gate; e caíram pela mão
de D avi e pela mão de seus homens.
O texto mostra que os filisteus e seus gigantes não
desistem facilmente. Eles querem afrontar o exército de Deus
e seus ungidos. Quando os gigantes voltam, parece que eles
surgem com mais fúria e mais poder. A mágoa e o ressentimento
às vezes parecem mais fortes do que o perdão. Alguns dos gigantes
eram parentes de Golias, e estavam sedentos por vingança.
Na primeira batalha Davi era mais jovem e estava mais bem
preparado fisicamente, muito disposto, apesar das desvantagens.
Mas agora o seu estado de espírito não era o mesmo. O versículo
15 diz que ele ficou muito fatigado. E normal, pois as lutas
espirituais cansam, enfraquecem e deixam o sujeito esgotado.
Davi lutou tanto que ficou fraco, pois o filisteu
concentrava-se nele, não nos outros soldados. O Gigante íbis-
Benobe queria matar Davi, e sua lança de bronze pesava quase
quatro quilos. O verso 17 diz que Abisai veio em seu socorro e
matou o gigante. Foi então que os líderes militares decidiram
que o rei era vulnerável e valioso demais para ser sacrificado no
campo de batalha. E é importante observar que o texto mostra
101
Pr. Abe Huber

que o gigante estava com uma armadura nova. O inimigo


sempre renova suas armas.
A primeira lição que aprendemos nesta Batalha de vencer
gigantes é que nós não devemos subestimar o inimigo do
passado. Erros não tratados do passado podem ser ressuscitados,
e por isso todas as brechas devem ser fechadas. Uma igreja
precisa de muitos “Abisais” para vencer seus gigantes. U m pastor
sozinho não dá conta de vencê-los, mas todos os valentes juntos
podem muito.
As batalhas contra os filisteus não terminaram com a
vitória de Abisai sobre o gigante filisteu. “Depois disto houve ainda
outra peleja...” (v.18). “Houve ainda em Gore outra peleja...” (v.19).
“Houve ainda outra peleja...” (v.20). Muitas vezes precisamos
enfrentar um gigante de cada vez, um gigante a cada dia.
O interessante no texto de II Samuel 22 é ver que esses
quatro gigantes não foram vencidos por Davi. Foram os seus
homens que os derrotaram. Por que eles lutaram em defesa de
Davi? Porque Davi era o seu líder, ungido por Deus para dirigir
o povo, e não poderia correr esse risco de ser morto. A igreja
precisa se mobilizar para defender os seus líderes, protegê-los
em oração e intercessão, enfrentando os gigantes junto com eles.
N o verso 18 vemos que Sibecai, um dos valentes de
Davi, derrotou o gigante Safe. O fato dos nomes desses gigantes
aparecerem no texto mostra que eram guerreiros conhecidos.
Aprendemos aqui que as batalhas não são vencidas sempre da
mesma forma. N o passado Davi havia matado o gigante Golias
sozinho, mas agora precisava da ajuda de seus guerreiros.
No terceiro combate com filisteus, outro gigante foi
vencido, e de novo por outro valente de Davi chamado Elanã
(v. 19). Esse gigante morto aqui era irmão do primeiro Golias,
conforme a Bíblia mostra em I Crônicas 20.5.
A quarta batalha contra os gigantes aconteceu na cidade
dc Gate, dentro do próprio território do inimigo (w. 20-22).
Nessa batalha quem venceu o gigante foi Jônatas, sobrinho de
102
Restaurando os Soldados Feridos

Davi, da mesma forma que o gigante havia desafiado Israel e o


Deus de Israel na juventude do seu tio.
Davi era um excelente líder, mas devia aprender a
respeitar seus limites. O mesmo serve para nós. Nós não somos
super-homens. Nós somos protegidos por aqueles a quem
protegemos. Você precisa saber que junto a nós, em nosso
meio, há pessoas capacitadas para nos ajudar em nossas batalhas
do dia-a-dia.
Como Davi, devemos treinar um exército de valentes
que vão lutar ao nosso lado e por nós. Os guerreiros de Deus se
cansam, mas o inimigo parece que não. Contudo, um exército
que se renova não dá trégua ao inimigo, e luta até aniquilá-lo. E
bom contar com a ajuda da família e dos discípulos. O sobrinho
de Davi estava lá! O versículo 22 diz que todos esses quatro
gigantes caíram pelas mãos de Davi e seus homens!

103
'
CONCLUSÃO

ÍOJ
Restaurando os Soldados Feridos

Esperamos que este livro tenha falado ao seu coração.


Se falou, não fique parado, não fique quieto, mova-se em favor
daqueles a quem Deus quer resgatar. Você pode ser um promotor
de reconciliação, um restaurador de brechas, um reconstrutor
de ruínas, para a glória de Jesus. Veja um dos grandes exemplos
de heroísmo da nossa história.
Aconteceu na Bahia, logo depois da Independência do
Brasil. Os portugueses não aceitaram, e começaram a guerra. O
General Madeira de Melo continuou combatendo os patriotas
baianos, que mal conseguiam resistir, pois os portugueses estavam
mais bem armados e eram mais numerosos. O comandante
brasileiro Barros Falcão, reconhecendo a inutilidade do sacrifício
de centenas de vidas, depois de uma batalha árdua de muitas
horas, finalmente ordenou: “tocara retirada”.
O corneteiro Luiz Lopes não se moveu. “Toque a retirada”,
grita o oficial furioso. Ouçam! De repente um som enche
o ar. Mas não é o toque de retirada. Será que o corneteiro
enlouqueceu? Pois, o que todos ouvem, com espanto, é o sinal:
“Avançar; cavalaria, e degolar\” Mas não havia cavalaria. Estavam
todos exaustos, e a pé!
Nas fileiras dos portugueses reina a confusão, o pânico, a
debandada louca. Fugiram todos duma cavalaria que não existia;
fugiram por causa daquele toque de corneta que valeu mais do
que o ribombar dos canhões e de uma luta sangrenta de horas.
Isto relembra as palavras do profetajoel: “ Tocai a trombeta
em Sião e dai voz de rebate no meu santo monte; perturbem-se
todos os moradores da terra...” (Joel 2.1).
À semelhança de Davi e seus valentes, à semelhança do
samaritano da parábola de Jesus, e à semelhança do corneteiro
baiano, vamos crer que gestos de bondade e confiança podem
produzir grandes vitórias; vamos agir com mansidão, amor,
fé, mas também com ousadia, bravura e intrepidez. E veremos
canas/flautas quebradas voltando a produzir som, e pavios secos e
fumegantes voltando a produzir clara luz.
Í07
Somente podem ser feridos em combate soldados da ativa. Os reservistas não
correm esse risco. Mas só experimentam o gosto da vitória e a alegria das
conquistas aqueles que lutam bravamente no campo de batalha.

Nas batalhas os soldados podem ser feridos. Quando isso acontece, compete
aos seus superiores e colegas de regimento cuidar para que ele seja resgatado,
curado e reintegrado às tropas. A pior coisa seria o soldado ferido ser achado e
morto pelo inimigo ou, ainda pior, ser recuperado por ele e transformado em
seu aliado, nosso inimigo.

A igreja de Jesus precisa cuidar melhor dos seus soldados. Precisa ajudá-los a
evitar campos minados, a demonstrar defesa estratégica e bravura contra as
ciladas do adversário. Contudo, quando feridos, devemos colocar em prática
os princípios do maior manual bélico disponível: a Palavra de Deus.

Este livro apresenta fatos e desafios, expõe problemas, mas propõe soluções.
O pastor Abe escreve com a autoridade de um comandante que já restaurou
batalhões de soldados e oficiais, e continua a fazê-lo, com muita propriedade.
Aqui ele compartilha segredos e mostra o caminho da ferida para a cura, da
cura para novas conquistas. Leitura obrigatória para pastores e líderes, para
discipuladores e discípulos - para soldados e oficiais!

A be H u ber
Natural de Belo Horizonte, é bacharel em teologia e missiologia pela Columbia
Bible College, Carolina do Sul, e especializado em música pelo Berkeley
College, Boston (EUA).

É o diretor-supervísor da Base Regional Santarém da Igreja da Paz, com


milhares de membros e centenas de igrejas espalhadas pela Amazônia e Norte
do Brasil, prestando serviços sociais, de saúde e educação às populações
ribeirinhas.

O Pastor Abe também é diretor e pastor presidente da Base Regional Fortaleza


da Igreja da Paz. Reconhecido como um especialista em células e discipulado,
tem ministrado em diversos lugares do Brasil e no exterior. É ainda escritor de
vários livros, tanto individualmente
como em co-autoria. Abe é casado
* com Andrea Huber e é pai de
Priscila, David e Daniel.

PUBLICAÇÕES
w w w .v isao m d a.co m

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