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equilibrioesaude/2023/04/por-que-brasil-
deixou-de-recomendar-uso-das-vacinas-
astrazeneca-e-janssen-contra-covid-19.shtml

Por que Brasil deixou de


recomendar uso das vacinas
AstraZeneca e Janssen contra
Covid-19
A interrupção do uso e produção do imunizante foi
feita por possível risco aumentado de trombose dias
após a vacinação

12.abr.2023 às 17h27

Giulia Granchi

O Ministério da Saúde
SÃO PAULO | BBC NEWS BRASIL
não recomenda mais o uso de vacinas de vetor
viral (AstraZeneca e Janssen) como reforço
não recomenda mais o uso de vacinas de vetor
viral (AstraZeneca e Janssen) como reforço
contra a Covid-19.

A vacina da AstraZeneca deixou de ser indicada no Brasil e


em outros países - DeFodi Images/Getty Images

As vacinas de vetor viral são criadas a partir de


um tipo de adenovírus que não prejudica a saúde
humana.

No interior dele, os cientistas inserem alguns


genes do Sars-CoV-2, fazendo com que a
imunidade de quem recebeu a dose seja treinada
contra o causador da Covid-19 sem receber os
imunidade de quem recebeu a dose seja treinada
contra o causador da Covid-19 sem receber os
danos da infecção.

Quem tomou qualquer uma das vacinas, no


entanto —seja como primeira dose ou reforço—
não deve se preocupar.

A interrupção do uso e produção do imunizante


pelo Ministério da Saúde nada tem a ver com a
eficácia, mas sim com um possível risco
aumentado de trombose dias após a vacinação,
segundo documento publicado pelo Ministério
da Saúde.
da Saúde.

O Ministério da Saúde informa que, até o dia 17


de setembro de 2022, foram notificados no e-SUS
— excluindo dados de São Paulo, que não foram
divulgados no documento — 98 casos (0,02 casos
por 100 mil doses aplicadas) com suspeita de
Síndrome de Trombose com Trombocitopenia
(queda de plaquetas) com relação temporal com
as vacinas.

Destes casos, segundo o órgão, 34 foram


atribuídos às vacinas de vetor viral, 17 casos
foram registrados como com relação provável e
47 ocorrências foram consideradas casos
possíveis.

Os quadros, que foram mais comuns em


mulheres, aconteceram em um período máximo
de 30 dias após a aplicação. Quem recebeu a dose
há mais tempo e não desenvolveu trombose, não
é considerado em estado de risco relacionado à
vacina.

A BBC News Brasil pediu um posicionamento


para as farmacêuticas AstraZeneca e Janssen, que
A BBC News Brasil pediu um posicionamento
para as farmacêuticas AstraZeneca e Janssen, que
sinalizaram receber o pedido, mas não enviaram
resposta até o momento desta publicação.

POR QUE AS VACINAS DE VETOR VIRAL PODERIAM


CAUSAR TROMBOSE?

"Existe uma possibilidade de algumas pessoas —e


não temos como identificar isso individualmente
— possuírem uma característica genética, muito
pessoal, que em contato com essas vacinas de
vetor viral, favorecer à hipercoagulabilidade,
favorecendo a criação de trombos", explica
infectologista Evaldo Stanislau de Araújo, do
Hospital das Clínicas de São Paulo.

De acordo com o documento do Ministério da


Saúde, "devido à raridade das ocorrências, ainda
não foi possível identificar fatores de risco
associados à síndrome, a exceção de um aparente
aumento do risco em indivíduos com idade
abaixo de 40 anos de idade".

Na avaliação do imunologista Gustavo Cabral,


abaixo de 40 anos de idade".

Na avaliação do imunologista Gustavo Cabral,


não é possível afirmar com confiança, justamente
pela falta de clareza na associação, de que as
vacinas são responsáveis pelos casos de
trombose.

"Os estudos científicos que tenho lido são muito


bons, mas falta muita explicação para como a
vacina vai ser o gatilho", aponta ele, que é
pesquisador da Universidade de São Paulo e da
Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo).

Apesar da falta de explicação detalhada, Cabral


entende que a decisão do Ministério da Saúde é
razoável no momento epidemiológico atual, no
qual as vacinas de vetor viral não são
indispensáveis como eram no ápice da pandemia.
Chance de trombose ao contrair Covid é muito maior do que
desenvolver após vacinação - Getty Images

VACINA DE VETOR VIRAL CUMPRIU SEU PAPEL EM


MOMENTO CRÍTICO

Entre as possíveis consequências de uma


infecção de Covid-19 está justamente a criação de
trombos — com uma incidência, inclusive, muito
maior, do que a correlação feita com as vacinas
de vetores virais.

Um estudo publicado na revista científica


Radiology mostra que, entre 3.342 infectados
com Covid-19 que precisaram de hospitalização a
taxa de trombose foi de 16,5%.

"Em 2021, quando a possibilidade dessas vacinas


"Em 2021, quando a possibilidade dessas vacinas
causarem quadros trombóticos surgiu,
estávamos em um momento de pouca oferta de
imunizantes e diante de uma doença que tem
como característica causar trombose. Deixar de
vacinar por uma vacina que hipoteticamente
causaria o quadro não seria correto na época",
avalia o infectologista.

"Esse raciocínio, em 2023, já não vale mais. O


benefício da vacina hoje é inferior e é inaceitável
oferecer risco trombótico. Grande parte da
população está vacinada com múltiplas doses, ou
seja, temos uma população protegida e uma
oferta maior de vacinas. Não é razoável fazer a
mesma análise."

AS RECOMENDAÇÕES ATUAIS

A produção do soro da vacina da AstraZeneca


pela Fiocruz, que tinha um acordo para produzir
uma versão nacionalizada do imunizante, foi
interrompida.

A maioria dos pacientes tinha menos de 40 anos,


interrompida.

A maioria dos pacientes tinha menos de 40 anos,


e por isso, a recomendação oficial apresentada
no documento para as vacinas de vetor viral.

Cabral também chama atenção para o fato de


que, após uma dose inicial de vacina de vetor
viral, o melhor é usar, para reforço, outro tipo de
tecnologia.

"Essas vacinas de vetor viral carregam


informações do vírus até as nossas células. Nas
doses seguintes essa informação já chega de
forma menos efetiva."

O QUE SÃO OS TROMBOS E POR QUE SÃO


PERIGOSOS

Os trombos são coágulos sanguíneos formados


nas veias ou artérias que dificultam a circulação
do sangue e podem aparecer em diferentes
partes do corpo.

A depender do local e tamanho, os coágulos


podem ser considerados mais perigosos. Nos
A depender do local e tamanho, os coágulos
podem ser considerados mais perigosos. Nos
pulmões ou no cérebro, por exemplo, podem
bloquear o fluxo sanguíneo vital e levar a danos
permanentes e até à morte.

O texto relatório aponta que a forma clínica mais


frequentemente reportada foi trombose venosa
cerebral. Há também relatos de trombose de
veias intrabdominais, tromboembolismo
pulmonar e tromboses arteriais.

Diferentes países já adotaram restrições nas indicações de


uso das vacinas de vetor viral - Getty Images
Diferentes países já adotaram restrições nas indicações de
uso das vacinas de vetor viral - Getty Images

ORIENTAÇÃO SEGUE RECOMENDAÇÃO DE OUTROS


PAÍSES

Diferentes países já adotaram restrições nas


indicações de uso das vacinas de vetor viral.

Atualmente o CDC (Centros de Controle e


Prevenção de Doenças) dos Estados Unidos
recomenda que a vacina Janssen seja utilizada
apenas em situações onde exista contraindicação
para o uso das demais vacinas, em situações de
limitação de acesso às demais vacinas ou para
indivíduos que desejem se vacinar com a Janssen
apesar das preocupações relacionadas à
segurança.

O NHS (National Health Service), sistema público


do Reino Unido, indica o uso preferencial das
vacinas Pfizer ou Moderna para pessoas abaixo
de 40 anos. Já no Canadá as vacinas de vetor viral
são indicadas apenas quando existe
contraindicação do uso das demais vacinas
autorizadas no país.
contraindicação do uso das demais vacinas
autorizadas no país.

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