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GRUPO I
PARTE A
Leia a composição lírica de Pai Soares de Taveirós que se apresenta.
(1) rem: pessoa (o vocábulo rem significa coisa mas nesta cantiga pode adotar-se o significado apresentado).
(2) e quem viu quanto receou / d’ela: e quem viu acontecer aquilo que receou acerca dela.
(3) por ém: por isso.
(4) bem fazer: corresponder ao amor.
(5) e de quem lhe fez Deus veer / de que foi morto com pesar: e acerca de quem Deus lhe fez ver alguma coisa que
o fez morrer com desgosto.
(6) ensandeceu: enlouqueceu.
(7) ledo: alegre.
(8) quem a viu levar a quem / a nom valia: quem a viu ficar com quem a não merecia.
Apresente, de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.
2. Esta cantiga evoca o tema da coita de amor, apresentando-se um paralelismo entre alguém que
morreu de amor e a situação em que se encontra o sujeito poético.
2.1 Explique de que forma este paralelismo estrutura a cantiga, fundamentando a sua resposta com
transcrições textuais.
GRUPO I
PARTE A
Leia a composição lírica de Joam Airas de Santiago que se apresenta. Em caso de necessidade, consulte as
notas.
Todalas cousas eu vejo partir
do mud’em como soíam seer,1
e vej’as gentes partir de fazer
bem2 que soíam,3 tal tempo vos vem!4
(1) Todalas cousas eu vejo partir / do
mud’em como soíam seer: vejo todas as
5 mais nom se pod’o coraçom partir
coisas do mundo deixar de ser como do meu amigo de mi querer bem.5
costumavam.
(2) partir de fazer / bem: deixar de agradar; Pero que6 ome part’o coraçom
deixar de amar.
das cousas que ama, per bõa fe,
(3) soíam: costumavam.
e parte-s’ome7 da terra ond’é,
(4) tal tempo vos vem: assim vão os tempos!
(5) mais nom se pod’o coraçom partir / do
10 e parte-s’ome d’u gran[de] prol tem,8
meu amigo de mi querer bem: mas não pode nom se pode parti-lo coraçom
o coração do meu amigo deixar de me querer do meu amigo de mi querer bem.
bem.
(6) pero que: ainda que.
Todalas cousas eu vejo mudar,
(7) parte-s’ome: afasta-se o homem.
mudam-s’os tempos e muda-s’o al,9
(8) d’u gran[de] prol tem: de onde tem
grande proveito. 15 muda-s’a gente em fazer bem ou mal,
(9) o al: o resto; todas as outras coisas. mudam-s’os ventos e tod’outra rem,10
(10) outra rem: outra coisa. mais nom se pod’o coraçom mudar
do meu amigo de mi querer bem.
Apresente, de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.
1. Identifique o género da cantiga trovadoresca, justificando a sua resposta.
2. Esta cantiga evoca o tema da mudança, apresentando-se um contraste entre a mutabilidade do
mundo e a constância do amor do amigo.
Comprove a veracidade da afirmação, fundamentando a sua resposta com transcrições textuais.
3. Identifique a figura de estilo presente na última estrofe e comente a sua expressividade.
PARTE B
Leia a composição lírica de Dom Sancho I que se apresenta.
Ai eu, coitada, como vivo em gram cuidado
por meu amigo que hei alongado1!
Muito me tarda
o meu amigo na Guarda!
Apresente, de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.
1. Identifique o estado de espírito do sujeito poético, referindo o que o origina. Fundamente a sua resposta
com citações do texto.
2. Considere o refrão e comente a sua expressividade no contexto desta cantiga:
«Muito me tarda / o meu amigo na Guarda!» (vv. 3-4; vv. 7-8)
CORREÇÃO
GRUPO I
PARTE A
1 Cantiga de amor. O sujeito poético é masculino e dirige-se à sua «senhor», isto é, à dama que é alvo do
seu amor mas que lhe é inacessível. Por não conseguir realizar esse amor, encontra-se em sofrimento, em
pleno processo de «coita» de amor.
2 2.1 Esta cantiga centra-se na descrição dos efeitos que a coita de amor tem no sujeito poético, sendo que
é feita uma comparação entre o eu do poema e «alguém» (indefinido, não identificado no poema) que
morreu infeliz porque nunca foi correspondido pela mulher que amou. Além disso, a amada ter-se-á
envolvido com outra pessoa que não a merecia e terá sido isso que causou a sua morte. O sujeito lírico
passa por uma situação idêntica e morre pelo mesmo motivo.
A construção comparativa «Como morreu quem […] assi moir’eu» repete-se em todas as estrofes (sendo
as comparações sempre muito semelhantes), mostrando que o sujeito poético coloca o seu sofrimento
num indivíduo indeterminado que morrera como consequência de um amor não correspondido.
Na primeira estrofe, ficamos a saber que esse homem morreu porque nunca foi amado ― «nunca bem /
ouve» (vv. 1 e 2) ― e porque viu a amada fazer algo de que ele tinha medo ― «viu quanto receou / d’ela»
(vv. 3 e 4). Na segunda estrofe, há uma repetição dos tópicos anteriores: esse homem morreu porque
amou quem nunca o amou ― «foi amar / quem lhe nunca quis bem fazer» (vv. 6 e 7) ― e porque Deus o
fez ver algo que o entristeceu ― «lhe fez Deus veer / de que foi morto com pesar» (vv. 8 e 9). Na terceira
estrofe, o sujeito poético lista os traços característicos da coita de amor: enlouqueceu ― «ensandeceu»
(v. 11) ―, perdeu a alegria e o sono ― «nom foi ledo nem dormiu» (v. 13) ― porque viu algo que o fez
sofrer ― «com gram pesar que viu» (v. 12). Na última estrofe, é divulgada a causa concreta da coita de
amor: o indivíduo amou uma dama que nunca o amou (v. 17) e viu-a com alguém que a não merecia (vv.
18 e 19). E tal como este indivíduo morreu de amor, também o sujeito poético morre, pelas mesmas
razões.
3 A coita de amor consiste no estado de sofrimento amoroso em que se encontra o sujeito poético cuja
paixão não é correspondida. A morte e o lamento estão no centro da composição: repetição das formas
verbais «morreu»/«foi morto» (referentes ao sofredor) e «moir’eu» (referente ao sujeito poético)
acentua a tragicidade das consequências do sofrimento amoroso; a repetição do vocábulo «pesar» («com
pesar»/«gram pesar») e as formulações «quem nunca bem ouve», «quem lhe nunca quis bem fazer»,
«dona que lhe nunca fez bem» realçam a paixão não-correspondida e a queixa constante em relação à
amada. O refrão da cantiga, em que se inclui uma apóstrofe à «mia senhor», a interjeição expressiva de
dor «Ai» e o segundo termo da comparação «assi moir’eu» (a morte é um destino fatal), reforça a
persistência com que o eu se lamenta, como se se tratasse de um ser obcecado pela dor que sente,
totalmente consumido pelo sofrimento.
PARTE B
1 Nesta cantiga, o sujeito poético corresponde a uma donzela que está infeliz («coitada», vv. 1 e 5; aquela
que sente coita, que está em sofrimento) por dois motivos: sente preocupação («gram cuidado», v. 1) por
estar fisicamente longe do seu amado («que hei alongado», v. 2) e está saudosa («gram desejo», v. 5)
porque o seu amigo se atrasa, impedindo-a de o ver («que tarda e não vejo», v. 6). O motivo da ausência
ou do atraso do amigo seria a sua retenção na Guarda.
2 O refrão da cantiga insiste na ideia de afastamento temporal (tardar) e separação física (na Guarda) entre
o sujeito poético (a donzela) e o seu amigo. É esse afastamento que dá origem ao seu sofrimento. O
pronome «me» na expressão «me tarda» (vv. 3 e 7) indica que a consequência da demora do amigo recai
diretamente sobre a donzela, a afeta a ela diretamente. A demora do amigo não parece ser normal pois o
advérbio «muito» (vv. 3 e 7) sugere que o tempo da demora é excessivo.