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Agrupamento de escolas Severim de Faria

Psicologia B-12ºano

Carol Gilligan: desenvolvimento moral

Agrupamento de escolas Severim de Faria


Escola Severim de Faria
Carol Gilligan: teoria do desenvolvimento moral
Joana Neto
Disciplina: Psicologia B
Docente: Prof. Joana Micaelo
26/05/2022 (2021/2022)
Escola secundária Severim de Faria
CAROL GILLIGAN

“Temos o direito a ser iguais


sempre que a diferença nos inferioriza;
temos o direito a ser diferentes
sempre que a igualdade nos descaracteriza.”
Boaventura de Sousa Santos

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Joana Neto maio de 2022
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CAROL GILLIGAN

Índice
Introdução .................................................................................................................................................... 4
Biografia de Carol Gilligan: ........................................................................................................................... 6
Vida académica e ínicio de carreira:......................................................................................................... 6
Carreira posterior: .................................................................................................................................... 7
Desenvolvimento Moral segundo Carol Gilligan: ......................................................................................... 8
Desenvolvimento moral: Jean Piaget ....................................................................................................... 8
Desenvolvimento moral: Lawrence Kohlberg .......................................................................................... 9
Dessenvolvimento moral: Carol Gilligan ................................................................................................ 10
Principais obras: ......................................................................................................................................... 13
Conclusão: .................................................................................................................................................. 14
Webgrafia e biliografia ............................................................................................................................... 15

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Introdução
Uma vez, numa aula de filosofia do 10ºano, o professor pediu-nos que fizêssemos
um trabalho de casa que consistia no seguinte: “Escrevam numa carta os vossos
principais valores por ordem de importância, façam-no a lápis para conseguirem mudar,
daqui a 20 anos abram a carta e observem o quanto os vossos valores podem ter
mudado”. Todos agímos de acordo com a nossa moral, que ,por sua vez, tem por base
valores que consideramos fundamentais. Porque nem todos possuímos uma moral igual,
algumas pessoas preferem votar e outras não, algumas são a favor da despenalização
do aborto e outras não, algumas pessoas acham correto fumar e outras nem por isso e
por aí em diante...
Dentro destas pessoas, há quem pratique o bem (ação correta) por medo das
consequências, alguma punição, ou por conformismo, agindo em conformidade com o
dever e tornando as suas ações legais. Por outro lado, há quem aja por dever tornando
a sua ação moral. No entanto, é frequente deparármo-nos com dilemas na nossa vida
,em que não há própriamente algo certo a fazer, sendo por isso necessário tomar
decisões através do nosso espriríto critíco, baseando-nos nos nossos valores. Valores
estes, que como o professor Chorão nos quiz fazer ver, alteram-se de acordo com as
nossas experiências.
Pois bem, é através do nosso contexto que nós desenvolvemos a nossa moral.
Isto é, se nos ensinam a não falar de boca cheia, se alguma vez virmos alguém a fazê-
lo, vamos considerá-lo errado. Da mesma forma, se ensinarem os rapazes a jogar
futebol, ensinando-lhes regras a que todos tem de obedecer para que o jogo funcione e
às raparigas lhes ensinem a brincar com bonecas, a cuidar delas e a preservar as
relações entre amigas para a brincadeira puder continuar, ambos serão influenciados
pelo contexto no desenvolvimento da sua moral.
Autores como Piaget, Freud, Kohlberg, entre outros, afirmaram que a
“incapacidade” das jovens raparigas apurarem um veredito nas discussões do que está
certo ou errado fazer nas brincadeiras era indicativo de um desenvolvimento moral mais
“fraco” ou “lento”. Posto isto, professoras como, Janet Lever, Nancy Chodorow, Gilligan
acusaram estes e outros autores de serem demasiado subjetivos nas suas observações,

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vendo a moral desenvolvida pelos rapazes como uma moral modelo e usando amostras
muito pouco representativas das jovens raparigas.
A pesquisa feita por Norma Haan (1975) sobre estudantes universitárias e
adolescentes indicam que os julgamentos morais feitos pelas mulheres diferem daqueles
que os homens fazem, em grande parte porque os julgamentos vindos das mulheres
estão ligados a sentimentos de empatia e compaixão e estão empenhados na resolução
no campo real mais do que em dilemas hipotéticos.
Carol Gilligan, como psicóloga e feminista, dedicou grande parte da sua vida a
estudar estas diferenças do desenvolvimento moral e é sobre esta sua pesquisa que me
vou debroçar neste trabalho. Assim sendo, vou mencionar alguns dados biográficos da
autora, descrever o fundamental do seu trabalho e apontar algumas das suas obras. Por
fim, realizarei uma breve apreciação critíca sobre o contríbuto de Carol Gilligan.

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Biografia de Carol Gilligan:


Vida académica e ínicio de carreira:
Nascida a 28 de novembro de 1936, em Nova York (EUA), Carol Gilligan tem
atualmente 85 anos e é considerada revolucionária na forma como propôs uma mudança
na visão que a sociedade tinha/tem das mulheres. Filha de William E. Friedman e Mabel
(Caminez) Friedman, advogado e professora, respetivamente, foi uma criança judia o
que poderá ter influenciado as suas firmes convicções morais e políticas. Cresceu no
Upper East Side (Nova York) e em sua casa, os pais aceitavam imigrantes, que junto
com o facto de ser neta de imigrantes judeus, deu-lhe, segundo a própria afirma, “an
European flavor”.(New York Times 2019)
Em 1958, completou a sua licenciatura em literatura na universidade de
Swarthmore, no estado da Pensilvânia. Posto isto, candidatou-se a duas bolsas, uma
para estudar Shakespeare em Inglaterra e outra para estudar psicologia clínica em
Radcliffe. Entrou primeiro na universidade de Radcliffe, Cambridge, Massachusetts,
onde posteriormente completou o seu mestrado (1961). Prosseguiu os seus estudos na
universidade de Harvard, onde obteve o seu doutoramento em psicologia social, 1964,
com a tese “Responses to Templation: An Analysis of Motives”.
Ainda entre 1960 e 1964, Gilligan casou-se com James Frederick Gilligan e teve
o primeiro filho de três. Com o decorrer da década de sessenta nos EUA, Carol focou o
seu olhar para as pessoas que o sistema americano discriminava, afirmando os seus
compromissos de ativista social nos movimentos pelos direitos civis. Em 1965 e 1966
deu aulas de psicologia na universidade de Chicago, onde se juntou a outros professores
novos, contra a guerra no Vietnã.
No ano de 1968, Gilligan voltou a Harvard para trabalhar com os psicólogos Erik
Erikson e Lawrence Kohlberg. Foi neste ambiente de trabalho que lhe surgiram dúvidas
em relação à subjetividade de teorias como a do desenvolvimento da moral, de Kohlberg
e de Piaget. Ao questionar o porquê do desinteresse das estudantes em cadeiras sobre
o desenvolvimento moral e o facto de nas teorias, até então criadas, as raparigas
desenvolverem a moral mais tarde que os rapazes, Gilligan escreveu um importante
artigo na área. “In a Different Voice—Women’s Conceptions of Self and Morality” foi
publicado por alunos no Harvard Educational Review. A sua pesquisa foi ,em parte,
motivada pelo facto do trabalho de Kohlberg se basear apenas em estudos com rapazes,
realizando, por sua vez, o estudo do desenvolvimento da moral nas raparigas. Estes

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estudos foram a base deste artigo acabando, mais tarde por dar no livro mais conhecido
da autora, In a Different Voice: Psychological Theory and Women’s Development (1982).
A partir daqui o seu trabalho inspirou um movimento de orientação feminista na ética
filosófica conhecido como a ética do cuidado.

Carreira posterior:
Em 1986, Gilligan tornou-se professora titular em Harvard onde foi a primeira a
lecionar a cadeira “estudos de gênero”. Ganhou o Prêmio Grawemayer em Educação
,em 1992, e foi nomeada pela revista Time como um dos 25 americanos mais influentes
em 1996.
Em 2001, é recebida pela Universidade de Nova York supervisionando o
estabelecimento do Harvard Center on Gender and Education no mesmo ano.
Atualmente, com 85 anos, tem 4 netos e mais de 700 00 cópias vendidas do seu
livro “In a different Voice”, com “Why does patriarchy persist?”, publicado em 2018,
igualmente, a caminho de ser um grande sucesso. A sua contribuição para uma nova
perceção do desenvolvimento moral pela psicologia é indiscutível.

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Desenvolvimento Moral segundo Carol Gilligan:


Ao trabalhar com Erikson e Kohlberg, Carol Gilligan reparou que cerca de quinze
das vinte e cinco mulheres que se inscreveram para o cadeira de Kohlberg, sobre
desenvolvimento moral, desistiram da mesma, embora fosse necessário um
considerável esforço para entrarem na disciplina. As estudantes que tinham desistido
relataram que os modelos e teorias de Kohlberg falharam em abordar as suas questões
sobre o sofrimento humano. Gilligan começou a questionar o porquê de os modelos
filosóficos dominantes e as teorias morais dos direitos abstratos não conseguirematrair
a atenção das mulheres. Carol começou aqui uma pesquisa que iria durar muitos anos,
ao entrevistar as raparigas que desisitiram da disciplina de Kohlberg.
Ao publicar livros como “In a deifferent voice” ,Carol Gilligan vem trazer-nos uma
perspetiva diferente do desenvolvimento da moral no ser humano, mulheres e homens.
Do meu ponto de vista, uma teoría menos sujeita ao subjetivismo do observador e
inovadora. Porém, para melhor compreender a teoria de Gilligan é necessário apresentar
um resumo das teorias de Piaget e Kohlberg sobre o desenvolvimento da moral. Estes
autores, nas suas teorias sobre o desenvolvimento moral, estudaram como as crianças
criavam uma noção do que está certo e errado e a forma como agiam consoante essa
noção.

Desenvolvimento moral: Jean Piaget


Jean Piaget no seu estudo sobre o desenvolvimento moral na infância distingue
quatro estágios, sendo apenas no último (11 aos 12 anos) que o Piaget diferencia o
comportamento dos rapazes e raparigas. Piaget surpreende-se com a organização que
os rapazes desenvolvem para compreender e praticar as regras dum jogo, a ponto de
assinalar esta como uma diferença básica entre os rapazes e raparigas. O psicólogo
suíço julgou que os brinquedos das meninas eram muito simples e não possibilitavam
um desenvolvimento do “espiríto critíco” que pelos meninos era criado nos jogos
competitivos. Isto é, as brincadeiras tradicionais das raparigas como, por exemplo, saltar
à corda ou o jogo da macaca, jogos em que se entra à vez e onde a competição é
indireta ,visto que o sucesso de uma pessoa não significa necessáriamente a derrota de
outra. Entrevistas realizadas por Piaget e Lever indicam que quando existiam disputas

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nos jogos entre raparigas,estas acabavam-no com o objetivo de não prejudicar as


relações.
Piaget distingue assim três fases do desenvolvimento moral, que irão culminar na
autonomía e separação dos outros:
 anomia ou Regra motora- (crianças até 5 anos): Quando as regras são
obedecidas, são seguidas pelo hábito e não por uma consciência do que se está
certo ou errado;
 heteronomia ou regra coercitiva- (crianças até 9, 10 anos de idade): O certo é
o cumprimento da regra e qualquer interpretação diferente desta não
corresponde a uma atitude correta;
 autonomía ou regra racional- O respeito pelas regras é gerado por meio de
acordos mútuos. É a última fase do desenvolvimento da moral. ( o que ,de acordo
com Piaget, os rapazes atingem ao jogarem jogos competitivos, em que têm de
acordar o que está certo fazer.)

Desenvolvimento moral: Lawrence Kohlberg


Em 1981, Lawrence Kohlberg publica “Essays on Moral Development” onde
expõe a sua teoria no desenvolvimento moral do ser humano.
A teoria da moral de Kohlberg é a teoria da justiça moral. Ao aplicar seus dilemas
nas pesquisas, considerava que há, certamente, uma relação entre as perspectivas de
nível social e as perspectivas de nível moral: “Os estágios do juízo moral são estruturas
de pensamento sobre a prescrição das regras e dos princípios que obrigam os indivíduos
a agir por formas consideradas moralmente corretas” (Kohlberg, 1981/1992, p. 571).
Nesse estágio, a que só chega uma minoria de pessoas, a natureza da moralidade
está assente no facto de que as pessoas são fins em si mesmas e precisam de ser
tratadas como tal. Isso é dado pela crença de que há princípios morais universais e que
os indivíduos estabelecem compromissos com esses principios.
Quanto ao raciocínio moral, é uma forma ideal que, nas relações entre os seres
humanos, devem os indivíduos considerar a si mesmo e aos outros pessoas livres e
autónomas, ou seja, respeitar consideravelmente os interesses e pontos de vista do outro
ou de todo aquele que sofrerá consequências a partir da decisão de uma ação moral.
Governam esta fase a justiça e a imparcialidade.
Freud critíca que esta imparcialidade cega é recusada pelo sentido de justiça
feminino. As mulheres quando avaliadas pela escala de Kohlberg são consideradas

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defecientes do ponto de vista do desenvolvimento moral. Isto acontece pois existe uma,
quase total, ausência do sexo feminino nos estudos de Lawrence, ainda assim o autor
reclamou universalidade para a sua sequência de fases do desenvolvimento.

Dessenvolvimento moral: Carol Gilligan


Como referi anteriormente, Gilligan sentiu a necessidade de estudar o
desenvolvimento da moral,ao em várias pesquisas identificar a ausência da voz feminina
na bibliografia sobre o desenvolvimento psicológico do ser humano. Freud, Erikson,
Kohlberg, Levinson, Piaget ou até leituras do cinema e do teatro da época demonstram-
nos o quanto a voz das mulheres esteve subordinada ao auto-sacrifício e não era ouvida
ou respeitada.
As diferenças de género são nos todas transmitidas pelo nosso contexto. Posto
isto, Carol vem nos mostrar como o contexto em que , muitas vezes, as raparigas e os
rapazes são criados vai afetar determinantemente o desenvolvimento da sua moral.
Segundo os psicólogos anteriores, nós desenvolvemos a moral, construíndo uma “ética
da justiça” que atinge o seu pleno desenvolvimento quando alcançamos a nossa
autonomía e individualização.
No entanto, Carol Gilligan, chama a nossa atenção para a maneira como, na sua
generalidade, as meninas e os meninos são criados. Para ambos os sexos, os cuidados
primários durante os três primeiros anos são prestados por mulheres e assim a dinâmica
impessoal da formação da identidade sexual é diferente para rapazes e raparidas. A
formação da identidade feminina realiza-se num contexto de relacionamento contínuo,
enquanto que a dos rapazes implica uma separação da cuidadora feminina, traduzindo-
se numa idividualização mais enfática. Querendo ou não, esta diferença na formação da
identidade de ambos os sexos irá necessáriamente influenciar o desenvolvimento da
moral. Isto é, se damos brinquedos às meninas como bonenas, nenucos elas vão criar
relações e procurar cuidar delas, tal como fazem as mães, as raparigas começam a
sentir-se confortáveis em brincadeiras onde são promovidas a intimidade e a conexão
com os outros. Por sua vez, ao não dar-mos bonecas aos rapazes e ao incentivá-los a
realizar jogos e brincadeiras competitivas, somando o facto de estes se separarem e
individualizarem da cuidadora feminina,faz com que estes começem a desenvover-se
através de movimentos de separação e com uma relação próxima com as regras.
Baseando-se em observações como esta, Freud conclui-o que as mulheres
“revelam menos sentido de justiça do que os homens, que elas são menos capazes de

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enfrentar as grandes exigências da sua vida, que elas são mais frequentemente
influenciadas, nos seus juízos, por sentimentos de afeto ou de hostilidade”.
Carol exemplifica esta situação fazendo uso de um dilema criado por Kohlberg
para medir o desenvolvimento moral na adolescência. Ela propõe-no a duas crianças de
11 anos,a Amy e o Jake. O dilema: “ Um homem chamado Heinz debate consigo próprio
se vai ou não roubar um medicamento que não tem posses para comprar, mas com ele
poderia salvar a sua mulher. O farmacêutico recusa-se a baixar o preço. Deve Heinz
roubar o medicamento?”
Jake: Para Jake, desde início, que Heinz deveria roubar o medicamento. “Por um
lado, a vida humana vale mais do que o dinheiro e se o farmacêutico ganhar $ 1,000 ele
ainda pode continuar a viver, mas se Heinz não roubar o medicamento, a mulher dele
vai morrer. (Porque é que a vida é mais valiosa do que o dinheiro?) Porque mais tarde o
farmacêutico pode receber mil dólares das pessoas mais ricas que sofram de cancro,
mas Heinz não pode recuperar a esposa.”
Jake, ao considerar o dilema moral como "uma espécie de problema matemático
com seres humanos", ele coloca-o como uma equação e procura encontrar a solução.
Uma vez que, a solução que encontra é atingida racionalmente, ele conclui que qualquer
pessoa, seguindo a razão, deverá chegar à mesma conclusão e, assim, um juiz devia
considerar que o roubo era a coisa certa que Heinz devia fazer.
Amy: Para Amy a resposta não é tão lógica. “Bem, acho que não. Penso que,
podem existir outras vias além do roubo do medicamento como, por exemplo, se ele
pedisse dinheiro emprestado, se obtivesse um crédito ou qualquer coisa assim, mas ele
na verdade não devia roubar o medicamento - mas a mulher também não devia morrer.”
(Por que razão não deveria Heinz roubar o medicamento?) “Se roubasse o medicamento,
ele podia estar a salvar a mulher, mas, se o fizesse, poderia ter que ir para a cadeia e
então a mulher poderia piorar de novo e ele já não poderia obter mais medicamentos e
isso não era bom. Portanto, eles deveriam discutir o assunto e descobrir alguma maneira
para arranjar o dinheiro.”
Amy visiona a continuação da necessidade que a mulher tem do marido no que
diz respeito à mulher e procura encontrar respostas para a necessidade do farmacêutico,
de forma a que possa manter o relacionamento em vez de o cortar.
Vendo um mundo constituído por relações mais do que por pessoas isoladas, um
mundo que se torna coerente mais pelas relações humanas do que pelos sistemas de

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regras, Amy acha que a dificuldade do dilema reside na incapacidade do farmacêutico


para responder ao problema da mulher.
Psicólogos anteriores a Carol Gilligan, afirmavam que perspetivas como a de
Jake refletiam um maior amaduracimento da moral, uma vez que ele estabelece um
veredito (em que um ganha ou perde) entre o que está certo fazer, caracteristíca de uma
“ética da justiça” Esta premissa do desenvolvimento moral priveligia relações que se
destacam num pano de fundo de separações, mal aparecem e dão logo lugar a uma
enfática individualização, surgindo o desenvolvimento das raparigas como problemático
devido à permanência de relações nas suas vidas.
Ao rever estas premissas, Gilligan afirma que elas não têm em conta o facto de,
em grande parte da nossa sociedade, as raparigas serem criadas em diferentes
contextos dos dos rapazes. Seria o mesmo que avaliármos a capacidade de um golfinho
se deslocar usando os critérios para avaliar o deslocamento de um leão. Carol Gilligan
teoriza que grande parte das raparigas, devido ao seu contexto, desenvolvem uma “ética
do cuidado” que nada tem de inferior ou superior à “ética da justiça” desenvolvida pelos
rapazes, também devido ao seu contexto. Porque haveria uma de ser caracteristíca de
um melhor desenvolvimento moral do que outra? Tal como a própria autora afirma: « é
difícil dizer "diferente" sem dizer "melhor" ou "pior", e uma vez que há a tendência para
estabelecer uma só escala de medida e também porque essa escala geralmente formou-
se e padronizou-se com base nas interpretações que os homens fazem dos dados das
pesquisas, retirados principalmente ou exclusivamente de estudos sobre homens, os
psicólogos "têm revelado tendência para ver o comportamento masculino como a norma"
e "o comportamento feminino como uma espécie de desvio da norma"» (P.29, Teoria
psicológica e desenvolvimento da mulher)

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Principais obras:
Carol Gilligan escreveu várias obras que ,na minha opinião, vieram dar um
importante contributo na visão do desenvolvimento moral, para a psicologia e para o
movimento femininista, ou seja, para a Humanidade no geral.
“In a different voice” é o seu maior sucesso e segundo a própria ,começou de uma
composição, “...foi a primeira composição que escrevi, que não foi para a escola.
Necessitava de arranjar um sentido para o porquê de ser tão dificíl para as mulheres
dizer o que sentiam ou pensavam e para serem ouvidas sem qualquer distorção...” (há
10 anos- Big Think). O livro foi publicado em 1982, sendo a sua primeira publicação.
“In a Different Voice” começou uma revolução, tornando a voz das mulheres
audível, com os seus próprios direitos e integridade e tornando-se numa das primeiras
vezes em que na comunidade de ciência social, se teorizou sobre as mulheres.
Além desta publicou também outras obras como: “Joining the resistence” (1991);
“The Birth of pleasure” (2002); “The Deepening Darkness:Patriarchy, Resistance, and
Democracy's Future” (2008) juntamente com David A. J. Richards; “La ética del cuidado”
(2013) e por fim, mas não menos interessante, “Why Does Patriarchy Persist?”, com uma
antiga aluna sua da universidade, Naomi Snider.

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Conclusão:
Escritora, filósofa, psicóloga, professora, feminista,ativista, Carol Gilligan , na
minha opinião, deu até hoje um grande contributo para a Humanidade, nem que seja por
nos relembrar que ser humano não significa ser homem. Não é fácil resumir ,o que foi
um trabalho de muitas décadas de Gilligan, em tão poucas páginas, porém o importante
a reter é simples: se os contextos socioeconómico, geográfico, histórico,entre outros
fazem variar o desenvolvimento da nossa moral, está claro que a nossa educação de
gênero também o fará.
Desde o inicío da minha pesquisa, foi importante para mim ter presente que,
apesar de Carol Gilligan fazer a distinção entre a ética desenvolvida pelos rapazes e
pelas raparigas,tal não é uma imposição biológica. Com isto quero dizer que, os rapazes
podem desenvolver uma “ética do cuidado”, sem que isso ponha em causa a sua
masculinidade e as raparigas uma “ética da justiça”,sem que isso ponha em causa a sua
feminilidade, porém Gilligan fala daquilo que observa, no geral, nas suas amostras,
nunca reclamando esta distinção como universal. No meu mundo perfeito, esta distinção
não existiria, mas todos sabemos que nascer menina e menino acarreta vários
estériotipos de gênero e a sua influência no nosso desenvolvimento não pode ser
ignorada pela ciência.
Na minha ótica, a precisão com que Carol Gilligan observa e descreve a maneira
como o auto-sacrificío está intranhado em várias mulheres é fenomenal. Pegando no
dilema que descrevi anteriormente, pensemos agora que, ao invés da precisarmos de
roubar um medicamento para outra pessoa, precisávamos de o roubar para nós. Grande
parte das pessoas não o faria por correr o risco de se tornar num ato de egoísmo.
Atualmente, é frequente vermos o julgamento de uma mulher que trabalhe muito
e não dedique o tempo “que uma mãe deve dedicar aos filhos”, algo que raramente se
faz com os homens. Por este motivo e por querer manter todas as relações, algumas
mulheres sacrificam-se/anulam-se para dedicar mais tempo à familía, sem abdicar de
nada no trabalho.
Por fim,penso que Gilligan, ao longo dos anos, tem procurado, acima de tudo,
fazer ultrapassar as perguntas “até que ponto as mulheres pensam como os homens e
até que ponto são elas capazes de entrar na hipotética e abstrata construção da
realidade?”, reforçando a necessidade de identificar e definir critérios de avaliação do

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desenvolvimento que incluam as categorias do pensamento das mulheres. Em “In a


different Voice”, deixa-nos com a frase: “(...) E, porque falar depende de ouvir e ser
ouvido, a autora chama à atenção, não só para o silêncio das mulheres, ao longo dos
séculos, nas teorias do desenvolvimento moral, mas também para a dificuldade em ouvir
o que elas dizem quando falam.”

Webgrafia e biliografia
GILLIGAN,Carol (1997)-Teoria psicológica e desenvolvimento da mulher, Fundação Calouste
Gulbenkian
https://schoolworkhelper.net/carol-gilligan-feminist-moral-development/

https://www.scielo.br/j/pcp/a/Nr5XvZvqVpNRgyQQ9Fq3hpc/?format=pdf&lang=pt

https://www.nytimes.com/2019/03/18/style/carol-gilligan.html

https://jwa.org/encyclopedia/article/gilligan-carol#biblio

https://dspace.uevora.pt/rdpc/bitstream/10174/14951/1/Implica%C3%A7%C3%B5es%20do%20feminin
o%20na%20%C3%89tica%2C%20a%20partir%20do%20pensamento%20de%20Carol%20Gilligan.pdf

https://www.bertrand.pt/livro/in-a-different-voice-8211-psychologi-carol-gilligan/18076486

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