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Fundamentos político-criminais
da responsabilidade penal das pessoas
colectivas em Direito Criminal clássico,
penas de substituição aplicáveis
e compliance – breves notas [1]
[1]
Corresponde, com actualizações e
alterações de pormenor, a parte inédita
SUMÁRIO: I. Razão de ordem. II. Breves notas sobre o
da dissertação de doutoramento em
Ciências Jurídico-Criminais que defen- fundamento político-criminal da responsabilidade das
demos em provas públicas a 7/3/2016, pessoas colectivas no Direito Penal clássico. III. Alguns
na Faculdade de Direito da Universi- dados estatísticos. IV. Notas sobre o compliance criminal.
dade do Porto. Toda a parte relativa à V. Nótulas sobre as penas substitutivas aplicáveis a entes
fundamentação da responsabilidade
colectivos.
criminal das pessoas colectivas, bem
como dos programas de cumprimento,
foi escrita propositadamente para o
presente artigo. Salvo indicação diversa,
todas as referências jurisprudenciais
foram consultadas em Março de 2020
no sítio http://www.dgsi.pt.
I. Razão de ordem
O presente estudo tem um objectivo modesto: reflectir sobre os tra-
ços essenciais das penas de substituição que o legislador criminal de
2007 trouxe para o Direito Penal clássico, primário ou de justiça,
seja no que diz respeito ao seu regime, seja saber se o juízo substitu-
tivo em relação a elas diverge ou não do contido nas penas principais
de multa e de prisão, nas pessoas singulares. Um dos aspectos essen-
ciais para aferir da sua importância é saber qual a sua utilização práti-
ca, para o que se usarão os dados fornecidos pelas Estatísticas oficiais
da Justiça. Não nos furtaremos, num primeiro momento, a umas
brevíssimas considerações sobre o fundamento da responsabilidade
penal das pessoas colectivas e entidades equiparadas.
[ 204 ] Revista do Ministério Público 161 : Janeiro : Março 2020
Nuno Brandão, «Responsabilidade «Societas delinquere non potest? A Revista de Derecho Penal (RDP), 24
penal das pessoas colectivas. Altera- German perspective», in: Journal of (2008), pp. 12-13.
ções ao Código Penal introduzidas International Criminal Justice, 6 (2008),
[6]
pela Lei n.º 59/2007, de 4 de Setem- pp. 927-945. Entre tantos, José Luis Díez
bro», in: Revista do CEJ, VIII (2008), Ripollés, «La responsabilidad penal
[5]
pp. 41-42). Embora haja antecedentes, em 1995 de las personas jurídicas. Regulación
e 2003 — cf. Jesús Martínez Ruiz, española», in: InDret — Revista para el
[4]
Sobre o «estado da arte» na Alema- «El ser o no ser de la responsabilidad Análisis del Derecho, 1 (2012).
nha, entre tantos, Thomas Weigend, penal de las personas jurídicas», in:
[ 206 ] Revista do Ministério Público 161 : Janeiro : Março 2020
[8] [9]
Veja-se a síntese elaborada em Entre uma multitude de referên- jurídicas, consecuencias accesorias
Comissão das Comunidades cias, veja-se, p. ex., Silvina Baciga- y responsabilidad penal», in: Luis
Europeias, «Livro Verde sobre lupo, La responsabilidad penal de las Alberto Arroyo Zapatero/
a aproximação, o reconhecimento personas jurídicas, Barcelona: Bosch, Ignacio Berdugo Gómez de la
mútuo e a execução das sanções penais 1998, pp. 322-339 e Jean Pradel, «La Torre (coords.), Homenaje al Dr.
na União Europeia», COM(2004)334 responsabilidad penal de las personas Marino Barbero Santos. In memoriam,
final, Bruxelas, 30/4/2004, disponível jurídicas en el derecho francés: algu- vol. I, Toledo, etc.: Universidad de Cas-
em http://eur-lex.europa.eu/legal-con- nas cuestiones», in: RDP, 4 (1999), tilla-la-Mancha, etc., 2001, pp. 967-991,
tent/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:5 pp. 661-677, dando nota da existência em esp., pp. 976-981.
2004DC0334&from=PT (acedido em de um claro consenso em França em
[10]
Março de 2020), apontando-se para a torno da matéria. Ao invés, sobre a «Una justicia penal “a la medida
adopção, em 1997, do «Segundo Proto- divisão em Espanha e sobre a confu- del ser humano” en la época de la euro-
colo da Convenção relativa à Protecção são reinante quanto a este sanciona- peización y la globalización», in: AA.
dos Interesses Financeiros das Comu- mento (pena, medida de segurança VV., Modernas tendencias en la ciencia
nidades Europeias» (n.º 2, do art. 1.º, ou tertium genus), cf. José Luis de del Derecho Penal y en la Criminología,
JOUE, L 328 de 5/12/2002). la Cuesta Arzamendi, «Personas Madrid: UNED, 2001, pp. 30-31.
[ 209 ] Fundamentos político-criminais da responsabilidade penal das pessoas colectivas em
Direito Criminal clássico, penas de substituição aplicáveis e compliance – breves notas
André Lamas Leite
[11]
O que já tem levantado problemas exerce prerrogativas de poder público” ao interesse público da sua actividade.
concretos como o tratado adequada- (…) tem estatuto equiparado a insti- Parece-nos, pois, forçado, sem mais aná-
mente no ac. do Tribunal da Relação tuição particular de solidariedade social lise, equiparar o conceito de “pessoa colec-
do Porto (TRP) de 13/6/2018 (Proc. (IPSS) e estatuto de pessoa colectiva de tiva de utilidade pública” ao de “pessoa
n.º 1535/13.0TDPRT.P1, Manuel utilidade pública. (…) O regime jurídico colectiva no exercício de prerrogativas de
Soares): A exclusão de responsabi- da declaração de utilidade pública está poder público” (…)[,] o que não é o caso
lidade prevista no art. 11.º, 2 CP só é previsto no DL n.º 391/2007, de 13 de de tal cooperativa.
concedida às pessoas colectivas, que em Dezembro. Nele não se prevê a atribui-
[12]
relação ao concreto acto, tenham actuado ção de quaisquer poderes de autoridade Por todos, Luís Filipe Colaço
no exercício de prerrogativas de poder pública às instituições que dele benefi- Antunes, O Direito Administrativo
publico (ius imperi). (…) O que está em ciem. Apenas se lhe concede um estatuto sem Estado. Crise ou fim de um para-
causa é saber se a cooperativa arguida especial, que permite obter certos benefí- digma?, Coimbra: Coimbra Editora,
cabe no conceito de “pessoa colectiva que cios (p. ex., isenções fiscais), em atenção 2008.
[ 210 ] Revista do Ministério Público 161 : Janeiro : Março 2020
[14]
Compare-se o art. 11.º, n.º 6 do Antunes, Susana Aires de Sousa, que, agindo o órgão, o representante ou
Código Penal com o art. 3.º, n.º 2 Nuno Brandão e Sónia Fidalgo, quem nela tiver autoridade para exercer
Direito Penal, Parte Geral, t. I , 3.ª ed., o controlo da actividade é a própria pes-
[15]
Qualquer referência a uma norma Coimbra: Gestlegal, 2019, pp. 343, ss. soa colectiva que age: a vontade do órgão
jurídica deve entender-se por feita para ou do representante dirigida ao cometi-
[17]
o Código Penal, salvo expressa indica- Entre tantos, veja-se o ac. do TRP de mento da acção criminosa é a vontade da
ção em contrário. Para além do diploma 17/12/2014 (Proc. n.º 3189/12.2IDPRT. própria pessoa colectiva. II – Dar como
em texto, cf. o RJIFNA (Decreto-Lei P1, Neto de Moura): I - A ideia base provado que os arguidos, pessoas físicas,
n.º 20-A/90, de 15/1, depois, RGIT), o em que assenta a atribuição de responsa- agiram em nome e no interesse da socie-
RJIFA (Decreto-Lei n.º 376-A/89, de bilidade penal às pessoas colectivas é a de dade equivale a dizer-se que actuaram
25/10) e outros diplomas avulsos. que as pessoas físicas que são titulares dos como titulares dos seus órgãos e portanto,
seus órgãos ou seus representantes não são como representantes legais da sociedade
[16]
Com a colaboração de Maria João distintas da própria pessoa colectiva, pelo arguida.
[ 213 ] Fundamentos político-criminais da responsabilidade penal das pessoas colectivas em
Direito Criminal clássico, penas de substituição aplicáveis e compliance – breves notas
André Lamas Leite
[18]
Acórdãos n.ºs 302/95, de 8/6/1995 de 22/7/2003 (Proc. n.º 134/2003,
(Proc. n.º 35/94, Messias Bento), Mário Torres), disponíveis em www.
656/97, de 4/11/1997 (Proc. n.º tribunalconstitucional.pt.
126/97, Ribeiro Mendes), 395/2003,
[ 214 ] Revista do Ministério Público 161 : Janeiro : Março 2020
[20]
Veja-se o nosso As «posições de
garantia» na omissão impura. Em espe-
cial, a questão da determinabilidade
penal, Coimbra: Coimbra Editora,
2007, passim.
[ 216 ] Revista do Ministério Público 161 : Janeiro : Março 2020
[21]
Embora não o diga da forma que de confiança em relação à Segurança desvalioso que decorre da sua conduta de
deixámos descrita em texto, e se refira Social, são autores todos os gerentes que omissão.
a crime previsto em legislação extrava- tenham conhecimento da retenção e não
[22]
gante, mas ao qual se aplica, in totum, o entrega das correspondentes prestações Sobre ela e para um seu novo
artigo 11.º, é nesse sentido que julgamos tributárias, ou seja, que estejam a par entendimento, por todos, A. M. de
poder interpretar o seguinte sumário das decisões societárias, tendo o respectivo Almeida Costa, Ilícito pessoal, impu-
respigado do ac. TRP de 12/10/2011 domínio directo dos factos. III – Todos os tação objectiva e comparticipação em
(Proc. n.º 155/05.8TAVNG.P1, Joa- dirigentes societários que têm o dever de Direito Penal, Coimbra: Almedina,
quim Gomes): I – O representante acção sobre as situações geradoras de viola- 2017, de quem tomamos de emprés-
legal ou voluntário de uma sociedade só ção dos bens jurídico-penalmente tutelados timo o entendimento da imputação
deve ser considerado como autor de facto encontram-se numa situação de domínio objectiva.
penalmente ilícito quando tenha um sobre essas fontes de perigo e, como tal, têm
pleno domínio das condutas descritas no um domínio, ao menos funcional, sobre
tipo legal. II – No caso do crime de abuso o subsequente resultado criminalmente
[ 217 ] Fundamentos político-criminais da responsabilidade penal das pessoas colectivas em
Direito Criminal clássico, penas de substituição aplicáveis e compliance – breves notas
André Lamas Leite
[23] [24]
Embora relativa a Direito Penal de pena prevista no art. 22.º da Lei n.º Disponível em https://estatisticas.
secundário, existe jurisprudência 15/2001, de 5 de Junho [RGIT] pode ser justica.gov.pt/sites/siej/pt-pt/Paginas/
nesse sentido, como o ac. do TRP aplicada a pessoas colectivas […]. Agentes_suspeitos_tipo_pessoa_cole-
de 16/6/2004 (Proc. n.º 0440429, tiva_crimes_registados.aspx e consul-
António Gama): I – A dispensa tado em Março de 2020.
[ 219 ] Fundamentos político-criminais da responsabilidade penal das pessoas colectivas em
Direito Criminal clássico, penas de substituição aplicáveis e compliance – breves notas
André Lamas Leite
[27]
Em Portugal, sem sermos exaus- gues, Direito Penal económico. Uma
tivos, cf. Maria Fernanda Palma/ política criminal na era compliance,
Augusto Silva Dias/Paulo de Coimbra: Almedina, 2019; Susana
Sousa Mendes (coord.), Estudos sobre Aires de Sousa, Questões fundamen-
law enforcement, compliance e Direito tais de Direito Penal da empresa, reimp.,
Penal, 2.ª ed., Coimbra: Almedina, Coimbra: Almedina, 2019.
2018; Anabela Miranda Rodri-
[ 221 ] Fundamentos político-criminais da responsabilidade penal das pessoas colectivas em
Direito Criminal clássico, penas de substituição aplicáveis e compliance – breves notas
André Lamas Leite
mundo físico por via de quem nelas ocupa uma posição de liderança
ou é um trabalhador que labora sob indicações daqueles.
Existe um conjunto de factores de diversa índole que conduzi-
ram ao surgimento de programas de cumprimento. De entre eles
urge salientar a tendência para o inadimplemento, pelas pessoas
colectivas, em especial pelas sociedades comerciais, numa econo-
mia capitalista e de mercado, de todo o tipo de normas jurídicas e
mesmo daquelas que, não sendo jurídicas, resultam de mecanismos
de auto-regulação, como os códigos de boas práticas ou condutas.
Acresce a verdadeira desregulação dos mercados e o liberalismo
que conhece no eixo Thatcher/Reagan o seu primeiro motor
nas décadas que nos são mais próximas. As abordagens criminoló-
gicas de autores como Tarde (“leis da imitação”), Sutherland
(“associação diferencial”) ou o “clima de erosão normativa, através
de técnicas de neutralização” (Ulrich Sieber) formam um caldo
criminológico também favorável.
Na sequência dos escândalos financeiros de empresas como
a Enron, a Tyco International, a Adelphia, a Peregrine Systems e a
WorldCom, com as devastadoras consequências no que viria a ser
conhecido como a “crise das dívidas soberanas”, a administração
norte-americana interveio. Em termos de diplomas onde os progra-
mas de compliance fazem o seu aparecimento em sentido moderno
– uma vez que a ideia de os entes colectivos cumprirem as normas
a que estão sujeitos é velha de séculos –, o primeiro terá sido, antes
da assinalada crise, o Foreign Corrupt Practices Act 1977 dos EUA
(FCPA). Inicialmente só para as pessoas singulares e colectivas dos
EUA que celebrassem negócios com estrangeiros deveriam repor-
tar os pagamentos a entidades públicas estrangeiras essenciais à
conclusão de contratos, o que foi uma admissão de uma realidade
de todos conhecida: existe uma corrupção entranhada no Estado,
melhor, uma corrupção de/do Estado, institucionalizada, e as
sucessivas administrações norte-americanas desejam conhecê-las
[ 222 ] Revista do Ministério Público 161 : Janeiro : Março 2020
[28]
De 31 de Maio de 2005. Pode a Grand Jury, except in cases arising in witness against himself, nor be deprived
consultar-se em https://www.law.cor- the land or naval forces, or in the Militia, of life, liberty, or property, without due
nell.edu/supct/html/04-368.ZS.html. when in actual service in time of War or process of law; nor shall private property
public danger; nor shall any person be be taken for public use, without just com-
[29]
No person shall be held to answer for subject for the same offence to be twice pensation.
a capital, or otherwise infamous crime, put in jeopardy of life or limb; nor shall
unless on a presentment or indictment of be compelled in any criminal case to be a
[ 223 ] Fundamentos político-criminais da responsabilidade penal das pessoas colectivas em
Direito Criminal clássico, penas de substituição aplicáveis e compliance – breves notas
André Lamas Leite
[32] [33]
Com muito acerto, Maria João Gazzetta Ufficiale, n.º 140, de 19 de
Antunes, «Privatização das investiga- Junho de 2001.
ções e compliance criminal», in: Revista
Portuguesa de Ciência Criminal, 28, 1
(2018), pp. 119-127.
[ 226 ] Revista do Ministério Público 161 : Janeiro : Março 2020
[34]
Como refere Nuno Brandão, principal, o que é valorado positivamente, dúvidas de constitucionalidade quanto
«Responsabilidade penal das pessoas atenta a «sua baixa eficácia preventiva». ao seu limite mínimo de € 100, em
colectivas…», p. 44, aqui se detecta termos de taxa diária, o que carece
[35]
uma alteração quanto a um diploma Nuno Brandão, «Responsabili- de qualquer sentido, como bem deci-
da área do Direito Penal secundário, o dade penal das pessoas colectivas…», p. 54. diu o ac. do Tribunal da Relação
Decreto-Lei n.º 28/84, de 20/1, em que de Évora de 10/5/2016 (Proc. n.º
[36]
a admoestação é configurada como pena A qual, aliás, já foi objecto de 1966/13.6TAPTM.E1, João Amaro).
[ 228 ] Revista do Ministério Público 161 : Janeiro : Março 2020
[37]
«Levamos a sério as penas de
substituição? Algumas propostas de
iure condendo», in: Revista do Ministério
Público, 159 (2019), pp. 148-153.
[ 229 ] Fundamentos político-criminais da responsabilidade penal das pessoas colectivas em
Direito Criminal clássico, penas de substituição aplicáveis e compliance – breves notas
André Lamas Leite
[38]
Sobre o tema, veja-se o nosso
«Ressocializar, hoje? Entre o «mito»
e a realidade», in: RMP, 156 (2018),
pp. 75-119.
[ 230 ] Revista do Ministério Público 161 : Janeiro : Março 2020
[39]
Com interesse, veja-se o ac. do TC em sede de recurso, mesmo tendo tran- o recorrente confunde os títulos de res-
n.º 305/2001, de 27/6/2001, Artur sitado em julgado a decisão de impro- ponsabilidade — civil e penal —, pelo
Maurício (disponível em https:// cedência do pedido de indemnização que o alegado «efeito de caso julgado»
www.tribunalconstitucional.pt), onde o civil, determina que a suspensão execu- não tinha, nos autos, qualquer cabi-
objecto do recurso não era a incons- tiva da pena privativa de liberdade fique mento: «à indemnização civil pedida (e
titucionalidade do n.º 1, alínea a), do subordinada ao pagamento de uma recusada) no processo penal é alheia a
artigo citado em texto, mas a eventual indemnização a favor dos familiares que foi arbitrada na condenação penal
ofensa das garantias do Estado de da ofendida (in casu). Estava em causa, e a cujo pagamento se subordinou a
Direito democrático e do direito de por rectas contas, a hermenêutica do suspensão da execução da pena.».
propriedade privada do artigo 62.º da conceito de «lesado» para efeitos do
CRP, na hipótese em que o julgador, artigo 51.º, n.º 1, alínea a). Em súmula,
[ 231 ] Fundamentos político-criminais da responsabilidade penal das pessoas colectivas em
Direito Criminal clássico, penas de substituição aplicáveis e compliance – breves notas
André Lamas Leite
[40]
Assim ficam, de algum modo — [a]s causas de revogação da suspensão da cionalidade quanto a normas como a
que não na totalidade, sublinhe-se execução da pena de prisão não devem ser do pretérito artigo 84.3 do CP daquele
— obtemperadas as críticas de Paulo entendidas como um critério formalista, país (antes da entrada em vigor da Ley
Pinto de Albuquerque, «A respon- mas antes como demonstrativas das falhas Orgánica 1/2015), o qual determinava a
sabilidade criminal das pessoas colec- do condenado no decurso do período da sus- revogação obrigatória da pena suspensa
tivas ou equiparadas», in: Revista da pensão. Impõe-se, por isso, uma especial exi- nas hipóteses de violência doméstica.
Ordem dos Advogados, II (2006), p. 646 gência na indagação e apreciação de todos os Não pode haver qualquer tipo legal de
à inexistência de uma pena suspensa factos e circunstâncias susceptíveis de relevar crime, por maior que seja a sua gravidade,
para a sanção (principal) de multa. na aferição da possibilidade de manutenção que dispense o juízo de intermediação
ou não do juízo de prognose favorável rela- judicativo no sentido de averiguar até que
[41]
Como se escreveu no sumário do tivo ao comportamento que o condenado ponto foram ou não irremediavelmente
ac. do TRP de 25/3/2009 (Proc. n.º irá de futuro adoptar. Já em Espanha, postas em causa as finalidades assinala-
0818090, Maria Leonor Esteves), tínhamos muitas dúvidas de constitu- das à pena substitutiva.
[ 232 ] Revista do Ministério Público 161 : Janeiro : Março 2020