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ISSN: 2519-7207 Vol.

1, Nº 01, Ano I, Setembro de 2014

Desafios do Modelo de Crime como Ofensa


ao Bem Jurídico no Direito Penal Contemporâneo
Fabio Roberto D’Avila
Doutor em Ciências Jurídico-Criminais pela Universidade de Coimbra (Portugal), Pós-
Doutorando pela Johann Wolfgang Goethe Universität (Frankfurt am Main – Alemanha), Professor Titular
de Direito Penal da Faculdade de Direito da PUCRS e do Programa de Pós-Graduação em Ciências
Criminais (Mestrado e Doutorado) da PUCRS, Brasil.
Contato: fabio.davila@pucrs.br

O modelo de crime como ofensa ao bem jurídico encontra no direito penal contemporâneo um ambiente
hostil, muito embora, em um aparente paradoxo, também um dos espaços de juridicidade em que mais tem a
oferecer. Trata-se de uma projeção principal de base político-ideológica que reflete uma forma de pensar o
direito penal e o fenômeno criminoso não só adequada, mas até mesmo intrínseca ao modelo de Estado
democrático e social de Direito, e que, uma vez recepcionada constitucionalmente, quer no âmbito dos
princípios, quer no âmbito das regras constitucionais, torna a ofensa a bens jurídico-penais exigência
indeclinável à legitimação de todo e qualquer ilícito penal.

1. Considerações Introdutórias terrorismo, mercado de valores, dentre

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1 tantos outros), é de se esperar o avanço
ivemos tempos de mudança. regulatório do direito e, daí também, do
Independente de como se direito penal. Avanço que se dá
pretenda definir a sociedade normalmente, embora não só, na forma
atual, certo é que estamos a de leis especiais, usualmente
vivenciar transformações sociais de denominadas de direito penal
incomum velocidade e profundidade. O secundário (em referência à expressão
nosso tempo é marcado pelo aumento alemã Nebenstrafrecht), a gravitar em
da complexidade das relações sociais, torno do Código Penal.
pelo surgimento de novos espaços de Esta forte expansão do direito penal
conflitualidade e por uma intensa crise é, por si só, preocupante. Contudo, o
de referenciais. que mais preocupa a ciência penal
Em momentos como este, a contemporâneo não é o simples fato de
expansão do direito penal é um haver “mais direito penal”, e sim a
fenômeno absolutamente natural e conformação que este “novo” direito
previsível. Se há novos espaços de penal passa a assumir.
conflitualidade (meio ambiente, Percebe-se uma significativa
informática, genética, entorpecentes, flexibilização, senão mesmo

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afastamento, dos princípios reitores do trabalhos de reforma do Código Penal
direito penal clássico, em prol de uma brasileiro de 1984, e na linha do que está
espécie de “administrativização” do a ocorrer no movimento de reforma do
direito penal, de um direito penal Código Penal italiano, o conceito
submetido, de forma ampla e franca, material de crime é elevado à posição
aos mais variados interesses da central da nova legislação. A Comissão
administração pública. O conceito de de Reforma do Código Penal decidiu
crime, ainda que no seio de Estados por consolidar a noção de ofensa a
democráticos, passa a encontrar bens jurídicos como elemento material
fundamento na ideia de mera violação indispensável à ideia de crime, mediante
de um dever, no odioso modelo de expressa previsão legislativa. Em sua
crime como violação de um dever, última versão, estabelecida pelo
marca mais saliente de ordenamentos Substitutivo do Senado4, ora em
penais autoritários. Problema que tende tramitação no Congresso Nacional, a
ainda a se agravar em países em proposta de redação para o novo artigo
desenvolvimento, como é o caso de 14 do Código Penal ficou assim definida:
Brasil e Moçambique, por meio do uso “Art.14. A realização do fato criminoso
populista e irresponsável das leis penais. exige ação ou omissão, dolosa ou
Leis no lugar de políticas públicas. Como culposa, que produza lesão ou risco de
se a lei, por si só, fosse capaz resolver lesão a determinado bem jurídico.”
problemas sociais, melhorar a qualidade Se aprovado o Projeto de Reforma,
de vida e reduzir os índices de não se estará a inaugurar um referencial
criminalidade. material novo para o direito penal
Neste preciso horizonte de coisas, brasileiro. Contudo, a noção de crime
um voltar de olhos à questão do como ofensa a bens jurídicos ganhará
conceito material de crime (i.e., o que é muito em densidade e importância, (re)
ou poder vir a ser um crime) e dos limites colocando antigos e novos problemas.
de legitimidade do direito penal (até Problemas que vão desde o efetivo
onde pode avançar os domínios de um significado dogmático e político-criminal
direito penal não autoritário) apresenta- da adoção do modelo de crime como
se como tarefa irrenunciável em ofensa a bens jurídicos, passando pela
qualquer Estado democrático de direito. sua derrogabilidade, até o
E diferente não é entre nós. enfrentamento de problemas
O direito penal brasileiro, neste dogmáticos pontuais, como, v.g., a
âmbito, nitidamente influenciado pela controvertida legitimidade de (i) crimes
tradição penal portuguesa1, alemã2 e de perigo presumido, da (ii)
italiana3, sempre manifestou-se tendo criminalização de atos meramente
por base a denominada teoria do bem preparatórios e de (iii) condutas
jurídico (Rechtsgutstheorie), cujas raízes ofensivas a interesses do próprio autor
remetem ao direito penal alemão, e a (autolesão/autointoxicação).
doutrina italiana do crime como ofensa Não há dúvida de que valor
a bens jurídicos; ambas a destacar a dogmático do modelo de crime como
importância do resultado jurídico na ofensa a bens jurídicos depende da
constituição do ilícito penal: crime é o compreensão que se tenha tanto da
fato culpável ofensivo a bens jurídico- noção de bem jurídico, como da noção
penais. de ofensividade. Daí que – e não
Mais recentemente, por ocasião dos poderia ser diferente – a reflexão a que

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nos propomos tenha de optar por um ou nada mais que violação da vontade de
outro caminho, embora indissociáveis em Deus9. A separação entre Estado e
seu entendimento como um todo, para Igreja, entretanto, implicou uma
que possamos avançar algumas reflexões idêntica separação de tarefas e âmbito
sobre o tema. O estudo da teoria do bem de atuação. À Igreja competiria o
jurídico, por essa razão, não poderá ter pecado, a maldade, os vícios, enfim, o
espaço neste breve escrito, senão na homem em suas dimensões interna e
forma de algumas notas, com o objetivo externa. Ao Estado, por outro lado, sem
de viabilizar o estudo da ofensividade, qualquer pretensão de interferir no
esta sim, objeto do nosso cuidado. A modo de ser humano, na sua postura
ofensividade como fenômeno jurídico interior ou no seu modo de pensar10,
que pressupõe o bem jurídico, mas que competiriam as intervenções do homem
possui, em si mesma, consistência no mundo, ou, mais propriamente, as
suficiente para servir de objeto de ações humanas externas causadoras de
investigação, é que tomaremos como um dano à Nação11. O conteúdo de
centro da reflexão que segue. vontade expresso em uma ação
externa e concretizado em um dano à
2. Do Pecado ao Crime: Elementos Nação era, pois, o fenômeno criminoso
Históricos sobre o Surgimento do Modelo em sua emergente compreensão laica.
de Crime como Ofensa ao Bem Jurídico Fenômeno que, embora conformado
pelo conteúdo de vontade, encontrava
A distinção entre crime e pecado na objetividade do dano a pedra
é, sem dúvida alguma, um dos angular do seu conteúdo de desvalor.
momentos de maior importância na Não por outra razão, Beccaria, em
gênese do direito penal moderno. Muito célebre passagem, embora
embora já se possa perceber no resguardando um importante papel ao
trabalho de um dos mais importantes dolo e à culpa na constituição do
juristas do séc. XVI, o Tractatus Criminalis crime, sublinha, de forma categórica,
do italiano Tiberius Decianus5, um detido que “a única e verdadeira medida dos
exame dos conceitos de peccatum, delitos é o dano causado à nação, e
delictum e crimen6, é a partir do por isso erraram aqueles que
jusnaturalismo de autores como acreditaram como verdadeira medida
Christian Thomasius7 e, principalmente, dos delitos a intenção de quem os
da obra epocal de Cesare Beccaria, comete”12.
dei Delitti e delle Pene (1764), que o Esse dano de que nos fala
crime ganha autonomia em relação ao Beccaria, capaz de representar com
pecado, em uma virada que assinala o singular eloqüência a medida do crime,
nasc i mento do di r ei to penal em contraposição a juízos
secularizado. Não mais enquanto acentuadamente subjetivistas e
pecado, mas como fato danoso à moralistas, ascende como marca do
sociedade é que o crime assume o primado objetivista do ilícito penal no
lugar central no âmbito da nascente período iluminista. Para Beccaria, não
ordem penal dessacralizada8. haveria legitimidade em criminalizar
No período pré-iluminista, o ilícito condutas que prejuízo algum
penal movimentava-se em uma causassem à comunidade. O dano
dimensão acentuadamente teológica. como medida do crime assumia-se,
Crime e pecado confundiam-se. Era assim, como elemento central do

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fenômeno criminoso, mas também pode ser surpreendida, em sua mais
como elemento crítico de forte expressão, na célebre obra de
criminalização , preenchendo um
13 Anselm von Feuerbach, a quem se
importante papel na realização das pode atribuir a primeira tentativa
aspirações ilustradas de contenção e frutuosa em obter um “conceito
validação do poder punitivo do Estado, material de crime, transcendente e
através da imposição de vínculos crítico face ao direito penal vigente”17.
objetivos de legitimidade. Contudo, Já no início de seu Lehrbuch des
nesse momento histórico, falar-se em peinlichen Rechts (primeira edição de
tutela de bens jurídicos em sentido 1801), Feuerbach assinala, como o mais
estrito, não era ainda possível. importante princípio de direito penal,
O ilícito penal do período iluminista que toda pena aplicada pelo Estado é
erigia-se, não a partir da noção de bem “a conseqüência jurídica de uma lei
jurídico, mas sim da noção de direito fundamentada através da necessidade
subjetivo. Em verdade, o direito de conservação de direitos alheios, e
subjetivo, para usar as palavras de que ameaça a violação de um direito
Sgubbi, “representa a anima da com um mal sensível” (§19) 18 ,
concepção de mundo própria do concluindo que, por crime, em sentido
liberalismo clássico”14. O contrato social amplo, dever-se-ia entender a “a
substitui a matriz divina do Estado e da ofensa contida em uma lei penal, ou
sociedade por uma matriz meramente uma ação que, sancionada por uma lei
terrena, na qual o direito subjetivo surge penal, contraria o direito de
como eixo central, capaz de sustentar e outrem” (§21)19. Fortemente
promover os princípios de liberdade e influenciado pelo pensamento
igualdade, para além de outros kantiano, Feuerbach nega legitimidade
princípios estruturantes da visão de à utilização do direito penal como
mundo liberal, de modo a propiciar as instrumento de persecução de
condições fundamentais de vida em finalidades transcendentes, quer de
sociedade15. A consideração do direito fundo religioso, quer estabelecidas no
subjetivo de cada um diante do direito bem comum20. A existência e finalidade
dos demais permite traçar do Estado justificam-se na proteção das
simultaneamente os limites de liberdade liberdades, na prevenção da violação
garantidos pela ordem jurídica e o de direitos subjetivos, e só com este fim,
início do seu exercício arbitrário, somente para a proteção de direitos
violador de direitos alheios, o que, subjetivos da atuação de ações
considerado em conjunto, confere a externas, é que se legitima a
cada indivíduo um determinado competência do legislador21.
Lebenskreis (âmbito de vida), Percebe-se, assim, que Feuerbach
demarcador da fronteira entre o lícito e não deixa de se ocupar da danosidade
o ilícito, entre a violação e a não- social de que nos fala Beccaria, mas o
violação de direitos subjetivos alheios, faz de forma particularizada. A
de modo que, neste preciso cenário, dimensão social do dano é trazida
outra não poderia ser a essência do indiretamente e, por isso, com prejuízo
crime, senão a violação do Lebenskreis, de sua autonomia22, para o centro de
ipso facto, a violação de um direito desvalor do crime, através da violação
subjetivo16. de um direito subjetivo. Como bem
Tal forma de compreender o crime observa Am e l u n g , a lógica

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contratualista indica não só as diretrizes ordem pública, cuja legitimidade não
normativas do direito penal, como era posta por ninguém em questão, era
descreve aquilo que é prejudicado ir longe demais26. Estaríamos, bem
pela ação socialmente danosa. Ou observam Marinucci e Dolcini, ou
seja, socialmente danosa é a conduta diante de uma categoria de crime
que desorganiza a ordem posta pelo marcada pela ausência de violação
contrato, violando direitos individuais ou de um direito subjetivo, ou
do Estado como pessoa moral23, desnaturando a própria noção de
erigidos a partir de uma orientação violação, ao admitir, na hipótese de
individualista24. E, nesta medida, o valores em que não é possível
direito subjetivo torna-se o objeto identificar o titular em um determinado
jurídico da proteção normativa, sujeito (v.g., valores coletivos, sociais,
implicando uma conseqüente leitura etc.), um direito subjetivo sem sujeito27.
da ofensividade a partir da sua Para além disso, também a própria
violação. noção de ofensividade apreensível na
Todavia, muito embora o crime violação de um direito subjetivo é, em si
como violação de um direito subjetivo mesma, equivocada. Quando alguém
tenha proporcionado um importante lesiona a integridade física de outrem
contributo em prol da elaboração e ou subtrai para si bens móveis alheios,
afirmação de um conceito material de não suprime ou lesiona o direito
crime, acentuadamente crítico em subjetivo em questão. Ele se mantém
relação ao direito penal vigente – o intacto, nada sofre com a agressão,
que se percebe com especial clareza pois, em verdade, a ofensa nada pode
no que tange aos crimes contra a causar ao direito, mas, sim, apenas ao
religião e aos crimes contra a moral seu objeto. É o próprio objeto do direito,
sexual, incapazes de representar uma isto é, a vida, a honra, a integridade
qualquer violação a um direito física, o patrimônio, e não o direito em
subjetivo25 –, a concepção si, que sofre a ação criminosa, que
apresentava também limitações de pode, enfim, ser objeto e expressar o
difícil solução, nomeadamente no que efetivo conteúdo de desvalor da
se refere à sua capacidade explicativa ofensa28. Surgiam, portanto, aos
e ao conteúdo de ofensividade que poucos, os elementos que iriam
pretende expressar. propiciar uma nova compreensão do
Reconhecer, para além da conteúdo material do crime, que iriam
violação de um direito subjetivo do propiciar o surgimento do modelo de
indivíduo, também a violação de um crime como ofensa a bens jurídicos.
direito subjetivo do Estado como um A teoria da proteção de bens
fato criminoso, é algo não só possível, jurídicos (Lehre vom Rechtsgüterschutz)
mas presente no pensamento de tem o seu primeiro desenvolvimento em
autores como Feuerbach – razão de um conhecido escrito de Birnbaum
ser, inclusive, da distinção entre crimes (1834), no qual o autor afirmava que o
privados e crimes públicos, conteúdo do crime deveria ser
respectivamente –, agora, admitir, na buscado, não na violação de direitos
esfera das condutas violadoras de subjetivos, mas na ofensa a valores
direitos subjetivos, crimes como, v.g., a assim reconhecidos pela sociedade29,
falsidade, atentados contra a isto é, na ofensa a bens protegidos pela
incolumidade pública ou contra a norma30. Para Birnbaum, o crime

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deveria ser reconhecido na “lesão ou se uma ampliação do espaço de
pôr-em-perigo, atribuível à vontade intervenção penal a partir do conceito
humana, de um bem a todos garantido de bem (jurídico) de Birnbaum coloca
igualmente pelo poder do Estado”31. em evidência as então incipientes
Uma formulação que põe em dimensões fundamentais da teoria do
destaque a incipiente noção de bem crime como ofensa a bem jurídicos, o
jurídico como objeto de proteção da objeto de tutela da norma e as formas
norma penal incriminadora. Mas não de sua violação, ou, se assim preferirmos,
só. Também a emergente noção de o bem jurídico e a ofensividade,
ofensividade em suas duas formas permitindo, desde então, antever muito
fundamentais, dano e perigo, dos problemas que os acompanhariam
encontram-se já delineadas na durante a sua trajetória jurídico-
proposta de Birnbaum. dogmática. A ofensividade, mesmo que
Em verdade, tal qual a teoria da concebida tal qual a temos, a partir de
violação de um direito subjetivo, a uma perspectiva onto-antropológica,
teoria da proteção de bens jurídicos pode ter seu conteúdo de garantia
também encontra a sua origem na suprimido em razão de sua natureza
concepção iluminista de dano social, relacional, dependendo do conteúdo
em que pese com ela não se que é atribuído à noção de bem jurídico.
confundir. Não se trata, como bem Da mesma forma que o bem jurídico
salienta Amelung, de diferenças pode representar nada mais que um
meramente descritivas, isto é, ao invés elemento de inspiração legislativa,
da violação de um direito subjetivo, desprovido de qualquer potencial crítico,
teríamos a violação de um bem se abrirmos em demasia os limites da
jurídico, o que, no entanto, por si só, já ofensividade. Daí não percebermos o
representaria um significativo ganho estudo da ofensividade em uma posição
teórico e prático32. Há também dicotômica em relação à teoria da
diferenças normativas de grande proteção de bens jurídicos36, mas como
significado. Embora possamos afirmar dimensão insuprimível desta, que precisa
que a maior parte dos bens jurídicos ser desenvolvida a partir da sua
reconhecidos pela ordem jurídico- compreensão e delimitação, para que
penal sejam oriundos dos direitos possamos assim, e somente assim, obter
subjetivos em ascensão33, não houve, a totalidade do potencial explicativo e
de início, uma preocupação em heurístico da teoria do crime como
restringi-los ao âmbito dos direitos ofensa a bens jurídicos.
individuais. Birnbaum, inclusive, propôs Até alcançar a conformação crítica
o conceito de Gemeingut (bem e transistemática de base constitucional
comum), ao qual subsumia convicções que tem hoje o bem jurídico, muitos
morais e religiosas da comunidade34, foram os momentos em que teve
em total dissonância com as enfraquecida e até mesmo suprimida a
aspirações que norteavam os ideais sua capacidade de legitimação (crítica)
iluministas, tornando controvertida, até da intervenção jurídico -penal
hoje, a idéia de um possível aumento incriminadora. Já em sua primeira
do âmbito de punibilidade penal com elaboração, como vimos, Birnbaum
o advento da noção de bem jurídico35. permite uma abertura através da qual
Certa ou não, não é o que aqui eram resgatados valores transcendentais
importa, a mera possibilidade de admitir- de base puramente moral ou religiosa37.

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Binding, em acentuado positivismo, leituras constitucionais do bem jurídico-
supervaloriza o processo legislativo na penal, tanto no Brasil como no exterior,
formulação do bem jurídico, restringindo- em uma perspectiva transistemática,
o a uma relação de total e permite-nos confiar em um terreno já
inquestionável conformidade com a suficientemente delimitado e seguro,
norma. O bem jurídico, limitado para que possamos avançar algumas
unicamente à lógica e às considerações linhas sobre a ofensividade em direito
próprias do direito, encontra na norma o penal.
seu referencial de validade, o seu próprio
fundamento, suprimindo desta relação 3. Sobre a Fundamentação
qualquer possível foco de tensão38. Constitucional da Ofensividade
Honig, ainda em uma compreensão intra
-sistemática, com o seu conceito A estreita relação entre os modelos
metodológico, esvazia o conteúdo liberal de crime e os modelos de Estado,
de garantia do bem jurídico, relegando- claramente percebida em uma
lhe apenas uma modesta função de perspectiva histórica, revela elementos
orientação na interpretação do tipo39. E, significativos sobre uma maior ou menor
para ficarmos em apenas alguns dificuldade de assimilação de certas
exemplos, já agora em uma outra formas de estruturação do ilícito penal,
perspectiva, a própria experiência servindo, no mais das vezes, como índice
jurídico-penal da Alemanha Nacional- confiável de autoritarismo penal. Da
Socialista, na qual o ilícito penal como mesma forma que o fortalecimento da
expressão extrema de autoritarismo compreensão do crime como mera
assume a forma de uma mera violação violação dos deveres impostos pelo
de dever (Pflichtverlezung), uma simples Estado, em uma política-criminal de
desobediência aos deveres impostos exaltação dos vínculos éticos de
pelo Estado, não excluiu, de pronto, a fidelidade e obediência durante o
noção de bem jurídico. Embora estranha nacional-socialismo, muito tem a dizer
ao pensamento da Escola de Kiel sobre a relação Estado-cidadão na
(Schaffstein e Dahm), para a qual o bem Alemanha Nazista, também o modelo de
jurídico era a representação forte de um crime como ofensa a bens jurídico-penais
indesejado legado liberal-individualista, pretende refletir e concretizar linhas
Schwinge e Zimmerl propugnavam uma ideológicas comuns à grande maioria
concepção de bem jurídico supra- dos Estados ocidentais contemporâneos.
individual, representativa dos valores da Em verdade, podemos dizer que o
Alemanha nazista, que, por este exato modelo de crime como ofensa a bens
motivo, em nada prejudicava o eticismo jurídicos em sua vertente principiológica,
despótico característico da o denominado Princípio da Ofensividade
compreensão nacional-socialista de é, antes de qualquer coisa, uma
crime40. projeção principial de base político-
Não há dúvida, portanto, de que de ideológica que reflete uma forma de
nada vale falar em ofensividade como pensar o direito penal e o fenômeno
limite material da incriminação se não criminoso não só adequada, mas até
partirmos de um conceito de bem mesmo intrínseca ao modelo de Estado
jurídico-penal que propicie uma tal democrático e social de Direito.
construção teórica. Hoje, todavia, a
significativa e crescente aceitação de Muitas são, nesta perspectiva, as

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significa dizer que ambos estão que o conteúdo rígido de regra não seja
submetidos ao âmbito normativo do violado47.
princípio originário, não admitindo uma Toda previsão legislativa de um tipo
conflitualidade que extrapole os limites penal incriminador, se bem a vemos, é o
da tutela de bens jurídicos, ou seja, que resultado da ponderação de valores na
toda incriminação que vá além dos qual o direito fundamental à liberdade é
limites da ofensividade não corresponde restringido em benefício da conservação
a um interesse político-criminal legítimo, de outros valores de fundamental relevo
eis que estaria fora do âmbito de em sociedade (liberdade versus
proteção do seu princípio patrimônio, versus integridade física,
conformador . 46 versus honra, etc.), mesmo que se trate
Por outro lado, não é sob uma ótica de uma liberdade meramente potencial,
estritamente principiológica, mas a partir como ocorre na restrição da liberdade
das regras constitucionais – ou, mais em prol da tutela da vida, nos crimes
precisamente, das normas contra a vida48. E, se isso é correto,
constitucionais de “caráter mostrar-se inaceitável a restrição do
duplo” (Doppelcharakter) – que a direito fundamental à liberdade em
ofensividade alcança o seu momento de benefício da obtenção de meros
maior concreção legislativo- i n t er es se s p ol í ti c o - c ri m i n ai s de
constitucional. No seguimento da teoria organização e regulamentação social.
dos direitos fundamentais de Alexy, Para a sua restrição, é preciso
devemos reconhecer que tanto a norma atender não só a uma exigência formal
constitucional que prevê a de hierarquia normativa que limita a
inviolabilidade do direito à liberdade ponderação a bens com dignidade
(art.5.º CF brasileira) como a norma constitucional – referência mesmo que
constitucional que prevê a dignidade da indireta na Constituição – como a uma
pessoa humana (art.1.º CF brasileira) são necessária compatibilidade axiológica
normas constitucionais de caráter duplo que justifique a restrição, para além, é
(Doppelcharakter), simultaneamente, certo, de um juízo de necessidade de
regra e princípio. Da inviolabilidade do tutela. Enfim, exigências que descartam
direito à liberdade decorre, pois, tanto o a ponderação com interesses que
princípio da liberdade que, enquanto sequer possam ser reconhecidos como
princípio, está sujeito à ponderação, um bem jurídico-penal, pois, afinal, seria
como a regra da liberdade, esta no mínimo contraditório o
submetida ao regime duro das regras; o reconhecimento constitucional do direito
que diferente não é no que tange à inviolável à liberdade simultaneamente à
dignidade da pessoa humana. Significa criminalização fácil e irrestrita do seu
dizer que, muito embora a norma exercício 49 . A proteção jurídico-
constitucional concernente à liberdade constitucional do direito à liberdade –
admita ser ponderada com outros como também da dignidade da pessoa
valores, está longe de admitir uma humana que, por sua vez, veda a
ponderação irrestrita. Há aqui a inclusão instrumentalização do homem em
de uma “cláusula restritiva referida a benefício de meros interesses
princípios”, decorrente da vinculação de administrativos – impede, por tudo isso, o
ambos os planos – regras e princípios – alargamento da tutela penal para além
que admite o balancing, porém o faz dos casos em que o seu exercício
impondo determinadas exigências para implique a ofensa a outros bens jurídicos

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linhas de força axiológicas que poderiam insuficiência de diretrizes meramente
ser invocadas como elementos fundantes político-ideológicas e, daí, a
de tal orientação política do Estado. Mas, conseqüente necessidade de vínculos
primando pela simplicidade de positivos. A dissonância entre a prática
exposição e atento aos limites deste político-criminal levada a cabo pelo
breve escrito, poderíamos dizer que Estado e aquela esperada a partir dos
indiscutível nessa precisa forma de ver as compromissos político-jurídicos
coisas está o comprometimento forte do assumidos pela Constituição
Estado para com os direitos e garantias demonstram a necessidade de
fundamentais. Um Estado que se quer trabalharmos com critérios positivos,
não-liberticida, autoritário, intolerante, capazes de conferir limites
mas sim, laico, plural e multicultural, razoavelmente seguros para os
erigido a partir da diferença e com ela processos de criminalização e
comprometido, em que não há espaço descriminalização. E mais. A
para perseguições de credo, cor ou necessidade de trabalharmos com
classe, em que não se punem pessoas ou critérios constitucionais suficientemente
grupos, mas apenas fatos41. Enfim, um aptos a delimitar adequadamente os
Estado em que todos, absolutamente processos legislativo e hermenêutico-
todos, podem valer-se da condição de aplicativo. Em outras palavras. Importa
cidadãos e, assim, resguardados pela saber se o modelo de crime como
totalidade dos direitos e garantias ofensa a bens jurídicos é ou não uma
constitucionais, resistir às manifestações exigência constitucional.
de inaceitável autoritarismo que, No Brasil, este é um tema
sazonalmente, quer por razões de cunho controverso. Temos sustentado, na linha
meramente pragmático, quer por razões de importante doutrina e jurisprudência
ideológicas, insistem em tentá-lo42. italianas, a constitucionalidade de tal
Elementos, portanto, fortemente exigência. Parece-nos possível encontrar
recepcionados tanto pela Carta elementos que justifiquem a sua
Constitucional brasileira de 1988, constitucionalidade tanto em âmbito
inclusive em seu próprio preâmbulo43, puramente principiológico como, e
principalmente, à luz das regras
como pela Constituição da
constitucionais.
República de Moçambique de 2004,
Partindo de um ordenamento
em seus artigos 3, 11, 12 e 35: constitucional fundado na inter-relação
Artigo 3 (Estado de Direito de regras e princípios44, podemos,
Democrático): “A República de mediante a admissão de uma proposição
Moçambique é um Estado de de ordem e paz a cargo do Estado de
Direito, baseado no pluralismo de Direito45, reconhecer um princípio geral
expressão, na organização política fundamental de tutela de bens jurídicos,
democrática, no respeito e garantia densificador do princípio estruturante do
dos direitos e liberdades
Estado de Direito. Pois é exatamente
fundamentais do Homem”.
desse princípio geral de tutela de bens
jurídicos que decorre tanto o princípio
Todavia, a falta, muitas vezes, de
geral de garantia representado pela
patamares mínimos de racionalidade e
necessária ofensa, como o princípio
univocidade da política criminal em
constitucional impositivo, representado
países em desenvolvimento faz com que
pela intervenção penal necessária, o que
se sinta mais acentuadamente a

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em har moni a c om a ordem ofensividade de determinados crimes em
constitucional50. prol do atendimento a interesses de
Por estas, entre outras razões, é a política criminal (prevenção geral
ofensividade uma inafastável exigência positiva)?
para a legitimidade do ilícito penal na
ordem jurídico-penal brasileira, após a Chegando até aqui, acreditamos
Constituição Federal de 1988. E não ter elementos suficientes para
parece ser diferente no espaço reconhecer a ofensividade como
constitucional moçambicano. Muito pelo efetiva exigência constitucional de
contrário. O art. 56, 2. da Constituição da legitimidade do ilícito jurídico-penal e, a
República de Moçambique mostra-se partir disso, questionarmos acerca da
contundente neste sentido: sua importância como elemento de
delimitação também no espaço de
Artigo 56 (Princípios gerais). 2. O maior complexidade do direito penal
exercício dos direitos e liberdades
contemporâneo, o denominado direito
pode ser limitado em razão da
penal secundário. Questão que assume
salvaguarda de outros direitos ou
interesses protegidos pela especial relevância quando a crescente
Constituição. utilização, neste particular âmbito do
direito penal, de categorias de crime
No que tange ao Brasil, tradicionalmente reconhecidas como
independente da reforma em curso, hipóteses de ilícito incompatíveis com a
muitos outros indicativos da noção de ofensa ao bem jurídico,
concretização legislativa da exigência alimentada por fortes interesses de
material de ofensividade podem ser política criminal, mais especificamente,
ainda encontrados na legislação de prevenção geral positiva, tem
infraconstitucional, mais precisamente propiciado a manutenção de um
no Código Penal brasileiro. São muitos os significativo espaço de tensão que não
dispositivos que atestam a recepção de raramente convida a uma relativização
um ilícito penal de base objetiva, em da ofensa como regra geral a todas as
nítida contraposição a uma orientação formas de aparição do ilícito-típico, em
subjetivista. Os institutos da tentativa prol de espaços de livre disposição
(art.14, II CP), do crime impossível (art.17 político-criminal.
CP) e até a própria primeira parte do Não outra tem sido, v.g., a
art.13 do CP permitem o claro orientação proposta por um dos
reconhecimento de um direito penal principais estudiosos da ofensividade,
acentuadamente comprometido com o Ferrando Mantovani: em que pese
desvalor que representa a ofensa a bens reconheça a recepção constitucional do
jurídico-penais, no seguimento do princípio da ofensividade, faz isso como
chamado direito penal do resultado princípio regular, mas não absoluto.
(Erfolgstrafrecht), e reclamam o Segundo Mantovani, é importante admitir
desenvolvimento sistemático de uma a possibilidade de derroga do princípio
hermenêutica consistente e da ofensividade quando estivermos
verdadeiramente comprometida com diante de categorias totalmente
uma tal orientação. desprovidas de tal atributo, isto é, diante
dos denomi nados c ri mes s em
4. Ofensividade e Direito Penal
ofensividade (reati senza offesa ai beni
Contemporâneo
giuridici), os quais encontrariam a sua
4.1. É legítimo afastar a exigência de

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Vol. 1, Nº 01, Ano I, Setembro de 2014
razão de ser na necessidade político- limites claros e intransponíveis ao
criminal de prevenir ofensas a bens processo legislativo infraconstitucional.
primários, coletivos, institucionais, E (c), por fim, restringindo-nos aos
devendo aqui “a racionalidade do traços mais salientes, há, ainda, um
princípio moderar-se com a necessidade acentuado equívoco lógico, tanto na
de prevenção geral”51. Em outras orientação político-criminal quanto na
palavras, a existência de interesse fundamentação jurídica.
político-criminal na manutenção de (aa) A grande valia, hoje, de um
categorias jurídico-penais desprovidas retorno ao essencial, do resgate de uma
de qualquer ofensividade justificaria, por compreensão objetiva do ilícito penal –
si só, a derroga do princípio. Derroga de uma compreensão de base objetiva,
que, inclusive, no entender de porém não exclusiva, diga-se –, (re)
Mantovani, viria a preservar o conteúdo visitada através da ofensa ao bem
de garantia da ofensividade de uma jurídico, encontra-se justamente na sua
excessiva abertura, ocasionada por capacidade de delimitação do
tentativas inúteis de recuperação da conteúdo material do ilícito nos novos
ofensa em crimes sabidamente espaços de incriminação, em clara
desprovidos dela52. oposição às atuais tendências de
Uma tal compreensão é equivocada orientação meramente formal ou
por inúmeras razões53. normativa. Mas, se isso é verdade, se
(a) Há, de pronto, uma clara aqui está a grande valia da categoria
inversão metodológica. Não é possível em análise, negar-lhe entrada
partirmos de um dado empírico, do justamente nos espaços em que é posta
reconhecimento da existência de crimes em questão é negar-lhe sua principal
desprovidos de ofensividade e utilidade, é relegá-la a mera condição
insuscetíveis de recuperação de critério de interpretação do tipo, com
hermenêutica – de uma hermenêutica muito pouco a dizer ao direito penal
assumidamente interessada em resgatar secundário. De forma breve: o motivo
o conteúdo material do ilícito através da que Mantovani apresenta para justificar
restrição do âmbito do tipo – para o afastamento da ofensividade é a
afastar a incidência da exigência exata razão que nos leva a acreditar
constitucional de ofensividade, sob a que ela deve ter sua aplicação
simples alegação da existência de intensificada.
interesses políticos na sua manutenção. (bb) E, por outro lado, propor a
Seria o mes mo que propor, criação e manutenção de tipos-de-
absurdamente, a leitura de princípios ilícito desprovidos de ofensa, sob a
constitucionais orientadores da alegação da necessidade de tutela de
legitimação normativa a partir das bens primários, coletivos e institucionais,
próprias normas infraconstitucionais. é contraditório e evidentemente
(b) A proposta de Mantovani não i nsusten táv el . Ora, al egar a
atenta às implicações jurídicas do necessidade de crimes sem ofensa ao
reconhecimento da ofensividade como bem jurídico para evitar a ocorrência
norma constitucional de caráter duplo, de ofensa ao bem jurídico é não só
regra e princípio, decorrente da norma falacioso, como chegaria ao absurdo
constitucional da liberdade e da norma de justificar até mesmo a punibilidade
constitucional da dignidade da pessoa indiscriminada de atos preparatórios, eis
humana, o que, como vimos, coloca que, também aqui, poderíamos buscar

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Vol. 1, Nº 01, Ano I, Setembro de 2014
teleologicamente o seu desvalor na filtro hermenêutico que, muitas vezes,
possível ocorrência de um evento futuro poderá restringir o âmbito de aplicação
e incerto. Daí reconhecermos plena do ilícito-típico, em um processo
razão às palavras de Faria Costa ao hermenêutico de correção e
referir que tal idéia, isto é, a idéia de recuperação do ilícito, quando, por
que é “precisamente em nome da certo, o tipo penal permitir tal correção,
proteção de bens jurídicos que se e, outras vezes, pela total incapacidade
devem ou têm de punir condutas elas de adequação à noção de
mesmas não violadoras de bens ofensividade, deverá levar
jurídicos”, consiste em “uma das inevitavelmente ao reconhecimento da
expressões mais acabadas de sua inconstitucionalidade.
subversão e incompreensão No direito penal secundário, a
metodológicas”54. necessidade de atenção a ser
dispensada, nos planos de lege ferenda
4.2. Os planos de aplicação da e lege lata, à exigência constitucional
ofensividade: lege ferenda e lege lata de ofensividade aumenta
significativamente em razão das
Os elementos que nos fazem crer particularidades que envolvem os bens
em uma recepção constitucional da jurídico-penais tutelados (normalmente,
ofensividade e os moldes em que se dá supra-individuais), da maior
essa recepção, por nós já considerados, complexidade dos elementos que
são, como vimos, elementos suficientes envolvem e constituem o fato, e da
para garantir a sua aplicação ampla e forma de tutela possível (muitas vezes
irrestrita em todo o direito penal, sob de através de crimes de perigo abstrato).
pena inconstitucionalidade. Aqui, mesmo que partíssemos de um
A ofensividade torna-se, por isso, no funcionamento ideal do plano
plano de lege ferenda (plano legislativo, o normal aumento da
legislativo), um importante critério de normatividade, por decorrência das
orientação legislativa e, no plano de vicissitudes inerentes ao objeto e à
lege lata (plano hermenêutico- forma de tutela, concluiríamos por uma
aplicativo), critério de validade e maior valorização do trabalho
delimitação do ilícito, reitor de uma hermenêutico. Mas, se tomamos, p. ex.,
hermenêutica que se quer a realidade legislativa brasileira, tal
constitucionalmente orientada. como se apresenta, na qual a falta de
Em outras palavras, não só o preocupação com as exigências
legislador deve ater-se à exigência de constitucionais de validade e a
ofensividade na proposição de novas acentuada falta de rigor técnico são
figuras delitivas que, na sua interação marcas comuns, podemos perceber,
com outros princípios penais, leva-lo-á a então, o grau de responsabilidade que
priorizar sempre as formas de ofensa recai sobre o intérprete, e daí, a
mais intensas, como a aplicação da necessidade de um intenso e contínuo
norma penal exigirá do interprete uma aprimoramento do plano hermenêutico-
hermenêutica atenta à sua efetiva aplicativo, o que, sem dúvida alguma,
existência. O que é o mesmo que dizer passa por uma melhor compreensão e
que todas as deficiências legislativas delimitação do que devemos entender
deverão ser corrigidas a partir de um por ofensividade. O estudo da

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ofensividade e das formas de ofensa conduta, não está presente o perigo. E,
torna-se, pois, tarefa irrenunciável ao se assim é, os crimes de perigo abstrato
processo de atualização da ciência não seriam compatíveis com uma
jurídico-penal, decorrência normativa exigência de efetiva e real ofensa ao
do chamamento à “superação” que objeto de tutela da norma.
nos é feito, responsavelmente, por Isso não significa, por outro lado, a
Anselmo Borges55. imediata inconstitucionalidade desta
espécie delitiva. Muito pelo contrário. Os
5. Decorrências práticas da adoção do crimes de perigo abstrato são suscetíveis
modelo de crime como ofensa a bens de recuperação hermenêutica, não
jurídicos constituindo, por isso, uma categoria
necessariamente desprovida de
Por ofensa a bens jurídicos entende-se, ofensividade. Restringir a riqueza e
em termos dogmáticos, o dano ou o complexidade da noção jurídico-penal
perigo de dano ao objeto de tutela da de perigo às situações tradicionalmente
norma. Logo, afirmar que não há crime denominadas de perigo concreto,
(legítimo) sem ofensa a bens jurídico- relegando aos crimes de perigo abstrato
penais é o mesmo que exigir de todo e uma exangue presunção absoluta de
qualquer ilícito penal a efetiva perigo, é, sem dúvida, desnecessário e
ocorrência de dano ou, ao menos, de equivocado.
perigo de dano ao objeto de tutela da A literatura especializada há muito
norma. O resultado jurídico (dano ou vem tentando resgatar os crimes de
perigo) torna-se, assim, ao lado do perigo abstrato do rol dos ilícitos
desvalor da ação, elemento meramente formais e já conta hoje com
indispensável na constituição do ilícito- inúmeras elaborações significativas56. Da
típico. As decorrências práticas de proposta de (re)leitura dos crimes de
tal entendimento são inúmeras. A título perigo abstrato como presunção
de mera ilustração, traremos aqui relativa de perigo (Schröder), ao perigo
apenas três exemplos. abstrato como perigosidade
(Gefärlichkeit) (Gallas, Giusino, Meyer,
5.1. Necessidade de (re)leitura dos crimes
Hirsch, Zieschang e Mendoza Buergo),
de perigo abstrato
passando pela tomada do perigo
Em termos tradicionais, os crimes de abstrato como probabilidade de perigo
perigo abstrato são definidos como concreto (Cramer), como negligência
figuras de perigo meramente presumido. sem resultado (Horn, Brehm,
O perigo seria apenas elemento de Schünemann e Roxin), ou como risco de
motivação legislativa, não figurando lesão ao bem jurídico (Wolter e Martin),
como elemento constitutivo do tipo. pode-se encontrar diferentes formas de
Vale dizer: ao estabelecer um crime de perceber e enfrentar o problema.
perigo abstrato, o legislador selecionaria Quanto a nós, acreditamos ser
condutas normalmente perigosas, plenamente possível recuperar o
presumindo a ocorrência do perigo conteúdo material dos crimes de perigo
sempre que a conduta viesse a ser abstrato, mediante a exigência de uma
praticada. possibilidade, não insignificante, de
Contudo, e como sói ocorrer, uma dano ao bem jurídico, a ser verificada
tal presunção não é infalível, dando azo mediante um (único) juízo ex ante (i.e.,
a situações em que, embora realizada a no momento da prática da ação

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perigosa)57. Seria, assim, algo diferente jurídico diverso daquele tutelado por
dos crimes de perigo concreto, nos quais meio da punibilidade dos atos
são exigidos dois juízos de probabilidade executórios – como ocorre usualmente
de dano, um juízo ex ante (no momento no crime de porte ilegal de arma de
da ação) e um juízo ex post (após o fogo, no qual é punido o porte
decurso da ação); juízo duplo este que independentemente da intenção (lícita
nem sempre é possível, a depender da ou não) do agente –, os atos
natureza da matéria de regulação. preparatórios correspondem a um
No âmbito dos crimes ambientais, p. momento do iter criminis em que, ao
ex., a realização do de um juízo ex post menos em princípio, não há qualquer
é, por vezes, muito difícil, senão mesmo perigo para os valores tutelados pela
impossível. Basta tomar, a título de norma penal. O que significa dizer que a
ilustração, o crime de poluição do ar ou punibilidade dos atos preparatórios não
das águas. Nestes, o resultado da ação é – na perspectiva aqui defendida –
costuma estar muito distante do constitucionalmente legítima.
momento da ação e se dá mediante a Todavia, não é essa a orientação
interação com inúmeras outras que se mostra presente no âmbito
condutas poluidoras, o que dificulta inúmeras leis, como, aliás, bem
sobremaneira a verificação do curso demonstra a legislação europeia de
causal e, assim, o juízo ex post de repressão ao terrorismo.
probabilidade. Razão pela qual é A título de ilustração, podemos
recomendável a criminalização por considerar a Lei de Combate ao
meio de crimes de perigo abstrato, no Terrorismo de Portugal, Lei n.52/2003
qual a verificação do perigo estará (aprovada em cumprimento à Decisão-
restrita ao juízo ex ante de possibilidade Quadro 2002/475/JAI e recentemente
de dano ao bem jurídico. modificada pela Lei 17/2011, em
Conclusão: os crimes de perigo atenção à Decisão-Quadro 2008/919/
abstrato passariam a exigir a ocorrência JAI) que, entre outras coisas, em seu
de efetivo perigo ao bem jurídico, na art.2, 4, criminaliza a prática de atos
forma de uma possibilidade, não meramente preparatórios da
insignificante, de dano ao bem jurídico constituição de grupo, organização ou
tutelado. associação terrorista. In verbis: “Artigo.
2.º Organizações Terroristas. (...) 4 -
5.2. Não punibilidade de actos Quem praticar actos preparatórios da
meramente preparatórios (ainda que no constituição de grupo, organização ou
âmbito do terrorismo) associação terrorista é punido com
pena de prisão de 1 a 8 anos.”
O crime tentado é, em termos
Este não é, certamente, o único
materiais, um crime de perigo. O
dispositivo da lei que criminaliza
fundamento da punibilidade da
condutas usualmente reconhecidas
tentativa é justamente a exposição a
como atos de mera preparação, o que,
perigo do bem jurídico-penal.
inclusive, bem demonstra a
Fundamento que, em contrapartida,
criminalização do recrutamento e o
não acompanha os casos de mera
treinamento para o terrorismo, nos
preparação.
termos da Decisão-Quadro 2008/919/
Com exceção das hipóteses em que
JAI. Entretanto, ele destaca-se dos
os atos preparatórios configuram crimes
demais pelo fato de criminalizar
autônomos, em razão da ofensa a bem

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condutas que sequer consistem em atos produza riscos elevados para os
preparatórios de um “ato terrorista”, mas objetivos de prevenção e repressão do
preparatórios da “constituição de uma terror. Em verdade, defender o contrário
organização terrorista”, ou seja, de um parece-nos valorizar em demasia a
tipo penal que já consiste, por si só, em efetividade do direito penal enquanto
uma inequívoca antecipação de tutela. instrumento de intervenção e regulação
Em outras palavras: partindo do do Estado, no que diz respeito, muito
pressuposto de que a punibilidade da especialmente, a prevenção e
constituição de um grupo criminoso já repressão do terrorismo.
representa uma antecipação da tutela Dadas as particularidades e a
penal do terrorismo (Vorfeldschutz), a complexidade do fenômeno terrorista, é
punibilidade dos seus atos preparatórios difícil acreditar que seja possível obter
revela não só a incriminação de atos efeitos práticos dissuasórios a partir da
desprovidos de ofensa a um bem simples edição e aplicação de normas
jurídico (como costuma ocorrer com a penais e, menos ainda, pelo simples
generalidade dos atos de mera aumento da faixa de condutas
preparação), mas também uma dupla e penalmente proibidas, de modo a
extrema antecipação da tutela penal, compreender também atos extremos
uma espécie de tutela anterior à própria como a mera preparação. Em regra, o
tutela antecipada (‘Vor’vorfeldschutz). que se tem nesses casos é apenas um
Pode-se argumentar – como, aliás, aumento do âmbito de punibilidade e,
normalmente se faz – no sentido de que assim, de repressão, na forma de uma
o mal que representa o terrorismo é intervenção penal fortemente
demasiadamente grande, o que antecipada; o que não corresponde,
justificaria a adoção de medidas obviamente, à prevenção.
extremas, de modo a se obter o máximo Nessa perspectiva, importa
de eficiência no seu controle. Vale dizer: considerar que a repressão internacional
que um bom e forte motivo (ex.: luta ao terrorismo já conta com uma área de
contra o terror) é suficiente para afastar intervenção penal bastante alargada,
ou mitigar a aplicação de princípios mediante a ampla criminalização do
reitores do direito penal. Tal argumento, concurso de pessoas – pune-se toda
todavia, como já assinalado no início forma de colaboração moral e material
desse escrito, parece-nos à prática de atos terroristas -, bem como
absolutamente inaceitável nos quadros da criminalização da associação com
de um Estado Democrático de Direito. O fins terroristas e da apologia ao
reconhecimento e a manutenção dos terrorismo. Contexto em que restaria à
princípios e regras penais não podem ser criminalização autônoma de atos
tratados como uma questão de preparatórios apenas condutas
conveniência estatal no combate à verdadeiramente extremas, condutas
criminalidade. que sequer constituiriam alguma forma
Não bastasse isso, parece-nos de contributo material ou moral ao
igualmente equivocada a comum terror, ou mesmo uma associação ilícita
supervalorização dos custos de um para o terrorismo, para a qual, como se
direito penal mais enxuto. Não sabe, bastam apenas duas pessoas.
acreditamos, definitivamente, que o Conclusão: é ilegítima a punição de
rigoroso atendimento aos princípios atos meramente preparatórios,
reitores do direito penal democrático independentemente dos interesses

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político-criminais em jogo. liberdade 59 . O fato, contudo,
manteve-se no rol das condutas
5.3. Não punibilidade da autolesão penalmente puníveis.
(ainda que no âmbito da legislação O problema, portanto, coloca-se
antidrogas) em âmbito hermenêutico-aplicativo.
Uma vez que o legislador penal
Se por um lado, o modelo de
insiste em criminalizar a posse de
crime como ofensa a bens jurídicos
drogas para uso, compete ao
considera ilegítimo um ilícito
magistrado analisar a compatibilidade
desprovido de perigo ao objeto de
do referido dispositivo com a exigência
tutela, por outro, afirma ser igualmente
constitucional de ofensividade. E
ilegítima a criminalização de fatos
exatamente aqui se dá a divergência.
direcionados a interesses do próprio
Seja porque uma tal exigência
autor. A autolesão não é, por isso,
constitucional não é de todo pacífica,
punível no Brasil, independente da sua
seja porque alguns a consideram
gravidade, como também não a
derrogável, quando diante de
tentativa de suicídio. Pune-se apenas o
interesses político-criminais de grande
auxílio e a instigação ao suicídio (art.
magnitude, como costuma ser o
122 CP), na medida em que seus
alegado “combate às drogas”.
efeitos recaem sobre terceiro, bem
O entendimento majoritário, como,
como hipóteses em que a autolesão é
aliás, não poderia ser diferente, opta
apenas meio para lesar bem jurídico
por uma leitura meramente formal do
diverso, como ilustra o crime de
art. 28 da Lei de Entorpecentes,
autolesão para para fraudar seguro
desconsiderando toda e qualquer
(art. 171 V CP). Neste dispositivo, o
argumentação acerca do seu
bem tutelado é não o corpo ou a
conteúdo material. Em contrapartida,
saúde, mas o patrimônio da
embora minoritária, uma interessante
seguradora.
jurisprudência em favor da
A existência de consenso acerca
inconstitucionalidade do referido
da não criminalização da autolesão e
dispositivo tem ganhado força,
da tentativa de suicídio faria presumir
mostrando-se presente tanto nos
igual consenso no que tange à não
tribunais brasileiros, como, até mesmo,
punição da autointoxicação. E, de
em julgados monocráticos. Vejamos
fato, isso é assim, no que diz respeito a
aqui alguns exemplos.
drogas lícitas, como o álcool ou o
Reconhecimento da
cigarro. No que se refere a drogas
inconstitucionalidade pelo Tribunal de
ilícitas, o consenso simplesmente
Justiça do Rio Grande do Sul, ainda
desaparece, dando azo a um espaço
sob a vigência da antiga lei de
de forte controvérsia doutrinária e
entorpecentes:
jurisprudencial.
Até o advento da Lei 11.343/2006, Penal. Art. 16 da Lei 6368/76.
a posse de drogas para uso próprio Ausência de lesão a bem jurídico
era punida no Brasil com pena de penalmente relevante.
detenção de 6 meses a 2 anos58. O Inconstitucionalidade. (Unânime):
a Lei anti-tóxicos brasileira é
novo regramento, por sua vez,
caracterizada por dispositivos
estabeleceu uma melhor posição
viciados nos quais prepondera o
para o usuário de drogas, mediante “emprego constante de normas
uma sanção criminal não privativa de

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penais em branco (...) e de tipos para a comprovação da
penais abertos, isentos de precisão mercancia, denúncias anônimas de
semântica e dotados de que o acusado seria um traficante.
elaborações genéricas” (ver: Salo de 2.- O artigo 28 da Lei n. 11.343/2006
Carvalho, A Política Criminal de é inconstitucional. A criminalização
Drogas no Brasil: do discurso oficial primária do porte de entorpecentes
às razões da descriminalização, Rio para uso próprio é de indisfarçável
de Janeiro, 1997, p.33-34). Diante insustentabilidade jurídico-penal,
destes dados, tenho como limites ao porque não há tipificação de
labor na matéria, a principiologia conduta hábil a produzir lesão que
constitucional impositora de freios à invada os limites da alteridade,
insurgência punitiva estatal. Aqui afronta os princípios da igualdade,
interessam primordialmente os da inviolabilidade da intimidade e
princípios da dignidade, da vida privada e do respeito à
humanidade (racionalidade e diferença, corolário do principio da
proporcionalidade) e da dignidade, albergados pela
ofensividade. No Direito Penal de Constituição Federal e por tratados
viés libertário, orientado pela internacionais de Direitos Humanos
ideologia iluminista, ficam vedadas ratificados pelo Brasil. (Apelação
as punições dirigidas à autolesão Criminal n.º 01113563.3/0.0000-000,
(caso em tela), crimes impossíveis, 6ª Câmara Criminal do 3º Grupo da
atos preparatórios: o direito penal se Seção Criminal, Tribunal de Justiça
presta, exclusivamente, à tutela de de São Paulo, Relator José Henrique
lesão a bens jurídicos de terceiros. - Rodrigues Torres, julgado em
Prever como delitos fatos dirigidos 31/03/2008) (grifo nosso)
contra a própria pessoa é resquício
de sistemas punitivos pré-modernos. Decisão monocrática, Poder
O sistema penal moderno, garantista Judiciário do Rio de Janeiro:
e democrático não admite crime
Em suma, deixando a hipocrisia de
sem vítima. Repito, a lei não pode
lado, não afetando a conduta
punir aquele que contra a própria
incriminada pelo art. 28 da Lei
saúde ou contra a própria vida –
11.343/2006 bens jurídicos de
bem jurídico maior – atenta: fatos
terceiros, e sendo lícita a prática da
sem lesividade a outrem, punição
autolesão, não guardando tal ação
desproporcional e irracional! Lições
pertinência com a saúde ou
de Eugênio Raul Zaffaroni, Nilo
incolumidade pública, estamos no
Batista, Vera Malaguiti Batista, Rosa
âmbito do direito constitucionalmente
del Olmo, Maria Lúcia Karam e Salo
assegurado à dignidade humana, à
de Carvalho. (...) (Apelação Crime
liberdade, à privacidade e à
n.º 70004802740, Quinta Câmara
intimidade de cada cidadão,
Criminal, Tribunal de Justiça do Rio
inexistindo bem jurídico concreta e
Grande do Sul, Relator: Amilton
legitimamente tutelável; logo,
Bueno de Carvalho, Julgado em
carecendo a conduta tipificada de
07/05/2003). (grifo nosso)
ofensividade, e violando a
incriminação os supra citados
Reconhecimento da
princípios constitucionais, carece
inconstitucionalidade pelo Tribunal de
aquele tipo penal de respaldo na
Justiça de São Paulo, já no âmbito da Carta Maior, impondo-se o
nova legislação: reconhecimento de sua
inconstitucionalidade, o que ora
1.- A traficância exige prova declaro. (Processo n.º 0021875-
concreta, não sendo suficientes,

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Vol. 1, Nº 01, Ano I, Setembro de 2014
62.2012.8.19.0208, 37ª Vara Criminal
da Comarca da Capital, Estado do
Rio de Janeiro, Magistrado Marcos Notas e Referências
Augusto Ramos Peixoto, 20/03/2014). 1 Ver, por todos, FIGUEIREDO DIAS, Jorge de, Direito
(grifo nosso) penal. Parte geral, tomo I, Coimbra : Coimbra Ed., 2004,
p.109; e FARIA COSTA, José de, O perigo em direito
penal. Contributo para a sua fundamentação e
Conclusão: é ilegítima a compreensão dogmáticas, Coimbra : Coimbra Ed.,
1992, passim.
criminalização de condutas autolesivas, 2 Ver HEFENDEHL, Roland; HIRSCH, Andrew von;
independentemente das razões político- WOHLERS, Wolfgang, Die Rechtsgutstheorie.
Legitimationsbasis des Strafrechts oder dogmatisches
criminais que lhe possam conceder
Glasperlenspiel?, Baden-Bende : Nomos, 2003; ROXIN,
fundamento. Claus, "Das strafrechtliche Unrecht im Spannungsfeld
von Rechtsgüterschutz und individueller Freiheit", ZStW,
6. Considerações Finais 116 (2004), p.944.
3 Ver, por todos, MARINUCCI, Giorgio; DOLCINI, Emilio,

Corso di diritto penale, vol.1, 3.ª ed., Milano : Giuffrè,


Não há crime (legítimo) sem ofensa a 2001, passim.
4 Emenda nº 807 – CTRCP – Substitutivo ao Projeto de Lei
bens jurídicos; não há crime (legítimo) do Senado nº 236/2012, publicado no DSF em
sem dano ou perigo a bens jurídico- 20.12.2013.
5 Sobre a vida e obra de Tiberius Decianus, ver
penais. E, quanto a isso, não se pode SCHAFFSTEIN, Federico, La ciência europea del derecho
admitir exceções, a despeito dos penal en la época del humanismo, tradução de Jose
interesses de prevenção geral que o Maria Rodriguez Devesa, Madrid : Civitas, p.1957, p.81
ss..
atendimento dessa premissa possa 6 Conf. SCHAFFSTEIN, Federico, ob. cit., p.100.

defraudar. Esta forte assertiva sintetiza a 7 Ver MARINUCCI, Giorgio; DOLCINI, Emilio, ob. cit.,

ideia reitora do presente texto. Mas não p.430.


8 Conf. MARINUCCI, Giorgio; DOLCINI, Emilio, ob. cit.,
só. Deixa também insinuada uma p.429.
importante proposta de base. 9 SGUBBI, Filippo, Responsabilità penale per omesso

impedimento dell’evento, Padova : Cedam, 1975, p.7.


O que aqui se propõe, ao fim e ao 10 FIANDACA, Giovanni, "Laicità e beni tutelati", in: Studi

in memoria di Pietro Nuvolone, vol.1, Milano : Giuffrè,


cabo, é o fortalecimento da ciência p.171.
normativa do direito penal, 11 MARINUCCI, Giorgio; DOLCINI, Emilio, ob. cit., p.430.

constitucionalmente informada, 12 BECCARIA, Cesare, Dos delitos e das penas, trad. de

José de Faria Costa, com ensaios introdutórios de José


enquanto lugar por excelência de de Faria Costa e Giorgio Marinucci, Lisboa : Fund.
convergência e afirmação das garantias Calouste Gulbenkian, 1998, VII, p.75.
13 FARIA COSTA, José de, “Ler Beccaria hoje”, in:
fundamentais em matéria penal, diante
BECCARIA, Cesare, Dos delitos e das penas, trad. de
dos interesses de política criminal, como José de Faria Costa, Lisboa : Fund. Calouste Gulbenkian,
tarefa indispensável para a manutenção 1998, p.10.
14 SGUBBI, Filippo, ob. cit., p.16.
da racionalidade do direito penal 15 SGUBBI, Filippo, ob. cit., p.14 ss..

contemporâneo. Ponto de chegada que 16 O que não significa, por certo, que toda violação de

convoca a todos nós. Que convoca a um direito subjetivo implique a existência de um ilícito
penal. Aqui, oportuna a observação de Sgubbi ao
academia em seu agir responsável e salientar o caráter excepcional da intervenção penal
comprometido para com a manutenção (SGUBBI, Filippo, ob. cit., p.18).
17 COSTA ANDRADE, Manuel da, Consentimento e acor-
de conquistas que lhe dão sentido, mas
do em direito penal. Contributo para a fundamentação
também para com um tempo e uma de um paradigma dualista, Coimbra : Coimbra Ed.,
sociedade que se perfaz em novos, nem 1991, p.43.
18 FEUERBACH, Anselm Ritter von, Lehrbuch des ge-
sempre bem compreendidos, traçados. meinen in Deutschland gültigen peinlichen Rechts, 13.ª
Afinal, nas lúcidas palavras de Mia Couto, ed., Giessen : Georg Friedrich Heyer, 1840, p.41 (§19: Aus
através da figura do Barbeiro de Vila obiger Deduction ergiebt sich folgendes höchste Princip
des peinl. Rechts: Jede rechtliche Strafe im Staate ist die
Longe, “não é fácil sair da pobreza. Mais rechtliche Folge eines, durch die Nothwendigkeit der
difícil, porém, é a pobreza sair de nós”. Erhaltung äusserer Rechte begründeten, und eine

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Rechtsverletzung mit einem sinnlichen Uebel 37 Em referência crítica sobre a nossa compreensão,
bedrohenden Gesetzes). FIGUEIREDO DIAS, Jorge de, ob. cit., p.290.
19 FEUERBACH, Anselm Ritter von, ob. cit., p.45 (itálico 38 BIRNBAUM, J., ob. cit., p.178.

nosso) (§21. Dieses [das Verbrechen], im weitesten 39 Para Binding, bem jurídico é tudo aquilo que, aos

Sinne, ist daher eine unter einem Strafgesetz enthaltene olhos do legislador, é valorado como condição de vida
Beleidigung, oder eine durch ein Strafgesetz bedrohte, saudável da comunidade jurídica, em cuja
dem Recht eines Andern wiedersprechenden conservação inalterável e imperturbável a comunidade
Handlung). tem interesse, e que, por isso, através de uma norma,
20 COSTA ANDRADE, Manuel da, ob. cit., p.45. busca evitar uma indesejada lesão ou pôr-em-perigo
21 COSTA ANDRADE, Manuel da, ob. cit., p.48 s.. (BINDING, Karl, Die Normen und ihre Übertretung, vol. I,
22 Ver COSTA ANDRADE, Manuel da, ob. cit., p.50. 3.ª ed., Leipzig : von Felix Meyer, 1916, p.353 ss.). Para
23 FEUERBACH, Anselm Ritter von, ob. cit., p.48 s.. uma cuidadosa análise da compreensão do bem
24 AMELUNG, Knut, “Rechtsgutverletzung und jurídico em Binding, ver COSTA ANDRADE, Manuel da,
Sozialschädlichkeit”, in: Recht und Moral. Beiträge zu ob. cit., p.61 ss..
einer Standortbestimmung, org. por Jung, Müller-Dietz e 40 FIGUEIREDO DIAS, Jorge de, ob. cit., p.110 s..

Neumann, Baden-Baden : Nomos, 1991, p.269. 41 Sobre o direito penal nacional-socialista, ver GÜNTHER,
25 AMELUNG, Knut, ob. cit., p.269. Klaus, ob. cit., p.452 ss; COSTA ANDRADE, Manuel da,
26 MARINUCCI, Giorgio; DOLCINI, Emilio, ob. cit., p.433. ob. cit., p.68 s., nota 86; MARINUCCI, Giorgio; DOLCINI,
27MARINUCCI, Giorgio; DOLCINI, Emilio, ob. cit., p.433. Emilio, ob. cit., p.438 ss.; FERNÁNDEZ, Gonzalo, Bien jurídi-
28 Esta crítica pode ser encontrada já no célebre co y sistema del delito. Un ensayo de fundamentación
trabalho de Birnbaum, ao qual se credita o surgimento dogmática, Buenos Aires : Julio Cezar Faria Ed., 2004,
do conceito de bem jurídico, muito embora o termo p.31 ss.; entre nós, SOUZA, Paulo Vinicius Sporleder de,
“bem jurídico”, propriamente dito – isto é, a tradução Bem jurídico-penal e engenharia genética humana.
para o português da expressão Rechtsgut –, tenha sido Contributo para a compreensão dos bens jurídicos
primeiramente utilizada por Binding, na primeira edição supra-individuais, São Paulo : RT, 2004, p.94 ss..
do Die Normen, em 1872 (assim, COSTA ANDRADE, 42 Neste exato sentido, porém em referência à
Manuel da, ob. cit., p.64 s.). Observava Birnbaum que, Constituição italiana, afirmam Marinucci e Dolcini que,
se o perigo é uma situação na qual tememos a perda na proposta de Estado delineada na Constituição de
ou a privação de um bem, é totalmente inadequado 1948, isto é, em um Estado pluralista, laico, inspirado em
falar-se em “perigo de um direito” (Rechtsgefahr), pois o valores de tolerância, no qual todo o poder emana do
que estaria em questão é a perda ou privação do povo e que reconhece no homem a sua dignidade e
objeto do nosso direito, e não o direito em si, insuscetível um conjunto de direitos invioláveis, “num Estado desta
de ser, in casu, reduzido ou suprimido. Inadequação natureza, dizíamos, o direito penal não pode perseguir
esta que, embora perceptível também nos crimes de fins transcendentes ou éticos; não pode degradar o
lesão – quando então se falaria em “lesão a um homem à condição de mero “objeto de tratamento”
direito” (Rechtsverletzung) –, vista da perspectiva das pelas suas presumíveis tendências anti-sociais, nem
situações de perigo, revela-se com ainda maior clareza pode fazer assentar o crime em meras atitudes interiores
(BIRNBAUM, J., “Über das Erfordernis einer ou na vontade pura e simples – de qualquer maneira
Rechtsverletzung zum Begriffe des Verbrechens, mit manifestada – de desobedecer às leis” (MARINUCCI,
besonderer Rücksicht auf den Begriff der Giorgio; DOLCINI, Emilio, “Constituição e escolha de
Ehrenkränkung”, Arquiv des Criminalrechts, (1834), bens jurídicos”, Rev. Portuguesa de Ciências Criminais, 4
p.172). (1994), p.152).
30 Birnbaum acreditava que os valores suscetíveis de 43 Nada melhor para exemplificar as tendências
tutela poderiam advir de uma dimensão natural ou autoritárias, revestidas de um colorido democrático que
dimensão comunitária, ou seja, poderiam ser dados hoje tentam o direito penal que o denominado direito
pela natureza ou ser encontrados no desenvolvimento penal do inimigo (Feindstrafrecht) de Jakobs (ver
da sociedade (BIRNBAUM, J., ob. cit., p.177). JAKOBS, Günther; CANCIO MELIÁ, Manuel, Derecho
31 BIRNBAUM, J., ob. cit., p.172 e 175 ss.. penal del enemigo, Madrid : Civitas, 2003; e, de forma
32 BIRNBAUM, J., ob. cit., p.179. crítica, PRITTWITZ, Cornelius, “O direito penal entre direito
33 Para mais detalhes, ver AMELUNG, Knut, ob. cit., p.269 penal do risco e direito penal do inimigo. Tendências
ss.. autais em direito penal e política criminal”, RBCCrim, 47
34 Ver FIGUEIREDO DIAS, Jorge de, ob. cit., p.110; e, do (2004), p.31 ss.).
mesmo autor, Temas básicos da doutrina penal. Sobre 44 O próprio preâmbulo da Constituição Federal
os fundamentos da doutrina penal. Sobre a doutrina brasileira já dá suficiente notícia do modelo de Estado
geral do crime, Coimbra : Coimbra Ed., 2001, p.43 s.. instituído, ou seja, “um Estado Democrático, destinado
35 BIRNBAUM, J., ob. cit., p.178. Sobre a questão, ver, a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais,
também, AMELUNG, Knut, ob. cit., p.270; GÜNTHER, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o
Klaus, “Von der Rechts- zur Pflichtverletzung. Ein desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores
“Paradigmawechsel” im Strafrecht?”, in: Vom supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem
unmöglichen Zustand des Strafrechts, Frankfurt am preconceitos”.
Main : Peter Lang, 1995, p.452 s.. 45 CANOTILHO, José Joaquim Gomes, Direito
36 MARINUCCI, Giorgio; DOLCINI, Emilio, ob. cit., p.434. constitucional e teoria da Constituição, 5.ª ed.,
Ver, também, COSTA ANDRADE, Manuel da, ob. cit., Coimbra : Almedina, 2002, p.1157.
p.53 s.. 46 CANOTILHO, José Joaquim Gomes, ob. cit., p.1168.

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47 Para maiores detalhes, remetemos o leitor para o BECCARIA, Cesare, Dos delitos e das penas, trad. de
nosso Ofensividade e crimes omissivos próprios. José de Faria Costa, com ensaios introdutórios de José
Contributo à compreensão do crime como ofensa ao de Faria Costa e Giorgio Marinucci, Lisboa : Fund.
bem jurídico, Stvdia Ivridica 85, Coimbra : Coimbra Ed., Calouste Gulbenkian, 1998, VII.
2005, p.63 ss. BINDING, Karl, Die Normen und ihre Übertretung, vol. I,
48 ALEXY, Robert, Theorie der Grundrechte, Baden- 3.ª ed., Leipzig : von Felix Meyer, 1916.
Baden : Suhrkamp, 1994, p.123. BIRNBAUM, J., “Über das Erfordernis einer Rechtsver-
49 ALEXY, Robert, ob. cit., p.296 ss.. letzung zum Begriffe des Verbrechens, mit besonderer
50 MARINUCCI, Giorgio; DOLCINI, Emilio, ob. cit., p.489. Rücksicht auf den Begriff der Ehrenkränkung”, Arquiv
51 Nesse mesmo sentido, FIGUEIREDO DIAS, Jorge de, ob. des Criminalrechts, (1834).
cit., p.114; PRADO, Luiz Regis, Bem jurídico-penal e BORGES, Anselmo, «O crime econômico na perspectiva
Constituição, São Paulo : RT, 1996, p.58 e 68. filosófico-teológica», Rev. Portuguesa de Ciência
52 MANTOVANI, Ferrando, “Il principio di offensività nello Criminal, 1 (2000).
schema di delega legislativa per un nuovo codice CANOTILHO, José Joaquim Gomes, Direito
penale”, Riv. ital. dir. proc. penale, 2 (1997), p.323. Do constitucional e teoria da Constituição, 5.ª ed.,
mesmo autor, ver, também, Diritto penale. Parte Coimbra : Almedina, 2002.
generale, 4.ª ed., Padova : Cedam, 2001, p.196; “Il COSTA ANDRADE, Manuel da, Consentimento e acordo
principio di offensività tra dogmática e politica em direito penal. Contributo para a fundamentação
criminale”, in: Il diritto penale alla svolta di fine milenio, de um paradigma dualista, Coimbra : Coimbra Ed.,
org. por Stafano Canestrari, Torino : Giappichelli, 1998, 1991.
p.251. D’AVILA, Fabio Roberto, Ofensividade e crimes
53 MANTOVANI, Ferrando, Il principio..., ob. cit., p.323 ss.. omissivos próprios. Contributo à compreensão do crime
54 Recepcionando a ofensividade como princípio não como ofensa ao bem jurídico, Stvdia Ivridica 85,
sujeito à derroga, FIORE, Carlo, “Il principio di Coimbra : Coimbra Ed., 2004.
offensività”, L´Indice penale, (1994), p.279; MARINUCCI, DOLCINI, Emilio, “Il reato come offesa a un bene giuridi-
Giorgio; DOLCINI, Emilio, ob. cit., p.559 e 254; DOLCINI, co. Un dogma al servizio della politica criminale”, in: Il
Emilio, “Il reato come offesa a un bene giuridico. Un diritto penale alla svolta di fine milenio, org. por Stafano
dogma al servizio della politica criminale”, in: Il diritto Canestrari, Torino : Giappichelli, 1998.
penale alla svolta di fine milenio, org. por Stafano Ca- EMENDA Nº 807 – CTRCP – Substitutivo ao Projeto de Lei
nestrari, Torino : Giappichelli, 1998, p.214 s.. do Senado nº 236/2012, publicado no DSF em
55 FARIA COSTA, José de, ob. cit., p.621, nota 130. Nesse 20.12.2013.
sentido, ver também KINDHÄUSER, Urs, Gefährdung als FEUERBACH, Anselm Ritter von, Lehrbuch des gemeinen
Strafrecht. Rechtstheoretische Untersuchungen zur in Deutschland gültigen peinlichen Rechts, 13.ª ed.,
Dogmatik der abstrakten und konkreten Giessen : Georg Friedrich Heyer, 1840.
Gefährdungsdelikte, Frankfurt am Main : Klostermann, FERNÁNDEZ, Gonzalo, Bien jurídico y sistema del delito.
1989, p.168. Un ensayo de fundamentación dogmática, Buenos
56 BORGES, Anselmo, «O crime econômico na perspecti- Aires : Julio Cezar Faria Ed., 2004.
va filosófico-teológica», Rev. Portuguesa de Ciência GÜNTHER, Klaus, “Von der Rechts- zur Pflichtverletzung.
Criminal, 1 (2000), p.21. Ein “Paradigmawechsel” im Strafrecht?”, in: Vom
57 Para uma breve exposição de todas estas unmöglichen Zustand des Strafrechts, Frankfurt am
elaborações, ver D’AVILA, Fabio Roberto, ob. cit., p.112 Main : Peter Lang, 1995.
ss. HEFENDEHL, Roland; HIRSCH, Andrew von; WOHLERS,
58 Para uma exposição detalhada, ver D’AVILA, Fabio Wolfgang, Die Rechtsgutstheorie. Legitimationsbasis des
Roberto, ob. cit., p.159 ss. Strafrechts oder dogmatisches Glasperlenspiel?, Baden-
59 Lei 6.368/1976. Art. 16. Adquirir, guardar ou trazer Bende : Nomos, 2003.
consigo, para o uso próprio, substância entorpecente JAKOBS, Günther; CANCIO MELIÁ, Manuel, Derecho
ou que determine dependência física ou psíquica, sem penal del enemigo, Madrid : Civitas, 2003.
autorização ou em desacordo com determinação legal FARIA COSTA, José de, “Ler Beccaria hoje”, in:
ou regulamentar: Pena - Detenção, de 6 (seis) meses a BECCARIA, Cesare, Dos delitos e das penas, trad. de
2 (dois) anos, e pagamento de (vinte) a 50 (cinqüenta) José de Faria Costa, Lisboa : Fund. Calouste
dias-multa. Gulbenkian, 1998.
60 Lei 11.343/2006. Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver FARIA COSTA, José de, O perigo em direito penal.
em depósito, transportar ou trouxer consigo, para con- Contributo para a sua fundamentação e compreensão
sumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacor- dogmáticas, Coimbra : Coimbra Ed., 1992.
do com determinação legal ou regulamentar será sub- FIANDACA, Giovanni, "Laicità e beni tutelati", in: Studi in
metido às seguintes penas: I - advertência sobre os efei- memoria di Pietro Nuvolone, vol.1, Milano : Giuffrè.
tos das drogas; II - prestação de serviços à comunidade; FIGUEIREDO DIAS, Jorge de, Direito penal. Parte geral,
III - medida educativa de comparecimento a programa tomo I, Coimbra : Coimbra Ed., 2004
ou curso educativo. (…) FIORE, Carlo, “Il principio di offensività”, L´Indice penale,
ALEXY, Robert, Theorie der Grundrechte, Baden-Baden : (1994).
Suhrkamp, 1994. KINDHÄUSER, Urs, Gefährdung als Strafrecht.
AMELUNG, Knut, “Rechtsgutverletzung und Rechtstheoretische Untersuchungen zur Dogmatik der
Sozialschädlichkeit”, in: Recht und Moral. Beiträge zu abstrakten und konkreten Gefährdungsdelikte, Frankfurt
einer Standortbestimmung, org. por Jung, Müller-Dietz e am Main : Klostermann, 1989.
Neumann, Baden-Baden : Nomos, 1991.

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Vol. 1, Nº 01, Ano I, Setembro de 2014
MANTOVANI, Ferrando, “Il principio di offensività nello
schema di delega legislativa per un nuovo codice
penale”, Riv. ital. dir. proc. penale, 2 (1997).
MANTOVANI, Ferrando, Diritto penale. Parte generale,
4.ª ed., Padova : Cedam, 2001.
MANTOVANI, Ferrando, “Il principio di offensività tra
dogmática e politica criminale”, in: Il diritto penale alla
svolta di fine milenio, org. por Stafano Canestrari,
Torino : Giappichelli, 1998.
MARINUCCI, Giorgio; DOLCINI, Emilio, “Constituição e
escolha de bens jurídicos”, Rev. Portuguesa de Ciências
Criminais, 4 (1994).
MARINUCCI, Giorgio; DOLCINI, Emilio, Corso di diritto
penale, vol.1, 3.ª ed., Milano : Giuffrè, 2001.
ROXIN, Claus, "Das strafrechtliche Unrecht im
Spannungsfeld von Rechtsgüterschutz und individueller
Freiheit", ZStW, 116 (2004).
SCHAFFSTEIN, Federico, La ciência europea del
derecho penal en la época del humanismo, tradução
de Jose Maria Rodriguez Devesa, Madrid : Civitas,
p.1957.
SGUBBI, Filippo, Responsabilità penale per omesso
impedimento dell’evento, Padova : Cedam, 1975.
PRADO, Luiz Regis, Bem jurídico-penal e Constituição,
São Paulo : RT, 1996.
PRITTWITZ, Cornelius, “O direito penal entre direito penal
do risco e direito penal do inimigo. Tendências autais
em direito penal e política criminal”, RBCCrim, 47
(2004).
SOUZA, Paulo Vinicius Sporleder de, Bem jurídico-penal
e engenharia genética humana. Contributo para a
compreensão dos bens jurídicos supra-individuais, São
Paulo : RT, 2004.

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