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Por Amor Ao Zero - Dr. Robert Long
Por Amor Ao Zero - Dr. Robert Long
Gilval Menezes
Caio Pimenta
Anderson Neto
EDITORA NELPA
Dr. Robert Long
Tradução:
Gilval Menezes, Caio Pimenta e Anderson Sacramento Neto
capa
Reprodução original Australiana
Diagramação
Núcleo Nelpa
Revisão gramatical
Bárbara Elisa Polastri
Ilustrações internas
Ilustrações originais Australiana
Tradutores
Gilval Menezes, Caio Pimenta e Anderson Sacramento Neto
Long, Robert
Por Amor ao Zero / Robert Long – São Paulo: Editora Nelpa, 2022.
176 p.
ISBN: 978-65-5915-092-2
: v
Dissidentes de Zero dano..................................................................................41
A Evidência da Crença......................................................................................44
Desde quando a intolerância se tornou uma virtude?........................................48
Motivação e Aprendizagem...............................................................................50
Os Fundamentos da Motivação.........................................................................51
Questionamentos..............................................................................................53
Transição...........................................................................................................54
CAPÍTULO 5 - O Zero Fazendo Sentido.............................................................. 55
Opostos binários ..............................................................................................55
Estratégia de Metas...........................................................................................59
Estabelecimento de Metas.................................................................................61
Bom Estabelecimento de Metas........................................................................65
Questionamentos..............................................................................................67
Transição...........................................................................................................67
CAPÍTULO 6- A Natureza do Fundamentalismo................................................. 69
O Ramo Davidiano...........................................................................................69
Características Sociopsicológicas do Fundamentalismo......................................72
Entendendo a Mente do Fundamentalismo.......................................................75
Dissonância Cognitiva......................................................................................81
Entendendo o viés cognitivo e o inconsciente...................................................83
A psicologia da conversão..................................................................................88
A Fuga do Fundamentalismo............................................................................89
Questionamentos..............................................................................................90
Transição...........................................................................................................90
: vii
Título de Figuras
Figura 1. Loja Zero em Glenelg, no Sul da Austrália.......................................................6
Figura 2. “Ponto Zero” na Agência Central dos Correios................................................6
Figura 3. The Triple Zero Kid’s Challenge (Desafio Triplo Zero para Crianças)...............7
Figura 4. Anúncio de emprego para um Consultor de Zero Dano na Austrália.............19
Figura 5. Mapa de Salvação Social e Utopia de Booth...................................................24
Figura 6: Mapa conceitual de características e trajetórias culturais.................................31
Figura 7. Primeira amostra de pesquisa MiProfile.........................................................46
Figura 8. Segunda amostra de pesquisa MiProfile.........................................................47
Figura 9. Terceira amostra de pesquisa MiProfile..........................................................47
Figura 10. Posições de pensamento racionalista, irracional e arracional. .......................58
Figura 11. Níveis de Metas...........................................................................................62
Figura 12. Cobra preta.................................................................................................63
Figura 13 – A Subversão das Metas e os Subprodutos das Metas...................................65
Figura 14. A queima do complexo do Ramo Davidiano...............................................70
Figura 15. Culto do Juízo Final no Sul da Austrália......................................................71
Figura 16. Evangelismo no intervalo.............................................................................73
Figura 17. Jogo número dois com nova equipe.............................................................74
Figura 18. O Ciclo de Dissonância Cognitiva...............................................................83
Figura 19. O Grande Debate do Papel Higiênico.........................................................85
Figura 20. O equilíbrio custo, risco, produção............................................................108
Figura 21. A Árvore de Falha do Erro Humano..........................................................109
Figura 22. Matriz de Maturidade em Segurança e Risco.............................................123
Figura 23. Maturidade em Segurança e Risco com o Modelo de Hudson...................124
Figura 24. Regressão à Média.....................................................................................126
Figura 25. A Pirâmide de Segurança de Heinrich .......................................................127
Figura 26. A Natureza da Comunidade Humana........................................................130
Figura 27. Resposta a um Evento Significativo............................................................131
Figura 28. Pressão de um Evento Significativo............................................................131
Figura 29. Um Evento Parte a Comunidade..............................................................132
Figura 30. Recuperando a Comunidade Atingida.......................................................132
Figura 31. A Natureza da Comunidade com o Tempo................................................133
Figura 32. A Natureza da Recuperação da Comunidade com o Tempo.......................133
Figura 33. O quadrante de valores concorrentes.........................................................138
Figura 34. Resumo da Estrutura de valores concorrentes sócio-políticos.
Exemplo: risco e segurança........................................................................139
Figura 35. Características de Gerenciamento e Liderança em Estrutura de
valores concorrentes ..................................................................................140
Figura 36. Tipo de organizações com valores concorrentes..........................................141
Figura 37. Pares conflituosos......................................................................................142
Figura 38. Tipo Deficitário.........................................................................................143
Figura 39. Subindo o nível dos programas de maturidade de segurança......................147
: ix
na forma aproximada do modelo médico, ou seja, os indivíduos buscam a ajuda de
profissionais que prestam serviço a estas coisas chamadas “pacientes” ou “clientes”. Mas
são coisas. Sempre coisas!
Imaginem vocês a alegria que poderia surgir se o nosso objetivo passasse a ser “encontrar”
pessoas, ao invés de corrigi-las. Imaginem o fardo que seria aliviado das costas dos
consumidores, bem como dos fornecedores dos serviços de ajuda. De modo que o cliente
deixe de ser uma coisa, o expert também deveria desistir de ser uma coisa. Imaginem
se nós pudéssemos admitir que a fragilidade humana fosse compartilhada em ambos
os lados da mesa de trabalho. Então, nós temos que descobrir que não importa quão
generoso o coração é ao ponto de querer corrigir o companheiro próximo, há uma
rejeição no ato de ajudar.
Todo indicador que eu consigo ver apenas me leva a concluir que há dias difíceis por vir.
A privatização do self ganha força e nós estamos em grande parte cegos para a mudança
cultural. Os psiquiatras têm um volume crescente de síndromes que podem ser aplicadas
a quase todos os comportamentos. A excentricidade é uma coisa do passado. Personagens
esquisitos podem ser divertidos, mas todos precisam de terapeutas. Mesmo a leitura deste
livro provavelmente definirá o leitor como portador de um tipo de síndrome para a qual
já há um medicamento à disposição.
Uma pessoa se conhece como conectada às outras. Um indivíduo se conhece como
distinto dos demais. Não são apenas os quebrados que funcionam como indivíduos,
mas também os bem-sucedidos. A maioria dos que adentram a Capela de Wayside*
chegam nos piores dias de suas vidas. Uma coisa que todos têm em comum é a crença
de que eles estão sós. Para a maioria, a família e os suportes sociais há muito já se foram.
A solidão é uma característica crescente da vida no mundo ocidental. Nossas lições
amargas têm revelado que as instituições não geram vida social e os sentimentos não
geram vida pessoal. Só quando aprendemos a viver em conexão e em comunidade é
que funcionamos como pessoas. Quando os indivíduos procuram controlar os outros
por meio de mãos pesadas, inevitavelmente, os resultados que procuram são ilusórios.
Vejam as quantias obscenas de dinheiro que gastamos para controlar drogas via serviços
alfandegários, policiamento, prisões e tudo mais. Parece que nós preferimos gastar
100.000,00 dólares por ano para manter um usuário de drogas encarcerado do que gastar
uma fração disto ajudando essa pessoa a tratar o seu vício. O “Zero Dano” é a linguagem
desses controladores.
Imaginem vocês o absurdo que seria falar em zero dano na Capela de Wayside. O dano
está no ar que respiramos. As pessoas têm uma maneira perversa de punir a si mesmas e
aos outros na esperança de encontrar evidência de que eles ainda estão vivos. A maioria
dos que entram por nossas portas já passou por todos os sistemas que desenvolvemos
para ajudar as pessoas e a maioria delas pode falar a linguagem da área médica, além de
estarem bem equipados com a linguagem e com a estrutura da psicologia. Essas pessoas
estão bem acostumadas a serem tratadas, mas não a serem acolhidas. Se a pessoa cruza a
porta de saída sentindo-se acolhida em vez de tratada, é um bom dia para nós.
Memória e Agradecimento
Em memória de Harold, meu pai, que me deu a paixão pelo aprendizado, pelo
questionamento, pelo pensamento crítico e pela sábia aceitação do risco.
Para minha mãe, que me ensinou que é no “todo dia” que quase sempre encontramos a
grandeza e a plenitude do que é ser verdadeiramente humano.
Obrigado ao meu irmão Graham que me ajudou a escapar do fundamentalismo e no
engajamento de “eu-tu”.
Obrigado a Pip e Craig Ashhurst pelas suas habilidades e pelo apoio em editar o
manuscrito e trazer ideias desafiadoras.
: xi
Prefácio à Edição Brasileira
O Brasil é um país atrasado. Em Segurança no Trabalho não poderia ser diferente.
Estamos a anos-luz do que a ciência atual prega. Alimentamos crenças fantasmagóricas
em “percepções de risco”, “comportamentos de risco”, “queijos” e “pirâmides”. A
segurança no trabalho no Brasil tem a audácia de se intitular “Engenharia de Segurança”.
Vivemos medindo o que não é segurança. Contamos dias sem acidentes. Buscamos a
utopia do zero acidente.
Temos uma legislação forte, como uma mão de ferro, capaz de ocupar o precioso
tempo de um departamento inteiro com a coleta de dados e com o preenchimento de
formulários. Essas práticas formam uma rotina que, se estivermos distraídos buscando
as NRs (Normas Regulamentadoras) mais atualizadas, somos capazes de acreditar
que as nossas indústrias estarão seguras com essa pilha de papéis. Se desprezarmos
a oportunidade de compreender o contexto da organização, seremos tentados a
acreditar que o cumprimento da legislação é a verdadeira segurança do trabalho. Se
permanecermos neste estado de torpor, acreditaremos que o cumprimento da legislação é
igual a gerenciamento de riscos... e que agora estamos sãos e salvos.
Há dez anos, este importante livro foi escrito na longínqua Austrália. Hoje, com a força
e o trabalho colaborativo de voluntários, esta obra é trazida para a língua portuguesa, à
custa apenas de amor e altruísmo. É energia cedida de graça em prol da democratização
do acesso ao conhecimento. O assunto permanece mais atual do que nunca! Em
qualquer rede social há de se encontrar profissionais esclarecidos comemorando mil,
quinhentos e quatro dias sem acidentes. Ainda se culpa o trabalhador pelos acidentes que
acontecem. Eu escolho estar seguro ou eu escolho estar inseguro?
As indústrias ainda optam por olhar para o retrovisor. O meu passado de glórias será
garantia de um futuro ileso. Se consegui permanecer com zero acidentes no placar,
significa que o meu futuro será cada vez mais brilhante, meu desempenho passado é
garantia do bom desempenho futuro. Será cada vez mais seguro. Eu, trabalhador, optarei
por permanecer ileso. Simples assim.
O vasto universo da saúde e da segurança no trabalho precisa despertar para o social,
para o que acontece em comunidade. Definitivamente não estamos sós. O universo
vive em rede, nós vivemos em rede, laboramos em comunidade, e nossas escolhas
estão interconectadas. Nossas indústrias são grandes teias e estamos todos interligados:
trabalhadores, empregadores, consultores, legisladores, fiscalizadores. O projeto da
fábrica, que talvez tenha sido elaborado em 1979 (ano em que o Pink Floyd lançou
mundialmente o seu melhor álbum: The Wall), provavelmente foi um dos fatores
causadores do acidente que ceifou a vida de um trabalhador em 2021. Ou seja, o projeto
causou uma morte! Uma decisão orçamentária de um diretor em seu birô terá reflexos na
saúde e na segurança pelos próximos anos, ou mesmo décadas.
A teia é longa e precisa ser vista e revista. Precisa, acima de tudo, ser compreendida.
Como Fritjof Capra e Pier Luigi Luisi propõem em “A Visão Sistêmica da Vida”, “os
problemas precisam ser considerados como facetas diferentes de uma única crise, que é, em
grande medida, uma crise de percepção. Ela deriva do fato de que a maioria das pessoas em
nossa sociedade moderna apoia uma visão de mundo obsoleta, uma percepção inadequada
para lidar com o mundo superpovoado e globalmente interconectado.”
Gilval Menezes
Caio Pimenta
Anderson Sacramento Neto
: xiii
A Capa do Livro Explicada
Por que não há um lugar para aterrissar para aquele que salta na capa? É porque este livro
aborda os problemas da incerteza e do fundamentalismo na busca de gerenciar o risco.
Não há nada mais devastador para um fundamentalista do que a perda da segurança
e da certeza. O risco tem tudo a ver com incerteza e a vida tem tudo a ver com o seu
gerenciamento. Na mente do fundamentalista, a falta de controle está associada às
incertezas do risco e à necessidade de eliminar essas incertezas. A necessidade de controle
absoluto, certeza absoluta e respostas preto-no-branco é uma busca fundamentalista e
uma negação da falibilidade.
O significado da palavra risco assume a possibilidade de perda. A ideia de risco já
carrega consigo a noção de que não há certeza absoluta, controle absoluto ou escapatória
absoluta das limitações da condição de finitude humana. A falibilidade humana e a
eventual morte são os grandes niveladores da vida. Assim como foi dito antes: “não há
bolsos nas mortalhas”.
Toda atividade humana envolve algum risco e este aumenta ou diminui quanto mais se
abraça e se envolve com o mundo e com a vida. A realidade é que a jornada da vida é
uma jornada de aprendizado e envolvimento como risco. A jornada pela aversão ao risco
é tanto desumanizante quanto negacionista da vida.
Este é o segundo livro de uma série que aborda o risco. O primeiro livro, “Risk Makes
Sense: Human Judgement and Risk”, retrata o mesmo personagem na capa, pulando
de um penhasco, mas com um ponto de aterrissagem visível. O primeiro livro fala da
tendência na sociedade ocidental moderna de aversão ao risco. A tendência de aversão
ao risco, controle do risco e eliminação do risco é um exercício fundamentalista que
defende o controle absoluto. Os movimentos “Zero Acidente” e “Todos os Acidentes são
Evitáveis” são semelhantes a uma apresentação tipo-culto dessa trajetória fundamentalista
na aversão do risco e no controle do risco. A mensagem do primeiro livro era “o medo do
risco é o medo do aprendizado”. O risco não está errado. O risco não garante uma falta
de segurança. A mensagem é não eliminar o risco, mas “arriscar-se de forma segura”.
A definição de risco contida na Norma AS/NZS 31000:2009 é “o efeito das incertezas
sobre os objetivos”. Para a fraternidade do zero, esta é uma definição insatisfatória. Deve
haver certeza. Deve existir controle absoluto. Para o fundamentalista, a falta de controle e
de certeza é capturada na imagem da capa. Para o fundamentalista, sem absoluta certeza,
qualquer salto na fé é um salto no desconhecido. Se a fé na ideologia do zero é retirada,
nada resta sobre o que se pode construir uma base segura.
Portanto, o salto no risco da capa captura o medo da incerteza para os defensores
da ideologia zero. Contudo, o argumento deste livro é que a ideologia do zero não é
necessariamente para a segurança e para a certeza do gerenciamento do risco. Há um
ponto de chegada. A ideologia zero apenas não consegue vê-lo.
Para a ideologia zero dano, há somente duas alternativas: o desejo por nenhum dano
ou o desejo pela lesão. Contudo, este livro argumenta que há mais do que a oposição
binária preto e branco, quando se trata de gerenciar o risco. De fato, o pensamento
: xv
Glossário
Arracional: não baseado ou governado pela razão. Nem racional nem irracional, mas
não-racional.
Arrogância: indica uma perda de contato com a realidade, o que resulta em extremo
excesso de confiança e complacência.
Atenção plena: desenvolvida por Karl E. Weick, indica a preocupação com a falha, a
relutância em simplificar as interpretações, a sensibilidade às operações, o compromisso
com a resiliência e a deferência para com a perícia. Uma definição completa de atenção
plena está no Capítulo 6 – Dando Sentido, Atenção Plena e Risco.
Dar Sentido: é prestar atenção à ambiguidade e à incerteza. Desenvolvido por Karl E.
Weick para representar as sete maneiras como “entendemos” a incerteza e a contradição.
Uma definição completa de dar sentido está no Capítulo 6 – Dando Sentido, Atenção
Plena e Risco.
Discernimento: usado para explicar a criação de sentido não-racional com um foco
particular no valor atribuído dado a uma atividade ou a uma escolha na criação de
sentido. Originalmente da tradição cristã, usado para explicar criação de sentido
espiritual. Usado neste livro para significar: percepção que vai além do físico e do
material na construção de sentido.
Discurso: desenvolvido por Michael Foucault. A transmissão de poder em sistemas
de pensamento compostos de ideias, atitudes, cursos de ação, crenças e práticas que
constroem sistematicamente os assuntos e os mundos sobre os quais se falam.
Dissonância cognitiva: teoria desenvolvida por Leon Festinger. Refere-se ao esforço
mental requerido para manter consistência à luz de evidência contrária. A dissonância
cognitiva aplica-se a situações que confrontam grupos com fortes convicções quando
confrontados com refutação inegável dessas convicções. A tomada de decisão que se
segue nega as evidências e confirma seu oposto. A dissonância cognitiva é mais observada
em grupos e cultos religiosos em que, apesar de todas as evidências, a crença é fortalecida.
Fundamentalismo: originalmente cunhado em referência a um movimento teológico
rígido nos EUA, em 1905, que defendia a interpretação literal da Bíblia. De maneira
mais geral, o fundamentalismo se refere à fé rígida como pensamentos e ações em preto
e branco sobre as questões. Além disso, o fundamentalismo indica uma mente fechada,
uma incapacidade de tolerar o debate e uma vigorosa energia dedicada à doutrinação e à
censura.
Heurística: refere-se a técnicas baseadas na experiência para resolução de problemas,
aprendizado e descobertas. São como atalhos mentais utilizados para acelerar o processo
de encontrar uma solução satisfatória, para a qual uma busca cansativa seria impraticável.
A heurística tende a ser microrregras internas.
Ideologia: significa uma visão de mundo e disposição em fé/crença. Uma ideologia deve
ser entendida como uma síntese de crenças dentro de uma cultura que (não obstante o
seu grau de consistência interna, o seu grau de comando de lealdade social, o grau de
compreensão social sofisticada de suas ramificações, nem sua adequação racional como
: xvii
Sobre o que é este livro
Este livro visa contribuir com o debate sobre o valor do zero dano como um objetivo
e como uma ferramenta motivacional para estimular a propriedade do risco. A
popularidade cada vez maior do mantra de dano zero na mineração, na construção e
nas indústrias relacionadas se espalharam como uma epidemia nos últimos 20 anos.
Mas esse conceito é o tudo que afirma ser? Será que a adoção da linguagem do dano
zero foi mesmo bem pensada? O conceito de dano zero inspira e motiva a liderança, a
propriedade e as melhores práticas? O discurso do dano zero promove o resultado certo
ou há dinâmicas escondidas associadas à sua promoção? Qual a lógica do dano zero? A
ideologia do dano zero é ética ou mesmo útil? A mentalidade de oposição binária que
acompanha o zero está ajudando a levar as pessoas a pensar, aprender e dialogar sobre
risco? A linguagem do “zero” perpetua o adversarialismo? Será que o discurso do dano
zero estimula de forma contraintuitiva o oposto do que busca alcançar? Estes e muitos
outros questionamentos serão respondidos nas discussões deste livro.
Para onde quer que você olhe na indústria da mineração e da construção, você verá
a defesa do dano zero. O Governo do Estado de Queensland oferece um “Programa
de Liderança em Zero Dano no Trabalho” como parte da “estratégia de zero dano”
deles, com mais de 300 membros advindos de quase todas as empresas atuantes no
estado (http://www.deir.qld.gov.au/workplace/zeroharm/partners/index.htm). Você
pode encontrar empresas denominadas de Zero Dano e ofertas de emprego para a
vaga de “Gerente de Zero Dano”. Há anúncios de “serviços de auditoria em zero
dano”, “treinamentos em zero dano”, “diretores de zero dano” e “alvarás de zero dano”.
Enquanto você voa pela Austrália e caminha pelos saguões dos aeroportos, emblemas
de zero dano estão em todo lugar: camisetas, copos, garrafas e em qualquer bugiganga
imaginável de marketing. Contudo, não estão no marketing das companhias aéreas.
A linguagem do dano zero parece estar em todo lugar. As empresas dão “prêmios de
segurança por zero dano”, falam sobre “projetar o zero dano”, “em direção a zero dano” e
“pense zero dano”. Algumas até fazem um uso absurdo da linguagem, defendendo uma
linguagem sem sentido, como “além do zero dano”.
Portanto, ao escrever este livro, eu posso não estar ganhando um monte de amigos e
certamente estou remando contra a maré. Seria fácil endossar o status quo e dizer para
todo mundo o que eles querem ouvir. A linguagem da simplicidade soa tão atraente e é
certamente uma fonte de renda para consultorias de segurança ocupacional, segurança
patrimonial e gerenciamento de risco. Se você quiser oferecer treinamento na área de
risco ou você cumpre os requisitos e apoia o zero acidente ou você não faz negócio.
Todavia, isso seria contrário à evidência que mostra que o conceito e a linguagem do zero
estão longe de serem inofensivos ou motivacionais.
A maioria dos argumentos para o zero acidente é baseada num argumento de oposição
binária, tipo preto e branco, bem como na compreensão simplista do estabelecimento de
metas. O argumento é: não pode existir meta para danos que faça sentido, portanto, a
única meta só pode ser zero dano. Eu chamo isto de “argumento de oposição binária”.
A maioria dos argumentos contra o zero dano é baseada na incongruência do absolutismo
do zero com a limitação e com a imperfeição humana. Eu chamo esse argumento de
Questões-Chave
Este livro é guiado por uma série de questões-chave:
• Qual a fascinação pelo zero e por que a linguagem do zero é tão atraente?
• A linguagem do zero faz alguma diferença?
: xix
• O zero é um conceito neutro e inofensivo e realmente não importa?
• A linguagem do zero inspira e motiva as pessoas?
• É possível que a linguagem e o discurso do zero sejam traiçoeiros e perigosos?
• Se eu definir uma meta que é inalcançável ou percebida como inalcançável, eu
realmente acredito que as pessoas vão empreender todos os seus esforços e persegui-
la?
• Um atleta de salto em altura melhora ao definir a barra em primeiro lugar na altura
do recorde mundial ou definindo a barra a uma altura fora do alcance e, em seguida,
tentando repetidamente até que ele alcance um pequeno sucesso ao pular por cima
da barra e, depois, subindo um pouco mais gradativamente?
• Se eu não acredito em Deus, isso automaticamente significa que eu acredito no
demônio? De forma similar, se eu não apoio o zero dano, isso significa que eu apoio
o dano (a lesão)?
• Será que, na superfície das coisas, o mantra do zero é ingenuamente rotulado como
positivo, embora os subprodutos de tal discurso cultural possam ser negativos?
• Será que a linguagem do zero não está apenas preparando inconscientemente os
trabalhadores para o fracasso, mas também criando um discurso que afasta as pessoas
de forma contraintuitiva daquilo que elas desejam?
Essas questões serão abordadas durante a discussão deste livro.
: 1
2 Por Amor ao Zero
CAPÍTULO 1
A Atração pelo Zero
Figura 3. The Triple Zero Kid’s Challenge (Desafio Triplo Zero para
Crianças)
O Significado do Zero
Nós já vimos que o nome “zero” pode ser colocado em quase tudo. No entanto, qualquer
aplicação da palavra “zero” a qualquer coisa que seja deste mundo nunca faz sentido.
Pense na ideia do objetivo de zero emissões. O processo de ser humano consome energia
e produz desperdício.
Discussão
Nós estamos sendo bombardeados com a palavra “zero” agora mais do que estávamos no
passado. Uma busca pelos arquivos de um jornal diário tipo o Sydney Morning Herald
mostra que o uso da palavra “zero” na cultura popular está crescendo. De forma similar,
a palavra “risco” também tem aumentado, como demonstrado por Lupton (1999, p. 10).
A saciedade semântica (também conhecida por saturação semântica) é um fenômeno
psicológico no qual a repetição faz com que uma palavra ou frase perca sentido para o
ouvinte. Uma breve excursão pela abertura deste capítulo sobre o significado e o uso da
palavra zero mostrou quão amplamente a palavra zero está sendo utilizada na cultura
popular.
Questionamentos
1. Você consegue pensar em maneiras de que a palavra “zero” é usada na cultura popular
que não foram apresentadas aqui?
2. Faça um balanço de como o zero está sendo usado em sua organização.
3. Se a palavra “zero” é usada em sua organização, em que contexto ela é usada e quais
palavras são usadas com ela?
4. De que forma a palavra “zero” significa algo diferente de nada?
5. Faça uma busca por palavras em seu jornal local e veja como o uso da palavra “zero”
aumentou em sua comunidade.
Transição
Então, quais são o argumento básico e a lógica do discurso do zero? Como é usado
nas organizações para teoricamente inspirar e motivar as pessoas? Por que as pessoas
na gestão ficam tão atraídas por uma posição tão utópica, tão perfeccionista e tão
ideológica? Essas questões serão abordadas no capítulo seguinte.
Citação 1
As pessoas são treinadas para atingir a meta que foi estabelecida – portanto, atingirão
qualquer número, se esse número não é zero. Qualquer meta diferente de zero significa
que você tem uma política da empresa para atingir ALGUM dano – claramente
inaceitável e possivelmente negligente.
A linguagem das metas é comum à posição de “Zero Dano” e essa citação é bastante
típica. Note a lógica binária oposta de afirmar que qualquer outra meta diferente de zero
Citação 2
Alguém já trabalhou ou foi um contratante trabalhando ao lado de XXXX ou YYYY e
questionou sua filosofia zero? Esteja preparado para uma bronca e mantenha sua cabeça
baixa se você fizer isso!
Esta citação é típica de muitos que me dizem que o medo e o fundamentalismo são
normalizados na organização e seu compromisso com a ideologia do “Zero Dano”.
Citação 3
“Acidente Zero” é uma filosofia e um motivador para a melhoria contínua com base
em prevenção de acidentes. Se alguém mede e relata os acidentes, por exemplo:
trimestralmente para a gestão, então é esperada uma melhor realização no próximo
trimestre e assim por diante, ou seja, uma meta móvel em direção a zero acidentes.
Aqui vemos a redefinição e o ajuste de zero para não significar zero, uma abordagem de
quase Zero Dano que os propoentes adotam. Isso é comum com muitos mantras sobre
a linguagem “pense zero” ou “em direção a zero”. O foco em um cálculo torna essas
organizações “calculistas” na maneira como veem o risco, a tendência em supor que
a medição de incidentes é uma medida cultural. A ideia de medir os Acidentes Com
Afastamento como uma medida de cultura é como medir a eficácia dos pais pelo número
de “palmadas” distribuídas aos filhos.
Citação 4
Filosoficamente, você está se escondendo do nada só por desacreditar desses objetivos de
Zero Dano. É melhor sentar e perceber que é um objetivo, nada mais. É a declaração de
um estado desejado de romance. Da mesma forma, “todos os acidentes são evitáveis” é
uma declaração de motivação. Todos nós reconhecemos que, social e economicamente,
é atualmente impossível de alcançar. No entanto, o valor da declaração é que provoca
o pensamento e a ação em relação a mudanças de políticas, processos, procedimentos
e comportamentos que TÊM uma influência positiva na redução do risco. Esqueça as
estatísticas, é uma filosofia e esse é o seu valor. Trate-o dessa forma, e é uma declaração útil.
Aqui temos a declaração típica de que Zero Dano é um objetivo, “nada mais”. Então,
a afirmação de que “todos os acidentes são evitáveis” é uma “declaração de motivação”.
A afirmação de que tal linguagem é motivacional nunca é apoiada ou explicada por
quem propõe o Zero Dano. Ainda não foi demonstrado como tal objetivo ou linguagem é
motivacional, especialmente porque a citação admite que tais objetivos são inatingíveis.
É a linguagem da dissonância cognitiva – como algo que é inatingível pode ser
motivacional? Essa “lógica torturada” torna o argumento ao zero sem sentido. Depois, a
citação afirma que essa linguagem é de alguma forma positiva e influencia a redução do
risco. Finalmente, a declaração de que o Zero Dano é uma filosofia.
Citação 6
Como profissionais de segurança, todos nós respeitamos a vida humana e todos
queremos ver zero lesões – pelo menos eu quero. Ao ser contra o conceito de zero, não
estou defendendo que NINGUÉM se machuque ou aceitando que alguém seja ferido.
Mais uma vez, o pensamento de oposição binária atrai essa visão para o discurso, quem
não defender o zero está em defesa das lesões.
Citação 7
Se admitirmos que o acidente zero é impossível, portanto, temerário de se buscar, somos
forçados para uma posição em que temos que identificar um nível aceitável de efeitos
colaterais. Temos que ter uma meta de fatalidade aceitável. Quantas pessoas vamos matar
este ano? Claro, é um absurdo tomar essa posição.
A afirmação de que o silêncio sobre Zero Dano é uma posição temerária é típica de uma
disposição de oposição binária. A disposição de oposição binária “força” a aceitação de
uma meta de fatalidade. Observe a questão de falácia lógica no final.
Citação 8
Estou interessado em saber que há uma linha muito acadêmica neste debate. Simplifico
a meta de Zero Dano ao meu pessoal na execução dos trabalhos: É SEU DEVER
CUIDAR DE VOCÊ E DO OUTRO. SE VOCÊ VIR UM PERIGO, CORRIJA-O
E/OU RELATE-O. OS GERENTES DEVEM CORRIGIR OS PERIGOS. Simples.
Com TODA a equipe TRABALHANDO como uma EQUIPE não há necessidade
de medições acadêmicas de KRI, KPI, KWH e assim por diante. Faça o trabalho com
segurança, esteja ciente dos perigos e elimine-os/torne-os seguros. Ponha os pés no chão
novamente.
A reinterpretação de Zero Dano para não significar zero abunda em organizações com
Zero Dano. Essa citação acima tenta desacreditar uma visão de dano diferente de zero
como excessivamente acadêmica e, portanto, impraticável. A afirmação de que a posição
de Zero Dano é simples é vista como atraente, apesar da realidade de que a natureza
do risco e as organizações estão cada vez mais complexas. A redução do risco e da
complexidade dos sistemas para a afirmação de que o risco é simples e prático é típico do
discurso ingênuo de Zero Dano.
Citação 10
Não devemos ver o Zero Dano como meta, mas como uma filosofia, o Nirvana, o Céu
ou o que quer que seja. É um belo lugar para se estar. É alcançável se acreditarmos e
devemos nos esforçar todos os dias para conseguir chegar lá. As metas estabelecidas para
nos guiar, nesse longo caminho, é que praticamente devem estar nos levando em direção
a esse destino, num passo de cada vez e, uma vez que alcançamos, acionamos essa força
que nos mantém em pé. Desse jeito podemos rastrear a jornada e compreender nossos
sucessos e fracassos.
A conexão da aspiração absoluta de zero à transcendência religiosa é aparente aqui. A
natureza de carga emocional dessa citação, com linguagem quase religiosa de crença,
empenho e destino é evidente.
Discussão
A abordagem comum na linguagem sobre Zero Dano é que ele é visto como um
objetivo, uma mentalidade, uma meta, um desejo, uma aspiração, um compromisso
e uma visão. Enquanto as ideias de metas e objetivos são discutidas, há pouca reflexão
sobre o discurso e a linguagem utilizada. Uma meta é entendida como um nível
mensurável de desempenho a ser alcançado em um tempo especificado. A maior parte da
Parece que não há limites para a forma como a linguagem do Zero Dano está sendo
usada. Aguardo com bastante fascinação o absurdo contínuo no discurso cultural e o uso
da linguagem “zero” dessa forma. Esse desenvolvimento é evidência de um processo de
pensamento ideologicamente orientado e fundamentalista.
Recentemente, em várias estratégias de marketing, a linguagem do Zero Dano assumiu
conotações religiosas. Linguagem de “única solução”, “compromisso com Zero Dano”,
“esperança de Zero Dano”, “aspiração de Zero Dano”, “pensar em Zero Dano todos os
dias”, “tolerância zero”, “ética e intenção do Zero Dano”, “mandamentos do Zero Dano”,
A fuga do fundamentalismo
Não foi por acaso que pedi a meu irmão Graham que escrevesse o prefácio deste
livro. Como CEO e pastor da capela Wayside Kings Cross, Graham tem alguma
ideia de como é a falibilidade humana e o risco tem tudo a ver. Se não fosse por
Graham e sua personalidade única, eu duvido que tivesse escapado da minha própria
experiência fundamentalista no início dos anos 1980. A fuga aconteceu porque
Graham respondeu à pergunta certa e extraiu por que aprender era o terreno comum
para o discurso. Wayside é uma comunidade única que sabe mais sobre risco do que
qualquer local de construção.
Embora eu não tenha experimentado as extremidades exatas da falibilidade humana
que Graham tem, minhas experiências com jovens em risco na Galileia e Quamby
foram mais sóbrias. Qualquer pessoa com experiência em serviços humanos saberá
que a linguagem dos absolutos, do perfeccionismo e do zero são absurdos.
A Fúria da Utopia
Esse é o título do livro comovente de Ronal Conway, publicado em 1992. Conway
argumenta que obsessão e compulsão pela utopia é uma doença. A ideia de Utopia
foi proposta por Platão e a palavra significa “nenhum lugar”. A ideia de utopia foi
posteriormente popularizada por Sir Tomas More em 1516, em seu livro “Utopia”. A
utopia de More é uma ilha funcional no Oceano Atlântico. Utopia é a aspiração da
sociedade ideal e perfeita. Desde então, muitos escritores e artistas aspiraram à utopia em
suas obras. Uma das propostas mais antigas e famosas para a sociedade ideal e o paraíso
foi feita pelo artista Hieronymus Bosch. Seu “Jardim das Delícias Terrenas” foi pintado
em 1500 e está instalado no Museu del Prado, em Madri. A ideia de um Jardim do
Éden tem sido um tema contínuo para aqueles que estão desapontados com a natureza
infinita, imperfeita, falível e “corrupta” da humanidade. O céu, o infinito e o zero são um
e o mesmo.
Notas de Conway:
a busca constante por ordem, segurança e certeza nas realizações, que tanto
atormenta o sofredor neurótico, serve à nossa visão de mundo prevalecente na
ciência empírica, na religião dogmática e nas estruturas burocráticas.
Fromm descreve o “Medo da Liberdade” como uma doença. A aspiração a uma utopia
de fantasia, e resultante necessidade de eficiência, propõe Conway, “desintegra-se em
Questionamentos
1. Faça uma pesquisa na internet e veja de quantas maneiras a palavra “zero” tem sido
substituída por outras, como “risco” e “segurança”;
2. Faça uma pesquisa dos mesmos anúncios de emprego e veja quais palavras-chave
associadas a emprego e “inteligência” de risco estão faltando;
3. Entre no LinkedIn e entre em uma das discussões em um dos grupos de segurança;
levante o assunto de “dano zero” ou “todos os acidentes são evitáveis”;
4. Qual é a atração da Utopia? Faça uma busca pelo significado original da palavra;
5. Encontre outros exemplos de sonhos utópicos na literatura e apresente ao seu grupo
de trabalho.
O Significado do Discurso
A ideia de discurso possui um significado especial quando se trata de cultura. Pensadores
sociais compreendem o discurso como sendo muito mais do que uma conversa ou um
padrão de fala. Para um psicólogo social, o discurso não é somente sobre conversa,
mas também sobre os sinais, os símbolos, o significado, a visão de mundo, os valores
e os sistemas de pensamento embutidos na linguagem e em tudo relacionado a ela.
Desenvolvido pela primeira vez pelo famoso teórico social Michael Foulcault, o discurso
foi definido como contendo não apenas o significado de palavras, mas as relações de
poder realizadas com elas e nelas. Foucault argumentava que poder e conhecimento estão
inter-relacionados e, portanto, toda relação humana é uma luta e uma negociação de
poder. Foucault afirmou ainda que o poder está sempre presente e pode tanto produzir
quanto restringir a verdade. O discurso, segundo Foucault, está relacionado ao poder,
pois opera por regras de exclusão. O discurso, portanto, é controlado por objetos: sobre
os quais podem ser falados; por ritual: onde e como se pode falar; e pelos privilegiados:
quem pode falar. Cunhando a expressão “conhecimento-poder”, Foucault afirmou que
o conhecimento é tanto o criador de poder quanto a criação de poder. Então, chega de
introdução acadêmica. O que isso tem a ver com a psicologia do risco?
Como o seu local de trabalho fala sobre risco e que significado é transmitido nesse
discurso? Qual o “poder-conhecimento” que está embutido nesse discurso e quem
é favorecido ou limitado por ele? Que poder é assumido pelos proprietários do
conhecimento legislativo e regulamentar e o que estará em risco se o padrão prevalecente
de poder for quebrado?
O discurso do zero é um discurso de autoridade, de cumprimento de regras, de
absolutos, de regulação, de execução. Se alguém não atinge a meta zero, esse alguém
falhou. Se alguém comete um erro, deve ser submetido à resposta da tolerância
zero. O discurso do zero somente tem uma direção. Não há flexibilidade, discrição,
circunstâncias atenuantes, culpabilidade ou abertura em relação ao absoluto. Como
na Inquisição Espanhola, cumpra ou morra. Não há espaço para contingências,
compreensão, aprendizado ou abertura no discurso do zero.
O discurso do zero reforça o status quo e centraliza o poder nas mãos dos agentes de
fiscalização, dos inspetores, e não aborda os fundamentos do julgamento humano e da
tomada de decisão. Mais do que mudar a cultura do risco, o discurso do zero reforça o
poder dos reguladores e falha ao estimular os valores de propriedade, aprendizagem e
melhoria contínua.
Transição
Felizmente, já existem aqueles que sabem que o uso de absolutos tem uma trajetória de
exclusão e discriminação. Aqueles que se opõem ao zero, contudo, são marginalizados
pela “multidão do zero”. A “Organização Zero Dano” não pode tolerá-los, pois eles
devem ter uma trajetória de dano. Ao final, aqueles que não concordam com o zero
devem ser punidos e machucados (socialmente, culturalmente e psicologicamente), de
forma a não permitir que a ideologia do zero seja corrompida. Descrença, ceticismo e
debate não podem ser tolerados no absoluto, na ideologia e na trajetória do zero.
O próximo capítulo se concentrará naqueles que não cumprem o pré-requisito, e em por
que pessoas como eu são dissidentes da ideologia do zero.
O Significado de Dissidente
O conceito de “dissidente” foi escolhido intencionalmente para este capítulo devido
ao seu alinhamento com a história da discórdia religiosa. Ao longo da história, aqueles
que ousaram desafiar os religiosos ortodoxos ficaram conhecidos como dissidentes.
Os dissidentes também são conhecidos como não conformistas e ambos os termos
transmitem significado político, bem como um desequilíbrio de poder.
O Paraíso do Dissidente
Um dos meus livros de história favoritos é Paradise of Dissent (Paraíso do Dissidente);
Austrália do Sul 1829-1857, por Douglas Pike. Na história da Austrália, a história
da Austrália do Sul é única. A ideia do estado da Austrália do Sul nasceu no auge da
reforma religiosa na Europa. Impulsionado pela energia e pelo empreendedorismo
de Edward Gibbon Wakefield, o projeto para a venda de terras e emigração foi
conduzido na Inglaterra no que ficou conhecido como colonização sistemática.
De muitas maneiras, a fundação da Austrália do Sul foi um experimento social,
econômico e político que incorporou as ideias de vários visionários e do Gabinete
Colonial Parlamentar. A colonização sistemática não era realmente a ideia de uma
pessoa, mas foi defendida por um grupo de pessoas, incluindo Wakefield, Torrens,
Gouger, Whitmore, Hutt, Bacon e Angas.
Resumo
É claro que há mais dissidentes do que apenas esses oito exemplos. Como veremos na
seção seguinte, a maioria da força de trabalho, especialmente aqueles com empregos de
risco, são dissidentes com zero danos.
A Evidência da Crença
A Human Dymensions tem conduzido a pesquisa de diagnóstico de cultura de segurança
MiProfile © desde 2006, depois que desenvolvi a pesquisa e a metodologia em 2003.
Em seguida, refinei a metodologia ao trabalhar com o WorkWise Group. O banco de
Reflexão
A maioria dos argumentos do dissidente contra dano zero é baseada na incongruência
do absoluto de zero com a limitação e a imperfeição humana. Embora alguns saibam
que há questões culturais e sociopsicológicas associadas à ideia de dano zero, elas
ainda não foram totalmente articuladas. Os argumentos sociopsicológicos articulados
posteriormente neste livro buscam construir sobre o trabalho dos dissidentes contra o
conceito de zero. De todos os estados da Austrália, o estado de Queensland é o mais
proeminente em sua defesa da ideologia de dano zero. O Programa de Liderança
Tolerância e Aprendizado
A organização que aprende e o indivíduo que aprende são capazes de transformar e
mudar. Sistemas e organizações que se concentram em absolutos, no preto e no branco
do zero; no destino, não na jornada; nos fins, não no processo, carecem de capacidade de
adaptação. O risco é inimigo do zero e o aprendizado é seu primo. Infelizmente, nesta
era de complexidade de sistemas, há uma necessidade maior de flexibilidade, adaptação
e tolerância mais do que nunca. A linguagem do “zero” e a linguagem da aprendizagem
são antitéticas entre si. Precisamos de mais flexibilidade e criatividade, não menos. A
organização com sistemas complexos adaptativos sobreviverá à turbulência da mudança e
da incerteza muito melhor do que as organizações presas na miopia, na aversão ao risco,
no preto e branco, nos absolutos e nos microscópicos do fundamentalismo.
Motivação e Aprendizagem
É importante que as palavras e a linguagem realmente tenham um significado. Nosso uso
da linguagem é uma das principais maneiras de definir a cultura organizacional. Se as
organizações usam a palavra “zero” e tentam redefini-la para significar algo diferente de
zero, isso acaba gerando confusão e cinismo cultural. Este é então o contorcionismo da
linguagem “zero”. Retórica “zero”, política “zero” e objetivos “zero” dão à organização um
foco na intolerância, nos absolutos e na desaprendizagem. Sendo assim, faz muito mais
sentido que as organizações estabeleçam políticas, lemas e metas que sejam alcançáveis e
compreendam a maneira como os humanos aprendem.
Em 2010, o governo de Queensland lançou sua estratégia “Acidente Zero no Trabalho”
com a alegação de que era uma estratégia cultural positiva. Onde está a evidência de
que a linguagem “zero” é positiva? Na África, muitos funcionários de segurança querem
proibir a linguagem do “zero”! Eu quero saber por quê.
Infelizmente, líderes empresariais, reguladores e profissionais de risco gravitam em torno
do discurso do acidente zero sem pensar muito sobre seus desdobramentos psicológicos,
éticos, culturais ou lógicos. Eles costumam responder às minhas críticas com explicações
Os Fundamentos da Motivação
A Não-Motivação do Sr. Walk
Eu frequentei a Epping Boys High School em 1966, 67, 68 e 69. Era uma grande
escola conhecida por suas realizações esportivas. Naquela época, Epping ficava nos
arredores de Sydney. Quando me matriculei na escola pela primeira vez, eu estava
na melhor classe daquela série, mas, por várias razões psicológicas e sociais, comecei
a declinar na ordem. Então comecei na turma 7ªA e no 9º ano estava na 9ªC e
procurando entrar na 10ªD ou 10ªE.
Questionamentos
1. A ideia de divergir das tendências populares ou ortodoxas não é nova. Você consegue
traçar a história de um conceito que já foi popular e então a visão divergente se
tornou ortodoxa?
2. Você consegue encontrar evidências que mostrem como a ideia zero é um paraíso
utópico e religioso?
3. Por que os CEOs se contentam em estar fora de sincronia com a força de trabalho
com a ideia do zero?
4. Se cultura é sobre crença, como a busca pelo zero é uma “fé”?
5. Tente encontrar alguns exemplos de um defensor do acidente zero explicando como
o zero nos motiva.
Opostos binários
A linguagem absolutista e a defesa do zero dano são mais frequentemente baseadas em
um argumento de opostos. Esse argumento propõe que zero dano pode ser o único
objetivo em segurança e risco, porque negá-lo seria o mesmo que aceitar as lesões, ou
até considerá-las desejáveis. Como a citação 1 no Capítulo 2 declarou: “Qualquer meta
diferente de zero significa que a sua empresa tem uma política que permite atingir
ALGUNS danos”. Esse argumento só é lógico quando tem como premissa a aceitação da
oposição binária na linguagem e na definição de metas.
Negar ou permanecer em silêncio sobre um assunto não significa endossar o seu oposto.
Permanecer em silêncio sobre o zero dano não significa que a única outra escolha seja o
fatalismo. Por que devemos pensar em tais termos opostos binários em segurança e risco
quando não o fazemos em outras esferas da vida? Por que indústrias da mineração e da
construção são tão limitadas ao pensar em opostos binários?
Antes de continuarmos a discussão, nós precisamos explorar mais a oposição binária e o
que ela significa. Oposição binária é um sistema no qual (tanto na linguagem quanto no
pensamento) dois opostos teóricos são estritamente definidos e postos um contra o outro.
A oposição binária compreende o mundo em termos de dois elementos mutuamente
excludentes, tais como: ligado e desligado, para cima e para baixo e esquerda e direita.
Esta é uma forma fundamentalista de pensar. Ela ganha a sua identidade através de
seu oposto.
A oposição binária afirma que, se você negar uma afirmação, deve, portanto, confirmar o
seu oposto. O pensamento binário propõe que se:
• alguém não acredita em Deus, então acredita no demônio;
O Julgamento de Scopes
O Julgamento de Scopes, também conhecido como “O Julgamento do Macaco”, foi
um caso legal em 1925 no qual o professor de ciências do ensino médio John Scopes
foi acusado de violar o Ato de Buttler, do Estado do Tenessee, o qual afirmava ser
contra a lei ensinar Evolução Humana em qualquer escola financiada pelo estado.
O Julgamento de Scopes é tido como um divisor de águas ao desmontar o domínio
do fundamentalismo bíblico nas escolas públicas dos Estados Unidos. O julgamento
destaca de várias maneiras como a oposição binária divide as pessoas. A mente binária
quer uma “escolha forçada” e conecta essa escolha com uma gama de lealdades e
fidelidades sociopolíticas. Debates semelhantes são travados sobre o livre-arbítrio
versus o determinismo, convencidos de que não há outra maneira. Tannen observa
que “os dois lados atrapalham a resolução de problemas”. O debate criacionismo
versus evolução continua até hoje na Austrália e pode ser observado navegando-se no
site do Ministério Internacional da Criação (www.creation.com).
Antes de eu escapar do fundamentalismo, foi deixado claro para mim que ou
uma pessoa acreditava literalmente na Bíblia ou era um evolucionista. Aceitar
qualquer trecho da evolução era uma rejeição não somente da Palavra de Deus
literal, mas também uma rejeição de Deus e do Cristianismo. Uma vez estando na
cultura criacionista, logo se descobre o prêmio atribuído ao argumento racional.
Os criacionistas têm muitas pessoas com PhD e cientistas que apoiam esse
posicionamento. O criacionismo não é um posicionamento irracional. Quando
alguém aceita os pressupostos binários da comunidade criacionista e acredita
piamente nas reivindicações da Bíblia literal, então o que se segue é a lógica
Estratégia de Metas
Neste momento é importante discutir o estabelecimento de metas, a busca dos objetivos
e a relevância destes para o debate do zero dano.
Para iniciar essa discussão, nós devemos, de forma clara, fazer a distinção entre a
ideia de um objetivo e a linguagem de um estabelecimento de meta. Muito da minha
preocupação quanto à psicologia do estabelecimento de meta não tem tanto a ver
com a intenção da meta, mas muito mais com o que a linguagem envolvida em um
estabelecimento de meta “pré-ativa” na mente do receptor.
O zero dano, se estabelecido como um objetivo, é uma meta de revogação: alguém
reconhece o atingimento da meta através da ausência de algo, ao invés da presença de
algo. Metas de revogação não são somente negativas, mas também não são inspiradoras
(Moskowitz e Grant, 2009). Metas de revogação tendem a ser punitivas, por natureza,
enquanto as metas de desempenho são muito mais positivas e de sucesso. No âmbito da
compreensão da motivação e da aprendizagem, os líderes deveriam estar falando muito
mais no discurso cultural sobre “manter as pessoas seguras” do que em “prevenir as
lesões”. As discussões posteriores mostrarão como esse discurso “pré-ativa” as pessoas. Por
que a comunidade da segurança acredita que metas de revogação são tão inspiradoras?
Mais uma vez, nós não podemos pensar ou falar em oposição binária. Eu não planejo
ter acidentes somente porque eu nego a afirmação que “todos os acidentes são evitáveis”.
O nosso estabelecimento de metas bem como o nosso pensar deveriam ser muito
mais sofisticados do que esse binário sem sentido. A negação da meta zero não é uma
afirmação de que eu anseio por lesões. Eu não aceito acidentes, mas eu escolho não falar
em termos de zeros absolutos. Aqueles que se comprometem com o zero numa oposição
Foi pedido a você para não pensar em uma cobra preta (foco na prevenção), mas antes
de você terminar de ler este trecho, você vai pensar em cobras pretas novamente. Na
verdade, quanto mais nós tentarmos reprimir os pensamentos sobre as cobras pretas,
mais a visão delas retornará. É contraintuitivo, mas às vezes a preocupação em suprimir
O propósito do diagrama da figura 13 é mostrar que as metas não são singulares nem
são amistosas. É importante compreender, no estabelecimento de metas, a dinâmica dos
concorrentes e os subprodutos subversivos e ocultos dessa meta.
Onde isso nos leva ao conceito de zero dano? O fato é que as metas de prevenção e
de revogação como zero dano estão mais propensas à subversão do que as metas de
promoção (Moskowitz e Grant, 2009).
A meta de zero dano na verdade configura as suas próprias subversão e falha. Cada vez
que você não cumpre a meta, você desmotiva os seus empregados em relação ao senso
motivacional da própria meta.
A não ser que a comunidade da segurança do trabalho esteja preparada para tornar-
se mais sofisticada e menos simplista em relação ao estabelecimento de metas, nós
continuaremos a alimentar o ceticismo através de metas de prevenção como zero dano,
em vez de promover a segurança no ambiente de trabalho.
É estranho observar profissionais de segurança que não são líderes como o principal
grupo que estabelece uma meta inatingível de perfeição como objetivo da organização e
então tentam explicar por que ela é motivadora por meio do não endosso do seu oposto.
Transição
Os seres humanos fazem muitas coisas por diversão e esse sentimento é muito subjetivo
e muito difícil de se medir. Na verdade, às vezes, a ideia de mensuração arruína o prazer
e o valor estético de uma atividade. Quando eu vou a uma galeria de arte ou a um show
de rock, eu não quero arruinar a minha diversão e o mistério da atividade tentando
quantificar o meu prazer. Quando eu vejo as pessoas dançando, eu fico fascinado,
porque é uma forma de comunicação, de expressão e de energia sobre a qual eu sei tão
pouco. A dança era uma atividade rejeitada pela minha criação fundamentalista e eu
não compreendo quase nada sobre ela. Eu não tenho nem ferramentas para medi-la
ou apreciá-la. Mas isso não significa que não possa sentir a energia e o poder da sua
performance. Todavia, de muitas maneiras, eu não tenho palavras para descrever o meu
sentimento e o meu prazer em atividades estéticas. Eu certamente me senti assim quando
cada um dos meus filhos nasceu: não havia palavras para expressar o que eu acabara de
testemunhar. O mistério da vida e o viver às vezes são estragados pela busca mecanicista
em eliminar o que é misterioso. O envolvimento do inconsciente e do subconsciente no
risco também é algo misterioso. Vale a pena repetir o comentário de Karl Weick: “eu não
sei em que eu acredito, até que eu veja o que eu faço”.
Às vezes, a busca por certezas e controle pode nos roubar as alegrias misteriosas da vida.
É claro que eu conheço a biologia da reprodução – cromossomos, ovulação, esperma,
fertilização e genes –, mas a reunião de todas essas coisas e como cada célula “pensa” é
muito misterioso. Como podem duas células se reproduzirem de tal forma e com todas
as informações para desencadear o crescimento de uma célula no cérebro ou uma célula
no olho? Quando nossos melhores computadores não conseguem nem imitar o poder
da mente e do cérebro humanos ou seu uso de energia na computação, como podemos
pensar que o cérebro é apenas uma calculadora? Há muitas coisas que estão muito além
da nossa compreensão e do nosso controle. Este é o destino do humano finito falível.
A busca por controlar o empreendimento humano e eliminar todos os riscos é uma
atividade fundamentalista. A busca por certeza e controle absoluto é uma trajetória de
rigidez, de pensamento fechado, de não-aprendizado e de ideologia de culto.
O Ramo Davidiano
Era uma manhã tranquila de domingo em Mount Carmel, no rancho do Ramo
Davidiano, em 28 de fevereiro de 1993. As pessoas seguiram suas rotinas: café
da manhã, banhos, orações e reuniões devocionais. Como na maioria dos dias no
rancho, as coisas eram ditadas pelo líder, David Koresh. O Ramo Davidiano foi uma
cisma de uma seita chamada Davidianos. A seita surgiu de uma profecia de Florence
Houteff em 1959 sobre o retorno iminente de Cristo. Após o fracasso da profecia,
a seita se fortaleceu sob a influência da dissonância cognitiva e ela preparou Vernon
Howell, mais tarde conhecido como David Koresh, como seu sucessor escolhido. Em
1984, uma reunião levou a uma divisão do grupo com Howell liderando uma facção,
chamando-se Davidianos do Ramo Davidiano, e George Roden liderando a facção
concorrente. Após essa separação, George Roden dirigiu Howell e seus seguidores
em Monte Carmelo. Howell e seu grupo se mudaram para Palestine, no Texas. Na
manhã de 28 de fevereiro, uma comoção no campo foi provocada por um telefonema
do cunhado de David, um carteiro que acabava de receber uma pergunta sobre o
rancho por uma pessoa da mídia. Koresh imediatamente disse a Rodriguez, um
agente do Escritório de Álcool, Tabaco e Armas de Fogo (ATF) dos Estados Unidos
que achava que estava disfarçado, que sabia sobre o ataque que se aproximava.
Rodriguez imediatamente deixou o complexo. Koresh então pediu aos membros
masculinos que pegassem armas e tomassem posições defensivas sobre o complexo
enquanto as mulheres esperavam em seus quartos. Koresh ia esperar e ver quais eram
as intenções do ATF antes de prosseguir.
Teoricamente, o ATF estava fora para executar um mandado de busca, mas tinha
o complexo sob vigilância por muitos meses antes da batida. A declaração do ATF
garante uma busca sob suspeita de dezenas de armas de fogo ilegais e a operação de
Dissonância Cognitiva
A teoria da dissonância cognitiva está preocupada com situações que confrontam grupos
com fortes convicções com refutação clara e inegável dessas convicções. A teoria sustenta
que mesmo quando os grupos são confrontados com evidências falsificadoras eles
parecem responder com maior fervor evangelístico.
Há algumas evidências que sugerem que os anúncios de automóveis são lidos com
mais frequência não nos dias e nas semanas anteriores à compra, quando uma decisão
está sendo tomada, mas nos dias que se seguem à compra. Os anúncios não parecem
influenciar tanto a decisão em si, mas confirmam a decisão que de fato já foi tomada. É
depois do compromisso que se é atormentado pelas mais sérias dúvidas. Muitos amigos e
vizinhos felicitam e expressam sua admiração pelo novo veículo, confirmando-nos assim
em nossa sabedoria e julgamento. Outros, no entanto, expressam reservas ou mesmo
surpresas. Parece que pode haver alguns problemas sobre essa marca específica da qual
não tínhamos conhecimento, ou que um certo estilo diferente está ganhando terreno e a
compra que fizemos provavelmente ficará rapidamente desatualizada. Nesse ponto, duas
ou mais de nossas cognições, ou itens de nosso conhecimento, ou visões que acreditamos
serem verdadeiras, parecem estar em conflito.
(1) Sou uma pessoa sensata em cujos julgamento prático e “senso comum” sempre se
pode confiar;
(2) Tomei uma decisão que pode ser considerada precipitada e até tola. Essas proposições
chocam, criando uma sensação desconfortável de atenção, constrangimento ou
discórdia. A dissonância é cognitiva no sentido de que tem a ver com a coerência de
nosso conhecimento, ela é experimentada como sendo desagradável porque os itens
A psicologia da conversão
O compromisso com uma ideologia quase religiosa fundamentalista desencadeia o início
do “custo irrecuperável”. Uma vez que o investimento do ego e do compromisso tenha
sido feito, nenhuma quantidade de argumento lógico racional ou evidência influenciará
a pessoa comprometida com seu culto, crença ou valor. Os eventos documentados do
suicídio em massa de Jonestown ou do suicídio de Heaven’s Gate ilustram o poder do
“custo irrecuperável” e da dissonância cognitiva.
Há muitas forças psíquicas em ação na psicologia da conversão. A conversão não é um
processo racional ou irracional, mas, novamente, um processo arracional. Os Cristãos
atribuem a conversão à noção cristã de “graça”. Alguns cristãos acreditam que a graça
é a misteriosa escolha de Deus para “salvar” alguém. Os fundamentalistas evangélicos
acreditam que a salvação (conversão) é a escolha da pessoa que elege ser salva por Deus.
Na conversão, uma pessoa “arrepende-se”, isto é, vira-se na direção oposta ao reconhecer
sua “natureza pecaminosa” e desejo de se tornar um discípulo de Cristo.
A conversão começa com a identificação e o reconhecimento. As pessoas são levadas
a um estágio de “prontidão” por meio de uma série de fatores. Algumas pessoas são
“convertidas” por causa de pressões relacionais e da necessidade de pertencer a um
determinado grupo. Além disso, também é importante não se desconectar de um grupo
que ache atraente. É assim que funciona a pressão dos colegas ou o “pensamento de
grupo”. O poder de pertencer, de ser identificado e reconhecido é fundamental para
se converter. Às vezes, a necessidade de pertencer é acompanhada por uma profunda
necessidade física e moral. Às vezes, o sofrimento não resolvido é a causa da conversão.
A autoimitação também merece menção como causa de conversão. A autoimitação
envolve atos simpáticos e às vezes triviais que significam uma mudança de trajetória,
um sinal de que uma nova jornada está prestes a começar. A imitação automática é
frequentemente acompanhada por sentimentos de insatisfação, perda de significado e
propósito, decepção ou sentimento de vazio. Às vezes, isso é descrito por aqueles que
procuram convertidos como “pesquisa”. A autoimitação é frequentemente detectada
por pessoas que desejam converter outras e é um pouco como o estado de “prontidão”
A Fuga do Fundamentalismo
A fuga do fundamentalismo é uma fuga para o aprendizado e uma fuga do medo. A
atração de objetivos positivos na aprendizagem torna-se então a motivação para aprender
e não a aversão aos resultados por medo da incerteza.
A busca pelo aprendizado começa com a capacidade de questionar e duvidar. A
conversão dentro e fora da fé é sempre enfatizada sob a pressão da dissonância cognitiva.
Assim, a chave para ajudar alguém a escapar da tirania do “zero” é apresentar as
evidências, mostrar as contradições, apelar para a personalidade centrada na pessoa,
focar no aprendizado e na motivação, destacar a natureza do estabelecimento de metas e
defender a não-perfeição absoluta para dar sentido ao risco.
Questionamentos
1. Você observou as características comuns do fundamentalismo na ideologia “zero”?
2. Dê exemplos de como a retórica de acidente zero soa evangélica em apelo;
3. Explore as características sociopsicológicas do fundamentalismo listadas e veja se
muitas são aparentes em sua organização;
4. Levante a discussão sobre a direção de rolamento do papel higiênico no trabalho e
veja o que acontece;
5. Pesquise um culto no jornal ou na Internet e documente as principais características
do fundamentalismo contra suas atividades. Em seguida, compare isso com as
atividades, a linguagem da ideologia de acidente zero e veja o que você descobre.
Transição
Você consegue imaginar uma conversa sobre risco sem a palavra “zero”? Se eliminarmos
a palavra “zero” do nosso discurso o mundo vai acabar? Será que não podemos dar um
salto na aprendizagem porque o discurso do “zero” nos cega de ver um pouso?
Existem muitas empresas que mantêm registros de segurança, proteção e risco que são
tão bons, se não os melhores, do que organizações “zero” e ainda não falam a linguagem
do discurso do acidente zero. “Zero” não é apenas não motivacional, ele impulsiona
subculturas de ceticismo, cinismo e pessimismo nas organizações. Essas poderosas
subculturas corroem subversivamente a credibilidade do “zero”.
É possível ter estratégias para dar sentido ao risco que não precisam do discurso ou da
ideologia do “zero”. Esta próxima seção fornece soluções, exemplos e criação de sentido
que demonstram que o risco faz sentido sem “zero”.
O Garotinho Perdido
Uma das chaves para entender o risco é o entretenimento da dúvida. É possível
que eu tenha feito isto errado? É possível que eu não estivesse pensando direito? É
possível que minha percepção estivesse errada? Este é o tipo de pergunta que ajuda
A Realidade da Autolesão
Eu estava em um avião na semana passada e me sentei ao lado de uma mulher
que estava mexendo no seu celular. Eu percebi cicatrizes nos seus pulsos e isto me
lembrou dos meu anos na Escola Galileia. Eu me lembro da jovem Kate assim
que ela chegou na Galileia. Ela costumava cortar pedaços de lâminas e engolir
os pedacinhos para, intencionalmente, cortar o seu estômago. Ela tinha que ser
submetida frequentemente a cirurgias e lavagens estomacais, o que ela achava
agradável. Nós tínhamos que levar a sua tarefa da escola para a clínica Z Ward,
que exigia procedimentos de segurança para entrar. A maioria das jovens da Escola
Galileia cortavam-se ou queimavam-se em atos de autolesão – um grito de socorro.
Martin Buber e Eu e Tu
Foi Martin Buber quem melhor articulou a importância do processo de
aprendizagem no seu livro “Eu e Tu”. Bubber saiu da Alemanha em 1938, após
a opressão nazista e, como muitos psicólogos sociais, filósofos e educadores, fez
contribuições importantes para a ciência na compreensão da condição humana
através de seu envolvimento com os nazistas.
Bubber deixou claro que, muitas vezes, quando nos reunimos com outras pessoas,
nós não nos “encontramos” verdadeiramente. Apesar de uma reunião estar
acontecendo, ocorre uma troca de monólogos, havendo pouca empatia e nenhum
diálogo (que necessita de empatia e compreensão) ou estar presente com o outro.
Uma reunião sem encontro é consumida por resultados e enxerga as pessoas como
obstáculos para a sua consecução. Bubber descreve a visão monológica como um
mundo “Eu e Isto”. Os nazistas obtiveram obediência. O controle deles era absoluto
e o paradigma de vida deles era focado no poder. Nessa visão, os outros são tratados
como objetos de um projeto. O projeto tem prioridade sobre as pessoas e torna-
se muito mais focado em indicadores, KPIs, zeros e medidas. Muito mais do que
aprendizado e maturidade. Existem aqueles que cumprem as regras e aqueles que não
as cumprem. Estes últimos estão na ordem do dia para o discurso do inimigo.
A visão “Eu e Tu” é focada na mutualidade. Ela compreende e está presente com e
para o outro. Essa visão tem uma visão do mundo do outro, enquanto a visão “Eu
e Isto” tem o outro como um objeto para a obtenção do resultado do processo.
Essencialmente, a visão “Eu e Isto” é egoísta e objetiva. Não há liderança na visão “Eu
e Isto”, mas sim altos níveis de gerenciamento. As pessoas não seguem o gerente que
prega a visão “Eu e Isto”. Em vez disso, elas cumprem as regras, mas não há paixão
nem propriedade no que fazem.
O que Bubber tem a ver com a psicologia do risco? Você consegue ligar os pontos? O
mundo “Eu e Tu” prioriza a motivação, a propriedade, o aprendizado, as relações e o
diálogo. O mundo “Eu-Isto” prioriza o controle, o poder, o cumprimento de regras, o
monólogo e o zero. A visão “Eu e Tu” reconhece que compreender a psicologia social
do julgamento humano e a tomada de decisão é crítico se alguém quiser que os outros
sigam a sua liderança. Uma visão encontra, compreende e está presente com o outro. A
outra visão encontra, mas não precisa estar presente com o outro e, na verdade, impede o
atingimento das metas de conquista.
É por isto que abordagens minimalistas da legislação, da regulação, dos procedimentos,
da coerção, do controle e do gerenciamento são tão limitadas. O zero endossa e promove
um olhar para o que é mínimo e para o que é microscópico. Ele é focado na contagem
física de lesões e deixa de ver o leque do aprendizado, da maturidade e das relações. O
zero realmente não motiva, não prioriza o aprendizado ou a propriedade. O zero pode
A Importância do Aprendizado
O aprendizado é essencialmente sobre mudar a forma do pensamento, do conhecimento,
do comportamento, dos valores, das habilidades e ou da capacidade. O aprendizado
não é somente sobre uma resposta ao que é superficialmente ensinado (aprendizagem
superficial), mas inclui o “currículo oculto”, ou seja, mensagens e informações secretas
que são aprendidas indiretamente. Mensagens indiretas ou secretas geralmente estão
contidas no que não é dito ou nas mensagens inadvertidas transmitidas pela estratégia,
por ações ou por mensagens inconscientes ou subliminares. Existem cinco coisas
fundamentais que precisamos saber sobre o aprendizado:
2. Aprendizado Situado
O aprendizado informal é também uma parte importante do aprendizado situado. A
noção do aprendizado situado nos leva além das compreensões do aprendizado como
sendo interno ou “na própria pele” dos indivíduos, em direção a uma compreensão
que abrange o mundo social, contextual e distributivo.
Muito da experimentação e da teorização sobre processos cognitivos e
desenvolvimento tratou a cognição como sendo possuída pelo indivíduo e residindo
na sua mente. Aqueles que se interessaram pela cognição distribuída olharam
para as ferramentas e para as relações sociais fora das cabeças das pessoas. Estas
não são somente “fontes de estímulo e orientação”, mas são também veículos do
pensamento. Dessa forma, pode-se falar não somente que vivemos em comunidade e
experimentamos em comunidade, mas “aprendemos através da comunidade”. Não é
somente o indivíduo que aprende cognitivamente, mas a comunidade também pode
aprender como um sistema completo de fatores interrelacionados. As pessoas pensam
em relacionamentos com outras e utilizam-se de várias ferramentas de aprendizagem
em contexto que estimulam o conhecimento. Cognições diferentes, portanto,
emergem em diferentes situações.
Então, isto é o que podemos nomear como “aprendizado situado”. Pode ser visto
como a participação envolvente de comunidades em prática. O aprendizado situado
envolve a pessoa inteira: implica não somente uma relação com atividades específicas,
mas uma relação com as comunidades sociais. Implica tornar-se um participante
inteiro, um membro, um tipo particular de pessoa no contexto. Dessa forma,
aprendendo apenas parcialmente, e geralmente de forma incidental, implica tornar-
se apto a se envolver em novas atividades, desempenhar novas funções e tarefas,
dominar novas compreensões. Tarefas, atividades, funções e compreensões não
existem de forma isolada: estas são parte de um sistema mais amplo de relações nas
quais possuem significado.
Pessoas novas em um contexto social entram pela borda: a participação delas
é periférica. Gradualmente, o engajamento delas se aprofunda e se torna mais
complexo. Então, elas se tornam participantes plenos e irão assumir papéis
de facilitadores ou organizadores. Portanto, o conhecimento está localizado
na comunidade de prática. Além disso, nessa visão faz pouco sentido falar de
conhecimento que é descontextualizado, abstrato ou generalista, como na forma que
as pessoas costumam se referir à noção de “senso comum”.
Quatro proposições são comuns à gama de perspectivas que agora vêm juntas sob o
estandarte da aprendizagem situada:
Questionamentos
1. Quais são os seus silêncios? Sobre o que você não fala para não influenciar os outros?
2. Por que entreter a dúvida é tão desafiador para as pessoas? Você já teve que voltar
para casa porque pensou ter esquecido de desligar alguma coisa? Por que você fez
isso?
3. O que acontece quando a linguagem do zero simplesmente passa a ser uma retórica
sem sentido? É assim que o zero é utilizado na sua experiência? Você pode dar alguns
exemplos?
4. Pense em alguma coisa que você aprendeu recentemente. Quais circunstâncias
ajudaram nesse aprendizado?
5. Você acredita em sorte? Você acha que algumas pessoas têm mais sorte do que outras?
Algumas pessoas parecem ganhar mais coisas do que outras? Por que algumas pessoas
parecem ter dias de sorte?
Transição
A linguagem e a trajetória do zero são uma busca pelo lugar perfeito. Eu me pergunto
de que formas as metas de perfeição excluem os humanos. O que acontece com pessoas
que não conseguem desempenhar como outras? Há algum lugar em nossa sociedade
para pessoas que nasceram deficientes? Os portadores de deficiência têm algum lugar
na empresa que estabelece as suas metas baseada na perfeição e no absoluto? Como as
pessoas com deficiência fazem para evitar as lesões?
Essas questões, bem como os temas sobre sorte, configuram uma dificuldade para os que
advogam pelo zero. A busca pelo zero não é uma busca sensível à falibilidade humana. É
uma busca por super-homens. O próximo capítulo destaca as disposições e as qualidades
de uma organização humanizadora. Uma organização sem o zero no seu discurso.
A Organização Humanizadora
Qualquer que seja a linguagem e o discurso que escolhamos para a nossa organização,
precisam ser humanizadores, não desumanizadores. Organizações que aprendem e
organizações humanizadoras são centradas nas pessoas, não centradas nos produtos. É
uma ilusão pensar que “zero” é uma ideologia centrada nas pessoas. É uma ideologia
centrada no conteúdo e no número que professa o cuidado pelas pessoas, afirma que não
deseja lesionar ninguém, mas possui uma trajetória de controle absoluto, uma certeza
fundamentalista e, de forma contraintuitiva, uma trajetória mecanicista. A lógica do zero
é calculista.
A Importância da Confiabilidade
Muitas organizações ficam presas no que Hudson denomina como “estágio calculista”
no modelo de evolução da maturidade de segurança. Essa estagnação tende a ser
condicionada por uma disposição de medo, uma visão de mundo mecanicista, uma
preocupação com a mensuração e uma ilusão ao negar o risco. A ideologia e a resposta
do zero, pela sua natureza calculista, levam a empresa a ficar presa, claudicante, no
estágio calculista. Quando a empresa se ilude, pensando que a medida de acidentes
com afastamento é uma medida de cultura de segurança, então contar passa a ser
prioridade. Quando se está aprisionado no número zero, então torna-se necessário contar
regressivamente até zero no modelo mental e na prática.
Regressão à Media
A falha em compreender a regressão à média é comum em organizações calculistas e
geralmente leva a interpretações e conclusões incorretas dos indicadores reativos. Um dos
melhores exemplos de regressão à média vem do prêmio Nobel e criador da “Teoria da
Perspectiva” Daniel Kahneman na sua autobiografia.
Kahneman, expert mundial em risco e probabilidade, tentava ensinar a instrutores de
voo que elogio era muito mais efetivo do que punição. Ele foi desafiado por um dos
instrutores que afirmava que, pela sua experiência, elogiar um cadete por realizar uma
manobra correta era tipicamente seguido de uma queda no desempenho, enquanto
gritar com um cadete pela realização de uma manobra ruim tipicamente era seguido de
uma melhora no desempenho. Isto, é óbvio, é exatamente o que é esperado na regressão
à média. O desempenho de um piloto, apesar de ser baseado em uma habilidade
considerável, variará aleatoriamente de manobra para manobra. Quando um piloto
executa uma manobra muito bem-feita, é bem provável que ele teve um pouco de sorte
ao seu favor, em adição a toda a sua habilidade. Após o elogio, mas não por causa dele, o
componente sorte provavelmente desaparecerá e o desempenho será ligeiramente inferior.
De forma similar, um desempenho sofrível provavelmente se deve em parta à má sorte.
Após a crítica, mas não por causa dela, o próximo desempenho será melhor.
Kahneman (2011, p. 176) comenta:
“A descoberta que eu fiz naquele dia foi que os instrutores de voo estavam
aprisionados em uma contingência infeliz: como eles puniam os cadetes quando o
Os Fatores Sociopsicológicos
1. Percepção e motivação;
2. Sentido e atenção plena;
3. Criação de mitos;
4. Cultura, discurso e dissonância cognitiva;
5. Heurística;
6. Pensamento de grupo;
7. Atribuição, microrregras e psicologia do risco;
8. Relações de poder (exemplo: bullying);
Os Fatores Psicossociais
1. Estresse, pressão por prazo e fadiga;
2. Demandas cognitivas;
3. Saúde mental e demandas emocionais;
4. Condições de trabalho e clima;
5. Desencadeadores de lesões e doenças;
6. Horas de trabalho, conflitos;
7. Violência, bullying e abusos;
8. Falta de controle de atividades, absenteísmo;
9. Gerenciamento e supervisão deficientes;
10. Injustiças organizacionais;
11. Meritocracia inadequada.
Adhocrática
A ideia de uma dinâmica adhocrática não deve ser interpretada como “faça como
você quiser”. A ideia de ser “ad hoc” é ter o seu foco na natureza temporal das coisas
e priorizar o individualismo. Ela está mais interessada no imediato, na especialização
e na dinâmica. Uma organização dominada por esta dinâmica cultural é mais aberta
a mudança e flexibilidade, além de estar apta a mover-se rapidamente tanto pelo
inesperado quanto pelas novas demandas. Os valores fundamentais que movem esta
dinâmica cultural são: adaptabilidade, criatividade, gerenciamento da incerteza,
movimento e discrição entre limites preestabelecidos. O foco desta dinâmica cultural é
menos centralizada e mais consciente das considerações externas, como por exemplo:
posicionamento contra a concorrência. Dessa forma, a criatividade e a flexibilidade são
percebidas como mecanismos para obter vantagem sobre a oposição. A organização
adhocrática é consciente das suas próprias distinções, o que a faz diferente das demais.
Burocrática
Uma dinâmica burocrática tem a sua ênfase em muita organização e formalização. Isso
não é investido em indivíduos ou pessoas, mas em processos e políticas. Os valores
centrais da dinâmica cultural burocrática são certeza, respeito, contenção, estabilidade e
controle. A natureza burocrática do gerenciamento não é vista como negativa, mas sim
como positiva, na qual os limites ajudam a permitir que indivíduos e grupos dentro das
estruturas fiquem à vontade, desenvolvam relacionamentos, aproveitem o trabalho e
sintam-se seguros ao saber que os processos, as políticas e as direções estão claras. Uma
dinâmica cultural burocrática enxerga a relação com os competidores do mercado e a sua
diferenciação baseada em desempenho.
Autocrática
A ideia de uma dinâmica autocrática tem sua ênfase nas pessoas, particularmente na
liderança e na gestão hierárquica. Nesta dinâmica cultural o valor é dado na autoridade,
na influência, na ordem, na organização, nos procedimentos de aplicações suaves, na
confiança, na competência, na inteligência, na eficiência e no ritmo. Estruturas rígidas
não são vistas por essa dinâmica cultural como críticas. Em vez disso, há uma crença na
liderança forte e competente que toma decisões eficazes e responsáveis, geralmente capazes
O segundo eixo (Y) representa as abordagens mais orgânicas ou mecanicistas dos sistemas
como gerenciado na organização. Os sistemas que são mais orgânicos naturalmente
tendem a ser mais flexíveis e discricionários, enquanto sistemas de segurança que são
mais mecanicistas naturalmente têm uma ênfase maior em controle e estabilidade.
Figura 33.
Observação: estes quatro tipos sociopolíticos podem ser mapeados utilizando a pesquisa
“MiProfile” da Human Dymensions, que foi apresentada no livro “Risk Makes Sense”.
Os quatro quadrantes estão rotulados em cada aresta indicando alta ou baixa
formalização e alta ou baixa centralização. Estes servem como rótulos de resumo que
descrevem o ponto de tensão entre cada um dos eixos de interação. Essa ferramenta de
Apesar de não existir nenhum tipo ideal ou desejado neste método de análise, há
formas de utilizar os quadrantes para encontrar correspondência e congruência com a
visão desejada e com valores compartilhados com a organização. Os próximos 16 tipos
sociopolíticos podem ser mensurados utilizando a ferramenta de pesquisa “MiProfile”.
Programas que reconhecem o sentido de o risco ser centrado na pessoa não precisam
de nenhuma referência ao zero. Uma organização de alta confiabilidade possui o foco
no positivo, não no negativo. Uma organização de alta confiabilidade sobe a escada até
atingir abordagens de segurança centradas nas pessoas e compreende que o zero é uma
ideologia desumanizadora. Uma organização de alta confiabilidade possui um foco nos
objetivos proativos e compreende a liderança em termos de capacidade de influenciar
todos os domínios críticos acima da linha.
Questionamentos
1. Faça uma busca na internet por 5 exemplos de objetivos humanizados em relação a
risco, segurança ocupacional e segurança patrimonial;
2. Quais são as principais mensagens que a sua organização busca passar? Elas são
articuladas consistentemente?
3. As mensagens no seu ambiente de trabalho são excessivas? Há muitas mensagens e
símbolos nas paredes?
4. Onde está a sua organização na Matriz de Risco e Segurança? Se você trabalha em
uma organização calculista, qual é a sua estratégia de mudança?
5. Qual dos 16 tipos sociopolíticos você imagina que seja o seu? Por quê?
Treinamento
Programas Oferecidos pela Human Dymensions
Programa PROACT – Treinamento em Competências, Conversas, Observações e
Cultura da Psicologia do Risco
Um programa de cinco dias em desenvolvimento de habilidades de percepção,
motivação, observação, coaching, pré-ativação inconsciente e conversas. Este programa
visa a psicologia do risco em segurança ocupacional e patrimonial. O programa
PROACT inclui:
WALK-TALK (observações e conversas)
SEEK (reporte de eventos que fazem sentido)
THINK (pensamento crítico sobre segurança)
RISK (dando sentido à segurança)
LEAD (a sociopsicologia da liderança e das metas)
CARE (a visão abrangente psicossocial)
Programa iKnow-How
Um workshop de três dias sobre saúde e bem-estar, prevenção ao suicídio, gerenciamento
de conflitos, habilidades para a vida, liderança e gerenciamento de estresse.
SafetyWorks
Um programa de três dias em liderança de segurança, conscientização de segurança,
identificação avançada de perigos, investigação de incidentes, habilidades de
comunicação de segurança e cultura de segurança. Opções de extensão para programa de
pós-graduação de 12 módulos.
MiProfile Learning Events
A Human Dymensions pode projetar uma experiência de pesquisa para você, incluindo
análise de lacunas, benchmarking, grupo focal e aprendizado em grupo de World Cafe.
Adeque um programa que lhe agrade
A equipe da Human Dymensions está apta a facilitar o desenvolvimento de um
programa exclusivo para atender as suas necessidades.