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Rio
de Janeiro: Elsevier, 2017
BRASIL. Ministério da Saúde. Guia de Vigilância Epidemiológica. 7 ed. Brasília – DF. 2009
NEVES, Pereira David, et al. Parasitologia Humana. 11 ed. São Paulo: Atheneu, 2007
NETO, Vicente Amato, et al. Parasitologia: Uma Abordagem Clínica. Rio de Janeiro: Elsevier,
2008
1. Definição
-Zoonose que acomete o homem e diversas espécies de animais silvestres domésticos,
podendo se manifestar através de diferentes formas clínicos.
-enfermidade da pele e mucosas
-forma cutânea caracterizada por lesões ulcerosas, indolores, únicas ou múltiplas
- forma cutaneomucosa: lesões mucosas na região nasofaringea
-forma disseminada: ulceras cutâneas de disseminação hematogenica ou linfática
-forma difusa: lesões nodulares não ulceradas
2. agente etiológico
-protozoário digenético que tem seu ciclo biológico realizado em dois hospedeiros, um
vertebrado e um invertebrado (ciclo heteroxeno).
2. morfologia
-Formas amastigotas: ovoides ou esféricas.
-Distingue-se a membrana citoplasmática, o citoplasma que se cora de azul-pálido
pelos corantesderivados de Romanovsky (Giemsa ou Leishman) onde podem os
encontrar vacúolos,
- um único núcleo que se apresenta esférico ou ovoide disposto em geral em um dos
lados da célula.
- O núcleo se cora de vermelho-púrpura, e o cinetoplasto em forma de um bastão
pequeno, situado na maioria das vezes próximo do núcleo, também corado
de vermelho-púrpura;
-não há flagelo livre, mas apenas um rudimento que está presente na bolsa flagelar,
uma pequena invaginação da superfície do parasito.
- O tamanho varia de acordo com a espécie, medindo entre 1,5 e 3 x 3 e 6,5 pm.
3. reprodução
-O processo de reprodução das leishmânias é feito por divisão binária.
-Nas formas promastigotas existentes no trato digestivo do vetor, o primeiro sinal de
divisão é aprodução de um segundo flagelo que sempre permanece menor que o
original.
-Isto é acompanhado de uma mudança no cinetoplasto, provavelmente por replicação
do DNA. O núcleo então se divide em dois, que normalmente ficam lado a lado. Neste
momento o cinetoplasto está denso e compacto. Após o núcleo ter se dividido, o
cinetoplasto fende-se em dois e o corpo do parasito se separa longitudinalmente pela
região anterior para produzir duas pequenas promastigotas. Em culturas é comum,
entretanto, o encontro de formas cujo cinetoplasto se divide antes do núcleo.
-A reprodução das formas amastigotas ocorre no interior dos fagossomas de
macrófagos, também por divisão binária, de modo similar ao que ocorre nas formas
promastigotas (Figura 8.1). A reprodução em Leishmania tem sido considerada clonal,
mas algumas pesquisas recentes têm demonstrado a ocorrência de troca genética com
a observação de híbridos naturais. Este fato pode ter importância epidemiológica pois
a descendência híbrida pode mostrar uma forte vantagem seletiva em relação às
linhagens parentais.
4. hospedeiros
H o sp ed eiro s In vertebrados
-Os hospedeiros invertebrados são pequenos insetos da ordem Diptera, fam ília
Psychodidae, subfamília Phlebotominae, gênero Lutzomyia .
-Nesses insetos ocorre parte do ciclo biológico do parasito. Em todo o mundo existem
cerca de 980 espécies de flebotomíneos conhecidas. Destas, apenas 30 foram com
provadas como vetores das leishmanioses no mundo. No Brasil, as principais espécies
envolvidas na transmissão dos agentes causais da leishmaniose tegumentar são
Lutzomyia whitmani, L. wellcomei, L. pessoai, L. intermedia, L. umbratilis e L.
flaviscutellata, entre outras. Algumas dessas espécies de flebotomíneos possuem
estreita relação com algumas espécies de Leishmania, bem como com seus
reservatórios, sendo portanto vetores específicos dos agentes etiológicos de algumas
das formas clínicas das leishmanioses conforme a região do país. (Capítulo 58 - Exame
de Vetores.)
H ospedeiros Vertebrados
Os hospedeiros vertebrados incluem grande variedade de mamíferos: roedores,
edentados (tatu, tamanduá, preguiça), marsupiais (gambá), canídeos e primatas,
incluindo js humanos.
A ocorrência e a dispersão da doença nas mais variadas ■egiões do Brasil têm como
importante fator a grande varieiade de hospedeiros vertebrados que
epidemiologicamente comportam-se como reservatórios.
Ciclo no Vetor
-A infecção do inseto ocorre quando a fêmea pica o vertebrado infectado para exercer
o repasto sanguíneo e juntamente com o sangue ingere macrófagos parasitados
por formas amastigotas.
- Durante o trajeto pelo trato digestório anterior, ou ao chegarem ao estômago, os
macrófagos se rompem liberando as amastigotas. E provável que as amastigotas
sofram uma divisão binária antes da transformação em promatigotas que também por
processos sucessivos de divisão multiplicam-se ainda no sangue ingerido, que é
envolto por uma membrana peritrófica secretada pelas células do estômago do inseto.
Esta fase inicial é pouco estudada por causa das dificuldades de observação das formas
na presença de sangue fresco.
Após a digestãodo sangue entre o terceiro e o quarto dias, a membrana peritrófica se
rompe e as formas promastigotas ficam livres. São observadas diferentes formas
promastigotas (procíclica, nectomona, haptomona, leptomona, metacíclica) no interior
do inseto vetor que provavelmente têm papéis diferentes no estabelecimento e na
manutenção da infecção. Nesta etapa do ciclo, as promastigotas procíclicas
permanecem reproduzindo por divisão binária, podendo seguir
dois caminhos, dependendo da espécie do parasito. No primeiro, as formas
promastigotas das espécies pertencentes ao subgênero Viannia dirigem-se para o
intestino posterior onde se estabelecem nas regiões do piloro e do íleo (seção
peripilária). Nestes locais as promastigotas haptomonas
permanecem aderidas pelo flagelo ao epitélio intestinal
através de hemidesmossomas, onde ainda se dividem. Após
esta fase no intestino posterior ocorre a migração através do
estômago em direção à faringe do inseto.
Além das alterações morfológicas das promastigotas
durante o processo de m igração no trato digestivo do
vetor, há uma mudança da expressão estágio - específica
de várias moléculas dessas formas durante o seu desenvolvimento. Este processo é
denominado metaciclogênese,
onde as promastigotas que migram para a parte anterior do
tubo digestivo do vetor atingem um estágio infectivo, ou
seja, transformam-se em formas metacíclicas infectantes.
A principal transformação bioquímica observada ocorre
com a variação do tamanho das porções glicídicas das
moléculas de lipofosglicano (LPG) ancoradas na superfície
das membranas das promastigotas.
No segundo caminho, as formas promastigotas das
espécies pertencentes ao subgênero Leishmania multiplicam-se livremente ou
aderidas às paredes do estômago
(seção suprapilária). Em seguida, ocorre migração dos flagelados para a região anterior
do estômago, onde se transformam em promastigotas nectomonas, estabelecendo-se
no esôfago e na faringe. Neste local, diferenciam-se novamente em pequenas
promastigotas metacídicas, semelhantes ao desenvolvimento anterior. O tempo
necessário para
que o ciclo se complete é variável (7 a 12 dias) e depende
principalmente da espécie de Leishmania.
Recentem ente foi observado que durante o desenvolvimento no interior do
flebotomíneo as promastigotas
produzem uma substância gelatinosa (PSG - promastigote
secretory gel) que parece ter um papel importante no processo de transmissão pela
alteração do comportamento alimentar do flebotomíneo e do condicionamento do
intestino
anterior para a ocorrência da metaciclogênese.
Ciclo no Vertebrado
Durante o processo de alimentação da fêmea de flebotomíneo infectada é que ocorre
a transmissão do parasito. Como a porção anterior do tubo digestório do inseto está
repleta de parasitos, na tentativa de ingestão do sangue, as
formas promastigotas são regurgitadas e introduzidas no
local da picada. Dentro de 4 a 8 horas, estes flagelados são
interiorizados pelos macrófagos teciduais.
A saliva do flebotomíneo possui neuropeptídeos vasodilatadores que atuam facilitando
a alimentação do inseto
e ao mesmo tempo imunossuprimindo a resposta do hospedeiro vertebrado; desta
forma, exerce importante papel
no sucesso da infectividade das promastigotas metacíclicas.
As promastigotas infectantes interagem com os macrófagos através de receptores de
membrana que facilitarão a
entrada do parasito bem como sua sobrevivência no interior
da célula. O macrófago estende pseudópodos que envolvem
o parasito, introduzindo-o para o seu interior, envolto pelo
vacúolo fagocitário.
Rapidamente as formas promastigotas transformamse em amastigotas que são
encontradas 24 horas após a
fagocitose. Dentro do vacúolo fagocitário dos macrófagos,
as amastigotas estão adaptadas ao novo meio fisiológico e
resistem à ação destruidora dos lisossomas, multiplicando
se por divisão binária até ocupar todo o citoplasma. O
núcleo do macrófago chega a deslocar-se do centro, para
dar lugar ao vacúolo com as amastigotas. Esgotando-se sua
resistência, a membrana do macrófago rompe-se liberando
as amastigotas no tecido, sendo novamente fagocitadas,
iniciando no local da picada uma reação inflamatória. A
Figura 8.2 mostra o ciclo biológico das leishmânias pertencentes aos subgêneros
Leishmania e Viannia.
O curso da infecção nos animais, incluindo os humanos, é altamente variável, sendo
dependente da espécie de
Leishmania que o parasita, de características genéticas e
da resposta imune do hospedeiro, o que origina diferentes
quadros clínicos
6. mecanismo de transmissão
A transmissão ocorre pela picada de insetos hematófagos pertencentes ao gênero
Lutzomyia (Capítulo 42) conhecidos no Brasil por birigui, mosquito-palha, cangalhinha
e tatuquira, entre outros. Ao exercer o hematofagismo, a fêmea do flebotomíneo
corta com suas mandíbulas o tecido subcutâneo logo abaixo da epiderme, formando
sob esta um afluxo de sangue, onde são depositadas as formas promastigotas
metacídicas provenientes da região anterior do trato digestório do inseto.
-As diversas espécies de Leishmania são capazes de ativar o complemento tanto pela
via clássica quanto pela via alternativa.
Aspectos imunológicos
-Na modulação da resposta imune, o macrófago apresenta os antígenos aos linfócitos
T CD4+ (linfócitos T helper), que podem ser subdivididos em pelo menos duas
subpopulações: Thl e Th2.
-Os mecanismos que levam à infecção preferencial e/ou expressão das diferentes
classes de células CD4+ ainda não estão completamente esclarecidos. Evidências
sugerem que vários fatores podem afetar o processo
• presença de determinadas citocinas no meio durante os eventos iniciais da
diferenciação celular;
• a influência de outros sinais coestimuladores;
• os mecanismos sinalizadores diferenciais usados pelas subclasses de células TH e sua
utilização com os seus receptores.
Embora a maioria desses estudos tenha sido realizada em modelos murinos, a
presença de resposta TH polarizada vem sendo relatada em várias infecções humanas.
Essa variação no padrão de resposta tem sido constatada nas diferentes formas
clínicas, resultando na existência de formas polares da doença tal como na hanseníase.
Na forma cutânea localizada observa-se uma correlação
com a resposta do tipo Th 1, histologicamente caracterizada
como um processo granulomatoso tipo tuberculoide, com
proliferação linfocitária e plasmocitária marcada por ausência ou escassez de
parasitos.
-A imunidade celular é facilmente detectada, mas, ao contrário do que ocorre nas
formas autorresolutivas, a doença progride, podendo evoluir para a forma
cutaneomucosa, a qual apresenta expressão simultânea de citocinas
Thl e Th2, ou seja, um padrão ThO.
A resposta imune celular é variável conforme o quadro clínico, estando presente nos
pacientes acometidos pela rorma cutânea, exacerbada nos casos de lesões mucosas e
-sualmente suprimida nos casos de leishmaniose difusa.
8. patogenia
-No início da infecção, as formas promastigotas são inoculadas na derme durante o
repasto sanguíneo do flebotomíneo. As células destruídas pela probóscida do inseto e
a saliva inoculada atraem para a área células fagocitárias mononucleares, os
macrófagos e outras células da série branca.
Papel importante é desempenhado pelo macrófago, célula especializada em identificar
e destruir corpos estranhos, incluindo parasitos. Certos macrófagos são capazes de
destruir os parasitos diretamente, enquanto outros necessitam ser estimulados.
9. período de incubação
Este período, que corresponde ao tempo decorrido
entre a picada do inseto e o aparecimento de lesão inicial,
varia entre 2 semanas e 3 meses, segundo observações
feitas no Brasil
10. evolução
-As lesões iniciais são semelhantes, independentemente da espécie do parasito. Esta
forma inicial pode regredir espontaneamente após um breve curso abortivo,
permanecer estacionária ou evoluir para um nódulo dérmico chamado “histiocitoma”,
localizado sempre no sítio da picada do vetor infectado.
12. epidemiologia
Segundo estimativas recentes da Organização Mundial
de Saúde (OMS) em 2015, a incidência da leishmaniose
tegumentar no mundo está em tomo de 1,5 milhão de casos
novos a cada ano. Dos 88 países onde a doença ocorre 76
são subdesenvolvidos ou em desenvolvim ento. Os dez
8
países com o maior número de casos são: Afeganistão,
Argélia, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Etiópia, Irã, Peru,
Sudão e Síria que juntos são responsáveis por 70 a 75% da
incidência global. Nas Américas, as leishmanioses cutânea
e mucosa são endêmicas em 18 países estando os casos
distribuídos desde o México até a Argentina. No período de
2001 a 2013 foram registrados mais de 700 mil casos com
média anual de 57.228 incidências. Estima-se que 38,9%
dos casos ocorram no Brasil embora os registros oficiais
não excedam os 30.000 casos anualmente no país.
Durante a guerra entre o Irã e o Iraque, cerca de um
milhão de pessoas apresentaram a leishmaniose tegumentar,
uma vez que a área de conflito envolvida estava localizada
em região de alta transmissão da doença. No Brasil, mais
precisamente em bairros situados na periferia da cidade
de Manaus, ocorreram em 1985 cerca de três mil casos de
leishmaniose tegumentar. Estes exemplos de alta incidência
da doença, com grande número de indivíduos com lesões
incapacitantes, desfigurantes e algumas vezes fatais, como
nas leishmanioses viscerais, levaram a OMS a incluir esta
doença entre as seis mais importantes do mundo.
As mudanças ambientais, socioeconômicas e comportamentais decorrentes do
processo de globalização dificultam
não só o controle como aumentam o número de vítimas
mantenedoras do ciclo vicioso da pobreza e da miséria. Um
exemplo típico é o processo de urbanização das leishmanioses intimamente associado
a essas modificações (êxodo
rural, desemprego, favelas, guerras etc.).
14. profilaxia