Você está na página 1de 8

Departamento de Física – Instituto de Ciências Exatas - UFJF

LABORATÓRIO DE INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS FÍSICAS


FIS122

Método Cien@fico

Texto 1 - O que é o método cien@fico?


Texto integrante da apos/la de Introdução às Ciências Físicas - Módulo 1 – Volume 1 – 3ª
edição – Consórcio CEDERJ – Fundação CECIERJ.

https://canal.cecierj.edu.br/recurso/1409

Autores: Maria Antonieta T. de Almeida, Marta Feijó Barros, Stenio Dore de Magalhães

Entender a realidade – eis um dos grandes obje/vos dos cien/stas. Fazer


ciência é tentar compreender a natureza, é buscar uma compreensão melhor do
mundo que nos cerca.

Mas em que essa busca da compreensão faz um cien/sta ser diferente de um


ar/sta, de um filósofo ou de um religioso?

Um cien/sta, quando procura descrever a natureza, tem um método de


trabalho. Esse método de trabalho é par/lhado por seus pares, os outros cien/stas.
Tentar falar sobre esse método, o chamado método cienYfico, é bastante diZcil. Ao
fazê-lo acabamos descrevendo apenas uma das partes do trabalho (aquela que tem a
ver com o que estamos pensando no momento), e apresentando uma divisão muito
esquemá/ca do que é esse método. Na verdade, é muito diZcil falar sobre algo de que
talvez os próprios cien/stas não tenham clareza total de como funciona, mas vamos
tentar.
A Física é uma ciência basicamente experimental. O método cienYfico usado
pelos Zsicos talvez possa ser descrito de maneira simples. O cien/sta olha para a
natureza e observa o fenômeno. Fica curioso em compreendê-lo, tenta isolar algumas
caracterís/cas daquela observação. Faz algumas hipóteses, isto é, toma como ponto
de par/da algumas ideias, baseado em seu conhecimento prévio do assunto. Com base
nessas hipóteses, monta experimentos, faz análises, medidas, cálculos. Tenta /rar
conclusões genéricas de suas observações e, com base nessas conclusões, prever o
resultado de uma outra experiência. Realiza-a e compara suas previsões com o
resultado medido. Apresenta seus resultados a outros cien/stas. Se eles, ao refazerem
as experiências, encontrarem resultados semelhantes e concordarem com as análises,
o resultado fica aceito como um resultado cienYfico.

Complicado, você não acha?

No entanto, não é tanto quanto parece. Parte desse método é o “óbvio”, é o


que usamos em nossa vida para resolver pequenos problemas diários, o raciocínio com
base em nossas experiências anteriores. Um exemplo? O disjuntor de nossa casa está
desarmando. Precisamos descobrir o porquê. Em nossa inves/gação, pensamos: uma
janela aberta influi no desarme de um disjuntor? Nossa experiência anterior indica que
isso é bem improvável. Será que seria necessário trocar todos os fios elétricos de nossa
casa? Aí já estão embu/das hipóteses – conhecimentos prévios nossos: o vento que
entra pela janela não faz o disjuntor desarmar; o disjuntor desarma porque está
passando muita corrente nos fios. Ou seja, eletricidade tem a ver com corrente, que
tem a ver com fios. Mas só malucos trocariam todos os fios imediatamente.
Separamos o problema em seus pedaços menores – desligamos todos os aparelhos
elétricos, todas as lâmpadas, todas as tomadas e vamos religando um a um – e
descobrimos que não há nada de errado com a parte elétrica da sala e da cozinha.
Primeiro fato: o problema está no quarto. Inves/gamos o que realmente importa
nesse problema menor. Aos poucos, chegamos à conclusão que a tomada do abajur
está em curto. Desligamos a tomada da parede, e religamos o disjuntor; ele não
desarma. Instalamos o abajur na sala, e o disjuntor volta a desarmar. Trocamos a
tomada do abajur, e observamos que com essa troca o abajur pode ser colocado em
qualquer lugar e ligado sem que o disjuntor desarme. O defeito estava na tomada do
abajur.

O que fizemos exatamente? Tínhamos uma observação – o desarme do


disjuntor. Tínhamos algumas hipóteses – sabemos que dentro dos fios passa corrente
elétrica e que o disjuntor desarma sempre que essa corrente fica muito grande. Nossa
experiência – em resumo, nosso conhecimento prévio, mesmo que de forma não
organizada, não “aprendida na escola”, garante que vento não faz o disjuntor
desarmar. De forma organizada e metódica, passamos a inves/gar o que poderia estar
causando esse excesso de corrente. Após termos chegado à conclusão de que o
excesso de corrente era devido a uma tomada em curto, fizemos a comprovação:
/ramos o abajur do quarto e o colocamos em outro ponto, esperando obter um curto
no outro local. Foi exatamente o que conseguimos.

De forma simplificada e esquemá/ca, se o problema fosse novo, o que fizemos


poderia ser chamado “aplicação do método cienYfico”. Queremos entender, conhecer
algum aspecto da natureza. Fazemos observações, tentamos isolar quais são os
aspectos relevantes do fenômeno. A par/r das hipóteses e de nosso conhecimento
prévio sobre o assunto, planejamos experiências, obtemos resultados, juntamos
informações. Num certo momento, conseguimos entender o que estamos observando.
Fazemos previsões de ocorrência de outros fenômenos a par/r de nossas conclusões e
testamos essas previsões. Comunicamos as nossas conclusões aos “nossos pares”, os
outros cien/stas, que podem ou não aceitá-las.

Durante esse processo, construímos um modelo para descrever aquele


fenômeno. Um modelo pode ser pensado como uma imagem simplificada de um
fenômeno complicado. Nessa imagem simplificada, devem estar presentes e
compreensíveis as caracterís/cas principais do fenômeno observado.

Um MODELO em Física é uma forma de descrever um fenômeno da forma mais


simplificada possível e que descreva o máximo de suas caracterís/cas principais. Que
ainda permita operar, quan/ficar as observações feitas a par/r dele.

Um exemplo de um modelo comum na Física é como pensamos numa bola de


basquete sendo lançada na cesta. Como podemos saber se a bola lançada de uma
determinada forma irá ou não marcar pontos para o nosso /me? Como podemos
quan/ficar – dar números – aquilo que os jogadores fazem intui/vamente?

Para sabermos como lançar a bola de basquete, pensamos nela inicialmente


como um objeto simples, PONTUAL (ou pun/forme). Isto é, pequenino, que não gira
no ar: não temos “efeitos”. Também pensamos que o atrito da bola com o ar quase
não existe. Nesse caso, a descrição do movimento da bola é bem simples, a trajetória
da bola é uma PARÁBOLA – o peso da bola faz com que o seu movimento não seja
eternamente uma subida; ela vai sendo freada e acaba caindo. Podemos até fazer
contas, prever se, ao lançarmos a bola de um ponto da quadra, vamos ou não a/ngir a
cesta, como (com que ângulo e velocidade) devemos lançá-la, e muitas variações sobre
o tema. Podemos escrever as equações matemá/cas para esse movimento e calcular
as informações que desejamos.

O modelo é: a nossa bola de basquete comporta-se da mesma maneira que


uma pedrinha pequena lançada no ar. Isto é, não gira, não sofre influência do ar ao seu
redor. Esse é o modelo. Vai funcionar? A experiência comprovará. Se funcionar, o
modelo é bom; se não, temos que reconstrui-lo tentando descobrir o que foi que
deixamos de lado e era importante. Que tal mudarmos a cor da bola para ver se isso
influi no resultado? Esse modelo funcionaria para um chute de futebol? Quando? Será
que você poderia explicar a “folha seca” (caindo) com esse modelo?

Discu/r o que é a construção de um modelo é interessante; melhor ainda é


tentar construir um. E, ao fazê-lo, vê-se quais as suas limitações e até que ponto um
modelo, mesmo quando não descreve tudo, é um bom modelo.

Texto 2 – Construção do conhecimento

1 – Em 1519, Fernão de Magalhães deu a volta ao mundo pela primeira vez. Ou seja,
temos 500 anos de história mostrando pessoas andando pelo globo e observando que
ela é redonda (hmps://pt.wikipedia.org/wiki/Fern%C3%A3o_de_Magalh%C3%A3es).

2 – Astronautas /ram selfie do espaço mostrando que a terra é redonda.

3 – Pode-se ver o pôr do sol duas vezes no mesmo dia do ediZcio mais alto do mundo,
o Burj Khalifa, com uma diferença de três minutos entre eles.
(hmps://pt.wikipedia.org/wiki/Burj_Khalifa ).

4 – Algumas estrelas visíveis no hemisfério norte não são visíveis no hemisfério sul.
Observe que os fatos acima são observações diretas da esfericidade da terra. A
ciência também possui provas mais elaboradas desse fato, como por exemplo o
comportamento da força gravitacional em experimentos laboratoriais. Geometria
simples também resolve o problema: Eratóstenes, que viveu entre 276 a.C. e 194 a.C.,
provou que a Terra possui esfericidade com dois pedaços de pau! E ainda calculou o
tamanho da circunferência da Terra.
(hmps://super.abril.com.br/mundo-estranho/como-os-gregos-calcularam-a-
circunferencia-da-terra-ha-2200-anos/ ).

O exemplo do formato da terra, aqui discu/do, é um exemplo clássico e até


exagerado sobre a questão de um fato ser cien/ficamente comprovado. Outras
informações que circulam pela rede sem comprovação cienYfica são mais su/s e
tendem a convencer desavisados. É preciso desenvolver senso crí/co para dis/nguir o
caráter cienYfico de uma informação, através da construção do conhecimento.

Ok, opinião não é suficiente para contrapor uma informação cien/ficamente


comprovada. Mas como uma informação é cien/ficamente comprovada? Vamos
descrever aqui o procedimento tradicional.

Primeiramente, ela deve ser publicada em um jornal, revista, site de grande


circulação. E para que isso ocorra, ela deve ser revisada por pares – em inglês peer
review. Isso quer dizer que, se você faz uma descoberta e quer publicar na Nature
(uma das revistas cienYficas mais conceituadas do mundo), o corpo editorial da revista
– formado por cien/stas – irá dar uma olhada no trabalho e se perguntar: o trabalho
está bem escrito? Os métodos de teste das hipóteses estão bem descritos? Os
resultados estão claros? Se esses pré-requisitos forem sa/sfeitos, o trabalho é enviado
para outros cien/stas especialistas no tema – os revisores. Os revisores irão verificar
todos os detalhes do trabalho e dizer se faltam informações, se há erros em equações
ou suposições a par/r de conhecimentos já estabelecidos, se o trabalho é uma
novidade, etc. Depois disso, há três opções:

1 - Seu trabalho foi muito bem feito e é uma novidade bastante relevante. Pode
ser publicado em revistas de grande alcance mundial.

2 – Seu trabalho é uma novidade, está muito bom, mas faltam informações ou
há erros, e você vai ter que fazer uma revisão antes da publicação.

3 – Seu trabalho não está claro, parte de suposições equivocadas ou não é uma
novidade. Não pode ser publicado.

Depois do árduo caminho até a publicação, ainda tem-se mais uma etapa a
cumprir! O seu trabalho deve agora ser reproduzido por vários cien/stas para que
todos se convençam de que esta é uma verdade da natureza. Por isso, é imprescindível
que você faça uma descrição detalhada dos experimentos para que qualquer cien/sta
possa reproduzir os testes que comprovam suas hipóteses.
Agora sim, estando a comunidade cienYfica sa/sfeita com muitos testes e
reproduções de resultados experimentais, tem-se um fato cien/ficamente
comprovado. E o caminho para isso é tão controlado que “cien/ficamente
comprovado” virou então argumento para terminar discussões – contra ele não há
argumentos. Isso está certo? Claro que não! Sendo assim, quando você ler que algo é
cien/ficamente comprovado, procure saber: “Onde foi publicado? Posso confiar nessa
revista?” ou então: “Quem fez o teste? Cien/stas independentes ou pagos por uma
empresa?”

Além disso, temos que nos lembrar que a ciência é mutável: as informações são
passíveis de erros e crí/cas. Isso quer dizer que o conhecimento cienYfico está sempre
em construção. Por exemplo, as leis de Newton foram testadas por mais de 200 anos e
sempre foram comprovadas. Hoje em dia, com experimentos que permitem altas
velocidades ou manipulação de sistemas extremamente pequenos, vê-se que essas leis
não se aplicam, sendo necessárias reformulações no conhecimento, através do
desenvolvimento da teoria da rela/vidade e da mecânica quân/ca.

Karl Popper, filósofo austríaco, comenta muito bem o caráter da ciência: “A


ciência será sempre uma busca e jamais uma descoberta. É uma viagem, nunca uma
chegada.”

Delicie-se com a viagem.

ATIVIDADES AVALIATIVAS

Nesta sessão, você terá duas a/vidades avalia/vas: um texto a ser enviado via Moodle
(A/vidade 1) e um ques/onário no Moodle. No fim deste documento, você irá
encontrar instruções de envio do texto.

ATIVIDADE 1

1 - Procure, na internet, um texto que você perceba claramente que não possui cunho
cienYfico.

2 - Procure agora um texto que possua caracterís/cas do rigor cienYfico.


Atenção!!!! Os dois textos tem que ser necessariamente, sobre informação relacionada
à ciência – qualquer área - , não podendo ser noYcias de fatos simples (como noYcias
de um jogo de futebol ou de um incidente qualquer). Isso quer dizer que, mesmo o
texto em que as informações não sejam apresentadas com rigor cienYfico deve ser
sobre um tema relacionado à ciência.

3 - Observe a estrutura dos textos: há erros de português? A linguagem é apropriada?


Há “frases de efeito” sem argumentação cienYfica? O que essas caracterís/cas dizem
sobre esse texto, na sua opinião?
4 - Verifique as fontes: quais são as fontes? Se for uma revista cienYfica, procure o
texto original.

5 - Para cada texto escolhido, prepare um parágrafo entre meia e uma página
contendo caracterís/cas nesse texto que te levaram a avaliar o texto como
cienYfico/não cienYfico. Atenção! O texto é manuscrito!

7 - gere um único arquivo PDF para envio dos seus textos. O arquivo deve conter seu
nome, matrícula e turma e foto do documento de iden/ficação, junto com o texto. Se
essas instruções não forem seguidas rigorosamente, seu trabalho não será avaliado.

8 - Digite, na caixa de texto online, os links dos dois textos que você analisou. Sem
esses links, seu trabalho não será avaliado.

Instruções para envio da ATIVIDADE 1 via Moodle:


1 - Para enviar as respostas das perguntas da ATIVIDADE 1 via Moodle, clique no ícone tarefa
desta sessão:

2 - Depois clique em:

Depois disso, irá aparecer um ambiente para que você possa digitar um texto (somente para os
links) e enviar um arquivo, como mostrado abaixo.

3 – Feito o upload, clique em salvar mudanças.


4 – Irá parecer outra janela, como mostrado abaixo. Atenção para esta parte! Aqui você pode
editar o envio, ou seja, mudar alguma coisa na sua a]vidade e/ou enviar tarefa em
defini]vo. Uma vez enviada em defini]vo, você não poderá mais fazer alterações. E se você
não enviar sua tarefa em defini]vo, ela será salva como rascunho e você irá perder 20% da
nota. Arquivos pdf com as discussões pedidas devem contem a foto de documento de
iden]ficação.

Como transformar vários arquivos de imagem em um único pdf?

Há diversas maneiras de fazer isso. Descubra a que for mais fácil com os recursos que
você tem. Para transformar imagens do celular em um único pdf, o que é bem prá/co,
opções possíveis para Android:

https://play.google.com/store/apps/details?id=com.innover.imagetopdf&hl=en
ou
https://play.google.com/store/apps/details?id=com.intsig.camscanner&hl=en

Esses são aplicativos simples, onde tem-se que somente selecionar os arquivos a serem
transformados em um único pdf.

Você também pode gostar