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FICHAMENTO CONRAD HISTORIA GLOBAL

“Preveem chegar <a uma versão transcultural da história que poderá vir a ser aceite em todo o
planeta>.” (p. 197)(historiadores globalistas, introdução)

“As histórias globais não são escritas num vácuo. Os historiadores podem cobrir a história do
mundo inteiro, mas eles fazem-no a partir de uma localização específica e escrevem-na num
tempo particular, envolto nos seus próprios <mundos de vida>.” (p. 197)

“Hoje, os contextos nacionais e institucionais permanecem cruciais para moldar tanto as


interpretações teóricas, como as narrativas do processo histórico.” (p. 197)

“Os relatos da história do mundo, na sua maioria, são enquadrados em premissas axiomáticas
e assentes em juízos de valor, assim como em hierarquias de significado.” (p. 197-198)(não
seria qualquer narrativa histórica igualmente assente?)

“Mas o que é que isto implica exatamente? É eurocêntrico enfatizar a hegemonia euro-
americana dos séculos XIX e XX? Inversamente, será automaticamente sinocêntrico sublinhar a
sofisticação da China Song? Precisamos de descartar a terminologia das ciências sociais
sabendo que estas foram originalmente cunhadas na Europa?” (p. 198)(como superar o
regionalismo eurocêntrico, e os “centrismos” em geral?)

“Por um lado, assinala a indiscutível posicionalidade de qualquer interpretação do passado – a


não ser que queiramos reduzir a história a uma única narrativa, precisamos de ter em conta a
multiplicidade das mesmas. Por outro lado, uma forte ênfase na particularidade e na
singularidade pode facilmente produzir afirmações de incomensurabilidade, ou seja, a defesa
de que os recursos culturais subjacentes às diferentes sociedades são tão radicalmente
distintos entre si que tornam as sociedades mutuamente incompreensíveis.” (p. 198)(tensão
em que este capítulo se situa)

EUROCENTRISMO

“O debate sobre o eurocentrismo é uma disputa em torno de questões básicas, metodológicas


e epistemológicas, do nosso campo.” (p. 199)

“Iremos agora distinguir entre o eurocentrismo enquanto perspectiva e as análises <centradas


na Europa> de alguns períodos históricos.” (p. 199)

“Para tornar o debate mais simples, é conveniente delinear claramente as duas principais
correntes do pensamento eurocêntrico.” (p. 199)

“A primeira prende-se com a ideia de que a Europa foi a principal criadora do progresso
histórico: basicamente, a Europa teria impulsionado o mundo para a modernidade.” (p. 199)

“O segundo modelo, o eurocentrismo conceptual, está preocupado com as normas, os


conceitos e as narrativas que os historiadores utilizam para tornar o passado legível; tal pode
significar uma concepção eurocêntrica, mesmo quando a Europa não é objeto de estudo.” (p.
199)(metodologia europeia, eurocentrismo epistemológico)

“Recentemente, tem sido posto em causa por diferentes razões. A mais básica relaciona-se
com o esforço generalizado para alcançar narrativas mais inclusivas e geograficamente mais
equilibradas [...]” (p. 200)
“As abordagens antieurocêntricas também procuram libertar a história de uma determinada
região da obsessão por se demonstrar as suas ligações com o Ocidente. Enquanto estudos mais
antigos equiparavam a <interconexão global> às relações com a Europa, as abordagens mais
recentes exploram todo o tipo de contatos de uma região.” (p. 201)

“Da mesma forma, a retórica da <abertura> de locais como a China, a Coreia e o Japão é
geralmente utilizada para marcar o início das suas relações com a Europa e os Estados Unidos,
independentemente da extensão de suas conexões não-ocidentais.” (p. 201-202)

“Fazer justiça à diversidade histórica das sociedades e explorar a multiplicidade das conexões
entre elas continua a ser uma urgente tarefa dos historiadores globais. É uma tarefa árdua,
uma vez que enfrentam, de forma direta, o desafio de evitar extremos opostos e de ignorar o
papel das estruturas de poder face a um colorido quadro de histórias locais.” (p. 202)
(abordagem, metodologia, eurocentrismo, epistemologia, estruturalismo, modernismo
marxista)

“O objetivo está em ultrapassar o eurocentrismo sem marginalizar o papel histórico da Europa


e dos Estados Unidos.” (p. 202)

“Por outras palavras, qualquer retrato alternativo das dinâmicas globais não deve esconder os
momentos em que a Europa Ocidental e, mais tarde, os Estados Unidos, desempenharam um
papel dominante.” (p. 203)(perigo da microanálise e supervalorização da cultura local em
detrimento das estruturas e relações de poder)

“Existe, portanto, uma importante diferença entre enfatizar a centralidade europeia num
fenômeno concreto e postular uma narrativa eurocêntrica. Dizer que a industrialização ocorreu
primeiro em Inglaterra não é eurocêntrico; supor que não poderia ter acontecido em qualquer
outro lugar já o é.” (p. 203)

“Avaliar o papel da Europa e dos Estados Unidos nos registros históricos é, em última instância,
uma tarefa empírica. Indicar as hierarquias geopolíticas e o papel dominante da Europa e dos
Estados Unidos em determinados momentos do processo histórico não é, por si só,
eurocêntrico.” (p. 203)

“Foi precisamente o seu poder geopolítico que criou a narrativa europeia da sua própria
ascensão e que tornou os relatos eurocêntricos aparentemente objetivos.” (p. 203)

“Ironicamente, mesmo as narrativas que tentam colocar em suspenso a influência histórica da


Europa e que procuram enfatizar as dinâmicas e as trajetórias indígenas podem ser
eurocêntricas no seu vocabulário e na sua lógica geral.” (p. 204)

“O resultado é uma simples reversão que não coloca qualquer desafio fundo às narrativas
históricas e aos conceitos subjacentes.” (p. 204)(necessário a construção de novas categorias
descentralizadas de análise)

“Essencialmente, a razão pela qual isto acontece resulta do facto de as disciplinas modernas
terem sido geradas na Europa e terem sido rapidamente adotadas em todo o mundo.” (p. 205)

“Termos aparentemente analíticos como <nação>, <revolução>, <sociedade> e <civilização>


transformaram uma experiência provincial (europeia) numa teoria (universalista) que pré-
estruturava a interpretaão de todos os passados locais.” (p. 205)
“Na prática historiográfica, o recurso à terminologia europeia e à subjacente filosofia
desenvolvida na e para a Europa, culminaram em narrativas que dão conta da longa progressão
do feudalismo à sociedade civil, da tradição à modernidade. As diferenças históricas e as
trajetórias específicas das sociedades não-ocidentais, são normalmente descritas numa
terminologia de carência e fracasso, [...]” (p. 205)(padrões eurocêntricos de análise
epistemológica)

“O trabalho é maior e mais árduo do que uma simples reavaliação do papel da Europa (e dos
Estados Unidos) na história mundial, uma vez que os antigos conceitos <europeus>, hoje
universalizados, contam com uma forte história em muitas outras partes do mundo, e que as
narrativas da modernização, que seguem os critérios ocidentais, estão fortemente arraigadas
em muitos ambientes institucionais.” (p. 206)(vai além de reescrever a história do mundo com
uma nova ênfase, é reescrever a forma como a história é escrita, sua pauta e suas categorias
constituintes parciais)

POSICIONALIDADE

“Para corrigir o eurocentrismo, os defensores da história global têm enfatizado o caráter


posicional das perspectivas históricas.” (p. 207)

“[...] esta arrogância do ponto zero, [...], encobre as relações de poder que enquadram a
formação do conhecimento. Os acadêmicos pós-coloniais propuseram, assim, virar de cabeça
para baixo o lema de Descartes: <Ao invés de assumir que pensar surge antes do ser, supõe-se
que é o corpo racialmente marcado num determinado espaço geo-histórico que sente o
impulso, ou recebe o chamamento, para falar>.” (p. 207)(poder, saber, relações,
descolonialidade)

“[...] também as representações da história mundial podem diferir radicalmente: nos assuntos
que elegem como centrais, naquilo que omitem e na interpretação de eventos que analisam. O
significado de cada questão individual (tomemos, por exemplo, a escravatura) muda
consideravelmente, dependendo se a observamos do ponto de vista angolano ou nigeriano,
brasileiro ou cubano, francês ou inglês.” (p. 207)

“[...] este apelo à inclusão pode ser impulsionado pelo desejo de compensar a parcialidade das
antigas histórias mundiais, ou até pela ânsia de redimir o sofrimento humano e as injustiças do
passado. No pior dos cenários, o resultado pode ser o aparecimento de uma mera história
compensatória.” (p. 208)(transnacionalismo, inclusão historiográfica, dar voz aos ‘oprimidos’)

“Não obstamte econhecer a existência de múltiplos pontos de vista sobre o mundo – [...] – é
um avanço importante. Ao nível prático, isto força

“Muitas vezes, este apelo à inclusão pode ser impulsionado pelo desejo de compensar a
parcialidade das antigas histórias mundiais, ou até pela ânsia de redimir o sofrimento humano
e as injustiças do passado. No pior dos cenários, o resultado pode ser o aparecimento de uma
mera história compensatória.” (p. 208)

“Para que o retrato fique completo, é necessário reconhecer que coexistem muitas leituras
concorrentes e, por vezes, mutuamente exclusivas do passado global.” (p. 209)

“[...] para demonstrar que, apesar das intenções transnacionais dos seus praticantes, a história
global tem permanecido, invariavelmente, refém de parâmetros nacionais, de enquadramentos
institucionais e de preocupações políticas e culturais.” (p. 209)
“Colocando as coisas num ponto mais generalista, podemos afirmar que existe somente uma
linha muitíssimo tênue a separar o reconhecimento da posicionalidade da afirmação de
incompatibilidade cultural.” (p. 210)

A PROLIFERAÇÃO DOS CENTRISMOS E O RETORNO DA CIVILIZAÇÃO


“A partir da década de 1990, no rescaldo da Guerra Fria, o eurocentrismo testemunhou uma
reversão gradual da sua sorte, sendo cada vez mais atacado no interior do seu próprio
território.” (p. 211)

“Estes centrismos do Sul global – apresentado como uma frente de libertação do domínio
ocidental – são indicadores da reconfiguração simbólica do espaço que a transformação da
ordem mundial contemporânea desencadeou.” (p. 212)(ascensão epistemológica de uma
perspectiva descolonial, despolarização do globo)

“No entanto, em muitos outros sentidos, esta abordagem contraria o conceito de história
global que aqui propomos. Ao invés de ressaltar os entrelaçamentos e as interações, o discurso
civilizacional tende a aguçar a noção de fronteiras e de especificidade cultural.” (p. 212)

“O afrocentrismo, [...], inverteu as antigas abordagens eurocêntricas para passar a imagem de


uma Civilização Africana homogênea que seria, moral e culturalmente, muito superior à
Civilização Européia.” (p. 213)

“Para Nandy, o modo de escrever a história é, em si mesmo, um instrumento da hegemonia


ocidental. Mesmo nos dias de hoje, diz-nos o autor, a grande maioria da população indiana não
pensa segundo as categorias da historicidade. Pensar segundo a história, argumenta, é ignorar
outras formas de aceder ao passado, o que nos condena a somente um futuro possível.” (p.
213-214)

“O sinocentrismo baseia-se num suposto núcleo cultural que se contrapõe a um Ocidente


material. Está normalmente associado ao Confucionanismo, considerado o símbolo das
tradições intemporais que sobreviveram às transformações da sociedade moderna.” (p. 214)

“A grande narrativa eurocêntrica experienciou, de facto, uma renovada popularidade no século


XXI. Os acontecimentos do 11 de Setembro de 2001, em particular, concederam uma nova
plausibilidade ao velho burburinho em torno de um iminente <choque de civilizações>.” (p.
215)

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