Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Página 1 de 13
"Uma palavra sensata deve ser bem recebida, ainda que venha de um papagaio."
Não são muitas as pessoas no mundo capazes de fazer uma interpretação global da
política norte-americana com relação ao narcotráfico. E não o são, entre outras
coisas, porque se trata de um tema obscuro que está situado no que se denomina de
política negra dos países, de muitos países e de muitos ministérios de relações
exteriores. Michael Levine é um alto oficial da DEA que conheci durante um colóquio
internacional sobre as drogas realizado em Paris, em dezembro de 1992, pelo então
existente Observatório Geopolítico de Drogas, e que foi organizado conjuntamente
com o que então era a Comunidade Econômica Européia, cuja conseqüência mais
http://www.umanovaera.com/conspiracoes/Entrevista_Michael_Levine.htm 15/01/2012
NOVA ERA :: Conspirações - DROGAS E GUERRA: O Narcotráfico como instrumen... Página 2 de 13
Naquela oportunidade tive a sorte de poder falar durante várias horas com Michael
Levine e sua companheira Laura Cavanot de Levine. Ambos criaram um discurso que
permite entender muitas das coisas dessa política obscura. Michael Levine produziu
vários livros que são referência obrigatória no caso do narcotráfico na América
Latina. É também uma referência obrigatória para entender o que aconteceu na
Bolívia, na Argentina e posteriormente no México e outros países onde o narcotráfico
se colocou entre as fontes de financiamento das políticas governamentais.
É muito pouco conhecido, mas a guerra na América Central, tal qual se conheceu
durante os anos 80, a partir do lado que se denominou de Guerra Suja ou Guerra
Encoberta ou Operações Encobertas, de diferentes nomes, dependendo da fonte de
fala, foram financiadas pelo narcotráfico, a partir da cocaína da Bolívia e do mercado
nascente da heroína que se trasladou àqueles lares exatamente para poder financiar
uma longa guerra que desestabilizou todo o continente e que ainda hoje em dia,
trinta anos depois de haver começado este período perigoso da política anti-
subversiva na América Latina continua dando o que falar.
Michael Levine nos explicará em uma longa entrevista alguns aspectos desta política,
mas basicamente é importante entender que se trata de um testemunho direto de
uma pessoa envolvida na luta contra o narcotráfico em uma agência policial como é
a DEA norte-americana; portanto é um testemunho único e insubstituível para
entender o que dissemos no início: A Política Norte-Americana para as Drogas ou
para o narcotráfico, que é o título da palestra que lhe pedimos para o seminário que
organizamos em Bruxelas como forma de ajudar a compreender o quadro e o
contexto em que se produz o conflito colombiano e quais são as alternativas reais e
viáveis para encontrar uma paz com justiça social e com o reconhecimento dos
delitos que ali são cometidos:
Gregorio Dionis: em primeiro lugar agradecer que tenha aceitado participar desta
questão...
http://www.umanovaera.com/conspiracoes/Entrevista_Michael_Levine.htm 15/01/2012
NOVA ERA :: Conspirações - DROGAS E GUERRA: O Narcotráfico como instrumen... Página 3 de 13
Gregorio Dionis: Essa é uma das questões. Poderias nos contar um pouco sobre os
livros que tens escrito? Um breve resumo do que contas em cada um desses livros?
Michael Levine: Bem, o primeiro livro no qual eu tive participação foi com o título
“Undercover”, ou seja, encoberto. Esse foi escrito por Donald Gardeth, jornalista do
New York Times durante minha carreira. Quando ele estava escrevendo o livro eu
ainda estava trabalhando como agente secreto pela DEA. Este livro traz um enfoque
da minha carreira desde muito cedo, de minha juventude; de todas as coisas que
tinham a ver com a educação que eu tinha nas ruas de Nova Iorque, que me
preparou perfeitamente bem para a carreira de trabalhar em segredo, ou seja, eu
tenho diploma da rua, diploma dos embates duros e não há melhor preparação para
o trabalho secreto.
O meu primeiro caso no qual eu comecei a aprender a verdade e não podia evitá-lo,
foi quando eu me metia com traficantes chineses na Tailândia, durante a Guerra do
Vietnã. E este também era um caso encoberto, Undercover. E este foi um caso mais
ou menos famoso, dos traficantes que foram introduzindo heroína nos Estados
Unidos ocultada nos cadáveres dos nossos soldados que foram mortos no Vietnã. Ao
final das contas eu fui à Tailândia e me meti com esses traficantes e eles se
encantaram comigo. É que eu caibo perfeitamente no enquadramento de um mafioso
número um e os chineses tinham total confiança em mim. E me convidaram a ir
aonde eles descreveram como a “feitoria”, onde em 1971, durante a Guerra do
Vietnã, estavam produzindo toneladas de heroína. E depois de dois ou três meses
trabalhando encoberto, sob uma situação, viajando dentro do Camboja até a
Tailândia, a CIA então se mete. Isso a primeira vez em minha vida, se mete no caso
a CIA e me dizem: “Levine, pare por aí, não queremos que vá mais além”. O porquê,
eu me dei conta depois, foi que os traficantes maiores, nessa região do mundo, no
tráfico de heroína eram aliados da CIA na Guerra do Vietnã. Eu não podia acreditar
nisso; eu era um bom soldado, não percebia porque antes disso eu estava no
Exército norte-americano, acreditava no sistema, cumpria ordens. E quando a CIA
me disse: “você não sabe de todos os interesses que funcionam agora; você não
conhece o desenho grande. Você tem que confiar em nossa palavra, sendo um bom
soldado: pare por aí”. E o fiz. E depois percebi que a CIA então estava protegendo os
traficantes que estavam introduzindo heroína nos Estados Unidos dentro dos
cadáveres dos nossos jovens. Vocês não podem imaginar como isto me causou
http://www.umanovaera.com/conspiracoes/Entrevista_Michael_Levine.htm 15/01/2012
NOVA ERA :: Conspirações - DROGAS E GUERRA: O Narcotráfico como instrumen... Página 4 de 13
impacto. Eu não queria acreditar nisso, não podia acreditar e continuar trabalhando
porque então eu tinha meu irmão que estava sofrendo por causa da heroína e
depois, como te disse, se lançou às drogas aos 15 anos de idade e aos 37 anos de
idade meteu em si uma bala escrevendo uma carta: “Perdoe minha família, meus
amigos, eu não podia mais agüentar a droga”.
Imagine como eu poderia continuar meu trabalho se havia absolvido a verdade; não
podia absolver isso, não podia conceber isso. Isso era uma opinião impensável. E eu
continuei trabalhando; trabalhando encoberto, atuando em caso após caso. E depois
vamos discutir o tema de informantes porque esse é um tema que não estou tão
seguro de que vocês estejam a par exatamente sobre o que significa o uso de
informantes no mundo da droga. Vocês têm que ter em mente que 99% dos casos
de tráfico de drogas começam, decolam através de informações, do trabalho de
informantes. E voltando àqueles anos, eu era muito bom no trato com informantes.
Eu sabia bem como dirigir os informantes; eu sabia como pensavam os informantes
porque eram criminosos e eu fui criado na rua; a metade dos meus amigos era
criminosa. Eu vivi uma vida bastante experimentada. Estou procurando outra
maneira de descrever isso. Eu atuei em milhares e milhares de casos: heroína,
cocaína, traficante. E outra coisa é que eu fui criado em um bairro latino de Nova
Iorque e aprendi, como nós dizemos na rua, Spanglish (mescla de espanhol e
inglês); e eu podia conversar sem lições, porque minha primeira namorada era
porto-riquenha, eu tinha 13 anos de idade e todos os meus amiguinhos eram
também boricuas (porto-riquenho). Nessa época não havia muito oficiais, não havia
muitos agentes da DEA ou de outras agências que podiam se defender em espanhol
e começar a ingressar todos.
E sobre essa história eu recomendo que obtenham uma cópia não impressa, que se
pode obter através da Internet facilmente. Saiu também na América do Sul sob o
título de “A Grande Mentira Branca”. E a história de Roberto Suárez é que ele
também se encantou comigo, tinha muita confiante em mim, acreditava em mim. E a
minha infiltração junto ao pessoal de Roberto Suárez veio através de um informante
de confiança de Suárez, como em todos os casos. E ele me apresentou como gente
de confiança; no final das contas chegamos a ter naquela época o maior caso da
história do tráfico de drogas.
Gregorio Dionis: Por que não explicas um pouco quem era Roberto Suárez? Sua
http://www.umanovaera.com/conspiracoes/Entrevista_Michael_Levine.htm 15/01/2012
NOVA ERA :: Conspirações - DROGAS E GUERRA: O Narcotráfico como instrumen... Página 5 de 13
relação com aqueles grupos dos “Noivos da Morte” e também com a política do que
se chamava de “Segurança Nacional” naquela época na Bolívia, Paraguai, para os
que nos ouvem possam ter uma opinião mas clara do que aconteceu.
Michael Levine: Roberto Suárez era, segundo o contador do cartel de Medelim, que
foi testemunho perante nosso congresso, o maior traficante da história, o mais
poderoso, maior e mais poderoso do que qualquer colombiano. Ele, naquela época,
controlava 99% do produto que saiu da Bolívia, a pasta básica. Daí a pasta básica foi
para a Colômbia para ser transformada em cocaína. Sem a pasta básica não haveria
mercado de cocaína. Roberto Suárez foi o controlador de toda a cocaína neste
planeta quando eu o conheci. E ao mesmo tempo ele tinha seus soldados de
segurança sob controle de Klaus Barbie, o nazi fugitivo. E a maioria de seus
seguranças era de ex-oficiais SS do exército nazista. Ele tinha também um grupo que
se chamava então de “los fianzes de la muerte”. E esse grupo também incluía
agentes da França, mercenários de todos os países do mundo que vieram para a
Colômbia trabalhar como assassinos, não há outra maneira de descrevê-los. E gente
bem experiente em métodos de tortura; esse foi seu exército.
Gregorio Dionis: Para completar o tema: esse é o golpe famoso no qual participam
os argentinos diretamente junto com o que podemos chamar as tropas de Suárez?
http://www.umanovaera.com/conspiracoes/Entrevista_Michael_Levine.htm 15/01/2012
NOVA ERA :: Conspirações - DROGAS E GUERRA: O Narcotráfico como instrumen... Página 6 de 13
No final das contas essa reunião aconteceu 8 ou 10 dias antes do golpe e durante a
reunião o tipo me diz: “dentro de pouco tempo vai haver um golpe e os traficantes
Roberto Suárez e seu grupo vai se apoderar de todo o governo e vai ser como fazer
uma transação em sua própria casa; estamos seguros, não haverá nenhum
problema”. Bem, fizemos um acerto: o tipo me disse que me faria chegar, 100, 200
quilos de coca e depois ficamos no acordo de que eu iria à Bolívia depois do golpe e
imediatamente depois as pessoas que me davam cobertura; a pessoas encobertas
dos argentinos que me tinham sob vigilância; as pessoas que estavam escutando as
conversações em outros quartos queriam matar este senhor. E aí começamos uma
disputa entre a DEA e os oficiais secretos da Argentina. E em uma conversação
gravada na minha própria casa com estes tipos, me dizem: não percebes Levine o
que está acontecendo aqui: braço esquerdo não fala com o braço direito? Nós
estamos trabalhando para a CIA com essas pessoas. Se esse golpe vai acontecer os
argentinos estão trabalhando nisso para a CIA e não podemos deixar este tipo vivo.
Porque tua nação e nossa nação vão ficar desmoralizadas perante o povo. Não
podemos permitir que essa informação saia na imprensa e nunca saiu na imprensa.
Essa é uma das razões pelas quais escrevi o livro A Grande Mentira Branca. Essa é a
história, exatamente como aconteceu.
Gregorio Dionis: a outra questão: estava o grupo, agora não lembro o nome, o
grupo que tinha relação com os corsos; aqueles famosos da Frent Conexion do
Paraguai, que estavam envolvidos também com o tráfico de drogas com Suárez e
com os argentinos desde o começo da história. Bem, eu não sei exatamente quando
começou. Mas em fins dos anos 60 ou inícios.
Michael Levine: Sim, isto aconteceu muito antes. O caso famoso de Auguste Ricord.
Auguste Ricord foi um tipo francês que foi trabalhar para os nazistas. Foi condenado
à morte pelos franceses e fugiu para a América do Sul onde ele criou uma
organização que os promotores de Nova Iorque chamaram de “Triângulo da Morte”.
Triângulo porque o tráfico de drogas foi assim. A heroína veio da América do Sul pela
a Europa e na América do Sul empacotaram carregamentos de heroína e cocaína
para enviar aos Estados Unidos. E dinheiro foi dos Estados Unidos para a Europa até
a América do Sul. E as cidades principais de todo o tráfico foram Macés, no Paraguai,
Buenos Aires e Nova Iorque. A máfia de Nova Iorque trabalhando com o grupo de
Auguste Ricord e com a máfia da Córsega. O ópio vinha da Turquia até Macés onde
era transformado em heroína. Essa é a história. Eu estava trabalhando com o grupo
que estava investigando Auguste Ricord Naquela época eu era bastante jovem e caiu
preso um dos traficantes que se chama Claude Pasteaux. O chefe me colocou para
trabalhar e me encontrar com Claude Pasteaux durante dois ou três meses e me
inteirei de todo o operativo. O que então ninguém sabia; isso foi no ano 71, 72, foi
que Auguste Ricord também era agente da CIA, protegido pela CIA.
http://www.umanovaera.com/conspiracoes/Entrevista_Michael_Levine.htm 15/01/2012
NOVA ERA :: Conspirações - DROGAS E GUERRA: O Narcotráfico como instrumen... Página 7 de 13
Esse foi mais ou menos o processo de educação para nós, saber a verdade, Deixe-
me dizer: neste momento há muita gente lá dentro que sabe a verdade, mas tem
muito medo, estão na metade de sua carreira. É suicídio dizer a verdade aqui nos
Estados Unidos.
Gregorio Dionis: há uma questão que está clara: que há uma relação direta,
historicamente demonstrável, entre as operações encobertas (guerras sujas), para
chamá-las assim, como na América Central ou no Afeganistão e o financiamento com
a droga. Acho que poderias explicar um pouco o que foi a época da heroína
proveniente do Afeganistão e como isso tinha relação direta com a guerra naquele
momento contra os russos.
Michael Levine: Claro. O que acontece é que a CIA reconhecia muito cedo que a
guerra às drogas foi uma fraude. Evidentemente se tomou uma decisão de usá-la
como ferramenta, como maneira de financiar sem que o congresso norte-americano
tomasse conhecimento dos objetivos. O que faziam naquela época e continuam
fazendo hoje em dia é deixar que seus aliados, agentes que estão trabalhando ao
lado da CIA, fazendo o que queiram, possam se financiar eles mesmos com o tráfico
de drogas. Exatamente o que aconteceu na Tailândia, por exemplo. Estes foram
nossos aliados na guerra do Vietnã, vendendo heroína aos Estados Unidos. Bem, a
CIA não participou do tráfico, mas protegeu os aliados, enquanto os aliados usavam
parte dos fundos cumprindo as metas da CIA. Deixaram correr e a mesma coisa
aconteceu em 1985, 86. Eu estava trabalhando em um caso e - vocês têm os
recortes - com gente de John Garthen. Queriam me matar e tentaram me emboscar,
segundo este recorte; mas a história desse objetivo é muito interessante porque a
heroína veio do Paquistão e eu me fazia passar por traficante paquistanês com os
italianos, com Tonito Fingido e tudo isso. Eu o estava vigiando, mas a verdade foi
que empregamos um informante. O caso começou com um traficante paquistanês
que me vendeu um quilo de heroína; e ao mesmo tempo o que estava acontecendo
era a guerra contra os russos no Afeganistão e a CIA estava utilizando como
trampolim armas, dinheiro, qualquer coisa do Paquistão. E os traficantes
paquistaneses foram os mais importantes para a CIA como aliados ao movimentar
armas, dinheiro, qualquer coisa porque eram os mais experientes no movimento
através das fronteiras. É lógico, não? E os traficantes paquistaneses e afegãos foram
logicamente usados pela CIA contra os russos na guerra.
http://www.umanovaera.com/conspiracoes/Entrevista_Michael_Levine.htm 15/01/2012
NOVA ERA :: Conspirações - DROGAS E GUERRA: O Narcotráfico como instrumen... Página 8 de 13
Nada. O tipo vem, identificou determinado número dos líderes do tráfico e recolhe as
provas encontradas e não acontece nada porque a CIA entrou para protegê-los,
entende? E fez um tremendo truque, uma tremenda fraude para o povo norte-
americano, para os contribuintes durante as últimas três décadas porque a guerra às
drogas começou com o presidente Nixon, que declarou a “Guerra às Drogas” em
1971. São mais de três décadas e o povo norte-americano já pagou um US$ 1 trilhão
para ganhar uma guerra e a situação agora é pior do nunca. O que mais se necessita
provar de que isso é uma fraude? Paga muito dinheiro e não recebe nada!
Igualmente uma fraude! É ou não verdade?
Gregorio Dionis: a mesma situação aconteceu no ano 80- 83, no famoso caso da
guerra na América Central. E neste momento podemos dizer que este mesmo
cenário se está vendo na Colômbia no que foi o confronto entre os cartéis de Cali e o
de Medelim e a colaboração direta na guerra fictícia, a guerra como é denominada
nessa região
Michael Levine: sim, os contras. O que para mim é incrível é que Deus queria que
eu participasse de tudo. Aparentemente esse foi meu destino porque eu comecei a
trabalhar encoberto no caso que resultou no livro Deep Cover. O que aconteceu
durante esse operativo foi que eu conheci traficantes muito importantes da Bolívia e
também... (vocês têm um recorte das filmagens secretas de uma das reuniões
chave). Eu também fazia me passar por chefe da máfia dos Estados Unidos com o
mesmo truque: meio italiano, meio porto-riquenho, dois deles que eu conheci; gente
do exército mexicano. Eu conheci lavador de dinheiro no Panamá, conheci o grupo de
traficantes bolivianos que continua sendo um dos maiores grupos do planeta, que
agora se chama La Corporación. Fizemos muitas reuniões gravadas. Acontece que de
todas as reuniões no Panamá, Bolívia, Califórnia, México, houve uma transação que
se tratava de quinze toneladas de cocaína proveniente da Bolívia e os traficantes
tentavam fazer me chegar o carregamento através do México com o apoio do
exército mexicano. Daí iam nos ajudar a cruzar a fronteira até os Estados Unidos
com uma tonelada de cada vez. Assim chegamos ao contrato de quinze toneladas.
Vocês têm isso em filmagem, se vê o neto do ex-presidente do México através de
uma mesa dizendo-me: “sim, vamos ter o exército aí ajudando o avião,
descarregando com nafta, protegendo-lhes”. Preço: US$ 1 milhão cada tonelada de
cocaína. Fizemos todo o trato. Entra a CIA outra vez. Tudo isso filmado. Estamos
examinando um mapa do México: “quando exatamente ia acontecer isso ou outra
coisa”. O coronel Jaime Carranza, neto do ex-presidente diz: “ah, neste ponto aqui
estamos treinando os contras”. E daí caiu o caso. Estamos atuando com gente que
estavam ajudando os contras. E muitas outras complicações, por exemplo, naquela
época o governo norte-americano e o governo mexicano queriam que passasse no
congresso norte-americano a lei que se chama Nafta. Um dos tipos que estavam lá
na mesa foi um dos guarda-costas do presidente do México Carlos Salinas de Gortari.
Esse tipo me disse que... isso foi como seis meses antes da eleição do presidente. Da
famosa eleição. Esse tipo me disse diante de câmeras: “quando ele for Presidente
não vai haver nenhum problema, podemos trabalhar abertamente; a fronteira para
você, Miguel (meu encoberto) vai ser aberta”. Nosso governo não podia permitir que
saísse essa notícia e ponto final. Porque se os contribuintes norte-americanos
naquela época se dessem conta disso jamais seria aprovada a lei do Nafta.
http://www.umanovaera.com/conspiracoes/Entrevista_Michael_Levine.htm 15/01/2012
NOVA ERA :: Conspirações - DROGAS E GUERRA: O Narcotráfico como instrumen... Página 9 de 13
No final das contas, como eu descrevi no livro Deep Cover, tiveram que abafar o
caso. Exatamente o que fizeram. Abafar o caso para que não saísse a verdade. E
qual é a verdade? A guerra às drogas é uma fraude! É preciso levar em conta que o
povo nos Estados Unidos está pagando por essa guerra com a crença de que o
objetivo é derrotá-los nas cúpulas. O que o povo não percebe é que não se pode...
porque todas as pessoas no topo é gente protegida. Não se pode! Igualmente uma
fraude! É muito importante que me entendam. Deixe-me te dizer algo
particularmente para o teu grupo. Antes que acabemos eu tenho um tema bastante
importante para você pensar e considerar.
Michael Levine: exato. Essa é a história. Atualmente a máfia não tem muito a ver.
Eu diria que não representa mais do que 1% de todo o tráfico de drogas. Não conta
com muito... não tem muito a ver com o tráfico de drogas. Não representa nada na
verdade em comparação com os afegãos, os paquistaneses, a gente do “triângulo de
ouro”, as repúblicas que antes foram da União Soviética, a América do Sul. O México
conta com imensa quantidade de drogas. Agora observando todo o mundo, a
Colômbia continua no topo; a Bolívia, todos os países. O que acontece é que não
existe guerra às drogas. Deixe-me ver se eu posso explicar exatamente como
funciona a fraude: primeiramente, como é que o povo norte-americano, os
contribuintes, depois de três décadas, possam continuar pagando esse imenso... o
orçamento para este ano é de US$13 bilhões com a guerra às drogas; pagam a
conta aqui nos Estados Unidos. Como é que isto pode continuar apesar dessas cifras?
Bem, é fácil compreender aqui nos Estados Unidos porque os meios de comunicação
continuam vendendo ao povo a idéia de que é válida essa guerra, apesar das cifras.
Por exemplo, há uma associação aqui nos Estados Unidos que se chama Associação
para uma América Livre das Drogas. Essas são como uma máfia porque não há o
menor interesse realmente de tirar a droga dos Estados Unidos porque todos os
milhares e milhares de empregados dessa associação estão ganhando tremendos
salários e também têm benefícios médicos; têm também aposentadoria. Depois de
três décadas há milhares de pessoas já aposentadas. Você acredita que alguns
empregados dessa associação realmente querem que não haja problema de drogas
nos Estados Unidos? É ridículo! Além disso tinha um orçamento de US$ 2 bilhões
para pagar anúncios antidrogas. Bem, os especialistas aqui nos Estados Unidos
dizem que a maioria desses anúncios que digam: NÃO, etc, etc, fazem o contrário:
provocam um aumento do uso de droga, mas isso não faz parar essa associação. E
os meios de comunicação não querem dizer a verdade porque estão recebendo os
US$ 2 bilhões para divulgar esses anúncios falsos.
http://www.umanovaera.com/conspiracoes/Entrevista_Michael_Levine.htm 15/01/2012
NOVA ERA :: Conspirações - DROGAS E GUERRA: O Narcotráfico como instrum... Página 10 de 13
Há muitos interesses criados para manter essa guerra falsa para sempre. Não vai
parar. Mas o tema mais importante para vocês, tocando na questão dos direitos
humanos. Toda essa guerra funciona com base no uso de informantes. 99% dos
casos descobertos da guerra às drogas começam com o uso de informantes. Esse é
primeiro programa que vocês têm nessa fita. E no final da fita há todo o programa
que se chama Informants (Informantes), que é sumamente importante
mundialmente. O informante é um delinqüente, um mentiroso. E ele é responsável
por toda a informação sobre a qual emerge a guerra às drogas. E de minha
experiência 99% são mentiras. Mas a pior das mentiras, a mentira que provoca... eu
diria que aqui nos Estados Unidos provocou a prisão de mais de trezentos mil
pessoas injustamente por causa de fraudes. Eu diria que 80% dos casos que são
julgados e que resultam em prisões nos Estados Unidos vêm como resultado de
embustes. Isso é importante em todo o mundo porque se há essa porcentagem aqui
nos Estados Unidos imagine o que está acontecendo em todo o mundo. Por exemplo,
se um informante trabalha encoberto durante um ano e tem que testemunhar... bem
os verdadeiros traficantes imediatamente saberão a identidade desse informante e
ele não pode continuar trabalhando com traficantes reais. Deixe-me explicar um caso
verídico de Nova Iorque: eu estava trabalhando com um grupo a algumas quadras
aqui em Nova Iorque. Eu tinha sob meu comando uns 15 oficiais. Cada oficial tinha
uns 10 informantes. Eu tinha sob meu comando 150 informantes e um dos
informantes se chamava Papo, um porto-riquenho de Nova Iorque. E Papo conhecia
uma dezena de taxistas envolvidos com o tráfico de drogas. Eu não podia acreditar.
Como este tipo pode continuar se encontrando com taxistas que são traficantes?
Bem, eu percebi exatamente como foi truque: não há taxista aqui em Nova Iorque
que não tenha conexão com alguma pessoa, com uma fonte de droga. Se você
estivesse comigo aqui em Nova Iorque iríamos à rua, procurávamos um taxista e
perguntávamos: onde podemos comprar coca? Eu te dou US$ 20,00 para me dizer. E
90% vão nos levar a um ponto onde há um tipo que vende coca. É fácil. É como
biscoito aqui em Nova Iorque. Então Papo, o que ele fazia era ir à rua procurar
taxista, mas não que seja apenas taxista, mas taxista que é o dono do táxi. Por que?
Segundo a lei norte-americana pessoas que vendem drogas o governo pode tomar
todos seus bens, todo seu dinheiro. E o informante fica com uma porcentagem de
até 10%. E um táxi aqui em Nova Iorque vale US$ 300 mil. Se ele conseguia
convencer o taxista a se envolver com o tráfico e ficava com o mínimo de US$ 30
mil. Não deixa de ser muito para dois ou três dias de trabalho, verdade? Então Papo
vai à rua e procura o taxista e diz: olha rapaz eu preciso de cocaína, estamos
festejando; se você me traz uma coleção eu te dou US$ 100,00. E ao mesmo tempo
está prestando atenção em quem é o dono do táxi. E o taxista diz: não, eu não quero
me meter com isso. Finalmente ele consegue convencê-lo e chegam ao ponto. E
agora Papo lhe diz: olha, o tipo não me conhece e você tem que me apresentar. Eu
te dou US$100,00 extras. Finalmente o taxista o leva, apresenta-o com seu amigo e
o vendedor de coca vende a Papo uma onça, meia onça, o suficiente para ficar preso
para sempre por duas ou três vidas. Depois de telefonar para mim Papo telefona
novamente para o taxista, desta vez gravando a chamada e diz: olha, irmão,
podemos fazer a mesma coisa? Eu te dou US$500,00 desta vez porque a primeira
saiu perfeitamente bem. E o taxista no mínimo está se cagando de medo e não sabe
como responder e diz: Ok! Vamos nos encontrar naquela esquina. Papo traz a fita ao
meu escritório e diz: eu tenho um taxista que está formando um grupo de
vendedores de coca. No final das contas ele faz dois ou três casos e através do
taxista vem um oficial trabalhando encoberto e o taxista com os vendedores ficam
presos durante muitos anos e os vendedores jogam a culpa no taxista por ser
informante. Quem sabe vai acabar morto na prisão. Mas sob a lei... foi enganado. Eu
http://www.umanovaera.com/conspiracoes/Entrevista_Michael_Levine.htm 15/01/2012
NOVA ERA :: Conspirações - DROGAS E GUERRA: O Narcotráfico como instrum... Página 11 de 13
trabalhei por todo o mundo pela DEA. É pior em outros países porque é mais fácil
que os informantes tramem e isso provoca mortos em qualquer caso que você possa
imaginar. E os oficiais não querem se omitir porque se beneficiam dos casos. O que é
sumamente importante para os oficiais que estão comandando a DEA, qualquer
agência de polícia aqui ou mundialmente que está trabalhando para cumprir a lei
sobre o tráfico de drogas, são os resultados. Quantas pessoas foram presas, quantos
bens e propriedades confiscamos, etc, etc; porque isso é o único que interessa ao
congresso norte-americano. E a base de tudo é os informantes. Eu te juro meu
irmão, eu te digo que 80% até 90% dos casos são falsos, são sujos. Não podes
imaginar a quantidade de gente presa sob as leis sobre o tráfico de drogas. Para mim
é mundialmente inconcebível. Para vocês é algo a ser explorado.
http://www.umanovaera.com/conspiracoes/Entrevista_Michael_Levine.htm 15/01/2012
NOVA ERA :: Conspirações - DROGAS E GUERRA: O Narcotráfico como instrum... Página 12 de 13
Gregorio Dionis: Pareceu-me muito bom. Bom, lamento que termine, uma
saudação e espero que possamos continuar em contacto sobre estes temas com mais
tranqüilidade.
Página Principal
http://www.umanovaera.com/conspiracoes/Entrevista_Michael_Levine.htm 15/01/2012
NOVA ERA :: Conspirações - DROGAS E GUERRA: O Narcotráfico como instrum... Página 13 de 13
http://www.umanovaera.com/conspiracoes/Entrevista_Michael_Levine.htm 15/01/2012