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Esquema: Período Pombalino (1750-1777) e movimentos emancipacionistas

(Inconfidência Mineira – 1789 - e Inconfidência Baiana – 1798).


Prof. Tiago Ávila.
O Período Pombalino (1750-1777):
. O Marquês de Pombal (Sebastião José de Carvalho e Melo – 1699-1782) foi o principal ministro do Rei D. José I
que reinou de 1750 a 1777 (ocupando o cargo de secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra),
representou o despotismo esclarecido em
Portugal (também chamado de reformismo
ilustrado português).

. No início de sua carreira política teve cargos em


Londres e Viena, adquirindo grande consciência
da fragilidade de Portugal no cenário
geopolítico europeu e absorvendo os ideais do
despotismo esclarecido ao acompanhar as
reformas pelas quais passava o Império Austríaco
(contexto do Iluminismo).

. Pombal conduziu diversas reformas em


Portugal tendo três objetivos principais:
1. Ampliar a capacidade financeira da monarquia e
dinamizar a economia.
2. Centralizar e reforçar o poder do Rei (reduzindo
a força política da alta nobreza).
3. Reduzir a influência da Igreja, secularizando e Retrato do Marquês de Pombal, 1766. Louis-Michel Van Loo e Claude Joseph Vernet.
racionalizando a administração.

Principais medidas:
Source: [https://baroqueart.museumwnf.org/database_
. Favoreceu a elite comercial-mercantil ao constituir item.php?id=object;BAR;pt;Mus11_A;13;pt&cp]
contratos de monopólio comercial e criar companhias de
comércio privilegiadas (ou seja, reforçou o mercantilismo).
. Estimulou o desenvolvimento de manufaturas em Portugal (com resultados inconstantes).
. Conduziu a reconstrução da cidade de Lisboa após sua destruição no terremoto de 1755, a reconstrução buscou
racionalizar o espaço da cidade e as atividades comerciais.
. Promoveu uma repressão extremamente violenta contra importantes
Source: famílias nobres em Portugal após um
[https://baroqueart.museumwnf.org/database_
atentado frustrado contra D. José I em 1758 (episódioitem.php?id=object;BAR;pt;Mus11_A;13;pt&cp]
chamado de Execução dos Távoras). Ação que visou reduzir
a influência política da nobreza e voltar a fortalecer a centralidade do poder no rei.
. Expulsou os jesuítas do Império Português (afetando o território das colônias) em 1759, reforçando o regalismo.
A Companhia de Jesus tinha grande influência na educação e representava quase um “poder paralelo” em Portugal
por se reportar diretamente à Santa Sé. A expulsão foi seguida de medidas voltadas à laicização do ensino como a
reforma da Universidade de Coimbra (1772) e a criação das Aulas Régias (1759), que estabeleceu professores de
primeiras letras pagos pelo Estado (em 1772 foi criado um imposto para financiar as aulas régias e os salários dos
professores, chamado de subsídio literário). Estabeleceu a obrigatoriedade do ensino em língua portuguesa
(contribuindo para a redução do uso do tupi e da língua comum – mistura do tupi com o português – na colônia).
. Criou o Colégio dos Nobres (1760), instituição voltada ao preparo dos filhos das famílias da nobreza para prestarem
serviços ao Estado (visando aprimorar a racionalidade administrativa e a fidelidade ao Rei).
. Reformou o Tribunal da Inquisição em 1769, submetendo-o à autoridade do Estado português.
. Extinguiu a discriminação legal contra os cristãos novos (judeus convertidos ao cristianismo, geralmente famílias
ligadas ao comércio e às finanças).
. Instituiu a Real Mesa Censória (1768), órgão responsável pela secularização do controle da circulação de livros.
. Estabeleceu o Erário Régio em 1761 (para controle mais racional da arrecadação e gastos da Coroa, uma espécie
de tesouro nacional).
. Estimulou experimentos com diversos cultivos agrícolas, reformou as forças militares portuguesas, buscou
dinamizar a construção naval e incentivou as artes.

Medidas que afetaram diretamente os territórios da América Portuguesa:


. 1757: criou o Diretório dos Índios no Pará e Maranhão (posteriormente criado em outras capitanias), substituindo a
administração antes submetida às ordens religiosas. O Diretório dos Índios estabeleceu o cargo de Diretor, nomeado
pelo Governador Geral (de forma centralizada). Estabelecia o objetivo de “civilizar” os indígenas (anteriormente o
vocabulário utilizado pelas ordens religiosas falava em catequizar). Estimulava o casamento entre brancos e índias
e criou regras para a distribuição de terras das comunidades indígenas (o que abriu espaço para o aumento da
presença de brancos nesses territórios, já que a distribuição era conduzida pelo Diretor). O Diretório também definia a
divisão dos índios para trabalho nas vilas e propriedades rurais mediante pagamento de um salário. Desta maneira,
eram três os objetivos: fixar geograficamente as populações nativas utilizando essas povoações na defesa e
ocupação do território, “civilizar” os índios no modelo europeu de uso da terra e do trabalho – torná-los súditos
do Rei - e, por fim, reforçar a autoridade metropolitana (via funcionários indicados pela administração colonial).
. Extinção definitiva do sistema de Capitanias Hereditárias, que passam a Capitanias Reais. Unificou os estados
do Maranhão e do Brasil em 1774 (antes eram unidades administrativas separadas da Colônia).
. Estabeleceu o Tribunal da Relação no Rio (funcionava como segunda instância) e juntas de justiça nas demais
regiões da colônia.
. 1763: transferência da capital do Governo Geral da colônia de Salvador para o Rio de Janeiro (tal medida tinha
duplo objetivo, aproximar a capital da colônia da região aurífera e da região sul, onde estavam os territórios
coloniais espanhóis, com os quais Portugal constantemente tinha atritos sobre ocupação e demarcação de fronteiras).
. Criou as Companhias de Comércio do Grão-Pará e Maranhão e de Pernambuco e Paraíba.
. Reforçou a fiscalização sobre a região aurífera (já num contexto de redução da extração de ouro), tendo
implementado a cobrança das Derramas (1762-64, 1771-7777). Estabeleceu também órgãos chamados Juntas de
Fazenda para tornar a cobrança de tributos mais eficiente nas Minas.

. Estas medidas visavam o reforço do monopólio comercial entre Portugal e Brasil bem como aprofundar a
dominação metropolitana sobre a sociedade e a economia da colônia na perspectiva de utilizar as riquezas
extraídas e tributadas na América em benefício de Portugal.

Balanço histórico do Período Pombalino: resultados ambíguos.


. Apesar dos esforços de Pombal, Portugal não recupera a posição de poder no cenário europeu que teve no século
XVI, mantendo-se dependente da Inglaterra, sua aliada histórica. Na virada do século XVIII para o XIX a economia
da América Portuguesa (Brasil) já superava o tamanho a economia portuguesa.
. Na virada do XVIII para o XIX, Portugal, descontando o fluxo de metais preciosos, era superavitário na balança
comercial com o Brasil.
. 30% das manufaturas importadas pelo Brasil no final do século XVIII tinham origem portuguesa, mas 64% das
exportações portuguesas eram reexportações do Brasil.
. Parte das reformas de Pombal foram revertidas no reinado seguinte, de D. Maria I (1777 a 1815), filha de D.
José I. A mais famosa medida de D. Maria em relação ao Brasil foi o Alvará de 1785, que proibiu manufaturas têxteis
no Brasil, exceto de panos grosseiros de algodão (que serviam de vestimentas de escravos e para ensacar produtos
agrícolas para exportação). A medida usou o argumento de evitar a perda de mão de obra nas atividades agrícolas e
de mineração.

As Inconfidências: É comum considerar o final do século XVIII e o início do século XIX como um cenário
de crise do sistema colonial, que é associado ao processo geral de Crise do Antigo Regime. As inconfidências
em Minas e na Bahia situam-se neste contexto.

1789: Inconfidência Mineira.


. Contexto:
. Crise aurífera.
. Diversificação econômica da região.
. Atritos entre as elites locais e os governadores indicados pela metrópole:

. Luís da Cunha Menezes (governador entre 1783-1788).


. Criticado nas “Cartas Chilenas”, obra de Tomás Antônio Gonzaga, que foi um dos inconfidentes. Na obra o
governador é chamado de “fanfarrão minésio”. O texto é uma obra política na qual Gonzaga defende uma noção de
“bom governo”, que deveria não abusar do poder, respeitar e reconhecer as hierarquias de tratamento (tratar
bem as elites, no caso) e ter moderação nos tributos.
. Luís Antônio de Mendonça, Visconde de Barbacena (governador entre 1788-1797).
. Chegou com a tarefa de reordenar a administração das Minas nos moldes do Reformismo Ilustrado, sobretudo nas
questões fiscais (tributos).

. Inspirações ideológicas dos inconfidentes em Minas: ILUMINISMO.


. Restauração Portuguesa (1640). Quando Portugal rompeu com a dominação espanhola que ocorreu durante
a União Ibérica, foi utilizada como um exemplo legítimo de luta pela autonomia (anticolonialismo).
. Revolução Americana (1776). Exemplo de luta contra o tratamento vexatório dos súditos e de oposição à
cobrança de impostos vistos como abusivos.

. Princípios e objetivos defendidos pelos inconfidentes:


. Liberdade de comércio (crítica ao mercantilismo e ao exclusivismo metropolitano).
. Dízimos controlados pelos religiosos e destinados a funções sociais.
. Reestruturação da carreira militar privilegiando a ascensão por mérito.
. República (não unânime).
. Fundação de uma universidade em Vila Rica.
. Estímulo às “fazendas” locais, sobretudo produção têxtil.
. Independência regional (alguns inconfidentes incluíam a defesa da independência estendida ao RJ e SP).
. NÃO QUESTIONAVA A ESCRAVIDÃO (Alvarenga Peixoto e padre Correia de Toledo, proprietários de
escravos, eram favoráveis a alforriar os crioulos – escravos nascidos na América).
Estratégias e planos dos inconfidentes:
. Esperar a decretação da derrama objetivando conquistar apoio social ante a cobrança de um tributo impopular (ex.:
13 Colônias).
. Estimular focos de revolta no RJ e SP (Tiradentes ficou incumbido desta tarefa).
. Busca de apoio externo (na França, tentativa de contactar Thomas Jefferson, que era diplomata em Paris).
. A alforria dos escravos chegou a ser discutida como estratégia de aumentar as forças militares dos inconfidentes
quando eclodisse a revolta. Entretanto a proposta foi rechaçada pela maioria dos inconfidentes, que eram
proprietários de escravos em Vila Rica, região mais dependente do trabalho escravo em Minas.

. Delação: Joaquim Silvério dos Reis (11/04/1789), devedor do fisco que


esperava o perdão das dívidas. Após a delação, o governador das Minas,
Visconde de Barbacena, faz circular a notícia de que a derrama estava
suspensa.
. Devassa (investigação e julgamento dos implicados):
. 24 condenados: elite da capitania (militares, religiosos, formados
em Coimbra, contratadores de impostos, pecuaristas e lavradores), quase
todos envolvidos com contrabando e problemas no pagamento de
impostos. Alguns nomes: José Álvares Maciel, Inácio José de Alvarenga
Peixoto (Coronel), Tomás Antônio Gonzaga (escritor e desembargador),
Cláudio Manoel da Costa (advogado e poeta), Padre José da Silva e
Oliveira Rolim.
. Punição exemplar: Tiradentes (Joaquim José da Silva Xavier,
alferes – baixa patente militar – o menos abastado do grupo de
conspiradores). Enforcado, esquartejado e as partes do corpo expostas
no caminho até Minas, com a cabeça exibida em Vila Rica.
. A punição possui uma teatralidade típica do Antigo Regime, os
processados são condenados por crime de lesa-majestade, que implicaria
a pena de morte, mas nos momentos finais é anunciado o perdão régio e
a pena é comutada para degredo.
. Após a apuração da Inconfidência a Coroa elevou Barbacena e
Campanha à categoria de vila, o que assegurava a criação de Câmaras
Municipais nessas localidades, uma maneira de compensar elites locais
“Tiradentes esquartejado”, Pedro com postos de poder.
Américo,1893

1798 – Inconfidência Baiana.


Também chamada de Conjuração Baiana, Inconfidência dos Búzios ou
dos Alfaiates.
Contexto:
. Salvador, 60 mil habitantes (Lisboa, 180 mil hab.).
. Revolução Francesa (1789), ILUMINISMO. Naquele contexto também
estava ocorrendo a Revolução Haitiana (1791-1804).
“Liberdade, ainda que tardia.” (retirada de um . Momento de recuperação econômica da capitania.
verso do poema épico Eneida, de Virgílio). . Elevação dos preços dos gêneros de exportação.
. Aumento do custo de vida, afetando diretamente os “jornaleiros”
(aqueles que prestavam trabalhos por dia, ou por jornada).
. Forças militares: recrutamento entre camadas pobres, mas com promoções limitadas pelo status de nascimento e cor.
. Entre 1793 e 1797 existiu um clima de questionamento e insatisfação inclusive entre as elites. Em 1796, um francês,
Antoine René Larcher, chega à Bahia e contribui para disseminar notícias dos eventos na França.
1797: o Governador D. Fernando José de Portugal e Castro admoesta os membros da elite por suas “conversações
públicas”, afastando os setores da elite do movimento por receio da repressão. Neste momento já começava a
circular pela cidade, inclusive entre as camadas pobres (oralidade), as “francesias”, que eram as vestimentas, falas
e ideias inspiradas na Revolução Francesa.
Agosto de 1798 - fixação de cartazes anônimos das ruas de Salvador:
. Contra o absolutismo.
. Pelo livre comércio.
. Elevação de soldos (salários dos soldados).
. República (com defesa da independência regional).
. Fim das distinções de status (de cor e nascimento) entre os livres.
. Fim da escravidão (CUIDADO: vários participantes defendiam o fim das discriminações e impedimentos legais
contra pessoas de cor livres ou libertas, não o fim da escravidão em si).

12/08/1798: Início das apurações.


25/08/1798: Denúncia do planejamento da revolta.
26/08/1798: Formalização da Devassa.
A devassa foi claramente orientada para inocentar “pessoas de consideração” (membros da elite). O próprio
governador temia que sua conivência inicial com a divulgação das “francesias” acabasse implicando-o em alguma
medida.
. 36 réus (22 pardos, 2 negros, 9 escravos, 10 artesãos). Ou
seja, camadas socialmente desfavorecidas.
. 4 executados (Lucas Dantas e Luiz Gonzaga das Virgens,
soldados; Manuel Faustino dos Santos e João de Deus
Nascimento, alfaiates). Outros foram condenados a degredo para
a África fora dos domínios portugueses.

Comentários finais: tanto a Inconfidência Mineira quanto a


Baiana são conspirações que foram delatadas antes de
efetivamente ocorrerem, portanto, é impossível especular qual
seria o resultado destes movimentos. Entretanto, são
historicamente muito importantes por representarem uma
mudança clara em relação a revoltas anteriores na colônia. A
questão da independência surge (regional, não se fala em
separar todo o território do Brasil do Império Português) e se
verifica a influência de ideais externos e de eventos históricos
de outros locais (ideais do Iluminismo e a influência da
Revolução Americana e Francesa). Mas ainda não é correto
afirmar que existe um sentimento de nacionalidade brasileira
nem que se gestava um projeto de independência de todo o
território no longo prazo.

Dica de interpretação: As inconfidências, sobretudo a Mineira, Ilustração feita pelo cartunista João Teófilo (2015). A
serão amplamente valorizadas pela historiografia brasileira imagem apareceu na capa da RHBN de julho/2015.
após a Proclamação da República (1889), para reforçar a
oposição histórica à Monarquia, enfatizando os ideais
republicanos que estavam presentes nas duas inconfidências, ainda que não fossem unânimes (no caso da
Inconfidência Mineira). Outro aspecto importante é o fato de a Inconfidência Mineira ter recebido mais destaque.
Movimento da elite branca, não representava uma proposta de ruptura social, o que permitiu sua apropriação como
“movimento exemplar” por parte das elites brasileiras no final do século XIX e início do século XX. Tiradentes passa
a ser considerado um “herói nacional” neste contexto. Não existem fontes primárias sobre sua imagem pessoal,
portanto, ela é uma construção simbólica política, aproximando-a da imagem de Jesus para dar apelo popular ao
movimento e associar sua imagem à República que havia sido implementada no Brasil.

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