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I •I s s
Mecânica da locomoção de
veículos ferroviários
sistemas que não utilizam locomotivas, cada vagão é equipado com um ou mais
motores que produzem a força usada para locomover a composição.
As forças que atuam sobre uma locomotiva que está num trecho
plano estão representadas esquematicamente na Figura 1.1. No eixo
x, existe uma força F1 , que é usada para locomover o trem, e uma
força R, a resultante das forças que resistem ao movimento. No
eixo y, há uma força peso G e as forças normais N f e Nr. Como a
locomotiva está num trecho plano, se F1 - R > O, ela está acelerando;
Fig. 1.1: Forças que atuam sobre uma loco- se F1 -R < O, ela está desacelerando; e se F1 = R, ela está viajando
motiva em movimento a uma velocidade constante, chamada de velocidade de equilíbrio.
A força F1 chama-se força motriz ou força de propulsão, enquanto que R,
a resultante das forças contrárias ao movimento, é denominada resistência total.
As próximas seções deste capítulo discutem como determinar a força motriz, a
resistência total e a velocidade de equilíbrio.
1. 1 Força de propulsão
W = F1 S, (1.1)
O leitor pode notar que 3.600 é a constante usada para a conversão de unidades, já
que a Equação 1.2 fornece a potência em watts [W], a partir da força em newtons [N]
e da velocidade em metros por segundo [rn/s].
Corno a potência de motores costuma também ser dada em horse-power [hp],
e visto que 1 hp = 745,7 W e 1 rn/s = 3, 6 krnlh, pode-se determinar urna nova
constante para calcular a força de propulsão de urna locomotiva:
p
F1 = 2685- (1.4)
v
em que F1 é a força de propulsão em newtons [N]; P é potência em horse-power[hp];
e V é a velocidade em quilômetros/hora [krnlh]. No Brasil, também é comum se
usar o cavalo-vapor [cv] como unidade de potência. Corno 1 cv = 735,5 W, a
Equação 1.3 toma-se então:
p
F1 = 2649- (1.5)
V
se a potência for expressa em cavalos-vapor [cv], ao invés de horse-power [hp].
Nem toda a potência do motor da locomotiva é usada para a locomoção do
trem. Uma parte da potência é usada para acionar os sistemas auxiliares (ilumi-
nação, compressores etc.) e uma outra parte é perdida por ineficiências inerentes
aos sistemas mecânicos e elétricos. A eficiência da transmissão indica a porção
da potência bruta do motor que é efetivamente transformada em força motriz.
Portanto, a Equação 1.3 deve ser escrita corno:
p
FI = T) 3600 v, (1.6)
4 Capítulo 1. Mecânica da locomoção de veículos ferroviários
p
Fr = 2916-. (1.7)
v
Neste caso, Fr representa a força de propulsão desenvolvida por uma locomotiva
(ou conjunto de locomotivas) de potência P [kW], operando com força total, numa
velocidade V [km/h]. Esta força é chamada de esforço trator e é transmitida ao
resto do trem através do engate que liga a locomotiva aos vagões.
Para potência expressa em unidades tradicionais que não fazem parte do SI, a
Equação 1. 7 se transforma em
p
Fr = 2175-, (1.8)
v
com P em horse-power [hp] e V em quilômetros/hora [km/h], ou ainda
p
Fr = 2146-, (1.9)
v
na qual Pé dado em cavalo-vapor [cv] e V em quilômetros/hora [kmlh].
As Equações 1.7, 1.8 e 1.9 servem para ilustrar uma peculiaridade da En-
genharia de Transportes: a maioria das fórmulas tem coeficientes que já trazem
embutidos os fatores de conversão de unidades. Desta maneira, é necessário to-
mar o cuidado de verificar as unidades de cada parâmetro da fórmula antes de
utilizá-la. Além disso, em certas áreas da Engenharia de Transportes, as unidades
mais utilizadas não fazem parte do sistema métrico internacional (SI) sendo mais
comum falar em potência em horse-power ou cavalos-vapor (ao invés de watts) e
velocidade em quilômetros por hora, no lugar de metros por segundo.
Grelhas do
freio dinâmico
Fig. 1.2: Locomotiva diesel-elétrica Fig. 1.3: Compçmentes do sistema de tração das locomotivas diesel-
elétricas
Nos veículos terrestres que usam rodas, a tração dá-se em função do atrito entre
as rodas e a via Sem esse atrito, o movimento não é ~ossível.
Seja uma roda de locomotiva como a mostrada na Figura 1.6, com raio r e que
suporta um peso P. O torque T, aplicado ao eixo conectado à roda corresponde a
8 Capítulo 1. Mecânica da locomoção de veículos ferroviários
um conjugado T =
F1 .r. Na zona de contato da roda com o trilho, surge uma força
Fa = N.f, que se opõe ao deslizamento da roda e é chamada de aderência. Esta
força é dada pelo produto da normal ao peso N e o coeficiente de atrito estático f,
chamado de coeficiente de aderência. O peso Pé denominado de peso aderente.
Quando uma roda motriz é submetida a um torque T é aplicado na roda motriz,
existem duas possibilidades: F 1 > Fa ou F 1 .:S Fa· Se Pr > Fa, o torque é tal a
força de atrito é insuficiente e a roda fica patinando, sem que a locomotiva saia do
lugar. Nesse caso, e o atrito passará a ser um atrito de deslizamento, menor que o
atrito estático. Se Fr .:s Fa, a força de atrito é suficiente para impedir que a roda
patine e então a locomotiva é capaz de se movimentar, sendo propelida por uma
força F1 •
A aderência, portanto, determina qual a maior força motriz que po-
de ser utilizada ·para movimentar o veículo. A limitação pela aderência
Tab. 1.1: Valores típicos do coeficiente de
é mais notada nas velocidades baixas, quando a locomotiva está ini-
aderência f
ciando o movimento. Em locomotivas modernas, existem sensores que
Estado do trilho Aderência monitoram as rodas motrizes e, se alguma delas começa a patinar, um
totalmente seco e limpo 0,33 dispositivo despeja-se automaticamente areia na interface de contato
lavado pela chuva 0,33 para, aumentando o coeficiente de aderência, impedir a patinagem.
seco e limpo 0,22
seco 0,20 O coeficiente de aderência f não é um valor constante, mas varia
molhado pela chuva 0,14 com as condições da superfície do trilho: seca, molhada, limpa, suja
úmido de orvalho 0,125 ~ de óleo ou com gelo (geada) como mostra a Tabela 1.1. No Brasil,
úmido e sujo 0,11 um valor médio comumente usado nos cálculos de tração 1 é 0,22. Um
sujo com óleo 0,10 trilho úmido de orvalho tem fator de aderência menor que um trilho
Fonte: Hay, W. (1982) Railroad Engineering. lavado pela chuva, pois a umidade espalha o filme de óleo normalmente
Wiley & Sons, New York, 2a edição. encontrado na superfície do trilho, aumentando seu efeito. No trilho .
lavado pela chuva, o óleo é totalmente carregado pela água da chuva, o que melhora
as condições de aderência.
A Figura 1. 7 mostra o efeito da limitação pela aderência. Sendo Td o peso
aderente total da locomotiva e f o coeficiente de aderência entre as rodas motrizes
e os trilhos, a maior força motriz Frma:x que pode ser exercida sem que as rodas
motrizes patinem pode ser ?eterminado pela expressão:
(1.1 O)
f: coeficiente de aderência; e
Td: peso aderente da locomotiva [N].
roda e do trilho no seu ponto de contato; pelo atrito interno do motor; pelo atrito
entre eixos e mancais, rodas e trilhos; pelo balanço das rodas; pelos choques entre
as flanges das rodas e os trÍlhos etc.
A resistência do ar, também chamada resistência aerodinâmica ou
arrasto, surge em função do deslocamento da composição na atmosfera
terrestre, e depende de fatores tais como a a secção transversal frontal,
o comprimento, a forma e rugosidade da superfície externa das loco-
motivas e vagões, a velocidade com que a composição se desloca, a
velocidade e direção do vento etc.
A resistência de rampa é causada pela ação da gravidade terrestre
Fig. 1.8: Forças atuando sobre um trem sobre o trem, e é positiva (isto é, atua no sentido contrário ao do movi~
numa rampa mento) numa subida, ou negativa (isto é, atua no sentido do movimento)
numa descida. O leitor que já andou de bicicleta conhece intuitivamente
o efeito da resistência de rampa nas duas situações.
Além destes três componentes da resistência, existe um outro, a resistência de
curva, que é causada tanto pela força centrífuga que aumenta o atrito entre a roda
do trem e o trilho, como pelo fato de que as rodas externas do truque são arrastadas
numa curva, já que o conjunto formado pelo eixo e as rodas tem a geometria de
um cilindro.
Assim sendo, a resistência total ao movimento, R, de uma composição ferro-
viária é dada pela soma
R= Rr + Ra +Rg + Rc (l.ll)
"-...-'
Rr
básica ou de resistência inerente ao movimento porque ela está presente toda vez
que um trem está em movimento, ao passo que as outras duas parcelas da resistência
só surgem quando o trem passa por uma rampa ou curva.
Rr = Rr+Ra = 125.4 J
[ 0,65 + 980 ,_6 + 0,013. 60 980,6+0,009. 8. 60
2
= 2161 N.
~
.Q
1,50 para 100 kmlh, a resistência aerodinâmica passa a ser responsável
"'
·c:;
c: -120t por 23% da resistência básica e cerca de 33% da resistência básica
<Q) 1,25 -100t
c;; se a velocidade for 140 km/h.
·;n 1,00
-80t
Q)
-60t
~
0,75 O gráfico da parte superior da Figura 1.11 exibe a variação da
o 20 40 60 80 100 resistência total de um vagão de carga em função da velocidade e da
Velocidade (kmlh)
3,00.,--------------, sua massa bruta. Pode-se notar que a inclinação das curvas aumenta
com a velocidade, refletindo o aumento não linear da resistência
-~"' ~ 2,50 do ar, que é função do quadrado da velocidade. Pode-se notar que
~~ a resistência também cresce se o peso bruto total do vagão crescer.
"'"'
o~ 2,00
=-
<Qlt.l
:!~
O gráfico da parte inferior da Figura 1.11 mostra como a uti-
~ ~ 1,50 lização de vagões de peso bruto total maior é vantajosa, do ponto
~
de vista da resistência básica. No gráfico, mostra-se a variação
1,00 +----+---+---+--+---t--~-1
o 20 40 60 80 100
da resistência básica específica (a razão Rr j G) com a velocidade.
Velocidade (km!h) Pode-se notar que o aumento da velocidade faz com que a resistên-
Fig. 1.11: Efeito do peso e da velocidade so- cia básica específica aumente de forma não linear, em função da
bre a resistência de um vagão resistência do ar.
Entretanto, observando-se as curvas daquele gráfico, pode-se
também perceber que um aumento no peso bruto total do vagão implica numa
redução da resistência básica específica, o que demonstra a existência de uma
economia de escala. Os operadores, percebendo esta característica da resistên-
cia específica, têm procurado utilizar vagões de maior peso bruto total visando a
obtenção de ganhos de produtividade.
1.3 Resistência ao movimento 15
Além das Equações 1.12 e 1.13, existem outras fórmulas para estimar a resistên-
cia básica. Essas fórmulas são usualmente estabelecidas com base em medições
experimentais, visando captar melhor as particularidades dos vagões e locomo-
tivas da frota de cada empresa. Um exemplo dessas outras fórmulas é a usada
pelo Metrô de Londres: R 1 = 2,7G + 0,88V 2 [N], em que G é o peso em qui-
lonewtons [kN]; V, a velocidade em quilômetros/hora [kmlh]; e R 1 , a resistência
básica em newtons [N].
i
Rg = Ptana = P100
- [N], (1.14)
em que i é a declividade da rampa em porcentagem [o/6) ou em metros Fig. 1.12: A resistência de rampa
por 100 metros [m/1 00 m] e tanto o peso como a resistência de rampa
são dados em newtons [N1.
A Equação 1.14 serve para estimar a resistência de rampa Rg em newtons [N],
a partir do peso P também em newtons [N1. No entanto, é mais usual que o peso
16 Capítulo 1. Mecânica da locomoção de veículos ferroviários
dos trens seja dado em quilonewtons [kN], em virtude da magnitude da força peso.
Se G for o peso em quilonéwtons [kN], vale a relação P = 1000 G, que pode ser
usada na Equação 1.14:
i i
R = P- = 1000 G - = 10 G i (1.15)
g 100 100
A Figura 1.13 mostra as forças que atuam num veículo que faz uma curva com
superelevação e. A resultante U da força centrífuga Fc e do peso G pode ser
decomposta em duas forças: a força T, que atua na direção perpendicular à via, e
a força Frc• que atua na direção do eixo. Idealmente, a superelevação e é tal que a
componente Frc é nula, mas nas curvas nas quais a superelevação não é a ideal, o
efeito da ação da força centrífuga serve para aumentar a resistência ao movimento.
Nas ferrovias, a força Frc comprime o friso das rodas contra a lateral do trilho,
causando uma componente de atrito adicional. Além disso, como os eixos aos quais
as rodas de um truque ferroviário conectam-se são fixos (isto é, não se movem em
curvas), existe uma tendência para as rodas externas serem arrastadas quando o
trem se move numa curva, já que o conjunto tem a geometria de um cilindro.
Fig. 1.13: Forças que atuam
num vagão em uma curva Nas ferrovias, a estimativa da resistência de curva é normalmente feita através
de fórmulas empíricas, já que sua determinação teórica depende de diversos parâ-
metros cuja influência ainda não é muito bem compreendida. AAREA2 recomenda
2American Railway Engineering Association
1.3 Resistência ao movimento 17
Como para a resistência básica, existem outras fórmulas para estimar a resistência
de curva e em todas elas a resistência de curva é inversamente proporcional ao
raio da curva. O leitor interessado deve consultar outras fontes 3 para obter essas
fórmulas.
Exemplo 1.1 Determinar a resistência adicional que atua sobre um vagão de carga de
peso bruto total de 100 t, ao entrar numa curva cujo raio é 500 m.
Solução: Usando-se a expressão 1.16, obtém-se que um vagão de carga de 100 ton,
passa a encontrar a seguinte resistência adicional ao entrar numa curva de 250 m
de raio:
980,6
Rc = 698. = 2378 N.
500
Ainda que a resistência específica de curva não seja muito grande (no Exemplo 1.1
é 24 N/t), a resistência de curva pode prejudicar a operação de composições em
rampas íngremes, já que normalmente as composições são dimensionadas para
explorar ao máximo a potência das locomotivas. Por isso, costuma-se projetar a
ferrovia de tal forma que a inclinação da rampa é reduzida nas curvas, de forma
a compensar a resistência adicional causada pela curva. Assim, pode-se garantir
que a soma da resistência de curva e da resistência de rampa é menor ou igual à
resi"stência de rampa encontrada na rampa máxima do trecho:
(1.17)
Exemplo 1.2 Determinar qual a redução na rampa necessária para compensar o efeito
da curva de 250m de raio, do Exemplo 1.1.
Exemplo 1.3 Supondo-se que a rampa máxima num trecho seja 1,2%, determinar qual a
rampa limite para curvas de 250m de raio.
Solução: Para uma curva de 250m de raio e rampa máxima de 1,2%, a rampa
limite, acima da qual deve-se reduzir a inclinação para evitar os efeitos deletérios
da resistência de curva,. pode ser calculada pela Equação 1.18:
. . 69,8 69,8
Zlim = lmax- - r - = 1,2- 250
= 0,92%
Ou seja, para não ser necessário aumentar a capacidade de tração da composição,
todas as curvas de 250 m de raio devem ter compensação de rampa se estiverem em
trechos onde a inclinação for maior que 0,92%.
Considere um trem que viaja ao longo de um trecho reto e plano. Esse trem
locomove-se sob a ação de uma força motriz Fr e de uma força R1 que é a resultante
das forças que resistem ao movimento.
1.4 Determinação da velocidade de equilíbrio 19
St·~
Se o trecho é reto e plano, a resultante R 1 é a soma da re-
sistência ao rolamento Rr e da resistência do ar Ra e é chamada
de resistência básica. Tanto a força motriz como a resistência bá-
sica atuam na mesma direção, a direção do movimento, porém em o"" o _o.,.u_o c. o. o :o
u.~.u a c c o o. o o c: o o o
~C·
sentidos contrários. O movimento do trem depende da resultante Fig. 1.14: Forças atuando na direção do movi-
dessas duas forças: se F 1 - R 1 f; O, a composição .está acele- mento
rando ou desacelerando; se F1 - R 1 = O, a velocidade do trem
mantém-se constante.
Quando F1 = R 1 , a velocidade à qual o trem viaja é chamada de velocidade
de equilíbrio. Uma vez alcançada a velocidade de equilíbrio, a velocidade em que
o trem movimenta-se mantém-se constante se a potência do motor for mantida
constante e se não surgirem outras componentes da resistência - que podem ser
geradas por uma cmva ou uma rampa.
A resistência inerente ao movimento varia com a velocidade e deve ser calcu-
lada em função do número de locomotivas e de vagões que formam o trem:
Rr - Rr + Ra
Rr nL RrL + nv Rrv + nL RaL + nv Rav (1.19)
(1.20)
A Equação 1.20 é um polinômio do terceiro grau que pode ser resolvido com
uma certa facilidade. No entanto, a solução gráfica para determinação da veloci-
dade de equilíbrio é mais interessante, pois permite observar o comportamento do
trem sob diversas situações. Além disso, a solução gráfica facilita a determinação
de novas velocidades de equilíbrio em rampas ou curvas.
20 Capítulo 1. Mecânica da locomoção de veículos ferroviários
Exemplo 1.4 Seja um trem que viaja num trecho reto e plano e é composto por 3 loco-
motivas de 3000 hp, com peso de 1300 kN cada, e 80 vagões de minério, com peso de
1100 kN cada. Sabe-se que a área frontal das locomotivas é de 10m2 , e a dos vagões,
8,5 m 2 ; tanto os vagões como as locomotivas têm quatro eixos, sendo que nas locomotivas
todos os eixos são eixos motrizes. A velocidade máxima das locomotivas é 105 km/h; a
mínima, 15 km/h; e a aderência, 0,2. Determinar a velocidade de equilíbrio desse trem.
Solução: Uma vez determinadas as curvas que mostram a variação da força m()triz e
da resistência básica em função da velocidade do trem, a solução é obtida plotando-
se as duas funções num gráfico força vs. velocidade, sendo que a velocidade de
equilíbrio é determinada em função do ponto onde as duas curvas interceptam-se.
Cálculo da força motriz: A função que mostra a variação do esforço trator com a
velocidade é dada pela Equação 1.8:
nL P 3. 3000 19575 kN]
F 1 = 2175 ---y- = 2175 V =-V- [ (1.21)
No entanto, a força motriz não pode ser maior que o limite da aderência. No caso,
f = 0,2, o que faz com que Frmax = f Td = 3(0,2. 1.300) = 780 kN- ou seja, se
a força motriz for maior que 780 kN, as rodas derrapam e o trem não se move.
Como a velocidade máxima do trem é 105 k:m/h, a força motriz é nula para velo-
cidades acima da máxima. O gráfico da Figura 1.15 mostra a função força motriz
para esta composição.
Cálculo da resistência inerente: O cálculo da resistência inerente requer a determi-
nação das várias parcelas da resistência para as locomotivas (RrL) e para os vagões
(Rrv)·
A resistência total de rolamento é calculada a partir da soma das resistências de
rolamento das locomotivas e dos vagões:
e Locomotivas:
80Ó ~-------.
600
z
6
=
~ 400
o
u..
Resistência básica
200
~
Vequilfbrio
0~-+--+-~--~--~-+--~+-~----~-L~
O W ~ M ~ 100
Velocidade (km/h)
Exemplo 1.5 Suponha que o trem do Exemplo 1.4 passe a viajar num aclive de 0,65%. A
determinação da nova velocidade de equilíbrio do trem pode ser feita graficamente, como
mostrado a seguir. ·
Com isto, a resistência total do trem pode ser determinada a partir das Equações 1.24
e 1.25:
R= Rr + Rg = 698.585 + 1.179,1 V+ 7,5V 2 N. (1.26)
O gráfico da Figura 1.16 mostra a determinação gráfica da velocidade de equilíbrio
numa rampa de 0,65% que, como pode ser visto, é ligeiramente superior a 25 km/h
(a solução exata é 26,6 kmlh).
Numa descida, o trem não precisa utilizar a força motriz máxima. De fato,
pode-se supor que a potência utilizada numa descida é zero - isto é, os motores de
tração não são acionados para mover o trem 5.
5Na verdade, numa descida, os motores de tração são usados para frear dinamicamente o trem,
conforme discutido no item 1.5.
1.4 Determinação da velocidade de equilíbrio 23
600 de rampa
Rg(i =0,65%)
z-=.. 400
ai
~
o
1.1.. 200
o
-200
Exemplo 1.6 Suponha que o trem do Exemplo 1.4 passe a trafegar num declive de 0,25% e
os motores de tração não estão sendo usados para mover o trem. Determinar graficamente
a nova velocidade de equilíbrio.
Solução: Numa descida na qual a força motriz Ft = O, a única força que atua sobre
o trem é a resistência total
R= Rt + Rg = Rt + 10 G m.
Como a declividade m é negativa- isto é, o trem viaja num declive-, então Rg < O.
Isso faz com que a velocidade do trem atinja o equilíbrio quando Rt = Rg·
No caso deste exemplo, como a rampa m = -0,25%, então
Os gráfico das Figuras 1.15 e 1.16 podem ser elaborados com o auxilio de uma
planilha eletrônica. De fato, o leitor é encorajado a usar uma planilha para analisar
o movimento do trem, já que é grande a facilidade de elaboração de gráficos de
funções nas planilhas eletrônicas. Além disso, a precisão obtida na solução gráfica
é mais que suficiente para as necessidades de planejamento e análise do movimento
de trens.
Quando um trem está sendo freado, é importante que a força Q aplicada nas
sapatas de freio seja tal que a roda nunca pare de rodar durante o processo p
de frenagem. Se a roda travar (a chamada "calagem" da roda, no jargão fer-
roviário), haverá apenas um atrito de deslizamento da roda sobre o trilho,
Q
que é menor que o atrito da sapata sobre a roda. Com a roda em movimen-
to, haverá ainda a ação retardadora do atrito de rolamento, que favorece a
frenagem. Além disso, quando as rodas travam ocorre a formação de de-
formações - "calos" - no aro das rodas que causam trepidações e ruídos
incomôdos.
A Figura 1.17 mostra as forças que atuam numa roda de um trem que
está sendo freado num trecho plano. Chamando-se fs o coeficiente de atrito
entre a sapata do freio e a roda e Q a força que coinprimea· sapataçoi}tra Fig.l.l7: Frenagemdeumarodade
a roda, o conjugado retardador que atua sobre a roda é Q.fs.r. 'Apesar de trem
suprimido o esforço trator na roda, ela continua girando, pois está sendo
submetida a um conjugado P.j1 .r, sendo P o peso descarregado pela roda e fr
o atrito existente entre a roda e o trilho. Para que não ocorra a calagem e a roda
continue girando, o conjugado retar:~ador não pode ser maior que o conjugado
aplicado sobre a roda: Q.f~.r < P.fr.r ou seja, Q.fs < P.fs·
26 Capítulo 1. Mecânica da locomoção de veículos ferroviários
---~
A força de frenagem limite, que é a maior força que pode ser usada para frear o
trem, depende do coeficiente de atrito entre as rodas e os trilhos e da força normal
nas rodas que são freadas. O coeficiente de atrito normalmente varia entre 0,2 para
velocidades baixas e O, 1 para velocidades altas, dependendo do estado do trilho
(úmido, seco, ou sujo). A força de frenagem limite que pode ser desenvolvida por
um trem num trecho plano·é a soma da força máxima de frenagem que pode ser
aplicada em cada roda do trem sem que haja calagem. Como existem sapatas de
freio em todas as rodas do trem, a força de frenagem limite é:
(1.27)
Como os sistemas de frenagem não são perfeitos, a força de frenagem que efetiva-
mente pode ser usada é inferior à força limite de frenagem. A força de frenagem
que efetivamente pode ser obtida num trem qualquer é:
(1.28)
Exemplo 1.7 Seja o trem do Exemplo 1.4, composto por 3 locomotivas (G L = 1300 kN)
e 80 vagões (Gv = 1100 kN). A força limite de frenagem e a força máxima de frenagem
que podem ser desenvolvidas por este trem num trecho plano podem ser calculadas como
se mostra a seguir.
Exemplo 1.8 Suponha que o trem do Exemplo 1.4 esteja viajando num declive de 2%, no
qual a velocidade máxima permitida seja 70 km/h. A força de frenagem necessária para
manter o trem operando a 70 km/h pode ser determinada como mostra-se a seguir.
Solução: Se este trem estiver operando num declive de 2%, a força de frenagem
necessária para manter o trem operando à velocidade máxima permitida é a diferença
entre a força de propulsão que atua sobre o trem (que no caso é apenas a componente
da força da gravidade que atua na direção do movimento, já que num declive de tal
magnitude não se usa a força de propulsão dos motores de tração) e a resistência
básica do trem:
Ff = 10 G m- [Rr(V) + Ra(V)] =?
(80.1.100+3.1.300).10.2 [(V) ]
FJ = l.OOO - Rr + Ra(V) =?
Ff 1.838- [Rr(V) + Ra(V)] kN.
A distância total para frenagem do trem, d pode ser calculada a partir da desa-
celeração aplicada pelos freios, a, e das velocidades inicial ( v0 ) e final (v) do
trem:
1 ') ')
d = - ( v - - v-).
0
-2a
28 Capítulo 1. Mecânica da locomoção de veículos ferroviários
v2 - vo2 v2 - v2
d = - o (1.29)
-2a -5,886.ft'
sendo que as velocidades v e vo são dadas em metros por segunqo. Se as velocidades
forem expressas em quilômetros por hora, a Equação 1.29 pode ser reescrita como:
Exemplo 1.9 Qual a distância necessária para o trem do Exemplo 1.4 parar completa-
mente quando estiver trafegando na velocidade de equilíbrio, num trecho reto e plano?
d =
o- 802 = 559m.
-76,28. O, 15
Desengatado Engatado
Fig. 1.18: Engate automático Fig. 1.19: Esquema de funcionamento do engate automático
30 Capítulo 1. Mecânica da locomoção de veículos ferroviários
(1.31)
Isto é, a capacidade do engate deve ser maior ou igual à força motriz líquida
usada para movimentar os vagões. Por outro lado, como a resistência total das
locomotivas é pequena se comparada à força motriz máxima, basta verificar se a
capacidade do engate é maior que a força motriz máxima.
Quando forças motrizes maiores que a capacidade do engate são requeridas em
baixa velocidade, pode-se posicionar locomotivas operadas por controle remoto
na metade ou no último terço da composição, para reduzir as forças nos engates e
melhorar a eficiência dos freios do trem.
6Apesar disso, os engates automáticos não são usados na Europa até hoje por falta de concordância
a respeito do tipo de engate a ser usado.
1.6 Comprimento máximo do trem 31
Essa força motriz efetiva máxima deve ser mai<Jr que a resistência total ao
movimento, para que o trem possa retomar o movimento. A resistência total,
quando o trem volta a se mover, é a soma da resistência inerente ao movimento e
da resistência de rampa. A resistência inerente ao movimento, para um trem que
reinicia o movimento, é pequena pois a velocidade do trem é baixa. A parcela mais
significativa da resistência total é a resistência de rampa. Portanto, a força motriz
efetiva máxima deve ser maior que a resistência de rampa para que o trem consiga
reiniciar o movimento.
Exemplo 1.10 Deseja-se determinar o mais longo trem que possa viajar num aclive de
1%. As locomotivas disponíveis são as do Exemplo 1.4 e sua velocidade mínima é 20 kmlh.
Os vagões são os do mesmo exemplo.
p 3000
Fr = 2175-
v = 2175--
20
= 326,25 kN.
Supondo-se que a aderência f = 0,22, a força motriz efetiva máxima que pode ser
usada é Frmax = f Td = 0,22. 1.300 = 286 kN, sem que as rodas da locomotiva
patinem.
Conhecida a força motriz na rampa de 1%, pode-se determinar o número de vagões
que a locomotiva consegue rebocar a partir da resistência total da locomotiva e de
um único vagão pois, na velocidade de equilíbrio, a resistência total é igual à força
motriz:
A resistência total de uma locomotiva que viaja a 20 km!h pode ser calculada por
(confira o Exemplo 1.4):
O número máximo de vagões n v que podem ser rebocados por uma locomotiva
num aclive de I% pode ser então calculado:
286- 14,763
nv = ,
12 531
= 21,6 ~ nv = 21 vagões
sem que o limite da aderência seja violado.
Supondo-se que a força máxima admissível no engate seja 1.200 kN, o compri-
mento máximo do trem pode ser calculado a partir da força máxima no engate e da
resistência total dos vagões:
Femax 1.200
Femax 2: nv Rv ~ n = - -
Rv
= -· -- = 95,7 vagões.
12,531
Ou seja, 95 vagões podem ser rebocados numa rampa de 1% sem que a restrição
da força máxima admissível no engate seja violada. Para rebocar 95 vagões são
necessárias 5 locomotivas (95/21,6 = 4,4).
Pode-se verificar se esse trem consegue reiniciar o movimento na rampa:
1. 7 Consumo de combustível
W = fod F (x) dx
1 (1.33)
O consumo de combustível para cada seção pode ser calculado, e o somatório deles
é o consumo total de combustível.
Outra forma bastante comum, na Engenharia de Transportes, de determinar o
consumo de combustível é através da potência utilizada:
z =r' P t (1.35)
Resumo
Estradas de Ferro (vol. 2), H. L. Brina. Livros Técnicos e Científicos Editora, Rio de
Janeiro, 1982.
Discute os princípios básicos da tração, da frenagem e da lotação dos trens, bem
como discute e compara o funcionamento e a operação de diversos tipos de loco-
motivas nos capítulos 1 a 6.
Railroad Engineering (2a ed.), W. W. Hay. Wiley & Sons, Nova Iorque, 1982.
Trata com detalhes de praticamente todos os aspectos do transporte ferroviário.
Introduction to Transportation Engineering and Planning, E. K. Morlok. McGraw-
Hill, Nova Iorque, 1978.
Aborda de forma sistemática e comparativa todas os modos de transporte, apontando
similaridades e diferenças. No capítulo 4, trata da mecânica de locomoção dos
veículos.
An Introduction to Transportation Engineering (2a ed.), W. W. Hay. Wiley & Sons,
Nova Iorque, 1977.
Em 1961, em sua primeira edição, foi pioneiro em tratar de forma sistemática
os aspectos tecnológicos, operacionais e econômicos das várias modalidades de
Exercícios 35
Exercícios
Problema 1.2 Qual é o número máximo de vagões que podem ser adicionados à compo-
sição determinada no problema 1.1 de modo que:
(a) A velocidade no aclive do problema 1.1 não seja inferior a 15 krn!h?
( b) A força máxima no engate seja inferior a 900 kN?
(c) O trem possa reiniciar o movimento num aclive de 1%, com aderência de 0,21?
( d) As três condições acima sejam respeitadas simultaneamente?
Problema 1.4 Suponha que o trem do problema 1.1 viaje ao longo de um trecho de 65 km,
composto por uma seção reta e em nível de 40 km, e de um aclive de 1% de 25 km de
comprimento. Determine o volume de combustível gasto nessa viagem.
36 Capítulo 1. Mecânica da locomoção de veículos ferroviários
Problema 1.6 Considere o trem do exemplo 1.10 (pág. 31). Quantos vagões poderiam
ser adicionados ao trem se a força máxima no engate for 1.500 kN ao invés de 1.200 kN?
Problema 1.7 Determine um trem-tipo para ser utilizado no transporte de grãos entre um
porto localizado às margens do rio Tietê e o porto de Santos. A rampa máxima compensada
que o trem carregado deve subir é 2%. O volume diário a ser escoado é de 5.000 t de soja
ou farelo. As características das locomotivas e dos vagões são dadas a seguir.
(a) É possível transportar o volume previsto com um único trem diário?
( b) Quais mudanças poderiam ser feitas para aumentar a capacidade do trem tipo no caso
de um único trem não ser capaz de transportar a demanda diária? Justifique.
Locomotivas Vagões
Peso bruto total 925kN
Tara 27,7 t
Lotação 50,5 t
Potência 2.200 hp
Eixos 4* 4
Área frontal 9,5 m2 8,5m2
Velocidade máxima 105 kmJh
Velocidade mínima 22 kmJh
Capacidade do engate 1200kN
* Todos motrizes
Capítulo 2
Mecânica da locomoção de
veículos rodoviários
2. 1 Introdução
para automóveis, o foco de interesse deste capítulo são os caminhões porque são
eles os veículos críticos no que diz respeito ao desempenho em rampas, frenagem
e estabilidade lateral em curvas horizontais.
O motor ideal para uso em um veículo deve fornecer uma potência constante ao
longo de toda a faixa de velocidades na qual pretende-se operar o veículo, como
é mostrado na Figura 2.1. Se a potência P do motor for constante, a força motriz
produzida pelo motor varia hiperbolicamente com a velocidade, como mostra-se
~ na Figura 2.1, já que P = Fr V. Assim, o motor ideal é capaz de produzir um
Potência
esforço trator elevado quando o veículo viaja em velocidades baixas, nas quais a
capacidade de tracionar cargas, subir rampas íngremes e acelerar fortemente são
muito importantes. Os motores elétricos de tração usados nas locomotivas têm
Velocidade características que se aproximam bastante das condições ideais, como visto no
Fig. 2.1: Características ide- Capítulo 1.
ais dos motores para veículos
Os motores de combustão interna, que são usados em automóveis, caminhões,
ônibus e outros tipos de veículos automotores, possuem características de desem-
penho menos favoráveis que as dos motores elétricos e só podem ser usados se
. acoplados a uma transmissão. A despeito dessa desvantagem, são amplamente uti-
lizados por causa da excelente relação entre a potência produzida e o peso do motor,
da economia de combustível, do seu baixo custo operacional e de manutenção e a
facilidade para iniciar o funcionamento do motor.
Os dois tipos mais comuns de motores de combustão interna são os motores a
gasolina e os motores diesel. A maioria dos motores a gasolina opera num ciclo de
quatro tempos: admissão de ar e combustível, compressão, ignição e exaustão dos
gases. A combustão ocorre nos cilindros que, acionando os pistões, movimentam
2.2 Força motriz em veículos rodoviários 39
que. Portanto, é conveniente analisar as características de potência, E"~ 400 ,Jf455Nm~ I --+---!---. I
o-
~"'
1400rpm
i 1)0 kJ., 8 L:
torque e consumo dos motores à combustão interna para facilitar a 300 ; 2800 rpm --r- 110
compreensão da forma como operam os veículos rodoviários. i -- I 1,........1--f- _
L.X . 90 d'
Um motor de combustão interna só funciona adequadamente A I ;;;
/ I --~- -- 70 ~
após alcançar uma velocidade mínima de rotação, a "marcha lenta". I 1. iii"
v
como pode ser visto no gráfico da Figura 2.2, a potência, o torque e /
I
I !I ri-~-
I T[-
50~
o consumo de combustível de um motor diesel típico variam com a I .,.. ' 30
velocidade de rotação do motor. Pode-se perceber na figura, que a
velocidade mínima de rotação do motor é 1.000 rpm e, na medida -~E
I c . li-~...+::""I
em que aumenta a rotação, o desempenho do motor melhora, no I
'
,---f-l --r-
'
1 I
'
que diz respeito à potência, ao torque e ao consumo específico de . 1600 2200 2800
Rotação do motor (rpm)
combustível.
Fig. 2.2: Potência, torque e consumo especí-
Num motor diesel típico, o torque atinge o máximo e o consumo fico do motor Maxion 4TPlus
de combustível é mínimo quando a velocidade de rotação do motor
está numa região intermediária entre o número mínimo e máximo
de rotações. Idealmente, o motor deve ser operado dentro dessa faixa de rotações.
Se a velocidade de rotação do motor continuar crescendo, a pressão média efetiva
40 Capítulo 2. Mecânica da locomoção de veículos rodoviários
Numa locomotiva, o motor de tração está conectado ao eixo motriz por meio
de uma redução fixa e a velocidade do trem depende da rotação do motor - se o
trem viaja em baixa velocidade, o motor trabalha em baixa rotação e vice-versa.
No caso dos caminhões e automóveis, a velocidade mínima de rotação do motor
é muito alta, o que inviabiliza o uso de uma redução fixa. Para compatibilizar a
velocidade de rotação do motor com a velocidade do veículo na via usa-se uma
transmissão que permite a utilização de potência elevada (motor trabalhando em
alta rotação) com velocidade baixa (roda motriz girando em baixa rotação), como
será discutido a seguir.
Como discutido anteriormente, o motor opera em velocidades muito altas para ser
conectado diretamente às rodas motrizes. A transmissão, reduzindo o número de
rotações do eixo do motor, serve tanto para compatibilizar a velocidade de rotação
do motor com a velocidade desejada para o veículo como para aumentar o torque
entregue às rodas. A velocidade em que o caminhão viaja pode ser calculada a
partir do número de rotações do motor pela expressão:
60Nn: D
(2.1)
O numerador calcula a distância percorrida (em metros) em uma hora, a uma velo-
cidade do motor de N rotações por minuto, encontrando o número de revoluções
em uma hora e multiplicando este valor pela circunferência da roda motriz. O de-
nominador converte a distânciá percorrida para quilômetros e converte as rotações
do motor em rotações do semi-eixo motor.
2.2 Força motriz em veículos rodoviários 43
Exemplo 2.1 Seja um caminhão de peso bruto total de 6.300 kg (I. 700 kg no eixo dianteiro
e 4.600 kg no traseiro, que é o eixo motriz), equipado com um motor diesel de potência
máxima de IIO kW (a 2.800 rpm), cuja curva de potência está mostrada na Figura2.2. Seu
câmbio dispõe de cinco marchas, cujas reduções g 1 são 6,36:I, 3,3I:I, 2,I4:I, I,4I:I e
I: I, respectivamente. Os pneus têm diâmetro de O, 73 m (caminhão carregado) e a redução
do diferencial (gd) é 3,9: I. Deseja-se obter a curva de esforço trator vs. velocidade para
esse caminhão.
para cada uma das cinco marchas. As planilhas da Figura 2.4 mostram o procedi-
mento para obtenção das curvas de esforço trator vs. velocidade para o caminhão
em questão. Essas planilhas podem ser facilmente programadas num microcompu-
tador, por meio de uma planilha eletrônica como, por exemplo, o Excelfor Windows
ou um programa similar. Na planilha A da Figura 2.4 são calculadas as velocida-
des que o veículo desenvolve em cada marcha, em função da rotação do motor e da
redução na caixa do câmbio, utilizando-se a Equação 2.1:
60Nn D 60.1000.n .0,73
v-
- 1000g1 gd-
- -55km!h
1000.6,36.3,9 - ' .
A planilha B da Figura 2.4 é usada para cálculo do esforço trator desenvolvido pelo
caminhão em cada uma das velocidades determinadas na planilha da parte superior
da Figura 2.4. A determinação do esforço trator é feita através da Equação 2.2, na
2.2 Força motriz em veículos rodoviários 45
27
amarcha
z 18
6
N
24
21
·;:: 15
h
----
'''
'
'''
'
''
'''
'''
---~ça motriz máxima
(limite da aderência)
õ i ~~
2a marcha
E 12
Cll
~ :
E' : :
o ' '
u.. 9 ! I 3a marcha
i:~
' '
I : 1 4a marcha
6 1
i J
~ ~
: 1
3 ' "ii
:·
::
ll
,,
Veloc~dade _..-
mfmma
l
~+-----------------~~~=--
i Ví 1 .d d
, e oct a e
Silmarcha
máxima
o :
1
:1
11 :
I~
o 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110
Velocidade (km/h)
Fig. 2.5: Variação da força motriz com a velocidade para um caminhão diesel
p 35
Fr = rJ 3,6- = 0,82. 3,6.- = 18,62 kN.
v 5,5
Observando-se o gráfico da Figura 2.5, pode-se notar que a a função força mo-
triz dos caminhões não é contínua como no caso das locomotivas diesel-elétricas.
Cada marcha deve ser utilizada para um certo intervalo de velocidades, que é de-
terminado pela faixa de rotação do motor. Por exemplo, a velocidade mínima na
qual a terceira marcha do caminhão do Exemplo 2.1 pode ser usada é 16,5 km/h,
que é velocidade do caminhão se o motor funciona a 1000 rpm. Igualmente, a ve-
locidade máxima em que essa marcha pode ser usada é 46,2 km/h, correspondendo
à rotação máxima do motor, 2800 rpm.
46 Capítulo 2. Mecânica da locomoção de veículos rodoviários
2.2.5 Aderência
A locomoção dos veículos terrestres sobre rodas baseia-se na tração por aderência,
conforme discutido no capítulo que trata da locomoção de trens 2 . Assim sendo,
o esforço trator máximo que pode ser desenvolvido por um carro ou caminhão
depende do coeficiente de atrito entre o pneu e a superfície da via e do peso que
atua no eixo trator. Como já visto anteriormente, o esforço trator máximo que
pode ser transmitido à uma roda, sem que ela "patine", é dado por:
(2.3)
Rr =(c!+ Cz V) G, (2.5)
Rg=lOGi (2.8)
Exemplo 2.2 Seja o caminhão do Exemplo 2.1, cujo peso bruto total é 6.300 kg. A
área frontal desse caminhão é 7,32 m2 e o seu coeficiente de penetração aerodinâmica é
Ca = 0,040. Deseja-se determinar a velocidade de equilíbrio para esse caminhão num
trecho reto e plano e num aclive de 5o/o.
52 Capítulo 2. Mecânica da locomoção de veículos rodoviários
'
v.---~--~--------~----------------~
F
marcha
24
'--· -
21 \...__ Ftm..
(limite da aderéncia)
18
z
6
lt!
~
o
LI..
15
12
rzrcha
9 ~marcha
r----_ R t + Rg R
6 / 4• ma-;;;;;, .; c;;!.--
l ~~~~~~!~c§:i~~IJ
:L? 5%4 ::? (i marc;>a i J
o 10 20 30 40 50 60V'oq 70 80 90 Voq 100 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Velocidade (kmlh) Velocidade (kmih)
Fig. 2.7: Determinação da velocidade de equilíbrio do ca- Fig. 2.8: Velocidade de equilíbrio para potência menor
minhão que a máxima
= Rr + Ra = (CJ + C2 V)G + Ca A V 2
(7,6 + 0,056. V)61,803 + 0,040. 7,32 V
2
1000 v gt gd
N=
60rr D
1000 . 94 . 1'o . 3' 9
N
60.rr .0,73
2.4 Determinação da velocidade de equilíbrio 53
N = 2664rpm.
Quando o caminhão viaja por um aclive de 5%, também atua sobre ele a resistência
de rampa, que é a componente do peso na direção do movimento e que não varia
com a velocidade:
Rr = Rr + Ra + Rg = (CJ + c2 V)G + Ca A V 2 + 10 G i
R1 (7,6 + 0,056. V)61,803 + 0,040. 7,32 V 2 + 10.61,803. 5
R1 = 3.559,85 + 3,46 V+ 0,29 V 2 [N]. (2.10)
2.5 Frenagem
3A Policy on Geometric Design ofHighway and Streets. American Association of State Highway
and Transportation Officials, Washington, D.C., E.U.A., 1984.
2.5 Frenagem 55
(2.12)
dmin
1
= --vo2 võ
= _....:___ (2.13)
2amax 2.g.f
y2
(2.14)
254. f
56 Capítulo 2. Mecânica da locomoção de veículos rodoviários
Se o veículo trafega num aclive, como mostram as Figuras 2.9(b) e (c), uma
componente do peso passa a atuar na direção do movimento e a Equação 2.11
toma-se:
M. a+ G. sen a- Fb =O (declive)
{ M. a - G. sen a- Fb = O (aclive) (2.15)
1
a = M (G . f. cos a ± G . sen a) = g (f. cos a ± sen a) (2.16)
Como os ângulos que as rampas de rodovias formam com a horizontal são sempre
muito pequenos, pode-se considerar que cosa= 1 e que sena = tana. Como
têm-se que tana = 0,01 m, em quem é a inclinação da rampa expressa em
[m/100 m] ou[%], a Equação 2.16 toma-se:
vz
D=~---------- (2.18)
254(/ ± 0,01 m)
1002
D = =136m.
254.0,29
A distância de frenagem, num declive de 3%, seria 15m mais longa:
1002
d = =151m.
254 (0,29- 0,01. 3)
• B.fb.r < F2 .j.R, o que significa que o veículo não utiliza toda a força de
atrito do pneu com o solo e, portanto as rodas nunca travarão. Isto pode ser
observado em veículos que transportam cargas muito pesadas e densas- por
ex., pedra britada.
Pavimento Fz
• B.fb.r > F2 .j.R, o torque do freio é maior que o torque da força de atrito na
interface pneu-pavimento, o que provoca travamento de roda e consequente
Fig. 2.10: Forças que atuam perda de controle direcional do veículo devido à falta de rotação nas rodas.
sobre uma roda sendo freada
Um motorista experiente sabe que a aplicação dos freios deve ser gradual para
evitar o travamento das rodas. Para evitar que a terceira condição ocorra com
freqüência, os carros e caminhões são equipados com sistemas de freios ABS, que,
monitorando a rotação das rodas, liberam os freios caso as rodas travem prematu-
ramente, mesmo que o pedal de freio continue pressionado. No Brasil, como na
2.5 Frenagem 59
América do Norte, freios ABS não são comumente utilizados em caminhões pesa-
dos; na Europa, entretanto, todo caminhão fabricado a partir de 1992 é equipado
com esse sistema de freios para aumentar a segurança viária.
A situação ideal para frenagem é quando têm-se B.fb.r = Fz.f.R em cada
roda, já que todo o atrito disponível entre cada pneu e a via está sendo utilizado e,
por conseguinte, a desaceleração é máxima. O modelo simplificado de frenagem,
discutido no item anterior, pressupõe a ocorrência dessa condição. É interessante
ressaltar que o sistema de freios ABS não reduz a distância de frenagem, já que
não existe dispositivo capaz de aumentar a força de atrito existente entre o pneu e
o pavimento. A maior vantagem da utilização de freios ABS é a manutenção do
controle direcional do veículo durante todo o processo de frenagem, o que só é
possível se as rodas estiverem girando.
nas rodas de cada eixo. O problema pode ser simplificado supondo-se que a força
de atrito do pneu com o solo no eixo traseiro é a resultante das forças de atrito em
cada pneu do eixo tandem.
As seguintes equações podem ser obtidas do diagrama de forças da Figura 2.11:
Ff1 +Fh
a - (2.19)
M
(G.bf- M.a.h)
FZ2 - (2.20)
b
FZJ - G~ FZ2 (2.21)
Conhecidas as forças normais nos eixos dianteiro (Fz 1 ) e traseiro (F2 J, pode-
se calcular os coeficientes de aderência necessários para produzir as forças de
frenagem F11 e F12 que são responsáveis pela desaceleração a:
F fi
fi - (2.22)
FZI
Fh
h (2.23)
FZ2
Exemplo 2.4 Admita-se que o caminhão da Figura 2.11 tenhaM = 23.500 kg e esteja
viajando a 80 kmlh. Admita-se também que a posição do centro de gravidade do caminhão
carregado é tal que h= 1,60 m, b = 5,10 m, e bJ = 3,69 m. Com base em informações
do fabricante do veículo, determinou-se cinco níveis de frenagem, correspondendo a di-
ferentes níveis de pressão no pedal de freio (de nenhuma pressão à pressão máxima).
Determinar qual a distância mínima de frenagem para esse veículo numa rodovia em que
62 Capítulo 2. Mecânica da locomoção de veículos rodoviários
Nível de frenagem
o 1 2 3 4
Forças de frenagem
Ff1 (N) o 6.809 15.219 21.627 29.237
Fh (N) o 24.831 72.090 89.712 105.732
Cálculo da desaceleração
2
a (rnls ) 0,00 1,35 3,72 4,74 5,74
Cálculo do. força normal
FZl (N) 63.736 73.662 91.127 98.666 106.079
F22 (N) 166.799 156.873 139.408 131.869 124.456
Cálculo dos coeficientes de atrito mínimos
/1 o 0,092 0,167 0,219 0,276
h o 0,158 0,517 0,680 0,850
desaceleração é:
FJ1 6809
!I 73662
0,092 e
FZ1
Fh 24831
h
FZ2
= 156873 = O, 158.
Como o coeficiente de atrito existente é 0,7, a desaceleração de 1,35 rnls 2 pode ser
obtida sem que haja travamento de rodas.
Observando-se a planilha, pode-se perceber que a maior desaceleração que pode ser
obtida a partir das forças de frenagem Ff1 e Fh é 5,74 rnls 2 , que é a desaceleração
obtida se o pedal de freio for pressionado até o finaL Para que seja possível aplicar
essa desaceleração ao caminhão, o coeficiente de aderência deve ser maior ou igual a
0,850, ou as rodas traseiras irão se travar quando esse torque de frenagem for usado.
Assim sendo, fica claro que não é possível utilizar 100% da força de frenagem capaz
de ser produzida pelo sistema de freios se o coeficiente de atrito do pavimento for
0,7.
É necessário, portanto, determinar a desaceleração que corresponde a um coeficiente
de atrito h = 0,7. Idealmente, isso é conseguido subdividindo-se os níveis de
frenagem, de tal modo que se possa obter um nível de pressão no pedal do freio
que produza uma força de frenagem compatível com o coeficiente de atrito da
rodovia. Isso é um processo trabalhoso e complexo mas, para simplificá-lo, pode-
se usar calcular a desaceleração máxima de forma aproximada, a partir de uma
interpolação linear.
Para determinar a desaceleração obtida com h = 0,7, pode-se interpolar o valor
da desaceleração, supondo-se que sua variação seja linear no intervalo em que h
64 Capítulo 2. Mecânica da locomoção de veículos rodoviários
- 0,7-0,680 2
a- 0,
850
_ 0,
680
(5,74- 4,74) + 4,74 = 4,85 rn!s .
v2 22 23 2
d =-
2a
= ___.:.__
2.4,85
= 50,95 m.
Pode-se notar que a eficiência de frenagem determinada pela Equação 2.24 poderia
ser também obtida pela razão entre as distâncias de frenagem calculadas para a
desaceleração a e com a Equação 2.13, como demonstra-se no Exemplo 2.5.
I
simplificado da AASHTO) e usando a desaceleração máxima de 4,85 rn!s 2 , a de-
terminação da eficiência de frenagem seria:
D = v2 = 802 = 35 99 m
254(f±O,Olm) 254.0,7 ' 35 99
'T] f = - '- = 70 6%
v2
22 23 2 so, 95 '
d = - = - ' - =50,95m
2a 2 .4,85
Ou seja, a distância de frenagem real é cerca de 40% mais longa que a calculada
pelo modelo simplificado da AASHTO, se o coeficiente de atrito pneu-pavimento
disponível for 0,7.
Fig. 2.13: Forças que atuam e SeM. ac < F_v; + Fv,• isto é, se o coeficiente de atrito lateral for tal que a
no veículo numa curva sem
força centrífuga seja menor que a força de atrito lateral, a roda interna do
superelevação lateral
caminhão pode levantar-se da pista (Fzi =O e Fz, = G). Se isso ocorrer, o
caminhão tomba, já que passa a existir uma situação de instabilidade.
e Se M . ac > F_Y; + Fy,, isto é, se a força de atrito lateral for menor que a
força centrífuga, o caminhão escorrega para fora da pista antes de tombar.
2.6.1 Escorregamento
Exemplo 2.6 Determinar qual o raio mínimo das curvas horizontais numa rodovia para
a qual a velocidade de projeto é 11 Okm/h e a superelevação transversal máxima é 6%.
2.6.2 Tombamento
A Figura 2.15 mostra as forças que atuam num veículo que descreve um movimento
circular uniforme de raio R, numa pista sem superelevação lateral. Para analisar a
estabilidade quanto ao tombamento, pode-se calcular o momento de tombamento,
que atua no ponto de contato da roda externa:
R~
t
M. ac . h - GZ + Fz; . t = O (2.30)
r ~
rf
1f l\
em que M: massa do caminhão [kg];
~ ll C.G. ~j
M.ac ~ ac: aceleração centrífuga [rn!s 2 ]
~~~ ~)f/ h: altura do centro de gravidade [m];
h CC co
G: peso do caminhão [N];
'h.. =:::J ,.( t: bitola do caminhão [m]; e
lW:J u:u
F~ teFz.
!., I t
FYe
Fz e
Fz; : normal na roda interna do caminhão [N].
ac = *(~ +e . h - 2~ t) g ~ e = ~. (2.36)
Exemplo 2.7 No Exemplo 2.6, o raio mínimo determinado para as curvas horizontais foi
530 m. Admitindo uma superelevação máxima de 6%, determine se um caminhão baú
carregado pode passar por essa curva a 11 Okmlh sem tombar:.
ou seja, 127 kmlh. Para que o limite de tombamento seja atingido, basta que o
coeficiente de atrito lateral seja superior a O, 18 e o caminhão tombará antes de
escorregar. Esse valor de coeficiente de atrito não é raro, já que f pode chegar até
a 0,8, em pista seca, com pneus e pavimento em boas condições.
Resumo
Motor Truck Engineering Handbook (4a ed.), James W. Fitch. Society of Automotive
Engineers, Warrendale, PA, EUA, 1994.
Discute praticamente todos os aspectos do desempenho operacional de caminhões
no Capítulo 3.
Fundamentais ofVehide Dynamics, Thomas D. Gillespie. Society of Automotive En-
gineers, Warrendale, PA, EUA, 1992.
Ainda que mais direcionado a automóveis, trata em detalhes dos componentes da
resistência ao movimento e de fatores que afetam o desempenho de veículos auto-
mores.
Automobilística - Dinâmica e Desempenho, Antônio Carlos Canale. Livros Érica Edi-
tora, São Paulo, 1989.
Discute as forças de resistência ao movimento, a dinâmica de frenagem e a estabi-
lidade de veículos automotores de forma objetiva e clara. O autor é professor do
Departamento de Engenharia Mecânica da EESC-USP.
Exercícios 73
Exercícios
Problema 2.1 Um caminhão semi-reboque, com peso bruto total de 430 kN, é equipado
com um motor diesel que tem a curva de desempenho mostrada abaixo. O caminhão tem
uma redução de 5,9:1 no diferencial e as reduções em cada marcha estão mostradas na
tabela a seguir.
(a) Calcule e plote a função força motriz vs. velocidade para este veículo. Faça as
suposições que forem necessárias, usando as informações do texto.
74 Capítulo 2. Mecânica da locomoção de veículos rodoviários
( b) Calcule e plote a função resistência ao movimento vs. velocidade para este veículo
em aclives de 0,6%, 2,6% e 5,4%.
(c) Qual seria a velocidade de equilíbrio desse caminhão numa estrada de terra seca?
Explique o porque da diferença de velocidade da rodovia asfaltada para a estrada de
terra, com base nas equações de resistência ao movimento.
( d) Usando as funções desenvolvidas nos itens anteriores, calcule a velocidade de equilí-
brio e a marcha utilizada numa seção tangente horizontal e num greide de 5,4%.
Suponha que o motor esteja trabalhando a 1500 rpm.
Problema 2.4 Um caminhão de três eixos tem tara de 8.200 kg e carga paga de 15.100kg.
O centro de massa do caminhão carregado está situado a 272 em para trás do eixo dianteiro
e à 131 em acima do nível do solo. A distância entre o eixo dianteiro e o primeiro eixo
do tandem é de 3,05 me os eixos do tandem são separados de 1,55 m. A tabela a seguir
mostra a força de frenagem para cada estágio de pressão no pedal do freio.
Estágio O 1 2 3 4
Eixo dianteiro (kN) O 7,5 17 24 33
Eixo traseiro (kN) O 28 80 100 120
(a) Qual o coeficiente de atrito mínimo para que se possa utilizar toda a força de frenagem
disponível na interface pneu-pavimento?
(b) Qual é a distância de frenagem necessária para este veículo se f = 0,31 e V =
80 kmJh? Esta distância é compatível com a estabelecida nas normas de projeto
geométrico daAASHTO (a velocidade de operação de 80 kmJh corresponde à veloci-
dade de projeto de 80 kmlh)? Qual é a eficiência de frenagem deste veículo?
(c) Com o veículo vazio, o centro de massa passa a se situar a b f = 201 em e h =
172 em; neste caso, qual a desaceleração máxima de frenagem que o caminhão pode
ser submetido sem que haja travamento de rodas se a sua velocidade é 80 kmlh? Qual
a eficiência de frenagem a 80 kmlh? (Dica: uma normal negativa significa que o peso
dinâmico do eixo é negativo- isto é, ergue-se do solo).
Exercícios 75
Problema 2.5 Um caminhão tanque articulado tem uma aceleração lateral limite (a ace-
leração que levanta as rodas internas numa curva) de 0,265 g.
(a) Qual deve ser a superelevação transversal numa curva de 250m de raio numa rodovia
com velocidade de projeto de 90 krn!h?
(b) Qual a velocidade máxima que este veículo pode desenvolver, com segurança, numa
curva de um dispositivo de entroncamento com raio de 125 m e superelevação de
5,2%, sem tombar?
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Capítulo 3
Uma das ferramentas mais úteis para a análise de fluxos de veículos é o diagrama
espaço-tempo, que foi inventando originalmente como uma forma de visualizar a
movimentação de trens e controlar o tráfego em trechos entre pátios de manobra.
O diagrama espaço-tempo é nada mais que um gráfico que ex-
pressa a relação entre a posição de cada veículo da corrente de
tráfego e o tempo, à medida em que os veículos deslocam-se ao
da longo de uma via. Normalmente, usa-se o eixo das abscissas pa-
ra representar o tempo e o eixo das ordenadas para representar a
posição do veículo na via, por meio da distância até uma origem
Ê
6 preestabelecida.
o"'c:
O diagrama espaço-tempo ilustrado na Figura 3.1 mostra as
~
rn trajetórias de cinco trens que trafegam por um certo trecho. Pode-
õ
se perceber que, no instante t = O, os trens 1 e 2 já se encontravam
dA dentro do trecho estudado e que os trens 3, 4 e 5 chegam ao início
do trecho em tempos ti >O.
Ainda no diagrama espaço-tempo da Figura 3.1, pode-se de-
Tempo (min) terminar dois parâmetros que estão relacionados à intensidade dos
fluxos de veículos: o espaçamento e o headway. Esses parâmetros
Fig. 3.1: Diagrama espaço-tempo
servem para representar a separação que existe entre veículos su-
cessivos numa corrente de tráfego e, indiretamente, a caracterizam
a seqüência de veículos que forma uma corrente de tráfego.
O headway é definido como sendo o intervalo de tempo que decorre entre a
passagem de dois veículos sucessivos por uma seção de controle e é normalmente
medido em função da passagem da roda dianteira ou do pára-choque dianteiro
3.1 Representação gráfica de fluxos de veículos 79
que equivale ao coeficiente angular da reta que liga os pontos (tA, dA) e (ts, ds).
perceber que, se o trem tivesse mantido essa velocidade durante todo o trecho entre
as duas estações, ele teria gasto um tempo bem menor para chegar à estação B.
Se um veículo viaja em velocidade constante, a tangente (ou seja, a derivada
da função) é constante. Por conseguinte, a curva que representa o movimento
desse veículo no diagrama espaço-tempo é uma reta, como as que representam o
movimentos dos trens 4 e 5 na Figura 3 .1. Pode-se também perceber que o trem 4
pára por algum tempo a meio caminho entre as estações A e B, pois a declividade
da reta torna-se nula.
O volume de tráfego numa certa via é definido como o número de veículos passando
por ponto durante um intervalo de tempo. Quando o intervalo de tempo é uma
hora, a unidade de volume é [veic/h] e refere-se ao volume como volume horário.
Se o período for um dia, o volume é dado em [veic/dia] e denominado volume
diário. Se o volume referir-se a um período de um ano, diz-se que é um volume
anual e sua unidade é [veic/ano].
A taxa de fluxo horário é o volume horário equivalente, obtido a partir de um
intervalo de observação menor que uma hora. Esta distinção é importante pois a
taxa de fluxo horário pode ser diferente do volume que seria obtido se o intervalo
de observação fosse de uma hora.
O volume é medido através de uma contagem, que pode ser manual ou au-
tomática (feita por meio de aparelhos colocados sob ou sobre a via). A contagem
pode se referir a uma única faixa de tráfego ou a todas as faixas de tráfego; pode
dizer respeito a um único sentido de tráfego ou aos dois sentidos de tráfego.
É interessante perceber que existe uma relação entre os headways e o volume
de tráfego. Suponha-se que n veículos foram contados durante um período b..t e
que os seus headways hi foram registrados. Sabe-se que:
n
pode-se ver que o volume pode ser também expresso corno o inverso do headway
médio:
1
q = -:=-. (3.2)
h
Muitas vezes, os volumes de tráfego são expressos em veículos por dia, principal-
mente quando são usados para planejamento de sistemas rodoviários ou na análise
de tendências de crescimento. As projeções de tráfego são rotineiramente basea-
das em contagens diárias, que muitas vezes são determinadas a partir do volume
anual, que é o número de veículos que passam por um trecho de uma via durante
um ano e é expresso em [veic/ano]. O volume anual é usado para análise de aciden-
tes, estudos econômicos para a implantação de pedágios, e também para estudar
as tendências futuras de variação do volume de tráfego. Os volumes diários de
tráfego mais usados são:
Apesar de os volumes diários serem úteis para fins de planejamento, eles não
devem ser usados em análises operacionais ou no projeto de componentes do
sistema viário, já que o tráfego pode variar consideravelmente ao longo do dia,
sendo comum a existência de dois ou três períodos de pico. A hora do dia que
apresenta o maior volume de tráfego é chamada de hora pico e é a hora que
interessa para o projeto e análise operacional do sistema. As rodovias devem ser
projetadas para serem capazes de suportar o volume da hora pico, na direção de
maior movimento. Como o tráfego geralmente viaja numa direção no período da
manhã e na direção oposta no período da tarde, a diferença entre os volumes das
horas pico da manhã e da tarde é pequena e as duas direções são projetadas para o
mesmo volume.
No projeto de componentes do sistema rodoviário, os volumes de hora pico
na direção mais congestionada são, muitas vezes, estimados a partir de projeções
do volume diário, a partir de um coeficiente que indica a proporção do VDMA que
ocorre durante a hora pico e é conhecido como fator K:
densamente povoadas, existe mais tráfego fora dos períodos de pico e os trechos
com capacidade insuficiente tendem a aumentar a duração dos períodos de pico.
O coeficiente de divisão direcional D varia entre zero e um e tem uma varia-
bilidade maior, já que existem mais fatores que influenciam a divisão direcional
do tráfego tais como a densidade populacional, a distribuição espacial dos pólos
geradores e atratores de tráfego, etc. A Tabela 3.1 mostra a gama usual de variação
desses valores, a título de ilustração.
Mesmo dentro da hora pico, existem variações no fluxo de tráfego que são de
grande interesse para o engenheiro de transportes. Um componente do sistema
pode ter sido projetado para o volume da hora pico mas, se a variação do fluxo
dentro do pico for muito grande, a demanda pode exceder a capacidade. Os
volumes observados para períodos de duração inferior a uma hora são normalmente
expressos em termos de uma taxa de fluxo horário equivalente. Por exemplo, se
contam-se 300 veículos durante um período de 10 minutos de duração, a taxa de
fluxo horário equivalente é 300 (60/10) = 1.800 veic/h. Se a contagem tivesse
sido conduzida por um período de uma hora, com certeza o volume obtido não
seria 1.800 veic/h. O Exemplo 3.2 ilustra melhor o conceito.
Solução: O cálculo das taxas de fluxo horário equivalente pode ser feito a partir
das contagens parciais:
Das 17:00 às 18:00, foram observados um total de 4.200 veic, o que fornece um
volume horário de 4.200 veic/h, ficando clara a variação do fluxo de tráfego dentro
do período de observação.
(3.4)
3.2 Princípios fundamentais dos fluxos de veículos 85
n.d n
Us=--=---. (3.6)
n n l
I>i :L;.-
i=l i=l I
3.2 Princípios fundamentais dos fluxos de veículos 87
Exemplo 3.3 Seja um trecho de rodovia com 300m de extensão. Os tempos gastos para
trafegar por esse segmento foram observados para seis carros. Deseja-se determinar a
velocidade média no tempo e no espaço para a corrente de tráfego da qual esses veículos
fazem parte.
Exemplo 3.4 Considere um trecho de 1,5 km de extensão, no qual o tempo médio gasto
por um veículo para percorrê-lo é 3 minutos, sendo que 1 minuto é o tempo médio parado
nos cruzamentos semaforizados existentes ao longo do trecho. Determine a velocidade
média de percurso e a velocidade média em movimento.
~ 15km
Vp = -'-- 60 minlh = 30 kmJh
3min
e a velocidade média em movimento é 45 km!h.
pois requer que um veículo seja conduzido de forma consistente com sua defi-
nição. Como a determinação de qual seja a velocidade máxima segura depende
de julgamento de valor, existe uma ampla gama de variação na sua determinação
empírica. A velocidade de operação é normalmente aproximada pela velocidade
correspondente ao 85° percentil, V85 , que corresponde à uma velocidade tal que
85% dos veículos do fluxo viajam numa velocidade menor ou igual a ela- ou,
por outro lado, é uma velocidade tal que apenas 15% dos veículos na corrente de
tráfego estão viajando em velocidade superior a ela.
De modo similar, pode-se definir uma velocidade que corresponde ao 15° per-
centil, que seria a menor velocidade razoável para veículos na corrente de tráfego.
Essa velocidade corresponde àquela abaixo da qual apenas 15% dos veículos tra-
fegam.
q = Üsk (3.7)
Como mostra a Figura 3.2, para densidades de tráfego muito baixas (k ~ 0), a
velocidade média do fluxo é u = u f. Para concentrações próximas da densidade
de congestionamento (k ~ k 1), a velocidade média do fluxo de tráfego tende a
zero, u = O. O modelo de Greenshields aplica-se bem a situações em que o fluxo
é contínuo e não sofre interferências de manobras de entrada e saída da corrente de
tráfego, como acontece em trechos afastados das interseções em rodovias de pista
dupla e acesso controlado.
O modelo linear de Greenshields não é o único que procura explicar a relação
entre a densidade e a velocidade média no espaço. H. Greenberg, um outro pioneiro
da Engenharia de Tráfego, propôs um modelo não linear que se presta bem para
analisar situações em que o tráfego é muito intenso. No modelo de Greenberg7 , a
relação entre a velocidade e a densidade é feita por meio de uma função logarítmica:
k
Üs = c In kj. (3.9)
k· ) Uf
Um=Uf ( 1- 2 ~j =2, (3.12)
(3.13)
Exemplo 3.5 Um trecho de auto-estrada tem velocidade livre de 11 O kmlh e uma densi-
dade de congestionamento de 230 veic/km. Utilizando um modelo linear para a relação
entre a velocidade e a densidade, determine a capacidade bem como a densidade e a
velocidade que correspondem a esse volume de tráfego.
3.3 Modelos macroscópicos para fluxos de tráfego 93
Ü
s
= Uj (1- ~)
kj
= 110 (1- ~)::::}
210
4.200 110 110 ?
- k
- = 110- -k::::} - k - -110k+4200 =o
210 210
A solução dessa equação do segundo grau fornece dois valores para a densida-
de, k 1 = 50,17 veiclkrn e k2 = 159,83 veiclkrn. Substituindo-se esses dois
valores na relação fundamental para o volume igual a 4.200 veic/h, têm-se que
u 1 = 83,72 krnlh e uz = 26,28 kmlh.
(3.14)
-------~-------------------
Ffuxq
congf!Stionado
.,
...___ _ _::-;k-m--""7""~~-------;
u,
I
I Uf --------L--------~---------
------------J/------~---------
FfUXO : I
livre :
/ I
/ I
k'1.(___________ _ : 1 Um
-------- --------T---------
1 Flux'o
congestionado
q1 km
Volume Densidade Volume
Fig. 3.5: A relação entre velocidade e volume Fig. 3.6: Relações entre velocidade, volume e densidade nu-
ma corrente de tráfego sem interrupções
Esta também é uma função parabólica, que é ilustrada na Figura 3.5. Note-se
que, tradicionalmente, a representação gráfica desse modelo é feita com os eixos
trocados: a velocidade é representada no eixo vertical e o volume, no horizontal.
Como no modelo volume-concentração, existe uma região de fluxo livre e outra
de fluxo congestionado. Na região de fluxo livre, o volume é alcançado com uma
velocidade maior que a velocidade crítica (Üs > um) e a densidade é baixa. Na
região de fluxo congestionado, a densidade é alta e a velocidade é menor que a
crítica (Üs < Um).
A velocidade média da corrente pode variar de zero à velocidade livre u f e o
volume é nulo para essas duas condições. O volume é máximo quando a velocidade
é igual à metade da velocidade livre u f e, nessa situação, a densidade é a metade
da densidade de congestionamento kj·
A Figura 3.6 exibe graficamente as relações entre velocidade, volume e con-
centração e suas interações.
Exemplo 3.7 Considere um trecho de uma auto-estrada onde observa-se um fluxo médio
de 360 veic/h. Supondo-se que as chegadas de veículos sejam distribuídas de acordo com
uma distribuição de Poisson, estimar a probabilidade de se ter O, I, 2, 3, 4 e 5 ou mais
veículos passando por um posto de polícia rodoviária num intervalo de 20 segundos.
---------
partida- ou seja:-l}eãàWãys-urufõiJi1eS'entre os veículos que chegam ou que partem.
--~------------
Portanto, uma fila em que os veículos chegam ao final da fila a int~rvalos iguais e
-------
constantes e partem da fila um de cada vez------
-----
(um único canal) em intervalos iguais
e constantes, é representada pela notação D/D/1. Note que a notação D/D/1 não
implica que o headway médio de chegada seja igual ao headway médio de partida.
Para os casos onde os headways são distribuídos exponencialmente, usa-se a
letra M. A notação de uma fila na qual tanto os headways de chegada como os de
partida seguem uma distribuição exponencial negativa e existe apenas um canal
de atendimento é MIM/I. Usa-se a notação M/D/1 para indicar uma fila em· que
os headways de chegada se distribuem exponencialmente, os headways de partida
são uniformes e há um único canal de atendimento.
Apenas os modelos D/D/1, M/D/1 e M/M/1 serão discutidos no texto. O leitor
interessado deve consultar, por exemplo, Novaes 10 ou Newell 11 , que contêm vários
exemplos aplicativos do uso de modelos estocásticos mais complexos para a análise
de problemas de filas em Engenharia de Transportes.
Uma fila onde tanto os headways entre os veículos que chegam ao sistema como
os headways entre os veículos que partem do sistema são constantes e onde existe
um único canal de atendimento serve bem para demonstrar os conceitos básicos
lONovaes, A. G. (1975). Pesquisa Operacional e Transportes: Modelos Probabilísticos.
EDUSP/McGraw-Hill do Brasil, S. Paulo.
11 Newell, G. F. (1982). Applications of Queueing Theory (2a ed.). Chapman & Hall, Londres.
~
/./,';/ v:S'
/V /0\
/........ \,
J~ s·hl: . C/)\
~~ lv 1C"Ceca oJ
\~ _fl!/
3.5 Aplicações da teoria das filas na análise dos fluxos ininterruptos 101
ligados à Teoria das Filas, pois tanto a solução analítica como a solução gráfica do
problema podem ser facilmente compreendidas.
Ainda que a solução analítica para uma fila D/D/1 seja fácil de ser obtido por um
aluno de Engenharia Civil, o leitor deve se esforçar em resolver estes modelos gra-
ficamente, pois só assim obterá uma maior familiaridade com os modelos de filas,
o que lhe será de grande valia na análise de sistemas como terminais (rodoviários,
portuários, aéreos, etc.), vias, etc. O Exemplo 3.9 serve para ilustrar a obtenção
da solução gráfica para uma fila D/D/1.
Exemplo 3.9 Seja um centro comercial cujo estacionamento abre às 9:00. Nesse instante,
veículos começam a chegar ao portão do estacionamento a uma taxa de 480 veiclh. Depois
de 20 minutos, o fluxo de veículos que chegam se reduz para 120 veiclh, e se mantém
constante até o final do dia. No portão de entrada existe um controle de estacionamento
que requer que a placa de cada veículo seja anotada e um comprovante seja dado ao
motorista. O tempo necessário para esta operação é constante e igual a 15 segundos.
Construa um gráfico que represente a operação da entrada do estacionamento.
C(t) =À t = 8t
Após 20 rnin, terão chegado C(20) = 160 veículos. No gráfico da Figura 3.8, esse
trecho da curva de chegadas acumuladas é o segmento de reta OA. A inclinação da
102 Capítulo 3. Fluxos de veículos e seu controle
til Desaparecimento
~ 250 ----------------------------------------q§_fiJ§_~B
(,)
Qi
: 200 C(t)
"Q (Chegadas)
o -------~---A
] 150
:I
E
i3 100
111
e
C!l 50
E
•:I
z
o 10 20 30 40 50 60 70
Tempo (min)
em que J.lmax é a taxa máxima de atendimento [veic/min]; tar é o tempo gasto para
atender um veículo [s/veic]; e c é o número de guichês em operação.
3.5 Aplicações da teoria das filas na análise dos fluxos ininterruptos 103
~lü + 2(t -
para t < 60 min e
D(t) = { 240), para t =::: 20 min
Grau de congestionamento
À
p=-. (3.21)
{J-C
o tamanho da fila fica inalterado, pois as chegadas à fila são iguais às partidas da
fila por intervalo de tempo.
Se p < 1, têm-se que a taxa máxima de partidas é menor que a taxa de chegadas
e, caso exista uma fila, ela diminui até desaparecer completamente pois o número
de veículos que saem da fila é maior que o número de veículos que chegam a ela,
por intervalo de tempo. Isso corresponde ao caso em que o fluxo de saída da caixa
d'água é maior que o fluxo de entrada e o reservatório, depois de um certo tempo,
esvazia-se completamente.
Medidas de desempenho
~!
lll
Tempo de espera do
~ 1oo• verculo que chega :::g
É fácil perceber intituitivamente uma proprie-
dade importante das filas que passam por um z
Cl
E
•::I
50
Tamanho da fila
"'õ .
quando t= 10 min
período de supersaturação: a fila atinge o seu
o 10 20 30 40 50 60 70
máximo no instante em que a taxa de chega- Tempo (min)
das passa a ser igual ou menor que a taxa de
Fig. 3.9: Medidas de desempenho de uma fila D/D/1
partidas,
O instante em que a fila termina pode ser obtido tanto graficamente como ana-
liticamente. A Figura 3.9 mostra que a fila termina no ponto B, de coordenadas
(60 min, 240 veic); ou seja, a fila desaparece no instante t = 60 min, após 240 veí-
culos terem sido atendidos. Pode-se calcular o instante t f em que a fila termina
igualando-se
D(tf) C(tf) ==?-
4tf 160 + 2(tf- 20) ==?-
tf - 60 min.
O tempo médio de espera na fila é a razão entre duas outras medidas de desem-
penho, a espera total e o número total de veículos na fila. A espera média durante
os 60 minutos em que a fila existiu é W = 2.400/240 = 10 min/veic, já que 240
veículos passaram pelo guichê durante os 60 minutos de duração da fila.
A fila média é também derivada de duas outras medidas de desempenho, a
espera total e o tempo total de duração da fila. É calculada de modo similar,
dividindo-se a espera total pelo tempo de duração da fila. No caso, a fila média é
i= 2.400/60 = 40 veículos.
O modelo M/D/1
- p
W=----- (3.24)
2!-L(l-p)
12 Foge do escopo deste texto introdutório apresentar a dedução dessas expressões. O leitor
interessado pode consultar, por exemplo, Novaes (1975).
108 Capítulo 3. Fluxos de veículos e seu controle
e o tempo médio gasto no sis,tema, que é o tempo médio na fila mais o tempo de
atendimento (que é constante no modelo M/D/1) é
- - 1 2-p
t=w+-= . (3.25)
f..l 2 f..l (1- p)
Exemplo 3.10 Seja uma praça de pedágio numa rodovia pela qual passam 180 veic!h
durante uma longa parte da noite. Nesse período funciona apenas uma cabine de pedágio
e o tempo gasto no atendimento de cada veículo é constante e igual a 15 segundos. Planeja-
se introduzir inovações tecnológicas no sistema de cobrança que devem reduzir o tempo
de atendimento para 8 segundos por veículo. Determine o impacto dessas mudanças em
termos das medidas de desempenho da fila.
- 2.0,75-0,75 2 8 5 .
Q = = 1, 7 ve1c.
2 (1- 0,75)
Através das Equações 3.24 e 3.25 pode-se determinar o tempo médio de espera na
fila e o tempo médio no sistema:
0,75
ÜJ = = 0,375 mine
2.4 (1.- 0,75)
2-0,75
t = 0,625 rnin.
2.4(1-0,75)
=~
60
f.L2 =
8
= 7,5 veic/min =? P2
7,5
= 0,4
O leitor pode aplicar as Equações 3.23 a 3.25 para calcular as novas medidas de
desempenho. O novo valor para a fila média é 0,533 veic; o tempo médio de espera
~ <~- na fila é 0,044 mine o atraso médio total na praça de pedágio é O, 178 min. Portanto,
o novo sistema proporcionará uma redução de 1,342 veic na fila média, 0,331 rnin
no tempo médio de espera na fila e de 0,447 min no tempo médio total gasto no
pedágio.
3.5 Aplicações da teoria das filas na análise dos fluxos ininterruptos 109
O modelo MM/1
Nem sempre a suposição de que os headways entre partidas dos veículos são
uniformes pode ser aplicada. Imagine-se, por exemplo, a cabine de pedágio do
Exemplo 3.10: é razoável admitir que alguns motoristas pagam a tarifa entregando
a quantia exata e são processados rapidamente enquanto que outros são forçados
a esperar pelo troco. Os headways de partida seriam então aleatórios, distribuídos
em torno de um valor médio. Neste tipo de situação, é comum que a distribuição
exponencial possa ser usada para representar a distribuição dos headways de partida
e o modelo MIM/1 pode ser usado para estudar a fila.
Numa filaM/Mil, seja À a taxa média de chegadas e f.Jv, a taxa média de partidas.
Se a taxa de congestionamento p = Àj fJv < 1, pode-se provar que a fila média é:
~
- p-
0=--· (3.26)
- 1- p'
- 1
t=--· (3.28)
JJv-À'
0,75 2
Q = 1-0,75
2,25 veic,
3
ÜJ = 4 (4- 3) = 0,75 min,
1
t 1 mine
4-3
P(w :S 0,25) 1 _ 0 ,75 . e-(1-0,75)4.0,25 = 0,4159.
A Teoria das Filas pode também ser usada para analisar os fluxos de tráfego nos
congestionamentos gerados por estrangulamentos nas vias, um problema frequen-
temente encontrados por engenheiros de transportes.
Um estrangulamento é um ponto onde a capacidade da via é inferior à capa-
cidade da seção imediatamente à montante. A capacidade de um trecho de via
pode ser reduzida por um grande número de fatores, entre os quais os mais comuns
estão: a diminuição do número e da largura das faixas de tráfego, a redução da
largura dos acostamentos e a presença de interseções. Um estrangulamento pode
ser incidental ou recorrente. Os estrangulamentos recorrentes são causados por
limitações de capacidade impostas pela própria via, tais como um trecho onde o
número de faixas de rolamento é menor, onde existe uma obra, etc. Estes locais se
tomam pontos de estrangulamento recorrentes quando os fluxos de tráfego típica
e periodicamente excedem a capacidade da via nesse locaL
Os estrangulamentos incidentais são causados por incidentes de tráfego, que
podem ser causados por uma série de fatores, entre os quais um acidente de trânsito,
um veículo"parado na faixa de tráfego, etc., que restringem o fluxo de tráfego na
via por um período relativamente curto. A diferença básica entre os dois tipos de
estrangula.J.1.1entos é que, enquanto se pode prever os congestionamentos causados
por gargalos recorrentes, é impossível prever onde os gargalos incidentais vão
ocorrer. Além do mais, a capacidade da via ao longo de uma restrição incidental
costuma variar com o tempo. Por exemplo, um acidente pode inicialmente bloquear
todas as faixas de uma via; conforme os veículos envolvidos vão sendo removidos,
3.6 Análise de pontos de estrangulamento em vias 111
Exemplo 3.12 Suponha-se uma via com duas faixas de tráfego no mesmo sentido, na qual
a capacidade é 4.000 veic!h. Num determinado período do dia, o volume de tráfego é de
2.900 veic!h. Num certo instante (t = 0), ocorre um acidente que obstrui completamente
a via por 12 minutos até que uma das faixas é liberada para o tráfego, com capacidade
reduzida a 2.000 veic!h. A capacidade da via volta ao seu valor inicial em t = 31 min,
quando os veículos são removidos do local. Usando um modelo D/D/1, determine a du-
ração do congestionamento causado pelo incidente, o atraso médio sofrido pelos veículos
que passam pelo trecho congestionado, o número médio de veículos no congestionamento,
o número de veículos que estão no congestionamento quando este atinge seu máximo e o
atraso máximo sofrido pelos veículos.
Solução: A taxa de chegadas (À), no caso, é definida pelo volume de tráfego, que
é constante ao longo de todo o período: À = 2900/60 = 48,33 veic/min. A taxa
de atendimento (J,L) é determinada pela capacidade da via, que varia ao longo do
tempo:
Ul
.Q 4000
:::1
u
~
-8 3000 :::>c.
z
o o 3
(") (!)
"C
ca go
=E 2000
::l
u
Atraso máximo no
congestionamento
~õ
~§I
O o_
:::> (!)
ca
e 1000 ~ê5
Cll ã§'
E Número máximo de veículos
0
[
•:;!
z no congestionamento
o 10 20 30 40 50 60 70 80
Tempo (min)
Embora a solução analítica deste problema seja simples, solução gráfica é obtida
facilmente e tem a vantagem de permitir a visualização do comportamento do tráfego
durante o incidente, corno mostra o gráfico da Figura 3.10.
Para obtenção da solução gráfica, constrói-se a curva de chegadas acumuladas C (t),
que tem início na origem e que passa pelo ponto (60 rnin, 2.900 veic). A seguir
constrói-se D(t), a curva de partidas acumuladas, composta por quatro segmentos
de reta:
• Um segmento entre as coordenadas (0, O) e (12 rnin, 0), que corresponde aos
12 minutos durante os quais a passagem pela via está impedida;
• Um segmento entre as coordenadas (12 rnin, 0) e (31 rnin, 633,3 veic), que
representa o número acumulado de partidas ao longo dos 19 minutos em que
apenas urna faixa está livre e durante os quais /J-1 = 2.000 veic/h;
• Um segmento que se inicia no ponto (31 rnin, 633,3 veic) e têm coeficiente
angular fJ.-2 = 4.000 veic/h e continua até encontrar a curva C(t); e
• Urna semi-reta que inicia-se no ponto em que o terceiro segmento intercepta
a curva C(t) e é coincidente com C(t).
Considere-se, por exemplo, uma fila de veículos criada por um sinal vermelho,
como mostra-se na Figura 3.11. Quando o sinal abre, a fila começa a se movimentar.
Se os headways entre os veículos que deixam a fila forem registrados, observa-se
um fenômeno interessante. Supondo-se que o primeiro headway, que é definido
como o tempo que passa entre o sinal ficar verde e o pára-choque dianteiro do
primeiro veículo da fila passar pela faixa de retenção, e que os headways sucessivos
são o tempo até o pára-choque dianteiro do veículo seguinte cruzar a faixa de
retenção, pode-se perceber que o primeiro headway é maior que o segundo, que
é maior que o terceiro, etc. e que o valor dos headways tende para um valor
constante, a partir de algum ponto entre o quarto e o sexto veículos.
O headway do primeiro veículo é comparativamente mais longo porque o
primeiro motorista, ao ver a indicação semafórica passar para verde, leva um
certo tempo para reagir, engatando a primeira e acelerando seu carro. O tempo
perdido pelo primeiro motorista está indicado no gráfico da Figura 3.11 como
114 Capítulo 3. Fluxos de veículos e seu controle
3.600
S=-- (3.30)
h
~··~·~·~•-+•--·
headwayde
fluxo reinicia-se, os veículos no início da fila gastam um tempo
maior que h s/veic. Esse tempo adicional é chamado de tem-
saturação po perdido no início do tempo de verde e estão representados no
123456789···
gráfico da Figura 3.11 por t;, que é o tempo perdido pelo i -ésimo
Veículo na fila veículo na fila. Assim sendo,
Fig. 3.11: Headways numa interrupção de fluxo n
(3.31)
Quando o sinal muda de verde para vermelho, existe um outro tempo perdido que
é o intervalo entre a passagem do último veículo da fila e o início do verde para
a outra aproximação da interseção. Esse tempo é chamado de tempo perdido no
final do verde e costuma ser representado por p 2 . O Exemplo 3.13 ilustra o efeito
dos tempos perdidos na capacidade da aproximação.
Exemplo 3.13 Considere uma aproximação de um cruzamento que possui apenas uma
faixa de tráfego. Nessa aproximação existe um semáforo dá 27 segundos de verde, 3 se-
gundos de amarelo e 30 segundos de vermelho. Supondo que o headway de saturação seja
2 segundos e que os tempos perdidos no início e no final do verde sejam, respectivamente,
Pl = 2 se P2 = 11 s, determine a capacidade da aproximação.
O controle dos fluxos de tráfego visa assegurar que o movimento dos veículos
nas vias se dê de fonna organizada e previsível, para que seja possível reduzir a
probabilidade da ocorrência de acidentes a níveis suficientemente baixos. Uma das
formas mais simples de reduzir a probabilidade de ocorrência de acidentes entre
veículos é aumentar o headway entre eles. No entanto, um aumento do headway
médio causa uma redução no volume de tráfego, reduzindo a eficiência do sistema
de transportes. Os sistemas de controle de tráfego são estabelecidos de tal forma
que seja possível reduzir ao máximo os headways entre os veículos sem que o risco
de acidentes aumente.
As técnicas para controle de tráfego foram desenvolvidas especificamente para
cada tecnologia de transportes: o sistema usado para controle do fluxo de trens
metropolitanos é diferente do utilizado para controle de aeronaves ou do usado
para controle de veículos rodoviários. No entanto, pode-se notar que existem
algumas similaridades entre os métodos usados para controle de fluxos de tráfego
de modalidades diferentes, como se discute a seguir.
de forma tal que cada corrente seja constituída de veículos com movimentos tão
semelhantes quanto possível.
Os fluxos de veículos rodoviários são canalizados: numa via com pista dupla, os
veículos que viajam numa mesma direção são separados dos que viajam na direção
oposta; numa via com pista simples e mão dupla, os veículos devem manter-se à
direita da via. No transporte aéreo, o sistema de aerovias baseia-se na canalização
dos fluxos, por meio do estabelecimento de níveis de vôo em altitudes diferentes. A
canalização também é usada para separar fluxos de tipos diferentes, para aumentar
a segurança, como é o caso das calçadas que separam os pedestres dos automóveis
e das ciclovias, que separam as bicicletas dos pedestres e automóveis.
Uma outra forma de controle muito comum é o estabelecimento de limites de
velocidade, que podem ser instituídos em função de limitações geométricas da via
ou de limitações tecnológicas dos veículos. Limites de velocidade, contudo, são
também impostos quando não é possível segregar fluxos distintos em canais, ao
mesmo tempo em que é preciso estabelecer uma forma de compatibilizar o uso
seguro de trajetórias comuns. Decorrem daí os limites de velocidade em rodovias
urbanas e rurais, os limites de velocidade de operação de aeronaves na aproximação
das pistas de pouso e decolagem e os limites de velocidade para embarcações em
locais de forte concentração de tráfego.
As tabelas de horário são utilizadas para fazer com que os veículos se cruzem
apenas em locais pré-determinados, evitando acidentes. Nos primórdios do trans-
porte ferroviário, as tabelas de horário eram usadas para organizar o fluxo de trens
em linhas com tráfego nas duas direções. Os fusos horários foram criados com
base na proposta de um engenheiro ferroviário, Sanford Fleming, que procurava
uma forma de uniformizar os horários de uma ferrovia canadense que ligava o
Atlântico ao Pacífico. Ainda hoje, diversos sistemas de transporte são baseados
em tabelas de horário, como por exemplo, o sistema de transporte de passageiros
por ônibus, o transporte aéreo regular, etc.
que pode utilizar aparelhos móveis ou fixos (tais como radares fotográficos) para
melhorar sua eficiência.
Placas, marcas no pavimento e outros dispositivos de controle instalados ao
longo das vias transmitem aos motoristas informações a respeito das condições
da via (por exemplo, curvas acentuadas, pavimento escorregadio, restrições de
altura e peso, etc.), do seu direito de passagem e de restrições de velocidade. Para
uma maior eficiência do sistema, essas informações devem ser transmitidas através
R-1: Parada
obrigatória
R-19: Velocidade
máxima permitida
de sinais previamente convencionados e que sejam do conhecimento de todos os
Placas de regulamentação motoristas. As cores, o formato e os símbolos usados nos dispositivos de controle
devem ser uniformizados para garantir que a mensagem transmitida seja clara e
entendida por todos os motoristas.
O Código Nacional de Trânsito define os sinais, placas e marcas que podem ser
usados para transmitir informação aos motoristas, o seu significado e as regras às
A-1 a: Curva A..S: Cruzamento
acentuada à direita de vias
quais os motoristas estãos sujeitos. Essas placas, sinais e regras devem respeitar
Placas de advertência acordos internacionais, dos quais o Brasil é signatário, de tal forma que exista
Fig. 3.12: Placas de sinali- um uniformidade internacional entre os dispositivos de controle de tráfego. Para
zação rodoviária facilitar a aplicação dessas regras de controle de tráfego rodoviário, o Conselho
Nacional de Trânsito, o DNER e os DERs publicam Manuais de Sinalização que
determinam como deve ser feita a sinalização horizontal (marcas no pavimento) e
vertical (semáforos e placas).
As placas são os dispositivos de controle de tráfego mais comuns e dividem em
três categorias: placas de regulamentação, que estabelecem regras que devem ser
respeitadas por todos os motoristas (por exemplo, parada obrigatória, a velocidade
máxima permitida, etc.); placas de advertência, que procuram alertar os motoristas
para as condições da via (por exemplo, curvas, cruzamentos, estreitamento da pista,
etc.) e placas de informações, que servem para transmitir informações diversas
aos motoristas, como orientação para destinos, distâncias, serviços auxiliares, etc.
A Figura 3.12 mostra exemplos de placas de regulamentação e advertência.
As marcas no pavimento são usada para complementar a sinalização vertical
(as placas e os semáforos) e serve para canalizar o tráfego, definir e separar as
correntes de veículos, demarcar os trechos em que a ultrapassagem é proibida,
etc. Os semáforos são usados para alternar a preferência entre correntes de tráfego
conflitantes em cruzamentos em níveL Ainda que o estudo detalhado dos processos
de controle de tráfego rodoviário fuja dos objetivos deste texto, em virtude da sua
complexidade, o Capítulo 4 discute os conceitos básicos do controle de tráfego
rodoviário em interseções. O estudo detalhado dos métodos para projeto e operação
de dispositivos de controle de tráfego rodoviário é estudado nas disciplinas de
3.10 Os sistemas de controle do tráfego ferroviário 119
bastão. Só a colocação desse 'staff' no aparelho da estação B faz com que os dois
aparelhos interligados fiquem em condições de permitir um novo licenciamento.
Apesar de muito seguro, o licenciamento pelo 'staff' elétrico é relativamente ine-
ficiente, pois um trecho entre duas estações só pode ser ocupado por um trem de
cada vez. O aumento do número de estações poderia aumentar o volume de trens
circulando, mas representaria um grande aumento nos custos de pessoal.
Os sistemas mais modernos permitem um melhor controle do fluxo de trens,
podendo-se assim reduzir os headways e, em conseqüência, aumentar a capacidade
do sistema. O sistema de sinalização por blocos é a base desses sistemas, nos quais
o controle é feito a partir de um centro de operações a partir do qual se controla
os aparelhos de mudança de via e onde pode-se ver o progresso dos trens em
monitores de computador ou em displays especialmente construídos para mostrar
a posição dos trens nas vias.
Trem 1 Trem2
®Vermelho
[JJTTQJ ~
f Bloco
Verde
,..
@Amarelo
IÕ)Vennelho IH)
~ mpw~ \ffVerde
---~ .
Direção do movimento Separação mfnima:
dois blocos livres
2. Sistema de três blocos e três fases
Bloco
® Vermelho
~~
@ Verde
tmarel§ermelh,Vennelho
~~
@
. Verde
Separação mínima:
três blocos livres
Fig. 3.13: Sistema de sinalização por blocos Fig. 3.14: Diagrama espaço-tempo para siste-
ma de sinalização de blocos
deve preparar-se para parar. O sinal verde significa que o trem pode prosseguir em
velocidade normal, pois há mais de um bloco livre à sua frente. No sistema CTC,
um sinal verde significa que existem dois blocos livres, enquanto que no sistema
ATO são necessários três blocos livres para o sinal ficar verde.
Como existem neste esquema três fases diferentes (vermelho, amarelo, e verde)
e dois blocos entre um bloco ocupado e um sinal de "prossiga", este sistema é
denominado de sistema de dois blocos com três fases.
Existem diversas variações do sistema de sinalização por blocos, sendo que o
utilizado em sistemas de metrôs e pré-metrôs em áreas urbanas (Fig. 3.13) funciona
de tal modo que o trem é freado automaticamente caso um sinal vermelho não seja
respeitado. Esse sistema é conhecido como ATO, já que a operação do trem é
automática e fica condicionada à sinalização. No entanto, para que seja possível
parar automaticamente um trem que avance um sinal vermelho, é necessário que
exista um bloco adicional, fato que leva o sistema a ser denominado de sistema de
três blocos com três fases.
A base do sistema de bloqueio automático é o chamado circuito de via, que
usa os trilhos para formar um circuito elétrico que é isolado dos blocos vizinhos
por meio de juntas isolantes. O circuito é percorrido por uma corrente de baixa
voltagem (1 a 2 volts). Se o trecho estiver vazio, essa corrente elétrica aciona um
relé que, por sua vez, mantém a luz verde acesa. Se um trem entra no trecho, a
corrente elétrica é derivada pelas rodas e eixos do trem, cortando a corrente que
passa pelo relé que, não sendo acionado, apaga a luz verde e faz com que a luz
vermelha seja ligada, bloqueando o trecho. Uma vantagem do sistema de bloqueio
122 Capítulo 3. Fluxos de veículos e seu controle
Resumo
e As correntes de tráfego podem estudadas peh~ teoria das filas. Uma fila é caracteriza-
da pelo padrão de chegadas (a distribuição de headways entre chegadas sucessivas),
pelo padrão de partidas (a distribuição de headways entre partidas sucessivas), pelo
número de canais de atendimento e pela disciplina da fila. No estudo dos fl.uxos de
tráfego, a disciplina é sempre PIFO, ou seja, os veículos partem na ordem em que
chegam ao sistema.
e O controle do tráfego rodoviário é feito por meio de placas, sinais luminosos e mar-
cas no pavimento. O controle do tráfego ferroviário é feito através do licenciamento
dos trens, que pode ser feito através de ordens escritas ou sinais. Para controle de
tráfego ferroviário, pode-se usar o "staff" elétrico, através do qual os trens são li-
cenciados para circular de uma estação para outra, ou o sistema de sinalização por
blocos, em que os trens são licenciados para trafegar de bloco para bloco. O sistema
de sinalização por blocos permite um melhor aproveitamento do sistema, já que as
separações entre trens são menores.
Estradas de Ferro (vol. 2), H. L. Brina. Livros Técnicos e Científicos Editora, Rio de
Janeiro, 1982.
Discute o licenciamento dos trens no capítulo 9, em que explica os princípios de
funcionamento do "staff'' elétrico e do sistema de sinalização por blocos.
Exercícios
Problema 3.1 Observações conduzidas numa faixa de rolamento de uma rodovia produ-
ziram os seguintes dados sobre a velocidade média no espaço e a densidade da corrente de
tráfego:
Velocidade (kmlh) 97 65 34 si
7
106 57 15 55
Concentração (veic/km) 7 39 64 /27 3,5 45 85 50
Problema 3.2 Uma medida dos tempos de percurso para um trecho de 3,2 km de rodovia
forneceu os resultados abaixo. Compare velocidade média no tempo com a velocidade
média no espaço. Por que a velocidade média no espaço é sempre menor que a velocidade
média no tempo? Calcule a variância da velocidade média no tempo e verifique se a
hipótese de Wardrop é válida para estas observações.
Veículo 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Tempo (min) 2,6 2,4 2,4 2,8 2,2 2,1 1,9 2,7 2,5 2,3 2,0 2,7
Problema 3.3 Uma das regras de direção defensiva sugere que a distância mínima que
deve ser mantida entre seu carro e o carro que vai à sua frente deve ser de um comprimento
de automóvel para cada 10 kmJh de velocidade. Usando um comprimento médio para
os automóveis de 6 m e supondo que a hipótese de Greenshields é válida, determine a
velocidade livre, a densidade de congestionamento e a capacidade de uma faixa de tráfego
para o caso de todos os veículos seguirem essa regra.
Problema 3.4 Compare a capacidade da faixa de tráfego do Exercício 3.3 (em veic/h),
que é usada apenas por automóveis, com a capacidade de uma faixa similar, que seja usada
apenas por ônibus. Adote um comprimento médio de 12m para os ôriibus.
Considerando que um carro transporta em média 1,8 pessoas e que um ônibus tem
um carregamento médio de 40 passageiros, compare a capacidade de transporte da faixa
exclusiva de ônibus com uma faixa usada apenas por automóveis.
Veículo 2 3 4 5 6
Entrada (s) O 2 3 5 6 8
Saída (s) 35 37 39 42 44 48
Problema 3.6 Numa rodovia com baixa intensidade de tráfego, um estudante de Enge-
nharia de Transportes observa que 60% dos headways têm duração igual ou maior que
13 segundos. Se o estudante resolve contar quantos veículos passam pela via em inter-
valos de 30 segundos, estime a probabilidade de, durante um desses intervalos, passarem
exatamente 4 carros.
Poisson, cuja média é 4 veic/min. O estacionamento tem um único atendente, que é capaz
de atender até 5 veic/min.
(a) Determine o comprimento médio da fila no guichê de entrada, bem como o tempo
médio gasto para entrar no estacionamento e o tempo médio de espera para ser atendido.
(b) Se o tempo de atendimento passar a ser distribuído exponencialmente, determine os
novos valores para as medidas de mérito calculadas anteriormente.
Problema 3.9 Numa praça de pedágio, os veículos chegam a uma das cabines a uma taxa
média de 2 veic/min. O operador atende veículos a uma taxa média de um carro a cada
20 segundos. Determine as medidas de desempenho do sistema supondo que:
(a) As chegadas são poissonianas e o tempo de atendimento é exponencialmente distri-
buído.
(b) As chegadas seguem uma distribuição de Poisson e o tempo de atendimento é constante.
(c) Discuta as diferenças entre as duas situações.
Problema 3.10 Seja um trecho de via expressa urbana com duas faixas de tráfego em
cada sentido. No período de pico da manhã, o volumes de tráfego observado é de 1.200
veículos/hora. Por causa de um acidente, a via fica completamente fechada por 5 minutos
e tem uma faixa de tráfego interrompida por 45 minutos. Usando um modelo de filas
determinístico, calcule:
(a) a duração do congestionamento causado pelo conserto,
( b) a espera total no congestionamento,
(c) o atraso médio causado aos motoristas pelo congestionamento e
( d) o comprimento do congestionamento.
128 Capítulo 3. Fluxos de veículos e seu controle
Suponha que a capacidade de cada faixa de tráfego desta via expressa seja de 1.000
veic/hora. Opcionalmente, obtenha uma solução gráfica para o problema.
Problema 3.11 Seja um trecho de via expressa urbana com duas faixas de tráfego em
cada sentido. Os volumes de tráfego observados são os mostrados na tabela a seguir:
Por causa de um problema na rede de água, uma das faixas desta via expressa têm
que ser fechada ao tráfego durante um dia, para consertos. Se a capacidade de cada faixa
de tráfego desta via expressa for de 1.800 veic/hora, calcule as seguintes medidas de
mérito:
(a) a duração do congestionamento causado pelo conserto,
( b) a espera total no congestionamento,
(c) o atraso médio causado aos motoristas pelo congestionamento e
( d) o comprimento do congestionamento.
Problema 3.12 A travessia de certo canal é realizada por meio de uma balsa. No atraca-
douro dessa balsa existe uma baia com capacidade para 30 automóveis. A balsa é operada
de tal forma que a taxa de atendimento é constante e igual a 4 veic/min. Se a balsa começa
a funcionar quando a baia está cheia e a fila dissipa-se após 30 minutos, qual é a taxa
média de chegadas? Suponha que o processo de chegada é determinístico. Demonstre
que a solução obtida pode ser também conseguida por meio de um gráfico que indique a
variação do número acumulado de chegadas e partidas ao longo do tempo. Usando esse
gráfico, calcule a espera média e a fila média.
Capítulo 4
Fluxos de veículos em
interseções
O primeiro semáforo que utilizou luzes coloridas para controlar o fluxo de veí-
culos foi instalado em Londres, na Inglaterra, em 1868. Com a popularização
do automóvel, a partir do início da fabricação do Modelo T pela Ford, aumentou
a importância e a necessidade de controlar fluxos de veículos em cruzamentos.
James Hoge inventou o semáforo elétrico em 1913 nos EUA, sendo que Cleveland
foi a primeira cidade a instalar essa invenção. Este dispositivo foi o precursor do
semáforo de três cores, que se tornou popular durante a década de 20 nos Estados
Unidos. A partir do invento de Hoge, os sinais luminosos passaram a ser cada
vez mais usados: Salt Lake City teve a primeira instalação de semáforos inter-
conectados em 1917; o sistema de progressão semafórica foi proposto em 1922
1 Pline, J. L., ed. (1992). Traffic Engineering Handbook. Prentice-Hall, Englewood Cliffs, NJ,
EUA.
2 DENATRAN (1979). Manual de Semáforos. Departamento Nacional de Trânsito, Conselho
Nacional de Trânsito, Ministério da Justiça, Brasília, DF.
3McShane, W R. e Roess, R. P. (1990). Traffic Engineering.Prentice-Hall, Englewood Cliffs,
NJ, EUA.
4.2 Análise determinística de interseções semaforizadas isoladas 131
O estudo das interseções semaforizadas pode ser feito usando-se a Teoria das Filas,
através de um modelo de filas determinístico (D/D/1). Ainda que modelos mais
complexos possam ser usados, a abordagem determinística serve para ilustrar os
conceitos envolvidos de forma clara e facilita a compreensão do fenômeno.
g=G+A-p (4.2)
r= c- g, (4.3)
ou seja, é a diferença entre o tempo de ciclo (c) e o tempo de verde efetivo (g).
A relação volume/capacidade é a razão entre o volume de uma aproximação,
V, e a sua capacidade, C. Se a relação V I C = 1, a aproximação opera na
capacidade; se V I C > 1 diz-se que a aproximação está saturada (o que a uma fila
com p > 1). No caso em que V I C > 1, se o volume na aproximação se mantiver,
o comprimento da fila cresce continuamente.
Na maior parte dos casos V I C :=:: 1 só ocorre esporadic:amente, durante alguns
minutos; a capacidade de uma aproximação é sempre maior que o volume, na maior
parte do tempo. Se um modelo D/D/1 for usado, a operação da aproximação do
cruzamento da Figura 4.1 pode ser representada graficamente conforme mostrado
na Figura 4.2, sendo que
É fácil notar que neste instante também ocorre a maior espera no sistema, Wmax,
que é
Wmax =r. • (4.5)
No instante em que a indicação de fase muda de vermelho para verde, os veículos
que estão na fila do semáforo começam a se movimentar, partindo à uma taxa
fL > À. Como partem mais veículos que chegam, a fila irá se dissipar após um
certo período de tempo t0 :
Àr
JLto =À (r+ to) ::::} to= - - . (4.6)
JL-À
Ao final de to, a fila deixa de existir e a curva de chegadas volta a ser coincidente
com a curva de partidas, até o final do ciclo. A parcela do ciclo onde existe fila,
Pq, pode ser determinada por:
r+ to
Pq=-- (4.8)
c
Wtotal À r (r+~):::}
2 f.J.--À
Wrotal Àr
2
2
(l +_À_).
f.J.--À
(4.10)
Wrotal = Àr
2
2
(1 + Yf.J.- ) ·
f.J.--Yf.J.-
(4.11)
A espera média por veículo, por ciclo, CW) é o quociente entre a espera total e
o número total de veículos que passam pela aproximação durante o ciclo, ou seja,
Wrotal À r2 1
w = ÀC 2(1- y) À c
:::}
4.2 Análise determinística de interseções semaforizadas isoladas 135
w -----S.
2c(1-y)
(4.13)
A fila média pode ser determinada pelo quociente entre a espera total no ciclo e o
comprimento do ciclo:
- Wwtal
q=--. (4.15)
c
Note o leitor que esta formulação só se aplica a ciclos onde a capacidade supera o
volume de tráfego da aproximação analisada, ou seja, onde o índice de congestio-
namento p = 1:.f.
jlg
< 1. Urna solução para os casos em que p é temporariamente
maior que a unidade será apresentada a seguir.
Solução: O tempo de verde efetivo pode ser determinado a partir da Equação 4.2:
g = G +A - p => g = 25 + 3 - 4 => g = 24 S.
600 .
À= - - =O 167 ve1c/s·
3.600 , ,
a taxa média de de partidas (ou de atendimento), fJ.-, é
2.800
11 = - - = O 778 veic/s·
"" 3.600 ' '
e taxa de ocupação é
À 0,167
y = -fJ- = --
0,778
=o ' 215.
136 Capítulo 4. Fluxos de veículos em interseções
e o tempo máximo de espera é Wmax = 56 s (Eq. 4.5). A espera total por ciclo é
(Eq. 4.12):
0,167.56 2 .
Wtotal = ( _ 0, ) = 333,57 ve1c.s
2 1 215
e a espera média por veículo é (Eq. 4.13):
- 333,57
W= =24,97s.
0,167.80
A proporção de veículos que param no cruzamento é (Eq. 4.14 ):
p = O, 167(56 + 15,33) =O _
89
s 0,167.80 ' '
e a fila média observada é (Eq. 4.15):
333,57
q = ---go- = 4, 17 veic.
1/)
o
~ 20
-~
.g 16
o
"C
=ta
E
:::1
12 ... ·:······· .... ···········-:······--·· -~--
(J
ta ' '
' '
----------~-------------------·-·r··--------:--
'
e
Gl
E
•:::1 4
z
0~~~~4---4---~--~--~--~---+--~
o 20 40 60 80 100 120 140 160 180
Tempo (segundos)
no final do terceiro ciclo, como mostra a Figura 4.3. Chamando-se A o número total
de chegadas durante o período de estudo (3 ciclos neste exemplG), deve-se notar
que o número de ciclos no período de estudo (nc) deve ser tal que nc f.J- g 2: A, para
que a fila se dissipe totalmente durante os ciclos analisados.
Observando-se a Figura 4.3, pode-se deteflll:inar as esperas totais em cada ciclo:
tempos de verde efetivo em cada aproximação de tal forma que a espera total no
cruzamento seja a menor possível.
Seja si o fluxo de saturação (em [veic/h]) e Ài a taxa de chegadas (em [veic/s]
Aproximação 4
) na aproximação i da interseção esquematizada na Figura 4.4. A taxa de aten-
dimento na i -ésima aproximação é f.Li = si /3600 veic/s. A taxa de ocupação em
cada aproximação é Yi = Ãi/ f.Li.
A espera veicular total no sistema, Wwtal, é a soma das esperas totais em cada
_w !
m"
ro o
aproximação (Equação 4.12):
Wtotal -
(4.16)
t m
Wwtal - Aproximação 2
(4.17)
(4.18)
O valor de r 1 que minimíza a espera veicular total pode ser calculado derivando-se
a expressão 4.20:
dWtotal
- - = 2(kl + k2 + k3 + k4)r1 - 2c(k2 + k4) (4.21)
dr 1
2 2 2
À1r 1 À2T~
----''-- + - + À3r3 + À4r4 ===>
2(1- Yl) 2(1- Y2) 2(1 - Y3) 2(1 - Y4)
0,20r[ 0,23r} O, 12r} 0,07r}
= 2(1- 0,4) + 2(1- 0,46) + 2(1- 0,24) + 2(1- 0,14) ===>
= O, 1667r? + 0,213ürl + 0,0789ri + 0,0407rl
Como T! = r3, r2 = r4 e r2 = g- r1 = 80- TJ, tem-se que:
Wtotal + 0,0789(80- TJ) 2 + 0,2130rf + 0,0407(80- TJ) 2 ===>
O, 1667rf
Wtotal = 0,4993rf- 19, 136rl + 765,44
Fase1 Fase2
Diagrama de tempos
Vennelho Verde
~~~~~~~ Fase2
Estágio 1 Estágio 2
um ou mais intervalos. A Figura 4.5 mostra uma interseção com duas fases
e os movimentos que têm direito de passagem em cada fase.
• Intervalo ou estágio: é uma parte do ciclo durante a qual as indicações
luminosas não se alteram.
o Período entreverdes: é o tempo decorrido entre o fim do verde de uma fase,
que está perdendo o direito de passagem, e o início do verde de outra fase.
No Brasil, normalmente, o período entreverdes é igual ao tempo de amarelo;
em alguns casos, se existir também um período de vennelho geral, que é
usado para dar maior segurança na limpeza dos veículos do cruzamento, o
tempo de entreverdes é o tempo de amarelo mais o tempo de vermelho geral.
~i>--
estágios para essa outra forma de operação é mostrado na Figura 4.6. O leitor deve
l f- tentar criar o diagrama de tempos correspondente.
~1 T
11
Outra forma de operação seria usar quatro estágios, da forma como se mostra
3 T 7
na Figura 4.6, mas permitindo-se conversões à direita que não sejam conflitan-
2+t- "f:
Estáglo3 Estáglo4
l 8 tes com os movimentos permitidos. Na verdade, seria até possível manter uma
continuidade nos movimentos de conversão à direita. O leitor pode tentar montar
--i6 -i 10 o diagrama de estágios correspondentes, devendo notar que os movimentos de
T conversão à direita seriam permitidos num estágio e no estágio seguinte: o mo-
vimento 9 seria permitido nos estágios 1 e 2; o movimento 4, nos estágios 2 e 3;
Fig. 4.6: Diagrama de está- o 1O, nos estágios 3 e 4. O movimento 3 também seria permitido em dois estágios
gios
consecutivos, que são o estágio 4 e o estágio 1.
d=
C(l- ef +
2(1 -ex)
x
2
2q(1 - x)
- ,O65 (C)
-:;-
q-
X
2+5e (4.23)
Esse ciclo ótimo é aquele que fornece a maior razão entre volume e fluxo de
saturação. Webster também concluiu_q.Qe_o,atraso total não varia muito para tempos
de ciclo no intervalo entr~0,75ê; e1_,_5 Ca_:: O processo é, contudo, sensível a erros
nas estimativas dos fluxos-de saturação e dos volumes nas aproximações.
Para um cruzamento com duas fases, o tempo total de verde efetivo gy é
n
gy =c- L =c- L li (4.26)
i=l
146 Capítulo 4. Fluxos de veículos em interseções
(4.27)
(4.29)
Os passos necessários para a calibração de um sinal com duas fases, sem faixas
ou fases exclusivas para conversão, são os seguintes:
4.4 Calibração de semáforos isolados pelo método de Webster 147
6. Calcule o tempo total de verde efetivo e distribua esse tempo entre as duas
fases.
li = (I -ta)+ Pi = (4- 3) + 2 = 3 S.
Dessa forma, o tempo perdido por ciclo é L = 6 s, já que existem duas fases.
O cálculo do tempo de ciclo ótimo pode ser feito usando-se a Equação 4.25:
1,5. 6 + 5
Co= l _ 0,
733
= 52,4 s.
Adotando-se o tempo de ciclo como 55 segundos, o tempo de verde efetivo total é
gr = C - L = 55 - 6 = 49 s. Pode-se distribuir esse tempo total de verde efetivo
entre as duas fases (Eq. 4.28):
0,4
g] --49 26,7s;e
0,733
0,333
g2 = --49 = 22,3 S.
0,733
Ou seja, g 1 = 27 segundos e g2 = 22 segundos. Os tempos de luz verde podem
ser determinados usando-se a Equação 4.29:
G1 = 27 + 3 - 3 27 segundos e
G2 22 + 3 - 3 = 22 segundos.
Y[D ~
que os carros que partem de um semáforo têm headways
praticamente iguais e movem-se num pelotão, que se
dco
desloca ao longo da via. Esse pelotão tende a desa-
parecer à medida em que se afasta do sinal, já que os l][ c J'
/
*"
lo~A
Semáforos
I
150 Capítulo 4. Fluxos de veículos em interseções
malmente, define-se uma velocidade de progressão V tal que ela seja compatível
com o uso do solo adjacente. Note-se que se o offset for maior que o tempo de
ciclo c, como é o caso do offset do cruzamento D, pode-se dizer que o offset é
toff = toff- c. O exemplo a seguir ilustra como deve ser feita a determinação dos
offsets.
Exemplo 4.5 Considere-se o trecho mostrado na Figura 4.8, em que as distâncias dAs =
135m, dsc = 200m e dcD =280m. A via tem mão única no sentido de A para D.
Adotando-se um ciclo de 50s, com 30 s de verde efetivo para a via principal, determinar
os defasagens apropriadas para os sinais B, C, e D para que a velocidade de progressão
seja de 40 km/h.
135
toffs = 3,6 = 12,15 S.
40
Os offsets dos semáforos C e D podem ser determinados de maneira similar e são,
respectivamente, foffc = 30,15 se toffo = 55,35 s. Como c < t 0 ff0 , a defasagem
é toffo = 55,35 - 50 = 5, 35 s. Todos as defasagens são medidas a partir do início
do ciclo do semáforo A.
(4.31)
(4.32)
Para a eliminaçilo da zona de dilema num trecho plano, Ln deve ser zero, ou
seja, Lu= X1•- X2 =O. Portatlto,
)
"õ
"o<')+--
2a
W +L llo
ô+----+-. (4.33)
11(1 2(/
A literatura especializncla<í recomenda que o tempo de reaçilo adotado seja 1 se-
gundo e que a desaceleração máxima de frenagem seja 0,31 g (ou seja, 31% da
hl'line, .1. L. ( 1992). 1/·aflic F·nfiÍIII'cring flnndhook ITF/I'rcnlicc-ll:dl, Fnglewood Clills, N.l,
E liA.
152 Capítulo 11. Fluxos de veículos em interseções
Intervalos de entre verdes inferiores a :l segundos nunca são usados, para ga-
rantir a segurança viária. Por outro lado, para velocidades normais de aproximação
em zonas urbanas, não se usam intervalos entre verdes maiores que .'i segundos,
para evitar que os motoristas desrespeitem o sinal amarelo. Quando intervalos en-
tre verdes mais longos são necessários (em cruz.amentos em zonas rura~s ou com
muitos pedestres), é costumeiro usar o que se chama de "vermelho geral" além elo
tempo ele amarelo. Nesse caso, o tempo de amarelo y deve ser:
11()
.v=8+-
2a
,. W-t-L
llo
Exemplo 4.6 Determinar o inten•oln entre l'erdes mínimo numa arterial com l'fiocidade
de 50 kmlh. q11e é cm7arla (Jnr mas co/11 /2,5 111 dP lnrg11m.
Solução: Uma vclocicladc cl~.: .'iO km/h equival~.: a 11,89 m/s. Usm1do a expressão
da FqwH,;iío 4.1.\ pode-se calcular o tempo mínimo entre verdes:
12 . .'i+G.I 11,89
Trni 11 =I+
ll,8lJ
+- --
2.l,O.'i
= 4,G S.
Para cruzamentos em desnível, o ITE 7 propõe que a Equação 4.33 seja modi-
ficada para:
W +L llo
Trnill =r')-j- · + 2o±2gm , (4.34)
li()
em que o·
.~.
aceleração ela gravidade [9,R I m/s 2 ]; e
m: grau de declividade da r;unpa [ m/1 00 111 ].
7tTE ( 19R'1). /)erermining Vehir-11' ( "honge ln/nl'(f/s. l'roposed Rccommcndcd Prr~clicc. lnstitu!c
ofTrnnspor!alion Engincns. W:1shinglon. ll(', E\ li\.
4.7 Instalações semafóricas 153
Por outro lado, um semáforo desnecessário, mal projetado, mal instalado e mal
conservado pode:
4. 7. 1 Estudos necessários
Fonte: FHWA (1988). Manual on Uniform Traffic Contrai Devicesfor Streets andHighways. DcpL ofTransportation. Washington. DC. EUA
1. Volume veicular mínimo: esse critério deve ser aplicado quando a razão
principal para a instalação do semáforo é o volume de tráfego. O critério
é definido em função dos volumes na via principal (bidirecional) e na via
secundária (unidirecional) e do número de faixas. Se os volumes observados
forem maiores que o estabelecido para pelo menos oito das horas do dia, o
sinal pode ser instalado. A Tabela 4.1 fornece os volumes mínimos para o
critério.
3. Volume mínimo de pedestres: deve ser aplicado quando a razão para ins-
talação· do sinal é o volume de pedestres. O semáforo pode ser instalado
se o volume de pedestres que cruza a via principal for igual ou maior que
100 pedlh durante pelo menos quatro das horas do dia ou igual ou maior a
190 pedlh durante a hora pico. Esses limites podem ser reduzidos à metade
se os usuários da travessia forem idosos ou deficientes físicos. Além desses
limites mínimos, o número de 'gaps' adequados para cruzamento da via de-
ve ser inferior a 60 'gaps' por hora durante as horas em que os volumes de
pedestres excedem o mínimo. Se a via dispuser de um canteiro central capaz
de servir de refúgio para a travessia, a análise da distribuição e tamanho dos
'gaps' deve ser feita para cada direção separadamente 10 .
6. Histórico de acidentes de trânsito: deve ser aplicado nos casos em que uma
análise do histórico de acidentes indica que a instalação de um sinal pode
reduzir a freqüência dos acidentes observados no cruzamento. A instalação
de um sinal sob esse critério só se justifica se outras formas de controle
de acidentes (canalização, fiscalização, iluminação, sinalização, etc.) já
tiverem sido usadas sem sucesso no local.
1°Conforme discutido no item 4.8.
11 Conforme discutido no item 4.8.
4.71nstalações semafóricas 157
O critério pode ser considerado satisfeito se, nos doze meses anteriores,
ocorreram pelo menos cinco acidentes com vítimas ou danos de monta, que
poderiam ter sido evitados por um sinal luminoso e se pelo menos um dos
três primeiros critérios for satisfeito para 80% dos limites estabelecidos.
10. Espera na hora pico: deve ser aplicado quando a razão para instalação do
sinal são esperas excessivas no cruzamento de uma via preferencial. Para
tanto, é necessário determinar os volumes na via secundária e preferencial
e o atraso total sofrido pelos veículos da via secundária durante uma hora
(quatro períodos consecutivos de 15 minutos de duração ao longo do dia).
Se a via secundária tiver apenas uma faixa de tráfego, o semáforo pode ser
instalado se a espera total for maior que 4 veic.h, o volume na aproximação
secundário for superior a 100 veic/h e o volume total que entra no cruzamento
for superior a 800 veic/h (para cruzamentos com quatro aproximações) ou
650 veic/h, para cruzamentos com três aproximações. Se existirem duas
158 Capítulo 4. Fluxos de veículos em interseções
500
v85 acima de 60 kmlh na via principal
ou
...."'
-.::
"C- 400 400 população inferior a 10.000 hab
c:ãi
::!C:
g.§
"'.ê 300 300
"'""
>§
~r§ 200 200
E!
::1
;g 100 100
o+-~--~--r--+--~--~-+--+-~~-r--+4~ 0+---~--~--r-~--~--~---+---+~
3oo 400 soa soa 7oo 8oo soo 1000 1100 1200 1300 1400 200 400 600 800 1000
Volume da via principal Volume da via principal
(veiclh, bidirecional) (vele/h, bldlreclonal)
600
V85 acima de 60 kmlh na via principal
"'
;::
:§- 500
ou
população inferior a 10.000 hab
<:ro
"'c:
g ·g 400
., ~
cu'õ
>§ 300 2 ou mais faixas e
1 faixa
~:g
E~ 2oo
"'~
;g 100
o 0~~~--+-~~--+-~~--+-~~
400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 300 500 700 900 1100 1300
Volume da via principal Volume da via principal
(vele/h, bldlreclonal) (vele/h, bldlrecional)
11. Volume na hora pico: esse critério pode ser usado para verificar a necessi-
dade de instalação de semáforo em cruzamentos nos quais as condições de
tráfego durante a hora mais congestionada do dia fazem com que os veículos
da via secundária sejam submetidos a esperas excessivas para cruzar a pre-
ferencial. O processo é semelhante ao usado no critério do volume de quatro
horas, devendo-se situar os volumes observados durante a hora pico em re-
lação às curvas mostradas naFigura4.11. Note-se que existe um gráfico para
situações em que a velocidade correspondente ao 85° percentil for maior que
60 km/h ou a população da cidade for menor que 10.000 habitantes.
4.8 Análise de interseções não semaforizadas 159
Num cruzamento de uma via principal com uma via secundária onde não exista
um semáforo, os veículos da via principal têm a preferência enquanto que os
veículos que chegam ao cruzamento pela via principal devem esperar por intervalos
adequados para entrar ou cruzar o fluxo preferencial. Esse tipo de cruzamento
só pode ser analisado através de modelos estocásticos, porque os intervalos entre
veículos são uma variável aleatória e devem ser representados por uma distribuição
estatística.
Considere uma alça de acesso a uma rodovia, onde veículos devem esperar um
intervalo adequado para entrar no fluxo de tráfego da rodovia. Pode-se supor que
existe um intervalo de tempo r, que é o menor intervalo entre veículos na rodovia
que permite que um veículo do acesso entre no fluxo preferencial. Esse intervalo é
denominado de intervalo crítico. Se existir uma fila de veículos desejando entrar
na rodovia por aquele acesso, toda vez que o intervalo t na corrente prioritária
satisfizer a condição t ::: r, um veículo pode entrar na rodovia.
Supondo-se que as chegadas de veículos do fluxo preferencial se dá de acordo
com uma distribuição de Poisson, a probabilidade de ocorrência de um headway
de comprimento t é igual à probabilidade de não ocorrer nenhuma chegada durante
um intervalo de tempo t:
(J....t)ne-M (J....t)Oe-M
P(n) = =} P(n =O)= = e-Àt (4.35)
n! O!
Exemplo 4.7 Considere-se uma rodovia cujo volume na hora pico seja 1.800 veic/h. Se
as chegadas de veículos na rodovia puderem ser representada por uma distribuição de
Poisson, e se o intervalo crítico para veículos que entram na rodovia for 3,5 segundos,
determinar o volume máximo horário de veículos que podem entrar na rodovia.
Este modelo para tratamento de interseções não semaforizadas tem suas limi-
tações, entre as quais pode-se citar 12 :
3. O método pressupõe que o tráfego na via principal não é afetado pelo tráfego
da via secundária; em muitos casos isto não é verdade, pois os motoristas tra-
fegando pela via secundária podem forçar a passagem, obrigando os veículos
da via principal a parar ou reduzir sua velocidade.
Resumo
e O controle de tráfego em interseções pode ser feito através de três formas: por
semáforos, por placas PARE ou DÊ A PREFERÊNCIA, ou pelas regras gerais
de circulação definidas no Código Nacional de Trânsito, que estabelecem que a
preferência, num cruzamento sem sinalização, é do veículo que vier pela direita.
e Os cruzamentos controlados por semáforos podem ser operados de forma isolada ou
coordenada. A operação é feita de forma coordenada quando interseções localizam-
se a distâncias relativamente curtas umas das outras. Nesse caso, é interessante
coordenadar os instantes de abertura e fechamento dos sinais, para melhorar a
eficiência do sistema. Interseções isoladas, isto é, distantes dos demais semáforos,
são operadas de forma independente sem que haja prejuízos para a eficiência do
sistema.
e A capacidade de urna aproximação num cruzamento sernaforizado é função do fluxo
de saturação e da proporção do tempo de verde efetivo alocada à aproximação. O
fluxo de saturação é a taxa de fluxo máxima que pode ser obtida na descarga da fila
na aproximação e o tempo de verde efetivo é a parte do ciclo que efetivamente é
usada para descarga da fila que se forma na aproximação.
e Um modelo D/D/1 pode ser usado para estudar aproximações de cruzamentos se-
rnaforizados por meio de urna abordagem determinística. As medidas de mérito,
tais corno a fila média, o tempo médio de espera e a espera total por ciclo, podem ser
usadas para estabelecer a eficiência do sistema. Numa interseção de quatro apro-
ximações, para a qual se conhece o tempo de ciclo, pode-se determinar os tempos
ótimos de verde minimizando-se a espera total na interseção, que é a sorna da espera
total por ciclo em cada aproximação. Situações em que a demanda é temporaria-
mente maior que a capacidade da aproximação também podem ser estudadas por
modelos de fila do tipo D/D/1.
e Quando se deseja tratar o cruzamento sernaforizado por meio de uma abordagem
estocástica, o método de Webster permite determinar o ciclo ótimo e os tempos
de verde efetivo que devem ser alocados a cada aproximação. O ciclo ótimo, no
método de Webster, é aquele para o qual a espera total na interseção é mínima.
e A operação coordenada de de cruzamentos sernaforizados é feita determinando-se
o "offset" (ou defasagem) na abertura dos semáforos. Dessa forma, os veículos que
viajam na velocidade estipulada só são obrigados a parar num único semáforo, já
que a velocidade de progressão do pelotão é tal que, ao chegar nos cruzamentos à
jusante, ele encontra sempre O sinal verde.
• Num cruzamento não sernaforizado, a capacidade da aproximação da via secundária
depende da ocorrência de "gaps" adequados na corrente de tráfego preferencial. É
necessário que ocorra um intervalo suficientemente longo para que um veículo da
via secundária possa cruzar ou entrar na corrente preferencial. Pode-se usar urna
distribuição exponencial para determinar a probabilidade de ocorrência de "gaps"
162 Capítulo 4. Fluxos de veículos em interseções
Exercícios
Problema 4.1 Uma aproximação num cruzamento semaforizado tem mão única e um
volume de 900 veic/h. O fluxo de saturação é 1.440 veic/hora de verde. O tempo de ver-
melho efetivo é de 24 segundos. Usando um modelo D/D/1 para analisar essa aproximação,
pede-se:
(a) Determinar o tempo de ciclo para que a capacidade da aproximação seja igual à deman-
da (volume observado). Construa um gráfico que indique a operação da interseção,
mostrando o número acumulado de chegadas e partidas ao longo de um ciclo.
( b) Para essa condição de capacidade igual à demanda, determinar a fila máxima e média
e o tempo médio de espera sofrido pelos veículos que chegam ao cruzamento por essa
aproximação.
Problema 4.3 Seja um cruzamento de duas vias de mão única, controlado por um sinal
luminoso, cujo ciclo tem duração de 60 segundos. Uma das aproximações tem fluxo
de saturação de 1.500 veic/hora de verde e o volume observado nessa aproximação é de
800 veic/h. O critério usado pelo engenheiro de tráfego da prefeitura local para dimen-
sionamento de ciclos é que todas a fila formada durante o vermelho efetivo do ciclo deve
desaparecer completamente 10 segundos antes do final do verde efetivo. Supondo que a
capacidade deve ser maior que a demanda (chegadas),
(a) Use um modelo D/D/1 para determinar o maior tempo de vermelho efetivo que pode
ser usado sem que o critério seja violado e construa o gráfico de chegadas e partidas
acumuladas que represente a operação dessa aproximação.
(b) Qual é o maior volume que poderia ser atendido nessa aproximação?
Problema 4.4 Uma aluna de Engenharia Civil observa uma interseção semaforizada da
janela do seu apartamento e nota que o número máximo de veículos na fila é 8. Supondo
que o fluxo de saturação seja 1.440 veic/hora de verde e que a duração do vermelho efetivo
seja 40 segundos, use um modelo D/D/1 para determinar o ciclo mínimo necessário para
o cruzamento em questão.
Problema 4.5 Seja um cruzamento de duas vias de mão única, a principal com duas
faixas de tráfego e a secundária com uma única faixa de tráfego. Os fluxos são controlados
por um semáforo de tempo fixo, com duas fases, uma para a via principal e outra para
a secundária. Não são permitidas conversões à esquerda. O volume observado na via
principal é de 900 veic/h e na secundária, de 450 veic/h. O fluxo de saturação foi medido
no local e é 1.440 veic/hora de verde para cada faixa de tráfego. Usando um modelo
D/D/1,
(a) Calcule o grau de congestionamento para cada aproximação. Qual o significado dessa
medida de desempenho?
(b) Determine a espera total no cruzamento para ciclos de 60, 70 80 e 90 segundos de
duração. [Dica: reveja o Exemplo 4.3].
(c) Determine o tempo de verde ótimo para cada duração de ciclo.
Problema 4.7 O esquema a seguir mostra um cruzamento de duas avenidas, que é con-
trolado por um semáforo de tempo fixo. Deseja-se semaforizar a interseção de tal modo
que existam quatro estágios, como mostrado no esquema anterior. Os volumes observados
são os seguintes
Aproximação 2
O fluxo de saturação (por faixa) é 2.000 veiclh de verde e o tempo perdido em cada
fase é 3,5 segundos. Usando o método de Webster,
(a) determine o tempo ótimo de ciclo;
(b) determine o tempo de verde efetivo;
(c) faça a alocação do verde efetivo entre os estágios; e
( d) prepare um diagrama de tempos que mostre as indicações de cores e a duração de cada
intervalo.
Problema 4.8 Verifique se o tempo perdido usado no Problema 4.7 é razoável, analisando
o intervalo mínimo entre verdes para o cruzamento. Suponha que as faixas de rolamento
têm 3,3 m de largura, que o canteiro central tem 1 m de largura e que a velocidade nas
aproximações é 60 km/h.
Problema 4.9 Seja um cruzamento de duas arteriais de mão dupla, no qual existem faixas
exclusivas para conversões à direita e à esquerda em todas as aproximações. Nas aproxi-
mações Norte e Sul, o fluxo de saturação é de 1.440 veic/h de verde e nas aproximações
Exercícios 165
Aproximação
Movimento Norte Sul Leste Oeste
Conversões à esquerda 133 73 168 134
Em frente 420 373 563 516
Conversões à direita 140 135 169 178
Problema 4.10 Uma via arterial unidirecional tem semáforos de tempo fixo localizados
em três cruzamentos A, B e C. Esses três sinais foram coordenados de acordo com os dados
mostrados na tabela a seguir:
Problema 4.11 Usando um programa como o MS-Excel, construa uma planilha eletrônica
que calcule a largura da banda verde a partir de dados como o número de cruzamentos,
a distância entre cruzamentos, os offsets, os tempos de verde, amarelo e vermelho e a
velocidade da corrente.
166 Capítulo 4. Fluxos de veículos em interseções
Problema 4.12 Ao longo de trecho de 2,4 km de uma via arterial, os cruzamentos estão
separados de 300 m, medidos a partir do centro da interseção. Admitindo-se uma velo-
cidade de progressão de 50 km/h, pede-se determinar os offsets para cada cruzamento,
supondo que a via tenha mão única.
Capítulo 5
e nível de serviço de rodovias estão reunidos num manual publicado pelo Trans-
portation Research Board, o Highway Capacity Manual 1 , mais conhecido pela
sigla HCM. Em virtude das limitações de espaço e dos objetivos deste texto, serão
abordados apenas os métodos para a determinação da capacidade e nível de serviço
de ferrovias e rodovias de pista dupla.
A capacidade de uma via férrea com tráfego num único sentido, como a mostrada
na Figura 5.1 é calculada a partir do intervalo mínimo entre trens, o headway
mínimo. Como visto no item 3.102 , num trecho unidirecional, a separação mínima
entre dois trens consecutivos é dois blocos, nos ramais ferroviários normais, ou três
blocos, nos metrôs. A Figura 5.1 mostra dois trens viajando com a menor separação
possível- no caso, dois blocos. Quando os trens estão operando à menor separação
permitida, não é possível aumentar o volume de tráfego sem infringir as regras de
operação. Esta condição corresponde à capacidade do trecho.
O headway mínimo entre trens que operam num trecho onde o comprimento
dos blocos e a velocidade dos trens são constantes, depende do comprimento
dos blocos, do tamanho da composição, da velocidade de operação e da folga
1TRB (2000). HCM2000: Highway Capacity Manual. Transportation Research Board, National
Research Council, Washington, DC, EUA.
2Veja pág. 119.
170 Capítulo 5~ Análise da capacidade e nível de serviço de vias
Trem1 Trem2
fs t4
Tempo
Fig. 5.1: Diagrama espaço-tempo para tráfego Fig. 5.2: Distância limitativa num trecho
ferroviário unidirecional unidirecional de ferrovia
hml
·n = 2ds +L +dt
V X 60, (5.1)
Tempo
Fig. 5.3: Demonstração esquemática da manobra de ultrapassagem Fig. 5.4: Diagrama espaço-tempo da
manobra de ultrapassagem
por trens que operam em velocidades diferentes, isso causa uma grande redução
na capacidade de tráfego, em função das manobras de ultrapassagem.
Na Figura 5.3, faz-se uma representação esquemática da manobra de ultrapas-
sagem de um trem. mais lento (por exemplo, um trem de carga) por um trem mais
rápido, como um trem de passageiros. Para que isso seja possível, é preciso que
existam desvios ou pátios ao longo da linha, nos quais o trem mais lento entra e
espera até ser ultrapassado pelo trem mais veloz. No primeiro esquema da Figu-
ra 5.3, têm-se o trem mais lento à frente do trem mais veloz; para que seja possível
a ultrapassagem, o trem mais lento entra no desvio e espera pela passagem do trem
mais veloz, como mostrado no segundo esquema da figura. Após a passagem do
trem mais veloz, o trem mais lento volta para a linha e prossegue sua viagem, como
indica o terceiro esquema da Figura 5.3.
Numa manobra de ultrapassagem, o trem mais lento sempre é submetido a um
atraso, que inclui o tempo para entrar e sair do desvio e o tempo gasto parado, à
espera da passagem do trem mais veloz. Esse atraso pode ser visto no diagrama
espaço-tempo da Figura 5.4, que representa graficamente a manobra de ultrapas-
sagem. O Exemplo 5.2 discute o efeito da operação de trens com velocidades
diferentes sobre a capacidade de um trecho, como pode ser visto nos diagramas
espaço-tempo da Figura 5.5.
Exemplo 5.2 Seja um trecho de ferrovia com linha dupla e tráfego unidirecional, no qual
trafegam trens de carga, que viajam a 60 kmlh, e trens de passageiros, que viajam a 90 km/h.
No trecho, existem desvios espaçados de 10 km, que podem ser usados para as manobras
de ultrapassagem. Determinar, inicialmente, qual a capacidade da linha supondo que ela
só seja usada por trens de carga. Segundo as regras de operação da empresa, os trens
sendo ultrapassados entram no desvio 5 minutos antes da ultrapassagem e saem do desvio
174 Capítulo 5. Análise da capacidade e nível de serviço de vias
ISO~~~~~~~~~~~~~~~
..
~ 60~~~~~~~~~~~~~~~~
.,
:5
õ 40~~~~~~~~~~~~~~~~
~ ~ ~ 120
Tempo (min) Tempo (min)
Fig. 5.5: Efeito da diferença nas velocidades dos trens sobre a capacidade (Ex. 5.2)
Solução: A capacidade teórica do trecho, para trens viajando a 60 km/h, pode ser
calculada a partir do headway mínimo. No caso, se a velocidade é 60 km/h e os
desvios estão espaçados de 10 km, o headway mínimo é 10 minutos. A capacidade
teórica, supondo que apenas trens de carga usem o trecho é:
60 60
Ct = 17-- = - = 6 trens/h,
hmin 10
Para que seja possível operar trens nos dois sentidos num trecho ferroviário de
linha singela, é preciso que existam desvios ou pátios de manobra ao longo da
linha para que possa ocorrer o cruzamento de trens. Esses desvios são trechos de
linha dupla, conectados à linha principal por aparelhos de mudança de via.
Corno pode ser visto na Figura 5.6, os desvios possibilitam a solução de confli-
tos entre trens que viajam em direções opostas, já que o trem de menor prioridade
pode ser retirado da linha para permitir a passagem do trem de maior prioridade.
Na maioria dos troncos ferroviários, os desvios são espaçados entre 10 e 15 km e
têm uma extensão tal que possam acomodar pelo menos um comboio.
A Figura 5. 7 mostra um esquema da operação de uma
ferrovia de linha única com trânsito nas duas direções. No
primeiro diagrama, todos os trens estão em movimento; na
o
segunda parte, os trens movendo na direção de menor priori- ;r
c.
dade (no caso, de leste para oeste) entram nos desvios e espe- ~
ram pela passagem dos trens de maior prioridade; no terceiro
diagrama, todo os trens voltam a mover-se.
Corno pode ser visto no diagrama espaço-tempo da Figu- Fig. 5.6: Solução de conflito entre trens por mano-
ra 5.6, o trem que entra nos desvios é submetido a atrasos por brade cruzamento
causa da baixa velocidade de manobra e do tempo de espe-
ra para liberação da linha pelo trem prioritário. No entanto, comparando-se os
diagramas espaço-tempo das Figuras 5.4 e 5. 7, pode-se perceber que os atrasos de-
vidos às manobras de cruzamento são sempre menores que os atrasos sofridos em
k=/1
Trem2 Trem4
3. Todos os trens estão em movimento
+ ...
Ie 1, 1! ~ k.______71 ~ k. . .____71 e
~ ~ ~
1\. . .___,71 ~ 1
Fig. 5.7: Esquema de operação de um trecho ferroviário com tráfego bidirecional
176 Capítulo 5. Análise da capacidade e nível de serviço de vias
Estação
B
Tempo
Fig. 5.8: Trecho com tráfego bidirecional operando na capacidade
trem seguinte e que o mesmo ocorre num desvio; esse intervalo é estabelecido para
aumentar a segurança do sistema e é usado para operações tais como a conferência
da cauda, mudança de chaves, etc. Nos desvios, o trem de prioridade menor deve
chegar ao desvio um certo tempo antes da passagem do trem de maior prioridade
e só retoma para a linha um certo tempo depois da passagem do outro trem.
A capacidade do trecho corresponde ao inverso do 'headway' mínimo entre
trens viajando na mesma direção. Observando-se a Figura 5.8, pode-se notar que
o 'headway' mínimo é a soma do tempo necessário para um trem ímpar viajar
entre dois desvios, mais o tempo necessário para um trem par viajar entre os dois
desvios, mais um tempo de folga Ou seja, a capacidade teórica de um trecho com
~
operação nos dois sentidos é:
(5 5) Thm~
·~-···-
~
.
t--···-
"T~m?O
tempo de viagem entre desvios na direção prioritária [h]; 3. Redução de velocidade e
pode-se perceber que é possível identificar os trechos de estrangulamento na linha, Fig. 5.9: Efeito da falta de
que são aqueles para os quais a soma dos tempos de viagem nos dois sentidos e manutenção da via sobre a ca-
do tempo total de folga é máxima Pode-se também notar que qualquer redução pacidade
da velocidade dos trens afeta a capacidade do ramal, como será visto a seguir.
Num trecho de linha singela saturado, isto é, que opera na capacidade, têm.:se pares
de trens se cruzando em desvios alternados, como se mostra no primeiro diagrama
espaço-tempo da Figura 5.9. A partir desse diagrama, pode-se analisar o efeito
que a qualidade da manutenção da via permanente tem sobre a capacidade de um
trecho ferroviário.
A deterioração da via, por falta de manutenção apropriada, força a emissão
de uma ordem temporária de redução de velocidade, para evitar a ocorrência de
178 Capítulo 5. Análise da capacidade e nível de serviço de vias
A primeira edição do HCM foi publicada nos EUA em 1950, fruto de um esforço
conjunto do Comitê de Capacidade Rodoviária do Highway Research Board, um
órgão de pesquisas mantido pelo National Research Council dos EUA, e do Bu-
reau of Public Roads, um órgão da administração federal americana. A edição de
1950 do HCM teve origem em dois artigos publicados na revista Public Roads7 e
apresentava definições de termos-chave, uma compilação de fluxos máximos ob-
servados e procedimentos para análise de trechos com fluxo contínuo, interseções
semaforizadas, áreas de entrelaçamento ('weaving areas') e pontos de acesso a
rodovias ('ramps').
A segunda edição do HCM8 foi editada em 1965, pelo HRB. Na edição de
1965, que trouxe alterações significativas em relação à de 1950, o manual tomou
a forma atual e introduziu o conceito de nível de serviço.
Em 1985, a terceira edição do HCM foi publicada pelo Transportation Research
Board (sucessor do HRB) e introduziu procedimentos para análise de componentes
do sistema de transporte rodoviário que não rodovias e ruas, bem como refinamen-
tos no conceito de nível de serviço. Junto com o manual impresso, foi também
publicada uma implementação dos procedimentos propostos num software para
microcomputadores, o HCS ('Highway Capacity Software'). A edição de 1985 do
HCM passou por duas revisões significativas: em 1994, quando 8 dos 14 capítulos
do manual foram atualizados, e em 1997, quando foram feitas revisões em 9 dos
seus 14 capítulos.
A edição de 2000 do HCM, que substitui todas as anteriores, representa uma
expansão e revisão significativa do manual. O HCM2000 contém 31 capítulos,
dividos em cinco partes: (I) Visão Geral, (II) Conceitos, (III) Métodos, (IV) Aná-
lise de corredores e áreas, e (V) Simulação e outros modelos. A primeira parte
introduz conceitos de fluxo de veículos inerentes à análise de nível de serviço e
capacidade e discute como o HCM e os resultados de sua aplicação devem ser
usados. A Parte II apresenta os conceitos usados e valores básicos adotados para
7Normann, O. K. e Walker, W. (1949). Highway capacity: practical applications of research.
Public Roads, v. 25, n. 10, p. 201-234e v. 25, n. 11, p. 237-277.
8HRB (1965). Highway Capacity Manual. Special Report 87, Highway Research Board, Natio-
nal Research Council, Washington, DC, EUA.
180 Capítulo 5. Análise da capacidade e nível de serviço de vias
HCM para componentes que apresentam fluxo não interrompido estão mostradas
na Tabela 5.2. Para 'freeways', as medidas de desempenho são, básicamente, a
densidade e a velocidade da corrente de tráfego; para as rodovias de pista dupla, a
medida de desempenho é a densidade; para as rodovias de pista simples, as medidas
são a velocidade e a porcentagem do tempo que se viaja num pelotão.
A densidade descreve a proximidade dos veículos
na corrente e reflete tanto a facilidade com que se po-
Tab. 5.2: Medidas de desempenho para tráfego sem inter-
de realizar manobras dentro do fluxo como o nível de
rupções
conforto psicológico dos usuários. A densidade é a me-
Componente Medida de desempenho dida de desempenho escolhida para segmentos básicos
'Freeways' de 'freeways' e para rodovias de pista dupla: quanto
segmentos básicos densidade [veic.km- 1 .faixa- 1 ) maior a densidade, pior a qualidade do serviço; quan-
áreas de entrelaçamento velocidade [kmlh]
to menor a densidade, melhor a qualidade do serviço.
junções densidade [veic.km- 1 .faixa- 1]
Rodovias Em rodovias de pista simples, os usuários são particu-
pista dupla densidade [veic.km- .faixa- ]1 1 larmente sensíveis a duas variáveis: a velocidade e a
pista simples velocidade [kmlh] porcentagem do tempo viajando em pelotões, ou seja,
o/o tempo em pelotões a porcentagem do tempo que o usuário é obrigado a
Adaptado d<: HCM2000. TRB. NRC. Washington. DC. EUA. 2000. Exh. 3-1. p. 3-2. viajar numa velocidade menor que a desejada por não
poder ultrapassar um veículo mais lento. Pode-se per-
ceber facilmente que, numa rodovia de pista simples, quanto maior a velocidade,
melhor é a qualidade do serviço e que, quanto maior a porcentagem do tempo
viajando em pelotões, pior a qualidade do serviço.
Fig. 5.11: Efeito da largura insuficiente das faixas de trá- Fig. 5.12: Faixas de tráfego com largura suficiente não
fego sobre o fluxo (fonte: HCM-19971 afetam o fluxo (Fonte: HCM-1997)
188 Capítulo 5. Análise da capacidade e nível de serviço de vias
A largura das faixas de tráfego e dos acostamentos pode ter um impacto sig-
nificativo no fluxo de tráfego. Faixas de tráfego estreitas (como as mostradas na
Figura 5.11) fazem com que a separação lateral entre veículos seja menor do que
a maioria dos motoristas desejaria. Uma separação lateral inferior à ideal reduz
a capacidade e a taxa de fluxo, pois os motoristas reduzem a velocidade ou au-
mentam a separação longitudinal para uma dada velocidade, fazendo com que os
veículos fiquem dispostos na via como que num tabuleiro de xadrez. Isso não
ocorre quando as faixas têm largura ideal, como mostra a foto da Figura 5.12.
O mesmo fenômeno ocorre quando os acostamentos têm largura insuficiente:
os motoristas afastam-se das obstruções laterais, reduzindo a separação lateral
entre veículos, provocando um efeito comparável ao de faixas de tráfego estreitas.
Os elementos do alinhamentos vertical e horizontal da via são estabelecidos
em função da velocidade de projeto e da topografia da região na qual a via foi cons-
truída. Curvas fechadas, rampas íngremes e longas e quaisquer outras condições
que forcem a redução da velocidade são fatores que influem na capacidade.
• Segmentos básicos de 'jreeways ': os trechos em que não existem áreas de en-
trelaçamento ou pontos de acesso. São tratados no capítulo 23 do HCM2000.
e Áreas de entrelaçamento ('weaving areas'): são os trechos ao longo dos
quais dois fluxos de veículos devem cruzar-se, como mostra a Figura 5.14.
Aparecem nos locais em que um ponto de acesso localiza-se a montante de
um ponto de saída. As áreas de entrelaçamento são tratadas no capítulo 24
doHCM2000.
e Junções ('ramps and ramp junctions '): trechos em que uma faixa de entrada
ou saída junta-se à 'freeway', como mostrado na Figura 5.14. As junções
são tratadas no capítulo 25 do HCM2000.
9Neste texto, os termos "auto-estrada" e "freeway" serão usados com o mesmo significado.
5.5 Capacidade e nível de serviço de auto-estradas 191
-
~----------=-+
-------------- - - ~- - -- - - - - -
=-=.:,.- - - - - - - - - --=-i=
~~
-
-~
divergente ~
capacidade e nível de serviço do HCM trata apenas das situações em que existe
um regime de fluxo livre.
Uma freeway nessas condições apresenta velocidade de fluxo livre de 120 km!h ou
mais e representa as melhores condições possíveis com relação ao fluxo de tráfego.
Todos os estudos mais recentes indicam que a velocidade, numa 'freeway', não
varia em função do fluxo, se a taxa de fluxo for baixa ou moderada. Isto pode
ser verificado na Figura 5.16, que mostra a relação fluxo-velocidade adotada pelo
HCM para 'freeways'. Para 'freeways' com velocidade de fluxo livre de 120 kmlh,
a velocidade não é afetada pelo fluxo até que taxas de fluxo maiores ou iguais a
1.300 veic/(h.faixa) ocorram. Para 'freeways' com velocidades livres menores,
essa taxa crítica cresce, chegando até 1.750 veic/(h.faixa) para as com velocidade
de fluxo livre de 90 km/h. A capacidade de uma faixa de tráfego varia com a
velocidade de fluxo livre, sendo maior onde a velocidade é mais alta, como mostra
a Tabela 5 .4.
194 Capítulo 5. Análise da capacidade e nível de serviço de vias
120 2.400
110 2.350
100 2.300
90 2.250
O gráfico da Figura 5.16 trata apenas do regime de fluxo livre, dentro do qual
se situam os níveis de serviço A a E. Os outros dois regimes de fluxo, que corres-
pendem ao fluxo congestionado e ao regime de descarga da fila, correspondem ao
nível de serviço F e, por conseguinte, não são considerados no procedimento de
análise de capacidade e nível de serviço.
O HCM estipula que a velocidade de fluxo livre deve ser medida no local,
como a velocidade média dos automóveis quando a taxa de fluxo for inferior a
1300 veic/(h.faixa). A velocidade de fluxo livre pode ser obtida medindo-se a
velocidade num ponto ou fazendo-se uma pesquisa de tempo de viagem.
O HCM também ressalta que, embora apenas quatro curvas sejam mostradas na
Figura 5 .16, pode-se obter uma relação fluxo-velocidade para qualquer velocidade
de fluxo livre no intervalo entre 90 e 130 kmlh fazendo uma interpolação entre as
curvas da Figura 5.16.
Outro aspecto que pode ser notado na Figura 5.16 é a velocidade média dos
automóveis na capacidade. Pode-se perceber que a queda na velocidade média é
maior para 'freeways' com maior velocidade de fluxo livre. A velocidade média
na capacidade é 85 kmlh para uma 'freeway' com velocidade de fluxo livre de
120 km/h e 80 km/h para uma com velocidade de fluxo livre de 90 km/h.
Os fatores que influenciam a velocidade de fluxo livre, de acordo com o HCM,
são:
5.5 Capacidade e nível de serviço de auto-estradas 195
····;······:······:······:······:······:······:······:······:······:······:······.
I Tab. 5.5: Critério para estabele-
~
~ 100 ra 'freeways'
'"'ª
~ 80
{I)
o
Nível de
serviço
Densidade
[veic/(km.faixa)]
"C
"' 60 A O<k-::::7
'õ
-Ql
E B 7<k-sll
., 40 c ll<k-::::16
"C
"'
"C
õ D 16 < k-:::: 22
o 20
~ E 22 < k-:::: 28
F 28 < k
o o
o 400 800 1200 1600 2000 24
Fonte: HCM2000: Highway Capaciry ManuaL
Taxa de fluxo de tráfego [ cpe/(h.faíxa)] TRB.NRC. Washington. DC. EUA. 2000. p. 23-
3.
Fig. 5.17: Critérios para determinação do nível de serviço para 'freeways'
5.5 Capacidade e nível de serviço de auto-estradas 197
Observando-se a Tabela 5.6 pode-se notar que, para um mesmo nível de serviço,
a relação v f c diminui, à medida em que a velocidade de fluxo livre reduz-se. Isso
pode ser explicado porque uma redução na velocidade de fluxo livre é causada
por condições geométricas (tais como rampas máximas, raios mínimos de curva,
largura de faixas de tráfego e de acostamentos, etc.) menos favoráveis e, numa
rodovia de projeto geométrico inferior, o limite do nível de serviço é alcançado
com uma taxa de fluxo menor. Usando como exemplo a Rodovia dos Bandeirantes
Fig. 5.18: Nível de serviço A Fig. 5.19: Nível de serviço B Fig. 5.20: Nível de serviço C
Fig. 5.21: Nível de serviço D Fig. 5.22: Nível de serviço E Fig. 5.23: Nível de serviço F
A taxa de fluxo de tráfego reflete os efeitos dos veículos pesados, a variação tempo-
ral do tráfego durante a hora pico e as características dos motoristas, transformando
os fluxos horários obtidos de contagens de tráfego (veiclh) em taxas de fluxo equi-
valentes (em cpe/h). Essa transformação é feita pela expressão:
Vp=-------
v (5.8)
PHF. N. fHv . JP
O efeito dos veículos pesados sobre a capacidade, que é medido pelo fator de
equivalência veicular, depende tanto das rampas como da composição do tráfego.
O HCM prevê três condições de análise do efeito dos veículos pesados sobre
a capacidade e o nível de serviço: análise para segmentos longos, análise para
aclives e análise para declives.
Segundo o manual, a análise para segmentos longos é realizada quando não
existem rampas de comprimento ou declividade significativa ao longo de um trecho
de vários quilômetros de extensão. Mais especificamente, o HCM aponta que, se
não existirem rampas maiores que 400 m (para greides de 3% ou mais) ou rampas
maiores que 800 m nas quais o greide é menor que 3%, a análise para segmentos
longos poderia ser usada. Uma outra situação na qual pode-se usar a análise
para segmentos longos é quando a rodovia ainda está em fase de projeto e, por
conseguinte, ainda não se dispõe do projeto geométrico final.
Rampas de menos de 3% cujo comprimento seja superior a 800 m ou rampas
de mais de 3% com comprimento maior que 400 m devem ser analisadas como um
segmento específico por causa do impacto que causam sobre o fluxo de tráfego. A
análise deve ser feita tanto para o aclive como para o declive.
202 Capítulo 5. Análise da capacidade e nível de serviço de vias
Exemplo 5.3 Uma nova 'freeway' ligando São Paulo ao litoral será construída numa
região onde existem trechos de relevo plano, ondulado e montanhoso. Determinar os
fatores de ajuste para caminhões, considerando que as projeções de tráfego incluem 14%
de caminhões, 3% de ônibus e 1 o/o de veículos de recreação.
1
!Hv = 1'+ O, 17(1,5- 1) + 0,01(1,2- 1) =O ' 920 (plano)
1
!Hv = 1 +O, 17(3,0- 1) + 0,01(2,0- 1) =O ' 741 (ondulado)
1
!Hv = 1 +O, l7( 6 ,0 _ 1) + 0,0 1(4 ,0 _ 1) = 0,532 (montanhoso).
O HCM estipula que aclives de até 3%, com mais de 1.000 m, ou de mais de 3%,
com mais de 500 m, devem ser analisados à parte, dado seu impacto sobre o fluxo
de veículos. Para isso, são fornecidos fatores de equivalência para caminhões e
veículos de recreação (automóveis com reboques ou trailers autopropelidos) que
estão mostrados nas Tabelas 5.8 e 5.9.
pesados. Então, para uma rampa de 5,75% com 8,5% de caminhões e ônibus, o
fator de equivalência é ET = 3,45.
ser obtida da relação entre a diferença total de cotas e a extensão total da rampa:
1
!Hv = -----------
1 + Pr(Er- 1) + PR(ER- 1)
O exemplo a seguir ilustra o procedimento.
Exemplo 5.5 Calcular o fator de ajuste f HV para um aclive de 5, 75%, cujo comprimento
é 1,6 km e está localizado numa 'freeway' onde existe 5% de caminhões e 3,5% de ônibus.
1 1
fHv = = =O 828
1 + Pr(Er- 1) 1 + 0,085 (3,45- 1) ' ·
O fator de ajuste /p, que trata da influência da familiaridade dos motoristas com a
via, varia entre 0,85 e 1,00. O HCM recomenda adotar o valor 1,00, a menos que
existam fortes indícios de que haja uma redução da capacidade por causa da falta
de familiaridade dos motoristas com a via- como seria o caso de uma 'freeway'
com maior movimento em feriados.
em que FFS: velocidade de fluxo livre [km!h]; Tab. 5.11: Ajuste para largura de faixas
FFSi: velocidade ideal de fluxo livre (120 ou 130 km/h); de tráfego
!Lw: ajuste para largura das faixas de tráfego [km/h]; Largura da faixa (m) fL w (km/h)
!Lc: ajuste para largura de acostamentos [km/h];
fN: ajuste para número de faixas de tráfego [km/h]; e 3,0 10,6
3,2 5.6
fio: ajuste para densidade de trevos [km/h].
3,4 2.1
3,6 0,0
O processo parte de uma velocidade de fluxo livre ideal, que o HCM
fonte: HCM2000: High»·ay CapaciN Mcmual. TRB. NRC.
sugere ser 130 km!h para 'freeways rurais' e 120 km!h para 'freeways' Washington. DC. EUA. 2000. p. 23-5.
Exemplo 5.6 Num trecho urbano de uma 'freeway ', existem 2 faixas de tráfego em cada
sentido. A largura média das faixas é 3,5 m e o acostamento do lado direito tem uma
largura livre média de 1,0 m. No trecho, a distância média entre cruzamentos é 1.250 m.
Estimar a velocidade de fluxo livre.
Exemplo 5.7 Qual o nível de serviço na hora pico de uma 'freeway' urbana, com severas
restrições geométricas, na qual o limite de velocidade é 110 km/h? A 'jreeway' tem 4
faixas (2 em cada direção) de 3,30 m de largura, acostamentos direito e esquerdo de
0,6 m, tráfego na hora pico de 2.000 veic!h (unidirecional), 5% de caminhões e ônibus
no tráfego na hora pico, fator de hora pico de 0,92, distância média entre dispositivos de
acesso de 1, 67 km e tráfego formado por motoristas habituados à via. A região tem relevo
ondulado.
Vp=-------
v 2000
PHF .N -fHv -fp 0, 92 . 2 . f H V . 1, 0
Usando a Tabela 5.7 (pág. 202), pode-se encontrar o fator de equivalência E r = 3,
para Pr = 5% de caminhões e ônibus. Como não existem veículos de recreação
na corrente (PR = 0),
1 1
fHv = = =O 930 e então
1 + Pr(Er- 1) 1 + 0,05 (2,5- 1) '
2000 2000
vP = = = 1169 cpe/(h.faixa).
0,92. 2. fHv. 1,0 0,92. 2. 0,930. 1,0
A velocidade de fluxo livre pode ser calculada a partir da velocidade máxima per-
mitida, 110 km/h, que seria a velocidade de fluxo livre ideal, e dos valores de
ajuste:
!
largura das faixas: !Lw = 3,1 kmlh(Tab.5.1l,pág.207);
largura dos acostamentos: !L c = 3,9 km/h (Tab. 5.14, pág. 208);
número de faixas: fN 7,3kmlh (Tab. 5.12, pág. 207); e
densidade de entroncamentos: fiD = 3,9kmlh (Tab. 5.13, pág. 207).
Ou, pode-se calcular a densidade De, pela Tabela 5 .6, determinar o nível de serviço
correspondente. Para urna 'freeway' de velocidade de fluxo livre de 92 kmlh, a taxa
de fluxo a partir da qual a velocidade da corrente passa a diminuir é cerca de
1700 cpe/(h.faixa). Corno v P = 1169 cpe/(h.faixa) é menor que essa taxa de fluxo,
a densidade pode ser calculada por
v 1169
D = _P_ =- - = 12 7 cpe/(krn.faixa).
FFS 91,8 '
Consultando-se a Tabela 5.5 (pág. 196), pode-se verificar que essa densidade cor-
responde ao nível de serviço C.
Exemplo 5.8 Quantas faixas de tráfego são necessárias para garantir nível de serviço
D na hora pico para uma nova 'freeway' suburbana que está sendo projetada? Prevê-
se um fluxo na hora pico de 4.000 veiclh (unidirecional), 15% de caminhões, 3% de
veículos de recreação, o fator de hora pico é 0,85. A densidade de entroncamentos é de
O, 9 entroncamentos/km, as faixas e acostamentos terão a largura ideal indicada no H CM
e o relevo é plano.
Solução: A análise é do tipo IV; segundo o HCM. Deve-se calcular a taxa de fluxo v P
em cpe/(h.faixa) para o nível de serviço D, supondo-se 2, 3 e 4 faixas de rolamento
em cada sentido, e comparar o valor calculado com a demanda.
Quantos aos parâmetros necessários para a análise, será preciso usar valores pre-
definidos para a velocidade de fluxo livre e para o fator de ajuste para o tipo de
motorista, já que essas informações não estão disponíveis. Corno a freeway é su-
burbana, pode-se admitir que a FFS seja 110 kmlh e adotar fp = 1,0, já que os
motoristas devem estar habituados à via. As etapas da solução são:
Vp =
v =
v Ç;.
cpe/(h.1a1xa).
PHF. N. fHv. fp 0,85. N. fHv. 1,0
2. Calcular fHv, usando Er = 1,5 e ER = 1,2, que foram obtidos da Tab. 5.7
(pág. 202), terreno plano:
v
0,85.N.fHv.1,0
=>
4000
O, . . O, . , = 2.544 cpe/(h.faixa), para 2 faixas;
85 2 925 1 0
4000
vP O, . . O, . , = 1.696 cpe/(h.faixa), para 3 faixas; e
85 3 925 1 0
4000
O, . . O, . , = 1.272 cpe/(h.faixa), para 4 faixas.
85 4 925 1 0
6. Pode-se calcular a densidade D para cada uma das duas opções e determinar
a densidade, usando-se a Tabela 5.5:
Vp
D = FFS =>
1.696
- ~
- = 17,5 cpe/(km.1aixa), ~ .
N S D (3 1ruxas); e
97,1
D
1.272
{ - ~ .
- = 12,8 cpe/(km.1aixa), NS C (4 fruxas).
99,5
Ou seja, a opção de construir uma 'freeway' com 3 faixas de tráfego em cada sentido
fornecerá nível de serviço D na hora pico.
Exemplo 5.9 Qual o nível de serviço, na hora pico, na subida e na descida de uma rampa
localizada numa 'freeway' rural com 2 faixas de tráfego em cada direção? A rampa é
5.5 Capacidade e nível de serviço de auto-estradas 213
composta por dois trechos de inclinação diferente: um aclive inicial de 300m e 3%, ao
qual se segue um aclive de 800 m com 5% de inclinação. O tráfego unidirecional de pico
é de 2.300 veiclh, com 15% de caminhões. O fator de hora pico é 0,90 e a velocidade de
fluxo livre foi medida no local e é 115 kmlh no aclive e 120 kmlh no declive.
Solução: Como a extensão total da rampa é menor que 1,2 km, a rampa composta
deve ser transformada numa rampa equivalente, através da diferença total de cotas
e do comprimento total da rampa:
1 1
0 769
fHv = 1 + Pr(Er- 1) = 1 +O, 15(3- 1) = · ·
1 1
fHv - - = O 930.
- 1 + Pr(Er - 1) - 1 +O, 15(1,5- 1) '
vp =
v =
2300
= 1.749 cpe.h- 1.faixa- 1 .
FHP. N. fHv. fp 0,90. 2. 0,769. 0,95
3. Determinar vp no declive:
v 2300 -1 . -1
Vp = --------------
FHP. N. fHv . fp
- - - - - - - - = 1.446 cpe.h .fmxa .
0,90. 2. 0,930. 0,95
..... ..... ·:· ..... ·:· ..... ..... ':' ..... ·:· ·:· ..... ·: ..... ·: ..... ':' ..... ·: ..... ':
i..
·~ ·~ ·1~~·0·
120 ---.:..-----:------:------:------:
. . . .
]100~---~--~--~.~~--~:~/~~~~~~~
E / / : 1 O
Pode-se notar que o NS é C, tanto para o aclive (FFS = 115 krn!h) como para
o declive, onde FFS = 120 krn!h.
Exercícios
Problema 5.1 Qual o nível de serviço, na hora pico, numa 'freeway' com 6 faixas de
tráfego (nos dois sentidos) e tráfego unidirecional de pico de 5.000 veic/h? Qual o nível
de serviço daqui a 3 anos, quando o tráfego deverá ser 5.600 veic/h no período de pico?
Se a taxa de crescimento da demanda é 4% ao ano, quando deverá ser construída uma
faixa adicional? O relevo é plano; a 'freeway' está numa área urbana; existem 10% de
caminhões na corrente; o fator de hora pico é 0,95; e a velocidade de fluxo livre é 11 Okrn!h,
~ medida por um estudo de v~locidades.
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