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1 2
Daniel Martins e Humberto Reder Cazangi
7 de junho de 2004
de Santa Catarina
2 SUMÁRIO
3
4 LISTA DE FIGURAS
5
6
Capı́tulo 1
Motivação
Pmax
Fz,Aid = , (1.1)
v
7
Curva de Potência
P max
P(T max )
T max
Tn
Curva de Torque
Torque Resistivo
n min n( T max ) nn n max
Pmax
Fz,Ae = .ηtot . (1.2)
v
Plotando as hipérboles com a consideração de que há uma tração máxima
suportada entre o pneu e o solo (limite de adesão) e sobrepondo a “curva de
tração disponı́vel no motor” como na Figura 1.2, pode-se verificar que a maior
parte do potencial existente não é utilizado.
Desta forma, há a necessidade de empregar artifı́cios que permitam apro-
veitar todo o potencial disponı́vel. Este ponto fundamenta a aplicação de sis-
temas de variação de velocidade nos veı́culos. Na Figura 1.3 pode-se observar
o efeito provocado pelo aumento no número de marchas (4 neste exemplo),
onde a região de “tração efetiva” é melhor interpolada e explorada.
8
Limite de Adesão
Tração Ideal
Tração Fz
Tração Efetiva
Velocidade v
Tração Ideal
Tração Fz
1a marcha
2a marcha
Tração Efetiva
3a marcha
4a marcha
Tração Disponível (Motor+Transmissão)
Velocidade v
9
Como salientado anteriormente, outra desvantagem do motor de com-
bustão interna é que este precisa vencer suas próprias resistências e estabilizar
seu funcionamento antes de disponibilizar potência às rodas. Isto fica evi-
dente na Figura 1.3 na estreita faixa hachurada anterior à região de tração
disponibilizada pelo sistema motor e transmissão. A presença desta faixa
justifica a necessidade de um sistema de desacoplamento entre o motor e a
transmissão, como p. ex. um conversor de torque ou uma embreagem, para
desacoplar o motor durante o perı́odo de partida e equilı́brio de seu trabalho.
A introdução do sistema de transmissão entre o motor e as rodas permite
o controle da entrega de potência ao veı́culo de acordo com as necessidades
de potência e torque.
O sistema formado pela adição do sistema de transmissão ao motor, cha-
mado trem de potência, permite o controle da entrega de potência e torque
ao veı́culo de acordo com a demanda, sendo as variações de comportamento
enumeradas de acordo com a quantidade de marchas disponı́veis.
Como visto, o número de marchas está relacionado à discretização do
comportamento do motor, ampliando sua faixa de trabalho. Ocorre que
para cada marcha o trem de potência exprime um comportamento diferente,
abrangendo uma área mais ampla de trabalho com condições de torque e
rotação caracterı́sticos e independentes das outras marchas. Quanto melhor
discretizado for o comportamento do motor, ou seja, maior o número de
marchas, melhor será o comportamento do veı́culo, uma vez que os gastos
energéticos (combustı́vel) serão menores. Isso acontece em virtude das mar-
chas serem mais adequadas às circunstâncias envolvidas. A condição mais
favorável é a de uma transmissão com tantas marchas que a curva de tração
disponı́vel seria confundida com a curva de tração efetiva, fato que ocorre
com as transmissões continuamente variáveis no intervalo de velocidades su-
portado.
Resumidamente, o sistema de transmissão é composto por um mecanismo
variador de velocidades, um conversor de torque e um sistema de controle
(interface com o usuário) e tem como funções principais:
10
• Ampliar a faixa de trabalho dos motores, abrangendo melhor suas cur-
vas caracterı́sticas;
• preço de venda;
• eficiência;
• confiabilidade;
• facilidade de operação;
• baixo peso;
1.2.1 Confiabilidade
O ciclo de vida B10 de uma transmissão dependente do tipo de veı́culo a
qual será empregada. É interessante ressaltar que um pequeno aumento na
robustez do projeto produz um efeito bem maior no ciclo de vida da trans-
missão, sendo a confiabilidade um dos requisitos mais importantes também
quanto à questão custo x benefı́cio. Na Tabela 1.1 pode-se verificar os princi-
pais ciclos de vida para veı́culos em diversas condições de operação. O estudo
11
Condições de operação Ciclo de vida B10 [km]
Carros de passeio ≥ 150.000
Caminhões
Todo terreno ≥ 300.000
Tráfego urbano ≥ 400.000
Longas distâncias ≥ 800.000
Tabela 1.1: Ciclo de vida B10 padrão para veı́culos em diferentes condições
de operação (1).
12
veı́culo. Bem como a distância entre centros a, também foi gerada uma eq.
empı́rica (1.4) que descreve a relação entre mG , torque de saı́da T2 e o número
de marchas z de uma transmissão. A equação é baseada no estudo de di-
versas transmissões com carcaça de ferro existentes e seus parâmetros, sendo
gerada a melhor curva admissı́vel (Figura 1.5).
13
200
Distância entre centros (a) [mm]
150
100
50
0
0 2000 4000 6000 8000 10000 12000
a
Torque de saída (T2 ) em 1 marcha [Nm]
400
Massa da transmissão (m G) [kg]
350
300
250
200
150
100
50
0
0 10000 20000 30000 40000 50000 60000 70000 80000 90000
Valor característico (T 2.z 0.5 )
14
Preço relativo de venda da transmissão (RSP)
0
0 10000 20000 30000 40000 50000 60000 70000 80000 90000
15
16
Capı́tulo 2
Seleção de Marchas
• relação final iE .
A relação de transmissão total é calculada pela eq.(2.1).
17
MOTOR CAIXA DE TRANSMISSÃO
TRANSMISSÃO FINAL
ACOPLAMENTO
TRANSFERÊNCIA
DIFERENCIAL
REDUÇÃO
REDUÇÃO
PRINCIPAL
CAIXA DE
CAIXA
PÓS
T M (n M ) PRÉ
iS iG iE
iA
1 n1
i= = . (2.4)
ν n2
18
Os critérios que definem a faixa de relações de transmissão são baseados
nestas três condições. A máxima relação de transmissão iA,max é obtida pelo
estudo da pior circunstância admitida para o veı́culo partir do repouso. A
segunda condição define a relação para máxima velocidade iA,vmax . A mı́nima
relação de transmissão iA,min é dada pelo estudo das faixas de eficiência de
combustı́vel nos mapas de desempenho do motor. Na Figura 2.2 pode-se
verificar a influência da inserção da transmissão no intervalo de relações de
transmissão disponibilizado pelo trem de potência.
Velocidade (v)
i A,min Acréscimo na
faixa de velocidades
com transmissão
Faixa de velocidades
sem transmissão
i A,max
19
nM,min . Na fase de acoplamento, a demanda no motor aumenta, exigindo
maior torque para vencer também as inércias da transmissão. Considerando
a potência disponibilizada constante, a rotação do motor diminui enquanto
a rotação da transmissão aumenta gradativamente até que haja o acopla-
mento nM = nG . Quando acoplado, o sistema deve ser capaz de vencer as
inércias de todo o trem de potência e ainda entregar a potência necessária de
operação. Um esquema simplificado da seqüência de acoplamento pode ser
visualizado na Figura 2.3.
Rotação Redução de
do Motor rotação do motor
n M,0
nM
n M=n G
Rotação (n)
n M,min
n M,min
nG
Rotação da
Transmissão Tempo de
n G,0 acoplamento t R
Tempo (t)
desacoplado acoplamento acoplado
20
• sempre há perda de potência entre a entrada e a saı́da: P2 = P1 −Pperda .
Automóvel: automático
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18
Faixa de relação i G,tot
Figura 2.4: Valores de referência da relação total iG,tot para diversos tipos de
veı́culos (1).
21
de potência demandada. O regime de trabalho do motor sob a curva de
maior economia de combustı́vel muitas vezes não é empregado devido à baixa
potência demandada se comparada à potência disponibilizada pelo motor. Há
ainda de se considerar o uso de relações com i < 1.0 (em inglês overdrive) que
também reduzem a eficiência da transmissão mas cujo termo tem atualmente
forte apelo de marketing.
FZ,A = FZ,B ,
1
TM,max .iA,max .ηtot . = mF .g.(fR . cos αSt + sin αSt ) + mF .λ.a . (2.7)
rdyn
22
onde:
TM,max − torque máximo do motor;
ηtot − eficiência total.
rdyn − raio dinâmico da roda;
mF − massa do veiculo;
g − aceleração da gravidade;
fR − coeficiente de resistência à rolagem;
αSt − gradiente de inclinação;
λ − coeficiente de inércia rotacional;
a − aceleração.
23
2.2.4 Menor Relação de Transmissão iA,min
A menor relação de transmissão iA,min é dada, assumindo que não há
escorregamento entre pneu e solo e que a velocidade máxima vmax (nominal)
é alcançada na rotação máxima do motor nM,max , pela eq. (2.9).
π
3, 6 30 nM,max rdyn
iA,min = , (2.9)
vmax
onde nM,max é em [1/min], rdyn em [m] e vmax em [km/h].
Veı́culos Comerciais
Este tipo de veı́culo, além de ter uma legislação bastante rı́gida quanto a
seus limites de velocidade, também é limitado pela estreita faixa de rotação
dos motores à diesel que são empregados na categoria. Nas rodovias brasi-
leiras, a velocidade máxima permitida a caminhões e ônibus é de 90 km/h
(5).
Automóveis
Os automóveis têm algumas peculiaridades que devem ser levadas em con-
sideração quando se projeta sua relação iA,min . Uma delas é o grande tempo
em que o veı́culo permanece na marcha mais alta, o que pode representar
mais de 80% do seu tempo de uso.
O tipo de projeto desejado pode ser dividido em:
24
B (Figura 2.5) a máxima velocidade atingida vmax2 é menor que no caso
anterior vmax1 .
Este tipo de projeto apresenta uma relação mı́nima iA2,min maior que a
anterior iA1,min , ou seja, uma relação mais curta. Isto pode ser feito de duas
formas: aumentando a última relação iZ ou a relação final iE . Devido à alta
rotação na qual vmax2 é atingida, este modo é o que mais consome combustı́vel
dentre os três tipos de projeto avaliados. Com um grande excesso de potência
PZ,Ex2 , o projeto de sobre-rotação é preferı́vel para carros esportivos.
25
110
P Z,Amax =P max n tot A
kW
B
90
P Z,Ex2
P Z,A para: C
Potência P
v max1
P Z,Ex1
70
i A1,min =3.25 Legenda:
1)ótimo
v max3
26
2.2.5 Marcha-a-ré
Em uma relação de transmissão, se o número de pares de engrenamento
for par, o sentido de rotação da saı́da é igual ao de entrada. Já se o número
de pares de engrenamento for ı́mpar, então o sentido de rotação da saı́da é
oposto ao de entrada.
A marcha-a ré é normalmente obtida pela inserção de uma engrenagem
extra ao fluxo de torque. Com isso, o total de pares de engrenamento pre-
sentes na relação de transmissão passa de um número par para um número
ı́mpar, garantido a saı́da reversa.
O projeto para a marcha-a-ré é baseado ao baixo tempo de uso comparado
às outras relações. Existem duas formas básicas de inserir a engrenagem extra
no sistema:
in−1 nmax
ϕ= ≤ . (2.10)
in nTmax
27
O passo da relação deve ser suficiente para que a mudança de relação
ocorra sempre que se atinja a rotação de torque máximo nTmax , sem exceder
a rotação máxima do motor nM,max .
Alguns aspectos devem ser levados em conta no projeto das relações in-
termediárias:
• divisão geométrica;
28
140
[km/h]
v max Relações: passo:
120 i8 1.00
1.35
n Tmax
100 passo
i7 1.35
Velocidade v
80 passo 1.38
i6 1.86
60 1.37
i5 2.54
40 1.35
i4 3.44
i3 4.63 1.35
20 i2 6.38 1.38
i1 8.73 1.37
0
500 1000 1500 2000 2500
[1/min]
Rotação do motor n M
n M,min n M,max
Divisão Geométrica
O passo de relação ϕ entre duas relações teoricamente deve ter o mesmo
valor (eq. (2.11)) quando utilizada a divisão geométrica (Figura 2.7).
p
z−1
ϕ= iG,tot , (2.11)
onde z é o número total de relações.
Individualmente as relações passam a ser dadas pela eq. (2.12):
in = iz .ϕz−n , (2.12)
onde n é o número de cada relação.
Na prática o passo de relação ϕ varia um pouco do valor teórico devido
à dificuldade em projetar o número de dentes correto de cada engrenagem
para todas as relações (ver Seção 3.1). A aproximação da hipérbole de tração
FZ,Ae é igualmente boa para todas as marchas.
Este tipo de divisão é mais aplicado em caixas de transmissão de veı́culos
comerciais devido ao fato da potência especı́fica ser baixa e as relações terem
o mesmo peso.
29
3
10
v 1/2 v 2/3 v 3/4 v 4/5
1/min n max
6
M
5
Rotação do motor n
3
2
1 n min
0
0 50 100 150 km/h 250
Velocidade v
Divisão Progressiva
O passo de relação ϕ progressivo entre duas relações diminui conforme
se aumenta a marcha (Figura 2.8). Isto implica que a distância entre as
primeiras relações é maior que entre as últimas. Este tipo de divisão é comu-
mente aplicado a caixas de transmissão de automóveis, pois melhora a troca
de relação (menor ϕ) e o desempenho na aceleração do veı́culo.
A hipérbole de tração FZ,Ae é melhor aproximada pelas últimas relações,
sendo maior o intervalo entre as relações iniciais. O excesso de potência à
velocidades mais baixas torna estes grandes intervalos aceitáveis.
Dados a relação total iG,tot e o fator de progressão ϕ2 , o passo de relação
ϕ1 pode ser calculado através da eq. (2.13) e as relações podem ser obtidas
pela eq. (2.14).
s
1
ϕ1 = z−1 0.5(z−1)(z−2) .iG,tot . (2.13)
ϕ2
(z−n) 0.5(z−n)(z−n−1)
in = iz .ϕ1 .ϕ2 . (2.14)
Esta formulação permite calcular valores iniciais para as relações. En-
tretanto, estes valores precisam ser adaptados ao veı́culo por processos de
30
3
10
v 1/2 v 2/3 v 3/4 v 4/5
1/min n max
6
M
5
Rotação do motor n
3
2
1 n min
0
0 50 100 150 Km/h 250
Velocidade v
31
dnM di
ṅ = = noutput . (2.15)
dt dt
Se ṅ é muito alta, a operação se torna menos suave. O balanço de energia
demandado para fazer o ajuste é obtido da energia cinética do veı́culo. Isto
pode reverter o sinal da aceleração e provocar um “solavanco” inconfortável
aos passageiros.
Caso ṅ seja muito baixa, a suavidade da operação é acentuada, mas o
veı́culo perde em reposta na aceleração.
32
Capı́tulo 3
Conceitos
x = a1 + u1 , (3.1)
onde n é um número inteiro e u é um número fracionário. Caso x seja inteiro,
u = 0. Como 0 ≤ u < 1, têm-se:
1
= a2 + u 2 . (3.2)
u1
Aplicando a eq.(3.2) na eq.(3.1), têm-se que:
1
x = a1 + . (3.3)
a2 + u 2
33
Este processo é recursivo, gerando a expansão em frações contı́nuas de x,
eq. (3.4):
a 1
x= = a1 + . (3.4)
b 1
a2 +
1
a3 +
... 1
+
ak + u k
Muitas vezes, a fração contı́nua é representada da forma x = [a1 , a2 , a3 , . . . , ak ],
onde cada componente é chamado de termo ou quociente parcial.
Caso uk = 0, a expansão é considerada finita, enquanto uma expansão
simples ocorre quando todos os termos são inteiros positivos.
A partir da definição dos quocientes parciais da expansão de x, pode-se
avaliar pi e qi que são respectivamente numerador e denominador da i-ésima
razão que aproxima x. As eq. (3.5) e eq. (3.6) descrevem as funções que
determinam os coeficientes da razão, estando provadas em (6).
a1 a2 a3 ···
0 1 p1 p2 ···
1 0 q1 q2 ···
Tabela 3.1: Determinação de p e q para aproximar x.
34
n.pi+1 + pi
Ci,i+1 = , (3.8)
n.qi+1 + qi
ai+1
onde n deve ser um numero inteiro, pertencente ao intervalo ≤ n < ai+1 ,
2
representando um peso na interpolação.
A seguir, é demonstrado um exemplo de como se obter a expansão em
frações contı́nuas finita de uma relação de transmissão x = 0.725 (eq.(3.9)).
Os passos iniciais para obtenção da fração contı́nua finita de x = 0.725
são:
x = 0 + 0.725
1
= 0+
1.379310344827586
1
= 0+
1 + 0.379310344827586
1
= 0+ ,
1
1+ ···
2.636363636363638
até chegar ao resultado:
1
x = 0.725 = 0 + , (3.9)
1
1+
1
2+
1
1+
1
1+
1
1+
3
onde x = [0, 1, 2, 1, 1, 1, 3].
Montando a tabela para x = 0.725 = [0, 1, 2, 1, 1, 1, 3] têm-se:
0 1 2 1 1 1 3
0 1 0 1 2 3 5 8 29
1 0 1 1 3 4 7 11 40
Tabela 3.2: Determinação de p e q para aproximar x = 0.725.
35
os valores aproximados Ci (1 ≤ i ≤ 6) são sempre um valor intermediário
entre Ci−1 e Ci+1 , refinando o resultado a cada iteração até chegar à razão
perfeita.
Nesta aplicação, o numerador pi e o denominador qi implicam nos números
de dentes das engrenagens presentes no par de engrenamento.
36
tendo cada par de engrenamento as mesmas caracterı́sticas. No caso de en-
grenagens de dentes retos, as engrenagens podem ser deslizantes na direção
axial permitindo o engrenamento e desengrenamento de um par de engrena-
gens, porém seu trabalho é em geral muito ruidoso. No caso de engrenagens
de dentes helicoidais, o deslizamento é praticamente impossı́vel devendo o par
de engrenagens permanecer sempre engrenado. Entretanto este tipo de dente
permite um engrenamento mais suave e menos ruidoso, além de aumentar a
resistência dos dentes aos torques envolvidos.
Normalmente as engrenagens formam pares rotativos com os eixos que as
sustentam, ou seja, rotacionam livremente sobre seus eixos. Para que haja
transmissão de torque é necessário acoplar as engrenagens aos respectivos
eixos, sendo esta a função dos garfos e sincronizadores.
Os sincronizadores (Figura 3.2) são elementos que acoplam uma engrena-
gem a seu eixo, sincronizando a velocidade entre os dois corpos. Geralmente
são corpos anulares e estão fixos ao eixo, paralelamente à engrenagem que
será atuada. O efeito de sincronização de velocidades entre dois corpos pode
se dar bruscamente, através de um engate rápido, ou ocorrer de forma gradual
como por exemplo num sistema por fricção. O sincronizador é normalmente
fixo ao eixo rotativo e a medida que é atuado, acopla com a engrenagem
tornando os três elementos (eixo, sincronizador e engrenagem) e solidários.
Os garfos (Figuras 3.2 e 3.3) são elementos que têm como função deslocar
axialmente (paralelamente ao eixo) sincronizadores ou engrenagens deslizan-
tes. São ligados ao sistema de comando, por exemplo a alavanca de câmbio
nos automóveis, formando o elo entre a decisão da troca de relação e o fato
consumado internamente no variador de velocidades.
37
O par de engrenamento pode ser fixo ou deslizante; neste segundo caso
(Figura 3.3) as engrenagens devem ter dentes retos. Para que o torque flua
no interior da caixa de transmissão é necessário que as engrenagens estejam
engrenadas e acopladas a seus respectivos eixos.
38
utilizada a cada fluxo de potência.
Os trens de engrenagens tem elevada eficiência devido à natureza de seus
engrenamentos, porém pecam pela necessidade de descontinuidade de trans-
missão durante a mudança da relação de transmissão.
Para evidenciar as caracterı́sticas relacionadas a trens de engrenagens,
dividiu-se em duas seções: trens de engrenagens seriais e trens de engrenagens
epicicloidais.
39
Trens de Engrenagens Epicicloidais
Os trens de engrenagens epicicloidais EGTs (Figuras 3.5, 3.6 e 3.7) caracterizam-
se por possuirem engrenagens dos tipos sol, anel e planeta, elos ou braços
e eixos rotativos divididos em nı́veis. Neste caso, apenas o eixo principal é
sempre fixo à base enquanto os outros são móveis. As engrenagens que são
concêntricas ao eixo principal são chamadas de engrenagem anel quando o
engrenamento é externo, e são chamadas de engrenagem sol quando o en-
grenamento é interno. Já as engrenagens que são excêntricas ao eixo central
principal são chamadas de engrenagem planeta ou satélite. A engrenagem
planeta descreve um movimento de rotação ao redor de seu próprio eixo e
um movimento translacional ao redor do eixo principal, onde o contato en-
tre os dentes desta engrenagem e da engrenagem sol descreve o movimento
chamado epiciclóide, daı́ o nome trem de engrenagens epicicloidais ou trem
de engrenagens planetárias. Além de eixos e engrenagens, os trens de en-
grenagens planetários possuem elementos de ligação chamados braços. Um
braço é um elo que une dois eixos rotativos paralelos não coincidentes. Para
identificar todos os eixos de um EGT é comum dividı́-los em grupos de eixos
paralelos coincidentes. Cada grupo é denominado nı́vel, desta forma pode-se
definir alternativamente braço como sendo o elemento que vincula engrena-
gens cujos eixos se situam em nı́veis distintos.
Figura 3.5: EGT sim- Figura 3.6: EGT com- Figura 3.7: Exemplo
ples (3). pleto (3). de EGT (3).
40
EGTs mais complexos, deve-se fazer uma análise dos graus de liberdade dos
mecanismos para conhecer o número de elementos a serem freiados para a
obtenção de uma marcha.
A entrada de torque se dá usualmente pela engrenagem sol e a saı́da de
pela engrenagem anel. Ainda há a possibilidade de variar a entrada e saı́da
de torque utilizando-se para tanto o braço, sendo esta opção muito pouco
aplicada.
Existe a opção de inserir simetricamente mais engrenagens satélites no
trem de engrenagens planetário para dividir o fluxo de torque, aumentando
a resistência às solicitações de carga.
41
Figura 3.8: CVT de polias cônicas (4).
42
angular normalmente é tratada sob forma de rotação n.
O estudo cinemático objetiva encontrar as relações de transmissão i de
variadores de velocidade para cada marcha. Para tanto, deve-se conhecer
os fluxos de torque possı́veis para o mecanismo, determinando os pares de
engrenamento participantes. Cada relação de transmissão é o produto das
relações de transmissão intermediárias.
A velocidade (eq. (3.10)) no ponto de contato entre os dentes do par de
engrenamento é função da velocidade angular ω e do raio r de cada engre-
nagem. Como a velocidade linear v é igual para ambas as engrenagens no
ponto de contato, verifica-se na eq. (3.11), que a relação de transmissão pode
ser expressa como a razão dos raios r das engrenagens. Cada par de en-
grenamento tem uma constante caracterı́stica chamada de “módulo” m que
r
é a relação entre o número de dentes z e diâmetro das engrenagens d =
2
(eq. (3.12)). Assim, é possı́vel demonstrar que a relação de transmissão pode
ser expressa também como relação do número de dentes z de cada engrena-
gem (eq. (3.13)).
v = ω.r (3.10)
v1 = v2
ω1 .r1 = ω2 .r2
ω1 n1 r2
= =
ω2 n2 r1
r2
i= (3.11)
r1
r
d= = m.z (3.12)
2
r2 z2
i= = (3.13)
r1 z1
Para explicar melhor como isto ocorre, toma-se dois exemplos: um trem
de engrenagens serial e um trem de engrenagens epicicloidal simples.
43
grenagens no eixo de saı́da, e um eixo paralelo (contra-eixo) não coincidente
onde situam-se quatro engrenagens.
z1 z6
i1 = . (3.14)
z5 z2
44
2. O segundo (Figura 3.13) ocorre quando a entrada de torque se dá no
primeiro eixo, passando pelo engrenamento entre as engrenagens 1 e
5, sendo esta acoplada ao contra-eixo e a seguir o torque passa pelo
engrenamento entre as engrenagens 7 e 3, sendo esta acoplada ao eixo
de saı́da.
z1 z7
i2 = . (3.15)
z5 z3
3. O terceiro (Figura 3.14) ocorre quando a entrada de torque se dá no
primeiro eixo, passando pelo engrenamento entre as engrenagens 1 e
5, sendo esta acoplada ao contra-eixo e a seguir o torque passa pelo
engrenamento entre as engrenagens 8 e 4, sendo esta acoplada ao eixo
de saı́da.
z1 z8
i3 = . (3.16)
z5 z4
45
4. O quarto (Figura 3.15) ocorre quando a entrada de torque se dá no pri-
meiro eixo, sendo este acoplado ao eixo de saı́da, transmitindo o torque
diretamente sem a influência de nenhuma engrenagem na chamada to-
mada direta.
i4 = 1 (3.17)
46
Figura 3.16: Esquema de um trem de engrenagens epicicloidal simples.
v1 = v2 = v3 n1 .r1 = n3 .r3
47
n5a n1 r3 z3
i1 = = = = (3.18)
n5b n3 r1 z1
2. No segundo fluxo de torque (Figura 3.18) o eixo central é desacoplado
entre o anel 1 e o sol 3, sendo o sol 3 o corpo freiado em relação à
estrutura fixa. O torque entra pelo primeiro segmento do eixo central
5a e passa para o anel 1 que por sua vez está engrenado com o planeta
2, este rotacionando ao redor do sol 3, promovendo a rotação do braço
4 que finalmente entrega o torque ao terceiro segmento do eixo central
5c que é o eixo de saı́da de torque.
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Figura 3.19: EGT: Terceiro fluxo de torque.
v3 = v4 − v2 n3 .r3 = n4 .r4 − n2 .r2
v1 = v2 + v4 0 = n2 .r2 + n4 .r4
n5a n3 2.r4 2.(z3 + z2 )
i3 = = = = (3.20)
n5c n4 r3 z3
4. No quarto fluxo de torque (Figura 3.20) o eixo central 5 está todo aco-
plado como um eixo único, não havendo nenhum elemento conectado a
ele ou freiado em relação à estrutura. Esta situação chama-se “tomada
direta” ocorrendo o fluxo de torque apenas pelo eixo central 5.
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Ao final basta comparar as relações de transmissão entre si e verificar
quantas marchas diferentes este mecanismo variador de velocidades disponi-
biliza.
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i nIII4 nIII5 nIII6
uII2 = = = = .
k nII1 nII2 nII3
As relações de transmissão produzidas pelos diferentes fluxos de torque
são:
nIII1 nIII4
e1 = uI1 .uII1 = , e4 = uI1 .uII2 = ,
nI nI
nIII2 nIII5
e2 = uI2 .uII1 = , e5 = uI2 .uII2 = ,
nI nI
nIII3 nIII6
e3 = uI3 .uII1 = , e6 = uI3 .uII2 = .
nI nI
Através da definição do passo de relação, da configuração dos estágios
e da divisão empregada entre as relações, é possı́vel construir o diagrama
estrutural deste trem de engrenagens. Considerando que o passo de relação
é ϕ, têm-se quatro combinações diferentes para o mecanismo (Figura 3.22).
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Referências Bibliográficas
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