Universidade Federal do Pampa

Programa de Pós Graduação em Engenharia

Disciplina de Mecânica dos Fluidos Viscosos

DETERMINAÇÃO DA MASSA ESPECÍFICA E VISCOSIDADE DA GLICERINA,

AMACIANTE E ÓLEO DE SOJA

RESUMO – O estudo das características de escoamento dos fluidos é chamado reologia

e é dividido em sólido elástico e fluido viscoso. O fluido viscoso escoa quando submetido
a uma força tangencial e suas principais propriedades são a massa específica e a
viscosidade. Essas propriedades são importantes pois caracterizam qualquer tipo de fluido
utilizado em diferentes indústrias. Sendo assim, o presente trabalho teve como objetivo
determinar a massa específica e a viscosidade de três fluidos produzidos nas indústrias
químicas e de alimentos, a glicerina, o amaciante e o óleo de soja. A massa específica foi
determinada a partir da técnica da picnometria líquida, a viscosidade cinemática a partir
do viscosímetro de copos e a viscosidade dinâmica com o viscosímetro de Brookfield.
Para a massa específica das amostras foram encontrados os valores de 1259,7 949,7 e
922,7 kg/m³ para a glicerina, o amaciante e o óleo de soja, respectivamente. Para a
viscosidade dinâmica utilizando o viscosímetro de Brookfield os valores determinados
para a glicerina e o amaciante variam muito nas condições de temperatura, spindle e
rotação e, portanto, não foram encontrados valores comparáveis com a literatura. Para o
óleo de soja o valor foi de 121,2 cP.

pseudoplásticos e dilatantes que sob presença

INTRODUÇÃO
de tensão deformam-se exponencialmente e os
fluidos binghamianos, também conhecidos
De acordo com Steffe (1996) reologia é o
como plásticos ideais, que se deformam
estudo das propriedades de escoamento de
somente após uma determinada tensão.
materiais. O conhecimento reológico é
As propriedades principais de um fluido
essencial para cálculos de variáveis de
viscoso são a massa específica, que relaciona a
processo, tais como para o dimensionamento de
massa num determinado volume e é a definição
bombas e sopradores; para avaliação de
de massa em equações de estado; e a
características do material, como validade em
viscosidade dinâmica ou absoluta, que
alimentos e para equações reológicas de estado.
relaciona as forças que agem no fluido
A reologia é dividida em duas grandes
(POTTER e WIGGERT, 2011).
áreas, o sólido elástico e o fluido viscoso. O
Essas propriedades têm grande
sólido elástico é um material, com forma
importância, pois caracterizam qualquer tipo de
definida que quando deformado por uma força
fluido utilizados em diferentes indústrias.
externa responde elasticamente, ou seja, dentro
Glicerina é a forma vendida
de certo limite volta a ter a forma original. Já o
comercialmente com mais de 95% de glicerol.
fluido viscoso não tem forma definida e escoa
É amplamente utilizada nas indústrias química
quando submetido à uma força tangencial
e de alimentos pelas suas características de
(STANLEY, et al. 1996).
viscosidade. Entretanto, a viscosidade da
Os fluidos viscosos podem apresentar
glicerina é muito dependente da temperatura
diferentes tipos de comportamento. Segundo
(COLLINS, 2005). O amaciante é um produto
Potter e Wiggert (2011) os fluidos mais comuns
de uso doméstico destinado para a limpeza e
são os de comportamento newtoniano que,
desinfecção de roupas. Como o amaciante é
quando submetidos a um gradiente de tensão se
uma mistura de diferentes substâncias existe
deformam linearmente. Outros tipos incluem os
uma legislação para o que pode ser considerado
amaciante de roupas (ANVISA, 2018). O óleo
de soja é extraído das sementes de soja por
processo de prensagem direta e extração por
solvente.
O objetivo deste trabalho foi determinar a
massa específica e as viscosidades, dinâmica e
cinemática, da glicerina, amaciante e óleo de
soja.
MATERIAIS E MÉTODOS
A massa específica real foi obtida através
de ensaios de picnometria líquida, utilizando
um picnômetro de volume nominal de 25 mL,
com o auxílio de uma balança analítica. Foi
realizada a calibração do picnômetro com água,
que possui massa específica conhecida, a fim de
determinar o volume real do picnômetro. O
ensaio de picnometria consiste em obter a
massa de determinada substância que ocupa o
volume do picnômetro para cálculo da massa
específica real, que relaciona estes dois
parâmetros através da Equação 1. Os ensaios e
a calibração foram realizados em triplicata.
m fluido em m³/s.
ρ= (1)
V Equação 4.
Em que, ρ é a massa específica do fluido
em kg/m³, m é a massa em kg e V é o volume
em m³.
O viscosímetro de copo Ford foi utilizado
para a determinação da viscosidade cinemática
dos fluidos. O ensaio consiste na medida do
tempo que determinado fluido demora para
escoar em um orifício até a primeira interrupção
de fluxo. A relação da viscosidade cinemática
com o tempo de escoamento no orifício do copo
Ford é dada pela Equação 2.
ν = coefA.t + coefB (2)
Na Equação 2, os coeficientes A e B são
tabelados para o viscosímetro, de acordo com
cada orifício. Já t e ν são o tempo (s) e a
viscosidade cinemática (mm²/s). Os valores dos
coeficientes são apresentados na Tabela 1.
Tabela 1: Valores para os coeficientes de
acordo com o orifício.
Coef. A Coef. B
Orifício 3 1,5765 -11,01
Orifício 4 3,8239 -31,95
Orifício 6 12,9309 -40,23
Para cada fluido foram realizadas 6
replicatas. O tamanho do orifício foi escolhido
de acordo com o tipo de fluido. Os orifícios
utilizados para a determinação das viscosidades
dos fluidos foram o de 3 e 6.
O viscosímetro de copos baseia o
equacionamento da viscosidade dinâmica com
a equação de Pouiselle, isto é, escoamento
laminar hidrodinamicamente desenvolvido
dado pela Equação 3.
𝜋. ∆𝑃. 𝑑4
𝜇= (3)
128. 𝐿. 𝑄
Na qual, μ é a viscosidade dinâmica do
fluido em Pa.s, ∆P é a queda de pressão no
viscosímetro em Pa, d é o diâmetro do copo em
m², L é o comprimento em m e Q é a vazão de
A queda de pressão é dada pela
∆𝑃 = 𝜌𝑔∆ℎ (4)
Na qual, g é a aceleração da gravidade em
m/s² e ∆h é a diferença de altura de líquido.
A vazão é definida pela Equação 5.
𝑑ℎ (5)
𝑄 = 𝑎𝑡 .
𝑑𝑡
em que, at é a área da seção transversal do copo.
Reorganizando os termos para obter-se a
viscosidade cinemática têm-se a Equação 6.
𝑑𝑡 𝑑ℎ 128. 𝑎𝑡 . 𝐿
= (6)
𝜈 ℎ 𝜋. 𝑔. 𝑑 4
Assumindo as constantes de integração e
separando as variáveis têm-se a Equação 7.
Portanto, a Equação 2 é uma simplificação da
Equação 7 que descreve o processo.

𝑡
𝜈=
𝐶. ln (ℎ𝑓 ⁄ℎ0 ) (7)
 água, com valores de 0,92 e 0,94,
Na Equação 7, C é uma constante que respectivamente.
representa o coefB da Equação 2, hf e h0 são as Na Tabela 3 são apresentados os valores
alturas final e inicial. obtidos para as viscosidades cinemática e
Para determinar a viscosidade dinâmica dinâmica, calculadas a partir dos ensaios com o
dos fluidos estudados, foi utilizado um viscosímetro de copos. Essas propriedades
viscosímetro de Brookfield. O procedimento foram analisadas com uma temperatura de
consistiu em colocar uma haste cilíndrica com 14°C. A viscosidade do óleo e do amaciante
discos de diferentes tamanhos (spindle) foram obtidas utilizando-se o orifício 3,
submersa no fluido de estudo com uma rotação enquanto que para a glicerina o orifício
constante. O aparelho mede a força de utilizado foi o 6.
resistência à rotação (torque) que o fluido
exerce sobre o spindle, obtendo, desta forma, a Tabela 3: Valores de viscosidade cinemática e
viscosidade dinâmica do fluido. A viscosidade dinâmica obtidos pelo viscosímetro de copos.
dinâmica também foi calculada a partir da Substância ν (cSt) μ (cP)
relação entre massa específica e viscosidade Glicerina 798,36 1005,69
cinemática. Amaciante 67,28 63,9
Óleo 80,70 74,46
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir da Tabela 3 observa-se que todas
Na Tabela 2 estão apresentados os as substâncias apresentaram viscosidades bem
resultados médios para o ensaio de picnometria maiores que a água, visto que esta possui um
para a glicerina, amaciante e óleo de soja, valor de 1,17 cP numa temperatura de 14°C
obtidos para uma temperatura de, (GEANKOPLIS, 1998). O fluido que
aproximadamente, 14°C. apresentou maior viscosidade foi a glicerina,
com valores para a viscosidade cinemática de
Tabela 2: Valores médios de massa específica. 798 cSt e viscosidade dinâmica de 1005 cP.
Substância ρ (kg/m³) Segundo Jardim et al. (2009) a viscosidade
Glicerina 1259,7 ± 0,0014 dinâmica da glicerina a 20ºC é de 1410 cP (1,41
Amaciante 949,7 ± 0,0068 Pa.s). Esta diferença de valor com a viscosidade
Óleo 922,7 ± 0,0006 obtida neste trabalho pode ser atribuída à baixa
sensibilidade do método de medição. A Tabela
4 apresenta os valores experimentais médios de
Os valores obtidos para a massa
viscosidade absoluta, para cada condição
específica das substâncias analisadas estão
estudada, obtidos por ensaio com viscosímetro
próximos aos reportados na literatura. Para a
de Brookfield.
glicerina este valor foi de 1259,9 kg/m³ nos
estudos de Cruz (2013). Para alguns
amaciantes, de acordo com relatórios técnicos,
Tabela 4: Valores médios para a viscosidade
a massa específica pode variar entre 980 a
dinâmica da glicerina em diferentes condições.
1000 kg/m³, porém é um parâmetro que possui
Capacidade
grande dependência com cada marca específica Condições μ (cP)
de fabricação. Já, para o óleo de soja, Souza e (%)
Luz (2014) obtiveram um valor de 915 kg/m³ 14°C, R2, 2038,35 ±
-
numa temperatura de 20°C. Ainda, pequenas 20 rpm 68,76
divergências podem ser explicadas por 18°C, R2, 1381,8 ±
71,8
diferenças de temperatura, visto que esta 20 rpm 15,69
propriedade apresenta uma relação direta com a 18°C, R2, 1544,42 ±
46,4
massa específica. Cabe ainda ressaltar que 12 rpm 17,34
dentre essas substâncias apenas a glicerina é
mais densa que a água, sendo 1,25 vezes maior. A partir da Tabela 4 é possível notar um
O óleo e o amaciante são menos densos que a aumento de 32,2% na viscosidade quando a
temperatura foi reduzida de 18 para 14ºC. Isto
se deve à grande sensibilidade da glicerina a
mudanças de temperatura. Observa-se também
que a redução da velocidade de 20 para 12 rpm
causou um aumento de 10,5% na viscosidade.
Além disso, observa-se elevados valores de
desvios médios que são decorrentes da
oscilação da viscosidade dinâmica entre valores
mais altos e mais baixos que ocorreram
repetidamente ao longo da medição. Essa
oscilação pode ser atribuída à possível
formação de zonas de convecção de calor pelo
atrito do fluido com o spindle. Isto provoca um
aumento na temperatura do fluido na camada
limite e o fluido aquecido realiza um
movimento ascendente, deixando a glicerina
com temperatura mais baixa atingir o spindle.
Na Tabela 5 são apresentados os valores
médios para a medida de viscosidade do
amaciante em diferentes condições.
Tabela 5: Viscosidade dinâmica média do
amaciante.
Capacidade
Condições μ (cP)
(%)
18°C, R3, 164,2 ±
18,5
100 rpm 4,80
18°C, R2, 194,32 ±
30,9
60 rpm 5,86
18°C, R2, 145,15 ±
39,4
100 rpm 5,44
A partir da Tabela 5 é possível constatar
que a redução na velocidade de 100 para
60 rpm, mantendo fixo o diâmetro do spindle,
gerou um aumento de 25,3% na viscosidade.
Também se observou que a redução no
diâmetro do spindle de R2 (4,7 cm) para R3
(3,47 cm), mantendo fixa a velocidade de
rotação, causou um aumento de 11,6% na
viscosidade.
Durante o experimento observou-se que
os valores de viscosidade dinâmica alteravam-
se com o passar do tempo do experimento. Uma
possível explicação para este comportamento
seria a presença de cloreto de dimetil amônio,
um sal solúvel em água, usado para diminuir a
tensão superficial da água na lavagem de
roupas. Este produto pode causar uma
diminuição da viscosidade dinâmica pela
formação de regiões com baixa viscosidade
devido a diminuição da tensão resultante no
fluido.
O valor mais adequado para a viscosidade
do amaciante de acordo com a capacidade do
equipamento seria o de 145 cP, porém este
valor apresenta grande diferença em relação ao
obtido com o ensaio de copos. Ainda, foram
realizadas tentativas para obtenção da
viscosidade do amaciante com temperatura de
14°C, no entanto, não foi possível a utilização
de nenhuma combinação de spindle e rotação.
Isto ocorreu devido as limitações do aparelho
para determinadas condições, visto que as
leituras de viscosidade somente são permitidas
com capacidades do equipamento entre 20 e
80%.
Já para o ensaio com o óleo de soja o valor
obtido para a viscosidade absoluta foi
constante, sendo este de 121,2 cP. Este
comportamento está de acordo com o
apresentado por fluidos newtonianos. Tal valor
de viscosidade foi obtido para o óleo a uma
temperatura de 15°C, com o spindle R2 e uma
rotação de 100 rpm. O valor obtido para a
viscosidade do óleo de soja também apresenta
uma diferença significativa em relação ao
obtido com cálculo a partir dos dados com
ensaio no viscosímetro de copos. Segundo
Brook et al. (2008) a viscosidade dinâmica do
óleo de soja a 20°C é de 59 cP.
Desta forma, o viscosímetro de
Brookfield é mais indicado para substâncias
homogêneas enquanto que o viscosímetro de
copos é mais indicado para misturas.
CONCLUSÃO
Os valores de massa específica
encontradas para a glicerina, amaciante e óleo
de soja foram de 1259,7; 949,7 e 922,7 kg/m³,
respectivamente.
Para a viscosidade cinemática,
determinada pelo viscosímetro de copos, dos
fluidos glicerina, amaciante e óleo de soja,
foram encontrados valores de 798, 67 e 80 cSt
respectivamente. Os valores obtidos por meio
do viscosímetro de Brookfield para as amostras
de glicerina e amaciante apresentaram
diferenças quando submetidas a diferentes
combinações de spindle e temperatura.
 NOMENCLATURA Departamento de Engenharia Mecânica,
2013.
área GEANKOPLIS, C. J. Procesos de Transporte
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do copo CECSA, 1998.
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vazão de processing engineering. 2nd ed.
Q saída de m3/s Freeman Press. New York. 1996.
líquido
diferença de
ΔP pressão no Pa
copo
viscosidade
μ dinâmica do cP
fluido
viscosidade
ν Pa.s
cinemática
massa
ρ específica kg/m3
real
t Tempo s

REFERÊNCIAS

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA

SANITÁRIA – ANVISA.
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em:
<anvisa.gov.br/anvisalegis/resol/275_01r
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Ciênc. Tecnol. Aliment., Campinas,
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newtonianos. Relatório. Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro,