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Reologia - Fundamentos

Teórico e Prático
Profa. Aline Damico
2018/2
Etimologia da palavra: Rheos (Fluir) + Logos (Estudo)
Definições:
Reologia é a ciência que estuda como a matéria se deforma ou escoa
quando está submetida a esforços originados por forças externas (Vliet &
Lyklema, 2005).
Reologia é o estudo do comportamento das deformações que um fluido
apresenta e do fluxo de matéria submetido a tensões, sob determinadas
condições de temperatura ao longo de um intervalo de tempo determinado
(UFPE, 2009).
Estudo do fluxo e deformação da matéria sob a influência de um esforço
mecânico (IUPAC).
História
O conhecimento da reologia foi encontrado por Newton e Hooke no século XVII.

R. Hooke(1678),“True Theory of Elasticity”


A potência de uma mola é proporcional a tensão aplicada.
Ao se duplicar a tensão (σ) se duplica a deformação (g).
Newton (1687),“Philosophiae Naturalis Principia Mathematica”
A resistência derivada da falta de deslizamento das partes de um líquido é
proporcional a velocidade com a qual as mesmas separam-se entre si.
Ao se duplicar a tensão se duplica o gradiente de velocidade (g).
Nasce o termo Viscosidade (η).
Mas foi somente em 1929, quando a Sociedade de Reologia foi fundada e o
comportamento mecânico de materiais industriais como a borracha, o plástico, cerâmicas
e tintas passou a ser do interesse da física, mecânica e da matemática, que surgiu a
necessidade do estudo da reologia (Tanner, 1988).

A etimologia da palavra reologia, inicialmente definida por E. C. Bingham em 1929


como estudo da deformação e fluxo da matéria [Blair (1969); Barnes et al (1989)], é
derivada dos vocabulários gregos rheo = deformação e logia = ciência ou estudo.

Segundo Blair (1969), a deformação de um corpo pode ser dividida em dois tipos:
deformação espontânea e reversível, conhecida como elasticidade; e deformação
irreversível, conhecida como fluxo ou escoamento.
Apesar da maioria das teorias de reologia, quantitativas ou qualitativas, tratar o
fenômeno da deformação como reversível, a irreversibilidade é geralmente encontrada.
Às vezes, as propriedades reológicas de uma substância sofrem mudanças
consideráveis com o tempo ou com uma deformação prolongada, seja o fenômeno
reversível ou irreversível [Machado (2002); Castro (2007)].

Segundo Bird et al (1977), a reologia clássica considera dois materiais como


ideais: o sólido elástico e o líquido ou fluido viscoso. Os sólidos ideais são materiais com
forma definida que, quando deformados por uma força externa dentro de certos limites,
retornam a sua forma e dimensões originais, após a remoção dessa força. Os fluidos
ideais, tais como líquidos e gases, tendem a escoar de forma irreversível, uma vez que a
energia requerida para a deformação é dissipada sob forma de calor e não é mais
recuperada pela remoção da força exercida.
Na reologia dos sólidos, a deformação elástica é o parâmetro mais importante ao
passo que na reologia dos fluidos o parâmetro de maior interesse deve ser a viscosidade
(Diaz et al, 2004). No entanto, certos materiais não podem ser diferenciados em sólidos
ou fluidos com clareza, de modo que a propriedade reológica de interesse nestes casos é
a viscoelasticidade.

Viscosidade: trata-se da propriedade de escoamento de um fluido, isso quer dizer


que a viscosidade trata do atrito interno das camadas do fluido que impõe a ele a
resistência ao fluxo quando submetido a uma tensão (BRASEQ, 2009). Quanto mais
viscosa a massa, mais difícil de escoar e maior o seu coeficiente de viscosidade (UFPE,
2009).

Viscoelasticidade: Modelo matemático para descrever fluidos com propriedades


elásticas.
Segundo Mothé (2009), na prática, a reologia está preocupada com materiais
cujas propriedades do escoamento são mais complicadas do que as de um fluido simples
ou um sólido elástico ideal, embora possa ser observado que um material com um
comportamento simples, sob uma restrita variação da condição de ensaio, pode exibir um
comportamento muito mais complexo sob outras condições.
Um fenômeno importante ligado ao escoamento é a existência de um limite de
escoamento. Alguns materiais que escoam rapidamente sob uma determinada tensão de
cisalhamento não escoarão totalmente se essa tensão for reduzida a um valor abaixo do
limite de escoamento.
A existência desse valor residual para a tensão de cisalhamento, o qual deve ser
excedido para que o material apresente um comportamento viscoso, foi idealizado por
Bingham (1922), sendo conhecido por viscoplasticidade.
Após análises experimentais das relações entre tensão e deformação de diversos
solos, Vyalov (1986) concluiu que o modelo reológico viscoplástico descrevia
adequadamente o comportamento dos solos sobre um estado permanente de tensão.

Como as corridas de massa são caracterizadas por movimentos rápidos nos


quais os materiais comportam-se como fluidos altamente viscosos (Guidicini & Nieble,
1984), os solos, durante este tipo de movimento, seriam classificados 26 como fluidos
viscoplásticos, justificando assim o seu estudo por meio de um embasamento reológico.
IMPORTÂNCIA
As propriedades reológicas exercem papel importante no
desenvolvimento, no preparo e na avaliação do desempenho de
formas farmacêuticas e cosméticas:
• No processo de misturar ou fazer fluir substâncias;
• Envasá-las em recipientes;
• Vertê-las de um frasco;
• Fazê-las sair de um tubo por meio de pressão;
IMPORTÂNCIA
• Características reprodutíveis lote a lote, como consistência e
extensibilidade;
• Avaliação da viscosidade através de dados analíticos;
• Conhecimento das propriedades de fluidez antes e após aplicação
de uma força;
• Aspectos reológicos tem maior importância para caracterizar as
formas líquidas e semissólidas.
APLICAÇÃO
• Determinar a funcionalidade dos componentes no desenvolvimento de
produtos;
• Escolha da embalagem do produto final;
• Controle de qualidade do produto final ou intermediário;
• Avaliação da textura (aparência);
• Aplicação do produto sobre a pele: sensação e modo como se espalha na pele;
• Determinação do tempo de estocagem.
Tensão de cisalhamento ou
tensão de corte

I. É uma força que age tangencialmente na face da


superfície.
II. É força cisalhante aplicada em uma determinada área de
um fluido em contato com um plano estacionado.
III. Quando maior a viscosidade de um líquido maior é a
tensão de cisalhamento necessária para produzir certa
velocidade de cisalhamento.
CLASSIFICAÇÃO DOS FLUIDOS

FLUIDO

NEWTONIANO NÃO
NEWTONIANO
Fluídos Newtonianos

• É um fluido cuja viscosidade é constante para diferentes taxas de


cisalhamento.
• Nos fluidos newtonianos a tensão de cisalhamento é diretamente
proporcional à taxa de deformação, onde constante de
proporcionalidade é a viscosidade.
• Em uma determinada temperatura, os fluidos newtonianos apresentam
apenas um único valor de viscosidade.
.
Exemplos: água, óleos vegetais, soluções açucaradas, leite.
Curvas de viscosidade versus gradiente de cisalhamento (a) e tensão de cisalhamento versus
gradiente de cisalhamento (b) para fluidos newtonianos, respectivamente.
CLASSIFICAÇÃO DE FLUIDOS E
APLICAÇÃO FARMACÊUTICA
Fluido Newtoniano
• Facilmente aplicados sobre superfícies;
• Não deixam resíduos sobre o local da aplicação;
• Difícil controle na aplicação por escorrer;
• Água, solventes, soluções muito diluídas e óleos minerais;
Exemplo: Perfumes
VISCOELÁSTICOS

REOPÉTICOS

DEPENDETES DO
TEMPO

TIXOTRÓPICOS

NÃO
NEWTONIANO

DILATANTES
SEM TENSÃO DE
CISALHAMENTO
INICIAL
PSEUDOPLÁSTICOS

INDEPENDETES
DO TEMPO
PLASTICOS DE
Ocorre com a maioria dos BINGHAM

sistemas de interesse em COM TENSÃO DE


CISALHAMENTO
farmácia. INICIAL
HERSCHEL –
BULKLEY
Fluídos Não-Newtonianos

• Para fluidos não-newtonianos, a tensão de cisalhamento não é


diretamente proporcional à taxa de deformação.
• A viscosidade passaria a variar de acordo com a taxa de deformação.
• Sendo assim, o termo viscosidade aparente é usado (μa).

• Os fluidos não-newtonianos podem ser classificados de acordo com as


propriedades físicas. Estas podem ser independentes ou dependentes do
tempo de cisalhamento, além de apresentar características de um sólido.
Fluídos Não-Newtonianos
dependentes do tempo

• A) Tixotrópicos (afinantes): Esta classe de fluidos tem sua viscosidade diminuída


com o tempo de aplicação da tensão de cisalhamento, voltando a ficar mais viscosos
com quando esta cessa. Ex.: suspensões concentradas, emulsões, soluções protéicas,
petróleo cru, tintas, ketchup.

• B) Reopéticos (espessantes): Já este tipo de fluido apresenta um comportamento


inverso ao dos tixotrópicos. Desta forma, a viscosidade destes fluidos aumenta com
o tempo de aplicação da tensão, retornando à viscosidade inicial quando esta força
cessa. Ex.: argila bentonita.
CLASSIFICAÇÃO DE FLUIDOS E
APLICAÇÃO FARMACÊUTICA
2. Fluido Não Newtoniano
2. 1. Tixotrópico
• É fácil de ser espalhado sobre uma superfície, pois a viscosidade diminui com a força.
• Não apresenta grande controle na aplicação, pois por um tempo pode escorrer.
• Não deve ser utilizado em situações em que o material não pode escorrer nunca.
• Soluções concentradas e emulsões
Exemplo: Gel de pectina
2.2. Reopéticos
• Argila de bentonita
Fluidos não-newtonianos Independentes
do tempo
Dilatantes
Sem tensão de
cisalhamento
inicial

Pseudoplásticos

Independentes
Não -newtonianos do tempo
Plástíco de
Bigham
Com tensão de
cisalhamento
São aqueles cujas propriedades reológicas
inicial
Herschel
independem do tempo de aplicação da tensão Bulkley
de cisalhamento.
Sem tensão de cisalhamento
inicial

Pseudoplástícos
São substâncias que, em repouso, apresentam suas moléculas em um
estado desordenado, e quando submetidas a uma tensão de cisalhamento,
suas moléculas tendem a se orientar na direção da força aplicada.
Curvas: (a) representando a diminuição gradativa da viscosidade a medida que o gradiente de
cisalhamento é aumentado. A curva (b) representa justamente a formação de uma curva ao invés
de uma reta a medida que a tensão de cisalhamento aumenta (aumento antes de se estabilizar)
versus o gradiente de cisalhamento.
CLASSIFICAÇÃO DE FLUIDOS E
APLICAÇÃO FARMACÊUTICA
2. Fluido Não Newtoniano
2.3. Fluido Pseudoplástico
• Grande controle sobre o local da aplicação por não escorrer.
• Fácil espalhamento sobre uma superfície.
• Permanece no local de aplicação.
• Dispersões aquosas de hidrocolóides naturais ou sintétiocos e emulões
cremosas;
Exemplos: Gel de cabelo, géis no geral.
Sem tensão de cisalhamento
inicial
Dilatantes

São substâncias que apresentam um aumento de viscosidade


aparente com a tensão de cisalhamento. No caso de suspensões, à
medida que se aumenta a tensão de cisalhamento, o líquido intersticial
que lubrifica a fricção entre as partículas é incapaz de preencher os
espaços devido a um aumento de volume que frequentemente
acompanha o fenômeno.
Exemplos: suspensões de amido, soluções de farinha de milho e açúcar,
silicato de potássio e areia.
Curvas: (a) representando o aumento gradativo da viscosidade a medida que o gradiente
de cisalhamento é aumentado. A curva (b) representa justamente a formação de uma curva
ao invés de uma reta a medida que a tensão de cisalhamento aumenta (gradativamente
depois possui uma subida) versus o gradiente de cisalhamento.
CLASSIFICAÇÃO DE FLUIDOS E
APLICAÇÃO FARMACÊUTICA
2.4. Fluido Dilatante
• Pode ser espalhado sobre uma superfície, escorrendo lentamente;
• Não apresenta controle sobre o local da aplicação;
• Dispersões com alta concentração de partículas pequenas.
Exemplo: São utilizados em preparações esfoliantes, pois podem escorrer para
as mão porem quando são aplicadas sobre a pele se comportam como sólido e
fazem a ação esfoliantes mecânica.
Com tensão de cisalhamento
inicial
Plástico de Bigham

Este tipo de fluido apresenta uma relação


linear entre a tensão de cisalhamento e a taxa de
deformação, a partir do momento em que se atinge
uma tensão de cisalhamento inicial.
Este comportamento é descrito pela equação:

Ex.: fluidos de perfuração de poços de petróleo, algumas


suspensões de sólidos granulares.
CLASSIFICAÇÃO DE FLUIDOS E
APLICAÇÃO FARMACÊUTICA
2.5. Fluido Plástico (Ou de Bingham)
• Permite grande controle de aplicação por não escorrer;
• Difícil espalhamento sobre uma superfície;
• Deixa resíduos da aplicação;
• Pomadas, suspensões concentradas;
Exemplos: Creme dental, pomada, batom.
Com tensão de cisalhamento
inicial

Herschel Bulkley
Também chamado de Bingham generalizado. Este tipo de
fluido também necessita de uma tensão inicial para começar a
escoar. Entretanto, a relação entre a tensão de cisalhamento e a
taxa de deformação não é linear. Esta relação depende do
expoente adimensional n, característico para cada fluido.
Fluídos Viscoelásticos

• São materiais que podem apresentar propriedades viscosas (Modelo de


Kelvin-Voigt) e elásticas (Modelo de Maxwell) ao mesmo tempo.

• Constituídos por moléculas complexas e de alta massa molar


• Têm força mínima para que haja deformação.

• Não escorre com a ação da gravidade.

• A viscosidade não muda em função da força.


• Estas substancias quando submetidas a tensão de cisalhamento sofrem uma
deformação e quando esta cessa, ocorre uma certa recuperação da
deformação sofrida (comportamento elástico).

• São usados quando se deseja que a forma se mantenha mesmo que sob
manipulação (aplicação de forças pequenas, que poderá até mesmo
modificar, mas terá a capacidade de voltar a forma anterior).
• Ex.: massa de farinha de trigo, líquidos poliméricos, ácido hialurônico,
glicerina, saliva, plasma, gelatinas.
Fluídos Viscoelasticos

Os problemas que podem se apresentar são:

• Inchamento do Fluido
- Um grande problema em extrusão e em enchedeiras

• Escoamento de Weissemberg
- Ocorre na agitação de fluidos altamente viscoelasticos como
massa de pão e biscoito. A altas taxas de deformação e as tensões
normais superam as tangenciais, invertendo o fluxo
Viscosímetros

• Viscosímetro
permite a determinação do coeficiente de viscosidade dos fluidos.

• Tipos: capilar, esfera, orifício e rotacional.


Tipos de viscosímetros: viscosímetro capilar

• São os viscosímetros mais


antigos.
• A viscosidade é obtida por meio
de uma medida do gradiente de
pressão de um escoamento
laminar em um tubo.
Tipos de viscosímetros: viscosímetro capilar
• Desvantagem: a velocidade de
cisalhamento varia de zero, no centro do
capilar, a um valor máximo nas paredes;
• É usado na determinação de vários fluidos,
transparentes ou opacos, a maioria
newtoniano.

Q = vasão volumétrica
L = distância entre as tomadas de pressão
ΔP = diferença de pressão
D = diâmetro do tubo capilar
Viscosímetro de esfera

• Viscosidade medida pela queda da


esfera no líquido colocado em um
cilindro cheio com o fluido.
Viscosímetro de esfera

• O viscosimetro esta inclinado a 10° da


vertical, possui marcas, A e C.
• O tempo ∆T gasto para percorrer o
intervalo ∆L entre A e C é medido.
Viscosímetro de esfera
• Com o valor de ∆T, calcula-se a viscosidade dinâmica (Equação 1)
que relaciona a viscosidade em queda livre no interior do fluido
testado, em escoamento muito lento.
• μ=Κ(ρb −ρa)Δt (1) em que:
μ = viscosidade, mPa.s
K = constante da esfera, m.Pa.cm-3
ρb = massa especifica da esfera, g. cm-3
ρa = massa especifica da amostra, g. cm-3 ;
Δt = tempo de queda, s
Viscosímetro de orifício
• A viscosidade é medida pelo tempo que um
volume fixo de um líquido gasta para escoar,
através de um orifício existente no fundo de um
recipiente.
• Têm sido usados na indústria devido à
simplicidade e rapidez na operacão, tornando-se
úteis para determinações relativas de fluidos
simples, principalmente os newtonianos.
• Possuem uma relação relativamente pequena
entre o comprimento do tubo e o seu diâmetro,
isto é, entre 1/1 a 10/1, é difícil estabelecer as
equações de fluxo em razão dos efeitos de saída
e ao fenômeno de transição.
Viscosímetro rotacional
• Se baseia na rotação de um corpo, interno ou externo, superior ou
inferior, imerso em um líquido, o qual experimenta uma força de
resistência viscosa.
• É o mais indicado para se estudar líquidos não-newtonianos.
• A viscosidade é medida pela velocidade angular de uma parte móvel
separada de uma parte fixa, pelo líquido.
• A parte fixa é, em geral, a parede do próprio recipiente cilíndrico onde
está o líquido e a parte móvel pode ser no formato de palhetas ou de
cilindro.
É indicado nas situações em que a rapidez, a simplicidade e
robustez do instrumento e as facilidades de operação são
mais importantes que a precisão e a exatidão na medida.
Como nas fábricas de tinta, adesivos e óleos lubrificantes.
Reômetros

• Dispositivo laboratorial usado para medir a maneira pela qual um líquido, flui
em resposta à forças aplicadas.

• É utilizado para os fluidos que não podem ser definidos por um único valor
de viscosidade e, portanto, requerem mais parâmetros a serem definidos e
medidos do que com um viscosímetro.
Reômetros

RheoScope
Reômetro rs600 REÔMETRO
ROTACIONAL ÓPTICO
Reômetros

REÔMETRO EXTENCIONAL
REÔMETRO
CAPILAR
Alguns Artigos
CONCLUSÃO

A grande importância da reologia na área farmacêutica


deve-se à necessidade de desenvolver produtos com
consistência e suavidade aceitáveis e por precisarem
garantir esta reprodutibilidade todas as vezes que o produto
for ser utilizado pelo consumidor.

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