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3.2.

Mecanismo de Translação:

Os mecanismos de translação das máquinas de elevação podem assumir diferentes


configurações em função do tipo de equipamento. Apesar da diversidade dos mecanismos os
procedimentos utilizados nos cálculos são semelhantes aos utilizados no caso analisado no item
2.3.4, porém alguns critérios de cálculo devem seguir normas especificas. Estes critérios podem
influenciar significativamente o dimensionamento, o que necessita uma análise bastante detalhada
da norma adotada durante o projeto do equipamento.
As pontes rolantes são os equipamentos de elevação que possuem o maior número de normas
para o dimensionamento. Neste item serão analisadas as condições de dimensionamento aplicadas
às pontes rolantes, os equipamentos que não possuirem um critério definido para o
dimensionamento podem seguir as condições estabelecidas no item 2.
Os principais critérios a serem adotados serão o AISE 6 e a NBR 8400.

3.2.1. Potência do Motor de Translação:

A potência requerida para a translação da ponte e do carro (principal ou auxiliar), é constituida


pela componente necessária para acelerar ou desacelerar e pela componente necessária para vencer
a resistência ao movimento. Este cálculo segue critérios estabelecido pela norma de projeto do
equipamento, no caso da AISE 6 temos que: (obs. Serão adotadas as unidades americanas, para
transformação de unidades ver exemplo de cálculo no item 3.2.4)

- Potência de aceleração: O tamanho do motor deve atender o valor calculado na expressão a


seguir (regime de 60 minutos):

Onde:
Ka = Fator de Aceleração (função do fator de atrito “f”e da aceleração – fig. 35 e 36)
Ks = Fator de Serviço (Tabela 17 ou 18)
V = Velocidade Máxima do Conjunto após 10 segundos. (pés por minuto – fpm)
Wt = Peso Total sobre as Rodas, ponte ou carro. (Peso Próprio e Carga). (short ton)
* As tabelas e figuras estão anexadas no final do capítulo.
O fator Ka inclue os efeitos do atrito no processo de aceleração do carro ou da ponte. Os
detalhes do calculo deste fator pode ser obtido na secção 4.12.3 da AISE 6. O fator de atrito “f”será
definido no item a seguir.
- Potência de Velocidade Constante: Este valor deve ser considerado para efeito de
dimensionamento do sistema de transmissão, sendo obtido na expressão:

O valor de “f” é definido por:

O valor de “f” é definido em lb/short ton pois os cálculos e tabelas da AISE 6 estão definidos
em unidades do sistema americano. Nestes cálculos o valor da tonelada métrica deverá ser
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multiplicado por 1,102311 para transformar em tonelada americana (short ton). (Maiores detalhes
de transformação de unidades ver Dubbel – Manual do Engenheiro Mecânico).
A tabela 20 da AISE 6 apresenta alguns valores típicos de “f” para diferentes diâmetros de rodas
com mancais de rolamento. No caso de rodas de mancal de deslizamento, o fator de atrito deve ser
considerado f = 26 lb/short ton.
Detalhes sobre o cálculo da potência são apresentados no item 3.2.4 utilizando os dados da
especificação da tabela 9.

3.2.2. Arranjo do Mecanismo de Translação:

No caso das pontes rolantes o arranjo do mecanismo de translação possui construções típicas,
padronizadas em normas de dimensionamento e projeto. No caso da AISE 6 a figura 27 (ver anexo)
apresenta os principais tipos de arranjos de acionamento das pontes.
Apesar destes mecanismos apresentarem procedimento de dimensionamento semelhante ao do
item 2, considerando apenas os critérios da norma específica, alguns detalhes devem ser observados
em função das características dos eixos de transmissão, que neste caso podem apresentar
comprimentos maiores.
A deflexão e a vibração torsional do eixo devem ser analisadas, pois os níveis de vibração
poderão ser amplificados caso as frequências naturais sejam baixas e as deflexões elevadas.
O espaçamento entre os mancais dos eixos flutuantes é dimensionado considerando o diâmetro e
a rotação. Para rotações superiores a 400 rpm deve ser verificado o nível de vibração a ser gerado.
As recomendações sobre o diâmetro e espaçamento são mencionados na AISE 6, secção 3.9.2.2.
O ângulo de deflexão do eixo de transmissão também deve ser verificado. Para um torque de 2
vezes o torque total do motor, o eixo não poderá apresentar um ângulo de torção superior a 0,3
graus/metro de comprimento.
O mecanismo de translação é fixado na estrutura do carro ou da ponte. A técnica de fixação é
muito importante para garantir a estabilidade, alinhamento e facilidades de manutenção para este
conjunto.
O exemplo de cálculo é apresentado no item 3.2.4.

3.2.3. Dimensionamento de Rodas e Trilhos:

As rodas e trilhos de pontes rolantes seguem uma padronização especial em função das
características de carga e ciclo de utilização destes equipamentos. A maioria das máquinas de
elevação e transporte sobre trilhos também podem utilizar as mesmas especificações das pontes
rolantes. A normalização destes trilhos segue diversos padrões (americano, DIN, JIS). A
propriedade mais importante para estes componentes é a dureza das pistas, que esta diretamente
relacionada com a capacidade de carga.
A norma AISE 6 apresenta as características dimensionais e de capacidade das rodas e trilhos
que utilizam o padrão ASCE e Bethlehem. Os detalhes para o projeto dos equipamentos podem ser
obtidos nos catálogos de fabricantes.
A especificação da roda esta diretamente relacionada com o trilho, como pode ser observado nas
tabelas 9 e 10 da AISE 6 (ver anexos no final do capítulo). A definição da carga máxima da roda
deve seguir o critério:

Onde:

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Carga Admissível da Roda = Ver Catálogo de Fabricante
Fator de Velocidade = Ver Tabela 11 da AISE 6
=Fator
Ver Tabela
de Serviço
12 da AISE 6== = Ver Tabela 12 da AISE 6

O número de rodas do mecanismo de translação será escolhido em função da carga aplicada nas
rodas escolhidas, caso necessário devem ser utilizadas rodas de maior diâmetro. O material da roda
também influencia na capacidade de carga, devendo sempre ser analisado em conjunto com o trilho
utilizado. A quantidade de rodas escolhidas influencia no projeto da estrutura do conjunto de rodas
e na fixação deste conjunto às vigas do carro e da ponte.

3.2.4. Exemplo de Cálculo:

A figura 23 apresenta o esquema dos acionamentos da ponte rolante descrita na tabela 9. O


mecanismo de translação da ponte é constituído por quatro acionamentos independentes, montados
diretamente na viga principal da ponte através de uma estrutura de apoio das motorizações. Este
arranjo é semelhante ao tipo A4 da AISE 6.
Este sistema apresenta facilidades de manutenção e confiabilidade de desempenho, pois
normalmente é dimensionado para operar em situações de emergência com três e até mesmo dois
motores. O principal cuidado que deve ser observado para este arranjo é o sincronismo da
velocidade dos motores, que é obtido através do controle do acionamento. Caso os motores
apresentem rotações diferentes será observado um elevado desgaste das rodas da ponte.
A figura 24 apresenta um detalhe de um conjunto de acionamento. Os componentes principais
são: motor, freio, redutor, eixc de transmissão e acoplamentos. A utilização de eixo de transmissão
curto elimina muitos problemas de vibrações na transmissão.
Considerando as informações da tabela 9 e considerando uma aceleração de 0,2 m/s 2 (que
corresponde a 6,67 segundos para atingir a velocidade permanente de 80 m/min.), determinar os
seguintes valores:

a) Especificação dos motores do acionamento da translação.


b) Especificação dos freios da translação da ponte.
c) Especificações da roda da ponte.
d) Cálculo da taxa de redução para o redutor.
e) Verificação do eixo flutuante.

a) Especificação dos motores do acionamento da translação.

Para a especificação do motor será utilizado o critério da AISE 6, que determina a verificação
das potências de aceleração e velocidade constante.

- Potência para a aceleração:

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Figura 23: Arranjo do Mecanismo de Acionamento da Translação da Ponte

Figura 24: Detalhe do Conjunto de Acionamento da Translação da Ponte

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O primeiro item a ser determinado é o fator de atrito “f”. Para definição do fator de atrito
conforme a tabela 20 é necessário conhecer o diâmetro da roda, que esta definido no item c) e
corresponde a 24 “. Neste caso a tabela 20 determina um fator f = 12 (lb/ton).

Na figura 36, que corresponde a pontes rolantes com alimentação em corrente alternada e
motores com controle em corrente contínua, obtem-se o fator Ka = 0,0011.

A tabela 18 estabelece para ponte classe 3 o valor de Ks = 1,3.

O valor de Wt corresponde a soma dos seguintes valores: peso da ponte, peso do carro principal,
peso do carro auxiliar, peso da barra de carga, peso do gancho auxiliar e peso da carga no
levantamento principal. O cálculo dos valores relativos ao peso das estruturas serão definidos no
item 3.4. Considerando a tabela 9, especificações básicas da ponte rolante, tem-se:

Wt = 108,2 + 33,3 + 14,9 + 7 +1 + 60 = 224,44 (toneladas)

O valor calculado acima corresponde ao peso em toneladas métricas. A AISE 6 utiliza a


tonelada americana. Para transmformar Wt em toneladas americana (short ton), devemos
multiplicar o valor acima por 1,102311.
Desta forma o valor de Wt a ser utilizado nos cálculos da AISE será de 247,4 (short ton).
A velocidade da ponte é de 80 m/min, que corresponde a 80 x 3,2808 = 262,4 ft/min.

Substituindo os valores na equação da potência de aceleração tem-se:

- Potência para velocidade constante:

Substituindo os valores na equação acima tem-se:

Considerando os valores calculados serão especificados 4 motores de 22 KW (30 HP), com a


seguinte especificação:

Motor de 22 KW; 1200 rpm; 40 % ED; Classe Isolação F

Obs.: o valor de 1200 rpm corresponde aos valores de taxa de redução e diâmetro de roda
escolhidos nos itens seguintes.

b) Especificação dos freios da translação da ponte:

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Os principais parâmetros de dimensionamento dos freios são o torque no eixo de frenagem e a
capacidade térmica do freio. A norma AISE estabelece como critério para a escolha dos freios do
mecanismo de translação da ponte o espaço necessário para a parada total do equipamento. Este
fator é muito importante para este sistema e também depende do atrito entre a roda e o trilho.
O torque do eixo de cada motor será: (obs.  calculado pela velocidade real do motor 1180
rpm).

Para permitir o ajuste do sistema de freios para o sistema de translação da ponte é recomendado
um fator de serviço de 1,5. Portanto o torque a ser especificado para os freios é de:

O freio do sistema de translação pode ser a disco com pastilhas ou de tambor com sapatas. Na
especificação deve ser avaliada a capacidade térmica do freio que está relacionada com o número de
ciclos de atuação. Os materiais de fabricação são muito importantes para garantir o bom
desempenho.
Os freios devem ser ajustados para que a parada total da ponte ocorra em um percurso máximo
de 10% da velocidade para a condição máxima de solicitação (valores em pés e pés/minuto).

c) Especificações da roda da ponte:

A carga de trabalho da roda é obtida dividindo o peso máximo de trabalho (224,4 toneladas
métricas) pelo número de rodas (8). A carga de trabalho é de 28,05 (toneladas métricas) que
corresponde a 28,05 x 2,2046 = 61860 libras.

A carga admissível da roda deve atender as condições previstas no item 3.2.3. Utilizando as
tabelas 11 e 12 são determinados os fatores de velocidade e de serviço respectivamente:

Fator de Velocidade = 1,03 (262,4 ft/min. prevendo roda de 24” com base na carga por roda)

Fator de Serviço = 1,00 (mais de 2 milhões de ciclos)

A carga admissível deverá atender a condição:

Conforme a tabela 9 da AISE 6 para roda de 24” pode ser utilizado o trilho a partir do tamanho
CR 135 lb. Para este equipamento foi especificado o trilho CR 175 lb.

d) Cálculo da taxa de redução para o redutor:

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Para o cálculo da redução é necessário determinar a rotação da roda do sistema de translação:

Considerando a rotação do motor de 1180 rpm, tem-se:

Esta taxa de redução é bastante comum para redutores de 3 eixos paralelos. Conforme figura 24
pode-se observar que foi definido um redutor de eixos paralelos. Os fatores a serem observados na
seleção do redutor são: taxa de redução, potência mecânica, fator de serviço, potência térmica e
dimensões para montagem no equipamento.

e) Verificação do eixo flutuante:

O eixo flutuante deve ser verificado conforme as condições estabelecidas pela AISE 6. O
comprimento entre as extremidades do eixo flutuante é de 932 mm, sendo utilizado acoplamento
semi-flexivel. Para o diâmetro de 120 mm o comprimento de 932 mm esta bem abaixo do valor
admissível (4876 mm).
O ângulo de deflexão com relação à transmissão do torque deve ser verificado. O valor deve ser
inferior a 0,3 graus/metro.

Onde:

Tef = 5028,5 (Nxm)


G = 8,155 x 1010 (N/m2)
J = 2,036 x 10-5 (m4)

Substituindo valores obtem-se  = 0,006 o/m, que é inferior ao valor admissível de 0,3 o/m.

No dimensionamento completo do eixo flutuante devem ser verificadas as pontas de eixo


montadas nos semi-acoplamentos com relação ao torque transmitido.

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Tabelas e Figuras AISE 6

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