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UNIDADE CURRICULAR: História de Portugal Contemporâneo

CÓDIGO: 31050

DOCENTE: Daniel Melo

A preencher pelo estudante

NOME: Leonel Dinis Dias Barbosa

N.º DE ESTUDANTE: 2100133

CURSO: Licenciatura em História

DATA DE ENTREGA: 10-05-2023

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TRABALHO / RESOLUÇÃO: Face à proposta de trabalho sobre O Estado Novo e a
resistência à democracia: o Movimento de Unidade Democrática (MUD) e a afirmação
de uma oposição eleitoral ao salazarismo (1945-1958) vou apresentar as análises, a
evolução e as principais caraterísticas da oposição eleitoral ao Estado Novo entre 1945 e
1958. Destacar as origens e o papel do Movimento de Unidade Democrática (MUD) na
mobilização da oposição à ditadura salazarista no período imediato ao fim da 2.ª Guerra
Mundial, as eleições presidenciais portuguesas de 1949, de 1951 e de 1958.

Apesar dos regimes autoritários de direita terem sido extintos de vários países europeus
em 1945, Salazar em Portugal continuou com a sua política autoritária, tornando este
regime mais adequado ao quadro político internacional. E para o validar abandonou as
referências explícitas ao autoritarismo, redimensionou os aspetos propriamente
fascistas ao regime, refreou temporariamente a repressão e consentiu o aparecimento
de uma oposição eleitoral. (Pimenta, 2010, p. 79) A ditadura salazarista deixou Portugal
e as suas colónias sob uma forte contenção que durou mais de 30 anos. Antes da 2ª
Guerra Mundial, a política económica salazarista dava estabilidade monetária, proteção
dos mercados coloniais e os interesses agrários prevaleciam sobre o capital industrial.
Com o pós-guerra, Portugal sofre alterações económicas, sociais e políticas. Salazar
tenta reduzir a expansão da indústria, proteger os interesses fundiários, ter estabilidade
nos sectores do capitalismo português, para afirmar a estabilidade do regime, usando
manobras pedagógicas. Há agitação social, pois as condições económicas pioram, a
repressão do regime cresce, origina mais pobreza, fome e aumenta a taxa de mortalidade
infantil. Desencadeando greves e manifestações operárias e camponesas que afetam a
indústria e as empresas. Os protestos eram abafados pela ditadura e o país continuava
igual, só a elite burguesa-aristocrática é que permanecia com hegemonia social,
económica e política. Ao nível político, há restruturação do Partido Comunista
Português, (uma vez que este foi expulso da Internacional Comunista), por um grupo de
militantes comunistas, do qual fez parte Álvaro Cunhal. Assim, o PCP procurou obter a
convergência de todas as forças democráticas portuguesas numa frente única contra o
Estado Novo. (Pimenta, 2010, p. 81) Surge o Movimento de Unidade Antifascista
(MUNAF), criado em 1943, composto por membros do antigo Partido Socialista e dos
partidos da República, de anarquistas, da “Seara Nova” e da Maçonaria.
(Tengarrinha, 1994, p. 390) Que organizam atividades de oposição para destruir a

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ditadura e idealizam a revolta militar contra Salazar. O fim da guerra muda os planos da
oposição. Esta considera que os Aliados não aguentavam a continuação dos regimes
salazarista e franquista, e que a democracia seria retomada na Península Ibérica. O povo
português, a 8 de Maio de 1945, vai para a rua celebrar o triunfo dos Aliados e das
democracias sobre o fascismo e o nacional-socialismo. Há manifestações em todo o país
e nas colónias com o desejo de acabar a ditadura, voltar à democracia e às eleições
livres. Face a isto, Salazar declarou medidas aparentemente democratizantes, como
amnistia a condenados por delitos políticos, nova lei eleitoral, dissolução da Assembleia
Nacional e convocação de eleições legislativas. Tentou mudanças que dessem ao regime
pelo menos uma fachada levemente democrática, mas que não implicavam uma
mudança de estrutura e tão pouco o fim do Estado Novo. (Pimenta, 2010, p. 82) Assim,
a oposição rejeita os propósitos golpistas e planeia participar nas eleições supostamente
livres e democráticas. É a 8 de Outubro de 1945, que a oposição, com inspiração do
MUNAF, constitui o Movimento de Unidade Democrática (MUD), como mobilização
da oposição à ditadura salazarista e tentativa de instaurar a democracia em Portugal.
Agregaram comunistas, socialistas e republicanos, e o MUD juvenil com Mário Soares
e Salgado Zenha como dirigentes. Este movimento alargou-se às colónias, e vários
cidadãos e intelectuais portugueses aderiram ao movimento e assinam as listas do
MUD. Como não havia pretensão do regime realizar eleições, a oposição manifesta ao
Presidente da República General Carmona as condições para realizarem eleições livres e
democráticas, reivindicam um novo recenseamento eleitoral, formação de novos
partidos políticos e respeito pela liberdade de reunião e expressão. Tal não foi aceite
pelo regime e o MUD não participa nas eleições legislativas de 18 de Novembro de
1945, e assim ganha a União Nacional sem oposição. Salazar, após as eleições,
repreende e persegue a oposição, manda prender académicos, intelectuais e militares, e
demite de funções públicas cidadãos que assinaram as listas do MUD. Para esta
concretização, remodela a polícia política que passa de Polícia de Vigilância e Defesa
do Estado (PVDE) para Polícia Internacional de Defesa (PIDE). O MUD faz denúncias
face aos ataques realizados pelo regime, aos direitos e liberdades cívicas. Como
Portugal se candidatava às Nações Unidas, o MUD afirmava que o país com este regime
ditatorial salazarista, não deveria ser permitido numa organização com países
democráticos. Salazar começa a insurgir-se com a presença legal do MUD, por também
anunciarem que o General Norton de Matos era candidato às eleições da Presidência da
República em 1948, culminando na ilegalização formal do MUD. (Tengarrinha, 1994,

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p. 392) O PCP continua a colaborar com o MUD e realizam atividades políticas secretas
com o operariado, trabalhadores rurais e intelectuais, greves, paralisações e protestos
dos trabalhadores. A ditadura começa a repreender os trabalhadores e a perseguir
policialmente suspeitos comunistas, e demonstrava, assim, que estava de “pedra e cal”
e que não daria qualquer possibilidade à oposição de aceder ao poder. (Pimenta, 2010,
p. 84) Nas eleições presidenciais de 1949, o general Norton de Matos é o candidato à
Presidência da República, com apoio da oposição unida. Contudo, o Estado Novo não
deu condições nem garantias para se concretizarem eleições democráticas. A oposição
decide a desistência eleitoral do seu candidato, e o General Carmona é reeleito para o
seu último mandato como Presidente da República. A estratégia frentista realizada pela
oposição afundou-se no rescaldo das eleições e divide-se em duas partes: pela oposição
republicana e socialista moderada, pró-ocidental e “atlantista”, e pelo Partido Comunista
e os grupos democráticos mais à esquerda. Esta divisão demonstra a vitória da ditadura
salazarista, que ficou intacta à oposição do pós 2ª Guerra Mundial. A PIDE começa a
deter os opositores ao regime, a expulsar e prender membros da rede clandestina do
PCP. Mesmo assim, este continua com as atividades comunistas e na defesa dos
trabalhadores. Além do apoio policial, apoio internacional dos E.U.A., Brasil e países de
terceiro mundo, Salazar também o tinha da elite burguesa-aristocrata, hierarquia militar,
católica e classe média conservadora. Em 1949, Portugal entra para a NATO e em 1955
para a ONU. O que faz que o regime fosse aceite pela comunidade internacional,
consolidando a repressão política e policial de Salazar. Quando morreu o General Óscar
Carmona, surge uma divisão do regime com os monárquicos a quererem a restauração
da monarquia, mas Salazar decide manter a fórmula republicana. Salazar escolhe o
General Craveiro Lopes para substituir Carmona para as eleições presidenciais de 1951.
A oposição dividida apresenta dois candidatos, Professor Ruy Luís Gomes pelo
Movimento Nacional Democrático (considerado inelegível pelo Conselho de Estado) e
o Almirante Quintão Meireles pela oposição moderada (que desiste por ausência de
condições políticas democráticas). Craveiro Lopes é o único candidato e é eleito
Presidente da República por maioria. O Estado Novo permanece com tensões políticas
internas entre conservadores e reformistas, pois o governo da ditadura desviava-se das
realidades e problemas do país.

Em 1958, finda o mandato do General Craveiro Lopes, Salazar não gostou das suas
posições reformistas, e escolhe o Almirante Américo Tomaz para candidato às eleições

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presidenciais. Na oposição, tivemos o distinto general Humberto Delgado, que não era
de esquerda, tinha apoios políticos das Forças Armadas e no interior do Estado Novo, e
também o advogado Arlindo Vicente apoiado pelo PCP. Humberto Delgado com o seu
enorme êxito político deu à campanha eleitoral uma dinâmica mobilizadora,
movimentando muitos portugueses apoiá-lo. Alguns militares liberais distanciam-se
dele pelo sucesso eleitoral e receiam uma espécie de revolução. Os receios foram a
estratégia do regime para afastar o candidato da oposição. Do ponto de vista militar, fez
que Humberto Delgado chegasse às eleições isolado, e Salazar fica com toda a liberdade
para falsear os resultados eleitorais. Como resultados das eleições de 8 de Junho de
1958, o General Humberto Delgado conquista 17% dos votos e o Almirante Américo
Tomaz vence com 52%, sendo empossado Presidente da República a 9 de Agosto de
1958.

Bibliografia:

PIMENTA, Fernando Tavares - Portugal e o Século XX. Estado-Império e


Descolonização (1890-1975). Porto: Edições Afrontamento, 2010, pp. 79-90.

TENGARRINHA, José – Do Estado Novo ao 25 de Abril. Os caminhos da unidade


democrática contra o Estado Novo. Coimbra: Instituto de História e Teoria das
Ideias, Faculdade de Letras, Revista de História das Ideias, vol. 16, (1994)
p.388-400.

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