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Módulo 5 - Produção de texto - Prof.

Raniere Marques

Pensando a forma

A prova de redação tem respaldo no binômio Forma x Conteúdo. A Forma tem a ver com o gênero textual
definido e, especificamente, com a gramática que rege a feitura do texto. O conteúdo, por sua vez, tem a ver com a
ideia central, o tema, e as ideias secundárias suscitadas pelo assunto discutido. Portanto, as características do texto
que melhor representam estas prerrogativas são:

* Clareza

Compreende os procedimentos que tornam o texto inteligível, de fácil entendimento, refletindo a boa
organização das ideias nele escritas. Cultuar a clareza é evitar a obscuridade, a ideia vaga e a
ambiguidade.

* Concisão

Entendida também como objetividade, a concisão tem a ver com a frase: “Devemos dizer o máximo
com o mínimo de palavras”. Ser conciso, então, é ir diretamente ao ponto, evitando-se a redundância e a
prolixidade, conhecidas vulgarmente como “enchimento de linguiça.

* Correção

Esta competência tem a ver necessariamente com a gramática do texto, ou seja, com a utilização da
norma culta e com a fidelidade às regras da Gramática Tradicional. Devemos evitar, então, os erros de
concordância, a cacofonia, os barbarismos, os neologismos, as expressões vulgares e até o purismo, o
rebuscamento, pois falar “bonito demais” também é um erro.

* Estilo

Este quesito, além de identificar um modo particular de pensar, de agir, ser e de fazer algo, o estilo é a
preocupação com o modo ou forma de escrever, de expor a ideia. Essa exposição pode ser, por exemplo,
irônica ou satírica, afetada, vulgar, romântica ou metafórica, técnica, cientifica, subjetiva, objetiva ou
realista, etc. contanto que haja critérios na construção das ideias e das figuras ou imagens utilizadas pelo
autor. Machado de Assis, por exemplo, adotava um estilo irônico. Euclides da Cunha, por sua vez, era
científico. Qual o seu estilo?

IV - O que deve ser observado

1 – Acentos (grave, agudo, til e circunflexo)

Coloque os acentos com vontade. Não faça um risquinho fraco qualquer. Escreva-os com firmeza, no lugar
adequado, e não pequenos traços displicentes. Cada acento deve ser valorizado, exato, claro, preciso, porque o
número maior de erros é que faz a nota cair em cada competência.
Comentário: O til está colocado em cima apenas do “O”. O circunflexo foi esquecido no verbo ter.

2 – A estética da redação

Tem relação imediata com a letra, com a ausência de rasuras. Portanto, procure arredondar a letra, deixar mais
legível o que escreve. Lembre-se: o professor não tem a obrigação de corrigir a redação se não estiver entendendo
a letra. Você é que tem a obrigação de escrever de forma legível, o interessado em uma vaga de Direito, Medicina,
Psicologia etc. é você.

Comentário: Por desatenção ou relaxamento de seu autor o texto ficou todo borrado, cheio de falhas que tornam
feia a redação.

3 – Argumentação

Use argumentos convincentes na exposição do seu ponto de vista, pois são os argumentos mais fortes que
vencem uma discussão. Os melhores argumentos são os históricos, os estatísticos e os de autoridade, com citação
indireta. Não sai copiando frases inteiras de pensadores ou artistas no seu texto, pois a citação direta não é boa
para a redação do ENEM. Evite também o uso do senso comum. Veja abaixo um argumento feito com a pobreza do
senso comum. Há um prejuízo nas competências II, III e V.

Comentário: Argumentar é uma arte. Não é à toa que existem os advogados, os padres, os pastores evangélicos, os
políticos e os professores. São grandes mestres da retórica e da oratória que normalmente ganham qualquer
discussão, pois utilizam bem os argumentos. Todos aprenderam que o argumento mais fraco é aquele proveniente
do senso comum.

4 – Gênero
Não confunda os gêneros textuais. O texto dissertativo-argumentativo do ENEM, não permite, por exemplo, que
se converse com o leitor. Os gêneros que têm essa particularidade são a carta, a crônica e o texto publicitário. O
ENEM não pede nenhum deles.

Comentário: Observe no fragmento que há uma “conversa” com o leitor no uso do pronome “você”, o que
configura um grave erro na competência II, pois em um texto dissertativo-argumentativo não é próprio conversar
com o leitor. Infelizmente, no vestibular, isso acontece muito.

5 – Estrangeirismos

Normalmente usamos aspas em palavras de língua estrangeira como “shopping”, “self-service”, “royalties” etc.
Em alguns vocábulos já não é mais obrigatório como Internet ou internete que já foram assimilados pela língua
corrente. Resumindo: evite usar palavras de língua estrangeira quando há vocábulos equivalentes em língua
portuguesa.

Comentário: A palavra Internet pode ser usada substantivada, com maiúscula, por ser uma sigla da Rede mundial
de computadores. A outra forma correta é usar “internet”, com minúsculas mesmo, mas com aspas porque não
passou por processo oficial de aportuguesamento como passaram vitrine (vitrina), beef (bife), record (recorde) etc.

6 – Coloquialismos (oralidades e gírias)

Em redação, devemos usar predominantemente a linguagem formal. Quando usarmos a linguagem informal, a
coloquialidade, devemos evitar as expressões ditas orais e, principalmente as gírias, pois empobrecem o discurso e
consequentemente o texto.
Comentário: De acordo com o excerto, expressões como “o capitalismo subiu à cabeça” e “ deixar a fonte secar”
constituem erros de oralidade e gíria que diminuem seguramente a nota do candidato.

7 – Verborragia

Constitui erro de verborragia o uso de palavras ou expressões ditas “bonitas”, mas que, às vezes, a pessoa nem
sabe o que a palavra significa. É o grau mínimo do pedantismo. Tem gente que fala demais e quando fala quer
mostrar conhecimento ou inteligência ao adotar um vocabulário difícil ou erudito. Às vezes o texto fica até bonito,
mas a ideias não faz muito sentido.

Comentário: Por causa do requinte pouco usual, o candidato errou o uso da crase e ainda criou uma imagem
inconcebível: uma pessoa “tomando banho e lendo” ao mesmo tempo.

8 – Eco, Aliteração e Assonância

A inobservância da escrita de determinados vocábulos, sozinhos ou em conjunto, pode ocasionar choques


fonéticos que constituem:

Eco – João Leitão, secretário de Educação, propôs uma solução.

Aliteração – Três das trinta favelas treinadas pela polícia militar podiam pedir permissão aos policiais.

Assonância – A ala da aviação armada que avalia a ação dos armistícios abriu fogo.

9 – Generalizações

Outro erro comum nas redações de vestibular é a generalização. Nunca devemos escrever frases generalistas
como:

a. Os políticos são desonestos, apenas roubam e não fazem nada pelo povo.
b. As mulheres são sempre submissas aos maridos e não denunciam a violência cometida contra elas.
c. Os jovens são imaturos, descompromissados e incapazes de discutir questões sérias como política e
democracia.

10 – Grau de informatividade (GI)


Todo texto dissertativo bom é marcado pela exposição de conhecimento de seu autor, ou seja, é um texto que
traz um grau de informatividade elevado, informações que, às vezes, nem o corretor conhece.

O texto argumentativo bom, por sua vez, apresenta riqueza de argumentos, ou seja, fatos, dados e opiniões de
autoridades que validam uma tese ou pensamento. Percebe-se, então, que esse texto não foi feito com
informações triviais, com o senso comum, que pouco acrescenta à discussão.

11 – Uso do Onde

Acontece muito em provas de redação o uso do advérbio “onde” no lugar de uma conjunção (e, mas, então...)
ou de um relativo ( o qual, a qual, na qual).

Comentário: O candidato só deve usar o “onde” em uma redação de vestibular se for com o sentido de localização.
Por exemplo, na frase “O Brasil é um país onde a corrupção alcança números alarmantes”.

12 – Repetição

Um erro bastante procurado pelos corretores do ENEM é a repetição de palavras e ideias. Normalmente,
quando se desenvolve uma redação em tópicos é comum que, ao final, surjam as ideias que já fora utilizadas no
início. Nessa hora o candidato deve observar se estas ideias se apresentam também com as mesmas palavras. Se
isso acontecer, é comum a perda de alguns pontos.

13 – Parágrafo

Na redação do ENEM ou em qualquer outra redação de concurso, o bom parágrafo apresenta de três a cinco
linhas, suficientes para lançarmos o tópico frasal (TF) e desenvolvê-lo.
Comentário: Mesmo que um bom parágrafo tenha de 3 a 5 linhas, isso não impede que o candidato construa
parágrafos de 2, de 6, de 7 e até de 10 linhas. O problema é que um parágrafo curto demais apresenta texto
fragmentado. E um parágrafo muito longo (8,9, 10 linhas) apresenta problemas de pontuação e erro na construção
do tópico frasal.

14 – Como errar

Embora não devêssemos, aconselhamos, agora, como errar no vestibular. Em vez de rasurar, borrar, e fazer
aquela “cagadeira” de tinta, é aconselhável passar um traço de um lado a outro da palavra anulando-a para, em
seguida, reescrevê-la corretamente.

15 - Título

A redação do ENEM pode ou não apresentar título, pois isso dependerá do candidato. O mais adequado é não
colocar, pois normalmente o título já é o próprio tema. Ex. “O poder de transformação da leitura”. Se optar por
título, o candidato deve centralizar o título, saltar uma linha e começar a escrever.

Comentário: O título é facultativo mesmo. Mas, imaginemos que o candidato resolveu colocar título e,
lesadamente, errou a escrita de um vocábulo. Em vez de melhorar, piorou a situação. Resumindo, título pode, mas
não deve.

16 – Religiosidade

Evite a parcialidade e a emotividade da religião. Normalmente ocorre com os candidatos mais fervorosos que,
inadvertidamente, começam a falar sobre as glórias e o poder de Deus. Deixe a religião fora disso. Evite tal
procedimento.
Comentário: Sabemos que Deus é tudo, que pode tudo e que sabe tudo, mas Ele não faz vestibular, quem faz é
você.

17 – Outras coisas

Existem ainda outras paranoias comuns às bancas de vestibular que são irritantes, mas que no ENEM ficam
mais flexíveis e a cargo do corretor. Mesmo assim, tome cuidado ao:

 Escrever fora da caixa de texto;


 Espremer palavras na margem direita;
 Translinear palavras [não deixe uma letrinha como sílaba (a-) nem uma sílaba como palavra (na.)].
 Sobrescrever palavras (criar um espaço entre palavras e escrever outra que foi esquecida);
 Alternar letra de forma e letra cursiva;
 Dar um espaçamento muito grande entre as palavras, pois, segundo as bancas, é uma estratégia
para ganhar linhas e escrever pouco.;
 Rasurar o texto, borrar várias palavras;
 Fazer letras estilizadas (por exemplo, o i Pelé, aquele com uma bolinha em cima em vez de um
pingo);
 Usar de sentimentalismo ou pieguismo; Ex. As pobres crianças são as vítimas...
 Apelar para a religiosidade. Ex. ...pois, sem a ajuda de Deus, este país não vai para frente.

V – Pensando o conteúdo

A importância do Tema

Tema é diferente de gênero e, ao mesmo tempo, de proposta. Gênero tem relação com as modalidades
Dissertação, Narração e Descrição dentre outras. Proposta é, na verdade o comando e a quantidade dele. Por
exemplo: o ENEM apresenta uma proposta e um gênero específico, a dissertação argumentativa. A UECE, por sua
vez, apresenta uma diversidade de gêneros, o que leva a um número maior de propostas ou mesmo seu
desdobramento.

O tema é o elemento motivador da redação, das idéias nela contidas. Portanto, uma INTERPRETAÇÃO correta
do tema é crucial para o desenvolvimento de um bom texto. Por isso, espera-se que o tema esteja à altura da sua
interpretação: clara, objetiva, precisa. Errar a interpretação do tema é perder o texto todo ou parte dele dentro do
julgamento das competências.

Relações temáticas transversais


Durante a interpretação do tema é importante que seja acionado o repertório cultural (CM) do candidato
quanto às áreas ligadas ao tema e à problemática proposta.

Estabelecer relações com outras áreas do conhecimento humano (CII) é uma prática que melhora muito o GI
de um texto. Melhora a argumentação(CIII) e prova ao corretor que você tem leitura e domínio não apenas sobre o
tema, mas sobre outros que o tangenciam, sobre temas transversais oriundos da interdisciplinaridade.

 2010 - O trabalho na construção da dignidade.

O tema trabalho tem relações históricas, linguísticas, sociológicas e jurídicas. O tema dignidade tem relações
filosóficas, existenciais, éticas e semânticas , pois pode indicar apenas um sinônimo de “bem estar”. Há portanto
uma relação de causa e efeito entre eles, ou seja, a dignidade, como bem estar, nasce do trabalho bem
remunerado.

VI - PROCEDIMENTOS NO DIA DA PROVA

 Leitura dos textos motivadores. Interpretação correta do tema e estabelecimento das relações do tema
com outras áreas. O candidato deve refletir sobre o tema, interpretá-lo e, em seguida, anotar ao lado os
assuntos ou áreas que estiverem relacionados com o tema.

Ex. Obesidade tem relação temática com Biologia, Química, Psicologia e Sociologia.

 Uso correto da coletânea. Os textos da coletânea devem servir para gerar idéias, mas devemos lembrar que
não se deve copiar nada do texto motivador. O candidato não deve escrever sobre os textos motivadores,
mas a partir deles.

 O candidato deve ler e destacar as idéias mais importantes dos textos-base. Em seguida, deve fazer
anotações que servirão para construir os parágrafos.

VII - Interpretando temas e lançando tese

O ENEM é fundamentado na essência da problemática. As provas, de forma geral, apresentam algum tipo de
realidade problemática a qual você deve tentar resolver ou, ao menos, sugerir uma solução. Portanto, outro
elemento essencial à redação do ENEM é o lançamento de uma tese que responda à pergunta: Por quê?
Resumindo, identifique a problemática, situe o problema e tente dizer, a partir de seu ponto de vista, por que
aquilo está acontecendo. Isso é lançar uma tese. Lembremos que, logo em seguida, a tese que foi lançada será
explicitada e defendida com os argumentos escolhidos.

 Lançar tese é dizer, de forma direta e objetiva, por qual motivo aquela problemática existe, por que a
situação chegou àquele ponto. Pode acontecer, também, de a tese ser lançada de forma indireta.

 Quando não lançamos logo a tese, corremos o risco de fazermos apenas meras e repetitivas constatações.
 As expressões afirmativas ou informativas são úteis, mas dificultam o surgimento da tese para a abertura
da discussão.

 Sem a tese não há discussão, não há causa para a problemática, logo os argumentos e a solução estarão
comprometidos.

Os temas anteriores e suas teses

 1998 –Viver e Aprender. (Música “O que é o que é?” de Gonzaguinha)

 Tese: Tudo que acontece na vida deve servir como aprendizado.

 1999 - Cidadania e participação social.

 Tese: Só se é cidadão quando se participa socialmente.

 2000 - Direitos da criança e do adolescente: como enfrentar esse desafio nacional?

 Tese: Crianças e adolescentes têm seus direitos desrespeitados no Brasil.

 2001 - Desenvolvimento e preservação ambiental: Como conciliar os interesses em conflito?

 Tese: O desenvolvimento é inevitável, mas deve acontecer baseado na sustentabilidade.

 2002 - O direito de votar – Como fazer dessa conquista um meio para promover as transformações
sociais?

 Tese: Votar foi um direito muito difícil de ser conquistado. Por isso, o voto deve servir como ferramenta de
transformação social.

 2003 - A violência na sociedade brasileira – como mudar as regras do Jogo?

 Tese: No Brasil, a violência tem sido banalizada pelos órgãos de segurança pública e, principalmente, pela
sociedade.

 2004 - Como garantir a liberdade de informação e evitar abusos nos meios de comunicação?

 Tese: A liberdade de informação é um direito do ser humano, mas que vem sendo desrespeitado de
tempos em tempos, o que tem permitido abusos como o preconceito linguístico e o preconceito racial.

 2005 - O trabalho infantil na sociedade brasileira.

 Tese: O trabalho feito por crianças, no Brasil, ainda acontece por causa da grande desigualdade social, da
ineficácia do ECA e da impunidade dos infratores.

 2006 - O poder de transformação da leitura.


 Tese: A leitura é uma competência que, se bem executada, pode dar ao ser humano: mais conhecimento,
mais perspectiva de realização e, consequentemente, um lugar melhor no mundo.

 2007 - O desafio de se conviver com as diferenças.

 Tese: Considerar o mundo sob o prisma da igualdade é entender que as pessoas são diferentes tanto na
compleição física quanto nas aptidões intelectuais.

 2008 - Amazônia - a máquina de chuva.

 Tese: Dizer que a Amazônia é o “pulmão do mundo” é aceitá-la como parte de um corpo. E já que cuidamos
do nosso corpo, devamos cuidar da Amazônia preservando-a e envidando esforços para o desenvolvimento
sustentável da região amazônica.

 2009 - O indivíduo frente à ética nacional.

 Tese: No Brasil, desde os tempos mais remotos, o estabelecimento da Ética tem sido um dilema individual.
É hora de tornar a postura ética um anseio coletivo para mudar os quadros sociais, culturais e políticos do
nosso país.

 2010 – O trabalho na construção da dignidade humana.

 Tese: O trabalho, que ao longo dos tempos foi considerado atividade indigna, tem hoje a função de
promover a dignidade, o bem estar, mas isso só acontecerá quando todas as funções forem reconhecidas
pela sua importância e, consequentemente, bem remuneradas.

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