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Azul-pretinho básico
Ou seria branco-douradinho básico? A ciência pode explicar o grande assunto da
semana, mas a maior lição talvez seja esta: mente aberta e respeito por quem vê
algo diferente de você
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De que cor é este vestido? Enquanto o mundo repetia a pergunta, criadora da peça faturava Foto: SLATE
Essa é uma situação inerentemente ambígua, de modo que o cérebro tem de decidir se
aceita o aspecto de um objeto por seu valor de face ou deduz parte da informação
como decorrente da iluminação. O cérebro não está primariamente interessado na
representação correta das tonalidades, mas sim na identificação de objetos à luz de
condições que variam intensamente. (Por exemplo, os comprimentos de ondas longas
predominam no início da manhã e no final da tarde, e contrariamente, os
comprimentos de ondas curtos são predominantes ao meio dia). O cérebro, pelo
contrário, busca uma “constância de cor” - reconhecendo o mesmo objeto como tendo
a mesma cor não importa a hora do dia - e realiza um bom trabalho nisto.
Mas neste toma lá dá cá para deduzir comprimentos de onda específicos, alguma coisa
tem de ser oferecida e é neste ponto que somos ruins para avaliar as cores absolutas
dos objetos. Por exemplo, uma superfície branca iluminada por uma luz vermelha
objetivamente parece avermelhada. A mesma superfície branca iluminada por uma luz
azul objetivamente parecerá azulada. Para reconhecer ambas como a mesma
superfície branca, a percepção subjetiva necessita deduzir a cor da fonte de luz.
Note-se que não se trata de um defeito, mas de uma característica. É necessária uma
troca nessa busca para obter uma aparência estável do mesmo objeto,
independentemente do contexto.
Até agora, tudo bem. Mas onde é que entra o vestido? A mais recente sensação que
vem arrebatando a mídia social divide drasticamente os observadores. Alguns veem o
vestido em cor dourada sobre o branco, outros como preto sobre azul.
Que a interpretação dos valores de cor em si depende do contexto isso pode ser
observado imediatamente quando extraímos o contexto.
Mas por que a diferença de interpretação? É nesse ponto que as coisas ficam
interessantes. Se a ambiguidade deriva da constância da cor (e parece ser verdade), a
explicação mais plausível é que as pessoas interpretam de modo diferente a fonteEntrar
de
iluminação. Aquelas que interpretam o vestido como sendo iluminado por uma luz
azul (correspondente a um fundo claro) vão deduzir isso e vê-lo nas cores
branco/dourado. Os que interpretam a iluminação como avermelhada (num fundo
mais escuro) tenderão a vê-lo em preto/azul. O interessante é que a própria imagem
permite as duas interpretações: a iluminação parece azulada no topo da imagem, mas
amarelada/avermelhada embaixo. Num plano mais fundamental, um vestido
azul/preto iluminado por uma fonte de luz branca pode ser idêntico a um
branco/dourado com uma sombra azulada sobre ele.
Mas se é esse o caso, deveríamos ser capazes de, conscientemente, ignorar essa
interpretação quando fica destacada, mas para muitas pessoas esse não é o caso.
Normalmente as pessoas conseguem controlar deliberadamente o que veem.
Embora seja preciso confessar que no momento não sabemos porque algumas pessoas
veem consistentemente o vestido de uma maneira e outras de um modo diferente e
algumas mudam para um e outro caso, é notável que a mudança se verifica em escalas
de tempo muito longas. Normalmente a mudança é rápida. A demora pode ser típica
da visão da cor. Não existe outra alternativa senão pesquisar as razões subjacentes
que explicam esta diferença surpreendente na percepção subjetiva.
Ao mesmo tempo, uma lição a ser extraída de tudo isso é que o sensato é adotar uma
posição de humildade epistêmica. Simplesmente porque vemos alguma coisa de uma
certa maneira não significa que todos a enxerguem do mesmo modo. Além do que isso
não significa que nossa percepção corresponda necessariamente a alguma coisa no
mundo real. Numa situação como essa devemos nos proteger e isso significa manter a
mente aberta. Algo para lembrar da próxima vez que você discordar de alguém.
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