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PROVA ESCRITA DE

DESENVOLVIMENTO DE TEMAS CULTURAIS, SOCIAIS OU ECONÓMICOS

Via Académica – 1.ª Chamada – 06 de Novembro 2021 – 38º Curso

Grelha de correção - 1.ª Chamada – 38º Curso

Grupo I
Juventus recebe 15 milhões de euros pela transferência de Cristiano Ronaldo

A Juventus anunciou esta terça-feira um acordo com o Manchester United para a


transferência do futebolista português Cristiano Ronaldo por 15 milhões de euros, existindo
ainda oito milhões de euros que dependem de objetivos a atingir. (…)
Os italianos acrescentam ainda que a operação "gera um impacto económico negativo no
exercício de 2020/21 de 14 milhões de euros".
A Juventus aproveitou também para se despedir do internacional português, lembrando o
percurso de Cristiano Ronaldo no clube.
"Em 10 de julho de 2018, dois ícones do futebol europeu e mundial se juntaram - Cristiano
Ronaldo tornou-se jogador da Juventus. Nesta sexta-feira, depois de três anos juntos, 133
jogos, 101 golos marcados e cinco troféus conquistados, esse capítulo chegou ao fim.... Os
caminhos do CR7 e da Juventus se separam", salienta o clube italiano.
O Manchester United, por seu lado, confirmou, esta terça-feira, o regresso de Cristiano
Ronaldo a Old Trafford, num acordo de 23 milhões de euros (27 milhões de dólares) pela
transferência da Juventus.
Diário de Notícias, 31/08/2021

A propósito deste excerto, e com base nas leituras que realizou, elabore sobre o processo de
globalização do futebol e seus impactos; em seguida, dê dois exemplos de consequências
jurídico-contratuais decorrentes desse processo.

Grelha de correção

Processo de globalização do futebol:

 De desporto puramente amador, o futebol foi evoluindo no sentido de uma


crescente profissionalização e empresarialização. Tal processo vem a par da
progressiva globalização desta atividade desportiva. Alguns marcos desta
tendência: início nos anos 1930, arranque dos Mundiais de futebol;
transmissões televisivas dos Mundiais, a partir década 1950; patrocínios
financeiros de empresas multinacionais e grupos de media nos anos 80 e 90;
acórdão da Lei Bosnam de 1995, com a livre circulação de jogadores no espaço
da EU; séc XXI o negócio futebolístico expande-se para Oriente (China, países
árabes…)

Impactos:

 Surgimento de novas figuras que gravitam em torno do desporto futebolístico:


intermediários, empresários do futebol, empresas patrocinadoras
 Aumento do fosso entre clubes e entre jogadores – em termos de orçamentos,
salários, cláusulas de rescisão, acesso às competições desportivas.
 Transformação de clubes de futebol, de entidades de utilidade pública
vocacionadas para a promoção do desporto, em empresas comerciais.
 A globalização do futebol teve igualmente impacto ao nível das relações sociais.
Ela promoveu uma linguagem universal e, no caso das comunidades migrantes,
constitui um importante símbolo identitário na diáspora.
 Para as comunidades portuguesas na diáspora, o futebol apresenta-se quer
como elo de comunicação entre diferentes gerações de emigrantes locais; quer
como meio de conexão com o Outro – nativos/outros indivíduos etnicamente
diferentes - nos contextos emigratórios; quer ainda como instrumento de
reconhecimento social (aquando de sucessos das equipas ou jogadores
nacionais) de uma “etnicidade portuguesa”, em particular em contextos de
experiência de subalternidade no seu ambiente social.
 Os sucessos do futebol nacional desempenham um importante papel na
construção de uma imagem de Portugal moderno.

Consequências jurídico-contratuais:

 A transformação do futebol num negócio alterou a relação dos clubes com os


jogadores. A contratualização das relações de trabalho estendeu-se, abarcando
novos domínios que têm a ver com a contratação de jogadores internacionais,
a possibilidade de livre circulação dos jogadores no espaço da União Europeia (o
acórdão da Lei Bosnam, anos 1990), a elaboração de contratos leoninos entre
clubes e jogadores, envolvendo novas cláusulas (de rescisão). Por sua vez, os
clubes transformam-se e expandem o seu raio de ação: a passagem de clubes a
SADs (Sociedades Anónimas Desportivas), envolvendo novas regras de
funcionamento, a celebração de acordos jurídico-contratuais de natureza
comercial com empresas patrocinadoras e com grupos televisivos pelos direitos
de transmissão dos jogos, são alguns dos exemplos dos efeitos da globalização
do futebol em termos jurídico-contratuais.
Grupo II

“Em 2020, foram realizadas 114 tentativas de lançamento orbital no mundo, segundo a Nasa,
o que equivale a uma média de mais de 100 mil voos diários no setor da aviação comercial.
Mesmo que o número de lançamentos não aumente significativamente, os seus efeitos
negativos causarão impacto. As emissões de dióxido de carbono emitidas por cerca de quatro
turistas num voo espacial serão entre 50 e 100 vezes mais do que uma a três toneladas por
passageiro num voo de longa duração.
“O objetivo dos empresários, ao longo dos últimos anos, tem sido criar condições para que o
número de pessoas a ir ao espaço aumente, com voos espaciais mais baratos e acessíveis.
Empresas como a SpaceX, Virgin Galactic e Space Adventures querem tornar o turismo
espacial mais comum. Um novo relatório estima que o mercado global de transporte espacial
e turismo espacial ultrapassará os dois mil milhões de euros em 2031, crescendo 17,15% a
cada ano na próxima década. (...)
Para um lançamento espacial são emitidas 200-300 toneladas de dióxido de carbono,
transportando cerca de 4 passageiros”, indicou Eloise Marais.
Quando a SpaceX enviar quatro cidadãos para o espaço num voo privado, em setembro, os
cálculos indicam que produzirá o equivalente às emissões de carbono de 395 voos
transatlânticos. Estes valores representam mais do que o dobro do valor anual de carbono
recomendado para cumprir os objetivos do acordo climático de Paris. Além disso, o motor de
um avião precisa de estar ligado durante horas para fazer a mesma distância que um foguetão
faz em sete minutos. No entanto, o avião consome muito menos combustível durante todo
esse tempo.
No passado, a maior parte do transporte espacial estava focada em missões de abastecimento
de carga para a Estação Espacial Internacional e serviços de lançamento, mas atualmente o
foco são as explorações planetárias, missões tripuladas e o turismo espacial. Eloise Marais diz
que as emissões de carbono dos foguetões são pequenas em comparação com a indústria
aeronáutica, mas estão a aumentar cerca de 5,6% por ano.
A professora recomenda cautela à medida que a indústria do turismo espacial cresce, também
porque ainda não há regras internacionais sobre os tipos de combustíveis usados e o impacto
no meio ambiente. “A hora de agir é agora – enquanto os bilionários ainda estão a comprar os
bilhetes”, alerta.”

Revista Visão Verde, 24.07.2021, disponível aqui:


https://visao.sapo.pt/visao_verde/2021-07-24-como-a-
corrida-ao-espaco-pode-ser-muito-prejudicial-para-o-
ambiente/

Partindo do texto, reflita sobre a relação entre turismo, mobilidade e sustentabilidade.

Grelha de correção

 Inicialmente apenas reservadas a bilionários, as viagens espaciais prometem


ser um novo segmento de expansão económica. Este interesse prende-se por
um lado ao turismo e recreação de luxo e por outro com a possibilidade e
mesmo necessidade de habitar outro planeta menos poluído.

 O turismo enquanto indústria de mobilidade, traz desenvolvimento económico,


cria emprego, gera cosmopolitismo, mas também traz problemas aos
residentes, nomeadamente de habitação e gestão de resíduos nas grandes
cidades (caso de Lisboa).

 A mobilidade enquanto capital supõe sempre acessibilidade a meios de


transporte (ter veículo ou acesso a este), competências de mobilidade (por
exemplo, saber conduzir) e apropriação de alternativas em variados contextos
geográficos (de habitação, de emprego, de lazer..)

 O uso intensivo de meios de transporte tem impactos negativos no ambiente,


não só pela utilização de combustíveis fosseis, mas também pela extração de
lítio que os carros elétricos implicam. A este propósito, o exemplo da pandemia
foi evidente, pois pandemia melhorou qualidade de vida nas cidades,
eliminando o ruído, trazendo de volta os animais e diminuindo a emissão de
gases com efeitos estufa, graças à reduzida mobilidade dos habitantes.

 Os sistemas de transportes e a sua ausência condicionam o desenvolvimento


rural e urbano. A existência de transportes coletivos pode levar a uma
agregação comunitária e partilha de recursos, e a sua falta conduz ao uso do
transporte individual, como o automóvel, acessível a apenas alguns, que
poderão escolher viver em zonas isoladas o que leva à construção de mais
estradas e ao investimento de mais recursos. De igual modo, a construção de
aeroportos faz com que voar regularmente seja mais comum, com as
consequências negativas na sustentabilidade ambiental.

 A mobilidade é ainda foco de distinção social, dado o acesso diferenciado aos


meios de transporte, quer pelo seu custo quer pela existência ou não de
infraestruturas. A mobilidade passiva (na qual o indivíduo não faz esforço),
pode gerar por exemplo obesidade, contrariada pelo uso da bicicleta ou pela
deslocação a pé, meios mais sustentáveis, mas de capacidade reduzida.

 A dependência de bens oriundos de geografias longínquas e que podem


escassear exige um sistema de transportes muito robusto, que pode a qualquer
momento romper, quer por falha de energia quer por catástrofe natural (como
no caso recente da erupção do vulcão Cumbre Vieja nas canárias).

 Conceito de “imotilidade”: promove a possibilidade de não viajar como um


bem público para além do imperativo do crescimento económico. A redução da
dependência da mobilidade individual e de bens e serviços fomenta políticas de
desenvolvimento mais locais, por forma a que as pessoas possam conduzir o
seu dia a dia em unidades territoriais mais reduzidas (bairro, aldeia, cidade)
caso tenham nisso interesse (Ferreira 2020).
 Promover a imotilidade passa por ter acesso aos bens e serviços por
proximidade, como na “ cidade dos 15 minutos” (Moreno et al 2021), pela
existência de competências de autossuficiência comunitária e pelo
reconhecimento do direito ao lugar como forma de autodeterminação tão
emancipadora com o ato de viajar, pois permite às pessoas escolherem manter
os seus laços de pertença, evitando a emigração pela necessidade de encontrar
trabalho com salários mais elevados, as deslocações diárias pendulares entre
casa e trabalho e a necessidade de fazer viagens de longa distância para manter
contacto e prestar cuidados às suas redes familiares e afetivas.

 Segundo Ferreira, decisões como a construção de um novo aeroporto, que


poderá ter impacto ambientais nos ecossistemas pela sua localização e pela
intensificação dos fluxos turísticos, deveriam ser mais participadas e menos
tecnocráticas, pelas suas consequências negativas na sustentabilidade
ambiental e social.

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