Você está na página 1de 4

I..

"

12

o QU8 8 uma instituição social?


Petff L. Berger e Brigitte Berger l

Já dcfillimos a instituição como um padrão de controle. ou seja, uma pro-


d;lIlla<,:ào da conduta indiridual imposta pela sociedade. Provavelmente tal de-
liili~'ào nào terá despertado qualquer oposi<,:ào no leitor visto que, embora difira da
",cpçào comum do termo, alo entra em choque direto com o mesmo. No sentido
IIS1"11, o termo designa uma organizaçào que abranju pessoas, como por exemplo
11/1/ hospital, umaprlsào ou. no ponto que aqui nos interessa, uma universidade.
Ik outro lado, também é liaado às grandes entidades sociais que o povo enxerga
quase como um ente metafisico a pairar sobre a vida do individuo; como "o Es-
tadu", "a economia", ou "o sistema educacional". Se pedisse mos ao leitor que in-
,iicasse uma instituição, ele provavelmente recorreria a um desses exemplos. Enio
,'staTia ernldo. Acontece, porém, que a acepção comum do termo parte duma
\ iSrlOunilateral. Em termos mais precisos; estabelece ligação por demais estreita
,'nllc o termo e asinstituiçõcs sociais reconhecidas e reguladas por lei. Talvez isso
,'olHtitua um exemplo da influência que os advogados exercem em nossa maneira
de pensar. Seja comofor, DO contexto deste trabalho toma-se injportante derrtons-
IfaT que, sob a perspectiva sociol6gica. o significado do termo não é exatamente
este, t por isso que desejamos ocupar um momento da atenção do leitor para, num
capítulo pouco extenso, demonstrar que a linguagem é uma instituição.
Diremos mc;srtfÓ'que imnto provavelmente a linguagem é a instituição fun- .
dalllcntàl da_sociedad~; álém de ser a primeira instituição inserida na biografia do
individuo. £ umainstftuiçio fundamental, porque qualquer outra instituição,
sejam quais foremsuáscaracteristicas e finalidades. funda-se nos padrões de con-
trole subjacentes da linguagem. Sejam quais forein as outras caracteristicas do Es-
tadu, da economia e do Sistema educacional, os mesmos dependem dum 'arca-
houço lingüístico declassifiações, conceitos e imperlllivos dirigidos à cl;mduta in-
di\'idual; em outras p;l1avru,dependem dum universo de significados construidos
através da linguagem e quem por meio delapodempermanecer atuantes.
Por outro lado, a linguagem é a primeira instituiç30 co~ que se defronta o in-
. (li\'iduo. Esta afinnativa p~parecer surpreendente. Se perguntássemos ao leitor
qual é a primeira in~lituiç~e()IQ que a criança entra em coolacto, será provavel-
men te a faml~l!- que ~ç virá~. lnÇote. E de ~rta fonna 010 deixa de ter raz~o. Para.
a grande màloria ~çria~ li ~ializaçlo primária tem lugar 00 âmbito duma
BERGER, P. Le BERGER, O que é uma instituição soc(al. in FORACCHI, M. M~ . . . . '.W I ":.:

e MARTINS, J. S. Sodología e Sodedade. (leituras de introdução àSodología), (o) Pete. L. Bergér e Brigitte Bager. Sociotogy -A BiographicaJ Approach. 2. o ed,. Bssic Books,
In,." Noya Iorque, 1975. pp. 73-81. Tradução de Richard Paul Neto. Reproduzido com autonzaçilode
Rio de Janeiro, Livros Técnicos e Científicos, 1997. 1l,,,Íl' lIooks. Inc.
194 - COII ceilOs slIciol"I.i<lIs ;iIlIU"IIIl!II/uis o que é uma jnSrirUjçã~ social? - 195
I

ral~ilia especifica. que por sua vez representa uma faceta peculiar da institUiç~~;' inlantil c. portanto, da sua interaçào comoulras pessoas. realizada por mdoda
rnal~ .an~pla do. pa~en.tesco n~ s~iedade a que pertence. Nlo há dúvida de que a linguagem. £ a linguagem que espeCifica, nUma forma capaz ~ ser repetida.
fa~ll1a e uma ms.tllUlÇão mUito lmp~rtant~.(. .. ) Acontece. porém, que a criança ~xatamente o que a outra pessoa vai fazer clt novo - "Lá vai ele novo com esse
flUO /Oll/a cOllhec//IIelllO .I,'H" /"/1). Ela (!Lo 1;11,. é~lh:ril11cnt:1 seus pais. irmilos. ir- i~ilO de papai castigador". "lá vai ele de DOVO com essa cara de q em espera vi-
mãs e outros parentes que pOS~olmestar pur p",rl<l naquela fase. da vida. 56 mai "tta", e assim por diante. Na verdade. ~s6por meio de fixaç~sli~gnlstlcas como
t?rde percebe que esses indivíduos em particular. e os atos que praticam.cons~ ~'.tas (atrav~s das quais a ação alheia adquire um significado definido que será
~!tuem ~:n.~ das facetas duma realidade social muito mais ampla. designada corno alribuido a cada ação di> mesmo tipo). que a criança pode aprender a assumir o
a faml1la . 1': de supor que essa percepção ocorra no momento em que a criança papel do outro, Em outras palavras, a linauagem estabelece a IIg~ào entre o "lã
co.m.eça a c~mpar~r-se.com outras cr.ianças - o que dificilmente acontece na fase raiei/! de novo" eo "cuidado, que lá vou e,,". .
m1clal da Vida. la a linguagem mUltocedocnvolve a criança nos seus aspectos
ma~rossociais. No estágio inicial da existência, .it linguagem aponta as realidades ,\ lInlluuKcnll n Interpretação eju5ttncaçãocfa renlldade
mais extensas. que se situam além do micrpcosmógas-:experiênclas
indivíduo. 1': por meio da linguagem que a criança éomeça a tomar conhecimento
imediatas do ~.:I":õ micr~~osmo da criança é
estruturadO em termos de papéis. Muitos desses
:.;'"papds(,porém, estendem.se ao campo mais amplo do macrocosmo ou, para usar.
dum vasto mundo situado "lá fora". um mundo que lhe é transmitido pelos ldul. 1110S a imagem inversa, constituem incursões do macrocosmo na situação Imediata
tos que a cercam, mas vai muito além deles. 1i;1 criança. Os papéis representam instituiçôes.(2) No momento em que o pai as-
A linguagem: a obJctlvaçao da realidade '.uI11Caquele jeito de casti~a~'.-EOdem~.,presu~.ir que ?ssa açilr. ser' acompa.
nhada de boa dose dev.erbosl ade. Enquwo castiga, o pai fala. Fala sobre o quê?
Antes de mais nada, é o microcosmo 'la criança, evidentemente, que encontra .Parte .de)ua fala'pode ~o~stituir apenas um meio de dar vazão à su~ co~trariedade
sua es~ruturação através da linguagem. Esta realiza a objetivação da realidade - o . tlllral¥U. Mas. na malona das vezes, grude parte da conversa C()nstltul um co.
!luxo Incessante dn experiências consolida.se, adquire estabilidade numa série de .- : I1lcntário ininterrupto sobre o ato incorreto e ocastígo tão merecido. As palavras
objetos distintos e Identificáveis. Isso acontece com os objetos materiais. O mundo il//I!rpretum ejustijicam o castigo. E é Inmtável que isso seja feito duma maneira
transforma-se num todo orgânico formado por árvores, mesas. telefones. Mas a que ultrapassa as reações imediatas do próprio paI. O castigo ~ enquadrado num
o:ga.n.iza~ão não St~ restringe à atribuição de nomes; também abrange as relações amplo contexto ético'moral; em casos extremos. até mesmo a divindade pode ser
slg.n1frcatlv.as que se est~belecem en.tre os objetos. A mesa pode ser levada para invocada como autoridade penal. Deixando de lado a dimensão teológica dç fe-
baiXO da anore, se qUisermos subir nesta. e pelo telefone podemos chamar, o nômeno (sobre a qual infelizmente a Sociologia nada tem a dizer), cabe ressaltar
médico se alguém adoece. A linguagem ainda estrutura o ambiente humano d3 que as explanações sobre a moral e a ética ligam o pequeno dra"1a que sedesen.
criança: por meio da objetivação e por estabelecer relações significativas. Por in- rola naquele microcosmo a todo um sistema de instituições macroscópicas.
termédio dela a realidade passa a ser ocupada por seres distintos. que vilo'desde a Naquele momento. o pai que aplica o casti,o é o representanle desse sistema (máis
mamãe (que geral!nente é uma espécie de deusa reinante, cujo trono está erigido precisamente. do sistema da moral e das boas maneiras como tais); quando a
no c~ntro dum unIVerso em expansão) até o menininho malvado que tem acessos l'fiança voltara situar-se no mesmo, ou seja, no momento em que repetir o desem.
de colera no quarto contíguo. E é através da linguagem que se deixa claro que penho de um papel identificável, esse papel representará as instituições do sistema
ma~ãe sabe tudo, e que menininhos malvados serão castigados; aliás. só através moral.
da lInguagem tais proposições poderão continuar plausiveis. mesmo que a ex- Dessa forma, a criança. ao defrontar-se com a linguagem, vê nela uma
periência forneça pouca ou nenhuma prova em abono das mesmas.'. ' realidade de abrangência universal. Quase todas as experiências q/Je sente em ter.
Há outro det~lhe importante. -1': por meio da IilJ!:uagem que os papé'is desem. mos reais estruturam-se sobre a base dessa realidade subjacente - são filtradas
p~nhados pelo~. dlve:s?s seres se estabilizam na experiência da criança. Já alu- através dela. organizadas por ela, entram em expansão por meio dela ou, ao con-
dimos aos papeis SOCiaiSquando falamos no aprendiiado da criança para assumir trário, por ela são relegadas ao esquecimento - pois uma coisa sobre a qual não
o ~apel do olltro - que constitui um I?~sso decisivo no processo de socialização. A podemos falar deixa uma impressão muito tênue na memória. lo acontece com
criança aprende a reconhecer os papeIs como padrões repetitivoslOa conduta de /lida. e qualquer experiência. mas principabnente com as experiê cias ligadas ao
ou tr~~ pessoas - trata-se da experiência que já resumimos na frase "lá vai ele de próximo e ao mundo social. ii,

.
novo .(1) Essa percepção transforma-se numa feição permanente da mentalidade
. .!

(1) A d~!ini~ào de.p~pel adotada nesta paWlgem ~ baslanlecorrente,.tanto


~-. ' •.~.
.

na Soc:loloaia como
nas ~~lras Clen~laS SOC1aIS.Compare-se, por exemplo, a 5eeulnte deflnlç1o, fonnuladapor Ralph TU/'
Caracl~~~J~~ ~~~m,,~~~
~~~~~ !~ti4v~~~: a ex~~rigrt~~~
Quais.slo- algumas .das principais aracteristicas de umà i titUiçio1 Ten-
ner: . Na maioria dlU acepçõea em que o lermo ~ empregado •.OIsogvlntes e1ementol slo Induldos lU laremos elucidá-las por meio do caso da ~agem.(3) Neste po~ qUeRm~' for-
defl1l~lo de papel: fornece um r-inJo cOmpreensivo para a conduti c
as atitudes; constitui uma a; , , I !~ .!: .f ~~,
lralég'" para o confronto com situaçr>c:srepetitivas; ~ socialmenteitkn,ijic4vd, de forma mais CllI
menos clara, como ~m~ entidade: pode se~ ~sempenhado de forma percepifvel por fndMduos da. (2) Neste ponto estamos cOPlbilUndo o co* de papel com (j de rep
preconizados por D.urkhcim. . .,' , .
s~melh'bntu; e ~onslltul uma das bases maIS Importantes para a iden'i/ic~íJo e a c~sif"U:DÇaOdos m.
dlvlduos na soc~edade." ("Role: Sodologlcal Aspects". in lnternational Encyclopedülol lhe Social (3) As caracterlsticas aqui Indicadas alêm-se eslritamenle A desc:r1çlodos la sodals fornecida
SClfnces. Macmillan. Nova Iorque. 1968. vaI. 13, p. 552.) ror Durkheim. I.
196 - Conceitos s~ciullíbit:USju/ldUlI1I''''uis o que é uma if1Jtituição social? - 197

muiar uma sugestão. Sempre que o leitor se defrontar com alguma afirmativa Cllrllcteri.Ucu fuadameDtala de uma IDltltulçãol • coercltlridat
sobre instituições, sobre o que são e como funcionam ou sobre como mudam; As illJtituiç&s são dotadas cú força coercitiva. Em certa medida, esta qua.
poderá seguir a norma prática de ind~~ar em primeiro lugarquala impressão que lill.Hleestá implicita nas duas que jã enumeramos: o poder essencial que li ins.
se colhe dessaafirma:iva ~e a 11;' :::1 for aplicada à linguagem. Evidentemente IlIlIi~àoexerce sobre o individuo consiste justamente no fato de que a mesma tem
existem instituições totalmente JÍlcr~as da linguagem - pense-se, por exemplo, .,i~tência objetiva e .não pode ser afastada por ele. No enunto, se acontecer que
no Estado. Todavia, se uma afirmativa formulada em termos bastante amplos, ~~Ie não note o fato. esqueça o mesmo -ou, o que é pior -, queira modificar o
mesmo depois de ãdaptada convenientemente a outro caso institucional, for tota). ~sllHlode coisas existente. é nessas oportunidades que muito provavelmente a for.
mente absurda quando aplicada à linguagem, teremos boasrazõe5 para supor que \'a ~oercitiva da inStituiÇãose apresenta de forma bastante rude. Numa fam11iaes-
há algo de muito errado com a mesma. darecida da classe média, e numa idade em que todos concordam que tais deslizes
,;\11 de esperar, a criança geralmente é submetida a uma persuasão su~ve quando
11 !I: 11 de os padrõcsdo inglês correto. Essa persuasão suave poderá continuar a.ser
As instituições sãoexperimentadus como ulgo dotado de realidade exterior;
aplicada numa escola progressista, mas raramente o será pelos colegas que a cnan.
em outras palavras, a instituição é alguma coisa situada fora du indivíduo, alguma
\'a encontra na mesma. Estas provavelmente reagirão a qualquer infração ao seu
coisa que de certa maneira (duma maneira bastante "árdua", diríamos) difere da
~ólligode inglês correto (que evidentemente não éo mesmo do professor), por melo
realidade formada pelos pensamentos, sentimentos e fantasias do individuo. Por
duma zombaria brutal e possivelmente de represálias fisicas. Se o adulto insiste
esta característica, uma instituição assemelha.se a outras entidades da realidade
oma atitude de desafio, ficará sujeito a represálias partidas de todos os lados. O
exterior - guarda certa semelhança até mesmo com objetos tais como. árvores,
jOl'emde classe operária poderá perder a namorada se não quiser falar "bonito", e
mesas e .telefones, que estão lá fora, quer o individuo queira, quer nl1o.O individuo
por esse mesmo motivo poderá perder a promoção. O dicionãrio Webster e o
não seria capaz de eliminar uma 'árvore com um movimento da m~o- e nem uma
manual Modern English Usage, de Fowler, montam guarda em cada degrau da es-
instituição. Alinguagemé experimentada desta maneira_ Na verdade, sempre que' ;
~ada de ascenslo social. Mas, ai do jovem da classe média que continue a falar
o individuo fala, está como que "pondo para fora" alguma coisa que estava "den.
bunito 110 exércitol E ai também do professor de meia-idade que r,retenda captar
tro" dele - e () que põe para fora não são apenas os sons de que é feita alin-
as simpatiasdosjovens, falando a "linguagem deles"; evidentemente, estará se~-
guagem, mas os pensamentos que a linguagem deve transmitir: Acontece que este
"pôr para fora" (para exprimirmos o fenômeno de maneiram~is elegante, p0- prc ao menos dois anos atrãs das convenções destes,~jeiw s~mpre a ~udanças
rápidas, e seu choque com o poder coercitivo da linguagem atinge as feIções pa-
deríamos usar o termo "exteriorização") realiza-se em termos que não resultam da
idiossincrasia criadora de quem fala. Suponhamos que ele estejafalan'do1nglês. A téticasduma trqédia de S6focles.
língua inglesa não .foicriada nas profundezas de sua consciênCíaindividual. Exis- Reconhecer o poder das instituições não é o mesmo que afirmar que elas não
tia lá fora multo antes do momento em que o in~jjvíduo'a usou. Ele a experimenta podem mudar. Na verdade, elas muda~ constan~emente - e prec~a,:", mu~r,
como alguma coisa que existe for~. e a:mesma coisa acontece com a pessoa à pois não passam de resultados necessanamentedlfusos da açllo de mumc;rosm.
qual se dirige; ambos experimentaram a língua inglesa como uma realidade ex. dil'íduos que "atiram" significados para o mundo. Se. de um dia para outro, todos
terior no momento em que começaram a aprendê~la. IlShabitantes dos Estados Unidos deixassem de falar inglês, aUngua inglesa

Características fundamentaIS de uma Instituição: a I)bjetlvida~ .>='. deixaria de existir abruptamente como uma realidade institucional do pais. Em
Ilutras palavras, a"exislêRçia objetiva da linguagem depende da fala ininterrupta
de muitos indiVííJuosque,'ào se comunicarem, exprimem suas intenções. signifi.
As ínstituiçõeSsã()~perimentadascol7t~ possuidoras de "'~6ttividade:-E~~c
~açõese mótivos:de ordem 'subjetin.(4) 1:: claro que essa objetividade, ao contrário
frase apenas repete. de fOIma um tanto diferente, a proposição/anterior. Alguma da objetividade dos fatos da natureza, nunca pode assumir caráter estático. Muda
coisa é objetivamente real quando todos (ou quase lodos) admitem que de fato a ~()nstantemente. mantém~se num fluxo dinâmico e, às YeZes.sofre convulsões
mesma existe, e que existe duma maneira determinada. Este último aspecto é violentas. Mas para o indivíduo não é fácil provocar mudanças deliberadas. Se
muito importante. Existe um inglês correto e um inglês incorreto - e isso per-
depender excluSivamente dos seus esforços indivíduais, as possibilidades de êxito
manece assim, objetivamente assim, mesmo se o indi\iduo pensasse que as regras
num empreeqdiinento desse tipo s~omfnimas. Imaginemos que o leitor ~ la~ce
que disciplinam a matérià são'o cúmulo da tolice. e que ele mesmo poderiaencôn~
trar uma forma muito melhor e milÍs racional de organizar a linguagem. £ evíden-
;1 tarefa dereforinular a gramática ou de. renovar oyocabulário. e posslye1que
tcnhaalgiíirí 'êxÍtorio microcosmo que o rodeia. ~ até provável que tenba~~
te que: via de regra, o indivíduo não sepreQcúpa com esSefato; aceita a linguagem
da mesma forma que aceita outros fatos objetivos por ele experimentados. Aob. ç
de
a.v: ~U.e.~• .:.~:poderá
~. i.a.rpo pe~ue~s 'é,;1'1-
jetividade da. linguagem inicial do individuo assume lima intensidade. extraor- ~~~dcO.ri~:U.J.
m.~.:S.'!'>
ex.n.~r~v~
.•:a.a.n.~.,es.
cnan. Su.:.:9f:.indivídUo te
.•.ak;~~ç
::d.~f:~d~~;
il~t~agtup'l~fanillia •.Çomo a4uhq.
dinária. Jean Piaget, o psic6lbgo infantil sulço,ie'iaia'que~ em cena oportUnidallC,
pe.rguntararn a umacriancinh~ se o solpo~riasei~tiamado poroutÍ'o n9ine .qp~
lonas coIll~ ~~.q~an4p f~~~~ p, ao clrçul~ ~~ ~us ~l~ s maIs fnti!EP,S'
não fosse "sol". "Não", respondeu a criança. Perguntar::..m-Ihecomo sabIa disso. I
Por um instante a..questão deixou-a intrigada. Finalmente apontou para o sol e (4) A distinçio entn: IWiUagem e fala JlI'occdede Feniinand de S&l>S$ure.uni lingüista foneroen-
disse: - "Ora, basta olhar para ele!'.' . 1< infiuenciadopor Durkheim.
198 - Conceitos sociu/,i"iClls/UfltÍ.un.'III.,i:;
o que é uma instituiçã~ soaia/? - 1-99
Mas, se não for consiJeraúo um "l:rande escritor" ou um estadista, nem realizll
esforços imensos para congregar as massas em torno de sua bandeira de revoluçAó Para Karl Kraus, um escritor austriaco: a I.i~guagemé a.~ab.it~çAodo esplrito
lingüística (neste ponto poderiamos evocar o reavivamento do hebraico c1ãssicoIl() ano. ~ ela que proporciona o contexto vltal1clodas expenencl8s dos outros. do
sionismo ~~derno ou os esforyos menos bem sucedidos d~ fazer a mesma co~ l:~~;rioindividuo, do mundo. Mesmo ao imaginarmos mundos situados além d:s.
com o gaehco da Irlanda), o Impacto alcançado sobre a hnguagcm de Seu ~. I. somos obrigados a fonnular nossos temores e esperanças em palavras. ~ lin.
crocosmo será provavelmente nulo no dia em que abandonar este vale úe palavras. l,~;agemé a instituição social que supera todas as outras. Representa o mais .1'0'
~erosoinstrumento de controle da sociedade sobre todos n6s,
CltracterutIclU fundamentau de uma InslUulçãol a autoridade moral
As instituições têm uma autoridade moral. Não se mantêm apenas através da
coercitividade. Invocam um direito ã legitimidade; em otitras palavras, reservam.
se o direito de não s6 ferirem o indivíduo que as ,viola,mas ainda o de repreen~.1o
no terreno da moral. E claro que o grau de autoridade mtiral atribuído às Í1utj.
tuições varia de caso para caso. Geralmell~e essá y~âçãose exprime através da ~:.~
gravidade do castigo infligido ao individuoC'ôesrespeitoso.O Estado, no caso ex. ~ -//"
tremo, poderá matá. lo, enquanto a comunidade duma área residencial talvez se
limite a tratar friamente sua esposa. quando esta freqUenta o clube; Num caso
como noutro, o castigo é acompanhado dum sentimento de honradez ofendida.
Raramente a autoridade moral da linguagem encontra expressão na vlolanela .~->.-
física (muito embora, por .exemplo, existam situações no Israel moderno onde a
pessoa que não fala o hebraico pode ficar sujeita a certo desconforto ffsico). Geral.
mente exprime-se num estimulo bastante eficiente. representado pela sensaçAode
vergonha e, por vezes, de culpa, que se apossa do infrator. A criança estrangeira
que continuamente comete erros de linguagem, o pobre Imigrante'que carrega o
fardo do sotaqué, o soldado que n!lo consegue superar o hábito arraigado da fala
polida, o intelecÍllal de vanguarda cujo falso jargãomostra que não está "por den.
'.~.•
tro", todos eles são indivIduos que experimentam um sofrimento muito mais in~ '

tenso que o das represálias externas; quer queiramos. quer não, temos quere.
conhecer neles a dignidade do sofrimento moral.

CaracterístIcas f~ndamentals de uma Instltulçãola hlstoricldade


As instituições têm a qualidade da historicidade. Não são apenas fatos, mas
fatos históricos; têm uma históri9.,;Em praticamente todos os casosexperimcn.
tados pelo indivíduo, a instituição existia antes que ele nascesse e continuará a
existir depois de sua morte. As idéias corporificadas na institulçAo foram aê:u:""
muladas durante um longo período de tempo. através de inúmeros individuos
cujos nomes e rostos pertencem irremediavelmente ao passado. A pessoa que fala0
inglês contemporâneo dos Estados Unidos, por exemplo. reitera sem o saber as ex.
periências verbalizadas de gerações mortas - os conquistadores normandos. os
servos saxões, os escribas eclesiásticos. os juristas elizabetanos, além dos puri.
tanos, dos homens da fronteira, dos gangsters de Chicago e dos músicos do jazZ.
que viveram em ,épocas mais recentes. "
A linguagem (e. de fato. geralmente o mundo das instituições) pode ser co~.
cebida como, um grande rio que flui através do tempo. Aqueles que por um mo-
mento viajam em suas águas, ou vivem às suas margens, continuamente atiram
objetos nele. Na sua maioria, estes vAoao fundo ou se dissolvem Imediatamente.
Mas alguns deles se consolidam e são carregados poi um'perlodomais curto ou.
mais longo. Apenas uns poucos percorrem todo o trajeto. chegando Afoz, onde es.
te rio, tal qual todos os outros, se despeja no oceano do olvido, que 6 o fim de toda
históri" empírica. '

Você também pode gostar