Você está na página 1de 17

Brazilian Journal of Development 58444

ISSN: 2525-8761

Direitos linguísticos, políticas linguísticas e justiça social no Brasil em


tempos de pandemia: Línguas indígenas, africanas e a Libras

Linguistic rights, language policies and social justice in Brazil in


pandemic times: indigenous, african languages and the Libras
DOI:10.34117/bjdv7n6-306

Recebimento dos originais: 30/05/2021


Aceitação para publicação: 15/06/2021

Jardeane Reis de Araújo


Mestranda do curso de Pós-Graduação em Letras pela Universidade Federal do
Tocantins - UFT. Porto Nacional, Tocantins
E-mail: jardeane.araujo@uft.edu.br

Floriete Assunção Ribeiro


Mestranda do curso de Pós-Graduação em Letras pela Universidade Federal do
Tocantins - UFT. Porto Nacional, Tocantins. Setor de Inclusão da Secretaria
Municipal de Educação e Cultura de Tucuruí-Pa.
E-mail: florietear@hotmail.com.

Wellington Jhonner D. Barbosa da Silva


Doutorando do curso de Pós-Graduação em Educação pela Universidade Federal do
Paraná (UFPR). Docente na Universidade Federal de Goiás-Regional Catalão
(Universidade Federal de Catalão -UFCAT- em implantação) - Unidade Acadêmica de
Educação.
E-mail: well.jhonner@gmail.com

RESUMO
Este artigo aborda sobre direitos linguísticos, políticas linguísticas e justiça social no
Brasil contemporâneo. Objetiva-se propor reflexões acerca da importância dos direitos
linguísticos para as políticas linguísticas e justiça social. Para isso, fez-se um
levantamento dos principais pensadores do direito linguístico no Brasil, bem como a
importância da discussão dos conceitos: Língua, políticas linguísticas, direito linguístico
e justiça social. Pontua-se a respeito de situações de diversidade linguística que
envolvem as línguas indígenas, africanas e, especialmente, a Língua Brasileira de Sinais
– Libras. Assim, o trabalho tem um caráter de levantamento bibliográfico. Com base
nos resultados, compreendem-se os direitos linguísticos e justiça social como conceitos
que se apropriam das línguas através de abordagens diferentes, mas se complementam
na promoção da diversidade linguística e na quebra de pré-conceitos estabelecidos no
decorrer da história de um Estado nacional, marcado pela colonização e criação de uma
nacionalidade a partir da língua portuguesa.

Palavras-Chave: Direitos linguísticos. Justiça social. Políticas linguísticas. Línguas.

ABSTRACT
This paper deals with linguistic rights, linguistic policies, social justice and its course
today. It aims to propose a reflection about the importance of linguistic rights for
linguistic policies and social justice. For this, a survey is made of the main thinkers of

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.6, p. 58444-58460 jun. 2021

43 may. 2021
Brazilian Journal of Development 58445
ISSN: 2525-8761

the linguistic rights in Brazil, as well as the importance of discussing the concepts:
Language, linguistic policies, linguistic law and social justice. In this way, it points out
some situations of linguistic diversity that involve indigenous, African languages and
the Brazilian Sign Language - Libras. Thus, the work has the character of a bibliographic
survey. According to the results, linguistic rights and social justice are understood as
concepts that appropriate languages through different approaches but complement each
other in promoting linguistic diversity and breaking pre-concepts established throughout
the history of a national state, marked by colonization and creation of a nationality using
the Portuguese language.

Keywords: Linguistic rights. Social Justice. Language Policies. Languages.

1 INTRODUÇÃO
A emergência das políticas linguísticas e a estruturação de uma teoria dos
direitos linguísticos surge da necessidade de se estabelecer medidas e ações eficazes na
proteção, principalmente, das minorias linguísticas. Portanto, nos meados do final do
século XX e início do século XXI tem-se observado o crescimento do “[...]interesse da
comunidade internacional e dos Estados nacionais na proteção e defesa dos direitos das
minorias e dos grupos vulneráveis” (ABREU, 2020, p. 173). Assim, afloram “os
chamados ‘novos direitos’ que, geralmente, correspondem, entre outros, à proteção da
infância, dos idosos, das pessoas LGBTQI+ e das mulheres[...]” (ABREU, 2020, p.
173). Essas discussões vão explorar e procurar afirmar a relevância do Estado no
comprometimento e garantia dos princípios de dignidade e igualdade da pessoa humana.
Do mesmo modo, na carência de ações concretas e urgentes nessa temática que
aborda a questão da relevância do direito linguístico para as políticas linguísticas,
destacamos Gonçalves (2019), quando esta aponta a necessidade de um planejamento
linguístico que busque incluir as diversidades de línguas e não excluir os sujeitos a partir
da língua, como é o caso, dos migrantes forçados que chegam ao Brasil e necessitam
ingressar no ensino superior. Desse modo, a permanência desses na Universidade se
deve à adaptação e ao aprendizado da língua portuguesa, caso contrário perdem o direito
à vaga na Instituição de Ensino Superior. Este é apenas um exemplo dos gaps que
existem entre as políticas linguísticas e o direito linguístico. No decorrer deste estudo,
abordaremos outros exemplos acerca das línguas minoritárias, especialmente, no Brasil,
e de modo mais amplo no Sul Global.
Outro aspecto relevante, trata-se dos estudos sobre os direitos linguísticos, um
campo relativamente novo, carecendo ser construído e desenvolvido uma Teoria dos
direitos linguísticos a fim de gerir a “[...]diversidade linguística de um Estado nacional

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.6, p. 58444-58460 jun. 2021

43 may. 2021
Brazilian Journal of Development 58446
ISSN: 2525-8761

[...]na qual estejam definidas, ainda que minimamente, as possibilidades de tutela


jurídica das línguas, em maior ou menor grau, e as funções estatais que esses idiomas
devem cumprir” (ABREU, 2019, p. 73). Desse modo, esta área tem por objetivo
assegurar que determinadas políticas linguísticas sejam cumpridas, como é o caso dos
processos jurídicos, em que o sujeito necessita da tutela jurídica para que possa se
expressar na sua própria língua (primeira língua), e mesmo com a salvaguarda da lei,
existem exceções à regra.
Diante dessa abordagem prévia, faz-se necessário a seguinte problemática: qual
a relevância do direito para as políticas linguísticas? Assim, a notoriedade do direito
para as políticas linguísticas, está direcionado a esse lugar que permite, principalmente,
que as políticas sejam efetivadas enquanto norma e garantida perante a sociedade,
através de leis e normativas institucionais de um Estado/Nação. Trazendo a proteção
jurídica necessária para a criação, planejamento e implementação de ações concretas
aos sujeitos linguísticos, nos mais diversos contextos político-sociais (ABREU, 2019).
Com efeito, Ricardo Nascimento Abreu, em uma palestra à Associação
Brasileira de Linguística (Abralin), em 2020, destaca que algumas medidas dos direitos
linguísticos poderão ser temporais, porque não permanecerão na sociedade como norma
institucionalizada juridicamente por tempo infinito, mas até o momento necessário para
que esta esteja garantida a todos, independente, da classe social, dentre outros1. Isto é,
estará vigente no período definido, a fim de que se consiga obter uma certa equidade
diante das variações da própria língua ou de outras línguas, que já tendo adquirido
respaldo suficiente para proteção e garantia das políticas linguísticas requeridas, não
existirá mais necessidade de se continuar com esta norma em vigência. Posto que o
campo de estudo do direito linguístico tem como marco assegurar os direitos das línguas
das minorias. Então, os direitos linguísticos vêm assegurar, auxiliar e promover as
igualdades nas suas diversidades, e, também, contribuir para a promoção da justiça
social.
Destacamos, ainda, que ambos os campos tratam da língua com focos diferentes
nas pesquisas e ações. No entanto, entendemos que mesmo existindo divergências nas
suas abordagens acerca das línguas, estas se complementam na promoção da diversidade

1
Esse é um recorte da palestra realizada por Ricardo Nascimento Abreu, intitulada “Aventuras e
desventuras do Direito Linguístico na contemporaneidade: fractalidades e pseudo-fractalidades em um
campo de pesquisa, gestão e ativismos emergentes”. Realizada pela Associação Brasileira de Linguística
(Abralin), em 27 jul. 2020. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=0BRvH3MQ4UI.

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.6, p. 58444-58460 jun. 2021

43 may. 2021
Brazilian Journal of Development 58447
ISSN: 2525-8761

linguística e na quebra de pré-conceitos estabelecidos no decorrer dos contextos sócio-


históricos e políticos de um Estado nacional, a exemplo do Brasil, que tem a história
marcada pela colonização e criação de uma nacionalidade a partir da língua portuguesa
(MORELLO, 2016).
Com efeito, ao longo da história tem-se presenciados diversos conflitos, guerras,
dentre outras lutas, nos quais a língua como forma de expressão e comunicação acaba
sendo utilizada pelas sociedades como instrumento de poder, de uma nação sobre a outra
ou de um sistema de governo sobre os indivíduos daquela região (MAKONI;
SILVEIRA, 2019). Logo, diante desse contexto, no qual o distanciamento físico se faz
tão necessário, discutiremos a “língua como direito”, que Segundo Ruiz (1988) “[...]no
contexto norte-americano do início de década de 1980[...]”, distingue-se “[...]duas
perspectivas concorrentes: língua como problema (language-as-problem) e língua como
direito (language-as-right)” (p. 7, apud Silva, 2013, p. 299-300).
O autor explica que na “primeira perspectiva, a heterogeneidade linguística
constituiria um obstáculo ao desenvolvimento da sociedade” (RUIZ, 1988, p. 7, apud
SILVA, 2013, p. 299). Assim,

[...]essa foi a concepção dominante entre os pesquisadores da área de Política


Linguística nas décadas de 1960 e 1970 [...] a ênfase na resolução de
‘problemas linguísticos’ observada nesse período se justificaria,
parcialmente, em razão de os pesquisadores da área estarem mais
preocupados com sua consolidação como atividade acadêmica e menos com
os problemas práticos das políticas linguísticas e sociais. (RUIZ, 1988, p. 7,
apud SILVA, 2013, p. 299-300).

Nessa premissa, “[...]o reflexo da representação (ou crença), presente na


legislação norte-americana sobre educação bilíngue e no imaginário popular [...] os
falantes bilíngues cuja língua materna não é o inglês estariam em desvantagem
socioeconômica” (SILVA, 2013, p. 300). Conforme Ruiz (1988), a orientação que se
propõe a defender a língua como “um direito das comunidades minoritárias” é a língua
como direito. E, como evidencia o autor:

O surgimento e a consolidação dessa orientação estão fortemente vinculados


às lutas travadas no interior da sociedade norte-americana por igualdade de
direitos e oportunidades. Tendo em vista que a língua desempenha uma
função importante em diferentes aspectos da vida social, os pesquisadores
orientados por essa perspectiva postulavam que a questão linguística não
poderia ser discutida somente em termos de eficiência comunicativa.
Também estariam em jogo questões de liberdade individual e a manutenção
da identidade dos diferentes grupos étnicos que integram aquela sociedade.
(RUIZ, 1998 apud SILVA, 2013, p. 300).

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.6, p. 58444-58460 jun. 2021

43 may. 2021
Brazilian Journal of Development 58448
ISSN: 2525-8761

Com base no exposto, este estudo objetiva, de maneira mais ampla, realizar uma
reflexão sobre a importância do direito para as políticas linguísticas no Brasil
contemporâneo, diante do cenário pandêmico. Mais especificamente: realizar um
levantamento acerca de alguns dos principais pensadores do direito linguístico
brasileiro; discutir certas questões sobre a língua, tendo em vista a perspectiva das
práticas de políticas linguísticas; distinguir alguns dos itinerários do direito linguístico
no Brasil; e, identificar ações de políticas linguísticas que emergem das comunidades
tendo por base o campo do direito ou não.
Desse modo, este artigo é resultado de uma pesquisa de abordagem qualitativa,
que se concretiza a partir da disciplina de Políticas Linguísticas-UFSC, ofertada
remotamente em período de pandemia, com aulas síncronas e assíncronas. Assim,
configura-se como um estudo teórico oportuno e inovador ao possibilitar análises e
discussões de temas tão atuais, quais sejam: direitos linguísticos, políticas linguísticas e
a justiça social no Brasil contemporâneo. Sobretudo, quando se trata de situações de
diversidade linguística que envolvem as línguas indígenas, africanas e, especialmente,
a Língua Brasileira de Sinais – Libras. Para isso, fez-se também um levantamento dos
principais pensadores do direito linguístico no país, bem como a importância da
discussão dos conceitos de Língua, Políticas Linguísticas, Direito Linguístico e Justiça
Social.
Portanto, nesse caminho de entendimento, este artigo se dividirá em seções,
constando dessa breve introdução, seguida outras, tais sejam: na primeira, conceitua-se
língua; já na seguinte, elabora-se o levantamento da literatura que dialoga sobre
linguística e direitos linguísticos; na última seção, discute-se a compreensão constante
na literatura acessada da concepção de direitos linguísticos, como justiça social, como
a seguir se expõe.

2 LÍNGUAS
Ferdinand de Saussure (2006, p. 24), um dos fundadores da linguística
estruturalista, conceitua a língua como “um sistema de signos que exprime ideias”, se
constituindo como uma instituição social e existindo a partir do coletivo como um
sistema estruturado. Partindo desse conceito e tomando-a como social, não deve negar-
se que ela perpassa e se integra a outras áreas como política, social, cultural e econômica
na construção e concepção da história de um povo e como esses falantes se expressam

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.6, p. 58444-58460 jun. 2021

43 may. 2021
Brazilian Journal of Development 58449
ISSN: 2525-8761

e se mostram ao mundo. Para Yngve (1996), a língua possui vários significados, o que
por sua vez, demonstra as diversas facetas destas no campo social. Assim, ela é um:

Fenômeno natural, o objeto da ciência, um tipo de faculdade, um tipo de


sistema, como comportamento voluntário, como algo usado, como algo
ensinado e aprendido, como tendo elementos aprendidos, como tendo
padrões, como algo falado, ouvido e aprendido, como algo processado, como
algo conhecido e estruturado, como algo produzido e compreendido como
dados. (YNGVE, 1996, p. 10 apud MAKONI; SILVEIRA, 2019, p. 391-
392).

Ainda discutindo a ideia de poder e língua, Pessoa e Urzêda-Freitas (2016, p. 7)


propõem que como sujeitos linguísticos precisamos “da língua para ser”. Portanto, poder
e língua estabelecem uma relação de interdependência, principalmente, do primeiro
sobre a segunda, visto que se utiliza da língua para difundir-se na sociedade, produzindo
vozes de alteridade. Isto faz com que a língua tenha o seu papel de destaque nas
estruturas sociais.
No relatório mundial da UNESCO (2009), enfatiza-se que milhares de línguas
correm um sério risco de serem extintas no mundo, isto se deve tanto a causas externas
- como a globalização - e internas - como processos “evolutivos” destas por suas
comunidades falantes. Nesse ínterim, o desenvolvimento de pesquisas e ações que
busquem a revitalização, reconhecimento ou a promoção das línguas tornam-se
relevante no diálogo intercultural e na diversidade linguística, produzindo, assim,
práticas efetivas em contextos como, o multilinguismo/plurilinguismo (UNESCO,
2009).
Portanto, “[...]as línguas não são somente um meio de comunicação, mas
representam a própria estrutura das expressões culturais e são portadoras de identidade,
valores e concepções de mundo” (UNESCO, 2009, p. 12). Estas atuam como meios
estruturais capazes de gerar valor linguístico às comunidades a que pertencem, desse
modo a língua torna-se a forma pela qual os sujeitos se expressam, exigindo, dessa
maneira, que sejam garantidos direitos e deveres, políticas linguísticas responsivas e
adequadas às mais diversas realidades, (des)construção de diálogos entre as nações,
dentre outras formas de manifestar e reivindicar os gaps de identidade linguística
presente, principalmente, nas minorias.
Foucault (1979), ao tratar das questões de soberania e disciplina, explica que as
relações de poder, estabelece-se sob uma tríade - poder, direito e verdade. Sendo que
neste triângulo, os sujeitos estarão em uma busca constante por poder e verdade, no qual
estas relações serão exercidas através dos discursos. Vale ressaltar que o foco de estudo

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.6, p. 58444-58460 jun. 2021

43 may. 2021
Brazilian Journal of Development 58450
ISSN: 2525-8761

de Foucault não é a língua, e, sim, o discurso. No entanto, partiremos deste pressuposto


de discurso estudado por este filósofo para expressar as relações que a língua estabelece
dentro da sociedade, sendo esta um instrumento capaz de influenciar, estimular, gerar,
interferir e produzir novas formas de conhecimento/comunicação da realidade social e
das interações uns com os outros. Tem-se, deste modo que as relações de poder que o
discurso/enunciado se propõem, composto pelos diversos usos funcionais das
expressões linguísticas, ao menos em sua origem, provoca/intenciona situações de
alteridade a depender do contexto social que o sujeito está (FERREIRINHA; RAITZ,
2010).
Desse modo, Foucault (1979, p. 181) não se preocupa em enfatizar a
“[...]dominação global de um sobre os outros, ou de um grupo sobre outro, mas as
múltiplas formas de dominação que podem se exercer na sociedade”. Deste modo,
apropriando-se das múltiplas formas de se exercer poder, parte-se para abordar as
diversidades linguísticas e como estas são vistas pela sociedade, na qual dentro de cada
nação, algumas línguas se sobressaem a outras, demonstrando relações de alteridade,
sendo muitas vezes uma forma de opressão sobre os sujeitos, no entanto, ressalta-se que
essas relações podem ser tanto positivas quanto negativas, sendo exercida de diferentes
formas e em diferentes direções (KHALIL, 2014).
Outrossim, dialogando, ainda, com o pensamento de Foucault (1979), as relações
de poder no discurso se estabelecem por meio das estruturas sociais, políticas, culturais
e econômicas, assim, Makoni e Silveira (2019, p. 381) enfatiza que as tensões e/ou
desafios que envolvem as línguas, em especial, as indígenas no cenário socioeconômico
e jurídico das sociedades, tem-se que “a situação socioeconômica das pessoas nem
sempre melhora porque o status de sua língua foi alterado, ou seja, o reconhecimento e
a atribuição de status oficial às línguas não melhora a condição social e política dos
povos indígenas”. Desse modo, estas relações socioeconômicas que afetam a língua,
podem ser visualizadas nos mais diversos contextos da diversidade linguística, como
observados tanto nos estudos sobre as línguas indígenas como acerca do Sul Global
como um todo, dentre outros contextos de plurilinguismo/multilinguismo (MAKONI;
SILVEIRA, 2019)
Pensar a natureza da língua nos leva a estabelecer um diálogo com várias áreas
do conhecimento, como na sociolinguística, e, também:

[...]como nos Direitos Humanos Linguísticos, em que alguns dos discursos


sobre direitos parecem tratar a língua como tendo uma validade ontológica

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.6, p. 58444-58460 jun. 2021

43 may. 2021
Brazilian Journal of Development 58451
ISSN: 2525-8761

independente dos discursos nos quais estão embutidos. O significado de


“língua” e sua importância são fortemente contestados como consequência
das posições ideológicas divergentes e conflitantes, e a palavra “língua” é
usada em vários sentidos, sendo que não é óbvio que os sentidos sejam
compatíveis entre si. (MAKONI; SILVEIRA, 2019, p. 391).

No Brasil, a concepção de nacionalidade e identidade esteve ancorada na ideia


do monolinguismo. Isto é, devido as políticas do colonialismo e do apagamento das
línguas autóctones e alóctones, fato que acarretou o genocídio linguístico brasileiro em
prol da difusão do português como única língua oficial e nacional, porém o advento das
políticas linguísticas vem descontruindo esse cenário em defesa do reconhecimento e
promoção das diversas línguas brasileiras, como por exemplo, as línguas indígenas e de
imigrantes. Morello (2016) destaca, também, que a diversidade linguística brasileira só
esteve presente nos censos demográficos nos anos de 1940, 1950 e 2010, fato que
dificultou/dificulta o reconhecimento das diversas línguas existentes no Brasil, o que
em consequência, contribui para a escassez de políticas linguísticas que possibilite a
promoção e reconhecimento deste país como uma nação multilíngue/plurilíngue.
Das abordagens até agora feitas aqui, consideramos a ideia de que a língua é um
meio para a concepção, formulação e efetivação dos direitos linguísticos e da justiça
social, partindo do pressuposto de que é pela língua que o sujeito se expressa e
demonstra as suas reais necessidades para com a sociedade em que vive. Logo adiante
aprofundaremos este diálogo trazendo algumas das interfaces que se compreendem as
políticas linguísticas e os direitos linguísticos.

3 POLÍTICAS LINGUÍSTICAS E DIREITOS LINGUÍSTICOS


O estudo acerca das políticas linguísticas, em diálogo com o campo do direito,
torna-se fundamental para um planejamento linguístico efetivo. Assim, Calvet (2002, p.
133) diferencia política linguística de planejamento linguístico, na qual: a primeira,
trata-se de “[...]um conjunto de escolhas conscientes referente às relações entre língua(s)
e vida social [...]”, enquanto que a segunda, refere-se a “[...] implementação concreta de
uma política linguística[...]”. Temos que uma comunidade ou várias comunidades se
junta(m) para discutir e formular alguma(s) política(s) linguística(s), a partir dessa(s)
proposta(s) entra em ação o papel do Estado como responsável pela concretização da(s)
decisão(ões) pré-definida(s). Percebe-se, assim, a emergência e importância das
comunidades linguísticas para criação e imposição ao Estado que implemente políticas
linguísticas eficientes.

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.6, p. 58444-58460 jun. 2021

43 may. 2021
Brazilian Journal of Development 58452
ISSN: 2525-8761

Seguindo essa linha, torna-se necessário conhecer as realidades das línguas no


Brasil, para as quais o Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento em Política Linguística
(IPOL) foi fundado em 1999; esse focaliza no desenvolvimento de projetos sobre essas
questões (SEVERO, 2013). Rodrigues (2020), destaca a importância da conscientização
e ressignificação das línguas indígenas e africanas, não basta apenas reconhecê-las,
precisa-se desconstruir os preconceitos linguísticos e sociais que marcam a história
desses povos no Brasil, assim

[...]não podemos desterritorializar essa noção sem reterritorializá-la. Não


podemos importar os discursos que circulam sobre a garantia dos direitos
linguísticos, aceitá-los e defendê-los, sem antes compreender as relações de
forças que neles se colocam, ou seja, sem ressignificar a própria noção de
direitos linguísticos, transformando-a em mais um gesto de resistência [...]
Isso significa, então, descolonizar, democratizar e desmercantilizar a relação
dos sujeitos com as línguas neste espaço, produzindo consciência linguística,
e também consciência histórica, social e política ao mesmo tempo.
(RODRIGUES, 2020, p. 48).

Segundo Abreu (2020), o direito linguístico vem surgindo como uma


necessidade cada vez mais urgente na sociedade contemporânea, posto que estamos a
testemunhar um acelerado processo de erosão da diversidade linguística, bem como um
forte movimento de mitigação da cidadania dos indivíduos e dos grupos vinculados às
línguas minoritárias do planeta. Nesse sentido, percebe-se que tem ocorrido um processo
de silenciamento das línguas minoritárias e este tem avançado continuamente no mundo
inteiro e, com isso, corremos o grande risco de perder culturas inteiras e formas
singulares de entender o mundo. O mesmo autor, considera que há necessidade de
reconhecimento dos meios legais de “[...]proteção jurídica das línguas e dos seus
falantes” (ABREU, 2020, p. 173). Destaca ainda, que um conjunto de princípios e
normas “[...]comuns capazes de nortear a atividade jurisdicional dos Estados é
inaugurado após a tessitura e promulgação da Declaração Universal dos Direitos
Humanos e do término da Segunda Guerra Mundial” (ABREU, 2020, p. 173). A partir
desses marcos jurídico e histórico, surgem as bases para o desenvolvimento de um novo
campo de conhecimento, qual seja: o direito linguístico.
Dessa forma, Silva (2017, p. 668), argumenta que “[...]embora os direitos
linguísticos constituam um tema já consolidado na legislação internacional e em
algumas legislações nacionais, a defesa das línguas minoritárias no interior dos Estados
nacionais[...]”, continua sendo um assunto que se depara com uma forte resistência.
Nesse sentido, percebe-se que é importante discutir meios que ampliem a possibilidade

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.6, p. 58444-58460 jun. 2021

43 may. 2021
Brazilian Journal of Development 58453
ISSN: 2525-8761

de diálogo em favor dos grupos linguísticos minoritários. Conhecer as políticas


linguísticas e buscar os direitos linguísticos como instrumento importante para o
envolvimento e “[...]maior participação desses indivíduos na vida pública” (SILVA,
2017, p. 667).
O protagonismo que temos assumido nos debates sobre direitos linguísticos é
algo que merece uma revisão radical de nossa parte. É claro que os defensores dos
direitos linguísticos têm cumprido um papel fundamental em denunciar a ideologia da
homogeneidade linguística que ainda prevalece no interior dos Estados nacionais. Do
mesmo modo, a Linguística Aplicada Crítica tem produzido uma importante
desconstrução teórica de conceitos como língua e identidade. Contudo, precisamos
ainda refletir sobre a maneira como essa representação ocorre e o lugar que pretendemos
ocupar nessa discussão. (SILVA, 2017, p. 685).
Nesse aspecto, Silva (2017) destaca a importância do envolvimento dos
linguistas e demais interessados na área, nos debates que dizem respeito aos direitos
linguísticos. Os estudiosos da linguística devem estar cientes de seu papel como
propagadores e defensores dos benefícios garantidos nas políticas linguísticas aos
grupos linguísticos minoritários. É necessário entender o processo de garantias dos
direitos e ampliar os espaços de debates para que haja possibilidade de diálogos
coerentes, que contribuam para igualdade de acesso aos mais diversos setores sociais,
culminando para a justiça social dos indivíduos desprovidos das garantias de seus
direitos linguísticos.

4 DIREITOS LINGUÍSTICOS E JUSTIÇA SOCIAL


As diferentes formas de compreensão e aplicação da língua, competem para a
construção de divergências linguísticas e busca por justiça social, posto que “enquanto
o Estado e os linguistas podem enquadrar seus discursos em termos de língua, os não-
linguistas podem enquadrar suas atividades em termos de comunicação” (MAKONI;
SILVEIRA, 2019, p. 409). Nesse ponto, surge a necessidade da formulação de políticas
linguísticas e direitos linguísticos que convergem para sanar os gaps que causam esses
conflitos, desse modo, faz-se essencial o ponto de vista desses sujeitos que estão para
além do poder do Estado. Portanto, as várias epistemologias e comunidades em diálogo
contribuem na busca de ações eficazes a fim de sanar as ineficiências no âmbito das
políticas linguísticas, do direito linguístico e justiça social, isto ocorre porque o debate

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.6, p. 58444-58460 jun. 2021

43 may. 2021
Brazilian Journal of Development 58454
ISSN: 2525-8761

ajuda na construção e no entendimento das reais necessidade desses sujeitos


linguísticos.
No âmbito das Universidades que pesquisam e constroem conhecimento no
intuito de ampliar as discussões sobre os direitos linguísticos e a justiça social no Brasil,
cabe destacar o evento intitulado II Encontro de Políticas Linguísticas e Justiça Social2,
realizado pelo Grupo de Políticas Linguísticas Críticas da Universidade Federal de Santa
Catarina - UFSC. Este evento aconteceu entre os dias 04 a 06 de novembro de 2020,
tendo suscitado diversas temáticas acerca do direito e das políticas linguísticas em prol
da justiça social. Dentro dos temas abordados no evento, algumas ações emergem das
próprias comunidades e não a partir do Estado, nesse ínterim, na roda de conversa
Políticas linguísticas e contextos emergentes nas línguas de sinais3, pontua-se as
diversas ações realizadas para proteção e promoção das línguas de sinais em contexto
emergentes, valorizando e reconhecendo a importância dessas línguas para a
comunidade surda, seja ela indígena ou não.
Entre essas ações, destacam-se as contribuições do Programa Interinstitucional
de Apoio a Migrantes Surdos no Brasil (MiSordo), surdos imigrantes e refugiados e as
línguas de sinais venezuelana - LSV, assim como enfatiza a importância de se falar
acerca do papel da ancestralidade sobre as línguas de sinais indígenas e as políticas
linguísticas relacionadas aos intérpretes surdos. Logo, a imersão e os diálogos
construídos no II Encontro de Políticas Linguísticas e Justiça Social com o direito, as
instituições do Estado e universidades, dentre outros convidados de nacionalidades
diferentes ressaltam a importância e emergência dessas temáticas serem desenvolvidas
no Brasil, de modo concreto e efetivo.
A Lei nº 10.436/2002, de reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais
(Libras), também, é um direito conquistado através das lutas da comunidade Surda.
Assim, a aprovação da Lei, na esfera federal, foi um marco importante para impulsionar
a criação de políticas educacionais voltadas à inclusão dos alunos surdos na educação
básica. Ladd (2013, p.18) traz uma abordagem sobre o modelo linguístico-cultural,
propondo uma proposta de ensino bilíngue nas escolas, com o intuito de que ambos os
alunos ouvintes e surdos possam “interagir coletivamente”. O autor também cita
algumas lutas que a comunidade Surda teve e ainda continua tendo para quebrar

2
As mesas-redondas e rodas de conversas estão disponíveis no canal do Youtube do Grupo de Políticas
Linguísticas Críticas, da UFSC.
https://www.youtube.com/channel/UCl3lJ7qZwd57G3Y1W429cHQ/videos.
3
https://www.youtube.com/watch?v=JorQFKrS1jo.

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.6, p. 58444-58460 jun. 2021

43 may. 2021
Brazilian Journal of Development 58455
ISSN: 2525-8761

barreiras preconceituosas e teorias da medicina, que colocam o Surdo como deficiente,


limitando suas capacidades física e intelectual, então a difusão de uma comunidade
Surda e políticas linguísticas que valorize e quebre esses estigmas faz-se fundamental.
Nesse sentido, é importante ampliar os debates sobre justiça social e políticas
linguísticas, considerando relevante a contribuição das experiências culturais dos povos
surdos, das línguas africanas e indígenas no campo do debate político linguístico. Nesse
aspecto, essas ditas minorias têm lutado para ampliar e disseminar as ideias sobre o
multilinguismo aliado à prática social, bem como as demandas e necessidades desse
grupo, no contexto das questões de terra, sobrevivência, identidade etc.
Os surdos, comunidade com suas próprias demandas e pautas, têm seus direitos
linguísticos garantidos em lei, porém ainda há barreiras que os impedem de acessar os
“[...]serviços públicos básicos e as maiores oportunidades de emprego” (SILVA, 2017,
p. 667). Dessa forma, o trabalho no campo do direito linguístico colabora para o
entendimento desse contexto que, embora sejam juridicamente excludentes com relação
às línguas, precisam estar cientes da existência da diversidade linguística e garantir
espaço de sobrevivência e seus usos na sociedade em que vivem.
Sendo assim, o povo surdo necessita que sua língua seja difundida no meio
social, como direito linguístico constituído por meio da Lei 10.436/2002. Conhecer seus
direitos linguísticos e cobrar das autoridades competentes é o ponto de partida para que
esses sujeitos alcancem visibilidade e garantia de espaço para o protagonismo
linguístico e cultural (SILVA, TARTUCI, 2021).
Santos e Poltroniere-Gessner (2019), argumentam que a questão não é tão
simples quanto parece, visto não ser suficiente apenas o uso da norma propriamente dita,
se esta não estiver interligada com as diversas realidades sociais, econômicas, políticas
e culturais enfrentadas pela população que não fala a língua oficial de seu país. Não é o
suficiente tratar somente de acolhimento linguístico no âmbito do Judiciário, mas há
também a necessidade de se implementar políticas linguísticas mais amplas.

As políticas linguísticas dentro do âmbito jurídico devem levar em


consideração as demandas das diferentes comunidades surdas, dos indígenas,
dos refugiados e dos imigrantes. Contudo, somente a aplicação da lei em si
com relação aos serviços de tradução e de interpretação não é suficiente, pois
fazem-se necessárias a revisão das legislações e as mudanças de concepção
do Judiciário sobre o que é língua e como seus falantes podem estar melhor
respaldados ou não nas reivindicações que realizam junto às instâncias
jurídicas. (SANTOS; POLTRONIERE-GESSNER, 2019, p. 71).

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.6, p. 58444-58460 jun. 2021

43 may. 2021
Brazilian Journal of Development 58456
ISSN: 2525-8761

Fica evidente que são muitas as demandas que surgem dos grupos linguísticos
minoritários, pois estes necessitam ter seus direitos garantidos. No entanto, para que as
políticas linguísticas sejam consolidadas é preciso utilizar várias estratégias, como por
exemplo, o empoderamento dos surdos, indígenas, imigrantes, refugiados etc., com base
nas formações de professores próprios desses grupos; o empoderamento de suas línguas
por meio de ações legais; planejamento linguístico que envolve ações de implementação
de reconhecimento da língua e dos direitos linguísticos dos grupos linguísticos
minoritários.
Para Quadros (2021), é significativo a ampliação dos cursos de formação de
professores de Libras, professores bilíngues, tradutores e intérpretes de língua de sinais;
desenvolvimento da consciência surda; participação ativa das comunidades surdas nas
decisões relativas à implementação da Libras enquanto língua; direitos linguísticos por
meio da difusão da língua; desenvolvimento de pesquisas linguísticas sobre a Libras;
difusão das ações em todo o país; dentre outras medidas que são positivas para
reivindicar e promover ampliação de acesso às línguas de seus grupos e alcance da
justiça social por meio dessas ações.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A reflexão realizada neste estudo comprova a importância das discussões atuais
sobre os direitos linguísticos e as políticas linguísticas. Os diálogos recentes apontam
que não importa qual língua é falada pelos grupos minoritários linguísticos, pois o
Estado não pode se isentar da responsabilidade de garantir os meios necessários para
que os direitos linguísticos dos indivíduos sejam respeitados. Nesse aspecto,
conseguimos perceber que há um percurso do direito linguístico no Brasil; e,
identificamos ações de políticas linguísticas que emergem das comunidades tendo por
base o campo do direito ou não.
Notamos ainda, que a relevância do direito para as políticas linguísticas, está
direcionado a esse lugar que permite, principalmente, que as políticas sejam efetivadas
enquanto norma e garantida perante a sociedade, através de leis e normativas
institucionais de um Estado/Nação. Trazendo a proteção jurídica necessária à criação,
planejamento e implementação de ações concretas aos sujeitos linguísticos, nos mais
diversos contextos sociais (ABREU, 2019). Por conseguinte, as políticas linguísticas e
o direito devem ser adaptados às realidades e exigências de cada comunidade específica.

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.6, p. 58444-58460 jun. 2021

43 may. 2021
Brazilian Journal of Development 58457
ISSN: 2525-8761

Compreender os direitos linguísticos e seu percurso, na atualidade, é de grande


importância para que ampliem as possibilidades de conhecimento e a busca pela justiça
social dos sujeitos que têm sido silenciados historicamente. Dessa forma, precisamos
estar cientes que a língua importa e podemos sim contribuir para o fortalecimento do
movimento em prol dos direitos linguísticos.
Vivemos em um país monolíngue que precisa de ações voltadas para o
reconhecimento das línguas nacionais, a fim de garantir o uso das línguas minorizadas
nos diversos contextos sociais. Sendo assim, o trabalho no campo do direito linguístico
colabora para o entendimento desse contexto que, embora sejam juridicamente
excludentes com relação às línguas, precisam estar cientes da existência da diversidade
linguística e garantir espaço de sobrevivência e seus usos na sociedade em que vivem
seus falantes. Logo, há necessidade de desenvolver estudos que esclareçam sobre a
existência e os benefícios dos direitos linguísticos, que ainda são pouco discutidos na
sociedade.
Entendemos que há necessidade de aproximação entre os direitos linguísticos e
os direitos jurídicos como ponto de partida para a sensibilização das instituições
jurídicas, de modo que tenham conhecimento da existência dos direitos linguísticos
como um campo de estudos e pesquisas, que contribuem para alcançar a justiça social.
Umas das formas de aproximação entre os direitos linguísticos e os direitos jurídicos,
destaca-se a importância do trabalho de base na formação dos futuros administradores
da justiça e operadores do direito para que ampliem o espaço para a discussão e o
entendimento da existência de direitos e de deveres linguísticos, além da necessidade de
políticas linguísticas para efetivação desses direitos. Com essas ações será possível
coibir que os deveres linguísticos sejam obstáculos aos direitos fundamentais,
individuais e sociais de qualquer ser humano.
Quando o respeito aos direitos linguísticos é efetivado na prática, conseguimos,
de fato, alcançar a justiça social linguística, pois a justiça social e o direito linguístico
são interdependentes e precisam estar interligadas para que possam cumprir o seu papel
no meio social. Desse modo, é indispensável que haja mudanças voltadas às políticas
linguísticas no processo de formação nas academias, assim romper com o
monolinguismo nas Universidades significa promover um espaço para o protagonismo
linguístico dos sujeitos e para a compreensão da política linguística como direito
linguístico de fato.

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.6, p. 58444-58460 jun. 2021

43 may. 2021
Brazilian Journal of Development 58458
ISSN: 2525-8761

REFERÊNCIAS

ABREU, Ricardo Nascimento. Direito linguístico: olhares sobre as suas fontes. Revista
a cor das letras. Feira de Santana, v. 21, n.1, p. 155-171, janeiro-abril de 2020.
Disponível em, http://periodicos.uefs.br/index.php/acordasletras/article/view/5230.
Acesso em: 21 dez. 2020.

ABREU, Ricardo Nascimento. Estatutos jurídicos e processos de nacionalização de


línguas no Brasil: considerações à luz de uma emergente teoria dos direitos linguísticos.
Revista da ABRALIN, v. 17, n. 2, 30 jun. 2019. Disponível em,
http://periodicos.uefs.br/index.php/acordasletras/article/view/5230. Acesso em: 21 nov.
2020.

BRASIL. Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei nº 10.436,


de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras.
Brasília, DF: Presidência da República, [2018]. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Decreto/D5626.htm#art1.
Acesso em: 28 jul. 2020.

CALVET, Louis-Jean. Sociolinguística: uma introdução crítica. São Paulo: Parábola,


2002.

FERREIRINHA, Isabella Maria Nunes; RAITZ, Tânia Regina. As relações de poder em


Michel Foucault: reflexões teóricas. Revista de Administração Pública. Rio de Janeiro
44(2), p. 367-383, mar./abr. 2010. Disponível em:
https://www.scielo.br/pdf/rap/v44n2/08.pdf. Acesso em: 23 de jan. 2021.

FOUCAULT, Michel. Soberania e disciplina. In: FOUCAULT, Michel. Microfísica do


poder. 4. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1979.

GONÇALVES, Jael Sânera Sigales. Direitos linguísticos e políticas linguísticas no


Brasil: uma análise de processos seletivos para acesso à universidade pública por
migrantes forçados. Línguas e Instrumentos Linguísticos, Campinas, SP, n. 43, p.
192–216, 2019. Disponível em:
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/lil/article/view/8658348. Acesso em:
11 jan. 2021.

KHALIL, Lucas Martins Gama. Michel Foucault e os estudos linguísticos: reflexões


sobre as noções de língua e estrutura na análise arqueológica. Cadernos de Letras da
UFF - Dossiê: Anáfora e correferência: temas, teorias e métodos, n. 49, p. 327-344, jul.
2014. Disponível em:
https://periodicos.uff.br/cadernosdeletras/article/download/43597/24900. Acesso em:
23 de jan. 2021.

LADD, Paddy. Em Busca da Surdidade I. Colonização dos Surdos. Trad. Mariani


Martini. Lisboa: Surd Universo, 2013.

MAKONI, Sinfree B.; SILVEIRA, Alexandre Cohn da. Da linguística humana ao


sistema “d” e às ordens espontâneas: uma abordagem sobre a emergência das línguas
indígenas africanas. Revista da ABRALIN, v. 17, n. 2, p. 376-419 19 jun. 2019.

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.6, p. 58444-58460 jun. 2021

43 may. 2021
Brazilian Journal of Development 58459
ISSN: 2525-8761

Disponível em: http://revista.abralin.org/index.php/abralin/article/view/511. Acesso


em: 30 nov. 2020.

MORELLO, Rosângela. Censos nacionais e perspectivas políticas para as línguas


brasileiras. Revista Brasileira de Estudos de População, v. 33, n. 2, p. 431-439, 10
out. 2016. Disponível em: https://rebep.emnuvens.com.br/revista/article/view/944/pdf.
Acesso em: 23 jan. 2021.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A


CULTURA (UNESCO). Investir na diversidade cultural e no diálogo intercultural:
relatório mundial da UNESCO. Paris, FR. 2009. Disponível em:
https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000184755_por. Acesso em: 05 de dez. 2020.

PESSOA, Rosane Rocha; URZEDA-FREITAS, Marco Túlio de. Língua como espaço
de poder: uma pesquisa de sala de aula na perspectiva crítica. Revista Brasileira de
Linguística Aplicada, Belo Horizonte, v. 16, n. 1, p. 133-156, mar. 2016. Disponível
em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984-
63982016000100133&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 23 jan. 2021.

QUADROS, Ronice Müller de. Políticas Linguísticas e a Libras: consolidação do


planejamento linguístico no Brasil e na América Latina. [Rio de Janeiro], UFSC
Workshop de Libras – 29 e 30 de Janeiro de 2021, por meio App zoom. Palestra.
Acesso em: 29 de jan de 2021.

RODRIGUES, Fernanda Castelano. A noção de direitos linguísticos e sua garantia no


Brasil: entre a democracia e o fascismo. Línguas e Instrumentos Linguísticos,
Campinas, SP, v. 42, n. 42, 2020. Disponível em:
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/lil/article/view/8661563. Acesso em:
05 jan. 2021.

SANTOS, Silvana Aguiar dos; POLTRONIERE-GESSNER, Aline Vanessa. O papel


da tradução e da interpretação para grupos vulneráveis no acesso à justiça. Revista da
Defensoria Pública do Distrito Federal, Brasília, v. 1, n. 1, 2019, p. 69/84.69.
Disponível em:
http://revista.defensoria.df.gov.br/revista/index.php/revista/article/view/15/12. Acesso
em 20 jan 2021.

SAUSSURE, Ferdinand. Curso de linguística geral. Trad. de Antônio Chelini, José


Paulo Paes e Izidoro Blikstein. 27 ed. São Paulo: Cultrix, 2006.

SEVERO, Cristine Gorski. A diversidade linguística como questão


de governo. Calidoscópio, RS, vol. 11, n. 02, p. 107-115, mai/ago 2013. Disponível em:
http://revistas.unisinos.br/index.php/calidoscopio/article/view/cld.2013.112.01. Acesso
em: 18 dez. 2020.

SILVA, Julia Izabelle da. O debate sobre direitos linguísticos e o lugar do linguista na
luta dos sujeitos falantes de línguas minorizadas: quem são os protagonistas? Rev. bras.
linguist. apl., Belo Horizonte, v. 17, n. 4, p. 663-690, Dec. 2017. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984-
63982017000400663&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 28 jan. 2021.

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.6, p. 58444-58460 jun. 2021

43 may. 2021
Brazilian Journal of Development 58460
ISSN: 2525-8761

SILVA, Wellington Jhonner D. Barbosa; TARTUCI, Dulcéria. Língua portuguesa como


segunda língua: perspectivas para o letramento em português e em matemática para
surdos. Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.2, p. 14080-14100 feb.
2021.
Disponível em: <
https://www.brazilianjournals.com/index.php/BRJD/article/view/24439/19521>. DOI:
https://doi.org/10.34117/bjdv7n2-163. Acesso em: 10 abr.2021.

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.6, p. 58444-58460 jun. 2021

43 may. 2021

Você também pode gostar