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ISSN: 2525-8761
RESUMO
Este artigo aborda sobre direitos linguísticos, políticas linguísticas e justiça social no
Brasil contemporâneo. Objetiva-se propor reflexões acerca da importância dos direitos
linguísticos para as políticas linguísticas e justiça social. Para isso, fez-se um
levantamento dos principais pensadores do direito linguístico no Brasil, bem como a
importância da discussão dos conceitos: Língua, políticas linguísticas, direito linguístico
e justiça social. Pontua-se a respeito de situações de diversidade linguística que
envolvem as línguas indígenas, africanas e, especialmente, a Língua Brasileira de Sinais
– Libras. Assim, o trabalho tem um caráter de levantamento bibliográfico. Com base
nos resultados, compreendem-se os direitos linguísticos e justiça social como conceitos
que se apropriam das línguas através de abordagens diferentes, mas se complementam
na promoção da diversidade linguística e na quebra de pré-conceitos estabelecidos no
decorrer da história de um Estado nacional, marcado pela colonização e criação de uma
nacionalidade a partir da língua portuguesa.
ABSTRACT
This paper deals with linguistic rights, linguistic policies, social justice and its course
today. It aims to propose a reflection about the importance of linguistic rights for
linguistic policies and social justice. For this, a survey is made of the main thinkers of
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the linguistic rights in Brazil, as well as the importance of discussing the concepts:
Language, linguistic policies, linguistic law and social justice. In this way, it points out
some situations of linguistic diversity that involve indigenous, African languages and
the Brazilian Sign Language - Libras. Thus, the work has the character of a bibliographic
survey. According to the results, linguistic rights and social justice are understood as
concepts that appropriate languages through different approaches but complement each
other in promoting linguistic diversity and breaking pre-concepts established throughout
the history of a national state, marked by colonization and creation of a nationality using
the Portuguese language.
1 INTRODUÇÃO
A emergência das políticas linguísticas e a estruturação de uma teoria dos
direitos linguísticos surge da necessidade de se estabelecer medidas e ações eficazes na
proteção, principalmente, das minorias linguísticas. Portanto, nos meados do final do
século XX e início do século XXI tem-se observado o crescimento do “[...]interesse da
comunidade internacional e dos Estados nacionais na proteção e defesa dos direitos das
minorias e dos grupos vulneráveis” (ABREU, 2020, p. 173). Assim, afloram “os
chamados ‘novos direitos’ que, geralmente, correspondem, entre outros, à proteção da
infância, dos idosos, das pessoas LGBTQI+ e das mulheres[...]” (ABREU, 2020, p.
173). Essas discussões vão explorar e procurar afirmar a relevância do Estado no
comprometimento e garantia dos princípios de dignidade e igualdade da pessoa humana.
Do mesmo modo, na carência de ações concretas e urgentes nessa temática que
aborda a questão da relevância do direito linguístico para as políticas linguísticas,
destacamos Gonçalves (2019), quando esta aponta a necessidade de um planejamento
linguístico que busque incluir as diversidades de línguas e não excluir os sujeitos a partir
da língua, como é o caso, dos migrantes forçados que chegam ao Brasil e necessitam
ingressar no ensino superior. Desse modo, a permanência desses na Universidade se
deve à adaptação e ao aprendizado da língua portuguesa, caso contrário perdem o direito
à vaga na Instituição de Ensino Superior. Este é apenas um exemplo dos gaps que
existem entre as políticas linguísticas e o direito linguístico. No decorrer deste estudo,
abordaremos outros exemplos acerca das línguas minoritárias, especialmente, no Brasil,
e de modo mais amplo no Sul Global.
Outro aspecto relevante, trata-se dos estudos sobre os direitos linguísticos, um
campo relativamente novo, carecendo ser construído e desenvolvido uma Teoria dos
direitos linguísticos a fim de gerir a “[...]diversidade linguística de um Estado nacional
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Esse é um recorte da palestra realizada por Ricardo Nascimento Abreu, intitulada “Aventuras e
desventuras do Direito Linguístico na contemporaneidade: fractalidades e pseudo-fractalidades em um
campo de pesquisa, gestão e ativismos emergentes”. Realizada pela Associação Brasileira de Linguística
(Abralin), em 27 jul. 2020. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=0BRvH3MQ4UI.
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Com base no exposto, este estudo objetiva, de maneira mais ampla, realizar uma
reflexão sobre a importância do direito para as políticas linguísticas no Brasil
contemporâneo, diante do cenário pandêmico. Mais especificamente: realizar um
levantamento acerca de alguns dos principais pensadores do direito linguístico
brasileiro; discutir certas questões sobre a língua, tendo em vista a perspectiva das
práticas de políticas linguísticas; distinguir alguns dos itinerários do direito linguístico
no Brasil; e, identificar ações de políticas linguísticas que emergem das comunidades
tendo por base o campo do direito ou não.
Desse modo, este artigo é resultado de uma pesquisa de abordagem qualitativa,
que se concretiza a partir da disciplina de Políticas Linguísticas-UFSC, ofertada
remotamente em período de pandemia, com aulas síncronas e assíncronas. Assim,
configura-se como um estudo teórico oportuno e inovador ao possibilitar análises e
discussões de temas tão atuais, quais sejam: direitos linguísticos, políticas linguísticas e
a justiça social no Brasil contemporâneo. Sobretudo, quando se trata de situações de
diversidade linguística que envolvem as línguas indígenas, africanas e, especialmente,
a Língua Brasileira de Sinais – Libras. Para isso, fez-se também um levantamento dos
principais pensadores do direito linguístico no país, bem como a importância da
discussão dos conceitos de Língua, Políticas Linguísticas, Direito Linguístico e Justiça
Social.
Portanto, nesse caminho de entendimento, este artigo se dividirá em seções,
constando dessa breve introdução, seguida outras, tais sejam: na primeira, conceitua-se
língua; já na seguinte, elabora-se o levantamento da literatura que dialoga sobre
linguística e direitos linguísticos; na última seção, discute-se a compreensão constante
na literatura acessada da concepção de direitos linguísticos, como justiça social, como
a seguir se expõe.
2 LÍNGUAS
Ferdinand de Saussure (2006, p. 24), um dos fundadores da linguística
estruturalista, conceitua a língua como “um sistema de signos que exprime ideias”, se
constituindo como uma instituição social e existindo a partir do coletivo como um
sistema estruturado. Partindo desse conceito e tomando-a como social, não deve negar-
se que ela perpassa e se integra a outras áreas como política, social, cultural e econômica
na construção e concepção da história de um povo e como esses falantes se expressam
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e se mostram ao mundo. Para Yngve (1996), a língua possui vários significados, o que
por sua vez, demonstra as diversas facetas destas no campo social. Assim, ela é um:
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As mesas-redondas e rodas de conversas estão disponíveis no canal do Youtube do Grupo de Políticas
Linguísticas Críticas, da UFSC.
https://www.youtube.com/channel/UCl3lJ7qZwd57G3Y1W429cHQ/videos.
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https://www.youtube.com/watch?v=JorQFKrS1jo.
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Fica evidente que são muitas as demandas que surgem dos grupos linguísticos
minoritários, pois estes necessitam ter seus direitos garantidos. No entanto, para que as
políticas linguísticas sejam consolidadas é preciso utilizar várias estratégias, como por
exemplo, o empoderamento dos surdos, indígenas, imigrantes, refugiados etc., com base
nas formações de professores próprios desses grupos; o empoderamento de suas línguas
por meio de ações legais; planejamento linguístico que envolve ações de implementação
de reconhecimento da língua e dos direitos linguísticos dos grupos linguísticos
minoritários.
Para Quadros (2021), é significativo a ampliação dos cursos de formação de
professores de Libras, professores bilíngues, tradutores e intérpretes de língua de sinais;
desenvolvimento da consciência surda; participação ativa das comunidades surdas nas
decisões relativas à implementação da Libras enquanto língua; direitos linguísticos por
meio da difusão da língua; desenvolvimento de pesquisas linguísticas sobre a Libras;
difusão das ações em todo o país; dentre outras medidas que são positivas para
reivindicar e promover ampliação de acesso às línguas de seus grupos e alcance da
justiça social por meio dessas ações.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A reflexão realizada neste estudo comprova a importância das discussões atuais
sobre os direitos linguísticos e as políticas linguísticas. Os diálogos recentes apontam
que não importa qual língua é falada pelos grupos minoritários linguísticos, pois o
Estado não pode se isentar da responsabilidade de garantir os meios necessários para
que os direitos linguísticos dos indivíduos sejam respeitados. Nesse aspecto,
conseguimos perceber que há um percurso do direito linguístico no Brasil; e,
identificamos ações de políticas linguísticas que emergem das comunidades tendo por
base o campo do direito ou não.
Notamos ainda, que a relevância do direito para as políticas linguísticas, está
direcionado a esse lugar que permite, principalmente, que as políticas sejam efetivadas
enquanto norma e garantida perante a sociedade, através de leis e normativas
institucionais de um Estado/Nação. Trazendo a proteção jurídica necessária à criação,
planejamento e implementação de ações concretas aos sujeitos linguísticos, nos mais
diversos contextos sociais (ABREU, 2019). Por conseguinte, as políticas linguísticas e
o direito devem ser adaptados às realidades e exigências de cada comunidade específica.
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REFERÊNCIAS
ABREU, Ricardo Nascimento. Direito linguístico: olhares sobre as suas fontes. Revista
a cor das letras. Feira de Santana, v. 21, n.1, p. 155-171, janeiro-abril de 2020.
Disponível em, http://periodicos.uefs.br/index.php/acordasletras/article/view/5230.
Acesso em: 21 dez. 2020.
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PESSOA, Rosane Rocha; URZEDA-FREITAS, Marco Túlio de. Língua como espaço
de poder: uma pesquisa de sala de aula na perspectiva crítica. Revista Brasileira de
Linguística Aplicada, Belo Horizonte, v. 16, n. 1, p. 133-156, mar. 2016. Disponível
em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984-
63982016000100133&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 23 jan. 2021.
SILVA, Julia Izabelle da. O debate sobre direitos linguísticos e o lugar do linguista na
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http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984-
63982017000400663&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 28 jan. 2021.
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